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CONTAGEM
2020
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CONTAGEM
2020
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Prof. Cristiano de Oliveira Ferreira – PUC Minas (Orientador)
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Prof. – PUC Minas (Banca Examinadora)
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Prof. – PUC Minas (Banca examinadora)
AGRADECIMENTOS
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo, analisar o ato infracional análogo ao crime
de estupro quando praticado por adolescente, bem como, demonstrar porque o
adolescente é tratado de maneira diferenciada desde a apuração do fato até as
medidas socioeducativas. Houve o entendimento da intenção do legislador quando
revogou o Código de Menores, cuja doutrina tratava apenas do menor quando em
situação irregular, trazendo para o Estatuto da Criança e do Adolescente a doutrina
da proteção integral num escopo preventivo e também punitivo. Conceituou o ato
infracional que compreende a conduta de crime ou contravenção, o intuito foi
demonstrar o cuidado da legislação para que os procedimentos não sejam os
mesmos aplicados aos adultos. Demonstrou a aplicação da medida de proteção
destinadas às crianças e adolescentes com a finalidade de fortalecer o vínculo
familiar e bem como as medidas socioeducativas, que devem ser cumpridas pelos
adolescentes com a finalidade de reparar e ressocializa-los. A criança e o
adolescente não cometem crime, praticam ato infracional análogo à um crime
tipificado em lei, o conceito de analogia interpreta qual ato ilícito está assemelhado e
qual a gravidade da sua conduta. Estudou-se o crime previsto no artigo 213 do
Código Penal, com a finalidade de entender o que a lei comina ao autor de estupro,
bem como, a distinção de extrema importância quando praticado através da
conjunção carnal e do ato libidinoso.
ABSTRACT
The objective of this study is to analyze the infraction act analogous to the crime of
rape when practiced by adolescents, as well as to demonstrate why the adolescent is
treated in a differentiated way from the investigation of the fact to the socioeducative
measures. There was an understanding of the intention of the legislature when he
revoked the Code of Minors, whose doctrine treated only the minor when in an
irregular situation, bringing to the Statute of the Child and Adolescent the doctrine of
integral protection in a preventive and also punitive scope. Conceptualized the
infraction that includes the conduct of crime or contravention, the purpose was to
demonstrate the care of the legislation so that the procedures are not the same
applied to adults. It was demonstrated the protection measure application aimed at
children and adolescents with the purpose of strengthening the family bond and
socio-educational measures that must be carried out by adolescents for the purpose
of repairing and resocializing them. The child and the adolescent do not commit
crime, they practice an infraction act analogous to a crime typified by law, the
concept of analogy interprets which illicit act is similar and how serious their conduct.
The crime foreseen in article 213 of the Criminal Code was studied in order to
understand what the law commits to the author of rape, as well as the distinction of
extreme importance when practiced through the carnal conjunction and libidinous
act.
Keywords: Statute of the Child and Adolescent. Imputability. Infringement Act. Socio-
educational Measure. Rape.
7
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8
2 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ................................................. 9
3 PRINCÍPIOS NORTEADORES DA TUTELA DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE ....................................................................................................... 10
3.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana ................................................... 11
