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1.1- Treinamento
Quando um ponto fraco é descoberto em qualquer um dos tecidos, imediatamente são tomadas
providências para o fortalecimento desta posição colocada em perigo. Uma solicitação intensa de
resistência muscular conduz, p. ex., a uma reabsorção das reservas de glicogênio. Nas fases de
recuperação o organismo não reage simplesmente com o restabelecimento do depósito aos seus
antigos níveis, mas supercompensa, isto é, ele aumenta o efetivo do depósito. A condição prévia
para que tal aconteça é a ultrapassagem de um limiar crítico de estímulo. Nesta forma de reação do
organismo baseia-se, em princípio, todo o treinamento físico. (...) O organismo esforça-se para
conseguir com um mínimo de gastos um máximo de eficiência.
A decomposição de estruturas celulares, o esgotamento dos depósitos de energia nos órgãos e
tecidos sob solicitação física, provocam, sobretudo, os processos para a reformulação morfológica e
funcional. Nisto a rapidez das modificações que se processam no organismo em atividade influencia
evidentemente os processos de recomposição. Solicitações no treinamento de alta intensidade, às
quais se seguem outras de menor intensidade, possivelmente oferecem melhores condições para a
evolução de mecanismos anabolizantes (worobjew, 1972).
Baseados sobretudo nas pesquisas de meerson (1973) acredita-se que podem ser distinguidos
diversas etapas de adaptação como reação ao treinamento. A primeira representa a ativação da
produção de energia nas células, a segunda a síntese de ácidos nucleicos, a terceira a formação
adicional de proteínas (hipertrofia).
Em princípio não se tem condições de utilizar voluntariamente por completo as suas potencialidades
realmente existentes sem que haja uma situação especial. (...) Somente indivíduos bem treinados e
em plena forma têm condições de mobilizar suas potencialidades até o nível de aproximadamente
90%. Contudo também ainda permanecem portanto cerca de 10% da capacidade total de
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desempenho que somente será explorado em situações especiais ou pela ação de drogas (doping).
Além disso o efeito de treinamento depende de fatores endógenos e exógenos. Os endógenos são
sobretudo de natureza genética. Os estudos ainda são preliminares para que se possa responder à
questão de até que ponto a possibilidade de treinamento e o desempenho desportivo ficam limitados
pelo genótipo.
Experiências ( klissouras - 1972) concluíram-se, com toda precaução, que evidentemente o
treinamento físico não melhora a capacidade física de desempenho além daquele limite pré-
estabelecido pelo genótipo. Também a prática desportiva apresenta-se de acordo com o exposto.
Portanto, é praticamente impossível transformar um corredor de fundo em um velocista, e vice-
versa. Também neste caso a explicação mais plausível residiria no genótipo.
Foi qualificado o treinamento como uma repetição sistemática de tensões musculares pré-definidas
supraliminares com reflexos de adaptação morfológicos e funcionais, cuja finalidade seja o aumento
da performance.
O treinamento deve considerar a capacidade individual de desempenho físico e disponibilidade
desse desempenho.
A expressão "estar treinado" caracteriza-se pelo estado de capacidade aumentada de desempenho
em por uma disponibilidade maior do esforço em conseqüência do treinamento.
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Uma carga que seja igual a 60-80% da capacidade geradora de força de um músculo é suficiente
para aumentar a força. Em geral, essa carga permite completar cerca de 10 repetições de um
determinado exercício.
A utilização de uma resistência mais leve (e, conseqüentemente, de mais repetições) é prudente ao
iniciar um programa de treinamento com pesos. A experiência mostrou que inicialmente os novatos
devem tentar completar de 12 a 15 repetições. Esse esquema não impõe uma sobrecarga excessiva
ao sistema musculoesquelético durante a fase inicial do programa. Um peso maior deve ser usado
se as 12 repetições parecem por demais fáceis. O peso estará sendo excessivo se o executante não
puder realizar 12 repetições. Esse é um processo do gênero de tentativas e falhas, podendo
prolongar-se por várias sessões, até escolher um pesos inicial adequado. Após uma ou duas
semanas de treinamento, quando os músculos se adaptaram e os movimentos corretos foram
aprendidos, o número de repetições pode ser reduzido para seis ou oito. Toda vez que esse novo
número alvo de repetições for alcançado, acrescenta-se mais peso. Esse programa representa um
treinamento com resistência progressiva: à medida que os músculos ficam mais fortes, o peso é
ajustado e tenta-se uma carga mais pesada. Em geral, a seqüência dos exercícios deve prosseguir
dos grupos musculares maiores para os menores, a fim de prevenir a incapacidade de realizar
exercícios com os grande músculos em virtude da fadiga prematura do grupo menor necessário para
a realização do movimento.
