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Fichamento do caralho a quatro

- As artes visuais suscitam uma relação epistemológica entre o leitor, que é um fruidor, e o objeto de
arte. Dada a relação, a autora busca um embasamento teórico para entender tal relação.
- "A relação sujeito/objeto é recorrente ao longo de toda história da filosofia e tema central no que
tange pesquisas sobre epistemologia, pois trata da relação entre o sujeito que observa e interpreta
seu entorno e o objeto que é analisado e lido por este sujeito."
- "O que há de objetivo na leitura subjetiva do fruidor na obra de arte?". Dada as dicotomias como
"sujeito/objeto", e a tricotomia "fruidor/representação mental/objeto de arte", o processo de fruição
de objetos de arte suscita uma necessária estrutura subjacente cognoscível.
- Tiziana elabora três hipóteses para desenvolver a argumentação sobre os problemas tratados:
a) ”A subjetividade presente na fruição é indissociável da objetividade intrínseca ao objeto de arte.”
b) “O objeto de arte é per si de natureza híbrida: ontológica (o ser do objeto) e deontológica
(possibilidade do que deve ser).”
c) “A formação e expansão de visão de mundo e espaço conceitual do fruidor faz parte fundamental do
processo de criação e construção de significado do objeto de arte, na medida em que abarca as relações:
sujeito/objeto, subjetividade/objetividade, ontologia/deontologia, mente/mundo, por meio da
sincronicidade entre objeto de arte e o entorno em que está inserido contextualmente.”
- A arte se faz oficina de significação por parte do artista criador e também pelo fruidor.
- Tendo em vista a dicotomia sujeito e objeto, a análise pelo fruidor se manifesta como uma
representação em sua mente, comparável ao “fenômeno” trabalhado na história da filosofia
tradicional. “Trata-se de uma relação que poderia ser representada por meio de estrutura risomática
dinâmica, em que as concatenações se constroem como sinapses, conectando-se em múltiplas
combinações simultâneas”.
O ser do objeto de arte e sua natureza deontológica.
- Tiziana analisa estruturas subjacentes que estão presentes na leitura pelo fruidor, que se
desemboca numa construção de significação da materialidade fenomênica do objeto de arte.
- “Neste sentido, descrever esta estrutura seria tão relevante, quanto discernir as marcas sulcadas
pela cultura e os sinais das múltiplas vivências individuais e coletivas materializadas nesses
mesmos objetos.”
- Objeto de arte como dotado de expressão sígnica singular dada a materialidade objetual da
produção estética fluído pelas subjetividades do artista que o fez, e pela leitura do fruidor. Dado este
transe de subjetividades, Tiziana aponta a possibilidade de expansão do espaço conceitual do objeto
na medida em que novas relações sígnicas são formadas a partir da tríade relacional já citada. Mas
esta expansão é restringida por um limite dado a materialidade do objeto de arte.
- A continuar a falar sobre a possibilidade em que o fruidor expande o campo sígnico evocado pelo
objeto de arte, a autora traz uma problematização deste aspecto da fruição artística a partir do
campo ético, tendo em vista o ponto de vista Dewey em sua relação entre este campo e a noção de
valor para validar a estrutura triádica entre fruidor, representação mental e objeto de arte.
Dewey tem em comum com boa parte da filosofia do valor a cren ça de que os valores são não só
objetivos, mas também simples e, portanto, indefiníveis, mas não a crença de que eles são absolutos ou
necessários. Para Dewey, os valores são qualidades imediatas sobre as quais, portanto, nada a que dizer;
só em virtude de um procedimento crítico e reflexivo é que podem ser preferidos ou preferidos (Theory of
Valuation, 1939, p. 13). Mas, eles são fugazes e precários, negativos e positivos, além de infinitamente
diferentes em suas qualidades. Daí a importância da filosofia, que, como ‘crítica das críticas’, em
primeiro lugar tem o objetivo de interpretar acontecimentos para deles fazer instrumentos e meios da
realização dos valores, e em segundo lugar, o de renovar o significado dos valores (Experience and
Nature, pp. 394 ss.). Essa tarefa da filosofia é condicionada pela renúncia à crença na realidade necessária
e no valor absoluto. (2007, pp. 448, 449)
- A deixar de lado a força do tempo e o contexto histórico, Tiziana usa a obra Noise de Ed Ruscha
(1963) para descrever didaticamente como ocorre o processo triádico já trabalhado pinçando a
leitura do processo sígnico.
