Você está na página 1de 8

05/04/19

LGPD: Avanços
e Retrocessos

Profa. Dra. Cíntia Rosa Pereira de Lima


cintiar@usp.br

SOCIEDADE  E  ECONOMIA  INFORMACIONAL:


O  que  é  Sociedade  Informacional?

Manuel  Castells  -­ trilogia  The  Information  Age:  


economy,  society  and  culture.

Vol.  I:  The  rise  of  the  network  society:  the  


information  age:  economy,  society  and  culture.  
Cornwall:  Blackwell  Publishers,  2000.

Vol.  II:  The  power  of  Identity. 2  ed.  Malden  


(MA):  Blackwell  Publishers,  2007.

Vol.  III:  End  of  Millennium. 2  ed.  Malden  (MA):  


Blackwell  Publishers,  2006.

1
05/04/19

SOCIEDADE  E  ECONOMIA  INFORMACIONAL:

v Expressão  Equívoca Sociedade da Informação X Sociedade


Informacional:

a informação sempre esteve relacionada ao


v Sociedade  do   desenvolvimento social de alguma forma;; no
Conhecimento entanto, a sociedade atual é uma “sociedade
[Pierry  Lèvy] informacional” porque é caracterizada pela
geração, pelo processamento e pela transmissão
da informação como fontes da produtividade e de
v Sociedade  da  
poder haja vista às novas tecnologias. (Manuel
Comunicação Castells)
[José  Oliveira  Ascensão]

OBS:  Sociedade  de  Indústria  X  Sociedade  Industrial

SOCIEDADE  E  ECONOMIA  INFORMACIONAL:


Nova Economia
Manuel Castells:
Marco espacial: Origem determinada (Estados Unidos, Califórnia)
Marco temporal: Década 90

Características:
vAparente gratuidade (“There is no free lunch!”) -­ John Perry Barlow: “Noncommercial distribution
of information increases the sale of comercial information. Abundance breeds abundance. ”

vInformacional: produtividade e competitividade depende da capacidade de gerar, processar e


aplicar de maneira eficiente as informações baseadas no conhecimento científico e tecnológico.

vGlobal: a produção, a distribuição e o consumo são organizados em nível global e com a


interligação entre vários agentes da economia

vInterconectada (“networked” Manuel Castells): as novas condições socioeconômicas impõem a


interconexão em redes entre as empresas, quando mais sólida for tal network, mas competitiva a
produção destes agentes econômicos será.

2
05/04/19

DESAFIOS  PARA  A  TUTELA  DOS  DADOS  PESSOAISNO  CONTEXTO  DA  


SOCIEDADE  INFORMACIONAL:
Guido Alpa: a globalização dos mercados, a
desmaterialização da moeda, o desenvolvimento
planetário dos bancos de dados, a
automatização das atividades humanas, a
reorganização do trabalho (fenômenos frutos da
“rivoluzione digitale” derivada da “rivoluzione
informática”), a Internet se torna a protagonista
de uma inovação que marca a história universal
e individual do fim do século XX ao início do
século XXI.

(Cyber Law. Problemi Giuridici connessi allo


Sviluppo di Internet. In: La Nuova
Giurisprudenza Civile Commentata, ano XIV, 2a
parte, Rivista Bimestrale de le Nuove Leggi Civili
Commentate . Padova: CEDAM, 1998. pp. 385 –
388. p. 385.)

DESAFIOS  PARA  A  TUTELA  DOS  DADOS  PESSOAISNO  CONTEXTO  DA  


SOCIEDADE  INFORMACIONAL:
Natalino  Irti  
[  Prof.  Universidade  de  Roma,  La  Sapienza  ]

O espaço telemático desconhece fronteiras.


Portanto, o desenvolvimento tecnológico
desencadeou tais fenômenos globais que colocaram
em xeque as ideias de tempo e de espaço nas quais
o Direito foi idealizado. De maneira que o direito que
tem e deve ter uma aplicação espacial;; no entanto,
atualmente a forma espacial do Direito não está
reclusa às fronteiras de um determinado Estado, mas
de outros também.

