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Lorena Brandli Zambon

“UM TEXTO NÃO EXISTE, COMO TEXTO, A


MENOS QUE
ALGUÉM O PROCESSE COMO TAL.”
Beaugrande (1997:13)
Coesão
A coesão é o critério mais importante da textualidade; sabe-se
que ela não é necessária nem suficiente, ou seja, sua
presença não garante a textualidade e sua ausência não a
impede.

Coerência
A coerência está diretamente ligada à possibilidade de se
estabelecer um sentido para o texto. Portanto, ela deve ser
entendida como um princípio de interpretabilidade, ligada a
inteligibilidade numa situação de comunicação e à
capacidade que o receptor tem para calcular o seu sentido.
Este sentido deve ser do todo, pois a coerência é global.
(koch, 2001 p.21)
Circuito Fechado
Chinelo, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água,
espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete,
água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa,
abotoadura, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis,
documentos, caneta, chaves, lenço, relógio. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e
pires, prato, bule, talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro. Mesa e
poltrona, cadeira, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, bloco de
notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas,
quadros, papéis, telefone. Bandeja, xícara pequena. Papéis, telefone,
relatórios, cartas, notas, vale, cheques, memorando, bilhetes, telefone, papéis.
Relógio, mesa, cavalete, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, bloco de papel,
caneta, projetor de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro,
giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeira, copo, pratos,
talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e
poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, telefone interno, externo,
papéis, prova de anúncio, caneta e papel, telefone, papéis, prova de anúncio,
caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro.
Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesas, cadeiras, prato,
talheres,copos, guardanapos. Xícaras. Poltrona, livro. Televisor, poltrona.
Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, chinelos. Vaso,
descarga , pia, água, escova, creme dental, espuma, água. Chinelos. Coberta,
cama, travesseiro.

(Ricardo Ramos) Circuito fechado: contos, 1978


Como se processa a compreensão do
texto Circuito Fechado na mente do
leitor?

À medida que o leitor vai construindo uma imagem


mental desse texto, o conhecimento armazenado ao longo
de sua vivência vai implicar a determinação do sentido, ou
seja, ele encontrará o significado numa palavra que leva a
outra, numa idéia que irá se encadear a outra e o sentido,
então,se restabelecerá pela memória. . .
.
Circuito Fechado (Construção do Cenário)
e 1) Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água,
espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria,
água quente, toalha. (2) Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça,
meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço,
relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. (3) Jornal. (4) Mesa, cadeiras, xícara e
pires, prato, bule, talheres, guardanapo. (5) Quadros. (6) Pasta, carro. (7) Cigarro,
fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis,
canetas, bloco de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com
plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo.
Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes,
telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios,
fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetor de filmes, xícara, cartaz, lápis,
cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. (8) Mictório, pia, água. (9) Táxi. (10) Mesa,
toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de
cigarros, caixa de fósforos. (11) Escova de dentes, pasta, água. (12) Mesa e poltrona,
papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo,
papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e
caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro,
fósforo, papel e caneta. (13) Carro. (14) Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó,
gravata. Poltrona, copo, revista. (15) Quadros. (16) Mesa, cadeiras, pratos, talheres,
copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo. (17) Poltrona, livro. Cigarro e fósforo.
Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. (18) Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça,
cueca, pijama, chinelos. (19) Vaso, descarga, pia, água, escova, creme dental,
espuma, água. (20) Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.
Por que Circuito Fechado é um Texto?
Parágrafo único;
B Sem descrição dos personagens ou de seus sentimentos;
s dinâmico e rítmico;
c linearidade entre os vocábulos;
e palavras aparentemente aglomeradas (cueca, camisa, abotoaduras,
calça...);
e ausência dos elementos coesivos explícitos;
m texto vai ser tecido;
c texto visual e verbal;
e possibilidade de elaboração de inferências;
reiteração do mesmo item lexical (cigarro e fósforo);
s compreensão depende da recepção do leitor;
n conectores marcados pela pontuação;
a sintético e expressivo;
e elipses recuperáveis pelo contexto (Táxi);
v legibilidade;
Circuito Fechado (elos coesivos)
(1) Levantou-se pela manhã ao despertar do relógio, colocou
os chinelos que o esperavam ao pé da cama e se dirigiu ao
banheiro. Sentou no vaso e esperou o tempo necessário para
terminar suas necessidades fisiológicas e puxou a descarga.
(2) Foi em direção à pia e começou a esfregar o sabonete nas
mãos a fim de retirar qualquer cheiro. (3) Então, lentamente,
abriu a torneira e deixou a água cair. (4) Passou a mão na
escova, jogou um pouco de creme dental nas cerdas e se
escovou. Abriu a torneira novamente e deixou um pequeno fio
de água correndo, fez um pouco de espuma na mão com o
creme de barbear e passou o pincel até a espuma ficar mais
densa. Abriu a porta do armário, pegou uma gilete e a colocou
embaixo da água para ajudar no corte da barba. Levantou a
cortina do box, pegou o sabonete e no misturador deixou a
temperatura certa com água fria e água...
A Tarefa do Leitor na
Interpretação Textual

3. Quais as palavras que


mais lhe chamaram a
atenção no texto?

5. Que tipo de imagem


você construiu do
personagem? Por quê?

7. O que você entendeu do


texto lido?
Estratégias de Leitura e Escrita
Quantos parágrafos há no texto?
o Em que período de tempo se passa o texto?
e A personagem é homem ou mulher? Como se pode perceber isso?
o A personagem tem algum vício? O que você falaria a ela a respeito disso?
Qual seria a atividade profissional da personagem? O que nos permite fazer
tal observação?
v O autor constrói um texto sintético, usando apenas substantivos. Que relação
pode haver entre essa escolha do autor e o tema da crônica?
Qual é o substantivo que aparece no começo e no final do texto? Esse
substantivo é importante para marcar o texto? Por quê?
m Qual é a relação que existe entre o título e o mundo moderno?
Esse texto é da década de 1970. De que outros recursos esse profissional
poderia dispor atualmente para realizar seu trabalho? Será que a rotina dele
seria a mesma?

• Escrever uma história, tendo por base o Circuito fechado, contando o seu
cotidiano;
• elaborar um outro texto em que os alunos descrevam a rotina de um
profissional que eles conheçam, sem mencionar a profissão. Em seguida, eles
terão que trocar os seus textos com os colegas da classe, para que estes
descubram qual é a profissão da personagem do texto.
Conclusão
Através do estudo relatado, constata-se que a
coesão do texto se realiza como forma de prover e
indicar a continuidade e a unidade semântica do
texto, pois é através da coesão, com ou sem os elos
coesivos,que se articulam as ideias. .

Circuito Fechado é um texto rico pelo único


elemento gramatical escolhido, os substantivos, que
são significantes na composição do texto. Ele
trabalha com a previsibilidade do leitor, com o
tecer de hipóteses interpretativas que só irão ser
satisfatórias dependendo do modo como ele organiza
o percurso da leitura na sua mente.
Referências Bibliográficas
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Recife: Universitária da UFPE, 1996.
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KIRST, Marta; CLEMENTE, Elvo (orgs.) Lingüística aplicada ao ensino de português. Porto
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KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; TRAVAGLIA Luiz Carlos. Texto e coerência. 3.ed.São Paulo:
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KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. A coesão textual. 6.ed. São Paulo:Contexto, 1993.
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; TRAVAGLIA Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo:
Contexto, 1993.
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VILELA, Mário. KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Gramática da língua portuguesa. Coimbra: Ed.
Almedina, 2001.

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