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Tem

Tem Cor
Cor

Na
Na

História
História

Tem Cor No Ensino


Tem Cor
na História
Autora Keilla Vila Flor
Santos

Ilustradores Caio Henrique


Carvalho e
Rafael Henrique
Carvalho

Revisão Ana Flávia


Magalhães Pinto
e Flávio dos
Santos Gomes

Tem Cor No Ensino


amo
Olá, eu me ch
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Flávio Gome um
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o s - d o s m ais diversos Já fui a Portugal,
acerv
o Brasil e no Espanha e Guiana Francesa,
espalhados n
exterior. além de arquivos em vários
estados do Brasil. Os textos das
páginas a seguir foram
baseados nos livros de minha
autoria – "Mocambos e
Quilombos", "De olho em Zumbi
dos Palmares" e "Palmares"
- que vocês veem ao
meu redor!

03
De África para América
O colonialismo do século XVI tem como uma das suas
bases a exploração do trabalho escravo. Os africanos
escravizados eram capturados em África e, diante do olhar do
europeu, que pouco se importava com as diversidades
culturais, religiosas e linguísticas daqueles povos, foram todos
transformados, a partir de uma homogeneidade irreal, em
“africanos”. Depois de uma longa travessia do oceano Atlântico
acorrentados e amontoados no porão dos navios, ao chegarem
no novo território, a América, tiveram que adaptar suas línguas
e seus costumes alimentares. Também plantaram, de maneira
compulsória, os mais variados grãos – café, arroz, milho, cana-
de-açúcar, algodão e mandioca.
Como forma de resistir ao trabalho escravo, os
escravizados desenvolveram várias formas de resistência:
insurreições, rebeliões, fugas e pouca agilidade na execução
das tarefas.

04
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05
Formação de Mocambos e
Quilombos
Desde os primeiros anos da escravização de africanos no
território que hoje chamamos de Brasil houve fugas. Ao
fugirem, refugiavam-se na floresta e ao longo dos anos foram
formando comunidades que aqui no Brasil, acredita-se que por
causa da colonização portuguesa, ficaram conhecidas
primeiramente como mocambos e, posteriormente, ao final do
século XVII, como quilombos. Em outras partes da América
essas mesmas comunidades receberam outras denominações
como cumbes (Venezuela), palenques (Colômbia), maroons
(Jamaica, sul dos Estados Unidos e na parte do Caribe de
dominação inglesa), maronage (Caribe de dominação
francesa) e bush negroes (Guiana Holandesa, posteriormente
Suriname).
Nas Américas Negras os africanos escravizados e seus
descendentes fugiam dos seus senhores e do cativeiro não
apenas porque eram castigados, pratica comum. Eles também
fugiam porque tinham objetivo de viver em liberdade, ocupar
território e organizar novas comunidades. O número de fugas
aumentava bastante durante a ocorrência das revoltas
coloniais, porque os escravizados viam nesses períodos
brechas no controle das estruturas de colonização e controle
de seus trabalhos. Outra grande lacuna na colonização
brasileira foram as invasões holandesas. No período em que
os holandeses controlaram parte do nordeste brasileiro o
número de fugas também aumentou bastante.
06
Os quilombos próximos ao litoral tinham a população
formada majoritariamente por africanos fugitivos recém
chegados ao continente por meio do tráfico transatlântico de
pessoas escravizadas e seus descendentes. Enquanto os
quilombos do interior do território eram compostos por
escravizados fugitivos majoritariamente nascidos no Brasil e
indígenas. As relações entre quilombos e aldeias indígenas
foram, em alguns casos, conflituosas, mas em boa parte das
vezes, de colaboração.

No Brasil, desde
as primeiras décadas da colonização,
tais comunidades ficaram conhecidas
primeiramente como mocambos e depois apresamentos
como quilombos. Eram termos da de escravizados. No século
África Central usados para designar XVII, a palavra quilombo também
acampamentos improvisados, era associada aos guerreiros
utilizados para guerras ou
imbangalas (jagas) e seus rituais
mesmo...
de iniciação. Já mocambo ou
mukambu tanto em kimbundu como
em kicongo (línguas de várias partes
da África Central), significava pau
de fieira, tipo de suportes
com forquilhas utilizados
para erguer choupanas nos
acampamentos

