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UFRRJ - Licenciatura em Filosofia Filosofia Política II

Pedro Xavier do Lago Prof.: Walter Valdevino

Matrícula: 2017300428 Data: 10/11/20

Fichamento das conferências I, II e III sobre Rousseau, do livro "Conferências sobre a


história da filosofia política" de John Rawls
Conferência I: O problema do contrato social
Adentrando a obra que Rawls considera “talvez” a maior obra da filosofia política em
idioma francês, além dos elogios a escrita de Rousseau, Rawls assume pretender
compreender as questões e levantar problematizações que levaram o filósofo a escrever Do
contrato social. O filósofo também se destaca como crítico da cultura e da civilização,
investigando os males nestes pontos e o que causa eles. Estando em um contexto que viria a
preparar o caminho para a Revolução Francesa, Rousseau escreve as obras Do contrato
social e Emílio, que o levam a ser vítima de medidas legais contra o autor na França e em
Genebra.
Objetivo sumário de sua obra: Um corpo coerente de pensamento que engloba estudos
sobre a origem da desigualdade e opressões sociais, e também a fundamentação de um “(...)
regime plenamente justo e viável que ofereça ao mesmo tempo estabilidade e felicidade.
(...)”.
Divisão por Rawls da obra de Rousseau em três grupos:
O primeiro sendo três obras de crítica histórica e cultural, fazendo investigações sobre a
civilização e sendo um crítico do iluminismo.
O segundo sendo três obras formadoras descrevendo sua “utopia realista”.
E o terceiro grupo sendo obras autobiográficas com influência na literatura e no
romantismo.
Objetivos de Rousseau com referência de Rousseau: Dreamer of Democracy de Miller:
Expor o pensamento de que o homem é naturalmente bom e se corrompeu por causa das
instituições sociais, adentrando a não obviedade de suas ideias nesta simples frase.
Examinar as transformações históricas em um estudo da história da humanidade.
Distinguir a desigualdade: Uma natural, levando em conta as diferenças de força corporal,
de idade e afins, e uma moral ou política. Uma “desigualdade artificial”, a desigualdade
moral ou política necessita autorização e estabelecimento. Para Rousseau, na sociedade
existente de hoje não há um elo fundamental entre estas duas desigualdades.
Em três modos de compreender a ideia do estado de natureza, há um sentido jurídico
levando em conta uma ausência de autoridade política, há um sentido cronológico levando
em conta a primeira condição histórica da humanidade, e um sentido cultural em que as
artes e as ciências sejam incipientes. A realização das formas da sociedade e da cultura tem
um processo histórico bastante longo. Rousseau também não crê que a primeira fase da
história do homem primitivo seja a ideal, e sim quando já há considerável desenvolvimento
cultural.
Amour-propre: Preocupação natural em estar em uma posição estável em relação aos
outros, com a necessidade de ser aceito como igual por eles.
Duas razões para a aceitação do amour-propre em seu amplo sentido:
A primeira é sua definição ampla desenvolvida no Livro I da obra Religião, de Kant,
separado dos vícios diabólicos.
A segunda é que tal interpretação do termo é necessária para que as obras do filósofo façam
