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ECOLOGIA GERAL
1. INTRODUÇÃO À ECOLOGIA
N o século XIX, o biólogo e naturalista alemão Ernest Haeckel (1866) partindo da observa-
ção de que “o conhecimento biológico nunca é completo quando o organismo é estudado
isoladamente”, deu um novo rumo à História Natural - hoje Biologia, criando uma nova ciência -
a Ecologia.
O termo eco deriva do grego oikos que significa lugar onde se vive, casa, ambiente, e logos é
estudo, ciência, tratado. No sentido literal, Ecologia seria o estudo dos seres vivos em sua casa,
no seu ambiente, ou ainda, a ciência que estuda as relações dos seres vivos com o meio ambien-
te. Numa concepção mais moderna, a ciência que estuda a estrutura e funcionamento da Na-
tureza, considerando que a humanidade é uma parte dela (Odum, 1972).
Com a criação da ciência Ecologia, surgiram os termos ecólogo e ecologista. Este identifica os
militantes de organizações em defesa do meio ambiente, enquanto que ecólogo é o profissional -
pesquisador, cientista, que tem formação e trabalha no campo da ecologia.
Para a ciência ecológica, o meio ambiente é o conjunto de condições físicas (luz, temperatura,
pressão...), químicas (salinidade, oxigênio dissolvido...) e biológicas (relações com outros seres
vivos) que cercam o ser vivo, resultando num conjunto de limitações e de possibilidades para
uma dada espécie: o meio ambiente é tudo que nos cerca.
Sempre heterogêneo, o meio ambiente segue variando de um local para outro, dando origem a
agrupamentos de seres vivos diferentes. Tais agrupamentos - comunidades - interferem na com-
posição do meio e são beneficiados ou prejudicados com essas transformações. O meio ambiente
assim evolui, para melhor ou para pior, conforme a espécie considerada. Num lago que recebe
adubo, proveniente de projetos agrícolas na vizinhança, se for considerada a população de algas,
2 - Introdução às Ciências do Ambiente para Engenharia
esta vai ser favorecida, aumentando as suas possibilidades de desenvolvimento, pela maior oferta
de nitratos e fosfatos; porém, se forem considerados os peixes, estes têm suas possibilidades de
desenvolvimento limitadas pela redução do oxigênio, ocasionada pela grande proliferação de al-
gas, e como resultado morrem asfixiados. O meio ambiente melhorou para as algas e piorou para
as populações de peixes.
O meio ambiente está sempre mudando e evoluindo. O clima, os seres vivos e as próprias ativi-
dades humanas modificam o ambiente e são influenciadas por essas modificações, gerando novas
alterações. Esta é a essência da evolução. Alguns seres vivos são incapazes de adquirir os recur-
sos que necessitam e se extinguem. Outros desenvolvem constantemente melhores formas de a-
daptação aos problemas do ambiente mutante. Diz-se que estes evoluíram. Podemos dizer então
que o meio ambiente é ‘seletivo’ na medida que certas características dão aos seus possuidores
certa vantagem na sobrevivência e procriação. Diz-se que os indivíduos melhor adaptados ao
ambiente mutante ‘foram selecionados’, por meio da seleção natural.
No século passado a poluição nas cidades inglesas fez com que a seleção natural atuasse em uma
espécie de mariposas. No início da industrialização a maioria das mariposas salpicadas era clara
com manchas escuras, confundindo-se com as cascas das árvores e escondendo-se de seus preda-
dores. Quando a fuligem das fábricas escureceu as árvores e a paisagem urbana de um modo ge-
ral, as mariposas claras ficaram mais visíveis aos pássaros. Alguns anos depois as mariposas es-
curas tornaram-se mais comuns nas cidades e as claras salpicadas prevaleciam nos campos, me-
nos poluídos. Tal fenômeno de seleção natural ficou conhecido como melanismo industrial.
A seleção nem sempre é natural. O homem aprendeu a utilizar a mutação para produzir organis-
mos que atendam a algum propósito útil ou desejável, criando o processo de seleção artificial. Os
organismos assim obtidos, sobrevivem no ambiente sob a proteção humana. Um exemplo típico
é a galinha doméstica, seu ancestral das selvas africanas é extremamente astuto e bota cerca de
uma dúzia de ovos por ano. Algumas galinhas domésticas botam uma dúzia de ovos por mês,
são extremamente dóceis, perderam a astúcia e, se fossem devolvidas ao seu ambiente natural,
seriam extintas.
O meio ambiente é sempre o conjunto de possibilidades físicas, químicas e biológicas para cada
indivíduo - espécie - de uma comunidade. Neste sentido, a espécie Homo sapiens, entre milhões
de espécies da Terra, tem sido o foco de toda atenção da ciência ecológica, dada a sua capacidade
de transformar as condições ambientais, em nome da qualidade de vida humana.
O meio ambiente é o palco onde se desenrola todo o estudo da ecologia. Neste, segundo Odum
(1972), cada espécie considerada tem um ‘endereço’- hábitat, e desenvolve uma ‘profissão’ -
nicho ecológico.
O hábitat de um organismo é o local onde ele vive; ou ainda, é o ambiente que oferece um con-
junto de condições favoráveis ao desenvolvimento de suas necessidades básicas - nutrição, prote-
ção e reprodução. O nicho ecológico é o papel de uma espécie numa comunidade - como ela faz
para satisfazer as suas necessidades. As algas, por exemplo, têm o seu hábitat na água superficial
de um lago (zona iluminada), e parte do seu nicho ecológico é a produção de matéria orgânica,
através da fotossíntese, a qual serve de alimento para sua população e para alguns animais.
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Teoricamente, o hábitat seria aquele ambiente em que as condições ambientais atingem o ponto
ótimo e uma espécie consegue reproduzir em toda a sua plenitude, ou seja, consegue desenvolver
o seu potencial biótico. Porém, a reprodução sem oposição não pode manter-se por muito tempo
em um ambiente de recursos limitados. Desse modo, o ambiente se encarrega de controlar o cres-
cimento da população através da resistência ambiental, o que pode fazer com que a população
retorne ao ponto de partida.
2. NOÇÕES DE BIOSFERA
A biosfera é definida como sendo a região do planeta que contém todo o conjunto dos seres
vivos e na qual a vida é permanentemente possível. O termo ‘permanentemente possí-
vel’ é atrelado ao conceito de biosfera significando ‘ambiente capaz de satisfazer às necessidades
básicas dos seres vivos, de forma permanente’. Neste contexto, a biosfera não passa de uma del-
gada casquinha em torno do planeta, uma vez que as condições de vida vão diminuindo à medida
que nos afastamos da superfície, até que cessam a, aproximadamente, 7 km acima do nível do
mar e abaixo deste não ultrapassa a 6 km. No total a biosfera não vai além de 13 km de espessu-
ra.
Para satisfazer as necessidades dos seres vivos, são necessários, por um lado, a presença de água,
luz, calor e matéria para a síntese dos tecidos vivos e, por outro, ausência de condições prejudici-
ais à vida como substâncias tóxicas, radiações ionizantes e variações extremas de temperatura. A
biosfera apresenta todas essas condições: uma fonte externa de luz e calor - o sol; água que chega
a cobrir ¾ da superfície do planeta e substâncias minerais em contínua reciclagem nos seus vá-
rios ambientes. Apresenta ainda um escudo contra radiações ionizantes provenientes do sol - a
camada de ozônio - e grandes massas de água que se encarregam de manter a temperatura média
do planeta em torno dos 15oC, sem grandes variações.
Na realidade o termo correto para biosfera seria ecosfera (eco = oikos = casa), correspondendo
ao conjunto de biosfera, atmosfera, litosfera e hidrosfera. Porém popularizou-se o termo biosfera
que é usado no seu sentido funcional e não descritivo, ficando esta dividida em três regiões físi-
cas distintas:
♦ litosfera - Camada superficial sólida da Terra, constituída de rochas e solos, acima do nível
das águas. Compreende ¼ da biosfera, apresenta variações de temperatura, umidade, luz, etc.
e possui enorme variedade de flora e de fauna;
♦ hidrosfera - Representada pelo ambiente líquido: rios, lagos e oceanos. Recobre ¾ da super-
fície total do planeta, apresenta condições climáticas bem mais constantes do que na litosfera,
salinidade variável (nos oceanos chega a 35 gramas/litro) e possui menor variedade de plantas
(20 para 1) e de animais (9 para 1) que a litosfera;
♦ atmosfera - Camada gasosa que circunda toda a superfície da Terra, envolvendo portanto, os
dois ambientes acima citados.
