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2010
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Esta é uma publicação da
Brasil
Vida Pantaneira
Ecoa
Grupo Raízes
Paraguai
Sobrevivência - Amigos de la Tierra Paraguay
Guyra
Bolívia
Probioma (Santa Cruz)
Ponto Focal da Rede Pantanal da Bolívia (ONG)
Equipe do projeto
Equipe técnica: Sara Crespo, Viviana Méndez, Isidoro Salomão, Vanda Santos, Jean Fernandes,
Sílvia Santana, Áurea da Silva Garcia e Patrícia Zerlotti
CDD – 981.711
CDU - 581.526.33
Contatos
Realização
Apoio
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ANDRÉ SIQUEIRA
A presentação
A Rede Pantanal de ONGs e Movimen-
tos Sociais é um coletivo formado por
organizações não-governamentais,
movimentos sociais, comunidades
informação de credibilidade pretende
elevar as capacidades de análise crítica e
intervenção das organizações membros
frente aos processos de degradação
tradicionais e populações indígenas. ambiental e social do Pantanal, em es-
Constitui uma importante referência pecial, mineração, represas e gestão de
para a sociedade civil, promovendo a recursos hídricos transfronteiriços.
participação e representatividade nos
processos de planejamento e iniciativas O Caderno das Águas – Conhecer para
relacionadas ao Pantanal e Bacia do Alto participar e preservar traz informações
Paraguai. sobre os recursos hídricos da Região
Hidrográfica do Paraguai e estimula
Sua criação deu-se às margens do rio os leitores na participação da gestão
Paraguai durante a “I Expedição Fluvial integrada, prevista na Política Nacional
Rio Paraguai Suas Águas Sua Gente”, de Recursos Hídricos do Brasil e na leg-
dia 25 de abril de 2002, no município islação dos estados de MT e MS.
de Cáceres, em Mato Grosso, Brasil. Em
agosto de 2002, a rede foi instituciona- Composta de capítulos que abordam as
lizada durante assembléia que reuniu águas do Pantanal, a publicação é resul-
30 entidades de Mato Grosso e Mato tado de demandas identificadas entre
Grosso do Sul, em Miranda (MS). os membros da Rede para produção de
conhecimentos e incentivo à participa-
A Rede Pantanal é resultado de um ção dos movimentos e organizações
amplo processo de articulação entre socioambientais na gestão dos recursos
organizações e atores que dividem uma hídricos. Informações sobre amea-
preocupação comum: encontrar alterna- ças, conflitos, diagnósticos das bacias
tivas adequadas para o desenvolvimento hidrográficas e a situação da água no
e melhoria da qualidade de vida das Brasil e no mundo também fazem parte
populações e garantir a manutenção de dos conteúdos.
uma das mais importantes regiões – o
Pantanal, reconhecida como Reserva da Com mais informação de qualidade e
Biosfera e Patrimônio Natural da Hu- com a participação por meio dos Con-
manidade. Seus membros entendem ser selhos Estaduais de Recursos Hídricos,
de extrema importância o desenvolvim- Comitês de Bacias Hidrográficas e
ento de uma visão global que considere outros mecanismos, a sociedade civil
aspectos econômicos, sociais, culturais pode e tem o direito de influenciar na
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e ambientais e que promova o Planeja- melhoria e criação de novas políticas
mento Integral para o Pantanal. públicas para garantir o direito funda-
mental à água.
A Rede Pantanal ao produzir e fornecer
aos seus membros conhecimento e Boa leitura!
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S
umário
Apresentação 7
Água no mundo 11
Água no Brasil 12
Participação na gestão dos recursos hídricos 14
Hidrografia pantaneira 17
O Pantanal 18
As águas determinam as paisagens pantaneiras 20
O pulso de inundação 21
Conflitos e tensões 24
PERH-MS 28
Diagnóstico 29
Usos 29
Conclusões do PERH-MS 33
PERH-MT 34
Diagnóstico 35
Usos 35
Programas e projetos 36
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Conclusões do PERH-MT 40
Referências 42
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ANDRÉ SIQUEIRA
N
N ossos
recursos
hídricos
Água no mundo A Organização das Nações Unidas (ONU)
estima que um ser humano precisa de 20
Essencial para a sobrevivência de todas a 50 litros de água por dia para ter qua-
as espécies do planeta, a água é um lidade de vida e cerca de 1.000 litros por
recurso natural fundamental e insubs- ano para consumir, higienizar-se, lavar
tituível para a criação e manutenção da roupas e utensílios domésticos. Mas em
vida e dos ecossistemas. É um bem indis- muitos países como no Oriente Médio
pensável para a produção e o desenvol- ou até mesmo em regiões semi-áridas
vimento econômico, do qual dependem do Brasil a disponibilidade de água é
a indústria, o turismo, a agropecuária, a praticamente inexistente.
