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O CELEIRO DAS

TRIBULAÇÕES
O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

O CELEIRO DAS
TRIBULAÇÕES

POESIA

Eduardo Alvarenga

Edição do Autor
2015

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Alvarenga, Eduardo
O celeiro das tribulações : poesia /
Eduardo Alvarenga. -- Barueri, SP : Ed.
do Autor, 2015.

ISBN 978-85-918973-7-7

1. Poesia brasileira I.
Título.

15-04453 CDD-869.91

Índices para catálogo sistemático:


1. Poesia : Literatura brasileira 869.91

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

Elevo meus pensamentos ao


Criador e agradeço pela
dádiva concedida. Agradeço
também a todos que
acreditaram em mim e me
incentivaram a perseverar.

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

É muito tênue o limite que separa o ódio do amor, e é


muito tênue também o limite que separa a razão da abstração
de um poeta. Por isso ele joga todas suas tribulações dentro
do celeiro de sua alma e tenta discernir o caos subjetivo que é
a realidade que o rodeia.
O poeta exprime a vida em palavras e fica indignado
que suas palavras não sejam a própria vida. Então, em cada
poema que escreve ele nasce e morre um pouco, pois em
cada poema que escreve ele ama com ódio e odeia com amor.

O AUTOR

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

Eis o que há dentro do Celeiro:

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

PARTE I – Peripécias lexicográficas que exprimem o


jeito excêntrico de amar de um louco que se
autointitula poeta...

Não Presto .......................................................................................... 19

Vadiagem ............................................................................................ 20

Judas ..................................................................................................... 21

Frações de Vida ................................................................................ 22

Saudoso Perfume ............................................................................. 23

Insana Paixão .................................................................................... 24

Teu Corpo em Pêlo .......................................................................... 25

Ironia .................................................................................................... 26

Tambores ............................................................................................ 27

Meu Querer ........................................................................................ 28

Pés de Seda........................................................................................ 29

Meu Eu Insustentável ..................................................................... 30

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

ENTRE MUNDOS:
O Celeiro das Tribulações..................33

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

PARTE II – Peripécias lexicográficas que exprimem o


jeito excêntrico de odiar de um poeta que se
autointitula louco...

Andanças ............................................................................................. 39

O Sopro ................................................................................................ 40

Labirinto............................................................................................... 42

Precioso ............................................................................................... 43

Céu em Coma .................................................................................... 44

Academia de Papel .......................................................................... 45

Infeliz Natal ........................................................................................ 47

Queda Livre ........................................................................................ 48

Egoístas Estrelas ao Relento........................................................ 49

Fora de Curso .................................................................................... 50

O Mar da Reflexão ........................................................................... 51

De Dentro para Dentro .................................................................. 52

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

NÃO PRESTO

Insisto em você,
Não sei por quê?
Estou bem agora,
Mas depois sei que vou sofrer.

Sei que gostas, mas não amas...


E sei que amas o que detesto...
E mesmo sabendo que ficarei sozinho,
Insisto em você,
Porque também não presto.

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

VADIAGEM

Miragem...
Um basta à vida de vadiagem.
O vento leva e traz...
E onde quer que eu vá,
Levo raios e trovões na bagagem.

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

JUDAS

Compartilho o cálice da falsidade


Com o Judas rufião.

Confio-lhe meus segredos


E meus anseios para com
Aquela pequena Pequena.

Mas Judas tateou meu sonho


Com labaredas de dolosa aprovação.
Sem remorso, furou meus olhos,
Mas sangrou foi um inocente coração.

No nuance da situação, percebi


Aproximar-se a pequena Pequena,
Que desprendeu um sorriso sem fim.

Foi daí que morri por dentro:


Retribuí o que não era para mim...

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

FRAÇÕES DE VIDA

O fel da solidão
Amarga em minha garganta,
Trazendo pensamentos ruins
De bons momentos que passamos juntos.

Frações de vida
Que usurparam meu trono...
Pensar em você
É torturar meu sono.

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

SAUDOSO PERFUME

Quando ela passava, em seu perfume embebida,


Já a esperava para sentir tal fragrância.
Era o clímax do tesão de minha infância
Apreciar a mais exuberante mulher-da-vida.

Suas pernas eram pecados capitais,


Seu andar uma dança proibida.
Quando ela passava em seu perfume embebida,
Indignava as puritanas nos quintais.