3.2 Princípio da Proteção Integral ......................................................................... 12
3.3 Princípio da Prioridade Absoluta .................................................................... 13
3.4 Princípio da Condição Peculiar da Pessoa em Desenvolvimento ................ 14
4 A IMPUTABILIDADE DA CRINAÇA E DO ADOLESCENTE ................................ 14
5 DO ATO INFRACIONAL ........................................................................................ 16
5.1 Crime e Contravenção Penal ................................... Erro! Indicador não definido.
5.2 Apuração do Ato Infracional ............................................................................ 20
6 DOS DIREITOS INDIVIDUAIS ............................................................................... 21
6.1 Das Garantias Processuais .............................................................................. 23
6.2 MEDIDAS DE PROTEÇÃO ................................................................................ 24
7 ESTUPRO COMETIDO POR ADOLESCENTE ..................................................... 27
8 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS ........................................................................... 33
8.1 Advertência ....................................................................................................... 35
8.1.1 Obrigação de Reparar o Dano .......................................................................... 35
8.1.2 Da Prestação de Serviços à Comunidade ........................................................ 36
8.1.3 Da Liberdade Assistida ..................................................................................... 37
8.1.4 Do Regime de Semiliberdade ........................................................................... 38
8.1.5 Da Internação ................................................................................................... 39
9 ANALOGIA AO CRIME DE ESTUPRO ................................................................. 42
9.1 Analogia Jurídica............................................................................................... 42
10 DO CRIME DE ESTUPRO ................................................................................... 43
10.1 Da Conjunção Carnal e do Ato Libidinoso .................................................... 49
11 ESTUDO DE CASO CHAMPINHA ...................................................................... 50
12 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 54
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 56
8
1 INTRODUÇÃO
São cada vez mais constantes, os relatos de crimes praticados por crianças e
adolescentes, constituindo muitas vezes danos irreparáveis para as vítimas, e estes
não são punidos com as mesmas consequências penais cabíveis aos adultos. Nesta
linha, será analisado a analogia ao crime de estupro previsto no artigo 213 e artigo
217- A do Código Penal Brasileiro, que será demostrado no caso Champinha,
descrevendo as penas de quem pratica o ato ilícito com alguém que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a
prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
Embora a conduta seja delituosa, ao adolescente com idade entre doze e
dezoito anos de idade não será imposta a mesma sanção aplicada para o adulto,
apenas equipara-se na ilicitude do ato de estuprar alguém, não sendo imputada tal
responsabilidade, são penalmente inimputáveis conforme prevê a Constituição
Federal de 1988 no artigo 228 e artigo 27 do Código Penal, presumindo-se que o
menor não tem a consciência acerca do caráter ilícito da sua conduta, está em
peculiar desenvolvimento de maturidade psicológica e social.
Serão impostas medidas protetivas para crianças de zero a doze anos
incompletos, e medidas socioeducativas e protetivas aos adolescentes entre doze a
dezoito anos sob a égide da Lei 8.069/1990 do Estatuto da Criança e do
Adolescente.
Assim, ato infracional será toda a conduta da criança ou adolescente descrita
como crime ou contravenção penal, mesmo com o seu desenvolvimento incompleto
pratica ato reprovável com violência.
Será abordado o conceito da inimputabilidade do menor, compreenderemos
melhor a ideia do legislador quando estabeleceu a idade para imputação da pena,
bem como, todo o procedimento da apuração do ato infracional das medidas
socioeducativas estabelecidas em legislação especial.
Ao final será apresentado uma reflexão conclusiva à respeito da conduta do
crime de estupro praticado pelo adolescente, analisando se realmente às medidas
socioeducativas são aplicáveis ao caso concreto em tratando-se de um crime
hediondo.
9
Os menores eram vistos como meros objetos do Estado e uma doença social,
jamais como sujeitos de direitos e garantias especiais, os abrangidos em situação de
risco eram encaminhados para o mesmo local e tratamento dos menores autores de
atos infracionais, não sendo analisada a particularidade de cada problema.
A lei preocupava-se apenas na solução do menor quando configurada a
situação irregular ou de risco. Com sua revogação, o ECA adotou uma doutrina
totalmente diversa: O Estatuto tem por escopo a proteção integral da criança e do
adolescente, de forma que cada brasileiro possa ter assegurado seu pleno
desenvolvimento.
João Batista Saraiva explica claramente a mudança desse paradigma:
ADOLESCENTE
conduta, nem tampouco, atribuída sanção penal prevista em legislação comum, todo
e qualquer ato será estabelecido de acordo com legislação especial vigente.
A inimputabilidade está inserida nos seguintes artigos:
O ECA definiu uma faixa etária de doze a dezoito para a aplicação das
medidas sancionatórias: “Os que estejam na faixa de doze a dezoito anos podem
ser submetidos a processo especial perante o juiz de menores, os de idade inferior a
doze anos estão excluídos daquele processo. ” (TOLEDO, 1994, p. 320).
Sobre a inimputabilidade definida no Estatuto, Marcos Bandeira:
16
O inimputável não responde pelo delito, responde por ato infracional, conduta
assemelhada aos crimes com previsão no código penal, a inimputabilidade, é uma
presunção absoluta. Ainda que o adolescente seja emancipado, ele continuará sob a
proteção da legislação especial até o primeiro minuto que completar a maioridade,
quando passará a ser submetido a todas as regras previstas no código penal.
