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HERCULANO, Alexandre. Eurico, o presbítero. 7ed. São Paulo : Ática, 1988 (Bom Livro).

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EURICO, O PRESBÍTERO
Alexandre Herculano

Prólogo do autor

Para as almas, não sei se diga demasiadamente positivas, se demasiadamente grosseiras,


o celibato do
sacerdócio não passa de uma condição, de uma fórmula social aplicada a certa classe de
indivíduos
cuja existência ela modifica vantajosamente por um lado e desfavoravelmente por outro.
A filosofia
celibato para doos espíritos vulgares acaba aqui. Aos olhos dos que avaliam as coisas e os
pela
homens sua sóutilidade social, essa espécie de insulação doméstica do sacerdote, essa indireta
abjuração
afetos maisdos puros e santos, os da família, é condenada por uns como contrária ao
interesse
como danosa das nações,
em moral e em política, e defendida por outros como útil e moral. Deus me
livre de matéria tantas vezes disputadas, tantas vezes exaurida pelos que sabem a ciência
debater
do mundo
pelos e
que sabem a ciência do céu! Eu, por minha parte, fraco argumentador, só tenho
celibato
pensado ànoluz do sentimento e sob a influência da impressão singular que desde verdes
anos fez
mim em da irremediável solidão da alma a que a igreja condenou os seus ministros,
a idéia
espécie de espiritual, em que para o sacerdote morre a esperança de completar a sua
amputação
existência
terra. Suponde na todos os contentamentos, todas as consolações que as imagens celestiais e
apodem
crençagerar,
viva e achareis que estas não suprem o triste vácuo da soledade do coração. Dai
todo o ardor que puderdes, aos prazeres mil vezes mais intensidade, aos sentidos a
às paixões
máxima energia
convertei o mundo e em paraíso, mas tirai dele a mulher, e o mundo será um ermo
melancólico,
deleites serãoos apenas o prelúdio do tédio. Muitas vezes, na verdade, ela desce, arrastada
por nós,imundo
charco ao da extrema depravação moral; muitíssimas mais, porém, nos salva de nós
mesmos
pelo afetoe,e entusiasmo, nos impele a quanto há bom e generoso. Quem, ao menos uma
na
vez,existência
não creu dos anjos revelada nos profundos vestígios dessa existência impressos num
coração de
mulher? E por que não seria ela na escala da criação um anel da cadeia dos entes, presa,
de um lado, àpela fraqueza e pela morte e, do outro, aos espíritos puros pelo amor e pelo
humanidade
Mas,
afatos
desterro:
A
naturais
os
grosseira
Providência
história
têm
mistério?
que que
seasisto
não dopara
eno-
gerações
das
fria
homem
Por
seria assim
lo
ano-
ele
agonias
comparada
têm
olaé,emundo
mulher seria
dito
fizesse
os
aoíntimas
opovos.
sacerdote
aintermédio
bem
nós
com
deve
encontrar
dorolosa
geradas
os
Aapassar
obra
terrível
que
não não
na
da
foi
pela
edesconsolado
entre variada,
vida.
lógica
realidade
dado
ojuramos
luta
céuAo
compreendê-lo;
desta
potente
e se
asacerdote
junto
histórica
asesituação
fases
terra?triste,
da
doimaginação
altar
cumpre
de
do
como
excepcional
uma
não
coração
repelir
se
lhe
aceitar
alma
nos
que
foi
metade
tivessem
devorada
apresenta
dado
do
cria
esta
clero
oda
por
julgá
osnossa
pela
com
seus
ao- lo
pelos
alma,
verdadeiro
-despovoarmo
as
anais
romance
solidão
sacerdócio.
lotendências
daquelas
como
mil
quando
doseriapor-bem quem e para quem vivemos.
Essa crônica de amarguras procurei- a já pelos mosteiros quando eles
transformações
desabavam no meiopolíticas. Era um buscar insensato. Nem nos códices
das nossas
iluminados
nos pálidos da Idade Média,
pergaminhos dosnem
arquivos monásticos estava ela. Debaixo das
sepulcros
lájeas que claustrais
cobriam os havia, por certo, muitos que a sabiam; mas as sepulturas
dos monges
mudas. Algunsachei- as
fragmentos avulsos que nas minhas indagações encontrei
eram apenas
obscuras frases soltas
da história e buscava debalde; debalde, porque à pobre vítima,
que eu
forçada ao sacrifício,
quer voluntária, quer não era lícito o gemer, nem dizer aos vindoruros: -
"Sabei quanto eu padeci!"
E, por isso mesmo que sobre ela pesava o mistério, a imaginação vinha aí
para suprir
idéia a história.
do celibato Da das suas conseqüências forçosas e dos raros
religioso,
vestígios que
tradições destas achei
monásticas naso presente livro.
nasceu

Desde o palácio até a taberna e o prostíbulo, desde o mais esplêndido viver


mais
até o rude, todos
vegetar os lugares e todas as condições têm tido o seu romancista.
do vulgacho
Deixai
de todosque
sejao mais obscuro
o do clero. Pouco perdereis com isso.

O Monasticon é uma intuição quase profética do passado, às vezes intuição mais dificultosa
futuro. que a do

Sabeis qual seja o valor da palavra monge na sua origem remota, na sua
forma primitiva? É o de - só e
triste.

Por isso na minha concepção complexa, cujos limites não sei de antemão
crônica-
assinalar,poema, lenda
dei cabida à ou o que quer que seja do presbítero godo: dei- lha,
também, porque
pensamento dela ofoi despertado pela narrativa de certo manuscrito gótico,
afumado
dos e gasto
séculos, do roçarpertenceu a um antigo mosteiro do Minho.
que outrora

O Monge de Cister , que deve seguir- se aEurico, teve, proximamente, a mesma origem.

Ajuda - novembro de 1843.

I - OS VISIGODOS

A um tempo toda a raça goda, soltas as rédeas do


governo, começou a inclinar o ânimo para a lascívia e
soberba.

Monge de Silos
Chronicon
- , c. 2.

A raça dos visigodos, conquistadora das Espanhas, subjugara toda a


século.
PenínsulaNenhuma
havia mais das detribos
um germânicas que, dividindo entre si as províncias
do império
tinham
romana
de
imperadores
visigóticas
na
públicas
Desde
quase
uma
tradições
misturaram-se
povo
Galécia dos
tentado
sódesaparecera,
essa
nação,
soubera césares,
vestir
civilizado.
nos
daed'além
época,
cultura
expirara
gregos,
seus
para
com
como
vastos
dos sua
aLeovigildo
cuja
as bárbara
eedistinção
reprimira
em
polícia
os
singelas
Pireneus,
osgrandeza
domínios,
homens
Toletum
godos nudez
romanas.
das
aeexpulsara
ajuntar
acabara
audácia
rudes
do
duas com
contribuíra
depois
que
norte
As os
instituições
raças,
se
esses
com
dos
de
da
leis
haviam-se
estendiam
ter trajos
Espanha
francos,
fragmentos
aaquela
dos
espécie despedaçados,
conquistadora
estabelecido
césares,
visigóticas,
com
de
confundido
que
quase
de
mar
de
em
as
monarquia
pelas
que
púrpura
virtudes
aleis
suas
ou
mar
eos
quais mas
políticas
goda
jácorrerias
e,um
eainda,
ásperas
que
ouro,
se
e a eos
esplêndidos,
para
derradeiros
assolavam
suevos
civis
transpondo
romana
juridicamente
da
regiam
código
Vascônia,
Germânia,
se
e aúnico,
tinham
os
compor
ou
paz da civilização
vencidos,
as
conquistada,
as
soldados
eabrangiam
províncias
esta
escrito
com
montanhas
ordem
instituído
a exemplo
com
osdos
na
doasgrande
língua
meio -dia
porção
em da antiga Gália narbonense.
latina, regulava os direitos e deveres comuns quando o arianismo, que os
godos tinham
abraçando abraçado se declarou vencido pelo catolicismo, a que pertencia
o evangelho,
conversão
a raça romana.dos vencedores
Esta à crença dos subjugados foi o complemento da
fusão
A social dos
civilização, dois povos.
porém, que suavizou a rudeza dos bárbaros era uma civilização
alguns
velha ebens que produziu
corrupta. Por para aqueles homens primitivos, trouxe -lhes o pior
dos males,
moral. a perversão
A monarquia visigótica procurou imitar o luxo do império que morrera
e que elaquis
Toletum substituíra.
ser a imagem de Roma ou de Constantinopla. Esta causa
outras, nascidas
principal, ajudadaempor
grande
muitasparte da mesma origem, gerou a dissolução
política
moral. por via da dissolução

Debalde muitos homens de gênio revestidos da autoridade suprema tentaram


evitar
no a ruína
futuro: que viam
debalde o clero espanhol, incomparavelmente o mais alumiado da
tenebrosas e cuja eras
Europa naquelas influência nos negócios públicos era maior que a de todas
as outras classes
procurou juntas,
nas severas leis dos concílios, que eram ao mesmo tempo
reter a naçãoparlamentos
verdadeiros que se despenhava.
políticos,A podridão tinha chegado ao âmago da
árvore, eclero
próprio ela devia secar. O por fim. O vício e a degeneração corriam
se corrompeu
soltamente, rota a última barreira.
Foi então que o célebre Roderico se apossou da coroa. Os filhos do seu
predecessor Vítiza, os
mancebos Sisebuto e Ebas, disputaram- lha largo tempo; mas, segundo
monumentos históricos dessa escura época, cederam por fim, não à
parece dos escassos
usurpação,
não porque ohereditário,
era legalmente trono góticomas à fortuna e ousadia do ambicioso
soldado,
paz que oscorte
na própria deixou
e osviver em de dignidades militares. Daí, se dermos
revestiu
historiadores,
crédito a antigoslhe veio a última ruína na batalha do rio Críssus ou Guadalete,
em que o império gótico
foi aniquilado.

No meio, porém, da decadência dos godos, algumas almas conservavam


ainda a têmpera
antigos homens da robusta dos Da civilização romana elas não haviam
Germânia.
intelectual
aceitado senão e as asublimes
cultura teorias morais do cristianismo. As virtudes civis e,
sobretudo,
pátria tinham o amor
nascidoda para os godos logo que, assentando o seu domínio nas
pais a filhos
Espanhas, o campo de
possuíram agricultado, o lar doméstico, o templo da oração e o
cemitérioNestes
saudade. do repouso e da onde reinavam afetos ao mesmo tempo ardentes e,
corações,
profundos, porque neles
a índole meridional se misturava com o caráter tenaz dos povos do norte, a
esses afetos de uma
moral evangélica revestia poesia divina, e a civilização ornava -os de uma
expressão
a poesia. Mas suave, que do
no fim lhesséculo
realçava
sétimo eram já bem raros aqueles em quem as
romana
tradiçõesnão da havia
culturasubjugado os instintos generosos da barbaria germânica e a
quemainda
fazia o cristianismo
escutar o seu verbo íntimo, esquecido no meio do luxo profano do
clero e dado
insensata pompa
culto exterior. Uma longa paz com as outras nações tinha
godos em alimento
convertido a antiga das dissensões
energia dos intestinas, e a guerra civil, gastando essa
energia,
lugar dela havia postodas
o hábito emtraições covardes, das vinganças mesquinhas, dos
abjeções ambiciosas.
enredos infames e dasO povo, esmagado debaixo do peso dos tributos,
dilacerado
bandos civis, pelas lutas dosàs paixões dos poderosos, esquecera completamente
prostituído
as virtudes
seus avós. As guerreiras de
leis de Vamba e as expressões de Ervígio no duodécimo
quão fundo
concílio ia nesta parte
de Toletum o cancro da degeneração moral das Espanhas. No
revelam
vexames
dos
defensão
filhos,
Tal era,
soldados
eem
aedaquela
maioria
padecimentos,
resumo,
de Teodorico,
mesma
do
o estado
povopátria
o de
mais
preferia
político
Torismundo,
que
custoso
os
aeinfâmia
heróis
moral
e aborrecido
deda
visigodos
que
Teudes
Espanha
a leide
eimpunha
tinham
detodos
naLeovigildo
época
eles
conquistado
aosem
para
que
que
eraoso
meio de tantos e tão cruéis
afeminados
vestir
para
recusavam
natal
aconteceram
que vamos
aaos
as
legarem
armas
riscos
defender
narrar.
descendentes
osaem
gloriosos
sucessos
seusa terrados combates e àIIvida
- O fadigosa
PRESBÍTERO da guerra.
Sublimado ao grau de presbítero... quanta
brandura, qual caridade fosse a sua o amor de
todos lho demonstrava.

Álvaro de Córdova,
Vida de Santo Elógio
, c. 1.

No recôncavo da baía que se encurva ao oeste do Calpe, Cartéia, a filha dos


correntes rápidas
fenícios, mira do estreito
ao longe as que divide a Europa da África. Opulenta outrora,
os seus
sido estaleiros
famosos antestinham
da conquista romana, mas apenas restam vestígios deles;
sido
as suasextensas
muralhas e sólidas,
haviammas jazem desmoronadas; os seus edifícios foram
cheios
mas de magnificência,
caíram em ruínas; a sua povoação era nume rosa e ativa, mas rareou e
tornou- sepor
Passaram indolente.
lá as revoluções, as conquistas, todas as vicissitudes da Ibéria
cada
durantevicissitude dessase deixou aí uma pegada de decadência. Os curtos anos
doze séculos,
de esplendor
monarquia da
visigótica tinham sido para ela como um dia formoso de inverno,
resvalam
em que ospelaraiosface
do da
solterra sem a aquecerem, para depois vir a noite, úmida e
fria como as Debaixo
precederam. que a do governo de Vítiza e de Roderico a antiga Cartéia é
uma povoação
mesquinha, decrépita
à roda da quale estão espalhados os fragmentos da passada
miséria,
opulênciaapenas
e que,nas recordações
talvez, na sua que lhe sugerem esses farrapos de
louçainhas
refrigério àsjuvenis
amargurasachadaalgum
malfadada velhice.

Não! - Resta- lhe ainda outro: a religião do Cristo.

O presbitério, situado no meio da povoação, era um edifício humilde, como


todos os que
subsistem ainda
alevantados pelos godos sobre o solo da Espanha. Cantos enormes
os
semmuros;
cimentocobre- lhe olhe
alteíam- âmbito um teto achatado, tecido de grossas traves de
carvalho
tênue subpostas
colmo: ao
o seu portal profundo e estreito pressagia de certo modo a
misteriosa
da portada
Idade Média: asda catedral
suas janelas, por onde a claridade, passando para o
tristonho
interior, secrepúsculo,
transformasão emcomo um tipo indeciso e rude das frestas que,
depois, alumiaram
edificados no décimo os templos
quarto século, através das quais, coada por vidros de
melancólica
mil cores, a luznosiaalvos
baterpanos dos muros gigantes e estampar neles as sombras
das colunasdas
enredados e arcos
naves. Mas, se o presbitério visigótico, no escasso da
claridade, se aproximano
cristão de arquitetura, doresto
tipo revela que ainda as idéias grosseiras do culto
apagado de todo
de Odin não nos filhos e netos dos bárbaros, convertidos há três ou
se tem
quatro séculos à crença do
Crucificado.

O presbítero Eurico era o pastor da pobre paróquia de Cartéia. Descendente


de uma antiga
bárbara, gardingo família
na corte de Vítiza, depois de ter sido tiufado ou milenário
vivera os ligeiros
do exército visigóticodias da mocidade no meio dos deleites da opulenta
Toletum.
o amor viera,Rico,apesar
poderoso,
disso,gentil,
quebrar a cadeia brilhante da sua felicidade.
filha de Favila, duque
Namorado de Hermengarda, de Cantábria, e irmã do valoroso e depois tão célebre
Pelágio,
infeliz. Ooorgulhoso
seu amor Favila fora não consentira que o menos nobre gardingo
pusesse
seus tão alto
desejos. a mira
Depois dedos mil provas de um afeto imenso, de uma paixão
submergir
ardente, o moçotodas as suas esperanças.
guerreiro vira Eurico era uma destas almas ricas de
mundo
Desventurado,
amor
vontade
aspecto
fê-
arrancou
formoso
Uma
moço
procurar
lo destas
que
cair
Eurico.
deu
da
de
eabrigo
das
oem
varonil
morte
seu
otinham
revoluções
bordas
nome
longa
Educado
opai,
eseu
não
consolações
transpareciam-
embalado.
ede
edo
coração
oseria
perigosa
imaginações
orgulho
na
morais
túmulo,
crenç
capaz
de
Aaos
enfermidade,
que
insultuoso
semelhante
fogo
aingratidão
de
lhe
viva
pés
as
desregradas,
abater.
aqueimou-lhe
grandes
d'Aquele
daqueles
custo
do
de
Aao
e,
através
velho
melancolia
Hermengarda,
crises
anjo
quando
cujos
tempos;
porque
orebelde,
prócer
viço
produzem
do
braços
a não
véu
energia
naturalmente
que
daderam
os
existência
éde
estão
que
opara
toques
no
devorava,
muda
de
parecera
em
espírito
sempre
ouma
mundo
terra
tristeza
belos
ao e
sublime poesia a que o
entendê-
despertar
ceder
com
consumindo-
constituição
puros
que
fronte.
humano
religioso
abertos
lhe
aquele
sem
do
Opara
entenebrecia
se
las.
seu
porque
cedro
dos
resistência
operou
ânimo,
vigorosa
receber
gesto
lhe
sonhos
pendia
poeta,
asentão
que
forças,
oado
àofulminado
foi
ono pelo fogo do céu.
desgraçado que neles vai buscar o derradeiro refúgio. Ao cabo das grandezas
cortesãs o pobre
encontrara gardingo
a morte do espírito, o desengano do mundo. A cabo da estreita
porventura,
senda da cruza vida e o ele,
acharia repouso íntimos? Era este problema, no qual se
resumiaresolver
tentava todo o seu futuro,doque
o pastor pobre presbitério da velha cidade do Calpe.

Depois de passar pelos diferentes graus do sacerdócio, Eurico recebera ainda


de Siseberto,deo Opas na sé de Híspalis, o encargo de pastorear esse diminuto
predecessor
fenícia.
rebanhoOdamoço presbítero, legando à catedral uma porção dos senhorios que
povoação
herdara
a espadajuntamente comde seus avós, havia reservado apenas uma parte das
conquistadora
apróprias
herançariquezas.
dos miseráveis,
Era estaque ele sabia não escassearem na quase solitária e
meia arruinada Cartéia.
A nova existência de Eurico tinha modificado, porém não destruído o seu
das humanas
brilhante desventuras,
caráter. A maior a viuvez do espírito, abrandara, pela melancolia, as
impetuosas
mancebo paixões nos
e apagara do seus lábios o riso do contentamento, mas não pudera
sacerdote
desvanecerosno
generosos
coração doafetos do guerreiro, nem as inspirações do poeta. O
tempo havia
aqueles, santificado
moldando-os pelo evangelho, e tornado estas mais solenes,
alimentando-as com asestampados
sentime ntos sublimes imagens e nas páginas sacrossantas da Bíblia. O
ressurgido
entusiasmonaquele
e o amorcoração
tinhamque parecera morto, mas transformados; o
entusiasmo em entusiasmo
virtude; o amor em amor dos pela
homens. E a esperança? Oh, a esperança, essa é
que não renascera!

III - O POETA

Nenhum de vós ouse reprovar os hinos


compostos em louvor de Deus.

Concílio de Toleto IV, Cân. 13.

Muitas vezes, pela tarde, quando o sol, transpondo a baía de Cartéia, descia
Melária,
afogueado dourando
para a banda com os de últimos esplendores os cimos da montanha
piramidal
longo do Calpe,
da praia vestido viacom
- seaaoflutuante estringe o presbítero Eurico,
encaminhando-se
aprumados à beira-mar. para osOsalcantis
pastores que o encontravam, voltando ao
passarem por ele
povoado, diziam que, ao e ao saudarem-no, nem sequer os escutava, que dos seus
lábios
trêmulossemi-rompia abertos
um esussurro de palavras inarticuladas, semelhante ao ciciar
selva. Os que
da aragem pelaslheramas
espreitavam
da os passos, nestes largos passeios da tarde,
viam-no
Calpe, chegar
trepar aosàsprecipícios,
raízes do sumir- se entre os rochedos e aparecer, por fim,
lá ao longe,
algum píncaro imóvel sobre pelos sóis do estio e puído pelas tempestades do
requeimado
as amplasAo
inverno. pregas
lusco-dafusco,
estringe de Eurico, branquejando movediças à mercê do
vento, eram
ele estava lá;oe,sinal
quando de quea lua subia às alturas do céu, esse alvejar de roupas
sempre,
trêmulas durava, quase da saudade se atufava nas águas do Estreito. Daí a
até que o planeta
poucas
habitanteshoras, os
de Cartéia que se erguiam para os seus trabalhos rurais antes do
alvorecer, olhando
prebistério, para o dos vidros corados da solitária morada de Eurico, a
viam, através
que esmorecia,
luz da lâmpada desvanecendo-
noturna se na claridade matutina. Cada qual tecia
crenças
abominável
misterioso
percebia
Mas
estender-
misturassem
todos
que
horas
cla ramente
aEurico
Providência
eram
deda que
íntima
sedo
superstição
filhos.
que
era
vida
para
com
apresbitero.
inteligência
como
oagonia,
passada,
olágrimas
cristianismo
lhe
Todas
lugar
um
confiara,
popular:
esmagado
onde
as
Oanjo
e,de
do
condições
povo
até,
alheias
poeta
atutelar
se
todos
artes
aflição
arude
resume
loucura,
oprecisa
seu
criminosas,
para
dos
desventuras.
se
desecoração
livelavam
Cartéia
em
amargurados.
assentava;
ele
tudo
deuma
eram
viver
serviu
não
trato
pela
palavra
Servo
onde
irmãos.
num
nunca
podia
soberba
com
sucessivamente
Nunca
ele
ou
mundo
-oentender
Sacerdote
os
homem
aparecia;
fraternidade.
espírito
dos
seus
a sua
mais
homens,
olhos
livre,
mão
esta
mau,
do
amplo
para
então sua novela ajudado pelas
penitência
explicar
vida
do
sociedade
benéfica
recusaram
liberto
porque,
Cristo,
Eurico
Sabia
que
deque
ou
percebera,
ensinado
esse
exceção,
pai
odeixou
patrono,
otraçou
proceder
de
lágrimas
comum
aevangelho
uma
quede
pelas
porque
tão
aenfim,
para
daqueles
que
mesquinhos
largas
éele
se
não
um limites.
protesto, ditado por Deus para os séculos, contra as vãs distinções que a força
eneste
o orgulho
mundoradicaram
de lodo, de opressão e de sangue; sabia que a única nobreza é a
entendimentos que buscam erguer-se para as alturas do céu, mas que essa
dos corações e dos
superioridade real
exteriormente é e singela.
humilde

Pouco a pouco, a severidade dos costumes do pastor de Cartéia e a sua


beneficência,
despida tão meiga,que
das insolências tão costumam acompanhar e encher de amargor para
hipócrita dos felizes
os miseráveis da terra; essa beneficência que a religião chamou
a piedade
caridade,
dos homens porque a linguagem
não tinha palavra que exprimisse rigorosamente um afeto
Calvário;
revelado àessa
terrabeneficência
pela vítima doque a gratidão geral recompensava com amor
sincero tinha desvanecido
gradualmente as suspeitas odio sas que o proceder extraordinário do
presbítero
Enfim, suscitara
certo domingo a princípio.
em que, tendo aberto as portas do templo, e havendo já
cânticos
o salmistamatutinos,
entoado os o ostiário buscava cuidadoso o sacerdote, que parecia ter-
se esquecido
que da horaa em
devia sacrificar hóstia do cordeiro e abençoar o povo, foi encontrá-lo
lâmpada
adormecido ainda acesa
junto e com o braço firmado sobre um pergaminho coberto de
à sua
linhas
de desiguais.
despertar Antes
Eurico, o ostiário correu com os olhos a parte da escritura que o
braço do presbítero
encobria. Era um novo nãohino no gênero daqueles que Isidoro, o célebre bispo
nas solenidades
de Híspalis, da igreja goda. Então o ostiário entendeu o mistério da vida
introduzira
errante
Cartéia do
e aspastor de
suas vigílias noturnas. Não tardou em espalhar-se na povoação e
cunvizinhos que Eurico era o autor de alguns cànticos religiosos transcritos
nos lugares cir-
nos hinários
dioceses, de várias
e uma parte dos quais brevemente foi admitida na própria catedral
de Híspalis.
poeta tornou-oO caráter de respeitável. A poesia, dedicada quase
ainda mais
solenidades
exclusivamente da igreja, santificava
entre os visigodosaàs
arte e aumentava a veneração pública para
quem
nome adoexercitava. O
presbítero começou a soar por toda a Espanha, como o de um
Merobaude
sucessor de eDracôncio,
de Orêncio. de

Desde então ninguém mais lhe seguiu os passos. Assentado nos alcantis do
campinas vizinhas pelas
Calpe, vagabundo ou embrenhado pelas selvas sertanejas, deixaram-no
tranqüilo embalar-
pensamentos. se nos
Na conta deseus
inspirado por Deus, quase na de profeta, o tinham
ele as horas que
as multidões. Nãolhegastava
sobejavam do exercício de seu laborioso ministério numa
obra do esses
deviam Senhor? Não
hinos da soledade e da noite derramar-se como um perfume ao
pé dos altares?
completava Nãoa sua missão sacerdotal, revestindo a oração das
Eurico
colhidas
harmonias pordoele noestudadas
céu, silêncio e ena meditação? Mancebo, o numeroso clero das
paróquias
considerava vizinhas
- o como o mais venerável entre os seus irmãos no sacerdócio, e
sua fronte,procuravam
os velhos quase sempre na carregada e triste, e nas suas breves mas eloqüentes
palavras o segredo
inspirações dasda sabedoria.
e o ensino

Mas, se os que o acatavam como um predestinado soubessem quão negra era


aporventura
predestinação do poeta,
que essa espécie de culto de que o cercavam se converteria em
terror. Os hinos
compaixão ou antes em tão suaves, tão cheios de unção, tão íntimos, que os salmistas
das catedrais
repetiam comde Espanha eram como o respirar tranqüilo do sono da
entusiasmo
madrugada
arquejar que vem
e gemer depois denoturno. Rápido e raro passava o sorrir nas
de pesadelo
indeléveis eram as
faces de Eurico; rugas daesua fronte. No sorriso reverberava o hino pio,
profundas
alma,lhe
porém,
lúgubre
ferida,
qual
estreito
ostiário
generoso,
perceberiam
próprio,
suas
visigodos;
perdão
cogitações
quando,
das
eda
aposento,
nem
de
etransudava
oeram
os
fronte
não
alturas
amor.
cólera
como,
ninguém
maus
alevantando-se
criam
odedo
Era
Gethsemani
ou
que
do
não
além
tranqüila
do
presbítero,
desalento,
por
espaço,
que
ele
tinha
criam
coração
do
isso
tivesse
derramava
túmulo,
visto.
ase
que
do
da
consciência
semelhante
que
rojava
em
um
terra,
poeta.
oEstes
sacerdote,
noites
poeta
rebramia
curasse
verbo
empela
sepoemas,
Todavia,
torrentes
entranhava
escondia
não
de
eàs
morada
dos
repousada
lávagas
cólera
embebido
dormidas,
dentro,
males
em
os
deas
dos
virtuosos
varridas
que
para
amargura
nos
suas
equando
ahomens.
crimes
palpitava
unicamente
na
vida,
sonhos
amaldiçoar
terríveis
montanha
pelo
nem
um
ou
aque
de
Era
sua
noroeste,
de
acoração
sequer
roíam
um
em
este
fel
osousuas
na
o
harmonioso, santo dessa
mundo
respondia
imaginação,
canto
selva,
sobre
indignação
imaginavam,
pode
esperanças
império
homens
inspirações.
devorar-se
dolo
pergaminhos
namelhor.
moribundo
aquele
campina
um
roso
crédulas,
eMonstruosas
caindo,
aporque
canto
que
As
dor
eatétrico,
si
ou
rugas,
que
de
ensinava
dos
como
em
não
no
umnem
opara
ânimo
a águia
oo uns,
objeto de ludíbrio para outros, numa sociedade corrupta, em que a virtude era
egoísta e oninguém
incrédulo, vício o escutara, ou, antes, ninguém o entenderia.

Levado à existência tranqüila do sacerdócio pela desesperança, Eurico sentira


melancolia
a princípio umarefrigerar-lhe
suave a alma requeimada ao fogo da desdita. A espécie de
torpor moral
rápida transiçãoem dequehábItos
uma e pensamentos o lançara pareceu- lhe paz e
repouso.
ferro queAestava
feridadentro
afizera-se
dela,ao
e Eurico supunha -a sarada. Quando um novo
sentiu que espremê-la
afeto veio não se haviaé cerrado,
que e que o sangue manava ainda, porventura,
com mais força.
de mulher Um amor
mal correspondido a tinha aberto: o amor da pátria, despertado
rapidamente sucediamque
pelos acontecimentos uns aos outros na Es panha despedaçada pelos bandos
civis, abriu
novo foi a mão
essa quechaga.de As dores recentes, avivando as antigas, começaram a
converter
os severospouco a pouco
princípios do cristianismo em flagelo e martírio daquela alma que,
repelia e chamava
a um tempo, o mundo e que nos seus transes de angústia sentia escrita na
consciência
destino esta com
sentençaa pena do - nem a todos dá o túmulo a bonança das
cruel:
tempestades do espírito.
As cenas de dissolução social que naquele tempo se representavam na
Península
despertar aeram capazesmais
indignação de veemente em todos os ânimos que ainda
vestígio
conservavamdo antigo caráter godo. Desde que Eurico trocara o gardingato pelo
um diminuto
sacerdócio,
as ambições,osa ódios
ousadia civis,
dos bandos e a corrupção dos costumes haviam feito
solidões
incríveis do Calpe tinha
progressos. Nasreboado a desastrada morte de Vítiza, a entronização
violenta de Roderico
conspirações e as
que ameaçavam rebentar por toda a parte e que a muito custo o
novo monarca
afogando ia
em sangue. Ebas e Sisebuto, filhos de Vítiza, Opas, seu tio,
Híspalis,
sucessor de e Juliano,
Siseberto conde
na sédos
de domínios espanhóis nas costas de África, do
outro lado do
os cabeças dosEstreito, eram Unicamente o povo conservava ainda alguma
conspiradores.
semelhante
virtude, a qual,ao líquido transvazado por cendal delgado e gasto, escoara
inteiramenteOprimido,
superiores. através das classespor muitos gêneros de violências, esmagado
todavia,
debaixo que
grandes dos pés dos descrera por fim da pátria, tornando- se indiferente e
lutavam,
acovarde,
sua existência
prestes coletiva à paz individual e doméstica. A força moral da nação
a sacrificar
tinha, portanto,e a força material era apenas um fantasma; porque, debaixo das
desaparecido,
dos saios
lorigas dosdos peões dase hostes não havia senão ânimos gelados, que não
cavaleiros
podiam
santo aquecer-se
amor da terra ao fogo do
natal.

Com a profunda inteligência de poeta o presbitero contemplava este horrível


espetáculo de uma
cadáver e longe do nação
bafo empestado das paixões mesquinhas e torpes daquela
derramava sobre o pergaminho
geração degenerada, ou em torrentes de fel, de ironia e de cólera a
amargura que
trasbordava dolhe
coração ou, recordando-se dos tempos em que era feliz
porque tinha
escrevia comesperança,
lágrimas os hinos de amor e de saudade. Das elegias tremendas
fragmentos
do presbíteroque duraram até hoje diziam assim:
alguns

IV - RECORDAÇÕES

Onde é que se escondeu enfraquecida a antiga


que por
Era o gemer
uma destas
das selvas
noites
é profundo
vagarosase do
longo;
inverno
em que
em que
a soledade
o brilhodas
dopraias
céu sem
e
lua é vivo
ribas
absoluta
fragosas
Presbitério
dezembro eera
dade etétrica.
trêmulo;
dedo
Cartéia. oceano
748.À em é dos idos de
meia-noite 1 fortaleza? Sto. Eulógio,
Memorial dos Sant.
, L. 3.º
Era a hora em que o homem está recolhido nas suas mesquinhas moradas; em
que pelossecemitérios
orvalho pendura doo topo das cruzes e, sozinho, goteja das bordas das
os mortos.
campas, emAsque
larvas dachora
só ele imaginação e o gear noturno afastam do campo-santo
a saudade
órfão, da viúva e do
a desesperação da amante o coração despedaçado do amigo. Para se
dormiam
consolarem,tranqüilos nos seus leitos macios!... enquanto os vermes iam roendo
os infelizes
esses cadáveres
amarrados pelos grilhões da morte. Hipócritas dos afetos humanos, o sono
enxugou- lhes as lágrimas!
E depois, as lousas eram já tão frias! Nos seios do torrão úmido o sudário do
cadáver
com ele.tinha apodrecido

Haverá paz no túmulo? Deus sabe o destino de cada homem. Para o que aí
repousa
terra sei eu que há na
o esquecimento!

Os mares pareciam naquela hora recordar-se ainda do rugido harmonioso do


arqueava- se, rolava e, espreguiçando- se pela praia, refletia a espaços nas
estio, e a vaga
golfadas dos
indecisa de escuma
céus. a luz

E o animal que ri e chora, o rei da criação, a imagem da divindade, onde é


que se escondera?
Tremia de frio em aposento cerrado, e sentia confrangido a brisa fresca do
enorte que passava
sibilava contentenas
nastrevas
sarças rasteiras dos maninhos desertos.

Sem dúvida, o homem é forte e a mais excelente obra da criação. Glória ao


rei da natureza
tiritando geme!que

Orgulho humano, qual és tu mais - feroz, estúpido ou ridículo?

Não eram assim os godos do oeste quando, ora arrastando por terras as
águias
com romanas,
o seu braço ora segurando
de ferro o império que desabava, imperavam na Itália, nas
Gálias e nas Espanhas,
moderadores e árbitros entre o Setentrião e o Meio- dia:

Não eram assim, quando o velho Teodorico, semelhante ao urso feroz da


campos cataláunicos
montanha, rodeado de três filhos, contra o terrível Átila e ganhava
combatia nos
no seu vitória:
última último dia a sua

Quando a larga e curta espada de dois gumes se convertera em foice da morte


nas mãos
diante delados godos, ea cavalaria dos gépidas, e os esquadrões dos hunos
retrocedia
gritos de espanto
vacilavam, dandoeroucos
terror.

Quando as trevas eram mais cerradas e profundas viam-se à claridade das


armas
estrelasdos hunos, volteando
relampaguear as em redor dos seus carros, que lhes serviam de
espreita
Lá,
um
O
Os
burgundos,
restos
morrer;
velho
visigodos
leito
o sopro
daporque
oTeodorico
como
inumerável
leão
turíngios,
gelado
viram-
tomado
outro
Teodorico
da
caíra
no,
hoste
qualquer,
hunos,
noite
nopassaram
atravessado
fojo,
jazia
de
não
misturados
Átila,
eos
para
fazia
ovisigodos
avante
rugir
encerrados
sempre,
por
confranger
do
uns
uma
e vingaram-
bosque,
os
com
eflecha
ovigiavam
no
franquisque
nossos
outros,
seu
debatendo-se
despedida
no.
acampamento
avós
tinham
esperando
Ao dos
debaixo
pôr-
pelo
mordido
visigodos
nas
do-sol,
o asas
romper
das ada
valos. Como o caçador
armaduras.
tempestade,
cantilena
ostrogodo
da
gépidas,
terra
fortificado,
eraalvorada.
sua
vingador
cataláunica,
tribo,
ostrogodos,
deHandags,
Lá,
preparavam-
era
repouso.
combatia
e inexorável.
auma
neve
e osque,
ciros,
era
pelos
se
compara
hunos.
os
O romano Aécio teve, porém, piedade de Átila e disse aos filhos de
império está-salvo.
Teodorico: ide-vos, porque o

E Torismundo, o ma is velho, perguntou a seus dois irmãos Teodorico e


oFrederico:
sangue do- nosso
está acaso
pai? vingado

De sobejo o estava ele! Ao aparecer do dia, por quanto os olhos podiam


alcançar,
cadáveres.não se viam senão

E os visigodos deixaram entregues a si os romanos, que, desde então, não


souberam
de Átila. senão fugir diante

Quem contará, porém, as vitórias de nossos avós durante três séculos de


oglória?
esforço de Eurico,
Quem poderáde Teudes, de Leovigildo; quem saberá todas as virtudes
celebrar
de Recaredo e de
Vamba?

Mas, em qual coração resta hoje virtude e esforço, no vasto império de


Espanha?
3

Era, pois, numa destas noites como a que desceu do céu depois do desbarato
destas noites
dos hunos; eraem que a terra, envolta no seu manto de escuridade, se povoa de
numa
terrores incertos;
o sussurro em éque
do pinhal como um coro de finados, o despenho da torrente
assassino, o grito dadeave noturna como uma blasfêmia do que não crê em
como um ameaçar
Deus.
Nessa noite fria e úmida, arrastado por agonia íntima, vagava eu às horas
escalvados
mortas pelosdas ribas do mar, e enxergava ao longe o vulto negro das águas
alcantis
balouçando-
que o Senhorselhes
no deu
abismo
para perpétua morada.

Por cima da minha cabeça passava o norte agudo. Eu amo o sopro do vento,
como o rugido do mar:
Porque o vento e o oceano são as duas únicas expressões sublimes do verbo
de
da Deus, escritasainda
terra quando na face
ela se chamava caos.

Depois é que surgiu o homem e a podridão, a árvore e o verme, a bonina e o


emurchecer.
E o vento e o mar viram nascer o gênero humano, crescer a selva, florescer a
primavera; - e passaram,
e sorriram-se.

E, depois, viram as gerações reclinadas nos campos do sepulcro, as árvores


derribadas
vales secasno fundo dos as flores pendidas e murchas pelos raios do sol do
e carcomidas,
sorriram-se.
estio; - e passaram, e
Que
O
do
povoados
mundo
coração,
tinhamatual
seme
eles,
apinhavam
nunca
arrastava
de feito,
poderá
àpara
roda
comentender
asessas
dosolidões
larexistências,
aceso
plenamente
marinhas
e falavam
mais
odo
afeto
das
passageiras
promontório,
suas
que, mágoas
vibrando-
e incertas
quando
me
eque
dolorosamente
os
infantis
contentamentos
que
outros
asascorrentezas
eondas
homens
dos seus
buliçosas
asdefibras
nos
de
umum
instante.
do outro? 4
E que me importa a mim isso? Virão um dia a esta nobre terra de Espanha
gerações que
as palavras docompreendam
presbítero.

Arrastava- me para o ermo um sentimento íntimo, o sentimento de haver


sonho febril
acordado, chamado
vivo vida, e de que hoje ninguém acorda, senão depois de
ainda, deste
morrer.
Sabeis o que é esse despertar de poeta?

É o ter entrado na existência com um coração que transborda de amor sincero


rodeia, e ajuntaram-se
e puro por tudo quantoos o homens e lançarem-lhe dentro do seu vaso de
inocência
depois, lodo,sefeldele:
rirem- e peçonha e,

É o ter dado às palavras - virtude, amor pátrio e glória - uma significação


profundapor
buscado e, depois
anos ade haver delas neste mundo, só encontrar aí hipocrisia,
realidade
egoísmo e infâmia:
É o perceber à custa de amarguras que o existir é padecer, o pensar descrer, o
experimentar
desenganar- se, e a esperança nas coisas da terra uma cruel mentira de nossos
que ondeia
desejos, umem horizonte
fumo tênue aquém do qual está assentada a sepultura.

Este é o acordar do poeta. Depois disso, nos abismos da sua alma só há para
mandarde
sorriso aosdesprezo
lábios um
em resposta às palavras mentidas dos que o cercam, ou
uma voz de maldição
desabridamente sincera para julgar as ações dos homens.

É então que para ele há unicamente uma vida real - a intima; unicamente
do
umabramido do mar
linguagem e do rugido
inteligível - a dos ventos; unicamente uma convivência não
travada de perfídia - a da
solidão.

Tal era eu quando me assentei sobre as fragas; e a minha alma via passar
diante dee si
vaidosa má,esta
quegeração
se crê grande e forte, porque sem horror derrama em lutas
civis o sangue de seus
irmãos.

E o meu espírito atirava- se para as trevas do passado.

E o sopro rijo do norte afagava- me a fronte requeimada pela amargura, e a


memória consolava-
dissoluções presentesme
comdasa aspiração suave do formoso e enérgico viver de
outrora.
E o meu meditar era profundo, como o céu, que se arqueia imóvel sobre
oceano, que, firmando-
nossas cabeças; como o se em pé no seu leito insondável, braceja pelas baías
eesboroar
enseadas, tentandoos continentes.
e desfazer

E eu pude, enfim, chorar.


O Senhor
vezes
Porque converte-
suaestende
irmãseé oaem
seu
Esperança,
juiz
braço
inexorável;
pesado
e a Esperança
de
mas,
maldições
ainda
nunca
assim,
sobre
morre
aum
Piedade
nos
povo
céus.
criminoso;
não
Dedeixa

oQue
de
do
ela
antes
E pai
osorar
seu
desce
fora
desgraçados
que
trono.
junto
aao
perdoara
sejam
vida
seio
dosse
precitos.
dos
degraus
na nela
mil
sua
maus
não
miséria
houvera
conservam
lágrimas?
sempre olhos
6 que saibam chorar.
A dor mais tremenda do espírito quebrantam- na e entorpecem-na as
lágrimas.
O Sempiterno as criou quando nossa primeira mãe nos converteu em
porventura, ainda
réprobos: elas de algum refrigério lá nas trevas exteriores, onde há o
servem,
ranger dos dentes.
Meu Deus, meu Deus! - Bendito seja o teu nome, porque nos deste o chorar.

V - A MEDITAÇÃO

Então os godos cairão na guerra;

Então fero inimigo há de oprimi-lo;

Com ruínas sem conto, e o susto e a fome.

Hino de Sto. Isidoro, em Lucas de Tui,


Chronicon , L. 3º .

No templo - ao romper de alva.


- Dia de Natal da era de 748.

Mais de sete séculos são passados depois que tu, ó Cristo, vieste visitar a
terra.
E as tuas palavras foram escutadas pelos indomáveis filhos da Gótia, e eles
ajoelharam aos pés da cruz.
Era que nessas palavras divinas havia uma poesia celeste, a qual as almas
rudes mas virgens
Setentrião sentiam do
casar-se com as suas primitivas virtudes.

Tu evangelizavas a liberdade e condenavas todo o gênero de tirania: tu


restituías ao valor
generosidade, a sua
à generosidade a sua modéstia; tu revelavas inauditos mistérios
constância dosmorrer:
no esforço do teus mártires
a escurecia a dos nossos guerreiros quando,
debaixo dorecusavam
vitorioso, punhal deconfessar-se
inimigo vencidos.

Tu convertias o amor, esse afeto delicioso, até então limitado ao gozo


material
sentimentoda grande
mulher,eem
sublime: alargavas o âmbito do coração por toda a terra,
epor
respira, e davas-lhe para conquistar todas as existências dos céus.
tudo quanto nela vive

A generosidade, o esforço e o amor, ensinaste- os tu em toda a sua


bárbaros
sublimidade:estavam eles
só nas em germe.
almas dos Não para os romanos corrompidos, mas
setentrionais,
serras
mergulhando-se
Por
mesquinhos
Tem
inteiramente
isso,
compaixão
e que
enquanto
ilumina,
larários,
cinzas
erade
no
o eles
cristianismo.
nós,
mar,
debaixo
aquece
nós
voltavam
óque
quebrávamos
Cristo;
das
esóalegra;
deixa
lousas;
Para
as
lembra-
costas
estes
nos
para
no
porque
te
campos
fundo
àos
ode
tua
evangelho
escravos
que

cruz
das
escuridão,
quatro
osselvas
ouossos
abjetos
assemelhava
aséculos
lançavam
ou
dos
frialdade
dos
noque
têm
topo
césares
de
assim
-se
passado
edas
aoo
para nós, os selvagens
sol que
assemelhava-
tristeza.
envolta
montanhas
Odin,
fizeram
por cima
derompe
com
ainda
Tor
deles.
asos
ese
imagens
não
de
ídolos
ao
além
Freda
são
solnos
de
das
e corríamos
seus a abraçar-nos com 2 ela.
Quem é hoje cristão e godo nesta nossa terra de Espanha?

Uma geração degenerada pisa os restos de heróis: homens sem crença,


blasfemos ou
sucederam aoshipócritas,
que criam na grandeza moral do gênero humano e na
providência de Deus.
Dantes, os príncipes do povo eram os capitães das hostes: a espada dos reis, a
primeirados
sangue queinimigos
se tingiadanopátria.

Dantes, o sacerdote era o anjo da terra: os que passavam curvavam-se para


estringe; porqueda
beijar a fímbria a paz
sua e a esperança entravam em todas as moradas sobre que
desciam as bênçãos dele.
Dantes, o juiz era o pai do oprimido, o tribunal o abrigo do inocente, a justiça
gótico.
o nervo do império

Dantes, nos conselhos dos prelados, dos nobres, dos homens livres as leis
iam buscare aaferir-
sabedoria sanção seda
pela utilidade comum. Lá o rei sabia que o poder lhe
vinha de Deus
dos godos, queeoda vontade
cetro era cajado de pastor, não cutelo de algoz, e a coroa
auréola de vanglória.
uma carga pesada, não uma

Hoje, nos paços de Toletum só retumba o ruído das festas, os francos e os


vascônios talam
províncias as e a espada dos guerreiros só reluz nas lutas civis.
do norte,

Hoje, os príncipes na embriaguez dos banquetes esqueceram-se das tradições


de avós;
que eraesqueceram-
aos capitãessedas hostes da Germânia que os romanos imbeles
davam o nome de reis.
Hoje, a prostituição entrou no templo do Crucificado, os claustros das
catedrais
manto de velam com
pedra as o seu
abominações da torpeza, e as mãos do sacerdote deixam
tela quevezes
muitas vesteumedecida
os altares com
a vestígios do sangue derramado covarde e
vilmente.
Hoje, a cobiça assentou-se no lugar da eqüidade: o juiz vende a consciência
no mercadocomo
poderosos, dos as mulheres de Babilônia vendiam a pudicícia nas praças
públicas
diante daaos
luz que passavam,
do dia.

Hoje, a espada substituiu o conselho dos prelados, dos nobres e dos homens
conquista, a leiévontade
livres: a coroa uma do desonrado vencedor de pelejas domésticas, a
liberdade palavra mentida.
Império de Espanha, império de Espanha! por que foram os teus dias
contados?
3

O sol oriental que ora bate ridente no pavimento da igreja aflige a minha
alma, porque
alumiando esta meterra
parece que,
condenada, se assemelha a homem cruel que viesse dar
do
umamoribundo.
risada junto ao leito
Por
Pela
É
passar
então
que
escuridão
ante
que
te havia
siele
eda
estampa

colige
eunoite,
movimento
de as
amar,
nos
nas
suassombras
lugares
ó recordações;
sol,
e vida
seermos
que
aos
tu és
openhascos,
erodeiam
oune,
às
inimigo
horas
parte,
um
mortas
voz
dos
transmuda
universo
sonhos
e entendimento
do alto
transitório,
do
as imagens
silêncio,
às
imaginar;
arealidade,
mais
selvas
gemem
das
mas
fantasia
existências
para
ardente
que
à ele
mercê
do
se
eseatu
real.
homem
emeneiam
realidade
robusta.
nos
que
da brisa
chamas
viu
é eé noturna.
tãoà triste?
E é belo esse mundo de fantasmas aéreos, por entre cujos lábios descorados
não transpiram
perjúrio nem e a cujos olhos sem brilho não assoma o reflexo de
nem dobrez,
ânimos pervertidos.
Aí há o repouso, a paz e a esperança que desapareceram da terra; porque o
mente
mundopura do poeta:
das visões elao dá
cria- a corpo e vulto ao que já só é ideal, e o passado,
deixandoergue
sudário, cair o-se
seuemimenso
pé e, pondo- se diante do que medita, diz-lhe: - aqui
estou eu!
E este o compara com o presente e recua de involuntário terror:

Porque o cadáver que se alevanta do pó é formoso e santo, e o presente que


vive e passa
horrendo e sorri é
e maldito.

E o poeta atira-se chorando ao seio do cadáver e responde- lhe: - esconde-me


tu!
É lá que esta alma, árida como a urze, sente, quando aí se abriga, refrescá- la
como um orvalho do céu.

VI - SAUDADE

Cristo! - dá-me o perdão, dá-me remédio; que entre


tão vário mal fraqueia a mente!

Eugênio Toledano,
Opúsculos - XI.

Na Ilha Verde. Ao pôr-do- sol das


calendas de abril da era de 749.

O mar estava tranqüilo, e o ar puro e diáfano. As costas de África fronteiras, lá na extremidade do


horizonte,
orla escurapareciam uma
bordada no manto azul do firmamento.

A aragem do norte encrespava suavemente a superfície das águas; as ondas


vinham espraiar-
preguiçosas se da baía.
no areal

O barqueiro Ranimiro dormia na sua barca amarrada na foz do Palmônio.


Uma saudade
atraía-me paraindizível
o mar.

Saltei na barca; o ruído que fiz despertou Ranimiro. - "Ao largo" - disse-
lhe eu. Empunhou os remos, e
partimos.

