Você está na página 1de 7

Veterinarian Docs

www.veterinariandocs.com.br

Clínica Médica de Pequenos Animais

Reposição Hidroeletrolítica

Introdução

A meta da terapia com fluídos é a restauração do volume e composição de


líquidos corporais à normalidade e, uma vez que esta tenha sido restaurada, a
manutenção do equilíbrio dos líquidos e eletrólitos externos, de modo que o tratamento
por ingresso de componentes iguale as perdas de líquidos.

Deve-se fazer uma ampla avaliação do paciente, incluindo a história clínica,


exame físico e exames laboratoriais.

Informações úteis da história clínica são: ingestão de alimentos e água, perdas


gastrointestinais por vômito e/ou diarréia, débito urinário, exercícios recentes, exposição
ao calor, traumatismo, hemorragia, palpitação excessiva, febre e uso de diuréticos.

No exame físico pode-se determinar a situação em termos de líquidos (escala de


desidratação) e a reavaliação regular durante a terapia com fluídos é extremamente
importante para a determinação da eficácia do tratamento.

As análises mais freqüentemente efetuadas a nível laboratorial são: hematócrito,


proteínas plasmáticas totais, densidade urinária, nitrogênio sanguíneo derivado da uréia
(BUN) e glicose sanguínea.

A administração de líquidos intravenosos é a preferida, especialmente quando há


a necessidade de rápida expansão do volume. Tanto a via intraperitoneal como a
subcutânea podem também ser empregadas, mas a absorção pelo tecido subcutâneo é
lento.

1
www.veterinariandocs.com.br
As perdas fisiológicas diárias chegam de 20 a 40 mL/kg/dia (urina) e 20
mL/kg/dia (fezes, respiração e transpiração). Portanto, em condições normais, um
animal perde, diariamente, cerca de 50 mL/kg/dia (ou 5% do peso vivo).

Avaliação da Desidratação

A desidratação pode ser estimada clinicamente avaliando-se a elasticidade da


pele, o tempo de preenchimento capilar (TPC) e as mucosas.

*A desidratação pode ser subestimada em pacientes obesos e superestimada em


pacientes caquéticos.

Grau de Desidratação Perda de Água Aproximada Sinais Clínicos

Não Aparente <5% Indetectável

Leve 5 a 7% Diminuição da elasticidade da pele e


mucosas secas

Moderada 8 a 9% Pequeno aumento do TPC, enoftalmia e


maior perda da elasticidade da pele

Grave 10 a 12% Pele não retorna, aumento do TPC e início de


sinais de choque

Choque 12 a 15% Choque hipovolêmico

Os testes laboratoriais mostram Hb e Ht, uréia, creatinina, proteínas e densidade


específica da urina elevados, e sódio urinário baixo (a não ser que haja doença renal
primária).

Classificação da Desidratação

-Hipotônica;

-Isotônica;

-Hipertônica;

01-Desidratação Hipotônica

Ocorre quando há perda de sal maior que de água, levando à hiponatriemia.


Ocorre uma transposição de água do espaço extracelular para o espaço intracelular que
levam a diminuição severa do volume circulante e sinais clínicos mais evidentes de
desidratação.

2
www.veterinariandocs.com.br
*Tipo mais grave de desidratação;

Causas: perda de fluído hipertônico (diuréticos, peritonite, pancreatite e


uroabdomen) e perda de fluído isotônica com reposição de água (diarréia, hemorragia e
hipoadrenocorticismo);

02-Desidratação Isotônica

Ocorre quando a perda de sal é proporcional à de água. Hematócrito e proteínas


totais permanecem normais.

Causas: Perda de fluído isotônico (vômito, diarréia, hemorragia e


hipoadrenocorticismo);

03-Desidratação Hipertônica

Ocorre quando há perda de água maior que a de sal, levando à hipernatremia. Há


transposição de água do espaço intracelular para o extracelular. Hematócrito e proteínas
totais estão minimamente alterados.

Causas: Perda de fluídos hipotônicos (vômito, diarréia, diabetes melito,


insuficiência renal e queimaduras) e perda de água (diabetes insípido, febre e
diminuição da ingestão de água);

Sinais Clínicos

Sede (com perda de 2% do peso corpóreo), mucosas secas, pele intertriginosa


seca, perda da elasticidade da pele, oligúria (sinais precoces), taquicardia, hipotensão
postural, pulso fraco, obnubilação (diminuição da consciência), febre, coma (sinais
tardios) e morte (com perda de 15% do peso corpóreo).

Líquidos Parenterais

-Soluções Coloidais (Dextrano 70 a 6% em solução salina 0,9%,


Hidroxietilamidos, Salina hipertônica, Plasma fresco congelado, Albumina 4% ou 10%,
Sangue total, Papa de hemácias);

-Soluções Eletrolíticas (Ringer, Ringer com Lactato, Solução de Cloreto de


Sódio a 0,9% ou 7,5% e Glicose 5%);

*Solução coloidal é uma solução que possui tanto pequenas moléculas, que são íons permeáveis, como
grandes moléculas, que são impermeáveis. Estes fluídos, uma vez infundidos na circulação sanguínea,
têm a capacidade de atrair líquido para o espaço intravascular e retê-lo, expandindo o vaso e restaurando a
volemia, com um menor volume e maior rapidez, se comparado às soluções salinas fisiológicas;

3
www.veterinariandocs.com.br
Conduta Terapêutica

01-Desidratação

Repõe-se o volume perdido, representado pela perda do peso corpóreo,


administrando-se de 30 a 100% volume total a repor nas primeiras 3 a 12 horas (em
caso de choque hipovolêmico), dependendo do estado clínico. Determina-se o estado
iônico do paciente e reponha sal de acordo com as necessidades, utilizando soluções
eletrolíticas adequadas e quando houver desidratação grave, use soluções eletrolíticas
em grandes quantidades.

