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Contra-capa:
...
Capítulo 2
O paraíso dos cachorros
Encontrando O Cara
Quem disse que você só tem um Cara? Se você tiver sorte, irá conhecer O
Cara, O Outro Cara, O Outro Outro Cara... e assim por diante. (Paola)
O Cara vai ser sua alma gémea por toda a vida. (Lucy)
Se tiver de ser, o destino vai uni-los nesta vida, assim como fez nas vidas
passadas. (Izzie) É uma questão de química. O Cara é só uma forma de
dizer que você gosta de alguém, e seus feromônios se atraem mutuamente.
(TJ)
Capitulo 3
"Não me deixem só!"
O Hotel Burgh Island fica na Ilha Burgh, que é uma de 10,5 hectares (26
acres), a 200 metros do sul da costa de Devon, entre Salcombe e Plymouth.
Pessoas famosas que ficaram lá incluem Noel Coivard; Agatha Christie;
Edward, o Príncipe de Gales, e a Sra. Simpson; Amy Johnson; Winston
Churchill.
Filmes que usaram o hotel como cenário incluem Assassinato num Dia de
Sol.
Capitulo 4
Projeto da Escola
— Mas você não pode ir — disse Lucy, quando nos reunimos na segunda-
feira seguinte. — Steve ficou muito mal depois que você contou para ele,
ontem à noite.
Enfiei os cartões de aniversário e presentes que elas tinham acabado de me
dar na mochila. Gel de banho de lavanda e sabão da Paola; esmalte
cintilante da Lucy; da Izzie, uma vela com cheiro; e Lucy tinha trazido um
cartão e um presente do Steve — uma coleção de CDs de músicas
românticas da última década. De alguma forma, os presentes tornaram o
fato de eu ter que me mudar ainda pior. Ainda que fossem presentes de
aniversário, pareciam presentes de despedida.
— E o que tem o Steve? — disse Izzie, envolvendo seu braço no meu. —
Eu estou muito mal. Nós vamos sentir bastante sua falta.
— Talvez você possa voltar nos finais de semana — disse Paola. — Você
pode ficar no meu quarto comigo.
— E nós iríamos visitar você nas férias — disse Lucy. — Eu gosto de
Devon.
— Eu também — disse, enquanto pegávamos nossos lugares na classe. —
Mas isso não significa que quero morar lá — eu estava completamente
triste. "Que aniversário, hein?", pensei. Quinze anos e parecia que minha
vida tinha acabado. Eu não ia conhecer ninguém em Devon. Começar uma
nova escola ia ser horrível, como reviver o que foi quando Hannah se
mudou para o exterior. E eu sei o que Hannah passou quando chegou à
África do Sul, ainda que ela depois tenha feito amigos. Mas eu não queria
fazer novas amizades. Não queria passar por tudo isso de novo. Eu gostava
de Lucy, Izzie e Paola. Nunca encontraria amigas como elas outra vez. E
não importava o quanto elas insistissem que iriam me visitar e manter
contato, eu sabia o que aconteceria. Já estava acontecendo com Hannah.
Prometemos nos corresponder por e-mail todos os dias, contarmos tudo
para a outra, porém já faz semanas que ela não mantém contato — sequer
um e-mail me desejando feliz aniversário. Mas pensando nisso, eu
tampouco mantive contato.
Era horrível pensar que a mesma coisa podia acontecer com minlias novas
amigas. Não. Mamãe e papai não podiam estar falando sério. Era uma ideia
maluca.
— Você poderia fugir sempre — Paola sussurrou no meu ouvido. — Nós
garantiríamos sua comida e outras coisas...
— Silêncio no fundo. — disse a Sra. Allen, olhando exatamente na nossa
direção.
Depois das notificações chatas de sempre, a Sra. Allen de repente sorriu.
— Agora, garotas, tenho algo especial a lhes dizer hoje. Um projeto
empolgante será lançado pelo prefeito e acho que muitas de vocês vão ficar
bastante interessadas...
Paola virou e imitou um bocejo para mim. Eu abri um sorriso.
— O objetivo do projeto é produzir um livro relatando em detalhes a
herança da cidade — continuou a Sra. Allen —, que será escrito e
pesquisado pelos estudantes da cidade. A versão final será vendida no
Museu Britânico. O projeto é aberto a todos os alunos a partir da oitava
série que desejarem participar. O prefeito solicitou que aqueles que
estiverem envolvidos pesquisem a Londres atual e como ela era no
passado. Assuntos como história, pontos famosos, prédios, vestuários ao
longo dos anos, contribuições de seus habitantes, artistas, escritores,
arquitetos... E a lista continua. Foram escolhidas escolas das quatro áreas
de Londres: Norte, Sul, Leste e Oeste. Nossa escola teve o privilégio de ser
solicitada para representar o Norte, ou seja, North London. Cada escola se
concentrará na região na qual se encontra...
"Parece magnífico", pensei. Eu adoraria me envolver, mas provavelmente
estarei morando lá onde Judas perdeu as botas, com pessoas que sequer
estiveram em Londres.
— O prefeito solicitou uma apresentação inicial logo antes do Natal, e isso
significa até o final do semestre —a Sra. Allen continuou. — Então,
precisamos nos preparar imediatamente. A primeira reunião para a região
de North London, para aqueles que quiserem contribuir, será amanhã à
noite, no Instituto de Ciência na Praça Pond, em Highgate, então...
Todas as jornalistas, historiadoras e artistas iniciantes que aí se encontram
tomem nota. Todos os coordenadores das escolas participantes se
encontrarão hoje à noite e indicarão um aluno para coordenar o projeto com
o auxílio de um grupo de professores. Mas, essencialmente, esse projeto é
de vocês, e eu espero que consigam transpor com sucesso o desafio e fazer
com que essa escola se orgulhe de seus esforços. No final do semestre,
haverá um dia dedicado à apresentação dos trabalhos até então
desenvolvidos, e a diretora da escola, Susan Barratt, e Sam Denham, o
célebre jornalista — que acredito que alguns de vocês conheçam da visita
que ele fez no ano passado —, estarão aqui. Os detalhes foram afixados no
mural do saguão. Quem desejar participar terá tempo para trabalhar no
projeto e pode combinar isso com o seu coordenador.
"Legal", pensei, enquanto a Sra. Allen continuava. Mesmo que exista a
possibilidade de nos mudarmos antes da finalização do projeto, mamãe
disse que pode levar muito tempo para encontrarem a casa certa, então
tenho pelo menos mais um semestre aqui, e aí eles terão vendido nossa
casa. Pelo menos, eu teria tempo para participar das etapas iniciais.
— Bem, pode me deixar de fora disso — disse Paola, enquanto íamos para
a primeira aula. — Nós já temos deveres de casa o suficiente.
— Pode ser divertido — disse Lucy. — Eu serei voluntária. Eu podia
pesquisar a evolução dos trajes ao longo dos anos. É uma desculpa para
vasculhar lugares como o Victoria and Albert Museum. Eu quero fazer isso
há anos e, nunca se sabe, pode me dar inspiração para os próximos
desenhos. Gosto de combinar o antigo com o novo.
— E você, TJ? — perguntou Izzie. — Você está a fim?
Eu fiz que sim com a cabeça.
— Acho que sim. Queria fazer alguma coisa sobre as casas antigas de
Hampstead e Highgate. Sabe, como a Kenwood House. Há muitos outros
lugares que eu queria pesquisar. Como a Lucy disse, é uma desculpa para
fazê-la e pode ser minha última chance antes de nos mudarmos.
— E você poderia explorar o lado espiritual de Londres — sugeriu Lucy,
virando-se para Izzie.
— Pode ser — ela disse. — É. Vou pensar nisso.
Paola fez bico.
— Odeio todas vocês. Agora me sinto excluída, ou pelo menos é o que vai
acontecer quando todas vocês participarem e eu não.
— Então escolha alguma coisa interessante para você — eu disse. — Você
podia pesquisar sobre a evolução do teatro. Ou grandes histórias de amor.
Paola parecia convencida.
— Acho que sim — ela disse. — E a Sra. Allen disse que haveria tempo
para fazer o projeto. Então, pode ser. E certamente não haveria mal algum
em ir ao dia dedicado à apresentação dos projetos no final do semestre.
Aquele Sam Denham era bem bonito. Eu não ligaria de vê-lo novamente.
Eu ri. "Tão típico da Paola", pensei, enquanto Lucy, Izzie e eu colocávamos
nossos nomes no mural, com nossa área de interesse.
Um grande beijo,
Conselheira sentimental, Hannah
Obs. 2: Meu Deus. Acabei de ver a data e percebi. Foi seu aniversário
ontem. Ups. Hannah, garota malvada. Hummm. Cartão no correio.
Presente na... Na loja. Miiiiiiiiil desculpas. Vou compensar para você. Por
favor, não me odeie. Feliz, feliz aniversário, mesmo que atrasado. E
desculpaaaas, desculpaaaas, desculpaaaas, sou uma péssima amiga. Beijo
grande.
