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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9

Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE


NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
Ficha para Identificação
Produção Didático-Pedagógica - Professor PDE/2013
Título Você tem medo de quê?

Autora Evangeline Fatima Santos


Escola de Atuação Colégio Estadual Olindamir Merlin Claudino –
Ensino Fundamental e Médio

Município da Escola Fazenda Rio Grande

Núcleo Regional de Educação Área Metropolitana Sul

Orientador Dr. Márcio Matiassi Cantarin

Instituição de Ensino Superior Universidade Tecnológica Federal do Paraná –


UTFPR
Área do Conhecimento Língua Portuguesa

Produção Didático-Pedagógica Unidade Didática

Público Alvo Alunos do 9º ano do Ensino Fundamental

Ilustração Levi dos Santos Martins da Silva

Localização Rua Guiana nº 544 – Bairro Nações –


CEP: 83823-066
Apresentação Para muitos jovens, a escola ainda é o único
local onde podem ter acesso à leitura literária.
Dessa forma, cabe ao professor de literatura
tentar ampliar o conhecimento estético e literário
do aluno, através do hábito da leitura. Os
estudantes quando solicitados a ler, escrever e
interpretar, não conseguem realizar tais tarefas
com eficiência, pois falta o conhecimento que o
letramento literário proporciona. Acreditando que
o professor de Literatura deva agir como
mediador entre leitor e obra literária, esta
Unidade Didática propõe atividades para o
desenvolvimento de ações no ensino de literatura
em sala de aula, fundamentadas no Método
Recepcional.
Palavras-chave Literatura. Escrita. Método Recepcional.
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

EVANGELINE FATIMA SANTOS

UNIDADE DIDÁTICA

PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA PARA O PDE 2013

CURITIBA
2013
EVANGELINE FATIMA SANTOS

VOCÊ TEM MEDO DE QUÊ?

Produção Didático-Pedagógica a ser desenvolvida no


Colégio Estadual Olindamir Merlin Claudino – EFM,
apresentada pela professora Evangeline Fatima Santos
ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE
2013, na disciplina de Língua Portuguesa, sob
orientação do professor Dr. Márcio Matiassi Cantarin

CURITIBA
2013
VOCÊ TEM MEDO DE QUÊ?

???
Sumário
Introdução ............................................................................................................. 6
1. MÉTODO RECEPCIONAL ................................................................................. 7
2. AS VÍTIMAS ..................................................................................................... 10
2.1- Determinação do horizonte de expectativas ............................................ 10
3. CAINDO NA ARMADILHA .............................................................................. 14
3.1-Atendimento do horizonte de expectativas ............................................... 14
4. O CRIME .......................................................................................................... 17
4.1-Ruptura do horizonte de expectativas ....................................................... 17
5. AS PISTAS ...................................................................................................... 23
5.1-Questionamento do horizonte de expectativas ......................................... 23
6. SOLUCIONANDO O CASO ............................................................................. 27
6.1-Ampliação do horizonte de expectativas ................................................... 27
Referências ......................................................................................................... 37
6

Introdução
CONVERSANDO COM O PROFESSOR
Histórias de terror ou de acontecimentos sobrenaturais e aquilo que escapa
à explicação racional parecem sempre fascinar e atrair os adolescentes que,
apreciam a leitura de algo diferente das situações já encontradas nos textos lidos
habitualmente e se identificam com textos que fogem à realidade aparente.
Verdade ou mentira, real ou irreal, não se sabe ao certo; fato é que o mistério e a
incerteza de algumas histórias nos prendem e foi apostando nesse fascínio
provocado pelas histórias de terror que desenvolvi o projeto “Sem Medo de Ler e
Escrever: a literatura fantástica de Edgar Allan Poe como incentivo à leitura e
escrita”, no transcorrer do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), da
Secretaria de Estado da Educação do Paraná.

Muito se tem falado a respeito da importância e necessidade de incentivar


o letramento literário dos alunos, da necessidade de estimular e consolidar nos
leitores em formação o gosto permanente pela leitura literária, ampliando o
vocabulário, habilidades orais e escritas e desenvolvendo a criatividade.

Para muitos jovens, a escola é o único local onde podem ter acesso à
leitura literária. Dessa forma, cabe ao professor de literatura tentar proporcionar
esse contato, aprofundando o conhecimento estético do aluno. Ainda que um
grande número de estudantes tenha acesso à internet, à informação, à pesquisa
em sala de aula, quando solicitados a ler, a escrever ou a interpretar, não
conseguem desempenhar tais tarefas, pois lhe faltam principalmente o
conhecimento e a capacidade de análise que o letramento literário proporciona.

Então, essa produção didático-pedagógica pretende proporcionar ao


professor alternativas metodológicas, através de uma Unidade Didática com
atividades para o desenvolvimento de ações educacionais no ensino de literatura
em sala de aula, fundamentadas na sistematização do Método Recepcional, de
Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar (1993).
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1. MÉTODO RECEPCIONAL
De acordo com sistematização feita pelas autoras Bordini e Aguiar (1993),
o método recepcional se dá com a aproximação entre o texto e o leitor, em que
toda a historicidade de ambos vem à tona.

O leitor possui um horizonte que o limita, mas que pode transformar-se


continuamente, abrindo-se. Esse horizonte é o do seu mundo, com vivências
pessoais, sócio-históricas, religiosas, estéticas, ideológicas, que orientam ou
explicam tais vivências. Munido dessas referências, o sujeito busca inserir o texto
apresentado dentro do seu horizonte de valores. Por sua vez, o texto pode
confirmar ou perturbar esse horizonte em termos das expectativas do leitor, que o
recebe e julga por tudo o que já conhece e aceita. O texto, quanto mais se
distancia do que o leitor espera por hábito, mais amplia o seu horizonte de
expectativas.

