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IGREJA DE JUDAS: A GRANDE HISTÓRIA DA TRAIÇÃO


A sórdida - e ambígua - saga dos que entregaram seus aliados para a morte
ÁLVARO OPPERMANN PUBLICADO EM 18/10/2019, ÀS 09H00

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O beijo com o qual Judas entregou Jesus para ser preso - Wikimedia Commons

Um dos episódios mais bem guardados da Revolução Cubana tinha no bojo uma traição em família. E só
veio à tona em 2009, quando Juanita Castro lançou o livro de memórias Fidel e Raul Meus Irmãos. A HIstória
Secreta, co-escrito com a jornalista María Antonieta Collins.

Quinta dos sete lhos de Ángel Castro e Lina Ruz González, Juanita traiu seus irmãos trabalhando para a CIA
entre 1961 e 1964, em plena Havana. "Foi uma relação estreita com o arqui-inimigo dos Castro", diz a
jornalista sobre a informante de 83 anos, que vive no exílio há 50, primeiro no México e depois nos Estados
Unidos. Nesse período, ela nunca falou com os irmãos.

A traição está entre os capítulos mais sombrios - e saborosos - da História ocidental. A própria Bíblia cita
vários casos, nenhum tão peculiar quanto aquele em família. Primogênito de Adão e Eva, Caim cou
enciumado da predileção de Deus por seu irmão caçula. Levou Abel para um campo deserto, onde o matou.
À traição, subentende-se. "Agora és maldito e expulso do solo fértil que abriu a boca para receber de tua
mão o sangue de teu irmão", ordenou Javé ao assassino. "Na cultura do Ocidente não existe delito mais
grave que o de defraudar a con ança adquirida", a rma José Manuel Lechado, em Traidores que Cambiaron
La Historia.

Mas, sob perspectivas distintas, certos personagens desleais podem até ser heróis. "Na visão dos ingleses,
George Washington (protagonista da independência americana) foi um grande traidor", diz Lechado. Seja
bem-vindo à narrativa dos atos sorrateiros. E cuidado com quem está às suas costas. Já diz o ditado: "Deus
me livre dos amigos, porque os inimigos eu sei quem são". A palavra traição, muito além da in delidade
conjugal, mudou de sentido ao longo do tempo.

"Hoje ela é acima de tudo um crime contra o Estado. Mas nem sempre foi esse o caso", a rma Alan Orr em
Treason and the State (A traição e o Estado, sem edição em português). Na Antiguidade, trair era agir contra
os deuses. Foi o pecado que cometeu, na visão de seus súditos, o faraó Akenaton. No século 14 a.C., ele
aboliu a antiga religião egípcia e seu panteão para determinar a adoração monoteísta a Aton e proclamar-se
único representante dele.
Crédito: Wikimedia Commons

Na Batalha das Termópilas (480 a.C.), entre espartanos e persas, o grego E alto entregou aos inimigos o
segredo de uma estreita passagem entre as montanhas, até a retaguarda grega. Por sua perfídia, vista como
uma ofensa direta ao deus da guerra, Ares, E alto foi amaldiçoado.

Trair começou a ganhar status laico e jurídico na Roma antiga. Segundo o historiador do direito Simon
Hirsch, os romanos inventaram o conceito de crimen maiestatis (lesa-majestade) para atos contra a
soberania de Estado, o que incluía excentricidades como destruir a estátua do imperador.
Na Europa, durante a Idade Média, o conceito passou a se referir ao atentado contra a vida do senhor
feudal, do rei ou do papa. Mas e se um rei se insurgisse contra o papa? Isso seria traição? E o barão que se
rebelasse contra o monarca? No século 13, a opinião dominante entre os juristas era a de que, em ambos os
casos, a quebra de hierarquia con gurava o delito.

No imaginário do aldeão médio, contudo, não havia pior infame que Judas Iscariotes. Com um beijo,
entregou Jesus por 30 moedas de ouro. O cristianismo transformou a traição em pecado gravíssimo. Mas o
ato do apóstolo demorou a se disseminar. "Até a década de 60 do século I, diferentes memórias parecem
sugerir, no seu todo, que os cristãos desconheciam o tema da traição de Jesus", diz André Chevitarese,
professor de história da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A malhação de Judas só começou por volta
do século 4.

