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Sumário
Introdução; O Estado Regulador; As Agên-
cias reguladoras no contexto internacional; As
Agências reguladoras no Brasil; e Conclusões
Gerais.
1 – Introdução
As agências reguladoras são de criação
recente no Brasil. Surgiram na última meta-
de da década de 90, fruto das transforma-
ções do Estado brasileiro que passou a dar
ênfase à sua função reguladora, interferin-
do indiretamente na ordem econômica, ao
invés da função de Estado produtor, inter-
vindo diretamente nessa mesma ordem. No
modelo de intervenção direta, quem fixa a
política é o Poder Executivo, por meio de
seus ministérios. No modelo regulatório, a
política é fixada pelo Congresso Nacional
por meio de lei.
Nesse processo de transformação do Es-
tado ocorreu a desestatização de parte da
Alvaro Augusto Pereira Mesquita é Supe- prestação de serviços públicos, notadamen-
rintendente de Relações Institucionais da ANE- te nos setores de telecomunicações e ener-
EL. Engo Eletricista – UFPA. Pós-Graduado em gia elétrica, e a flexibilização do monopólio
Engenharia Econômica – UDF. Pós-Graduado do petróleo.
em Direito Legislativo – UNILEGIS.
Essa nova configuração do Estado pres-
Trabalho final apresentado ao Curso de supõe, além da participação privada na
Especialização em Direito Legislativo realiza- prestação dos serviços públicos; a separa-
do pela Universidade do Legislativo Brasilei-
ção das tarefas de regulação das de explo-
ro – UNILEGIS e Universidade Federal do Mato
Grosso do Sul – UFMS como requisito para ração de atividades econômicas que venham
obtenção do título de Especialista em Direito a remanescer; orientar sua intervenção para
Legislativo. Orientador: Prof. HENRIQUE a defesa do interesse público; a busca do
SAVONITTI MIRANDA. equilíbrio nas relações de consumo no setor
Brasília a. 42 n. 166 abr./jun. 2005 23
regulado, envolvendo usuários ou consu- te do governo sobre esses entes, a redução
midores e prestadores de serviços; e o exer- de suas atribuições em favor dos ministéri-
cício da autoridade estatal por mecanismos os e um forte controle social.
transparentes e participativos. Esses debates ganharam maior impor-
É nesse contexto, portanto, que surgem tância a partir da declaração do Presidente
as agências reguladoras, órgãos criados por da Republica, Luiz Inácio Lula da Silva, de
leis específicas na condição de autarquias que “terceirizaram o poder político no Bra-
ditas especiais, dotadas de autonomia ad- sil” – numa referência a atuação das agên-
ministrativa, financeira e patrimonial um cias. Outros fatores impulsionadores dos
pouco mais amplas do que as demais autar- debates foram o forte contingenciamento
quias. Seus dirigentes são indicados pelo orçamentário imposto pelo governo federal
Presidente da República e por ele nomea- a esses entes; a instalação de grupo de tra-
dos, após aprovação pelo Senado Federal, balho interministerial para estudar e pro-
para um mandato fixo e não coincidente, por ao Presidente da República a alteração
em geral de quatro anos, permitida uma re- na gestão, estrutura e competências das
condução e proibida a demissão imotivada. agências reguladoras; a colocação em con-
As agências reguladoras foram idealiza- sulta pública, pelo governo, de dois ante-
das para atuar num ponto eqüidistante em projetos de lei que refletem os estudos reali-
relação aos interesses dos usuários, dos zados pelo grupo de trabalho. O debate vol-
prestadores dos serviços concedidos e do tou a ganhar dimensão em 2004 com a edi-
próprio Poder Executivo, de forma a evitar ção, em dezembro de 2003, da Medida Pro-
eventuais pressões conjunturais, principal- visória (MP) n o 155, dispondo sobre o plano
mente quando as empresas estatais convi- de carreiras das agências, e o envio pelo
vam com empresas privadas na prestação governo ao Legislativo do Projeto de Lei n o
do serviço público, como acontece nos seto- 3.337, de 2004, tratando da gestão, organi-
res de energia elétrica, petróleo e gás. zação e controle das agências reguladoras.
Passados quase seis anos da implanta- Tal Projeto foi derivado dos anteprojetos
ção das agências reguladoras e com a as- colocados em consulta pública.
sunção de um novo governo, vários temas Essas discussões vêm sensibilizando o
polêmicos surgiram sobre a atuação desses Congresso Nacional que debate com inte-
órgãos, que vêm sendo debatidos pela aca- resse esses temas.
demia, por especialistas de direito público, Foi efetivamente no Congresso Nacional
políticos, agentes públicos e privados, pelo que se produziram as primeiras propostas
próprio governo e pela mídia, entre outros. concretas visando a alterar ou aperfeiçoar o
Os debates envolvem, principalmente, temas funcionamento das agências reguladoras.
relacionados ao limite do poder regulamen- Assim, encontram-se em tramitação nas
tador das agências vis-à-vis o direito brasi- duas Casas Legislativas 13 projetos de lei e
leiro, ao grau de autonomia, ao controle a sete propostas de emenda à Constituição.
que devem estar submetidas, ao mandato Outra iniciativa de parlamentares fede-
de seus dirigentes e ao caráter constitucio- rais foi a criação da Frente Parlamentar das
nal desses órgãos. Agências Reguladoras, criando um espaço
Nesse debate se vê, de um lado, aqueles de debate mais organizado sobre o tema e
que defendem o modelo de agências regula- sendo um instrumento de diálogo com o
doras como entes de Estado, com autono- Poder Executivo. A atuação da Frente no
mia administrativa, financeira e patrimoni- Senado colaborou para a aprovação de
al e controle pelo Congresso Nacional e, de emendas ao Projeto de Lei de Conversão
outro, aqueles que defendem uma redução (PLV) n o 15, de 2004, derivado da MP n o 155,
dessa autonomia pela atuação mais presen- mas que foram, na sua maioria, rejeitadas