Por favor, mande um e-mail imediatamente e diga que me desculpa.
Com carinho,
Anti-Devon
_______________________________________
*N. do E.: Tia Hannah = Aunt Hannah, em inglês.
Capitulo 5
Negócio Suspeito
Capítulo 6
Passeio Guiado
Capítulo 7
A pior pessoa do mundo
Querida Hannah,
Por favor, responda esta mensagem assim que você recebê-la. Não. Na
verdade, leia-a primeiro e depois a responda. Haha.
O que devo fazer? Devo desistir do projeto? Eu queria muito mesmo que
você estivesse aqui.
Escreva de volta logo.
Beijos, TJ
Obs.: Não, eu não acho que você é indiferente, mas sei que outras pessoas
da escola, quando eu estava aí, ficavam intimidadas com o fato de você ser
tão inteligente. E você é tímida às vezes, então, talvez, as pessoas
que não a conhecem tomem isso como indiferença, ou achem que é
entediada porque não diz nada. São coisas que dizem. Como diz a música:
"Não vá mudar...”
De jeito nenhum vou contar para a Paola. Embora eu a ame, ela tem uma
boca grande. Se eu disser a ela que gosto do Luke, sim, nós provavelmente
nos divertiremos, aí ela irá contar para Izzie e Lucy. E para Luke. Eles já
conversaram sobre mim. E, se ela disser a ele, eu ficarei muito encabulada
de trabalhar com ele no projeto. Então, de jeito nenhum. Vóu tentar me
acalmar.
Com muito carinho, a Rainha do Gelo de North London. Nossa, está frio
aqui. E não só porque estou esfriando a cabeça. É por causa desse
inverno.
Capítulo 8
Cabulando o trabalho
Querida Hannah,
Nossa, estou numa encrenca: a Paola disse para eu ser mais amigável
então, eu fui, e Luke sugeriu que cabulássemos o trabalho e flssemos ao
cinema. Fui e ele segurou a minha mão quando cruzamos a rua, e Lal
Lovering nos viu, e Luke me perguntou o que eu acho que teria acontecido
se ele tivesse me conhecido antes da Paola. Meu Deus, o que ele quis
dizer? Talvez nada, mas ele pegou na minha mão (pela segunda vez, a
propósito). Isso significa alguma coisa? Talvez não, pois ele é italiano e
acho que é um tipo de pessoa naturalmente calorosa, talvez eu esteja
imaginando coisas. Oh, Deus, Hannah, volte para a Inglaterra. Eu não
tenho ninguém com quem conversar aqui e isso estd me levando à loucura.
Estou começando a achar que a mudança para Devon pode ser boa, no
final das contas.
Capítulo 9
Semana dos Infernos
— Lucy telefonou — disse mamãe, assim que entrei pela porta, depois de
ter ido ao cinema com Luke.
— Quando?
— Faz uns cinco minutos.
— Ela deixou recado?
— Ela só falou para você telefonar assim que chegar.
— Como ela estava?
— O que você quer dizer? Ela estava como a Lucy. Por quê? Está
acontecendo alguma coisa?
— Não.
Corri pelas escadas e olhei para o telefone. Como eu ia sair dessa? Mojo
estava raspando a porta, então, deixei-o entrar, e ele pulou na ponta da
minha cama, onde se deitou e abanou o rabo.
— Nossa, eu queria muito que você falasse, Mojo — eu disse, quando ele
se virou e eu fiquei coçando a barriga dele. — Vamos, fale comigo. Mojo,
eu estou numa enrascada.
Mojo se levantou e me deu uma lambida enorme no rosto. Pela sua
expressão ansiosa, ele estava fazendo o seu melhor, mas decidi perguntar a
alguém que falasse
apropriadamente a minha língua. Mandei um e-mail para Hannah, deitei-
me na cama e olhei para o teto. Dois minutos depois, o telefone tocou de
novo. Deixei tocar e não atendi na minha extensão.
— TJ, é para você — mamãe disse das escadas. — É a Lucy.
Respirei fundo e peguei o telefone.
— E aí, Lucy? — eu disse, na minha voz mais animada.
— E aí, o que está acontecendo? — perguntou Lucy.
Lal obviamente não tinha perdido tempo para contar o ocorrido.
— Ah, o de sempre, o de sempre — eu respondi, tentando evitar o tom da
voz dela. Eu sabia exatamente o que ela queria dizer por "acontecendo".
— Você e Luke — disse Lucy. — Lal me disse que viu vocês.
— Ah, isso.
— Sim, isso. Lal disse que você e Luke estavam de mãos dadas.
— Na verdade, não.
— Bem, ou vocês estavam ou não estavam.
— Estávamos, mas não de mãos dadas de mãos dadas, se você entende o
que eu quero dizer. Ele pegou minha mão quando fomos atravessar a rua, é
isso. Segurança de trânsito. Ele deve ter sido um escoteiro, treinado para
ajudar pessoas idosas a atravessarem a rua. Não está acontecendo nada.
Lucy, você sabe que eu nunca...
— Você gosta dele?
— Nãããão. De jeito nenhum. É claro que não. Quero dizer, sim, ele é
bastante atraente, mas não faz meu tipo. E, de qualquer forma, Lucy, você
sabe, eu nunca faria isso à Paola. Ou ao Steve. Ei, Lucy, pelo amor de
Deus, vocês são minhas amigas.
— Bom, tudo bem. Só estou conferindo, porque sei que Steve e Paola
ficariam desolados se você estivesse mantendo um relacionamento com
Luke.
Eu estava quase chorando. Realmente queria contar tudo para ela, mas não
ousaria, pois podia me expressar mal e tornar as coisas ainda piores.
— Mas eu não estou. Sério. Lucy, você tem que acreditar em mim.
— Então, onde você esteve?
— No cinema. Luke queria cabular o trabalho e eu ia dizer que não podia
ir, mas Paola disse para eu ser mais amigável com ele. Você se lembra?
Você estava lá. Eu nunca, nunca, nunca tiraria o namorado de ninguém.
Especialmente da Paola. Você tem de acreditar em mim.
Houve uma pausa de alguns segundos.
— Eu acredito. Desculpe. Deve ter sido só por causa do Lal, você sabe
como ele é, chegou aqui todo alvoroçado com o que tinha visto. Você sabe
que ele tem uma queda pela Paola. Ele provavelmente estava torcendo para
que você fugisse com Luke, para que ele pudesse entrar em cena e
confortar a Paola. Desculpe. Eu devia saber que você era inocente.
Depois de desligarmos, eu me deitei na cama. "Pronto", pensei. "Menti para
uma das minhas melhores amigas." Era verdade que eu não seria desleal
com a Paola e nada estava acontecendo de verdade. Mas estava na minha. E
eu gostava de Luke. Tipo, sou louca por ele. Oh, diabos. Que semana. A
semana dos infernos. E era só quarta-feira.
No sábado, íamos ter uma nova reunião rápida, mas me atrasei, pois meu
ônibus ficou preso no trânsito. Espiei pela janela antes de entrar e, dessa
vez, quando cheguei, Sian estava sozinha com Luke. Eu mal podia
acreditar no que estava vendo, pois ela estava massageando o pescoço dele.
Senti nojo ao pensar que ele tinha pedido para outra garota fazer isso, e
parecia que ele estava gostando. Olívia chegou um pouco depois de mim e
me viu olhando pela janela. Quando ela os viu juntos, olhou para mim e
levantou uma sobrancelha, como que dizendo: "O que está acontecendo
aqui?". Eu me perguntava o mesmo e, durante a reunião, fiquei muito
confusa. Achei que existia algo especial entre mim e Luke. Teria sido
imaginação da minha parte. Eu não tinha dúvidas de que gostava muito de
Luke e, embora não tivesse intenção de de que isso se concretizasse, não
podia negar esses sentimentos.
Deve acontecer muito com as pessoas. Você conhece uma pessoa, começa
a namorá-la, aí conhece outra pessoa e começa a gostar dela. Não quer
dizer que você deixou o primeiro namorado. Seria tudo isso fruto da minha
imaginação? Seria eu igual a Sian? Mais uma garota numa longa lista de
garotas que eram apaixonadas por Luke.
Eu queria muito poder falar sobre isso com as minhas amigas,
especialmente com a Paola. Se se tratasse de qualquer outro garoto, ela
seria a pessoa certa com quem conversar, já que o assunto garotos e sua
especialidade. Mas por ser o Luke, o namorado dela, eu me lembrava pela
milionésima vez que não podia mencionar o assunto. Eu me sentia muito
mal e confusa. Não queria ter nenhum dos dois sentimentos, mas, de vez
em quando, o olhar de Luke cruzava com o meu por alguns segundos, e o
olhar dele era muito carinhoso. Meu estômago revirava e dava
cambalhotas. Havia algo ali. Havia. Não podia ser minha imaginação,
podia? Por um breve momento, senti vontade de bater nele e gritar: "Não
me olhe assim! Pare de brincar com meus sentimentos". Mas ele deve ter
pensado que eu era louca. E Sian e Olivia certamente pensaram! Uma vez,
Olivia notou que eu e Luke estávamos nos olhando, e desviei o olhar
rapidamente. "Tenho que dar o fora daqui rápido", disse a mim mesma,
mas parte de mim queria ficar e olhar para os olhos dele mais uma vez.
