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I.S.A.L.

Instituto Superior de Administração e Línguas

Licenciatura em Turismo

Colégio Jesuíta do Funchal

Funchal 2020
I.S.A.L. Instituto Superior de Administração e Línguas

Licenciatura em Turismo

Colégio Jesuíta do Funchal

Discente: Élio Fernandes,


Docente: Prof. Diogo Goes
Unidade Curricular: História de Arte

Funchal 2020
INDÍCE

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 1

2. REVISÃO DE LITERATURA - COLÉGIO DOS JESUÍTAS ...................... 2

2.1. HISTÓRIA ................................................................................................... 2

3. CARACTERÍSTICAS ARQUITETÓNICAS .................................................. 8

4. CONCLUSÃO................................................................................................... 11

5. BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 12
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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho foi realizado no âmbito da disciplina de história de arte do 2º ano


do curso de Turismo do ISAL. Na temática aqui desenvolvida centrei a minha atenção
no colégio dos Jesuítas pela sua importância histórica, visto ser um dos edifícios mais
emblemáticos da cidade do Funchal.
O ataque feito por uma esquadra francesa, em 1566, conduziu à
visita de três padres jesuítas à ilha com a missão de animar a população
e ver se as crenças religiosas dos madeirenses não tinham sido afetadas.
Como esta visita teve tanto êxito, surgiu uma ordem em 1569 para se
estabelecer um colégio da Companhia na ilha.

Por mais de 400 anos teve vários visitantes importantes, desde os Jesuítas que
edificaram o conjunto histórico para propagar a fé cristã, passando pelos invasores
ingleses e pelos militares que aqui se instalaram durante mais de um século, até chegar
aos nossos dias como sede da Universidade da Madeira.
A Associação Académica da Universidade da Madeira, instituição atualmente
integrada neste conjunto arquitetónico, veio implementar um conjunto de ações para
dar a conhecer este importante monumento secular à população e aos seus visitantes,
nomeadamente:
• Circuito de visitas autónomas ao exterior do edifício, no qual é fornecido
um desdobrável gratuito em 7 idiomas (português, inglês, francês,
alemão, espanhol, russo e mandarim);
• Visitas guiadas e exposições periódicas;
O corpo do trabalho é composto por uma revisão de literatura, tentámos reunir o
essencial dos textos consultados (artigos de enciclopédias, revistas e jornais científicos
especializados) expondo a matéria de modo suficientemente abrangente e profundo,
tentando proporcionar uma abordagem prática e esclarecedora do tema, sem, contudo,
deixar de atender à especificidade e ao rigor indispensáveis.

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Tal como acontece com a maior parte dos trabalhos, o conteúdo deste trabalho
deverá ser compreendido tendo em conta as suas limitações, falta de artigos sobre o
tema e características do próprio trabalho.

2. REVISÃO DE LITERATURA - COLÉGIO DOS JESUÍTAS

O edificado do Colégio dos Jesuítas do Funchal foi construído no seculo XVII


pela Companhia de Jesus, o templo marca a transição no país do estilo Maneirista para
o Barroco, marcado por grande manifestação decorativa. Sofreu, ao longo dos seus
mais de 400 anos de existência, inúmeras obras e adaptações. Este imóvel é o maior
conjunto edificado regional até aos finais do séc. XX. No início, foi colégio, depois,
passou a escola militar, seminário, quartel e escola regimental, escola secundária,
escola superior de educação e reitoria da UMa1.

2.1. HISTÓRIA

À exceção das visitas esporádicas de alguns Jesuítas a caminho das Índias ou do


Brasil, os primeiros padres da Companhia a deslocarem-se à Madeira foram Francisco
Varga, Francisco Gonçalves e Simão Tavares ( FRUTUOSO , 1998). Chegaram com
o futuro capitão donatário do Funchal, João Gonçalves da Câmara (1541-1580), na
armada de socorro enviada após o saque perpetrado por corsários franceses em 1566,
como homens sempre e tradicionalmente prontos para a ação, onde quer que houvesse
perigos e necessitados. Estes piedosos sacerdotes ficaram cerca de um ano no Funchal,
acompanhando a população naqueles difíceis momentos e aproveitando para pregar as
suas ideias. O momento não poderia ter sido mais propício para a primeira
apresentação da Companhia na ilha.