produção de energia elétrica e muitas
outras atividades. Em contradição, nos países como no
Canadá, Rússia asiática e Guianas, cada
A Terra, também chamada de “Planeta habitante consome mais de 100.000
Água” tem aproximadamente 70% de sua litros de água por ano. Na África, mais
superfície ocupada com água. A maior de 20% da população já sofre com a
parte dela, 97,5% é salgada, e os restantes escassez e grande parte do Peru, México
2,5% de água doce estão presentes nas e América Central já consome mais água
geleiras, calotas polares e regiões monta- do que possui. A situação tem piorado
nhosas (68,9%); nas regiões subterrâneas porque durante o século XX a popula-
(29,9%); nos solos e pântanos (0,9%) e ção aumentou três vezes e o volume de
na superfície de rios e lagos (0,3%). Se água utilizado cresceu até nove vezes!
compararmos a quantidade de água do A poluição, o consumo excessivo e o
mundo com uma caixa d´água de 100 desperdício, altíssimo, do “ouro azul”
litros, apenas dois litros e meio seriam de contribuem ainda mais para reduzir a
água doce. disponibilidade da água.
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toda população. Na América do Sul, por saneamento básico adequado. Nestas
exemplo, que tem 26% da água doce do condições, o líquido precioso que gera
planeta, vivem cerca de 6% da população vida também traz a morte, transfor-
mundial, enquanto que na Ásia estão 60% mando-se num poderoso veiculador de
da população mas há disponibilidade de doenças hídricas e matando por ano
apenas 36% de água doce da Terra. quase 3,8 milhões de crianças.
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Todo ser humano tem direito ao acesso mínimo de 50 litros de água por pessoa
universal da água em quantidade e qua- ao dia. Mesmo o Brasil e o Pantanal, que
lidade, assim como os animais. Cuidar possuem disponibilidade de quantidade
do “ouro azul” do século XXI é zelar pelo de água não estão livres da crise que se
presente e futuro, é manter a saúde, a avizinha. Com as mudanças climáticas di-
vida, e torna-se um dever de cada cida- versos municípios brasileiros e da Região
dão. Com a participação social é possível Hidrográfica do Paraguai já desenvolvem
construir políticas, encontrar alternativas conflitos pelo uso e problemas com a
e respostas para o uso sustentável dos escassez temporária.
recursos hídricos com inclusão social e
justiça ambiental. Água no Brasil
JEAN FERNANDES
de uso da água continuar com a mesma maior parte da água doce do país, cerca
velocidade, até 2050 mais de 45% da po- de 73% mas tem a menor densidade de
pulação do planeta terá de viver com um habitantes por km², onde vivem menos
.
habitantes. o aumento das fontes de poluição oferecem
grandes riscos à qualidade das águas do
Formado por ro- Aquífero Guarani, uma preocupação que já
chas de camadas está presente no sistema de gestão em cons-
arenosas depo- trução pelos países com área no reservatório.
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Bacia hidrográfica:
planejar para
conservar
A bacia hidrográfica é o lugar onde vivemos.
Em qualquer parte com terra no planeta
sempre estaremos localizados numa. Para
compreender o conceito, imagine um
cenário formado por terras, com desenho e
formato por onde as águas das chuvas, nas-
centes de águas, rios e outros corpos hídri-
cos escoam das partes mais altas até as mais
baixas, pela lei da gravidade, encontrando
sempre um rio principal, que geralmente dá
o nome da bacia hidrográfica.
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da água tratada para o consumo no Brasil cas físicas, sociais, culturais, econômicas e
é desperdiçada na rede de distribuição. As políticas relacionada com uma mesma bacia.
Ao considerar a delimitação da bacia hidro-
perdas também são grandes nas residên-
gráfica como UPG, respeita-se a divisão e o
cias, durante o banho demorado, na utili- espaço que a própria natureza criou.
zação das descargas dos vasos sanitários,
na lavagem ou limpeza doméstica.
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Integrantes da Rede Pantanal apresentam experiências locais e planejam ações futuras.
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civil e poderes públicos. Oeste do Brasil. Foi criado em 23 de no-
vembro de 2005 pela resolução nº 2, do
Em âmbito das bacias hidrográficas exis- Conselho Estadual de Recursos Hídricos
tem os Comitês de Bacias, que também de MS.
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OS COMITÊS DE
BACIA SÃO A
BASE DA GESTÃO
PARTICIPATIVA E
INTEGRADA DA
ÁGUA
cassez o uso prioritário será para consumo compatibilizando com os usos da água,
humano e dessedentação de animais. diminuindo os custos de combate à polui-
ção com ações preventivas contínuas.
A gestão do uso múltiplo da água pres-
supõe garanti-la para o uso doméstico ₪ Outorga de direito de uso: é um
(consumo e saneamento), industrial, agro- instrumento pelo qual o poder público
pecuário, geração de energia, navegação, autoriza um usuário a utilizar as águas
pesca e lazer. por tempo determinado e sob condições
preestabelecidas, assegurando o controle
Os dois principais objetivos da Lei das da quantidade e qualidade, seja dos recur-
Águas do Brasil são: sos hídricos superficiais ou subterrâneos,
e o direito de acesso ao bem natural. Os
₪ Garantir a disponibilidade de água para critérios para outorga são definidos pelos
as gerações atuais e futuras, em padrões Conselhos de Recursos Hídricos e Comitês
de qualidade e quantidade adequados aos de Bacias Hidrográficas.
