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10/11/2019 Comentários ao projeto de novo Código Comercial - JOTA Info

DIREITO EMPRESARIAL

Comentários ao projeto de novo Código Comercial


Legislador não se esquivou de se aproximar das modernidades tecnológicas e dos seus institutos

GABRIEL MEDEIROS

19/01/2019 09:00

Imagem: Pixabay

Atualmente inserido no Código Civil e regido por diversas legislações esparsas, o


Direito Empresarial, de fato, terá componente da sua legislação inserida em um
código. Em tempos remotos, o Ministro do STJ João Otávio de Noronha ao
apresentar a I Jornada de Direito Comercial de iniciativa do Centro de Estudos
Judiciários (CEJ) do Conselho da Justiça Federal pronunciou-se do seguinte modo:
“direito comercial brasileiro está abrangido por legislação fragmentada, fruto de
momentos históricos distintos, o que di culta sua compreensão e aplicação e afeta,
por conseguinte, a segurança jurídica no âmbito empresarial”. Portanto, louvável a
postura do poder legislativo ao elaborar um código de direito comercial.
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A estrutura do Projeto de Lei do Senado nº 487 que altera o Código Comercial, o qual
terá a seguinte estrutura: Três partes: I) Parte Geral, composta dos seguintes títulos:
a) Do Direito Comercial; b) Da Pessoa do Empresário; c) Dos Bens e da Atividade do
Empresário; d) Dos Fatos Jurídicos Empresariais; II) Parte Especial, que disciplina os
seguintes temas: a) Das Sociedades; b) Das Obrigações dos Empresários; c) Do
Agronegócio; d) Do Direito Comercial Marítimo; e) Do Processo Empresarial; III) Parte
Complementar, que contém as disposições nais e transitórias.

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É oportuno dizer que “a disciplina de matéria mercantil no novo CC não afeta a


autonomia do direito comercial” (Enunciado nº75 da I Jornada de Direito Civil do
Conselho de Justiça Federal).

Em uma breve digressão pelos artigos iniciais do projeto do novo Código Comercial,
vislumbram-se algumas semelhanças com o atual Código de Processo Civil –
CPC/2015, o qual foi pautado por ideais principiológicos. O artigo 4º do Código
Comercial, em seu inciso I, v.g. preceitua que os princípios e regras da Constituição
Federal são normas do direito comercial. De modo semelhante, o art. 1º do
CPC/2015, prescreve que o processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado
conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da
República Federativa do Brasil.

Desde o seu artigo 5º ao 48 a nova legislação comercial aborda diversos princípios,


sendo estes, inclusive, utilizados na nomenclatura dada às seções.
Dentre eles, defende que a atividade empresarial é um fenômeno que deve ser
conservado, tendo em vista o efeito bené co que gera à sociedade. Por entender
deste modo, naqueles artigos constatamos que a revisão judicial das cláusulas de
contrato empresarial é excepcional. Analogamente, em observância ao princípio da
ética e boa-fé, o empresário deve buscar a realização de seus interesses na
exploração da atividade empresarial cumprindo rigorosamente a lei e adotando
constante postura proba, leal, conciliatória e colaborativa.

Ademais, em razão do impacto social da crise da empresa, sua prevenção e solução


serão destinadas não somente à proteção dos interesses do empresário, seus
credores e empregados, mas também, quando necessário e possível, à proteção dos
interesses metaindividuais relacionados à continuidade da atividade empresarial.

Com linguagem acessível, o novo Código Comercial manteve algumas normas até
então já previstas no Código Civil, e.g.,o conceito de empresário (art.49); que a
sociedade cooperativa não é empresária (art. 49,§3º). Contudo, a nova legislação

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inovou quanto à Empresa Individual de Responsabilidade Imitada (EIRELI). No art.


53, no qual está prevista essa modalidade empresarial, não consta como valor
mínimo para a sua constituição a quantia de 100 (cem) vezes o maior salário
mínimo em vigor, tampouco que o capital social esteja devidamente integralizado.
Devemos, assim, aguardar os pronunciamentos tanto da doutrina quanto dos
tribunais.

O novo código apresentou um capítulo especí co para o registro público de


empresas, no qual estão inclusas disposições para o registro do empresário e seu
cancelamento (art. 54 ao 65), fato que conduz a uma maior operacionalidade da
legislação. Outrossim, houve uma redução do prazo de 10 (dez) para 05 (cinco) anos
para que empresário individual ou a sociedade que não proceder a qualquer
arquivamento comunique ao Registro Público de Empresas, caso deseje manter-se
em funcionamento.

Novidade também é quanto à atuação do empresário individual que poderá exercer


a atividade empresária em regime duciário. Ao estipular esse regime, cam
separados os ativos e passivos relacionados diretamente à atividade empresarial
(art. 81). Como efeito disso, tem-se que na execução judicial contra o empresário
individual que explora a empresa em regime duciário, em se tratando de obrigação
relacionada à atividade empresarial, só podem ser penhorados e expropriados os
bens do patrimônio separado (art. 85).

Quanto aos ditames que regem o nome empresarial, o legislador determinou o prazo
de 05 (cinco) anos para que se realizasse o cancelamento da inscrição do nome
empresarial quando decorrido este lapso temporal a partir da interrupção do
exercício da atividade empresarial em que foi adotado, ou quando ndar a liquidação
da sociedade que o inscrevera.

Ao novo código, foi acrescida disposição acerca do comércio eletrônico, fato que se
coaduna com a contemporaneidade, considerando-se que essa modalidade de
comércio é cada vez mais exponencial.