A história da Terra começou há 4,6 bilhões de anos e o início da vida remonta a aproximadamen-
te 1,1 bilhão de anos depois - o ser vivo mais antigo conhecido, uma bactéria, formou-se há cerca
de 3,5 bilhões de anos. Nas eras posteriores, a vida foi se diversificando cada vez mais: o padrão
de evolução assemelha-se a uma árvore com uma espécie na ponta de cada ramo. De um tronco
único, os seres vivos evoluíram e formaram os reinos do mundo vivo: monera, protista, fungi,
vegetal e animal. Os primeiros exemplares do reino vegetal datam de cerca de 1,5 bilhões de
anos - estes foram para a terra firme há cerca de 420 milhões de anos. As esponjas, membros
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mais simples do reino animal, datam de 570 milhões de anos. Os insetos surgiram há aproxima-
damente 250 milhões, os mamíferos há 175 milhões e o homem há 46 milhões de anos. Compa-
rando com a idade da Terra, a espécie Homo sapiens está na sua infância, principalmente se con-
siderarmos os seus impulsos destrutivos.
2.2. COMPLEXIDADE
A biosfera caracteriza-se por uma estrutura muito complexa. A sua composição é resultado de
fenômenos físicos associados à própria atividade biológica que aí se realiza há milhares de anos.
As atividades de nutrição e de respiração das plantas, dos animais e dos microrganismos, que ha-
bitam o solo e as águas, alteram quimicamente a composição do ar atmosférico, por consumirem
alguns gases que o compõem e produzirem outros; modificam a estrutura do solo, por cavarem
buracos e galerias ou por produzirem alterações químicas do meio; modificam, ainda, a composi-
ção da água em virtude das trocas de alimentos e compostos químicos que realizam no seu inte-
rior. Portando, desde a sua criação, a biosfera está em constante modificação pela ação dos pró-
prios seres vivos, o que de certa forma a torna frágil, principalmente quando este ser vivo é o
homem.
O termo Gaia foi usado pela primeira vez no século XVII pelo médico inglês William Gilbert
referindo-se a ‘Mãe Terra’ e popularizado pelo norte-americano James Lovelock quando formu-
lou a hipótese de Gaia: “a Terra seria um superorganismo, de certa forma frágil, mas com
capacidade de auto-recuperação”. Na Terra, como no metabolismo de um organismo vivo, ca-
da parte influencia e depende de outras partes, ao perturbar uma só dessas partes da vida pode
afetar o todo. Mais recentemente, essa hipótese foi comungada por Jonathan Weiner, mas com
uma certa preocupação. Segundo Weiner “os agentes destrutivos hoje são artificiais e provocam
desgaste em quase todo o planeta, ao mesmo tempo. A constituição de Gaia seria tão vigorosa a
ponto de reparar naturalmente o desgaste e manter o planeta saudável? Poderá Gaia nos salvar?”1
“A Terra tem 4,6 bilhões de anos, se condensarmos esse espaço de tempo num conceito compre-
ensível, poderíamos comparar a Terra a uma pessoa que neste momento estaria completando 46
anos. Nada sabemos dos 7 primeiros anos de vida dessa pessoa e mínimas são as informações
sobre o longo período de sua juventude e maturação.
Sabemos, no entanto, que foi aos 42 anos que a terra começou a florescer. Os dinossauros e os
grandes répteis surgiram há um ano, quando o planeta tinha 45 anos. Os mamíferos apareceram
há apenas oito meses e na semana passada os primeiros hominídeos aprenderam a caminhar
eretos.
1
Revista Ecologia e Desenvolvimento, no 59, 1996.
6 - Introdução às Ciências do Ambiente para Engenharia
No fim dessa semana a Terra ficou coberta com uma camada de gelo, mas abrigou em seu seio
as sementes da vida. O homem moderno tem apenas quatro horas de existência e faz uma hora
que descobriu a agricultura. A Revolução Industrial iniciou há um minuto. Durante esses ses-
senta segundos da imensidão do tempo geológico, o homem fez do paraíso um depósito de lixo.
Multiplicou-se como praga, causou a extinção de inúmeras espécies, saqueou o planeta para
obter combustíveis; armou-se até os dentes para travar, com suas armas nucleares inteligentes,
a última de todas as guerras, que destruirá definitivamente o único oásis da vida no sistema so-
lar.
A evolução natural de 4,6 bilhões de anos seria anulada num segundo pela ação do animal inte-
ligente que inventou o conhecer. Será esse o nosso destino ?”
Texto do Greenpeace.
2.3. A ENERGIA
A fonte de energia para a biosfera é o sol: além de iluminar e aquecer o planeta, fornece energia
para a síntese de alimento. A energia solar também é responsável pela distribuição e reciclagem
de elementos químicos, pois governa o clima e o tempo nos sistemas de distribuição de calor e
água na superfície do planeta. Dos 100% de energia solar enviada para a Terra, somente 47%
conseguem atingir a sua superfície, sendo 30% energia direta e 17% difusa (Figura 2.1). Dos
100% iniciais, menos de 1% é utilizado pelos vegetais na produção de alimento.
Figura 2.1: Distribuição da energia solar na terra. (FREIRE DIAS, G., 1992)
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A energia solar que toca a superfície da terra é uma ação conjunta de espécies de radiações dis-
tintas. Do aspecto ecológico, somente as radiações infravermelhas, as visíveis e as ultravioletas
são bem conhecidas quanto aos seus efeitos. As radiações infravermelhas, apesar de serem ab-
sorvidas em grande parte pelo vapor d'água atmosférico, exercem poderosa influência sobre os
seres vivos, dando também origem a fenômenos meteorológicos, como o vento. As radiações
ultravioletas têm importância na formação da vitamina D, necessária aos seres vivos, mas por
outro lado, possuem grande poder mutágeno, estando relacionadas com a incidência de câncer de
pele. A grande maioria desses raios é absorvida pela camada de ozônio presente na atmosfera
terrestre. As radiações visíveis constituem a parte do espectro solar indispensável à vida: a luz
solar se relaciona fundamentalmente com a produção de alimentos.
Energia Solar
(irradiada à Terra com luz solar)
Biosfera
Energia solar convertida em energia
química na matéria orgânica
(através da fotossíntese)
Energia Degradada
(irradiada para o espaço na forma de calor)
Ar, água, solo, minerais, flora e fauna, genericamente, são recursos naturais, isto é, são recursos
que a natureza coloca à disposição dos seres vivos, para que estes possam satisfazer às suas ne-
cessidades. A existência da biosfera está condicionada à disponibilidade desses recursos que po-
dem der divididos em:
♦ renováveis - são aqueles recursos que naturalmente podem ser regenerados após o uso, como:
a água, o ar, a energia solar, a energia eólica, a madeira, as plantas produtoras de fibra, os ve-
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Quando estes conceitos são aplicados no meio humano, o recurso natural será renovável ou não
dependendo da sua exploração e/ou capacidade de reposição. Assim, determinado recurso con-
ceituado como renovável pode deixar de sê-lo, como é o caso da fauna que pode entrar em extin-
ção quando explorada de forma incorreta ou quando o ambiente modificado não fornece condi-
ções para sua renovação. O peixe-boi, o tatu-canastra, o tamanduá-bandeira, a jaguatirica e a ara-
ra-azul, são exemplos de espécies brasileiras que se encontram ameaçadas de extinção, devido à
caça predatória associada a transformações no ambiente. A água também pode deixar de ser um
recurso renovável na região quando manejada de forma incorreta. Para evitar a extinção, exaus-
tão ou perda de recursos naturais é fundamental o conhecimento ecológico, para que se possa es-
tabelecer condições e limites de uso e exploração, bem como planos de manejo adequados à ca-
pacidade de suporte do ambiente e, por que não, da biosfera.
Algumas dessas atividades humanas podem ser benéficas para a biosfera, melhorando as condi-
ções de vida ou de desenvolvimento, por exemplo: a adubação e a irrigação do solo, aumentando
nele a quantidade de elementos nutritivos e água necessários ao crescimento das plantas. Outras
porém são nocivas por causarem poluição, erosão. etc. Às vezes, uma atividade é benéfica em
uma determinada área e para outra torna-se nociva, como, por exemplo, a aplicação de inseticidas
para combater as pragas da lavoura, causando morte de insetos inofensivos e contaminando a á-
gua dos rios próximos. O perfeito equilíbrio entre todas essas atividades e o perfeito conhecimen-
to das relações entre as espécies de animais e vegetais que habitam diferentes locais da biosfera,
torna-se assim indispensável para que se consiga manter as características do meio em que vive-
mos.
