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4 GOIÂNIA, segunda-feira, 5 de janeiro.

de 1998
40.4.

as 8, outras histórias

ente é pra ser feliz


BRA.SIGCSIS PEILÍCIO bre ambos. E onde
fica, nesse delírio, c)
', lugar do EU huma-
. orque isso é mais 'no? Van Gogh bus-
.cou o seu, durante
difi'cil: fechar por toda a vida, cóm
amor a mão aberta, uma energia e deter-
e conservar o pudor ao dar". minação estranhas,

e não se suicidou
Fazer desta verdade um mantra, num gesto de loucu-
• e pronuncid-lo, sempre que o ra, no transe de não
medo se opuser ao nosso instinto conseguir - mas,
ao contrário, acaba-
para ser feliz. Se gente é pra . va de consegui-lo e
brilhar, e pra ser feliz, é preciso, - de descobrir o que
então, que o corpo se liberte dá ele era e quem era,
quando a consciên-
couraça do Ter, que aprisiona e cia geral da socieda-
mente. de, para puni-lo d
se ter arrancado de-
la, o suicidou. E isso
Ai dos que são estrangeiros se passou com Van
aos gestos da ternura; quem ja- Gogh como se passa
1 sempre de hábito,
nlail foi acariciado estranha o bei-

jo; 'quem só viveu acorrentado não .por ocasião de um


sabe-o que fazer da liberdade, se bacanal, de uma
lhe firam as correntes. Ai dos que missa, de uma ab-
a'co à ombro ao relho, e não se ati- solvição. Ela se in- •

ram- sobre seus verdugos. Os que troduziu assim no


seu
"venceram na vida" são os mais Gabriel Garcia Marquez, ao rece- ciedade absoluta, consagrada, corpo, -essa so-
perigosos, assim como os proteto- ber o prêmio Nobel de literatura: santificada e possessa. Esta apa-
res são os piores tiranos. Assim fa- "Poetas e mendigos, músicos e gou nele a consciência sob
lou Nicolai Gogol, o louco-lúcido: profetas, guerreiros e malandros, ral que acabava de adquirir renatu-
"E ficou daro que espécie de cria- todos criaturas daquela realida- a uma. inundação de corvose,ne- tal
tura é o ser humano; sábio, inteli- de desaforada, tivemos de pedir gros nas fibras de uma árvore in-
gente e sensato em tudo o que se muito pouco à imaginação. Por terna, o submergiu num último
refere aos outros, mas não a ele que o desafio maior para nós to- acesso e, tomando-lhe o lugar,
próprio". Todo o problema é que dos foi a insuficiência dos recur- matou-o."
não estamos interessados nos sos convencionais para tornar Nunca é demais lembrar o
muitos pobres, disse E.M. Foster: acreditável nossa vida. Este é, que disse o alquimista mago-li- ••

"Eles são inimagináveis, e devem amigos, o nó da nossa solidão". mão Paulo Coelho: "Tende pie-
EZPellaS ser objeto da consideração E por falar nos crimes coleti- dade dos que têm medo de se- •••

cio estatístico e do poeta. Dê-lhes vos, no assassinato em massa do gurar na pena, no pincel, na fer-
uma chance. Dê-lhes dinheiro. pobre povo latíndio, porque não ramenta, porque acham que al-
Não os ajude com livros de poesia lembrar, também, os que foram guém já fez melhor do que eles,
e passagens de estrada de ferro, suicidados pela sociedade? O tor- e não se sentem dignos de en-
como se eles fossem bebês. Dê- turado Van Gogh foi um destes trar na mansão portentosa da
lhes meios para comprar essas coi- louco-lúcidos que pensaram e vi- arte. Mas tende piedade dos que
sas. Até o socialismo chegar, dê- veram como possessos, como é e seguram na pena, no pincel, e
lhes dinheiro vivo, que é a trama exige a lógica de nossos tempos transformam a inspiração numa
da Civilização". modernos. Para Antonin Artaud, forma mesquinha de se senti-
Os artistas da América Latina "Van Gogh não morreu de um es- rem melhores do que os outros.
não precisam recorrer à fantasia, tado de delírio próprio, mas por Estes não conheceram a tua lei
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que reproduz o horror e o absur- de um problema em torno do
não para ser manifesto, e nada
do, presentes na vida de seu po- qual, desde as origens, se debate
vo. Basta olhar à nossa vdlta. Tu- se faz escondido, senão para ser
espírito iníquo desta humanida-
do está lá, I- cruel e espantosa de: o da predominância da carne revelado. Quem não tem espa-
realidade. Pensando nisto, falou sobre o espmto, da, que venda sua ca a,
'• ou do espmto
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