O método está dividido em cinco etapas distintas, mas articuladas entre si,
trabalhando a recepção do leitor diante do texto literário, horizontes de
expectativas que podem ser ampliados ou refutados, conforme os textos vão
sendo apresentados. Para melhor entendimento do método recepcional, é preciso
ter clareza de cada uma das seguintes etapas:

1- Determinação do horizonte de expectativas

É o momento de, informalmente, investigar a realidade sociocultural do


leitor, seus interesses e nível de leitura sobre determinado assunto ou temática,
estimulando sua atenção.

2- Atendimento do horizonte de expectativas

O resultado do levantamento realizado na etapa anterior deve ser o de


proporcionar à classe experiências com textos literários que venham satisfazer
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suas necessidades, confirmando seus horizontes de expectativas, sem maiores


aprofundamentos sobre a temática trabalhada.

3- Ruptura do horizonte de expectativas

Nesta etapa, novos textos são apresentados aos alunos de forma a abalar
suas certezas e convicções. Deve-se, necessariamente, partir de textos que deem
continuidade aos já trabalhados na etapa anterior em termos de linguagem, tema,
tratamento e estrutura. A diferença residirá em que os textos agora apresentados,
possibilitarão perceber que ingressam em um terreno novo, onde talvez os alunos
sintam-se inseguros, mas não a ponto de rejeitarem a experiência .

4- Questionamento do horizonte de expectativas

É consequência da comparação das duas anteriores. Os alunos verificam o


progresso aferindo os conhecimentos escolares e vivências pessoais, que as
etapas proporcionam, ampliando a capacidade de entendimento do texto ou
abrindo-lhes caminho para resolverem os problemas detectados. Isto é
conseguido retomando-se constantemente os textos utilizados nas etapas
anteriores.

5- Ampliação do horizonte de expectativas

Conscientes do progresso, os alunos podem, agora, comparar seu


horizonte inicial de expectativas com os interesses atuais. O horizonte de
expectativas se amplia quando os alunos decidem partir em busca de novos
textos, que satisfaçam suas exigências, agora maiores, e realimentem sua
capacidade de decifrar o que não é conhecido. A consequência natural será uma
nova aplicação do método, levando os alunos a um constante questionamento,
cada vez mais consciente sobre a literatura e a vida.

Em todas as etapas, a partir dos textos selecionados para abordagem em


sala de aula, o professor destacará aspectos como biografia do autor, aspectos
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estruturais, estéticos e literários da obra, intertextualidade, tipologia textual,


comparações com outros gêneros do discurso e oralidade.
O material didático, elaborado a partir das cinco etapas do Método
Recepcional de leitura, sistematizado pelas autoras Borbini e Aguiar (1993), terá
como temática o medo, verificando-se de que modo ele é trabalhado e analisado
nos diversos gêneros discursivos, principalmente na obra literária.
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2. AS VÍTIMAS

2.1- Determinação do horizonte de expectativas

Nessa etapa, será investigado o conhecimento dos alunos sobre contos


fantásticos de suspense e terror, o que acham e sabem sobre.

Haverá o preparo da “receptividade” através de dinâmica de grupo


enfatizado o tema “medo”.

ATIVIDADE I
Dinâmica de grupo: Caixa do Medo
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Objetivos:

 Despertar o interesse no aluno sobre o assunto;


 Exercitar a técnica do saber ouvir cuidadosamente, durante uma conversa;
 Permitir um maior conhecimento pessoal;
 Explorar os sentimentos que surgem ao ser outra pessoa (colocar-se no
lugar de).

Materiais:

 Caixa;
 Tiras de papel.

Procedimento:
O aluno receberá uma tira de papel na qual escreverá seu “maior medo”. Depois colocará
seu medo em uma caixa. Sentados em círculo, cada aluno pega um papel com um medo escrito e
comenta sobre ele. Após os comentários, o professor poderá fazer uma explicação sobre “o
medo”. Texto indicado para leitura “Você tem medo de quê?” de André Bernardo, publicado na
“Revista Saúde” e disponível no endereço http://revistasaude.uol.com.br/saude-nutricao/81/

Além da dinâmica, para o preparo da receptividade, serão utilizadas


músicas que possam atrair a atenção da classe e os motivem para a leitura
subsequente. Os alunos terão as músicas impressas e elas também poderão ser
acompanhadas através de vídeos na TV multimídia. As músicas falam da
temática do medo e fazem parte do repertório dos alunos.

ATIVIDADE II
Análise das músicas:

Medo, Pitty (2009): É um rock cuja letra fala que todas as pessoas têm medo, e
que é necessário conviver com ele. A música Medo faz parte do CD Chiaroescuro
que, segundo explicação oficial, tem esse título por tentar ilustrar o contraste entre
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as músicas do CD que são ora “mais sutis e sensoriais”, ora “mais soturnas e
densas”, como é o caso da música em análise.

[...] Medo de ter, medo de perder


Cada um tem os seus
E todos têm alguns
Suando frio, as mãos geladas
Coração dispara até sufocar [...]
(Leia e ouça a música completa em: http://www.vagalume/pitty/medo)

Medo, Titãs (1989): É um rock que faz parte do álbum Õ Blésq Blom e foi escrito
por Toni Bellotto e Arnaldo Antunes. Fala da superação dos medos, da
necessidade de enfrentá-los.

