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UFRRJ - Licenciatura em Filosofia Filosofia Política II

Pedro Xavier do Lago Prof.: Walter Waldevino

Matrícula: 2017300428 Data: 17/10/20

Fichamento da introdução, prefácio e conferências I e II do livro "Conferências sobre


a história da filosofia política" de John Rawls
Prefácio por Samuel Freeman
Este livro trata de conferências que John Rawls, renomado filósofo que desenvolveu a obra
A Theory of Justice, escreveu e aplicou na Universidade Harvard. Estas conferências ou
aconteciam separadas das aulas em que desenvolvia suas teses de justiça em um curso de
Filosofia Política Moderna tão somente, ou então aconteciam para o entendimento de suas
teses de justiça. Nestes cursos, de tempos em tempos alguns autores eram focados,
mudando o foco de acordo com os anos e suas pesquisas. Tais autores são Hobbes, Locke,
Hume, Mill, Marx, Rousseau, Sidgwick, e afins. Algumas conferências carecem de estar
plenamente acabadas.
Tangem dois objetivos ao falar destes autores:
Um seria expor os problemas filosóficos de tais autores a partir de sua própria ótica,
levando em conta suas respectivas compreensões sobre filosofia moral e política dada sua
época, usando o entendimento de Collingwood sobre a dialética histórica da filosofia
política como exemplo.
Outro objetivo seria “apresentar o pensamento de cada autor em sua forma, a meu ver, mais
robusta”. Rawls cita Mill, que ao resernhar a obra de Sidgwick afirmou a importância de
um julgamento “em sua melhor forma” sobre uma doutrina para que ela seja julgada de
fato. “(...) a filosofia é mera ideia de uma ciencia possível que não existe em lugar algum in
concreto. ‘(...) não se pode aprender nenhuma filosofia; pois onde está ela? Quem a possui?
E Como podemos reconhecê-la? Podemos aprender a filosofar (...) mas sempre com a
reserva do direito que a razão tem de procurar esses princípios e confirmá-los ou rejeitá-los
em suas próprias fontes’”
Introdução
Rawls parte por identificar as características mais centrais do liberalismo, usando o ponto
de vista da tradição do constitucionalismo democrático como ótica para análise. Desta
tradição, destaca-se a doutrina do contrato social, o utilitarismo, e a corrente social-
democrata representada por Marx e sua crítica ao liberalismo.
Quatro perguntas sobre a filosofia política:
Primeira: “Qual é o público da filosofia política?”. Em uma democracia, todos os cidadãos
envolvidos.
Segunda: Quais são as pretensões de autoridade da filosofia política? Rawls não lê
autoridade na filosofia em termos jurídicos ou de poder. No entanto, a filosofia política
adentra as pretensões racionais humanas, o que invoca implicitamente uma autoridade. Isto
é possível dado as faculdades comuns do pensamento racional em geral e o julgamento com
inteligência.
Terceira: “Em que momento e de que modo a filosofia política ingressa na política
democrática? (...) Como a filosofia deve encarar a si mesma nesse sentido?” Longe de uma
concepção platônica de política, a filosofia desta área do amor ao saber pode contribuir para
a cultura da sociedade civil em sua concepção democrática. Ela pode ser discutida,
estudada, e também adentrar a discussão política pública.
Quarta: Quais são as concepções de pessoa, sociedade, liberdade, igualdade e justiça dos
cidadãos? Ainda adentro da concepção democrática da política, há deliberado um espaço
para que os cidadãos possam ter ideias firmes sobre estas concepções da pergunta.
Uma contribuição da filosofia política é sua função como parte da cultura geral de fundo,
dado que é responsável pela fonte dos princípios e ideais políticos essenciais de uma
sociedade, inclusive no que tange a constitucionalidade de uma sociedade.
“Existe algo na política que encoraje o apelo sincero a princípios da justiça e do bem
comum? (...)” Rawls cita Lasswell “A política é o estudo de quem leva o que e como”.
Agora, como este apelo aos princípios justos pode fugir das medidas práticas institucionais
que o inibem? Deve-se evitar uma sociedade política com uma estrutura que incite a
hostilidade entre classes sociais e grupos econômicos.
Quatro papéis da filosofia política:
Papel prático, que tem o objetivo de focalizar questões controversas e revelar alguma base
subjacente de acordo, ou ao menos reduzir as diferenças para haver uma cooperação social
com base no respeito mútuo cidadão.
Papel de orientação da razão e reflexão, no intuito de contribuir para a reflexão das pessoas
sobre suas instituições políticas e sociais como um todo e sua cidadania.
Papel de reconciliação, para amenizar a fúria e a frustração devido a atividade social,
evitando que a filosofia política seja rotulada como “manutenção de status quo injusto e
indigno”.
Papel de testar os limites da possibilidade política praticável, no intuito de evitar que a
filosofia política seja mera utopia, e sim uma utopia realista.
Adentrando o fato de que as conferências giram em torno das concepções do liberalismo,
que começou de um processo de institucionalização da constitucionalidade e destituição
gradual do poder real, advento das ideias modernas de instauração das liberdades básicas, e
popularização das concepções democráticas, Rawls discorre sobre a imperfecção dos ditos
regimes liberais perante os ideais de justiça democrática. O exemplo principal de sua crítica
é os Estados Unidos da América, que peca no que tange as justiças básicas de saúde,
educação, financiamento eleitoral, direitos igualitários e afins.
Ao final, Rawls retoma o ideal da doutrina do contrato social, desenvolvendo-o perante
suas concepções políticas do liberalismo político com o objetivo de acordar sobre o
conteúdo de uma concepção política de justiça a ser aplicado a estrutura básica de uma
sociedade cooperativa, levando em conta a constituição cidadã, a justiça eleitoral, o acesso
a saúde, previdência, e afins.