- Para onde, presbítero? - perguntou o barqueiro, depois de vogar alguns


momentos em silêncio.
- Se
margem.
Calei-
largo
Ranimiro
ilha
Quero
agitava-
vos
da
me:
ilha
respirar
parece
Pelo
não
o barqueiro
se
e,se
tempo
rodeando
trêmula
enganara:
-o ar
tomou
que
puro
tomou
com
avai,
Ranimiro
esua
como
fresco
aela
por
aragem
margem
estará
uma
aprovação
da- tarde;
rodearemos
tapeçaria
daocidental,
agora
terra,
mais
oesmaltada
meu
que
riquíssima
nada
abicamos
acurvava
silêncio.
Ilharepliquei.
de
Verde,
lançada
verdura
brandamente
em
Voltando
entraremos
terra
- ao
Leva
e pelo
som
a proa
-as
me,continente.
no
boninas.
para
lado
do
das
flores
lanceoladas
canal,
águas,
para
da
poente,
e enseada
asonde
efolhinhas
asaltareis
da
superfície
corremos
te
relva.
que
aprouver.
na
a separa
ao
da
Assentado à sombra de uma rocha que formava um promontoriozinho do
lado do sul,
em volta atélancei osdescobria
onde se olhos o horizonte. Lá, no extremo do Estreito para a
viam-
banda se
dona
marponta da África os cimos das torres de Septum, fronteiras aos
interior,
cerros
De escalvados
Septum para o do Calpe.as costas africanas contrastavam nas suas
ocidente
áspera das ribas
ondulações hispânicas,
suaves e, confrangido entre os dois continentes, o mar
com a penedia
balouçava- se com os raios já inclinados do sol.
resplandecente

De roda de mim a atmosfera estava impregnada de um hálito perfumado: era


aafagada
natureza queprimavera.
pela sorria As aves aquáticas redemoinhavam nos ares ou
pareciam,
pousavam nos seus
sobre as vôos
águas,incertos,
e ora vagarosos, ora rápidos, folgarem com
os primeiros
estação dias da
dos amores.

Uma melancolia suave se me erguia lentamente no coração, debaixo daquele


céu puro, naquela
atmosfera balsâmica, ante aqueles horizontes saudosos. As lágrimas
dos olhos.
rebentaram-me involuntariamente

Era feliz neste momento, porque repousava de amarguras. Olhei para a barca:
novo à proa.
Ranimiro Repousavam
adormecera de bem perto um do outro a matéria e o espírito.

Bem- aventurado, pensei eu comigo, aquele em quem os afagos de uma tarde


serena dedaprimavera
silêncio no
solidão produzem o torpor dos membros; porque nessa alma
dormem
dores no profundamente asvida!
meio do ruído da

E este pensamento trouxe - me pouco e pouco à memória as tempestades do


se me enxugaram
passado! as lágrimas,
Ai de mim! Logo porque eram de consolação, e essa lembrança
as estancou!
2

Por que não adormeço eu, como o rude barqueiro, ao murmúrio das vagas
brisa do norte?
sonolentas, ao sussurro da

Porque mulher bárbara não entendeu o que valia o amor de Eurico; porque
sabia
velho mais um nome
orgulhoso de avós do que eu, e, porque nos seus cofres havia mais
e avaro
alguns
do que punha dos de ouro
nos meus.

As mãos imbeles de uma donzela e de um velho esmagaram e despedaçaram


o coração
como de um homem,
os caçadores covardes assassinam no fojo o leão indomável e generoso.

E, todavia, este coração sentia a voz da consciência pregoar-lhe largos


essa voz quando
destinos! Por quedo pórtico
não do templo lancei ao mundo a maldição da
emudeceu
despedida?
Por que me lembra com saudade, aqui, a estas horas, o tempo das minhas
esperanças?
É porque
incomportáveis
Os
grande
imagem
raiosvulto
serena
derradeiros
o viver
da etormentos,
noite,
éluminosa
o do
ecúleo
que
solse
surge
sem
desapareceram:
do
aleespírito:
nunca
vanta
a meuspoder
doaolhos,
alma
lado
oexpirar,
clarão
de
estorce-se
ó Hermengarda,
Septum.
avermelhado
e os seus
como
Nesse
afetos
agonizante
semelhante
chão
da tarde vaià
nodado
éprofundos
Paz
quase
tenebroso
aparição
esperança
meio
e esquecimento,
vencido
o dos
morrer.
dodo
nas
são
anjo
mais
oriente
trevas
como
pelo
da ela;
óadotua
meu
condenado.
nãoDeus!
lhes 3
E essa imagem é pura e sorri; orna -lhe a fronte a coroa das virgens; sobe- lhe
ao rostoo aamículo
pudor; vermelhidão do da inocência, flutuando- lhe em volta dos
alvíssimo
divinas,
membros, fazendo- as, porventura,
esconde-lhe as formas suspeitar menos belas que a realidade.

É assim que eu te vejo em meus sonhos de noites de atroz saudade: mas, em


sonhosdooucrepúsculo,
vapor desenhada tu
nonão és para mim mais do que uma imagem celestial;
uma recordação
indecifrável; um consolo e ao mesmo tempo um martírio.

Não eras tu emanação e reflexo do céu? Por que não ousaste, pois, volver os
abismo do omeu
olhos para amor? Verias que esse amor do poeta é maior que o de
fundo
nenhum como
imenso, homem; porque
o ideal, queé ele compreende; eterno, como o seu nome, que
nunca perece.
Hermengarda, Hermengarda, eu amava - te muito! Adorava - te só no
santuário do
enquanto meu coração,
precisava de ajoelhar ante os altares para orar ao Senhor. Qual era o
templos?
melhor dos Foidois
depois que o teu desabou, que eu me acolhi ao outro para
sempre.
Por que vens, pois, pedir -me adorações quando entre mim e ti está a cruz
quando a mão inexorável
ensangüentada do calvário;do sacerdócio soldou a cadeia da minha vida às
lájeas frias passo
o primeiro da igreja;
alémquando
do limiar desta será a perdição eterna?

Mas, ai de mim! esta imagem que parece sorrir- me nas solidões do espaço
estáminha
na estampada
alma eunicamente
reflete-se no céu do oriente através destes olhos perturbados
que
pelalhes
febrequeimou as lágrimas.
da loucura,

Tu, Hermengarda, recordares-te?! Mentira!... Crês que morri, ou porventura,


nem isso
para crês;
creres era porque
preciso lembrares-te, e nem uma só vez te lembrarás de mim!

Lá, no tumulto dos cortesãos, onde o amor é cálculo ou sentimento grosseiro,


terás achado
chame quemteteaperte entre os braços, quem tivesse para dar a teu pai o
sua, quem
comprasse
preço do teucomo alfaia
corpo e te preciosa para serviço doméstico. O velho estará
contente,
filha porque trocou sua
por ouro.

A isto chama prudência o mundo estúpido e ambicioso; a isto, que não é mais
do que umasacrilegamente
abençoada prostituição perante as aras sacrossantas.

Oh, quantas vezes esse pensamento repugnante me tem feito vaguear louco
pelas montanhas,
como uivando
o lobo esfaimado e tentando despedaçar os rochedos com as mãos,
donde me goteja o sangue!
E tu folgas e ris! Oxalá nunca saibas quão imenso e atroz é o meu tormento,
homens
que devodebaixo de aspecto
velar diante dos tranqüilo, como se, em vez de martírio, ele fosse
um abominável crime.
4
Asluz
Tens
A
apagar-se
Mas minhas
orazão,
brilhante
sol,então,
apenas
paixões
consciência!
decomo
nasceu
afeições
nãoapodiam
lâmpada
Quando
para
e esperanças
mim,
morrer,
aos
do logo
templo
pésporque
ado
desapareceu
queao
venerável
vivia
eram
amanhecer;
eimensas,
que
no
Siseberto
ocaso,
me
porque
povoava
e oeoque
os
gardingo
euque
éo me
E quem
Eurico
abandonava
coração
avoltava-
crêem
pensam
imenso te disse,
luz doalumiado
jurou
éque
de
Senhor.
me
eterno. presbítero,
felicidade
para
vivo
oque
mundo,
mal
oemcéu,
trevas!
devia
devia que
buscando o teu amor não era um crime?
despir as paixõ es que do mundo trouxera.
E assim, nem ouso pedir a paz do sepulcro; porque para mim
não haveria paz, senão no aniquilamento.

O aniquilamento! Que mal te fiz eu, ó meu Deus, para não me deixares cá
dentro mais
risonha, maisque
queuma
um idéia
desejo capaz de encher o abismo da minha desventura?
Queesse
que mal desejo,
te fiz euessa
paraidéia seja a que unicamente resta ao precito que se
angústias?
revolve em perpétuas

Mas para mim, como para ele, tal pensamento é vão e mentido! Eternidade,
eternidade,
homem estáaencerrada
alma do e cativa no ilimitado do teu império!

VII - A VISÃO

No espelho da visão está a segurança da verdade.

Código Visigótico - 1 - 1 - 2.

Presbitério. Antemanhã. Oito dos


idos de abril da era de 749.

O sono ou a vigília, que me importa esta ou aquele? As horas da minha vida são quase todas dolorosas
porque
do a imaginação
homem não pode dormir.

Para o povo, ignorante e impiamente crédulo, a noite é cheia de terrores; em


cada folha
selva que um
ele ouve range na de alma que vagueia na terra; em cada sombra de
gemido
árvore solitária
balouça que se sente o mover de um fantasma; as exalações dos
com a aragem
demônios, alumiando
brejos são para ele luzfolgares
de de feiticeiras.

Mas, quando jaz no leito do repouso, o seu dormir é tranqüilo. Ao cruzar os


umbrais sumiram-
terrores domésticos,
se esses
com os objetos que os geraram. A sua alma parece
despir-
como ose da fantasia
corpo se despegrosseira,
da estringe áspera que lhe resguarda os membros.

Não assim eu. Quando as pálpebras cerrando-se me escondem o mundo das


realidades,
espírito os olhospara
volvem-se do o mundo das existências ideais. Às vezes a felicidade
e a esperança
consolar- vêm muitas mais, porém, os sonhos maus me perseguem; e
me então;
porinstantes
os bem altodepreço me saem
ventura transitória, trazidos por visões consoladoras.

Esta foi para mim uma noite cruel. Ainda o suor frio que me corria na fronte
se não secou;
coração pareceainda o
mal caber no peito, e o pulso bate desordenado e violento.
Terribilíssimos
Diz-
Eram as
ossos me voz
o vento
horasfrio íntima
das da foram
trevas
noite, queosesse
sonhos
profundas. doloroso
e parecia-me
Sem queque
saber Deus
espetáculo
oscomo,
membros mandou
achava-me ameao
hirtos seno que
visoprebístero;
assistiu
haviam
mais alto dominha
pregado mas,
topoalma
Calpe:
no da é,
porventura,
ósignificação.
dos
E Espanha,
esta
teus
foidestinos.
traspassava-me
penedia. a oavisão:
mais
mistério
medulaterrível
dos é a sua 2
Olhava fito ante mim, e os meus olhos rompiam a escuridão do horizonte,
como se a luz do sol o
iluminasse.

O espetáculo maravilhoso que se passava nesse espaço insondável fazia -me


norte
erriçarme
os açoitava
cabelos, com
que oo sopro gelado.

Eis o que eu vi nessa hora de agonia, depois de estar ali alguns não sei se
instantes ou séculos.
O mar cessou de agitar- se e rugir, semelhante ao metal fervente destinado
colossal que resfriasse
para a feitura de estátuade súbito em vasta caldeira.

Era horribilíssimo ver convertido em cadáver, de todo imóvel e mudo, o


mais de quarenta
oceano; séculos
aquele oceano quenem
há um só dia deixou de revolver-se e bramir em
torno dos
como continentes,
o tigre ao redor da rês que jaz morta.

O sibilar das rajadas também cessou completamente. Parado sobre a face da


terra, o ar do
ao lençol erafinado
semelhante
a quem recalcaram a gleba que o cobre, frio, úmido,
movimento,
pesado, sem ranger, sem oo peito, onde acabou o bater do coração e o arfar
cosido sobre
compassado dos pulmões.
Então, muito ao longe, uma vermelhidão tenuíssima foi avultando pouco a
pouco, derramando-se
horizonte e repintando pelo
a abóbada imensa dos céus.

Depois, esse clarão sinistro reverberou na terra: as cimas agudas, dentadas,


tortuosas, alvacentas
fragas marinhas das abatido e livelado, como os cerros informes de
tinham-se
derretidos nos primeiros
neve amontoada, que, dias do estio, vão, despenhando- se, formar um lago
chão funda
mais e morto
donavale
caldeira
fechado.

Tudo a meus pés era um plano uniforme, ermo, afogueado, como a atmosfera
que pesava
dele: e, além,em cima
jazia o cadáver do mar.

Eu, o Silêncio e a Solidão éramos quem estava aí!

Subitamente, naquele vasto horizonte, até então puro na sua luz horrenda, dois castelos de nuvens
cerradas e negras
começaram a alevantar-se, um da banda da Europa, outro do lado de África.

Os bulcões conglobados corriam um para o outro e multiplicavam-se,


vomitando
nuvens, quenovos castelos de
se difundiam, flutuando enoveladas com formas incertas.

E aquelas montanhas vaporosas e negras rasgaram-se de alto a baixo em


fendas semelhantes
profundos, e os seusafragmentos
algares informes e cambiantes vacilavam trêmulos
emalturas
as ascensão diagonal para
do céu.
Ao aproximarem-se,
Como
quebram
violenta
Então,
que morre
duas
pareceu-
se
emviolentamente,
incorpore
vagas
cachões
meencontradas,
ouvir
os
na
quedois
mais
espadanam
muito
e um
exércitos
possante,
no
tinir
aomeio
longe
de
lençóis
de
ferro,
assim
denuvens
um
grande
de
choro
como
aquelas
escuma
prolongaram-
procela,
sentido
o de
nuvens
para
milhares
que,
misturado
ambos
tenebrosas
se
tombando
de
emos
espadas,
frente
com
lados,
se
um do
cheio,
uma
antes
derramando-se
despedaçavam,
gritos
batendo
milhares
sobre
que
agudos,
Era
outro
nas
de
auma
amenos
elmos.
cimeiras
outra,
e toparam
como
pela
verdadeira
seimensidão
os
deem
do batalha.
da abóbada afogueada.
Mas este ruído foi- se alongando e cessou: os bulcões alevantados da banda
de
emÁfrica tinham
si os que embebido
subiam da Europa, e desciam rapidamente para o lado dos
campos góticos.
Depois, senti lá embaixo, na raiz da montanha, um rir diabólico. Olhei: o
de mim,
Calpe e os rochedos
esboroava -se aosobre
redorque eu estava assentado vacilavam nos seus
fundamentos.
Despertei. Tinha os cabelos hirtos, e o suor frio manava- me da fronte
aquecida por febre ardente.
Senhor, Senhor! foste tu que deste a ler à minha alma a última página do livro
Providência
eterno em que escreveu
a a história do império godo?

Contam- se coisas incríveis desses povos que assolam a África, chamados os


uma crença
árabes, nova,
e que, pretendem
em nome de apagar na terra os vestígios da cruz. Quem sabe
osecastigo
aos árabes
destafoinação
confiado
corrupta?

Já as nossas praias foram visitadas por eles, e para os repelir cumpriu que
desembainhasse
ilustre Teodomiro,a espada
o último o guerreiro, talvez, que mereça o nome de neto dos
godos.
Terra em que nasci, se o teu dia de morrer é chegado, eu morrerei contigo. Na
de África
procela deixarei
que submergir o meu débil esquife, sem que a esses gemidos
se alevanta
que ouvi
meus. seme
Que vãoimporta
ajuntar aosvida ou a morte, se o padecer é eterno?

VIII - O DESEMBARQUE

E eu estava em um ângulo, observando com temor.


Paulo Diácono:Vidas dos PP. Emeritenses.

DO PRESBÍTERO DE CARTÉIA
AO DUQUE DE CÓRDUBA

Ao Duque Teodomiro, saúde!

Quando Vítiza reinava, na corte esplêndida de Toletum, havia dois tiufados


exemplo
que a todos de serviam
íntima e de sincera amizade. Opiniões e intentos, alegrias e tristezas
eram comuns
ambos. Chamava para- se Teodomiro o mais velho, Eurico o mais moço. Nas suas
esperanças
as Espanhasdeforam-mancebos, lhes, muitas vezes, acanhado teatro para ilusões de
ambição. sonho,
perpétuo A glóriae era o seu
as recordações das façanhas dos antigos go dos
embriagavam-
lembrarem- lhesque
se de os as
ânimos
armasao dos seus avós da Germânia tinham brilhado
membros
vitoriosas despedaçados
sempre sobre os do império romano. Quando o grito da rebelião soou
na
dosCantábria,
dois mais as tiufadas
irmãos que amigos acompanhavam Vítiza na expedição contra
eoscontra
montanheses
os francos rebeldes
seus aliados. Então, nessa guerra de extermínio, os dois
mancebos
sua sede deviramrenome. saciada
Como a os maciços de neve que se despenham das
Vascônia,
serras
alvejar
francos
eram
submetidos
os
Foi
Favila
Hermengarda
Eurico
suapacificadores

infância.
arremessados
que
e,
tinha
montanhasviu-
da
eapenas
cantabros
as
geada,
oescarpadas
aos
dois
destino
duas
Dir
edespontavam
rebelados,
amou-a.
os
da
-se-ia
filhos,
ei-
tiufadias
primeiros
sobre
Cantábria,
ficavam
preparou
lasda
que
que
Quando
Hermengarda
ao de
hoste
eram
inimigo

pareciam
esmagados
raios
aTeodomiro
então
eseparação
Teodomiro
as
os
real
do
tiufadias
por
contentamentos
osentrou
sol
rolar-
erisonhos
duas
Pelágio.
debaixo
faziam
edos
de
ese
foram
vitoriosa
vontades
Eurico
dois
Eurico
pela
dias
do
reluzir
Pelágio
guerreiros
chamadas
encosta,
ímpeto
da
obtiveram
da
apareciam,
em
êmulas
pátria
as
juventude.
saía
Tárraco.
armas,
irresistível
eapenas
que
adentro
de
Tolentum,
a glória.
às
recompensa
parecia
ele
O
Avezes,
da
duque
de
sua
trocava
dessas
só a
subitamente,
semelhantes
pouco,
pinhas
Expulsos
Favila
do
pátria,
morte
infância,
formosura
Eurico
pelas
quetristezas
poder
recebeu
ade
voltou
osgratidão
combateu
mas
os
soldados
acampamentos
eraestrangeiros
dividir.
no
nos
para
triste
do
celestial:
em
brilho
visos
dos
desterro.
pela
triunfo
que
à seus
terra
trêmulo
dasedos
naturais.
da ao
Debalde buscou Teodomiro apagar aquela paixão violenta no coração do seu
amigo, lançando-se
ele nas festas ruidosas com
de uma corte dissoluta. A embriaguez dos banquetes
as
eracarícias feminis,
para Eurico facilmente compradas e profundamente mentidas, atrás
tristonha;
das quais correra
loucamente outrora, tinham-se- lhe tornado odiosas; porque o amor, com toda
lhe convertera
a sua virgindade emsublime,
podridão asquerosa os deleites grosseiros que o mundo
oferece àTeodomiro
homem. sensualidade do
acreditava na eficácia da bruteza para matar o mais
formoso
mas o amordosdevorou
afetos humanos;
na mente de Eurico todos os outros sentimentos, como a
tudo o que encontra,
lava candente devoraquando o vulcão a vomita, alagando a superfície da
terra.
Favila veio à corte: Hermengarda acompanhava -o. Teodomiro recordar-se- á
ainda de qual
desfecho do amorfoi ode Eurico, que ousou dizer ao velho prócer: - "Dá-me por
mulher tua
amizade defilha".
Teodomiro - A salvou então o desprezado gardingo da morte do
da morte
corpo, masdanãoalma.pôdeRazões, rogos, lágrimas; quanto a eloqüência da afeição
salvá-lo
mais que fraterna
veemência; quantas tem de do coração sabe fazer vibrar a mão de um amigo,
cordas
Não
tudo há
elepalavras que possam erguer um espírito que deu em terra; mão
tentou debalde!
nenhuma
que tira sons
estalaram. Euricode ou,
cordas
antes, a sua sombra, fugiu do lado de Teodomiro, e
da porta do
disse-lhe umsantuário
adeus eterno, como ao resto do mundo.

Mal sabia o desgraçado que nesse adeus a sua consciência mentia a si


duque
própria!deTeodomiro,
Córduba: entre os povos
tu hoje és sujeitos ao teu império; entre os que
abençoamnum
bondade, a tuaângulo
justiçada
e vasta província da Bética, em Cartéia, vive um
pobreao
pede presbítero que para
Senhor tanto ti
o renome e o poderio quanto para si deseja a
obscuridade e o esquecimento.
Este presbitero é quem te escreve; quem limitou a bem poucos anos a
dissera;
eternidadeé aquele queque
do adeus se chamava
te no mundo o gardingo Eurico, aquele de
quem
teu foste
rival de amigo,
glória. e que foi

Duque de Córduba - não creias que o meu espírito se volte hoje para as
misérias
uma tardiadasaudade.
terra, impelido
Não! De porque me serviriam o ouro, o poder e a grandeza?
desse lodo não
Para tomar um se curvaria o presbítero. O único afeto eterno, que, talvez,
punhado
resta fogo
pelo a estedacoração
desdita,depurado
o amor da pátria, sentimento confuso e indefinido, mas
indelével, é quem
Eurico a dizer- te oobriga
lugar em que veio coar gota a gota as horas aborridas da
sua tormentosa existência.
Teodomiro! Teodomiro! Um dia tremendo se aproxima, em que a Espanha
goda.
deve serEmosonhos
túmuloantevida raçaesse dia, e, após os sonhos, a medonha realidade aí
se me alevanta
olhos. Cartéia estádiante dos como as demais povoações vizinhas. Apenas eu
deserta,
ouso demorar-me
imediações do Calpe;nas porque sei, passo a passo, todas as veredas que guiam
tendo-as
ao topo dos regado muitas vezes com lágrimas, tendo- lhes muitas mais
desfiladeiros,
confiado
agonias. As a história
cidadesdas minhas
despovoam-se, e, como elas, os campos convertem-se
sorriam no vicejar
em ermos. Embora ainda das searas, no florescer dos pomares, no murmurar das
fontes:
consterna;semelhante
porque osorrir homem desapareceu no meio desta cena formosa, e o
ruído
em da vidadeconverteu-
silêncio morte. - Os se árabes! - eis o único grito que o interrompe; e
peste quandomaldita
esta palavra passa: seguem-
é como ana o susto e o desacordo. A vileza do coração
todatrês
paterno.

Estreito:
Cartéia
soldados
reconheceram
pelas
amplas
quandoaarmaduras
hediondez
vestiduras
dias,
eanoiteceu,
Cada
vinham
que
algumas
ao
tinham
qual
logo
romper
pesadas,
do
dodos
entestaram
as
busca
os
lado
seu
ajudado
faldas
trajos
filhos
da
aspecto.
de
salvar-se
pelos
manhã,
da
Septum.
edo
acom
as
montanha
repelir
largos
Oriente.
armas
Oum
aaterror
Ilha
si
Corremos
ferros
os
grande
próprio.
dos
Daí
Verde.
primeiros
apareceram
acabou
árabes.
dos
anú
pouco,
àOs
Via
franquisques
mero
praia.
com
netos
Entre
assaltos
-se
alumiadas
toda
os
de
Dentro
distintamente
dos
mais
estes,
velas
ados
frota
nobres
esantos
de
porém,
pelas
africanos
por
velejou
poucas
muitos
godos
afetos
o nas
humano surge após ela em
e, atéocom
converteram-
desprezível
branquejavam
horas
reluzir
costas
divisavam-
estringes
para
fachos.
desembarcado.
entraram
de
lado
das
Osmais
Espanha
oarmas,
árabes
do
se
de
amor
se
muitos
sobre
curtas
Calpe,
covardes
nanum
tinham
efilial
baía
vários
as
que
bando
godos,
e,de
águas
eegoístas.
as do
A ansiedade era indizí vel. Demudadas as faces, olhávamos uns para os
pela sorte
outros. datremiam
Eles Espanha.por
Massi; por
eu que entre esses que pareciam inimigos se
achava
de tãoEsta
godos? avultado número
pergunta significava a nossa derradeira esperança.

Ao entenebrecer, alguns barqueiros saíram ao largo e, vogando surdamente,


foram espiar
Tomando a frota. mais curtos, eu encaminhei-me sozinho para o Calpe,
os atalhos
de fachos
cujo vultoao sopé, negrejava
gigante, rodeado no topo sobre o fundo alvacento do céu limp o
de nuvens,
passava onde a embargando
tranqüila, lua com o seu clarão pálido o cintilar das estrelas.

Era alta noite quando cheguei à montanha. Subindo pelas que bradas,
salvando
com precipícios,
as fragas cosendo-me
tortuosas, descendo pelos leitos das torrentes, cheguei a um
que das raízes
rochedo da serrania
contíguo à planícievai morrer no rolo do mar, na costa oriental da
baía. Era aí queaos
desamparando árabes,
frota, se haviam acampado. Comprimindo o alento,
uma tenda mais
aproximei- vasta, alevantada
me insensivelmente dejunto do penhasco a que eu chegara sem ser
percebido.
fenda Por uma as telas mal unidas do pavilhão, descortinei o que se
que deixavam
passava
tochas queno tinham
interiornas
à luz das dois etíopes, cujos rostos negros contrastavam
mãos
roupas. Assentado
com a brancura dasno chão, com os braços cruzados, um árabe mancebo
suas
parecia escutar
um guerreiro atentamente
godo que, em pé no meio dos outros dois, tinha as costas
espanto
voltadasepara
ao mesmo
mim. Comtempo com alegria, percebi que se exprimia em romano
rústico,vio que
pouco, qual,odaí
moçoa árabe falava como se fosse a própria linguagem.
Comecei então a escutar
atentamente.

- Tárique - dizia o godo - ama nhã ao romper da alva é necessário que


sobre nossaspenhascos
todos estes cabeças se coroem dos teus soldados e que não tardes em
empinados
fortificar
que une oessa estreita passagem
promontório do Calpe com o resto do continente. É aqui, nesta
serra inacessível
esperar o resto dosque deves
libertadores da Espanha; é daqui que deves sair com os
quebrar o cetro
teus irmãos do tirano
do deserto Roderico. Se a sorte das armas nos for contrária
para
esperaremos
novos neste
socorros lugar Septum nos fica fronteiro, e Septum entreguei- to
de África.
eu...
Tárique nao o deixou continuar. Como o leão, pulando subitamente dos
juncais da Mauritânia,
árabe pôs- se em pé, com o moço
o gesto colérico, e exclamou:

- Váli dos cristãos! quem te fez crer que Tárique podia ser vencido? Vi em
que me odisse:
sonhos profeta- "a
deEspanha
Deus, curvar-se-á ao Alcorão" - e Maomé não mente!
Ainda sem
arrojado ti, eu
sobre me teria godo, e a minha lança o faria cair a meus pés
o império
moribundo,
tivesse quando
fechado Sebta quando
as portas; me todos vós os godos estivésseis unidos
Maomé o seuDeus
contra mim. profeta!
é grande, e

As palavras violentas do árabe revelaram-me quem era o guerreiro godo.


Juliarto,
nós, umacapitaneou,
tiufadia na como
guerra cantábrica e foi valente soldado. Sabia que ele
fora elevado
conde à dignidade
de Septum, e que aídese cobrira de glória, repelindo os inimigos do
tentado
império,conquistar
que já tinhamaquela província. Como e por que atraiçoou a terra natal?
tanta
talvez
Juliano
-na
compreender
duvidasse
que
Vali
mão
vós
infâmia,
deparecia
e,
chamais
bem
Sebta!
entregando-
umoinstante
segundo
poucos
que
querer
perdoa-
bispo
é ade
responder
das
ode

entendi
ame
seus
viva
Híspalis.
Tárique,
promessas
este
irmãos,
de
das
ímpeto,
ao
um
suas
proferiu
Lê-
mancebo,
muçulmano
do
esmagando-
apalavras.
Profeta.
como
e dize-
algumas
quando
me me
O
Parricida
na
os
tens
judeu
que
proteção
palavras
debaixo
um
perdoado
novas
Zabulão
soldado
e fratricida
em
de
das
háDeus:
árabe.
tantos
de
ruínas
entrou
acaba
amas
um
da
de
Ódios civis o leva ram a
tempo,
pátria.
mal-aventurado
com
Tárique
Juliano
outros.
eu
chegar
Roderico.
seria
umAcom
Bem
buscava
com
réu
olhou
rolo
memória
do
essa
um
sei
deentão
inferno,
vingar-
que
será
pergaminho
sorriso
carta
deste
não
para
réproba
dose
e,podes
estendendo-lhe
e maldita dasagerações
destra, disse-
remotas!
lhe em voz baixa:
Juliano desdeu o nó da carta e leu. Batia- me o coração de furor; mas
procurei
Importavatranqüilizar-me.
-me assaz conhecer o que ela continha para dever prestar toda a
do Conde
atenção Juliano.às palavras
possível

- Rodrigo - disse este, acabando de correr com os olhos o rolo de


epergaminho
festas, não -acredita
entreguequeaos banquetes
o dia da vingança amanhecesse para a Espanha;
todavia, logodaque
indubitável a notícia
nossa vinda retumbar sob os tetos dourados dos paços de
seus numerosos
Toletum, soldados,
ele convocará os as suas tiufadias veteranas, e arremessar- se-á
contra
dissolutonós; porque Roderico
e perverso, mas nuncaé foi covarde. O prudente Opas pensa, como
fortificar-nos
eu, que importa no Calpe. Aconselha- o a ciência da guerra, e, se como crente
confiascom
contar no teu profetacomo
a vitória, para capitão deves seguir os conselhos da prudência
humana.
espero noTambém
Deus daseubatalhas - proferiu o conde em tom de mofa, batendo no
também
punho daeuespada;
tenho a- minha Providência; mas a águia, quando se arroja sobre a
preá,ninho
seu tem jánoconstruído
penhasco dao montanha, e as penedias do Calpe devem ser os
pairam
ninhos dassobre o trono
águias quede Roderico.

Tárique ficou por alguns momentos calado e pensativo:

- Seja como te aprouver: - disse por fim. - Busca no exército os melhores


com os teus
artífices godos
árabes alevanta
e com eles eesses valos em que põe sua confiança o teu
coração descrido.
- Houve um tempo em que não a foi: - replicou Juliano com o acento da
indignação e tristeza:
cólera misturada de - mas Vítiza dorme debaixo de uma lousa o sono da
eternidade,
chama- se oerei o seu
dosassassino
godos. Ele folga e ri assentado no trono que lhe deu a
otraição
teu profeta inspira-te
e o perjúrio. em sonhos; mas a vingança é mais segura inspiração,
Tárique,
porque
do homemé o sonho
desperto,perene
quando vê assim falhar a justiça do céu, se é que nele há
justiça.
Proferindo estas palavras blasfemas, Juliano saiu da tenda. Tárique bateu as
palmas,cujos
etíope, e umolhos
guerreiro
lhe reluziam sangüíneos na pretidão do rosto, entrou com
ficou imóvel
os braços e curvado
cruzados e diante de Tárique. Pareceu-me que este lhe ordenava
o que quer
falava quelinguagem
na sua fosse; masbárbara, e não o pude entender.

Sabia assaz qual era a situação e quais os acidentes do solo de todos os


desvios
que a minhado Calpe
demoraparanaqueles
percebersítios podia tornar-me impossível a saída. A
consistia
defensa do unicamente
promontório em cortar com valos e cavas o istmo que o liga ao
continente.
talvez, Juliano,ascomeçaria,
a alevantar tranqueiras nessa mesma noite; era, portanto, necessário
partir.
Quando atravessei a serra pelos trilhos mais curtos e escusos, conheci que o
meu receio
fundado. fora bem
Parando no topo de uma penedia, donde se divisava ao redor quase
centenares
toda a montanha, vi que vacilavam, correndo tortuosamente pelas ladeiras,
de fachos
sumindo- se, tornando aO todo daquela iluminação terrível estendia- se em
aparecer, retrocedendo.
volta da montanha,
formando uma extensa meia- lua, cujas pontas cresciam para o istmo, ao
uma
passodaque outra, estreitando o cume da serrania. Era visível que alguém, prático
se aproximavam
nas sendas
morrer,
salvas,
Teodomiro,
não
vigilância,
sobre
portas
seus
tem
entre
províncias
aparece
consigo
irmãos,
as
adas
se
fronte
mas
povoações
énossas
de

intrincadas
que

no
porque,
numerosos
para
que
Espanha.
de
que
aspecto,
ela
godos
as
cidades
seada
não
dissensões
assenhorarem
talvez,
traição,
Bética.
do

escreveu
que
clientes,
está
promontório,
aos
dois
acombatem
por
semelhante
Providência
africanos,
Não
civis
dias
toda
que
irrevogavelmente
tardará
delas.
que
quiseram
porventura,
a ao
parte
guiava
sem
vagueio,
ao
Cumpre
lado
me
que
veneno
que
e,guiara
os
que
os
do
até,
estes
entregarão
árabes
bárbaros.
que
quase
estrangeiro
os
apenetra
recentemente
àsua
golpes
avises
tenda
tenham
só,
desçam
condenação
no
Convinha
nas
aos
de
do
Roderico.
infiel;
de
santuário.
Tárique
imediações
franquis
invasores
do
passar
bebido,
Calpe
jáno
fugir,
que
Em
para
livro
por
que
Éque
eaa
nas apertadas gargantas,
nãoderramem
que
dos
gira
necessário
godo
perfídia
cima
Híspalis
mais
se
de Cartéia:
eternos
porque
as
nas
formosa
dos
hajam
Espanhas
pode
veias
está
cadáveres
esforço
durante
me
desígnios.
depelas
abrir
Opas,
ese
importasse
opulenta
ainda
fossem
vibrar
eas
eles
de
e Opas
não se passou uma hora sem que os navios de África viessem vomitar na baía
novos esquadrões
soldados. Semelhantede aos estos do mar, é rápido o seu ir e voltar. Dentro de
seria resistir
oito dias, bem a Tárique
custoso com todo o poder do império, quanto mais divididos
os godos
um em dois
dos quais bandos,
pelejará ao lado dos inimigos.

Dir- to-ei, duque de Córduba: também eu não amo Roderico; porque a


memóriano
morrerá decoração
Vítiza nunca
do seu antigo gardingo. Sei por quais meios Roderico
obteria
subiu aopela eleição
trono, dos godos. Mas não é a sua coroa que os filhos das
que não
Espanhas
defender; étêm hoje que da pátria; é a nossa crença; é o cemitério em que
a liberdade
pais;
jazemé oso templo
ossos dose, anossos
cruz, o lar doméstico, os filhos e as mulheres, os campos
que nos que
árvores sustentam e as
nós plantamos. Para mim, de todos estes incentivos, apenas
restamo dois:
natal a crençao amor da terra No dia do comb ate, Eurico despirá a estringe
do evangelho.
vestirá
inocenteasdo armas para defender
sacerdócio e estes objetos queridos dos seus derradeiros
afetos.
que Que,
ainda se também,
enlaçam esses
às ilusões e esperanças, como a hera às ruínas, se
tremendas,
ergam para porque
pelejaremo serão, por certo, as que nos aguardam; e oxalá que os
batalhas
meus tristes sonhos
desmentidos sejam dos guerreiros godos; oxalá que não esteja para
pelo esforço
bater
domínioa derradeira hora terra
da cruz nesta do do ocidente regada pelo sangue de tantos
mártires!
De Melária, aonde me acolhi com grande número dos moradores de Cartéia e
continuarei as minhas correrias noturnas para as bandas do Calpe, com os
dos seus arredores,
homens mais
quiserem ousados que até que os árabes desçam da sua guarida, e seja
acompanhar-me,
inútil vigiá-
chegue o dialos;
em até
quequeos desgraçados, como eu, achem na morte honrada das
amarguras da vida,das
pelejas o repouso se é que além do morrer há o repouso do espírito.

DO DUQUE DE CÓRDUBA
AO PRESBÍTERO DE CARTÉIA

Ao Gardingo Eurico, saúde!

Vives ainda, Eurico! Perto de Córduba, onde existia o seu antigo irmão de
armas, o herói
cantábrica da teve
nunca guerra
um impulso de afeto que o levasse a revelar o mistério
do seu retiro,
enviasse uma em que de consolação para a saúde fraterna. Acusas de
palavra
Espanha,
egoísmo eefereza
caíste os
na filhos
mesmadaculpa: foste egoísta e cruel. Não podias crer, por
certo, queesquecido
houvesse eu me de ti: larga experiência te ensinou que as minhas afeições
profundas. Mas eaquele que te amou tanto; aquele que poria a vida para salvar
são duradouras
a tua; que nuncaouteve
contentamento mágoa que fosse para ti segredo, trataste-o com o mesmo
desprezo
nobre com que,
orgulho no teu
de desgraçado, trataste o resto do mundo; e do limiar do
mesmo adeus de lhe,
templo disseste- ódiotalvez,
e despeito
o que disseste ao resto do gênero humano.

É nos dias em que se abre para a pátria uma longa carreira de desventuras,
que
como tuasurge, gardingo,
lembrança querida dos formosos dias da nossa mocidade; é na
véspera
vai de uma
resolver se háluta, em livre
de ser que se ou serva a terra dos godos; em que mil
assaltam
cogitações o espírito
tristemente e mesolenes
obrigam mea não me afastar de Córduba, onde
ajuntar
cativo,
Sim,
ameaçam
cingirás
aEurico
deixou
ebriedade
que
devida
uma
aígardingo!
dos
passaram,
achará
que
um
os
vida
dederribar
da
valentes
combates
nome
novo
dede
glória
bom
umhumildade
-aoque
Hoje
ângulo
adeposta
alívio
companheiros
número
que
cruz
em
nãoque
te
defesa
erguida
eda
morrerá
espera,
econforto
dos
oabnegação.
Bética
esquecida
império
da
seus
no
de
porventura,
enquanto
pátria
me
que
cimo
antigos
nossas
éespada.
dizes
abalado
vejo
Esta
e das
daglórias
durar
guerreiros,
teres
glória
fé,
-nossas
achará
eu
Emnos
aceitarão
avivo!
buscado
de
Córduba,
memória
será
seus
catedrais;
ooutrora;
teu
etanto
-fundamentos;
os
Embora!
com
pobre
debalde
mais
onde
do
maior,
éjúbilo
hoje,
desbarato
quando
coração,
ousados
seJá
nos
tu
quanto
ajuntam
para
que
que
a é
incessantemente trabalho por
vozas
não
serás
os
despirás

mancebos,
seu
dos
despedaçado
braços
certo
pagãos
capitão
vascônios
do
me
tiufadias
tude
que
dever
éque
adado
nunca
uma
de
estringe
que
ovirás
África
pelas
me
homem
da
epiedade
buscar-te,
ora
francos.
otem
Bética,
lançar-
sacerdotal
paixões
encetam
como
que
austera,
Na
te nose braços do teu amigo.
império godo se viu tão perto da sua última ruína, e que nunca foram postos a
tão dura prova
e a lealdade doso seus
esforço
filhos.

As novas que me dás da traição do bispo de Híspalis são assaz graves: mas
circunspeção
são necessáriase aa prudência. Os teus ouvidos podem ter-te enganado. Se essa
trama horrível
estender- se-ia existisse,
por toda a Espanha. Sabes que Opas é tio dos moços Sisebuto
e Ebas,são
coroa cujas pretensões
conhecidas, à
pretensões que os benefícios de Roderico ainda, por
esquecer.
certo, lhesDiz-se que o rei dos godos lhes confiará o mando de uma das alas
não fizeram
do exército àcom
encaminha que Este
Bética. se procedimento generoso obstaria a que rebentasse a
agora de satisfazer
conjuração. Não se ódios
trata de parcialidades civis: trata- se de salvar o império.
Foratem
não mais que imolar
nome infâmia;a Espanha no altar de ambiciosa vingança. Não.
Embora estejamos
exemplo do conde decorruptos:
Septum onão será entre nós seguido.

Vem, Eurico, para que reverdeçam os louros da tua glória. Ouves a voz da
Vem combater
pátria? portesalvar-me,
É ela que brada: - tu, o mais valente dos meus filhos!

DO PRESBÍTERO DE CARTÉIA
AO DUQUE DE CÓRDUBA
Eurico a Teodomiro, saúde!
Não alcançaste, duque de Córduba, quão fundo é o abismo cavado neste
coração
me pela
queixo dedesventura. Nãoa ti, nem a ninguém é dado concebê-lo. Medes o
ti; porque nem
meu espírito
humanos; maspelos afetosnão sabes como ele saiu depurado do crisol de
é porque
padecer infernal.
Glória! Que me importa a mim a glória?

Que posso fazer dessa riqueza, inútil como as outras riquezas?

Examina bem a consciência, e dize -me qual é para os corações puros e


nobres o motivo
irresistível imenso, de poder, de opulência, de renome? É um só - a
das ambições
de todoséosesse
mulher: nossos sonhos,
o termo finalde todas as nossas esperanças, de todos os nossos
desejos. Para
encontrou o queaquela que deve amar para sempre, aquela que é a
na terra
realidade do tipo
o berço trouxe ideal quena
estampado desde
alma, a mira das mais exaltadas paixões é a
fronte da virgem, ídolo das
auréola celestial que cinge a suas adorações. Para o que anda, por assim dizer,
perdido nas solidões
mundo, porque aindadonão descobriu a estrela polar da sua existência, o astro
noite
que hádodecoração, comoao sol com os seus primeiros raios ilumina as trevas de
iluminar-lhe
um templo,
mulher é umapara esse,
idéia a e confusa mas formosa e querida. Não a conhece,
vaga
não sabevisível
imagem onde esteja a da sua imaginação, e, todavia, é para lhe pôr aos pés
da filha
que elepoderio,
glória, cobiça tudo isso. Tirai do mundo a mulhe r, e a ambição desaparecerá
riqueza,
de todos as almas
generosas.

Realidade ou desejo incerto, o amor é o elemento primitivo da atividade


interior;de
resumo é atodos
causa,
osoafetos
fim e humanos.
o
onde
Teodomiro,
depois,
que
horizonte
as
Não,
porque
brisa
eu
pátria.
trevas
ainda
faz
eu
da
resfolegará
Esse

comprimido
um
não
tarde,
me
que
não
daamor
delírio
eu
quero
deixo
vida.
ele
sei
aamei
qual
estendeu.
aimenso
para
Nada
afagar
indignação
ados
pelo
como
glória
não
operigos;
que
há,
assim
desprezo
pode
pela
ninguém,
No
inútil
depois
eles
idéia
emesmo
sará-lo,
recalcado?
essa
aeprestam.
cólera
ininteligível
edisso,
de
pelo
talvez,
loucura
sepulcro
me
mas
entesourada
que
ludíbrio
Como
atirar
-que
ainda
que
Devora
possa
hoje
não
lhe
ao
oamara.
nofebricitante
cheiro
maior
refrigera

restaurar
para
epor
fundo
consome
porvir
anos
mim.
Este
de
fervor
do
por
sangue
ode
neste
em
coração
amor
Não,
que
oesperança,
das
momentos
futuro
dia
ele
coração.
produz
eu
batalhas
foiardente
do
não
e teu

desprezado
pobre
entenebrece
tragou;
nem
consolação;
quero
de
ardor
pelejadas
um
Tiufado,
estio,
respiradouro
porventura,
do
amigo.
o nada
mando
que
sangue,
seria
emeporque
para
que
aspira
nome
ludibriado,
Sabes
e luz
por
assim
possa
osempre
poderio,
ada
ao
odepassamento
rasgar
e,
o do corpo precedeu a morte do espírito.
constrangido a vigiar as ações dos outros, a usar do valor tranqüilo que
afronta imóvel
que tal valor a morte;
para aquelemas
a quem a vida serve só de martírio? Uma hipocrisia
enganar o mundo.
mais; mais um meio E que
de tenho eu com o mundo para curar de enganá - lo?

Homem de paz - dir -me -ás tu - pela profissão do sacerdócio; tendo


buscado
da o repouso
cruz, como é queà desejas
sombra só
eterna
o que nos combates há mais brutal, i gnóbil e obsruro, o furor da
matança, e recusas o que neles há mais nobre e puro, a inteligência com que
milhares
um únicodeles e lhesmove
indivíduo multiplica a força com a rapidez das idéias, com a
sublimidade dasde
com a robustez concepções,
uma vontade imutável? Homem de paz cingindo a espada
mister deveráque
do guerreiro, ser ooutro
teu?

Busquei, é verdade, o repouso e a paz no santuário de Deus! - Dias e dias,


fronte unida
passei-os às lájeas
orando com doa pavimento sagrado, esperando que da morada dos
mortos surgisse
descanso para mim mas o sepulcro foi estéril. Noites e noites, vagueei-
e esquecimento;
assentei- me ao luar sobre os penhascos dos promontórios, com os olhos
as pelas solidões:
cravados
pela no céu
vastidão dasou errantes
águas, e onde todos acham lágrimas de consolo e de
esperança eu não achei
porque as minhas umaapenas
morriam só, brotavam. O Senhor não me escutou as
resignação.
preces: não Este espírito,
me aceitou a que tentava erguer-se nas asas da filosofia do Cristo
para as alturas,
despenhava- se de novo para o pélago medonho das recordações amargas.
abençoavam o presbítero, e já a consciência lhe bradava, a todos os
Ainda os homens
momentos: - condenação para a tua
alma!

Quando o céu é um deserto para a esperança, ond e a acharei na terra? Que


pode
senãohoje
umaembriagar-me,
festa de sangue?

Já me teria assentado a esse frenético banquete nas guerras civis, se ainda não
vivesse em moral,
sentimento mim o sentimento irreflexivo, último, todavia, que se desvanece
anos viveu
naquele quevida
por pura de crimes. Mas, sem crime, se pode assentar a ele um
largos
desgraçado
chamar por como eu aono meio de um grande perigo, a terra de que somos
nós todos,
filhos.
Teodomiro, breve virá, talvez, o dia em que vejas que o braço do gardingo
não enfraqueceu
das roupas debaixo em que ele te prove que a mortiça cor de uma negra
do presbítero;
bela ao solpode
armadura das batalhas
ser tão como as couraças e os elmos resplandescentes de
nobres guerreiros;
franquisque quede
grosseiro o um obscuro soldado pode contribuir para a vitória
capitão
como a famoso. Oxalá de
perícia militar que entretanto, seja verdade o que dizes! - Oxalá que
eu me enganasse,
traição e que a inúteis a inteligência e o braço do homem para
não tenha tornado
salvar as Espanhas!

IX - JUNTO DE CRISSUS

Congregados todos os godos, opôs-se à entrada dos


árabes e valorosamente foi ao encontro da invasão.

sretumbavam
Em
Poucos Híspalis,
tiufadias
recebeu-o
presbítero,
de
costumes
Hípalis
seguido
clientes
obrinhos,
Septum
dias
viam-se
àoele
daquela
hoste
bando
com
quase
eahaviam
se
contra
quem nas
como bigornas
demonstrações
encaminhara
do
chegar
dos
se
época,
bispo
Roderico
os por
desvaneceram.
passado
mancebos
demais
todos todos
guerreiro,
tinha
para
depois
dera
os
godos
de
depostocom
Sisebuto
dias os
Híspalís,
alegria
deque
Na
que
que
os
feito ruído
ângulos
linguagem
oprometia
parentes
oetentavam
tais,
báculo
duque
oEbas
seguindo
mando
que incessante:
ede
de da
acompanhar
que,
as
do
unidos
pastor
supremo
Opas
Córduba
as Espanha,
suspeitas
sacerdote
pela
margens
e,para
com
maior
por
de açacalavam-se
recebera
ode
cingir
os
parecia
rei
uma
isso,
do os
Teodomiro,
parte,
bárbaros,
godo
Bétis.
das
de Aomartelos
aaespada
reverberar-se
última
Vítiza,
viviam
com
alas
assolar
Rodrigodo
chegar
suscitadas,
um
de
carta
cujo
longe as
exército
esquadrãodos
guerreiro,
airmão
do
de
armas,
àindignação
terra
da
antiga
infeliz
corte,
malgrado
que
natal.
este
emais
Toledo:Rômula,
aos
Eurico.
era.
Opaços
seu,
DasOs o Coisas de Esp. L. 3.º
Afundidores
puliam-
bispo
pelas
profunda
metropolita,
epis
nobres
ajuntavam
lustroso
congregara
frente
copais se
revelações
Opas
que
que
das
contra
os eToletum.
tinham
de
emsuas provavam-se
segundo
oseus
de armeiros
odo
seus
conde
servos
os e as
armaduras; e os corcéis rápidos e robustos da Bética e da Lusitânia,
impacientes
em roda dos nas tendas
muros alevantadas
da cidade, mordiam os freios brilhantes e pareciam
um dia de que
adivinhar combate.
estavaOs servos e os libertos, em competência com os homens
próximo
livres eos
rodear nobres,
pendõescorriam a
da independência da pátria, e o sangue generoso dos godos
mais
comoardente e cheio de vigor ao grito da guerra santa, depois de uma
que se despertava
sonolência
antiga secular,
ousadia em sinais
só dera que à desuavida nas lutas sem glória das dissensões
intestinas.
E toda esta energia, todo este recordar-se da rica herança de esforço, legado
pelos conquistadores
setentrionais a seus netos da Ibéria, dir-se- ia que eram suscitados pela
monarquia
Providênciagótica, porque
para salvar a de tudo isso ela carecia para resistir aos invasores.
Desde que
destes, o exército
semelhante a serpe monstruosa, tinha cingido estreitamente a
montanha
passara umdoúnico
Calpe,dianão
em se que não se fortalecesse e engrossasse. As encostas
despenhadeiros
do Ábila e os do Atlas, os vales da Mauritânia e os areais de Saara e de
Barcaa de
para contínuo
Europa, arrojavam
através do Estreito, os seus filhos tostados ao sol fervente de
militar, estesperícia
África. Sem bárbaros são todavia temerosos nas pelejas, porque os capitães
experimentados
os dirigem e movem da Arábia
como lhes apraz, e, porque sectários de uma religão
nova, crédulos
inferno, buscammártires do
os embusteiros e torpes deleites que, além da morte, lhes
Iatribe, arremessando-se
prometeu o profeta de com um valor que se creria de desesperados diante
do ferro dos
contrários seus
e contentando- se de acabar, contando que sobre os seus cadáveres
estandarte do Islame.
se hasteie vitorioso o

A esta gente bruta e indomável, cujo esforço vem das crenças da outra vida,
de cavaleiros
se ajuntam os sarracenos
esquadrõesque vagueiam pelas solidões da Arábia, pelas
planícies
da Síria, do Egito
e que, e pelos vales
montados nas suas éguas ligeiras, podem rir -se do pesado
acometendo
franquisque dos e fugindo
godos,para acometerem de novo, rápidos como o
pensamento,
seus inimigos,volteando
falsando-aolhes
redor dos pela juntura das peças, cerceando-lhes
as armas
os membros
desguarnecidos, quase sem serem vistos, e apesar da sua incrível destreza,
frente a frente,
pelejando, quandodescarregando
cumpre, tremendos golpes de espada, topando em cheio
com a os
como lança no riste,da Europa, e assaz robustos para, muitas vezes, os
guerreiros
recontros
fazerem voarviolentos:
da selahomens,
nestes enfim, que sem orgulho, se podem crer os
primeiros
campo de do mundo
batalha, num
pelo valor e pela ciência da guerra. É esta cavalaria
irresistível
da hoste dosque constitui o enervo
muçulmanos em que funda todas as suas esperanças o
impetuoso Tárique.
Pouco depois da chegada de Teodomiro a Híspalis, um dia ao romper do sol,
banda
viu-se das serranias
ao longe paraaoa norte do Bétis resplandecerem as cumeadas das
montanhas,
incêndio como seasum
devorasse grandee os carvalhais antigos que povoavam as
brenhas
quebradas
hoste do reidasdosserras.
godos,Era a saindo de Oreto, se encaminhava por Ilipa e
que,
direita
Itálica, do rio, para
seguindo a antiga capital da Bética. Daqui, engrossando com as
a margem
tiufadias
com os que de seguiam
Teodomiro e
o pendão de Opas, o exército de Roderico devia marchar
epara
entregar à sorte
acometer os árabesdas batalhas os futuros destinos da Espanha.