Depois que a reunião terminou, por mais que eu tentasse, não consegui ir
embora quando Sian e Olivia partiram. Fiquei remexendo no meu casaco,
revirei meus papéis, arrumei e desarrumei minha mochila até que,
finalmente, Luke olhou.
— Você queria alguma coisa? — perguntou Luke, arrumando suas coisas.
Eu me senti desconfortável. Devia ter ido. Partido. Pegado o ônibus. Senti
como se tivesse vestido o corpo errado. As roupas erradas. Minha cabeça
não combinava com o resto de mim.
— É...Nós precisamos conversar... — comecei e, quando Luke virou os
olhos, lembrei que Paola tinha dito que essas eram as três palavras que os
garotos mais temiam. — É... Na verdade não é nada — continuei tentando
manter minha voz num tom leve. — Bem... Como está o seu pescoço?
Luke girou o queixo.
— Melhor.
— É, notei que você pediu a Sian uma massagem no pescoço — a frase
saiu antes que eu pudesse evitar e sei que meu tom foi de ciúmes.
Luke parou o que ele estava fazendo, suspirou profundamente e olhou para
mim.
— Você não vai ficar estranha comigo, vai?
Senti meu coração afundando.
— O que você quer dizer?
— Sian. Massagem no pescoço. É tudo inocente, sabe?
— Sim, eu sei.
— Ótimo. Porque você é inteligente o suficiente para não ver nas coisas o
que não existe.
— Sim, claro — a atmosfera ficou pesada, tudo errado. Estava me
torturando. Carente. Permanecendo junto de quem não me desejava, na
esperança de mais um olhar, uma palavra de encorajamento, qualquer coisa
que mostrasse que eu não estava sozinha no que sentia.
Luke colocou a jaqueta.
— Então nos vemos.
— É. A gente se vê.
"Arrghhhhh", pensei, vendo-o se afastar. Não ver nas coisas o que não
existe? Ele estava se referindo a nós ou a Sian e ele? Diabos. Eu queria
muito perguntar, mas aí podia fazer papel de muito boba. Desesperada.
Grudenta. E sei o quanto os garotos detestam isso. E, além do mais, tinha
que pensar em Steve e Paola. Luke pode ser totalmente inocente e, se eu
falasse muito sobre meus sentimentos, ele podia pensar que eu era a pior
namorada do mundo e a pior amiga. "Não revele nada", Hannah tinha dito.
Estava enlouquecendo e precisava desesperadamente de alguém com quem
pudesse conversar. Mas quem? Paola estava fora da lista por causa de
Luke. Lucy estava fora da lista por causa de Steve. Mojo não servia e
enviar e-mails para Hannah não era suficiente. Ela estava longe demais. Eu
precisava de uma pessoa que conhecesse todos os envolvidos. Alguém que
pudesse me dar um bom conselho.
"Pare de parecer uma boba”, eu pensei. Você não tem nada a perder.
Decidi me arriscar: peguei meu celular e telefonei.
Capítulo 10
Praticantes de Ioga
"Lucy sabe", pensei. Ela sabe que algo está se passando pela minha cabeça.
Tentei a respiração pela narina sem colocar o polegar nela, mas parecia que
eu estava segurando um espirro. "Pelo visto não sou mesmo grande coisa
como praticante de ioga", pensei, levantando e indo para o banheiro
feminino, no fundo do café, onde chutei a parede e quase quebrei o dedão
do pé. "Não posso continuar com isso", pensei. Todos conseguem ver
através de mim e, a qualquer minuto, Steve e Lal também vão chegar aqui.
Lal, que já suspeita de alguma coisa, vai continuar a suspeitar, e Steve, que
é como a Lucy, esperto para valer, num instante vai me ler como um livro.
Só existia uma coisa para isso.
Meditação de Ioga
2) Para esta técnica, você vai inalar e exalar por narinas alternadas.
Primeiro, coloque a mão direita no rosto. Encoste levemente o polegar no
lado direito do nariz.
5)Agora, respire devagar pela narina esquerda, segure por dois tempos,
aplique uma leve pressão sobre a narina esquerda com o dedo médio (tire
o polegar da narina direita quando fizer isso) e exale lentamente pela
narina direita.
Capítulo 11
Outro nível
Citado de uma carta que John Keats escreveu para Fanny Brawne
''Amo você demais para me aventurar em Hampstead. Sinto que não é fazer
uma visita, mas adentrar um incêndio”.
Capítulo 12
Gêmeas não correspondidas
Beijos, Hanahlulu
Oi, Hannah
Este é o pior dia de toda, toda a minha vida. Eu nunca me senti tão triste e
confusa. Acontece que Luke não gosta mais da Paola. Ou de mim. Ele está
gostando dessa menina estranha chamada Sian. Pelo menos, eu acho que
ele está. Ela acabou de me dizer que eles já se beijaram. Eu estava prestes
a dizer que ela estava interpretando maIos sinais dele e que se tratava de
uma causa perdida, quando ela confessou que eles tinham se beijado. Dá
para interpretar erroneamente mãos dadas, mas um beijo é um beijo. Não
tem como interpretar erroneamente isso. Eu me sinto uma boba. Infeliz.
Burra. Não posso confiar nos meus sentimentos, não sei se posso confiar
nos sinais que estou recebendo de Luke. Em quem devo confiar?
EM MIM! Idiota. Você pode confiar em mim. Nada estd acabado até que a
moça gorda cante, ou algo do tipo. Ouça. Eu jd beijei pessoas de quem não
gosto. Lugar errado. Sol demais. Perda tempordria de sanidade. Todos os
tipos de razão. Acho que você tem que resolver isso com o cara atraente.
Vér o que realmente acontece na cabeça dele quanto a você, a esta garota
Sian e à Paola. Vócê não tem nada a perder com o que vai ouvir e,
conhecendo você como conheço, sei que não é daquelas que se deixa
derrotar pela imaginação. Mantenha-me informada. Parece que a vida por
aí é muito mais empolgante do que por aqui. Não estd acontecendo nada.
Não estou gostando de ninguém.
Very chato. Estou me sentindo uma freira.
Com carinho,
Sóror Maria Conceptua Hannah
Capítulo 13
A vida antes dos garotos
"Horrível. Não dá para a vida ficar mais horrível", pensei, depois que
cheguei em casa. A hora que passei com Sian tinha sido dolorosa, com ela
falando sobre Luke, sem perceber que a cada palavra era como esfregar sal
numa ferida.
— O jantar está na mesa — disse mamãe da cozinha. "Bem depois", pensei.
Estava me sentindo enjoada, como se nunca mais quisesse comer. Eu me
joguei na cama. "Odeio esse sentimento", pensei. Quero muito voltar ao
normal. Antes do Steve. Antes do Luke. Voltar para quando eu tinha uns
oito anos e tudo o que eu pensava sobre os garotos era que eles eram
criaturas barulhentas que enfiavam o dedo no nariz, tinham meias que
cheiravam mal e deviam ser evitados a todo custo. É uma droga gostar de
garotos. É uma droga ser adolescente. É uma droga ser eu.
Eu respondi um e-mail da Hannah, atualizando-a sobre meu último
pesadelo, depois tentei fazer alguma lição de casa, mas minha mente não
conseguia se concentrar. Experimentei a meditação da Izzie para tentar me
acalmar, mas a paz de espírito parecia estar a quilômetros de distância e eu
não conseguia tirar da cabeça a imagem de Luke beijando Sian. Precisava
de algo para relaxar que fosse fácil de fazer. "Um banho aromático",
pensei, "isso deve ser eficaz". Da última vez que eu tinha visto a Izzie, ela
tinha me dado uma lista de óleos que você coloca na água para combater o
estresse, tirada do livro dela sobre os princípios básicos dos óleos. Procurei
nas minhas loções e poções e encontrei um com lavanda que a Paola tinha
me dado no meu aniversário. Lavanda é um dos óleos da lista, então enchi
a banheira e pinguei umas gotas. Tinha um cheiro muito bom, mas, quando
entrei, eu me senti culpada de estar lá deitada, sentindo um cheiro adorável
dado a mim por uma amiga a quem eu sabia que iria decepcionar.