Certo que existe uma sensação de impunidade na sociedade, o adolescente
está cada vez mais precocemente inserido em ações criminosas e, muitas vezes
com maior violência de quando praticado por um adulto. Por serem pessoas
inimputáveis, não estão sujeitos às normas estabelecidas no Código Penal.
5 DO ATO INFRACIONAL
Continua Bandeira:
apresentam menor gravidade em relação aos crimes, por isso sofrem sanções mais
brandas. ” (BITENCOURT, 2007, p. 212).
O ECA classificou como ato infracional as infrações de autoria da criança e
adolescente, afastando a ideia de crime ou contravenção e seus respectivos efeitos
penais e processuais.
Nesse diapasão, pode-se afirmar que a criança não está sujeita à imposição
de qualquer medida socioeducativa, em face de sua condição peculiar de
ser em formação, sem aptidão suficiente para entender o caráter ilícito do
ato infracional praticado ou de determinar-se de acordo com tal
entendimento. (BANDEIRA, 2006, p. 25).
Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o devido
processo legal.
Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as seguintes
garantias:
I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante
citação ou meio equivalente;
II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e
testemunhas e produzir todas as provas necessárias à sua defesa;
III - defesa técnica por advogado;
IV - assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma da
lei;
V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente;
VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer
fase do procedimento. (BRASIL, ECA, 1990).
Bem como o Artigo 99 da mesma Lei: “As medidas previstas neste Capítulo
poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a
qualquer tempo” (BRASIL, ECA,1990).
As medidas protetivas são norteadas pelos princípios estabelecidos no
parágrafo único do artigo 100 do ECA:
ou responsável devem ser informados dos seus direitos, dos motivos que
determinaram a intervenção e da forma como esta se processa;
XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o adolescente, em
separado ou na companhia dos pais, de responsável ou de pessoa por si
indicada, bem como os seus pais ou responsável, têm direito a ser ouvidos
e a participar nos atos e na definição da medida de promoção dos direitos e
de proteção, sendo sua opinião devidamente considerada pela autoridade
judiciária competente, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta
Lei (BRASIL, ECA, 1990).
São princípios gerais que devem ser respeitados para garantir a proteção das
crianças e adolescentes.
Estão elencadas as medidas de proteção destinadas às crianças e aos
adolescentes no artigo 101 do ECA:
8 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
De tal modo, o fato típico previsto no artigo 213 do Código Penal Brasileiro:
Para o adolescente que praticar este ato, não será aplicada a penalidade do
aludido artigo, qual seja pena mínima cominada de 6 e máxima cominada de 10
anos de reclusão, que configurada a conduta descrita, ao adolescente será aplicada
a melhor medida socioeducativa conforme entendimento do Juiz.
Portanto, a finalidade e objetivo das medidas socioeducativas é a reeducação
e adequação social, para uma efetiva reinserção na sociedade, conforme demonstra
Marcos Bandeira:
8.1 Advertência
Aplica-se aos atos infracionais de natureza leve, pode-se dizer que está
medida é assemelhada com a suspensão condicional da pena prevista no Código
Penal.
Dispõe o artigo 118 do Estatuto da Criança e do Adolescente:
8.1.5 Da Internação
À respeito das entidades para internações, destaca-se os artigos 94, IX, 123 e
124, V, XI, XII do ECA:
10 DO CRIME DE ESTUPRO
A lei tutela o direito de liberdade que a mulher tem de dispor sobre o próprio
corpo no que diz respeito aos atos sexuais. O estupro, atingindo a liberdade
sexual, agride, simultaneamente, a dignidade da mulher, que se vê
humilhada com o ato sexual. (GRECO, 2007, p.467).
Damásio de Jesus explica que: “tal dispositivo protege a liberdade sexual das
pessoas, o seu direito de dispor do próprio corpo, a sua liberdade de escolha na
prática da conjunção carnal ou outro ato libidinoso.” (JESUS, 2010, p. 127), observa-
se que a conduta do artigo 214 continua sendo punida, todavia, agora classificada
como estupro e não mais atentado violento ao pudor, nem tampouco a extinção da
punibilidade, as penas previstas continuam as mesmas de seis a dez anos de
reclusão.