Com o notável êxito da estadia dos Jesuítas que acompanharam a armada de


socorro, estavam criadas as condições para a criação de um colégio na cidade do
Funchal. As diretivas gerais da Companhia em Roma não iam nesse sentido, mas a

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Universidade da Madeira

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ação desenvolvida pelos quadros máximos da congregação em Portugal, os irmãos


Luís (1518-1575) e Martim Gonçalves Câmara (c. 1539-1613) e o P.e Leão Henriques
(c. 1520-1589), que tinham pedido autorização (negada) para embarcar na armada de
socorro, em conjunto com a vontade expressa várias vezes pelo jovem D. Sebastião e
pelo cardeal infante D. Henrique, permitiram que se desse imediatamente início às
formalidades da montagem de um colégio, sendo a carta régia de fundação assinada a
20 de agosto de 1569 (CARITA, 2016)

O grupo destacado para a fundação do colégio na Madeira, tendo como superior


o Padre Manuel de Sequeira (1533-1595), chegou à ilha em março de 1570, depois de
ter sido retido em Lisboa por um surto de peste que ali grassava e que acabou por
impedir a entrada imediata no Funchal, ficando de quarentena fora da cidade, em casas
oferecidas pelo fidalgo Fernão Favila (1536-1601), nas imediações da capela de N. S.ª
da Ajuda. Tendo passado os dias de isolamento obrigatórios afastados da cidade,
acabaram por se demorar ali alguns meses, antes de se instalarem nas casas da câmara
municipal, anexas à capela de S. Sebastião, também da administração do senado
camarário e onde funcionou provisoriamente o colégio. As aulas abriram com certo
aparato, a 6 de maio de 1570, dia em que se evocava o martírio de S. João Evangelista,
que passou a ser o patrono do estabelecimento.

Em maio de 1574, o reitor Manuel de Sequeira anunciava para Roma a


localização desse quarteirão, no outro lado da R. Direita e mais para o centro da cidade,
como o ideal para a edificação do colégio. Reunia o local as condições necessárias de
sossego, de afastamento do reboliço do centro do Funchal, muita água e bons ares,
situando-se, ao mesmo tempo, no que então se entendia ser o “meio da cidade”, logo
com fácil acesso da população e escolares à futura igreja e colégio (ARSI, Lusitânia,
LXVI, fl. 140). Resta acrescentar que deve datar dessa época, entre 1578 e 1590, a
primeira obra verdadeiramente permanente do futuro conjunto: a torre do colégio. Esta
ainda apresenta internamente o compartimento superior, o chamado “andar dos sinos”,
coberto por abóbada de nervuras, ao gosto dos meados e finais do séc. XVI. A obra
integra-se mal na atual igreja, iniciada somente em 1629, provavelmente segundo
traça, entretanto ampliada, de Mateus Fernandes (c. 1540-c. 1597), pois que era o
mestre das obras reais, realizada entre 1578 e 1595.

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Segundo CARITA (2016), os arquitetos romanos da Companhia tentaram


estabelecer uma planta-tipo que respondesse às principais necessidades de um colégio,
assunto que chegou a ser colocado na 3.ª Congregação Geral dos Jesuítas, em 1573,
pela província de Nápoles.

Com efeito, o colégio foi inicialmente previsto com um pátio e tem hoje dois, de
campanhas de obras diferentes; a capela-mor da igreja entra francamente num dos
corredores do colégio, sinal de ter havido dificuldades de articulação geral do espaço;
a torre da igreja não se integra nem com a mesma nem com o colégio, parecendo, pelos
pormenores de construção, ser anterior a todo o conjunto; etc. No mesmo sentido, um
ou dois dos visitadores mandaram iniciar as obras sem que houvesse aprovação para
tal do geral da Companhia, em Roma, alegando que a autorização viria depois.