(Le categorie Giuridiche della Globalizzazione. In:


Rivista di Diritto Civile, ano XLVIII, 1° Parte. Padova:
CEDAM, 2002. pp. 625 – 635. p. 629.)

3
05/04/19

ÂMBITO  DE  APLICAÇÃO:

MARCO  CIVIL  DA  INTERNET  

Art.  11.   Em  qualquer  operação  de  coleta,  armazenamento,  guarda  e  tratamento  de  registros,  de  
dados  pessoais  ou  de  comunicações  por  provedores  de  conexão  e  de  aplicações  de  internet  em  
que  pelo  menos  um  desses  atos  ocorra  em  território  nacional,  deverão  ser  obrigatoriamente  
respeitados  a  legislação  brasileira  e  os  direitos  à  privacidade,  à  proteção  dos  dados  pessoais  e  
ao  sigilo  das  comunicações  privadas  e  dos  registros.
§ 1o O  disposto  no caput aplica-­se  aos  dados  coletados  em  território  nacional  e  ao  conteúdo  das  
comunicações,  desde  que  pelo  menos  um  dos  terminais  esteja  localizado  no  Brasil.
§ 2o O  disposto  no caput aplica-­se  mesmo  que  as  atividades  sejam  realizadas  por  pessoa  
jurídica  sediada  no  exterior,  desde  que  oferte  serviço  ao  público  brasileiro  ou  pelo  menos  uma  
integrante  do  mesmo  grupo  econômico  possua  estabelecimento  no  Brasil.
§ 3o Os  provedores  de  conexão  e  de  aplicações  de  internet  deverão  prestar,  na  forma  da  
regulamentação,  informações  que  permitam  a  verificação  quanto  ao  cumprimento  da  legislação  
brasileira  referente  à  coleta,  à  guarda,  ao  armazenamento  ou  ao  tratamento  de  dados,  bem  como  
quanto  ao  respeito  à  privacidade  e  ao  sigilo  de  comunicações.
§ 4o Decreto  regulamentará  o  procedimento  para  apuração  de  infrações  ao  disposto  neste  artigo.

ÂMBITO  DE  APLICAÇÃO:

LGPD
Art.  3º   Esta  Lei  aplica-­se  a  qualquer  operação  de  tratamento  realizada  por  pessoa  natural  ou  por  
pessoa  jurídica  de  direito  público  ou  privado,  independentemente  do  meio,  do  país  de  sua  sede  
ou  do  país  onde  estejam  localizados  os  dados,  desde  que:
I -­ a  operação  de  tratamento  seja  realizada  no  território  nacional;;
II  -­ a  atividade  de  tratamento  tenha  por  objetivo  a  oferta  ou  o  fornecimento  de  bens  ou  serviços  
ou  o  tratamento  de  dados  de  indivíduos  localizados  no  território  nacional;;  ou (Redação  
dada  pela  Medida  Provisória  nº  869,  de  2018)
III  -­ os  dados  pessoais  objeto  do  tratamento  tenham  sido  coletados  no  território  nacional.
§ 1º   Consideram-­se  coletados  no  território  nacional  os  dados  pessoais  cujo  titular  nele  se  
encontre  no  momento  da  coleta.
§ 2º   Excetua-­se  do  disposto  no  inciso  I deste  artigo  o  tratamento  de  dados  previsto  no  inciso  IV  
do caput do  art.  4º  desta  Lei.