07
As mulheres
Tudo sobre quilombos parecia ser
descrito em masculino: as experiências, as
fugas, e os relatos. Isso levou ao
apagamento da presença das mulheres
que compunham essas comunidades.
Sobre elas, sabe-se muito pouco. A
historiadora Beatriz Nascimento destacou
pioneiramente o papel dos territórios e das
mulheres nos mocambos e quilombos.
Supõe-se que elas ficassem escondidas
no meio das florestas, que teriam sido
fundamentais para manutenção dos
quilombos e para a reconstrução destes
após ataques: elas possivelmente
guardavam o máximo de grãos que
conseguissem em seus penteados nos
cabelos e depois estes seriam fundamen-
tais para garantir a reconstrução da lavoura e a alimentação
daqueles que resistiram ao ataque.
Acredita-se que elas também ocupavam lugar de
importância nas crenças e manifestações religiosas dessas
comunidades.
Em quilombos maiores e mais estáveis, a quantidade
de mulheres era maior e suas funções não estavam restritas
à manutenção do lar, mas também à produção de artesanato,
gestão da economia e enfrentamento das tropas de
destruição de quilombos.
08
Há raras notícias
sobre a presença da mulher nos
mocambos, sugerindo equivocadamente
sua ausência ou menor importância.
Temos que lembrar que aqueles que
descreveram os quilombos –
especialmente os comandantes de
tropas – o faziam para justificar a
necessidade de sua destruição.

09
Palmares
Os primeiros registros sobre o mais famoso quilombo do
Brasil aparecem por volta das últimas décadas do século XVI.
Palmares teria se formado a partir de uma rebelião de
escravizados em um engenho próximo à vila de Porto Calvo,
na capitania de Pernambuco – atual estado de Alagoas.
Alimentavam-se do que plantavam (feijão, mandioca, batata,
milho, cana-de-açúcar, entre outros), mas também colhiam
frutos, ervas e raízes da vegetação que circundava o quilombo.
A produção de alimentos em Palmares era suficiente para
constituição de uma economia estável que possibilitava trocas
dos excedentes. Inicialmente, a população de Palmares era
composta por africanos da região do Congo e Angola.
Por causa da produção de alimentos, acredita-se que
alguns pequenos comerciantes brancos frequentavam os
mocambos a fim de manter relações comerciais.
Religiosamente, durante expedições para destruição daquele
povo, era possível encontrar elementos de influência de
práticas ritualísticas africanas, indígenas e católicas.

10
Nas primeiras décadas do século XVII, Palmares já contava
com alguns milhares de habitantes espalhados em seus
inúmeros mocambos. Alguns destes serviam como base de
treinamento militar, para defesa do território, enquanto outros
eram entrepostos comerciais.

Como definiu o mestre


Clóvis Moura, que sempre inspirou
os estudos sobre Palmares, historicamente
o quilombo aparecerá como unidade de protesto
e de experiência social, de resistência e
reelaboração dos valores sociais e culturais do
escravizado em todas as partes em que a
sociedade latifundiário-escravista se manifestou.
Era a sua contrapartida de negação. Isto se
verifica na medida em que o escravizado
passava de negro fugido à
quilombola.
O quilombo
tinha portanto como
justificativa de existir essa
resistência radical por parte
do ser escravizado, era um
módulo de protesto
organizado, o qual variava de
tamanho e de particularidades,
região, detalhes, etc. Mas sua
razão se expressava na
negação ao sistema
escravista.

11
Zumbi e Ganga-Zumba
Pouco se sabe sobre Zumbi de Palmares. Menos se sabe
sobre Ganga-Zumba.
Sobre Zumbi, provavelmente ele teria nascido escravizado
e fugido jovem para o quilombo de Palmares. Por ter se
sobressaído em batalhas e se mostrado forte guerreiro na
defesa dos mocambos, rapidamente conseguiu proeminência e
reconhecimento entre os palmaristas tornando-se uma
importante liderança. A respeito de Ganga-Zumba, suspeita-se
que ele teria sido tio materno de Zumbi. O que se tem certeza
é que ele chefiou o mocambo chamado Macaco, o mais
importante entre os mocambos de Palmares.
Por volta de 1678, o governador da capitania de
Pernambuco, após uma investida de destruição de Palmares
que teria capturado filho e sobrinhos de Ganga-Zumba, tenta
um acordo com o líder quilombola: reconhecimento da
autonomia de Palmares, liberdade para as pessoas negras
nascidas no quilombo, retorno ao cativeiro para os recém
chegados em Palmares (ou seja, pessoas que fugiram da
escravidão recentemente) e liberdade para seu filho e
sobrinhos.

