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Por uma outra

globalização
Globalização versus globalitarismo

A globalização a partir
da perspectiva de
Milton Santos
Sumário
Realização: Fundação Itaú
Palavras iniciais
Autor: Antonio Carlos Malachias (Billy Malachias)

Leitura crítica: Guilherme Gonçalves Miranda Silva, Juliana de


Souza Mavoungou Yade, Lucas Gabriel Moreira da Cruz
O discurso da globalização
Coordenação do projeto: Juliana de Souza Mavoungou Yade

Produção, edição e finalização: Amutay O globalitarismo

A globalização no pensamento miltoniano


Palavras
iniciais
Até aqui você teve acesso às
diversas contextualizações sobre
os conceitos que Milton Santos
foi construindo ao longo de sua
trajetória. Neste material, será
apresentado um breve debate sobre
a perspectiva de “globalização”.
Aproveite ao máximo!

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O discurso da
globalização
Desde a década de 80, um grupo de intelectuais se dedica
ao tema, associando a difusão das novas tecnologias de
comunicação à homogeneização de um sistema cultural
global voltado ao consumo. Esse sistema busca se
sobrepor à identidade da diversidade cultural através da
padronização do consumo em detrimento da cultura local
e da cidadania.

SAIBA MAIS

Um exemplo clássico de
padronização do consumo Estudiosos vislumbram a globalização com um
são as redes de fast food, sentido simbólico, ou seja, que se refira à suposta
que produzem alimentos em unificação do mundo.
grande escala, incorporando
elementos culturais externos Esta unificação se dá através das políticas
com o objetivo de padronizar neoliberais, tais como: redução do estado de bem-
os hábitos alimentares. estar social, abertura dos mercados de capital,
bens e serviços, privatizações, flexibilização das leis
trabalhistas, entre outras.

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Em sua face normativa, a globalização
cria as condições para que:

As grandes corporações globais e os


fundos de investimentos concorram com
empresas nacionais em um mercado
aberto, porém disputado em condições
desiguais de concorrência.

O mercado globalizado de capitais


reduz a autonomia econômica dos
governos nacionais, retirando destes
a possibilidade de controlarem as suas
próprias taxas de câmbio e de juros.

Na face simbólica, o discurso da


globalização se apoia no desenvolvimento
das comunicações, particularmente na
rede de computadores e na expansão do
comércio mundial.

A maior circulação de produtos e


de comunicação leva à crença de
que a globalização é um fenômeno
“natural” inevitável.

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O globalitarismo
Milton Santos aborda a globalização com criticidade e reflete
sobre os interesses que acompanham esta ideia.

De acordo com Santos,


esse globalitarismo também se
Eu chamo a globalização de ”globalitarismo”, manifesta nas próprias ideias que
porque estamos vivendo uma nova fase de estão por trás de tudo. E, o que
totalitarismo. O sistema político utiliza os sistemas é mais grave, por trás da própria
técnicos contemporâneos para produzir a atual
globalização, conduzindo-nos para formas de produção e difusão das ideias, do
relações econômicas implacáveis, que não aceitam ensino e da pesquisa. Todos precisam
discussão, que exigem obediência imediata, sem a obedecer, de alguma forma, os
qual os atores são expulsos da cena ou permanecem
dependentes, como se fossem escravos de novo. parâmetros estabelecidos. Se estes
Escravos de uma lógica sem a qual o sistema parâmetros não são respeitados, os
econômico não funciona. Que outra vez, por isso transgressores são marginalizados,
mesmo, acaba sendo um sistema político.
considerados residuais,
Milton Santos
desnecessários ou não relevantes.

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É o chamado pensamento único. Algumas vozes críticas
podem se manifestar, uma ou duas pessoas têm permissão
para falar o que quiserem, para legitimar o discurso da
democracia. Só que a estrutura do processo de produção
das ideias se opõe e hostiliza novas ideias autônomas, por
conseguinte, ficando sem alternativas.
Eu chamo isso de tirania da
É uma forma de totalitarismo muito forte, insidiosa,
porque se baseia em ideias que aparecem como centrais informação, que, associada
à própria ideia da democracia – liberdade de opinião,
de imprensa, tolerância –, utilizadas exatamente para à tirania do dinheiro,
suprimir a possibilidade de conhecimento do que é o
mundo, do que são os países, os lugares. resulta no globalitarismo.
(Milton Santos, 1999)

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A globalização
no pensamento
miltoniano
No Brasil, o processo global de internacionalização da
economia se intensifica a partir de 1994 com a abertura da
economia e com o programa de estabilização monetária
implementado pelo governo brasileiro.

A interpretação miltoniana da
globalização é mais plenamente Para Santos, a globalização é, de
apresentada no livro “Por
uma outra globalização, do certa forma, o ápice do processo
pensamento único à consciência de internacionalização do mundo
universal”, publicado em 2000.
capitalista. Para entender esse
processo, existem dois elementos
Nesta obra, é realizada uma interpretação fundamentais que precisam ser
multidisciplinar e contemporânea do mundo,
observando a função da ideologia na produção da história
levados em conta: o estado das
e mostrando os limites do discurso globalizante diante técnicas e o estado da política.
da realidade vivida pela maioria das nações, sobretudo
na Ásia, África e América Latina.

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Assim como outros intelectuais, Milton Santos entende
que os avanços das ciências produziram um sistema de
Há uma tendência em separar técnicas presidido pelas técnicas da informação e que
essas passam a exercer uma função de elo entre as demais
uma coisa da outra. Daí muitas técnicas, unindo-as e garantindo a presença planetária
interpretações da história a partir desse novo sistema.
das técnicas. E, por outro lado, Ele entende também que a globalização é o resultado de
interpretações da história a partir processos políticos. É desse ponto que partem algumas
da política. Na realidade, nunca das suas críticas, pois se de um lado existe um sistema
técnico baseado na ciência, este é comandado pelo
houve na história humana separação mercado global, que controla seletivamente o uso desses
entre as duas coisas. As técnicas sistemas avançados de informação, ditando as regras e os
níveis de participação de pessoas e lugares.
são oferecidas como um sistema
utilizado através do trabalho e das
formas de escolha dos momentos e
dos lugares de uso das técnicas, das A análise do geógrafo é que o comando e
combinações entre elas. É isso que uso desses sistemas avançados deveriam
ser de outra ordem, na qual o paradigma de
fez a história. utilização do sistema fosse centrado nas
pessoas, e não no mercado.
(Milton Santos, 1999)

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