Conferencias sobre Hobbes


Conferência I: O moralismo secular hobbesiano e o papel do contrato social em
Hobbes
A conferência começa com uma defesa da importância da obra de Hobbes, que mesmo não
sendo um criador da doutrina do contrato social, já desenvolvida nos tempos anteriores,
escreveu a maior obra do pensamento político em lingua inglesa. O estilo, a linguagem, a
abrangência, a inteeressante vivacidade de observação, que permeia a estrutura de análise e
princípios, além da expoente visão “terrível” sobre a sociedade e a humanidade em si, são
algumas boas qualidades que o fazem uma obra política.
Além destas razões, no que tange a dar a qualidade de expoencia a esta obra, leva-se em
conta a representação do início da filosofia moral e política da modernidade. O Leviatã foi
escrito durante a Guerra Civil Inglesa e a restauração da monarquia, e a característica de
descrença no cristianismo também o leva a posição de um representante do pensamento e
intelectualidade moderna. As qualidades de ateísmo, materialismo, concepção
individualista social, relativismo, subjetivismo, determinismo e uma visão pessimista sobre
a humanidade em termos morais determinados estão todas antagonizadas perante as
características ortodoxas.
Além dos ortodoxos, os utilitaristas também reagiram as teses de Hobbes sobre o egoísmo
humano. Um argumento antagônico a filosofia de Hobbes é o princípio da utilidade como
um princípio moral objetivo, contrastando com o suposto subjetivismo e relativismo do
filósofo em epígrafe. Ao final, ortodoxos e não ortodoxos se sentiram no dever de rebater
as teses hobbesianas.
Hobbes, independente de que confirmação que temos sobre sua fé em particular, trouxe
teses antagônicas as ideias ortodoxas que viam na religião um papel essencial na
compreensão do sistema político, moral e ideológico.
Além das teses morais, um ponto a se destacar é sobre a visão de Hobbes acerca da
natureza e sua lei como “um preceito ou regra geral encontrado pela razão, que proíbe o
homem fazer tudo que possa destruir sua vida ou priva-lo dos meios necessários para
preservá-la” (Leviatã). Hobbes via as leis da natureza como podendo ser compreendidas
pela razão, sem intermédio religioso. No entanto, o filósofo apoia a orientação estatal que
os antigos adotaram em relação a equiparar as leis de acordo com os agrados e desagrados
aos deuses. Além desta, defende também que a salvação divina só ocorrerá com a honra aos
pactos assumidos. Em conclusão, mesmo estas duas ideias anteriores não interferem em
cima dos ditames da razão em relação as leis da natureza.
O materialismo hobbesiano se exprime em um princípio mecanicista que explica a causação
da natureza das coisas, uma ideia que irá permear e reforçar suas ideias contratualistas
como método analítico e de um Estado de sólidas bases.
Para Hobbes há um estado de natureza humana cujas consequências levam a necessidade de
apoiarmos um soberano efetivo. O filósofo também entende os conhecimentos filosóficos
como vital para entender a sociedade civil e seu governo dado o fato de que seria possível
entender a geração e a construção das propriedades de uma coisa, tal qual as coisas públicas
e sociais. Nisto, o contrato social surge como um modo de transformar a os constituintes
em estado de natureza em sociedade civil mediante o conhecimento da “filosofia natural”.
Outro modo de interpretar Hobbes é que nunca teria havido de fato um estado de natureza,
mas sim um estado de guerra equiparado a este estado de natureza, que na verdade seria
uma propriedade dos reis e soberanos uns com os outros (Capítulo 13 do Leviatã). Neste
modo de interpretar, o estado de natureza ou guerra é uma possibilidade sempre presente na
medida que não há um soberano que use da reverência e do temor para tomar ordem. Nisto,
um contrato social mediante um soberano efetivo e poderoso é tido como um pacto racional
para que evite esta possibilidade sempre presente e mantenha o estado de sociedade civil.
Estas duas interpretações constituem-se me dois entendimentos do estado de natureza e
sua relação com o contrato social, como aponta Rawls.
Traços desestabilizadores da natureza humana:
Suficiência humana tanto aos dons naturais e faculdades do espírito, como a prudência,
quanto vuneráveis em relação a hostilidade uns dos outros.
Competição das pessoas umas com as outras mediante seus desejos e necessidades.
A psicologia humana é, em bons aspectos, egocêntrica e egoísta.
Incapacidade de cada humano em se associar socialmente de modo pacífico, dado egoísmo
e falta de desejos originais de se associar.
Fragilidades da racionalidade, como falta de método filosófico (científico) ou capacidade
de distorcer quando há noção destes métodos, além de uma fragilidade da razão prática