Esta previa, apenas a zona de serviços do estabelecimento, com arrecadações,


entradas e respetivos controlos, as portarias, refeitórios e anexos (as cozinhas deveriam
ser exteriores), e pouco mais. No piso superior, deveriam ficar as celas dos religiosos,
a biblioteca e as salas de aulas. A planta da igreja é muito simples: apresenta ainda três
naves, marcadas no desenho por cinco pares de colunas, tem três portas na fachada,
não tem capela-mor definida e é sem transepto ou com transepto inscrito. Na verdade,
na planta, o transepto está sugerido por um ponteado entre os dois últimos pares de
colunas, talvez indicando uma alteração do tipo de cobertura, e a capela-mor está
assinalada pelo desenho dos altares, um mor e dois colaterais. Não existem outros
altares ou capelas nas naves. Para o lado da R. dos Ferreiros, marcaram-se janelas e,
para o pátio, as portas. Com as diretivas do Concílio de Trento2, de que foram fiéis
executores os membros da Companhia, foram eliminados de base os luxos e as
decorações, tentando-se a máxima simplicidade e eficiência nos edifícios religiosos.

Em 1629 iniciaram as obras da igreja do colégio, dedicada a S. João Evangelista,


o espaço inicialmente destinado era exíguo, tomando a construção uma ala do pátio
que lhe ficava anexo, assim como as salas para norte e acabando, inclusivamente, por

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realizado de 1545 a 1563, foi o 19º concílio ecumênico da Igreja Católica. Foi convocado pelo Papa
Paulo III para assegurar a unidade da fé e a disciplina eclesiástica,[1] no contexto da Reforma da Igreja
Católica e da reação à divisão então vivida na Europa devido à Reforma Protestante, razão pela qual é
denominado também de Concílio da Contrarreforma. O Concílio foi realizado na cidade de Trento, no
antigo Principado Episcopal de Trento, região do Tirol italiano.

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o próprio camarim do altar-mor ficar saliente no atual corredor das antigas capela e
biblioteca. Este planeamento previa somente um conjunto de edifícios à volta de um
pátio, depois “pátio dos padres”, com uma igreja simples. Com a expansão da igreja,
uma das construções mais notáveis que existe na ilha, terá vindo a edificação do
segundo pátio, a norte, o “pátio dos estudantes”, contemporâneo ou até anterior à
construção da igreja (1629), uma vez que o portão das aulas, que com certeza ficava
anexo ao conjunto edificado, dando para a cerca e R. dos Ferreiros, tem a data de 1619.
A torre foi levantada entre 1578 a 1590 e a de ala do Castanheiro foi construída entre
1595 e 1599.

Segundo Carita (2013), a primeira ala a ser construída foi a que corre sobre a R.
do Castanheiro e de que ficaram inúmeros pormenores dos finais do séc. XVI e,
provavelmente, também elementos que podem ser anteriores e que foram
reaproveitados, como a pequena janela de molduras de cantaria chanfrada, hoje nas
escadarias que ligavam os corredores à antiga capela interior e no piso térreo da rua
citada. Em toda essa ala ficaram pormenores, no piso térreo, de ombreiras de portas,
provavelmente de 1599. O andar superior, no entanto, deve ser já do séc. XVII e,
provavelmente, pode ter sido alteado ao longo dessa centúria ou mesmo nos inícios de
Setecentos. Uma das campanhas mais interessantes envolveu a fachada ao pátio dos
estudantes, que, nitidamente, foi desmanchada e remontada 2 m para dentro do pátio,
tendo o piso térreo, do séc. XVI/XVII, ficado semi-emparedado. O andar intermédio
manteve a mesma escala intimista e nos inícios do séc. XVIII, o conjunto terá sido
dotado com mais um andar.

