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argumento do matemático ciclista

mostram que a percentagem de curas efectua-


das pelos psiquiatras é diminuta, o que sugere Walton, D. 1989. Informal Logic. Cambridge: Cam-
que esta prática médica é muito diferente de bridge University Press.
outras práticas cujo sucesso real é muitíssimo
superior. Além disso, este argumento viola argumento de Frege-Church Ver ARGUMENTO
outra regra: DA CATAPULTA.

4) Os especialistas da matéria em causa, no seu argumento de uma função Ver FUNÇÃO.


todo, não podem ter fortes interesses pessoais na
afirmação em causa. argumento do matemático ciclista Argumento
clássico aduzido por Quine (1960: 119) contra a
Quando Einstein afirma que a teoria da rela- lógica modal quantificada e os alegados com-
tividade é verdadeira, tem certamente muito promissos desta com as doutrinas do essencia-
interesse pessoal na sua teoria. Mas os outros lismo e da modalidade de re. A contenção prin-
físicos não têm qualquer interesse em que a cipal do argumento é a de que não faz qualquer
teoria da relatividade seja verdadeira; pelo con- sentido atribuir directamente predicados modali-
trário, até têm interesse em demonstrar que é zados, predicados como «é necessariamente
falsa, pois nesse caso seriam eles a ficar famo- racional» e «é contingentemente bípede», a um
sos e não Einstein. Mas nenhum psiquiatra tem indivíduo ou particular. Pois a correcção ou
interesse em refutar o que diz X. E, por isso, a incorrecção de tais atribuições varia forçosa-
sua afirmação não tem qualquer valor — por- mente em função dos modos específicos que
que é a comunidade dos especialistas, no seu escolhermos para descrever (linguisticamente)
todo, que tem tudo a ganhar e nada a perder em os particulares em questão; e, argumentavelmen-
concordar com X. te, nenhum dos modos disponíveis tem um esta-
Os argumentos de autoridade são vácuos ou tuto privilegiado em relação aos outros. O des-
despropositados quando invocam correctamen- crédito é assim aparentemente lançado sobre a
te um especialista para sustentar uma conclu- inteligibilidade da noção de uma modalidade
são que pode ser provada por outros meios (necessidade, possibilidade, contingência, etc.)
mais directos. Por exemplo: «Frege afirma que presente nas coisas elas mesmas, in rerum natu-
o modus ponens é válido; logo, o modus ra; e, consequentemente, sobre a doutrina do
ponens é válido». Dado que a validade do ESSENCIALISMO, que pressupõe a inteligibilidade
modus ponens pode ser verificada por outros de tal noção. A modalidade é antes invariavel-
meios mais directos (nomeadamente através de mente de dicto, nada mais do que um aspecto do
um inspector de circunstâncias), este argumen- nosso esquema conceptual, um resultado de
to é vácuo ou despropositado. Os argumentos algumas das nossas maneiras convencionais de
de autoridade devem unicamente ser usados classificar coisas.
quando não se pode usar outras formas argu- O argumento do matemático ciclista desen-
mentativas mais directas. volve-se da seguinte maneira. Tome-se uma
Usa-se muitas vezes a expressão «argumen- pessoa, Wyman, simultaneamente matemático
to de autoridade» como sinónimo de «mau e ciclista. Descrito como matemático, Wyman
argumento de autoridade». Todavia, nem todos tem aparentemente a propriedade de ser neces-
os argumentos de autoridade são maus; o pro- sariamente racional, pois todos os matemáticos
gresso do conhecimento é impossível sem são necessariamente racionais. Mas, descrito
recorrer a argumentos de autoridade; e pode-se como ciclista, ele não tem aparentemente essa
distinguir com alguma proficiência os bons dos propriedade, pois nenhum ciclista é necessa-
maus argumentos de autoridade, atendendo às riamente racional (os ciclistas são apenas con-
regras dadas. Ver LÓGICA INFORMAL. DM tingentemente racionais). Logo, e como

