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Assunto: Brasil Imperial - Retenções

Os assuntos abordados neste semestre foram: A Questão da Escravidão (1840-1888), Imigração


Italiana e Alemã, Era Mauá, Guerra do Paraguai e Crise Imperial-Golpe Republicano. – De forma
geral, os trabalhos apresentados variaram em qualidade (nível de historicização) e criatividade dos
integrantes dos grupos. – As retenções abaixo, privilegiam as análises mais importantes sobre tais
temas, sendo essenciais para a compreensão da História do II reinado no Brasil.

A Questão da Escravidão: É necessário fazer uma crítica ao conteúdo das Leis Abolicionistas,
relacionando-as com as questões econômicas e políticas do império e também da 2ª Revolução
Industrial (...). Lei Eusébio de Queiroz, decorrente das pressões inglesas que remontavam ao Bill
Aberdeen. Nesse aspecto, é importante salientar que a pressão pelo fim do tráfico, decorria não só
do fato de o escravo não se constituir em um consumidor, mas, sobretudo, pelo fato do trabalho
escravo não se alinhar com a lógica do sistema capitalista. Como vocês já sabem, a separação
radical entre trabalho assalariado e capital é a condição básica de todo o sistema capitalista. Sem tal
condição, todos os outros elementos necessários à reprodução sistêmica do capital industrial e
financeiro (mercado interno, externo, mundialização das relações econômicas neocoloniais, etc) não
faria sentido. Era, portanto, necessário que o Império Brasileiro se alinhasse com o contexto
econômico do século XIX. – Com relação às Leis do Ventre Livre (Rio Branco) e dos Sexagenários
(Saraiva Cotegipe), é importante destacar o seu caráter sectário, pois, ambas expressavam uma
tentativa do governo imperial de protelar o inadiável, isto é, a abolição, dadas as pressões internas e
externas. Uma contextualização de ambas com a realidade política imperial é inevitável, pois, sabe-
se que a Igreja Católica detinha o controle das idades das pessoas (certidão de batismo) e, não
existindo cartórios, dificilmente um escravo teria computada a exata idade de 65 anos...além disso,
considerando a sua realidade de trabalho, seria muito difícil que isso de fato ocorresse. Com relação
à Lei do Ventre Livre, também cabe uma análise, pois os filhos dos escravos que nascessem e
fossem considerados livres a partir de 1871, ficavam com seus pais na propriedade do senhor. Isso
significava que teriam de pagar, obviamente com trabalho escravo, pelos anos de permanência nas
propriedades de seus senhores. – Outra questão fundamental é salientar que a burguesia agrária-
escravocrata, notadamente do Vale do Paraíba, constituía-se na principal base de apoio político do
governo imperial. Desagradá-la com a abolição da escravidão total e ainda sem indenização,
poderia lançar o regime monárquico em uma crise sem precedentes.

Imigração Italiana e Alemã: Contextualizar as diferentes fases de imigração com os processos