Era já tempo. A torrente dos inimigos descera, enfim, do Calpe ou Gebal


muitos
Tárique,séculos
cujo nomeo capitão
de árabe tinha apagado, para escrever o próprio nome
muralhas
passagem
atravessado
anjo
Saindo
coração
setentrionais
assenhoreado
de
dos
Islame
africanos.
Gades
godos.
exterminador
cristãos
do
daque
aApenas
era
seu
Desde
província.
Segôncia,
ficavam
do
lhe
assinalada
sem
ninho
vindos
Bélon
lançara.
que
estes
resistência
mandado
assentados
dehaviam
Depois
partira
do
até
homens
águia,
com
lado
O
Lastígi,
estandarte
por
do
de
ruínas,
da
assentado
construido
deodesconhecidos
Deus
Calpe,
haverem
cidade
Híspalis,
silêncio
onde
sangue
àsdo
todos
episcopal
as
campo
Espanhas,
no
transposto
profeta
do
serranias
conduzidos
epromontório
sepulcro
os
incêndios.
eram
nas
dias,
demargens
ese
as
Asido
levados
Meca
quase
aeenla
pelos
montanhas
sua
aPor
do
assolação

e,
espada
çam
todas
do
Estreito,
caudilhos
ante
onde
flutuava
descendo
Críssus.
com
as
oquer
que
ocapitão
do
horas,
raio
as
os
nos
se
dos
dali
quese
no colar servil das
campos
os
aniquilamento.
despedido
fulminar
invasores
alteiam
alturas
para
Tárique
viam
almogaures
árabe,
muçulmanos
os
chegar
ele
de
vales
desde
da
esperava
ointernavam-
enviava
Nescânia,
do
império
Bética,
ou
àque
céu
as
hoste
corredores
Tárique
tinham
ribas
serpeiam

para
um
edos
odo
atinham-
recontro
sua
dos
segodos.
era
noo se
seus cavaleiros ao lugar onde tremulava o pendão de Juliano, e o conde de
Septum não
ajuntar-se tardava
com a virPor vezes, à sombra de carvalho frondoso, no meio
Tárique.
montanhas
dos bosquesoucerrados
debaixodasdo pavilhão alevantado à hora da sesta em campina
abrasada do sol,
demoravam- se os dois, por largo espaço, a sós com esses homens, em cujo
estampada
aspecto eraafácil
traição
ler e a vileza. Depois, os desconhecidos partiam sem que
ninguémlhes
atalhar- ousasse
os passos; e, quando Juliano voltava para a pequena ala dos
soldados da província
transfretana, via -se- lhe o rosto, não radiante do contentamento que
quando
ressumbrafolga,
de ummascoração
como sulcado
pur o por um raio da alegria feroz do criminoso
que vê chegar
do crime o momento
há muito meditado e previsto.

Havia dois dias que nenhum incógnito atravessava o Críssus para falar a sós
com Juliano
Estes passavam e Tárique.
horas inteiras vagueando nas alturas vizinhas do
do oriente. Dalipelo
acampamento olhavam
lado dopara a montanha
meio- dia e em cujo cimo campeava a antiga
povoação
depois de adeexaminarem
Asta, e, por largo espaço, voltavam ao campo ou corriam às
multiplicavam
atalaias, que secontinuamente. Depois, tudo recaía no silêncio e na escuridão;
porque as noturnas,
fogueiras almenarasqueou eram de uso entre os árabes, haviam inteiramente
cessado
noite emdesde a primeira
que estes assentaram as tendas perto da beira do rio.

Ia em meio a terceira noite após aquela em que os crentes do Islame tinham


setentrionais das cordilheiras de Asido. Eram profundas as trevas que se
parado nas faldas
dilatavam
mas pela
os raios face da terra,
cintilantes das estrelas rareavam o manto negro da atmosfera.
Esta luz eincerta
trêmula reverberava
fugitiva nas pontas das lanças dos atalaias, que, apinhados na coroa
embrenhados
dos outeirinhos entre
ou as sebes dos valados, observavam os picos agudos que, ao
longe, para ocomo
negrejavam norte,recortados nas profundezas do céu. O Críssus murmurava
corrente faiscava,
lá embaixo, também,
e a esteira da com o reverberar da luz dos astros, enquanto o
vento,
de passando
algumas pelas
árvores ramas respondia ao seu murmurar com o gemer da
solitárias,
folhagem movediça.
Subitamente, no meio deste silêncio, alguns esculcas e vigias lançados além
do rio na
creram margemum
perceber direita,
ruído longínquo, que menos excitados ouvidos não
esaberiam
quase imperceptível
distinguir dodespenhar
remoto de torrente. Então eles se debruçaram no
chão e, unindo
escutaram a face àmomentos.
por alguns terra, Depois, erguendo- se a um tempo, ouviu- se
entre
sumidaeles
queuma voz- Os romanos! - e a turba repetiu - Os romanos!
dizia

E unindo-se numa fileira, encurvaram os arcos e ficaram imóveis.

Pouco a pouco aquele ruído, mal sentido a princípio, cresceu e tornou-se


mais distinto.
fácil foi Brevemente,
de perceber o tropear de milhares de cavalos e o bater confuso dos
Os esculcas árabes conservavam-
pés de milhares de homens. se unidos e em silêncio.

De repente o grito de: - Alá! - retumbou de além do Críssus: seguiu-se um


num instante
estridor de poucasos atalaias do ecampo viram alvejar fitas de escuma que se
frechas,
estendiam
margem através do
esquerda. Eramrio os
para a
esculcas que o cruzavam a nado, tendo
os seus primeiros
empregado tiros. dos godos
na dianteira
Uma
ondearam,
Os
corrente
sobre
carros
engenhosa
godos,
nuvem
os
puxados
Na principal
campo antes
árabes,
porém,
derivaram
arte,
de
a este atalaia
convocarque
por
setas
cresciam
que
tinham
os
dosparamulas
se
arespondeu
seus
pela
aproximavam,
muçulmanosaté
apossantes
contrários
corrente
morte. vantagem
Osentestar
soou ao sibilar
eda
esquadrões
então começassem
desvaneceram-
com
de
como
uma Lusitânia,
caminharem
das
a margem
saraiva
uniam-se dos
trombeta;
com abaqueavam
esculcas
arapidez
atravessar
espessa;
se
oposta.
ordenados
centenaresnododorso
arábes;
delas Então,
largas
sobre
a planície
e,
escuro
relâmpago algumas
por
ee,os
a sólidas
responderam água
isso,
e e,
por
das fitas
cintilante
Críssus
haviam
fronteira.
jangadas,
desdobrando-se
melhores
todos
abandonando
tendasos recolhia
topado
deAs
cavaleiros
das
trazidas
escuma
arrojavam-se
ângulos frechas
águas.
o recinto
do com
com
os
para em
dasprimeiros
as godos,
O
caíam
a
margens do despojos
rio. de um terrível combate.
curvando- se para diante, com o franquis que erguido, corriam para as pontes,
vergadas
dos cavalos debaixo
e dos do peso cobertos de armaduras, e vinham bater em cheio
homens
no
nosmeio das trevas,
corredores nãoque,
árabes, podiam esquivar- se aos golpes do ferro inimigo. Já,
nas bocas
dessas de algumas
estradas movediças, os cadáveres amontoados começavam a embargar
por outras,dos
os passos onde os árabes
vivos; mas ainda mal ordenados e menos numerosos não
tinham dos
ímpeto podido resistir
godos, ao
golfavam torrentes de guerreiros, que, marchando unidos
para uma e outra
acometiam de lado parte,
os árabes, os quais, feridos pela frente e pelas costas,
Debalde
vacilavam a voz retumbante de Tárique sobrelevava por cima dos gritos de
e retrocediam.
furor e de agonia
muçulmanos de
e cristãos. O número dez vezes maior dos godos tornava
passagem
impossíveldo exército de eRoderico
a resistência, a para a margem esquerda do Críssus só
Deus a poderia impedir.
Era quase manhã quando o capitão árabe se desenganou da utilidade de se
passagem
opor por maisdos inimigos.
tempo à As tiufadias godas achavam- se pela maior parte na
campina os
resolver onde se deviam
destinos da Espanha, e bem que a este tempo todo o exército do
ordem
Islame de pelejar,jáa em
estivesse noite dava grande vantagem aos godos, cuja cavalaria,
coberta
mais de armas
sólidas que asdefensivas
dos árabes, resistia facilmente aos cavaleiros do deserto,
para quem
ligeireza e oa mais
maiordestro modo de acometer eram baldados no meio das
trombetas
trevas. A um os sinal
esquadrões
das muçulmanos começaram a recuar e, alongando-se
pela frente do esperaram o romper do dia, enquanto o exército godo acabava
acampamento,
vibrava milha
de transpor resede frechas perdidas para o lado onde os capilhares
o rio
alvíssimos dos àárabes
branquejavam luz duvidosa do céu recamado de estrelas.

Quando o sol, rompendo detrás dos outeiros de Segôncia, veio com o seu
clarão avermelhado
as veigas do Críssus,inundar
o espetáculo que elas ofereciam era variado e sublime.
árabes
De um derramadas
lado as tendas pelas
dosraízes dos montes e pelos cimos dos outeiros,
podiam comparar-se
acampamento ao do deserto, que, emprazadas à voz do profeta se
das tribos
houvessem
ponto únicoajuntado numonde vagueiam. Diante desta cidade imensa e
das solidões
muçulmanos, divididos por
movediça, os esquadrões dosfamílias e raças, estavam firmes e cerrados em
frente
os de seus
alferes, pendões,
montados emque
ginetes possantes, sustinham erguidos na retaguarda
matutinos faziam
de cada tribo. alvejar os turbantes e cintilavam nos ferros das lanças que
Os raios
os cavaeleiros
punho, tinham
os leves em orbiculares, que os compridos saios de malha
escudos
pareciam
embaraçadostornar inúteis,
já para o combate, brilhavam com as suas cores vivas e
romper do dia.
variadas à claridade serena do

Os esquadrões árabes eram a flor do exército de Tárique; mas a catadura


selvagemneófitos
aliados, dos africanos seus produzia, porventura, mais temor do que o
do islamismo,
aspecto eram
ferozes deles.oTorvos
gesto eeos meneios destes homens sem disciplina, cujas
rostos
paixõestostados
se lhes epintavam
rugosos,nosnos olhos banhados de fel e orlados de sangue, e de
cuja
davam bruteza e miséria
testemunho os manguais que lhes serviam de armas (armas terríveis,
elmos
com que abolavam os e a hediondez dos seus albornozes pardos, imundos, e
mais reforçados)
despedaçados. Tudo,
enfim, neles contrastava com as armas brilhantes, com os ricos trajos e com
os vultos majestosos
cavaleiros do oriente,dos que, conservando- se em silêncio e imóveis, pareciam
berberes
desprezardeasZeneta,
tribos de Masmuda, de Sanhaga, de Quetama e de Huuara, que
brandindo
Tal
esquerda
formadas
divisava
os
francos,
esquadrões
Cartaginense.
parte
novomaciços
guerreiros
erados
nesta
oque
ainda
espetáculo
do
nobres
pelos
as
guerra
profundos
capitaneados
rio.
estanceavam
rudes
veteranos
Com
que
espadaúdos
Rodeado
que
de
descendiam
armas,
estes
que
haviam
independência.
dos
da
oferecia
estava
pelos
dos
pelas
seus
com
Narbonense,
soldados
deposto
mais
dois
soldados,
gritos
dos
Gálias,
oocorpo
exército
ilustres
indomáveis
filhos
Ada
amedonhos
ala
espada
além
habituados
que
Lusitânia
cobrindo,
de
esquerda,
guerreiros,
dos
odas
Vítiza,
metropolitano
desde
suevos.
muçulmanos.
se
fronteiras
setentrional
acomo
apelidaram
Sisebuto
mais
que
cruzar
Roderico
Unidos
Roderico
grossa
pequena
do
diariamente
de
eDefronte
império.
epara
Ebas,
com
Híspalis
da
estava
muralha
subira
que
Galécia,
aeles
A
as
no
dele,
as
sob
ala
de
ao
formavam as alas e que,
abatalha.
metal
centro
em
os
espadas
direita,
continha
ajuntara,
trono
outras
hoste
pendões
cujas
ereluzente,
duas,
das
dividida
goda
que
com
acomposto
feições
tiufadias
flor
reais,
anão
apresentava
os
cingiam
dos
orgulhosos
em
aparecia
se
estavam
margem
cavaleiros
em
dois
de
grande
por da
isso menos de temer para os árabes. O duque de Córduba, Teodomiro, era o
capitão
estavamdessa
todosala, em que que o tinham ajudado a repelir as primeiras
os veteranos
que já conheciam
tentativas por experiência
dos maometanos e o modo de pelejar deles. Estes velhos
soldados os
combate deviam levar que,
mancebos ao à voz de Teodomiro, tinham corrido às armas de
em cujos
todos corações
os lados o afamado
da Bética e guerreiro soubera despertar o sentimento da
glóriaele
Com e do amor da pátria.
militavam, enfim, as relíquias dos soldados tingitanos que não
tinham do
traição querido
condeassociar- se à
de Septum.

Como os árabes, os godos tinham no meio de si uma nuvem de peões


ferozes
armados,quenãoosmenos
filhos bárbaros
da Mauritânia.
e Os montanheses do Hermínio na
Lusitânia,
daquele aborígines,
país, os quais,talvez,
na época das invasões germânicas, bem como já na da
conquista
custo romana,
haviam a
submetido o colo ao jugo de estranhos e, os vascônios,
cordilheiras dos Pireneus,
habitadores selvagens das constituíam com os servos um grosso de gente a
que hoje chamaríamos
infantaria do exército. As a suas armas ofensivas eram a cateia teutônica,
clava ferrada
espécie e o arco
de dardo, e a seta.
a funda, a Requeimados pelo sol ardente do estio ou pelo
vento gelado
invernos dos das serranias, incapazes de conhecerem a vantagem da
rigorosos
ordem
homense rudes
da disciplina,
combatiamestesmeios nus e desprezavam todas as precauções de
acometer era um rugido
guerra. O seu grito de de tigre. Vencidos, nunca se lhes ouvia pedir
compaixão; porque,deles
não havia a esperar vencedores,
misericórdia. Tais eram os soldados que a Espanha
circundava os árabes.que
opunha à mourisma

Por algum tempo os dois exércitos conservaram-se em distância um do outro,


gladiadores, observando-se mutua mente antes de começarem uma luta que
como dois antigos
para algum deles tinha
ser, forçosamente, de A consciência da terribilidade do drama que ia
a última.
por fim, até nospenetrou,
representar-se corações dos bárbaros de um e de outro campo; as vozearias
que sussurravam
foram ao longe
pouco a pouco esmorecendo, até caírem num silêncio tremendo, só
cortado pelo de
comprimido respirar
tantos homens ou pelo relinchar dos cavalos, que,
impacientes, escarvavam a terra.

X – TRAIÇÃO

A transgressão dos juramentos tem crescido


despeadamente, e o costume de trair os nossos
príncipes cada vez é mais freqüente.

Concílio Toledano XVII, c. 10.

O sol ia já em alto quando o grito de Allah hu Acbar!


soou no centro dos esquadrões do Islame. Era a
voz sonora e retumbante de Tárique. Repetido por milhares de bocas, este
como o estourar
grito restrugiu de trovoada distante, pelos pendores das serras e murmurou
e ecoou,
edesfiladeiros
perdeu-se pelos
e vales. A cavalaria árabe, enristando as lanças, arremessou-se
pela planície num
desapareceu e turbilhão de pó.

-leiro
como
tremer
exércitos
cavalos.
duas
assonância
extensas
respirando
relampaguear
ferro
são
oumCristo
combate
brado
dirigidas,
nuvens
godo,
edois
eumeEssa
vergar
ribas,
fileiras:
vai-se
avante!
retumba
bulcões
converteu-se
concerto
um
ehorrenda
deos
não
distância
rápido
alento
as
debaixo
pó.
dois
gradualmente
cruzam-nas
lanças
pelos
-por
enovelados,
Desapareceu!
bradaram
diabólico
contendores
de
dos
fumegante.
cima
entre
mil
sons
num
do
cruzadas
frapeso
gemidos,
do
nquisques,
as
articula
duelo
espantados
os
de
confundindo
estrupido:
que,
duas
daquela
godos:
blasfêmias,
esquecem-se
Não
Como
ferem
imenso
em
muralhas
dos,
sobreleva
seoevez
quase
odistingue
os
tempestade
cintilar
os
mas
são
estourar
ou,
num
ginetes
de
esquadrões
de
os
pelos
de
aantes,
correrem
ao
pragas,
um
som
capitães
passageiro
ferro
tudo
som
naquele
do
sem
tempo
gestos
de
único,
em
rolo
quanto
estreita-se,
cavo
de
homens.
donos,
de
pela
milhares
que
injúrias
de
oceano
nos
de
Roderico
ao
dos
que
atmosfera
buscam
mar
ódio
ospasso
escudos,
nitrindo
elmos
O
tiram
rodeia:
encapelado,
de
estreita-se!
agitado
em
eruído
desesperação
precipitaram-se
duelos.
que
ordenar
romano
as
de
de
nas
nos
são
abafado
armaduras
obronze;
mais
terror
chão
asas
arneses,
dois
Cada
É
as
etombando
que
apenas
em
da
intermé
batalhas.
einimigos,
enão
de
dos
cavaleiro
bem
procela,
árabe,
obatendo
nos
ao
cólera,
fuzilar
se
que
uma
encontro
distinto
dio
capacetes.
ouve,
de
Debalde!
inteligíveis
as
cujo
súbito
rolam
faixa
árabe
se
com
na
trêmulo
proferem.
senão
embebe
terra.
ódio
dodos
asnaAs
Umo
muçulmanos.
terra,
mover
debaixo
tortuosa
sobre
longo
Baralham-se
crinas
das
tinir
para
De
fileiras
travou-se
nasceu
vez
espadas,
do
aqueles
que
os
gemido,
eriçadas
dos
etêm
em
ferro
dos
lançada
alcantis
encaneceu
com
parece
dois
quando,
rareado:
pés
oaas
no
São
quem
um
e dos
entre
decava- as
num mo mento, e num momento esse rancor é intenso quanto o fora, se por largos dias se acumulara
sem poder
Firmes, os resfolegar.
guerreiros cristãos vibram a pesada acha de armas que tomaram dos francos, ou jogam a
espada curta
antigos e larga
romanos, dos as lanças voaram em rachas tanto das mãos dos godos, como das dos árabes.
porque
Estes, curvados sobre
os colos dos cavalos e cobertos com os leves escudos, volteiam em roda dos adversários, e, quase ao
mes mo tempo,
acometem os e por outro lado, tão rápido é o seu perpassar. Nesta luta da força e da destreza, ora o
por um
duro neto dos
visigodos, deslumbrado pelo incessante dos golpes, esvaído pelas muitas feridas, sufocado pelo peso da
armadura,
cai, como ovacila e gigante; ora o ligeiro Agareno vê coriscar em alto o franquisque e logo o sente, se
pinheiro
ainda sente,
embargar-lhe o último grito na garganta, até onde rompeu, partindo-lhe o crânio, e sulcando-lhe o rosto.
Assim,
dos doisosexércitos
centros semelham o tigre e o leão no circo, abraçados, despedaçando-se, estorcendo-se
enovelados,
possível semoque
prever seja da luta, mas tão-somente que, ao adejar a vitória sobre um dos campos, terá
desfecho
descido
outro sobre o e o repouso do aniquilamento.
o silêncio

Os soldados que seguiam a bandeira de Teodomiro tinham-se abalado para o


partir
combate os esquadrões
apenas viram de Roderico. A ala direita dos maometanos era
capitaneada
africana, pelo amir
Muguite, da cavalaria
a quem a sua origem cristã fizera dar o nome de Arrume.
eOexperimentado
amir era o maisdos
valente
capitães de Tárique, e por isso este fiara do renegado o
qual
mandotambém esvoaçava
daquela ala, na o pendão de Juliano, que, se não abandanara, como
Arrume, atinha,
Calvário, crençacontudo,
do amaldiçoado também a santa religião da pátria.
ambos, umguerreiros,
Estes dois por índoleferozes
e hábito, outro por vingança e ambição, amavam- se
mutuamente,
fizera irmãos porque os escrita em suas consciências, a máxima afronta
uma palavra
humana,
renegados.o nome de

O recontro dessa ala foi semelhante em tudo ao do grosso das duas hostes,
encontrava
salvo que aíno ar o franquisque, a injúria de godos respondia à injúria
o franquisque
proferida
as por bocas
imprecações de godos,
do ódio e se com maior violência ainda. Teodomiro
trocavam-
combatiaonde
tiufadias à frente
maisdasaceso
suasia ser o travar da batalha, sem, todavia, esquecer o
isto;
ofícioera
deocapitão.
exemploEra que tornava invencíveis os seus soldados. Guiando os
cavaleiros tingitanos,
também rompera Juliano
primeiro adiante dos árabes. Os dois antigos companheiros
topado em cheio,
de combates haviam e as lanças voaram-lhes das mãos em rachas. Os cavaleiros
passaram
como um pelo outro
relâmpagos, para logo tornarem a voltar arrancando das espadas.

- Circuncidado! - bradou Teodomiro ao perpassar por Juliano na rapidez da


carreira.
- Escravo! - replicou o conde de Septum, rangendo os dentes.

A injúria vibrada pelo duque de Córduba penetrara mui fundo. Semelhante a


Tingitânia traíradea pátria pela cobiça e, defendendo o estandarte do profeta de
Judas, o conde
Medina, fazia triunfar
Alcorão. Duas o ala era a de um circunciso.
vezes a sua

Os dois cavaleiros godos acometeram-se com toda a fúria de rancor


entranhável: asseespadas,
encontrando- no ar, faiscaram como o ferro abrasado na incude: mas a de
por braço mais
Teodomiro forarobusto,
vibrada e, posto que o golpe descesse amortecido, ainda
entrou
escudoprofundamente
que o seu adversário no levava erguido sobre a cabeça. Entretanto
espada,
Juliano, rompeu
revolvendo a couraça
ligeirodoa duque de Córduba e feriu- o levemente no lado.
margens
Teodomiro
Rapidamente

curvando-
-Córduba
Vencedor
Que
falsado
olhas
do
vibrasse
ese
tinha
bateu
dos
Críssus
para
para
elaVascônios,

descera
ono
oadiante,
chão,
desencravado
ferro,
não
elmohá
de
traidor?
Juliano
brilhante
abraçou-
taças
-novo
gritou,
de
aestava
guiada
- espada
vinho,
disse
se
do
rindo
ao
conde,
perdido:
pela
Teodomiro,
colo
como
do
diabolicamente,
escudo
raiva
com
doaquelas
ocavalo,
caminho
tal
que
de
com
fúria,
abafava
Juliano,
com
quase
voz
oque
da
conde
que
trêmula
morte
sem
oeste
em
guerreiro.
te de
sentidos.
que
perdeu
ládelhe
Septum
embriagavas
senhor.
aO
Outra
ficara
cólera
segundando
luz
golpe
dos
embebida.
indicado
vez
eAqui
de
quebrou
- olhos
olha
que
escárnio
oonos
golpe.
oque
por
no
eduque
paços
oelmo.
ti!
escudo
corre
e-Nas
Éde
do
aé terra
teu
sangue!
da pátria que vendeste aos infiéis como tu!
O ferro, porém, não pôde chegar à cimeira do capacete do conde. Outro ferro,
seguro
se meteupordemão robusta,
permeio. Era a espada de Muguite, o qual, passando, vira o
eperigo
correra para o salvar.
iminente do seu amigo

Então Teodomiro voltou- se contra o renegado, e um violento combate se


travou
não eraentre
menos ambos.
destroMuguite
que o príncipe da Bética. Mais membrudo e robusto
que ferido,
não ele, e além disso ainda
a vantagem era toda sua; mas o esforço de Teodomiro supria essa
inferioridade.
Entretanto Juliano recobrara o alento; a vergonha, o despeito, a sede de
coração.
vingançaOestorciam-lhe
nobre gineteoem que cavalgava, sentindo seu senhor semimorto,
tinha acorrido
onde multidãoespantado até e árabes, travados em peleja sanguinolenta, lho
de cristãos
consentia. lhe
cravando- O conde,
os acicates, com a espada erguida na mão, arremessou-o para o
Córduba
lugar onde pelejava
o duquecomde Muguite. Era um feito cobarde: mas que importava a
Juliano a desonra?
Assinalado com o ferrete indelével de traidor, havia -se habituado a viver
vingança. E a vingança
para um sentimento era -quem
único a o impelia.

Neste momento, por uma das pontes já desertas lançadas na noite antecedente
um
sobrecorrer de cavalo
o Críssus soavaà rédea solta. Alguns soldados que andavam mais perto
da
lá osmargem
olhos. volve ram parade estranho aspecto era o que assim corria. Vinha
Um cavaleiro
negros o elmo,
todo coberto deanegro:
couraça e o saio; o próprio ginete murzelo: lança não a
trazia.
sela umaPendia
grossa-lhe da direita
maça ferradadade muitas puas, espécie de clava conhecida
pelo nomea de
esquerda armaborda, e da dos godos, a bipene dos francos, o destruidor
predileta
encosta de onde
franquisque. SubiuRoderico
rápido atendia
a aos sucessos da batalha. Parou um
momento
outro lado,e,endireitou
olhando para um e para o lugar onde flutuavam os pendões das
a carreira
um rochedo
tiufadias pendurado
da Bética. Como sobre as ribanceiras do mar, que, estalando, rola pelos
despenhadeiros
abrindo um abismo,e, se atufa nas águas, assim o cavaleiro desconhecido,
rompendo por
precipitou- entreonde
se para os godos,
mais cerrado em redor de Teodomiro e Muguite
fervia o pelejar.
Juliano tinha- se aproximado no entanto do esforçado duque de Córduba,
combater
que, feridocom o destroae feroz renegado, a custo se poderia defender dos
e obrigado
ogolpes
ódio edoa conde, golpes que
cólera dirigiam. Alguns cavaleiros da Bética voaram a socorrer
Teodomiro;
com que andavammas ostravados
árabes tinham-nos seguido de perto e, rodeando
socorro
Muguite,dos cavaleiros
haviam tornado cristãos.
inútil Oo apertado revolver das armas formava uma
selva de ferros
dos dois capitãeseminimigos,
volta através da qual debalde o conde de Septum
caminho para ferir
buscara multas Teodomiro,
vezes abrir até que finalmente, galgando por cima de um
árabe derribado,
vibrar um golpe. pudera
O elmo do nobre godo restrugira, e o guerreiro vacilara. A
última página
parecia escritada nosua vida
livro dos destinos. Os dois adversários do duque de
que aindaiam
Córduba lhe tingir
restavam em branco.
de negro as

Mas o cavaleiro desconhecido havia passado através da hoste goda e chegara


àComdianteira
a maça dos árabes.
jogada às mãos ambas abalava e rompia as armas mais bem
temperadas,
entrando pelase as puas dos que se lhe punham diante iam esmigalhar- lhes os
carnes
atravessava,
ossos. Por onde nemeleas fileiras se uniam, nem os godos achavam adversários.
violência
irresistível
em
mas
demônio
No
amparar-se
voou-lhe
pesada
lhe
arrebatou
fez
terra.
instante
entre
uma
borda
da
Os
das
em
para
eles
deixava,
contra
em
ferida
assolação;
godos,
chão
mãos
aoninguém
oque
longo
meio
Muguite
profunda.
batido
em
oespantados,
aocavaleiro
dos
da
pedaços,
passar,
mas,
havia
de
efípia,
árabes,
epelejando
planície,
AJuliano
que
uma
dor
negro
perguntavam
batendo
ergueu
epudesse
arrancou
larga
Juliano,
este,
deixa
chegou
pela
ona
cauda
franquisque
cego
dizê-
cruz,
após
maça
vendo-
um
ao
uns
de
brado
lo.
lugar
si
dir-
do
aos
cadáveres
furor,
grossas
Se
secavaleiro
se-
outros
onde
ae,
desarmado,
combatesse
Muguite,
descia
ia
descarregando-
glebas
que
jáquem
entretecida
onegro,
era
com
duque
arevolvidas,
fugiu
pelos
seria
ocujo
segundo
arcanjo
que
dede
após
som
o
Como a charrua, tirada com
assim
moribundos
aquele
muçulmanos,
das
Deus
Córduba
golpe:
deixando
osobre
ele.
seubatalhas
Então
para
ginete
oaquela
atemeroso
ombro
espada,

depois
osalvar
procurava
amestrado
debatendo-
mandado
arma
crê-lo-iam
doporém,
cair
guerreiro;
Teodomiro
renegado,
a por
ose
o e, com ele, os esquadrões da Bética.
desconhecido disse a Teodomiro algumas palavras sumidas e, sem esperar
resposta, internou-
vez no meio se outra agarenos.
dos esquadrões

Desde este momento a ala direita dos muçulmanos começou de afrouxar,


se retraíra
porque para o malferido,
Muguite, acampamento. Alguns xeques ilustres jaziam moribundos
ou mortosnegro,
cavaleiro às mãosquedoparecia escolher as suas vítimas entre os mais nobres
guerreiros do
Animados porIslame.
ele, os godos, cobrando novos brios, procuravam imitá- los e
destemidos
arremessavam-através
se da hoste inimiga, que debalde procurava resistir à
torrente.
godos eramOs já
sinais da vitória dos
dolorosamente certos para os muçulmanos.

Roderico viu isto e exultou. O sol inclinava -se para o ocaso e o centro do
exércitoTárique,
achava árabe, onde se firme; mas os cla mores do triunfo, que já soavam na
estava
começavam
ala esquerda ados espalhar a incerteza entre os soldados do profeta. Foi então que
cristãos,
ào sua
rei dos godos ordenou
ala direita descesse contra os berberes e, dispersando- os, acometesse os
que pareciam
esquadrões dehaver lançado raízes no solo ensangüentado do campo da
Tárique,
batalha.
Um qüingentário partiu à rédea solta para levar a ordem fatal aos filhos de
soldados
Vítiza. A os doisdos
frente irmãos
seus falavam a sós com Opas e contemplavam o combate.
Apenas ouviram
lhes ordenava, o que see Ebas, voltando-se para os esquadrões que lhes
Sisebuto
"vingança!” - Este brado
obedeciam, clamaram: - foi repetido por Opas e pelos nobres que o
seguiam.selva
espessa Então,
de no meiorepercutiu
lanças daquela um grito que respondia aos dos capitães: -
"Glóriaaoaotraidor
Morte rei Sisebuto!
Roderico!"

E os filhos de Vítiza e o hipócrita bispo de Hispalis, com as lanças


lançaram-se
aprumadas e pelo vale abaixo,
as espadas e a mor parte dos esquadrões seguiram-nos.
na bainha,
Apenas Pelágio,
Cantábria, duque de
ficou imóvel à frente dos soldados vascônios e de algumas
tiufadias da Galécia
Narbonense e da à traição daqueles mal-aventurados, recusaram
que, alheias
segui-los.
Roderico viu enovelarem-se nos ares os rolos de pó que se alevantavam sob
"Valentes
os pés dosmancebos
ginetes: - exclamou - hoje a Espanha vai ser salva por nós!
Vede - com
falando acrescentava, sorrindo
os guerreiros que oe cercavam, muitos dos quais haviam
condenado
confiança naa sua arriscada dos filhos de Vítiza: - vede como eles voam
generosidade
um grande
contra risco ameaça
os africanos! a pátria não há ódios entre os godos: todos eles são
Quando
irmãos, porque
são filhos desta todos
nobreeles
terra de Espanha."

E o qüingentário que voltava gritou de longe: - "Somos traídos!".

Roderico empalideceu. A certeza da vitória tinha -se desvanecido.

XI - DIES IRAE

Por quantas desventuras a pátria dos godos tem


tendas
Roderico
A
dos
passagem
aurora
pastores,
derompeu
aguerra,
fazer
de
que,
tão
cessar
meiga
que
colmadas,
avultado
alieoalvejavam
serena,
combate,
número
amarelejavam
como
agora
enquanto
de godos
nos
com
outrora
dias
apara
os
noite
em
primeiros
os
pelas
que
pousava
inimigos
vinha
margens
resplendores
tranqüila
trazer
e orelvosas
as sobre
dado
crepúsculo
aquela
de
alvoradas
Críssus,
madrugada.
aflições
campina
em alegres
eque
vez
Odores.
homem
descia
povoada
das
às malhadas
obrigaram sido abalada:
dos fugitivos quã
quase ninguém o repetidos
e a nefanda
Código
ignora. a pungem
soberba
Visigótico, os-golpes
dos trânsfugas,
II 1 - 7.
debatia - se aí nas vascas da morte, e o sol passava envolto na sua glória,
indiferente às angústias
daqueles que, em seu ridículo orgulho, se chamavam monarcas e
sem lhe importar
conquistadores dosemundo;
os vermes vestidos de ferro chamados guerreiros se
passava,
despedaçavam
com uns aos outros,
o delírio insensato das víboras no momento dos seus amorosos ardores.

Pelas trevas, um ruído sumido, mas incessante, de passadas de homens e de


tropearinteiras
horas de cavalos
em umsoara
e em outro campo. Era que em eles ambos surgira uma
havia resolvidoOformar
idéia idêntica. um corpo só das relíquias da sua hoste e com ele
rei godo
acometer a principal
dos inimigos, batalha rapidamente antes que as alas pudessem
para a destruir
tivera Tárique.
socorrê-la. Semelhante
O mesmo à trovoada do estio, que se amontoa durante a
pensamento
noite em doise pólos
encontrados ao alvorecer semeia de coriscos as solidões do céu e povoa de
estampidos
ecos da terra,discordes os um dos campos se aglomerava em uma pinha
assim cada
homem
gigante; só, para em-se
convertia duelo
numde morte resolver com o seu contendor se os filhos
das Espanhas
aceitar a lei dodeviam
Alcorão ou continuar a abrigar- se à sombra da divina cruz.

Tárique lançara na frente da hoste muçulmana os trânsfugas do inimigo.


Sisebuto,
Híspalis eEbas, o bispo
o conde de
de Septum com os seus numerosos guerreiros constituíam
cavalaria árabe. Os berberes
a vanguarda. Seguia -se a cingiam este maciço de homens e ginetes, em
parte cobertos de
indisciplinados ferro, e os
cavaleiros da Mauritânia, dispersos como almogaures,
entradas nas alas
deviam vagar inimigas
soltos e imp edir assim que elas pudessem a tempo
para fazer
socorrer
que o centro
o general árabedo esperava
exército, desbaratar no primeiro ímpeto.

Roderico pela sua parte, tinha posto na vanguarda as tiufadias vitoriosas de


Teodomiro,
da Cantábriaosguiados
cavaleiros
pelo moço Pelágio, filho de Favila, que sucedera a seu
província, e, finalmente,
pai no governo daquela os guerreiros escolhidos da Lusitânia e da Galécia,
que ele próprio
capitaneava. Como Tárique, o rei godo colocara de um e de outro lado na
ehoste apinhada os
fundibulários frecheiros
selvagens do Hermínio e os montanheses vascônios, antiga
linhagem, em valor,
raça de celtas, irmãosememcrueza, em armas e em costumes. Na retaguarda
estavam osCartaginense
província soldados da que não tinham seguido o exemplo dos trânsfugas por
outros
andarem lugares ou, talvez,
derramados em porque, não corrompidos, guardavam ainda no
coração vestígios de amor da
pátria.

Ao amanhecer, cada um dos capitães inimigos viu com assombro que a


mesma traça
pretendera de guerra
valer- deobter
se para que a vitória ocorrera à mente do seu adversário.
alterar a ordem
Era, porém, dapara
tarde batalha. Ao mesmo tempo as trombetas godas e os anafis
árabes deram
combate, o sinal
e o grito de do
- Cristo e avante! - confundiu- se em estampido AIlah
medonho
hu Acbar!-com o brado
o brado de de - dos pelejadores sarracenos.
guerra

O chão pareceu afundir -se com o encontro daquelas duas mós enormes de
dos botesarmados,
homens das lanças e onos
ecoescudos convexos e nas armas sonoras dos
cavaleiros
fronteiras erepercutiu
desvaneceu- nasseencostas
ao longe, murmurando entre as quebradas. Desde
o primeiro
mais embate,distinguir
fora possível não os exércitos travados como dois lutadores
indelineável,
furiosos. Era um monstruoso,
vulto só, imenso, cujo topo ondeava, semelhante ao de
cujos
nenúfares
espadas
regos
das
muitos
misericórdia:
de
O
soubesse
desconhecido
cavaleiro
sangue,
pancadas
contornos
nas
cavaleiros
sarracenas
dizer
fileiras
sobre
serpeando
negro,
violentas
oecomo
punhal
das
indecisos
marnel
árabes,
combatiam
ao
cruzavam-
suas
ou
por
cessar
acabava
dos
revolto
onde
quase
eentre
se
os
manguais
aagitavam,
membros
ase
batalha
se
incríveis
as
pé.
pelo
oescondera.
com
que
duas
Desgraçado
despenhar
da
oas
do
hostes
torciam,
ossudos
franquisque
façanhas,
peonagem
espadas
diaSó
antecedente,
enredadas
Teodomiro
das
do
dos
alargavam,
godas:
os
que,
torrentes.
mourisca.
ou
peões
tiufados
aferido,
aecimitarra
cateia
desaparecera
lusitanos
salpicando
parecia
diminuíam,
Nuvens
eMuitos
caía
qüingentários
teutônica
não
começara.
em
e de
ginetes
as
oterra;
do
setas
ia,
canavial movido pelo vento
oscilavam,
sibilavam
zumbindo,
cantabros
vagueavam
porque
Dir
frontes
descarnadas
campo,
ignorar;
que -se-ia
em epara
sem
volta
porque,
corpos,
que
estouravam
nos
abrir
como
sem
ele
que
edele
os
ares:
rotas
não
fundos
donos;
ao
ninguém
regatos
eram
tapetes
falarem
as
daquele
havia
debaixo
as de
veias
do
grande vulto, coleando na derradeira agonia.
esperavam o romper da manhã e o recomeçar da peleja, o duque de Córduba
buscara sempre
conversação mudar de carregando- se-lhe o semblante de tristeza: - "É,
ou respondera,
desgraçado
porventura, que procura o repouso da morte, e para o homem que resolveu
algum
morrer,
será que feito de
i mpossível? Se valor
ele não quer deixar na terra nem o eco vão de um nome
desejos, porquerespeitai-
glorioso, profundolhe
deve
os ser o abismo da sua desventura".

Ao som, porém, das trombetas que anunciavam o renovar do combate, o


aparecer
cavaleiroonde
negromais
não acesa
tardaraandava
a a briga. Via- se, contudo, que era
principalmente
árabes, onde as nas
puasfileiras
agudasdos
e cortadoras da sua temerosa borda ou maça de
estragos. Mas,maiores
armas faziam quando algum dos godos trânsfugas ousava esperar-lhe os
golpes se-
ouvia- ou tentavam feri-lo,
lhe um rugido como o de maldição preso na garganta por cólera
imensa, e não
contrário o seu miserável
tardava a golfar o sangue na terra da pátria que traíra e a
tisnada
entregarpela
aos infâmia
demônios daaperfídia.
alma Os árabes supersticiosos quase criam ver
nele Ibliz,
Geena, o rei infernal
armado da espada dopercuciente, solto por Deus para os punir das
divino
ofensasAlcorão.
cometidas Diante
contradele
o recuavam os mais esforçados muçulmanos, e só
de longe os frecheiros
disparavam lheque se lhe empenavam no escudo ou, roçando por
alguns tiros,
este, vinham
armadura, bater-lhe
debaixo na manava já o sangue de algumas feridas, e os
da qual
desmentir a impetuosidade
membros lassos começavamdoa espírito.

Como na véspera, o sol inclinava -se das alturas do céu para o ocaso, e ainda
a batalha
se é que oestava
terror indecisa,
que incutia o cavaleiro negro no lugar onde pelejava não
fazia pender
balança um dos
do lado pouco a De repente, um grito agudo partiu do mais
godos.
este gritorevolver
espesso gigante,do indizível,
combate;de íntima agonia, era o brado uníssono de muitos
homens;
doloroso era o anúncio
de um sucesso tremendo. O cavaleiro negro, que, impelido pela
semelhante
ebriedade doa sangue,
rochedoeque se despenha pelo pendor da montanha, ia
derramandodo
esquadrões a morte
Islame, através
volveudos
os olhos para o lugar onde soara o bramido
retumbante
no centro dodaexército
multidão. EraAs tiufadias vergavam em semicírculos para a
godo.
açude
banda minado
do Críssus,pelacomo
torrente,
o a ponto de desprender-se das margens, oscila e se
curva,
veia bojando
inferior dassobre
águas.a A muralha de ferro que, posta entre o islamismo e a
profeta
Europa,de Iatribe
dizia - não do
à religião passarás daqui - vacila, como a quadrela de cidade
fortificada
dias batidademuitos
por vaivém inimigos. Por fim, aqueles vastos maciços de homens
ligados pela cadeia
da disciplina, do pudorfortíssima
militar e do esforço, derivam rotos ante os turbilhões
derramam-se na
dos árabes, ondeam e campina. Pelo boqueirão enorme aberto no centro da hoste
goda
ondasprecipitam-se
dos cavaleirosasmaometanos, e, após eles, a turba dos berberes, com um
Debalde as alas tentam ajuntar- se, travar- se uma com a outra, soldar os
bramido bárbaro.
membrosPassa
ibérico. despedaçados do leão corrente dos netos de Agar que envolve e
por lá a impetuosa
arrasta os
vadeá- la. que
Deuspretendem
contara os dias do império de Leovigildo, e o sol do último
para
delesoera
ocidente!
o que descia já

O cavaleiro negro vira a fuga das batalhas godas, advertido pelo clamor que a
precedera.
rédeas do seu Voltando
murzelo, as esporeou- o para aquela parte. Levava lançado às
costas
dos o escudo,
arqueiros onde osciciavam,
africanos tiros como a saraiva no inverno batendo nos
Pendia
troncos-lhe da esquerda
despidos do arção a borda ensangüentada, da direita
do roble.
na fúria
voragem
muçulmanos.
parou,
sua
Esse
conversação
naquele
gemido
Mas
fugitivos,
repreensão,
voz
aos
brado
e,imenso
soava
da
grito,
ouvidos
olhando
aberta
forcejando
carreira,
devia
ora
doAo
conjunto
nocom
da
bramido
nas
de
chegar
meio
emnatureza
fileiras
açoitando
Teodomiro
opor
roda
exemplo,
da
inexplicável
longe,
àdos
obrigá
batalha,
confluência
por
cristãs,
quando
mares
os
umreboando
não
-oares
los
duque
momento,
earevoltos
luta
podia
ade
qual
acom
única
daquelas
voltar
cólera
consigo
de
como
como
chegar
asCórduba
palavra
eouviu-
ocrinas
do
erosto
ode
que
encontradas
mesma
rugir
atrovão.
dor,
voz
que
ondeantes
tragava
se-
contra
combatia
das
havia
do
lhe
lhe
no
Dir
ventanias
desconhecido.
um
passar
os
saiu
uns
torrentes
-se-
uma
árabes,
emui
grande
após
atirando-se
da
iadalonge
boca
que
pelas
outros
de
ora
brado.
ofoi o
franquisque. O ginete tresfolegava
ao esquadrões
os
homens
Era
nome
cavaleiro
fragas
semelhança,
tempestade.
Arrastado
com
dele.
meio
apalavras
Em
primeira
de
das
armados,
da
Teodomiro.
vão
estava
pelos
serras;
espécie
uma
ode
vez
cavaleiro
turbilhões
habituado
amarga
porque
harmonia
oque
de
guerreiro
a de àcom o
negro lhe repetia o nome: era inútil este chamar e, apenas, servia para atrair
os golpes dos
vitoriosos. As agarenos
achas de armas, as cimitarras, os dardos faziam centelhar a
desconhecido,
armadura e o escudoque, toma
do do, ao que parecia, de um pensamento doloroso,
alongava
parte os olhos
em busca de por toda a Com um gemido de desalento, o cavaleiro
Teodomiro.
torpor que o da
saiu, enfim, tornava imóvel
espécie de ante o espetáculo de tanta desventura, e o seu
despertar foi
Erguendo emtremendo.
alto a maça de armas e vibrando-a furiosamente em volta de si,
ecomeçou
a abolaraarmaduras.
partir espadas
Em breve, ao redor dele, no meio dos muçulmanos
os ânimos, como
vencedores, na invadia
o terror véspera, como nesse mesmo dia, se espalhara por toda a
parte onde
reluzido as haviam
puas da sua ensangüentada borda ou o ferro do seu cortador
franquisque.
Apenas, à força de golpes, o cavaleiro negro abriu no meio dos muçulmanos
vencedores
cla uma largao ginete, lançou-se para o lado em que os godos
reira, esporeando
espadas do Islame.
desordenados No espaço
se retraíam ante intermédio
as entre os fugitivos e os árabes
flutuava
do duquesem recuar o pendão
de Córduba. Em volta desse pendão tremulavam as signas das
cercadas porBética,
tiufadias da todos os lados, resistiam ainda ao embate dos sarracenos. No
que,
meio, porém, dos
abandonavam que o campo da batalha nem uma única bandeira se
vilmente
hasteava;
das armas,mas pelo esplêndido
o guerreiro conheceu aqueles que não ousavam resgatar com a
Eram
vida a honra das Espanhas. de Roderico; era a brilhante cavalaria que ele
os soldados escolhidos
próprio capitaneava!
indignação trasbordouAda alma do guerreiro:

- Rei dos godos, rei dos godos! - exclamou ele - és covarde! Embora vás
esconder
muros de aToletum.
tua ignomínia
Ainda nos
neste campo de batalha restam homens valentes:
não
aindapor teu trono combate,
Teodomiro desonrado, mas pela terra de nossos pais. Foge tu com os
que nãoque
pátria; sabem morrer pela
nas margens do Críssus ficam os que hão de perecer com ela!
foge parao ser
Maldito godoservo!
e cristão que

E o cavaleiro apertou de novo as esporas ao possante murzelo.

Não tardou, porém, que o furor se lhe convertesse em tristeza, e que as


olhos, lhe rebentando-lhe
lágrimas, apagassem a maldição
dos que haviam murmurado os lábios. O seu
valente cavalo
carreira por cimagalgava na
de cadáveres e de moribundos, de cristãos e de infiéis, e a
terra, convertida
de sangue, apenasem brejodebaixo dos pés do ligeiro animal. Passando por
soava
sarracenos, podia dizer- se que o desconhecido se assemelhava ao anjo do
meio dos esquadrões
Senhor,
entre os quando
mundosdesceonde por
habitam os demônios, solitário e temido no império
odeiam.
dos filhosA das
famatrevas
das suas
que façanhas
o tinha- o cercado de uma auréola de terror
supersticioso,
passava, e, quando
os guerreiros do deserto apontavam para ele e em voz sumida
diziam
que vem!unsei-lo,
aos outros - "Ei-lo
o cavaleiro negro!"

Mas, por que parou ele, sofreando subitamente o ginete? Que há aí, nessa
homens de guerra,
extensa seara ceifada quedepossa atrair os olhos do mais incansável dos
segadores?
estava, poucas No horas
sítio em quehasteada
antes, parou a signa real: era o centro da hoste goda;
masládos
uns vãoque
aoaílonge
pelejavam,
precipitar- se no abismo da ignomínia; outros, os mais
último
felizes,sono no regaçono
adormeceram daseu
pátria. O guerreiro fitou os olhos no chão: a foice
cerceara
explicação
mas
desfaria
às
dele
Mas
nações
concluíra
enfim,
margens
retalhado
apouco
esperança,
desconjuntando-se
germânicas
aos
aaderradeira
do
sua
tardou
do
golpes
terror
de
Críssus,
obra,
golpes;
eacom
estabelecidas
do
ser
que
eesperança
machado
oeis
geral
ase
edifício
mas
eesperança
oapossara
desabando,
que
asem
rota;
do
dos
restava
da
nas
vida!
império
monarquia
porque
árabes.
de
dera
diversas
tantos
oJá
do
fervor
em
não
de
último
pouco
Umterra
províncias
homens
Teodorico.
seria
gótica,
dos
cetro
tardou
oreivermes
debaixo
esforço
sem
dos
valentes.
ainda
romanas.
O
agodos!
dono
espalhar-se
espetáculo
que
dos
rico
de Fugiam:
seus
em
ânimos
de
Com
AToletum
pés
aque
mais
sua
quese
da morte, passando por ali,
lhe
eoRoderico,
morte
robustos.
ignoravam
aquela
bastara
corrupção
majestade
interiormente
mais
trono
antolhava
fenecera
um
nova
para
daAs
porém,
exterior,
dos
Espanha
cadáver
este
aniquilar
fatal.
alas
era
oúltimos
ao
triste
roiam.
aestava
Um
redor
junto
mostrara,
se
mpério
acontecimento
odia
tempos
Ai aí!
cruz,que durante
e porquatro
isso pelejavam
séculos fora ainda.
o mais poderoso e civilizado entre as
derribada com ele, só devia tornar a hastear- se triunfante em todos os
ângulos
combaterdadeEspanha depois do
oito séculos.