A alteração significativa deu-se na substituição da palavra mulher por alguém,
que permite sujeito passivo qualquer pessoa ser vítima de um crime sexual, o
homem também passa a ser sujeito passivo do delito, antes o homem era o único
réu para o crime de estupro, hoje a mulher também poderá configurar como sujeito
ativo nesta pratica.
Sobre o sujeito ativo e passivo da conduta Bitencourt: “[...] a mulher; a partir
de agora, também pode ser autora do crime de estupro” (BITENCOURT, 2012, p.
94/97), continua: “o crime de estupro pode ocorrer em relação hetero ou
homossexual. ” (BITENCOURT, 2012, p. 97).
O bem jurídico tutelado é a liberdade sexual da pessoa, quando se retira do
homem ou da mulher o direito de não praticar o ato sexual.
Segundo André Estefam: “O legislador, por meio da incriminação contida no
art. 213 do CP, visa à salvaguarda da dignidade das pessoas protegendo sua
liberdade de autodeterminação em matéria sexual. ” (ESTEFAM, 2018, p. 636).
Antes do advento da Lei 12.015/2009 somente o homem figurava o polo ativo
da conduta, vez que o estupro era configurado com a penetração do pênis na
cavidade vaginal.
Com a introdução da referida Lei, explica André Estefam:
Assim, o estupro pode ser praticado por qualquer pessoa homem ou mulher,
o homem quando violentado por meio de ato libidinoso também é vítima do crime
tipificado no artigo 213 do Código Penal, não mais no artigo 214 revogado, de
atentado violento ao pudor.
O núcleo do tipo do crime de estupro é o verbo constranger, pune-se a
pessoa que obriga outra fazer algo contra o seu desejo e vontade.
Neste sentido, não se faz necessária que a força empregada seja irresistível,
bastando para consumação do delito a simples coação. Sendo que a grave ameaça
constitui forma típica de violência moral, que exerce uma força intimidativa, inibitória,
anulando ou minando a vontade e o querer do ofendido.
André Estefam, descreve a melhor definição dos verbos presentes no artigo:
No mesmo tocante André Estefam: É admissível, posto que alguém pode dar
início à execução do crime e ver frustrada sua intenção por fins alheios à sua
vontade. (ESTEFAM, 2018, p 645).
Portanto, ocorrerá a tentativa quando na execução, por razões alheias à sua
vontade, é impedido de consumar a sua finalidade de violar a liberdade sexual da
pessoa, seja através da conjunção ou ato libidinoso, estará configurado estupro na
forma tentada. O descrito no artigo 213, estabelece que a conduta será punida
quando houver o constrangimento através de violência ou grave ameaça, em manter
com a vítima a conjunção carnal ou permitir ou que com ele se pratique ato
libidinoso.
Estefam define a objetividade: “Os meios executórios previstos na disposição
legal são a violência física e a grave ameaça. ” (ESTEFAM, 2018, p. 639). Entende-
se que o termo violência significa a força física, vencendo a resistência da vítima.
Bitencourt ensina que:
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor
de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com
alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não
pode oferecer resistência.
§ 3º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
§ 4º Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
§ 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-
se independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter
mantido relações sexuais anteriormente ao crime.
47
Observa-se que o caput do artigo 217-A, tem como objetivo a proteção das
crianças e adolescentes até 14 anos de idade. O parágrafo § 1º protege as pessoas
em situação de vulnerabilidade tanto psicológica quanto em razão de alguma droga
ou vulnerabilidade, esta não presumida, devendo ser comprovada.
Vale frisar que este conceito não pode ser confundido com o de criança e
adolescente prescrito no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que prevê em
seu art. 2º: ” Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos
de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade”
(ECA, 1990). Assim, o referido dispositivo delimita a definição para os efeitos do
ECA, ou seja, não abrange o significado de vulnerável disciplinada no Código Penal.
O crime de estupro tem a sua forma qualificada se a conduta resultar lesão
corporal de natureza grave e vítima menor de 18 ou maior de 14 anos, ou se resulta
morte, para a primeira hipótese a pena será de oito a doze anos de reclusão e, na
segunda hipótese a pena será de doze a trinta anos de reclusão.
