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Não existe ano que não acabe. Nem hoje que não vire ontem.

Se o

tempo só vai pra frente, pra que atrasar os ponteiros? Ou engatar

marcha-ré ladeira abaixo? Entenda de uma vez, antes que seja tarde

demais: olhar pra trás enxergando o que passou é ordem imediata

pra se desprender – do ontem, da mágoa, do que foi. Isso mesmo!

Levantar âncora, bater a poeira, virar a página e seguir em frente no

roteiro da sua vida digna de um épico “feliz para sempre”. Está longe

disso? Ora, então é porque não chegou ao fim. E ponto final. Ou

vírgula, de uma poesia que avança recitada por Deus.

Pelo menos eu, quando penso no que larguei pra trás, fico pasmo

perante tantas performances. Sobre o palco do meu ano que me

equilibrei, sapateei, talvez até esperneei. Convivendo com tantos

seres, alguns visíveis e muitos invisíveis, vi coisas boas e más.

Conheci pessoas do bem e me chateei com os anjos do mal. E nesta

dança de passos trôpegos, chamada “sobrevivência”, até acertei o

ritmo das intenções heróicas, mas perdi o rebolado nas atitudes

humanizadas. Pois já que tudo o que o ser humano põe o dedo vem

com pecado junto, erraram muito comigo – e como! – só que eu

também errei muito com outros – nem fale!


Ok, e agora? Ficar remoendo as pedras de tropeço ou mirar o

horizonte de seus anseios mais nobres? Olhar pessoas ou sentir com

a alma? Eu ainda acredito que aquilo que machuca o coração é o que

amadurece o caráter. Não dos que usaram de má fé contra você, e

sim, da sua fé superficial que se tornou abissal, profunda e grandiosa.

Ou você acha que o tamanho de um grão de mostarda se conquista

sem angústia, silêncio e incoerência? Nem pensar! Do lado de cá do

Céu, o Getsêmani de cada um de nós sempre incluirá o beijo da

traição, a solidão da madrugada e a perseguição incompreensível.

Com uma diferença: o Salvador estava acima de qualquer suspeita, e

nós rastejamos bem abaixo da natureza perfeita.

Portanto, julgue a si mesmo bem antes de se tornar algoz alheio. Se

pegaram no seu pé, ofereça a mão. Tombou? Reinvente-se de

joelhos dobrados superando a frustração da rasteira. É na luta com

Deus que se ganha a batalha dos homens. Se Ele é capaz de por

rédeas aos ventos regendo a força dos mares, não surpreenderá

norteando sua preciosa vida? Não duvide: o melhor de tudo está

sempre um pouco adiante! E no abraço dos Céus você ressurgirá das

cinzas desta Terra.


Quando lembro que, tempos atrás, quase perdi as duas pessoas que

mais amo no mundo – minha esposa e filha – sinto um calafrio

imediato despertando minha apatia. Reclamar do quê? Passar de

raspão na terrível possibilidade de lamentar num cemitério enxuga

imediatamente qualquer lágrima provocada por outros seres mais

falíveis. Se Deus libertou nossa família da tragédia de um acidente,

por que eu iria me incomodar com um sapato apertado? Jamais! À

sombra do muito pior, não deixarei que o melhor estrague o

maravilhosamente bom. Se minha vida está sob as vistas do Senhor,

valorizarei os alicerces firmes da minha felicidade ainda que a tinta do

arranha-céu pareça um tanto pichada. Afinal de contas, “todas as

coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus e são

chamados segundo o SEU propósito” (Romanos 8:28 – grifo

acrescentado e importantíssimo!).

E você? Precisa se desamarrar dos outros, ignorar certas coisas, e

re-iniciar seu hard-disk de boas lembranças? Não permita que a

esperança seja eclipsada pela irrelevância. Aqui na minha sala, com

uma princesa no colo e uma rainha nos braços, percebo a verdadeira

benção do meu ano. Olhando pra cima, e até um pouco

envergonhado, agradeço a Deus por me “desconsiderar algumas

vezes” me considerando tanto em todas as outras. Se o que não deu


certo foram apenas arranhões, o que deu certo nos átrios da

providência divina foi tão incrível cujo reconhecimento não cabe nas

palavras.

Obrigado, Senhor! Por sempre me amar como não faço por merecer.

Por um ano infinitamente além da minha visão de aquém. E pela vida

eterna que ficou ainda mais próxima após este 2013.

Em família. Que é tudo.

Pr. Odaílson Fonseca

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