12
O acordo teria sido aceito por Ganga-Zumba, mas não por
todos os palmaristas. Isso leva a uma cisão da organização
política e militar de Palmares, enfraquecendo o quilombo. Em
1695, uma última investida de destruição que contava com a
presença de bandeirantes – liderados por Domingos Jorge
Velho – Palmares foi dado como destruído. Zumbi resistiu até o
último minuto e mesmo após a destruição dos mocambos, foi
perseguido até ser assassinado em 20 de novembro de 1695.
A captura e/ou morte de Zumbi era fundamental para que as
autoridades coloniais demonstrassem seu poder.

Os Palmaristas
resistiram às inúmeras
expedições punitivas oficiais
enviadas de portugueses e
holandeses. Liderados por Ganga-
Zumba e depois Zumbi, eles
tinham uma complexa
organização econômicas,
militar e política. Mas nós
resistimos e
continuamos
existindo graças os
Tentaram
estudos, pesquisas e
nos destruir e
reflexões de Abdias
apagar nossa
Nascimento, Beatriz
existência
Nascimento, Edison
durante
Carneiro, Flávio
séculos!
Gomes, Rafael dos
Anjos e tantos
outros.

13
Eu sou Zumbi dos
Palmares e esse é Ganga-Zumba.
Neste Novembro Negro, a nossa
história foi contada por Flávio, que
representa a concretização dos nossos
sonhos de liberdade, para que vocês
percebam que nossas lutas por No passado nós,
liberdade vêm com diferentes estratégias, sempre
de longe. lutamos para manter Palmares e seu
legado. Esperamos que hoje vocês se
lembrem de nós juntos, como homens
que lutaram por liberdade. É importante
lembrar que quilombos e quilombolas
existem e resistem no presente!

14
Eu sou Ana
Flávia, professora e doutora Trabalho com pesquisas
em História. Também me sobre cidadania e liberdade
negra no século XIX. Nas próximas
formei em Jornalismo e tenho
páginas, vou apresentar quatro
muito orgulho de ser ativista homens do século XIX.
do Movimento Negro. Os textos desta cartilha foram escritos
com base nos meus livros "Escritos de
Liberdade – Literatos negros, racismo e
cidadania no Brasil oitocentista" e
"Imprensa Negra no Brasil do
século XIX".

15
O século XIX
Para estudar personalidades é preciso encaixá-las no
tempo no qual elas viveram para que suas trajetórias tenham
mais sentido. O século XIX, no qual nossos ilustres
personagens que serão apresentados nas páginas seguintes
viveram, foi marcado por um crescente aumento do número de
pessoas negras livres ou libertas. As reivindicações por
liberdade aconteciam na história do Brasil desde os primeiros
anos da colonização – como já foi possível aprender nessa
cartilha – e com os passar dos anos, essa busca ganhou novas
formas de organização: no século XVI formam-se os quilombos
e no século XIX teve início a imprensa negra. Essas duas
formas de resistência coexistem até hoje.
A imprensa no Brasil se desenvolve com a fundação da
Imprensa Régia, depois da fuga da família real de Portugal pra
cá. A partir disso, surgem jornais por todo Brasil ao longo do
século. A circulação dos periódicos impressos tornava mais
fácil a circulação de todo tipo de ideias: republicanas, defesas
ao império e ao imperador, anarquistas, socialistas, de
igualdade de gênero. Todas essas ideias estavam relacionadas
à disputa de ideias para o estabelecimento de um projeto de
nação para o Brasil recém independente. Entre essas ideias,
as de liberdade e cidadania negra.

16
Foi justamente
nesse cenário que diferentes
pensadores e literatos negros
forjaram suas trajetórias,
vivenciaram incertezas, sobretudo,
estabeleceram suas construíram entendimento do
país do qual se consideravam parte
estratégias e alianças e,
e participantes – mesmo que, não
raras vezes, tivessem esse
pertencimento atacado em
virtude de sua origem
racial.