[...] Precisa perder o medo da musa


Precisa perder o medo da ciência

Precisa perder o medo da perda


Da consciência
O que se vê não se via
O que se crê não se cria [...]
(Leia e ouça a música completa em: http://www.vagalume/titas/medo)

A próxima atividade utilizará imagem para sensibilizar os alunos sobre o


tema. Será mostrada a imagem do quadro “O Grito”, pintado pelo norueguês
Edvard Munch em 1893. De estilo impressionista, representa a angústia e o
desespero e é considerada a melhor e a mais conhecida de suas obras.

ATIVIDADE III
A partir da imagem apresentada na TV Multimídia de “O Grito” de Edvard
Munch pedir para os alunos criarem uma paródia sobre o tema medo.
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FONTE: http://en.wikipedia.org

Alguns links que podem ser encontrados na internet com exemplos de


paródias do quadro “O Grito”.

http://skatecuriosidade.com/bizarro/obra
http://colunas.revistamarieclaire.globo.com/ralstonites
http://jblog.com.br/quadrinhos
http://super.abril.com.br/blogs/nerdices/tag/parodias

ATIVIDADE IV
No final dessa primeira etapa, por meio de um debate informal, os alunos
deverão comentar as diversas abordagens sobre o tema medo. Nesse momento
também irão contar histórias de terror que conheçam ou o professor pode sugerir
que peçam ajuda para pais, avós e familiares (primeira produção oral).
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O gênero conto, as características e as especificidades formais também


poderão ser trabalhados.

3. CAINDO NA ARMADILHA

3.1-Atendimento do horizonte de expectativas

Nesta etapa serão trabalhados textos literários e atividades que satisfaçam


as necessidades dos alunos.

ATIVIDADE I
Leitura do conto “A dona da pensão” de Roald Dahl.
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Neste conto, Billy Weaver, um jovem de 17 anos, chega à cidade de Bath


e procura um lugar para passar a noite quando dá de cara com uma placa que
diz “Hospedaria”.

Fascinado com a coincidência, pois mal havia começado a busca, ele


conhece uma senhora simpática, a dona da casa. Ela o recebe com chá e
biscoitos, apresenta os cômodos impecáveis e o valor que cobra é ridículo de
tão baixo. Weaver não pensa duas vezes. Porém, é ingênuo demais para
perceber que há algo estranho com a idosa. Ela adora taxidermia e tem dois
belos animais empalhados na sua sala. E os dois últimos hóspedes que
assinaram o livro de presença o fizeram anos atrás. Ao ler o nome dos dois
últimos, o jovem pensa que os conhece de algum lugar, mas não consegue
lembrar de onde.

Leitura do conto “Crime mais que perfeito” de Luís Lopes Coelho

Davi, contrário ao casamento da irmã Cláudia por conhecer a vida


desregrada de Jorge, seu futuro cunhado, decide matá-lo envenenado. Crime
planejado, Davi o executa com perfeição, mas o que ele não contava era que,
sem querer, mataria junto a própria irmã.

Após a leitura dos contos, levantar algumas questões a respeito dos seus
próprios “Medos”:

 Você acha que o medo faz parte da vida e serve para nos proteger dos
perigos e do sofrimento?
 Existem locais que provocam mais medo que outros? Quais? Por quê?
 Você gosta de histórias de terror?
 Em uma lista de palavras associadas ao medo, terror, quais não
poderiam faltar?
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ATIVIDADE II
Passar na TV Multimídia várias imagens associadas ao medo, suspense
e terror, analisando juntamente com os alunos os elementos que as
compõem, as sensações que as imagens provocam neles, as cores, os
cenários, etc.

Alguns links que podem ser encontrados na internet com sugestões de


imagens associadas ao medo e terror:

www.girovirtual.com

www.c7nema.net

http://o-sobrenatural.spaceblog.com.br

www.wallsave.com

www.erepublick.com

http://contosehorror.blogspot.com.br

ATIVIDADE III
Assistir ao filme “Coraline e o Mundo Secreto” (EUA, 2009), direção de
Henry Selick. Animação baseada em livro de Neil Gaiman. Coraline encontra em
sua casa, uma porta secreta que dá acesso a outra versão de sua própria vida,
parecida com a que leva, porém melhor. Ela se empolga com a descoberta, mas
percebe que há algo errado quando seus pais alternativos tentam aprisioná-la
nesse novo mundo.

Após discussão, os alunos farão uma resenha crítica sobre o filme.


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4. O CRIME

4.1-Ruptura do horizonte de expectativas

Através da introdução de textos e atividades que abalem as certezas e


costumes dos alunos em termos de literatura ou de vivência cultural, buscar-se-á
um distanciamento crítico do horizonte cultural do aluno, para que as propostas
despertem maiores exigências interpretativas e extrapolem o lugar-comum, mas
que ainda mantenham vínculos com as atividades anteriores.

ATIVIDADE I
O objetivo de um conto de suspense e terror é despertar no leitor
sensações e horror diante do medo, da morte, da loucura e do mal que se
escondem na mente humana. Para atingir esse objetivo, alguns contos
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apresentam para o leitor elementos pelos quais não se deixa dúvida: são
sobrenaturais. Assim, as personagens são assombradas por fantasmas e
monstros e vivem experiências extraordinárias. Em outros a causa do terror se
encontra na mente humana. Partindo dessa explicação será proposta a leitura dos
contos “O quadro do palhaço” de Fernando Ferric e “O retrato oval” de Edgar
Allan Poe.

No conto “O quadro do palhaço” de Fernando Ferric, André ganha um


quadro de um palhaço do seu avô e o pendura no quarto. A partir desse dia, o
menino passa a ser atormentado pela figura do palhaço que não o deixa em paz:

[...] André não tinha mais tranquilidade para brincar no seu quarto, se
sentia vigiado pelo estranho quadro pendurado na cabeceira da cama. Ele tinha a
impressão que o palhaço se mexia enquanto ele brincava. [...]