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Sabe-se com segurança apenas que deve ser ultrapassado um limiar crítico de tensão para provocar
um estímulo de hipertrofia. Baseados nos conhecimentos atuais sobre funções e estruturas da célula
consideramos satisfatórias as seguintes hipóteses: cada influência exógena intensiva supra-limiar
sobre o organismo, provoca ali uma reação. Ela se compõe de um reforço da região alcançada pelo
estímulo, mediante a qual uma solicitação futuramente renovada encontrará o local em questão
melhor preparado, isto é, tornou-se mais passível de esforços. Cada hipertrofia baseia-se em um
aumento da síntese de ácido nucleico e da síntese de proteínas. Deve, portanto, depositar-se em
proporções reforçadas, o rna nos "ribossomos", com o fim específico de reprodução de proteínas.
Isto faz prever novamente um reforço da atividade do aparelho genético. Por conseguinte, o estímulo
deverá atuar primeiramente sobre os gens de dna, para daí provocar a síntese aumentada de RNA.
Este estímulo poderá ser estabelecido através de uma reabsorção de fosfocreatina e ATP de
intensidade freqüentemente acima da média. Sabe-se em relação a um derivado cíclico de atp o
ciclofosfato, p. ex., que ativa as estruturas celulares genéticas (skulatschojow, 1969)
Virtualmente, toda a hipertrofia muscular resulta do aumento de número dos filamentos de actina e
de miosina, causando aumento do volume da fibra muscular, o que é chamado, simplesmente
hipertrofia fibrilar. Isso ocorre geralmente como resposta à contração muscular com força máxima ou
quase máxima.
Ocorre hipertrofia em grau muito maior, quando o músculo é, ao mesmo tempo, estirado durante o
processo contrátil. Apenas poucas contrações desse tipo, a cada dia, são suficientes para causar
hipertrofia quase máxima dentro de seis a dez semanas.
O modo como as contrações intensas produzem hipertrofia ainda não é conhecido. Sabe-se,
entretanto, que a intensidade na síntese das proteínas contráteis musculares é muito maior durante
o desenvolvimento da hipertrofia do que a intensidade de sua degradação, levando
progressivamente a número maior de filamentos tanto de actina como de miosina nas miofibrilas.
Por sua vez, as miofibrilas se dividem dentro de cada fibra muscular para formarem novas
miofibrilas. Assim, é principalmente por meio desse grande aumento de miofibrilas adicionais que
ocorre a hipertrofia das fibras musculares.
Junto com o aumento do número crescente de miofibrilas, os sistemas enzimáticos produtores de
energia também aumentam. Isso é especialmente verdadeiro para as enzimas glicolíticas, que
permitem fornecimento rápido de energia durante as contrações fortes de curta duração. Quando um
músculo permanece inativo por longo período, a intensidade da degradação das proteínas
contráteis, bem como a redução do número de miofibrilas aumenta de forma mais rápida do que a
de sua renovação. Como resultado, ocorre a atrofia muscular.
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De acordo com as experiências de Roux, uma hipertrofia do músculo esquelético pode se dar por
um aumento no seu comprimento e na sua espessura. A forma comum de hipertrofia é o aumento
exclusivo da espessura; um aumento no comprimento sobrevém somente depois que os pontos de
inserção dos tendões forem afastados um do outro através de processos patológicos ou
experimentais. (2) Outro tipo de hipertrofia ocorre quando os músculos são estirados até
comprimento acima do normal. Isso faz com que sejam acrescentados novos sarcômeros às
extremidades das fibras musculares, onde elas se prendem aos tendões. Na verdade, novos
sarcômeros podem se adicionados tão rapidamente quanto vários a cada minuto, demonstrando a
rapidez desse tipo de hipertrofia.