sentido como uma doutrina coerente e harmoniosa.
Por mais que os males sociais pareçam inevitáveis, embasado no fato de estarem ligados a
razão, imaginação, reflexão e autoconsciência humanas, e levando em conta as primeiras
fases do homem, Rousseau ainda vê a felicidade na fase terceira, em que os homens vivem
em grupos dispersados, garantindo sua subsistência e se encontrando espontâneamente com
música e dança.
Sendo a primeira a fase do homem enquanto animal livre e indolente, e a segunda onda há
uma sociedade embrionária, a terceira fase é superada com a transição para a quarta, que é a
primeira fase de desigualdade levando em conta a industrialização e a necessidade de um
com o outro.
Autoridade política: Parte de um embuste dos ricos, fomentando a desigualdade econômica.
O processo de desigualdade ocorre em três fases: O estabelecimento da lei e do direito a
propriedade, a instituição da magistratura e a transformação do poder legítimo em poder
arbitrário.
Fechando o círculo: O sentimento de humanidade começa pelo estado de natureza levando
em conta as quatro fases culturais antes do advento da sociedade civil. O estado da
sociedade e e da cultura alterar todas as inclinações humanas.
A história ocorre em dois processos correlacionados: A concretização gradual da
perfectibilidade que está a priori em nossa capacidade de realizações e o de crescente
alienação uns em relação aos outros em uma sociedade desigualitária.
Por que Rousseau diz que a natureza humana é boa se o humano primitivo é bruto e
indolente? Duas razões explicam: A rejeição pelo filósofo da doutrina agostiniana do
pecado original e a rejeição da doutrina de Hobbes. A natureza humana na concepção
hobbesiana encaixa-se na ultima fase da cultura desenvolvida por Rousseau. O estado de
guerra apresentado por Hobbes depende das paixões do orgulho e vaidade que na leitura de
Rousseau pressupõem a existência de certas instituições sociais.
O Contrato social apresenta os princípios do direito político para uma sociedade viável e
estável, isto é, justa. Não há tanto espaço para ação. As instituições sociais influenciam as
inclinações humanas, além de existir pelo menos um sistema possível institucional legítimo
que satisfaz aos princípios rousseauianos.
Em conclusão, a natureza humana é boa no sentido em que pelo menos permite a
possibilidade de acordos políticos e sociais justos e estáveis. Em uma pergunta surgente:
Em que medida o filósofo acredita haver benevolência na natureza humana? Há de se
investigar os princípios da natureza humana, entre os mais fundamentais de sua psicologia.
Depende, também, a definição da natureza humana como boa de dois fatores: O alcance e
variedade das condições históricas da concretização da sociedade do Contrato Social e a
possibilidade de chegar a tais condições partindo da maioria das outras condições, entre
outras distintas.
Resposta de Rousseau sobre organizar as instituições sociais a fim de que não se
desenvolvam os vícios e sofrimentos humanos: A necessidade de organizar estas
instituições políticas e sociais de acordo com termos de cooperação expressos pelo contrato
social, tornando possível a liberdade cívica e previnindo hostilidades.

