Fundamentos legais para o Cirurgião-dentista EXEMPLOS REAIS DE CONDUTAS PUNIDAS CIVILMENTE
Material de apoio
Centro Universitário de Rio Preto - UNIRP
Prof. Me. Alexandre Shimizu
CÓDIGO CIVIL
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência
ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano
a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por
perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo
índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de
advogado.
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de
caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por
eles responsabilizado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no
fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
fruição e riscos.
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o
consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as
circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas
técnicas.
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando
provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais
será apurada mediante a verificação de culpa.
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos
danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na
Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir
do conhecimento do dano e de sua autoria.
Indenização - autora que coloca aparelho ortodôntico para melhora de
aspecto estético que lhe causa inclinação de todos os seus dentes
inferiores, dores intensas, alteração irregular de sua mordida, em razão
de imperícia da profissional - laudo conclusivo no sentido da
demonstração de nexo causal - ré que afirma ser proprietária da clínica
em que se realizou o procedimento, mas efetuado por outra dentista -
aplicação do artigo 14, do Código de defesa do consumidor e 932, do
Código civil indenização por danos morais e matérias devida inversão
do ônus da sucumbência - Recurso provido.
(TJ-SP. 5ª Câmara de Direito Privado - Apelação nº 0024301-
67.2010.8.26.0161 – j. 5 de agosto de 2015).
Fragmento da decisão: Como corolário, tem-se que o recurso deve
ser provido para condenar a ré ao pagamento de R$ 20.000,00 a título
de danos morais e estáticos, R$ 5.600,00 por danos materiais,
invertendo-se o ônus da sucumbência, condenando-a também ao
pagamento de despesas processuais e honorários advocatícios
arbitrados em 15% sobre o valor da condenação.
APELAÇÃO – Ação de indenização por danos morais e materiais – Erro
médico – Procedimento odontológico – Sentença de parcial procedência
– Apelação da ré – Não está em discussão, nestes autos, se o
procedimento cirúrgico em si, qual seja, a exodontia de terceiro molar
inferior direito, foi corretamente realizado. Discute-se, na verdade, a
ocorrência de eventual falha na prestação do serviço, no tocante ao
acompanhamento pós-operatório, mais especificamente se houve, ou
não, demora na obtenção do diagnóstico de mandíbula fraturada, por
culpa da ré – Falha na prestação de serviço configurada – Inexplicável
demora em diagnosticar que o paciente estava com a mandíbula
fraturada, o que poderia ser constatado através da realização de
simples exame de Raio-X – Providência tardiamente adotada pela ré –
Paciente que certamente teria sofrido muito menos caso o tratamento
para a moléstia que o acometia fosse prontamente iniciado – Se a
literatura médica é assente no sentido de que, embora incomum, a
fratura de mandíbula pode ocorrer no prazo de 4 (quatro) semanas
após o transoperatório e que este risco pode triplicar em casos de
terceiros molares inclusos, como na hipótese dos autos, caberia aos
profissionais da saúde realizar, o quanto antes, simples exame de raio-
x para diagnosticar a moléstia, principalmente se o paciente alertava
para as incessantes dores que o acometeram por 40 (quarenta) dias –
Danos morais configurados – Indenização devida – Quantum
indenizatório fixado em R$ 20.000,00 (vinte mil reais) –
Montante adequado de acordo com a jurisprudência deste Egrégio
Tribunal de Justiça de São Paulo, em casos análogos – Valor que é
suficiente para, de uma só vez, compensar o sofrimento experimentado
pelo autor, bem como punir a conduta da ré, com a finalidade de evitar
atuação reincidente, observados os princípios da proporcionalidade e
razoabilidade – Precedentes desta Colenda 6ª Câmara de Direito
Privado, em casos análogos – Sentença mantida – RECURSO
IMPROVIDO. (TJSP: Apelação 0024527-69.2007.8.26.0196; Relator
(a): Rodolfo Pellizari; Órgão Julgador: 6ª Câmara de Direito Privado;
Foro de Franca - 1ª Vara Cível; Data do Julgamento: 01/03/2018; Data
de Registro: 02/03/2018)
Ação de indenização por danos materiais e morais por erro em
tratamento dentário. Imperícia na confecção de prótese dentária.
Demanda em que a prova técnica tem posição de proeminência. Dano
moral configurado. Majoração do "quantum" indenizatório. Sentença de
parcial procedência essencialmente mantida (art. 252,
Apelação da ré desprovida; provida a da autora.(TJ-SP. 10ª Câmara de
Direito Privado. Apelação nº 0013251-19.2009.8.26.0019, j. 28 de
julho de 2015).
Fragmento da decisão: Considerando os fatos relatados nos autos e
apurados pericialmente, anotando-se o excessivo número de consultas
a que a autora foi submetida (fl. 101 e vº), com o intuito de realizar
ajustes na peça, observados, enfim, os princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, deve ser majorado o valor da indenização por danos
morais para aquele pleiteado, de R$ 30.000,00, com correção
monetária a partir do julgamento em segundo grau (Súmula 362 do
STJ) e juros de mora a contar do evento danoso (art. 398 do Código
Civil).