Boa parte da vida de um organismo é utilizada no processo de nutrição. Por isso, a relação ali-
mentar constitui fator determinante da estrutura da comunidade. Para satisfazer ao processo nu-
tricional, o ser vivo precisa de condições que lhe permitam produzir (autótrofo) ou utilizar (hete-
rótrofo) os alimentos disponíveis, e o meio ambiente deve oferecê-las.
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No que diz respeito à proteção, a camuflagem é talvez o mais curioso mecanismo. Neste, o orga-
nismo envolvido adota a aparência transitória (mimetismo), ou permanente, de uma característica
do ambiente e consegue assim se proteger de seus inimigos naturais: borboletas com cores e for-
ma de pétalas de flores, gafanhotos com aparência de folhas ou de ramos, lagartos com cores da
paisagem, etc. O fenômeno da camuflagem é de tal forma que chega a ser possível identificar,
pelo aspecto do organismo, o tipo de ambiente de onde o mesmo provém.
Como heterótrofo, o homem, na busca do alimento, desenvolve as mais variadas relações com o
ambiente, através da caça, pesca, agricultura, pecuária, piscicultura, desmatamento, etc. e, ao
contrário dos demais seres vivos, consome muito mais compostos orgânicos do que a quantidade
por ele utilizada como alimento. A maior parte da matéria consumida é usada na produção de
energia. Em nome do desenvolvimento, o homem vem interferindo na Natureza, eliminando ou
modificando o ambiente, de modo a inviabilizar a satisfação das necessidades básicas de seres
vivos, o que pode causar profundas modificações de caráter ecológico, com o desaparecimento
de espécies úteis e a superpopulação por espécies indesejáveis, com conseqüências para o próprio
homem.
Na biosfera, os seres vivos obtêm energia para satisfazer suas necessidade básicas através de cin-
co processos, divididos em dois grupos.
a) Processos que levam à formação de compostos orgânicos (alimento) ricos em energia, a partir
de CO2 e H2O:
Energia Química
♦ respiração anaeróbia - quando o receptor dos hidrogênios é uma substância diferente do oxi-
gênio (CO3-2, PO4-3, SO4-2 ).
Os organismos que realizam fotossíntese e quimiossíntese são portanto autótrofos. Tanto autótro-
fos como heterótrofos retiram energia dos alimentos através da respiração. Os seres vivos que
respiram aerobicamente são chamados aeróbios. Os que respiram anaerobiamente são denomi-
nados anaeróbios. Os seres que respiram tanto aeróbia como anaerobiamente, dependendo das
condições do ambiente, são chamados facultativos.
Os processos energéticos mais difundidos nas condições atuais da biosfera são: fotossíntese, res-
piração aeróbia e fermentação. Estes surgiram na Terra juntamente com os primeiros seres vivos.
Tudo indica que a seqüência de aparição destes processos na biosfera foi: fermentação (compos-
tos orgânicos nos mares primitivos), fotossíntese (após introdução de CO2 pela fermentação) e
respiração aeróbia (após a introdução de O2 pela fotossíntese).
4. FATORES ECOLÓGICOS
Para satisfazer suas necessidades de alimentação, proteção, transporte e reprodução os seres vi-
vos associam-se com outros seres vivos, de mesma espécie ou de espécie diferente, surgindo as-
sim as relações ecológicas. Consideradas fatores ecológicos bióticos, as relações ecológicas
(Quadro 4.1) podem ser classificadas em:
Determinadas relações têm importância vital para o equilíbrio ecológico dentro das comunidades.
Numa interação como o predatismo, o predador influi diretamente no controle da população da
presa, mantendo-a em níveis compatíveis com a quantidade de alimento disponível no local. Re-
lações como predatismo e parasitismo são assim utilizadas para eliminação ou diminuição de es-
pécies indesejáveis, num processo conhecido como Combate ou Controle Biológico. Este ofe-
rece duas vantagens sobre o combate através de substâncias químicas: não polui o ambiente e,
desde que adequadamente planejado, não causa desequilíbrios ecológicos. Muitas espécies para-
sitas são seletivas, vivem apenas em um hospedeiro ou em espécies aparentadas do seu hospedei-
ro. Neste sentido, o uso do parasitismo no controle biológico tem se mostrado mais eficiente do
que o predatismo.
1a Parte - Ecologia Geral - 15
Algumas relações existentes entre os seres vivos não se enquadram nos tipos citados, por não se-
rem tão óbvias. Muitas espécies, para sobreviverem em um determinado ambiente, dependem
indiretamente da presença de outras. Como exemplo, podemos citar os mamíferos: as regiões
mais ricas do mundo em mamíferos, são aquelas que apresentam uma fauna diversificada de co-
prófagos (bosteiros), estes além de contribuírem para melhorar as pastagens, reduzem as infec-
ções parasitárias dos mamíferos por enterrarem no solo os vermes parasitas.
Os fatores ecológicos abióticos estão representados pelas condições climáticas, edáficas e quími-
cas, que determinam a composição física do ambiente. Os principais fatores ecológicos abióticos
nos ambientes terrestres são a luz, a temperatura e a água, enquanto que nos ambientes aquáticos
são a luz, a temperatura e a salinidade. Os principais fatores ecológicos abióticos encontram-se
listados no quadro 4.2.
Para cada um dos fatores ecológicos, os seres vivos têm limites de tolerância dentro dos quais
podem sobreviver. Assim, qualquer fator abiótico fora do extremo superior ou inferior, tende a
limitar a oportunidade de sobrevivência do organismo (Lei de Leidberg), e esse fator passa a ser
um fator limitante. O mesmo se aplica para os fatores bióticos quando estes passam a limitar o
desenvolvimento dos seres vivos. Os principais fatores limitantes abióticos são a temperatura
(clima), a água, a luz e os nutrientes; e os bióticos são a competição, o predatismo e o parasitis-
mo.
Quanto mais ampla for a faixa de tolerância de um organismo a um dado fator, mais probabilida-
de ele tem de sobreviver às variações ambientais relacionadas a esse fator. Alguns animais têm
uma faixa de tolerância muito estreita: para os peixes, por exemplo, uma variação de poucos
graus na temperatura da água, pode eliminar a população inteira. Em termos gerais, quanto mais
ampla for a faixa de tolerância de um organismo aos fatores do meio, mais ampla será a sua dis-
tribuição geográfica. Mediante a tecnologia, o homem tem ampliado, artificialmente, sua faixa de
tolerância a muitos fatores, de modo que pode sobreviver em quase todas as regiões da biosfera e
fora dela (nave espacial).
1a Parte - Ecologia Geral - 17
5. ECOSSISTEMAS
O s vegetais, animais e microrganismos que vivem numa região e constituem uma comuni-
dade biológica, estão ligados por uma intrincada rede de relações e influências, que inclui
o meio físico e a própria comunidade. Estes componentes físicos e biológicos, interdependentes,
formam uma unidade funcional básica de estudo da Ecologia, denominada ecossistema (Tansley,
1935). Um ecossistema pode ser definido como: “unidade funcional básica, composta de uma
biocenose - conjunto de seres vivos - e um biótopo - lugar que abriga uma biocenose”.
As dimensões dos ecossistemas são as mais variadas possíveis, pois convenientemente pode-se
escolher uma unidade maior ou menor para estudo. Ele pode ser constituído por uma floresta in-
teira (macro-ecossistema) ou por uma simples planta como a bromeliácea (micro-ecossistema),
ou ainda, um oceano ou um aquário.