respectivos usos;
₪ Cobrança pelo uso da água: é um
₪ Promover o uso racional e integrado mecanismo que reconhece a água como
com vistas ao desenvolvimento sustentá- um bem econômico e dá ao usuário a in-
vel e À prevenção e à defesa contra even- dicação de seu real valor, incentivando-o à
tos hidrológicos críticos de origem natural racionalização do uso e obtendo recursos
(cheias ou secas) ou decorrentes do uso para financiamento de programas dos
inadequado dos recursos hídricos. planos de recursos hídricos. Os critérios
de cobrança também são definidos pelos
Os principais instrumentos para implemen- Conselhos de Recursos Hídricos e os va-
tar a política nacional são: lores são fixados pelos Comitês de Bacias
Hidrográficas.
₪ Planos de Recursos Hídricos: englo-
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bam o Plano Nacional, Planos Estaduais e ₪ Sistema Nacional de Informações sobre
de bacias hidrográficas, que estabelecem Recursos Hídricos: coleta, trata, armazena,
diretrizes para a gestão no país, estado ou recupera e difunde informações importantes
bacia. São instrumentos de planejamento sobre recursos hídricos e sua gestão.
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JEAN FERNANDES
H
H idrografia
pantaneira
A região hidrográfica do Paraguai altas, de planalto, possuem de 200m a
1.000m de altitude, abrangendo 215.963
A resolução nº 32 do Conselho Nacional km². Sua planície ou região do Pantanal é
de Recursos Hídricos do Brasil (CNRH), a maior área úmida* continental de água
de 25 de outubro de 2003, define a Re- doce do mundo, com 147.629 km².
gião Hidrográfica do Paraguai, também
chamada de Bacia do Alto Paraguai Demanda e disponibilidade hídrica
(BAP), como uma das 12 regiões hidro-
gráficas brasileiras, localizada no oeste Segundo o Ministério do Meio Ambiente,
do país, nos estados de Mato Grosso e a situação de demanda e disponibilidade
Mato Grosso do Sul, envolvendo impor- hídrica na Região Hidrográfica do Para-
tantes áreas no Paraguai e Bolívia. guai é bastante confortável. Dados de
2007 reforçam esta afirmação, indicando
A Região Hidrográfica do Paraguai tem que 93,2% das extensões dos seus prin-
cerca de 496.000 km² no Brasil, Bolívia cipais rios possuem situação excelente e
e Paraguai. Com área de 362.259 km² 6,6% situação confortável em relação ao
no Brasil, ocupando 4,3 % do território balanço hídrico quantitativo.
do país, possui 188.374,68 km² no Mato
Grosso e 173.874,32 km² no Mato Grosso
do Sul. Região hidrográfica do Paraguai
A estreita ligação entre o planalto e
a planície da Região Hidrográfica do
Paraguai garante o funcionamento do
conjunto de ecossistemas e favoreceu
o desenvolvimento do turismo. Mas o
uso e ocupação dos solos são intensos,
descaracterizando parte da vegetação.
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grados aos ecossistemas de vital impor-
tância para as comunidades regionais e
ao funcionamento da planície pantaneira.
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O Pantanal
A planície pantaneira há 60 milhões de
anos era uma região elevada que arqueou
em forma de depressão como resultado
da formação da Cadeia dos Andes, no
oeste da América do Sul. Recebendo
centenas de metros de entulhos e sedi-
mentos, provavelmente pelas mudanças
climáticas bruscas, a região constitui
atualmente uma extensa área plana (BOG-
GIANI, P. C. ; COIMBRA, A. M., 1996).
de Relictos de Caatinga.
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lacional humana.
A diversidade e riqueza
cultural, presente na po-
pulação, fruto da miscige-
FONTE: WWF-BRASIL, SETEMBRO, 2009.
nação de povos indígenas,
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UNIVERSO DE
MISCIGENAÇÃO
FORMOU
A CULTURA
PANTANEIRA,
MARCADA
PELA FORTE
INFLUÊNCIA
DOS POVOS DA
BOLÍVIA, BRASIL
E PARAGUAI
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rena entre outras, correspondem a 33 mil ficiadas com coleta de esgoto, sendo
pessoas em 26 Terras Indígenas (GEF). que apenas 13,8% têm esgoto tratado.
No estado vizinho, Mato Grosso do Sul,
Ainda faltam serviços básicos como 88,8% da população têm abastecimento
saneamento para as populações locais. de água, 7,7% são atendidos com coleta
Em Mato Grosso, por exemplo, 72,9% das de esgoto e 14,7 têm esgoto tratado.
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Aságuasdeterminamaspaisagenspantaneiras
.20
ALTERAÇÕES NO
FLUXO DAS ÁGUAS
PODEM TRAZER GRANDES
IMPACTOS AO PANTANAL
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fevereiro, são em grande parte responsá- década de 1960, quando houve substitui-
veis pelas cheias dos rios que compõem ção de pastagens naturais pela agricul-
a hidrologia do Pantanal. A partir de tura o regime hidrológico do Pantanal se
maio a julho as águas atingem seu nível modificou, contribuindo para a produção
máximo nos rios da planície, iniciando no de sedimentos nas bacias dos principais
norte e chegando depois ao sul. rios pantaneiros.