Depois do meu banho, verifiquei meus e-mails e, felizmente, Hannah tinha
respondido depressa. Fale com Luke, ela disse. Primeiro eu pensei "de jeito
nenhum, não posso", e enviei um e-mail para ela dizendo isso. Qual é o
objetivo? Eu tinha tido minha chance de falar com ele no domingo e
estragara tudo. Em vez disso, tive a conversa com ele na minha cabeça,
imaginando o que ele diria. Repetidas vezes. Cada vez eu mudava o roteiro.
Talvez devesse falar com a Paola? Contar sobre Sian. Ela merece saber.
Não, eu não posso fazer isso. Isso é responsabilidade do Luke e, além do
mais, eu não sei direito como é a história ou o que está acontecendo com
eles.
Camomila
Cedro
Sálvia-esclaréia
Lavanda Manjerona
Cânfora Patchouli
Laranja-azeda
Rosa
Pau-rosa
Sândalo
Ylang- Ylang
Capítulo 14
Planeta Terra chamando Planeta Watts
Trabalho foi pintado por Ford Madox Brown, pintor pré-rafaelita, entre
1852 e 1865, e representa trabalhadores escavando canos de esgoto em
Hampstead. Atualmente, estd exposto na Manchester City Art Gallery, em
Manchester, Inglaterra.
Capítulo 15
Encrenca tentadora
Quando cheguei em casa, estava tudo muito silencioso, já que meus pais
ainda não tinham chegado do show em Barbican. Mojo estava enrolado no
sofá da sala de estar e olhou para mim com uma expressão de culpa quando
me ouviu entrando. Ele sabia que não podia dormir sobre os móveis, pois
tinha sua própria cesta na cozinha, mas, sempre que meus pais saíam, se
acomodava no sofá.
— Não se levante, Mojo — eu disse, sentando-me junto a ele. Ele olhou
bem para mim, levantou-se e lambeu meu rosto. Soltou um ganido fraco,
como se dissesse que entendia, aí deitou enrolado, apoiando-se nas minhas
pernas, com a pata em cima do meu joelho. Ele é incrível quando estou
tristinha. É como se sentisse isso e gostasse de ficar o mais próximo
possível, tentando me confortar.
— É duro — eu disse a ele
— Ruff — ele concordou e afundou sua cabeça no meu colo.
Liguei a televisão e zapeei pelos canais por um tempo,mas nenhum dos
programas ficava registrado na minha cabeça.Minha concentração estava
arruinada.Depois de um tempo, eu me enrolei junto a Mojo e fechei os
olhos.
Devo ter cochilado, porque a próxima coisa de que me lembro foi de ser
acordada pela campainha.Olhei no relógio. Nove horas. Cedo demais para
meus pais terem voltado, e eles nunca saiam sem as chaves. Fui até a
janela, e espiei pela cortina. Meu coração parou por um momento quando
vi o Luke lá. Ao perceber um movimento na janela, ele olhou, mas sai de
vista rapidamente. A campainha tocou de novo. Um longo instante.Ouvi
sua voz pela caixa de correspondência.
— TJ. TJ. Sei que você está aí.
Fui na ponta dos dedos até o hall. Ele abriu a caixa de correspondência, e
dava para ver seus olhos olhando para dentro.
— Vá embora — eu disse
— TJ. Deixe-me entrar.
— Não quero falar com você.
— Por favor TJ. Olhe, você tem todo o direito de estar brava. Desculpe ter
deixado você na mão. Não foi por querer. Não sei o que aconteceu. Eu me
estatelei no sofá, e a única coisa de que me lembro depois foi ver que já
passavam das oito. Tentei ligar no seu celular, mas você não atendeu, e eu
vim direto para cá. Sinto muito. Deixe-me entrar.
Nessa hora Mojo tinha ido ver do que se tratava todo o barulho. Ele olhou
pra mim, depois para a caixa de correspondência, de volta para mim, como
que dizendo "que tipo de criatura tão pequena que consegue olhar através
da caixa de correspondência?”
— Oi, Mojo — disse Luke, fazendo com que Mojo fosse até a porta e o
lambesse através da caixa de correspondência. Então eu o ouvi dizer "eca!".
Tive que rir. Mojo estava abanando muito o rabo, aí ele se posicionou no
tapete de dentro, de modo que ficasse cara a cara com Luke.
— Vamos, TJ. Por favor — disse Luke. — Eu estou ajoelhado aqui — aí
ele riu. — Eu realmente estou. Estou olhando nos olhos do seu cachorro e,
por mais que eu goste dele, não foi por ele que vim até aqui.
— Cinco minutos — eu disse firmemente,enquanto o deixava entrar. Eu
estava verdadeiramente brava com ele. Já chegava. Era mais do o
suficiente, e agora eu só queria minha vida e minha sanidade de volta.
Como sempre, Luke estava super-sintonizado com o que eu estava
sentindo.
— Esta brava comigo, não é ? — ele disse enquanto se levantava, com um
largo sorriso.
Eu não ia me entregar facilmente.
— Pode-se dizer isso. Eu esperei muito tempo. Estava congelando.
— Sinto muito mesmo. Eu queria estar lá. Em geral, sou o Sr. Confiável.
Não costumo adormecer no começo da noite, mas ultimamente... Não sei,
eu não tenho dormido muito bem... Muitas coisas na cabeça...
— Nem me fale — eu disse, voltando para a sala de estar.
Luke me seguiu
— TJ ...
— Sua mãe achou que eu fosse a Sian. Ela sabe bem que tem uma pessoa
chamada Sian não é?
— Sim, mas eu contei a você que não se trata de uma coisa recíproca —
disse Luke, seguindo-me. — Está completamente na cabeça dela.
Não pedi para ele se sentar, já que não queria que ficasse, então, ficamos
em lados opostos da sala, como lutadores de boxe examinando o oponente
do rinque.
— Não tenho mais certeza disso.Quero dizer, como vou saber se posso
confiar em você? Você brinca com o sentimento das pessoas, e acho que
não sabe o quanto isso as afeta.
— Ei, isso não é justo.Eu nunca dei corda para a Sian.
— Você deixou que ela o massageasse, eu diria que isso é um incentivo
considerável.
— NÃO NA MINHA CASA. TODO MUNDO SEMPRE FAZ
MASSAGEM NO PESCOÇO E NAS COSTAS DOS OUTROS. NÃO
SIGINIFICA NADA.
"OH", EU PENSEI, "ENTÃO ISSO SIGNIFICA QUE A MASSAGEM
QUE EU FIZ NELE TAMBÉM NÃO SIGNIFICOU NADA?"
— E quanto a Paola? Você certamente lhe deu corda e ela certamente não
planeja terminar com você. Se isso não é brincar com o sentimento das
pessoas, não sei o que significa.
— Sim, mas...
— E você flerta muito com as pessoas Luke De Biasi.
Eu o vi segurando a mão de meninas, dando confiança à Sian. Acho que
você provavelmente deve gostar de atenção.
— Olha, TJ, eu já disse isso a você. Não há nada acontecendo com Sian.
NADA
— É. Assim como você disse que não estava dando certo com a Paola, mas
não vi nenhuma atitude sua que mostrasse isso a ela.
Luke suspirou.
— Ah, bem, isso é difícil — ele disse. — Eu detesto decepcionar as
pessoas. E de qualquer forma, você ainda está se encontrando com Steve,
então não pode falar nada.
— Steve? Steve? O que ele tem a ver com isso? Por que eu não estaria com
Steve?
Luke olhou diretamente nos meus olhos
— Por causa de nós!
— Nós! Nós? O que isso deveria significar? Que "nós"?
— Você sabe o que está acontecendo entre nós está em outro nível.
Era o bastante. Normalmente, eu não perco meu equilíbrio, mas, dessas
vez, fiquei vermelha.
— Pare de falar isso! E o que significa exatamente em outro nível? Que
nível? Isso pode significar qualquer coisa. O que devo pensar? Você usa
essas expressões e elas podem ser interpretadas de qualquer jeito; não é a
toa que a Sian acha que você gosta dela. Você deve ter dito a ela que o que
existe entre vocês está em outro nível também.
Luke se atirou no sofá.
— Estou descendo para outro nível — ele sorriu para mim.
Não ri da piada dele.
— Eu nunca disse nada a Sian, nada que pudesse estimulá-la a ir adiante.
— ele disse. — Sério.
— Está bem. Sério então. E a Paola? Como você se sente em relação a ela?
De verdade?
— Acabou. Eu sei, eu sei que ainda não disse a ela, mas como posso? Você
sabe mais do que qualquer pessoa como será difícil fazer isso.
— Lá vem você de novo. Por que eu "mais do que qualquer pessoa"
saberia?
Luke pegou minha mão e me puxou em direção a ele. — Vamos TJ, você
não pode negar isso.
— Negar O QUÊ? — perguntei, afastando-me dele.
— Por favor TJ, sente-se — Disse Luke, batendo na almofada ao lado dele.