“(…) este é um construto que serve de visor para que possamos entender um dos modos com que se
processa a leitura de objetos artísticos, enfatizando seu teor cognoscível. (...)”
- A descrição conceitual de um objeto de arte faz parte da natureza discursivo-filosófica objetiva,
dado choque entre o espaço de formação de conceitos e o plano de imagem, “[…] tanto em sua
expansão como limitação. [...]”.
- A descrição do processo triádico pela obra de Ed Ruscha evoca uma série de problematizações
trabalhadas por Tiziana. A começar pela relação da palavra “ruído” com seu sentido sonoro dada
definição de Shannon de tal palavra como “[…] uma distorção originada da compreensão imperfeita
emitida por parte do gerador informacional. [...]”, Tiziana levanta a questão seguida de
problematização:
“por que ruído não poderia ser música? Pois os sons, ainda que ruidosos, podem remeter a significados
concernentes a diversas vivências, trazendo em seu bojo a capacidade de ordenar e classificar e
reclassificar, em sistema aberto e ampliando o espaço conceitual. Tanto o ordenar como o classificar,
ambos fazem parte de processos cognoscíveis, ou seja, passíveis de inteligibilidade. Neste experimento
mental proposto passamos hipoteticamente por um exercício de transliteração do discurso para a memória
da experiência sensorial.”
- A concluir seu discorrer sobre a obra Noise, Tiziana aponta que, dado o fato de que o “ruído” da
obra não emite som, há um processo mental sinestésico que se desenvolve por meio conceitual.
Apontando a este processo mental, há um teor cognitivo dado que a leitura de “ruído” na obra de Ed
evoca o entendimento de som. Tal elemento cognitivo, que é parte do espaço conceitual, entre no
processo de fruição.
- Para finalizar seu discorrer sobre o processo de fruição na obra de Ed, Tiziana assume o caso do
fruidor que não tem domínio da língua inglesa:
“Outro ponto de partida para uma ordenação da informação, da palavra noise, se delinearia com vistas no
desenho das letras em concatenação fonética, em um processo contínuo de desdobramentos de
significações a partir da forma relacionada ao som, ou mesmo às cores referentes ás frequências sonoras.
Logo, a cor também é outro elemento a ser lido. Neste caso, na condição de pura qualidade que poderia
derivar em adjetivações, associações de livres jogos relacionais, emocionais ou códigos convencionados.
Algo também a ser considerado diz respeito à combinação de todos os elementos em sua totalidade, na
plasticidade do conjunto, que não se reduz a suas partes. O porquê de estar onde e como estão,
conquistam relevância conjuntamente, em seu todo.”
- O objeto de arte possui uma realidade material e um espaço conceitual passível de entendimento
sob a esfera indivídual do sujeito artista como criador por um fruidor, que cria uma relação
epistemológica sem compromisso de correspondencia simétrica entre a representação perceptual e a
realidade.
“(…) na arte não se pretende descrever o que o mundo é, tal que o cientista o faz, porém, busca o
entendimento, o sentido de um mundo construído a partir de um singular – o artista, e quanto ao fruidor
lhe é apresentado o desafio de construir significação a partir do próprio objeto de arte. (...)”
- Dados os atos de geração de hipóteses, significações, e formulações teóricas, Tiziana levanta a
hipótese de que a aparelhagem cognitiva que possibilita a criação pelo humano de teorias é o
mesmo do objeto de arte presente na tríade anteriormente formulada.