17
José Ferreira de Menezes
A origem de nascimento de
Para aquele menino,
José Ferreira de Menezes é ou na cabeça do jovem
incerta, assim como toda a sua acadêmico, o mundo escravista era
infância. O que se sabe é que feito simultaneamente de alegria e
ele era um homem livre, filho do monotonia, poesia e tristeza –
sensações desimpedidas a quem
“preto” José Joaquim Ferreira viva a liberdade transitando e
de Menezes, tinha dois irmãos observando diferentes aspectos
(Antônio Ferreira de Menezes e do mundo à sua volta.
Claudinha Ferreira de
Menezes), que seu nascimento
pode ter sido na capital da corte
(Rio de Janeiro) ou em Angra
dos Reis. Apesar da origem
pobre, estudou em colégio de
elite. Morreu prematuramente,
antes dos 40 anos. Pela falta de
informações acerca de sua
infância, não é possível afirmar
com exatidão com quantos anos
faleceu.
No ano de 1861, Menezes partiu em uma viagem de
barco para estudar Direito em São Paulo. Na embarcação
que estava ele, um homem negro livre, também estavam
pessoas negras escravizadas acompanhadas de seus
senhores. Em sua trajetória na capital paulista, dedicou-se à
produção literária, escrevendo e traduzindo poesias, contos,
crônicas e peças teatrais.
18
José Ferreira de Menezes foi escritor, tradutor, jornalista
e advogado.. Inserido nos debates da época, assinou o
Manifesto Republicano de 1870. Foi amigo de Luiz Gama -
que vocês conhecerão logo mais - e também trabalhou em
prol da liberdade de pessoas escravizadas ilegalmente.
Diferentemente do amigo, Menezes não se afirmava
publicamente como “advogado dos escravizados”, apesar de
desempenhar esse papel. Em 10 de julho de 1880, Menezes
fundou A Gazeta da Tarde, um jornal abolicionista que nunca
lucrou com anúncios de escravizados fugitivos – que eram
muito comuns na época.

Amiga Ana,
fico feliz que tenha viajado no
tempo até o século XIX para nos
visitar! Logo mais podemos ir ate
a Gazeta da Tarde. A manchete Mas só
da semana será sua visita! se for
agora!!!!

19
Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu livre, em Salvador,
em 21 de junho de 1830. Filho de Luiza Mahin, africana e
livre, e de um homem branco de origem portuguesa. Sua mãe
se envolve em revoltas populares e desaparece em 1837,
deixando-o sob os cuidados do pai, que o vendeu como
escravizado em 1840, quando tinha 10 anos de idade.
Depois de ser vendido pelo
pai, foi levado pelo seu senhor
Entre as profissões para ser revendido no Rio de
de Luiz Gama, uma delas Janeiro e depois São Paulo.
não existe mais e a outra não
Como escravizado, trabalhou
recebe mais o mesmo nome,
respectivamente são: rábula e como sapateiro, copeiro, lavador
amanuense. Rábula é o mesmo e costureiro. Aprendeu a ler e a
que um advogado escrever aos 17 anos e aos 18
autodidata...
uma pessoa
conseguiu reunir
que não cursou a provas suficientes
faculdade de para afirmar que
direito, mas conseguiu sua escravização
licença para atuar em
razão de seus reconhecidos
era ilegal e por
conhecimentos. isso deveria estar
Amanuense é o mesmo em liberdade.
que escrivão que
desempenha trabalho
manual, ou seja, escreve
ou transcreve as
coisas à mão.

20
De volta à liberdade, Luiz vai servir ao Exército, onde
trabalhou até 1854 e foi desligado por uma suposta postura de
insubordinação. Desde que aprendeu a ler e a escrever, Gama
tornou-se apaixonado pelo mundo das leis e enquanto era
militar dedicava parte de seu tempo à profissão de amanuense
nos escritórios e gabinetes de oficiais superiores.
Durante sua trajetória, Gama compôs diversas sociedades
civis e foi ativo nos debates políticos da época, tendo composto
o partido Liberal e, posteriormente, o Republicano. Essas
experiências fizeram com que ele formasse uma extensa rede
de contatos políticos e pontes de comunicação com outros
homens negros. A escrita o aproxima do jornal Correio
Paulistano, onde passa a publicar seus textos.
Não abandona a paixão pelas leis. Ao estudá-las de
maneira independente e com muita dedicação, torna-se rábula.
Atuando em processos de liberdade e escravização ilegal, foi
responsável por inúmeros processos de libertação de pessoas
negras.
Nenhuma
pessoa negra
será Obrigado,
ilegalmente irmão Luiz
escravizada! Gama!