referente à sociabilidade.
Rawls, adiante no apêndice B de sua primeira conferência, atesta duas simplificações em
sua discussão sobre Hobbes: A primeira, que é compreender a estrutura formal essencial e o
conteúdo da filosofia política de Hobbes enquanto contratualista, a segunda é enxergar o
método hobbesiano como “(...) uma doutrina mecanicista geral dos modos de operação
próprios a uma concepção moral e política. (...)”.
Conferência II: A natureza humana e o estado de natureza
A tese principal de Hobbes é a de que o estado de natureza tende a se transformar muito
facilmente em um estado de guerra, levando em conta as muitas vezes que os dois estados
são essencialmente relacionados por Hobbes. Entende-se como estado de guerra, ao menos
já a disposição de fazer guerra.
Nisto, há as instituições sociais, e especialmente, um soberano para mudar nossas
circunstâncias objetivas, norteando nosso conceito de ação prudente e racional. Porém,
nada irá mudar os traços mais essenciais do estado de natureza humano, “(...) constante
temor e perigo de morte violenta. E a vida do homem é solitária, pobre, sórdida,
embrutecida e curta” (Leviatã)
Quatro traços da natureza humana segundo Hobbes:
O primeiro é a igualdade humana em seus dons naturais, força física e “vivacidade de
espírito”. Seja por vontade de poder que norteia a força física ou maquinaria bélica, ou a
perspicácia e prudência derivadas da experiência que todo indivíduo pode adquirir. Hobbes
demonstra que dada existência deste estado de igualdade no de natureza, a tendência é o ser
humano se direcionar ao estado de guerra.
O segundo é a necessidade de competição devido a escassez de recursos. “(...) em um
estado de natureza, devemos estar prontos para vigiar e defender nossas pretensões.”. A
existência de um soberano efetivo eliminaria os medos de morte e encoraja a obtenção dos
meios para uma vida confortável, facilitando a produção dos frutos do trabalho dos
cidadãos.
O terceiro traço é o egocentrismo marcante do ser humano que norteia suas prioridades.
O quarto é a capacidade humana de benevolência e virtude. Para isto, Hobbes diz que as
intituições políticas devem se enraízar em três interesses fundamentais: Um seria o
interesse próprio de preservar a vida, o segundo é garantir o bem daqueles de quem somos
próximos, e o ultimo seria o de adquirir os meios para uma vida confortável.
Em resumo, o argumento em favor da tese de Hobbes pode ser resumido assim:
Primeiro, a igualdade em termos hobbesianos conduz à igual esperança de cada pessoa
concretizar suas respectivas finalidades, dados desejos de autopreservação e de uma vida
confortável.
Segundo, a competição da origem ao estado de desconfiança mútua, entendido na era
moderna como “difidência”.
Terceiro, a difidência nas pessoas tem o efeito de fazer parecer ter menos vantagem o
trabalho produtivo e mais vantajoso investir na capacidade de roubar, levando as pessoas a
um estado de defesa.
Quarto, a prevenção, o estado no qual há disposição para atacar quando haver
circunstâncias propícias. O que leva ao estado de guerra.
É importante ressaltar que no estado de natureza todos se comportam de modo
perfeitamente racional. Ninguém age irracionalmente. Inclusive, o ataque preventivo, como
Rawls aponta, “(...) é a resposta mais racional às circunstâncias. (...)”.
Uma outra leitura da transição do estado de natureza para o estado de guerra é quando no
assunto do orgulho e vaidade humana é uma ótica para o comportamento não só para os
civilizados, mas também para os governantes. O exemplo que Rawls levanta é o de duas
potências nacionais em competição e a desconfiança mutua entre elas levando em conta a
noção que cada tem. “(...) enquanto o amor ao domínio e à vaidade for uma possibilidade
psicológica, essas paixões serão fator de complicação no estado de natureza. Este é
caracterizado por um estado geral de incerteza quanto aos objetivos e às intenções dos
outros, de modo que nosso interesse na autopreservação nos força a levar em conta as
piores possibilidades.”. Ademais esta noção, Hobbes também confere um entendimento
menos dramático sobre estes sentimentos norteadores, apontando que mesmo as pessoas
mais agradáveis podem ser inadvertidamente lançadas a uma situação que calhará a um
estado de guerra. “(...) Não precisamos ser monstros para estar em grandes apuros.”.
Outra coisa a considerar é que este estado pode ser gerado não exatamente pelo desejo de
uma pessoa obter mais “poder”, mas sim a de obter uma vida confortável. “(...) A mera
possibilidade de que algumas pessoas sejam movidas por esses sentimentos (orgulho e
vaidade) já é suficiente. (para que o estado de natureza se torne um estado de guerra)”

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