(Leia o conto completo em www.contosgrotescos.com.br)

O conto “O retrato oval” de Edgar Allan Poe fala de um homem ferido e seu
criado que decidem passar a noite em um castelo que havia sido abandonado há
pouco tempo. Quando o viajante preparava-se para dormir, percebeu que
existiam diversas obras de arte naquele quarto juntamente com um guia que
explicava cada uma daquelas obras. No momento em que o homem ajustava a
luz das velas para conseguir ler o guia, encontra o lindo retrato de uma jovem em
uma moldura oval. Imediatamente, o homem fica encantado pela pintura e busca
no livro a origem daquele retrato:

[...] Assim, vi sob a luz vívida um quadro não notado antes. Era o retrato de
uma jovem, quase mulher feita. Olhei a pintura apressadamente e fechei os olhos.
Não foi a princípio claro para minha própria percepção por que fiz isso. Todavia,
enquanto minhas pálpebras permaneciam dessa forma fechadas, revi na mente a
reação de fechá-las. Foi um movimento impulsivo para ganhar tempo para pensar
– para me certificar de que minha vista não me enganara – para acalmar e
dominar minha fantasia para uma observação mais calma e segura. Momentos
depois, novamente olhei fixamente a pintura. [...]

(Tradução de Marcelo Bueno de Paula)


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Neste momento, também será apresentado aos alunos Edgar Allan Poe,
vida, obra e sua importância dentro da literatura de suspense e terror.

Segundo o perfil do autor, apresentado no livro “Histórias Extraordinárias”,


traduzido e adaptado por Clarice Lispector, Edgar Allan Poe nasceu em Boston, em
1809. Órfão aos três anos foi adotado por um tio rico, tendo a infância marcada pela
insegurança e amargura.

Seu estilo desregrado levou-o ao rompimento com seus pais adotivos. Em 1835,
casou-se com sua prima Virgínia Clemm e assumiu a editoria da revista Southern
Literary Messenger, na qual produziu contundentes críticas literárias.

Mas foram seus contos de terror que lhe trouxeram maior reconhecimento, sendo
considerado o precursor da literatura policial ao inventar a figura do detetive antes
mesmo de o termo existir, precedendo Sherlock Holmes.

Foi muito criticado, sobretudo por sua conduta. Depois da morte da esposa se
entregou definitivamente à bebida. Em 1849, foi encontrado inconsciente em uma
Rua de Baltimore e morreu três dias depois.
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Após a leitura dos contos, os alunos farão a análise das diferenças e


semelhanças entre eles.

SEMELHANÇAS DIFERENÇAS
O Quadro do Palhaço O Retrato Oval O Quadro do Palhaço O Retrato Oval

ATIVIDADE II
Nesta atividade, o aluno vai produzir um conto que será trocado entre os
colegas de classe para leitura.

Antes de começar, o aluno irá ler o início de conto de Edgar Allan Poe, “A
queda da casa de Usher”, que é conhecido por sua ambientação e pelo clima de
terror que envolve as personagens.

Durante um dia de outono, fuliginoso, sombrio e mudo, em que as nuvens,


pesadas e baixas, oprimiam a terra, havia eu atravessado sozinho, e a cavalo,
uma região singularmente lúgubre. Finalmente, aos se adensarem as sombras da
noite, vi-me em frente da melancólica casa dos Usher. Não sei como foi, mas
apenas relanceei o olhar pela construção e penetrou-me na alma um sentimento
de insuportável tristeza. Digo insuportável, pois a tristeza não absolutamente
compensada por uma partezinha sequer do sentimento de que a essência poética
faz quase uma volúpia, e de que a alma é geralmente dominada perante as
imagens naturais mais sombrias da desolação e do terror. Observava o quadro
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posto na minha frente, e só de ver a casa e a perspectiva característica daquele


domingo, as paredes que tinham frio, as janelas semelhantes a olhos perdidos na
distância, alguns grupos de vigorosos juncos, troncos de árvores brancas e
corroídas, senti a imensa depressão [...] Era um gelo no coração, um abatimento,
um mal-estar, uma irremediável tristeza do pensamento que nenhum aguilhão da
fantasia podia transformar em coisa sublime. Que seria, pois – detive-me para
refletir -, que seria, pois, o que assim me enervava ao contemplar a casa dos
Usher? Mistério insolúvel. Não podia lutar contra os tenebrosos pensamentos que
sobre mim se amontoavam, enquanto refletia. [...] Possivelmente, refleti, um
simples arranjo diferente dos pormenores do quadro, das minúcias da paisagem,
bastaria para modificar, ou talvez para aniquilar a capacidade de uma tristonha
impressão. E agindo de acordo com tal ideia, conduzi o cavalo para a borda
escarpada de um negro e lúgubre tanque que, como espelho imóvel, jazia diante
da construção; e contemplei com um calafrio ainda mais penetrante, as imagens
remodeladas e invertidas dos juncos acinzentados, dos sinistros troncos de
árvores, e das janelas semelhantes a olhos sem pensamento.

Não obstante, era naquela morada da melancolia que eu me propunha


transcorrer algumas semanas [...]

Edgar Allan Poe. A queda da casa dos Usher. In: ____. Assassinatos na rua Morgue e outras histórias. São
Paulo: Saraiva, 2006.

Para o gênero conto de terror há muitas opções de cenários onde as


histórias podem ocorrer: paisagens sombrias, bosques tenebrosos, castelos com
enormes porões, casebres abandonados, povoados fantasmas, tempestades
noturnas, casas com ruídos noturnos ou ambientes simples e aconchegantes que,
de repente, se tornam lugares ameaçadores. Pedir para o aluno criar um cenário
onde se passará sua história. Além do cenário, o aluno precisará decidir:

 O narrador será uma personagem, ou um narrador que apenas conta a


história?
 Quem serão e como serão as personagens?
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 Que aventuras viverão nesse local?


