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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA BAHIA

Campus Seabra
CURSO MÉDIO INTEGRADO EM MEIO AMBIENTE

COMENTÁRIO:
UM ENCONTRO COM MILTON SANTOS: O MUNDO GLOBAL VISTO
DO LADO DE CÁ

CLARA SOLANO MACIEL DE FREITAS

Seabra BA
2017
CLARA SOLANO MACIEL DE FREITAS
28216.2

COMENTÁRIO:
UM ENCONTRO COM MILTON SANTOS: O MUNDO GLOBAL VISTO
DO LADO DE CÁ

Trabalho solicitado pela professora Jeovangela


Matos, como mérito avaliativo para a III
unidade da disciplina de Geografia.

SEABRA - BA
2017
O documentário traz uma análise do processo de globalização diferente da que estamos
acostumados a ver na mídia e no sistema educacional tradicional. Fazendo jus ao seu título, o vídeo
busca demonstrar como este fenômeno está ocorrendo “no lado de cá”, isto é, nos territórios menos
desenvolvidos, que carregam o peso do dito “mundo global” sem poder desfrutar dos benefícios
dele. As reflexões trazidas são baseadas nas ideias do renomado geógrafo brasileiro Milton Santos.
“Descolonizar é olhar o mundo com os próprios olhos” - diz Milton, logo no início do
documentário, ao propor o abandono da visão de mundo que nos é imposta por aqueles que
controlam os sistemas midiáticos e educacionais e a consequente busca pela informação que
contemple a realidade. Esta ação é denominada pelo geógrafo de “descolonização do pensamento” e
é importantíssima para a imersão verdadeira nessa discussão. O mesmo afirma a existência de 3
faces da globalização: a primeira seria a globalização como fábula, como aqueles que se beneficiam
com ela a enxergam; a segunda, como ela realmente é; e a terceira, como ela pode ser: uma nova
globalização.
A globalização, grosso modo, é a integração social, econômica, cultural e política entre
nações. No vídeo, Milton Santos expõe a profunda relação entre a globalização e o colonialismo,
pois os dois processos apresentam caráter exploratório e estão a serviço de um grupo social
específico. Inclusive, Santos coloca o colonialismo como uma primeira fase da globalização, e a
segunda fase como a fragmentação de territórios. Um exemplo da segunda globalização é a divisão
do mundo entre hemisférios norte e sul, onde as nações mais desenvolvidas se encontram na zona
setentrional.
Mas quais são exatamente os males do mundo global? O que quer dizer Milton Santos
quando expõe o antagonismo entre a fábula e a globalização como ela realmente é?
A grande problemática da globalização é que ela serve como ferramenta de manutenção do sistema
capitalista, de forma que favorece profundamente as grandes empresas e as classes mais altas da
sociedade, ao mesmo tempo em que causa o aumento da pobreza e desigualdades como um todo,
além de inúmeros problemas ambientais. Uma das maiores características da globalização (e
também uma das que são mais romantizadas) é a suposta universalização da informação, que tem
como principal agente as mídias sociais, as quais são controladas em sua maior parte por
multinacionais, as mesmas que muitas vezes são também responsáveis pela nossa alimentação,
saúde e lazer. Através da mídia, há a imposição de certos padrões a serem seguidos para que se
possa alcançar a perfeição. Tais padrões são, muitas vezes, inalcançáveis, mas a busca incessante
por eles é o que gerou a sociedade do consumo, onde a população nunca se dá por satisfeita e
sempre vê necessidade de adquirir novos produtos ou mudar seus estilos de vida para se encaixar o
máximo possível nos ideais de perfeição que são impostos. Vale ressaltar que toda essa imposição
fez e faz com que os povos abandonem gradualmente as suas culturas tradicionais para seguir a
cultura predominante. Assim, a universalização das culturas, embora seja vendida como algo
positivo que promove a integração entre povos, acaba sendo na verdade mais um instrumento para
perpetuação das desigualdades. Em suma, é criado pela mídia um “mundo perfeito”, onde a
globalização é um fenômeno fantástico de integração cultural e onde se torna necessário o consumo
de determinados produtos.
Mas, nesse mesmo cenário, surge outra questão: e as pessoas que não tem acesso a essa
informação? Onde elas estão, e por que o tão famigerado mundo global não está chegando até elas?
É sempre necessário frisar que, enquanto algumas pessoas estão trocando seus smartphones pela
décima vez no ano, outras estão com acesso extremamente dificultado a bens essenciais para a vida,
como a água. É aí que se enxerga, como diz Milton Santos, a globalização como ela de fato é:
profundamente desigual, arquitetada não por pessoas, mas sim por empresas que buscam apenas o
benefício próprio, ou seja, que seguem uma lógica financeira: onde todas as ações são
fundamentadas na busca pelo lucro, mesmo que para isso seja necessário “passar por cima” de
alguns grupos sociais. Sendo a política das empresas globais construída sobre essa lógica, podem-se
observar fenômenos como a divisão internacional do trabalho, onde as sedes de multinacionais
estão localizadas nos grandes centros urbanos de países desenvolvidos mas as indústrias estão
normalmente espalhadas em países menos desenvolvidos, com leis trabalhistas mais “flexíveis” que
facilitem a entrada dessas empresas e disponham de mão de obra barata. Nesse ponto já fica nítida a
relação entre a globalização e colonialismo, pois esse cenário lembra muito a exploração da
metrópole para com a colônia, e revela inclusive uma nova forma de expropriação territorial dos
povos tradicionais, representada, por exemplo, pelo crescente êxodo rural. Muitas vezes, porém,
essa expropriação ocorre da mesma forma que ocorria no período colonial: por meio de ameaças e
assassinatos, como prova o extermínio dos povos indígenas brasileiros que vêm sendo realizado,
principalmente por fazendeiros do agronegócio com apoio do Estado.
E como seria possível, em meio a tantas turbulências, mudar essa situação? Como se poderia
alcançar a “nova globalização”, proposta por Milton Santos?
Um dos meios mais importantes é, sem dúvida, mudar a lógica com que se desenvolvem as relações
econômicas, visto que elas interferem em todos os outros âmbitos. Assim, ao invés da citada lógica
financeira, deveria haver uma lógica da solidariedade, onde a economia seria pensada de forma a
reduzir cada vez mais a exploração, em busca de uma sociedade igualitária onde os direitos
humanos possam ser exercidos de forma plena. Nesse cenário, a globalização seria de fato um bem
de todos, pois seria construída pelos indivíduos e todos teriam acesso aos seus benefícios.

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