Óleo fervente e veneno

Foi na Inglaterra de Henrique VIII que a traição ganhou sua acepção moderna, de crime contra o Estado. O
tema é especialmente caro aos ingleses, que usam três palavras para designá-lo: treason, de uso jurídico, e
treachery e betrayal, de uso comum. Segundo Orr, o conceito legal moderno nasceu das formulações dos
juristas das eras Tudor (século 16) e Stuart (século 17).
Crédito: Wikimedia Commons

Ainda não havia separação clara entre Estado e monarca, mas a nova concepção já era diferente da
medieval. O crime contra o Estado (que incluía o rei e altos cargos eclesiásticos) era chamado de Alta Traição
(High Treason). Em 1530, um cozinheiro condenado por tentar envenenar o bispo de Rochester foi jogado
num panelão de óleo fervente. Os reis utilizavam a mesma regra para neutralizar inimigos.
Ela ensejou várias condenações irregulares, como a de Ana Bolena, segunda esposa de Henrique VIII, em
1536. Também havia uma traição menor (Petty Treason), que contemplava, entre outros delitos, o de
mulheres que matavam maridos. Essa lei só foi abolida em 1828.

O método mais usado para se livrar de pessoas indesejadas era o veneno. Só em Paris havia cerca de 30 mil
especialistas que ofereciam seus serviços por encomenda. Envenenado, sir Thomas Overbury foi vítima do
mais mirabolante caso de Alta Traição, em 1613, contra o rei James I da Casa de Stuart. Tudo não passou de
uma tramoia de Lady Frances Howard. Desejando casar-se com o conde de Rochester, Robert Carr, sofreu a
enfática oposição de Overbury, amigo íntimo do assediado.

Ela persuadiu o rei a dar um cargo para o desafeto bem longe dali - na Rússia. Desesperado, Thomas
recusou a promoção. A dama, então, convenceu James I de que a negativa do nobre fora motivada por uma
conspiração. Notório paranoico, o rei mandou trancar Overbury na Torre de Londres. Ele apareceu morto
em 15 de setembro de 1613. E Frances, en m, casou-se com o conde.

No Brasil, um dos episódios mais conhecidos de traição é o de Domingos Fernandes Calabar.


Contrabandista e senhor de engenho em Pernambuco, em 1632 decidiu juntar-se aos holandeses da
Companhia das Índias Ocidentais, que pilhavam o Nordeste desde a década anterior. Os préstimos de
Calabar foram vitais para que a Holanda estendesse seus domínios de Pernambuco até o Rio Grande do
Norte.

Capturado pelos portugueses em 1635, ele foi estrangulado e esquartejado. Já José Anselmo dos Santos, o
Cabo Anselmo, construiu sua infâmia durante a Ditadura. De líder da Associação dos Marinheiros, passou a
guerrilheiro da Vanguarda Popular Revolucionária e então a delator. Preso em 1970, foi convencido pelo
delegado Sérgio Paranhos Fleury a entregar os companheiros.

Em janeiro de 1973, o cabo serviu de isca para o extermínio de seis dos principais militantes da VPR, num
sítio em Pernambuco. Entre as vítimas estava Soledad Barret Viedma, companheira dele, grávida de sete
meses. Depois disso, teve de sumir. Fez uma cirurgia plástica e mudou de identidade, bancado pelo regime.
Crédito: Wikimedia Commons

A história mostra que às traições não faltam ambiguidades. Para Juanita Castro, os verdadeiros pér dos
foram seus irmãos. Devotada revolucionária, responsável pela construção de clínicas e hospitais em Cuba,
cou desapontada com Fidel e Raúl, quando tiveram início as prisões, fuzilamentos e con sco de
propriedades. Nessa época, ela tinha laços estreitos com o então embaixador da representação do Brasil
em Havana, Vasco Leitão da Cunha, e sua mulher, Virgínia.

O casal ofereceu asilo a muitos rebeldes durante a ditadura de Fulgencio Batista. Inclusive a Juanita, em
1958. Três anos depois, Virgínia procurou a irmã de Fidel - já desencantada com a revolução - para que ela
se reunisse com amigos. Tais amigos eram da CIA. Juanita aceitou repassar informações, desde que nada
fosse usado nas tentativas de assassinato a El Comandante. Em 1964, depois da morte da mãe, Raúl
conseguiu-lhe um visto para ir ao México. Lá, Juanita rompeu formalmente com os irmãos.
"A traição é um conceito extraordinariamente ambíguo, que foi utilizado - e ainda o é - para combater
inimigos políticos e também para justi car fracassos", diz Lechado. Isso vale para o Brasil, como ilustra o
caso de Calabar. Em 1975, um tribunal simulado, em João Pessoa, julgou que o ex-senhor de engenho agiu
em favor dos conterrâneos e o absolveu. De traidor passou a mártir.

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