A descrição corresponde assim ao edifício que temos hoje, sinal de que, depois
dos Jesuítas, os militares que ali estiveram, ao longo de quase 200 anos, não alteraram
significativamente as estruturas e linhas gerais do imóvel. A fachada ao longo do atual
Largo do Município mantém também as linhas gerais, com o corredor da portaria, com
um piso térreo e um intermédio, que deve ter sido construído por volta de 1665, ainda
havendo um outro superior. Teve um remate em frontão sobre o final do chamado
“corredor grande”, que percorre todo o edifício ao longo da R. do Castanheiro, mas
que desapareceu nos finais do séc. XIX, restando apenas algumas fotografias. Teve
igualmente um alpendre, no acesso à portaria, coberto por coruchéu, como existe em
quase todos os restantes colégios portugueses e de que ficou uma gravura inglesa dos
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inícios do séc. XIX (CARITA, 2016). Esse alpendre terá desaparecido com as obras
de 1835, quando também desapareceu a ampla escadaria, a pedido da CMF, para
ampliar a então Rua do Ouvidor. (DA SILVA & MENESES, 1998)

Na fachada sobre a Rua dos Ferreiros subsiste o antigo “portão das aulas”, o
elemento datado mais antigo do colégio (1619) e que está dotado das armas reais
portuguesas, e também ainda subsiste o antigo campanário das aulas, a rematar este
corredor. Os dois corredores perpendiculares (o da livraria e da capela e o dos
lavatórios) são realçados na fachada da Rua dos Ferreiros, em relação ao corredor do
eirado, por frontões rematados com pináculos e que, pela sua elegância, nos parecem
mesmo de meados desse séc. XVIII. Interiormente, ainda mantêm as conversadeiras,
com bancos de encosto de madeira, o mesmo acontecendo ao longo desse corredor em
algumas das salas voltadas para a Rua dos Ferreiros e para o pátio dos estudantes, do
corredor dos lavabos, mas mais pequenos e sem os encostos de madeira.

A fachada sobre a atual Rua dos Ferreiros deve ter conhecido pelo menos três
campanhas de obras. A primeira terá decorrido no séc. XVII e dela, em princípio,
somente restam, no interior do edifício, junto à fachada norte desta ala, hoje no pátio
dos estudantes, vestígios de portas e janelas, deixadas ficar nas obras de reabilitação
de 2000 e 2001 como elementos de memória, e também uma janela no piso superior,
geminada, que se afasta muito de todo o restante conjunto. Entre os finais do séc. XVII
e os primeiros anos do XVIII deve-se ter reconstruído este corpo, dotado de três portas,
no piso térreo de um conjunto monumental, que devem ter sido muito afetadas pelo
terramoto de 1748. Depois do terramoto, todo o conjunto deve ter tido obras,
reformulando-se as grandes janelas do final dos corredores, rematadas à Rua dos
Ferreiros por frontão triangular e pináculos, com o emblema da Companhia em estuque
relevado, infelizmente só reconhecível pela cartela3.

Pelas evidências nas cantarias das antigas portas, os panos laterais do conjunto
terão tido grades de ferro fixas e, o central, móveis, sem portadas de madeira. Como
nos restantes colégios, terão tido, com certeza, alpendres. Todo o lintel do conjunto
era formado por dupla fiada de cantaria rija insular e sofreu, entretanto, um grande

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Elemento decorativo oval ou oblongo com uma face ligeiramente convexa, tipicamente emoldurado
por um floreio em forma rolo. É utilizado para abrigar uma pintura ou um baixo relevo

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desastre, pelo que desapareceram os tramos centrais das cantarias e toda a estrutura
ficou desaprumada. Tudo leva a crer ter sido no grande tremor de terra do dia 31 de
março de 1748 que os lintéis caíram e a estrutura cedeu.

A preparação da operação de encerramento do colégio da Madeira iniciou-se


com o afastamento da ilha do então governador Manuel Saldanha da Gama (1712-
1771) e a apresentação do novo bispo diocesano, D. Gaspar Afonso da Costa Brandão
(c. 1720-1784), o qual, segundo as leis de então, assumiu o lugar de governador
interino. A preparação teria sido meticulosa, pois só perto de dois anos depois chegava
o novo governador. Não teria sido corretamente avaliada a situação em que se
encontrava a Companhia, nem pelos Jesuítas da Madeira, nem pelos do continente,
quando tudo apontava para um conflito iminente.

A prisão dos padres da Companhia na Madeira foi toda preparada em Lisboa,


pois tendo a nomeação do governador José Correia de Sá ocorrido a 17 de maio de
1758, este apenas se apresentou no Funchal a 27 de maio de 1759, mais de um ano
depois, já com todas as instruções na sua posse, recebendo então o governo do bispo
referido. Durante o ano de prisão dos Jesuítas no edifício, foram confiscados todos os
documentos aí existentes e a biblioteca; nas várias residências destes padres na
Madeira, tudo foi retirado. Simultaneamente, foram inventariados os seus bens, em
especial os das três quintas, que foram vendidas depois, num processo complexo. O
espólio religioso do antigo colégio foi, entretanto, transferido para outras igrejas,
dando-nos disso testemunho os sucessivos inventários.

Segundo CARITA (2016), em 1768, o colégio foi utilizado para servir de aula
militar e, dez anos depois, doado para seminário, tomando a diocese posse do mesmo
a 22 de setembro de 1787). Mas com a invasão inglesa de 1801 e a utilização do colégio
para aquartelamento, o edifício não voltou à posse da diocese. Ali seria instalado o
batalhão de artilharia, em 1802; em seguida, entre 1808 e 1814, as novas tropas
inglesas de ocupação; após a saída das mesmas, o batalhão de infantaria do Funchal,
que somente viria a sair dali para as novas acomodações em São Martinho, estas
inauguradas a 31 de outubro de 1970.

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3. CARACTERÍSTICAS ARQUITETÓNICAS

A igreja de São João Evangelista. Mostra um Templo jesuíta típico, com uma
arquitetura religiosa educativa, maneirista e barroca. Tem uma grande e alta nave
única, falso transepto e larga e profunda capela-mor, perfeitamente em evidência. A
nave da igreja é bordeada de capelas laterais, iguais e comunicantes, isoladas da nave
por balaustrada de madeira torneada, sobre as quais corre uma passagem embutida na
parede, com janelas e balcões, ao nível do coro, que cobre a entrada, com
correspondência ao mesmo nível no piso que percorre as capelas colaterais e a capela-
mor. A nave e o sub-coro são cobertas por teto de madeira pintado, enquanto todas as
capelas são cobertas por abóbadas maneiristas de berço em pedra. Este esquema
arquitetónico foi definido em Portugal antes dos finais do século XVI e divulgado por
todo o Mundo por onde os missionários jesuítas espalharam a Palavra de Cristo e os
Ensinamentos do Concílio de Trento, devendo ser um dos esquemas arquitetónicos
mais divulgados de sempre. A Igreja deve ter sido desenhada inicialmente por Mateus
Fernandes (III), por volta de 1590-95, sob as diretivas dos jesuítas, altura em que se
levantou a torre, a obra mais antiga do conjunto, sendo, entretanto, ampliada e a
primeira pedra foi lançada em 1624. As paredes estavam levantadas por 1630, segundo
a Insulana de Manuel Tomás. O principal recheio da igreja de São João Evangelista do
Funchal é o seu conjunto de retábulos de talha dourada, datados de 1647, 1648, 1654
e 1660. São atribuíveis à oficina de Manuel Pereira, ativa no Funchal entre 1632 e
1670 e, os das quatro capelas laterais sobre a entrada, muito provavelmente à do seu
filho, Manuel Pereira de Almeida, ativa nos finais do século XVII. O altar-mor é
considerado uma das joias da talha madeirense desta época, tendo sido levantado em
1646/47 e depois reformulado em 1660, data que ostenta ao lado do amplo sacrário de
talha, para integração de um "trono" ou "camarim", para exposição do Santíssimo.
Integram ainda esta capela duas importantes tábuas pintadas: um Presépio, à esquerda,
do lado do Evangelho, atribuível a uma oficina flamenga, "tenebrista", dos anos 20 do
século XVI e, do lado oposto, da Epístola, uma Adoração dos Reis Magos, atribuível
à escola de Veneza (Veronezo ), ou de Roma (Lourenço de Salzedo, pintor da rainha