Uma parte do exército godo ainda pudera salvar- se atravessando o rio: mas
véspera
as pontestinham
lançadaspornafim estalado, derivando pela corrente debaixo do peso
dos fugitivos,
devoravam e as águas
muitos que o ferro havia poupado. Teodomiro, que não perdera o
ânimo no meio
desventura, daquela
alcançara fazer passar à margem oposta as relíquias dos soldados
muitas
da Béticatiufadias de outras
e os restos de províncias. Nos arraiais, os árabes, senhores do
campo,
com o som saudavam a vitória bárbaros, e com clamores de alegria que iam
dos instrumentos
vales e campos,
sussurrar ao longedesertos
pelos dos seus moradores. Um homem só combatia ainda
daquele
rio. Era olado à beiranegro.
cavaleiro do Cercavam- no muitos sarracenos, mas de longe,
porque os quedele
aproximar-se ousavam
caíam a seus pés moribundos. Às vezes, como que tentava
inimigos,
romper pormas eraos
entre tentar o impossível. No volver dos olhos inquietos para um
e para outro
buscar lado,alguma
descobrir pareciacoisa naquele vasto campo onde só descortinava os
os vultos ferozes
cadáveres dos vencedores.
dos vencidos e Por fim, voltando o rosto para a margem
oposta,
uma viu flutuar
eminência sobre de Teodomiro. Uma expressão fugitiva de
o pendão
contentamento lhe assomou
ao gesto. Despedindo entãoa borda ensangüentada, que sibilou por meio
das mãos
volta, o guerreiro
dos árabes apinhadosarrojou-
em se à torrente. A luz do sol que se punha, viu-se-lhe
umas
reluzirpoucas
o elmo,dealongando-se
vezes pela superfície das águas e desaparecendo por
que já desciam
largos espaços. densas,
As trevas,e a impetuosidade da corrente que o arrastava não
permitiram
seria prever-
a sua sorte. se qual
Eurico era a última e tenuíssima esperança que bruxuleava
nos horizontes
godo: do império
como estrela cadente que se imerge nos mares, aquele esforço
escuridão
brilhante se que tingia as águas
desvanecera na do Críssus!

XII - O MOSTEIRO

Se a todos se convertessem todos os membros em


línguas, ainda assim não caberia nas forças
humanas o narrar as ruínas de Espanha e os seus
tão diversos e multiplicados males.

IsidoroChronicon.
de Beja:

O mosteiro da Virgem Dolorosa estava situado numa encosta, no topo da extrema ramificação oriental
das que a dilatada
cordilheira dos Nervásios estende para o lado dos Campos góticos. A pouca distância do vale onde se
viam as ruínas caminho
Augustóbriga, de de Légio, no meio de uma solidão profunda, aquela silenciosa morada de
virgens inocentes
achava-se convertida em praça de guerra. Edifício suntuoso, construído no tempo de Recaredo, as suas
grossas muralhas
mármore pareciam, dena verdade, quadrelas de castelo roqueiro; porque na arquitetura dos godos a
elegância romana
modificada era excessiva do edificar germânico ou saxônico, que os rudes visigodos do tempo
pela solidez
de Teodorico
Ataúlfo haviam e de
introduzido no meio-dia da Europa. Os restos dispersos das tiufadias da Galécia
tinham-se
todas encerradoeem
as povoações lugares fortificados ou por qualquer modo defensáveis, e os habitantes dos
povoados, acolhendo-se
com eles, deixavam desertas aí as suas moradas, incertos do dia em que veriam reluzir ao longe as lanças
dos agarenos,o que
devastavam nortejáda Lusitânia e parecia encaminharem-se para o lado de Tude. Os muros fortíssimos
daquele
edifício, vasto
as suas portas tecidas deexterior
ferro eerguia
carvalho, as estreitas frestas, que um
apenas lhe deixavam penetrar
Nobrenhas
cantos
cercanias
na sua
centro
duvidosa,
defensão.
acolhido
serras
cobiça
feracíssimas
nas
os
mosteiro
que ecinta
de de
mármore,
do de
Légio.
imenso
estreitasNo
arrancados
e,edifício
celas as das
do
vestiduras
templo,
pedreiras
a- saco
se oeascom
templo
severas
do inesgotáveis
omeio omonástico:
das
de monjas,
aque
vastopeça
se
eocuja
pátio
estendem
oração
que odee
no quenãodas
se
dos
interiorpodiam
aí,
derramavam
Com
Astúrias,
osas
árabes.
eintratáveis
uma da
tetos
cateias
com
algumas
Bética,
ser
luzameados
Entretidos
ele
ainda
derribadas
e um
por
frechas
eda
decanias
frias
livres,
grande
Lusitânia,
estas
em
da
finalmente,
despedidas
pelos
partes;
Atanagildo
Galécia,
submeter
número
de veteranos
manguais
e da
mas,
Cartaginense
dos
eos
de
eda
cria
contra
fossos
pôr
entre
mais
Cantábria?
que
brutescos,
que as
no
abastados
esses,
profundos
oameias
meio
mosteiro
únicas
eram
Seriam,
opulentas
do
que
habitantes
que
terror
de
sol
seria
armas
lhe
apenas,
sobra
quase
cidades
circundavam,
cingiam
pudera
sempre
dos
daqueles
osafricano
alguns
tiros
broncos
ajuntar,
do
inexpugnável
fronte,
meio-dia,
de
troços
contornos.
que
tudo
catapulta
seminus
qüingentário
como
as
odos
aquecia,
tornava
contentes
barreira
inquietos
aProtegido
arrojados
coroa
que
quadrangular,
desde
rodeava,
contínua,
acomodado
Atanagildo
pela
contra
com
viriam
selvagens
das
um
montanheses
rei
torres osdo
vizinhança
asagigante,
eles
veigas Nervásios
viam-
violênciaquer
berberes
buscar
havia
paradoedaseconstruída
em
se negrejar
Atlas.
larga
-se comum
até asde grossos
no santuário, quer na solidão das suas breves moradas, só era interrompida
por
sobre sono curto,
a dura dormido
enxerga da penitência. Esta parte do mosteiro era a que elas
alguns dias. ocupavam
unicamente Os seus claustros
havia pacíficos e saudosos, onde nunca soara o ruído
tormentoso
nunca da vida,realidades
as dolorosas onde do mundo haviam penetrado, salvo nos sonhos
de algum coração
passageiros mais ardente, restrugiam com o bater das armas, com o
e dourados
oamontoar dasque
carpir dos provisões, com os seus lares, com a violenta e brutal
abandonavam
linguagem
meio da vasta
daquela soldadesca.
mole deNopedra, em que os sons discordes reboavam,
eecoando
corredores profundos,
soturnos o templo, aonde se acolhera a quietação monástica
nas arcadas
era como eum
frondoso oásis pelos seus palmares no meio do deserto que o sopro
abrigado
fazendo redemoinhar
infernal do nos ares aquele oceano de areia fervente.
simum revolve,

Era ao anoitecer de um dia de novembro. Por entre o nevoeiro cerrado que,


vizinho, trepavado
alevantando-se pela encosta, deixando apenas livres as negras agulhas dos
vale
cerros, lá no
montanha viso da se a custo as ameias e muralhas à luz baça do
divisavam-
pardo e úmido.
crepúsculo, A brisa em
refrangida morna
céu de oeste gemia nos troncos dos castanheiros
nus, nas ramas
pinheiros esguias
bravos, dos
e as passadas monótonas dos vigias ao longo dos adarves
formavam
acorde comum concertomelancólico do céu e da terra.
o aspecto

A esta hora duvidosa entre a claridade e as trevas, uma nume rosa cavalgada
fundo do vale
atravessava e encaminhava
o ribeiro no -se para o mosteiro da Virgem Dolorosa. Dez
cavaleiros,
alvas cujas sobre
lhes caíam barbaso peito, saindo por baixo das redes de ferro que lhes
serviam deuma
rodeavam gorjal
dama cujo rosto ocultava o comprido véu que, pendente do he descia sobre o
alvo amículo,
retíolo, l mas cujos meneios airosos e talhe esbelto revelavam nela o
viço e asSeguiam-na
juvenil. graças da idade
alguns pajens desarmados, cujos rostos imberbes já o
pintavam
temor e o em todos os
desalento quesemblantes
se nesta época desastrada haviam sulcado de
rugas. Vadeado
cavalgada o rio, a se por uma senda tortuosa que ia dar à entrada do
encaminhou-
mosteiro,desejavam
parecia, aonde, aochegar
que antes que de todo se fechasse a noite. Ao
vigias conheceram
aproximar- se aquelaque eram godos
comitiva, os (provavelmente alguns desgraçados que
vinham buscar
daqueles murosofortificados)
abrigo e as grossas portas não tardaram a abrir -se para
pobres fugitivos.
recolherem mais esses

Apenas os recém- chegados, atravessando o átrio do fundo portal, saíram à


mais
cercaautorizado entreparecia
interior, o que os ve lhos cavaleiros pediu para falar a sós com
Atanagildo.
torre onde o Levado o ancião
qüingentário à
habitava, não tardou este em descer à cerca, no
emeio
semdaerguer
qual,oainda
véu, a dama
cavalodesconhecida esperava rodeada dos seus. Com
todos os sinais
Atanagildo de respeito,
dirigiu- lhe algumas palavras em voz sub missa e, tomando a
rédeauma
para do palafrém, guiou-aoo frontispício da igreja. A um sinal seu a porta
porta contígua
monja apareceu
abriu-se, no limiar
e um vulto negrodela.
de

O qüingentário, tomando pela mão a desconhecida e apresentando- a à


monja,
Cremilde, disse-lhe:
acolhei -entre"Venerável
as puras virgens que vos obedecem uma das mais
énobres
por umadonzelas de Espanha:
noite apenas, que ela vos pede abrigo; amanhã ao romper da alva
partirá para Légio".
- Amanhã
decadência
Virgem
nobre
escolhidas
Dizendo
que
espaço
A
ilumina-se,
noite
diziam
donzela
pendiam
vai
Dolorosa,
isto,
do
ouno
dos
epara
os
aSenhor,
depois,
seu
tiver
boa
anos,
vidros
das
onunca
fim:
interior
um
abadessa
abóbadas
como
que
que
multicores
afiador
acampa
importa?
me
hospitalidade
do
ostomou
edifício,
alevantaram
tal
achatadas,
vestígios
docomo
jorram
mosteiro
-pela
replicou
alumiadas
vós,
da
será
mão
desapareceu
nas
do
penitência:
esta

refusada
trevas
ameu
a odesconhecida
monja,
achará
sinal
escassamente
nada
externas
aos
nele
do
-cujo
sempre
ao
enquanto
terceiro
olhos
ao
tremendo
semblante
ae,
que
claridade
em
pelas
internando-
denoturno.
aCremilde
mim
implorar.
dos
o
austero
reger
E
carinho
ministério
encontrará
se
lâmpadas
Atanagildo.
Subitamente,
candelabros
quando
como mosteiro
ela
descobria,
deturvas
ade
mãe
pelas
ovirtude
eamor
sua
otochas,
santuário
eque
arcadas
da
nas
abadessa,
não
edeodeagasalhado
tanto
espaço a a de irmãs para com irmã querida.
como de dia deixam transudar a luz do sol no âmbito interior da igreja; esto
perpétuo de resplendores,
que ora descem do céu para a terra, ora tentam, subindo da terra para as
trevas.
alturas,Numa extensa
desfazer o mantofileira,
das a cuja frente vem a venerável Cremilde, as
monjas entram
tomando para um no ecoro
outro e, lado, param voltadas para o altar. Junto da abadessa
brancos sobressai
uma donzela entre as monjas vestidas de negro, não tanto pela alvura
de trajos
das roupas, ecomo
formosura: todavia,pelasão formosas muitas das virgens que a rodeiam, pela
maior
da parte
vida. É a ainda
nobreno viçorecém-chegada, à qual nem o cansaço de trabalhosa
dama
cômo
jornada,dosnem
do mundo
o hábitopuderam
dos impedir acompanhasse na oração aquelas que o
trato de poucas
lhe fazia amar comohorasirmãs.
já Cremilde prostra-se com a face no chão; as
branco
monjas seguem
e a damao vestida
seu exemplo.
de Através desses lábios inocentes que beijam o
pavimento do
murmuram templo
durante alguns instantes as orações submissas. Depois, a abadessa
ergue -aqueles
pouco se, e pouco a
semblantes, que cobre uma palidez de inefável repouso e
da terra, com
brandura, vãoosse olhos voltados para o céu, semelhantes aos de anjos de
alevantando
mármore
de ajoelhados
um túmulo, em roda pouco a pouco animados por vida repentina e,
que surgissem
morada
cheios deceleste,
saudade enviassem
da aos pés do Senhor o seu primeiro suspiro. Então a
salmista
um começa
dos hinos a entoar
sacros do presbítero de Cartéia que havia pouco se tinham
introduzido no ritual
as demais monjas gótico, e em coros alternos. O hino dizia assim:
respondem

"As asas da tua providência, ó Senhor, expandem-se por cima da terra, e o


debaixo delas: acolhe- se
justo desgraçado

"Porque aí moram os santos contentamentos; esquecem as dores da vida; vive


- se à luz da esperança.
"Confiado em ti, o fraco afronta as tiranias do forte: o humilde ri das
soberbas do poderoso.
" Quem revelou aos pequeninos e opressos esta divina guarida? Quem nos
ensinou
ser feliz apela
esperar? Quemdas
fé no meio a agonias?

"Foi Cristo, o teu filho querido. A tua justiça condenava à dor o gênero
nos conquistou
humano ainda nopara a felicidade
berço: ele no meio dos tormentos da cruz.

"Nós tomaremos, também, esta em nossos ombros: ela é a guia da bem-


aventurança.
"O seu peso é suave: porque sob ela os espinhos da existência que
peregrino sem repouso,
ensangüentam chamado
os membros do o homem, convertem- se em prado macio
de relva e boninas.
"Que reine para sempre a cruz!

"Erguei- a sobre todos os píncaros das serranias, gravai- a em todas as


sobre asdos
árvores rochas marítimas,
bosques, estampai-a nas muralhas das cidades, na fronte
hasteai-a
dos edifícios, apertai- a ao
coraçao.

"E depois, que o gênero humano se prostre e adore nela a redenção que nos
Neste
se
gonzos,
doloroso
As houvesse
vozes
momento
eque
confusas
umposto
por
velho
aquelas
tantos
odos
ostiário
selovigias,
milhares
vozes
da morte.
viera
misturadas
harmoniosas
de
cair
Abocas
porta
de bruços
com
diariamente
docessaram,
templo,
o sobre
tinir do
aberta
as
se
como
ferro,
lájeas
repetia
com
seresponderam,
do
dena
violento
súbito
Espanha:
nos
trouxe o Ungido de Deus.
"A"Os
lábios
impulso,
-pavimento,
como
palavras
cruz
uivar
árabes!"
detriunfará
do
rangera
todas
soltando
de
ostiário:
feras,
asnos
eterna."
monjas
as
oàs grito
faces pálidas das virgens empalideceram ainda mais.
A alvorada começava a repintar na terra a claridade do sol escondido ainda
no oriente.
as armas nasOsmãos,
godos, com
coroavam as ameias. Do alto de uma das torres
eAtanagildo
a fronte entenebrecia
observava a-se- lhe com um véu de tristeza.
campanha,

Naquela noite muitos nobres senhores de terras tinham chegado ao mosteiro,


vindos Um
Légio. da banda de exército de árabes aparecera subitamente na véspera
numeroso
juntologo
que aos fora
muros da cidade,
acometida pelos pagãos. Era o que sabiam. Fugitivos desde o
ao anoitecer haviam
aparecimento enxergado para aquela parte um clarão grande e
dos inimigos,
duradouro.
dos arraiaisSe eramse
árabes, asofogueiras
incêndio de Légio, não o podiam resolver: só, sim,
resistir
que seriaporimpossível
largo tempo cidade tão mal defendida a tamanha cópia de infiéis,
que não tardariam
derramar- se para oa lado do mosteiro, prosseguindo nas suas devastadoras
conquistas
pela pela Galécia e
Tarraconense.

Era esta triste profecia dos fugitivos que se tinha verificado ao romper da
da torreAtanagildo,
manhã. principal, vira
do ao
altolonge um vulto negro que descia dos outeiros, onde
já alumiava
matutina. tudo
Esse a luzassemelhava -se a serpe monstruosa que, rolando-se do
vulto
monte para a planície
colos tortuosos, se lheemrefletissem nas duras conchas os raios solares; porque
havia um continuo
naquele corpo gigante e rápido cintilar. Atanagildo percebera o que era, e por
isso a tristeza lhe obscurecia
a fronte.

Como a faísca elétrica, o terror espalhara- se no mosteiro apenas se dissera


que os árabes seMais de um coração de guerreiro batia apressado, como o do
aproximavam.
na piedade
pobre de Deus
ostiário o amparo que mal podia esperar das muralhas do forte
que buscara
edifício;
que, semdo pobrefora
o saber, ostiário,
desmentir o hino triunfal da cruz, diariamente
profanados
derribada dosdaaltares
Espanha.
nos templos

Dentro em breve, o exército do Islame chegara a tão curta distância, que


esquadrões
facilmente sedos filhos do deserto
distinguiam os e as turmas dos berberes. Também os árabes
tinham das
reluzir observado o
armas através das ameias do mosteiro. A hoste inteira parou no
encaminharam-se pela senda tortuosa que findava na ponte levadiça contígua
vale, e alguns cavaleiros
ao grande
desde que portal, erguída constara que os muçulmanos se avizinhavam.
pelos fugitivos

Quando o qüingentário conheceu que os árabes paravam no fundo do vale, o


seu coração
verteu sanguegeneroso
com a lembrança de que o esforço dos soldados que coroavam
por muito que
os adarves houvera sido, não fora bastante para salvar os desgraçados que
do mosteiro,
tinham buscado
sombra daquelasabrigo à Viu o desalento pintado nos semblantes dos mais
muralhas.
valorosos, varreu-
esperança e a última
se- lhe da alma. Todavia, esperou com rosto seguro a
subiam
chegadaados
encosta.
cavaleiros que

Estes aproximaram- se, enfim. Por seu aspecto e trajo via- se que na maior
parte eram
espadas nasgodos. Com
bainhas, as
pareciam vir em som de paz: também, por isso, nem
uma frecha
contra só se
eles dos disparou
muros.
- Mandai
Pouco
principal
olhando
Ao ouvir
antes
para
daquele
aquela
descer
de
aschegarem
muralhas,
voz,
apequeno
ponte
o qüingentário
eao
onde
dai
esquadrão,
fosso
passagem
reluziam
profundo
empalideceu:
adiantando-
franca
imóveis
queacircundava
esse
as
com
selanças
aos
cavaleiro
visível
demais,
dos
o edifício,
ansiedade,
cristãos,
que
veio
proferiu
topar
um
cavaleiro
-com
chamou:
voltou-
oque
unicamente
meu
Atanagildo!
estava
a entrada
nome;
seque
para
junto
a mas
ele!
parecia
da
um
dele,
ponte
acentenário
ele,
oe e,
disse- lhe:
O centenário obedeceu. Daí a pouco as armas do guerreiro tiniam pelas
escadas da torre.
ao terrado, Apenas subiu
encaminhou-se para Atanagildo e, estendendo-lhe a destra,
exclamou:
- Meu irmão!

O qüíngentário, em cujas faces pálidas passara um relâmpago de


vermelhidão,
afogada, recuou e, com voz
respondeu:

- Atanagildo teve um irmão; mas esse morreu para ele; porque entre ele e
aos pés dos
Suintila estápagãos; está o céu e o inferno. A minha herança é a ignomínia do
a cruz quebrada
vencimento,
escravo os ferros dede Cristo: a tua as riquezas, a vitória e a maldição de
e as promessas
Deus. Não
nossos troco nem
destinos, os quero a amizade do precito. Arrepende-te, abandona os
Atanagildo te apertará ao peito e te dará aquele nome tão suave da nossa
infiéis, e então
infância, o santo nome de
irmão.

- Estás louco! - replicou - Suintila - ... Porém, não foi para disputar
contigo que vim
salvar. Olha paraaqui: vim
o vale: para te
àquela hoste numerosa que lá vês poucas horas
mal guarnecidos. Abdulaziz,
poderão resistir estes muros o invencível filho do amir de África, é quem a
capitaneia: Légiopoder,
ontem em nosso caiu e de parte nenhuma podes ser socorrido. O bispo de
Septum,
Híspalis eque vêm conosco,
o conde de oferecem- te o mando de um dos seus esquadrões.
Os árabes
godos que pedem aos fidelidade ao estandarte do califa, não à crença do
os seguem
Islame:
Eis o quepodes guardar
Suintila, tua fé.a teu favor. Estas velhas muralhas e as donzelas
alcançou
claustros,
encerradasque Abdulaziz soube serem pela maior parte formosas e que ele
nestes
destina
Cairuão,para
são enviar a
o vil preço da tua salvação. Suintila aconselha -te que o
injúrias,
entregues;ainda se não
porque, esqueceu
apesar das de que é irmão de Atanagildo. Resolve e
responde.
Juliano e aQue
Opas,devo dizer supliquei
a quem a para ser mandado aqui?

- Dize -lhes - atalhou o qüingentário, cujos olhos faiscavam de indignação -


que arauto,
um eu respeito
aindaa quando
vida de este é um miserável renegado, como tu ou como
quem lhe levaria
eles, aliás não foraa minha
Suintilaresposta. Dize -lhes que as suas infames ofertas são
para mim tãocomo eles. Dize- lhes que antes de um sacerdote sacrílego e de
abomináveis
um condeotraidor
estampar ferretepoderem
da prostituição na fronte das inocentes virgens do Senhor
das
terão de passar por cimae dos cadáveres dos meus e dos seus soldados. E tu,
ruínas destes muros
renegado, sai daqui!
eu nunca mais ver- tePossa
o rosto e esquecer-me na hora de morrer de que nessas
nossos nobres
veias gira e generosos
o sangue de avós.

- Como te aprouver, meu irmão! - replicou Suintila, e um sorriso lhe


por mal disfarçada
deslizou no s lábios,cólera. Proferidas estas palavras, desceu as escadas da
descorados
torre.
A cavalgada, que lenta subira a encosta, descia-a rapidamente enquanto
Atanagildo,
muros, exortava visitando os
os guerreiros da cruz a pelejarem esforçadamente. Quando
estes
as souberam
intenções dosquaisárabeseram
acerca das virgens do mosteiro, a atrocidade do
corações
sacrilégioaafugentou-
menor sombra lhes dedoshesitação. Sobre as espadas juraram todos
godos.
necessário
Atanagildo
As
abóbadas
qüingentário
-povo
muros
existir,
Cremilde
mulheres
nas
do
Então
porque
suas
murmuravam
mosteiro
que
nem
-eencaminhou-se
odisse
orações
os
jurei
as
qüingentário,
por
velhos
monjas
da
Atanagildo
sobre
isso
Vir
fervorosas.
eque
esperava
repercutiam
soubessem
gem
a cruz
para
tinham
a Dolorosa
quem
em
desta
oA
saIvá-
voz
coro
abadessa
vindo
qual
parecia
os
espada
baixa
estará
egemidos
las
futuro
chamou
buscar
das
animar
-ficar
aproximou-
hasteado
é mãos
as
necessário
asilo
epor
sepultado
aguardava.
as
sobrenatural
dos
preces.
Cremilde,
no
o se
pendão
agarenos.
mosteiro
valor!
das
qebaixo
Rompendo
Resignado
reixas
que
ousadia,
dos
Dentro
enchiam
com
das
infiéis,
de
aas
combater e morrer como
correu
acabar
Dolorosa
não

pela
monjas
douradas
guerreiro.
epoucas
ruínas
eu
o lhes
templo,
terei
multidão,
dele.
ao
defendendo-
horas
acompanhava
esconder
que
deixado
era
templo.
Oemasobre
aexército
onova;
separavam
cujas
Era
de
oos
seu
as,
mas
odos
horrível
cumpria
do destino.
árabes é irresistivel, e a única esperança que me resta é que o Senhor aceitará
oderramado
meu sangue,
em seu nome, como um testemunho da minha fé.

- Os infiéis - acudiu a abadessa, procurando dar às palavras que proferia um


trêmulo da voz lhe
tom de firmeza quedesmentia
o - contentar- se- ão, talvez, com as riquezas
aqui amontoadas
prudentemente im- a posse destes lugares. Se é isto o que pretendem
e com
saiamos
ímpio deeMaomé
cedamos ao cultode Deus vivo, já que para o salvar seria inútil todo
o templo
Com as virgens
o sangue que se esposas
vertesse.do Senhor buscarei os ermos das serras do norte, e,
como as monjas
primitivas, aí acharemos a paz e o repouso, enquanto o pai celestial não nos
pátria.
chama à nossa verdadeira

- Prouvera a Deus, venerável Cremilde - tornou o qüingentário - que nos


muros: deixar
fosse lícito só entregues
desamparar estesàs profanações dos infiéis a pedra e o cimento!
Mas uma
acaba atroz
de me sermensagem
mandada por quem, como eu, devia horrorizar-se dela.
ofereciam
Repelia - a,vida e honras
porque se mea troco da perpétua infâmia. Agora resta- me
unicamente
como soldadomorrer como godo e
da cruz.

- E qual era essa mensagem? - perguntou a abadessa ansiosamente. - Em


nome de quem vinha ela?
- Do bispo de Híspalis e do conde de Septum; de um sacerdote e de um
nobre. O preço
liberdade da nossa das vossas filhas queridas, das monjas
era a prostituição
consagradas
que à Virgem Dolorosa,
esses mal-aventurados destinam para saciar as paixões brutas daqueles a
Espanha. Para o aobter
quem venderam terracumpre-
de lhes, porém, passar por cima dos membros
despedaçados
que povoam estas dos muralhas.
guerreiros Pela cruz assim o juramos todos. Havemos de
cumpri-la.
As palavras de Atanagildo vibraram no coração de Cremilde, como vibra o
primeiro
que aindadobre
jaz em pelo
seufinado
leito da derradeira agonia na alma do bom filho, que
pé dele.
reza, Recuouajoelhado
chorando, aterrada e,aovolvendo para o céu os olhos enxutos, porque a
aflição neles
lágrimas que estancara as ficou por alguns momentos com as mãos
despontavam,
inspiração
erguidas, comode cima. Pouco auma
implorando pouco, porém, as suas faces tingiram- se da cor
da vida, o sorriso
esperança da os lábios, e as lágrimas, consolo supremo das maiores
rodeou-lhes
má goas e, eloqüente
expressão também, dos contentamentos mais íntimos, lhe rebentaram com
negra
força eestamenha do hábito.
lhe orvalharam a

- O martírio! o martírio! - murmurou a abadessa. - Oh Cristo! bendito seja o


teu nome.
- O martírio, sim: - Interrompeu o qüingentário - mas depois do sacrilégio;
da
mascorrupção dosastraidores
depois que vítimas tiverem sido arrastadas para longe da Espanha e
depois
oriente que nos haréns
houverem sido do
poluídas pela sensualidade brutal dos conquistadores.
esta
Eu, ao menos, não verei religião de nossos pais...
última ofensa à santa

- Ide: - prosseguiu a abadessa, que parecia não o haver escutado, embebida


Quando
em meditação os infiéis se aproximarem,
profunda: - enviai- lhes mensageiros de paz. Que vos
montanhas
monjas
as
pelas
E,
era
-tenebrosas
parece-me
Mas
ameaça.
de
deescolhidas
feito,
severa
oda
juramento?
Virgem
lícito
remendam
Desamparai-
com
o seu
aspereza
essa
duvidar
de
olhar
Dolorosa,
Cristo;
multidão
- omisturado
etornou
azul
nos;
gesto
dasê-lo-
eficácia
puríssimo
nem
porque
tristemente
de
eramá,
com
infelizes
receeis
porque
de
dos
oalegria
arcanjo
uma
do
meios
por
ofirmamento,
que
oqüingentário.
inspirada:
Senhor
elas.
suave,
vieram
do
queesforço
Achei
imaginais
como
mobuscar
mas
deinspirou.
um
éonde,
–em
nesse
oDevo
meio
para
onosso
céu
abrigo
por
olhar
Nada
vos
respeitar
para
que
defensor.
entre
destes
varre
eas
maiso
deixem acolher às
muros.
salvar
éO
ogesto
elas,
vosso
salvardes
muçulmanos.
preciso
noroeste
meujorram
havia
segredo;
da
arbítrio
Não
sorte
dizer-vos.
das
asocureis
torrentes
nuvens
que
mãos
medonha
será
todavia
quer
das
dos
aceito
deque
luz.
que
- O vosso juramento é inútil. - acudiu Cremilde - e eu vos escuso dele. A
resistência
arrastardes só servirá para
convosco à morte os velhos inermes e as criancinhas inocentes.
portas aos pacificamente
Ide, e abri pagãos. Se tantoas é preciso, eu vo - lo ordeno. Atanagildo, um dia
nos veremos no céu.
Ditas estas palavras com toda a firmeza de resolução inabalável, a abadessa
afastou-se da se
encaminhou- reixa e o meio das freiras, que, entretanto, haviam estado
para
imóveis
no com osOolhos
pavimento. crava dosficou por alguns momentos pensativo: depois,
qüingentário
dos afetos
agitado e pensamentos
pela luta cruel opostos que tumultuavam no seu coração,
atravessou vagarosamente o
templo e desapareceu.

A um sinal de Cremilde as monjas saíram do coro; a donzela vestida de


branco, aoapertava-
abadessa, lado da venerável
lhe a mão entre as suas; mas os seus meneios eram firmes
que
comoosos
dela altivos.
dela e maisDesde
do que a última freira passou, as preces misturadas de
soluços
na igrejaque sussurravam num som único de choro perdido, como se a última
converteram-se
desaparecido delas.
esperança houvera

A campa do mosteiro bateu três pancadas com largos intervalos: é o sinal que
capítulo.
convoca as Para lá se encaminham.
monjas a A donzela que nessa noite chegara
acompanha
Entraram. As- as, também,
pesadas aí. da casa capitular rangem nos gonzos cerrando-
portas
interiores reboa
se, e o correr dosaoferrolhos
longe pelos corredores monásticos. Ao mesmo tempo a
ponte que
fosso levadiça
rodeia caiassobre o do vasto edifício; um cavaleiro se arroja
muralhas
sozinho
do ao que
Islame, meiojádos esquadrões
subiram a encosta, e pede para falar com o conde de
Dentro
Septumde empoucos
nome de instantes ei-lo que volta, e os muçulmanos param a curta
Atanagildo.
distância.
número deEntão um grande
crianças, de velhos e de mulheres, saindo, como torrente
do mosteiro, atravessam
comprimida, por meio das duas fileiras de soldados de Juliano e
do portal profundo
de guerreiros
vieram colocar-árabes
se aos que
lados da ponte. Esta multidão desordenada ondeia,
separa-se,
para tornarapinha -se dese,
a espalhar- novo,
até que desaparece ao longe, caminho das
seus saios deApós
montanhas. malha,ela,mas sem armas,
cobertos dos os soldados de Atanagildo seguem com
gesto melancólico
mesmas trilhas poras onde se vai escoando a turpa, até que também, como esta,
densas dos montes
se derramam e pelos barrancos escarpados que, retalhando os
pelas selvas
Nervásios,
deles para asdão passagem
regiões através da Espanha.
setentrionais

Apenas o qüingentário, que fora o derradeiro a atravessar a ponte levadiça,


volvendo
arrasados os de olhos
lágrimas para aquela santa morada, desceu a encosta, as duas
arremessaram-
fileiras de soldados se ao fundo portal, cujas abóbadas pela primeira vez reboaram
com
de os gritos
homens discordes e o edifício solitário respondeu-lhes com um
desenfreados,
silêncio lúgubre.
estavam patentes Diante
as vastas deles
arcarias e escadas, os longos corredores, os pátios
oespaçosos.
templo solitário, com as portas abertas de par em par, amostra-lhes aos
Lá, no centro,
olhos ávidos
ao passo que as suas querer
parece riquezas,vedar ao sol, com as cores sombrias das vidraças
das profanações de
janelas, o espetáculo que na sua existência secular vai ser teatro e testemunha
pela primeira vez.
Como o tufão rugindo se abisma nas galerias tortuosas de mina extensa,
muçulmanos,
assim os godosque os seguem
renegados de perto, se precipitam dentro do mosteiro.
e os
opelas
ameaçam-se,
entrada
Eles
outro
pelos
capitães
por
Esta
parou.
gemidos
porventura,
estourar
uma
circunstância,
sós
salas
sinal
pilares
Crera
das
que
se
escadaria
dolorosos.
das
ehabitações
deencaminham
teria
haviam
aposentos
ouvir
de
dividindo
vivos,
portas.
mármore.
retrocedido,
lôbrega
um
que
Escutou:
senão
primeiramente
Arabes,
cântico
interiores,
ouve-se
lhe
o para
saco.
Suintila,
que
os
excitava
não
se
mouros,
sons
essa
entoado
terminava,
Os
onão
se
rir
onde
xeques
de
parte
openetrado
viva
enganava!
esentira
desonrado
seus
falar
soldados
por
a eriqueza
curiosidade,
esegundo
desaparecem
pés
muitas
desentoado,
que
os no
capitães
e,
Então
godos
alguém
irmão
do
aclaustro
vozes
espaços,
parecia,
templo
oobrigou-
do
da
do
terror
nos
omais
acordes,
Tingitânia
virtuoso
ruído
solitário.
conde
lhes
numa
oclaustros
ocomeçou
tinir
oseguia.
de
promete
ade
que
quadra
das
apertar
passadas
Tinha
Septum
aEram
a à-se
o
Pelas arcadas e corredores,
rápidas,
misturam-
vedam-
cobiça
monásticos,
próprias
Atanagildo,
adiantado
alumiada
passo.
espaços
apoderar-se
dois xeques
Amais
lhes
era
oarmaduras,
meia
por
tinir
mais
se,
interrompido
dele,
era
árabes
onde
avultada
unicamente
muitas
disputam,
descida
das
edodescia
se
e,armas,
número
eque
não
tochas.
um
presa.
roçam
ouve
apor
dos
centenário do conde de Septurn que o acaso guiara para aquela parte.
Interposto
avermelhado entre
queo sala
clarão
do subterrâneo e os três que se aproximavam, Suintila
continuou a descer
fez- lhes sinal mansamente
de silêncio e até chegar à porta que dava da escadaria para
o aposento
Então iluminado.
conheceu onde estava. Era um desses lugares misteriosos e santos que
religiosa
a primitiva construía debaixo dos templos - templos também, mas da morte;
arquitetura
porque aí, sobre
repousavam os altares,
as cinzas dos mártires, e aos pés deles os fiéis que obtinham para
última
de terrajazida
onde uma
aindapouca
fossem afagar-lhes as cinzas o sussurro longínquo das
sacrifícios. - Suintila
preces e o perfume dosachava - se na cripta do mosteiro da Virgem Dolorosa.
O clarãolumes,
muitos que vira era oem
acesos delampadários gigantes, e reverberando nas
do mármore:
estalactites era o reflexo
penduradas das das tochas que ardiam diante dos crucifixos
junturas
únicasasimagens
sobre queEm
aras nuas. se viam
cada um dos túmulos das monjas antigas, enfileirados
ao compridoapenas
negrejavam dos muros,
uma data e um nome. Era o que restava para memória de
anais
muit as dovirtudes
mosteiro, naquela cronologia de pedra. O sepulcro da viúva de
naqueles
Hermenegildo,
irmão o desgraçado
de Recaredo, elevado mais que os outros à entrada do templo
de rainha emsemelhava
subterrâneo, palácio de umsombras,
trono porque o ambiente grosso e frio e o hálito
das sepulturas
que revelavam
aí era o império da morte.

As torrentes de luz, que inundavam esta morada de terror não permitiram a


Suintila
primeiroenxergar
volver denoolhos os objetos que estavam ante ele. Espantado, tentava
daquela
descobrirresplandecente
no meio solidão algum vulto humano, quando os cantos e
gemidos, suspensos romperam de novo: primeiro as vozes harmoniosas;
momentaneamente,
depois o gemido
doloroso, íntimo,
afo gado; logo outra vez o silêncio.

Os dois xeques e o centenário tinham chegado ao pé de Suintila. Animados


outros,
uns pelaencaminham-se
presença dos para o grande túmulo e dali olham para o lugar de
onde haviam
cânticos. Eis osoado os espetáculo que têm diante de si:
temeroso

Grossos e altos cancelos de roble separam do resto do templo um extenso


recinto sem
imediato ao sepulcros,
altar principal: ergue- se no topo cruz agigantada: por um e outro
das
ladogrades
daquele negrejam
espaço além duas fileiras de monjas: muitas estão de joelhos e
debruçadas
degrau sobreem
do altar: o primeiro
pé, entre as duas fileiras, uma delas, cujos olhos
desvairados
das tochas e reluzem
cujo aspecto à claridade
severo infunde uma espécie de terror, tem na mão
brilho parece tinto
um punhal, cujo ferro sem em sangue. Junto da monja um vulto de mulher vestida de
branco
das virgenssobressai
cobertasno meio de luto: unido às grades que defendem a entrada daquele
melenas
recinto, um e longa
velho,barbacujaslhe alvejam sobre os ombros e peito, está de joelhos
com os da
através braços estendidos
balaustrada: agita-o uma convulsão horrível de pavor, que lhe
embarga naegarganta
articulados só lhe consenteos sons murmurar um ruído confuso, semelhante ao
ago
respironizante.
ansioso Umdedos dois coros de freiras começa a entoar de novo os
salmos:
estende a mão, monjaordenando
do punhalsilêncio. Vai falar. Suintila, a ponto de arremessar-
eseescuta as suaslado,
para aquele palavras.pára São lentas e lúgubres, como as de espectro que se
alevantasse
campas derramadasde alguma ao das
longo da cripta. Dirige -as ao vulto branco que está ao
seu lado:
- Ainda uma vez, nobre dama, atendei às súplicas do velho bucelário que
esperança
quem
pureza
-arbítrio
ânimo
hesitar
que
das
inocência.
A famílias
os
minha
possa
sairá,
infiéis
testemunho
de
que nobre
na
Eu
última
oquebrar
mais
como
terra:
respeitarão
Senhor
escolho
virgem.
ilustres
resolução,
oadacom
delas,
nossa
nos
cruz.
o cutelo:
Aaouro
da
inspirou.
nós,
pureza
mora
ileso
OEspanha:
venerável
velho
oque
ada
vosso
no
morte
de
O
última
não
céu.
bucelário
uma
martírio
ocativeiro
Cremilde,
vale
temos
cutelo
Quando
donzela
prova
mais
não
de
ninguém
ou
ou
que
os
meu
éque
atardará
goda:
vingar
acabar
prostituição
infiéis
Cristo
apai
desonra.
no
amente
acom
junto
infâmia
souberem
mundo,
nos
cingir
ferro
pede
de
éàPorventura,
o-nos
própria
tem
vós
restava
que
ana
que
vossa
aesido
os
vida.
de
tenta salvar-vos. Para vós há
aindaaunicamente
afronta,
-nos
fronte
glória:
vossas
Como
consciência
escrita
árabes
para
Senhor existe
de
evitar
elas,
oferecem
os
irmãs.
por
ao
respeitarão
uma
anjos
mosteiro
eles
darei
quando
na
me
Oauréola
Espanha
na
de
meu
guiou
àosem
fronte
Deus
tremendo
ada
afirma
de
oVirgem
nos esperam.
Dolorosa.
- Seja feita a vontade do Altíssimo - respondeu a abadessa alevantando ao
apertava o punhal.
céu as mãos, entre as quais

Depois de um momento de silêncio, Cremilde disse, voltando- se para o lado


esquerdo: "Hermentruda,
aproximai- vos!"

Uma das monjas saiu de entre as outras e veio ajoelhar aos pés da abadessa:
as suas companheiras
ajoelharam também voltadas para o altar; e o hino que Suintila ouvira ao
murmurou
descer parade novo naquelas curvas abóbadas.
a cripta

Como lá no horizonte o sol trêmulo e sereno se reclina ao fim da tarde no


assim o canto melancólico
seio tenebroso dos mares, e melodioso das virgens foi pouco a pouco
enfraquecendo
cicio de oraçõesaté expirar noApenas cessou de todo, um gemido de agonia
submissas.
da abadessa.
agudo e rápidoAos olhos
soou de Suintila afigurou-se que o punhal de Cremilde
junto
desceraque
monja duas vezesa sobre
estava a Um brado de cólera e horror, saindo
seus pés.
involuntariamente
restrugiu pelo templo. da boca
Creradoo godo,
renegado que Hermentruda havia sido
claro o sentido das palavras
assassinada. Pareceu-lhe então misteriosas que ouvira. As monjas fugiam ao
cativeiro do harém
do sepulcro. pelo ádito
Ele assistia a uma cena horrenda de suicídio, e o braço mais
era o instrumento
robusto de Cremilde cego movido por todas essas vontades, conformes para
apenas
morrer.
- Mulher ou demônio, detém-te! - bradou Suintila, correndo com os xeques
recinto fechadopara
e o centenário e procurando
o abrir os fortes cancelos que lhe embargavam os
passos.
Embebidas no seu drama cruel, nem as monjas, nem Cremilde volvem sequer
os olhos para
guerreiros, os quatro
cujas armas reluzem ao fulgor das tochas: Hermentruda não está
morta. Ergueu-
cabeça se. Tem
descoberta, a
os louros cabelos esparzidos, o colo nu. Bem como o
de luz nododia
aspecto em que,arcanjo
formoso rebelde, a espada de fogo lhe estampou na fronte a
condenação
rosto eterna,
da monja, o seio e opálidos, estão sulcados por betas escuras, que
suavemente
como às víboras
serpeiam por aqueleestiradas
gesto, ao sol sobre um busto grego tombado entre as
ruínas de
pagão. antigo
É que, templo ao nordeste frio e agudo, que, passando pela
semelhantes
bonina viçosa,
encantos, lhedodesbarata
os fios punhal de osCremilde correram por lá violentos e rápidos,
aniquilaram
e num momento a formosura da virgem.

As grades fechadas interiormente balouçam aos empuxões de Suintila: mas


não cedem.
godo a um dos "Ocba xeques- diz- ocorrei! Chamai os mais robustos zenetas e os negros
de Tacrur
achas a cujo armados
primeiro dessas
golpe nunca resistiu elmo de bronze. Prestes! chamai-
chegado. Que venha!
os aqui. Abdulaziz deveMulher
ter infernal lhe vai destruindo peça a peça os
despojos
destinavamais para ricos,
si e paraos que ele Que venha salvá- los! Que venha! Prestes,
o califa.
xeque de Hoara!"
E, enquanto o xeque galga a extensa escadaria, os três tentam muitas vezes
estourar osque
ferrolhos, grossos
resistem às suas diligências. Arquejando, Suintila abandona a
Cremilde:
tentativa inútil.as injúrias
Ameaça acompanham as ameaças: seguem-nas as súplicas, as
asaterrível
Mas
eaos
mosteiro.
mulheril
debruçar
A
robustos,
mourisma
pragas
palma
pés
os cânticos
daarrancam
sobre
porque
eO
sacerdotisa
do
jorra
abadessa:
asgemido
martírio.
afrontas.
os
subitamente
cessaram
os
degraus
dos
fortalece
que
vêm
parou.
Cada
seios
Baldado
expira
despir
de
dovez
pelo
das
Está
todo:
oaltar
espírito
comprimido
mais
évítimas
as
portal
otudo.
cresce
as
galas
seumonjas
rápido
do
braço
Cremilde
estreito,
ao
da
de
Senhor.
descer
formosura
pela
instante
range
saem
cansado
como
constância,
lançou
do
É
osucessiva
punhal
que
aprimeiro
de
instante,
oe rio
comprar
ao
tão
o momento
caudal
renegado
nos
largo

mente
golpe,
se
ao
colos
àprende
sacrifício?
passo
na
custa
deeum
ambos
a que
promessas. e logo, de novo,
olhar
conservou-se
os
delas
puríssimos
com
fileira
rareiam
Não!
supremo
caverna
lados
oBraço
ade
das
que
pureza
as
que
ecompaixão
davêm
que
outras
adas
emorte
se
dor
em
ânimo
se
da
lhe
virgens
ajoelhar
evão
silêncio.
duas.
virgindade
ase
estendia
fraqueza
esão
aproxima.
do A
debaixo do leito e cuja abóbada fendeu tremor de terra. Os guerreiros negros
das
voz tribos de Tacrur,
de Abdulaziz queà os precede, precipitam- se contra os sólidos cancelos
machados ferem avinte
do lugar vedado: um tempo nas grades, que gemem sob a fúria dos golpes e
mal resistem
violentas dos às pancadas
negros possantes, aos quais redobra os brios a presença do amir,
maldições
cuja cóleraeresfólega
blasfêmias.
em

Entre as monjas e os árabes bem curta distância medeia: e todavia, lá no mais


soam
pequenoos gemidos de dores atrozes, onde só ri uma esperança, a da morte, há
recinto onde
paz íntima,
na vasta há oonde
cripta, céu: aaqui,
ebriedade de fácil triunfo, a riqueza dos despojos, o
existência
futuro de umade glória
larga e deleites sorriem na mente dos infiéis, está o furor
insensato, está
evangelho o inferno.
e o Alcorão O frente a frente no resultado das suas doutrinas. É
estão
sublime
livro a vitória do
do Nazareno!

Os golpes de machado redobram: os troncos afeiçoados do roble começam a


A últimanas
estourar freira fora
suas já curvar- se junto aos degraus do altar; a donzela vestida
junturas.
de branco
aos vai ajoelhar
pés de Cremilde, exclamando:

- Para mim também o martírio! Salvai- me do opróbrio.

- A tua constância, filha, na dura prova de agonia por que tens passado, te
purificou.
monjas da Sê uma das
Virgem Dolorosa e vai com tuas irmãs receber a coroa de mártir.

O ferro, porém, que descia sobre o colo da donzela foi cair com a mão de
Cremilde
gigante doaos pésUm
altar. da cruz
revés do alfanje de Abdulaziz lha cerceara: as sólidas
despedaçadas.
grades estavam

A abadessa vacilou e, ao cair, só pôde murmurar: "Jesus, recebe a minha


alma!"
Foram as suas palavras extremas: um segundo golpe lhe atalhou na garganta
o derradeiro suspiro.
As freiras ergueram- se e encaminharam-se para o lugar em que jazia o
cadáver
abadessa.destroncado
Ajoelharamdajunto dela com a face voltada para a turba dos infiéis.
emanando sangue,
Os seus rostos eram disformes e horríveis.
inchados,

- Ao menos, tu serás minha! - exclamou o amir, lançando a mão ao braço da


adonzela
quem ovestida de branco,
terror desta cena rapidíssima tornara imóvel, como uma dessas
estátuas
sobre os que parecem
sepulcros nasorar
catedrais da Idade Média. - Filhos valentes do
tenda. As outras,
Açudane, conduzi-que
a àasminha
asas do anjo Asrael se estendam sobre os seus
cadáveres.
Daí a poucas horas a cripta estava em silêncio. As monjas da Virgem
Dolorosa jaziam degoladas
volta da venerável Cremilde,eme as suas almas puras abrigavam- se no seio
imenso de Deus.
elevam
A
emvitória
todos
cuja no
alma
do
osextremo
Críssus
corações,
não morrera
oriental
assegurara
e o terror
inteiramente
da Galécia,
aos
quebrara
árabes
ae esperança.
que,
todos
a conquista
passando
os brios.
Errante
daao
OEspanha
Duque
norte
pelosdacerros
de
inteira,
porqueinacessíveis
Cantábria,
quase
Cartaginense,
o desalento
Pelágio,
vão encontrar-se
que
entrara
foraseo únicono XIII- COVADONGA
resguarda
Ao
pelasopé
para
natureza
uma
daquele
qualquer
caverna
e não
monte
ardil
por
inteiramente
Monge
de
um
arte,
inimigos.
penhasco
dilatando-se
Deinexpugnável
Silos:
Chronicon
defendido
vasto,
, c. 3.º
vulto gigante dos Pireneus, o mancebo não dobrara a cerviz ao fado cruel que
pesava
irmãos.sobre
Poucos seus
o haviam seguido naquela vida quase selvagem: mas esses
quem
poucosa eram
aura da liberdade
homens a parecia a única atmosfera em que os seus pulmões
robustos poderiam
resfolegar; homens a cujos olhos as afrontas da cruz derribada do cimo das
incrível
catedraise seria
insuportável.
espetáculo Uma caverna servia de paço ao jovem rei das
montanhas e Os
Crucificado. de templo
domínios ao de Pelágio eram as serranias e os vales profundos
onde, nunca
então porventura,
soara até
a voz humana. O urso ferocíssimo, o javali indomável, a
grosseira
leve corçamesa desses godos
abasteciam a a quem a desgraça e a vida dura das solidões
fizera mais feros,
indomáveis e maismais
ligeiros do que eles. Às vezes, Pelágio e os seus soldados
para largas
desciam dascorrerias,
montanhas semelhantes à tempestade noturna, e, como a
tempestade,
árabes passava
ou pelas elasdespovoadas
aldeias, tendas dos de cristãos, onde os infiéis começavam
a fazer se
ouvia- assento.
aí um Alta
gemer noite
de moribundos, via -se o brilhar do incêndio. Era o
por lá. Ao
bulcão amanhecer
do deserto que tudo
rugiaestava tranqüilo; porque, bem como a procela,
Pelágio era erepentino
destruidor, e na terra com os caracteres sanguinolentos de ruínas e
só escrevia
quase
mortesinvisível
a notíciapassagem.
da sua

Não assim Teodomiro. Depois da batalha, os restos das tiufadias desbaratadas


sucessor
haviam-no deproclamado
Roderico. Era de ferro e de espinhos a coroa que se lhe oferecia
sobre
godo. aAceitou-
campa do impérioem aceitá- la havia mais abnegação que orgulho.
a; porque
Tolentum, subjugava
Enquanto Tárique, uma parte da Cartaginense, Muça, o amir de África,
rendida
desembarcando
da Espanha comnas umcostas
novo exército, rendia Híspalis e, atravessando o Ana,
submetia
todo ao jugodadopenínsula
o ocidente califa ibérica. As relíquias do exército godo que não
Tárique, muito menos
haviam podido resistir poderiam
a impedir a passagem do amir. Assim,
Teodomiro, ajuntando
soldados dispersos, esses se às serranias de Ilipula, na extremidade
acolhera-
porém,
orientalenviara contra
da Bética. ele seu filho Abdulaziz, um dos mais famosos
Muça,
guerreiros do Islame.
superioridade Apesar
do exército da a luta fora longa e terrível. Teodomiro
árabe,
sucumbira
que poro fim;
vencido, mas, obrigara
seu valor posto os muçulmanos a concederem-lhe
vastos domínios
vantajosas que ainda
condições possuía
de paz. Os foram- lhe conservados, reconhecendo ele
a supremacia
os do amir,
godos puderam, e
ao menos nesse canto da Bética, achar uma parte da
faltava no resto
segurança da Espanha,
e repouso que onde o alfanje da conquista assinalava todas as
frontes com
servidão o ferrete
e reduzia da
a montões de ruínas as cidades, nas quais o espírito do
cristianismo
ousava relutar e da liberdade
contra o domínio do califa e contra a religião do Alcorão.