 Como farão para atingir seus objetivos? Eles conseguirão?
 Como será o desfecho?

Tudo decidido, começarão a escrever o conto, procurando manter a


coerência do texto. Cada um troca seu texto com um colega que se encarregará
de lê-lo e fazer sugestões para melhorá-lo. O colega leitor deverá levar em conta
se foram seguidos os passos sugeridos anteriormente. Com base nas sugestões
feitas, o aluno autor do texto redigirá a versão final do seu conto.

ATIVIDADE III
Neste momento, os alunos já tiveram contato com elementos importantes
dentro dos contos de suspense e terror, que lhe dão uma “fisionomia”
peculiar. Os aspectos da oralidade e da leitura trabalhados anteriormente já
poderão, a essa altura, convergir para o trabalho escrito. Portanto, chega a
hora de realizar a produção dos seus próprios contos. Eles poderão contar
uma história de suspense e terror que conheçam, inventar uma, ou ainda
utilizar aquelas contadas por eles ou colhidas dos seus familiares e expostas
na primeira etapa.

IMPORTANTE

As diferenças entre oralidade e escrita são nítidas e o professor pode


explorá-las. A hesitação e a repetição presentes na fala são traços que
geralmente inexistem no texto escrito. A fala, como sabemos, possui mais
fluência e é mais imediata que a escrita, que exige um processo mais
cuidadoso de construção que visa à clareza de sentido.
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5. AS PISTAS

5.1-Questionamento do horizonte de expectativas

É nesta etapa que ocorre o questionamento, que surge devido à


comparação entre as duas anteriores. É o momento de o aluno analisar seus
conhecimentos, tanto escolares quanto pessoais, e verificar se eles contribuíram
para o entendimento dos textos e abriram-lhe caminhos para os problemas
encontrados.

ATIVIDADE I
Leitura do conto “Venha ver o pôr do sol” de Lygia Fagundes Telles.
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O conto "Venha ver o pôr do sol" trata da história de Ricardo e Raquel, um


casal de ex-namorados. Eles terminam o namoro, e Ricardo, inconformado com a
separação, e por conhecer muito bem o espírito aventureiro de Raquel, resolve
convidá-la para um último encontro em um cemitério abandonado. Chegando lá,
Ricardo executa a sua vingança de forma macabra, trancando Raquel em uma
tumba e abandonando-a lá pelo tempo necessário para que ela morra, e assim,
pague pelo erro de ter se separado dele.

Após a leitura, os alunos deverão fazer a análise das características do


conto. Eis algumas questões que podem ser trabalhadas a respeito do conto.

1. O narrador descreve o cenário no qual as personagens irão se encontrar. Que


cenário é esse? Qual a importância dele na narrativa?
2. A partir do diálogo estabelecido entre as personagens, sabemos como era

Raquel e como ela está agora. O que mudou na personagem? E em relação à


situação financeira dos personagens, o que ocorreu?
3. A ideia de Ricardo, a princípio, parece estranha: ver o pôr do sol em um

cemitério. No entanto, ele tranquiliza o leitor. Que argumentos ele usou para
convencê-lo de que o passeio poderia ser bom?
4. Como Ricardo convence a ex-namorada a entrar na catacumba? O que essa

personagem descobre nesse momento? Qual a sua reação?


5. É possível afirmar que o crime foi premeditado? Utilize fatos do texto para

comprovar sua resposta.


6. Nesse caso, é possível afirmar que o conto tem um desfecho inesperado?

Comente a resposta dada.


7. A temática nesse conto é bem clara. Identifique-a.
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Para fechar a análise com um toque criativo, pode ser passado para a
classe o vídeo de Leonardo Marks com a música “Por te conhecer”, da banda
Catedral, e disponível em http://www.youtube.com

ATIVIDADE II
Leitura de “O Barril de Amontillado” de Edgar Allan Poe, conto que
possivelmente inspirou Lygia Fagundes Telles a escrever “Venha ver o pôr do
sol”.
Conto simples e curto, O Barril de Amontillado, é a narrativa da história de
um homem imbuído do desejo de vingança de emparedar vivo seu desafeto,
Fortunato. No meio, há indícios de como será a vingança; no fim, o protagonista
exerce sua vingança lentamente. O leitor acompanha a narrativa duvidando do
desfecho anunciado exatamente porque é algo extremamente simples e cruel e,
no fim, linha após linha o protagonista simplesmente deleita-se ouvindo os últimos
suspiros de seu desafeto.

Pedir para os alunos escreverem um parágrafo, estabelecendo uma


relação entre o texto de Lygia Fagundes Telles e o de Edgar Allan Poe. O
parágrafo deve ser coeso e coerente e comentar sobre semelhanças, diferenças
e temática dos dois textos.

ATIVIDADE III
Na 3ª Etapa foi sugerida a atividade de finalização do conto “A Queda da
Casa de Usher” de Edgar Allan Poe. Agora, será proposta a leitura completa
desse conto.
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ATIVIDADE IV
Filme “A Queda da Casa de Usher”, baseado no conto de mesmo título de
Edgar Allan Poe.