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D. Catarina) e datável à volta de 1570. Entre as restantes capelas laterais é de destacar


a das 11 Mil Virgens, datada de 1654 e com um belíssimo retábulo-relicário. A tapar
este retábulo existia uma grande tela representando o Martírio de Santa Úrsula, a figura
principal das onze mil virgens de Colónia, hoje no Museu de Arte Sacra, para que se
possa admirar o relicário. Pelas capelas do falso transepto existe acesso à sacristia, a
O. e aos serviços das confrarias, a E., sendo a Igreja fechada a N. por corredor lajeado
com acesso à Rua dos Ferreiros e à torre e camarim do altar mor. A sacristia é um dos
conjuntos mais notáveis insulares e mesmo da arte sacra portuguesa. As sacristias das
igrejas dos arquipélagos insulares, assim como do Brasil, eram especiais espaços
sociais onde decorriam alguns dos mais importantes atos da vida das pessoas, como os
registos de batizados, os contratos de casamentos e os registos dos óbitos, com a
abertura dos testamentos. Assim se IGREJA DE SÃO JOÃO EVANGELISTA
compreende a importância cerimonial com que foram executados muitos destes
espaços. Este espaço é dominado por enorme armário paramenteiro com tampo de
jacarandá e alçado de talha dourada e policromada executada pelos entalhadores Julião
Fernandes das Ilhas (dos Açores) e Agostinho Pereira de Almeida, por volta de 1730.
No alçado foram integradas quatro telas mais antigas, dos meados ou finais do século
XVII, executados por pintores da companhia de Jesus (Domingos Cabrinha?) e dois
painéis já dos inícios do século XVIII, ocupando as testeiras, representando milagres
atribuídos aos santos da Companhia. As paredes são ainda ocupadas por azulejos de
uma oficina de Lisboa dos princípios do século XVIII e três magníficos armários de
parede, em madeiras exóticas brasileiras, com molduras de mármores embutidos, ao
gosto italiano, geralmente designado como "entársia" e ainda por painéis de "escaiola".
O teto é pintado e, a meia altura, existe uma coleção de pinturas sobre a vida da
Virgem, atribuíveis às oficinas de Avelar Rebelo e Bento Coelho da Silveira, ou
similar, na transição do gosto e técnicas do século XVII para o XVIII. Na sequência
da sacristia ainda existe um pequeno compartimento com o lavabo e os iniciais
toalheiros, ante e post missam, decorada com bons painéis de azulejos, e uma outra
sala mais ampla, onde dantes se guardava o tesouro da Igreja, e então conhecida como
a Casa da Prata. Ainda apresenta esta Igreja um excecional conjunto de azulejos das
oficinas portuguesas de Lisboa, representativos das produções entre os meados do
século XVII (policromos) e os meados do XVIII (azuis e brancos). Na nave existem

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grandes urnas decoradas com versículos do Apocalipse de S. João Evangelista, patrono


da Igreja, no coro painéis com anjos músicos e na sacristia cenas profanas paisagens e
caçadores. Curiosamente, na capela da Conceição, no sub-coro, ainda existe um
interessante painel, provavelmente da campanha de obras de 1849, com pintura
imitando azulejos, demonstrativa da excecional continuidade deste tipo de gosto na
arte portuguesa.