Olhar em seus olhos era longa viagem,


Seu decote era um convite ao sexo.
Inveja-a até o seu próprio reflexo...
Banal adorno sua artística maquilagem.

Tenra e pecadora pele morena,


Era bom ver seu semblante de felicidade...
Máscara que escondia a amarga realidade,
Que ela enfrentava com dignidade serena.

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

INSANA PAIXÃO

Peça-me!
E desvendo pra ti
Os segredos das pirâmides do Egito...
Para poder olhar no fundo de seus olhos o infinito.

Peça-me!
E capturo Fênix,
Apenas para satisfazer o seu desejo...
Faço esse sacrifício em troca de seus beijos.

Peça-me!
Vou até o paraíso e trago-lhe
Um ramalhete de flores dos “Jardins do Éden”...
Mas os teus lábios não me pedem.

Peça-me!
E serei seu homem:
Na vida, na morte, no céu, na terra...
Na cama.
Mas tem de jurar que me ama.

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

TEU CORPO EM PÊLO

É clímax o gosto
De sentir meu rosto no teu rosto.
Meu gemido de prazer
É um divino apelo,
Para poder sentir teu corpo em pêlo.

Quero te respirar...
Tu és ar
Que se faz vento
E dá movimento à jangada no mar...

Ao meu amor,
Outrora respondeu-me não.
Hoje... talvez.
À disposição de seus caprichos
Meu coração é alvo mais uma vez.

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

IRONIA

Jamais esquecerei
Quando chegaste radiante,
Iluminou meu mundo num instante
Com seu sorriso de marfim.

Ah! Que sentimento ruim!


Hoje a minha alma chora,
Desde que ela foi embora
Louvar a Deus e aos querubins.

Que ironia, Pai do céu, que ironia!


Pois todos sabem que o Seu nome é amor.
Que ironia, Pai do céu, que ironia!
Aquela bela mulher que eu queria
Trocou meu amor pelo amor do Senhor.

O tempo passa e não leva minha dor...


Eu choro as mágoas dessa divina covardia,
Disputar a mulher que eu queria
Com o grande Criador.

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

TAMBORES

Presença que encandeia,


Seu pedido é prece Diabólica

É deliciosamente arrogante, é
Caridosamente sem-vergonha, é
Mentirosamente católica.

Sinto seu corpo molhado como um beijo...

Aproximando-se,
Ouço rufarem os tambores intrínsecos:
É a taquicardia do desejo.

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

MEU QUERER

Digeri sua essência a distância,


Tateando seu corpo com o olhar,
Suplicando o favor de seu calor,
Imaginando o poder de seu amar.

Quero perpetuar sua atenção,


Mas amargo a obrigação de viver.
Na gana de meu coração,
Vivo com a sensação de morrer.

Estou me perdendo de Deus,


Não vejo beleza em outra flor,
Choro por querer sorrir...
Será que é amor essa dor?

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

PÉS DE SEDA

Em tamancos grosseiros,
Pés corteses... amáveis...
Lindos,
Vistos de ângulos variáveis...

Esmalte púrpura,
Contornos ilustres,
Passos sociáveis.

Ah!... Nem descrevo-lhes o resto.


Sou egoísta sim!
Pois são pés de seda,
Que pisam delicados em mim.

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

MEU EU INSUSTENTÁVEL

Senti no peito o despeito


Da alma inquisitora,
Representando minha cena de terror.

Um soluço,
Que irrompe o ódio no amor

Hoje, meu eu insustentável,


Escuso de temperança,
Peneira sentimentos apócrifos.

Talvez seja um vício, ou um suplício,


Ou o amor esvaindo-se em cascata...
Talvez o anseio do acalanto de tua mão.

Ou talvez seja apenas um mergulho,


Para a angústia e a solidão.

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞
O CELEIRO DAS TRIBULAÇÕES

A luz trôpega
Estraçalha a escuridão espessa da alma,
Esgueirando-se entre recalcitrantes fortalezas.

Um peculiar suplício é o ritual da vida,


Fomentando cativas ilusões
Entre a odisséia de pecadores feridentos.

O sol arde lá fora


E os “Macunaínas” de plantão se fazem de
Combustível para a decadente máquina social.

Ponderando os fatos e os fardos,


O poeta edifica a resistência aos mentecaptos
De estigmas reacionários.

O silêncio vira um tom.


As pessoas choram suas fraquezas
E os demônios banham-se no rio de lágrimas.