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Impactos e ameaças
ao Pantanal
As principais atividades tradicionais
desenvolvidas na planície pantaneira
são a pecuária, a pesca e o turismo, que
dependem dos recursos hídricos para
manutenção. Mas desde a década de
1960 a Região Hidrográfica do Paraguai
registra impactos das atividades de de-
senvolvimento.
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As várias tentativas de implementação da Brasil e Paraguai.
hidrovia resultaram em fracasso, princi-
palmente devido à atuação dos movi- Com a implementação do polo mi-
mentos socioambientais, de pesquisado- neroindustrial de Corumbá e Ladário,
res e poder judiciário. O projeto original para exploração de reservas de ferro e
previa o aprofundamento do leito do rio manganês, principalmente, do Maciço
22
A SOMA DOS IMPACTOS DAS AÇÕES
HUMANAS TEM POTENCIAL PARA ALTERAR
O FUNCIONAMENTO ECOLÓGICO DO
PANTANAL, AFETANDO A ECONOMIA
LOCAL, REGIONAL E INTERNACIONAL.
dos projetos.
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acordos para um desenvolvimento com pria imprensa de massa, é uma das for-
menores impactos possíveis (foto). mas de pressionar os poderes públicos e
acionar os poderes judiciários para evitar
A soma dos impactos das ações humanas esta tragédia num Patrimônio Natural da
tem potencial para alterar o funciona- Humanidade e Patrimônio Nacional do
mento ecológico do Pantanal, afetando a Brasil.
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Conflitos e tensões
Conflitos pelo uso das águas já ocorrem
na Região Hidrográfica do Paraguai e
estão relacionados à disponibilidade de
recursos hídricos. Segundo o Caderno
da Região Hidrográfica do Paraguai, do
Plano Nacional de Recursos Hídricos,
“a análise dos processos que ocorrem
na Região Hidrográfica do Paraguai
diferencia-se em grande parte das reali-
zadas nas demais regiões hidrográficas
brasileiras, pois os serviços ambientais
prestados na Bacia Hidrográfica pelos
recursos hídricos possuem implicação de
efeito integrado ao conjunto de manu-
tenção dos ecossistemas de importância
vital à comunidade regional, interesta-
dual e internacional. A análise não deve
ser realizada sob o prisma dos usos, das
disponibilidades e demandas de recursos
hídricos, visto que a relação das sub-
bacias hidrográficas e dos respectivos
cursos de água possui relação direta com
a planície pantaneira”.
₪ Usos da água no planalto que repercu- ₪ Uso das águas em bacias transfronteiri-
tem na planície: os usos urbanos e rurais ças: nas regiões de fronteira entre Brasil,
competitivos trazem riscos de conta- Bolívia e Paraguai existem várias bacias
minação aos aquíferos e para águas à que contribuem com a Região Hidro-
jusante dos locais que utilizam recursos gráfica do Paraguai. Em Porto Murtinho,
hídricos. no estado de Mato Grosso do Sul, há
relatos de problemas relacionados com a
₪ Irrigação versus abastecimento público pesca. Na bacia hidrográfica do rio Apa,
e uso industrial: a ampliação da quan- fronteira entre Brasil e Paraguai, gover-
tidade de água para a agricultura tem nos, usuários e sociedade civil iniciam o
potencializado as alterações no regime processo de implementação da gestão
hidrológico e a contaminação de manan- integrada transfronteiriça, possibilitada
ciais. Conflitos envolvendo a irrigação, através de um acordo de cooperação
como no Alto São Lourenço e bacias do binacional. Os esgotos sem tratamento
Itiquira e Miranda já são registrados. lançados no Canal Tamengo, em Corum-
bá, na fronteira com a Bolívia, passam
₪ Geração de energia elétrica versus con- próximos à região de captação de águas
trole das cheias: a implantação de obras para tratamento e consumo humano.
de infraestrutura na região de planalto
da Bacia do Alto Paraguai repercute no A poluição das águas afeta principalmen-
.
pulso de inundação dos rios da planí- te as atividades de navegação e turismo.
cie pantaneira. Um caso clássico é o da Os municípios de Caracol e Bonito, em
hidrelétrica de Manso, em Mato Grosso, MS, sofreram com períodos de estiagem
onde pescadores relatam a diminuição anormais nos últimos anos que resulta-
?????????????
24
AS 116 PCHS PREVISTAS PARA
BAP SÃO AMEAÇAS REAIS AO
PULSO DE INUNDAÇÃO E AOS
MORADORES DA REGIÃO
.
Grosso e Mato Grosso do Sul, finalizadas
recentemente, indicam prioridade para
a estruturação e implementação dos
Sistemas Estaduais de Gerenciamento
de Recursos Hídricos, representando um
passo na direção da gestão integrada.
25
G
.