4
05/04/19

PROTEÇÃO  DOS  DADOS  PESSOAIS:  CONCEITOS


DIRETIVA  95/46/CE RDPR  2016/679 LGPD
Art.  2°,  alínea  “a”:  “qualquer   Art.  4º,  inc.  I:  “informação  relativa   Art.  5º,  inc.  I:  “I  -­‐ dado  pessoal:  
informação  relativa  a  uma  pessoa   a  uma  pessoa  singular   informação  relacionada  a  pessoa  
singular  identificada  ou   identificada  ou  identificável,  é   natural  identificada  ou  
identificável;  é  considerado   considerada  identificável  uma   identificável;”
identificável  todo  aquele  que   pessoa  singular  que  possa  ser  
possa  ser  identificado,  direta  ou   identificada,  direta  ou   PL  5.276-­‐A:  “dado  relacionado  à  
indiretamente,  nomeadamente   indiretamente,  em  especial  por   pessoa  natural  identificada  ou  
por  referência  a  um  número  de   referência  a  um  identificador,   identificável,  inclusive  números  
identificação  ou  a  um  ou  mais   como  por  exemplo  um  nome,  um   identificativos,  dados  locacionais  
elementos  específicos  da  sua   número  de  identificação,  dados   ou  identificadores  eletrônicos  
identidade  física,  fisiológica,   de  localização,  identificadores  por   quando  estes  estiverem  
psíquica,  económica,  cultural  ou   via  eletrônica  ou  a  um  ou  mais   relacionados  a  uma  pessoa.”
social;“ elementos  específicos  da  
identidade  física,  fisiológica,  
genética,  mental,  económica,  
cultural  ou  social  dessa  pessoa  
singular;”

PROTEÇÃO  DOS  DADOS  PESSOAIS:  CONCEITOS


DIRETIVA  95/46/CE RDPR  2016/679 LGPD
Art.  8°,  “1”:  “Os  Estados-­‐membros   Art.  9º,  “1”:  “É  proibido  o  tratamento   Art.  5º,  inc.  II:  “dado  pessoal  sensível:  
proibirão  o  tratamento  de  dados   de  dados  pessoais  que  revelem  a   dado  pessoal  sobre  origem  racial  ou  
pessoais  que  revelem  a  origem  racial   origem  racial  ou  étnica,  as  opiniões   étnica,  convicção  religiosa,  opinião  
ou  étnica,  as  opiniões  políticas,  as   políticas,  as  convicções  religiosas  ou   política,  filiação  a  sindicato  ou  a  
convicções  religiosas  ou  filosóficas,  a   filosóficas,  ou  a  filiação  sindical,  bem   organização  de  caráter  religioso,  
filiação  sindical,  bem  como  o   como  o  tratamento  de  dados   filosófico  ou  político,  dado  referente  à  
tratamento  de  dados  relativos  à  saúde   genéticos,  dados  biométricos  para   saúde  ou  à  vida  sexual,  dado  genético  
e  à  vida  sexual.” identificar  uma  pessoa  de  forma   ou  biométrico,  quando  vinculado  a  
inequívoca,  dados  relativos  à  saúde  ou   uma  pessoa  natural;”
dados  relativos  à  vida  sexual  ou  
orientação  sexual  de  uma  pessoa.” PL  5276-­‐A  “dados  pessoais  sobre  a  
origem  racial  ou  étnica,  as  convicções  
religiosas,  as  opiniões  políticas,  a  
filiação  a  sindicatos  ou  a  organizações  
de  caráter  religioso,  filosófico  ou  
político,  dados  referentes  à  saúde,  ou  
à  vida  sexual  e  dados  genéticos  ou  
biométricos.”

5
05/04/19

PROTEÇÃO  DOS  DADOS  PESSOAIS:  autodeterminação  informacional


DIRETIVA  95/46/CE RDPR  2016/679 LGPD
Art.  2°,  alínea  “h”:  “qualquer   Art.  4º,  “11”:  “uma  manifestação   Art.  5º,  inc.  XII:  “consentimento:  
manifestação  de  vontade,  livre,   de  vontade,  livre,  específica,   manifestação  livre,  informada  e  
específica  e  informada,  pela  qual   informada  e  explícita,  pela  qual  o   inequívoca  pela  qual  o  titular  
a  pessoa  em  causa  aceita  que   titular  dos  dados  aceita,  mediante   concorda  com  o  tratamento  de  
dados  pessoais  que  lhe  dizem   declaração  ou  ato  positivo   seus  dados  pessoais  para  uma  
respeito  sejam  objeto  de   inequívoco,  que  os  dados   finalidade  determinada;”
tratamento.” pessoais  que  lhe  dizem  respeito  
sejam  objeto  de  tratamento;” PL  5276-­‐A  “manifestação  livre,  
informada  e  inequívoca  pela  qual  
o  titular  concorda  com  o  
tratamento  de  seus  dados  
pessoais  para  uma  finalidade  
determinada”

