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Essa fragmentação se desenvolveu por anos e são consequências da bagunça que foi o fim do
Império Romano.
Com esse contexto o autor comenta que o início da Idade média era uma “Idade da
Restauração” no que diz respeito as camadas sociais.
(no âmbito rural) A aristocracia por meio do aumento de exigências fiscais acabava sufocando
o pequeno proprietário de terra e os camponeses livres o que fazia com que eles passassem
suas terras para os grandes latifundiários, além de se tornarem trabalhadores dele.
(patrocinium)
(no âmbito urbano) havia um êxodo da cidade para o campo nas cidades romanas, o que
enfraquecia a política escravista e imperialista do império e enfraquecia as camadas médias da
sociedade.
Essa engrenagem dos trabalhadores livres rurais criou o termo “colono”, onde o latifundiário
cedia a ele uma parte de terra com a condição de ter parte em uma porcentagem da
produção, O colonus era juridicamente um homem livre, mas verdadeiro escravo da terra.
A penetração dos povos germânicos no Império Romano não mudou a estrutura social
romana, apenas intensificou a divisão entre aristocracia com a maior parte das terras, homens
livres guerreiros e escravos.
O Império Romano foi culpado de sua própria queda, no século III necessitado de soldados,
eles contrataram mercenários germânicos, as vezes tribos inteiras e o pagamento era uma
porção de terra fronteiriça do Império (hospitalitas), prática que se estendeu a todo o
território romano
com as invasões do século V. essa prática colaborou com a penetração dos povos germânicos.
Para conter a miscigenação foram proibidos os matrimônios mistos, determinação de uma lei
romana de 370 e que os germanos mantiveram em alguns reinos até meados do século VII
Mais importante foi a questão religiosa, já que ostrogodos, visigodos, vândalos, burgúndios,
suevos e lombardos adotaram o arianismo, heresia* que os afastava da população romana
católica
Empecilho que foi sendo removido a partir do momento em que os francos, em 496, e os
visigodos, em 587, se converteram ao catolicismo e acabaram em diferentes momentos sendo
imitados pelos demais germânicos.
A ARISTOCRATIZAÇÃO DA ALTA IDADE MÉDIA
Pelo que acabamos de ver, as características sociais básicas do Império Carolíngio já se
encontravam presentes na fase anterior. Tanto juridicamente, — uma grande linha divisória
separava livres e não-livres — quanto economicamente.
Como a terra era quase a única forma de riqueza da época, não existia uma camada urbana de
comerciantes e artesãos que exercessem por conta própria e regularmente seu ofício, mas
apenas uns poucos indivíduos dedicando-se àquelas atividades. A sociedade estava polarizada
entre os proprietários fundiários, de um lado, e os camponeses despossuídos, de outro.
O patrocinium ainda era algo vigente até mesmo entre os “pagenses” que eram pequenos
trabalhadores livres com uma pequena terra e poucos escravos.
A aristocracia laica era advinda da romana e germânica, onde os aristocratas portavam terras
por serviços prestados ao rei na guerra e na administração, cada nobre recebia o usufruto de
uma nova extensão de terra (beneficium) pertencente ao soberano, também ele grande
proprietário.
Dentro dos trabalhadores existiam alguns tipos. Assalariados que constituíam um pequeno
grupo de homens sem-terra, que se deslocavam constantemente oferecendo em cada local
trabalho em troca de casa, comida e umas poucas moedas. Tudo indica que eles fossem quase
sempre artesãos. Colonos, que, apesar de serem juridicamente livres, aos poucos ocorria a
degradação do colono para a condição que ia sendo conhecida por servidão. Na realidade, os
servos* representaram na sociedade carolíngia no máximo 10% do conjunto dos trabalhadores
rurais, mas sua importância cresceria bastante na Idade Média Central. Por fim existia a mão
de obra escrava.
De maneira ampla, ele gira em torno de um duplo significado do termo. No sentido estrito, ele
refere-se aos vínculos feudo-vassálicos, isto é, como veremos, às relações político-militares
entre membros da aristocracia.
“A lei humana impõe duas condições: o nobre e o servo não estão submetidos ao mesmo
regime. Os guerreiros são protetores das igrejas. Eles defendem os poderosos e os fracos,
protegem todo mundo, inclusive a si próprios. Os servos, por sua vez, têm outra condição. Esta
raça de infelizes não tem nada sem sofrimento. Fornecer a todos alimentos e vestimenta: eis a
função do servo. A casa de Deus, que parece una, é portanto tripla: uns rezam, outros
combatem e outros trabalham.” Como se vê, o clero é colocado fora do âmbito da lei humana,
pois estando mais próximo de Deus, a quem serve, possui inegável superioridade.
A primeira forma ocorria pelo contrato feudo-vassálico. A segunda, por acordos para
empreendimentos comuns, diante das dificuldades de um trabalhador realizar sozinho certas
tarefas, como arar um campo ou arrotear uma área. A terceira, fundamental, estava na base
da primeira (forma de a aristocracia dividir as terras e o produto do trabalho camponês) e da
segunda (forma de os laboratores poderem concretizar seu papel social, de produtores).