Eu não queria olhar para ele, pois, embora ainda estivesse brava com ele,
não dava para negar a química que pairava na sala. O ar estava tão denso
que dava para cortá-lo com uma faca. Em vez de me sentar ao lado dele,
sentei-me no chão, à direita do seu pé, de costas para ele e cruzei os braços.
Ele se posicionou atrás de mim, comigo entre os joelhos dele, e colocou as
mãos sobre meus ombros.
— Vamos, Watts — ele disse. — Você sabe que há algo especial
acontecendo entre nós. Eu sei que você sabe.
Ele começou a massagear gentilmente meu ombro e atrás do meu pescoço.
Fiquei paralisada, mas quando ele começou a brincar com meu cabelo,
fiquei arrepiada. Era fantástico, e estava começando a ficar perigoso. Tentei
repeli-lo com os ombros.
— Vamos, relaxe — ele disse calmamente. — Deixe-me fazer uma
massagem no seu pescoço. Você precisa relaxar um pouco. Relaxe.
O que ele tinha acabado de dizer para mim, sobre nós termos uma coisa
especial, tinha perturbado minha cabeça. Eu não sabia mais o que dizer,
então fiquei lá sentada, deixando que ele acariciasse gentilmente meu
pescoço e meu cabelo. Parecia que tinha dado um branco na minha mente,
como se tudo tivesse sido desligado ou esvaziado, exceto a sensação de tê-
lo atrás de mim e o calor de suas mãos nos meus ombros.
Depois de um tempo, ele se levantou e foi até o aparelho de som.
— Você tem algum CD bom?
— Ai. Não tenho certeza — eu disse. — Os meus estão todos lá em cima,
mas acho que há alguns do meu irmão por aí. Ele os deixou aqui quando foi
fazer as viagens dele. Eles estão ali, à direita do rádio — "sim", eu
pensei. "Música. Boa idéia." Qualquer coisa que me distraía dos
sentimentos que estão provocando distúrbios em mim.
Ele tirou um CD, pôs no aparelho e ligou.
— Acho que você vai gostar deste — ele disse, sentando-se mais uma vez
atrás de mim e recomeçando sua suave massagem nos meus ombros.
Quando o CD começou a tocar, eu mal podia acreditar no que estava
ouvindo. Nunca tinha ouvido aquela banda, mas era a escolha perfeita. As
cordas dominaram a sala, depois um piano e, depois, a letra da música. Era
sobre dançar perto do fogo, com avidez para pegar o fogo. Encrenca
tentadora, pronta para jogar o Jogo.
Quando a música tomou a sala, as mãos de Luke de repente pararam de
massagear. Ele me virou, para que eu ficasse de frente para ele, e colocou
sua mão no meu queixo, para eu olhar para ele. Quando nossos olhares
se cruzaram, comecei a sentir que estava perdendo a resistência, como se
estivesse me transformando em bolacha. Ele se inclinou na minha direção,
escorregou as mãos pelos meus braços e me puxou na direção dele. Aí
inclinou-se novamente e foi como se tudo tivesse ficado em câmara lenta, o
rosto dele se aproximando cada vez mais do meu. Parecia que eu ia
derreter, aí os lábios dele tocaram os meus. Eu queria muita corresponder,
mas de repente vi os rostos de Paola e Steve na minha mente.
— Não... Não, Luke, nós não devemos. Temos que pensar na Paola e no
Steve. Mesmo se terminarmos com eles, isso só vai gerar sentimentos
ruins.
Luke soltou um gemido fraco.
— TJ, você está me matando. Isto está me matando.
Ele parecia tão triste sentado ali. Eu detestava vê-lo assim e percebi que
não tinha pensado nos sentimentos dele. Ele olhava para mim suplicando, e
pegou minha mão de novo.
— TJ, por favor. Não posso continuar assim.
— Mas... A Paola...
— Eu vou falar para a Paola. Prometo. Eu vou. Venha aqui...
Dessa vez, quando ele me puxou em sua direção e pôs os braços na minha
cintura, coloquei meus braços ao redor de seu pescoço, seu rosto veio em
direção ao meu novamente e, finalmente, nós estávamos nos beijando
direito. Um beijo longo, profundo e suave. Nada mais existia. Era como se
tudo tivesse ficado preto, e o que eu sentia era a mais sublime sensação dos
lábios dele tocando os meus e de seu corpo próximo. Êxtase.
Um pouco depois, ele se afastou e sorriu.
— Eu queria fazer isso há muito tempo. Você está bem com relação a isso?
Eu estava mais do que bem. Parecia que eu estava no céu. Tudo o que eu
queria era mais, então me inclinei de novo e beijei-o novamente.
Nós devemos ter passado as duas horas que se seguiram com os braços
envolvendo o outro, nos acariciando e nos beijando até que minha
mandíbula ficasse dolorida. Nunca senti uma coisa assim antes, beijar
Steve nunca tinha sido assim. Eu queria continuar para sempre.
Estávamos nos acariciando, eu com a cabeça no peito dele, de mãos dadas e
ouvindo outro CD, quando ouvimos o carro dos meus pais estacionar na
frente da casa. Eu dei um pulo, em pânico. Perdera completamente a noção
do tempo. Olhei o relógio. Era quase meia-noite.
Fazia três horas que estávamos lá.
— Oh, Deus, eles vão me matar.
— Porta dos fundos? — disse Luke, levantando-se num salto e dirigindo-se
para o hall.
— Cozinha — eu disse, e nós dois corremos para os fundos da casa.
Quando o levei para o jardim, ele me beijou rapidamente e nós dois demos
uma risadinha; ao ouvirmos a chave da porta da frente, ele correu pelo
jardim.
— A gente se vê, Watts.
— TJ, TJ? Você está aí? — perguntou mamãe, vindo direto para a cozinha.
— O que você está fazendo aí?
— Sim. Estava levando Mojo para tomar um ar fresco no jardim —
respondi, entrando e trancando a porta dos fundos.
Mojo escolheu esse momento para vir da sala de estar e entrar na cozinha,
estragando minha história. Mamãe olhou para mim e depois para o
cachorro.
— Mas...
— Ah, aí está você — eu disse, e dei uma risadinha. Eu me sentia como
uma bêbada. — Menino mau, Mojo. Vamos, garoto — comecei a
destrancar a porta.
Mojo abanou o rabo e foi para o jardim.
— Pelo amor de Deus, feche essa porta — disse papai entrando e juntando-
se a nós. — Está deixando o ar frio entrar — aí ele trancou a porta. — O
que aconteceu com seu rosto?
— Rosto? — eu disse, colocando a mão no meu queixo. Dava para sentir
um machucado. "Oh, Deus", eu pensei. "Eu me arranhei durante o beijo".
— O que você quer dizer?
— Seu rosto — disse papai, olhando de perto. — Está todo vermelho na
linha do maxilar.
— Ah, isso! — eu disse, rindo como uma idiota. — Ah, sim. É... Eu fiz um
tratamento facial. Perdi o controle do esfoliante e... É... Tirando todas as
pústulas.
Papai fez uma careta e mamãe ficou olhando para mim com ar zombeteiro,
enquanto eu me dirigia para o hall e para as escadas. Acho que ela não
acreditou em uma palavra sequer. "É melhor sair daqui rápido", pensei,
"antes que eles suspeitem do que eu realmente estive fazendo". "Deitada no
sofá beijando um garoto que não era nem meu namorado, durante toda a
noite", provavelmente não ficaria muito bem no livro deles.
Mais tarde, quando me deitei na cama numa leve letargia, ainda sorrindo à
toa, eu pensei: isso não pode estar errado. Isso é de verdade. Realmente. E
eu, TJ Watts, pela primeira vez na minha vida, estou total e absolutamente
apaixonada.
Querida Hannah,
É uma da manhã aqui e eu não consigo dormir.
Tinha de contar para você, já que preciso contar para alguém. Estou
apaixonada. Apaixonada de verdade verdadeira. É oficial. Luke veio aqui
hoje e eu tive a melhor noite de toda a minha vida. Acho que ele é minha
alma gêmea. E o que é ainda melhor é que ele sente o mesmo. Ele não
gostava da Sian no final das contas. É incrível. Eu não consigo dormir,
pensando nele. Também vou enviar um e-mail para Steve, pois acho que é
justo contar a ele o quanto antes: não quero que ele ouça de ninguém.
Além do mais, ele é um cara legal. Eu vou fazer isso depois pessoalmente,
já que acho muita maldade fazer isso por e-mail, mas não posso arriscar
que alguém diga a ele antes, eu detestaria que isso acontecesse.
Com muito amor, TJ
Para: jamesblonde@bsnet.co.uk
Data: 12 de dezembro
Assunto: Nós
Querido Steve,
Estou escrevendo para dizer que não posso mais namorar você. Eu sinto
muito e espero que você não fique muito triste. Não é você: acho que você
é fantástico. Sou eu. Mas não vou insultá-lo, explicando ou tentando dar
justificativas. Nunca é fácil terminar uma coisa, e estou tentando fazer uma
versão sucinta, já que é a centésima versão que escrevo e não consegui
encontrar as palavras certas em nenhuma delas. Espero que você sempre
seja meu amigo, pois você realmente significa muito para mim e eu
realmente gostei de namorar você, e sinto muito por fazer isso via e-mail,
mas depois eu falo por que eu tive que fazer dessa forma.