Exteriormente

A frontaria apresenta-se imponente, mas de simples e harmonioso traçado. A


fachada é ritmada por pilastras criando três corpos (dois laterais e um central) divididos
em três pisos. No piso térreo rasga-se o pórtico central de arco pleno, rematado por
frontão curvo aberto, sendo ladeado por colunas com pedestais. Nos flancos destes
abrem-se duas portas com o mesmo tipo de enquadramento, só que encimados por
frontões triangulares. Nos corpos das torres rasgam-se dois nichos que albergam as
esculturas de Santo Inácio de Loyola e de S. Francisco Xavier. O piso intermédio é
delimitado por duas cornijas ressaltadas e, axialmente, surge-nos uma estrutura
ornamental tratada como pórtico - com colunas e frontão curvo, que se divide em dois
setores; no superior, as janelas e no inferior o monograma esculpido da Companhia de
Jesus. Ladeiam esta composição quatro janelas de sacada sobrepostas (duas de cada
lado), apresentando verga saliente a sublinhar o duplo andar das janelas.

O último piso é rematado por empena triangular coroada por cruz latina. Ostenta
ao centro o escudo de armas do reino, inscrito em moldura pentagonal, tocando esta
na janela que se abre logo abaixo. No eixo das janelas duplas surgem dois nichos, onde
se encontram duas esculturas que representam S. Francisco de Borja e Estalisnau
Kostka.

Os corpos laterais são rematados por balaustrada interrompida com pináculos na


continuação das pilastras.

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4. CONCLUSÃO

Este trabalho é o culminar de uma visita de estudo e de uma pesquisa que exigiu
uma análise e uma reflexão profunda sobre o surgimento e características do colégio
jesuíta do Funchal e a sua evolução, possibilitando a obtenção de conhecimentos.
Fundado por alvará do rei D. Sebastião em 20 de agosto de 1569, o Colégio dos
Jesuítas marcou, ao longo dos séculos, a vida de toda a ilha da Madeira.
O colégio e a igreja de São João Evangelista foram o maior complexo edificado
até ao século XIX. O colégio, hoje sede da Universidade da Madeira, encontra-se
dividido em cinco corredores e dois andares. A igreja é um amplo templo jesuíta, com
nave grande e alta. A nave é ladeada por capelas idênticas, sobre as quais se encontra
uma passagem embutida na parede com janelas e balcões ao nível do coro.
Este esquema arquitetónico foi definido em Portugal antes dos finais do século
XVI e, mais tarde, espalhado por todo o mundo, onde os missionários Jesuítas levavam
a Palavra de Cristo. Este é, provavelmente, um dos esquemas arquitetónicos mais
divulgados de sempre.
O recheio principal da igreja é o seu conjunto de retábulos de talha dourada,
datados de 1647, 1648, 1654 e 1660. O altar-mor é considerado uma das joias da talha
madeirense desta época. Entre as muitas capelas, a das 11 Mil Virgens destaca-se pelo
seu belíssimo altar. Esta igreja apresenta ainda uma coleção excecional de azulejos das
oficinas portuguesas em Lisboa.
Todos os objetivos propostos inicialmente foram cumpridos e este estudo foi
realmente interessante e definitivamente instrutivo, elevando o meu o grau
conhecimento da matéria estudada.

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5. BIBLIOGRAFIA

• FRUTUOSO , G. (1998). SAUDADES DA TERRA – Livro II (Vol. 2). Ponta

Delgad: INSTITUTO CULTURAL DE PONTA DELGADA.

• CARITA, R. (2013). Colégio dos Jesuítas do Funchal. Funchal: Imprensa

Académica.

• CARITA, R. (11 de Junho de 2016). http://aprenderamadeira.net/. Obtido em

29 de 12 de 2019, de http://aprenderamadeira.net/colegio-dos-jesuitas/:

http://aprenderamadeira.net/colegio-dos-jesuitas/

• DA SILVA, F. A., & MENESES, C. A. (1998). ELUCIDÁRIO MADEIRENSE.

Funchal.

5.1.REFERÊNCIAS ON-LINE

• http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5012

• https://www.madeira-web.com/pt/locais/funchal/arquitetura/colegio-dos-

jesuitas.html

• http://www.visitmadeira.pt/pt-pt/o-que-fazer/cultura/pesquisa/colegio-dos-

jesuitas-do-funchal

• https://www.infopedia.pt/$igreja-de-s.-joao-evangelista-(funchal)

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