Também se aplicam causas de aumento de pena conforme os artigos 226 e
234-A do Código Penal:
A pena do crime de estupro será aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois
terços), se o estupro for praticado por duas ou mais pessoas tanto na conjunção
carnal como no ato libidinoso.
Já o estupro corretivo trata de homossexuais, bissexuais ou transexuais, afim
de controlar seu comportamento, podemos citar o modo de vestir ou para que
mantenham uma relação sexual com o sexo oposto, ou seja homem e mulher.
O crime de estupro é considerado um crime hediondo, conforme a Lei
8.072/90:
Artigo 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados
no Decreto Lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal,
consumados ou tentados:
V – estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º). (BRASIL, LCH, 1990).
carnal ou prática de outro ato libidinoso, que serão analisados de forma apartadas a
seguir.
Ato libidinoso é amplo para fins de estupro, deve ser de gravidade equiparada
ao estupro ou semelhante como por exemplo sexo anal, oral, introdução e
penetração do dedo ou objetos na vítima.
Entendia Nelson Húngria: “O ato libidinoso tem de ser praticado pela, com ou
sobre a vítima coagida.” (HÚNGRIA, 1981, p. 125).
Existe uma grande discussão à respeito do beijo dado de forma forçada para
satisfazer a lascívia, se este configura estupro devendo ser comidas as penas do
artigo 213 do Código Penal.
Vejamos que a jurisprudência aplica o disposto neste sentido:
1
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0611200314.htm
2
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1111200301.htm
52
Neste mesmo dia, o irmão de Champinha saiu a sua procura pois sua mãe
estava preocupada, e que havia muitos policiais na região, Liane foi novamente
apresentada como sua namorada.
Tendo em vista a presença de policiais na redondeza, Champinha decide
assassinar Liane com 15 golpes de facadas.3
Percebe-se que o adolescente sempre esteve à frente de todas as decisões
do grupo, em depoimento confessa que também estuprou Liana e a matou porque
sentiu vontade.
Concluído o inquérito, ao menor Champinha foi aplicada a medida
socioeducativa de internação na Fundação Casa, Aguinaldo Pires foi sentenciado a
47 anos e três meses de reclusão por estupro, Antônio Caetano da Silva
sentenciado a 124 anos de prisão por vários estupros, Antônio Matias sentenciado a
seis anos de reclusão e um ano, nove meses e 15 dias de detenção por cárcere
privado, favorecimento pessoal e ocultamento da arma do crime, por último Paulo
César da Silva Marques vulgo Permambuco, foi condenado a 110 anos e 18 dias de
prisão em regime fechado pelo homicídio qualificado de Felipe, sequestro, estupro e
cárcere privado.
Champinha cumpriu o prazo determinado de três anos no estabelecimento
educacional, após este período, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente, o
adolescente deveria ser posto em liberdade, porém, através de um laudo psicológico
que legou uma condição psicológica irreversível, o Estado interditou civilmente o
adolescente, onde permaneceu por mais um período na unidade educacional,
contrariando as regras da legislação especial.
Hoje, ele tem 34 anos e vive com outros quatro internos na unidade
experimental de saúde localizada no bairro de Vila Maria. Ele é mantido sob custódia
do estado desde quando completou 21 anos e teve que deixar a Fundação Casa,
onde ficou internado após confessar a autoria do crime ocorrido em 2003. A Unidade
Experimental de Saúde, que já foi vinculada à Fundação Casa, hoje é administrada
pela Secretaria Estadual da Saúde. O local é uma espécie de hospital psiquiátrico e
a segurança é realizada por agentes da Secretaria da Administração Penitenciária
(SAP).4
3
https://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u134910.shtml
4
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/09/04/champinha-lidera-rebeliao-com-refem-na-unidade-
experimental-de-saude-na-zona-norte-de-sp.ghtml
53
12 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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Paulo: Saraiva, 2007.
BRASIL. [CH (1990)] Lei no 8.072, de 10 de julho de 1990. Dispõe sobre os crimes
hediondos, nos termos do art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e determina
outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [1990]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8072.htm. Acesso em: 24 ago. 2020.
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Paulo, 06 de novembro de 2003. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0611200314.htm. Acesso em: 08 nov.
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Saraiva, 2017. 9788547229566. Disponível em:
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