26
G estão
das águas
Caracterizado como um processo dinâ- Seu principal objetivo é orientar as polí-
mico, flexível, permanente e participativo, ticas e decisões do governo e dos entes
o Plano Nacional de Recursos Hídricos do Sistema Nacional de Gerenciamento
(PNRH) do Brasil é um pacto, um acordo de Recursos Hídricos (SINGREH) pro-
entre os poderes públicos, os usuários pondo a implementação de programas,
(setores industrial, da irrigação, abasteci- diretrizes, estabelecendo equilíbrio entre
mento de água, geração de energia entre a oferta e demanda de água, em quan-
outros) e sociedade civil que fundamenta tidade e qualidade para seu uso racional
e orienta a gestão das águas no país. Foi sustentável.
aprovado pela Resolução nº 58, de 30 de
janeiro de 2006, do Conselho Nacional A visão sobre os recursos hídricos do
de Recursos Hídricos (CNRH). Brasil e avaliação da disponibilidade de
água são algumas das contribuições do
O documento-base foi elaborado a PNRH, que também apresenta cenários
partir do Ano Internacional da Água, em futuros de 2005 a 2020. Os programas e
junho de 2003, por meio de mobilizações metas sugeridos para implementação em
sociais envolvendo os diversos segmen- nível nacional buscam garantir mais água
tos interessados na gestão integrada em quantidade e qualidade, diminuir
de recursos hídricos. Ele fornece ferra- os conflitos de uso e riscos dos eventos
mentas para o melhor gerenciamento e críticos como inundações ou secas, além
estratégias que podem, preventivamente, de disseminar o valor social e ambiental
evitar perdas e minimizar problemas, dos recursos hídricos.
provocando mudanças desejadas e o
aproveitamento das oportunidades. Os documentos e informações do PNRH
estão disponíveis na internet pelo site:
De acordo com a Resolução nº 32/2003 http://pnrh.cnrh-srh.gov.br/
do Conselho Nacional de Recursos Hí-
dricos (CNRH), o plano adotou a divisão Coordenada pela Secretaria de Recursos
hidrográfica nacional, que estabelece 12 Hídricos do Ministério do Meio Ambiente
.
Regiões Hidrográficas para o planejamen- (SRH/MMA), a elaboração do PNRH foi
to da gestão da água, além de adotar acompanhada pelo Conselho Nacional
Áreas Especiais de Planejamento como o de Recursos Hídricos (CNRH) e Agência
Pantanal, Amazônia, o semi-árido, as áre- Nacional de Águas (ANA) e prevê imple-
as costeiras, águas subterrâneas e outras mentação com participação do SINGREH
regiões com características específicas. e de todo brasileiro (a).
27
PERH-MS
O estado de Mato Grosso do Sul é um Secretaria Nacional de Recursos Hídricos
dos mais ricos em quantidade de água e Ambiente Urbano, do Ministério do
doce superficial e subterrânea do Brasil. A Meio Ambiente, e da Secretaria de Estado
situação de privilégio não significa água de Meio Ambiente, do Planejamento, da
em quantidade e qualidade para todos. Ciência e Tecnologia (SEMAC), o plano foi
O estado já registra conflitos pelo uso e aprovado pela Re-solução nº 11, de 5 de
eventos climáticos extremos como secas novembro de 2009, do Conselho Estadual
muito intensas e chuvas torrenciais anor- de Re-cursos Hídricos de Mato Grosso do
mais. A situação de confortável disponi- Sul (CERH-MS).
bilidade hídrica eleva a responsabilidade
dos poderes públicos, da sociedade e dos Para sua elaboração, o PERH-MS con-
usuários para a proteção dos mananciais, siderou 15 Unidades de Planejamento
garantia do uso múltiplo e a instalação de e Gerenciamento (UPGs) como base
um modelo de desenvolvimento sustentá- físico-territorial e três fases: diagnósti-
vel, principalmente na Região Hidrográfica co, prognóstico e programas/projetos.
do Paraguai, onde está o Pantanal. Duas UPGs mereceram atenção especial
com recomendações para realização de
O Plano Estadual de Recursos Hídri- programas de recuperação e conservação:
cos de Mato Grosso do Sul (PERH-MS) a bacia do Taquari e a do Miranda, que
orienta e fundamenta a implementação estão em processo acelerado de degra-
e gerenciamento da Política Estadual de dação, principalmente devido ao assorea-
Recursos Hídricos. Sob coordenação da mento e poluição.
. 28
JEAN FERNANDES
A Bacia do Alto Paraguai deve ter seus ecossistemas protegidos para assegurar os ciclos de cheias e secas do Pantanal.
.
biodiversidade, produção pesqueira, ca, turismo ecológico e proteção dos
reprodução da fauna e caracterização ecossistemas. A pesca, em especial, é
dos cenários. O PERH-MS recomenda considerada uma importante atividade
que os ecossistemas da Região Hidrográ- econômica e social no Pantanal, uma vez
fica do Paraguai sejam protegidos para que gera renda e fornece alimentação
assegurar o pulso de inundação, ou seja, para as comunidades ribeirinhas.
