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Artes da memória de povos em diáspora: História e Pedagogia em “condições de enunciação” – Maria Antonieta Antonacci
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Professora do Programa de Estudos Pós-graduados em História da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP). Doutora em História Econômica da Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutorado em
Antropologia Social pela EHESS. E-mail: antonieta.antonacci@gmail.com
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Introdução
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Cf. LINEBAUGH, 1983, p. 7-46.
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Coletivo formado por Walter Mignolo, Catherine Walch, Zulma Palermo, Anibal Quijano, Nelson Maldona-
Torres, Santiago Castro Gomes, Ramón Grosfoquel, Arturo Escobar, Edgardo Lander, Adolfo Albán Achinte,
Lewis Gordon, Paget Henri e outros pensadores. Cf. LANDER, 2005. Sobre essas expressões no coletivo
modernidade/colonialidade/decolonialidade, cf. MINGOLO, 2003.
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Expressão de Lourenço Filho, intelectual do Idort e liderança do movimento da Escola Nova.
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Cf. ANTONACCI, 1993a; ANTONACCI, 1993b; ANTONACCI, In: REIS, 1994, p. 77-85.
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Cf. HALL, 2003, p. 335-349.
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Expressão de MIGNOLO, 2010.
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Cf. nesse sentido ANTONACCI, 2015. Temos pesquisa sobre artes da memória entre povos nativos nas
Américas ao Sul, no III Colóquio Latinoamericano “Colonialidad/decolonialidad del poder/saber/ser:
educación e interculturalidad”, em Bogotá, 2015, acompanhamos debates e pesquisas sobre povos aymara,
mapuche e outros. Remetemos à significativa publicação de BLANDÓN; ROJAS, 2015.
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Para Gil, “não há corpo desabitado; não há corpo que não seja vivo e ‘ocupado’ pelo espírito.” Cada cultura
“fabrica” seus corpos em regimes de energia e simbologia inerentes a seus cosmos. Cf. GIL, 1997. O termo
“fabricação” de corpos, cunhado para povos ameríndios, advém de CASTRO, 2002.
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Frente ao poder de registrar, Trouillot (1995), historiador do Haiti, chamou atenção para “A existência de uma
rede de comunicações entre os escravos, sobre a qual somente temos indícios, não se tornou um objeto sério de
pesquisa histórica.”
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Termo de GIL, José. Op. cit., p. 53.
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Olaudah Equiano, raptado em 1745, batizado por seu senhor sob o nome Gustavus Vassa, comprando sua
liberdade foi para Londres, onde letrado em inglês, publicou suas memórias e, em ativa militância, lutou contra o
tráfico e se aproximou de lideranças operárias britânicas. Cf. VASSA, Gustavus. Los viajes de Equiano. Havana:
Editorial Arte y Literatura, 1980. Sobre seus contatos com operários ingleses em fins do século XVIII, cf.
LINEBAUGH, 1983.
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Perguntando (IROBI, 2007, p. 288) “o que aconteceria se substituíssemos esses modelos de alfabetização pela
escultura, dança, vestuário, gesto (...)? Teríamos uma nova definição de alfabetização que estaria mais atrelada a
uma inteligência semiótica.”
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Expressão da militante feminista indiana Vandana Shiva, citado por MINGOLO, 2010.
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ASSOCIAÇÃO CACHUERA! Famaliá do Urucuia, 1994.
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Expressão de DIAGNE, 2011, p. 632.
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educados em conexão à visão, são produzidos saberes além da estruturação binária, fundada
na forma e na textura. O produzido em termos de forma e textura perde de vista o
tridimensional da plasticidade de modos de ser, viver, pensar em múltiplas dimensões, como
se apreende em arte e filosofia africanas.
* * *
Deslocando atenções do fato para o feito, na perspectiva de não haver um fato nem
um corpo em si mesmos, isolados de relações histórica e culturalmente vividas, pedagogias
em performances detém-se em procedimentos e recursos do feito. Atuais vertentes de estudos
decoloniais questionam o arquivo ocidental que não se resguardou em relação à produção do
fato e que, dissociando o enunciado do lócus de enunciação, desconsideram a “geopolítica da
razão” e o “corpo político” do conhecimento na ação, no ato de pensar em seus locais de
inserção desde suas experiências históricas, em reversão crítica contundente a verdades e
histórias universais.
Nesse sentido, pensares e pensadores em seus locais históricos, com argumentações e
reflexões advindas de seus habitats, potencializam desestabilizar, reverter assertivas de
passados/presentes/devires universais, pensando e agindo desde estratégias cognitivas locais
em mediações com diretrizes sob outros fundamentos.20
Estratégias emergentes na pluriversalidade de saberes e injunções culturais, em
travessias entre o oral/coloquial e a letra/roteiro, encaminham-se em direção ao intercultural,
em emergentes diálogos comunitários, intertextuais e intersaberes inseridos ao seu
tempo/espaço, sem pretensões universais que ignoram/anulam a diversidade e o lugar por
excelência de formação de professores, artistas, atores culturais em seus universais.
Destacam-se e se tornam sensíveis necessidades materiais, sensíveis, mentais de comunidades
locais, em seu contínuo fazer-se histórico cultural, frente intervenções discursivas de projetos
globais. Impossível perder de vista injunções histórias locais/projetos globais, como alertou
Hall, assumiu Mignolo, ou aponta o “entre-lugares” de Bhabha nas culturas contemporâneas.
Entre nós, desde 2003 e 2008, as Leis n. 10.639 e 11.645, tornando obrigatório, em
todo o sistema educacional brasileiro, o ensino/aprendizagem de História da África, culturas
africanas, afro-brasileiras, como História e cultura de povos nativos, trazem a premência de
pesquisas e debates nos sentidos aqui pontuados. Em questões levantadas afloram o potencial
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Sobre mediações e incorporações em lutas culturais são pioneiras reflexões de WILLIAMS, 1979.
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Referências Bibliográficas
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_____. Logique de l´écrit, logique de l´oral: conflit au coeur de l´archive. In: Critique
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