No celeiro das tribulações,


Céticos letárgicos vivem um ódio cadenciado e
Beatos letárgicos ostentam facetas pusilânimes.

∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

II

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

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ANDANÇAS

Existirá alvo para minha lança,


Ou lutarei contra minhas próprias incertezas?

Na consciência cheia de farpas ou


Na estultícia de toda essa inocência,
O sol e lua são pontos de referência.

Siga-os por toda sua vida, mesmo sabendo


Que em toda sua vida nunca os alcançará.

Descobrirá que vai morrer sabendo quase nada,


Mas, pelo menos,
Não viveu parado em um mesmo lugar.

Sorriu e chorou sob o sol do meio-dia...


Sorriu e chorou sob os raios de luar...

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

O SOPRO

Venha serena brisa calejada,


Viajante de mares longínquos,
Abalroar em minha alma perene
E despertar esse sono de dor.

Na tormenta, corre e traz sua lança,


Ocupando seu escancarado espaço.
Na calmaria, desliza suave por todas as províncias,
Vigiando taciturnos olhares.

Ao longe surge calada e, de repente,


Não mais que de repente, invade
O mais íntimo e latejante desejo da carne.
Implacável, corta-a como navalha.

E quando fizerem chiste de seu sopro,


No instante de seu instante, mostra sua ira,
Educa em sua tempestade, varre as sobras do inimigo
E parte para uma nova viagem.

Depois, arrependida,
Leva as nuvens das colheitas aos áridos campos.
Transitando entre vales e planícies,
Enxuga o suor de carcomidos corpos
E derrete a geleira de lágrimas.

Seja a mensageira da intenção dos homens!


Esvoaça os cabelos da esposa, esvoaça a
Malícia da amante e semeia o entusiasmo nos
Corações de pedra, confundindo-os

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

No fatídico redemoinho de contendas.

Seja a mensageira da intenção dos quase Deuses


E faz-se de estrada aos prodigiosos alados,
Sustentando a luz da espada desembainhada.
Vai! Novamente irrompe e guia aos quatro cantos
Do Ser o sopro da essência do discernimento.

Aspira o ar dos continentes e


Dissemina a inspiração na tribo dos poetas.
Eleva ao topo mais alto o ímpeto da arte
E preserva com gana seu maior tesouro:
O Verbo...

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

LABIRINTO

Há orgias entre as harmonias urbanas:


Luzes, drogas, anonimato e sexo mecânico.
As tramas, as trevas, as tribos, as trovas...
O ciclo menstrual da descrença.

Há uma parte de mim soluçando o desejo reprimido,


A outra parte pisoteia arcaicos dogmas.

Há traição entre a matilha dos homens, fustigando


Intenções recheadas com o doce néctar da vaidade.
Impertinente como os mosquitos na testa suada
É o impulso irrefreado ao canibalismo.

Há uma parte de mim em você,


A outra blasfema sob seus sombrios estigmas.

Há um silêncio vivo na lua...


Há um canto lúgubre em seus lábios...
Há um homem sepultado no jazigo da solidão,
Por seu tributo espontâneo ao altruísmo.

Há uma parte de mim tola e previsível,


A outra é como um labirinto infestado de enigmas.

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

PRECIOSO

Pequeno gigante
Eu sonho suas faces,
Eu vivo suas fantasias,
Eu cresço nos seus pormenores,
Eu sorrio suas divinas heresias.

Laudas sublimes
De infindáveis poentes,
De harmonias (in)articuladas,
De saltimbancos lexicográficos,
De verdades inacabadas.

Pequeno gigante
E seus fulgentes caracteres...
Dos iconoclastas o abrigo.
Livro:
Meu único amigo.

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

CÉU EM COMA
A realidade opaca reflete
O aparente céu em coma.
O homem rastreado pela própria cobiça,
Escarnecendo com um quase sorriso, insípido.

Falanges engendrando castigos,


Tripudiando crenças de cândidos esponjosos,
Orquestrando a sociedade dos mortos-vivos.

Senhores esquálidos
Sorvem um vinho que vale um “José”,
Rejubilando o orgulho
De um desdém predicado.

A cigana, por alguns dracmas,


Prognostica redundantes novidades.
Convincente como um beijo apaixonado,
Enxerga ouro em mãos calejadas.

Os corruptores obram suas iniquidades


No dorso dos cativos, que, soluçando seu martírio,
Correm a esmo na absoluta escuridão da vida.

