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Referência Bibliográficas:

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.
6. ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2001, pp.17-44 e 170-174. ISBN: 9788501058782.

Milton Santos foi um professor, intelectual, pensador e o maior geógrafo


brasileiro reconhecido. Nasceu na Bahia no ano de 1926 (-2001) e foi responsável por
ampliar novas compreensões de conceitos geográficos, lugar, paisagem e região.
Formou- se em Direito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), mas nunca chegou
a exercer a profissão, e fez doutorado em geografia na Universidade de Estrasburgo, na
França. Com o golpe de 1964, foi preso e após passar meio ano em prisão domiciliar, o
geografo deixou o Brasil e foi para a França a convite da Universidade de Toulouse-Le
Mirail, lugar em que ministrou aulas e recebeu o prêmio “Honoris Causa”, primeiro
prêmio dentre muitos em sua carreira. Em 1977, o geógrafo retornou ao Brasil sendo
professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade de São
Paulo (USP), onde se tornou professor emérito e permaneceu até se aposentar. Publicou
cerca de 40 livros e uma das suas mais importantes e emblemáticas obras foi a “Por uma
outra Globalização”, que traz um viés crítico da globalização, esta obra foi publicada
em 2000, um ano antes de sua morte.
“Só que a globalização não é apenas a existência desse novo sistema de técnicas. Ela é
também o resultado das ações que asseguram a emergência de um mercado dito global,
responsável pelo essencial dos processos políticos atualmente eficazes. Os fatores que
contribuem para explicar a arquitetura da globalização atual são: a unicidade da técnica, a
convergência dos momentos, a cognoscibilidade do planeta e a existência de um motor único na
história, representado pela maisvalia globalizada. Um mercado global utilizando esse sistema de
técnicas avançadas resulta nessa globalização perversa. Isso poderia ser diferente se seu uso
político fosse outro. Esse é o debate central, o único que nos permite ter a esperança de utilizar
o sistema técnico contemporâneo a partir de outras formas de ação. Pretendemos, aqui, enfrentar
essa discussão, analisando rapidamente alguns dos seus aspectos constitucionais mais
relevantes.” (Santos, Milton “Por uma outra globalização, 2000).

E assim se inicia a obra, que retrata bem a globalização de maneira vinculada no


modo em que afetou as pessoas, e assim a contestação se dá início. Em teoria a
globalização é reconhecida como o viés de aproximação do mundo, na expectativa de
criar um mundo unificado. Entretanto, nessa obra Milton Santos retrata uma perspectiva
da globalização mais realista e problematizada, de modo que o geografo afirma que a
globalização não passa de uma fabula e um “encantamento de mundo” imerso em uma
“dupla tirana”, do dinheiro e da informação, amplamente conectadas. Essa afirmação,
segundo Santos, se baseia no reforço, através das pessoas, de um estilo de vida e
comportamento, proveniente da cultura do dinheiro e das informações, culturas essas
que que prendem e desamparam as pessoas, de forma que o dinheiro faz as pessoas
trabalharem mais e mais na busca por uma vida de qualidade, em alguns casos pautados
no consumo, e ainda por cima estão presas a informações facilmente manipuladas e
falsificadas, por isso, Santos ainda afirma que estamos no meio de uma violência
informacional e na tirania do dinheiro. A partir disso, nota se um ciclo que enfim torna
algo unificado nessa globalização, no qual a cultura de massas prevalece, e, desse modo
transforma este ciclo torna a globalização perversa.

Essa abordagem da cultura de massas consiste na percepção de que a população


está imersa nessa cultura de massas, em que “o rico cada vez fica mais rico e o pobre
cada vez mais pobre”, baseando no mercado desigual, pautado na já citada tirania do
dinheiro. Além do mercado, a população, sobretudo a menos favorecida, fica à mercê da
política focada no viés globalizados, de forma que a politica interna se sobrepuja de
menor importância. A partir disso, o autor retrata que esses acontecimentos vieram
através da força do capitalismo que “exigiu” novas formas financeiras. Nessa
perspectiva, o geografo ainda afirma ter uma competitividade entre as pessoas e que a
partir disso, houve um abandono da solidariedade e por fim a fragmentação da educação
e saúde, além do inicio de um consumo exacerbado.

“Os papéis dominantes, legitimados pela ideologia e pela prática da competitividade,


são a mentira, com o nome de segredo da marca; o engodo, com o nome de marketing; a
dissimulação e o cinismo, com os nomes de tática e estratégia. É uma situação na qual se
produz a glorificação da esperteza, negando a sinceridade, e a glorificação da avareza,
negando a generosidade. Desse modo, o caminho fica aberto ao abandono das solidariedades
e ao fim da ética, mas, também, da política. Para o triunfo das novas virtudes pragmáticas, o
ideal de democracia plena é substituído pela construção de uma democracia de mercado, na
qual a distribuição do poder é tributária da realização dos fins últimos do próprio sistema
globalitário. Estas são as razões pelas quais a vida normal de todos os dias está sujeita a uma
violência estrutural que, aliás, é a mãe de todas as outras violências.”

É importante ressaltar, que no livro o geografo retrata que o ciclo atrás do


dinheiro nos traz também a pobreza, em que o empresário ganha o lucro e seus
trabalhadores recebem muito pouco, a pobreza aqui se instaura como naturalizada e
global. Pouca coisa mudou desde que começou a se falar em globalização. Milton
Santos não é de fato contra a globalização, mas ele ressalva a importância de entender e
analisar o outro lado da globalização, o lado que mais importa, o da população.

Essa obra traz todo esse viés critico de maneira clara e plausível, afinal, a
globalização sempre foi vista, ao meu olhar, como algo positivo, isso porque favorece a
diplomacia, relações entre países e como na teoria a “neutralização” das fronteiras,
mesmo sendo a teoria longe de ser o que de fato acontece. Além disso, a população fica
imersa naquele ciclo vicioso e injusto, portanto, não tenho o que contestar sobre o que
foi escrito por Milton Santos, até porque concordo com o que foi dito e através desse
estudo, além de ficar claro que a população está imersa em um misticismo teórico e não
enxerga, é importante ter alguém que nos traga essa realidade e nos puxe para uma nova
consciência e partir daí ter em vista que a globalização, de fato, não é um processo
irreversível mas que com consciência o ser humano é capaz de dar um novo sentido
para o mundo, mesmo que globalizado.

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