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História

Os segredos da cabala
Conheça a história e a loso a por trás do misticismo judaico
Por Daniel Schneider Atualizado em 24 jan 2018, 17h12 - Publicado em 19 mar 2011, 22h00

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No princípio, Deus criou os céus e a Terra. “Faça-se a luz”, e a luz foi feita. Depois, Deus criou o homem e o chamou Adão. Findos os 7 dias
da Criação, o Senhor viu que tinha feito algo bom. O homem habitava o paraíso e tinha contato direto e constante com Ele. E daí Deus
resolveu passar ao homem toda a sabedoria da cabala. “Adão conhecia a cabala”, dizem alguns praticantes. O assunto, porém, é
controverso entre os próprios cabalistas. Teria o conhecimento da cabala sido passado de Adão a seus descendentes até Noé, depois até
Abraão, Moisés e em seguida aos grandes mestres históricos, que selecionavam rigorosamente aqueles que estariam aptos a ser seus
discípulos? Não há consenso sobre o momento em que a cabala foi revelada ao homem, mas todos os cabalistas concordam que o
ensinamento sagrado veio diretamente do Criador, assim como os 613 mandamentos judaicos contidos na Torá, a bíblia judaica, que os
cristãos chamam de Pentateuco. “A cabala é além do tempo, ela não tem nem começo nem m”, diz o rabino israelense Joseph Saltoun,
ex-professor do Centro de Estudos da Cabala, em São Paulo, e que hoje leciona em Vancouver, no Canadá.

Mas, a nal, o que é a cabala? Bem, para tornar mais simples a tarefa de explicar, vamos começar dizendo o que ela não é. Ok, cabala NÃO
É religião, autoajuda, superstição, magia, bruxaria, sociedade secreta, meditação, adivinhação, interpretação de sonhos, ioga, hipnose ou
espiritismo, embora possa estar relacionada a todas essas coisas. Agora ca mais simples entender o que a cabala É: um conjunto de
ensinamentos sobre Deus, o homem, o Universo, a Criação, o Caminho, a Verdade e coisas a ns; uma revelação de Deus para o homem.
“Ela nos diz por que o homem existe, por que nasce, por que vive, qual é o objetivo de sua vida, de onde vem e para onde vai quando
completa sua vida neste mundo”, diz Marcelo Pinto, representante do centro de cabala Bnei Baruch no Brasil. “O ser humano tem muitas
questões, e a cabala é um caminho espiritual que permite trazer de volta o elo com a verdadeira origem de tudo”, explica Ian Mecler,
professor de cabala no Rio de Janeiro e escritor de livros como O Poder de Realização da Cabala (Editora Mauad). Para Shmuel Lemle,
professor da Casa da Cabala, também no Rio, “nada acontece por acaso. Existem leis de causa e efeito. Assim como existem leis físicas
como a lei da gravidade, existem leis espirituais”.

Independentemente de quando a cabala tenha surgido, o modo como a conhecemos hoje é o resultado da transmissão desses
ensinamentos por meio da tradição judaica. A palavra cabala (????, em hebraico, cuja pronúncia mais próxima do original é “cabalá”)
signi ca receber/recebimento. A cabala é uma forma de misticismo, pois ensina que é possível ao homem ter contato direto com esferas
superiores da realidade, ou mesmo com manifestações do próprio Criador. Portanto, de um modo simpli cado, a cabala é o misticismo
judaico, ou a corrente mística ligada à tradição do judaísmo, para ser mais exato.

União com o criador

Grosso modo, a cabala está para o judaísmo assim como o gnosticismo está para o cristianismo e o su smo está para o islã. Gnosticismo e
su smo são as correntes místicas ligadas respectivamente às tradições cristã e muçulmana. Como misticismos, essas 3 correntes têm
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muito em comum (veja o quadro da página ao lado).informações A maiorleiaparte das diferenças
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adaptado à tradição em que aquele tipo de misticismo se desenvolveu. Esse raciocínio não vale apenas para as 3 religiões chamadas
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abraâmicas (por serem todas herdeiras do patriarca Abraão) mas também para as místicas orientais, como hinduísmo, tao e budismo,
além do zoroastrismo na Pérsia, só para citar as mais conhecidas.