Os componentes bióticos podem ser agrupados em três categorias funcionais: produtores, con-
sumidores e decompositores. Os produtores são todos os organismos autótrofos, principalmen-
te plantas verdes que realizam fotossíntese, e outros, em menor quantidade, que realizam quimi-
ossíntese. Os consumidores dos ecossistemas são os heterótrofos, principalmente animais, que
se alimentam de outros seres vivos. Podem ser subdivididos em: (a) consumidor primário (her-
bívoro), que utiliza diretamente o vegetal - veado, gafanhoto, coelho e muitos peixes; (b) con-
sumidor secundário (carnívoro), que obtém seu alimento de consumidores primários - leão, ca-
chorro, cobra e espécies carnívoras de peixes; e, (c) consumidor misto (onívoro), que não faz
discriminação pronunciada em sua preferência alimentar entre produtores e outros consumidores
- esta categoria inclui o homem, o urso e alguns peixes. Os decompositores também são heteró-
trofos - bactérias e fungos sapróvoros -, porém se alimentam de materiais residuais (excreções,
cadáveres, etc.) transformando-os em substâncias inorgânicas simples utilizáveis pelos produto-
res. Não fosse o trabalho dos decompositores, o nosso planeta seria um amontoado de ‘lixo’.
cundários) - como joaninhas - comendo pulgões e, mesmo, um predador maior (consumidor ter-
ciário) - como a aranha ou louva-a-deus, capturando as joaninhas. Finalmente, o próprio solo
contendo bactérias e outros sapróvoros (decompositores), nutrindo-se de folhas mortas e outros
detritos de origem vegetal ou animal. Desse modo, mantém-se dentro do terrário, um fluxo de
energia e uma reciclagem de elementos químicos, de maneira a conservar, no seu interior, apro-
ximadamente constantes as concentrações de gás carbônico, água, oxigênio, sais minerais e com-
postos orgânicos, não sendo necessário adicionar ou retirar, periodicamente, qualquer deles.
Figura 5.1: Sucessão ecológica em um bosque queimado. (SUTTON, D. B. e HARMON, N. P., 1979)
Todos os consumidores da biosfera obtêm energia e nutrientes para satisfazer as suas necessida-
des, comendo plantas (produtores), ou comendo outros animais (herbívoros) que comeram plan-
tas, ou comendo animais (carnívoros) que comeram animais que comeram plantas, e assim por
diante. Dessa forma, embora os ecossistemas variem muito em proporção e em aparência, todos
têm uma mesma estrutura de funcionamento, apresentando um fluxo de energia e um ciclo de
matéria (Figura 5.2), da mesma forma que na biosfera.
20 - Introdução às Ciências do Ambiente para Engenharia
Decompositores
Num ecossistema, as relações de transferência de matéria e energia não são tão simples como nas
cadeias alimentares. Na realidade, estas entrelaçam-se, num delicado equilíbrio, constituindo
verdadeiras teias que unem entre si predadores e presas, parasitas e hospedeiros, formando estru-
turas mais complexas denominadas teias ou redes alimentares. Numa teia alimentar, um orga-
nismo pode ocupar diferentes níveis tróficos (Figura 5.3). Isso torna-se vantajoso para a comuni-
dade, uma vez que um organismo passa a ter várias opções de alimento, fato que confere maior
estabilidade à estrutura e, consequentemente, ao ecossistema.
A produtividade média nas cadeias alimentares é estimada em torno de 10%, ou seja, a cada nível
trófico são incorporados cerca de 10% da energia proveniente do nível trófico precedente (Lei de
Elton ou dos 10%). Assim, PS = 10%PL, PT = 10%PS, sucessivamente. Conseqüência da se-
gunda lei da termodinâmica, quanto maior o nível trófico do organismo, menor a quantidade de
energia disponível. Tal fato limita o número de níveis de uma cadeia, e este é atingido quando os
organismos não obtêm energia suficiente para manterem-se vivos e reproduzirem-se. Por esta
razão, a maioria das cadeias apresentam quatro a cinco níveis tróficos. Consequentemente, quan-
to mais próximo da base de produção maior a disponibilidade de energia e, portanto, maior quan-
tidade de organismos poderá ser mantida com a produção primária do ecossistema.
O estudo da produtividade é usado para identificar o estágio da sucessão ecológica em que se en-
contra o ecossistema. Com base na relação PB/R determina-se se a comunidade é clímax ou está
em sucessão ecológica. Na primeira, PL = 0, isto é, toda produção primária líquida de um certo
intervalo de tempo é consumida pela fauna em intervalo de tempo igual, logo PB/R = 1,0 ou e-
cossistema maduro. Na segunda, PL > 0, apenas parte da produção primária líquida é consumi-
da, havendo portanto saldo de energia para manter novos consumidores, logo PB/R > 1,0 ou e-
cossistema sucessional. No quadro 5.2, estão resumidas algumas diferenças entre estes dois ti-
pos de ecossistemas.
A produtividade dos vários ecossistemas da biosfera não se distribui casualmente. Ela está limi-
tada pelo clima, distribuição de nutrientes, luz e água. A figura 5.4 ilustra a distribuição da pro-
dução primária em vários ecossistemas.
A estrutura trófica de um ecossistema pode ser ilustrada graficamente por meio de pirâmides
ecológicas, nas quais o primeiro nível trófico, ou nível produtor, forma sempre a base e os níveis
sucessivos formam camadas até o ápice.
1a Parte - Ecologia Geral - 23
“A” - Desertos;
“B” - Pastagens, Lagos profundos, Bosques montanhosos;
“C” - Florestas tropicais, Lagos rasos, Pastagens úmidas, Agricultura irrigada;
“D” - Estuários, Recifes de corais;
“E” - Águas costeiras;
“F” - Mares profundos.
As pirâmides ecológicas podem ser de três tipos: números, biomassa e energia. A pirâmide de
números (Figura 5.5) dá uma idéia da distribuição quantitativa da biocenose, ou seja, quantos
organismos existem em cada nível trófico do ecossistema; também ilustra relações quantitativas
entre presa-predador e hospedeiro-parasita.
Raposas
Protozoário
Pássaros
Pulgão
Gafanhotos
Capim Trigo
(b)
(a)
A pirâmide de biomassa (Figura 5.6) representa o peso total dos indivíduos nos sucessivos ní-
veis tróficos, expresso em peso seco total por unidade de área, por exemplo kg/m2. Tanto as pi-
râmides de números como as de biomassa podem apresentar o vértices invertidos, em virtude da
variação no tamanho dos indivíduos e da capacidade de renovação dos organismos menores (Fi-
guras 5.5-b e 5.6-b).
Protozoários
Pulgões Peixes
Trigo Plâncton
(b)
(a)
A pirâmide de energia (Figura 5.7) representa a distribuição de energia por nível trófico no e-
cossistema. Das três pirâmides, é a que dá melhor idéia do conjunto da natureza funcional das
biocenoses nos ecossistemas. Sua forma não é afetada pelas variações no tamanho e na intensi-
dade metabólica dos organismos. Ela é sempre voltada para cima, uma vez que representa a pro-
dutividade energética nos ecossistemas. A quantidade de energia disponível em cada nível é ex-
pressa em Kcal/m2.ano.
Quarto NT
Carnívoros 2
Terceiro NT
Carnívoros 1
Herbívoros Segundo NT
Produtores Primeiro NT
O equilíbrio dinâmico dos ecossistemas baseia-se na sua estrutura trófica, isto é, na forma como
a comunidade está organizada e se relaciona com o ambiente, para distribuição da matéria e e-
nergia. Assim sendo, alterações na composição da cadeia alimentar ou no ambiente físico podem
promover desequilíbrios ecológicos.
Uma forma comum de desequilíbrio, dá-se pela destruição de um dos elos da cadeia alimentar. A
destruição de um elo acarreta o desaparecimento total do elo seguinte, dependente do primeiro, e
a superpopulação do ambiente pelo elo anterior. A eliminação de cobras que atacam lavradores
no campo, causa aumento da população de ratos e redução do número de animais comedores de
cobras como a sariema. Na década de setenta, a caça predatória ao sapo-boi na zona rural de Per-
nambuco, incentivada pelo valor da pele para exportação, resultou na invasão da zona rural por
gafanhotos (grilos), forçando a migração das pessoas para as cidades.
5.6.2. BIOMAGNIFICAÇÃO
Outra forma de gerar desequilíbrios é a interferência nas cadeias alimentares através do constante
lançamento, no ambiente, de subprodutos da indústria química ricos em metais pesados, como
chumbo e mercúrio, materiais radioativos e de moléculas sintéticas, como plásticos, detergentes e
pesticidas. Essas substâncias, por não serem biodegradáveis, aos poucos vão se acumulando no
ambiente. Algumas delas, quando ingeridas pelos seres vivos, tendem a concentrar-se ao longo
das cadeias alimentares e, consequentemente, os últimos níveis tróficos tornam-se os mais preju-
dicados. Esse fenômeno é conhecido como biomagnificação, ou magnificação trófica, e apre-
senta-se como resultado da absorção seletiva de uma substância pelos tecidos do organismo. Por
exemplo, a glândula tireóide separa seletivamente o iodo da corrente sangüínea. Desta maneira,
quando o iodo 131 (radioativo) está presente no sangue, é absorvido seletivamente pela glândula.