Da sua amiga, TJ
Capitulo 16
MARCAS REVELADORAS
CAPITULO 17
Amigas de tempo Bom
Assim que as aulas acabaram, eu corri até o local das reuniões e deixei a
carta na mesa em que um deles se sentaria. Então, fui rapidamente para o
ponto de ônibus, rezando para não trombar com um deles no caminho.
Fiquei no ponto, com a gola do casaco levantada o máximo que dava e com
o cabelo no rosto, na esperança de que ninguém me visse.
Infelizmente, enquanto eu esperava, um carro parou e Olívia saiu dele.
— E aí, TJ? — ela disse. — O que você está fazendo aqui? Você não vai à
reunião?
Eu balancei negativamente a cabeça.
— Não... É... Desculpe, surgiu uma coisa, mas estive trabalhando nas
partes que eu disse que faria e vou entregá-las para vocês a tempo.
— Está bem, legal — ela disse. — A Sian já está lá?
— Hum, acho que não. Por quê?
Olívia encolheu os ombros.
— Ah, por nada. Como está sua amiga Paola? "Oh, meu Deus, ela sabe?",
eu me perguntava, enquanto o pânico tomava conta de mim. Mas como ela
podia saber?
— Hum, a Paola está bem. É... Por que você está perguntando? — eu não
queria lhe dizer que ela não estava falando comigo, já que pretendia
consertar as coisas com Paola mesmo que fosse a última coisa que eu
fizesse.
Olívia ficou desconfortável.
— Eu... Eu não sei se devo lhe dizer, mas... Olha, eu conheci a Paola e
gosto dela e, bem... Eu só fico me perguntando se uma de nós deve avisá-
la...
Meu sentimento de pânico foi substituído por um sentimento de pavor.
— Avisá-la a respeito de quê?
— A respeito de Luke. Você se lembra que eu lhe disse que ele é amigo do
meu irmão?
— Sim.
— A Paola realmente gosta dele?
— Eu... Sim, ela gosta, gostava, gosta. Por quê?
— Acho que Luke está pronto para fazer o que costuma fazer. Ele
conheceu outra pessoa, e o tempo da Paola acabou...
— Sério ? É... Outra pessoa? Quem?
— Não tenho certeza, mas tenho uma idéia. Ele disse ao William que,
dessa vez, ele realmente se apaixonou. Pobre garota, já que ele se sente
assim por no máximo três meses. De qualquer forma, parece que a Paola
vai levar um fora.
Fiquei me perguntando se ela sabia alguma coisa sobre mim e Luke e
estava se fingindo de morta.
— Mas por que dizer isso para mim? — perguntei.
— Bem, achei que ele podia ter falado com você. Você sabe, sobre a Sian...
— Sian?
— É. Bem, só pode ser ela, não é? Quem mais? Eu sei que ela não faz o
tipo dele, mas ela deixou escapar na outra noite que algo aconteceu entre
eles. Devo dizer que fiquei um pouco surpresa, mas Luke deve ver algo
nela. Eu não sabia se devia dizer alguma coisa, mas sei que a Paola é sua
amiga e, bem... Parece que ela pode se machucar. Eu conheço Luke há
muito tempo, lembre-se que eu falei para você...
Fiz que sim com a cabeça.
— Sobre seu prazo de encerramento. Parece que a Paola nem vai chegar
nos três meses.
— É. Ele sabe que a pegou, então precisa fazer uma nova conquista. Acho
que ele ainda está tentando provar que é o Sr. Atraente e consegue fazer
com que todas se apaixonem por ele.
— Então a Paola não passa de mais uma conquista?
— Provavelmente não é tão frio assim. Acho que ele realmente se apaixona
pelas garotas com quem namora, mas aí ele conhece outra pessoa e não
resiste: tem de ver se consegue conquistá-la também. E é aí que tudo fica
uma bagunça, já que ele não é muito bom em ser transparente e deixa uma
série de garotas se perguntando que lugar elas ocupam na vida dele. É um
pouco covarde quando se trata de confrontação.
”E nesse meio-tempo, ele não percebe o estrago que gera,” pensei. “As
amizades que ele consegue destruir.”
Bem, ele não vai destruir a minha só para provar algo para ele e mesmo."
— Eu sei que é o Luke quem deve contar para a Paola — disse Olívia —,
mas, conhecendo o passado dele, sei que vai evitar a situação, então, diga a
ela, se quiser. Avise-a para que ela se prepare. De qualquer forma, é melhor
eu ir andando. A gente se vê.
Quando ela foi embora, fiquei mais confusa do que nunca. Luke ainda
estava envolvido com Sian ou essa garota por quem ele estava apaixonado
seria eu? Ou ainda outra garota? Não que eu quisesse ter um
relacionamento com ele. De jeito nenhum. Perder minhas amigas era um
preço alto demais a ser pago por um relacionamento fraco, com um garoto
que não sabia o que ou quem que ria. Eu só gostaria de descobrir o que
estava acontecendo. Enquanto estava lá parada, perdida em meus
pensamentos, vi Luke aparecer na esquina e caminhar em direção à escola.
Meu coração começou a bater contra o peito. "Talvez ele tenha vindo mais
cedo na esperança de me pegar sozinha, antes que Sian e Olívia chegassem
da escola delas", pensei. Ou talvez ele queira falar com Sian. "Não, não",
disse a mim mesma, ele me garantiu muitas vezes que não havia nada entre
ele e Sian, e eu acreditara nele. Talvez eu não devesse fugir como uma
covarde. Talvez devesse falar com ele e descobrir o que estava
acontecendo. Sim. Ele podia ter medo de confrontações, mas eu não tinha.
Queria recuperar minhas amigas, então, tinha que saber precisamente o que
estava acontecendo antes de falar com elas de novo. Saí da fila do ônibus e
comecei a andar em direção a ele. Assim que me viu, ele virou para a
direita e chamou uma garota do primeiro colegial que tinha acabado de sair
da escola.
Não podia acreditar. Ele tinha me ignorado. Eu me senti desintegrando por
dentro. Felizmente, meu ônibus apareceu na esquina um pouco depois,
então me juntei às pressas à fila, mergulhei no ônibus e fiquei lá sentada,
bêbada, a caminho de casa. Quando cheguei, disse à mamãe que não estava
me sentindo bem, que não queria jantar e que estava indo direto para a
cama.
Uma vez debaixo do meu edredom, tentei entender o que tinha acontecido.
Por que ele tinha desviado de mim, como se não tivesse me visto?
Certamente estava esperando me encontrar na reunião, então, por que me
ignorou na rua? "Será que devo ligar para me entender com ele?", me
perguntei. Mas a coragem que sentira antes tinha desaparecido, e fiquei
cansada dessa história toda. "De qualquer forma”, disse a mim mesma, "ele
só ia me pedir para não dificultar as coisas de novo". Ele disse que
resolveria. Talvez eu devesse deixar que ele o fizesse. Mais cedo ou mais
tarde, provavelmente ligaria e, quando ligasse, minhas perguntas estariam
prontas.
Olhei para o telefone e torci para ele tocar. Mas ele devia estar na reunião
com Olívia e Sian. Ou talvez estivesse com uma carta igual à minha para
entregar, dizendo que também não iria mais às reuniões. Eu esperava que
não. Que bagunça. Seria uma pena estragar o projeto depois de todo o
trabalho que tínhamos feito. Talvez eu devesse ligar para Paola. Ela devia
estar em casa num estado muito similar ao meu. Questionando tudo. Eu me
sentia muito mal por isso. Talvez estivesse me criticando para todos que
quisessem ouvir.
Deu um nó no meu estômago só de imaginá-la falando com Tony, ou Lucy
na casa dela falando com os irmãos dela, e todos eles me odiando. Como eu
podia voltar a ser amiga deles? Eles nunca permitiriam. Todos pensariam
que sou uma pessoa horrível e talvez eu seja. Uma ladra de namorados. E
não qualquer namorado, eu roubei o namorado da minha melhor amiga.
Paola foi tão incrível quando Hannah mudou para a África do Sul, no ano
passado, e eu estava sentindo que não tinha nenhum amigo no mundo. Ela
me fizera sentir bem-vinda na casa e na vida dela, e como eu retribuía sua
amizade?