21
A influência de Luiz Gama
se estendeu não apenas no espaço como
também no tempo. Ele aparece como um elo e um
ponto de referência para as lutas negras
vivenciadas ao longo dos anos 1880 e no pós-
abolição em São Paulo. Tal importância teve
como lastro uma diversidade de conexões que
estabeleceu com indivíduos negros que, assim
como ele, atuaram nas disputas políticas
e culturais na década de Ao alimentar laços
1860 e 1870. de amizade, Gama deixou
pistas de como pessoas
negras livres e letradas viviam
suas experiencias de
liberdade, cidadania e
racismo.

22
José do Patrocínio
José do Patrocínio nasceu em 9 de outubro de 1853 e é
natural de Campos dos Goitacazes (RJ). Seu pai era o
vigário, senhor de muitos escravizados, João Carlos
Monteiro, homem que socialmente não era visto como
branco, e Justina Maria do Espírito Santo, uma jovem
escravizada que tinha apenas 13 anos quando Patrocínio
nasceu.
Viveu na fazenda de seu pai até os 14 anos, onde
cresceu na condição de pessoa livre e foi educado nos
colégios da cidade. Na juventude, na fazenda de seu pai, foi
agitador de insubordinações e facilitador de fugas dos
escravizados. Foi nesse período que começou a ter uma
relação conturbada com seu pai, levando-o a sair de casa.
Arrumou um emprego como caixeiro em Campos, para se
sustentar, mas foi demitido depois de um tempo, porque
segundo o seu patrão, a clientela não gostava de ser
atendida por alguém com a cor do garoto. Em 1868, muda-se
para a capital da corte, onde trabalha inicialmente como
servente na farmácia da Santa Casa da Misericórdia.
Posteriormente, forma-se em Farmácia, mas segue na
profissão por pouco tempo em decorrência da baixa
remuneração

23
Iniciou sua trajetória com publicações em jornal em 1871,
ao publicar o poema “À Memória de Tiradentes” no periódico
A República. Em 1881, assume a Gazeta da Tarde após a
morte de José Ferreira de Menezes. Por meio da imprensa
debateu e defendeu ideais de liberdade e cidadania negra e
contrapôs projetos de abolição de homens brancos influentes
na época, porque defendia que o fim do trabalho escravo se
daria por meio do investimento no trabalho livre e assalariado
e não a partir de dinâmicas legislativas.

Uma rápida
abordagem sobre José do
Patrocínio e do modo como ele buscou
construir e expor suas ideias sobre os
destinos dos negros e da sociedade
brasileira leva a encontrar, em algum
momento, com as experiências
compartilhadas por outras
personalidades negras da
época.

24
Oi,
Patrocínio! Olá, Ana!
Já viu as notícias de
hoje sobre a luta
Estou sabendo de abolicionista?
algumas, mas o senhor,
o Ferreira de Menezes e Os bons e
os outros estão sempre velhos jornais e
por dentro de tudo! literaturas, Ana! Eles nos
mantiveram conectados
e nos fizeram imortais!

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Machado de Assis
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho
de 1839, no Rio de Janeiro. Era filho de Francisco José de
Assis, homem pardo, livre, pintor de casa, e Maria Leopoldina
Machado da Câmara, nascida em Açores. Teve uma irmã
que morreu em decorrência do sarampo. Teve padrinho e
madrinha brancos, o que poderia lhe conferir vantagens
sociais, entretanto, sua madrinha – dona da casa onde
morava com sua família – morreu quando ele ainda era
criança.
Machado não conseguiu concluir os estudos regulares,
mas seus pais letrados e as experiências que teve
trabalhando desde muito jovem para ajudar nas contas da
casa após o falecimento de sua madrinha e de sua mãe
fizeram com que ele se apaixonasse pelas letras.
Nessa época, seu padrinho negro, Paula Brito, não
apenas arrumou-lhe um emprego como revisor de provas na
Tipografia Dois de Dezembro, como também foi o primeiro a
publicar os textos do jovem Machado. Com a publicação de
seu primeiro texto, Machado conseguiu formar uma extensa
rede de contatos na imprensa. Ele acreditava que os jornais e
as produções literárias tinham um papel fundamental na
educação e no projeto de construção da nação. Foi por causa
das folhas dos jornais da época que boa parte das produções
do autor foram preservadas e chegaram até nós.