Teodomiro reinou largo tempo nos distritos orientais da Bética, mas


guerreiros,
abandonadopara quem
pelos maisa nobres
paz com os infiéis seria incomportável desonra. As
montanhas
eram das Astúrias
o verdadeiro e único refúgio da independência goda. Em vo lta de
Pelágio, esforçados
homens ajuntavam-que
se todos os
não tinham ainda desesperado da Providência e da
deles
própriaadormeceram para sempre nas solidões daqueles agrestes esconderijos,
espada. Muitos
sem que vissem
verificar- se as suas esperanças; outros, porém, saudaram ainda a aurora do
dizer,
dia da vingança e-puderam
morrendo: "A Espanha será salva!"

Era passado um ano depois da batalha do Crissus. O número dos


diariamente
companheiros com de os homens
Pelágio generosos que, depois da paz de Teodomiro com
aumentava
para
socorros
invasores
Cartaginense
as
mostravam
Maomé.
espadas.
Debaixo
coração.
tãoque
curta
salvarem
tentavam
Rugindo
Então,
No
fortaleciam
de
vida.
em aos
semblante
viço
e,
volta
aAcavaleiros
saqueando
sentiam
sua
resistir-
todas
da
dedas
independência
juventude,
acólera
constância
severo,
as
suas
escorregarem-
lhe.
mágoas
de
as
ao
montanhas.
Os
Pelágio
cidades
mas
contemplarem
orolos
espírito
comuns
dosereno,
nos
moço
que
opulentas
delhe
fraguedos
Abdulaziz,
fumo
lhe

se
Pelágio
as
guerreiro,
pelos
lhe
encanecera
este
lágrimas
que
do
acrescentavam
das
campos
espetáculo,
sabia
se
norte
o valente
que
Astúrias
alevantavam
pelas
esconder
em
que
via
góticos
faces
meio
lhe
filho
crescer
apertavam
e outras
da
abriam
flutuava
dos
atostadas,
de
das
Cantábria.
amargura
eMuça,
as e
os árabes, deixavam este,
Esses
sussurrar
subjugara
portas,
povoações
triunfante
contra
descer-lhes
seios
que
dolorosos
particulares,
lhe
da
contínuos
ometia
trasbordava
alma
peito
aosucessos
aincediadas
torrente
com
Lusitânia
estandarte
porventura
aaaferro
resignação
cruz
elasda
dos
de
edas
aos
efogo
sua
de
amais
ainda
e a esperança na piedade de Deus.
pungentes. A maior parte dos seus companheiros haviam trazido para as
Astúrias
filhos e asosesposas,
pais decrépitos, os por quem repartiam os afetos do seu
todos aqueles
pudera
coração.salvar uma irmã
Ele, porém, nãoque adorava e que Favila, expirando, entregara em
oseus braçosepara
defensor que fosse
o abrigo da que ficava órfã no mundo. Ao sair de Tárraco, para
Roderico, o mancebo
se ir ajuntar à hoste dedeixara Hermengarda nos paços paternos,
encomendada
velhos à guarda
bucelários de seudepai.
alguns
Quando, depois da batalha junto do Críssus, se
acolhera
onde às montanhas,
só podia conservar a liberdade, Pelágio avisara sua irmã do lugar em
todos os meios
que existia e lhedecomunicara
penetrar naquela quase inacessível guarida. A resposta de
Hermengarda foi digna
uma neta dos godos: de lhe que brevemente seria com ele; porque preferia
dizia-
habitado
um covil por Pelágio às delícias de Tárraco, sobre a qual não tardaria, talvez,
de feras
a pesar o férreo
muçulmanos. Comjugoosdos
bucelários que lhe deixara, ela ia atravessar a Espanha,
encaminhando-se
Légío, onde devia ache gar dentro de poucos dias.

Essa carta de Hermengarda produzira cruéis receios no ânimo do mancebo.


derramados
Sabia que osjáárabes
pela Galécia, não tardariam a envolver na torrente das suas
assolações
romana: ele,a antiga cidade
que experimentara qual era a fúria dos guerreiros do oriente,
compadecia-
esperanças deseresistência
das vãs que os habitantes de Légio alimentavam ainda. De
enviara
feito, umalguns
dia emcavaleiros
que pelos diversos caminhos que Hermengarda poderia
seguir na sua arriscada
longa peregrinação, e voltaram sobre a tarde com uma bem triste nova.
estes
Abdula ziz,capitaneados
Os árabes, haviam chegado por junto aos muros daquela forte povoação, e
poucas horas
bastado lhes tinhamnas suas torres o estandarte de Maomé e para
para hastearem
passarem à espada
defensores. Deixandoos seus
aí uma das tribos berberes, o exército dos
para a Tarraconense,
conquistadores guiarae rapidamente
os esculcas godos haviam escapado a custo aos
almogaures
desaparecendo árabes,
entre os desvios das serras e espreitando das apertadas
multidão
portelas odos infiéis,que
caminho os seguia
quais lhes
a pareceu dirigirem-se para o lado do célebre
mosteiro da
Dolorosa. Virgem
Quanto à irmã de Pelágio, nenhuns vestígios haviam encontrado da
sua passagetraziam.
esperança m: nenhuma

Tais foram as novas que os cavaleiros enviados aos vales além de Légio
já os esperava
deram ao moçoimpaciente
guerreiro, em
queuma das gargantas do Vínio. Cheio de tristeza,
aPelágio voltouselvática,
sua morada então parapara o esconderijo pelo qual havia tanto tempo
trocara
esplêndidaos paços
Tárraco.paternos da muitas horas, no meio do denso nevoeiro
Durante
pelas
acamadosendas
sobretortuosas das montanhas, os cavalpiros que seguiam o duque de
as encostas,
Cantábria
quebrar- lhe nãoo ousaram
doloroso silêncio. Apenas, pela calada da noite negra e fria,
Sália,
soava de cujas
lá ao margens
longe o ruídopor
dovezes se aproximavam. O sussurrar, porém, da
corrente,em
quando amortecido
quando pela de distância confundia-se com o ramalhar nas sarças do
lobo querugir
brando fugia e com
dos o balouçados pela bafagem do vento. Estes sons
pinhais,
ao tropear
vagos dos ginetes,
e confusos galgando as serras ou descendo lentamente e
respondiam
enfileirados
precip ícios. àOborda dos mergulhando-se nestes branqueava-lhes os seios e
nevoeiro,
deixando
revelava aentre uns e outros como uma fita tortuosa e escura que ia morrer
sua existência,
mui perto no
horizonte, breve pela cerração e pelas trevas.
encurtado

Tarde, já bem tarde, uma luz baça e duvidosa bruxuleou sem brilho adiante
rodeado
medonha.
prumo
que
pendurava-
Seguindo
de
roda.
rapidamente
cintilava
serras,
parecia
Ade
luz
as
noruja
ouma
Pelo
montanhas,
que
se
curso
vir
dorso
e sombra
em
era
eda
contrário
parecia
dedo
orvalho

banda
daoutra
um
ribeiro,
corrente.
gigante
fazendo
guiar
grande
da
de
parte
naluz
outros
aos
barba
seria
cavalgada
Um
da
que
um
clarão,
cavaleiros,
estreita
lugares
grito
espessa
largo
fácil
se via
que
de
perceber,
chegou,
semicírculo.
passagem.
em
que
aesculca
refletia
dos
princípio
distância,
tinham
guerreiros
por
apesar
pelos
veio
Por
fim,
Naquele
atravessado,
duvidosa,
equebrar
meio
penhascos,
da
oaenevoeiro,
um
nos
cerração,
dela
momento
vale
cabelos
otênue,
silêncio
sentia-
aqui
visíveis
mais
cada
a quem
as
quese
dos cavaleiros, que haviam
transpunham
oserras
vez
lhes
ombros,
amplo,
olhasse
sumindo-
para
dos
durante
ruído
mais
caminhantes,
ondeavam
um
erguiam-
mas
de
atentamente
tantas
esaindo
cerrado,
se
outro
torrente
também
auma
espaços,
horas
pelos
de
se
lado,
que
garganta
quase
sob
caudal,
não
em
rodeado
eos
crescia
tinham
aelmos.proferido uma única sílaba.
As palavras - Covadonga e Pelágio! - repetidas pelos cavaleiros da frente
esculca, que em
responderam pé edoquedo sobre um outerinho, os deixou passar avante. Em
à voz
breve
da suachegaram
viagem. Oaovaletermo
findava em extensa penedia cortada a pique. À direita
talhada na pedra
uma subida viva, conduzia a um arco irregular aberto nas rochas. Era a
íngreme,
claridadedele
debaixo do fogo
a queaceso
se derramava no vale e que ainda ia alumiar frouxa mente
o passo estreito
cavaleiros haviam queatravessado.
os Encostadas aos rochedos e dispersas junto à
altíssima, estavam
raiz daquela muralha derramadas muitas choupanas, grosseiramente construídas
de mal acepilhados
troncos e cobertas de ramos e colmo. Em frente de várias delas ainda
noturnas
fumegavadaquela
o brasidoespécie de arraial, onde ciciava o respirar compassado dos
das fogueiras
que dormiam.
primeira e maisAo pé da choupana, Pelágio descavalgou; os mais seguiram o
extensa
seu exemplo.
- Gutislo! - bradou um dos cavaleiros, cujo elmo se distinguia dos demais,
porque eranegra
superfície o único em cuja
e baça não reverberava o clarão avermelhado dos carvões
de umaque
acesos grande
aindafogueira,
restavamjunto da subida íngreme que guiava à caverna.

Um homem agigantado e de fera catadura saiu da choupana murmurando


pareciam de agastamento.
sons mal articulados e que Dos recém- vindos os principais começaram a
subir vagarosamente
fragosa que tinham antea senda
si enquanto Gutislo recolhia os gine tes, que mal se
cansados, e os simples
podiam menear de bucelários se derramavam pelas tendas erguidas junto
dos penhascos.
Os cavaleiros chegaram ao topo da subida. A caverna de Covadonga, o
estava
paláciopatente.
do duqueDadeesquerda,
Cantábria,em vasta lareira, ardia um grosso cepo de
sobreiro,
e enxuta aque conservava
atmosfera, tépida
naturalmente fria e úmida: da direita, pelas quebras
viam- se deitados
angulosas capacetes, saios de malha e muitas armas ofensivas.
das rochas,
Escabelose grosseiros,
carvalho alguns leitosmesas de de animais silvestres, amontoadas sobre a
de peles
cortiça que servia
pavimento, de
completavam o adereço daquele rude aposento. Todavia, as
feixes, e as estalactites
armas polidas, ordenadasseculares,
em penduradas do teto, reverberando o clarão
da fogueira,
topo da lapa davam ao esplêndido que de algum modo assemelhava esta
um aspecto
sala de armas
habitação de paços
de feras a uma afortalezados.

É alta noite: os cavaleiros que haviam acompanhado Pelá gio dormem


pobres leitos da gruta.
profundamente, estiradosQuem nosouvisse os nomes desses rudes soldados saberia
quais eram os
mais ilustre restos goda:
nobreza da eram muitos daqueles que, havia poucos meses,
Toletum
nos paçospassavam
magníficos as noites
de em festas, os dias em banquetes e que, depois de
existência deleitosa,
esperavam ir dormir, sob as arcarias das criptas das catedrais, nos túmulos
soberbosade
todavia, seus avós.
conquista E
reduziu- os à vida de bárbaros e fê- los retroceder aos
companheiros
costumes durosdee Teodoricoferozes dose de Ataúlfo, aos hábitos de rudeza dos
primitivos visígodos.
O moço duque de Cantábria vela, porém. Assentado em um escabelo junto do
lar aceso, com
encostada a face deixa balouçar a sua alma em tempestade de dolorosos
ao punho,
pensamentos,
lembrando- se de Hermengarda. Por mais de uma hora, Pelágio se conservara
ao
nesta voltar a cabeça,
situação, viu que mais alguém velava, como ele. O cavaleiro que ao
quando,
Gutislo,
meditar
não
-eas
estas
que,
Como
Não
pálpebras.
imaginava
últimas
talvez,
tenho
profundamente.
em
assim!
péninguém
palavras:
Tendes,
neste
por
achar-
- exclamou
detrás
momento
acaso,
vos
no- No
mas
mundo
do
aoseu
uma
escabelo,
opé
seja
não
mancebo
de
aspecto
irmã
-pode
vítima
mim,
respondeu
querida,
com
aquele
havia
que
das
- ainda
ospaixões
velo
oobraços
cujo
uma
cavaleiro,
que
não
porque
coração
esposa
quer
buscastes
desenfreadas
cruzados
que
acujo
amargura
que
é ermo
fosse
oeaspecto
muito
repouso?
osdos
desses
tenebroso
olhos
não
ameis,
se
chegarem chamara por
efitos
Depois
consente
por
infiéis?
carregou
afetos
sinistro.
quem
naser
de
chama,
ainda
que
também
devais
tãoolarga
mais
sono
parecia
tremer,
infeliz?
correria,
ao
meouvir
cerre
- Infelizes são todos os moradores de Covadonga - acudiu Pelágio: - mas o
que à desventura
ajunta receios bemcomum
fundados pela honra ou, ao menos, pela vida daqueles que
mais
muitodesventurado.
amou é mil vezes

- Duque de Cantábria, quando tiverdes medida por onde aferir ao certo o


meu e o vosso
podereis coração
falar assim.

- Tê -la -ia, talvez, se conhecesse a história da vossa vida: mas vós a cobris
de impenetrável mistério.
- Porque é o segredo mais santo da minha alma - interrompeu com
veemência
que o cavaleiro;
esta boca - segredo
nunca revelará na terra.

- Nem eu o exijo: longe de mim tal intento. A carta que me trouxestes de


Teodomíro
sois um nobremegardingo:
assegura que
tanto bastou para que vos recebesse entre aqueles
caverna
com quem de reparto
foragido. Nunca vos perguntei, sequer, por que abandonastes um
a minha
homem que
palavras vejodevos
suas
amava como irmão.

- Oh! quanto a isso, dir- vo- lo-ei - atalhou de novo o guerreiro, pondo a
mão sobre oeupunho
Foi porque o criada
umespada.
anjo de- virtude e esforço, e ele era apenas um
pactuou
homem! com os muçulmanos,
Foi porque a paz que honrosa aos olhos do vulgo, era, a meus olhos,
infâmia.
infiel? AoPaz com só
cristão o cabe fazê -la quando dormir ao lado dele sono perpétuo
no campoaodelado
quando, batalha;
um do outro, esperarem ambos que as aves do céu venham
cadáveres. Antes
banquetear-se emdisso
seus não a compreendo. Disse- lho, sem cólera, sem
injúrias, ao abandoná
sempre. Nesse momento -lo algumas
para lágrimas correram destes olhos; porque a
última
alma deem que morava
Teodomiro erauma afeto que respondesse aos meus: era o último
templo em que me sorria a
esperança!

E as lágrimas que ele dizia haver derramado nessa triste separação corriam,
de novo,
pelas quatro
faces a quatro
do guerreiro.

Apenas o gardingo proferira estas derradeiras palavras, o clarão avermelhado


da lareira bateu
subitamente no vulto agigantado de Gutislo, que surgira à boca da gruta e
não
parecia hesitar seodevia
interromper diálogo
ou dos dois guerreiros.

- Velho lobo do Hermínio, aproxima - te - disse Pelágio em tom de gracejo,


como
as queidéias
tristes tentando
que afastar
lhe oprimiam o espírito. - Que buscas a tais desoras?
Tiveste, acaso,
saudades em sonhos
das barrocas das tuas serras nevadas, e creste que Covadonga era o
javali?
antro de teu irmão, o

- O caçador das montanhas - replicou o lusitano, na sua linguagem


pinturesca de bárbaro
aqui, se a saudade dos -lugares
não estaria
em que nasceu lhe morasse no coração. Os
homens delhe
mataram- alémou do mar
cativaram-lhe mulher e filhos quando estes, por seu mal,
nos
numcimos
dia emdaque
serra
eleosperseguia
lobos ferozes, ousaram descer com o rebanho aos vales
-segui
E,
desaparecera.
A
Onde
alevantando-se,
que
dizer-te
eu,está
vens,
ó godo:
que
ele?
Antes,
pois
um
tu
- encaminhou-se
aqui?
exclamou
derramas
desconhecido
porém,- replicou
que
oPelágio,
sangue
aíchegou
ligeiro
chegasse,
Pelágio,
em
dospara
ao
cujos
homens
aum
vale.
quem
a entrada
olhos
velho,
Repete
de
asbrilhara
além
palavras
cujos
danã
gruta,
dootrajos
asei
mar,
do
esperança
de
que
celta
eonde
eu
nome
do Munda. Por isso te
quero como
traziam
lembrança
godo,
Hermengarda,
misturada
venha!
Gutislo
desordenados,
derramá-lo
oh,
outra
dedede
novo
que
otemor.
vez
que
teu;
rotos
me
venha
aotambém.
também
parece.
deespírito
e- breve!
cobertos
QuePede
ele
a era,
de
para
talvez,
te falar.
órfão de irmã querida.
lodo davam indícios de ter atravessado largo espaço das serranias, entrou na
caverna e, arrojando-
aos pés do se
duque de Cantábria, rompeu em soluços, sem poder proferir
palavra.
Num relance Pelágio o conhecera.

- Aldefonso! onde está Hermengarda? Bucelário! onde está a filha do teu


patrono?
O velho tentou responder; porém não pôde, e continuou a soluçar.

- Entendo- te: é morta! Nunca mais te verei, minha pobre irmã! - murmurou
o mancebo,
rosto entre asescondendo
mãos. o

Ao gardingo, que durante esta cena se conservara imóvel, fugiu um gemido


abafado.
punho Depois,
cerrado levou ocomo se quisesse conter aí uma idéia dolorosa que
à fronte,
tentava resfolegar.
Houve largo espaço de temeroso silêncio. O velho quebrou-o por fim:

- Não; não é morta! Mas, porventura, ainda o seu fado é mais horrível. Jaz
cativa
Não me emfoipoder
dadodos infiéis.
salvá -la, e não quis morrer sem vos dar esta nova cruel.
Agora...
Um brado de Pelágio atalhou as palavras do bucelário sufocadas pelo choro.

- As minhas armas e o meu cavalo! Que me dêem o meu franquisque! Velho


vilíssimo, já que te
soubeste deixar- nãodespedaçar junto dela, dize, ao menos, onde poderei
cativaram Hermengarda.
encontrar os pagãos que

Lavado em lágrimas, o ancião narrou- lhe em breves palavras os sucessos


mosteiro da Virgem
que se haviam Dolorosa.
passado no Ele tinha feito tudo para a resolver a tentar a
-fuga. "Ainda
concluiu na cripta fatal
Aldefonso - através das grades que me embargavam os passos,
vosso pai,
por vós, lhe supliquei
pelas cinzas de de joelhos que me acompanhasse. Os velhos
bucelários
tumulto, de Favila,
a teriam, no meio
talvez, postodoem salvo! Sorriu, porém, das minhas
esperanças e conservou-se
no seu propósito. Mas Deusfirme
tinha ordenado que, em vez de obter o martírio,
agarenos. De todos
caísse nas mãos dos os que vínhamos em sua guarda, só eu, acaso, pude
escapar,
soldadosmisturado com osAssim, segui por algum tempo os árabes, que se
da Transfretana.
Segisamon.
encaminhamAo anoitecer,
para o lado deembrenhei- me nas montanhas. Um pastor que
encontrei
até me serviu
que cheguei de guia,
aos pés de meu senhor para lhe pedir a morte e para lhe jurar
que estou inocente."
- De pé, cavaleiros! Aos infiéis, em nome de Cristo! - gritou o duque de
Cantábria,
retumbou nascomprofundezas
uma voz que da caverna.

Habituados às súbitas arrancadas noturnas contra os árabes, quando


vagueavam em
longínquas, correrias
os companheiros de Pelágio ergueram- se de salto, ainda mal
de instinto elançaram
despertos, por uma mão das armas penduradas por cima das suas cabeças.
espécie
espetáculo
relampagueavam
despertasse
No
gardingo
aquela
demais
correria
meio,
cena
cavaleiros
noturna,
desconhecido.
porém,
que
os
comhomens
apresentava
ele
oda
àrodeavam
vago
luz
revolta,
só da
de
ficara
Encostado
olhar
fogueira
armas
ahavia
Pelágio,
gruta
imóvel
deespalhados
quem
alguém
enaquele
à tiniam
parede
eindagando
como
alongara
que
alçar
umas
anfractuosa
pelas
indiferente
seinquietos
orepentino
conservava
nas
choupanas
pensamento
outras.
da
aoade
gruta
tumulto
causa
Entretanto
do
quedo
tantos
para
vale
edaquele
demudado
mui
que
ehomens,
equeas
Era solene e tremendo o
nogesto,
Pelágio
fizesse
encavalgar.
oparecia
longe
súbito
vozes
Cantábria
brilho
dali.
do
apelidar
dar
tranqüilo.
ordenava
contemplava
duque
das
tinham
Enquanto
oEra
sinal
armas
para
necessário
deexcitado
aEra
deGutislo
que
uma
todos
o entre
partir.
os
que os guerreiros.
- Qual de vós outros, cavaleiros - dizia Pelágio aos que o rodeavam -
duvidará um momento
um mensageiro chegassedeeque, se
lhe dissesse: "vossa esposa, vossa filha, vossa
infiéis"
irmã caiueuem
hesitasse em ir ajudá- lo a arrancar essa vítima querida à bruteza
poder de
cruel dos
porque pagãos?
mais de umaNenhum;
vez tenho arriscado a vida para curar saudades e
eu. Deu-medos
amarguras o céu uma irmã;
desterrados deu- me o último suspiro de meu pai uma filha;
como
deu-me acuja
virgem, ternura por essa
imagem vive eterna neste coração virgem como ela, uma
esposa.abrigar-
vinha Quandoseaàtriste inocente
sombra do escudo de seu irmão, os infiéis roubaram- na.
últimos
Viúvo e corações generosos
órfão, apelo para osda Espanha. Por Deus, que me ajudeis a salvar a
minha pobre Como tua filha Brunilde, ela é formosa, Gudesteu! Como tua
Hermengarda.
carinhosa, Algemiro!
esposa Elvira, Como
ela é boa e tua irmã, Múnio, ela é inocente e pura. Godos,
por tudo salvai-
salvai-a, quanto aamais,
a mesquinha!

O nobre esforço do mancebo desaparecera ante a idéia dolorosa da sorte que


a Providência filha
desventurada reservara à
de Favila. Ele estendia as mãos unidas para os cavaleiros,
que
comoimplora compaixão.
uma criança tímida

- Partamos! - exclamaram ao mesmo tempo os nobres foragidos. - Tua


nós
irmãvoltará maisouà nenhum
será salva gruta de de
Covadonga!

Uma voz trêmula, mas retumbante, trovejou por detrás deles:

- Não partireis daqui!

Voltaram- se. Era o gardingo.

- Quem o ordena? - bradou Pelágio, com toda a energia que esta inesperada
resistência despertara
subitamente nele.

- Um homem - replicou o desconhecido, atravessando o círculo dos


de Cantábria
guerreiros quee rodeavam
lançando em volta olhos altivos; - um homem cujo coração é
o duque
há longoastempo
porque paixõesmorto,
o queimaram; mas cuja inteligência por isso mesmo é mais
fria. Quantos
Quantos sois vós?
bucelários dormem pelas tendas desse vale? Apenas alguns cent
todo, transpor convosco
enares de lanças poderiam, os passos
ao das serras. Os infiéis e os renegados que os
servem quantos
podeis contar as são? Se que ora recamam o céu, podereis dizer-me o número
estrelas
de ferro,
deles. Tu,coração
Pelágio,debraço
bronze, quem és tu? O guardador das últimas esperanças
dadeu,
te cruzpois,
e da pátria. Quem
o direito de correres a morte certa? Quem te deu o direito de
apagarono
godos sangue
único dosque
facho últimos
alumia as trevas do futuro da escravizada Espanha?

- E a ti - interrompeu furioso e arrancando meia espada o violento Sancion -


dizeres:
quem te não saireisdedaqui?
incumbe nos Quem és tu, que, vindo não sei de onde, pretendes
dominar como
aqueles que só senhor
obedecem a Deus?

O desconhecido olhou para o movimento ameaçador de Sancion, e pelo rosto


- Por
olhos
minha
os
quem
vencedores,
Deus
E, tirando
muros
salvou
para
minha
sou?
bocaenegrecidos
da
os
Dir-
as
enquanto
para
boca
escarcela
cerros
aras
to-ei.
neste
falaram
dodas
O
das
os
Senhor
uma
momento
último
Astúrias,
valentes
cidades
milhares
tiracalcadas
homem
devos
fugiam;
incendiadas.
onde
pergaminho
dedizer:
godos
pelos
que,
apenas
o não
homem
junto
pés
que
É
fulgura
dobrada,
saireis
dos
isto
gemem
doque
Críssus,
pagãos,
tudo
tênue
daqui!
tentou
abriu-
no
que
cativeiro
oas
viu,
Queres
voz
santo
morrer
aimagens
e entregou-
diz:
fogo
saber
ecom
que
- de
daa
passou-lhe um
desdenhoso. sorrisoos braços e respondeu com voz lenta e solene:
Cruzou
voltam
liberdade:
Cristo
não
combatendo,
pátria,
aoquem
aque
Pelágio,
saireis
escreveu
eu
derribadas
ede
que
sou?
contínuo
falaram
daqui!
aaLê,
mão
face
aí no
Teodomiro.
-Pelágio,
por
de
os
dos
Perguntas
lodo,
árabesDize - lhe depois qual é o meu nome.
O duque de Cantábria correu-a pelos olhos e, deixando-a cair em terra,
murmurou: - "Meu Deus, o
cavaleiro negro!"

Os godos apinhados em roda recuaram alguns passos e houve um momento


de ansioso silêncio.
- Anjo, ou demônio, que nos explicas um mistério por outro mistério -
exclamou, enfim,
visivelmente Pelágio - cristãos e árabes lembram-se ainda das tuas
perturbado:
do Críssus.
incríveis Mil vezes
façanhas nas eu próprio tenho dito: dez como ele haveriam salvado o
margens
império
Devemosdeobedecer-te,
Teodorico! se és um homem, como dizes, porque vales mais que
preside
nós. Se aos
és ofados da Espanha, mais submisso ainda será o nosso obedecer.
anjo que
Mas, que mal
desgraçada te fez minha
irmã?...

- Que mal me fez tua irmã? - atalhou com veemência o gardingo. -


Nenhum!
não quero,...que
E quem te disse
não posso que eu, que não sou anjo, que sou, como tu,
salvá-la,
vós - prosseguiu,
um homem? Quaisvoltando-
de entre se para os cavaleiros que o rodeavam - sois
neste mundo
quem na morte sósregue
e nãocom
tendes
lágrimas a terra que vos cobrir? Quais de vós sois,
como-
meio doeu, desterrados
gênero humano?no Que os órfãos de coração ergam a destra para o
lhes
céu, receba
onde sóoshágemidos
um seiode amargura, o seio imenso de Deus!
que

Doze guerreiros, e entre eles o fero Sancion, alevantaram a destra para o ar à


voz imperiosa do
gardingo.

- A cavalo! - gritou este, apertando o largo cinto da espada e enfiando no


braço a férrea-cadeia
franquisque. do se dentro de oito dias não houvermos voltado, ora a
Pelágio!
dormido
Deus poronónosso último
s, que sono, e chora por tua irmã, cujo cativeiro já
teremos
ninguém, senão
quebrará, provavelmente,
o anjo da morte. Partamos!

Proferindo estas palavras, o gardingo atravessou rapidamente a caverna e


desapareceuosnas
exteriores: trevas
doze guerreiros escolhidos seguiram-no maquinalmente,
gestos
porqueosostinham fascinado,
seus meneios e ao lembrarem- se de que este homem era o
cavaleiro negro.
Cantábria, O duque
subjugado de pela espécie de mistério solene que cercava
também
todas as ações deste
extraordinário, ente perguntar-lhe por que meio intentava salvar
nem ousou
íntima e irresistivel
Hermengarda. lhe uma
Todavia dizia:vez
"resigna -te e confia". Confiado e resignado
esperou, portanto,
cumprimento o
das promessas do incógnito gardingo.

XIV - A NOITE DO AMIR

Arrebatada no palor das trevas.

Breviário
Hino
Gótico:
de S. Gerôncio.

Era ao cair do dia. O nordeste seco e regelado corria as campinas do espaço,


atmosfera
brancas
do
incêndio
seguia
Segisamon
Espanha
multiplicavam
árabes
persua
vencedores
arraial,
onde, procurava
adi-
tendas
sua
levadas
depuríssima,
atravéslos
pelas
ao
tinha
Segisamon,
órbita
àrepouso,

dados
submissão.
coroas
àas
aumentar
naescala
de
árabes,
cenas
véspera
cintila
extermínio,
dos
depois
sepelos
de
acampados
viam
O
aouteiros,
vam
oferecido
terribilidade
rapina,
dia
de
muçulmanos.
passar
as
precedente
um
deixando
estrelas.
de
acendiam-se
duro
aum
os
violência
bastante
desses
atalaias
espetáculo
lavor
após
O
aNão
esta
clarão
de
dramas
si
distância
eas

noturnos.
noite
de
vestígios
morte
almenaras,
ade
semelhante
sangue,
cobiça
Segisamon
que
repetidos
edos
ruínas.
Abdulaziz,
de
começava
emas
muros
ofogo.
a cuja
ao
para
também
Os
de
da
Oluz,
jogos,
tinhaa
incendiada
povoação
tênue,
semelhante
exército
alva
muitas
desenfreamento
política
quebrar
sido
os banquetes,
internar-se
consagrado
comparada
outras
dos
os
devia
destruída.
ânimos
refletia
acapitães
cometa
cidades
as
aonos
da
pelos
romper
com
dos
de
soldadesca
vales
Em
caudato,
longe
da
godos
a volta
do
da
danas
Tarraconense.
e
dissoluções de todo o gênero haviam recompensado brutalmente o esforço
brutal dos destruidores de
Segisamon.

Às coortes do renegado Juliano tocava nesta noite a vigia do arraial: eram


campo,
godos osonde
que asguavirgens
rdavam daoEspanha tinham sido violadas; onde a cruz cativa
fora mais deonde
ludibriada; umaosvez velhos sacerdotes haviam sofrido contentes o martírio no
meio dashomens
Aqueles afrontas.perdidos, rodeando esse montão de abominações, ainda não
infernais
fartos dosem que tinham tido parte com os infiéis, embriagavam- se, bebendo
deleites
pelos vasos sagrados,
escarneciam blasfemose a crença da sua infância no meio de hedionda
ebriedade.
O murmúrio imenso do arraial foi amortecendo gradualmente com o fechar
da noite.
ouvia nasEm breve,
tendas do não
Islamsesenão o respirar lento de tantos de milhares de
braços
homensdoadormecidos
gozo. Junto,nos porém, das almenaras as risadas dos soldados do
conde de Septum,
obscenos inspirados ospela
cantos
embriaguez, as disputas ardentes do jogo, em que o
mão, soavam
ouro corria deainda
mão em em volta do silêncio do campo. Pouco e pouco, este
mesmo
ao passoruído
que osfoifachos
afrouxando,
acesos nas chapadas dos outeiros esmoreciam. A
escuridão e o silêncio
reinaram, enfim, até nas atalaias. Os soldados godos, cansados de
repousado. E para
dissoluções, haviam que prestaria velar? O terror que inspiravam os árabes era
também
oarraial.
melhor guardador
Como do os cristãos, medrosos atrás dos muros dos seus
ousariam
Abdulaziz? As vigias
casteos, saltear o campo e almenaras
de eram apenas uma velha fórmula militar,
cuja significação
interrompida dos atriunfos
série não
até então alcançados tornara ininteligível.

Pela calada, porém, da alta noite e no meio das trevas que cobrem, como
amplo manto,
turbilhão aquele de guerra, descansando então para ao romper do sol
de homens
vê -sede
rugir ainda,
novoatravés das telas mal unidas de uma tenda mais vasta, reverberar
impetuoso,
vivo
rir clarão,
alegre, e ouve -se
o altercar, o argentino das taças; todos indícios, enfim, de que
o tinir
a orgia
até maissetarde.
prolongou aí da tenda jazem por terra, com os alfanjes nus junto a
Ao redor
guarda de soldados
si, alguns Abdulaziz,dacomposta dos guerreiros mais temidos do exército, os
negros do Nos
Açudane. remoto país de
ouvidos deles restruge debalde o alto ruído que soa do interior
também,
do pavilhão.profundamente,
Dormem, e apenas à porta da tenda um deles vela imóvel
encostado à acha de armas.
A tenda era, de feito, a do esforçado filho de Muça. A mesa do banquete
das
aindaiguarias:
vergavaoscom brandões já gastos e os candeeiros mortiços derramavam uma
os restos
claridade
aposento. suave pelo sobre um almadraque coberto de preciosa alcatifa do
Reclinado
mais moço
oriente, dos escutava
o amir xeques queo estavam junto dele, o qual, ora cantava os versos
voluptuosos
que acendiamdea Zohéir
imaginação do jovem guerreiro, ora lhe repetia os antigos
poemas licenciosos
satíricos de Ibn-Hagiare que ele aplaudia com estrondosas risadas.

O conde de Septum e os mais capitães godos aliados dos agarenos


que haviam ocupado
conservavam- se ainda durante o banquete. Para aquela extremidade da vasta
nos lugares
mesa
ânforas viam-se algumas
tombadas e outras ainda cheias dos vinhos mais preciosos da
Espanha;
redor eramasastaças
que que giravamo ao
produziam tinir que soava fora, no meio do ruído das
monótonos do xeque
falas, dos gritos e dosAbdalá.
cantos
Um
saio
ose
compleição
como
paixões
outros
despejando
garbo
lhe
guerreiro,
dese
enxergava
tiufados
malha,
nos
ignóbeis
havia
as
vigorosa
meneios
taças
cuja
esquecido
estava
e de
qüingentários,
osbarba
mais
de
uma
ede
assentado
aprata,
homem
robustez
larga
desenfreados
da
crespa
pátria,
que
peregrinação
assentados
àde
eos
dos
direita
cerrada
eboa
libertos
que,
membros
eidade.
de
bárbaros
habituado
lhe
ao
Juliano.
na
lhes
cala
Era
longo
terra;
agigantados
enchiam
chefes
Opas,
como
Aàda
porque
vida
brancura
mesa,
ofrocos
das
de
bispo
solta
mostravam
otribos
novo
davam
rosado
de
dos
dos
Opas,
neve
para
semi-
seus
arraiais,
mostras
daque
de
nele
sobre
tez,se
osviveza
acabelos
mais
esquecera
excedia
selvagens
de
novo
esgotarem.
anéis
infernal
que
rapidamente
era

dourados
dos
muito
da
do
na
alegria,
oolhos
África.
sacerdócio,
único
violência
a do
se
azuis,
sinal
Muitos
deque
"Vede os nazarenos malditos - dizia Abdulaziz em voz baixa ao xeque
Abdalá,
os godos.olhando de través
- O amor para
da embriaguez nunca os deixará ver a luz que mana das
Para elesdoo divino
páginas fruto daAlcorão.
vide será sempre a ponte estreita, da qual, ao passarem na
morte,
no se despenharão
inferno."

- E que nos importam as suas almas tisnadas - replicou Abdalá - se eles nos
ajudam
santo a sujeitar
profeta à lei dode Andaluz? Sem Deus e sem pátria, deixai-lhes ao
o império
menos a sua bruteza.
O Bispo de Híspalis percebeu que falavam dele e dos outros godos, porque os xeques haviam volvido
para lá os olhos.
Erguendo-se então com a taça em punho, exclamou em arábico:

- Ao invencível Abdulaziz; a um dos mais nobres vingadores de Vítiza!

- Alfaqui dos romanos - respondeu o amir - a lei do profeta não consente


que eu aceite
atravessou pora lábios
saudação queno licor amaldiçoado por ele.
tintos

- E que montam as maldições do teu profeta? - replicou Opas em tom de


gracejo.
isso - Devemos
deixar de saudar nós por filho de Muça com o abençoado e generoso
o ilustre
vinho dos férteis outeiros da
Espanha?...

- Infiel!... - interrompeu o amir em cujos olhos cintilara o despeito. Depois,


reportando-
em se, prosseguiu
tom brando, mas firme, como quem queria ser prontamente obedecido: -
Nobres valentes
Garbe, cavaleiros do do Négede, de Barria, e de Almogrebe, a noite vai
xeques
alta, e ao romper
necessário partir. da
Quemanhã
o sonoé vos desça sobre as pálpebras nas vossas tendas
de guerra!
A estas palavras, godos e árabes, alevantando-se, foram saindo da tenda
vagarosamente
Só e em silêncio.
o bispo de Híspalis, apertando a mão de Juliano, murmurou: "Oh, quanto
fel se mistura
prazer com oMas cumpra-se o nosso fado".
da vingança!

Ao atravessarem o arraial, os dois filhos renegados da Espanha notaram que


almenaras
nos cabeçosa escuridão
das era tão profunda como no resto do campo. Tudo,
porém, estava
Apenas, a poucatranqüilo.
distância, lhes pareceu verem passar como sombra um
cavaleiro
para que
o lado dosepavilhão
encaminhava
de Abdulaziz. Era, provavelmente, algum soldado de
açudane, que,
tresnoitado, se retraía para o seu alojamento junto da tenda do amir.

Entretanto este, apenas só, começou a caminhar agitado e a passos largos de


umaaposento,
do até outraque extremidade
ricos panos da Síria dividiam dos que ocupavam os servos.
No seuencontrados,
afetos gesto, turbado por
passavam sucessivamente os vestígios destes: ora a
indignaçãoconfrangidos;
sobrolhos lhe pesava nos ora lhe sorria nos olhos um pensamento voluptuoso;
ora a compaixão
suavizar- lhe esseparecia
feroz sorrir. Por fim, o moço Abdulaziz, como vencido pela
assentou-
tempestadeseda nosua
alma draque, e cobriu o rosto com ambas as mãos.
alma,
Conservou-se
em assim por
silêncio e quedo, até largo tempo,as suas paixões triunfaram e rebentaram
que, afinal,
com violência.
Um
disforme,
gigante
onde
-sobre
O
alguns
Eunuco
vulto
dos

Batendoomomentos,
peito
pelo
recuou
lhe
panos
asque
-palmas,
alvejavam
espadaúdo
disse
os
parecia
que
e,braços
franzindo
Abdulaziz
tornou.
dividiam
arrastar-se
os
grossos
doolhos
o amir Uma
corpo,
aacom
espécie
tenda
eembaciados.
bradou:figura
com
curtos
pela
voz
-emde
dificuldade,
agitada
de
amplidão
semelhantes
várias
reposteiro
mulher,
Oquadras
"Alfehri!"-monstro,
do
conduz
cujas
encaminhou-
que
ventre
a dois
alevantou-se
formas
lhe
apenas
aqui
edera
madeiros
pela
a mal
última
deu
se
passagem,
para
se
de
alguns
das
um
o
lado, eEra
amir.
desmesurada
passos,
informes.
minhas
especialmente
desapareceu.
podiam um
parou,
cativas
adivinhar
como
vulto
Passados
grossura
cruzando
confiei
que
umnegro
através
tronco
de
da
e ti.
cabeça,
dedeum
raro cendal que a cobria até os pés, acompanhava- o. Com passo firme, ela se
encaminhou
Abdulaziz, e para
o eunuco desapareceu de novo.

- Filha dos cristãos - disse em língua romana o amir - os dois dias que me
cativeiro passaram.
pediste para choraresResolveste,
o teu finalmente, a ser a mais amada entre as
mulheresdas
invejada de Abdulaziz;
donzelas doser a
oriente e quase a rainha das províncias de Andaluz,
porque acima
Abdulaziz de homens existem na terra, o amir de Almogrebe, aquele que
só dois
descendente
me gerou, e odo profeta, o que rege todo o império dos crentes?

- A minha resolução é morrer, quando te aprouver - replicou a cativa com


serenidade;há-muito
resolução porque essa
que eu a tomei. Enganei-te, pagão, quando te pedi dois
diasti,para
de chorar!
porque Escarneci
te abomino. Esperava que um braço de guerreiro que vale mais
arrancar-me
do que o teu do cativeiro. Ai de ti, se ele soubesse qual tinha sido o meu fado!
viesse
Folga, pagão,
sentença de quepor
fulminada a Deus contra os filhos da Espanha me abrangesse
eu; foras tu
também. quem
Nesta deveria
hora perecer. Mas ele não pôde salvar- me: só me resta
não fora
dizer-te:de
maldito infiel,
Deus: tu príncipe
és dos árabes, tu és servo dos demônios: homem que
me
eu tepedes amor, sabe que
detesto.

- Dize tudo - interrompeu o amir, apertando com força o braço da cativa e


lutavam amor
fitando nela osprofundo e cólera violenta: - exala em injúrias a tua dor
olhos onde
orgulhosa:
mas sê, até,
não digas que blasfema;
detestas Abdulaziz; não digas que amas um godo e que ele
fora capaz
roubar de te vir
da minha tenda. Desgraçado do nazareno que se lembrasse de amar- te
chamou sua.Abdulaziz
depois que Onde se ite ria esconder esse mal- aventurado filho de uma raça vil e covarde, que
pudesse
escapar a este braço, o qual ao estender- se arranca pelos fundamentos os
os templos
vossos do vosso
castelos Deus
e reduz e os muros das vossas cidades?
a pó

- Aquele que eu cria viesse em meu socorro - tornou com voz firme a cativa
dia emseque
- não estiverem
esconderá deem volta dele todos os seus irmãos em esforço e amor
ti no
da terra
nesse dianatal: porque vinganças vê -lo- ás face a face. Muitas vezes os teus
das grandes
dele; muitas
guerreiros vezes
têm o incêndio
fugido diante dos arraiais pagãos tem ajudado o incêndio das
nossas
as cidades
trevas a alumiar
da noite, e a sua mão foi a que lançou o facho sobre a tenda do
agareno. Esse, ao menos,
ainda se esconde, não é por se temor de ti, nem dos teus cavaleiros, que, tantos
dobro, muitas
por tantos vezes
e ainda emtem visto fugir.

- Entendo- te, altiva filha dos godos - replicou Abdulaziz. - Falas do que
vós outros
que chamais
só de noite ousaPelágio,
sair dasesolidões das suas montanhas para acometer as
tribos deassento
fizeram Almogrebe que
no conquistado Garbe ou para assassinar os cavaleiros do
Saracusta e Tarracuna
deserto transviados. vissem flutuar sobre as suas muralhas os estandartes
Apenas
do
dosIslam, eu iria arrancá-lo
seus esconderijos para o punir. Mas tu abreviaste os dias do foragido
seu cadáver servirá
nazareno. Dentro de pouco de pastooàs aves do céu porque amou aquela que eu
escolhi.
- Deus defenderá meu irmão - disse titubeando a donzela, cuj a firmeza
receando
começavaver cumprida-la,
a abandoná a ameaça do amir.
-jura-
Irmã
Por
Nem
Fora
me
que
inútil
de
asque
promessas,
finges
Pelágio?!
negar
és aignorá-lo?
irmã
oOh,
que
nem
derepete-o,
eu
Pelágio,
osOs
própria
tormentos
velhos
mil
e confessei.
elevezes!
cavaleiros
poderá
puderam
São
O
esquivar,
meu
que
as
tirar
prisões
me
nome
dese
acompanhava
suas
quiseres,
do
é Hermengarda:
bocas
sangueoo teu
que
seu
m ete
unem
dos
que
no
nome
otremendo
Favila,
duque
mosteiro
crentes?
comigo
eaofoi
ade
cruel
tua
destino.
meu
Cantábria,
foram
que
jerarquia.
inimigo
pai,
profanaste
cativos
e Pelágio
Masjá éo oterão
filhorevelado.
e sucessor de Favila.
O amir ficou alguns momentos calado com o braço de Hermengarda preso na
mão
sentiarobusta
trêmulaquecom elao tumultuar dos afetos que agitavam o coração do árabe.
Este, por fim, exclamou:
- Pelo precursor do santo profeta: por Iça, Hermengarda, que, se amas teu
tua. Estas
irmão, mepalavras
digas: euoserei
farão senhor da mais rica província do Andaluz, daquela
que elecomo
reinar escolher
amir:para
os guerreiros que o seguem serão os vális das suas cidades,
os alcaides
castelos: dosdos
meusseustesouros metade será dele. As escravas que muito hei
sorrir-
amado lhes
não omais
rosto de seu senhor. Tu serás rainha do meu coração; rainha sem
verão
rival;
sobre senhora
quanto se deestende
tudo o poder de Abdulaziz, do filho querido do invencível
palavras, e a sorte
Muça. Profere de Pelágio será invejada pelos nossos mais ilustres
só essas
guerreiros!...
No gesto do agareno todos os vestígios da cólera tinham desaparecido: só
amor
nele seimenso que precisa,
lia a ansiedade mais que do gozo brutal, de um sentimento acorde
de um
com os próprios
sentimentos.

Mas Hermengarda só vira afronta e opróbrio nas palavras do amir, e o ódio a


este homem,
fereza cujaonatural
e orgulho amor convertera em brandura e, talvez, em submissão,
ouvi-lo.
tornou-se ainda maiortoda
Recobrando ao a energia da sua alma, que por um momento
vacilara, respondeu,
para Abdulaziz olhando
com ar de desprezo:

- Nem sempre os valentes conquistadores da Espanha podem achar traidores


que vendem
honras poros
infames ouro e
sepulcros de seus pais e os altares do Senhor. Não! Pelágio
lugar entre osnunca
não aceitará filhosum
de Vítiza e o conde de Septum; porque Deus o guarda
para vingador
traídos irmãos.de seus grande era o preço que davas por uma filha da serva
Infiel,
para o empregares
raça dos melhor:
godos: guarda- o para comprares as livres e nobres donzelas do teu
país. Tudo
ofereces o que
é vil; me vem de ti, maldito. Só uma oferta te aceito, há muito
porque
que ta pedi:
morte, e queaseja
morte...
breve.a Abomino -te, destruidor da Espanha... Não! Enganei-
salteador do deserto.
me. Desprezo -te,

Com os lábios brancos e o olhar desorientado, o amir ouvia as palavras de


Hermengarda,
enrugava e a sua
-se como fronte
a face do oceano ao passar do furacão. Tremendo silêncio
reinou
momentospor alguns
na tenda. Com um rir abafado e diabólico, o amir o rompeu por
fim:
- A morte? - Não terás a morte: juro- to pelo sepulcro do profeta. Porque a
do caçador
abelha zumbiufaminto, arrojará ele para longe o mel do seu favo e esmagará o
aos ouvidos
inseto? Tu
mulher serás minha,
orgulhosa, porque o meu amor é, como o meu ódio, inexorável e
fatal. Depois
incêndio que quando
me devorao estiver extinto; quando o tédio morar para mim nos
tendas dos berberes
teus braços, a sensualidade
irás cevar nas brutal dessa soldadesca selvagem. Pode
ser queentretanto
venha teu nobresalvar-te...
irmão Guarda para então as soberbas; que hoje, pobre
obedecer à voz do
escrava, só te resta teu senhor.