Conferência II: O contrato social: os pressupostos e a vontade geral (I)


A resumir o que se desenvolveu até então: O contrato social exerce influência no
desenvolvimento e expressão de determinadas inclinações humanas. Algumas más, outras
boas. E também há pelo menos um sistema possível e razoável em que as instituições
políticas poderiam satisfazer os requisitos de estabilidade e felicidade humana.
A ressaltar também a ambiguidade ao tentar se referir aos seres humanos que estão de
acordo com os princípios e inclinações fundamentais de sua ambiguidade, Rawls identifica
quatro questões levantadas na discussões da concepção política e na definição do direito e
da justiça:
Primeiro, quais seriam, nesta concepção, os principios razoáveis ou verdadeiros do direito
político e da justiça “(...) de modo que se estabelece sua retidão?”.
Segundo, que instituições políticas e sociais “viáveis e praticáveis” são as mais eficientes
na concretização destes princípios e estabilização da sociedade no tempo.
Terceiro, sobre o conhecimento pelas pessoas destes princípios e o incentivo a agir com
base neles dentro da concepção política vigente.
A ultima questão sendo de que modo poderia ser criada uma sociedade que concretiza esses
princípios e como ela teria sido criada, em circunstâncias reais, caso tenha ocorrido alguma
vez?
Pacto social: Ato pelo qual as pessoas se tornam um povo. Tal ideia está associada a ideia
de vontade geral. (Bem comum, interesse comum). “É sempre necessário voltar a primeira
de todas as convenções (ao pacto social)”. O pacto social define os termos da cooperação
social que irão se refletir nas instituições e não é realizado em estado de natureza ou de
sociedade primitiva.
A teoria do contrato social em Rousseau parte de quatro pressupostos:
Primeiro: Os indivíduos “em cooperação” têm por objetivo promover seus interesses
baseados em seu bem razoável e racional, dentro de sua percepção.
Segundo, com uma atenção especial merecida: Rousseau nunca acredita que os seres
humanos são independentes entre si e que não há possibilidade de viver sem a sociedade.
Porém não é inviável uum desvínculo social ou uma volta à fase primitiva da sociedade
humana.
Terceiro: Todas as pessoas tem a capacidade e interesse, em níveis iguais entre si, ao que se
refere à liberdade, levando em conta a capacidade de livre-arbítrio e de agir levando em
conta um embasamento em razões válidas.
Quarto pressuposto: Todos tem igual capacidade de ter um senso político de justiça e
interesse em agir embasado nele.
Levando em conta esses pressupostos: Como encontrar uma forma de associação que
garanta a proteção das pessoas e dos bens “(...) de cada associado com toda a força
comum”? Além desta, a premissa de que cada um “(...) obedece apenas a si mesmo e
permanece livre como antes”.
No ultimo parágrafo, estão os problemas que o contrato social pretende solucionar, de
modo que não sacrifique nossa liberdade para realizar nossos interesses fundamentais e
condições necessárias para exercício das capacidades.
As clausulas de associação se tornam uma única caso a correta compreensão: “A alienação
total de cada associado, com todos os seus direitos, à comunidade como um todo”
(Contrato social).
Três pontos comentados sobre esta ultima afirmação:
As condições que nos comprometemos são iguais para todos. “ninguém tem interesse em
tornar incômodas para os outros”. As cláusulas não tem alcance universal. As instituições
neste pacto devem ordenar nossas relações de dependência para com a sociedade de modo
que tenhamos, se possível, plena liberdade moral e civil.
O segundo comentário pensa no fato de que não há autoridade que possamos apelar que a
dos termos do próprio pacto social. O pacto social, ademais, é uma resposta a pergunta
sobre quais são os verdadeiros princípios do direito político?
O ultimo é sobre deixarmos de ser sujeitos as vontades específicas e arbitrárias de outras
pessoas ao passo que mesmo que há um pacto social também tem estabelecida a
independência social.
Esclarecendo o que é vontade geral para Rousseau para entender melhor o pacto social:
“Cada um de nós põe sua própria pessoa e todo o seu poder nas mãos de todos sob a
direção suprema da vontade geral; (...)” (Contrato social)
Esta vontade se manifesta propriamente em leis fundamentais sobre aspectos essenciais da
constituição e justiça elementar. Tais leis são legítimas por serem manifestações da vontade
geral.
A vontade geral é vontade de quem? De todos os cidadãos do pacto social.
Qual é a vontade da vontade geral? O bem comum.
O que torna possível o bem comum? Nosso interesse comum, cuja formulação é
possibilitada pelas nossas condições sociais.
O que torna possíveis os interesses comuns? Os interesses fundamentais dos indivíduos.
O que determina nossos interesses fundamentais? A natureza humana e os interesses e
capacidades fundamentais que lhe são essenciais e prórios.
Além do que foi perguntado e respondido, Rawls traz a asserção que fundamenta o voto,
sendo de influência maior os interesses particulares. Rousseau objeta que tais interesses são
obstáculos ao voto consciente.
O grande número de pequenas diferenças é o que converge à vontade geral.