EXEMPLOS EM QUE O CIRURGIÃO-DENTISTA NÃO
RESPONSABILIZADO
ERRO ODONTOLÓGICO. Inocorrência. Prótese quebrada. Garantia de
tratamento prevista em contrato, mas que dependia de manutenção
odontológica periódica pela paciente. Autora que não comparecia
regularmente a consultas odontológicas. Exclusão da
Sentença mantida. Apelo improvido. (TJSP: Apelação
55.2015.8.26.0100; Relator (a): Fábio Podestá; Órgão Julgador: 5ª
Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 21ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 27/02/2018; Data de Registro: 27/02/2018)
RESPONSABILIDADE CIVIL. Apelação. Ação de indenização por danos
materiais e morais. Cirurgia de extração de dente, interrompida em
razão do stress e agitação da autora. Permanência de raiz do dente e
de pequena ponta da broca, que quebrou durante o procedimento.
Autora que não retornou no período orientado pela cirurgiã dentista
para continuar a cirurgia. Inércia da autora. Não observação das
orientações passadas pela dentista. Danos materiais referentes aos
gastos com panorâmica efetuada na rede privada. Possibilidade de
realização do exame na rede pública. Opção da apelante pela rede
privada, que não pode ser indenizada. Danos morais. Inocorrência.
Mero dissabor. Mesmo na responsabilidade objetiva há a necessidade
da existência de nexo causal entre a conduta e o dano para ensejar
obrigação de indenizar. Nexo causal que não restou demonstrado. Não
conhecimento do agravo retido, que deixou de ser reiterado. Sentença
de improcedência mantida. Recurso desprovido.
(TJ-SP. 10ª Câmara de Direito Privado. Apelação nº 0001404-
25.2012.8.26.0533. j. 17 de agosto de 2015)
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. Extração de dentes
tratamento com antibióticos que teria ocasionado complicações com o
aparecimento de um abcesso cerebral que obrigou o autor a se
submeter à cirurgia neurológica e internação por quase noventa dias.
Alegada falha na prestação de serviços que acarretou dor e sofrimento
para o autor. Cerceamento de defesa. Inocorrência. Atendimento
adequado. Prova pericial conclusiva no sentido de que não houve falha
na prestação do serviço odontológico, uma vez que, como o autor não
possuía qualquer doença preexistente, não seria indicado o tratamento
com antibiótico. Ausência de relato da presença de quadro infeccioso
bucal na ocasião do diagnóstico do abcesso e da internação. Ausência
de nexo causal entre a extração dos dentes e as complicações
RITJSP). neurológicas apresentadas pelo autor. Justiça gratuita. Indeferimento.
Sentença mantida. Recurso desprovido.
(TJ-SP. 36ª Câmara de Direito Privado. Apelação nº 0179557-
60.2008.8.26.0100. j. 13 de agosto de 2015.)
Fragmento da decisão: Destarte, competia ao réu comprovar ter
desenvolvido com correção e presteza os serviços para os quais foi
contratado, e que não causou qualquer tipo de lesão ao autor, o que
seria possível por meio da produção de prova técnica, cujo laudo
detalhado está juntado às fls. 527/543. O expert consignou que “não
há como estabelecer nexo causal entre o tratamento cirúrgico
odontológico com o quadro neurológico desenvolvido.” (fls. 537). Isso
porque, segundo ele, “não há relato da presença de quadro infeccioso
bucal na ocasião do diagnóstico do abcesso e da internação, ou seja,
não havia um foco primário para que ocorresse a disseminação. O
FOI
próprio autor relatou que não teve qualquer complicação imediata ou
tardia após as extrações.” (fls. 537). O perito ressaltou, ainda, que
“quanto ao uso de antibiótico profilático a literatura científica é rica em
afirmações no sentido de que sua indicação deve ser criteriosa e
reservada a pacientes com alguma doença de base. A própria doutrina
garantia.
juntada pelo autor (fls. 294 e 295) traz essa orientação. Nesse sentido
1102199-
não há como aferir algum indício de culpa nas ações empreendidas pelo
profissional, ora Réu.”
Sustenta, assim, o perito, que não persiste a afirmação dos médicos do
apelante de que o abcesso teria se originado das extrações dentárias,
consignando que “as anotações do prontuário na internação (fls. 21),
primeira evolução (fls. 22), e o relatório médico (fls. 291) referem-se a
histórico recente de extração dentária (aproximadamente 30 dias),
todavia esse procedimento ocorrera à aproximadamente 85 dias,
período suficiente para a reparação tecidual ter ocorrido, além do que
não havia qualquer queixa de infecção no local das extrações.” (fls.
538).
PRAZO PARA REPARAÇÃO CIVIL – ART. 27 CDC
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - ERRO ODONTOLÓGICO - PRESCRIÇÃO
QUINQUENAL RECONHECIDA- CODECON ART. 27 - RECURSO
DESPROVIDO. Tratando-se de Ação de Indenização por danos morais e
materiais, fundada em erro odontológico, o prazo prescricional é de
cinco anos, conforme previsto no art. 27 do CODECON, contado a partir
da data em que o autor tomou efetivo conhecimento da ocorrência do
defeito dos serviços que lhe foram prestados.
(TJMG - Apelação Cível 1.0394.05.045813-9/001, Relator(a): Des.(a)
Antônio de Pádua , 9ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 24/10/2006,
publicação da súmula em 18/11/2006
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