Você está na página 1de 5

AS ESTRUTURAS SOCIAIS (capítulo)

A REDEFINIÇÃO DA PRIMEIRA IDADE MÉDIA (1ºsubtítulo)


CONTEXTO FIM DO IMPÉRIO ROMANO-INÍCIO DA IDADE MÉDIA (merovíngios)
As estruturas sociais na Idade Média estavam extremamente fragmentadas, existiam inúmeros
nichos sociais, monges, camponeses, burgueses, tecelões, peregrinos, pobres, prostitutas.

Essa fragmentação se desenvolveu por anos e são consequências da bagunça que foi o fim do
Império Romano.

Com esse contexto o autor comenta que o início da Idade média era uma “Idade da
Restauração” no que diz respeito as camadas sociais.

Nessa restauração as camadas do topo da pirâmide acabaram esmagando os debaixo da


pirâmide.

(no âmbito rural) A aristocracia por meio do aumento de exigências fiscais acabava sufocando
o pequeno proprietário de terra e os camponeses livres o que fazia com que eles passassem
suas terras para os grandes latifundiários, além de se tornarem trabalhadores dele.
(patrocinium)

(no âmbito urbano) havia um êxodo da cidade para o campo nas cidades romanas, o que
enfraquecia a política escravista e imperialista do império e enfraquecia as camadas médias da
sociedade.

Os trabalhadores livres rurais “alimentavam” os latifundiários, já os trabalhadores livres


urbanos “alimentavam” a aristocracia do Estado.

Essa engrenagem dos trabalhadores livres rurais criou o termo “colono”, onde o latifundiário
cedia a ele uma parte de terra com a condição de ter parte em uma porcentagem da
produção, O colonus era juridicamente um homem livre, mas verdadeiro escravo da terra.

A penetração dos povos germânicos no Império Romano não mudou a estrutura social
romana, apenas intensificou a divisão entre aristocracia com a maior parte das terras, homens
livres guerreiros e escravos.

O Império Romano foi culpado de sua própria queda, no século III necessitado de soldados,
eles contrataram mercenários germânicos, as vezes tribos inteiras e o pagamento era uma
porção de terra fronteiriça do Império (hospitalitas), prática que se estendeu a todo o
território romano

com as invasões do século V. essa prática colaborou com a penetração dos povos germânicos.

Para conter a miscigenação foram proibidos os matrimônios mistos, determinação de uma lei
romana de 370 e que os germanos mantiveram em alguns reinos até meados do século VII

Mais importante foi a questão religiosa, já que ostrogodos, visigodos, vândalos, burgúndios,
suevos e lombardos adotaram o arianismo, heresia* que os afastava da população romana
católica

Empecilho que foi sendo removido a partir do momento em que os francos, em 496, e os
visigodos, em 587, se converteram ao catolicismo e acabaram em diferentes momentos sendo
imitados pelos demais germânicos.
A ARISTOCRATIZAÇÃO DA ALTA IDADE MÉDIA
Pelo que acabamos de ver, as características sociais básicas do Império Carolíngio já se
encontravam presentes na fase anterior. Tanto juridicamente, — uma grande linha divisória
separava livres e não-livres — quanto economicamente.

Como a terra era quase a única forma de riqueza da época, não existia uma camada urbana de
comerciantes e artesãos que exercessem por conta própria e regularmente seu ofício, mas
apenas uns poucos indivíduos dedicando-se àquelas atividades. A sociedade estava polarizada
entre os proprietários fundiários, de um lado, e os camponeses despossuídos, de outro.

O patrocinium ainda era algo vigente até mesmo entre os “pagenses” que eram pequenos
trabalhadores livres com uma pequena terra e poucos escravos.

A aristocracia laica era advinda da romana e germânica, onde os aristocratas portavam terras
por serviços prestados ao rei na guerra e na administração, cada nobre recebia o usufruto de
uma nova extensão de terra (beneficium) pertencente ao soberano, também ele grande
proprietário.

A aristocracia eclesiástica, proveniente daquelas mesmas famílias, além de desfrutar da


imensa riqueza fundiária da Igreja, também recebia benefícios e imunidades. Muito próximas
uma da outra, as duas aristocracias passaram a estar ainda mais ligadas pela instituição da
vassalagem*.

No outro extremo da sociedade carolíngia estavam os trabalhadores. Portanto de um lado


estavam ambas as aristocracias que no século VIII se aproximaram para uma luta unida contra
os muçulmanos e por outro lado estavam os trabalhadores.

Dentro dos trabalhadores existiam alguns tipos. Assalariados que constituíam um pequeno
grupo de homens sem-terra, que se deslocavam constantemente oferecendo em cada local
trabalho em troca de casa, comida e umas poucas moedas. Tudo indica que eles fossem quase
sempre artesãos. Colonos, que, apesar de serem juridicamente livres, aos poucos ocorria a
degradação do colono para a condição que ia sendo conhecida por servidão. Na realidade, os
servos* representaram na sociedade carolíngia no máximo 10% do conjunto dos trabalhadores
rurais, mas sua importância cresceria bastante na Idade Média Central. Por fim existia a mão
de obra escrava.