O orador das almas, o poeta,


Lê nas laudas do céu em coma,
Em letras bordadas de fogo:
Aqui jaz a fúria dos seres.

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

ACADEMIA DE PAPEL

Pasmem tolos altivos,


Pois urge em seu solo sagrado
A flor daninha literata

Rezem seus últimos postulados,


Degustando o chá da hipocrisia e
Sepulcrando mártires incógnitos

Robustos em suas fardas insossas,


Façam a guerra elitista, prevaricando
E se omitindo em incentivar a arte;

Sangrem fetos promissores


Em nome dos falsos pedestais
Da academia de papel

Agreguem influências
Para legitimar a estupidez
Do mais puro aborto cultural...

Na dialética de suas reuniões


Alimentem o conceito
De suas próprias divindades

E no fim, assistam apoplécticos ao


Apocalipse de sua instituição sem função,
Ofuscada pelo tom da arte que vem da plebe.

Observem nos guetos, nos subúrbios e


Nas senzalas contemporâneas,

[ 45 ]
O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

O florescimento das flores daninhas,

Semeadas pelos cavaleiros da poesia,


Que tocam a todos as suas trombetas,
Anunciando a nova era da pluralidade.

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

INFELIZ NATAL

Ho! Ho! Ho!


Lá vem o Papai Noel.
Presentes, barba branca e roupa vermelha...
Chega feliz em seu trenó, rasgando o céu.

Ho! Ho! Ho!


A criança rica, ansiosa o espera.
E do lado de fora,
A criança pobre espreita pela janela.

Ho! Ho! Ho!


Acabou-se o natal enfim.
A criança rica inflama-se de alegria:
— Papai Noel riu pra mim!

Ho! Ho! Ho!


Acabou-se o natal enfim.
A criança pobre inflama-se de ira:
— Papai Noel riu de mim!

[ 47 ]
O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

QUEDA LIVRE
Oh! Grande céu...
Meu céu... Seu céu...
Quem olha em seu eterno
Vive a sensação de queda livre.

Véu de nosso mundo,


O desfiladeiro mais profundo...
Em seu cerne oculta-se
O enigma da verdade original.

Um magnânimo de silêncios ensurdecedores,


Seduzindo-nos a mergulhos
Introspectivos na alma inculta.
Céu que é mel... Céu que é sal...

Em suas paredes sem idade


Foi escrita a história da humanidade.
Quem puder, que leia as estrelas
Na lauda da madrugada...

O que haverá além de seu infinito?


Qual será seu veredicto?
Grande céu que ri onipotente
De nossas pretensões desorientadas.

Grande professor da verdade...


O sol e a lua revezam-se em sua potestade.
Oh! Grande céu...
Queda livre de eternidade...

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

EGOÍSTAS ESTRELAS AO
RELENTO

Um sensível sentimento ao vento


É sensível a qualquer mudança de temperamento.
Vagas ambições ao relento...

Chove...
Um trovão estraçalha meditações reflexivas:
Apenas um divino grito de lamento.
Todos juntos poderíamos brilhar muito mais,
Mas existem egoístas estrelas ao relento.

Não jogue o jogo, mas marque o tento.


O tento:
Um sensível sentimento ao vento...

[ 49 ]
O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

FORA DE CURSO

O que me resta além da alma?


Não sou social.

Banha-me o suor do maldito e


Rendo-me às burrices passionais.

Não me vejo entre as formigas...


Sou simplesmente singular:
Um rio que não corre para o mar

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

O MAR DA REFLEXÃO

Ah! Inspiração inconstante,


Tu vagas nas correntezas do universo.
Vem me fazer poeta!
Faz-me divino em prosa...
Faz-me divino em verso...

Ah! Inspiração inconstante,


Alimenta meus anseios...
Alimenta em prosa e em verso.
Contemplo o mar da reflexão,
Nele, quero estar submerso...

[ 51 ]
O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

DE DENTRO PARA DENTRO

Bem-vindos à nossa fútil existência!


Um mundo saturado de verdades obscuras,
Onde entidades obscenas sapateiam sobre nossas esperanças.

Nas dependências do presente desolado,


Isolado, o isolado vaga em sua própria razão.
O isolado é o poeta desolado,
Que admira admirado o quadro de Deus:
Suas cores e formas, sua perfeição clandestina...
De fato, Ele é o poeta primitivo
E seu concreto mundo é abstrato.