Da mesma forma, o estrôncio 90 e o césio 137 concentram-se nos ossos, os pesticidas organoclo-
rados nas gorduras, etc.
Um dos primeiros estudos sobre esse fenômeno foi o do Lago Clear, na Califórnia, quando o uso
do TDE2 levou ao desaparecimento de aves como o mergulhão na região. Na figura 5.7, através
da pirâmide de biomassa, pode-se observar a concentração do TDE na cadeia alimentar. Neste
caso, a taxa de amplificação do tóxico da água para a ave chegou a 180.000 vezes. A taxa de
amplificação é a razão entre a concentração no último nível trófico da cadeia e a concentração no
ambiente, se este dado estiver disponível, ou a concentração no primeiro nível trófico.
Mergulhão (2.500)
Peixes carnívoros (22 a 221) Inseticida transferido
Peixes planctófagos (7 a 9) por via alimentar
Zooplâncton (3,0)
Fitoplâncton (0,5)
Água (0,014)
Figura 5.7: Pirâmide de biomassa do Lago Clear, na Califórnia (concentração de TDE em ppm).
(CHARBONNEAU, J. P. et al, 1979)
Os desequilíbrios também podem ocorrer devido: (a) às alterações do ambiente que impeçam a
camuflagem de determinadas espécies, expondo-as ao seus inimigos, ou que estas encontrem na
nova paisagem alimento e abrigo; (b) ao uso de inseticidas que diminuem ou eliminam espécies
polinizadoras, levando ao desaparecimento de vegetais e, consequentemente, de animais; (c) ao
lançamento de esgotos, ricos em matéria orgânica, nos corpos d’água, favorecendo as bactérias
aeróbias em detrimento dos peixes, dentre outros.
2
Abreviatura usual do inseticida organoclorado tetraclorodifeniletano (C14H10Cl4)
26 - Introdução às Ciências do Ambiente para Engenharia
1. Explique por que, apesar de terem a mesma estrutura de funcionamento, os ecossistemas dife-
rem entre si.
2. Que posição ocupa o onívoro numa teia alimentar? Dê exemplo de uma teia incluindo duas
espécies onívoras que você conheça.
3. Descreva o que você observa na figura 5.1 deste capítulo. Qual a importância da sucessão eco-
lógica para os ecossistemas.
4. Observe a cadeia alimentar: planta → larva de mosca de fruta → protozoário. Esquemati-
ze as pirâmides de números, energia e biomassa. De que tipo é essa cadeia ?
5. Qual a vantagem das teias alimentares para os ecossistemas?
6. Explique porque quanto mais próximo do produtor mais consumidores podem ser mantidos
num ecossistema.
8. Suponha que a produção primária líquida das plantas de uma região seja de 1.000 cal/m2.dia.
Considere agora uma área de 100 m2 nessa região.
a) Que energia pode ser transferida para os consumidores: PB ou PL ? Por que ?
b) Qual a produção líquida total dessa área ?
c) Se a população de herbívoros ingerir diariamente 100.000 cal, qual será a produção se-
cundária ?
d) Poderia viver nessa região uma população de herbívoros que ingerisse diariamente
mais do que 100.000 cal ? Por que ?
9. A relação PB / R para três florestas distintas é: 3,0; 2,0 e 1,0.
a) Qual dessas três florestas já atingiu o clímax ? Por que ?
b) Quais podem manter novas populações de consumidores ?
c) Qual dessas comunidades está em estágio menos avançado da sucessão ecológica? Jus-
tifique sua resposta.
10. Parte de uma floresta foi queimada e transformada em pastagem. Usando adjetivos como
simples/complexo, pequeno/grande, etc., compare estes dois ecossistemas em termos de: bio-
diversidade, biomassa total, teia alimentar, relação produção/consumo e estabilidade.
11. Por que os ecossistemas sucessionais são mais susceptíveis às pragas ?
12. Observe a concentração de estrôncio 90 na cadeia alimentar de um lago (água - 1ppm):
plantas aquáticas (280 ppm) → peixes herbívoros (950 ppm) → perca (3.000 ppm)
(a) Que fenômeno se observa ?
(b) Descreva brevemente o fenômeno ?
(c) Qual a taxa de amplificação do estrôncio ?
1a Parte - Ecologia Geral - 27
6. CICLOS BIOGEOQUÍMICOS
Quadro 6.1: Elementos químicos mais presentes nos seres vivos (% por pêso).
Para a ecologia, o fator mais importante de um ciclo biogeoquímico constitui-se no fato de que
os componentes bióticos e abióticos aparecem intimanente entrelaçados. Todos os ciclos biogeo-
químicos incluem seres vivos; sem a vida, os ciclos biogeoquímicos cessariam e, sem eles, a vida
se extinguiria. As seguintes características podem ser observadas nos ciclos biogeoquímicos:
♦ ciclos (de nutrientes) gasosos, cujo depósito ou reservatório geológico é a atmosfera. Exem-
plos: ciclo do carbono, do oxigênio e do nitrogênio. São ciclos relativamente rápidos e fecha-
dos, onde não existe quase nenhuma perda de elementos nutrientes durante o processo de re-
circulação;
28 - Introdução às Ciências do Ambiente para Engenharia
♦ ciclos (de nutrientes) sedimentares, têm como reservatório geológico as rochas sedimenta-
res. Exemplo: o ciclo do fósforo e do enxofre. Estes são considerados ciclos lentos, posto que
os depósitos sedimentares são pouco acessíveis aos organismos, uma vez que, para que os e-
lementos cheguem até eles, as rochas devem ser intemperizadas e, posteriormente, transporta-
das ao solo.
A interferência do homem nos ciclos biogeoquímicos dá-se basicamente pela utilização do ar, da
água ou do solo como sumidouro de seus despejos. Muitas substâncias são tóxicas, atacam o sis-
tema respiratório de plantas e animais, causam danos aos tecidos das folhas, destroem os micror-
ganismos dos solos, alteram as trocas gasosas, contribuindo para inibir o desenvolvimento da vi-
da nesses ambientes. O homem também contribui para tornar o processo acíclico, quando, por
exemplo, extrai e trata rochas fosfatadas, produzindo fertilizantes fosfatados que são usados na
agricultura. Posteriormente, estes atingem os corpos d'água, concorrendo para o processo de eu-
troficação, provocando sérios desequilíbrios nas águas.
O carbono é o principal constituinte de qualquer matéria orgânica, sendo portanto essencial à vi-
da na Terra. Encontra-se disponível no ar atmosférico ou dissolvido nas águas, na forma de gás
carbônico. O CO2 entra na composição do ar atmosférico com apenas 0,03%. Entretanto, esta
quantidade é suficiente para manter toda a vida na Terra, uma vez que se mantém em contínua
reciclagem, através do seu ciclo, conforme esquematizado na figura 6.1. Inicialmente, o CO2 é
fixado por vegetais, algas e bactérias na fotossíntese, formando carboidratos e liberando oxigê-
nio. Os carboidratos são degradados pela respiração e o carbono é devolvido ao meio na forma de
CO2. Uma fração do CO2 do ar combina-se com a chuva formando ácido carbônico (H2CO3). No
solo, este passa a bicarbonato (HCO3-) e, posteriormente, a carbonato (CO3=). Este reage com os
ácidos existentes no solo, liberando CO2 para a atmosfera.
Algumas vezes, o ciclo do carbono é interrompido e o retorno do mesmo à atmosfera pode levar
milhões de anos. É o caso dos compostos de carbono que não foram atacados pelos decomposito-
res e permanecem armazenados no subsolo sob a forma de carvão fóssil e petróleo, ou nas rochas
formadas por conchas e esqueletos de animais. A queima dos combustíveis fósseis devolve o
carbono ao ciclo, na forma de CO, CO2 e diversos hidrocarbonetos. Reações posteriores levam o
CO a CO2 e os hidrocarbonetos a CO2 e H2O.