- A partir desta hipótese levantada, Tiziana traz uma bateria de argumentações de diferentes autores
para sustentar tal hipótese. O primeiro argumento compete ao apontar o grau de afinidade que o
artista, que introduz ficções, tem em seu objeto de arte com o mundo, gerando uma aprovação
mental pela mente do leitor de suas obras. Após o argumento peirciano, o segundo argumento
compete a estruturação por Santaella do sistema processador de informação funcionalmente
organizado como operante significador das informações postas a tal. Em outro trecho da fala de
Santaella, Tiziana traz o terceiro argumento dado o conceito de verdade entendido por William
James. A saber, o pragmatista entende o que se entende como “verdade” ou “essência” coisa tal que
só existe sob a forma de múltiplas aparências.
- Dado o transito que o processo de significação perpassa pelos pólos “singular e plural”, “particular
e universal” e “subjetivo e “objetivo” presente não só na relação triádica já mencionada, mas
também nas criações teóricas coerentes até dos mais rigorosos campos de ordenação de sistemas,
Tiziana aponta a similaridade entre a geração de verdades nesse processo na relação da tríade e a
produção de verdades pelo saber científico em sua gênese.
Possibilidade do que deve ser: a natureza híbrida do objeto de arte
“Em sentido amplo, o próprio pensamento possui um caráter objetivo e constituído de materialidade. (...)”
- A mente é problematizada por Tiziana para dar sentido a hipótese que o artigo carrega. Nisto, a
autora recorre a tese do físico David Bohm, que reforça tal problematização argumentada por Pierce
quanto às imbricações entre os polos mente e mundo (sujeito e objeto). Bohm vê o pensamento
como um processo material que se move em um paralelo com a realidade, o que o leva a assumir a
possibilidade em crer que os conteúdos mentais tem um teor reflexivo com as coisas presentes em
realidade.
- Tiziana traz como objeto de problematização estético-teórico a obra de Jane Sterbak Eu quero que
você sinta o que eu sinto, que consiste num vestido de malha vazada suspenso com alguns arames
aquecidos por dentro.
- A partir da obra de Sterbak, Tiziana aponta um embate entre a subjetividade que a obra traz dado
seu nome e sua materialidade, suscitando nela uma passividade a criação de sentidos e significações
pelo fruidor. Assim, a autora levanta o problema da relação entre mente e objeto de arte, cuja obra
de Sterbak suscita uma pluralidade de leituras dada sua materialidade transparente e posto seu título
de antemão. E assim, após buscar na argumentação do filósofo e físico Goswami um estofo
conceitual como base, Tiziana encerra a referenciação a Sterbak voltando a problemática que o
artigo pretende levantar.
"Neste sentido, “o vestido”, e a sua leitura, poderia apresentar-se como pura possibilidade, no entanto,
aparecendo com a materialidade vazada do arame e dúbia nas lâmpadas que remetem à natureza da luz.
Esta abordagem está concatenada com um dado reportório conceitual, que se constrói a partir de
referências apreendidas e/ou vivenciadas, desembocando em novas relações de natureza aberta e
contínua. Obviamente, outras leituras são possíveis de acordo com o repertório de cada qual, porém sem
que essa leitura esteja desconectada da materialidade do objeto estético. Se não houver relação com o
objeto, a relação estabelecida não seria mais sujeito/objeto como pretendemos apontar aqui."
- A arte, enquanto objeto experimental humano, justifica sua necessidade no mundo dada as
situações de carência de subjetividade.
“(…) Em um mundo repleto de necessidades, e, nos voltando para a polarização necessidade/liberdade, a
arte preenche o espaço de uma carência específica, carência de singularidade, de criatividade espontânea;
que gera contradição e conflito, por considerar a necessidade, que está associada ao inexorável, e o desejo
que pode ser construído em um querer deontológico.”
- Dadas as conclusões já tiradas acerca das problematizações sobre o limite da criação de signos e
reflexões por parte do fruidor, Tiziana aponta a arte como descomprometida quanto a descrever a
realidade como tal aparece mas sim como uma oficina de leituras minimamente coerentes de
mundos possíveis e não acessiveis. Assim, mesmo que a subjetividade do artista esteja presente na
obra em todos os seus limiares, seja a forma final, seja a técnica utilizada, o material, e afins, o
mesmo é incapaz de medir o quanto que o objeto de arte, dada sua materialidade, inspira
cognitivamente no fruidor que o lê.