Ao dizer isto, Abdulaziz, segurando com a destra o braço de Hermengarda,


violência
apertou- oque coma desgraçada
tanta deu um grito de agonia e caiu de joelhos aos pés
e, impelindo-a
rosto,
algumas
No
Hermengarda,
ponta
de
humana
olhos,
apenas
dos onde
seu
cavaleiros
de
aapôde
furor,
fez
viu.
pouco
se
palavras
umestampou
cair
Crescia
erguer
punhal
ode
nem
com
antes
filho
pálida
Açudane:
- um
oforça,
rasgara
porventura
rápida.
saíra
de
negra
braço:
eai
Muça,
trêmula
passageiro
oaosobre
sentiu
eunuco
subitamente
Es
vira
tempo
não
cutou.
uma
sobre
reluzir
oum
sentira
chão
eque
súplica;
eque
golpe
Passos
osumido,
no
despedaçava
almadraque.
brilhante
oficavam
um
coração.
arque
mas
ligeiros
um
rugido
que,
lhe
ferro:
apenas
da
fronteiras
Nas
segundo
partia
tapeçaria.
de
Os
com
soavam
vira
telas,
cólera
lábios
murmuraram
ao esquerda
um
braço
àera
no
porém,
entrada
que
da
Ovulto
íntimo,
vasto
amir,
donzela
erguido
que
ocoberto
sons
raroe
do árabe. O amir ergueu-a
cendal
quiseram
inarticulados,
em
respondera
parecia
dividiam
principal
volvendo
aposento.
de
que,armas
arquejar
batendo-
que
deda
osemelhantes
ainda
casualmente
Voltou-se.
homem
lhe
aposento
ao
tenda
doloroso.
elhe
grito
velava
proferir
feneceram
ainda
uma
adequem
Mas
dooàs
os
figura
no
lugar
a
crânio, lhe retumbava no cérebro. Deu um grito, fechou os olhos e caiu aos
pés de Hermengarda,
manando- lhe o sangue da fronte. O monstro humano que conduzira ali a
então
irmã de doPelágio
topo interior
assomouda tenda: o brado do amir o atraíra. Vendo seu senhor
derribado
que e junto
o ferira, dele ofez uma horrível visagem, como pretendendo falar:
o eunuco
rugido acompanhado
mas somente soltou um de um gesto de ameaça. Segundo o atroz costume do
oriente,a Alfehri,
desde infância destinado
ao serviço misterioso do harém, fora condenado em tenros
anos a nunca
humana. Privadoimitar
da alíngua,
voz as suas expressões eram acenos ou aflitos e
inarticulados rugidos.
O cavaleiro observava- o. Fê-lo sorrir o ademã feroz e ameaçador do eunuco.
dificuldades
Tinha previsto daquela
todas asarriscada empresa e contava com o seu esforço e frieza
de ânimotravou
Ligeiro, para as devencer.
uma das tochas que ardiam junto da mesa do banquete e
chegou-a
que às ricas
forravam tapeçarias
a tenda. A chama enredou-se na tela: um rolo de fumo espesso
enegrecendo-lhe
trepou em espirais, os recamos e lavores brilhantes. Em breve, as labaredas
abraçadas
lanças, com com feixes custosos,
os panos de que ondeavam torcendo- se, treparam até o
espalmadas sob o teto,
cimo e, curvando- se romperam em línguas ardentes aprumadas para o céu.
O incêndio,
ao longe a sua espalhando
sinistra claridade, erguia- se como um tocheiro disforme aceso
no meio doassim
despertava arraialdo e sono profundo os soldados de Açudane lançados em
volta do pavilhão do amir.
Mas já a este tempo o cavaleiro se afastava do lugar daquela cena medonha.
Pelágio!"
As palavras- proferidas
- "liberdade por eele, tinham calado como um bálsamo de vida no
coração de Hermengarda.
desconhecido, tomando-a nos O braços, atravessou ligeiro para o lado do arraial
onde estanceavam
godos. Outro cavaleiro os lhe tinha de rédea dois ginetes. Hermengarda, a quem
haviam
o perigorestituído
e a esperançatoda a natural energia, não hesitou em acompanhar o seu
audaz e misterioso
salvador. Seguindo os caminhos tortuosos e incertos que as tendas do imenso
guiando- se pela lua,
arraial formavam e que principiava a sair detrás dos outeiros, os três
ofugitivos
lado do encaminharam-se
campo além do qual paraas montanhas, lá ao longe, refletiam já o luar
das cumeadas cobertas de
neve.

Entretanto Alfehri correra a despertar os negros da guarda do amir, e o


destes ao contemplarem
cavaleiro ainda ouviu os ogritos
incêndio mais prestes em acordá-los que o eunuco.
À entrada
vigia da tenda,
que devera o
despertá-los ao primeiro sinal de Abdulaziz havia
adormecido
que o deles. deUmsono maisenterrado
punhal profundona garganta até o punho lhe selara para
de desesperação
sempre os lábios.de OsAlfeliri
gestosfizeram conhecer aos soldados o perigo do amir.
Por entre
ferido as chamas,a custo puderam salvá- lo. Pouco a pouco, o tumulto
e semimorto,
xeques
alongou- árabes
se peloe os capitães
arraial: os de Juliano corriam para o lugar onde brilhava o
incêndio,
pouco, as e, dentro
vozes em
desentoadas, o tocar das trombetas, o rufar dos tambores, o
tropear dos
naquela cavalos
vasta planície fariam crer a quem olhasse para ali dos montes
pelejava
vizinhos uma
que nobatalha
arraialnoturna.
se

No meio da confusão que produzira por toda a parte este acontecimento


inesperado
circunstância e cujo motivo ese ignoravam, ninguém reparou nos dois
inteiramente
cavaleiros e na
atravessando donzela, que,
rapidamente por entre as tendas dos árabes e dos godos, se
norte.
dirigiam Era,
paraporém, aqui onde
as atalaias do os maiores perigos aguardavam os três
A revolta
do
os
cadeia
respondera
vizinhos,
outra
roçavam
corpos
numerosos
jaziam!
as feridas
outros
incêndio
encosta,
de
de
Braço

uma
outeiros,
do
profundas
seus
sons
os
ao
pela
ecampo
pelo
cavaleiros
vieram
vozear
decania
robusto
donos
uniformes
terra,
rumor
que
chegara
assinadas
envoltos
dos
todos
viram
tinham
de
sucessivamente
inimigos;
que
corredores
esculcas;
fora
topar
aos
reluzir
soava
por
nos
no
subitamente
ouvidos
na
scerto
cadáveres
porque
nenhuma
saios
no
dessa
coroa
transfretanos
chão
se
aqueles
dos
de
iluminavam.
parte,
nem
do
quebrada.
malha.
troços
vigias.
luz
davam
outeiro.
um
que
odegrito
desceu,
de
dos
Rápido
fogueira
assim
Sobressaltados
disso
armas,
Lá,
ANo
atalaias
de
claridade
na
testemunho.
então,
ousavam
alarma
largo
e brilhara
almenara
violento
e, estirados
pudera
giro
aos
correra
dapelo
penetrar
vales
que
lua,
de
devia
do
Nãoao
tal
dee,
fugitivos.
clarão
boca
bradar
norte,
novo.
subindo
cujos

ter
escapar.
no
havia
delas,
campo
sido
em
raios
que
De
nenhuma
que
fizera,
odepois
Nem
boca,
estavam
cada
cometimento,
duvidar:
de
refulgia
inclinados
Abdulaziz:
aquela
um,
de
um
por
voz
uns
os
que
dos
Pelágio
do
umapara
lugar
todos
postos
e aí
salteara o arraial. O incêndio que reverberava ao longe e o arruído como de
um
que grande
o fachocombate diziam
da vingança fora arrojado ao meio das tendas do Islam, e que o
Espanha
ferro dos viera, nas trevas
defensores da da noite, lavar com sangue o lugar dos banquetes,
tinto ainda
imundo de de vinho e
prostituição.

Este pensamento passou fugitivo e confuso pelo espírito dos guerreiros, que
olhavam como
petrificados para a cena de morte que tinham ante si, a qual, de um lado, era
lua nascente
alumiada pelae,luz
do débil
outro,dapelo clarão avermelhado e ainda mais frouxo do
incêndio
de cavalosao que
longe. Um correr
subiam ligeiros a encosta da banda do arraial lhes divertiu a
os olhos.Volveram
atenção. Três vultos montados
para lá se dirigiam para ali. Dois, cobertos de armas
escuras, ladeavam
terceiro, cujas roupas o alvejavam ao luar. Os corredores transfretanos
adiantaram- se se,
aproximarem- para eles.que
viram Ao o vulto branco era de mulher e que os outros
traziam
trajavamachas
saiosde armas.eEram em tudo semelhantes aos guerreiros de
e elmos
Açudane
guarda doque compunham a
amir.

Um dos dois cavaleiros afastou- se da donzela e, dirigindo- se aos capitães


das decanias,
do outeiro, unidas
disse- lheno
emtopo
romano, com voz que simulava profunda cólera:

- Os inimigos entraram no campo e acometeram a própria tenda de


de Septum Os
Abdulaziz. lhessoldados
deram passagem:
do conde porque a eles estava confiada a guarda do
campo. Em
atalaias estãoqual das
os traidores?

- Os valentes da Transfretana nunca mereceram esse nome - replicou um


dos decanos
esculcas. ou aqui
- Foi capitães
ondedos
deram o passo aos inimigos; mas o caminho destes
cadáveres.
foi por cimaJulgai-os.
dos seus

E as duas decanias afastaram- se para os lados. Vinte cadáveres estavam


lançados por terra.
- Sobre eles não caiu o opróbrio na sua última hora - disse o guerreiro
momento
depois de aquele espetáculo.
contemplar um - Abdulaziz ordena que se guardem
estreitamente
Não tardam osascavaleiros
saídas dozenetas
campo. que vêm ajuntar- se nas atalaias convosco,
apossa
fim de que nenhum
escapar, enquantoinfiel
nós vamos conduzir para lugar seguro, fora do
querida
arraial revolto, a escrava prosseguiu ele, voltando- se para o companheiro.
do amir. Vinde! -

Atravessando por entre os soldados tingitanos, a donzela e os seus


libertadores começaram
apressadamente a descer
a encosta.

Já os três fugitivos iam a alguma distância, quando, como tomado de uma


idéia súbita, um dos esculcas
exclamou:

- Aquele homem é godo! - Nenhum árabe fala assim a língua romana: muito
menos os broncos
guerreiros de Açudane. Por minha fé, que são inimigos!
- Somos
Os
sucedia
com acontecimentos
queno operseguidos!
desconhecido
arraial, ainesperados
rapidez
- disse
falara
com
em
não
dessa
que
voz
haviam
se
noite,
baixa
passara
dado
aaquele
incerteza
esta
lugar
que
cena
àem
ficara
reflexão
e,que
sobretudo,
junto
seeachavam
às
da a
osTens
audácia
suspeitas.
-soldado
Os
donzela
comesculcas
três,
os razão,
vigias.
que
eenquanto
foram
oMas
sobre
tom
jábucelário
iam
para
asimperativo
opalavras
oaque
todos
outro
meia
- falava
um
atalhou
encosta,
do raio ode
ouviram
capitão
luz: da multas
decania.
vozes- Fazei-
clamar:os"Esperai!
parar. "
- Está salva! - respondeu o companheiro, que parecia ter concentrado todos
os seus cuidados
pensamento num
único, a fuga de Hermengarda.

Duas frechas lhes sibilaram então por cima das cabeças.

- Covadonga e Pelágio! - gritou o que proferira as últimas palavras. Eram


chegados
junto à raiz
ao qual umadoplanície
monte, inculta e coberta de urzes se estendia até ir topar
povoavam os primeiros
com os bosques que cabeços das serranias setentrionais.

A esta voz, lá na orla da floresta, ao cabo do sarçal, surgiram de repente uns


reflexos metálicos,
agitavam trêmulos, que se
semelhantes à fosforescência de um marnel por noite sem
lua. Depois,eoPelágio
Covadonga grito de - - foi repetido daquele lado da gandra, como
cavaleiro.
respondendo ao que soltara o

- São os nossos valentes irmãos - disse ao companheiro o que falara com os


decanos das tiufadias
transfretanas. - São nossos irmãos que nos esperam. Tu, Sancion, guiarás ao
meio delesdea Cantábria.
do duque nobre irmãEntretanto eu reterei aqui os miseráveis renegados,
perseguir- nos:do
que já descem retê- los- eia enquanto alcançais a entrada do bosque e vos
outeiro
embrenhais
seguindo ao na serrania
norte. ,
A agrura das montanhas e a profundeza dos vales das
inimigos, quando euos
Astúrias demorarão haja de perecer e não puder embargar-lhes os passos.
Ide-vos.
- Não perecerás sem mim, cavaleiro negro - replicou o fero Sancion. -
porque jureio obedecer-
Cumprirei que ordenas, te cega mente enquanto não salvássemos a irmã de
Pelágio.
a orla da Mas, apenas
floresta ondealcançar
mandaste esperar os nossos dez companheiros,
quiserem seguir.
voltarei com todosPara guiarme
os que a filha de Favila bastam dois guerreiros: o resto
não bastará,
durante talvez
o tempo a reter para a fuga a turba dos infiéis que se aproxima.
necessário

E, sem esperar a resposta do cavaleiro negro, Sancion adiantou- se, dizendo à


donzela,perceber
pudera que apenas
algumas pala vras truncadas da conversação dos dois:

- Partamos!

E a galope, acompanhado de Hermengarda, brevemente se alongou pela


vereda torcida,
distinguia que das
no meio se moitas, como beta alvacenta estampada no tapete
escuro das sarças.
A atenção do cavaleiro negro, que os seguira com os olhos, foi, porém,
distraídajápara
tropear, o outro
pouco lado dos
distante, pelocorredores transfretanos, que a toda a brida se
chegada
acercavam a ocasião de mostrar o extremo do seu esforço.
dele. Era

XV - AO LUAR

Das brenhas através afugentando-os


feroz,
Os
sua
coisa
desmesurado,
incêndio,
retraçaram-lhe
incendiado.
de
estava
horror
socorros
tenda,
que
hesitar-se-ia,
deitado.
oelhe
que
desesperação.
rumor
Era
dados
feriu
cujo
ainda
subitamente
Com
umeimediatamente
afoco
ao
quadro
alarida
vista
ardia
o vê
rosto
vermelho
-Alçando
ao
alo,
do
complexo
no
poucos
lívido
descerrar
em
arraial
espírito
resolver
alhe
eviolentamente
Abdulaziz
passos
tinto
eaparecia
eos
aaterrível:
cena
inquietação
olhos
do
se
dosangue
esse
que
lugar
tinham-
coberto
do
e oovulto
se
letargo
corpo,
para
primeiro
que
passara,
que
de
lhe
era
lhe
onde
se
vasta
em
ficou
restituído
olia
corria
sinal
de
pouco
que
onos
cúpula
haviam
assentado
homem
estivera
de
da
gestos
antes,
ovida
fronte
devivo,e
Co'a rápida carreira à ponte impele-os.
sentimento
transportado,
submerso.
fumo
dos
naquele
que
osobre
seolhar
o que
odenegro,
oamir
morto
espantado
almadraque
opavilhão
rodeavam
Esse
deu
daofoi
que,
vida.
crepitar
foi
facho
aeprimeira
umO
emclarão
grito
do
que da Ofício Moçárabe:
Hino de S. Torquato.
afastando o sudário, se fosse a erguer da cova para revelar alguns dos
temerosos
a aparente mistérios
quietação que encerra Parecia que o aspecto do amir convertera
do sepulcro.
circunstantes: a imobilidade
em estátuas todos os era completa, e o silêncio profundo.

Mas uma e outra coisa duraram apenas rápido instante. Com a voz rouca e
afogada, o árabe rugia:
- Segui-o! segui o infiel!... As suas armas são negras e semelhantes às dos
melhor cidade
guerreiros do Garbe eAa mais bela das minhas escravas a quem mo
de Açudane...
trouxer vivo
trazei- mo aqui.Prestes,
vivo! Todos!... Ide, vális, alcaides, cavaleiros do profeta!
xeques,
assassino!
Prestes! correi após o meu

As palavras de Abdulaziz revelavam o delírio da sua alma; xe ques, vális e


uns para olharam
alcaides os outrostristemente
e não fizeram um único movimento.

- Quê - Não me obedeceis? Não obedeceis ao filho de Muça - exclamou o


amirno- meio
soa porque
dasa sua voz nãoe tambores; porque ele não cinge a espada, nem
trombetas
cavalga
batalha?oSem
seu mim,
corcelaterram-
de vos as solidões das montanhas? Xeques do
Andaluz, alcaides e almocadéns
Saara e de Barca, vális de do exército dos crentes... sois covardes e
desleais. Quando
sangue, vós corre vingá
não sabeis este - lo!

- Não somos desleais nem covardes, Abdulaziz: - interrompeu o mancebo


Abdalá,que
árabes o único dosreplicar
ousava chefesao amir nos seus violentos acessos de furor. - Mas
obedeçamos,
como queres que se não
te sabemos de quem te havemos de vingar? De um
indivíduo ou dede
dos adoradores milhares
Deus ou deles;
dos infiéis nazarenos; de nossos irmãos ou de
importa. Terás a vingança
nossos inimigos, não nos que pedes, inteira quanto mãos de homens a
podem dar.espera,
cavaleiros A torrente dos teus
apenas, que profiras um nome e apontes um lugar, para
correr destruidora
irresistível. e antes disso condenar- nos.
Não deves

- Quereis um nome e um lugar? - interrompeu o amir. - Ainda, pois, não os


montanhas do Pelágio
adivinhastes? norte. Lá,
e aslá!... Era ele ou um demônio o que me feriu... Por
quê?...me
agora Quando?...
lembra. IaOh,
possuí- Ia, e roubaram- na! Por alto preço pagarão os
nazarenos
audácia. Ade Aljufealmogaures
cavalo, tanta do deserto... Persegui- o até o encontrardes.
minhas
Mas vivo... quero-o vivo em matar.
mãos! Ai daquele que o

Alguns dos xeques iam já a sair da tenda para executar as ordens do amir.
Umparar.
fez brado súbito deste os

- Não!... Não partireis sem mim! Quero acompanhar- vos; hei de


acompanhar-
desvios; querovos pelasàbrenhas
assistir e desses mal-aventurados que ainda
carnificina
preciso
resistemqueaosem breve de
decretos estejam
Deus.nasÉ minhas mãos Pelágio e sua irmã. Ambos!...
Que me tragam ambos!
Daí a pouco, umas andas forradas de telas preciosas recebiam Abdulaziz,
mesmo
conduzido almadraque ensangüentado
para ali sobre o em que os médicos judeus lhe haviam
asoandas
também,
tendas
arraial
de
batendo
E
opressas
pavilhões
sussurro
oalvejantes,
nos
aspecto
os
pelo
emcavaleiros
ferros
que
volta
brancos,
friode
sepontiagudas,
noturno
delas:
das
ouvia
umsemelhantes
negros
lanças
cemitério
estes
entre
e o dos
de
resfolegar
deviam
formando
tantos
Açudane.
do
esquadrões
a um
oriente,
milhares
transportá-
mar
dos
uma
Duzentos
ginetes,
de
sem
cerrados
como
de
pirâmides,
os
las
homens
ciprestes
berberes,
vasta
aspirando
a egiros
nacidade,
era,
havia
geada
pelos
fúnebres
filhos
apenas,
o que
nevoeiro
ealcantis
que,
das
cala
eo ao
ligado as feridas. Rodeavam
serranias
das
subir
esguios;
desaparecido,
sobre
cavaleiros,
murmúrio
úmido
terra.
Astúrias.
da
osque
lua,
toda
turbantes
do
das
se
refrangia
Atlas,
davam
As
essa
alevantava
erespirações
apenas
renques
multidão
dos
estavam,
ao
trêmulo
o de
da
luar,um clarão prateado.
Mas lá, na vanguarda, para o lado das atalaias do norte, donde se
descortinavam
das montanhas os topos
sobre recortados
o chão claro do céu, como fileiras de gigantes
embriague
petrificadosz,durante
tão fantásticos
uma dançaeram
deos seus contornos, ouvia- se o ruído alto e
indistinto
muitas do cruzar
vozes, de de muitos cavalos; viam-se lampejar as armas nos
do tropear
outeiros
visos dosque
doispor aquela parte rodeavam o campo, e agitarem- se ondas de
últimos
vultos humanos
sumirem-se, onda e após onda, como se os devorasse voragem aberta de súbito
debaixo
eram de seus pés:que transpunham a eminência. O exército detrás daqueles
os cavaleiros
formavam como
dois outeiros, queum ponto único, vinha sucessiva mente engrossando até o
lugar em que
Abdulaziz. estavaum desmesurado triângulo de ferro, a ponto de ir bater na
Parecia
vestida
muralhacom a sua armadura
da serrania, que, de selvas, esperava o embate daquele disforme
vaivém,ante
oscilar queela.
já começava a

Uma cena horrenda se passava entretanto, além das atalaias, no extenso


sarçaldas
sopé queprimeiras
se estendia até o
montanhas. Os soldados transfretanos tinham-se lançado
dos
pelafugitivos. Ao chegarem
encosta abaixo atrás à planície, um dos três desconhecidos estava
diante deles,
quedo no meio esperando-os
da estreita trilha aberta por entre as urzes. A acha de armas
goda e aao
prendia cadeia
braçoque lha unicamente naquele vulto, cujo saio e cavalo
reluziam
profundo faziam
negros e cujo lembrar um desses espectros errantes alta noite pelos
silêncio
lugares desertos.
Os outros dois vultos galopavam a alguma distância, encaminhando- se para
a orla do bosque,
continuavam onde reflexos de armas polidas.
a reverberar

- Quem és tu? - disse um dos capitães das decanias, dirigindo o cavalo para
otu,vulto negro. -enganar
que ousaste Quem és os atalaias do campo de Abdulaziz, os guerreiros do
conde de Septum?
- Sou um homem que ainda não renegou nem da cruz, nem da Espanha; um
homem
ouro dosque não aceitou
bárbaros o o assassino covarde de seus irmãos.
para ser

- Miserável, que ajuntas ao engano a insolência! - rugiu o decano, alçando a


palavras
espada. -de
Asorgulho e rebeldia acabam de sair- te dos lábios.
derradeiras

Últimas palavras foram, porém, as do decano: a borda girou sibilando no ar, e


caiu para o lado
o guerreiro morto, como se o fulminara o raio.
transfretano

Com um grito de horror e de cólera, os que o seguiam precipitaram-se para o


desconhecido.
Rodeado de quase vinte homens, o cavaleiro negro repetia apenas uma parte
praticara na fatal
das gentilezas quejornada do Críssus. A cada golpe da borda respondia um
gemido de moribundo;
depois, uma injúria ameaçadora dos que ficavam; depois, um rir de desprezo
pouco, um novo
do cavaleiro, e daígemido
a de alma que se despedia da terra. O tropel dos
pelejadores
a instante. rareava de instante

Mas os que expiraram não ficarão sem vingança. Os cabos das decanias,
fugitivos,
iam
conde
mutuamente
seguimento
filho
de
extermí
descanso
inesperado
que
no
dejunto
fosse
alcance
nio
Muça
nem
tinham
dos
destes
dos
de
ele
setréguas
na
Abdulaziz.
godos
daqueles
explicavam.
fugitivos.
osua
enviado
desconhecido.
seria
própria
das
atéfácil
aoAstúrias,
um
Na
A
quem
cativarem.
Os
sua
empresa.
tenda,
idéia
bucelário
esquadrões
narração
irrefletidamente
Colhendo-
de
bastaria
osque
Assim,
Sendo
capitães
que
esómais
oque
relatasse
oPelágio
que
assaz
os
àsdo
obem
mãos
melhores
haviam
se
grosso
exército
numerosos
passara
apodia
encavalga
antes
Juliano
do
dado
almogaures
muçulmano
ter
exército
na
depassagem.
oaudácia
para
tenda
sedos
que
unir
foram
os
doaos
não
amir
O
antes de seguirem os
sucedera
bucelário
eram
despedidos
bastante
duvidaram
seus
deviam
resistirem
seguisse
que amontanheses,
dois
vitória
persegui-
para
de
na
fora
fatos
aum
logo
perto
qualquer
atalaia
fosse
vir
encontrar
momento
que
em
acometer
para
loindubitável
oesem
como
recontro
fazer
o oelese completa.
Uns após outros, os esquadrões dos almogaures desciam já dos outeiros: o
ruído do combate
das armas e o brilho
serviam-lhes de guia. Pareciam rolar pela encosta e, cegos na
que estalava
carreira, debaixo dos
atufavam-se leves pés dos ginetes árabes. O cavaleiro viu-os e
no mato,
pensou. Esperar
milhares a pénão
de homens firmeera esforço, era loucura. Além disso, os seus
embrenhado
companheirosnas selvaster-se
deviam com ajáirmã de Pelágio. Até aí não fizera mais do que
defender- se dos
transfretanos quesoldados
o cercavam; mudando, porém, da defensão para o
cometimento,
seus arrojou-se
adversários, contrainstantes
e em poucos os os que não caíram ante a acha de
fugir,
armasbuscando amparar-se ano meio dos esquadrões que se aproximavam.
foram constrangidos

Então o cavaleiro deu volta. A senda alvacenta que se estirava por entre o
amato até a floresta
embeber- começoudos pés do ginete. À vista, assemelhava -se a um
se- lhe debaixo
rolo de fita,
retesado porestendido
momentos, e que solto, busca, volvendo-se de novo, a sua
corrida eraanterior.
curvatura quem oApodia salvar:
rapidez da a dianteira dos almogaures árabes hesitara
vendo recuar
homens diantetantos
de um homem só; porém, ao retroceder do cavaleiro,
ele para o alcançarem
lançavam-se antes que
despeadamente apóschegasse ao bosque.

Mas a distância que os separava era grande, e os árabes, lançando-se às cegas


estevas
por entree enredando-
as sarças e se nelas, retardavam- se a si próprios e aumentavam
essa
que iadistância.
retumbarAaosualonge
alarida,
nas anfractuosidades da serra, ajudava o esporear
que produziacom
do guerreiro no ágil e robusto ginete.
o espanto
Já bem perto do extremo da selva, o cavaleiro pôde distinguir uns vultos que
pareciam
seu bradaresperá- lo. Ao e Pelágio! - respondeu o mesmo brado, proferido
- Covadonga
Conheceu-a: era a de Sancion. O fero gardingo cumprira a sua promessa. A
por uma voz,retumbante.
despedida dos cristãos
campo de Abdulaziz do ficar escrita com letras de sangue na história dos
devia
triunfos do Islam.
Chegando à orla do bosque, as primeiras palavras que o cavaleiro negro
soltou foram dirigidas a
Sancion:

- Por que voltastes sem vo- lo eu ordenar, vós os que tinheis jurado
irmã de Pelágio?
obedecer- me em tudo? Onde está a

- Segue os desvios da serra - respondeu Sancion. - Astrimiro e Gudesteu a


está salva. Só até
acompanham: este ponto nos ligava o juramento que demos. Foste nosso
Hermengarda
capitão: agora cessaste
o ser. Homens de terra serva, queremos combater onde tu combates,
livres numa
Ao menos
morrer se tu- morreres.
acrescentou em tom amargo - não poderás dizer de novo que
foste o último
enquanto no pelejar
os valentes fugiam.

- Louco! - exclamou o cavaleiro negro. - Junto do Críssus a Espanha pedia


aos seus filhos
morressem semque recuar: aqui é também a pátria que exige dos seus últimos
votem
defensores que se nãoFujamos! vos digo eu; porque a fuga não pode desonrar
a morte inútil.
aqueles que mil
têm provado quantovezesdesprezam a vida. Vede... Não são apenas alguns
corredores
são esquadrõesque nos perseguem:
e esquadrões de agarenos que transpõem após nós a
assomada.
Masespadas
Semelhante
punhado
das
momentâneo
ameaça
ginetes
primeiro
elesem
eespanto
de
não
furor
recontro
homens,
ànos
silêncio:
osegure,
eescutavam:
saios
opassou,
bater
bem
aentrando
edepois,
cuja
elmos
etravado.
osoSancion,
frente
reluzir
dez
ouviram-
retiniu
noguerreiros
Os
se
âmago
trêmulo
seguido
achava
árabes
numsedo
som
alguns
cristãos,
do
haviam
Sancion,
carvalho,
dos
ferro,
estridente,
seus
gemidos
acometidos
parado
cruzando-
penetrou
nove
sob eos
abafados,
companheiros,
diante
a golpes
alarida
no
se
pormaciço
com
detodos
do
dos
atanta
que
o os
da
investia
tinham
robusto
cavalaria
sarracenos
sucederam
ferro,
ousadia.
lados,
recuar.ecomeçaram
O
entretanto
olenhador,
com
Mas,
árabe.
tropear
cavaleiro
foi
novos
oslogo
cortada
árabes,
Oconfuso
gritos
aquele
chegado.
aferir
que
negro,
por
oque
dedos
que ficara quedo, disse-lhes então:
- Quisestes tentar o Senhor com uma façanha inútil, e o Senhor vos
abandona.
o desagravoSalvai as vidas!
da cruz Exige -da
e a liberdade o Espanha!

E pondo- se ao lado de Sancion, fez girar a sua borda destruidora no meio


os
dosinimigos também ímpeto
infiéis. Naquele recuaram, e o cavaleiro, aproveitando este rápido
instante, prosseguiu:
- Aos que se envergonham de poupar a vida, para a perder com glória
chegar,
quando darei
o dia eu
do osacrifício
exemplo! Podeis dizer aos nossos irmãos que o primeiro
em fugir
nunca foi aquele
fugiu; que
foi o cavaleiro negro!

E, voltando as costas aos agarenos, internou- se na espessura.

Habituados a considerar o desconhecido como um ente misterioso e


extraordinário,
Sancion deram os guerreiros
volta, de
e o orgulhoso gardingo viu-se obrigado a imitá-los.

Ei- los vão! Endireitando a carreira para o lado do norte, dirigem- se após
Hermengarda, enquanto
almogaures árabes, os pelo ruído dos ginetes, os cerram de perto. Os
guiados
selva, assemelhavam-
esquadrões, penetrandosenaa uma serpe disforme, que se desenrolava, coleando
earvoredo,
estirando-se
e quepor
deentre o
momento a momento ameaçava tragar os fugitivos, os
uma
quaispequena distância
mal podiam entre si e os seus implacáveís perseguidores.
conservar

A lua passava então nas alturas do céu. O ar, posto que frio, estava manso e
noite de inverno;
diáfano: Era uma mais formosa que as sossegadas noites do estio. As árvores,
formosa
na maior parte
desfolhadas, deixavam o luar, por entre os ramos despidos e tortuosos,
estranhas
desenhar no quechão
vacilavam
figuras indecisas: os robles nodosos e calvos, misturados
com os
dais, querochedos pirami- irregulares e fantásticos nas arestas das encostas
se alevantavam
íngremes, nasdas
penhascosas lombadas
serras, pareciam fileiras de demônios caminhando de roldão
vales ou dançandonos
a despenharem-se nos visos das alturas. Os cavaleiros, correndo à rédea
solta, involuntário
veias sentiam coar-lhes
terror,nas
aumentado pelo estrupido soturno da cavalaria
morrer a grande
sarracena, distância
que soava e ia num quase imperceptível sussurro.

A fúria da carreira crescia ao passo que os fugitivos se embrenhavam na


Durante algum tempo,
maior espessura eles tinham podido descortinar os píncaros das
da floresta.
montanhas
os mais altos e, cabeços
lá muitodo ao Vínio,
longe, que refletiam o luar no seu manto prateado
de neve.
Mas a selva já começa a rarear, e os ginetes a resfolegarem com mais
violência:
os cavaleirosde instante
cristãos,aespreitando
instante as estrelas do horizonte, que lhes servem
aquela
de guias,teiavêem
enredada,
fugir que as franças das árvores lhes afiguram como lançada
sobre o chão Menos
firmamento. claro dofreqüentes, as bastas e perenes folhagens dos
negros, que, elevando-se
medronheiros passam como a pouca
globos altura da terra, voam despedidos, por um e
por outro
deles. É quelado,os para
onzetrás
guerreiros principiam a galgar as alturas que são como a
base irregular
montanhas, comodas o pedestal comum daqueles obeliscos da criação. O galope
áspero de ferro
dos corcéis dá um batendo
som em pedra, e o alvejar desta revela que as torrentes
a relva
ventanias
carreira
cristãos.
cavalos,
alcançá-los,
expira
Depois
chapada
cortadas,
para o ar
sem
ede
afrouxa
porque
plana,
Enquanto
os
ou
de
do
subirem
combate,
musgos
pendiam
galgam
algares
estio.
em
para
visivelmente.
estes
Naquele
cujo
aque
profundos,
por
encosta,
eles
sem
sobre
topo
cima
atenteiam
glória
umidade
o os
solo
tropeçar,
aodo
Os
abismos
serra
de
cavaleiro
epedregoso
desgraçado
aárabes
sem
gargantas
fizera
medo
seoque
alteava
evacilar
começam
torrentes.
negro
nascer
oachão
eperseguição
selvosas,
almogaure
revolto
de
éeano
mal
os
novo,
morte,
A
aoutono
que
sair
torna-
natureza,
gradado,
aocom
que,
ode
dos
lado
osseguiam
sobre
se
entre
seus
os
derribado
fugitivos
das
mais
que
mais
seus
numerosos
oos
quais
lhes
pó,
viram
rude
mildeixe
pelos
rola
os
passaram por lá e arrastaram
acumulado
dificultosa
arvoredos
debaixo
perseguidores,
próprios
por
aí,
alongar-
acidentes
picos
naquelas
incessante,
isso
agudos
dos
se
companheiros,
de
paragens,
de
eanos
diante
ser,
apés
cordilheiras
fuga,
se
aproximar-se
implacável,
atentos
barrocais
como
atiravam
dos
deles
etinha
o ímpeto
até
sóumaum
pelas
avertiginosa.
dos
da
aspecto soturno, vista assim, ao perto e à luz da lua: era como um oceano
tempestuoso, onde todasseasconfundiam e misturavam, desde a brancura
gradações da morte-cor
até a pretidão
desbotada fechada
e pálida dos pinheiros retintos nas sombras da noite.
do rochedo

E por aquela dilatada chã os onze esforçados largam rédeas aos ginetes e
ensangüentam-lhes
com o ventreo ruído do próprio correr já não o sentem;
o esporear incessante:
confundem-
esquadrão deseárabes
no estrupido do perto os segue. A vingança vai-lhes no
que de mais
atrás os olhos,
encalce; aquelevolve
e, se algum turbilhão enovelado que rola após eles, negro, rápido,
tortuoso,
centenarescomposto
de vultos,decujos olhos afogueados reluzem nas trevas, cujos dentes
javali
alvejamirritado,
como os assemelha-
do se-lhes a uma legião de demônios, e a um rir
infernal o tinir
resfolegar das espadas,
dos cavalos, o
e o murmurar dos cavaleiros, que parece entoarem-
lhes já o hino da morte.
Na extensa chapada, tanto a fuga como a perseguição eram um frenesi, um
delírio. Cristãos
muçulmanos e
desapareciam por entre as sarças cobertas de orvalho, e o ar,
zumbia
dividido-lhes em roda, como um gemido contínuo. Cristãos e muçulmanos
violentamente,
punham o nesta
diligência extremo da tentativa. Além da planura, os alcantis e as selvas
última
gigantes eram a esperança
uns, o desalento de outros. deAli, os precipícios cortavam subitamente os
nas
caminhos abertos pelas feras fundo os rochedos fechavam imprevistamente a
balças, e ao cabo de vale
saída: aqui,
tortuosa a sendana torrente; lá, a torrente em catadupa. Os godos afeitos
ia morrer
sabiam-no; os árabes
àqueles desvios adivinhavam- no ao descortinarem o espetáculo que
alpestres,
tinham
de caos ante si, essa
nascido das espécie
grandes convulsões do globo na sua vida de muitos
séculos,
da que a baça
noite tornava claridade
ainda mais fantástico.

Enfim, os cristãos atravessam a gandra e começam a embrenhar- se nas


montanhas.
solidões dasOs agarenos
mais agras redobram então de energia; mas debalde. Poucos
passos medeiam
outros, entre sentem
e os fugitivos uns e já o resfolegar dos cavalos e o respirar alto dos
inimigos;
não mas esse
se encurta. espaçoestar de permeio o braço da providência, que quer
Aí, parece
cruz.
salvarFuriosos, esquecidos
os defensores da da vontade de Abdulaziz, que exige para pastos
dos tormentos
poucas aquelas
vidas, os guerreiros do amir despedem de longe as lanças, que vão
nos
pelatroncos dos robles.
maior parte cravar-Duas,
se porém, silvam por entre os fugitivos; ao mesmo
tempo, dois
param, ginetes
vacilam e caem. São os de Viterico e Liuba, os mais moços dos onze
guerreiros. Semotransição,
sem esperança, espectro da morte se lhes ergue diante dos olhos fatal,
mãe, vem receber
incontrastável - Oh teuminha
filho! - foram as únicas palavras que proferiu Viterico.
Era às recordações
maternas e à saudade que esse último grito de um moribundo cheio de vida se
murmurou umtambém
dirigia. Liuba nome; mas só Deus e ele o ouviram. Era o da sua amante,
violada eNo
Emérita. morta na tomada
transe de alma pura não revelara aos homens o
final, aquela
mistério do amor,
desesperação e do dasepulcro. Órfão no mundo, separado daquela em quem
coração
empregara virgem e que
o afeto de um tão tristemente perdera, Liuba, solitário sobre as ruínas
da Espanha
ruínas e sobre
da própria as
existência, era o primeiro em se arrojar aos perigos; e nessa
para o desgraçado
noite, enfim, chegava a hora apetecida do repousar eterno.

Debalde os almogaures dianteiros tentaram suster a corrida, para colher às


derribados.
mãos os doisImpelidos
godos pelos que os seguiam e arrastados pela própria fúria,
quando,
apinhada
ao
Logo
seus
-essa
liberdade
As
céu,
voz
companheiros;
almas
que
eaos
foi
os
eeViterico
ao
ade
seus
seguida
gritos
vida
abrirem
dois
cadáveres,
de
edos
mártires
mas
Liuba
de
seus
aos
almocadéns,
algumas
a irmãos,
voz
lados,
caíram,
esmagados,
sobem
depalavras
puderam
que
-um
neste
ao
avante!

sofrear
movimento
sanguinolentos,
momento
querem
travadas
erguê
- dos
proferida
-los
uma
de
cavalos,
ao
incerto
do
lágrimas,
céu:
e outra
chão
desconjuntados,
pelo
de
eles
aoonde
para
cavaleiro
hesitação
baralharem-
de
orarão
que
jaziam,
davam
ao - as
se
galgaram por cima deles; e
os esquadrões
suas
eram
em
afrouxara
negro,
visível
cortado
Senhor
combaterem
que
almas
duas
lhes
sinal
para
apenas
com um
coisas
tinham
troou
oque
pelos
que
pouco
tem
sesalve
eram
nos
informes,
divisavam
móaltares
subido
aouvidos,
fuga
aproferidas:
dedosvestígios
Cristo.
e de vultos humanos. rêmulo e
Ditas estas palavras, o cavaleiro negro cravou as esporas no ventre do ginete,
e repetiu: - avante!
E os outros godos seguiram- no sem hesitar mais: a carreira tinha -se
convertido
louca numa espécie de fúria
e desesperada.

Os almogaures, desordenados já, retidos pelas diligências que faziam para


alçar os dois cadáveres,
embaraçando-se uns aoseoutros, viram desaparecer os godos numa garganta
balças,
estreita,enquanto os almocadéns
entre rochedos e lhes bradavam também - avante!

E os primeiros que puderam obedecer-lhes atiraram-se por aquela espécie de


fojo cavado
torrentes pelas séculos; mas as sinuosidades da penedia encobriam-lhes
de muitos
os godos,
parar e, obrigadospara
freqüentemente a conhecerem a que parte eles se encaminhavam,
remoto
cada veze sentiam
tênue o tropear
mais dos ginetes.

Dir- se-ia que as palavras do cavaleiro negro haviam sido proféticas: o


sangue odos
talvez, doisdamártires
preço redençãofora,
dos fugitivos.

XVI - O CASTRO ROMANO

A desconforme profundeza do alto precipício aí


está patente: ele gera terror no homem que o
contempla de cima.

Valério Bergidense:
Explanações.

A hora de amanhecer aproximava - se: o crespúsculo matutino alumiava


mal-assombrado,
frouxamente as margens que corriade rio turvo e caudal com as torrentes do inverno.
Apertado entre
escarpadas, ribas fragosas
sentia-se mugir aoelonge com incessante ruído. A espaços,
fios, despenhava-
destorcendo- se emsemilhões
das catadupas
de em fundos pegos, onde refervia,
escumava
atirava - see,maciço
golfando em olheirões, a si mesmo, pelo seu leito de rochas, até
e atropelando-se
de novo ruir e no próximo despenhadeiro. Era o Sália, que de queda em
despedaçar-se
montanhas
queda, rompia e sede encaminhava
entre as para o mar cantábrico. Perto ainda das suas
fontes,
pobre eolímpido,
estio via-o passar
murmurando à sombra dos choupos e dos salgueiros, ora por
silvados,
meio das que balças se debruçavam,
e aqui e acolá, sobre a sua corrente, ora por entre
penedias estéreis,
córregos calvas ouonde em vão tentava, estrepitando, recordar- se do seu
bramidoasdoáguas
quando inverno.do céuMascomeçavam nos fins do outono a fustigar as faces
ossada
pálidas nua
dos das serras,a e a unir- se em torrente pelas gargantas e vales, ou
cabeços,
quando
tépido deo um sol vivo e o ar derretiam as orlas da neve que pousava eterna nos
dia formoso
montanhas mais elevadas,
picos inacessíveis das o Sália precipitava- se como uma besta- fera
raivosa
soberba,e,arrancava
impaciente os na sua aluía as raizes das árvores seculares, carreava
penedos,
as terras
som e rebramia
medonho, com às planícies, onde o solo o não comprimia e o
até chegar
pauis
deixavae juncais,
espraiar-correndo
se pelosao mar, onde, enfim, repousava, como um homem
Nacampo,
montanhas
sobre
formava
de
terreirinho,
Ainda
mostravam
elevada
antigo
uma
margem
ana
veia
ladeira
ecomo
borda
castro
penhascosa.
provavelmente
das
terem
em
direita
de uma
Astúrias
íngreme
cujo
água
do
ouservido
rochedo
do
arraial
eira
topo,
e rio,
A
talhado
que
no
irregular,
situação
para
eaque
romano.
seu
aaprumado
pretória:
conduzia
bastante
quase
então
embeber
pendor
avultavam
daquelas
Jaziam
passava
aaàprofundidade,
sobre
pique
ocidental,
decúmana,
entrada
as traves
estas
ruínas,
apor
grosso
fragmentos
água
daquele
em
todos
viam-
de
fronteira
ase
uma
de
ponte
forma
passava
enxergavam
os
cabedais
se
circuito
de
espécie
lados.
ainda
lançada
quase
agrossos
ela,
o rio
Na
achavam-se
no
por
de
fazia,
circular
negro
para
alguns
princípio
borda
panos
umfora
ados
edos
do
de
completamente
adormece, depois ébrio
de que
bracejar e lidar da embriaguez.
vales
promontório
espaçoso
os
do
veloz
orifícios
outra
valos
vestígios
oitavo
valo,
que
margem,
ede
com
aum
pedra,
profundos,
sua
lajedo,
retalham
século
mugido
de
limitado
de
disposição
também
uma
erochas,
que
as
nocontínuo.
as
ruínas
porta
que
altopendurado
interior evidentemente indicavam um desses hibernáculos ou arraiais de
inverno alevantados
legiões de Roma naspelas
suas tentativas repetidas e quase sempre inúteis para
cordilheiras da Cantábria
subjugar os celtiberos dase das Astúrias.

A ponte romana, porém, se outrora aí existira, haviam-na consumido as


injúrias
dela, os das estações.
habitantes Em lugar
daqueles desvios tinham tombado através do Sália um
roble gigante, da
primogénitos umterra,
dos filhos
que nos seus dias seculares fora enredando as raízes
beber no leito
nos seios do rio.
da pedra, atéAirem
árvore monstruosa, derribada por cima da corrente,
caíra sobre
fronteiro o alcantil
e vivia de uma vegetação moribunda, que mal podia conservar
quase
atravésinteiramente do solo. Calva e musgosa, apenas alguma vergôntea, que
do cepo, arrancado
lhe rompianadaprimavera
epiderme enrugada para morrer no estio, dava sinal de que o rei dos
bosques aindacadáver.
inteiramente não eraMas essa pouca vida bastava para que a obra rude dos
durasse
bárbarospor mais anos que a edificação regular e sólida dos antigos metatores
montanheses
ou engenheiros
legiões romanas.das Para aqueles, todavia, que não estivessem afeitos a
escarpadas, a galgar
perseguir a zebra os encostas
pelas precipícios após a cabra montês e a combater com os
ursosfojos,
dos e javalis
sem nas bordas
se lhes turbar a vista; para esses tais a ponte vegetal dos
astúrios
arriscado. seria
No um
meio sítio
do passo estreito, irregular e cilíndrico, sentindo e vendo
debaixo dos pés
mugir e desaparecer a corrente inchada e turva, quase impossível lhes fora não
vacilar: mas ao
seguir- se-ia vacilar
o despenhar-se, e ao despenhar-se, a morte. À altura da queda e
ajuntava
ao ímpeto-se daso agudo
águas dos rochedos, entre os quais o rio, escumando, se
estorcia e despedaçava.
Ao partir de Covadonga e ao dirigir -se para o campo de Abdulaziz, os
rodeado
cavaleiros o Vínio,
cristãosseguindo
tinham mais ao oriente; mas, habituados, nas suas
contínuas
discorrerem correrias, a
pelos atalhos e carris das montanhas, de antemão previam que,
anotemerária empresaaque
caso de levarem cabocometiam, a agrura da serra seria a sua melhor
defesa
dos contra
árabes. a perseguição
Assim delinearam o caminho que deviam seguir na fuga, vindo
atravessar
do o Sália, jánaquela
seu esconderijo, perto espécie de passo fortificado, conhecido ainda
Castrum Paganorum
entre os godos pelo nome ou arraial
de dos pagãos.

Foi justamente ao tingir -se o céu da faixa avermelhada que precede o surgir
do sol, queaodois
galgaram cavaleiros
galope a ladeira que dava acesso para as ruínas do castro
romano.
cavalgandoNotambém
meio deles,
um alazão ágil e ao mesmo tempo robusto, uma dama
mal poder já manter- se na sela, segurando- se umas vezes ao arção, outras às
vestida de branco parecia
crinas
valenteflutuantes do Hermengarda e os seus dois guardadores que
animal. Eram
do Sália. Pouco
chegavam, devia tardar
finalmente, o instante em que a formosa irmã de Pelágio
às margens
achasse,edepois
perigos de abrigo
terrores, tantos e paz nos rudes paços de seu esforçado irmão.

Mas a corrida violenta e incessante por sendas montuosas e ásperas tinham


exaurido
de Favila,ascomoforças osda filha por que passara desde que partira de Tárraco lhe
sucessos
as do espírito.
tinham Ao chegar ao meio daqueles restos do acampamento romano
quase aniquilado
sentia-
cansaço,seao desfalecer
passo quedea febre e a sede lhe devoravam as entranhas. Os dois
cavaleiros,
ela, viram-lhe,olhando
com apara luz da alvorada, as faces tintas de palidez mortal. Às
sobretudo,
vezes, durantenos osítios
caminhomais e, altos, quando as lufadas do norte aclamavam
ao todo
em
de
resolveram
transpor
margem
velha
Descavalgados,
montículo
divisão
que longe
que
osárvore
romanos
entre
apenas
na
oposta
aum
ponte
coberto
antemanhã.
parar
débil
se
o pretório
sentiam
despenharia
cederiam
os
usavam
natural
noruído
de
dois
meio
relva
Inquietos,
oeguerreiros
que
soturno
colocar
aestrupido
bem
daquelas
parte
eno
tinham
musgos,
depressa
abismo,
no
einferior
também,
continuo,
tomaram
do
ruínas.
meio
diante,
que,
galopar
aos
edo
dos
opela
Salteados
eleito
gumes
nos
campo,
que
as
arraiais.
dos
sorte
sua
poucas
braços
profundo
se próprios
afiados
assemelhava
situação
dava
de
dos
Regelada
araizes
improviso
irmã
companheiros
indícios
edos
ginetes,
escarpado
noque
de
seus
lugar
ao
Pelágio
de
prendiam
pelos
tropear
bem
ser
onde,
doque
oque
e de
o
momentaneamente, percebiam
ocavalos;
tinham
árabes,
moribundo
franquisques.
Sália
barreira
foram
provavelmente,
assento
exteriormente,
vento
ficaria
recliná
deixado
fácil
das
houvesse
entre
mascarvalho
aras
como
lhes
havia
eles
-Então
ao
laficava
atrás
dos
seria
caldo
sobre
passo
euma
horas
os
odeuses,
àde
tronco
ainimigos.
um
que
si, oda ardor
febril lhe queimava o sangue, Hermengarda, apenas tocou em terra, só pôde
pronunciar a palavra
"sede", caindo amortecida sobre a relva orvalhada. O único sinal que nela
convulso
revelava aque
vidaviolentamente
era o tremor a agitava.

Enquanto Astrimiro subia ao valo, de cujo topo se descortinava melhor, posto


que a breve
caminho quedistância, o
haviam seguido, Gudesteu trabalhava em ajuntar alguns troncos
de árvores
secas e as folhas
amontoadas pelos ventos do estio que as chuvas outonais ainda não
Brevemente o ar tépido de uma fo gueira fez volver a si a donzela: o
tinham arrastado.
cavaleiro ofereceu-
pequeno frasco lhe um
de sícera que desprendera do arção e que lhe restituiu algum
entorpecidos. Depois, Gudesteu chamou o seu companheiro e disse- lhe:
vigor aos membros

"Os ginetes não podem passar além. Ide e lançai- os para o lado oriental da
trilho acimaeles
montanha: dasbuscarão
fontes dooSália e descerão a Covadonga."

E Astrimiro, guiando os três ginetes pela ladeira abaixo, afagou-os um a um,


e segurando-
rédeas à efípia,lhes
deuasum silvo com soldo particular. Os ginetes fitaram as
orelhas, aspiraram
ruidosamente o ar e partiram ao galope, por meio da selva, para o lado que
Gudesteu indicara.
Este, apenas os viu desaparecer, dirigiu-se para Hermengarda. - É
derradeira
necessário,prova
senhorade esforço: é necessário
- disse ele - uma partir já. Os nossos ginetes,
ensinados
campo a voltarem
cristão sós ao
do deserto quando os ardis ou os perigos da guerra nos
obrigam a abandoná-los,
causariam nem estranhezanão nem receio ao aparecerem aí sem seus donos, se
circunstâncias
não fossem as extraordinárias da nossa correria. Mas quem poderá dizer ao
duque de coube
sorte nos Cantábria qual
na temerária empresa que cometemos? Quem, senão vós
braços,
mesma,lhe dará a certeza
restituída aos seusde que estais salva das mãos dos infiéis? Para nós,
habituados ae descer
precipícios a salvar torrentes, aquela ponte estreita e selvática é fácil de
transpor, galgando-a
rapidamente e sem volver os olhos para o abismo. Invocai toda a energia da
vossas forças,
vossa alma, paraasvencer este último obstáculo, e, dentro de poucas horas,
todas
veremos os
rodeiam cabeçosde
a caverna que
Covadonga. Em leito de ramos tomar- vos- emos sobre
fronteira; homens
nossos ombros na livres
margem e gardingos, faremos mister de servos; porque sois
uma dama
irmã e porque
do nobre soisPelágio...
e valente a Astrimiro, mostrai que o risco só existe
quando existe o temor.
Então Astrimiro, olhando fito ante si, atravessou com passos firmes e ligeiros
por cima do tronco
arredondado e nodoso, e, num relancear de olhos, achou- se do outro lado.