O maior reservatório de oxigênio é o ar atmosférico, do qual constitui cerca de 20%. Está presen-
te tanto no mundo orgânico como no inorgânico. Neste, entra na constituição dos minerais e das
rochas. No mundo orgânico, é essencial à vida, uma vez que entra na composição dos tecidos
vivos e é imprescindível para a respiração. É através da respiração de vegetais, animais e micror-
ganismos que o oxigênio é retirado da atmosfera e devolvido na forma de gás carbônico (CO2) e
água. Mesmo os organismos anaeróbios participam do ciclo, uma vez que retiram o oxigênio da
matéria orgânica devolvendo-o ao meio na forma de CO2. Água e gás carbônico, pela ação dos
autótrofos, são retirados do ambiente e devolvidos na forma de carboidratos (alimento) e oxigê-
nio, através da fotossíntese. No ar, tanto a H2O como o CO2 entram nos seus respectivos ciclos e
ambos contém oxigênio, que faz parte do ciclo total. Desse modo, pode-se notar que o ciclo do
oxigênio está intimamente relacionado com os ciclos do carbono e da água.
O fator mais recente que afeta o ciclo do oxigênio na biosfera e o balanço de oxigênio na terra, é
o próprio homem. Além de inalar oxigênio e de exalar dióxido de carbono, o homem contribui
para diminuir o nível de oxigênio e aumentar o de dióxido de carbono pela queima de combustí-
veis, o desmatamento e pavimentação de terras anteriormente verdes.
Plantas e animais mortos, juntamente com as excreções, são transformados, pelos organismos da
putrefação (bactérias e fungos), em amônia (NH3) num processo denominado amonificação. A
amônia é utilizada pelas bactérias Nitrosomonas que a oxidam, produzindo nitrito (NO2-) e este é
30 - Introdução às Ciências do Ambiente para Engenharia
transformado em nitrato (NO3-) pelas bactérias Nitrobacter. Após a nitrificação, dissolve-se nas
águas ou permanece nos solos, de onde é absorvido pelas plantas ou sofre desnitrificação por a-
ção de bactérias, voltando ao ar atmosférico (Figura 6.2).
O nitrogênio fixado que não é absorvido pelos vegetais, pode ser transportado para os mares, in-
do constituir sedimentos profundos nos oceanos, podendo sair de circulação por milhões de anos,
só voltando ao ciclo pelas erupções vulcânicas. Não fosse a atividade vulcânica em determinados
ambientes, talvez ocorressem problemas devidos à falta de proteínas para a alimentação humana.
A água representa o constituinte inorgânico mais abundante na matéria viva. O homem possui
65% do seu peso constituído de água e alguns animais chegam a ser formados de 99% desse
composto. O ciclo da água consiste basicamente na evaporação da água das camadas líquidas su-
perficiais do solo, por efeito da ação dos raios solares. Seguindo-se a formação de nuvens e sua
condensação e precipitação sob a forma de chuva, granizo ou neve. Uma parcela da água que se
precipita sobre o solo infiltra-se, promovendo a sua rehidratação e o recarregamento das reservas
freáticas. Uma outra parcela, escoa superficialmente formando os córregos, rios e lagos. A pro-
porção, de água de escoamento superficial em relação à infiltração é influenciada fortemente pela
ausência ou presença de cobertura vegetal, uma vez que esta constitui barreira ao rolamento livre,
além de tornar o solo mais poroso. A parcela de água que se precipita sobre a hidrosfera participa
do ciclo curto e a que cai sobre a litosfera compõe o ciclo longo.
Os organismos terrestres podem obter água em vários pontos deste ciclo. As plantas a retiram do
solo, enquanto que a maioria dos animais a ingere. Por outro lado, vegetais e animais devolvem
água para a atmosfera: os vegetais principalmente pelas folhas; os animais, através da pele e pe-
los sistemas respiratório, digestivo e urinário.
1a Parte - Ecologia Geral - 31
A vegetação exerce, por sua vez, função importante com relação à devolução da água de infiltra-
ção através da evapotranspiração, acelerando muito os processos de simples evaporação. Consi-
derando-se a proporção que representa o somatório da superfície das folhas em relação à superfí-
cie do solo, é fácil avaliar-se o papel acelerador desempenhado pela vegetação em relação à
transferência de umidade do solo para a atmosfera. Além disso, o sistema radicular de árvores e
arbustos, podendo atingir dezenas de metros de profundidade, constitui um mecanismo de alta
eficiência em relação a esse transporte, permitindo a movimentação rápida de enormes volumes
de água. Daí a importância fundamental da cobertura vegetal, com relação à manutenção da umi-
dade atmosférica, regularidade das chuvas e outros fatores eco-metereológicos.
Todos os ciclos biogeoquímicos relacionam-se intimamente com o ciclo da água e o fluxo ener-
gético através da biosfera. De uma forma ou de outra, a água constitui o meio principal para a
circulação de nutrientes. O calor solar que determina a formação de correntes atmosféricas, per-
mitindo a precipitação e evaporação no ciclo da água, proporciona também a energia para que os
organismos vivos, principalmente os vegetais, possam manter em movimento os ciclos dos nutri-
entes. Estes últimos, requerem o fluxo da água para manterem-se.
Os biomas aquáticos podem ser de água doce ou de água salgada. Os ecossistemas de água sal-
gada, ou talássicos (mares e oceanos), têm como principais características: tamanho (≈70% da
superfície), salinidade (≈35 gramas/litro), marés, correntes, temperatura (-2oC a 32oC), nutrientes
minerais, profundidade e luminosidade. Os ecossistemas de água doce, ou límnicos (rios, ria-
chos, lagos, lagoas, represas), têm como principais características: temperatura, turbidez, tensão
superficial, movimentos das águas, gases (O2 e CO2) e sais minerais dissolvidos (nutrientes). Es-
tes podem ser divididos em dois grupos: ecossistemas lênticos ou de água parada, como os lagos,
as lagoas, as represas e os pântanos; ecossistemas lóticos ou de água em movimento, como as
nascentes, os córregos, os riachos e os rios. No quadro 7.1, listam-se algumas classificações de
interesse para o estudo dos ecossistemas aquáticos.
Epilímnio • Camada superior dos lagos, onde a água é mais quente e circulante, rica
em oxigênio.
Termoclino • Camada intermediária, caracterizada por uma rápida variação na tempe-
ratura e no oxigênio com o aumento da profundidade.
Hipolímnio • Camada inferior dos lagos, onde a água é mais fria e não circulante, po-
bre em oxigênio.
1a Parte - Ecologia Geral - 33
Os biomas terrestres têm o clima (temperatura e precipitação) e o solo como principais responsá-
veis pela sua formação. Representam aproximadamente 30% da biosfera e apresentam grandes
variações de temperatura, umidade, luz, pressão, etc. e grande variedade florística e faunística,
que dão origem aos mais variados tipos de ecossistemas: florestas, campos, montanhas, desertos,
mangues, praias, ilhas, solos e cavernas (Quadro 7.2). Com base nestes tipos de ecossistemas, na
biosfera podem ser identificados os seguintes biomas terrestres: tundra, taiga, floresta temperada,
floresta tropical, campos e desertos.
Tipo Características
As principais zonas fitogeográficas (Figura 7.1) do país podem ser estudadas sob o prisma de u-
nidades bióticas ou biomas, a saber: Cerrado, Caatinga, Pantanal, Floresta Atlântica, Mata
de Araucárias, Campos, Banhados, Cocais, Mangues, Restingas e Floresta Amazônica. As
dimensões continentais do país, associadas à grande variedade de fatores ecológicos combinados,
favorecem a essa diversidade de paisagens, que se apresentam nas várias regiões Norte, Nordeste,
Sul, etc. A descrição de cada bioma pode ser facilmente encontrada em livros sobre meio ambi-
ente e ecologia. A seguir tem-se comentários sobre alguns desses biomas.