26
Ao longo da vida ocupou o cargo de censor teatral do
Conservatório Dramático Brasileiro; recebeu de Dom Pedro II
o grau de cavaleiro da Ordem da Rosa, em 1867; assumiu o
cargo de funcionário público do Ministério da Agricultura,
Comércio e Obras Públicas em 1873; e fundou a Academia
Brasileira de Letras.
Sou eu
mesmo, Ana! Os rapazes
Que curioso! me avisaram que você
Vou fazer estava em nosso século
Uma estátua de
uma selfie, senão e eu resolvi pregar-lhe
Machado de Assis uma peça!
ninguém vai
em pleno século acreditar! Ohh...
XIX.

Chama-se Mas, Ana,


celular! E com as o que é isso
redes de contatos
que estás a
que vocês formaram,
as vezes penso que segurar?
vocês conheciam
tecnologia mais
avançada!

27
Essa fé nos jornais, aliais, ganhou
outras demonstrações empíricas nas trajetórias
de Luiz Gama, Ferreira de Menezes e José do
Patrocínio a partir dos anos 1860. Traço que aproxima as
trajetórias dos personagens centrais desta narrativa, a
aposta pessoal, política e profissional na imprensa,
entretanto não figura como um único elo entre eles. (...) A
tensão vivida nesse jogo de “me veja, mas não me
enxergue” me parece, justamente, a chave para
entender as múltiplas tentativas de saída
individual empreendidas pelas pessoas
aqui estudadas.

28
Na condição
de ancestrais, nós
A liberdade estamos protegendo
é uma luta constante as vossas
e estamos felizes caminhadas!
e Nós
olt que vocês façam
a , v ao a estamos orgulhosos
An pre par parte dela.
m
se XIX ar! dos trabalhos de Vocês
lo isit vocês e outros são o já
cu v s anc
sé nos historiadores! próxim e str ais da
as ge s
Sigam raçõe
Flávio, fazen s.
bom tr do um
foi ótimo tê-lo no abalh
o!
século XVII.
Volte sempre!

Eu espero
Ana Flávia, que sim. Nós
eu adorei nossa continuaremos fazendo
conversa. Será que de tudo para manter
nossos antepassados
viva a memória
estão satisfeitos
sobre eles!
conosco?

29
Apresentadores desta edição:

Ana Flávia Magalhães Pinto


Jornalista, doutora em História e professora da
Universidade de Brasília

Flávio dos Santos Gomes


Doutor em História e professor da Universidade
Federal do Rio de Janeiro.

Tem Cor No Ensino


Em memória dos pesquisadores
citados nesta cartilha:

Abdias do Nascimento
Professor, artista plástico, ator, dramaturgo e ativista
pelos direitos da população negra.

Clóvis Steiger de Assis Moura


Historiador, sociólogo, jornalista e escritor.

Tem Cor No Ensino


Em memória dos pesquisadores
citados nesta cartilha:

Edison de Souza Carneiro


Etnólogo, escritor e foi
militante do Partido
Comunista Brasileiro.

Maria Beatriz Nascimento


Historiadora, professora, poeta
e ativista pelos direitos da
população negra.

Pesquisador mencionado:
Rafael Sanzio Araujo dos
Anjos
Geógrafo e professor da
Universidade de Brasília.

Tem Cor No Ensino


Bônus
nos caminhos pela
História
Quando eu
tinha 22 anos, em 1986,
visitei a Serra da Barriga, em
Alagoas, onde o quilombo de
Palmares está localizado. Fui
acompanhado de Stokely
Carmichael e do professor
Luiz Alberto Pena.

Fonte: acervo pessoal de Flávio

Stokely
Standiford Churchill
Carmichael foi
ativista pelos direitos
civis nos EUA.
Nasceu em Trinidad
e Tobado e faleceu
em 1998 em
decorrência de um
câncer.