Hermengarda compreendera bem a necessidade de coligir toda a robustez da


sua alma naquele
momento; mas, ao erguer-se, conheceu que os membros doridos e exaustos
obedecer-lhe.
quase recusavam Firmando- se, todavia, no braço de Gudesteu, encaminhou-se
para
que seo terreirinho
abria além exterior
dos valos sobre a torrente. Aí, antes de chegar ao temeroso
alevantando
trânsito, ajoelhou e, e os olhos ao céu, nem sequer se lhe viam mover os
as mãos
lábios,
fervorosaembebida
e íntima.emCom oraçãoos seus trajos brancos e em completa imobilidade,
dir -se-ia
anjos que era
curvados um os
sobre destes
lódãos de capitel gótico, que, no frontispício de
símbolo
catedral, da moradaser
parecem das
o preces, se os primeiros raios do sol, cujo orbe mal
colinas,
lhe
rubor
Depois
se
seguia
Astrimiro,
para
No
embaixo,
porassemelhava
ofuscava
momento
entre
diante,
da
-a
de
não
febre
os
de
no
alguns
também
lhe
musgos
perto,
revelassem
meio
os
em
rompia
oferecia
àolhos
que
cabeça
instantes,
do
estendendo
por
ejá
crepúsculo
elimos
por
movimento
começava
punha
nela
acalva
mão
entre
alevantou-se
estampados
a os
vida,
ode
robusta,
apé
frouxo
braços
palidez,
um
amaquinal,
sobre
deslizar-
cintilando-
gigante
como
do
involuntariamente,
nos
de
ocomo
tronco,
córrego
novo
panos
se-lhe
que,
se
emlhe
as
aepé
distância
inteiriçado,
papoulas
oencaminhou-
irregulares
nos
profundo,
em
sobre
reflexo
cabelos
doisaslhe
como
fios
rompem
alvacento
raízes
efincasse
do
permitisse
dourados
obrilhantes
se
estrépito
querendo
para
torcidas
noda
osomeio
epés
da
no
ao
despontava detrás das
véuárvore
longo
roble,
na
sustê-la,
da
alcançá-la.
escuma,
torrente,
despenhadeiro,
seara
outra
dedas
cujo
duas
que
madura.
riba.
enquanto
espadanando
efaces,
topo
curvando-
lágrimas
fervia
Gudesteu
fizeram
monstruoso
onde
lá que
oseabaixar os
olhos a Hermengarda para o abismo, como fascinação irresistível, como
conjuro
naquele diabólico. Cravados fitos, espantados, ela não podia despregá-los
horrendo espetáculo,
águas, que,infernal
desse caos redemoinhando
das ou jorrando contra os rochedos, ora negrejavam,
precipitando-
compactas parase diante, ora, repelidas, despedaçadas em ondas de escuma,
espalmando- se nas faces
repuxando cruzadas no ar da
oupenedia, misturavam no seu confuso soído um
murmurar
dor, e rugir
de cólera, como de
de desesperação, de agonia, que vozes humanas não saberiam
ajuntar e queaosóconcerto
semelhante pode serde blasfêmias dos condenados, entoando o hino atroz
contra Deus.maldições
das eternas

E Hermengarda sentia uma ânsia vertiginosa de se atirar àquela voragem;


uma como atração
magnética, voluptuária, indizível, a favor da qual lutava um sentimento
misterioso
nem e vago,
por isso mas que
era menos ardente, ao mesmo tempo que alma e corpo a
amor da vida.
repeliam Com as emãos
pelo instinto pelocontraídas, a fronte pendida e o olhar incerto de
um moribundo,
parecia haver sidoa donzela
petrificada no momento em que dera a primeira passada
além da qual, essa
para transpor unicamente,
meta, existia a esperança.

Observando o gesto da irmã de Pelágio, Gudesteu viu que um instante


dos perigos
bastaria paraaté aí corridos.
aniquilar Mais de uma vez, antes que se habituasse à sua
o fruto
vida
pelasde foragido,
bordas passando
dos fojos, pelas quinas dos precipícios, ele próprio sentira essa
magnetismo
fascinação dodaterror,
morteesse
que costuma subjugar- nos e atrair -nos quando pelas
primeirassobranceiros
achamos vezes nos a algum abismo; sentimento de voluptuo sidade
dolorosa,
os que, paralisando-
movimentos, porque dobranosem nós o terror, nos salva, talvez, do suicídio,
ele nos convida
ao mesmo tempocomqueatrativo
para inexplicável.

O cavaleiro, segurando violentamente o braço da donzela, desfez aquela


espécie de encanto
obrigando-a fatal,
a recuar alguns passos. Então Hermengarda, como se acordasse
de umposso!"
"Não sonho murmurou:
- E soluçava - e as lágrimas rolavam-lhe abundantes pelas faces
convulso,
macilentas.osEm
joelhos vergavam- lhe, e teria caído por terra, se Gudesteu não a
tremor
houvera retido.
Astrimiro, que vira o movimento do seu companheiro, atravessou de novo a
arriscada passagem.
pensamento horrível Um
passou a ambos pelo espírito: era que os árabes podiam
chegar! Encararam-
mutuamente, e cada se
um deles notou que o outro tinha o gesto demudado.
lançou
Gudesteu, volvendo aa cabeça,
os olhos para selva de que haviam saído, porque lhe parecera ouvir
um rumor abafado.
Astrimiro, que crera ouvir o mesmo, correu de novo ao valo.

E o ruído soava, de feito. Os dois cavaleiros nem respiravam. Era um tropear


de cavalos
não à rédea
havia que solta:Para eles em alguns instantes se resumiu, então, um
duvidar.
século de transes mortais.
São nove: nove os que saem da espessura, correndo desordenados, e que se
São godos! para
precipitam Os largos ferros dos franquisques lá reluzem batendo-lhes sobre
as ruínas.
as coxas
o lodo nobrejos
dos rápidoenodoa-
galope:lhes as armas escuras e polidas. Ondeiam eriçadas
as crinas
cujos dosmosqueia
peitos corcéis, a escuma, cujos freios tinge o sangue. O misterioso
deles. Ei- negro
cavaleiro los - brada vem àAstrimiro,
frente com uma espécie de alegria frenética. Estão
- Perdidos!
interrupção
feiticeira
juramento
abandonarem
fantasma,
Salvos?!comcuja
que
-eperdidos
interrompeu
oaatinham
vida
olhar
irmã
verbena
era
do
de
conosco
dado
um
seu
Gudesteu
mágica,
tristemente
segredo,
e,
capitão;
emais
como
além
tinham
do
cuja
não
Gudesteu,
nós
da
quelho
vontade
qual
sido
-isso,
consentiria
replicou
não
raio
ae,era
lealdade
passará
sem
dede
em
luz
se
oferro,
tom
medonha.
fero
mover,
jamais
de guerreiros
lúgubre
cuja
cavaleiro
olhou
aque
voz
O Sália
le
era
para
salvos!
Hermengarda,
Astrimiro,
era
ante
godos
negro,
um
para linha
terror
cujos
osnão
esse
seus,
traçada
para
pés
lhes
e,homem
para depois,
um ela
que
inimigos
consentiam
quem
pela
decreto
asustinha
ou
riscou.
para
aesse
e,deOnos
cima.braços.
E os nove num relance transpuseram o valo, galgaram a ladeira e atiraram-se
de tropel
ruínas do ao meioromano.
arraial das O cavaleiro negro foi o primeiro em desmontar; os
outros oito imitaram- no.
- Rápido, rápido - disse ele. Lançai os cavalos para as brenhas, e
momento que operder,
atravessemos Sália! se
Nãoqueremos
há um salvar-nos.

E ouviu- se um silvo acorde, único, estridente de todos os recém- vindos. Os


novo a ladeira,
ginetes respirando
soltos desceram decom violência e seguiram a pista dos três que
pouco antes,
Astrimiro, se ao sibilarembrenhado
haviam de na floresta, seguindo ao oriente as margens
do Sália.
O cavaleiro negro, porém, ao volver- se, recuou com um grito de espanto,
que não momento
naquele pôde conter: quefora
vira Gudesteu e Hermengarda quase desfalecida, que
este amparava.
- Vós aqui?! Ainda aqui?! - exclamou ele, com gesto de espanto misturado
compostura solene e altiva
de aflição e perdendo a que soubera até então conservar nas mais
arriscadas
mais situações,
dolorosos. nos transes
- Prestes, passai o rio. Os infiéis seguem- nos de perto, e os
seus esquadrões
tardarão a transpornãoaquelas colinas. O Sália é a única barreira que pode
corredores africanos,
tolher os passos a essesiguais em robustez e ligeireza aos nossos corcéis das
montanhas. Irmã de
Pelágio! - acrescentou, dirigindo- se à donzela, que parecia alheia ao que
de instante
passava a instante
junto para a borda do despenhadeiro um olhar de terror. -
dela, volvendo
Irmãcobreis
que de Pelágio,
ânimo!porDois
Deus, dos mais valentes guerreiros da cruz lá os deixamos
despedaçados
da sob os
cavalaria árabe: pés que vedes breve acabarão nos gumes dos ferros
estes
salvar- vos.
inimigos, seJuraram-no:
não puderemhão de cumpri- lo. Não vo -lo imploro por mim: não
quero; não posso mas
vós recompensa; quereros de
meus rogos são pelos irmãos de armas do duque de
misturado
Cantábria, compelosasque
dele
têmas lágrimas do desterro, com ele tragado o pão negro
do proscrito.
Senhor não vos Diante do conta do seu sangue; não valera a pena: mas, quem
pediriam
sabe sepela
Cristo não sua
vo -la pediráaoEspanha pela sua liberdade?
religião,

Hermengarda não tinha ouvido ainda ao cavaleiro negro senão os sons quase
de guerra: agora,
inarticulados porém,
do seu gritoestas palavras proferidas em tom enérgico, mas com
voz ouvidos,
nos trêmula, troaram- lhe à voz de alguém que na vida conhecera e que o
semelhantes
sepulcro
tragara. Oprovavelmente
terror que lhe tolhia os membros redobrou com esta voz: por um
desesperação
ímpeto convulso encaminhou-
e se, todavia, com passos incertos para a ponte
fatal;
recuou.mas, ao chegar
Tinha abaixadoa ela,
de novo os olhos para a torrente, e de novo a torrente,
diabólico, a havia fascinado.
como um sortilégio

- Por tudo quanto haveis amado, cavaleiros da cruz - exclamou ela


abandonai-me!
desvairada: - emO desalento e o susto me abrigarão no seio da morte da
nome do céu,
violência dos posso
posso!... Não infiéis.vencer
Não esse terrível abismo, que há de tragar-me!

Os guerreiros de Pelágio, escolhendo aquela senda para a fuga, não haviam


calculado com
feminino, umde
mistura coração
esforço e timidez, de energia e de fraqueza, que será
mistério.
sempre para a filosofia um
- Os
assolado
boca
Os
muçulmanos:
Só Hermengarda
guerreiros
de
árabes!
Astrimiro,
da peste,
-os
abriram
Esta
ferros
abaixou
soou
que,
palavra,
subitamente
polidos
atrás
semos deixar
olhos,
cem
dos
dos
cavaleiros
milaos
franquisques,
oe ajoelhou
valo,
vezes
lados,
tinha
repetida
apinhados
ecom
olharam
aque
vista
asnatinham
mãos
junto
Espanha,
cravada
paraerguidas
aos
as
pendentes
cumeadas
nos
vestígios
como
visos
noodos
meio
dos
da
da
dobrar
porta
montes
cujas
cordilheira
pulsos
ferro,
-deles,
Nãogargantas
decúmana.
cintilavam
murmurando:
posso!
por
fronteiros
uma
finado
coroadas
Abandona!-me!
cadeia
seSaíra
levemente
em
até
dila
de
país
de
da
tava atrêmulos.
seiva.
Então o cavaleiro negro, tomando- a pela mão, correu a vista pelas duas alas:
mesma expressão
no seu gesto haviaimperiosa
a e sinistra de que se revestira quando em
Covadonga embargara a saída de
Pelágio.

- Qual de vós ousa tomar nos braços a irmã do duque de Cantábria e


conduzi-la
para a outrapor cima doQual
margem? abismo
de vós ousa jurar sobre a cruz da sua espada que
sem vacilar o fará?
Houve um momento de silêncio: todos os rostos empalideceram; todos os
lábios calaram.
Um alarido de muitas vozes o interrompeu: eram os infiéis, que a meia
encosta haviam
fugitivos enxergado
e que se atiravam os
para o vale.

- Não há entre vós um que o ouse? - reperguntou o misterioso guerreiro,


sucessivamente
fitando o olhar em todos. - Vai seguro o que o tentar. A entrada deste recinto
é estreita,
antes e os pagãos
de chegarem ao Sália passarão por cima do meu cadáver. Direis depois
acavaleiro
Pelágio negro
que somente
lhe pede,o a ele e a sua irmã, algumas lágrimas em memória
que deixou
de um de de
tiufado viver... Chamava- se Eurico... Ele nos tenros anos ainda o
Vítiza,
conheceu em Tárraco...
Fruela, Gudesteu, e tu, Sancion, qual de vós será o mensageiro? qual de vós
Hermengarda?
será o salvador de

Todos calaram de novo; mas aqui não houve silêncio: ouvia -se já o ruí do
bem de perto, no
dos corredores fundo do vale.
sarracenos,

E ao proferir o cavaleiro negro o nome de Eurico, a irmã de Pelágio soltou


um gemido
como se forae morta.
deu em terra

- Nenhum! - rugiu o guerreiro quase sufocado de furor e de angústia; e,


alongando
do recinto, aviu
vista pelo os
alvejar portal
turbantes, e, depois, surgirem rostos tostados, e
árabes
depois começavam a galgar
reluzirem armas. Os a ladeira. Astrimiro descera de um pulo do valo.

A contração da agonia que neste momento passou nas faces do cavaleiro


os punhos
negro, cerrados,para
estendendo nãoohaveria
céu aí palavras humanas que a pintassem. Não
disse mais nada.
nos braços aqueleTomou
corpo de mulher que lhe jazia aos pés e encaminhou- se
Sália.
para a Era o seuponte
estreita andardohirto, vagaroso, solene, como o de fantasma: parecia
que as suas
tinham som;passadas não
que lhe cessara o coração de bater, e os pulmões de respirar.

Viram-no atravessar, lento como sombra; como sombra, lento, hirto, solene,
internar- se com
Hermengarda na selva da outra margem.

Era um corpo ou um cadáver que conduzia? Estava morta ou estava salva?

Sancion e os demais godos tinham ficado imóveis de espanto e de susto.


habituado
falecera
despenhadeiros
galgado
Foi
negro
Os
olhosdez
porpara
para
guerreiros,
um
onaânimo.
aatranspor
escuridão
momento
transitar
espécie
mais
Mal
uns
ade
por
freqüentes,
da
breve
rapidíssimo
sabiam
após
sorvedouro
alta
meiolargura
outros,
noite,
eles
dososque
precipícios
quanto
por
negro,
do
galgaram
seus
durou
Sália
entre
córregos
os
revolto,
eoaalcantis
ligeiros
sumir
das
imobilidade
redemoinhar
mais
montanhas,
ruidoso,
-se
do
porfundos,
na
Calpe
cima
floresta
dos
que,
e bramir
cometera
eram
do
godos,
emugindo
quantas
roble
que
mais
doporque
, vento
umlá
Aquele homem, menos
feito,
ásperos,
evezes
tanto
descendo
fronteiras,
nodoso,
embaixo,
estrépito
das bastou
tempestades!
para
esse
sem
os
violento,
parecia,
das
ovinha
homem
seus
qual
ao
abaixarem
montanhas
cavaleiro
quase
lhes
com
tentar
os havia
seu
tocar
os
atraí-
nalos
borda
e devorá-
dos alcantis
los. pendurados sobre as águas.
Sancion foi o derradeiro a passar: a meio rio sentiu após si o tumulto dos
árabes que arruinados
dentro dos se precipitavam
valos romanos. Não titubeou e seguiu avante.
volveu
Chegandoos olhos e viuoposta,
à margem que alguns dos inimigos punham pé em terra e, cegos
na sua
para fúria, fatal.
a ponte se arrojavam

- Godos, aqui! - gritou ele: e o primeiro golpe de franquisque deu um som


baço entrando
ainda vivas da nas raízes
velha árvore.

E, manso e manso, os agarenos, lançando-se ao comprido sobre o cepo que


Sancion e segurando-se
estremecera ao golpe de às cavidades do velho tronco e às asperezas do seu
grosseiro córtex,
aproximavam, se
semelhantes ao estélio que se arrasta, nas ruínas de Balbeque,
ao longo de coluna
tombada.

Cristãos e infiéis fizeram silêncio: era uma destas situações em que a voz
viver
expiraparece quase paralisar-
na garganta; porque o se.

E os árabes avançavam sempre, e os golpes das pesadas secures godas


violentos e repetidos
batiam roucos e cada nas
vez raízes
mais que estalavam, lascando; e já os olhos
esverdeados de cólera, dos infiéis, cujas barbas negras varriam o tronco, se
faiscantes, desvairados
torvo de Sancion,
encontravam com curvo,
o olharvibrando golpes sobre golpes, e cercado de alguns
companheiros
imitavam que o a quem o consentia a apertura do sítio, enquanto os
- aqueles
outros,
nas com
mãos, seos franquisques
preparavam para repelir os inimigos, que só um a um poderiam
passagem.
transpor a estreita

Subitamente estouram as últimas fibras do lenho; a árvore monstruosa


despenha-
pedra, se da
escapa dasua
ribabase de tomba pelas pontas dos rochedos limosos, fá-
fronteira,
las voar
sobre em rachas
o dorso e bate cujo ruído não pôde devorar inteiramente o alarido
da torrente,
que deixamprecipitados,
dos infiéis os fragmentos das armas, dos vestidos e dos membros pendentes
dos bicos
águas, das rochas.trepam
espadanando, As em lençóis de escuma pelas paredes anfractuo
osassangue que por einstantes
do precipício lambemas tingiu. Depois, o grosso madeiro flutua, deriva
pela corrente
envolta e láem
com ela, vai,demanda
de das solidões do mar.

Os árabes que enchem o recinto das ruínas recuam diante de tão horroroso
espetáculo:
enviam-lhesosuma
godos
risada feroz de insulto e desaparecem na espessura das
raízes
brenhasdas montanhas
que se dilatamdeaté
Auseba,
às onde deve ser o termo da sua viagem.

XVII - A AURORA DA REDENÇÃO

Desprezamos essa multidão de pagãos, e nenhum


temor há em nós.

Sebast. de Salamanda:Chronicon .
aceso,
O
sucessos
do
lareira,
esuperiores,
claridade
numeroso
de
peles
desalinho
abrasados
espetáculo
Cantábria,
cativeiro
de
assentado
próxima
animais
das
brilhante
dos
tropel
ardiam
até
de
margens
que
travando
trajos
Hermengarda;
àda
de
bravios,
em
medula,
oferecia
alguns
de
entrada
guerreiros
faziam
escabelo
do
cinco
das
Sália
dez
davam
cepos
aarmas,
da
antes
caverna
oucavaleiros,
tosco
gruta
que
era
-seis
de
espetáculo
apenas
lembrar
apenas
mui
naquela
carvalho,
fachos,
eede
com
asemelhante
Covadonga
que
uma
que
se
oamemorável
encostados
jazer
servia
semelhante,
cabeça
viam
que,
no
chama
seu
de
repassados
agora,
de
ao
na
encostada
cadáveres,
profundo
tênue
chaminé
dessa
noite
pelas
noite
mas
estendidos
eoutra
imediata
azulada,
se
paredes
personagens,
de
ao
sono,
uma
que
tinham
fogo
braço
noite
larga
onos
no
àquela
cujo
durante
em
queparte,
em
fenda
longa
fraco
irregulares
erguido
grosseiros
transfigurado
repousar
firmado
seesplendor
Pelágio
noite
dos
despediu
ànuma
de
diversas.
voz
rochedos
leitos
da
de
vivos.
recebera
gesto
do
caverna.
anfractuosidade
novembro
se
com
formados
moço
perdia
Perto
Na
e os
anovasta
nova
Do
duque
do
nadas
lar
do rochedo, via- se, também adormecido, um guerreiro em cujo rosto os
sulcos dasdavam,
das faces rugas eporventura,
o cavado mostra de mais dilatada vida do que, na
parecia nele
realidade, eraunicamente
a sua. O sonoo entorpecimento das forças físicas exaustas e não o
repouso de
porque, do quando
espírito;em quando, os membros se lhe agitavam por estremeção
descerravam
violento, ou se oslhe
olhos, e moviam os lábios, como se tentasse falar: mas
sussurrava apenas
inarticulados, e calaalguns sonsem torpor, que não tardava em ser outra vez
de novo
interrompido.
da gruta, formadoNumpelosrecesso
ressaltos das rochas e que servia como de câmara ao
foragidos,
jovem capitãoparecia
dos também jazer um vulto sobre telas mais delicadas que os
despojos
silvestres,deasanimais
quais eram, talvez, ainda restos do anterior luxo dos paços de
passada
Tárraco;grandeza dos duques
talvez, vestígios da de Cantábria e da antiga civilização gótica. Um
pano
de de pendia
ouro púrpuradafranjado
abóbada natural, preso nas estalactites seculares que dela
desciam, semelhantes
pendurões do teto de um aostemplo normando-árabe. A luz dos fachos mal
afastado;
alumiava masaquelenessa meia - claridade branquejavam roupas alvas de mulher,
recanto
que sonhos
por tambémdolorosos,
parecia agitada
se é que o seu gemer de espaço a espaço, o soluçar
instante
contínuo,a oinstante
agitar-senãodeeram antes indícios dessa modorra febril, dessa
hesitação
vigília, entre o dormir
semelhante e a do moribundo que já perdeu a consciência da
ao arquejar
vida
meioque vaicena
desta fugindo. No
de duvidosa quietação uma personagem velava. Era o moço
atravessando
Pelágio, que, a caverna a passos lentos e cautelosos, de um para outro lado,
ora aplicava oirrequietos
movimentos ouvido aose ao respirar agitado do vulto branco, ora parava à
olhos
entradanadaescuridão exterior
gruta, fitando os e escutando com todos os sinais de impaciência
de quem
que tarda.espera
Depois, alguém
dirigia -se para o lado do vermelho brasido e, cruzando os
braços, punha-
contempla se a aspecto do cavaleiro do escabelo com um olhar de
r o torvo
misturado
simpatia e do que quer que fosse de admiração e de terror involuntário.
compaixão,

Estes movimentos sucessivos do mancebo repetiram-se umas poucas de


vezes: por fim,
membruda a figurado lusitano Gutislo assomou no arco irregular que
e selvática
servia de pórtico
habitação roubadaàquela
pela desventura às feras.

- Voltaram? - perguntou em voz baixa ao bárbaro do Hermínio o duque de


Cantábria.
- Desmontam agora - respondeu Gutislo: - Vélido, o centenário, disse- me
viesse ver se repousavas.
- Repousar! - replicou Pelágio, sorrindo tristemente e olhando para o sítio
onde o pano
ocultava de púrpura
o vulto branco.

- Que venha: que venha já.

Gutislo desapareceu. Daí a alguns momentos, o centenário entrava.

Era um guerreiro, cujos cabelos brancos, cujos meneios pausados e cujo


olhar penetrante
testemunho davam e discrição. Parecia inquieto e assustado.
de prudência

- Que novas nos trazes, Vélido? Qual caminho seguem os árabes?


beberão
Concana
noite.
almenaras.
-ajuntaram
O quais
E que
Pelas
as
prouvera
eforam
àecoarão
águas
Osalturas
hora
pastores
as
da
do
ado
novas
nos
Deus
terça
Deva;
sul
alcantis
astúrios,
eles
noturna,
dos
e os
dopegureiros?
sons
nunca
oriente
do
que
nos
Auseba.
das

houvessem
reluziam
trombetas
nos
relataram
-esperavam
Vagueamos
interrompeu
ao
encontrado.
então
agarenas
longe
no
odispersos
as
vivamente
que,
vale
ouvir
armas
Aosumidos
deamanhecer
-se-ão
Onis,
ados
tarde
Pelágio.
infiéis,
por
onde
osSão
retumbar
einteira
todos
entre
-podido
inimigos?
depois
cavalos
as
muitos
os
eobservar
brenhas,
aesculcas
as
pelas
A
maior
africanos
suas
que
ouencostas
poucos
de
distância
parte
tinham
seperto...
daos
dese acham?
- Pouco depois do amanhecer devem ter descido os últimos outeiros do
Vínio,
em todoe quando o sol brilhar
o seu esplendor poderão pisar o solo, até hoje livre, do vale de
os nossos cavaleiros
Covadonga. transporem
Os pastores viram o bália: viram despenhar-se o roble, e os
infiéisesquadrões
Mas, recuarem espantados.
após esquadrões desciam das montanhas, e dentro em breve
descortinavam
na margem do rio pornão
grande espaço senão tropéis de árabes. Ao pôr do sol
ainda as gargantas
serranias golfavamdastorrentes de infiéis, e as selvas retumbavam com os
golpes de ma
anoitecer, umachado.
ponte Antes de estava lançada sobre o Sália num sítio menos
espaçosa
começavam
profundo, e osa atravessá-la.
inimigos Entre os primeiros que passaram aquém,
asseguram os zagais
muitos cavaleiros terem
que, pelosvisto
elmos e couraças, pelas cateias e franquisques,
eram, sem dúvida, godos.
- São as tiufadias da Tingitânia: são os soldados réprobos do conde de
Septum, das
desertos que Astúrias
Deus conduz aos os abutres e javalis tenham lauto banquete de
para que
cadáveres.
Pelágio e o centenário voltaram-se: a voz que proferira estas palavras soara
do escabelo,
atrás queo despertara
deles. Era cavaleiro às primeiras palavras do capitão dos esculcas e
que, firmados
sobre os ecotovelos
os joelhos com a cabeça entre os punhos, escutara todo o diálogo.

- Quê?! - exclamou o mancebo - ainda há pouco havíeis cerrado as


pálpebras, e já despertastes, Eurico?
- Duque de Cantábria, desde muito que o sono é sempre breve para mim: há
muito,
não que nestas
derrama ve ias ele
consolação nem frescor. Adormecido ou desperto, o meu
espírito vêa sempre
imutável ante
realidade, e asirealidade é medonha. Oxalá pudesse esta alma
dormir!
- Bem o sei - replicou o filho de Favila. - A imagem da pátria, santa e
sanguinolenta
melancólica, senos vossos sonhos do dormitar. Algumas palavras soltas que
misturava
proferieis...
- Ah! - interrompeu o cavaleiro, pondo-se em pé rapidamente, com um
Eram tãoespanto.
gesto de extravagantes os meus sonhos!... Que palavras me ouvistes?
- Eu falava?!
Delírios, loucuras!... dizei; não é
assim?

E olhava inquieto para o mancebo, como se receasse que um segredo


importante
dos lábios. lhe houvesse fugido

- As vossas palavras eram quase ininteligíveis - respondeu Pelágio. -


sempre! - Eis
Perdida para o que repetíeis
sempre; para muitas vezes; e depois: - Não resta uma
esperança!...
gentil!... Oh, tão
Homem formosa
infame, que etinhas em mais o ouro que a virtude e a glória,
maldito
os dentessejas
vos tu! - E então
rangiam, e, entreabrindo os olhos, o vosso aspecto era terrível!
Espanha,
Pensáveis,napor
formosa terra dos godos, e a indignação vos arrancava
certo, na
maldições,
que venderam contra
peloOpas
ouroedos
contra os as aras de Cristo e a liberdade dos seus
árabes
porém,
irmãos. os sonhos, cavaleiro!
Engariaram- vos, A esperança resta ainda, e a Espanha não se
perdeu
mesmo para
agorasempre! Vós Abundante cevo de cadáveres humanos vão ter os
o dissestes.
abutres e javalis das
montanhas.
manhã
anterior.
Mas
profundo,
Era
-novas
persegue
Tendes
Oh!sinistro
a Abdulaziz
que
mentir
estejam
--nos
razão!
no
oOs
ecentenário
qual
lúgubre
não
meus
como
a -cavalo
busca
tornarão
não
replicou
lábios
a e,
bestas-feras?...
haja
trouxera,
atodavia,
com
última
mentiram
eles,
osonhar!
guerreiro,
a lança
porque
guarida
tranqüilo
nãoDepois
em
ao
reparou
Pois
estes
deixando-se
coração,
dos
punho
obem!
dos
modo
cristãos,
olhos
nocombates
prontos
Vai,
sorriso
secom

disseram
cair
eos
hão
dize
aque
doloroso
últimos
de
marcharem
éde
que
aos
novo
ele
que
cerrar-
nossos
se
oaripenes
sobre
dizia.
para
que
dorme
se,
para
aojábem
de
a
escabelo
Espanha
agora,
placidamente!
que
Pelágio,
enrugava
voltando-
terra
cavaleiros
entrada
eu
livre
em
dormirei.
do
preocupado
não
easse
da
sono
que
voltando
vale.
faces
para
havia
Espanha;
Éantes
bem
Os
então
Vélido,
deesperança.
àde
pelas
Eurico
postura
romper
prosseguiu:
e, a
fundeiros e mais bucelários de pé que se preparem para subir aos píncaros
sobranceiros porDize-
lados do arraial. amboslhes
os também, a uns e a outros, que sem demora eu
serei com eles.
O centenário saiu.

Pelágio chegou- se então aos que dormiam e, despertando-os um a um, fê-


los aproximar da boca da
gruta:

- Vede vós a estrela matutina que empalidece? - disse, apontando para um


firmamento,
breve espaçoonde,
do através do portal irregular, se via fulgir o planeta Vênus. -
Não tarde muito
desapareça que elana vermelhidão da aurora. Essa vermelhidão tingirá
mergulhada
em breve
sangue háodecéu,
hojecomo
tingiro a terra: mas confio em Deus que, também, como
envolto
após elano
há seu fulgoroglorioso,
de surgir sol assim a cruz e o nome dos godos se
alevantarão
sangue triunfantes,
vertido por essesapós
dois oobjetos santos e queridos, que nos têm
meio dos trabalhos
alimentado a energiae perigos.
da alma Guerreiros!
no os árabes seguiram as vossas
pisadas.
um Abdulaziz
insensato e Juliano, ousaram aproximar- se ao antro dos leões de
e um renegado,
Espanha, e os leões
despedaçá-los. O céuhão de
condenou- os: diz- me íntima voz que ele os condenou,
estratagema a
inspirando-me umque os infiéis não poderão resistir.

No gesto de Pelágio, ao proferir estas palavras, estava estampada a expressão


edadoconfiança,
entusiasmo; do esforço
daquele entusiasmo que ele sabia comunicar aos que o
ouviamdesesperada
quase e que, na situa em queção se achavam os foragidos das Astúrias, fizera com
voluntariamente
que lhe cedessemo mando supremo os mais velhos e experimentados
guerreiros.
Pelágio expôs em breves palavras os seus desenhos para obter dos árabes um
triunfo completo.
caminho que seguiam O devia forçosamente trazê- los às gargantas das serras.
Colocados
vale, uma partena entrada do
dos cavaleiros oferecer-lhes-iam débil resistência, cedendo
retirando-se
pouco a pouco parae o topo daquela espécie de caldeira cortada nas montanhas:
apenas aí chegados,
abandonando os ginetes, precipitar-se- iam para a caverna, aonde já se teriam
crianças
acolhido easvelhos mulheres, dispersos pelas tendas do campo, e em cujo estreito e
escarpado portal
pelejadores bastavam poucos para resistir à multidão dos inimigos. Então o grosso
dos cava leiros,
nas selvas que seem cilada para as alturas, à esquerda da garganta do vale,
dilatavam
costas,
acometê-los- enquanto iamos bucelários, sumidos pelas penedias, lá no alto dos
pelas
barrocais
um muro de queambos
formavam como
os lados do arraial, fariam chover sobre os infiéis as
aarmas
estesde fosse possívelsem
arremesso, repeli-
quelos, ignorando os caminhos que conduziam
àqueles
só lugares,
acessíveis na aparência
às águias e aos abutres, que ali tinham, de feito, a sua guarida
solitária.
- Mas a vós, cavaleiros - concluiu Pelágio - que provastes extremos de
esforço
salvaçãonadecorreriaminha pobre a que devo
irmã, aa vós pertence o acabar a vitória que o Senhor
um
nos ano que Há
vai dar. as nossas
mais demãos se têm calejado a aluir os penhascos que coroam
omais
tetode desta
um caverna;
ano que raro há dia se passa sem que o suor das nossas frontes os
umedeça, aopara
lentamente arrastarmo-
a borda do losdespenhadeiro que se eleva a prumo sobre o ádito
acompanhados
deste recinto. Aí, dos meus robustos cantabros, e dos bárbaros do Hermínio,
quando
defender;
invisíveis
esses
esquadrões
subterrâneas
vós:
golpes,
colear
-pagãos
próceres
Comosereis
rochedos
junto
os
para
os
assim?!
equando
bucelários
golpes
gardingos;
inimigos,
acerrados
de
os
inteligência
doque,
Covadonga,
reter
Deva,
dos
-asreplicou

quando,
trombetas
apinhados
dos
fizerem
nossos
nós
no
ireis
inimigos
que
cimo,
que
assentar-vos,
Sancion,
nós
franquisques,
guie
chover
rareados,
meneamos
dos
ante
parecem
pudermos
oda
que
duro
aquele
sobre
que
Espanha.
confundidos,
osembebidos
no
braço
por
aferirem
arremessar-
os
não
acha
portal,
cume
vezes
infiéis
Pelo
menos
dos
depelas
do
searmas
cantabros
estivera
caminho
os
na
esmagados
Auseba,
arremessarem
destruidores
nos
tiros
penedia,
costas
eaoade
talhado
espada;
ponto
emeio
esoarem
funda,
dos
oos
calam
anjo
troços
que
deles
lusitanos
de
contra
na
nós
as
do
uma
oseda
que
os
será o vosso pelejar: aí,
guerreiros
toada
setas
rapidamente
rocha
extermínio
para
serpente
fazer
rochedos
interromper
trajamos
lhes
ecair
de
sobre
osmaldita
morte,
odirigir
despenhados.
sobre
dardos,
que
ferro,
pairará
as
oe mancebo.
esmaguem
nascentes
oaeos
hão
que
cabeça
os
cumpre
junto
de
ousa-de
dos
os
que
Nós,
combateremos, como os servos e vis, de longe e sem risco? Nós, que por
tantas
serras milhas
demos asatravés
costasdas
aos infiéis, não poderemos, embebendo-lhes as
enfim:
espadas- nos
Eis-peitos,
nos aqui! - Pelágio, isso é impossível!
dizer-lhes

- Impossível! - repetiram todos os outros cavaleiros apinhados ao redor de


Sancion.
- Impossível é - interrompeu o duque de Cantábria com gesto severo - que
recusem obedecer-
haja guerreiros me, no
cristãos quemomento em que se trata, não de ambições de
glória,
Espanha.mas da redenção
Cavaleiros, da
o esforço de vossos corações vos engana! Exaustos pela
noite, osda
correria braços vos desmentiriam o ânimo, e eu não consentirei jamais um
próxima
sacrifício
outro modoinútil, quando
podeis de para salvarmos as Astúrias. Gutislo! - clamou
contribuir
ele aproximando-
boca da caverna -sedizeda aos teus irmãos do Hermínio que venham aqui e ao
tiufadia que vos
qüingentário siga com os soldados cantabros. Sancion, Gudesteu,
da minha
Astrimiro,
me cercais,Ênecon,
eis ali ovós todos
vosso que Parti.
caminho!

E apontava para um lado da gruta, onde quem chegava ao perto via, lá em


cima, o céu estrelado,
uma espécie pornatural, e, quase debaixo dos pés, um como
de clarabóia
profundezas se percebia
sorvedouro escuro, o ruído das nascentes do Deva. Na circunferência
em cujas
daquele abismo, desde
chão da caverna, o
os foragidos, aproveitando as escabrosidades das paredes
uma escadatinham
circulares, tosca, formado
ora cavada na pedra, ora firmada sobre troncos de árvores
fixos nas fendas
cavidades e e, que, lançada em espiral, saía perto do cimo calvo do
da rocha,
Auseba.
vale fosseAssim, quando
ocupado o
dos sarracenos, os cristãos poderiam defender-se por
caminho oculto
largo tempo, os socorros
obtendo dos montanheses.
por esse

Entre os cavaleiros a quem Pelágio dirigira aquelas palavras houve alguns


instantes dedehesitação,
murmúrio e um
descontentamento; mas, por fim, Sancion, pegando em um dos
fachos,
para encaminhou-
a escada se e os outros seguiram-no. Os quase selvagens filhos
subterrânea,
peles de alimárias,
do Munda, vestidosedeos cantabros, cujas feições e trajos também revelavam a
sua origem
tardaram célt ica,
a entrar nanão
caverna. Pelágio então lhes ordenou obedecessem aos
precedido, e emosbreve
guerreiros que haviamo som das passadas daquele tropel desordenado,
alongando-se
morreu pelo abismo,
em silêncio total.

Eurico parecia indiferente ao que se passava ao pé dele, assentado no


escabelo
cravados enocom cepo oscandente
olhos que se consumia no afumado lar. Pelágio voltou-
-seVós,
para Eurico,
ele, e disse- ficareis
lhe:aqui: vós que salvastes minha irmã, sereis o seu
guardador.
vigiaria porQuem melhor do que esse homem que nela tem um testemunho
Hermengarda
perene dodamais
esforço, maisindizível
pura e generosa lealdade? Desejaria ver junto de mim no
de Espanha:
combate ter- vo-
o melhor lo-ia, até, pedido quando o mistério em que vos
guerreiro
envolvieis
todos que vós, nos fazia suspeitar
o cavaleiro a éreis um ente privilegiado e não um mortal
negro,
depois
como nós. queAgora,
no transe horroroso das margens do Sália, nos revelastes quem
porém,
sois,
morrer, quando,
pedíeis resolvido a
apenas algumas lágrimas para a vossa memória àqueles que
vos sobreviviam,
pedir- vos-ei eu, também, que não queirais encontrar o primeiro ímpeto dos
desta nossa Se
sarracenos. triste
na morada,
defensãoaonde cumpre atraí- los, for necessário o auxílio do
doos
perecer
anjo
eaciência
Silêncio
tumultuavam
Crendo
não
gruta
cavalo
febre
mais
assistir
velhos
da
e àdesceu
que
têm
guarda
os
ler
ilustre
guardava
rédea
últimos
no
ainúteis
ao
achado
devora.
paixões
seu
primeiro
solta,
ados
dasenda
pobre
gesto
ohomens
para
tiufados
alívio
cavaleiro:
que
Retardarei
violentas
tortuosa
orecontro
perturbado
filha
se
combate.
tantos
livres
confundiu,
dedeno
Vítiza,
que
equanto
de
Favila.
dos
opostas.
da
seu
Fazei,
nossos
aconduzia
Espanha,
infiéis,
mesma
olhar
ou
por
puder
Ela
se
entretanto,
Não
irmãos,
fim,
incerto
aparece
orepugnância
ao
cólera
vireis
oduque
respondeu;
no
instante
fundo
sussurro
recomendou
emais
vós
de
cintilante
de
que
do
Deus
Cantábria
morrer
de
tranqüila,
nestes
que
vale.
nem
se
longínquo
ainda
tinham
acolherem
descobria-
Daí
Pelágio
conosco.
olugares
repouso
atravessou
enão
aopouco,
monge
do
lhe
está
reine
aqui
se
vencedor dos vascônios,
satisfeita,
Entretanto,
Baquiário,
como
as
profundo
que
dera
mostrado
apressado
sentiu-se
arraial
preparando-se
mulheres,
lá,
para
oque
naquela
melhor
osilêncio.
isso
os
eaem
se
galopar
continuai
devem
boca
outros
as
agitava,
tempo.
para
cuja
alma,
remédio
crianças
da
hoje
de
guerreiros
o atemeroso
um
serpara
o em dia que pouco tardaria a nascer.
Eurico estava, enfim, só.

XVIII - IMPOSSÍVEL!

Nada neste mundo me agita o seio, senão o teu


amor.
Lenda de S. Pedro Confessor , 9.

Apenas Pelágio transpôs o escuro portal da gruta, Eurico alevantou-se. Aspirava com ânsia, como se
aquele não
tépido ambiente
bastasse a saciá -lo. O desgraçado resumia num pensamento devorador, numa síntese atroz,
odoloroso
seu longe e
passado e o seu torvo e irremediável futuro. Como voltara àquele lugar? Como, sem lhe
vergarem
tinha os joelhos,
ele descido das alturas do Vínio com Hermengarda nos braços? Que tempo durara essa carreira
deliciosa e ao mesmo
tempo infernal? Não o sabia. Imagens confusas de tudo isso era apenas o que lhe restava, - do sol, que
poucoalumiar
viera a poucooslhe passos, dos ribeiros que vadeara, das penedias agras, dos recostos dos montes, das
selvas que recuavam
para trás dele, dos cabeços negros que, às vezes, lhe parecera debruçarem-se no cimo dos
despenhadeiros,
verem correr. Nocomomeio para o recordações incertas e materiais, outras passavam íntimas, ardentes,
destas
voluptuosas, negras,
desesperadas. Por horas, que haviam sido para ele uma eternidade de ventura, o respirar daquela que
amava comocom
se misturara insensato
o seu alento; por horas sentira o ardor das faces dela aquecer as suas, e o coração
bater-lhe Depois,
coração. contra oavultavam-lhe
seu no espírito a imagem veneranda de Sisberto e o altar da sé de Híspalis,
junto do qual vestira
a pura estringe de sacerdote, e Cartéia, e o presbitério e as noites de agonia volvidas nos ermos do
Calpe. dizia,
contra E tudoseisto se se condenava, o amor pelo sacerdócio, o sacerdócio pelo amor, o futuro pelo
repelia,
passado; e aquela alma,
dilacerada no combate destes pensamentos, quase cedia ao peso de tanta amargura.

Eurico deu alguns passos e encostou- se à boca da gruta; porque os membros


apesar
exaustos delhe
quefraqueavam,
nem um mo mento o abandonasse a força da sua alma enérgica.
A brisa frigidíssima
madrugada consolava da-o, como ao febricitante a aragem de um sol posto do
outono.
as trevasAdoseus péssobre
vale, estavam
a sua cabeça as solidões profundas e serenas do céu
semeado dos
rutilantes das pontos
estrelas e mal desbotado ao ocidente pela última claridade da
lua minguante
desaparecia. Eraquea imagem da sua vida. Serena e esperançosa, como o
fora a juventude.
crepúsculo do luarDesde que lhe
fugitivo, um amor desditoso o fizera alevantar uma
barreira desde
mundo; entre sique
e oseruído do às solenes tristezas da soledade e a derramar
votara
benefícios
sobre e consolações
a cabeça dos miseráveis e humildes; pela alta noite do seu viver muitas
vezes fulgurara
de alegria, comouma essesluzastros que brilham a espaços nos abismos do
firmantento.
instantes em Lá,
que ao
se menos,
esqueciahavia
do seu destino. Mas, depois que o frenesi das
que trocara
batalhas as harmonias
o arrastara; depoisdas tempestades do Calpe e o rugido das vagas do
Estreito pelonos
moribundos gemer de
combates e pelo retinir dos golpes, nunca mais descera um
oraio de cima
espírito. O aseu
alumiar-
presente lhee o seu porvir eram, como esse vale, um precipício
sem fundo,e indelineável,
tenebroso maldito.

E pelo céu tão plácido e melancólico; pelo céu, que ele às vezes se punha a
contemplar às horas mortas
no pobre presbitério de Cartéia ou assentado em algum promontório, a sua
imaginação
desvios voou
do sul, atélágrimas
e as os de saudades começaram a rolar- lhe
mansamente pelas
desventurado tinhafaces.
saudadesO das tristezas do ermo, porque já não podia ter
Engolfado
olhos
Senhor.
pensamento
murmuravam
era
nenhuma
os
Providência,
A
suavizar
morte;
anjos
essa
cravados
desejos
humanos. As
oração
compreendem:
oesta
escritura
dosmartírio
naquelas
lágrimas
da
que
idéia,
com
morte.
nos
que
aspoderiam
cicio
daquela
astros
todos
tremenda,
acumula
cogitações
correram-
contentamentos Insensivelmente
gemido
quase
nós
cintilantes,
alma
representar:
ou
sabemos
indiferente
imperceptível.
lhe
dolorosas,
dissipa,
enérgico
atribulada,
então
que
no
ajoelhou
sabe
mais
oração
de
pareciam
ou
omomento
guerreiro
todas
como
formosa,
pesar
Era
abundantes,
eque
aas
estendeu
em
nas
sorrir
ação
de
émisérias
conservou-
estio
segundo
um
balanças
suprema
de-lhe
mistério
eardente
alma,
as
o terrenas,
ecoração
mãos
achamá
agonia
da
vida
se
férvida,
entre
justiça
as
para
por
é-lo
cuja
e oque
e
algum
para
parecia
firmantento:
procelosa,
nenhumas
Deus
intensidade
da
risonha,
grossas
piedade
oeseio
tempo
odilatar-
águas
pálida
homem
palavras,
que
divinas.
imenso

os
imóvel
da
aos
ou
se-
seus
trovoada
enegra,
agitava:
lhe
que
dolábios
e com
nem
veio
oos
refrigeram a terra, que estua sob os raios aprumados do sol. Tinha- a
buscado;
horrível dabuscado com a placidez
desesperança; como um remédio de cuja eficácia a consciência da
duvidar. Seriaonão
imortalidade faziamais do que ir deitar- se em leito de dores externas?
Talvez:
ser mas a tanto
refrigério: mudança podiaA morte parecia, contudo, fugir a ele para que
bastava.
lhe
nemcumprisse.
este últimoHouve
desejoumse instante em que lhe ocorreu o pensamento de subir
ao pináculo
Auseba escarpado do
e despenhar-se no vale. Refugiu desta idéia, porque era covarde.
Eurico,
não o sacerdote
devia soldado,
fenecer ímpia e vilmente; devia depor o peso intolerável da vida no
pelejadas
campo dasem nome da cruz e da Espanha. E no recontro daquele dia, uma voz
batalhas
íntima lhe murmurava
que o havia de obter.

Este anelar pela morte era uma bem triste cobiça! E quando se lembrava de
que essa
jazia mulher
a poucos que aídele; essa mulher, em cuja adoração concentrara todos
passos
formosos
os afetos dosdiasmais
da vida; cuja imagem sonhada nas solidões do Calpe,
desenhada
olhos da sua dealma,
contínuo diante
gravada dosum selo de saudade e de amargura em todas
com
mulher que, pouco havia,
as suas cogitações; essa por horas de delicioso delírio, apertara contra o
peito, eloque
torná- pudera,
o mais felizoutrora,
dos ho mens; quando se lembrava de que sobre isso
tudo ele deixara
de bronze cair a campa
do sacerdócio, que ninguém podia erguer, o desgraçado sentia
todas
estalarem-lhe uma a uma e fugir- lhe do seio um grito semelhante ao que
as fibras do coração,
rebenta
condenado dosao lábios do do potro, no primeiro movimento da mão pesada do
suplício
algoz.
E, como se quisesse ainda mais saciar- se de dor, encaminhou- se para o lado
onde Hermengarda
repousava. Ao clarão da tocha que espargia uma luz mortiça, o guerreiro
inquieto
contemplou-adormir. Era bela; mais bela que nos tempos da primeira mocidade! O
naquele
seu gesto angélico,
desbotado pela palidez, emagrecido pelos pesares e terrores, ganhara em
íntimos
expressão, pensamentos
em reflexoodos que perdera em viço e em toques de inocência.
Bonina desabrochada
campos da vida, brilhara noscom todas as pompas do seu vicejar à luz da manhã;
o ardor intenso
meio-dia a fizeradopender; a viração da tarde lhe traria, talvez, ainda frescor e
fragrância
viveza; masperdia-
a sua se nas auras que passavam; nas suas cores harmoniosas
revia- se,
Aquela apenas,
alma fugiaosolitária
céu! pela terra num viver incompleto e volveria aos
conhecer
abismos da o mais
criaçãoprofundo
sem e enérgico dos afetos huma nos, o amor, que une
dois espíritos
fragmentos decomo dois os quais a Providência separou ao lançá- los na terra,
um todo,
eunir-se,
que devem buscar- se,
completar-se, até irem, depois da morte, formar, talvez, uma só
Deus.
existência de anjo no seio de

Mas quando Eurico se lembrou de que, porventura, isto era sonho; de que
podia serna
passasse quevidaessatãoalma
vazia nãoe solitária como ele julgava, e que esse coração,
que poucas
pulsara horasdo
tão perto antes
seu, batia, acaso, por outrem, sentiu o suor frio manar-
elhe fúnebre que A
da fronte. mal alumiava
tocha baça a irmã de Pelágio pareceu- lhe retinta em sangue;
e,
porcomotufãocedro arrancado
repentino, foi encostar-se à rocha lateral, cuja superfície irregular
O vê -Ia despertara
lhe escondia Hermengarda. todo o delírio do seu primeiro amor, e aquela idéia
intolerável,
atormentaraque nas tantas
solidõesvezes o
do Calpe, espremia- lhe agora o coração com
redobrado furor.
E assim ficou por alguns momentos mudo, anelante, aniquilado. Quem era,
ali,céu
De
voz
leito,
truncadas,
palavras
o-redobrava
rosto
Sempre
repente,
não
dedemudado
oHermengarda.
para
orgulho
oconfusas
saberia
ele!
de
o um
oguerreiro
violência,
lado,
sempre
ai
com
odizer.
se
comprimido
gesto,
como
começaram
que
Aproximou-
conheceu
esta
Os
aorepeliste
equem
passo
pensamentos
visão
comveio
tentava
oque
de
que
asusto
ocoordenar
seremorso!
acordá-lo
gardingo...
um
omanso
seu
pintado
afastar
revolviam-se-
sonho
respirar
eem
-daquela
manso,
mau
visão
murmurou
Perdoe-te
no
períodos
olhar,
se
atão
agitava,
ia
de
espécie
lhe
tornando
medonha.
modo
aointeligíveis.
na
Hermengarda.
irmã
céu
mente,
até
de
que
ode
torpor
haveres-me
que,
cada
Pelas
Pelágio
ela
como
O
vez
não
suas
- as
o
onde estava, por que viera
ondaspai,
marítimo,
doloroso.
visse.
estendia
palavras
inteirame
pular
mais
meu
obrigado
imperceptível.
do
Assentada
num
os
coração
incoerentes
meu
aEstremeceu.
nte
tempestuosos,
sacrificar
sorve
braços
desperta,
pai!sobre
de
douro
Perdoe-te
voltando
Eurico
eaos
Era
oessas
rápidos
a e indistintos.
pés desse orgulho o sentimento de amor que se ale vantara neste coração.
Nós ambos assassinamos
desgraçado; mas a puniçãoocaiu inteira sobre mim! Embora. Eu não te
filha nunca te óacusará
amaldiçoarei, anteAotua
meu pai! supremo juiz.