A chegada de um jovem cavalheiro a uma sinistra mansão desperta o ódio


de seu enigmático proprietário, que guarda a irmã como uma prisioneira do
passado. Aos poucos, maldição familiar e delírios mórbidos tomam conta do
ambiente e conduz as personagens a perder a razão.
O conto “A Queda da Casa de Usher” é um dos mais admirados exemplos
do estilo soturno e misterioso do escritor norte-americano Edgar Allan Poe.
Adaptado de modo bem livre em 1960 pelo produtor e diretor Roger
Corman, o texto ganhou cores extravagantes e uma atmosfera psicodélica que
anunciam como o horror logo se tornaria o gênero mais sugestivo e aberto a
invenções do cinema americano.

ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS

FILME:
 Título em Português: A Queda da Casa de Usher
 Diretor do filme: Roger Corman
 Gênero: Terror
 Principais intérpretes: Vincent Price, Mark Damon
 Ano: 1960
 Duração: 75
 Cor / PB: Colorido
 Áudio: Inglês - Dolby Digital 2.0
 Legendas: Português
 Formato de tela: Widescreen Anamórfico 2.35:1
 Extras:"A Queda da Casa de Usher" (La chute de la Maison
Usher /França/1928), de Jean Epstein (66 min) - Trailer (2 min)
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Após a leitura do conto e assistir ao filme, os alunos farão uma análise


intersemiótica das duas obras, confrontando diferenças e especificidades.

6. SOLUCIONANDO O CASO

6.1-Ampliação do horizonte de expectativas

Nesta etapa espera-se que os alunos percebam que as leituras


realizadas não são apenas para tarefas escolares, mas que se sintam
modificados com relação à forma como veem o mundo e tomem consciência das
alterações e aquisições, adquiridas através da experiência literária.
Também se espera que os alunos estejam preparados para uma leitura
literária mais profunda e reflexiva.
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ATIVIDADE I
A obra selecionada para esta etapa foi “Histórias Extraordinárias” de Edgar
Allan Poe. O livro, publicado entre os anos de 1833 e 1845, é composto por
contos e é considerado um clássico da literatura de horror e policial. As histórias
não estão interligadas. Representam o horror com personagens que vivem entre a
lucidez e a loucura, e o pensamento analítico que se prevalece da lógica e da
dedução intelectual do escritor a fim de solucionar crimes, os dois temas
abordados pelo autor. Os contos escolhidos para leitura são:

O GATO PRETO

E
dgar Alan Poe narra a história de um homem que adorava animais
e acaba encontrando uma esposa que desfruta do mesmo gosto
do marido. Eles se casam e convivem com diversos tipos de
animais, mas o preferido da casa era um gato preto que acompanhava o dono em
todos os lugares que ele costumava ir, só que este adquire o péssimo hábito de
beber e assim, começa a desprezar e maltratar o gato. Um dia durante um ataque
de fúria ele fura um dos olhos do bichano, não satisfeito com a maldade ele
enforca o gato, mas como consequência (castigo) ocorre um incêndio em sua
casa e só uma parede fica semi-erguida com uma terrível figura de um gato
enforcado desenhada pelas labaredas que consumiram a casa. Arrependido,
cheio de remorso com seu ato e também angustiado com o recado sombrio que o
gato havia lhe deixado o homem passa a procurar outro gato com as
características do anterior. Numa noite, acaba encontrando um que era muito
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parecido, pois era negro e também era cego de um olho e possuía uma
característica singular: trazia no peito desenhado em branco a figura de uma forca
em meio ao seu pelo negro. O homem passa a odiar esse gato também, mas sua
esposa passa a ter uma predileção especial pelo animal. Um dia ao visitar a
adega que ficava no sótão da casa, o gato quase derruba o homem escada
abaixo e esse num ato de fúria se apossa do machado e só não mata o gato
porque sua esposa o impede de desferir o golpe. Sem pensar muito e cheio de
ódio o homem lança o machado na cabeça de sua esposa que cai morta sem
gritar. O homem resolve esconder o corpo atrás de uma parede na adega e sai à
procura do gato que por quatro dias não aparece, para seu alívio. Mas sob as
suspeitas da polícia o homem recebe a visita de investigadores que pedem para
ver a casa; o homem acompanha-os por todos os cômodos e ao chegar à adega
com expressão tranquila mostra o cômodo aos policiais que nada encontram. Já
estavam de saída quando o homem resolve falar da construção maciça da casa e
um tijolo da parede onde estava a sua mulher cai, e ouve-se um grito incomum e
inumano. Os policias logo se apressam em derrubar a parede e descobrem o
corpo da mulher já em estado avançado de decomposição e sobre sua cabeça a
figura de um gato preto com a boca entreaberta e um olho faiscando de raiva.

A MÁSCARA DA MORTE RUBRA

um conto que retrata a história de um príncipe, que ao se deparar

É com uma enorme quantidade de mortes decorrentes de uma peste


que estava se espalhando rapidamente, decide ir com os outros
amigos para uma espécie de mosteiro para ficar totalmente isolado da tal doença
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e assim se salvar, já que ela se espalhava rapidamente e o tempo de vida da


pessoa se tornava muito curto após o seu aparecimento. No mosteiro, todos
continuavam levando uma vida normal, porém, afastados da realidade daquele
momento. Ao se passar quase seis meses de reclusão, o príncipe decide dar um
baile de máscaras para brindar os amigos. A festa aconteceu em um local
magnífico, com sete suítes que eram espalhadas por todo palácio. Cada suíte
tinha um vitral que era decorado com a mesma cor da suíte, e cada suíte era
decorada com uma cor diferente: a primeira era azul, a segunda era púrpura, a
terceira era verde, a quarta alaranjada, a quinta era branca e a sexta era roxa. A
sétima suíte era negra e com detalhes nos vitrais que eram feitos com uma cor de
sangue. Havia também um relógio no canto, que deixava todos espantados cada
vez que dava suas badaladas ao decorrer das horas, porém a festa seguia. Num
determinado momento da festa, um estranho com uma máscara mais estranha
ainda e a roupa suja de sangue aparece e depois misteriosamente todo mundo
morre.