De modo inverso, quando um músculo permanece continuamente encurtado até menos que seu
comprimento normal, os sarcômeros nas extremidades do músculo desaparecem com velocidade
quase igual. É por meio desse processo que os músculos são continuamente remodelados para
manter o comprimento apropriado às contrações musculares adequadas.
A hipertrofia condicionada pelo treinamento de força desempenha o papel mais importante em
relação ao aumento da força estática. De acordo com os cálculos de Ikai e Fukunaga (1970) um
treino de força estática executado durante um tempo suficientemente longo, aumenta
consideravelmente a força muscular máxima/cm2 de secção transversal muscular. Também por
secção transversal muscular, apresenta-se um aumento das proteínas contráteis em relação a um
decréscimo das proteínas sarco-plasmáticas.
Particularmente interessantes são atualmente as modificações bioquímicas. O treinamento de força
aumenta preponderantemente o teor de fosfocreatina numa ordem de grandeza de 20 até 75% (
Yampolskaya, 1952 entre outros). Simultaneamente eleva-se o teor de ATP (Jakovlev, 1958) e a
atividade das enzimas correspondentes, particularmente a "creatinofosforilase". Estas modificações
bioquímicas possibilitam uma alta liberação de energia a curto prazo.
Além disso a concentração DNA e RNA de um músculo hipertrofiado é maior do que a de um
músculo normal (Hamosch e colab. 1967). Os microssomos isolados de um músculo hipertrofiado
também acusam uma concentração- rna maior e podem sintetizar proteína in vitro mais rapidamente
do que aqueles de músculos não treinados (Hamosch, 1967)
Resultados de estudos fazem supor que - independente de mecanismos neurofisiológicos - um
aumento de força muscular não precisa se surgir necessariamente associada a um aumento do
volume muscular; uma espessura maior dos elementos contráteis dentro de uma célula, bem como
uma modificação dos números relativos de actina para a miosina pode ser responsável por isso.
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1.16.1Hiperplasia das Fibras Musculares.
Poucas células, como os neurônios e as células musculares estriadas, não se reproduzem durante
toda a vida da pessoa, exceto durante o período inicial da vida fetal. Sob raras condições de geração
extrema de força muscular, já foi observado que o número de fibras musculares aumenta, mas
apenas por poucos pontos percentuais, além do processo da hipertrofia fibrilar. Esse aumento do
número de fibras musculares é chamado de hiperplasia fibrilar. Quando ocorre, seu mecanismo é a
divisão linear de fibras previamente aumentadas.
Os pesquisadores relataram que o treinamento com sobrecarga do músculo esquelético em várias
espécies animais acarreta o surgimento de algumas novas fibras musculares a partir de células
satélites (as células localizadas entre a camada basal e a membrana plasmática), ou através de um
processo de divisão longitudinal . Ainda está sendo debatido se isso ocorre também nos seres
humanos, porém já existe alguma evidência em apoio de sua ocorrência. Por exemplo, os dados de
autópsia de homens jovens e sadios que morreram acidentalmente indicam que as contagens reais
de fibras musculares da perna maior e mais forte (perna oposta à mão dominante) continha 10%
mais fibras musculares que a perna menor.
Reitsma (1965) comprovou finalmente a existência de uma hiperplasia legítima no quadro
microscópico. Se durante um treinamento de força o limite existente tiver sido ultrapassado no
desenvolvimento da hipertrofia de cada fibra muscular (...) efetuar-se-ão modificações do tecido
semelhantes a uma inflamação, um desdobramento de uma fibra muscular e a partir desta fibra a
formação de duas novas fibras musculares com estrutura bastante embrionária e de alto índice de
ácido ribonucleico. Uma proliferação capilar simultânea supriu o abastecimento sangüíneo. (2)
Mesmo se a hiperplasia vier a ser reproduzida em outros estudos humanos (e mesmo que a
resposta venha a ser um ajuste positivo), a maior contribuição para a dimensão muscular devida ao
treinamento com sobrecargas é feita pelo aumento das fibras musculares individuais já existentes.
Bibliografia
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1999
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