Os serviços bancários foram enquadrados nesta categoria (art. 113, §1º). O novo
Código não se furtou e deixou claro que as regras concernentes ao comércio
eletrônico se aplicam tão somente a esta forma de venda, frisando ainda que todas
as partes devem ser empresárias (art. 113, §2º).

O novo Código, atento à modernidade e aos fatos mercantes cotidianos, atentou-se


para a concorrência desleal, que é um tema crescente, e assim abriu capítulo
especí co para isso, denominado de concorrência desleal e parasitismo (art. 149 a

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153). Andou bem o Código ao de nir o que é conduta parasitária, bem como
estipular um rol exempli cativo, ainda que com dois exemplos, de ações que
con gurem esse fenômeno, haja vista a sua singularidade.

Agora, na parte especial, especi camente no art. 181, temos algo original quanto à
constituição de sociedade de pessoas casadas entre si. O novo regramento legal é
totalmente permissivo, tendo a seguinte disposição: “independentemente do regime
de bens do casamento”. Hipótese que era facultada pelo art. 977 do Código Civil,
desde que os cônjuges não tenham aderido ao regime da comunhão universal de
bens, ou o da separação obrigatória.

Indubitavelmente, a meu ver, valorosa foi a redução da quantidade dos tipos


societários na novel legislação comercial. Indo de 10 (dez) para 04 (quatro),
conforme se observa no art. 184. Assim sendo, acertadamente agiu o legislador ao
retirar alguns tipos societários que estavam em desuso, tornando a legislação mais
concisa e menos incompreensível.

E para garantir a segurança jurídica daqueles que optaram pelas sociedades


simples, em comandita simples e em comandita por ações, o novo Código
Comercial a partir do art. 1.099 disciplinou as disposições transitórias, sendo uma
delas a vedação de constituir estas sociedades a partir da entrada em vigor do
Código. Na trilha da modernidade, foram inseridas disposições sobre o uso de
assinatura eletrônica digital para a prática dos atos societários (art. 190).

No tocante à desconsideração da personalidade jurídica, o novo conjunto de regras


estabelece procedimento próprio para a sua efetivação, desvencilhando-se das
regras postas pelo Código de Processo Civil.

Dentre as disposições, consta no art. 197 que a simples insu ciência de bens no
patrimônio da sociedade para a satisfação do crédito não oportuniza o credor a
pedir a desconsideração de sua personalidade jurídica. Dispositivo que diverge do
REsp 1.141.447-SP, no qual restou consignado que é necessária a concorrência do
requisito objetivo – insu ciência patrimonial da devedora – e o requisito subjetivo –
desvio de nalidade ou confusão patrimonial para que se torne viável o pedido de
desconsideração da personalidade jurídica nos termos do art. 50 do Código Civil.

Em diversos artigos o legislador conceituou os institutos. Com a sociedade sem


registro não fez diferente, sendo considerada assim – comum ou informal – aquela
que explora atividade sem o prévio arquivamento de seu contrato social no Registro
Público de Empresas (art. 204).

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Relativamente à sociedade estrangeira (art. 220 ao 226), de plano, vislumbramos


inovação quanto à possibilidade de sociedade não brasileira ser sócia de empresa
brasileira. A atual regra oportuna atuar somente em caráter acionista (art. 1.134
Código Civil).

Quantos às espécies de tipos societários, faremos breves comentários. Andou bem


o novo Código ao prever a emissão de debêntures pela sociedade limitada, haja vista
o aumento no uxo de caixa que possa advir a partir das aquisições desse tipo de
investimento (art. 309).

À sociedade em nome coletivo, no art. 310, é facultada a sua formação por pessoa
jurídica. No dispositivo em vigor que rege esse tipo societário, vale dizer, art. 1.039
do Código Civil, somente as pessoas naturais é que podem constituí-las.

No que se refere à sociedade em conta de participação, o art. 321 amplia as


possibilidades de aplicação de normas subsidiárias às suas questões, pois o novo
código prevê a alternativa de o aplicador do direito valer-se das regras das
sociedades por quotas, as quais são: sociedade em nome coletivo e sociedade
limitada.

Já à sociedade anônima o legislador pouco editou normas, já que se limitou a


apenas dois artigos, determinando em um deles que a sociedade anônima será
regida pela lei especial ora em vigor – Lei nº 6.404/1976, e nos casos omissos as
disposições do código comercial.

Com o objetivo de clari car as normas utilizadas no atual Código Civil que aludem
ao direito empresarial e atenuar as interpretações divergentes, o novo Código
Comercial, de modo certo e convincente, asseverou que a sociedade pro ssional é a
constituída para proporcionar o exercício em comum de pro ssão intelectual ou
regulamentada (art. 324), tornando mais sucinto o conceito em relação aquele
previsto no parágrafo único do art. 966 do Código Civil.

Essas foram as primeiras impressões da leitura do Projeto de Lei do Código


Comercial que estar por vir, ao menos da parte do direito de empresa e de societário.

Como dito, à primeira vista o novo Código Comercial é de leitura clara e, portanto, de
fácil entendimento, não obstante as diversas exegeses que podem surgir dos seus
dispositivos. O legislador, ressalte-se, não se esquivou de se aproximar das
modernidades tecnológicas e dos seus institutos, situação que o mostra atento às
novas demandas social e mercadológica, logo é uma postura apreciável.

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GABRIEL MEDEIROS – Advogado - pós graduando em Direito Penal e Empresarial

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