O CASO DO VALDEMAR

O
protagonista estudou teorias de hipnose e pretende fazer um
experimento ainda não realizado. Sua intenção é a de hipnotizar
um homem que está à beira da morte. Esta pessoa é o Sr.
Valdemar, um homem que sofre de tuberculose, e que teve sua morte
diagnosticada pelos doutores para antes da meia-noite. O paciente permanece
hipnotizado sete meses, mas finalmente o homem que o hipnotizou decide
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acordá-lo. Mas grande é a surpresa dos médicos e do hipnotizador, uma vez que,
ao ser acordado Valdemar se torna uma massa podre e decai.

MANUSCRITO ENCONTRADO NUMA GARRAFA

O
narrador fala de uma de suas viagens de barco, a última. Em
determinado momento do percurso, o personagem percebe que as
condições do tempo e do mar começam a mudar, e passa a temer
pelo que está por vir. Ele avisa a tripulação a respeito dos riscos iminentes, mas
não é ouvido em nenhum momento. Algum tempo depois, enquanto (quase) todos
dormiam, um vagalhão (grandes ondas que se formam em alto-mar) atinge o
navio que é totalmente invadido pelas águas. Restam somente dois sobreviventes
que navegam por vários dias com a embarcação avariada. Uma sequência de
vagalhões faz com que outro navio se choque com o deles. Somente o narrador
sobrevive e passa secretamente ao barco desconhecido. Ele permanece
escondido durante muito tempo, mas acaba por perceber que não precisa se
esquivar dos tripulantes, pois estes não dão conta de sua presença ainda que
compartilhassem o mesmo recinto. A impressão que se tem é a de que todos
estão mortos e que aquela viagem é uma espécie de purgatório antes do fim
derradeiro.
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ENTERRO PREMATURO

C
onta a história de um homem cujo maior medo era ser enterrado
vivo. E ele tinha mesmo razões para temer, pois sofria de uma
doença misteriosa (catalepsia, segundo alguns dos muitos
doutores que consultou) que o fazia cair, de tempos em tempos, em estados de
coma profundo, que podiam ser confundidos com a morte. Até que, um dia, seu
pesadelo vira realidade: ele de repente se vê despertando num lugar escuro,
fechado, cheirando a terra úmida, um caixão. Mas para sua felicidade, quando
grita lá de dentro é ouvido, e logo é arrancado de dentro do caixão. Depois disso,
sua saúde veio a melhorar, ou sua mente parou de imaginar coisas.

OS CRIMES DA RUA MORGUE

O
narrador conhece Monsieur C. Auguste Dupin em uma livraria e
os dois acabam se tornando amigos. O narrador, homem de
posses, aluga uma mansão deserta que, segundo reza a lenda, é
assombrada. Ele e Monsieur Dupin concordam em morar juntos pelo tempo em
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que o narrador ficar em Paris. Monsieur Dupin é um homem muito inteligente com
um enorme talento para análise, capaz de saber até o que narrador está
pensando, baseando sua analise somente nos fatos que aconteceram durante o
dia. Num dia de caminhada pela rua deparam-se com uma notícia perturbadora
nos jornais sobre um assassinato duplo com extrema violência e sem razão
aparente, mãe e filha, na rua Morgue, uma viela deserta de Paris. A polícia
francesa não tem nenhuma pista sobre o assassino, mas eles prendem um
funcionário do banco. Então Monsieur Dupin acredita que pode libertar o homem,
encontrando o assassino verdadeiro. Com a permissão do chefe de polícia,
Monsieur Dupin investiga a cena do crime e chega a uma conclusão com extrema
capacidade de raciocínio e descobre que o crime fora cometido por um
orangotango que, com medo de apanhar do chicote do seu dono, foge e vai parar
na rua Morgue, onde é atraído pelas luzes vindas do quarto de Madame
L’Espanaye. Ele escala a janela e agarra a Madame com intenção de lhe fazer a
barba. Sua filha desmaia. Quando a Madame começa a chutar e gritar para se
livrar do macaco, ele se torna violento e corta sua garganta. Depois estrangula a
filha. Quando começa a se acalmar, entra em pânico, porque se o seu dono
ficasse sabendo de tudo iria lhe castigar, então ele começa a quebrar coisas e
finalmente esconde o corpo da Mademoiselle L’Esapanaye na chaminé e joga o
corpo da Madame pela janela, fugindo logo depois.

OS DENTES DE BERENICE

A
narrativa conta a história de um homem chamado Egeu, que
está prestes a se casar com sua prima Berenice. Ele possui
tendências a cair em períodos de intenso foco - períodos de
"intensidade de interesse" - que parecem separá-lo do mundo exterior. Berenice
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começa a padecer de uma doença desconhecida até que a única parte do seu
corpo a permancer saudável são os seus dentes, com os quais Egeu desenvolve
uma obsessão. Berenice é enterrada, e Egeu continua a contemplar seus dentes.
Um dia, Egeu acorda de um período de foco sentindo-se intranquilo, e com o som
de gritos nos ouvidos. Um criado o assusta contando a ele que o túmulo de
Berenice fora violado, e que ela continuava viva. Ao lado de Egeu, entretanto,
encontra-se uma caixa contendo 32 dentes manchados de sangue e um poema
sobre "visitar o túmulo da minha amada".