01.1-Quantidade

01.1.1-Volume de reposição: é aquele que corrige o déficit de fato, ou aquilo


que estimamos ao avaliar o grau de desidratação (com alguma pequena margem de erro
aceitável). É calculado com base no grau de desidratação apresentado e deve ser reposto
de forma rápida, idealmente. Deve ser reavaliado (recalculado) a cada 24 horas de
tratamento. Calcula-se empregando a fórmula a seguir:

Volume de reposição (L) = peso vivo (kg) x grau de desidratação


100

01.1.2-Volume de manutenção: considera a taxa de rotatividade diária de


fluidos (ou de água) do organismo e varia de acordo com a idade do paciente. É um
volume calculado com base nas fórmulas apresentadas a seguir, que deve ser
administrado ao longo das 24 horas de um tratamento. Portanto, ao contrário do volume
de reposição, a sua administração é lenta ou parcelada ao longo do dia.

Cão: 50ml/kg/dia

Gato: 70ml/kg/dia
+
K : 1mEq/kg/dia

01.1.3-Volume de perdas continuadas: considera o volume que continua sendo


perdido ao longo do dia do tratamento iniciado. É uma simples estimativa com uma
margem de erro relativamente grande, e somente possível nos quadros em que a perda é
visível (diarréia e poliúria). Dificilmente mensurável. É impossível estimar nos casos de
seqüestros de fluidos. Tais dificuldades técnicas fazem com que esse volume seja
muitas vezes ignorado.
Vômito: 40ml/kg/dia

Diarréia: 50ml/kg/dia

Ambos: 60ml/kg/dia
+
K : 3 mEq/100ml

4
www.veterinariandocs.com.br
Exemplo:

Paciente da raça Pinscher (2kg)

-Desidratação Clínica: 10% = 200 mL

-Vômito (40mL/kg/dia) = 80 mL

-Diarréia (50mL/kg/dia) = 100 mL

-Manutenção (50mL/kg/dia) = 100 mL

480 mL

Temos 480 mL em 24 horas.

-Equipo Macrogotas

20 gotas / mL  480 mL x 20 = 9600 gotas em 24 horas

400 gotas /hora (60 minutos)

6,6 gotas/min ou seja 1 gota a cada 10 segundos aproximadamente

Velocidade: é determinada pela rapidez e gravidade das perdas do paciente.

*90 mL/kg/hora – Cães


*50 mL/kg/hora - Gatos

*Em casos em choque hipovolêmico.

02-Reposição Eletrolítica

02.1-Reposição de Potássio

Na rotina clínica várias são as situações onde o paciente perde potássio:


anorexia, vômito, diarréia, pancreatite, peritonite e gastroenterite hemorrágica por
exemplo.

*Pacientes diabéticos em cetoacidose são propensos à hipocaliemia por perda urinária e


pouca ingestão de alimentos;

**Fluidos com menos de 14 a 20 mEq/L de potássio não suprem a necessidade do


paciente;

***Nunca exceder 0,5 mEq/kg/hora na taxa de infusão;

Sinais Clínicos da Hipocaliemia:

-Tremores (similares à mioclonias);

5
www.veterinariandocs.com.br
-Fraqueza muscular;

-Ventroflexão de pescoço;

-Arritmias;

-Íleo paralítico;

-Retenção urinária;

20 mEq/L de fluído pré-calculado*


8 mL de KCl 19,1% em 1 L de solução

*Caso utilize-se o Ringer Simples ou Ringer com Lactato como fluido de escolha, não é necessário
descontar os 4 mEq/L disponíveis a não ser que a reposição esteja sendo realizada em pacientes com
menos de 1kg;

**KCl 19,1% = 2,56 mEq/L (8mL * 2,56 = 20,48)

03-Reposição de Glicose

100 mL de Glicose 50% em 1 L de solução

6
www.veterinariandocs.com.br
Referências Bibliográficas

ETTINGER S. J. Tratado de Medicina Interna Veterinária. 3 ed. São Paulo: Manole,


1992.

ANDRADE, Silvia Franco. Manual de Terapêutica Veterinária. 2 ed. São Paulo:


Roca, 2002.

RABELO C.R., CROWE D.T. Fundamentos da Terapia Intensiva Veterinária em


Pequenos Animais. 1 ed. Belo Horizonte: L.F Livros, 2005.

EVORA P. R., REIS C. L., FEREZ M.A., CONTE D.A., GARCIA L.V. Distúrbios do
Equilíbrio Hidroeletrolítico e do Equilíbrio Acidobásico - Uma revisão prática.
Ribeirão Preto, 1999.

7
www.veterinariandocs.com.br

Você também pode gostar