A Floresta Amazônica, maior floresta tropical do mundo, cobre quase metade do território bra-
sileiro (área sete vezes maior que a da França). Tem suas maiores riquezas no seu sistema hídri-
co, por onde corre 1/5 de toda a água doce do planeta, e na sua biodiversidade. Estima-se que
20% de todas as espécies vivas do planeta convivam neste ecossistema, sendo 20 mil de vegetais
superiores, 1.700 de peixes, 300 de mamíferos, 1.300 de pássaros e dezenas de milhares de inse-
tos, outros invertebrados e microrganismos. Berço de inúmeras civilizações indígenas - Yanoma-
ni, Tukano, Caiapó, Tikuna, Manaó, Guanavena, etc., muitas já extintas, é também fonte de ma-
térias primas alimentícias, medicinais, florestais, energéticas e minerais. Boa parte destas rique-
zas ainda não foi catalogada, porém milhares de espécies desaparecem a cada ano em virtude da
devastação da floresta para exploração de ouro, cobre, ferro, manganês, cassiterita, bauxita, etc.,
implementação de grandes projetos agropecuários, usinas hidrelétricas, grandes indústrias (ferro
1a Parte - Ecologia Geral - 35
gusa, alumínio), construção de grandes rodovias (Transamazônica), caça e pesca predatórias. Du-
rante muito tempo, atribuiu-se à Amazônia o papel de “pulmão do mundo”. Hoje, sabe-se que o
balanço de oxigênio na floresta é praticamente nulo. No entanto, acredita-se que tenha importan-
te papel na estabilização do clima do planeta, como ‘condicionador de ar”. Neste contexto, a der-
rubada e queima da floresta pode contribuir para o aumento do ‘efeito estufa’.
As Restingas como os Mangues, estendem-se por quase toda a costa brasileira. Os mangues são
ecossistemas de alta produtividade, criadouro e refúgio permanente e temporário de muitas espé-
cies de peixes, crustáceos, moluscos e aves. Pela sua importância como berçário da vida marinha,
sem manguezais a vida dos oceanos estaria ameaçada. As restingas com suas variedades de vege-
tação, à medida que avança para o interior do continente, têm papel fundamental na fixação das
dunas. A presença humana através de especulação imobiliária, a extração da lenha para produção
do carvão, a construção de grandes vias costeiras, projetos agrícolas para produção de cana e a-
bacaxi e extração de areia, têm contribuído para a degradação desse ecossistema. A localização
dos manguezais coincide com a área de maior interesse para a ocupação humana, causando a su-
perexploração dos seus recursos naturais, alteração da rede de drenagem, poluição por derrama-
mento de petróleo e sua conversão em áreas industriais e urbanas.
36 - Introdução às Ciências do Ambiente para Engenharia
Os Campos ou Pampas, característicos da região sul do país, pela sua constituição florística, são
ideais para o desenvolvimento da pecuária, tornando-se a região detentora do maior rebanho bo-
vino do país. A atividade pecuária, aliada ao plantio de soja e trigo e à prática da queimada, tem
contribuído para a degradação desses ecossistemas.
Hoje restrita ao Estado do Paraná e Santa Catarina, a Mata de Araucárias, que forneceu madeira
para os mais diversos usos humanos, é, atualmente, um ecossistema praticamente extinto, substi-
tuído por plantações de eucaliptus e pinus, que oferecem madeira de qualidade inferior, mas de
corte mais rápido.
O Pantanal, característico pelas duas estações bem definidas - inverno e verão - e pela mistura
de floras, abriga a maior densidade faunística das Américas, representada por 650 espécies de
aves, 230 de peixes, 80 de mamíferos, 50 de répteis e, dentre os insetos, são mais de mil espécies
de borboletas já catalogadas. A atividade humana se faz presente no pantanal principalmente a-
través das grandes fazendas de gado (pecuária extensiva), pesca predatória, caça do jacaré (cou-
reiros), garimpo de ouro e pedras preciosas nos rios Paraguai e São Lourenço, turismo e migra-
ção desordenados e predatórios, manejo inadequado dos cerrados, resultando no assoreamento e
contaminação das águas pantaneiras.
Seca prolongando-se por nove meses ou mais, baixas precipitações médias anuais, predomínio de
plantas xerófitas e arbustos esbranquiçadas na seca (Caatinga = mata branca), são características
da Caatinga. Representa 11% do solo do país, cobrindo mais de 70% da região nordeste. O rio
São Francisco é o corpo d’água mais importante, tendo no seu vale a região mais produtiva desse
ecossistema. O uso humano desordenado da caatinga vem deixando suas marcas, muitas vezes
irreversíveis, como a desertificação. Suas ações se fazem presentes através dos grandes latifún-
dios, da prospecção e exploração da água subterrânea e de combustíveis fósseis, de siderúrgicas,
olarias e outras indústrias, formação de pastagens, grandes projetos de irrigação e drenagem mal
conduzidos e exploração da lenha como combustível.
Os Cerrados característicos da região central do país, cerca de 25% do território brasileiro, tem a
queimada natural como importante fator ecológico e quase todas as plantas têm adaptações para
se defender. Após o fogo, muitas espécies florescem e as folhas novas atraem herbívoros das re-
giões de vegetação seca, garantindo assim o seu desenvolvimento. A ocupação humana dos cer-
rados nos últimos quarenta anos, acelerou os processos de degradação pela implantação de gran-
des projetos agropecuários, expansão urbana desordenada, invasão de reservas indígenas, grandes
olarias, indústria de transformação (carvão, cimento), garimpo de ouro e pedras preciosas.
8. ECOSSISTEMAS HUMANOS
Estas áreas intensivamente controladas, especialmente as cidades, têm tido êxito em resguardar
os habitantes humanos dos rigores do mundo externo, a tal grau que algumas pessoas questionam
o fato destas áreas dependerem das propriedades de manutenção da vida dos ecossistemas natu-
rais da terra. Mas, considerando-se os ecossistemas ou ambientes humanos, de pronto constata-
se que estes não existem isoladamente, e sim que dependem, como qualquer outro ecossistema,
de uma fonte externa de energia, dos diferentes ciclos e das complicadas inter-relações com os
ecossistemas naturais.
Do ponto de vista humano, a biosfera pode ser dividida em quatro classes gerais de ecossistemas:
♦ classe 1 - Ecossistemas Naturais Maduros: aparecem, mais ou menos, em seus estados natu-
rais e, geralmente, não são empregados nem habitados pelo homem. Exemplo: as áreas silves-
tres, as montanhas e os oceanos;
♦ classe 2 - Ecossistemas Naturais Controlados: ecossistemas que o homem controla para uso
recreativo, estudo, pesquisa ou preservação de recursos naturais. Exemplo: os parques, reser-
vas, as áreas de caça, as estações ecológicas, etc. (ver Unidades de Conservação do IBAMA );
♦ classe 3: Ecossistemas Produtivos ou Exportadores: ecossistemas que o homem emprega
para a produção de alimentos ou de outros recursos naturais. Exemplo: as granjas, os ranchos
de gado, as minas, etc. O homem cria estes ecossistemas com o objetivo de obter a máxima
produtividade da área, geralmente mediante o aumento de uma ou duas espécies de organis-
mos. Sob esse ponto de vista, tais ecossistemas são eficientes, mas tornam-se ineficientes
quando analisados sob o ponto de vista da quantidade de energia gasta para irrigação, fertili-
zação, controle de pragas e da simplificação dos mesmos que resulta na sua instabilidade;
♦ classe 4 - Ecossistemas Urbanos ou Importadores: ecossistemas nos quais o homem vive e
trabalha, exercendo um controle mais intensivo. Requer entradas constantes e produz saídas
contínuas. Exemplo: as áreas industrializadas, as cidades, os povoados, etc.
O homem começou a criar os ecossistemas urbanos, que chamou de cidades, quando descobriu
que a agricultura lhe permitia estabelecer áreas permanentes para viver e armazenar seus produ-
tos, bem como era possível satisfazer suas necessidades tanto biológicas (de ar, água, energia,
alimento, abrigo e áreas para eliminar desperdícios), como culturais (de política, economia, tec-
nologia, transporte, comunicação, educação, atividades sociais e intelectuais e os sistemas de
proteção e segurança). Estima-se que aproximadamente 20% da população mundial vive em e-
cossistemas urbanos de mais de 100.000 habitantes.
À medida que aumenta o tamanho das cidades, cresce também a sua complexidade. O homem
tem desenvolvido sistemas muito complexos, elaborados para controlar a terra, a água e o fluxo
energético através deles. Mas, apesar de toda influência humana, as cidades ainda constituem e-
cossistemas e, como todos os ecossistemas, também são sistemas abertos. Para continuar existin-
1a Parte - Ecologia Geral - 39
do, devem receber do ambiente externo alimentos, combustíveis, materiais, ar e água. Posterior-
mente, estas entradas são controladas, transformadas, armazenadas e, finalmente, expelidas como
uma corrente na qual se incluem produtos de desperdícios, ar viciado, água impura e produtos
úteis da tecnologia, educação e cultura.
Mesmo com toda a tecnologia de controle, os ecossistemas urbanos têm se tornado fontes de au-
mento da instabilidade na biosfera. Algumas dessas razões tornam-se visíveis quando se analisa
o quadro 8.1.