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argumento do um-em-muitos

nenhuma das descrições de Wyman pode ser primeira interpretação). Mas não é essa a inter-
plausivelmente seleccionada como a mais ade- pretação que acomoda a intuição de que a pre-
quada, é destituída de sentido qualquer predi- missa maior é verdadeira (é a primeira inter-
cação de atributos modais ao indivíduo Wyman pretação que o faz); e, nesse caso, o defensor
considerado em si mesmo, independentemente da modalidade de re não está de todo obrigado
de qualquer modo de identificação. Mais em a reconhecer a premissa maior do argumento I
pormenor, o argumento de Quine convida-nos como verdadeira e, logo, não está obrigado a
a considerar as conclusões mutuamente contra- aceitar a conclusão desse argumento (mutatis
ditórias dos seguintes dois argumentos intuiti- mutandis em relação ao argumento II). Ver
vamente válidos: também DE DICTO / DE RE, ESSENCIALISMO, PRO-
PRIEDADE ESSENCIAL / ACIDENTAL. JB
Argumento I
Premissa maior: Todo o matemático é necessaria- Marcus, R. B. 1993. Essential Attribution. In Modali-
mente racional. ties. Oxford: Oxford University Press.
Premissa menor: Wyman é um matemático. Quine, W. V. O. 1960. Word and Object. Cambridge,
Conclusão: Wyman é necessariamente racional. MA: MIT Press.
Smullyan, A. 1948. Modality and Description. Jour-
Argumento II nal of Symbolic Logic XIII: 31–37.
Premissa maior: Nenhum ciclista é necessariamente
racional. argumento do um-em-muitos Ver UNIVERSAL.
Premissa menor: Wyman é um ciclista.
Conclusão: Wyman não é necessariamente racional. argumento ontológico Argumento que preten-
de demonstrar a existência de Deus por meios
Naturalmente, o resultado é intencionado puramente conceptuais. Primeiramente formu-
como uma reductio ad absurdum da doutrina lado por Anselmo de Aosta no séc. XI, encon-
da modalidade de re: como o defensor da dou- tram-se diferentes variantes do mesmo em
trina tem de aceitar as premissas maiores como Tomás de Aquino, Descartes e Leibniz. A
verdadeiras, e como os argumentos são válidos, estrutura do argumento é a seguinte:
ele é forçado a aceitar ambas as conclusões.
Todavia, pace Quine, trabalhos importantes 1. Deus é o ser acima do qual nada de maior pode
sobre a modalidade realizados por Smullyan ser pensado.
(1948) e Barcan Marcus (1993: 54–55), entre 2. A ideia de ser acima do qual nada de maior pode
outros, têm convencido muita gente de que os ser pensado existe na nossa consciência.
argumentos anti-essencialistas de Quine, como 3. Se o ser correspondente a esta ideia não existisse,
o argumento do matemático ciclista, são fala- teria de faltar um predicado à ideia do mesmo, a
ciosos; e as falácias neles cometidas resultam saber, o predicado da existência, pelo que, nessas
de indistinções relativas aos âmbitos dos ope- condições, essa ideia já não seria a do ser acima
radores modais envolvidos. Assim, por exem- do qual nada de maior pode ser pensado, uma vez
plo, a premissa maior do argumento I é ambí- que seria lícito pensar-se num outro ser que tives-
gua entre uma interpretação que dá âmbito se exactamente os mesmos predicados que o
longo ao operador modal, representada na fór- anterior e, além desses, também o da existência.
mula Q∀x (Matemático x → Racional x), e 4. Logo, se a ideia de ser acima do qual nada de
uma interpretação que lhe dá âmbito curto, maior pode ser pensado existe, então o ser que
representada na fórmula ∀x (Matemático x → lhe corresponde tem também que existir pois,
Q Racional x). Ora, o argumento I só é válido caso contrário, a ideia em causa deixa de ser a
se a sua premissa maior receber esta última ideia que é, o que constitui uma contradição.
interpretação (ele é inválido se ela receber a

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