29
Cenários futuros
para as águas de MT
1. Cenário de Desenvolvimento Sustentável 2. Cenário de Dinamismo Desigual
Mato Grosso do Sul projeta-se pelo alto Mato Grosso do Sul alcança níveis mé-
desenvolvimento social e humano e uma dios de desenvolvimento econômico e
economia dinâmica e diversificada. Apre- modernização social, com maior partici-
senta, também, elevado nível de renda pação na economia nacional, em meio a
estimulado pelo crescimento da demanda um contexto nacional e internacional de
internacional, que o Estado aproveita gra- dinamismo excludente, que desacelera a
ças à competitividade de suas commodities. tendência em direção à estabilidade do
crescimento econômico.
Uma política ambiental eficaz e participati-
va é implementada em todo o território sul- Observa-se crescimento da pressão
mato-grossense, articulando uma fiscaliza- antrópica resultante do dinamismo eco-
ção social com estímulos econômicos do nômico no Estado, com grande expansão
bom aproveitamento dos recursos naturais. do consumo de água pela agricultura e
pela pecuária, impulsionadas pela eleva-
De forma idêntica, o Plano Estadual de ção contínua dos preços das commodi-
Recursos Hídricos é implementado, com a ties no mercado internacional.
criação e fortalecimento dos Comitês de
Bacia, a implementação de um sistema de As melhorias no sistema multimodal de
monitoramento, a disseminação de práticas transporte e no fornecimento de energia
de economia e bom uso da água, a outorga fortalecem o dinamismo econômico.
e a cobrança em alguns locais.
A degradação dos recursos hídricos,
Outro fator é a integração por parte do neste termo, é crescente pela limitada
Estado dos recursos hídricos superficiais disseminação de novas tecnologias
e subterrâneos, sobretudo com estimulo na produção, para o que contribuem
à participação, que se faz gradativamente também as políticas ambientais pouco
presente numa ascensão visível. participativas e eficientes, no mais das
vezes dirigidas em favor dos grandes
Finalmente, tanto o fortalecimento regional grupos econômicos usuários de água.
quanto a gestão integrada ocorrem em Apenas a tendência de universalização
grande parte porque o Zoneamento Ecoló- do saneamento impede que situações
gico Econômico tem sucesso, com parte de críticas surjam.
suas recomendações se transformam em
regulação e em políticas públicas que sus- A escalada dos impactos ambientais, no
tentam a expansão das atividades econô- que se refere aos recursos hídricos, se dá
micas com menor impacto ambiental. também pela limitada disseminação de
novas tecnologias na produção, sobre-
tudo aquelas relacionadas ao aumento
da eficiência dos sistemas de irrigação e
de produtividade por hectare. O consu-
.
mo de água pela agricultura e pecuária,
neste termo, registra média expansão em
Mato Grosso do Sul.
30
Na visão de futuro, com enfoque em oportunidades e desafios, os principais proces-
sos e variáveis como o crescimento demográfico, evolução das atividades produtivas,
modificações nos padrões de ocupação do solo, tendências de crescimento e desenvol-
vimento social, econômico e ambiental, inclusive as mudanças climáticas e aquecimento
global são considerados e condicionam situações de diferentes futuros. O PERH-MS
estabeleceu três cenários para as águas de MS, de 2007 a 2025.
de Recursos Hídricos.
Programas e projetos
GRUPO RAÍZES
pelo Uso da Água, um instrumento
previsto na Política Nacional de Recursos
Hídricos e a Outorga de Direito de Uso
ainda não foram implementados. Governo e sociedade juntos devem gerenciar as águas.
.
6 – Ampliação e consolidação da rede de 15 – Preservação ambiental de mananciais
monitoramento quantitativo e qualitativo dos (conservação de solos e águas).
recursos hídricos superficiais e subterrâneos
16 – Apoio aos municípios para a gestão da
do Estado.
qualidade ambiental do meio urbano e de
7 – Armazenamento e difusão de infor- eventos hidrológicos críticos.
32
Conclusões do PERH-MS
Nos estudos do PERH-MS o estado de A Política Estadual de Recursos Hídricos
Mato Grosso do Sul apresenta grandes de Mato Grosso do Sul criou o Sistema
diferenças entre as Regiões Hidrográficas Estadual de Gerenciamento de Recursos
do Paraguai e do Paraná, relacionadas Hídricos (Lei nº 2.406 de 29 de janeiro
com características naturais e socioeco- de 2002) e considera que o Conselho
nômicas mas não foi registrada diferença Estadual de Recursos Hídricos (CERH-MS)
com relação à disponibilidade hídrica e é a instância superior do sistema. Através
qualidade das águas nas UPGs. De ma- do conselho é assegurada participação
neira geral MS tem poucos dados sobre paritária entre membros do poder públi-
seus recursos hídricos, com exceção co, representantes da sociedade civil e
das UPGs da Região do Paraguai como dos usuários da água. A implementação
Correntes, Taquari, Miranda e Negro, de uma política integrada de recursos hí-
que têm maior número de estações de dricos pressupõe a participação de todos
monitoramento distribuídas no planalto. na proposição e nas ações que avancem
Também na UPG Ivinhema, da Região do na consolidação do desenvolvimento
Paraná, existe boa cobertura de dados e sustentável, social, humano e ambiental,
monitoramento da qualidade. que dinamize e diversifique a economia.
