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i.

Os deveres acessórios, decorrentes do princípio da boa-fé, destinando-se a


permitir que a execução da prestação corresponda à plena satisfação do
interesse do credor e que essa execução não implique danos para qualquer
das partes;
ii. Sujeições, como contraponto a algumas situações jurídicas potestativas
que competem ao credor;
iii. Poderes ou faculdades, que o devedor pode exercer perante o credor;
iv. Excepções, que consistem na faculdade de paralisar eficazmente o direito
de crédito.
O dever de efectuar a prestação principal é o elemento determinante da obrigação,
sendo este que lhe atribui a sua individualidade própria. Os deveres secundários de
prestação correspondem a outras prestações funcionalizadas em relação à prestação
principal, visando complementá-la.
Os deveres acessórios de conduta são classificáveis, segundo Menezes Cordeiro, em
deveres acessórios de informação, protecção e lealdade, resultando o princípio da boa-
fé e tendo por função assegurar a realização do dever de prestação principal em
termos que permitam tutelar o interesse do credor, mas também evitar que a
realização da prestação possa provocar danos para as partes.
No tocante aos deveres acessórios, não se concebe a acção de cumprimento, mas
apenas outras sanções como a indemnização pelos danos sofridos com a violação ou
eventualmente a resolução do contrato (cfr. art.º 1003.º, al a), CC), sendo estes
deveres, aliás, independentes do dever de prestação principal, pelo que podem surgir
antes ou após a sua extinção (deveres pré- e pós-contratuais) e inclusivamente tutelar
a situação de terceiros ao contrato (eficácia de protecção em relação a terceiros).
Nas sujeições, contrapostas às situações jurídicas potestativas, é possível incluir-se
entre elas situações como a faculdade de interpelação nas obrigações puras, colocando
o devedor na situação de mora (art.º 805.º, n.º 1, CC) ou a resolução do contrato em
consequência do incumprimento (art.º 801.º, n.º 2, CC). Assim, o direito de crédito,
ainda que não seja estruturalmente um direito potestativo, pode incluir no seu seio
elementos de carácter potestativo.

Menezes Leitão entende que a obrigação é, no fundo, uma situação complexa,


superando a simples decomposição dos seus elementos principais como o direito à
prestação e o dever de prestar. Esta abrange ainda deveres secundários, acessórios,
sujeições, poderes ou faculdades e excepções, chamando-se a tal de “relação
obrigacional complexa”.

Modalidades de obrigações – obrigações naturais

A qualificação das obrigações naturais como obrigações é controversa. Estas são


definidas pelo art.º 402.º do Código Civil como as obrigações que se fundam “num
mero dever de ordem moral ou social, cujo cumprimento não é judicialmente exigível,
mas corresponde a um dever de justiça”. Assim, o que caracteriza a obrigação natural
é a não exigibilidade judicial da prestação, resumindo-se a sua tutela jurídica à
possibilidade de o credor conservar a prestação espontaneamente realizada (soluti
retentio), à qual o art.º 403.º se refere. Exclui-se, por conseguinte, a possibilidade de
repetição do indevido (art.º 476.º, CC), salvo se o devedor não tiver capacidade para
realizar a prestação.

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