E de algum lugar Ele ri das anomalias dos símios,


E os poetas derivados choram, tentando suportar
A consistente angustia que fere suas almas sombrias.
É sempre noite o dia de um poeta,
E o asfalto bronco torna-se seu leito que, insatisfeito,
Compartilha com mestres ridículos,

[ 52 ]
O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

Paladinos urbanos que vivem exortando falácias.


A noite é o palco das fraturas morais.

Quem possa que perdoe os novos


Que pisam nesse velho mundo velho.
Esse velho mundo imundo...
Tétrico e dispendioso,
Fumante e alcoólatra. Bastardo!...
Velho deserto, Saara de ignorantes.
Deja vu do paraíso...
É promíscuo e ocioso esse velho mundo, esse velho imundo.
Implodirá e levará em sua carne os segredos originais,
Que os vermes devorarão sem desvendá-los.

Oh! Incomparável mundo inexplicável.


Com caras e bocas, caras e bocas tentam explicá-lo,
Mas o Poeta apenas o contesta,
Pois ser poeta é ser a fagulha do universo,
É ser singular, porém paralelo.

[ 53 ]
O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

Então, estarreçam-se os monarcas de narcolepsia


Conveniente, pois, neste exato instante, o guerreiro literato
Marcha rumo ao Questionamento de seus dogmas,
Para desacorrentar a liberdade e disseminá-la.

O Poeta é assim mesmo, é órfão de regulamentos.


Mas sofre, pois sabe o que os outros pensam que ele é
(louco),
E sabe o que ele pensa que é
(Deus),
Mas não sabe o que Ele é realmente
(uma divindade ensandecida?).
Todavia não mente, apenas cria suas verdades.
E quando cria, sente o poder invadir seu corpo
E um fragor esotérico ejacular de seus poros,
Extasiando-se sob a possessão de Apolo e
Bailando a música dos iconoclastas.

Sempre conspirando contra a sociedade


Usurpadora de identidades, ele a vê padecer
Sob uma infecção incultural generalizada:
[ 54 ]
O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

Portas para outras portas,


Janelas com vista para outras janelas,
Os vampiros que escondem-se do sol,
A embriagues que não respeita o farol,
Os desgraçados nas calçadas, as infantes prostitutas,
As verdades absolutas escolhidas a dedo pela governanta de
Todas as mentes e de todos os lares: a mídia...

Prolifera-se o emburrecimento em massa e a cidade agoniza.


Só que o Poeta não pode ser engolido,
Ele é intragável e recalcitrante,
É o subconsciente esquizofrênico da consciência humana.

É vermelho o sangue que escorre das pedras


E frio o suave toque da arrogância.
Inexorável é a mão audaz que manipula a pena,
Hora idolatrando sua huri, hora praticando sevícias.

Veja o gado desnorteado!


Em meio à multidão passeia uma alma sem aura,
[ 55 ]
O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

Um ilustre gentio com a pele pigmentada de violência,


Tropeçando na descrença de seus sonhos e
Agradecendo pela vítrea vida que leva.
Irado por dentro, mas seguindo o fluxo da passividade.
Acorrentado a terrores ornamentais e
Dependente dos caprichos da rameira social.
Distinto transeunte, o Poeta é sua antítese.

Assim como é a natureza venenosa dos escorpiões


É a natureza dos poetas.
O Poeta nasce intransitivo.
E a única coisa que anseia é entender o sentido
Da falta de sentido que sente.
Uma aflição nauseante em querer alcançar
Algo inatingível, algo intangível.

Talvez este diligente incontentamento


Seja a força propulsora de suas divagações poéticas...
Talvez não.

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

Talvez o Brazil torne-se, algum dia, Brasil.


Um sonho lúcido é o solo tupiniquim, onde
Os nativos contemporâneos crescem lobotomizados,
Encerrados na imposição da xenofilia colonial.
Brasil-laboratório, em seu território
Os anjos caídos caíram de pé,
Esmagando a salutar inocência nativa.

Mas o Poeta não é inocente,


O Poeta malicioso é um cínico contundente.
Não é mais do que ninguém... nem menos...

O Poeta é simplesmente diferente.

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

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O Celeiro das Tribulações, por Eduardo Alvarenga

Agradeço especialmente ao meu amigo Sérgio Rodrigues,


pelo apoio na elaboração da capa deste livro.

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