Oh, Deus. Eu me odeio. Devia ter resistido ao Luke ontem à noite. Devia
ter pedido que fosse para casa. Por que não fiz isso? Porque sou a pior
pessoa do mundo. Sim, eles provavelmente devem estar sentados numa
roda agorinha, comentando a pessoa horrível que sou. E Luke? Quem sabe
o que está se passando na cabeça dele? Teria eu feito o papel de uma
completa idiota? Por que eu o deixei entrar ontem à noite? Mas depois da
nossa sessão de maratona de beijo, eu tinha tido muita certeza de que os
sentimentos dele eram tão fortes quanto os meus e, agora, eu não sabia o
que pensar.
Teria eu sido desesperada por ter me entregado tão facilmente? Mas não
parecia ter sido dessa forma na hora; tinha sido maravilhoso, perfeito, como
se fôssemos feitos um para o outro. Quando os pensamentos passaram a dar
voltas na minha cabeça, minha mente começou a ficar exausta. "É isso que
é ficar apaixonada?", me perguntei, quando me lembrei da conversa que
tivera sobre isso com as garotas semanas atrás. Sentir-me doente, como se
quisesse deitar enroladinha e dormir e, ainda assim, ontem à noite, eu
estivera no topo do mundo, no céu. Agora eu estava no inferno, inferno,
inferno.
Não muito depois de eu ter ido para a cama, mamãe veio com um
termômetro. Pôs a mão na minha testa e olhou para mim ansiosamente.
— Não parece que você esteja com febre — ela disse, segurando o
termômetro —, mas vamos colocar isso na sua boca para ver.
Não me opus. Como dizer a ela que eu tinha dor no coração? O vírus do
amor. Deve ser interno, mas dói tanto quanto qualquer doença física. "Se
pelo menos houvesse um comprimido que eu pudesse tomar para aliviar a
dor", pensei, "fazer com que tudo isso vá embora”. É tão fácil com um
resfriado ou uma gripe, você só tem que tomar um analgésico e bebidas
quentes. Com uma perna quebrada, você coloca gesso, mas com o coração
partido, o que você toma? O que você pode fazer? Não existe uma pomada
ou gesso que possa reparar isso.
Depois de alguns minutos, mamãe tirou o termômetro e verificou se eu
tinha febre.
— Não, sua temperatura está normal, TJ. Como você está se sentindo?
Quais são os sintomas?
Eu gemi e me virei para a parede. Ela estava sendo tão gentil comigo. Se
pelo menos ela soubesse a má pessoa que sou. Eu podia sentir os meus
olhos lacrimejar, e não queria que ela me visse chorando.
— Dor de cabeça — eu disse. — Só preciso dormir um pouco.
— Vou trazer um paracetamol para você — disse mamãe —, e depois, se
você quiser, me fale sobre alguma outra coisa.
— Obrigada. Vou dormir agora.
Esperei que ela fosse embora, mas dava para ouvir que ela ainda estava no
meu quarto. Dava para sentir que estava olhando para mim, mesmo eu
estando de costas para ela.
— TJ, você quer conversar sobre alguma coisa? Tem alguma coisa
incomodando você?
— Não, só preciso dormir — eu disse. Tudo o que eu queria era ficar
sozinha, para poder chorar bastante.
— É a mudança para Devon que está lhe chateando? Porque...
— Não. Não, não é isso. Eu disse para você que não me importo de ir
agora; na verdade, acho que vai ser melhor.
Mamãe sentou ao pé da cama e pôs a mão na minha perna.
— Então o que é, querida? Você pode me dizer.
— Não posso. É que... Você já... Você já quis voltar no tempo?
— Milhões de vezes — disse mamãe. — Teria isso... Alguma relação com
um garoto?
Eu estava sentindo as lágrimas correndo pelos meus olhos.
— Sim. Não... É que... Eu cometi um grave erro... hesitei. Eu não
conseguia me abrir com ela. Simplesmente não conseguia. Estava com
muita vergonha. Ela parecia tão preocupada, sentada ali, olhando para mim,
que senti que tinha de dizer alguma coisa. — Ah, não se preocupe. Eu não
estou grávida, nem usando drogas ou algo do gênero. É que... É uma coisa
de amizade. Eu... Bem, eu vacilei com as minhas amigas. Mas eu... Eu vou
resolver isso.
Mamãe pressionou minha perna.
— Nós todos erramos de vez em quando, TJ. É assim que aprendemos na
vida. Pode ser duro, às vezes, mas sempre conseguimos fazer dar certo.
Acontece que, quando você cai, você tem duas escolhas: ficar deitada aí,
sentindo pena de si mesma, ou levantar e tentar consertar o que quer que
tenha feito. Não é um crime cair. O único problema é ficar caída — aí ela
se levantou para ir embora. — Ninguém é perfeito. Talvez você não deva
ser tão dura consigo mesma. O que quer que tenha feito, eu estou certa de
que existe uma forma de consertar. Durma bem. As coisas sempre parecem
melhores depois de uma boa noite de sono.
E aí, TJ?
Eu peguei os vestidos já prontos para nós experimentarmos amanhã.
Espero que você goste do seu. Acho que vai gostar. Não é excessivamente
feminino.
Oiê, amiga,
Uau! Parece algo surreal com Luke. Por favor, me convide para o
casamento e eu comprarei um chapéu. Posso ser dama de honra?
Querida Hannah,
Nada de casamento. Exceto o da Marie, é claro. Não. Nada de história de
amor também. Estourou tudo na minha cara e eu perdi minhas amigas e o
Steve. Nunca me senti tão horrível na vida (pior do que da última vez que
me senti horrível) e agora tenho que brincar de feliz dama de honra, pois
amanhã vamos para Devon para a prova do vestido. Acho que vou chegar
à igreja e gritar: "NÃO faça isso. O amor é uma droga”: Deve haver um
aviso do governo contra isso. Explico melhor depois.
CAPITULO 18
VOU LAVAR O CABELO PRA TIRAR AQUELE CARA DA
CABEÇA
CAPITULO 19
Confrontações
No domingo, nós não saímos de manhã tão cedo quanto eu tinha esperado,
pois papai queria ver umas agências imobiliárias e Marie e mamãe ainda
tinham de tratar de planos de casamento. Fui com o papai olhar as vitrines
das agências imobiliárias. Deve ter sido minha imaginação, mas ele não
parecia tão entusiasmado quanto antes, e era eu que parecia a mais ansiosa
de nós dois, embora estivesse começando a me arrepender de ter dito à
mamãe que me sentia feliz com a mudança. Por um lado, seria um novo
começo para mim. Um novo capítulo era tudo o que eu queria depois que
eu corrigisse o erro com Lucy e Paola. Ali, ninguém me conhecia nem
sabia o que eu tinha feito. Por outro lado, se eu conseguisse acertar as
coisas com as minhas amigas, a última coisa que eu queria fazer era deixá-
las.
No almoço comemos o espaguete à bolonhesa da Marie. É sua
especialidade, e a única coisa que ela sabe fazer. Eu me perguntava se
Stuart já havia descoberto que, a menos que ele cozinhe, está fadado a
comer comidas para viagem ou a mesma comida para o resto de sua vida.
Após o almoço, todo mundo queria fazer algumas compras de Natal num
mercado que ficava numa cabana de escoteiro da região. Vi um monte de
coisas lá que eram perfeitas como presentes para Paola, Izzie e Lucy.
Quando perambulávamos, comprei algumas coisas (incluindo um livro de
receitas para Marie) e pensei que não conseguiria imaginar a vida sem as
garotas mesmo depois de mudarmos para Devon. Eu sempre pensaria em
Izzie quando visse um cristal ou um kit de aromaterapia. Maquiagem com
brilhos e gel de banho sempre me lembrariam Paola, e qualquer tipo
romântico de roupa ou qualquer tecido adorável me fariam pensar na Lucy
e na sua paixão por moda. Fiquei triste de comprar presentes para elas,
pensando que aquele podia ser o nosso último Natal na mesma cidade. Eu
não conseguia suportar a idéia de que tudo podia acabar assim. Comprei
uma pulseira de prata e ametista para a Izzie, um cachecol de veludo
vermelho para a Lucy e uma bolsa pequena com enfeites felpudos para a
Paola. Eu esperava que elas aceitassem meus presentes, que ainda fossem
minhas amigas e que passássemos as próximas férias juntas, conforme
tínhamos planejado antes de todo aquele fiasco com Luke começar. Eu
tinha me decidido: Luke era passado. Eu só esperava que Lucy, Izzie e
Paola fizessem parte do meu futuro, independentemente de onde eu
morasse.
Tratei de chegar cedo à escola na segunda-feira de manhã e fiquei
esperando nos portões para pegar a Paola e a Lucy entrando.
Lucy foi a primeira a chegar. Ela pareceu confusa quando me viu, como se
não soubesse como reagir.
— Lucy — eu chamei. — Posso falar com você?
Ela hesitou por um momento e veio.
— Eu queria dizer que sinto muito, muito mesmo eu falei prontamente. —
Nunca quis que nada disso acontecesse e quero que você saiba disso. Por
favor, vamos ser amigas de novo? Eu faço qualquer coisa. Sei que cometi
muitos erros e que lidei de forma errada com tudo. Mas acabou tudo entre
mim e Luke. Prometo. Eu fui uma tola.