Se a cabala é um tipo de misticismo, talvez seja o caso de explicar: o que é misticismo? Em poucas palavras, é a crença na possibilidade de
percepção, identidade, comunhão ou união com uma realidade superior, representada como divindade(s), verdade espiritual ou o próprio
Deus único, por meio de forte intuição ou de experiência direta em vida. Na intenção de atingir esse tipo de experiência, as tradições
místicas fornecem ensinamentos e práticas especí cos, como meditação e aperfeiçoamento pessoal consciente. Nosso foco nesta
reportagem, a cabala, não é exceção. Para entender melhor, vamos dar uma espiada no passado?

Tradição oral

Seja qual for o primeiro e privilegiado homem a ter recebido o conhecimento esotérico da cabala, ninguém discute que os ensinamentos
foram transmitidos oralmente ao longo de muitas gerações, até que alguém resolvesse eternizá-los na escrita. Os primeiros escritos
conhecidos com referências a esses ensinamentos datam do século 1. São livretos reunidos numa coleção chamada Heichalot (“Os
Palácios”), que versam sobre os passos necessários para ascender evolutivamente através de 7 palácios celestiais, com ajuda de espíritos
angelicais. Mas os livros mais importantes da cabala são o Sefer Yitizirah (Livro da Criação) e o Zohar (Livro do Esplendor), ambos de
origem incerta. O primeiro teria sido escrito no século 2, mas seu autor é desconhecido. No caso do Zohar, a situação é ainda mais
complexa. Para alguns cabalistas, ele foi escrito pelo rabino Shimon bar Yochai, também no século 2. A maioria dos estudiosos, porém,
acredita que o Livro do Esplendor seja de autoria do escritor judeu-espanhol Moisés de León, que divulgou os manuscritos no século 13.

Embora o Sefer Yitizirah e o Zohar concentrem em suas páginas os principais ensinamentos da cabala, é importante lembrar que a Torá é
tão importante quanto eles. Isso porque, segundo a cabala, a Torá contém ensinamentos preciosos codi cados dentro do texto sagrado –
decifrar esses ensinamentos ocultos é, por sinal, um dos principais propósitos do misticismo judaico. Uma das maneiras de interpretar a
bíblia hebraica é recorrer a códigos e números: a guematria, a face matemática da cabala (veja reportagem na página 32), atribui valores
numéricos a cada uma das 22 letras do alfabeto hebraico. A ordenação dessas letras no texto bíblico seria uma das maneiras que Deus
teria encontrado para revelar ao homem os segredos do Universo.

As interpretações da Torá são tão importantes que foram divididas em 4 níveis de profundidade. O 1º nível, Peshat, é aquele com que
todos leitores estão acostumados, mais simples, que compreende o sentido literal do texto. O 2º, Remez, já considera os signi cados
alegóricos da linguagem (alusões). No 3º nível, Derash, entram comparações entre trechos similares e metáforas. O último nível seria
aquele que compreende o sentido secreto e misterioso da mensagem divina: Sod. Juntos, os nomes das interpretações já possuem um
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nalidade última do esforço de interpretação. Isto é, ao nalmente compreender a mensagem que Deus colocou nos textos sagrados, o
cabalista receberia de volta o conhecimento do paraíso, como se Ok, lhe fosse devolvida a chave para retornar ao Éden, do qual Adão foi
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expulso por desobediência. “É como uma gota retornando ao oceano, de volta à realidade divina. Não é um processo fácil”, diz o rabino
Leonardo Alanati, da Congregação Israelita Mineira.

Mestres e discípulos

Durante séculos, especialmente após a destruição do Segundo Templo em Jerusalém pelos romanos, no ano 70, a sabedoria da cabala foi
cuidadosamente transmitida “por mestres iluminados somente a pequenos grupos de seus discípulos mais brilhantes e inspirados”, conta
Alanati. Os discípulos ideais eram homens maduros (mais de 40 anos), pais de família, de comportamento exemplar e ávidos por
descobrir os segredos do Universo. Não eram muitos, portanto, aqueles que se tornavam mestres e davam continuidade à transmissão do
conhecimento oral.