Tem Cor No Ensino


Bônus
nos caminhos pela
História
Vocês já
tentaram imaginar
como era a letra
desses homens
que escreviam
tanto?
Essas são as
as assinaturas dos nossos
escritores. A primeira, de
Machado de Assis; Luiz Gama
Fonte: Wikipédia logo abaixo; em seguida, a
rubrica de José Ferreira de
Menezes; por fim, a de José do
Patrocínio.

Fonte: Arquivo do Estado de São Paulo (AESP).

Fonte: Biblioteca Nacional

Fonte: Biblioteca Nacional

Tem Cor No Ensino


"Referências de balão":
Referências dos balões de falas Referências dos balões de falas
de Flávio dos Santos Gomes de Ana Flávia Magalhães Pinto.
Página 03: apresentação formulada pelo próprio autor em Página 17: PINTO, Ana Flávia Magalhães. Escritos de
uma troca de e-mails. Liberdade: literatos negros, racismo e cidadania negra no
Brasil oitocentista - Campinas: Editora da Unicamp, 2018,
Página 05: GOMES. Flávio dos Santos. Mocambos e p. 23
quilombos: Uma história do campesinato negro no Brasil -
São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 01 Página 18: _____________ p. 39

Página 07: _____________ p. 02 Página 22: _____________ p. 97


(com adaptações)
Página 09: _____________ p. 16
Página 24: _____________ p. 137
Página 11: MOURA, Clóvis. A quilombagem como expressão (com adaptações)
de protesto radical. Os quilombos na dinâmica social do
Brasil. Maceió: Edufal, 2001, pp. 103-4. Página 27: _____________ pp. 147 e 148
*A definição dada por Moura aparece citada no livro
"Palmares: escravidão e liberdade no Atlântico Sul", escrito *Os demais balões de fala foram fruto da imaginação da
por Flávio Gomes. autora.

Página 13: GOMES. Flávio dos Santos. Mocambos e


quilombos: Uma história do campesinato negro no Brasil -
São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 38

*Os demais balões de fala foram fruto da imaginação da


autora.

Referências Bibliográficas
GOMES, Flávio dos Santos. Palmares: ANJOS, Rafael Sanzio de Araújo dos. Territórios das
escravidão e liberdade no Atlântico Sul - São comunidades remanescentes de antigos quilombos no
Brasil: primeira configuração espacial, 2000.
Paulo: Editora Contexto, 2005. ____________ Quilombos: geografia africana,
_________ De Olho em Zumbi dos Palmares cartografia étnica, territórios tradicionais, Mapas Editora &
- São Paulo: Claro Enigma, 2011 Consultoria, 2009 (2ª ed.)
_________ Mocambos e quilombos: Uma CARNEIRO, Edison. O Quilombo dos Palmares. (3ª ed.). Rio
de Janeiro, Civilização Brasileira, 1966.MOURA, Clóvis. Os
história do campesinato negro no Brasil - São
Quilombos e a Rebeldia Negra. São Paulo, Brasiliense, 1981.
Paulo: Companhia das Letras, 2015. MOURA, Clóvis. Rebeliões da Senzala. Quilombos,
PINTO, Ana Flávia Magalhães. Imprensa Negra insurreições e guerrilhas. Rio de Janeiro, Ed. Zumbi, 1959.
no Brasil do século XIX - São Paulo: Selo Negro, NASCIMENTO, Abdias. O Quilombismo. Petrópolis, Vozes,
2010. 1980
NASCIMENTO, Beatriz. Beatriz Nascimento: intelectual e
_________ Escritos de Liberdade: literatos
quilombola – Possibilidade nos dias de destruição. São
negros, racismo e cidadania negra no Brasil Paulo: União dos Coletivos Pan-Africanistas (UCPA), 2018.
oitocentista - Campinas: Editora da Unicamp,
2018. Tem Cor No Ensino
Produção da Cartilha

Keilla Vila Flor Santos Caio e Rafael Henrique


Mestranda em História pela Carvalho
Universidade de Brasilia, São irmãos. Caio tem 14 anos e
professora de história e Rafael tem 13 anos. Os dois estão
autora desta cartilha no ensino fundamental II e foram
os ilustradores dessa cartilha com
a autorização de seus responsáveis.

Outros componentes do projeto:

Nonny Gomes Vinícius Machado Jonas Silva

Tem Cor No Ensino

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