Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
São
Paulo: Paz e Terra, 2016.
Hoje na era moderna a brutalidade capitalista e sua reestruturação fazem com que haja
um desaparecimento das barreiras fiscais e surjam espaços para a terceirização do trabalho,
onde prevalecem espaços de produção padronizada como os call centers, por exemplo. Essa
nova configuração privilegia a economia global, a qual concentra infraestruturas e ambientes
específicos para atenderem o mercado mundial. Países reduzem os impostos corporativos e
aumentam os impostos individuais, segundo Sassen, nesses períodos há um crescente
endividamento governamental, o qual é possível identificar pelo FMI e OCDE através da
porcentagem do PIB nos países desenvolvidos, como a Alemanha e os Estados Unidos. A
globalização aumentou a complexidade das indústrias e dos serviços para a valorização das
economias avançadas, em consequência desse favorecimento, os governos apresentam uma
dívida maior do que seus credores do setor privado.
Em As finanças e suas capacidades: a crise como lógica sistêmica, Saskia Sassen traz
os impactos causados pelas firmas financeiras no mundo, alertando o perigo causado por sua
capacidade de aumentar o seu próprio valor, já que o sistema de finanças é diferente do
sistema bancário tradicional. Segundo a autora, os bancos tracionais vendem o dinheiro que
está sob sua posse, ao contrário da firma financeira que vende algo que não tem, sendo assim,
as finanças têm capacidades para securitizar quase tudo em economia, portanto, a
securitização faz a captação de recursos que financiam empreendimentos e projetos através da
venda de títulos para investidores, os quais podem ser comprados e vendidos inúmeras vezes.
Posto isso, o poder das finanças aumenta o seu valor, mesmo enquanto economias e
governos perdem. A crise atual é consequência do capitalismo financeirizado, uma vez que as
finanças extraem valores de diversos setores da economia, portanto, quanto mais setores
econômicos financeirizados mais suscetíveis se tornarão a uma crise financeira, visto que há
uma grande instabilidade nos mercados financeiros – fator característico da crise. O capital
financeiro, de acordo com Sassen, por décadas faz investimentos extremamente especulativos
que servem para continuar enriquecendo empresas ricas e destruírem empresas consideradas
saldáveis, ao invés dessa economia destruidora, a autora propõe instituições financeiras com
capacidade de criar e distribuir capital de forma eficiente – reorientação do capital financeiro
para responder uma grande variedade de necessidades mundiais como a fome, questões
climáticas, a pobreza que colocam em risco a nossa própria existência.
O último capítulo - Terra morta, água morta aponta histórias e geografias que
aceleram a destruição em grande escala do nosso planeta por ações humanas no meio
ambiente, marcados pelo antropoceno. A separação da paisagem natural e da paisagem
geopolítica é uma logica que domina o mundo, a urbanização nos trouxe a sensação de não
pertencermos mais a natureza, o homem não faz mais parte da biosfera, nos minimizamos os
problemas climáticos e ambientais, é como se eles não fizessem parte do nosso dia a dia. Para
tentar reduzir as mudanças climáticas a solução encontrada no mundo capitalista foi a venda
de carbono, portanto, há um comércio até da poluição, empresas que reduziram suas emissões
ganham créditos de carbono, sendo assim, é possível entender que além da comercialização da
terra, do ar e da água, também temos a financeirização das mercadorias extraídas.
Por fim, a autora faz um questionamento importante sobre o esforço de alguns Estados
na redução da destruição global, salientando a grande relevância dessa tentativa em reparar os
danos, porém são pequenas em comparação a destruição causada em escala global. A
aniquilação de biosferas ao redor do mundo promove expulsões de nativos e, apesar de ser
diferente das expulsões como o encarceramento, ainda sim envolvem uma situação político-
econômica similar, pois muitos cidadãos têm a sua saúde e prosperidade roubados.
Pode-se concluir que o mundo tem diversas e expulsões e consequente expulsos que
migram de cidades ou de países, na maioria das vezes essas locomoções são arriscadas e
perigosas, Sassen, questiona quais são os espaços dos expulsos numa sociedade com estados
modernos, apresentando um limite sistêmico de expulsões e não de inclusão e participação
constitutiva.