A FEUDO-CLERICALIZAÇÃO DOS SÉCULOS XI-XII

De maneira ampla, ele gira em torno de um duplo significado do termo. No sentido estrito, ele
refere-se aos vínculos feudo-vassálicos, isto é, como veremos, às relações político-militares
entre membros da aristocracia.

O termo feudo-clericalismo. Realmente, este rótulo parecenos mais conveniente, na medida


em que explicita o papel central da Igreja naquela sociedade. Fato fundamental e geralmente
pouco considerado. Foi por intermédio dela que se deu a conexão entre os vários elementos
(já anteriormente presentes) que comporiam aquela formação social. Foi ela a maior
detentora de terras naquela sociedade essencialmente agrária, destacando-se, portanto, no
jogo de concessão e recepção de feudos. Foi ela a controlar as manifestações mais íntimas da
vida dos indivíduos: a consciência através da confissão; a vida sexual através do casamento; o
tempo através do calendário litúrgico; o conhecimento através do controle sobre as artes, as
festas, o pensamento; a própria vida e a própria morte através dos sacramentos. Aliás, como
produtora de ideologia*, traçava a imagem que a sociedade deveria ter de si mesma.

“A lei humana impõe duas condições: o nobre e o servo não estão submetidos ao mesmo
regime. Os guerreiros são protetores das igrejas. Eles defendem os poderosos e os fracos,
protegem todo mundo, inclusive a si próprios. Os servos, por sua vez, têm outra condição. Esta
raça de infelizes não tem nada sem sofrimento. Fornecer a todos alimentos e vestimenta: eis a
função do servo. A casa de Deus, que parece una, é portanto tripla: uns rezam, outros
combatem e outros trabalham.” Como se vê, o clero é colocado fora do âmbito da lei humana,
pois estando mais próximo de Deus, a quem serve, possui inegável superioridade.

Tínhamos, portanto, naquela sociedade de ordens, de um lado, duas camadas identificadas


quanto às origens e aos interesses, detentoras de terra e, assim, de poder econômico, político
e judicial (clérigos e guerreiros), de outro lado, uma massa formada principalmente por
despossuídos e dependentes, os trabalhadores. Assim, davam-se três formas de relações
sociais, uma horizontal na camada dominante, outra horizontal na camada dominada e outra
vertical entre os dois grandes grupos

A primeira forma ocorria pelo contrato feudo-vassálico. A segunda, por acordos para
empreendimentos comuns, diante das dificuldades de um trabalhador realizar sozinho certas
tarefas, como arar um campo ou arrotear uma área. A terceira, fundamental, estava na base
da primeira (forma de a aristocracia dividir as terras e o produto do trabalho camponês) e da
segunda (forma de os laboratores poderem concretizar seu papel social, de produtores).

A disputa pela apropriação do excedente gerado provocava conflitos entre camponeses e


senhores, geralmente redundando em pressão por parte destes (novas taxas) e resistência
passiva por parte daqueles (absenteísmo, sonegação, fuga). Afloravam também tensões entre
os segmentos laico e clerical da aristocracia pela posse das riquezas produzidas pelos
laboratores. Nesse contexto social, e exteriorizando as necessidades espirituais mais profundas
da época — fatores naturalmente interligados — é que se organizaram as Cruzadas. O
contexto social, que é o que nos interessa agora, mostrava o surgimento de dois novos grupos,
que de uma forma ou de outra vislumbravam nas Cruzadas a solução para suas dificuldades.

O primeiro deles era o dos nobres sem terra, isto é, filhos secundogênitos em número cada vez
maior, produto do crescimento demográfico. O segundo era o dos servos desenraizados,
produto da continuada fragmentação dos mansos. Não estando protegida por uma norma
como a que garantia a indivisibilidade dos feudos, a terra dos camponeses era repartida entre
seus filhos. Quando estes passaram a ser mais numerosos, a porção que cabia a cada um deles
tornou-se insuficiente para seu sustento, para a formação de sua própria família. Muitos
abandonavam a terra — o que não incomodava os senhores naquele contexto de ampla oferta
de mão-de-obra — em busca de alternativas de vida.

As Cruzadas pretendiam combater tal situação ao abrir uma válvula de escape que aliviasse as
tensões sociais. Tentavam promover o reenquadramento da sociedade no modelo clerical.
Buscavam, coroando a Reforma Gregoriana, colocar toda a sociedade cristã sob controle do
papado. Revelaram-se, porém, apenas outra idealização. Elas aceleraram a dinâmica social e
trouxeram à tona (ou facilitaram) novos problemas.
Em primeiro lugar, os que afetaram a Igreja, que jogara todo seu prestígio na justificação
ideológica e na organização do movimento. O fracasso das Cruzadas ofuscou muito da
autoridade moral do clero.