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O plano recomenda o estabelecimento
de programas conjuntos para o trata- DE RECURSOS HÍDRICOS
mento de despejos urbanos e industriais, PRESSUPÕE A PARTICIPAÇÃO
de resíduos sólidos, de combate às DE TODOS NA PROPOSIÇÃO
inundações e erosões e de proteção e
uso racional da água. E NAS AÇÕES
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PERH-MT Elaborado com a coordenação da Se-
cretaria Nacional de Recursos Hídricos e
Ambiente Urbano, do Ministério do Meio
Ambiente (SRHU/MMA), e pela Secretaria
O estado de Mato Grosso é considera-
de Estado de Meio Ambiente de Mato
do um produtor de águas. Nele estão
Grosso (SEMA-MT), o plano contou com
as nascentes dos principais rios das
participação social permitindo o debate
Regiões Hidrográficas do Paraguai,
e as contribuições da sociedade civil,
Amazônica e Tocantins-Araguaia. A
usuários da água, entidades de ensino
disponibilidade abundante de recursos
e pesquisa e poderes públicos das três
hídricos dá um papel estratégico para
esferas governamentais.
conservação, manutenção e proteção
desse precioso bem natural. A Resolu- A implementação do PERH-MT objetiva
ção nº 26, de 02 de junho de 2009, do construir o cenário de futuro de desen-
Conselho Estadual de Recursos Hídricos volvimento sustentável, com crescimento
de Mato Grosso (CEHIDRO-MT) aprovou econômico, diversificação da estrutura
o primeiro Plano Estadual de Recursos produtiva, redução da degradação am-
Hídricos do Brasil. biental e melhoria da qualidade de vida.
. 34
Escala: 1:7.500.000
Diagnóstico
A sustentabilidade do agronegócio é
diretamente dependente da gestão
ambiental adequada, por isso o PERH-
MT enfatiza que a adoção de práticas
de Mato Grosso
elementos fundamentais para o desen-
volvimento do estado: a água e o solo.
.
por água, perdas e representa perigos
de contaminação. Atividades como a - irrigação: para fornecimento de água às
cultura da soja, bovinocultura, cana-de- culturas agrícolas com técnicas de gote-
açúcar, criação de suínos e aves produzem jamento, pivô central, sulcos entre outras.
quantidades significativas de nutrientes O consumo adotado é de 4.000 m³ por
minerais como nitrogênio e fósforo. hectare a cada ciclo produtivo.
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Cenários futuros
para as águas de MT
As tendências de futuro, no PERH-MT configuram-se em três cenários para os anos de 2007, 2011, 2018 e 2027.
O prognóstico entende que o futuro não pode ser previsto mas parte de variáveis identificadas nos dias atuais para
movimentoseevoluçõesmaisprováveisparadesenharfuturosconsistentesecoerentescomprobabilidadedecerteza.
A visão de futuro dos recursos hídricos de Mato Grosso é sistêmica, com ênfase nos aspectos qualitativos, explici-
tando as relações entre os atores e variáveis. Logo, o futuro depende das decisões e ações dos atores e as variáveis
temgrandecapacidadedegerarimpactos(positivosounegativos)eincertezas.Asvariáveispossuemnaturezasocial,
cultural, econômica, política, ambiental, tecnológica, entre outras.
.
mesmo tempo em que se amplia o uso
racional dos recursos hídricos.
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JEAN FERNANDES
. 37
Programas e projetos
Projetos:
Projeto: implementação da outorga consideran-
- atualização e integração de cadastro de fon- do os usos consuntivos e não consuntivos.
tes pontuais potencialmente poluidoras;
- produção do inventário dos usuários de
Programa: Fiscalização do Uso do Recursos
águas superficiais;
Hídricos
- produção do inventário de poços tubulares
do estado de Mato Grosso.
Projeto: estruturação de sistema de fiscalização
para recursos hídricos.
Programa: Rede de Monitoramento Quali-
quantitativa
Programa: Estudo e Enquadramento dos
Recursos Hídricos
Projetos:
- revisão do programa de monitoramento da Projeto: elaborar o estudo de enquadramento
qualidade das águas superficiais; dos cursos d’água no âmbito dos planos de
- revisão do programa de monitoramento da bacias.
balneabilidade das praias;
- implantação do programa de monitoramento Programa: Aplicação de Instrumentos Eco-
da qualidade das águas subterrâneas; nômicos Alternativos à Gestão de Recursos
- adequação do laboratório de análises da Hídricos
SEMA e descentralização das atividades em
unidades regionais; Projeto: estudo de instrumentos econômicos
- ampliação da rede hidrológica de monitora- alternativos para apoio à gestão de recursos
mento das águas superficiais; hídricos.
- implantação do programa de monitoramento
hidrossedimentológico. Programa: Estruturação e Implementação do
Acompanhamento e Monitoramento do PERH
.
de acompanhamento e avaliação da implemen-
Projeto: elaboração de planos de bacias hidro-
tação do PERH;
gráficas.
- desenvolver e implantar um sistema de
gerenciamento da implementação do plano
Programa: Sistema de Informações sobre estadual.