Para boa parte dos cabalistas, as restrições tinham uma razão clara: o público não estava preparado para receber esses ensinamentos.
“Esse é o principal motivo para a transmissão restrita”, opina Mecler. “Hoje, a evolução da ciência ajuda a compreender muitos dos
ensinamentos antigos”, diz. Mas o motivo de tanto segredo não era somente a escassez de discípulos ideais. Em diversas épocas, por
razões diferentes, os judeus foram proibidos de professar publicamente sua fé – a perseguição aos cabalistas atingiu o clímax no século
16, durante a Inquisição espanhola (veja reportagem na página 56). Além disso, “a cabala contém uma reinterpretação revolucionária do
texto bíblico, que usa uma simbologia complexa e uma linguagem ambígua”, diz Alanati. Por causa disso, em muitas ocasiões os
cabalistas foram considerados hereges. Até hoje, o estudo da cabala é condenado por várias vertentes do judaísmo.

Entre o período nal da Idade Média e o m da Idade Moderna, houve um ressurgimento da cabala. No século 13, o Zohar foi distribuído
pelo escritor espanhol Moisés de León; no século 16, os conhecimentos foram sistematizados pelo místico Moisés Cordovero, um dos
sábios a se refugiar na cidade israelense de Safed; em seguida, Isaac Luria divulgou novas interpretações dos ensinamentos, que foram
espalhados por vários mestres pela Europa, fazendo da cabala a teologia dominante em círculos escolásticos e no imaginário popular
judaico; e, no século 18, o rabino Baal Shem Tov fundou o hassidismo, variante ortodoxa do judaísmo que ensinava uma versão mais
“fácil” da cabala. De todo modo, “a essência é a mesma há 4 mil anos”, diz Mecler. “O conhecimento não muda, assim como as leis da
física não mudam. Muda só a forma de transmitir”, diz Lemle.

Hoje, com o advento da internet, o conhecimento da cabala é acessível a qualquer interessado, ainda que de forma simpli cada. “Estamos
prontos, então a hora chegou”, conclama Lemle. Nos séculos 20 e 21, foram feitas diversas traduções do Zohar para o hebraico moderno
(o idioma original é o aramaico) e para o inglês (não existe uma versão completa em português). Mas o fator que mais contribuiu para a
popularização da mística judaica foi a recente adesão (desde a década de 1990) de celebridades como Madonna, Mick Jagger, David
Bechkam, Britney
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A organização responsável pelo surgimento da cabala pop é o Kabbalah


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Centre, uma escola de cabala fundada em 1984 na cidade de Los
Angeles. Lá, como você pôde perceber ao ler o nome dos famosos, o acesso aos ensinamentos não é restrito a judeus. “Temos alunos de

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várias religiões”, diz Yehuda Berg, um dos coordenadores do centro americano. “Não vejo problema nisso.”

Nem todos estudiosos aceitam a ideia de que a cabala deva ser acessível a todos. A atitude do Kabbalah Centre provocou reações
indignadas de cabalistas mais tradicionais, como o iraquiano Yitzhak Kadouri, um dos mais importantes estudiosos da cabala no último
século. “A cabala não é moda”, disse em 2004, comentando a adesão de Madonna ao misticismo. “Ela deve ser estudada somente por
judeus.”

Controvérsias à parte, a verdade é que a cabala ganhou milhares de aspirantes de diversas religiões nos últimos anos. Mas essa não é a
primeira vez que acontece esse tipo de “sincretismo”. Veja a seguir como diversas crenças e religiões encontraram na cabala uma parceira
de peso.

Parcerias poderosas

Durante o Renascimento, a cabala despertou interesse de grupos místicos cristãos, intrigados com a compatibilidade entre as duas
tradições. O resultado foi a criação da cabala cristã (ou católica), que levou novos níveis de interpretação aos textos sagrados cristãos.
“Considero Jesus um mestre de cabala”, diz Mecler. Um sincretismo mais profundo resultou no surgimento da chamada cabala hermética,
que reúne ensinamentos de gnosticismo, alquimia, astrologia, religiões egípcia, greco-romana e pagãs, tarô, tantra, maçonaria,
hermeticismo, neoplatonismo, hinduísmo e budismo, em uma espécie de síntese de todas as tradições místicas ditas autênticas. Outra
variante é a cabala prática, que trabalhava com o uso da magia, incluindo a criação de amuletos e encantamentos, e teve seu apogeu na
Idade Média (veja reportagem na página 62).