Energia
• São sustentados por fonte ilimitada de e- • Atualmente, sustentados por uma fonte
nergia: radiação solar. finita de energia: combustíveis fósseis.
• Não acumulam energia em excesso. • O consumo excessivo de combustíveis
fósseis libera muito calor para a biosfera e
altera a temperatura.
• Nas cadeias alimentares, cerca de dez ca- • Nas cadeias alimentares, são necessárias
lorias de um organismo são necessárias para cem calorias de combustível fóssil para pro-
produzir uma caloria de outro (10:1). duzir dez calorias de alimento, que produ-
zem uma caloria no homem (100:1)
Evolução
• A evolução biológica adapta todos os or- • A evolução cultural, atualmente, subordina
ganismos e o seu sistema de suporte aos os organismos e os sistemas de suporte da
processos que sustentam a vida. Terra aos processos que sustentam a tecno-
logia.
População
• Mantém os níveis de população dentro dos • Permite que as populações cresçam mais
limites estabelecidos pelos controles e ba- rapidamente que a capacidade de aumentar a
lanços naturais, incluindo fatores como ali- disponibilidade de alimentos e abrigo, e e-
mento, abrigo, doenças e presença de inimi- limina inimigos naturais e doenças via bio-
gos naturais. cidas e medicamentos.
Comunidade
• Apresenta uma grande diversidade de es- • Tende a excluir a maioria das espécies e é
pécies que vive nos limites do local dos re- sustentada por recursos provenientes de ou-
cursos naturais. tras áreas .
• Tende a ser mais regularmente dispersa no • Tende a se concentrar em locais determi-
ecossistema. nados pela proximidade de grandes corpos
d’água ou pela conveniência da rede de ser-
viços. Em certos países 95% da população
habita em 5% da área.
Interação
• As comunidades são organizadas em torno • As comunidades são organizadas, de modo
das interações de funções biológicas e pro- crescente, em torno de interações de funções
cessos. A maioria dos organismos interage e processos tecnológicos.
com uma grande variedade de outros orga-
nismos.
40 - Introdução às Ciências do Ambiente para Engenharia
Equilíbrio
• São imediatamente governados por pro- • São governados por um conjunto de com-
cessos comuns, naturais, de controle e equi- petições de controle cultural e equilíbrio,
líbrio, incluindo a disponibilidade de luz, inclusive de ideologia, costumes, religião,
alimentos, água, oxigênio, habitat e a pre- leis, políticas e economias. Esse acordo con-
sença ou ausência de inimigos naturais e sidera um pouco, ou não considera, os re-
doenças. querimentos para a sustentação da vida, que
não seja a humana.
Fonte: FREIRE DIAS, G. (1992)
Na realidade, à medida que a população humana tem se desenvolvido, os ecossistemas das clas-
ses 2, 3 e 4 têm aumentado significativamente, em última instância às expensas da classe 1. É
necessário que exista um certo equilíbrio entre todas as classes, já que cada tipo é necessário ao
homem. São óbvias suas necessidades tanto de ecossistemas urbanos como produtivos (estes não
existem isolados). Usualmente, reconhece-se também sua necessidade de parques e outros ecos-
sistemas naturais controlados. Mas, geralmente, compreende-se pouco a necessidade que tem o
homem de áreas silvestres, já que tradicionalmente as tem considerado como áreas não produti-
vas e, portanto, de pouco valor.
Os ecossistemas naturais maduros, não devem ser medidos em termos estritamente econômicos.
Seus efeitos de limpeza da atmosfera são só um exemplo de seu caráter benéfico para o homem.
Tais ecossistemas não só mantêm a si mesmos, mas também têm efeito amortizador nas áreas
circundantes. Regulando as correntes e a erosão, melhorando as condições climáticas locais e ab-
sorvendo os contaminantes, funcionam pois como um filtro para os ecossistemas empregados
mais intensamente. Os bosques e as montanhas ajudam a purificar uma área, da mesma forma
que os oceanos diluem os contaminantes que chegam até eles. Se mantêm um equilíbrio, os ecos-
sistemas naturais podem absorver e neutralizar a contaminação, tal como fizeram no passado. Se
as regiões silvestres se reduzem significativamente, ao mesmo tempo se incrementará a contami-
nação e os problemas ambientais se agravarão consideravelmente.
Não se sabe por quanto tempo será possível continuar expandindo intensivamente a agricultura e
as zonas urbanas, às expensas das paisagens protetoras. A saúde e a sobrevivência de nossos e-
cossistemas urbanos e agrícolas relacionam-se, direta e indiretamente, com a presença contínua
dos ecossistemas naturais. O problema agora é um problema de equilíbrio: "que limites devem
ser impostos ao tamanho e à capacidade de cada uma das classes gerais, de maneira que se
mantenha o equilíbrio vital entre o homem e as comunidades naturais?" 3
A expansão das atividades humanas indistintamente na biosfera, tem apresentado como conse-
qüência a destruição dos hábitats, com extinção de plantas e animais, redução da biodiversidade e
quebra do equilíbrio dos ecossistemas. Pensando na necessidade de reverter esse quadro, os paí-
ses do mundo inteiro decidiram montar uma rede de proteção, de dimensões planetárias, para a
biodiversidade de plantas, animais e microrganismos, e também das nações indígenas. São as
chamadas Unidades de Conservação - UC.
3
Sutton, N.B. e Harmon, N.P., Fundamentos de Ecologia, 1979.
1a Parte - Ecologia Geral - 41
♦ Parques Nacionais - PN. São áreas destinadas à proteção e conservação dos recursos natu-
rais e de valor ecológico, geológico, histórico, arqueológico, paisagístico ou estético, abran-
gendo flora e fauna de uma determinada região e aberto ao público. Em 1995, existiam trinta e
cinco parques nacionais no país, nove deles localizados na região Nordeste: Chapada Dia-
mantina, centro da Bahia; Grande Sertão Veredas, Bahia e Minas Gerais; Lençóis Mara-
nhenses, nordeste do Maranhão; Marinho de Abrolhos, a 80 km do litoral sul da Bahia; Ma-
rinho de Fernando de Noronha, Pernambuco; Monte Pascoal, sul da Bahia; Serra da Ca-
pivara, sul do Piauí; Sete Cidades, norte do Piauí; e Ubajara, noroeste do Ceará.
♦ Reservas Biológicas - RB. São áreas de conservação destinadas à preservação de estoque ge-
nético, à conservação de espécimes raros e à pesquisa científica. Das vinte e três reservas bio-
lógicas existentes no país em 1995, cinco situam-se no Nordeste: Atol da Rocas, Fernando de
Noronha/Pe; Gurupi, no Maranhão; Saltinho e Serra Negra em Pernambuco; e Una na Ba-
hia.
♦ Estações Ecológicas - EE. São áreas representativas de ecossistemas brasileiros, de proprie-
dade da União, destinadas à realização de pesquisas aplicadas à ecologia, banco genético para
reprodução de animais e vegetais e à preservação do meio ambiente da região. Em 1995, exis-
tiam 41 estações ecológicas no país, das quais oito estão na região Nordeste: Aiuaba, no sul
do Ceará; Mamanguape, na Paraíba; Raso da Catarina, no norte da Bahia; Seridó, no Rio
Grande do Norte; Uruçuí-Una, no Piauí; Praia do Peba, em Alagoas; Itabaiana, em Sergi-
pe; Ilha dos Caranguejos, no Maranhão.
♦ Reservas Ecológicas - RE. São as formações florestais e as áreas de florestas de preservação
permanente nas áreas de pouso das aves de arribação, nos mangues, nas restingas, nas dunas,
nas matas ciliares, nas nascentes, nos topos de morros e montanhas.
42 - Introdução às Ciências do Ambiente para Engenharia
♦ Áreas de Proteção Ambiental - APA. São áreas destinadas à proteção e conservação da qua-
lidade ambiental e dos ecossistemas ali existentes, visando à melhoria da qualidade de vida da
população local. Não necessita obrigatoriamente ser de propriedade da União. Exemplo:
Manguezais da Foz do Rio Mamanguape em Rio Tinto, Pb.
♦ Áreas de Relevante Interesse Ecológico - ARIE. São áreas de características naturais extra-
ordinárias ou que abriguem exemplares raros da biota regional. Exemplo: Vale dos Dinossau-
ros em Souza, Pb.
Ecossistema
Entrada Urbano Saída