Recursos Hídricos
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- definição da matriz institucional de implanta- - educação ambiental e difusão sobre o conhe-
ção do PERH; cimento dos recursos hídricos;
- criação de um sistema de gerenciamento da - desenvolvimento de investigação científica e
implementação do PERH. tecnológica e consolidação de conhecimento
em gestão de recursos hídricos;
Diretriz II - Desenvolvimento Legal e Insti- - estudos sobre o potencial de geração e trans-
tucional da Gestão Integrada de Recursos porte de cargas poluidoras de origem difusa;
Hídricos - pesquisas visando o manejo e a disposição de
efluentes por fertiirrigação;
Programa: Reestruturação e Fortalecimento - desenvolvimento de mapa hidrogeológico do
do Sistema de Gerenciamento de RH estado;
- fomento acadêmico sobre o conhecimento
Projetos: hidrogeológico do estado;
- fomentar e apoiar a instalação e funciona- - desenvolvimento de estudos para conhecer
mento de comitês de bacia; a inter-relação entre solo, vegetação e água, e
suas implicações no ciclo hidrológico.
- fortalecimento do CEHIDRO;
- capacitação continuada dos técnicos do
órgão gestor dos recursos hídricos; Diretriz IV: Articulação institucional de inte-
resse a gestão de recursos hídricos
.
drenagens e cabeceiras, conforme definido
Projetos: no ZSEE.
- campanhas de adequação técnica das obras - capacitação dos produtores rurais no manejo
de captação de águas subterrâneas (poços sustentado dos solos, aplicação de fertilizantes
tubulares); e agrotóxicos e recuperação de matas ciliares.
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Conclusões do PERH-MT
A grande disponibilidade de recursos gráficas e uma base de geração e dispo-
hídricos superficiais em Mato Grosso nibilização de informações e tecnologias
não pode gerar despreocupação com a para o uso sustentável dos recursos
proteção e preservação da água devido hídricos de Mato Grosso. Parte dessa
à sua importância ao meio ambiente e demanda significa melhorar a infraes-
para a economia, não apenas do estado, trutura da SEMA para o planejamento,
mas das Regiões Hidrográficas Amazô- execução, acompanhamento e avaliação
nica, Tocantins-Araguaia e do Paraguai. dos projetos previstos no plano.
Em Mato Grosso o atual uso na maioria
das UPGs é inferior a 5% do total de 10% Os impactos das ações antrópicas sobre
considerados como disponíveis para os recursos hídricos foram provoca-
consumo e garantia da manutenção do dos pelo rápido desenvolvimento do
meio biótico. agronegócio, crescimento populacional e
ampliação das atividades industriais e de
O Índice de Qualidade da Água (IQA) é prestação de serviços. As ações conjun-
considerado bom na maior parte dos tas entre o Estado e a sociedade para a
pontos de amostragem das UPGs mas promoção da sustentabilidade precisam
nem sempre há disponibilidade para a ser fortalecidas, assim como é importan-
população rural. Em diversos assenta- te implantar os instrumentos de Outorga
mentos existem sérios problemas. de Uso da Água e de Cobrança.
.
taminação por metais pesados, inclusive As preocupações com os impactos da
mercúrio. pecuária são claras: em todas as UPGs
de Mato Grosso a atividade é respon-
É imprescindível o estabelecimento de sável por mais de 90% da contribuição
instrumentos legais de apoio à gestão, potencial de material poluente, princi-
organização de comitês de bacias hidro- palmente de Nitrogênio e Fósforo, que é
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um elemento conservativo mas em altas dos nutrientes minerais mas os resíduos
concentrações na água pode desencade- tendem a alcançar águas subterrâneas
ar a eutrofização, que resulta no com- em zonas de recarga de aquíferos, com
prometimento dos recursos hídricos para potencial para contaminar mananciais
inúmeras finalidades, como o abasteci- que abastecem a população.
mento público. Em várias UPGs as cargas
ultrapassam a concentração de fósforo Atenção especial merece a UPG Para-
estipulada pela legislação. guai-Pantanal, que recebe resíduos de
ações de outras UPGs da Região do Alto
Sobre os principais conflitos, eles estão Paraguai. Nesta unidade, o plano já de-
localizados em regiões onde estão tectou níveis elevados de nutrientes nas
previstas implantações de hidrelétricas águas como uma espécie de alga tóxica.
como no rio Juruena e Teles Pires e tam-
bém nas bacias com atividades de irriga- Um dos caminhos apontados pelo PERH-
ção, como a bacia Alto Rio das Mortes. MS é a adoção de práticas sustentáveis
na produção e no agronegócio, não
Outro alerta do PERH-MT refere-se apenas para proteger o meio ambien-
às indústrias de álcool e açúcar e os te, mas para conservar dois elementos
abatedouros utilizam sistema de trata- fundamentais para essas atividades: água
mento de efluentes, removendo parte e solo.
JEAN FERNANDES
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Referências
Água: Manual de uso – Vamos Cuidar de Nossas Águas – Implementando o
Plano Nacional de Recursos Hídricos / Ministério do Meio Ambiente, Secretaria
de Recursos Hídricos. – Brasília: MMA, 2006.
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