econômicos e políticos desses dois países, salientando o ímpeto industrializante que convergia para
uma política de unificação tanto na Itália como na Alemanha. O desenvolvimento industrial
naquelas regiões também gerou desemprego e êxodo do campo para as cidades. É a partir dessa
idéia central que compreendemos a chegada de italianos para trabalharem nas primeiras indústrias
paulistas, com conseqüente formação de sindicatos dirigidos por operários italianos influenciados
pelo anarquismo em sua região natal. Associado a essa demanda, ocorria no Brasil, uma clara
necessidade de substituição da mão-de-obra escrava, particularmente no sudeste. Acuada pelas leis
abolicionistas, a oferta de escravos era cada vez mais restrita, afligindo não só os cafeicultores, mas,
o próprio governo imperial que incentivava a imigração. – Além disso, pode-se historicizar acerca
da influência desses imigrantes na formação cultural (culinária, vocabulário, arte...) brasileira e
também no desenvolvimento econômico de nosso país (formação de empresas, colonização de
regiões pouco habitadas do sul e, mais recentemente, migrações para o centro-oeste e norte do país).
Pode ser abordada ainda a importância estratégica da colonização do sul do país, palco de litígios
fronteiriços e de guerras com nossos vizinhos platinos, sendo a presença do imigrante, neste caso,
fundamental para a manutenção da integridade e da soberania nacional. Um outro elemento comum
à imigração e à Guerra do Paraguai é que ambos ocorreram de forma, mais exponencial na segundo
metade do século XIX. É nesse contexto que os movimentos nacionalistas, herdeiros do
Iluminismo, da Revolução Frances e das Campanhas Napoleônicas se espalharam pela Europa,
deflagrando um processo da História ocidental que conhecemos como a consolidação das unidades
nacionais. Diversas guerras, nesse sentido (Guerra de Secessão, de unificações ítalo-alemã e a
própria Guerra do Paraguai) foram muito importantes não só pela definição territorial dos Estados
Nacionais, mas, essencialmente, pelo fortalecimento de suas identidades. Quando o Império
Brasileiro aloca imigrantes no sul do país é com esta finalidade.

Era Mauá: Destacar a estrutura política imperial, assentada sobre uma base agrária-escravocrata
que, a despeito da Tarifa Alves Branco, não se comprometia politicamente com o desenvolvimento
industrial brasileiro, incentivado pelo Barão de Mauá. A análise dessa questão também pode ser
enriquecida ao salientarmos a perda de memória desse período. Isso demonstra que a História
oficial, isto é, a História ligada ao Estado imperial não se preocupou em legar às gerações futuras o
patriotismo de Irineu Evangelista de Souza.

A Guerra do Paraguai (1865-1870): Destacar as origens do maior conflito armado da América do


Sul, em particular a questão relacionada à livre navegação dos rios platinos, defendida pelo
Paraguai e limitada pela política externa argentina. Pontuar os fatos (intervenção imperial brasileira
no governo Blanco uruguaio, aliado paraguaio na questão da livre navegação platina, invasões de
Mato Grosso, Corrientes, Misiones e a apreensão do Navio Marquês de Olinda por tropas
paraguaias) que resultaram na formação da Tríplice Aliança e, consequentemente, na declaração de
guerra ao Paraguai. – É interessante que se faça menção a algum episódio da guerra, como a
Batalha do Riachuelo que garantiu o controle do Rio Paraná pela marinha imperial, a 1ª e 2ª Batalha
de Tuyuti, maior conflito campal da América do Sul e a gradual compressão das forças paraguaias
até a morte definitiva de Solano López em Cerro Corá. – Uma historicização muito relevante, deve
ser construída a partir da comparação entre duas correntes que tratam deste tema. - A primeira
dessas correntes, representada pelos historiadores influenciados pelo materialismo histórico nas
décadas de 60 e 70, analisou a Guerra do Paraguai a partir do contexto econômico (imperialista) da
segunda metade do século XIX. Essa tradição destacava a importância do apoio inglês à Tríplice
Aliança a fim de reprimir o Paraguai, situado na esfera de influência francesa e com uma proposta
de desenvolvimento diferente das demais nações do cone sul. – A segunda tradição, definida
recentemente como revisionista, empreendeu tanto uma releitura dos estudos anteriores como uma
pesquisa detalhada dos documentos relacionados ao conflito. De acordo com a segunda tradição, a
atuação da diplomacia inglesa teve caráter muito mais conciliatório do que propriamente
beligerante. Algumas teses de cunho jornalístico e hiperbólicas escritas durantes a década de 1970,
como o pseudo-genocídio, promovido pelo exército imperial e que resultou na morte de mais de
90% da população adulta masculina do Paraguai foram relativizados, pois, não encontraram
confirmação na documentação pesquisada ou em outras fontes de investigação histórica. Essa
última tradição, pontua vários fatos da guerra, relacionados às nações em conflito e que
necessariamente, ultrapassa a análise anterior em termos de pesquisa e de fidelidade histórica.
Nesse sentido, vou transcrever uma citação que foi uma escolha muito acertada de um grupo que
apresentou este tema no seminário: "A Guerra do Paraguai foi fruto das contradições platinas,
tendo como razão última a consolidação dos Estados nacionais na região. Essas contradições se
cristalizaram em torno da Guerra Civil uruguaia, iniciada com o apoio do governo argentino aos
sublevados, na qual o Brasil interveio e o Paraguai também. Contudo, isso não significa que o
conflito fosse a única saída para o difícil quadro regional. A guerra era umas das opções possíveis,
que acabou por se concretizar, uma vez que interessava a todos os Estados envolvidos. Seus
governantes, tendo por bases informações parciais ou falsas do contexto platino e do inimigo em
potencial, anteviram um conflito rápido, no qual seus objetivos seriam alcançados com o menor
custo possível. Aqui não há ‘bandidos’ ou ‘mocinhos’, como quer o revisionismo infantil, mas sim
interesses. A guerra era vista por diferentes ópticas: para Solano López era a oportunidade de
colocar seu país como potência regional e ter acesso ao mar pelo porto de Montevidéu, graças a
aliança com os blancos uruguaios e os federalistas argentinos, representados por Urquiza; para
Bartolomeu Mitre era a forma de consolidar o Estado centralizado argentino, eliminando os apoios
externos aos federalistas, proporcionando pelos blancos e por Solano López; para os blancos, o
apoio militar paraguaio contra argentinos e brasileiros viabilizaria impedir que seus dois vizinhos
continuassem a intervir no Uruguai; para o Império, a guerra contra o Paraguai não era esperada,
nem desejada, mas, iniciada, pensou-se que a vitória brasileira seria rápida e poria fim ao litígio
fronteiriço entre os dois países e às ameaças à livre navegação, e permitira depor Solano López.“
(Historiador Francisco Doratioto)

