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Suplemento

Edição I
Anexo ao boletim nº6

Olival à lupa
Farmácia
Histórias do Olival

Como já tivemos oportunidade de anunciar, criámos este espaço com a finalidade de satisfazer o
pedido que nos vem chegando de vários leitores nossos, especialmente de leitores jovens, que mostram curio-
sidade em conhecer um pouco melhor a sua e nossa Terra.
Sempre que oportuno, este espaço aparecerá, como parte integrante do nosso Boletim e, para este
número, temos a colaboração do Senhor Sebastião Lopes, a quem deixamos aqui o nosso muito obrigado.
Este filho do Olival tem as suas raízes na Casaria, onde nasceu, fixou-se em Leiria, onde exerceu a sua pro-
fissão e, amiúde, vem até à Cortada, onde retempera forças e donde contempla o seu Olival, às vezes, com
grande nostalgia. Foi num desses momentos nostálgicos que pegou na sua caneta e escreveu:

Ganância

Refiro-me à secular botica que existiu na Quinta da Esperança, cujo proprietário com espírito
empreendedor e sentido de oportunidade decidiu, a determinado altura, dar o salto qualitativo no seu negócio.
Este salto qualitativo foi dado de forma pensada e sustentada. Primeiro achou que tinha chegado o momento
de modernizar o seu negócio e para isso impunha-se a criação de um espaço adequado e que melhor servisse
a população, porque mais central e abrangente. Foi assim que surgiu o belo edifício que, ainda hoje, teima em
ser a casa da farmácia, onde esta, efectivamente, funcionou durante anos, no rés do chão, enquanto o 1º andar
serviu de residência aos seus proprietários. Depois, o proprietário mandou o seu filho Carlos cursar farmácia
para Coimbra, tornando-se este o Director da Farmácia que dirigiu enquanto viveu. O Olival foi pioneiro, ao
usufruir de um bem por muitos desejado e a que poucos tinham acesso, desde há muito e durante quase dois
séculos. Esta Farmácia atendia a sua clientela a qualquer hora do dia ou da noite e não havia fins de semana.
Em qualquer momento, o povo aviava os seus remédios e mezinhas e foi assim até o Dr. Carlos ser vivo. Em
consequência da sua morte e não havendo herdeiros que lhe dessem continuidade, foi vendida, mudou de
poiso e, em breve, começou a andar de mão em mão, tendo-se transformado naquilo que é hoje, qualquer
coisa muito inferior à botica do século XIX. Uma mais valia transformou-se numa menos valia, por culpa de
gente poderosa e gananciosa. E por não ter havido ninguém com capacidade e vontade de se impor, impedin-
do o desfecho triste que reservaram à Farmácia do Olival e impedindo que se espezinhassem os mais fracos.
Fiquei indignado quando tive a certeza que a farmácia tinha sido transferida para Fátima, onde o que
não faltam são farmácias.
Não vivo no Olival, mas vivi cá vinte e tal anos e lembro-me dos meus pais e avós se irem aviar à
farmácia. Estou nos 90 anos de idade, gosto do Olival e admira-me que a Junta de Freguesia e o Povo não se
tenham imposto, nem que tivesse de estar fechada algum tempo, porque não tardaria a aparecer alguém, sem
ganância, disposto a pô-la a funcionar.
Sebastião Lopes de Sousa
A Propósito…
A propósito do que escreveu o nosso colaborador, na página anterior, faz sentido referir-
mo-nos ao problema da farmácia, informando o que sobre este assunto o MOIA tem dito e feito
Em setembro de 2009, escrevemos no nosso programa eleitoral que “logo que se concre-
tizasse a saída da Farmácia do Olival para Fátima, já autorizada por despacho de 12 de maio de
2009 do Conselho Diretivo do INFARMED, desencadearíamos o processo para tornar viável a ins-
talação de nova farmácia, ao abrigo da Portaria nº 1430 de 02 de novembro”. Não obtivemos, a
maioria que nos permitisse ser Junta e desencadear o processo, mas, nem por isso deixámos de
considerar ser urgente a instalação de uma farmácia no Olival e, por isso, em setembro de 2010,
levámos o assunto à discussão da Assembleia, propondo que a Junta requeresse ao INFARMED
(Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento — Ministério da Saúde) a abertura de concur-
so para a instalação da nova farmácia, ao abrigo da Portaria n.º 1430 de 02 de novembro de
2007 que facultámos à Assembleia e se transcreve nas partes que interessam:
“ Artigo 2.º
Requisitos
1 — A abertura de novas farmácias depende do preenchimento cumulativo dos seguintes
requisitos:
a) Capitação mínima de 3500 habitantes, por farmácia aberta ao público no município, salvo
quando a farmácia é instalada a mais de 2 km da farmácia mais próxima;
b) Distância mínima de 350 m entre farmácias, contados, em linha reta, dos limites exteriores
das farmácias;
c) Distância mínima de 100 m entre a farmácia e uma extensão de saúde, um centro de saúde
ou um estabelecimento hospitalar, contados, em linha reta, dos respetivos limites exteriores, sal-
vo em localidades com menos de 4000 habitantes.
Artigo 3.º
Concurso Público
2 — As administrações regionais de saúde ou as autarquias locais têm legitimidade para reque-
rer ao INFARMED, a abertura do procedimento concursal”
Perante isto, a Junta, em vez de pegar numa folha de papel e requerer a abertura do pro-
cedimento concursal e exigir a decisão, dentro do prazo legal, leu na Portaria o que lá não está,
para nada fazer e ficar “sossegada no seu canto”. Para nós é claro que a distância de 2 km à far-
mácia mais próxima, referida em a) do n.º 1 do artigo 2.º da Portaria não é medida em linha reta,
se não a mesma portaria especificá-lo-ia tal como o fez para as alíneas b) e c), até porque, como
é obvio, se nos deslocamos à farmácia da Urqueira, de Caxarias ou à da Gondemaria, não o faze-
mos de avião. Porém, a Junta diz que a distância é medida em linha reta, vamos lá saber porquê!
Seria também interessante saber porque é que os elementos da Junta entendem que a
Freguesia do Olival não se pode considerar autarquia para requerer a abertura do concurso. Isto
só na cabeça deles e dos seus chefes, porque, com frequência e com grande satisfação sua,
argumentam: “não são estas as ordens que temos”, “temos indicações neste ou naquele senti-
do”, “temos ou estamos à espera de ordens superiores”, etc., etc. Pobre freguesia que tais autar-
cas tem! Nem parece que se trata das mesmas pessoas que, quando em 2009 se apresentaram
ao eleitorado, afirmaram, escrevendo a propósito do encontrar de soluções para os muitos e gra-
ves problemas que afetam o Olival como iriam fazer (e escreveram eles): “pressionando a Câma-
ra e os Ministérios que dizem respeito aos nossos problemas”. Mas, uma coisa é dizer e outra é
fazer. De facto, como escreveu o nosso colaborador, Senhor Sebastião Lopes, só a vontade e
capacidade para se impor é capaz de impedir que a ganância impere e interfira nas decisões que
são de elementar justiça.

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