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A Questão da Escravidão: É necessário fazer uma crítica ao conteúdo das Leis Abolicionistas,
relacionando-as com as questões econômicas e políticas do império e também da 2ª Revolução
Industrial (...). Lei Eusébio de Queiroz, decorrente das pressões inglesas que remontavam ao Bill
Aberdeen. Nesse aspecto, é importante salientar que a pressão pelo fim do tráfico, decorria não só
do fato de o escravo não se constituir em um consumidor, mas, sobretudo, pelo fato do trabalho
escravo não se alinhar com a lógica do sistema capitalista. Como vocês já sabem, a separação
radical entre trabalho assalariado e capital é a condição básica de todo o sistema capitalista. Sem tal
condição, todos os outros elementos necessários à reprodução sistêmica do capital industrial e
financeiro (mercado interno, externo, mundialização das relações econômicas neocoloniais, etc) não
faria sentido. Era, portanto, necessário que o Império Brasileiro se alinhasse com o contexto
econômico do século XIX. – Com relação às Leis do Ventre Livre (Rio Branco) e dos Sexagenários
(Saraiva Cotegipe), é importante destacar o seu caráter sectário, pois, ambas expressavam uma
tentativa do governo imperial de protelar o inadiável, isto é, a abolição, dadas as pressões internas e
externas. Uma contextualização de ambas com a realidade política imperial é inevitável, pois, sabe-
se que a Igreja Católica detinha o controle das idades das pessoas (certidão de batismo) e, não
existindo cartórios, dificilmente um escravo teria computada a exata idade de 65 anos...além disso,
considerando a sua realidade de trabalho, seria muito difícil que isso de fato ocorresse. Com relação
à Lei do Ventre Livre, também cabe uma análise, pois os filhos dos escravos que nascessem e
fossem considerados livres a partir de 1871, ficavam com seus pais na propriedade do senhor. Isso
significava que teriam de pagar, obviamente com trabalho escravo, pelos anos de permanência nas
propriedades de seus senhores. – Outra questão fundamental é salientar que a burguesia agrária-
escravocrata, notadamente do Vale do Paraíba, constituía-se na principal base de apoio político do
governo imperial. Desagradá-la com a abolição da escravidão total e ainda sem indenização,
poderia lançar o regime monárquico em uma crise sem precedentes.
Era Mauá: Destacar a estrutura política imperial, assentada sobre uma base agrária-escravocrata
que, a despeito da Tarifa Alves Branco, não se comprometia politicamente com o desenvolvimento
industrial brasileiro, incentivado pelo Barão de Mauá. A análise dessa questão também pode ser
enriquecida ao salientarmos a perda de memória desse período. Isso demonstra que a História
oficial, isto é, a História ligada ao Estado imperial não se preocupou em legar às gerações futuras o
patriotismo de Irineu Evangelista de Souza.
Crise Imperial e Golpe Republicano: Pontuar a gradual perda de sustentação política pelo Império
Brasileiro: Exército, Burguesia Agrária-Escravocrata do Vale do Paraíba e Igreja Católica (...). Essas
categorias formavam o tripé que dava sustentação política ao Império. No momento em que ocorreu
a abolição total da escravatura, a Guerra do Paraguai e a Questão Religiosa, o regime imperial
entrou em colapso. Obviamente a perda de apoio ocorreu de forma complexa e foi motivada por
uma série de embates entre essas três categorias e o governo de D. Pedro II. Nesse sentido, é
importante destacar o movimento abolicionista e as próprias leis abolicionistas que, apesar de
representarem o esforço imperial na busca pela conciliação, resultou no total abandono do governo
pelos produtores de café. Com relação à Igreja Católica romana, é importante salientar a função
ideológica exercida pelos eclesiásticos junto à população. Ao considerarmos o contexto de uma
sociedade pouco letrada e de poucos recursos no quesito do acesso à informação, não se torna difícil
entender que os párocos representavam a força do império no campo ideológico, pois, formavam
opinião junto à população brasileira. Ao retirar seu apoio ao império, deixava-o desprovido desse
suporte ideológico, fundamental para a sua reprodução enquanto sistema político. - Já a Guerra do
Paraguai trouxe expressão política ao Exército e resultou em conflitos com a ordem imperial, tais
como o fato de o governo sujeitar à condição de escravos os negros que defenderam o país naquela
guerra (os batalhões de voluntários da pátria eram compostos por negros). Como força política,
muitos oficiais começaram a se manifestar contra o regime (a Escola Militar da Praia Vermelha,
recôndito do positivismo no Brasil tinha o regime imperial como antípoda de todo o progresso). No
meio civil, profissionais liberais como médicos, bacharéis em direito, agrimensores, etc, também
apoiavam as idéias republicanas abertamente, vendo na república uma forma de organização
política mais democrática e moderna. Postos esses fatos, podemos dizer que o império caiu de
maduro, pois, perdeu todas as suas bases de sustentação política.
Historicizem sempre!
Maj André.