Mas, além dessas tradições cabalísticas distintas, a própria cabala judaica tem diferentes correntes. Uma delas é a já citada cabala pop.
Outra variante tem como expoente o Bnei Baruch Kabbalah Education & Research Institute, fundado em 1991. Autodenominado o maior
grupo de cabalistas em Israel, o Bnei Baruch não considera a cabala um misticismo, mas “uma ferramenta cientí ca para o estudo do
mundo espiritual”. A proposta deles para compreender o Universo é aliar os estudos cientí cos da física, da química e da biologia às
ferramentas cabalísticas. Seu fundador e atual diretor, o lósofo Michael Laitman, é Ph.D. em cabala pela Academia Russa de Ciências e
mestre em biocibernética médica.

Além dessas e, claro, do judaísmo hassídico, existem outras correntes – mais conservadoras, mais literais, mais exíveis… “Cada escola se
liga mais em um ou outro mestre”, esclarece Mecler. As diferenças são na ênfase em cada aspecto da sabedoria, mas todas seguem a base
comum dos textos sagrados e da tradição oral. “Existem muitos mestres, e cada um pode escolher aquele com o qual se identi ca, mas
nãoEste
hásite
diferença na base do ensinamento”, diz Lemle. A nal, como costumam dizer, “a Verdade é uma só”. Que tal conhecer um pouco
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Deus-in nito

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Assim como a religião judaica, a cabala a rma que tudo o que existe vem de Deus. Entretanto, o Deus único não é compreendido
exatamente da mesma maneira. Se, para a religião tradicional, Deus é o todo-poderoso Criador de todas as coisas, para a cabala Ele não é
somente o Criador mas é também a Criação. Ou seja, a Criação não é dissociada do Criador, mas parte d’Ele. A existência de Deus não
seria, portanto, distinta do espaço e do tempo; o espaço e o tempo estariam contidos no próprio Deus-In nito. Mas não vá pensando que
já entendeu, porque isso não é assim tão simples. E nem imagine que essas racionalizações vão proporcionar a você um entendimento
profundo de Deus. Por um simples fato: segundo a cabala, ou mesmo a religião judaica, o Deus-In nito não pode ser compreendido pela
nossa mente física limitada.

Claro que, apesar disso, os cabalistas não deixam de estudar esses ensinamentos, porque os consideram fundamentais para prosseguir no
caminho da evolução espiritual. Um dos estudos mais importantes é justamente o que diz respeito à natureza da divindade. Para começar,
os cabalistas preferem o termo Deus-In nito – uma tradução para ??? ??? (lê-se da direita para a esquerda), ou Ein Sof, aquele que veio
antes de tudo, que precede a Criação. Veja o que diz o Zohar sobre o Ein Sof: “Antes de dar qualquer formato ao mundo, antes de produzir
qualquer forma, Ele estava só, sem forma e sem semelhança com qualquer outra coisa. Quem então pode compreender como Ele era
antes da Criação? Por isso é proibido emprestar-Lhe qualquer forma ou similitude, ou mesmo chamá-Lo pelo Seu nome sagrado, ou
indicá-Lo por uma simples letra ou um único ponto… Mas, depois que Ele criou a forma do Homem Celestial, Ele a usou como um veículo
por onde descer, e Ele deseja ser chamado por Sua forma, que é o nome sagrado ‘YHWH’”.

Pode parecer estranho não poder dar um nome a Deus, tornando-o de certa maneira inacessível para os homens. A nal, se é assim, como
pode existir uma experiência mística que permite esse acesso? Bem, a cabala explica que o contato com Deus é realizado indiretamente,
por meio de um de seus desdobramentos. “Para tornar-se ativo e criativo, Deus criou as 10 se rot ou emanações. As se rot formam a
Árvore da Vida, que representa os aspectos de Deus existentes dentro de nós”, explica o rabino Alanati. Ou seja, uma maneira de ter o
contato místico com Deus é através de uma das 10 se rot, as mesmas representadas no famoso diagrama. Alanati explica que as 7 esferas
mais baixas estão diretamente relacionadas com os 7 dias da Criação descritos no livro do Gênese.

Mas como teria se dado exatamente a Criação? A cabala tem um livro dedicado a esse tema: o já citado Sefer Yitizirah. O texto ensina que
a primeira emanação do Ein Sof foi ruach (espírito/ar), que em seguida gerou fogo, responsável por formar água. A existência real dessas
substâncias potenciais foi comandada por Deus, que as utilizou como matérias-primas de toda a Criação. Por exemplo, a água deu origem
à terra, o fogo originou o céu e o ar ocupou o espaço entre eles para formar nosso planeta. Ainda segundo o Sefer, o Cosmos é dividido em
3 partes (cada uma delas contendo uma combinação dos 3 elementos primordiais): o mundo (ou, com alguma abstração, o espaço), o ano
(tempo) e o homem.