WILLIAN WILSON

É
a história de um rapaz que encontra, logo no primeiro dia de escola,
um colega com o mesmo nome que o seu. Mas as semelhanças não
se limitam ao nome, em tudo eles são iguais: na forma de agir, na
forma de andar, na forma de falar e de se vestir, sendo a única diferença palpável
(ou, mais corretamente, indicada pelo narrador) a voz deste duplo, que era
sempre sussurrada. No princípio da história, o narrador e seu doppelganger eram
apenas colegas de escola, que se detestavam por serem tão parecidos.
Interessantemente, a coisa que mais causava asco e desprezo do narrador pelo
seu sósia era a maneira protetora com que ele o tratava. O duplo sempre dava
conselhos para o narrador, que os desprezava, mas que admite que, se tivesse
os seguido, não teria caído na desgraça que caiu. Após concluir o ensino
fundamental, o narrador entra em uma espiral de decadência moral e espiritual,
envolvendo-se em traições e jogos de azar, enredando-se cada vez mais neste
mundo sombrio. Porém, certa vez, quando iria tirar todo o dinheiro de um colega
de universidade num jogo de cartas, um certo estranho, que se vestia da mesma
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maneira que o narrador, interveio, e denunciou o golpe armado por este. Depois
disto, o narrador fugiu da Inglaterra para o continente europeu, e toda vez que iria
praticar um crime ou atentado à ética, seu sósia apareceria e o entregava.

O CORAÇÃO DENUNCIADOR

A
história começa com um homem narrando os fatos do passado
do lugar onde ele está no presente, que provavelmente é uma
prisão. Ele conta que trabalhava para um velho que tinha um
olho azul envolvido por uma membrana, de uma cor diferente de seu outro olho. O
velho nunca tinha feito mal ao homem, no entanto, ele ficava cada vez mais
perturbado e fascinado com seu olho branco. Uma noite, enquanto o velho dorme,
ele vai ao seu quarto com uma lanterna e faz barulho sem querer, acordando-o. A
tensão no quarto escuro só aumenta e o homem consegue ouvir as batidas de
seu coração. Isso o perturba e ele acende a lanterna, conseguindo ver apenas o
olho branco do velho. Furioso, ele se lança sobre a cama e o derruba no chão,
matando-o. Depois, quando o coração para de bater, ele esquarteja o cadáver e o
enterra. No dia seguinte, os policiais vão até sua casa para investigar o sumiço do
velho. O homem está tranquilo, até que começa a ouvir novamente as batidas do
coração do velho, e isso o aflige. Os policiais não ouvem o coração bater, sua
aflição só aumenta, até que ele revela o crime que cometeu.

ATIVIDADE II
Nesta atividade, os alunos receberão os textos produzidos na Etapa 3, para
que, em princípio, sejam feitas as correções levantadas pelo professor referentes
a problemas textuais encontrados, como coesão, coerência e ortografia. Em
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seguida, farão a releitura e reescrita dos contos, tendo em vista enriquecê-los a


partir desse novo repertório. Seria proveitoso que sentassem em duplas e, antes
das alterações finais, trocassem os textos, possibilitando um intercâmbio de
sugestões. Seria interessante que o professor circulasse pela sala dando
atendimento individual a quem necessitar de ajuda.

ATIVIDADE III
Leitura dos contos pela classe com a intenção de que sejam feitas
ilustrações para os mesmos. Não é necessário que cada aluno ilustre o seu
próprio conto. Ele poderá fazer um desenho para o texto do colega, se assim
quiser.

ATIVIDADE IV
Escolha dos textos e das ilustrações que farão parte do livro de contos de
suspense e de terror dos alunos que será publicado. Juntamente com a escolha
dos textos e ilustrações será definido o nome do livro.

Depois de realizarem essas atividades os alunos poderão organizar um


momento de autógrafos para o lançamento do livro. Nesse mesmo momento
poderão apresentar algumas dramatizações dos contos, danças e outras
atividades que julgarem pertinentes.

No fim dessa Etapa, espera-se abrir mais um ciclo, permitindo uma nova
aplicação do método que possibilitará aos alunos uma postura mais reflexiva e
crítica com relação à literatura.

FIM
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REFERÊNCIAS

BARBOSA, Jaqueline Peixoto. Narrativa de Enigma. São Paulo: FTD, 2001.

BERNARDO, André. Você tem medo de quê? Disponível em:


<www.revistasaude.uol.com.br>. Acesso em: 22 out. 2013.

BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira. 1993. Literatura: a formação


do leitor: alternativas metodológicas. 2. ed. Porto Alegre: Mercado aberto.

COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto,


2011.

DAHL, Roald. A dona da pensão. In:______. Beijo. São Paulo: Barracuda, 2007.

LAJOLO, Marisa. Literatura: leitores e leitura. São Paulo: Moderna, 2001.

LEÃO, Jacqueline Oliveira. A literatura fantástica e a formação de leitores no


século XXI. Disponível em: <www.humus.pro.br>. Acesso em: 27 out. 2013.

POE, Edgar Allan. Histórias extraordinárias. Tradução e adaptação Clarice


Lispector. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.

POE, Edgar Allan Poe. A queda da casa dos Usher. In:______. Assassinatos da
rua Morgue e outras histórias. São Paulo: Saraiva, 2006.

SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Gêneros orais e escritos na escola. 3.


ed. São Paulo: Mercado de Letras, 2011.

TELES, Hanny Francy Passos; TELES, Luciano Everton Costa. A literatura


fantástica de Edgar Allan Poe: histórias extraordinárias. Disponível em:
<www.humus.pro.br>. Acesso em: 27 out. 2013.

TELLES, Lygia Fagundes. Venha ver o por do sol e outros contos. São Paulo:
Ática, 2007.

ZILBERMAN, Regina. Estética da recepção e história da literatura. São Paulo:


Ática, 2009.

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