Em segundo lugar, a aristocracia laica também foi, é claro, tocada pelo movimento
cruzadístico, que por quase dois séculos (1096-1270) levou dezenas de milhares de seus
membros para o Oriente Médio ou para a Península Ibérica. Excetuada a glória que isso
proporcionava, a maioria de seus participantes nada ganhou com as Cruzadas.

Esse não foi um caso isolado: muitas famílias nobres dilapidaram seu patrimônio para
participar das Cruzadas, na esperança de por meio delas obter senhorios maiores do que os
que possuíam.

A decadência aristocrática teve como contrapartida a emergência de novos grupos sociais.


Saídos todos eles da crise feudo-clerical, foram elementos dissolventes daquela sociedade,
cuja crise então se acelerava.

O FEUDO-ABURGUESAMENTO DOS SÉCULOS XII-XIII


O fator que melhor refletiu e acelerou as transformações sociais foi, porém, o aparecimento
de um segmento burguês. O crescimento demográfico e econômico, as cidades da Idade
Média Central revigorou, pois para aqueles que fugiam dos laços compulsórios da servidão a
vida urbana oferecia muitos atrativos.

Mais do que isso, tornava-se burguês (habitante do burgo, ou seja, da cidade), o que
significava uma situação jurídica própria, bem definida, com obrigações limitadas e direitos de
participação política, administrativa e econômica na vida da cidade.

Apesar disso, não se deve exagerar o caráter antifeudal da burguesia, pelo menos nos
primeiros tempos. Ela não chegava a representar um novo ordo, mas apenas uma mobilidade
horizontal no interior do grupo dos laboratores.

Acima de tudo, era em função de sua antifeudalidade e seu anticlericalismo que nas cidades se
concentravam todas as formas de marginalidade social. Significativamente, aliás, elas estavam
quase sempre entrecruzadas, pois a negação de qualquer um dos aspectos da sociedade
punha automaticamente em risco toda sua estrutura. Era o caso da exclusividade eclesiástica
do sagrado (que os feiticeiros ameaçavam), do regionalismo e imobilismo dos costumes (que
os estrangeiros rompiam), do controle cristão sobre a nova economia de mercado (que via nos
judeus concorrentes), dos valores sexuais tradicionais (que os homossexuais desafiavam), da
desigual distribuição social das riquezas (que a presença dos pobres delatava).

A INSTABILIDADE DOS SÉCULOS XIV-XVI


A aristocracia, naturalmente, foi a mais atingida pelas transformações da época. As
dificuldades da economia senhorial arruinavam muitas famílias nobres, que perdiam suas
terras e se deslocavam para as cidades ou para as cortes principescas ou monárquicas. Dessa
forma, a nobreza sofria certa descaracterização ou ao menos perdia alguns dos traços que
tinham feito parte de seu poder e prestígio até então.

Por meio desse freqüente expediente da nobreza de tentar recuperarse graças a casamentos
convenientes, ocorreu o enobrecimento de algumas famílias burguesas (França) e o
aburguesamento de muitas famílias nobres (Itália). De certa forma, portanto, a própria
nobreza contribuiu para a mobilidade social do período. Outro aspecto importantíssimo desse
fenômeno foi ter-se completado a quebra da identidade clero-nobreza. Sabemos que desde o
século XI ocorriam atritos no interior da aristocracia, com leigos e clérigos disputando a posse
dos excedentes produtivos gerados pelo crescimento econômico.

Em relação aos trabalhadores rurais, a crise social manifestou-se de dupla forma. De um lado,
o retrocesso demográfico e econômico acelerou o processo de recuo da servidão, o
ressurgimento de um campesinato livre, e permitiu até a formação de uma elite camponesa.
De outro lado, em certas regiões, sobretudo na Inglaterra, o campesinato viu-se diante da
chamada “reação senhorial”, isto é, do revigoramento dos laços de dependência, com os
senhores, especialmente os eclesiásticos, tentando reimpor antigas obrigações, que desde o
século XII ou XIII tinham caído em desuso

Quanto à mão-de-obra urbana, a situação era mais homogênea e mais difícil. A crise não criou
uma elite trabalhadora, como fizera no campo, apenas reforçou o poder da alta burguesia.

O resultado daquele estado de coisas, tanto no campo quanto nas cidades, foi uma série de
sublevações populares. Algumas eram contra a miséria, em regiões mais pobres, As revoltas
camponesas mais importantes, porém, mobilizaram trabalhadores em boa situação, que
enfrentavam a reação senhorial. Tais movimentos não eram revolucionários, mas reacionários,
buscando a volta a um passado recente, considerado menos duro. As revoltas urbanas, por sua
vez, eram pelo controle do Estado, em processo de afirmação, fosse ele comunal, senhorial ou
nacional.

Você também pode gostar