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18/03/2019 - 21:45
A carta, que pedia a leitura do slogan e a filmagem dos estudantes, havia sido enviada
no dia 25 e causou polêmica a nível nacional. Foi criticada por especialistas e rendeu
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19/03/2019 Professor é afastado após discordar de hino com leitura de slogan de Bolsonaro em Goiás
No mesmo dia desse episódio, a direção do colégio militar enviou três documentos
para Coordenação Regional, instância da Seduc, contra o professor de geografia: Uma
nota de repúdio dizendo que ele cometeu desrespeito; um “relatório de prática
inadequada” descrevendo o momento da leitura da carta com detalhes; e um ofício
pedindo a remoção de Wellington, alegando que três pais de estudantes haviam
reclamado da suposta doutrinação comunista e ateu que o docente estaria praticando.
No ano passado, outros dois pais fizeram as mesmas reclamações.
Até o prefeito de São Luís de Montes Belos entrou na história. Eldecirio da Silva (PDT),
major reformado da PM, enviou mensagens de WhatsApp para a Coordenação
Regional descrevendo reclamações de pais de estudantes. Procurado pela reportagem,
o prefeito afirma que não conhece o professor e apenas repassou o caso para a área
pertinente.
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19/03/2019 Professor é afastado após discordar de hino com leitura de slogan de Bolsonaro em Goiás
“Os pais reclamaram que ele estava pregando, na cabeça dos filhos deles, comunismo
e contra os princípios religiosos. Que estava ensinando contra as doutrinas das igrejas
e que o filho estaria rebelde em casa”, diz.
Wellington foi afastado preventivamente no último dia 8 e deve ser lotado em um novo
colégio após esse período. Ele almeja voltar à unidade, onde dá aula desde antes de
sua militarização, que aconteceu há cerca de um ano. Por nota, a Seduc informou que
será “assegurado o direito da ampla defesa dos envolvidos e garantida a inviolabilidade
de suas informações pessoais”.
Defensor árduo do presidente, o diretor costuma fazer críticas severas a opositores nas
redes sociais. Defende um governo militarista, critica professores de esquerda e chama
petistas de malditos. Na foto de formatura da turma de Ensino Médio do colégio deste
ano, os estudantes posaram fazendo o sinal de arma com as mãos, ao lado do diretor,
símbolo da campanha de Bolsonaro.
O diretor não está sozinho em suas críticas. Outros cinco pais de alunos também
acusam Wellington de ser “doutrinador”. Dois deles desde o ano passado, quando
houve a abertura de um primeiro processo interno, já finalizado. Três deles manifestam
apoio ao presidente Bolsonaro nas redes sociais.
Uma mãe afirma que a filha começou a acreditar em ideias comunistas por causa do
professor. Ela diz que a estudante teria demonstrado que prefere tirar notas menores
para se equiparar aos demais alunos. Um casal fez denúncia dizendo que o professor
teria chamado os eleitores de Bolsonaro de “analfabetos políticos”.
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19/03/2019 Professor é afastado após discordar de hino com leitura de slogan de Bolsonaro em Goiás
Um pai conta em depoimento que o professor teria dito que “Deus não existe” e que
Jesus seria comunista se vivesse nos dias atuais. Já um outro pai, pastor evangélico,
fala que o professor constantemente deixaria claro que é ateu e que tentaria passar
isso de maneira indireta aos alunos. Outra mãe reclama que o professor ensinaria
“ideologias contrárias ao bom costume”.
A reportagem entrou em contato com o diretor do colégio, mas ele afirmou que só daria
entrevista depois da coordenadora regional de educação de São Luís. A reportagem
entrou em contato com a coordenadora, mas não obteve retorno até o fechamento
desta reportagem.
Apesar de não concordar com o modelo militar, afirma que continuou na unidade por
considerar uma forma de resistência e por ter uma boa relação com os outros
professores e demais colegas.
Ele mora em uma cidade vizinha à do colégio. “Nunca me senti tão injustiçado e
impotente diante da arbitrariedade que estou vivendo.”
Wellington nega que faça doutrinação esquerdista ou antirreligiosa. Ele diz que mesmo
sendo ateu, a mulher é católica e sua filha foi batizada na igreja. “Todas as reuniões
que temos na escola, antes de começar os trabalhos, fazem orações, e nem por isso
reclamo”, exemplifica.
Já sobre os questionamentos políticos, Wellington afirma que, na verdade, existiria uma
contestação em relação às disciplinas de Filosofia, Geografia e Sociologia. Ele cita
trechos do currículo de referência da rede estadual, que fala que se deve explicar a
diferença entre senso comum e religião, filosofia e religião, e as definições de
marxismo e socialismo.
“A preocupação de algumas pessoas, e aqui deixo claro, que não são só os pais de
alunos, demonstra que sua fúria está voltada ao questionamento da realidade”, diz.
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19/03/2019 Professor é afastado após discordar de hino com leitura de slogan de Bolsonaro em Goiás
O professor levou o caso ao sindicato da categoria, o Sintego, que está em sua defesa.
Para a entidade, há um processo de aumento da perseguição aos professores de
pensamento crítico e à liberdade de cátedra, com a ascensão do movimento Escola
Sem Partido. “Os professores estão com medo de dar aula. Como vai ensinar
pluralismo de ideias? Qualquer coisa cria pecha para dizer que professor é
‘esquerdista’”, afirma a presidente do Sintego, Bia de Lima.
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