Depois, ficou por alguns instantes calada, com os olhos fitos no rochedo
fronteiro, em
escabrosa as cuja facepareciam dançar e agitar- se à luz da tocha que ardia a
sombras
curta distância,
aragem e que perceber
movia. Crera a perto de si um gemido abafado, cortando
noturno.
fugitivo o grande silêncio

- Vai-te, vai- te! - prosseguiu ela. - Que posso eu fazer-te, infeliz?... Bem
longo e atroz
martírio, porquetemainda
sido onãomeu
achei no mundo alma com quem me fosse dado
repartir o cálix
infortúnio; do houvesse de contar os tormentos que há tanto tempo me
a quem
sorrir.
varreramSe vivesses,
dos lábiosseria
o tua; tua esposa, tua escrava!... mas a bênção nupcial
não pode
túmulo e adescer entre o meu pai!... diante do trono do Senhor, onde são
vida. Favila!...
jura-
iguaislhe que tuae filha
o duque repeliu o seu amor por obedecer-te: dize -lhe que o
o gardingo,
prantoacorreu
ouvir nova da destes olhos ao
sua morte. Oh, dize- lhe, dize -lhe que não fui eu que o
assassinei.
E aqui, deixando pender a cabeça sobre o peito, pareceu voltar ao sentimento
da realidade
espécie mas febril,
de terror aquelaque lhe haviam gerado no espírito os transes, qual
sucessivamente
mais doloroso, por passara,
que tornou a apossar- se dela. Favoreciam- no o lugar, a
hora, o silêncio.
Hermengarda alevantou de novo os olhos desvairados e, firmando-se no
rochedo, tentava erguer- se.
- Era Eurico! - murmurou ela. - Depois de dez anos, bem conheci a sua
voz!
tantasMais
vezestriste, só: triste
a tenho ouvido como
nos meus sonhos de remorsos! Bem conheci o
carregado, só: pálido
seu gesto! Mais pálidoe ecarregado, como tantas vezes tem surgido do sepulcro
para vir me
acusar- mudamente
silencioso e quedo ante mim, por longas e não dormidas noites.
Era ele!...
coração euum espectro
sentia bater,cujo
cujos braços me apertaram por cima do abismo
pelos recostos
revolto, atravésdas serranias. Dos seus olhos caiu sobre o meu seio uma
da floresta,
lágrima!queimam...
mortos As lágrimas dos a vida; porque bem sinto a morte chamar- me...
devoram

Tinha -se posto de joelhos, com as mãos estendidas, parecia implorar


piedade.
- Morrer! tão cedo! Quando apenas torno a ver meu irmão?!.. Pelágio!
Pelágio! por que
Vem despedir -te me deixaste?
da tua pobre Hermengarda. Eurico a espera para o noivado
posso tardar. e eu não
do sepulcro,

E desvairada, pôs- se em pé, chamando por Pelágio com voz sufocada.


primeiros
Apenas, porém, passos,dera soltou
os um gemido agudo e ficou imóvel. Diante dela,
realidade
a origem dos ou fantasma,
seus terrores estava
secretos. Era o gardingo que a amara, que ela cria
vingadora vinha
morto, e cuja imagem mais uma vez atormentá- la. O vulto cravara nela um olhar
ardente, que a fascinava.
Sorriso doloroso lhe pousava nos lábios. Estendeu o braço, segurando a mão
de Hermengarda,
pretendeu recuar eque não pôde. Como petrificada, parecia que os pés se lhe
caverna. Aquela mão,
haviam enraizado que segurava
no chão da a sua escaldando de febre, era gelada
doaOh,
associadas:
-uma
alma
me
instantes,
vermes
eque,
escarpadas
gardingo
desesperação
alumia,
na
palavra
um
Deus
ainda
linguagem
raio
com
do
eoto
tinha
fatal,
ela
amor
fugitivo
não
mar
pague!
o gesto
énão
receberam
-se
que
tão
mentirosa
do
correspondido
pode
concentrado
ocidente,
de
bela,
do
-ládisse
estava
luz,
íntimo
consumi-
ainda
ado
luz
Eurico
parte
àescrita
mundo,
esanta
beira
quando
etoda
angustiado
tomado
da
la.
emeem
dos
sua
no
Pendurei-a
pura
voz
sepassa
coração,
caracteres
precipícios,
herança
chama
ao
baixa
de
cogitar,
mesmo
como
contentamento
aealta
que
vida.
lenta
de
oprosseguiu:
tempo
enoite,
lhe
relâmpago!
eu
fogo,
oDurante
-lhes
mar
despedaçavam
que
pela
maldito,
e eretenho.
que
elançaste
osanos
espessura
- ele
Não,
- E,dei-a
via,
na
como a de um morto. A vida
duas
monstruoso,
escutava,
sacerdócio!
tão
felicidade!...
depois
Hermengarda,
aMorri;
das
precipícios
devorar
longa
trevas,
idéias,
porém
de noite
sentia
àestar
nas
não
desesperação,
horríveis
impossível

não
não!
rochas
da
calado
quiseram
dez
- para
minha
oOs
anos
porque
alguns
isso
por
tragá
que não
-la.
Atirei-a à torrente impetuosa das batalhas, e o ferro embotou-se nela. O céu
guardava
palavras de- me
amorpara te ouvir
e arrependimento; essas palavras de inefável doçura que
na minha
nunca fronte
esperei está gravada
escutar. É que a maldição de cima: é que ainda me faltava o
derradeiro
menos martírio...
posso acabar oAo teu: o pensá-lo é um refrigério. Hermengarda, eu vivo
da desonra,
ainda! e todo
Vivi para te osalvar
meu passado esqueci- o. Só uma coisa não, porque me
subverteu
futuro; para sempre
porque, depois de o passageira alegria, me recalcou mais violentamente
esperanças
um momento queagitar-
ousaramse no fundo desta alma, tranqüila na desesperança.
da campa,
Agora, posso
se há ir buscar
repouso lá meu repouso. Mas dize- me; oh, dize -me ainda
debaixo
outra vez,
Eurico! que amas
Repete diante do que respira aquilo que proferiste diante da sombra
Essas
criadapalavras, e o morrer!... O teu amor e a morte; eis para mim a única
pelo teu terror.
ventura
não tem possível, mas que
igual na terra.

E Hermengarda sentia ao contacto daquela mão fria e trêmula apertando a


sua, no acentocomo
tempestuosas dessaso frases,
oceano, tristes como céu proceloso, que lá, no peito do
havia um coração
vulto que tinha ante desi,
homem vivo, onde chaga antiga e cancerosa vertia ainda
sangue. Aem
pesadelo espécie
que sededebatia desaparecera com a realidade. O repentino
impulso
lançar- sedanossuabraços
alma foi
de Eurico. Fora ele o objeto do seu quase infantil e
ao
único amor, amor condenado suspiro, antes do primeiro volver de olhos; era o
silêncio antes do primeiro
cavaleiro negro, conhecido
nome se tornara cujo e glorioso por todos os ângulos da Espanha; era
que duas vezes acabava
ele, finalmente, o homemde salvá-la. Reteve -a, todavia, o pudor e, talvez,
aquela misteriosa
escurecia as idéiastristeza que vindas de tropel aos lábios do guerreiro.
desordenadas
Procurando
violência dosasserenar
afetos quea a agitavam, Hermengarda respondeu com uma voz
fraca e trêmula:
- Bendita a mão do Senhor, que te salvou, Eurico, leal e nobre entre os mais
godos!
nobres eGraças à piedade
leais filhos dos do céu, que por meio de tantas desventuras e perigos
nos uniu
restam aonos paços
filho que de Cantábria! No devanear do terror revelei-te, sem
do duque
querer, o asegredo
coração: do meu
sua história, ouviste-a. Perdoa à memória de meu pai, e, se de mim
as palavras
depende quefelicidade,
a tua me saíram involuntariamente da boca te asseguram que serás
feliz. Onos
ambos orgulho que a
fez desgraçados, não o herdou Pelágio. Que o herdasse, mal
caverna dos fugitivos.
caberia nestas brenhas,Enadepois, que nome há hoje na Espanha mais ilustre
que o do
nome cavaleiroMorreres?!...
de Eurico? negro, o Oh, não! Salvaste Hermengarda do opróbrio:
se nuncaela
amado, te te
houvera
diria como te diz hoje: Sou tua, Eurico!

A filha de Favila, cujo profundo e enérgico sentir mal poderia compreender


no
quemmomento em quevisto
só a houvera tímida recuava diante do perigo mais aparente que real
das margens
proferiu estasdo Sália, com um tom de entusiasmo, com uma expressão
palavras
afetuosa tão
guerreiro íntima,
caiu a seusque pés.oA ventura embargava -lhe a voz. O que lhe
nome na linguagem
tumultuava no coração dosnãohomens;
tem era mais que a loucura. Com um
movimento
os lábios a mão delirante, apertou
da donzela. contra
Queimavam! Depois de largo silêncio, ele
murmurou enfim:
- Minha! ... Quem há na terra que possa roubar- ma?... Anos de tormentos,
fostes como
bonança um diaImagem
e deleite! de que absorveste esta existência inteira; anjo que
inferno
me fazespara o teu
surgir docéu,
meutu foste que me salvaste a mim! Oh, como é bom ser
esquecido!...
viçosa
viver
que
A
do
fulgor
demudado,
mudança...
mã esta
cavaleiro.
oexiste,
confrangida
éinfernal.
palavra
adelicioso,
verdura
além
Com
por
Como
Afatal,
aquele
mão
Recuou,
de
do
odelicioso
apertava
braço
ti,
oprado!...
um
desol
no
olhar
Eurico
grito
afastando
esquerdo
deve
universo.
aporque
ardente
fronte,
Tínha-me
semelhante
agora
abandonou
estendido,
de
será
Vem,
como
eser
sivago.
também
contigo...
abelo,
minha
ao
se
irmã
a mão
Ela
de
buscasse
oserena
guerreiro
homem
de
amante,
esquecido!
não
de
ao
Pelágio,
Hermengarda,
podia

a esmagar
aragem
de
ferido
minha
parecia
ti...
compreender
sobressaltada
Tensde
ada
um
esposa!
adorar-
razão,
querer
morte,
tarde,
e os vem
seus
te
apor
feliz!... Tinha- me já
meigoque
Hermengarda.
sempre,
jurar
perante
rompeu
olhos
aquele
causa
arredá-la
pensamento
dentro. brilharam
de
ogesto
oagudo
sem
murmurar
semelhante
de
me
altar
si,
atroz
subitamente
me
pertences,
Quero
eenquanto
com
aos
rápido
lembrar
que
dopés
viver:
lhe
ribeiro,
do
do
com
do
surgia
seio
sacerdote...
o a lá
- Afasta-te, mulher, que o teu amor me perdeu! - murmurou enfim. - Há
abriste;
entre nóseuumprecipitei-
abismo: me
tu onele. Um crime, só um crime, pode unir- nos... -
-Fez
E uma pausa,
por que nãoeseprosseguiu:
cometerá ele? Talvez obtivéssemos perdão!... Perdão? Oh
para o sacrílego...
meu Deus, não! Afasta-te, Hermengarda. Diante de ti tens um
não o terias
desgraçado, um desgraçado que
fizeste!

A donzela uniu as mãos lavadas em lágrimas, e exclamou:

- Eurico! Eurico! enlouqueceste?... Por piedade, explica-me este horroroso


mistério?que
repeles? Porteque
fiz me
eu... eu que te amo, que sou tua, tua para sempre?!

Mas os olhos cintilantes do cavaleiro tinham amortecido: derribado na luta


oque seutravara comde
combater o destino,
tantos anos terminava, finalmente. Um sorriso insensato
contrações
substituiu- lhehabituais
no rostode as
melancolia. Afigurava -se-lhe que em roda dele
balouçava
fumosa da atocha
caverna, e a luzsegura no braço de ferro cravado na pedra parecia-
que ardia
lhe faiscar
sangue. em fitas
Esvaído, cor de assentou- se num fragmento da rocha e,
vacilante,
Hermengarda,
estendendo a mão pegou
parade novo na dela e, com um sorriso indizível, continuou
em voz submissa:
- Dez anos! ... Sabes tu, Hermengarda, o que é passar dez anos amarrado ao
opróprio
que sãocadáver? Sabes
mil e mil tu consumidas a espreitar em horizonte ilimitado a
noites
estrela polar
quando, da esperança
no fim, e,
os olhos cansados e gastos se vão cerrar na morte, ver essa
e, depois,
estrela desfechar
reluzir do céu nas profundezas do nada? Sabes o que é caminhar
um instante
sobre
caminho silvados pelo
da vida e achar ao cabo, em vez do marco miliário onde o peregrino
rasgados
de tréguase aos
sanguentos,
pés a borda de um despenhadeiro, no qual é força
precipitar-se?
É minha triste Sabes o que
história! isto é?
Estrela momentânea que me iluminaste, caíste no
abismo! Arbusto
retiveste que me
um instante, a minha mão desfalecida abandonou-te, e eu despenhei-
fado
me! Oh,foi negro!
quanto o meu

Hermengarda contemplava -o com assombro e terror... Como o entenderia


ela? Eurico prosseguiu...
- Olha tu! ao pôr do sol, no estio, ia eu assentar-me sobre um cerro marítimo,
oceano
alongando tranqüilo,
a vista epelo
parecia-me divisar-te desenhada na atmosfera, a sorrir
-me. Então,começavam
felicidade as lá grimasa de brotar-me dos olhos: depois, lembrava -me de quem
cond
eu era,ensavam-se
e essas lágrimasa meio das faces e queimavam como se fossem metal
candente.pelos
correndo A horas mortas,
desvios, quando o vento açoitava os arbustos enfezados da
montanha,
se meneavacada sombra
ao luar, sobrequeo chão pardacento, era a tua sombra que eu via.
tranqüilo
Outras noites, podia, ema que
sós comigo,
mais engolfar-me nos pensamentos de Deus, a tua
imagem
entre mim vinha interpor-mortiça
e a lâmpada se que me alumiava, e o hino do presbítero de
escrever- se nos
Cartéia, que devia, talvez,hinários das catedrais da Es panha, ficava incompleto ou
terminava
porque também por uma blasfêmia;
te via sorrir, mas a outrem, mas a homem feliz com o teu
amor,dee eu
sede tinha então
sangue... Era umasede...
lenta agonia! E sempre tu ante mim: nas solidões
imensidade
das brenhas,das na águas, no silêncio do presbitério, nos raios esplêndidos do
ilustre
decerto,
vencedor
-meu.
MasNinguém
Que sacerdote,
tenho
deliras!...
odos
ferro
eu
vencedores
existe
ímpio
com
cujos
- interrompeu
ohoje
dos
presbítero
hinos
da
árabes
nocruz.
sacros
mundo
Hermengarda...
de
não
A reboavam
Cartéia?!...
sua
que
respeitou?
era
possa
santa
ainda
embaraçá-
Hermengarda,
A- eQue
tua
pacífica.
háglória
tens
pouco
lo.
tuDeus
écom
Esquece
pelos
outra
lembras-
chamou-
o etemplos
mais
ote do
o
sol,até,
e, nona reflexo
hóstia pálido
do da lua sempre tu!... e sempre para mim impossível!
sacrifício...
presbítero
da
bela;
para
passado;
de
O
seucavaleiro
Espanha,
mim!
nome?
si,
a glória
e esquece-o
tudevives
sorriu
eCartéia;
de
a quem,
seres
para
depor
novo
com
oser
amor esse
dolorosamente e disse- lhe:
Os lábios da donzela fizeram-se brancos ao ouvir esta pergunta: um
pensamento monstruoso
lhe passara pelo espírito. eCom
incrível
voz afogada e quase imperceptível replicou:

- Era... era o teu, Eurico!... Mas que pode haver comum entre o guerreiro e o
um nome...Que
sacerdote? umaimporta
palavra?... que...

O cavaleiro pós- se em pé e, deixando descair os braços e pender o rosto


sobre o peito, murmurou:
- Há comum, que o guerreiro e presbítero são um desgraçado só!... Importa,
neste momento
que esse um sacerdote
desgraçado é sacrílego. O pastor de Cartéia...

- Oh, não acabes! - interrompeu Hermengarda, com indizível aflição.

- Era Eurico, o gardingo!

Proferindo estas palavras, que explicavam o mistério da sua existência, o


cavaleiro negro viu
como fulminada cair de Favila. E ele não se moveu. A sua imaginação
a filha
de si o vultoafigurou-
tresvariada suave e triste do venerável Sisberto, que estendia a mão mirrada
lhe perto
entre ambos,
os dividir em como
nome para
da religião, que os devia salvar, e do sepulcro, a quem
pertenciam.
Neste momento uma grande multidão de crianças, de velhos, de mulheres
penetraram
gritos na caverna
e choros de terror.com
No coração das Astúrias, entre alcantis intratáveis,
deserto,
no fundorepetia-se o grito que mil vezes tinha soado na devastada Espanha:
de um vasto
"Os árabes!"
Amanhecera.

Aquele sobressalto, tão impensado, revocou o cavaleiro ao sentimento da sua


de Hermengarda
situação. Ajoelhoue, junto
pegando- lhe na mão já fria, beijou- lha. Nas raias da
vida, aquele
último, beijo, primeiro
era purificado e
pelo hálito da morte que se aproximava: era inocente e
querubins
santo, comoaoodizer-lhes
de dois o Criador: - "Existi!"

Depois ergueu-se, vestiu a sua negra armadura, cingiu a espada, lançou mão
rompendo por entre
do franquisque e, o tropel, que fize ra silêncio ao vê -lo, desapareceu
através da porta
rochas tingia corda
degruta,
sanguecujas
a dourada vermelhidão da aurora.

XIX - CONCLUSÃO

Da morte às trevas,
Imortal, te diriges!

Merobaudes: Poema de Cristo .


Os
dessa
as
mártires.
Críssus;
praias
que
infiéis,
A
celeste
cidades
reinava
sem cadeia
procedimento
porventura
mil têm
porque
esperança,
contra
em
modos
por
in das de
Na
cendiadas
vez
todaos
quelido
África
armasbatalha
de
violado,
de
ainda
agodos combates
mais
aparecia
pelejar
parte,ehistória
o desejooeos
muçulmanas
serviam
defende
eaté de
restituir
dede junto
ilustre vinte
que,
acristãos
de
uma
salvar
morte
dever
fogodaquela
tinha ao
domil
prolongando-
guerreiro
nação
os
pela
viam
estar
sagradoevangelho
Auseba
chegado
seus época
sarracenos
conquistada
liberdade.
satisfeita.
com
teve
súditos
para
apare
ao foram
-sabem
deconsumir
apogeu,
se
oFora
Onte esta
movera se
arrepender,
solo
asisto viram
vingados
através
boa
indiferença
mulheres
eda
aos
aoaEsque
sua
que terra
seguir.pela
aosjáOseus
milhares
panha
mas
declinação
Pelágio
eos batalha
depreferira,
era os
última
dequase
templos.
debalde,
pacto
as comovalentes
Espanha,
vítimasdehumanas.
vez
vencedores
começava,
feito oito
Cangas
Teodomiro
por
uma
por
ehaver
ara
aele aque
séculos,
terra,
luz
poluírem
vitória de
do
finalmente.
imensa,
com
deposto
pagava
Ocoroou
osasaE
Onis
fez
mais
pereceram
sol
na
onde
árabesnaquelas
recuar
silêncio
últimas
bem
oespada
esforço
seu que
foi
verdade,
caro
as
confiar
não
aos
dos overdadeiros
coisas
chamasanenhuma,
oprimeiro
doo tardou
pés nas
Alcorão
desalento
no
ira
que,
dostristes
das margens
a até
ser elo
de
godosparae do
na piedade de Deus.
solidões. Mas, nesse dia de punição, esta devia abranger assim os infiéis,
como os aque
vendido lhesehaviam
pátria que ainda vinham disputar a seus irmãos a dura liberdade
brenhas intratáveis
de que gozavam das Astúrias.
nas

O ardil de Pelágio para resistir com vantagem aos muçulmanos, cem vezes
mais numerosos
cristãos, surtira oque os
desejado efeito. Ainda que muito a custo, os cavaleiros
enviadosà em
floresta cilada das
esquerda paragargantas
a de Covadonga puderam chegar aí sem
se
seremhaviam aproximado
sentidos maisque
dos árabes, cedo do que o fizera crer a narração do velho
Vélido.
nas bordas Os doinfiéis
Deva,pararam
no sítio em que rompia do vale, e os seus almogaur es
avante. Os cavaleiros
tinham ousado penetrarda cila da, que a pouca distância passavam manso e
manso, ouviram
tamente o tropel distin-
dos ginetes inimigos.
Mas, quando, ao primeiro alvor da manhã, Pelágio se encaminhava com o
aseu
garganta
pequeno dasesquadrão
serras, já para
os árabes rompiam por ela e começavam a espraiar-
se, como
saindo deribeira que,
leito apertado, se dilata pela campina. Os cristãos recuaram, e os
esta fuga
infiéis, simulada,aoprecipitaram-
atribuindo temor se após eles. Pouco a pouco, o duque de
Cantábria
entrada daatraiu-os
gruta de para a
Covadonga. Chegado ali, pondo à boca a sua buzina,
tirou um som prolongado.
Imediatamente os cimos dos rochedos, que pareciam inacessíveis, cobriram-
frecheiros,
se de fundibuláriosnuvem
e uma e de tiros choveu de toda a parte sobre os africanos e
sobre os renegados
Vacilaram; godos.
mas o desejo da vingança levou-os a apinharem-se, esquadrões
da
apóscaverna, onde,àfinalmente,
esquadrões, entrada encontravam desesperada resistência. Então,
comograndes
céu, se despegassem
rochedos do começaram a rolar sobre eles dos cimos do precipício
que lhes ficava
sobranceiro. Mãos invisíveis os impeliam. Cada rocha traçava no meio
oscilava, naquela
daquele vulto vastaque
informe planície de alvos turbantes e de capacetes reluzentes,
uma escura amancha,
semelhante chaga horrível. Eram dez ou vinte guerreiros, cujos membros
triturados,
esmagados,cujo cujossangue
ossosconfundido espirravam por cima das frontes dos seus
companheiros.
medonho! Era a esse espetáculo se ajuntava o grito de raiva de
- porque
desesperação
feroz e agudo,dos pelejadores,agrito
só comparável bramido de cem leoas a quem os caçadores
ausência delas, roubado
do Atlas houvessem, na os seus cachorrinhos.

Pela volta da tarde, apenas do numeroso e brilhante exército dos árabes


alguns milhares
fugiam de cavaleiros
desalentados diante dos foragidos das Astúrias, que os perseguiam
incansáveis
de Onis. além de Cangas

Fora no momento em que Pelágio penetrava, na sua fingid a fuga, sob o vasto
cavaleiro negro que
portal da gruta, saía.oO jovem guerreiro viu- o e estremeceu. Eurico tinha as
faces encovadas,
pálido o rosto
e transtornado, e havia em todo o seu gesto uma tão singular expressão
de tranqüilidade
fazia que os cristãos defendiam a entrada ele esteve quedo, como
terror. Enquanto
mas, logo que
indiferente, ao os árabes, acometidos já pelas costas, principiaram a recuar; e
combate;
que Pelágio
combater napôde
planície, o cavaleiro, abrindo caminho com o franquisque ,
inimigos. Desde
desapareceu no meio esse dos
momento, debalde, o duque de Cantábria o buscou:
nem
o viu.ele, nem ninguém mais

Era quase ao pôr do sol. Seguindo a corrente do Deva, a pouco mais de duas
Auseba,
onde
Em
atravessava
nas
aquele
-Chegados
trair-
perseguir-
Nazareno,
suas
frente
sobre
nos.
apertado
dilatava
mil
Estávamos
àda
nos.
dois
aclareira,
voltas,
ofereceste-
tosca
selva
Porém
rochedos
carreiro.
- se
ponte
e,
para
este
nessa
nas
passando
o silêncio
nos
as
Pelos
parou
de
mãos
aprumados
época
bandas
pedras
a salvação,
traios
dos
de
pela
tenaz
denso
repente
da
brutas
soldados
clareira,
assentava
eGalécia.
que
armas,
se
bosque
lançadas
e,
te
tens
de
voltando-se
continuava
seguíssemos:
conhecia
Quatro
guardado
um
Pelágio,
de carvalhos,
sobre
terceiro.
cavaleiros,
-se
epor
com
gera
ofoi
fiamo-
rio,
que
Era,
meio
no
aaspecto
em
uma
um
eram
meio
amim
nos
dos
aceno

senda
três
em
do
e em
teu
ti,
milhas das encostas do
qualcaminhavam
provavelmente,
estreita
outeiros
fio,
cristãos
carregado
disse-lhe:
porque
que
graves
eles
se suspeitas.
não
abria
eevizinhos,
cessaram
tortuosa
um
para
precisava
vasta
sarraceno.
um
uma
Quem
por
dirigindo-
de
clareira,
dos
ara
s três,
de
és
céltica.
tu?se,
Cumpre que sejas sincero, como nós. Sabes que tens diante de ti Muguite, o
amir da cavalaria
Juliano, árabe,
o conde de Septum, e Opas, o bispo de Ríspalis.

- Sabia- o - respondeu o cavaleiro: - por isso vos trouxe aqui. Queres saber
um sacerdote
quem sou? Umdesoldado
Cristo! e

- Aqui!?... - atalhou o amir, levando a mão ao punho da espada e lançando


fim?
os olhos em roda. - Para que

- A ti, que não eras nosso irmão pelo berço; que tens combatido lealmente
aconosco, inimigos
ti, que nos da tua
oprimes, fé; nos venceste com esforço e à luz do dia, foi
porque
parateteconduza
que ensinar um
em caminho
salvo às tendas dos teus soldados. É por ali!... A estes, que
pátria,
venderamqueacuspiram
terra da no altar do seu Deus, sem ousarem francamente renegá
-lo, quea ganha
trevas vitóriaram nas da sua perfídia, é para lhes ensinar o caminho do
maldita
segui-o!
inferno... Ide, miseráveis,

E quase a um tempo dois pesados golpes de franquisque assinalaram


eprofundamente
Juliano. No mesmo mo de
os elmos mento
Opasmais três reluziram.

Um contra três! - Era um combate calado e temeroso. O cavaleiro da cruz


parecia
os desprezar
seus golpes Muguite:
retiniam só nas armaduras dos dois godos. Primeiro o velho
Opas, depois Juliano
caíram.

Então, recuando, o guerreiro cristão exclamou:

- Meu Deus! Meu Deus! - Possa o sangue do mártir remir o crime do


presbitero!
E, largando o franquisque levou as mãos ao capacete de bronze e arrojou- o
para longe de si.
Muguite, cego de cólera, vibrara a espada: o crânio do seu adversário rangeu,
salpicou asde
e um jorro faces do sarraceno.
sangue

Como tomba o abeto solitário da encosta ao passar do furacão, assim o


guerreiro
caía misterioso
para não mais sedo Críssus
erguer!...

Nessa noite, quando Pelágio voltou à caverna, Hermengarda, deitada sobre o


seu leito, do
Cansado parecia
combate dormir.
e vendo-a tranqüila, o mancebo adormeceu, também,
pavimento
perto dela, sobre o duro romper da manhã, acordou ao som de cântico
da gruta. Ao
suavíssimo.
Era sua irmã que cantava um dos hinos sagrados que muitas vezes ele ouvira
entoar naDizia
Tárraco. catedral-se de
que seu autor fora um presbítero da diocese de Hispalis,
chamado Eurico.
Quando Hermengarda acabou de cantar, ficou um momento pensando.
uma
Depois, destas risadas que fazem
repentinamente, soltoueriçar os cabelos, tão tristes, soturnas e
para
ver,
os
morte
dificuldade
- romancistas,
Sou
que
ele
doeu
a
não
império
qualificação
ode
dolorosas são elas:
completamente primeiro
é um
descrever
o imortal
gótico,
romance
tão sucessos
exprimem que
de eScott.
poema
não
do
histórico,
nascimento
seiPretendendo
em
classificar
e de
irremediávelprosa
aoretratar
menos
das
- este
que
fixar
sociedades
alienaçãohomens
conforme
livro;
não
a ação
de o nem
que,
é por
que
modernas
o criou
isso
se,
espírito. certo
imaginei
por
me
o -um
modelo
da
aflige
também
numa
lado,e
1Ademasiado.
avejo,
época
Península
pertenciam
desesperação
desgraçada
como
de transição
-todos
ative
Sem
eras
tinha,
dede
hão
que
ambicionar
todos
-lutar
de
ade
nas
da
feito,
comenlouquecido.
a NOTAS DO AUTOR
recordações da Espanha tenho por análogas aos tempos heróicos da Grécia,
precediam
por outro, aimediatamente,
época a que, em rigor, podemos chamar histórica, ao menos em
arelação
primeira
ao até a última
romance. página do meu pobre livro caminhei sempre por
Desde
estrada movediço;
terreno duvidosa traçada
se o fizem
com passos firmes ou vacilantes, outros, que não
eu, o dirão.
Conhecemos, talvez, a sociedade visigótica melhor que a de Oviedo e Leão,
queprimeiro
no a do nosso Portugal
período da sua existência como indivíduo político. Sabemos
instituições
melhor quaisdos godos,
foram as as suas leis, os seus usos, a sua civilização intelectual
esabemos
material, do que
o que era isso tudo em séculos mais próximos de nós. O esplendor
tribunais,
dos paços,osasritos dos templos,
fórmuIas dos a administração, a milícia, a proprie dade, as
relações civis
nebulosas são menos
e incertas para nós nas eras góticas, que durante o longo período da
restauração
contudo, cristã. E, a vida dessa sociedade, que nos legou tantos
o reproduzir
verdadeiro
monumentos, romance
com ashistórico
formas do temo- lo por impossível, ao passo que o
representar
homens a existência
do undécimo oudosdos seguintes séculos será para o que os tiver
sem dúvida,
estudado, nãopossível.
digo fácil, mas,

Qual é a origem disto?

É que nós conhecemos a vida pública dos visigodos e não a sua vida íntima,
Espanha
enquantorestaurada
os séculosrevelam-nos
da a segunda com mais individuação e verdade
que a primeira.
godos restam- nosDoscódigos, história, literatura, monumentos escritos de todo
gênero, mas
literatura sãoos códigosmais
reflexos, e a ou menos pálidos, das leis e erudição do império
desconhece
romano, e a ohistória
povo. O goticismo espanhol, ao primeiro aspecto, parece
mover-se.
estátua de Palpamo-
mármore, lo:fria,é imóvel,
uma hirta. As portas das habitações dos cidadãos
do Apocalipse:
cerram-nas são selos
os sete a campa da família. A família goda é para nós como se
nunca existira.
Não cabe numa nota o fazer sentir esse não- sei-quê de majestade escultural
visigótica,
que conserva porsempre
mais que tentemos galvanizá -la, nem o contrapor- lhe as
a raça
gerações
reação nascidas
contra durante aque surgem e agitam-se e vivem quando lhes
o islamismo,
misteriosa
aplicamos aque, partindo
corrente da imaginação,
elétrica e vai despertar os tempos que foram,
do seu calado sepulcro.
Desta diferença, que é mais fácil sentir que definir, nasce a necessidade de
nas formas literárias
estabelecer aplicadas às diversas épocas da antiga Espanha, a
uma distinção
romano-
moderna.germânica, e a

O período visigótico deve ser para nós como os tempos homéricos da


Península. tentei
presbítero Nos cantos
achar do
o pensamento e a cor que convém a semelhante
predominem
assunto, e emoque
estilo e formas da Bíblia e do Eda, as tradições cristãs, e as
cumpre
tradições góticaseque,
tindo do oriente par- vieram encontrar- se e completar-se, em relação à
do norte
extremo
poesia daocidente da Europa.
vid a humana no

O romance histórico, como o concebeu Walter Scott, só é possível aquém do


do décimo
oitavo século;
- talvez porque só aquém dessa data a vida da família, o homem
só aquém
ensaiado
estilo
A
da
transição
que
se
E
em aEspanha
vai
conquista
que
forma
o que
descendente
transformar
lançamos
edeve
convém
etrajado
romano
oárabe.
estilo
combinar
aem
para
aos
de
-germânica
A
nossa
devem
Teodorico
obra
cavaleiro;
tempos
aparecer
asconcepção
literária
aproximar-
duas
visigóticos
transformou-se
ou
na
que
fórmulas
(novela
praça
deoestá
Leovigildo
servo,
se mais
pública,
seriam,
-ouindicar
entidade
poema
vizinha
ou
na desde
menos
Espanha
se
será
as
nos
-duvidosa
ou
oduas
então,
verso
ascendente
vai
de
mais
rigorosamente
um
extremidades
pouco
ou
absurdos
remota
ou
entre
prosa
eado
outro
pouco
homem
da
Cid
e,
- que
a
sinceramente homem, e não
revelando.
parece-me,
ridículos.
moderna
importa?)
que
eou
converter-se
extremo,
vai
coisa,
do
deixando
seLidador;
prende;
começa
no
conforme
relativa
As
até,
terrível
em
de
formas
fazer
que
que
aexistir
altivo
aaoessa
cadinho
sentir
época
herói
eeoirrequieto burguês.
ou da que vem surgindo. A dificultosa mistura dessas cores na paleta do
artista
nenhum nenhuma
preceitodoutrina,
lha diz: ensinar-lha-á o instinto.

Tive eu esse instinto? - É mais provável o não que o sim. - Se a arte fora
possuí- Ia todos
fácil para não nos
os faltariam
que tentamartistas!

2- Hesitei muito tempo sobre se conviria usar dos nomes próprios, quer de
pessoas
como quer de lugares,
as sucessivas alterações da linguagem na Espanha os foram
deles se acharema ponto
transformando, hoje totalmente
de muitosdiversos do que eram na sua origem. Destas
mudanças,
apenas aquelasno
consistiam queaumento ou diminuição de uma letra, ou na diversidade
das desinências,
talvez, podiam,
ser admitidas sem darem um aspecto anacrônico ao livro. Outros
sobretudo nas designações
nomes, porém, havia, corográficas, tão completamente alterados, que
me repugnava
moderno o substituir
ao antigo. Assim,oToletum, Emérita seriam sem dificuldade
Mérida; mas, como
representados substituir,
por Toledo e sem anacronismo na expressão, Sevilha a
Híspalis, Leão
Guadalete a Légio,
a Críssus, e, finalmente, Burgos a Augustóbriga, quando, como
neste caso,
moderna até a não
cidade situação da
é exatamente a da antiga povoação? Preferi, portanto,
primitivos, os quais,
conservar os nomes não influindo de modo algum na ordem e cla reza da
narrativa,
encontrar-sepodem facilmente
em qualquer dicionário ou tratado de geografia antiga.

Aos nomes individuais dos primeiros visigodos procurei conservar, quando


aludi a eles,
origem os aos
gótica: vestígios da
dos personagens do meu livro conservei as formas
monumentos
alatinadas quecontemporâneos,
se encontram nosporque, segundo todas as probabilidades, já
nesta
romanoépoca o elemento
de todo havia triunfado na língua.

3- Uma das coisas mais disputadas na história das instituições góticas é a


indivíduos, que tantas
natureza dessa classe vezes
de figuram nos monumentos daquelas épocas, gardigg
chamadas
em língua gardingos (
gótica). Masdeu e com ele Romey, que o traduz quase sempre
visigodos, posto que
acerca da história dosnão o cite senão neste lugar, são de parecer que o
gardingato
nobreza, masnãodoera um título
cargo de
de substituto do duque, (governador de província) vicarius
o era do
como
conde o(governador de cidade). Aschbach deriva a palavra de gards, que significa
solar com terras
adjacentes , e parece querer confirmar assim a opinião de Vóssio, que pretendia fossem
os ou almoxarifes dos palácios reais, opinião que seria mui
administradores
vários monumentos
difícil de sustentar à hispano-
vista de góticos. Segui o parecer de Grimm e Lembke,
que supõem
gardiggs formarem
uma classe deos curiales (cortesãos) ou nobres. Neste caso, não serviria a etimologia
gards
para indicar no gardingato uma nobreza estribada sobre certa extensão e imp
territorial,
ortância deformando
propriedadea terceira classe de nobreza depois dos duces ?eRosseeuw-Saint
comites -Hilaire
pensa- o assim e faz o gardingo sinônimo de Prócer
. Prócer, todavia não indicava em especial o
gardingo, mas era deno minação genérica da nobreza.

Quanto ao cargo de tiuphado ou tiufado, deve saber- se que o exército godo se dividia em corpos de mil
homens, e estes em companhias e esquadras de cem e de dez. Abaixo do thiud , ou
theod
povo,
homens,
conhecida
ou de outra
espécie
pelos
cor modesta,
romanos.
de majorporque
dos
O clero
regimentos
o usava
havia, deste
até,
modernos,
cor
trajo,
de púrpura,
como
ou, segundo
os oseculares,
usooutros,
da qual
com
etiufado
fath,
milenário
substituto
semelhante
centenário
a4-
era
aos
palavras
O
(conduzir, ou, segundo outra derivação,
diferença
severamente
sacerdotes.
vestido
Stringes,
(da
do
,de
aos
ecivil
tiufado
aetimologia
ser
Veja-
de
nossos
proibido
dos
branco
Strigio.
dezou
se
visigodos
(decania)
tenentes-coronéis.
Masdeu,
latina era
por
mille
Hist.
uma
um
) estava
espécie
decano.
Crít.
A companhia
ode ,taihunda
qüingentário,
de
Esp.
túnica
t. II,
de p.
cem , homens
chamada
63 mil,
segundo e )uns,
e 197, eque,
(fath também,
Ducange
capitão
Stringe
centúria se
) eraeregida
de chamava
Carpentier
ouquinhentos
, já
Strigio
por
d'antes
um
às
5- A igreja goda empregava oito ministros na celebração do culto: o Ostiário,
1 º que abria e fechava o
templo, cuidava da conservação dos objetos do culto e vigiava que não
assistissem
hereges ao sacrifício 2o Acólito,
ou excomungados; º
que iluminava os altares e tinha na mão um candelabro en-
quanto se lia o evangelho; 3o Exorcista, a quem incumbia o expulsar o demônio dos possessos; 4oº
º

Salmista, que levantava no coro as antífonas, salmos e hinos; 5 o Leitor,


º que lia em alta voz as
profecias do Antigo Testamento e as Epístolas e as explicava ao povo; o Subdiácono,
6 º que recebia as
oblações dos fiéis e dispunha as vestiduras e vasos sagrados para a missa;o Diácono,
7 º que ajudava a
º
esta e dava a comunhão; 8 o Presbítero, que sacrificava, pregava e dava a bênção ao povo.

6- Poetas célebres hispano- godos do século V. - De Dracôncio resta- nos o Carmen dee Deo
uma
epístola dirigida a Guntrico, rei dos vândalos. De Merobaude subsiste um Poema de
fragmento
Cristo. De do
Orêncio, tão elogiado pelo poeta Fortunato e por Sidônio Apolinário,
pequena poesia
apenas na Bibliotheca
resta uma Veterum Patrum .

7- A raça dos godos, asiática na origem e germânica na língua, que, antes de


ocupar uma
território partehabitava
romano, do ao norte do Ponto Euxino (Mar Negro), dividia-
famílias,
se em duas cujas denominações provieram da sua situação relativa. Os que
grandes
estanceavamseaoost-goths
chamavam- oriente
(godos de leste) e depois, corruptamente, ostrogodos; os que demoravam ao
ocidente eram os west-goths (godos do oeste) ou visigodos, que depois de ora servirem o império
como aliados, ora assolarem- no como inimigos, vieram fazer assento no sul
das Gálias e na afinal,
estabelecendo, Península,
em Toledo o centro do seu império.

8- A célebre batalha dada por Teodoro, rei dos visigodos, e pelo general
feroz Átila
romano nos Campi
Aécio, Catalaunici
seu aliado, (planícies de Châlons- sur- Marne) é o mais célebre entre os terríveis
ao
combates que custou à Europa no V século a dissolução do grande cadáver
Jornadas e no Panegírico
romano. Podem ver- se emde Avito por Sidônio Apolinário as particularidades deste sucesso.

9- Aljeziras. Este nome foi posto pelos árabes ao lugar onde Tárique aportara
saindo dedeCeuta
conquista para aO ilhéu, hoje chamado das
Espanha. Pombas
, fica a um tiro de espingarda daquela
povoação, à qual passou o nome que os árabes tinham dado à ilhota, vendo- a
verdejarAlcadra
Jazira ao longe:(ilha
- verde). Ignorando- lhe o nome antigo, supus que essa denominação de
origem
arábica era anterior e que já os godos lha atribuíam. O anacronismo é, a meu
ver, assaz desculpável.

10- O amículo, que entre os romanos era próprio das mulheres de baixa esfera, tornou-se
trajo comum das em maisEspanha
honestas e nobres: era uma espécie de manto, com que
cobriam asOs
inferiores. vestiduras
cabelos, encerravam-nos numa como coifa, denominada retíolo
. Veja- se Masdeu,
Hist.
Crít. , t. II, p. 6.
Estremadura
chamada Transfretana:
Prefeito,
Espanhola.
. Juliano
caudilho
cabia
Daí,era,
-lhe
contraída
principal,
segundo
por isso
agovernador
menor
parece,
entre os
território,
oárabes
governador
de proví
oveio
título
ncia,
da
a de província
general
Váli. degótica
exército.
de além do
11-nome
denominação
12
Alg.
Sebta
do
13-
quem-Os
O
Nom.
Váli:
éosvisigodos
afrankisk
godos
de
corrupção
Árabes
Conde,
Septum,
daa terra
tomaram.
tinham
ou
Estreito,
arábica
corrupção
de
frankiska
Campos.
dado
era
Consulte-
uma
em
de especial
espécie
onde
se os
Masdeu,
de
onossos
nome
machadinha
antigos
Hist.
de Crít. formaramCepta
de dois
, Campi
t. II,gumes,
p. gothici
52àsusada
-e,
planícies
e depois
Ducange,
pelosde
Ceuta
francos,
Declar.
Francisca
Leão
vb.. e.de
da
A
cateia, de que adiante se há de falar, era uma lança curta ou dardo, a origem, talvez ascuma
dos
temposdaposteriores.

14- Sevilha no tempo dos romanos tinha dois nomes - Romula e Hispalis
. Este último veio a
prevalecer, enfim. Veja- seFlores, Esp. Sagr. , t. 9, p. 87.

15 - Mafoma era natural de Medina. Esta cidade chamava- se latribe. Foi ele
Medina
quemAnabi -Cidade
lhe pôs o nomedodeProfeta . (N. A.)

16 - Os árabes, tendo desembarcado nas costas de Espanha, e vendo que a


montanha
lugar do Calpe
grandemente era um fortificaram-se aí, porventura enquanto
defensável,
que passavaode
esperavam África.
resto A montanha recebeu então o nome de
do exército Gebal(Monte
Tarik de Tárique) e,
também o de Gebal-al-Fetah (Monte da Entrada). Da palavra Gebal Tárique se formou depois a de
Gibraltar.

17- Islam em árabe, o islamismo ou religião do Alcorão. Significa, propria mente, esta
palavra em Deus.
resignação; resignação

18 - Esculcas eram, nos templos bárbaros, chamadas as rondas ou sentinelas


palavra encontra-
noturnas se nos escritores
dos arraiais. Esta do VI século e dos seguintes, como em S. sculcas,
Gregório
quos Magno:
mittitis solicite requirant : Epist. 12.23. A forma pura do vocábulo, Exculcatores
, aparece já em
Vegé cio: depois por abreviatura exculcae e sculcae. Sculcas são contrapostos aos nasatalaias
leis das
Partidas, P. 2, tit. 26, onde estes significamguardas de dia .

19- Os árabes designavam os cristãos, ou antes, em geral, qualquer europeu arrume


,o
pelo nome
romano, quer de
fosse grego, franco ou espanhol. Aque les mesmos que
abraçavam
conservavam o islamismo
este apelido. Tal era o amir ou general da cavalaria, Muguite,
companheiros de Tárique. Quando, em especial, os pretendiam designar, não
um dos mais famosos
pela diferença
mas pela da raça,
de crença, denominavam- nosNassrani (nazarenos).

20- Deus só é grande! era para os árabes a voz de acometer, como, depois, foi
de para os cristãos o grito
Santiago!

21 - A ephippia era uma espécie de sela de lã que os godos haviam imitado da cavalaria
romana.
22– “As armas deles (dos berberes e árabes africanos) quase se limitam a paus
compridos
prendem a que toros
pequenos se atados pelo meio, que no combate descarregam
as mãos."
sobre Alcatibe,Pleni-Lunii
os inimigos com ambas Splendor , em Casiri, t. 2, p. 258.
aditos
com
denominação
- No
seus
,àsisto
império
famílias
amos
é, atribui
o eancião,
godo
patronos.
poderosas,
com
ostomou
bucelários
preferência
A por
obrigação
entre
quem
vinham
oso eram
sarracenos
erudito
maisapatrocinados
importante
ser
Canciani
oamesmo
significação
do
(Barbar.
e,que
bucelário
talvez,
osde
Leg.
clientes
senhor
parece
Ant.,dos
ou chefe
23–romanos,
línguas
Xeque
24
sustentados,
Masdeu
(migalha
ter
militar:Si
vol.
da palavra
consistido
4,
Como
de
p.vulgares
e117)
uma
de
ei...
oescandinava
aseu,
homens
pão).
se,
palavra
no
tribo.
arma
derivando-a
como
nesta
das
serviço
O dederit
Código
livres
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no
árabe
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romance
semelhante
nas
bukel
buccella
(homens
línguas
Cheik,
Chek
ou
de
),
modernas em bukIer, bouclier, broquel . Neste caso bucelário corresponderia ao armígero
escudeiro
ou
dos séculos XII e XIII, que, significando na sua origem o que trazia as armas
senhor ou amo,
ou o escudo veio a tomar- se por um homem de armas de certa distinção,
do seu
a quem,
grau todavia, faltava o
de cavaleiro.

25- O fato narrado neste capítulo é histórico. O lugar da cena e a época é que
as são inventados.
monjas de NossaForam
Senhora do Vale, junto de Ecija, que, em tempos
heróico, parapraticaram
posteriores, se esquivarem à sensualidade brutal dos árabes. Parece que o
este feito
procedimento
Ecija foi imitadodasem
freiras de outras partes. Consulte-se Berganza, Antiguidades de España
muitas , t. I, p. 139,
e Morales, Cron. Gener ., t. III, p. 105.
26- Segundo Lembke, cuja opinião assenta no testemunho de lbn Saide e de
Ahmede
árabes Almacari,
conheciam os
a Espanha, antes da conquista, pelo nome de Andalôs ou, Andalúz
nome que, depois,
aplicaram em especial ao território entre o Wadi-AI- Kebir e o Wadi-Ana
(Guadalquivir
isto é, à modernae Guadiana),
Andaluzia. O nome de AI-Gharb (o ocidente) que,
para a distinguir
igualmente, deramdaàMauritânia
Península (AI-Moghreb) veio, também, a contrair- se à
nossa província do
Algarve.

27- Alfaqui. É o título que os africanos dão aos seus sacerdotes e sábios da lei. Moura,
Vestíg. da Líng.
Árab., p. 38.

28- As grandes divisões da Espanha, segundo a geografia árabe, eram quatro - oAlgarbe
ocidente;
Axarque o oriente; Alquibla o meio -dia; oAliufe
norte. Era esta, por isso, a designação dos territórios
cristãos das Astúrías e Cantábria.

29- O aripennis, arapenis, agripennis ou arpentum , donde veio a palavra francesa , era arpent
uma
medida de extensão igual à metade do jugerum
, donde tomamos a palavra geira. O aripene media- se
em quadro e tinha de cada lado 12 ,pérticas
medida que equivalia a dois palmos. Masdeu afirma que o
aripene era medida especial da Bética, o que é inexato; porque ela se acha
mencionada em
documentos, nãomuitos
só de outras províncias de Espanha, mas também de
ver em Ducange,
diversos à palavraArapennis
países, como se pode .

30- Nas mil tradições diversas, quer antigas, quer inventadas em tempos mais
modo como sesobre
modernos, constituiu
o a monarquia das Astúrias procurei cingir -me, ao
menos no desenho
que passa por mais geral, ao
proximamente histórico. Todavia, cumpre advertir que
das as probabilidades
Pelágio viveu, segundo emto-tempos um pouco posteriores à conquista árabe, e
que a morte
Juliano de Opas
na batalha de eCangas
de de Onis, sucesso narrado por alguns escritores,
tem sobrado
fabulosa. caracteres
A minha de porém, foi, como já notei, pintar os homens da
intenção,
digamos
época de assim, dos tempos heróicos da história moderna para o período da
transição,
cavalaria, brilhante ainda,
mas já de dimensões ordinárias. O meu herói do Críssus é como o último
terra;
semideus que combateCovadonga
os foragidos de na são os primeiros cavaleiros da longa,
patriótica
Península econtra
tenaz os
cruzada da Deste modo, sendo hoje dificultoso separar,
sarracenos.
em relação
histórico doàquelas eras,
fabuloso, o
aproveitei de um e de outro o que me pareceu mais
apropriado ao meu fim.
FIM

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