O primeiro deles era o dos nobres sem terra, isto é, filhos secundogênitos em número cada vez
maior, produto do crescimento demográfico. O segundo era o dos servos desenraizados,
produto da continuada fragmentação dos mansos. Não estando protegida por uma norma
como a que garantia a indivisibilidade dos feudos, a terra dos camponeses era repartida entre
seus filhos. Quando estes passaram a ser mais numerosos, a porção que cabia a cada um deles
tornou-se insuficiente para seu sustento, para a formação de sua própria família. Muitos
abandonavam a terra — o que não incomodava os senhores naquele contexto de ampla oferta
de mão-de-obra — em busca de alternativas de vida.
As Cruzadas pretendiam combater tal situação ao abrir uma válvula de escape que aliviasse as
tensões sociais. Tentavam promover o reenquadramento da sociedade no modelo clerical.
Buscavam, coroando a Reforma Gregoriana, colocar toda a sociedade cristã sob controle do
papado. Revelaram-se, porém, apenas outra idealização. Elas aceleraram a dinâmica social e
trouxeram à tona (ou facilitaram) novos problemas.
Em primeiro lugar, os que afetaram a Igreja, que jogara todo seu prestígio na justificação
ideológica e na organização do movimento. O fracasso das Cruzadas ofuscou muito da
autoridade moral do clero.
Em segundo lugar, a aristocracia laica também foi, é claro, tocada pelo movimento
cruzadístico, que por quase dois séculos (1096-1270) levou dezenas de milhares de seus
membros para o Oriente Médio ou para a Península Ibérica. Excetuada a glória que isso
proporcionava, a maioria de seus participantes nada ganhou com as Cruzadas.
Esse não foi um caso isolado: muitas famílias nobres dilapidaram seu patrimônio para
participar das Cruzadas, na esperança de por meio delas obter senhorios maiores do que os
que possuíam.
Mais do que isso, tornava-se burguês (habitante do burgo, ou seja, da cidade), o que
significava uma situação jurídica própria, bem definida, com obrigações limitadas e direitos de
participação política, administrativa e econômica na vida da cidade.
Apesar disso, não se deve exagerar o caráter antifeudal da burguesia, pelo menos nos
primeiros tempos. Ela não chegava a representar um novo ordo, mas apenas uma mobilidade
horizontal no interior do grupo dos laboratores.
Acima de tudo, era em função de sua antifeudalidade e seu anticlericalismo que nas cidades se
concentravam todas as formas de marginalidade social. Significativamente, aliás, elas estavam
quase sempre entrecruzadas, pois a negação de qualquer um dos aspectos da sociedade
punha automaticamente em risco toda sua estrutura. Era o caso da exclusividade eclesiástica
do sagrado (que os feiticeiros ameaçavam), do regionalismo e imobilismo dos costumes (que
os estrangeiros rompiam), do controle cristão sobre a nova economia de mercado (que via nos
judeus concorrentes), dos valores sexuais tradicionais (que os homossexuais desafiavam), da
desigual distribuição social das riquezas (que a presença dos pobres delatava).
Por meio desse freqüente expediente da nobreza de tentar recuperarse graças a casamentos
convenientes, ocorreu o enobrecimento de algumas famílias burguesas (França) e o
aburguesamento de muitas famílias nobres (Itália). De certa forma, portanto, a própria
nobreza contribuiu para a mobilidade social do período. Outro aspecto importantíssimo desse
fenômeno foi ter-se completado a quebra da identidade clero-nobreza. Sabemos que desde o
século XI ocorriam atritos no interior da aristocracia, com leigos e clérigos disputando a posse
dos excedentes produtivos gerados pelo crescimento econômico.
Em relação aos trabalhadores rurais, a crise social manifestou-se de dupla forma. De um lado,
o retrocesso demográfico e econômico acelerou o processo de recuo da servidão, o
ressurgimento de um campesinato livre, e permitiu até a formação de uma elite camponesa.
De outro lado, em certas regiões, sobretudo na Inglaterra, o campesinato viu-se diante da
chamada “reação senhorial”, isto é, do revigoramento dos laços de dependência, com os
senhores, especialmente os eclesiásticos, tentando reimpor antigas obrigações, que desde o
século XII ou XIII tinham caído em desuso
Quanto à mão-de-obra urbana, a situação era mais homogênea e mais difícil. A crise não criou
uma elite trabalhadora, como fizera no campo, apenas reforçou o poder da alta burguesia.
O resultado daquele estado de coisas, tanto no campo quanto nas cidades, foi uma série de
sublevações populares. Algumas eram contra a miséria, em regiões mais pobres, As revoltas
camponesas mais importantes, porém, mobilizaram trabalhadores em boa situação, que
enfrentavam a reação senhorial. Tais movimentos não eram revolucionários, mas reacionários,
buscando a volta a um passado recente, considerado menos duro. As revoltas urbanas, por sua
vez, eram pelo controle do Estado, em processo de afirmação, fosse ele comunal, senhorial ou
nacional.