“(…) O significado é atribuído mediante um sistema que possa trazer coerência, tornando-se consciente
na percepção da articulação dos elementos envolvidos nessa relação imagético-objetual, em que os
significados criados estão relacionados ao objeto, tornando-se verdade em crescimento de combinação
contínuas.”
- O conceito medeia a relação de significação na fruição do objeto de arte.
Formação da visão de mundo e o processo de construição de significados do objeto de arte
- A autora aponta a compreensão da natureza do objeto de arte como desenvolvedora de uma
consciência crítica da subjetividade, dado o teor totalizante da objetividade racional em esfera
social.
“(…) A relação do enigmático nas artes, enquanto linguagem cifrada e elementos que constituem este ser
da arte potencializa o afastaqmento do que é produzido e no que se pode esperar ter sentido, ou entender,
a partir da tríade(…) (…) mediante conteúdo de verdades não previamente estabelecidas ou
convalidadas.”
- “Como perceber o que o corpo não mostra?”. A autora traz a crítica externa como relevante para a
compreensão da potência do objeto de arte como objeto de fruição. E dado o teor coletivo que a
fruição na leitura de um objeto de arte tem, Tiziana aponta que a tese solipsista cartesiana não se
sustenta no contexto contemporâneo de percepção de realidade.
- A percepção continua a ser problematizada pela autorada no exemplo do microcosmo e a diferença
entre a uma percepção micro e uma macro do mesmo objeto.
“(…) Neste sentido, tudo está conectado e tudo se perfaz, de forma direta, emergente ou superveniente; o
que parece haver são desdobramentos e não quebras individualizadas. Porém, a visão que se tangencia
sobre o mundo é de que todos seus elementos estão em relação, que as antigas demarcações e topologias
não estão contidas na totalidade do cosmos. As linhas que delimitam um conhecimento de outro, uma
área de atuação de outra, servem como limite para diferenciarmos o um e o múltiplo, para separar
didaticamente uma coisa de outras coisas. O que não significa dizer que as relações que permeiam as
coisas no mundo, mesmo que muitas delas não sejam percebidas de pronto, não estejam envoltas numa
gama múltipla e mais abrangente e complexa de relações, como as camadas de uma cebola.”
- “(…) O sentido se constitui e se configura como uma vestimenta que perfaz o devir. (...)” A autora
continua a apontar a subjetividade como algo também a ser evocado dados elementos que as obras
de arte tem em si. Voltando às duas obras já mencionadas, Tiziana aponta que há uma materialidade
também subjetiva evocada pelos elementos presentes na obra e a forma como aparecem.
“O reflexo da realidade, que aparece nas obras, não é um empréstimo de elementos ou unidades materiais,
mas uma espécie de reestruturação; onde os antagonismos não resolvidos da realidade retornam aos
objetos estéticos, como problemas imanentes de sua forma, como historiografias conscientes ou
inconscientes de sua época, ou mesmo como topologias e topografias de estados informacionais que
aparecem por meio de planos de significação.”
- O devir entra em questão quando o objeto de arte como oficina de subjetividades é esgarçado.
Tiziana aponta o fato de que a arte é ponto nodal instigador de múltiplas realidades.
“O caráter de necessidade da arte é autorreflexivo, como se fosse um espelho amostrar múltiplas
realidades, por meio de uma representação cifrada. Decifrar cabe ao fruidor, seu espaço é determinante
nesta relação, pois para que se criarão objetos estéticos se não para estarem sujeitos à exposição, ao
fruidor? A arte tem algo a dizer e não o diz explicitamente, nem de modo trivialmente conceitual,
mediante conceitos estandardizados. Porém, não critica a linguagem conceitual que é incapaz de mostrar
a verdade como totalidade. Ainda que se pretenda, nenhuma área de sistematização do conhecimento
poderia fazê-lo, e o objeto de arte denuncia esta impossibilidade almejada como possibilidade em um
devir.”
O devir entra no fato de que dado o fluxo temporal e concomitantemente a renovação do contexto
de presença do objeto de arte, o objeto de arte tem a potência de sempre ter uma leitura nova.

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