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A cabala divide o Universo em 4 planos de existência, divididos hierarquicamente a partir da emanação do Ein Sof até nós. Nessa ordem,
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teríamos então: o Atziluth (Mundo da Emanação ou das Causas), que recebe a luz diretamente do Ein Sof; o Beri’ah (Mundo da Criação),

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onde não há matéria e onde moram os anjos de mais alta hierarquia; o Yitizirah (Mundo da Formação), onde a Criação assume forma
material; e o Assiah (Mundo da Ação), onde se completa a Criação e se localiza todo o Universo físico e suas criaturas. No sistema
luriânico, um quinto mundo é mencionado, acima do primeiro, e que serviria de mediação entre o Ein Sof e o Mundo da Emanação.

Planos superiores

É curioso observar que, na cabala luriânica, desenvolvida no século 16 pelo rabino Isaac Luria, há um conceito que lembra a Teoria do Big
Bang. Segundo essa linha cabalística, a primeira ação de Ein Sof para criar o Universo teria sido uma contração sobre si mesmo, que teria
provocado uma catástrofe inicial chamada tohu, gerando um vácuo. Em seguida, esse váculo teria sido preenchido com as emanações
divinas (de uma maneira explosiva, tendo em vista a grande velocidade dos acontecimentos narrados) e, a seguir, “reti cado” nos mundos
que você conheceu no parágrafo anterior.

Enquanto estiver no Mundo da Ação, o homem está sujeito a dirigir o corpo físico que lhe foi concedido, mas seu objetivo deve ser
sempre o mesmo: aprender e evoluir para ascender aos planos superiores. “O judaísmo acredita que a alma é eterna e subdividida”, diz
Alanati. “A vida continua em outras realidades além da nossa, aguardando a ressurreição. A cabala é a única corrente dentro do judaísmo
que defende o conceito de reencarnação: algumas almas retornam a este mundo em outro corpo, até acabar de cumprir a sua missão. Ou
então elas voltam para nos trazer bênçãos e luz através de seu ser altamente desenvolvido”. Segundo ele, seria possível uma alma atingir o
estágio de evolução necessário em uma única vida, mas é comum receber mais algumas chances, num processo de reencarnação que
também faz parte dos aprendizados evolutivos.

Segundo a cabala, a alma humana é dividida em 3 partes básicas. A mais “baixa”, chamada nefesh, é a parte animal, responsável pelos
instintos e re exos corporais. Acima dessa estaria ruach, o espírito ou alma média, que contém as virtudes morais e a habilidade de
distinguir o que é bom e o que é ruim. A alma alta, neshamah, seria a terceira parte, que representa o intelecto e distingue o homem das
outras formas de vida, por permitir a vida após a morte. É a neshamah que permite a percepção da existência de Deus.

Outras duas partes da alma humana são discutidas no Zohar: chayyah, que permite a consciência da força divina, e yehidah, a parte da
alma que é alta o su ciente para atingir o maior nível possível de união com o Criador. “A meta é alcançar o propósito para o qual fomos
criados: a equivalência de forma com a Força Superior. Todo o trabalho na cabala tem esse objetivo”, resume Marcelo. Na hipótese remota
de a humanidade nalmente se unir ao Criador, em uma fusão completa e perfeita, o que aconteceria? O m do mundo? O começo de
uma nova e gloriosa Criação? Bom, isso nem mesmo os mestres cabalistas sabem responder…

VOLTA ÀS ORIGENS
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Grupo de jovens israelenses se reúne em uma caverna pertoleia
informações danossa
vilaPolítica
de Beit Meir, em Jerusalém, para estudar a cabala, em maio de 2010.
de Privacidade

Uma vez por semana, cerca de 12 judeus ortodoxos se encontram nesta caverna perto da cidade sagrada para repetir um ritual antigo:
Ok, entendi
analisar e discutir, por horas a o, os textos de livros como o Zohar.

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FESTA MÍSTICA
Mais de 2 mil estudantes da cabala se reuniram na Times Square, em Nova York, para celebrar a chegada do Ano-Novo Judeu, Rosh
Hashana, em setembro de 2001. O canto, a dança e as vestes brancas são típicos de uma nova geração de cabalistas, que considera a festa,
a celebração e a alegria tão importantes quanto a meditação e as longas sessões de estudo dos textos antigos.