Crise Imperial e Golpe Republicano: Pontuar a gradual perda de sustentação política pelo Império
Brasileiro: Exército, Burguesia Agrária-Escravocrata do Vale do Paraíba e Igreja Católica (...). Essas
categorias formavam o tripé que dava sustentação política ao Império. No momento em que ocorreu
a abolição total da escravatura, a Guerra do Paraguai e a Questão Religiosa, o regime imperial
entrou em colapso. Obviamente a perda de apoio ocorreu de forma complexa e foi motivada por
uma série de embates entre essas três categorias e o governo de D. Pedro II. Nesse sentido, é
importante destacar o movimento abolicionista e as próprias leis abolicionistas que, apesar de
representarem o esforço imperial na busca pela conciliação, resultou no total abandono do governo
pelos produtores de café. Com relação à Igreja Católica romana, é importante salientar a função
ideológica exercida pelos eclesiásticos junto à população. Ao considerarmos o contexto de uma
sociedade pouco letrada e de poucos recursos no quesito do acesso à informação, não se torna difícil
entender que os párocos representavam a força do império no campo ideológico, pois, formavam
opinião junto à população brasileira. Ao retirar seu apoio ao império, deixava-o desprovido desse
suporte ideológico, fundamental para a sua reprodução enquanto sistema político. - Já a Guerra do
Paraguai trouxe expressão política ao Exército e resultou em conflitos com a ordem imperial, tais
como o fato de o governo sujeitar à condição de escravos os negros que defenderam o país naquela
guerra (os batalhões de voluntários da pátria eram compostos por negros). Como força política,
muitos oficiais começaram a se manifestar contra o regime (a Escola Militar da Praia Vermelha,
recôndito do positivismo no Brasil tinha o regime imperial como antípoda de todo o progresso). No
meio civil, profissionais liberais como médicos, bacharéis em direito, agrimensores, etc, também
apoiavam as idéias republicanas abertamente, vendo na república uma forma de organização
política mais democrática e moderna. Postos esses fatos, podemos dizer que o império caiu de
maduro, pois, perdeu todas as suas bases de sustentação política.

Historicizem sempre!

Maj André.

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