Antecedente  da  LGPD:  Marco  Civil  da  Internet  


• “Mini-­‐estatuto”  de  proteção  de  dados  pessoais:  efeitos  pós-­‐snowden  
para  “endurecer”  o  direito  à  privacidade.
VIII - informações claras e completas sobre coleta, uso, armazenamento, tratamento e
proteção de seus dados pessoais, que somente poderão ser utilizados para finalidades que:
a) justifiquem sua coleta; b) não sejam vedadas pela legislação; e c) estejam especificadas nos
contratos de prestação de serviços ou em termos de uso de aplicações de internet;

IX - consentimento expresso sobre coleta, uso, armazenamento e tratamento de dados


pessoais, que deverá ocorrer de forma destacada das demais cláusulas contratuais;

X - exclusão definitiva dos dados pessoais que tiver fornecido a determinada aplicação de
internet, a seu requerimento, ao término da relação entre as partes, ressalvadas as hipóteses
de guarda obrigatória de registros previstas nesta Lei;

6
05/04/19

LEI  GERAL  BRASILEIRA  DE  PROTEÇÃO  DE  DADOS  PESSOAIS  (LEI  N.  
13.709,  DE  14/08/2018)

• Art.  1º    Esta  Lei  dispõe  sobre  o  tratamento  de  dados  pessoais,  
inclusive  nos  meios  digitais,  por  pessoa  natural  ou  por  pessoa  jurídica  
de  direito  público  ou  privado,  com  o  objetivo  de  proteger  os  direitos  
fundamentais  de  liberdade  e  de  privacidade  e  o  livre  
desenvolvimento  da  personalidade  da  pessoa  natural.

• Fundamentos  (art.  2º)

• Princípios  (art.  6º)

LEI  GERAL  BRASILEIRA  DE  PROTEÇÃO  DE  DADOS  PESSOAIS  (LEI  N.  
13.709,  DE  14/08/2018)

• Art. 8º O consentimento previsto no inciso I do art. 7º desta Lei deverá ser fornecido
por escrito ou por outro meio que demonstre a manifestação de vontade do titular.
• § 1º Caso o consentimento seja fornecido por escrito, esse deverá constar de cláusula
destacada das demais cláusulas contratuais. [...]
• § 3º É vedado o tratamento de dados pessoais mediante vício de consentimento.
• § 4º O consentimento deverá referir-se a finalidades determinadas, e as
autorizações genéricas para o tratamento de dados pessoais serão nulas.
• § 5º O consentimento pode ser revogado a qualquer momento mediante
manifestação expressa do titular, por procedimento gratuito e facilitado, ratificados
os tratamentos realizados sob amparo do consentimento anteriormente manifestado
enquanto não houver requerimento de eliminação, nos termos do inciso VI do caput
do art. 18 desta Lei.

7
05/04/19

PONDERAÇÕES  &  CONCLUSÕES

v Lei  Geral  de  Proteção  de  Dados  Pessoais:  Lei  n.  13.709/2018:  
desafios  quanto  ao  enforcement;;

v LGPD  – avanços:  segurança  jurídica,  autoridade  nacional  de  


proteção  de  dados  pessoais,  tutela  da  criança  e  do  adolescente  
(art.  14),  aplica-­se  ao  Poder  Público  (arts.  23  e  ss).

v LGPD  – retrocessos:  conceito  de  dados  pessoais,  enforcement,  


mito  consentimento  informado,  deficiências  e  insuficiências.

OBRIGADA!

Profa.  Dra.  
Cíntia  Rosa  Pereira  de  Lima

cintiar@usp.br

Volume  IV  
em  2019  !

Você também pode gostar