LADO A LADO
Judeus ortodoxos e soldados israelenses rezam juntos na tumba do rabino Isaac Luria, em Safed, Israel. Luria, um dos mais importantes
cabalistas de todos os tempos, foi o responsável pela renovação do misticismo no século 16 com a criação da cabala luriânica e a
divulgação de seus ensinamentos para além dos círculos judaicos.

BANHO SAGRADO
Um judeu se banha nas águas geladas da Mikve HaAri, localizada em Safed, Israel. Cabalistas repetem há anos o ritual, prestando
homenagem ao rabino Isaac Luria, que teria utilizado as mesmas águas no século 16. Alguns se banham todos os dias, mas o mais comum
é realizar o ritual na véspera do Shabat.

SÓ PARA JUDEUS
O cabalista Yitzhak Kadouri segura um exemplar do Zohar na biblioteca de sua casa em Jerusalém, em 2004. Um dos maiores estudiosos
contemporâneos da cabala, Kadouri ganhou notoriedade por sua in uência política e por suas declarações polêmicas. Em 2004, durante
visita de Madonna a Israel, ele se recusou a falar com a cantora, dizendo que “o estudo de cabala é proibido para as mulheres, e também
para os que não são judeus”.

A cabala no tempo
Conheça a evolução da corrente mística judaica, da criação do Universo até os dias de hoje

Criação
Origem – 3700 a.C.
Deus cria Adão. Há quem defenda que ele teria sido o primeiro conhecedor da cabala, obtida diretamente do Criador.

Patriarca – 1800 a.C.


Nasce Abraão, patriarca dos judeus, dos cristãos e dos muçulmanos. Para alguns, ele seria o primeiro conhecedor da cabala.

Êxodo – 1500 a.C.


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O profeta Moisés teria recebido a cabala diretamente de Deus
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Templo – 516 a.C.


É erguido o Segundo Templo em Jerusalém. A chamada Torá Oral é transmitida ao longo dos anos.

Formação
Diáspora – 70 D.C.
Perseguição romana e destruição do Segundo Templo. Segunda diáspora. Cabala é mantida em segredo.

Palácios – Séc. 1
É escrita a coleção de literatura judaica conhecida como Heichalot (“Os Palácios”), que inspirou motivos cabalísticos.

Manuscritos – Séc. 2
É escrito o livro Sefer Yitizirah, a obra mais antiga do chamado esoterismo judaico. Segundo a tradição, é escrito também o Zohar, no
idioma aramaico, pelo rabino Shimon bar Yochai.

Título – Séc. 11
O termo cabala passa a ser usado para identi car o misticismo judaico. Não há consenso se o pioneiro nesse uso foi o lósofo judeu
Shlomo ibn Gevirol ou o cabalista espanhol Bahya ben Ahser.

Expansão
Redescoberta – Séc. 13

O Zohar é descoberto (ou escrito, segundo alguns estudos) e distribuído pelo escritor judeu-espanhol Moisés de León.

Renovação – Séc. 16
Sábios cabalistas refugiam-se na cidade de Safed, em Israel: entre eles está Isaac Luria, criador da cabala luriânica.

Vivência – Séc. 18
Fundado pelo rabino e místico judeu Baal Shem Tov, o judaísmo hassídico, ramo ortodoxo que prega a vivência mística da fé judaica,
populariza uma forma mais simples de cabala no Leste Europeu.

Tradução – Séc. 20
O rabino Yehuda Ashlag, fundador do Kabbalah Centre de Israel, completa em 1922 a primeira tradução do Zohar para o hebraico
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moderno. Em 1984, Philip Berg funda o Kabbalah Centre de Los Angeles.
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Ao acompanhar esta linha do tempo, você vai notar algumas discrepâncias


Ok, entendi entre o que dizem as tradições judaicas e a opinião dos
estudiosos. O caso mais exemplar é o do Zohar: no século 13, Moisés de León distribuiu a primeira versão escrita da obra, alegando que
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havia encontrado os manuscritos originais, do século 2. Conta-se, porém, que um homem rico ofereceu à viúva de Moisés de León uma
alta soma de dinheiro pelos originais. Desolada, ela teria confessado que seu marido era o verdadeiro autor.

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