Conferência III: A vontade geral (II) e a questão da estabilidade


Cinco perguntas a serem respondidas:
Qual é o ponto de vista da vontade geral?
Por que a vontade geral, para ser legítima, deve derivar de todos e se aplicar a todos?
Qual é a relação entre a vontade geral e a justiça?
Por que a vontade geral tende à igualdade?
De que modo a vontade geral está relacionada com a liberdade civil e moral?
Sobre o ponto de vista: Longe de ser definido em termos utilitaristas, o bem comum que
rege o ponto de vista da vontade geral se baseia nos interesses comuns que subjazem as leis
fundamentais e sua criação.
Quanto a derivação de todos e a aplicação a todos para legitimar a vontade geral é
respondida no argumento rousseauiano de que em um exercício de direito político cada
cidadão deriva seus motivos em seus interesses fundamentais e levando em conta uma lei
fundamental. Na aplicação, por exemplo, ao votar visando à felicidade de cada um, o
cidadão enxerga nesse “cada” ele mesmo. Todos são guiados pelos mesmos interesses
fundamentais.
A relação da vontade geral e a justiça é a geração da ideia de justiça sob e a partir do
escopo social da vontade geral. Quando não subordinada a este ponto de vista, pode-se
gerar injustiça e violações do direito.
Por que a vontade geral tenderia à igualdade? Pois a igualdade é a vontade da vontade
geral.
Quanto a última pergunta: O Rousseau acredita que uma sociedade do pacto social, pelas
suas instituições básicas, gere tanto a liberdade civil quanto a moral devido ao contexto
social essencial para que haja a liberdade civil e o ganho da liberdade moral quando os
indivíduos fundam essa sociedade. Além do mais, a liberdade moral é inviável fora de
sociedade.
Interdependência: Parte da natureza humana.
Os termos do pacto social derivam do modo de ser fundamental e atual dos cidadãos em um
dado momento e em uma sociedade que os concretiza. Isto envolve leis que que satisfaçam
a esses termos e a ação cidadã baseada nelas.
Rawls procura desenvolver a figura do legislador em que é concebida e refletida no
Contrato Social de Rousseau. Uma figura curiosa, definida com o papel de instituir a
constituição, principalmente fundar o Estado que define as leis fundamentais do povo
presente a tal Estado. Um “deus ex machina”, visto como alguém de extraordinária
sabedoria e conhecimento “(...) não tem autoridade sobre seu trabalho como legislador e,
ainda assim, deve de alguma forma persuadir o povo a aceitar as leis que lhe promulgou.
Historicamente, isso ocorreu muitas vezes, (...)
O papel do legislador na doutrina de Rousseau refere-se ao conhecimento popular dos
princípios do direito e da motivação dos cidadãos para agir com base neles, além também
de concretizar tais princípios formando uma estabilidade. “(...) fica claro que ele não parte
do pressuposto de que um simples contrato de alguma espécie entre as pessoas seja
transição suficiente de uma fase pré-política para uma sociedade cujas instituições básicas
se conformem aos termos indispensáveis do pacto social. (...)”
Um problema ainda a ser discutido: “(...) encontrar uma forma de associação em que, ao
nos unirmos uns aos outros, obedeçamos a nós mesmos e permaneçamos tão livres como
antes” (Contrato Social, 1:6:4)
“Indíviduo forçado a ser livre”. O pacto social inclui o compromisso de dar força aos outros
com compromissos, e quem se recusar é sucumbido ao constrangimento por parte do
organismo social. No caso, as potencialidades, cuja igualdade é incluída entre elas, apenas
se realizam na sociedade política do pacto social. Deve haver leis que visem unir direitos e
deveres.
Liberdade e igualdade: “o bem supremo de todos e devem ser a finalidade de todo sistema
legislativo”. A liberdade não pode ser duradoura sem a igualdade.
Razões para controlar as desigualdades: Aliviar o sofrimento, previnir que uma parte da
sociedade domine o resto dela e compreender o que pode estar errado com a desigualdade
em si, o que levanta outros questionamentos.
A sugestão que Rousseau dá para solucionar os males das desigualdades na sociedade
política é que todos devem ser cidadãos iguais. “Dois exemplos que podem ser
considerados equitativos são os mercados equitativos da economia, isto é, mercados abertos
que viabilizam a concorrência, e as eleições políticas equitativas. (...)”
O pacto social é o vetor do entendimento da extrema significância da ideia da igualde ao
passo que ficamos sabendo que todos devem ter ma mesma posição social igual de cidadão
e a vontade geral deve ter como objetivo o bem comum.
A igualdade não deve ser compreendida como graus de riqueza e poder em níveis iguais,
mas sim o de que seus extremos devem ser evitados e desestimulados.
A ideia mais elevada de igualdade em si mostra sua presença na posição de igualdade que
um cidadão compartilha com os outros.

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