Lucy parecia desconcertada.
— Eu vi Izzie ontem. Ela veio à minha casa e não queria ir embora antes de
me contar tudo.
Eu sorri.
— Ela armou uma barraca na varanda da frente da sua casa?
Lucy sorriu de volta.
— Algo assim. Ela disse que não ia embora enquanto não falasse tudo e
que tinha trazido sanduíches e um saco de dormir e que ia dormir no abrigo
se eu não a deixasse entrar. Bem, ela me contou tudo sobre você e Luke e
tudo o que aconteceu, e... E... Acho que eu fui um pouco precipitada ao
julgar você.
— Isso significa que podemos ser amigas de novo? Eu sei que foi por
pouco tempo, mas pareceu uma eternidade. Eu senti muito sua falta, e foi
uma tortura não poder falar com você.
Lucy concordou.
— Também senti sua falta. Tipo, neste final de semana, parecia que alguma
coisa não estava certa. Mas... Olha, TJ, eu quero ser sua amiga, mas vamos
esclarecer uma coisa: amigas se colocam em primeiro lugar e contam tudo
para a outra. Você devia ter dito alguma coisa sobre gostar de Luke.
Eu concordei.
— Eu sei. Eu realmente, realmente sei, mas... Eu estava com medo de
vocês me odiarem.
— Eu não odeio você. Não dá para controlar de quem se gosta, mas você
consegue controlar o que fazer a respeito disso.
— Eu sei, e nunca mais algo assim vai acontecer. Prometo que, daqui para
frente, vou contar tudo, tudo para você...
— Fechado — disse Lucy, sorrindo.
Eu lhe dei um abraço enorme, bem caloroso.
— Sério, realmente não queria que isso tivesse acontecido — eu disse. —
Eu fui muuuuito burra... E tão infeliz...
— Acho que o amor nos faz ser um pouco burras às vezes...
— Fez com que eu percebesse muita coisa...
Nessa hora, Paola surgiu na esquina. Ela pareceu espantada de ter me visto
toda amigável com a Lucy e virou para andar na direção oposta.
— Paola — eu chamei.
— Depois — ela disse, andando na direção do auditório.
"Não ia ser fácil reconquistar a Paola”, pensei.
— Alguma idéia? — perguntei a Lucy.
— Rebaixar-se pode adiantar — ela respondeu. — Se isso não adiantar,
tente o suborno: fornecimento de chocolate até o fim da vida ou algo do
tipo. E eu vou tentar falar com ela no intervalo.
No intervalo, Lucy foi direto até Paola, quando ela saiu da sala, e eu rezei
para que conseguisse falar com ela. De qualquer forma, quando voltamos
para a aula, quinze minutos depois, Lucy olhou para mim e balançou a
cabeça negativamente.
— Vou tentar no almoço — disse Izzie. — No mínimo, ela tem de ficar
sabendo como Luke é.
— Obrigada, Iz — eu disse. — Mas acho que deve partir de mim.
— Bem, vamos esperar que ela não atire na mensageira — disse Izzie com
um olhar severo — nem tente estrangulá-Ia. Mas aí, pode nos dar uma
chance de praticar habilidades de primeiros socorros.
Cutuquei levemente seu braço. "Obrigada pela Izzie, Senhor", eu pensei.
"Ela me manteve sensata durante isso tudo."
No almoço, eu estava pronta para confrontar a Paola.
Quando saiu da sala, ela viu que eu estava esperando e seguiu em outra
direção. Lucy e Izzie saíram logo depois e fizeram um gesto com a cabeça
para eu ir atrás dela, então, a segui e a alcancei.
— Paola — eu disse. — Nós temos que conversar.
— Não tenho nada a dizer — ela retrucou.
— É sobre Luke...
— Eu disse "nada a dizer". Ele me falou como você se jogou em cima dele
— aí ela se virou e olhou para mim.
— Como você pôde fazer isso, TJ?
Eu respirei fundo.
— Eu sinto muito, Paola, eu realmente sinto muito. Mas não foi como ele
disse que foi.
Ela fez um gesto com a mão, como que dispensando o que eu estava
dizendo.
— Sim, sim. Que seja.
— Não. Não. Paola. Não é "que seja'. Não estava tudo na minha cabeça,
você tem de acreditar nisso. Luke esteve mentindo para nós duas.
Ela balançou negativamente a cabeça.
— Você simplesmente não entende, não é? — ela perguntou. — Ele gosta
de mim. Ponto final. Agora arrume seu próprio namorado — e começou a
andar pelo corredor.
Eu não podia deixar que ela se fosse dessa forma. Ia ser a coisa mais difícil
que já tinha feito e eu sabia que iria magoá-la, mas ela tinha de saber a
verdade.
— Falei com ele depois que ele contou para você aquela história de eu ter
me jogado em cima dele e...
Vi que ela começou a ir mais devagar, então a alcancei de novo.
— Escute, Paola, eu sinto muito de ter de lhe dizer isso e... E... Eu tenho
certeza de que Luke gosta de você. Ele me disse que gosta de você, mas ele
também me disse que vai terminar com você.
Paola parou. Ela não olhou para mim, mas dava para ver que ela estava
ouvindo.
— Ele... Ele disse que quer ficar comigo e que não quer magoá-la, então
ele vai continuar com você por mais um tempo e desapontá-la aos poucos.
Eu nem sequer sei se isso é verdade, mas acho que você tem de
saber o que ele está dizendo pelas suas costas.
Paola não disse nada.
— Eu sinto muito, muito mesmo. E eu não me joguei em cima dele, sério.
Houve uma única vez em que nos beijamos. Uma vez... E não fui eu que
me joguei em cima dele. Não foi mesmo. Ele ficou comigo durante três
horas...
Paola finalmente olhou para mim. Sua expressão era de raiva e mágoa.
— Ele disse para você que vai terminar comigo?
— Sim. Você não percebe o que ele está fazendo, Paola? Ele está dizendo
para nós duas coisas diferentes....
— E... Quando ele a beijou, ele ficou com você por três horas?
Eu confirmei.
Paola passou a mão no cabelo e parecia perturbada.
— Está bem. Está bem... Deixa eu ver se eu entendi. Então você está
dizendo que Luke mentiu para mim sobre você?
— Sim. Você se lembra do meu arranhão de beijo?
— Perguntei para ele sobre isso, e ele disse que Steve devia ter feito isso
em você.
— De jeito nenhum. E, de qualquer forma, você já viu o Steve. Ele
dificilmente tem de se barbear. Eu sei que é difícil de ouvir, mas foi Luke.
— E você está dizendo que ele está planejando me dar o fora?
— Foi isso que ele disse.
— Está bem. Está bem. Então... Se ele me der o fora, você vai namorá-lo?
— Nããão. De jeito nenhum. Eu não posso confiar nele. Nem você. É por
isso que estou lhe dizendo tudo isso. Mas você pode confiar em mim,
Paola. Estou sendo completamente sincera com você agora. E também não
acho que somos as únicas garotas que ele está enrolando. Sian também
acha que ele quer ficar com ela.
— Sian? Aquela garota loira?
— Sim. Ele me disse que não gostava dela. Disse que não era o tipo dele,
mas aí ela me contou que ele a beijou e, quando eu o confrontei,
perguntando sobre isso, disse a mesma coisa que disse para você sobre
mim. Que ela se jogou em cima dele.
Paola parecia chocada.
— Sian? Eu não acredito.
— Bem, não dá para saber o que se passa na cabeça dela, mas eu não acho
que a culpa é inteiramente dela de pensar que tinha chance com ele. Luke
não consegue dizer a verdade para ninguém. Acho que ele quer saber se
pode ter todas nós. Mas eu me enchi dele. Não quero mais nada de mal-
entendidos, essa coisa de não saber o que está acontecendo. Eu quero estar
com pessoas que são totalmente sinceras, em quem posso confiar e que
confiam em mim. Quero que sejamos amigas de novo mais do que tudo
neste mundo.
Paola me deu um olhar longo, duro e frio.
— Eu vou matá-lo — ela disse, virando-se e indo embora.
Olhei para ela, perguntando-me se devia segui-la, quando Izzie chegou
atrás de mim.
— Deixe-a — ela disse. — Ela provavelmente precisa
ficar sozinha durante um tempo.
Querida Hannah,
Nossa, como sinto sua falta. Tem acontecido tanta coisa por aqui e eu
aprendi tanto, principalmente que a coisa mais importante em qualquer
relacionamento é a confiança. Eu realmente gostava de Luke, mas não
posso confiar nele, não como confio nas minhas amigas. Eu realmente
espero que eu possa recuperá-las.
Com amor, TJ
CAPITULO 20
A APRESENTAÇÃO
Anúncio de casamento
FIM