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Introdução
A comunidade de Santa Luzia do Maruanum é um grupo tradicional
diferenciado e possui formas próprias de organização social. Esse grupose auto
reconhecem como remanescentes de quilombo; como sujeitos que há séculos
ocupam e utilizam o território como condição para reprodução de seu modo de vida,
caracterizados por pescadores, agricultores, caçadores entre outros.Localizada na
zona rural do município de Macapá essa comunidade reivindica desde o ano de 2012
a delimitação e titulação de suas áreas, processo que passa por varias etapas, até
chegar ao objetivo final que é o titulo definitivo da terra emitido pelo
INCRA(Instituto Nacional de Colonização e reforma agraria).
A delimitação da área é importante para que a comunidade possa permanecer
com suas práticas de reprodução social, cultural e religiosa, e repassar as futuras
gerações. Marques (1994) expõe o acesso a terra como condição de reprodução do
modo de vida tradicional, mas isso não implica que ele seja imutável, ou seja,
passível de mudanças. Candido (1964) se referindo as comunidades rústicas vê na
sua evolução um processo na qual as necessidades dos grupos são sempre renovadas
e multiplicadas. A territorialidade como conjunto de relações ligadas ao espaço e
território diferenciado, serão discutidas como em Hasbaert (2004), por exemplo, que
enxerga o território a partir de novas bases, como a necessidade do homem
reterritorializar-se e reproduzir suas relações politicas e sociais em múltiplos
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Graduando em Geografia pela UNIFAP.e-mail: danielson.iaparra@gmail.com
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Geógrafo. Docente na UNIFAP.Coordenador do projeto Agricultura e Urbanização;
Abordagens Geográficas para a Amazônia. e-mail:roni@unifap.br; ronimayer@hotmail.com
territórios. Rezende da Silva (2008)que analisa a organização das comunidades
quilombolas, como forma de lutarem pela demarcação de suas terras e pelo direito
de reprodução de seus hábitos e costumes.
Essa pesquisa tem como objetivo principal compreender a realidade do
território quilombola de Santa Luzia, seu modo de vida e suas territorialidades em
face ao processo de titulação e delimitação de suas terras. Na primeira parte
discutiremos a legislação referente à politica de regularização de territórios
quilombolas e um breve histórico dos quilombos no Brasil. Em seguida, a discussão
se dará no âmbito local da política, em conjunto com o histórico de constituição dos
quilombos no Amapá. Na parte final do trabalho será feita uma reflexão teórica e
crítica dos territórios tradicionais e suas territorialidades. Debate acerca da formação
do quilombo de Santa Luzia, procurando desvendar o modo de vida através de
entrevistas orais dos sujeitos, referências bibliográficas e documentos cedidos pelo
INCRA. A pesquisa é relevante, visando contribuir com a temática sobre modo de
vida na comunidade de Santa Luzia e com a sociedade acadêmica.
É relevante compreender as leis que vão dar base jurídica e legal a titulação
dos territórios quilombolas e a preservação de suas múltiplas culturas no território
nacional. A Constituição Federal de 1988 em seus artigos 215 e 216 prevê o direito
de preservação, valorização e difusão de sua própria cultura.A convenção 169 da
Organização Internacional do Trabalho (OIT), ratificado pelo governo brasileiro
sobre os povos indígenas e tribais e apensado ao decreto 5051/2004 vai estabelecer o
direito deautodefiniçãodos grupos tradicionais; O Estatuto da Igualdade Racial lei
12.288/2010reafirma os direitos dos povos quilombolas e visa combater a
discriminação e as formas de intolerância contra os negros. Já o decreto 4.887/2003
e a Instrução normativa INCRA nº 57, são os principais instrumentos jurídicos que
visam regulamentar os procedimentos dos grupos remanescentes. O decreto trata da
regularização, delimitação, demarcação e titulação dos territórios quilombolas do
que tange o artigo 68, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT).
A partir deste decreto ficou da alçada do INCRA a função de delimitar, demarcar e
titular as terras das comunidades quilombolas no Brasil..
A promulgação das leis, normas, decretose estatutos que reconhecem a
importância histórica e cultural das comunidadesquilombolas em nosso país,vão
apenas reparar as injustiças emanadas há séculos contra esses povos que por muito
tempoforam marginalizados, desprovidos de direitos jurídicos e legais de fixar-se
em seus territórios. Foram impedidos não somente do acesso a terra, mas, sobretudo
de buscar meios para sobreviver e assim reproduzir seu modo de vida.
O primeiro passo para a regularização dos territórios é a certificação dos
grupos que se autoreconhecem como remanescentes de quilombo, como previsto no
artigo 2º§ 1ºdo decreto 4887/2003 e artigo 6º da instrução normativa nº 57.
A abertura do processo administrativo é o segundo passo para a
regularização fundiária dos territórios. Esse procedimento é realizado por oficio
junto ao INCRA ou por requerimento de qualquer interessado. Com a regularização
dessas áreas os grupos tradicionais passam a ter segurança jurídica de legítimos
proprietáriosdas terras.
A partir da abertura do processo outras etapas são importantes, como a
identificação dos limites territoriais indicados pela comunidade. Os estudos técnicos
e científicos, como o laudo antropológico, por exemplo, é que consistirá na
caracterização social, econômica, ambiental e cultural desses territórios. O Relatório
Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) é outro instrumento fundamental na
elaboração do processo de regularização fundiária, pois abordará informações
obtidas em campo e que envolve estudos antropológicos, geográficos, cartográficos,
informações socioeconômicas e outras, cuja finalidade é subsidiar técnica e
juridicamente o Estado para fins de regularização definitiva dos territórios
quilombolas.
As dificuldades na regularização fundiária são diversas, tal como número
insuficiente de trabalhadorespara a realização das atividades de campo, falta de
recursos financeiros. Além, das dificuldades burocráticas que dificultam o
andamento de regularização das terras. Podemos observar na figura 1que há um
pequeno crescimento na regularização fundiária dos territórios quilombolas,
principalmente nos anos de 2003 a 2010. No entanto, essa quantidade ainda é
pequena se comparada aos estabelecimentos agropecuários que ocupam cercade 40
% das terras em todo território nacional, segundo o IBGE.
ESTADO Nº DE PROCESSOSABERTOS
PARÁ 45
TOCANTINS 29
AMAPÁ 23
RONDÔNIA 06
AMAZONAS 02
TOTAL 105
Fonte: INCRA/ 2013, Org. DanielsonIaparrá, 2014.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS