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CADERNO-DE-RESUMOS-3°-CIPIAL-2019-BRASÍLIA

Chapter · April 2019

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Karenn Alejandra Díaz Campos


Arturo Prat University
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Línea de Investigación en Interculturalidad, Territorio, Aguas y Derecho Indígena. UNAP View project

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ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

FICHA TÉCNICA

COMITÊ CIENTÍFICO INTERNACIONAL


Alicia Jiménez Hermosa, Colegio Profesional de Antropólogos de la Región Lima, Peru
Ana Suelly Arruda Câmara Cabral, Universidade de Brasília, Brasil

Antonio Escobar Ohmstede, Centro de Investigaciones y Estudios Superiores en


Antropología Social, Unidad DF, México
Claudia Salomón Tarquini, Universidad Nacional de La Pampa, Argentina
Cristhian Teófilo da Silva, Universidade de Brasília, Brasil

Daniela Traffano, Centro de Investigaciones y Estudios Superiores en Antropología Social,


Unidad Pacífico Sur, México
Esther Katz, Institut de Recherche pour le Développement, França
José Antônio Vieira Pimenta, Universidade de Brasília, Brasil
Juliana Merçon, Universidad Veracruzana, México
Lorena Rodríguez, Universidad de Buenos Aires, Argentina
Ludivine Eloy Costa Pereira, Centre National de la Recherche Scientifique, França

Marcela Stockler Coelho de Souza, Universidade de Brasília, Brasil


Maria Regina Celestino de Almeida, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Mônica Celeida Rabelo Nogueira, Universidade de Brasília, Brasil
Stephen Grant Baines, Universidade de Brasília, Brasil

COORDENAÇÃO GERAL

Mônica Nogueira, Mestrado em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais


(MESPT), Faculdade UnB Planaltina (FUP), UnB

Cristiane de Assis Portela, Mestrado em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios


Tradicionais (MESPT), Departamento de História, UnB

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

COMISSÃO ORGANIZADORA LOCAL


Ana Suelly Câmara Cabral, Laboratório de Línguas e Literaturas Indígenas, Departamento de
Linguística, Português e Línguas Clássicas (LIP), UnB

Antônio Fernandes de Jesus Vieira (Dinamam Tuxá), Articulação dos Povos Indígenas do
Brasil (APIB), Associação de Acadêmicos Indígenas (AAI) e Faculdade de Direito, UnB

Armando Gutiérrez Cisneros (Armando Quéchua), Laboratório de Línguas e Literaturas


Indígenas, Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas (LIP), UnB

Beatriz de Almeida Matos, Laboratório t/Terra, UnB e Grupo de Pesquisa Ameríndia,


Universidade Federal do Pará

Braulina Aurora Baniwa, Associação de Acadêmicos Indígenas (AAI), UnB

Cibele do Carmo Santana, FAOR – Projetos e Eventos

Cristhian Teófilo da Silva, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Movimentos Indígenas,


Políticas Indigenistas e Indigenismo (LAEPI), Departamento de Estudos Latino-Americanos
(ELA), UnB

Edineia Aparecida Isidoro, Laboratório de Línguas e Literaturas Indígenas, Departamento de


Linguística, Português e Línguas Clássicas (LIP), UnB e Universidade Federal de Rondônia
(UNIR)

Elaine Moreira, Grupo de Pesquisa em Direitos Étnicos – Moitará, Departamento de Estudos


Latino-Americanos (ELA), UnB

Elizabeth Ruano, Departamento de Estudos Latino-Americanos (ELA), UnB

Jairo Alexander Castaño, Departamento de Estudos Latino-Americanos (ELA), UnB

Janaína Ferreira Fernandes, Laboratório t/Terra, Departamento de Antropologia (DAN), UnB

Jeraldyn Naranjo Henao, Departamento de Estudos Latino-Americanos (ELA), UnB

Jhenifer Benedito de Oliveira Pêgo, Associação de Acadêmicos Indígenas (AAI), UnB

Larissa Cristina de Sousa Ferro, Departamento de Estudos Latino-Americanos (ELA), UnB

Leonel Alcides da Silva, Associação de Acadêmicos Indígenas (AAI), UnB

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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Maisa Cristina Torres Dantas, Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG)

Marcela Coelho de Souza, Laboratório t/Terra, Departamento de Antropologia (DAN), UnB

Marianna Assunção F. Holanda, Faculdade UnB Ceilândia (FCE), Programa de Pós-Graduação


em Bioética e Centro Internacional de Bioética e Humanidades, UnB

Núbia Batista da Silva, Associação de Acadêmicos Indígenas (AAI), UnB

Rodrigo Arajeju, 7G Documenta

Sílvia Maria Ferreira Guimarães, Departamento de Antropologia (DAN), UnB

Stephen Grant Baines, Laboratório e Grupo de Estudos em Relações Interétnicas


(LAGERI), Departamento de Antropologia (DAN), UnB

Tâmara Jacinto, Onã Produções

Tanielson Rodrigues da Silva (Poran Potiguara), Associação de Acadêmicos Indígenas (AAI),


UnB

Terezinha Aparecida Borges Dias, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)

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ST 01 | A questão urbana: reflexões e perspectivas etnográficas e históricas


sobre os índios e cidades

Eduardo Soares Nunes (Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA, Brasil); Marta
Amoroso (Universidade de São Paulo – USP, Brasil); Edgar Bolívar-Urueta (Universidad
Nacional de Colombia, Colombia).

Em toda América Latina, a presença indígena nas cidades se faz cada vez mais marcante. Se,
por um lado, isso se deve ao aumento de migrações e de trânsitos entre aldeia e cidade,
propiciados por motivos diversos, por outro, o que assistimos crescer hoje é muito mais a
visibilidade dessas populações que apenas seu número – a presença indígena nas cidades não
é de forma alguma um fenômeno novo. Mas a despeito de alguns trabalhos pioneiros, é
apenas em anos recentes que a antropologia latinoamericana tem se dedicado mais
sistematicamente ao tema. Os contextos, entretanto, são muito diversos: há comunidades
indígenas vivendo em grandes cidades, há aldeias coladas à pequenas cidades regionais, há
pessoas (de uma única ou de várias etnias) que se organizam em rede nos mais diversos
contextos urbanos (incluindo metrópoles e capitais), há casos em que a presença na cidade é
mais transitória, por motivos variados, há cidades que podem ser ditas “indígenas” e tantas
outras situações mais. Cabe notar ainda que as histórias particulares dos vários países colocam
questões específicas. Também a variedade de temas e problemas que essas situações
suscitam é ampla: da territorialidade ao aspecto econômico, das relações de parentesco a
direitos territoriais, das transformações indígenas às relações assimétricas de poder para com
o Estado e/ou a população regional além, certamente, de colocar questões ordem
metodológica. O objetivo desse simpósio é reunir pesquisadores e pesquisadoras indígenas e
não- indígenas que venham se debruçando sobre a presença indígena nas cidades para
promover um debate comparativo que, articulando diferentes perspectivas etnográficas e
históricas, possa tanto dimensionar e enriquecer as pesquisas em andamento sobre o tema,
quanto estimular investigações futuras.

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Entre aldeias e cidades: a dinâmica de deslocamento de uma família


Jaminawa, no estado do Acre, Brasil
Luana Machado de Almeida

Pretendo apresentar uma breve etnografia do meu convívio com uma família extensa do povo
Jaminawa que reside em um bairro periférico na cidade de Rio Branco, no estado do Acre.
Uma residência que considero, curiosamente, permanente e transitória. Dito de outro modo,
apesar de terem casas próprias na Cidade do Povo, recebidas por meio de um programa
habitacional do governo para retirar famílias de locais em situação de risco, a dinâmica de vida
dessas pessoas é marcada por um intenso trânsito entre a aldeia e a cidade. A presença
Jaminawa em contexto urbano no estado do Acre vem sendo registrada por pesquisadores
(Calavia Sáez, 2015; Ferreira, 2014; Maciel Junior, 2014) e tem como consequência no
contexto regional uma estereotipificação do povo Jaminawa como “índios das cidades”, que
usualmente vem associada a uma série de características pejorativas. Não obstante, existem
no Brasil sete áreas indígenas ocupadas pelos Jaminawa (algumas são terras indígenas
demarcadas e outras ainda em estudo) e, mesmo residindo por muito tempo em contexto
urbano, o vínculo com os parentes na aldeia parece não se dissolver. Do mesmo modo, o uso
da língua indígena permanece forte no ambiente familiar, sendo essa uma das características
que mais chamou minha atenção ao conhecê-los. Outra característica que também me saltou
aos olhos é que, dentre muitas reflexões sobre estar na cidade e as consequências disto, não
me recordo de tê-los escutado falar que “estão virando brancos”. A visão da aculturação e da
perda de uma identidade indígena é algo que surge com frequência no discurso não indígena
a respeito deles, mas não me parece ser um problema para eles – ao menos não “o mesmo”
problema. Dessa forma, pretendo explorar as diferentes perspectivas sobre ser índio e estar
na cidade a partir do contexto mais amplo no qual realizei minha pesquisa junto a esse grupo
familiar. Nesse sentido, cabe informar que me aproximei deles por conta da minha pesquisa
de doutorado que, grosso modo, teve como objetivo central entender a atuação de
intérpretes, a serviço da Funai, atuando junto a um povo indígena de recente contato que
reside no alto rio Envira, no estado do Acre. Convidados a trabalhar por conta de suas
habilidades linguísticas, os intérpretes Jaminawa foram muitas vezes criticados, tanto por
agentes públicos como pelos próprios parentes, por serem “índios da cidade” e terem
incorporado hábitos, costumes e valores não indígenas. A partir desse contexto, minha
intenção é refletir sobre o trânsito dessas pessoas entre aldeias e cidades, as motivações para
esse deslocamento e de que forma este se conecta com o trabalho desempenhado junto à
Funai.

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“Na minha casa nós nunca come sozinho”: notas sobre os modos Sateré-
Mawé de habitar cidades

José Agnello Alves Dias de Andrade

Nesta apresentação exponho algumas reflexões, realizadas em minha tese de doutorado, a


partir de minha interlocução com indígenas Sateré-Mawé habituados a levar a vida entre
constantes deslocamentos pelas aldeias e cidades na região amazônica. Abordo por meio das
narrativas de meus interlocutores sobre os deslocamentos de seus coletivos de parentes, do
passado e do presente, múltiplas dimensões atreladas às suas práticas de mobilidade em sua
relação com a conformação de seus locais de habitação nas cidades, procurando demonstrar
alguns traços de suas concepções particulares sobre territorialidade, temporalidade e
conhecimento, destacados em relação à sua experiência citadina. Trato particularmente de
um modo de conhecimento (e reconhecimento) implicado nos atos coletivos e continuados
de andar, parar, voltar e narrar, subsumidos sob a expressão andar junto, que indicia um ideal
de relações de confiança, cuidado, acolhimento e aprendizagem que remetem aos
movimentos coordenados caros à produção de vida em seus “locais de parada” entre seus
parentes espalhados por diferentes cidades e aldeias. Nesta exposição proponho destacar as
práticas de mobilidade sateré-mawé em busca de “coisas boas” para, como dizem, “aproveitar
com seus parentes”, argumentando que sua percepção a respeito da importância destas
“andanças” fornece um enquadramento para a compreensão de sua permanência nas
cidades. Como pretendo demonstrar, nas casas e comunidades “conquistadas” nas cidades
que se constituíam os laços afetivos constitutivos da solidariedade dedicados àqueles que
eram – e se faziam/conheciam/reconheciam – parentes.

Pajelança urbana e valoração em Oiapoque e circunvizinhança (Amapá,


Brasil)
Ugo Maia Andrade

A cidade de Oiapoque é o principal assentamento da fronteira brasileira com a Guiana


Francesa e movimenta um contingente grande de pessoas, dentre elas os Palikur, Galibi-
Marworno, Galibi-Kali ń a e Karipuna que habitam três Terras Indígenas incidentes na área do
município. A relação dos chamados “Povos indígenas do Oiapoque” com a cidade homônima
é estreita, antiga e de tensão latente, constituindo-se em um vínculo de dupla dependência,
pois tanto os índios recorrem à cidade para compras, emprego e serviços de educação e saúde,
quanto abastecem o comércio local de farinha e frutas. Todavia, paralelamente a tais
produtos, índios Karipuna e Galibi-Marworno oferecem, há décadas, serviços xamânicos em
Oiapoque e cidades e vilas circunvizinhas, valendo-se da credibilidade que a pajelança
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indígena possui junto aos não índios. Tal prestígio é frequentemente potencializado ao se
agregar ao xamanismo regional cantos, procedimentos, fórmulas fitoterápicas e espíritos
auxiliares provenientes de matrizes urbanas, como a umbanda, os ritos de cura dos Saramaká
e formas de xamanismo New Age, atribuindo-lhes um lugar no xamanismo dos Karipuna e
Galibi- Marworno e, assim, continuando o seu prestígio. Pretende-se abordar, pois, o
fenômeno da preservação do prestígio urbano do xamanismo dos índios Karipuna e Galibi-
Marworno a partir da integração contínua de saberes e práticas “não indígenas” e “não
xamânicas”, percorrendo uma reflexão a respeito de como ritos outros – às vezes antitéticos
– são incorporados e em lugar de vulgarizar o xamanismo indígena, fazendo-o perder valor no
mercado regional de bens de cura, o afirmam como um saber nativo, puro e originário.

Novas configurações do xamanismo em São Gabriel da Cachoeira

Samir Ricardo Figalli de Angelo

Procura-se apresentar as novas configurações do sistema xamânico no alto rio Negro no


contexto urbano. A etnografia realizada na cidade de São Gabriel da Cachoeira com os Desana,
um dos grupos Tukano do noroeste amazônico, aponta para as transformações das formas de
transmissão de conhecimentos. Abrandamentos nas prescrições, emprego de novas técnicas
para o aprendizado, aumento na quantidade de benzedores e uma nova reconfiguração dos
benzimentos marcam a contemporaneidade do xamanismo. Através de um percurso que
parte das formas de transmissão de conhecimentos da era pré-salesiana, passando pela época
dos internatos ao momento atual, estas mudanças são apresentadas e verifica-se que, a
despeito das contingências históricas, a circulação dos conhecimentos continua a operar
enquanto o xamanismo floresce em novos contextos.

Indígenas em âmbitos urbanos: articulações sociais, políticas e jurídicas de


grupos Tukano para garantia de direitos à saúde associativa na cidade de
Manaus
Camila Gouvêa de Araújo
Caroline Barbosa Contente Nogueira

Este trabalho visa discorrer sobre a garantia de direitos coletivos e individuais dos povos
indígenas nas cidades, especificamente no que tange aos direitos à saúde. Para fins de recorte
metodológico, foi analisada a presença de indígena no âmbito urbano na Cidade de Manaus,
especificamente a presença da etnia Tukano (Yepamahsã), buscando destacar estratégias e
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articulações políticas e sociais realizadas por esse grupo étnico em decorrência de casos
conflituosos no exercício do direito à identidade cultural indígena em espaços urbanos. O
conflito surge a partir da desigualdade no tratamento e garantia de seus direitos nos espaços
rurais e urbanos, visto que, em áreas rurais, os direitos indígenas são observados com
assistência dos órgãos especializados, como a Fundação Nacional do Índio – FUNAI, Secretaria
Especial de Saúde Indígena (SESAI), enquanto que nos espaços urbanos a ausência de atuação
destes órgãos expõe os indígenas à negação de direitos reconhecidos constitucionalmente e
infraconstitucionalmente. A experiência analisada neste estudo parte do caso ocorrido na
cidade de Manaus, no ano de 2009, quando uma indígena da etnia Tukano demandou
atendimento de saúde de alta complexidade e teve negada a assistência associativa. Tal
assistência inclui a atuação da medicina indígena, conjuntamente com a medicina ocidental,
para tratamento integral do paciente (Cunha, 2007). Desse modo, somente através de
intervenção do Ministério Público Federal, a demanda foi atendida no tratamento associativo
e a indígena teve a saúde restabelecida. Posteriormente fora proposta ação judicial de no
0012928- 69.2010.4.01.3200 na Justiça Federal, contra a União, visando indenização por
danos morais e materiais. A sentença foi prolatada favorável a parte em 2013 e atualmente
está em recurso no tribunal superior. A partir do fato narrado, dois eventos foram essenciais
para este estudo: a criação da Lei Estadual de no 4.349/2016 que possibilita o atendimento
associativo nos hospitais públicos e privados; e a criação do Centro de Medicina Indígena da
Amazônia - Bahserikowi, na Cidade de Manaus, assim como a institucionalização da Sala do
Pajé na Casa de Apoio à Saúde Indígena CASAI/Manaus em 2018. Fatos que denotam intensa
articulação política indígena que fortalecem os direitos de identidade cultural nas cidades
(Barreto, 2018). Tendo em vista as representatividades de ações, a partir da experiência
específica destacada, restou explícita a necessidade de garantir, reafirmar e invocar os direitos
fundamentais adquiridos através de marcos jurídicos, possibilitando concluir que tais
articulações são atos de autoafirmação identitária, em áreas urbanas, que denotam conflitos
contemporâneos e complexos, visto que nas cidades, o apoio estrutural da FUNAI é limitado.
Vale ressaltar, que o presente trabalho foi inicialmente desenvolvido por meio de Pesquisa de
Iniciação Científica no Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena, da Universidade Federal do
Amazonas (NEAI/UFAM).

O corpo dos Xucuru-Kariri e de seus ancestrais no mato, na aldeia e na cidade

João Roberto Bort Júnior

Os Xucuru-Kariri habitam terras indígenas oficialmente reconhecidas em Alagoas, Bahia e


Minas Gerais. Nosso trabalho aborda particularmente corpo e territorialidade xucuru-kariri
em Caldas, no Sul Mineiro, considerando as relações desses indígenas com diferentes lugares
e seres com quem convivem nesses espaços de vida. Pretendemos descrever o que fazem os
Xucuru-Kariri de Caldas com seus corpos quando entram em relação com brancos ou espíritos
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na mata, nas cidades da região e na aldeia. O corpo xucuru-kariri para ir à cidade não é o
mesmo que vai à mata e nem é o que circula na aldeia. Ele é transformado não apenas em
razão do espaço das relações, mas também em função da natureza dessas interações nesses
espaços. É com o corpo que estabelecem contato. Ele precisa ser feito da forma adequada
para jogar futebol contra os brancos nos campos das redondezas da aldeia, mas distingue-se
da forma como vão aos centros comerciais dos não- indígenas, ou como se mostram aos
outros em danças-rituais, ou ainda como não devem ser vistos quando vão à mata com
finalidades religiosas. Sugerimos que há regras e práticas em torno dos corpos dependendo
dos lugares para onde irão. Além da vestimenta adequada para relacionar-se com os outros
humanos e não-humanos em certos espaços com determinados fins, é preciso muitas vezes
possuir o melhor odor, que certamente não será o ideal em outro espaço de relação. Nesse
caso, a oposição entre odores se compreende pela oposição mata/cidade. Logo, os Xucuru-
Kariri de Caldas não apenas se ornamentam adequadamente para dançar, jogar, ritualizar e
comprar como também seguem prescrições olfativas. A variação corporal Xucuru-Kariri
compõe a sua experiência territorial, que inclui relações no mato, na cidade e na aldeia. O
esforço etnográfico será o de apresentar tal variação como parte de sua territorialidade,
enfatizando que é a partir da relacionalidade entre corpos, espaços e seres que se deve
compreender a experiência Xucuru-Kariri. É notável, em nossas inspirações, as apostas
teórico-metodológicas que abordam o corpo ameríndio como lócus de produção de relações
(Seeger, da Matta, Viveiros de Castro, 1979) e daquelas que sugerem a territorialidade como
as relações nos e com os espaços (Coelho de Souza, 2017; Pietrafesa de Godoi, 2016). Por
último, a descrição analítica será ampliada diacronicamente a partir de informações sobre
práticas guerreiras de tapuias ancestrais dos Xucuru-Kariri no mato e nas povoações do
Nordeste seiscentista (Puntoni, 2002), que indicam terem possuído um corpo apto a enfrentar
à ação colonizadora, e a partir de dados sobre as relações de seus ascendentes com a
sociedade não-indígena novecentista (Antunes, 1973), os quais revelam que o as condições
territoriais de vida Xucuru-Kariri impactaram-se em paralelo ao desenvolvimento de núcleos
urbanos no agreste alagoano.

Indígenas urbanos em Minas Gerais: características populacionais segundo


dados do censo demográfico

Marden Barbosa de Campo


Marcos Damasceno

A crescente presença de indígenas em áreas urbanas no Brasil tem motivado o uso de


ferramentas demográficas que podem contribuir para o melhor conhecimento dessa
população nas cidades. Nesse sentido, os dados do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro
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de Geografia e Estatística (IBGE) constituem uma fonte relevante, fornecendo informações


sobre as condições de vida dos indígenas no ambiente urbano contemporâneo, a partir das
quais se pode elaborar indicadores sociais e acompanhar sua evolução no tempo,
compreender possíveis padrões migratórios, relacionar a situação do indígena frente a outros
grupos sociais, entre tantos outros aspectos indispensáveis à promoção de políticas públicas
destinadas à população indígena. No sentido inverso, as peculiaridades dessa população e as
dificuldades enfrentadas na sua identificação e estudo em pesquisas demográficas podem
contribuir para o aprimoramento dessas pesquisas, fomentando debates sobre os critérios
utilizados nos recenseamentos. Em tal contexto, a comunicação que se propõe buscará
investigar a condição dos indígenas no estado de Minas Gerais, especialmente nas cidades de
maior volume populacional, segundo as informações obtidas no último Censo Demográfico
(2010), identificando sua dispersão espacial, suas características socioeconômicas, fluxos
migratórios, além de verificar se e em que medida a sua inserção social no espaço urbano se
diferencia da de outros grupos e cores/raças.

Da retomada a invenção do território: a criação da aldeia Naô Xohã

Thiago Barbosa de Campos


Frederico Canuto
Letícia Nunes

Este trabalho é fruto de pesquisa sobre as práticas sócio-espaciais de um grupo indígena na


Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), em Minas Gerais, com foco no processo
recente de retomada de terras e recém-criação da aldeia Naô Xohã no município de São
Joaquim de Bicas, em outubro de 2017. O grupo é composto por indígenas aldeados da etnia
Pataxó Hã Hã Hãe localizadas no sul da Bahia e outros vindos de diferentes estados e mesmo,
de Belo Horizonte. A pesquisa, ainda em processo, tem como base do que será apresentado
visitas a aldeia, conversas informais, entrevistas e produção de mapas. Os pesquisadores têm
buscado compreender de que forma os indígenas produzem seus espaços, visando também
traçar um histórico de suas trajetórias espaciais, mapear suas relações de parentesco, mapear
outros espaços que utilizam na RMBH e compreender suas estratégias para geração de renda
e sobrevivência fora da terra indígena. Esta comunicação apresenta a visão dos pesquisadores
sobre a produção material e sócio-espacial do território em diálogo com a visão dos próprios
indígenas sobre o tema a partir de conversas. O trabalho relata ainda as influências de outros
agentes no contexto da aldeia Naô Xohã, como técnicos da FUNAI, agentes do CIMI,
pesquisadores do grupo de extensão Morar Indígena da Escola de Arquitetura da UFMG e
voluntários da ONG chilena TETO que, em novembro e dezembro de 2018 articularam e
construíram cinco habitações temporárias para a aldeia.

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Mulheres indígenas na cidade de São Paulo: lutas, (re)existências e


ressignificações culturais

TSilmara Cardoso

O presente texto tem por objetivo analisar como mulheres indígenas de diferentes etnias
(Wapichana, Nhandeva, Guarani M'bya, Xavante, Guajajara, Tabajara, Pankararu, dentre
outras), (re)existem e resistem nas pluralidades do cotidiano de uma cidade como São Paulo,
pois viver nessa metrópole é um grande desafio para os povos indígenas que a habitam. Como
manter as tradições culturais? Como ser visto como pertencente a um povo específico e como
cidadão ao mesmo tempo? Pois a ideia do senso comum é: “você está aqui, mas não é daqui...”
Como resistir aos estereótipos, preconceitos vividos diariamente? “Você é indígena de
verdade?” Para viver em contexto urbano os povos indígenas, e sobretudo as mulheres,
constantemente ressignificam a sua existência, os seus costumes e ritos. Portanto, mais que
resistir na cidade de São Paulo, as mulheres indígenas reexistem nesse contexto plural e ao
mesmo tempo singular. Elas ressignificam, reelaboram, re-politizam o seu mundo sem,
contudo, perder a essencialidade de suas tradições culturais.

A questão indígena na cidade de Parintins/AM: reflexões a partir de


perspectivas etnográficas e históricas

Mírian de Araújo Mafra Castro


Heloísa Helena Corrêa da Silva

A questão indígena no âmbito da cidade de Parintins, Amazonas, tem na presença Sateré-


Mawé sua maior representação com cerca de 900 pessoas, segundo dados do IBGE (2010),
seguida da etnia Hixkaryana, com grupos familiares menores. Segundo a literatura acerca dos
povos indígenas mencionados e suas presenças nesta cidade, foi por volta da década de 1970
que a migração da terra indígena para a área urbana obteve intensificação com base nos
interesses de formação escolar, tratamentos de saúde e recebimento de benefícios. Partindo
do exposto, o objetivo desse estudo é compreender aspectos contemporâneos da questão
indígena na cidade a partir da relação entre as categorias de condições de moradia, cultura e
economia de famílias Sateré-Mawé e Hexkayana em Parintins. A metodologia é de caráter
qualitativa, com base nos estudos etnográficos e históricos, cuja proposta é interdisciplinar e
busca uma análise reflexiva das atuais questões indígenas na cidade de Parintins. Os
colaboradores da pesquisa são 03 famílias Sateré-Mawé e 01 família Hexkaryana, moradores
na cidade de Parintins em uma casa cedida desde a década de 2000 pela igreja católica, cuja
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denominação é Casa de Trânsito Indígena. As conversas, observações, registros, indicam


processos de organização e reorganização de indígenas na cidade, convivendo com outra etnia
e com grupos não indígenas. O olhar interdisciplinar possibilita ver, ouvir e escrever de forma
a descrever fenômenos relevantes sob a perspectiva da sustentabilidade social, ambiental,
econômica e cultural.

Identidades

Vandria Garcia Corrêa


Daniel Lopes Faggiano

Desde 1500 nos é imposto com máxima violência nossa condição colonial. Até hoje somos
obrigados a servir aos caprichos do mercado internacional. O Brasil é um grande negócio, uma
máquina de moer gente. Nesse contexto, na atual era das catástrofes ambientais, na crise
estrutural do capital, não resta outra opção aos povos indígenas que não resistir. Para o
mercado, o indígena não tem rosto, somente braços, é apenas uma força de trabalho reduzida
à condição de mercadoria. A miséria do capital estilhaça as sociabilidades indígenas e suas
referências culturais para impor de modo individualizado seu modo de viver. É nessa tentativa
etnocida de transformação da liberdade indígena em mão de obra assalariada explorada, que
315.180 indígenas resistem hoje nos centros urbanos. A rua retoma a pauta do nosso processo
colonial irresolvido. Os indígenas que vivem na cidade assumem cada vez mais sua condição
histórica de colonizar o Brasil. Na existência contraditória do indígena urbano, em seu
contexto de luta, a presente comunicação pretende evidenciar os verdadeiros desafios da
emancipação indígena.

Experiência de resistência do Assentamento Povo Indígena Sol Nascente em


Manaus

Lidiane de Aleluia Cristo


Mary Nelys Silva Almeida

Esta comunicação é resultado do diagnóstico socioterritorial realizado em 2017 pelo Serviço


Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental – SARES, obra social da Companhia
de Jesus, tem por finalidade promover a Justiça Socioambiental na cidade de Manaus. O
referido assentamento localiza-se no bairro Francisca Mendes II, zona norte de Manaus.
Conforme o cacique Eledilson no final de 2015 residiam no assentamento total de oitenta e

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uma (81) famílias, das quais dez (10) são de não indígenas, totalizando em duzentas oitenta e
cinco (285) pessoas. Cabe ressaltar, que em 2017, o número de habitantes aumentou para
aproximadamente 600. As famílias indígenas subdividem-se em onze etnias, a saber: Apurinã,
Kaixana, Baré, Dessana, Kokama, Miranha, Munduruku, Mura, Sateré Mawé, Tariano, os
Tucanos são originários de diferentes e distantes regiões do estado do Amazonas. Confirma-
se assim, a pluralidade étnica do assentamento. A metodologia utilizada para a coleta de
dados foi à aplicação do diagnóstico rural participativo (DRP), além de técnicas como:
observação participante, entrevista semiestruturada, caminhada transversal ecológica,
árvores de problemas e a matriz comunitária FOFA para verificar fortalezas, forças,
oportunidades e ameaças. Foram identificadas as principais questões dentro do
assentamento, se mostram como desafios para a atuação do Estado na garantia e efetivação
dos direitos indígenas a cidade e a cidadania. As famílias residentes se sustentam com a renda
do Programa Bolsa Família e das diversas formas trabalho informal. Vale destacar, que os
indígenas urbanos que estão no assentamento vivem sem condições ecológicas
(desmatamento e poluição ambiental), o que agrava tal precarização. Em relação à produção
artesanal, as mulheres relataram terem dificuldades para obter os materiais, pois na cidade
precisam comprar para produzir. Sobre a educação e a saúde em virtude da irregularidade da
área eles não são atendidos. O abastecimento de água inicialmente é resolvido de forma
alternativa, por meio de ligações clandestinas. Os indígenas relataram que as igrejas
evangélicas não aceitam seus costumes e sua cultura, e alguns deles deixaram de usar seus
adereços, deixando sua cultura de lado. Mas há aqueles que ainda lutam para continuar viva
sua cultura, permanecem ensinando a língua nheengatu, para torná-la presente e atuante.
Acredita-se que estes resultados possam estabelecer estratégias para a futura tomada de
decisão, na promoção da justiça socioambiental, bem como também para a construção de
uma sociedade pautada no princípio ético da igualdade em que todos têm acesso e garantia
de seus direitos humanos fundamentais.

Liberdade, propriedade e urbanização em Almofala: a mobilização do povo

Janaína Ferreira Fernandes

O objetivo deste trabalho é pensar a respeito do processo de urbanização vivenciado pelo


povo Tremembé de Almofala, com mais notoriedade nos últimos vinte anos. Sendo um povo
habitante do litoral oeste cearense, encontram-se próximos de cidades de porte pequeno e
médio, e observam a chegada de um cada vez maior número de posseiros que vêm
construindo casas e fixando residência na terra indígena. Esse fenômeno tem impactado
fortemente as relações entre os índios e a terra, seja em razão do modo como se movimentam
nela, seja na maneira como a habitam, passando por uma série de problemáticas de

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parentesco em razão da falta de terras para se exercer a virilocalidade, preferencial entre eles.
Para abordar o tema, utilizo-me da categoria nativa de liberdade, que será aqui explorada em
razão de seu uso reiterado por meus interlocutores e interlocutoras, em variados contextos,
seja na menção ao fato de que alguém sente-se livre em um ambiente sem muros e cercas,
seja na constatação de que a própria terra pode ser considerada livre, na medida em que não
possui separações. Alio, assim, o termo à possibilidade de movimentação dentro de um
regime de espacialidade no qual não seja possível uma restrição de domínio de um perante
os outros, tal como é geralmente definida a noção de propriedade privada. Assim, a celeuma
a ser enfrentada, no que tange ao processo de urbanização de Almofala, gira em torno da
constituição de regimes de propriedade sobre a terra, bem como a oficialização e
burocratização de espaços públicos, que devem passar pelo crivo e gestão estatal,
especialmente no que se refere a caminhos e estradas.

Marĩ mahsĩa, Marĩ da’raá, Marĩ dua’a (Nosso conhecimento, Nosso trabalho,
Nossa venda): atividades econômicas dos grupos indígenas na zona urbana de
São Gabriel da Cachoeira – AM

Flávio Pereira Ferraz

A pesquisa analisou os grupos indígenas no contexto urbano de São Gabriel da Cachoeira (AM)
e suas atividades econômicas. Por isso traçou-se o objetivo geral com a finalidade de analisar
as práticas ocupacionais, produtivas e comerciais dos indígenas urbanos de São Gabriel da
Cachoeira (AM), observando as continuidades e transformações dessas práticas em relação
aos sistemas produtivos tradicionais característicos das Terras Indígenas da região. Para
complementar a pesquisa fez-se o uso dos seguintes objetivos específicos: mapear os grupos
indígenas residentes na cidade e sua distribuição geográfica na zona urbana; identificar as
principais atividades ocupacionais, produtivas e comerciais realizadas pelos indígenas urbanos
de São Gabriel da Cachoeira (AM) e identificar iniciativas de auto-organização dos indígenas
urbanos de São Gabriel da Cachoeira (AM). Para a obtenção dos dados e fundamentar a
pesquisa fez-se o uso de livros e artigos sobre o tema pesquisado, a amostra da pesquisa foram
os pais ou responsáveis de uma escola municipal indígena localizada na zona urbana com
quem foi aplicado um questionário com a finalidade de análise destes dados relativos a grupos
indígenas, suas respectivas atividades ocupacionais, produtivas e comerciais. Identificando
assim as iniciativas de auto-organização e os efeitos dessa auto-organização de inserção
econômica como forma de manter a rede de relações sociais entre parentes indígenas na zona
urbana de São Gabriel da Cachoeira. Então a pesquisa teve características de uma pesquisa
exploratória e descritiva, pois a partir do levantamento bibliográfico e documental, os dados
foram organizados e analisados para fundamentar a pesquisa fazendo uso da estatística

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descritiva para analisar os dados coletados junto às famílias dos estudantes da Escola
Municipal Indígena Dom Miguel Alagña. Com a abordagem quantitativa e qualitativa desta
pesquisa ofereceram-se elementos que contribuíram para que se conheça e reconheça (dar
visibilidade) os grupos indígenas residentes em São Gabriel da Cachoeira, sua organização
socioeconômica e adaptação na zona urbana. Portanto, a pesquisa contribuiu bastante para
o início de uma discussão sobre os indígenas no contexto urbano de São Gabriel da Cachoeira.
Praticamente todas as etnias que vivem e convivem neste ambiente urbano, principalmente
nos bairros recentes, ainda mantêm contato com sua comunidade de origem. Conseguem
mesclar a vivência tradicional com o modo de vida nas cidades.

Para que outra etnografia sobre maias em uma cidade mexicana?

Marcos B. Ferreira

Este trabalho é resultado de uma pesquisa de campo que estou realizando em Mérida, capital
do estado de Yucatán, no México. A pesquisa é parte de um intercâmbio de doutorado,
viabilizado por meio de um convênio entre o Programa de Pós-Graduação em Antropologia
da UFG e o CIESAS/México. Nesta pesquisa, realizei entrevistas sobre histórias de vida com
ênfase em atividades de trabalho e moradia. Tento compreender alguns processos de
transformação no espaço urbano de Mérida, tal como foram experienciados pelas populações
maias residentes na cidade. E tento identificar os fenómenos de segregação espacial
enfrentados por estas populações ao longo desses processos. Mérida foi construída sobre uma
antiga cidade maia chamada Th'ó. Todas as pirâmides de Th'o foram demolidas. As pedras que
haviam sido usadas pelos maias para construir a cidade foram, depois, usadas pelos espanhóis
para construir uma muralha em torno de Mérida, que receberia o título de “Cidade Branca”.
A muralha separava a chamada "Cidade Branca", onde viviam os espanhóis, dos chamados
“bairros de índios” que estavam em seu entorno. Cerca de cem anos depois, entretanto, a
população de indígenas em Mérida era quatro vezes maior que a de espanhóis, o que mostra
que a chamada “Cidade Branca” não era tão branca assim. Em 2015, quando o Instituto
Nacional de Estadística y Geografía (INEGI/México) usou pela primeira vez em seu censo o
critério de "auto atribuição", 48,25% da população de Mérida se auto declarou indígena.
Compreender como estas populações indígenas ocupam e vivenciam os espaços da cidade é
importante para saber mais sobre suas condições de vida, em toda sua diversidade. Também
é importante para compreender melhor o fenómeno segregação espacial urbana,
especialmente nos contextos em que a questão étnica é fortemente colocada. Nessa ocasião,
proponho apresentar algumas contribuições teóricas da pesquisa, construídas a partir das
categorias “paisagem” e “fronteira”, pensando nas relações entre etnicidade, raça e
segregação espacial urbana. Procuro compreender como esses termos iluminam
determinados aspectos sobre a produção do espaço da cidade e seus contrastes. Também
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apresentarei algumas contribuições metodológicas que estão sendo pensadas para o uso de
mapas multimídias conectados a imagens de paisagens urbanas. Essa metodologia pretende
contribuir tanto para os estudos sobre segregação espacial, quanto para os estudos sobre
trajetos, percursos e as apropriações que determinados grupos fazem dos espaços de uma
cidade. Por fim, pretendo também compartilhar reflexões sobre algumas questões éticas
surgidas ao longo da pesquisa, que dizem respeito ao trabalho antropológico na atualidade,
suas responsabilidades e desafios.

Migración indígena urbana. Una aproximación desde la Antropología

Carolina Sánchez García

El propósito de la ponencia es analizar de manera general las principales aproximaciones, de


los estudios antropológicos, al conocimiento y explicación de la migración indígena urbana.
Entre los primeros conceptos que fueron acuñados estuvieron “continum folk urbano”
(Redfield, 1930); “migrantes itinerantes” (Iwanska, 1933); “cultura de la pobreza” (Lewis,
1961). Los temas de interés han variado, desde el impacto de la migración en la organización
social y familiar, y en la cultura (Hirabayashi, 1933); hasta el uso colectivo de los recursos
monetarios derivados de la migración interna (Iwanska, 1933); la integración de los migrantes
a la economía política metropolitana (Lomnitz, 1989); la selectividad de la migración (Arizpe,
1989) y los aspectos sociales y económicos ligados a la migración interna en México (Nolasco,
1979). Posteriormente, el enfoque de la familia, se orientó al análisis de su estructura y la
vivienda en zonas urbanas, la organización del parentesco y la social; el género y la etnicidad
(Sánchez Gómez, 2004); las zonas urbanas como nuevos espacios de interacción social
(Nolasco y Rubio, 2010), entre otros temas. La ponencia mostrará avances en el conocimiento
del tema y también hallazgos de los estudios con respecto al impacto del fenómeno migratorio
en la cultura y la identidad, la organización social y familiar, la economía, los patrones
migratorios, el perfil de los migrantes, las causas que originan el fenómeno, los destinos, la
salud, entre otros. De las teorías se destaca la del transnacionalismo porque permite explicar
los vínculos que se establecen entre los espacios de origen y destino de los migrantes y
trascienden las fronteras nacionales, estos se configuran a partir de las relaciones que los
miembros del grupo mantienen con los que se quedaron en la comunidad de origen. También
se hace énfasis en la teoría de redes porque enmarca analíticamente el papel del ‘capital
social’ (Bourdieu) con que cuentan los migrantes y que se expresa a través de redes que
sustentan la formación de ‘asociaciones de pueblos’, ‘lazos de cooperación’, ‘empleo de
paisanazgo’, ‘formas de organización social informal’, ‘ayuda mutua’, que surgen en el
contexto de la migración. Desde ambas teorías se han abordado aspectos relacionados con el
campo de la cultura en contextos de migración, por lo cual la ponencia dejará ver también que
en el conocimiento del fenómeno resulta fundamental la interdisciplina.
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Indígenas em Dourados⁄MS: entre as fronteiras da cidade e as cercas do


agronegócio

Dalila Tavares Garcia


Joselaine Dias de Lima
Luiz Felipe Rodrigues

A cidade de Dourados, no Mato Grosso do Sul, tem a maior reserva indígena urbana do país.
Além dela, há outras comunidades que, cotidianamente, enfrentam dificuldades pelo avanço
das fronteiras do agronegócio e pela expansão do tecido urbano da cidade, em que se destaca
a construção de condomínios residenciais privados. Nas ruas da cidade, a presença indígena é
marcante, e se dá em determinados espaços. Os indígenas sofrem com situações de exclusão
e rejeição ao andarem pelas ruas da cidade e fazerem uso de determinados locais para a venda
de seus artesanatos. É comum que saiam de suas comunidades para venderem artesanatos,
onde irão enfrentar olhares preconceituosos, como se ali não fosse o seu lugar, como se ele
fosse o diferente e não pudesse fazer uso de determinados locais na cidade. Nessas
perspectivas, refletindo uma dinâmica entre fronteiras, buscaremos analisar as relações das
pessoas indígenas com a cidade em Dourados, compreendendo quais são os espaços que
experienciam, explicitando seus conflitos, negociações e exclusões. É preciso levar em
consideração as desigualdades socioeconômicas as quais os indígenas estão submetidos. Tais
desigualdades podem ser observadas in loco ou pelas ruas da cidade. É possível observar
vários indígenas nas portas das casas pedindo alimentos, roupas e até mesmo dinheiro, para
sua sobrevivência, já que alguns estão em situação de miséria. Nesse sentido, pretendemos
também entender as estratégias usadas por eles na luta pela sobrevivência e quais as
dificuldades e alternativas que encontram, uma vez que o desenvolvimento do modo de viver
indígena é dificultado por conta da situação em que se encontram, e assim, os mesmos
precisam se deslocar pela cidade para garantir a sobrevivência.

Dinâmicas de circulação e permanência Guarani e Kaingang em Florianópolis


(SC), Brasil: recriando identidades e territórios

Sandra Carolina Portela García

A partir da descrição etnográfica, o texto propõe a existência de diversas dinâmicas de


circulação e permanência de indígenas Guarani e Kaingang na cidade de Florianópolis (SC),
que pela sua vez, refletem a existência de um circuito de deslocamento entre cidades e aldeias

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no sul do Brasil. A presença de população indígena em Florianópolis nos permite enxergar


então, como dentro desses contextos, estes indígenas criam e recriam constantemente suas
identidades e os territórios que ocupam temporal ou permanentemente, desafiando
abertamente as noções do indígena que são construídas no senso comum e nas logicas do
estado, como a de “bom selvagem”, “indígena autêntico”, etc. Noções estas, que de maneira
geral atendem à ideia de que “lugar do índio é na aldeia” e de que “índio que mora em cidade
não é mais índio”. Igualmente, a comunicação nos invita a refletir sobre os desafios
metodológicos que os percursos das populações indígenas na contemporaneidade impõem
ao antropólogo e à antropologia, na medida em que, nesses novos contextos, o encontro entre
o pesquisador e seus interlocutores se transforma de várias maneiras.

“Aqui não é aldeia”: por uma perspectiva indígena e citadina da cidade de


Canarana

Amanda Horta

Partindo do material de minha tese de doutorado (Horta, 2018) – uma etnografia sobre as
relações entre os diferentes indígenas do Território Indígena do Xingu (TIX) que ocupam hoje
a cidade de Canarana (MT) –, este trabalho propõe uma reflexão sobre os regimes de
diferenças através dos quais estes indígenas conceituam e organizam de maneira criativa suas
experiências na cidade e em suas aldeias. Em uma certa antropologia empreendida sobretudo
no Brasil que se interessa pela “elucidação das condições de autor-determinação ontológica
do outro” (Viveiros de Castro, 2006, p. 47), as comparações entre as cidades e as aldeias se
alocam, classicamente, numa perspectiva aldeada, em detrimento de uma perspectiva da
cidade, do mundo dos brancos, do Estado. Entretanto, há no Brasil – e na América Latina – um
grande número de indígenas que habitam as cidades, algo que se expressa no censo do IBGE
de 2010, segundo o qual 38,3% das pessoas que se auto-identificam como indígenas no Brasil
vive em áreas urbanas. Ainda que estes dados homogeneizem como urbanas uma série de
situações extremamente heterogêneas (De Paula, 2017), a presença indígena nas cidades do
Brasil é cada vez mais latente, e Canarana, município mato-grossense que abriga uma pequena
porção sudeste do TIX, é um destes casos. É diante deste cenário que este trabalho vem
propor uma mirada para as relações entre a aldeia e a cidade, desta vez desde a perspectiva
dos indígenas presentes na área urbana do município de Canarana. Os efeitos desta inversão
perspectiva são cruciais para entendermos o que os tantos indígenas presentes em Canarana
nos estão falando nesses contextos: se em minhas experiências nas aldeias do Xingu os
indígenas pareciam sugerir uma certa continuidade entre as aldeias e algumas cidades do
entorno do TIX, na cidade de Canarana, estes mesmos indígenas pareciam, muitas vezes,
reivindicar um corte, uma descontinuidade fundamental para o desenho de suas existências
no espaço urbano. O contraponto, entendo, não é uma contradição, mas uma questão de

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assimetria “perspectiva”, que marca profundamente a existência indígena neste município do


interior do Mato Grosso. O objetivo desta apresentação é mostrar etnograficamente que tal
proposição sobre as perspectivas em questão não se resume a um malabarismo conceitual,
mas é fundamental para os debates sobre os contextos ampliados de interação social
habitados hoje pelos indígenas, na medida em que recoloca e complexifica a dimensão de
medo, ansiedade e desejo que a experiência da cidade implica para os parque-xinguanos.

Políticas públicas e implicações sociais nas relações aldeias, índios e o


urbano, no munícipio de Chapecó/SC

Júlio Cezar Inácio

Há muitos anos, as Aldeias deixaram de ser o lar de milhares de indígenas. A escassez de


alimentos, as políticas indigenistas, o desmatamento e o avanço das cidades sobre os
territórios, são alguns fatores que motivam os povos tradicionais a migrarem para os centros
urbanos. A população indígena brasileira é de aproximadamente 900 mil pessoas,
pertencentes a 305 etnias e falantes de 274 línguas (IBGE, 2010). O município de Chapecó está
localizado na região oeste de Santa Catarina, onde vivem aproximadamente 240 famílias
indígenas do povo Kaingang na Aldeia Kondá. Esse povo possui língua e cultura própria e
convive em fluxo cotidiano da aldeia para o centro urbano de Chapecó. O objetivo desse
trabalho é refletir sobre as políticas públicas implementadas no município de Chapecó para o
atendimento aos indígenas, principalmente sobre a promoção dos direitos sociais. No
processo de configuração de uma política pública, há duas vertentes a considerar: a micro e a
macroimplementação. O contexto da microimplementação é o da organização local dos
atores e do “prestador de serviços”; o da macroimplementação corresponde ao processo pelo
qual os governos executam a política em níveis locais (BERMAN, 1993). As políticas sociais são
instituídas para dar respostas às expressões da questão social (BEHRING e BOSCHETTI, 2008).
A partir de diagnósticos identificou-se a fragilidade na implementação de políticas públicas
para a população indígena, com reflexos pouco expressivos nas condições de vida deste
segmento social. Destaca-se a permanência de crianças e adolescentes no centro urbano de
Chapecó em situação de rua, expostos ao risco da exploração sexual, comercial e da
mendicância nos semáforos, situação que marginaliza e estimula ainda mais a discriminação
dos índios. Os índios urbanos em Chapecó, não deixam de ser considerado um “problema
social”, o qual a sociedade ignora. No intuito de instituir atendimento aos indígenas do
município, após discussões com entidades e instituições das esferas federal, estadual,
municipais e privadas, a Secretaria de Assistência Social, por meio da Gerencia de Assuntos
Indígenas, formulou propostas de criação da Rede de artesanato indígena, projeto Casa do
Índio, e o projeto de inserção de crianças indígenas na escolinha de futebol da Associação
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Chapecoense de Futebol (Chape), atendimento dentro da Aldeia pelo Serviço de Convivência


e Fortalecimento de Vinculo (SCFV) que atende as crianças no contra turno da escola. Todas
as atividades propostas estão efetivadas, algumas já com atendimentos e outras em fase final
de elaboração dos projetos e posterior implementação.

Aqui tem “índio”: políticas públicas aos indígenas na/da cidade de Belo
Horizonte - MG

Giselle C. Cruz Lobato

A ideia de que o “índio” em espaço urbano “deixa de ser índio” persiste, mas o número
significativo de povos indígenas vivendo nas cidades exige que essas visões sejam desfeitas.
Temos poucos escritos sobre as condições dos “índios” urbanos e menos ainda políticas
públicas para essa categoria. São exceções os municípios e governos estaduais com ações e
legislações direcionados aos povos indígenas. As políticas indigenistas ficam limitadas, mesmo
que insuficiente, aos “índios” aldeados. A cidade de Belo Horizonte é um dos exemplos de
ausência de políticas públicas para sua população indígena, cenário que este trabalho
pretende trazer.

Mapa Contextual: desafios do jovem aprendiz indígena no contexto urbano

Sonia Maria Lofredo,

Josicléa Maria dos Santos,

Awaé Trumai Waurá,

Jibran Yopopem Patte,

Leandro da Cruz Silva,

Kuanadiki Ahuwera Karajá,

Marcos Schaper dos Santos Junior

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“Nas populações indígenas a passagem da idade infantil para a adulta é ritualizada,


começando geralmente entre 10 e 11 anos, durando um tempo que varia até três anos ou
mais. Após esse período ele já pode casar ter filhos, construir casa, conhecer a natureza e
aprofundar o conhecimento nos saberes tradicionais que caracterizam o adulto e é oferecido
pela sociedade naturalmente. Nas sociedades capitalistas a idade para se tornar adulto é a
partir dos 18 anos, aqui o padrão é o contrato social baseado no trabalho assalariado, com
isso ela oferece desemprego, discriminação e marginalização dessas comunidades indígenas”.
A oficina Mapa Contextual visa estimular o controle social por meio da conquista da atuação
dos jovens no desenvolvimento de instrumentos para disseminação de tecnologias sociais.
Foram beneficiados 26 aprendizes indígenas com faixa etária de 16 a 22 anos, estudantes do
ensino médio, superior e técnico. Alguns já são pais e mães de família, moram
respectivamente com seus pais, companheiro (a) ou algum membro familiar. Os jovens se
concentram em comunidades em São Paulo: Pankararu no Real Parque; Pankararé em
Guarulhos; Kaigang em Parelheiros; Guarani no Pico do Jaraguá; Kariri-Xocó e Kaimbé da
aldeia Filhos Dessa Terra em Guarulhos. Todos carregam a determinação de ter saído da aldeia
em busca da conquista de seus objetivos e participam do programa Jovem Aprendiz indigena
da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, que faz parte das ações de
políticas públicas regulamentada pelo Governo, com apoio do Ministério do Trabalho. O
contrato de trabalho pode durar até dois anos e, durante esse período, o jovem é capacitado
nas instituições CIEE ou SENAC e executa trabalho de 6hs na SPDM. Combinando formação
teórica e prática. Participam do programa jovens indígenas, desde que, estejam vivendo em
contexto urbano, com idade entre 16 e 22 anos, que estejam cursando, tenham concluído o
ensino médio ou cursando ensino técnico. O desenho do mapa contextual foi uma construção
coletiva, desenvolvida com dois grupos. Foram feitos os desenhos de quatro esferas
concêntricas (grupo 01) ou triângulos concêntricos (grupo 02). No núcleo, que é a parte mais
interna, colocamos os problemas que mais afligem os jovens, que são o público alvo. Ao redor
do núcleo é confeccionada outra esfera, ali é colocado todo apoio de familiares ou o que se
considera como família, seguido respectivamente de outra esfera com o apoio da comunidade
e ainda outra com os fatores sócio políticos e econômicos que os influenciam. No mapa foram
consideradas pessoas, agentes e instituições como UBS, SPDM, CONDISI, Câmara de
Vereadores, Governo, leis, o que demonstra, por parte dos jovens, um reconhecimento desses
atores com quem potencialmente podem estabelecer relações. As esferas se relacionam e
interpenetram, não havendo uma mais importante que a outra. Dentre os problemas
levantados pelos jovens indígenas no contexto urbano destacam-se as dificuldades de ordem
emocional como: falta de amor, falta sonho, falta foco e determinação, falta apoio,
imaturidade preconceito, desrespeito, desorganização, desunião, desinteresse, impaciência,
irresponsabilidade. Foram relatadas também as dificuldades de acesso como: falta de
orientação, falta de oportunidade, comunicação, Saúde, qualidade de vida, falta de moradia,
educação sexual, projetos sociais de apoio aos jovens, falta de diálogo, oportunidade de
educação, transporte, saneamento básico, e áreas de lazer, além dos problemas de ordem

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social como falta de apoio familiar e social, falta trabalho, drogas, prostituição e abuso sexual.
Esses problemas que afetam os jovens da nossa sociedade como um todo, só piora no caso
dos indígenas devido as suas especificidades e falta de programas de apoio. O mapa nos
permitiu chegar aos problemas que fazem parte da vida dos jovens e relacioná-los com a
situação sociopolítico e socioeconômica atual, ao mesmo tempo em que visualizamos melhor
as múltiplas relações que podemos estabelecer com as diferentes instâncias da comunidade
para pensar e traçar estratégias de atuação mais precisa. Com o Mapa contextual preenchido
listamos de um lado, os problemas que afetam o público alvo e, do outro, os facilitadores que
os ajudarão a solucionar esses problemas para, a partir daí, traçar estratégias, pensar
objetivos e ações defendendo assim seus direitos.

Os indígenas em contexto urbano na óptica da 6ª Conferência Nacional de


Saúde Indígena

Jaqueline Cordeiro Lopes


Paula Layse da Silva
Valquíria Farias Bezerra Barbosa

Os indígenas em contexto urbano sofrem diariamente com a invisibilidade seja ela social ou
política (SOAVE; 2017). Os mesmos não possuem nenhuma política pública que atenda suas
necessidades afim de proporcionar o bem viver para além dos limites territoriais. Ao
considerar os serviços de saúde esta realidade não é diferente (SIMONI, DAGNINO; 2016). De
acordo com a Política Nacional de Assistência à Saúde dos Povos Indígenas (PNASPI), é de
responsabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS) assistir as necessidades cultuais destes
indivíduos (BRASIL, 2002). Nesse sentido a participação social torna-se indispensável, onde
pode-se destacar os conselhos e conferências de saúde como ferramentas para atender as
reais necessidades das populações (BRASIL, 1990). O objetivo foi relatar acerca da óptica da
sexta Conferência Nacional de Saúde Indígena etapas local e distrital de Pernambuco, acerca
dos nativos em contexto urbano. Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de
experiência acerca da participação na sexta conferência nacional de saúde indígena, etapa
local e distrital ocorridas no decorrer de 2018. A participação local ocorreu no Território
Indigena Xukuru do Ororubá, Aldeia Pedra D’agua, Pesqueira, Pernambuco, a etapa distrital
por sua vez ocorreu na cidade de Gravatá com ampla participação de todas etnias de PE.
Observa-se a incipiência das discussões acerca dos caminhos para efetivação de uma saúde
especifica e diferenciada para os indígenas em contexto urbano, apesar de ser uma pauta
recorrente na mesma. Assim, necessita-se questionar-se sobre as normatizações institucionais
do Subsistema de Atenção à Saúde indígena (SasiSUS), bem como sua organização
etnoterritorial, ainda territorialmente restritiva (PAULA, 2017). Contudo, nota-se, a gestão do
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Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) - PE, as lideranças indígenas e demais comunidade
sensíveis e preocupados com os caminhos a serem traçados para tal. Destaca-se a abertura
para representação “Citadina”, termo este utilizado corriqueiramente no decorrer das etapas,
enquanto figura indispensável e contemplado nas palestras, discussões, grupos de trabalho,
eleições, etc. Desse modo, dar voz a estes indígenas representa um avanço notável. Dessa
maneira, percebe-se os indígenas em contexto urbano com diversos desafios para sua
visibilidade e cumprimento dos seus direitos, dentre eles, o de saúde. Ao pautar- se na Lei no
9.836 de 1999 “Lei Arouca” tem-se o SUS com o dever de ofertar uma saúde sem
descriminação aos povos indígenas em todos os níveis da atenção. Dessarte, tem-se a Sexta
Conferência de Saúde Indígena enquanto espaço de possíveis avanços nas políticas públicas
aos povos tradicionais inseridos em contexto urbano.

Índios urbanos: processo de afirmação das identidades étnicas do povo


Terena em Campo Grande

Marina Cândido Marcos

As diversas organizações e articulações indígenas existentes em Campo Grande, Mato Grosso


do Sul, acabam oferecendo a realização ou ainda reforço da identidade étnica dos indígenas.
Dados estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/2010) totalizam os
chamados Índios Urbanos em aproximadamente 5.657. Número que tem aumentado cada vez
mais. E o trabalho de se fazer visível na cidade, se forma através dessas articulações, trabalhos
e projetos ligados ao governo. E um desses fatores que somam junto com essa visibilidade é
o fator das identidades étnicas, o processo de afirmação da identidade social. E o presente
trabalho vai trabalhar com esse enfoque das identidades étnicas e os meios que os indígenas
urbanos buscam para “alcançar” a visibilidade e a promoção de sua cultura. Serão
contempladas algumas bases teóricas e o trabalho realizado empiricamente. Dessa forma,
tentar compreender como a dinamicidade de identidade étnica com os Terena que migram
para a cidade, que estabelecem vínculos afetivos e aqueles que de outra geração nasceram
na cidade e através de políticas públicas reafirmam sua “identidade indígena”.

A multiplicidade: imagens urbanas na socialidade hup

Bruno Ribeiro Marques

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

No trabalho de campo com os Hupd'äh das regiões do igarapé Japu, Iauaretê e alto rio Papuri
(Alto Rio Negro, entre 2012 e 2017), o tema da cidade surgiu em uma infinidade de sentidos.
Nas rodas noturnas de ipadu, os Hupd'äh contam as viagens oníricas dos xamãs às “cidades
dos brancos” – em geral, Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Bogotá. No cotidiano, o conceito
de comunidade católica aponta a cidade como um limite para o qual tende seu atual modo de
vida, estabelecendo uma trama vital complexa que relaciona, de um lado, o “tempo dos
antigos” (a plenitude da vida na floresta) e, de outro, os modos citadinos, que, da perspectiva
hup, condensam a abundância mercantil. As descidas massivas para a centro urbano de São
Gabriel da Cachoeira (AM, Brasil) na busca de documentação, acesso a benefícios sociais e
mercadorias, por sua vez, apresentam aos Hupd'äh a experiência urbana em vigília e, com ela,
o tema da excrescência citadina e do labirinto burocrático das instituições locais. Importante
ressaltar um aspecto na versão hup da “prefiguração dos brancos”: a própria floresta, em seu
subterrâneo, da perspectiva do xamã, pode ser uma cidade em que as caças são motoristas
de ônibus, policiais etc., regidos pelos seus donos (Döh Áy). E isso “sempre foi assim”, “mesmo
antes dos brancos chegarem”, explicou um homem Hupd’äh. A cidade para os Hupd'äh
modula a imagem geral da vida de Outrem, tanto a não ohumana como a humana: esta
apresentação busca estabelecer uma linha etnográfica que coloque em continuidade essas
diferentes imagens citadinas, tecendo as consequências conceituais desta percepção.

Corpo dissidente: autodemarcação em contexto urbano

Narciso Faustino Mendes

A partir da retomada das narrativas orais de minha família, apresento uma autoetnografia de
encontro com a narrativa dos povos indígenas de Pernambuco. Sou fruto da diáspora
nordestina e filho de indígenas migrantes de Jurema e Quipapá, cidades localizadas no interior
de Pernambuco, que passaram a residir na capital paulista, onde cresci, mas nunca me enraizei
culturalmente e espiritualmente. Entendo, porém, esse processo de migração compulsória
como resultado dos processos genocidas e etnocidas praticados pelo Estado brasileiro que
planejou integrar violentamente a população indígena à sociedade brasileira de forma que a
transformasse em trabalhadores, muitas vezes em regime de escravidão nas terras invadida
pelos posseiros. Quando reestabeleço ligações entre a história de minha família com os
processos históricos vividos pelo povo Xukuru, dado como extinto pelo Estado, mas que viveu
sua retomada no final dos anos 80, percebo as semelhanças desse violento processo. Pelo fato
de ter nascido e residido em contexto urbano, tenho minha identidade étnica negada pela

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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sociedade como uma nova etapa desse processo integracionista de apagamento aos povos
indígenas. Meu corpo dissidente não se adequa a essa hibridez que nos impõe; ao não me
reconheço como “pardo”, é por perceber a violência simbólica que esse termo carrega e por
conhecer a história de resistência dos povos indígenas, sobretudo do Nordeste, que resistem
por séculos e não deixam morrer suas culturas originárias, resistindo a violência colonial, seja
da miscigenação como forma de embranquecimento da população ou pelas mãos dos
antropólogos que afirmavam não existir mais indígenas no Nordeste. O Estado não pode nos
apagar por inteiro: ao me reconhecer como indígena, reivindico o nome de minha família,
Tunga, rama do povo Xukuru, que resistiu ocultamente a toda essa violência colonial.

O que é ser índio no meio urbano? História, memórias e desafios comuns de


povos indígenas na Região Metropolitana de Fortaleza

Joaquim Teixeira Pinto de Mesquita

A presente proposta de trabalho dialoga sobre questões históricas relacionadas a povos


indígenas cearenses habitantes da Região Metropolitana de Fortaleza. Observam-se estes a
partir de fontes documentais, bem como suas memórias que atravessam gerações dentro de
comunidades indígenas que sofrem diversificadas violências para se afirmarem como
indígenas dentro do meio urbano. É cada vez mais crescente a presença de indígenas em
grandes centros urbanos, visto que, este aumento se dá através de invasões que ocorrem
desde o período colonial e se intensifica cada vez mais no presente, onde se observa a invasão
de territórios indígenas que estão mais próximos de áreas urbanas. A questão aldeia / centro
urbano no Estado do Ceará ganha força discursiva no início do século XX quando estes passam
a questionar o que estava posto em documentos oficiais, onde se verificava uma invisibilização
do processo de emergência étnica vivida por povos no estado do Ceará e todo Nordeste. Como
afirma Oliveira (2003) “a concepção naturalizada da cultura indígena se adéqua perfeitamente
a representação do senso comum sobre os índios, formando um complexo ideológico de difícil
desmontagem”. Em centros urbanos como os da Região Metropolitana de Fortaleza, habitado
por indígenas, a ideia que se alimentou e alimenta sobre estes é aquela “na qual há uma
associação entre índios e floresta/natureza, por um lado, e não-índios e cidade/civilização, por
outro” como aponta Nunes, (2010). Estes no presente se reafirmam através de retomadas,
como analisa Tófoli (2010) sobre a questão do povo Tapeba, habitantes do município de
Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza; “representam uma eficaz ferramenta de luta e
reivindicação territorial em situações de disputa e de conflitos com proprietários, posseiros e
políticos locais”. Para tanto, a proposta de trabalho visa dialogar com a pesquisa em
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andamento dentro do Programa de Pós-Graduação em Estudos Africanos, Povos Indígenas


Culturas Negras – PPGEAFIN – dentro da Universidade do Estado Da Bahia – UNEB, onde se
busca dialogar com levantamentos etnográficos e históricos já realizados observando os
processos territoriais e econômicos que estes enfrentam no presente para preservação de
suas memórias e história, bem como de que forma a historiografia preserva – ainda que
invisível – sua identidade no Estado do Ceará.

Migração das mulheres indígenas para cidade de Oiapoque: um olhar sobre o


censo demográfico

Claudia Renata Lod Moraes


Evilania Bento da Cunha

Esta comunicação é resultado do Projeto de Iniciação Cientifica vinculado ao curso de Licenciatura


Intercultural Indígena, que teve como título “Um olhar sobre o censo demográfico da população
indígena da cidade do Oiapoque” que integrou o projeto cadastrado na UNIFAP com o título “Migração
de mulheres indígenas para cidade: os desafios da dupla jornada de trabalho no contexto das etnias
indígenas na fronteira entre Brasil e Guiana Francesa”, sob a orientação da Professora Ms. Evilania
Bento da Cunha. A construção do censo demográfico seria em parceria com a FUNAI de Oiapoque, mas
não se realizou como previsto no projeto inicial. Dessa forma, foi necessário alterar a metodologia,
assim nos adaptamos a proposta da disciplina Geografia da população indígena ministrada no mês de
julho de 2018 no curso de Licenciatura Intercultural Indígena. A nova metodologia levou em
consideração perguntas do censo para compor um questionário que foi aplicado com 67 famílias em 6
bairros da cidade de Oiapoque, a saber: Infraero, Planalto, Nova União, Nova Esperança, Paraíso e
Centro.

Resistência Guarani Mbya na cidade de São Paulo

Robson da Silva Oliveira

O presente trabalho vem trazer reflexões acerca da resistência indígena na cidade de São
Paulo, sob a perspectiva dos Guarani Mbya que estão localizados no pico do Jaraguá, zona
noroeste da capital paulista. É importante ressaltar que este trabalho é um resultado do
projeto de pesquisa “Território e Conflito: comunidade indígena Guarani do Pico do Jaraguá-
SP” do programa de Mestrado em Planejamento Urbano e Regional da Universidade do Vale
do Paraíba. Podendos evidenciar no Brasil, nestes últimos anos, um conjunto significativo de
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pesquisas sobre as comunidades indígenas em diferentes áreas do conhecimento,


apresentando o protagonismo indígena , tentando compreender os sentidos e os significados
da cultura dos povos indígenas ou mesmo despertando o diálogo na intenção de ressignificar
e descobrir os preconceitos, estereótipos, ideias de homogeneização, subalternização, e
uniformidade impostas por processos históricos de desestruturação das comunidades
indígenas. Em meio a este cenário, pouco se fala ou se trabalha nos meios acadêmicos com e
sobre os índios em contexto urbano que somam 36% do total de índios no Brasil. Trazemos
aqui a TI indígena Guarani do Pico do Jaraguá, localizada em um dos maiores centros urbanos
do Brasil, a grande São Paulo. A realidade dos povos indígenas que vivem nas cidades, em
especial na cidade de São Paulo, aponta para que os direitos indígenas se alinhem cada vez
mais ao entendimento de que a cultura não e um pressuposto de determinado grupo étnico
e sim um produto dele; cultura, entendida como “algo essencialmente dinâmico” e
“perpetuamente reelaborado”, e para que as cidades se reconheça politicamente e
urbanisticamente estes povos que também tem direito a permanecer e resistir nos meios
urbanos. Desta forma, queremos discutir quais são os principais mecanismos de resistência
dos Guarani Mbya em um espaço que está em constante conflito, que é a ocupação indígena
urbana em uma grande metrópole. Para isso vamos conceituar o que é resistir para este povo
e assim poder dialogar com as diversas formas de resistência e manutenção do território, da
cultura e da vida em um contexto urbano.

Geografias indígenas migrantes en Crônicas de São Paulo, de Daniel


Munduruku

Christian Elguera Olortegui

En 1911, João Pedro, un bugreiro, contratado por la compañía Estrada de Ferro Noroeste de
Brasil narró a autoridades estatales comooo eel y sus compañeros mataron a un grupo de
indígenas Kaingang en el noroeste del estado de São Paulo. Despues de este asesinato, los
bugreiros celebraron su crimen, considerándolo un acto heroico y una contribución a la
nación. La masacre Kaingang en Sao Paulo no fue un hecho aislado, sino que fue parte de una
campaña nacional para exterminar existencias indeseables en nombre del progreso brasileiro.
La misión consistió en la expropiación de tierras indígenas – a través de leyes o de violencia- y
del asesinato de sus habitantes. Como consecuencia, la construcción del estado de Sao Paulo
y, principalmente de su ciudad, se ha basado en el exterminio de cuerpos indígenas. En contra
de esta historia de colonialismo, el escritor indígena Daniel Munduruku afirma la continuidad
de las culturas indígenas en la ciudad de São Paulo, y nos recuerda que esta megalópolis
brasileira es también un territorio indígena. En este sentido, propongo que en su libro Crônicas
de São Paulo, um olhar indigena (2004), Munduruku desafía las geografías físicas y mentales
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de esta ciudad usando su experiencia de indígena migrante. Me centro principalmente en un


análisis de las crónicas tituladas “Tatuapé” y “Guaianases, Guarulhos e Guaranis”, que cierran
y abren el libro, respectivamente. A través de un dinámico uso del cuerpo –que incluye
caminatas, viajes en metro, miradas –, Munduruku introduce sus propios códigos culturales
dentro un espacio colonizado y de corte eurocéntrico. Sus recuerdos, la activación de sus
prácticas tradicionales, la emergencia de ontologías no-humanas, construyen una
territorialidad indígena migrante que problematiza la historia urbana paulista. De esta
manera, este libro recupera historias y presencias indígenas que han sido invisibilizadas por
las políticas culturales y espaciales de São Paulo. Asimismo, afirma que se puede ser indígena
en las grandes urbes, cuestionando dicotomías, esencialismos y preconceptos de la sociedad
brasileira. Para entender la situación histórica y política de los pueblos indígenas en São Paulo
utilizaré los trabajos de John Monteiro y Jose Mauricio Arruti y Marcos Alexandre
Alburquerque. Para una compresión de la experiencia indígena migrante dialogaré con
Antonio Cornejo Polar, Kwame Anthony Appiah, y Eliane Potiguara. Finalmente, para una
definición de geografías indígenas migrantes, me basaré en las investigaciones de Milton
Santos, Lorraine Leu y Marcos Mondardo.

O movimento mẽbêngôkre entres as aldeias e as cidades

João Lucas Moraes Passos

Este trabalho dá continuidade a uma pesquisa sobre a mobilidade mẽbêngôkre, realizada no


mestrado, na aldeia A’ukre, Terra Indígena Kayapó, Pará. Nessa ocasião, voltei minha atenção
para as andanças (mẽ’y) realizadas em larga escala no passado e que foram diminuindo cada
vez mais após o contato. Por serem os anciãos os mais frequentes contadores das histórias
com que trabalhei, ficou em evidência um tom saudosista em relação às andanças de outrora.
Os velhos acusam os jovens de ficarem parados em casa na aldeia. Mas, ao visitar uma aldeia
mẽbêngôkre, vê-se muitas casas vazias. Há uma razão, entre outras, cada vez mais frequente:
o trânsito constante entre as aldeias e as cidades próximas. E é esse movimento para o qual
quero voltar minha atenção aqui. Uma das principais razões sempre invocadas pelos
Mẽbêngôkre para passar mais tempo na cidade é para que os filhos possam estudar nas
escolas não-indígenas. Só em São Félix do Xingu, são mais de 250 alunos indígenas
matriculados. Se antes os Mẽbêngôkre faziam guerra com os não-indígenas, hoje, certa vez
me disseram, têm vergonha diante deles por não terem a mesma educação. Dizer que a guerra
agora é travada com a caneta e não com a borduna é lugar-comum, mas me parece que aqui
há uma certa continuidade nas relações travadas com os não-indígenas que a grande

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mobilidade mẽbêngôkre pode ajudar a elucidar. A aproximação dos não-indígenas aumentou


a intensidade dos períodos no mato, devido às excursões às vilas e acampamentos não-
indígenas nas terras habitadas pelos Mẽbêngôkre. A “pacificação” cessou a guerra, mas as
andanças (que alguns autores dizem “sazonais”), o mẽ’y, continuaram. Aos poucos, o período
dedicado a elas foi diminuindo devido à presença dos não-indígenas na aldeia, dos seus bens
e dos remédios para as doenças que vieram com o contato, dentre outras coisas valorizadas
pelos Mẽbêngôkre. Mas de uns tempos para cá, começaram a não mais esperar os não-
indígenas na aldeia, mas ir de encontro a eles novamente, ainda que não com excursões
guerreiras. Se antes os principais destinos na cidade eram a CASAI e as casas de apoio (espaços
para acolher os Mẽbêngôkre que estão na cidade), é cada vez maior o número de famílias que
alugam casas na cidade e recebem parentes vindos da aldeia. Essas famílias em geral se
apoiam financeiramente em parentes que trabalham na cidade, sempre em posições
relacionadas diretamente aos Mẽbêngôkre: nas associações indígenas, na CASAI, no DSEI
(Distrito Sanitário Especial Indígena), nas secretarias de educação e prefeituras dos municípios
que avizinham as Terras Indígenas mẽbêngôkre. Contudo, quando voltam para aldeia, para
festas ou nas férias, estão sempre “indo pra casa”.

De onde nos falam e o que nos contam as narrativas comunicacionais


Kaingang

Carmem Rejane Antunes Pereira

A proposta é oferecer alguns apontamentos sobre configurações da identidade cultural em


perspectiva comunicacional e histórica, levando em conta intercruzamentos de matrizes
ancestrais e contemporâneas. Esses apontamentos são oriundos de narrativas indígenas
geradas durante a pesquisa de doutorado, a qual focalizou as configurações da identidade
cultural, memória e mídia no bojo dos processos comunicacionais contextualizados pela etnia
Kaingang no Sul do Brasil. Segundo estimativas do Instituto Socioambiental (ISA), FUNAI e
Portal Kaingang (2018), a população Kaingang estaria entre 30 e 40 mil pessoas, considerando
aquelas que vivem em mais de 30 Terras Indígenas (TI), aquelas que vivem nas zonas urbanas
e rurais próximas às TIs ou, ainda, aquelas que passaram a viver em aldeias ou núcleos
domésticos de regiões metropolitanas de capitais, como Porto Alegre (RS). A recepção em
perspectiva histórica requer pensar a expansão dos meios de comunicação na sociedade
contemporânea, os quais fortalecem um mercado de bens culturais, cujos símbolos e
significados povoam a sociedade pelos quais uns e outros se situam no mundo, ou pensam,
imaginam, sentem e agem (IANNI, 2003). Também investigar as marcas de uma cultura

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midiática (MATA, 1999), desde a inserção das mídias na vida social dos desiguais e diferentes
grupos humanos. As narrativas enfocadas remetem a uma experiência cultural com os meios
de comunicação que permitem traduzir a temporalidade dos interlocutores/receptores
indígenas. Para coletar as narrativas utilizamos aportes da história oral (THOMPSON, 1992;
POLLACK, 1992) os quais se vinculam como áreas afins à problemática que aborda a identidade
cultural (GARCÍA-CANCLINI, 1998; CASTELLS, 2002) em um contexto marcado por itinerâncias
que nos falam de uma rede de afetos, trocas comerciais, organização política e da criação de
lugares de memória, na medida em que os territórios, na acepção ameríndia, foram ficando
cada vez mais diminutos. Desse modo, as narrativas dos interlocutores são pontes para
compreender configurações identitárias como memória e projeto, como sentimento e ação,
a partir de uma vivência na e da cidade, em que os indígenas participam de arenas locais como
sujeitos de direito e procuram a inserção no mundo fog (branco, não-indígena), incluindo a
visibilidade social no campo comunicativo.

O lugar da cidade na cosmologia e na política Mbya Guarani

Vicente Cretton Pereira

A partir de etnografia realizada entre 2008 e 2013 na aldeia de Mbya Guarani localizada então
em Camboinhas (cidade de Niterói, RJ) este trabalho busca investigar a relação entre a
cosmologia Mbya e a cidade. Primeiramente levanta-se a questão do “índio genérico” como
um emblema de afirmação de autenticidade (re)criado na relação com os não-índios,
buscando contrastá-lo com o modo de autoidentificação Mbya Guarani, isto é, a partir de
referências do interior do socius. Procura-se investigar como era conciliada pelos diferentes
sujeitos a idéia de um “índio genérico” visto, essencialmente, como “habitante das matas”
ocupar um espaço urbano. Em seguida busca-se compreender também as relações que os
Mbya Guarani estabeleceram com o ambiente que circundava a aldeia, localizada na região
litorânea de uma grande cidade, levando em consideração seus modos de aproveitar os
recursos disponíveis, seja no mangue, na lagoa, no mar, no supermercado, nas lojas, padarias,
etc. Busca-se entender qual a importância da cidade no cotidiano dos Mbya Guarani, e como
os significados envolvidos na categoria aparecem nos diferentes contextos observados. Na
discussão procura-se destacar as concepções cosmológicas Mbya Guarani em relação com o
cotidiano dos sujeitos, levando em conta as trajetórias pela cidade e modos específicos de
apropriação do “urbano”. Por fim, sugere-se que da perspectiva dos Mbya Guarani a cidade
cumpre um papel fundamental não só do ponto de vista material, mas também no sentido
metafísico: por um lado dizem que tudo que existe no mundo terreno existe num modo
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imperecível de existência nas aldeias celestes (incluem-se armas, carros, prédios e etc.), e por
outro o ambiente urbano é palco de importantes episódios dessa batalha cosmológica (ou
melhor, cosmopolítica) que os Mbya Guarani vêm mantendo contra o Estado, os ruralistas, as
mineradoras e etc. Mobilizações Mbya em São Paulo, como o fechamento da Avenida dos
Bandeirantes em 2013, ilustram isso da melhor forma possível: espécie de ritual xamânico no
meio de avenidas e rodovias, tais mobilizações indicam o lugar que a cidade ocupa no
pensamento Mbya Guarani.

La infancia nahua construyendo puentes interculturales

Ana María Méndez Puga,


Alethia Dánae Vargas Silva,
Diana Tamara Martínez Ruíz

En la ciudad de Morelia, del Estado de Michoacán en México, desde hace casi 45 años, algunos
hombres nahuas del estado de Guerrero llegaron a vender sus artesanías; viajaban con lienzos
pintados de papel amate y algunas figuras de barro. Conforme fue pasando el tiempo
comenzaron a viajar con las familias, hasta que finalmente se asentaron en la ciudad, sin
perder sus vínculos con su comunidad y sin “integrarse” completamente a la vida urbana.
Conformaron un grupo organizado que gestionó y recibió un terreno en donación donde se
asentaron quince familias y desde hace 18 años viven ahí, donde, con apoyo de dos gobiernos
construyeron sus casas (Castillo, 2010; y entrevista a la líder actual). Hoy, siguen vendiendo
artesanías en las calles del centro de la ciudad y ferias. Algunas de esas artesanía las elaboran,
otras las compran y algunas son de origen chino. Esta comunidad nahua en Morelia, como es
llamada ahora, interactúa con la vida cotidiana de la ciudad, día a día, a través de las niñas y
niños, de formas diferentes. Una de esas formas es la escuela, ya que acuden a escuelas
regulares e impactan con sus interacciones en la vida de otros niños y niñas (Vargas-Garduño,
Ramírez-Cruz, Méndez-Puga y Vargas-Silva, 2011), convocando al diálogo desde sus saberes y
formas de ver el mundo. En el pasado verano (julio 2018) se trabajó con las niñas y niños en
un taller de lectura y de actividades lúdicas y de ciencia. Desde el cual fuera posible generar
vínculos para continuar trabajando con ellos en los distintos escenarios en los que interactúan.
La actividad se realizó en la iglesia de la colonia y participaron 18 niñas y niños. Todos son
bilingües e interactúan con la lengua escrita de manera fluida, son lectores curiosos, se
interesaron por todos los tipos de texto que se les presentaron y participaron activamente en
experimentos científicos. A partir de ahí, contaron de lo que hacen en las fiestas, de las
tradiciones que conservan en la comunidad y para cuáles van a su pueblo, no hablan de
preservar su cultura, siguen siendo nahuas en la ciudad. Los niños y niñas han territorializado
las creencias de su cultura en la ciudad y en su colonia, historias de un río que hay en su pueblo
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de origen dan vida a historias en el arroyo de aguas negras que pasa al lado de su colonia en
la ciudad; leyendas tradicionales de apariciones dan vida a historias que suceden sólo en su
colonia en la ciudad que comprende una calle de 15 casas, una iglesia, tres juegos y 40 mts
cuadrados donde a veces siembran alguna verdura o maíz. Ser y querer-ser nahuas les permite
reconocerse distintos ante otros niños y niñas, diversos, abiertos y urbanos a la vez de
segregados e indígenas nómadas; así, alimentan un saber intercultural, sin proponérselo.

“Lugar de índio é onde ele quiser”. A cidade como território de resistência,


agência e descolonização de processos fixadores da identidade indígena

Gabriela de Freitas Figueiredo Rocha

A presente proposta é fruto de uma pesquisa, desenvolvida no âmbito do doutorado, que


buscava explorar o potencial insurgente das trajetórias de coletivos indígenas em grandes
cidades, na defesa dos seus direitos, suas identidades, vidas, corpos, repertórios culturais,
linguagens, formas de viver e pensar. A investigação se desenvolveu entre os anos de 2015 e
2016 e relacionou a construção da identidade indígena genérica, a maneira como ela foi fixada
em certos estereótipos, padrões e modelos de governança de populações, e, de outro lado, o
deslocamento permanente dessa identidade pelos sujeitos que a acionam e vivem,
particularmente aqueles que o fazem no espaço urbano, onde são em geral invisibilizados,
tidos como integrados, ou fora do lugar. Acompanhei parte da primeira Conferência Nacional
de Política Indigenista, e analisei aquele contexto frente à experiência fronteiriça de indígenas
de múltiplas etnias residentes em Belo Horizonte, que assim como as grandes cidades
brasileiras, é um território extremamente excludente em relação a modelos de vida,
sociabilidade, corpos e territorialidades alternativas às lógicas homogeneizadoras que
configuram o capitalismo atual. A partir do uso estratégico que os coletivos fazem do aparato
indigenista, historicamente concebido para o controle e a dominação colonial, procurei
compreender as saídas descolonizadoras para o processo de repetição de estereótipos, que
impôs a miscigenação como linguagem naturalizadora de hierarquias étnico-raciais, onde “ser
indígena fora dos padrões” significa ser constantemente colocado em suspeita de
inautenticidade, deslegitimado em sua própria voz e capacidade de agência. Trabalhei
especialmente com referências teóricas da etnologia brasileira, dialogando com literatura
pós-colonial e decolonial. Como as experiências de ser indígena no espaço urbano
desestabilizam fronteiras epistêmicas onde os processos de tradução se dão? Como resistem
ao apagamento de suas raízes, reenraizam-se e lutam pelo reconhecimento, sem que isso
implique no reencaixar em categorias e esquemas coloniais prévios? A resistência indígena
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em Belo Horizonte desvela a cidade como um território a ser indianizado, onde se mobilizam
as estratégias tradutórias, analisadas em sua particularidade: as disputas pela autenticidade,
enquanto critério de comprovação do pertencimento étnico; as performances culturais por
meio dos quais as diferenças se expressam e a cultura é concebida como um espaço aberto
de enunciação e agência; a retomada, tanto física e simbólica, cujo conteúdo se preenche por
relações, nomes, signos e performances múltiplas.

Usos e abusos da identidade: trânsitos e territorialidades dos Maká e M’byá


Guarani nas cidades da Tríplice Fronteira

Luiz Felipe Rodrigues


Dalila Tavares Garcia
Joselaine Dias de Lima

Nas ruas movimentadas e nas proximidades de pontos turísticos das cidades de Foz do Iguaçu
(Brasil), Ciudad del Este (Paraguay) e Puerto Iguazú (Argentina), pessoas das etnias Maká e
M’byá Guarani marcam sua presença como parte de suas estratégias de sobrevivência. Trata-
se de grupos inseridos em um espaço urbano marcado pelo turismo de nível internacional,
acionado por atrativos como as Cataratas do Iguaçu, e marcado também pelo comércio
fronteiriço, acionado pelas diferenças existentes em cada margem da fronteira. Os Maká, que
vivem casas precárias de madeira, numa pequena área de 70m2 aproximadamente, no centro
comercial de Ciudad del Este, produzem artesanatos (como pulseiras, bolsas e colares) para
vender aos turistas e outras pessoas que possam se interessar. Os M’byá Guarani, presentes
na cidade de Puerto Iguazú, além de venderem seus artesanatos, promovem um circuito
turístico em uma das aldeias que está localizada entre o centro da cidade argentina e a entrada
das Cataratas do lado argentino. Nesse processo, ambos os grupos utilizam suas identidades
como estratégia de sobrevivência, já que estas são “exotizadas” pelo mercado turístico e pelo
imaginário dominante que coloniza a mente de grande parte da sociedade. Ao mesmo tempo,
a fetichização de suas identidades não promove a valorização dos indígenas, que continuam
vivendo, em muitos casos, em situações precárias. Na Tríplice Fronteira, às vezes promovidas
turisticamente como “Terra Guarani”, é comum encontrar indígenas em situação de
mendicância e miséria. Nesse sentido, trataremos de discutir as contradições, os conflitos e
as negociações nos trânsitos entre fronteiras e nos processos de interação dos Maká e M’byá
Guarani com outros agentes implicados na dinâmica de suas práticas cotidianas.

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Os desafios dos indígenas na cidade de Manaus e a busca pelo direito e


autonomia

Cirlene Batista dos Santos


Dario Emilio Casimiro
Ivani Ferreira de Faria

O presente trabalho tem como objetivo central a compreensão do processo de


territorialização dos povos indígenas na cidade de Manaus a partir do estudo dos direitos e
autonomia, e como específicos identificar as políticas públicas de educação indígena
desenvolvida pela SEMED e SEDUC na cidade de Manaus, verificar como as políticas de saúde
vem tratando os indígenas da cidade, verificar a posição das Organizações e Movimentos
indígenas e indigenistas em relação ás políticas de educação e saúde em Manaus. Ao se
estabelecerem na cidade os indígenas vão conquistando um novo território para viver e para
reproduzir sua cultura. A cidade é o lugar onde as novas relações sociais ocorrem, onde a vida
continua e a cultura vai aos poucos se reconfigurando. Os indígenas da cidade organizam-se
em associações para reivindicarem os seus direitos básicos como saúde e educação. A
categoria de análise território, configura-se essencial, fundamentalmente porque as relações
sociais têm um alto grau de importância para compreender os problemas ocorridos no espaço
urbano. Com a finalidade de investigar os desafios dos indígenas na cidade de Manaus e lutas
pelos direitos, e como estes estão sendo assegurados, foram realizados levantamentos
bibliográficos e de campo com entrevistas junto aos órgãos indígenas e indigenistas, órgãos
governamentais estaduais e municipais como SEDUC e SEMED, bem como como algumas
lideranças de associações indígenas. Para tanto foi elaborado um roteiro dos assuntos a serem
levantados nas entrevistas de acordo com cada um dos segmentos. As entrevistas foram
realizadas individualmente, as entrevistas e anotações ajudaram a perceber muitos aspectos
e, destaque das categorias de análise. O presente estudo mostrou que os indígenas que vivem
na cidade de Manaus ainda enfrentam muitas dificuldades em relação aos seus direitos
básicos relacionados à saúde e educação escolar indígena. Ainda faltam políticas públicas para
que esses direitos de fato sejam adquiridos.

“O Santuário Sagrado dos Pajés Não Se Move!” - Insurgência étnica e


identidades territoriais indígenas e o Estado brasileiro: conflitos interétnicos
e territoriais no contexto de expansão de empreendimentos urbanos no
Plano Piloto de Brasília

Comunidade Indígena Santuário Sagrado dos Pajés – Pajé Santxiê Tapuya (Brasília-DF)

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A presente comunicação pretende abordar o problema do reconhecimento de territórios


indígenas de ocupação tradicional em área urbana no contexto de expansão de
empreendimentos urbanos e imobiliários e os conflitos gerados a partir da análise dos
discursos e estratégias da comunidade indígena do Santuário Sagrado dos Pajés
territorializada no espaço urbano do Plano Piloto de Brasília – ícone da arquitetura modernista
de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, assim como analisar os discursos e políticas do Estado
brasileiro frente à reivindicação de reconhecimento de direitos territoriais indígenas em
contexto urbano levado a cabo por uma amplo movimento etnopolítico liderado pela
comunidade indígena do Santuário dos Pajés que abarcou outros setores sociais da sociedade
brasiliense.

Povo indígena Pankararu: deslocamentos e pertencimento étnico no sertão


de Pernambuco

Elizângela Cardoso de Araújo Silva e Codjo Olivier Sossa

Este trabalho apresenta um relato de experiência Pankararu. As reflexões aqui apresentadas


fazem parte de dois projetos de doutorado em atuação na UFPE (Recife, PE) sobre populações
indígenas e quilombolas no Nordeste do Brasil. A realidade do povo Pankararu nos últimos 30
anos passa por amplas no modo de vida e de trabalho de indígenas que vivem nas aldeias e
nas cidades de Jatobá, Tacaratu e Petrolândia, sertão de Pernambuco. O principal
acontecimento impulsionador dessas transformações foi a remoção compulsória do município
de Petrolândia/PE de mais de 20 mil ribeirinhas do rio São Francisco (indígenas e não
indígenas) por conta da construção da Barragem e da Usina Hidrelétrica de Itaparica (1988).
Esses acontecimentos impulsionaram novos processos de deslocamento e reagrupamento do
povo Pankararu/PE no sertão de Pernambuco. Os processos históricos de deslocamento e
reagrupamento do povo Pankararu/PE são marcados pela peculiaridade dos conflitos e
interferências da ação colonizadora das formas de povoamento indígena no sertão.
Ocorreram movimentos de ocupação determinados pelas condições climáticas próprias da
região do semiárido, que levaram os povos indígenas à ocupação da região ribeirinha do rio
São Francisco pela necessidade do acesso à água. Este trabalho analisa o deslocamento e o
reagrupamento do povo Pankararu na segunda década do século XXI. Parte da análise dos
impactos da construção da Barragem e da Usina Hidrelétrica de Itaparica. O cotidiano e a
história de vida de uma autoria do artigo, indígena da aldeia Bem Querer de Cima (TI
Pankararu), membro de uma das famílias indígenas atingidas pela Usina é a base deste texto.
No processo de remoção dos atingidos, muitas famílias indígenas Pankararu se deslocaram
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para o território da nova cidade, pela grande oferta de empregos e atividades da construção
civil. Indígenas saíram das aldeias em busca de trabalho, passando a integrar o grupo de
operários das obras da barragem e na construção da nova cidade. A construção da hidrelétrica
promoveu muitos impactos: mudanças na economia local, reconfiguração de redes de
assalariamento no comércio e na agricultura, transformações culturais. Esses processos
levaram à ampliação da presença de indígenas na reconfiguração de redes de assalariamento
no comércio e na agricultura local. Embora muitos indígenas passem a viver nos centros das
cidades dessa região, nossas famílias protegem o vínculo étnico com as aldeias, tanto pelo
contato permanente com a rede de parentesco através da participação ativa nos rituais e
diferentes atividades nas aldeias da Terra Indígena Pankararu.

Alunos indígenas nas escolas urbanas públicas de Imperatriz/MA: o que


mudou nos currículos escolares após a Lei 11.645 de 2008?

Ilma Maria de Oliveira Silva


Arlete de Sousa Coelho
Zanado Pavão de Sousa Mesquita

Analisar como a história e cultura dos povos indígenas estão sendo trabalhadas no currículo
das escolas das redes municipais e estaduais de Imperatriz/MA, levando em consideração o
processo de mudança da sociedade, especialmente nas últimas três décadas, é objetivo desta
pesquisa. A história dos povos indígenas no Brasil passa por diversos e tortuosos caminhos
que sempre os manteve a margem da sociedade nacional sendo ocultada pela história oficial
e apresentada em posição subalterna pelas interpretações e ideologias dominantes. Diante
disso, pesquisar sobre a temática e perceber possibilidades de inclusão no currículo escolar
significa trilhar pelos rastros do passado e também do presente. É uma oportunidade de
despertar para o respeito à diversidade cultural, bem como contribuir com a formação inicial
dos acadêmicos do curso de Pedagogia numa perspectiva mais inclusiva. Dessa forma, a
pesquisa de iniciação científica-PIBIC, objetivou também, fazer levantamento do número de
alunos indígenas matriculados nas escolas urbanas de Imperatriz da rede municipal e estadual
de ensino; analisar quais os problemas mais comuns encontrados no âmbito escolar no que
tange à aplicabilidade da lei 11.645 de 2008 e identificar os limites e as possibilidades
encontradas pelos professores para ensinar a história em questão, entre outros. Os objetivos
partiram do princípio que as vozes das sociedades indígenas, há séculos silenciadas, passam a
serem ouvidas, principalmente pela persistência e organização dos povos indígenas a partir
dos anos 1970. Nesse sentido, o processo de reconhecimento de seus direitos, de uma
cidadania diferenciada, de suas línguas, culturas e tradições se dá a partir da Constituição
Federal, promulgada em 1988. Em consequência, surgem ações afirmativas que contribuem
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para o protagonismo indígena. Entre outras, surgem legislações que proporcionam a educação
como meio de combate às desigualdades provocadas pela exclusão e pela predominância do
etnocentrismo. Assim, destacamos a Lei 11.645 de 2008 como forma de incluir nos currículos
escolares não indígenas uma história que não seja contada pelo viés dominante. Para tanto,
realizamos a pesquisa em escolas públicas municipais e estaduais de Imperatriz/MA que têm
alunos indígenas matriculados. Contamos com a participação de professores, secretários de
educação e alunos indígenas. No decorrer dos trabalhos outras perspectivas de trabalho
foram surgindo, como conhecer as histórias de vidas das famílias dos alunos e analisar que
motivos as levaram para escolher a cidade como lugar de morada

Mapeando deslocamentos e trajetórias de indígenas em contextos urbanos: o


caso da Região Metropolitana do Recife (Pernambuco, Brasil)

José Tarisson Costa da Silva

Cada vez mais inseridos nas dinâmicas urbanas, os indígenas em Pernambuco foram
contabilizados como a quinta maior população de índios vivendo no contexto da cidade, a
nível Nordeste. O índice elevado desses indivíduos morando em regiões urbanas – mais de
3.000, de acordo com o Censo do IBGE de 2010 – motivou a pesquisa, buscando compreender,
nessa primeira fase do projeto, as trajetórias e motivações para os indígenas migrarem para
o contexto urbano, as relações de sociabilidade no espaço da cidade, as dificuldades e a
relação destes com as políticas públicas na Região Metropolitana do Recife (RMR). Na
perspectiva das preocupações atuais sobre as temáticas indígenas, esse estudo pretende ser
uma contribuição para adensar os estudos sobre os índios e as relações com as cidades. Para
isso, foi utilizado um questionário pré-estruturado com cinco indígenas de diferentes bairros,
faixas etárias, condições socioeconômicas e etnias, abarcando indivíduos Xukuru do Ororubá,
Fulni-ô, Pankararu, Pankararu Entre Serras e Pankará. Enquanto referencial teórico-
metodológico para a pesquisa foram utilizados os estudos de Alberti (2004), Halbwachs
(1990), Pollak (1989; 1995), Nunes (2010) e Almeida (2010), na perspectiva de que possamos
compreender as dinâmicas coletivas a partir de um quadro de memória individual das
experiências relatadas por meio da história oral dos entrevistados. Este estudo ainda pretende
problematizar a invisibilidade vivenciada pelos indígenas em contextos urbanos, sobretudo, a
ausência de políticas públicas para o reconhecimento da diversidade e pluralidade étnica em
Pernambuco. A partir desses relatos de memórias, buscaremos identificar os desafios que
permeiam as vivências e inserção desses indígenas na urbanidade metropolitana e os meios
de “apropriação e predação do mundo dos brancos”, nos termos de Eduardo Soares Nunes
(2010), para afirmação do pertencimento e identidade étnica.

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Indígenas em contexto urbano usuários de um Centro de Atenção


Psicossocial, experiências e vivências: relato de experiência

Paula Layse Silva


Jaqueline Cordeiro Lopes
Valquíria Farias Bezerra

Introdução: A temática a respeito da saúde indígena ampliou-se no cenário de em meados de


1980, no chamado processo de redemocratização da saúde. Apesar de ter ganhado esse
espaço, foi somente em 2002 que uma política inteiramente voltada para essa população e
suas especificidades, foi criada, a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas
(PNASPI) (PONTES et al, 2015). A PNASPI traz em suas diretrizes que as demandas que não
forem contempladas no grau de resolutividade dos Pólos-Bases, esses sendo os principais
responsáveis pela maioria das demandas, deverão ser referenciadas para a rede de serviço do
SUS, visando garantir a integralidade do atendimento a essa população com toda sua
pluridimensionalidade. (LORENZO, 2011). No contexto da saúde mental, os Centros de
Atenção Psicossocial (CAPS) entram como atores de suma importância para a garantia do
atendimento integral para o indígena em contexto urbano (PEREIRA, 2014). Objetivo: Relatar
a experiência advinda de encontros com indígenas em contexto urbano, usuários de um CAPS.
Metodologia: Relato de experiência advindo das vivências com os indígenas usuários do CAPS
II Culvando Sorriso, do município de Pesqueira - PE. Tais momentos foram experenciados
durante a coleta de dados de uma pesquisa. A partir do diário de campo mediante teor
observacional, instrumento que norteou tal relato de experiência. Resultados e discussões:
Foi possível observar uma confortabilidade por parte dos indígenas assistidos, enquanto
discursavam sobre seu povo e a cultura, mesmo aqueles que não estão mais atuantes dentro
do território. Soave (2017), esclarece esse fato elucidando que mesmo que o “novo ambiente”
urbano entre no contexto do indígena, vários fatores continuam a manter uma identidade
coletiva indígena, sejam autodefinições, consciência ambiental, singularidades culturais,
lembranças afetivas. Todos esses fatores reforçam a necessidade de um olhar especial para
essa população. O conhecimento arraigado no diálogo dos entrevistados, também é um ponto
forte deste relato. Isso porque torna evidente o vínculo desses sujeitos com sua cultura, e o
quão forte é o uso da prática da intermedicalidade, mesmo que não seja auto percebida
(LORENZO, 2014). Conclusão: Os usuários indígenas do CAPS, são altamente ligados a sua
cultura e raiz, o que nos mostra a importância de tais aspectos para sua saúde. É importante
pontuar a necessidade de que toda essa pluridemensionalidade seja respeitada e trabalhada
com esse indivíduo, facilitando assim uma adaptação social e local.

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Pensando, hablando y haciendo territorio indígena en un espacio urbano


transfronterizo de la Amazonia

Angela Patricia López Urrego

La emergencia de la cuestión indígena en el complejo y cambiante contexto urbano en la


región de frontera amazónica entre Brasil, Colombia y Perú ha llevado a la producción de
espacios entre la tradicionalidad etnocultural y la modernidad. Este trabajo se realiza a partir
de la investigación doctoral en curso denominada “Representaciones territoriales indígenas
en un espacio urbano transfronterizo en la Amazonia”, en la que me he propuesto conocer,
entender y representar el proceso de construcción del territorio y la territorialidad
transfronteriza indígena, en torno al establecimiento del Cabildo de los Pueblos Indígenas
Unidos de Leticia – CAPIUL y al espacio emblemático de su maloca en la ciudad de Leticia. Para
ello, se ha hecho una reconstrucción geohistórica de dicho proceso, análisis sobre la manera
en que las representaciones y concepciones territoriales indígenas son reinterpretadas para
traducirse, recrearse, asimilarse e incorporarse en el espacio de su maloca urbana, así como
de las prácticas y estrategias que ha usado CAPIUL en torno a la resignificación y apropiación
de sus espacios culturales-comunitarios y la maloca como territorios indígenas. Se ha
evidenciado que los indígenas tienen una particular visión y acción sobre la forma que
construyen sus territorios y territorialidades en el contexto urbano y en este ejercicio, ha sido
fundamental conocer y reflexionar sobre su propia historia desde la fundación de la ciudad de
Leticia así como del sistema urbano indígena pre-existente y el que se ha construido hasta la
actualidad, un camino en el que han sido sujetos a las condiciones y dinámicas que intentan
regularizar y materializar el proyecto de modernidad del Estado en las ciudades Amazónicas y
de la sociedad no indígena, limitándoles las oportunidades de poder construir sus propios
espacios de acuerdo a sus pensamientos y prácticas como grupos indígenas en la ciudad.
Comprender esta realidad, ha implicado conocer las representaciones, vivencias y
percepciones que en torno al territorio despliegan o ponen en juego, los grupos afiliados al
cabildo; los conflictos, negociaciones y luchas por el reconocimiento territorial de este
espacio, así como el sentido, el significado y las estrategias de apropiación y habitación del
mismo. Es una situación que, por un lado, se suma a la necesidad de establecer políticas o
mecanismos coherentes con la realidad transfronteriza y multiterritorial de los habitantes de
las «urbes de la selva», por otro lado, evidencia la necesidad de entender la problemática de
la ciudad amazónica y la crisis téorica, práctica y regional de su realidad urbana, al estar
encajada en un racionalismo operativo que intenta controlar la lógica y práctica del hábitat
urbano, y adaptarlo a las dinámicas de la globalización.

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Os Huni Kuin na política da cidade

Miranda Zoppi

Os Huni Kuin (humano verdadeiro), conhecidos também por Kaxinawá, são um povo de língua
pano que habita o estado do Acre, no Brasil, e o Peru. Inicialmente, eles entraram na política
através do movimento indígena, nos anos 1970, quando suas lideranças começaram a luta
pela demarcação das terras indígenas. Entretanto, a participação nas eleições municipais
começou apenas nos anos 1990, quando se candidataram a vereadores em pequenos
municípios do Acre. Desde então, lideranças desse povo têm concorrido a outros cargos
eleitorais, como prefeito, vice-prefeito e deputado estatual, além de ocuparem cargos não
eletivos em instituições estatais e municipais, nas funções de assessores estaduais, secretários
municipais, etc. A conquista e ocupação de cada um desses espaços é, para eles, algo
estratégico para a defesa de direitos e aumento de sua autonomia enquanto Huni Kuin, por
isso, a entrada na política é entendida como uma espécie de “missão” a ser cumprida em prol
do povo, necessitando que a liderança esteja “preparada” para exercê-la e consiga cumprir
um “bom trabalho”. Ou seja, ela precisa ser detentora de conhecimentos huni kuin e dos
“brancos” para realizar conquistas importantes nas instituições dos “brancos”, como por
exemplo, a aprovação de leis e de recursos. Contudo, a entrada na política (seja através da
eleição dos candidatos indígenas ou da indicação para cargos comissionados no Estado)
implica em transformações internas ao grupo, mas, principalmente, na vida e trajetória das
lideranças indígenas que ocupam tais cargos e suas respectivas famílias. Isto porque para o
exercício dessas atividades é necessário sair da aldeia para viver na cidade, e a vida citadina
traz consigo além das mudanças também perigos. O objetivo aqui é abordar algumas das
consequências ocasionadas por tais mudanças, partindo de conceitos nativos (como política,
missão, preparado, bom trabalho, etc.) e da concepção do que é ser um Huni Kuin, levando
em consideração que a “missão” envolve a necessidade de retorno para a aldeia em algum
momento.

ST 02 | Actores, figuras y estrategias de mediación en la impartición de justicia


en causas con indígenas (América Latina, fines XVIII – mediados XX)
Núria Sala i Vila (Universitat de Girona, Italia); Mirian Galante (Universidad Autónoma de Madrid,
España).

Existe un consolidado consenso historiográfico acerca de que la construcción de las repúblicas


latinoamericanas se imaginó sobre el paradigma de la homogeneidad y de que la existencia de

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instituciones, jurisdicciones o figuras jurídicas que reconocían el principio de excepcionalidad o de


particularidad jurídica en el siglo XIX eran expresión de la prolongación de un sistema propio del
Antiguo Régimen o de la debilidad, incapacidad o insuficiencia del recién asentado Estado liberal. El
presente simposio propone repensar este tópico, desde la perspectiva de la particularidad indígena.
¿Qué consecuencias tuvo la desaparición del protector de indios o del Tribunal General de indios en
las causas en las que estaban afectados estos sujetos? ¿Se desarrollaron otro tipo de estrategias para
tratar de actuar de manera particular sobre estas causas? ¿Cómo actuaron las comunidades indígenas?
¿A qué tipo de figuras jurídicas, instancias de mediación o de defensa recurrieron para desarrollar sus
causas? ¿Siempre se consideró negativamente la pervivencia de este tipo de excepcionalidades?
¿Cómo se interpretó en el debate público la existencia de una tradición jurídica que reconocía un status
particular al indígena?

Políticas Indigenistas e Direitos Indígenas – ações e disputas políticas entre os


índios aldeados e os demais atores no Rio de Janeiro - de meados do século
XVIII ao XIX

Maria Regina Celestino de Almeida

De meados do século XVIII ao XIX, as políticas indigenistas da Coroa Portuguesa e,


posteriormente, do Império brasileiro pautaram-se nas ideias ilustradas de igualdade,
liberdade, progresso e civilização. Tais ideias comportavam significados diversos para os vários
atores e não impediram a manutenção das diferenças que, conforme as situações, podiam
servir aos interesses das autoridades, dos moradores e dos próprios índios. Para esses últimos,
as propostas de igualdade podiam significar o fim dos direitos coletivos que lhes tinham sido
assegurados pelas leis do Antigo Regime, por sua condição jurídica específica de índios
aldeados e súditos cristãos do Rei. Na luta por esses direitos, muitos recorriam à justiça
pautados pela cultura política do Antigo Regime por eles apropriada e na identidade indígena,
que iriam defender até o século XIX. Apesar de significativas diferenças, processos análogos
podem ser identificados em diferentes regiões da América espanhola, no mesmo período. O
objetivo deste trabalho é refletir sobre os limites e as contradições dessas políticas
indigenistas, considerando que elas se construíam em contextos de disputas e acordos entre
os vários agentes sociais e eram por eles apropriadas e ressignificadas de formas variadas. As
políticas indigenistas serão analisadas de forma articulada às ações políticas dos vários atores,
com foco sobre os índios, para identificar suas estratégias e interesses em situações de
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conflitos específicos. Serão priorizados os conflitos envolvendo os índios aldeados do Rio de


Janeiro, em abordagem comparativa com disputas similares em outras regiões do Brasil e da
América.

A violência contra a mulher indígena: uma revisão da literatura

Brenda Samile Batista Brelaz


Aline Karina Ferreira Pinto
Clenya Ruth Alves Vasconcelos

A violência praticada contra a mulher indígena é um tema complexo e que possui muitos
aspetos que devem ser considerados em relação a realidade dessas mulheres, é necessário
entender a sua cultura, seus costumes e as crenças de seu povo. As práticas discriminatórias
contra as mulheres indígenas dentro de suas próprias aldeias vão muito além da violência
física. Segundo Stavenhagen (2007), essas violências incluem também matrimônios forçados,
doação de filhas para outras famílias, estupros, assassinatos, tortura, ameaças, entre outras
formas de intimidação patriarcalista. Este estudo tem por objetivo realizar um levantamento
na literatura sobre a violência contra a mulher indígena no século XXI; identificar como ela se
manifesta; e verificar se as mulheres indígenas podem ser amparadas pela Lei brasileira n°
11.340 de 2006. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica em que a revisão da literatura fora
realizada em bases de dados eletrônicos como Scientific Eletronic Library online (SCIELO),
Biblioteca Virtual de Saúde (BSV) entre outros. Os textos estudados possuem bases de
pesquisa qualitativas. Como resultados da pesquisa observou-se que a violência contra a
mulher indígena está enraizada por uma sociedade que atribui poderes ao sexo de forma
desigual no qual o homem exerce sua supremacia através da violência física, sexual,
matrimonial, financeira, moral, psicológica ocasionando danos irreversíveis a saúde da
mulher. Um dos instrumentos legais disponíveis a mulher é Lei 11.306, de 2006, que
estabelece normatização legal para a proteção de mulheres vítimas de agressão. No contexto
indígena, muitos autores indicam diversas barreiras para a aplicação da lei entre as mulheres
da comunidade indígena. Ricardo Verdum (2008) aponta que as mulheres indígenas ainda
precisam de informações em relação a Lei Maria da Penha para que se possa usar esse
mecanismo e seus benefícios, uma barreira que a mulher indígena ainda precisa ultrapassar é
que nas aldeias tal lei, a princípio, não corresponde satisfatoriamente a suas demandas.
Kaxuyana e Silva (2007) corrobora com a afirmação de Verdum, observando que informações
distorcidas em relações as leis amedrontam as mulheres, como afirmações de que elas serão
retiradas de suas casas, terras, territórios de convívio e levadas para casas-abrigos caso
denunciem que foram vítimas de violência. Diante de tantos desafios, este trabalho pretende
recolocar esse assunto no centro das discussões haja vista que a mulher indígena sente o
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refluxo de uma sociedade marcada pela desigualdade entre os sexos influenciando seu
processo saúde-doença, ocasionando danos para toda a vida.

Xavantes e Kuikuros na mediação artística do olhar estrangeiro

Silvia Maria do Espírito Santo

Martin Grossmann

A presente comunicação apresenta os processos de pesquisa e mediação artística e


procuramos caracterizar nossa experiência de mediação cultural junto a projeto de Bård
Breivik, artista norueguês convidado para expor na 21a Bienal Internacional de São Paulo, em
1991. A mediação cultural foi direcionada para a construção da sua obra de arte e o mediador,
um agente de uma ação cultural, atuou nas seguintes fases: 1) levantamento de fontes
históricas da Expedição Roncador Xingu e lideranças indígenas, 2) produção de textos e
imagens fotográficas e 3) seleção da informação empírica, obtida através da pesquisa de
campo. A mediação fez o levantamento dos materiais vegetais e animais utilizados pelos
índios Xavantes e Kuikuros, organizou um roteiro de viagem, viabilizou contatos com as
lideranças sociais e administrativas dos parques indígenas no Centro Oeste (Mato Grosso e
Goiás). Os processos mediadores também respaldaram o projeto com uma indicação
bibliográfica, conceitos da antropologia e da história brasileira, procurando qualificar
teoricamente a pesquisa realizada em campo para finalidades educativas atuais no âmbito
universitário.

Intérpretes en la justicia local. Tlaxcala 1820-1835

Mirian Galante

La aplicación de la legislación gaditana referida a la administración de justicia en el México


independiente tuvo especial repercusión en el caso del territorio de Tlaxcala, puesto que la
tradicional competencia entre la capital y las cabeceras adquirió entonces un importante
componente jurisdiccional que acabaría finalmente resolviéndose en favor de dichas
cabeceras. Así, se pasó de la existencia de un único partido judicial al reconocimiento de siete
partidos que, además, se justificaron sobre los partidos definidos para la elección de los
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representantes políticos. En este complejo contexto, la impartición de justicia cotidiana se


continuaba desarrollando principalmente en el ámbito local, bajo la actuación de los alcaldes
de los pueblos. En aquellos procesos en los que estaban implicados indígenas, a menudo, se
hizo imprescindible el recurso a intérpretes que no solo fungieron como meros traductores,
sino también como mediadores culturales. En no pocas ocasiones intervinieron adoptando
otros roles (fiadores, testigos, etc) que pudieron afectar al desarrollo de las causas como a la
aplicación de las penas. A partir de varios estudios de caso, en esta ponencia trataremos de
identificar a estos sujetos (¿quiénes eran? ¿qué requisitos debían cumplir? ¿estaban
investidos de alguna institucionalidad? ¿qué relación tenían con las comunidades indígenas?)
así como el tipo de intervención, no solamente lingüística, que tuvieron en el desarrollo de los
procesos judiciales.

La “condición cultural” de los criminales indígenas: el debate indigenista


sobre el arbitrio judicial y la legislación especial, 1920s-1950s

Laura Giraudo

Desde los años 1920, en varios países latinoamericanos, se desarrolla un debate sobre la
oportunidad o menos de una legislación tutelar o protectora, de leyes especiales y del
reconocimiento de las “costumbres indígenas” en la aplicación de la ley. Se discute sobre las
causas de la criminalidad indígena, sobre la naturaleza del criminal indígena y surgen
propuestas legislativas, sobre todo de reforma de la legislación penal. En el ámbito del
indigenismo interamericano, este debate acerca de la situación jurídica de los criminales
indígenas tiene como elementos característicos la insistencia sobre que la responsabilidad
penal de los indígenas y su culpabilidad debía considerarse limitada o menor, debido a que
sus actos criminales dependían de circunstancias fuera de su control, y que de ello eran
también responsables la sociedad y el estado, por haberlos oprimidos y abandonados. Nos
interesa especialmente el papel del indigenismo en orientar la propia definición del debate, y
el de los actores indigenistas, en posicionarse como expertos “sobre los indígenas”. Nos
proponemos, entonces, analizar tanto el debate como casos concretos que permitan
averiguar cómo fueron aplicadas, interpretadas y reformuladas en los juicios las expresiones,
generalmente vagas y ambiguas, que se referían a las “condiciones culturales” o a las
“circunstancias especiales” de los indígenas, cuando había mención explícita en la legislación,
o como se enfrentaron estos casos cuando no había legislación especial y se apelaba a
circunstancias atenuantes.

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La Juramukua-p’etamukua (la palabra florida para restaurar la convivencia) y


el restablecimiento de la puantsperakua (equilibrio) para sesi irekani en Santa
Fe de Michoacán

Juan Carlos Cortés Máximo

Interesa explicar cómo el antiguo gobernador del pueblo de Santa Fe, se inscribió en la lógica
del orden jurídico novohispano de dar a cada uno lo que le toca. Analizaremos su actuar entre
mediados del siglo XVIII hasta que hacia 1822 desaparece de la documentación judicial
generada. Seguimos su rastro y mutación en la figura del alcalde del ayuntamiento, hasta que
derivó en el “teniente de alcalde”, al reducirse el pueblo de Santa Fe en tenencia del
ayuntamiento de Cocupao. Santa Fe gozó de la protección y de la justicia del Deán y el Cabildo
Catedral de Valladolid de Michoacán, pero perdió dicha distinción en el último cuarto del siglo
XIX. Ante ello, interesa saber los caminos y estrategias para resolver los asuntos relativos al
límite de sus tierras comunales y las problemáticas de convivencia matrimonial. Interesa
también explicar las formas y los mecanismos de resolución de problemas de posesión y
usufructo de tierras, así como de causas matrimoniales, a través de los conceptos nativos
p’urhepecha. Por ejemplo, la Juramukua-p’etamukua, como la acción de pronunciar la palabra
en forma florida a fin de conseguir la puantsperakua (el equilibrio) y la convivencia socio-
comunitaria como el vivir bien (sesi irekani).

Liberdade e propriedade indígena no Brasil imperial: antigos direitos e novos


desafios

Vânia Maria Losada Moreira

Para a historiografia sobre os índios e a política indigenista do Brasil imperial são marcantes
as continuidades coloniais no novo regime político, dentre outras razões porque o Brasil
independente nasceu como “planta exótica” na América, segundo a expressão de Joaquim
Nabuco, instituindo o regime monárquico constitucional e mantendo a dinastia Bragança no
poder. Apesar disso a palavra “liberalismo” circulava entre a elite política do período e servia
para indicar uma nova ordem social e política em oposição ao Antigo Regime. Além disso, o
ideário liberal influenciou a reflexão intelectual e política acerca do lugar dos índios na nova
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nação a ser construída. O objetivo da comunicação é fazer um breve balanço sobre os direitos
indígenas no processo de independência, especialmente em relação aos direitos de liberdade
e propriedade, destacando continuidades e rupturas em relação ao Antigo Regime e algumas
estratégias indígenas na defesa de seus direitos de liberdade.

"El asesor jurídico" Un periódico de abogados y la mediación en conflictos


agrarios, 1907-1909

Claudia Daniela Marino Pantusa

El propósito de esta ponencia es determinar si la cultura escrita estaba ganando espacios


dentro de la tradicional mediación personal realizada por actores pueblerinos en la resolución
de conflictos. Para ello, analizaremos una publicación (El Asesor Jurídico. Revista popular de
jurisprudencia y legislación. Publicación dedicada especialmente a dar a conocer los
FORMULARIOS útiles para toda clase de gestiones jurídicas, administrativas, mercantiles y
fiscales) creada por abogados interesados en divulgar los conocimientos jurídicos y
administrativos a actores de pequeñas ciudades y localidades, así como apoyar a los pueblos
en el manejo de procedimientos y formularios para lograr el éxito en sus gestiones agrarias.
Para explorar este argumento, estudiaremos a los responsables, el carácter, formato, lenguaje
y destinatarios de la misma, así como su interlocución con los lectores para determinar el
alcance de su propuesta. No descartamos la posibilidad de que este tipo de prensa fuera
utilizada por los mediadores legos pueblerinos, más que por los mismos campesinos.
Asimismo, la investigación nos da pistas sobre otros dos temas de interés, ambos aducidos
como factores explicativos del derrocamiento del régimen de Porfirio Díaz: 1. La compleja y
contenciosa situación agraria en los años inmediatamente anteriores a la Revolución, tema
sobre el que la revista se explaya y 2. La situación de los numerosos abogados titulados que
no encuentran acomodo laboral en la administración ni los despachos, algunos de los cuales
se volcarán al periodismo y/o a promocionar los ubicuos litigios agrarios del momento, caso
ejemplificado por el propio director de nuestra revista.

La deconstrucción de las intermediaciones étnicas durante el liberalismo


hispano en el Perú (1810-14 y 1820-24)

Núria Sala i Vila


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El liberalismo hispano dio lugar en el virreinato del Perú a un proceso de deconstrucción de


las intermediaciones e instituciones étnicas. Los ayuntamientos constitucionales y la abolición
de los señoríos abrieron el camino hacia la abolición del cacicazgo y del cabildo indígena; entre
tanto la introducción del principio de ciudadanía e igualdad jurídica comporto el fin del
Protector de Naturales y la introducción del acto de conciliación previo a interponer cualquier
causa judicial y dirimido por los alcaldes constitucionales. Al mismo tiempo, en parte por las
acuciantes necesidades bélicas, se siguió recaudando el tributo, lo que devino en arma de
doble filo, por un lado contravenía el principio de igualdad y por otro reforzaba la presencia
de autoridades con competencias sólo sobre la población india. Por último la creación de las
milicias nacionales, comportó la liquidación de las de adscripción étnica lo que elimino la
capacidad de levas indias que había fortalecido, en parte, el papel de ciertos caciques en el
contexto de la insurgencia juntista y proindependentista en todo el sur del Perú y Charcas
desde la Junta Tuitiva de La Paz (1809), las campañas rioplateñas, la rebelión del Cusco y
altiplano aymara (1814- 16) y las guerras por la independencia (1821-24). El análisis se centra
tanto en los mecanismos y dinámicas de su aplicación, como en las respuestas indígenas
dentro de un contexto en el que guerra de independencia y revolución liberal se
retroalimentaron.

ST 03 | Andanzas territoriales indígenas en América Latina: trayectorias y


recomposiciones contemporáneas
Bastien Sepulveda (Université de Lille, Francia); Emerson Guerra (Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro – UFRRJ, Brasil); Roberta Arruzzo (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFFRJ, Brasil).

Este simposio propone contribuir, desde una perspectiva comparativa, a una mejor comprensión de
las realidades territoriales indígenas en América Latina. Mientras nuevos focos de conflicto se siguen
abriendo frente al incesante despliegue de las economías neoliberales, resulta de suma urgencia
repensar las realidades territoriales indígenas y entender mejor tanto las apuestas planteadas por el
reconocimiento del derecho indígena al territorio, como las recomposiciones territoriales
contemporáneas y las dinámicas que las sustentan. Desde las comunidades históricamente situadas
en espacios rurales hasta los centros urbanos donde reside una población indígena cada vez más

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numerosa, se buscará recorrer los múltiples lugares que articulan, configuran y dan sentido a estas
territorialidades. Así también, se explorarán los espacios materiales y/o simbólicos de conflicto,
dominación, resistencia y creatividad en juego a través de los actuales procesos de reconstrucción
territorial indígena. A través de trabajos procedentes de distintas regiones, variadas situaciones
territoriales y formulados desde diversos campos temáticos y teóricos, tanto de la geografía como de
disciplinas afines, se espera procurar un acercamiento y un diálogo fecundos en pos de un análisis
comparado al servicio de un mejor entendimiento de las geografías indígenas en América Latina.

Emergências indígenas e autonomias territoriais na Pan-Amazônia: um


panorama etnoterritorial

Fábio Márcio Alkmin

Identifica-se, desde o final da década de 1980, uma emergência étnica em grande parte dos países
latino-americanos. Tal fenômeno – cultural, econômico e sobretudo político – favoreceu o
(re)surgimento de diversas identidades indígenas que estavam até então subjugadas pela hegemonia
da identidade nacional, diga-se de passagem, forjada a duras penas pelos Estados nacionais ao longo
do século XIX e boa parte do XX. Se nas décadas anteriores a essa emergência os atores indígenas
amparavam suas demandas políticas na lógica da tutela e do indigenismo estatal, hoje seus discursos
reivindicatórios questionam a lógica da representatividade e disputam espaços nos mais variados
campos de poder. Entre as demandas dessas coletividades encontram-se termos como a
autodeterminação, o pluralismo jurídico e a autogestão territorial, processos que tendem a convergir
para a autonomia territorial como estratégia política de territorialização. Nesse sentido, percebe-se
que o debate autonomista vem paulatinamente se ampliando entre os movimentos indígenas latino-
americanos, não só no plano teórico, mas também como forma concreta de organização
socioterritorial. Em face ao avanço contínuo das frentes de expansão, dos projetos de infraestrutura e
exploração de recursos naturais, somado ao fracasso dos paradigmas indigenistas estatais no atual
contexto neoliberal, organizações indígenas na Pan-Amazônia começam também a se articular e
adotar a autonomia como estratégia política para a defesa de seus territórios e identidades. O trabalho
apresentado refere-se a um projeto de doutorado em fase inicial de pesquisa, onde buscamos
compreender o fenômeno contemporâneo das autonomias pan-amazônicas pela ótica da Geografia.
Nossa principal hipótese é de que tal fenômeno indica um remodelamento das relações espaciais de
poder entre os Estados-nação e as sociedades indígenas, relações até então pautadas pelo paradigma
do indigenismo estatal como mecanismo político mediador de conflitos. O projeto busca, assim,
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colaborar ao esforço teórico de outros campos do conhecimento atualmente implicados nessa


questão, como a Antropologia, a História e a Ciência Política.

Direitos territoriais indígenas na bacia do vale do Juruá/AC, Brasil: o caso dos


Kuntanawa
Tarik Argentim

Málika Simis Pilnik

O território tradicional Kuntanawa está localizado no município de Marechal Thaumaturgo,


no interior do estado do Acre, na Amazônia ocidental brasileira. O acesso ao referido território
– inserido em contexto de fronteira internacional com a República do Peru – ocorre
exclusivamente por via fluvial, através do rio Tejo, afluente da margem direita do alto rio
Juruá. A memória do histórico de ocupação remonta, em primeiro lugar, à expropriação no
período dos ciclos da borracha; e, posteriormente, à luta pela criação da Reserva Extrativista
do Alto Juruá – a primeira unidade de conservação de uso sustentável do mundo. O objetivo
deste trabalho foi compreender a reconfiguração territorial do povo indígena Kuntanawa.
Para tanto, valeu-se da observação participante e de entrevistas semiestruturadas. Nota-se
que, atualmente, devido às mudanças nos padrões de utilização dos recursos naturais dos
bens comunais – promovidas pelos próprios extrativistas, moradores não-indígenas da Resex
Alto Juruá – os Kuntanawa batalham pela demarcação da sua terra indígena, sobreposta à
unidade de conservação supracitada. Para tanto, reforçam espaços materiais e simbólicos de
resistência. Em especial, mediante processo de subjetivação do grupo pelo uso ritualístico da
medicina tradicional ayahuasca, estabelecem relação diferenciada com os outros seres
animais, vegetais e minerais. Nesse sentido, a ética o pensamento coletivo vai de encontro a
um refinado entendimento de segurança/soberania alimentar e autonomia territorial. O
discurso predominante é de respeito e conservação da biodiversidade e dos recursos naturais,
a fim de garantir o bem viver e a sustentabilidade das futuras gerações. Tendo em vista a
morosidade no procedimento administrativo de reconhecimento do direito às terras de
ocupação tradicional, o povo Kuntanawa se posiciona no sentido de proceder à
autodemarcação. Dessa forma, apontam que os direitos indígenas são inegociáveis.

O setor sucroenergético e os Guarani e Kaiowá no Brasil: um levantamento de


conflitos e relações territoriais

Roberta Carvalho Arruzzo

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As atividades ligadas ao agronegócio no Brasil cresceram fortemente nas últimas décadas. O


crescimento recente do setor sucroenergético, relacionado a tentativas de diversificação da
matriz energética brasileira, impulsionaram a produção de cana-de- açúcar em diversos
lugares incluído o estado de Mato Grosso do Sul. Neste estado brasileiro encontra-se, além de
um ambiente produtivo ligado ao agronegócio já bastante competitivo, um forte e histórico
quadro de conflito territorial envolvendo fazendeiros e os grupos étnicos Guarani e Kaiowá.
Entendemos que o avanço da cana- de-açúcar no estado se configura como um complicador
a mais numa situação territorial já bastante complexa. Propomos, assim, compreender as
relações territoriais entre o avanço da produção de cana-de-açúcar e do setor sucroenergético
no Mato Grosso do Sul e a grave situação territorial dos Guarani e Kaiowá, realizando um
levantamento sistemático das situações de conflitos envolvendo o grupo étnico e as usinas de
açúcas e alcool no estado. O espaço, tornado território pelas relações de poder que se
estabelecem (RAFFESTIN 1993, SACK, 1986), é o locus da simultaneidade e da diversidade de
sujeitos, agentes e ações presentes (SANTOS, 1996), e não deve ser ofuscado por um olhar
que seleciona o economicamente relevante, o produtivo, o macro (SOUSA SANTOS, 2002) e
ignora os efeitos de atividades econômicamente relevantes no cotidiano e futuro de povos
inteiros.

Caminhológicas: história das andanças indígenas pela Amazônia

Daniel Belik

Desde antes da colonização da América os grupos indígenas nunca estiveram isolados mas se
comunicavam e intercambiavam por caminhos que cortavam o continente e conectavam
povos que trocavam entre si (Levi-Strauss, 1952). Tais relações podem ser expressas por
visitas, furtos, raptos, combates, consultas a xamãs e até por casamentos intertribais. Hoje em
dia constituem umas poucas exceções os grupos indígenas sul-americanos que não
mantenham relações com segmentos das sociedades nacionais (Melatti, 1979: 24). Os relatos
históricos de viagem na Amazônia abundam em informações acerca dos lugares por onde se
passou, das dificuldades no trajeto e dos povos indígenas que tiveram contato. Nesses
caminhos, as expedições eram auxiliadas pelos próprios indígenas que serviam como práticos
que pilotavam as canoas, buscavam os valorosos produtos da terra, serviam como línguas e
intérpretes dos diversos grupos indígenas e até ajudavam no reconhecimento das expedições
demarcadoras de limites (Roller, 2012:110). De acordo com a sazonalidade amazônica, a
época seca é o período de maior fartura e movimento e quando se dão as festas nas
comunidades e visitas entre os familiares (Harris, 1998: 72). É nessa mesma época que os
acidentes naturais dos rios tais como pongos, cachoeiras, istmos e pedrais tinham de ser
varados por terra acionando uma rede de caminhos internos que os indígenas já possuíam
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para se comunicar nesses entroncamentos. Formavam-se conjuntos ou unidades temporárias


que se definiam pelo morar ou caminhar junto (Matos, 2017: 46). Essa ‘gente andante’ fugia
da colonização por esses caminhos, ao mesmo tempo que viajava neles para ir ao encontro de
outras famílias, mudava de maloca, visitava as roças ou mesmo se internava na floresta por
trilhas de caça e coleta de frutos silvestres. Essa apresentação, portanto, tem por foco mostrar
como a mobilidade indígena por esses caminhos guiou a colonização para além das margens
dos grandes rios e, em contrapartida, se valeu das redes de relação que já existiam entre esses
grupos étnicos (Gallois, 2005). Serão oferecidos exemplos históricos das andanças indígenas
tanto entre Andes e Terras Baixas e nas Guianas, como principalmente pela Amazônia: para o
alto Xingu, alto Tapajós, alto rio Negro, alto Solimões, Purus, Rondônia e para a fronteira entre
o Acre e o Peru.

Resistencia en Wallmapu: el turismo mapuche como agenciamiento político-


territorial

Eugenia Alicia Huisca Cheuquefilo

El asentamiento del modelo extractivista en Chile ha profundizado las prácticas neo-


colonialistas, sobreexplotando los recursos naturales que luego son dirigidas a las potencias
industrializadas que terminan dominando a las naciones proveedoras. Esta situación ha
fragmentado en distintos focos las luchas socio-ambientales a nivel nacional, que en
Wallmapu (territorio ancestral mapuche) se han perpetuado con las relaciones de violencia
en la disputa por el territorio histórico mapuche por parte del Estado y las empresas privadas.
En este sentido, la idea del “libre ejercicio de autodeterminación” de los pueblos indígenas,
en sus dimensiones política, sociales, económicas y territoriales, es una idea que desestabiliza
las relaciones de poder ejercida por los intereses hegemónicos que persiguen el control de los
recursos naturales. En este escenario, las capacidades de agenciamiento político de las
comunidades son reducidas a mínimos espacios de consulta, no vinculantes, o como agentes
pasivos de las acciones estatales sobre el territorio. Por su parte, la resistencia de las
comunidades mapuche ha tomado múltiples vías de agenciamiento político, como la
oposición a la instalación de proyectos ajenos a sus formas de vida, prácticas socio-culturales
y espirituales, y que contravienen negativamente, por sobre todo su estar en el territorio. Es
aquí donde los proyectos de turismo, desde el punto de vista mapuche, cobran especial
relevancia, ya que se plantea como una forma de gestión territorial de las comunidades, así
como una actividad que propicia formas de autonomía económica y que releva/revela formas
ontológicas desde el mapun kimün (conocimiento mapuche) en un proceso de reapropiación
patrimonial e identitaria para las luchas de resistencia político- territorial. Si bien el turismo

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mapuche actualmente, tiene una fuerte dependencia con las políticas públicas que persiguen
objetivos oficiales, dentro de esta compleja relación existen espacio de libertad que permite
utilizar la clave del turismo de forma estratégica para los procesos de resistencia político-
territorial, levantadas en un contexto de desigualdad donde la tierra y el territorio forma parte
del discurso central en la búsqueda de derechos culturales y políticos de los pueblos indígenas.

A saída do Brasil do Pacto Internacional de Migração face à migração forçada


de povos indígenas das regiões fronteiriças da América Latina

Matheus Athírson Rocha Correia

Sarah Dayanna Lacerda Martins Lima

A presente comunicação busca abordar o tema da migração, contribuindo para a


compreensão das recentes mudanças no cenário migratório mundial, com enfoque principal
na questão indígena, referente à saída ou deslocamento forçado de suas terras e dos fatores
que levam a esse fenômeno. Em virtude da crescente onda de violência, guerras e conflitos
oriundos da instabilidade sociopolítica em seus países de origem, os direitos humanos dos
povos indígenas ficam em segundo plano. O estudo procura analisar, também, o costume
nômade de determinados povos indígenas de países fronteiriços do Brasil baseado no
levantamento bibliográfico e documental, por meio de livros, artigos científicos, tratados
internacionais e sítios oficiais, como da ONU. A desistência do Brasil do Pacto Internacional de
Migração mancha a mundialmente reconhecida reputação brasileira de acolhimento
humanitário. Sem essa reciprocidade internacional, a tarefa de integrar e manter os direitos
dos migrantes torna-se uma incógnita e afasta ainda mais a possibilidade de concretização dos
direitos humanos indígenas.

A territorialidade dos Ka’apor da terra indígena Alto Turiaçu na Amazônia


Oriental: resistência indígena frente à exploração ilegal de madeira

Evilania Bento da Cunha

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O presente trabalho é resultado das pesquisas do programa de mestrado intitulado


Linguagens e Saberes na Amazônia desenvolvido na Universidade Federal do Pará. Contudo,
faremos um recorte sobre a temática da territorialidade Ka’apor, ou seja, o modo de vida e a
identidade que este povo estabelece no seu território. Os ka’apor vivem numa área de
aproximadamente 530.000 hectares, na Terra Indígena Alto Turiaçu, no estado do Maranhão,
na Amazônia Oriental. Ao abordar sobre as territorialidades indígenas no Brasil, veremos que
na segunda metade do século XX surgiram vários movimentos de afirmação e confirmação
étnica com políticas públicas específicas voltadas para essa população (Baniwa, 2012), como
a demarcação das Terras Indígenas. Os Ka’apor tiveram a demarcação de sua Terra no início
da década de 80 do século XX. Segundo Andrade (2009) em 1989, após a homologação da
Terra Indígena Alto Turiaçu, teve início uma nova fase de invasões às terras Ka’apor. Posseiros,
madeireiros e fazendeiros começam a desenvolver um longo processo de invasão e
desmatamento na área. Cerca de um terço das terras Ka'apor, principalmente ao longo de seu
limite oeste entre a área do igarapé do Milho e do igarapé Jararaca, vinham sendo desmatadas
e ocupadas por posseiros insuflados por grileiros, fazendeiros, madeireiros e políticos locais.
Naquele momento com apoio da FUNAI e de pesquisadores Como William Ballé ocorreu um
enfrentamento aos invasores com a criação de novas aldeias como Xié Pihun Renda, Parakuy
renda, e posteriormente, Turizinho na intenção de evitar a entrada de madeireiros naquela
região. Entretanto, os madeireiros buscaram outras áreas da T.I. Alto Turiaçu para exploração
ilegal de madeira, e mais uma vez a resistência indígena luta contra o desmatamento. A partir
de 2013 os Ka’apor se reorganizam para enfrentar os invasores, e dessa vez, sem apoio dos
órgãos estatais. A luta dos Ka’apor em defesa do território desagrada madeireiros há algum
tempo. Vários casos de violência já ocorreram, inclusive, o assassinato de Euzebio Ka’apor em
abril de 2015. Na ocasião, os indígenas reivindicam a proteção do território. Porém, como
exercer uma territorialidade, no caso Ka’apor, que se autodenominam como “moradores da
floresta” e tem a sua Terra invadida e desmatada? Esse colóquio busca apresentar a
territorialidade Ka’apor num cenário de exploração dos recursos naturais em vista dos meios
de produção que alimenta o grande Capital em detrimento da cultura autóctone Amazônida.

Espaço subjetivado e conflito territorial: o lugar da reza nas retomadas


Guarani e Kaiowa

Lívia Domiciano Cunha

Esta comunicação é parte do início de um trabalho de doutorado na Geografia. Aqui serão


traçados alguns rascunhos, ideias e hipóteses ainda em fase inicial de pesquisa, mas fruto da
vivência com os Guarani e Kaiowa em pesquisas anteriores. Inicia-se na década de 80 um

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processo que pode-se afirmar um momento de ruptura histórica para GK, isto é, quando estes
saem das Reservas e passam a reivindicar suas terras outrora despojadas pelo Estado na figura
do SPI. O presente trabalho busca compreender o que é o espaço subjetivado dos povos GK
movido através de rezadores no conflito territorial. Para isso, toma a reza nos processos de
retomada como um meio de apreender o que é esta espacialidade. A escolha dos sujeitos de
pesquisa trouxe à tona a necessidade de um método que melhor responda à questão. Diante
disto, os primeiros passos dessa pesquisa encaminham um debate de método dentro de seu
próprio campo de estudo, tendo nas rezas dos GK um caminho possível de apreensão da
geograficidade destes povos. As rezas desvelam um instrumental fundamental nos processos
de luta por seus territórios tradicionais. Junto a isso, é preciso antes considerar a situação
histórica a qual estão submetidos. Neste sentido, as retomadas são aqui consideradas um
dispositivo central para compreender a situação histórica atual na qual estes povos se
encontram, tal como o lugar que rezadores passam ocupar na luta por suas terras, mais que
isso, por seus tekoha. É neste conflito que outros seres são acionados através do m’baraka
batido e entoado no canto por rezadores. O estudo sobre povos indígenas na geografia se
revela incipiente em sua tradição enquanto objeto/sujeito de estudo, pensá-los na ciência
geográfica demanda também se abrir ao diálogo com outras disciplinas. É partindo deste
princípio que a antropologia (BARTH, 1989; PACHECO, 1998; THOMAZ DE ALMEIDA, 1991) tem
se apresentado uma base de apoio, tal como uma epistemologia decolonial trabalhada tanto
na sociologia (QUIJANO, 2005) como na própria geografia (PORTO GONÇALVES, 2003).
Enquanto hipótese, sob este espaço subjetivado dos GK comporta 2 (duas) dimensões
espaciais, uma em que cabe a materialidade espacial e seus atores e outra que transcende
esta materialidade mas que também move e é movida de modo intencional nos processos que
se dão na primeira dimensão. Estes atores acionados em uma dimensão espacial que
transcende a dimensão material seriam as divindades que para estes povos garantem a alegria
e a resistência nas retomadas. É necessário ainda considerar o atual crescimento das Igrejas
Neopentecostais no interior das Reservas Indígenas e de que modo isto se relaciona com
crenças relativas aos saberes mais tradicionais entre os GK.

Los sionas del Ecuador y la relación con su saiye bai airo (territorio): una
exploración sobre sus ensamblajes múltiples

María Fernanda Solórzano Granada

A partir del trabajo de campo realizado durante un año en las comunidades indígenas sionas,
ubicadas en la provincia de Sucumbíos de la Amazonía ecuatoriana; el presente escrito
evidencia las (re) significaciones sobre su territorio. Desde las historias de vida y prácticas

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actuales de los actores sionas, analizo el proceso colonizador en la región norte amazónica.
Estudio la presencia del Instituto Lingüístico de Verano (ILV) en los años cincuenta, las Leyes
de Colonización que propiciaron la apertura de industrias extractivas desde los años setenta,
la creación de sus comunidades actuales, y la actual negociación con la petrolera china Andes
Petroleum para la concesión de parte de su territorio. Recupero la categoría de ensamblajes
múltiples (Gerard Verschoor y Camilo Torres, 2016) como la diversidad de prácticas y
realidades donde los actores deben enfrentar dilemas de uso de recursos comunes, o su
integración al acceso de dinero y la resignificación de la cosmovisión local. Estas realidades se
entrelazan y chocan, se yuxtaponen e incorporan de manera explícita o no. Uno de los
ensamblajes analizados es entre airo (selva) y comunidad. En el airo se reproducen las
prácticas de caza, pesca y ceremonias, donde se exteriorizan los vínculos entre los humanos y
no humanos a través de la comunicación con los bai (espíritus), potenciados por
agenciamientos de sus plantas sagradas (yagé/ayahuasca). Mientras que la comunidad, es el
espacio para la materialización de sus necesidades como la siembra de productos alimenticios,
educación y servicios básicos. Los sionas viven su airo (selva) desde vínculos con los no
humanos, mientras habitan su comunidad desde las interrelaciones con colonos, funcionarios
públicos, empleados petroleros. Tanto la comunidad como el airo (selva), representan su siaye
bai airo (territorio ancestral en el idioma baicoca), el cual implica la materialidad, la memoria,
y los sentidos de reconocimiento de un espacio vivo donde convergen varios actores. En un
territorio constreñido por la expansión de industrias extractivas, me pregunto sobre la toma
de decisiones comunales y familiares, puesto que estas resoluciones forman sus mundos de
vida, e involucran la interiorización y, con frecuencia, reformulación de sus racionalidades en
relación con presiones externas.

Produção geográfica sobre povos indígenas no Brasil

Emerson Guerra

Esta pesquisa aborda a produção de trabalhos sobre povos indígenas no Brasil, desde a
geografia, a partir de uma situação de contato permanente destes com a sociedade nacional
em uma complexa trama sócio-espacial expressa em diversas territorialidades. A metodologia
consistiu no levantamento nos anais do Encontro Nacional de Geógrafos em um período de
uma década desse evento. Realizamos uma coleta de dados e leitura dos títulos disponíveis
dos artigos enviados aos congressos com pesquisas voltadas para o estudo de povos e
territórios indígenas, ou inseridas nesse contexto. Uma ficha para inserção de informações
gerais e conceituais dos artigos foi criada para sistematizar o trabalho. Após a leitura e

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fichamento dos títulos identificados e selecionados, organizamos os dados quantitativos para


gerar gráficos e fizemos uma análise qualitativa desse material. Concluímos que a literatura
produzida sobre povos indígenas no campo disciplinar da geografia tem aumentado nos
últimos anos. Encontramos um grande número de títulos que abordam as questões agrárias,
pois a maior parte dos conflitos territoriais relacionados aos povos indígenas se encontra no
campo. Ressaltamos ainda a produção de trabalhos com temas ligados à cartografia, educação
indígena, etnoturismo e segurança e soberania alimentar. Todavia constatamos que o número
de trabalhos dedicados à temática indígena em contexto urbano é pouco expressivo,
considerando que 1/3 da dessa população vive, atualmente, nas cidades.

A geografia da questão indígena no Rio Grande do Sul: os processos de


retomada e a territorialidade Mbyá-Guarani

Andrei Ferreira da Luz e Dilermando Cattaneo da Silveira

Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa intitulado 'A Geografia da questão indígena no
RS: da gestão territorial a uma geopolítica das epistemes, desenvolvido junto ao Campus
Litoral Norte da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e em conjunto com
pesquisadores/as dessa e de outras universidades do país. Para apresentar as considerações
sobre os processos de retomada vinculados à territorialidade mbyá- guarani, com o objetivo
de se (re)discutir o conceito de território/territorialidade e de conflitos de concepções/visões
de mundo (epistemes), fizemos num primeiro momento um levantamento dos processos de
retomada guarani no estado do Rio Grande do Sul. A partir desse levantamento, realizamos
um estudo voltado a dois casos mais específicos, que têm gerado intenso debate e
desdobramentos, inclusive conflituosos: a Retomada Mbyá-Guarani de Maquiné, que dá
origem a Tekoá Kaá-guy Porã; e a Retomada da Ponta do Arado, mais recente e ainda em
processo de consolidação. Baseados em pesquisa documental, em trabalhos de campo e em
alguns relatos de experiências, buscamos mostrar como se deram os processos de retomada
e está acontecendo a resistência nessas duas áreas. A Retomada Mbyá-Guarani de Maquiné
teve início em janeiro de 2017, em uma área pertencente à FEPAGRO (Fundação Estadual de
Pesquisa Agropecuária, órgão público que estava sendo extinto pelo governo do estado) no
município de Maquiné, região do Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Apesar de conturbado
no começo, o processo de retomada se consolidou e obteve importantes conquistas, como a
anulação do pedido de reintegração de posse por parte do governo estadual, a partir de
acordos de uso e ocupação da área, e a construção de uma escola autônoma (Escola Tekó
Jeapó) feita a partir de técnicas de bioconstrução envolvendo apoiadores em mutirões

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coletivos. A Retomada da Ponta do Arado, na antiga Fazenda do Arado Velho, em área que
margeia o Lago Guaíba no Bairro Belém Novo, zona sul de Porto Alegre, teve início em junho
de 2018 e apresenta situação de intenso conflito, uma vez que a área é reivindicada por uma
incorporadora imobiliária que pretende construir um condomínio de alto padrão no local. A
obra já teve um revés no seu processo de licenciamento, pois trata-se de área de preservação
permanente. No entanto, após a ocupação de parte do terreno pelos mbyá- guarani, os
seguranças da empresa têm promovido uma série de restrições, constrangimentos e ameaças
(inclusive de morte) aos indígenas e seus apoiadores. Como a área de mata (essencial para o
modo de vida guarani) faz parte da propriedade privada, cercas e sensores foram colocados
para impedir a passagem de membros da comunidade indígena, restringindo sua permanência
e circulação a uma ínfima porção de terras nas margens do lago. Cabe ressaltar que toda a
região da Ponta do Arado é reconhecida como um importante sítio arqueológico, com marcas
de ocupação guarani do período pré-colonial. Por fim, buscamos colocar a necessidade da
abordagem territorial desde um ponto de vista epistêmico e político, já que o território tem
uma importância central para a cosmologia guarani, e o exercício de seu modo de vida de
forma autônoma pressupõe territorialidades próprias. As retomadas sintetizam a noção de
que não se busca a propriedade, já que para os guarani a terra não pode ter um dono, mas
sim a luta por espaços de sobrevivência e de 'r-existência', conformando o grande território
guarani Yvirupá.

O contato descrito por Laklãnõ/Xokleng e os descendentes de Kaingang do


vale do rio Tibagi – PR, na Terra Indígena Laklãnõ, e as trocas de costumes e
saberes na vida Laklãnõ/Xokleng

Osiel Kuita Pate

Sou Osiel Kuita Pate da etnia Laklãnõ/Xokleng e da Terra Indígena Laklãnõ e este trabalho de
pesquisa traz a história da pacificação do meu povo Laklãnõ/Xokleng, que ocorreu entre o rio
Itajaí do Norte ou Hercílio e Ribeirão Plate, no Vale do Itajaí entre os municípios de José
Boiteux, Vitor Meireles, Itaiópolis e Doutor Pedrinho. Este encontro de pacificação ocorreu no
dia 22 de setembro de 1914 pelo sertanista Eduardo de Lima e Silva Hoerhan e um grupo de
família Kaingang trazido por ele do Vale do Tibagi, PR. Hoje, a maioria das famílias está
localizada na Terra Indígena Apucaraninha e outras na Terra Indígena São Jerônimo da Serra
e Barão de Antonina. Esta pesquisa já foi publicada por diversos pesquisadores que realizaram
pesquisas sobre este tema na Terra Indígena Laklãnõ, mas ainda não foi relatado o contato do
ponto vista dos descendentes de Kaingang do Vale do Tibagi – PR. Ao chegarem na Terra
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Indígena Laklãnõ, os Kaingang realizaram trocas de costumes e saberes com o povo


Laklãnõ/Xokleng. Trarei levantamento da genealogia de pessoas que descendem de kaingang,
do grupo que veio para ajudar no trabalho de contato. Apesar do tema proposto por mim,
também irei abordar, em meio ao trabalho, duas pessoas da etnia Guarani que também
fizeram parte do contato Laklãnõ/Xokleng. Um dos guarani era casado com uma mulher
kaingang que participou do contato. A genealogia está sendo feita desde as primeiras pessoas
que chegaram na TI Laklãnõ até os dias atuais. Entrarão em foco os territórios tradicionais da
etnia Kaingang participante do contato e os territórios Xokleng antes do contato, para fazer a
ligação entre os parentescos existentes na TI Laklãnõ e na TI existente no Vale do Tibagi, além
de trazer alguns pontos de como ocorreu o contato Laklãnõ/Xokleng, de acordo com as
culturas tradicionais de cada um.

O movimento indígena contemporâneo

Gilberto Vieira dos Santos

Esta comunicação, que nasce de nossa pesquisa de mestrado, busca destacar o histórico das
lutas engendradas pelos povos indígenas no Brasil e os contextos que levaram a constituição
de lutas conjuntas que engendram o Movimento Indígena. Compreendida por alguns autores
como parte de movimentos socioterritoriais, este Movimento possui uma
multidimensionalidade, assim como suas lutas, com características que os diferenciam de
outros movimentos e de outras lutas por terra ou território. A própria compreensão de
território destes povos está distante da compreensão comum de outros movimentos em luta
no campo brasileiro. As pesquisas da ciência geográfica, que já há alguns anos se debruça
sobre a realidade agrária no Brasil, ainda tem pela frente o desafio de aprofundar a reflexão
sobre os conflitos neste contexto e o papel desempenhado pelos povos indígenas. Buscamos
com este artigo, sinalizar para alguns rumos possíveis.

Territórios e resistências: os Guarani e Kaiowá e as ressignificações da terra

Liziane Neves dos Santos

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Os Guarani são um grupo étnico que atualmente se encontra vivendo em partes dos países
Paraguai, Brasil, Bolívia e Argentina. Os Guarani se subdividem em 3 subgrupos: Mbya, Kaiowá
e Ñandeva (que também podem ser chamados de Ava Guarani) e que se diferenciam através
de algumas práticas culturais e linguísticas. Parte de sua população está presente no Brasil,
distribuídos entre as regiões sudeste, sul, norte e centro-oeste. A maior população de Guarani
no Brasil se concentra no estado de Mato Grosso do Sul, sendo pertencentes aos subgrupos
Kaiowá e Ñandeva, que é a população que enfocamos e que adotamos como denominação
Guarani e Kaiowá. No estado do Mato Grosso do Sul, os Guarani e Kaiowá enfrentam um
intenso conflito territorial com diversos grupos sociais, em especial os produtores rurais. Este
conflito, como veremos, está relacionado sobretudo ao grande esforço político e territorial
deste povo para tentar reconquistar seus territórios tradicionais. Os territórios tradicionais
dos Guarani e Kaiowa se concentram na região sul do estado. O que aqui estamos chamamos
de territórios tradicionais são as áreas que os Guarani e Kaiowá tradicionalmente ocupavam
e que sofreram uma sequência de ações que contribuíram para sua sistemática expropriação
desde fins do século XIX e ao longo de todo o século XX. De acordo com Barbosa e Mura (2011)
o processo de expropriação foi resultado de três situações, sendo elas: a Guerra da Tríplice
Aliança, conhecida como Guerra do Paraguai (1864- 1870) com a criação de aldeamentos;
posteriormente a instalação da Companhia Mate Laranjeiras (1822-1944) houve a remoção
das famílias para a extração dos ervais nativos; E, por fim, a criação das reservas indígenas e a
instalação de colonos agrícolas, tendo como consequência o confinamento dos indígenas para
a concessão de terras. A dinâmica de ocupação territorial dos guarani foi modificada após as
ações sistemáticas de remoção, fazendo com que os sentidos dados a terra fossem
ressignificados. Pois além da percepção cultural, da terra como participante da construção do
ser enquanto Guarani e Kaiowá, a terra passou a ser capitalizada agregada não apenas o valor
simbólico, mas também o monetário, principalmente com a expansão da agricultura no início
dos anos 2000. Após esses processos as comunidades Guarani e Kaiowá se reorganizaram
espacialmente, ocupando atualmente áreas urbanas e rurais em quase todos os municípios
do sul do estado (CHAMORRO, 2015). Porém, parte dessa reorganização foi um movimento
forçado do processo de expropriação, como a Reserva Indígena de Dourados, por exemplo,
que se encontra em contexto urbano devido ao avanço da cidade em direção a reserva. A
presença desses indígenas na reserva é devido a uma tentativa de confinamento para
concessão de terras. As remoções desses indígenas não foram de modo algum aceitas sem
ações de resistência, tendo processos de demarcação de terras em andamento, a construção
de uma rede de apoiadores (através de ONGs, universidades e outros) e movimentos de
ocupação de suas terras tradicionais para acelerar o processo de demarcação. A reivindicação
para as demarcações de terra atualmente corresponde somente aos tekoha, área ao qual a
família extensa ocupa, não considerando o tekoha guasu, em que corresponde a extensão
quanto a localização dos tekoha, muito menos o tetã, a grande área ocupada pelos falantes
de guarani, que podemos considerar como a área que correspondem aos países com povos
falantes de guarani na América Latina. A extensão de reivindicação de demarcação

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corresponde a 2% de área total do estado, ainda sim é comum o uso do discurso de “muita
terra para pouco índio” a respeito das demarcações no estado, em que os produtores rurais
afirmam que as demarcações terão reflexo negativo na produção e desenvolvimento
econômico do estado. Diante dessas ressignificações promovidas por ações atreladas a
interesses econômicos no estado, temos por objetivo compreender como se deram os
processos de expropriação e reorganização espacial dos Guarani e Kaiowá utilizando
categorias nativas para analisar a noção espacial dos indígenas. As categorias nativas tekoha
guasu, tekoha e tetã são categorias que se apresentam relacionadas diretamente com o olhar
dos guarani sobre o espaço, e dentre aos conceitos da geografia o que mais dialoga com essas
categorias é o conceito de território. Para o andamento da presente pesquisa, temos como
abordagem metodológica o levantamento bibliográfico para análise das considerações a
respeito dos conceitos nativos, assim como as questões levantadas sobre esta temática. Além
disso, através de relatórios construídos para identificação de Terras Indígenas realizados pela
FUNAI observaremos as considerações sob a perspectiva em relação ao território dos Guarani
e Kaiowá.

Territórios, fronteras y migraciones de pueblos indígenas en el este


sudamericano: subsidio cartográfico a la geografía de los refugios
bioculturales

Rodrigo Martins dos Santos

La ponencia presenta los resultados parciales de nuestra investigación de doctorado que


busca analizar el proceso de desterritorialización de pueblos indígenas y territorialización de
pueblos invasores o diasporados provenientes de Europa y de África, así como el surgimiento
de nuevas etnias mesticas. En esta etapa preliminar de la investigación se presentarán los
productos cartográficos que servirán de base para los análisis territoriales. En este sentido, a
partir de informaciones ya compiladas en nuestra investigación de maestría (que serán
presentadas en póster en el Seminario Tematico 26 "Leyendo la 'tierra adentro': archivos
coloniales, categorías de clasificación y estrategias etnohistóricas para las zonas de frontera"
del III CIPAL 2019 bajo el titulo: "Diáspora y migraciones de grupos indígenas de Brasil Central
- de 1700 a 1900 AD"), procuraremos discutir los avances analíticos de estos datos
comparando con nuevas informaciones compiladas sobre la porción este de Sudamerica. El
propósito final de la investigación será identificar si hay una relación entre la localización y
distribución de comunidades indígenas/tradicionales y las islas de biodiversidad esparcidas
por el área de estudio. La base teórico-metodológica es la geografía histórica de Reclus, la
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antropogeografía de Ratzel, el espacio diferencial de Lacoste y la geografía del poder de


Raffestin. Con el apoyo de la teoría de los reductos y refugios de Ab'Saber y el concepto de
isla biocultural de Clark.

La ciudad: un espacio clave en las geografías indígenas contemporáneas. El


caso mapuche en Chile

Bastien Sepulveda

Lugar de (re)producción del poder colonial, la ciudad ha encarnado históricamente una forma
de exclusión tanto material como simbólica para los pueblos indígenas en América Latina. Sin
embargo, ello no ha impedido que el espacio urbano fuera practicado y apropiado de diversas
maneras por aquellos migrantes que allí se asentaron. Se asistió desde entonces a un proceso
de territorialización indígena en el medio urbano que, pese a su antigüedad e importancia,
sólo empezara a ser atendido por las políticas públicas en el transcurso de la última década.
Esta ponencia propone examinar esta realidad, en la perspectiva de lo que podría
conceptualizarse como el “derecho indígena a la ciudad”, el cual se fundamenta en el
reconocimiento del proceso histórico de invisibilización de los indígenas en el espacio urbano
y de las diferentes formas de exclusión, injusticia y desigualdades que los puede afectar. Se
presentan, para tal efecto, los resultados de un proyecto de investigación que buscó analizar
la producción de geografías indígenas urbanas mediante la formación de espacios mapuches
en el área metropolitano de Concepción, en el centro de Chile. En suma, la reflexión propuesta
es una invitación, no solamente a re-pensar lo indígena (y las geografías indígenas) desde la
ciudad en América Latina, sino también a re-pensar la ciudad latinoamericana desde lo
indígena.

Pelos Caminhos do Opará: a importância do rio São Francisco para a luta dos
povos indígenas no Sertão de Pernambuco

Beatriz Barbosa da Silva

Claudio Ubiratan Gonçalves

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Na história dos povos indígenas do Nordeste, o rio São Francisco aparece como um canal de
comunicação (e também de fuga), uma rede que interliga os diversos povos da região,
possibilitando o contato e a troca de saberes. Este artigo tem como objetivo trazer para
discussão a importância do rio São Francisco na construção do movimento indígena no Sertão
de Pernambuco e na luta em defesa de seus territórios e modos de vida. As histórias dos povos
indígenas foram entrelaçadas e construídas pelo rio. O rio une essas comunidades; além de
fornecer o alimento, a vida e seus espaços espirituais, constitui-se como um elemento central
na luta dos povos originários que interagem com ele. As viagens ao longo do São Francisco,
com o objetivo de se comunicar com outras comunidades, ou em direção ao Rio de Janeiro
para reivindicar seus direitos, foram de suma importância para a organização e o
reconhecimento desses povos enquanto indígenas e na conquista de seus territórios. O rio
acolhe e representa o meio de partilha, de diálogo entre as comunidades, ao mesmo tempo,
também se apresenta como uma rota de fuga. O intenso processo de violência e de conflitos
que os povos são submetidos por conta do interesse do capital na região, faz com que muitos
grupos migrem para outros territórios em busca de melhores condições de vida. Os Xokó, povo
indígena localizado na Ilha de São Pedro, no estado de Sergipe, ao serem expulsos de seus
territórios e escravizados pelos fazendeiros da região, tiveram boa parte de seu povo fugindo
para outros locais, um desses grupos uniu-se aos Kariri, localizados no estado de Alagoas,
formando os Kariri-Xokó. Assim, as viagens feitas ao longo do rio, apresentam-se como uma
possibilidade, de interagir com outras comunidades, de buscar melhores condições de vida,
de lutar por seus direitos. A violência não se restringe ao plano material, mas prolonga-se na
imaterialidade, no significado dos espaços para as comunidades. Os Pankararu, povo indígena
localizado no município de Tacaratu, Sertão de Pernambuco, tiveram uma parte de seus
cemitérios inundados por conta das modificações ocorridas no rio São Francisco após a
construção das barragens. Neste contexto, o que sobrevive são as memórias, as histórias
compartilhadas oralmente, que percorrem todo o São Francisco e são transmitidas para
outros povos, servindo de estímulo na luta em defesa de seus territórios e modos de vida.

Trilhas dos imaginários sobre os povos indígenas e demografia


antiautoritária: um experimento de antropologia anarquista

Carolina Ramos Sobreiro

Esta é uma tentativa de realizar um experimento de antropologia anarquista, juntamente ao


Mẽbêngôkre (Kayapó). Percorre-se um caminho que relaciona as imagens construídas sobre
os povos indígenas, suas classificações e articulações com os poderes e suas respectivas
instituições desde os primeiros contatos da conquista. Logo vem uma reflexão sobre os
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desdobramentos dessas imagens e articulações na transformação das instituições políticas,


na história, no espaço e no território. De uma imagem inicialmente pejorativa, os Mẽbêngôkre
vão se elevando gradualmente, graças a diversos motivos, um deles é a revelação de seu
grandioso passado arqueológico, que envolve, entre outros aspectos, cerâmica antiquíssima
e enormes aldeias circulares que acolheram grandes populações. Demonstra-se também a
complexidade e a profundidade de um conhecimento indígena que tem categorias científicas
próprias, a respeito dos seres vivos, o espaço, os biomas. O “nomadismo” deixa de ser visto
como uma caminhada sem rumo, para tornar-se um modo privilegiado de vida, transformação
e construção de relações sociais e com o espaço. É através dele que se desenvolve habilidades
e o construir é desenhar paisagens fartas por meio do movimento pelo território e fases mais
estáveis nas aldeias. O anarquismo colabora com a reflexão antropológica ao desnaturalizar
as hierarquias de poder, a partir de uma problematização na categorização dos humanos sob
os paradigmas evolutivos e seus marcos: paleolíticos/neolíticos, e se desmancham e perdem
sentido também da singularidade dos Mẽbêngôkre, cuja espacialidade e ecologia política,
caminha entre fusões e cisões comunitárias, um tipo de levante que resulta na multiplicação
de aldeias no espaço que se distribui como constelações estelares, por meio de uma
demografia antiautoritária: que dilui e explode centros de poder muito densos para criar
novas unidades políticas independentes, movimentos que se dirigem à grandiosidade de seu
protagonismo cosmopolítico.

Tabas, roças e lugares de encanto: remoções e reconstruções Anacé em


Caucaia, Ceará

Rute Morais Souza

O trabalho propõe realizar uma análise sobre os impactos causados com a chegada de
indústrias no território indígena Anacé, aldeia Matões, localizado na cidade de Caucaia, região
metropolitana de Fortaleza. Historicamente, desde o período colonial, grandes projetos de
desenvolvimento atingem mais diretamente os povos indígenas, permeados pela visão
predominante de que estes povos impedem o desenvolvimento. Belo Monte, Complexo de
hidrelétricas no Tapajós, mineração, construção de portos, estradas e ferrovias ameaçam
modos de vida que se contrapõem à exploração do capital. Pretendemos discutir e analisar a
presença do povo indígena Anacé em uma região de forte urbanização e os projetos de
desenvolvimento que o atingiu ao longo de mais de duas décadas, provocando dispersões e
inacessibilidade a recursos naturais, pesca, agricultura e extrativismo nas matas. Para tanto,
daremos um enfoque direto em dois processos de remoção sofridos pelo povo Anacé: 1.
Desapropriação, nos anos 1990, de parte da população Anacé em função da construção do
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Complexo Industrial e Portuário de Pecém; 2. Remoção, em 2018, da quase totalidade das


famílias para uma “reserva” construída pelo Governo do Estado do Ceará, em função da
ampliação do complexo siderúrgico no que havia restado do território tradicional Anacé. Será
importante igualmente destacar a resistência de algumas famílias em deixar suas terras nos
dois processos, pautada pelo apelo à memória, e o sentimento de pertencimento ao lugar.

Conflictos territoriales e interétnicos en Buenos Aires, Costa Rica: aportes


interdisciplinarios para su resolución

Alejandra Boza Villareal

Roberto Castillo Vásquez,

Luis Mariano Sáenz Vega,

Ali García Segura,

Xinia Zúñiga Muñoz,

Maria Paula Berrantes,

Marcos Guevara Berger,

Denia Román Solano

Si bien los conflictos territoriales e interétnicos atraviesan la realidad latinoamericana en casi


toda su extensión, revisten en cada caso particularidades únicas difíciles de cernir y que
ameritan investigaciones también particulares. Esta ponencia presenta los avances parciales
de un proyecto de investigación interdisciplinar, que se propone el estudio de las
territorialidades indígenas, aplicando investigación y acción participativa al caso de Salitre y
otras localidades del Pacífico sur de Costa Rica. Desde el año 2010 se ha incrementado la
violencia interétnica en la comunidad indígena de Salitre y en otras del cantón de Buenos
Aires, a raíz de crecientes reclamos de estas comunidades por consolidar sus derechos
territoriales, por definir el espacio geográfico en que habitan como exclusivamente indígena,
así como por gestar acciones de recuperación “de hecho” sobre sus tierras que han sido
ilícitamente poseídas por personas no indígenas. Estas manifestaciones de violencia han
generado una gran preocupación, tanto en los habitantes indígenas de esos territorios, que se
sienten amenazados, como por parte de organismos estatales e internacionales que no han
encontrado formas legales o administrativas efectivas para resolver los problemas
territoriales y fomentar una mayor tolerancia entre sectores de población culturalmente

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diferenciados y confrontados. El proyecto consiste en la generación de información clave para


la elaboración de propuestas que contribuyan a lo que hemos denominado como negociación
social, una apuesta conceptual y política que se inspira en la resolución alternativa de
conflictos, pero que adopta la historicidad del conflicto, las dinámicas socio-ambientales y las
acciones nativas como recursos validos para resarcir derechos territoriales y mejorar la
convivencia interétnica en Salitre y otras comunidades indígenas de Buenos Aires. Para ello
contamos con la participación de académicos de Geografía, Historia, Sociología, Trabajo
Social, Ingeniería Topográfica, Derecho, Lingüística y Antropología. Específicamente en esta
ponencia nos proponemos exponer tres aspectos: i) la problemática regional, ii) los procesos
de gestión comunitaria, institucional y política del proyecto, y iii) los principales avances
interdisciplinares.

ST 04 | Arqueologia – Etnografia – Patrimonio: articulaciones, disputas y


agenciamentos para la construcción de patrimonios interculturales con los
pueblos indígenas
Walmir Pereira (Escola de Humanidades, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil); Victor Falcon
Huayta (Universidad Nacional Mayor de San Marcos, Perú); Stella Maris Garcia (Laboratorio de
Investigaciones en Antropología Social, Facultad de Ciencias Naturales y Museo, Universidad Nacional
de La Plata, Argentina).

Este simposio propone abrir un espacio para dialogar y reflexionar sobre la posibilidad de
articular la Arqueología y la Etnografía con el campo sociocultural y político del patrimonio
cultural material/tangible a propósito de los estudios sobre Patrimonio. Tomamos como
punto de partida la cuestión de la “materialidad” de las producciones humanas que nos lleva
a subrayar el rol de las disciplinas científicas aludidas. Por un lado, el aporte de los contextos
arqueológicos relevantes para la consideración y re- evaluación de sitios o complejos de
edificaciones que, incluso, pueden ostentar representaciones de diversa naturaleza que, sin
embargo, son re-interpretadas en una virtual puesta en valor en función del turismo y sus
expectativas. Por otro, la certidumbre de que la perspectiva etnográfica habilita canales de
comunicación e intercambio con los pueblos y colectividades indígenas referentes a esos
“objetos materiales” que explican y/o admiten apropiaciones, rechazos, valoraciones y
prioridades de lo que puede o no ser convertido en bien patrimonial y, eventualmente, ser

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tratado desde la gestión cultural. Fundamenta nuestra inquietud la necesidad de encontrar


otros caminos que posibiliten la deconstrucción colonial de patrones de interpretación de la
vida social de grupos humanos cuyos saberes ancestrales fueron sistemáticamente
invisibilizados pero sus producciones materiales reificadas en las vitrinas de los museos o los
monumentos puestos en valor. Esperamos recibir trabajos que den cuenta de experiencias de
investigación localizadas, que problematicen aspectos teórico-metodológicos ligadas a la
articulación disciplinar propuesta y/o apunten a desentrañar las tensiones emergentes ante
la factibilidad de construir patrimonios interculturales en la compleja sociedad
contemporánea.

Arqueologia e Etnohistória da Ilha de Upaon Açu (São Luís - MA):


materialidades, espacialidades e temporalidades sobre a presença indígena
em uma cidade colonial, patrimônio cultural da humanidade

Arkley Marques Bandeira

A Ilha de Upaon Açu, atualmente, Ilha de São Luís, no Estado do Maranhão vem sendo objeto
de investigações arqueológicas que atestam a presença humana desde tempos ancestrais.
Cronologias construídas ao longo de quase 15 anos, baseadas em mais de 100 datações
obtidas em uma dezena de sítios arqueológicos comprovam que os primeiros ocupantes
chegaram as planícies costeiras no Golfão Maranhense, em torno de 7 mil anos do presente.
Esta longa trajetória histórica foi partilhada por pelo menos 6 grupos socioculturais distintos,
como os povos sambaquieiros, que construíram os conheiros; povos agricultores ceramistas
com a agricultura em formação, grandes assentamentos agrícolas em sítios de terra preta,
finalizando a longa sequência cultural com os povos Tupinambá, que tiveram contato direto
com as levas coloniais europeias, entre os séculos XVI e XVII, e ocuparam 27 aldeias apenas
na Ilha de Upaon Açu. A partir deste período, farta documentação histórica permite construir
interpretações etnohistóricas sobre o modo de vida indígena, com base nos distintos discursos
coloniais, como as crônicas dos religiosos franceses, documentos da reconquista portuguesa
e relatórios administrativos dos primeiros governadores. Esta multiplicidade de fontes será a
base para refletir o potencial da pesquisa interdisciplinar, aglutinando os métodos da
arqueologia, etnografia e etnohistória sobre os povos indígenas desta região, sob a
perspectiva da materialidade, espacialidade e temporalidade. Tangenciado a narrativa, será
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feita uma análise crítica relacionada aos apagamentos institucionais sobre a presença indígena
na história do Maranhão, particularmente nos discursos oficiais, na gestão cultural e nas
políticas publicas patrimoniais construídas nos últimos 40 anos para ressaltar São Luís como
uma típica cidade colonial portuguesa, no âmbito da obtenção do seu título de Patrimônio
Cultural da Humanidade, concedido pela UNESCO, em 06 de dezembro de 1997. Neste
contexto o foco nos aspectos arquitetônicos das edificações coloniais construídas sobre as
principais aldeias indígenas Tupinambá ou no discurso de uma fundação francesa ou ibérica
vem ignorando o legado indígena nas políticas de patrimonialização, em detrimento de um
suposto passado que se inaugura com a chegada dos europeus.

Dos fragmentos do passado as identidades no presente

Marcus Vinícius Beber

A Arqueologia Brasileira nesse início de Século XXI tem cada vez mais contribuído para o
conhecimento das populações que aqui viviam antes da chegada dos colonizadores europeus
no século XVI. Nesse sentido, os resultados das pesquisas arqueológicas têm servido de
suporte para fundamentar demandas de reconhecimento de terras indígenas e quilombolas,
bem como vem fornecendo substrato para uma descrição mais detalhada destas sociedades
no passado, tanto em nível de Brasil como de América Latina. Nesse sentido, a interface entre
Arqueologia e Etnologia, tem sido fundamental para compreender melhor as estratégias
adaptativas e os diferentes significados dos conjuntos materiais resgatados em contextos
arqueológicos. Assim, articular dados históricos e etnográficos dos grupos Kaingang no Sul do
Brasil com o resultado de pesquisas arquelógicas no mesmo espaço geográfico, permitiu
leituras sobre o significado material e simbólico das Estruturas com piso rebaixado, também
conhecidas como Casas Subterrâneas, percebendo sua historicidade no perido pré-colonial,
identificada a partir da arqueologia, cotejada com os dados das populações descritas na etno-
história permitiram uma nova compreensão história.

Por uma Arqueologia para todos: experiências de arqueologia colaborativa


com a comunidade indígena e tradicional no município de Aveiro – Pará,
Baixo Tapajós

Ádrea Gizelle Morais Costa Besen


Waldely Rodrigues Fernandes

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Este trabalho trata se de uma pesquisa realizada em parceria com indígenas Mundurukus e
populações tradicionais na região de Aveiro, estado do Pará, com o objetivo de identificar o
potencial arqueológico da região, além de procurar compreender como se dá a relação de
memoria, interpretação e apropriação do passado presente no registro arqueológico muitas
vezes encontrado nas margens dos rios e próximos aos locais de moradia da comunidade local.
Durante as pesquisas foram realizadas visitas as residências das famílias que apresentavam
com orgulho suas coleções. Essa relação de materialidade e imaterialidade contribui para o
arqueólogo melhor compreender a cultura local e os contextos envolvidos para a formação
da memória de pertencimento destas populações e suas pequenas coleções. Assim, este
trabalho que está vinculado ao projeto de pesquisa “A ocupação (pré) colonial no município
de Aveiro – Pará, baixo tapajós”, possui como foco a construção do conhecimento e novas
interpretações sobre o passado através da relação pesquisador x comunidade.

A libertação do sagrado e a vida: a construção social dos museus pelos povos


indígenas

Josué Carvalho
Kércia Priscilla Figueiredo Peixoto

A comunicação reflete sobre o entendimento dos povos indígenas do Sul da Mata Atlântica
sobre o lugar do sagrado, combatendo a ideia de que objetos significativos para eles devam
estar guardados e expostos em museus. Além disso, empreendemos uma análise do que é
considerado sagrado para esses povos e de como esses elementos, que se referem a objetos
e rituais, devam ser salvaguardados. Em contraposição aos museus tradicionais, os indígenas
têm o entendimento de que museu ultrapassa os limites de uma estrutura arquitetônica,
ampliando-o para o ambiente onde eles tecem suas vidas e as dos seus objetos identitários.
Assim consideram relevantes suas próprias vivências, a relação com o território e com tudo o
que o compõe, Território aqui compreendido como lugar de pertencimento. A partir de
conversas com os “velhos e velhas indígenas”, guardiões e guardiãs da sabedoria e da
memória, procuramos entender como os indígenas reconfiguram o sentido de museu
tradicional e constroem seus museus a partir do seu próprio entendimento. Outro aspecto
que analisamos se refere ao tempo de criação e existência de um museu indígena. Procuramos
refletir em que momento se dá a concepção de um museu indígena, quando ele de fato
começa a existir e a ser compartilhado pelos membros da comunidade. Pensamos também
sobre a condição de sua permanência: o que o mantém vivo? A construção do espaço físico
e/ou a memória transmitida através da oralidade? Enfim, trazemos a reflexão de como os
museus refletem o “lugar sentido”, dentro das percepções de lugares dedicados aos rituais
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e/ou que marcam no chão a trajetória do povo como espaços de memórias, e o “sentido do
lugar” como identidade do povo alicerçada na terra a qual pertencem. Para os indígenas a
ideia de museu parece não se restringir ao espaço físico: o supera à medida em que ampliam
o conceito para o território vivido.

Territorios espirituales en disputa: las reivindicaciones indígenas de los


rituales actuales en el sitio arqueológico El Shincal de Quimivil

Marco Antonio Giovannetti

Iván Fasciglione

En el centro de la provincia de Catamarca, Argentina, se ubica un sitio arqueológico construido


por los inkas en el siglo XIV de la era. Se trata de un centro ceremonial, posiblemente uno de
los más importantes de la antigua región Qollasuyu. En el año 1992 fue declarado Sitio
Histórico nacional, restaurado parcialmente algunos de sus edificios y abierto al turismo.
Luego de esto fue constituyéndose paulatinamente como un lugar referente de la presencia
inkaica en Argentina recibiendo interés de parte de diferentes instituciones públicas y privadas
para su puesta en valor y publicidad. Al mismo tiempo que diferentes instituciones estatales
ponían interés en el mismo, otros actores vinculados a una reivindicación indigenista
comenzaban a realizar diferentes ceremonias para fechas relacionadas con el antiguo
calendario ritual inka, como por ejemplo el inti Raymi en el solsitio de junio, o el Qhapaq Raimi
en su homólogo de diciembre. La creciente popularidad del sitio y el mayor flujo de turistas,
sumado a las reformas del año 2015 del museo de sitio y la organización de las visitas a través
de un cuerpo de guías locales, coinciden con mayores controles por parte de las autoridades
locales. Esto ha provocado tensiones con los grupos indigenistas que realizaban las
ceremonias desde los últimos 15 años. El problema se torna complejo dado que dirigentes de
las agrupaciones indígenas involucradas no poseen residencia local sino que viven en la
provincia de Buenos Aires. Esto se inscribe dentro de un juego dicotómico de sentidos donde
una mirada local catamarqueña confronta con aquella proveniente de otras regiones.
Queremos exponer en esta presentación desde el enfoque de la arqueología etnográfica las
percepciones de aquellos actores que ven en el sitio arqueológico, no sólo ruinas antiguas,
sino un espacio sagrado donde revitalizar ceremonias neoindígenas que, bajo un discurso de
ancestralidad mística, legitiman una posición dentro de las nuevas prácticas en el sitio. Es
posible reconocer una construcción a la manera de territorios de la espiritualidad que entran
en tensiones al momento de disputar los espacios y momentos rituales. Se presentarán los

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resultados de los análisis de entrevistas de carácter cualitativo realizados sobre diferentes


referentes de las ceremonias actuales.

Lo Etnopatrimonial: una visión desde la Comunidad Altoandina de San


Cristóbal de Rapaz

Victor Falcón Huayta

A fines del s XX en Francia, Inglaterra, España –entre otros países europeos– aparece la
Gestión Cultural como una especialización para poner el patrimonio en el mercado del turismo
y así dinamizar las economías, tanto nacionales como locales. ¿En qué momento se tomó en
consideración el parecer indígena o tradicional cuya producción material – actual o ancestral–
era tratada por esta iniciativa europea? Se propone el concepto de “etnopatrimonio” como la
valoración que hacen las comunidades indígenas de su producción material enmarcadas en
sus prácticas y costumbres, las cuales están vinculadas a sus tiempos (ciclos) y manera de
producir su sustento y reproducción social. Esta perspectiva resultaría crucial para diseñar
planes y proyectos de gestión cultural con las comunidades indígenas. En esa línea, el ponente
hará una reflexión a partir de su experiencia de investigación en la comunidad de San Cristóbal
de Rapaz, ubicada en la zona altoandina de la región Lima (Perú). Asimismo, apela a un caso
aportado por la etnohistoria sobre lo que era el famoso Santuario-Oráculo de Pachacamac, un
gran sitio arqueológico ubicado sobre el litoral del Océano Pacífico.

Articular patrimonialización, sitios arqueológicos, registros etnográficos en la


formación profesional del antropólogo: Desafíos pedagógicos a partir de una
experiencia de viaje de campaña

Carolina Maidana e Luciano Prates

La problemática del patrimonio en los últimos años se considera en función de su valor


simbólico, como expresión de la identidad y como lo que cada grupo humano selecciona de
su tradición. Se requiere que exista una apropiación simbólica del mismo por parte de los
agentes sociales inmediatos que generan y cuidan los bienes a ser patrimonializados. En esta

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línea nos preguntamos, como docentes de cátedras de Arqueología y Antropología Social,


cuáles son los desafíos que enfrentamos al momento de formar profesionales antropólogos
que comprendan y actúen en consonancia con el resguardo de los sitios arqueológicos y
aseguren estrategias de anclajes socio-históricos con los mismos por parte de las poblaciones
locales y regionales. Un viaje de campaña al Valle Medio del Rio Negro (Argentina) en el curso
lectivo 2016, realizado de forma conjunta entre la cátedra Arqueología Americana I y
Antropología Sociocultural I de la Facultad de Ciencias Naturales y Museo de la Universidad
Nacional de la Plata, Argentina, nos posibilita abrir un abanico de consideraciones que se
ponen en juego cuando pretendemos articular Patrimonio/ Arqueología/ Etnografía en un
proceso de enseñanza – aprendizaje de la Antropología como disciplina. Algunas de esas
consideraciones refieren a los obstáculos epistemológicos/ideológicos ante la negación de la
presencia de pueblos indígenas en la región; a los desafíos teórico - metodológicos de las
propias sub-disciplinas (Arqueología-Etnografía), a las consideraciones de los agentes
involucrados y a las limitaciones que surgen por la manipulación de agentes gubernamentales
en el medio ambiente, entre otras. Cabe señalar que el hecho de que la carrera de
Antropología se encuentra en la una facultad de Ciencias Naturales nos motiva de un modo
privilegiado para considerar el ambiente natural y sus variaciones, junto a las
transformaciones geopolíticas y procesos sociales ocurridos históricamente en la región. En la
presente comunicación presentaremos la experiencia formulando preguntas que podrían
actuar como ejes para un debate conjunto con quienes hoy se definen como indígenas, con la
población no indígenaque se considera heredera de un legado ancestral en la región y quienes
defienden correr el velo que cubre la verdadera historia social local y aportan a su
construcción desde su vida cotidiana, la de las instituciones educativas y gubernamentales.

Objetos arqueológicos, sentidos etnográficos: el caso de los “suplicantes”


como patrimonio del Museo de la Plata

García Stella Maris

Este trabajo propone debatir sobre los vínculos entre el pasado arqueológico y el presente,
los múltiples sentidos que se ponen en juego al momento de considerar la materialidad para
asignarle valor sea ético, estético o de apropiación identitaria. Planteamos como hipótesis de
trabajo: los objetos llamados suplicantes de origen arqueológico han recibido un tratamiento
tradicional de descripción (materiales y ubicación temporo-espacial) y de asignación de
sentidos en el marco de una concepción tradicional de la cultura material basada en el discurso
de los expertos (arqueólogos) que actúan legitimados desde su condición de científicos.
Paralelamente estos objetos son replicados y actuan como mercancías que circulan en el
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mercado Se propone analizar desde un registro etnográfico del sitio donde ocurrió uno de los
hallazgos la factibilidad de la visibilización de grupos sociales específicos, considerados como
“alteridades históricas”, es decir, grupos sociales cuya manera de ser en el contexto de la
sociedad nacional deriva de una historia de fractura con el Estado Nación. Se pretende evaluar
el justificado valor y prioridad que se admite desde las organizaciones gestoras de patrimonio
a las comunidades que se relacionan con el patrimonio arqueológico.

Culturas geoglíficas na Amazônia pré-colonial: simbolismo espacial e redes de


integração regional

Rafael de Brito Marques

Esta comunicação é um recorte de uma pesquisa em andamento que propõe uma nova leitura
da Amazônia e de sua relação com os povos indígenas, a partir das recentes descobertas da
arqueologia amazônica. Nos últimos trinta anos, em razão do avanço do desmatamento,
foram encontradas mais de 450 estruturas geométricas de terra em vala denominadas
geoglifos. Essas estruturas ocupam 13.000 km 2 do estado do Acre-Brasil, e acredita-se que
foram realizadas à época pré-colonial por povos que habitavam a região. Pouco se sabe sobre
a finalidade e o propósito destas grandes estruturas de terra, porém as recentes descobertas
evidenciam a complexidade social entre os povos da região e podem oferecer algumas
considerações gerais sobre os mecanismos culturais de interação entre as sociedades de
língua Arawak e Pano, destacando o papel da integração regional. Para isso, tomando como
base os dados etnográficos e arqueológicos que demonstrem como o simbolismo espacial
apresenta estreita conexão com os conceitos de ordem cosmológica, compartilhados em uma
complexa rede de grupos locais.

De la piedra al calvario: arte rupestre y ritualidad andina en el Norte Grande


de Chile. Aproximaciones etnoarqueologicas al culto a las cruces en sur
andino. Siglo XVI al presente

Wilson Muñoz

Bosco Gonzalez Jimenez

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En el desierto de Atacama se desarrollan centenares de festividades y rituales en torno a las


cruces, estando la mayor parte de ellas están inscritas en el paisaje. Paralelamente, en la
mayoría de lugares donde se desarrollan estas actividades rituales contemporáneas, existen
evidencias arqueológicas como apachetas, fragmentos cerámicos y, la más importante de
todas, arte rupestre, son petroglifos y pictografías históricas de contacto que manifiestan
iconografía católica, como cruces en bases tipo calvarios, escalonados, triangulares, circulares,
entre otras, como es el caso de los petroglifos de cruces latinas y de atrio, todo un repertorio
colonial-andino que se correlaciona con geo símbolos y artefactos culturales del paisaje
orientados funcionalmente a la veneración de las mismas cruces, en contextos sociales
contemporáneos de devoción, festividad y actividad ritual intensa en torno a estos símbolos
religiosos que pueblan el paisaje sagrado de los andes. Podemos afirmar que existe una
insistencia no declarada de símbolos relacionados con la presencia de arte rupestre de
contacto y ritualidad contemporánea, lo que ha configurado un paisaje ritual cargado de
simbolismos indígenas e hispanos. Esto establece un potencial etnoarqueologico
transdisiplinar que permite unificar arqueología y la etnografía ritual del paisaje como un
modo de complementar a la historiografía tradicional y la arqueología clásica con las voces
contemporáneas de los indígenas. Proponemos una lectura que establezca vinculaciones
entre las evidencias de apropiación de significantes católicos realizada por los indígenas del
siglo XVI y las experiencias etnográficas del presente. Nuestra hipótesis de trabajo es que
existiría un sistema de comunicación que, lejos de detenerse con el advenimiento de la
conquista, continuó funcionando históricamente con diversos registros, especialmente con el
arte rupestre y posteriormente con la construcción y celebración de cruces que se mantiene
hasta el día de hoy.

Memórias e imagens indígenas de um Grito da Floresta: agencialidade e


futuro dos povos indígenas no Rio Grande do Sul

Walmir da Silva Pereira

Este ensaio constitui gênero de etnografia visual em que exibimos narrativas indígenas do
Grito da Floresta, acontecimento materializado no segundo semestre de 2014 na Terra
Indígena Nonoai, aldeia guarani do Passo Feio, município de Planalto, posicionando o recurso
audiovisual como base de experimentação do olhar e do conhecimento etnográfico. O Grito
da Floresta constituiu-se como encontro agenciado e articulado pelo movimento indígena de
base regional, demandado em conjunto com e promovido pelo Conselho Estadual dos Povos
Indígenas do Grande do Sul a fim dialogar com agentes e agencias do campo indigenista
nacional e regional e de refletir com os referentes indígenas e representantes da esfera

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pública governamental sobre as ideias-força de bem viver, territorialidade, justiça indígena e


autodeterminação, assim como sobre a perspectiva de futuro dos povos e coletividades
indígenas no estado.

Apropiación cultural: plataformas para la protección de las técnicas


artesanales indígenas

Cecilia Berenice García Rojas

Según cifras de INI-CONAPO del total de la población indígena en México el 28.7% se dedican
a la elaboración de artesanía. De estos artesanos el 43.6% gana un ingreso diario de dos
salarios mínimos aproximadamente, mientras el resto percibe un ingreso menor. La falta de
estructuras legales y fiscales mantienen estático el desarrollo comercial legítimo y la
promoción de las artesanías en México, dejando espacio al abuso de los productores
artesanales. En este estudio se analizará la transformación de un conflicto de índole
económico que violenta la identidad cultural mexicana tras el abuso a los productores
artesanales indígenas y por ende la falta de protección del patrimonio inteligible cultural en la
distribución comercial de artesanía. Tras dicho análisis se tiene como objetivo elaborar
aportes metodológicos para la creación de una infraestructura, legal, fiscal, y de promoción
que propicie la profesionalización de empresas sociales, organizaciones y programas que
impulsan la cultura de pueblos originarios en México, mediante la utilización de técnicas
artesanales. La estrategia de transformación del conflicto tiene como eje principal encontrar
un punto medio entre los objetivos económicos y la protección de la identidad mexicana
expresada en sus artesanías. De tal forma crear herramientas que permitan regular el poder
omnipotente que muchas veces tiene el mercado y darle la fuerza necesaria al sector artesanal
para que sea competitivo en este. Igualmente se desea promover: a) Leyes que protejan usos
y costumbres (Técnicas artesanales) de pueblos originários; b) Instituciones, organismos e
intervenciones diseñados para la protección y promoción cultural de pueblos originários; c)
Empresas e intervenciones que comercialicen e impulsen las técnicas artesanales; d) Un
equilibrio entre las necesidades del mercado y las de preservación de las técnicas artesanales
mexicanas. Mediante esta sinergia de cambios en donde convergen las estructuras,
sociopolíticas, económicas y legales se cree podrán alinearse en una sola estrategia el marco
legal internacional y nacional en la distribución legítima de artesanías con el cual se lograría la
preservación de las técnicas artesanales mexicanas evitando los casos de apropiación cultural
de empresas extranjeras. De la misma forma al adaptarse la estructura fiscal y legal mexicana
a las necesidades de los productores artesanales, las empresas que se dedican a la

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transformación de arte popular y sus distribuidores, propiciará un ecosistema de


emprendimiento artesanal competitivo para el mercado nacional e internacional.

Gravuras sobre antropofagia Tupinambá nos séculos XVI e XVII

Beatriz Cantuária Jakubowski dos Santos

Os portugueses, ao chegarem em terras tupiniquins, se depararam com povos de uma cultura


diferente da sua que andavam nus, eram nômades e tinham uma estrutura político-social em
nada semelhante à do Velho Mundo. Um dos maiores choques foi a descoberta de que tais
indígenas praticavam antropofagia com seus inimigos, passando a serem retratados nas
gravuras como selvagens, bestiais e, por vezes, demoníaco. Com o avanço da colonização, no
século XVII, os tupis passam a ser retratados como dóceis e domesticados e o manto da
selvageria decaiu sobre os tapuias. Em meu trabalho, utilizei as obras de Tzvetan Todorov e
Serge Gruzinski como apoio teórico para reflexão do contato entre diferentes culturas e a
visão do outro, enquanto dialógo com Yonbenj Aucardo Chicangana-Bayona, Ronald
Raminelli, Ronaldo Vainfas, entre outros autores, na tentativa de reconstruir o cenário
histórico dos períodos estudados. Quanto às imagens, utilizei a obra de Théodore de Bry
(1528-1596) como representativa da visão expressada no século XVI e a de Albert Eckhout
(1610-1665) como expoente do XVII. No decorrer das análises é nítido que a primeira visão da
antropofagia tupinambá se relaciona com os mitos dos selvagens das florestas europeias e
com a figura das bruxas que, assim como os indígenas canibais, receberam o título de “filhos
de Saturno”. No segundo século estudado o imaginário de antropofagia decai mais sobre os
povos não tupis, que continuam sendo estranhos ao homem branco e ainda são retratados
como nus e selvagens, diferindo dos tupis pintado nos quadros com roupas, pacífico,
trabalhando e civilizado. Por tanto as gravuras da antropofagia se modifica nesses dois séculos
de acordo com a proximidade e o distanciamento entre a cultura europeia e a indígena.

Arqueologia e cosmopolítica: reflexões sobre curanderismo, huaqueo e


patrimônio arqueológico na Costa Norte Peruana

Débora Leonel Soares

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Esta comunicação tem por objetivo refletir sobre a vida e a agência da cerâmica arqueológica
andina – com foco na cerâmica Mochica –, a partir de uma abordagem interdisciplinar
chamada de Etnografia Arqueológica (Hamilakis, 2011). Neste sentido, pretende-se explorar
os vínculos possíveis entre a etnografia e a arqueologia, na tentativa de entender como
passado e presente se encontram e se conectam através da cerâmica arqueológica, que
aparece como sujeito nas práticas de curanderos e huaqueros na região de Lambayeque (costa
norte peruana). Para isso, seguirei os caminhos de uma proposta cosmopolítica, que busca
analisar como se dá a coexistência dos diversos mundos que permeiam a existência e a vida
de entes que, arqueologicamente, convencionamos em chamar de “artefatos arqueológicos”.
Espero assim, mapear momentos e espaços de encontro entre mundos como conexões
parciais (Strathern, 2004), que permitem que a cerâmica arqueológica seja, ao mesmo tempo,
“objeto” (“artefato ou vestígio ou patrimônio arqueológico”); artefato produzido por
populações pretéritas; e Huaco (mediador xamânico nas mesas dos curanderos). Na costa
norte peruana, pensar a multitemporalidade destes entes/vasos cerâmicos nos propõe a
tarefa de explorar mundos distintos. Tal missão exploratória apresenta ao fazer arqueológico
outros afetos e relações que se dão entre agentes humanos e não humanos. Estes agentes
compõe uma complexa rede de relações onde está envolvida a cerâmica arqueológica. Diante
disto, pretendo discutir como o encontro entre mundos distintos pode afetar a prática
arqueológica, e como a etnografia torna-se uma ferramenta essencial, na medida em que nos
propõe levar a sério os desafios que tais encontros e relações trazem à agenda das políticas
de proteção e gestão do patrimônio arqueológico.

De lo “prehistórico” a lo “étnico” en Tarapacá (norte de Chile): Crítica a las


narrativas hegemónicas y ejercicios de descolonización pendientes

Francisca Urrutia e Mauricio Uribe

Nuestra presentación pretende confrontar las narrativas homogeneizadoras y hegemónicas


con las memorias locales y la experiencia histórica sobre el pasado y los pueblos andinos de
Tarapacá. Lo anterior, con el fin de interpelar las mentalidades y las prácticas coloniales
envueltas en la arqueología, especialmente en Chile. Durante todo el siglo XIX y comienzos del
XX, el relato “prehistórico” coadyuvó en los procesos de formación estatal y la creación de
retóricas nacionales uni-raciales, cuya intención era describir las sociedades “primitivas” y los
pueblos “sin historia” en tanto preámbulo e inventario de formas políticas y expresiones

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culturales prístinas, autóctonas o indígenas. Estas debían ser interpretadas a partir de líneas
evolutivas que culminaban en el proyecto civilizatorio moderno y daban profundidad
temporal a los imaginarios de chilenidad madura. Actualmente, las investigaciones
antropológicas se concentran en torno a las categorías “étnicas” para explicar la emergencia
de los movimientos indígenas a finales del siglo XX. Esto, a partir de una intrincada
correspondencia con los procesos estatales postnacionales y las retoricas mundiales
multiculturales, lo cual ha conducido a la institucionalización de los espacios para legitimar y
representar la diferencia. El término “indígena”, paradójicamente, informa hoy sobre las
relaciones de colonialismo interno que fomentan ideologías nacionales esencialistas de
cultura e identidad; a la par que se liga al apoyo emancipatorio de las minorías étnicas. Por
ello, es preciso señalar que la indigeneidad no antecede a las relaciones sociales ni a la historia,
sino que constituye su resultado; pues se elabora en lo social e histórico a partir de
experiencias internas y miradas particulares. Desde esta perspectiva, analizaremos ciertas
prácticas de investigación arqueológica acorde con los intereses y las realidades de pueblos
andinos, entablados a partir de estrategias participativas e intercambios mutuos entre
expertos y comuneros. Nuestra crítica, entonces, consiste en cuestionar el pensamiento que
asocia irrestrictamente la alteridad cultural con el origen prehispánico y cualidades esenciales
inmutables; o bien, que la supeditan únicamente a procesos de etnogénesis y re-etnificación
en la era del multiculturalismo neoliberal. Por el contrario, proponemos, se debe relevar tanto
la variabilidad histórica de las identificaciones indígenas como la mirada antropológica sobre
el Estado, desmantelando las relaciones coloniales que intervinieron e intervienen en la
producción de conocimientos, categorías sociales y adscripciones étnicas. Ergo, también
implica redefinir lo social y cultural a partir de ensamblados y performatividades políticamente
cargadas, en constante mutación y siempre parciales; las que desbordan la reflexión humano-
centrada y generan simultáneamente una multiplicidad de afinidades posibles.

ST 05 | Artes indígenas e patrimônio na América Latina – México, Venezuela e


Brasil

Larissa Lacerda Menendez (Departamento de Artes Visuais, Universidade Federal do Maranhão –


UFMA, Brasil); Cesar Anibal Transito L. (Universidad Nacional Autónoma de México, México); Nalúa
Rosa Silva Monterrey (Centro de Investigaciones Antropológicas de La Universidad Nacional
Experimental de Guayana, Venezuela).

Este simpósio tem como objetivo mostrar o patrimônio da cultura material indígena em
estudos latino-americanos a partir da análise de dados bibliográficos em estudos sobre artes
indígenas no México, Venezuela e Brasil, assim como dar visibilidade às produções indígenas

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coletivas e autorais na atualidade. O simpósio visa problematizar essas produções e suas


abordagens teóricas a partir da perspectiva decolonial.

Literatura indígena de autoria coletiva: o território como espaço sagrado em


narrativas Kambiwá

Randra Kevelyn Barbosa Barros

Elizabeth Gonzaga de Lima

As produções artístico-literárias indígenas elaboradas no âmbito das aldeias apresentam


características que as distinguem da ideia de literatura atrelada apenas à escrita e a uma
atividade realizada de maneira individual por um autor. Tendo em vista as práticas cotidianas
em que a palavra está presente em narrativas transmitidas pelos mais velhos e também nos
cantos em vários rituais, Graça Graúna (2013) afirma que a palavra indígena é milenar,
existindo primordialmente em sua forma oral. A partir da implantação de escolas nas aldeias,
a escrita começa a ser inserida no contexto nativo. No ato de escrever, os professores
indígenas vislumbraram que ao registrar as narrativas contadas pelos sábios em livros
poderiam utilizá-las como material didático; e também possibilitariam que esses textos
circulassem por outros espaços e chegassem aos não-nativos (ALMEIDA, 2009). Inserindo-se
nesse processo, o livro Meu povo conta (2006) reúne histórias escritas por educadores
indígenas em Pernambuco, de vários povos do estado, como os Atikum, Kambiwá, Kapinawá,
Pankará, Pankararu, Pipipã, Truká e Xukuru. Embora os professores nativos tenham
transposto as histórias do oral para o escrito, os anciãos foram os narradores, assim como
outros membros dessas sociedades ilustraram os textos. Portanto, é um livro concebido a
partir da ideia de coletividade, em que esses povos se inscrevem nas textualidades, tanto na
proposta de elaboração da obra quanto no fato de o patrimônio cultural imemorial de suas
comunidades estar ali registrado. Levando em consideração a importância dessa publicação,
pretende-se analisar narrativas Kambiwá em que o território é entendido como espaço
sagrado. É o lugar em que habitam os ancestrais, por isso a necessidade de se manter nele e
buscar a retomada das terras. Como pontua Ailton Krenak (1999), essa noção de território
tradicional é um elemento fundamental para a compreensão da própria história de cada
sociedade nativa. No caso dos Kambiwá, a Serra Negra é tratada nas narrativas como lugar
essencial para a sobrevivência histórico-cultural desse povo. Essa relação com o território foge
da compreensão eurocêntrica e expõe outras formas de existência que não se pautam no

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poder hegemônico, demandando ser analisada a partir de um pensamento decolonial, que


abarca essa pluralidade de percepções, nesse caso se refere à visão nativa. Assim, as narrativas
Kambiwá mostram a visão de mundo desse povo por meio do exercício literário, o qual não é
elaborado individualmente, mas construído no âmbito da comunidade.

Os Tubos Sonoros Ameríndios: o que nos revelam as intencionalidades


complexas ameríndias

Gabriel Garcêz Bertolin

Stephen Hugh-Jones (2018) têm proposto pensar os tubos ameríndios como conceitos. Esses
tubos, segundo o autor, podem ir desde máscaras, utensílios cerâmicos, instrumentos
musicais, o próprio corpo, plantas, animais e mesmo marcas nas paisagens, como os rios. O
autor revela como a estética dos tubos atravessa tanto as práticas cotidianas, a cosmologias
e os rituais dos povos indígenas do Alto Rio Negro. Para essa apresentação a intenção é dar
atenção a um tubo muito difundido entre os povos indígenas da américa do sul, os aerofones
(flautas, trompetes e clarinetas). Esses tubos sonoros operam como produções propriamente
ameríndias de comunicação com outros mundos, seres, grupos e lugares. Em alguns casos são
a própria “presentificação” de outros seres, sejam eles animais ou agentes não-humanos.
Como mostra Alfred Gell (2001), ao se opor à análise de Danto que pensa a arte a partir da
distinção entre arte e artefato, é preciso pensar as produções materiais ameríndias como
elemento que “evocam intencionalidades complexas”. Para o autor muitos objetos
produzidos por outros povos colocam em relação intuições complexas sobre o ser e a
alteridade. Gell (2001) revela que somente é possível olhar para a arte do Outro a partir de
um movimento que se distancie dos ideais estéticos colonizadores expostos pelo pensamento
ocidental: ideia de beleza, de absoluto, de um objeto esteticamente superior, que coloca o
objeto de arte em oposição ao artefato ligado à técnica e muitas vezes a atividades ordinárias.
Como mostra Madina Tlostanova (2011), é preciso descolonizar os princípios que sustentam
uma ideia ocidental de arte e também descolonizar a própria noção de estética, movimento
que a autora caracterizou “anti-sublime decolonial”, um modo de sair das normas impostas
pelo pensamento ocidental colonizador. Desta maneira, procura-se, nessa apresentação,
tomando a ideia dos tubos como conceitos, descrever o acionamento e principalmente a
produção material dos aerofones, quais elementos e agentes fazem parte de sua composição.
Além disso, busca-se revelar como se revelam essas “intencionalidades complexas” e como
isso pode nos mostrar categorias que são capazes de descontruir e implodir os parâmetros
ocidentais de arte. Para realização do movimento proposto faço uso de material bibliográfico
que tem como elemento central os aerofones ameríndios (Acácio Tadeu Piedade, 2004; Rafael
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José de Menezes Bastos, 1999; Maria Ignez Mello, 2005; Hugh-Jones, 1979; Jean-Michel
Beaudet, 1997).

Plumária Ka'apor

Lourdes Maria da Silva Carvalho

A Terra Indígena do Alto do Turiaçu, a qual foi reconhecida em 1982, localizada no estado do
Maranhão, é o lugar onde vivem o povo Ka’apor, a sua língua faz parte do tronco linguístico
Tupi-Guarani. Além deles, nessas terras são encontrados indígenas das etnias Timbira, Tembé
e Awa- Guajá. Dentre essas etnias e, diversas outras encontradas no Brasil, a arte plumária
Ka’apor se destaca por sua beleza. E, a presente pesquisa, realizada através do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), com bolsa da Fundação de Amparo à
Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), tem como
objetivo analisar a plumária e os rituais que as circunda, em especial as restrições alimentares
e atividades do cotidiano, por quais os pais passam, logo após o nascimento do seu filho, o
que termina ao ser realizado a cerimônia de nomeação dessa criança. Esses rituais e restrições
são retratados por William Balée, o qual foi o principal referencial teórico para essa pesquisa,
com a sua tese de doutorado intitulada “The persistance of Ka’apor culture”, de 1984, e o
capítulo “Ritual and Ecology” dessa tese, foram analisados. Contudo, foram identificados
alguns dos rituais em que Balée mais se refere no capítulo “Ritual and Ecology”, que vão desde
a primeira menstruação feminina, até a couvade, restrição pela qual os pais ka’apor passam.
Porém, um recorte é feito mais sobre o ritual de nomeação dos Ka’apor.

Arte indígena y patrimonialismo en el sur de México

Jorge Hernández-Díaz

En el sur de México, en el estado de Oaxaca, un sector importante de la población se involucra


en la producción de objetos artísticos; se trata de artefactos manufacturados, generalmente,
por mujeres y hombres indígenas que crean objetos estéticos con materias primas locales y el
auxilio de algunas herramientas, pero con técnicas manuales complejas, a la que comúnmente
se le clasifica como artesanías y en ocasiones objetos del de arte popular. En esta ponencia se
analizan las relaciones sociales, políticas y los procesos de patrimonialización que contribuyen
en la creación, manutención e intercambio de esta producción estética. En decir, interesa
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atender al conjunto de relaciones a través de la cual un conglomerado social determinado de


artistas o artesanos se inserta en el mercado en el que sus productos son mercantilizados en
función de los valores culturales de quienes los producen. Con datos provenientes de
múltiples entrevistas y una encuesta aplicada a más de novecientos productores se
documentan y analizan las manifestaciones de una compleja red de relaciones sociales en las
que se ven envueltos quienes se involucran en la producción de objetos artísticos y/o
artesanales en comunidades indígenas.

Arte e estética indígena: Canela Ramkokamekrá no Maranhão

Ana Raquel da Silva Farias

A seguinte comunicação tem como objetivo apresentar a pesquisa, ainda em andamento,


intitulada Arte e estética indígena: Canela Ramkokamekrá no Maranhão, que faz parte do
projeto de pesquisa Estéticas indígenas: artes visuais Canela e Ka’apor no Maranhão, do
Departamento de Artes Visuais da Universidade Federal do Maranhão, e foi contemplado pelo
Programa de Institucionalização de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC-voluntário). Objetiva
compreender e analisar como se dão os processos de elaboração e significação dos artefatos
produzidos pelos indígenas Canela Ramkokamekrá pertencentes ao tronco linguístico Macro-
jê, que vivem na aldeia de Escalvado, no município de Fernando Falcão, Estado do Maranhão.
Busca-se analisar a bibliografia sobre os Canela Ramkokamekrá, com foco na organização
social desses povos, cuja compreensão é necessária para analisar os fenômenos artísticos
dessa etnia. Autores como Curt Nimuendaju e William Crocker nos dão as informações
necessárias para a construção dessa análise. Nimuendaju (1946) com The Eastern Timbira
relata como se deram os primeiros contatos com os povos Timbiras, evidenciando suas lutas
frente aos colonos, bem como informações geográficas sobre as regiões que os Timbira
habitavam e as respectivas etnias ocupantes de cada área. Além disso, fornece dados sobre a
matéria prima para a produção dos artefatos. William Crocker (1990) em sua dissertação
intitulada The Canela (Eastern Timbira), I An Ethnographic Introduction fornece uma base
etnológica sobre os povos canela, discorre acerca da ecologia, aculturação, seus ritos festivos,
sistemas sociais, políticos e de parentesco. Traz informações importantes da relação existente
entre os ritos festivos, a produção e uso dos artefatos, dividindo-os em: 1) artefatos para
homens; 2) artefatos para mulheres; 3) itens feitos apenas para uso em certos atos festivos e;
4) itens concedidos para honrar o bom comportamento. Os artefatos que são de uso
cerimoniais tem melhor acabamento que os de uso cotidiano, segundo Crocker, e geralmente
não são usados fora do contexto do festival, com exceção da lança cerimonial e do pingente
de cabaça dorsal, que são itens de honra. Evidencia também a relação que há entre uso,
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produção dos artefatos, e rituais com a estrutura social desses povos e os respectivos papeis
sociais que cada um ocupa dentro da comunidade. Com esse levantamento bibliográfico será
possível analisar as produções artísticas – cestaria e artefatos de palha – dos indígenas Canela,
com a elaboração de fichas técnicas a partir dos estudos feitos sobre os artefatos que
compõem o acervo do Centro de Pesquisa em História Natural e Arqueologia do Maranhão.
Busca-se dessa forma evidenciar e valorizar a produção artística dos povos indígenas do
Maranhão.

O imaginário indígena na dança do Toré: construções simbólicas

Márcia Medeiros Figueiredo

Lusival Antonio Barcellos

A dança é uma expressão artística corporal presente em diversas culturas, trazendo nos seus
movimentos comunicações por meio de gestos e passos de dança, o que faz com que vários
povos a transmita através de uma educação informal e posteriormente formal quando
repassados conhecimentos teóricos e ao mesmo tempo práticos para os seus descendentes.
Muitos elementos presentes na dança nos remetem ao imaginário, no qual temos a
possibilidade de observar que a teoria do imaginário trata exatamente daquilo que circunda
nossas vidas, ou seja, a partir das circunstâncias do imaginar, pensar, refletir ele adentra no
nosso universo interno e posteriormente desvela-se externamente, trazendo significados por
meio de uma simbologia. E esses significados simbólicos nos remete investigar e perceber o
que eles representam para esses povos que praticam o ritual da dança. As populações
indígenas possuem uma dança típica em sua cultura a qual estar inserida num contexto social
desses povos e é celebrada em vários momentos de suas lutas por melhorias de vida,
reconquista de territórios e vida com dignidade humana, dentre outras reinvindicações e
comemorações. Tal dança – o toré faz com eles celebrem, lutem, vivam, sintam, emocionem,
motivem momentos na arte, costumes, cultura e tradições indígenas, nesse ritual sagrado,
presente na maioria da cultura dos povos indígenas do Nordeste do Brasil. No rito vários
elementos se conectam harmonicamente – cocar, maracá, colares, saias, pinturas pelo corpo,
descalços, arco e flecha, bumbo, dentre outros, cantando e dançando de forma circular uma
música típica da cultura indígena, diferenciando de acordo com a razão da celebração ou até
mesmo de cada povo/cultura indígena. Este estudo está ancorado em autores como Barcellos
e Farias (2015); Durand (1988); Durand (1997); Eizirik e Ferreira (1994); Gil (2002); Mendonça
(2014) e Silva e Sousa (2017). A pesquisa desenvolve sua temática numa abordagem
qualitativa, como: observações, entrevistas, e questionários para coleta de dados /
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informações. Ao realizar a dança do toré a prática corporal, traz / rememora / remete ao


imaginário no seu referido rito, ancestralidade, resignificado, reavivamento, celebração,
permanência da sua cultura, o que representa elementos utilizados na dança, são repassados
para os seus sucessores, no intuito de permanecer viva a cultura indígena dos Tabajaras da
Paraíba.

Duas aldeias, uma caminhada: análise do processo de passagem da


representação da imagem indígena para a autorrepresentação na produção
de vídeos

Maria Claudia Gorges

Marilda Lopes Pinheiro Queluz

Este texto propõe, tendo em vista o crescimento de documentários produzidos por


realizadores indígenas, uma análise do processo de passagem da representação da imagem
indígena, para a autorrepresentação, bem como de suas implicações. Uma análise que será
realizada a partir do documentário Duas aldeias, uma caminhada de 2008, produzido pelos
indígenas Guarani-Mbya, do Rio Grande do Sul, em parceria com o projeto Vídeo nas Aldeias.
O caminho a ser percorrido, pautado principalmente pela leitura de Ella Shohat e Robert Stam
(2006), aborda a temática da autorrepresentação da imagem, percorrendo as discussões
sobre a língua, o discurso e as tensões que Duas aldeias, uma caminhada gera, bem como a
desconstrução da concepção de que a autorrepresentação implica apenas em imagens
positivas.

A pintura corporal Mebêngôkre, na Aldeia Moxkàràkô em São Felix do Xingú,


Pará

Bepdjá Kayapó

Thomas R. A. Teixeira

O trabalho em questão trata da pintura corporal entre o povo Mebêngôkre, conhecimento


passado de geração em geração, essa expressão é usada em várias ocasiões, e é muito
importante para o povo Kayapó, existem várias pinturas corporais diferentes. Essa pesquisa
sobre a pintura corporal Mebêngôkre pretende compreendê-la a partir do ponto de vista de
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quem faz e, como ela pode ser utilizada em sala de aula. Inicialmente foi feita a pesquisa dos
autores sobre a pintura corporal Mebêngôkre, depois identificamos os mais velhos que sabem
fazer a pintura corporal Mebêngôkre para nos auxiliar na pesquisa, e em seguida verificamos
como poderíamos utilizá-la em sala de aula. O trabalho foi realizado na aldeia Moxkàràkô, no
município de São Felix do Xingú, Pará. A pesquisa é necessária porque algumas pinturas
Kayapó já estão se perdendo, por isso têm que ser ensinadas na escola e na comunidade para
as crianças. Esse projeto de conclusão de curso acerca da pintura corporal Mebêngôkre vai
contribuir para o povo e para as crianças na escola, pois no ambiente escolar vai ser ensinado
o nome da pintura, seu significado, o nome delas em português, como e onde ela é usada e,
as crianças irão aprender também como pintar o corpo de uma pessoa. Nessa perspectiva
elaboramos um material para que o professor possa utilizar em sala de aula. A pintura corporal
Mebêngôkre é usada há muito tempo atrás, desde nossos ancestrais, eles usavam várias
pinturas como: Pintura de jabuti, Pintura de anta, Pintura para guerra, Pintura do noivo, e
Pintura de chuva e etc. Algumas das pinturas que acabamos de ver não se usam mais nas
festas, e a pintura é dividida, tem pintura das mulheres, dos homens, da mulher gestante e a
do primeiro filho. Temos que valorizar essas pinturas, para que no futuro as crianças não
deixem de praticá-las, por isso é importante ensinarmos as mesmas para as crianças
Mebêngôkre, com o intuito de estimular o uso da pintura entre os mais jovens. Nesse estudo
pretendemos compreender a pintura corporal Kayapó a partir do ponto de vista de quem faz
e como ela pode ser utilizada em sala de aula.

A casa tradicional Mebêngôkre: da escola a aldeia

Moipati Kayapó

Thomas R. A. Teixeira

Este trabalho de conclusão do curso de Licenciatura Intercultural Indígena pretende


compreender a importância das casas tradicionais para o povo Mebêngôkre e sua importância
para a cultura desse povo, mostrando que os saberes em torno da construção das casas
tradicionais devem ser repassados aos mais jovens e, a escola é um espaço que também pode
promover essa transmissão. O tema foi escolhido para garantir esse conhecimento em sala de
aula, a partir da atuação como professor indígena (do primeiro autor), com o intuito de ensinar
os alunos indígenas, para que eles não percam o modelo da casa tradicional indígena
Mebêngôkre e todos os saberes necessários para sua construção. Assim também contribuindo
para a minha formação enquanto professor indígena. O interesse é também pelo fato de que
estamos perdendo as pessoas mais velhas que detêm esse conhecimento, então precisamos
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que ele esteja presente em espaços como a escola, para que permaneça vivo na cultura
Mebêngôkre. Esta pesquisa foi realizada na aldeia Àukre que fica localizada as margens do rio
Zinho próximo da entrada do rio Fresco, a 40 minutos de avião bimotor da parte urbana do
município de São Felix do Xingu-PA. O presente trabalho tem como objetivo compreender a
importância das casas tradicionais para o povo Mebêngôkre e sua importância para a cultura
desse povo, para tal incialmente identificamos quais são essas casas dos Kayapó e os materiais
necessários para sua construção; em seguida descrevemos a construção da casa tradicional
Mebêngôkre; para depois transmitirmos os saberes sobre elas para os mais jovens, que nesse
caso o material didático produzido cumpriu esse papel.

Arte indígena contemporânea: inovações, capturas e resistências na arte


brasileira

Nina Vincent Lannes

Neste trabalho, apresento alguns artistas indígenas – Jaider Esbell, Denilson Baniwa, entre
outros - que vêm conquistando espaço no mundo da arte contemporânea no Brasil, dos quais
me aproximei durante minha pesquisa de doutorado. Neste país, diferente de outros da
América Latina e das ex-colônias inglesas, percebemos um aparecimento muito recente de
indígenas que se afirmam e são reconhecidos como artistas. O interesse da arte pelos
indígenas não é novo, desde o romantismo, a antropofagia, central na arte brasileira, até a
atual valorização de minorias e forte associação dos indígenas à salvação diante dos
cataclismas ambientais no antropoceno. A grande diferença do momento atual é a tomada do
discurso e do espaço pelos próprios indígenas, que encontram terreno fértil no campo
artístico. Em suas obras e discursos, os artistas apresentam novas formas de tradução estética
das ontologias e práticas culturais de seus povos, buscam inspiração nas tradições para
produzir suas expressões, linguagens e poéticas próprias, dialogando com questões do
universo indígena e não-indígena contemporâneos. Para pensar e analisar esta produção é
preciso se situar neste terreno do entre, compreendendo as particularidades da expressão
estética ameríndia como mecanismo de criação de mundo, de pessoas e de relações, bem
como seu poder comunicativo e político em sua inserção no circuito da arte ocidental. A arte
indígena contemporânea no Brasil é múltipla e diversa, como são os artistas e povos indígenas,
e aponta para a necessidade de descolonização do campo artístico, de ocupação dos espaços,
de fortalecimento e visibilização cultural. É um processo dialógico de trânsito entre mundos
com grande potência política num momento em que ampliar a voz indígena e conquistar
parceiros na defesa dos povos e territórios é tão urgente.

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Artes indígenas brasileiras contemporâneas: os artistas Arissana Pataxó e


Jaider Esbell

Daiane Marques

Pretendo apresentar o protagonismo das artes indígenas contemporâneas através dos artistas
Arissana Pataxó e Jaider Esbell, ganhadores do prêmio PIPA (Prêmio Investigador Profissional
de Arte) de 2016. No século XIX, quando etnólogos começaram a valorizar as artes primitivas,
promoveram uma maior apreciação por parte de colecionares privados, museus, e historiares
da arte, que estabeleceram mais atenção aos aspectos artísticos da produção tribal. Desde o
século XX, a antropologia da arte vem produzindo diversos estudos sobre as artes indígenas,
reafirmando assim seu status de arte. Porém, esses estudos em sua maioria são produzidos
dentro das etnias indígenas e interligados com suas culturas. Já no século XXI, artistas
indígenas estão produzindo arte também fora de suas aldeias, e expondo em galerias de arte
e universidades, onde se definem como artistas indígenas contemporâneos, proporcionando
desse modo novas perspectivas a serem analisadas no campo da arte.

El arte de la miniatura ritual entre los zapotecos sureños de Oaxaca, México

Elvia Francisca González Martínez

El trabajo que se presenta en este congreso es una aproximación al arte en miniatura que se
deposita en cerros y manantiales sagrados de la Sierra Sur de Oaxaca, México. Este estudio se
cobija de investigaciones de corte etnográfico y antropológico realizadas en México (Broda,
2013; Lorente, 2011; Dehouve, 2016). El marco teórico-metodológico que se emplea en este
trabajo es la hermenéutica simbólica de Durand (2004) y la propuesta conceptual de Dehouve
(2014). De los postulados de Gilbert Durand se retoma el constructo teórico de trayecto
antropológico y de Danièle Dehouve se recoge el concepto de depósito ritual. Con base en
este fundamento teórico-conceptual se describen los diferentes tipos de miniatura que se
emplean en el marco de la investigación titulada “Culebra de agua: simbolismos terrestres y
acuáticos en las creaciones artísticas en miniatura de los zapotecos de la sierra sur de Oaxaca”.
Aunado a esta descripción tipológica, en esta ponencia se comparten algunas categorías

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interpretativas locales para comprender el simbolismo de las formas simbólicas de la


miniatura ritual que se elabora y usa en las comunidades de la Sierra Sur de Oaxaca, México.

A música indígena: uma escuta na Escola Estadual Indígena Wakõmẽkwa –


Povo Xerente, Tocantins-Brasil

Adriana dos Reis Martins

Raquel Castilho Souza

Karyleilla Santos dos Andrade

O presente texto é resultado parcial de uma pesquisa desenvolvida na escola Wakõmēkwa,


por meio do Projeto Interculturalidade, Identidade e Memória: desafios sócio-culturais,
midiáticos e educacionais na Aldeia Riozinho, Povo Xerente, no estado do Tocantins.
Compreendendo a importância que a música tem em cada cultura, o presente trabalho busca
reconhecer e registrar a música indígena Xerente, bem como, refletir sobre o seu ensino como
uma linguagem artística no contexto educacional indígena na comunidade escolar, por meio
de procedimentos metodológicos a partir de uma pesquisa-ação, de cunho etnográfico. As
seguintes questões norteiam a investigação: O ensino de música está presente no currículo
indígena? Se sim, a música indígena no âmbito educacional retrata os hábitos, brincadeiras,
rituais e festividades do povo da comunidade escolar? Inicialmente realizamos uma análise
dos documentos e da legislação para identificar as políticas públicas sobre educação indígena
no estado e o ensino de música como uma linguagem artística. Autores que fundamentam a
pesquisa são: Aguirre (2009), Coli (2006), Henriques et al (2007), Lagrou (2009), Moreira e
Candau (2014), Muniz (2017), Penteado e Júnior (2014), bem como os documentos legais dos
sistemas federal e estadual. Temos a intenção de ressaltar características basilares da
musicalidade indígena, valorizando a cultura indígena Xerente e suas sonoridades, a partir da
escuta musical e material identificado na pesquisa que é utilizado por eles ao cantarem. Para
tanto, criaremos um caderno musical “Ritmos e Canções Xerente”, com o objetivo de ser um
material didático que poderá ser utilizado no ensino das artes-música na referida escola.
Acreditamos que ao registrar a música do povo xerente e usa-lá em sala de aula no processo
de educação musical, esses alunos poderão desenvolver o sentimento pertencimento ao seu
povo, refletindo o processo de construção de identidades indígenas. Desse modo,
pretendemos auxiliar os professores da escola em suas práticas educativas, por meio de
produção de materiais didáticos-pedagógicos e oficinas musicais, para o estímulo da
revitalização da cultura Xerente.

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Artes indígenas no Brasil: principais estudos e pressupostos teóricos

Larissa Menendez

Essa comunicação tem como tema as abordagens teóricas das artes indígenas em estudos
brasileiros. O objetivo é demonstrar as bases teóricas destas análises e também trazer
exemplos de como a visibilidade destas artes foi possibilitada a partir destes estudos,
destacando as contribuições de Berta Ribeiro, Darcy Ribeiro, Lúcia Van Velthen, Els Lagrou,
entre outros autores. A apresentação mostra também o resultado de estudos de campo e
exemplos de artes visuais indígenas (coletivas e de artistas indígenas) de povos do Amazonas,
Mato Grosso e Maranhão, decorrentes de diversos projetos de pesquisa sobre o tema.

Wö’wa: cesteria Ye’kwana

Nalúa Rosa Silva Monterrey

Los Ye’kwana son un grupo indígena que vive a ambos lados de la frontera entre Brasil y
Venezuela. Su cestería siempre ha sido muy valorada pero en los años 1980’s alcanzó gran
renombre debido a que las Wö’wa se dieron a conocer ampliamente al convertirse en un
importante objeto de intercambio comercial. El origen de esta cesta es de tipo utilitario,
siendo la más utilizada para cargar yuca (Manihot esculenta), sin embargo los misioneros
católicos en la búsqueda de objetos que al ser intercambiados mejoraran los ingresos de las
comunidades, estimularon a las mujeres indígenas de una comunidad del Alto Erebato para
que basándose en su conocimiento tradicional experimentaran en la creación de una obra de
arte pero para el comercio. La descripción de la artesanía tradicional, su simbología, su
utilidad, sus características serán descritas en este trabajo para luego analizar la aparición de
la Wö’wa como objeto de arte.

Um olhar sobre a arte indígena nas Comunidades Samburá e Paiol de Barro


na TI Xapecó

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Cristiane Norberto

Márcia de Souza

Suzana Néres

Este trabalho tem por objetivo apresentar e discutir experiências artísticas indígenas nas
comunidades, Baixo Samburá e Paiol de Barro na Terra Indígena Xapecó (T.I.), nos municípios
de Ipuaçu e Entre Rios, Santa Catarina - SC, desse modo, buscamos reconhecer e valorizar as
manifestações artísticas presentes nessas comunidades indígenas. Enfatizamos as técnicas de
pintura e de confecção de cestarias e também desenvolvemos a pesquisa para a obtenção de
informações sobre as experiências e os dados biográficos dos artistas indígenas, Izael Néres e
Caroline Aires, instigando os diferentes públicos a conhecerem a cultura indígena, presente
em nossa região. A confecção de artesanatos vem sofrendo um processo de exclusão nas
aldeias, e isso ocorre basicamente por dois motivos, por um lado a população indígena não se
interessa em aprender as técnicas e, por outro, são raras as pessoas que dominam a prática
do trançado e que possam ensinar à comunidade. Quanto às pinturas indígenas, procuramos
o reconhecimento dessa atividade sem reforçar preconceitos, pois entendemos que a arte
está presente em diferentes contextos étnicos e culturais e deve ser conhecida dentro e fora
da comunidade indígena.

A arte oral Paiter Suruí de Rondônia e seu processo de organização junto aos
professores da Associação Gabgirey

Magda Dourado Pucci

Neste trabalho, discorro sobre os principais aspectos da arte oral Paiter Suruí de Rondônia,
constituída de narrativas, cantigas de pajé, canções do cotidiano, cantos rituais envoltos em
movimentos sociais, pesquisados durante oficinas com os Paiter Surui de Rondônia. A voz,
sendo o centro de toda a expressão Suruí, é quem conduz o amplo espectro sonoro que
extrapola uma análise estritamente musical, pois a intrincada relação entre a música e a
narrativa, entre a fala e o canto, entre a voz e o mito formam um intricado corpo sonoro-
antropológico. O processo de digitalização, catalogação e tradução do acervo da antropóloga
Betty Mindlin foi realizado durante oficinas desenvolvidas pela Associação Gãbgirey com a
colaboração dos mestres conhecedores da memória oral Paiter com auxílio dos jovens
professores.
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Tlakimilolli: voces del telar

Clementina Campos Reyes

En la Sierra de Zongolica, Veracruz, se produce hilo de lana teñido con tintes naturales y
textiles de calidad internacional. Las mujeres se encargan de reproducir y transmitir el
conocimiento sobre el fino arte del telar de cintura. Con gran talento y constancia ellas hilan
y tejen cada día su porvenir.

Grafismo na cestaria kaingang: memória e educação indígena

Elaine Daniel Sales

A pesquisa aborda a definição das metades clânicas do povo Kaingang, a partir dos mitos de
origens, dos irmãos gêmeos Kamé e Kanhru, de quem originou as metades clânicas rá tej e rá
ror. Estes grafismos estão impressos nas cestarias, nas pinturas corporais e amplamente
representados nos objetos de uso cotidiano dos Kaingang, suas formas estão associadas a
desenhos geométricos. Estes desenhos traduzem nossa organização social e modo de vida.
Estão agregados à mitologia e cosmologia.

Estética indígena: cultura e identidade

Carlos Maycon Almeida Santos


Fabiane Vasconcelos da Silva
Larissa Menendez

Este trabalho tem como objetivo principal, promover uma reflexão sobre as teorias que
versam a respeito da arte indígena, principalmente aquelas que afetam os estudos da arte
indígena no Brasil. Em razão disso, tem como ponto de partida realizar um levantamento
bibliográficos das produções de livros, artigos, teses, revistas entre outros que venham
realizar tal abordagem. Esta comunicação surge a partir das leituras e reflexões teóricas do
plano de pesquisa integrada ao Programa de Institucionalização de Bolsas de Iniciação
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Científica (PIBIC-voluntário) da UFMA e está vinculado ao projeto Estéticas indígenas: artes


visuais Canela e Ka’apor no Maranhão, pertencente ao Grupo de Estudos em Memória, Arte
e Etnicidade (GEMAE), do Departamento de Artes Visuais. Tendo em vista que a arte
“primitiva” é uma produção autônoma que se diferencia do conceito já estabelecido em nossa
sociedade moderna, mas que ao longo dos tempos vem resistindo ao conceito de estética
imposto como um padrão. Embora saibamos que a arte indígena assim como qualquer outra
forma de produção artística, surge como fruto das mesmas fontes que a arte ocidental, ou
seja, da técnica e da emoção, e que não deixam de condessar crenças, valores, ideias, assim
como a arte tida como dentro da moralidade, além do mais, permite provocar juízo de valor
estético tanto para quem aprecia, como para quem cria. Deste modo, as artes indígenas
distintas apenas na sua estética refletem ações, valores, crenças, ideias, de povos que
somente vivem em uma cultura que não é a nossa, não podendo ser isso ser visto como uma
limitação para o processo de criação artística. Se conhece como arte primitiva um conjunto
de objetos e ritos, mais especificamente, pinturas corporais, artefatos de cerâmica e cestaria,
adornos plumarias, música, a literatura, a dança entre outros objetos, a criação artística é
bastante diversa, porem pode apresentar características iguais ou semelhantes, a exemplo
podemos citar os elementos utilizados como matéria prima, uma vez que são encontrados na
natureza dispostos na natureza, outro exemplo são as algumas formas, como é o caso das
linhas, porém observa-se que esta é presente nas artes de todos os povos, e não só entre os
povos indígenas. Gell, que narra a partir de sua experiência de campo em Nova Guiné e na
Índia, busca elaborar e sobrepor um novo modelo conceitual aos objetos de artes,
considerado que as artes como pintura corporal, entalhes de madeiras, pinturas são tão
importantes para o estudo da antropologia, como as pinturas e estatuetas consagradas. Gell,
formula a teoria antropológica de arte, a teoria das relações sociais que enxerga as obras de
artes como agentes. Para demostrar e assegurar sua proposta teórica o autor cria uma
estrutura que é constituída por quatro unidades relacionadas que se comunicam como
agentes ou pacientes a depender do contexto. Sendo elas: o index, neste caso é a própria obra
de arte, o artist, que se refere ao criador da obra, recipient, que são aqueles que exercem
agência por meio dos indexes e por último o prototype, que constitui a entidade a ser
representada no index. Por fim, este trabalho tem como propósito também propiciar uma
maior visibilidade da indústria indígena, bem como valorizar. Como referencial teórico
utilizamos as obras Arte Primitiva de Franz Boas (2014), Arte e Agência de Alfred Gell (1988).

O ensino das artes e a construção do currículo intercultural na perspectiva


decolonial na Escola Estadual Indígena Wakõmẽkwa

Raquel Castilho Souza


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ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Karyleilla Santos dos Andrade

O presente texto é resultado parcial de uma pesquisa de doutoramento que tem como um
dos seus objetivos refletir sobre o ensino de Arte na escola Wakõmēkwa, da Aldeia Riozinho
Kakumhu, localizada no estado do Tocantins-Brasil, pensando na construção de um currículo
intercultural a partir da perspectiva decolonial. Temos a intenção de verificar se os saberes
indígenas se inter-relacionam com os saberes formais no ensino de arte. Partimos da análise
dos documentos legais que ampara as políticas públicas, referentes à educação intercultural
indígena no estado e o ensino das artes. As seguintes questões norteiam a investigação: Se o
currículo indígena é proposto em uma perspectiva da interculturalidade, os saberes cotidianos
se fazem presentes no ensino das artes? Será que o ensino das artes pode ser um dos
caminhos para a revitalização cultural nas escolas indígenas, tão desejadas pelos seus agentes
educativos e comunidade escolar? O percurso metodológico desse estudo caracterizou-se
como qualitativo, amparando-se na perspectiva etnográfica, por meio da pesquisa-ação.
Autores que fundamentam a pesquisa são: Almeida (2012), Almeida e Albuquerque (2011),
Candau (2008), Coli (2006), Collet (2006), Fleuri (2003), Lagrou (2013), Moreira e Candau
(2014), Muniz (2017), Santos (2009), bem como os documentos legais dos sistemas federal e
estadual. Em campo, identificou-se, na primeira fase da pesquisa, que os direitos por uma
educação indígena intercultural se fazem presentes nos documentos que regulam a Educação
Indígena no Estado para o desenvolvimento de ações que devem refletir efetivamente na
prática pedagógica da Educação Intercultural Indígena, de modo específico na Escola Estadual
Indígena Wakõmẽkwa. Porém, tais ações pedagógicas interculturais, projetadas nos
documentos e teorias, a priori, parecem não estar em total consonância com a realidade local
pesquisada e distantes da perspectiva decolonial. Sendo assim, identificamos que são muitos
os desafios a serem superados para a construção efetiva de um programa educacional
intercultural decolonial para expandir os conhecimentos culturais e o respeito às diferenças,
envolvendo o ensino das Artes. Acreditamos que as experiências adquiridas por meio do
ensino das artes poderão possibilitar o sentimento de pertencimento ao seu povo de origem,
inclusive no processo de construção de identidades.

As conexões entre performace e a pintura corporal Kurâ-Bakairi

Isabel Teresa Cristina Taukane

Ludmila de Lima Brandão

O presente trabalho traz os resultados iniciais da pesquisa em desenvolvimento cujo objetivo


é compreender a conexão entre a performance e a pintura corporal kurâ-bakairi. Inicialmente
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

busca-se entender o não lugar das “artes indígenas” no sistema de arte ocidental, dessa forma
problematizamos a colonialidade da arte e o caráter universalista de incluir para excluir as
produções artísticas de povos não europeus (BRANDÃO; GUIMARÃES, 2012), (ESCOBAR,
2011). Em seguida, aborda-se sobre a pintura corporal. Conforme Lins (2011) a pintura
corporal, de modo geral, é um fenômeno que não pode ser visto apenas pelo viés da estética,
ela pode ser tratada como um contraponto a tendências homogeneizadoras da globalização.
E pode servir como instrumento de defesa identitária, estabelecendo uma alteridade cultural
e um retorno cíclico da memória coletiva. Assim, tratar a pintura corporal apenas pelo viés da
estética consiste em limitá-la. É importante e muito necessário ampliar este campo de estudos
para outras possibilidades. Como, por exemplo, o entendimento da pintura corporal como
performance ou como artes do corpo AGRA (2011) amplia-se compreensão não limitando-as
às artes visuais. Pois a pintura corporal como vestimenta da pele, para os kura-bakairi, como
indumentária é autônoma amplia as possibilidades e a performatividade do corpo, conforme
Rocha (2014). Por fim, não se busca uma recolocação histórica do entendimento das pinturas
corporais como arte, o que se busca é a ampliação das possibilidades de seu entendimento
como o corpo em performance, uma vez que são as pinturas corporais que não cabem nos
territórios conhecidos das linguagens da arte ocidental. Como bem diz AGRA (2011) "Os
corpos da performance não cabem nos territórios conhecidos. Estão em fuga permanente,
como discos voadores" (p.218), talvez a performance, seja, o que aceita os desvios daquilo
que não cabe na da arte ocidental eurocentrada e a tendência de subalternizar as
manifestações artísticas de outros povos.

Cinema de mulheres indígenas: trajetórias coletivas e agência feminina

Joana Brandão Tavares

A partir de um levantamento da produção cinematográfica de mulheres indígenas no Brasil, e


da análise destes filmes, este artigo propõe apresentar as principais temáticas e poéticas
utilizadas por estas mulheres, assim como traçar trajetórias criativas ao longo da obra das
cineastas. A produção cinematográfica indígena no Brasil tem crescido constantemente, em
número e diversidade de autores, desde os primeiros proje0tos na década de 1980, entre eles
o “Mekaron Opoi D'joi” (da língua Gê, ‘Ele, que cria imagens’ em que membros do grupo
Kaiapó aprenderam a trabalhar com a tecnologia do vídeo, e o Centro de Trabalho Indigenista
(CTI), que originou o Vídeo nas Aldeias, atualmente com mais de 70 filmes finalizados de co-
autoria indígena. Se em um contexto global, o primeiro filme de autoria de uma mulher
indígena - “My Survival as an Aboriginal” - já havia sido produzido na Austrália em 1979 a
indígena da etnia Muruwari, Essie Coffey (GINSBURG, 1991, p. 94), no Brasil essa produção

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até poucos anos atrás era predominantemente masculina, com algumas poucas exceções. Ao
mesmo tempo que a participação feminina é marcadamente menor que a masculina – no
projeto Vídeo nas Aldeia, que mantém a maior produção cinematográfica indígena no Brasil
até hoje, há apenas três realizadoras mulheres, para 35 homens (VNA, on-line) – a produção
bibliográfica sobre a apropriação indígena do cinema não traz especificidades sobre a
produção de mulheres. Com o crescimento do protagonismo de algumas cineastas na cena
cinematográfica dos festivais especializados, e com organizações dedicando-se
exclusivamente para oficinas de cinema para mulheres indígenas – como o Instituto Catitu,
que desenvolve oficinas principalmente no Xingu – torna-se cada vez mais importante refletir
sobre como a agência feminina dialoga com as potencialidades desta arte, analisando quais
são as representações construídas por essas mulheres em seus filmes. A partir deste contexto,
o artigo realiza uma análise da produção fílmica de quatro cineastas indígenas brasileiras:
Olinda Muniz, da etnia Pataxó Hãhãhãe, Graciela Guarani, da etnia Guarani-Kaiowá, Suely
Maxakali, da etnia Maxakali, e Patrícia Ferreira, da etnia Mbya-Guarani. Entre outros
elementos, observa-se a presença de uma reflexão sobre a agência da mulher nas culturas
indígenas contemporâneas, trajetórias que seguem da abordagem de questões culturais
gerais para a questão feminina em suas culturas, e a presença de um olhar feminino através
da transposição de elementos cosmológicos para a narrativa cinematográfica.

Imágenes Tejidas: textiles tradicionales indígenas Ayuuk (Mixes) de San Juan


Cotzocón, Estado de oaxaca y su inserción en el México contemporáneo

Cesar Transito

El Estado Mexicano ha mantenido una compleja relación con las creaciones artísticas de los
“otros”: los indígenas mexicanos. Este trabajo postula que las creaciones artísticas indígenas,
específicamente las artes textiles, han pasado por diferentes procesos valorativos que las
comparó, en los primeros años posteriores a la Revolución Mexicana de 1910, con las
manifestaciones artísticas europeas. Valoración que fue decayendo hasta colocarlas como
objetos artesanales de consumo turístico. Por otra parte, se muestra cómo los textiles tejidos
en telar de cintura en una comunidad mixe del estado de Oaxaca, manifiestan otra manera de
concebir el mundo, visión ligada estrechamente con lo sagrado y que es solidaria con las ideas
expuestas por autores de la Escuela Tradicionalista, principalmente las ideas de A. K.
Coomaraswamy y T. Burckhardt.

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ST 06 | Biografias e histórias de vida como porta de entrada para compreensão


de povos indígenas

João Pacheco de Oliveira (Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro- UFRJ, Brasil); Diego
Escolar (Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas – CONICET y la Universidad Nacional
de Cuyo, Argentina).

O objetivo desse simpósio temático é reunir pesquisadores de diferentes países e formações


disciplinares para abordar os povos indígenas, sua história e cultura, através de experiências
muito concretas vividas numa dimensão temporal, representada por relatos biográficos,
histórias de vida e trajetórias. Parafraseando Marc Bloch o que nos desperta a atenção, tal
como aos ogros nos contos de fadas, são os variados cheiros de humanidade, em que os
movimentos coletivos podem ser lidos, ilustrados ou contrapostos a percursos individuais. Ou
seja, casos em que ideologias e concepções de mundo se somam ou conflitam com as práticas
sociais, em que projetos e estratégias se relacionam com as emoções e com disposições
inconscientes. Em que o social não se apresenta como uma totalidade orgânica nem o cultural
como uma qualidade a priori e determinante, mas como um processo constitutivo,
expressando um jogo de forças contraditórias e sobrepostas. As clássicas histórias nacionais,
assim como os estudos antropológicos sobre povos indígenas específicos,
frequentemente tomam aos indígenas como personagens secundários – ou mesmo
paradoxalmente exteriores – à formação nacional ou a sua contemporaneidade no mundo
globalizado. A intenção deste Simpósio Temático, é propiciar um espaço para as pesquisas em
andamento sobre a história indígena e a presença dos indígenas em histórias nacionais ou
trasnacionais, com destaque para a descrição e análise das formas de dominação em que
estiveram/estão inseridos, os modos de organização de suas culturas e o simbolismo de suas
estratégias sociais, políticas e religiosas.

Das louvações às retomadas de terras: João de Nô e a mobilização política


contemporânea dos Tupinambá da Serra do Padeiro

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Daniela Fernandes Alarcon

João de Nô, como é mais conhecido João Ferreira da Silva (c. 1905-1981), rezador e
antepassado proeminente na aldeia Serra do Padeiro (Terra Indígena Tupinambá de Olivença,
sul da Bahia, Brasil) é uma personagem envolta em mistérios, lembrada por suas façanhas.
Nesta comunicação, apresentarei elementos de sua trajetória, em conexão com o presente,
isto é, enfatizando seu lugar na memória social dos Tupinambá da Serra do Padeiro,
conhecidos pelo vigor de sua mobilização política, assentada nas retomadas de terras.
Lastreando-me em relatos e fontes escritas, indicarei a importância de João de Nô para a
conformação da identidade tupinambá, levando em conta principalmente sua atuação no
estabelecimento do culto aos encantados, iniciado em louvações na casa do rezador, e sua
trajetória de resistência territorial. Descreverei seu papel na transmissão de histórias sobre o
processo de expropriação – narrativas que vêm lastreando a recuperação territorial –, bem
como sua atuação para a manutenção sustentada do grupo étnico nos períodos agudos da
dispersão dos indígenas para fora do território, em razão do avanço da fronteira capitalista.
Considerarei também algumas das maneiras pelas quais sua imagem é acionada na construção
dos modos de vida partilhados na aldeia, destacando-se os valores sociais nele encarnados, e
sua participação no processo de recuperação territorial travado pelos Tupinambá, por eles
compreendido como parte de um fazer político em que convergem vivos e mortos.

Claudia Andujar: trajetórias, narrativas fotográficas e dialogicidade com os


Yanomami

Micael Luz Amaral

Marília Flores Seixas de Oliveira

Esta pesquisa analisa as fronteiras entre a etnografia e as narrativas ficcionais de Claudia


Andujar, discutindo a fotografia enquanto linguagem artística utilizada na construção das
representações da cultura indígena Yanomami, focalizando a importância de Andujar na
representação desta etnia. Naturalizada brasileira, Claudia Andujar (1931) nasceu na Suíça,
chegando ao Brasil em 1955. Fotógrafa e ativista das causas indígenas, dedicou vida e obra
aos povos Yanomami. Participou, entre 1978 e 1992, da Comissão pela Criação do Parque
Yanomami e coordenou a campanha pela demarcação das terras indígenas. Suas fotos,
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expostas em importantes museus (como o Museum of Modern Art, NY e o Museu de Arte


Moderna de São Paulo), e publicadas internacionalmente, estabelecem significativa
iconografia fundamental de referência étnica e cultural e, com uma estética documental e
inovadora, representam a vida em comunidade dos Yanomami, em fotos que revelam um
íntimo diálogo entre a luz e o símbolo (DUARTE, 2003). A pesquisa volta-se, sobretudo, para a
análise dos livros Yanomami: A Casa, a Floresta, o Invisível (ANDUJAR, 1998) e A
Vulnerabilidade do Ser (ANDUJAR, 2005), duas obras importantes para a compreensão e a
abordagem desta fotógrafa e ativista sobre este povo indígena. As fotos revelam uma relação
dialógica entre Andujar e os Yanomami. Sob o ponto de vista da estética, as fotografias
abstratas de Andujar subvertem a tradição documental, estabelecendo uma ruptura de
linguagem nos anos 1970 no Brasil (CASTANHEIRA, 2014). O primeiro livro analisado,
Yanomami (1998), apresenta uma série de fotografias acerca da cultura e dos fazeres desse
povo, tendo se tornado um importante documento para iconografia indígena brasileira. As
fotografias anunciam a singularidade do trabalho da autora e a intrínseca relação entre
fotógrafa e fotografados. Já no livro A Vulnerabilidade do Ser (2005), Andujar trabalha a
respacialização das fotografias realizadas nas décadas de 1970 a 1990, inserindo montagens
e sobreposições, ressignificando seus contornos estéticos, mediante à ampliação da sua
cosmovisão. Conforme Moura (2017), alguns elementos marcam significativamente o
trabalho da artista: a retratística, por exemplo, é o modo escolhido para individualizar os
Yanomami e acentuar a beleza dos seus corpos; já a luz é elemento fundamental e
indispensável na construção das atmosferas, é por entre as formas da luz que Andujar
encontra meios de anunciar a representação dos signos da cultura indígena e transmitir os
valores herdados da experiência desse encontro. É partindo dessa relação de reciprocidade e
dialogicidade (BUBER, 2001) que Andujar se reconhece como sujeito e interlocutora dessas
narrativas.

Oiapoque começo ou fim do Brasil?

Rosilene Cruz de Araújo e Evilania Bento da Cunha

O município de Oiapoque é carregado por simbologia, uma das frases populares consagradas
é: “do Oiapoque ao Chui” para caracterizar o ponto geográfico do extremo norte do Brasil,
mesmo que hoje a técnica já tenha comprovado que o ponto norte mais extremo está no
estado de Roraima. O município tem um pouco mais de 70 anos de emancipação política, mas
tem uma vasta história do ponto de vista de ocupação dessa área por diversos povos
indígenas. Atualmente o município conta com quatro povos: Karipuna, Galibi Maroworno,

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Palikur e Galibi Kali’na em três Terras Indígenas Uaça, Juminã e Galibi. São inúmeros fatos
históricos que marcam a vida de Oiapoque dentre eles um avião das forças armadas
Americana que caiu no monte Cajari na T.I. Uaça durante a segunda guerra mundial, outro
fato foi o distrito militar de Clevelândia do Norte como prisão política durante o período da
ditadura militar no Brasil. Dessa forma, pretendemos ouvir os relatos indígenas sobre esses
dois episódios e registrar do ponto de vista dos indígenas o que esses eventos históricos
interferiu nos seus cotidianos. Esse trabalho está em fase de construção para o seu
desenvolvimento adotaremos a história oral como metodologia.

Memorias del agua: historias, discursos y políticas sobre la escasez y


abundancia hídrica en territorios disputados

Aldana Calderón Archina

En este trabajo propongo abordar memorias locales que se hayan articuladas a


transformaciones en el paisaje ligadas a fenómenos de sequía o abundancia hídrica, em
distintas localidades rurales de la provincia argentina de San Luis (centro oeste) donde habita
población indígena. Me basaré en experiencias disímiles, relatos y situaciones surgidas en el
marco de mi trabajo de campo etnográfico. Los sucesos narrados por mis interlocutores giran
en torno a episodios atravesados por cambios abruptos en los cursos de agua de ríos y lagunas
y las consecuencias que trajeron aparejados, por ejemplo: casos de diáspora y despojo. En
relación a esto último, es necesario señalar el entrecruzamiento entre agua y territorio, dado
que estas historias de vida también nos hablan de formas de habitar y disputar el territorio.
Es decir, estos fenómenos no se explican únicamente por causantes ambientales, sino que se
encuentran insertos en disputas de poder articuladas a políticas y formas de administrar los
recursos naturales de diferentes momentos históricos -algunas de las cuales se retrotraen
hasta el presente-. Por todo esto, es que me interesa indagar, a los efectos de dar cuenta
acerca de cómo se articula en la memoria social el pasado, el presente y el devenir colectivo
de estos grupos autoadscriptos como indígenas y/o sus descendientes.

Zé Zabel Perna-de-Pau: um “herói indígena” Tapeba?

Henyo Trindade Barretto Filho

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Inspirando-se no (ainda que afastando-se do) modelo clássico da etnobiografia, o trabalho se


propõe a construir, a partir de depoimentos orais de índios e não índios - seguindo a
metodologia desenvolvida por Vansina (1973) -, e de algum repertório documental, a
trajetória de um importante líder indígena Tapeba, que se destacou na primeira metade do
século XX: José “da Isabel” Alves dos Reis, mais conhecido como Zé Zabel Perna-de-Pau. Um
ilustre desconhecido, mas merecedor de um curtíssimo verbete na galeria dos Heróis
Indígenas do Brasil de Almeida (1988), Perna-de-Pau - termo também é usado como etnônimo
na paisagem social local do distrito da sede do município de Caucaia - é o apelido de um
ancestral que residiu no lugar denominado Paumirim e aos quais (ancestral e lugar) muitos
Tapebas remontam ao traçarem suas genealogias - no que concerne a pelo menos um grupo
de agnatos, “os Zabel”. Filho - com seus dois irmãos, Luís e Antonio - de uma relação
extraconjugal do “tronco velho” Antônio Alves dos Reis com uma negra forra chamada Isabel
“Torta” e tendo - com seus dois irmãos - trabalhado como seringueiro na Amazônia, Perna-
de-Pau manteve união sororal poligínica singular com as irmãs Paulina - ou Maria Deolin(d)a -
e Tereza Teixeira de Matos, gerando descendentes, alguns dos quais casaram-se entre si,
constituindo um linhagem peculiar. Embora seja arriscado dizer que o Paumirim foi um grupo
local endogâmico, certamente foi um deme onde dificilmente se admitia pessoas “de fora da
família”, no qual Perna-de-Pau exerceu forte liderança, sendo tido como o “último tuxaua”,
após cuja morte - ocorrida, estima-se, em torno de 1950 - os Tapebas que viviam sob sua
liderança saíram em diáspora para formar muitas comunidades em que vivem hoje. Muito da
sua força e autoridade parecia advir da sua aparência física (tendo perdido a perna em um
acidente com um rojão numa festa junina), de seus hábitos e habilidades, e das relações
ambivalentes que cultivou com pessoas da elite política local (tendo sido compadre do
Tenente Coronel Edson da Mota Correia, um dos mais tradicionais políticos cearenses, que
deteve durante muito tempo a liderança eleitoral de Caucaia - somando 9 legislaturas).
Imagine-se um velho cafuzo alto, forte, encorpado, barbudo, feio, com uma perna-de-pau e
um chicote na mão, fumando cachimbo, sanfoneiro, que gostasse de cachaça, de
temperamento forte e invocado. O detalhamento de suas características e condutas pessoais,
trajetória, redes de parentesco e de relações estabelecidas, estilo e alcance de liderança, e
áreas ocupadas, permitirá entender aspectos dos modos de vida Tapebas na primeira metade
do século XX e dimensões importantes de como estes se pensam como grupo e vivem no
território que reivindicam há mais de 30 anos.

A participação social e cultural do ancião na comunidade

Marlei Angélica Bento

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O referido trabalho, trata da visibilidade e participação dos anciões em suas comunidades,


desenvolvido na aldeia São João do Irapuá, Terra Indígena Guarita, no município de Redentora
- RS, destacando sua contribuição social, cultural e econômica, quais são os saberes que eles
detêm, de que maneira estão passando seus conhecimentos à diante, e seu papel
protagonista e coadjuvante nas atividades da escola e reuniões da comunidade. Refletindo
sobre a forma de tratamento e comparando-as com a forma ocidental de se conviver com
pessoas de idades mais avançadas, já que se tem observado diferenças nesse aspecto.
Refletindo também, em relação aos seus costumes, a resistência deles em continuar com seus
antigos hábitos como, ter preferência a casas mais simples, para que possa fazer o seu fogo
de chão, a sua cama bem próxima, e preparar seus alimentos tradicionais, como também a
estrutura familiar possibilita que esse ancião conviva diretamente com seus netos, bisnetos e
até mesmo com os demais sobrinhos-netos da família, destacando a sua participação nos
diversos ambientes e grupos sociais, dividindo suas experiências pessoais, conselhos para boa
conduta e conhecimentos histórico-culturais do seu povo.

Micropolíticas de manutenção linguística: trajetórias e experiências – o


projeto 'Eu Sou Bilíngue' e o Campeonato da Língua Paumari

Ana Carla Bruno e Claudina Azevedo Maximiano

Neste trabalho, apresentamos duas iniciativas dos Paumari e Apurinã para manter suas
línguas: O Programa 'Eu sou Bilíngue' e o Campeonato da Língua Paumari desenvolvidos em
Lábrea onde observamos uma capacidade mobilizatória e de resistência ao que se refere ao
uso, atitudes e crenças relacionadas as línguas indígenas. Esta região tem sido cenário das
mais variadas experiências de desenvolvimento para Amazônia: como por exemplo, o impacto
das empresas seringalistas, a pecuarização, sem falar da utilização e exploração da mão de
obra indígena. (Menezes & Bruno 2014). Partindo dessa realidade surge duas iniciativas que
estamos chamando de micropolíticas linguísticas. O programa 'Eu sou bilíngue' iniciado em
2010 com a mobilização do indígena Edilson Paumari que realizava de forma voluntária cursos
sobre a língua e cultura Paumari no espaço da casa de sua família. E que em 2011, procura a
FUNAI para apoiá-los. Nesse processo, o povo Apurinã também é incluído. A partir do
“Programa Sou Bilingue Intercultural”, que tinha por objetivo principal atender os indígenas
que estavam na cidade, surge o “Campeonato da Língua Paumari”, iniciativa de mobilização
dos indígenas da Terra Indígena Paumari do Lago Marahã. A metodologia utilizada no processo
de construção do evento, campeonato da Língua Paumari pode ser considerada como
Inovação. Existem, porém, fragilidades no processo de efetivação dessas ações. Tal situação
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tem provocado um início de reflexão entre as lideranças sobre a sustentabilidade dessas


atividades.

“Entonces yo soy una salsa huichol”, las historias de vida como instrumento
de cohesión social en la conformación de las identidades en la comunidad
indígena de Presidio de los Reyes, Nayarit

José Luis Quintero Carrillo y Jorge Luis Marín García

Las historias de vida no deben ser entendidas como narraciones aisladas de su contexto, sino
como productos del lenguaje que se inscriben en un sistema sociocultural definido en el que
están implicados los aspectos subjetivos y las circunstancias que rodean las distintas
trayectorias de vida de las personas. Entendemos, además, que el acto de narrar es algo más
que describir eventos o acciones. Narrar es, también, organizar en tramas o argumentos tales
acontecimientos y atribuirlos a un personaje (o personajes) en particular. Creemos que al
narrar su pasado, los individuos no simplemente lo repiten, sino que lo recrean y
contextualizan dentro de unos códigos particulares, modos de selección, énfasis y olvidos. La
realidad particular de los habitantes de la comunidad indígena de Presidio de los Reyes, en el
estado de Nayarit, México, como la de todo grupo social, está formada por códigos de
expresión propios, palabras, acciones, comportamientos y gestos, que se transmiten y
reproducen de padres a hijos, y que funcionan para identificarlos y distinguirlos de otros
grupos. En ese sentido, la lengua es un poderoso vehículo para transferir los valores culturales
de la familia, de la comunidad, del grupo al que se pertenece y que lo dota de identidad. En
este trabajo examinaremos el modo en que los habitantes de la comunidad multiétnica de
Presidio de los Reyes desarrollan su sentido de identidad, pensándose como protagonistas de
sus propias narrativas. Veremos que es la narrativa la que construye la identidad del personaje
al elaborar el argumento de la historia (Ricoeur, 1996), y no viceversa. Ese constante ir y venir
entre narrativas e identidades –entre vivir y contar– permite al narrador ajustar sus historias
para que las mismas concuerden con su identidad. El carácter multiétnico de la comunidad de
Presidio de los Reyes exige un tratamiento interdisciplinario que preste atención a los marcos
de referencia culturales, antropológicos, sociales y lingüísticos de sus habitantes. Es decir, si
consideramos que el ser humano tiene una tendencia natural a las historias, sea para
producirlas o escucharlas, en esta investigación nos proponemos analizar los códigos de
expresión propios, palabras, comportamientos y gestos, que se transmiten y reproducen en
el ámbito familiar y/o comunitario a través de las historias de vida, y que funcionan para

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identificar y distinguir de otros grupos sociales la realidad particular de los habitantes de


Presidio de los Reyes.

Mulheres Kaiowa: urdindo resistências à modernidade

Romina Celona

A pesquisa desenvolvida propõe evidenciar a complexidade das relações de sexo/gênero entre


as mulheres Kaiowa no atual Mato Grosso do Sul (MS), assim como também, explanar as
implicâncias desses vínculos nas formas de organização dos seus coletivos. Compreendendo
suas práticas e discursos como possíveis dimensões na resistência cultural e política à matriz
colonial e moderna, o objetivo principal pretende aprofundar em suas narrativas e
experiências através de pesquisa de campo. Pretende-se resgatar tanto as diversas
manifestações da sua agência no particular, quanto a interferência delas no cotidiano das
relações comunitárias. Espera-se demonstrar a importância na ação transformadora de estas
mulheres, como protagonistas permanentes na História no continente. Aponta-se a resgatar
as relações intersubjetivas na sociedade Kaiowa e Guarani do Mato Grosso do Sul e a
identificar a emergência de discursos autônomos, com uma perspectiva etnográfica desde um
olhar de mulheres. Entender estas subjetividades, ativas na resistência perante os avanços
ocidentalizantes que atingem as sociedades indígenas, torna-se imprescindível para uma
perspectiva crítica na antropologia latino-americana. Valorizando seus costumes e hábitos
como práticas insubmissas e rebeldes perante múltiplas tentativas de disciplinamento, busca-
se demonstrar seu rol ativo nas reivindicações políticas das suas comunidades. A pesquisa,
transita pelos rituais cotidianos destas mulheres evidenciando a sua importância na
construção do universo cultural e político kaiowa.

Retomada Mbyá Guarani de Maquiné/RS: narrativas de tempo e espaço

Katiane Machado Cezimbra

O trabalho tem por objetivo compreender e contar a história da retomada Mbyá Guarani de
Maquiné, município localizado em área de Mata Atlântica na encosta do Planalto Meridional,
na transição com o Litoral Norte do Rio Grande do Sul. O processo de retomada do que hoje

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constitui a Tekoá Ka’aguy Porã iniciou em janeiro de 2017, com a ocupação, pelos indígenas,
de uma área de terra pertencente à Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (FEPAGRO),
uma das seis fundações estaduais extintas pelo governo do Estado do Rio Grande do Sul a
partir de dezembro de 2016. Desde o início do processo de retomada, uma série de ações
judiciais e políticas foram travadas entre os Mbyá Guarani e seus apoiadores (coletivos, ONG’s,
universidades, etc.) e o governo. No entanto, a comunidade se (re)territorializou e vem
colocando em prática seu modo de vida, inclusive com a construção de uma de escola indígena
de perspectiva autônoma, batizada de Tekó Jeapó. Do ponto de vista metodológico, a
pesquisa que origina este trabalho está analisando uma série de fontes e documentos que
servem de base para a construção de uma narrativa histórica. Dentre estas fontes e
documentos, incluem-se a análise da cobertura da imprensa gaúcha, os documentos da
Fundação Nacional do Índio (FUNAI), do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e da
Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do RS
(CCDH/ALERS), além de um conjunto de entrevistas com as lideranças da comunidade e dos
Mbyá Guarani, que visam tecer a História Oral dos mesmos. A partir dessas fontes históricas,
problematizamos e organizamos narrativas que buscam dar conta de entender a dimensão
temporal e espacial dos Mbyá Guarani no Rio Grande do Sul, em especial da comunidade que
se estabelece na retomada em Maquiné, além de analisar os inúmeros conflitos vividos por essa
população nos últimos 10 anos. Buscamos entender e contar como a retomada se constitui em uma
reterritorialização, neste caso definida temporal e espacialmente desde uma perspectiva geo-
histórica.

Estado Nacional e trajetórias de vida: líderes indígenas de Pernambuco na


primeira metade do século XIX

Mariana Albuquerque Dantas

Em Pernambuco do século XIX, mais precisamente na zona da mata sul, área de grande
produção açucareira, destacaram-se duas importantes lideranças indígenas do aldeamento de
Barreiros, Agostinho José Pessoa Panaxo Arcoverde Camarão e Bento José Duarte. O primeiro,
descendente de uma linhagem tradicional de chefias em Pernambuco que remetia ao período
colonial, e o segundo, um líder construído a partir do apoio de outros indígenas da localidade.
Os dois se envolveram nos conflitos armados iniciados pelas elites ocorridos na primeira
metade do Oitocentos. Embora em alguns momentos tenham lutado do mesmo lado,
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defendendo as forças imperiais, tiveram divergências e trajetórias diferentes, o que ajuda a


evidenciar as formas pelas quais os índios de Barreiros atuaram nos conflitos políticos do
período. Embora as informações sejam escassas, podemos remontar a trajetória política e
militar de ambos à primeira metade do século XIX, quando participaram da Guerra dos
Cabanos, ocorrida entre 1832 e 1835, e da Insurreição Praieira de 1848. Nesse período,
envolveram-se também nas disputas pela administração das terras do aldeamento, divergindo
sobre o perfil do indivíduo que deveria ocupar o cargo de diretor e sobre a possibilidade de o
espaço ser arrendado a não índios. As experiências de Agostinho e Bento são significativas
para ilustrar a participação política de indígenas na construção do Estado nacional brasileiro
no século XIX. Fizeram escolhas inseridos em redes de relacionamentos que construíram com
não indígenas da vila vizinha e entre seus liderados, participando assim do jogo político local
e recorrendo às armas quando entendiam ser necessário. Ao conectar a arena política mais
específica às disputas no cenário nacional, a análise sobre a atuação de ambos permite
reavaliar as narrativas sobre a formação do Estado brasileiro oitocentista, apontando para
uma crítica à ausência das populações indígenas e às perspectivas estereotipadas sobre elas.

A figura do intérprete militar (língua) nas bandeiras e aldeamentos na


Capitania de Goiás (1721-1832)

Thiago Cancelier Dias

A presente comunicação versa sobre os índios coloniais da Capitania de Goiás e os contextos


que perfizeram suas escolhas: o campo de atuação, a experiência da interlocução e a agência
indígena na situação colonial. Na leitura da documentação sobre bandeiras, descimentos e
aldeamentos é recorrente encontrar a figura do chamado língua. Percebe-se que língua era
um ofício no qual consistia em ser intérprete e interlocutor nas relações entre portugueses e
os chamados por eles de “gentios de nação”. Analisa-se sua presença como parte da estratégia
de contato e intermediação nas negociações entre sertanistas, jesuítas e oficiais das tropas da
Coroa com as aldeias indígenas presente nos sertões, com os índios aldeados nos aldeamentos
e nas fazendas que possuíssem grandes plantéis de índios administrados. Verificou-se que há
casos de escravos e portugueses trabalhando como línguas, mas no geral os preferidos eram
indígenas da mesma formação sociocultural e língua da aldeia a ser reduzida. São discutidos
vários casos de línguas para entender como se dava a sua formação e atuação nessa profissão.
Observa-se que em geral eram recrutados nas aldeias a partir de negociações, ou a força, para
serem intérpretes militares, ou nas fazendas onde eram tratados como índios administrados.
E que os indígenas mais procurados eram os ladinos no sentido do século dezoito, ou seja, de
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entender os costumes portugueses e saber andar entre eles, ao mesmo tempo, conhecedores
da cultura e sociabilidade indígena. Defende-se que houve mudanças no seu recrutamento e
formação, após a década de 1770 a preferência era que fosse da família do maioral (líder). A
partir de seu recrutamento recebia nome português, eram batizados e adentravam no mundo
colonial como afilhados de governadores, capitães, “nobres” e comerciantes. Percebe-se que
faziam um jogo duplo no sentido de ora contribuir com os colonizadores nas negociações de
paz e vassalagem, na organização dos aldeamentos, nas estratégias de convencimento; ora
organizavam revoltas, fugas e desarticulavam bandeiras e aldeamentos; apresentavam
exigências, negociavam e interpretavam as normativas e as práticas coloniais a favor de sua
aldeia e família. Conclui-se que eram agentes sociais que eram interlocutores e como tal
tinham possibilidade de administrar as perdas envolvidas no processo colonial e conduzir seus
interesses e de seu grupo familiar mesmo em situação adversa.

Os significados da força de trabalho dos índios na capitalidade do Rio de


Janeiro Colonial no século XVIII: A expansão da cafeicultura no Vale do
Paraíba

Augusto Drummond Dias Neto

O objetivo deste trabalho é compreender o lugar da força de trabalho dos índios, na


capitalidade do Rio de Janeiro, no contexto da expansão da cafeicultura no Vale do Paraíba
durante o século XVIII. As sociedades indígenas que viviam na territorialidade do Rio de
Janeiro devem ser consideradas como agentes sociais importantes para a compreensão mais
ampla do período colonial. Para isso, precisam ser entendidas como sujeitos dos processos
históricos nos quais estavam inseridas. É importante destacar que o papel dos índios na
capitania do Rio de Janeiro foi, no tocante ao universo laboral, uma força de trabalho que
exerceu diferentes atividades. Necessário dizer que a política da Coroa portuguesa com
relação aos indígenas oscilou entre o desejo de ter os índios como mão de obra e, ao mesmo
tempo, como aliados em aldeamentos, caracterizando-se por diversos mecanismos legais que
se sucediam e, muitas vezes, se complementavam. Isso se deu em meio a um cenário de
disputas em que estavam inseridos os índios, colonos, jesuítas, e missionários de outras
ordens religiosas. Em meados do século XVIII, duas possibilidades de escravização
prevaleceram na colônia: o resgate e a guerra justa. Neste enredo, em comum, a ideia do
combate à incivilidade dos índios não-aliados. A invisibilidade do indígena como força de
trabalho essencial para o desenvolvimento da colônia foi construída histórica e socialmente.
O processo de apagamento de suas identidades étnicas e culturais foi promovido, em grande
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medida, pelas dimensões socioeconômicas e simbólicas da noção de capitalidade investida na


territorialidade do Rio de Janeiro desde o setecentos. Os esquecimentos historiográficos a
este respeito são parte desse construto histórico, tornando essa invisibilidade um problema
epistemológico. A etnohistória indígena é uma perspectiva metodológica importante para a
superação desse hiato historiográfico. Um elemento fundamental na captura da força de
trabalho dos índios na elaboração da identidade política do Rio de Janeiro é a noção de
capitalidade, conceituada por Argan, onde uma cidade passa a representar a unidade e a
síntese de uma nação. Esse passado constituiu uma tradição única da cidade, marcando o que
é próprio e o que a separa das outras regiões do país. A característica singular da cidade do
Rio de Janeiro é o fato dela ter se construído historicamente como o eixo da capitalidade do
país. No século XVIII, a centralidade do Rio de Janeiro no cenário brasileiro foi reforçada em
1763, ano da transferência da capital do Brasil de Salvador para o Rio, pela necessidade da
Coroa Portuguesa de garantir maior controle sobre a riqueza gerada com a produção do ouro
em Minas Gerais. A importância da cidade para a sustentação do império português parecia
ser consenso no setecentos, pela prosperidade que a capitania experimentava. A política de
povoamento e fundação de vilas se impôs e se aprofundou durante toda a segunda metade
do século XVIII, expandindo os significados dessa capitalidade. É possível verificar que durante
a expansão da cafeicultura foi estabelecida uma relação de dependência entre a mão de obra
escrava e o móvel produtivo, que foi beneficiada pela estrutura criada pelos engenhos de
açúcar. O aumento da produção cafeeira estava ligado ao crescimento da entrada de escravos.
Durante o período minerador, a Coroa portuguesa impedia a ocupação de diversas áreas de
Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo para evitar o contrabando do ouro. No entanto, essa
situação foi revertida com a expansão do café.

Participación y emancipación como modus vivendi en la asociación pionera de


mujeres mapuche williche Malgnmapu (1980-1999)

Michel Duquesnoy

Desde la década de los años sesenta en la Norpatagonia chilena existieron varias agrupaciones
de mujeres reunidas en los conocidos Centros de Madres cuyas actividades se centraban en
capacitaciones diversas y manualidades. Existe muy poca información oficial al respecto. En la
Décima Región (este momento juntaba las actuales Regiones de los Lagos y de los Ríos), tres
territorios contaban con agrupaciones a carácter propiamente femenino y étnico: Chiloé,
Valdivia y Osorno. La provincia de Osorno demostraba una vitalidad importante ya que 40
grupos diferentes se encontraban en la zona. No obstante, en el territorio de Misión San Juan,
un grupo de aproximadamente 150 mujeres empezó a distinguirse por su preocupación
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netamente étnica, dando un “toque” femenil a sus numerosas actividades (capacitación,


talleres, difusión cultural, etc.). La participación fue su eje constitutivo y operativo distintivo.
La dictadura pinochetista impuso un silencio relativo a los 14 grupos ya existentes aunque sin
reconocimiento jurídico. Es a partir de 1985 que un núcleo fuerte, liderado por doña Viviana
Lemuy, inició una visibilidad cada vez más importante para finalmente crear en 1993, con la
promulgación de la Ley Indígena, la Asociación legalmente reconocida Malgnmapu – Mujeres
de la tierra. Asociación con antecedentes a la fecha indicada que evolucionará hasta ser la
matriz de las numerosas agrupaciones que se crearon siguiendo su ejemplo y que hoy se han
vuelto en nuestros días elementos imprescindibles en la reivindicación mapuche williche de
toda la Región.

Viltipoco, ciudadano molestoso: trayectoria, prácticas de reconocimiento


indígena y ciudadano, y disputas por la historia en Humahuaca, Argentina

Guillermina Espósito

Gabriela Barrios Cáceres

En este trabajo presentamos la trayectoria y las prácticas de reconocimiento y disputas de la


historia local, que lleva adelante un historiador aficionado, archivero, comunicador, escritor,
editor e investigador del pueblo Omaguaca en Jujuy, Argentina. En base a entrevistas
realizadas a WGB, alias Viltipoco, durante los años 2017 y 2018, reconstruimos: 1) los hitos de
su biografía que marcan su “conversión” de católico a indígena y posteriormente
omaguaqueño; 2) las prácticas que como funcionario municipal de Humahuaca desarrolló
durante dos años para visibilizar la presencia indígena en la región; y finalmente 3) su rol de
articulador y vocero de “la causa indígena” y de los derechos ciudadanos en Jujuy.

A territorialidade a partir de duas histórias de vida apinajé

Marcelo Gonzalez Brasil Fagundes

Considerando o debate no campo das ciências humanas acerca do gênero biográfico


(BOURDIEU, 2006; LEVI, 2006; LORIGA, 1998; SCHMIDT, 2012), em seus diferentes aspectos
teóricos e metodológicos, observa-se a importância da relação entre personagem e
conjuntura histórica na construção de narrativas sobre as histórias de vida. Aponto para a
relevância de uma análise conceitual e de metodologia que considere a interrelação entre
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etnografia e história oral (PUJADAS, 2012; BARBOSA; et. al. 2018) para a investigação
biográfica no campo da história indígena. Assim, considero pertinente o estudo de duas
histórias de vida apinajé para investigar as distintas dimensões da territorialidade do povo em
suas conjunturas históricas específicas. Essas duas histórias de vida possuem em comum o
fato de serem construídas a partir de etnografias, que têm nesses personagens seus principais
interlocutores, e da memória social do povo sobre esses dois sujeitos. Mãtyk (José Dias), pahi
(cacique) da aldeia Bacaba, emergiu como liderança entre as décadas de 1920 e 1940. Como
principal interlocutor do etnólogo alemão Curt Nimuendajú (1956), a história de vida de Mãtyk
surge em meio ao estudo etnológico sobre os apinajé. Destacam-se os episódios em que
empreendeu enormes esforços pela garantia do reconhecimento do território. Em distinta
conjuntura histórica, Irepxi (Maria Barbosa) articulou a mobilização e a mobilidade do povo
na luta pela demarcação da terra indígena Apinayé na década de 1980. O estudo etnográfico
de Rocha (2001) sobre questões de gênero entre os Apinajé tem Irepxi como principal
interlocutora e nele emerge a significação ancestral do território dado por ela. Ambas histórias
de vida possuem significações na memória social do povo e são reestruturadas de distintas
formas pela oralidade. Concluiu-se que o estudo de histórias de vida, inseridos no campo da
história indígena através de uma perspectiva transdisciplinar, pode ser analisado a partir da
territorialidade e de suas conjunturas históricas e culturais específicas

“Quebrando protocolos”: um relato autobiográfico da Cacique Kátia Gavião


do povo Akrãtikatêjê da Montanha

Ana Paula de Souza Fernandes

O objetivo deste trabalho é apresentar a trajetória da liderança tradicional e política da aldeia


Akrãtikatêjê, Kátia Gavião, do povo Gavião da Montanha, residente no Território Indígena
Mãe Maria, localizado no município de Bom Jesus do Tocantins, estado do Pará. As mulheres
indígenas vêm conquistando cada vez mais espaço no contexto político de suas aldeias e
alcançando visibilidade local e nacional, contudo, tal protagonismo ainda é pouco abordado
na etnologia das populações ameríndias do Brasil. Em sua pesquisa com os Mẽbengôkre, Lea
(2017) atribui tal situação ao viés masculino dado às pesquisas antropológicas que relega as
mulheres às margens da sociedade, premissa que é reafirmada em recentes estudos
produzidos por mulheres indígenas (Creuza Prumkwyj, 2017; Valdelice Veron, 2018; e, Sandra
Benites, 2017) que narram a ausência de interesse dos antropólogos em conhecer o papel
social que desempenham em seus povos. Por outro lado, Calavia Sáez (2006) destaca que os
estudos etnográficos brasileiros adotaram uma tendência de compreensão do “eu indígena”
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quase sempre relacionado à história do povo ou de sua mitologia, logo, as narrativas


biográficas indígenas são quase inexistentes no conjunto bibliográfico da etnologia brasileira.
Assim, ao compartilhar o relato da trajetória de Kátia Gavião à liderança de seu povo
pretende-se contribuir tanto para a produção de conhecimento na área da etnobiografia (cf.
Gonçalves, 2012) quanto na participação social e política da mulher indígena em sua
comunidade. A narrativa é parte das anotações e entrevistas do trabalho de campo para a
produção da minha dissertação sobre a emergência de mulheres caciques entre os Gavião do
Pará, em fase de conclusão. Ao contar o caminho que percorreu até à chefia, a Cacique
expressa os desafios que se impuseram a ela e ao seu povo, expondo a violência sofrida pelos
Akrãtikatêjê por meio da remoção forçada de seu território em função da construção da Usina
Hidrelétrica de Tucuruí, cujas consequências julga ser um fator preponderante para sua atual
condição de chefia. Ao mesmo tempo em que expressa sua atuação ativa para aprender sobre
seu mundo e contestá-lo, ela entrecruza suas memórias com a do pai (Payaré), da avó
(Honõre) e a história coletiva de seu povo na luta para existir.

A "valentia" de levar vozes indígenas para dentro da literatura brasileira

Deborah Goldemberg

O romance Valentia (Ed. Grua, 2012) foi escrito a partir do convite de liderança indígena de
Santarém, Pará, como projeto de valorização da cultura local. A região foi reduto dos rebeldes
cabanos na fase ribeirinha da Cabanagem, considerada a maior revolução popular do Brasil
(Caio Prado Jr, 1933). A revolta reuniu índios das etnias Munduruku, Mura e Satere-Mawê, no
Século XIX, mas é pouco conhecido no Brasil e no Pará (cerca de um terço da população do
Grão-Pará foi morta, levando consigo a história). Artistas diversos participaram de expedição
fluvial para visitar os descendentes dos rebeldes cabanos e o romance foi escrito por uma
antropóloga-escritora. O manuscrito foi premiado pelo Governo do Estado de SP e, após
publicado, finalista dos prêmios Jabuti e Machado de Assis. Desde então, vem sendo estudado
em universidades brasileiras e americanas. A metodologia utilizada pela autora na pesquisa
de campo foi a história de vida. As comunidades foram mobilizadas pela liderança indígena
para contarem suas histórias (e memórias) sobre a Cabanagem e o texto partiu desses relatos.
No entanto, o entendimento da autora foi que utilizar as histórias conforme elas foram
narradas não seria o bastante para mobilizar o mundo literário, conforme era a intenção do
projeto mais amplo (atingir o Brasil leitor) e, então, fez uma opção formal por entremear os
depoimentos colhidos em campo (em alguns casos quase transcritos, em outros ficcionados)
com uma prosa tradicional do gênero romance. Adotou técnicas de enredo, personagem,

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conflito e desfecho da tradição ocidental, além de recursos poéticos. Algumas das histórias
narradas tinham grande potencial literário (personagens incríveis, reviravoltas e humor), mas
outras não (histórias não conclusivas ou sem sentido). Também, havia narrativas não-literárias
e até anti-acadêmicas (que invalidavam a literatura acadêmica sobre a cabanagem), como a
fala, “Ah, aqui não teve isso de Cabanagem não. Foi o povo daqui que inventou isso porque
não tinha o que fazer.” No campo da literatura, até isso pode ser incorporado. A recepção de
Valentia, tanto pela crítica literária quanto pela academia (particularmente, departamentos
de Letras) vem se debruçando sobre a questão da representação dos povos indígenas. Por um
lado, o texto é louvado por trazer a tona esse “Brasil que ninguém vê”, por outro lado, há
questionamento e comparação com outras abordagens indianistas, como a de Mário de
Andrade em Macunaíma e Darcy Ribeiro em Maíra, e por outro lado ainda, oriundo do avanço
do trabalho da própria antropóloga-escritora, do quanto que o processo criativo
deveria/poderia ter sido mais participativo sem perder o potencial literário e, ainda, como
deveria ser a questão autoral em processos participativos como esses, dado que não há
arcabouço legal para direitos autorais compartilhados, por exemplo.

Historia de Vida e Identidad: mujeres tobas y mapuche en Argentina

Mariana Daniela Gómez

Pasaron doce años desde que realicé más de una docena de historias de vida a mujeres tobas
o qom (de comunidades rurales situadas en el oeste de Formosa, noreste de Argentina, chaco
centro occidental) y unos tres años de la realización de unas entrevistas de carácter biográfico
a mujeres mapuche del sur argentino (en Neuquén, en el 2015). El objetivo de esta exposición
será reflexionar en torno a las identidades de mujeres tobas y mapuche adultas en clave
comparativa: ¿Qué significa hablar de “identidad étnica” e “identidad de género” en un caso
y en otro, teniendo en cuenta los diferentes procesos históricos de sometimiento,
colonización, integración, subalternización y re-etnización de la población indígena en
provincias diversas como Formosa y Neuquén? ¿En qué medida las historias de vida son
materiales válidos para analizar procesos identitarios? En este sentido también aportaré
algunas reflexiones sobre los aspectos intersubjetivos y teórico-epistemológicos que se
involucran en la realización de historias de vida a mujeres que se autoreconocen como
miembros de grupos indígenas (pueblos, pueblos-naciones, parcialidades, comunidades,
organizaciones, etc.).

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Atuação política de mulheres indígenas através de biografias (Goiás, século


XIX)

Suelen Siqueira Julio

A comunicação enfatiza a atuação política de mulheres indígenas na capitania de Goiás (mais


tarde, província) no século XIX, reconstruindo a biografia de três dessas mulheres: Damiana
da Cunha, Dona Potência e Maria Canoeiro. Com o objetivo de fornecer informações que
contribuam para a construção de um conhecimento mais sólido sobre as mulheres indígenas
enquanto sujeitos históricos, utilizo as biografias citadas como forma de discutir a presença
indígena na história, bem como questões de gênero. A discussão levantada tem o potencial
de contribuir para a superação dos estereótipos a partir dos quais as indígenas foram
abordadas tanto no senso comum quanto em trabalhos acadêmicos. Frequentemente tais
mulheres foram ligadas ao momento inicial da invasão e colonização europeias. Neste
momento, teriam atuado, sobretudo, como procriadoras, seja por sua “disponibilidade sexual
exacerbada” ou por sofrerem abusos. Nos últimos anos, alguns trabalhos vêm enfatizando
outros aspectos das trajetórias das mulheres indígenas. Aqui serão abordadas três mulheres
que se destacaram por sua atuação política.

Registros de papel branco: os índios desaparecidos nos relatórios e


correspondências da Presidência de Província no Rio de Janeiro do século XIX
– resistências e trajetórias

Cesar de Miranda e Lemos

A pesquisa sobre as sociedades indígenas no oitocentos, especialmente em regiões de antiga


colonização e, singularmente, no território de capitalidade da Província e da Cidade do Rio de
Janeiro, encontra boa parte de suas bases de registros nos Arquivos Públicos Estaduais. No
caso da região supracitada, o Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro/APERJ – desfruta
de uma importante reunião de correspondências e relatórios referentes a presença/ausência
de índios no território fluminense e carioca no oitocentos. Já na segunda década da
Independência, esses registros deflagram um processo dialético de construções de memórias,
de linguagens e de arte classificatória sobre os índios na territorialidade fluminense,

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constituindo um enredo de imagens que denominamos de apagamento ou papel branco de


indivíduos e sociedades indígenas no dezenove. Ainda assim, no teor dialético desse
construto, diversos índios e suas sociedades aparecem sob múltiplas formas numa idiomática
social e política que os captura e, portanto, os registra, quando os supõe desaparecidos. Nesta
dinâmica, algumas trajetórias de índios podem ser reconhecidas para contextualizarmos uma
reflexão mais fina sobre o protagonismo de índios numa conjuntura histórica de sepultamento
simbólico de suas presenças. Assim, com base em fontes do Fundo de Presidente de Províncias
(PP), depositadas no APERJ, ofereceremos uma descrição e interpretação sobre a
movimentação e as vozes de índios em torno de suas presenças e direitos no Rio de Janeiro
do período Monárquico.

Cobra-Canoa: criando o mundo da barriga da serpente

Priscila Passos de Lima

A Lei 11.645, tornou obrigatório o ensino da história e das culturas afro-brasileiras e indígenas
no ensino de arte. Contudo, metodologias que permitam aproximações com os elementos
simbólicos e visuais de nossas matrizes culturais ainda são escassos. A imagem da cobra, na
cultura brasileira, representa desde a própria encarnação de Satanás, no cristianismo, até a
personificação de genitora da humanidade, em narrativas dos povos indígenas na região do
Noroeste do Amazonas. Sendo também a imagem um viés da linguagem, o acesso à saberes,
pois como Huberman (2012), aponta “para conhecer é preciso imaginar”, cabe repensar a
relação entre a imagem e o saber. Quando vislumbramos a atuação do professor de artes,
entramos em um contexto onde ele se firma como um mediador capaz de conduzir os alunos
por uma imersão na cultura de outros povos, e ao contextualizarmos o Brasil focamos nos
povos tradicionais de vertente indígena. O arte-educador, possibilita aos discentes o encontro
com elementos culturais distanciadas geograficamente, porém interligadas por memórias
coletivas. Essas experimentações assumem um panorama de descobertas intrínsecas sobre a
matriz indígena do Brasil, nos conduzem em territórios que não seriam possíveis de tocar pelo
plano físico. Então, na aula de artes, abordagens que permeiem o terreno do afetivo permitem
uma imersão cultural. Para Dewey (2010, p.114), “Não obstante, a experiência em si tem um
caráter emocional satisfatório, porque possui integração interna e um desfecho atingido por
um movimento ordeiro e organizado”. O Projeto Cobra-Canoa, realizado no Colégio Inovação,
no bairro da Freguesia do Ó, na capital paulista, tem como proposta uma interlocução entre a
imagem da cobra e suas reverberações no imaginário coletivo, partindo de encontros com
indígenas e suas narrativas. Para Barbosa (2008), “A história intelectual e formal, usa

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vestimenta acadêmica, enquanto a memória não respeita regras nem metodologias, é afetiva
e revive cada lembrança.” O objetivo geral deste artigo é compreender as relações entre a
imagem da cobra e o ensino das artes visuais no Projeto Cobra-Canoa. Os específicos:
contextualizar as referências da mitologia indígena relacionadas a imagem da cobra no Projeto
Cobra-Canoa e traçar o percurso desenvolvido no projeto, para exemplificar uma metodologia
que possibilite ao educador uma mediação entre a cultura indígena e a arte. Utilizamos
abordagem qualitativa de cunho exploratório, quanto aos procedimentos técnicos, pesquisa
bibliográfica, documental e de campo. Concluímos ser de grande importância política um
ensino de arte que aproximem a cultura indígena ao conteúdo de sala de aula.

Perspectiva de Davi Kopenawa sobre a epidemia: reconfiguração da mitologia


Yanomami

Mariá Batalha Carvalho Machado

Nas sociedades amazônicas são comuns as reconfigurações de seus contextos culturais na


busca de explicações para o que se acontece na história imediata. Esse trabalho visa
correlacionar a partir da trajetória peculiar de Davi Kopenawa como a história do contato
entre indígenas e não indígena, especificamente durante a ditadura militar, influenciou na
reconfiguração mitológica dos Yanomami referente às epidemias. Durante a ditadura militar,
a Amazônia foi marcada por sangue devido a planos desenvolvimentistas sociais em que não
tinham a menor preocupação com as comunidades indígenas. Em 1970, instituído por decreto
de lei o plano de integração Nacional PIN previa a integração da Amazônia ao resto dos pais
por meio de redes rodoviárias. A abertura do trecho da perimetral Norte e a detecção de
minérios preciosos pelo Projeto Radam na terra Yanomami provocou uma massiva ocupação
de trabalhadores e máquinas nas comunidades Yanomami, o que ocasionou epidemias de
sarampo, surtos de gripe, malárias e levou dizimação de comunidades Yanomami. De acordo
com Davi Kopenawa, as epidemias estão diretamente ligadas às fumaças que advêm do ouro
e as fabricas, não há processos biológicos do corpo. Pode-se ao analisar os relatos de Davi
Kopenawa, os quais foram escritos por ele e Bruce Albert no livro “A queda do céu” clarear a
ligação das epidemias aos objetos manufaturados baseando-se no perspectivismo ameríndio
e na inovação cultural de Roy Wagner. Ou melhor, da criatividade de criar o outro de acordo
com sua perspectiva.

Cuando vinieron los Jurua


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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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Marcelo Bogado Pompa

La presente ponencia se propone mostrar, a partir de relatos de historia de vida, la memoria


existente entre personas del pueblo Mbya Guaraní del Paraguay com respecto a su contacto
e interrelación con miembros de la sociedad envolvente. Los relatos presentados muestran la
historia del avance del colonialismo interno (que se dio a través de colonos paraguayos y
extranjeros) sobre el territorio mbya; avance que se dio primeramente de manera tímida para
pasar a presentarse como abiertamente agresivo décadas más tarde; proceso que llevó en
unos cincuenta años a la perdida de gran parte del territorio de los Mbya del Paraguay. En
personas mayores de 70 años, cuya memoria se remonta a la década del 1940, existe la
memoria de los tiempos pasados, cuando aún existían las selvas, como un passado idílico, en
donde se podía vivir plenamente el modo de vida tradicional mbya (mbya reko). “La vida en la
selva” presentada en estos relatos constituye una evocación de un pasado con el que se
sienten identificados identitariamente los Mbya. En este sentido, la perdida del acceso a las
selvas por parte de los Mbya, que se dio por la deforestación y la perdida de su territorio, cuya
consecuencia práctica implicó la imposibilidad de seguir el modo de vida mbya, da como
resultado, a nivel discursivo, una evocación, por parte de varios ancianos, de este pasado
como una suerte de paraíso perdido, dando como resultado una “nostalgia de la selva” por
parte de quienes vivieron en este tiempo. En paralelo a los tiempos de la selva se evocan los
tiempos de “los últimos mburuvicha” (grandes líderes), quienes tuvieron que hacer frente a la
llegada del frente colonizador. “La llegada de los primeros colonos” en la década de 1940, con
quienes se relacionaron pacíficamente los Mbya, dio como resultado (una vez que los colonos
se asentaron plenamente, que crecieron em número y se apropiaron de las tierras mbya) a
“los conflictos y la lucha por la tierra”, que puede considerarse como un periodo de la historia
reciente del pueblo mbya que actualmente continúa vigente.

A Kujá Kaingang

Ronelssom Luiz

Esta pesquisa traz a importância dos Kujá para o povo kaingang da Terra Indígena Xapecó, Em
entrevistas e relatos da Anciã kaingang Dona Divaldina Luiz, 73 anos de idade da metade
Kanhru, residente na Aldeia Pinhalzinho nesta Terra Indígena, mostrarei a sua trajetória de
vida e de atuação com Kujá e detentora dos conhecimentos tradicionais como ervas
medicinais e de praticas culturais do povo kaingang. Desde os seus 25 anos de idade trabalha

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com Ervas Medicinais na Aldeia, também sua trajetória de luta em defesa do território
indígena da sua comunidade e a sua perspectiva sobre as práticas culturais de seu povo.

Marcas da história, cicatrizes na memória: a trajetória de vida de Adriano


(Teteare) e do povo Apurinã ao longo do século XX

Frederico de Amorim Magalhães

Esta comunicação é resultado da minha pesquisa de mestrado (Magalhães, 2018) entre os


Apurinã, povo indígena de língua arawak, que habitam o Baixo rio Purus (Amazonas, Brasil).
Nele apresento e analiso a trajetória de vida de Adriano Batista Apurinã (Teteare), ex-cacique
da aldeia São Francisco de Tauamirim, correlacionando-a com a história do povo Apurinã e
com a história nacional brasileira. Trato, sobretudo, do tema da guerra, da feitiçaria e das
migrações em que os Apurinã estiveram envolvidos durante o século XX; do impacto da
exploração da borracha e da castanha para os povos indígenas do Purus; e do processo de luta
pela demarcação das Terras Indígenas nessa região. Veremos que a biografia de Adriano e sua
experiência de vida, apesar de invisibilizadas pela história oficial do Brasil, estão entrelaçadas
a eventos históricos significativos para país e, particularmente, para os Apurinã.
Acompanharemos a trajetória de Adriano desde o seu nascimento, nos anos de 1940, até os
dias atuais. Nesse meio tempo, apresento detalhadamente sua biografia, resumida aqui: dos
7 aos 10 anos Adriano trabalhou em um seringal na fronteira entre os municípios de Lábrea e
Pauini; com 11 anos ele foi levado por um inspetor do SPI (Serviço de Proteção aos Índios)
para trabalhar em Manaus, onde permaneceu por 10 anos; com 22 anos Adriano retorna para
o Purus e vai viver novamente na aldeia apurinã onde estava sua família; juntamente com
outros familiares, ele começa a trabalhar em um castanhal até ocorrer uma guerra entre eles
e os brancos da região; após esse conflito, Adriano torna-se um dos fundadores e o cacique
da aldeia São Francisco de Tauamirim – onde ele mora até hoje e onde fiz meu trabalho de
campo; por fim, trato de sua luta, a partir do anos 70, com outros povos indígenas do Purus,
para a demarcação das Terras Indígena da região e de sua essencial contribuição política para
criação e atuação da OPIMP (Organização dos Povos Indígenas do Médio Purus).

Votouro/Kandóia: Uma comunidade Kaingang frente ao etnocidio

Clémentine Maréchal
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Foi no início dos anos 1920, no Rio Grande do Sul, quando estala a “Revolução de 1923”, uma
guerra que oponha os Ximangos, aliados do então presidente do Estado Borges de Medeiros,
e os Maragatos reivindicando-se a favor do federalista Joaquim Francisco de Assis Brasil, que
os Kaingang de Votouro/Kandóia foram retirados à força do seu território ancestral. O então
fiscal dos índios, Osório Torres “convenceu” os Kaingang de serem retirados, ameaçando-os
de serem mortos nos combates entre Maragatos e Ximangos. Ele os levou de caminhão, uns
quilômetros ao sul, na terra hoje conhecida como Terra Indígena Votouro (RS). Contrapondo-
se a história oficial, encontramos as lembranças dos filhos e netos dos que foram
reterritorializados. Um avô que, durante a guerra, atuou de mensageiro entre os dois bandos.
Relatos de trabalhos forçados, torturas e fugas, o conhecido “sistema panelão” deixou, aqui
também, lembranças nefastas. Em 1940, W.Benjamin declarou pertinentemente: “Ora, os que
num momento dado dominam são os herdeiros de todos os que venceram antes”. Hoje,
enquanto os Kaingang lutam para recuperar seu território ancestral, é o filho do antigo fiscal
dos índios, amamentado quando criança com a leite das mulheres Kaingang e hoje vice-
prefeito da cidade de Faxinalzinho (RS), que ocupa a maior parte das terras reivindicadas pelos
Kaingang. Coincidência? A situação atual no Acampamento de Retomada de Votouro/Kandóia
é o reflexo de uma situação histórica inscrita na continuidade da guerra de conquista
expressada pelo engano, a exploração e o etnocidio; uma guerra disfarçada de proteção
institucional e integração social. O presente trabalho pretende por um lado relatar a trajetória
dos Kaingang de Votouro/Kandóia, expulsos dos seus territórios na segunda década do século
XX, e por outro analisar a situação atual vivida pelos que, com audácia, se empenharam em
retomar sua terra nos anos 2000, articulando-a com a essa trajetória histórica. Hoje,
criminalizados e perseguidos por reivindicar seu território ancestral, os Kaingang de
Votouro/Kandóia estão encerrados em dois hectares de terra, cercados por fazendas, vendo
como as antigas florestas de araucárias, o ore xá (barro preto) remédio e fonte de fabricação
de artesanato, os taquarais e os diversos venh-kagta (remédios) desaparecem atacados pelos
herdeiros protagonistas dos processos coloniais e civilizatórios. Esses territórios reivindicados
são também lugares de memória nos quais vivem antigos guerreiros Kaingang como o cacique
Votouro, e a destruição dos lugares e seres pertencentes ao Votouro/Kandóia por parte dos
agricultores da região, reflete também uma batalha simbólica na qual busca-se extinguir todo
resquício de memória indígena no território.

Caboclo Bernardo e sua rede de amigos: os desafios de ser índio no Império

Vânia Maria Losada Moreira

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Na madrugada do dia 7 de setembro de 1887 o cruzador da Marinha de Guerra Imperial


Marinheiro naufragou nas proximidades da barra do Rio Doce. O acidente ocorreu em frente
a um pequeno povoado da província do Espírito Santo chamado Regência Augusta, pouco
depois de o cruzador se chocar com um pontal na altura de Comboios. Estavam a bordo 142
homens, entre eles 93 marinheiros e vários oficiais de diferentes patentes. Segundo os
testemunhos da época, a noite estava muita escura, não havia nenhuma embarcação no local
para realizar o resgate das vítimas e a situação tornou-se ainda mais exasperante porque os
tubarões rondavam a cena do desastre. Bernardo José dos Santos (1859-1914), mais
conhecido como Caboclo Bernardo, resolveu, sozinho, enfrentar o mar a nado para resgatar
os náufragos. Depois de cinco horas e meia de luta e esforço, tonou-se o protagonista do
salvamento de 128 vidas. Nascia, então, um herói e um mito na história do Espírito Santo.
Primeiro, Bernardo foi homenageado na capital da província e pouco depois condecorado no
Rio de Janeiro com medalha de ouro pela regente princesa Isabel. Muitas décadas depois, em
1969, a Marinha de guerra também o homenageou, batizando um rebocador como o nome
“Caboclo Bernardo” e oferecendo dois bustos dele à comunidade de Regência. Finalmente,
em 1980, a prefeitura de Linhares criou a comenda “Caboclo Bernardo” para condecorar
cidadãos realizadores de serviços relevantes para o município, o estado do Espírito Santo e o
país. Nesta comunicação, a biografia de Bernardo será trabalhada a partir de três eixos
fundamentais: a construção narrativa sobre o herói na longa duração, passando pelas versões
oficiais e pelo ponto de vista indígena, que usa o herói Bernardo na luta pela demarcação das
terras indígenas no estado; as diferentes atribuições identitárias atribuídas a Bernardo, que
oscila entre as categorias de “índio”, “caboclo”, “pescador” e “marinheiro”; e sua biografia
como janela para discutir e problematizar a história indígena – borrada pela narrativa
dominante acerca da história regional e nacional.

Olhares sobre si: narrativas, memorias e saberes entre os Potiguara na Aldeia


do Catu

Manuel Luiz Sousa Moura e José Glebson Vieira

A proposta deste trabalho é abordar a etnicidade potiguara na aldeia Catu, no estado do Rio
Grande do Norte, Brasil, na perspectiva das subjetividades e narrativas individuais
desenvolvidas, tento por base a trajetória temporal e importância simbólica de Manoel
Serafim Soares Filho, conhecido por seu Nascimento, hoje já falecido. Estas narrativas marcam
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à seus modos específicos uma espécie de passagem nominal da consciência de diferenciação


étnica, considerada uma das principais nascentes do movimento indígena e da reelaboração
identitária. Dois exemplos de narrativas são importantes para referenciar o trabalho. A de
Vando, conhecido por muitos como detentor do saber histórico da aldeia Catu, e a de Luiz
Catu, Cacique atua da aldeia. Vando retrata que Seu Nascimento e ele encontraram ainda no
final do século XX os Potiguara do estado vizinho, a Paraíba. Neste encontro, Seu Nascimento
passou a ter uma espécie de configuração clara de sua condição no mundo: “Até hoje não
sabia quem eu era, mas hoje sei, sou índio”, afirma quando retornaram ao Catu. Seu
Nascimento elaborou no decorrer da vida um apanhado considerável de escritos e depois do
encontro estes passaram a ter uma conotação identitária mais acentuada, registrando
canções das manifestações tradicionais tal como o Pau Furado, instrumento musical de
madeira oca, que embalava as brincadeiras dos mais velhos e que viria a ser configurado como
o toré. Na narrativa de Luiz Catu, “é o toré antigo dos parentes daqui”. Muitas das letras
cantadas foram compiladas pelo próprio Seu Nascimento. Dois momentos marcam bastante
o aparato político em formação. Um deles está ligado a antiga “Festa de Todos os Santos”,
hoje “Festa da Batata”. Ali o Pau Furado se apresentava, como brincadeira e expressão dos
antigos. No momento da mudança do nome da festividade buscou-se não só acentuar a
referência ao modo de produção material ali desenvolvido, mas também, ratificar a retirada
da referência católica, e embasar a condição identitária indígena. O outro momento consistiu
em um concurso cultural que ocorreu numa cidade próxima no começo dos anos 2000 onde
a manifestação do Pau Furado foi apresentada, configurada agora, como Toré, adicionadas
pinturas corporais e vestimentas diferenciadas. A condição de indígena ganhava força, e a
autoafirmação identitária passava a estar mais endossada. Percebe-se assim que Seu
Nascimento teve papel marcante em determinado momento da comunidade, sendo
fundamental na perspectiva de elaboração étnica diferenciada. Seria então importante a
análise destas narrativas e subjetividades na busca da compreensão dos contextos da
construção estratégica de enfrentamento político e formação indenitária.

Mathias José dos Santos, identidade, escravidão indígena e colonialidade do


poder

Ricardo de Oliveira

Essa comunicação apresenta a trajetória de Mathias José dos Santos, um jovem que na década
de 1850, com aproximadamente quinze anos de idade, foi raptado na província de
Pernambuco e feito cativo, atravessando o país, sendo várias vezes vendido e revendido como
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escravo até chegar a Guarapuava, Paraná, onde consegue ter acesso à Justiça para reclamar
sua liberdade. O pedido de liberdade de Mathias, fundamentado na sua autoidentificação
enquanto indígena, deu início a um processo de investigação que ocorreu parte em
Guarapuava e parte em Pernambuco. O processo forma o eixo central do texto, dele emerge
um jogo de identidades que reflete o padrão de poder definido por Aníbal Quijano, como
colonialidade do poder, uma classificação racista do mundo, que é constitutiva da
modernidade/colonialidade. A partir da trajetória de Mathias versamos sobre o tema da
escravidão indígena e discutimos as relações entre identidade e escravidão na diferença
colonial, conceito elaborado por Walter Mignolo para definir a especificidade das relações
sociais que decorrem do colonialismo.

O Museu Worikg e a cultura tradicional Kaingang em São Paulo

Dirce Jorge Lipu Pereira e Susilene Elias de Melo

Nós somos Kaingang de São Paulo, vivemos na Terra Indígena Vanuíre. Somos líderes do Grupo
Cultural Kaingang que há 21 anos luta pela cultura tradicional. Trabalhamos na espiritualidade,
como kujã (pajé) e assistente de kujã. Em 15 de agosto de 2015 criamos o Museu Worikg para
falar da história da TI Vanuíre. O museu é o coração da aldeia e fala dos antigos para os jovens
terem orgulho de sua cultura e não abandonarem ela, estamos com medo de perder a nossa
cultura em Vanuíre. Dos antigos, o museu fala principalmente das mulheres, pois elas que
assumiram a luta pela cultura. A tradução da palavra Worikg é sol nascente, mas o museu tem
esse nome para lembrar uma mulher, a Worikg, que praticamente povoou a aldeia, é difícil
um Kaingang que não tenha o sangue Worikg aqui. Ela era uma das antigas, como Goiovê,
Parané, Kutu e Candire. Foram elas que passaram os saberes para Jandira Umbelino, Ena Luiza
de Campos, José da Silva Campos e nós, Dirce Jorge Lipu Pereira e Susilene Elias de Melo. A
cultura Kaingang está ameaçada, somos poucos e a igreja evangélica interfere nos nossos
trabalhos, persegue quem está na espiritualidade, inclusive as crianças, nos chamam de
“macumbeiros”, nos discriminam na nossa terra. O Museu Worikg fala das mulheres e dos
guerreiros antigos, fala das tradições da roça e dos alimentos, da dança e do canto, da
cerâmica, da espiritualidade, da natureza, fala de tudo isso para as nossas crianças e para os
visitantes, porque precisamos de respeito e apoiadores. Em 9 de novembro de 2017 o Museu
Worikg inaugurou a primeira exposição com os objetos guardados por Jandira Umbelino,
falecida em 9 de fevereiro de 2016. Ela não sabia que isso tudo iria para um museu, mas ela
pediu para guardar. A coleção e a exposição falam de uma Kaingang que lutou pela cultura,
falamos dessa luta para as crianças, mas falamos da alegria e porque cantamos e para quem

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cantamos. Na comunicação oral queremos falar sobre a importância do museu para a cultura
tradicional Kaingang e para acabar com o preconceito e discriminação.

O êxito de um chefe: gift and commodity numa sociedade indígena


amazônica

José Pimenta

Até meados da década de 1980, quando começaram a se organizar contra a exploração


madeireira e pela demarcação de seu território, os Ashaninka do rio Amônia, uma comunidade
indígena do Alto Juruá (Estado do Acre/fronteira Brasil-Peru), viviam em grupos familiares
dispersos ao longo do rio, sem representação política centralizada. A luta pela terra, marcada
pela intervenção crescente do indigenismo oficial, se materializou na territorialização dos
Ashaninka que passaram a viver agrupados numa “comunidade”, em torno de um único
“chefe”. A partir da análise da trajetória biográfica de dois homens indígenas, Antônio e
Kishare, e apoiado na literatura antropológica sobre gift e commodity, esta comunicação
reflete sobre a emergência e consolidação de uma chefia entre os Ashaninka do rio Amônia.
Sem negligenciar o papel da FUNAI, procuro mostrar que a afirmação política de Antônio como
kuraka (“chefe”), em detrimento de Kishare, se deve, sobretudo, a sua compreensão de um
sistema de commodity, isto é, ao seu sucesso na gestão de uma cooperativa que aumentou
consideravelmente seu prestigio entre as famílias indígenas do Amônia.

Biografia de uma liderança kaingang

Adélio Pinto

Os fatores decorrentes na presente biografia relatam não só a trajetória da luta pelo território,
mas constitui – se em uma síntese dos momentos marcantes de toda sua história familiar.
Biografar a vida de uma liderança kaingang, que está vivo e que está à frente de uma retomada
do território de Passo do Índio, município de Lajeado Bugre, sendo o atual cacique do
acampamento é um desafio, o qual estou narrando, enquanto filho desta liderança e escritor.

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Memórias de família: reconstruindo a história de João Tomaz, revela-se um


pedaço da história Pankararu e dos índios no Nordeste

Alberto Reani e Josélia Ramos da Silva

Esse artigo tem por objetivo relatar memórias da vida de João Tomaz, liderança antiga e
tradicionalmente reconhecida em Pankararu – Brejo dos Padres (PE). A história de João
Tomaz, pajé Pankararu, nos revela parte da história do Tronco Velho Pankararu e a entrelaça
com outras histórias no tempo das emergências étnicas e das “lideranças peregrinas” (ARRUTI,
2004, p. 258). A microhistória contida nas memórias de familiares e amigos esconde/revela
detalhes de uma história maior em que os índios no Nordeste se tornam protagonistas de sua
história, escolhem/acionam processos sócio-políticos e “marcam território” por meio de
rituais que remontam a uma Tradição Antiga. “A roda grande entra na roda pequena” (Pe.
Cícero Romão). Metodologicamente, utilizamos a história oral por meios de entrevistas
semiestruturadas e pesquisa documental. Como aporte teórico usamos o conceito de
identidade de Fredrik Barth e o conceito de microhistória de Carlo Ginzburg. O conceito de
memória coletiva de Maurice Halbwacs e o de lideranças peregrinas de José Maurício Arruti.

Trajetórias de luta e a construção de uma política indígena no Vale do Javari –


Amazonas

Rodrigo Oliveira Braga Reis

A presente comunicação pretende uma reflexão sobre a constituição do movimento indígena


na região do Vale do Javari, no sudoeste do estado do Amazonas, a partir da reconstrução das
trajetórias de três lideranças indígenas que participaram do processo: Darcy Duarte Comapa
(Marubo), Jorge Oliveira Duarte Marubo e Adelson Korá Kanamary. Todos atuaram na
coordenação do CIVAJA e hoje atuam, respectivamente como Secretário Municipal de
Assuntos Indígenas em Atalaia do Norte, Coordenador do DSEI/Vale do Javari e Presidente da
Câmara Municipal de Vereadores de Atalaia do Norte; e da professora Amélia Barbosa da Silva
(Marubo) que atualmente compõe a Coordenação de Educação Escolar Indígena da Secretaria
Municipal de Educação de Atalaia do Norte. O exercício analítico baseou-se em relatos dos
primeiros encontros, lembranças sobre as viagens, sobre parceiros e opositores, além da
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memória das relações estabelecidas com “patrões”, trabalhadores não indígenas e com
indigenistas – este que nos pareceu um caminho profícuo para revisitar o processo de
mobilização pela demarcação da Terra Indígena Vale do Javari e as transformações da política
indígena no período pós-demarcação. Metodologicamente, o trabalho foi conduzido por meio
da realização de entrevistas, do registro de depoimentos sobre eventos, da reunião de
documentos e fotografias, de forma a atribuir o devido reconhecimento ao protagonismo e à
agência indígena na região em estudo, assim como nas diversas relações com o movimento
indígena nacional e com os espaços da política indigenista. Com foco principal na
compreensão da constituição da política indígena no Vale do Javari, a apresentação priorizará
os registros e as memórias de lideranças acerca das alianças que possibilitaram a criação do
Conselho Indígena do Vale do Javari (CIVAJA), que entre década de 1990 e início dos anos 2000
se constituiu como a principal forma de organização interétnica no momento de reivindicação
pela demarcação contínua do Vale do Javari. Não obstante, buscaremos tratar também das
transformações no movimento indígena pós-demarcação e a crescente participação em
espaços da política local atualmente por meio de apontamentos sobre as circunstâncias sob
as quais se dá a presença da população indígena na cidade de Atalaia do Norte.

Memórias do contato: a trajetória de um Gavião Parkatêjê

Ribamar Ribeiro Junior e Rayane Gomes da Silva

Este trabalho pretende discutir alguns aspectos do processo do contato a partir de alguns
relatos que constam nas pesquisas que temos realizado junto ao povo “Gavião” na Terra
Indígena Mãe Maria. Ao procurar auscultar o outro através do diálogo, torna-se relevante para
romper de fato com a velha prática de tornar o outro “informante”, muitas vezes
despotencializando suas falas e ações como protagonista. São essas as possibilidades de
interlocução que se pretende realizar na interação, vivências e articulações que desconstruam
noções do outro em certas desigualdades numa pesquisa de campo. Para tanto, este trabalho
problematiza a partir das falas o viés do chamado contato que é memorializado e são
revelados nos relatos. A construção da memória narrada ao longo trabalho é parte do
cotidiano dos nossos interlocutores que tem sempre dialogado em torno dessas memórias
que reavivam o sentimento da história de seu povo. Nossas reflexões partem também das
narrativas bibliográficas produzidas junto aos “Gavião”, ao qual introduziremos afim de que
seja traçada na interação feita com missionários, castanheiros, sertanistas, antropólogos e
outros kupe͂ que ao longo do chamado contato mantiveram “contato”. A trajetória de Jathiati
Piaré que rememora em suas narrativas o empreendimento do “contato” os “Gavião” no final

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dos anos cinquenta do século XX. Neste sentido, abordar a trajetória de Piaré, será revelar as
memórias ou descrevê-las como ele faz questão de dizer em seus relatos, apresentando
questões que devem ser experimentadas no cotidiano dos “Gavião”. Dito isso, aproximo da
necessidade que nossos interlocutores têm de contar a “história” e dar visibilidade ao seu
universo atual, como contraponto ao seu passado de luta. Contudo, observamos no diálogo a
significativa importância dada por eles ao que é contado, dito de forma como se viu ou se
ouviu. É neste auscutamento que pretendemos refletir sobre as memórias do processo de
contato desde povo a partir da biografia de Piaré que segue relatando juntos com outros
sábios e sábias do povo “Gavião”, que hoje vivem na Terra Indígena Mãe Maria subdivididos
em três povos: Akrãtikatêjê, Parkatêjê e Kỳikatêjê.

Entre idas e vindas: os indígenas Xukuru-Kariri migrantes para trabalhos


sazonais

Adauto Santos da Rocha

Algumas poucas pesquisas acadêmicas discutiram os processos migratórios vivenciados pelos


povos indígenas no Nordeste, importantes movimentos em busca de sobrevivência,
ampliação territorial das aldeias, emergência das identidades étnicas e reivindicação de
direitos junto a órgãos públicos como a FUNAI. Em nossas reflexões, buscamos estabelecer
diálogos entre as memórias dos índios Xukuru-Kariri habitantes em Palmeira dos Índios, no
Semiárido de Alagoas, e os registros históricos que evidenciam as mobilidades desse povo
indígena. Para situar as discussões, destacamos o caso do índio Wellington Silva de Oliveira,
habitante na Aldeia Fazenda Canto. “Jacó”, como é conhecido, migrou para o Rio de Janeiro
ainda muito jovem, para trabalhar na AMBEV, tendo passado por experiências de trabalho
como cortador de cana em usinas de Alagoas, no ramo da construção civil, e na prestação de
serviços à Companhia de Saneamento de Alagoas (CASAL). Embora tenha exercido várias
atividades econômicas de forma sazonal e contratual, “Jacó” sempre retornou à Fazenda
Canto, tendo participado de movimentações pelo retorno de terras pelos indígenas na
referida Aldeia, como a Fazenda Salgada. Neste sentido, discorremos sobre as idas e vindas
de indivíduos e grupos de índios em busca de trabalho, motivados pelas atividades sazonais
no setor sucroalcooleiro da Zona da Mata de Alagoas, nas fábricas de chocolate no Sudeste
do Brasil e no ramo da construção civil em diferentes áreas urbanas. De tal modo, buscamos
evidenciar os percursos até as cidades de destino e o retorno para as aldeias Xukuru-Kariri,
após as atividades sazonais durante a segunda metade do século XX.

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O dom de ajudar trazer pessoas ao mundo

Osmar Mauricio Sales

A minha proposta de pesquisa a ser apresentado é uma biografia de Francisca Amaro Sales,
uma mulher kaingang de 104 anos, parteira tradicional, da aldeia Km 10, na Terra Indígena
Guarita, localizada no noroeste do estado do Rio Grande do Sul. Trarei entrevistas e relatos
que realizei com a própria anciã, sobre sua infância, adolescência, sua família e a experiência
do trabalho que realizou durante vários anos na aldeia como parteira, ajudando a trazer vidas
ao mundo. Bem como, relatos de famílias que foram beneficiados por ela nesse período e de
pessoas que vieram ao mundo com o auxílio de suas mãos.

Ser índio entre brancos: alianças políticas, trânsitos religiosos e casamentos


interétnicos (de Pernambuco ao Rio Grande do Norte, séculos XVI e XVII)

Rita de Cassia Melo Santos

A apresentação proposta pretende explorar a trajetória política de um conjunto de lideranças


indígenas e descendentes de indígenas que atuaram na região compreendida entre a
província de Pernambuco e do Rio Grande do Norte, no Nordeste do Brasil. A região teve o
seu controle político disputado diversas vezes entre Portugueses, Franceses e Holandeses que
contaram em suas batalhas com a participação ativa de grupos indígenas por vezes
conflitantes entre si. Pretende-se apresentar os diferentes trânsitos entre o universo indígena
e dos Estados em formação, as polaridades entre as religiões nativas, católicas e protestante,
bem como o papel dos casamentos interétnicos no estabelecimento das alianças políticas e
dos domínios territoriais. Objetiva-se que através das narrativas biográficas dos sujeitos
envolvidos no processo de formação da região possamos vir a conhecer as múltiplas
possibilidades que estavam imbricadas em cada situação e não apenas a história linear
estabelecida pelos vencedores e perpetuada de modo naturalizante ao longo do tempo.

Emergência étnica dos povos indígenas no Piauí

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Brisana Índio do Brasil de Macêdo Silva

João Paulo Macedo

Nas últimas quatro décadas, no Brasil, tem se observado um aumento no número de grupos
e comunidades indígenas que passaram a se autodeclarar e a reivindicar reconhecimento de
sua condição étnica e de seus direitos, principalmente após a Constituição de 1988 e a
Convenção 169, em um fenômeno, denominado pela antropologia, como emergência étnica
(Arruti, 1995, 2006; Oliveira, 1993, 1998, 1999). No Piauí, destacamos os grupos indígenas
Tabajara, Kariris e Tabajara-Itamarati-Tapuia, que se organizam politicamente, em torno de
associações. São elas: Associação Itacoatiara de Remanescentes Indígenas (Piripiri/zona
urbana), Associação Organizada dos Indígenas do Canto da Várzea (Piripiri/zona rural),
Comunidade Indígena Kariri de Serra Grande (Queimada Nova/zona rural) e Comunidade
Indígena Nazaré de Tabajara-Itamarati-Tapuia (Lagoa de São Francisco/zona rural). Portanto,
no intuito de possibilitar um campo de aproximação da Psicologia com as discussões étnicos-
raciais, partindo de reflexões do pensamento decolonial, o presente estudo busca analisar o
processo de emergência étnica dos povos indígenas no Piauí. Quanto aos objetivos
específicos: a) conhecer as condições sócio históricas que contribuíram para o processo de
emergência étnica dos povos indígenas no Piauí; b) compreender os campos de sentidos e
significados que os mesmos atribuem ao seu processo de emergência étnica e c) refletir sobre
sua organização política, a partir de suas lutas e resistências. Trata-se de uma pesquisa
qualitativa, que ocorrerá nos municípios supracitados. A amostra inicial contará com 20
lideranças indígenas, no entanto, não se trata de uma quantidade fechada. Como recursos
metodológicos, utilizaremos observação no cotidiano e entrevista semi-estruturada que
contemplará questões sobre seu processo de afirmação étnica; sua história de vida e de seus
antepassados; aspectos culturais e geracionais; sentimento de pertença e de coletividade;
organização política e social; dentre outros. Todo o material será registrado em diários de
campo e em gravações. Para análise dos dados das entrevistas iremos utilizar do Mapa de
Associação de Ideias. No primeiro momento realizaremos uma análise preliminar das
transcrições, a fim de identificar os temas que emergem dos materiais; e no segundo iremos
realizar a análise temática do conjunto das falas que virão compor as categorias analíticas.
Levaremos também em consideração o local e o contexto sócio histórico, fluxo de associação
de ideias, os repertórios linguísticos, os enunciados, os jogos de poder, os posicionamentos e
a produção e negociações de sentidos (Nascimento, Tavanti & Pereira, 2014). O estudo seguirá
todos as normas éticas estabelecidas pela Resolução 466/12 e 510/2016. No presente
momento, a pesquisa encontra-se em andamento.

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Gercino Xukuru do Ororubá: presença significativa em um século de


mobilizações indígenas

Edson Hely Silva

Gercino Balbino da Silva nasceu em 1924, na Aldeia Cana Brava, atual território demarcado
habitado pelos índios Xukuru do Ororubá, nos municípios de Pesqueira e Poção em
Pernambuco, no Nordeste do Brasil. Faleceu aos 83 anos em 2007. Na época em que era
criança as terras do antigo aldeamento, declarado extinto em fins do século XIX, estavam
invadidas por fazendeiros criadores de gado e senhores de engenhos que produziam cachaça
e rapadura. Época de muita fome, com crianças morrendo por desnutrição. O menino Gercino
foi um dos sobreviventes. Sem terras para plantar e viver, os pais de Gercino foram morar em
Sítio do Meio, também localizado na Serra do Ororubá, com os avós do menino que
trabalhavam “de alugado” para um fazendeiro local. Aos oito anos, trabalhava no “cabo da
enxada”, recebendo cinco tostões, metade da diária paga a um trabalhador adulto.
Anualmente os Xukuru do Ororubá vão a Aldeia Vila de Cimbres, para participarem de
celebrações religiosas. Considerado um espaço sagrado, marco inicial da colonização
portuguesa na região, o local foi apropriado pelos índios que a transformou em um espaço de
memórias e de referências. O Toré dançado em Cimbres tem à frente um guia: o “Bacurau”.
Acompanhando os mais velhos para a Vila, “fardadinho” desde criança, “Seu” Gercino foi
escolhido para suceder o índio que era o “Bacurau”. Sem terras para trabalhar,
acompanhando parentes o jovem Gercino migrou para a Zona da Mata Sul de Pernambuco,
na fronteira com Norte de Alagoas. Foram trabalhar nos canaviais e nas usinas de cana-de-
açúcar. Nascido sem-terra e falecendo como morador na retomada Aldeia Pedra d’Água, um
lugar mítico-religioso para os Xukuru do Ororubá “Seu Gercino esteve ao lado do Cacique
“Xicão”, de quem recebia manifestadas expressões públicas de muita estima e consideração,
nas mobilizações contemporâneas dos Xukuru na busca de seus direitos. Acompanhou “Xicão”
nas muitas viagens ao Recife e a Brasília onde foram pressionar a FUNAI e os demais órgãos
públicos, para a articulação com aliados, parceiros da sociedade civil nas denúncias das
perseguições, violências e assassinatos de lideranças, nas reivindicações pela demarcação das
terras indígenas. Aos 83 anos “Seu” Gercino via com a posse das terras a concretização do
sonho tão esperado, desde criança: a dignidade para o povo Xukuru do Ororubá.

Do passado à contemporaneidade Baniwa

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Franklin Paulo Eduardo da Silva

Sou, Franklin Paulo Eduardo da Silva, indígena da etnia Baniwa, professor de ensino
fundamental, mestre em desenvolvimento sustentável e estudante de doutorado em
antropologia na Universidade de Brasília (UnB). O resumo aqui apresentado visa apresentar a
minha formação acadêmica, profissional, social e política como processo de transição do
mundo dos antepassados ao mundo baniwa contemporâneo na região do Rio Içana, Alto Rio
Negro, Amazonas. A minha primeira formação e informação veio da minha avó que contava
dos seus passados, do meu avô e dos meus tios. Narrava com detalhes por onde andava e
viajava, o que via, trabalhava, cultura e alimentação que experimentava, modo de educação
tradicional e sobre os não-indígenas. Na época não imaginava importâncias dessas
informações, mas parecia saber que experimentaria e conviria intensamente cada experiência
narrada. Eu não tive oportunidade de estudar na idade certa, comecei só com 12 anos de
idade e contra a vontade do meu pai que não queria que eu estudasse, pois considerava
educação escolar como caminho que me distanciaria dos familiares, das culturas, tradições e
dos conhecimentos baniwa, acima de tudo, o abandono da terra tradicional baniwa. Sempre
pregava que a escola era a porta de transformação para aculturação e perda de
conhecimentos e sabedorias baniwa. Não estava errado, pouco tempo depois, tornei-me
agente de educação escolar ocidental, assim como de luta pelos direitos dos povos indígenas.
A partir dessas experiencias aprendi que os povos indígenas nunca serão respeitados se não
ingressarem profundamente no mundo e sistema de vida dos não-indígenas para discutir e
debater de igual para igual as questões que travam a cooperação entre os conhecimentos
indígenas e não-indígenas. É o que me incentiva a continuar na carreira acadêmica, não
apenas para qualificação profissional, mas, principalmente, para contribuir com o processo de
reconhecimento e garantia de direitos dos povos indígenas, em especial, do povo Baniwa.

Política Xavante e militância espírita: um estudo de caso de processos


biográficos e alianças interétnicas

Maria Clara de Campos Silva


Juliana Dal Ponte Tiverón
José Francisco Miguel Henriques Bairrão

Na contramão do quase consenso de que os indígenas não tiveram meios de se defender das
investidas dos brancos, seja na guerra, na resistência biológica, na conversão religiosa ou na
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esfera política, o povo Xavante desenvolveu diversas estratégias de relacionamento com os


não-índios a fim de favorecer sua sobrevivência. Dentre elas, observa-se o envio de crianças a
Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, cuja missão consiste no aprendizado da língua e
cultura do branco. Durante essa estadia, ficam sob responsabilidade de famílias não-índias
que se dispuseram a zelar pelas crianças e fornecer-lhes educação formal. Esta estratégia está
fundamentada na compreensão Xavante de que dominar tecnologias e habilidades alheias são
modos de resistir a propostas ‘brancas’ que não atendam seus ideais e valores. Neste
contexto, parte dos jovens indígenas conviveram com famílias que apresentam laços estreitos
com um Centro Espírita e, portanto, além das habilidades intelectuais, também
desenvolveram e foram influenciados por conhecimentos dessa religião. É o caso de um
adolescente que atualmente apresenta 16 anos. No período de sua gestação, o seu pai, que
tinha o mesmo nome, faleceu em decorrência de uma patologia desconhecida. O genitor foi
uma das crianças enviadas a Ribeirão Preto na década de 80, tendo vivido com uma família
espírita cerca de 20 anos, se formado em enfermagem e, após isso, retornado para sua
comunidade. Porém, sua morte não acarretou o findar de sua relação com as pessoas com
quem conviveu em ambiente urbano. Há muitos anos ele tem estado presente em sessões
mediúnicas, conferindo assistência espiritual, inclusive para seu filho que, desde bebê, tem
sido acompanhado pela mesma família espírita branca que acolheu o pai. A partir das
biografias de ambos é possível refletir e discutir algumas ressignificações que estariam em
curso numa estratégia Xavante de resistência às investidas brancas. Nomeadamente a
inscrição do pai no universo simbólico branco, que parece selar o estabelecimento da aliança
estabelecida entre aquele povo indígena e essa comunidade espírita. As orientações e
comunicações mediúnicas provenientes do pai são uma espécie de presentificação da sua
memória não apenas para a família espírita branca de acolhimento, mas também para um
filho indígena que não pôde crescer com o pai. Ou seja, a estratégia Xavante, além de
possibilitar o acesso e preparo de jovens no universo branco, também tem deixado registros
e marcas entre os citadinos. O sentido, alcance e efeitos mútuos dessas trocas precisam ser
refletidos, até porque é possível que processos similares a este tipo de encontro e aliança
interétnica estejam ocorrendo, tenham ocorrido, ou venham a ocorrer.

O tempo nas narrativas orais Pataxó

Vera Lúcia da Silva

Esta comunicação pretende discutir a pesquisa de doutorado em andamento, “O tempo nas


narrativas orais Pataxó”, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Estado e Sociedade, do
Centro de Formação em Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal do Sul da Bahia
(UFSB), cujo problema é a compreensão da experiência singular do tempo no bojo da cultura
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indígena Pataxó, a partir do estudo de narrativas orais que circulam nas aldeias Cahy, Tibá e
Pequi situadas em Cumuruxatiba, no munícipio de Prado/Ba. Para essa tarefa, incialmente
serão colocados em diálogo o pensamento de Paul Ricoeur (2003; 2006; 2012) Hannah Arendt
(2002), Walter Benjamim (2012; 2013) e Daniel Munduruku (2002, 2010) em torno da
temporalidade, no intuito de compreender as noções de tempo presentes nas narrativas orais
Pataxó, sejam elas de natureza coletiva, biográfica ou autobiográfica, assim como as
potencialidades existentes nesse contar. Importante pontuar que este estudo vem sendo
orientado pelas seguintes questões: qual a perspectiva de tempo indígena Pataxó? De que
maneira a interculturalidade experimentada pelos Pataxó afeta a noção de tempo entendida
como tradicionalmente indígena? Qual a potência de futuro existente nas narrativas indígenas
Pataxó? O primeiro passo para a realização dessa pesquisa será recolher e retextualizar as
narrativas orais que circulam nessas comunidades, por meio detrabalho de campo realizado
em períodos intercalados em que serão utilizadas técnicas da etnografia tais como a
observação participante, a entrevista semiestruturada, o registro em diário de campo e
caderno de notas, além de levantamento de fontes documentais e história de vida. Por fim,
os textos recolhidos serão tratados em uma abordagem interdisciplinar, com ênfase nos
campos da antropologia, literatura, filosofia e estudos culturais. Serão levadas em
consideração ainda, matrizes etnográficas que apontam para a necessidade de descrever os
fatos históricos e culturais das comunidades em que estão inseridos os sujeitos dessas
narrativas a serem compreendidas, suas representações, percepções e interpretações, no
intento de permitir que os textos dialoguem, sem hierarquias de qualquer natureza, com o
pensamento não indígena e indígena de outras etnias, oportunizando aproximações e
distanciamentos que permitirão a nós, entender de que forma as narrativas orais Pataxó
podem se constituir como lugar de trânsito do passado, presente e futuro, como lugar de
afetos capazes de produzir mobilizações que contribuam positivamente para o potente
processo de etno-reconhecimento já em curso.

Dona Xandoca Karipuna: liderança e protagonismo indígena feminino em


Oiapoque

Ana Manoela Primo dos Santos Soares

A presente pesquisa se concentra sobre a trajetória de vida da mais relevante liderança


indígena do povo Karipuna do Amapá, a senhora Alexandrina dos Santos, mas conhecida como
Dona Xandoca. Dona Xandoca Karipuna foi a segunda esposa de meu avô (pois, a autora deste
resumo também é indígena Karipuna), o cacique Manoel Primo dos Santos, também
conhecido como cacique Côco, fundador da aldeia Santa Isabel (T.I. Uaçá, Oiapoque – Amapá),
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e após sua morte Xandoca exerceu um relevante papel tanto para os moradores desta aldeia
quanto para todo o povo Karipuna. Ela era matriarca, conselheira, benzedeira, impulsionadora
das questões pertinentes a cultura material e a outras formas de preservação da memória,
assim como das questões de gênero; foi uma das fundadoras da AMIM, a Associação das
Mulheres Indígenas em Mutirão, primeira e importante instituição que trata das questões das
mulheres dos povos indígenas de Oiapoque, que são os povos Karipuna, Palikur, Galibi-
Marworno e Galibi Kalinã, tal associação é gerida pelas próprias mulheres indígenas. Os
objetivos pertinentes a pesquisa em torno da biografia de Xandoca são os de se preservar a
memória da mais relevante liderança feminina do povo Karipuna do Amapá; compreender a
trajetória do povo nos pontos em que a história dele sofre forte influência da trajetória pessoal
de Xandoca; compreender a importância de seu discurso e suas ações para a preservação da
memória indígena e para o protagonismo das mulheres indígenas em Oiapoque. Xandoca
faleceu no final do mês de março de 2018, todavia, sua morte não significou o fim da sua
influência sobre o modo de vida dos povos indígenas do norte do Amapá. Este trabalho é um
relato sobre um viés histórico, antropológico e biográfico; ressaltando-se o parentesco
também como local de afeto e de memória. A metodologia seguirá sobre relatos dos Karipuna
sobre a vida de Xandoca; memórias, escritos, áudios e imagens produzidos pela autora ou
cedidos por outros; e levantamento bibliográfico sobre o povo Karipuna; sobre a importância
da preservação da memória e da história indígena através do relato etnográfico.

Caciques e pajés no Piauí: trajetórias biográficas de caboclos a indígenas

Hélder Ferreira de Sousa

Tentarei nesta comunicação explorar, sem nunca pretender exaurir, o tema do processo de
formação de cacique e pajé através das biografias do Cacique Zé Guilherme e do Pajé Chicão,
indígenas do Piauí. Pretendo deter-me um pouco mais nos processos que permitirão o assumir
destas identidades, para dialogar com os sentidos destas reidentificações enquanto modos de
reinsurgir-se contra discursos e práticas que pretendem anular diferenças e ocultar a
diversidade étnica nesta região. O comprometer-se com estas identidades chama a atenção
para as dificuldades de acesso a terra, à saúde e educação para algumas famílias dos grupos
que se reidentificam, sob vários aspectos, passam a ser vocalizados coletivamente. Sendo eu
mesmo membro de uma das famílias participantes do processo, busco atentar grande parte
para o conflito entre interesses, regras e valores das sociedades não indígenas versus
sociedades indígenas, e identificações em confronto, para levar em conta os diversos pontos
de vista a partir dos quais se pode ver e interpretar uma realidade. De forma particular,

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pretendo examinar mesmo que de relance o papel do próprio pesquisador frente à sociedade
com a qual estuda e que é a mesma de onde procede e onde se autoidentifica, juntos de
outros, como indígena. Deste modo, perseguirei metodologicamente, não ficar limitado
somente à descrição das experiências que tratarei aqui, mas me interrogar sobre as condições
sociais que tornaram possíveis estas experiências, tentando examinar em que sentido estas
personagens contribuem para a construção de uma visão do mundo que, juntos, organizamos.

Narrativas del yo y posmemoria en la ensayística y la poesía mapuche


contemporáneas

Melisa Stocco

La producción literaria mapuche contemporánea florece en una diversidad de discursividades


y estéticas que, entre otros agenciamientos, opera en la subversión y denuncia de los
discursos historiográficos, antropológicos y mediáticos hegemónicos que construyen un
imaginario del pueblo mapuche como un “otro interno” y deslegitiman sus reclamos y luchas
identitarias y territoriales. Entre las estrategias discursivas de “subversión de la lengua del
Estado” que pergeñan autores y autoras mapuche contemporáneas, nos proponemos analizar
cómo las narrativas del yo como formas de “autoetnografía” (Pratt, 1992; García Barrera,
2018) y la posmemoria (Hirsch, 2008) como la elaboración de traumas heredados de
generaciones pasadas se insertan en la poesía y la ensayística para construir relatos que
interpelan las historiografías oficiales, otorgan agencia histórica a los antepasados cuyos
testimonios fueron silenciados, y complejizan la propia identidad indígena.

A trajetória de Anne Ballester e os Yanomami do Rio Marauiá

Ricardo Martins Valle

Anne Ballester Soares viveu entre os yanomami em tempo integral por mais de 24 anos. Não
foi uma missionária religiosa, nem uma pesquisadora. Se fosse este o caso, não teria se
dedicado tão intensa e integralmente; se o caso fosse o primeiro, a dedicação intensa seria
intencionada no sentido de retirar aos Yanomami de suas formas tradicionais de vida. Por
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oposição a ambas as posições, sua experiência visceral com a vida Yanomami, visou defendê-
los do mundo envolvente que eles desconheciam em todos os seus danos, e que ela conhecia
porque era oriunda do coração do mundo Ocidental que sua biografia representa uma
rejeição. Foi por excelência uma ativista da causa yanomami e pela causa yanomami.
Trabalhou como agente de saúde no combate à malária, foi alfabetizadora em língua
yanomami e professora de português para jovens e adultos em posição de liderança. Nas
diversas fases de seus quase 25 anos de vida yanomami, a rigor não os procurou defender,
mas sim procurou dar-lhes instrumentos de defesa em face do sedutor desconhecido que a é
como a sociedade capitalista se apresenta na frente de expansão colonial de Santa Isabel do
Rio Negro. Este trabalho pretende apresentar sua trajetória e a dos yanomami que com ela
começaram a construir uma resistência à integração colonial que a despeito da Constituição
de 1988 insiste em avançar em perspectiva integracionista, que no contexto atual do país
ressurge institucionalmente com a transferência da FUNAI para um ministério que se
confunde com a evangelização neopentecostal que há anos Anne Ballester combate naquela
região.

ST 07 | Construcción del discurso narrativo contra-hegemónico, diálogo


intercultural y epistemologías diversas

Inés María de los Angeles Cornejo Portugal (Universidad Autónoma Metropolitana, Unidad Cuajimalpa,
México); Cornelia Geibeler (Universidad de Ciencias Aplicadas Bielefeld, Alemania); Isabela Cordunianu
(Universidad Autónoma de la Ciudad de México, México).

Proponemos intercambiar experiencias analíticas sobre las “narrativas en confrontación” en


temas de juventud, migrantes y retornados indígenas, comunidades LGBT+, como formas de
mirar al “otro” en el espacio público para poner en tensión el diálogo de espiritualidades,
epistemologías, narrativas, representaciones y autorepresentaciones de subalternos y
hegemónicos en América Latina. En el siglo XX las ciencias sociales dieron un “giro lingüístico”
enmarcado por Derrida, Guatarri, y Deleuze, y los estudios poscoloniales (Escuela de la India
y de América Latina). De esta filiación se desprende Spivak, cuya obra aporta a la literatura
decolonial actual (Spivak, 1988). Por “pensamiento narrativo” entendemos “un tipo de
conocimiento particular mediante el cual otorgamos inteligibilidad al mundo, lo significamos
y somos significados” (Hernández Salamanca, 2010). Las narrativas se encuentran en conflicto
o en negociación cuando se disputan espacios de poder (factual, político, simbólico o de
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enunciación). En el simposio invitamos ponencias y otro tipo de productos multimodales


(audio/visual) que discutan saberes hegemónicos y subalternos y sus momentos de
(des)encuentros, desde las perspectivas de la literatura descolonial actual para propiciar el
diálogo intercultural en espacios públicos diversos como lo propone Sousa Santos en su
“conception intercultural” (Sousa Santos: 2013).

Novos olhares: produções fílmicas Guarani e oficinas extensionistas de


audiovisual

Isabel Idiarte Bernardes

Mariana Madruga Bianchini

Este trabalho, tem como objetivo abordar as experiências fruto das ações de extensão do
Projeto “Produção de Audiovisual Indígena”, parte do Programa “Olhares, vozes e memórias:
saberes africanos e indígenas”, coordenado pela Professora Luisa Tombini Wittmann, no AYA
- laboratório de Estudos Pós-coloniais e Decoloniais, da Universidade do Estado de Santa
Catarina (UDESC). O projeto, que vem sendo elaborado por meio de um conjunto de oficinas
de produção de imagem, vídeo e som, em parceria público-privado, pretende instrumentalizar
e orientar nove oficineiros indígenas, das aldeias Guarani-Mbyá da região da Grande
Florianópolis no litoral Catarinense, onde os oficineiros trabalham para produzir audiovisuais
a partir das demandas coletivas das aldeias e de seus interesses próprios. A produção
audiovisual indígena vem ao encontro daquilo que Aílton Krenak retrata enquanto “a revolta
do olhar”, pois esta serve como ferramenta para despasteurizar a imagem do cinema
tradicional, em que “o outro” agora é apresentado por si mesmo e não mais por aquele que
lhe denomina e caracteriza como “índio”. Além disso, o audiovisual também serve enquanto
uma ferramenta tecnológica a serviço da memória ancestral, como diz Daniel Munduruku.
Propomos pensar através desse processo, de que modo o novo panorama composto por
indígenas cineastas pode colocar o cinema indígena a serviço de suas lutas políticas? Este
trabalho, portanto, pretende deslocar o olhar acomodado do não-indígena sobre o “outro”,
propondo a inserção de um olhar e uma narrativa pós-colonial/decolonial para compreender
esta forma de atualização da memória ancestral nas populações Guarani-Mbyá, compondo
assim uma perspectiva de autonomia desses povos perante suas práticas culturais e
concebendo um local de reconhecimento legitimado em nossa sociedade para esses
produtores de conhecimento acerca de sua própria História, cultura e vida. A análise da
produção fílmica indígena nos possibilita repensar a construção da narrativa histórica dos
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próprios indígenas sobre eles mesmos e retrata um movimento de resistência por parte dessas
populações, em que muitas delas partem de ferramentas contemporâneas, como as
produções audiovisuais, utilizadas por diferentes etnias no Brasil, como forma de
fortalecimento de suas comunidades, tratando de questões políticas e culturais específicas
que fortalecem suas lutas e visibilizam sua existência.

Diálogos interculturais em "Todas as vezes que dissemos adeus"

Silvely Brandes

“Todas as vezes que dissemos adeus” (1994) traz a trajetória do autor Kaka Werá Jacupé, um
indígena txucarramãe, que, após sua aldeia ser invadida, passou a viver com os Guarani na
aldeia Krukutu. Kaka narra alguns episódios e aprendizagens que teve nas suas passagens por
aldeias de parentes e nos centros urbanos, o livro é destinado a leitores indígenas e não
indígenas e trata das situações vividas pelo indígena no trânsito entre a aldeia e a cidade. As
aprendizagens de Kaka se deram por meio de diálogos que teve com pessoas de diferentes
origens e com diferentes conjuntos de valores, portanto, se deram nos diálogos interculturais.
Em cada diálogo, Kaka tira uma lição que muda a sua compreensão do mundo e das pessoas,
mas muda, principalmente, seu olhar para o outro. Nas relações de alteridade, o diálogo com
o outro gera movimentos de empatia e o retorno ao próprio lugar promove o retorno à
exotopia, mas quando desse retorno já não se é o mesmo o sujeito volta enriquecido, pois
pode olhar pra si mesmo a partir dos olhos do outro e pode voltar a olhar o outro com uma
perspectiva mais ampla, mediada por outras possibilidades. Na medida em que proporciona
que diálogos interculturais aconteçam, a literatura indígena, neste caso mais especificamente
a obra Todas as vezes que dissemos adeus, colabora para a decolonização do conhecimento e
a desconstrução de estereótipos. A proposta deste trabalho é, portanto, através de uma
análise que se pretende dialógica, observar os diálogos interculturais presentes na obra, que
embora tenha sido escrita há mais de 20 anos, aborda questões que estão sendo discutidas
hoje no Brasil.

O discurso imperialista norte-americano em narrativa sobre a conversão de


um povo indígena da Amazônia

Raimundo Nonato de Pádua Câncio


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Os textos escritos são importantes recursos para disseminação de valores, conhecimentos e


ideologias. A obra “O Pajé de Cristo”, de Homer Dowdy (1997), narra o processo de conversão
dos povos indígenas Wai-wai ao cristianismo evangélico pelos missionários norte-americanos,
o que se dá por meio da descrição de práticas educativas de catequização, fundamentadas na
lógica da dominação e da superioridade epistêmica. Wai-wai é uma designação genérica para
um conjunto de grupos indígenas que se uniu em dado momento histórico e hoje habita uma
extensa região que compreende o sul da Guiana (rio Essequibo), o leste do Estado de Roraima
e o noroeste do Estado do Pará (rio Mapuera), na Amazônia setentrional. São falantes da
Língua Wai-wai, além de outras línguas da família Karib. A partir da segunda metade o século
XX, antropólogos e pesquisadores que visitaram a região do rio Mapuera constataram a
grande transformação na cultura e na organização social desse povo indígena, levada a cabo
pela Unevangelized Fields Mission (HOWARD, 2001). O principal objetivo deste estudo é
identificar as estratégias persuasivas utilizadas pelo autor-narrador da obra “O Pajé de Cristo”
para convencer o leitor de que o processo de conversão dos povos Wai-wai ao cristianismo
evangélico foi necessário, mesmo num contexto em que conhecimentos e valores se explicam
e se confrontam. Em termos de perspectiva metodológica, trata-se de um estudo de natureza
teórica, uma vez que está voltado para o exame crítico dos quadros de referência de uma
obra, as suas condições explicativas da realidade (DEMO, 2000, p. 20), tendo em vista, em
termos imediatos, problematizar fundamentos teóricos. Como referência, apresentamos
algumas aproximações entre a corrente teórica Pós-Colonial e a perspectiva Decolonial, no
que toca à crítica epistemológica, sobretudo para questionar o discurso imperialista norte-
americano. Considerando-se tais questões, parte-se da premissa de que as formas de
dominação e as relações de poder não poderiam ser pensadas nem rearticuladas sem se
pensar os níveis de produção do conhecimento e os efeitos de verdade que os sustentam.
Para Mignolo (2017, p. 13), essa forma de colonialidade equivale a uma “matriz ou padrão
colonial de poder”, que se esconde detrás da retórica da modernidade, usadas para justificar
a violência da colonialidade. Portanto, identificar as estratégias persuasivas utilizadas pelo
autor-narrador nessa obra é fundamental, sobretudo porque ajuda desvelar o discurso
imperialista norte-americano, engendrado pelos missionários evangélicos. O resultado deste
estudo tem sido a necessidade de reinterpretação e de reescrita das narrativas sobre os povos
indígenas da Amazônia como resposta ao colonizador.

El discurso contra-hegemónico y el diálogo intercultural en el cine


documental en América Latina (1960 – 1979)

Vicente Castellanos Cerda

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Estudio un corpus de documentales latinoamericanos que circularon entre los años de 1960 y
1979 com la finalidad de conocer el modo en que construyeron un discurso contra-
hegemónico y, a la vez, establecieron puentes de comprensión entre personas con posiciones
sociales diferentes, perspectivas de vida confrontadas y distintas experiencias en el espacio
público con la finalidad de instaurar um diálogo que pretendió ser intercultural al dejarse
afectar mutuamente y cambiar el lugar social desde el cual se mira, se juzga y se siente la
existencia del otro. Parto de la idea de que el documental es un tipo de escritura audiovisual
que no sólo muestra y representa con imágenes y sonidos, sino que también construye
discursos que entran en el ámbito de la discusión pública. El documental es un texto discursivo
que se puede analizar en su lógica interna y em sus referencias extracinematográficas con lo
social y lo político. La escritura audiovisual en su forma de documental ha sido un medio
importante para expresarnos como latinoamericanos. Es una expresión multifacética, plural y
dispersa que tiene argumentaciones compartidas en lo político y en lo social. Esta expresión
se caracteriza por activar mecanismos cognitivos racionales y emocionales en un mismo
mensaje que nos disloca, nos reubica frente a eso que el documental representa y construye
como realidad de América Latina. Es mi interés analizar un corpus de tal tipo para encontrar
las argumentaciones que se sostienen por sí mismas en cada película y confrontarlas con otros
marcos discursivos que caracterizaron este periodo, como pueden ser manifiestos,
documentos orientadores del quehacer del documentalista, posturas políticas explícitas y
otras expresiones que directores y públicos manifestaron en su momento para transformar
realidades en América Latina, al interrogarla, incomodarla, ponerla en discusión en sus
desigualdades e injusticias mediante la representación cinematográfica. Se trata de un trabajo
con los marcos interpretativos para saber cómo se han transformado estos discursos del
activismo a documento histórico re-visitado. Estos documentales son también parte de una
narrativa, otra, de los subalternos, por lo que me interessa el cómo se dice en un relato que
se preocupa por las intenciones y acciones humanas. El documental congeló el tiempo y el
espacio de esas décadas en imágenes y sonidos históricos que reflejaron um tiempo de
conflicto y deseos de emancipación como un modo de hablar de lo que fuimos, somos y por
qué fuimos y somos así.

El regreso del sujeto: los desafíos epistemológicos y metodológicos de las


emociones

Victoria Isabela Corduneanu

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ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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“El regreso del reprimido” (the return of the repressed) marcaba el giro lingüístico o discursivo
en las ciencias sociales, en la cual se prestaba ya atención a las emociones. Empezaba así una
crítica al racionalismo y la racionalidad, así como de la dominación del paradigma
objetivo/racional en la sociología, con una mirada epistemológica que incluye a Nietzsche,
Bergson, Scheler y a los postmodernistas Deleuze y Guattari. El giro cultural, el giro lingüístico:
todo es cultura, todo es texto (discurso). Y recientemente se abre una discusión en
humanidades y en ciências sociales sobre una nueva epistemología: el giro afectivo o el giro
emocional. Algunas de las preguntas que ocupan a los autores del giro afectivo o emocional,
son: ¿Cómo abordar metodológicamente a las emociones? ¿Cuál es el papel de las emociones
en las políticas culturales? ¿Dónde las podemos observar? ¿Qué hacen las emociones con
nosotros, y qué hacemos nosotros con las emociones? Desde luego, se reconoce que las
emociones, por un largo tiempo, fueron menospreciadas en los análisis culturales y sociales,
donde predominaba la razón y la racionalidade tanto del sujeto, como de las acciones sociales:
la mirada racional se desarrolla com el positivismo y el conductismo que acaparan las ciencias
sociales en el siglo 20. Pero también este menosprecio de las emociones tiene que ver con
una mirada patriarcal y heteronormativa de las ciencias sociales (una mirada que es
eurocéntrica también, cuando la idea de Europa se confunde con la idea de la Ilustración y del
imperio de la razón). En esta ponencia, se van a presentar las actuales tendencias del “giro
emocional” en las ciencias sociales, así como sus desafíos epistemológicos y metodológicos,
ejemplificadas con tres estudios de caso para México. Acotaremos el estudio de las emociones
al caso particular de las movilizaciones sociales, porque es en donde las emociones movilizan,
afloran, mueven y, por lo tanto, se observan mejor, se observan en acción. Nos ocupan en
específico tres casos recientes: la Marcha por la Familia (organizada por el Frente Nacional de
la Familia el 24 de septiembre del 2016); la Marcha anti Trump (organizada por varias
asociaciones de la sociedade civil el 12 febrero del 2017) y la Marcha por la vida (organizada
el 28 de abril del 2018 por varias organizaciones anti-abortistas).

Resistir e organizar: uma perspectiva xamânica

Stephanie Daher e Rene Eugenio Seifert

A conceituação de organização sempre foi uma discussão ampla na área dos estudos
organizacionais. Nos últimos anos, têm sido registrados esforços quanto a proposição de
organizações alternativas na tentativa de estabelecer pontos de resistência a lógica técnica
dominante. Entretanto, se levarmos em conta a abordagem hegemônica nesse tópico, o
âmbito da administração tem se limitado a apresentar uma repaginação do modelo
burocrático de organização, no intuito de promover adaptação ao mercado em constante
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ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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modificação (CLEGG, 1998). A abordagem crítica nos estudos organizacionais busca trazer um
contraponto, evidenciando que num contexto em que o foco empresarial é o dominante,
considerar iniciativas organizacionais não hegemônicas pode ser uma alternativa. Portanto a
presente pesquisa se situa em bases teóricas e empíricas que visam desmistificar a
apresentação da novidade e da alternativa como uma repaginação de estruturas já existentes;
o alternativo que não se situa em reformulações e flexibilizações, mas em outras formulações
(PARKER,2002; BÖHM, 2006; MISOCZKY, 2010; BARCELLOS, 2012). Frente a esta questão, a
pesquisa se propõe a contribuir com o aprofundamento da crítica a organização hegemônica
no campo de estudos da administração. Refletindo sobre a organização moderna a partir da
perspectiva e cosmologia indígena. Utilizando o método de Análise do Discurso, são analisados
os relatos, entrevistas e publicações de Davi Kopenawa Yanomami (xamã e porta voz da
comunidade Yanomami). Nesta análise são consideradas duas principais categorias contra
hegemônicas: resistência (i) e organização (ii). A obra A Queda do Céu: palavras de um xamã
yanomani (KOPENAWA E ALBERT, 2015) é um dos principais materiais analisados. Nela,
Kopenawa, em sua enunciação, como sujeito individual, coletivo, yanomami, denuncia as
tragédias que afetam e afetaram o seu povo. Desse modo, não se apresenta um narrador em
que o “eu” é indissociável do “nós coletivo” (KOPENAWA E ALBERT, 2015; DANNER E PERES,
2018). O que contribui para a construção de uma pesquisa que rompe com a herança
tradicional da antropologia do “Outro” romantizado. Em uma tentativa da libertação (DUSSEL,
2000) desse “Outro” romantizado-o outro como sujeito, cultura e ideologia – é que realizamos
esse estudo. Onde o organizar e resistir da perspectiva xamânica - que não dissocia a ligação
efetiva entre natureza, cultura-sociedade e individualidade - permite um
descontruir/reconstruir do outro e consequentemente da organização como conceito
(DANNER E PERES, 2018). Conceito esse, que nas vivencias descritas pro Kopenawa (2015) está
sempre associado a uma forma de resistência, uma vez que sua obra e declarações são em si
uma forma de resistir.

Feminismo decolonial e a luta por direitos numa perspectiva intercultural

Lívia Gimenes Dias da Fonseca

O presente trabalho busca refletir acerca da compreensão do conceito de feminismo


decolonial como expressão da luta por direitos das mulheres numa perspectiva intercultural.
A proposta de um feminismo decolonial busca romper com as colonialidades do poder, do
saber, do ser e de gênero, de modo que a voz das mulheres tenha um engajamento a partir
do seu lugar de fala, porém numa relação intercultural de diálogo de múltiplas diversidades

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enquanto prática de construção de noções sobre liberdade. Os sentidos de liberdade são o


que fundamentam os direitos das mulheres se partimos do conceito construído pela linha
teórica O Direito achado na rua para qual o Direito é expressão das lutas sociais pelo fim de
realidades de opressão.

Procesos de descolonización a partir de la “Experiencia de la Extrañeza” como


una epistemología contra-hegemónica para transformaciones globales

Cornelia Giebeler

En esta ponencia se discute un concepto y su realización durante más de veinte años, tratando
de salir de una ciencia occidental-racional con impactos destructivas. Es nombrado como: la
“Experiencia de la Extrañeza”. Este concepto trata de abrir espacios para diálogos
transculturales descolonizadores. Se reconoce que científicos y profesionales se concentran a
una orientación occidental, diferenciando entre saberes cognitivos científicos y saberes
emocionales y corporales que no llegaran – según la ciencia moderna del oeste – a un nível
para ser nombrado científico. Este llamado “científico” está percibida por su larga historia
europea y surgió en la temporada del siglo XV, conjunto con la persecución de las brujas, la
conquista y la implementación de los métodos empíricos por las pruebas de la inquisición.
Desde ahí empezó el famoso desarrollo del hombre a base a esa ciencia, distinguiéndose de
la naturaleza, del cuerpo – sobre todo del cuerpo de la mujer – y de emociones. En este trabajo
que realizamos tratamos de salir de esa interpretación de lo científico desde el comienzo del
nuevo milenio y lo trabajamos en un espacio transcultural, reflexionando lo que llamo “La
experiencia de la Extrañeza (Giebeler 1998, 2003, 2006, 2008, 2018). Retomando el análisis
del mundo sistema (Wallerstein), los conceptos de la periferia/centro (Cordova, Frank,
Quijano, Amin e.o.) y la perspectiva de subalternos (Gramcsi, Spivak, Fanon), tratando de
acallarles o usarles económicamente en trabajos de subsistencia dentro del sistema
capitalista/patriarcal (Mies, v. Werlhof, Lugones). Las preguntas que se formulan son: ¿Qué
salidas existen? ¿Es cierto – según Spivak - que no hay empoderamientos posibles a partir de
un esencialismo estratégico? ¿Qué papel juega la periferia del norte global? ¿Es cierto que
existe una línea “abismal” (Sousa Santos) y lo posabismal sería “ecológico”? Dentro de estas
preguntas posicionaré el concepto de la experiencia de la extrañeza y partes de su realización
en sus ejes personales - emocional, corporal y cognitivo – y políticos en encuentros
transculturales.

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Os saberes indígenas como complementares e fundamentais para a


humanidade

Mirim Ju Yan Guarani

Elucidando quem somos nós povos indígenas, vindos de cada canto do mundo, trazendo à
memória coletiva todo o percurso do tempo da humanidade, assim erros e acertos, foi feito
todo um processo de aperfeiçoamento do ser a partir das tradições ancestrais onde com o
decorrer das gerações foi-se fortalecendo a essência espiritual. Dentro de nossas sociedades,
focos centrais e estruturais foram moldados, atingindo todos aspectos da vida, que chamamos
de cultura, onde o cuidado e o respeito são as diretrizes, influenciando o modo de vida,
educação, alimentação, espiritualidade, coletividade, natureza, ou seja, toda a consciência ao
qual Nhanderu nos ensina através de sua natureza nos é repassado pelos mais antigos,
descendentes diretos dos primeiros homens dentro da criação de cada povo. Assim, os povos
indígenas são os anciões da humanidade, e como todo ancião deve ser muito bem escutado,
respeitado e que haja o aprendizado através de seu exemplo. De modo que a humanidade
que perdeu sua raiz consciente ancestral e se baseia num modo de vida oriunda de uma
sociedade de quando muito 2 mil anos, sendo a maioria presa aos conhecimentos modernos
e contemporâneos, onde a religião, a política, a ciência e tecnologia materialista muitas vezes
não tem dado os melhores exemplos para a humanidade, vemos que os valores e
fundamentos de bem viver das sociedades indígenas necessitam ser conhecidos e
reconhecidos como essenciais para o continuar e o desenvolvimento da consciência humana,
assim como ser reconhecida pela ciência como uma extensão complementar dela.

Descolonizando saberes: um despertar com a terra no estudo de outras


epistemologias

Aida Brandão Leal

Rafaela Werneck Arenari

Janaína Mariano César

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O presente trabalho traz recortes de uma pesquisa com os povos indígenas do Espírito Santo,
Brasil, financiada pela CAPES, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Institucional, na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), que tem como objetivo
problematizar o fazer pesquisa com os povos indígenas, especialmente a população
Tupinikim, situada em Aracruz/ES. Metodologicamente o trabalho busca no diálogo com essa
população gerar modos de produção de conhecimento contra colonialistas, acessando e
afirmando os saberes tradicionais, especialmente àqueles vinculados à memória, saúde e
relação com a terra. Analisa-se em primeiro lugar, que ao longo da história do ocidente, a
produção do conhecimento tem sido solidificada a partir de uma fundação racionalista, que é
princípio basilar para a consolidação do saber científico. Esta ciência se edifica enquanto um
modelo epistemológico hegemônico e colonizador, à medida, que desconsidera outras formas
de conhecimento, como a dos povos indígenas, que são produzidos de modo local, numa
epistemologia baseada na relação intrínseca com a terra e com a ancestralidade. A ciência
moderna, por sua vez, não apenas desconsidera os saberes tradicionais, mas funciona como
instrumento de colonização, submetendo e violentando os saberes dos povos indígenas, como
se fossem inferiores, tratando como folclore, crendices, de modo caricatural, produzindo
dessa forma, invisibilidade e inexistências da sabedoria dos povos. Apostar nas epistemologias
indígenas, ou seja, conhecimentos que se desenvolvem numa relação de pertencimento,
coexistência e interdependência com a terra e com a memória ancestral, significa em primeiro
lugar considerar a diversidade do mundo. Conhecimentos que não são pré-existentes, mas
que existem a partir da relação e da produção de diferenças. Por isso, o mundo é múltiplo,
diverso, portanto, reconhecer a existência da pluralidade do mundo contribui para a
afirmação de outros horizontes, formas diversas de vida, um campo aberto de criação de
possibilidades de experiências e práticas sociais e políticas. Não se trata, porém, de questionar
ou negar a importância e o valor da intervenção científica, como por exemplo, os saberes
biomédicos, problematiza-se, portanto, as práticas de seu monopólio colonial que oculta e
impede de reconhecer a existência e a potência de outras formas de conhecimento, vida e
outros modos de intervenção no real. Pois, o colonialismo escreveu com sangue dinâmicas
históricas de dominações políticas e culturais que submeteu à sua visão etnocêntrica do
conhecimento ao mundo, impondo o modelo de mundo cristão ocidental e o capitalístico,
como se fosse natural e universal. Assim, esta pesquisa aponta para um despertar com a terra
e com a memória ancestral, como caminhos de pesquisa conectada com as epistemologias
indígenas, como âncoras de construção de pesquisas que sejam contra colonizadoras.

Gnosecidização e resistência dos saberes Akrãtikatêjê no Vale do Tocantins-


Araguaia: a experiência de um povo entre a violência e a autodeterminação

Ronnielle de Azevedo-Lopes
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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
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William Bruno Silva Araújo

Este ensaio se propõe a investigar a gnosecidização (tentativa de extermínio de saberes)


imposta pelo colonialismo tecnocientífico aos saberes e vivências do povo Akrãtikatêjê no
Vale do Tocantins-Araguaia, bem como pensar suas estratégias de resistências. A primazia e
hegemonia tecnocientífica, em todas as áreas da teoria do conhecimento, consolidada na
escola convencional e em seus currículos se desdobra desde o início da modernidade
anulando os saberes tradicionais, no caso amazônico, em comunidades indígenas como a
Akrãtikatêjê, tal violência se traduz em genocídio, etnocídio e privação de território. Cabe
ressaltar que, a tecnociência é ainda para o principal argumento dos projetos
desenvolvimentistas na Terra Indígena Mãe Maria no município de Bom Jesus do Tocantins –
PA, onde habitam os Akrãtikatêjê, os Parkatejê e os Kyikatêjê; povos denominados “Gaviões
do Oeste”, os “Timbira das Matas”. Frente a ataques diversos, os Akrãtikatêjê promovem seus
próprios agenciamentos como ressalta a cacique Tônkyré, principal liderança do povo: “Eu
falo assim pra vocês bate no peito que nós somos um povo rico, rico de conhecimento. Nós
pode não ser formado em uma faculdade, mas nós tem nosso conhecimento de como nós
proteger, de como nós não agredir a nossa mata. Todo esse cuidado nós tem. É diferente do
homem branco né?” (2017). Se no início da Colonização, a dominação ocidental se legitimava
por meio da evangelização, na contemporaneidade com a consolidação da colonialidade
(Quijano 1992), tal processo passa pela tecnociência e o dispositivo do gnosecídio. Por meio
da tecnociência, os saberes tradicionais indígenas são secundarizados, ridicularizados,
folclorizados e marginalizados. Neste âmbito, a história do povo Akrãtikatêjê é marcada por
seu envolvimento com o território, deslocamentos, luta e resistência frente aos processos
desenvolvimento e colonização no Vale do Tocantins-Araguaia, Amazônia Oriental.
Hodiernamente os Akrãtikatêjê habitam a Terra Indígena Mãe Maria, onde estão
constantemente reinventando suas estratégias de perpetuação enquanto povo. A partir das
narrativas e da sabedoria da cacique Tônkyré Akhãtikatejê, o artigo busca dialogar com os
saberes e vivências Akrãtikatêjê voltados para o manejo etnoenvolvimentista do mundo. A
pesquisa parte de uma perspectiva qualitativa. A partir dos envolvimentos dos autores com o
povo Akrãtikatêjê, deliberou-se por uma aproximação teórico-metodológica da Investigação
Ação Participativa – IAP. Buscou-se acolher as falas e interpretações a partir de visitas e
durante atividades coletivas da comunidade. A investigação mostrou que o manejo da
natureza na perspectiva Akrãtikatêjê é pautado por um profundo saber etno-ecológico, bem
como por uma relação de respeito, cuidado, afetividade e pertencimento deste povo à
natureza, uma cosmoética (ARAÚJO et al., 2017). Nas palavras de Tônkyré: “nós não explora
a natureza, já basta os Kupên que vem aqui explorar”.

El diálogo de ‘sordos’ investigadores y actores sociales. Códigos diversos


encuentros y desencuentros
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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
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Haydee Quiroz Malca

Se trata de presentar las dificultades surgidas entre los estudiosos de la población de origen
africano en México y los actores sociales involucrados. El precursor del tema fue Gonzalo
Aguirre Beltrán, que publicó su primer trabajo La población negra en México en el año 1946.
Y más tarde Cuijla: esbozo etnográfico de un pueblo negro en 1958. En éste trabajo, Aguirre
Beltrán los denomino afromestizos, nombre que continuó hasta los años 90, época en que
como efecto de las nuevas corrientes de otros países de Latinoamérica de manera paulatina
se va retomando la definición de afrodescendientes, afromexicanos. Al respecto, me gustaría
para proponer un diálogo entre las propuestas académicas y de política pública con los actores
sociales. Con base a entrevistas a los pobladores de la región de la Costa Chica de Guerrero.
Se observará que em la mayoría de los casos no se ‘reconocen’ en ninguna de éstas
‘categorías’. Salvo el caso de los integrantes de las ONG`s o grupos organizados, que toman y
se asumen como afromexicanos, para luchar por sus derechos. En el marco de la discusión en
contra de la discriminación y el reconocimiento de los derechos de los pueblos y la inclusión
de las diversidades. El Instituto Nacional de Pueblos Indígenas (INPI) de reciente constitución,
afirma que: “es la autoridad del Poder Ejecutivo Federal en los asuntos relacionados con los
pueblos indígenas y afromexicano que tiene como objeto definir, normar, diseñar, establecer,
ejecutar, orientar, coordinar, promover, dar seguimiento y evaluar las políticas, programas,
proyectos, estrategias y acciones públicas, para garantizar el ejercicio y la implementación de
los derechos de los pueblos indígenas y afromexicano, así como su desarrollo integral y
sostenible y el fortalecimiento de sus culturas e identidades, de conformidad con lo dispuesto
en la Constitución Política de los Estados Unidos Mexicanos y en los instrumentos jurídicos
internacionales de los que el país es parte”. Esperemos identificar encuentros, desencuentros
estos diálogos de ‘sordos’ entre los diversos actores. Se usaran las propuestas teórico
metodológicas de Aníbal Quijano (2014) y Rita Segato (2015), respecto a los modelos
coloniales y descoloniales y la búsquedas de nuevas rutas y categorías para su compresión.

Los procesos de adaptación de la mujer indígena Oaxaqueña que migra a la


Ciudad de México, desde la interculturalidad

Viridiana Lara Martínez

En mi proyecto de tesis decidí trabajar con cuatro mujeres indígenas Oaxaqueñas quienes
desde niñas migraron a la Ciudad de México por distintas razones, en particular por motivos
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económicos y por salir huyendo de los usos y costumbres de sus comunidades. Cabe
mencionar que Oaxaca es un estado que se rige en la mayoría de sus municipios por los
llamados “usos y costumbres” y en donde la mujer desde muy pequeña, en algunas ocasiones
aun siendo una niña es obligada a casarse y ejercer el papel de una maternidad temprana, sin
su consentimiento; dejando entrever la violencia simbólica hacia su persona solo por ser
mujeres. La presente investigación tiene como función principal analizar los procesos de
adaptación de cuatro mujeres indígenas oaxaqueñas que migran a la Ciudad de México desde
la perspectiva de la comunicación intercultural en donde los conceptos de asimilación,
aculturación, ajustamiento e integración se hacen presentes mediante el análisis de las
historias de vida de cada mujer. Dicho tema nace de la inquietud de demostrar a través de un
análisis detallado las injusticias y la importancia que tiene la situación de las mujeres indígenas
una vez que llegan a la Ciudad de México, debido a que el papel de género y etnia tiene um
gran peso social y cultural en la sociedad, en donde la procedencia étnica puede ser motivo
de exclusión, violencia, discriminación, racismo y cancelación de los derechos humanos.

Colonialidade no cinema brasileiro da virada do século XX-XXI

Narciso Faustino Mendes

O cinema brasileiro sofreu um forte golpe no final dos anos 90 com a dissolução da
Embrafilme. O momento posterior, comumente chamado de Retomada, é marcado pelo
resgate historiográfico brasileiro; Carlota Joaquina, Princesa do Brasil (1995) é tido como
marco desse novo momento em nossa cinematografia. Nesse artigo, trago uma análise desse
e de outros filmes como Hans Staden (2000), Caramuru - A invenção do Brasil (2000) e Brava
Gente Brasileira (2000) a fim de investigar as construções discursivas sobre essas abordagens
históricas da colonização e de como os povos indígenas são retratados tendo em vista a
proximidade do marco de 500 anos desde a invasão portuguesa ao nosso continente,
Pindorama. A se entender o cinema como ferramenta fundamental na construção de
identidade nacional, podemos extrair dele a forma como o Estado vem invisibilizando e
estereotipando as identidades dos povos originários; o audiovisual é, portanto, local de
disputa de narrativa. A pouca visibilidade que se tem do cinema indígena representa, então,
um apagamento identitário que é sistêmico e fundamental para a consolidação da sociedade
colonial. Questionar essas construções narrativas que, pela natureza do audiovisual, tem
caráter reprodutivo é de extrema importância para que construamos uma historiografia
contra-hegemônica.

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Diálogo entre “cristianos” subalternos y católicos hegemónicos en el México


contemporáneo

Patricia Fortuny Loret de Mola

La relación asimétrica entre católicos y cristianos es una construcción social histórica que data
de la llegada de los primeros misioneros protestantes de origen anglosajón a tierras mexicanas
desde fines del siglo xix. Aunque ambas creencias compartan el monoteísmo y el origen judeo-
cristiano, desde el inicio se estableció una relación de religión subalterna y hegemónica, en la
cual los creyentes de la primera ocupan en la práctica, la categoría de ciudadanos de segunda
clase. Esto se puede observar en el presente, no solo en la literatura, en los medios, en la vida
cotidiana sino incluso en los contenidos de análisis y estudios socio-antropológicos. Aquí
analizo diversos ejemplos derivados de trabajo de investigación desde la década de los
ochenta hasta el presente, de las prácticas discursivas utilizadas entre unos y otros, desde las
iglesias llamadas minorías religiosas (en este caso me refiero solo a evangélicos y
pentecostales) y la Iglesia Católica. Los “cristianos” constituyen “el Otro”, en los espacios
públicos y privados en donde se establecen confrontaciones, negociaciones y acuerdos. El
término sectas que aún se utiliza para llamar a las iglesias que no pertenecen al catolicismo,
en cualquiera de sus vertientes, aún constituye un vocablo colonizador del católico.

Hurtos, robos y estafas. Las representaciones de la criminalidad en Manizales,


Colombia. 1930-1936

Mauricio López Noreña

La ciudad de Manizales vivió a principios del siglo XX, un proceso de crecimiento económico
que propició un ambiente de prosperidad, a consecuencia de la expansión cafetera de la
década de 1920. Ubicada inicialmente, al sur de Antioquia en la frontera con el Departamento
del Cauca durante el siglo XIX y después como capital del Departamento de Caldas desde 1905,
ha sido un centro comercial, papel que ha desarrollado fungiendo como centro distribuidor
con participación en el comercio internacional, mejorando las vías que facilitaban el flujo de
bienes, como la construcción del ferrocarril o el cable aéreo. (Valencia Llano 1990, p. 90). Así,
la transición de una ciudad de la frontera interior a capital se tradujo en la presencia de una
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mayor institucionalidad, trabajada por la actual historiografía para el siglo XIX (Bedoya
Sánchez & Monsalvo Mendoza, 2014; López Castrillón & Monsalvo Mendoza, 2014; Monsalvo
Mendoza, 2015). En aquellos trabajos se preocupan por la relación entre la criminalidad y la
frontera, pero el objetivo de este trabajo circunscrito en el siglo XX es acercarse a la
criminalidad de una ciudad próspera y boyante que concentra las oficinas centrales de las
instituciones regionales y tiene una fuerte influencia en el plano nacional (Herrera Uribe,
Monsalvo Mendoza, & Suárez Araméndiz, 2015; Ortiz Mesa 2015, 28-34). Por lo tanto, el lugar
ideal para observar las interacciones como negociaciones entre subalternos y la autoridad, en
el marco de unas instituciones con poderes y presencia plena, cuando la riqueza de la ciudad
demanda una pronta y eficaz normalización de los sujetos, en aras de la productividad y la
riqueza. En otras palabras, un contexto que demandaba y presionaba por un fuerte control de
los pobres. Por otro lado, este estudio tiene lugar entre 1930 y 1936, comenzando con la
republica liberal (Henderson, 2006) y terminando con el cambio del Código Penal de 1890,
después el establecimiento del Código Penal de 1936 que redefinió la situación sobre los
vagos, maleantes, rateros y reducidores (Angulo Rueda, 1945). Por el contexto, se puede
entender que la llegada de los liberales al poder supuso varios cambios, por ejemplo, el
cambio en el sistema penal y leyes, antes mencionado. Esto se torna en otro motivo, que volvía
necesario este trabajo, observándose las condiciones previas que pudieron resultar
determinantes y obligar los cambios en la legislación, los cuales se pueden mirar a partir del
caso de Manizales. Además, se puede conocer el comportamiento de los indiciados, los cuales
respondieron a las leyes de la hegemonía conservadora y la regeneración durante sus últimos
años de vigencia, allí habrían usado una habilidad adquirida durante años, la negociación de
sus actividades con el sistema judicial. Por lo tanto, se podría ver la formación de una tradición
en las formas de negociación con la autoridad que representaba la ley. Como consecuencia,
resulta validó preguntarse ¿Quiénes son los ladrones y por qué cometen hurtos? Responder a
esta pregunta implica aludir a la constante amenaza que tiene la propiedad, incluso en el siglo
XXI, que nos llevaría hasta los orígenes de su existencia en tiempos previos a la constitución
de las sociedades con escritura; es decir, a lo largo de la historia del mundo occidental siempre
han existido ladrones y embaucadores. Sin embargo, el objetivo de este trabajo no fue explicar
el origen de los ladrones, pero sí su relación con la pobreza. Cuando el hurto y la estafa se
ejercen como um medio para sobrellevar su existencia, esperando sobrevivir al hambre y
escasez. Así, se entiende que los ladrones y la criminalidad pueden existir en una relación
directa con la escasez material y psicosocial, algo ampliamente trabajado desde múltiples
disciplinas; no obstante, también se entiende que existen muchos tipos de ladrones o formas
de hurto, pero este trabajo solo se concentró en aquellos que robaban como una forma de
paliar sus necesidades. Teniendo en cuenta lo anterior, este ejercicio intenta comprender las
estrategias y respuestas discursivas que los sectores populares realizan como forma de
resistencia al discurso hegemónico que los convierte en criminales; considerando que en ese
discurso quien se resiste al ambiente (necesidades básicas insatisfechas), se defiende con la
ejecución de acciones que palian su miseria, donde se establece una aprehensión de la

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realidad que lleva a la formación de algunos elementos de identidad de los pobres, que la
autoridad entiende como crimen.

A radical alteridade indígena com relação ao ocidente adulto e prosaico

Patrick Pardini

No decorrer dos últimos 35 anos, aproximadamente, a Ciência fez uma série de descobertas
fundamentais relativas à Amazônia, no campo da Antropologia e da Arqueologia. Avançou-se
consideravelmente na compreensão das ecologias praticadas pelas sociedades indígenas
contemporâneas, das suas filosofias e cosmologias. O que importa, hoje, é a revelação de um
saber radicalmente outro e o reconhecimento, pela sociedade brasileira, dessa ‘alteridade
indígena’, do seu valor. Graças à Antropologia, sabemos que as sociedades indígenas da
Amazônia oferecem um modo de ser e pensar próprio, que não se baseia na relação
antropocêntrica, sujeito-objeto. Essas sociedades, tradicionalmente, conferem dignidade de
pessoa ou sujeito aos não-humanos: plantas, animais, artefatos, fenômenos naturais,
acidentes geográficos... A relação entre sujeitos (simétrica, dialógica, de troca e reciprocidade)
é uma relação ética e também poética. Ao promover uma sociabilidade generalizada entre
sujeitos humanos e não humanos, ela realiza o total predomínio da Cultura sobre a Natureza
(no universo indígena, não há Natureza, pois tudo é Cultura). Por outro lado, o que prevalece
na civilização ocidental é a relação sujeito-objeto (assimétrica, autoritária, de poder e
dominação), da qual se origina a Natureza-objeto, em oposição ao Homem-sujeito, único
detentor de Cultura. Ora, ‘o outro como objeto’ é a negação do outro e a negação da ética.
Há, porém, um Ocidente criança e poeta que se reconhece nos povos indígenas – na sua
experiência ética e poética, na sua capacidade de dialogar com o mundo, na sua adesão ao
invisível e ao sagrado. O que está em questão é a alteridade radical dos modos de ser e pensar
indígenas com relação ao Ocidente adulto e prosaico; essa alteridade indígena tem, para nós,
valor de tesouro e sabedoria. A falência do homem ocidental, do modo ocidental de
relacionar-se com o outro, humano ou não humano (uma relação entre sujeito e objeto,
violenta, autoritária, dominadora), exige uma alternativa radical. Essa alternativa, o Brasil a
possui em grau de excelência: é um dos seus maiores tesouros. Tesouro nativo, vilipendiado
desde o princípio, quando o Ocidente para cá se estendeu com violência surda e cega, com
base na total negação do outro, contra a alma e o corpo indígenas. Tesouro da sabedoria
ameríndia: o não-humano como sujeito – uma relação ética e poética com o outro.

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La horizontalidad, el dialogismo y la colaboración en la investigación social en


el estudio de las dinámicas culturales y los procesos de identificación, con la
niñez indígena

Kathia Núñez Patiño

El problema de las identidades es muy amplio y complejo, debido a la diversidad de contextos


sociohistóricos en los que se inscribe la pluralidad de actores que participan em la estructura
de relaciones y su posicionamiento en ella. En esta estructura de relaciones de desigualdad
sociocultural se configuran las subjetividades personales, en relación com otros y en su
dinamismo, lo que provee de sentido, en proceso, a las diversas identificaciones que
construyen la identidad de las personas. Frente a este panorama tan amplio, abordar el
problema de las identidades se hace más complicado por la enorme cantidad de producción
académica que se ha acumulado y otros conceptos que lo implican. Por ejemplo, los de
“cultura” y “comunidad indígena”, son conceptos articulados que apelan al juego del poder
en la estructura de clasificaciones que jerarquiza las relaciones sociales en el devenir histórico.
Este sistema de clasificaciones configura el mundo desde la colonialidad, por lo tanto, en esta
ponencia se presenta una propuesta metodológica para abordar el problema de las dinámicas
culturales y los procesos de identificación en contextos comunitarios de pueblos originarios,
desde los estudios de las infancias y las metodologías horizontales para la construcción de
diálogos y colaboración en la producción de conocimientos. En la propuesta se destaca la
agencia de la niñez para conocer, de manera histórica y etnográfica, los contextos
comunitarios indígenas en los que se construyen las identidades en permanencia, a través
dibujos-entrevista considerados como textos, desde una propuesta con bases en la semiótica
y la antropología crítica.

Videojuegos para la interculturalidad: una lectura decolonial de la


representación del indígena en los videojuegos

Wilson Alberto Martinez Penagos

Desde los 80 la industria de los videojuegos viene construyendo su propio lenguaje y, junto al
lenguaje video-lúdico, un discurso que refleja el lugar de enunciación privilegiado del primer
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mundo. Japón, Estados unidos y Europa son los principales productores de videojuegos y, a la
vez, tienen los mercados más importantes. El videojuego como medio de comunicación o
como narrativa es una parte importante de la cultura popular de estos países; por medio del
videojuego se realiza una mutua y significativa influencia cultural e ideológica. Desde este
lugar de enunciación, el videojuego refleja un imaginario euro-centrado del indígena en el
esquema colonial civilizado/salvaje. En sus narrativas se evidencia la justificación colonial, el
extermino del otro, la violencia hacia la mujer indígena, el silenciamiento, la apropiación, el
uso de estereotipos y hasta el blanqueamiento. No obstante, lo anterior, algunos procesos de
democratización de la tecnología, tales como motores de videojuegos de licencias
gratuitas(Unity), plataformas de distribución (Steam) y el auge de los celulares, dieron un
impulso a los videojuegos independientes desde los cuales circulan discursos críticos y anti-
hegemónicos. En tal sentido, se considera que los recursos lúdicos y narrativos del videojuego
tienen la capacidad de inmersión diegética y que los pueblos indígenas pueden aprovechar
como estrategia geo-cultural para un diálogo intercultural. La adaptación de narrativas
indígenas a los videojuegos permite nuevos escenarios de transmisión intra-cultural a la vez
que abre un escenario de diálogo con la comunidad alrededor de los videojuegos. Los
videojuegos pueden sumergirnos en el horizonte del otro, en el cual el propio jugador cuenta
la historia mientras que las mecánicas del juego pueden recrear dinámicas de los pueblos
indígenas. La noción de sistema permite una transposición de normas, así como el diseño de
condiciones de victoria. En esta vía, en la ponencia se explorará, de la mano con lo que se
denomina videojuegos indígenas (un grupo de videojuegos coodiseñados desde las
comunidades indígenas) la capacidad del videojuego para reflejar la cosmovisión de los
pueblos.

¿Quién es el prójimo? Indígena, subalterno, oprimido, pobre

Inés María de los Angeles Cornejo Portugal

La presente ponencia explora y sigue la huella de las propuestas fundadoras de Gustavo


Gutiérrez y la Teología de la Liberación, así como de Paulo Freire y la educación popular. Entre
los años sesenta y setenta, en América Latina, ambos parecen haber forjado y promovido
proyectos de comunicación sustentados en programas de alfabetización y uma toma de
conciencia política. El objetivo aquí es interrogar los trazos metodológicos de estos
precursores, es decir, el proceso ―ya sea teórico, práctico o teórico-práctico― que Gutiérrez
y Freire elaboraron en su propuesta social y evangélica para la “liberación del oprimido”. El
propósito es identificar cómo construir, participar y asociarse para signar juntos, investigador-
investigado, educador-educando, el derrotero. Trazos metodológicos, métodos en plural, un
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cuerpo teórico y práctico de investigación para orientarse en cuanto a qué conocer, cómo
conocer y para qué. Además, se analiza el concepto sobre “el otro” (ya sea oprimido o pobre),
la importancia que Gutiérrez y Freire otorgan al lenguaje y la forma en que se apropian de
éste, y el trabajo del científico social (en tanto intelectual educador o teólogo). Por último, se
trata de entender cómo conceptualizan o definen la “liberación social” o la acción preferencial
por los pobres para realizar una reflexión conceptual a partir de sus aportes. La ponencia se
divide en tres apartados: el primero es un abordaje y exposición sobre la Teología de la
liberación de Gutiérrez y su método; en el segundo, expositivo también, hay una breve
revisión de la educación popular en términos de Freire y el caminho metodológico que siguió;
por último, el tercer apartado está subdividido en secciones menores para establecer
reiteraciones, omisiones o preguntas que parecen haber quedado pendientes por resolver en
el camino metodológico. Finalmente, en la conclusión se analiza cómo estos primeros trazos
y propuestas sobre la comunicación popular se filtran o no en las reflexiones actuales, en un
marco de referencia más amplio en torno a la producción de conocimiento en una realidad
como la latinoamericana. Se evidencian los encuentros y desencuentros, los pasos perdidos y,
em algunos casos, los métodos herméticos del investigador social o los cuestionamientos
desde la espiritualidad.

Diálogos sobre el racismo: Narrativas de jóvenes afromexicanos de la Costa


Chica de Oaxaca, México frente a una práctica invisibilizada

Maritza Urteaga Castro Pozo

Alejandra Ramírez López

Esta ponencia es un acercamiento a las narrativas que construyen los jóvenes afromexicanos
de la Costa Chica de Oaxaca acerca del racismo desde su enunciación en el espacio social,
como actores subalternos, a quienes se les han otorgado pocos espacios para hablar de las
experiencias racistas a las que se confrontan. En México, el discurso del mestizaje-que dejó
fuera de su lógica a los grupos afrodescendientes-propició la ilusión de generar una sociedad
con oportunidades para todos. Este fenómeno, aunado al rechazo de la categoría raza, desde
su perspectiva biologicista, fortaleció el hecho de que hasta hace algunas décadas se hablara
poco acerca del racismo, sus prácticas y su reproducción. De Sousa Santos (2006:23) apunta
que las ausencias son producidas y programadas por el Estado, que en este caso había
promovido desde la época posrevolucionaria una idea de universalidad a través del mestizaje,
desde las que se construyeron las “narrativas” hegemónicas (Spivak, 2003) de “lo mexicano”,

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en las que quedó fuera el racismo. En contraposición al discurso nacional, este trabajo implicó,
como lo propone Spivak (2003) escuchar las voces subalternas para entender cuáles son las
narrativas desde las que se están construyendo los jóvenes afromexicanos, frente a las
narrativas hegemónicas. Las “metodologías horizontales”, el hecho de “considerar al sujeto
como otro que se deja ver em el diálogo” (Corona, 2017), nos permitieron construir en
conjunto el racismo como un eje que articula parte de la experiencia juvenil de los jóvenes
afrodescendientes, lo que da pie a hacer visible las prácticas racistas en México, a
desnaturalizarlas y a comprender sus lógicas. Este trabajo se realizó con base en datos
obtenidos a través del trabajo de campo en la comunidad de Santiago Tapextla, Oaxaca,
ubicada en la región Costa Chica en México. Los relatos y narrativas están construidos con
jóvenes estudiantes y migrantes de retorno a través de entrevistas en profundidad y tres
grupos focales, realizados entre 2016 y 2017.

Povos indígenas e descolonização da psicologia

Brisana Índio do Brasil de Macêdo Silva

João Paulo Macedo

As trajetórias de vida e as lutas dos povos indígenas colocam em análise elementos fundantes
da história de nosso país. Essa marcada por um histórico de opressão, extermínio e
invisibilidade desses povos. Apesar do incremento de estudos e discussões sobre a temática,
a relação da Psicologia, enquanto ciência e profissão, com as discussões étnico-raciais ainda é
pouco abordada nos cursos de graduação/pós-graduação e nas produções acadêmicas,
marcados pela tradicionalidade da Psicologia, em meio as relações de colonialidade de poder,
saber e ser. Assim, perpetua-se uma invisibilidade para essas questões, que imprimem
diferentes tipos de preconceitos, de discriminações e de sofrimento psíquico a uma expressiva
parcela da população brasileira até então silenciada e invisibilizada (Berni, 2016; Ferraz &
Domingues, 2016; Rosa, 2016). Desse modo, a fim de possibilitar um campo de aproximação
da Psicologia com a temática dos povos indígenas este trabalho buscará apresentar as
principais categorias teóricas e analíticas que possam contribuir para estabelecer um profícuo
diálogo entre a Psicologia e os povos indígenas no cenário brasileiro. Metodologicamente,
localizaremos, nos estudos sobre povos e comunidades indígenas as principais contribuições
teóricas e analíticas para refletir a realidade dos povos indígenas no Brasil; em seguida,
procuraremos situar a produção acadêmica da Psicologia sobre a temática, a fim de refletir
sobre a atuação do(a) psicólogo(a) junto aos povos indígenas e os principais desafios postos;
para assim, situar a importância de descolonizar a Psicologia, ou seja, de reinventarmos
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teorias, referências de atuação, tendo em vista que a Psicologia enquanto campo de saber foi
fundada tomando como referência o homem burguês e as características do mundo ocidental
moderno. Na ocasião, destacaremos os estudos pós-coloniais e decoloniais que, diante a
tradicionalidade do discurso ocidental e colonial, buscam problematizar o eurocentrismo na
visão de mundo, no ser humano e na história. Para descolonizar essas relações, deve-se
investir no exercício crítico de reflexão sobre esse modelo de ser humano, como o tomamos
e aplicamos na prática e em determinados contextos. Embora a Psicologia já tenha
desenvolvido iniciativas em relação a isso, a exemplo da Psicologia Crítica, Psicologia da
Libertação Latino-Americana, Descolonização da Psicologia, Estudos Africanos em Psicologia,
Psicologia Indígena, ainda é possível observar teorias e práticas ancoradas nesse modelo de
ser humano. Repensar a Psicologia, enquanto campo de saber e prática, não se trata de buscar
abandonar as referências, até então, produzidas; mas sim, refletir sobre os limites e
possibilidades dessas referências europeias.

Ainda precisamos reivindicar o protagonismo indígena na Universidade

Maíra de Mello Silva

Os questionamentos se repetem, a cada espaço protagonizado por indígenas na Universidade


Federal de Pelotas, sobre o uso ou não de roupas nos territórios tradicionais, a perda de suas
identidades, o estar na Universidade, a existência da pluralidade étnica no Brasil e tantos
outros. Assim, partindo de diferentes experiências com indígenas que estão cursando a
educação superior ou que vêm até a Universidade dialogar sobre suas realidades atuais, esse
trabalho se propõe analisar: algumas das questões recorrentes, por parte da comunidade não
indígena de Pelotas/RS; a persistência argumentativa de indígenas sobre suas respectivas
culturas; e a utilização do recurso audiovisual como ferramenta de sensibilização e
informação. Os aparatos teórico-metodológicos perpassam a criação de espaços legítimos à
fala de e sobre os povos indígenas, a utilização de filmes etnográficos protagonizados e/ou
dirigidos por indígenas e a construção de textos e documentários que possam reverberar essas
experiências. Até o presente momento, essa dinâmica se faz frutífera, mas denota a
necessidade de muitos mais espaços de integração, em que a autonomia de fala das e dos
indígenas seja central. É nesse sentido que refletir o que nós, não indígenas, praticamos nos
diversos espaços científicos, é um exercício fundamental, neste momento em que as garantias
constitucionais desses povos estão sob ameaça.

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A política de austeridade do governo Temer aos povos indígenas

Maíra de Mello Silva

Julio Augusto Jesus Lopez

Tratamos neste trabalho dos dados trazidos no relatório O Impacto da Política Econômica de
Austeridade nos Direitos Humanos, a partir da síntese de elementos no tocante aos povos
indígenas que vivem no Brasil. Os vínculos geográficos também estão colocados, de forma a
compreender as políticas econômicas sob um viés regional, entendendo que Terras e
comunidades indígenas são consideradas empecilhos a um mesmo projeto de
desenvolvimento que ocasiona ruptura com direitos fundamentais. Assim, o aparato teórico
e metodológico utilizado neste trabalho toca a Antropologia, quando da compreensão das
dinâmicas práticas das políticas de austeridade infringidas aos povos indígenas, também
quando da revisão sobre a atuação dúbia do Estado brasileiro no que tange à lógica de
desenvolvimento que ocasiona e reafirma o etnocídio dos povos originários. Esse movimento
abstrato é feito através da vinculação da Antropologia e do Direito, pensando a Antropologia
Jurídica como instrumento epistemológico possível, especialmente através dos trabalhos que
possibilitam descolonizar essas ciências, em suas essências. Os resultados obtidos dão conta
de que a política implementada entre 2016 e 2019 pelo presidente Michel Temer fazem parte
de um longo processo genocida, caricato do Estado nacional brasileiro, porém, com requintes
de uma nova leva de investimentos internacionais para a compra de terras, instaurando o
conflito fundiário no campo, incluindo as Terras Indígenas até então asseguradas pela
Constituição.

Indigeneidade e raciocínio geográfico: uma sequência didática de resgate


ancestral a partir do Corpo - Território

Nathalia Vieira da Silva

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Através de uma árvore genealógica dos lugares de origem da ascendência familiar de cada
um/a, partindo de uma reflexão do mapeamento do Corpo como um Território, foram feitos
exercício de colocar em desenho todos aqueles lugares que consideramos necessários
visibilizar em um mapa do território que habitamos, tendo sido feito um recorte interseccional
do público-alvo, trazendo a tona as memórias de Indigeneidade (Balée, 2008) que carregamos,
questionando junto aos participantes como elas vivenciam e sentem sobre seus corpos as
violências que se exercem em seu território. Através do Raciocínio geográfico seria possível
refletir a indigeneidade? Qual é o potencial de traçar um território indígena em nosso corpo?
É possível localizar geograficamente a partir dos relatos de familiares e da análise do nosso
corpo- território nossas etnias ancestrais? A prática da metodologia científica da geografia
feminista decolonial vai de encontro com o processo de auto-afirmação étnica, notamos uma
deficiência evidente de recursos didáticos sobre Indigeneidade nas escolas, e nos
questionamos como isso pode afetar a autoestima das/os alunas/os que descendem de
diversos povos indígenas e que por uma questão material e histórica de etnocídio colonial,
vivem na pele ainda hoje o apagamento e a perda das memórias de nossas/os
antepassadas/os. O pano de fundo histórico dessa pesquisa está cunhado em meio às
perspectivas do giro decolonial na geografia crítica, a partir da Geografia feminista que propõe
algumas possibilidades para romper com as visões eurocêntricas, heteronormativas,
hegemonicamente brancas e que carregam ainda o olhar do colonizador, predominantes
mesmo no pensamento crítico da ciência geográfica (Coletivo Geografía Crítica Ecuador,
2017). A Cartografia Corporal propõe um resgate de nossas emoções através da
conscientização do nosso corpo como um território de disputas e resistências, um corpo-terra,
para isso usamos o exercício da Cartilha: “Mapeando el cuerpo-territorio. Guía metodológica
para mujeres que defienden sus territorios”, idealizado pelas mulheres do Coletivo “Miradas
Críticas del Territorio desde el Feminismo”, com as quais tive contato em um intercâmbio de
curta duração que realizei na Universidad Andina Simón Bolívar no Equador, durante o curso
“Geografia Feminista” ministrado pela Profa. Dra. Sofía Zaragocin, e na necessidade de
produzir recursos metodológicos que apoie e incentive outras pessoas e educadoras/es a
tratar o tema da autodeclaração étnica, nas escolas, em espaços de educação não-formal, e
nas suas trajetórias pessoais, que construímos a sequência didática desta pesquisa.

Diálogo intercultural en el habitar la escuela

Tatiana Aguayo Vidal

¿Cómo en la escuela como espacio habitado toma lugar el diálogo intercultural? Es la pregunta
de una etnografía realizada en una escuela de Alto Bío-Bío, Octava Región de Chile; donde el
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95% del estudiantado es de origen Pewenche. Los hallazgos dan cuenta que en las prácticas
educativas habitan narrativas hegemónicas que significan a lxs niñxs pewenche, su saber ser
y su lugar de vida, como naturalmente carenciados. Reflejado en dichos como “…no quieren
ser más…”, “Aquí está menos instaurado el progreso… no está esa competencia que nosotros
tenemos…”, “es como si tuvieran una venda traslúcida y no logran ver bien” “hay que darle un
objetivo de porqué educarse”. Se confrontan a estas narrativas, prácticas culturales familiares
que concibe el respeto como un valor fundamental “El respeto de la naturaleza se expresa en
lo cotidiano; se toma [de ella] lo que se necesita, antes se [le] pide permiso y después se [le] da
gracias” (Cuaderno de campo, pág. 5). Estas prácticas no encuentran sintonía en el espacio
educativo, impidiendo que el diálogo intercultural tome lugar en la práctica educativa
cotidiana. El diálogo intercultural se juega en la posibilidad de que saberes creados y recreados
en la familia- territorio pewenche, que dan cuenta de lo particular y específico de su cultura,
tengan lugar en el espacio escolar simbolizando y significando las prácticas. Se juega en la
posibilidad de que estas prácticas se autodefinan desde argumentos autónomos, con base en
la filosofía y cosmovisión pewenche. Que explique porqué desde la filosofía occidental no es
posible hacer transferencia de sentidos de los saberes pewenche; provocando un giro,
sacando del paradigma del déficit, de la necesidad educativa, la relación y la práctica educativa
intercultural. Aportando teóricamente, desde un sistema de enseñanza aprendizaje que
privilegia la práctica, y de cuenta que la interculturalidad también se juega dando lugar en el
aula a la pluralidad de saberes existentes. Se juega poniendo fin a relatos que le dan a lo otro
la ubicación de inferioridad en el estatus del saber, expresado en la desvaloración y negación
de sus prácticas y formas de habitar, atribuyéndole falta de legitimidad a las formas, sistemas
de producción y transmisión de conocimientos. Imponer una única y excluyente forma de
entender y vivir la vida, genera una violenta distancia epistemológica entre el conocimiento
pewenche y el conocimiento escolar, imposibilitando que tome lugar la riqueza de otras
formas de saber- ser que dan cuenta de otras maneras de habitar el mundo natural y cultural,
siendo necesario la construcción de un relato contra hegemónico que equilibre las relaciones
de poder y permita la diversidad epistémica en la comprensión del ser y del saber.

ST 08 | Da subordinação à (difícil) construção de relações pluriétnicas e


plurinacionais IV

Lino João de Oliveira Neves (Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Brasil); Patricia Zuckerhut
(Universidad de Viena, Austria); Carlos Rafael Rea Rodríguez (Universidad Autónoma de Nayarit,
México).

Este Simposio pretende agregar activistas y profesionales de los distintos campos de las
humanidades, para profundizar la reflexión crítica sobre el proceso continuado de anulación

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y eliminación de los sistemas nativos de producción de conocimiento impuesto por la


modernidad europea en todas las partes del mundo, en particularmente en América Latina.
Tomando como punto de partida la resistencia de los pueblos indígenas el simposio pretende
dar atención especial a la escalada de violencia practicada por el (neo)extractivismo, en
particular en lo que se refiere a la situación de los pueblos aislados, que a cada paso se vuelve
más trágica, con sus espacios vitales de supervivencia – sus territorios – cada día más
amenazados por frentes de explotación (maderera, petrolera y minerária) y el agribusiness,
no quedandoles más espacios para defender sus mundos. Como en ediciones anteriores (I
CIPIAL, Oaxaca/2013; II CIPIAL, Santa Rosa/2016 y 56 ICA, Salamanca/2018), el Simposio invita
a los participantes a avanzar en la búsqueda de fundamentos teórico- -conceptuales y de
estrategias políticas de superación de situaciones de subordinación epistemológica, cultural,
social y política y la deconstrucción del colonialismo que históricamente los pueblos indígenas
están sometidos y la búsqueda, igualmente necesaria, de construcción de relaciones
multiétnicas y multinacionales más acordes con la realidad de las sociedades plurales
existente en América Latina y en todas las partes del mundo.

A interculturalidade nas salas de aula como espaços de construção de


relações interétnicas decoloniais e mais justas: reflexões a partir de um
projeto de extensão em escolas públicas

Lori Altmann e Roberto E. Zwetsch

O Brasil, historicamente, se constituiu sobre a escravidão indígena e de africanos e afro-


brasileiros, o que gerou uma sociedade racista e extremamente desigual. A luta dos povos
indígenas e de escravos africanos pela liberdade nunca deixou de existir, apesar da crueldade
imposta a estes povos pelo sistema colonial e neocolonial. A experiência de realizar um
projeto de extensão enfocando a história indígena em escolas da rede pública do município
de Pelotas, no Rio Grande do Sul, Brasil, concretizando os objetivos da Lei 11.645, de março
de 2008, vem demonstrando que é possível envolver crianças e jovens numa nova abordagem
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dessa realidade histórica, principalmente quando se abre a oportunidade de ouvir nas salas
de aula estudantes universitários e lideranças indígenas que falam de suas histórias e culturas,
a partir de um diálogo criativo e desafiador. Docentes de escolas públicas igualmente estão
envolvidos em um processo de formação continuada que lhes habilita a darem continuidade
aos temas abordados, conforme preveem os projetos pedagógicos dos cursos. A abordagem
teórica desta comunicação fará referência aos estudos decoloniais e interculturais.

Pueblos indígenas y extractivismo: obstáculos para la equidad en el desarrollo

José Del Val Blanco

A partir de la década de 1970, con la crisis del Estado benefactor y la puesta en marcha de la
cultura global del consumo, ilimitado y sin restricciones, a cargo de las empresas y
corporativos industriales y financieros trasnacionales, se empezaron a socavar los
fundamentos de los modelos de identidad nacional y a vulnerar las soberanías de los Estados
nacionales mediante la modificación de las estructuras jurídicas, imponiendo restricciones
formales e ideológicas a los compromisos sociales que tenían los gobiernos con sus
ciudadanos; es decir, se modificaron los términos del “contrato social”, obligando a las
naciones a subordinar el cumplimiento de sus derechos, a las determinaciones y necesidades
de los flujos del Capital y en función de las exigencias estabelecidas por los mercados globales
bajo el imperio de las eufemísticamente denominadas variables “macroeconómicas” (que
obvia y evidentemente ocultan la desigualdad), en ocasiones como en las nuestras,
establecidas y legitimadas, como Pactos de la fuerzas políticas locales. La presente ponencia
tiene como propósito analizar el neoextractivismo en el marco del proceso definido como
neocolonial, cuyos fundamentos se encuentran en la doctrina económica neoliberal,
sustentada en la libertad absoluta de mercado y la liberalización de cualquier restricción
jurídica, a la circulación de bienes materiales y no materiales, humanos y naturales,
concibiendo a todo y a todos como mercancías intercambiables y apropiables. La apropiación
por parte de los dueños del Capital global y del orden internacional, se ha venido
desarrollando de manera compleja y generalizada em todos los órdenes de la vida social,
económica y cultural de las naciones y mantiene su expresión material, en gran parte de los
territorios ocupados por poblaciones originarias.

O grito de que vem da aldeia: a presença Kaingang no Rio Grande do Sul - o


espaço territorial e o tempo dos panelões
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Danilo Braga

As conquistas dos povos indígenas, resultado de décadas de lutas, nunca antes na história
deste país foram tão atacadas. Na verdade, os direitos indígenas sempre foram atacados. O
que assistimos em um Brasil atual é uma grande busca, desenfreada de influenciar a opinião
pública para aquilo que podemos chamar de “sentimento anti-indígena”. Este movimento
camuflado no discurso de democracia é patrocinado pôr deputados federais, representantes
do agronegócio, dos grandes proprietários, a “Bancada Ruralista”. O sentimento dos povos
indígenas, acredito, é recíproco a de muitos brasileiros, no que diz respeito a não ser
representado pela maioria dos deputados, pois sua luta que sempre foi e é pela migalha, da
migalha, encontra se em cheque. Vivemos em pleno século XXI, era de revoluções tecnológicas
e o discurso em nada evoluiu. Na região sul do Brasil onde, ainda vivem os Kaingang, um dos
maiores grupos indígenas que possivelmente soma hoje mais de 40 mil indivíduos. A trajetória
deste povo em sobreviver em uma região de intensa colonização não foi uma tarefa fácil. A
presente abordagem desenvolveu-se no sentido de estar apresentando ao público uma
análise mais atual do caminho, das lutas pela terra de um dos povos indígenas mais numerosos
do Brasil. Este povo vive em uma região muito pequena em comparação com a região norte
de nosso país, mesmo assim sobreviveram. Neste sentido a análise é necessária para
conhecermos melhor a história deste povo autóctone.

Crítica à democracia ambiental brasileira e análise do cenário de conflitos


socioambientais envolvendo povos indígenas sob a ótica do pluralismo
radical

Ruan Didier Bruzaca e Thaís Emília de Sousa Viegas

O atual cenário ambiental brasileiro marca-se por diversos conflitos socioambientais, que vão
desde a implementação de grandes empreendimentos até a imposição de um modelo
conservacionista da natureza. Ao mesmo passo, existem previsões normativas materiais e
processuais que visam tutelar o meio ambiente, caracterizando-se formalmente uma
democracia ambiental (LEITE, AYALA, 2010, passim), mas que pode reproduzir situações de
injustiça e racismo ambiental (ACSELRAD, MELLO, BEZERRA, 2009, passim). Isto é observado
em relação a diversas situações de grupos étnico-sociais, como é o caso de povos indígenas.
Diante da diversidade de conflitos socioambientais, pode-se destacar em especial os conflitos

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decorrentes do modelo de desenvolvimento nomeado neodesenvolvimentismo, fundado no


neoextrativismo (SANTOS, 2013, passim). Com isso, comunidades indígenas, inserem-se em
conflitos socioambientais, buscando proteção nos instrumentos jurídicos. Porém, algumas
formas de ser, viver e criar não são passíveis de tradução conforme as formas da democracia
ambiental, na medida em que não vestem a máscara abstrata e geral do cidadão, seja na
formação do Estado-nação (SEGATO, 2010, passim; HALL, 2006, passim), seja na construção
do ordenamento jurídico nacional (MIAILLE, 2005, passim). Com isso, visando debater no
simpósio “Da subordinação à (difícil) construção de relações pluriétnicas e plurinacionais”,
elege-se o tema da democracia ambiental, delimitando-o na crítica à democracia ambiental
brasileira sob a ótica de conflitos socioambientais envolvendo povos indígenas. O problema
consiste em indagar em que medida a democracia ambiental instaurada formalmente no
Brasil garante direitos àqueles povos. Enquanto resposta provisória, entende-se que não se
atente aos direitos destes na medida em que o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado e seus instrumentos consolidam um sujeito de direito abstrato e geral que não
alcançam o sujeito subalterno, nos termos de Spivak (2010, passim). O objetivo geral é
elaborar uma crítica à democracia ambiental brasileira, sendo os específicos descrever o
cenário jurídico brasileiro que inaugura a referida democracia, analisar as implicações dos
instrumentos jurídicos face às situações de conflitos socioambientais envolvendo povos
indígenas e, por fim, destacar uma concepção de pluralismo radical que possibilite repensar o
direito ambiental.

Aspectos da assessoria técnica em arquitetura junto a populações indígenas:


planejamento e construção da Casa de Cultura Xakriabá

Thiago Barbosa de Campos

O objetivo deste trabalho é discutir a assessoria técnica no âmbito da arquitetura junto a


populações indígenas, trazendo à tona questões surgidas no encontro entre diferentes modos
de produzir o espaço - o dos assessores e o dos indígenas. Tomo como base a experiência de
atuação de arquitetos ligados à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) junto aos
indígenas da etnia Xakriabá, residentes em terra indígena demarcada no norte do estado de
Minas Gerais, no processo de planejamento e construção da edificação denominada Casa de
Cultura Xakriabá, ocorrido entre 2005 e 2013, concebida com o propósito de fomentar
práticas culturais deste povo. Na primeira parte do trabalho, apresento reflexões teóricas com
o objetivo de deixar claro o que será considerada uma atuação bem-sucedida no âmbito da
assessoria técnica. Na segunda parte, apresento um contexto geral sobre os indígenas
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Xakriabá e detalho como foi concebida e construída a Casa de Cultura. Na terceira e última
parte, realizo a análise crítica da assessoria junto aos Xakriabá e apresento conclusões e
reflexões sobre o tema. As principais conclusões deste trabalho mostram que a interferência
da assessoria contribuiu, em certa parte, para o ganho de autonomia na produção do espaço,
principalmente por parte dos indígenas envolvidos diretamente no processo. Nota-se, por
outro lado, que algumas ações acabaram criando novas relações de dependência entre os
assessorados e os técnicos (assessores), em certa medida devido à ausência de uma análise
crítica durante o processo. A opção por desenvolver projeto de arquitetura em etapa anterior
à construção se mostrou como uma das principais causas da diminuição de autonomia das
decisões por parte dos construtores e futuros usuários do espaço. No que diz respeito à etapa
de construção, o insucesso dos mutirões limitou o potencial ganho de autonomia por uma
parcela maior da população indígena, ficando este concentrado nas mãos do grupo
diretamente envolvido nas obras. A experiência da Casa de Cultura, entre seus erros e acertos,
contribui para reforçar a ideia de que fortalecemos a autonomia de grupos sócio-espaciais
quando possibilitamos ou incentivamos que estes hajam efetivamente de forma autônoma.
Conclui-se que interferências em assessoria técnica no âmbito da arquitetura devem ser
críticas, evitar o planejamento prévio e a imposição de soluções técnicas e devem ser
realizadas apenas quando demandadas.

Ámbito de aplicación de la jurisdicción especial indígena y el derecho


fundamental a la consulta previa en su territorio y territorialidad

Nicolas Felipe Segura Ceballos

La consulta previa ha sido establecida como un derecho fundamental en Colombia, sin


embargo, pese a la jurisdicción especial indígena para aplicarse en su territorio y en los casos
directos sobre sus comuneros se ha omitido que existe un fuero indígena el cual se ve
vulnerado de manera continua y con muchas omisiones por parte del gobierno. Es por esto
que el caso de mayor éxito de la consulta previa es la sentencia SU 123 de 2018, (iniciada en
coautoría por una acción de tutela de quien les suscribe), donde no solo se logra amparar el
derecho de la consulta previa y la forma de protección de cosmovisión de un pueblo en
exterminio protegido por la corte constitucional de Colombia en su estado de cosa
inconstitucional, del pueblo AWÁ, sino también se logran establecer parámetros de ejemplo
internacional donde el desarrollo y su jurisdicción de un pueblo indígena no sobrecae
únicamente en los aspectos geográficos del territorio, sino de su territorialidad que es donde

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desde manera ancestral han desarrollado sus actividades espirituales, culturales y de


subsistencia.

La crítica de Marx al proyecto moderno y las formas de sociabilidad de los


Pueblos Originarios: notas para una reinterpretación en clave política

Hander Andrés Henao

Es necesario atreverse a pensar y actuar como un filósofo latino-americano, es decir, a partir


de la crítica epistémica y de la praxis de libertaria que subvierta todas las lógicas y formas de
vida imperantes. Arriesgarse a pensar así, desde el abismo de un locus de enunciación
latinoamericano, es arriesgarse a encarar toda la filosofía desde sus comienzos, con el objetivo
de que la filosofía se supere a sí misma y venza la parcelación en la que se há visto envuelta,
pues, cuando la filosofía piensa situada y críticamente la realidad de Latinoamérica, deja de
ser mera filosofía y se convierte en historia, sociología, arqueología, antropología, etc., es
decir, se trasciende a sí misma para convertirse en una propuesta de realización ética y
política. El pensamiento de Karl Marx tiene como premisa de su trabajo una visión
«Totalidad», por medio de la cual realiza una crítica al modelo de sociabilidad sustentado por
el proyecto moderno civilización en las esferas económicas, políticas y culturales. Este hecho
lo coloca como antesala para una crítica descolonial y, sin embargo, esta tradición a dicho de
él que es un pensador eurocéntrico. Creemos que es necesario una reinterpretación en clave
política, de su antropología económica, puesto que su referencias a los formas de socialbilidad
de los pueblos amerindios, dan cuenta de su proyecto crítico ante el proyecto de civilización
occidental. En ese sentido, esta propuesta investigativa surge de una necesidad vital: la
búsqueda desesperada de alternativas a los procesos de alienación en América latina. Tres
son nuestros ejes, la Crítica de Marx a la Modernidad, la descolonialidad epistêmica y las
experiencias sociales amerindias, como bases iniciales a un tal proyecto político que nos
oriente a vincular un saber filosófico y sociológico en la reflexión de las cosmovisiones de
nuestros pueblos originarios en tanto modelo de sociedades y proyectos políticos alternativos
a la sociedade capitalista colonial y patriarcal eurocéntrica.

“Nós queremos dialogar, mas vocês não estão deixando a gente”: análise e
descrição da ação judicial sobre a participação indígena no projeto de
construção da Usina Belo Monte

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Lidia Neira Alves Lacerda

A presente apresentação faz parte de uma pesquisa de mestrado realizada com o objetivo de
descrever e analisar os discursos e práticas estatais articulados para efetivar projeto da Usina
Belo Monte – UBM. Utilizei para análise os documentos produzidos na Ação Civil Pública no
20063903000711-8 - ACP, ajuízada pelo Ministério Público Federal-MPF, questionando a
ausência de oitivas e consulta prévia, conforme previstos na Constituição Federal de 1988 –
CF/88 e a Convenção n. 169 Internacional da Organização do Trabalho - OIT. Nesta
apresentação analiso as interpretações utilizadas em torno dos mecanismos legais de
participação, que eclipsaram a participação, o exercício da cidadania e autonomia indígena. A
CF/88, nas situações específicas de aproveitamento dos recursos hídricos, pesquisa e lavra de
riquezas minerais em território indígena determina a autorização do Congresso Nacional -CN,
após realizar as oitivas aos povos indígenas interessados. Em âmbito mundial, a Convenção n.
169, criou o instituto da consulta prévia, um oportuno mecanismo de diálogo intercultural,
que assegura o direito à participação dos povos indígenas em decisões do legislativo e
executivo que lhes afetem diretamente. As análises dos textos da ACP apontaram divergências
no entendimento de como devem se dar as consultas prévias e as oitivas. O modo de
participação dos povos indígenas foi deslocado para o âmbito da legislação ambiental. Para
isso, os defensores do projeto construíram uma narrativa ao logo da disputa judicial que pode
ser sintetizada em quatro pontos: a) o CN aprovou o DL 788/05 e delegou a realização das
oitivas e consultas para o âmbito dos estudos ambientais e laudos antropológicos; b) as
consultas, oitivas e audiência públicas ambientais, foram apresentadas pelos defensores do
projeto como mecanismos semelhantes, e os termos foram operados enquanto sinônimos; c)
os povos indígenas foram caracterizados numa situação de miserabilidade, sendo que o
projeto, junto com os planos de mitigação e condicionantes, promoveriam o desenvolvimento
e melhores condições de vida; d) por último, os interesses indígenas, ou o direito ao usufruto
do território, não poderiam se sobrepor aos interesses e soberania nacional. Em diálogo com
esses argumentos analisei como as categorias cidadania indígena, autonomia e participação
indígenas aparecem no decorrer do processo e de que modo foram obliteradas.

Lo que se pierde cuando se pierde el bosque por actividades extractivistas y la


violación de los derechos de los pueblos indígenas en la Amazonia

José Antonio Martinez Montaño

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Los bosques de la Amazonía destruidos por actividades extractivistas de la minería del oro, la
prospección y explotación hidrocarburíferas, el avance de la frontera agrícola, los
megaproyectos viales y represas hidroeléctricas; afectan: 1. Los Derechos difusos de Pueblos
indígenas en aislamiento voluntario (PIAV) y Pueblos indígenas en aislamiento y contacto
inicial (PIACI 2. Las fuentes de producción de agua dulce y oxígeno, elementos esenciales para
la vida 3. Los territorios indígenas titulados, las áreas protegidas, las reservas de flora y fauna
silvestre y, los parques naturales. Las consecuencias: contaminación ambiental, procesos de
desertificación de suelos, pérdida de biodiversidad, desplazamiento de poblaciones nativas,
cambio climático inexorable, con sequías e inundaciones, lluvias torrenciales y escorrentía de
aguas superficiales, hacen que las actividades humanas estén en riesgo y las agrícolas las
menos seguras. Frente a los “desastres humanos” (en origen y en efecto), es preciso
replantearse los fundamentos teórico-conceptuales respecto a: los bosques, las alternativas
productivas al extractivismo y la cultura del patrón de desarrollo basado en petróleo y
minerales. Un principio del cual partir, “conocimientos equivocados, conducen a prácticas
equivocadas”; por consiguiente, la estrategia de cambios conceptuales sobre los bosques, las
funciones y servicios ambientales que ellos prestan a la humanidad, deberá modificar las
relaciones sociales sobre el hábitat y los bosques. La disyuntiva saberes y conocimientos de
pueblos indígenas, muestran el camino de convivencias en reciprocidad con la naturaleza, no
obstante, la presión política y económica que soportan de los gobiernos y las corporaciones
por los recursos existentes en sus territorios; versus, las pretensiones de gobiernos neo
populistas com prácticas atávicas, que social y políticamente son modernas toparquías con
desdén por el medio ambiente, la naturaleza y los derechos de los pueblos indígenas. La
propuesta pretende esbozar la situación de los pueblos indígenas y los bosques de Bolivia bajo
el “gobierno indígena” de Evo Morales, los casos paradigmáticos de la “pan-Amazonía” y,
reflexionar las encrucijadas del extractivismo y los gobiernos populistas del “socialismo siglo
XXI y gobiernos neo-populistas de extrema derecha, cuyas practicas son comunes respecto a
los bosques y los derechos de los pueblos indígenas; sin olvidar, que los pueblos indígenas son
bio-socio-indicadores del estado de los bosques y la naturaleza: allá donde hay pueblos
indígenas en aislamiento voluntario, los bosques aún son prístinos y primarios; allá donde los
pueblos indígenas están cambiando, los bosques se van degradando y allá donde los pueblos
indígenas van desapareciendo los bosques también.

El poder político en la construcción de relaciones pluriétnicas con el Estado:


políticas públicas, INAI y pueblos/naciones indígenas originarios en Mendoza,
Argentina

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Lautaro Rodríguez Ñancu

El ponencia se propone presentar en el ST 08 del III CIPIAl, busca dar cuenta de los resultados
logrados en la ejecución del proyecto de investigación Tramas de colonialidad de poder en las
políticas públicas. Un análisis del Instituto Nacional de Asuntos Indígenas (INAI) y su relación
con las comunidades indígenas en Mendoza (2003-2016), financiado y avalado por la
Secretaría de Investigación y Publicación Científica de la Facultad de Ciencias Políticas y
Sociales, Universidad Nacional de Cuyo. Se intentará exponer las relaciones existentes entre
las conceptualizaciones realizadas sobre el poder político, las políticas públicas, la
interculturalidad y, especialmente, la colonialidad de poder con los datos empíricos recogidos,
buscando así aportar a la construcción de conocimiento sobre el tema en cuestión: como se
construyen las relaciones pluriétnicas cuando los actores son el Estado y las comunidades de
pueblos/naciones indígenas, y el poder político está presente. Así, en la búsqueda de analizar
las tramas de colonialidad de poder subyacente al accionar estatal del Instituto Nacional de
Asuntos Indígenas como objetivo general del proyecto de investigación finalizado, se
articulará con la matriz teórico política existente en el accionar estatal del INAI, es decir los
fundamentos del accionar del Instituto, desde los estudio descoloniales, principalmente con
el análisis de la colonialidad del poder, teniendo como guía la perspectiva intercultural que
aporta un horizonte teórico para reconocer la distancia existente entre el mundo nor-
eurocéntrico y la posición de las comunidades de pueblos/naciones indígenas originarios de
Mendoza, particularmente a las que se ha podido consultar, desde la perspectiva de los
mismos. Los resultados se han conseguido siguiendo una estrategia metodológica cualitativa
y con diseño metodológico exploratorio e interpretativo. Los/as entrevistados/as,
colaboradores/as de este proyecto, han sido seleccionados/as siguiendo un método de
muestreo no probabilístico e intencional, basado en la técnica de bola de nieve. En los
distintos momentos de la ejecución de nuestro proyecto de investigación, utilizamos
diferentes técnicas de recolección de datos, las que nos permitieron adentrarnos en detalle a
las distintas fuentes de datos. En un primer momento se utilizó el método y la técnica del
análisis documental de fuentes secundarias. En una segunda instancia se realizaron
entrevistas en profundidad como método y técnica.

“Antropologia de isolados”, compromisso radical com os povos em


isolamento

Lino João de Oliveira Neves

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Durante muito tempo os chamados “índios isolados” foram objeto da ação exclusiva do Estado
nacional através das “frentes de pacificação” que buscam inserir esses indígenas nas
sociedades nacionais. Apenas muito recentemente a discussão sobre o destino e a
possibilidade de existência autônoma dos povos indígenas isolados, agora chamados de
“Pueblos Indígenas en Aislamiento Voluntario” (PIAV, sigla em espanhol, usada no âmbito do
Direito Internacional) vem ganhando força na antropologia, enquanto área de conhecimento
acadêmico, e entre os antropólogos, enquanto especialistas no trato das questões
relacionadas aos grupos étnicos. No cenário atual dos países amazônicos em que
continuadamente se fecham aos povos isolados as possibilidades de se defenderem em áreas
distantes do contato, mais do que a antropologia/etnografia buscar estabelecer
procedimentos acadêmicos para a formulação de metodologia adequada à produção de
conhecimento sobre povos ainda etnograficamente desconhecidos, é fundamental uma
“antropologia de isolados” que se posicione criticamente frente as propostas vindas de certos
setores da antropologia que passam a defender o que chamam de “contato controlado”, assim
como também frente as mudanças na política governamental, que da política do “não
contato” defendida pelas Frentes de Proteção Etnoambiental da Funai passa a manifestar
abertamente a intenção de efetivação de contato com grupos isolados com o propósito de
integração destes indígenas à sociedade nacional. Neste cenário crítico, francamente negativo
aos PIAV é urgente uma “antropologia de isolados” que assuma o compromisso radical com o
futuro destes povos que ao adotarem o isolamento voluntário explicitam o propósito de busca
da possibilidade de continuarem a existir enquanto sociedades politicamente organizadas.

Alteridade e desenvolvimento no processo de consulta DGM Brasil: uma


comparação a partir da missionação jesuítica e do Banco Interamericano de
Reconstrução e Desenvolvimento (sécs. XVI e XX-XXI)

Lucas Zalesco de Oliveira

Priscila Ayres Feller

Nos contatos iniciais entre os povos nativos da América e da Europa, o cristianismo foi tomado
como paradigma de civilidade imposto aos primeiros. Lutas em torno da verdade sobre as
populações indígenas foram engendradas, resultando em grande medida na negação de suas
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alteridades: cosmogonias milenares foram tachadas de paganismo; éticas de vida complexas


foram lidas pelo invasor como desordem; organizações sociais baseadas no diálogo e na força
foram reduzidas a selvageria, “para a maior glória de Deus” e grandeza do reino. No mundo
globalizado mecanismos discursivos de dominação/subordinação foram alterados, e
imposição dá lugar a fomento. Inseridos irrevogavelmente em novos contextos regionais
dependentes de configurações nacionais inseridas em paradigmas macroeconômicos globais,
os povos indígenas apresentam complexidade ímpar em termos de desenvolvimento. Esta
reside, além da própria cultura na qual se inserem, na concepção equivocada de atraso na
qual estariam envoltas essas populações já que o ponto de partida para avaliação de suas
condições de bem-estar está associado, como nos lembra Stavenhagen (1985) “à concepção
linear evolucionista no pensar o desenvolvimento”. As agências internacionais de
desenvolvimento e agentes financeiros vêm se atentando a tais questões, adequando suas
políticas a normas supranacionais de modo a considerar os interesses dos povos indígenas, e
relacionando o apoio aos Estados ao atendimento dessas normas, o que impacta no
direcionamento das políticas nacionais. Apresentar e avaliar o Mecanismo de Doação
Dedicado aos Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais (DGM, em inglês) auxilia na
reflexão sobre o processo de desenvolvimento fomentado pelo Banco Interamericano para
Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) no Cerrado brasileiro. Na contramão de projetos
financiados até a década de 80, em que o componente indígena era visto como necessário
para garantia da manutenção do bem-estar dessas populações frente aos projetos que os
afetariam, o DGM constitui-se como um projeto próprio de desenvolvimento voltado aos
Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais, diretamente por eles desenhado e gerido. Esse
é um ponto que entendemos positivo para fortalecer a governança territorial e as relações
intra e interétnicas; contudo, uma nova configuração sugere novas problemáticas e um
questionamento emerge: ainda que haja a gestão indígena dos recursos, como esta se dá na
prática? Vale lembrar que uma das mais eficazes formas de subordinação indígena, o
aldeamento jesuítico, foi por vezes entendido pelos próprios missionados como bom
(OLIVEIRA, 2013). O respeito à alteridade, hoje, é tema de investigação que parece extrapolar
limites nacionais, e do qual uma aproximação pode se revelar frutuosa para o indigenismo
contemporâneo.

La construccion del Estado plurinacional de Bolivia, la autodeterminacion de


los pueblos desde la construcción de las autonomias indigenas

Walter Limache Orellana

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Bolivia el año 2009 se refunda y adquiere el nombre de Estado Plurinacional de Bolivia cuando
entra en vigencia la nueva Constitución Política del Estado - CPE viabilizando así la nueva
construcción del Estado a partir de la conquista de los derechos individuales y colectivos de
las Naciones y Pueblos Indígenas Originario Campesinos. Han transcurrido casi 10 años de la
implementación de la nueva Carta Magna pero sin embargo los pueblos indígenas son los
menos beneficiados por el Estado y gobierno boliviano, ya que este ha perdido la brújula de
los ejes centrales que lo postularon y lograron posicionarlo en la mayor responsabilidad del
Estado con la posibilidad real de construir un nuevo país para todos con equidad, justicia y
libertad. La implementación de las autonomías indígena originaria campesinas – AIOC es uma
herramienta fundamental para la conquista de la autodeterminación de los pueblos,
reconocida por las Naciones Unidas, la comunidad internacional y el Estado Plurinacional de
Bolivia, para la gestión de los territorios indígenas y la generación de procesos de desarrollo
desde la mirada de los pueblos indígenas en concomitância con la del Estado Boliviano. La
AIOC es una forma de descentralización con la posibilidad real de estructurar gobierno local
desde las normas y procedimientos propios que ancestralmente tienen los indígenas, sus
formas de organización basadas en valores y principios, niveles de participación y decisión
colectivas, mirada de identidad cultural que lo definen como tal, defensa de su territorio, uso
y aprovechamiento de sus recursos naturales y todo para lograr un desarrollo con equilibrio.
A pesar del reconocimiento de la AIOC por la CPE y la Ley de Autonomías y Descentralización,
el camino recorrido por los demandantes es pedregoso, largo y difícil, no existe voluntad
política de parte del gobierno indígena, la prueba es que desde 2009 apenas hay tres AIOCs
en ejercicio y muchas otras en proceso. Los requisitos exigidos son engorrosos y largos, la
burocracia gubernamental impide la viabilización de su concreción, los principios en los que
se basan consideran la exigencia del ejercicio de sus derechos individuales y colectivos en
defensa de sus territorios y la integridad del mismo. Hoy la política gubernamental vulnera sus
derechos y amenaza con la integridad de sus territorios al implementar un modelo de
desarrollo basado en el extractivismo depredador, y sin respetar convênios internacionales,
fundamentalmente el derecho a la consulta libre, informada y de buena fe, por ejemplo. En el
marco del Simposio 8, la idea es compartir cómo los pueblos indígenas de Bolivia se
encuentran en el camino difícil de contribuir en la construcción del nuevo estado Plurinacional
desde la autodeterminación de los pueblos indígenas.

Direitos territoriais indígenas e fronteiras: um estudo sobre o Brasil e o Peru

Rodrigo Oliveira Braga Reis

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A presente comunicação parte de um estudo comparativo sobre a categoria de indianidade e


a sua influência nas legislações brasileira e peruana concernentes aos direitos territoriais
indígenas. Ao indagar sobre os critérios de indianidade estabelecidos pelo indigenismo oficial
brasileiro e peruano que orientam as medidas políticas e legais sobre as identificações étnicas
e os direitos territoriais que lhes são atribuídos, buscamos contribuir para a compreensão das
dinâmicas sociais que emergem dos processos de territorialização que confluem para a
configuração social, política e territorial atual de povos indígenas que habitam a região
amazônica – neste caso, tanto a brasileira, quanto a peruana. De modo particular,
abordaremos os impactos das legislações e políticas destes países a partir da análise da
situação do povo indígena Matsés que habita a zona limítrofre entre Brasil e Peru. Adotando
a perspectiva de que as regiões fronteiriças configuram espaços que possibilitam observar as
estratégias dos Estados e das populações locais de definição e redefinição territorial –
processos que ainda são influenciados pela atuação de ONG’s e de missões religiosas. Neste
sentido, pretendemos discutir a configuração de novos padrões de territorialidade dos quais
se desenvolvem novas formas de organização social e política.

Culturas Indígenas e sociedade ocidental frente às consequências da falta de


diálogo: o povo Indígena Kaingang do Sul do país

Laisa Erê Sales Ribeiro e Lori Altmann

Falarei sobre os povos indígenas no contexto atual, com foco no povo kaingang,
demonstrando a importância de preservação de alguns espaços para suas práticas culturais.
Aponto para a necessidade de criar relações e diálogos com segmentos da sociedade
ocidental, para assim garantir sua continuidade enquanto povos em seus territórios
tradicionais, considerados sagrados. Os povos indígenas ocuparam todo o território brasileiro.
Em 1.500 antes da invasão eram aproximadamente 5 milhões e viviam livres, cada povo com
sua forma de organização, cultura, língua, crenças e rituais. Apesar da tentativa de extermínio
pelos invasores, sobreviveram 896.917 indígenas, 254 povos, correspondendo a 0,47% da
população brasileira conforme dados do IBGE de 2010. Relatos e documentos explicitam o
impacto para esses povos da chegada de estrangeiros em suas terras. Suas relações sociais,
organizações políticas e religiosas, não foram compreendidas nem respeitadas. Os povos que
sobreviveram ao processo de colonização, de certa forma, conseguiram manter seu modo de
organização e sua visão de mundo, trazendo até hoje suas raízes mais significativas. Os povos
indígenas desenvolveram relações de reciprocidade com as pessoas e com todos os seres da
natureza, no entanto, foram afetados por valores impostos pela sociedade envolvente, para
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a qual o mercantilismo e a acumulação são partes integrantes das relações sociais. Respeito e
reconhecimento da alteridade, passa pelo conhecimento mútuo, por isso, proponho-me a
falar sobre meu povo. O povo kaingang, do tronco linguístico Macro-jê, vive em São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e é considerado o 3o maior povo indígena do Brasil,
pois possui cerca de 34 mil indivíduos. Destaca-se pelo histórico de resistência frente ao longo
processo de avanço e de expropriação da sociedade envolvente sobre seus territórios
tradicionais. Uma maneira encontrada para garantir sua permanência enquanto povo
indígena na contemporaneidade foi adequar-se ao mundo acidental. Faço parte dessa cultura
de resistência e percebo no cotidiano a necessidade de demarcar nossos espaços diante da
“sociedade nacional brasileira”, para que ela não nos sufoque e invisibilize. As perdas do
passado deixaram marcas profundas e as gerações a seguir pagarão um alto preço por não
terem a chance de vivenciar por completo sua cultura, suas raízes. A resistência dos povos
indígenas ocorre na recriação, readaptação e ressignificação a partir das novas experiências e
relações estabelecidas por cada uma de suas comunidades. Os kaingang sofrem nova tentativa
de extermínio, quando a sociedade tenta invisibilizar sua cultura.

Política de Assistência Social aos Povos Indígenas: reafirmando a luta em


tempos de retrocessos de direitos

Patrício Azevedo Ribeiro

Maria Antônia Cardoso Nascimento

Este trabalho trata dos povos indígenas e o reconhecimento de direitos na esfera pública
brasileira com foco na política de assistência social. O objetivo é refletir sobre o atendimento
realizado pela assistência social aos povos indígenas a partir da criação da Política Nacional de
Assistência Social (PNAS), em 2004, e do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), em 2005.
Apontam-se, ainda, alguns desafios e tendências da referida política no atendimento a esses
povos, haja vista a conjuntura pela qual passa o país, onde o Estado tem reafirmado sua
posição de classe em defesa dos interesses do capital em detrimento dos direitos sociais da
classe trabalhadora. A delimitação temporal não é aleatória, pois, em termos de questões
legais, é com a emergência da PNAS (2004) que os povos de comunidades tradicionais, a
exemplo dos “indígenas” e “quilombolas”, aparecem, ainda que timidamente, na redação da
PNAS conferindo-lhes os direitos de acesso aos serviços socioassistenciais. A metodologia
adotada pauta-se na revisão bibliográfica com destaque, entre outros, para PNAS (2004),
NOB/SUAS (2005), Almeida (2008), IBGE (2013), CFESS (2012), Quermes e Carvalho (2013),
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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Mellati (2014), Oliveira (2016a; 2016b), MDSA (2017), Sousa e Costa (2018). Tais materiais
sinalizam que entre 2005 a 2007 o governo federal, por meio do Ministério de
Desenvolvimento Social (MDS) em parceria com a Fundação Nacional do Índio (FUNAI),
assinou acordo de cooperação técnica para a construção de Centros de Referência da
Assistência Social (CRAS) em terras indígenas com o objetivo de realizar o trabalho de proteção
social básica. Em 2018 os dados do MDS indicavam um total de 8.286 CRAS presentes no Brasil;
574 atendiam comunidades indígenas; e 21 encontravam-se implantados nas terras
originárias. Contudo, em que pese a criação dessas instituições, persiste o desafio de diretrizes
e ações específicas que possam garantir os direitos dos indígenas e com isso o fortalecimento
das questões étnico-culturais, sobretudo porque no contexto brasileiro são 305 povos
distintos, 274 línguas, aproximadamente 900 mil indígenas, sendo que 64% vivem em áreas
rurais; a região Norte concentra o maior número com 342.836, isto é, 38,2% dos quais 183.514
vivem no estado do Amazonas; contraditoriamente, no Amazonas não existe nenhum CRAS
em terras originárias, desse modo, o atendimento realizado ocorre em áreas urbanas ou
esporadicamente as equipes volantes dos municípios, quando há, vão até as comunidades. Os
dados também evidenciam que a assistência social malmente consegue responder às
situações de vulnerabilidade social, em razão da perspectiva predominante de elaboração das
políticas públicas que, embora reconheça as particularidades dos povos indígenas no discurso,
na prática lhe é indiferente.

El pueblo Náyeri en lucha: de la defensa del territorio a la producción de


alterhegemonía regional

Carlos Rafael Rea Rodríguez

Ante la amenaza que representaba el proyecto hidroeléctrico Las Cruces, impulsado por el
gobierno federal en el Río San Pedro-Mezquital, las comunidades del pueblo Náyari se
articularon con comunidades mestizas creando el Consejo para el Desarrollo Sustentable de
la Cuenca del Río San Pedro. En poco tiempo, el componente indígena se volvió central en el
movimiento, colocando en la mesa de discusión otras formas de concebir la relación entre el
ser humano y la naturaleza, lo sagrado y el bienestar colectivo. En esta ponencia mostraremos,
cómo esta centralidad simbólico-política se convirtió en potencial hegemónico en el
movimiento, operando como centro gravitacional en la Cuenca, pero también en la relación
con actores sociales y políticos externos. Igualmente, analizaremos el ascenso en el nivel de
generalidad de sus planteamientos, acompañado de la diversificación de las arenas y escalas
de actuación. Con particular detenimiento analizaremos cómo y con qué consecuencias se han
sumado a las labores del Congreso Nacional Indígena, acercándose a experiências
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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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autonómicas como la de Cherán y, recientemente, sumándose a la campaña de la indígena


María de Jesús Patricio, como candidata independiente a la Presidencia de la República en
2018.

Resistances in transformation: an approach to the Nahua concept of Vida


Buena as a renewed resistance strategy in the movement of defense for the
life and the territory in the Sierra Norte (Mexico)

Lorena Elizabeth Olarte Sánchez

As the (neo) -extractivist industry in Mexico reinstates its dispossession strategies, the
indigenous peoples that have long defended such territories have redoubled their efforts for
self-determination through the renovation of communal resistances. The proposed article
explores some concepts shaped in the light of the socioenvironmental conflict in the
Northeastern Sierra of Puebla, Mexico, that resulted in the “Defense of the life and the
territory” movement. Special attention will be given to the notion of “Yeknemilis” or “Vida
Buena” as well as other key aspects of the movement in order to understand the emergence
of new experiences and political subjectivities of defiance to the capitalist attempts to control
the means of subsistence. In this sense, the pursue of yeknemilis has served to reintroduce
ideas of well-being that flourish along with traditional forms of organization, cooperativism
and non-predatory forms of appropriation of Nature. The construction of these alternatives
will be analyzed from a critical approach, in the context of a process that seeks to transform
communities beyond capital and neoliberal projects to ensure the reproduction of social life
and the strengthening of the connection between peoples and the territory.

Contribuições da biogeografia contra o epistemicídio indígena: visibilizando


saberes, protegendo sociobiodiversidades

Ivan de Matos e Silva Junior

Rosiléia Oliveira de Almeida

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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Ao longo do processo colonizador a que foram submetidos inúmeros povos indígenas na


América Latina, uma série de práticas e estratégias foram utilizadas a fim de impor uma
monocultura do saber fundado no pensamento europeu. Desse modo, muitos povos nativos
foram submetidos à conversão ou catequização, pensada para garantir o processo de
colonização, ao mesmo tempo em que se instituiu, desde cedo, a obliteração de inúmeras
etnias, tanto a partir da violência física quanto da simbólica, expressa na sujeição epistêmica,
negando as particularidades e importância das culturas locais. Essa supressão de saberes,
também chamada de epistemicídio, constitui-se como uma das estratégias da colonialidade
na/da ciência em seu projeto de redução da diferença ao universal, prescrito pelas nações
centrais. A essas culturas locais, de forte tradição oral, fora imposta uma história única, a partir
de referenciais europeus, especialmente das narrativas e das formas de pensar do mundo
ibérico e, mais tarde, também por referenciais estadunidenses. A essa prática de imposição
de uma única forma cultural de saber, tornando abissal toda forma de saber e toda forma de
saber fazer indígenas, denomina-se epistemicídio indígena. A fim de tecer aspectos que
venham de forma contra-hegemônica combater o epistemicídio, visibilizando sistemas de
conhecimentos indígenas, propõe-se aqui assinalar as contribuições da biogeografia a partir
da ecologia de saberes. Na ciência biogeográfica, uma das questões mais recorrentes, se não
a mais fundamental, diz respeito àquela que busca compreender como e porque os
organismos vivos se distribuem na superfície da Terra. Essa é uma indagação que tem
mobilizado inúmeras gerações de naturalistas, geógrafo(a)s, biólogo(a)s e outro(a)s
profissionais interessado(a)s pelos estudos em torno da biodiversidade. É sabido, sobretudo,
que a diversidade de biogeografias no âmbito da ciência é amplamente reconhecida por seus
praticantes, expressa por uma infinidade de conceituações e abordagens. No entanto, o
esforço epistemológico nesse trabalho é dedicar igual atenção aos saberes indígenas, que
mobilizam formas particulares de compreensão da biodiversidade, informando outras formas
de explicar o mundo vivo em sua espacialidade. Essas biogeografias assinalam outras formas
ontológicas e epistemológicas de relação com a biodiversidade e sua configuração
sociogeográfica. Desse modo, o presente trabalho busca visibilizar saberes historicamente
subalternizados, estabelecendo relações entre os conhecimentos biogeográficos indígenas e
o processo de visibilização destes conhecimentos para a proteção da sociobiodiversidade, com
o fito de assinalar a pluriversidade como condição sine qua non no enfrentamento ao
epistemicídio indígena.

Etnopolíticas mestizas: reflexiones sobre acciones amerindias, identidad y


etnónimos desde la experiencia Térraba, Pacifico Sur de Costa Rica

Denia Román Solano

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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A partir de una crítica etnografía y una reflexión conceptual, esta ponencia expone los retos
pragmáticos, políticos y epistemológicos que implica el registro oficial de toda la población de
la etnia térraba, un inédito trabajo genealógico realizado por Tribunal Supremo de Elecciones,
con activa participación de las personas de mayor edad. Como se explica a seguir, este registro
es producto de la demanda legal y la persistencia política de líderes indígenas térrabas. El
Territorio Indígena de Térraba está localizado en el Pacifico Sur de Costa Rica, tiene su origen
en una misión religiosa colonial constituida por familias Teribe provenientes de lo que hoy es
Panamá, a partir de las cuales se reconfiguran social, cultural e identitariamente asumiendo
el etnónimo Térreba. Son uno de los primeros territorios indígenas delimitados en el país en
1956, justo cuando la región experimenta la expansión del proyecto modernizante que
condujo al acaparamiento de tierras bajo economía de enclave por parte la United Fruit
Company (UFCO), así como la colonización agrícola promovida por las políticas progresistas
de estado costarricense. Esta nueva territorialidad capitalista exacerba las contradicciones
entre dos lógicas civilizatorias aumentando la presión sobre las tierras, y unido a la inaplicación
de la legislación estatal, conlleva a la apropiación ilícita de tierras indígenas. A finales del siglo
XX con más de la mitad del territorio en manos de no indígena y bajo el influjo de nuevos
procesos --como el agro negocio, el bio y neo-extractivismo--, se da una dinámica de
reafirmación de su origen restableciendo relaciones políticas y de parentesco con los Teribes
em Panamá. Surge una reafirmación étnica junto a lo que podríamos llamar como una
etnopolítica mestiza que articula tanto, recursos amerindios, como recursos estatales y de
organismos internacionales. Es así que logran una reinterpretación nativa de la legislación
nacional exigiendo el registro oficial de su grupo, una acción fundamental para la recuperación
de sus tierras y su representación política, al mismo tiempo que, se asumen bajo el etnónimo
de Böran. Logran también la legitimación de figuras organizativas propias y muy
recientemente articulan un movimiento de recuperaciones de tierras de hecho. De esta
manera, los conceptos de tradición / modernidad, memoria oral / legislación, son interpelados
y des-construidos en las acciones etnopolíticas térrabas-bröran, implicando un enorme
desafío para la institucionalidad del estado costarricense responder adecuadamente a la
gestión de estas demandas, aún más en una región en plena expansión neoliberal.

Wakoborun a primeira guerreira: as mulheres Munduruku e o Plano de Vida


como estratégia de resistência de um povo

Luiz Cláudio Brito Teixeira e Maria Leusa Cosme Kaba Munduruku

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Esta comunicação é o resultado do estudo que foi desenvolvido no intuito de compreender a


participação política das mulheres Munduruku nas lutas que este povo desenvolve contra os
projetos que o Estado brasileiro e o Capital tentam impor no território da Mundurukânia, e
quais as repercussões que a participação ativa de uma mulher Munduruku trouxe para as
aldeias. Este artigo tem a pretensão de abordar a partir de uma referência mítico-histórica da
Wakoborun, como a luta das mulheres Munduruku potencializou a luta de um povo em favor
da sua autonomia. Nesses tempos obscuros em que o governo atual inicia o desmonte de
todas as políticas de proteção das populações mais vulneráveis é importante ficar atento a
como os povos indígenas reagirão diante da atual conjuntura. As mulheres Munduruku
inspiradas na história da guerreira Wakoborun desafiam a lógica do Estado e da própria
organização social do povo para defender o território da Mundurukânia e o futuro de todo o
povo Wuyjuyu, autodenominação dos Munduruku.

Etnogenocídio silencioso de povos indígenas e a responsabilidade do Estado


pela cumplicidade omissiva

Ângela Irene Farias de Araújo Utzig

Marcia Andrea Bühring

Frente às notícias de massacres contra indígenas, buscando inspiração e fundamentos


teóricos para tratar cientificamente de assuntos relativos a direitos indígenas preteridos e a
considerar o interesse da nossa pesquisa se volta às questões de preservação de Línguas
Maternas, tivemos conhecimento que o professor indígena Marcondes Namblá Xokleng, teria
sido assassinado, em razão de ativismo envolvendo a defesa da Língua Materna de seu povo.
Com isso, lançamos no Google o verbete “Marcondes Namblá Xokleng” e verificamos que as
pesquisas eram encabeçadas por uma matéria da Revista Carta Capital intitulada “Intolerância
é a arma do assassinato do professor Marcondes Namblá ...” disposta no site:
https://cartacapital.com.br.../intolerancia-e-a-arma-do-assassinato-do-professor-i... 10 de
jan de 2018 - Reprodução/Facebook. Marcondes Xokleng.jpg. Assassinato do professor
Marcondes Namblá foi classificado como cometido 'por motivo ... e parava aí. Ao clicarmos no
link informado, abriu a página eletrônica da Revista Carta Capital com as informações que
intitulam este artigo (entre aspas pelas autoras), servindo-nos de reflexão para o
silenciamento ou pouca importância dada a uma situação tão alarmante: a violência contra
indígenas, um fenômeno bastante conhecido desde o início da colonização europeia na
América Latina desde o século XVI, mas o surpreendente é saber que o Professor Marcondes
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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
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desenvolvia, dentre outras, tarefas de preservação da Língua Materna de seu povo,


plenamente justificável em razão da formação do professor indígena. Nesse sentido, o
objetivo central deste artigo é explorar as razões do silenciamento com o qual é tratado o
etnogenocídio de indígenas no Brasil, de para o que nos serviremos de pesquisa bibliográfica,
notadamente, a Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, de 12 de
Janeiro de 1951, e os dados do o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), que desde 2017,
alimenta a Plataforma CACI (palavra que, em Guarani, significa “dor”) com dados de
assassinatos de indígenas a partir de 1985, desenvolvida pela Fundação Rosa Luxemburgo, em
parceria com o Armazém Memória e InfoAmazonia, a Plataforma CACI georreferencia dados
de assassinatos de indígenas sistematizados a partir dos relatórios do CIMI e da Comissão
Pastoral da Terra (CPT), tendo até então cerca de 1071 registros de assassinatos de indígenas
nos Estados brasileiros, de 1985 a 2017, salientando que ainda que sejam dados oficiais, não
são exatos. A temática, de cunho descritivo orientado pelo método dedutivo, pretendendo
confirmar a cumplicidade do Estado com o etnogenocídio de povos indígenas pela omissão
com uma questão tão grave que afeta toda a ancestralidade do povo brasileiro.

Consideraciones theóricos y methodologicos para un análisis de los procesos


del extractivismus y la resistencia contra los megaprojectos del capital
transnational en la Sierra Norte Oriental

Patricia Zuckerhut

El epistemicidio del que sufren grandes partes de sistemas de pensamientos y saberes


(específicamente indígenas) desde hace más de un medio milenio consistió en el reniego y la
devaluación en forma de Othering así como Saming (Blaser 2014). A pesar del escepticismo
de aproches decoloniales frente a ontologías indígenas (presentado por antropólog@s)
(Cameron et al. 2014: 19) es importante tomarlas en consideración para una verdadera
decolonización. Mi contribución resume importantes teorías del feminismo para la superación
de dicotomías cartesianas así del cambio ontológico de la antropología cultural y las analiza
respectivo a sus posibilidades de contribuir a una decolonización del pensamiento. Con esa
metodología voy a analizar y discutir la situación en la Sierra Norte de Puebla marcado de
amenazas de megaprojectos pero también de resistencia.

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ST 09 | Diálogos interdisciplinares de temas transversais à educação formal e


informal nos espaços escolares e não escolares da Educação Indígena

Irani Lauer Lellis (Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA, Brasil); Antônia Lemos Braga
Moraes (Faculdade Educacional da Lapa, Brasil); Riquelme Mella Enrique Hernan (Universidade
Católica De Temuco, Chile).

Debates sobre o indígena em contexto ampliado de inserção como: processos políticos,


econômicos, mercado de trabalho e universidade é frequente e verifica-se o aumento de
intervenções educativas para esses povos. Todavia, abordar essa discussão exige diferentes
perspectivas que transcendem o contexto e temáticas formais da educação. Assim, este
simpósio pertencente ao eixo: Educação Para a Diversidade convoca pesquisadores da
educação, psicologia, antropologia e áreas afins para dialogar temas transversais (afetividade,
habilidades sociais, cognições, crenças, metas, práticas e valores de professores e alunos
indígenas, interações sociais) da educação, vivenciados nos espaços escolares e não escolares,
visando traçar novos rumos sobre a educação formal e não formal dos povos indígenas,
compreendendo a importância de pesquisas nessa temática no sentido de refletir nos desafios
encontrados e superá-los movimentando as fronteiras científicas e desmistificando noções
reificadas e generalizadas sobre os povos indígenas. Este simpósio objetiva: 1) Debater
experiências educacionais não formal para índios. 2) Analisar diversos temas transversais que
são subjacentes a educação. 3) Sistematizar experiências atuais para a educação indígenas. 4)
Aprofundar estudos de temas transversais na educação indígena em contexto escolar e não
escolar na educação formal e informal.

Os índios e os outros: um olhar sobre os brancos e a branquidade na


formação de estudantes indígenas

Cláudia Pereira Antunes


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As mudanças que vêm sendo realizadas no âmbito da educação escolar indígena nas últimas
décadas, impulsionadas pela mobilização dos povos indígenas, especialmente no processo
constituinte (1987-1988) e pelo movimento de apropriação que realizam sobre o espaço
escolar, vêm transformando esse espaço na direção do que alguns pesquisadores apontam
como processos de indianização das escolas nas aldeias (Bergamaschi, 2007). Contudo, esse
não deixa se ser um caminho de resistência frente a ações e projetos que continuam
pressionando os povos indígenas para uma “assimilação” à sociedade nacional. Sem deixar de
reconhecer as conquistas dos povos indígenas no âmbito da educação escolar, o trabalho
pretende refletir, especialmente a partir do discurso de estudantes e professores indígenas,
sobre a atuação dos brancos e sobre a “branquidade” como fatores que muitas vezes colocam
obstáculos aos processos de formação de estudantes indígenas. O estudo tem como aporte
teórico central as análises de intelectuais negros que evidenciam que opera uma
“branquidade” na atuação dos brancos nas relações étnico-raciais, expressa em formas de
pensar e agir que atribuem ao branco uma condição de superioridade e normalidade e
atribuem status de inferioridade e subalternizam as populações negras e indígenas (Pinheiro,
2014; Carone & Bento, 2016). A reflexão também encontra aportes nas análises sobre as
relações coloniais presentes na obra de Frantz Fanon (1968; 1980; 2008), especialmente na
noção de “complexo de superioridade do colonizador europeu”. As noções de “ser alguém” e
“estar” na obra de Rodolfo Kusch (1986) também oferecem aportes para a reflexão sobre a
relação entre os modos de pensar de matriz europeia e de matriz indígena na América. O
trabalho é realizado a partir da análise de depoimentos, pesquisas e publicações de
estudantes e autores indígenas, e também considera a produção bibliográfica de autores não
indígenas que, direta ou indiretamente, abordam a atuação e modo de pensar do branco nos
processos de formação de estudantes indígenas, do ambiente escolar ao universitário. Esse
trabalho faz parte da pesquisa de doutorado da autora que trata sobre a atuação dos brancos
e a branquidade na formação de estudantes indígenas.

O interfaceamento entre alfabetização e letramento digital: um estudo a


partir da perspectiva de um indígena universitário

Iata Anderson Ferreira de Araújo

Elisete Maria Siqueira Ferreira

Karen Jaqueline Bentes

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As Tecnologias de Informação e Comunicação são permanentemente inventadas e


reinventada, ganham novos contornos e funcionalidades, ultimamente elas vêm se tornando
acessíveis as pessoas de baixo nível econômico, às populações tradicionais e os indígenas.
Neste processo de acessibilidade às TIC’s caracterizar como o indígena busca utilizar os
recursos digitais é fundamental para pontuar encaminhamentos formativos para a promoção
do Letramento digital (BUZATO, 2006). O presente trabalho objetivou conhecer qual nível de
compreensão e interatividade do indígena nos grupos em que convive. Para tanto, utilizou-se
como instrumento de coleta de dados a entrevista semiestrutura, a interpretação do relato
do indígena se deu por meio da Análise Textual Discursiva – ATD (MORAES, 2003), por meio
da qual organizamos as seguintes categorias: Alfabetizado digitalmente e Letrado digital
parcialmente. A respeito de ser Alfabetizado digitalmente, resguardadas a diversidade das
TIC’s, compreendemos que o indígena tem contato com os hardwares: celular, notebook,
tablet, computador desktop, projetor de imagem, destes o celular é utilizado com frequência
seja as atividades cotidianas como também para as suas atividades acadêmicas, seguido da
utilização do notebook, os demais utilizou mas possui dificuldade no manuseio; em relação
aos softwares do celular conhece os símbolos dos aplicativos e qual funcionalidade dos que
utiliza em seu celular, principalmente o WhatsApp, Youtube, Chamada, SMS; em relação aos
softwares do computador ele conhece o Word, Excel, PowerPoint, utiliza os sites de busca, o
Gmail, o Youtube, embora mencione a dificuldade no manuseio. Quanto ao ser Letrado digital
parcialmente, embora o indígena consegue manusear alguns aparelhos, evidenciamos que ele
apresenta características de ser letrado digital parcialmente, pois têm dificuldades de
estabelecer o entrelaçamento de códigos, modalidades e tecnologias associadas, isso
perceptível na dificuldade de utilizar os dispositivos digitais para desenvolver atividades
específicas relacionadas ao desenvolvimento capacidade de escrita, interpretação e
comunicação, relacionada principalmente a dificuldade no entendimento do vocabulário de
algumas palavras da Língua Portuguesa são entraves ao desenvolvimento cognitivo frente às
exigências formativas. Os resultados sinalizam para que haja a ampliação do universo de
conhecimento das TIC’s pelo indígena, diversificando os dispositivos digitais utilizáveis, bem
como, como para a efetiva apropriação das funcionalidades e potencias de interação; além
disso, o conhecimento de palavra da Língua Portuguesa se constitui como uma questão a ser
superada para a promoção do Letramento Digital.

Relações parentais e o desenvolvimento de habilidades sociais entre os


indígenas

Karen Jaqueline Bentes

Elisete Maria Siqueira Ferreira

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Iata Anderson Ferreira de Araújo

A interação mãe-filho é alvo de interesse de estudos por ser este vínculo tão importante para
o desenvolvimento infantil. Conhecer as práticas educativas, bem como as habilidades sociais
desta relação é fundamental para se compreender o contexto de desenvolvimento em que os
indígenas se desenvolvem. O presente trabalho objetivou conhecer as habilidades sociais
educativas parentais e a relação com o contexto de indígenas. Para tanto, utilizou-se como
instrumento de coleta de dados o roteiro de entrevista das habilidades sociais educativas
parentais – REHSE-P (BOLSONI-SILVA; LOUREIRO, MARTURANO, 2016). Os resultados da
codificação indicaram classificações diferentes conforme o repertório de mãe e do filho.
Quanto à qualidade da interação e a frequência geral de comportamentos, os resultados
indicaram que a mãe tem repertório clínico pelo déficit de habilidades sociais educativas
parentais, por outro lado a criança possui repertório clínico de habilidades sociais e problemas
de comportamento. No que se refere a frequência com que ocorrem os itens de conteúdos
avaliados nota-se uma classificação clínica para as habilidades sociais de mãe e filho, o que
influencia na classificação do total positivo. Por outro lado, a frequência com que ocorrem as
interações negativas (práticas negativas e problemas de comportamento) é não clínica, apesar
de existirem pouca variedade de contextos de interação positiva. Os resultados apontam para
um treino de habilidades sociais com a mãe, entretanto, é preciso observar mais
profundamente quais a habilidades de contextos que podem interferir no desenvolvimento
de habilidades sociais parentais, se estas variáveis estão relacionadas à cultura indígena ou a
outros aspectos não identificáveis na pesquisa.

Curso de pedagogia intercultural indígena: tecendo discussões sobre currículo


como enunciação cultural

Célia Aparecida Bettiol

Adria Simone Duarte de Souza

O trabalho discute a implantação de cursos de Pedagogia Intercultural Indígena com enfoque


em alfabetização em língua indígena e em produção de material didático para a escola
indígena, ofertados pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), financiados pelo
PARFOR/CAPES, sendo 02 turmas no município de São Paulo de Olivença/AM, Território
Etnoeducacional Alto Solimões iniciadas em agosto de 2014 atendendo aos povos Tikuna.
Kambeba e Kokama, e uma turma em Atalaia do Norte/AM, território Etnoeducacional Vale
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do Javari, iniciada em janeiro de 2016, atendendo aos povos Marubo, Matis, Mayoruna e
Matsés. O grupo articulador da proposta constituiu-se de forma multidisciplinar com
professores das diferentes áreas do conhecimento e o diálogo com as lideranças indígenas. O
currículo proposto inscreve-se como resultado de uma interlocução de culturas,
conhecimentos, saberes e práticas que envolveram tanto a Universidade quanto a
comunidade indígena, num prisma intercultural. Assim, os cursos se apresentam como
espaços importantes de visibilidade e produção de lugar de fala para os diferentes sujeitos
que cursam estas licenciaturas, pois os diferentes momentos formativos pautam-se numa
postura investigativa para a produção de narrativas desses cursistas. Nesse sentido, nossa
reflexão é que os currículos dos cursos de formação de Professores Indígenas possam ancorar-
se numa perspectiva de enunciação cultural. Macedo (2012) defende a ideia de currículo como
instituinte de sentidos, como enunciação da cultura, como espaço indecidível em que os
sujeitos se tornam sujeitos por meio dos atos de criação (p.735-736). Trata-se de entender o
currículo como processo de produção de sentidos, sempre híbridos e, portanto, incapazes de
construir identidades fixadas. Conceber o currículo como uma prática cultural envolve a
negociação de posições ambivalentes de resistência presente nas discussões de Bhabha
(2013). Nesta direção, o cultural não pode ser compreendido como elemento de conflito entre
culturas diversas, mas como práticas em que se produzem as diferenças. Um currículo
caracterizado pelo hibridismo e que produz diferença a partir de uma necessidade incessante
de significação é um currículo concebido como enunciação cultural. A construção do currículo
nessa perspectiva põe em questão a autoridade da cultura como conhecimento referencial e
permite que ela surja como diretriz para falar da diferença.

Espaços de circulação e circunstâncias de comunicação entre os povos


indígenas Wai-wai da Aldeia Mapuera

Raimundo Nonato de Pádua Câncio

Anderson Carlos Elias Barbosa

O objetivo deste estudo é verificar em quais espaços de circulação se dá a aquisição da língua


portuguesa e quais circunstâncias de comunicação são mobilizadas pelas necessidades
comunicativas dos povos indígenas Wai-wai, da Aldeia Mapuera. Metodologicamente,
caracteriza-se como um Estudo de Caso do Tipo Etnográfico, cuja abordagem é qualitativa,
realizado na escola e na aldeia, junto a professores e a sujeitos indígenas, utilizando-se como
recurso de pesquisa a observação e a entrevista semiestruturada. O estudo apresenta como
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base teórica crítica de reflexão a Teoria Decolonial e o Pós-colonialismo (MIGNOLO, 2017),


(HALL, 2011), tendo em vista a relação entre os sujeitos Wai-wai, a aquisição da Língua
Portuguesa e das línguas indígenas e o lugar que estas línguas passam a ocupar na cultura
indígena. A relação linguagem e educação em territórios indígenas precisa ser estudada na
peculiaridade, no espaço e tempo de cada povo, considerando-se os aspectos socioculturais
e sociolinguísticos interligados na dinâmica cultural e no processo de socialização em cada
cultura em particular (ALKMIM, 2001). Considerando tais aspectos, Hamel (1993) observa que
os falantes das línguas “minoritárias” frequentemente são silenciados porque não podem se
expressar em espaços públicos, especialmente nas esferas administrativas. Por vezes, esses
falantes são calados por não utilizarem a língua dominante ou o código escrito; outras vezes,
embora conheçam a língua dominante ou o código escrito, são silenciados pela assimetria dos
tipos de atos verbais ou por não dominarem os padrões de interação na língua dominante.
Para compreender as circunstâncias do discurso e as características dos espaços discursivos
onde interagem os povos Wai-wai, dialogamos com Charaudeau (2008, p. 32), para o qual as
circunstâncias do discurso dizem respeito a um conjunto dos saberes supostos que “circulam
entre os protagonistas da linguagem, saberes supostos a respeito do mundo e saberes
supostos sobre os pontos de vista recíprocos dos protagonistas do ato de linguagem”. Os
resultados deste estudo evidenciam que hoje, para além da escola e da aldeia, a aquisição da
Língua Portuguesa e das línguas indígenas, ali faladas, ocorre tanto na cidade como nos
espaços de circulação com indígenas e não indígenas, na convivência, na interlocução, e nas
circunstâncias de comunicação mobilizadas pelas necessidades comunicativas.

Desenvolvimento de questões do Enem: um olhar crítico para o contexto


teórico e prático das questões ligando-as ao nosso cotidiano

Janduir Clécio Miranda de Carvalho

David Kelvin Galindo Gonçalves

José Celiano Cordeiro da Silva

Vilmar Leandro de Santana

O uso de métodos inovadores e criativos na prática educacional é sem dúvida importante no


ensino da Física, de modo a relacionar o conteúdo ao cotidiano do aluno tornando-se
relevante em sua vida. O objetivo deste trabalho desenvolver aulões de resolução de questões
para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) para alunos do ensino médio, enfatizando
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uma abordagem crítica da relevância dos conceitos teóricos e práticos para o entendimento
do funcionamento do mundo ao nosso redor, buscando sempre solucionar problemas com
relação à falta de interesse dos nas aulas na realização deste exame, importante para o
ingresso em uma universidade. De acordo com REIS (2013), uma educação centrada na
indução da participação dos alunos no processo de ensino aprendizagem, tornando-os
capazes de entender e atuar meio social em que vivem. Com esse pensamento em mente a
iniciativa deste projeto veio através da matéria de Laboratório de Prática do Ensino da Física
5 (LAPEF5), do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), que além do ensino da física nas
escolas públicas visa também com os aulões ministrados, arrecadar alimentos e doar para
pessoas carentes de nossa cidade. O desenvolvimento das ações desta disciplina é
fundamental na formação do professor, onde a mesma se preocupa com a qualidade e
criatividade das aulas ministrados no ensino médio. Foi nesse contexto que SILVA (2010),
disse: “é fundamental desenvolver estratégias de ensino diferenciado, fazendo que alunos
tenha mais participação e através disto aprendam a observar esse fenômeno e dessa maneira
a entender os cálculos não só para comprovar a teoria mais principalmente pela prática”.

Observatório do esporte e do lazer de diferentes grupos sociais e étnicos do


estado do Pará/Rede CEDES

Pablo Freitas Carvalho

Joelma Cristina Monteiro Parente Alencar

O projeto “Observatório do Esporte e do Lazer” caracteriza-se por ações de pesquisas e


monitoramento de espaços e práticas esportivas e de lazer, sejam elas de caráter público ou
privado, governamental ou não governamental, manifestadas pelos diferentes grupos sociais
e étnicos do Estado do Pará que, historicamente são considerados socialmente vulneráveis, e
pouco têm se beneficiado das políticas públicas de esporte e lazer. Tratando-se dos povos
indígenas com uma diversidade representativa de línguas, culturas e identidades, tais povos
têm, em diversos âmbitos, conquistado, por sua mobilização, o reconhecimento do Estado em
relação aos seus direitos, que legalmente vêm sendo continuamente reforçados desde a
Constituição Federal de 1988, que veio garantir-lhes direitos fundamentais, como educação e
saúde, assim como os direitos às suas terras originárias, o respeito às suas culturas, às
organizações sociais e políticas, às suas línguas e tradições, assim como à sua autonomia.
Todavia, no âmbito dos direitos e acesso às ações esportivas e de lazer, percebe-se lacunas
consideráveis entre os amparos legais e o que acontece de fato nas comunidades (ALENCAR,
2014). Nos estudos de Alencar (2014) foi possível constatar que as políticas públicas de

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esporte e lazer para os povos indígenas, ao longo do tempo e no sentido de uma


democratização ao acesso e de uma diminuição das desigualdades sociais mostram-se
modestas em alcance e lentas em trajetórias. Apesar das conquistas alcançadas pelo
movimento indígena, em se tratando dessas políticas, esse grupo ainda não conseguiu
alcançar a plenitude na inclusão de suas necessidades frente às ações estabelecidas pelo
Governo. Ações como os “Jogos dos Povos Indígenas” e o “Programa de Esporte e Lazer da
Cidade” (PELC), por exemplo, precisam possibilitar melhor democratização de acesso por
outros povos menos articulados politicamente. Os modelos de esporte e de lazer precisam ser
problematizados no sentido do que se quer alcançar em termos de projeto de sociedade
almejado pelos povos indígenas. Este trabalho apresenta alguns dos resultados do
mapeamento e caracterização de práticas e de equipamentos de esporte e lazer dos grupos
pesquisados, identificando suas estratégias de apropriação e as problemáticas contextuais de
acesso e usos do direito ao esporte e ao lazer, que poderão alimentar a ampliação e o
surgimento de novos estudos.

A educação escolar indígena e a surdez: análise de uma realidade à luz da


teoria histórico-cultural

Bárbara Almeida da Cunha

Eleny Brandão Cavalcante

O presente trabalho tem como objetivo analisar os aspectos do processo de ensino-


aprendizagem de criança indígena surda do 2º ano do ensino fundamental de escola também
indígena localizada no município de Santarém-PA. Posto isto, trago os seguintes objetivos
específicos: a) analisar o meio escolar no qual o estudante surdo está inserido; b) verificar se
o aluno surdo de fato possui uma língua que lhe possibilite o aprendizado dos conteúdos de
sala de aula e c) identificar as práticas pedagógicas utilizadas pelos professores do aluno para
interagir com ele. As perguntas norteadoras deste trabalho são: a) Como o aluno indígena
surdo consegue se apropriar do conteúdo das aulas? b) Como o professor promove o processo
de ensino-aprendizagem deste aluno e c) Como a escola estabelece as estratégias para
oportunizar a socialização dos conhecimentos para essa criança indígena surda? Utilizarei o
conceito de ser genérico de Newton Duarte (2013) e as ideias de meio, pensamento e
linguagem de Vygotski (2000; 2001; 2010). Vygotski (2010) afirma que o meio é a fonte do
desenvolvimento, pois os sujeitos precisam estar inseridos em contexto que o propicie.
Newton Duarte (2013) também trata deste chamado processo de humanização defendendo
que é através da relação dinâmica entre apropriação e objetivação que o indivíduo pode ter
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um pleno desenvolvimento, ter a oportunidade de acesso a todos os produtos da objetivação


humana ao longo da história é o que possibilita seu próprio desenvolvimento como um ser
genérico para si. A pesquisa está fundamentada no materialismo histórico-dialético, buscando
compreender as contradições que envolvem o processo educacional da criança indígena surda
em uma aldeia da região Amazônica. Na metodologia utilizo como base o livro de José Paulo
Netto (2011) que trabalha com a totalidade, contradição e mediação. Como instrumento de
produção dados lanço mão da observação em sala de aula, diário de campo e aplicarei
entrevistas semiestruturadas. Por fim, a relevância deste estudo justifica-se na possibilidade
de avançar na reflexão sobre os processos de escolarização da criança surda e indígena. Ao
seu final, poder ser utilizado como fundamentação para outras pesquisas na área da educação
de indígenas surdos bem como servir de subsídio pedagógico para orientar pais e professores
de pessoas surdas com o intuído dos mesmos perceberem o que potencializa ou não, o
processo de ensino e aprendizagem de estudantes indígenas surdos.

Educação escolar indígena no Amazonas e o direito ao currículo específico:


um olhar sobre a política curricular da Seduc/AM para as escolas indígenas do
estado

Ana Paula Diniz

Jonise Nunes Santos

A Constituição Federal de 1988 – CF/1988 é um marco expressivo para os povos originários. A


partir de então, deixam o status legal de tutelado do estado e passam a o de cidadãos, com
direito à autonomia e à manutenção de suas culturas, língua e terras (art. 210). No que diz
respeito à educação, a CF/1988 garante o direito à escolarização nas comunidades indígenas,
mantendo assim os jovens estudantes junto de suas famílias. Em relação aos processos de
ensino-aprendizagem, ao contrário do que vinha sendo realizado até então: um modelo de
educação integracionista e que desconsiderava línguas e culturas tradicionais dos povos
indígenas, as premissas da nova educação escolar indígena a ser materializada estão baseadas
nos princípios de especificidade, diferença, interculturalidade, bi/multilinguismo e
comunitarismo (BRASIL, 1993). Tais princípios devem ser aplicados na construção dos
currículos das escolas indígenas, contemplando diferenciação de conteúdos e processos
educacionais, bem como o ensino em língua materna, de acordo com a especificidade das
etnias, tendo os próprios povos indígenas como protagonistas principais na construção do
currículo de suas escolas. Cabe à União, detentora da responsabilidade da efetivação desses
novos princípios educacionais para os povos indígenas, promover condições legais, técnicas e
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financeiras, de modo a se fazer valer tais determinações (CF/1988, art. 78 e 79). Estados e
municípios são responsáveis pela execução e implantação dos ditames legais relativos à
educação escolar indígena. Este trabalho, fruto de pesquisa bibliográfica e documental
realizada no âmbito do Programa Institucional de Iniciação Científica – PIBIC da Universidade
Federal do Amazonas - UFAM, busca apresentar os resultados relativos à política pública
estadual do Amazonas para a Educação Escolar Indígena, com foco principal na política
curricular para as escolas indígenas sob responsabilidade da Secretaria Estadual de Estado da
Educação e Qualidade de Ensino do Amazonas – SEDUC. Nessa perspectiva, percebe-se que, a
nível estadual, pouco se avançou acerca das políticas públicas para a Educação Escolar
Indígena, se comparado ao nível federal, bem como se percebe o não cumprimento dos
princípios da Educação Escolar Indígena e das determinações legais relacionadas a estes, no
estabelecimento da Matriz Curricular Intercultural de Referência e da Proposta Curricular
Intercultural de Referência, o que pode vir a impossibilitar o estabelecimento de currículos
específicos e diferenciados nas escolas indígenas do estado, já que, tanto a Matriz Referencial
quanto a Proposta Curricular, apresentam caráter mandatário e não apenas referencial.

A escola que queremos: resultados da prática de campo em uma comunidade


indígena Tikuna da tríplice fronteira amazônica (Brasil, Peru e Colômbia)

Jarliane da Silva Ferreira

Gilse Elisa Rodrigues

Ismael da Silva Negreiros

Ismael Carlos Pereira

O presente trabalho traz os resultados de uma prática de campo realizada na comunidade


indígena de Umariaçú II, no município de Tabatinga/AM. A atividade foi realizada no contexto
da disciplina Prática da Pesquisa Pedagógica II, por estudantes indígenas e não indígenas e
professores do Curso de Pedagogia e Letras do Instituto de Natureza e Cultura – INC, em
parceria com o Observatório da Educação do Campo no Alto Solimões/AM- OBECAS. A
atividade contemplou um diagnóstico participativo (FERREIRA & SILVA, 2009) com professores
e alunos da escola pública indígena Metchacuna, a fim de entender as problemáticas
vivenciadas pelos sujeitos e a escola que eles querem. O diagnóstico participativo é uma
atividade já experienciada pelo OBECAS, e se mostrou relevante para o processo de formação
de professores e coleta de dados. No primeiro momento é realiz ado o nó das lamentações,
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com indicação das problemáticas apontadas pelos participantes e no segundo momento já na


tarrafa dos sonhos, os sujeitos apontam potencialidades e indicam por meio de exposição oral
ou por desenhos, a escola que eles sonham. Essa atividade foi priorizada nesta prática de
campo com dois grupos, o dos professores e o dos alunos. O primeiro grupo constituído por
professores, contemplou a discussão entorno das problemáticas a partir de três (03) eixos:
infraestrutura escolar, projeto político pedagógico e valorização de professores. E em seguida
foi montado a tarrafa dos sonhos, a partir da escola que eles consideram importante na
comunidade. Após o momento com os professores em outro turno foi realizado a roda de
conversa com os estudantes indígenas adolescentes e jovens da comunidade. Eles também
apontaram em forma oral e em desenhos as principais problemáticas vivenciadas e a escola
que eles desejam. Como resultado do diagnóstico participativo com os professores e
estudante foi salientado como principais problemáticas no eixo infraestrutura escolar a falta
de biblioteca, climatização nas salas de aula, sala de reforço, muro da escola, quadra
poliesportiva, auditório, sala de informática com acesso à internet, sala de professores. No
eixo valorização do educador foi indicado a falta de formação continuada e específica,
planejamento, salário digno, auxílio alimentação e plano de saúde. No item Projeto Político
Pedagógico (PPP) foi dito pelos professores sobre a ausência de assessoramento técnico na
elaboração do PPP da escola indígena por parte da secretaria de educação. Como resultado
da dinâmica tarrafa dos sonhos foi dado ênfase nas questões que os próprios sujeitos não
conseguem vivenciar na escola cotidianamente, logo as ausências de itens básicos reaparecem
na escola que eles desejam para a comunidade indígena, mostrando uma realidade precária
de escolas que são construídas fora dos padrões locais e culturais, exigindo o mínimo de
infraestrutura como por exemplo a ausência de climatização nas salas de aula, apontado pelos
estudantes do nono ano do ensino fundamental, demonstrando que a escola com padrão de
qualidade no ensino indígena ainda longe de ser atingido. Logo eles solicitam além da escola
com projeto diferenciado, querem uma escola com infraestrutura adequada.

Pesquisa, extensão e ensino: histórias em quadrinhos na formação


continuada de professores Apyãwa/Tapirapé

Lucimar Luisa Ferreira

Adailton Alves da Silva

Este trabalho apresenta uma discussão/reflexão sobre o resultado de dois Projetos (Extensão
e Pesquisa) desenvolvidos na comunidade Apyãwa/Tapirapé. A partir do relato da experiência
de organização de dois livros de histórias em quadrinhos escrito pelos professores em oficinas

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de formação continuada, na área da linguagem, discute-se como a pesquisa, a extensão e o


ensino podem se relacionar na produção de materiais didáticos/pedagógicos específicos para
a escola indígena, com significado cultural para os alunos e comunidade em geral. A partir da
Constituição Federal de 1988, os indígenas conquistaram o direito a uma educação específica
e diferenciada, ou seja, adquiriram o direito de construírem suas escolas a partir de princípios
e concepções próprias do povo, resguardando a memória histórica da etnia e dando suporte
ao fortalecimento da cultura na contemporaneidade. Entretanto, mesmo com essas
conquistas em lei, os povos indígenas têm encontrado diversos obstáculos na construção de
suas escolas, principalmente, na implementação de estratégias pedagógicas que respeite os
seus ritmos de vida na aldeiae valorizem seus conhecimentos tradicionais. Esses obstáculos
estão relacionados a diversos fatores, mas os mais comuns e relevantes são: a construção de
um currículo que contemple tempos próprios, saberes específicos da cultura e produção de
materiais didáticos/pedagógicos que significado cultural para os alunos. Para o povo
Apyãwa/Tapirapé, que tem a escola na comunidade desde a década de 1970, fazer dessa
instituição um espaço de valorização e fortalecimento da cultura tradicional sempre foi e
continua sendo uma das suas principais preocupações. Pelo que é possível observar, as
lideranças sempre estiveram atentas à condução do processo de educação escolar, levando
em consideração as suas necessidades e a política interna do grupo. O povo percebe e valoriza
a necessidade da educação escolar, mas luta para que o ensino na escola da comunidade seja
desenvolvido a partir do respeito aos princípios e fundamentos culturais. O objetivo da
comunicação é discutir como a produção de histórias em quadrinhos pode dar significado para
as práticas de escrita na comunidade Tapirapé e, como isso, ser um material de leitura
significativo culturalmente próprio para ser usado nas escolas. O estudo tem como suporte
teórico autores da área da educação e do ensino de línguas. A metodologia é qualitativa e os
materiais de análise foram os produzidos nas oficinas de formação continuada, realizadas na
Escola Indígena Estadual Tapi’itãwa, situada na Terra Indígena Urubu Branco, Confresa, MT,
no período de 2015 a 2017.

Perfil e percepções das juventudes indígenas do Amazonas: condição social,


identidade e perspectivas futuras de jovens indígenas do Baixo Rio Negro

Arthur Goerck

Leticia Cortellazzi Garcia

O presente trabalho tem como objetivo subsidiar a elaboração de proposta educacional


voltada para jovens indígenas. Desta forma, a pesquisa buscou: 1) mapear o perfil dos jovens
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indígenas da região do Baixo Rio Negro e 2) escutar e analisar as percepções destes jovens
sobre sua identidade e perspectivas de futuro. O Censo de 2010 revela que a população do
estado do Amazonas é predominantemente jovem. Dentre as diversas juventudes existentes
na região, optar por trabalhar junto a uma singular fração do que hoje é entendido como
juventude rural – a juventude indígena - requer um alargamento das percepções e conceitos
utilizados na literatura sobre o tema. Isto porque, a maior parte da produção acadêmica
existente sobre juventude rural diz respeito às experiências ocorridas no sul e nordeste do
Brasil, regiões com ruralidades completamente distintas das amazônicas. Se poucos são os
estudos sobre a juventude indígena amazônica, esta pesquisa pretende contribuir e
aprofundar a discussão sobre a realidade desta região do país. Para tanto, este trabalho
contou com a participação de 51 jovens de 7 comunidades indígenas na Área de Proteção
Ambiental (APA) do Rio Negro e na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Puranga
da Conquista. A metodologia utilizada foi: rodas de conversa e questionário semi-estruturado,
que permitiram a coleta de dados quantitativos e qualitativos sobre as juventudes indígenas
da região. Desta forma, foi possível refletir sobre questões fundamentais à realidade das
juventudes indígenas como: a identidade, a migração, a relação entre o moderno e o
tradicional, o papel da educação nas perspectivas futuras, as novas possibilidades existentes
nos espaços rurais, entre outros. Buscamos assim, evidenciar as condições sociais e as
percepções dos e das jovens indígenas, contribuindo para o debate sobre as juventudes
indígenas da Amazônia e propor caminhos para o desenvolvimento de projetos voltados a
estes grupos. Os resultados preliminares demonstram que as jovens e os jovens indígenas são
representantes de uma transformação social e cultural que vem acontecendo no Baixo Rio
Negro e que demandam ações de fortalecimento da identidade cultural, de acesso à direitos
e a oportunidades. Além disso, evidencia a importância de escutar os jovens e as jovens
indígenas do Baixo Rio Negro para promover ações estruturadas que permitam seu
desenvolvimento integral.

Promovendo cidadania e direitos humanos: Projeto de Apoio aos Estudantes


Indígenas e Quilombolas da Universidade Federal do Pará

Maria Eunice Figueiredo Guedes

Leone Azevedo Gomes da Rocha

Camila Rodrigues e Rodrigues

Dhully Gleyce Souza Xarneiro

Eloisa Mendes Ferreira Freitas

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Silviane Couto de Carvalho

Queila Aiona Cardoso Costa

Daniela farias da Cruz

A política de inclusão abriu as portas da universidade para estas populações que ao longo da
história veem recebendo os impactos negativos de uma sociedade extremamente racista,
porém, somente abrir as portas das universidades ainda não é o suficiente, mas é o primeiro
passo em busca de igualdade, ainda assim há um longo caminho a ser percorrido. Ao sair de
sua comunidade o indígena e quilombola traz sua cultura e deixa a vivência diária com sua
comunidade e é inserido em um novo ambiente, o da universidade, onde se depara com
exigências acadêmicas que estão muitas vezes aquém do seu conhecimento. Adaptar-se a essa
nova realidade estando distante de sua família, dos rituais culturais do seu povo e diante das
dificuldades financeiras, é um desafio, que compromete sua permanência na instituição, e que
acabam acarretando problemas psicológicos, emocionais e de baixa autoestima, que muitas
vezes encaminham para a desistência do curso de graduação por parte desse estudante.
Diante dos desafios e dificuldades enfrentados por discentes indígenas e quilombolas na
universidade federal do Pará, surgiu a necessidade de criar uma rede de apoio psicossocial
que dê suporte para esses estudantes. É diante de tal demanda que o presente projeto se
justifica na tentativa de proporcionar um espaço de escuta que possibilite esse discente trocar
experiência com os demais, para a ressignificação de sua vivência e apropriação desse espaço,
como também criando estratégias que estimule a autonomia dos discentes. As atividades
desenvolvidas partem do princípio de equidade e cidadania para os povos tradicionais e
indígenas. A intervenção se dá por meio de acolhimento e apoio aos interessados através de
escuta individual, grupal e referenciamento da rede. São feitas rodas de conversa e oficinas
com os discentes, com a participação de alunos e profissionais de psicologia. O projeto conta
com o apoio principal das ASSOCIAÇÕES DE ESTUDANTES INDÍGENAS (APYEUFPA) e da
ASSOCIAÇÃO DE ESTUDANTES QUILOMBOLAS (ADQ-UFPA) da UFPA que fazem parte
integrante do projeto. E também com o apoio dos parceiros deste projeto: Distrito Sanitário
Especial Indígena Guamá- Tocantins (DSEI GUATOC), Casa de apoio à Saúde Indígena de
Icoaraci – CASAI Icoaraci/ DSEI GUATOC, Federação De Órgãos Para Assistência Social e
Educacional (ONG FASE), Associação dos Quilombolas do Abacatal – Ananindeua/Marituba –
PA, Faculdade de Psicologia da UFPA, Liga de Saúde Indígena da UFPA- LASIPA, Comissão de
Psicologia e Povos Indígenas do Conselho Regional de Psicologia Pará _ Amapá. CRP10, Liceu
Escola de Artes e Ofícios Mestre Raimundo Cardoso – Icoaraci – Belém – PA. As parcerias
citadas contribuiem na articulação deste projeto para as diversas áreas de inserção dos
estudantes indígenas na UFPA.

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Cultura e emoção: o papel da escola em um contexto multicultural

Riquelme Mella Enrique Hernan

A cultura medeia a maneira pela qual as pessoas regulam suas emoções. Diferentes grupos
culturais enfatizam diferentes formas de expressão emocional e emoções, que estão ligadas
a um estado afetivo ideal compartilhado. Desta forma, as competências socioemocionais
ideais variam de acordo com as expectativas da família. Habitualmente, os grupos culturais
dominantes enfatizam uma educação no próprio plano emocional através dos diferentes
mecanismos de socialização da emoção. A escola é um dos agentes sociais de socialização da
emoção da cultura dominante, no entanto, deixou de considerar o conhecimento emocional
de estudantes pertencentes a culturas minoritárias, onde o ideal emocional construído no
âmbito da educação família pode ser diferente da predominante nas escolas; tem sido o caso
dos estudantes mapuche do Chile. Essa situação da escola e da educação em contextos
indígenas pode gerar choques culturais que, em contextos de diversidade social e cultural,
podem ser desconsiderados ou mal interpretados, gerando processos de discriminação e
desigualdade. O exposto acima pode ser traduzido em sobrediagnóstico devido a problemas
emocionais e comportamentais. É apresentado um estudo que coleta histórias e crenças sobre
as emoções das crianças do ponto de vista ocidental e as contrasta com as crenças sobre o
ideal afetivo das famílias mapuches.

Habilidades sociais em contextos educacionais dos povos indígenas da


Amazônia brasileira

Irani Lauer Lellis

A educação escolar indígena historicamente esteve associada à imposição, à domesticação e


à negação da identidade dos povos indígenas do Brasil. Todavia, com mudanças no âmbito da
legislação educacional e os novos reordenamentos jurídicos que embasam as políticas
afirmativas na atualidade, os indígenas ganham voz e expressam o desejo de protagonizar os
novos cenários da educação dos seus povos. Todavia, ainda é bastante acentuada, nos dias
atuais, a visão social ocidental distorcida sobre o indígena, uma vez, que sempre esteve
arraigada de estereótipos pejorativos. O que leva a estigmatizar, no âmbito das áreas de
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habilidades sociais, a hipótese de que o indígena é um sujeito por natureza inabilidoso. De tal
modo, verificar as categorias de habilidades sociais em contexto dos povos indígenas tende
contribuir com a discussão e até desconstrução desses conceitos errôneos e pejorativos
contribuindo para a diversidade plena e o pluralismo de formas de relação social. A Psicologia
do Desenvolvimento tem evidenciado a relevância da interações sociais no processo de
aprendizagem e de desenvolvimento do ser humano (Camargo & Bosa, 2009; Novak & Peláez,
2004) e portanto, compreender as habilidades sociais dos povos indígenas da Amazônia é
fundamental para manter além da caraterização única de cada povo, seu desenvolvimento
educacional, uma vez que cada vez mais as políticas públicas tem se voltado para a inserção
indígena nas universidades.

Educação diferenciada dos imigrantes indígenas Warao: uma proposta


transterritorial em pedagogia de projetos

Marcos Vinícius da Costa Lima


Bárbara Andressa de Souza Balieiro
Jesus Desiderio Nunez Paredes
Maria do Socorro da Silva
Núlcia Odeleia Costa Azevedo
Omar Jose Rodriguez Sinfontes

Os indígenas Warao são provenientes da região do Delta do Orinoco, principalmente dos estados Delta
Amacuro e Monagas, na Venezuela e desde 2014 têm empreendido emigrações para o Brasil. Com o
agravamento do quadro político e econômico na Venezuela, o fluxo aumentou. Os indígenas
começaram se instalando em cidades do estado de Roraima, em especial Boa Vista, mas depois se
espalharam em outros estados da região Norte do Brasil, como Amazonas e em 2017 chegaram ao
Pará, onde estão presentes nas cidades de Belém e Santarém. Crianças, jovens e adultos do povo
Warao foram identificadas nos logradouros das cidades supracitadas em situação de grande
vulnerabilidade social, submetendo-se a condição de “pedintes” de ajudas econômicas e alimentícias
o que resultou na ação do Ministério Público Federal (MPF) que orientou e notificou diversas
instituições públicas para que apresentassem uma política pública de atendimento aos imigrantes
indígenas Warao venezuelanos em condição de solicitação de refúgio na região da Amazônia brasileira.
A Secretaria de Educação do Estado (SEDUC) do Pará, meio da Coordenação da Educação de Jovens e
Adultos (CEJA) e da Coordenação de Educação Escolar Indígena (CEEIND), realizaram a consulta prévia
aos povos Warao para atendê-los no campo da educação, diante destas necessidades foi criado e
desenvolvido o Projeto Saberes da EJA para os Indígena Warao. O projeto foi implementado para
realizar ações pedagógicas de letramento no tocante da alfabetização a partir de três perspectivas: da

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interculturalidade crítica, trilíngue e transdisciplinar, potencializadas através da pedagogia de projetos,


que visa promover atividades que possam qualificar técnicamente as competências dos educandos
indígenas para assumirem postos alternativos no mercado de trabalho local. Por meio de uma
metodologia inovadora que parte de situações problemas do cotidiano imediato dos Warao na região
metropolitana de Belém, busca-se valorizar a transculturalidade e a cosmogonia indígena Warao,
como meio e os eixos temáticos a serem realizados na articulação dos campos de saberes que integram
e respeitam as diversidades intraculturais e os seus respectivos campos vitais, em particular, no que
tange a luta do povo Warao contra o preconceito e por acesso aos direitos humanos e a
transterritorialidade em contextos urbanos. A educação escolar indígena do e para os indígenas Warao
em território brasileiro tornou-se um desafio a ser superado diante das novas complexidades culturais
provenientes dos novos fluxos migratórios, pois a construção de alternativas educacionais é de suma
importância para a sensibilização e compreensão da necessidades de estudos e proposições sobre a
diversidade sócio-cultural que se exige na atual configuração política do Brasil.

As oficinas de conhecimentos tradicionais como alternativa pedagógica para a


produção e transmissão de conhecimento intergeracional entre os Apinaje

Vanusa da Silva Lima

O presente artigo aborda o atual processo de produção e transmissão de conhecimento


intergeracional entre o povo indígena Apinaje, a partir da realização de oficinas de trançados
e quebra de coco organizadas periodicamente no território indígena. As oficinas se
apresentam dentro do cenário das aldeias como abordagens mais semelhantes à organização
educacional não-indígena a que crianças e jovens estão inseridos no cotidiano escolar. Este
artigo busca compreender as alternativas encontradas pelas lideranças para dar continuidade
à produção e transmissão de conhecimento tradicional utilizando novos formatos
pedagógicos, de que maneiras estas oficinas são organizadas, quais as expectativas da
comunidade e de que forma as atividades se desenvolvem dentro deste espaço programado.
O conceito de “pedagogia Apinayé”, presente em Rodrigues (2015) e o conceito de “aprender
pela prática”, de Sotero Apinagé (2018) são discutidos à luz de paradigmas estabelecidos com
relação à educação formal, buscando compreender a trajetória dos Apinaje com relação ao
conhecimento tradicional.

A música e a Educação do povo Magüta

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Jeane Colares da Silva Machado

Estamos no estado do Amazonas brasileiro, no extremo oeste da região Norte do Brasil. A


cidade chama-se Tabatinga (barro branco em Tupi). Esta região é habitada por muitos povos
de diferentes etnias. A começar pelos “brancos” divide-se entre brasileiros, colombianos e
peruanos. Quanto a outros povos, uma extensa lista, daqueles que são chamados nativos,
indígenas, autóctones, em fim, gente como agente. Magüta é como se auto-determinam os
conhecidos Ticunas. A origem de seus nomes, possuem direções completamente diferentes
do que imaginamos. Iniciamos nossa jornada junto a essa etnia no ano de 2013, quando do
ingresso ao serviço público federal, como professora de Artes, na especialidade de música, no
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas. Desde lá temos procurado
adquirir muitos conhecimentos de valores inestimáveis para vida, para a sociedade, para o
futuro, e tantas outras áreas do processo da educação, seja formal ou não. Nesta proposta de
trabalho, sobre tudo, visamos expor partes da nossa pesquisa, hoje publicada em livro,
resultado da dissertação de mestrado, realizado na Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro em parceria com o IFAM, no período de 2014 a 2016. Em julho de 2018, o trabalho foi
lançado em formato de livro pela editora alemã NEA, como o título “A Prática da Educação
pela Música do Povo Magüta: a música Ticuna”. O livro está dividido em 3 capítulos além de
algumas informações cruciais, para entendimento do trabalho aplicado naquela ocasião. No
capítulo 1, há uma vasta dissertação sobre as questões históricas e sociais do povo Magüta. A
importante exposição sobre o uso do nome original e do popular Ticuna, finalizando com
explanações sobre a difícil luta, a questão da identidade. O capítulo 2, procura comparar
importantes conceitos da educação formal e da educação indígena. Recapitula a luta pelo
direito a educação, e expõe sobre o pensamento indígena e não indígena, de uma educação
nacional. O terceiro capítulo, debruça-se em mostrar os elementos técnicos comparados,
compilados e analisados pela autora, da teoria musical ocidental, procurando demonstrar as
grandes influências sofridas desde o seu contato. Não procuramos fazer nenhum juízo de
gosto aqui, mas apenas analisar e demonstrar dados, segundo a visão musical de uma
professora e artista brasileira, com um desejo enorme de retribuir como amor o valor do povo
Magüta em nossa história.

Zona de Creación: en busca del hábitat, generando espacios de creación,


comunicación y fortalecimiento con niñas y niños de Ixhuatlancillo, Veracruz,
México

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Indira Rodríguez Martínez

Crecí en un este sector del municipio, en la unidad habitacional “el Cristo” donde como todos
los niños y niñas de mi alrededor salí a jugar con amigas de la cuadra, si bien tuve la fortuna y
el privilegio de asistir a una escuela fuera un poco del sistema educativo público, donde me
acerqué a las artes, además de asistir a clases extra escolares en la ciudad de Orizaba Veracruz
México. Con el paso del tiempo y mi crecimiento me pregunte porqué este tipo de espacios
no se encontraban dentro de mi localidad el municipio de Ixhuatlancillo Veracruz, o porqué
eran diferentes las practicas de mi escuela a la de mis amigas. Por ello desde la infancia y
adolescencia me dediqué a compartir el espacio donde vivía y compartir saberes con niñas y
niños. Menciono esta experiencia para abordar desde el origen de donde proviene este
proyecto y mi búsqueda del hábitat, ubicarme esto me ayudo a contextualizar el porqué mi
inquietud de generar estos espacios, durante la temporada de mis estudios de la licenciatura
de Psicología en Xalapa, reflexioné sobre el territorio en el que crecí y habité cada vez esta
necesidad de espacios era más latente, creer que son necesarios para la población de la cual
soy, por ser afectada por diferentes contextos violentos desde la estructural a la simbólica. Lo
que se percibe al andar en la calle es el acercamiento a diferentes vulnerabilidades del
contexto, entendí la importancia de estos espacios, pues así como obligación por parte del
estado y alternativas ante la diversidad de problemáticas y necesidades de Ixhuatlancilo.
Después de estudiar y habitar casi cinco años en la ciudad de Xalapa, regresé a mi localidad,
las cosas no habían cambiado tanto solo que ahora había nueva generaciones de niñas, niños
y jóvenes, los espacios seguían sin ser propiciados, sólo canchas de fútbol y básquetbol en
condiciones no factibles para la comunidad y sin atención en ello. Es por ello que surge la idea
de este proyecto, en este capitulo se describe el registro de toda la experiencia que desde el
2013 se gesto en el municipio de Ixhuatlancillo Veracruz.

Cognições dos professores indígenas nas Escolas Parakanã sobre habilidades


sociais e desempenho acadêmico

Antonia Lemos Braga Moraes

A temática sobre cognições de professores indígenas no contexto educacional é recente e


incipiente o que justifica a relevância dessa pesquisa visto que as cognições exercem fortes
influências sobre as práticas e consequentemente sobre o desenvolvimento humano. Os
sujeitos participantes foram 26 professores indígenas leigos, servidores temporários
(contratados por um período de 10 meses) pela Secretaria Municipal de Educação, para atuar
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

no magistério indígena nas turmas de Educação infantil, 1° ao 5° ano do Ensino Fundamental


e Educação de Jovens e Adultos EJA, distribuidamente nas 14 escolas, localizadas em 14
aldeias pertencentes ao Município de Novo Repartimento no Pará. Os instrumentos utilizados
para levantamento de dados foram: entrevistas estruturadas e semiestruturadas coletivas. Os
dados foram analisados mediante a técnica do Discurso do Sujeito Coletivo. Os resultados
apontaram para o desconhecimento do termo habilidades sociais, apesar de demonstrarem
estreita relação entre melhor interação professor-aluno e desempenho acadêmico. Conclui-
se que conhecer o que os professores pensam é um primeiro passo para se pensar em políticas
públicas mais eficazes, na criação de instrumentos e estratégias, bem como em insumos
teóricos para compreensão e discussão no que diz respeito a ações interventiva e dessa forma
contribuir para o desenvolvimento e fortalecimento de relações mais saudáveis e
consequentemente repercutir num melhor desempenho acadêmico dos alunos indígenas.

Otros conocimientos, otras prácticas y un mismo problema: algunos retos


para una educación indígena y comunitaria

Yolanda Jiménez Naranjo

En México – y en general en América Latina – la relación entre prácticas escolares y


conocimientos indígenas es enunciada tanto por quienes pretenden fortalecer procesos
educativos compensatorios como por quienes quieren establecer relaciones de mayor
autonomía cultural y política en la gestión de sus procesos educativos. En ambos casos la
relación entre epistemes escolares e indígenas abreva de debates muy diferenciados. Esta
ponencia pretende centrarse en aquellas experiencias que toman como eje central la relación
entre alteridad y escuela y apuestan por procesos de mayor autonomía y reconocimiento de
las epistemes de los pueblos indígenas para dar cabida a otros conocimientos y aprendizajes
para la construcción de formas plurales de construir el mundo social, cognitivo, económico y
político de sus pueblos. En este debate, sin agotarlo, pretendo abordar; a) la difícil – y a la vez,
paradójica – relación entre alteridad y escuela, b) algunos escollos a evitar – tanto los riesgos
de un esencialismo cosificante como la mera transposición de prácticas culturales
comunitarias a contenidos escolarizados, para finalmente c) bajo los marcos anteriores,
ahondar en algunas experiencias en contexto mexicano que nos permiten seguir pensando y
profundizando la relación entre alteridad y escuela de la mano de un diálogo de epistemes
que posibilite erosionar las lógicas y saberes escolares tradicionales para la construcción de
mundos sociales más plurales y equitativos.

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Habilidades sociais na pós-graduação: trajetória de uma estudante indígena


no interior da Amazônia

Ana Hilguen Marinho Pereira

Adriane Lima da Silva Oliveira

Milany Santos de Carvalho

Núbia dos Santos Oliveira

A Amazônia no cenário nacional e internacional atualmente representa um papel de destaque


para as gerações futuras, devido apresentar diversidade de riquezas naturais e uma
heterogeneidade sociocultural que poucos lugares no planeta possuem. Os indígenas fazem
parte dessa população, e dentre essas, historicamente convivem com grandes desafios e
conflitos para afirmarem sua identidade, saberes, cultura e constituição social. Neste sentido,
compreender o modo de vida e as habilidades sociais que os indígenas possuem se faz de
grande relevância, pois a construção de um repertorio socialmente habilidoso permite a
manutenção de relacionamentos interpessoais positivos, considerando que empatia,
assertividade, fazer amizades, comunicação entre outros, são comportamentos que
colaboram para o sucesso dessas relações. As trajetórias acadêmicas de estudantes indígenas
são pouco visadas em estudos que versam sobre a inserção destes na pós-graduação. A
pesquisa tem como objetivo geral conhecer o repertorio de habilidades sociais de uma
estudante indígena da pós-graduação do interior da Amazônia. De forma específica pretende-
se identificar as habilidades sociais que a estudante indígena apresenta; averiguar a inserção
de estudantes indígenas na pós-graduação no contexto amazônico; refletir sobre a urgência
de intelectuais indígenas na Amazônia. Para tanto, o estudo classifica-se como um estudo de
caso, tendo como técnicas de coletas de dados a história oral de Meihy (2002), o inventario
de habilidades sociais desenvolvido por Del Prette e Del Prette (2009) e entrevista semi-
estruturada. A análise será feita por meio da Técnica de Elaboração e Análise de Unidades de
Significado desenvolvida por Moreira, Simões e Porto (2005). Tendo em vista que esta
pesquisa se encontra em fase inicial de desenvolvimento, ressalta-se que ainda não existem
dados empíricos que possam ser apresentados e discutidos neste resumo.

Possibilidade de formação de leitores no Rio Arapiuns: quais os efeitos de


“levar a ler” em uma aldeia com pouca circulação literária e científica?

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Luanna Cardoso Oliveira

Zair Henrique dos Santos

A presente pesquisa vem sendo desenvolvida na aldeia Nova Vista- rio Arapiuns, tem por
objetivo investigar possíveis transformações sociais e percepções que ocorreram ou ocorrerão
da relação do povo com a recente circulação de leitura e as novas dimensões culturais
implantadas através de uma biblioteca. A leitura é um, dos muitos problemas educacionais
que a região amazônica enfrenta, pois, este ato é alvo do descaso e do misticismo pautados
em clichês que acabam por esvaziar o sentido de formação e fonte de conhecimento. Diante
de uma realidade amazônica tão complexa, houve a realização de uma pesquisa inicial Espaço
de leitura aldeia Nova Vista: Leitura, Educação Escolar Indígena e Identidade que consolidou
na criação e adaptação de uma biblioteca dentro da aldeia. Com a implantação e
funcionamento da biblioteca surgiram questionamentos como: Que resultados terá trazido à
medida que se propôs isso? Que tipo de diálogo a aldeia está disposta ou estabelece à medida
que ela encontra novas dimensões de culturas mediadas por alguém de dentro? Para
compreender toda essa relação da leitura, a atual pesquisa (que se encontra em andamento)
utilizará como método investigativo a pesquisa-ação, neste sentido os
participantes/moradores dessa aldeia são parte cruciais da construção, protagonismo e
manutenção deste trabalho, sendo estes coautores. Assim, os direcionamentos deste trabalho
dependem da participação coletiva dos moradores para alcançar: a adesão, o envolvimento
da comunidade e a possibilidade de transformar determinada realidade leitora. Para que seja
efetivada uma circulação de leitura mais organizada e uma compreensão mais consistente
dessas ações, será proposto um projeto de intervenção que consistirá em: encontros com
comunitários e escola, voltados para refletir estratégias de realizações pedagógicas;
observações de como docentes e alunos passaram a conviver com o espaço de leitura e o
material que este proporciona; propor e desenvolver juntos a docentes práticas de leituras
que consistirão em: Rodas de leitura, mostra literária, leitura pública, formação/palestras para
professores; análise do acervo e a constância com que comunitários (de maneira geral) têm
frequentado o espaço de leitura. Como base teórica estão sendo utilizados: FRIGOTTO (1993,
1995, 2012); BRITTO (2003;2012;2015); DUARTE (2003, 2013); SAVIANI (1980, 2005); SANTOS
(2016) e MÈLIA (1999).

Professores e professoras indígenas e a sala de aula: a ênfase na cultura,


língua materna e conhecimentos tradicionais

Andréia Maria Pereira

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Esta comunicação tem como objetivo apresentar algumas discussões de uma pesquisa com
professores e professoras indígenas, fruto de uma tese de doutoramento em andamento, que
tem como objetivo analisar as perspectivas dos docentes indígenas em relação à
interculturalidade presente nos seus processos formativos, bem como nos contextos de sua
atuação docente. Especificamente nesta, apresentaremos um recorte da pesquisa que
enfatiza a análise a cerca do que é considerado relevante no currículo trabalhado na escola
indígena do Povo Gavião de Rondônia. Neste sentido, merece destaque as escolhas feitas
pelos professores e professoras indígenas, articuladas com os anseios da comunidade que dão
ênfase à cultura, língua materna e conhecimentos tradicionais como indispensáveis para
aprendizagem dos alunos e alunas indígenas. A abordagem da pesquisa é qualitativa e os
procedimentos de coleta de dados estão em consonância com a mesma. A produção dos
dados do campo empírico ocorreu, por meio de entrevistas semiestruturadas, com
professores e professoras indígenas Gavião do Estado de Rondônia e observação dos espaços
escolares. A legislação, através da Constituição Federal de 1988, assegura aos povos indígenas
o direito à diferença cultural, reconhecendo que os povos indígenas têm a sua própria cultura,
seus costumes, e garantindo, entre outras coisas, a utilização da língua materna e de
processos próprios de aprendizagem no contexto das escolas indígenas. Os professores e
professora indígenas Gavião tem trabalhado cotidianamente esses aspectos de escola
específica e diferenciada com seus alunos e alunas, através de suas práticas pedagógicas
interculturais. Com base nas análises e reflexões construídas no corpo do texto, enfatizamos
a luta dos professores e professoras indígenas Gavião na construção de uma educação sem
epistemicídio, ou seja, uma educação que dialoga com os diferentes conhecimentos. Portanto,
uma educação que desconstrua o modelo hegemônico, eurocêntrico, monocultural e que
compreenda a diversidade cultural como uma possibilidade de problematização e construção
de diferentes conhecimentos. Construindo assim, uma educação escolar indígena decolonial.

Representação de universidade para os povos indígenas

Aline Karina Ferreira Pinto

Brenda Samille Batista Brelaz

Clenya Ruth Alves Vasconcelos

Compreender o que a universidade representa para alunos indígenas em um país diverso e


marcado pela exclusão social como o Brasil, aponta multifacetados desafios a se superar. As

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

instituições de ensino superior aglutinam possiblidades de formação e expansão de


conhecimento, articulando o ensino, pesquisa, e extensão, e oferece oportunidades de incluir
parcelas da população historicamente alijadas desse espaço de formação e construção de
conhecimento. Após muitas mudanças no cenário político e social, com a finalidade de corrigir
paliativamente desigualdades raciais presentes na sociedade há muitos anos, foram criadas
políticas setoriais de ações afirmativas para índios e negros. Nas universidades, começou-se a
pensar condições de acesso a indígenas e negros, considerando outros critérios diferentes dos
já existentes como por exemplo, egressos de escola pública ou carência social (LOBATO;
BENEDETT). Partindo desses pressupostos, constitui- se como objetivo dessa pesquisa, avaliar
como esse processo tem ocorrido na universidade no município de Óbidos-Pará tendo em
vista a política institucional de ações afirmativas implementadas recentemente no campus, e
qual a concepção dos alunos indígenas sobre o ensino superior. Com relação ao aspecto
metodológico, trata- se de uma pesquisa de natureza qualitativa precedida por uma pesquisa
bibliográfica. Utilizou- se como instrumento de coleta de dados entrevista semiestruturada,
realizada com acadêmicos da Universidade Federal do Oeste do Pará- UFOPA. Os estudantes
entrevistados são indígenas pertencentes as etnias Wai-wai e Munduruku, ingressos no curso
de licenciatura em pedagogia (2018). As comunidades estão situadas em regiões diferentes,
no estado do Pará, a população Munduruku concentra-se majoritariamente na Terra Indígena
de mesmo nome, já as comunidades Wai- wai encontram-se dispersas em extensas regiões
das Guianas e na região norte do Brasil. O resultado dos dados obtidos aponta que para os
estudantes indígenas a Universidade representa melhoria de vida, novas oportunidades, e o
objetivo que eles possuem em comum é o de buscar a formação para retornar as suas aldeias
e levar o conhecimento adquirido através do curso. A presença de estudantes indígenas no
ensino superior vem crescendo na universidade, e apesar dos avanços e muitas conquistas,
ainda é preciso dispor de estratégias para garantir a permanência, pois os desafios se tornam
mais complexo após o ingresso. Dentre os desafios apontados pelos sujeitos entrevistados
encontram- se: o choque cultural, a dificuldade de se adaptar, dificuldades linguísticas que
afetam principalmente a comunicação entre estudantes e professores, o que segundo eles
afeta a compreensão e o desempenho acadêmico.

La infancia que trabaja: reflexiones en torno a la escolarización de niñas y


niños P’urhepecha

Ana María Méndez Puga

Irma Leticia Castro Valdovinos

Maria de Lourdes Vargas Garduño

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ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Nelva Denise Flores Manzano

En los campos agrícolas de Michoacán, en México, grupos de niñas y niños acuden a apoyar a
sus padres en el corte de chile, principalmente. Trabajan jornadas similares a las de un adulto,
ya sea en la cosecha o en cuidando a sus hermanos menores. Esto propicia abandono de la
escuela, no obstante, varios de estos niños y niñas han logrado concluir estudios de
bachillerato (desde 2007 en que inició un proceso de escolarización apoyado por profesores
p’urhepecha). Son familias pobres, originarias de varios estados de México y de varios
municipios del estado de Michoacán, la mayoría de ellos pertenecientes a grupos originarios,
sin acceso a servicios de salud y con escasa escolarización. Méndez Puga, Castro y Vargas
Garduño (2018) han documentado las características de la población y las condiciones en que
niñas y niños se ven a si mismos en ese proceso de ser migrantes. Las niñas y niños participan
en dos o más escuelas durante el ciclo escolar, ya que se inscriben en su comunidad y luego
viajan a los campos agrícolas donde deberían acudir también a la escuela, sin embargo, no
todos lo hacen y quienes sí se inscriben, participan solo de algunas actividades. En 2018,
durante tres meses, se trabajó con las niñas y niños enfatizando la lectura y la escritura y la
revalorización de los aprendizajes escolares, derivada de esa experiencia es que se generaron
una serie de reflexiones, que permitirán replantear algunos elementos de la escolarización.
La formación de docentes: un elemento esencial del proceso es contar con docentes modelos
de lector y escritor, que lean para y con las niñas y niños; que les inviten a leer la diversidad
textual que está presente en el aula. Rediseñar la propuesta educativa contemplando más
situaciones y elementos para la expresión simbólica, de tal suerte que niñas y niños tengan
espacios para exponer lo que les preocupa, lo que sienten y lo que necesitan, aprendiendo a
colaborar entre ellos. Fomentar el trabajo entre pares, de tal suerte que sea posible replantear
la manera en que se relacionan desde las diversas lenguas y culturas, aprendiendo a estar con
el otro, compartiendo algo de lo que cada uno sabe y haciendo posible la “territorialización”
de elementos de las diferentes culturas, para que se convivan en ese espacio “inter” y se
encuentren nuevos modos de habitarlo (Medina, 2009). Finalmente, un elemento esencial es
contribuir al reconocimiento de esa nueva reconfiguración identitaria que fortalece a los niños
y niñas y les brinda un espacio propio, lo que implica un trabajo con los padres y con la
comunidad en la que se insertan.

Por uma educação intercultural e comunitária: a experiência do Povo


Munduruku no Projeto Ibaorebu

André Raimundo Ferreira Ramos

200
Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Izabel Gobbi

Ademir Kabá Munduruku

Claudeth Saw Munduruku

O presente trabalho visa apresentar reflexões suscitadas pelo Projeto Ibaorebu de Formação
Integral do Povo Munduruku (Pará – PA/Brasil), uma experiência de formação diferenciada
em Magistério Intercultural, Técnicos em Enfermagem e em Agroecologia. Trata-se de um
processo pautado pela construção e valorização de conhecimentos voltados a uma formação
que dialoga com os significados de “ser homem” e de “ser mulher” Munduruku, mantendo
coerência com o eixo estruturante do Projeto: Cultura e Direitos do Povo Munduruku.
Realizado por meio da pedagogia da alternância, com etapas intensivas ("tempo escola") e
etapas de acompanhamento ("tempo comunidade"), o Projeto Ibaorebu se constituiu como
um espaço privilegiado para o exercício da interculturalidade, da autonomia e do
protagonismo dos Munduruku. A metodologia, centrada na pesquisa e na
transdisciplinaridade, propiciou o envolvimento de pessoas representativas das comunidades,
suas lideranças, sábios e sábias. Dos intensos debates e avaliações constantes, somados à
contribuição dos colaboradores não-indígenas, chegava-se à definição de temas para as
etapas de alternância do chamado “tempo escola”. Assim, assuntos como: os grandes projetos
de empreendimento e seus impactos; território e sustentabilidade; afirmação da identidade
e valorização da cultura; práticas de cuidado e cura; dentre outros, geraram conhecimentos e
práticas que passaram a se fazer presentes no cotidiano dos Munduruku. A complexidade da
proposta resulta da dinâmica com que ela foi apropriada e materializada pelos Munduruku.
Tal fato, mais do que as atividades de “aulas” propriamente ditas, foi o que viabilizou a
constituição de um projeto de educação próprio àquele povo. A partir dos conhecimentos
construídos nas três áreas de formação, o Ibaorebu integrou as questões relativas à saúde, à
educação e ao meio ambiente, sempre buscando soluções e estratégias para os desafios do
cotidiano, num contexto de intensas relações interétnicas, transpondo os limites impostos
pela escolarização e pela formação profissional.

Diálogos entre a educação e saberes indígenas: processos pedagógicos


étnicos da cultura Sateré-Mawé na perspectiva da relação intercultural

Thelma Lima da Cunha Ramos

201
Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

O enfoque desta comunicação será a relação entre a educação e os saberes indígenas da


cultura Sateré-Mawé nos processos pedagógicos do espaço escolar não indígena numa
perspectiva da interculturalidade e do respeito às diferenças, como estratégia de romper com
a cultura hegemônica na escola. Tem como objetivo analisar o diálogo entre a educação e a
diversidade dos saberes indígenas, a partir da história e cultura do Povo Sateré-Mawé por
meio dos processos pedagógicos para um contexto cultural não indígena, de uma aldeia
Sateré-Mawé em Manaus para o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia,
Campus Salvador. A metodologia utilizada é a abordagem qualitativa, numa perspectiva da
pesquisa participante em que são desenvolvidas atividades educativas, sobre os aspectos
culturais específicos da cultura Sateré-Mawé baseadas na educação intercultural para
estudantes não indígenas do IFBA, Campus Salvador. Uso da pesquisa bibliográfica com a
finalidade de consultar as obras escritas por vários autores e em outras fontes indispensáveis
à elaboração da pesquisa. A reflexão tem a preocupação de problematizar os estudos
relacionados às culturas dos Povos Indígenas no espaço escolar, contrapondo a imagem
generalizada do indígena articulada nos processos pedagógicos. Assim, propõe o estudo a
partir da história e cultura do Povo Sateré-Mawé que são os inventores da cultura do guaraná
isto é, foram eles que transformaram uma trepadeira silvestre em arbusto cultivado. Estão
aproximadamente há 344 anos em contato interétnico em suas relações com a sociedade
ocidental (TEIXEIRA, 2005). Desta forma, consideramos os saberes indígenas para construção
dos processos pedagógicos no espaço escolar não- indígena baseado nos princípios da
educação intercultural.

Saberes tradicionais e técnicas de desenhos no processo de elaboração de


material didático indígena

Altaci Corrêa Rubim

Célia Cristina Rossi

O homem entende, apreende e constrói o mundo sob a ótica de sua cultura, assim como, vai
ao encontro das exigências de uma sociedade marcada por diferentes trocas interculturais. O
presente estudo visa apresentar o resultado do projeto sobre ensino e aprendizagem de
técnicas de desenho para professores indígenas dos Centros de Educação Escolar Indígena-
CEEIs de Manaus-AM/BRASIL, por meio de oficinas de desenho para elaboração de material
didático pedagógico indígena. Os CEEIs são espaços em que professores indígenas ensinam
202
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

língua e cultura indígena nas periferias da capital do Estado do Amazonas. Trata-se de uma
pesquisa qualitativa, de base etnográfica. Foram levantados dados, por meio de entrevistas
abertas, livres não direcionadas sobre o ensino e aprendizagem durante a oficina. Nesse
sentido, o resultado obtido contribuiu para dar subsídios à maneira de desenhar dos
professores indígenas, tanto com elementos extraídos da natureza como os elementos
produzidos pela cultura ocidental.

Avaliação de habilidades sociais com estudantes indígenas em uma


universidade pública

Janderson Mendes Monteiro

Beatriz Galúcio dos Santos

Tatiana Franco Florenzano

Esta pesquisa investiga o repertório de habilidades sociais de universitários indígenas do


ensino público. Devido a sua aplicação em diferentes contextos e ao impacto que um déficit
em habilidades sociais pode gerar na saúde, qualidade de vida, realização profissional e
satisfação pessoal, o estudo sobre essa temática se faz cada vez mais necessário, visto que
pessoas socialmente competentes estão mais satisfeitas e sentem-se mais realizadas e
saudáveis. Participaram da pesquisa 2 discentes indígenas do primeiro semestre do curso de
pedagogia da Universidade Federal do Oeste do Pará – Ufopa, campus regional de Óbidos,
que foram submetidos à aplicação do inventário (IHS-Del-Prette, 2014), conduzida em uma
sessão, com duração de duas horas. Os dados foram analisados de forma correlacional e
revelaram que os dois participantes da pesquisa, apresentam o mesmo percentil no escore
total, mostrando-se abaixo da média. Considerando-se que os universitários fazem parte de
um segmento da população da qual tem sido cada vez mais exigida a competência nas relações
interpessoais, salienta-se que essas informações influenciam significativamente no
desempenho dos discentes. As habilidades sociais sugerem características da cultura que são
necessárias na avaliação e no planejamento de intervenções para o treinamento dessas
habilidades, assim como determinantes para o desempenho social e acadêmico. Os resultados
obtidos no inventário, indicam aquisições importantes, que corroboram para a necessidade
de treinamento em habilidades sociais, devido à um repertório deficitário dos entrevistados.

Diálogo intercultural: organização escolar indígena e não indígena


203
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Evanir Gomes dos Santos

Este estudo investigou a organização escolar indígena e não indígena à luz da legislação
voltada à educação indígena, nos últimos trinta anos desde a promulgação da Constituição
Federal de 1988. A pesquisa se motivou pelo reconhecimento da necessidade do diálogo
intercultural crítico na prática didática em que o conhecimento tradicional indígena e o
universal - o mais aceito, socialmente - sirva de ferramenta pedagógica. O aporte teórico ao
tema se sustentou em autores como Geertz (2008), Boas (2005), Aguilera Urquiza (2010; 2017)
Candau (2016), Sacristán e Gómez (1998). A análise transcursou, a um só tempo, através dos
Projetos Políticos Pedagógicos de duas escolas estaduais: uma indígena e outra não indígena,
ambas se localizam na cidade Dourados, MS. Desse modo, a pesquisa se caracteriza
exploratória, do ponto de vista de seu objetivo, bibliográfica e documental, por seus
procedimentos. Os achados esboçam perspectivas e incongruências referentes ao
conhecimento tradicional e universal, no cotidiano escolar, sobretudo da parte pedagógica,
nomeadamente da parte dos professores em relação à temática. A realidade que se apresenta
é a de alunos indígenas sem acesso à escola, o que perpetua a alteridade, a desigualdade, a
iniquidade pela fragmentação social e, por conseguinte, subjugações cujo efeito gera a
exclusão étnica. Espera-se, com o resultado delineado pela análise, contribuir para a reflexão
sobre a necessidade de comunicação entre os dois universos culturais da formação de
professores à correção das insuficiências nas práticas pedagógicas.

Jovens e adultos indígenas na escola da cidade: um estudo na turma do


Primeiro Segmento da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em Benjamin
Constant, Amazonas

Joarilson Ramos da Silva

Jarliane da Silva Ferreira

Ismael da Silva Negreiros

Este estudo apresenta os desafios, dificuldades e preconceitos enfrentados por jovens e


adultos ambos estudantes indígenas de diferentes etnias como: Tikuna, Kokama, Mayoruna e
Kanamary. As pesquisas de campo ocorreram através de observações e utilizando-se do
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método etnográfico de descrever os acontecimentos que envolverá o espaço escolar, foram


realizadas no ano de 2018, em Escola Municipal da área urbana do município de Benjamin
Constant, Amazonas, com uma turma do primeiro segmento da Educação de Jovens e Adultos
(EJA). Os objetivos desta reflexão estão pautados em analisar os desafios enfrentados pelos
jovens e adultos indígenas que estudam na cidade, observando as relações que são
estabelecidas entre os alunos não indígenas e os professores para com os indígenas no
ambiente escolar da sala de aula, possibilitando ainda identificar quais são as metodologias
que os professores adotam para valorizar a cultura indígena e transmitir os saberes não
indígenas para os estudantes indígenas. Quando nos referimos a educação indígena estamos
falando em processos próprios de educar e transmitir saberes em coletivo, em muitos casos,
diferente dos modelos ocidentais que foram incorporados nas escolas amazônicas e
brasileiras, tornando uma educação colonizadora que não respeita as diferenças e que não
promove a interculturalidade dos saberes entre seus alunados (GERSEM, 2006), entendemos
que os processos educacionais que envolvem a socialização de diferentes culturas promovem
aos seus indivíduos um sistema de aprendizagem amplo e de reciprocidade, regulado na
reprodução de novos conhecimentos e vivências. Os indígenas por outro lado possuem os
mesmos direitos de estarem nas escolas da cidade e nas de suas comunidades, os marcos
legais garantem essa condição. Desse modo a escola da cidade deverá propor metodologias
que venham de encontro com os saberes indígenas e no respeito pelas diferenças culturais,
sociais, étnicas e promovendo a diversidade.

O protagonismo dos Mbya Guarani professores nas escolas indígenas do


território do litoral norte do Rio Grande do Sul

Josieli e Silva

Simone Valdete dos Santos

Nesta comunicação apresentamos alguns elementos que apontam o protagonismo dos Mbya
Guarani professores na construção das escolas indígenas do território do litoral norte do Rio
Grande do Sul. Dados que compõem parte da dissertação do Mestrado Acadêmico, com
defesa prevista para o corrente ano. Os Mbya Guarani, etnia presente em regiões do território
paraguaio, boliviano, argentino e brasileiro, aqui no Brasil principalmente nos estados de São
Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, fazem parte do grupo Tupi-
Grarani e se dividem em 03 subgrupos distintos, os Mbya, Kaiowá e Nãndeva, segundo
classificações linguísticas. A pesquisa está baseada na observação participativa, vivências nas
Aldeias e notas de campo, enquanto assessoria pedagógica e pesquisadora, principalmente
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nos encontros de Formação Continuada entre os indígenas professores (as), da 11a


Coordenadoria Regional de Educação. Regional da Secretaria de Educação do Estado,
composta por 25 municípios, dentre esses 07 com escolas indígenas e 09 professores(as). O
trabalho tem como objetivo apontar os movimentos político- pedagógicos realizados pelos
Mbya Guarani professores, nos encontros de Formação Continuada como protagonistas na
Educação Escolar Indígena em suas Aldeias. Os encontros aqui mencionados aconteceram no
período de 2016 a 2017, por demanda dos (as) professores (as), visto que são contratos (as),
sem formação escolar. No intuito de pensar a construção de suas escolas, muitas vezes no
sentido literal da palavra. Esse movimento se dá com a participação da comunidade, num
grande círculo de conversas e aconselhamentos dos sábios da cultura e das lideranças. É
importante ressaltar o papel dos indígenas professores (as) na interlocução entre a
comunidade e o Estado, fortalecendo a educação tradicional, estando à educação escolar
integrada a esta cosmologia. Para tanto, a formação inicial e continuada específica para esses
profissionais necessita ser o espaço de construção de políticas públicas em educação; os (as)
professores (as) indígenas são os principais agentes para a construção dessas políticas, para
uma educação escolar de qualidade, conforme as necessidades de cada comunidade e de
acordo com o seu modo de ser indígena e suas pedagogias próprias; é necessário proporcionar
esses momentos com recursos financeiros públicos e autonomia indígena, para que esses
possam definir a melhor forma de realização, quanto aos métodos, aos locais, aos temas
abordados, à dinâmica do tempo e à escolha de convidados ou não. Enfim, trabalhar e
pesquisar a Educação Escolar Indígena exige uma imersão nas Aldeias e aproximação à
cosmologia, uma “escuta sensível”, além de bom senso na escolha de metodologias
diferenciadas e específica que permitam essa dinâmica.

Repensando tendências educacionais: a produção de material educativo


indígena e a construção de atribuição de sentidos

Lucilene Julia da Silva

Jovina Mafra dos Santos

A produção de materiais educativos como uma proposta da área de concentração da Ciência


da Natureza, Licenciatura Intercultural, do Instituo Insikiran, da Universidade de Roraima têm
se destacado como resultado das pesquisas dos trabalhos de Conclusão de Curso. Objetiva-se
apresentarmos reflexões contra hegemônicas que explicam a produção de materiais
educativos que pretendem superar fronteiras simbólica e mobilizar o trânsito do
conhecimento, nesse sentido, mostrar os processos que esses materiais são produzidos, assim
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como, considerarmos as complexidades para tal produção de conhecimentos que toma como
referência a compreensão de mundo de cada povo implicado nessa produção, por tal motivo
consideramos que esses materiais são educativos pois consideramos que o aprendizado que
dele advêm é educar para a vida, pressupomos que esses desdobramentos alicerçam o
processo de ensino e aprendizagem. Para tanto, usamos aportes de autores; Bertely (2012),
Meneses e Sousa-Santos (2010), Mignolo (2010), Maldonado Torres (2007), Tassinari (2001) e
Walsh (2009) e a abordagem metodológica qualitativa embasada em Bogdan & Biklen (2010)
para caracterizar que caracteriza um contato mais duradouro e frequente com as situações e
ambiente; a pesquisa de cunho descritivo e exploratório, uma vez que oferece a possibilidade
de proximidade do cotidiano com as experiências vividas pelos próprios sujeitos (MINAYO,
1993), e outras combinações que ajudem a explicar e analisar as experiências em tela.
Também é significativo problematizar como enquadramento metodológico a importância da
pesquisa colaborativa que corresponde a uma necessidade de participação fundamental que
articulada o auxílio de professores, estudantes e de expertos em temáticas específicas que
tratam cada material educativo. Com isso, evidenciar aprendizados que geram atribuição de
sentido e explicitação de elementos da cultura dos contextos sócios histórico-culturais
situados. Esse é um trabalho que se encontra em processo de construção e que evidencia
alguns resultados positivos.

Educação, cultura e aprendizagem: contributos para a construção da


etnopsicología matshiguenga de Mazokiato, Cuzco, Perú

Cástor Saldaña Sousa

Deny Kennedy Borda Pérez

A pesquisa apresentada foi realizada ao longo do ano de 2018 na comunidade nativa de


Mazokiato. A comunidade nativa de Mazokiato pertence ao grupo étnico matshiguenga,
localizado na cumeada da região geográfica da selva, a 1330 metros acima do nível do mar,
no distrito de Villa Kintiarina, da província de Convención, Cusco, Perú. A pesquisa enquadra-
se na psicología cultural, tentando explorar o comportamento humano, crenças, valores,
representações mentais, artefatos culturais, práticas sociais e educacionais com dimensão
cultural. Nesta primeira fase da pesquisa, abordamos o ciclo de vida da infância matshiguenga,
apresentando a classificação étnica da infância, a descrição de cada tarefa e a sua
interpretação correspondente. Investigar o estádio da infância matshiguenga em Mazokiato
é esquadrinhar nos procesos de aprendizagem, desenvolvimento humano, ritos de passagem,
costumes acerca do processo de educação e sobreposição entre a educação não-formal de
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caráter etno-cultural e educação formal ocidentalizada. Além desses fatores, devemos de ter
em conta a mudança cultural que poderá ter gerado na comunidade nativa de Mazokiato a
influência dos modos de vida das sociedades modernas e o impacto da globalização. A
metodologia utilizada é o método etnográfico baseado na convivência direta com os nativos,
a observação participante, as entrevistas em profundidade e o trabalho de campo do día a día.
Com base na apresentação de pesquisa etnográfica, aspira-se a construir a etnopsicologia da
criança matshiguenga da Comunidade nativa de Mazokiato e a análise da sobreposição dos
dois modelos educativos encontrados: a educação informal baseada no paradigma da cultura
local matshiguenga e a ocidentalizada educação formal, com base em moldes de
homogeneização de conhecimento universal. Da mesma forma, analisam-se os dados,
contrastando e gerando um discurso em relação a diferentes autores, conceitos e abordagens
teóricas como a psicologia cultural de Michel Cole e a aprendizagem sociocultural de Vygotsky,
entre outros.

Formación inicial docente en La Araucanía: desafíos para su pertinencia social


y cultural en contexto indígena

Gerardo Muñoz Troncoso

Ekaterina Legaz

Flavio Muñoz

La ponencia expone los resultados preliminares del proyecto de investigación “Formación


inicial docente en La Araucanía: desafíos para su pertinencia social y cultural en contexto
indígena”. El problema de investigación es la desarticulación entre la Formación Inicial
Docente (FID) y la realidad sociocultural, territorial y escolar en contexto mapuche en La
Araucanía, como limitante en la implementación de la educación intercultural en el sistema
educativo. Se sostiene que la FID, el sistema escolar y la escolarización desarrollada en
contexto mapuche son coloniales y monoculturales eurocéntricas, reproduciendo en ellas el
racismo, la discriminación y los procesos de dominación del mapuche por parte de la sociedad
nacional. Aquí, el profesor cumple un rol central, al ser el ejecutor de una política educativa
descontextualizada que se traduce en el fracaso en la construcción de conocimientos
escolares. Por lo anterior, la presente investigación se propone como objeto de estudio la FID,
para explorar la posibilidad de incluir la perspectiva intercultural de manera transversal en la
formación del profesorado en contexto mapuche, como sustento al desarrollo de una
perspectiva de interculturalidad para todos. Lo nuevo que aportará la investigación es una
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base de conocimientos teóricos, empíricos y metodológicos que sustenten la transformación


de la FID en perspectiva intercultural en contexto mapuche y que propicie abandonar
progresivamente su colonialidad y monoculturalidad eurocéntrica. El objetivo es develar
componentes de colonialidad, monoculturalidad eurocéntrica y racismo que están a la base
de la desarticulación entre la FID en Educación Parvularia y la particularidad del contexto
mapuche, desde la narrativa de estudiantes en formación. La metodología del estudio
propuesto es la investigación educativa, la cual tiene por objeto la búsqueda sistemática de
nuevos conocimientos como base para la comprensión de los procesos educativos, por medio
de la aplicación del método científico. El contexto de estudio son los programas de FID de la
Universidad Católica. En el estudio se aplicará un muestreo intencionado que permitió
seleccionar 7 estudiantes de último año de Educación Parvularia que realizan sus prácticas
profesionales en escuelas o jardines infantiles insertos en contexto de comunidades
mapuches. Los instrumentos de recolección de información fueron la entrevista
semiestructurada y la autoetnografía. Las técnicas y procedimientos de análisis fueron la
teoría fundamentada en los niveles de codificación abierta y axial. Los resultados preliminares
permiten observar: 1) la enseñanza de una interculturalidad centrada en el desarrollo teórico
y desde un enfoque funcionalista en la FID; 2) el desconocimiento de contenidos educativos
mapuches por parte de las estudiantes; 3) el desconocimiento de modelos de intervención
educativa intercultural y estrategias de gestión curricular intercultural; 4) la permanencia de
prácticas monoculturales eurocéntricas y coloniales en el medio escolar; y 5) la necesidad de
avanzar hacia un modelo educativo intercultural crítico y decolonial en contexto mapuche.

ST 10 | Direito de ser e existir: relatos de resistência dos povos indígenas no


Brasil

Luiz Felipe Barboza Lacerda (Universidade Católica de Pernambuco e Observatório Nacional de Justiça
Socioambiental – OLMA, Brasil); Johny Giffoni (Defensoria Pública do Pará, Brasil); Aurilene da Silva
(Centro Alternativo de Cultura do Pará – CAC-PA, Brasil).

Através do relato de lutas e resistências de populações indígenas Maruanas, Kambebas e


Assurini o simpósio busca apontar e debater os desafios enfrentados pelas populações
indígenas na garantia de seus direitos frente aos processos de reconhecimento étnico,
regularização de terras tradicionais e consulta prévia, no tocante a relação com o estado
brasileiro. Os relatos demostram como, através das organizações indígenas, da representação
política, mas também da arte, da música e da poesia, desenvolvem-se estratégias de
enfrentamento e superação destas históricas problemáticas. Ampliando a interlocução e a
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possibilidade de compreender tais desafios e alternativas a partir de uma perspectiva ampla


e interdisciplinar, contaremos com análises colaborativas aos relatos indígenas dentro das
perspectivas do direito, da psicologia, do serviço social e das ciências sociais.

Festa da Carnaúba: valorização da cultura indígena em Caucaia-CE

Milena de Lima de Andrade

Esta apresentação faz parte do meu trabalho de conclusão do curso de Bacharelado em


Humanidades da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
(UNILAB), intitulado “Festa da Carnaúba: Valorização da Cultura Indígena em Caucaia-CE”.
Este trabalho surgiu inicialmente a partir do contato tido a com a Festa da Carnaúba, que
despertou meu interesse pela grandiosidade e visibilidade do evento, e em seguida com o
contato teórico acerca da questão indígena através de disciplinas cursadas ao longo do curso.
A elaboração deste trabalho tem como objetivo analisar os possíveis significados dessa festa,
quais os atores envolvidos, assim como contextualizá-la em um cenário mais amplo de
necessidade de afirmação da identidade e luta por direitos, principalmente o direito à terra,
em meio a conflitos de interesses de grupos a ela ligados. Os Tapeba são um grupo indígena
que habitam na região de Caucaia, região metropolitana de Fortaleza - CE. A questão indígena
é um tema cada vez mais recorrente no cenário nacional marcado pela mobilização de
diversos povos indígenas na luta pela efetivação dos direitos já garantidos em lei. Dentre esses
direitos, a demarcação e titulação da terra são os mais fundamentais e, ao mesmo tempo os
mais polêmicos. Com isso, intensificam-se os debates acerca da identidade e dos conflitos de
interesses antagônicos. De um lado, temos os povos indígenas reivindicando a posse da terra,
e de outro, os interesses de grupos econômicos envolvidos. Assim, sendo, a afirmação da
identidade se torna a principal ferramenta nessa luta pelos direitos, como está previsto na
constituição. Os povos Tapeba se inserem nesse contexto e vivenciam essa mesma
problemática. No caso, a luta pela titulação da terra tem esbarrado nos conflitos com os
posseiros, o que tem dificultado essa efetivação. Como forma de afirmação da identidade, e
preservação cultural, os Tapeba realizam anualmente a Festa da Carnaúba, que é um
momento de realização de práticas culturais e exibição de sua cultura como um todo. O
objetivo deste trabalho é analisar alguns significados dessa festa, quais são os atores
envolvidos assim como os interesses presentes nessa manifestação cultural. Desse modo, o
trabalho divide-se em dois capítulos, sendo o primeiro destinado a conceituação e análise da
cultura e identidade. E o segundo é dedicado à caracterização da comunidade indígena Tapeba

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de Caucaia e da Festa da Carnaúba. Para isso, a metodologia adotada perpassou a revisão


bibliográfica e o método etnográfico, com conversas realizadas com as lideranças e moradores
da comunidade indígena Tapeba durante dois eventos, a Festa de 2013 e a Festa de 2014. A
globalização, no sentido exposto por Giddens (1990), implica em um novo desafio para as
populações e povos tradicionais, isto porque, a cultura é algo vivo e em constante mudança e
adaptação assim como as identidades, com isso, o contato cada vez mais intensificado com
outros povos e culturas tendem a influenciar e a transformar as próprias culturas envolvidas
no processo. Portanto, manter viva as tradições e práticas culturais torna-se um modo de
resistir à tendência homogeneizante, cada vez mais presente em um contexto de capitalismo
global. Não diferentemente de outros povos indígenas, a comunidade indígena Tapeba
enfrenta essas mesmas problemáticas e dificuldades no sentido de manter seus costumes,
repassá-los às gerações presentes e ao mesmo tempo afirmar a sua identidade, e assim lutar
por seus direitos previstos na constituição. Com isso, a comunidade realiza anualmente a Festa
da Carnaúba, um momento em que se exercem diversas práticas culturais e se apresenta um
pouco da cultura Tapeba, com seus artesanatos, danças, seus modos de ser e vestir, práticas
da medicina tradicional, rituais sagrados, mas, sobretudo, essa festa implica na visibilidade
dos povos Tapeba diante da comunidade, como forma de afirmação da identidade, que é um
processo de mão dupla, em que não apenas me autoafirmo indígena, mas sou reconhecido
como tal pela comunidade no geral. Essa questão da identidade é crucial, já que, os indígenas
são, muitas vezes, representados através de estereótipos, como a figura que anda sem roupa
ou com “vestimentas tradicionais”, que usa diversos acessórios, que vive dentro do mato, sem
acesso a tecnologia, que vive em ocas, enfim, um ser primitivo. Isso faz com que tudo que fuja
a esse estereótipo não seja caracterizado como indígena, e, portanto, como possuidor de
direitos. Logo, para afirmar suas identidades, os Tapeba recorrem a práticas que representem
essa figura da qual como foi construída. É o exemplo da Festa da Carnaúba, em que os
indígenas se vestem dessa forma “tradicional”. Ao longo do trabalho, pude identificar diversos
interesses envolvidos nessa manifestação cultural, dentre eles, o já citado interesse em
valorizar, preservar e repassar as práticas culturais Tapeba. Mas também foi possível
identificar, seja nas falas das lideranças seja nas faixas ao longo do espaço em questão, o papel
importante desta festa na luta pela demarcação da terra, já que existem há bastante tempo
conflitos entre o povo Tapeba e posseiros locais por essa terra, o que tem dificultado o
processo de demarcação e titulação. Portanto, conclui-se que além de uma forma de
expressão cultural, a festa da Carnaúba, realizada pelos povos Tapeba é também uma forma
de resistência e luta política e social na garantia de seus direitos, e na afirmação de sua
identidade.

Paraíba Tabajara: processo de luta e resistência de um povo

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Glício Freire de Andrade Júnior

Lusival Antônio Barcellos

A representação do índio como ‘o outro’, ‘selvagem’, ‘exótico’ foi o meio retórico utilizado
para que ocorressem as mais grotescas formas de domínio, escravidão e extermínio em nossa
história com relação a esses povos. Sem dúvida, aspectos de sua cultura como costumes,
língua, culinária, crença, deixaram aí de ser reconhecidos. Pode-se afirmar inclusive, que no
decorrer desse tempo, colonizadores e muitos outros tentaram silenciar os povos indígenas,
negando-lhes sua história, suas práticas. Esse olhar acerca da cultura indígena continuou
existindo e ainda está presente na sociedade, principalmente através de manifestações de
preconceitos e discriminação. Em especial, aqui, analisaremos a situação dos povos Tabajara,
da Paraíba. Veremos que os indígenas Tabajara, na busca pela preservação de seus territórios
e traços étnicos, continuam enfrentando muitos conflitos. Um desses conflitos está no campo
da religiosidade. Neste sentido, busca-se perceber se a relação dos Tabajaras com a fé cristã
professada pelas igrejas pentecostais intervém na manutenção dos sinais diacríticos de sua
indianidade.

“Terra demarcada, vida garantida”: os desafios enfrentados pelo povo


indígena Tapeba no Ceará em seu processo de demarcação territorial

Thaynara Andressa Frota Araripe

Raquel Coelho de Freitas

Adrian Esteban Narváez Moncayo

Zayda Torres Lustosa Coelho

Dos 25 territórios indígenas existentes no Ceará, 24 continuam com seu processo de


demarcação territorial em análise. A mais antiga terra em processo de demarcação no Estado
é a do povo indígena Tapeba em Caucaia que já passou por três estudos de delimitação e
identificação pela Fundação Nacional do Índio. Os três relatórios foram questionados
judicialmente. As duas primeiras tentativas de demarcação foram anuladas pelo Superior
Tribunal de Justiça com o fundamento da não participação do município de Caucaia na
primeira fase do processo. Importa mencionar que, nessa fase inicial, a participação do ente

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federado, segundo o Decreto no. 1775/1996, não é uma exigência legal expressa. O processo
de demarcação atual teve relatório circunstanciado entregue à FUNAI e ao Ministério da
Justiça em 2013. A portaria de declaração dos limites da terra estava pendente desde 2016.
Em 04 de setembro 2017, foi publicada no Diário Oficial da União pelo ministro da Justiça e
Segurança Pública portaria declaratória da terra indígena Tapeba. O objetivo do trabalho,
portanto, é a análise dos três processos de demarcação dos Tapebas até a fase atual,
observando o modo como o Judiciário decide conflitos envolvendo direitos indígenas. Para
isso, será feita uma análise jurisprudencial associada a uma análise legislativa dos
instrumentos legais indigenistas no Brasil. Adiante, será realizada a análise bibliográfica de
obras nacionais e estrangeiras acerca dos conceitos que envolvem o tema como Território,
Auto- afirmação e a Hermenêutica diatópica, focando em suas repercussões jurídicas, por
meio da leitura de livros, revistas e publicações periódicas atinentes ao campo do Direito.
Conclui-se que enquanto os povos indígenas, de um lado, na luta por reconhecimento de suas
especificidades culturais, pressionam o Judiciário a construir uma nova concepção de justiça
que inclua identidades diferenciadas, de outro, os proprietários privados e até o próprio
Estado insistem em manter o modelo conservador de interpretação baseado no paradigma da
inferioridade. Vê-se, então, que o colonialismo, além de anos de exploração e silenciamento,
também deixa um legado epistemológico do eurocentrismo que segue a produzir e a
reproduzir definições jurídicas que subalternizam os povos indígenas.

“Quem somos nós, com flechas, para confrontar armas de fogo?”: uma
abordagem da perspectiva da etnogênese antropológica na efetivação do
direito do povo Gamela no estado do Maranhão

Glauce Cristina Viana Barbosa

O sistema social dos povos indígenas sofreu transformações em virtude da incidência de


institutos estranhos a eles dentro do seu espaço. Essas modificações foram ocorrendo de
maneira aparentemente sutil, porém, de forma muito pontual e com forte influência dentro
das sociedades indígenas afetando a religião, a concepção de trabalho e as relações sociais. O
processo de aculturação dos povos indígenas teve início no cerne de todo o sistema social,
que consiste na forma como o indígena administra a religião. Isso fez toda a diferença, pois a
partir do momento em que se mudava a ideia de religião dos colonizados todos os outros
setores da vida deles também eram afetados, já que a religião servia como base para a vida.
As aldeias indígenas, principalmente do Nordeste brasileiro, foram destruídas para que
ocorresse o processo de civilização contemporânea, consistindo em um processo de
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catequização e alfabetização. Os documentos gerados pelos governantes e missionários,


passaram a alegar que não havia mais índios nas aldeias. Esse acontecimento é em virtude do
processo de aculturação que foi perpassado ao longo do século XVI até o século XIX. Um dos
últimos pontos do processo de aculturação deste período foi a publicação da Lei de Terras em
1850, na qual os Gamelas perderam o único registro que lhe davam o direito de continuar nas
suas próprias terras, vivendo em sociedade e cultuando o que restavam de sua identidade.
Foram obrigados a se dissiparam para outras regiões do Maranhão de forma individualizada.
Atualmente os Gamelas estão se redescobrindo nos seus territórios que possuíam por direito
passando por um processo de redefinição do controle social sobre os recursos ambientais,
reelaboração da cultura e da relação com o passado. Diante disso, entra a analisa da
perspectiva da Etnogênese antropológica como um fundamento do resguardo as garantias e
do Povo Gamela no Estado do Maranhão, com o intuito de legitimar a identidade do povo
Gamela e consequentemente a aplicabilidade dos direitos que lhe são inerentes. A partir
disso, os pontos a serem debatidos de forma secundária ao longo do trabalho, envolve
pontuar o reflexo da aculturação dos povos indígenas brasileiros dentro da perspectiva
Etnogênese antropológica, trabalhando assim o processo aculturativo e a identidade dos
povos indígenas. Sendo necessário expor de forma construtiva quais são as garantias e direitos
dos povos indígenas nas legislações brasileiras e internacionais, para em seguida examinar
quais as repercussões jurídicas e sociais decorrentes da redefinição de identidade do povo
Gamela, detalhando a história do povo e mostrando a aplicabilidade da teoria Etnogênese
dentro da comunidade para efetivar os direitos. Esta é uma pesquisa que possui com uma
abordagem de triangulação de coleta de dados, com método exploratório e análise descritiva.
Com a motivação de que exista uma aplicabilidade dos direitos indígenas, tanto na esfera do
judiciário, quanto na esfera social da baixada maranhense. Além de que, a sociedade deve
possuir consciência do que está acontecendo com os povos marginalizados, pois não se trata
tão somente de uma luta de identidade, mas também de uma luta de minorias.

Sumaúma: raízes afro-indígenas do Brasil e educação para as relações étnico-


racial

Yashodhan CoMPaz
Yamoro CoMPaz
Yashodhara CoMPaz
Ayian CoMPaz
Odara do Black
Iasmim Alabe
Shati CoMPaz
Oranyiam CoMPaz
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As relações de luta e resistência dos povos indígenas e kilombolas é histórico no Brasil e no


mundo. Sumaúma, é uma árvore desde o tempo da pangeia presente nos dois continentes a
América Latina e África. Ao longo da história os sobreviventes dos dois povos continuam
(re)existindo e lutando por dignidade, reconhecimento de seus conhecimentos e culturas, de
sua espiritualidade. A proposta deste artigo é apresentar os caminhos percorridos por espaços
em que (re)existência e (re)exisistir constituem um jeito de ser e viver. O presente texto será
dividido em três momentos. No primeiro momento será apresentado registro da memória que
vem sendo reconstruída desde os tempos de Zumbi e Tupac Amarú, dois líderes que na
memória dos povos que sobreviveram ao massacre de seus ancestrais, por mais que
tentassem apagar a luta resiste e inspira. O segundo momento do texto é apresentado as
trilhas que conectam as lutas, que embora geograficamente distantes territorialmente, são
próximas nas demandas e reinvindicações pelo direito de existir com dignidade e respeito,
desde o Pará, no Norte, aos pampas do Rio Grande do Sul, Brasil. O terceiro e último momento
do texto apresenta uma breve síntese do encontro que ocorre já a quatro anos OKAN ILU:
tambor do coração que reúne indígenas e Kilombolas num grande círculo – ìpádè – na busca
de um diálogo que aponte estratégias de sobrevivência no mundo contemporâneo.

O que é ser indígena na universidade: como a comunidade acadêmica pode


contribuir para a inclusão desses povos?

Larissa Brenda Cordeiro de Souza

Esse simpósio tem por objetivo abordar e dar visibilidade a questão indígena, ações na
universidade, como foi o ingresso desses povos e as políticas que os amparam, relacionando
com o trabalho do assistente social com esses indivíduos. Mostrando também a importância
de um centro de convivência para essa população, a fim de não eliminar sua cultura e
tradições e melhorar seu desempenho acadêmico a partir de uma análise de realidade
concreta para um acompanhamento de qualidade possibilitando inclusão entre o estudante e
a vida acadêmica. O trabalho foi escrito em uma perspectiva do Serviço Social enquanto
estagiária do Centro de Convivência Multicultural dos Povos Indígenas da UnB em relação a
garantia dos direitos de assistência estudantil e também visibilidade da interculturalidade dos
povos indígenas. O simpósio visa problematizar a questão indígena dentro do Serviço Social,
as políticas de assistência estudantil para estudantes oriundos das comunidades indígenas e
também as influências da interculturalidade no espaço acadêmico. Por ser um tema
relativamente novo, a produção nessa área ainda é pouco, principalmente quando fazemos
recorte de assistência estudantil indígena. Esse trabalho se trata do estágio supervisionado

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em Serviço Social sendo supervisionado em campo pela assistente social Claudia Regina dos
Santos Renault e supervisão acadêmica de Karen Santana, que juntas desenvolvemos o
projeto de intervenção durante esse período.

Regularização fundiária de terras indígenas: uma análise dos casos Xákmok


Kásek vs. Paraguai e Povo Xucuru vs. Brasil

Josanne Cristina Ribeiro Ferreira Façanha

Maria Emília de Oliveira Assis

A regularização de terras indígenas sempre foi um tema de grande relevância e envolto de


notórias polêmicas. O processo regulatório dessa categoria de terras envolve em sua imensa
maioria de casos, conflitos entre os povos indígenas ocupantes daquelas terras e terceiros
interessados, seja também pela ocupação de boa-fé seja pelo interesse financeiro que essas
terras possuem. A questão, não raras vezes, chega às portas do Poder Judiciário, ao qual se
atribui a responsabilidade de determinar quem realmente possui o direito real sobre aquelas
propriedades. No entanto, quando esses casos atingem a instância máxima do Judiciário, é
possível observar que raramente se realiza o diálogo das fontes. O presente trabalho se
propõe a analisar se o Poder Judiciário brasileiro se preocupa em realizar tão somente o
controle de constitucionalidade, mas também o controle de convencionalidade, observando
a maneira como julga a Corte Interamericana de Direitos Humanos quando se trata de casos
que envolvam terras indígenas. O estudo se justifica pela relevância do tema para esses povos
quanto aos direitos humanos firmados pela Convenção Americana, utilizando-se para tanto
de uma pesquisa bibliográfica, descritiva e documental através do método exploratório e
dedutivo.

Por uma hermenêutica menor: fundamentos antropológicos para uma nova


interpretação do sistema jurídico

Rodrigo Arthuso Arantes Faria

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O artigo 231 da Constituição Federal, que instaurou na ordem vigente no Brasil o paradigma
da interculturalidade, mobilizou os povos indígenas a inscreverem um pequeno bulbo no
rizoma jurídico brasileiro. Apesar de seu fluxo normativo ter seu caminho bloqueado por uma
série de entidades que lhe são contrárias, certo é que tal dispositivo carrega consigo a chave
para uma enunciação coletiva dos direitos indígenas em sua acepção mais abrangente.
Através do conceito de rizoma de Deleuze e Guattari, e da cartografia por ele proposta
enquanto estratégias de interpretação do contexto político-institucional em que são travadas
as discussões jurídicas acerca dos direitos dos povos indígenas, em especial na esfera judicial,
é possível pensar em um método hermenêutico que, afastando-se de sua tradicional matriz
europeia, abra-se à radicalidade da alteridade indígena e dela incorpore conceitos
imprescindíveis à plena efetivação dos direitos indígenas, segundo eles próprios os concebem.
Hermenêutica subalterna, por certo, expressão da minoria indígena enquanto ente menor da
“comunhão nacional”, que leva em conta nos processos de construção interpretativa do
ordenamento jurídico a desterritorialização da norma, a ligação do individual com o imediato-
político e o “agenciamento coletivo de enunciação”. Tal hermenêutica afastaria, através da
jurisdição constitucional, o Juiz de seu solipsismo interpretativo, auto-referenciado e limitado
ao processo e à norma positivada, articulando-o junto à alteridade “com efeito infringente”
da agência indígena. Contra a “grande narrativa” do sistema jurídico, pois, uma hermenêutica
“menor”.

Poesia, música, identidade e resistência nas lutas indígenas do Brasil

Márcia Kambeba

Pertenço à etnia Omágua Kambeba. Nasci numa aldeia Tikuna, no Alto Solimões, no
Amazonas, onde minha avó era professora. Atualmente, moro no Pará. Faço poesias que falam
sobre a identidade dos povos indígenas. O meu trabalho é litero-musical. Faço composições
em tupi e em português. Escrevo poesias que trazem um olhar ambiental, geográfico, indígena
e cultural voltado para a valorização da cultura e da informação sobre os povos indígenas.
Como vivem, onde vivem, como estão? Através da poesia, temos a chance de conversar e
informar nosso leitor, não só o público adulto, mas também o infanto-juvenil. Aposto muito
na educação. Sou mestra em Geografia Cultural, a primeira do meu povo e pesquiso sobre
meu povo envolvendo Território e Identidade em um processo de ressignificação da etnia.
Escrevo poemas indígenas relacionados a vivência, território e identidade do povo indígena
Omágua/Kambeba e dos povos indígenas em geral, sou cantora, compositora. Eu moro na
cidade, então também escrevo sobre assuntos voltados para nós indígenas que vivemos na

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cidade e lutamos por nosso respeito e afirmação junto aos que vivem nas aldeias. Lutar com
poesia é meu lema!

Interpretação brasileira do artigo 6º da OIT: efeitos da consulta aos povos


indígenas e comunidades tribais

Rayanne de Sales Lima

A Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho – OIT é um dos principais


instrumentos que simbolizam a transposição do Estado Nacional de caráter hegemônico para
a configuração do pluralismo cultural e étnico. Ratificada pelo Brasil em 2004, por meio do
Decreto no 5.051, essa legislação inovou ao dar relevância e visibilidade aos povos indígenas
e comunidades tradicionais, e ao considerar a pluralidade de interesses na condução das
tomadas de decisões dos Estados (DUPRET, 2015, p.76). Com intuito de viabilizar a
autodeterminação dos povos, o art. 6o dessa Convenção estipulou que os governos devem
consultar, de forma livre, prévia e informada, os povos interessados sempre que forem
apresentados projetos legislativos ou executivos que os impactem, além da inclusão dessas
comunidades nos debates mais amplos da sociedade que de alguma forma se apliquem a eles.
A consulta é um elemento essencial para a efetivação das transformações sociais provenientes
da garantia de autonomia e participação dos povos indígenas e comunidades tribais nas
arenas decisórias, garantias essas determinadas pelo próprio Estado Democrático de Direito.
Esse instrumento estabelece que as partes dialoguem antes da tomada de decisão,
possibilitando a reconsideração do posicionamento inicial e a concepção do consenso em
relação as medidas debatidas. Entretanto, por ainda restarem presentes resquícios do Estado
Nacional hegemônico, em que o Estado é considerado o único ator legítimo para estabelecer
o interesse comum, as vontades de outros agentes apresentam-se como empecilhos a serem
transpostos na tomada de decisões. Em outro diapasão, existe o entendimento de que
determinados grupos dispõem de pleno poder de veto, mesmo em uma sociedade plural, em
razão do seu passado de invisibilidade. A título exemplificativo, em 2012, a OIT dirigiu uma
observação individual ao Brasil, criticando a forma como os povos indígenas foram
consultados no processo de licenciamento da UHE Belo Monte, por não ter sido garantido que
eles estabelecessem as suas prioridades, em desconformidade com a Convenção 169. No ano
seguinte, o Ministro do Supremo Tribunal Federal – STF, Roberto Barroso, no julgamento de
embargos no caso Raposa Serra do Sol, manifestou-se no sentido de que, apesar de ser
necessária a oitiva dos povos indígenas, não é possível que um determinado projeto só tenha
validade com o consentimento dos povos consultados. Contudo, assentado na Declaração das
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Nações Unidas sobre o Direito dos Povos Indígenas e nas decisões da Corte Interamericana de
Direitos Humanos – Corte IDH, vem crescendo o posicionamento de que o consentimento é
condição necessária para a tomada de decisão do Estado. Nesse contexto, observa-se um
cenário de indefinição quanto aos efeitos conferidos à consulta. O ponto 2 do art. 6o da
Convenção 169 estabelece que esse instrumento objetiva alcançar acordo e consentimento
em relação as medidas propostas, mas, não determina se o consentimento dos povos
consultados configura-se como requisito para a decisão estatal. A relevância da pesquisa
proposta consiste na tentativa de contribuir para melhor compreensão dos efeitos de um
instrumento que propõe viabilizar ao Estado Brasileiro a materializar o desenvolvimento
nacional, objetivo da República determinado no art. 3o da Constituição, levando em
consideração o reconhecimento aos povos indígenas e comunidades tribais do direito sobre a
sua organização, costumes, línguas e crenças, bem como sobre sua própria interpretação de
desenvolvimento.

Considerações acerca do engajamento de indígenas Terena na resistência à


emancipação da tutela nas décadas de 1970 e 1980

Victor Ferri Mauro

Esta comunicação visa analisar atos e discursos dos governos militares de Ernesto Geisel
(1974-1979) e de João Batista Figueiredo (1979-1985) na intenção de emancipar da tutela
prevista pela Lei 6.001/73 povos indígenas que consideravam “integrados à comunhão
nacional” e o engajamento de membros da etnia Terena na resistência a essas pretensões,
considerando que esse povo era citado por autoridades oficiais como exemplo emblemático
de capacidade civil plena. A proposta de emancipação sofreu uma forte reação do movimento
indígena, de entidades da sociedade civil e de outros aliados da causa, por se temer o risco de
os povos originários serem prejudicados, especialmente em seus direitos territoriais. Alguns
Terena também tiveram uma participação destacada na criação das primeiras associações de
representação indígena em nível nacional, parte deles sendo contratada posteriormente
como servidores da FUNAI. Devido à repercussão negativa na opinião pública, o projeto de
emancipação foi abandonado e, com a promulgação da Constituição de 1988, a tutela deixou
de ser interpretada com um sentido mais restritivo de liberdades individuais, permanecendo
como um instrumento importante de proteção legal adicional.

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Cartografia das (Re)existências: os conflitos socioambientais e a violação de


direitos dos povos indígenas da tríplice fronteira amazônica Brasil, Colômbia
e Peru

Pedro Rapozo

Reginaldo C. da Silva

Este estudo apresenta uma caracterização dos conflitos socioambientais reflexos dos
processos de territorialização dos bens de uso comum e as estratégias de resistências pelo
dos povos e comunidades rurais na microrregião do Alto Solimões no Estado do Amazonas,
localizados na tríplice fronteira Brasil, Colômbia e Peru. A investigação realizada apresenta
uma tipificação da violência produzida pelos conflitos socioambientais em face dos processos
de territorialização e exploração dos bens naturais de uso comum, estes resultantes das
relações de conflito estabelecidos entre agentes diversos: as sociedades rurais indígenas e
não- indígenas, representações institucionais do Estado, dos grandes capitais da região e
demais agentes externos. A perspectiva metodológica desenvolvida na investigação foi
baseada no uso da pesquisa qualitativa e quantitativa através da realização de pesquisa de
campo com a utilização de entrevistas semi-estruturadas com lideranças comunitárias e do
reconhecimento de seus saberes socioambientais representados na utilização das cartografias
sociais como instrumento metodológico que nos permitiu uma reflexão sobre a atuação crítica
de agentes mobilizados coletivamente em face do reconhecimento de seus modos de vida,
gestão de bens naturais de uso comum e garantia dos seus direitos territoriais. Os inúmeros
conflitos socioambientais na região tem impossibilitado a garantia dos direitos territoriais e
da gestão dos recursos naturais de que dispõem as sociedades rurais, marcadas pela violência
política dos atos de Estado, pela ilegalidade das atividades econômicas transfronteiriças,
impondo um cenário caracterizado pela contradição das políticas econômica
desenvolvimentistas, pela externalização dos fatores ambientais, e pela sujeição de grupos
sociais marginalizados social, econômica e geograficamente perante as transformações do
mundo contemporâneo. Ao mesmo tempo, o resultado destes conflitos tem reorientado as
possibilidades de uma discussão de cenários sobre políticas públicas ambientais e
planejamento institucional governamental quanto ao uso e gestão dos recursos naturais em
face das sociedades rurais locais que, ao enfrentarem as incertezas de uma ausência presente
do Estado, tem acionado os diversos mecanismos de resistência contra o avanço dos grandes
empreendimentos promovidos pelo capital na Amazônia marcados pela violência, conivência
e desrespeito ao uso tradicional das terras historicamente ocupadas pelos povos locais.

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Protagonismo indígena: o cacique Lázaro Gonzaga de Souza na retomada do


território Kiriri

Jardel Jesus Santos Rodrigues

O povo Kiriri está estabelecido na região nordeste do estado da Bahia, nos municípios de
Banzaê, Quijingue e Ribeira do Pombal, em um território com cerca de 12.320 hectares
correspondentes ao octógono regular que, partindo da igreja missionária de Nosso Senhor da
Ascensão, dirige-se para todos os pontos cardeais e colaterais, conforme o costume à época
(BANDEIRA, 1972). No período compreendido entre 1970 e 1999, os Kiriri confrontaram-se
com os posseiros que ocupavam diversos pontos da terra indígena e que, ademais, os
estigmatizavam e marginalizavam (BRASILEIRO, 1996; BRITO e DIAS, 2015). A eleição do jovem
líder Lázaro Gonzaga de Souza como cacique, além da instituição de um conselho formado por
um representante de cada um dos cinco núcleos que compõem a Terra Indígena, tinha como
objetivo imediato a formação de uma estrutura organizacional internamente coesa e
fortemente centralizada que, ao longo de uma muito expressiva mobilização coletiva,
culminasse no desalojamento dos regionais da Terra Indígena (BRASILEIRO; SAMPAIO, 2012).
Foi através dessa bem sucedida articulação que os Kiriri lograram destaque local, regional e
nacional e que, subsequentemente, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), em 1981, sob forte
pressão do coletivo mobilizado em termos étnicos e culturais, desencadeou o processo de
demarcação do território. O objetivo desta proposta de comunicação é buscar descrever, e
examinar, os significados dessa mobilização étnico-política para os Kiriri e para outros povos
indígenas do nordeste, notadamente para os Tuxá e Pankararé que atuaram como aliados
estratégicos no campo ritual e, reciprocamente, valeram-se do protagonismo étnico-político
Kiriri.

Índios do Direito: judicialização, etnicidade e desafios da luta indígena


institucionalizada no Ceará

Laís Almeida Rodrigues

Pensando os embates travados no âmbito da justiça e os poderes envolvidos na construção


argumentativa, o artigo proposto tem por objetivo indicar a judicialização, na forma de seu
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corpo processual, como um dos desafios enfrentados pelos povos indígenas na garantia de
seus direitos. Indo além da morosidade e das questões próprias do funcionamento dos órgãos
jurídicos, pretende-se apontar três elementos aqui entendidos como resistências promovidas
pelo mecanismo de judicialização. O primeiro deles é a escolha das categorias utilizadas pelos
operadores do Direito a fim de mobilizar – ou pôr em xeque – o reconhecimento étnico seja
de indivíduos, seja de todo um povo. Ou seja, compreender a curadoria de tais categorias
enquanto investimento em um imaginário representacional do índio. O Direito, portanto, via
elaboração de seus operadores, age em que direção na composição de estereótipos? Eis a
primeira frente de resistência enfrentada no contexto do corpo processual. A segunda diz
respeito às articulações das categorias anteriormente mencionadas na construção
argumentativa tanto das partes representadas, quanto da sentença. Por último, as disciplinas
e os saberes dos quais se lança mão, ou seja, em que (e se) se ancoram, além do Direito, as
categorias e os argumentos construídos ao longo dos processos. Em outras palavras, se o
entendimento jurídico lida com epistemes outras ou mesmo com a História e a Antropologia
e, em caso positivo, de que maneira é estabelecido esse diálogo. O artigo parte da análise de
processos judiciais que envolvem quatro etnias – Anacé, Jenipapo-Kanindé, Pitaguari e Tapeba
– cujas terras se situam em municípios da Região Metropolitana de Fortaleza e de dados
coletados e produzidos pelo Observatório dos Direitos Indígenas, projeto de pesquisa e
extensão vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisas Étnicas, da Universidade Federal do
Ceará.

O território etnoeducaional do Médio Xingu e a Hidrelétrica de Belo Monte:


coordenação e arranjos institucionais complexos na implementação da
política de educação escolar indígena

Carolina Bernardes Scheidecker

Esta comunicação analisa as relações de coordenação entre um conjunto de agentes públicos,


privados e da sociedade civil na implementação das políticas de educação escolar indígena na
região do Médio Xingu, estado do Pará. O lócus de implementação destas políticas é o
Território Etnoeducacional (TEE) do Médio Xingu, composto por 11 Terras Indígenas que, por
se localizarem na área de impacto socioambiental da Hidrelétrica de Belo Monte em
construção nos municípios de Vitória do Xingu e Altamira (PA), se tornam beneficiárias dos
projetos de compensação ambiental estabelecidos pelo Licenciamento Ambiental do
empreendimento, o Plano Básico Ambiental – Componente Indígena (PBA-CI). Através do
Programa de Educação Escolar Indígena do PBA-CI, o empreendedor é responsável por
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executar ações que objetivam o fortalecimento das políticas públicas pré-existentes na


temática. A sobreposição de três vetores de políticas públicas – educação escolar indígena,
infraestrutura e ambiental – agrega complexidade a implementação das políticas de
educação, pois seus resultados se tornam condicionados a ação coordenada entre as
instituições envolvidas e os beneficiários desta ação. Este estudo considera a política de
educação escolar indígena vinculada ao TEE do Médio Xingu uma política pública complexa
pois sua implementação pressupõe o envolvimento de diversos fatores: múltiplas camadas
federativas, múltiplos níveis hierárquicos, múltiplos vetores de políticas públicas, relações
assimétricas de poder em múltiplas organizações sendo elas, públicas ou privadas, e as
relações com a pluralidade de grupos e interesses da sociedade civil, no caso, os povos
indígenas. A partir do conceito de arranjos institucionais (Pires e Gomide, 2014; Lotta e
Favaretto, 2016) foram analisadas como as interações entre os agentes públicos – políticos e
burocratas, os agentes privados – empreendedor e empresas de consultoria – e a sociedade
civil – povos indígenas – estabeleceram regras, mecanismos e procedimentos que
caracterizam a implementação da política pública de educação escolar indígena, seus
problemas e resultados, entre as anos de 2011 e 2018. As relações de coordenação
observadas podem ser divididas em três dimensões: intersetorialidade; subsidiariedade;
territorialidade/participação pública. Por fim, observou-se que as interações apresentam alto
grau de conflito, dificultando a consolidação de mecanismos de coordenação. Entretanto, a
confluência entre as ações do TEE e do PBA-CI possibilitaram transformações positivas em
como os indígenas concebem os direitos educacionais e como os reivindicam, se
responsabilizando na construção de soluções práticas. O principal achado da pesquisa é que a
participação pública dos povos indígenas é o principal mecanismo de coordenação entre as
instituições.

Resistências para ser e existir indígena no Brasil

Carla Bethania Ferreira da Silva

Mas cadê o índio? Não existem mais índios no Marajó! Mas você se pinta! Como? No Marajó
não tem mais índios foram exterminados! Estas perguntas são persistentes. Trago comigo a
certeza do pertencer a um povo milenar! Contudo, a lógica do estado brasileiro não aceita,
não reconhece e não compreende isto. Historicamente a Ilha de Marajó se constituí em um
dos maiores polos de produção de carne bovina. Assim, a escravidão também se estabeleceu
com os primeiros possuidores da terra promovendo o primeiro aniquilamento indígena.
Numerosas tribos foram dizimadas em pouco tempo. Escasseando os índios houve a

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necessidade da introdução de negros diversificando, desta forma, as faces étnicas marajoara.


A miscigenação entre índios e negros confundem ainda mais os legisladores que não
conhecem a história e as comunidades. Por fim, com uma política demarcatória arbitrária, em
2001 é criada a Reserva Extrativista Marinha de Soure, a primeira reserva marinha criada no
Estado do Pará. A partir de sua criação, um novo processo de negação das identidades
indígenas que há séculos vive no local, desencadeou-se. Para o governo, ali todos são
pescadores ribeirinhos e extrativistas. Sem reconhecimento étnico, sem terras demarcadas,
sem políticas públicas começa nossa luta para Ser e Existir na Amazônia brasileira, terra, na
verdade, de onde nascemos e sempre estivemos.

Produção mineral e impactos sociais: o caso da comunidade indígena Xikrin


do Catete

Daniel Nogueira Silva

Jessica Costa de Sousa

Antônia Larissa Alves Oliveira

Rowan Lucas Veras de Souza

O grande dinamismo econômico, social, demográfico e político torna a mesorregião do sul e


sudeste paraense um espaço de suma importância no cenário estadual e nacional. Na região
estão instalados os maiores empreendimentos minerais do Estado do Pará gerando um
grande dinamismo econômico para o Estado. Apesar da importância econômica, o setor
mineral tem deixado muitos efeitos perversos na região (BECKER, 2005). Problemas
ambientais, crescimento desenfreado dos centros urbanos, pobreza, violência, conflitos
agrários são alguns dos muitos desafios que a região enfrenta (LOUREIRO, 2005). Nesse
trabalho, um olhar especial será dado nos impactos provocados na terra indígena Xikrin do
Catete. A Constituição Federal de 1988 trouxe em seu bojo importantes avanços jurídico-
legais em favor da causa indígena no Brasil. Contudo, ainda que de posse do artigo 231 que
garante a esses povos um conjunto de garantias, após 30 anos de promulgação da Carta
Cidadã, as populações originárias seguem afetadas e se mostram em situação de
vulnerabilidade, especialmente quando diante dos grandes projetos de colonização e
desenvolvimento que marcam a ocupação do território amazônico (COELHO, 2005). Sobre
este, a exploração mineraria vem desenhando e pautando a agenda política, econômica e
ambiental, desconsiderando os povos originários e populações tradicionais que secularmente
e mesmo milenarmente nele habitam (WANDERLEY, 2009). Para esse cenário de pressão
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socioambiental o caso da etnia Xikrin, e aqui em particular a Terra Indígena (TI) Xikrin do
Cateté, se destaca, pois apresenta em seu processo demarcatório os movimentos de
invisibilização dos desejos e dos direitos ao território Xikrin (RAUPP, 2011). Os impactos
impostos aos Xikrin pelos empreendimentos minerais implantados ao redor do seu território
são gigantescos. Esses empreendimentos minerais têm criado cenários de fragilidade
socioambiental para as populações e povos tradicionais que secularmente ocupam a região
sem que o devido tratamento seja dado à questão. Tais cenários vêm desenhando-se
exclusivamente como prejuízo para os Xikrin do Cateté, dado que estes, na maioria dos
empreendimentos acima descritos, para não dizer em sua quase totalidade, sequer
receberam atendimento integral das condicionantes que exigem mitigação dos impactos
ambientais impostos aos povos e comunidades tradicionais (RAUPP, 2011). Nesse sentido, o
objetivo desse trabalho é avaliar os principais impactos sociais e econômicos dos
empreendimentos desenvolvidos pela Companhia Vale sobre TI Xikrin do Catete e os
instrumentos de luta e resistência utilizados por esse povo.

Como o povo Pankararu lida com a não efetivação da desintrusão de seu


território tradicional

Douglas Gomes da Silva

A não regularização das terras indígenas no Brasil faz com que diversos povos indígenas não
tenham sua sobrevivência física, cultural, social e linguística garantida colocando em risco
esses povos que á 518 anos lutam por suas vidas e por respeito aos seus costumes tradicionais
que fazem parte da grande diversidade sociocultural brasileira. O território para os povos
indígenas se distancia do conceito capitalista de propriedade onde o lucro é o principal
objetivo da propriedade, sendo para esses povos o território a marca de sua ancestralidade,
identidade e cultura. A luta por estes territórios é marcada por seguidos conflitos por muitas
vezes violentos contra essas comunidades, onde o estado brasileiro que tem o dever de dirimir
os conflitos sociais atua de forma morosa na resolução destes conflitos. No Brasil existem
817,9 mil indígenas falantes de 274 línguas e agrupados em 305 etnias (IBGE, 2010) a terra
indígena Pankararu situa-se entre a Serra Grande e a Serra da Borborema, próxima às margens
do Rio São Francisco, no limites dos municípios de Petrolândia, Tacaratu e Jatobá (ATHIAS,
2002) no estado de Pernambuco á 459,4km da capital Recife. Atualmente cerca de 9.000
Pankararus moram divididos em duas terras indígenas a primeira T.I Pankararu homologada e
registrada no SPU (Secretaria de patrimônio da União) em 1987 e a segunda TI Entre Serras
Pankararu homologada e registrada no SPU em 2006 as duas terras são contínuas e localizadas
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entre os municípios anteriormente citados. O povo pankararu foi reunido onde se localiza
atualmente por padres de uma missão da ordem de são Felipe Néry onde fundaram o
aldeamento que ficou conhecido como Brejo dos padres. Em 1878 um ato imperial extinguiu
esse aldeamento (ARRUTI, 1996) o aldeamento posteriormente volta a ser reconhecido pelo
SPI (serviço de proteção ao índio) em meados de 1940. Após a extinção do aldeamento no
período imperial a área Pankararu foi sendo ocupada por não- índios fato gerador de conflitos
ate os dias atuais, as reivindicações pela retomada do território em sua integralidade é
registrada desde 1930 por documentos do SPI onde o povo Pankararu procurava o seu
reconhecimento étnico anteriormente negado pelo estado Brasileiro com o fim da missão
jesuíta e com isso poder recuperar seu território para que a sobrevivência povo Pankararu
fosse assegurada. Em 1987 a primeira TI do povo Pankararu foi reconhecida pelo estado
brasileiro demarcando seus limites territoriais que correspondem 8.376 ha, em 1988 com a
promulgação da constituição Federal, alguns direitos sobre povos indígenas foram garantidos
como o direito a sua organização social diferenciada, costumes, línguas, crenças e tradições
que o povo detenha além dos direitos territoriais descritos na carta magna. O legislador
constituinte resguardou estes direitos dos povos indígenas no Título VIII, Capítulo VIII da
Constituição federal fruto de muitas lutas de um movimento indígena articulado pela defesa
de seus territórios. O povo Pankararu com esse amparo jurídico desde então busca que suas
terras sejam totalmente ocupadas por indígenas e que detenham o usufruto exclusivo do
local. Os indígenas recorrem ao poder judiciário para que seja realizado o processo
desintrusão que é especificamente uma das fases da regularização de uma terra indígena onde
os moradores não indígenas são indenizados pelas benfeitorias de boa fé feitas na terra e
sendo comprovado que não possuem outras propriedades fora da área indígena são
reassentados pelo INCRA desocupando assim a área indígena. Os moradores não indígenas
recorrem contra esta desintrusão em um processo que se prolonga por mais de 30 anos,
ocasionando muitos conflitos entre índios e não índios dentro da terra indígena o poder
judiciário que deveria dar celeridade ao processo devido ao conflito social posto, atua de
forma pouco célere e como conseqüência disso os conflitos no local se acirram cada vez mais.
É preciso que entendamos as causas desta morosidade em decidir do poder judiciário,
analisando juridicamente o processo em questão suas nuances e todas as suas problemáticas.
E no campo prático entender como este povo indígena lida com a falta deste território
tradicional e suas estratégias políticas e jurídicas para que a retomada deste território seja
realizada. Este trabalho se mostra de fundamental importância para o povo devido á urgência
que a retomada da terra tem para o povo levando em conta sua sobrevivência tradicional,
física e cultural dentre outros aspectos e um relevante significado pessoal como indígena do
povo Pankararu em dar este retorno no âmbito acadêmico ao meu povo que sempre batalhou
por direitos e um deles o de que seus jovens estejam na universidade publica. Entendo que
este estudo sobre meu povo servirá de ferramenta para a comunidade continuar pleiteando
o seu território tradicional e trazendo visibilidade a esta questão no âmbito acadêmico.

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Mulher e lutas de classe - feminismo indígena na Amazônia

Thainá dos Reis de Souza

Antonio Janio Ferreira Soares Junior

Kássya Christinna Oliveira Rodrigues

A história do feminismo e da mulher contemporânea ocidental é marcada por diversas formas


de opressão causadas em grande parte pelo sistema em que estão inseridas e pela sociedade
que se debruça no patriarcado. Contudo, não se pode pensar o feminismo indígena da mesma
maneira, pois este contexto se configura de forma antagônica ao mundo contemporâneo
ocidental. Desse modo este estudo objetiva: identificar como se configura a luta feminista
indígena; problematizar sobre as semelhanças e diferenças do feminismo indígena e do
feminismo contemporâneo ocidental. Trata-se de um estudo bibliográfico qualitativo que tem
como metodologia a análise do contexto político-social para comparar as diversas atuações
de mulheres, bem como a sua visão antropológica de sociedade, através da pesquisa
bibliográfica foi feito um estado arte para a análise de textos que abordam a temática. Como
resultados da pesquisa, pode-se observar que o posicionamento político entre a mulher
contemporânea ocidental e a mulher indígena, se dá de diferentes formas na história da
humanidade, isso se dá pelo fato da mulher indígena estar inserida em muitos ritos e mitos,
momentos que a tornam protagonista em diversos contextos, como por exemplo, no ritual do
çapó da tribo indígena Sateré-Mawé em que a mulher indígena desempenha um papel
importante na execução do rito, assim Matos (2012) afirma que na história Tariana (grupo
linguístico Arawak) a mulher indígena tinha um posicionamento importantíssimo para a
constituição do povo; identificou-se ainda que em meados da década de 1970 e 1980 teve
início o movimento de mulheres indígenas no Brasil, esse, no entanto, possuiu objetivos que
em nada se assemelhavam aos das chamadas “sufragetes” que buscavam o direito de voto
nos continentes europeu e americano; identificou-se que as mulheres indígenas buscavam
maior participação nas lutas de classe – classe indigenista, não feminina – que eram geridas
por membros masculinos das comunidades como disposto nas reflexões de Matos (2012)
quando ressalta que no inicio das lutas lideradas pelos homens, as mulheres posicionavam-se
em segundo plano na execução dos feitos. Segundo Ruth Benedict citada por Laraia (2001)
escreveu em seu livro O crisântemo e a espada que os hábitos e costumes de um determinado
povo em que o indivíduo está inserido é diferente de outros povos e isso faz com que o modo
dele ver o mundo é diferente. Nesse viés, podemos afirmar que as mulheres não se sentem
apartadas das tomadas de decisões, pois veem o ambiente em que vivem através da lente de

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sua cultura, ou seja, como um espaço político em que ela tem o poder de externar as suas
opiniões.

Crun Shurin. Una experiencia de recuperación Brörán, en el sur de Costa Rica

Víctor Madrigal Sánchez

La ponencia busca presentar la situación territorial de los pueblos indígenas en Costa Rica, en
particular se enfoca en el sur del país, en el pueblo Brörán, del territorio indígena de Térraba.
La presentación de la experiencia Brörán muestra el conflicto en progreso, sus causas, actores,
escenarios y tendencias, vivido por un pequeño, pero representativo grupo de 17 familias
indígenas que han recuperado un espacio de 1000 hectáreas usurpadas en las tres últimas
décadas. La ponencia analiza un evento histórico como es la recuperación territorial de hecho,
por un grupo de familias, dentro de un contexto amplio de pérdidas progresivas del territorio,
iniciado en el periodo de conquista y colonización del siglo 16 en adelante. Lo novedoso no
son las pérdidas, sino la recuperación del territorio y el proceso que las promueve. Sobre la
metodología seguida para obtener la información, se han realizado entrevistas en profundidad
a líderes de la recuperación, a miembros del consejo de mayores Brörán, que respaldan la
acción; así como del Frente Nacional de Pueblos Indígenas (FRENAPI), que impulsan el proceso
de afirmación territorial autónomo (PATA). CRUN SURIN es una experiencia ejemplar de
resistencia descolonizadora contra un estado racista y oligárquico.

Direito ao território sagrado e o caso da aldeia multiétnica Uyka Kwara

Kwarahý Tembé

Historicamente os povos indígenas tem sofrido extinção pela aglutinação sociocultural não-
indígena com esquecimento cultural das origens. Tem-se desenvolvido nas crianças indígenas
nascidas na cidade o sentimento de vergonha em se identificarem como indígenas. Eles não
têm o reconhecimento dos indígenas que vivem nas aldeias. Sofrem também exclusão na
cidade, pelo processo social classificatório e excludente já instituído pelos não-indígenas. A
proposta ALDEIA MULTIÉTNICA UYKA KWARA é trabalhar o resgate da tradicionalidade
indígena dentro do contexto urbano. A Aldeia tem caráter organizacional filantrópico com
finalidade e objeto social de resgate da ancestralidade e do pertencimento, o que
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fundamentará o resgate das práticas culturais. Este projeto combate o desaparecimento de


práticas antigas que pelo avançar das cidades para perto das aldeias, costumes são absorvidos
comprometendo as práticas tradicionais. A cidade Belém bem como todas as outras nestas
terras também foi construída sob terras indígenas com destruição das suas referenciais como
os cemitérios e aldeias, deixando como referência e memória histórica apenas os nomes das
ruas que homenageiam a destruição de tais povos. Nossa resistência parte do direito à terra
e nela o resgate da ancestralidade e do bem viver que promova inclusão social, cultural e
econômica, principalmente para os indígenas em situação urbana.

ST 11 | Direitos indígenas, pós-modernidade e epistemologias decoloniais

Luiz Fernando de Oliveira (Universidade Federal de Goiás – UFG, Brasil); Eva Cristina Franco Rosa dos
Santos (Universidad do Museo Social Argentino, Argentina).

Diante da visão opressora acerca do outro legada pelo séc. XX e suas guerras neocolonialistas, como
as famosas I e II Guerras Mundiais, as quais ocorreram em contextos de uso da violência contra os
povos considerados inferiores por potências europeias, surgiram teorias do conhecimento que
buscaram dirimir as visões dos povos nativos baseadas na hierarquia classificatória pautada no
eurocentrismo. Ao final do séc. XX populariza-se o paradigma pós-moderno, com base no esgotamento
das teorias materialistas de grande vulto nos anos 1970, que apesar de grande valia para as teorias
contra a opressão social, não permitiam um recorte mais focado no estudo das diferenças culturais.
Surge então uma forma de pensar o moderno vinculada à decadência das grandes narrativas
generalistas, o assim chamado pós-moderno abre-se para a pluralidade, a ausência de narrativas
globalizantes. O indígena, então, passou a figurar não apenas como local de estudos acerca do social,
mas também como fonte de saberes, as narrativas plurais promoveram o surgimento de espaços
epistemológicos para abrigar essa alteridade, bem como o surgimento de dispositivos jurídicos
inseridos em diversas cartas constitucionais, resultando, posteriormente, no início do séc. XXI, em
políticas públicas de inclusão. O presente simpósio visa, portanto, fortalecer o argumento da
pluralidade, abrigando comunicações que tenham por base as epistemologias não vinculadas às
violências neocoloniais, contribuindo para a ampliação dos direitos indígenas. Busca-se com esse
simpósio, desta feita, abrigar comunicações que abordem a questão dos direitos indígenas, sua base
teórica, suas aplicações práticas sejam em termos de pesquisa ou em termos de atuação tanto estatal

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quanto da sociedade civil. Serão aceitas comunicações baseadas em quaisquer recortes temporais e
espaciais, o simpósio está pautado ainda na interdisciplinariedade.

A construção de saberes sobre direitos indígenas e a importância dos


referenciais de-coloniais

Priscila de Aguiar

Rodrigo Mariano

Evanise Kei Claudino

Renata Blini Strasser

Os povos indígenas desde o período colonizador resistem frente às violências materiais e


simbólicas que sofrem de maneira direta ou via omissão do Estado. No período de
redemocratização do Brasil, com a conquista da Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988, parte das demandas dos povos indígenas foram recepcionadas frente aos Art. 231o
e 232o da CF e seus incisos. Conquista-se o entendimento por parte do Estado Brasileiro
desses povos como cidadãos de direito, de acordo com suas demandas, pressionando o Estado
à discussões e implementações de políticas públicas voltadas às pautas elencadas pelos
mesmos. Neste contexto, através de pressões sociais e forte atuação do movimento indígena
dá-se a construção do Sistema Único de Saúde (SUS) que tem como princípios doutrinários a
universalidade, equidade e integralidade e a saúde passa a ser um direito de todos e um dever
do Estado, entendida em sentido amplo, que segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)
“é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença
ou enfermidade”. Apesar de terem seus direitos garantidos na CF (88) e em outros dispositivos
legais como na Convenção 169 da OIT da qual o Brasil é signatário, os povos indígenas
continuam sofrendo inúmeras violações de Direitos Humanos, e tanto os regimes políticos
ditatoriais quanto os que se propõe democráticos não contemplam as maneiras de ser e estar
desses povos, uma vez que não lhes garante de fato nem mesmo seus territórios, que é um
pressuposto para a garantia de quaisquer outros direitos. No contexto do neocolonialismo
que impera sob o paradigma hegemônico do capitalismo colonial global, protagonizam lutas
em diversos campos em disputa sob diferentes estratégias, dentre estes o das ciências não
indígenas. O objetivo do presente artigo é discutir acerca da importância de gestores,
pesquisadores, educadores, demais profissionais e quaisquer outros sujeitos que atuem nas
áreas da saúde, educação, direito e demais áreas do conhecimento reconhecerem os etno
direitos conquistados pelos povos indígenas e sua relevância para além dos limites dos
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referenciais da ciência catedrática hegemônica e do caráter jurídico normativo que


comumente se dá de maneira descontextualizada dos processos históricos de lutas e disputas
que levaram às suas conquistas, mas sim refletirem a respeito destes sob o viés dos
referenciais De-coloniais. É imprescindível que se respeite as especificidades de diferentes
povos indígenas, nas suas diferentes maneiras de ser e estar, através de diálogos interculturais
para que de fato possa se construir saberes diversos e políticas de cidadania pluriculturais que
os contemple, principalmente em tempos de judicialização da vida e com o neo-facismo em
curso.

Princípio constitucional da ecodignidade pluralista: breve introdução aos


caracteres do processo de etnodemocratização

Antonio Armando Ulian do Lago Albuquerque

A comunicação estabelece uma abordagem bibliográfica de orientação dedutiva dialogando,


implicitamente, com as teorias democráticas latino-americanas por constituírem um campo
teórico discursivo que leva a sério a diversidade cultural e a participação política índia. A
delimitação da teoria de fundo priorizou os conceitos de hegemonia de Laclau e Mouffe
(1987), multiculturalismo crítico de Mclaren (1997), perspectivismo ameríndio de Viveiros de
Castro (1996, 2018) por considera-los aptos a articular a formulação de caracteres que contra-
hegemonizam a interpretação homogênea não índia. As categorias de análise (caracteres do
processo de etnodemocratização pluralista) elaboradas a partir da cosmogonia indianista
favorece a apreensão da compreensão contra-hegemônica tanto no âmbito epistemológico
como instrumentais-meios, por exemplo, o princípio da ecodignidade pluralista, o orçamento
participativo intercultural; os mecanismos representativos-participativos interétnicos, o
pluralismo etnojurídico e a gestão compartilhada pluricultural. São esses caracteres
apresentados brevemente para a formação de agenda de pesquisa e variáveis de análise a
eles associados que favoreçam avaliar os limites e as possibilidades do processo de
etnodemocratização pluralista que, em hipótese, está em curso no País.

A interculturalidade como possibilidade para a efetivação da garantia à


territorialidade aos povos indígenas no Sistema Interamericano de Direitos
Humanos

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Raysa Antônia Alves Alves

Bruna Marques da Silva

No intento de garantir o direito à propriedade aos indígenas, o Sistema Interamericano de


Direitos Humanos (SIDH) tem reconhecido, como bem jurídico protegido, a propriedade
comunal destes povos sobre os territórios de ocupação tradicional. Entretanto, esta
construção jurídico-argumentativa relativa à propriedade comunal demonstra insuficiências
quanto aos desdobramentos que a garantia da propriedade, nestes casos, implica. Isso porque
o território, para os povos indígenas, é dotado de um significado que vai muito além do
conceito estendido à propriedade privada pelos padrões hegemônicos da cultura ocidental,
pois traduz uma relação típica de vida, materializada através da relação de pertença pautada
na convivência com suas ancestralidades, na conservação e exercício de suas cosmovisões,
bem como na consagração identitária destes grupos. A problemática que permeia a
consagração de direitos humanos fundamentais pode ser refletida à luz da fundamentação
filosófica que embasa e circunscreve a materialização destes direitos. O estudo sistematizado
das normas protetivas de proteção dos direitos humanos dos povos indígenas no SIDH
realizado pelos desperta a necessidade de avaliar se a construção jurisprudencial da Corte
Interamericana de Direitos Humanos foi afetada pelas limitações da fundamentação
hegemônica eurocêntrica dos direitos humanos, no que tange a capacidade da construção
argumentativa da Corte ter sido capaz de expressar um entendimento que proteja da maneira
mais efetiva a relação entre os povos indígenas e seus territórios, a qual ultrapassa os limites
do conceito de propriedade desenvolvido pelas sociedades europeias, sob o marco das teorias
liberais. Nesta linha, a fundamentação convencional dos direitos humanos, pautada no
discurso racional-individualista, encontra-se atrelada a concepções hegemônicas ocidentais
que (de)limitam tanto a ideia de humano e de sujeito de direitos, quanto à própria noção e
extensão de conceitos jurídicos-normativos, como o da propriedade. Assim, a partir dos
pressupostos relacionados à matriz teórica descolonial de conhecimento, a interculturalidade
configura-se como uma filosofia crítico-cultural, que se apresenta tanto como um elemento
necessário para estabelecer um discurso de direitos humanos a partir das realidades plurais
latino-americanas, como para estabelecer um diálogo equitativo entre as diferentes culturas,
sem estabelecer o predomínio de uma sobre a outra. Diante disso, o principal problema desta
pesquisa consiste em analisar em que medida a interculturalidade pode ser tida como uma
possibilidade de efetivação do direito à territorialidade em substituição a atual noção de
propriedade comunal. O problema parte da hipótese de que se a interculturalidade é capaz
de propiciar o diálogo intercultural, desmantelando a lógica-colonial moderna que é
estabelecida não apenas em nível político (poder), mas também epistêmico (saber) e
ontológico (ser), então é possível considerar a interculturalidade como um elemento
substancial à consagração da territorialidade. Esta análise será realizada a partir do método

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hipotético dedutivo, meio de investigação bibliográfica e documental, que englobe a revisão


da literatura nacional e internacional, com foco nas investigações latino-americanas acerca
dos direitos humanos e das transformações de seu discurso a partir da perspectiva
intercultural.

Pueblos indígenas, DD.HH. y Estado

Diana Alzogaray
Florencia Maciel

Durante el siglo XVI comienza el proceso del periodo colonial con la invasión de los españoles
a las tierras de américa. Con la mal llamada conquista del desierto, los pueblos indígenas
latinoamericanos, los/as indígenas sufren de un violento genocidio que busca su exterminio,
desaparecer sus vivencias, su cultura y su identidad A partir de finales del siglo XVIII, comienza
un proceso de construcción de los Estado Nación en la sociedad contemporánea
latinoamericana que tiende a la unificación y la homogeneización de los distintos conjuntos
humanos y sus respectivos sistemas y relaciones culturales, que responden a una lógica liberal
propia de los países del primer mundo de Europa Occidental. Toda lectura biologicista por
parte de los sectores dominantes, deja de lado lo que es la historia y la cultura como sistema
de relaciones que hacen a la conformación de estos pueblos Los pueblos indígenas deben ser
comprendidos desde la particularidad. No existe una determinada y una única cultura de los
pueblos indígenas. Más bien, estos pueblos se caracterizan por la diversidad de sus culturas,
es decir, de la diferencia que hay entre sus valores, creencias y tradiciones. El reconocimiento
de la existencia de los distintos grupos étnicos y culturales es fundamental, creemos, en la
conformación de nuevos Estados Plurinacionales para ejercer el derecho a la identidad y el
derecho a la cultura de las distintas comunidades indígenas. Los pueblos indígenas como
organización colectiva se han convertido en un nuevo movimiento social y político que
demanda a los sectores hegemónicos el derecho a la autonomía y a su autodeterminación.
No significa, la creación de un nuevo gobierno que pertenezca a los pueblos indígenas
independiente de un Estado Nación, sino más bien, de generar lugares de encuentro entre los
diversos grupos étnicos por un lado, y los sectores nacionales, por otro; que establezcan la
creación de un gobierno multicultural.

Representação e auto-representação indígena na literatura brasileira

Tiago Hermano Breunig

Silvely Brandes

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Retomar criticamente o importante problema da identidade, considerada de diferentes


maneiras em diferentes momentos da organização social do Brasil, requer perguntar qual o
sentido de uma identidade que se quer nacional. E, diante do problema a que nos propomos
aqui, qual a função da (auto)representação indígena como elemento constitutivo da
construção da identidade nacional. A questão é, evidentemente, política, e corresponde aos
interesses dos grupos sociais na sua relação com o Estado. Como analisar, sob essa
perspectiva, as diferentes representações indígenas na literatura brasileira em diferentes
momentos? O que elas representam? E o que a auto-representação indígena significa nesse
contexto? Para tanto, propomos analisar a (auto)representação indígena na literatura
brasileira, desde o Neoclassicismo brasileiro, com o surgimento do nativismo, o Romantismo,
com o indianismo idealizante e europeizante, e o Modernismo, com a reconfiguração das
representações estereotipadas. Com a problematização da construção da identidade nacional
e das teorias raciais dos intelectuais tradicionais brasileiros, o Modernismo representa, assim,
um momento de ruptura, tal como a auto- representação que caracteriza, atualmente, a
literatura indígena no Brasil. Nesse aspecto, importa constatar que o fim do Romantismo
assinala o surgimento dos precursores de uma sociologia interessada no “caráter nacional”
explicado a partir de conceitos como meio e raça, em que o evolucionismo justifica a
inferiorização dos povos nativos em contraste com as sociedades ocidentais, colonizadoras,
reproduzindo, aqui, as representações indígenas da literatura de informação ou dos cronistas
do descobrimento. Assim, enquanto Couto Magalhães, ainda nos anos 1870, aparece como
um dos primeiros teorizadores da mestiçagem indígena, Gilberto Freyre, nos anos 1930,
representa a continuação dessa tradição, com o conceito de miscigenação deslocado para o
culturalismo. O mito das três raças, em que os elementos índio, negro e branco operam, desde
a obra de Gilberto Freyre, como pluralidade étnica, cultural e física, encobre, assim, uma
ideologia de harmonia, apagando os conflitos da sociedade sob o signo da unidade nacional.
Portanto, a construção da identidade implica, como sugere Renato Ortiz, a mediação, de modo
que devemos nos perguntar quem são os intelectuais, a que grupos e a que interesses servem
na construção da identidade nacional. Por outro lado, e em contraposição aos discursos
"integrantes da tentativa europeia geral de dominar povos e terras distantes", relacionados
com as maneiras de representar os povos “primitivos”, como constata Edward Said (2011, p.
9) ao analisar as relações entre a cultura e o imperialismo, a literatura indígena
contemporânea se insere nos movimentos de minorias historicamente marginalizadas,
enquanto reafirmação como grupo social. Ao questionar a construção da identidade nacional
brasileira e mesmo a concepção ocidental de identidade, a literatura indígena oferece uma
perspectiva decolonial do conhecimento, divisando novas narrativas a partir de
epistemologias do Sul e para o Sul, como sugeriria Boaventura de Sousa Santos (2011). Assim,
a literatura, usada por colonizadores e colonizados, compreende um importante recurso,
narrativo e representacional, na luta por novas narrativas de igualdade e solidariedade,

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contribuindo, como nota Said, para combater a sujeição. Eis a relação da literatura indígena
contemporânea, ao assumir o protagonismo, seja na literatura, seja na sociedade, com as
vozes recentemente assumidas "pedindo ouvidos para as suas narrativas" mencionadas por
Said (2011, p. 22).

Estudo comparado de jurisprudências em conflitos entre povos indígenas e


empreendimentos econômicos: dos conflitos com a Vale S/A no Maranhão às
decisões no Sistema Interamericano de Direitos Humanos

Ruan Didier Bruzaca

Não é exclusividade da realidade brasileira os conflitos envolvendo violação de direitos de


povos indígenas provocados por grandes empreendimentos econômicos. Assim como no
Brasil, outros países latino-americanos considerados do “Terceiro mundo”, “em
desenvolvimento” ou “em vias de desenvolvimento” enfrentam tais situações que, não raro,
também são levados a debate para o palco jurídico. A problemática a ser enfrentada na
presente produção científica diz respeito à presença nas decisões judiciais da
(des)consideração das formas de vida de povos indígenas na prática jurídica. Entende-se que,
quando o judiciário replica uma prática jurídica que considera comunidades indígenas tal quais
abstrações na forma jurídica moderna, distancia-se de suas formas de vida. Com isso, tem
como objetivo realizar um estudo comparado entre a jurisprudência brasileira e a da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos no que diz respeito à consideração das formas de vida
de povos indígenas na prática jurídica. Assim, será possível verificar a existência de práticas
no âmbito internacional que possam servir à técnica jurídica brasileira. Como objetivos
específicos, será destacada a situação dos direitos de povos indígenas no contexto de
desenvolvimento brasileiro e latino-americano. Ademais, tendo em vista o cenário conflituoso
entre povos indígenas e a empresa Vale S/A, reflexo daquele contexto de desenvolvimento,
serão analisadas decisões em ações que os envolvem, bem como decisões no âmbito do
Sistema Interamericano de Direitos Humanos que se assemelham àqueles casos. Quanto à
metodologia, realizou-se levantamento dos casos na Justiça Federal no Maranhão que
envolvessem povos indígenas e a empresa Vale S/A, além de levantamento no sítio eletrônico
da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. O referencial teórico utilizado parte de
produções a respeito do desenvolvimento em países considerados “em desenvolvimento”,
entendendo-o como discurso, a exemplo de Escobar (2007) e Esteva (2007); debates a
respeito de antropologia e direito, com contribuições da perspectiva ameríndia em Castro
(2008, 2015), da hermenêutica cultural em Geertz (1997) e do ofício do juiz antropólogo em
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Ruggiu (2012); por fim, autores que tratam em específico dos direitos de povos indígenas no
âmbito nacional e internacional, como Moreira (2017), Anaya (2004) e Wolfrum (1999).

O epistemicídio indígena: a arquitetura do ataque europeu aos saberes


indígenas

Paula Roberta Taveira Camargo

Esta comunicação tem por foco perscrutar a arquitetura do ataque às epistemologias


indígenas. Desde o século XV a América vem sendo fortemente escravizada intelectualmente
pela Europa, pois desde então a imposição do pensamento europeu está enraizada em toda a
sociedade Latina, e ainda que atualmente essa escravidão esteja mais velada, ela ainda existe
e provocou inúmeros prejuízos aos povos que aqui habitam. A visão ocidental ganhou uma
superioridade altamente relevante para os moldes do século XV, pois lidavam com povos de
experiências sócio históricas totalmente diferentes das visões dos europeus, logo se
estabeleceu uma relação com os ditos não ocidentais, definida pela opressão dos atributos
humanos através da escravidão, o imperialismo, o colonialismo, o apartheid e o atual
neocolonialismo. A história do Brasil assim como de diversos outros países latinos, tem seu
prelúdio marcado pela existência dos índios, que já habitavam essas terras e utilizavam dos
recursos naturais como meio de sobrevivência. Contudo, com a chegada dos europeus esses
povos nativos sofreram diversas formas de ataque, ocorrendo séries de genocídios em todo o
continente. Entretanto essa não foi a mais grave violência contra os povos ameríndios, pois
segundo Lino Neves (2008), a maior agressão se deu pela imposição do pensamento europeu,
que resultou em um grave epistemicídio gerando uma excessiva perda de conhecimento e
tradições e promulgando o mito da superioridade epistemológica do pensamento europeu.
Por muito tempo, ainda era muito vivo esse pensamento europeu de superioridade como
também, e muito mais prejudicial para o continente, a crença na inutilidade dos saberes
indígenas, que se diferenciam entre as diversas tribos espalhadas por toda a América Latina.
Assim, cabe destacar nesse interim que a ideia de saberes indígenas possui força capaz de
influenciar o futuro do mundo para além da atual visão de mundo europeu que de maneira
utópica apresenta-se como a única visão capaz de gerar universalidade, entendimento esse
de Morgan Ndlovu (2017). Grosfoguel (2007) faz um importante apontamento quando diz que
o advento da modernidade ocidentalista gerou uma certa descrença no Ocidente, pois
perceberam que os povos não ocidentais possuíam uma essência humana diferente, e isto se
deu através de diversos fatores, como a experiência sócio histórica que para aqueles povos se
deu de forma diversa, mas, no primeiro momento, essa distinção teve por base as diferenças
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físicas. De modo que o racismo, por exemplo, tornou-se um referencial de cultura ligada
diretamente a cor da pele e formou-se como um princípio essencial de opressão colonial e da
dominação. Atualmente a sociedade vem compreendendo que esse pensamento
epistemológico europeu aplicado em sua integralidade, não bem se adaptou à realidade
latino-americana, já que o resultado de séculos dessa implementação do eurocentrismo
trouxe vários prejuízos que estão cada vez mais difíceis de serem sanados, como por exemplo:
as mudanças climáticas, os conflitos globais e as crises econômica e financeira. Entretanto
ainda percebe-se uma grande corrente, que se funda nos conceitos europeus e esboça uma
tentativa de suprimir a ideia de conhecimentos indígenas por todos os meios possíveis, o que
por sua vez acaba por conceber e propagar de forma distorcida os conhecimentos indígenas
pelos mesmos modos ocidentais tidos como supremos, de conhecer, ver e imaginar o mundo
de modo a traduzir os saberes primitivos como uma fantasia irrelevante para a imaginação do
futuro.

Povos indígenas e direitos humanos: luta por reconhecimento

Celiane Borges Cavalcante

Rosani Moreira Leitão

Roberta Caiado de Castro Oliveir

Fernando Antonio de Carvalho Dantas

Quando se fala em proteção aos direitos humanos infere-se, imediatamente, a existência de


um Estado que os assegure e de normas jurídicas que o obrigue a respeitá-los, entretanto, é
geralmente o próprio Estado, sob o amparo da lei, quem viola os direitos dos povos indígenas,
negando-lhes os seus direitos à terra, à cosmovisão e reprodução cultural e, portanto,
negando o direito à dignidade. Considerando que dentre os direitos indígenas estão os direitos
fundamentais constitucionalmente positivados e que estes direitos são normas especiais por
transformarem os conceitos de dignidade, liberdade e igualdade em ações efetivas do Estado
e, sobretudo, pela finalidade destes direitos em dignificar os indígenas em suas
particularidades, respeitando sua humanidade, garantindo sua liberdade e igualdade de
direitos dentro de suas especificidades frente à sociedade brasileira, buscaremos no presente
artigo fazer um levantamento da normatização dos direitos dos povos indígenas no
ordenamento jurídico brasileiro e no plano internacional, bem como analisar a (in)efetividade
desta positivação para assegurar igual dignidade aos povos indígenas e se é possível alcançar
tal efetividade a partir da reconstrução de valores e de novas sensibilidades, da rejeição de

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práticas discriminatórias e da adoção de práticas interculturais, que primem pela tomada de


decisões coletivamente, mediante a ação participativa e democrática, numa relação
horizontal entre as diferentes culturas, cujos principais agentes sejam os próprios povos
indígenas.

Teoria Crítica dos Direitos Humanos enquanto ferramenta decolonial do


direito dos povos indígenas

Valéria Damasceno Coelho

O padrão de poder mundial consolidado a partir da alteridade estabelecida com a América,


do qual se originou o eurocentrismo enquanto pensamento baseado na hierarquização racial,
deu origem a identidades sociais historicamente novas, que afetaram demasiadamente a
forma de ser, pensar e existir (QUIJANO, 2000). De fato, o modo de viver e de se relacionar
com o mundo dessas novas identidades, nas quais se incluem os índios, foi atravessado por
uma linha abissal que reservou para esses povos o lugar do místico e do folclórico, desprovido
de racionalidade (SANTOS, 2007). Diante da realidade presente, que reflete o passado
colonial, é necessário que a resistência associe uma série de táticas e estratégias que resultem
em uma luta integrada, com o objetivo de desmascarar a herança colonial e racista e construir
uma nova forma de pensar o mundo. Diante disso, a universidade deve assumir a
responsabilidade de construir um pensamento crítico que fortaleça esse movimento. Os
cursos de direito, por sua vez, precisam identificar a herança colonial e eurocêntrica que
permeia a legislação e resgatar a potência das palavras, tendo em vista o que assinala Herrera
Flores: “a força de nomear as coisas de outra forma pode modificar a maneira de vê-las” (2009,
p. 56). Os direitos humanos, nesse sentido, constituem uma categoria forjada dentro do
eurocentrismo e que, por isso, refletem as características básicas que constituem esse padrão
de pensamento: a homogeneidade, a exemplo da identificação das inúmeras comunidades
heterogêneas e distintas sobre o signo homogêneo e desestabilizador de identidade “índio”;
a abstração, que permite o distanciamento do direito das suas raízes socialmente conflitivas;
e a universalidade, que impõe a linearidade da história e torna o que está à margem invisível.
Uma concepção crítica e integradora dos direitos humanos considera-os como o processo de
luta dos povos em busca do acesso aos bens capazes de propiciar uma vida digna, que deve
ser entendida não apenas sob o aspecto material, mas também que considere a dimensão
imaterial que permeia o ser/existir (FLORES, 2009). Acredita- se que modificar as bases
teóricas é capaz de pressionar a revisão das fontes jurídicas, que no judiciário brasileiro ainda
podem ser consideradas como bases formais e legalistas, para que passem a considerar cada
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vez mais a voz da própria comunidade, em um exercício decolonial e emancipatório, a


exemplo da adoção dos Protocolos de Consulta Prévia elaborados por diversas comunidades
indígenas brasileiras. Num contexto em que se fazem necessárias táticas e estratégias, o
fortalecimento de uma teoria crítica comprometida com as lutas sociais é uma importante
ferramenta para a mudança da dura realidade que violenta, física e espiritualmente, os povos
indígenas.

Educação Superior Indígena na Universidade Federal do Oeste do Pará


(Ufopa): um olhar pedagógico pós-colonial a partir das perspectivas inter e
multicultural

Terezinha do Socorro Lira Pereira

Tania Suely Azevedo Brasileiro

A participação dos povos indígenas nas políticas públicas educacionais, especialmente ao


ensino superior faz parte de lutas e reivindicações históricas dos movimentos sociais por
igualdade de condições nos processos educacionais. Em razão de sua relevância no cenário
educacional brasileiro, elegeu-se essa temática para estudar o acesso e a permanência dos
indígenas na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), pelo Processo Seletivo Especial
(PSE), no período de 2010 a 2015. O estudo trouxe, entre outras abordagens, a discussão do
tema com base nos conceitos introdutórios da perspectiva Decolonial e dos conceitos de
Interculturalismo e Multiculturalismo como perspectivas teóricas, pois esses referenciais
possibilitariam discutir o acesso e a permanência dos indígenas no ensino superior a partir de
uma reflexão contra hegemônica diante dos modelos e currículos existentes na universidades.
A pesquisa teve como objetivo principal analisar o Processo Seletivo Especial (PSE) como uma
política de ação afirmativa de acesso dos indígenas na Ufopa, no período de 2010 a 2015 e
seu impacto para uma educação superior de qualidade para esses povos. Como fontes de
informações do estudo utilizou-se as informações dos documentos institucionais, as
informações fornecidas pelos gestores e docentes da Ufopa e pelos estudantes e lideranças
indígenas. Os instrumentos metodológicos adotados para a obtenção das informações foram
questionários impressos, questionários online do google forms e entrevistas, além da análise
documental. O acesso dos indígenas na UFOPA teve início em 2010 com a implantação do
Processo Seletivo Especial (PSEI), seleção diferenciada destinada aos povos indígenas, e
adotada, também para as populações quilombolas a partir de 2015, através do Processo
Seletivo Especial Quilombola (PSEQ). Esses processos evidenciam a importância e o diferencial

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da Ufopa em relação a outras instituições federais de ensino, pois essa Universidade, a única
com sede no interior da Amazônia, nasceu com uma proposta inclusiva. Os resultados dessa
pesquisa revelaram uma crescente evolução no número de vagas disponibilizadas aos
indígenas e a contribuição social de cesso ao nível de ensino superior aos povos e populações
da região Oeste do Pará e Baixo Amazonas. Constatou-se que até o ano de 2015 haviam
ingressado na Ufopa, pelo PSE. o total de 254 indígenas das etnias quais sejam: Arapin, Wai
Wai, Munduruku, Tupinambá, Borari, Maytapú, Tapuia, Kumaruara, Cara Preta, Borari
Arapiun, Tapajó, Kaxuiana, Juruna, Tupaiú, Jaraqui e Borari Tapuia. A evolução. Também
evidenciou que criação do PSE como processo diferenciado de acesso dos indígenas à Ufopa
reforça a importância da ação dos movimentos indígenas na conquista dos direitos desses
povos à educação superior.

O pluralismo jurídico e a autodeterminação dos povos indígenas

Melissa Volpato Curi

O ordenamento jurídico brasileiro foi formulado e sustentado com base na perspectiva


ocidental sobre a noção de Direito. Privilegia-se uma única forma de valorizar a cultura e, por
esse prisma, determina-se o que é o Direito e como as sociedades devem se portar diante
desses conceitos. Apesar das transformações das ciências antropológicas e sociológicas a
respeito das noções de cultura e sociedade, o Direito, diante do seu formalismo, mantém
conceitos ultrapassados e insiste em fragmentar o conhecimento para garantir sua pretensa
consistência sobre o certo e o errado. Embora os órgãos oficiais apresentem em números a
diversidade de povos indígenas existentes no Brasil, a Constituição Federal reconheça a
organização social indígena, seus costumes, línguas, crenças e tradições (art. 231, CF) e
instrumentos internacionais como a Convenção 169 da OIT e Declaração das Nações Unidas
sobre os Direitos dos Povos Indígenas, assegurem os direitos próprios dos povos indígenas, na
prática, não há um tratamento jurídico estatal que atenda às especificidades de cada grupo.
A sociedade nacional, com seu ordenamento jurídico de Estado, único, homogêneo, escrito,
não alcança as inúmeras sociedades indígenas existentes no País. Estas, como seus direitos
específicos e independentes uns dos outros, estão fundamentadas em seus próprios
costumes, em bases não escritas e que assumem uma lógica jurídica completamente diferente
da lógica ocidental. Diante do contraponto, o Direito estatal brasileiro se coloca de forma
autoritária, paternalista e generalista frente às diversidades étnicas. Ainda baseado nas
teorias antropológicas evolucionistas, os direitos internos dos povos indígenas são tratados
como inferiores e, havendo divergências com o direito estatal, o direito consuetudinário é,

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invariavelmente, deslegitimado. Nesse contexto, como assegurar a autodeterminação dos


povos indígenas? O presente estudo pretende discutir essa interrelação entre legitimação do
pluralismo jurídico com a garantia da autodeterminação dos povos indígenas. Um povo só
pode de fato escolher seu destino e suas prioridades de desenvolvimento se as suas normas
internas forem respeitadas e validadas.

Direitos humanos, cidadania e a questão indígena

Débora Vogel da Silveira Dutra

A Constituição Federal de 1988 foi sem dúvida um documento que significou o rompimento
com um período de ausência de direitos civis, políticos e de toda a gama de outros direitos
que foram negados aos cidadãos brasileiros durante duas décadas de ditadura militar no
Brasil. Os direitos humanos foram amplamente discutidos e reivindicados nesse trágico
contexto que antecedeu a aprovação da Carta Magna de 1988. As legislações que surgiram
em decorrência das deixas da própria Constituição Federal também foram um indicativo de
avanços no sentido de garantir e ampliar direitos para os cidadãos, inclusive tendo como base
os direitos humanos. O elemento indígena em suas mais diferentes e ricas etnias ainda
existentes no Brasil tem almejado duramente efetivar também a prática dos direitos humanos
para sua vida em coletividade ainda não totalmente compreendida pela população branca. O
próprio exercício da cidadania no que se refere ao cidadão indígena é ainda interpretado pelo
homem branco com os parâmetros oriundos do Velho Mundo, não se considerando as
especificidades da população nativa do território, que eram numericamente superiores no
século XV. Justamente pela limitação da visão que ainda se alimenta no Brasil acerca das etnias
indígenas, é triste e comum encontrar muitos desses cidadãos largados à margem da
sociedade, sem direitos básicos e sem um mínimo de cidadania garantida pelo próprio Estado.
Este, com políticas obsoletas e ineficientes, não tem conseguido na prática, garantir uma vida
digna para os remanescentes povos nativos no Brasil. As perspectivas acerca de um futuro
próximo no que se refere à questão indígena, não são animadoras e carecem de atenção para
que os direitos mais elementares dessa população não sejam ainda mais reduzidos.

Associativismo indígena: a experiência dos Xakriabá de Minas Gerais

Suzana Alves Escobar

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Ana Maria Rabelo Gomes

Retoma-se aqui, parcialmente, pesquisa concluída em 2012, na qual foram investigadas


práticas de associativismo do povo indígena Xakriabá, focalizando a participação dos sujeitos
na elaboração, implantação e gestão dos projetos sociais, como parte das atividades do
Doutorado em Educação (FAE/UFMG). A Terra Indígena Xakriabá situa-se no município de São
João das Missões no norte de Minas Gerais, população Xakriabá estimada em 10.000 sujeitos,
distribuídos em várias aldeias e sub-aldeias em 53.074,92 ha de área. Experienciaram uma
história de longo e complexo contato com a sociedade nacional e, por consequência, vivem
em recorrente interação com ela, sem terem sido dissolvidos, enquanto povo indígena, nesse
convívio. Por ocasião da pesquisa, havia doze entidades jurídicas ligadas ao associativismo que
se envolveram com, pelo menos, vinte e oito projetos de segurança alimentar, cultura, saúde.
Gerenciando um montante aproximado de R$1.658.058,00, verba acessada de um leque de
financiadores, governamentais e não governamentais, nacionais e estrangeiros. Com Sahlins
(1997) pode-se problematizar as leituras unidirecionais do processo de entrada do mercado
nas sociedades indígenas, chamando a atenção para o fato de que culturas e povos
considerados como primitivos não são passivos no relacionamento com a cultura global:
ressalta que “os povos que sobreviveram fisicamente ao assédio colonialista, vem tentando
incorporar o sistema mundial a uma ordem ainda mais abrangente: seu próprio sistema de
mundo”. A experiência dos xakriabá com o associativismo e os projetos sociais mostra que a
satisfação das necessidades materiais, mesmo as criticadas por setores da sociedade como
impróprias aos grupos indígenas por serem próprias da sociedade capitalista, não são
separadas dos processos sociais e da ordem cultural. O resultado dos projetos sociais
implantados: oficinas de trabalho, equipamentos, criações e roças comunitárias e outros
benefícios se articulam às dinâmicas locais. A associação passou a ser uma instância presente
no cotidiano das aldeias, com personalidade jurídica com prerrogativas para se apresentar
como proponente e gestora de projetos nas diferentes agências financiadoras. As associações,
no desenvolvimento dos projetos sociais, se configuraram como um lócus onde se observava
a presença de variados atores numa interessante prática social. Passaram a ter um significado
próprio dentro da cultura xakriabá como uma apropriação da ferramenta da sociedade
nacional, inspirada na proposição que Sahlins (2003) faz a respeito da significação de uma
força material como qualidade simbólica: “a própria forma de existência social da força
material é determinada por sua integração no sistema cultural” (p.205).

As normas internas dos índios Wapichana como um Sistema Jurídico


Autônomo: o caso do regimento da comunidade indígena Pium (Terra
Indígena Manoá/Pium)
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Junior Nicacio Farias

O presente estudo de pesquisa se propõe a analisar os sistemas jurídicos indígenas


denominados “Normas Internas, Protocolos e Regimentos internos” de modo específico, dos
povos indígenas Wapichana da comunidade Indígena Pium, da terra indígena Manoá/Pium,
Município de Bonfim, no Estado de Roraima. Os sistemas jurídicos dos povos indígenas, no
Brasil, ganharam novos parâmetros após o reconhecimento da diversidade pela Constituição
Federal de 1988. Porém o sistema jurídico dos índios wapichana da comunidade indígena
Pium, teve que sobreviver em condições de perseguição por causa dos conflitos territoriais e
imposição de novos costumes. O sistema jurídico interno da comunidade indígena é de origem
ancestral, isto é, não vem de agora, vem de muitos anos, tem sido utilizado como ferramenta
para a aplicação da justiça, afirmação de sua identidade e um ato de resistência. Desta forma,
o estudo do tema se justifica por ser recente no ordenamento jurídico brasileiro e, por
conseguinte, pouco debatido no meio acadêmico, em especial nas academias da região norte,
assim como pela relativa contemporaneidade das discussões, carecendo de abordagem
aprofundada nas universidades, buscando-se compreender a recepção dos sistemas jurídico
indígena na Constituição Federal.

O infanticídio indígena, sua relação com o abandono estatal, à luz dos direitos
fundamentais e do diálogo intercultural

Monique Lorrann Lopes Fernandes

Camila Fernandes Moreira

A prática tradicional do, popularmente denominado, “infanticídio indígena”, ainda presente


em algumas etnias indígenas no Brasil, veio a conhecimento da população em 2005, após ter
sido divulgado pela mídia o caso de duas meninas Suruwahá que sobreviveram a essa prática.
Este artigo examina o conflito entre o relativismo cultural, os limites impostos pela
universalidade dos direitos humanos e o controle de convencionalidade na questão do
“infanticídio indígena”. Para compreender a atual visão acerca desta prática e da situação
social de abandono sofrida pelos povos indígenas, por meio de um levantamento de dados
em acervo bibliográfico, será feita uma análise histórica e um estudo jurídico do conjunto

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normativo de direito internacional dos direitos humanos e fundamentais. Será observada a


atuação e a responsabilidade do Estado voltadas para as comunidades indígenas, a partir das
disposições da Constituição de 1988, tratados e convenções internacionais ratificados pelo
Brasil. Essas legislações garantem condições sociais para as crianças indígenas crescerem e
viverem dignamente. Este trabalho também analisará a solução sociológica apresentada pelo
multiculturalismo, cujo fundamento está no diálogo transcultural em um âmbito de mútuo
respeito às complexidades. Além disso, por meio de um levantamento de entrevistas e
noticiários, serão analisados alguns casos de ocorrência da prática do infanticídio, objeção e
protesto de indígenas que refutam essa tradição, bem como o papel fundamental do diálogo
intercultural para trazer uma reflexão mútua e evitar a morte de crianças indígenas.

A Teoria do Marco Temporal e seus reflexos nas decisões dos Tribunais


Regionais Federais acerca da demarcação de terras indígenas

Sayuri Fujishima

Richelly de Nazaré Lima da Costa

Passados quase dez anos da criação da teoria do marco temporal, no julgamento do caso da
terra indígena Raposa Serra do Sol, o Supremo Tribunal Federal vê seu “leading case” sendo
utilizado como fundamento em diversos processos judiciais que versam sobre posse e
demarcação de terras indígenas. Referida teoria, nascida nos autos daquele processo de
relatoria do Ministro Carlos Ayres Britto, cria uma exigência para o reconhecimento da terra
tradicional indígena nos moldes assegurados pelo artigo 231 da Constituição Federal, qual
seja, a ocupação indígena na data da promulgação da Constituição Federal (05 de outubro de
1988) ou prova do renitente esbulho por parte de não-indígenas. Mediante a análise de
julgados dos Tribunais Regionais Federais, este artigo pretende abordar a utilização da teoria
do marco temporal pela Justiça Federal, competente para julgar ações envolvendo direitos
indígenas. Leva-se em conta, ainda, a heterogeneidade das demarcações no território
brasileiro, onde a maior ou menor presença das frentes de expansão acaba sendo fator
determinante para o reconhecimento do direito originário à terra pelos indígenas, quando
utilizada a teoria do marco temporal, visto que estas frentes influenciam decisivamente na
efetiva presença do povo indígena naquela terra no momento da promulgação constitucional.
Neste sentido, questiona- se sobre o reconhecimento do direito originário dos indígenas à
terra, instituto que remonta ao Brasil pré-republicano, bem como o papel do Judiciário em
efetivar ou não este direito.

Educação escolar e direitos indígenas: uma revisão integrativa de teses e


dissertações a partir da BDTD
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Lucas Antunes Furtado

O estudo aborda a relação entre educação escolar e os direitos indígenas no Brasil. Tem como
objetivo analisar e sintetizar as teses e dissertações que versam sobre as categorias: educação
escolar e direitos indígenas. Caracteriza-se como uma Revisão Integrativa, utilizando como
base bibliográfica teses e dissertações do Banco de Dados de Teses e Dissertações (BDTD), do
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). Selecionou-se 12 pesquisas
no período de 2008 a 2018, totalizando 10 anos de recorte temporal. Desta forma, a partir das
análises, pode-se considerar que a educação escolar e os direitos indígenas são questões
dialéticas e tensionadas. O conflito político é axial na sociedade nacional, haja vista que o
espectro da colonialidade está presente nas instituições sociais, ou seja, a lógica perversa da
exploração e marginalização social são fenômenos estruturais historicamente impostas e
consolidadas no país. É por essa razão que os movimentos indígenas são egrégios. Não existe
educação escolar indígena sem movimentos indígenas. O movimento está imbricado com a
educação, e por isso movimento é educação, é pedagógico, é formativo. À vista disso, as
questões discutidas evidenciam os esforços dos povos indígenas pela dignidade humana que
estão representados nos princípios que sustentam o direito constitucional indigenista,
considerando o desejo genuíno de desconstruir o paradigma assimilacionista em prol da
garantia do direito à alteridade e à diferença, sem esquecer também o papel do Estado no
processo de preservação do princípio do reconhecimento e proteção às organizações sociais,
aos costumes, às línguas, às crenças e às tradições dos povos indígenas.

A imagem do Índio no Brasil: o direito a uma Nova História

Luiz Filipi da Silva Galvão

Durante muito tempo, a história do povo indígena foi narrada por quem os dominou, por
quem os lançou o primeiro olhar, sem ao menos conhecer a fundo sua essência, reduzindo-se
a uma visão etnocêntrica e eurocêntrica – uma versão única sobre a história indígena. Se por
um lado a História Antiga, Medieval, Moderna e parte da Contemporânea tinham uma visão
centralizada no fato narrado, a História Contemporânea atual vai muito além da busca por
uma verdade única e centralizada, narrando os fatos de cada lado das partes envolvidas sem
se preocupar com a busca de uma história única. Se histórias únicas criam estereótipos,
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marginalizam povos, condenam culturas e reduzem a diversidade em vozes certas e


determinadas, é necessário também acreditar em uma nova história: a história que destrói
preconceitos, recupera a dignidade perdida e promove culturas a diversidade, dando às partes
a possibilidade de participarem na construção de sua própria história. Dentro dessa
perspectiva, o artigo “A imagem do Índio no Brasil: o direito a uma Nova História”, utilizando-
se do método materialista histórico-dialético, analisa quais as consequências dessa narrativa
enquanto monólogo e quais farpas e facas foram lançadas na construção da imagem do Índio
na sociedade no decorrer do tempo. Muito mais que identificar as feridas causadas por uma
história única, tal artigo busca ressaltar uma outra história, a história como meio de educar,
humanizar, capacitar, restituir, e garantir direitos que outrora foram marginalizados.
Mostrando uma história que é reescrita apagando verbos mal empregados, enfatizando
palavras que foram ofuscadas e apresentando os verdadeiros selvagens que as narrativas
insistem em maquiar. Denúncias de uma população que foi dizimada por guerras injustas e
até os dias atuais é vitimada por Estados que fazem muito pouco para que Direitos Básicos
tornam-se realidade. Para tanto, o artigo foi desenvolvido na seguinte estrutura: I - A América
latina antes da chegada dos colonizadores; II - A colonização e a construção do estereótipo
indígena e; III - Uma outra história: a história como forma de fazer justiça. A defesa dos
Direitos dos Indígenas, portanto, não só se deve respaldar na justificativa de ressarcir danos
que lhe foram causados, mas se valida principalmente no fato de que, independente de
qualquer fator cultural, tratam-se todos de seres humanos e tais como quais já é o suficiente
para a existência da dignidade da pessoa humana. Afinal de contas, direitos não devem ser
declarados como forma de reconhecer no tutelado a incapacidade de inserir-se em uma
sociedade que lhe foi dada pronta, mas sim direitos são declarados com a finalidade de
reconhecer no outro o respeito a suas particularidades, restituindo-se, aos mesmos, a
possibilidade de, também, participarem da redação de sua história.

Direito Internacional: os desafios da execução da Declaração Universal dos


Direitos dos Povos Indígenas no Brasil e o conceito da universalização para
realidade indígena

João Paulo Hakuwi Kuady Karajá

O direito internacional dos povos nativos, assegurado pela Declaração Universal dos Direitos
dos Povos Indígenas, bem como a Constituição Federal de 1988, reconhecem a
autodeterminação dos povos como um dos valores da democracia e das Relações
Internacionais. Baseando-se nessa perspectiva, considera-se como ponto de partida de
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análise, as ações do Estado brasileiro diante da população indígena e como a relação entre
Estado e povos indígenas tem se estabelecido perante as afirmações constitucionais e sob a
declaração das Nações Unidas. Também, considerando como principal referência o
protagonismo dos povos indígenas para o êxito da aprovação da Declaração através do
Movimento Indígena e seus grandes líderes, como Raoni Metuktire. Será analisada a questão
da universalização do direito dos povos indígenas, especificando como essa generalização
interfere no conceito da autodeterminação. Em suma, a presente comunicação consiste no
mapeamento crítico dos direitos originários dos povos nativos do Brasil, isto é, o desafio da
execução dos direitos dos povos indígenas.

Dano espiritual e reparação ao patrimônio cultural imaterial indígena: a


formação de um precedente jurídico

Vitoria Lombello

O termo “dano espiritual” foi utilizado para se referir à indenização paga aos índios Kayapó
como compensação por danos materiais, imateriais e ambientais decorrentes da queda do
avião da Gol na TI Capoto-Jarina/MT em 2006. O termo ainda não faz parte da teoria do direito
brasileiro, pois as negociações foram feitas extrajudicialmente, mediadas pelo Ministério
Público Federal (MPF). Contudo, ele tem sido discutido e utilizado pela Corte Interamericana
de Direitos Humanos (CIDH) em casos relacionados a direitos de comunidades indígenas. O
conceito proposto para “dano espiritual” envolve aspectos da cultura de determinado povo e
de seu modo de vida, sobretudo relacionados à sua visão de mundo e relação com o ambiente.
O dano pode ser provocado pelo choque entre uma cultura tradicional e a cultura
hegemônica, que tenta se impor. A ideia do trabalho é demonstrar que esse instituto jurídico
pode ser utilizado como um instrumento para a proteção do patrimônio cultural imaterial
indígena e para a preservação de seu modo tradicional de vida, relacionado ao seu território.
Os danos espirituais devem abarcar prejuízos sofridos por comunidades indígenas em função
de características relacionadas à sua cultura e cosmologia. Considerando a relação que os
povos indígenas mantêm com a terra, que extrapola o cultivo e a extração, é possível afirmar
que há ocorrência desse dano quando são impedidos de ter acesso às suas terras originárias,
devido tanto à invasão de particulares quanto à omissão Estatal no processo de demarcação.
O panorama jurídico brasileiro a partir da Constituição de 1988 aparenta ser favorável ao
respeito dos povos indígenas e ao reconhecimento de direitos humanos básicos, como acesso
à terra e manifestações culturais. A despeito da Constituição reconhecer seus direitos, suas
terras, seus costumes e suas línguas, o braço executor do Estado lhes nega esses direitos,
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invade suas terras, desrespeita seus costumes, omite suas línguas, e o Judiciário ou se cala ou
simplesmente não é obedecido (SOUZA FILHO, 2018, p. 76). Ao não demarcar terras
indígenas, o Estado negligencia seu dever de proteção dos povos indígenas e seus bens.
Muitos grupos maliciosos se aproveitam dessa falha para invadir as terras indígenas sob o
pretexto de tirar dali algum proveito econômico (DALLARI, 2018, p. 270). A partir da análise
de instrumentos do direito brasileiro e do direito internacional sobre patrimônio cultural
imaterial, e perpassando a discussão da relação dos povos indígenas com a terra, objetiva-se
apontar também que a terra, segundo a importância que assume para cada povo em termos
de veicular o seu modo de vida e a sua cultura, pode ser considerada como parte do seu
patrimônio cultural intangível. Partindo de uma perspectiva pluralista e abandonando
ideologias jurídicas etnocêntricas, deve-se entender o instituto do “dano espiritual” como um
reconhecimento do valor intrínseco da espiritualidade e ancestralidade para cosmologias
indígenas. Assim, é possível fundamentar que o caso a ser estudado deve ser considerado um
precedente jurídico para a garantia da reparação de danos causados por omissão do Estado
ou pela ação de particulares ao referido patrimônio, que envolve a espiritualidade, crenças,
tradições e costumes dos povos indígenas.

A tese do Marco Temporal: uma análise decolonial

Julio Augusto Jesus Lopez

Tendo em vista que uma das temáticas das pautas de julgamento do STF para o primeiro
semestre de 2019 é sobre terras indígenas, e ainda, verificando-se uma crescente
preocupação de lideranças indígenas do país em relação ao tema, o presente trabalho se
propõe a analisar a tese do marco temporal e seu conflito com os direitos.Para tanto é
fundamental o aporte teórico da decolonialidade, assim como uma visão comparada com a
jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Será feita uma abordagem
histórica, mostrando a evolução e conceituação dos direitos dos povos indígenas no Brasil,
explicitando o quanto as atuais garantias constitucionais foram fruto de intensa reivindicação
e luta por direitos, graças aos esforços conjugados de gerações de indígenas dos mais diversos
povos e etnias. Foi somente com a Constituição de 1988 que o anterior paradigma dos direitos
indigenistas foi quebrado, superadas a tutela e a visão integracionista e assimilacionista.
Portanto a tese do marco temporal é evidentemente inconstitucional e também não segue os
tratados internacionais, destoando até das decisões da Corte Interamericana de Direitos
Humanos; além de mostrar-se um retrocesso perante os avanços recentes e potencialmente

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abrir margem para uma perda maior de direitos já estabelecidos, tendo em vista que a posse
da terra é fundamental para a própria vida dos povos indígenas.

Diálogos de saberes e elementos para a sustentabilidade: planejamento


participativo de gestão das paisagens em território indígena Potiguar

Jacqueline Cunha de Vasconcelos Martins

Edson Vicente da Silva

Os paradigmas ainda predominantes na ciência evidenciam classificação do próprio


conhecimento. As culturas das comunidades tradicionais devem ser compreendidas ao
considerar seus conhecimentos e relações com o ambiente, ou seja, as prioridades precisam
ser evidenciadas pelos atores sociais locais. Por isso, a ecologia de saberes propõe a mudança
de conhecimento sobre para conhecimento com, ou seja, um diálogo de saberes entre as
diferentes ciências e os etnoconhecimentos. Povos indígenas têm buscado o resgate da sua
identidade etnocultural e ocupado espaços em organismos internacionais. No Estado do Rio
Grande do Norte, embora ainda não constem nos mapas oficiais, comunidades indígenas têm
vivenciado um processo de emergência étnica e reivindicado direitos constitucionais como a
demarcação de seus territórios. Considerando que o caminho da sustentabilidade deve partir
do local, a etnoecologia é fundamental, pois valoriza o empoderamento dos conhecimentos
tradicionais. Assim, o objetivo deste trabalho é apresentar aspectos de um diagnóstico
etnoambiental e plano de gestão participativo das paisagens com vistas à sustentabilidade
socioambiental, cultural e econômica local com comunidade indígena no semiárido potiguar.
A pesquisa em construção tem enfoque qualitativo e consta de quatro estágios de
investigação, conforme roteiro de planejamento das paisagens adaptado de Rodriguez e Silva
(2016): organização e inventário, para identificar, caracterizar e cartografar as unidades
espaciais e inventariar as condições naturais e socioeconômicas; análise das paisagens
naturais e culturais, onde são identificados os impactos socioambientais e limitações de usos
das unidades ambientais naturais e das paisagens culturais; diagnóstico integrado
geoecológico e geocultural, para esclarecer a situação dos sistemas ambientais em
decorrência da utilização e exploração, ou seja, problemas de degradação e vulnerabilidades
socioambientais e culturais, o retorno social desses usos e a relação entre qualidade ambiental
e qualidade de vida; além da etapa de projeção de cenários, onde são elaboradas propostas
de uso, organização espacial e estratégias de gestão, a exemplo de zoneamento funcional e
elaboração de instrumentos de articulação de políticas setoriais. Dentre os resultados é
possível destacar a confecção de mapas temáticos com fragilidades e potencialidades
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socioambientais, culturais e econômicas; propostas coletivas de uso sustentável do território


e ferramentas de planejamento e gestão territorial. Dessa forma, é possível concatenar
subsídios para políticas públicas e contribuir para maior autonomia e fortalecimento da luta
na legitimação e resolução do problema de vulnerabilidade territorial e socioambiental,
embasado no diálogo de saberes.

Políticas públicas de saúde indígena no Brasil e suas garantias jurídicas

Karoliny Monteiro Lima Ferreiral

Matheus Santana

No Brasil, o total da população indígena é composta por 305 etnias, totalizando 897 mil
indivíduos, conforme os dados divulgados pelo IBGE no ano de 2010 (BRASIL; IBGE, 2010,
online). Essa população está concentrada em pequenas regiões de difícil acesso localizadas
especialmente na Amazônia, o que constitui um grande desafio para implementação de
programas do governo e sistemas de informações. Além desses desafios, observamos também
as barreiras étnicas, culturais, geográficas, linguísticas e a falta de capacitação dos agentes de
saúde. Historicamente, a assistência à saúde indígena foi realizada de maneira predominante
pelos missionários da igreja católica. A primeira atuação do Poder Público, referente à saúde
desses povos, foi no começo do século passado. Diante disso, a elaboração da Constituição de
1988 e, no mesmo ano, a criação do Sistema Único de Saúde, possibilitaram o reconhecimento
do direito dos povos indígenas a terem um acesso à saúde de forma diferenciada. Com a
implementação do Sistema Único de Saúde SUS (BRASIL; MINISTÉRIO DA SAÚDE, online), o
acesso à saúde deve ser igualitário e universal, ou seja, é um direito de toda nação, e, com
isso, engloba uma “sub-nação”, a indígena considerada assim por possuírem seus próprios
sistemas tradicionais, como cultura e línguas próprias e, decorrente desse fato, houve a
criação de um subsistema de atenção à saúde indígena, intitulado Política Nacional de
Assistência à Saúde dos Povos Indígenas (PNASPI). Além disso, em 1999, foi sancionada a lei
Arouca, cuja finalidade era adequar o serviço de saúde de acordo com as necessidades dos
nativos, respeitando a cultura de cada grupo (BRASIL; MINISTÉRIO DA SAÚDE, online). Vale
salientar que o artigo 196 da Constituição Federal explicita que “a saúde é direito de todos e
dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do
risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para
a sua promoção, proteção e recuperação”. Contudo, o déficit do atendimento médico aos
indígenas e as péssimas condições de trabalho dos profissionais da saúde são empecilhos para
a implementação dessa política. Além disso, deve-se respeitar a cultura desses povos, pois
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muitos nativos não querem ser atendidos pelos médicos por terem suas próprias crenças e
meios de tratamentos. De acordo com a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos
Povos Indígenas, aprovada em 2007, “os povos indígenas têm direito a suas próprias
medicinas tradicionais e a manter suas práticas de saúde, bem como desfrutar do nível mais
alto possível de saúde, e os Estados devem tomar as medidas necessárias para atingir
progressivamente a plena realização deste direito”. (BRASIL, 2007, DECLARAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS SOBRE OS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS). Com isso foi criado Princípios da
Atenção Diferenciada à Saúde Indígena, que buscam a constituição e consolidação de políticas
públicas de atenção diferenciada à saúde dos povos indígenas quais sejam: Reciprocidade:
busca-se a troca de experiências entre as comunidades indígenas e os agentes de saúde.
Eficácia Simbólica: busca uma compreensão e aproximação entre medicina e cultura;
Integralidade: busca uma visão ampla do ambiente indígena, objetivando uma solução para a
problemática envolvida, atuando sobre determinantes históricos, sociais, culturais ligados à
saúde; Autonomia: busca a gestão, inserindo programas de saúde nas comunidades,
respeitando a autonomia dos povos indígenas. A articulação de ações para melhorar a
implementação de políticas públicas de saúde indígena e as condições de trabalho dos
profissionais de saúde deve levar em conta, formação, capacitação, acompanhamento dos
agentes de saúde e mobilização das lideranças indígenas por meio de informações. Portanto,
diante dos fatos expostos, os debates acerca da implementação de políticas, voltadas para a
saúde dos nativos, e as consequências da sua deficiência tem sido crescente, justificando,
dessa forma, o andamento desse projeto de pesquisa.

A urgência da Ecologia de Saberes para o desafio da descolonização da


Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas do Brasil

Sara Emanuela de Carvalho Mota

Mônica de Oliveira Nunes de Torrenté

João Arriscado Nunes

A engenharia sobre a qual se estruturam as desigualdades epistêmicas e a hierarquia de


saberes que produzem como invisível ou subalterno o conhecimento elaborado sob outras
racionalidades, que extrapolam a indolência da ciência moderna, está largamente descrita e
analisada por autores como Boaventura de Sousa Santos. As denúncias em torno dos danos
sociais, econômicos, culturais e epistêmicos associados a esta estrutura de pensamento
hierárquica e monocultural, responsável pela reprodução de relações de poder coloniais que
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alcançam nossos dias, estão muito bem elaboradas e sintetizadas nas obras publicadas pelo
autor e seus parceiros no âmbito das Epistemologias do Sul. Essa abordagem tem como
objetivo central a recuperação dos saberes e práticas dos grupos sociais que, por via do
capitalismo e do colonialismo, foram histórica e sociologicamente postos na posição de serem
tão só objeto ou matéria-prima dos saberes dominantes, considerados os únicos válidos
(Santos, 2008, p. 11). Ao constituírem uma reinvindicação de novos processos de produção,
de valorização de conhecimentos válidos, científicos ou não, e de novas relações entre
diferentes tipos de conhecimento, as Epistemologias do Sul convidam- nos a refletir
criativamente sobre a realidade com o objetivo de construir um diagnóstico radicalmente
crítico do presente e possibilidades de alternativas para uma sociedade mais justa e livre
(Santos e Mendes, 2017, p. 8). Neste artigo, propomos uma reflexão acerca de alguns
princípios da Política Nacional de Atenção á Saúde dos Povos Indígenas do Brasil a partir das
contribuições das Epistemologias do Sul, e seus conceitos centrais, bem como uma breve
análise da relação do Sistema Único de Saúde brasileiro, principal política social do país, com
grupos populacionais que se situam do outro lado da linha abissal, aqueles que vivem no “Sul
do SUS”. Parte-se do pressuposto de que a incorporação jurídica dos direitos dos povos
indígenas no Brasil não representou em qualquer hipótese a superação das desigualdades
epistêmicas ou ruptura com as estruturas de poder, de matriz colonial, que permitem a
manutenção da perspectiva hegemônica (eurocêntrica) do saber, anulando distintas
cosmovisões, crenças, filosofias e princípios de vida e sociedade. Ao contrário, concordamos
com Catherine E. Walsh que afirma que recentes conquistas constitucionais direcionadas aos
povos indígenas constituem um esforço de reacomodação da colonialidade do poder através
de um discurso (neo)liberal multiculturalista que tem como um dos seus elementos
constitutivos e fundantes o racismo nas relações de dominação e que, ao assumir a lógica da
“diferença”, esvazia seu conteúdo de significado efetivo e oculta os mecanismos para
superação das novas estratégias de subordinação (Walsh, 2009, p. 16). O elenco de políticas
públicas do Estado brasileiro voltadas à discriminação positiva de segmentos sociais parece
ser um bom exemplo dessa condição epistemológica. Ao garantirem o acesso diferenciado a
algumas ações e serviços públicos, através de políticas específicas que reconhecem a
diversidade de povos e de trajetórias históricas que compõem a nossa sociedade, operam de
maneira essencialmente funcional, pouco atenta às estruturas que obstruem a construção de
uma sociedade mais equitativa e intercultural. No campo da saúde, dispensam os principais
processos através dos quais atuam os determinantes sociais que participam dos indicadores
epidemiológicos da saúde indígena, e atuam ainda sob a perspectiva assimilacionista,
mantendo intacta a matriz da colonialidade. A necessidade de reconhecimento desses
aspectos como condição para a efetivação do princípio da atenção diferenciada, traduzido
timidamente na Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (PNASPI) como o
respeito às concepções, valores e práticas relativos ao processo saúde-doença próprios a cada
sociedade indígena e a seus diversos especialistas (BRASIL, 2002, p.18), impõe aos
profissionais que atuam no Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SASI) a urgência em

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desenvolver sensibilidades e competências adequadas ao complexo exercício do diálogo


intercultural, bem como, em reconhecer os conhecimentos da medicina tradicional como
válidos e relevantes. Sem o reconhecimento dos aspectos que conformam a demodiversidade
não podem existir relações interculturais, assumindo aqui o conceito proposto por Luis
Maldonado Ruiz de interculturalidade como a interrelação de sujeitos em uma perspectiva
igualitária, descolonizadora, transformadora e criativa (Ruiz, 2010, p. 83, tradução nossa).

A inserção da população indígena no mercado de trabalho: via de acesso à


emancipação ou precarização absoluta?

Lígia Sampaio Oliveira

Este ensaio se propõe a investigar como se dá a inserção da população indígena no mercado


de trabalho na megalópole paulistana. Partimos do pressuposto que as políticas públicas
indigenistas não foram pensadas a partir da centralidade do trabalho, considerando sua
importância para a preservação da sócio diversidade humana. O Estado como signatário de
acordos nacionais e internacionais de proteção aos povos indígenas é o grande negligenciador,
limitando-se a ações tímidas, esparsas e em muitos casos constrangedoras e violentas,
colocando em risco a sobrevivência dos povos tradicionais e consequentemente a
conservação de suas riquezas materiais e imateriais nas áreas rurais, nas florestas e nos
grandes centros urbanos, assim, sugerimos deslocar o debate estritamente culturalista para o
chão da luta de classes.

A inaplicabilidade do Artigo 231 da Constituição Brasileira: A falta de


proteção às terras indígenas e aculturação dos índios do Médio Xingu com a
construção da UHE de Belo Monte

Luiz Fernando de Oliveira

Roberta Carolyne Pereira Alexandre

Tércia Tabosa Ferreira

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A região do Médio Xingu, no Pará, sempre foi dona de grande riqueza em sua fauna e em sua
flora, riquezas essas que motivaram diversos conflitos ao longo dos anos e atraíram, em
diversos períodos, ciclos de imigração, tendo como um dos primeiros o ciclo da borracha. Após
este ciclo, na década de 1970 durante o governo militar, houve a abertura da Rodovia
Transamazônica (BR 230), que foi construída sob a égide de melhor interligar,
transversalmente, a região Norte com o restante do país, o que gerou inúmeras discussões
sociais e econômicas, especialmente no que tange à temática indígena e suas terras (DAVIS,
1978; RESENDE, 2014 apud FERREIRA, 2018, p.335). As margens do rio Xingu abrigam hoje
onze terras indígenas e nove etnias diferentes. Esses povos sempre tiveram suas vidas
pautadas naquilo que o rio e a floresta lhes proporcionam, vivendo basicamente da caça e da
pesca, sendo conhecidos como povos canoeiros e que lidam perfeitamente bem com as
mudanças e cursos naturais do ambiente em que estão acostumados a viver, mantendo assim,
toda a região em volta de muitas de suas tradições. Ao longo da década de 1980, durante a
Ditadura Militar, foi colocado como objetivo um Plano de Desenvolvimento que incluía a
construção de diversas usinas hidrelétricas no país, sendo grande parte delas em rios da
Amazônia. Neste período, uma das maiores hidrelétricas do mundo começou a ser pensada,
a princípio com o nome de “Kararaô”, que significa grito de guerra em Kaiapó (MOLINA, 2018).
Esta hidrelétrica só foi construída anos depois, durante a realização do PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento) pelo presidente Lula e sua sucessora Dilma Rousseff. O PAC
(BRASIL, 2007) tinha como finalidade a construção de 40 hidrelétricas na Amazônia, muitas
reavivadas do plano do Governo Militar. Destas, a usina hidrelétrica de Belo Monte, foi
construída na Volta Grande do Xingu, situada no pequeno município de Vitória do Xingu, que
possui aproximadamente 14.987 habitantes, segundo o IBGE (2018), e fica próximo à cidade
de Altamira. Mesmo estando em pauta desde os anos 70, somente em 2010 foi concedida a
licença para a sua construção, o que gerou muitas discussões por conta dos imensos danos
ambientais que seriam causados com a obra, principalmente ao que diz respeito às terras
indígenas presentes na região (PEZZUTI et al., 2018). Atualmente, oito anos após o início
efetivo da construção de Belo Monte, a região sofre imensamente com os danos irreparáveis
que lhe foram causados. Ao analisar todas essas questões e os danos reais, observa-se a falta
de aplicabilidade da proteção às terras indígenas, aos índios e à sua cultura, pois a mera
demarcação das TIs não garante o respeito à cultura e ao meio ambiente, que é tão necessário
à sobrevivência desses povos. Durante a construção de Belo Monte, a argumentação utilizada
pela empresa responsável, Norte Energia, foi o fato de que as TIs estavam salvas, visto que
não estariam na área atingida pelo lago que seria criado pela barreira do rio. Entretanto, não
há de se falar de uma visão meramente restritiva, como se a terra pura em si fosse apenas a
proteção desejada pelos constituintes originários. Ao reduzir o número de vazão do rio Xingu,
prejudicando a reprodução das espécies de fauna e flora, assim como a navegação,
constatamos obstáculos a direitos dos índios, como o da moradia em suas terras, os quais são
garantidos pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 em seu artigo 231.
Ademais, o Brasil é consignatário da OIT (Organização Internacional do Trabalho), que tratou

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em sua Convenção n° 169 acerca dos povos indígenas e tribais, entrando em vigor no país em
2002 por meio de uma emenda constitucional, e ainda, possui o Estatuto do Índio, que
também assegura aos indígenas a proteção do ambiente em que vivem e de sua cultura. Nesse
contexto, identificamos o seguinte problema: em que medida a inobservância do artigo 231
da constituição brasileira tem gerado a falta de proteção às terras indígenas e aculturação dos
índios do médio Xingu, tendo em vista o processo de construção da usina hidrelétrica de Belo
Monte? Para tanto, nosso trabalho estará dividido em três partes. Na primeira,
apresentaremos um panorama histórico, social e cultural da região do Médio Xingu, tendo em
vista os povos indígenas que lá habitam. Em seguida, esclareceremos o conteúdo do artigo
231 da Constituição Brasileira de 1988, com o intuito de apresentar os direitos e garantias
fundamentais dos índios exarados no texto maior. Na terceira, pontuaremos e analisaremos
os problemas advindos da inobservância do conteúdo do referido artigo, seja pelo Estado
brasileiro, seja pelas empresas responsáveis pela construção da usina hidrelétrica de Belo
Monte, ou ainda pelas pessoas naturais que atuam na região. A metodologia utilizada para a
elaboração desse trabalho parte da pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo. Ao final, é
possível identificar que a letra da lei em seu artigo 231 da CF/88 é clara e nítida em sua
interpretação ao dizer que terras indígenas devem ser protegidas, de maneira que o modo de
vida indígena não seja afetado. Em seu parágrafo §3° destaca que toda construção que
interfira nas TIs devem ter parte dos frutos voltados aos indígenas, e não há de se falar em
obras que danifiquem o meio-ambiente modificando a forma de subsistência
indígena.(ABRÃO, 2018) Portanto, fica clara a inaplicabilidade do artigo 231 na situação atual
da Usina Belo Monte, visto que a diminuição da vazão do Rio Xingu impede o modo de vida
da tribo Juruna, conhecida como tribo canoeira que não consegue mais navegar no rio, os
peixes que serviam como base do alimento não conseguem se alimentar e logo estarão perto
da extinção, toda a flora e fauna das margens do Xingu afetadas pela construção atrapalham
diretamente no modo de vida dessa tribo.

Constitucionalidade da demarcação de terras dos povos originários e


comunidades tradicionais: o direito de pertencer

Laís de Carvalho Pechula

São vários os direitos que devem ser assegurados aos indivíduos em uma sociedade e
comunidade, sendo que tais direitos, possuem como finalidade a manutenção da vida e
dignidade do ser humano. No Brasil o reconhecimento de alguns direitos dos povos originários
e comunidades tradicionais antecedem a carta magna de 1988, no entanto é com a
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Constituição Federal que esses diretos passam a ser reconhecidos de uma forma mais ampla,
como a demarcação dos seus territórios. Com isso, o objetivo do trabalho foi analisar a
constitucionalidade das demarcações de terras destes povos no Brasil, buscando respaldo
jurídico, ancestral, social, reconhecimento de direitos, garantias e até mesmo deveres dos
povos originários e comunidades tradicionais em relação aos seus territórios. A pesquisa se
caracteriza como descritiva, visto que tem como objetivo descrever o tema com respaldo nas
legislações e sua evolução histórica e análise da aplicabilidade dessas legislações no nosso
sistema administrativo e jurídico. Além disso, para atingir o objetivo do trabalho, foi realizado
uma Revisão Sistemática da Literatura (RSL) em fontes de dados secundárias, para a
compreensão inicial da temática, em seguida, realizou-se, estudo das legislações
extravagantes brasileiras, Constituição Federal do Brasil de 1988 e demais legislações
internacionais. Logo, a Constituição Federal é considerada um grande marco no
reconhecimento da constitucionalidade do direito ao território dos povos originários e
quilombolas, posteriormente um Decreto-Lei 6040-2007 reconhece formalmente, pela
primeira vez no Brasil, a existência de todas as chamadas comunidades tradicionais, no
entanto a luta pela efetivação desses direitos permanece viva e até o momento plenamente
incessante.

Inclusão ou integração dos povos originários na Constituição da Bolívia?


Outras reflexões sobre o pluralismo jurídico a partir da Pachamama e Sumak
Kawsay

Karina Almeida Guimarães Pinhão

A América Latina um novo movimento constitucionalista chamado “Constitucionalismo


Latino-Americano”, formado por um discurso que acompanha as discussões da legitimidade
democrática participativa, assim como, às teorias críticas ao colonialismo e os debates sobre
multiculturalismo e pluralismo jurídico. Em certa medida, um reflexo dos temas sobre
multiculturalismo e colonialismo que passam a ser centrais e se expandem cada vez mais
sobre o pensamento jurídico e, consequentemente, à teoria constitucionalista. Em certa
medida este movimento constitucionalista tem como um de seus pontos fulcrais a nova
Constituição da Bolívia (2009) e a forma de inclusão dos povos originários enquanto cidadãos.
Essa Constituição inaugura uma nova forma constitucional contemplada pela
plurinacionalidade em rompimento com a concepção monista de nação presente na teoria
constitucional e assinalando uma nova relação entre o Estado e os povos originários. Se antes
estes vivenciavam uma realidade como estrangeiros em seu território, agora o Estado passa a
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reconhecer sua diversidade e nacionalidade que contempla, ainda a regulação de uma


jurisdição indígena na qual as várias culturas e etnias indígenas podem compor seus conflitos
e cujas soluções são protagonistas por eles mesmos. Face esse contexto jurídico boliviano, a
presente comunicação se propõe a analisar como tais relações entre povos indígenas e o
Estado são formadas e como repercutem numa visão inclusiva da cosmologia indígena no
plano governamental. Para tanto, se verificará como esta relação foi construída
historicamente, do plano civilizacional especificadamente colonial, perpassando por políticas
de integração e assimilação, perpassando pelas visões multiculturalistas, a fim de verificar as
mudanças trazidas pela plurinacionalidade e o pluralismo jurídico estabelecidos na
Constituição da Bolívia. Em seguida, através dos debates teóricos do racismo institucional e
de povos “etnicamente marcados” se verificará como tais políticas inclusivas se constituem a
partir da ênfase a diferença sinalizada nas culturas outras que não-europeias, reforçando uma
homogeneização e superioridade da cultura ocidental marcada pela identidade europeia
como branca, cristã, científica e moderna. Nesse sentido, se observará o antagonismo
marcado entre o perspectivismo ameríndio incluído na Constituição da Bolívia pelas figuras da
Pachamama e Sumak Kawsay com a ontologia singular e universal ocidental e, assim, mostrar
como esse híbrido jurídico boliviano, é representado por uma não ruptura com a ontologia
hegemônica. Em conclusão, se verificará que para uma descolonização que perpasse pelo
plano jurídico do Estado deve abrir-se para ontologias e epistemologias outras que não
somente a ocidental.

Justiça procedimental e protocolos de consulta prévia

Nathália Montemagni Pires

O intenso processo de desenvolvimento econômico que vem ocorrendo no mundo nas últimas
décadas tem alavancado a construção de diversos empreendimentos de grande porte, como
rodovias, portos e hidrelétricas. Paralelamente, tem se intensificado a produção de matéria-
prima, tais como de origem vegetal, animal e mineral. Esses processos, além de causarem
grandes impactos ambientais, constituem uma forma de pressão para que comunidades
vulneráveis, como povos indígenas, abram mão de seus territórios e recursos naturais. Nesse
cenário, surgiu um movimento social que luta pela garantia da justiça procedimental para as
populações atingidas por injustiças ambientais desse gênero. A justiça procedimental tem
como objetivo garantir que populações vulneráveis sejam tratadas de forma igualitária em
comparação ao restante da sociedade. Para tanto, espera-se que elas sejam envolvidas no
processo decisório, de forma a torná-lo democrático e participativo. Ou seja, busca-se garantir
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que as minorias sociais sejam devidamente consultadas quando qualquer iniciativa, pública
ou privada, tiver potencial para afetá-las. Em consonância com esse movimento, em 1989, a
Organização Internacional do Trabalho elaborou a Convenção 169 sobre povos indígenas e
tribais, que, dentre outros pontos, estabelece que os Estados devem promover uma consulta
prévia, livre e informada aos povos indígenas e tribais que possam ser afetados por medidas
legislativas e/ou administrativas. Com isso, busca-se a efetivação de uma democracia
participativa, com o fortalecimento de processos em que minorias sociais tenham a
oportunidade de participar dos processos decisórios da Administração Pública, podendo
negar propostas de leis e políticas públicas que violem seus direitos. Nesse cenário, convém
analisar de que forma a justiça procedimental e a Convenção OIT 169 são aplicadas no Brasil,
principalmente tendo em vista a falta de regulamentação nacional sobre a aplicação da
Convenção, o que, se verá, prejudica sua efetivação. Para realizar o objetivo proposto, o
trabalho se desenvolverá em duas etapas. A primeira etapa tratará da justiça procedimental,
tendo como objetivo contextualizar a importância de um modelo de consulta aos povos
indígenas. A segunda etapa do trabalho cuidará da análise da legislação internacional e
nacional sobre protocolos de consultas prévias. Ambas as etapas contarão com análise
bibliográfica e com estudos de casos concretos. A partir da análise desses pontos, o trabalho
indicará qual o atual cenário brasileiro referente aos protocolos de consultas prévias e quais
os atuais desafios para aperfeiçoar o sistema e alcançar a democracia participativa defendida
pelo movimento da justiça procedimental.

A criminologia decolonial: abordagens históricas e problemas


epistemológicos

Maria Ester Piva

Esta comunicação terá como base, dentre outros autores, Lino J. de O. Neves, Morgan Ndlovu,
Zygmunt Bauman, Tamari Kitossa, Eugênio Raúl Zaffaroni. A Criminologia é uma ciência
independente que tem como norte de seus estudos aquele que comete crimes, analisando
seus hábitos, traçando um perfil criminológico, uma conduta social, realizando uma análise
que futuramente determinará sua punição ou prevenção do cometimento de novos crimes.
O presente estudo tem como escopo realizar uma abordagem da Criminologia, seu contexto
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histórico na Europa e Estados Unidos, sua evolução, e como pode auxiliar as outras ciências,
como a jurídica, a ultrapassarem a visão colonial do conhecimento. Essa área do saber teve
sua origem na colonização, momento da história do mundo que muitos acreditavam ser a
situação do colonizado um fator propulsor de crescimento da marginalidade social. Nos países
europeus a população era formada por maioria de pessoas brancas. Partindo desse dado,
todos os povos que não fossem brancos, sejam eles negros, ou os povos nativos, indígenas e
seus descendentes eram considerados, naquela visão já ultrapassada de que são mais
propensos a cometer crimes, existia a chamada criminologia da cor. Nos Estados Unidos, uma
entrada da classe trabalhadora e juventude racialmente oprimida, na academia no final dos
anos 60 e início dos anos 70, estimulou a reflexão crítica sobre os papéis da cultura e da raça
nas epistemologias e encarnação (que está no íntimo do ser) racial dos acadêmicos. Para o
caso indígena, essa mudança só ocorreu a partir dos anos 2000, porém ainda de forma tímida.
A Criminologia Positivista, já ultrapassada, foi criada sob a ótica médica, um dos precursores
da Criminologia foi o médico Césare Lombroso que utilizava dos estudos para determinar se
uma pessoa tinha traços de criminoso. Seu discurso revela uma forma de poder que
desvalorizou não só a mulher, mas a sabedoria popular, que tem ainda um alto custo para os
afrodescendentes e indígenas. Mesmo após a proibição dos trabalhos forçados antes
impostos pelos colonizadores, os nativos sempre foram legados às periferias das sociedades,
vistos sob uma forte tendência criminal, o que era reforçado pela falta de oportunidade de
trabalho, não terem nenhuma escolaridade e sem opção de sobrevivência, culminando tudo
isso em delitos. O racismo como cultura e como referência à cor da pele ou a aparência é um
fator de opressão colonial e consequentemente de dominação social. Dentre os fatores
graves que se relacionam aos indígenas, um grande destaque ao processo de imposição do
pensamento dos brancos sobrepondo as tradições, a forma de pensar e os costumes
indígenas, ou seja, pior que a ocupação de suas terras, roubo de seus recursos naturais, foram
seus saberes, sua língua, sua história. Houve um longo processo de colonização que foi aos
poucos inserindo e reforçando o sentimento de inferioridade nos povos locais, e que ao longo
dos anos reforçou esse pensamento, desgastando a autoimagem desses povos. Existe um
abandono dos saberes indígenas que somente será resgatado com a decolonialidade. É
necessário respeitar aos saberes indígenas, entender e dar voz a esses povos que foram e
ainda são tão oprimidos. Pois nossas sociedades ainda demonstram relações de poder étnico-
raciais, onde existe dominação, subalternização das raças consideradas inferiores, o que
culmina no aumento da desigualdade social.

Expansão capitalista e contradição da cidade de Pacaraima sobre a TI São


Marcos

Tácio José Natal Raposo

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A destruição das sociedades indígenas e o estabelecimento da sociedade capitalista ocidental


se inicia com a ampliação do capitalismo mercantil e suas distintas formas de expansão nas
Américas, que decorre e se alimenta de ataques aos direitos e modos de vidas e até mesmo
eliminação de formas societárias distintas de seu padrão de desenvolvimento. Com objetivo
de analisar a expansão capitalista e seu caráter urbanizador na Amazônia Setentrional, o
presente é parte de uma pesquisa de doutoramento em curso pelo Programa de Pós-
Graduação do Instituto de Geografia da Universidade Estadual de Campinas IG – Unicamp com
foco analítico na contradição da implantação ilegal na TI São Marcos (Decreto, 312 de
29.10.91) a cidade de Pacaraima (L.96 de 17.10.95), sede do município como mesmo nome na
fronteira Brasil-Venezuela no norte do Estado de Roraima. Na elaboração do debate sobre o
processo de expansão capitalista, as populações indígenas são sempre esquecidas, pretende-
se por meio da análise crítica materialista e histórica evidenciar os efeitos desse processo para
TI São Marcos e com isso propor um debate sobre a modernização, que inclua as populações
indígenas, na caracterização do capitalismo contemporâneo a partir de uma concepção de
país da periferia considerado a produção e reprodução do capital internacional. Considera-se,
que o processo de modernização e de pretensão de ingresso ao sistema internacional de
produção se deu por meio de uma industrialização a partir dos “de cima”, em um processo
complexo, que não procurava resolver os problemas da sociedade, ao contrário, sua marca
forte permanece até os dias atuais, para avançar a economia é necessário a repressão,
opressão e exclusão de parte da população. O desenvolvimento e expansão capitalista no
Brasil, desde sempre, subsumi culturas, oprime e exclui sujeitos concretos, elimina vidas,
compromete hegemonias e elimina sociedade em nome do totalitarismo democrático
capitalista. Essa expansão aprofunda, os conflitos, as desordens e as contradições, das
camadas mais vulneráveis da sociedade que, embora sejam afetadas pelo o movimento de
expansão, não são consideradas nos debates pois suas vozes compõem, as vozes dos “de
baixo”. Assim para entender como se desenvolve o processo de expansão capitalista na
Amazônia e especificamente sobre a TI São Marcos e suas repercussões em relação a questão
indígena, toma-se como ponto de partida as reflexões possibilitadas a partir da Teoria
Marxista da Dependência, especificamente as ideias da relação de dependência analisado por
Ruy Mauro Marini; a captura da terra analisada por Octavio Ianni e a especificidade dessa
forma de capitalismo desenvolvido analisado também por Francisco de Oliveira no processo
de expansão capitalista e conformação da Amazônia.

El respeto por los derechos y la identidad cultural de los pueblos aborígenes


reconocidos y aún no contactados una nececidad a gritos desde la conquista,
la Colonia y la actualidade en Colombia

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Franklin Meneses Sáchica

Mirar a las estrellas es más que un sueño. Una ilusión, una fantasía o quizás una realidad. Para
los sabios y hermanos mayores es sinónimo de paz y de encuentro con los antiguos dioses,
con los espíritus de la madre naturaleza, con la sabiduría propia que los ha distinguido y
destacado durante mucho tiempo. La antigüedad de la problemática indígena se ha
caracterizado por la ineficacia de las medidas adoptadas. En los casi seis siglos de planteada
esta cuestión no se ha encontrado una solución completa y satisfactoria. Las leyes de indias
algunos pensadores las consideran sabias y admirables, pero resultaron ineficaces porque solo
beneficiaron a unos pocos y no fueron debidamente cumplidas, ni llevadas a la práctica. Poco
se realizado una vez conseguido la libertad de los pueblos y menos en los períodos de
colonización cuando más maltrato y olvido se presentaron en cada una de las comunidades.
A través de la historia y en la actualidad, vemos como nuestros indígenas se les ha mirado
como un impedimento para el avance del capitalismo y otras ideologías hasta el punto que
solamente buscaban hacerlos casi que desaparecer desconociendo sus derechos y libertades.
Muchos aún insisten en negarles el derecho a existir como culturas diferentes con necesidad
de desarrollarse, pues siguen siendo caracterizados como los miembros más inferiores de la
sociedad, incapaces de pensar y dirigir sus destinos con las mismas facultades y derechos que
se les conceden a los demás miembros de la sociedad colombiana. La constitución de 1991
abrió un gran espacio en Colombia creando un sistema denominado “Pluralismo Jurídico”.
Esta herramienta representa un cambio de “salvajes, semisalvajes y no civilizados a pueblos
originarios, ancestrales, y resguardos indígenas”. Viajando comunidad por comunidad y desde
la experiencia de un equipo investigador compartiendo con los integrantes de diversos grupos
se ha identificado la necesidad de dar a conocer que los últimos y auténticos guardianes de la
tierra son nuestros pueblos indígenas. Que sus tradiciones difieren de los conceptos erróneos
de brujerías y salvajismo. Quizás el blanco necesita aprender aún más de estos hermanos
mayores cuya sangre, sudor y lágrimas reclaman a gritos el respeto, el valor, la dignidad y la
tolerancia para aprender a convivir como hermanos. De esos derechos y la consagración de
los mismos se quiere plantear en este congreso internacional la puerta para que sean
escuchados a voz en grito y no queden solo como un recuerdo y una leyenda no solo en
Colombia sino también en el mundo. Que la voz de los ancianos y de los ancestros retumben
en la eternidad a la luz del fuego.
Povos indígenas e ética em pesquisa: (re) discutindo o poder tutelar

Eliene Rodrigues Putira Sacuena

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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A discussão sobre o conceito de ética e a compreensão da ética em pesquisa não podem ser
tomadas somente por meio da leitura e do debate de textos. É necessária sua compreensão a
partir da experiência do (a) pesquisador (a) e da dinâmica das relações sociais que se
apresentam e se constroem na medida em que surgem os problemas em contextos
epistemológicos que urgem análise. Os Princípios de Nüremberg, a Declaração de Helsinque,
a Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, todos esses documentos são
relevantes para o desenvolvimento e construção desse ramo do conhecimento. Para tanto,
pautaremos nossa exposição nos conceitos de autodeterminação e autogoverno
estabelecidos na Convenção no 169 da Organização Internacional do Trabalho e no artigo 231,
da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/1988). Temos que entender
a Ética em Pesquisa como uma estrutura, ou um sistema, em que os fatos são pensados para
serem ideologicamente encadeados, mas são passíveis de sofrerem alteração a depender da
circunstância. Para tanto, busquei dialogar com produções de uma indígena antropóloga para
contextualizar minhas ideias. Apresento, então, as palavras de Rosani de Fátima Fernandes
(2015), Kaingang, doutora em Antropologia Social. A referida autora aduz que em sua
trajetória pessoal, profissional e acadêmica notou várias atitudes etnocêntricas, racistas e
preconceituosas e por ser pedagoga de formação tentava minimizar os impactos negativos de
atitudes etnocêntricas na relação escolar, desenvolvendo trabalho com educadores a partir
da teoria geertiziana de sensibilidade jurídica. Tal como argumenta Gersem Baniwa (2012), a
Constituição Federal de 1988 correspondeu à positivação de direitos dos povos indígenas
fruto de várias articulações de agência e do próprio movimento indígena, principalmente após
a década de 1970 em virtude da quebra do monopólio estatal e das antigas missões religiosas
que o Estado e a Igreja aplicavam com a justificativa da doutrina civilizatória e poder tutelar.
Tratar sobre ética em pesquisa entre, com e para povos indígenas, significa discutir relações
de poder em um contexto genocida de opressão legitimado pela ordem Estatal. Não quero
com isso afirmar a desnecessidade de um Comitê de Ética em Pesquisa, pelo contrário, sei da
sua importância. Afinal, a ética indígena é diferenciada, a cultura é diferencia, a demanda é
diferenciada e não podemos mais aceitar a tutela academicista. Considerando os direitos de
autodeterminação e autogoverno e um número cada vez maior de pesquisadores indígenas,
proponho um comitê específico para regular pesquisas indígenas e enquanto não houver, que
cada povo determine quem ou o que está autorizado a ser pesquisado em seu território
indígena.

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A demarcação de terras indígenas nos limites fronteiriços do Brasil com


outros países Sul-Americanos: uma análise jurídica e social

Adriana Aparecida dos Santos

Jemima Feitosa Bemvindo

Laryssah Beatriz Rodrigues Viana

A terra indígena é reconhecida a partir de requisitos técnicos e legais, nos termos da


Constituição Federal de 1988. Por se tratar de um bem da União, a terra indígena é inalienável,
indisponível e os direitos sobre ela são imprescritíveis. Ela constitui o modo de vida
diferenciado e insubstituível dos cerca de 300 povos indígenas que habitam atualmente o
Brasil. (Fundação Nacional do Índio, 2014). A demarcação de terras indígenas é um processo
dispendioso, pois vários fatores a serem levados em consideração. O reconhecimento da
organização social, costumes, línguas, crenças e tradições indígenas são asseguradas na
Constituição Federal de 1988 e todos esses fatores devem ser avaliados no momento dos
procedimentos administrativos para demarcação de terras indígenas como dispõem o decreto
n° 1775 de 8 de janeiro de 1996 que trata da demarcação dessas terras. Há também o decreto
n° 7747 de 5 de junho de 2012 que institui a Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental
de Terras Indígenas, onde o objetivo é garantir e promover a proteção, a recuperação, a
conservação e o uso sustentável dos recursos naturais das terras e territórios indígenas. O
conceito constitucional de função social da propriedade (art. 186, CF) encontra abrigo
tranquilo em relação as terras indígenas porque há: o aproveitamento racional e adequado a
terra, dentro do valor e dos usos que normalmente são feitos pelos índios; a utilização
adequada dos recursos naturais disponíveis e a preservação do meio ambiente e a exploração
que favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. Além da legislação brasileira
a internacional também reconhece o direito à terra quando ele está ligado à preservação de
uma cultura específica, como no caso dos povos indígenas. A Declaração das Nações Unidas
sobre os Direitos dos Povos Indígenas aborda sobre a importância da terra para o povo
indígena e assegura que a função social e cultural seja preservada. Tendo em vista tudo que
foi abordado nesta proposta, acredita-se que a demarcação de terras indígenas é um fator
importante para a preservação da cultura indígena, como também uma garantia de igualdade
para esse povo que sofreu a séculos com a colonização portuguesa no Brasil e o avanço
considerável da urbanização. Então, fica demonstrada a necessidade da demarcação seguir
todos os trâmites dando atenção aos aspectos jurídicos, sociais e culturais envolvido, pois a
partir do reconhecimento e demarcação das terras indígenas de fronteira, preserva- se
também as fronteiras do Brasil com outros países.
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Entre o ócio e o trabalho urbano: o direito do trabalho indígena

Eva Cristina Franco Rosa dos Santos

Autores como Edgar Morin observam que a sociedade ocidental é construída sobre o valor do
trabalho, assim o ócio é rechaçado e, muitas vezes, até criminalizado, como os antigos crimes
de vagabundagem nas primeiras décadas do séc. XX, que tinham como foco a população não
branca ou até mesmo a população nativa que passou a viver nas cidades. O indígena, que tinha
um ritmo de vida diferente do ritmo do urbano típico, sofria com discriminações posto que a
visão jurídica da época não compreendia sua forma de agir no mundo, legando ao mesmo um
tratamento segundo um direito penal desmesurado. Essa ideologia do trabalho tem por base
também a visão de mundo protestante que vigorou em diversos países que no séc. XX
ascenderam enquanto potências internacionais, em que a ascese intramundana observada
por Weber tecia toda uma forma de estar no mundo vinculada à produção, sendo essa uma
das bases do capitalismo. Desse modo, tem-se um estado de coisas suficiente para observar
o significado de inovações legislativas, por exemplo, como a Lei 6.001/73 que tem por base
institutos que vão desde a necessidade de garantir que indígenas e não indígenas terão
direitos iguais na seara trabalhista, bem como, ao mesmo tempo, a adaptação do trabalho ao
costume indígena. Assim, o objetivo dessa comunicação é entender o local do trabalho
indígena numa sociedade que vacila entre a ideologia do trabalho e a busca por parâmetros
de qualidade de vida e bem estar social, como ela se desdobrou para abrigar o direito indígena
e para lidar com a alteridade dos povos nativos no que tange ao direito do trabalho.

Observação dos princípios da igualdade e da proteção legal na demarcação


das terras indígenas

Graziele Galdino dos Santos

Martha Araújo Alencar Brandão do Vale

A ocupação do território, que hoje é o Brasil, por povos indígenas precede a formação do
Estado Brasileiro. E, apesar de as terras indígenas já serem reconhecidas na época colonial,
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apenas em 1988, com a promulgação da Constituição Federal, esse direito restou-se


expressamente consagrado no artigo 231. A expressão constitucional desse direito prevê o
dever do Estado em delimitar seu pedaço de chão, bem como entrega a União o dever de
legislar sobre as populações indígenas com o fim de protegê-las, reconhecendo o direito
indígena originário sobre as terras que ocupam. Por outro lado, é cediço que a localização
geográfica dos povos indígenas, bem como as riquezas naturais ali existentes, desperta
interesse econômico de diversos empreendedores, desviando o alvo da garantia desse direito.
Gerando uma disputa de interesses em que as reservas indígenas se revelam como polo mais
frágil, abandonadas a sua própria sorte, a falta de recursos para as necessidades
constitucionais básicas como saúde, educação, transporte e mesmo alimentação. Neste
contexto, fica evidente a necessidade de compreender fonte normativa em que a garantia do
direito territorial indígena se formou no ordenamento jurídico brasileiro. Pretendendo, assim,
este trabalho realizar uma análise contextual do princípio da igualdade e da proteção legal
referente aos direitos indígenas sobre a demarcação de terras. O estudo se baseará no
método hipotético-dedutivo, por meio de pesquisa documental e bibliográfica.

Entre eras de ouro e ruínas perdidas: o racismo epistêmico e o discurso de


degeneração nas raízes da periodização cronológica mesoamericana

Diogo de Lima Saraiva

A partir de uma abordagem discursiva das representações, inspirada em Stuart Hall e Foucault,
tentaremos estabelecer que a periodização quase universalmente utilizada nos estudos
mesoamericanos contemporâneos tem uma conexão profunda com os discursos históricos
coloniais e novecentistas que narravam a história mesoamericana a partir da estrutura básica
de ascensão – degeneração – conquista. Nos debruçaremos sobre os pressupostos, valores e
relações de poder que influenciaram a produção dessas periodizações cronológicas. Na
Mesoamérica, a divisão do tempo passado já foi domínio de diversos grupos, incluindo
lideranças indígenas, missionários cristãos, elites políticas e intelectuais da Nova Espanha, do
México e Guatemala, e acadêmicos mesoamericanistas. Inúmeras periodizações foram
propostas ao longo dos séculos XIX e XX, mas é somente a partir dos anos 1950 e 1960 que se
chega a um crescente consenso em torno de periodizações que dividem o tempo anterior à
invasão espanhola em Pré-Clássico, Clássico e Pós-Clássico. A narrativa cronológica de
ascensão e degeneração serviu – e serve – como uma legitimação da conquista e da
dominação colonial sobre os povos indígenas, um dos alicerces do racismo epistêmico que
persiste, transmutado, até os dias de hoje. O próprio processo de patrimonialização de sítios
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arqueológicos mesoamericanos é em grande medida embasado numa noção de que as elites


e o estado mexicano são os verdadeiros herdeiros e responsáveis pelo legado material
indígena pré-colonial. Ao estimular uma nova rodada de discussões e debates sobre a
cronologia mesoamericana, a meta é a de não perpetuar construções semânticas que foram,
e são utilizadas como parte de um sistema de dominação das vidas indígenas na região.

A política de austeridade do governo Temer aos povos indígenas

Maíra de Mello Silva

Julio Augusto Jesus Lopez

Tratamos neste trabalho dos dados trazidos no relatório O Impacto da Política Econômica de
Austeridade nos Direitos Humanos (2017), a partir da síntese de elementos no tocante aos
povos indígenas que vivem no Brasil. Os vínculos geográficos também estão colocados, de
forma a compreender as políticas econômicas sob um viés regional, entendendo que Terras e
comunidades indígenas são consideradas empecilhos a um mesmo projeto de
desenvolvimento que ocasiona ruptura com direitos fundamentais. Assim, o aparato teórico
e metodológico utilizado neste trabalho toca a Antropologia, quando da compreensão das
dinâmicas práticas das políticas de austeridade infringidas aos povos indígenas, também
quando da revisão sobre a atuação dúbia do Estado brasileiro no que tange à lógica de
desenvolvimento que ocasiona e reafirma o etnocídio dos povos originários. Esse movimento
abstrato é feito através da vinculação da Antropologia e do Direito, pensando a Antropologia
Jurídica como instrumento epistemológico possível, especialmente através dos trabalhos que
possibilitam descolonizar essas ciências, em suas essências. Os resultados obtidos dão conta
de que a política implementada entre 2016 e 2019 pelo presidente Michel Temer fazem parte
de um longo processo genocida, caricato do Estado nacional brasileiro, porém, com requintes
de uma nova leva de investimentos internacionais para a compra de terras, instaurando o
conflito fundiário no campo, incluindo as Terras Indígenas até então asseguradas pela
Constituição.

O laudo antropológico emancipatório como ferramenta jurídica na garantia


da autonomia de povos indígenas: estudo de caso na Comarca de Alto Alegre,
RR, Brasil

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Sandra Rodrigues e Silva

Elionete de Castro Garzoni

A antropologia, cujo principal objeto de estudo são as diversidades culturais e as distintas


estruturas de relações sociais, passou a ter, a partir da década de 1980, uma importante
interação com diferentes campos do saber e outras ciências. No campo do Direito, busca
contribuir com novos olhares sobre os fatos em contenda, por meio de laudos e perícias, os
quais, conforme Silveira (2014), têm mais que uma função documental, mas enfocam uma
perspectiva emancipatória, num contexto que vai da ignorância (colonialismo) à
solidariedade, e que estaria em consonância com as orientações da Carta Magna do país, a
qual aponta a necessidade de afirmar e confirmar os valores e consolidar as diferenças
multiculturais e pluriétnicas. A principal finalidade dos laudos seria, conforme Laraia (1994, p.
11) “[...] traduzir em termos jurídicos os conhecimentos antropológicos”, com vistas a
amparar os operadores do direito, em particular os magistrados, nos seus vereditos finais. O
presente trabalho apresenta um crime ocorrido na Comarca de Alto Alegre, estado de
Roraima, Brasil, onde o laudo antropológico foi essencial. Trata-se de um homicídio
envolvendo dois jovens indígenas, que teriam assassinado um homem a partir da suspeita de
que este seria um Canaimé. Canaimé ou Kanaimé é um termo encontrado há tempos nos
registros da literatura antropológica dos grupos étnicos Kapon e Pemom, que corresponderia
à um espírito/entidade do mal, e que age nas comunidades indígenas com o intuito de
desestabilizar a ordem vigente, provocando uma desordem – que, por sua vez, precisa ser
reorganizada por meio de sua morte. À luz da cosmovisão indígena, o ato praticado pelos
rapazes contribuiria no restabelecimento da ordem pois, ao matar o indivíduo, estariam
aniquilando o Canaimé. Diante desse cenário, a Juíza responsável pelo caso requereu que
fosse realizada uma perícia antropológica, esclarecendo os seguintes pontos: a) sobre a etnia
indígena dos réus; e b) sobre o personagem CANAIMÉ, e como ele se integra à cultura tribal
(página 142 do Processo). Com o intuito de atender à solicitação judicial, foi efetuado contato
com o Instituto de Antropologia da Universidade Federal de Roraima (INAN/UFRR), para
disponibilizar profissional habilitado para a execução do pedido, denotando uma preocupação
do Poder Judiciário em não descontextualizar o funcionamento comunitário dessas
localidades, buscando, como destaca Silveira (2014), compreender a ordem moral ali
estabelecida, e demonstrando uma sensibilidade nessa compreensão do diferente. A
explicação do antropólogo é exatamente essa, mostrar aos operadores do direito esse outro
olhar – multicultural, pluriétnico que perpassa os povos indígenas, inovando a relação do
judiciário com esses sujeitos, de forma mais respeitosa e emancipatória.

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Direito consuetudinário dos povos indígenas e pluralismo jurídico: a questão


do direito à educação escolar indígena no Estado do Pará

Eliete de Jesus Bararuá Solano

Este trabalho objetiva discutir sobre a relevância do Direito Consuetudinário e do Pluralismo


Jurídico dos povos indígenas no Brasil, devido se verificar que, no Brasil, os costumes e os
sistemas jurídicos diferenciados desses povos são constantemente violados, negados ou
mesmo ignorados pela cultura jurídica positivista brasileira, principalmente no tocante aos
direitos que versam sobre a questão da educação escolar indígena no Estado do Pará. Os
principais autores brasileiros que tem se dedicado à essa temática e que fundamentam o
presente trabalho são: Wolkmer (2001) Curi (2011), Vilares (2013), Copetti (2017). A
metodologia empregada para esse estudo (ainda com poucas publicações brasileiras) foi a
revisão bibliográfica, baseada em livros e artigos científicos e na legislação brasileira; e a
pesquisa de campo, em área indígena das etnias Surui-Aikewara, Gavião e Tembé, durante o
Curso de Licenciatura Intercultural Indígena da Universidade do Estado do Pará. O estudo
verificou que o direito consuetudinário indígena ainda precisa superar alguns obstáculos de
autoritarismo do Estado (que busca sempre atrelá-lo aos ditames das leis normativas) e
reconhecer os atuais contextos sociais, políticos e educacionais existentes nas comunidades
indígenas, nas quais os professores indígenas são gerenciadores das políticas educacionais de
suas escolas, reivindicando não apenas políticas de inclusão social, mas a implementação dos
dispositivos jurídicos existentes que assegurem suas alteridades e o reconhecimento do
pluralismo jurídico, em especial, no campo educacional.

Os limites da inimputabilidade indígena: conflitos entre a liberdade cultural e


o Direito Penal Brasileiro

Karen Cristine Saraiva de Sousa

Luiz Fernando de Oliveira

A imputabilidade penal é definida como conjunto de condições que permitem ao agente


entender a ilicitude do fato e comportar-se de acordo com esse conhecimento. (NUCCI, 2011).

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A responsabilidade penal do indígena possui critérios diferentes de constatação, mas em geral


deve-se compreender por responsabilidade penal o dever jurídico de responder pela conduta
delituosa que recai sobre o agente imputável. É importante ressaltar que o tratamento jurídico
conferido aos indígenas, sobretudo em matéria penal a ser analisada, não pode deixar de
considerar as diferenças socioculturais, presumindo-se a culpabilidade e equiparando-os aos
“civilizados’’, mas depende de uma análise contextualizada, respeitando as peculiaridades,
protegidas constitucionalmente, de cada povo e cada indivíduo da tribo. Atualmente, para
constatar se o indígena será imputável ou não ao crime cometido, deve ser analisado se no
momento da conduta, de acordo com sua cultura, tradições e costumes, o agente
compreendia o caráter ilícito de determinada conduta considerada crime em lei. Para tanto,
antes da Constituição Federal de 1988, tinha-se o entendimento de que o grau de integração
social do indivíduo determinaria seu grau de culpabilidade, por acreditar que era um estágio
transitório e que, cedo ou tarde, todos seriam integralizados à sociedade. Esse viés teve
influência direta no Estatuto do Índio de 1973, o qual considera os índios isolados como
inimputáveis e os que já se integraram à sociedade como imputáveis, assim como cidadãos
comuns. A Constituição Federal de 1988, de fato, reconheceu a pluralidade étnica e cultural
do nosso país, assegurando aos índios o direito à alteridade, ou seja, ser diferente e ser tratado
como tal, direito esse reforçado pela Convenção 169 da OIT. O conflito entre a liberdade
cultural dos indígenas se dá justamente no seu grau de socialização. Há índios em diversos
estágios sociais, como por exemplo, alguns possuem curso universitário e outros sequer falam
ou entendem o português brasileiro, e além deles há os que estão no meio do caminho. São
situações diferenciadas e devem ser tratadas como tal. Mesmo que o indígena seja parcial ou
totalmente integralizado ao meio social, deve-se lembrar que o mesmo sobreveio de uma
cultura, tradições e costumes diferentes, e por vezes pode não compreender o sentido de
determinada regra ou lei. Além da questão do grau de integralização, tem-se o direito do
indígena a manutenção de suas culturas e costumes, e o seu próprio direito de solucionar
conflitos dentro de sua tribo. Esse fato traz para o ordenamento jurídico uma nova forma de
imputabilidade, apoiada no princípio non bis in idem, o qual estabelece, em suma, que
ninguém será punido mais de uma vez por uma mesma infração penal. Correlacionando este
princípio com o assunto tratado em questão, temos que: se o indígena já foi julgado e punido
dentro de sua tribo, este será isento de responsabilidade, em matéria penal. A
responsabilidade penal do indígena ainda é um tema não pacificado e encontra controvérsias,
diante da inexistência de regras claras e específicas no ordenamento jurídico, agravadas pela
precariedade de jurisprudências no assunto. Para tanto, nosso texto será dividido em três
tópicos: I - O indígena entre a imputabilidade e a inimputabilidade no Brasil; o qual tratará de
um estudo legal acerca do tema proposto; II - O indígena perante o Poder Judiciário: decisões
emblemáticas; esse tópico tratará de um estudo expositivo de decisões e jurisprudências
sobre o tema; III - O indígena entre o crime e o respeito à cultura; o qual tratará de um estudo
legal, social e moral sobre o crime dentro da sociedade e os costumes dentro de uma tribo
indígena. O objetivo deste artigo científico, por considerar esse tema de suma relevância, é

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analisar as diferentes atuações do Poder Judiciário atual, apresentar pontos críticos para
refletirmos acerca da responsabilidade penal, o alcance e aplicação do Direito Penal diante
dessa população culturalmente diferente, bem como expor os mecanismos cedidos pela
CF/88 e o Estatuto do Índio para o aferimento e entendimento da questão acerca da
imputabilidade indígena. A metodologia a ser utilizada será a pesquisa bibliográfica que
aborda direta ou indiretamente o tema em análise. No que tange à tipologia da pesquisa, esta
é, segundo a utilização dos resultados, pura, visto ser realizada apenas com o intuito de
ampliar os conhecimentos. Quanto aos objetivos foi descritiva, porque explica, esclarecendo
o problema apresentado, e exploratória, uma vez que procura aprimorar ideias, buscando
maiores informações sobre a temática em foco.

Tutela estatal sobre os direitos dos povos indígenas: uma perspectiva a partir
da Constituição Federal de 1988

Luiz Henrique Matias da Cunha

Tatiana dos Santos Gomes-Franca

Weverton Douglas Spineli

A partir da leitura dos artigos 231 e 232 da Constituição Federal de 1988 vemos que a
Constituinte teve um olhar atento para os direitos dos povos indígenas, reconhecendo dentre
outros direitos “sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos
originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las,
proteger e fazer respeitar todos os seus bens”, conforme preceitua o caput do artigo 231.
Muitos entendem que com esses dispositivos constitucionais tivemos um rompimento de
paradigma, entretanto, olhando para um contexto histórico de legislação, a começar das
cartas régias, e ainda, para os tratados e declarações internacionais reconhecidos pelo Brasil
que tratam sobre os direitos dos povos indígenas, verifica-se que nem tudo é inovação e logo
põe-se em dúvida até que ponto ou até mesmo se podemos falar em rompimento de
paradigma. Nesse contexto, o problema da pesquisa apresentada consiste na seguinte
pergunta, em que medida o texto constitucional avançou sobre os direitos indígenas no
tocante aos artigos 231 e 232 da própria CF/88? Como objetivos da pesquisa, temos como
geral a análise dos artigos 231 e 232 da Constituição Federal e como específicos, o estudo da
tutela, da posse e propriedade e da capacidade civil; a compreensão sobre o conceito de
Indigenato; e ainda, a análise do reconhecimento internacional por meios de tratados e
declarações. A pesquisa deste modo é qualitativa e como método de pesquisa será adotado a
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análise documental, tanto pelo condão historiográfico que apresenta, quanto pela decisão de
se limitar a análise de documentos.

"Sangue indígena: nenhuma gota a mais" - a questão territorial e as violações


de direitos dos povos indígenas: discursos, representações e resistências no
contexto neoconservador brasileiro

Sandra Regina Alves Teixeira

Benedito Emilio da Silva Ribeiro

Angelo Rodrigues de Carvalho

O trabalho analisa as ações neoconservadoras direcionada aos povos indígenas, enfatizando


a questão territorial, através das representações discursivas veiculadas na imprensa e que se
relacionam ao candidato eleito à Presidência da República, problematizando de que forma
tais discursos violam os direitos indígenas. Também pretende-se refletir sobre os movimentos
de reação dos próprios coletivos indígenas face as medidas e discursos que desqualificam e
ameaçam seus direitos garantidos. Adotou-se o método qualitativo, tendo como fontes
centrais 40 matérias coletadas nas mídias e jornais veiculados em 2018 e início de 2019, bem
como a Legislação e Diários Oficiais da União. Utilizando o conceito de representações
(CHARTIER, 2002), investigou-se os discursos produzidos, permeados de desrespeito,
preconceito, discriminação, racismo ambiental, ódio, jocosidade e interdições direcionadas
aos territórios e direitos indígenas. Na CF/88, no capítulo VIII, art. 231 e 232, estão
normatizados os territórios tradicionais enquanto direito originário dos povos indígenas sobre
as terras que historicamente ocupam e, logo, dispõe-se como competência da União os
processos de demarcação e homologação de terras indígenas, as quais são inalienáveis e não
podem ser usurpadas. Contudo, os discursos do Presidente eleito são eivados de concepções
coloniais, conservadoras e integracionistas atinente aos povos indígenas, representando um
retrocesso por violar direitos fundamentais, sociais e direitos humanos garantidos na CF/88,
bem como em legislações infraconstitucionais e acordos de proteção em âmbito internacional
acerca da salvaguarda dos conhecimentos tradicionais indígenas, sobretudo relacionados à
biodiversidade e preservação ambiental (CUNHA, 2017). A migração da FUNAI para o atual
Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, com o deslocamento da atribuição de
demarcação territorial para o Ministério da Agricultura caracteriza, portanto, desvio da
finalidade administrativa e deslocamento/violação de competência normativa da CF/88.
Nessa perspectiva de insegurança jurídica, legislativa, política e social, pautada em fortes
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interesses econômicos, maximizam-se os conflitos entre representantes do agronegócio,


setores madeireiros e povos indígenas. Portanto, pretende-se compartilhar a reciprocidade
de direitos (SANTOS, 1997) como desafio em um cenário pautado pela violação dos direitos
humanos, refletindo sobre o exercício de compartilhamento de direitos e deveres do Estado
em uma perspectiva dialógica com a sociedade civil organizada, na implementação e
fiscalização de políticas voltadas e gestadas pelos povos indígenas, no fortalecimento do
Movimento Indígena e na formação de advogados e pesquisadores indígenas para garantia
com eficácia e efetividade de direitos.

Deserção cultural indígena no Brasil: obstáculos e desafios a partir da égide


constitucional

Guilherme Traesel

Vanderleia Matos Costa

O intuito do desenvolvimento do projeto é compreender os motivos reais da deserção da


cultura indígenas no Brasil e os desafios que assombram muitos indígenas e o seus
descendentes. Iremos analisar e compreender por que muitos indígenas acham mais plausível
abandonar a cultura por causa dos desafios do que lutar por ela. Além disso, enfatizaremos
quais são as garantias que a constituição federal de 1988 traz para essa população, e o que
faz muitos descendentes que não moram em tribos não buscar ou querer saber da sua origem
e dos seus antepassados. Exploraremos quais são os desafios da população que não nasceu
em tribo e, analisar como essas pessoas se veem na sociedade como indígenas ou como
apenas descendentes. Relataremos mais adiante o Estatuto dos Índios e quais são os
benefícios que essa lei oferece e quais são os desvantagem. Informo ainda que citaremos o
direito humanos e como ele se encaixa nessa cultura, afinal os índios são humanos como
qualquer outra pessoa. Compartilharemos também a questão do isolamento indígena, os
índios que não consegue deserta da sua cultura ele se isolam e com isso acaba tendo uma
mortalidade maior desse grupo e, como a proteção dos povos indígenas isolados atua nesse
sentido.

O tratamento aos povos indígenas no Sistema Jurídico Brasileiro

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Gabriella Aguiar Valente

Clara Rodrigues Silva Gallieta

Beatriz da Mota Santos Silva

A partir de uma análise histórica, social e jurídica, o presente trabalho visa traduzir a relação
dos povos indígenas com o ordenamento jurídico brasileiro, em especial o Direito Penal. Em
suma, há dois grandes problemas envolvendo o tratamento que o Direito faz aos povos
indígenas: o primeiro refere-se à imputabilidade de seus atos; e a outra problemática envolve
o não reconhecimento das normas jurídicas criadas por cada comunidade indígena no país.
Nesse sentido, o trabalho realiza uma análise histórica - desde a colonização até a formação
do Estado independente - para então compreender como as imagens construídas sobre a
figura do “índio” se relacionam com a exploração dos povos originários, o que também se
expressa na forma como tal população foi subjugada, aniquilada e desrespeitada quanto a
seus valores e crenças; algo que ainda não deixou de acontecer. Uma evidência disso é que o
Direito brasileiro ainda negligencia o fato de que cada comunidade indígena possui um
sistema normativo e até autoridades para elaborar regras próprias. O jurista, como cientista
social, não poderia desconhecer esse fenômeno. A justiça e a coesão social só podem ser
atingidas se respeitada a organização social, as normas, valores e costumes dos povos
indígenas, o que não trata-se de esfacelar a ideia de um Estado unitário, mas sim de dar
condições para que cada ser humano que o integre possa viver sua cultura de forma plena. A
necessidade de garantir e efetivar os direitos dos povos tradicionais torna-se categórica
quando se pensa na característica própria do Brasil de ser tão diversificado e miscigenado
desde sua formação. Nesse aspecto, o trabalho parte da ideia de que um Estado se torna mais
forte e coeso quando apoia o pluralismo, pois, ao respeitar a cultura e os sistemas jurídicos
particulares de cada povo que vive sob sua proteção, o Estado também ganha legitimidade.
No entanto, a realidade ainda não é favorável, e apesar de previsões legais, tais temáticas
ainda não são um assunto em pauta no Direito Penal. Assim, há uma urgência de se rediscutir
os paradigmas colocados para que o Direito Penal e o Estado brasileiro possam se reconciliar
com os povos indígenas, pois se não o fizerem, esses povos correm o risco de continuarem a
ser perseguidos, mas agora de forma institucionalizada.

ST 12 | Educação superior, diversidade cultural e interculturalidade: avanços e


desafios no acesso e na permanência em universidades latino-americanas

Rita Gomes do Nascimento (Ministério da Educação, Brasil); João Francisco Kleba Lisboa
(Universidade Federal do Paraná – UFPA, Brasil).
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Espaço para debater sobre o acesso e a consolidação do direito à educação superior, para os
povos indígenas, quilombolas e outras comunidades tradicionais na América Latina. Nele
propõe-se a reflexão a partir de políticas de acesso, permanência e convivência nas
instituições de educação superior. No contexto brasileiro se destacam os cursos interculturais,
tais como os cursos de formação de professores indígenas e as políticas de cotas que incidem
no acesso desses grupos a curso de graduação e de pós-graduação. Neste espaço de debates
compreende-se que não se deve dissociar a educação das demais questões prementes a esses
povos e comunidades tradicionais, uma vez que ela tem papel histórico determinante em suas
relações com as sociedades nacionais envolventes, além de se apresentar imbricada em suas
diversas demandas atuais e projetos de futuro. A concepção intercultural, por sua vez, serve
não apenas para discutir a educação escolar indígena e quilombola e a inserção desses
“outros” na rede pública de ensino básico e no ensino superior, mas ocupa lugar central em
projetos intersocietários de dimensões éticas, políticas e epistêmicas mais profundas. A
inserção em contextos mais amplos, portanto, assim como a comparação a partir de
experiências vivenciadas por esses sujeitos nas Américas, serão meios importantes para
refletir os avanços e desafios em torno dessa temática.

"Se não somos bons o suficiente para entrar na universidade, então a


universidade também não é boa para as nossas comunidades": o racismo
institucional e os desafios da interculturalidade no Ensino Superior

Carina Santos de Almeida

Elissandra Barros da Silva

No Brasil e na América Latina a realidade dos povos indígenas é muito diversa e complexa,
exigindo do Estado ações específicas, intervenientes e, muitas vezes, ousadas. A garantia de
suas terras demarcadas e homologadas faz com que o cenário ameríndio amapaense se
apresente menos perturbador que em outros territórios brasileiros, mas não significa que os

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enfrentamentos locais não sejam profundos e desafiadores. A universidade é, ou deveria ser,


o lugar da diversidade, da interculturalidade, da diferença, do respeito, da vanguarda e da
transformação da sociedade através do acesso pleno à educação. Contudo continua a se
perpetuar nas universidades o pensamento “colonizador” e “civilizador” que se manifesta,
inclusive, em suas práticas institucionais. Neste trabalho refletimos sobre o embate recente
entre os povos tradicionais do Amapá e a Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), tendo
como plano de fundo a implementação das políticas de ações afirmativas institucionais
direcionadas aos indígenas e quilombolas, e que acabaram por expor de forma escrachada o
racismo institucional. A luta dos povos tradicionais por acessos e espaços no ensino superior
na UNIFAP confrontou parte significativa da comunidade acadêmica, que se opôs ao ingresso
de indígenas e quilombolas recorrendo a discursos racistas, travestidos de “democracia” e
evocando argumentos de igualdade e meritocracia. Esse cenário de embate gerou um impasse
crucial: a UNIFAP foi obrigada a rever a relação entre pesquisador e objeto de pesquisa; e as
comunidades indígenas passaram a regrar e limitar o acesso da Universidade ao seu mundo,
nas palavras de uma liderança indígena da região: “se não somos bons o suficiente para entrar
na Universidade, então a Universidade também não é boa para as nossas comunidades”. O
que está ocorrendo na Universidade Federal do Amapá certamente não representa uma
realidade isolada, mas serve para evidenciar o racismo que perdura em nossa sociedade e nas
instituições formadoras de educadores e profissionais.

Trajetória de estudos de quatro mulheres indígenas graduadas em cursos na


área de saúde na UFMT

Andressa dos Santos Alves

Maria Elizandra Lopes Torekureuda

Esta comunicação tem por objetivo divulgar a trajetória de estudo de quatro estudantes
indígenas egressas do Programa de Inclusão Indígenas (Proind) da Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT). Todas as estudantes são oriundas de aldeias indígenas de Mato Grosso,
das etnias: Bororo, Chiquitano, Paresí e Umutina, que ingressaram nos cursos de Psicologia
(2010), Enfermagem (2007), Medicina (2007) e Nutrição (2008), respectivamente. Seu acesso
ao ensino superior foi por meio do Proind, um programa de ação afirmativa, que disponibilizou
vagas suplementares, para promover o acesso e permanência de estudantes indígenas do
estado de Mato Grosso em cursos de bacharelado na UFMT. As autoras deste texto abordam
o tema da inclusão e permanência de mulheres indígenas na universidade a partir de suas
experiências: a primeira enquanto acadêmica não indígena do curso de Ciências Sociais, que
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atuou no Proind enquanto bolsista de monitoria e apoio à inclusão de 2007 a 2011 e a segunda
enquanto acadêmica indígena do curso de Psicologia de 2010 a 2018. A partir de suas
trajetórias buscamos priorizar desde a saída da aldeia e sua motivação para prosseguir os
estudos em busca do ensino superior na UFMT, e como conciliam o papel da mulher indígena
no âmbito da sua cultura e da vida acadêmica. Neste sentido, trabalhamos
metodologicamente a partir da reconstrução de quatro trajetórias pessoais escolares e
profissionais desde uma perspectiva interseccional.

Formação de professores indígenas no Brasil: relato das experiências do


Programa de Apoio à Formação Superior e Licenciaturas Indígenas (Prolind)
do Ministério da Educação

Amanda Rodrigues Marqui

Lúcia Alberta Andrade de Oliveira

O Prolind é uma iniciativa do Ministério da Educação do Brasil que tem como objetivo
fomentar/desenvolver programas especiais para formação de estudantes/professores
indígenas (que atuam nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio) em nível
superior. Desde o surgimento deste Programa, em 2005, foram feitos quatro editais para a
submissão de propostas de cursos de Licenciaturas Interculturais Indígena às Instituições de
Ensino Superior. Atualmente há 14 Instituições de Ensino Superior que ofertam os cursos de
Licenciatura Intercultural Indígena e atendem aos professores indígenas de todas as regiões
do país. Tais experiências possibilitam problematizar a interculturalidade no ensino superior
e a efetividade de políticas específicas para a formação de professores para a qualidade da
oferta da Educação Básica nas escolas indígenas. Há estudos que comprovam que as regiões
onde foram realizadas as formações, a ampliação da oferta dos anos finais do ensino
fundamental e ensino médio aumentou significativamente, tendo professores indígenas
formados das próprias comunidades. Importante destacar que os egressos desses cursos
conseguiram ressignificar suas práticas pedagógicas e se tornarem pesquisadores indígenas,
reconhecidos pela Universidade e por seus povos. A proposta desta comunicação é debater
as políticas públicas específicas e diferenciadas no que diz respeito à educação escolar
indígena brasileira e as experiências dos cursos de Licenciatura Intercultural Indígena em
andamento a partir dos estudos técnicos desenvolvidos pelo MEC.

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Estudantes Indígenas x Racismo Institucional: experiência de resistência,


permanência e o desafios de formação

Braulina Aurora Baniwa

Tanielson Rodrigues da Silva

Na presente comunicação apresentamos, sobre a nossa experiência de resistência de luta pelo


direito de acesso a permanência, nas universidades brasileiras, trazendo à tona o que é pouco
falado ou não visibilizado, nos assuntos institucionais que é racismo, enfatizando, a partir da
nossa experiência de defesa de direito, o caso a bolsa permanência, no contexto de
graduação. O nosso foco de análise é a diversidade de facetas quando se trata de racismos
com os indígenas, que envolver a histórica invisibilidade indígenas e os desafios de formação,
afirmação de protagonismo nas academias. E a luta pela tão sonhada consolidação de políticas
públicas para estudantes nas instituições de ensino, desconstruindo a figura do índio de
literatura. Falar de desafios e superação de formação, nos sendo a protagonistas de voz, é
forma que encontramos para resistir e visibilizar nossas lutas geracionais, que para nos se
trata de continuação daqueles que nos antecederam. Nos espaços de formação, enfrentamos
o desafio de fazer entender que a nossa atuação ultrapassa o muro da universidade, a
necessidade de protagonizar a fala, nos traz a uma das facetas de racismo, pois é estudante
como outro qualquer. A resistência de defender o acesso a formação e conquista de tão
sonhado diploma de ensino superior passa por processo de dificuldades que confronta, a
teoria do direito de acesso. As nossas representações nas audiências quando é nos dado a
oportunidade de voz é o momento que damos a voz a aqueles que necessitam da política,
passamos ser porta voz dessas pessoas, a luta continua e continuaremos nessa luta para o
bem-estar social e política dos povos indígenas, seja nas universidades e instituições públicas,
pelo território, direitos e saúde.

Ações afirmativas e presença indígena na universidade: transformando o


Campus Binacional de Oiapoque

Vinícius Cosmos Benvegnú

O Oiapoque, no estado do Amapá, extremo norte do Brasil, é um município marcado pela


forte presença indígena em sua sociedade. As quatro etnias habitantes da região, Karipuna,
Galibi Marworno, Galibi Kalinã e Palikur correspondem a quase um terço da totalidade da
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população do município. Além da demarcação de seu território, a organização política desses


povos (em aliança com as outras etnias presentes no Amapá) possibilitou a conquista da
criação do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena e, posteriormente, protagonizaram a
luta pela construção de um Campus da Universidade Federal do Amapá no município. O curso
já tem onze anos de existência, atendendo a demanda de formação de professores indígenas,
visando uma Educação Escolar Indígena Diferenciada. Já o ano de 2018 foi marcado por mais
uma conquista (não sem luta e empenho), a reserva de vagas para indígenas e quilombolas
nos outros cursos regulares do Campus de Oiapoque, totalizando o ingresso de mais de 60
discentes oriundos dessa Política de Ações Afirmativas. Nesse trabalho, primeiramente,
contextualizo esse processo de luta pela garantia de uma política de ações afirmativas
realmente adequada a realidade local, em segundo lugar, trago o relato de minha experiência
docente na turma de ingressantes no curso de História, o qual conta com metade de discentes
indígenas, em que tornou-se evidente a potência (política e epistêmica) das contribuições
trazidas pela presença indígena. E, por fim, teço algumas reflexões iniciais sobre os efeitos da
implementação da política no Campus Binacional do Oiapoque, na construção de uma
educação e universidade pública mais democráticas.

Indígenas nos cursos de formação de professores: experienciando a


interculturalidade e fomentando políticas de permanência

Célia Aparecida Bettiol

Jeiviane Justiniano

A comunicação apresenta o trabalho desenvolvido no âmbito da Universidade do Estado do


amazonas (UEA) na Escola Normal Superior (ENS) que abriga os cursos de licenciatura em
Manaus/AM. Segue uma perspectiva que agrega a extensão e a investigação junto aos
indígenas matriculados nestes cursos. Participam dos projetos acadêmicos dos povos Tikuna,
Kokama, Baré, Apurinã, Tuyca, Sateré, Munduruku, Witoto, Dessana e não indígenas. Têm
como objetivo a construção de diálogos interculturais na comunidade acadêmica, a
decolonização do conhecimento e o fomento da permanência desses sujeitos com a
construção de espaços formativos que fortaleçam sua resistência e permanência na
universidade, trabalhando a língua portuguesa como língua adicional. Maher (2007) afirma
que dominar a língua portuguesa é uma estratégia necessária a estes povos nos seus
processos de negociação e de afirmação efetiva de seus direitos na sociedade. Estudar as
condições linguísticas de povos indígenas é uma tarefa extremamente complexa, na medida
em que são estudos que se preocupam com as línguas em contato ou conflito em dada
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comunidade e por se pautarem em questões centradas no próprio sujeito bilíngue, na sua


identidade étnica e na língua de maior prestígio social, como é o caso do português. Esta
diversidade cultural enriquece a universidade e suscita a discussão sobre a interculturalidade.
Para Hall (2006), “[...] a identidade torna-se uma celebração móvel [...]. É definida
historicamente, e não biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes
momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente” (p. 13). A
cultura, nesse cenário, não é tratada como algo imóvel, estagnado, mas como produto desse
reconhecimento, capaz de passar por ressignificações e transformações. A universidade deve
ser um espaço de diálogo onde essas diferenças são potencialidades de pesquisa e produção
de novos conhecimentos. Como resultados parciais dos projetos, ora em desenvolvimento,
temos o mapeamento dos indígenas acadêmicos desta unidade, a criação de um grupo de
trabalho com ações construindo diálogos interculturais por meio da discussão linguística,
artística, dentre outras, e o envolvimento da comunidade acadêmica e lideranças indígenas,
bem como a pesquisa destes acadêmicos sobre sua própria cultura. Os projetos contam com
o apoio da Pró Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários por meio de bolsas. Contudo,
neste tempo marcado pela negação de direitos e desconstrução de políticas sociais,
evidenciamos a necessidade de envidar esforços para garantir a diferença neste ambiente
para o diálogo na perspectiva da interculturalidade.

Acciones afirmativas y procesos organizativos estudiantiles indígenas: Una


ruta para fortalecer políticas para grupos étnicos en las Instituciones de
Educación Superior de Colombia

Flor Delia Vitonas Bollocue

En Colombia habitamos 102 pueblos indígenas distribuidos en todo el territorio nacional,


existen 65 lenguas nativas que son reconocidas por medio de la ley 1381 de 2010 y contamos
con 5 organizaciones de carácter nacional que tenemos como principios de vida la unidad, la
tierra, la cultura, el territorio y la autonomía. Desde tiempos inmemoriales, los indígenas
colombianos hemos vivido de acuerdo a nuestras leyes de origen. A partir de la Constitución
Política de 1991 el país hizo el tránsito de ser una nación mestiza (con un fuerte
blanqueamiento) al concepto de nación pluriétnica y multicultural. Este reconocimiento por
medio de diferentes leyes y normatividades jurídicas fundamentadas en la carta del 91,
permitió que las Instituciones de Educación Superior (IES) en Colombia aplicaran medidas de
acciones afirmativas. Estas medidas de Acción Afirmativa están dirigidas a lograr la igualdad
efectiva de diferentes grupos protegidos como mujeres, grupos étnico-raciales y población en
situación de discapacidad, en diversos campos en los que existe un déficit de representación;
como la participación política, la educación, el empleo y el acceso a la vivienda (Viáfara, 2010).
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En el acceso a educación superior para grupos étnico-raciales se destacan dos tipos de


medidas: aquellas de origen gubernamental y las que surgieron de manera autónoma por
iniciativa propia de las universidades públicas y privadas, es decir, sin que mediara una Ley en
sentido estricto. Por otro lado, el Ministerio de Educación ha generado instrumentos con
recomendaciones y lineamientos para el sector educativo en temas relacionados con la
educación inclusiva. En la actualidad hay 32 universidades y 26 instituciones de educación
superior pública y privada que tiene programas de admisiones diferenciadas para
afrocolombianos e indígenas los cuales son: matricula mínima y cuotas para ingreso y
permanencia. La educación para el indígena es una base fundamental y es así como la
entendemos como un sistema integral. En las épocas de los años 70 y 80 era imposible que el
indígena ingresar a una Universidad. Pero desde dos décadas atrás el reto fue acceder a la
educación superior con el fin de entender dos formas de educación: la convencional y las
inherentes a las comunidades-la propia- en buca de un diálogo intercultural. De ahí surgen las
nuevas formas de organización estudiantil que son los cabildos indígenas universitarios en por
lo menos 20 universidades del país, un fenómeno nuevo jamás visto en Universidades de otros
países de Latinoamérica que poco a poco ha logrado interculturalizar la educación en
Colombia. En este sentido el propósito de esta ponencia, en primer lugar, es presentar la
experiencia de acciones afirmativas para las comunidades indígenas y los procesos
organizativos estudiantiles indígenas llamados Cabildos indígenas Universitarios existentes en
las Universidades públicas y privadas del país, sus obstáculos, logros y proyecciones. En
segundo lugar el interés es mostrar los avances en la formulación de políticas, estrategias y
programas para permanencia, pertinencia, y dialogo intercultural en la Universidad del Valle,
como Universidad pionera en reconocer el primer Cabildo indígena Universitario y pionera en
el diseño de la Sección de Asuntos Étnicos en el marco de una política de acción afirmativa.
Finalmente, como egresada indígena Nasa de la Universidad del Valle y por haber hecho parte
de las vivencias y construcción de estos procesos estudiantiles indígenas puedo aportar mi
propia experiencia en un intercambio con otros hermanos y hermanas indígenas.

A estudo comparado sobre as universidades próprias nos países andinos

Júlia Guimarães Stoimenoff Brito

Elizabeth del Socorro Ruano Ibarra

Analisam-se comparativamente os processos de criação e consolidação das universidades


próprias nos países andinos de modo a questionar o significado dessas para as instituições
idealizadoras face a questão da entrada dos povos indígenas no ensino superior. As
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instituições estudadas são a Universidad Autónoma Intercultural Indígena (UAIIN),


Universidad Intercultural de las Nacionalidades Indígenas de Ecuador Amawtay Wasi (UINPI-
AW) e a Universidad Indígena Originária Kawsay (UNIK) criadas por, respectivamente,
Conselho Regional Indígena del Cauca (CRIC - Colômbia), Confederación de Nacionalidades
Indígenas de Ecuador e pela Red Intercultural Tinku (Bolívia, Equador e Peru).
Metodologicamente composto a partir da revisão bibliográfica e documental, são utilizados
prioritariamente documentos de autoria das organizações indígenas de livre acesso
disponíveis nos portais da internet. Ademais, também foram acessados documentos dos
governos, OnGs, notícias de imprensa, além da revisão da literatura acadêmica sobre o
assunto. O fenômeno da presença indígena no ensino superior suscitou diversas pesquisas
com ênfase nas dificuldades enfrentadas por esses povos em termos de permanência nas
instituições tradicionais. Essa pesquisa teve como foco, por outro lado, estudar uma das
estratégias formuladas pelas organizações indígenas com o objetivo de garantir esse espaço
de poder. A base teórica do trabalho parte do princípio da educação própria formuladas pelo
CRIC (CRIC, 2004) e adentra as discussões sobre multiculturalismo e interculturalidade
(Tubino, 2002; Walsh, 2009); além nas novas teorias sobre os Estados plurinacionais em
relação às do Estado-nação moderno (Quijano, 2000; Casanova, 2007; santos, 2018). O
resultado da coleta de dados mostrou que essas instituições são projetos políticos com o
objetivo de permitir a realização do plurinacionalismo e das autonomias indígenas. A base
organizacional dessas universidades é construída a partir dos conhecimentos indígenas,
porém, os cursos e ensinamentos são elaborados interculturalmente pela escuta e valorização
das epistemologias presentes. Percebemos, adicionalmente, que os seus objetivos
pedagógicos se aproximam dos da pedagogia crítica de Paulo Freire, na qual a educação deve
servir à emancipação do sujeito e à transformação da realidade. Além disso, as instituições
que realizam pesquisas as fazem com o objetivo de intervir em suas realidades próximas em
modelos semelhantes à pesquisa-ação apresentada por Fals Borda. No entanto, por seu
caráter anti-sistêmico e decolonial, elas sofrem a resistência das estruturas econômicas e
estatais.

Os efeitos da aplicação da Lei 12.711/2012 no acesso dos jovens indígenas à


formação superior na Bahia

Andressa Thaiany de Carvalho

Ângelo de Oliveira França


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Pablo Rodrigo Fica Piras

Considerando o acesso à formação universitária um elemento que contribui à sustentação da


luta pela continuidade da identidade indígena, este trabalho analisa o impacto das políticas
afirmativas das Universidades da Bahia (UEBAs e IFEs sediadas na Bahia) no acesso, ao ensino
superior, dos 22 povos indígenas reconhecidos e de outros que estão lutando pelo
reconhecimento. Segundo o censo do IBGE no ano de 2010, existem hoje no Brasil 817,9 mil
indígenas, falantes de 274 línguas e agrupados em 305 etnias espalhadas no território
nacional. Com a chegada dos europeus à região Nordeste, no século XVI, alguns povos eram
nômades e o contato induziu a passagem do nomadismo ao sedentarismo. Devido à
voracidade expansionista do capitalismo e da monocultura, os povos originários têm tido que
se manter em permanente processo de organização para a luta reivindicativa. A Lei federal
12.711/2012 veio para democratizar o acesso à educação superior, mas a obrigatoriedade
aplicava-se somente a Instituições Federais de Ensino Superior e as Universidades Estaduais
Baianas implantaram tais cotas em processos voluntários. Através de entrevistas e fontes
secundárias (Sampaio, 2010; CIMI, s.d.; Brasil/IBGE, s.d.), foram levantadas as taxas líquidas
(número de estudantes que estão cursando o ensino superior, comparado com o total de
jovens entre 18 e 24 anos, nessa mesma amostra) de jovens matriculados nas UEBAs,
comparando este dado com o recorte para os jovens indígenas. Em que pesem as dificuldades
em coletar estes dados e a variabilidade de critérios que cada universidade adota na gestão
do sistema de cotas, o levantamento nos anos 2013/2014 (ano de publicação do atual PNE)
conduziu à constatação de que no Estado havia um contingente de 56.800 indígenas,
distribuídos em 33 municípios da Bahia, com 21.755 novos estudantes ingressantes à
educação superior baiana, para 24.999 vagas. O conjunto das Universidades Estaduais da
Bahia (UEBAs) tinha 43.102 regularmente matriculados, somando ensino presencial e a
distância, considerando bacharelados e licenciatura. Para o número de vagas na Bahia, o
número de estudantes indígenas matriculados é de 280, resultando em aproximados 3,0% dos
estimados 9.315 jovens indígenas na Bahia entre 18 e 24 anos, inferior ao 14,3%, de todos os
jovens baianos, que já é distante dos 33% almejados no PNE (Lei 13.004/2014), previstos para
o ano de 2024, o que indica que as ações afirmativas precisam ser reavaliadas, em que pese a
sua contribuição significativa, já que o impacto da exclusão da posse da terra e a discriminação
no quotidiano pela fração não indígena da sociedade continua a manter restrições à cidadania,
facilmente constatáveis com o numerário dos poucos estudantes matriculados, pertencentes
a somente 10 etnias, a maioria da Bahia.

Acesso e interculturalidade na graduação e pós-graduação

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ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Layla Jorge Teixeira Cesar

A presente comunicação pretende apresentar o panorama de oferta dos cursos interculturais


no Brasil, nos níveis de graduação e pós-graduação, observando sua distribuição geográfica e
área do conhecimento. Especificamente em relação à graduação, a oferta será analisada em
paralelo aos dados sobre o acesso de estudantes indígenas produzidos pelo Instituto Nacional
de Estudo e Pesquisa Anísio Teixeira (INEP). O Censo da Educação Superior do INEP realizado
entre os anos de 2011 a 2016 aponta como tendência um consistente aumento na matrícula
de estudantes indígenas, que saltou de pouco mais de 9 mil para quase 50 mil estudantes, em
571 cursos. O maior volume se concentra no sistema privado e na região Nordeste. O setor
público avança de modo mais lento, assim como, aparentemente, a oferta de cursos
interculturais. Em busca nominal entre os programas registrados na mesma base entre os 34
mil cursos de graduação registrados no país, foram encontrados apenas 41 que se auto-
intitulam interculturais, a maioria orientada para atender a estudantes indígenas. Estes cursos
concentram apenas 4,2% do total de matrículas de estudantes indígenas. No nível da pós-
graduação, uma busca nominal na plataforma Sucupira, indica a presença de, pelo menos, 13
programas de pós-graduação explicitamente orientados pela interculturalidade. À diferença
da graduação, temáticas relacionadas à questão negra/africana/quilombola aparecem com
maior destaque do que temáticas indígenas. Provavelmente, esta diferença está relacionada
ao fato de que, como se observa a partir dos dados do INEP, o aumento da presença de
estudantes indígenas na educação superior é um fenômeno recente. Com relação à
distribuição geográfica, observa-se a maior concentração de programas nas regiões Nordeste
e Norte. Além de detalhar estes dados, a presente comunicação pretende também introduzir
o debate sobre a relevância destes cursos como espaços de ampliação do direito ao acesso. A
oferta de vagas para povos indígenas, quilombolas e provenientes de outras comunidades
tradicionais não é suficiente para garantir o exercício do seu direito à educação, que exige
uma restruturação de práticas e conteúdos pedagógicos. Por outro lado, não se pode perder
de vista o potencial assimilatório das instituições de educação superior mesmo dentro de
espaços diferenciados, contexto que exige um posicionamento estratégico.

Tejiendo estrategias de resistencia en la Educación Superior: experiencias de


acción colectiva del Cabildo Indígena de la Universidad del Valle - Colombia

Emilker Gabriel Cuatín Cuesta

283
Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

En Colombia los pueblos indígenas en la lucha constante por resistir, la construcción como
movimiento y sujetos políticos en la Asamblea Nacional Constituyente (1991) permitió
reivindicar tres aspectos fundamentales: territorios autónomos, respeto a la diferencia
cultural y participación política en las decisiones del estado. Los pueblos indígenas en función
de su cosmovisión han logrado o adoptar diferentes formas de organización en sus territorios.
Una de ellas son los Cabildos. En consecuencia, en las Instituciones de Educación Superior,
indígenas estudiantes ante la exclusión, el nivel académico, la deserción y otros aspectos
vieron la necesidad de organizarse replicando la estructura organizativa en figura de autoridad
denominándose Cabildos Indígenas Universitarios. El Cabildo Indígena de la Universidad del
Valle (CIU) es la primera experiencia de conformación, trabajando sobre aspectos como el
Ingreso, la permanencia, pertinencia en educción y el retorno a los pueblos indígenas; trabajar
sobre estos aspectos permite que el indígena estudiante logre articular sus saberes
ancestrales con los conocimientos adquiridos en la Universidad. Saberes eurocéntricos que
promueven las universidades convencionales. Con esto, se logra consolidar procesos de
movilización que se caracterizan por mantener una relación entre el territorio y la academia,
concretando un trabajo teórico-práctico en la formación profesional. El CIU conformado por
varios pueblos indígenas, lleva 26 años de procesos de acción colectiva y 16 años como Cabildo
reconocido dentro de la Universidad del Valle y comunidades de base. Es el pionero en el país
siendo referente para que se formen espacios de participación de las comunidades indígenas
en otras instituciones de educación superior públicas y privadas, ha logrado gestar espacios
académicos como cátedras relacionadas con las lenguas ancestrales, Jurisdicción especial
indígena, etno-conocimiento e investigación. Ha logrado conformar un Semillero de
investigación en epistemologías propias que permitan retomar los adelantos investigativos de
los indígenas que han culminado sus estudios en la Universidad, todo esto con la intención de
visibilizar los saberes de los pueblos originarios aportando a la construcción de una
Universidad diversa. Como resultado de este proceso y de otras Universidades se crea la Red
de Cabildos Indígenas Universitarios a nivel nacional que permite articular y accionar de forma
conjunta por el reclamo de una Educación diferencial e incluyente en las Instituciones de
Educación Superior de Colombia.

Presença indígena na UnB: territorialidade e resistência

Elizabeth del Socorro Ruano Ibarra

Victoria Miranda da Gama Oliveira

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

O presente trabalho propõe-se a compreender a inserção dos estudantes indígenas na UnB.


Para tanto, enquanto aporte teórico serão mobilizados os conceitos de interculturalidade
crítica e territorialidade. A narrativa fundamenta-se também no debate a respeito das Ações
Afirmativas, inaugurado na década de 90, no Brasil. Nessa linha, a aprovação da Lei de Cotas
denota um significativo avanço na inclusão social nas políticas públicas brasileiras. Como
ponto de partida analítico, a Associação dos Acadêmicos Indígenas e o Centro de Convivência
Multicultural dos Povos Indígenas (Maloca UnB) operam como indicadores da organização
política indígena na universidade. Como construção metodológica, a revisão documental, a
observação participante e as entrevistas abertas com estudantes indígenas de várias etnias e
cursos foram as ferramentas que facilitaram a coleta de dados empíricos. Sabe-se que o
ingresso ao ensino superior constitui uma demanda histórica, que visa, sobretudo, fomentar
a luta pela garantia de direitos conquistados. Nesse sentido, tem-se como questão
norteadora: quais os limites no respeito e reconhecimento à diversidade cultural inserida no
cenário acadêmico? Interessa, ainda, indagar o que a presença das(os) acadêmicas(os)
indígenas provoca no campo universitário e quais as dinâmicas empreendidas por esses
agentes, no que tange principalmente o respeito, afirmação e legitimação de suas identidades,
epistemologias e cosmologias. Como resultados, a permanência desses estudantes aparece
em constante ameaça. O racismo institucional ainda permanece estruturado, revelando-se
em entraves financeiros e burocráticos. Em salas de aula e departamentos, as manifestações
racistas sinalizam que ainda há um longo caminho a ser percorrido e entraves institucionais a
serem superados. A garantia ao ingresso resta como insuficiente, uma vez que a trajetória
acadêmica é incessantemente atravessada por interesses políticos e disputas de poder.
Ademais, as narrativas aqui destacadas sinalizam a necessidade da incorporação de uma
política pública que contemple a pluralidade e especificidade desses discentes. Por outro lado,
pontua-se a importância da conquista do Vestibular Específico Indígena, da Maloca, enquanto
espaço político, e da Associação dos Acadêmicos, enquanto instância que potencializa a
elaboração de estratégias, dialogando com a mobilização indígena nacional. Ingressar no
ensino superior, portanto, traduz ainda uma conquista que subverte um passado
estereotipado e distorcido, que apagou e silenciou sujeitos. Cumpre reconhecer, portanto,
que as(os) acadêmicas(os) indígenas, afirmam-se enquanto sujeitos de conhecimento,
abrindo reflexões e deslocamentos, que culminam na elaboração de estratégias e lutas
travadas cotidianamente.

Formación docente en eduación intercultural bilingüe en el noroeste


argentino

Álvaro Guaymás

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Los Profesorados de Educación Intercultural Bilingüe, fueron creados en el año 2010 y puesto
en marcha entre los años 2011 y 2013 por la Dirección General de Educación Superior del
Ministerio de Educación en distintos puntos de la Provincia de Salta. Se trata de una propuesta
de formación docente inicial territorializada formulada en el marco de normativas vigentes en
el sistema educativo nacional y que pretende responder a históricas demandas de los pueblos
indígenas en la región norte de Argentina. Las diversas propuestas de formación docente que
ponen en marcha cada Profesorado se apoyan en producciones científico-pedagógicas
producidas en el área de educación y pueblos indígenas en el país y en el continente,
colocando así un especial interés en lo que ocurre en las aulas que albergan a niñas y niños
indígenas y no indígenas. En el año 2013 los profesorados materializan un trabajo en red a
través de encuentros anuales que permiten dar a conocer diversos dispositivos pedagógicos
interculturales que tienen que ver con la construcción de materiales didácticos, la gestión
interinstitucional y el tratamiento de las lenguas indígenas, entre otros temas relevantes. Para
el año 2016 a este procesos se suman los aportes de la Universidad Nacional de Salta a través
del Centro de Investigaciones Sociales y Educativas del Norte argentino el cual se materializa
en el acompañamiento de algunos de los Profesorados. En este marco, la ponencia
reflexionara sobre los dispositivos y procesos de formación docente en educación intercultural
bilingüe que realizó el Profesorado EIB en la localidad de Rivadavia Banda Sur, a través de sus
diversas actividades institucionales tales como viajes pedagógicos, cursos de capacitación in
situ y producciones pedagógicas de sus actores para determinar logros y desafíos en la
formación docente inicial en EIB.

Educação e interculturalidade: perspectivas teóricas e práticas na América


Latina

Raoni Machado Moraes Jardim

Quais são os sentidos de interculturalidade? Como esse conceito tem sido utilizado no campo
educacional? Quais perspectivas teóricas e práticas vêm sendo desenvolvidas a partir dele?
Por que se coloca como um paradigma para a formulação de políticas públicas educativas e
de pesquisa, e para a luta por reconhecimento de epistemes subalternizadas? Quais são seus
riscos, suas conquistas e desafios? A interculturalidade desperta muitas perguntas. A
exposição oral proposta, inspirada em pesquisas e um trabalho do mesmo nome, aborda
algumas destas questões, colaborando com o debate sobre a interculturalidade na docência,
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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

na pesquisa e na produção de conhecimento no ensino superior latino-americano. Almeja-se


problematizar, nesse processo, a posição “dominador- dominado” que os docentes da região
assumem, ou rejeitam, dentro da atual estrutura de produção de conhecimento, fortemente
condicionada por atores neoliberais. O Pensamento Decolonial é colocado como um
importante campo para aplicação dessa análise sobre as perpetuações, recolocações e
rompimentos com as heranças coloniais rumo a uma universidade mais aberta e
representativa das comunidades e epistemes latino-americanas, com a inclusão das
comunidades tradicionais. Os sentidos da interculturalidade ganham correspondência com o
“grau” do chamado giro epistêmico dentro das propostas de diferentes pensadores desse
tema tão crucial para a transformação de realidades. Os sentidos desse termo, expresso na
obra de autores influentes sobre a região, como Catherine Walsh, serão colocados sobre um
olhar crítico. Buscaremos, a partir do contato com experiências interculturais como o
Mestrado em Sustentabilidade junto aos Povos e Terras Tradicionais (MESPT) e o Projeto
Encontro de Saberes nas Universidades, ambas sediadas na Universidade de Brasília, serão
colocados como base para as reflexões teóricas sobre a interculturalidade nas universidades.

A importância da decolonização das áreas verdes dentro da universidade para


os povos indígenas e suas práticas pedagógicas

Marília Ribeiro de Sousa Põkwýj Krahô

Giancarlo Marinho Costa

Gabriel Vargas Zanatta

Thelma Mendes Pontes

A decolonização das áreas verdes dentro do espaço universitário com o replantio de plantas
importantes da biodiversidade nativa, para os povos indígenas, trouxe um aspecto cultural de
reafirmação desses nativos dentro do ambiente universitário. O conhecimento tradicional dos
povos indígenas sobre as plantas e o seu cultivo de forma ecológica, nas áreas verdes do
UFT/Campus de Gurupi – TO proporcionou como resultado diversas oficinas, círculo de
diálogos, grupos de estudos e reflexões juntamente com demais atores da comunidade local.
O compartilhamento de vivências, práticas e saberes sobre o uso das plantas, bem como seus
aspectos produtivos sem degradar o ambiente local, estabeleceu dentro do Campus como
resultado: Uma horta agroecológica indígena; trilha interpretativa com espécies raras e
importantes da região; estratégias de conservação do material vegetal e saber associado no
espaço universitário; além da criação de práticas de ensino sobre os saberes indígenas.
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Sabendo que na universidade as ações afirmativas têm finalidade dar igualdade a todos os
sujeitos envolvidos, esse projeto tem a finalidadede amparar, tanto no quesito intercultural
quanto acadêmico. A vivência de práticas de agroecologia e os conhecimentos tradicionais
indígenas têm valorizado no processo de reconhecimento e reafirmação da promoção social
e etno-cultural. Em função da realidade dos estudantes indígenas, utilizou-se uma abordagem
metodológica baseada nos conceitos da pedagogia decolonial. Acreditando na própria
contextualização histórica dentro do universo dos estudos pós-coloniais, que este trabalho
tem como objetivo, se opor e propor caminhos de ruptura do pensamento eurocêntrico e
também, de superação dessas amarras da afirmação do conhecimento ocidental e do poder
hegemônico, como único possível. Mais do que isto, busca desse modo, um processo de
decolonialidade de ser e de viver. Acredita-se que a materialização física, com forma e
significado, incorpora a expressão do saber e permite a presença do processo pedagógico de
modo mais concreto na vida de toda a comunidade e garante, igualmente, um exercício
constante e prático, do cultivo orgânico de plantas medicinais e a criação de quintais
agroflorestais.

Educación superior y pueblos indígenas: experiencias, estudios y debates en


América Latina y otras regiones del mundo

Daniel Mato

El universo de experiencias de Educación Superior por/para/con pueblos indígenas


actualmente en curso a escala mundial constituye un campo académico y social -en sentido
amplio - cada vez más importante y diverso. Los avances en este campo son resultado de las
luchas de los pueblos indígenas, así como de las de los movimientos sociales anti-racismo, de
derechos humanos, y de educación popular. También han estado asociados a las prácticas
institucionales de algunas universidades y otros tipos de Instituciones de Educación Superior
(IES), así como a los de algunas agencias intergubernamentales y de cooperación
internacional, una diversidad de organizaciones sociales, fundaciones privadas, sectores de
varias iglesias, y algunas agencias gubernamentales. Estos avances han sido posibles también
gracias al compromiso de una amplia variedad de individuos, como líderes, ancianos y sabios
de organizaciones y comunidades locales; estudiantes y docentes de todos los niveles
educativos; investigadores y funcionarios de universidades y otras IES; incluyendo tanto
miembros de esos pueblos como otras personas que no lo somos, o no nos auto- identificamos
como tales. Este artículo presenta un panorama de este campo de experiencias y de estudios

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en América Latina, Australia, Canadá, Estados Unidos y Nueva Zelandia, con algunas
referencias complementarias a su desarrollo en Noruega y la República Sudafricana.

Articulação para permanência e convivência de indígenas acadêmicos na


Universidade Federal do Pampa (Unipampa)

Onorio Isaías de Moura

Maria Crisrina GraeffWernz

O presente resumo tem como objetivo relatar o histórico de acesso e permanência de


indígenas acadêmicos no ensino superior, mais especialmente na Universidade Federal do
Pampa (UNIPAMPA), com ingresso a partir de editais específicos para indígenas aldeados. Os
ingressantes são oriundos das comunidades indígenas localizados nos Estados de São Paulo,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul, na sua grande maioria no norte do estado RS. Além dos
movimentos iniciais, pretende-se apresentar avanços e a proposta de qualificação do
processo, com o protagonismo de acadêmicos indígenas, desde o ingresso dos primeiros
estudantes indígenas aldeados na Universidade, ocorrido em 2012, até o presente momento.
Nesta perspectiva, é de suma importância trazer para discussão o conceito de ações
afirmativas, fundamentado para garantir a reparação de direitos, e, ao mesmo tempo, utilizar
o espaço acadêmico para garantir esse processo, a partir da experiência de acadêmico,
desenvolvendo ações ou projeto que possa minimizar algumas das dificuldades. Desde os
primeiros indígenas que ingressaram na Universidade, em 2012, vem se discutindo junto aos
setores das ações afirmativas e setores de interesse para melhorar o processo de ingresso e a
permanência de indígenas nesta Instituição. Apesar disso, o objetivo não foi atingido, pois no
primeiro ano a maioria dos indígenas desistiu e abandonou os seus respectivos cursos. No
primeiro ano, as dificuldades pareciam não ter fim. Eram situações de adaptação, tanto para
os acadêmicos indígenas, quanto pela própria Universidade, que não sabia lidar com o
diferente e com as condições principalmente culturais dos indígenas. Diante dessa situação,
no ano seguinte, em 2013, a Universidade não realizou mais o processo seletivo específico
para indígenas aldeados. Voltou a realizar em 2017, repetindo o processo em 2018, depois de
muita luta para que voltasse o processo seletivo. A partir de projeto organizado por indígena
acadêmico, para esta última edição, cujo ingresso será em 2019, está sendo preparado um
movimento de acolhida e de adaptação ao ambiente acadêmico, que será realizado pelos
próprios estudantes indígenas, levando em conta as questões culturais, incluindo os seguintes
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tópicos: apresentação e história da Unipampa; sistemas institucionais (GURI, Moodle,


Biblioteca Web e Guia do Aluno); estrutura de trabalhos acadêmicos e o uso da tecnologia
digital; apresentação do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), Normas Acadêmicas e
Plano Pedagógico dos cursos; atividades culturais. A proposta ainda está sendo construída,
com a intenção de ajustá-la à realidade do público-alvo, que são os indígenas ingressantes.

Experiências interculturais nos processos formativos de educadores


indígenas: os saberes indígenas e os saberes outros da colonização

Adir Casaro Nascimento

Beatriz do Santos Landa

Carlos Magno Naglis Vieira

Marta Coelho Castro Troquez

O Mato Grosso do Sul apresenta uma população indígena significativa, cujos povos (Guarani,
Kaiowá, Terena, Kadiweu, Kikininau, Guató, Ofaié e Atikum) sofreram com o violento processo
de colonização, e ao mesmo tempo, desenvolveram mecanismos de resistência, mantendo
culturas próprias, ainda que hibridizadas e ressignificadas, as quais são expressas em suas
cosmovisões, epistemologias, religiosidades, saberes, línguas e pedagogias. Neste contexto,
jovens indígenas têm acessado em número crescente a academia em cursos de graduação,
pós-graduação (mestrado e doutorado) e formação continuada. Busca-se neste texto
apresentar experiências desenvolvidas das universidades nas quais atuamos como
formadores de professores e professoras indígenas, tanto na formação inicial quanto
continuada, realizada por meio de parcerias e colaboração interinstitucional com vistas a
desenvolver ações que possibilitem, ampliem e consolidem o diálogo intercultural entre os
diversos campos das instituições que envolvem serviços, investigações, aprendizagens e os
enfrentamentos e tensões nos encontros entre as diversas epistemologias, pedagogias e
metodologias que as diferenças indígenas provocam no contexto acadêmico, que perpassam
a pesquisa, o ensino e a extensão universitária, e que tem possibilitado a produção de
conhecimentos a partir de epistemologias indígenas, bem como construído caminhos outros
de investigação e presença nas comunidades, promovendo encontros/eventos onde as
reflexões sobre as políticas públicas e institucionais, territorialidade, sustentabilidade, saúde
e educação se fazem eixos centrais sobre a contemporaneidade das vidas indígenas quer sob
a condição individual, quer sob a condição coletiva como estruturante de suas identidades
e/ou da ressignificação das mesmas. A execução, participação e acompanhamento de projetos
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de diversas naturezas sejam individuais e/ou institucionais sinalizam que há um retorno à


indianidade, ao fortalecimento dos conhecimentos e saberes tradicionais partilhados nos
ambientes escolares, a inserção de novas formas de produzir conhecimento nas universidades
a partir da presença indígena subvertendo os processos de colonização que ainda persistem
nestes espaços onde a monocultura eurocêntrica, moderna e unilateral insiste em
subalternizar e inferiorizar os saberes indígenas. Estes mesmos espaços se abrem
ambivalentemente, para a discussão crítica sobre a trajetória da colonização e a produção da
colonialidade abrindo fronteiras para uma colaboração intercultural.

A vontade de ensinar: as estratégias usadas por jovens Potiguara para ser


professor numa aldeia

Severino do Ramo Fernandes da Silva Neto

Bruno Rodrigues da Silva

Jemerson Bezerra Lucena

Gessé Viana da Silva

O presente trabalho apresenta-se como uma pesquisa em andamento baseada nas histórias
de vida de jovens Potiguara da aldeia Caieira, situada no litoral norte da Paraíba. Este estudo
teve início (em andamento) no ano letivo de 2018 na Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Estes universitários indígenas estudam em Instituições de Ensino Superior (IES) pública e
privada, acionando políticas públicas, tais como o sistema de cotas raciais; Prouni e Fies no
intuito de alcançar seu maior objetivo que é a formação superior na área de licenciatura
(diversos cursos) para poder lecionar, de preferência, na sua aldeia de origem. No entanto,
para percorrer esse caminho até à universidade esses jovens elaboram projetos individuais ou
coletivos, montando estratégias logísticas, de moradia e alimentação com a ajuda de sua
parentela e também de amigos não indígenas que vivem na cidade, aonde estudam para que
possam, dessa forma, seguir com determinação seus estudos. Em suma, esses jovens
planejam suas estratégias de ação a fim de alcançar o seu objetivo: ensinar na aldeia. Vale
ressaltar, que muitos deles também são influenciados por relações de poder presentes na
aldeia.

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Reflexões dos Tenetehara/Guajajara sobre “cultura” na Licenciatura


Intercultural na Universidade Estadual do Maranhão-UEMA

Ana Caroline Amorim Oliveira

O presente trabalho trata sobre a experiência do povo indígena Tenetehara/Guajajara no


ensino superior público através da Licenciatura Intercultural para a Educação Básica Indígena
na Universidade Estadual do Maranhão-UEMA. Esta licenciatura é fruto de uma demanda dos
índios, em especial, dos Tenetehara/Guajajara com objetivo da formação em licenciaturas
interdisciplinares para atuarem como professores nas escolas das aldeias. A inserção dos
povos indígenas na universidade é entendida enquanto um contexto interétnico em que
distintas lógicas culturais, os diferentes regimes de conhecimento ocidental e os regimes de
conhecimento tradicionais indígenas, estão em relação proporcionando uma reflexividade
pelos próprios índios. (CARNEIRO DA CUNHA, 2009). O curso interdisciplinar possui três
grandes áreas de conhecimento: Ciências Humanas, Ciências Naturais e Ciências da Linguagem
as quais os indígenas irão se habilitar. O mesmo teve iniciou com três turmas reunidas pelo
critério linguístico: duas turmas em língua Tupi e uma turma em língua Macro Jê. A
metodologia utilizada pelo curso é a pedagogia da alternância caracterizada por dois
momentos distintos e inter-relacionados: o Tempo Universidade e o Tempo Comunidade. No
primeiro, os cursistas assistem aulas na universidade e, no segundo, os monitores, auxiliares
dos docentes nas disciplinas, vão às comunidades acompanhar os cursistas nas suas atividades
acadêmicas. O campo foi caracterizado pela observação participante nas aulas, nas reuniões;
pelas conversas informais com os cursistas Tenetehara/Guajajara, em especial, da Terra
Indígena Araribóia, com os docentes formadores e com a coordenação e pelas idas ao Tempo
Comunidade. Ao longo da licenciatura destacou-se a importância da educação superior para
a comunidade indígena através da luta por uma licenciatura que fosse específica para eles na
universidade afirmada enquanto “projeto dos povos indígenas”. Invertendo- se uma relação
de imposição característica da educação escolar para os índios, ao mesmo tempo, que inventa
uma nova relação com a educação não-indígena. Podemos compreender essa inversão e
invenção enquanto uma indigenização da modernidade como afirma Marshall Sahlins (1997).
A licenciatura promoveu debates sobre a própria cultura Tenetehara entre eles mesmos
através de um processo reflexivo sobre a “cultura”. As disciplinas foram sendo apropriados
pelos Tenetehara a partir das suas próprias questões vivenciadas em suas respectivas
comunidades como a questão da terra, das festas culturais, da língua materna e da religião
cristã. Assim, a licenciatura intercultural proporcionou a possibilidade dos Tenetehara
pensarem sobre a sua própria cultura com aspas num processo de enunciação e reflexão
únicos.
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

O Vale do Javari clama por educação: experiências interculturais na formação


de professores indígenas em um curso Parfor no Amazonas

Ildete Freitas Oliveira

Heloísa Helena Corrêa da Silva

O vale do Javari, região da Amazônia brasileira, localizada na fronteira entre Brasil e Peru, em
meio à maior floresta tropical do mundo, cortada por caudalosos rios que irrigam a vida de
seus habitantes e os transportam dentro dessa imensidão territorial e para fora dela, é o
espaço físico e simbólico, aonde experiências interculturais em educação superior indígena
acontecem e são aqui apresentadas e discutidas. A busca de professores indígenas por
formação superior como necessidade para a atuação destes na docência em educação básica
em suas comunidades e consequentemente a constituição do profissional professor é a tônica
das nossas argumentações. Em termos metodológicos, a abordagem utilizada é a qualitativa,
tendo como técnica a etnografia escolar (ANDRÉ, 2009). E o espaço privilegiado para essa
tarefa é a sala de aula, aonde professores indígenas das etnias Marubo, Matis, Mayoruna e
Kanamari, recebem formação pelo Parfor Intercultural Indígena na cidade sede de Atalaia do
Norte/Amazonas. Após ações de órgãos públicos atuantes no citado município, como FUNAI,
Ministério público Federal entre outros, em relação à precariedade da educação oferecida aos
povos indígenas contactados do Vale do Javari, grupos de trabalho são organizados em torno
de temáticas educacionais que passam a trabalhar em consonância com as representações
dos povos indígenas que buscam por educação formal. Fruto desse trabalho, e em parceria
com a Universidade do Estado do Amazonas, no ano de 2016 é iniciado o curso Parfor
Intercultural Indígena, que atende um total de 35 indígenas de quatro diferentes etnias. Com
currículo voltado para a formação de professores que atuarão especificamente na
alfabetização, o trabalho com ênfase nas línguas maternas é um diferencial dessa formação.
Desterritorializando la educación superior: indígenas en la universidad

Jorge Isidro Orjuela Bernal

Carolina Tamayo Osorio

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Las sociedades latinoamericanas en las últimas décadas vienen discutiendo diversas políticas
de reforma a la Educación Superior (ES) considerando, especialmente, la incorporación de
jóvenes indígenas y afrodescendientes a este escenario educativo, en este marco nos
proponemos problematizar la siguiente pregunta ¿Qué tipo de estrategias de resistencia y
lucha están siendo tejidas en las IES - tanto desde adentro como desde afuera de ellas mismas-
para descolonizarlas y reinventarlas? Para ello, presentamos diferentes elementos asociados
a la Educación Superior y la formación de estudiantes indígenas en cursos o programas
universitarios, remitiéndonos, en primer lugar, a algunas tensiones que enfrentan un grupo
de estudiantes indígenas vinculados a la Universidad Federal de São Carlos (São Paulo, Brasil)
que fueron ‘cartografiadas’ en una investigación inspirada en la perspectiva de Deleuze y
Guattari. Y, en segundo lugar, consideramos las experiencias de dos maestros indígenas Guna
formados en la Licenciatura en Pedagogía de la Madre Tierra de la Universidad de Antioquia
(Medellín, Colombia), con base en algunos de los trabajos de Jacques Derrida, Walter Migniolo
y Hommi Bahaba. A partir de las experiencias referidas anteriormente, independientemente
de las diferencias geopolíticas o por la naturaleza de sus luchas y resistencias, vimos que los
estudiantes indígenas al interior de las universidades promueven desterritorializaciones de la
colonialidad del saber creando caminos en los cuales las utopías derridianas, de una
universidad sin condición, sin mecanismos de captura, e imposición, se demarcan como
posibles. Evidenciamos también, que los conocimientos y saberes indígenas al hacer parte de
los procesos de formación e investigación de quienes habitan las IES dan fuerza a la
incondicionalidad de la universidad, toda vez que, se tejen epistemologías otras y realidades
otras e conocimientos otros y... se invierten y dislocan relaciones coloniales de saber y de
poder.

Reflexões acerca do tema contextual Esporte e Lazer na Licenciatura


Intercultural Indígena da Universidade Federal de Goiás-UFG

Filipe de Andrade Vaz Parente

Jaciara Oliveira Leite

Esta comunicação apresenta reflexão crítica acerca das experiências, na condição de


professores, com o tema contextual “Esporte e Lazer” desenvolvido junto com estudantes e
professores/as em formação do curso de Licenciatura Intercultural Indígena da Universidade
Federal de Goiás (UFG), nos anos de 2018 e 2019. As licenciaturas interculturais indígenas são
parte da política pública de Educação Superior voltada à formação e qualificação de
educadores/as indígenas, em consonância com dispositivos legais e constitucionais que
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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reconhecem o direito desses povos a uma educação diferenciada que respeite suas culturas e
modos de organização social. A organização curricular do curso da UFG constitui-se de matriz
de Formação Básica e de três matrizes de Formação Específica - Ciências da Cultura, da
Natureza e da Linguagem. Cada matriz é composta de temas referenciais, áreas de
conhecimento e temas contextuais. Na diversidade de conhecimentos que são tratados
durante o curso, há o tema contextual “Esporte e Lazer”, o que expressa a importância do
mesmo em suas diversas manifestações e relações nos contextos de educação indígena. A
partir da perspectiva de formação e currículo brevemente apresentada, propusemos trabalho
pedagógico nesse tema junto a estudantes pertencentes a povos que habitam a etnorregião
Araguaia-Tocantins, abrangendo os estados de Tocantins, Goiás, Mato Grosso e Maranhão,
quais sejam: Karajá, Krahô, Gavião, Kayapó, Bororo, Kuikuro, Yawalapiti, Guajajara, Xavante e
Xerente. Os conteúdos foram subdivididos em 4 unidades: I - Introdução ao Esporte, Lazer e
Jogos: diálogos interculturais em torno da bola; II - Água: natureza, cultura e possibilidades
pedagógicas; III - Atletismo e suas múltiplas dimensões; IV - Planejamento e Prática
Pedagógica sobre manifestações do esporte e do lazer. Os critérios de seleção de conteúdos
consideraram: a potencialidade de estabelecimento de diálogos interculturais; as relações
entre natureza e cultura suscitada pelos conhecimentos; a ampla ocupação do espaço e o uso
de materiais públicos da universidade, buscando oferecer diversas possibilidades de uso dos
mesmos e de vivências coletivas; as possibilidades de trabalho pedagógico nas escolas e nas
aldeias. Ao avaliarmos a materialização da proposta, destacamos: a riqueza das trocas
interétnicas e interculturais entre os estudantes e professores em torno dos temas; a
centralidade das manifestações esportivas e outras práticas corporais no processo de
educação indígena, construção de suas identidades como sujeito e povo; as relações do
esporte com a vida cotidiana, celebrações, competições e rituais; as possibilidades de trabalho
pedagógico nas escolas e aldeias; e, por fim, o profundo aprendizado como professores
resultante da relação dialógica com os discentes.

Indígenas na UNIR: A atuação da Comissão de Ingresso e Permanência


Indígena da Universidade Federal de Rondônia

Eldissandra Toscano de Souza Parintintin

Gicele Sucupira

Nathália Kycendekarun Apurinã

Este texto apresenta as ações da Comissão de Acompanhamento das Políticas de Ingresso e


Permanência Indígena da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), situada no norte do

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Brasil. Apesar da Universidade abrigar, desde 2009, um curso específico para indígenas em um
dos seus 8 campi, o Campus de Ji- Paraná, são muitos os desafios e problemas para oferecer
possibilidades de ingresso e permanência efetivas que atendam às demandas indígenas e a
legislação vigente. A criação da Comissão foi uma das propostas da Carta do I Fórum de
Ingresso e Permanência Indígena realizado em Porto Velho, em 2016, para dar atenção as
demandas. A Pró-Reitoria de Cultura, Extensão e Assuntos Estudantis (PROCEA) acolheu e deu
suporte a muitas ações realizadas, que também contaram com a parceria do Coletivo de
Estudantes Indígenas de Porto Velho, Diretório Central dos Estudantes (DCE) e instituições de
apoio aos povos indígenas como Kanindé, CIMI e COMIN. O registro das ações está disponível
no www.indigenas.unir.br e no Facebook Indígenas Unir. A composição da comissão foi
majoritariamente de indígenas. O levantamento e contato com as e os estudantes indígenas
da Universidade foi uma das primeiras ações. Neste momento, identificamos que a maioria
desconhecia a possibilidade de solicitar a Bolsa Permanência do MEC, portanto, a divulgação
de informações e o suporte a solicitação foi uma demanda urgente e prioritária por ser
fundamental para permanência desses estudantes em Rondônia como em outros estados
(SOUZA, 2017; CORDEIRO, 2011; LUCIANO, 2009). Por meio das redes sociais, foram
divulgadas listas de inscritas(os) e aprovadas(os) autodeclaradas(os) indígenas no Processo
Seletivo via ENEM, de modo a possibilitar o acompanhamento solicitado pelas lideranças
indígenas, informar e dar suporte na matrícula e primeiros dias às e aos aprovadas(os). Com
esse fim e para estreitar a comunicação sobre ingresso, permanência e sobre povos indígenas
e a universidade as redes sociais foram muitos utilizadas e atualmente conta com mais de 3
mil seguidores, a maioria indígenas situados na região da Grande Rondônia (VANDER VELDEN,
2010). A recepção e o acolhimento às calouras e calouros, a realização de Fóruns em
diferentes campi, a criação de grupos nas redes sociais por campi, reuniões com direção e
chefias de departamento, a organização do Abril Indígena em Ji-Paraná e Porto Velho,
CineDebates, construção da Minuta de edital de Monitoria Indígena e outras atividades
também foram ações da comissão. O texto pretende discorrer de forma reflexiva e crítica
acerca dessa experiência vivenciada na Universidade Federal de Rondônia, em o diálogo com
o que aprendemos com estudantes indígenas de diferentes Universidades Brasileiras e
estrangeiras, bem como leituras sobre o tema (PALADINO ET AL, 2016; NOGUEIRA ET AL, 2012;
SOUZA ET AL, 2008, SOUZA 2018).

A ocupação dos espaços acadêmicos pelos/pelas estudantes indígenas: um


olhar sobre o Recôncavo Baiano brasileiro

Hamangai Marcos Melo Pataxó

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A ocupação do espaço universitário pelos/pelas estudantes indígenas pode ser considerada


uma das mais importantes dimensões de luta coletiva. Esta instituição moderna constitui
epistemologias, políticas, metodologias nas suas ações de ensino, pesquisa, extensão com
base no pensamento colonizador eurocêntrico. Este resumo apresenta considerações sobre
as vivências do Coletivo de Estudantes Indígenas da Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia ao adentrar os muros desta universidade pública localizada no Recôncavo da Bahia no
nordeste do Brasil. Nós, povos indígenas, ao entrar na universidade, tensionamos uma
compreensão de que a universidade é democrática. Nossa luta se inicia desde o ingresso
dos/das estudantes indígenas e persiste de modo árduo para conseguirmos construir a nossa
permanência em meio ao não reconhecimento dos nossos princípios e cosmologias, como a
coletividade e a ancestralidade. Vivemos um não reconhecimento do pensamento dos nossos
povos, das nossas práticas e políticas, quando a universidade nos trata como sujeitos
individuais, como os/as índios/as do colonizador, ao apagar ou não considerar a multiplicidade
das nossas etnias, como Pataxó Hã Hã Hãe, Pataxó, Xacriabá, Kaimbé, Anacé, Jenipapo
Kanindé, Atikum, Pankará, Pipipam e Krenak (etnias dos/das estudantes que compõem o
nosso Coletivo). A invisibilidade desses povos é uma estratégia colonizadora. Buscamos
discutir modos de descolonizar os saberes desta instituição ao nos articularmos enquanto
Coletivo de Estudantes Indígenas. Não queremos ser objeto de estudos nesses espaços.
Buscamos respeito e construir uma instituição onde as diferenças sejam abraçadas, mesmo
sabendo que estes espaços não foram feitos para o nosso povo.

O acesso dos povos indígenas à educação em meio aos paradigmas


constitucionais: uma análise comparada entre Bolívia e Equador

Tiago Franco de Paula

Elizabeth Ruano Ibarra

A comunicação tem o objetivo de analisar de que modo a imposição do constitucionalismo


moderno nos países latino-americanos criou estruturas de inequidade que impedem o acesso
de povos indígenas às instituições públicas de educação básica e superior. Como alternativa
ao problema, será apresentado o paradigma do constitucionalismo plurinacional e
intercultural adotado nas constituintes de Equador e Bolívia, promulgadas, respectivamente,
em 2008 e 2009. O novo modelo constitucional gerou a reestruturação desses Estados para
uma maior inclusão social dos diversos povos indígenas que habitam seus territórios. Tais
reformas refletiram nos sistemas educacionais, que, por sua vez, assumiram um caráter
intercultural para ampliar o acesso de povos nativos às instituições públicas de ensino. O
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presente trabalho é resultado de um levantamento bibliográfico sobre a inserção escolar de


estudantes indígenas e traz uma perspectiva comparada entre a educação estatal nesses dois
países.

A monitoria como possibilidade de contribuição para permanência dos


estudantes indígenas no ensino superior na UFT no curso de Licenciatura em
Filosofia: um estudo de caso

Kamilla Silva Pereira

Juliana Santana de Almeida

Raquel Castilho Souza

Esse trabalho propõe um diálogo entre pesquisadores indígenas e não indígenas sobre a atual
situação da educação superior dos estudantes indígenas no Brasil e sua condição de acesso e
permanência. A pesquisa aqui retratada foi realizada durante as atividades do Programa
Institucional de Monitoria Indígena e pela experiência vivenciada, de modo específico nos
semestres 2016/2 a 2018/1 no curso de Licenciatura em Filosofia da Universidade Federal do
Tocantins - UFT. A pesquisa realizada teve a intenção de discutir os anseios dos estudantes
indígenas por uma educação de qualidade a nível superior como também as dificuldades
enfrentadas por estes para a permanência na universidade. Autores que fundamentaram a
pesquisa foram: Frison e Moraes (2010), Guarnieri e Silva (2007), Kahn e Franchetto (1994),
Nunes (2007), Paladino (2012), bem como os documentos legais sobre a Educação Indígena
no Ensino Superior. A educação escolar em comunidades indígenas vem se tornando um
grande instrumento de emancipação social, se consolidando como um espaço de construção
e debates de ideias voltadas para concepções e práticas do lugar do indígena na sociedade. É
por meio dessa prática que esses povos vêm buscando o exercício de uma nova cidadania,
com a luta por uma educação que respeite a sabedoria e identidade cultural de seus povos. A
experiência com a monitoria indígena no contexto da UFT proporcionou uma visão mais ampla
sobre a importância do programa para se pensar em estratégias que visam superar as
dificuldades enfrentadas pelos estudantes indígenas na universidade. Identificamos que a UFT
mantém ao longo do semestre ações que visam evitar a evasão de estudantes indígenas bem
como a garantia de uma boa formação. Porém, entendemos que é necessário que os
estudantes indígenas sintam um pertencimento acadêmico nas instituições em que estão
alocados, evitando assim a evasão dos mesmos. E para isso é importante o desenvolvimento
de ações e programas voltados para o acolhimento e permanência destes estudantes na
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universidade, dentre eles: acompanhamento social e pedagógico, projetos de pesquisa e


extensão que envolvam estudantes indígenas como estagiários ou pesquisadores, realização
de cursos e eventos acadêmicos que tenham como objetivo visibilizar a presença indígena na
universidade e valorizar seus conhecimentos indígenas.

A formação de professores indígenas em Ciências Sociais na perspectiva


intercultural: desafio contemporâneo em Roraima

Jonildo Viana dos Santos

Perante as complexidades da contemporaneidade, quando as relações sociais com o Estado


nacional são efetivadas desconsiderando as dinâmicas da diversidade e suas especificidades,
o educador indígena tem como desafio pensar a educação escolar indígena dentro da lógica
do conflito e de contato estabelecido durante séculos. Pois, sendo o Estado de Roraima uma
Unidade da Federação anti-indígena, ainda perdura a indiofobia, que indaga “para que o índio
quer conhecimentos?”. “Para que se quer ter nível universitário?”. O professor que opta pelas
Ciências Sociais como Área de Habilitação na Licenciatura Intercultural/INSIKIRAN/UFRR tem
como característica seu envolvimento no movimento indígena ou inclinação para o debate
sobre os rumos políticos, econômicos e sociais de suas regiões, ou mesmo são filiados a algum
partido político. São sujeitos que se preparam para relativizar os conhecimentos científicos
com os conhecimentos tradicionais na perspectiva da autonomia intelectual e da
emancipação política, fim último. Percebemos que a experiência roraimense de formação de
professores indígenas em Ciências Sociais se encontra envolta na problemática que pergunta:
a atuação desses professores como agentes diretos de transformação social pode transformar
a sua realidade e dos demais povos indígenas de Roraima, nesse momento de reconfigurações
sociais, econômicas e políticas por meio de uma experiência educacional intercultural?

Os desafios para permanência dos estudantes indígenas na UFT: o diálogo


entre os saberes

Maria Santana Ferreira dos Santos

Paulo André Ixati Oliveira Karajá

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Esta comunicação tem como objetivo discutir sobre a presença indígena no ensino superior,
lançando luz aos interlocutores indígenas da Universidade Federal do Tocantins. Para
enfrentar a tarefa, optou-se por um recorte metodológico qualitativo, apoiado na pesquisa-
ação, estilo de pesquisa social com base empírica, concebida e realizada em estreita
associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo, no qual os
pesquisadores e os participantes representativos do problema estão envolvidos de forma
cooperativa (THIOLLENT, 1988, p. 18), opção que nos pareceu adequada ao considerar o
objetivo central e norteador do trabalho. Os interlocutores da pesquisa foram os estudantes
indígenas e docentes da Universidade Federal do Tocantins. O local da pesquisa foi o Campus
de Palmas. Os interlocutores da investigação compuseram uma amostra aleatória intencional
e significativa, cujo critério foi a presença dos estudantes e docentes que participam do
Programa Institucional de Monitoria Indígena (PIMI). Para a análise dos resultados, foi
escolhido o método de análise de conteúdo proposto por Laurence Bardin (2010). Ao final do
estudo, foi possível verificar que abrir cotas para indígenas não é suficiente, sendo necessárias
políticas que garantam a permanência. Verificou-se, neste estudo, que não existe articulação
entre os saberes indígenas e os da universidade. Com relação aos estudantes indígenas que
não conseguem se integrar às regras atuais da universidade, e com os que não se sentem parte
da universidade, constatou-se despreparo dos professores, preconceitos sofridos, estigmas e
exclusão social da comunidade acadêmica, muitas vezes, preferindo esconder sua condição
de indígena para evitar os preconceitos e as discriminações. Assim, defende-se a necessidade
de mudança curricular nos cursos da UFT, enfocando, durante as aulas, a articulação dos
saberes indígenas e da universidade, sendo necessário, para tanto, a capacitação dos docentes
da universidade, a partir de uma aproximação com as comunidades indígenas, bem como, de
adaptações do seu ambiente para melhor acolher esses estudantes, tornando-se uma política
afirmativa da Universidade com o fito de realizar, com plenitude, a inclusão dessa parcela
discente.

A experiência da ancestralidade na base da Educação Escolar Indígena

Maria do Socorro Pimentel da Silva

A presente comunicação propõe uma discussão pautada nas experiências de professoras e


professores indígenas no curso de Educação Intercultural da UFG, acerca de questões como
“a perda da cultura” e sua relação com dilemas que enfrentam, especialmente com os mais

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jovens. Aborda o papel da comunidade e, principalmente, da experiência da ancestralidade e


do sentimento de pertencimento refletidos na ação de uma escola descolonizadora. Mostra
como estes dilemas repercutem nos diálogos travados e nas reflexões de professores e
professoras indígenas em suas pesquisas e em seus esforços de construção de uma escola
própria. Mostra, também, como estão sendo construídas as bases da educação intercultural
crítica como teoria e horizonte de sentido. Trago à reflexão alguns conceitos e referenciais
dessa base, como, por exemplo, pedagogia da retomada, letramento de vitalidade dos saberes
das matrizes da oralidade, articulação de saberes, que se coloca em confronto à geopolítica
hegemônica, monocultural e monolíngue de construção do conhecimento.

O Programa Permanência na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará: o


olhar do discente indígena

Sheila Kaline Leal da Silva

Priscila Dias Pinto

Este trabalho é fruto das pesquisas realizadas na Pró-reitoria de Extensão e Assuntos


Estudantis, (PROEX), no período de março de 2016 a dezembro de 2018, cujo objetivo principal
foi compreender o papel que o Programa Permanência, exerce no cotidiano do discente
Indígena dentro da universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), sob a ótica
deste. A pesquisa prioriza evidenciar a voz dos discentes indígenas e suas percepções sobre
as políticas públicas afirmativas, que aqui traz o recorte do programa permanência, uma vez
que de acordo com sua descrição o mesmo tem o objetivo de contribuir para a conclusão dos
mesmos no ensino superior. A pesquisa utiliza a abordagem qualiquantitativa, os eixos da
pesquisa perpassam sobre a realidade sociocultural e acadêmico-pedagógica dos estudantes,
a realidade e o cotidiano institucional vivenciado pelos mesmos e a sua relação com seu povo.
A pesquisa que originou o presente trabalho evidencia não apenas o recebimento de ajuda
financeira via Auxílio Permanência -MEC, mais também o quanto é importante e necessário
compreender as particularidades dos mesmos e fazer a articulação entre os diversos setores
desta universidade, no fortalecimento da permanência desses estudantes, assim como
fortalecer a pluralidade étnica e social do espaço universitário.

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Introducción de enfoque de atención a la diversidad cultural en la


Licenciatura en Desarrollo Local de la Universidad Autonóma de Querétaro,
México: una iniciativa interactoral

Alejandro Mira Tapia

Si bien no existe un vacío de iniciativas orientadas al reconocimiento de la diferencia cultural


en la educación superior de corte convencional en México, a nivel general, corresponde al
sector educativo en el que menos avance ha tenido la introducción de un enfoque intercultural
y el que resulta más excluyente para los jovenes indígenas en México (de los cuales solamente
el 1% accede a estudios universitarios). En ese sentido, un nicho que parece plantear grandes
oportunidades para promover relaciones interculturales en el ámbito social y académico
universitario, refiere a aquellas experiencias e iniciativas “que se proponen modificar,
diversificar y aportar interculturalidad a determinadas carreras universitarias” (Mateos,
Mendoza y Dietz, 2013: 319), como la Licenciatura en Desarrollo Local de la Facultad de
Ciencias Politicas y Sociales de la Universidad Autónoma de Querétaro, asentada en la región
otomí o ñöñho del sur de esta entidad, en donde se concentra aproximadamente una sexta
parte del total de hablantes de este grupo étnico de México. Bajo la interrogante de ¿cómo
introducir el debate de la (in) visibilización de la diversidad cultural en la Universidad
Autónoma de Querétaro? la presente propuesta reúne los principales resultados de un
conjunto de encuentros de discusión y reflexión en los que participan estudiantes y jovenes
indigenas universitarios y no universitarios de la región ñöñho de Amealco y figuras
comunitarias y académicas involucradas en iniciativas corte intercultural en la educación
superior de la región. Las discusiones emergidas de este espacio dialógico interactoral,
apuntan hacia la construcción de estrategias de interculturalización de este programa de
licenciatura que transformen la naturaleza altamente excluyente y racista de la universidad y
sus saberes, y bajo acciones que superen los mecanismos tradicionales de empoderamiento
étnico y acción afirmativa, o pensados desde perspectivas indigenistas, neo indigenistas o
sustancialistas sobre la diferencia cultural y la etnicidad.

A experiência da Licenciatura Intercultural Indígena da UFSC: alternativas e


desafios para a inclusão dos saberes indígenas na universidade

Antonella Maria Imperatriz Tassinari

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Joziléia Daniza Jagso Inácio Jacodsen Schild

A Licenciatura Intercultural Indígena da UFSC, voltada para os povos Guarani, Kaingang e


Xokleng do Bioma Sul da Mata Atlântica, teve início em 2011, a partir de um processo iniciado
em 2006, reunindo a Universidade, entidades indigenistas e comunidades indígenas, para o
desenho e planejamento do curso. Uma primeira turma formou 78 licenciados em 2015,
atualmente atuantes como professores indígenas, mestrandos e mestres, doutorandos e
lideranças reconhecidas. As autoras dessa comunicação assumiram o desafio da Coordenação
Geral e Pedagógica da segunda turma do curso, que teve início em 2016, com o ingresso de
45 acadêmicos. A proposta é refletir sobre as alternativas e desafios encontrados para a
inclusão de saberes indígenas nos primeiros dois anos do curso. Sendo a interculturalidade
um princípio fundamental do Projeto Pedagógica das Licenciaturas Indígenas, procuraremos
refletir sobre as dinâmicas que garantem ou impedem a sua efetivação, notadamente em
relação aos saberes femininos.

Planejamento financeiro e a permanência de estudantes indígenas nas


universidades

Vanessa Sena Tomaz


Ilaine da Silva Campos

O trabalho discute atividades que foram desenvolvidas em uma turma do Curso de


Licenciatura em Formação Intercultural para Educadores Indígenas, habilitação em
Matemática, ofertado pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais.
Utilizando-se uma planilha de débito e crédito, o objetivo das atividades era apoiar os
estudantes a fazer um planejamento financeiro para gerenciar o recurso da Bolsa
Permanência, benefício recebido por meio do programa de ações afirmativas, implantado
pelo Ministério de Educação, em 2013. Entre outras despesas, essa bolsa é essencial para
custear hospedagem, transporte, alimentação, etc., dado que os estudantes indígenas vivem
em locais distantes da universidade. Entretanto, para acessar e utilizar essa bolsa, os
estudantes têm de realizar complexas movimentações burocráticas e financeiras, muitas delas
estranhas aos seus modos de vida. As comunidades indígenas nas quais vivem esses
estudantes convivem pelo menos com duas lógicas econômicas: a tradicional, ressignificada
na contemporaneidade indígena e a baseada no mercado. A entrada de recursos da bolsa
permanência, de um modo ou de outro, impacta as relações econômicas nas comunidades.

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Portanto, para elaboração do planejamento financeiro, os estudantes foram desafiados não


só a aprender procedimentos matemáticos, mas a buscar alternativas para manter um direito,
educação universitária, fruto de lutas históricas dos povos indígenas. Ao longo das atividades
percebeu-se que os estudantes indígenas passaram a fazer o controle de seus gastos e que,
em alguma medida, a gestão financeira da bolsa se tornou um amplo fenômeno intercultural
que considerou usos e necessidades individuais e coletivas. A experiência também apontou as
contradições existentes entre as políticas públicas destinadas aos povos indígenas e os
procedimentos de implementação das mesmas. Finalmente, observou-se que a discussão
sobre o uso da bolsa configura uma demanda específica da formação intercultural para
professores indígenas, na área de Educação Matemática, como forma de garantia da
permanência do estudante indígena na Educação Superior.

Estudiantes indígenas en Perú y Brasil y la construcción de la interculturalidad


en el contexto universitario

Enrique Rivera Vela

En Perú y en Brasil el acceso a los estudios de nivel superior de los jóvenes indígenas, con el
apoyo de políticas de acción afirmativa, es una realidad que recién empieza a plasmarse
durante los primeros años del presente siglo, permitiendo el acceso de muchos jóvenes a las
instituciones universitarias, a pesar de los inconvenientes generados por la deficiente
formación académica de la etapa escolar y el hecho de tener que trasladarse a contextos
distintos a los suyos. El lograr una vacante en la universidad solo representa el inicio de un
largo proceso de adaptación a un nuevo contexto social y cultural, que a veces no permite la
adecuada integración a la vida universitaria y a la sociedad en la que tienen que desenvolverse.
Si bien las políticas de acción afirmativa forman parte de las políticas de inclusión social
promovidos por los Estados como el peruano y el brasileño, éstas no son suficientes para
afirmar que se está logrado tal propósito, a mi parecer la invisibilización que los pueblos
originarios han sufrido desde la época de la colonización, sigue vigente, y lo seguirá, al menos
en el ámbito universitario, hasta que no exista un real reconocimiento que implique, además
del reconocimiento de su propia identidad cultural, el reconocimiento del valor y los aportes
que sus culturas puedan brindar a las distintas ramas del saber o, dicho en otros términos,
hasta que se incluyan prácticas académicas pensadas desde las propuestas e ideas de la
interculturalidad. La propuesta de ponencia que se presenta tiene como objetivo analizar la
manera como se viene construyendo la interculturalidad en contextos universitarios de Perú
y Brasil dada la presencia de estudiantes indígenas en sus aulas.

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Representaciones sociales de estudiantes Mapuches respecto a sus


experiencias universitarias en la formación inicial de profesores

Eliana Marcela Ortiz Velosa

La ponencia presenta los resultados de una investigación de Tesis se sustenta en una


perspectiva contextual e intercultural. El objeto de estudio lo constituyen los discursos de los
que subyacen representaciones sociales compartidas sobre las experiencias en el plano
académico y socioafectivo en el proceso de educación universitaria de estudiantes mapuches
en programas de formación inicial de profesores de La Araucanía. El problema se analiza desde
la educación monocultural que ha traído, entre otras, consecuencias individuales como la
pérdida de identidad y procesos de aculturación y negación y, en términos sociales, en la
mantención de un estado de desigualdades entre la cultura dominante y la minoritaria
dominada, las cuales se han relacionado a través de la exclusión, el racismo y la discriminación,
así como de la aculturación, asimilación u otras acciones que han permitido la permanencia
en la cultura mayoritaria. En este escenario, los estudiantes mapuches han sido obligados a
escolarizarse en un proceso implícito de dominación en el que su perspectiva y sus
conocimientos familiares han sido omitidos. La escuela se ha transformado entonces en un
escenario en el que se transmite una única forma –la occidental– de entender el mundo en el
plano epistemológico y también en el afectivo. En efecto, el sistema educativo maneja una
racionalidad que es mantenida en la educación básica, la enseñanza media y que también se
extiende a la educación superior. La investigación pretendió la construcción de conocimientos
sobre las experiencias universitarias de estudiantes mapuches desde su propia perspectiva, lo
cual implica una mirada hacia las representaciones sociales que subyacen en sus discursos.
Para la recolección de información se usó la técnica de entrevista y en complemento se diseñó
una escala de creencias y redes semánticas abiertas y cerradas. El análisis ser realizó con
análisis de contenido, estadística descriptiva, de comparación, de correlación y análisis de
Cluster. Los resultados develan que las experiencias universitarias son diversas, influenciadas
por experiencias escolares previas ingreso universitario que están relacionadas con la
discriminación. Asimismo, constatamos que los estudiantes desarrollan diferentes estrategias,
bien sea de asimilación o de resiliencia para avanzar en el sistema de educación y así lograr el
éxito académico, sin embargo, estas estrategias inciden en la pérdida o mantención de la
identidad socio - cultural.

ST 13 | Educação, escola e crianças indígenas: apropriações, re-existências e


contradições
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María Aparecida Bergamaschi (Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Brasil);
Olga Lucía Reyes Ramírez (Universidad Nacional Abierta y a Distancia – UNAD, Colombia).

Na história recente dos povos indígenas da América a educação e a escola tem-se


reconfigurado. Espaços antes utilizados para colonizar são hoje plataformas de trabalho
cultural, político e comunitário dos povos indígenas. Estes movimentos de apropriações e re-
existências, se alimentam de variadas fontes e se potencializam em meio a múltiplas
contradições. Materializam-se ao levar para a escola elementos culturais como a língua, as
tradições e saberes próprios, a palavra dos mais velhos e a crescente atuação de
professoras/es indígenas. O lugar das crianças nesses processos é fundamental. As formas de
ser-estar crianças indígenas questionam as práticas escolares conservadoras, como, por
exemplo, os modos de aprender, ensinar e construir conhecimentos. No caminho de
fortalecimento e afirmação, multiplicam-se as políticas educacionais, tendentes a dinamizar e
potencializar lugares de existência das comunidades indígenas, legitimando a criação de
escolas e práticas educativas diferenciadas, construídas sob a liderança dos próprios
indígenas. Os novos contextos e formas de luta das comunidades apontam a necessidade de
continuar agenciando processos educacionais e escolares desde perspectivas interculturais,
participativas, diferenciadas, respeitando a autonomia dos povos, gestores de suas próprias
trajetórias. Nesse simpósio, propomos reflexões multidisciplinares acerca desses movimentos
que anunciam apropriações, re-existências e contradições no campo da educação e das
escolas indígenas.

Decorrências escolares nas aldeias dos Xikrin do Bacajá


Camila Boldrin Beltrame

Esta comunicação irá trazer algumas reflexões sobre as experiências escolares dos Xikrin do
Bacajá, povo de língua Jê. As escola foram levadas para as suas aldeias, localizadas no Pará,
nos anos 1980, e contam, ainda hoje, apenas com as primeiras séries do ensino básico. A
despeito da precariedade do serviço público, os Xikrin dizem que a escola é coisa de crianças.
São elas que fazem este espaço diariamente, e o fazem de uma maneira muito peculiar. Esta
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peculiaridade não é, contudo, observada por conta de questionamentos em relação às


metodologias ou aos conteúdos pedagógicos. O entendimento dos adultos Xikrin é o de que
os estudantes devem seguir as regras dos professores, sejam eles indígenas ou não
indígenas, mantendo comportamentos adequados para este contexto: permanecendo
em silêncio, sentados e copiando as tarefas no caderno. Saber se comportar da forma correta,
em toda e qualquer situação cotidiana, é um dos indicativos fundamentais de identificação e
classificação, sempre circunstancial e passível de alteração, dos seres que permeiam o mundo
Xikrin. Os comportamentos podem expressar quem é ou não parente, ou se, o que se vê, é
um animal ou um mẽkarõ (espírito, alma, duplo), por exemplo. Não obstante, a subversão
conduzida pelas crianças, no que diz respeito às atuações nas escolas, está em se apropriarem
do que a elas interessa de maneira substancial: o aprendizado da escrita de seus nomes
pessoais. Os nomes são elementos centrais que compõem as pessoas, ou, dizendo melhor, a
pele de seus corpos, como é notoriamente conhecido por meio dos estudos dos povos Jê. É
com a manipulação deste tipo de escrita que as crianças transgridem as orientações
dos professores e criam um espaço escolar onde paredes, portas e janelas ficam tomadas por
esses grafismos. Esta é, ademais, a única circulação livre e espontânea de escritos que se
observa entre os Xikrin, que se limitam a fazer uso dessa técnica somente quando há uma
demanda por parte dos não indígenas. Mas a escrita dos nomes não aparece somente nas
estruturas físicas das escolas, ela também vai parar nos corpos dessas crianças, como
tatuagens, marcas indeléveis que não são feitas em nenhuma outra conjuntura. Outra
consequência desse aprendizado é que os nomes começam a aparecer em suas casas,
recentemente feitas de madeira ou alvenaria. Todos estes sinais são produzidos
majoritariamente pelas crianças e, em alguns casos, por jovens. O que se pretende apresentar
nesta comunicação é como este conhecimento permite discutir os modos como as crianças
atuam na produção de espaços, corpos e relações, ao concederem visibilidade gráfica aos seus
nomes, que começam a circular como imagens e que, antes, existiam como sons e corpos. E
como tudo isso ganha uma nova percepção em decorrência da escola.

O lúdico e a importância da educação escolar diferenciada no contexto das


aldeias indígenas do litoral sul de São Paulo na atualidade
Debora Dionisio
Os temas educação indígena, educação infantil e ludopedagogia são relativamente novos em
nossa literatura, e quando trata-se da educação escolar indígena, o assunto está realmente
sendo estudado nas mais renomadas universidades do país, pois somente 500 anos após a
chegada dos portugueses ao Brasil, estes povos estão tendo voz e buscando melhorias para
suas comunidades de forma a revitalizar e fortalecer vossas culturas que estão sendo
“invadidas” por tantas mudanças em vossos contextos sociais. Neste trabalho faremos uma
relação entre a educação indígena tradicional e a ludopedagogia, trazendo à luz da realidade
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a necessária importância da educação escolar indígena trabalhar os processos de ensino


aprendizagem por meio das experiências “cotidianas” da educação tradicional destes povos,
tornando os ensinamentos significativos e contínuos, fortalecendo a vossa cultura. Durante o
período de pesquisa, fizemos observações em aldeias do litoral sul do estado de São Paulo,
conversamos com lideranças indígenas da região, com pais de crianças em idade escolar de
aldeias tupis e enriquecemos os estudos com levantamento bibliográfico sobre os assuntos
em questão, desta maneira obtivemos informações para relacionarmos as leis da educação
escolar indígena, contextualizando a mesma, relatarmos os atuais parâmetros ao qual
as comunidades indígenas da baixada santista se encontram e as dificuldades que encontram
para tornar a educação escolar um meio de fortalecimento da cultura tradicional,
compararmos a educação tradicional indígena dos povos brasileiros com a ludopedagogia
expondo a importância desta ser utilizada nas escolas das aldeias. Assim argumentamos a
importância dos professores indígenas trabalharem os conteúdos curriculares da base comum
estadual, fazendo “links” com os principais acontecimentos da cultura tradicional indígena,
baseado em princípios ludopedagógicos. Defendemos a escola indígena como um dos
principais instrumentos de fortalecimento e revitalização desta cultura que está sendo
enfraquecida a cada dia pela influência da modernidade e costumes dos não-
indígenas. Acrescentamos assim que os pequenos passos que os envolvidos nesta educação,
tanto professores, como lideranças e gestores, resultam em grandes avanços para que estas
culturas tenham continuidade e ocupem um lugar de respeito neste mundo tão globalizado.

Escola e Educação Escolar Indígena: um projeto pensado e elaborado por


protagonistas indígenas

Jefferson Gabriel Domingues


Rosângela Célia Faustino

A presente comunicação tem como objetivo debater sobre a diferente concepção de entender
a escola entre nós indígenas e a sociedade hegemônica capitalista conservadora voltada para
a acumulação de capital, destruição do meio ambiente e integração indígena. Fazer uma
discussão sobre os avanços e desafios das políticas educacionais indígenas que garantam as
especificidades de uma educação escolar indígena intercultural, bilíngue e de qualidade.
Discutir também como a interdicisplinaridade pode contribuir para um trabalho pedagógico
que venham respeitar os conhecimentos culturais que nossas crianças indígenas possuem
ao chegar as escolas, uma vez que isso é aquilo que caracteriza as nossas comunidades
indígenas, como um espaço de resistência para a manutenção do território e da própria
cultura. Fazer um debate em torno das possibilidades e desafios que as nossas manifestações
culturais, acabam exigindo para que a escola se reorganize para atender aos anseios da
comunidade indígena. Realizar uma discussão sobre como as nossas metodologias indígenas
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utilizadas no cotidiano das nossas Terras Indígenas, por meio da observação, da imitação e da
interação, com os sábios da comunidade, com as lideranças e com as próprias crianças
indígenas, foram sendo discutidas para servir de referencial para as práticas pedagógicas
à serem utilizadas como pratica escolar em nossas escolas indígenas como forma de contribuir
para a apropriação do conhecimento ocidental historicamente acumulado e ao mesmo tempo
valorizando, respeitando e manifestando os nossos próprios conhecimentos tradicionais.

Escola indígena e o reencantamento do mundo: pedagogias transversais


entre os Tuxá de Rodelas-BA

Leandro Durazzo
José Glebson Vieira

O Colégio Estadual Indígena Capitão Francisco Rodelas (CEICFR) do povo Tuxá tem como parte
de seu currículo a disciplina de Língua Indígena. Considerando-se o histórico colonial do
Nordeste, primeira frente de expansão agropastoril do território, onde vigoraram atividades
missionárias, aldeamentos e políticas de redução das populações nativas e de seus
conhecimentos tradicionais, tem-se atualmente a ideia de que não haveria línguas indígenas
restantes entre as dezenas de povos da região. O yathê, idioma do povo Fulni-ô de
Pernambuco, seria a exceção a confirmar a regra: além dele, diz-nos o senso comum e grande
parte da produção acadêmica em linguística e outras áreas, não haveria línguas indígenas no
Nordeste contemporâneo, apenas o português. Mas os Tuxá, por meio de sua escola,
contestam tal monolinguismo, e implementam políticas linguísticas e pedagógicas de
fortalecimento do dzubukuá, idioma de seus antepassados e de seus parentes
contemporâneos. Nesta contemporaneidade, o dzubukuá é língua considerada “ancestral” e
também atual, por seu estatuto de “língua viva” e “falada cotidianamente”, como nos afirmam
os próprios Tuxá. “A língua”, como por vezes é chamada, desempenha papel fundamental não
apenas no currículo escolar - por meio do qual se deseja fortalecê-la, revitalizá-la para uso
cotidiano do povo -, mas também em dimensões rituais, como nos “trabalhos da ciência” e na
comunicação com os encantados. Coloca-se a questão: como compreender o projeto político-
pedagógico e político-linguístico do CEICFR, capitaneado por seus professores com o apoio da
comunidade e das lideranças tradicionais, ao mesmo tempo em que se entende o dzubukuá,
“língua ancestral”, como fronteira comunicacional entre os índios e os encantados?
Buscaremos refletir sobre o papel da escola indígena como fronteira intercultural, mas
também interdisciplinar e intercientífica - posto haver um claro conflito epistemológico entre
as ciências ocidentais, que afirmam a inexistência de línguas indígenas no Nordeste, e a
“ciência do índio”, que entre os Tuxá de Rodelas nos afirma a existência contemporânea
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do dzubukuá. A um mundo desencantado, baseado tão somente na racionalidade técnica,


moderna, científica e ocidental, o povo Tuxá reforça um caminho de conhecimento
e educação, inclusive escolar, pautado também por uma dimensão de “reencantamento” que
extrapola e amplia as bases da instituição escolar. Ensinando às crianças e jovens, na escola,
um conhecimento que também circula em contextos adultos, encantados, rituais e não-
escolares, a disciplina de Língua Indígena aponta para um potencial educativo de grande
relevância na constituição da identidade indígena, e de indiscutível relevância no que toca às
competências dos alunos em se relacionar com o mundo encantado em que vivem.

A escola na aldeia: narrativas orais de Mẽbêngôkre Gorotire


Leni Barbosa Feitosa
Idemar Vizolli
Esta comunicação objetiva compreender, por meio das narrativas orais, como os Mẽbêngôkre
escolarizados da aldeia Gorotire, localizada no município de Cumaru do Norte - PA,
representam a educação escolar em contexto educacional contemporâneo, à luz da História
Oral. As narrativas expressam que a escola não é representada como um local que os
distanciam da cultura Mẽbêngôkre, uma vez que reflete os anseios da comunidade Gorotire
ao propiciarem conhecimentos que lhes permitem apoderar-se da comunicação, bem como
das relações sociais estabelecidas no mundo não indígena, no vislumbre de lutar pela garantia
de seus direitos constitucionais.

Escola Kaingang: será ela especifica e diferencia?


Bruno Ferreira
O presente trabalho objetiva trazer reflexões e questionamentos a respeito das práticas
desenvolvidas nas escolas situadas nas terras kaingang, tendo como referência as
comunidades kaingang do Rio Grande do Sul. Nesse estado existem hoje 56 escolas Kaingang
distribuídas em 31 municípios que possuem terras indígenas já demarcadas e em
acampamentos de retomada de terras em processo de demarcação. Na Constituição Federal
do Brasil, entre outros princípios legais que reconhecem os direitos indígenas, diz que “São
reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições”.
Diante disso, as políticas públicas são obrigadas a pensar e orientar uma educação escolar
indígena que valorize praticas educativas presentes no seio dos povos indígenas.
Mas, também, com o desafio de não negar o acesso aos conhecimentos e códigos
da sociedade não indígena, para que possam elaborar saberes da tecnologia das sociedades
não indígena e, ao mesmo tempo, fortalecer as suas técnicas. É importante lembrar que a
principal função da escola que perdurou por muitas décadas antes das conquistas

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constitucionais era de integrar, civilizar os indígenas, produzir o indivíduo, o que levou muitos
kaingang a ter vergonha de falar sua língua e ser indígena. A Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional garante os indígenas uma educação específica e diferenciada: será que isso
está acontecendo na educação escolar kaingang? Qual é o papel da escola kaingang?
Visualizar práticas antigas e prática inovadoras é necessário. Penso que essas questões
e tantas outras, devem estar perturbando os professores kaingang. Talvez a busca de uma
reposta ou ainda a outros questionamentos pertinentes, seja necessário recorrer trabalhos já
construídos por intelectuais indígenas e buscar conhecer experiências já construídas por
outros povos indígenas. Os questionamentos e as reflexões apresentados neste trabalho
fazem parte da pesquisa de doutorado que realizo e que tem como foco principal
compreender os significados da escola para o povo kaingang, escutando e dialogando com
professor(as), estudantes e as pessoas mais velhas das comunidades kaingang, de forma
metodológica assentada na profundeza da oralidade kaingang.

A criança Guarani e a educação escolar infantil indígena na aldeia krukutu

Edna Ferreira

Esta comunicação é um fragmento da dissertação de mestrado, defendida em 2012,


no Programa EHPS Educação: História, Política, Sociedade, na PUC/SP, com foco na analise da
educação escolar infantil indígena na aldeia Krukutu, Guarani Mbya, localizada na região de
Parelheiros, zona sul do município de São Paulo por meio da implantação do CECI (Centro de
Educação e Cultura Indígena). Objetivou-se examinar os desafios presentes na busca por uma
educação diferenciada e intercultural, bem como as possíveis contribuições para a educação
escolar não indígena. A análise fundamenta-se na noção de “fronteira”, no campo social e
pedagógico, entendendo-a como um espaço de contato e intercâmbio entre populações, em
que conhecimentos e tradições têm a possibilidade de ser reforçados, repensados e
ressignificados, bem como espaço em que a cultura oral e a linguagem escrita se encontram
e se desencontram, com a possível evidenciação das diferenças étnicas e de modos de ser e
viver. Para realizar tal análise foi situada a relação entre educação indígena e educação
escolar, com enfoque na educação infantil, o processo histórico da criação dos CECIs, suas
finalidades e organização, a construção de uma concepção curricular e as práticas
pedagógicas realizadas no CEII (Centro de Educação Infantil Indígena), vinculado ao CECI
Krukutu, bem como as concepções de criança, educação e educador do povo Guarani Mbya
da aldeia Krukutu. Na pesquisa foram realizadas entrevistas com lideranças, pais, crianças e
funcionários que trabalham no CECI Krukutu. Outras fontes selecionadas foram documentos
relativos à educação escolar indígena, à educação escolar infantil indígena e não indígena, o
projeto pedagógico e regimento do CECI. Por meio da análise das entrevistas foi possível
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observar a importância dada por todos à educação escolar infantil indígena, à escola, bem
como o interesse que ela se fortaleça, com sugestões para que isso ocorra.

Prácticas de crianza, costumbres y expresiones culturales de los pueblos


indígenas de Colombia: un acercamiento desde los contenidos del
Portal Maguaré.
Diana Carolina Gamboa Gamba
En el marco de la política de estado De cero a siempre, en Colombia se instauró una Estrategia
digital de cultura y primera infancia dirigida por el Ministerio de Cultura. Esto, con el fin de
difundir bienes culturales de calidad para los niños y niñas de cero a seis años, así como para
los adultos ignificativos que los acompañan en su proceso de crecimiento. Como producto de
dicha estrategia surge Maguaré, que es un portal donde los niños y niñas pueden acceder y
disfrutar de más de 500 contenidos interactivos, entre los que se encuentran canciones,
vídeos, libros, juegos, cuentos, series, aplicaciones, etc. Uno de los principales objetivos del
Portal Maguaré es promover la realización y divulgación de contenidos para la Primera
Infancia que se basen en principios de diversidad, pluralidad e inclusión. Con esto como
premisa, en el portal se pueden encontrar contenidos que divulgan el capital cultural de los
pueblos indígenas de Colombia. Así, saberes ancestrales, costumbres, prácticas de crianza,
historias, arrullos, tradición oral y el capital cultural que acompaña los primeros años de los
niños y niñas de los pueblos Arhuaco, Wayú, Sikuani, Kamëntsá, Piapoco, Nasa, Uitoto, Inga,
Totoró, y otros más, encuentran en Maguaré una plataforma para visibilizarse tanto en
entornos educativos formales como no formales. Las dinámicas contemporáneas de
comunicación digital interactiva toman fuerza en los distintos ámbitos educativos y en cada
uno de los aspectos de la vida cotidiana: son múltiples las imágenes, sonidos, formatos,
narraciones y audiencias presentados a través de las pantallas. En este proceso, los niños y las
niñas indígenas no han sido del todo excluidos, pues plataformas como Maguaré han
apostado por ellos como audiencia, audiencia crítica y como prosumidores. Esta apuesta les
permite a las comunidades indígenas encontrar lugares de existencia en los diferentes
espacios en los que el portal genera participación. Por ejemplo, Maguaré con sus contenidos
con enfoque diferencial facilita que las prácticas educativas y escolares se nutran de
elementos culturales como la lengua, las tradiciones y saberes propios de los diferentes
pueblos indígenas del país. En esta ponencia, entonces, se pretende hacer una reflexión sobre
los aportes de Maguaré para la consecución de procesos educativos y escolares desde
perspectivas interculturales, y para la promoción de prácticas educativas diferenciadas. Dicha
reflexión contempla la exposición de las características de los contenidos del portal que narran
las prácticas de crianza, costumbres y expresiones culturales que acompañan a la

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niñez indígena de Colombia; así como el análisis de la pertinencia pedagógica e inclusiva


de dichos contenidos.

A educação escolar indígena no Brasil: desafios do programa saberes


indígenas na escola

Josiane Gonçalves
Rita de Cassia Alves
Arieli Gonsalves dos Santos Knop
Rosângela Célia Faustino

Este texto sistematiza elementos centrais do processo educacional diante dos desafios postos
pela educação escolar indígena e da educação indígena, que apesar de ter seus direitos
garantidos pelo Estado, necessitam de investimento para a melhor aprendizagem de
estudantes indígenas. Analisam-se aqui práticas educativas diferenciadas no processo de
escolarização das crianças indígenas, tendo em vista a valorização dos professores, de sábios,
dos conhecimentos tradicionais e das línguas indígenas. Apresentamos características e
fundamentos da educação escolar indígena e da educação indígena sob a ótica da analise do
programa saberes indígenas na escola, Ação governamental de formação continuada de
professores da educação escolar indígena. Relata-se atividades formativas e a produção de
materiais didáticos e pedagógicos, utilizados na prática docente produzido pelos próprios
professores, no intuito de promover e fortalecer o processo de alfabetização intercultural nas
escolas, tendo em vista às especificidades da organização comunitária, do multilinguismo e da
interculturalidade que fundamentam os projetos educativos nas comunidades indígenas em
atendimento a suas necessidades e seus projetos de futuro. Este trabalho busca também, por
meio de revisão de literatura, analisar produções acadêmicas relacionadas à educação escolar
indígena e do programa saberes indígenas na escola. Buscou-se com este artigo contribuir
com pesquisas da área e experiências que resultem na elaboração de materiais didáticos e
paradidáticos em diversas linguagens, bilíngues e monolíngues, conforme a situação
sociolinguística e de acordo com as especificidades da educação escolar indígena.

MYKYRY: casa de aprendizagem, apropriações e re-existências


Mario Ihamao
Antonio Penuta
Elani dos Anjos Lobato
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Por muitas e muitas gerações do nosso povo, o Mykyry foi o lugar de aprendizagens dos
meninos que depois que completavam os seus nove ou dez anos já se ajuntavam aos seus
irmãos mais velhos, aos seus pais e aos anciãos da aldeia para aprender ser um Rikbaktsa para
a vida toda. Essa nossa pesquisa foi feita nas aldeias Segunda, Primavera e Laranjal, na Terra
Indígena Erikpaktsa no município de Brasnorte, com nosso povo, os Rikbaktsa. Resolvemos
pesquisar como se faz o Mykyry e ainda conhecer as razões que nos levaram a deixar de
realizar as atividades como fazíamos antigamente no Mykyry. Esse tema vai ajudar a nossa
comunidade e os alunos e professores em sala de aula, porque assim podemos registrar como
são usados os conhecimentos que aprendemos com os mais velhos e como esses nos
fazem indígenas singulares a partir dos nossos costumes e da nossa cultura. O estudo
trouxe como objetivo reconhecer os saberes aprendidos no espaço do Mykyry
(Casa tradicional dos homens Rikbaktsa), e identificar os motivos que nos levaram a deixar de
fazer e utilizar esse espaço importante para a manutenção da nossa cultura. Temos alguns
questionamentos que direcionaram a pesquisa: por que deixamos de fazer o Mykyry em
nossas aldeias como era antes, se é nele que aprendemos os saberes e os fazeres que nos
identificam como Rikbaktsa? Que saberes e fazeres podemos reconhecer e compreender a
partir da construção e do uso efetivo do Mykyry? Para chegar a essas respostas resolvemos
investigar e para isso fomos ouvir os anciãos, observar seus ensinamentos, registrar todo
ensinamento e aprendizado em um caderno e compartilhar aos nossos alunos do ensino
fundamental, os conhecimentos encontrados a partir dos saberes e fazeres do nosso povo que
foram ensinados e aprendidos referentes ao Mykyry. A pesquisa visou o fortalecimento dos
nossos saberes e fazeres e ao mesmo tempo quis mostrar a importância de conhecer e manter
o costume de aprendizagem tradicional Rikbaktsa, ainda que convivemos com outras formas
de aprendizado da sociedade não indígena. A Investigação foi feita através de entrevista com
os anciãos das aldeias Segunda, Laranjal e Primavera, e também com a comunidade mais
jovens, através de perguntas dirigidas por nós. Utilizamos imagens de fotos tiradas por nós,
de relatos dos que conviveram com os saberes e fazeres praticados no Mykyry. Fizemos
desenhos e pedimos aos alunos que fizessem também. Como resultado estamos recuperando
a prática tradicional da utilização do Mykyry, ao construir e utilizar como fazíamos antes:
orientando e ensinando nossos jovens dentro da nossa cultura Rikbaktsa.

Entre saberes, experiências educacionais e escolares dos povos indígenas em


Alagoas
Angela Maria Araújo Leite
Este trabalho é parte de uma caminhada em busca do ninho de saberes indígenas, entre os
povos originários em Alagoas, que com a força que brota do mais profundo da América, se
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reconstroem enquanto povos, com identidades próprias, registrando oficialmente suas


existências e gravando no cenário alagoano, simbolicamente, a marca da resistência. São os
Xucurus Kariri, Aconã, Wassu, Karapotó, Karapotó Plak-ô, Koiupanká, Geripankó, Katokim,
Karuazu, Tingui Botó, kariri Xocó, Kalankó e Pankararu, distribuídos entre a Zona da Mata,
Agreste e Sertão. O objetivo é apresentar a escola existente nas aldeias, contextualizando-a
com o cenário de formação de professores e os obstáculos enfrentados pelos indígenas em
sua atuação docente. Assim, abordo a resistência presente no espaço escolar, a partir da
educação, de manter sua cultura e sua memória através de seus rituais, como o Ouricuri, de
significar pequenas áreas, em lugares escondidos no meio da mata, em suas residências,
fechadas e silenciadas. Uma raiz cultural que mesmo sem solo permaneceu internalizada,
sendo cultivada entre as gerações, apesar de todas as tentativas de silenciamento e
apagamento. Aqui penso a educação a partir dos saberes indígenas e de uma sabedoria como
saber de vida, em estado puro e que, comumente, a academia coloca em oposição ao trabalho
intelectual e político. Recorro a Rodolfo Kusch, antropólogo e filósofo argentino, para falar da
sabedoria de uma antiga América, mas, também, de uma América mais recente. É
dessa sabedoria de vida que estamos em busca, um saber indígena que envolve o pensamento
de estar aqui. Compreendo que a educação é um processo que envolve a vivência e toda a
experiência que vai se adquirindo ao longo da vida, não é algo restrito ao intelecto, também
envolve a emoção e o coração.

Educação Indígena, Educação Escolar Indígena e tecnologias da informação


Lilian Patté dos Santos Lemos

No estudo buscaremos trazer as pesquisas realizadas para conclusão do curso de Licenciatura


Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica- UFSC. Temos como intuito primeiro,
apresentar o que os indígenas pertencentes ao Povo Xokleng/Laklãnõ da Terra Indígena
Laklãnõ localizada no alto vale de Itajaí, pertencente ao município de José Boiteux – SC,
entendem como educação indígena e, em seguida traremos também uma discussão sobre
Educação Escolar Indígena. Ainda, tendo em vistas que no presente as diferentes tecnologias,
como celular, internet, computadores e etc. vem tomando força junto as crianças e jovens da
Terra Indígena e, dessa forma, influencia no que os velhos entendem como educação indígena
ao mesmo tempo que influencia no cotidiana da escola indígena. Nesse sentido após,
discorrermos sobre educação indígena e educação escolar indígena, visamos também,
entender de que forma é possível termos a tecnologia como aliada nos diferentes processos
educativos, seja educação indígena ou na educação escolar indígena.

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Identidade e interculturalidade: das experiências da Tekoha Sombrerito à


licenciatura intercultural Teko Arandu
Joselaine Dias de Lima
Dalila Tavares Garcia
Luiz Felipe Rodrigues

Na contemporaneidade, mediante ações concretas e inúmeras mobilizações, os povos


originários procuram meios de visibilizar a sua situação histórica, exporem seus pensamentos,
costumes e tradições, para serem conhecidos e respeitados. Nesse sentido, compreendemos
que a temática indígena no campo educacional passou por longos processos de lutas
articuladas, os quais deram origem aos movimentos indígenas e reivindicações dos direitos ao
território, à saúde, à melhores condições de vida e à uma educação específica e diferenciada.
Portanto, trataremos aqui a respeito da educação escolar indígena e da educação indígena,
por meio de uma pesquisa in loco na tekoha Sombrerito, no Município de Sete Quedas, Mato
Grosso do Sul, mostrando que a utilização de registros escritos dá aos Guarani condições
de expressarem suas opiniões e conceitos a partir de suas próprias perspectivas. Uma vez que
a literatura indígena passou no decorrer do processo histórico por diversas formas de
representações, e em sua maioria sobre a perspectiva do homem branco, a escrita se
apresenta importante para este grupo, que pode transmitir seus conhecimentos, expressarem
sua identidade cultural e lutarem pela garantia dos direitos conquistados. Nesse processo, a
educação intercultural indígena envolve a capacitação de professores indígenas e a
autonomia para utilizarem métodos próprios de ensino de acordo com suas particularidades.
Trataremos ainda neste trabalho a respeito dos materiais que estão diretamente vinculados
às ações dos Cursos de formação dos professores, orientado pelos Cursos do Magistério Ára
Verá (tempo- espaço iluminado) e Curso de Licenciatura Intercultural Indígena Teko Arandu
(viver com sabedoria), oferecido pela Faculdade Intercultural Indígena- FAIND na
UFGD, específicos aos Guarani e Kaiowá, refletindo no âmbito da educação escolar dentro das
tekohas. Assim, observamos como os povos indígenas buscam protagonizar a educação
escolar para através dela manterem suas tradições, rituais, línguas e modos de organização
social.

Lutas na/para a Educação Escolar Indígena do Espírito Santo

Ozirlei Tereza Marcilino

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A comunicação problematiza as lutas na/para a construção do currículo da educação escolar


indígena Tupinikim e Guarani do município de Aracruz-ES. Respalda-se nas lutas coletivas
históricas dos povos indígenas pela terra. Parte-se de experiências e reflexões acumuladas,
considerando a proposta pedagógica consolidada desde 2006, com ênfase no currículo
praticado, que se constrói no diálogo com os saberes, culturas e identidades sociais das etnias
num contexto particular. Aprofundam-se discussões sobre formação continuada dos
educadores indígenas (SCANDIUZZI, 2000; FERREIRA, 2004), avaliando aspectos da legislação
que ampara a especificidade de uma educação diferenciada e respectivas políticas públicas
neste cenário (Constituição Federal Brasileira de 1988; LDBEN 9.394/96). São
analisadas questões relacionadas ao conceito de interculturalidade (FLEURI,
2000; D’AMBROSIO, 2002) e suas potencialidades para a construção coletiva de um currículo
de matemática na perspectiva interdisciplinar. Consolidam-se práticas de parceria entre
universidade e escola (FOERSTE, 2005), articulam-se trabalhos colaborativos no sentido de
investigar e divulgar a cultura dos povos indígenas, fortalecem-se as lutas coletivas por uma
escola pública de qualidade, cujo projeto político e pedagógico articula-se na
indissociabilidade da teoria e prática, considerando a abordagem interdisciplinar intercultural
do conhecimento. Quanto à metodologia, caracteriza-se como abordagem qualitativa,
investigando produção bibliográfica acumulada, promovendo análise documental, sempre
objetivando contribuir de forma efetiva nos encontros de formação continuada em serviço.
Com as contradições presentes nas relações entre as diferentes sociedades, entende-se que
a experiência possibilita-nos um novo olhar sobre essa educação e sobre a formação
desses educadores.

A eduçacão escolar indigena karitiana e sua participação no processo de


lincenciamento das hidreletricas do Madeira
Adriana Francisca de Medeiros
Adnilson de Almeida Silva
Simone Ferreira de Athayde

O presente trabalho aborda dois debates importantes vivenciados nos dias atuais pelo povo
aritiana: as mudanças ocorridas no seu território após a implantação das hidrelétricas do
Madeira e a construção da proposta de escola diferenciada aos moldes da legislação vigente.
Nesse contexto são nítidos dois grandes desafios: como sobreviver aos impactos e como
construir uma escola que permita dialogar com as demandas da comunidade. Nesse sentido,
a pesquisa analisa o papel da escola indígena no contexto dos impactos socioambientais
provocados pela construção de hidrelétricas na Terra Indígena Karitiana, Rondônia, Amazônia
brasileira. A pesquisa priorizou a compreensão de como a escola participou do processo de
resistência e consulta e como tem contribuído para o enfretamento dos problemas

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decorrentes dessas mudanças. Aborda a concepção atual de educação escolar indígena como
diferenciada, especifica, intercultural e bilíngue, a partir da compreensão desse espaço como
lugar de reflexão crítica, de exercício para cidadania e autonomia indígena. O estudo aponta
para o fato de que, embora a educação escolar indígena tem sido imposta como mais um
demarcador territorial sobre os povos originários, através de reivindicação e lutas, ela se
transformou em uma ferramenta para promover o empoderamento político e técnico dos
povos indígenas. O desenho metodológico apoiou-se em estudo de caso com abordagem
qualitativa, além da pesquisa bibliográfica, documental e entrevistas com professores
indígenas e pessoas da comunidade. Quanto ao referencial teórico, optou-se pelos estudos
realizados sobre a temática de impactos socioambientais e educação indígena que
fundamentam as Políticas Públicas e os documentos oficiais. Os resultados da investigação
apontam que a educação indígena ainda não consegue romper com a cartilha dos conteúdos
pré-estabelecidos pelo sistema de ensino e ignora as questões latentes na comunidade e não
consegue estrutura-se como uma escola diferenciada e específica que dialogue com a
comunidade para promover a sua autonomia e identidade.

Debates e desafios da educação escolar infantil kaingang

Josias Loureiro de Mello


Maria Aparecida Bergamaschi

O presente trabalho apresenta a pesquisa de mestrado desenvolvida na Terra Indígena


Nonoai, localizada no norte do Rio Grande do Sul. Embora sejam numerosas, pois são 44
instituições em funcionamento no estado, as escolas de educação infantil entre o povo
Kaingang são recentes e, em geral, não são debatidas com profundidade pela comunidade,
criando situações de desconhecimento e pouca compreensão do que significa a presença da
escola e a frequência das crianças pequenas nesta instituição. Buscando um espaço de
reflexão junto com uma comunidade Kaingang que convive com a escola de educação infantil,
buscamos responder à pergunta principal que mobiliza a pesquisa: quais as influências da
escola de educação infantil no cotidiano das crianças? A pesquisa está sendo realizada
por meio de entrevistas com a equipe escolar, de observações na escola de educação infantil
e, principalmente, da convivência e da conversa com as pessoas da comunidade: mães, pais,
avós, avôs e as próprias crianças. Igualmente, buscamos inspiração em pesquisadores
indígenas comprometidos com a educação do povo, considerados como kófa (sábios),
conhecedores da cultura, dos costumes, da história; “parentes que são exemplos para a
geração que vem”. Um destes pesquisadores, Bruno Ferreira (2014, p. 66), falando sobre a
Pedagogia Kaingang, diz: “uma atividade, ou mesmo as brincadeiras das crianças não são
somente brincadeiras, e sim uma verdade, pois as crianças utilizam instrumentos de verdade.

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Assim, produzem de verdade, tendo um significado real”. Como a escola interfere na vida e na
educação destas crianças? A escola de educação infantil dialoga com a Pedagogia kaingang?
Observamos que os conhecimentos kaingang são transmitidos através da língua materna, pois
ela é carregada de valores, sentimentos e emoções, como fala Zaqueu Key Claudino (2013, p.
53): “a oralidade é que nos guia pelos caminhos do saber, através das experiências coletivas
que nos encaminham ao mundo dos conhecimentos a partir da tradição”. O que acontece na
educação de uma criança kaingang que frequenta a escola, com atividades “escolarizadas”
que priorizam a escrita, geralmente na língua portuguesa? Mello (2015), pesquisador
Kaingang, descreve que na madrugada, ao redor do fogo de chão, enquanto mateava seu
avô lhe contava os costumes e a tradição de seus ancestrais. Revela o autor que o
espaço familiar e comunitário, os rios, as matas e animais, assim como os demais
elementos da natureza, são educadores, responsáveis pela formação da pessoa kaingang e
isso ainda é considerado pela comunidade, ao educar suas crianças, fazendo uso
desta pedagogia própria. Em nossa pesquisa já é possível vislumbrar que a pouca frequência
à escola de educação infantil mostra a prioridade da Pedagogia Kaingang na educação das
crianças.

I'ãwaegü na Educação Infantil: As Contradições e imposições de “Fora” em uma escola


Indígena Tikuna de Benjamin Constant, Amazonas
Paula Tomé Mendes
Ismael da Silva Negreiros
Maria Francisca Nunes de Souza

Este estudo é fruto do trabalho de Conclusão de Curso em Pedagogia pelo Instituto de


Natureza e Cultural da Universidade Federal do Amazonas, realizado entre os anos de 2017-
2018. As I'ÃWAEGÜ termo Tikuna que significa brincadeiras na língua oficial dos brancos, essa
palavra incorporada nas atividades educacionais de muitas escolas indígenas foi em sua
prática observada durante a pesquisa de campo em uma turma do Pré I da educação infantil
em uma Escola Indígena Tikuna da rede municipal de ensino na comunidade indígena Tikuna
de Porto Cordeirinho do município de Benjamin Constant, Amazonas. O estudo em questão
teve como objetivo, compreender o lúdico e/ou as brincadeiras não indígenas incorporadas
no cotidiano escolar e sua influência no processo de aquisição de aprendizagem da criança
indígena Tikuna. Buscando desta forma conhecer as atividades lúdicas desenvolvidas pela
professora, identificando os tipos de brinquedos e observando se no processo educacional
que envolvia a criança indígena trabalhava-se as I'ÃWAEGÜ indígenas, assim possibilitando a
valorização da cultura e o fortalecimento dos saberes tradicionais e re-existindo sobre o que
a escola incorporou como brincadeiras, impondo e contrariando todos os marcos legais
da educação indígena diferenciada. As leituras que fundamentaram essa reflexão e por meio
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de observações e práticas nas quais se constituiu a natureza da pesquisa foram: Grupioni


(2005), Meliá (1979), Bendazzoli (2011), Silva (2001), Oliveira (2000), Bogdan e Biklen (1982),
Tassinari (2001), Brasil (2000), Mindin (2002), Kishimoto (2010), Eliza (1995), Ldke e André
(1986), Dos Santos (2011) entre outros autores. Notou-se com o estudo que a ausência do
lúdico no processo de ensino/aprendizagem na educação indígena no lócus da investigação,
implicam em dificuldades no ensino das crianças, pois estes não sentem-se motivados
ou estimulados, notou-se também a desvalorização da língua materna Tikuna, das I'ÃWAEGÜ
indígenas e dos saberes indígenas. O estudo evidenciou que nas práticas ou metodologias de
ensino não são incluídos esses conhecimentos indígenas por falta de planejamento da
professora, desconhecimento ou por falta de interesse da mesma e isso faz com que aconteça
um descumprimento do que estabelecem os marcos da educação indígena e na valorização
de seus saberes. Por fim, entendo que a utilização do lúdico pelo docente deveria ser mais
presente em sala de aula, possibilitando as crianças indígenas a conhecerem mais sobre
sua cultura e na continuação e valorização das I'ÃWAEGÜ no seu processo educacional dentro
da escola como em outros espaços da comunidade.

Nemongaraí: princípios educativos de conexão espiritual na nomeação da


criança guarani

Ana Luisa Teixeira de Menezes

A fase inicial de vida é crucial para o percurso que cada guarani vai assumir em sua caminhada.
O ritual de nomeação é chamado de nemongaraí, que acontece na Opy, na casa de reza
guarani, na presença das crianças e das famílias, no qual o karaí ou a kunhãkarai, lideranças
espirituais, escuta o nome das divindades que cada criança vai receber em sua vida. Há uma
relação comunicacional educativa entre os seres humanos e espirituais no qual a fumaça, o
mbojapé, o karaí, a criança e as divindades metarmofoseiam-se e tornam-se mediadores,
enquanto tradutores que se redefinem e se desdobram, desde a concepção da criança. A
educação da criança é um processo complexo de aprendizagem. A atribuição do nome mbyá
guarani em seu primeiro ano de vida traz em si o princípio de conexão espiritual no qual corpo
e alma se conectam. Partimos dos nomes guarani para pensar as experiências educativas
xamânicas, ressaltando a existência de um princípio no qual a alma busca um corpo, a partir
de uma nomeação, dentro de um pensamento mitológico e divino, em processos complexos
de metamorfoses. Essa perspectiva é uma das ideias centrais desse trabalho, que nos permite
pensar os processos iniciais da aprendizagem da linguagem da criança guarani e suas relações
com modos de aprender a conviver com as ordens do visível, do invisível e da palavra como

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fala sagrada e conectiva. Cada um vai aprendendo a lidar com a escuta do que seu nome evoca
para si mesmo e para o entorno comunitário. O nome é espírito.

FILIACIÓN TERRITORIO - ESCUELA – FAMILIA. Astrolabios en la


educación de la primera infancia Achagua y Piapoco en el departamento
del Meta - Colombia

Martha Janneth Ibáñez Pacheco


Leidy Paola Riveros Espinosa

Mientras la sociedad se fragmenta y establece relaciones sociales distantes, temerosas, con


niños y niñas enclaustrados y protegidos en conjuntos cerrados, las comunidades indígenas
Achagua y Piapoco en el resguardo La Victoria - Umapo, en Puerto López – Puerto Gaitán
(Meta), se empeñan en su condición comunitaria pese a procesos de violencia y
desplazamiento. Prácticas como la salvaguarda de su lengua, la elaboración del casabe y el
mañoco, la preparación de las fiestas y la siembra, la familia extensa vecinal, los juegos
tradicionales propios, entre otros, garantizan su condición cultural y social como
puebloncestral. Las casas se ven oscuras desde afuera, sus habitantes en los amplios aleros
hamacándose, conversan y ven pasar el tiempo, los niños son parte del paisaje y le imprimen
al lugar un halo de confianza. Solo cuando un “blanco” o el rugir de una moto aparece, vuelven
la mirada a manera de feedback unidimensional que intimida y a la vez, hace sentir la
condición de otro en lugar ajeno. En el centro del resguardo se encuentra la escuela construida
por la misma comunidad, pero obligada a ser parte del sistema educativo Colombiano como
escuela rural multigrado para la asignación de recursos y reconocimiento de profesores
nativos, licenciados que hacen un curso de etnoeducación para ser nombrados en propiedad.
Las escuelas parecen detenidas en el tiempo no solo por sus prácticas y organización sino por
los imaginarios comunitarios en relación con la necesidad de vincularse con la cultura
occidental del trabajo y el aprendizaje del español. El aprendizaje con los niños y niñas del
grado transición es tablero y tiza, guías de Escuela Nueva que usan de vez en cuando. Los niños
y niñas de 4 a 6 años llegan a la escuela en diferentes momentos, con un cuaderno bajo el
brazo y esperan instrucciones. Tienen prácticas que los hacen particulares en la relación
escuela - casa: salen del salón cuando lo necesitan a beber agua, al baño, tomar refrigerio,
verse con sus padres o en muchos casos a no volver; pueden faltar varios días, llegan a
diferentes horas, cuando llueve no van, algunos van sin zapatos, no usan uniforme, las familias
no esperan un informe pero la escuela se empeña en entregarlo (boletín), con una
concepción de infancia evolucionista que nada tiene que ver con las particularidades de la
cultura. Esta descripción es parte nuestra mirada occidentalizada que se hizo evidente en una
exploración inicial necesaria para la práctica pedagógica que se hace en el proceso de
formación final del licenciado en Pedagogía Infantil (2018), de la Universidad de Los Llanos,
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pero que obligó a repensar la formación y la propia concepción de práctica docente, a partir
de un trabajo de campo y de observación que obligaba a resituar las concepciones de infancia
y familia indígena, aprendizaje, metodología, relación familia – escuela. La recolección de
información desde la cartografía social, el diario de campo, las fichas de observación, hicieron
entonces de la práctica un ejercicio exploratorio que llevó a las investigadoras a configurar
una práctica intercultural e investigativa donde los niños y las familias se hacían maestros para
enseñarnos que la escuela es el territorio y que el territorio es la familia con la cual el
aprendizaje es cotidiano y no enciclopédico o lejano. Surgen entonces preguntas sobre la
formación de maestros y escuelas interculturales que interpreten adecuadamente estos
contextos, escuelas incluyentes, familias y roles como parte del tejido social indígena donde
crece el niño y la niña de la primera infancia. ¿Cuál es entonces la escuela que aborda la
primera infancia indígena en sus propios territorios?

Kaakape Makuusipi: a formação de professores através da ação saberes


indigenas na escola em Roraima
Catarina Janira Padilha
Denis Viana de Souza2
Marilene Alves Fernandes3
Roseli Bernardo Silva

Os indígenas que habitam o Estado de Roraima têm sua história marcada por lutas e
resistências. Se no passado lutaram contra a expropriação de suas terras, e outras imposições
garantidas em leis que mudaram radicalmente os seus modos de vida, hoje buscam
alternativas de auto sustentação, melhores condições de saúde, educação de qualidade
considerando seus costumes, crenças, tradições e manutenção da Língua e dos Saberes
Tradicionais. A educação escolar indígena, almejada por muitos povos, reconhece a educação,
um instrumento de luta e valorização de sua cultura, no entanto, não superou o descompasso
e as lacunas existentes entre a legislação e as políticas implementadas, principalmente no que
se refere à promoção de práticas educacionais especificas e diferenciadas para as
comunidades indígenas. O ensaio descreve o processo formativo de mais de 200 professores
indígenas para produção de material didático em Língua Materna para alfabetização das
crianças das Etnias Macuxi, Wapichana, Taurepang, Ingaricó e Wai-Wai durante as 4 etapas
desenvolvidas entre os anos de 2015 a 2018. São descritos as etapas de formação e prática
pedagógica dos formadores e cursistas e contribuições para dinamização e promoção do
Currículo intercultural nas ações metodológicas para promoção da Língua Materna das
regiões: Serra da Lua, Alto e Baixo São Marcos, Raposa – Serra do Sol, Três Corações e Terra
Indígena Wai-Wai, localizadas no Estado de Roraima. Têm como base os pressupostos da
Pedagogia Histórica – Crítica, Teoria Histórico – Cultural e Estudos Culturais, como
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fundamento no processo de desenvolvimento da formação de professores e sua relação no


currículo intercultural, com aporte teórico em: Bergamaschi (2012), Brasil (2007); RCNEI
(2002) Candau & Koff (2006); Díaz-Aguado (2000), Duarte (2007); Geertz (2001); Larraia
(2017); Paladino & Czany (2012); Saviane (2008); Silva (2017); Silva & Hal (2014); Vygotsky
(1996/1998). Os resultados apontam os desafios voltados para: o processo formativo de
professores em Língua Materna; a Valorização dos Saberes Tradicionais; Manutenção de
Políticas Públicas para continuidade do programa; integração de ações metodológicas e
registro da aprendizagem no processo de intervenção didática. Demonstra resistência para
permanência do programa através do envolvimento de todos os atores do processo, na
riqueza das produções, o compromisso dos participantes e consciência da importância do
registro dos saberes tradicionais para gerações futuras. Considera-se que o tema promove o
debate e a reflexão sobre politicas publica para formação de professores indígenas e a
necessidade de unicidade e resistência para que o protagonismo indígena a prática
pedagógica evidenciando os saberes tradicionais, revitalização e manutenção da Língua
Materna pautadas ao Currículo Intercultural.

Praticas de Aprendizagem da Língua Xoklegn/Laklano no contexto da criança


indígena
Margarete Vaecome Patté

Nesse estudo buscaremos saber mais e discorrer sobre as praticas de aprendizagem da língua
Xokleng/Laklano. Historicamente nossa língua vem se perdendo, as famílias estão perdendo
o habito de falar na língua com os seus filhos, por vários fatores, entre eles, o contato maciço
com a cultura envolvente, ou seja, desde o processo de “pacificação”, nossa língua vem
perdendo força, historicamente nossos mais velhos contam que era proibido falar na língua
indígena. O estudo se da junto ao povo Xokleng/Laklano que esta localizada no município de
José Boiteux, no alto vale do Itajaí SC. Eu sou falante da língua indígena mas por consequência
das represálias acabo não falando com meus próprios filhos na língua. O ensino da língua tem
recaído sobre a responsabilidade da escola, por esse motivo, nesse estudo, buscarei encontrar
estratégias de revitalização da língua indígena primeiramente junto as famílias, entender mais
a fundo por que no presente após mais de 100 anos de pacificação e onde não se proíbe mais
o uso da língua indígena as famílias não retomaram. Esse estudo parte de um relato pessoal,
onde explanarei mais sobre porque não tenho o habito de falar com meus filhos na língua
xokleng e estendera para outras famílias onde o pai ou a mãe e ou avó são falantes da língua,
porém não passam para seus filhos.

Niñas y niños indígenas: ideas en tensión en el marco de propuestas


educativas propias que surgen en la ciudad
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Olga Lucía Reyes Ramírez


La presente ponencia recoge un fragmento de la tesis doctoral de la autora, en la cual se
analizaron las vivencias de niñas y niños indígenas pertenecientes a diversos pueblos
indígenas de Colombia, que viven en la ciudad de Bogotá y que se reúnen en escenarios de
atención y educación para la primera infancia indígena denominados Casas de Pensamiento
Intercultural- CPI. Estos escenarios albergan prácticas de cuidado y crianza, discursos y
cosmovisiones de diversos pueblos indígenas y no indígenas. En el proceso de investigación,
de corte colaborativa y cualitativa, se identifica que en el encuentro de lecturas de mundo, de
prácticas de cuidado y crianza, se generan tensiones, disputas y contradicciones, relacionadas
con las ideas que se tienen sobre qué es ser niña y niño. Las prácticas y discursos se debaten
entre apuestas por la autonomía y la confianza en el niño, frente a miradas y prácticas que
relevan la heteronomía. También se generan tensiones entre el reconocimiento del niño y la
niña en tanto miembros activos de una comunidad, frente a la visión de estos como alumnos.
De la misma manera, coexisten apuestas de cuidado que se friccionan por tener en su
interior modelos libertarios conviviendo con apuestas proteccionistas. La tensión y el
encuentro que tiene lugar entre las prácticas indígenas y no indígenas en la ciudad, son
escenarios potentes para repensar le educación inicial en contextos urbanos. La confianza en
las capacidades del niño evidente en las visiones indígenas, así como los modelos de crianza
basados en el acompañamiento y no en la dirección y vigilancia, permiten la desinfantilización
de la infancia, la flexibilización de las políticas públicas y la dinamización de las apuestas
educativas y de atención de los niños y niñas más pequeños.

A escola autônoma dos Mbyá- Guarani no Litoral Norte do Rio Grande do Sul:
um movimento de retomada de área e pela legitimação dos saberes
tradicionais
Maria Cristina Schefer
José Carlos Venâncio

Neste estudo (de viés etnográfico), excerto de investigação de pós- doutoramento,


descrevemos práticas cotidianas na luta pela institucionalização de uma nova aldeia da etnia
Mbyá-Guarani no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, e no interior dela, a bioconstrução
coletiva de uma escola autônoma. O movimento teve início em janeiro de 2017, a partir do
deslocamento de vinte famílias indígenas, provindas de aldeias da região ou de periferias
urbanas, para uma área de Mata Atlântica pertencente ao Estado do Rio Grande do Sul. O
evento foi intitulado ‘1a Retomada Mbyá- Guarani do Litoral Norte’. Nesse sentido, tanto a
criação da nova aldeia quanto o desejo por uma escola singular podem ser entendidos como
o enfrentamento dessa comunidade indígena aos modelos convencionados por governantes
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para organização de aldeias e às escolas que ofertam a educação aos indígenas. Os indígenas,
por outro lado, querem atender a demanda ocidental de escolarização, conforme afirma o
cacique da retomada, porém, não desejam que a cosmologia Mbyá seja ignorada/depreciada
nos bancos escolares, querem um currículo que inclua suas crenças, seus costumes, sua
espiritualidade de povo da floresta. Esse lugar sonhado e que motivou a retomada, “liberto
dos ditames dos juruás (não- indígenas)”, acena para a necessidade de inovações
etnoinstitucionais em respeito às singularidades dos povos tradicionais. Legalmente, desde a
Constituição Cidadã, o respeito às diferenças étnicas circunscreve a legislação que demarca
áreas ancestrais e a educação indígena, entretanto, o modelo hegemônico e padronizador de
modos de vida tem prevalecido e impedido o nhanderekó (bem-viver) dos Mbyá. O conceito
de Sociedade de Consumo Liquido- Moderna (BAUMAN, 2008) serviu de pano de fundo para
as análises, desenvolvidas a partir de registros de conversas informais, entrevistas
semiestruturadas, imagens e fotografias. Por hora, podemos dizer que há fragilidades no
movimento Mbyá-Guarani que vislumbra uma aldeia aos moldes do passado, uma escola
autônoma, já que, na sociedade atual, os indígenas continuam sendo vistos como estranhos,
e a lógica integracionista continua a sobrepor o respeito pela diversidade.

Discussão e construção de currículo nas escolas indígenas dos povos da região


do Tapajós-Arapiuns – Amazônia – Brasil
Claudio Emidio-Silva
Rita De Cassia Almeida-Silva
Maria Lucia Martins Pedrosa Marra

A região do médio e baixo rio Tapajós e rio Arapiuns é a morada de vários povos indígenas,
que se encontram em plena estruturação de suas escolas indígenas. Muitos de seus
professores cursam a licenciatura intercultural indígena da Universidade do Estado do Pará
(UEPA), onde durante as disciplinas teóricas e praticas temos discutido e ajudado na
construção de possíveis currículos para essas escolas, numa perspectiva intercultural, de
valorização da pessoa e da cultura indígena. O desafio é imenso onde precisamos superar
obstáculos produzidos pelo Estado, pelos conceitos inerente do próprio currículo e seu
entendimento e função, bem como dos próprios anseios das comunidades indígenas. Essa
experiência tem nos tirado do lugar comum, produzindo materiais didáticos e possibilidade
únicas. Nossos resultados nos leva a crer que estamos no caminho certo quando elegemos a
interculturalidade critica para nortear as nossas ações e construções. Entendemos que essa
prática de construção curricular deve ser uma constante na fazer/saber do professor indígena.
Não há uma finalização em si e sempre se pode alterar, melhorar, modificar conforme os
desejos da própria comunidade que é a principal interessada em que seus filhos progridam na

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educação escolarizada. A esperança dos povos indígenas dessa região em melhorar de vida
também passa pela escola em diversos sentidos.

Ensino de língua na escola indígena: como lidar com os empréstimos


e criações endógenas de crianças Kaingang
Fabiana Alencar da Silva
Gean Nunes Damulakis

O objetivo deste trabalho é promover uma reflexão acerca de dois processos de inovações
lexicais: os empréstimos e as criações endógenas (Damulakis & Silva, no prelo) de crianças
Kaingang, a partir do contato do Português Brasileiro (PB). O contato entre línguas gera
transformações socioculturais contribuindo para o surgimento de mudanças linguísticas. No
contexto brasileiro, em muitos casos, a situação de contato do PB, língua oficial no país, com
as línguas indígenas, causa uma relação assimétrica, possibilitando o aumento de
empréstimos e de outras inovações, como as criações endógenas (Damulakis & Silva, no
prelo). Esse é o caso do Kaingang – família Jê, tronco Macro-Jê (Rodrigues, 1986) – do qual
grande parte da população possui um alto grau de bilinguismo e, muitas vezes, torna-
se monolíngue em PB. Baseando-nos na metodologia sociolinguística do tempo aparente
(LABOV, 1963; WEINREICH; LABOV & HERZOG [1968], 2016), pretendemos mostrar inovações
lexicais, observando o que há de diferente entre dados de crianças em relação a outras faixas
etárias de falantes Kaingang, com o intuito de discutir o trabalho em sala de aula como um
possível caminho para fortalecer o ensino da língua materna. A consciência do processo das
criações endógenas pode fazer com que alunos sejam capazes de contornar, voluntariamente,
a entrada de empréstimos lexicais, considerando, sempre, a decisão deles (sem imposição).
Ao lado de muitos empréstimos encontrados, tanto adaptados fonético-fonologicamente (por
exemplo, aro[j]), quanto diretos (por exemplo, bi[s]i[kl]eta ‘bicicleta’, com os segmentos [s] e
[l] e o cluster [kl] inexistentes em Kaingang), também encontramos o que estamos
denominando de criações endógenas (Damulakis & Silva, no prelo). Estas criações funcionam
como uma expansão lexical utilizando-se apenas de recursos da língua criadora, que
se mostram alternativos à adoção de empréstimos, em situações de contato
linguístico- cultural. Um exemplo de criação encontrado no Kaingang é o caso de goj kron
fã, (literalmente: “bebedor” de água), para a nomeação dos referentes ‘bebedouro’
e ‘garrafa’. Desejamos, com a nossa pesquisa realizada na Terra Indígena de Nonoai (Rio
Grande do Sul), fornecer subsídios, sobretudo aos professores, para a manutenção do dialeto
Kaingang falado nessa região, além de levantar discussões a respeito de materiais didáticos
capazes de munir o professor, que atua com essas crianças Kaingang, sobre esses processos
de inovação que ocorrem na língua, contribuindo para o fortalecimento da educação escolar
indígena.
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Los retos de la etnoeducación universitaria en la formación de maestros


indígenas
Cristina Simmonds
El proceso de formación de maestros indígenas, en el ámbito de las universidades colombianas
se ve abocado a cambios permanentes, determinados por las transformaciones políticas,
económicas y religiosas que vienen sucediendo en los territorios indígenas de este país. A lo
anterior, se suman los conflictos territoriales, el narcotráfico, los conflictos interétnicos y las
nuevas condiciones resultado del pos conflicto. Dichas transformaciones sugieren
contradicciones y tensiones entre a tradición, el conocimiento ancestral, las dinámicas locales,
la actualización y el mundo global. Todo lo anterior, viene incidiendo en las escuelas, no sólo
como determinantes de tensiones, sino como un factor inaplazable para repensar la ruta en
la formación de maestros indígenas, especialmente, la que ofrecen las universidades públicas
de Colombia. Esta ponencia se centra en el Programa de Licenciatura de la Universidad del
Cauca (Colombia), como una instancia de formación de maestros de grupos étnicos con una
experiencia de más de 20 años. Se analizan los factores que han venido generando cambios
en la propuesta curricular de este programa, relacionada con las tensiones antes
mencionadas. Se identifican nuevos perfiles y características de maestros indígenas con
formación universitaria y cómo estos vienen asumiendo su papel de formadores de niños y
jóvenes. Finalmente, se presenta una serie de alternativas, todas ellas producto de la
experiencia del programa de Licenciatura en Etnoeducación, que pueden servir de ruta para
otras experiencias de educación indígena en la región.

A prática docente Guarani Mbya – liderança, engajamento e luta

Janaína Aline dos Santos e Souza

O presente trabalho apresenta as considerações finais da dissertação de mestrado “A prática


docente Guarani Mbya – liderança, engajamento e luta”, que trata sobre como as professoras
e professores indígenas guarani mbya entendem sua prática docente. Parte do pressuposto
de que a educação escolar indígena começa a ser ressignificada a partir de 1990, quando o
Estado reconhece e dá maior respaldo às demandas dos movimentos e organizações
indígenas. Assim, reestrutura-se uma instituição tipicamente não-indígena, norteada até
então por princípios de catequização, civilização, integração e preservação. Ao se reconstruir
junto aos projetos de futuro de cada etnia, a escola indígena se constitui como inovação
educacional. A pesquisa de campo verificou qual a visão que docentes indígenas têm de suas
práticas, considerando a hipótese de que estas se centram no modo de transmissão
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dos saberes tradicionais de sua cultura ou na mera reprodução do modelo de ensino escolar
predominante, originalmente não-indígena, ainda que se trate ficialmente de uma escola
diferenciada. O foco das observações centrou-se na Escola Estadual Indígena Guarani Gwyra
Pepo, situada na aldeia Tenonde Porã, em Parelheiros, capital de São Paulo. Foram feitas
entrevistas com as professoras e professores guarani. As informações recolhidas foram
analisadas com bases teóricas das pesquisas antropológicas sobre a etnia Guarani e
sociológicas sobre inovação educacional, bem como pelo recurso às produções da etnologia
ameríndia sobre educação escolar indígena. Conclui-se que a prática docente das professoras
e professores guarani é entendida como forma de luta, favorecida pelos espaços de discussão
sobre educação escolar indígena e pela própria atuação como liderança. É vista tanto como
valorização do nhandereko quanto como subsídio para compreender e enfrentar a sociedade
não-indígena dominante, sendo modelo de engajamento e luta para reconceituação da
educação pública de modo geral.

Transversalidade, interdisciplinaridade e multidimensionalidade na


construção curricular indígena: reflexões com base em contribuições da
educação ambiental
Beatriz Osorio Stumpf
Denise Rosana Wolf

Esse trabalho desenvolve reflexões sobre possibilidades curriculares e metodológicas da


educação escolar indígena, com base em características de importantes questionamentos e
proposições educacionais da atualidade, como transversalidade, interdisciplinaridade e
multidimensionalidade. A discussão ocorre a partir de experiências educativas ambientais
realizadas com escolas Mbya Guarani do Rio Grande do sul, por meio do projeto “Ações de
recuperação, conservação ambiental e etnodesenvolvimento em aldeias indígenas Guarani do
RS: Ar, Água e Terra: Vida e Cultura Guarani", desenvolvido pelo Instituto de Estudos Culturais
e Ambientais – IECAM, com o patrocínio da Petrobras, através do Programa
Petrobras Socioambiental. A atuação educativa ambiental desse projeto busca contribuir com
o Bem Viver nas aldeias, noção que descreve o paradigma indígena de vida em harmonia entre
seres humanos e natureza, conforme Bailone (2012, p. 156). Nesse sentido, abrange múltiplas
dimensões, como educação, saúde, valorização e revitalização cultural, conservação
ambiental, fortalecimento social, gestão territorial, cidadania e reconhecimento das
potencialidades territoriais e humanas para sustentabilidade econômica, segurança alimentar
e geração de renda, conforme as demandas, interesses e projetos de futuro individuais e
comunitários. O trabalho parte da construção conjunta intercultural, com uma visão
de complementaridade e valorização simétrica entre saberes indígenas e ocidentais,
na abordagem da interculturalidade crítica, proposta por (Walsch, 2010), na qual as diferentes
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culturas dialogam e se complementam para contribuir com mudanças concretas na realidade,


produções de conhecimento e construções de novas formas de pensar e agir, em uma
perspectiva descolonizadora. O programa trabalha no sentido de colaborar com o
fortalecimento de práticas escolares diferenciadas e a maior integração entre escola e
comunidade. Com esse direcionamento, são criados espaços e tempos escolares
interculturais, interdisciplinares e multidimensionais, de forma lúdica, prática, artística e
integrada aos conteúdos curriculares, abrangendo sensibilização, reflexão com base na
troca intercultural de conhecimentos, planejamento coletivo, execução de ações
para melhoria da qualidade de vida da aldeia, produção de materiais informativos e didáticos,
e avaliação contínua participativa. A participação dos/as professores/as indígenas e não
indígenas proporciona a criação de pontes entre esses espaços e suas aulas, nas continuidades
e desdobramentos de atividades, bem como nas relações com outros conteúdos em seus
processos de ensino. Transversalidade, interdisciplinaridade e multidimensionalidade
emergem naturalmente neste processo, sendo discutidos a partir de autores como Rafael Yus
e Ivani Fazenda.

O povo Apyãwa (Tapirapé) e sua luta por uma educação bilíngue intercultural

Gilson Ipaxi’awyga Tapirapé

Neste trabalho, pretendo tratar especificamente do povo Apyãwa (Tapirapé), Estado do Mato
Grosso (Brasil), e sua luta por uma educação bilíngue intercultural, desde que foi pensada a
implantação de escola na aldeia. Contudo, apesar da violência e do desrespeito que têm
marcado as ações dos colonizadores perante os povos indígenas nesses cinco séculos, os
Apyãwa sobreviveram ao extermínio físico e epistemológico e desenvolveram estratégias para
resistir aos invasores, através da educação escolar, apropriando-se do elemento da cultura do
colonizador para lutar contra ele próprio. Ao contrário de muitas escolas existentes nas terras
indígenas, que ainda se pautam pelos parâmetros impositivos implantados pelos
colonizadores europeus desde que aqui chegaram, a escola Apyãwa assume uma
política pedagógica que de fato contribui com o projeto de manutenção de nossa
identidade, que respeita e valoriza os saberes tradicionais do nosso povo. É sobre nossa
escola que refletirei em minha fala.

A escola como direito e estratégia de luta e de resistência do povo Apyãwa


(Tapirapé)
Iranildo Arowaxeo’i Tapirapé
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O processo de luta dos povos indígenas pelo reconhecimento de seus direitos étnicos,
culturais, linguísticos e territoriais é uma história que se inicia com a chegada dos
colonizadores europeus aqui nesta terra hoje chamada por Brasil. Poucas pessoas, sobretudo
das sociedades não indígenas, sabem que no período colonial os povos indígenas passaram
por inúmeras e diversas situações de luta e de sofrimentos para continuar existindo e manter
suas culturas, línguas e tradições vivas, assim como vivemos na atualidade diante de
globalização que inclusive resultou-se da própria colonização eurocêntrica. Mesmo com
nossos direitos garantidos na Constituição Federal de 1988, nós, os povos indígenas,
continuamos nos deparando com problemas e enfrentando dificuldades geradas, sobretudo,
por invasores, madeireiros, fazendeiros e latifundiários presentes em nossas terras.
E sabemos que são deveres do estado brasileiro proteger e fazer respeitar nossos direitos
garantidos na Constituição. Porém, não é o que vemos na realidade. O estado brasileiro não
cumpre os seus deveres mesmo com as exigências dos próprios povos indígenas, e com isso,
obviamente, as situações dos diferentes povos só vêm se agravando cada vez mais. Diante de
todas essas situações enfrentadas, tanto no passado, quanto na atualidade, “RESISTÊNCIA’’ é
a arma estrategicamente básica utilizada pelas sociedades indígenas para suas
próprias sobrevivências e sobrevivências de todos os saberes ligados às suas culturas, línguas
e tradições. A escola que no passado era utilizada como espaço estratégico de dominação dos
povos indígenas pelos colonizadores, hoje se tornou um espaço plausivelmente favorável às
sociedades indígenas, ou seja, os povos indígenas hoje dela se apropriaram, utilizando-a como
espaço de valorização e fortalecimento de suas identidades étnicas, na qual aprendem
também a defender e a buscar os seus direitos. Em minha fala discutirei sobre a escola Apyãwa
(Tapirapé), como espaço de resistência do povo Apyãwa, do estado do Mato Grosso (Brasil).

Desafios da alfabetização da criança xavante na educação intercultural: um


estudo de caso da escola adão toptiro, localizado na Aldeia Abelhinha/Terra
Indígena Sangradouro/Mato Grosso.
Isabel Teresa Cristina Taukane
Januário Tseredzaro ‘Ruri’õ
Lucas ‘Ruri’õ

O presente trabalho traz os resultados iniciais da pesquisa em desenvolvimento cujo objetivo


é compreender os desafios para construir uma educação intercultural durante a alfabetização
da criança xavante, que garanta processos de aprendizagem seus saberes e práticas
socioculturais específicas. Para buscar responder a essa questão que nos orienta neste
momento em que estamos nos preparando para contribuir com a escola específica e
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intercultural para o povo Xavante da Escola Estadual Indígena de Educação Básica “Adão
Toptiro”, realizamos a pesquisa em dois momentos: um primeiro que fundamentamos
os estudos para compreender a educação escolar atrelada ao reconhecimento
da interculturalidade, e outro junto à comunidade escolar e às crianças. Neste texto,
apresentamos os resultados dos estudos da primeira fase da pesquisa. A importância da
pesquisa a respeito do ensino e aprendizagem da criança nos anos iniciais de escolarização
traz à luz a relevância de compreender seus contextos socioculturais que se entrelaçam para
além do ambiente escolar, embora seja, este o cenário do objeto da pesquisa. Nosso objetivo
é compreender como as crianças são alfabetizadas nas séries iniciais no contexto bilíngue, na
aldeia Abelinha do Território Xavante Sangradouro em Mato Grosso. Para a coleta de dados,
recorremos a dois passos que se complementariam: identificar o pensamento de
autores/pesquisadores a respeito a alfabetização da criança indígena; identificar como as
crianças indígenas da Aldeia Abelinha são alfabetizadas. Por fim, estabelecemos a conclusão
sobre o assunto. Podemos dizer, que as escolas indígenas, possuem uma a centralidade nas
aldeias e servem como mediadora para o desenvolvimento de um projeto coletivo, no
entanto, possuem dificuldades de se fazer a almejada escola intercultural, ao que parece
devido a herança colonizadora, na atualidade corre-se o risco da reprodução de práticas
que são comuns das escolas não indígenas e a interculturalidade se realizar no
sentido primário não avançando para próximos níveis de uma interculturalidade produtora
de inovação para que a criança possa se guiar frente aos contextos contemporâneos.

Oportunidades para la constitución subjetiva de la niñez indígena:


investigación comprometida con la nueva territorialización del cuerpo-sujeto
en un contexto urbano
Ebelyn Andrea González Vargas
En los últimos años la población de diversas regiones de Colombia, por razones como las
violencias históricas, el desplazamiento forzado, la violencia política, social y económica, así
como por la búsqueda de otras opciones de vida, han venido migrando hacia las grandes
ciudades. Como consecuencia el desarraigo y la desigualdad se incrementan para las
comunidades indígenas, sus dinámicas, prácticas y las formas de habitar el territorio se han
venido re-configurando y transformando; en ese contexto, surge como propuesta la
educación intercultural para las infancias indígenas, además de los espacios en los cuales
habitan cotidianamente; las casas de pensamiento intercultural (CPI). Es por ello, que en el
habitar cotidiano como maestra en un escenario pedagógico intercultural, se han venido
encontrando los rastros de estas violencias y migraciones evidenciados en las expresiones de
los niños y niñas que hacen parte de la CPI Payacua, originarios de la comunidad Embera Katio
y Embera Chami, dichas expresiones se hacen cada vez más visibles en el cuerpo, quizá por las
condiciones de salubridad en las que sobreviven en (paga-diarios) habitaciones
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colectivas compartidas con un gran número de personas, es decir el estar allí de los niños
se encuentra atravesado por el hacinamiento, entre otras cosas. Es por ello, que, desde
herramientas como la narrativa, historias de vida y otras herramientas metodológicas que
emergen en la práctica como: “Nau adedai dachi iujada1” “canasta de la memoria”, “tren
camino a casa”, “boleto de regreso” se empieza a pensar como se constituye la niñez indígena
desde tres planos de historicidad el pasado, el presente y los nuevos horizontes de sentido
que corresponderían a la visión de futuro, de allí se desprende las voces e imágenes dibujadas
de las vivencias, memorias y representaciones de lo que seria su vida en su territorio de
origen.

ST 14 | Epistemologías de la sostenibilidad en mundos indígenas de América


Latina
Jorge Legoas (Universidad Central del Ecuador, Ecuador); William Andrés Martínez Dueñas
(Universidad del Magdalena, Colombia).
La “sostenibilidad” – idea que apunta a una partición particular de lo sensible, si no acaso de
lo posible – es una arena abierta a una lucha de sentidos cuyo espectro va desde el propio
informe Brundtland hasta cosmologías y prácticas indígenas de relación con su medio,
pasando por las visiones de diferentes agentes intermediarios que tienen por función conectar
ambos extremos. Esta larga cadena de actores, además, sugiere la existencia de mundos en
tensión o inconmensurables en los cuales naturalezas propias, espacio-temporalidades
diversas y apuestas particulares están en juego. Este simposio busca explorar los elementos
siguientes: 1) Formas de significar y conseguir lo sostenible en narrativas y prácticas de actores
económicos, de gobierno, o de promoción del desarrollo que alcanzan en alguna medida, o
apuntan expressamente, a grupos indígenas. 2) Cosmologías, subjetivaciones y prácticas
políticas, horizontes de lo posible y aspiraciones colectivas (así como eventuales sentidos
locales de la sostenibilidad) que son performadas por sujetos indígenas y que potencialmente
enfrentan, sortean, dialogan, o son negociadas con las primeras. 3) La diversidad de mundos
o naturalezas que resultan de ambas aproximaciones a lo “sostenible” y que coexisten en
tensión. Serán presentadas reflexiones con un asiento empírico en narrativas o prácticas

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presentes en mundos indígenas de diversas regiones de América Latina, en las que se esboce
uno o más de estos elementos.

Territorialidade Potiguara e paisagem no litoral do nordeste brasileiro


José Glebson Vieira

A presente comunicação pretende analisar as concepções do povo indígena Potiguara do


Sagi/Trabanda (município de Baía Formosa/RN, Brasil) acerca da relação entre
território, ambiente e paisagem e as políticas ambientais, notadamente a criação de áreas de
preservação permanente, reserva legal e demarcação de terra indígena. A investigação volta-
se para as percepções do espaço, em seus usos e práticas sobre as paisagens, as
representações e as práticas de organização sócio espacial no contexto de demarcação da
Terra Indígena Potiguara e nos conflitos e disputas envolvendo a inclusão de áreas de
preservação e de reserva legal no interior da Terra Indígena. A inclusão de tais áreas no
território indígena atende a uma demanda coletiva e também ambiental, na medida em que
visa garantir a reprodução física, social e simbólica do grupo e é resultado de uma forte
pressão sofrida pelos indígenas, por parte de usineiros e outros posseiros, bem como de
órgãos ambientais. A análise aqui proposta aproxima-se de reflexões sobre as transformações
do espaço ameríndio, que sugerem uma compreensão alargada da história ameríndia por
meio dos modos de conservação da memória e do apego aos territórios tradicionais, aliada
às discussões sobre as políticas ambientais e os programas de manejo e conservação de
áreas naturais a partir da problematização da sobreposição de áreas e reservas legais de
preservação permanentes e Terra Indígena.

Percepción y narrativa de la naturaleza: procesos de confrontación


epistémica y territorial en las comunidades mazahuas del Estado de México
David Figueroa Serrano

La naturaleza, desde el racionalismo moderno, ha sido desprovista de su realidad subjetiva,


siendo asumida desde una connotación física. A diferencia de ello, otros constructos
epistémicos han concebido a la naturaleza como un todo integral, una entidad viva. Estas
perspectivas ontológicas subalternas son formas del ser en el mundo y representan otros
caminos de la convivencia con el entorno y entre la propia sociedad. Esta ponencia busca dar
un panorama sobre las formas de percibir la naturaleza en las comunidades mazahuas del
Estado de México, en un contexto donde interaccionan las visiones tradicionales sobre el
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entorno, alentadas por diversas prácticas de arraigo cultural, así como la inserción de
programas y políticas de Estado vinculadas a la conservación ambiental. En ese contexto, se
generan tensiones que confrontan la visión sobre el espacio comunal como campo de
acción de procesos epistémicos y ontológicos insertos en la relación con el entorno natural, a
diferencia de los espacios para la conservación ambiental desde el contexto de
las instituciones gubernamentales. A partir de la ontología política y la ecofilosofía
pretendemos retomar dos elementos: a) el territorio como referente del espacio habitado y
propio en correlación a la dimención regional de interacción con grupos
culturalmente diferenciados; b) El territorio como espacio de reproducción de las
cosmologías indígenas, al tiempo de ser el espacio de disputa concepual y de interacción
y aprovechamiento del entorno desde la influencia de diferentes normativas
y programas. Metodológicamente, se realizó un acercamiento analítico desde de
diferentes francos: La identificación de la percepción de la naturaleza a partir de
diversas narrativas tradicionales y la historia local de las poblaciones mazahuas; la revisión de
las políticas ambientales, en específico, las relacionadas a las zonas de reserva y registro de
áreas protegidas que afectan algunos sectores de las cuencas del Lerma-Santiago, la Cuenca
del Cutzamala y de los espacios forestales; los diferentes conflictos por los recursos hídricos y
los proyectos de trasvase, así como las confrontaciones y reajustes ontológicos y epistémicos
que se gestan en dicho proceso.

A sabedoria dos povos indígenas e a reflexão sobre uma ética ambiental


decolonial
Matheus Henrique dos Santos
Marina Guerin
Julice Salvagni

Os desafios políticos derivados da emergência de discursos ecológicos no mundo tem sido


pautas cada vez mais relevantes visto que os nossos modos de vida têm escancarado o abismo
entre a humanidade e o meio ambiente. Soma- se a isso a destruição sistemática de
ecossistemas em detrimento de um desenvolvimentismo intrínseco ao sistema capitalista e à
história de dominação colonial no mundo, que compõem as geopolíticas de manutenção da
desigualdade entre um norte e um sul global. Em meio a esses desafios, temos nos
aproximado das pautas e movimentos que fazem parte da afirmação dos modos de vida
ancestrais e das novas configurações culturais das populações e povos historicamente
negligenciados e oprimidos pelas estruturas de dominação colonial e capitalista. Dessa
aproximação entende-se que um dos fatores para trabalhar no enfrentamento da reprodução
da colonialidade é nos reconhecermos em ressonância nesse processo de formação da
América Latina enquanto latino-americanos; enquanto parte do conjunto de nações
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pluriétnicas compulsoriamente empobrecidas no que podemos chamar hoje de mercado


globalizado. Esse reconhecimento pode assim contribuir para a construção de uma ética que
parta da valorização ativa dos conhecimentos e da sabedoria presente nas culturas originárias,
ao mesmo tempo em que ressignifica os pontos de interculturalidade que produzem um
pensamento e uma práxis decolonial. Essa é uma possibilidade de aproximação relevante
quando falamos sobre ética ambiental, ao manifestarmos a defesa da autodeterminação dos
povos indígenas e a proteção dos ecossistemas que comportam e agenciam a vida e a
manifestação de todos os entes humanos e não-humanos. E entendemos que esse debate não
pode aparecer desvinculado da uma crítica aos modos como a crueldade e a violência para
com a natureza se produzem em nosso contexto político, social e histórico. Da
interculturalidade com os povos indígenas, nos colocamos numa posição de aprendizado
sobre como podemos nos relacionar melhor enquanto parte de uma natureza, enquanto
entes interligados numa teia da vida cosmocêntrica; questionando o egocentrismo ocidental.
E nos propomos a fazer isso desde uma conceituação pautada num pensamento de fronteira,
que questiona as limitações impostas aos conhecimentos e abre espaço aos conjuntos de
significados outros sobre o mundo e a existência, como a vida em Pachamama e a ética de um
Bem- viver/Sumak Kawsay da sabedoria quíchua ou – no caso mais específico da realidade
brasileira – dos ensinamentos de Tekoha nhe’e Avyu Arandu dos kaiowá, entre outras
sabedorias.

¿Diálogos imposibles? Historia de un encuentro entre el pensamiento


agroecológico maya y huaorani
Laura Rival

Esta ponencia se basa en un experimento que hicimos hace unos años con el propósito de
confrontar el pensamiento huaorani sobre el territorio con la perspectiva de la sostenibilidad.
La idea era que la sostenibilidad puede (aun más, debe) ser pensada desde la cosmovisión
indígena. La hipótesis de base es que lo que hace más falta en elaboraciones teóricas sobre el
desarrollo sustentable es un intercambio de experiencias entre conocimientos indígenas.
Viajamos con un agro-ecólogo Maya a la comunidad de Toñampari donde hicimos una serie
de experimentos en cultivos indígenas permanentes. Después de presentar lo sucedido, trato
de ofrecer una interpretación del complejo intercambio de puntos de vista que tuvo lugar,
animado por ontologías muy diferentes

El potencial político de la relacionalidad mapuche: disensos sobre la


sostenibilidad
Ana Margarita Ramos
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La noción occidental y moderna de “política” actualiza un campo semántico en el que otros


significantes como, por ejemplo, “agencia”, “negociación”, “normativas”, “crecimiento” y
“progreso” devienen eslabones de una misma cadena epistémica. En ese marco común,
conceptos como “naturaleza”, “desarrollo” y “sostenibilidad” no solo presuponen un modo
único de organizar las experiencias sensibles del mundo sino que también califican
diferencialmente las prácticas sociales de co-habitación. Mientras algunos modelos de
relacionalidad –como el que plantea el Pueblo Mapuche—son evaluados como creencias
valorables pero irracionales, expresiones espirituales pero acientíficas o singularidades
étnicas, otros –como los planteados por la noción globalizada de “sostenibilidad”—son
considerados como eficientes, pragmáticos, racionales y científicamente probados. En esta
asimetría para fijar los criterios metaculturales de validación de los saberes, los proyectos
políticos de los pueblos indígenas empezaron a subrayar el hecho de que las desigualdades
económicas y sociales se articulan con imposiciones epistémicas y ontológicas. Desde el
trabajo etnográfico con algunas organizaciones y comunidades mapuche de la Patagonia
Argentina, nos preguntamos, primero, acerca de los encadenamientos epistémicos que
habilitan sus nociones de “política” y, en segundo lugar, sobre los disensos políticos que se
performan cuando los significantes mencionados arriba se articulan ontológicamente en otras
experiencias de relacionalidad.

Apropiaciones de la sostenibilidad en espacios heterogéneos: El caso de


la localidad andina de El Rosal, Sur occidente de Colombia.

Astrid Lorena Perafán

El Rosal Cauca, ubicado en la región andina del sur de Colombia, durante el siglo XX y las dos
primeras décadas del siglo XXI, ha vivido una serie de procesos socio- históricos que han
llevado a la transformación de la relación que los actores tienen con el territorio y sus modos
de vida. Entre ellos la disolución del Resguardo indígena, la introducción y siembra de cultivos
con fines ilícitos como la marihuana en los años 1960, la coca en los 70 ́s y la amapola en los
80 ́s, presencia de grupos guerrilleros quienes tuvieron bajo su control el territorio hasta
mediados del 2005. En la década de 1990 se da un proceso de movilización campesina,
indígena y afro en el sur de Colombia (CIMA) para reclamar derechos, y por otro lado se
fortalecerse la presencia del Estado con el apoyo de la cooperación internacional para
promover la erradicación y sustitución de cultivos ilícitos y la implementación estrategias para
promover la seguridad alimentaria y la sostenibilidad. Estas dinámicas han desencadenado
una serie de diálogos, conflictos, interacciones, negociaciones y reconfiguraciones entre los
actores externos con sus discursos y programas y los Rosaleños y sus formas de ser en el
mundo. En esta medida, lo que se quiere hacer visible es: 1) cómo han cambiado en la
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localidad los procesos agroalimentarios y territoriales, concretamente en relación con la coca,


que paso de ser un cultivo ancestral a ser explotado comercialmente y cómo, posteriormente
comienza a ser considerado una planta nociva para sus modos de vida y el medioambiente; 2)
cómo este proceso de transformación de la relación con la coca cambia gracias a la semillas
andinas de quinua, reintroducidas en el marco de programas agroalimentarios promovidos
por la cooperación internacional, el Estado e integrantes del CIMA, en el marco de prácticas y
discursos asociados a la sostenibilidad y la seguridad alimentaría, lo que permite que dicha
semilla ya no solo se la vea con fines medicinales, sino que entra a formar parte de las prácticas
agroalimentarias por su alto contenido nutricional, por ser amigable con el medio ambiente,
por su valor comercial y por ser una alternativa para la erradicación y sustitución de cultivos
de uso ilícito y, 3) cómo esta comunidad a pesar de que actualmente no se autoreconoce como
indígena, apela a la ancestralidad, al territorialidad y a la memoria, así como al discurso de la
sostenibilidad y de la seguridad alimentaría, para posicionar sus prácticas agroalimentarias
y confrontar procesos transnacionales y estatales que ponen en riesgo su seguridad
y soberanía alimentaria.

“The visual language of women’s socio-environmental movements:


analyzing the intersection of gender, ethnicity, and sustainability in visual
expressions of Chilean movements”
Karina Cárdenas Moraga
Master’s in Latinoamerican Studies, CEDLA, University of Amsterdam This paper explores the
intersection of gender, ethnicity, and sustainability in visual expressions of women’s socio-
environmental movements in Chile. These movements are analyzed as “mnemonic
communities” (Ouweneel, 2018) where shared perceptions about the past shape collective
actions and discourses over shared heritages. This analitical perspective is used to explore the
defense of nature and the role of women in socio-environmental conflicts. It is proposed that
these social movements reproduce collective memories about the past by using a visual
language that emphasizes an ancient and harmonious relationship between nature and
humanity. This rhetoric of the past also uses the image of Latin-American indigenous women
as a central symbol, comparing women with nature due to a reproductive condition. However,
current feminist perspectives postulate new critical views about the subordination of women
in their communities and societies in the past and in the present, criticizing a patriarcal
systems that limit the participation of women. In that sense, discourses about women roles
have been influenced by new critical perspectives that put attention to historical gendered
and ethnic women inequalities as well as the current role of women in contemporary
socio- environmental conflicts. According to Svampa (2015), an aggressive extractivist-based
economy system have caused the feminization of the socio-environmental conflicts in

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Latin America, where the role of women is increasingly more visible. Cruz-Torres & McElwee
(2012) argues that women get involved in these conflicts primarily due to a question of
survival, where the well-being of these women, their families and communities are in danger
because of the enclosure of natural resources. Nevertheless, to the historical responsibilities
of women over social reproduction, they would have developed a “Cultura del Cuidado”
(Svampa, 2015) that can be found in female collective actions based on a more
respectful relationship with nature and their communities. This “Cultura del Cuidado”
entails values such as reciprocity, cooperation, and complementarity, and propose
a sustainable society. Svampa states that this logic has a “pro-communal ethos,” or in terms
of Federici (2011) a “Communistic culture” that shapes a collective sense mediate by the
processes of commoning over material and immaterial resources. By analyzing visual
expressions, we can explore how social movements contest gendered meanings about women
and nature, and boost the membership of activists by using identity visual markers (Doerr,
2014). This is also a strategy to raise consciousness in the audience.Thus, the analysis of visual
expressions is a exciting opportunity to observe the evocative power of visual
arguments (Blair, 2004).

Pedagogia da Roda e permacultura: caminhos que se entrelaçam no


contexto de Araçuaí
Fábio Júnio Mesquita
Karla Cunha Pádua

Os migrantes carregam consigo o desejo de uma vida melhor, mas como poderia um povo ter
uma vida melhor se mudando para um vale castigado pelo sol e pela seca? Mesmo assim, o
município de Araçuaí, situado no Vale do Jequitinhonha, vem atraindo grupos indígenas de
diferentes estados do Nordeste, como é o caso dos Pataxó e Pankararu que fundaram ali a
aldeia Cinta Vermelha-Jundiba. O nome foi escolhido em referência à união dessas duas
etnias: Cinta Vermelha, o protetor espiritual dos Pankararu; e Jundiba, uma árvore sagrada
dos Pataxó. Estes povos não foram os primeiros indígenas a se estabelecerem na região,
habitada desde os tempos coloniais por vários grupos que ali viviam e circulavam pelos rios,
se embrenhando nas matas para se refugiar do avanço progressivo das frentes colonizadoras.
Longe da terra natal e do Estado, mas com a intenção de uma vida melhor, iniciaram ali a
construção de uma forma de “Viver Bem, de Bem Conviver”. Encontrando em Araçuaí uma
terra degradada, cuidar do ambiente se tornou uma prioridade. Foi assim que a Permacultura
acabou orientando a organização da aldeia e da escola, pensando no futuro das novas
gerações que vivem na comunidade. Assim, o projeto da permacultura norteia desde o
formato circular das construções e do espaço; a revitalização do ambiente com a ideia de
zoneamento e plantio de árvores baseado na agroecologia que trouxe de volta o verde e os
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passarinhos, à pedagogia da atenção ensinada na escola. Não apenas na aldeia, mas também
na ONG chamada de Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, o CPCD, a permacultura
tem sido aprendida, ensinada e praticada. O Sítio Maravilha, que tem a proposta de ser um
Centro de Permacultura do Vale do Jequitinhonha, é um projeto do CPCD que visa recuperar
a vida no solo do sertão, garantindo alimentos aos demais projetos sociais; além dos trabalhos
com saneamento ecológico, manejo racional das águas, bioconstruções, agroflorestas. Estas
e outras experiências, disseminadas nas comunidades da região em cursos e oficinas
oferecidos nos projetos do CPCD, utilizam a Pedagogia da Roda como princípio educativo,
uma prática que acontece a partir de círculos que encorajam a diversidade de ideias e
o diálogo pelas narrativas dos participantes. Mas que ligações podemos encontrar entre os
projetos ambientais do CPCD que utiliza a Pedagogia da Roda na educação de jovens e a
proposta de permacultura desenvolvida na aldeia indígena? Porque ambas as propostas
floresceram no contexto de Araçuaí? Que contribuições podem dar ao clima seco, ao
ambiente e a cultura do lugar? A proposta deste trabalho é tentar responder a essas perguntas
por meio de consulta de documentos sobre o CPCD e análise de entrevistas realizadas com
professores/as indígenas da aldeia.

Cosmopolítica de la tierra y horizontes de lo posible: La erosión natural-


cultural en la agricultura altoandina en el Cusco
Jorge Legoas

En la localidad campesino-indígena de Chillimocco (en la Región Cusco, Perú), el sujeto- tierra


es miembro y actor político de la Comunidad. Destacadas o cotidianas prácticas y saberes
locales convergen para construir un colectivo de personas humanas y no- humanas del cual
este sujeto forma parte. La relacionalidad establecida en esa red se funda en un marco de
aspiraciones y espacio-temporal que está definido por principios culturalmente arraigados
como el de samiy, que procura tanto el descanso como el accionar de elementos y actantes
en general. Samiy es así expresión de un particular contrato natural-cultural en Chillimocco
que hace legible la agricultura local como práctica de conservación. Paradójicamente, aun
teniendo como telón de fondo a este marco de orientación conservacionista, en los Andes
ocurre progresivamente una muy significativa pérdida de aquello que llamamos “tierra”. Pero
esta erosión no es sólo de minerales y humus: es natural-cultural. Parcelas, hombres y
conceptos se van arrastrados por los mismos torrentes. ¿Qué consecuencias, finalmente, de
estos principios, conceptos, horizontes y orientaciones locales para los de la sostenibilidad?

La ley y la pesca artesanal tradicional en zonas costero marinas de Colombia.


Una red de desposesión e invisibilidad.
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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Isabele Figueroa

En ese texto indago la manera que la ley y jurisprudencia de la Corte Constitucional colombianas tratan
los derechos culturales de las comunidades indígenas sobre sus territorios, especialmente los
relacionados con la pesca tradicional en zona marino costeras. Me interesa saber si para la Corte
Constitucional los derechos territoriales de las comunidades indígenas se extienden hacia el mar, y si
lo hacen, de qué manera concilian esos derechos con otras atribuciones legales del espacio oceánico.
Indago si el ordenamiento jurídico de Colombia entiende la actividad pesquera como una actividad
cultural que debe ser especialmente protegida, o si la mira llanamente como un recurso de
subsistencia económica. Ello permitirá identificar maneras de conciliar (o no) la pesca tradicional
artesanal con otras actividades económicas que se dan en el océano, especialmente las de grande
escala. Mi método fue revisar la legislación y jurisprudencia colombiana que tratan, de alguna manera,
de los derechos de las comunidades tradicionales pesqueras. También revisé una escasa literatura
sobre comunidades indígenas y su relación con la pesca marino costera. Pese a que existen algunos
trabajos que estudian la relación de comunidades negras con la pesca marino costera en el Pacífico
colombiano, y también la importancia de pesca en la cultura de los raizales de San Andrés, muy poco
se ha escrito sobre la relación de la pesca con los derechos de libre determinación de los pueblos
indígenas o afros en Colombia. Desde el estudio de la ley y jurisprudencia es posible visualizar parte de
las pugnas de sentido y resignificación que entablan los pueblos indígenas con los agentes del estado
para defender sus recursos ante el llamado “interés nacional”. Casos relacionados con la pesca
artesanal ilustran la problemática, que aún es mayormente invisibilizada en el derecho colombiano.

La conservación en contextos de diversidad socio-material: Las vacas y los


cóndores en una localidad indígena de los Andes Colombianos (Puracé)

William Andrés Martínez Dueñas

A pesar de que la conservación es una estrategia de control territorial precisa, cabe esperar
que sea apropiada o resistida localmente de diferentes maneras, no solo por las
especificidades epistémicas (o culturales/conocimientos) de las comunidades donde se
implementa, sino por las redes socio-materiales (naturalezas) particulares que se tejen entre
lo humano y lo no-humano. A través de una experiencia etnográfica con el Cabildo Indígena
de Puracé (CIP) se pudo observar cómo la “conservación” ha propiciado un espacio de
interacción entre la organización indígena (CIP) y el Estado (representado por Parques
Nacionales Naturales de Colombia) que permite evidenciar, por un lado, lo productivo que
puede llegar a ser este proceso y por otro lado, que lo que sucede en esta dinámica puede ser
mejor entendido a la luz de una aproximación analítica multinaturalista y no solamente desde
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el marco multiculturalista. Particularmente mostraremos como dos no-humanos, las vacas y


los cóndores, se insertan de maneras específicas en redes socio-materiales particulares; en
cada una de estas tanto las vacas como los cóndores son seres diferentes con los cuales se
interactúa de manera particular. Desde esta perspectiva es insuficiente el marco de análisis
multiculturalista y se sugiere una mirada que contemple la co-existencia de más que una sola
naturaleza en un mismo espacio geográfico, donde la conservación forma parte de una
naturaleza particular, aquella de la sostenibilidad.

El manejo del mundo y sus traducciones: epistemología makuna y


sostenibilidad
Luis Abraham Cayón Durán

La Gente Agua, más conocidos como Makuna, son un pueblo hablante de una lengua Tukano oriental
de la Amazonía colombiana. Sus miembros están adscritos a dos Asociaciones de Autoridades
Tradicionales Indígenas distintas, ACAIPI (Asociación de Capitanes Indígenas del Pirá Paraná) y ACIYA
(Asociación de Capitanes Indígenas del Yaigojé Apaporis) que han optado por estrategias diferentes
frente al estado colombiano para proteger sus territorios: los primeros han logrado el reconocimiento
de su sistema de conocimientos chamánicos como patrimonio inmaterial de la humanidad, mientras
que los segundos han sobrepuesto su Resguardo Indígena (figura jurídica colombiana para los
territorios indígenas) con un Parque Nacional Natural. Si bien es cierto que estas estrategias parecen
corresponder frente al estado y otros actores no indígenas como dos lógicas distintas, donde ACAIPI
enfatiza en el polo de la cultura y ACIYA en el de la naturaleza, desde la perspectiva indígena ambas
estrategias se sustentan en rituales chamánicos y diversas prácticas que denominan, en español,
“manejo del mundo”. Los Makuna de ambas organizaciones aseguran que sus actividades tradicionales
son fundamentales para la continuidad de la vida y acostumbran etiquetarlas discursivamente para las
audiencias no indígenas como “sustentabilidad”. El objetivo de esta presentación es analizar algunos
fundamentos epistemológicos relacionados con el “manejo del mundo” desde las concepciones
chamánicas y algunos de los rumbos que adquiere por su uso político cuando se traduce como
sustentabilidad.

Ilha do Bananal em chamas: os Karajá e o manejo do fogo em seu território

Lilian Brandt Calçavara

A Ilha do Bananal (TO) sofre todos os anos com grandes incêndios. Os Karajá, que vivem nesta
região desde tempos imemoriais, usam o fogo principalmente para abertura de roça e para

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facilitar o acesso aos lagos para a pesca. Mas a maior parte dos incêndios da Ilha é devido à
queima de pastagem para que a rebrota do capim alimente o gado. Quase a totalidade do
rebanho na Ilha pertence a não indígenas, que utilizam o pasto nativo mediante o pagamento
de uma mensalidade, fazendo uso do fogo. O fogo sempre foi utilizado por povos indígenas
para manejar áreas, mas nas últimas décadas do século XX e início do século XXI as queimadas
foram criminalizadas. Assim, muitas técnicas de manejo do fogo elaboradas a partir
de conhecimentos ancestrais foram abandonadas. No entanto, o acúmulo de matéria seca
durante os anos de proibição possibilitou incêndios muito mais intensos. Pesquisadores do
mundo inteiro passaram a se dedicar ao tema do fogo e sua importância na manutenção
das savanas. Ficou evidente, afinal, que a prática dos indígenas de manejar o fogo era não só
fundamentada, como necessária. O Manejo Integrado do Fogo (MIF) consiste basicamente em
criar com o uso do fogo um mosaico de paisagens, eliminando o excesso de matéria seca.
Esta queima é realizada no início do período seco, quando o fogo gera baixo impacto na fauna
e na flora. No auge da seca, quando ocorrem muitos incêndios, as partes que queimaram no
MIF não queimarão mais. Dessa forma, protege-se aéras estratégicas, como aldeias, plantios
e áreas de refúgio para a fauna, como florestas e mananciais. O manejo de áreas com fogo é
previsto no Código Florestal Brasileiro (Lei 12.651/2012). Na Ilha do Bananal o MIF é realizado
desde 2015, sendo promovido pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama)/Prevfogo
em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai). Neste curto período já é possível
observar bons resultados. Para que o MIF tenha sucesso, é fundamental o envolvimento dos
indígenas em todas as etapas. Atualmente, todos os brigadistas são Karajá, o que garante
a participação deles no planejamento e execução das queimadas prescritas. Um dos desafios
é envolver a comunidade para além do grupo de brigadistas. Para ampliar a compreensão dos
Karajá sobre o MIF, produzi o vídeo “Mifando a Ilha”2. O vídeo traz os saberes de indígenas e
de agentes do Estado, além de registros do manejo do fogo. O vídeo foi utilizado em atividades
nas aldeias para aprofundar o debate sobre o uso do fogo ao longo da história e na
atualidade. A pesquisa aborda as transformações do uso do fogo, bem como a forma em que
a ação do Estado vem ocorrendo. Utilizo como referências mapas, dados de satélites,
pesquisas sobre o Manejo Integrado do Fogo e conhecimentos tradicionais indígenas.

Da preservação ambiental à resistência epistêmica: a Mata Atlântica em


disputa e o caso da tekoa Kuaray Haxa (Guaraqueçaba - PR)

Tamara barbosa

Esta comunicação buscará compor uma análise das disputas territoriais na Reserva Biológica
Bom Jesus, localizada em Guaraqueçaba – PR, que marcam a relação entre a aldeia Guarani
Mbya tekoa Kuaray Haxa e os interesses estatais e privados de preservação defendidos pelo
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A proposta deste é trazer
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a perspectiva para analítica do conflito socioambiental entre estes dois atores – a tekoa e a
ICMBio-, como forma de ampliar os olhares acerca das formas de resistência epistêmica
indígena, mas também na construção de um discurso estatal de preservação que leve em
consideração a luta histórica destes povos. Quais são os desafios que os guarani desta tekoa
enfrentam para se manter em seu território sagrado? Como a idealização de Unidades de
Conservação de uso indireto, necessárias do ponto de vista de preservacionista, está
interferindo neste processo? Seria possível um consenso entre estes sujeitos? Meus primeiros
contatos com a comunidade indígena aconteceram em 2016, por meio de mutirões
organizados em colaboração com a Universidade Federal do Paraná, entre
outros colaboradores indigenistas. Entre os trabalhos de construção e limpeza da roça,
conversas informais possibilitaram uma melhor percepção acerca do que aquele pedaço de
terra representava para aquela população Guarani Mbyá. A disputa territorial com o Instituto
Chico Mendes sempre foi um assunto presente nos diálogos, que debatiam a forma como a
imposição de uma Reserva Biológica apenas cinco meses após a ocupação do território por
esse grupo guarani causava restrições e confrontamento com a perspectiva indígena dos
Guarani. A liderança espiritual da tekoa, Dona Elza Jaxuka, dividia nestas conversas os motivos
que levaram o grupo aquele local específico, e o porque da necessidade de resistir justamente
naquele território, sobreposto pela Reserva Biológica Bom Jesus. A criação desta Unidade de
Conservação vem da necessidade de proteção do bioma da Mata Atlântica contra a
exploração econômica de seus recursos mas, historicamente, está baseado em “um não
reconhecimento dos territórios de povos tradicionais amplifica[ndo] a imbricada rede
de conflitos ambientais que permeiam todo o litoral do Paraná, trazendo à tona elementos de
uma política de abandono [...]” (Tiepolo, 2015). É relevante colocar que este conflito em
particular articula uma série de outros atores indiretos, incluindo aqueles oriundos de
interesses privados, como a SPVC e a Fundação O Boticário, além de extratores ilegais de
pupunha e caça, por exemplo. Segundo Tiepolo (2015), esta região representa um notável
área contínua remanescente de Mata Atlântica, gerando contantes tensões em torno dos
processo de preservação e exploração”. O estudo de caso proposto neste pré-projeto almeja,
deste modo, lançar um olhar sobre a constante (re)criação de estratégias por parte dos atores
sociais que compõe essa realidade, partindo das construções ideológicas que norteiam suas
ações.

ST 15 | Epistemologías diversas: corporalidades, sanación y entornos sociales

Vicente Torres Lezama (Universidad Nacional de San Antonio Abad del Cusco, Perú); Yuribia
Velázquez Galindo (Universidad Veracruzana, México).

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A lo largo de la vida, los seres humanos enfrentan situaciones en que su salud se deteriora.
Las prácticas con las cuales se busca alcanzar el restablecimiento de la salud son diversas y
tienen su fundamento en sistemas específicos de significados que se articulan bajo lógicas
propias estableciendo formas particulares de definir los diversos seres que habitan el entorno,
sus corporalidades, sus enfermedades y modalidades de sanación: enfocadas tanto a los seres
humanos, como a los no humanos como los ríos, lagunas, montes y animales, entre otros.
Tanto las prácticas de sanación como los saberes que las sustentan son un producto histórico
generado y depurado a través del tiempo por los pueblos indígenas colaborando a la
construcción del amplio repertorio de alternativas posibles que hemos generado como
especie para resolver los problemas que nos aquejan. Consideramos que es de gran
importancia analizar estos conocimientos especializados que continúan transmitiéndose de
generación en generación como parte de un legado valioso al interior de los hogares a pesar
de que históricamente han sido demeritadas y calificadas como insuficientes o no
competentes por la modernidad -el modelo cultural hegemónico-, sólo porque corresponden
a sistemas de pensamiento de personas que ocupan lugares subordinados de la sociedad.
Estas prácticas de sanación validadas negativamente y que, además, atienden enfermedades
consideradas como no existentes son un ejemplo claro de la construcción de la ausencia, en
términos de Boaventura de Souza Santos. Este simposio es un esfuerzo colectivo por
reconocer, analizar y reflexionar teóricamente sobre estos complejos corpus de conocimiento
sobre el ser humano y su entorno, desde una perspectiva crítica y respetando la voz de los
actores, con la idea no sólo de identificar los límites explicativos de nuestros modelos teóricos
actuales, sino de atisbar en otras realidades posibles.

Visiones, saberes y prácticas curativas de las parteras tradicionales Mayas-


Yucatecas. Un estudio de caso sobre la esterilidad femenina

Azalia Pintado González

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El proyecto se desarrolló en el estado de Quintana Roo, dónde fue posible trabajar de manera
conjunta con parteras, hierbateras, sobadoras y curanderas. Objetivo: Documentar la
atención otorgada a las mujeres con diagnóstico de esterilidad, desde sus prácticas, ideas,
tradiciones, usos y costumbres. Metodología: Se realizaron dos sesiones con grupos focales,
en la primera sesión focal presentaron sus experiencias de vida y realizaron la demostración
de sus prácticas curativas y en la segunda identificaron las enfermedades relacionadas con la
salud sexual y reproductiva, los tratamientos usados para atenderlas y las medidas utilizadas
para prevenirlas. El siguiente paso fue realizar visitas domiciliarias a las terapeutas que
aceptaron participar en el proyecto. Firmaron un consentimiento informado y se procedió a
realizar entrevistas a profundidad e historias de vida. Se exploró la percepción que tienen las
terapeutas sobre sí mismas, sobre el cuerpo humano, la salud femenina y la esterilidad como
“enfermedad”. Se identificaron dos momentos en la práctica terapéutica: la promoción de la
salud y prevención de la enfermedad por un lado, y la atención curativa por el otro. Se
clasificaron las plantas utilizadas y las formas de preparación. Se pudo verificar que la función
de la partera en la región Maya-Yucateca no se limita a atender el parto, es también una
consejera, una terapeuta activa y experta en sobadas, que utiliza técnicas que van de lo
espiritual, hasta el uso de plantas medicinales e incluso de medicamentos de patente. Las
terapeutas tradicionales identifican factores asociados al desequilibrio de la salud femenina y
a los hábitos alimenticios o sexuales y consideran que los factores desequilibrantes pueden
prevenirse y con ello evitar complicaciones que afectan la salud sexual y reproductiva de las
mujeres. Otro elemento importante identificado es el indiscutible vínculo entre los métodos
curativos tradicionales, las creencias ligadas a los conceptos de salud-enfermedad y las ideas
sobre el funcionamiento del cuerpo. En cuanto al proceso de atención, las terapeutas mayas
tienen sistematizado el proceso de atención. Inician con un interrogatorio, posteriormente
pasan a la exploración física y, partiendo de ambos aspectos, realizan un diagnóstico e inician
con la terapéutica. La terapéutica tradicional tiene como base el uso de las plantas, las cuales
en su mayoría tienden a favorecer la condición caliente, situación en la cual los órganos
reproductivos femeninos ―al parecer de las terapeutas― funcionan mejor. No obstante, en
caso de ser necesario por medio de los tratamientos a base de plantas medicinales se puede
favorecer la condición fría de los órganos internos.

Uwach Uq'ij, Q'ij Alaxik: calendário maya, concepção de pessoa e


"enfermidade cultural" na Guatemala contemporânea

Thiago José Bezerra Cavalcanti

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Este ensaio é fruto da experiência de algumas visitas à Guatemala, e dos diálogos com
especialistas mayas e não-mayas. Entre os mayas contemporâneos na Guatemala, vários
conceitos fazem referência ao dia de nascimento de uma pessoa no calendário ritual Cholq'ij
(de 260 dias). O dia de nascimento é conhecido, no senso comum guatemalteco, como
nawal/nahual ou mesmo "nome maya". Dois dos conceitos usados entre especialistas mayas
dos calendários são uwach uq'ij ("rosto/face do Sol/dia") e q'ij alaxik ("dia do nascimento").
Numa boa síntese, nome, alma, destino e identidade são determinados a partir do dia de
nascimento de uma pessoa, no ciclo ritual de 260 dias. O dia de uma pessoa neste calendário
tem implicações históricas, psicológicas, espirituais (etc) sobre ela, servindo para situá-la no
mundo maya, constituir identidades e alteridades. Se, após a invasão europeia, o
conhecimento dos calendários muitas vezes se tornou oculto (devido à perseguição cristã) e
mais restrito, nos dias atuais o calendário gregoriano (e as temporalidades do capitalismo e
da globalização) é ainda mais dominante. Em outros termos: o desconhecimento dos
calendários (e especialmente, do seu q'ij alaxik) tornou-se um grande problema em potencial
para ajq'ijab' (especialistas mayas dos calendários) e tradicionalistas em geral. Alguns ajq'ijab'
dizem que o desconhecimento, a desarmonia, a falta de observação do q'ij alaxik de uma
pessoa pode trazer muitos problemas para ela: é quando o q'ij alaxik também pode se tornar
uma enfermidade e trazer sérias consequências à vida de uma pessoa. Meu interesse nesta
comunicação será o de apresentar o calendário Cholq'ij, sua importância histórica na
concepção de mundo e de pessoa entre os mayas e algumas ferramentas que são utilizadas
de modo a orientar as pessoas afetadas pelo q'ij alaxik.

Mapeo de las políticas de salud intercultural en Suramérica: “Todos somos


diferentes. La igualdad se construye”

Juan Bacigalupo, Francisco Armada


Felix Rigoli
Isabel Iturria Caamaño

El Instituto Suramericano de Gobierno en Salud (ISAGS-UNASUR) busca consolidar un espacio


para la integración e investigación en salud, respetando la diversidad y e interculturalidad en
la región. El objetivo de este estudio es proporcionar un panorama sobre las políticas de salud
intercultural en los 12 países de Suramérica, a partir de información recogida mediante:
revisión bibliográfica de artículos científicos, documentos oficiales y políticas de los países, de
organizaciones nacionales e internacionales y de los Ministerios de Salud. Se sistematizó la
información recolectada, con énfasis en las características comunes y patrones en la regional
y se realizó un breve análisis comparativo de las políticas y estructuras organizacionales. Todos
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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
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los países de Suramérica reconocen su carácter multiétnico y pluricultural en la formulación


de sus políticas de salud. En los 12 países existen políticas de salud (y en algunos también
servicios de salud) dirigidas a grupos de la población con características culturales especiales.
Las poblaciones indígenas y afrodescendientes son las abordadas con mayor frecuencia.
Coexisten dos visiones: a) políticas especiales para pueblos particulares (usualmente
indígenas) argumentando que permiten la rápida disminución de las inequidades y facilitan el
reconocimiento de las características culturales particulares de cada pueblo y b) carácter
nacional multiétnico y pluricultural que demanda de políticas de salud universales que
reconozcan, y aprovechen la diversidad, también apuntando a la eliminación de las
inequidades. La existencia de instancias específicas dentro de los Ministerios de Salud, así
como documentos de definición de políticas de salud hacia los pueblos indígenas son también
prácticas habituales. Las iniciativas existentes propician un mejor acceso de las comunidades
indígenas (y en ocasiones afrodescendientes, migrantes, romaníes y otras identificadas en los
distintos países), a atención de salud occidental y tradicional; a la vez contribuyen al diálogo
sobre el valor de la medicina tradicional y la responsabilidad de la dirigencia indígena en temas
de salud (fortaleciendo el rol político de las comunidades). Una de las dificultades comunes es
la de falta de información estadística desagregada según etnicidad, de calidad y oportuna.
Finalmente, existen evidencias de como la fortaleza de la diversidad cultural suramericana
permea e influencia las políticas públicas, incluyendo las de la salud, en la región. El concepto
indígena del Buen Vivir engloba una visión integral, solidaria y colectiva de la salud: una visión
intercultural. Con sus particularidades, existen políticas de salud intercultural en los 12 países
de Suramérica, con escasa información estadística desagregada.

La sanación del espíritu. Curanderos del Centro de Veracruz, México

Yuribia Velázquez Galindo

La recuperación de los saberes indígenas como política de integración vincula a biólogos,


químicos y agrónomos para el registro y sistematización del conocimiento botánico de los
médicos tradicionales. Además de catalogar las especies botánicas se plantea el desarrollo de
técnicas agronómicas para cultivar las plantas medicinales y elaborar remedios herbolarios
según las normas farmacéuticas Estos proyectos se rigen bajo un modelo extractivista que
expolia los conocimientos que son útiles para la venta, pero no han generado un
reconocimiento efectivo hacia la realidad en que habitan y la riqueza de significados y
articulaciones conceptuales complejas que brindan sustento a sus prácticas curativas, de los
cuales, el conocimiento sobre las plantas, es sólo un aspecto. Con apoyo en información
etnográfica recopilada en localidades de origen indígena del centro de Veracruz, del municipio
de Jilotepec y Naolinco esta ponencia tiene como objetivo lograr un acercamiento a las

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prácticas terapéuticas que realizan los curanderos de origen totonaco. A través de entrevistas
antropológicas y observación participante expongo las categorías locales de enfermedad, las
características de la realidad en que habitan y los seres que la pueblan con el fin de identificar
los vínculos que, desde su práctica, ellos establecen entre los diversos seres que habitan el
mundo, sus corporalidades o manifestaciones y el entorno para lograr el restablecimiento de
la salud.

Etnopercepcion y sistemas de clasificación indígenas en el uso medicinal de


aguas y fangos medicinales en el Sur Andino: terapéutica comunitaria y
potencialidades sanadoras de las aguas y barros del Desierto de Atacama

Angélica Cruz Concha

Bosco Gonzalez Jimenez

Es recurrente encontrar en la literatura Etnohistórica y Antropológica referencias que hacen


alusión a las virtudes y potencialidades que tendrían-para las poblaciones indígenas locales-
espacios caracterizados por el afloramiento de aguas sulfurosas y barros de composición
quimoco-geologica diferenciada trasmutados y legitimados ancestralmente por medio de
sistemas de Etnoclasificación (Levi-Strauss, 1974) propios, que adquieren una validez igual y
de mayor profundidad histórica que las que promueve el paradigma biomédico, tal como lo
señalan diversos cronistas para exponer la relación entre estos lugares y la sanación en la
sociedad Inka. Dar vida y quitarla, otorgar y despojar de riqueza, como también promover la
fecundidad u obstaculizarla, son algunos de los atributos que estos espacios
(Húmedos/dotados de poder tutelar) adquieren para las poblaciones locales (Martínez G,
1971, 1984 y 2009) en el área sur andina. Estos lugares, muchas veces comprendidos como
“Juturis” o “Sireno Juturi” y homólogos-en sus propiedades- a deidades Tutelares como Apus,
Mallkus y Achachilas (Martínez, 1989 a y b) son los responsables de sofisticados
procedimientos terapéuticos a cargo de autoridades legitimadas por las comunidades
Aymaras y Quechuas como Yatiris, Liquichiris, Laymi, Chamakani y Amautas, donde muchas
veces cobran un protagonismo central las aguas y fangos de estos lugares. Tales son los casos
de Isluga, Enquelga en el norte grande de Chile, como también otros sectores en los andes
como Lunlaya y Charazani en el oriente boliviano. Todo esto en contraste con pampas y llanos
despoblados (secos/desprovistos de virtudes, simples y agrestes lugares de transito
obligados). Estos antecedentes históricos y antropológicos permiten sostener la relevancia de
interrogar las potencialidades sanadoras de estos sectores a partir del trabajo con las
poblaciones locales en la actualidad y a la vez exponer como medio de verificación científico
occidental, las composiciones y potencial que tienen las fuentes termales del desierto de
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Atacama, toda vez que se constituyen en un medio terapéutico que puede ser utilizado como
complemento de la medicina occidental y que incluso puedo ser integrada como una
alternativa complementaria en los tratamientos de salud pública, rescatando también las
prácticas de la medicina tradicional comunitaria de pueblos de los valles y pre cordillera de
Arica, Tarapaca y Atacama en general, y nuestras áreas de estudio y experimentación
especifica, como lo son los barros y aguas de sectores como Macaya, Mamiña, Chusmiza,
Cejar, Nama, Enquelga, entre otros, donde se desarrolla el proyecto de puesta en valor y
sistematización de relatos orales para la utilización de aguas termales como medios
terapéuticos para las poblaciones locales y los visitantes externos.

Quwimura: diagnóstico y curación con cuy en el Cuzco

Vicente Torres Lezama

Esta ponencia surge de mi interés por profundizar sobre el uso del cuy (cavia porcellus o cavia
cobayo) en el diagnóstico y la curación en la región del Cuzco. Desde mi infancia he sido testigo
de este tratamiento con cuy porque mi madre realizaba esta práctica para diagnosticar y
extraer el mal de las personas que solicitaban su servicio. La soba con cuy consiste en frotar
todo el cuerpo desnudo del paciente de la cabeza a los pies para luego sacrificar al animal y
examinar su organismo. Este examen permite conocer de manera integral el estado corporal
en el que se encuentra el paciente; pero no se reduce al diagnóstico, porque puede extraer el
mal del sujeto en tratamiento; es decir, que el mal se muda del cuerpo del paciente al cuerpo
del cuy. El tratamiento con cuy es parte de la herencia ancestral que se mantienen hasta
nuestros días en los pueblos andinos, y los estudios del tema han sido escasos.

Una escuela para formar curanderos indígenas

Carlos Zolla Luque

Esta ponencia sintetiza las ideas y tareas realizadas por el autor y los participantes –
mayoritariamente totonacos de Veracruz– para la creación de la Escuela de la Medicina
Tradicional Totonaca. Es un lugar común recurrir a “los mecanismos de la tradición” para
explicar la capacidad de las culturas indígenas para haber conservado a lo largo de los siglos
gran parte de sus medicinas que se encontraban con diverso grado de sistematización antes
del inicio del proceso colonial. En el caso de México, antes de 1518. La historia de la medicina,
la etnohistoria, la antropología (se trate de las muy diferentes y abundantes etnografías o de
las orientaciones más recientes de la antropología médica y de la epidemiología sociocultural)
y otras disciplinas afines (etnobotánica, lingüística, por ejemplo), han mostrado
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suficientemente que la transmisión de los saberes, sea bajo el Virreinato de la Nueva España,
en el México independiente, revolucionario y posrevolucionario, ha sido una empresa
comunitaria, generalmente a cargo de un terapeuta experimentado hacia un discípulo,
siguiendo diversos mecanismos y en contextos de interculturalidad médica. En otras palabras,
pese a la gran riqueza de las medicinas indígenas de México, no se forjaron proyectos
pedagógicos institucionales destinados a garantizar la transmisión de los conocimientos
médicos tradicionales, la preservación y desarrollo de sus recursos y el ejercicio terapéutico,
legalizado, respetado y apoyado por los aparatos gubernamentales. Antes al contrario, las
medicinas indígenas (y en México el plural es referencia obligada), han sido objeto de
persecución, censura, discriminación y denostación, confinándolas a una “marginalidad
tolerada”, a pesar incluso de la existencia de una juridicidad moderna que la incluye en los
inventarios del patrimonio cultural tangible e intangible. Hasta donde llega nuestro
conocimiento, el único antecedente de un proyecto escolar institucionalizado –hasta el
presente, subrayamos: hasta el primer cuarto del siglo XXI– fue la experiencia desarrollada
por los franciscanos responsables de la conducción del Colegio de la Santa Cruz de Tlatelolco,
entre 1530 y 1555, cuando se planteó la enseñanza de indígenas a indígenas sobre las ideas,
recursos y prácticas de la medicina náhuatl, iniciativa censurada en esta última fecha por las
autoridades virreinales. De allí la originalidad, el desafío y el carácter exploratorio de la
iniciativa a la que se refiere nuestra ponencia, para crear la Escuela de Medicina Tradicional
del Totonacapan, en el estado de Veracruz, en el occidente de México.

Desdobrar do mundo, plenitude do corpo: perspectiva e percepção Guarani-


Mbya

Guilherme Augusto Gomes Martins

Nesta comunicação apresento reflexões, acumuladas nos últimos seis anos ao lado dos
Guarani-Mbya, acerca das relações existentes entre percepção e pluralismo ontológico.
Pretendo contribuir com as discussões sobre o xamanismo guarani a partir da etnografia de
seus rituais, rezas e processos de cura, analisando, a partir de uma perspectiva
fenomenológica, os processos de modulação corporal a eles subjacentes e sua inter-relação
com o campo simbólico mitológico. A proposta abrange um paradigma de corporeidade que
compreende a cura para além da eficácia simbólica, deslocando a relação cultura-corpo ao
desenhar, em conjunto com os Mbya, uma etno-fenomenologia que converge com o
multinaturalismo. No cosmos guarani, tanto a duração da pessoa neste mundo quanto a
possibilidade de sua transcendência são baseadas em um jogo de afecções múltiplas e
contínuas, construídas por uma fabricação corporal que envolve relações específicas e
transversais com diversos outros agentes humanos e não-humanos. A descrição dos Guarani

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sobre essa sua relação com seres e mundos-Outros se dá em termos de percepção: a


comunicação com divindades e espíritos é frequentemente descrita por meio de sensações
corporais características como calor, leveza e formigamento, bem como a audição de certos
sons ou visões. Assim, os sentidos e sua percepção aparecem como alicerce da modulação
corporal na cura xamânica, baseada, sobretudo, em sensações áudio-táteis. O mesmo ocorre
em relação a uma série de ideias conceituais do xamanismo, cuja expressão etimológica
também aponta para sensações corporais. Estes conceitos e práticas remetem a um conjunto
de signos sensoriais sobre a criação do cosmos que marcam também a maturidade corporal:
as técnicas de cura xamânica podem ser lidas como memorandos perceptuais do mito de
criação do cosmos: versam sobre o desdobramento de Nhanderu ao criar o mundo e também
da transcendência da vida breve, o “aguyje”. Desdobrar do mundo, plenitude do corpo. O
estabelecimento de um paradigma da corporeidade para além do corpo semântico permite a
compreensão da operação do perspectivismo ameríndio não propriamente como uma
cosmologia particular, mas sim como ontologia. Se o corpo, no perspectivismo ameríndio,
opera como “um conjunto de afecções ou modos de ser que constituem um habitus” (Viveiros
de Castro, 1996:128), uma análise das curas xamânicas sob um prisma fenomenológico
permite observar como a percepção pré-objetiva na afecção com outros seres condiciona um
habitus referenciado nos signos mitológicos, e como o desdobramento destes implicam
práticas corporais compartilhadas intra e, por vezes, inter-culturalmente. Saber ouvir,
observar e participar na percepção da cura nos cosmos ameríndios nos ajuda na difícil arte de
compor mundos, existências e ontologias.

Saberes tradicionais ticuna: corpo, doenças e práticas de cura

José Fernandes Mendonça


Marília Lopes da Costa Facó Soares

Focalizamos aqui nossos resultados de investigação sobre as visões Ticuna do corpo humano,
das doenças e dos medicamentos, com inclusão do HIV/AIDS, da tuberculose e da malária.
Consideramos os dados/ materiais obtidos a partir de trabalho de campo realizado, durante o
ano de 2017, em duas comunidades indígenas Ticuna situadas em dois municípios diferentes
do estado do Amazonas: a comunidade de Vila Betânia, no município de Santo Antônio de
Içá/AM; e a comunidade de Nova Filadélfia, no município de Benjamin Constant. A perspectiva
considerada neste trabalho é a de um diálogo intercultural e interdisciplinar, que toma por
central a linguagem e se dá sob um viés comparativo. Como nosso trabalho toma a linguagem
como central, sua contribuição para pesquisas e aplicações na área de saúde podem ser
grandes, porque é por meio da linguagem que trazemos as visões Ticuna do corpo humano,
das doenças e dos medicamentos – a mesma linguagem que será preciso observar para que
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haja sucesso em ações preventivas em saúde. Por ser a linguagem central em nossa
investigação, lidamos com várias entrevistas, tornando claro o ponto de vista Ticuna sobre o
corpo humano, as doenças e os medicamentos e, ainda, considerando as estratégias
linguísticas empregadas para falar (ou não falar) de determinadas doenças em Ticuna,
sobretudo aquelas que são transmissíveis. Ao mesmo tempo, lançamos mão de dados
secundários constantes do Censo Demográfico do IBGE referentes aos aspectos populacionais
e demográficos da cidade (Brasil, 2000 a 2015) e nos apoiamos, igualmente, em metodologias
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística que integram os aspectos de saúde pública.
As pesquisas por meio de estudos retrospectivos e prospectivos de dados de saúde pública
também são importantes para o nosso trabalho, situado em um quadro de diálogo
interdisciplinar. Assim, além da epidemiologia aplicada à saúde pública (sobretudo à saúde
indígena), levamos em conta métodos das ciências humanas, principalmente aqueles da
Linguística e da Antropologia, com atenção às Línguas Indígenas. Nossos resultados incluem,
entre outros, um glossário que, estando em progresso, é uma ponte importante em termos
de um diálogo intercultural para ações em saúde e educação; e revelam que o corpo físico e
social é parte importante de uma busca de equilíbrio mais geral.

El mal que a todos hace iguales y dhiman talab en comunidades de la


Huasteca potosina

Minerva López Millán

El objetivo de la ponencia es describir y comparar dos dinámicas relacionales que tienen una
manifestación y tratamiento corporal: el trazol y dhiman talab (ser brujeado), en siete
comunidades de la Huasteca potosina. La investigación es etnográfica, iniciada desde 2012 en
comunidades distribuidas al sur de Tamuín, San Vicente Tancuayalab y Tanlajás. La ponencia
se estructura en cuatro apartados: en el primero se introducen dos vertientes sobre el estudio
del cuerpo para enmarcar el caso del trazol y de dhiman talab. En la segunda sección explicaré
por qué definí al trazol como el mal que a todos hace iguales, a pesar del carácter peligroso
en los menores de seis años. El último apartado está dedicado al “temor a ser brujeado”
(dhiman talab), pues lo trata un especialista ritual y tiene implicaciones sociales para
conservar la lealtad y lazos de cohesión entre los propios de San Francisco Cuayalab. En la
comparación final, ambas dinámicas corporales constituyen un regulador para hacer frente a
problemas de desigualdad social y racismo.

Conhecimentos em contraste: obstetrícia, mulheres indígenas e o cuidado ao


parto

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Tamires Machado Moreira


Elizangela da Silva Costa
Danielle Ichickura
José Miguel Nieto Olivar

No marco de um processo crescente da institucionalização do parto e da busca por


alternativas que fujam da assistência intervencionista, esse trabalho busca apresentar as
primeiras reflexões de pesquisa colaborativa sobre o conhecimento das mulheres indígenas
em relação ao parto. A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), o
Instituto Socioambiental (ISA) e a Faculdade de Saúde Pública da USP desenvolvem uma
parceria que tem como objetivo a compreensão de conhecimentos e práticas de cuidado de
mulheres indígenas perante formas sistemáticas de violência. Nesse marco, em novembro de
2018 uma pesquisadora indígena da FOIRN e uma pesquisadora não indígena doutoranda da
Faculdade de Saúde Pública da USP, realizaram um levantamento de informações na região
do Rio Negro, nas comunidades de Waruã, Acubuco, São Francisco, Tabocal dos Pereiras, Abi,
Itaporanga, Juruti e Durak. Partindo dos relatos das mulheres indígenas entrevistadas
percebeu-se que a maioria que se dizem parteiras referem-se ao cuidado das mulheres que
auxiliam outras mulheres no momento do parto. Foram reconhecidas nove parteiras e duas
aprendizes de parteira, uma das parteiras não estava atuante por questões de saúde e todas
eram da etnia Baré. Relatam que aprenderam com seus próprios partos, com suas mães ou
com mulheres de suas comunidades. Contam que nos primeiros partos que atuaram foram os
seus próprios, das suas mães, filhas e noras. Relatam não realizarem acompanhamento
durante a gestação, sendo procuradas somente quando a mulher sente algum incômodo.
Nesse momento a parteira “ajeita” a barriga, assemelhando a uma manobra conhecida na
obstetrícia como de reposicionamento do bebê para a posição cefálica. Para "ajeitar a barriga"
algumas parteiras utilizam o azeite de oliva, chamado por elas de "azeite doce" e referido
como remédio do não-índio. O azeite também é usado para acelerar o trabalho de parto,
sendo oferecido para ingestão. Com o objetivo de “aumentar a dor”, técnica importante para
elas que ainda deve ser melhor compreendida, algumas parteiras utilizam chás de plantas
medicinais para ingestão ou uso tópico. Esse trabalho evidencia um contraste com o sistema
biomédico institucionalizado que se vincula às necessidades instrumentais e diagnósticas do
profissional e coloca as necessidades afetivas e culturais da parturiente em segundo plano.
Algumas parteiras demonstram a preocupação em relação à crescente procura das mulheres
indígenas por atendimento de seus partos no Hospital da Guarnição na cidade de São Gabriel
da Cachoeira-AM e pela falta de aprendizes de parteira. Buscamos, por fim, colaborar na
valorização do conhecimento feminino e indígena sobre cuidado ao parto como forma de
construir maiores reflexões e mudanças no modelo de atenção ao parto do Brasil.

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Poblaciones indígenas amazónicas del Ecuador, su situación, cambios y


derechos reflejados en su fecundidad

Rosa Victoria Salinas Castro


Laura Rodríguez Wong

Es un estudio longitudinal (2001 y 2012), en etnias amazónicas ecuatorianas Shuar, Kichwa,


Wao y Cofán/Secoya, para identificar diferenciales de fecundidad, su relación con el deseo de
tener hijos y prácticas anticonceptivas (PA). Sobre la tasa global de fecundidad marital se
presenta una situación variada de estas poblaciones. Los Shuar y el conjunto Cofán/Secoya
mostraron significativa disminución del número de hijos, de 10,4 a 7,6 y de 7,7 a 5,3,
respectivamente; los Kichwa, aunque registren disminución, tienen una muy alta fecundidad,
próxima del régimen natural de 11,7 a 10,4 (Henry, 1961); para contrastar, los Wao, presentan
importante aumento de 6,9 a 9. Existe un deseo de no tener otro hijo aumentando
sistemáticamente al aumentar la edad de la cohorte, de ahí el reconocimiento de la necesidad
de PA. Las mujeres Shuar cuando en el 2001 tenían entre 15-19 años un 13% no deseaba tener
otro hijo, en el 2012 cuando tenían entre 26-30 el 92% no deseaba; los Kichwa del 9% subió a
60%; los Waorani del 20% al 43% y los Cofán/Secoya del 31% al 67%. Los Shuar reportan más
alta PA moderna en 2012 (35%), frente a los métodos tradicionales (7%). Los Kichwas (2012)
cuando desean o no tener otro hijo tienen una alta PA principalmente, tradicional (74% frente
a 26%), y es la de más alta PA de todas las etnias frente al deseo de tener otro hijo superando
la PA tradicional (24% frente al 22%). Entre los Waorani, la nula PA cuando desean tener otro
hijo, indica que espaciar nacimientos, no estaría dentro de sus consideraciones reproductivas.
Entre los Cofán/Secoya (2012) el no deseo de tener otro hijo se asocia al aumento de la PA y
al espaciamento de los nacimientos, aunque solo consideran los métodos tradicionales (33%
frente a 0%). La demanda insatisfecha que ya era alta en 2001 (este cálculo se hizo restando
solo a las mujeres que usaban métodos modernos), crece significativamente en 2012, los
Kichwa de 46% a 55%; Wao de 25% a 54%; y Cofán/Secoya de 40% a 65%, con la excepción de
los Shuar que disminuye del 57% al 51%. Hay estudios de la disminución de la fecundidad de
poblaciones indígenas en la Amazonía (Jokisch y McSweeney, 2011; Davis et al., 2015, Wong,
2016), pero en la población indígena amazónica del Ecuador, esta transición demográfica es
aun imperceptible y al considerar el comportamiento de las cohortes, está tendencia tiende a
ser más tenue todavía. Respecto a la PA las nuevas construcciones sociales y culturales
estarían modificándose, aunque esta práctica frente al deseo de tener hijos es más aparente
cuando se trata de métodos tradicionales (Bongaarts 1991; Westoff y Bankole 1996). Estas
poblaciones presentan una alta demanda insatisfecha y la poca prestación de servicios de
salud es culturalmente inadecuada en cuanto a planificación familiar, práctica anticonceptiva
y ejercicio de sus derechos sexuales y reproductivos.

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Karuwaras, natureza e saúde: a fabricação do corpo na “festa da menina


moça” entre os Tenetehar-Tembé

Uarley Iran Peixoto da Silva


Ana Victoria Santos da Costa
Vanderlúcia da Silva Ponte

Este estudo objetiva analisar o uso dos recursos naturais presentes na “festa da menina moça”
como elementos para a promoção da saúde e bem estar dos indivíduos da sociedade
Tenetehar-Tembé, povo Tupi que vive ao longo dos rios Guamá e Gurupi, na Terra Indígena
Alto Rio Guamá (TIARG), localizada no nordeste do Estado do Pará-Brasil, especificamente nas
aldeias Sede, Ytuaçu e Pinawá. O ritual ou “festa da menina-moça” é um importante rito de
passagem, conforme abordado por Turner (1980), que é realizado entre os Tenetehar-Tembé
para marcar a transição de meninas e meninos para a fase adulta quando estes chegam à
puberdade e apresentam alguns sinais de mudança corporal, como a menarca entre as
meninas e mudança da voz entre os meninos. O ritual utiliza diversos recursos naturais
(plantas, animais,) como importante marcador simbólico da cosmologia Tembé que agem
para atrair ou repelir as Karuwaras, elementos “não humanos” com capacidade de agência na
produção dos corpos em formação dos jovens, produzindo sua fabricação (VIVEIROS DE
CASTRO, 2011). Com base no método etnográfico, por meio da observação direta e
participante, conversas informais e notas de campo, bem como a análise de informações
presentes na bibliografia acadêmica sobre o povo Tembé, foi possível perceber que o ritual
tem papel importante para os indivíduos Tenetehar-Tembé, sendo responsável por
salvaguardar os iniciados dos males que podem afligir sua saúde e garantindo atributos
considerados necessários para a vida adulta na comunidade. Também percebe-se o ritual
como meio de dinamização da “preservação da natureza”, visto que os recursos necessários
para a realização do ritual e os agentes “não-humanos,” contidos nesses elementos, agem
para produzir tanto os corpos e suas subjetividades como para salvaguardar a relação entre
homem, natureza e cultura.

Memórias de adoecimentos, curas e territorializações: um estudo do


colonialismo vivido pelo Povo Fulni-ô no campo da saúde

Liliane Cunha de Souza

A comunicação apresenta as primeiras reflexões produzidas no contexto de minha pesquisa


de doutorado que visa elaborar um estudo colaborativo e comparado sobre as experiências

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de adoecimentos, curas e mortes que se tornaram memoráveis nas narrativas dos povos
indígenas Fulni-ô e P’urhépecha, – o primeiro, localizado na região Nordeste do Brasil, e o
segundo situado no estado mexicano de Michoacán. Parto de minha experiência de trabalho
de campo em andamento, efetuado no mês de fevereiro de 2017 e entre agosto de 2018 e
janeiro de 2019. Atualmente, estou realizando a etapa de trabalho de campo, no Brasil, para
no meio do ano corrente realizar a pesquisa empírica no México. As análises desenvolvidas
nesse artigo se referem apenas ao povo Fulni-ô, elas se debruçam sobre estudos etnográficos
e historiográficos relacionados a esse povo, incluindo os estudos produzidos por seus
pesquisadores, e dados construídos em diálogo com os Fulni-ô, especialmente a(o)s mais
velh(as)os, acerca da relação entre memória e saúde. O trabalho reflete sobre as narrativas e
memórias de adoecimentos e de aprendizados que visam prevenir e promover o bem-estar
da comunidade, no decorrer de sua história. Busco realizar um esforço de análise para
entender se (e como) os colonialismos, os processos de territorialização (Oliveira Filho, 2004)
e de dominação (Batalla, 1989) pelos quais os Fulni-ô passaram, no passado e no presente,
podem ser compreendidos como elementos estruturantes da sociogênese de narrativas de
adoecimentos, no âmbito da sua cultura. A pesquisa articula as narrativas e memórias de
adoecimentos, no contexto do sistema sociomédico desse povo, às concepções de saúde e
doença, às descrições de itinerários terapêuticos, considerando ainda processos, eventos,
conjunturas e estruturas históricas de longa duração. Pretendo problematizar se é possível
elaborar um diagnóstico histórico das doenças ou uma micro-história dos adoecimentos,
considerando os processos de saúde/doença/atenção-prevenção (Menéndez, 1998) e os
elementos que gravitam em torno deles (o acesso à terra e à água; o exercício da cultura, a
realização de atividades voltadas para a soberania alimentar e o bem-viver). Enfim, busco
compreender como os Fulni-ô relacionam o passado com os adoecimentos e mortes de seus
antepassados e em que medida essa compreensão serve de moldura para interpretar as
relações interétnicas no presente.

Plantas que facilitan el parto y recomponen el cuerpo en el sur peruano

Yeny Cereceda Espinoza


El objetivo de esta ponencia es dar a conocer el papel que tienen las plantas para facilitar el
parto y recomponer el cuerpo después de la ingestión. La partera, después de diagnosticar el
cuerpo de la gestante, recomienda a los familiares conseguir determinadas plantas (mejorana,
chachacoma y otros) para facilitar el parto; además, la partera decide aplicar otras prácticas
rituales de su zona para ayudar a la gestante a aliviarse con facilidad. Después de que la mujer
da a luz a la criatura, debe seguir las instrucciones de la partera para recomponer su cuerpo a
través de la ingesta de otras plantas (juñuca, pampa anis y otros). Para cumplir con este
objetivo he realizado entrevistas, diálogos abiertos y observaciones en la Comunidad
Campesina de Yanarico del distrito de Huayllati, Apurímac, durante el mes de Septiembre y
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Octubre del año pasado. He organizado esta ponencia en dos apartados: El primer apartado
tratará sobre la asistencia a la gestante y el segundo abordará sobre la asistencia a la mujer
puérpera y finalizará con algunas reflexiones sobre el tema.

Seguindo os fios de Ariadne: uma etnografia sobre as narrativas de indígenas


Guarani e Kaiowá em seus itinerários pelas redes do SUS

Jéssica Camile Felipe Tivirolli


Esmael Alves de Oliveira

O presente trabalho faz parte da pesquisa intitulada “Uma etnografia das narrativas e das
experiências: redes de narradores indígenas, vozes e silêncios no Subsistema de Saúde
Indígena em Dourados-MS”, desenvolvida junto ao Programa de Pós- Graduação em
Antropologia da Universidade Federal da Grande Dourados, onde buscamos compreender,
por meio das narrativas dos sujeitos indígenas das etnias Guarani e Kaiowá, localizados no
município de Dourados-MS, seus itinerários em torno do Sistema Único de Saúde (SUS).
Pretende-se seguir os fios de Ariadne percorrendo as tramas intrincadas da rotina prática e
burocrática da rede de saúde, dos saberes e poderes que conferem mobilidade, inventividade
e dinâmicas outras a esses emaranhados de pessoas, sujeitos e a(u)tores em suas experiências
como usuários. Assim, acreditamos que, ao acompanhar os itinerários dos sujeitos indígenas
que acessam os vários pontos da rede de atenção, em sua busca por acesso à saúde e suas
distintas mobilizações políticas, será possível compreender não apenas os impasses
existentes, mas também, e principalmente, suas estratégias de mobilização e resistência. A
partir dessas considerações delineia-se a proposta de realizar uma etnografia das narrativas,
que pense o entrelaçamento de aconteceres, as itinerações em aberto, outras fisio-lógicas (o
corpo enquanto arena de transformação contínua) e os modos de pensar através do fazer(-
se) enveredando pelos caminhos de uma antropologia do devir, que olhe para as condições e
potencialidades de atuação e de vivência dos sujeitos indígenas em meio a tantos percursos
pelo Sistema Único (Múltiplo) de Saúde. O objetivo, então, será buscar compreender os
processos que conectam movimentos, pessoas, práticas de cuidado, enfatizando a reflexão
acerca da experiência e da revalorização da ideia de mundos sensíveis, de jeitos de estar, de
práticas, de relações com entes sociais, num mundo amplo de sociabilidade, de afecções e de
agenciamentos. Desta forma, percorrendo esses itinerários permeados por vozes e silêncios,
tecidos e experienciados pelos indígenas na condição de usuários, intenta-se traçar algumas
“linhas de fuga” que permitam uma compreensão ampliada dos processos coletivos de busca
e produção de uma saúde diferenciada para os povos indígenas.

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A desterritorialização do nascimento como estratégia de genocídio

Juliana Floriano Toledo Watson

A frente colonial estatal capitalista se emaranha e abala laços comunitários minando de


múltiplas maneiras a vida e a possibilidade de vivê-la em sua plenitude (Segato, 2014, 604).
Todas essas maneiras são formas de genocídio, pois impossibilitam o florecer da vida de um
povo. O momento do parto é um dos primeiros contatos que temos de corpo nessa terra. Esse
primeiro contato foi e tem sido ele próprio um território de batalha que se dá no corpo das
mulheres. Com a perseguição das parteiras tradicionais e não acolhimento ao parto em zonas
mais isoladas dos grandes centros urbanos por parte do serviço público de saúde, as mulheres
de diversas comunidades tradicionais e indígenas do Brasil tem se deslocado grandes
distâncias para parir: no plano físico passando por um extremo desconforto de locomoção,
sacudindo por quilômetros em estrada de chão nesse momento de profunda necessidade do
corpo de estar confortável; se arriscando a diversas complicações possíveis ao parto por conta
do traslado. No plano emocional longe de sua segurança comunitária e familiar. Longe dos
cuidados amorosos ancestrais com plantas medicinais. E o ser que chega ao mundo? É
inacreditável que a atualmente a maior parte dos filhos e filhas de diversas comunidades e
cidades pequenas estejam nascendo fora de seu território. E as mães comunitárias? As
parteiras, outrora e, todavia, chamadas de mãe, estão deixando de realizar partos porque as
mais jovens vão parir no hospital, se arriscando com a distância e sofrendo todo tipo de
violência obstétrica e racista nos hospitais. As parteiras não estão passando seus
conhecimentos para as mais novas. Essas são reflexões geradas a partir do convívio e pesquisa
com comunidades quilombolas da Chapada dos Veadeiros, Goiás, da pesquisadora que é
também aprendiz de parteira. Através da troca de experiência com pesquisadoras de outras
regiões percebeu-se a semelhança de realidades. Também se percebe que alguns cuidados
específicos, como a proteção do períneo, que era prevenido com o saber tradicional está
deixando ser parte da prática de saúde da comunidade, trazendo consequências sérias para a
saúde das mulheres. Em estudo no Kurdistão se mostra como as mulheres que seguiram as
recomendações de parteiras tradicionais tiveram menor índice de episiotomia (Ahmed, 2015).

La epilepsia y la locura entre los tsotsiles de Chenalhó, Chiapas: Un campo en


disputa entre la religión y el Estado

Víctor Manuel Márquez Padreñan

A partir de la década de 1970, diversas iglesias cristianas, pentecostales, presbiterianas y


evangélicas se establecieron en algunas comunidades indígenas de la región histórico-cultural
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de los Altos de Chiapas, México. La presencia de dichas iglesias no sólo ha espoleado


problemáticas relacionadas con el desplazamiento religioso y la transmisión de conocimientos
tradicionales, sino que ha reconfigurado las relaciones de poder de un campo social en
disputa, compuesto principalmente por la religión y ciertas instituciones estatales.Desde
luego, se trata de un campo social en el que se despliegan mecanismos de control em las
diferentes esferas de la vida, entre los que se destacan los procesos de salud y enfermedad.
Actualmente, tanto las religiones como las instituciones estatales establecen las formas de
tratamiento, definición y etiología de ciertas enfermedades. En específico, mi interés estriba
en analizar las relaciones de poder que giran en torno a la “epilepsia” y la “locura” –tup’ik y
chuvaj en tsotsil– y la forma en que los sujetos configuran su vida cotidiana de acuerdo a su
pertenencia religiosa y cultural. Esta investigación es el producto de un trabajo de campo
etnográfico en el município de Chenalhó, Chiapas, cuyos objetivos fueron los siguientes:
conocer las formas de atención, definición y etiología de la epilepsia y la locura, y analizar bajo
qué contextos y juegos de lenguaje las experiencias referidas pueden ser comprendidas como
experiencias patológicas o llamamientos divinos. Los resultados de la investigación
comprenden el análisis de las diferentes formas de vida que confluyen en un espacio social
multicultural, por una parte; y, por la otra, la visibilización de las condiciones de desigualdad
y patologización que sufren los sujetos diagnosticados por ciertas religiones e instituciones
estatales.

As rodas de conversa sobre saúde dos povos indígenas: construção de


universitários indígenas e docentes da UFSCAR

Cecilia Malvezzi
Karla Caroline Teixeira
Vandicley Pereira Bezerra
Willian Fernandes Luna

Os profissionais que atuam na saúde indígena nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas têm
trajetórias profissionais e formação heterogêneas, mas pouco específicos para atuar na
atenção à saúde indígena. Parte destes profissionais teve seu primeiro contato com essas
populações quando foram atuar nas aldeias, e a minoria escolheu a saúde indígena por
motivações pessoais, não possuindo competências para lidar com as especificidades dessas
populações. Identificando uma lacuna na formação para o trabalho com populações indígenas
e reconhecendo como essencial a sensibilização para reconhecer a diversidade e lidar com o
diálogo intercultural, surge em 2016 o projeto de extensão "Rodas de Conversa sobre Saúde
dos Povos Indígenas", desenvolvido por professores e estudantes indígenas dos cursos da

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saúde da UFSCar. O objetivo deste trabalho é discutir as atividades deste projeto nos três anos
de desenvolvimento, reconhecendo os limites e potencialidades, buscando caminhos para sua
multiplicação em outras instituições. Trata- se de um relato de experiências construído a partir
dos relatórios de atividades. Desde o início deste Projeto de Extensão, foram realizadas 16
Rodas de Conversa. Em 2016 foram 7 encontros, com um total de 35 participantes; em 2017
foram 5, com 115; e em 2018 foram 4, com 57. Participaram profissionais de saúde e
educação, graduandos, indígenas e não indígenas, que tinham interesse em saúde indígena,
sendo oportunizada a ampliação destes conhecimentos e sensibilização para a diversidade
cultural. Baseado nos Círculos de Cultura de Paulo Freire e outras metodologias ativas de
ensino-aprendizagem, os encontros foram realizados na própria Instituição, com duração de
quatro horas, com foco em temática específica, como a relação entre saúde e cultura, direitos
dos povos indígenas, identidade e processos históricos, cosmologia, formação para atuação
na saúde indígena e acesso às universidades. Concluímos em avaliações realizadas que estas
discussões colaboram no reconhecimento dos estudantes enquanto indígenas, favorecem a
compreensão histórica e política sobre os processos de exclusão e opressão destes povos,
bem como reflexões sobre o indígena na atualidade e seu papel na sociedade, nas aldeias, seja
nas cidades e na universidade. O formato de discussão em Rodas de Conversa possibilitou a
construção de novos saberes interdisciplinares através da imersão dos participantes no
contexto complexo da saúde nestes territórios, qualificando e despertando seu interesse para
as especificidades étnico-culturais; e deu visibilidade à presença dos indígenas na
Universidade precipitando discussão da inserção da temática da saúde indígena nas matrizes
curriculares dos cursos de graduação na área da saúde.

ST 16 | Estratégias decoloniais de produção de conhecimentos e


fortalecimento das identidades indígenas
Elias Nazareno (Universidade Federal de Goiás – UFG, Brasil); Jorge Kulemeyer (Universidad
Nacional de Jujuy, Argentina).

A proposta pretende apresentar o resultado das pesquisas que vem sendo realizadas nos
últimos 10 anos e que estão vinculadas ao Programa de Pós-Graduação em História da UFG e
ao curso de Educação Intercultural Indígena – CEII da UFG, Núcleo de Formação Superior
Indígena Takinahakỹ da Universidade Federal de Goiás – UFG e ao Núcleo de História
Ambiental e Interculturalidade – NUHAI/UFG. Nela, compartilhamos algumas reflexões acerca
da nossa experiência como docentes no curso de História e no CEIII. Neste último, como
orientador de estágio e dos projetos extraescolares dos discentes indígenas do povo indígena
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Javaé /Berò Biawa Mahãdu desde 2010. Entre os objetivos da proposta destacam-se a
articulação das estratégias decoloniais de produção de conhecimentos, fortalecimento das
identidades indígenas e como elas podem contribuir na compreensão das narrativas do povo
Javaé. A proposta insere-se na perspectiva dos estudos desenvolvidos sob o enfoque da
Interculturalidade crítica, da decolonialidade e do enfoque enactivo, aproximando-se à
fenomenologia do lugar. (THIAGO, 2007; ESCOBAR, 2005 e 2013; NAZARENO e STIVAL, 2013).
Pretende ampliar as possibilidades de dialógico e de articulação pluriepistemológica que leve
em conta a hermenêutica dos múltiplos saberes e fazeres nas relações entre história, tempo
e lugar e a utilização e significado destes conceitos para os indígenas do povo Javaé da
etnoregião Araguaia-Tocantins.

A educação matemática na formação intercultural para educadores indígenas

Mariane Dias Araújo

O presente texto é um recorte da pesquisa de mestrado em andamento, que tem como


objetivo investigar como a interculturalidade opera na formação intercultural para
educadores indígenas, quando os licenciandos desenvolvem seus trabalhos de conclusão de
curso. A pesquisa situa-se nos estudos sobre interculturalidade, como propostos por Walsh
(2010), que concebe a interculturalidade na perspectiva decolonial. Os sujeitos de pesquisa
são os licenciandos da turma 2014/2018 da habilitação em Matemática da Licenciatura em
Formação Intercultural para Educadores Indígenas – FIEI, ofertada pela Universidade Federal
de Minas Gerais. O material empírico é composto pelos trabalhos de conclusão de curso dos
alunos, também chamados de Percursos Acadêmicos. Esses são pesquisas realizadas pelos
alunos ao longo dos quatro anos de curso com temas variados, não necessariamente
relacionados com a Matemática. A abordagem qualitativa é adotada, utilizando como
procedimentos metodológicos: observação-participante; aplicação de um questionário;
análise de documentos – Percursos Acadêmicos –; gravação em áudio das sessões de defesa
dos trabalhos de conclusão de curso e das entrevistas. A análise dos dados está fundamentada
na perspectiva de Etnomatemática, formulada por Knijnik (2012), que por sua vez, apoia-se
nas formulações de Michel Foucault e na obra de maturidade de Ludwig Wittgenstein.
Utilizamos como ferramentas de análise as noções de “forma de vida”, “jogos de linguagem”,
“uso”, “semelhanças de família” advindas da obra de maturidade de Wittgenstein. Neste
trabalho, analiso um dos Percursos Acadêmicos, intitulado “Pinturas corporais e os grafismos
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dos objetos artesanais do território Barra Velha” de autoria de Adriele Ponçada (2018), que
me permitiu explorar as influências que o FIEI trouxe para a prática dessa licencianda em sala
de aula, como professora de matemática. Ela aponta para um dos modos como a
interculturalidade é praticada no curso, que proporciona relacionar o conhecimento
tradicional indígena e o conhecimento matemático de matriz eurocêntrica, tendo como ponto
de partida uma prática tradicional indígena.

Reflexões em torno da etnicidade e diversidade cultural, no Brasil, desde uma


perspectiva ambiental

Ordália Cristina G. Araújo

Pretendemos analisar a diversidade cultural brasileira a partir das atividades propostas


durante o Tema Contextual Percepção Cultural do Ambiente desenvolvido no início de 2018
no Núcleo Takinahaky de Formação Superior de Professores Indígenas da Universidade
Federal de Goiás. Este Tema Contextual acompanha o debate proposto pelas epistemologias
ecológicas (STEIL; CARVALHO, 2014; THIAGO, 2007) visto que busca romper com concepções
forjadas pela racionalidade moderna ao cristalizar determinados dualismos nas ciências
humanas como cultura e natureza, corpo e mente, sujeito e objeto. Tratamos da diversidade
cultural do Brasil com abordagens que focam a relação de inseparabilidade dos povos
indígenas com o ambiente circundante a partir de dados cosmológicos representados pelos
estudantes em mapas existenciais, calendários e músicas apresentados em sala de aula. Nossa
intenção, nesse sentido, foi abrir-se ao conhecimento dos estudantes Apinajé, Guajajara,
Tapirapé, Xambioá, Xavante e Xerente como expressão de uma pequena parcela da
pluridiversidade e do plurilinguismo dos povos indígenas brasileiros. As narrativas revelam de
modo singular a inseparável e contínua relação entre mundos visíveis e invisíveis. Nelas os
estudantes representaram os seus ambientes ancestrais compostos pelos elementos
palpáveis (rios, florestas, aldeias, animais) e não palpáveis (espíritos) constituindo assim uma
unidade repleta de significados oriundos dos saberes cosmológicos.

Articulando saberes con los pueblos originarios en Argentina

Crispina Gonzalez

El presente trabajo intenta dar cuenta de reflexiones en torno a la producción de


conocimiento surgidas a partir de una determinada práctica antropológica en tanto miembros
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del Programa Permanente de Extensión, Investigación y Desarrollo en Comunidades Indígenas


de la Facultad de Filosofía y Letras de la Universidad de Buenos Aires. El objetivo general del
Programa ha sido vincular y articular en forma sistemática y permanente proyectos y
actividades de investigación en distintos campos del conocimiento con acciones de
fortalecimiento comunitario, capacitación y práctica solidaria. A lo largo de más de 20 años la
perspectiva desde la cual abordamos las diversas acciones, se ha ido modificando de manera
paralela, por un lado, a los niveles de compromiso que fuimos adquiriendo a medida que el
trabajo se desarrollaba, y por otro, a las condiciones sociohistóricas que lo enmarcaban.
También, nuestro trabajo, ha estado condicionado por las particulares situaciones que fue
atravesando la universidad, en especial la práctica extensionista. Es así que, en un primer
momento, se abordó desde una visión que podríamos denominar solidaria. Esto, en tiempos
en que la cuestión indígena comenzaba a recorrer una nueva coyuntura a partir de la
configuración de un “reconocimiento” por parte del Estado de ciertos derechos a los pueblos
indígenas de la Argentina a través de una serie de dispositivos y disposiciones jurídicas,
especialmente vinculados a la Reforma Constitucional del año 1994. En un segundo momento,
el trabajo se planteó en términos de transferencia, entendida como transferencia de
conocimientos producidos en el ámbito de la academia hacia los sectores sociales, en especial
aquellos más vulnerables, particularmente comunidades pertenecientes a pueblos originarios.
En esta etapa nos constituimos como Centro de Documentación organizado en áreas
temáticas, realizando talleres en diversas comunidades indígenas. En la actualidad, habiendo
reflexionado en torno a las limitaciones que tal conceptualización de transferencia nos
plantea, entendemos que el trabajo pasa por una producción colectiva de conocimientos
vinculada a nuestra praxis como sujetos en movimiento. Esto, en un contexto en que la
cuestión indígena adquiere una particular visibilidad en los procesos locales de movilización y
protesta que atraviesan la formación social argentina y de los cuales los antropólogos no
permanecemos ausentes en tanto activismo social y político que supone la reflexión teórica
sobre los mismos. Es a partir de estas reflexiones al interior del colectivo que logramos
plasmar un nuevo proyecto, constituyendo un Observatorio Colectivo para Pueblos
Originarios- OCOPO-. Esta iniciativa, inserta en el ámbito universitario, pero con el
involucramiento y la participación permanente y orgánica de comunidades y organizaciones
de pueblos originarios, asume, entre otras, las tareas de: diagnosticar las problemáticas que
atraviesan a dichos pueblos, relevar y sistematizar las políticas públicas a ellos referidas,
promover la vinculación entre las diferentes organizaciones y/o comunidades, acompañar las
iniciativas de las mismas, tendiendo a su fortalecimiento organizativo. En paralelo, nos ha
permitido, por un lado, profundizar la relación con diversas organizaciones y comunidades
indígenas del país, y por otro lado, dar cuenta de los diferentes conflictos, especialmente
territoriales, haciendo visible la cuestión indígena hacia la sociedad toda. Atendiendo a
nuestra trayectoria, algunas de las preguntas que nos pueden guiar en el camino de la
reflexión acerca de nuestra forma de entender el quehacer antropológico y sobre sus
condiciones de posibilidad son: ¿en calidad de qué somos “demandados” por los pueblos

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originarios?; ¿por qué construir un espacio de estas características al interior del ámbito
académico universitario?; y por último, ¿qué papel estamos jugando en el marco de la
coyuntura académico-política particular que nos atraviesa en este momento, y en términos
históricos más generales?

Navegando pelo Rio Javaés

Ricardo Tèwaxi Javaé

Patrícia de Mendonça Rodrigues

O trabalho a ser apresentado tem origem em uma parceria desde 1990 entre um professor
Javaé, que fez o curso de Ciências da Cultura na Educação Intercultural Indígena da UFG e
agora é mestrando da UFT em Ciências do Ambiente (o primeiro mestrando Javaé), e uma
antropóloga brasileira, que realizou pesquisas entre os Javaé para sua dissertação de Metrado
pela UnB, tese de Doutorado pela Universidade de Chicago e identificações oficiais de terras
indígenas para a FUNAI. Essa interlocução etnográfica, intelectual e afetiva acarretou
significativo impacto nas trajetórias acadêmicas e de vida de ambos, que realizaram uma
viagem conjunta de pesquisa pelo Rio Javaés em 1998. Tendo como foco a atual pesquisa de
Tèwaxi Javaé a respeito da importância central e histórica do Rio Javaés na vida de seu povo,
este trabalho se propõe a discutir, por um lado, o modo como o rio é vivido pelos Javaé, um
povo de pescadores tradicionais, enquanto local de origem cósmica, morada permanente dos
seres invisíveis que controlam os recursos essenciais à sobrevivência, como os peixes e os
animais, e referencial concreto de episódios mítico-históricos cultivados pela memória oral.
Por outro lado, de um ponto de vista da crítica da colonialidade do poder, será discutido o
modo como a divisão entre “natureza” e “cultura”, enquanto categoria eurocêntrica
problematizada pela Antropologia, é inapropriada para descrever os conceitos javaé de tempo
e espaço que estruturam a sua percepção do próprio Rio Javaés e as narrativas nativas sobre
o surgimento dos humanos em um lugar profundo, abaixo do leito dos rios, e sua posterior
reprodução no nível terrestre em que vivemos.

Educação decolonial: o protagonismo indígena na construção de um currículo


intercultural

Rosana Hass Kondo e Cloris Porto Torquato


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Este texto é um recorte de uma pesquisa mais ampla, em andamento, cujo objetivo principal
é compreender o processo de construção do currículo numa escola indígena e as negociações
(linguísticas, interculturais e de saberes) aí implicadas envolvendo a participação ativa da
comunidade escolar, predominantemente guarani, situada em Pinhalzinho/PR. Assim, tendo
em vista o contexto de violência, exploração e dominação que assola as populações indígenas
brasileiras há centenas de anos, fazer uma pesquisa que seja socialmente relevante, implica,
inicialmente, em desconstruir o pensamento colonial, ou seja, é necessário “[...] a
decolonização epistemológica, para depois dar um passo a uma nova comunicação
intercultural, uma troca de experiências e significados, como base de outra racionalidade que
pode reivindicar, com legitimidade, alguma universalidade”(QUIJANO, 1992, p. 442). Para isso,
com o intuito de refletirmos e discutirmos sobre como vem acontecendo esse processo de
construção curricular trazemos algumas análises preliminares de dados gerados,
etnograficamente (ANDRÉ, 1995), a partir da primeira Roda de Conversa (MOURA; LIMA,
2014), realizada na Comunidade do Pinhalzinho/Pr. As reflexões e análises aqui apresentadas
são orientadas a partir das Epistemologias do Sul (SANTOS; MENESES, 2010), Estudos
Decoloniais (QUIJANO, 1992) e Currículo pós- feito (SILVA, 2005; (MOREIRA; SILVA, 2013;
(GIROUX; SIMON, 2013). Como resultados iniciais podemos destacar o envolvimento efetivo
e ativo desta comunidade Guarani em construir um currículo próprio a partir do território,
cultura e gestão de recursos, baseado nos princípios indígenas, que respeite, valorize e
reconheça os etnos saberes indígenas como integrantes e necessários no ensino
aprendizagem dos alunos indígenas.

Políticas estatales y etnicidad: acelerados cambios radicales que generan


duras incertidumbres

Jorge Kulemeyer

La falta de continuidad en los principales lineamientos de las políticas públicas en materia de


etnicidad en Latinoamérica, marcadas por cambios que van de un extremo al otro, genera
desconcierto y la necesidad de encontrar sustento para un volver a empezar por parte de las
poblaciones involucradas y de quienes, de modo más o menos crítico, se comprometieron en
fortalecer las tendencias que repentinamente son dejadas de lado. Esta repentina
desestabilización afecta a un gran número de personas que deben reposicionarse en aspectos
centrales de su vida cotidiana y los horizontes construidos y/o ambicionados. Si bien las
determinaciones de los gobiernos en materia de política indigenista no son, a un mismo
tiempo, homogéneas para todos los países si lo son los cambios radicales como lo expresan
en sus respectivos países, por ejemplo, los nuevos lineamientos en México con López Obrador
como primer mandatario (asumió en diciembre de 2018) y de su par brasileño, Bolsonaro
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(desde el primer día de enero de 2019). El presente ensayo pretende hacer un análisis,
ciertamente parcial, de los radicales cambios en las políticas en torno a etnicidad que se
observan en tiempos recientes en países latinoamericanos y contribuir a una reflexión que
pos de ofrecer previsibilidad y respeto a las personas afectadas por estas políticas erráticas.
Domina lo transitorio que, a la vez, es drástico y de gran impacto, mediante decisiones y
planteos que desde el poder son presentados como un cambio definitivo, sin que haya indicios
ciertos de estar ante el inicio de una nueva era en materia de políticas sectoriales de los países
latinoamericanos y, menos a un, a nivel de conjunto que se pueda extender durante muchos
años sin retornos a direccionamientos que hoy se plantean como perimidos.

“Nosso sustento vem do rio”: práticas tradicionais alimentares Javaé na


atualidade

Tamiris G. Maia

A presente comunicação busca expor o contexto e as principais problemáticas obtidas a partir


do estudo sobre as práticas tradicionais alimentares Javaé realizada nas atuais comunidades
Inỹ - Javaé, localizadas na Ilha do Bananal, Tocantins. Para sua realização utilizamos dados
bibliográficos documentados desde a década de 1990 até a atualidade, sobre os usos e
significados das práticas e saberes tradicionais alimentares, além de entrevistas/conversas e
participações ativas realizadas em etapas de campo. Parte-se da seguinte pergunta problema:
o que são práticas tradicionais alimentares para o povo Javaé? Buscando investigar esta
questão, analisamos os processos de aquisição, preparação, distribuição, consumo e descarte
do alimento no cotidiano Javaé; o funcionamento da cozinha e os espaços de produção
alimentar; as modificações e dinâmicas das práticas alimentares; os não ditos e não narrados
pelos documentos e os ditos e narrados pelos indígenas. Até o momento, percebemos a
concepção da alimentação ideal como aquela que possui por base os produtos de origem Inỹ,
que fortalecem a identidade e as suas tradições socioculturais. Porém, a base alimentar
presente nas casas e escolas é de origem não indígena. No cotidiano há um compartilhamento
de espaços e consumos em que alimentos tradicionais e industrializados se misturam.

Relações interétnicas na capitania de goiás e estratégias e atuações indígenas


frente às políticas indigenistas do século XVIII

Patrícia Emmanuele Nascimento

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Esta comunicação objetiva analisar as relações interétnicas que se estabelecem nas situações
de contato, na capitania de Goiás, e seus desdobramentos nas políticas indigenistas como, por
exemplo, a política de ocupação do território por meio de aldeamentos indígenas e as
resistências decoloniais por parte das populações indígenas nesse período. Discutiremos a
especificidade do colonialismo português e a concepção sobre o território em relação a
política de gestão territorial e aldeamentos no século XVIII. Os primeiros aldeamentos em
Goiás são os de Santana do Rio das Velhas e a Missão São Francisco Xavier que incluía os
aldeamentos do Duro e Formiga e depois, na segunda metade do século XVIII, temos a
presença dos aldeamentos pombalinos. A política dos aldeamentos, seja nos primeiros
tempos da colonização do território goiano, seja dentro das novas prerrogativas de defesa do
território se choca com a resistência das populações indígenas que habitavam a região Centro-
Oeste. Sobre essas relações de contato a fim de irmos além da análise documental e até
mesmo no intuito de confrontá-la procuraremos apresentar a experiência com alguns alunos
de Curso de Educação Intercultural da UFG, do Núcleo Takinahaky, em relação à produção de
memórias por meio de suas narrativas sobre essas relações de contato em Goiás. São alunos
indígenas dos grupos Javaé, Kayapó, Xavante e Tapuias.

Gestão territorial e ambiental de terras indígenas e itinerários formativos

Jonise Nunes Santos

Ana Paula Diniz

Ana Cláudia Araújo Diniz

O Decreto no 7.747/2012, ao instituir a Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de


Terras Indígenas – PNGATI, estabelece o etnomapeamento e o etnozoneamento como
ferramentas de gestão territorial e ambiental das terras indígenas (BRASIL, 2012, art. 2o), bem
como determina em seus objetivos que o Ensino Médio, o Ensino Superior e a Educação
Profissional e Continuada na Educação Escolar Indígena, sejam atuantes em “promover ações
voltadas ao reconhecimento profissional, à capacitação e à formação de indígenas para a
gestão territorial e ambiental” (BRASIL, 2012, art. 4o). O etnomapeamento e o
etnozoneamento, inseridos na perspectiva da cartografia social, não dizem respeito à mera
inserção de informações das comunidades em mapas, mas segundo Polli (2017, p. 111) trata-
se de “se inscrever no mundo, na história”, uma vez que a construção identitária dos povos
está intimamente ligada à territorialidade. Este trabalho busca apresentar reflexões acerca
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das oficinas desenvolvidas no âmbito do PIBID e Residência Pedagógica, no curso de


Licenciatura em Formação de Professores Indígenas da Faculdade de Educação da
Universidade Federal do Amazonas. As oficinas de etnomapeamento e etnozoneamento, ao
contribuir para o reconhecimento territorial e potencialidades, favorecem a escolha dos
itinerários formativos relevantes para a comunidade em específico, contribuindo
qualitativamente para o processo de formação dos povos indígenas, que tem a oportunidade
de direcionar eixos de formação que de fato venham contribuir para o fortalecimento da sua
cultura e língua, bem como sua autonomia social e econômica.

Pedagogias e epistemologias indígenas e não indígenas no contexto


educacional brasileiro

Luciana Leite Da Silva e Elias Nazareno

Nosso propósito é apresentar e compartilhar as principais questões da pesquisa, ainda em


andamento, intitulada “Possibilidades de uma aprendizagem histórica intercultural a partir
dos saberes transitados nos contextos educacionais indígenas e não indígenas”. Gersem
Baniwa afirma que, até a aprovação da Constituição de 1988, existiu no Brasil uma ‘educação
para índio’ que foi formulada no contexto europeu e utilizada como ferramenta no processo
de colonização de nosso continente. Nos últimos anos esta situação tem sido discutida a partir
da reivindicação do reconhecimento da existência de epistemologias e pedagogias milenares
criadas e praticadas pelos povos originários. Evidenciaremos estas epistemologias a partir das
pesquisas que vem sido desenvolvidas por estudantes indígenas, do Curso de Educação
Intercultural da Universidade Federal de Goiás, também com o propósito de instigar reflexões
acerca de outras concepções de aprendizagem no contexto educacional não indígena.

Indígenas e a apropriação da escrita: impasses, desafios e possibilidades


(1990-2015)." A Queda do Céu" o recado de Watoriki

Karla Alessandra Alves de Souza e Elias Nazareno

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Este estudo expõe, por meio de uma pesquisa documental e de análise crítica, o livro A queda
do céu: palavras de um xamã yanomami, de Davi Kopenawa e Bruce Albert. O objetivo
fundamental desta pesquisa foi compreender como o processo de escrita do livro se configura
por meio da apropriação da escrita, percebida por Kopenawa como uma ferramenta de
denúncia e de desobediência epistêmica. Esta análise fundamentou-se nas perspectivas
teóricas e metodológicas decoloniais. Nesse sentido, a partir da perspectiva do grupo
Modernidade/Colonialidade, apresentamos este livro como um manifesto de descolonização
dos conhecimentos indígenas e buscamos encontrar um trajeto que nos apresentasse
alternativas metodológicas decoloniais. Desse modo, a metodologia aqui utilizada procurou
desenvolver, pela análise crítica do livro A queda do céu e das entrevistas utilizadas, um
espaço de conversação com Kopenawa. Nesse sentido, o percurso de análise que conduziu
este trabalho foi pensado também a partir da história oral. Privilegiou-se Kopenawa, que
apresenta a força de seu discurso, situado e fundamentado no xamanismo yanomami por
meio da apropriação subversiva da escrita. Retratamos, assim, como o processo de
desobediência epistêmica protagonizado por Kopenawa deu origem ao livro A queda do céu,
reverberando, assim, no manifesto decolonial do povo indígena Yanomami.

Os habitantes originais do Brasil oitocentista na obra primeiros Cantos de


Gonçalves Dias

Maikon Geovane Oliveira Vila Nova

Raimundo Lima dos Santos

A presente comunicação intitulada proveniente do artigo: “Os habitantes originais do Brasil


oitocentista na obra primeiros Cantos de Gonçalves Dias” faz parte da pesquisa de iniciação
científica PIBIC-FAPEMA/UEMASUL/2018-2019, o qual pretende explicar por meio da relação
entre a História e a Literatura a construção da identidade nacional nas poesias do autor,
utilizando para isso tais obras como fonte. Nestas composições onde é abordada a figura dos
indígenas, que foi um povo primordial para a formação da sociedade brasileira, busca-se um
novo ângulo de visão, o qual possa possibilitar a descoberta de novos elementos, por exemplo,
em O Canto do Guerreiro, O Canto do Piaga e Canção do exílio. Para tanto, utilizou-se como
fundamentação teórica, Weberson Fernandes Grizoste, Julio Cézar Vieira, Fabrício Cézar de
Aguiar. Como metodologia, este estudo tem foco em uma investigação bibliográfica,
almejando-se também um exame documental. Em última instância, destaca-se a relevância
dessa busca por outras intepretações para a promoção de novos conhecimentos, não só ao
meio acadêmico, mas a todos os níveis de instrução escolar, indispensáveis para uma

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aproximação das ciências em um viés cada vez mais interdisciplinar como o da interrelação
entre a História e a Literatura.

ST 17 | Gobierno de los recursos naturales y procesos de


comunalización/descomunalización en los pueblos indígenas, siglos XIX-XXI
Eric Leónard (Institut de Recherche pour le Développement – IRD, Francia); Antonio Escobar
Ohmstede (Instituto de Investigaciones Históricas, Centro de Investigaciones y Estudios
Superiores en Antropología Social – CIESAS, Universidade Nacional Autónoma do México,
México).

El panel se propone examinar los procesos y lógicas sociales de “comunalización” y


“descomunalización” que han experimentado los pueblos indígenas y campesinos en diversos
países de América Latina, en términos de transformaciones de las organizaciones sociales, los
sistemas de gobierno y las instituciones sociopolíticas entre la mitad del siglo XIX y las dos
primeras décadas del siglo XXI. Este periodo ha sido marcado por repetidos intentos estatales
por redefinir los derechos de propiedad ejercidos por y dentro de las comunidades rurales –
leyes liberales de desamortización y privatización de los terrenos comunales del siglo XIX;
reformas agrarias del siglo XX; reformas neoliberales de las últimas tres décadas– que han
tenido impactos diferenciados en términos de reconfiguración de las organizaciones
sociopolíticas locales y sus relaciones con las sociedades nacionales y los mercados. En su
mayoría estas reformas legales han soportado proyectos de reconfiguración, de disolución, o
de genuina construcción comunitaria, en pos de integración al Estado y la sociedad nacional,
y/o de creación de una utopía comunitaria –en forma de pueblo, cooperativa o empresa
colectiva. Tanto las reformas (neo)liberales como las reformas agrarias han sido enfrentadas
o por el contrario apoyadas por ciertos sectores dentro de las sociedades locales que
perseguían intereses y objetivos heterogéneos. Dieron lugar a procesos de alianza entre estos
sectores, el aparato estatal y empresarios privados, o por el contrario a coaliciones locales que
las confrontaron y resistieron a su implementación, con incidencias, en ambos casos, en la
reconfiguración de las formas comunitarias. En la mayoría de los casos, el producto de esas

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reformas no fue el desplazamiento de las antiguas normas de regulación de la propiedad por


los nuevos sistemas de derechos, sino la superposición de registros normativos y sistemas de
autoridad, tanto en lo agrario como en lo político. La propuesta de panel se focaliza en las
dinámicas de los regímenes locales de gobernanza de los recursos naturales (tierras, aguas,
bosques, yacimientos minerales y en el periodo reciente, germoplasmas, potencial eólico y
fotoeléctrico…) y de los hombres, y en las formas de imbricación que estos regímenes
potencian entre bienes comunes y bienes privados, así como entre comunidades de
pertenencia (local, étnica, nacional, etc.), a partir de la definición del contenido de los
derechos de propiedad y de la legitimación social de las instancias habilitadas a regular el
ejercicio de esos derechos. El objetivo principal es poner en discusión y debate las
regularidades y singularidades observables a través del tiempo y del espacio entre diversos
procesos situados de cambio institucional relacionados con reformas legales de los regímenes
de propiedad de los recursos naturales, y sus incidencias sobre las formas de gobierno político
y las relaciones entre comunidades locales, Estados, mercados y sociedades nacionales. Se
espera de las ponencias que examinen en particular la dinámica de las relaciones entre
concepciones locales, leyes y reglamentos oficiales y prácticas de actores económicos
exteriores relativamente a las formas de imbricación y disociación entre propiedad común o
comunitaria (reflexionando en el perímetro y sentido de lo que se concibe como comunidad)
y propiedad individual o privada (interrogando asimismo los limites entre lo individual y lo
familiar, así como el perímetro de esta noción).

Formalización de los derechos agrarios, mercados de la tierra e informalidad


de las practicas agrarias a más de 20 años de las reformas neoliberales, en
una comunidad

Celine Boué

Emmanuelle Bouquet

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3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Eric Léonard

En un contexto neoliberal, las reformas agrarias de 1992 en México tenían por objetivo
anunciado corregir la indefinición de los derechos de propiedad abasteciendo una seguridad
legal de los derechos y de favorecer la eficacidad y la modernización de las explotaciones
agrícolas limitando las restricciones previamente impuestas por el Estado sobre las
transacciones del mercado de las tierras. Varios trabajos ilustran el hecho persistente según
lo cuál las regulaciones informales y frecuentemente ilícitas se mantienen en numerosos
ejidos en México, entreteniendo desfases entre lo que establece la ley, lo que marca la
costumbre, lo que se inscribe en la práctica social y lo que se decide de modo individual
(Bouquet y Colin, 1996; Colin et al., 2003; Léonard y Vélazquez, 2009; Torres Mazuera, 2014,
2015). El pluralismo de las normas, movilizado como justificación de las reformas agrarias
consideradas como reconciliando “lo legal y lo legítimo”, sobrevive a las dichas reformas, bajo
formas renovadas y especificas a cada región. Los dispositivos de regulación y los
comportamientos de los actores sociales influyen y dan forma a las formas de puesta en
ejecución de las reformas legales, así como el funcionamiento de las instituciones que resultan
de eso (Bouquet, 2009; Léonard, 2009; Velázquez, 2009). Este estudio es centrado sobre las
formas de realización del programa de certificación de los derechos agrarios (PROCEDE) en el
marco de la implementación de la reforma de 1992 y sus incidencias sobre el desarrollo
ulterior de los mercados de la tierra, según los diferentes actores socio-económicos. Se
inscribe en un enfoque de las instituciones y de los juegos de los actores alrededor de las
instituciones que se apoya en la economía institucional, y toma prestado de las disciplinas de
la antropología social y de la antropología jurídica. La metodología combina revista de la
literatura, utilización de datos oficiales (Registro Agrario Nacional principalmente), más de 50
entrevistas dirigidas a diferentes actores sociales y administrativos. El estudio de caso se llevó
a cabo en la municipalidad de Calpulalpan en el Estado de Tlaxcala, pone en perspectiva las
prácticas y las dinámicas locales en materia de transferencias de la tierra observadas en los
90’ en la misma comunidad (Bouquet, 2000, 2009). Los primeros resultados permiten discutir:
(i) del mercado formal de las tierras ejidales poco desarrollo; (ii) de las características del
mercado informal y de las lógicas de actores subyacentes; (iii) de la difícil actualización de la
información agraria dentro del sector ejidal en comparación con la propiedad privada.

Dispositivos para la expropiación territorial: a propósito del avance de la


producción forestal en la Patagonia argentina

Valeria Iñigo Carrera

372
Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

En la Patagonia argentina asistimos a un contexto de creciente conflictividad en los territorios


ocupados y/o reclamados por los pueblos indígenas. Si bien se trata de un contexto emergente
de procesos de larga duración -como fue la incorporación por medio de la violencia del
territorio patagónico y su población originaria a fines del siglo XIX al capitalismo en expansión
y al Estado nacional en formación-, es producto, de manera más inmediata, de la
intensificación del avance sobre esos territorios de los sectores económicos caracterizados
por su alta concentración, dispuestos a disputar los recursos naturales de la región. Este
avance va de la mano con la falta de regularización de esos territorios: a pesar de que las
diversas legislaciones vigentes reconocen los derechos territoriales de los pueblos indígenas,
la precariedad jurídica continúa caracterizando su ejercicio del control territorial. En este
contexto de conflictividad territorial, el tema indígena se constituye en un tópico de la agenda
pública y la judicialización de sus reclamos, la criminalización de sus organizaciones y la
represión de sus formas de protesta han asumido una mayor intensidad en los últimos
tiempos. Sobre la base de esta problemática, esta ponencia aborda conflictos por el territorio
entre comunidades y organizaciones mapuche y capitales forestales, sostenidos a lo largo de
las últimas tres décadas en la zona andina de la Patagonia argentina. Nuestra preocupación
reside en dar cuenta de los dispositivos desplegados por estos capitales a la hora de
protagonizar una forma de acumulación sostenida en la persistencia y profundización de la
extracción de recursos naturales. Con este objetivo, en el primer apartado desplegamos las
formas que el extractivismo forestal tomó en la zona, haciendo foco en las trayectorias de dos
empresas emblemáticas en la zona en estudio. En el segundo, avanzamos sobre las maneras
en que las formas de propiedad de las tierras y bosques contenidas en el monocultivo forestal
tensionan otras maneras de construcción del territorio allí desarrolladas por los colectivos
indígenas. En el tercer apartado, identificamos y describimos los dispositivos (cotidianos,
administrativos, extraeconómicos) puestos en marcha por los capitales a la hora de realizar
la expropiación de los territorios. El trabajo se apoya en materiales de campo, de archivo y
otras fuentes secundarias.

Transformaciones y tensiones en las concepciones liberales y comunalistas de


la tierra del siglo XIX y sus ironías en la disputa por el control territorial en el
neoliberalismo del siglo XXI

Salvador Aquino Centeno

Esta ponencia analiza cómo las concepciones de las tierras comunales entraron en tensión con
las definiciones liberales de la tenencia de la tierra del siglo XIX y sus transformaciones que

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

derivaron en las políticas de la reforma agraria de mediados del siglo XX en las comunidades
zapotecas de la Sierra de Oaxaca, México. Estas concepciones liberales y comunalistas se
retroalimentaron y colisionaron a través del tiempo, tensiones que se han reanimado en las
nuevas concepciones comunalistas agrarias del siglo XXI en términos de quiénes y cómo
defienden su usufructo, proceso donde se han renovado las posiciones étnico-políticas de la
posesión territorial. Abordo cómo los esquemas de gobernabilidad comunitaria se
transformaron, retroalimentaron y contestaron las políticas estatales de control de las tierras
comunales y particularmente del subsuelo y los minerales.

Jujuy verde: extractivismo, pachamamismo y disputas territoriales en Jujuy,


Argentina

Guillermina Espósito

Jujuy Verde. Carbono Neutral 2030, es un programa impulsado desde 2016 por el gobierno de
la provincia de Jujuy, Argentina. Presentado como un modelo de desarrollo sustentable, el
programa se propone diseñar, elaborar e implementar estrategias, proyectos y acciones
políticas de mitigación y adaptación al cambio climático, "reduciendo los impactos
ambientales negativos de la actividad antropogénica e impulsando nuevos paradigmas como
el de la sostenibilidad, el buen vivir y la economía circular”. En el marco de este Programa se
planificó la instalación de plantas de generación de energía solar en la Puna de Jujuy,
considerada la segunda reserva de energía solar del mundo, y se promulgó la ley provincial No
5915 que declaró de utilidad pública y sujeto a servidumbre administrativa de electroducto
todo inmueble situado dentro de los límites de la Provincia de Jujuy, a fin de garantizar el
cumplimiento de los planes de trabajo para la generación y prestación de servicios de energía,
renovable y no renovable. La promulgación de esta ley produjo la inmediata reacción de
organizaciones y comunidades indígenas y no indígenas de las zonas de quebrada y puna por
considerarla anticonstitucional, ilegal y artífice de un nuevo despojo territorial. En este
proceso, y a contrapelo del Programa Jujuy Verde, se profundizó en la provincia el modelo
extractivista de recursos naturales, a través de la apertura de nuevos emprendimientos de
minería tradicional y de la construcción de complejos de extracción e industrialización de litio.
En esta ponencia analizo el proceso de promoción e implementación del programa Jujuy
Verde, mostrando cómo se articulan un modelo extractivista con la ponderación icónica de la
Pachamama homologada al medioambiente como garante del programa, y las disputas
territoriales, formas de comunalización y resistencias locales que se le oponen.

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Conflicto y mediación. Convenios por el bosque entre pueblos y particulares.


La cuenca alta del río Magdalena, CDMX, México. 1850-1910

Romana Falcón

En el marco de los intentos por consolidar la propiedad privada y el desarrollo económico


capitalista, en México, como en casi todo el mundo de occidente, se fueron implementando
políticas de gran calado como fue la desamortización de los bienes poseídos o en propiedad
de actores colectivos. Ello marcó el campo mexicano, desde mediados del siglo XIX y hasta el
estallido de la revolución de 1910. A pesar de que el estudio de este proceso ha hecho brotar
ríos de tinta, los mecanismos con que se solventaban las querellas que iba suscitando no han
recibido la atención historiográfica necesaria. Esta ponencia intenta captar “las dinámicas de
los regímenes locales de gobernanza” de un recurso natural –bosques y montes— que estuvo
en frecuente disputa entre pueblos, así como entre estos y particulares. Dichos territorios
forestales conforman un escenario de enorme dinamismo que, por un lado, conservaba
formas, leyes y costumbres de siglos atrás y, por el otro, estaba inmerso en procesos de
modernización capitalista. El trabajo hará hincapié en los “Convenios para el uso de bosques
y pastos” que privaron en los territorios forestales del sur de la CDMX, en concreto, en la
cuenca alta del río Magdalena. Dichos convenios, al ser una de las principales instancias de
mediación, permiten apreciar no solo los argumentos y dinámicas en las que participaron los
pueblos originales y haciendas que poseían vastos territorios arbolados, sino también la
dinámica de relaciones que establecían con autoridades del poder ejecutivo –desde el
pináculo en palacio nacional, hasta las instancias locales como el jefe político, el ayuntamiento
y alcaldes, entre otros– y del aparato de justicia –jueces de paz, magistrados y hasta la
suprema corte de justicia–. Esta mediación probó ser decisiva en el accidentado proceso de
redefinición paulatina de los derechos de uso, posesión y propiedad del bosque.

Reforma legal, privatización de los derechos de propiedad y disolución de la


organización ejidal en una zona de agricultura comercial. Calpulalpan, estado
de Tlaxcala, México, 1990-2018

Eric Leonard e Mathilde Mitaut

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

En 1992 una reforma legal modificó el estatuto legal de las tierras entregadas en forma de
dotación ejidal a grupos de campesinos beneficiarios de la reforma agraria mexicana desde
1915. Esta reforma mantenía formalmente la propiedad comunal detentada por los ejidos,
pero abría cauces legales para el desarrollo de los mercados de tierra y la privatización de la
propiedad ejidal, al reforzar los derechos individuales de los ejidatarios, legalizar las
transferencias mercantiles de tierra (bajo ciertas condiciones) y limitar la capacidad de la
organización ejidal para controlar los mecanismos y modalidades de tales transferencias. Los
debates han sido álgidos acerca de los posibles impactos de la reforma legal sobre la
productividad y los posibles procesos de exclusión en el acceso a los recursos naturales dentro
de los ejidos. Sin embargo, hasta mediados de la década de 2000, las evidencias estadísticas
apuntaban a una incidencia limitada de los procesos de privatización y concentración de la
propiedad ejidal en las zonas agrícolas (no así en las periferias urbanas y las zonas con alto
potencial turístico). Esta ponencia se interesa en tales procesos en una región cerealera
(cebada y maíz), fuerte y tempranamente integrada en cadenas agroindustriales, y
caracterizada por la fuerte presencia e incidencia históricas de empresarios agrícolas en las
dinámicas productivas internas a los ejidos. La región ubicada al oriente del municipio de
Calpulalpan, en el estado de Tlaxcala, experimenta hay en día dinámicas entrelazadas de
privatización de las tierras, mediante la adopción del dominio pleno por parte de un grupo
creciente de ejidatarios, y de formación de ranchos cerealeros de mediano y gran tamaño
(entre 70 y varios centenares de hectáreas), mediante la combinación de contratos de
compra-venta de tierras, arrendamiento y aparcería. Estas dinámicas corresponden a un
proceso más largo de debilitamiento y perdida de legitimidad de la organización ejidal en la
regulación de las relaciones de propiedad. La ponencia propone analizar los mecanismos
históricos de compenetración entre agricultura campesina y agricultura empresarial,
diversificación económica de los hogares rurales, y cambio generacional que permiten explicar
estos procesos de privatización y disolución de la institución que fue pilar del régimen de
gobernanza agraria y política en México durante el siglo XX.

Território Kokama: luta, política e resistência indígena na fronteira


Brasil/Peru

Elizângela Lopes

Ismael da Silva Negreiros

Márcia Ribeiro da Silva

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3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Tendo como base as capacidades e os indicadores de bem estar humano para povos
tradicionais, este estudo tem como objetivo geral compreender a partir do povo indígena
Kokama, suas relações de políticas de governabilidade tradicional e seus recursos naturais na
manutenção de seus territórios. De forma específica, buscou-se identificar as relações de
governabilidade tradicional presentes na comunidade indígena Kokama de Bom Jardim II,
pertencente ao município de Benjamin Constant da região do Alto Solimões/Amazonas
fronteira com Peru; verificando ainda as dimensões políticas, sociais, culturais e econômicas
desse território indígena; bem como, a identificação de ocorrências de conflitos territoriais na
comunidade decorrentes das potencialidades dos recursos naturais existentes nessa região
com não indígenas. A pesquisa realizada no ano de 2018, caracterizou-se como bibliográfica e
de trabalho de campo etnográfico. Realizamos ainda observações sobre e/na comunidade que
possibilitou compreender: a capacidade de controle coletivo do Território, o potencial de
governabilidade tradicional nos territórios; a capacidade de agenciamento cultural autônomo
e o potencial de área com oferta de recursos naturais disponíveis. Apesar de haver um governo
tradicional através da figura do cacique, reconhece-se na comunidade muitas autoridades,
dentre elas 1 Discente indígena Kokama vinculada ao Programa de Pós-Graduação Lato Sensu
em Educação, Saúde e Saberes Tradicionais da Universidade do Estado do Amazonas- UEA,
pelo Centro de Estudos Superiores de Tabatinga- CSTB, Grupo de Pesquisa: Educação e
Diversidade Amazônica – GPEDA. 2Mestre em Antropologia Social e Cultural pelo Programa
de Pós-Graduação em Antropologia – PPGant da Universidade Federal de Pelotas-UFFPEL.
Discente do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em Educação, Saúde e Saberes
Tradicionais da Universidade do Estado do Amazonas- UEA, pelo Centro de Estudos Superiores
de Tabatinga- CSTB, Grupo de Pesquisa: Educação e Diversidade Amazônica – GPEDA.
Atualmente é Docente colaborador do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia do Instituto
de Natureza e Cultura-INC da Universidade Federal do Amazonas-UFAM. 3Especialista em
Língua Portuguesa. Atualmente discente do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em
Educação, Saúde e Saberes Tradicionais da Universidade do Estado do Amazonas- UEA, pelo
Centro de Estudos Superiores de Tabatinga- CSTB, Grupo de Pesquisa: Educação e Diversidade
Amazônica – GPEDA. Destacam-se: presidente de bairro, professores e gestores de escolas,
com isso gerando uma governabilidade de relações de poder extensa. No que tange aos
conflitos existentes, estes acontecem entre indígenas e não indígenas que residem na
localidade estudada porque o território não é reconhecido pelo viés jurídico como terra
indígena; não há um reconhecimento do estado para com o povo Kokama quanto sua etnia,
seus direitos. A mobilização pelo território torna-se um mecanismo de luta constante desse
povo, que resiste pelo reconhecimento jurídico de sua terra.

Formação de uma agenda indígena no Ministério do Meio Ambiente: a


administração da diferença e os limites das políticas ambientais

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3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Rodrigo Augusto Lima de Medeiros

A complexidade da temática indígena demanda cautela aos pesquisadores que se aventuram


a analisar as relações do Estado brasileiro com a diversidade étnica dos povos indígenas no
território brasileiro. Em primeiro lugar, corre-se o risco de reeditar o “índio genérico” (RAMOS,
1998). Atento a esses riscos, o caminho que pretendo trilhar, neste comunicado, remete
diretamente a experiência etnográfica de Antônio Carlos de Souza Lima (1995) que descreve
“as relações que se estabeleceram entre variadas formas de administração, instituídas desde
a chegada dos portugueses ao território do que hoje chamamos República Federativa do
Brasil, e os povos nativos a esta parte do continente americano” (1995, p. 11). Assim, este
artigo tem por objetivo apresentar os primeiros passos de uma etnografia institucional da
agenda indigenista no Ministério do Meio Ambiente, Governo Federal, República Federativa
do Brasil. Assim, o objetivo deste comunicado é pensar a relação entre concepções
ambientalistas e concepções indigenistas na formação de Políticas Públicas no Ministério do
Meio Ambiente. Observamos que a tentativa de homogeneização da existência etnoecológica
dos povos indígenas, constituída em termos de legislação e instrumentos técnico burocráticos
na execução de Políticas Públicas, leva a uma situação de “administração da diferença”.
Procurar-se-á argumentar de que modo práticas narrativas que fazem uso de categorias
naturalizantes de povos e comunidades tradicionais procuram legitimar ações estatais,
transformando identidades em prol de macro- narrativas estatais. O artigo procura explorar
de que modo se desenvolveu a formação de uma agenda indigenista no Ministério do Meio
Ambiente, a fim de decifrar concepções socioambientais da incorporação do discurso
ambientalista para a causa indígena. Se demonstrarmos as concepções socioambientais
intrínsecas na formulação das políticas indigenistas que compõe o quadro atual de Políticas
Públicas para os povos indígenas, ou seja, desde o Projeto Integrado de Proteção as
Populações e Terras Indígenas da Amazônia Letal (PPTAL), passando pelo PDPI (Projeto
Demonstrativo para os Povos Indígenas) e pela Carteira Indígena (CI) até a consolidação da
Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI),
alcançaremos o objetivo de compreender a formação conceitual da relação entre políticas
ambientais e políticas indigenistas. Inspirado na concepção de inquéritos de Michel Foucault
([1973] 2003; [1981] 2007), a opção é analisar práticas argumentativas de programas do
Ministério do Meio Ambiente (MMA) no processo de administrar as diferenças de identidade.
O artigo limitar-se-á a dois eixos narrativos: edificação das políticas públicas para os Povos e
Comunidades Tradicionais (PCTs); procedimentos específicos de implementação de políticas
públicas de gestão ambiental e territorial do MMA. Essas práticas argumentativas se
configuram em narrativas de políticas públicas, documentadas em projetos, leis e outras
parafernálias administrativas, que codificam ações pretendidas para a Amazônia. Nesses

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3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

termos, uma análise mais substantiva de ações que se propõem intervir nas dinâmicas
identitárias só se completa se for realizada mediante descrições transversais que combinem
aspectos de enunciados específicos elaborados por instituições estatais e não-estatais. Grosso
modo, as narrativas administrativas concebem o multiculturalismo como uma identidade
moldada que se situa em diferentes esquemas narrativos. Dentro de disputas de poder para
determinar acesso à terra, acesso aos recursos estatais, assento em Conselhos setoriais, entre
outros, práticas e narrativas procuram governar a multiplicidade sócio(antropo)lógica. Trilhar
narrativas que fundam concepções acerca do multiculturalismo e a gestão ambiental e
territorial, no intuito de apreender suas implicações socioeconômicas, políticas, geopolíticas,
ambientais, dentro de um cenário de disputas por conceitos, recursos, corpos e almas é o
desafio deste artigo. É a proficuidade do poder que funda nas narrativas sobre o
multiculturalismo um modo de governar o território. Todo governo é necessariamente
estratégico e programático, sendo um domínio específico de relações de poder (MEDEIROS,
2018). As padronizações de vocábulos e as operacionalizações de normas se fazem em
burocracias (instituições) especializadas estatais e não-estatais. Elas nomeiam e estabelecem
práticas para o território amazônico, inventando narrativas homogeneizantes de
multiplicidades sociais. Podemos encontrar elaborações político-institucionais envolvidas no
espectro da gestão ambiental em terra indígena que constituem narrativas de um governo da
natureza, dando base institucional para as percepções de governo para a Amazônia. Dentro
do contexto do pluralismo cultural e das políticas multiculturalistas no Brasil, a Constituição
Federal de 1988 (CF/88) é o marco programático (e regulatório) fundamental na definição de
parâmetros para ações com Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs). Mesmo que não tenha
se declarado um Estado Plurinacional, como fez as novas constituições da Bolívia e do
Equador, no Brasil, a CF/88 em seu Capítulo VIII (Dos Índios), em seus artigos 231 e 232,
promoveu os direitos indígenas. Contudo, as garantias programáticas da Constituição não
foram suficientes para efetivar os direitos de povos indígenas e povos e comunidades
tradicionais.

La comercialización de la tierra en el suroeste tlaxcalteca, 1856-1880

Leonardo Chávez Miranda

La historiografía ha señalado que la ley de desamortización tuvo por objetivo la creación de


una sociedad de pequeños propietarios, además que fue la causante de la acumulación de
tierras en pocas manos. Sin embargo, hubo un desarrollo paralelo a la liberación de distintas
propiedades administradas por las corporaciones civiles y eclesiásticas. La información en los
archivos notariales muestra un proceso de transacciones entre particulares y la fragmentación
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

de distintos tipos de propiedades (haciendas, ranchos o terrenos). El presente trabajo tiene la


finalidad de analizar el funcionamiento de las transacciones y la formación de una nueva clase
de pequeños propietarios que no estuvo sujeta a la liberación de las propiedades eclesiásticas
y civiles en el suroeste tlaxcalteca a partir de la promulgación de la Ley de desamortización del
25 de junio 1856. El mercado de tierras analizado se distingue por la presencia de los afluentes
Atoyac y Zahuapan, lo cual proporciona un alto grado de fertilidad de los terrenos y por ende
un mayor interés por los terrenos destinados a la actividad agrícola. Se consideran dos ejes
centrales para el trabajo, por un parte la legislación liberal que modificó la tenencia de la tierra
a partir la desamortización de bienes en “manos muertas” y por otra las transacciones
(compra-ventas, hipotecas y arrendamientos) llevadas cabo durante el periodo de 1856 a
1880, lo que modificó la distribución de la propiedad. Para ello utilizaré la información
obtenida en el Archivo de Notarías del estado de Tlaxcala y el Archivo de Histórico del estado
de Tlaxcala. Cabe destacar que la presente investigación forma parte de la tesis doctoral.

As consequências da Lei de Terras (1850) sobre o ordenamento


jurídico/territorial indígena na Província de Minas (1850-1911)

Izabel Missagia

Entre as legislações que afetaram diretamente os povos indígenas e seus territórios ao longo
do século XIX no Brasil, especialmente considerando o Segundo Reinado (1845-1889),
destacam- se o Regulamento das Missões, de 1845, e a Lei de Terras, de 1850. Neste período
além do tráfico negreiro, foi abolida, finalmente, a escravidão (1888), cujos significados se
inscrevem diretamente sobre os indígenas, também considerados mão-de-obra disponível
para substituir a força de trabalho africana. A comunicação visa a acompanhar os impactos da
aplicação política dos novos regulamentos sobre os povos indígenas situados na Província de
Minas no que diz respeito, principalmente, aos esforços sistemáticos de parte da Diretoria
Geral dos Índios da Província em classificá-los e enquadrá-los no âmbito dos novos
ordenamentos territoriais/jurídicos. Porém, mais do que compreender o significado de tais
políticas imperiais, trata-se aqui de acompanhar os movimentos de resistência dos índios,
como as denúncias das arbitrariedades deflagradas nos níveis locais da administração dos
territórios indígenas, ou outras formas mais simbólicas e/ou religiosas/messiânicas de
interpretação dessa nova realidade.
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Pueblos indios en pos de los recursos naturales en el siglo XIX de Oaxaca. Los
Valles centrales, 1856-1915

Antonio Escobar Ohmstede

Esta ponencia analiza cómo las concepciones y derechos en torno a los recursos comunales
entraron en tensión con las definiciones liberales de la tenencia de la tierra del siglo XIX y sus
transformaciones que derivaron en las políticas de la reforma agraria de mediados del siglo
XX en las comunidades de los Valles Centrales de Oaxaca, México. El objetivo es observar cómo
se manifestaron, negociaron y jugaron estas formas de derechos en un pluralismo jurídico más
complejo pero unificador.

Aldeamento do Mutum (1859-1889): disputas e negociações em torno dos


territórios e territorialidades indígenas no rio Doce

Tatiana Gonçalves de Oliveira

Este trabalho faz parte do desenvolvimento de minha pesquisa de doutoramento, onde


analiso um longo processo de desterritorialização dos povos indígenas da província do Espírito
Santo, na segunda metade do século XIX. Pretendo nessa breve análise refletir sobre a
tentativa do Império do Brasil em aldear os índios genericamente chamados de Mutum e
Pancas, que viviam no rio Doce, na fronteira com Minas Gerais. A política de aldeamento do
Estado brasileiro, na segunda metade do oitocentos, estava inserida num projeto de
colonização de âmbito nacional e local, que se projetava contra as territorialidades indígenas.
Este cenário envolvia diferentes sujeitos: indígenas, fazendeiros, Estado que disputavam não
só as terras, mas também os rios, os recursos naturais, os direitos de propriedade e de
usufruto nessas zonas de contato. Propomos pensar essas disputas territoriais, identitárias e
políticas em torno do aldeamento dos índios do Mutum e Pancas tendo em vista não apenas
os conflitos, mas também as negociações que se tornaram necessárias nessas fronteiras
interétnicas.

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A demarcação de terras indígenas e o Serviço Florestal no Rio Grande do Sul

Cíntia Régia Rodrigues

No presente trabalho pretende-se refletir sobre a atuação da Diretoria de Terras e Colonização


(1908-1928) para com as populações indígenas, esta que busca empreender o progresso no
estado do Rio Grande do Sul- Brasil, ligada ao Partido Republicano Rio-Grandense (PRR). A DTC
fora alicerçada com o intuito de constituir-se como um dos projetos de modernização do
governo sul-riograndense, pautado nos ideais comteanos, tendo como pano de fundo a
questão fundiária no Rio Grande do Sul, visto que as populações indígenas impediam o avanço
das frentes nacionais. Também foram elaboradas pela Diretoria instruções especiais para a
execução do Serviço Florestal, que tinham como objetivo impor penalidades ao processo de
desmatamento, principalmente no norte do Estado, onde estavam localizados os toldos
indígenas, nestas terras ocorriam abates clandestinos de madeiras e erva-mate. O Comtismo
postulava a “lei dos três estados”, segundo a qual a humanidade passara pelas etapas:
teológica, (que se dividia em três idades sucessivas: a fetichista, a politeísta e a monoteísta);
a metafísica e a positiva. Pretende-se, nesse sentido, ponderar sobre o processo de
demarcação das terras indígenas no estado do Rio Grande do Sul a partir da “proteção
fraterna” empreendida pela DTC, observando também as diretrizes e práticas da política
nacional para os Índios, a partir da criação do Serviço de Proteção ao Índio e Localização de
Trabalhadores Nacionais (SPILTN) em 1910.

“Leguleyos y tinterillos” en la redefinición de los derechos de propiedad de


las comunidades indígenas de El Salvador y Guatemala, 1873-1907

Armando Méndez Zárate

El objetivo del trabajo es mostrar comparativamente los procesos de renegociación por los
derechos de propiedad en las comunidades indígenas y ladinas en la segunda mitad del siglo
XIX, resaltando dos categorías: mediante la apropiación y utilización de la legislación agraria
en un contexto de transformación de las instituciones políticas (municipalidades, jefaturas
políticas, gobiernos nacionales) y la participación de los “leguleyos” y “tinterillos” como
intermediarios en la redefinición de los derechos de propiedad de las comunidades indígenas,
contemplados por la legislación agraria salvadoreña y guatemalteca. De esta forma, me
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cuestiono: ¿a quiénes se le consideraban leguleyos o tinterillos?; ¿cuál fue la influencia de


esos intermediarios legales en la fragmentación y reconfiguración de las propiedades
comunales?; ¿cómo utilizaban las instituciones políticas para mantenerse dentro del aparato
legal en un contexto de cambios administrativos y legales?

ST 18 | Gulumapu-Araucanía, Pampas y Patagonia, nodos de resistencia


política, siglos XIX y XX
Cristián Perucci González (Departamento de Ciencias Sociales, Universidad de la Frontera,
Chile); Ingrid de Jong (Universidad de Buenos Aires, Argentina ).

Regiones como el Gulumapu-Araucanía, las Pampas y la Patagonia han sido descritas como
nodos de resistencia política indígena insertos en los circuitos mercantiles sudamericanos. En
los siglos de colonialismo hispano, estos lugares albergaron sociedades con altos grados de
autonomía económica, territorial y cultural. Sociedades dinámicas, abiertas a influencias,
cosmopolitas, cuyas características no siempre mermaron tras la expansión de los Estados
chileno y argentino que anexaron su territorio. Nuestro llamado es a debatir en torno a las
formas en que estos nodos de resistencia se han relacionado con el orden republicano en los
últimos doscientos años ¿Cuáles rasgos fenecieron y cuáles aún se resisten a la desaparición?
¿Podemos seguir hablando de resistencia? Los objetivos son pensar la experiencia de los
diversos actores implicados, sus estrategias, el papel de líderes y mediadores. Analizar las
transformaciones territoriales, la evolución de los circuitos económicos, demográficos y de las
lógicas sociales, el impacto de la guerra y la enajenación de tierras. Interpretar el
funcionamiento de la política indígena dentro de los marcos estatales, cotejando las
condiciones, alcances y resignificaciones de la ciudadanía política para los pobladores
indígenas. Igualmente nos interesa discutir sobre las ventajas y limitaciones que presentan la
historia y la memoria (en tanto que técnicas y representaciones) al momento de conocer el
pasado y entender el presente.

Representaciones actuales de la prensa escrita sobre el histórico conflicto


Estado Chileno-pueblo mapuche. El caso de columnas y reportajes online de
los periódicos la tercera y el mercurio 2017-2018

Nicolás Pareja Arellano

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El conflicto entre el Estado Chileno y el pueblo mapuche surge desde el inicio de la república
y deviene de una pugna anterior a la construcción del Estado, es decir, de la llegada de los
españoles al continente Americano. El proceso de conquista en el reino de Chile es un proceso
de ocupación y etnocidio por parte de los españoles hacia los mapuche (Saavedra, 2002), pero
también de paces firmadas en parlamentos (Bengoa, 2011) lo que permitió una larga
independencia de los mapuche hasta la instauración de la república de Chile. Luego de esto
comienza una etapa de desencuentros entre el Estado chileno y los mapuche en relación a
diferentes aspectos, como problemas de la tierra, el territorio, la cultura y el racismo. En este
periodo se buscó integrar a la fuerza a los mapuche a las lógicas del nuevo Estado (Bengoa,
2014) y con ello comenzó otra fase de conflictos entre el Estado y los mapuche, la que se
caracterizaba por el despojo y la política de las reducciones de tierra que enclaustraban a los
mapuche en pequeñas porciones de tierra que los condenaba a la pobreza (Saavedra, 2002;
Correa, Molina y Yañez, 2005). El periodo actual está marcado por la creación de la
Coordinadora Arauco Malleco en 1998, una organización mapuche que se adjudica hasta estos
días acciones de sabotajes, principalmente quema de maquinaria forestal, un accionar
consciente de resistencia política activa que se calificó como la reemergencia mapuche
(Pairacán, en Pinto 2015). El presente trabajo dio cuenta como los principales y más
influyentes periódicos del país poseen y difunden actualmente una mirada extremadamente
sesgada sobre el conflicto Estado chileno-pueblo mapuche, centrándose en solo una
perspectiva permeada por la institucionalidad estatal-liberal. La investigación analizó las
comunicaciones online publicadas en 2017 y 2018 de los diarios La Tercera y El Mercurio,
sobre el conflicto entre el Estado-pueblo mapuche. Esto se plasma en las columnas de opinión
y reportajes para identificar de mejor forma la posición de los periódicos. El análisis de este
trabajo se realizó metodológicamente a través de la teoría fundamentada (Corbin y Strauss,
2002), pero se utilizaron los preceptos teóricos del Análisis Crítico del Discurso de Van Dijk
(2002;2011;2016) para poder establecer perspectivas y posibles relaciones de dominación o
poder simbólico (Bourdieu, 2001; García Canclini, 2004), de estos medios de comunicación
sobre las personas, analizando como actúa el poder también con sus respectivas resistencias
(Foucault, 1988). Lo que articulado con el monopolio de la violencia del Estado (Weber, 1993),
traería consigo lo que Gramsci (2005) llama hegemonía, es decir, no solo el control político de
un país o república sino también el control moral e intelectual.

Historia de las ruinas hispanas en la Araucanía

Jaime Flores Chávez

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

La coyuntura histórica conocida como “destrucción de las siete ciudades” (1598- 1602) tuvo
como principal característica el abandono y devastación de los asentamientos hispanos
ubicados entre los ríos Bío-Bío y Maullín. Una de las consecuencias más evidentes que tuvo
esta serie de hechos fue el cambio de estatus que experimentaron estas efímeras localidades,
pasando de tener condición de ciudades a no ser más que ruinas. Desde entonces, la presencia
de ruinas hispanas en territorio soberano mapuche sustentará procesos de asimilación en
ambos campos. Desde la perspectiva hispana-colonial, a medida que su expulsión se fue
afianzando, algunas de las ruinas fueron nuevamente ocupadas, otras completamente
olvidadas. Aquellas del interior, sin embargo, comenzaron a recubrirse de un místico halo de
nostalgia, perceptible en las representaciones cartográficas coloniales y republicanas. A través
de los mapas surge y se transparenta la idea y el interés de reconquista que alimentará el
espíritu de las Fuerzas Armadas chilenas en la guerra de Pacificación de la Araucanía. Por su
parte, existe documentación histórica que nos permite conocer en alguna medida la gestión
política mapuche de las ruinas, y el concepto colectivo que se formará sobre ellas, al menos
para el período previo a la guerra de Pacificación (1861-1883). Para analizar este fenómeno
nos apoyaremos en dos hipótesis preliminares. Intentaremos demostrar la existencia de un
concepto de ruina en tanto que lugar mágico y de prohibición, y luego, una cierta sensación
de inseguridad en la legitimidad de la soberanía mapuche asociada a la noción de antigüedad
del poblamiento hispano. Esta ponencia tiene como objetivo presentar algunas ideas y
fundamentos para la comprensión de la historia política de las ruinas en la Araucanía,
entendiendo que ambas sociedades implicadas se comunican, se afectan y se (mal)entienden
en su perfil material e imaginario.

Horizontes de guerra y paz. Estrategias diferenciadas frente a la expansión


estatal (Frontera Sur, 1850-1875)

Guido Cordero

Los últimos años de existencia soberana indígena en las pampas y el norte patagónico
estuvieron marcados por una consolidación progresiva de un proyecto de expansión estatal
que culminaría en las campañas de conquista y sometimiento. Consideramos que la
interpretación del accionar indígena en tal contexto, crecientemente hostil pero en modo
alguno lineal, debe atender a los horizontes percibidos vigentes, respecto al vínculo
interétnico, que no necesariamente descansaba en una polaridad marcado entre la resistencia
y la incorporación de uno u otro modo al dominio estatal. Diversos recursos resultantes de la
interacción fronteriza –el comercio, las raciones derivadas de acuerdos diplomáticos, y las
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oportunidades de apropiación violenta de bienes- eran fundamentales para la


autorreproducción social y política de los cacicatos pampeanos y otros grupos menores. Las
aspiraciones de líderes de diferente influencia, así como de guerreros y sus familias, y en
consecuencia las prácticas políticas y militares frente a los actores no indígenas, podían de
acuerdo a contextos cambiantes orientarse a una resistencia militar propiamente dicha, a la
consecución de mejores condiciones de interacción, o a la búsqueda de algún modo de
integración subordinada bajo la égida estatal. Estas estrategias diferenciadas, asimismo,
podían no reflejar opciones polares sino, más bien, estrategias concretas en función de los
equilibrios políticos no sólo frente al avance estatal sino al interior del propio campo político
intra e intergrupal indígena. En línea con trabajos recientes que han comenzado a explorar las
dinámicas políticas internas de los cacicatos pampeanos -independientes o sometidos
formalmente por medio del régimen de “indios amigos”-, proponemos analizar la agencia
indígena durante el período atendiendo especialmente a las fracturas y articulaciones que los
atravesaron. Consideramos que lecturas excesivamente centradas en los liderazgos
principales tienden a extender a los grupos referenciados por ellos sus estrategias, restando
complejidad y riqueza a la agencia indígena y, adicionalmente, dificultando la interpretación
del accionar de los propios líderes, atento no sólo al vínculo interétnico sino a la construcción
y sostenimiento de equilibrios y posiciones de poder y prestigio a nivel intragrupal y regional.

Expresiones autoetnográficas mapuche en el período reduccional (1883 –


1927). Una revisión de los actores y textos de “informantes” mapuche en la
producción etnográfica araucanista

Arturo Javier Farías Correa

Las campañas militares del ejército chileno en la Araucanía, proceso conocido como
Pacificación de la Araucanía, abren una nueva etapa en las relaciones del estado chileno y la
sociedad mapuche. La presencia del estado en territorio indígena después del éxito militar
constituye una etapa conocida como la época de las reducciones (1883 - 1927) marcada por
la transformación de una sociedad que se ve enfrentada al despojo de su territorio (sólo
conservan el 5% de sus tierras, pues de 10 millones se pasa a 500 mil hectáreas), el impacto
demográfico consiguiente y al fin de su autonomía política socavando las formas tradicionales
de organización. En este contexto de colonización estatal, la sociedad mapuche de fines del
siglo XIX demostrará su capacidad de adaptación a las nuevas condiciones que le son
impuestas: su inserción en el ejército, el aprovechamiento de la educación formal, la

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adecuación al código de la política republicana, entre otras, son ejemplos que han sido
interpretados como formas de adaptación al nuevo escenario colonial. El propósito de este
trabajo es dar cuenta de las estrategias que articularon determinados sujetos mapuches al
cifrar su cultura a través de un dispositivo occidental como lo fue el discurso etnográfico
construido sobre los mapuche en el contexto del cambio de siglo. Se busca entender las
formas en que los sujetos colonizados se retrataron y representaron utilizando los términos y
esquemas del colonizador, esto es, cómo construyeron su identidad y alteridad en el registro
del colonizador. Para ello, y elaborando un breve estado de la cuestión con los recientes
trabajos que han abordado este tema desde diversas perspectivas, se reconstruirán los
gabinetes etnográficos, analizando las figuras de aquellos que oficiaron de “informantes” de
los investigadores. Además, nos centraremos en un caso paradigmático, el de un etnólogo
mapuche, Manuel Manquilef, quien, por una parte, pasó de ser colaborador e informante
nativo de los dos principales araucanistas de la época -Tomás Guevara y Rodolfo Lenz- a ser
un etnólogo independiente de su propia cultura y, por otra parte, desarrolló una trayectoria
política particular que lo tuvo como principal artífice de la ley de 1927, que promulgaba la
propiedad privada individual de la tierra y con la que se ponía fin al período reduccional. Se
da cuenta de la heterogeneidad de posicionamientos políticos de estos sujetos mapuches en
sus demandas, reclamos y propuestas. Por último, entenderemos las expresiones que
reivindiquen la propia cultura como parte de una estrategia de resistencia, tanto política como
epistemológica al inscribir su cultura en el saber etnológico y las tensiones producidas por
éstas con el proyecto republicano.

Imaginar y consolidar la nación, cuando los reinos españoles en América se


volvieron naciones. La nación como marco de exclusión en el siglo XIX y XX

Juan David Echeverry Tamayo

Las emancipaciones latinoamericanas generaron un conflicto identitario devenido de la


ambigüedad discursiva del proceso que se estaba desarrollando, esto debido a la naturaleza
contingente de un cambio que implicaba reestructurar las fuentes y relaciones de poder en
unas sociedades caracterizadas por la inmovilidad. Sin embargo, aunque se introdujeron
discursos innovadores tendientes a desintegrar el sistema precedente, dichos discursos
constituían una amenaza significativa para aquellos grupos que dependían de el para
mantener intacto su modo de vida. Así, esta lucha por el poder no debe definirse como un
reemplazo del antiguo régimen, sino como una dinámica de continuidad-ruptura marcada por
una disrupción en la simbología y estructura del poder. Es vital entonces examinar de qué
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manera una coyuntura crítica como el proceso independentista desarticuló el orden


jerárquico en la América española, permitiendo construir un yo colectivo diferenciado en
Latinoamérica. Con este fin se explicará el proceso de territorialización de Argentina y Chile, a
través de la negación del pasado español y su vínculo con el resto de la América hispánica.
Para finalizar, se analizará cómo el discurso autojustificante de la nación sirvió para limitar el
alcance de la revolución cultural que significó la llegada del Estado moderno a Latinoamérica,
invisibilizó a amplias capas de la población y legitimó genocidios en contra de las poblaciones
indígenas. La metodología que se usará se centra en un modelo dinámico de path
dependence, basado en la articulación de la retroalimentación positiva y las secuencias
reactivas, con el objetivo de analizar coyunturas críticas a través de narraciones analíticas.

"Nos contó que todas las reses que veíamos aquí eran de su propiedad".
Redistribución de recursos entre los grandes agregados familiares mapuche
del área araucano-pampeana (1840 – 1873)

Cristian Perucci González

En el siglo XIX, los lonko constituyeron la pieza principal de la política mapuche. El ejercicio de
su autoridad descansaba en un orden cultural tradicional, y también en los conceptos y las
habilidades individuales de cada uno. Aquello constituyó la base de un modelo de gobierno
que la antropología ha denominado jefatura. Sin embargo, el significado que los lonko
asignaron a su rol de distribuidores, y la forma en que las jefaturas adaptaron su
funcionamiento, mostraban marcadas diferencias entre un agregado familiar y otro. Estas
distinciones operaron en varios niveles. Existían contrastes en la situación geopolítica y
ecológica en que se situaban los lofs y las tolderías. Algunos se hallaban intensamente
afectados por los flujos inter-cordilleranos de animales, sal y poncho, activados
fundamentalmente por la vía del malón y del conchavo. Otros dedicaban mayores esfuerzos
a la cría de ganado, a la agricultura, a labores de recolección, de caza y al comercio de bienes.
Además, la sociedad mapuche funcionaba accediendo a otras fuentes de recursos, como los
sueldos del gobierno chileno, las raciones del gobierno argentino, el rescate de cautivas y
cautivos y la creciente enajenación de tierras. El presente trabajo pretende comparar
cualitativamente este complejo cuadro, que podríamos llamar el tesoro mapuche, tomando
como unidad de análisis algunos de los principales agregados familiares de mediados del siglo
XIX (Kolüpi, Mangiñ, Kalfukura, Payllalef). Nuestro propósito es estudiar el modo en que estas
familias conformaban su tesoro, focalizándonos especialmente en los principios y las ideas
que modelaron las vías de redistribución interna de los recursos. Analizaremos la especificidad
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de cada jefatura a través de la tradición, la geopolítica y la personalidad de sus respectivos


lonko.

La Doctrina del Descubrimiento en las políticas de ocupación y genocidio de


los Pueblos Indígenas en Wajmapu

Herson Huinca Piutrin

La doctrina del descubrimiento y su metaestructura que se le puede denominar un esquema


de dominación han producido desde 1492 hasta la actualidad une serie de explotaciones
ilimitadas tanto de los recursos y territorios de los Pueblos Indígenas en el sur de Abya Yala.
Este esquema de dominación es responsable del despojo, de la miseria y las dificultades que
enfrentan hoy los Pueblos Indígenas al interior de los Estados chileno y argentino. La
jurisprudencia con la que los Estados chileno y argentino han impuesto a los Pueblos Indígenas
(Mapuche, Rapa Nui, Kaweskar, Yagan, entre otros) ha legitimado el despojo y la construcción
de una dominación socio-racial sobre estos últimos. Los términos terra nullius, terra nullus
han sido los dos terminas que se han utilizado para despojar a los Pueblos Indígenas
articulándose a una lógica de deshumanización, animalización y barbarización. En esta
comunicación nos interesa poder problematizar en ¿cómo y qué se jugó en las políticas de
ocupación y dominación de los Estados chileno y argentino? y ¿Qué implicancias tiene para
nuestros días la doctrina del descubrimiento y los Pueblos Indígenas?

Alianzas políticas y estrategias de resistencia en el fin de las fronteras: la


trayectoria de los salineros (1870-1890)

Ingrid de Jong

La concreción de los planes de ocupación de los territorios indígenas de Araucanía, Pampas y


Patagonia por parte de los Estados chileno y argentino se desarrolló bajo etapas temporales y
espaciales distintas y recurriendo a estrategias múltiples, que combinaron las prácticas
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militares con modalidades tradicionales de negociación política como la diplomacia fronteriza.


A partir del seguimiento de la trayectoria de los salineros, con territorios en el centro
pampeano, este trabajo presenta una reconstrucción microhistórica de las formas en que este
proceso fue percibido, interpretado y afrontado por la política cacical. El análisis apunta a
inscribir este seguimiento en la trama de alianzas y comunicaciones que vinculaba a esta
parcialidad con otros sectores políticos y liderazgos indígenas de las Pampas, la Patagonia y la
Araucanía, atendiendo especialmente a los cambios políticos, económicos y territoriales
provocados por el forzado repliegue territorial así como a las reconfiguraciones de alianzas y
prácticas de confederación que formaron la base de las estrategias de resistencia indígena. Se
aborda así un período escasamente trabajado por la historiografía, haciendo énfasis en la
perspectiva y capacidades organizativas indígenas y en las tramas políticas que articulaban los
espacios arauco-pampeano-patagónicos.
“Sin tener absolutamente un rincón de tierra”. Privatización de la tierra y
política indígena en las llanuras pampeanas (provincia de Buenos Aires, 1860-
1890)

Luciano Literas

Al menos tres factores caracterizaron la segunda mitad del siglo XIX en las llanuras
pampeanas: la organización y consolidación del Estado argentino, la desarticulación de las
fronteras y expropiación de los territorios indígenas, y la formación y el despliegue de un
mercado de tierras. El problema central que trata la siguiente ponencia alude a los cambios,
las continuidades y características que adquirió la política indígena en ese novedoso contexto.
Específicamente la de aquellas poblaciones nominadas por el Estado como “indios amigos” y
en lo que respecta al acceso a la propiedad de la tierra, su distribución y uso. El análisis aborda
el conjunto de iniciativas de este tipo llevadas adelante por los “indios amigos” aunque se
concentra especialmente en los casos de las poblaciones asentadas en Cruz de Guerra
(Veinticinco de Mayo) y La Barrancosa (Bragado), identificadas respectivamente con los
caciques Martín y Francisco Rondeau, y con Pedro Melinao y José María Raylef. Las principales
preguntas que guían el análisis refieren al papel que jugaron los líderes políticos de estos
grupos (caciques y capitanejos) en la negociación, obtención y administración de la tierra para
sus seguidores, qué recursos y capitales emplearon y pusieron en juego para hacerlo, qué
innovaciones y persistencias existieron en la distribución y el uso de la tierra y, en definitiva,
si puede hablarse de una reformulación de la resistencia indígena ante la construcción y el
despliegue de un mercado de tierras en la provincia de Buenos Aires. La ponencia pretende
contribuir así a las reflexiones y los debates en torno a los cambios y las continuidades en las
representaciones y prácticas indígenas sobre la tierra y con respecto a cómo se forjó y

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reprodujo el liderazgo indígena en el marco de los conflictos, las relaciones de fuerza y los
márgenes de actuación de segunda mitad del siglo XIX.

El proceso de militarización de la población indígena en Bahía Blanca:


prácticas de subordinación y de resistencia en la formación de “tribus de
indios amigos”
Maria Laura Martinelli

A lo largo del siglo XIX, diversos líderes indígenas y sus seguidores optaron por realizar
acuerdos de paz con las autoridades estatales de la frontera de la provincia de Buenos Aires.
Algunos acuerdos implicaron su ingreso al territorio controlado por criollos en condición de
“indios amigos”. La inserción de tribus en las cercanías de fuertes y pueblos fronterizos
significó la circunscripción del espacio que podían ocupar, la prestación obligatoria de
servicios de armas y la subordinación a la autoridad de un comandante militar, así como un
trato cotidiano con pobladores e instituciones criollas. Los poblados de frontera fueron
particulares y novedosos ámbitos en los que los indígenas siguieron diversas trayectorias,
reproduciendo y reelaborando sus formas de organización y tradiciones. En esta ponencia,
propongo analizar las transformaciones y continuidades implicadas en el proceso de
militarización de los “indios amigos” de Bahía Blanca y el sentido que asumieron para los
líderes de los “indios amigos” y funcionarios estatales. Siguiendo las trayectorias de algunas
de las tribus en la frontera de Bahía Blanca, indago los cambios que acompañaron el ingreso
a la órbita estatal de la población indígena en sus formas de organizarse y de tomar decisiones
y en el rol que ocuparon los caciques en su particular situación de articuladores entre los
lanceros y las autoridades militares. El análisis de la militarización indígena en Bahía Blanca
permite caracterizar el proceso que culminó con la disolución del estatus de “indios amigos”
y encontrar resistencias a las intervenciones de las autoridades militares así como
continuidades en las formas indígenas de tomar decisiones con respecto a las mantenidas
“tierra adentro”. Las prácticas de subordinación y de resistencia fueron posibles en el ambiguo
espacio político que tuvieron las “tribus de indios amigos” en el espacio fronterizo durante el
siglo XIX, que les permitió tener un amplio margen político para negociar su ingreso y
permanencia en la frontera debido a que la sociedad estatal no contaba con la capacidad
política ni con la fuerza militar para imponer sus condiciones mediante la coerción.
Paradójicamente, los rasgos de esta coyuntura dieron lugar a prácticas sociales más flexibles,
tanto desde las instituciones y funcionarios estatales en el enclave de Bahía Blanca como
desde los propios indígenas, dispuestos a transformar hasta cierto punto sus formas de vida
para integrarse a una sociedad de fronteras que les habilitaba la continuidad de sus formas de
sociabilidad.
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Los Conquistadores

Fernando Pairican Padilla

El 10 de agosto de 1868, al interior del Palacio Legislativo, la muerte de Andrés de Alcázar en


Tarcapellanca fue recordado por el diputado Benjamín Vicuña Mackenna en un tono de
traición: “¿quién vendió a Caupolicán sino uno mismo de su tribu, el espía Andresillo? ¿Quién
guio a don Francisco Villagra a la estacada del Mataquito, donde pereció Lautaro? Sino uno de
sus propios compañeros ¿Quién mato por su propia mano al brigadier Alcázar sino su
compadre Catrileo, el abuelo o padre del mismo Catrileo, nuestro aliado de Lumaco, fiel hoy,
pero que mañana dejará de serlo si para ello se le presenta propicia oportunidad?”2 .
Benjamín Vicuña Mackenna era un reconocido escritor, activista y pensador del liberalismo
chileno. Ese mismo año publicó su obra Guerra a Muerte, un exhaustivo trabajo que sirvió de
base para fundamentar sus argumentos conquistadores en la cámara de representantes. A lo
largo de la obra, “los bárbaros” para referirse al pueblo mapuche capturaba una parte
considerable de su óptica. No existía pensamiento ni agencia en el mundo mapuche, solo
“saqueo” en su accionar, las resistencias fueron reducidas a “botín para saciar su codicia” y
sed de “sangre” 3. Los principales personajes de su obra, como hemos visto en el capítulo
anterior fueron Mariluan y Mañilwenü. Sobre el segundo siempre guardó un mayor respeto,
pero a la hora de hablar del conjunto de los mapuche no dudaba: “hacer de un indio un
hombre leal es, a la verdad, hacer un imposible, ¿quién conoce nuestra historia se atrevería a
hacer fe en el bárbaro?” 4 . Pocos días antes de su elocuencia, inscrita en la historia como la
Conquista de Arauco, José Santos Külapang, hijo de Mañilwenü, inició una insurrección en la
frontera del río Malleco. Se cumplía una década de la fundación de la provincia de Arauco, y
tan solo siete de la refundación de Angol. Las Misiones reimpulsadas bajo el decenio de
Manuel Bulnes en la década del 40’, sobrevivían en paralelo al nuevo ímpetu que una elite
belicista, empujaba sobre las tierras mapuche con deseos de anexión y conquista absoluta en
nombre de la civilización. A nuestro juicio, las palabras del historiador y senador de la
República fueron una respuesta a la insurrección Külapang (tres leones) que se propuso
emular a su padre, y este a su vez, admiraba el gran levantamiento del Toqui Pelantarü en
1598. Ese pasado, esa memoria, aquel hito histórico fortalecía la ideología inherente del Toqui
Mañilwenü.

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Entre a Araucania Maldita e o Deserto Indômito. Debates políticos e


resistência indígena nos processos de expansão territorial dos Estados chileno
e argentino no século XIX

Alessandra Gonzalez de Carvalho Seixlack

No contexto de construção dos Estados chileno e argentino, em meados do século XIX, a


Araucania, os Pampas e a Patagônia constituíam espaços de exercício de soberania de
diferentes grupos indígenas, alheios à jurisdição estatal. Tais regiões foram alvo de processos
de territorialização, isto é, de políticas que visavam incorporar à órbita de influência estatal os
chamados “fundos territoriais”, isto é, as porções de território ainda não integradas à lógica
produtiva do sistema colonial. A historiografia nacionalista relegou, via de regra, aos povos
nativos da América o papel de vítimas de políticas assimilacionistas e de manipulações por
parte dos colonizadores hispanocriollos. Ao reforçar a vitória triunfal dos projetos que visavam
ao extermínio físico e à eliminação dos sentimentos de comunhão étnica preexistentes às
identidades nacionais, esta visão foi responsável por reproduzir os discursos que
invisibilizavam os índios na história e negavam sua superveniência enquanto alteridade. Em
contrapartida, a historiografia mais recente ressalta a participação dos povos indígenas no
processo de formação dos Estados nacionais chileno e argentino, buscando valorizar seu papel
como sujeitos que também agem e reagem politicamente a partir de interesses específicos.
Essa perspectiva revisionista torna visível que a associação dos nativos que viviam nas áreas
de fronteira à selvageria, ao atraso e à barbárie não condiz, na prática, com o seu
reconhecimento como interlocutores políticos pelos hispanocriollos. Conscientes do seu
poder de negociação, os indígenas puderam construir suas próprias formas de compreensão
da nova realidade vivida. Assim, as estratégias de resistência elaboradas não se restringiram
às rebeliões armadas; englobaram igualmente a resolução das disputas por meio dos trâmites
legais e institucionais. Por conhecerem razoavelmente as regras do mundo cristão e os canais
de expressão da diplomacia fronteiriça – tratados de paz, reunião em assembleias,
intercâmbio de correspondências – os indígenas puderam se apropriar tanto da escritura
como meio de negociação interétnica quanto do vocabulário e das práticas políticas
comumente empregadas pelos hispanocriollos para lutar por seus territórios e pela liberdade,
na maioria das vezes com a intenção de tornar reais as promessas e propostas que lhes eram
feitas Essa comunicação tem como objetivo analisar os discursos políticos criollos que
serviram de base para a implementação de políticas voltadas para a exclusão real e simbólica
dos indígenas no Chile e na Argentina. Busca também pensar as estratégias desenvolvidas
pelos nativos para reagir a essa situação, ressaltando que muitas vezes os criollos não

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puderam prescindir do diálogo e da negociação com aqueles “outros” que pretendiam


eliminar.

Bienes de procedencia “cristiana” en las tolderías ranquelinas (década de


1840)

Marcela Tamagnini

En los primeros años de la década de 1840 numerosas comitivas o flotas indígenas


procedentes del Mamüel Mapu se acercaron a la villa de la Concepción del Río Cuarto (en la
línea de la Frontera Sur de Córdoba), a intercambiar sus productos y buscar las raciones
acordadas en las paces con el gobierno provincial. Los caciques ranqueles se valían de estas
comitivas para hacer llegar a la frontera numerosas cartas que, además de abordar cuestiones
referidas a la diplomacia interétnica, contenían extensos listados acerca de los bienes con los
que esperaban ser obsequiados. El trabajo se ocupa de los objetos cotidianos que llegaron a
las tolderías en la etapa rosista. Indaga en las formas en las que estos bienes eran solicitados
y trasladados al corazón del territorio ranquelino, estableciendo también quiénes y cómo los
pedían y recibían. Su estudio permite aproximarnos a las características materiales de las
relaciones interétnicas en un momento de fuerte confrontación política.

El músico de frontera y la práctica musical

Gustavo Darío Torres

Este trabajo de investigación aborda diferentes aspectos vinculados a las prácticas musicales
producidas en la Frontera Sur de la Provincia de Córdoba (Argentina) entre 1850 y la
denominada Conquista del Desierto ocurrida en 1879. Asumiendo que lo sonoro y lo musical
ha estado presente en los grupos sociales humanos desde muy tempranas épocas,
acompañando a la humanidad a lo largo de su existencia y cumpliendo diferentes funciones.
Uno de los objetivos de este trabajo es establecer una o varias relaciones temáticas entre
investigaciones que contemplan a la música como objeto de estudio de forma sistemática y
los procesos históricos que atraviesan a la Frontera Sur de la Provincia de Córdoba en la
segunda mitad del siglo XIX. En un espacio como la Frontera Sur en donde la música aparece

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como un aspecto de la vida cotidiana. Esta situación se traduce en una representación


simbólica y en ocasiones en una respuesta física producida por las prácticas musicales. Para
tal fin, se analizará el contexto sociocultural en donde se produjeron las mismas y los
elementos que intervinieron en su conformación y se realizará una caracterización de la
actividad musical en la región de estudio, en donde el desempeño del músico de frontera fue
importante en las diversas prácticas musicales. Las prácticas musicales pueden ser
caracterizadas como un espacio de creación sonora compartida, generadoras de un fenómeno
musical que incluye instrumentos e instrumentistas. Dichas prácticas tienen especial
relevancia en relación al modo en que se experimentan, dependiendo además de los factores
cognitivos, emocionales y motivacionales que orientan a los músicos que las desarrollan. Las
experiencias musicales suponen un diálogo, una acción y escucha permanente, que suceden
en un fenómeno único e irrepetible, debiendo además ser entendidas como práctica social
caracterizada como un tiempo común de intercambio y comunicación en el que concurren
distintos sujetos.

Resistencias de indígenas sometidos en Argentina: el caso de los ranqueles a


fines del siglo XIX

Graciana Pérez Zavala

En el marco de los estudios sobre el devenir de las poblaciones indígenas asentadas en el


actual territorio de la República Argentina, la ponencia se propone abordar un trayecto de la
historicidad de los ranqueles. Según el registro documental, desde mediados del siglo XVIII y
hasta el avance militar efectuado por las fuerzas del ejército argentino entre 1878-1882, este
colectivo indígena vivió en forma soberana en el Mamuel Mapu (conocido también como
Pampa central). Desde este posicionamiento político-identitario sus integrantes desplegaron
múltiples estrategias de relacionamiento interétnicos ante las autoridades y pobladores
cristianos de la frontera sur, tanto en épocas de la colonia española como durante el proceso
formativo del Estado argentino. En los años previos al sometimiento territorial y a la prisión
de buena parte de los indígenas, distintos contingentes ranqueles fueron alojados en los
fuertes y reducciones de la frontera cordobesa- puntana de avanzada. La militarización de los
hombres caracterizó esta nueva etapa, siendo justamente el tema central de la propuesta. En
tal sentido, se buscará analizar las tensiones entre las pretenciones de los jefes militares de la
frontera en pos de disciplinar a los lanceros ranqueles y las distintas acciones de éstos y sus
caciques tendientes a resistir y resignificar las imposiciones estatales.

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Fuertes, puestos y guardias de frontera en el Río de la Plata tardo-colonial:


entre la polisemia, las carencias castrenses y las relaciones interétnicas

Andrés Aguirre e Eduardo Iraola

Desde la segunda mitad del siglo XVIII las diferentes construcciones militares defensivas –
fuertes, guardias, puestos– que se erigieron en las fronteras del Río de la Plata apuntaron a
controlar el espacio local, mientras que, buscaba contener y coordinar las relaciones con las
poblaciones indígenas. De este modo, se fueron estableciendo estrategias políticas y militares
que debieron ser acompañadas con estructuras castrenses de características similares. Los
fondos documentales preservados en diferentes repositorios institucionales permitieron
establecer características constructivas y una perspectiva amplia que facilitara una propuesta
comparativa. El objetivo de nuestro trabajo apunta a indagar la correlación entre los
diferentes tipos de estructuras militares y las estrategias defensivas con respecto a las
parcialidades indígenas que permita evidenciar las carencias castrenses y resolución práctica
frente ello.

"Un pedacito de tierra para la hacienda": recursos y estrategias jurídicas


desarrolladas por los descendientes de la tribu de Yanquetruz en Carmen de
Patagones, Argentina (1878 – 1895)

Luciana Peréz Clavero

El presente trabajo aborda las diferentes estrategias que losintegrantes de la desarticulada


“tribu de indios amigos de Patagones” pusieron en juego para acceder a la propiedad y uso de
la tierra en Carmen de Patagones, luego de la Campaña del Desierto (1879 – 1885), durante la
conformación del mercado de tierras en la Patagonia argentina. Se analizan diferentes casos
en los que, mediante diversos recursos jurídicos, varios hombres ex capitanes de la fuerza
militar que acompañó la guarnición del fuerte en ese punto de la frontera, entre ellos los
renombrados hermanos Linares, presentaron solicitudes de derechos posesorios en
diferentes parajes de la Norpatagonia, apelando a diversas figuras del marco legal estatal y
poniendo en juego la propia política indígena. Abordamos el análisis de estos ejemplos en
comparación con otras experiencias dentro del campo indígena de acceso y uso de la tierra en

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la frontera bonaerense, antes, durante y después de la avanza militar del Estado argentino
sobre territorios indígenas.

ST 19 | Historia Indígena y Archivos: trayectorias, materialidades, debates

Lorena Beatriz Rodríguez (Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas –


CONICET y Universidad de Buenos Aires, Argentina); Xochitl Inostroza (Centro de Estudios
Culturales Latinoamericanos, Universidad de Chile, Chile).

Continuando con un diálogo iniciado en Santa Rosa debatir diversos temas que competen a la
Historia Indígena y su relación con los archivos (2016), durante el 2do CIPAL, este simposio
tiene por objeto. Este 3er Congreso nos convoca a identificar trayectorias, narrativas,
epistemologías plurales y retos comunes; desafíos que pueden aplicarse también al debate
sobre cómo se ha construido la historia indígena, a partir de qué posiciones de producción o
enunciación, dando cuenta de la diversidad de materialidades, corporalidades y lógicas que
constituyen archivos, documentos y/o soportes de memoria. Frente a la reemergencia de las
identidades indígenas en todo el continente, a la revitalización de las luchas territoriales,
socio-culturales y políticas, tenemos el desafío de seguir reflexionando sobre los recursos
discursivos, los dispositivos de archivación, las materialidades que circundan a los archivos
desde los cuales se abordan temáticas referentes a la historia de los pueblos
originarios. Continuaremos entonces repensando la diversidad de archivos, las distintas
metodologías con las que la Historia Indígena se enfrenta a ellos, los cambios y continuidades
de archivos clásicos, así como la emergencia de nuevos referentes de resguardo de la
memoria. Invitamos a investigadores de diversos campos disciplinares, sin restricción de
temporalidades (desde el mundo prehispánico hasta nuestros días) a conversar y debatir
sobre este aspecto de nuestras labores académicas y sociales.

Povos Indígenas, Ditadura e Arquivo – o Relatório Figueiredo como fonte para


História Indígena

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Jane Felipe Beltrão

O Relatório Figueiredo (RF) é um conjunto documental composto por 30 volumes que


correspondem a cerca de 7000 páginas, cuja origem é a Comissão de Inquérito, instaurada
pelo Estado brasileiro para investigar as denúncias de corrupção no extinto Serviço de
Proteção ao Índio (SPI), por ocasião da ditadura (1964-1985). Os resultados compulsados pelo
Relatório Figueiredo eram/são escandalosos não apenas pela corrupção, mas sobretudo pelos
abusos e atrocidades cometidas por agentes do Estado contra os povos indígenas no Brasil. O
conteúdo do mencionado Relatório era/é de tal modo comprometedor que se supõe ter sido
esta a razão de seu desaparecimento durante mais de 40 anos, segundo se dizia em um
incêndio ocorrido no Ministério da Agricultura, nos anos 70 do século XX. Incêndio tido como
criminoso, pois se supõe que a ação tinha por finalidade eliminar os vestígios
comprometedores registrados no Relatório e deixar impune as pessoas arroladas no
documento que teriam que responder pelos crimes cometidos. Recentemente, em 2012, por
ocasião da instauração da Comissão Nacional da Verdade (CNV), o documento foi
“encontrado” por Marcelo Zelic, membro da CNV. A “descoberta” do documento, no Arquivo
do Museu do Índio, no Rio de Janeiro, abre a historiadores, antropólogos e demais
profissionais uma clareira que, talvez, esclareça muito do que ocorreu durante a ditadura,
propiciando uma nova forma de “auscultar” o período e de trazer a lume nuances da História
dos Povos Indígenas, até então desconhecidas, inclusive pelos protagonistas. Discute-se, na
trabalho, os enlaces que o documento pode produzir ao se relacionar outras fontes
documentais ao mesmo, tomando com tema o genocídio expresso pela política indigenista no
país, considerando a materialidade presente no documento e no debate travado em torno do
mesmo, embora não se use a categoria analítica no texto do Relatório.

Materialidades del pasado y resignificaciones actuales en la provincia de La


Pampa, Argentina

Mónica Berón

Ana María Domínguez Rosas

Maria Inés Canuhé

Pedro Coria

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Ayelén Di Biase

El registro arqueológico de la provincia de La Pampa es la fuente de evidencias materiales y


biológicas que refleja distintos aspectos de las actividades culturales y sociales de las
poblaciones indígenas prehispánicas e históricas de la región. Sin embargo su análisis,
interpretación y significación está sujeta a diferentes intereses, especialidades, perspectivas y
coyunturas político-sociales de los distintos actores involucrados, entre ellos los miembros de
los pueblos originarios de la región y los arqueólogos. Es a partir del intercambio de saberes
en un marco de diálogo intercultural que se ha podido contribuir al conocimiento del pasado,
de los modos de vida y de los usos ancestrales de los territorios, de los espacios y de los
paisajes. Desde la perspectiva arqueológica y el conocimiento académico, la implementación
de diversos métodos de análisis aplicados tanto a las manifestaciones de cultura material
como a los restos bioantropológicos recuperados han permitido conocer aspectos claves de
la vida en el pasado. Es así que sabemos que el territorio pampeano fue explorado desde hace
por lo menos 9000 años, que el conocimiento de diferentes espacios se amplió desde hace
6000 años y su ocupación se generalizó hace 3000 años. En los últimos 1000 años se
establecieron grandes cementerios que actuaron como espacios sagrados de legitimación de
territorios y culto a los ancestros en el marco de un entramado social que abarcaba una región
muy amplia, a ambos lados de la cordillera andina. Desde la perspectiva del pueblo rankulche,
cada espacio sagrado que se conoce legitima sus reclamos territoriales y forma parte de su
patrimonio ancestral espiritual. El conocimiento del patrimonio tangible e intangible es
importante como resguardo de la memoria legítima de los pueblos, sus costumbres, su forma
de vida, sus ceremonias, las formas protocolares de enterramiento de los muertos por parte
de las etnias que poblaron estos territorios, como grupos humanos preexistentes. En el marco
de los procesos de revalorización y revitalización de las culturas ancestrales, de los procesos
de re-emergencia étnica y de respeto intercultural es que proponemos exponer nuestras
experiencias de intercambio y construcción conjunta de conocimientos.

De fragmentos ditos e escritos: uma etnografia histórica do processo de


(re)territorialização Tupi Guarani

Vladimir Bertapeli

Esta comunicação versa sobre o processo de reterritorialização dos Tupi Guarani na costa
meridional atlântica do continente. A partir de uma crítica à etnonímia compósita Tupi,

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Guarani e Tupi Guarani, trata de empreender uma reconstituição genealógica das relações
entre parentelas e grupos locais Tupi, Guarani e Tupi Guarani em suas múltiplas articulações
espaço-temporais nuançadas às distintas perspectivas. Tal reconstituição remonta ao final do
século XIX, referenciada ao alcance da memória oral Tupi Guarani, por um lado e, por outro,
aos primeiros registros destes etnônimos nas fontes documentais disponíveis para região, e
abrange o processo de retomada territorial que culmina na primeira década do século XXI. A
pesquisa tem como marcador temporal a memória oral dos Tupi Guarani quanto ao processo
de retomada e o momento em que surgem os primeiros registros documentais relacionados
ao uso dos mencionados termos designativos. Para tanto, articula-se uma etnografia histórica,
coligindo-se narrativas referentes ao passado dos habitantes mais idosos das atuais aldeias
Tupi Guarani, os txeramôes e txedjrays, à pesquisa historiográfica, baseada na crítica de fontes
primárias e secundárias dos acervos do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), da Fundação
Nacional do Índio (FUNAI) e do Arquivo Público do Estado de São Paulo, além dos arquivos
municipais e cartórios particulares de Santos, São Vicente, Itanhaém e Peruíbe.

Os povos indígenas da baixada maranhense: entre arquivos e memórias não


arquivadas

Josinelma Ferreira Rolande Bogéa

Esta comunicação é uma análise preliminar acerca da presença indígena nos municípios de
Pinheiro, Presidente Sarney e Pedro do Rosário, localizados no Estado do Maranhão, Brasil. A
investigação tem sido realizada em arquivos históricos sobre cartas de sesmarias que indicam
doações de terras para formação dos aldeamentos na Baixada Maranhense, bem como ofícios
do período colonial que tratam de questões indígenas e especialmente análise e mapeamento
das notícias veiculadas no jornal impresso “Cidade de Pinheiro” a partir da década de 1920
até a década de 1960, sobre a presença indígena na Baixada Maranhense. Em edições do
referido jornal na década de 1950 foram encontrados dados sobre a presença indígena nos
povoados Roque, Aldeia e Anta. Nessas descrições existem referências a pessoas e lugares,
permitindo cruzar tais dados com narrativas dos moradores dos lugares citados no jornal. Os
documentos históricos arquivados tem sido apenas o ponto de partida desta investigação,
pois as narrativas dos moradores da região pesquisada, as quais configuram-se como
memórias não arquivadas, são o ponto chave desta análise para compreensão da história dos
povos indígena da Baixada Maranhense.

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Uma ponta de flecha em bico de pena: a construção da representação


indígena a partir da revista do instituto histórico e geográfico brasileiro (1839-
1843)

Túlio Botelho Moreira de Castro e Elaine Leonara de Vargas Sodre

É inegável que trabalhos que versem a respeito das populações indígenas, sobretudo quanto
à identidade e as representações desses povos, são ainda hoje pouco realizados. Partindo
dessa perspectiva, e com a intenção de rompê-la é que este se justifica, uma vez que o objetivo
do mesmo é apresentar como se deu a construção da representação indígena no Brasil
oitocentista, partindo das narrativas do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), tal
como da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (RIHGB). Tendo em vista o perfil
metodológico, o trabalho é resultado da análise dos cinco primeiros Tomos da Revista do IHGB
(1839-1843), onde foram avaliadas as publicações que já no índice se apresentassem
relatando a respeito do índio. Assim, a partir do estudo foi possível entender a construção do
indígena enquanto um sujeito passível a ser civilizado, sendo essa civilização alcançada através
da catequese e conversão ao cristianismo. A importância da catequese como um caminho
para se alcançar a civilidade pôde ser percebida a partir de uma das falas do secretário da
RIHGB Cônego Januário da Cunha Barbosa, quando em um de seus programas publicados
enfatizou a necessidade da catequese ao apontar “sou de opinião que a catequese é o meio
mais eficaz, e talvez o único, de trazer os Índios da barbaridade de suas brenhas as cômodos
da sociabilidade” (1840, p. 3-4). Destarte cabe ponderar que assim, fora construída, a
representação indígena que a posteriori ficaria muito difundida, sendo a do índio enquanto
um sujeito bárbaro, mas passível de ser civilizado mediante principalmente pela conversão ao
cristianismo, que então romperia com o seu perfil de selvagem.

De los archivos de los pueblos de Yucatán a las colecciones de bibliotecas


nacionales e internacionales: itinerarios de los textos coloniales escritos en
lengua maya

Caroline Cunill

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La presente ponencia pretende explorar cómo, en la primera mitad del siglo XIX, surgió por
parte de varios intelectuales, tanto americanos como europeos, un agudo interés por los
documentos que escribieron los mayas de Yucatán en su propia lengua a lo largo del periodo
colonial. En esta perspectiva, también conviene analizar las categorías epistemológicas que
fueron aplicadas a este tipo de documentos y, en especial, la forma en que fueron
relacionados con los desarrollos que conoció la arqueología en el área maya en aquella época.
Finalmente, mostraremos que este interés originó un deliberado expolio de los documentos
que llevaban varios años resguardados en los archivos de los pueblos mayas de Yucatán y que,
a raíz de intrincados itinerarios, fueron a parar en las colecciones de bibliotecas nacionales e
internacionales. Examinar aquellos procesos permite, en buena medida, entender mejor
cómo, en el siglo XIX, se escribió la historia de los mayas de Yucatán.

A conquista do povo indígena xakriabá no norte de Minas Gerais: a terra dos


indígenas, do Sr. São João e da Princesa Santa Isabel

Suzana Alves Escobar e Ana Maria Rabelo Gomes

A presente proposta pretende retomar elementos das pesquisas realizadas junto ao povo
indígena xakriabá; a dissertação de mestrado defendida em 2004, junto ao Programa de Pós-
Graduação da FAE/UFU, intitulada “Educação indígena xakriabá: saberes e lutas na vida e na
voz do seu povo” e a pesquisa de doutorado, defendida em 2012 no programa de Pós-
Graduação da FAE/UFMG, cuja tese se intitula: Os projetos sociais do povo indígena xakriabá
e a participação dos sujeitos: entre o “desenho da mente”, a “tinta no papel” e a “mão na
massa”. Em ambas as pesquisas fez-se necessário uma discussão da história local, na qual se
estabelece o diálogo com as práticas educativas na pesquisa de mestrado e com as
circunstâncias de concepção, implantação e gestão dos projetos sociais na pesquisa de
doutorado. Tendo em vista a utilização da metodologia qualitativa com investigação narrativa
e a etnografia respectivamente no mestrado e doutorado, a proposta aqui é apresentar vozes
de sujeitos na discussão sobre o território conquistado, transmitindo um pouco do universo
xakriabá por meio das histórias vividas e narradas pelos sujeitos, processo que expõe o
envolvimento com a sociedade nacional, em especial a história do entorno da área
demarcada, na qual demonstra o desrespeito aos povos autóctones no Brasil. O processo de
colonização da região de Vale do Rio São Francisco, impôs ao povo xakriabá uma situação
desfavorável à autoafirmação da sua identidade étnica. Aí se iniciou o processo de contato e
perseguição que analisamos na história narrada pelos Xakriabá, que foi marcada pela
resistência. A luta pela terra se transformou em símbolo da luta pela identidade enquanto

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povo. O processo de contato do povo xakriabá com a sociedade nacional remonta aos tempos
coloniais com toda a problemática que isto significa, ou seja, eles são remanescentes e
sobreviventes de um modelo explorador e desrespeitoso da sua cultura. A memória coletiva,
misturando personagens históricos e religiosos que aparecem nas narrativas, demonstra a
relação com a Carta de Doação de 1728, primeiro documento escrito com o qual se depararam
os Xakriabá que, marcada pela doação, o início da terra representa o momento fundante da
história do grupo. Pode-se observar as narrativas tratadas como uma espécie de “mito de
origem” xakriabá com a presença da escrita. O documento cantado, rezado ou recitado revela
a consciência dos Xakriabá sobre sua trajetória histórica. O entrelaçamento das perspectivas:
os elementos da história oficial da colonização do sertão mineiro e a história narrada pelos
Xakriabá apontam para a necessidade de novos estudos de áreas que devem estabelecer
diálogos acadêmicos, considerando os indígenas como grupos relevantes para a compreensão
da realidade brasileira.

As marcas da colonização na américa latina: violência contra os povos nativos

Karolinne Krízia da Silva Ferreira

Esta comunicação tela visa tecer crítica a elementos históricos - a expropriação/apropriação,


violência e superexploração – que conectados demarcam o processo de formação sócio
histórica do continente latino-americano. Por via de consequência essas marcas provocam um
lastro de degradação humano social que permanece hodiernamente, mas que por outro lado,
são obliterados e anulados em decorrência de uma pluralidade de debates e textos orientados
por pressupostos de natureza evolucionista e etapista, transformando e justificando a
incorporação da América Latina em um processo natural à engrenagem do modo de produção
capitalista na Europa. De modo especial o texto busca capturar a relação acometida entre os
exploradores e os povos nativos, os quais ficaram a mercê de violentos processos de
massacres e desapropriação cultural em razão da avidez dos europeus em usurpar as riquezas
latino-americanas em usufruto da acumulação primitiva do capital na Europa. Esse é um dos
elementos históricos mistificado por relações amistosas e harmoniosas, que na realidade
inexistiram, e que tem impedido de compreender a condição subalterna que
contemporaneamente os índios ocupam em nossa sociedade. Nesse sentido, põem-se as
inquietações e desafios em investigar o continente latino-americano mediante a leitura
respaldada em determinações históricas e ontológicas para desvelar a naturalização das
relações de dominação que ao longo da história foram condicionando as marcas da
colonização na América Latina. Sendo este um texto de caráter teórico, os procedimentos para
a elaboração do artigo consistem na leitura e revisão imanente de clássicos e contemporâneos
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que perpassam a formação sócia histórica do continente e simultaneamente as múltiplas


determinações que constituem o objeto de estudo. O texto encontra-se redigido em duas
partes: a primeira direciona-se a recuperar as determinações mais gerais e essenciais dos
antecedentes e como se contextualiza o processo de colonização no continente; na segunda
parte trata-se das formas especificas de extermínio contra os povos indígenas, seja pela força
ou manipulação. Assim, o artigo tem como objetivo contribuir na desmistificação de lacunas
históricas sobre relações harmoniosas entre os colonos e nativos, inexistentes. Trazer à tona
a necessidade de discutir, investigar e denunciar sobre que condições os povos nativos foram
tratados durante e depois a chegada dos colonos, e a que custo à colonização de exploração
realizou-se na América Latina.

Glosas Croniquenses: El mundo andino en lenguas nativas y castellano

Lydia Fossa

Mi intención en esta ponencia es presentar el proyecto en construcción Glosas croniquenses:


el mundo andino en lenguas nativas y castellano en el marco de la celebración del Año
Internacional de las Lenguas Indígenas, 2019, auspiciado por la UNESCO. Este proyecto surge,
en 1994, de una rica veta de investigación basada en la teoría post-colonial que valida la
lectura crítica de los documentos coloniales tempranos sobre el Tawantinsuyu y en la
lingüística andina preocupada por la recuperación del acervo léxico-semántico de las lenguas
que le competen. Los glosarios que conforman este proyecto recogen tanto palabras
patrimoniales de las lenguas nativas andinas como sus explicaciones o equivalencias en
castellano, tal como aparecen en los textos tempranos escritos por españoles. La unidad de
estudio es el par bilingüe, sincrónico, del siglo XVI. El proyecto utiliza la programación en
computadoras para producir listados flexibles y abiertos que puedan ser continuamente
revisados por los editores. Los listados están a disposición de los interesados a través de la red
electrónica de información que facilita el acceso para su consulta y estudio. Otros
investigadores han desarrollado glosarios, generalmente al final de sus ediciones de textos
coloniales, pero han añadido explicaciones de hoy a las entradas antiguas en quechua o en
otras lenguas nativas. Con este desfase temporal distorsionan los significados sincrónicos, a la
vez que continúan diseminando interpretaciones sobre la vida en el Tawantinsuyu que son
diferentes de lo observado por los primeros europeos. Algunos lexicógrafos tienen como
objetivo registrar la primera vez que una palabra aparece manuscrita o impresa; otros se han
dedicado a identificar la etimología de las palabras seleccionadas sin discriminar por lenguas
(Cf. Baldinger 1989). Todos esos glosarios han sido elaborados a partir de la lengua castellana.
2 A las palabras nativas que aparecen en los textos en castellano se les identifica como
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americanismos y se les estudia como préstamos al castellano. En cambio, este proyecto trata
a esos americanismos como palabras patrimoniales de las lenguas nativas de América que han
pasado al discurso español por razones coyunturales. Los autores que las utilizaron creían que
con ellas explicaban mejor el territorio americano para sus lectores europeos, le añadían
exotismo a sus descripciones, eran las únicas que podían expresar el contenido que se quería
transmitir, entre otros motivos. Estos términos indígenas son parte medular de las lenguas
habladas en América al momento de la invasión española. Su estudio ofrece oportunidades
invalorables para la reconstrucción de numerosos aspectos culturales nativos que no han sido
bien comprendidos o han sido mal interpretados desde el tiempo de la invasión española.
Además, es preciso incorporar significantes y significados nativos al acervo lingüístico de cada
idioma o variedad idiomática. Las descripciones tempranas de los andinos y de los Andes
proporcionan una fuente de información única para el estudio de las expresiones narrativas
históricas sobre la civilización Inka. Estos textos se escriben entre 15 y 60 años después de la
desestructuración y destrucción de lo que se conocía como el “Imperio” de los Inkas. Este
desfase temporal obliga a los autores a recurrir a la memoria de los testigos y a la
transformación de esas memorias personales en textos historizados, organizados
cronológicamente. Estos textos han pasado por varios procesos en los que la intermediación
ha tenido un papel preponderante. Estos procesos van desde la traducción consecutiva de la
expresión oral de las “lenguas generales” al castellano también oral, al paso del registro
anudado en el khipu al registro escrito en el papel. Estamos presenciando aquí tanto procesos
de traducción como de transcodificación: la información cambia de lengua y de código al
quedar registrada. Cada uno de los pasos añade una dosis de interferencia al mensaje. A pesar
de todo ello, contienen información valiosa sobre los hechos culturales de civilizaciones
pasadas. Tienen que ser reconsiderados y reevaluados tomando en cuenta los márgenes de
distorsión que los procesos de intermediación generan para adaptarlos a la historiografía
europea. 3 Para ello contaremos con una serie de tantas bases de datos como textos se haya
estudiado, en un crecimiento continuo. En este momento tenemos quince autores registrados
y catalogados (Véase Tabla más abajo). Una administración permanente se encarga de
incorporar nuevos autores, nuevas entradas y actualizar las existentes para que los
investigadores las puedan utilizar. La disponibilidad de fuentes electrónicas para el
investigador aumentará significativamente con esta serie de bases de datos. La flexibilidad
que ofrece la nueva tecnología y la conceptualizacion de las humanidades digitales es idónea
para este tipo de información. Las bases de datos se pueden utilizar independientemente o
en conjunto, combinadas de acuerdo a las necesidades del investigador. La información se
puede obtener sobre un sólo término en todos los autores, en un sólo autor sobre una
selección de términos, y todas las combinaciones posibles. Los usuarios pueden adaptar las
bases de datos a sus requerimientos de investigación y preparar listados más cortos a través
de la selección de los datos para producir las fusiones y combinaciones que necesiten. Se
puede también imprimir los listados que se quiera desde la red. Esta serie de bases de datos
electrónicos es una herramienta imprescindible por la rapidez y la versatilidad con que registra

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y exhibe la información para el estudio de la historia cultural Inka y Pre-Inka, de las lenguas
andinas y castellana del siglo XVI, así como las ideas vigentes en esa fase de la presencia
española en los Andes. También es una contribución a la ampliación y profundización de los
recursos idiomáticos de las lenguas nativas y del consecuente enriquecimiento de sus
patrimonios lingüísticos. Desarrollar un archivo no es fácil y eso lo hace fascinante. Se necesita
de orden, perseverancia y habilidad para trabajar tanto en solitario como en grupo. Los grupos
interdisciplinarios son riquísimos en ideas, en darlas y en ampliarlas. Además, está el
sentimiento de que se está trabajando para ayudar a los demás, sean investigadores o no, en
sus búsquedas y en contribuir con sus proyectos. En esta época, la aplicación de la tecnología
electrónica a las humanidades está haciendo que éstas lleguen a nuevos niveles y cumplan
con objetivos impensables un tiempo atrás. Este proyecto reúne todo esto y más

Valores e memórias em documentos sobre índios Tapuia Paicu do RN ao


longo de cinco séculos (de 1680 a 2018)

Maria Mônica de Freitas

Gilton Sampaio de Souza

Gilton Sampaio de Souza

Diante da existência de vários documentos disponíveis sobre os índios Tapuia Paiacu do Rio
Grande do Norte, em especial de sua existência e resistência na região que fora denominada
na época da colonização de Ribeira do Apodi, este trabalho tem como objetivo analisar valores
e memórias em documentos sobre a etnia Tapuia Paiacu existentes ao longo de cinco séculos,
ou seja, de 1680 até 2018. O corpus de análise é formado por cartas e outros documentos
oficiais enviados por padres, comandantes, capitães mor da Coroa Portuguesa desde o
Período Colonial, passando pelo Imperial até chegar ao contexto atual, já que existem projetos
de resgate, reelaboração e reconstrução da história e da cultura das etnias indígenas do Rio
Grande do Norte, entre as quais está a Tapuia Paiacu. A análise dos documentos se
fundamenta na teoria da Argumentação em Nova Retórica, apresentada por Perelman e
Olbrechts-Tyteca no Tratado da Argumentação (2005) e seus seguidores, como Reboul (2004),
Abreu (2009), dentre outros. Portanto, é um trabalho que se pauta na metodologia de Análise
do Discurso, para poder reconstruir dados da história e da memória do povo Tapuia Paiacu.
Ao detectar os valores e as memórias nesses documentos tivemos a oportunidade de perceber
as trajetórias dos indígenas que foram a base de formação de parte do povo do estado do Rio
Grande do Norte, como esses índios foram silenciados e como os registros documentais
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guardam aspectos importantes das suas memórias, histórias e valores que fazem resistir a
identidade até o século XXI.

Os Charruas na fronteira Brasil Uruguay e a resistência através do tempo: luta


e invisibilidade

Carlos Alberto Xavier Garcia


Maria Luiza Garcez de Souza
Néstor Bohdan
Glécio dos Santos Rodrigues

O presente trabalho tem por objetivo desenvolver um estudo histórico da resistência Charrua
no território de fronteira Brasil – Uruguay ao longo do tempo que vai do século XIX ao XXI.
Observamos através de fontes escritas, documentos e referências historiográficas e
antropológicas a existência de um povo ameríndio (originário) da região e que ficou conhecido
como Charrua. Também aborda que a partir do séc. XIX, com o período de formação dos
Estados Nacionais, processos de colonização e dizimação dos povos originários por políticas
de governo, culminou nas relações atuais em que encontramos os povos indígenas lutando
sobremaneira para sobreviverem em meio ao espaço que tem sido conquistado muito
sofridamente para garantir a sua existência ao longo do tempo. Os registros encontrados dão
conta de que os Charruas são um povo combativo e de resistência. Rompem-se paradigmas.
Esse povo indígena foi brutalmente marcado por genocídio no período colonial e por etnocídio
no período republicano, além disso, não devemos esquecer da resistência dos povos indígenas
nos períodos sombrios de governos de exceção. Porém, mesmo com sua extrema importância,
esse povo foi praticamente apagado da história dos três países onde eram alocados:
Argentina, Brasil e Uruguai. O Uruguay os declarou extintos embora ocorresse sobreviventes
após Batalha Yacaré Cururú. As problemáticas que nesta pesquisa levantamos, enquanto
agentes sociais é “por que esse povo foi apagado dos processos históricos?”; “Por que em
meio acadêmico e em museus os povos originários são tão exaltados e no dia a dia são
invisíbilizados?” “Qual foi a trajetória de resistência desse povo até o início do século XXI com
a descendência de Polidoro?”. Quem são os Charrúas hoje em Brasil e Ururguai? Apesar de
toda sua luta e resistência ainda são discriminados por uma sociedade cujascaracterísticas
burguesa, racista, machista e sexista os condena a viver à margem. A política de extermínio é
atual, pois se resume em matar de frio e fome todos aqueles que não se encaixam ou não
aceitam os padrões da sociedade branca.

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Acervo histórico e pesquisas científicas sobre povos indígenas brasileiros:


estudo de caso do Centro de Documentação Indígena (CDI) do Instituto
Religioso Missionários da Consolata, Roraima, Brasil

Elionete de Castro Garzoni


Esther Tello Ferrer
Marcos Maciel Lima Cunha

Durante muitos anos a preservação da memória no Brasil permaneceu restrita aos


monumentos nacionais. Apenas com a promulgação da Constituição de 1946 o patrimônio
documental foi inserido no escopo de preservação (MOREIRA, 1990). Os primeiros centros de
documentação, entretanto, surgiram apenas na década de 1970, a partir de um “[...] despertar
da consciência nacional [...] para a importância da preservação de documentos, públicos e
privados, como parte que são do patrimônio documental da nação [...]” (MOREIRA, 1990, p.
66). O Centro de Documentação Indígena (CDI) vinculado ao Instituto Religioso Missionários
da Consolata, em Boa Vista, Roraima, Brasil, consiste em espaço que agrega acervo histórico,
biblioteca e acervo iconográfico sobre os povos indígenas brasileiros, em especial os povos
indígenas da Amazônia, com destaque aos povos de Roraima. Dirigido pelo Missionário Carlo
Zacquini, que dedica sua vida à causa indígena desde a década de 1960, o CDI conta com
documentos escritos do trabalho com estes povos, audiovisuais, jornais e revistas, fotos,
livros, mapas, desenhos, utensílios e artesanatos indígenas. Em funcionamento desde 2012, o
CDI configura espaço de interação e consulta para pesquisadores de diferentes perfis e graus
de formação há seis anos. Para Mello (2014, p. 81) à medida que indigenismo e arquivologia
se aproximam, é possível verificar quão relevantes são esses arquivos “[...] para a construção
identitária de povos indígenas, como também para outras demandas outrora já citadas, como
as contendas judiciais”. O presente artigo busca apresentar o cenário atual das atividades do
CDI e suas contribuições, almejando apontar um perfil de seus usuários e os caminhos que os
levam ao CDI, bem como dados sobre os incentivadores e doadores de acervos, os quais
compõem quatro fundos ou coleções: Fundo Cláudia Andujar, Fundo Leda Martins, Fundo
Missionários da Consolata e Fundo Diocese de Roraima. Para tanto, foi utilizada a Pesquisa
Documental, a partir do livro de registro dos visitantes e pesquisadores, bem como entrevista
com o Diretor do CDI, uma vez que parte das consultas, especialmente as provenientes de
outros países, é efetuada por correio eletrônico diretamente com o Sr. Carlo Zacquini. A partir
da coleta de dados primários, buscou-se definir: perfil dos usuários, modalidade de produção
acadêmica, temática de pesquisa e produto final (trabalho de conclusão de curso, dissertação
de mestrado, tese de doutorado, artigo científico, entre outros). Foi possível verificar que o
CDI exerce importante papel como acervo documental tanto para pesquisadores regionais

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(Roraima e Amazônia) como também nacionais e internacionais, contribuindo tanto em


pesquisas científicas como na elaboração de documentários e textos de cunho jornalístico.

Registros de población coloniales: representación, interculturalidad y


patrimônio

Xochitl Inostroza

Los registros de tributarios del cacicazgo de Codpa y doctrina de Belén publicados por el
historiador Jorge Hidalgo (Revista de 1750: Hidalgo 1978; Padrón de 1813: Hidalgo et. al. 1988;
Revisita de 1772/73: Hidalgo et. al. 2004) muestran una importante congruencia con los
registros parroquiales de la Parroquia de Belén (1763-1820), compuestos por libros de
bautizos, matrimonios y defunciones, que además coinciden en temporalidad. Dicha
coherencia permite discutir la momificada visión de los registros censales únicamente como
reflectores de un orden social colonial impuesto y proponer que estos documentos de carácter
censal, así como los documentos de origen eclesiástico (al menos los de esta localidad en
particular) muestran una evidente valoración del registro como fuente de prestigio, seguridad
social e identidad, que los transforman en documentos relacionales e interculturales. Además,
algunos aspectos que contienen los mismos registros, así como la inscripción de los nombres
de los habitantes de los pueblos, dotan a estos archivos de gran significación patrimonial.

Imágenes como resguardo de la memoria, de la historia. Los Pueblos


Originarios de Pampa Patagonia en archivo

Sonia Liliana Ivanoff e Verónica Silvia Peralta

El trabajo intenta plantear las relaciones construidas entre la historia de los Pueblos
Originarios de Pampa Patagonia: la Nación Mapuche Tehuelche, con la materialidad
archivística. Identificando relatos y una epistemología basada en lógicas de archivo, las que
cumplieron una determinada finalidad por parte de quienes la construyeron: objetivos
didácticos-pedagógicos. A partir de los archivos analizados para la presente ponencia, se
piensa la construcción de la historia indígena y la recuperación de esta en las instituciones
educativas, estos dispositivos de archivación son prueba y resguardo de la memoria, los que
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contribuyeron a fortalecer miradas sesgadas, justificar el despojo territorial y discriminar por


origen étnico. En el caso de las imágenes que perduraron en el tiempo, son prueba fehaciente
de los episodios traumáticos que vivieron y viven los Pueblos originarios de Pampa Patagonia.
El análisis fotográfico y las pinturas clásicas reflejan la memoria del trauma, son distintas
metodologías para el tratamiento de la temática que abarca desde la ‘mal llamada conquista
del desierto’ -1878/85-, la última dictadura militar -1976/83- y hacia el presente con la lucha
en imágenes de la represión y asesinatos sufridos durante los últimos años en la recuperación
de los territorios ancestrales. Son en esas imágenes donde se ancló la memoria y las que darán
cuenta de aquel pasado, allí memoria e historia se entrelazan como prueba fundamental
contra el olvido. Sobre el papel y el lienzo se materializa la pedagogía de la memoria, la
herencia cultural, la protección del pasado, es retazo del genocidio indígena, del que no
podemos ni debemos de olvidar. Repensar el archivos significa revisar una y otra vez las
fotografías e imágenes pretéritas y actuales, las finalidades pedagógicas y la justificación que
le han impreso quienes las crearon/coleccionaron/distribuyeron. Dejando claro que
documentar la cultura, manosean la escala, recopilar, intercambiar y ordenar fotografías,
pinturas y dibujos de sujetos, operó en paralelo al genocidio racial y al despojo territorial:
cuestión de impugnación ética.

El arte rupestre histórico como soporte de memoria y fuente documental


para el estudio del pasado prehispánico y colonial de los pueblos indígenas
del Norte grande de Chile

Bosco Gonzalez Jimenez

Al interior del campo de la Etnohistoria y la Antropología, se ha venido discutiendo la relación


problemática entre el conocimiento del pasado prehispánico y colonial con los insumos
documentales que permiten la producción y validación de sí mismo. Este debate -que sin lugar
a duda es de larga data, y en la actualidad no ha devenido en una síntesis epistemológica y
metodológica al interior del campo de la etnohistoria- plantea la necesidad de incorporar
fuentes de información de nuevo orden, que complementen el conocimiento existente sobre
el pasado prehispánico y colonial de las sociedades indígenas, la cual tiene una relevancia no
solo metodológica y epistemológica, sino que también política. El acto de diversificar las
fuentes para producir saberes sobre las sociedades coloniales, donde la producción e
interpretación de la escritura fue difundida (Goody, 1968) permite que discursos
invisibilizados hasta el momento se pongan en evidencia y, por lo tanto, contribuye a la
democratización de los procesos de producción de este. Dicho de otro modo, si se introducen
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nuevas fuentes -como es el caso de las visuales, las táctiles y otras (Martínez, Díaz, Tocornal,
& Arévalo, 2014) - el campo de posibilidades de producción del conocimiento se diversifica y
democratiza. Catherine Julien (2000) señalo que la escritura deja fuera de sí una porción
significativa de la subjetividad indígena, del mismo modo en que Walter Mignolo (2003) ha
planteado la necesidad de incorporar un paradigma otro frente a un conocimiento
convencional sustentado en productos (fuentes escriturales) de procesos de traducción de la
subjetividad indígena (escritura), lo que sin lugar a dudas ha implicado una traducción cultural
propia deuna gramática hegemónica, la cual existe en cuanto hay un paradigma indígena
silenciado y negado. En este sentido, es importante convocar lo planteado por Salomón (2013)
quien alude a determinadas incompatibilidades para que el discurso dominante pueda exhibir
de forma íntegra los rasgos culturales de los pueblos indígenas. Más precisamente el autor
señala que: “...La investigación etnohistórica, es decir, el estudio de los pueblos inhabilitados
para expresar su cultura mediante el discurso dominante, asume un carácter de investigación
epistemológicamente audaz: una excursión a lo indecible. El recurso crucial es ese importante
casi que resulta de las imperfecciones en el despliegue del poder colonial. Por ser imperfecto
el dominio discursivo, lo que no se puede "leer" directamente, se lee indirectamente
examinando silencios, discrepancias, fragmentos y malentendidos...” (Salomon, 2013, pág.
517) Así, un conocimiento etnohistórico que asume como únicas las fuentes escriturales, nos
remite a una economía política de la enunciación (Foucault, 2002) fundamentada en una
administración institucional de las condiciones de visibilidad, nunciabilidad y audibilidad
(Foucault, 1992) de la subjetividad; esto constituye, sin lugar a duda, relaciones de
intercambio asimétricas en la producción de los enunciados. Al estar la escritura en una
posición hegemónica en el proceso de producción de conocimiento de sociedades basadas en
sistemas de comunicación multisensoriales (Martínez, Díaz, Tocornal, & Arévalo, 2014), se
presenta un dilema, dado que esta es una fuente de información y a la vez, un obstáculo
epistemológico, que plantea la imposibilidad de acceder a un nuevo conocimiento acerca del
objeto estudiado, a causa de la insistencia y circularidad existente sobre una misma fuente
(Bachelard, 1988)2 (Bourdieu, 2002). En este sentido, y en el caso específico de la antropología
y la etnohistoria andina, José Luis Martínez (2009) ha señalado que las fuentes escriturales
determinan los límites de nuestro conocimiento de la realidad estudiada, debido a la ausencia
de la palabra del indígena en ella, lo cual –según el autor, y siguiendo a Boccara- debe
constituir una necesidad ética para “...la antropología y la etnohistoria [en tanto] posibiliten
que sean los propios dominados los que hablen de sí mismos...” (Martínez, 2013, pág. 554).
Considerando lo expuesto, es importante señalar que esta problematización no solo posee
una motivación y sustento argumental de naturaleza teórica/epistemológica. Existen
investigaciones empíricas, orientadas por la necesidad de incluir fuentes no escriturales al
campo del conocimiento de la etnohistoria y la antropología que se basan en soportes y
fuentes visuales como Queros, Quipus, Arte rupestre y otros. Conservando una similar
preocupación por las fuentes de orden visual, Thierry Saignes en sus trabajos sobre la frontera
guaraní-andina (1990) (2007) y la construcción de su propuesta sobre los bloques geo-étnicos

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(1986), ha planteado la necesidad de no restringirse a las fuentes escritas, ya que estas limitan
el campo de acción y de desenvolvimiento de la etnohistoria. Ideas similares platearía John V.
Murra (1975) tiempo atrás, quien en el afán de enriquecer la etnohistoria andina e incorporar
etnocategorías al proceso de conocimiento etnohistórico, propuso al quipu como un sistema
de comunicación social de los indígenas en tiempos prehispánicos coloniales.3 Por otro lado,
Frank Salomon (1994) (1997) (2005) (2006) (2013) ha contribuido en este debate desde el
análisis de los quipus de Tupicocha, desde su dimensión arqueológica y etnográfica, en la
sierra peruana.4 A decir de lo anterior, los sistemas visuales y táctiles de contabilidad
(contable y narrativa) y tablas de contar se han constituido para autores como Gary Urton
(1997) (2003) (2005), por ejemplo, en un medio a través del cual es posible descifrar
etnocategorías y sistemas de pensamiento de la sociedad indígena para el periodo
prehispánico y los primeros años de la conquista. Dicho autor señalaría que la información
social contenida en Quipus y Tablas de contar, al ser traducidas y transferidas a los textos
escritos, perderían legitimidad, trasladando ésta a los mismos documentos, reorganizados por
la lógica de la escritura (Urton, 2012). Existen investigaciones que permiten pesquisar el
carácter etnográfico de Quipus y tablas de contar -tal como lo exhibe el propio F. Salomon
(2005) en Tupicocha-, los cuales son posibles de pesquisar por medio de la bibliografía en Perú
(Mackey, 1970) (Núñez del Prado, 1950) (Soto Flores, 1950) (Ruiz Estrada, Los Quipus de
Rapaz, 1982) (Ruiz Estrada, 1998) (Shady, Narváez, & López, 2000), en Bolivia (Uhle, 1897)
(Párraga Chirveches, 1992), y también en Ecuador (Holm, 1968). En un sentido similar al
planteado para el caso de los Quipus, tablas de contar, queros y otros sistemas de
comunicación prehispánicos -que continuaron funcionando durante la colonia, la república y
hasta la actualidad, en algunos casos-, autores como Martínez & Arenas (2015) (2011) (2009)
(2007), Arenas, González & Martínez (2018), Marco Arenas (2013) (2007), Bosco González
(2014) y (2018) y Arenas & Odone (2016), han presentado antecedentes empíricos y
aproximaciones teóricas e interpretativas referidas al arte rupestre colonial y republicano,
planteando la posibilidad de que este viejo sistema de comunicación pueda ser una fuente
para el estudio de las sociedades andinas durante la colonia.5 Se propone exponer
sistemáticamente formas de continuidad de este viejo sistema de comunicación visual (arte
rupestre) en espacios micro regionales /locales, como es el caso de Tarapacá, Arica y Atacama,
sus unidades político-administrativas internas y de igual manera exhibir relaciones entre las
evidencias rupestres coloniales y la literatura etnohistórica referida a las áreas de estudio
señaladas, pudiendo generar elementos concluyentes entre soportes documentales disimiles,
comparando evidencias visuales y antecedentes escriturales referidos a sectores
diferenciados pero próximos, como los corregimientos de Arica, Tarapaca y Atacama. Esto
permite no solo mostrar un conjunto de evidencias no expuestas sistemáticamente con
anterioridad referidas a evidencias no consideradas en las investigaciones arqueológicas,
como lo es el arte rupestre colonial y republicano, lo cual permite contribuir a nuevas
preguntas de investigación de orden epistemológicas como metodologías, logrando identificar
posibles complementariedades y problematizaciones mutuas al momento de comparar

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fuentes visuales y escritas para comprender el periodo colonial de los Corregimientos de Arica,
Tarapacá y Atacama. Finalmente, es importante señalar, a modo de síntesis general que el
estudio sistemático del arte rupestre colonial y su comparación con las fuentes escritas, de lo
que fueron los antiguos corregimientos señalados (Siglo XVI al XVII), permite acceder a nueva
información sobre los indígenas de las unidades administrativas coloniales señaladas y a su
vez, complementar el conocimiento etnohistórico existente hasta el día de hoy sobre las
agencias indígenas en el área de estudio. De la misma manera, el estudio de esta fuente (Arte
rupestre colonial) permite establecer en qué sectores existieron condiciones políticas más
flexibles para la producción y circulación de la palabra indígena.

"Por ser a mais guerreyra que há, e tão vallente que morrem com as armas na
mão sem se entregar a prizão senão quazi mortos": registros de Resistências
Indígenas na Bahia do século XVIII

Libania da Silva Santos e Savio Queiroz Lima

Este trabalho aborda pontualmente eventos de resistência das populações nativas brasileiras
às ocupações e incursões portuguesas no período colonial. São retratadas as guerras impostas
pela coroa portuguesa aos ameríndios das nações que viviam nas cercanias da Bahia,
enfatizando suas combativas resistências registradas na documentação eleita. As fontes
primordiais da pesquisa são as correspondências trocadas entre administradores coloniais no
acervo de cartas régias custodiado pela Seção Colonial do Arquivo Público do Estado da Bahia.
Os registros contidos nesta documentação, apesar de se constituirem em discursos proferidos
sob o viés dos colonizadores sobre os "gentios bárbaros", permitem a percepção com
minuciosos detalhes do quão renitentes foram as defesas dos "guerreiros e valentes" de
diversas nações indígenas às múltiplas tentativas de dominações, submissões culturais, e
apropriação territorial. Os manuscritos figuram neste estudo como instrumentos
contributivos para a elaboração de novas narrativas históricas que apresentem o
protagonismo dos povos nativos e a desconstrução do imaginário persistente de inércia e
incapacidade destes diante do processo colonizador.

Estudo comparativo da formação e resistência dos aldeamentos indígenas no


Brasil e dos povoados originários nos Andes Meridionais (séculos XVIII e XIX)

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Marcio Marchioro

A proposta de comunicação de pesquisa buscar comparar a formação e persistência de


povoados indígenas nos Andes meridionais, sobretudo, Chile e Argentina com a formação e
resistência dos aldeados no Brasil colonial e imperial. O objetivo principal é refletir de que
forma elementos como a terra, a etnicidade e a cultura agiram no sentido de manterem essas
comunidades agregadas, mesmo apesar de um fluxo populacional intenso. Para isso,
utilizaremos materiais de arquivos, sobretudo no caso brasileiro, analisando de que forma os
índios agiam no sentido de utilizarem seus direitos garantidos pela legislação espanhola e
portuguesa para manterem seus territórios originários ou os lugares em que forma aldeados.
Além disso, para tecer comparações mais profundas, utilizaremos bibliografia a respeito do
assunto produzida na Argentina, Chile e Brasil. O campo historiográfico denominado de
História indígena será crucial no entendimento mais abalizado sobre o protagonismo
indígenas na escolhas feitas em relação a continuidade secular desses povos.

A educação como ferramenta de conquista e dominação dos autóctones do


Brasil

Elisangela Castedo Maria do Nascimento

Heitor de Queiroz Medeiros

Em primeiro momento o principal objetivo de Portugal sobre o Brasil era de exploração com
objetivo de garantir seus lucros. Somente trinta anos depois da invasão o Governo de Portugal
iniciou a colonização usando de mão-de-obra escrava indígena para cultivar cana-de açúcar
em larga escala. Como os indígenas não aceitavam trabalhar para os colonos houve a
necessidade de “domá-los” para exercer o trabalho na lavoura e em outros setores. Para
“domá-los”, perceberam a necessidade de descaracterizar, destruir suas crenças e deuses por
meio da cristianização e assim em 1549, o primeiro grupo de jesuítas chegou ao Brasil. Esse
artigo é uma revisão bibliográfica com o objetivo mostrar o quanto a vida militar de Inácio de
Loyola, antes de sua conversão ao cristianismo, inspirou a organização da Companhia de Jesus
e como ela impactou a Educação Escolar Indígena no Brasil. No decorrer do artigo
mostraremos como se deu o desenvolvimento da Educação Escolar Indígena e os efeitos disso
hoje na vida das etnias sobreviventes.

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La relevancia de la Biblioteca Bancroft y el fondo Special Collections de la


Universidad de Chicago para el abordaje de la historia de los pueblos
indígenas de Michoacán, México

Lorena Ojeda

El propósito de esta ponencia es compartir algunas reflexiones sobre el proceso de


investigación que he llevado a cabo en dos archivos de universidades estadounidenses: el
fondo Special Collections de la Universidad de Chicago, así como los archivos de la biblioteca
Bancroft de la Universidad de California en Berkeley. Fundamentalmente hablaré del
contenido de las colecciones de Paul Friedrich, así como de George Foster en dichos
repositorios, haciendo hincapié en las posibilidades de investigación que surgen a partir de las
mismas, sobre todo en cuanto a la problematización de diversos aspectos relativos a la historia
de los pueblos indígenas del área purépecha de Michoacán, México. Asimismo, haré un
recuento general de la relevancia de estos dos autores a nivel internacional y mencionaré la
importancia que conlleva la consulta, el análisis y la sistematización de la información
recabada en archivos de otros países, no sólo en el propio, así como de abrir su investigación
al diálogo con otras disciplinas, en este caso en específico, con la antropología sociocultural.

Martín Chambi y su mirada a los mapuche

Teresa Vergara Ormeño e Xochitl Inostroza

El objetivo de esta ponencia es presentar un proyecto que estamos iniciando, que busca
estudiar la respuesta de un miembro de la población indígena peruana que a inicios del siglo
XX, en un periodo de la historia del Perú conocido la República Aristocrática (1899-1919)
debido a la mentalidad señorial de las elites oligárquicas costeñas que detentaban el poder
político, consiguió dedicarse a la fotografía y convertir su estudio fotográfico en un centro de
reunión de los principales intelectuales peruanos y extranjeros que llegaban al Cuzco. Martín
Chambi nació en Coaza, Puno en 1891 en una familia indígena pobre, quechua hablante
dedicada al pastoreo. El aprendizaje de la fotografía lo hizo de manera fortuita al acompañar
a su padre a trabajar en las minas de Carabaya, donde conoció a un fotógrafo que le enseñó
los rudimentos de la fotografía y le regaló su primera máquina fotográfica. Para poder
dedicarse a la fotografía, en 1908 viajó a la ciudad de Arequipa donde ingresó al estudio de
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Max T. Vargas como aprendiz, es decir que trabajaba como sirviente doméstico a cambio de
la enseñanza del oficio. En 1917, después de varios años de trabajo con Vargas decidió abrir
su propio estudio en la ciudad de Sicuani. En 1923, trasladó su estudio fotográfico a la ciudad
del Cuzco, capital de la región. En poco tiempo, el estudio fotográfico de Chambi alcanzó
reconocimiento, buscando ser fotografiados miembros de la elite de la ciudad del Cuzco y de
otras ciudades del sur del Perú. Pero Chambi no solo estudo interesado en convertir su estudio
en el lugar favorito de las elites locales sino en crear un espacio a donde acudiesen campesinos
indígenas, quechua hablantes y de escasos recursos para fotografiarlos, llevado por un interés
más bien etnológico. Los trabajos fotográficos de Chambi, tanto los realizados en su estudio
como en las comunidades campesinas de la sierra sur que visitaba con frecuencia, muestran
que tenía una agenda política y social cuyo objetivo era reivindicar la situación del indio. A
través de su fotografía y de su propia historia cuestionó los discursos vigentes que subrayaban
la condición de inferioridad racial y cultural de la población indígena peruana. Es en este
contexto, y teniendo en cuenta su proyecto de reivindicación de la población indígena, que
aprovecha un viaje que hace a Chile por encargo del gobierno peruano, para visitar y
fotografiar a las comunidades mapuches. Estas fotografías han sido escasamente estudiadas
pero representan un material muy importante para entender, desde la visión de un indio
culturalmente mestizo, cómo eran vistos los indios y la importancia que consideró tenía
ejercer su defensa más allá de las fronteras nacionales utilizando como herramienta la
fotografía. Una de la hipótesis de esta investigación es que Chambi emprendió el viaje como
parte del estudio etnológico que se encontraba realizando y que le permitiría demostrar que
los discursos que afirmaban la inferioridad del indio se basaban en el desconocimiento de la
forma de vida de las poblaciones indígenas americanas. ¿Por qué Chambi decidió convertir a
los mapuches en los protagonistas de su estudio en lugar de estudiar a otras poblaciones
indígenas peruanas con características culturales similares? ¿Qué información tenía sobre los
indios de la Araucanía en 1936, año en que realiza el viaje? El análisis de las fotografías debe
permitirnos responder estas preguntas y probablemente al comparar con el material existente
para las poblaciones indígenas de la serranía del sur del Perú plantear nuevas interrogantes.

Mujeres andinas y reproducción de labores domésticas en centros de madres


en los pueblos del interior de Arica, a mediados del siglo XX

Shirley Samit Oroz e Cristhian Cerna

Se analizan aspectos del rol de las mujeres andinas en los centros de madres de los pueblos
del interior de Arica, período 1960-1970, con objeto de problematizar la definición de roles de
género en los formatos participativos provistos por el Estado y apropiados como espacios
comunitarios por las colectividades locales. Para este objeto, se procedió a analizar las
discursividades que se presentan en fuentes periodísticas de Arica de mediados del siglo XX A
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propósito, como resultados se tiene que el rol de las mujeres fue creciente, a partir no solo de
su participación, sino que además por su inserción en cargos dirigenciales y capacidad agencial
al interior de los mismos.

Arquivos e acervos etnográficos Xetá: uma biografia institucional

Lilianny Rodriguez Barreto dos Passos

Documentos institucionais, desenhos, aquarelas, pinturas a óleo, anotações, cadernetas de


campo, gravações de áudio, artefatos, fotografias e filmes foram produzidos e coletados pelo
Departamento de Antropologia (DEAN) da Universidade do Paraná, durante expedições
científicas realizadas na Serra de Dourados – região noroeste do estado do Paraná, entre os
anos de 1955 e 1961, durante o processo de contato com o povo Xetá. Na ocasião, as
expedições, arquivos e coleções permitiram ao DEAN se consolidar, nacional e
internacionalmente, como espaço produtor de ciência e pesquisa antropológica. Como parte
da memória e da história indígena, do DEAN, bem como do Museu de Arqueologia e Etnologia
de Universidade Federal do Paraná e do Museu Paranaense, que atualmente os abrigam,
observa-se que os arquivos e coleções mobilizam relações, discursos e ações com o povo Xetá
e entre as diferentes instituições – sobretudo na contemporaneidade. Dessa forma, este
trabalho tem como objetivo debater o lugar que os arquivos e coleções ocupam na produção
de discursos, epistemologias, teorias e metodologias produzidas sobre a história e memória
do povo Xetá, e que permite as instituições se reafirmarem no lugar de produtores de ciência
e pesquisa antropológica em diferentes temporalidades.

Os Xavante e sua historia pelos olhares de Bartolomeu Giaccaria e Adalberto


Heide

Luilton Sebastiao Lebre Pouso da Silva

O objetivo principal desta comunicação é analisar como os olhares de Bartolomeu Giaccaria e


Adalberto Heide contribuíram para a escrita da história Xavante até então narrada por meio
da tradição oral baseada em mitos, contos e sonhos que compõem a memória coletiva
daquele povo. Ademais, demonstrar importância do trabalho dos autores na elaboração de
fontes documentais compostas por relatos orais transcritos, fotografias, vídeos, genealogias
e croquis que tratavam da distribuição sócio espacial, ilustrações de próprio punho dos

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Xavante que apresentam cosmologias, a organização social e as experiências históricas vividas


por eles. Para atingir esse objetivo foi preciso analisar as três principais obras escritas de
Giaccaria e Heide: “Xavante (Auwẽ Uptabi: Povo Autêntico)” (1972), “Jeronimo Xavante
Conta” (1975a) e “Jeronimo Xavante Sonha” (1975b); evidenciando como essas obras e o
corpus documental construído pelos autores foi lido e usado por estudiosos, sobretudo
antropólogos, pesquisadores de diferentes áreas que se propuseram a analisar os diversos
aspectos da história vivida e da organização social dos Xavante. Toda essa problemática
relacionada à obra dos autores foi analisada sem desconsiderar a visão de mundo e o lugar
social dos autores enquanto missionários salesianos de origem europeia.

Reflexiones metodológicas sobre el trabajo con registros audiovisuales y


soportes virtuales en las formas de representación y movilización étnica

Alejandra Ramos

Partiendo de nuestra formación como antropólogas y de nuestra experiencia de trabajo en el


campo de la Antropología Histórica, en la que hemos recurrido al análisis de documentos
escritos, en este trabajo recuperamos las discusiones de los últimos años respecto a la
incorporación de soportes virtuales a la investigación etnográfica. Nos preguntamos qué
herramientas teórico-metodológicas del trabajo de campo y de archivo son aplicables a estos
nuevos repositorios y cuáles sus desafíos específicos. Dado que en los soportes virtuales se
entrelazan registros, el escrito con el iconográfico y el audiovisual, esta confluencia se vuelve
en sí misma una dimensión de análisis. En esta ocasión nuestras reflexiones están orientadas
hacia las formas de representación y movilización étnica en Jujuy (Argentina), considerando la
apropiación de Internet como forma de intervención política que trasciende la escena local.
En esa dirección, exploramos la utilización de recursos digitales para la protesta social y la
manera en que se emplea el lenguaje audiovisual. Nos interesa indagar en los desafíos
metodológicos que implica 1) trabajar con el material digital en tanto registro que desafía
muchos de los criterios que estructuran nuestros prácticas de investigación con documentos
tradicionales y 2) con la Web como un repositorio vasto y abierto que nos pone de cara a la
necesidad de repensar las formas de clasificar y conservar el material que documenta la
Historia indígena contemporánea.

Histórias ameríndias em microfilmes: o acervo do Serviço de Proteção aos


Índios entre discursos, silêncios e r-existências na Amazônia (1910-1967)
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Benedito Emílio da Silva Ribeiro


Maria Roseane Corrêa Pinto Lima
Vanderlúcia da Silva Ponte

A pesquisa analisa a documentação microfilmada que compõe o acervo do Serviço de


Proteção aos Índios (SPI), depositado no Museu do Índio/Fundação Nacional do Índio,
enfatizando aquela referente à 2a Inspetoria Regional, que tinha jurisdição sobre os atuais
estados do Pará, Amapá e Maranhão. Objetiva-se evidenciar as agências indígenas, sobretudo
na Amazônia, ao longo do século XX, estabelecendo uma reflexão sobre a importância deste
arquivo na tessitura do campo de estudos da História Indígena no Brasil e sua importância
para a construção de outra(s) memória(s) sobre os povos indígenas, encarando-os como
sujeitos históricos. A metodologia utilizada pautou-se na análise histórico-documental,
embasada pelas colocações de Carlos Barcellar (2015) e Carlo Ginzburg (1991), e nos recursos
da etno-história enquanto aparato metodológico (CAVALCANTE, 2011), norteada pela
perspectiva teórica da crítica decolonial. A partir deste referencial, foi possível compreender
e problematizar o vasto e distinto corpus documental – entre telegramas, relatórios, ofícios,
memorandos, arquivos imagéticos, etc. – produzido durante os 57 anos de existência do
órgão, o qual revela o cotidiano das relações estabelecidas entre o Estado brasileiro, a
sociedade nacional envolvente e as populações ameríndias. Criado em 1910 e extinto em
1967, o SPI foi o primeiro órgão estatizado responsável por aplicar as diretrizes da política
indigenista republicana entre os grupos indígenas existente em território nacional, exercendo
sobre eles um controle tutelar (LIMA, 1995). Para além dos discursos oficiais, com seus olhares
enviesados pela subjetividade dos agentes estatais, estas fontes possibilitam observar as
múltiplas dinâmicas que foram construídas entre os diferentes grupos indígenas a partir do
contato com o Outro, que desqualificava seus saberes e sua cultura. Essas vozes indígenas
irrompem do silêncio e trazem à tona os meandros de conflitos, interdições, negociações e r-
existências dos diferentes povos indígenas no século XX. Além disso, como exemplifica
Rodrigo Piquet Saboia de Mello (2014), este arquivo possui um papel social relevante na
efetivação da política indigenista pós-Constituição de 1988, especialmente no que tange à
discussão jurídica de títulos fundiários, à demarcação e regulamentação de territórios e
aspectos culturais de grupos indígenas considerados como “aculturados” ou “desaparecidos”
e que reivindicam atualmente suas identidades étnicas. Portanto, o acervo do SPI permite-nos
(re)compor o mosaico indígena das décadas anteriores à 1970, inferindo sobre uma
conjuntura histórica específica cujos registros podem ser confrontados, e até mesmo
preenchidos, pela memória coletiva e/ou individual dos indígenas que vivenciaram e
protagonizaram aquele período.

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Narrativas indígenas em três contextos históricos: termos de inquirição


(1968), discursos na constituinte (1987) e depoimentos na comissão nacional
da verdade (2014)

Manuella Sales Rodrigues e Cristiane de Assis Portela

Em pesquisas realizadas anteriormente com apoio de bolsa de iniciação científica


(CEUB/CNPQ, 2014/2015), nos dedicamos à análise descritiva de um documento produzido na
década de 1960 e que ficou conhecido no campo indigenista como Relatório Figueiredo. Nele
são denunciadas diversas irregularidades cometidas pelo extinto Serviço de Proteção aos
Índios – SPI (1910-1967). O documento tem mais de 7 mil páginas e está dividido em 30
volumes que foram digitalizados e disponibilizados publicamente em ambiente virtual. Na
pesquisa aqui apresentada nos propusemos a analisar mais detidamente parte específica
desse conjunto documental: vinte e um (21) Termos de Inquirição assinados por indígenas que
denunciam as situações de violência às quais foram submetidos desde décadas anteriores. A
fim de problematizar o alcance das vozes indígenas e as tentativas consecutivas de
silenciamento desses sujeitos, decidimos inserir na nova análise outros dois conjuntos
documentais que trazem narrativas indígenas em contextos diferentes e posteriores aos
termos de inquirição: depoimentos de indígenas na Constituinte de 1987 (debate que
originaria o texto da Constituição de 1988) e estratos dos discursos indígenas apensos ao
relatório final Temático da Comissão Nacional da Verdade- CNV de 2014. A interlocução
teórica com a bibliografia sobre indigenismo e história indígena nos fez perceber como as
narrativas produzidas pelos próprios sujeitos indígenas estão sub-representadas mesmo
naqueles contextos históricos em que, politicamente, a cidadania indígena é pauta central dos
eventos históricos, seja a Comissão de Inquérito de 1967/68, a Constituinte de 1988 ou o
Relatório da Comissão Nacional da Verdade em 2014. Interessou-nos perceber, entretanto,
como os indígenas articularam, em diferentes momentos históricos, resilientes formas de
cidadania insurgente e promoveram formas de agenciamento de suas próprias histórias por
meio de narrativas. Tal análise demonstra a complexidade e a atualidade de um debate que
considere os limites e as interdições impostas desde o século XIX à cidadania indígena no
Brasil.

Las tramas de mi archivo: papeles, imágenes y personas anudadas a lo largo


de un derrotero de investigación en torno a pueblos indígenas

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Lorena Beatriz Rodríguez

En los últimos quince años, en el marco del desarrollo de distintas investigaciones histórico-
antropológicas relativas a pueblos indígenas, consulté diferentes archivos (tanto físicos como
virtuales). Tomé notas, transcribí expedientes, solicité fotocopias de documentos y, más
recientemente, saqué o pedí fotos de los mismos. Acumulé, así, una enorme cantidad de
papeles e imágenes que fueron (son) la base mis trabajos. En paralelo, esa búsqueda de datos
me vinculó a distintas personas. Jefes de Sala y habitués del archivo pero también colegas,
lugareños, curas, comuneros, autoridades étnicas, estudiantes y familiares no sólo
habilitaron/facilitaron el acceso a esas (u otras) fuentes de información sino que comenzaron
a anudarse al proceso de investigación. En esta ponencia, a partir de la narración de diferentes
viñetas desprendidas de esa experiencia de trabajo, me propongo analizar el modo en que fui
construyendo mi “propio archivo” (según la sugerente propuesta de los Comaroff)1 , en una
trama urdida entre papeles, imágenes y personas. Entiendo que develar esa configuración
particular, que imprimió ciertas especificidades a mi trabajo pero que a la vez es resultado de
dinámicas disciplinares y epocales, puede contribuir a reflexionar sobre nuestras prácticas y a
delinear el modo en que proyectamos continuar investigando, especialmente temáticas
referidas a pueblos indígenas.

Arquivos e memórias do indigenismo de fundo religioso no Brasil – dos anos


1960 a atualidade

Diego Omar da Silveira

Do impulso missionário de meados do século XIX à construção de um indigenismo crítico entre


os grupos religiosos, um século mais tarde, o conceito de missão foi amplamente revisto pela
teologia e pela prática de católicos e evangélicos. Os impactos desse processo, tornaram-se
mais visíveis na América Latina a partir do Concílio Vaticano II, quando um conjunto de
transformações eclesiais impulsionou também a gestação de organismos específicos, no
interior da Igreja Católica, para tratar da questão indígena. No Brasil, órgãos como a Operação
Anchieta (OPAN), o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e o Centro Ecumênico de
Documentação e Informação (CEDI), criados entre os final dos anos 1960 e o início da década
de 1970, impulsionaram importantes transformações nas bases dos projetos missionários e
articularam uma vasta rede de agentes institucionais das igrejas cristãs (eclesiásticos e leigos)
na defesa da autodeterminação dos povos, seus direitos à terra e à cultura. Partindo de uma
abordagem histórica destes temas da Antropologia, esta comunicação apresenta os aspectos
mais gerais de uma investigação acerca do papel de grupos religiosos na emergência de um
indigenismo alternativo durante a ditadura civil-militar brasileira e seus desdobramentos até
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os dias atuais. Nosso foco recai, aqui, na sistematização das memórias dos indigenistas
cristãos que atuaram/ atuam na OPAN, no CIMI e no CEDI/ISA, com ênfase nos conjuntos
documentais que produziram, preservaram e utilizaram (em suas pesquisas e na prática
missionária/ política) ao longo das últimas décadas. Não raro, para além das instituições e dos
processos oficiais de guarda e preservação, vários desses sujeitos mantiveram consigo
materiais que reconstituem os aspectos centrais de suas biografias, mas que ajudam a
compreender também as transformações no indigenismo de fundo religioso no Brasil da
segunda metade do século XX.

Formação das famílias linguísticas no encontro colonial

Laísa Tossin

Em grande medida, foram as reflexões motiviadas pela leitura, durante a redação da tese de
doutorado, de textos como Sobre a necessidade do estudo e ensino das línguas indígenas do
Brazil, de Adolfo Varnhagen e Do método de estudo das línguas sul- americanas, de José
Oiticica, de 1933, nos quais percebi que havia um nó no discurso científico sobre as línguas
indígenas, cristalizado como as famílias linguísticas tupi, guarani, arawak e caribe, que
representam uma geografia nacional da nomeação do índio, intrinsecamente política, desde
o descobrimento, e que foram transpostas para o estudo científico do índio como categorias
linguísticas específicas. Por isso, me propus a identificar como a classificação das línguas
indígenas em troncos e famílias linguísticas foi estabelecida. De onde surgiram nomes e
determinações culturais e linguísticas específicas para cada grupo? Para o estudo do Tupi,
trouxe a Arte de Grammatica da lingua mais usada na costa do Brasil, escrita por Padre
Anchieta em 1595, na capitania de São Vicente, que pertencia a Martim Afonso, muito embora
os jesuítas tivessem se estabelecido primeiramente na Bahia de Todos os Santos. Segundo
informações do próprio Anchieta (1964, p. 33), a costa brasileira, de norte a sul, estava cheia
de portugueses, índios da terra e negros da Guiné que viviam nas freguesias e trabalhavam
nos engenhos e nas lavouras, além disso, havia as aldeias dos índios onde viviam com eles os
jesuítas. Eram grupos que se misturavam. Havia uma geografia do negro que se sobrepunha à
geografia do português e à geografia do aldeamento indígena missionário, onde havia
portugueses havia índios e escravos africanos. A partir dessa geografia, discuto a geografia da
nomeação étnica como estritamente política, significando quase uma delimitação territorial
das concessões portuguesas que se projetaram no discurso científico sobre as línguas
indígenas como “famílias linguísticas” que partilham semelhanças lexicais. Examino a
convivência multiétnica e multilíngue favorecida pelos aldeamentos jesuítas e a escravidão
simultânea de negros e índios nos engenhos e nas lavouras. Analiso o Tupi descrito por

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Anchieta e apresento uma abordagem inusitada, na qual o relacionamento histórico entre


negros e índios deixou fortes marcas linguísticas da língua de Angola no Tupi.

O acervo do CEDOC Antônio Brand e a História Indígena em Mato Grosso do


Sul

Lenir Gomes Ximenes e Eva Maria Luiz Ferreira

O presente trabalho tem como objetivo identificar as possibilidades da escrita acerca da


História Indígena a partir do acervo do Centro de Documentação Indígena Antônio Brand
(CEDOC), localizado no Núcleo de Estudos e Pesquisas das Populações Indígenas (NEPPI), na
Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. O artigo
apresenta o Centro de Documentação, perpassando sua fundação, os projetos desenvolvidos
e uma breve descrição das coleções do acervo, que compõe-se de fotografias, jornais,
documentos do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) e da Fundação Nacional do Índio (FUNAI),
mapas, documentos trabalhistas de empresas sucroalcooleiras, acervo de audiovisual e
entrevistas com indígenas. Os materiais salvaguardados no CEDOC configuram-se como fontes
importantes para a história do estado, que tem a segunda maior população indígena do Brasil
e inúmeras terras indígenas em processos de demarcação ainda inconclusos. Vivem no Mato
Grosso do Sul, cerca de 77 mil pessoas das etnias Guarani, Kaiowá, Terena, Kinikinau, Kamba,
Ofaié, Guató, Kadiwéu e Tikuna (IBGE, 2010). O acervo do CEDOC, além da necessária reflexão
no campo da História, pode contribuir com as demandas indígenas, especialmente no que diz
respeito ao direito aos territórios tradicionais, que embora assegurado na Constituição
Federal de 1988, segue sem ser efetivado para diversos grupos indígenas. Como aponta Brand
(1993, 1997), a retomada da terra é fundamental para a garantia de inúmeros outros direitos
dos indígenas, o que evidencia a relevância da documentação histórica acerca desses povos.

ST 20 | Identidad étnica y patrimonio biocultural. Producción económica y


reproducción social: aportes a la sociedad global
Carolina Andrea Maidana (Universidad Nacional de La Plata y Universidad Nacional de Quilmes,
Argentina); María Amalia Ibañez Caselli (Universidad Nacional de La Plata, Argentina y Universidad
Antonio Ruiz de Montoya, Perú); Carlos Ariel Mueses (Universidad del Cauca, Colombia).

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El presente simposio se presenta en la necesidad de continuar los debates establecidos en el II CIPIAL,


como un espacio para la reflexión y producción de conocimiento sobre los usos que diferentes pueblos
indígenas hacen de su patrimonio biocultural y su articulación con propuestas de producción
económica y reproducción social. La preocupación por la relación entre las poblaciones humanas, la
cultura -entendida como proceso de producción de bienes materiales y simbólicos- y el territorio está
presente en la antropología desde sus inicios y, en las últimas décadas, se ha centrado en el análisis de
la industrialización, la integración mercantil ecuménica y la intensificación del comercio, así también
como en formas “tradicionales” de producción e intercambio de bienes, que se presentan como
alternativas a los procesos antes mencionados. El desarrollo industrial que posibilitó la integración
mercantil y la intensificación de los vínculos comerciales condujo también a la deforestación, el
agotamiento de los suelos y la sobreexplotación de recursos, dando lugar a un profundo debate
político ambiental en la década de 1970. En sus inicios la idea de desarrollo se unió a la de medio
ambiente en el concepto de ecodesarrollo -precursor de la posterior noción de desarrollo sustentable-
así como a la de cultura a partir del denominado etnodesarrollo. Señalando tempranamente, de esta
forma, la posibilidad de pensar y materializar otras lógicas de producción y reproducción, en un marco
de diálogo intercultural de saberes propios y occidentales, donde puedan darse de manera conjunta
el crecimiento económico y social, el cuidado medioambiental y la afirmación identitaria. Diversas
economías productivas y gestiones medioambientales colocan hoy el acento en particulares
concepciones y relaciones con el territorio (donde todo tiene vida: aire, tierra, agua, cosmos). El
“conocimiento indígena” y “popular” sobre el mismo ocupa un lugar central junto a las denominadas
economías “étnicas”, “propias”, “solidarias”, “populares” o “con identidad” como alternativas a las
formas hegemónicas de producción y reproducción social. Es en este sentido que proponemos
compartir experiencias de trabajo con recursos patrimoniales y en el desarrollo de proyectos
sostenibles (turísticos, educativos, económicos, de gestión cultural, manejo territorial, entre otros) y
actividades que -desarrolladas en distintos ámbitos – tengan un impacto directo en la preservación,
el diálogo de saberes y la puesta en valor del patrimonio biocultural.Invitamos a académicos, activistas
de organizaciones indígenas y campesinas, así como a funcionarios estatales a presentar ponencias
que muestren experiencias y/o aborden reflexiones en torno al desarrollo de prácticas económicas,
socioculturales, educativas con identidad que involucren a poblaciones y organizaciones indígenas y/o
campesinas en Latinoamérica a favor de una mejor calidad de vida de la sociedad.
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“Vivir en tierra ajena”. Consideraciones en torno a los procesos de des-


territoirialización y re-territorialización de una comunidad Ava Guaraní en
Argentina

Lucía Inés Aljanati

La comunidad Iwi Ememb ý (Hijos de la Tierra) está formada por personas de la etnia ava
guaraní provenientes de la Provincia de Salta (Argentina). Tras el violento desalojo de las
tierras que habitaban en el año 2003, se vieron forzados a migrar y desde entonces se
instalaron en la periferia de la ciudad de La Plata (paraje de El Peligro), Berazategui (paraje El
Pato) y Echeverry. Históricamente el pueblo avá guaraní se ha dedicado a la horticultura.
Despojados de su territorio en Salta, las personas de la comunidad se dedican a arrendar o
trabajar como peones en las quintas del periurbano platense mientras demandan la entrega
de “tierras aptas y suficientes para el desarrollo humano” tal como lo establece el artículo 75
inc. 17 de la Constitución Nacional argentina. La concepción de la tierra para los ava guaraníes
excede la cuestión económica, la agricultura se trata de “una cultura de crianza en un mundo
vivo”. En un contexto en el cual la urbanización y la mecanización de la producción va ganando
terreno desde hace 30 años, el reclamo de los ava guaraníes –entre otros colectivos indígenas
y campesinos- aparece como la alternativa de un modo de estar en el mundo que tensiona los
intereses de la economía regional hegemónica. Apelando al enfoque etnográfico, en este
trabajo me propongo comprender la importancia del reclamo de tierras considerando los
sucesivos procesos de des- territorialización forzada y de re-territorialización a los que están
sujetas las familias que conforman la comunidad.

Práticas de representação social da Pimenta Baniwa na rede social Instagram

Andreza Silva de Andrade

Fruto do trabalho artesanal das mulheres Baniwa, a Pimenta Baniwa é um ingrediente


indígena que vem da Terra Indígena Alto Rio Negro (AM) e que nos últimos anos, vem
conquistando espaço na alta gastronomia brasileira em virtude da influencia de chefs famosos
que ajudaram na sua promoção. A Pimenta Baniwa é uma jiquitaia, ou seja, uma mistura de
pimentas desidratadas e moídas com sal, processadas artesanalmente, cuja a aparência
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lembra a uma farofa (ISA et al., 2016). Comercializado desde 2013, o produto entrou no
mercado gastronômico por meio da parceira entre a Organização Indígena da Bacia do Içana
(Oibi1), o Instituto Socioambiental (ISA2 ), e o Instituto Atá3 , fundado por Alex Atala, famoso
chef de cozinha em São Paulo. Associada à imagem do chef celebridade, a Pimenta Baniwa se
tornou conhecida e midiatizada dentro de um nicho de mercado “gourmetizado” formado por
foodies (apreciadores da gastronomia) e chefs de cozinha. Ainda que essa midiatização em
torno da Pimenta Baniwa contribua para sua promoção, até que ponto a identidade do
produto se mantém como indígena? Até que ponto o intermédio do chef celebridade
influencia a construção dos discursos de representação na mídia e como isso mobiliza o
consumo? Sendo as redes sociais um dos grandes fenômenos da comunicação utilizadas para
demonstrar práticas sociais nas sociedades contemporâneas, o consumo e práticas
alimentares encontram nesses espaços, um ambiente propício para demonstração do que se
consome. Dessa forma, como a Pimenta Baniwa é representada nesses espaços pelos seus
consumidores? Será que há referências à cultura indígena nessas representações? No intuito
de respondermos essas questões, elencamos o Instagram como objeto de estudo por este ser
considerado a vitrine para a gastronomia no mundo (FARINACCIO, 2017), além de ser espaço
de demonstração de estilos de vida e gostos. Analisamos as hashtags “#pimentabaniwa”,
utilizadas em postagens realizadas por consumidores da Pimenta Baniwa. A metodologia
deste trabalho combina elementos etnográficos da observação participante de Clifford Geertz
(1989) em ambiente virtual, bem como as categorização da análise de conteúdo de Laurence
Bardin (2016). A discussão se ancora conceitualmente nos estudos de representação social de
Stuart Hall (2016), dos Estudos Culturais Britânicos.

Ceremonia Qom y patrimonio biocultural: comunidad Lapo´Olé del pueblo


Qom, San Nicolás, Buenos Aires, Argentina

Laura Aragon e Nadia Voscoboinik

En el partido de San Nicolás, en la provincia de Buenos Aires, se encuentra la Comunidad


Lapo ́Olé perteneciente al pueblo qom. Desde hace varios años, cada 30 de septiembre, la
Comunidad realiza una ceremonia en la que se convoca a sus ancestros y a la que asisten
referentes de otras comunidades qom, vecinos del barrio e integrantes de distintas
organizaciones indígenas y no indígenas y de organismos gubernamentales. En la ceremonia
están presentes el fuego -que debe ser “cuidado para que no se apague” desde que se pone
el sol hasta que vuelve a salir en la madrugada del día siguiente-, las artesanías (arcos y flechas)
realizadas especialmente para dicha ocasión, los saberes en torno a distintas plantas
medicinales y comidas típicas, los relatos sobre los antepasados y los conocimientos que los
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mismos han transmitido a las nuevas generaciones. En este trabajo observamos las prácticas,
las representaciones y los bienes de carácter material/simbólico presentes en dicha
ceremonia en términos de patrimonio biocultural. Ello nos permite profundizar, a partir de la
noción de “ontología política”, en la idea que todo conjunto de prácticas enactúa un mundo,
es decir que refiere a una cosmovisión u ontología, y de que toda ontología crea una particular
forma de ser y hacer. La Comunidad Lapo ́Olé al recrear prácticas del pueblo qom al que
pertenece, expresa una visión de mundo que, basada en lo colectivo comunitario y en los
saberes que les transmitieron sus mayores, genera una relación particular con la naturaleza.

Artesanía indígena más allá de la resistencia y permanencia, una contribución


a la Educación Estético Ambiental

Lissette Eliana Torres Arévalo e Narjara Mendes Garcia

El presente resumen es el punto de partida de una tesis de doctorado que parte de la premisa
de que la artesanía de los pueblos indígenas está siendo valorada estéticamente en estos
últimos tiempos y que se sustenta en las siguientes interrogantes: ¿es posible que ésta sea
vista más allá de la idea de mercadería y que se pueda determinar que existen vínculos entre
la identidad cultural y el cuidado del ambiente que permiten a estos pueblos se aproximen a
lo que desde nuestro mestizaje conocemos como Educación del tipo Estético-Ambiental? Se
resaltarán en el proceso algunos conceptos como cultura e identidad cultural desde lo
propuesto por Cohn (2001 y 2005), la relación intergeneracional de cultura de pares y se
planteará además, que las y los pequeños indígenas tienen sus propia manera de entender y
significar el proceso de elaboración de artesanía y por lo tanto, son actores sociales con
autonomía y opinión muy relevante para mantener este tipo de actividades a través del
tiempo. La Educación Estético-Ambiental será considerada desde Estévez y Brandão (2017).
La investigación busca no solamente comprender a la elaboración de artesanía indígena como
un proceso educativo, sino también como una posibilidad de que esto cree alianzas que
fortalezcan y empoderen a las comunidades en nombre de alternativas a las formas
hegemónicas de comercialización, alejándose poco a poco de la idea de que se adquiere
únicamente una pieza del tipo ornamental para abrir espacios de reflexión hacia qué
realmente es lo que se está comercializando. Finalmente aclarar que uno de los componentes
fuertes de esta investigación es el punto de vista de la autora, que además de interesarse en
este proceso y su vínculo con el ambiente, teje artesanías. Esto ha provocado distintos tipos
de cuestionamientos que intentan explicar una serie de sensaciones desde el mestizaje y
realzar también, la importancia del conocimiento de los saberes ancestrales al momento de
gestionar y planificar el ambiente.
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“Somos de acá antes que Uds”. Los conocimientos y las identidades y culturas
indígenas en relación con sus derechos

Diego Fernando Bermeo

Los conocimientos indígenas y sus epistemologías, suele poner en tensión las


representaciones políticas sobre el indígena deseado por el “sentido común argentino”,
entendido este conocimiento como una construcción producto de procesos de intercambio
con diversos grupos poseedores de culturas e identidades. En estas relaciones con la cultura
hegemónica, se logran producir y reproducir representaciones sobre el “indio deseado”, así
como romper con estos estereotipos del indígena como un sujeto homogéneo y folclorizado.
Esta mirada esencializada de los indígenas, logra que no se atienda los reclamos por la
valorización de sus conocimientos y lenguas y los reclamos por territorios que realizan estos
grupos, enmarcados en los derechos a los pueblos indígenas en la constitución de la república
Argentina desde el año 1994. En los procesos migratorios, se suelen desarrollar diversos
conocimientos vinculados a la salud y a la producción de sus identidades a través de prácticas
educativas. Estos conocimientos se realizan en espacios de socialización donde participan
diversas culturas e identidades migradas, en estos nuevos territorios las organizaciones
sociales y públicas (estatales y privadas) son escenarios para estas producciones identitarias y
culturales. Particularmente haremos hincapié en la formas que estas culturas e identidades,
se relacionan en la vida escolar y realizan estrategias para acceder a derechos en estos
territorios. Tomaremos para esta ponencia, las acciones educativas que se producen en las
escuelas donde estos grupos se socializan en los nuevos territorios. En este trabajo,
tomaremos los migrantes provenientes del Estado Plurinacional de Bolivia, que de identifican
como miembros de un pueblo indígena y que estas familias, participan de de las escuelas
rurales de las zonas periurbanas de la ciudad de La Plata. Este trabajo, está enmarcada en el
proyecto de Investigación y Extensión universitaria denominada “Utopías Indígenas Migradas”
en el marco del Laboratorio de Investigación Movimientos Sociales y condiciones de Vida de
la FTS-UNLP.

Historia y cultura de Matambú, Territorio Indígena Chorotega. Costa Rica,


América Central

Carlos Gerardo Cruz Chaves

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

En el marco del proyecto Tierra encantada: aportes al reconocimiento y sabiduría de los


pueblos originarios de Costa Rica. En enero de 2018 se dio inicio a una serie de consultas en
tres pueblos indígenas para la aceptación del proyecto y empezar su implementación en el
2019. El pueblo de Matambú, que se autodenomina Chorotega, mostró especial interés en su
historia y problemática sobre la identidad cultural ante el desconocimiento generalizado de
su origen ancestral y de la trayectoria de los herederos de esa cultura milenaria. Al noroeste
de Costa Rica se ubica la Cuenca del Golfo de Nicoya, cuyas características naturales y
culturales han sido modificadas en el proceso de adaptación de los movimientos humanos que
tienen lugar desde la antigüedad en esta bioregión del país. En este caso queremos resaltar el
proceso de poblamiento, con la presencia en el siglo XXI de una minoría étnica cuyos ancestros
de origen mesoamericano arribaron a partir del año 800 de la ec., producto de la Gran
Migración desde el México antiguo hacia el sur de América Central. El objetivo del trabajo es
explicar las condiciones y premisas del desarrollo de determinados fenómenos y de su
sucesión en el tiempo en la conformación del Territorio Indígena Chorotega, Matambú.
Asimismo, con la metodología participativa de la Historia local se pretende investigar los
elementos tangibles e intangibles del legado cultural Chorotega, lo cual demanda integrar la
sistematización y el análisis de fuentes documentales, bibliográficas y orales. El Territorio
Indígena Chorotega, Matambú, creado por el poder ejecutivo el 2 de junio de 1980 (artículo 3
del Decreto Ejecutivo N° 11564) de una extensión de 1 600 hectáreas y su núcleo urbano,
habitado por 1 200 personas, se ubica en la Península de Nicoya, Costa Rica. El Territorio se
ha constituido en el distrito N° 5 del cantón de Hojancha, Guanacaste. El estudio de Matambú
se justifica por la importancia que tiene para las identidades culturales costarricenses la
historia de la cultura de la Península de Nicoya. En la comunidad de Matambú sus habitantes
se plantean la conservación del patrimonio cultural y natural (biocultural) como un medio para
la organización social y la producción para la sobrevivencia. El sistema biocultural es entendido
como un proceso de apropiación integral teórico y práctico, implementado por indígenas en
un contexto de resistencia cultural. La organización y fortalecimiento de grupos excluídos
socialmente son mecanismos eficazes para el desarrollo del espacio rural de base local. Para
romper con la herencia colonial cultural, producto de los ciclos extractivos y expoliadores
instaurados hace 527 años, que ha caracterizado la historia de América Latina, es imperativo
reconstruir la historia de la comunidad de Matambú siendo lo sustantivo el estudio de su
sistema biocultural, el conocimiento de las técnicas de producción y consumo, las fuentes
escritas y orales, su recopilación e interpretación. Ese ejercicio supone fortalecer el
conocimiento histórico-cultural lo que a su vez se convierte en un insumo importante en los
espacios rurales para consolidar el liderazgo organizacional, la capacidad de incidencia, de
construcción y planificación de su futuro con propuestas endógenas que generen el Buen Vivir,
concepto que los hermanos mayores proponen ante el ambiguo “Desarrollo Sostenible”.

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Identidades revitalizadas, preservación del patrimonio biocultural y defensa


del territorio. Estudios de caso de dos asociaciones de pueblos indígenas en
México y Brasil

Luisa Gabriela Avila Cortés

Emmanuel Cándido Mejía León

Laura Jinete Bautista

Gasodá Paiter Surui

En el contexto de un neoliberalismo multicultural, cada día más preocupado por empatar las
agendas tanto políticas como económicas, dos pueblos indígenas de América Latina se han
organizado para establecer un diálogo de saberes caracterizado por negociaciones constantes
entre el “nosotros” y los “otros”, entre lo hegemónico y lo local-regional. La Unión de
Comunidades Productoras Forestales Zapotecos-Chinantecos de la Sierra (UZACHI), México;
con aportes del etnoconocimiento y de la ingeniería forestal, han creado programas de
manejo que les ha permitido, desde su creación en 1989, gestionar sus recursos para
aprovechamiento de manera sustentable. En consecuencia, han logrado que cuatro
comunidades de pueblos originarios de la Sierra Juárez en el estado de Oaxaca, se sirvan de
sus recursos generando utilidades, capacidades técnicas, proyectos productivos diversificados
y amigables con la biodiversidad. Todo ello organizado en una empresa comunitaria. Por su
parte, en Brasil, el Centro Cultural Indígena Paiter Wagôh Pakob, como una de las áreas
prioritarias contenidas en los planes de negocio del Plan de Gestión Surui; se ha preocupado
desde el 2016 por la valorización de las prácticas culturales del pueblo Paiter Surui, ligadas
estas a la conservación del medio ambiente. Siendo también un medio de activación de la
economía comunitaria de la Aldea Paiter en la Tierra Indígena Sete de Setembro en el estado
de Rondônia, el espacio cultural sirve como un abrigo para que turistas y los mismos Paiter,
aprendan, preserven y se formen políticamente desde el enfoque del conocimiento
tradicional. El objetivo de esta presentación, además de exponer las diferencias y similitudes
entre ambos casos de estudio, mostrará cómo es que ambas asociaciones se valen de la
organización comunitaria para hacer frente a la defensa de sus territorios, amenazados de
invasiones externas, prácticas ilegales tales como la minería y la tala clandestina, y un mundo
donde el mercado define a las utilidades, por encima del respeto a la naturaleza o al cambio
climático. Del mismo modo, la revitalización y el fortalecimiento de la identidad de los pueblos
estudiados, basada en una cosmovisión ancestral, en la que no existen divisiones entre ser
humano y naturaleza, ha sido un punto clave no solo para el acceso a recursos y apoyos

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nacionales e internacionales, sino, además, para la preservación de un patrimonio natural y el


aprovechamiento responsable de sus recursos naturales.

Deuda, transiciones y cambio social

Ana Gendron-Correa

Al observar las estrategias económicas y los mecanismos de intercambios que se desarrollan


en las comunidades kayambi, es evidente que la minga y otras manifestaciones de la
reciprocidad constituyen elementos importantes de la estructura social. Aún más esas formas
han adquirido una nueva dimensión en el contexto actual. Estos términos, que han dado forma
a la diversidad de saberes que permiten interpretar lo andino, deben ser abordados desde su
polimorfismo y su continua movilidad. En esta comunicación proponemos retomar estas
nociones (minga, reciprocidad, solidaridad), que generalmente han caracterizado, la
economía indígena y campesina, desde un enfoque renovado. La utilización de estas nociones
para referirse a la cultura andina en sus expresiones más conocidas del indigenismo, ha sido
criticada y ha provocado que, a pesar de su importancia en la constitución de las comunidades
rurales, se carguen de connotaciones negativas y sean tratadas como conceptos
pertenecientes a un folclor en desuso. El análisis parte de la importancia de la noción de
transición o de cambio social en el contexto de los Andes, pues sin ser un fenómeno reciente
muestra que todas las sociedades son intermediarias o se hallan en un proceso de transición
hacia algo diferente. Como es el caso de las comunidades rurales del norte del Ecuador. La
investigación se centra en la observación de actos de lenguaje cuyo objetivo es comprender y
analizar el conjunto del sistema social. Se trata de poner en evidencia las relaciones sociales
que los actos de lenguaje permiten ilustrar. La observación, que priorizo la dinámica de la
acción ritual y de los relatos míticos en un contexto de profundas transformaciones históricas,
integro varias formas de intercambios (económicos, don, don-contra-don) dentro de
contextos de la vida cotidiana y rituales de los kayambi. El don es generalmente concebido
por oposición o en contraste al intercambio económico o de mercado. Sin embargo, las
observaciones demuestran que la cohabitación de sistemas, con todo lo que ello supone de
adaptaciones y de invenciones es un funcionamiento general de muchas sociedades actuales.
El análisis sugiere que el sistema social kayambi, basado en los intercambios y en la deuda,
conoce un movimiento circular inspirado por la magnitud de los intercambios de don contra
don y por una deuda que debe pagarse pero al mismo tiempo nunca puede terminarse. La
deuda se presenta como el eje estructural del proceso de reproducción del orden social. El
ciclo de intercambios que puede instaurarse en contextos cotidianos como rituales, se apoya
sobre los principios fundamentales de la minga (obligación, acuerdos, compromisos) para su
realización. Desde un punto de vista antropológico, el pueblo kayambi se presenta como un

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modelo de sociedad en transición, en el cual la afirmación progresiva de la economía


comercial, avanza paralelamente y junto a prácticas que obedecen a la economía del don. Nos
encontramos así frente a dos sistemas que más que oponerse se complementan.

Ntaunaq Nam Qom: una experiencia de trabajo colectivo-comunitario

Julia Gomez

El “barrio toba” de las Malvinas, ciudad de La Plata, se organizó en torno a la Asociación Civil
Ntaunaq Nam Qom; asociación constituida a fines de la década de 1980 con la finalidad de
defender los derechos del aborigen Toba, atender de manera integral las necesidades de
tierra, vivienda, consumo, educación y salud de sus asociados; y recuperar, conservar y
difundir la historia, el idioma, las costumbres, las tradiciones y la cultura qom. Esta experiencia
muestra singular relevancia, ya que fue constituida a partir de un conjunto de familias qom
que migramos, conseguimos tierras y por medio de un plan de autoconstrucción de viviendas
conformamos un barrio organizado. A la autoconstrucción le siguieron toda una serie de
proyectos colectivos-comunitarios a los cuales referiré en esta ponencia.

Turismo em territórios indígenas no Ceará, Brasil: o turismo empresarial


como negação da indianidade e o turismo comunitário e ambiental como
vetor de reafirmação étnica e do patrimônio cultural

Isis Maria Cunha Lustosa

Discute-se a pesquisa comparada com dois povos indígenas do estado do Ceará, Brasil, sendo
o turismo, o patrimônio ambiental e cultural, vetores de identidades étnicas frente às
transformações territoriais acarretadas por invasões das suas terras indígenas. Estas
apropriações indevidas impactam as suas relações com o meio ambiente, suas culturas, e
organizações sociais e políticas. Ao mesmo tempo o turismo comunitário pode ser uma forma
de reelaboração cultural. O turismo em territórios tradicionais indígenas contribui para se
discutir as implicações nefastas de projetos desenvolvimentistas que expropriam territórios
reivindicados como Terras Indígenas conforme a Constituição Federal do Brasil de 1988, ainda
em vigor nesse atual governo federal anti-indígena, violador dos direitos dos povos originários
do país. Revela-se como o fenômeno social turismo se torna forma de resistência, em que
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povos indígenas assumem como gestores em experiências de turismo comunitário e


ambiental. A reelaboração cultural torna-se uma estratégia para os povos indígenas –
Tremembé da Terra Indígena (TI) Barra do Mundaú e Jenipapo- Kanindé da TI Aldeia Lagoa
Encantada, lutarem contra a expropriação dos seus territórios por empreendimentos
turísticos internacionais e outros grandes projetos na costa cearense em que indígenas ainda
são invisibilizados por atores hegemônicos. Todavia, a consolidação da reafirmação étnica dos
povos indígenas mencionados acontece por meio das festas indígenas do povo Tremembé da
Barra do Mundaú com preparativos culturais (pinturas, cantos, orações e comidas indígenas)
e agradecimento à mãe natureza e aos encantados no terreiro sagrado. O patrimônio cultural
também se expressa nessas duas TIs mencionadas por meio do Ritual do Toré junto ao povo
Jenipapo-Kanindé e o do Torém com o povo Tremembé da Barra do Mundaú. Além, da
retomada da língua indígena Tupi na educação indígena, as disciplinas de arte, cultura com
enfoque ambiental inseridas nas Escolas Diferenciadas Indígenas Jenipapo Kanindé e
Tremembé da Barra do Mundáu. Soma-se ainda a Festa do Marco Vivo de Yburana na TI Aldeia
Lagoa Encantada. Na mesma aldeia a Cacique Pequena é Mestre da Cultura do Estado do
Ceará – Título Notório Saber em Cultura Popular - e está no projeto “Musicalidade Indígena”
com seu CD “Beleza da Vida”, obra autoral com as músicas da história e cultura dos Jenipapo-
Kanindé, uma ligação com a natureza e com os encantados como reforça a Cacique. A
expressão musical indígena guarda poderes curativos junto com as plantas das hortas
medicinais e o vínculo entre as aldeias e entre outros povos e comunidades tradicionais por
meio do turismo e inserção da aldeia Lagoa Encantada na Rede Cearense de Turismo
Comunitário.

Acción extensionista del PET Ingenierías UEFS, junto a la AIMKA, para la


implantación de producción y procesamiento de frutas en Massacará

Pedro Paulo Garcês Magalhães

Quézia dos Santos Cardoso

Erivaldo Almeida Mascarenhas Neto

Rodolfo Edivan Moreira

Pablo Rodrigo Fica Piras

Los Kaimbés son una de las 22 etnias indígenas oficialmente reconocidas en Bahia. Después
de la Retomada y nucleación en una parte de su territorio ancestral, en la cuenca de Tucano,

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se concentraron en la aldea Massacará, distrito de Euclides da Cunha. Recientemente,


recibieron en cesión de uso la hacienda Sipituba, 4.000 hectáreas degradadas por décadas de
explotación predatoria de la caatinga por el uso desmesurado de la pecuaria de corte.
Aprovechando la publicación de una llamada gubernamental, que ofreció R$19 millones para
iniciativas socio- ambientales, el Grupo de educación tutorial (PET) en Ingenierías de la
Universidad Estadual de Feira de Santana trabajó, junto a la Asociación Indígena Massacará
Kaimbé – AIMKA, en la elaboración de un proyecto norteado por las condiciones requeridas
para el financiamiento de propuestas, que profundizaran la espontánea tendencia de la aldea
y de la población indígena en general para sesgar las propuestas de desarrollo en el sentido
de la armonización ambiental, propia del de lo denominado etnodesarrollo. Dentro de este
concepto, se busca alcanzar condiciones de vida mejores para los aldeanos, con inclusión
productiva, acceso a mercados, diversificación de los ingresos, cualificación de la gestión y
recuperación de recursos naturales locales erosionados, a través de un abordaje solidario y
participativo. La propuesta, que combina gestión sustentable de recursos naturales,
recuperación de ambientes degradados, fortalecimiento y promoción de productos de la
socio- bio- diversidad (paisajística, cultural y de servicios ambientales), prácticas
agroecológicas y promoción de la soberanía alimentaria y nutricional, pleiteó y recibió
R$274.100, para adquisición de mudas de frutales, invernadero, transporte de plantas al área
de plantío, pozo para irrigación, instalaciones y equipamientos para una mini fábrica de dulces
y concentrados, con recursos originados en el Banco Mundial, a través del gobierno estadual,
que benefició también otras 36 propuestas, de otras aldeas del estado. Los participantes en la
elaboración y contemplados en la adjudicación fueron, 25 hombres y 15 mujeres de la aldea,
que así se agruparon para oponerse al flujo, constatado y constante, de emigración de
indígenas jóvenes, esto aparejado con el desempleo de los que en ella permanecen. La
perspectiva de una fuente propia de ingresos está permitiendo a los indígenas permanecer,
manteniendo su identidad. Aunque bienvenidos los montantes, si los comparamos con los que
los bancos públicos nacionales circulan entre las grandes empresas establecidas en el país,
éstos se revelan irrisorios, además de esporádicos, lo que no llega a constituirse en una política
pública de estímulo a la reproducción social mediante la producción económica de los pueblos
originários

Da aldeia ao gramado, o futebol dos Gaviões Kyikatejê

Priscila Dias Pinto

Sheila Kaline Leal da Silva

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O presente trabalho evidencia a constituição do primeiro time de futebol, do estado do Pará,


chamado Gavião Kyikatejê Futebol Clube, este foi composto, inicialmente, por jogadores
indígenas, atualmente tem em sua composição alguns jogadores não indígenas, sua sede fica
localizada no município de Bom Jesus do Tocantins, no Estado do Pará. O time de Futebol,
Gavião Kyikatejê, já participou da segunda divisão do Campeonato Paraense de futebol e teve
muitos destaques na mídia, foi campeão Marabaense nos anos de 1994, 1998 e 2008, sendo
vice- campeão nos anos de 1993 e 2007, evidenciando através do futebol a cultura indígena,
reafirmando através de seus uniformes, a representação das pinturas indígenas do povo
Kyikatejê, um outro fator importantíssimo, são as pinturas, utilizadas em seus corpos durante
as partidas, uma forma de reafirmação da identidade étnica. Dentre os presidentes que o time
já teve, está o cacique Zeca Gavião, que também se tornou o primeiro indígena a comandar
um clube do país. A preparação do time inclui corrida com tora, entre outros. A pesquisa que
originou o trabalho evidencia a resistência cultural, através do futebol e a afirmação da
identidade. A pesquisa se deu dentro de uma perspectiva qualitativa através de coleta de
dados e entrevistas semiestruturadas.

Aspectos sociales, culturales y ambientales del Pueblo Mayo Yoreme de


Choix, Sinaloa, México

Estuardo Lara Ponce


María de Jesús Rabago Villalba
Zelexmar Mayo Meza

A través de un enfoque biocultural rural participativo se identificaron aspectos sociales,


culturales, económicos que determinan la forma de aprovechamiento de los recursos
forestales y agrícolas de la comunidad de Baca, municipio de Choix. El trabajo desarrolló una
metodología de Evaluación Rural Participativa donde los habitantes hombres y mujeres de la
comunidad se integraron y participaron en talleres de noviembre del 2015 a octubre del 2016.
Se recabaron datos espaciales (históricos, mapas esquemáticos, transectos y esquemas
parcelaros); temporales (herramientas cronológicas, líneas de tem dencia y calendario
agrícola); y socioculturales (información familiar). Los resultados de los datos espaciales
identificaron la agricultura con cultivos de importancia económica, como el ajonjolí y
cacahuate para el mercado, y los destinados para el consumo en los hogares (maíz, frijol,
calabaza). En el plano forestal se detectó el uso cultural de diversas especies de la vegetación
(medicinal, alimentación, artesanía, leña, ornamental y forraje). En lo sociocultural se detectó
la perdida de la tradición en los vestuarios de los danzantes, por los escases de los recursos
forestales. Los TERP proponen acciones locales, como la atención y capacitación vía
institucional en temas de usos, costumbres y rescates de las tradiciones regionales; así como

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la organización de la comunidad para posibilitar la introducción cultivos alternativos que


impulsen el desarrollo económico con base en el ordenamiento territorial.

Los retos para preservar el patrimonio cultural de los barrios indígenas de la


ciudad histórica de Puebla, México

Norma Leticia Ramirez Rosete

José Alejandro Reyes Granados

Basilio Calderón Calderón

La Convención para la Salvaguardia del Patrimonio Mundial, que fue adoptada en 2003 por la
Conferencia General de la UNESCO vigente desde el 2006, una de las siete convenciones para
el ámbito de la cultura. Tiene cuatro objetivos principales: salvaguardar el patrimonio cultural
inmaterial, garantizar el respeto del patrimonio cultural inmaterial de las comunidades,
grupos e individuos y sensibilizar a la importancia del patrimonio cultural inmaterial en el
plano local, nacional e internacional y de su conocimiento recíproco. El objetivo consiste en
evidenciar los principales retos para preservar el patrimonio cultural inmaterial de los barrios
indígenas de la zona fundacional de la ciudad histórica de Puebla, partiendo de su importancia
como legado cultural en México, manifestado su valor cultural intangible. La finalidad es
sensibilizar a la sociedad y a los tomadores de decisiones en Puebla para fortalecer las
estrategias y políticas públicas que permitan preservar nuestra identidad reflejada en la
diversidad de manifestaciones culturales que han persistido a lo largo del tiempo: danza,
gastronomía, literatura, textiles, etc., como un legado para las futuras generaciones en México
además de ser mostradas con autenticidad y orgullo ante el mundo. Por tal motivo este
trabajo busca conservar y difundir la identidad, arte y etnicidad de la comunidad indígena que
se encuentra insertada dentro de los barrios de esta ciudad que ha sido nombrada Patrimonio
cultural de la Humanidad desde el año 1987. Tales expresiones artísticas y culturales
conforman un rico patrimonio cultural inmaterial. El enfoque teórico y metodológico incluye
la Investigación Acción Participativa (IAP) de los habitantes indígenas que han podido subsistir
a los cambios de la sociedad globalizada y consumista en esta ciudad histórica. De esta manera
se da inicio con una reflexión teórica acerca del valor artístico y el patrimonio cultural
inmaterial que contienen los barrios indígenas de la zona fundacional de Puebla respecto a su
vocación y legado cultural que persiste a través de diferentes oficios, tradiciones y festividades
antes, durante y después del proceso de colonización hispánica en México. Otro aspecto
importante que analizar son las diversas “teorías de la apropiación cultural y los enfoques
éticos” acerca de la naturaleza y valor de la propiedad a que hacen referencia diversos
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estudiosos expertos en este tema. Aspecto central debido a la necesidad de crear políticas de
protección ante la explotación y transformación de la identidad cultural que es visto
actualmente como un recurso económico por el gobierno de las ciudades en México en
función de las necesidades del turismo de masas que pone en riesgo la autenticidad del legado
cultural que aún prevalece en estos barrios.

Avaliação do conhecimento tradicional como estratégia de Manejo Integrado


do Fogo no Cerrado brasileiro

Marcelo Trindade Santana

Rodrigo de Moraes Falleiro

Maristella Aparecida Corrêa

Sandro do Carmo Benevides

José Adilson dos Santos Silva

Bolívar Xerente

Alex Alves Zomaizokiece

O fogo é um componente natural dos ecossistemas e sempre foi utilizado pelo homem no
manejo das savanas tropicais. Entretanto, nas últimas décadas, a maior parte das políticas
públicas foram direcionadas à exclusão do fogo. Essas “políticas de fogo zero” aumentaram a
incidência de grandes incêndios, que geram danos ambientais e prejuízos econômicos cada
vez maiores. Além disso, a repressão ao uso do fogo provocou o abandono do manejo
tradicional e a perda dos conhecimentos ecológicos a ele relacionados. Com a implementação
do Manejo Integrado do Fogo como estratégia de atuação do Ibama/Prevfogo, o
conhecimento tradicional começou a ser valorizado e um programa de resgate desses
conhecimentos, junto aos anciãos indígenas, foi implementado. Eles afirmaram que é
necessário aplicar periodicamente o fogo no Cerrado e que, quando esse fogo é aplicado na
época adequada, os danos são baixos e a reprodução das plantas e animais é estimulada. Esse
conhecimento tradicional foi sistematizado e vem sendo utilizado como estratégia de
proteção das Terras Indígenas desde 2015. Os brigadistas indígenas foram orientados a
monitorar e registrar os seus efeitos nas plantas e animais importantes para as comunidades.
Os resultados foram sistematizados e utilizados para avaliar a eficiência do manejo tradicional
do fogo. As áreas manejadas entre fevereiro e junho (queimadas prescritas) foram
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comparadas com áreas atingidas por incêndios florestais (julho e dezembro) e com áreas
submetidas à exclusão do fogo (+ 5 anos). Os efeitos nas árvores frutíferas nativas foram
avaliados pelos danos na copa (% de galhos mortos) e reprodução (% em estádio reprodutivo
e % com alta produtividade de frutos). Os efeitos na fauna foram avaliados pela frequência de
vestígios de cada espécie. Em relação aos danos nas árvores, as queimadas apresentaram
resultados semelhantes à exclusão, mas melhores em relação aos incêndios florestais. Em
relação à reprodução, as queimadas apresentaram resultados melhores tanto em relação à
exclusão como aos incêndios. Em relação à fauna, metade dos animais estudados preferiu as
áreas manejadas e metade preferiu a exclusão, entretanto, na comparação com os incêndios,
todas as espécies preferiram as áreas manejadas. Os resultados demonstram que o manejo
tradicional do cerrado foi eficiente para reduzir os danos e estimular a reprodução das árvores
frutíferas nativas estudadas, além de proporcionar um ambiente melhor para os animais.

Diversidade cultural: memória, cultura e identidade Kaingang

Rosemari Fiuza da Silva

Sueli de Oliveira Tomas

Viviane Santi Martins

Rita Daniela

Castanho Estallivieri

Sandra Monteiro Lemos

O projeto surgiu, em 2016, a partir do componente curricular do primeiro semestre: Processos


de Investigação Científica. Interessa-se em problematizar a cultura da comunidade Kaingáng
Por Fi Gã, de São Leopoldo/RS. Com aporte teórico dos Estudos Culturais em Educação e seus
campos afins, busca reflexões e entendimento sobre as questões culturais que envolvem os
grupos. A partir do objetivo desse projeto, estuda a comunidade indígena e realiza ações na
aldeia e em espaços de educação formal e não formal. Os dados são coletados a partir de
observações, entrevistas semiestruturadas, imagens e vivência comunitária. Em 2017,
aprovado no PROBEX/UERGS, promoveu ações de extensão, como a exposição fotográfica
intitulada “Educação/Cultura do Povo Kaingáng- a afirmação cultural da Aldeia Por Fi Gã de
São Leopoldo", no Museu de Arte de Montenegro (MAM). Em paralelo à exposição foram
realizadas Rodas de Conversa: na aldeia Por Fi Gã São Leopoldo e no MAM, tendo como tema
a diversidade cultural, as escolas de educação formal e seu preparo para trabalhar com as

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diversas culturas. Os encontros levantam questões a serem estudadas e problematizados. A


comunidade abre um debate sobre a importância de um espaço que abrigasse materiais
produzidos, estudos e ações realizadas na e com a aldeia e pudessem serem disponibilizados
à futuros estudantes e pesquisadores. Defende-se que a troca de experiências e saberes, o
registro e divulgação dos resultados dessas e de outras pesquisas, ampliam o espaço de
circulação do conhecimento produzido e ressaltam a importância da valorização da história
indígena. Assim, em 2018, através da busca por apoio e parcerias com outras instituições,
empreendemos, junto a profissionais de arquitetura, uma mediação intercultural para
elaboração projeto de um “Memorial de Cultura Kaingang”, por meio de processo
participativo e da escolha de uma arquitetura que remete a produção artístico-cultural
kaingang, sendo esse também um instrumento de educação e valorização cultural.Essa
trajetória resultou na produção de um teaser afim de captação de recursos para a realização
das propostas, que objetivam valorizar a cultura kaingang e despertar o interesse dos jovens
indígenas para o ingresso nas universidades.

Presencias andinas en el espacio público. Contiendas entre los


requerimientos municipales y las organizaciones Quechuas/Aimaras en torno
a sus celebraciones en el Gran la Plata, Argentina

Sofía Silva e Stella Maris García

La presencia de migrantes andinos en la región rioplatense de Argentina data de las primeras


décadas del siglo XX, y en lo que va del XXI, la radicación de fuertes oleadas poblacionales se
ha incrementado contribuyendo a la construcción de una dinámica sociopolítica y económica
singular. Si bien se podría sistematizar esa dinámica según diferentes momentos históricos
nos interesa analizar qué desafíos enfrentan las diversas organizaciones en la disputa por el
espacio público. Esta presentación tiene como objetivo cotejar la hipótesis de trabajo de que
los migrantes quechua /aimara radicados en los partidos de La Plata y Berisso (Provincia de
Buenos Aires, Argentina) se organizan, desplazan y mueven impulsando prácticas
socioculturales indigenistas en el espacio urbano siendo, al mismo tiempo, protagonistas de
tensiones diversas para consumar sus objetivos. Se sistematizarán dichas tensiones a partir de
la actividad del grupo de la Academia Mayor de la Lengua Quechua y de otras organizaciones
indígenas andinas surgidas desde las colectividades bolivianas/peruanas. La necesidad de
disponer legalmente de espacios suficientes y apropiados para las ceremonias y rituales
motiva disputas, diálogos y/o desencuentros con los representantes municipales del Estado.

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Planteamos apelar a estrategias teórico metodológicas, cuanti y cualitativas para dar cuenta
de la propuesta de estudio.

Relación entre conceptualizaciones y políticas indigenas. El patrimonio


intangible

Liliana Ester Tamagno

El objetivo de esta ponencia es profundizar sobre la reflexión crítica que venimos


desarrollando en torno a los conceptos de interculturalidad y comunidad en tanto
vertebradores de las políticas indígenas de las últimas décadas. Ambos conceptos han sido
tratados en sus alcances y límites a lo largo de buena parte del desarrollo de las ciencias
sociales en general y de la antropología en particular. Entendemos el tratamiento del tema
que aquí se realiza como un aporte para pensar, desde las políticas indígenas, las prácticas y
representaciones de los pueblos indígenas vinculadas a cuestiones ambientales y de
reproducción social, así como para pensar la relación entre conocimiento académico,
conocimiento indígena y políticas en el marco de los contextos estatales (tanto municipales
como provinciales y nacionales). Se torna insoslayable continuar con la advertencia de los
límites que el concepto de “comunidad” muestra cuando se define y aplica de manera
mecanicista opacando el pensar los conjuntos indígenas en términos de lo comunitario, del
don y de la reciprocidad que guía muchas de sus prácticas y representaciones. Cuando nos
referimos a conocimiento indígena lejos estamos de pensar en términos dualistas, ya que
reconocemos su construcción dialéctica con otros tipos de conocimiento, entre ellos el
académico. Nuestra intención es destacar los modos en que el pasado, el presente y el futuro
se aúnan en los actos de memoria que guían las prácticas de los pueblos indígenas y la
significación que en estos procesos tienen las tradiciones, las visiones de mundo, y los valores
ancestrales que constituyen el patrimonio intangible; todo ello actualizado en rituales, mitos
y leyendas, que traídas al presente se proyectan al futuro pues implican utopías concretas que
son las que les dan fuerza para no dejar de ser, en una sociedad global que los subestima y los
niega guiada por los avance sobre los territorios indígenas de los extactivismos (agronegocio,
megaminería, megaturismo y otros).

ST 21 | Indígenas en contextos urbanos latinoamericanos y caribenhos


Fernando Urrea-Giraldo (Facultad de Ciencias Sociales y Económicas de la Universidad del Valle,
Colômbia); Waldor Federico A. Botero (Universidad del Pacífico, Colômbia); Jairo Alexander Castaño
(Universidad de Brasília – UnB, Brasil).

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

El proceso de migración rural-urbana que ocurre tanto al interior de los países de América Latina y el
Caribe como a nivel trasnacional, muestra que la tendencia global hacia la urbanización y el
crecimiento demográfico de las ciudades ha avanzado a passos agigantados en la región. En el caso de
los pueblos y comunidades indígenas, aunque la mayoría continua viviendo en zonas rurales, por lo
menos desde la década de los 90 es cada vez más evidente para los investigadores en ciencias sociales
y hacedores de política pública, que el fenómeno de la migración indígena hacia zonas urbanas –de
forma voluntaria o involuntaria-, es una realidad que ha reconfigurado las dinámicas de población en
las ciudades latinoamericanas. Varios factores han incidido fuertemente para que personas e incluso
comunidades indígenas migren hacia las ciudades, uno de los principales es la pérdida de la
tierra/territorio por procesos de desplazamiento forzado en zonas de interés económico y fuerte
presencia militar. La pobreza que se vive en las zonas rurales es otro de los factores que estimulan la
migración indígena rural-urbana así como los desastres naturales, la precarización o deterioro de los
medios de vida tradicionales, la falta de alternativas económicas viables y de oportunidades de
empleo, y el hecho que muchos hombres y mujeres indígenas –sobre todo más jóvenes- perciben
mejores oportunidades de vida en las ciudades. La presencia indígena en las metrópolis
latinoamericanas es histórica y está marcada por experiencias de explotación, exclusión, segregación
socio-residencial y racismo. En la mayoría de los casos la población indígena que habita las ciudades
engrosa los cinturones de miseria, las niñas, niños y jóvenes no cuentan con acceso a educación
(mucho menos diferencial), generalmente las familias viven en zonas que son vulnerables a los
desastres naturales y que no cuentan con infraestructura de servicios públicos básicos como agua,
energía y saneamiento, ni con acceso a los servicios de salud. Todo lo anterior contribuye a reproducir
los procesos de violencia, exclusión social y marginalidad que muchas veces lleva a los pueblos y
comunidades indígenas a abandonar sus lugares de origen. Em términos del acceso al poder político,
en las ciudades de América Latina y Caribe encontramos diversas realidades que muestran casos en
los que algunos pueblos y comunidades indígenas logran utilizar el sistema político para mejorar su
situación, mientras en otros casos ni siquiera existen mecanismos institucionales de atención y
relacionamiento del Estado con los pueblos y comunidades indígenas. Otro de los graves problemas
que afecta a los indígenas en las zonas urbanas tiene que ver con las experiencias de discriminación y

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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racismo que viven en el día a día, lo cual genera dificultades para practicar su lengua propia, sus
tradiciones, su identidad y su cultura así como para educar a las futuras generaciones, lo que puede
tener como resultado una trágica y dolorosa pérdida de la identidad cultural. No obstante lo anterior,
las ciudades también son el escenario de interesantes e intensos procesos de re-etnización y
reconfiguración de las identidades indígenas que presentan estimulantes desafíos teórico
metodológicos así como políticos. La reconfiguración territorial y las novedades en la interlocución con
el Estado que han desarrollado las demandas más recientes de reconocimiento étnico urbano surgidas
en la ciudad, muestran la variedad de formas como se manifiesta la etnicidad indígena en el espectro
político y como desafía las formas más tradicionales del Estado y la política local. En términos
generales, la propuesta de este simposio parte de un enfoque inter/multidisciplinar y comparativo,
para discutir ampliamente los procesos de urbanización y la cada vez mayor presencia indígena en las
ciudades debido a la migración rural-urbana, buscando describir, comprender y analizar la realidad que
experimentan las poblaciones y sujetos indígenas en contextos urbanos y cuál es su situación en
términos socio-demográficos, económicos, culturales, territoriales y socio-políticos.

Kuarika Naruki! Estratégias de luta e resistência Warao

Joelma Cristina Parente Monteiro Alencar

Julia Cleide Teixeira de Miranda

O acelerado fluxo migratório de venezuelanos no Brasil tem se intensificado, demandando à


sociedade civil e ao próprio Estado brasileiro a construção de formas de acolhimento e o
desenvolvimento de políticas de atendimento aos direitos fundamentais dos migrantes. Nesse
processo migratório, encontram-se os migrantes indígenas Warao. Os indígenas Warao são
provenientes da região do delta do Orinoco, principalmente dos estados Delta Amacuro e
Monagas, na Venezuela e desde 2014 tem empreendido migrações para o Brasil. Com o
agravamento do quadro político e econômico na Venezuela o fluxo aumentou. Os indígenas
começaram se instalando em cidades do estado de Roraima, em especial Boa Vista, mas
depois se espalharam para outros estados da região, como Amazonas e em 2017 chegaram
ao Pará, onde estão presentes nas cidades de Santarém e Belém. Em Belém, os Warao
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iniciaram a comercialização de artesanatos e a prática de colheita/mendicância no Mercado


do Ver o Peso, no Centro Comercial de Belém e arredores. Devido a grave situação de
vulnerabilidade social o Ministério Público Federal no Pará (MPF-PA) moveu uma ação
cobrando de diversas instituições públicas cobrando ações de assistência aos Warao que se
encontravam em Belém. Então, foi instituída uma Comissão Interinstitucional com o objetivo
de tratar especialmente da implantação das ações. Posteriormente essa Comissão se
subdividiu formando o Grupo de Trabalho de Educação, com o objetivo de propor um projeto
de educação específica, denominado de Kuarika Naruki, que propõe o fortalecimento cultural,
a sustentabilidade econômico- financeira e a aquisição da Língua Portuguesa enquanto
ferramenta de inclusão social e econômica. A participação na trajetória de desenvolvimento
desse processo migratório dos Warao em Belém, nos conduziu metodologicamente ao estudo
sobre os aspectos que se estabeleceram nas relações desses indígenas com as instituições
envolvidas nesse trabalho. A partir da observação e dos registros realizados durante os
encontros, reuniões, visitas técnicas e eventos realizados, analisamos como tem se
caracterizado as ações de políticas migratórias com os Warao em Belém, e até que ponto os
direitos à educação específica e diferenciada estão sendo garantidos. Se por um lado, por
parte das instituições, há a necessidade de considerar os aspectos presentes nos processos
históricos de contato como assimilação e integração dos indígenas à sociedade nacional, por
outro lado, há a dificuldade em acionar concepções sobre o direito de atravessar fronteiras,
de ter autonomia, entre outros direitos, quando em contextos urbanos. Neste estudo,
analisamos como os Warao tem construído suas estratégias de luta e resistência por meio do
projeto Kuarika Naruki.

La migración forzada indígena y la vulneración del derecho a la identidad


cultural en contextos de sustracción internacional de menores

Camila Ignacia Espinoza Almonacid

Los movimientos migratorios globales en gran parte son de carácter forzado originados en la
presencia de conflictos armados, territoriales y la militarización, con especial incidencia en el
caso de territorios y población indígena. Estos hechos han provocado que mujeres indígenas
latinoamericanas se vean en la necesidad de trasladarse fuera de sus respectivos territorios
nacionales. Debido al fenómeno migratorio han surgido nuevas problemáticas jurídicas que
son necesarias de regular por medio de instrumentos internacionales. Una de estas
problemáticas que se ha presentado es la sanción de la sustracción internacional de menores
que afecta a mujeres indígenas migrantes que se han trasladado con sus hijos e hijas en busca
de protección y nuevas oportunidades de vida. Se entiende por sustracción internacional de

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menores aquel fenómeno que se produce al momento en que un sujeto (hombre o mujer 1)
traslada a un menor de un estado a otro con infracción de disposiciones legales internas e
internacionales, casos que son regulados principalmente por el “Convenio de la Haya sobre
aspectos civiles de la sustracción internacional de menores del año 1980”. La sanción aplicada
a este hecho consiste en el retorno del menor al país de origen en un plazo sumarísimo, sin
consideración a la calidad de padre o madre de quien lo trasladó y su eventual separación si
no quiere o no puede retornar junto al hijo o hija. Es bajo este marco que por medio de este
trabajo ofrecemos exponer un análisis crítico frente a la invisibilidad que se le da a las víctimas
de migración forzada, y así, presentar una reflexión sobre la vulneración del derecho
fundamental a la identidad cultural de mujeres, niños y niñas indígenas migrantes, en especial
bajo el marco jurídico de la sustracción internacional de menores, fenómeno no ajeno a la
realidad de estas víctimas, examinando las herramientas que existen actualmente en los
principales cuerpos normativos internacionales para su protección. En especial revisamos
críticamente la aplicación y aplicabilidad del “Convenio de la Haya sobre aspectos civiles de la
sustracción internacional de menores del año 1980”, en armonía con los derechos asegurados
para mujeres, niños y niñas indígenas por otros instrumentos internacionales de derechos
humanos y damos cuenta de la escasa aplicación de un enfoque intercultural de los derechos
humanos, en el marco judicial y de las políticas públicas, urgente para la protección de
mujeres, niños y niñas indígenas víctimas de migración forzada en América Latina.

Reconfiguraciones de la identidad indígena en la ciudad. El caso de la


comunidad Nasa en Cali

Waldor Federico Botero Arias

Fernando Urrea-Giraldo

El interés de este artículo se centra en analizar la reconfiguración territorial y las novedades


en la interlocución con el Estado que han desarrollado las demandas más recientes de
reconocimiento étnico urbano surgidas en la ciudad, en correlación con las demandas
anteriores del conjunto de cabildos reconocidos como los “cabildos urbanos”. Se trata de
señalar la variedad de formas como se manifiesta la etnicidad indígena en el espectro político
y como desafía las formas más tradicionales del Estado y la política local, reincorporando las
dinámicas de ocupación tierras baldías del municipio con discursos innovadores de
recuperación de la autonomía territorial indígena bajo la idea de “liberar la madre tierra”.

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Investigar con mujeres jóvenes indígenas: diálogos y desafíos del trabajo de


campo

Grupo de Colegas Antropólogas y Etnomusicólogas – FFyL – UBA

Una nueva ola feminista se viene gestando desde hace unos pocos años. En Argentina, se
instaura fuerte desde el año 2015 a partir de la consigna ni una menos. Desde ese entonces
han acontecido hitos puntuales que se caracterizan principalmente por su convocatoria
masiva: marchas que reclaman la visibilización de casos de feminicidio y en contra de la
violencia de género, movilizaciones por el día de la mujer con consignas claras en pos del
respeto de nuestros derechos, sostenido apoyo a la legalización del aborto, denuncias públicas
de abuso a figuras de la cultura apoyadas por miles de mujeres, entre otros. En esta ponencia
nos proponemos reflexionar sobre los ecos que esta nueva ola genera en nosotras como
mujeres e investigadoras al trabajar con población indígena. Nos interesa problematizar
nuestras experiencias en el trabajo con mujeres toba/qom y mbyá guaraní que viven en
barrios urbanos de la provincia de Buenos Aires y Chaco y en zonas rurales de Misiones
respectivamente. Intentaremos realizar un análisis comparativo teniendo en cuenta las
particularidades que se presentan en el campo. Si bien, en su mayoría, nuestras
investigaciones no han puesto el foco en las problemáticas de género, el encuentro constante
con nuestras interlocutoras nos permite relevar demandas implícitas que, de algún modo u
otro, surgen en los intercambios cotidianos y se vuelven apremiantes. En este trabajo nos
interesa analizar especialmente los interrogantes que nos surgen al trabajar con mujeres
jóvenes. El énfasis en este grupo radica en la importancia de poner el diálogo sus experiencias
con el movimiento feminista que está aconteciendo en Argentina donde las jóvenes son
protagonistas. Asimismo, y fundamentalmente, nos preguntamos por los alcances y límites
de las políticas públicas destinadas a este sector y los de este movimiento en un contexto de
desigualdad y diversidad en el que realizamos trabajo de campo, donde nos enfrentamos a
diferentes adversidades, desde un escaso acceso a las tics como herramienta clave de
divulgación de problemáticas feministas, embarazos en adolescentes, subordinación de las
mujeres, violencia de género, entre otras situaciones que forman parte de las experiencias
cotidianas de estas jóvenes.

Mujeres indígenas en situación de prostitución: historias de vulnerabilidad en


la periferia de San Cristóbal, Chiapas

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Susana Flores López

El siguiente trabajo tiene como objetivo exponer el aumento de mujeres indígenas en


situación de prostitución en las cantinas como consecuencia de los cambios surgidos en los
ámbitos económico, político, religioso y cultural en las últimas dos décadas en Chiapas. La
irrupción del Ejercito Zapatista de Liberación Nacional en 1994 para denunciar las
desigualdades históricas contra las comunidades indígenas, ahora se han reinventado y
producido otras. Busco discutir las vulnerabilidades que atraviesan las mujeres tzeltales y
tzotziles de la periferia de San Cristóbal de las Casas a partir de un análisis que busca
comprender desde la perspectiva de las actoras como el patriarcado, capitalismo y
colonialismo hacen posible la prostitución, al ordenar de manera diferenciada a la población.
Este entronque de opresión ha encontrado una nueva variante en la prostitución para
violentar a las mujeres indígenas en la suma de sus vulnerabilidades: ser mujer, indígena,
analfabeta y pobre en la periferia de una de las ciudades con mayor turismo y reconocido por
su trayectoria en contra del mal gobierno. “La prostitución es el trabajo más antiguo” dice la
vox populi. Sin embargo, no hay una mirada étnica desde el análisis de las ciencias sociales,
porque ha sido abordada desde el enfoque de salud, la moral y la ética. Y a pesar de que
existen diversas miradas desde las cuales se puede abordar el tópico, en el trabajo
problematizo: la prostitución como el mayor espacio social de violencia hacia las mujeres
indígenas. Por lo tanto, el interés de este trabajo radica en discutir las relaciones de poder que
se invisibilizan en la práctica. Cabe mencionar que soy una mujer indígena queriendo discutir
los problemas que enfrentan las comunidades en la actualidad.

La facilidad compartida hacia el mixteco por sus hablantes y la transmisión de


la lengua en colonias de la ciudad de Ensenada, Baja California

Eyder Gabriel Sima Lozano

Lilian Chantal Orozco Rodríguez

Dentro del panorama de lenguas indígenas de Baja California, México, el mixteco es la lengua
de migrantes provenientes del sur del país con mayor número de hablantes en la entidad,
superando a las lenguas nativas de la familia Yumana. Entre algunos autores que han llevado
a cabo estudios de los mixtecos en la región destacan: Clark (2008) quien presenta un estudio
de tipo social, Venegas y Julián (2015) analizan desde la adquisición del lenguaje el aprendizaje

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de la escritura del idioma por los niños; en tanto, Mena (2016) y Mena, Tinajero y Canett
(2016) abordan problemáticas del proceso enseñanza-aprendizaje desde las políticas
lingüísticas y la educación. Así, desde la sociolingüística y siguiendo la propuesta de la facilidad
compartida de Terborg y García (2011a) presentamos como objetivo detectar la trasmisión de
la lengua mixteca hacia las nuevas generaciones en dos colonias de la ciudad de Ensenada a
la que han arribado los indígenas mixtecos. En consonancia nos preguntamos: ¿cómo se refleja
en los usos comunicativos del hogar la transmisión del mixteco de los padres hacia los hijos?
¿Cuáles son los espacios de mayor uso del idioma mixteco por sus hablantes? ¿Cómo afecta
el contacto del mixteco con el español para la vitalidad y mantenimiento de la lengua
indígena? La ciudad de Ensenada en Baja California es la tercera ciudad con mayor población
en esta entidad mexicana. Cercana a Tijuana, zona fronteriza, es un polo de atracción para
migrantes indígenas no solo para los mixtecos; otros grupos como zapotecos, triquis,
tlaplanecos, náhuatls, etc. arriban a la región para dedicarse a las actividades de siembra y
cosecha de verduras y frutas. La población de hablantes del mixteco se calcula en el último
reporte del Instituto Nacional de Estadística y Geografía, INEGI (2016) en 19,212 hablantes,
representando el 41.90% del total de 45,854 hablantes de todas las lenguas indígenas de la
entidad bajacaliforniana, siendo Ensenada el espacio de mayor concentración para dicho
grupo. Los conceptos clave que guiaron este trabajo son: mantenimiento, entendido según la
definición de Mesthrie y Leap (2000:253) como: “el uso continuado de una lengua frente a
una lengua competidora regional y socialmente poderosa”. El constructo del desplazamiento
se define como: “el reemplazo de una lengua por otra como medio primario de comunicación
y socialización en una comunidad” (Mesthrie y Leap 2000:253). Asimismo, la teoría de la
facilidad compartida juega un papel importante para el análisis, pues se constituye en el
momento en que los individuos deciden qué lengua o lenguas emplearán para ciertos temas,
al lograrse este propósito estamos hablando de un éxito en la comunicación, lo que incide en
identificar la vitalidad de una lengua (Terborg y García, 2011a). La metodología consistió en la
aplicación de un cuestionario sociolingüístico que indaga sobre los usos y funciones del idioma
en 117 hablantes de mixteco y español. Los datos se analizaron siguiendo la fórmula
matemática de la máxima facilidad compartida (MFC) explicada por Terborg y García (2011b).
Entre algunos de los resultados notables destaca que existe un amplio uso de la lengua en
poblaciones etarias como adultos y jóvenes, pero los adultos ya no la trasmiten a las nuevas
generaciones, los niños, por lo que existen presiones y señales negativas para la continuidad
del idioma en la región entre las nuevas generaciones.

O processo de desterritorialização do povo indígena no Estado do Ceará

Natanael Nogueira do Nascimento

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Buscamos debater o processo de desterritorialização dos povos indígenas com enfoque no


Estado do Ceará. Os constantes conflitos envolvendo a posse de terra afetam principalmente
os grupos historicamente empurrados violentamente para a margem da sociedade, feita por
uma minoria conservadora. Dentre esses grupos que são afetados, podemos citar agricultores,
camponeses, povos indígenas e outros. As/aos que são obrigados a deixar suas terras lhes
restam a busca por trabalho formal ou mesmo informal nas capitais ou municípios
metropolitanos estando sujeito a sofrer todo tipo de preconceito devido sua origem. Nossas
informações são baseadas em relatos colhidos de povos indígenas do município de Caucaia -
Ceará, ademais, realizamos leituras de obras como (TEIXEIRA, 2008) e (BAINES, 2006) como
forma de compor nosso arcabouço teórico. Desde o ano de 1991 percebeu-se uma elevação
no número de indígenas habitando áreas urbanas ou capitais ou municípios metropolitanos,
o que certamente é um indicador do processo de crescimento da migração do campo para a
cidade, o que demonstra precariedade em se manter no meio rural.

A cartografia social como ferramenta metodológica para afirmação de


direitos indígenas em contextos urbanos

Gercidio Junior Valeriano Pereira

Marina Schkolnick Soares Leite

Trabalho escrito para participação no Terceiro Congresso Internacional Povos Indígenas da


América Latina e tem como proposta central apresentar I) a situação de desigualdade e
exclusão sociocultural e econômica vivenciada por povos indígenas que vivem em contextos
urbanos, com foco na Região Metropolitana de São Paulo; II) discutir as potencialidades do
uso da metodologia das cartografias sociais para auxiliar na reflexão e análise qualitativa desse
fenômeno social. Este trabalho integra um projeto de Iniciação Científica que tem como
objetivo principal mapear e analisar a literatura produzida sobre o tema das desigualdades
sociais intraurbanas e sua associação com as questões de segmentos indígenas que vivem em
contextos urbanos na Região do Grande ABCD, especificamente as etnias Pankará,
Pankararu,Guarani Mbya e Wassu-Cocal; O processo de urbanização brasileiro está
intrinsecamente ligado à intensificação e ampliação de desigualdades socioespaciais, esta tese
encontra-se estabelecida pela literatura voltada ao tema, principalmente em estudos e
conceitos desenvolvidos por Milton Santos e Flávio Villaça. Os povos indígenas que vivem em
contextos urbanos fazem parte de uma dinâmica socioespacial excludente e isso pode ser
notado por suas condições de acesso à saúde, educação, moradia, diferenciado
socioculturalmente. A proposta de discutir o uso da cartografia social para aprofundar o

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conhecimento sobre essa realidade é um dos objetivos principais dessa apresentação. Cabe
notar que essa IC está associada ao Projeto de Extensão intitulado “Diagnóstico Sociocultural
e Econômico da população indígenas residente no Grande ABCD”, sob orientação do etnólogo
e docente da UFABC, Dro Luís Roberto de Paula. O trabalho apresentará uma síntese da
revisão bibliográfica realizada até aqui sobre desigualdades intraurbanas e populações
indígenas que vivem em contextos urbanos. Também serão apresentados dados quantitativos
e qualitativos sobre esse segmento social, bem como mapas iniciais que representam as
dinâmicas desses segmentos em território nacional até sua fixação na região do Grande ABCD.
Um apresentação sucinta da metodologia da cartografia social também será um dos objetivos
metodológicos deste trabalho. Com base nas experiências com cartografias sociais
levantamos a discussão da importância dos procedimentos metodológicos no processo de
etnogênese dos indígenas em contexto urbano e a importância de sua participação e
protagonismo, visando uma construção identitária que subverta a lógica liberal e
colonizadora, participando ativamente do planejamento urbano como forma de afirmação de
seus direitos.
Indígenas em Manaus: condições de vida e contradições na cidade

Norma Maria Bentes de Sousa

O artigo apresenta características demográficas e socioeconômicas das pessoas


autoidentificadas como indígenas no Censo 2010, em Manaus, capital do Estado do
Amazonas, com o objetivo de identificar suas condições de vida e moradia, ao mesmo tempo
compará-las com outros grupos segundo cor ou raça branca, amarela, preta e parda. Os dados
utilizados são do IBGE, especialmente do censo demográfico de 2010, organizados em
indicadores de educação, trabalho, renda e moradia. A análise dos dados demostra que, os
indígenas possuem situação mais precária dentre os grupos pesquisados, com baixo acesso a
condições adequadas de vida. São os que possuem o menor índice de alfabetização (82,77%),
se inserem no mercado de trabalho informal, pois apenas 17,56% têm a carteira de trabalho
assinada, 25,00% desenvolvem atividades como trabalhador doméstico e, o predomínio da
localização de suas moradias é nas favelas e assemelhados. Na maioria das vezes,
compartilham dessas mesmas condições com pretos e pardos, grupos sociais
tradicionalmente afetados pelo desenvolvimento desigual e a lógica de mercantilização
predominante no espaço urbano.

La producción de ngtram significativos en las ciudades de la costa y valle de la


provincia de Chubut: contar la violencia, el despojo y la migración entre los
mapuche-tehuelche urbanos
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Valentina Stella

Las ciudades de la región de la costa y valle de la provincia de Chubut (Patagonia, Argentina)


se caracterizan por estar conformadas por diversas trayectorias de ―arribos‖ de diferentes
personas mapuche-tehuelche que se encontraron con la necesidad de migrar de sus lugares
de origen. A través del arte verbal mapuche, los indígenas que habitan la región volvieron a
dar sentido a sus pertenencias hacia su Pueblo, y lo hicieron de formas que resultan
significativas –afectiva y políticamente—para vivir y repensarse ―juntos‖ en estos nuevos
sitios de arribo. En la producción de ngtram (historias verdaderas) significativos en las
ciudades, las experiencias de vida de las personas que habitan la región fueron adquiriendo el
valor de índex de ensamble –entre pasados, presentes y futuros-- al señalar cómo continuar
el curso de la historia. Este trabajo, por lo tanto, apunta a contar el modo en que el
reconocimiento de ciertas experiencias como index de la memoria permitió a las personas
mapuche- tehuelche de la costa y el valle producir fijezas donde parecía no haberlas y
recentrar sus sentimientos de pertenencia como proyectos políticos compartidos con los
antepasados.

Programa Bolsa Família e famílias indígenas periurbanas no Alto Rio


Negro/AM: contribuições para a saúde de crianças e adolescentes indígenas

Hamyla Elizabeth da Silva Trindade

Rosana Cristina Pereira Parente

Ana Lúcia de Moura Pontes

Pesquisa quali-quantitiva que analisou o perfil sociodemográfico, o acesso e uso dos recursos
do Programa Bolsa Família de famílias indígenas de comunidade periurbana do município de
São Gabriel da Cachoeira, no estado Amazonas. O foco da análise foi refletir sobre os limites
e possibilidades de melhoria dos cuidados e alimentação de crianças e adolescentes indígenas.
Para o estudo quantitativo, foram utilizados dois bancos de dados, o primeiro com dados
secundários de 2018 (disponíveis em: https://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/vis/data/data-
table.php), e o segundo constituído de dados primários resultantes da aplicação de formulário
específico às 26 famílias da comunidade pesquisada. O estudo qualitativo envolveu
entrevistas semiestruturada com 10 famílias da etnia Baniwa e observação participante.

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Apesar da maior parte da população indígena do município residir em área rural, somente
57% dessa população é cadastrada no programa. Na comunidade estudada, 43% da população
da comunidade é usuária do PBF, que são na sua maioria menores de 15 anos. Todas as
famílias dependem da agricultura para alimentação e geração de renda, o recurso do PBF gera
uma renda média de R$300,00, representando 61,7% da renda familiar. Existem diversos
obstáculos ao acesso do recurso, mesmo no contexto periurbano. As famílias referem que o
recurso é insuficiente para suas necessidades, mas permite ofertar às crianças e adolescentes
indígenas o incremente do consumo de alguns alimentos e de produtos para a garantia da
frequência escolar. O cumprimento das condicionalidades dependem da oferta dos serviços
de saúde e educação, e somente esse último ofertado regularmente, de modo que o
monitoramento da saúde não foi garantido no período da pesquisa.

Migración, educación y prácticas alimenticias: entre la resistencia y la


asimilación

Mercedes Araceli Ramirez Benitez

La migración es un fenómeno sociocultural y económico que trae consigo múltiples cambios


en los estilos de vida de los grupos migrantes. En México, en las últimas décadas, se han
multiplicado los grupos indígenas que migran del campo a las grandes ciudades en busca de
mejores condiciones de vida ya sea por problemas económicos, políticos, religiosos y de salud
entre los más comunes. Este trabajo presenta un avance de la investigación que se está
realizando sobre las transformaciones que tienen las prácticas alimenticias de las familias
indígenas migrantes en la Ciudad de México. Partimos de considerar que la migración, ya sea
forzada o voluntaria trae como consecuencia ciertas fracturas con la cultura e identidad de
origen, fracturas que implican en algunos casos un extrañamiento con lo propio y una
asimilación de lo ajeno. Procesos que pueden llevar a la población indígena, a ocultar lo propio
para adquirir nuevos conocimientos y técnicas para realizar sus prácticas alimentarias. Por
otro lado está la población indígena que se siente plenamente orgullosa de su identidad y
cultura alimentaria y que va a tratar en lo posible de conservarla. Metodológicamente se
utiliza la estrategia cualitativa, la cual nos permite conocer la forma en que principalmente las
mujeres portadoras en su mayoría de los saberes y haceres alimenticios significan y dan
sentido a sus prácticas, para lo cual se pretende aplicar 50 entrevistas abiertas (hasta el
momento 10) a mujeres indígenas migrantes de dos generaciones. Encontramos de manera
preliminar que en aquellas que tienen ya dos generaciones de ser migrantes hay una gran
nostalgia por lo propio, nos hablan de su lucha por conservar su identidad a partir de la

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resistencia en sus prácticas cotidianas y de la integración de lo que fue lo nuevo para poder
subsistir en la ciudad.

ST 22 | Insurgências e resistências: a vida nas/das terras indígenas sob regimes


autoritários
Marcela Stockler Coelho de Souza (Universidade de Brasília – UnB, Brasil); Júlia Otero dos Santos
(Universidade Federal do Pará – UFPA, Brasil).

As “soluções” jurídicas dadas pelos países latino-americanos ao “problema” das terras indígenas – isto
é, a questão do reconhecimento e garantia de direitos de acesso, uso, ocupação, posse, propriedade
etc da terra por parte dos coletivos indígenas que foram dela separados pela invasão e conquista
europeias – são muito variadas e divergentes, Não obstante, há algo que todos parecem ter em
comum: sua incapacidade de prover a essas terras as garantias e proteção almejadas. Isso se aplica
mesmo às Constituições democráticas conquistadas após o ocaso dos regimes autoritários dos anos
1970 (Brasil 1988; Equador 2008, Bolívia 2009) e a despeito de todo o multiculturalismo que as inspirou
(ou mesmo, em casos famosos, do reconhecimento que prestam à “Terra”/Pachamama como sujeito
de direitos, num movimento explícito de aproximação e composição em princípios e valores oriundos
das culturas e movimentos indígenas.). Os limites das soluções constitucionais, bem como dos
dispositivos legais derivados ou das políticas públicas imaginadas nesse quadro, foram se evidenciando
na medida mesmo em que esses dispositivos iam sendo colocados à prova no contexto político e
conflitivo de sua implementação. Na mesma medida, aliás, em que se evidenciavam também a
criatividade e a tenacidade dos modos de resistência desenvolvidos por diferentes povos e
comunidades. Desdobrando-se em uma história de mais de meio milênio, esses modos de resistência
são muito mais que táticas ou estratégias voltadas para o enfrentamento dos agentes econômicos ou
do Estado interessados na expropriação e exploração das terras indígenas. Constituem modos de vida
— mais que mera sobrevivência definidos ao mesmo tempo pelas formas de socialidade (intra e extra-
humana) por meio das quais cada coletivo indígena se conhece e se define, e pela luta que sustenta
essa socialidade, essa “cultura”, sob as condições que a dominação colonial (“interna”) requer. Em
muitos de nossos países, o “tempo dos direitos” está agora ou ameaçado, ou no futuro. A capacidade

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de manter a vida — das pessoas e de todos os outros com quem elas vivem na terra, a vida da terra
enfim — será, como foi, um recurso crítico nessas condições. Interessa-nos discutir experiências
indígenas (de qualquer época histórica) que, expressando uma resistência que insiste em existir em
seus próprios termos, contrapõem às narrativas mortais da nação e da propriedade as histórias de
propagação e sustentação da vida (das pessoas, dos animais, plantas, espíritos e suas relações) de que
tanto precisamos.

Visibilización de la resistencia: el caso de dos nativos Awajún-Wampis


perseguidos en contexto del “Baguazo”, Amazonas – Perú

Manuel Yóplac Acosta

El Perú forma parte de la Amazonía, considerada la reserva ambiental más grande del mundo.
Sin embargo, en medio de una sociedad capitalista globalizante, estos recursos son ofertados
por los estados a la gran empresa en desmedro de los derechos de los pueblos ancestrales y
el propio ambiente. El año 2008, en marco de la firman del Tratado de Libre Comercio entre
el gobierno peruano y de Estados Unidos, el Estado emite 99 decretos legislativos. Estas
normas facilitaban la explotación de los recursos de las tierras ancestrales de las comunidades
nativas. Los pueblos amazónicos protestan, pero al no tener una respuesta, el 9 de abril del
año 2009 se declaran en huelga, exponiendo como principal pedido, la derogatoria de siete
de estos decretos. El gobierno y el Congreso se muestran contrarios a la derogatoria, y la
huelga se extiende por 57 días. En este contexto, el 5 de junio de 2009 se producen
enfrentamientos violentos entre protestantes, principalmente de las etnias awajún-wampis,
y las fuerzas del orden estatal. Según Royo (2017, 182) señala que, producto de este
enfrentamiento, mueren 37 personas, quedan heridas de bala 82, así como hubo más de 300
heridas por otros elementos. Romio (2017, 200) sostiene que “el 5 de junio 2009 es una fecha
marcada en la memoria de muchos peruanos por ser el aniversario de uno de los más
sangrientos conflictos amazónicos de los últimos 20 años”. En marco esta violencia
generalizada y la resistencia solidaria, el gobierno decreta Estado de Emergencia y los
efectivos del orden detuvieron a 138 personas (Guevara, 2014, 296) de las cuales, 67 eran
nativos y 71 mestizos. De estos detenidos, 28 fueron encarceladas. Dos de ellos
permanecieron privados de su libertad por más de cinco años: Feliciano Cahuasa Rolin y Dany
López Shawit, pese a que los nueve delitos que los imputan carecen de pruebas. Cahuasa
(2015, 28) dece “nosotros los encarcelados pagamos el peso de la venganza del Estado al
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pueblo amazónico por atrevernos a defender nuestros territorios”. Este artículo describe y
reflexiona sobre la situación de estos dos nativos encarcelados en contexto del conflicto
socioambiental conocido como “Baguazo”. La investigación de seis años de seguimiento,
desarrolla aspectos sobre la situación legal, condiciones de encarcelamiento y vida familiar de
ambos; evidenciando que fueron estigmatizados, criminalizados y maltratados por su
condición étnica y visibilidad de la resistencia en la defensa de los territorios ancestrales. Se
reflexiona también, sobre cómo la cultura occidental dominante, continúa mirando a los
pueblos indígenas como inferiores y a la Amazonía, solo como fuente de capital, pese a la
necesidad de construir un diálogo intercultural en torno a la crisis ambiental.

Sobre outros modos de ocupar: o tempo dos sonhos o Tekoha sonhado Tupi
Guarani

Lígia Rodrigues de Almeida

O intuito, a partir dessa comunicação, é realizar uma reflexão a respeito das diferenças
apresentadas por famílias tupi guarani, que vivem no município de Barão de Antonina,
sudoeste do Estado de São Paulo, entre a noção de se instalar em um território, ou seja,
construir uma infraestrutura (casas, escolas, etc.), e a noção de ocupar um território, que diz
respeito às suas vivências e suas relações com uma dada localidade. Conforme explicam,
mesmo nos momentos em que foram retiradas de seus territórios e impossibilitadas de
retomá-los, essas famílias nunca deixaram de ocupá-los, isso porque nunca deixaram de vivê-
los, visitando-os e fortalecendo-os (mbaraeté) com frequência neste mundo e no mundo dos
sonhos. Por essa razão, também pretendo nessa comunicação, discutir acerca dos conceitos
tempo dos sonhos e tekoha sonhado, mobilizados por essas famílias para se referir aos
territórios que ocupam e aos movimentos que realizam no processo de fabricação e
manutenção desses locais. Por fim, buscarei discorrer sobre a forma como a concepção tupi
guarani de ocupação se opõe à “tese” equivocada de marco temporal acionada no contexto
político/jurídico atual a fim de deslegitimar as ocupações e retomadas territoriais indígenas.

Os povos da floresta e a política indigenista ditatorial: remoções e resistência


dos Alantesu e Wasusu entre os anos de 1970-1975

Rayane Barreto de Araújo


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Durante a década de 1970, no contexto de expansão da fronteira agrícola na Amazônia Legal


promovida por incentivos dos governos ditatoriais, a Fundação Nacional do Índio (Funai),
criada em 1969, concedeu a empresas agropecuárias, industriais, madeireiras e de prospecção
mineral certidões que negavam a presença de indígenas em seus territórios tradicionais, com
a finalidade de viabilizar a ocupação capitalista nas regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil
consideradas “vazias”. Concomitante a esse processo de concessão de certidões e de invasão
de terras indígenas, etnias foram removidas dos seus territórios tradicionais e deslocadas para
outras terras com as quais não possuíam qualquer ligação. Alguns dos povos impactados com
essas ações foram os Alantesu e Wasusu, etnias do grupo linguístico Nambiquara, que além
de perderem suas terras para as agropecuárias foram removidas entre 1970-1975 das terras
férteis do Vale do Guaporé a uma nova reserva, criada em 1968 numa área de Cerrado,
incompatível ecologicamente com sua forma de vida: a Reserva Nambikwara. O interesse na
criação da reserva era a liberação das terras indígenas no noroeste do Mato Grosso para
grandes empresas agropecuárias, a partir da remoção de todos os grupos Nambiquara para
ela. As remoções da Funai não respeitaram a territorialidade desses grupos, suas
particularidades étnicas e culturais, gerando consequências onerosas para eles. A abertura do
território indígena para a ocupação das fazendas terminou por aumentar a incidência de
doenças e de perdas humanas entre os Nambiquara e, apesar de terem suas terras tomadas
pelas fazendas, os Wasusu e o Alantesu retornaram paulatinamente aos seus territórios ao
longo da década de 1970, disputando espaço com as empresas e entrando em conflitos com
elas. Ao se debruçar sobre o tema, este trabalho tem como objetivo apresentar uma reflexão
sobre as remoções das etnias Alantesu e Wasusu durante a ditadura militar e sua agência
histórica diante deste processo. Analisaremos de que forma as remoções impactaram os
grupos deslocados para a reserva e como agiram diante da expansão das grandes fazendas
em seus territórios, bem como à política indigenista da Funai, levando em consideração suas
características culturais e sociopolíticas. Parte-se da hipótese de que elementos constituintes
da etnicidade desses grupos foram fundamentais para forma como significaram as remoções
e elaboraram estratégias. Os conceitos de territorialização de João Pacheco de Oliveira,
grupos étnicos de Fredrik Barth e cultura na concepção de E.P. Thompson são alguns dos
instrumentos teóricos que guiam as reflexões.

Além da terra como materialidade do território, olhando os conceitos de


‘construção de espaço’ e de ‘coexistência das diferentes formas de vida’ no
pensamento Mapuche

Leonarda De La Ossa Arias

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Este trabalho pretende apresentar resultados parciales de um projeto de pesquisa em


interlocução com Pu Mapuche que hoje habitam o Wallmapu, nome do que experimentam e
demandam como o território ancestral Mapuche, localizado no que hoje conhecemos como
Chile e Argentina. Foram no redor de três séculos, nos quais Pu Mapuche mantiveram acordos
diplomáticos com a coroa de Espanha, que permitiram a Pu Mapuche fazer exercício de
autonomia e controle territorial. Com a criação dos Estados nacionais (e focalizo no Chile) e
as múltiplas campanhas militares feitas para “pacificar” y “ocupar” o que até a independencia
de Chile da Espanha tenha sido território autônomo Mapuche, um povo que abertamente
apresentava-se por fora do imperativo de uma organização sócio - política na figura de um
Estado e que foi submetido ao despejamento pelo meio justamente de um projeto
cartográfico nacional de “ocupar” e “pacificar”, e ali veio há 130 anos o grande des - encontro,
que hoje atualiza-se constantemente, porque o des-encontro, fica na fundação do Estado -
nacional e o seu desconhecimento de uma nação que assim foi reconhecida pela coroa de
Espanha. A delimitação de fronteiras feita pelos ancestrais Pu Mapuche, demarcando as terras
antigas, lembrada hoje da linha antiga e nomeada como esse Wallmapu ou território ancestral
Mapuche. A resistência Mapuche hoje desde a multiplicidade de se reconhecer como tal, é
insurgência e práctica constante, que se faz no habitar espaços que para o Estado e os capitais
empresariais são olhados só como materialidade - terrenos - aptos para a monocultura de
eucalipto. O trabalho mergulha e pensa junto aos conceitos de Pu Mapuche antropólogos e
historiadores o que acontece com o retomar com isso que se retoma, explorando as
provocações que desde Pu Mapuche falam de uma geografia da vida, e uma noção vida-
céntrica de construir mundos onde há um imperativo que fala da coexistência das diferentes
formas de vida como sendo parte do poderia ser o ser Mapuche. A reconstrução do povo
nação, aparece na retomada-recuperação como uma sanação (Stengers, Isabel,2017), mas
também a reconstrução apresenta-se pensando desde o mapudungun a coexistência das
diferentes formas de vida e aprofundo através dos conceitos de IxoFillMogen o FillKeMogen
(Melin et al,2017,p.20), que apresentam a emergência de um pensamento geográfico
Mapuche que pensa o espaço como uma construção, deslocando-o do imperativo da
produção(Quidel,José,2012). A etnografia foi feita no espaço judiciário de tensões é dizer, em
cárceles e tribunais, onde as feridas abertas continuam a nos falar e interpelar.

Os planos de gestão de terras indígenas no âmbito da PNGATI: resistência ou


acomodação na institucionalização de práticas e saberes indígenas em uma
política pública

Henyo Trindade Barrerro Filho

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Baseado numa experiência de consultoria de longa duração junto à Fundação Nacional do


Índio, o trabalho se propõe uma interpretação sobre o relativamente recente e generalizado
movimento de muitos povos indígenas de elaborarem planos de gestão (territorial, ambiental,
etnoterritorial, etnoambiental, etc.) para suas terras. Narrado em estilo autoetnográfico,
trata-se de um ensaio que articula diferentes tipos de fontes (observações diretas, convivência
institucional cotidiana, sistematizações de experiências, relatórios e textos publicados) a partir
da interação com distintos atores que têm articulado tal campo de iniciativas (indígenas de
vários povos e comunidades, líderes destes, técnicos e acadêmicos indígenas, servidores de
órgãos públicos federais e estaduais, expertos de ONGs, assessores, consultores da
cooperação internacional) em distintas escalas (local, regional, nacional e global). O foco são
as iniciativas tanto de elaboração e implementação de planos de gestão, quanto de
desenvolvimento de competências e habilidades (cursos e treinamentos dirigidos a indígenas
e técnicos do governo) para implementar uma política pública e seus instrumentos – em tese,
concebidos (e previstos para se efetivarem) de modo participativo –, que a experiência de
consultoria permitiu conhecer – o que incluiu o contato mais próximo com algumas
experiências locais em alguns casos (Roraima; Cerrado/Brasil Central; domínio Mata Atlântica
do Sul e Sudeste; área deabrangência da Apoinme). Inspirado nas críticas de Clifford (1988) à
sintaxe da resistência e na noção de resistência normal de Scott (1985), e entendendo que o
movimento indígena contemporâneo protagoniza uma ontopolítica (Escobar, 2015) que
navega tanto contra o Estado quanto dentro deste (Silva, 2017) – vide a presença ativa de
indígenas em fóruns institucionalizados de participação e controle sociais de políticas públicas
– o ensaio traz um esboço etnográfico histórico, panorâmico e fragmentado dessas iniciativas,
propondo uma compreensão generalista destas em termos de formas cotidianas de
resistência – ou deslocamentos contra-hegemônicos limitados – que permitem manter
territórios da diferença por meio de acordos pragmáticos (Almeida, 2013) entre coletivos
indígenas multiformes e o Estado. As próprias conexões parciais das socialidades indígenas
com as economias de mercados formadores de preços, ao longo da história colonial e
contemporaneamente (Straatmann e Santilli, 2019), parecem constituir matrizes de
aprendizados e práticas de relacionamento a partir das quais entendem e atualizam tanto
virtualidades quanto seus próprios fundamentos.

Levantar gente, Levantar terra: lutas pela terra e resistências como modos de
vida entre os Guarani e Kaiowa em Mato Grosso do Sul

Lauriene Seraguza e Eliel Benites

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Este ensaio está sendo gestado a partir de duas perspectivas distintas, mas que aqui se
pretendem colaborativas: a de um pesquisador kaiowá e a de uma pesquisadora não indígena,
sobre um mesmo tema, as retomadas de terra entre os Guarani e Kaiowá em Mato Grosso do
Sul, assunto que pesquisamos e dialogamos há quase uma década em conjunto. As retomadas
são percebidas como uma ação política de retorno para os tekoha (as aldeias ancestrais) de
onde foram expulsos no século passado, numa perspectiva de recompor o ñande reko ete
(modo de ser) através do oguata (maneira própria de caminhar), para a sua reconexão com o
Ñande Ramóĩ Jusu (divindade kaiowá). Nos anos de 1980, impossibilitados de viver conforme
o ñande reko ete confinados nas Reservas – os exíguos pedaços de terra reservado pelo Estado
Brasileiro para os Guarani e Kaiowá em Mato Grosso do Sul (1915-1928) –, rompem com as
cercas impostas pelo Estado e iniciam um movimento de retorno, em meio a muita violência,
à terra esbulhada. Este movimento se dá com o apoio dos rezadores, de mulheres e homens,
e estas, são fundamentais para a entrada e permanência na terra recuperada. Retomar a terra,
é também retomar o parentesco, os conhecimentos, as várias relações que são cortadas com
a vida em Reserva. Neste sentido, pretendemos apresentar percepções acerca do movimento
de retomar e reconstruir a vida em terras já devastadas pelo agronegócio, o que significa
recuperar o ambiente e com isto, trazer de volta os espíritos e as divindades afastadas com a
chegada do não indígena, os parentes fragmentados pela vida em reserva, a alegria abafada
com o cenário de violência a que são submetidos homens e mulheres kaiowa e guarani em
Mato Grosso do Sul. A ideia é refletir sobre como uma aldeia se levanta, atentando para as
noções kaiowa e guarani de terra e de como se refaz a vida na terra recuperada,
reestabelecendo afetos, novas experimentações, lutas e garantindo a multiplicidade de suas
existências e resistências.

Linhas de fuga para viver a floresta: sobre alguns dos modos de (r)existência
Tikmũ,ũn_Maxakali

Paula Berbert

Douglas Ferreira Gadelha Campelo

O objetivo dessa comunicação é seguir na reflexão conjunta que temos feito acerca dos modos
de existência tikmũ,ũn/maxakali no contexto da história de sua relação com os brancos
(ãyuhuk). Numa oportunidade anterior (BERBERT, 2017 e BERBERT e CAMPELO, 2018),
lançamos um olhar para a estrutura de longa duração explicitada na formulação de Sueli
Maxakali, quando ela nos diz que para o seu povo “nunca acabou a ditadura”. Observamos,
ao analisarmos mais detidamente as políticas indigenistas entre os anos de 1940 e 1988 a
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partir de narrativas tikmũ,ũn, processos de embranquecimento de suas terras, além do


exercício do necropoder (MBEMBE, 2018) sobre corpos tikmũ,ũn por meio de táticas de
pacificação orquestradas por um ardiloso cinismo do bem (BERBERT e CAMPELO, 2018). Para
esse seminário interessa-nos compreender o lugar da floresta para os corpos e modos de
(r)existência tikmũ,ũn. Ao longo do século XX, as poucas matas que restaram na região do vale
do Mucuri serviram como linhas de errância (GLOWCZEWSKI, 2015) e fuga por pessoas
tikmũ,ũn. Ali se configuraram lugares onde puderam edificar suas resistências aos fazendeiros
e funcionários do SPI, em que destacamos um evento que ficou conhecido entre a população
local como “Revolta do Posto”. Como resposta aos “levantes maxakali”, o Estado militarizou
suas terras com a presença permanente de um posto avançado da Polícia Militar de Minas
Gerais, experiência precursora da Guarda Rural Indígena no período de transição entre SPI e
a FUNAI (BERBERT, 2017). Argumentamos que apesar dos esforços da política indigenista
vigente de embranquecer as suas terras e de das tentativas de assimilação dos seus corpos,
pessoas tikmũ,ũn encontraram linhas de fuga para atualizar seus modos próprios de
existência. No desenrolar de tal processo, no qual os ãyuhuk transformaram a densidade e
complexidade da mata atlântica na homogeneidade e tédio do pasto de capim colonião,
pessoas tikmũ,ũn, por meio de suas relações com os yãmĩyxop – povos-espíritos-cantores –,
fazem a floresta atravessar seus corpos. Os yãmiyxop permitem, ao circular seus cantos por
esses corpos, a continuidade de um devir tikmũ,ũn (ROMERO, 2015 e CAMPELO, 2018). Nosso
interesse é então refletir sobre como esse devir produz linhas de fuga e errância, conduzindo
os tikmũ,ũn a uma floresta que já não está de pé e criando, assim, contornos específicos para
permitir um outro território existencial (GLOWCZEWSKI, 2008 e GUATARI, 1992) e
cosmopolítico, a partir de onde eles agenciam suas estratégias de contraposição à guerra do
Estado (BERBERT, 2017), mobilizando em seus próprios termos conceitos como cultura,
direitos, saúde e escola indígena, propriedade e mercadoria.

As sementes do chão da aldeia: o papel dos advogados(as) indígenas na


efetivação dos direitos dos povos indígenas

Breno Neno Silva Cavalcante

Desde a colonização histórica, os Povos Indígenas de Abya Yala (‘América’, no idioma Kuna)
têm vivido entre violências e resistências (Oliveira, 2016). A relação com o mundo colonial e
suas instituições políticas, fez com que a população autóctone do Brasil modificasse sua
cultura, suas relações sociais e, consequentemente, suas concepções de Justiça e Direito
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(Geertz, 1998; Sierra, 2011; Machado, 2009). Mas o contrário também é verdadeiro. Os Povos
Indígenas também influenciaram/influenciam o Direito brasileiro, não à toa conseguiram,
através dos séculos, conquistar direitos etnicamente diferenciados e inscrevê-los em diplomas
nacionais e internacionais (Araujo, 2006; Souza Filho, 2012). A partir da década de 1970, essas
conquistas passaram a ser mediadas pelo Movimento Indígena organizado (Luciano, 2006;
Munduruku, 2012), o qual, em 1988, logrou a inserção do Capítulo ‘Dos Índios’ na Constituição
Federal, com isso contribuindo na transição do Estado Tutelar para um Estado Pluriétnico e
garante do direito à diferença. Ainda nesse período, as lideranças indígenas começam a se
organizar para enviar jovens indígenas às universidades, de modo que eles (as) pudessem
contribuir com a efetivação dos direitos conquistados. Esse projeto, pensado e executado
pelos Povos Indígenas em parceria com aliados (acadêmicos, antropólogos, organizações não
governamentais e entidades ligadas à Igreja Católica), é como uma semente que se planta no
chão da aldeia e depois germina para contribuir na luta do movimento indígena. Dentre essas
sementes estão os advogados indígenas, os quais têm tido um papel cada vez mais presente
nas ações judiciais, na assessoria a organizações indígenas, na política eleitoral e nas lutas
gerais da agenda dos Povos Indígenas. O presente trabalho trata do papel desses advogados
na luta pela efetivação dos direitos já conquistados formalmente, a partir de entrevistas com
Ricardo Weibe Nascimento Costa (Tapeba), Paulo Celso de Oliveira (Pankararu) e Luiz Herique
Eloy Amado (Terena). Concluo que a atuação dos advogados indígenas, a partir da perspectiva
dos entrevistados, se dá na forma de uma advocacia indígena popular, porque está
diretamente ligada às demandas do Movimento Indígena, com o qual contribuem em três
âmbitos: formação, organização e luta. A partir da fala dos interlocutores, que indicam os
desafios políticos e econômicos já colocados e os que estão por vir, em especial sob um Estado
ainda mais autoritário (Santos, 2012); indico os obstáculos enfrentados nessa atuação e
apresento alternativas para tentar superá-los.

O povo Krĩkati, a demarcação de sua terra e o processo inconcluso de sua


desintrusão

Kátia Núbia Ferreira Corrêa

Os Krĩkati estão localizados à leste do rio Tocantins, na parte sudoeste do Maranhão, com uma
população de 1066 indivíduos. São falantes de uma língua classificada como Timbira, da
família linguística Jê, tronco Macro-jê. Esse povo teve sua terra demarcada em 1997 e
homologada em 2004. Entretanto, o processo de desintrusão que ocorreu inicialmente,
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concomitante à sua demarcação não foi concluído até os dias atuais. Ações judiciais movidas
por não índios (há 37 anos) alegando a propriedade da terra e questionando ao mesmo tempo
a extensão demarcada é recorrente na justiça federal, apesar de a Constituição de 1988, Art.
231, parágrafo 6°, assegurar que “são nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os
atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este
artigo...”. É nesse contexto que o presente trabalho pretende refletir sobre o processo de
demarcação da TI Krĩkati, a morosidade do Estado em sua desintrusão (a qual impede o
usufruto exclusivo e efetivo de sua terra), bem como a retomada relativa dos modos próprios
de habitar krĩkati (“espalhando” e “ajuntando”) em uma terra hoje demarcada, fixada em
limites, mas ainda com um processo inconcluso de desintrusão que já perfazem vinte e dois
anos.

A terras e seus habitantes entre os Awá-Guajá: a lógica dos distribuidores


sensíveis

Renata Otto Diniz

Gostaria de investigar a transformação awá-guajá a respeito daquilo que sugiro ser uma torsão
na descrição da relação que autores da etnologia das terras baixas da América do Sul chamam
de "maestria", ou domesticação. Minha sugestão para caso da sociedade awá-guajá, é que
talvez possamos descrevê-la mais genericamente como uma forma que relaciona pares de
acompanhantes assimétricos. De forma um pouco mais específica, diria que tal relação deve
ser um caso particular da lógica da distribuição de qualidades. Proponho atravessar alguns
níveis da sociedade: mitológico; cosmológico, e sociológico, sondando a pertinência desta
"logica". Em seguida, pergunto se isso que se costuma chamar de maestria não seria um modo
de exprimir o "dualismo em perpétuo desequilíbrio"; 2) se isso que chamamos sociologia não
diria respeito também aos não-humanos. Caso afirmemos as perguntas, seria inevitável que
houvesse consequências epistemológicas e ontológicas para a definição da terra/cosmos.
Digamos que, do ponto de vista do patamar terrestre, a humanidade é englobada por não-
humanos, assim como a terra é englobada pelo céu. Em outras palavras, os humanos são
diminuídos restringidos (abandonados) ao patamar terrestre e distinguido dos animais e
espíritos. Todavia, do ponto de vista do céu e do tempo imemorial, a humanidade é
englobante, porque nenhum dos seres que habita neles (no céu inclusive a terra) deixa de ser
humano. De maneira muito geral, isto demonstraria que a humanidade e a sociologia, que
parecem dizer respeito exclusivamente aos humanos, devem, dizer respeito a todos os seres
habitantes do cosmos. De modo particular, demonstraria que a terra dos Awá-Guajá não é

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apenas território, chão limitado de cerca, mas uma terra dotada de um céu, uma Terra
completa como um mundo outro.

A "guerra dos 18 anos": uma análise da ditadura civil-militar brasileira a partir


da perspectiva do povo indígena Xakriabá

Juliana Ventura de Souza Fernandes

Nesta comunicação apresentaremos algumas discussões que vem sendo desenvolvidas em


nossa pesquisa de doutorado sobre a ditadura civil-militar brasileira (1964-1988) a partir da
perspectiva do povo indígena Xakriabá. Por meio de categorias nativas que designam a
implantação de políticas desenvolvimentistas em seu território de ocupação tradicional como
"guerra", "tempo de luta pela terra" ou "luta dos 18 anos", discutiremos aspectos da violência
empreendida pelo Estado brasileiro contra os Xakriabá, que compreende uma guerra contra
os corpos, uma guerra contra o Cerrado e uma guerra contra a "cultura". Considerando o
longo histórico de tentativas de colonização de seu território, iniciada ainda no século XVIl, os
Xakriabá foram classificados como caboclos, a partir de categorias próprias mobilizadas pelo
discurso indigenista vigente no século XIX. No final da década de 1960, o território Xakriabá
passou a ser sistematicamente ocupado por posseiros e grandes fazendeiros, legitimados pelo
PLANOROESTE - um projeto de colonização de áreas "desabitadas" e "improdutivas", levado
a cabo pela RURALMINAS, empresa colonizadora, ligada ao governo estadual mineiro. Até
esse período, o povo Xakriabá não tinha sua identidade indígena reconhecida pelo Estado
brasileiro. Esse reconhecimento acontece apenas nos anos 1970, a partir de uma intensa
mobilização Xakriabá, cujo repertório incluiu viagens em "busca de direitos", articulações com
parceiros externos como o CIMI e "retomadas", que se relacionam tanto aos mutirões de
reocupação de terras invadidas como a um complexo processo de ressignificação cultural e
identitária, que envolve agenciamentos humanos e não humanos. O reconhecimento
identitário não foi suficiente para impedir a intensa escalada de violência no território,
protagonizada pelas articulações entre agentes públicos, como a PM e privados. Os ataques
culminaram no assassinato de três indígenas em 1987, incluindo Rosalino Gomes de Oliveira,
grande liderança dos mutirões. Apenas após esse episódio, que ficou conhecido como a
"chacina Xakriabá", a FUNAI, encontrou recursos para as indenizações previstas desde 1979,
quando a terra foi demarcada. Do ponto de vista Xakriabá, a garantia de permanência na terra
é consequência da luta de seus mártires e mais velhos, cuja experiência continua contribuindo
aos desafios territoriais históricos e contemporâneos. A partir do trabalho de campo e da
pesquisa documental, procuraremos analisar como a investigação sobre a experiência

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indígena frente a regimes autoritários contemporâneos permite uma desestabilização de


regimes discursivos comuns à historiografia da ditadura, ampliando suas perspectivas.

Moeno Owï, Kahyana Owï

Angela Amanakwa Kaxuyana

Victor Alcantara e Silva

Nossa proposta é contar, a partir dos pontos de vista distintos de um antropólogo e de uma
liderança Kahyana, parte da história deste povo tido até recentemente como “desaparecido”
pela literatura antropológica. Habitantes tradicionais dos rios Trombetas e Katxpakuru, os
Kahyana – assim como seus parentes próximos Txikyana e Katxuyana – viram-se, nos anos
1960 e 1970, impelidos a deixar seus territórios pela pressão missionária aliada a interesses
econômico-militares na região noroeste do Pará que previam a abertura de estradas,
instalação de hidrelétricas, implantação de grandes projetos de mineração e assentamentos
rurais nas áreas indígenas, que seriam liberadas através da concentração da população nativa
em aldeias-missão com presença militar, em zonas de fronteira nacional. Acolhidos por outros
povos, os Kahyana – assim como outros – passaram décadas “invisíveis”, vivendo em
territórios alheios e assumindo outras designações, mas sem se esquecerem de seus próprios
nomes e lugares, que passaram a retomar a partir dos anos 2000, reestabelecendo laços com
a terra, com seus mortos que ali permaneceram, com os espíritos donos dos lugares e com os
parentes que permaneceram e se isolaram na região.

Variação da resistência e a resistência da variação entre os Guarani Mbya

Lucas Keese dos Santos

Os Guarani, um grande povo entre os tantos que originalmente habitam essas terras, há muito
operam sofisticados movimentos para lidar com as agressões de seus inimigos. Durante esse
longo processo de existir entre diferentes, mas também de resistir a uma força agressora
descomunal que busca violentamente exterminar as diferenças, onde se situam os Guarani?
Entre a guerra e a diplomacia, o embate e a dispersão, a proximidade e o isolamento, qual
seria sua posição? A partir de fragmentos históricos e de uma breve incursão na etnografia

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recente das lutas dos Guarani Mbya no extremo sul de São Paulo, sobretudo sobre as novas
aldeias criadas neste contexto, esta comunicação busca sugerir como a resistência guarani se
compõe de diferentes ações e posições, entre a visibilidade e a invisibilidade, a luta no Estado
e a luta a despeito dele, sem, no entanto, se deixar cristalizar em nenhuma delas.

A conversão da terra e a experiência do limite

Andressa Lewandowki

A comunicação tem por objetivo discutir a noção constitucional de terra tradicionalmente


ocupada (conforme consta no artigo 231 da Constituição Federal brasileira de 1988), a partir
dos fundamentos jurídicos, antropológicos e indígenas em que se ancoram os processos de
demarcação de terras indígenas. A ideia é explorar as diferentes perspectivas em torno do
“direito à terra” e os modos como são articuladas nos debates jurídicos. A análise se concentra
em três processos judiciais, decididos pelo Supremo Tribunal Federal, que demandavam uma
interpretação jurídica sobre a extensão ou os limites do que poderia ser considerado como
ocupação tradicional, capaz de garantir o ato administrativo da demarcação, tentando pensar
como essas decisões enfrentam as experiências concretas de vida com e na terra para os
povos indígenas.

Terra e autonomia: a questão da Terra Indígena Riozinho do Iaco

Marcos de Almeida Matos

Ao longo dos últimos cem anos dois modos de fazer território se enfrentam nas margens do
rio Iaco, afluente da margem direita do rio Alto Purus: de um lado, as iniciativas para demarcar
terras e seringais, descrever e fixar grupos e lugares para territorializar conjuntos de pessoas,
estabelecer direitos e prerrogativas quanto aos modos de produzir e de viver, e consolidar o
domínio sobre as principais vias de comunicação; de outro, as viagens pelos varadouros que
conectam as cabeceiras dos rios, ou viagens de canoa para trocar coisas e adquirir mercadorias
junto coletivos distantes, grupos que se organizavam ao redor de pessoas “maiores” ou
“antigas”, os grandes sogros e sogras que abriram lugares, criaram seus filhos, que
periodicamente saiam em viagem para visitar parentes distantes. A violência da colonização
terminou por impor sobre a região a hegemonia daquele primeiro modo de fazer território,
obrigando todos os coletivos a se adequarem a ele à sua maneira. Impôs também as histórias
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registradas no arquivo colonial, que narram como indivíduos dotados de vontade soberana se
impuseram como patrões de um grande número de trabalhadores, como dono de campos,
estradas de seringa e de portos estratégicos. Ao longo dessa história a autonomia dos
conjuntos de pessoas indígenas foi perdida e relativamente reconquistada segundo as formas
que se desenharam no tempo, desde a invasão das cabeceiras dos rios por bandos de
aventureiros e de colonos levados ali para a exploração da borracha, passando pela fixação
das pessoas às margens dos seringais e fazendas, até o momento em que se delimita e
demarca uma terra indígena, momento percebido por muitos indígenas como sendo de
libertação e de retomada de seus modos próprios de organização social. Nesse processo, a
aquisição e o consumo de certos tipos de mercadorias ou de bens tomados dos brancos se
tornaram eixos fundamentais nos modos de se pensar a constituição das pessoas e de sua
vida. A assimetria desmedida na troca com os colonizadores, que levou àquilo que é por vezes
chamado de “escravidão por dívida”, é por vezes pensada pelas pessoas indígenas como
resultante de uma desigualdade na posse de certos tipos de conhecimentos. O processo de
demarcação da Terra Indígena Mamoadate começou ainda em 1976, impulsionado pelo que
ficou estabelecido na Lei 6001 de 1973. Foi quando muitas pessoas que até então trabalhavam
na chamada Fazenda Brasil foram buscar seus parentes nos “centros” espalhados pelos
seringais da região, para convidá-los a morar dentro dos limites da terra indígena recém
demarcada. Ainda assim, um grande número de famílias indígenas (manxineru e jaminawa)
permaneceram morando fora daquela terra indígena, inclusive em lugares que anos depois
estariam dentro dos limites demarcados para a Reserva Extrativista Chico Mendes. Depois de
muitos deslocamentos e vicissitudes, algumas pessoas passaram a reinvindicar a demarcação
de uma nova terra indígena, na expectativa de assim conseguir novamente reconquistar uma
autonomia permanentemente sob ameaça. A demanda territorial dessas pessoas é
comumente desqualificada pelos brancos que vivem na região, e até mesmo por agentes de
instituições indigenistas, sob o argumento de que elas deveriam ou ir viver na terra indígena
já demarcada, ou continuar vivendo na Reserva Extrativista Chico Mendes, aceitando as regras
de uso impostas pelo ICMBio. Partindo de um breve sobrevôo sobre relatos históricos, tanto
aqueles oriundos do arquivo colonial quanto os colhidos entre os mitos narrados por pessoas
indígenas que habitam a região, a comunicação proposta pretende caracterizar histórica e
sociologicamente a região do alto rio Iaco, para então perguntar pelas perspectivas que se
abrem às pessoas que hoje reivindicam a demarcação da Terra Indígena Riozinho do Iaco.

Fixar, andar: caminhos cruzados sobre territórios e modos de vida

Elaine Moreira

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Nos últimos dois anos tenho acompanhado a situação dos indígenas Warao, no que se
costuma chamar fluxo migratório Venezuelano. Passando a fronteira experimentaram a
expulsão, a vida em situação de rua e a politica de abrigamento, em Roraima, Amazonas e
Para. Ha vários registros sobre esta experiência, especialmente produzidos pelos
antropólogos do MPF. Proponho a refletir sobre o dialogo, as vezes difícil, entre as lideranças
indígenas de Roraima e lideranças Warao, destacando os argumentos de cada um sobre a
ideia de território. A percepção de abandono do território pelos Warao, indica muito mais um
experiência vivida de luta pela terra que o olhar sobre a experiência dos próprios Warao. Por
outro lado, a experiência do abrigamento, tem trazido inúmeros problemas, em resposta a
este confinamento eles continuam a sua mobilidade, para outros estados, No entanto,
reduzidos a números para a maioria dos relatórios por parte do Estado ou pelas agencias
internacionais, a sua mobilidade e suas relações com seu território, permanece invisibilizada.
Para os Warao o territorio passa pelas plantas, alimentos e fibras. Indicando uma relação forte
com modos de vida e cuidados, mas invisível no discurso sobre um tipo único de resistência
que se imagina fixa.

“Por que você vai encher a nossa terra com água?” A luta dos Arara/Karo e
Gavião/Ikólóéhj em defesa do rio Machado

Renata da Silva Nobrega

“Por que você vai encher a nossa terra com água?” Registrada em janeiro de 1988, durante a
ocupação do canteiro de obras da Usina Ji-Paraná por guerreiros Arara/Karo e
Gavião/Ikólóéhj, a interrogação do velho chefe Ikólóéhj continua a ecoar. Suspensa após
intensa mobilização popular marcada pelo protagonismo indígena na década de 1990, a
ameaça de barrar o rio Machado perdura há mais de trinta anos, colocando em risco o
território dos Arara e dos Gavião, alagando a Terra Indígena Igarapé Lourdes, seus cemitérios,
moradias, roças, lugares de pesca, castanhais, etc. Propostos no início dos anos 1980, ainda
sob o regime militar, os projetos hidrelétricos do rio Machado previam um arranjo original
composto por dois eixos de barramento, com potência instalada total de 1285 MW e área
inundada de 1627 km2. Após uma breve trégua, a ofensiva barrageira voltou a pairar sobre o
rio Machado. Em 2005, os estudos de inventário do Rio Machado foram retomados numa
parceria entre ELETRONORTE, FURNAS e a Construtora Queiroz Galvão, ressuscitando a Usina
Tabajara. Um rearranjo do projeto original reduziu a área de alagamento para 128,8 km2 e a
potência prevista para 350 MW. A sede da usina projetada é Machadinho do Oeste, uma das
fronteiras em expansão em Rondônia, presente nas listas de campeões de desmatamento. De
acordo com os proponentes, a nova configuração do projeto da Usina Tabajara não apresenta
prejuízos para a Terra Indígena Igarapé Lourdes, que passam a recair sobre os Tenharim, no
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sul do Amazonas, cujos territórios, inclusive as áreas não demarcadas, estão ameaçados e se
reconhece o risco para os isolados Kagwahiva e do Madeirinha. A despeito de não serem mais
reconhecidos como potenciais atingidos pela Usina Tabajara, sequer constando no Termo de
Referência do Componente Indígena do empreendimento proposto, os povos do Igarapé
Lourdes consideram que serão prejudicados de qualquer jeito e permanecem mobilizados
contra esta ameaça. Diante do exposto, a comunicação pretende discutir alguns significados
e implicações desta duradoura luta indígena anti- barragem, especialmente sobre as formas
pelas quais estes povos articulam a defesa do rio como a defesa da terra, fundamento de sua
existência.

Os lugares dos outros: a terra Karajá como superposição

Eduardo Soares Nunes

Os Karajá do Brasil Central dizem de certos lugares que eles são o “território” (hãwa) de
Outros, sejam eles outros povos indígenas, os mortos ou certos espíritos. Os cemitérios, por
exemplo, são ditos serem a aldeia dos mortos. Também os próprios Karajá, por outro lado,
têm seus próprios lugares – suas aldeias –, que são constantemente produzidos enquanto
espaços humanos. Em um sentido mais amplo, porém, todos esses lugares são concebidos
como parte daquilo que os Karajá chamam de “seu território”, que abrange não apenas os
lugares habitados como muitos outros tipos de lugares ao longo do vale do Araguaia. Em
muitos casos, os limites do que é um território (hãwa) próprio ou alheio não é definido
precisamente, pois eles se superpõem uns aos outros (parcial ou completamente). Nessa
comunicação, argumento que esse tipo de superposição, ainda que em termos práticos possa
se mostrar algo muito delicado, não é um problema conceitual para os Karajá. Longe disso, é
a própria natureza da terra, ou território (hãwa). Habitar um lugar, ou simplesmente estar ali,
implica saber que esse “mesmo” lugar é o território de Outros. Por isso, é sempre necessário
que as pessoas avaliem cuidadosamente as possíveis consequências – ou efeitos – de suas
ações. Um “mesmo” lugar, portanto, é lugares diferentes para seus diferentes habitantes; o
que vale dizer que o que faz os lugares, ou territórios, é uma diferença intensiva constitutiva,
ou seja, uma superposição. Habitar a terra, portanto, é uma delicada cosmopolítica do
respeito.

O protagonismo dos estudantes indígenas na luta pela demarcação dos seus


territórios tradicionais

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Luiza Kelly Assis de Oliveira

A comunidade Tuxá, passou por inúmeras formas de violações de direitos fundamentais e


consuetudinário, desde quando foi reconhecida enquanto povo indígena pelo Estado, até os
tempos atuais. Contou nos anos de 1980, com a inundação do seu território tradicional Ilha
da Viúva, pela construção da barragem de Itaparica, executada pela Companhia Hidroelétrica
do São Francisco- CHESF. O presente ensaio tem como objetivo refletir sobre os avanços e
desafios na contemporaneidade acerca das demarcações de terras indígenas, com ênfase na
experiência vivenciada na comunidade indígena Tuxá, principalmente depois da parceria com
a assessoria jurídica pela luta do território sagrado D’zorobabé. O Povo Rudeleiro viveu no
D’zorobabé por décadas e logo depois se deslocou involuntariamente para outra área devido
à inundação natural do Rio São Francisco, contudo o Povo Tuxá, originários desse Povo,
mediante a falta do território tradicional/ancestral reivindica a demarcação do seu território
tradicional D’zorobabé desde 2010. No ano de 2017, a Fundação Nacional do Índio-FUNAI
publicou a portaria No 580/2018 deliberando a criação do Grupo de Trabalho (GT), a pedido
do Ministério Público Federal, para o estudo antropológico na referida área. Seguindo o
trâmite legal do decreto n° 1775/96, que regulamenta a demarcação de terras indígenas,
ainda na primeira etapa do processo demarcatório, o Povo Tuxá foi surpreendido pela
reintegração de posse expedida pelo juiz estadual da comarca de Chorrochó, que determinava
a remoção de 490 famílias e que ainda negava o exercício do direito de defesa desta
comunidade. Destarte, a comunidade contou com a assessoria jurídica do Serviço de Apoio
Jurídico- SAJU, extensão da Faculdade de direito da Universidade Federal da Bahia, que tem
como integrante uma estudante indígena Tuxá graduanda em Direito da Universidade já
descrita, contemplando o papel do estudante indígena que adentra no sistema acadêmico e
que contribui para assegurar os direitos fundamentais e coletivos de sua comunidade
indígena. O SAJU objetivando traçar formais de luta pelos meios judiciais e, sobretudo
políticos pela luta da demarcação do território junto à aldeia Tuxá, permite que o estudante
indígena adentre nos mecanismos fornecidos pela educação jurídica atuando, inclusive, na
defesa de sua própria aldeia. Em meios, as ameaças do atual governo que se instala, é preciso
que as comunidades indígenas se atentem as novas estratégias, na perspectiva de fortalecer
as lutas para vencerem os obstáculos que surgirão a cada dia, sobretudo aos direitos que
foram e continuarão sendo usurpado, mas que devem ser pautados e conquistados por esses
povos.

Questões sobre genocídio e etnocídio indígena: a persistência da destruição

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Helena Palmquist

No ano de 2013 foi redescoberto no Rio de Janeiro, o Relatório apresentado em 1967 pelo
Procurador Jader de Figueiredo Correia no qual foram compulsados consistentes registros de
violência contra povos indígenas brasileiros cometidos por agentes estatais em conluio com
forças de segurança e fazendeiros, sob a égide do Serviço de Proteção aos Índios (SPI),
responsável por processos continuados de etnocídio e violência contra os povos que deveria
proteger. Ao mesmo tempo, em 2013, povos indígenas em vários pontos do país eram
continuamente atingidos por violências e processos de etnocídio e genocídio na esteira de
empreendimentos econômicos e projetos de desenvolvimento estatais e privados. Por quais
mecanismos o etnocídio e o genocídio seguem presentes nas ações de agentes de estatais ou
privados no Brasil, atravessando gerações, períodos históricos, mudanças políticas e jurídicas?
Para essas questões, o presente trabalho busca respostas, examinando, na literatura
antropológica, em estudos jurídicos e em estudos de genocídio, os autores que se debruçaram
sobre o tema do genocídio e do etnocídio contra povos indígenas. Ao lado dos debates
conceituais que se desdobraram a partir da criação dos termos genocídio (em 1943) e
etnocídio (em 1970), o trabalho examina documentos que registram a persistência de
processos genocidas e etnocidas contra povos indígenas de 1910 aos dias atuais: os
documentos produzidos por Roger Casement sobre o terror no Putumayo; a investigação do
procurador Jader Figueiredo sobre os crimes do SPI; as denúncias produzidas por Shelton
Davis, por um grupo de antropólogos anônimos e pela Comissão Nacional da Verdade sobre
as violências desencadeadas pela política de desenvolvimento da ditadura militar brasileira; o
filme Martírio, de Vincent Carelli, Tita e Ernesto de Carvalho, sobre o longo genocídio dos
Guarani Kaiowá; e por fim, as ações judiciais do MPF que tratam da ação etnocida contra os
povos indígenas atingidos pela UHE Belo Monte.

La Amazonia rebelde: monografía de los movimientos indígenas amazónicos


en resistência

Miguel Angel Urquijo Pineda

El presente artículo presenta una propuesta teórico metodológica orientada a comprender a


la región amazónica como sujeto de estudio, partiendo de la hipótesis de que los territorios
que la integran comparten un ethos común, derivado de su particular historia colonial, la cual
generó una construcción simbólica sobre ella en torno a las ideas de salvajismo y barbarie; así

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como de sus características ecosistémicas, que la convierten el último reducto de


biodiversidad del mundo. En tal sentido, el territorio amazónico comprende indisociadamente
a los pueblos y comunidades que lo habitan desde periodos precoloniales, en una relación de
tensión constante entre la civilización y el estado de naturaleza y que es posible solo por lo
que para esta propuesta se denomina ethos común amazónico que, en síntesis, implica las
capacidades culturales y materiales que tienen estos grupos humanos para subsistir en una
de las regiones más hostiles del planeta. Así, para Occidente la región representa la última
frontera para la expansión del proyecto civilizatorio de los Estados y también para la plena
expresión del proyecto económico de los países de la región (primario exportadores) y su
necesidad de insertarse en el mercado mundial, bajo la dinámica de lo que Immanuel
Wallerstein denominó como sistema-mundo. La Amazonia representa una frontera pues no
constituye un territorio deshabitado ya que tiene una larga tradición de resistencia marcada
por una relación distinta de sus habitantes con el territorio, el espacio y el tiempo. De esta
manera, aunque al territorio amazónico en su conjunto lo atraviesa una verdadera
constelación de pequeños y medianos grupos y comunidades originarias que comparten una
gran diversidad lingüística y de tradición milenaria, para efectos de esta investigación se les
considerará dentro de un ethos amazónico común, constituyendo un núcleo fundamental
para entender los procesos y luchas de resistencia, que en su expresión humana, caracterizan
a la macro región amazónica.

Desta terra para esta terra: modos de rexistência Tikmu'un/Maxakali

Roberto Romero e Isael Maxakali

“Queremos que o governo nos devolva a nossa terra grande para os yãmĩyxop caçarem,
mõgmõka (gavião-espírito), putuxop (papagaio-espírito) e kotkuphi (mandioca- espírito). Para
eles caçarem e comerem aqui mesmo na nossa terra, a sua comida verdadeira”. Com essas
palavras Sueli Maxakali entregou, em 2015, um dos mapas que os pajés tikmũ’ũn elaboraram
retraçando o seu território de ocupação tradicional durante a I Conferência Nacional de
Política Indigenista, realizada pela Funai na aldeia de Água Boa, município de Santa Helena de
Minas, Minas Gerais. A fala repete um motivo reiterado pelas lideranças indígenas: a
ampliação da terra atende aos yãmĩyxop, uma miríade de povos-espíritos que, de tempos em
tempos, deixam as suas terras outras (hãmnõy) para passar temporadas nas aldeias tikmũ’ũn.
Na década de 1940, os Tikmũ’ũn, que hoje somam aproximadamente 2.000 pessoas vivendo
em cerca de 6.000 hectares em três terras indígenas no Vale do Mucuri (MG) chegarem a 100.
Ao longo do último século, a região originalmente de Mata Atlântica foi totalmente devastada
pelo avanço da pecuária. Sem ter mais para onde fugir, os Tikmũ’ũn foram confinados nas
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terras onde vivem atualmente, já completamente degradadas pela exploração da madeira


facilitada por agentes do Estado durante o período do Serviço de Proteção ao Índio (SPI). “Hoje
nós estamos cercados como porcos, e os fazendeiros são como onças – querem acabar com a
gente. Se vamos para um lado, damos de cara com a onça, se vamos pro outro, com a sucuri
grande” resumia Isael Maxakali na mesma Conferência. Nas palavras de Isael, “Nossos velhos
tiveram de escolher: ou perdiam a terra ou perdiam a língua. Preferiram perder a terra do que
perder a língua, pois perdendo a língua perderíamos os cantos e não seríamos mais ninguém”.
Neste trabalho, pretendemos retomar o histórico de expropriação do território tikmũ’ũn e
apresenta-lo também desde a perspectiva da relação entre os Tikmũ’ũn e os yãmĩyxop.

Andar sobre a terra: constituição de lugares, coletivos e espaços-tempos


Karo-Arara

Julia Otero dos Santos

Maloca, seringal e aldeia são espaços/imagens por meio dos quais os Karo-Arara falam de suas
trajetórias familiares e da história de seu povo. Pretende-se mostrar como tais espaços podem
ser entendidos de duas formas distintas: de um lado, como lugares particulares que são
constituídos por (e constituem) grupos de parentes; de outro, como espaços-tempos
contrastantes que distinguem socialidades específicas idealmente praticadas em cada um
desses espaços-tempos, e que acabam constituindo um coletivo mais amplo, algo como o
povo Karo-Arara. As andanças pela região do rio Machado são fundamentais para entender a
constituição de lugares, espaços-tempos e coletivos.

“Pela garantia e proteção dos territórios”: agências e posicionamentos


indígenas no atual cenário político brasileiro

Marcia do Carmo Sousa

Benedito Emílio da Silva Ribeiro

Vanderlúcia da Silva Ponte

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Esta proposta pretende analisar o agenciamento dos povos indígenas da/na Amazônia
brasileira diante da conjuntura sociopolítica vivenciada no país após o Golpe de 2016 e a ações
das bancadas conservadoras no Congresso Federal Brasileiro, sobretudo da “ruralista”. Para
tanto, este trabalho toma como norte principal as vivências da equipe de pesquisa, vinculada
ao Grupo de Estudos e Pesquisas Interculturais Pará-Maranhão (GEIPAM) da Universidade
Federal do Pará/Campus de Bragança, durante sua participação na XI Assembleia da
Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB). Com o tema “Pela
garantia e proteção dos territórios”, esta Assembleia ocorreu em agosto de 2017 na aldeia
Sede do povo Tenetehar-Tembé, a qual se situa na Terra Indígena Alto Rio Guamá (TIARG),
nordeste do Estado do Pará/Brasil. Utilizou-se como aporte metodológico a etnografia, a
história oral e os recursos da análise do discurso para compreender os posicionamentos e as
lógicas indígenas observadas ao longo do trabalho de campo. Os discursos produzidos durante
a Assembleia, que contou com aproximadamente 600 participantes, denotam posições
antagônicas ao modo de se “fazer política” no âmbito nacional. Com ênfase no protagonismo
feminino, na defesa dos territórios e nos conhecimentos tradicionais, as lideranças indígenas
posicionam-se de forma resistente frente aos sistemas de governo político-partidários,
enfatizando os direitos constitucionais dos povos “originários”. Percebe-se que o Movimento
Indígena pode ser encarado como uma expressão política complexa e que envolve uma gama
de significados e contextos cosmológicos que enveredam sua atuação nos múltiplos cenários
(local, regional, nacional e internacional), em que o “fazer política” para os povos indígenas
tem outros posicionamentos, derivante das ontologias e sociocosmologias específicas dos
grupos que compõem o mosaico dinâmico das políticas indígenas na atualidade, tanto no
Brasil quanto na América Latina.

A terra sagrada e os direitos indígenas em tempos incertos

Sílvia Gabriel Teixeira

Tiago Geisler

A Constituição Federal de 1988 consagrou como direito originário o direito indígena a terra,
reconhecendo-se assim que os índios como os primeiros habitantes do Brasil. Contudo, esse
direito nunca pode ser exercido em plenitude em decorrência de inúmeras ameaças sofridas
e, principalmente, agora com as políticas adotadas pelo novo governo. A invasão, ocupação e
exploração do solo brasileiro foram e são fatores importantes para as transformações radicais
que os povos originários passam no decorrer da história do país. Através da tradição da teoria
social crítica, pode-se deter elementos teórico-metodológicos significativos para análise do
processo histórico social vivido por esses povos e perceber a enredo contemporânea de
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ameaças à própria continuidade da existência da vida indígena e sua possibilidade de


autodeterminação e auto-organização. A realidade do acesso, uso e apropriação das terras
brasileiras é resultado de uma condição colonial de longa exploração, muitas das vezes sem
qualquer responsabilidade e com consequências graves que perduram até os presentes dias.
Com do capitalismo e suas implicações para a exploração do campo brasileiro a relação entre
indígenas, lavradores e quilombolas vive em constantes ameaças de expropriação e
reprodução das formas de cassação do seu principal meio de reprodução da vida: a terra. A
terra passa a ter a função de mercadoria e, muitas das vezes, se sobrepondo ao valor sagrado
e essencial dado pelos povos originários. A disputa de terras e o monopólio destas em mãos
da classe economicamente mais forte passa a ser um dos principais impasses vividos pela
população indígena, colocando em risco suas vidas. Prevalecendo-se assim a ideia que os
povos tradicionais são um problema para desenvolvimento nacional e um obstáculo para o
progresso nacional. A realidade contemporânea e as demandas vitais próprias dos povos
originários são muito complexas e dinâmicas. A demarcação da terra deve ser interpretada
como um ser social, não apenas como mera transação comercial. É ao mesmo tempo um
momento que não pode-se colocar as populações tradicionais em posição periférica,
subalterna, para obedecer e se enquadrar efetivamente no sistema de normas que se refere
à sua própria vida. É preciso um diálogo intercultural e plural. Para tanto é preciso também
uma mudança na legislação para que esta torne-se adequada as necessidades das populações
tradicionais, sendo que essa alteração deve ser realizada de forma participativa, para que haja
garantia de proteção de vida dos povos indígenas. O objetivo principal deve ser respeitar,
fomentar e preservar o ethos da comunidade indígena.

Land in Trance: Global capitalism expansion and the governance of


indigenous dispossession in Brazil

Marcela Vecchione-Gonçalves

Brazil is one of the most important areas for the global agri-business sector expansion,
particularly by its more contemporary territorialized version of global sustainable supply
chains (Mezzadra and Gago 2016) to expand high volume production. Combining monocrop
cultivation in areas consolidated by cattle expansion, agribusiness activities expand in tandem
with large infrastructures for integrating processing and exporting fluxes, modifying social and
ecological landscapes profoundly. We argue it is part of how the metabolism of capitalism are
getting imbricated in the web of local life (Moore 2015) in Brazil, contributing to modes of
authorized dispossession, abruptly inscribed over Indigenous Peoples’ ways of living. Not
surprisingly, there is an ensemble mixing and matching legislation and regulation change over
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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land and environmental protection at the national level and a global ruling apparel to govern
both land and people under the so called land governance and politics of managing
displacement for development. Inspired by the idea of development as a form of socio-
episteme (McMichael 2009), this paper will reflect on how the agribusiness expansion in
specific regions of Brazil shows a particular trend in global capitalism through which land
governance and land dispossession are getting inextricably linked to the implementation of
specific nodes of global sustainable supply chains locally. These chains impose their time and
space, disconnecting nature from humans and alienating people from their past and present
history and stories, compromising and readings and shapes of future(s) of living. The
dispossession, ultimately, impinge on Indigenous Peoples ́ timely politics of reclaiming land
and life in Brazil and many other places distributed in the many worlds inhabiting the Global
South.

ST 23 | Invisibilidades impostas: o caso dos povos indígenas isolados no Brasil


Beatriz de Almeida Matos (Universidade Federal do Pará – UFPA, Brasil); Uirá Felippe Garcia
(Universidade Federal de São Paulo, Brasil); Clarisse do Carmo Jabur (Universidade de Brasília – UnB,
Brasil).

No Brasil há o maior conjunto conhecido de povos indígenas em situação de isolamento na América


do Sul, com estratégias de vida que visam maior controle das interações que estabelecem com outros
coletivos. Os povos considerados como “isolados” desenvolvem, na verdade, estratégias de vida
bastante diversas entre si, alguns rechaçam todo e qualquer contato com outras pessoas, tal como os
isolados Awá no Maranhão, enquanto outros aparecem na margem dos rios periodicamente, tal como
os Mashco no Acre. Esses povos, por tal condição peculiar, encontram-se submetidos a extremas
situações de vulnerabilidade, pelo avanço econômico sobre a floresta e em função da invisibilidade a
que estão sujeitos. Há uma dificuldade de ter sua existência reconhecida, provada, suas formas
peculiares de manifestação legitimadas, muitas vezes pela conveniência das forças hegemônicas
estatais e econômicas. Manifestam sua existência e rechaço a relações que não desejam por meios
bastantes peculiares, através de vestígios propositalmente produzidos, armadilhas, tapagens em
caminhos, bordunas fincadas no chão, claros avisos: “eu existo aqui e daqui você não pode passar”.
Nesse sentido, é fundamental estabelecer espaços de discussão sobre a formatação de suas
expressões de autonomia, sobre suas formas peculiares de manifestação, desconstruindo o poder
tutelar e fortalecendo o reconhecimento da autonomia desses povos.

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Ameaças e vulnerabilidades: contexto regional na América do Sul

Fabrício Amorim

O fenômeno de "isolamento" se restringe, basicamente, à região amazônica, na América do


Sul. No entanto, é também confirmada a presença de populações em condições similares
numa ilha ao sul da Índia; no Chaco paraguaio; e no bioma Cerrado no Brasil. Os países que
reconhecem a presença de povos indígenas isolados, na América do Sul, são Bolívia, Brasil,
Colômbia, Ecuador, Paraguai e Peru. Embora o governo da Venezuela não reconheça, a
sociedade civil venezuelana também afirma essa presença. Há casos da presença de povos
isolados em regiões transfronteiriças, tal como no caso Peru-Brasil, onde grupos Mashco
ocupam sazonalmente e tradicionalmente regiões localizadas em ambos os lados da fronteira,
provocando ampla discussão sobre como estabelecer mecanismos de proteção binacionais.

Isolamento é sinônimo de mistura: fragmentos da vida Hi Merimã

Miguel Aparicio

Com a expansão das atividades extrativistas para além do seringalismo das várzeas do Purus
na primeira metade do século XX, alguns coletivos Arawá tiveram que abandonar seus
territórios e reformular, numa escala reduzida (Lima, 2005) suas redes de socialidade. No
interflúvio Purus-Juruá, estas transformações provocaram o “isolamento” dos Hi Merimã e
Suruwaha, os enfrentamentos entre os Banawá e as “comitivas” armadas da cidade de
Canutama e o quase total desaparecimento dos Katukina do Coatá. Os Hi Merimã adotaram
uma postura proativa de supressão das relações com os povos indígenas e comunidades
extrativistas, desenvolvendo um estilo de vida de ampla itinerância. Os Suruwaha, após sofrer
um drástico abalo demográfico, agruparam os sobreviventes de diversos coletivos numa zona
de refúgio, e consolidaram de modo generalizado a prática do envenenamento com timbó,
que persiste até hoje. Os Banawá, bem sucedidos no seu processo de “pacificação dos
brancos”, reativaram sua rede de relações incorporando os yara nas dinâmicas do parentesco,
num processo peculiar de contramesticagem (Kelly, 2016). A experiência suruwaha revela que
a necessidade de produção de diferenças subsistiu, impedindo que a unificação dos
sobreviventes gerasse qualquer tipo de homogeneização. Dessa forma, na sua trajetória,
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isolamento é sinônimo de mistura: não seria possível viver sem efetivar um sistema
permanente de intercâmbios entre diferentes. A mudança de um entorno yara agressivo e
ameaçador (os extrativistas) a um entorno yara protecionista e conservador (indigenistas e
missionários a partir de 1980) possibilitou a permanência da diferença: enquanto as agências
protegem uma sociedade indígena no eterno limbo do “recente contato”, eles se mostram
como “Suruwaha”, reinventado assim o nome de um antigo coletivo mais “aculturado” que,
antes das tragédias ocorridas, convivia com os estrangeiros dentro de casa. A mistura continua
garantindo, se não o isolamento, sim a incipiência permanente (manipulando o conceito de
Neves, 2012) de quarenta anos de relações “recentes” com estranhos. E os “isolados” Hi
Merimã? Ao embaralhar fragmentos de informações oriundas dos Banawá, dos Suruwaha e
dos especialistas da Frente de Proteção da Funai, podemos imaginar que não existe, entre os
indivíduos atuais deste grupo, nenhuma pessoa idosa que tenha nascido e crescido na época
em que havia fluxos de relações habituais com os demais grupos do interflúvio. Quer dizer
que os indivíduos hi merimã que vivem no isolamento nasceram já isolados? Os relatos
suruwaha e banawá transmitem detalhes importantes sobre a vida hi merimã e revelam como
uma dinâmica de aproximações e distanciamentos continua gerando processos de
diferenciação entre grupos Hi Merimã: se eles vivem “isolados” em relação ao nosso mundo
– que monitoram, analisam e escudrinham permanentemente –, não vivem isolados entre si.
Os seus varadouros, habitações e trajetórias (rastreáveis nas entrelinhas dos caminhos na
floresta) dão prova de que o isolamento, além de produzir misturas, pode produzir também
diferenças. Em diálogo com Gow (2011) acerca do caráter especulativo destas análises,
podemos dizer que as mesmas partem das percepções daqueles que, de fato, se espelham na
trajetória hi merimã: assim como eles, os Banawá e Suruwaha optaram pelo “isolamento
voluntário” em décadas passadas, e hoje são capazes de transmitir-nos esse ponto de vista
pois, efetivamente, já passaram por isso.

Aspectos sobre a cultura material do povo Akuntsú

Carolina Coelho Aragon

Luciana Keller Tavares

O objetivo desse artigo é apresentar aspectos da cultura material de um dos menores grupos
indígenas do mundo: os Akuntsú (família Tuparí, tronco Tupi). O primeiro contato dos Akuntsú
com a FUNAI ocorreu em 1995; na época eles eram apenas sete. Sobreviventes de vários
etnocídios que aconteceram como fruto da expansão agropecuária no sul de Rondônia, a
recusa ao contato com o homem branco foi por muito tempo a estratégia que encontraram
para reagir à ocupação de seu território e ao extermínio de sua população. Atualmente, os
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Akuntsú são um grupo de três mulheres monolíngues - Aramira, Txaruj e Kani -, todas parentes
consanguíneas e com pouquíssimas possibilidades de terem filhos. Sob esse cenário e
objetivando “demonstrar como e por quê uma apreciação mais profunda das coisas nos levará
a uma apreciação mais profunda das pessoas” (Miller, 2013; p. 12), buscamos trazer alguns
dos artefatos produzidos e utilizados pelos Akuntsú, tais quais o marico, as redes de tucum,
as indumentárias feitas de tucum (como os saiotes), os colares, brincos e pulseiras, e os
artefatos feitos de algodão (Aragon, 2014). O complexo cultural do Guaporé é dividido em
duas partes: a área Chapacura, ao lado oeste do Rio Branco, e a área Tupí, ao lado leste (Lévi-
Strauss, 1948). Com este estudo, proporcionamos maiores evidências sobre os traços culturais
de um povo localizado na região leste do Rio Branco, tentando consolidar as características
descritas por Maldi (1991) sobre o Complexo Cultural do Marico em Rondônia. Assim como
Miller (2013), procuramos evidenciar que muito mais do que apenas símbolos e signos que
representam algo, a cultura material dos Akuntsú também faz parte do que eles são e foram.
O seu estudo amplia, portanto, o conhecimento linguístico e antropológico sobre este povo.

Língua, Cultura e Identidade: refletindo sobre o caso dos povos em


isolamento voluntário nas florestas do Brasil

Ana Suelly Arruda Câmara Cabral

No Brasil, em que aproximadamente 200 línguas são ainda faladas, algumas por milhares de
falantes, como os Tikúna e os Kaingáng, outras com três ou dois falantes plenos sobreviventes
de genocídios recentes, como as línguas Akuntsú e Kanoê, e ainda outras que não se sabe
sobre sua afiliação genética nem quantos as falam (estas faladas por grupos em isolamento
voluntário), todas elas estão em maior ou menor grau ameaçadas de extinção. O Brasil é o
país com maior diversidade linguística e aquele em que as línguas indígenas, que são as que
fazem a teia dessa diversidade, são, muito provavelmente as mais ameaçadas do planeta, pela
ameaça constante à sobrevivência de seus falantes. Toda língua para viver depende de uma
comunidade de fala e, consequentemente, toda comunidade de fala para existir, necessita de
um território. Sem-terra própria não há povo que sobreviva enquanto povo autônomo com
sua língua e cultura vivas, transmitidas regularmente das gerações mais velhas às mais novas.
E se os povos indígenas já contatados sofrem sérios riscos de perderem suas línguas e/ou
culturas com o contato cada vez mais crescente e agressivo aos territórios indígenas e às suas
tradições milenares, os povos em isolamento são ainda mais vulneráveis seja ao contato
involuntário, seja à extinção física e abrupta, e não só à sua morte psicológica, linguística e
cultural. Neste simpósio que trata das extremas situações de vulnerabilidade vividas pelos
povos isolados, e da dificuldade de ter sua existência reconhecida, proponho discutir sobre (a)
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a importância das línguas faladas por esses povos inivisibilizados para eles e para a pré-história
linguística e cultural da Amazônia, principalmente no que diz respeito ao Brasil e áreas
adjacentes, (b) o cuidado que linguistas devem ter ao tratar línguas diferentes como dialetos
de uma mesma língua e as implicações de diagnósticos superficiais para a autonomia política
e cultural dos povos, e, (c) respeitado primordialmente o direito de viver dos povos
invisibilizados, sobre a importância do seu reconhecimento como povo que, originário de uma
território tradicional, nele devem viver sem ameaças à sua integridade física, psicológica,
linguística e cultural.

Dinâmicas territoriais e políticas transfronteiriças: breve panorama sobre a


situação da população indígena isolada Mashco na fronteira Brasil-Peru

Maria Emília Coelho

Na Amazônia entre os limites de Brasil e Peru, estão os Mashco ou Mashco- Piro, um povo
indígena em isolamento caracterizado por se organizar em diferentes grupos que se deslocam
sazonalmente em um extenso território. No inverno amazônico, ocupam as terras altas e
firmes das cabeceiras. No verão seco, descem até as margens dos igarapés e rios, deslocando-
se entre as fronteiras internacionais. São os sobreviventes das correrias praticadas no auge da
exploração do caucho, séculos atrás, que se refugiaram nas áreas de difícil acesso da floresta,
onde não havia borracha. (Huertas, 2015). Antropólogos acreditam que no caminho ao
“isolamento” aspectos da sua vida social sofreram drásticas transformações, como o
abandono da agricultura para a caça e a coleta de produtos florestais como principal forma de
subsistência (Shepard, 1996 e 2017; Huertas, 2002; Gow, 2011). Os Mashco falam um dialeto
da família linguística Arawak, muito próximo do idioma dos Yine, ou Piro, povo originário do
rio Urubamba, no Peru, como também pelos seus parentes Manchineri, que vivem no Brasil.
Para Gow, existe uma relação histórica de parentesco, aliança e intercâmbio entre esses
grupos. Hoje, tanto os Yine, como os Manchineri, afirmam que esses índios isolados com quem
compartilham seus territórios são grupos ligados aos seus ancestrais. A situação de extrema
vulnerabilidade dos Mashco frente às diferentes ameaças aos seus territórios, no Brasil e Peru,
demandam estratégias e ações transfronteiriças. Desde 2011, os Manchineri da Terra Indígena
Mamoadate, no Brasil, e os Yine da Comunidade Nativa Monte Salvado, no rio Las Piedras, no
Peru, estão construindo uma aliança para a proteção dos seus parentes isolados. Suas
lideranças alertam aos governos de Brasil e Peru sobre os impactos de uma estrada que
pretende conectar os municípios peruanos de Iñapari e Puerto Esperanza, cortando ao meio
o território Mashco. Em encontros, discutem sobre a importância do diálogo entre os dois
países para a fiscalização da fronteira e das atividades ilícitas, como o crescente narcotráfico.
Essa apresentação tem como foco mostrar a situação atual dos grupos Mashco a partir do
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ponto de vista dos seus vizinhos (povos Yine/Piro e Manchineri), analisando como suas
lideranças e organizações de representação - apoiadas pela sociedade civil organizada - vêm
construindo uma aliança para pensar estratégias de proteção dos grupos indígenas que
consideram ser seus ancestrais. Busca-se refletir sobre como essa política indígena tem
efeitos, tanto para a dinâmica territorial desses índios isolados, como para a ação dos Estados,
influenciando a formulação de políticas públicas de proteção com abordagem transfronteiriça
- condição fundamental para a sobrevivência dos Mashco e de outros povos isolados da
Amazônia.
Investigações, indagações e pistas acerca de um modo de fazer prevalecer o
desejo de serem os Awá-Guajá deixados em paz

Renata Otto Diniz

Esta proposta consiste em apresentar um caso de contato ocorrido em 2015 entre os índios
Awá-Guajá. Interessa esmiuçar o modo como a "visibilidade" é indesejada pelos pequenos
grupos awá em isolamento. Como se demonstrou, o que as pessoas awá (ex-isoladas)
reclamavam é que fossem "deixadas em paz". Isto faz pensar que a invisibilidade parece ser
construída de modo ativo da perspectiva dos que evitam o contato. Ser for assim, sugiro que
o contato - genericamente, para quaisquer grupos em isolamento voluntário - acontece
sempre apesar de ter sido evitado por eles. E, portanto, o que resta a nós, antropólogos e
indigenistas, é levar a sério o que sinalizam, e até dizem. Todavia, primeiro, é preciso entender
o que se trata "me deixe em paz". Depois, pelo menos no caso awá-guajá, averiguar os
impasses dos outros lados envolvidos no evitamento ou no contato. Os próprios awá
"contatados", têm suas razões para "promover" o contato. O "desejo" de contatar estes que
são aparentemente reconhecidos como awá té, gente verdadeira, semelhante aos próprios
awá da aldeia por falarem língua inteligível e terem costumes reconhecíveis, ou até,
porventura, serem lembrados por alguém, deve ser considerado também como contraponto
ao "receio" que a presença de Outros desconhecidos inspira. Teme-se que "estranhos"
possam conduzir-se ao modo dos mihua, aqueles que os Awá traduzem por "bandidos". Aliás,
todos os humanos "desconhecidos" que se pode encontrar na mata são mihua em potencial.
A partir do contato, as relações passam a ser, idealmente, controladas e, talvez, até
vantajosas. Os arranjos de casamento entre membros da aldeia e os ex isolados
frequentemente são imediatos. O Estado também têm suas razões, e se, não encoraja ou
promove o contato (em condições não excepcionais, evita fazer, desde de 1987, quando
substituiu formalmente a diretriz de "atração" pela de "proteção"), não consegue, de fato,
obstruí-lo. Ainda mais, depois de ocorrido, não consegue que não se prolongue
indefinidamente. Na esfera do Estado, esta contrariedade do desejo dos "isolados" converte-
se na obstrução da sua auto-determinação. Por outro lado, neste caso, se permitisse o retorno
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dos ex-isolados à sua vida na mata, poderia incorrer em improbidade. Diante disso, de que
modo deveríamos proceder? Sugiro que, no caso awá-guajá, deveríamos, além de esmiuçar
as histórias dos "desconhecidos", olhar cuidadosamente para a sua maneira específica de
territorialidade - ressaltando-se seu padrão sazonal de mobilidade territorial - atualizada na
vida das comunidades conhecidas, pois as observações deste padrão (DINIZ, 2018) podem
balizar o respeito ao evitamento do contato pretendido pelos isolados. Encoraja-me a
enfatizar esta argumentação as observações indigenistas nas expedições de monitoramento.

Retos para la delimitación territorial del pueblo indígena Mashco Piro en


Madre de Dios (Perú)

Luis Felipe Torres Espinoza

El pueblo indígena Mashco Piro es conformado por diversos grupos fundamentalmente


cazadores-recolectores, que ocupan un territorio continuo de bosques tropicales de más de 8
millones de hectáreas entre la frontera de Perú (Madre de Dios, Ucayali) y Brasil (Acre). Tienen
una población aproximada de 1500 personas, pero por su persistente negativa a establecer
relaciones con foráneos son reconocidos por ambos Estados como un pueblo en situación de
“aislamiento”. La mayor parte de su territorio se encuentra protegido por Perú y Brasil como
parte de un mosaico de diversas figuras territoriales con diferentes regímenes de protección
y con distintas entidades estatales encargadas de su gestión. Sin embargo, en la región de
Madre de Dios (Perú), diversas actividades superpuestas a sus territorios de desplazamiento,
como la minería y la extracción forestal, vienen socavando la delimitación adecuada de sus
territorios tradicionales. Además, la situación de aislamiento en la que se encuentra este
pueblo, así como su desplazamiento constante en grandes extensiones de bosque, han
presentado grandes dificultades a las organizaciones indígenas y al Estado para definir
adecuadamente sus territorios. La presente ponencia presenta el proceso aún en marcha por
el reconocimiento de los territorios de los Mashco Piro en Madre de Dios, analizando
especialmente los retos encontrados en el proceso normativo y la metodología de trabajo de
campo para la delimitación de sus territorios.

A presença de povos isolados no Brasil

Clarisse Jabur

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No Brasil há uma diversidade imensa de povos isolados, localizados em grande maioria na


região amazônica. No entanto, a Funai registra a presença também no bioma cerrado, no
estado de Goiás. A compreensão sobre esses diferentes contextos contribuem para um maior
entendimento sobre a diversidade étnica e linguista existente em território brasileiro. No
entanto, são comuns as pressões que impactam essa diversidade de povos isolados,
exploração madeireira ilegal, garimpo, desmatamento, invisibilidades políticas, entre outras.

A dádiva no Corumbiara - um breve estudo das relações de troca entre dois


grupos recém-contactados da TI Rio Omerê

Luciana Keller Tavares

O presente trabalho busca compreender como se articulam as relações de troca entre os


Kanoê e os Akuntsú, dois grupos indígenas que vivem nas proximidades de um dos afluentes
do Rio Corumbiara, na TI Rio Omerê. A pesquisa realizada durante os anos de 2017 e 2018 se
baseia em uma revisão bibliográfica acerca dos povos da região e dois curtos períodos de
trabalho de campo. O primeiro durante o mês de julho de 2017, quando fui ao Omerê como
colaboradora voluntária em um curso de linguística, e o segundo em fevereiro de 2018,
período em que pude acompanhar um pouco da rotina dos índios e da base da Funai.
Contatados em 1995, os Kanoê e os Akuntsú são sobreviventes de diversos massacres que
aconteceram na região como fruto da expansão do agronegócio no sul de Rondônia. Com uma
população extremamente reduzida, na época do contato os Kanoê eram quatro e os Akuntsú,
sete. Hoje, os Kanoê e os Akuntsú são apenas seis. Apesar de um convívio tão próximo na
história recente, são povos com tradições, costumes e línguas muito diferentes. Antes do
contato, os Kanoê roubavam e coletavam pedaços de plástico, sementes, roupas, entre outras
coisas deixadas pelos brancos e compartilhavam com os Akuntsú. Os Akuntsú, por sua vez,
compartilhavam com os Kanoê o conhecimento da pajelança, o uso do rapé e outros
instrumentos de cura. Uma das primeiras observações feitas pelos sertanistas que
participaram do “primeiro contato” foram os pedaços de madeira fincados ao chão que
separavam a aldeia dos Kanoê do local onde viviam os Akuntsú, demarcado pelos Kanoê
depois de uma briga entre os grupos. Assim, se por um lado a estratégia que eles encontraram
para reagir à ocupação de seu território e ao extermínio de sua população foi, por muito
tempo, a recusa ao contato com o homem branco, por outro foi também a aproximação com
o outro grupo indígena cercado na mesma área. Neste trabalho serão analisadas as dinâmicas
envolvidas nas interações entre os dois grupos e o contato com o mundo branco, que suscitam
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reflexões importantes acerca das trocas, alianças e conflitos, temas clássicos na antropologia
e na etnologia ameríndia. Para isso, buscarei relacionar as informações etnográficas colhidas
no trabalho de campo e aquelas presentes na etnologia regional às teorias clássicas sobre a
troca, tais como Mauss (1950) e Levi-Strauss (1967), e as mais recentes, como Hugh-Jones
(2013) e Fausto (2001; 2008).

Participação política dos povos indígenas: autonomia e representatividade

Anderson Vinicius Nunes de Lima

Paulo Ricardo Sampaio de Sousa

A democracia representativa adotada no Brasil tem por força motriz o mecanismo de eleição,
pelo qual a maioria escolhe um líder de Estado e Governo, bem como os membros do
Legislativo, baseado nos seus interesses e afinidades em comum entre candidato e individuo
ou grupo. O problema desse sistema é a falta de representatividade da diversidade social
brasileira nas cúpulas de governo, uma vez que os candidatos eleitos não integram as diversas
experiências, dificuldades e necessidades de toda a população, tornando o Estado um ente
distante das realidades vivenciadas, principalmente pelas minorias sociais, conflito esse
deflagrado em todo sistema democrático representativo, segundo o Rosanvallon, que
demonstra a problemática inerente a implantação do sistema eleitoral. Diante dessa
realidade, os grupos com menos visibilidade midiática tendem a sofrer maiores impactos,
posto que a dificuldade vivenciada por estes não é de conhecimento comum. Dentro desse
grupo destacam-se os povos indígenas, com culturas e particularidades próprias e distintas
entre si, e dessa forma necessidades próprias quanto à preservação de suas características,
essas que são reprimidas desde os primórdios do Brasil, como demonstra Faoro. A realidade
mostra que as diversas lideranças dos povos tradicionais frequentemente interagem com os
representantes do Estado, porém a resolução dessas interações é pouco divulgada, além deste
fato também é notório a falta de recurso para os órgãos e as entidades paraestatais que
cuidam da efetivação dos direitos destes povos frente ao Estado, dificultando ainda mais a
representação de seus direitos e demandas. O presente trabalho busca analisar as
dificuldades em efetivar a representação dos interesses democráticos dos povos indígenas
brasileiros diante do Estado, construindo através do diálogo bibliográfico e análise de dados,
um debate sobre a democracia e a participação política dos grupos indígenas, sem
desconstruir a sua identidade e cultura, ou transpassar os limites do Estado Democrático de
Direito.

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Referência de isolados em território tapayuna

Daniela Batista de Lima

O presente trabalho tem como finalidade apresentar as referências de isolados no território


tapayuna, na região dos rios Arinos e Sangue, no noroeste do Mato Grosso. Os Tapayuna
foram removidos do seu território tradicional em 1970 e transferidos para o Parque Indígena
do Xingu (PIX). As tentativas de contato conduzidas ao longo das décadas de 1950 e 1960
ocorreram de maneira fragmentada e caótica e, muito possivelmente, não atingiram da
mesma forma todas as aldeias e agrupamentos ao longo do rio Arinos e Sangue. Passados
quase 50 anos desde a remoção compulsória para o PIX, os Tapayuna iniciaram articulações
no âmbito da Fundação Nacional do Índio, notadamente da Coordenação Geral de Índios
Isolados e Recém Contatados (CGIIRC), para uma investigação sobre a permanência de seus
parentes na região do território tradicional. Estudos recentes, e ainda preliminares, apontam
para a existência de isolados no território tradicional tapayuna e para a necessidade de
aprofundamento das pesquisas com vistas à interdição da área. Estes isolados estão
integralmente desprovidos de qualquer tipo de proteção do Estado e à mercê de fazendeiros,
tendo em vista que a região é dominada por particulares e alvo de especulação para
construção de empreendimento hidrelétrico.

A política indigenista oficial e as perspectivas indígenas

Beatriz Matos

Embora o Estado brasileiro, por meio da Funai, protagonize as ações oficiais de proteção, a
importância do protagonismo indígena cresce cada vez mais, em função da precarização da
política pública e do avanço das frentes de expansão econômicas sobre os territórios dos
povos isolados. Na grande maioria dos casos, os territórios ocupados por povos isolados são
compartilhados por outros povos indígenas que já estabelecem relações com a sociedade não-
indígena. Nesses casos, a presença e protagonismo indígena na proteção desses territórios
são fundamentais para a salvaguarda da vida e dos direitos dos povos isolados.

Yanomami isolados: a inteligência geográfica dos Moxihatetema com base


em técnicas de sensoriamento remoto
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Maurice Seiji Tomioka Nilsson

A recusa deliberada ao contato de um grupo Yanomami, os Moxihatetemapë, inspiram


questões sobre o tema do isolamento voluntário, tendo conseguido esse grupo manter certa
invisibilidade, embora conhecidos pelos Yanomami vizinhos (Davi Kopenawa pessoalmente
comentava sobre sua existência), de sua inteligência espacial e suas estratégias de resistência
ao contato. Esse artigo relata um trabalho de análise da mobilidade e da trajetória dos
Moxihatetemapë durante parte desse período de invisibilidade, entre 1995 e 2017. Utilizando
imagens de satélite e avaliando a dinâmica de suas clareiras, enquanto parâmetro de sua
condição alimentar e sanitária, a análise revela um movimento pendular onde há um retorno
a uma região de proximidade de um território histórico conhecido do grupo, onde residiram
por volta de 1995. Nas discussões, especulo sobre a condição pouco comum dentre os
Yanomami de não estarem nas redes de relações intercomunitárias, reconhecidas como
necessárias para sobrevivência do grupo, bem como dos riscos estabelecidos pelas atividades
em seu entorno, por não estarem distantes da fronteira da Terra Indígena Yanomami e em
uma bacia que vem sendo afetada por atividade garimpeira ilegal.

Tensões e disputas na salvaguarda de povos em isolamento voluntário

Amanda Villa Pereira

A presença de notícias na grande mídia divulgando a existência de povos indígenas em


situação de isolamento na Amazônia cresceu exponencialmente nos últimos anos. Tal
movimento se dá, em grande parte, no quadro de investidas de cunho “desenvolvimentista”
que avançam por terras cobiçadas pelo capitalismo predatório, junto de insistentes atividades
ilegais em busca de madeira e outros recursos da floresta. Ainda assim, o Brasil é referência
em medidas de proteção a tais comunidades indígenas, e muito desse reconhecimento se
deve às políticas de demarcação de terras, destacando-se a delimitação de uma terra indígena
exclusivamente para um povo em isolamento no ano de 1996: a Terra Indígena Massaco, no
estado de Rondônia. Para possibilitar esta demarcação, foi preciso inovar quanto aos
procedimentos demarcatórios, que, por via de regra, devem acolher a participação dos
próprios indígenas na definição de seus territórios tradicionais. No caso da Massaco, foi por
meio dos rastros e vestígios que um grupo indígena – e, por conseguinte, seu território – foram
definidos, e sua imagem continua a ser construída a partir de artefatos encontrados, de

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acampamentos abandonados, das aparições relatadas e das observações à distância: não se


pode ouvir, evidentemente, os indígenas na definição de “seu” próprio território. Os desafios
gerados pelos interesses econômicos sobre essa e outras terras, no entanto, são agravados
com a frequente descontinuidade das políticas públicas, que acompanham a inconstância de
mandatos e debates nas áreas executivas e legislativas do Governo, impondo que a existência
dos povos em isolamento voluntário se mantenha em ininterrupta negociação. Da parte dos
povos em isolamento, a mesma volubilidade não parece ser encontrada, e também é a
respeito dos limites e “recados” passados por esses grupos que essa fala se concentrará,
explicitando os esforços daqueles povos “isolados” – muitas vezes com a colaboração de
grupos indígenas contatados – para que sua autonomia seja mantida.

Frentes de Proteção Etnoambiental da FUNAI/CGIIRC: atuação imprescindível


para a garantia da promoção dos direitos dos povos isolados no Brasil

Tarcísio da Silva Santos Júnior

Elias dos Santos Bigio

Jair Catabriga Candor

Altair Algayer

O Brasil, em 2018, contabilizou 28 referências confirmadas de povos indígenas que vivem em


situação de isolamento voluntário ou de contato restrito com os não-índios. De forma
resumida, cita-se que a Política da FUNAI para os índios isolados é feita pela Coordenação
Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (GIIRC) e está pautada no não-contato,
pautando e priorizando o registro qualificado e quantificado de vestígios (tapiris, maloca,
pegadas, resíduos alimentares, entre outros), como também de impactos gerados por não-
índios dentro e no entorno das áreas de uso e ocupação dos indígenas. Os trabalhos de campo
são protagonizados pelos sertanistas e indigenistas das Frentes de Proteção Etnoambiental
(FPEas). Este resumo propõe contribuir sobre a importância e relevância da atuação em
campo dos sertanistas e indigenistas da FPEa Madeirinha-Juruena e da FPEa Guaporé, que tem
sido imprescindível para a proteção de parte dos grupos de índios isolados em MT (Piripkura
e Kawahiva) e RO (TI Massaco). A análise dos relatórios da FPEa Madeirinha (1986 e 2013) e
pela FPEa Guaporé (1989 e 2012), especificamente quanto ao uso e ocupação do espaço pelos
isolados para obtenção de recursos naturais, demonstra o registro de pelo menos 124 “locais
de moradia” (acampamentos, tapiris, rabos- de-jacú emalocas) pela FPEa-Madeirinha e 89
pela FPEa-Guaporé, nos quais fez-se, respectivamente, o registro de pelo menos 444 e 343

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vestígios. No estudo, os vestígios foram categorizados como resíduo alimentar (mel, animais
e frutos silvestres; qualificando a espécie), cultura material (artefatos de caça, pesca, coleta,
cestarias, esteiras, redes, entre outros) e vestígios diversos (folhas de palmeiras e cipós para
fazer as habitações, moquém, entre outros). A análise temporal e espacial dos registros
permite demonstrar, de forma irrefutável, a presença dos índios isolados nas áreas de atuação
das FPEas e também a intrínseca relação de dependência dos indígenas em relação aos
recursos naturais. Estes fatos demonstram que é imprescindível garantir a qualidade
ambiental dentro e no entorno das áreas de uso e ocupação dos índios isolados, como
também a restrição de uso e/ou demarcação territorial destes espaços. Os registros gerados
pelas duas FPEas, quando considerados no tempo (ao longo do ano) e no espaço (distribuição
geográfica), deixam claro, por exemplo, que as atividades de caça e de coleta são dinâmicas,
ou sejam, acontecem em uma diversidade de ambientes naturais que, em essência, são
dinâmicos, ou seja, estão sujeitos a irregularidades em termos de produção de recursos
naturais. A continuidade dos trabalhos da FPEa é de extrema relevância para se prosseguir
garantindo os registros de vestígios que permitem compreender e pautar as necessidades dos
índios isolados.

Autonomia, vulnerabilidade e resistência: o caso da Terra Indígena Araribóia,


no Maranhão

Leonardo Lenin Covezzi do Val dos Santos

Existem atualmente, no estado do Maranhão, duas referências de povos indígenas isolados


confirmadas e que são monitoradas pela Frente de Proteção Etnoambiental Awá-Guaja,
unidade descentralizada da Coordenação Geral de Índios Isolados e Recente Contato, da
Fundação Nacional do Índio. Uma delas está localizada na Terra Indígena Caru, na qual se
encontra ainda um grupo de Awá que foram contatados na região em décadas recentes e uma
aldeia Guajajara. A outra referência está localizada na Terra Indígena Araribóia. Trata-se de
uma área inserida no arco do desmatamento – uma região de 500 mil km2 com os maiores
índices de desmatamento da Amazônia Legal –, com elevados índices de violência por conta
da extração ilegal de madeira, e que na última década sofreu sucessivos incêndios que
devastaram mais de 40% do seu território. Trata-se, portanto, de uma área extremamente
vulnerável, atravessada por carreadores para retirada de madeira, com poucas fontes de água
e intensamente habitada por indígenas do povo Guajajara, que somam uma população com
mais de 10 mil pessoas. É nesse cenário adverso, que existe / resiste um pequeno grupo de
índios Awá que vive em situação de isolamento, ou seja, se recusam a estabelecer contato
direto com os demais habitantes da área. A presença dos índios isolados na T.I. Araribóia foi
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oficialmente documentada pela Funai na década de 1980. Notícias trazidas pelos Guajajara
sempre estiveram presente, mas foi somente na década de 2000 que a então Coordenação de
Índios Isolados, da Funai, realizou expedições de monitoramento da presença destes índios.
Esse trabalho intensificou-se com a criação da Frente de Proteção Etnoambiental Awá, no ano
de 2011. Em expedições de monitoramento, principalmente nos anos de 2012 a 2014, era
frequente encontrarmos tapiris destes índios há poucos quilômetros tanto de ramais
madeireiros como das aldeias Guajajara. Também foram registrados relato de Guajajaras
contando que a partir de suas aldeias escutaram os cantos dos índios isolados. Contudo,
mesmo diante de tamanha proximidade, os índios recusavam qualquer relação. A situação de
invasão territorial e esgotamento de recursos naturais nessa região é extrema e seria ainda
mais desanimadora se não fosse a perícia e o domínio do ambiente pelos Awá, conforme
constatado nas expedições da Funai naquele território. Além disso, a partir de 2013, os
isolados Awa da T.I. Araribóia ganharam novos aliados. Reconhecendo a importância de
atuarem ativamente na proteção de seu território, índios Guajajara iniciaram um processo de
resistência às invasões madeireiras através da constituição de um grupo chamado Guardiões
da Floresta e que vem atuando na proteção territorial e, consequentemente, na manutenção
da autonomia deste grupo que insiste em se manter na mata.

A caminho dos grandes rios: transformações míticas sobre o isolamento num


mundo em colapso

Karen Shiratori

A partir do episódio da passagem de um grupo tupi-kagwahiva (da bacia do madeira) em uma


base localizada em território Hi-Merimã, grupo isolado que habita o interflúvio Piranha-Purus
(Amazonas), esta apresentação se propõe refletir sobre as transformações desencadeadas no
corpus mítico daquele povo por certos acontecimentos históricos recentes, a atualização das
relações com os antigos inimigos arawá, a atuação da FUNAI e sua política de proteção dos
povos isolados na região, bem como a existência de parentes que seguem recusando o
contato. Não se fala de isolamento sem despertar a saudade, a tristeza e certa esperança
velada de um futuro encontro. Nas memórias tupi-kagwahiva que orientam esta
apresentação, história e mito são entretecidas nas reflexões sobre a condição dos isolados
que é também, incontornavelmente, uma ruptura das outrora extensas relações de
parentesco. Num contexto em que as invasões e o assédio ao seu território são cada vez mais
intensos, a luta pela terra e sua defesa contra as invasões caminham junto aos esforços para
garantir a sobrevivência daqueles entre os seus que escolheram a vida nas matas.

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Povos indígenas em isolamento e contato inicial na Pan Amazonia -


armadilhas do desenvolvimento

Antenor Alexandre de Albuquerque Vaz

Nesta comunicação apresento um conjunto de referencias e citações, acerca do contexto a


que estão submetidos os Povos Indígenas em Isolamento – PIA (sigla em espanhol) e seus
territórios na bacia amazônica. De antemão ressalto a dificuldade de proceder uma análise
regional, haja visto que os estudos sobre PIACI focalizam estes povos separadamente (por
povos e por pais). Análises regionais são escassas e pontuais. A abordagem acerca dos PIACI,
em sua maioria, afloram longas discussões acerca do termo apropriado para designá-los
(isolados, em isolamento, isolados voluntários, etc.); a pertinência das políticas protetivas (a
quem compete a proteção e como implementá-las?); iniciativas de proteção (Estado e/ou
sociedade civil), autodeterminação (contato ou isolamento?)3; etc. As abordagens perpassam
as condições em si dos PIA frente às vulnerabilidades a que estes estão submetidos e pouco
refletem o cenário macro político-econômicos a que, eles e seus territórios, estão submetidos.
É ausente a discussão de como os diferentes modus vivendi dos PIACI não encontram
ressonância no modus vivendi capitalista. Esta é uma questão que coloco como ponto central
dos dilemas vividos pelos povos indígenas isolados. Desconhecemos os modos de
operacionalização do desenvolvimento como cenário de enfrentamento cultural/ideológico e
a construção de identidades4. A decisão dos PIA em manterem-se em isolamento é uma forma
de resistência frente às intervenções / colonialismo do desenvolvimento (tal qual é concebido
e implementado pelo pensamento ocidental). É importante ressaltar que este aspecto é
decisivo para as discussões acerca da proteção dos PIA, porque está em jogo a sobrevivência
desses povos. Afinal, trata-se de uma resistência cultural/ideológica. Inicialmente apresento
na Introdução algumas informações acerca dos PIA no mundo e, delimito a bacia amazônica
como objeto deste artigo. Com a indagação, Existirmos: “A que será que se destina?”
apresento um breve panorama de um modelo de sociedade/desenvolvimento (ocidental) que
se constitui em todos os países da bacia amazônica e que, na maioria dos casos, seus efeitos
já alcançaram as regiões onde vivem os PIA. Em “Contexto: Desenvolvimento e PIACI” abordo
como o modelo de desenvolvimento majoritário nos países que compõem a bacia amazônica
(baseado na exportação de bens primários) vão na contramão das medidas protetivas dos
PIACI, instituídas pelos Estados Nações. Possivelmente surja a pergunta: Porque associar
‘desenvolvimento’ com proteção para PIACI? A resposta localiza-se na incompatibilidade
entre iniciativas econômicas que desequilibram/destroem e fragmentam os sistemas da bacia
amazônica e populações originárias que dependem de um ambiente ecologicamente
equilibrado para sobreviverem.5 Este desenvolvimento baseia-se num modelo onde os
recursos naturais são vistos enquanto commodities e portanto passíveis de serem extraídos.
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Esta atuação predadora deixa um rastro de destruição do humano, fauna e flora. Utilizando
os pressupostos da ecologia política, apresento um contexto dramático, em que estas
iniciativas potencializam a vulnerabilidade dos povos isolados, colocando-os em risco e,
muitas das vezes, forçando-os ao contato como única alternativa de sobrevivência. Diante dos
territórios ameaçados, surgem conflitos com mortes, noticiados amplamente nos meios de
comunicação. Ao longo do texto, aponto as incoerências das propostas de políticas de
proteção para PIACI a nível regional que, se por um lado avançam na formulação de marcos
jurídicos, estes são atropelados por falta de recursos humanos e financeiros para implementá-
los, bem como pelos megaprojetos e ação ilícita. Aponto, também, a ‘frágil’ articulação efetiva
(dos Estados Nações, dos Organismos Multilaterais e também da sociedade civil –
Organizações indígenas e/ou indigenista) para fazer frente ao modelo de desenvolvimento
que, dramaticamente, afetam os territórios dos PIACI na América do Sul. Por fim, numa
perspectiva regional, apresento informações sistematizadas em tabela (reduzida por limitação
de espaço) por cada pais da bacia amazônica, relativas ao status dos PIACI, diante da estrutura
e organização dos Estados: Órgão Regulador; Registros Oficiais e não oficiais de PIACI; Marco
Regulatório e Principais Desafios. Estas informações são fruto de décadas de sistematização,
quando da minha atuação nos sistemas de proteção no Brasil e trabalhos de consultorias com
metodologias de proteção para PIACI na America do Sul.

ST 24 | Jóvenes indígenas en la educación superior de América Latina: sentidos


de la profesionalización, nuevas experiencias de afirmación, de diálogo de
saberes y de investigación-acción

Mariana Paladino (Universidade Federal Fluminense – UFF, Brasil); María Macarena Ossola (Instituto
de Investigaciones en Ciencias Sociales y Humanidades, Consejo Nacional de Investigaciones Científicas
– CONICET y Técnicas y Universidad Nacional de Salta, Argentina); Gabriela Czarny (Universidad
Pedagógica Nacional, México); Ana Cláudia Gomes de Souza (Universidade Federal da Bahia – UFBA e
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILAB).

Las políticas públicas de acción afirmativa, multiculturales e interculturales han impactado en los
pueblos indígenas en las últimas décadas. En el caso de la educación superior, los jóvenes indígenas se
involucran en carreras y programas de formación con el objetivo de adquirir herramientas que
contribuyan en su lucha por derechos, la gestión territorial y la construcción de proyectos de
sustentabilidad y autonomía en sus grupos o comunidades de pertenencia. En este simposio
proponemos continuar con los debates iniciados durante el Primer CIPIAL, analizando los procesos
educativos de nivel superior que transitan las y los jóvenes indígenas en diferentes contextos y países
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de la región. Buscamos generar diálogos sobre los sentidos que le atribuyen a la profesionalización,
reconocer cuáles son las reconfiguraciones identitarias, lingüísticas, de género que atraviesan, así
como la resignificación que los nuevos contextos provocan en los procesos juveniles que transitan. De
manera particular, nos interesa reunir trabajos que, desde perspectivas cualitativas, socialicen nuevas
formas de plantear la permanencia y afirmación indígena en la universidad, y la intervención-acción,
generando nuevas metodologías, prácticas colaborativas y diálogo entre saberes. En este sentido,
convocamos a estudiantes, docentes e intelectuales, indígenas y no-indígenas, a presentar
contribuciones que amplíen la mirada en torno a los temas planteados.

Juventudes étnicas universitarias, procesos organizativos y espacios de


incidencia en el Área Metropolitana de Monterrey, Nuevo León (México)

Luis Fernando García Álvarez

Es indispensable reconocer que la compleja problemática en la cual se insertan las juventudes


étnicas contemporáneas se construye a partir de la dinámica y los constantes cambios
sociales. Por ello, se debe considerar que las juventudes étnicas en las universidades
convencionales, en los territorios migratorios actuales y el despliegue del ejercicio de su
profesión, son los espacios de incidencia donde se articulan un conjunto de condiciones
sociales que traen consigo configuraciones étnicas juveniles específicas. La propuesta que
planteo tiene como objetivos específicos: 1) mostrar algunas de las principales dimensiones
en la relación que establecen las juventudes étnicas contemporáneas y la educación superior
convencional en México; 2) problematizar algunas condiciones particulares en base a las
experiencias de las juventudes étnicas universitarias en el Área Metropolitana de Monterrey
(AMM), Nuevo León, México; y 3) Enfatizar el posicionamiento de algunos agentes étnicos
juveniles a partir de las formas de la organización, participación y propuestas que despliegan
en diferentes espacios sociales con el fin de instalar y potenciar las relaciones interétnicas y el
diálogo intercultural.

La construcción social de la profesionalización: Trayectorias familiares y


comunitarias de jóvenes rurales e indígenas en educación superior en Oaxaca
y México
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Erica González Apodaca

A partir de estudios cualitativos desarrollados en los últimos años sobre las expectativas
profesionales y experiencias de formación universitaria de jóvenes originarios de
comunidades rurales en Oaxaca, México, la ponencia reflexiona sobre la construcción social y
cultural de la profesionalización y su carácter situado en entramados familiares, comunitarios
y territoriales de los sujetos. Los jóvenes, como sujetos sociales, construyen trayectorias
profesionales con sentidos que van más allá de lo académico y articulan sus experiencias
universitarias en el marco de estructuras de desigualdad por condiciones de clase, raza-etnia,
género y escolaridad. Se reflexiona sobre estos procesos y sus particularidades tanto en las
políticas afirmativas de la universidad convencional como en modalidades de formación
técnica en medios rurales, y en alternativas pedagógicas emprendidas por movimientos
sociales o etno-políticos del estado. Más que constituir un mero reflejo de modelos y
modalidades educativas, destaca la agencia de los sujetos en la construcción de sus propias
rutas y significados que vinculan la profesionalización con sus configuraciones identitarias y
sentidos de pertenencia.

Logros, alcances y limitaciones de una carrera universitaria para indígenas: el


caso de “Ciencias de la Educación con énfasis en Lengua y Cultura Cabécar”

Guillermo González Campos

El plan de estudios de Bachillerato en Ciencias de la Educación en I y II ciclos con énfasis en


Lengua y Cultura Cabécar planteó, por primera vez en la historia de Costa Rica, una propuesta
educativa intercultural de nivel universitario. Su principal objetivo fue atender la necesidad de
formar personal docente apto para trabajar en los centros de educación primaria en la región
del Chirripó, para favorecer la calidad de los procesos educativos en general y la enseñanza
intercultural en particular. A la fecha, se han producido dos promociones de dicha carrera en
la Sede del Atlántico de la Universidad de Costa Rica. Este trabajo es un primer intento de
reflexionar sobre logros y limitaciones concretos de dicho programa universitario. En
concreto, se propone que, de forma positiva, este ha ofrecido oportunidades educativas y
acceso a la educación al pueblo cabécar, a partir del reconocimiento y revaloración de su
cultura, cosmovisión y lengua materna. Sin embargo, su puesta en ejecución dejó al
descubierto problemas de índole curricular, académica y administrativa que deben ser
analizados y estudiados en detalle, para solventarlos en experiencias futuras.
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Jóvenes indígenas en la educación superior: Procesos identitarios,


profesionalización, expectativas y desafíos. El caso peruano

María Amalia Ibáñez Caselli

Los procesos de lucha generados por el movimiento indígena a nivel de América Latina han
logrado, entre otros aspectos, que los países reconozcan la educación intercultural bilingüe
como un derecho. Si bien las primeras experiencias educativas en la materia colocaron el
énfasis en aspectos de la lengua y en el nivel de la educación primaria, poco a poco se fueron
extendiendo al nivel inicial y también al superior –quedando aún el desafío de introducir este
enfoque en el nivel de la educación secundaria–, reconociendo, a su vez, la necesidad de
colocar un mayor énfasis en aspectos de la cultura. De este modo, la interculturalidad
comenzó a adquirir un mayor protagonismo, al menos, desde el nivel discursivo. Hoy día, las
experiencias o programas de educación superior dirigidos a jóvenes indígenas intentan
incorporar el patrimonio lingüístico y cultural de los pueblos: las lenguas, los saberes y
conocimientos, las ciencias indígenas en la currícula universitaria. Como consecuencia, se
habla de la necesidad de “descolonizar el conocimiento”, “introducir las epistemologías
indígenas” y, en definitiva, “interculturalizar la universidad”. Sin embargo, nos preguntamos,
por un lado, ¿qué significa interculturalizar la universidad? y, lo que es más, ¿cuáles serían las
características para que una universidad se convierta en intercultural? ¿La creación de un
programa de educación intercultural bilingüe es suficiente para cumplir con este objetivo? Por
otro lado, ¿este proceso satisface a los jóvenes indígenas? ¿Es lo que ellos esperan? ¿Qué tipo
de profesionales desean ser? Esta ponencia tiene el objetivo de analizar estas
conceptualizaciones y procesos tomando como referencia los programas de formación
docente que se vienen dando en los últimos cinco años, particularmente, en el Perú.
Programas que buscan formar docentes de calidad y con pertinencia sociocultural y lingüística;
profesionales que sean respetuosos del medio ambiente y el territorio, valoren, hagan suyo y
utilicen los conocimientos tradicionales tanto como los occidentales. Profesionales que
regresen a sus comunidades de origen, que sean interculturales y que aboguen por un
desarrollo sostenible con identidad, equidad y sin discriminación. Sin embargo, pensar en una
educación superior con estas características implica contar con una política universitaria,
plantel docente, planes de estudio y toda una infraestructura distintas a las universidades
convencionales. Aspectos que se prestan a la controversia y confusión y que, en buena
medida, crean frustración o desinterés entre los jóvenes.

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Docencia universitaria y formación de profesionales indígenas: preguntas


para una descolonización académica

Gabriela Czarny

Tanto en México como en otros países de América Latina, desde los años 80 se han impulsado
programas de formación de docentes para la educación escolar indígena (educación básica),
y la formación a nivel de grado como de posgrado. A partir del año 2000 iniciaron programas
marcados por la denominación intercultural en Universidades con diferentes carreras de
grado (caso de México). Existe poca investigación que documente el logro y las dificultades en
estos programas, aspecto que no ha sido considerado con la suficiente atención para el diseño
y fortalecimiento de políticas educativas en este rubro. Sin embargo, lo que se denomina
docencia universitaria y formación de profesionales indígenas ha sido menos analizado aún
en términos de un campo específico en el nivel superior. A partir de mi experiencia como
profesora en un programa que tiene más de 25 años, conocido como Licenciatura en
Educación Indígena, en la Universidad Pedagógica Nacional, ciudad de México, y de un
proyecto de investigación sobre el tema, busco analizar algunas de las implicaciones e
impactos que tienen nuestras historias formativas, saberes y prácticas académicas en el
debate sobre los sentidos por descolonización que vienen marcando las luchas de los pueblos.
Existen aprendizajes potentes, así como áreas dilemáticas y contradictorias que se nos
plantean como desafíos para la docencia en educación superior, en programas con
estudiantes indígenas y en sociedades que demandan equidad y justicia en distintos niveles.

Jovens indígenas na universidade: movimentos de apropriação e re-existência

Michele Barcelos Doebber

A crescente demanda dos povos indígenas por acesso ao ensino superior, motivados pela
busca de apropriação de ferramentas das sociedades não-indígenas para a defesa de seus
direitos, territórios e organização social, provocou na última década a consolidação de
políticas de ingresso nas universidades públicas brasileiras através de cotas e/ou de outros
programas específicos de acesso, em risco no atual momento histórico. Neste trabalho
apresento reflexões fruto de pesquisa realizada em nível de doutorado, a qual, através de uma
metodologia colaborativa de inspiração etnográfica, buscou cartografar os movimentos do

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estar indígena na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, bem como as repercussões dessa
presença na instituição. Observou- se que, ao chegarem na universidade, jovens indígenas
(re)criam esse espaço apropriando-se do universo acadêmico, dos conhecimentos ocidentais
e, ao mesmo tempo, re-existem através de uma presença disruptiva que se expressa na
linguagem, nas diferentes temporalidades, na lógica comunal, no compromisso com a
comunidade e na re-existência epistêmica. Desse modo, o estar sendo indígena universitário
dá-se em um espaço de fronteira entre dois universos opostos e complementares. Nesse lugar
habita a potência do pensar indígena que, atuando entre dois sistemas de pensamento (da
ciência ocidental e o próprio), pode causar rupturas na episteme hegemônica.

Movilidad rural-urbana entre jóvenes indígenas profesionalizados en


propuestas de educación superior comunitaria en Oaxaca, México

Susana Vargas Evaristo

La propuesta presenta el caso de estudiantes indígenas profesionistas egresados del Instituto


Intercultural Ayuuk, ubicado en la comunidad de Jaltepec de Candayoc en la Sierra Sur de
Oaxaca. El paradigma pedagógico de este modelo universitario se inserta en el planteamiento
de la Comunalidad entendido como una alternativa de profesionalización con pertinencia
étnica, vinculada a la tierra y a la dinámica de las comunidades indígenas en el medio rural. En
este contexto educativo, los y las jóvenes se forman para responder a las necesidades sociales,
económicas, políticas y culturales que aquejan a sus pueblos de origen, sin embargo, existe un
perfil de egresados que prefiere movilizarse hacia la ciudad de Oaxaca con la finalidad de
incorporarse al mercado de trabajo que –principalmente- ofrecen las Organizaciones de la
Sociedad Civil de cohorte político en defensa de los derechos de los pueblos originarios. Este
artículo tiene el interés de realizar un primer análisis sobre tres ejes específicos: a) conocer la
experiencia de profesionalización de los jóvenes indígenas en un modelo comunitario, b)
analizar el proceso del desplazamiento hacia el ámbito urbano en búsqueda de empleo y 3)
comprender de qué manera el ámbito urbano modifica la percepción de lo comunitario. La
presente propuesta se nutre de registros etnográficos realizados en el marco de la universidad
y relatos biográficos de jóvenes residentes en la ciudad de Oaxaca.

Presença Baniwa nas universidades e a descolonização do pensamento: um


caminho possível de reflexividade indígena

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Francineia Bitencourt Fontes

É de conhecimento geral que o processo de inclusão social da diversidade étnica-racial da


população no Brasil foi iniciado no âmbito das políticas indigenistas segundo uma concepção
assimilacionista. Foi através da luta pelo acesso à universidade de forma diferenciada no
contexto pós-Constituição de 1988, quando os direitos originários dos povos indígenas são
reconhecidos, que a perspectiva da inclusão com respeito às diferenças deram seus primeiros
passos, assumindo, posteriormente, a forma de políticas de ação afirmativa nas universidades
ou cotas raciais. Porém, cada instituição adotou de forma diferente o direito de acesso da
diversidade à universidade. As categorias identitárias adotadas foram, em particular, as de
"baixa renda", "negro", "pardos" e "indígenas". De acordo com SILVA (2006) as políticas
públicas voltadas para as populações indígenas estiveram pautadas por séculos pela
perspectiva integracionista e tutelar, que visa se conduzir dentro de parâmetros
“evolucionistas”. Nós Medzeniakonai, diferente de outros povos indígenas do Brasil, somos
um dos povos que está caminhando na iniciação na formação de profissionais, pois as políticas
públicas quase não chegam as nossas comunidades. Nos 25 anos da nossa organização social
enquanto povo Baniwa, temos alcançados, programas de formação significativas, de forma
hoje termos, professores falantes na nossa língua dentro das salas de aula, ensinando nossas
crianças. Mas quando olhamos para outras formações, estamos começando a nos interessar,
temos professores e vários técnicos formados, mas ainda muito a desejar se queremos
serviços de qualidade na área de educação, saúde e sustentabilidade na nossa região. Numa
rápida busca por parentes nas universidades, a surpresa foi grande, pois há 10 anos, não
tínhamos esses dados. Vejam na no mapa abaixo. E para nossa alegria temos jovens de várias
comunidades do rio Içana e rio ayari, em formação, perguntei suas comunidades origens e
seus clãs. Poucos tiveram disponibilidade para rápida resposta, a ideia do contato é fazer rede
de profissionais Baniwa em formação.

Estudantes indígenas no ensino superior e os impasses de uma cidadania


afirmativa

Ana Elisa de Castro Freitas


Eduardo Harder

A cena se repete diversas vezes: uma jovem mãe indígena é proibida de utilizar o veículo oficial
da universidade por estar acompanhada de sua pequena filha. A rotina da política pública
segue um padrão institucional de corte individualista, aplicado de modo universal a todos e
todas as estudantes, indiscriminadamente, embasada por um argumento de base contratual
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– somente pessoas com vínculo institucional podem acessar o transporte devido a restrições
resultantes de seguros de vida e/ou imposições dos órgãos de controle. Uma nova geração de
estudantes indígenas universitários vive no Brasil as contradições na execução de políticas
públicas que, na origem, reconhecem direitos humanos de caráter étnico e suas interfaces
com ações que visam a equidade social e a justiça. Embora o ordenamento jurídico
democrático do país, preveja tais direitos, nas rotinas administrativas das universidades
nacionais residem práticas que reiteram a integração e a redução das alteridades indígenas a
padrões genéricos e hegemônicos presentes na sociedade envolvente. Em 2006, Kenji Yoshino
resgata a noção de covering, cunhada originalmente por Erving Goffman, para refletir sobre
os processos de “encobrimento” ou “disfarce” de alteridades emergentes. No presente estudo
buscamos lançar um olhar sobre o fenômeno de reiteração das práticas coloniais de
integração de indígenas à sociedade nacional brasileira, a partir de uma análise de casos de
covering recorrentes no cotidiano das universidades.

Ações afirmativas e educação superior indígena: contribuições da produção


textual para a (trans)formação do ambiente universitário

Mateus William Martins Gomes

Gabriel Dias Vidal Azevedo

Umberto Euzebio

O processo de formação do Brasil revela que os povos indígenas necessitam para serem
ressarcidos de seus prejuízos etnoculturais e sociais, de políticas públicas que visem sua
afirmação e inclusão diante a sociedade brasileira. O ensino superior foi alvo de ações
governamentais, a partir dos anos 2000, para que os povos indígenas fossem inseridos
principalmente nas instituições públicas de ensino que, por muito tempo, tiveram
protagonismo por jovens com maior prestígio social. A Universidade de Brasília (UnB) possui
uma trajetória de pioneirismo em políticas afirmativas no que diz respeito a esses povos
originários. Essas ações tomaram forma, quando em 2004, foi acordado entre a Fundação
Nacional do Índio – FUNAI e a Fundação Universidade de Brasília – FUB um convênio que
garantiu a formação superior e a profissionalização indígenas. Esse convênio não garantiu
apenas o ingresso à universidade, mas também a sua permanência, porém, esses novos
universitários enfrentaram grandes dificuldades de adaptação ao meio acadêmico, como
atrasos nos pagamentos bolsas, obstáculos linguísticos e distância e ausência de sua
comunidade. Esse foi apenas o começo dos avanços em políticas de inclusão indígena na UnB,
que continua com essa ação, mesmo que de forma diversa. Nesse contexto, focamos em nosso
artigo o aprimoramento do processo inclusivo de estudantes na UnB a partir da produção de
textos orais e escritos. Esse processo se deu por meio de Oficinas de Leitura e Produção de
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Texto, criadas e orientadas exclusivamente para universitários indígenas desse convênio, que
teve como proposta a produção de variados gêneros textuais referentes ao seu universo
acadêmico com inclusão de relatos, vivências, suas histórias, profissionalização e seus
conhecimentos de mundo. Essa prática foi quantificada, descrita e estudada por estudantes
indígenas e não indígenas em pesquisas de iniciação científica. Para esse trabalho foram feitas
leituras críticas de 30 relatórios dessas produções além de acompanhamento, diálogos e
vivências com os autores. O objetivo desse trabalho foi identificar o papel da produção textual
como forma de inclusão, construção da autonomia, afirmação da identidade indígena,
profissionalização e sensibilização da comunidade não indígena para as questões indígenas a
partir desses trabalhos de iniciação científica. Para análise foi utilizada a leitura crítica e as
metodologias de pesquisa-ação e escuta sensível de Barbier adaptadas, fundamentados em
Bauman, Hall e Paulo Freire. Como conclusão constatamos que essas práticas contribuíram
para não apenas para a permanência, rendimento estudantil, inclusão no meio acadêmico,
mas também no processo transformador da comunidade universitária não indígena para a
sensibilização e ação diante de questões indígenas.

Docentes indígenas en el noroeste argentino: lectura de sus trayectorias


desde epistemologías plurales

Álvaro Guaymás

Adelaida Jerez

Ana de Anquín

El impacto positivo de la apertura de carreras de formación docente con modalidad en


educación intercultural bilingüe (EIB), en sedes de Institutos de Educación Superior en el
interior aislado de Salta, al noroeste de Argentina, es el fondo contextual y político de esta
ponencia, a contrapelo de cambios en las políticas nacional y provincial. A través de las
trayectorias de algunas egresadas es posible explorar experiencias y sentidos, en relación con
la importancia de los intercambios interculturales e interinstitucionales y nuevas posibilidades
para docentes y estudiantes indígenas en educación superior. Las trayectorias de las primeras
egresadas de estos profesorados en un territorio de conflictos históricos por los derechos
indígenas, están vinculadas también con las pluripertencias de algunxs de lxs autorxs y la lucha
por la apertura y sostén de las carreras de profesorados en estos confines y sobre todo para
la defensa de la modalidad EIB en Salta. La modalidad EIB entraña un desafío en la formación,
requiere de-formar y crear nuevas formas, construir un espacio de reconocimiento de las
culturas originarias y de defensa de sus derechos. En esta línea, la ponencia caracterizará
continuidades y tensiones entre los modelos y estilos formativos familiares, comunitarios y la
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formación inicial a partir de la realización de las Jornadas de Formación Docente en EIB


realizadas en Susques, 2016 (Jujuy), en Nazareno, 2017 (Salta) y en Isla de Cañas, en agosto
de 2018 (Salta). En este simposio proponemos continuar con los debates iniciados durante el
Segundo CIPIAL, analizando las trayectorias de docentes indígenas desde epistemologías
plurales y visualizando la intersección de las categorías de género, raza y clase. Palabras clave:
formación docente en EIB, trayectorias de docentes indígenas, epistemologías plurales.

Trayectorias educativas y escolares narradas por sus propias protagonistas de


la Comunidad Wichi de Misión Chaqueña

Maira Gutiérrez e Carina Gutiérrez

Queremos compartir nuestras experiencias de vidas que empieza y retorna a la vida cotidiana
familiar lo cual es el punto de partida y el punto de regreso. Nuestras historias en relación a
las trayectorias educativas iniciaron con la familia misma, y las trayectorias escolares
comenzaron concretamente en la escuela primaria. Es imposible pensar nuestras vidas lejos
del contacto con la familia, los usos y costumbres familiares, el hablar con espontaneidad
nuestro idioma wichi con nuestro acento en el particular chí (dialecto local y materno).
Nuestras trayectorias fueron exitosas en el secundario por ejemplo una de nosotras fue
abanderada. Hablar de trayectorias exitosas no significa que no hubiera dificultades. La visión
del mundo de nosotros y nosotras, y la visión que tiene el maestro o maestra sobre nosotras
y nosotros, creen que es esa la correcta en el intento de homologarnos al sistema educativo
de cómo debe ser un niño o niña wichí por medio de la castellanización o bien procesos
civilizatorios. Las prácticas educativas muchas veces obstaculizaban nuestro aprendizaje sobre
todo en la escuela primaria, siempre igualmente hubo un buen maestro o maestra dedicada
a enseñar, y el auxiliar bilingüe traduciendo los contenidos enseñados. Desde luego tuvimos
que forjar nuestra trayectoria educativa y escolar, en seguir estudiando hasta culminar una
carrera de formación docente en educación superior no universitaria. Hoy como profesionales
ya con la experiencia en el aula de nivel superior en contexto de EIB (Educación Intercultural
Bilingüe).

Encontros de Estudantes Indígenas de Mato Grosso Sul: desafios,


protagonismo e interculturalidade no ensino superior

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Beatriz dos Santos Landa

Eva Maria Luiz Ferreira

O texto apresenta uma das experiências de mais de dez anos no acompanhamento da/na
formação acadêmica de estudantes indígenas, desenvolvida pelo projeto “Rede de Saberes –
permanência de acadêmicos indígenas no ensino superior”, que no estado de Mato Grosso
Sul acolhe os estudantes indígenas nas universidades participantes desde o ingresso e na
trajetória universitária. O Projeto Rede de Saberes é desenvolvido em parceria entre quatro
universidades, sendo uma comunitária (UCDB), uma estadual (UEMS), duas federais
(UFMS/UFGD), com aporte financeiro da Fundação Ford. O projeto objetiva o
desenvolvimento de ações de permanência junto aos estudantes indígenas em suas trajetórias
nas Instituições de Ensino Superior, com vistas a uma formação diferenciada para atender as
crescentes demandas de seus povos. Durante este tempo, as atividades do projeto estiveram
voltadas para atender as necessidades de permanência dos estudantes nos cursos de
graduação oferecidos pelas IES. O texto relata o protagonismo dos/das estudantes indígenas
na realização de encontros estaduais nos espaços universitários e em áreas indígenas, em que
estes, foram construídos pelos estudantes desde a elaboração da programação até os
encaminhamentos dos documentos finais para as IES e órgãos públicos. As discussões
presentes em todos os encontros foram pautadas pela troca de experiências das dificuldades
vivenciadas nas IES e nos desafios para a superação/minimização/discussão. Considerando
que os encontros estão na sua décima edição, e que os contextos políticos sofreram
transformações que impactam a vida universitária, além das questões de acesso, ingresso e
permanência foram sendo incorporadas nas discussões, as demandas das comunidades de
origem como saúde, educação, sustentabilidade e as questões de terra. A partir de 2011, com
a ampliação do número de egressos/as, a profissionalização, a inserção no mundo do trabalho
e o acesso à pós-graduação lato e stricto sensu passam a serem temáticas novas nestes
encontros. Os dados são provenientes dos relatórios finais, dos documentos enviados para as
IES e órgãos públicos e da participação das autoras como apoiadoras institucionais destes
eventos. Entre os resultados constam a proposição de políticas públicas e institucionais, a
criação de ações e programas específicos e diferenciados nas IES participantes, mas
especialmente, o fortalecimento do protagonismo de jovens universitários/as indígenas no
enfrentamento dos diferentes desafios postos para eles nestes espaços, e a perspectiva por
construir relações interculturais e mais respeitosas.

Diálogos interculturales en la Universidad Nacional de la Patagonia, San Juan


Bosco, provincia del Chubut. Argentina

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Daniel Loncon e María Verónica Miranda

Este trabajo propone reflexionar acerca de los diálogos interculturales en la Universidad


Nacional de la Patagonia San Juan Bosco. Se inscribe en el proyecto “Interculturalidad y
Educación Superior. Propuestas, debates y reflexiones” de la Cátedra Libre de Pueblos
Originarios. La Cátedra, creada en el año 2008 en el ámbito de la Secretaría de Extensión
Universitaria, desarrolla proyectos de articulación, vinculación y promoción de los derechos
de los pueblos originarios en la provincia del Chubut. Su misión es dar respuesta a demandas
realizadas a la Universidad por parte de autoridades de comunidades indígenas, conformando
una propuesta curricular que abarca un amplio espacio territorial, generando espacios de
visibilidad y de articulación de los pueblos originarios dentro y fuera de la comunidad
universitaria, trasladando sus aulas a los territorios indígenas. La interculturalidad remite al
reconocimiento y respeto mutuo entre identidades culturales diversas, en un proceso de
horizontalidad y comunicación donde el aprendizaje recíproco tiende a eliminar las relaciones
asimétricas de poder, evitando someter y/o subyugar, en el reconocimiento pleno de las
diferencias. Este proceso no carece de conflictos ya que en nuestro país ha predominado el
paradigma de la cultura asimilacionista el cual justifica y/o naturaliza las inequidades y
subalternidades entre diversos grupos culturales, generalmente de los mayoritarios a los
minoritarios. Por ello se propuso: indagar las condiciones y procesos de interculturalidad
existentes (o no) en nuestra Universidad, ya que las instituciones educativas son
vehiculizadoras de valores y pautas culturales, y conocer los niveles de acceso a la Educación
Superior de estudiantes indígenas, entendiendo al mismo como posibilidad de movilidad
social y a la Universidad como entidad dedicada a la formación de profesionales capaces de
intervenir y modificar aspectos de la realidad social e institucional que resulten
insatisfactorios. La Universidad tiene un rol social prioritario en la generación, transmisión y
difusión del conocimiento. Los diferentes roles dentro de la misma establecen jerarquías
vinculadas al poder - saber, es por ello importante conocer la cantidad de docentes y
funcionarios indígenas. La promoción de intelectuales indígenas apuesta a que puedan
intervenir en los procesos institucionales y sociales mediante la representación de su propia
culturalidad, generar debates y reflexiones dentro y fuera de la Universidad sobre la
Interculturalidad, la diversidad y aprendizaje de y en la diferencia, en los procesos de
producción, reproducción, transmisión y difusión de conocimientos.

Estudantes indígenas nas novas Escolas Médicas Federais no Brasil

Willian Fernandes Luna

Eliana Goldfarb Cyrino

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A presença de estudantes indígenas nas graduações de Medicina no Brasil é recente e restrita


a poucos cursos. Essa inclusão sofreu estímulo a partir de ações afirmativas desenvolvidas nos
últimos anos, como a criação da Lei de Cotas nas universidades federais e reserva de vagas
específicas para indígenas em algumas instituições. Essa é uma tentativa de superação da
exclusão desses jovens nos processos formativos e, no caso mais específico da Medicina, pode
favorecer tanto a construção de novos saberes interculturais no cuidado em saúde, como a
futura presença de profissionais nas áreas indígenas, locais de mais baixo índice de médicos
por habitante no país. O Programa Mais Médicos (PMM), implantado em 2013, busca
responder a escassez de médicos tem todo território nacional, sendo que em seu segundo
eixo de ações visa a ampliação e reformas educacionais na formação médica. Assim, a partir
do PMM, foram criados 30 novos cursos de Medicina federais, localizados em regiões com
necessidade de fixação de médicos. O objetivo deste trabalho foi mapear a presença de
indígenas nestes novos cursos de Medicina, descrevendo as características gerais destes
estudantes e sobre o seu acesso. Foi realizado um estudo exploratório por meio de visitas de
campo a 25 cursos, com levantamento de dados quantitativos e qualitativos. Dos novos cursos
de Medicina, foram identificados estudantes indígenas em 8, sendo que em 7 ingressaram por
reserva de vagas e apenas um estudante pela Lei de Cotas. O número total de estudantes
identificados foi de 22, sendo 10 na região Sul (em 3 diferentes cursos), 08 no Centro-Oeste
(em 2), 02 no Nordeste (em 2) e 02 no Norte (em 1). Quanto à origem, estes indígenas são de
diversos povos e de todas as regiões geográficas do país. A maioria recebe bolsa permanência
e alguns têm outros benefícios específicos, o que favorece a superação da dificuldade
financeira. Estratégias de acompanhamento pedagógico e tutoria estão pouco estruturados
na maioria destas instituições. Nesse processo de reafirmação da identidade e da militância
por direitos dos povos originários, alguns descrevem que depois de inseridos na Universidade
sentiram-se ainda mais identificados com a militância indígena. Grande parte relatou que
foram bem acolhidos nas instituições, no entanto, há grande desconhecimento dos docentes
e corpo técnico administrativo sobre como colaborar para os processos de permanência,
desenvolvimento pedagógico e construção intercultural de saberes. A presença dos indígenas
no curso de Medicina também traz a possibilidade de oportunizar a discussão sobre a história
e cultura dos povos originários com todo o grupo de estudantes, além de avançar para
discussão sobre outras formas de compreensão sobre o processo saúde-doença.

Memória, documentação de saberes e protagonismo de pesquisadores


indígenas

Maurides Macêdo

Rosani Moreira Leitão

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A comunicação foi inspirada em uma experiência vivenciada no curso de licenciatura em


educação intercultural de formação de professores indígenas na Universidade Federal de
Goiás, quando foram realizadas discussões teóricas e exercícios práticos visando a
compreensão dos conceitos de memória e documento, sobretudo de documento oral como
fonte histórica. Foram exploradas distintas possibilidades de uso de narrativas orais como
documentos históricos em pesquisas voltadas para a documentação de saberes indígenas
tendo pesquisadores indígenas como protagonistas.

Topak Ta Hope Totichenhayaj - voces que sueñan ser escuchadas.


Toniwhayaj: experiencias educativas de formación docente en educación
superior en relación a la educacion intercultral bilíngue

Mariela Morales
Eunice Barrozo
Karina del Valle Murúa

Mirna Camargo

El presente trabajo, es un documento para compartir experiencias de docentes en el


profesorado de Educación Primaria con orientación en EIB (Educación Intercultural Bilingüe)
en Misión Chaqueña y Misión Carboncito, extensiones áulicas del IESFD N° 6015 de
Embarcación - Salta. Topak ta hope totichenhayaj, mujeres en busca de la plenitud humana y
Law’et is (el buen vivir) recuperando y conservando los valores de las naciones wichí, y
avaguarani (especialmente en los idiomas a través de las prácticas sociales y educativas). Estas
experiencias presentan reflexiones desde la enseñanza en nivel superior de formación
docente desde prácticas pedagógicas interculturales wichí y avaguarani fundadas en el
respeto a las lenguas maternas originarias y a las variaciones dialectales de los idiomas que
poseen cada una de las comunidades con palabras y conceptos propios del pensamiento y
cosmogonía y la revalorización de las prácticas sociales de las naciones originarias. En la
educación suprior es dónde surge un proyecto colectivo y espontaneo desde el rediseño del
currículum al reconocer y reconocernos en el nosotros y nosotras en el intercambio de cultura
para una educación basada en el respeto a la diversidad cultural prescribiendo y 2 poniendo
en acción proyectos educativos de intercatedras, articulaciones, trayectos interdisciplinarios,
jornadas de lecturas en las escuelas asociadas y encuentros abiertos a la comunidad . Y
toniwhayaj (la esperanza) un instrumento de intervención y de acción estratégica de cambio
que nos fortalezcan para ayudar a la formación de los y las jóvenes a ser críticos de la realidad
social.

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Indígenas Tentehar e o Ensino Superior

Sérgio César Corrêa Soares Muniz

Cássia Ferreira de Oliveira

Em 2016 passamos a compor o quadro de docentes colaboradores e servidores da primeira


turma da Licenciatura Intercultural para a Educação Básica Indígena do Maranhão (LIEBI).
Entre os anos de 2016 e 2017 vivemos uma experiência pedagógica entre 63 indígenas
Tentehar, que formavam as turmas intituladas TUPI I e TUPI II. Desse encontro, surgiram
inquietações que possibilitaram a construção das seguintes questões: como os cursistas
Tentehar envolvidos na LIEBI tem exercido seu protagonismo na dinâmica de concepção e
execução dessa licenciatura? De que forma as vivências dos Tentehar, em suas multisituadas
e relacionais posições representam uma iniciativa decolonial rumo ao “pensamento liminar”
(MIGNOLO, 2003)? Em outras palavras, as experiências de formação acadêmica
protagonizadas pelos tentehar/guajajara cursistas da LIEBI tem representado processos e
estratégias de negação das ontologias e epistemologias ocidentais, que se consolidaram e
difundiram pelo planeta a partir das empreitadas coloniais entre os XV e XIX, em específico
sobre a África e na América Latina? A partir de tais indagações, a pretensão deste trabalho é
compreender como as vivências acadêmicas dos cursistas Tentehar, a partir de sua inserção
nos quadros de discentes da LIEBI, podem ser colocadas em diálogo com o debate decolonial
proposto por Mignolo (2003) no que tange a articulação entre “histórias locais” e “projetos
globais”. Para tanto, procuramos pensar se é possível aproximar o projeto da licenciatura à
ideia de um ‘projeto global de escolarização de povos indígenas’, que tem sido conduzido,
conforme Lander (2005), como sendo a “única ordem possível” para a reprodução da
existência dos povos indígenas. Pretendemos, para isso, nos debruçar sobre as práticas e
discursos dos cursistas Tentehar, para tentar compreender se existe uma aproximação entre
o “pensamento liminar” subalterno (MIGNOLO, 2003) e o modo como estes cursistas tem
conduzido sua experiência ontológica e epistemológica na LIEBI. Considerando a diversidade
de agentes e suas posições multidimensionais – que estão implicados neste trabalho, a
etnografia de múltiplos locais que busca compreender a relação entre “a natureza do campo
social” pesquisado com “outros locais e as dinâmicas de processos mais amplos” (MARCUS,
2002, p. 12) é útil para compreender as conexões entre os diferentes agentes que
(re)produzem a realidade social a ser analisada, em diferentes contextos. Entender as
“afetações” (FAVRET-SAADA, 2005) em trânsito, de um Estado executor de políticas
governamentais sobre povos indígenas, de indígenas reivindicando políticas públicas
diferenciadas que contemplem a realidade escolar de seus povos, é um caminho possível para
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construir uma interpretação sobre como os Tentehar tem se (re)articulado ontológica e


epistemologicamente frente aos projetos educacionais de ensino superior para povos
indígenas no Maranhão e no Brasil.

La imagen en la formación profesional de educadores en contextos de


diversidad cultural

Amalia Nivón Bolán

Se aborda una forma de trabajo grupal con imágenes propuestas por estudiantes indígenas y
no indígenas de educación superior, interesados en realizar los procesos de formación con
poblaciones escolares que habitan en contextos de diversidad cultural y lingüística. A partir de
un análisis inicial de una fotografía captada y elegida de manera individual, la elaboración de
dibujos, mapas mentales y otros objetos sugeridos, se tejen narraciones sobre sus
preocupaciones, necesidades, anhelos, que los estudiantes analizan colectivamente,
identificando y reconociendo el sentido polisémico y complejidad que encierran. El trabajo
metodológico se sustenta en la exploración, investigación y comunicación de sus experiencias,
afectos e ideas derivadas de sus autorepresentaciones y representaciones sociales, lo que
propicia un proceso pedagógico de enseñanza y aprendizaje más horizontal y dinámico,
argumentado en el diálogo, la memoria individual y social, la historia oral y escrita, y la visión
acompañada por distintos autores que abordan los temas sugeridos por las imágenes. De esta
manera los estudiantes logran identificar con mayor claridad problemas educativos,
relaciones sociales que los articulan, contextos y procesos históricos; así como prácticas
educativas generadoras de otras formas de entenderse para continuar sus caminos de
formación.

O Encontro Nacional dos Estudantes Indígenas e a Territorialização


Intercultural das Universidades no Brasil

Assis da Costa Oliveira

A implantação de políticas afirmativas para ingresso na educação universitária brasileira, a


partir de 2002, é o recorte temporal de início do ciclo político em que emergem diferentes
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iniciativas de ampliação da presença indígena na comunidade acadêmica no Brasil. Na


atualidade, 56.750 indígenas estão matriculados em cursos de graduação, segundo o Censo
da Educação Superior de 2017 (INEP, 2018), o que representa mais de 6% da população
indígena – de 896.917 pessoas, conforme o Censo de 2010 (IBGE, 2012) – e com uma presença
maior de jovens e mulheres indígenas na composição destas vagas. O aumento da presença
indígena na educação universitária gerou um processo concomitante de politização das
condições de “ser estudante universitário” e de adequação dos espaços, conhecimentos e
sujeitos inseridos nas universidades para melhoria do tratamento das diferenças étnico-
culturais. Neste trabalho, meu interesse é compreender como ocorrem as ações, as
articulações e os discursos nos Encontros Nacionais de Estudantes Indígenas, e quais as
implicações para as relações interculturais entre universidades e povos indígenas. Meu foco
de análise são o IV Encontro Nacional dos Estudantes Indígenas, realizado na Universidade
Federal do Oeste do Pará (UFOPA), em Santarém/PA, em outubro de 2016, e o V Encontro
Nacional dos Estudantes Indígenas (doravante utilizarei a sigla ENEI para me referir aos
eventos), ocorrido na cidade de Salvador/BA, com apoio da Universidade Federal da Bahia
(UFBA), em setembro de 2017. Metodologicamente, realizo a interação com os sujeitos e a
coleta dos dados com base nos aportes teóricos da “etnografia dos eventos” proposta por
Borges (2003), em que o ENEI é assumido como um “lugar-evento” no qual são gestados um
conjunto de ações compondo um presente etnográfico que torna-se “objeto por excelência
para a investigação dos modos de vida e sistemas de classificação nativos” (2003, p. 10). Estas
ações possuem coordenadas espaço-temporais específicas, dentro das quais são produzidas
formas de conhecimentos nativos e interação sociais, as quais terão ressonância em situações
posteriores dentro do mesmo “lugar-evento” e para além dele. De início, discuto o processo
de emergência do ENEI e o protagonismo assumido pelos estudantes indígenas. Em seguida,
analiso como isto se materializou no IV e V ENEI, abordando também os aspectos mais
relevantes da política indígena que ocorreu nos eventos, em especial das relações
estabelecidas entre universidades e povos indígenas. Posteriormente, trabalho, de maneira
específica, os debates que ocorreram nos eventos sobre os temas de gênero e orientação
sexual. Por último, analiso a declaração política produzida no V ENEI, e o que isto implica para
compreender a presença de sujeitos e direitos indígenas no campo universitário.

Confrontando mitos sobre los jóvenes indígenas en la educación superior


argentina

Macarena Ossola

Gloria Mancinelli

Soledad Aliata
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Ana Carolina Hecht

En esta ponencia se revisan críticamente algunas representaciones recurrentes en torno al


ingreso, la permanencia y la graduación de los jóvenes indígenas (wichí y toba/qom) en el nivel
superior (universitario y terciario) en Argentina, señalando las desigualdades escolares,
étnicas, de género y laborales que atraviesan. Particularmente, a través de esta ponencia se
van a confrontar algunas ideas preestablecidas acerca de los desafíos que implica la
escolaridad para estos jóvenes. Con ese fin se van a cuestionar afirmaciones tales como: “los
jóvenes indígenas no van a la universidad”, “los jóvenes indígenas pierden la identidad al llegar
a la universidad”, “a mayor escolarización, menor vitalidad de las lenguas indígenas” y “los
jóvenes indígenas una vez graduados deben necesariamente retornar a la comunidad para
ejercer allí su profesión”. A parir de nuestras investigaciones etnográficas con jóvenes wichí y
toba/qom de Chaco y Salta (Argentina) se podrá entrever la importancia que la educación
formal tiene para los pueblos indígenas, y los sentidos diversos que la formación académica
asume en sus trayectorias vitales; ya que para estos jóvenes la educación es un derecho
fundamental, que les permitirá apropiarse de otros derechos que les fueron negados
históricamente a sus pueblos.
Reconocimiento y justicia epistémica? Acerca del acceso de estudiantes
indígenas a posgrados en antropología en Brasil

Mariana Paladino

El trabajo busca analizar la inclusión de estudiantes indígenas en algunos programas de


posgrado en antropología en Brasil, indagando en los debates y posicionamientos que
impulsaron procesos de abertura a la implementación de acciones afirmativas en ese ámbito.
También busca conocer las perspectivas de los estudiantes indígenas sobre la experiencia de
estudiar en instituciones de prestigio académico en el país, donde hasta hace poco se
reconocían (y eran reconocidos) mucho más como objetos de estudio que como sujetos y
productores de conocimiento. Desde la experiencia pionera del Programa de Posgrado en
Antropología Social del Museo Nacional/Universidad Federal de Río de Janeiro, en los últimos
cinco años han aumentado los programas de posgrado en antropología que crearon políticas
afirmativas y procesos de selección especiales para candidatos indígenas. De qué manera
estas instituciones plantean las políticas afirmativas para estudiantes indígenas? Se trata de
una “concesión” a la diferencia o está en juego la idea de reconocimiento y justicia epistémica?
Se busca avanzar en la construcción de nuevas formas de hacer antropología, de incluir
“nuevas voces” y formas de representación sobre los “otros” y “nosotros”, posibilitando así
una modificación en las relaciones de poder-saber académicas? Estas cuestiones serán
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indagadas a partir del análisis documental y realización de entrevistas. Acciones afirmativas –


pueblos indígenas – justicia epistémica - antropología

Sobre a permanência de estudantes indígenas na Universidade Federal do


Tocantins: algumas aproximações

Carolina Pedreira

Izak Araão Gonçalves

Maloiri Vele Xerente

Olga Ribeiro Costa

Inserida em um estado situado no Norte brasileiro e com expressiva diversidade étnico-racial,


a Universidade Federal do Tocantins (UFT) foi precursora na oferta de cotas específicas para
acadêmicos indígenas em 2004. Ainda que celebradas como uma importante conquista dos
povos indígenas, as cotas não são e continuam a não ser, suficientes. Após quinze anos de
implementação das cotas, a estrutura universitária em sua configuração física, nas práticas
administrativas e pedagógicas pouco se transformou para acolher os estudantes indígenas.
Diariamente, esses estudantes encontram dificuldades para validar, no âmbito institucional, a
ampla noção de permanência, quase sempre reduzida a critérios que marcam apenas a
vulnerabilidade socioeconômica. É verdade que os auxílio à moradia e à alimentação são
fomentos indispensáveis à manutenção material destes estudantes. Outras questões, porém,
como as sócio-pedagógicas, culturais, linguísticas, a ambientação na cidade, no curso, na
universidade e a inclusão digital são dimensões que devem ser assistidas mais de perto por
técnicos, gestores e professores, em especial no primeiro ano desses estudantes na
universidade, quando ocorrem os maiores índices de evasão. A dificuldade em permanecer na
universidade é um dado constante nas trajetórias de estudantes indígenas nas Instituições de
Ensino Superior em todo o país. Apesar dos grandes avanços no acesso à universidade pública
e gratuita, as ações institucionais de acolhimento e acompanhamento desses estudantes tem
se constituído por enormes lacunas, as quais, não raro, levam ao jubilamento. A partir da
demanda dos acadêmicos indígenas da UFT do Campus de Palmas, iniciou-se um projeto de
extensão com o objetivo de traçar estratégias de acolhimento e acompanhamento e
proporcionar um espaço de convivência entre acadêmicos indígenas ingressantes e
veteranos/as indígenas por intermédio de uma metodologia participativa que contempla
reuniões semanais entre grupos de ingressantes e de veteranos, sendo que estes últimos,
vinculados ao Grupo de Trabalho Indígena (GTI), atuam como monitores e estão. Ao abrir o

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canal de escuta sobre as dificuldades dos primeiros momentos da universidade, objetiva-se


planejar ações de enfrentamento aos principais impasses da permanência por meio de um
mapeamento dos gargalos institucionais. Essa comunicação visa apresentar as ações iniciais
do projeto, o qual propõe, como um de seus resultados finais, contribuir para a formulação
de diretrizes institucionais para a permanência de estudantes indígenas na Universidade
Federal do Tocantins.

El acompañamiento a estudiantes indígenas durante su formación como


futuros docentes EIB: una reflexión a partir de la experiencia en el Programa
de Formación de Maestros Bilingües de la Amazonia Peruana

Meredith Cristina Castro Rios

El Programa de Formación de Maestros Bilingües de la Amazonia Peruana (Formabiap) nació


en 1988 ante la necesidad que tenían los pueblos indígenas de contar con maestros bilingües
(lengua indígena-castellano) que pudieran brindar una educación pertinente y de calidad para
los niños de sus comunidades. Así, por iniciativa de la Asociación Interétnica de Desarrollo de
la Selva Peruana (Aidesep), se logra la autorización para que se imparta la especialidad de
Educación Primaria Intercultural Bilingüe dentro de la oferta de carreras del Instituto de
Educación Superior Pedagógico Público Loreto (IESPPL). De este modo, desde sus inicios, el
Formabiap funciona bajo una figura de coejecución entre una confederación indígena y un
instituto estatal de formación magisterial (Formabiap, 2018). En sus 31 años de existencia, el
Programa ha formado maestros de 16 pueblos indígenas; hoy en día ofrece las especialidades
de Educación Primaria Intercultural Bilingüe y Educación Inicial Intercultural Bilingüe para los
estudiantes de los pueblos Awajún, Kichwa, Kukama-Kukamiria y Shawi. Además de la
formación que se brinda en el Programa, la cual incide en la afirmación y el fortalecimiento de
la identidad indígena de los estudiantes, y de los cursos que se imparten como parte de la
especialidad de Educación Primaria Intercultural Bilingüe, en el Formabiap confluyen otras
propuestas para acompañar a los estudiantes (cabe indicar que la mayor parte de ellos reside
en el internado ubicado en Zungarococha, otros prefieren alojarse de forma independiente en
el centro poblado del mismo nombre, a solo unos minutos del Programa). Una de las
propuestas más relevantes es el contar con especialistas o sabios indígenas de cada uno de
los pueblos indígenas de donde provienen los estudiantes, especialistas que pueden tornarse
referentes de los jóvenes y que también aportan en los conocimientos que manejan de su
cultura. A los docentes que enseñan en el Programa también se les asigna un pueblo indígena
al cual acompañar, tanto en reuniones (p.e. para la realización del proyecto pedagógico) como
en las prácticas que los estudiantes realizan en sus comunidades durante la fase no presencial.
De otro lado, gracias a los convenios que el Programa ha firmado con algunas instituciones

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amigas, se han podido incorporar estrategias para trabajar con los jóvenes fuera del horario
de clases. En ese sentido, resalta la experiencia del Círculo de Mujeres, espacio facilitado por
la ONG Warmayllu con el fin de brindar un momento de encuentro, compartir y sanación a las
jóvenes que estudian allí. A partir de mi experiencia como docente en el Formabiap (agosto
2016- enero 2018), en esta ponencia quisiera compartir algunas de estas formas de
acompañamiento que se ejecutan durante la formación de los estudiantes, tanto aquellas
propuestas desde dentro del currículo como en actividades extracurriculares. La ponencia
tiene como fin incidir en la importancia que tiene el acompañamiento a los estudiantes
indígenas por parte de las instituciones a las que pertenecen, así como aportar al debate y a
la mejora de las propuestas de acompañamiento y tutoría durante los estudios superiores de
jóvenes indígenas.

Antropólogos e antropologias tukano (alto rio Negro)

Raphael Rodrigues

Nesta comunicação oral pretendo - como antropólogo não indígena que desenvolve pesquisas
etnográficas no alto rio Negro desde 2010 - apresentar uma breve análise das produções dos
antropológxs rionegrinos, em especial, de alguns acadêmicxs pertencentes a grupos tukano
oriental (tukano e pira tapuia, principalmente). Um dos fenômenos recentes no alto rio Negro
(noroeste amazônico) é a produção acadêmica em antropologia realizada por indígenas em
distintos programas de pós-graduação (UFAM, UNB, UFSC). Vale destacar que a produção de
registros escritos é recorrente na região desde, pelo menos, a década de 1980, com a
publicação de “Antes o mundo não existia” (FOIRN), o primeiro volume da coleção Narradores
Indígenas do Rio Negro (que conta atualmente com oito volumes). Tal produção esteve
vinculada ao trabalho colaborativo com antropólogos não indígenas na redação de textos que
versam sobre as histórias das comunidades, os mitos de origem e as trajetórias de grupos. Já
a produção especificamente antropológica mais recente destes indígenas, além de
desenvolver reflexões sobre os mesmos temas dos Narradores Indígenas, apresenta
discussões intrigantes e inovadoras no campo da metodologia e teoria antropológicas (por
exemplo, o conceito de antropologia cruzada). Esta comunicação oral tem como objetivo
refletir sobre os percursos biográficos e produções antropológicas de alguns destes
acadêmicos com os quais tenho mantido um diálogo marcado, principalmente, por um
trabalho colaborativo em que as produções bibliográficas (indígenas e não indígena) são
colocadas em situações de debate e aprendizado.

Mujeres indígenas y educación superior. Experiencias de estudiantes y


tutoras en la Universidad Nacional de Salta
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Nuria Macarena Rodríguez

María Macarena Ossola

Catalina Buliubasich

Esta ponencia reflexiona sobre las experiencias socio-escolares de mujeres que se


desempeñan como estudiantes de grado y tutoras de estudiantes indígenas en la Universidad
Nacional de Salta. Partimos de un estudio cualitativo que recupera sus voces a partir de
entrevistas en profundidad y observaciones participantes. Los ejes de análisis son: la
trayectoria escolar previa y el ingreso a la universidad; la elección de la carrera; la participación
en el programa de Tutorías con los estudiantes de pueblos originarios; y los vínculos con las
comunidades de origen durante el desarrollo de estudios de grado. Es importante destacar
que la ponencia recupera las voces de estudiantes y tutoras mujeres a partir de
entrevistadoras mujeres. Por ello nos interesa también problematizar sobre la etnicidad, la
escolaridad y los estudios de género. En las conclusiones destacamos la necesidad de
fortalecer la enseñanza secundaria en los medios rurales y con población indígena, teniendo
en cuenta que mientras realizaban este nivel de estudios, ni las entrevistadas ni sus docentes
contemplaban el ingreso a la universidad como una posibilidad real para ellas, por lo cual no
recibieron una educación adecuada para desarrollar carreras de grado. También se subraya la
importancia que tiene la relación con las comunidades de origen, la cual se resignifica a partir
de diferentes eventos que ocurren durante sus carreras académicas (curso de nivelación,
inicio de las clases, retorno a la comunidad durante los recesos de invierno y verano,
formación de parejas, enrolamiento en actividades extra-académicas, obtención de empleo,
etc.).

Un recorrido historico EIB (Educación Intercultural Bilingüe) a partir de


historias de vidas de los primeros auxiliares bilingues a la actualidad en el
norte argentino Rosa Rodríguez,

Fabiana Campos

José Rodriguez

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Nuestro trabajo intenta cobrar vida a través de un recorrido histórico en la EIB con las
trayectorias realizadas por los primeros auxiliares bilingües, sus sueños, esperanzas y sus
luchas por conseguir un espacio en el que se revaloricen los contenidos culturales de las
comunidades originarias. Por otro el trabajo de fortalecer la lengua materna wichi local y no
perderla en los procesos de globalización que influencian negativamente a nuestros niños y
sobre todo juventudes. En los primeros tiempos el auxiliar bilingüe inició la tarea educativa
teniendo un espacio como un simple traductor en el aula y actualmente se trabaja en pareja
pedagógica lo cual transforma la labor y la forma de verse en el aula, auxiliares, maestros,
directivos y supervisores trabajaron para que esta visión se llevó a cabo: en jornadas
pedagógicas, capacitaciones y reuniones de trabajo. Existe producción de material didáctico
elaborado por el equipo docente conformado por directivos, parejas pedagógicas bilingües y
directivos en la Escuela Rio Bermejo N4266 en la comunidad wichi de Misión Carboncito
(Embarcación) provincia de Salta – Argentina, lugar donde nos posicionamos para contar
desde nuestra mirada siendo nosotros algunos de los protagonistas en la línea del tiempo en
este recorrido histórico desde fines de los ochentas a la actualidad.

Educación Superior Intercultural, Jóvenes y Territorios: relaciones e


interacciones por la defensa de la vida

Alma Patricia Soto Sanchez

El espacio/tiempo en el que se desarrollan los proyectos de Educación Superior propia en


Oaxaca1, se tornan experiencias colectivas, desde las cuales se desenvuelven relaciones
múltiples entre las y los profesores, estudiantes, familias, comunidades, otros actores y
distintos territorios. Por ello, es necesario discutir las formas en que las dimensión geopolítica,
la disputa de saberes y las experiencias desde las personas y sus afectos se relacionan con las
perspectivas de futuro sobre las y los jóvenes, las comunidades y los territorios de los que
forman parte. La relación intersubjetiva de las comunidades con los territorios,2 desde
distintas estrategias, como la educativa, han ido gestando una defensa territorial y la demanda
de sus derechos como reivindicación histórica e identitaria, es decir, etnopolítica, donde se
defiende el derecho a la vida tanto de ellos como pueblos, como de los otros que ahí habitan.
... el término territorio denota mucho más que un pedazo de tierra – incluye todo el ambiente
físico y sus recursos -; es también el espacio donde la experiencia colectiva y la memoria son
sagradas e íntimamente relacionadas con los seres vivos; incorpora también la libertad de las
expresiones culturales y religiosas y el control político (Aikman, 1995; traducción propia). Las
percepciones, conceptualizaciones y vivencias del territorio serán variables por factores como
el género, la edad, la cultura y el bagaje de quien lo experimenta; aunado a esto, el acceso
será diferenciado por la posición de poder que ocupan al interior del grupo (Gupta and
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Ferguson 1992:20). Por lo tanto, habrá que considerar las experiencias y la relación
motivacional/cognitivo/afectiva (Melucci, 1999) desde las que se construye el territorio de
manera diferenciada. En este sentido, se busca abonar a la discusión de la relación entre los
proyectos ESI y el territorio, al considerar los procesos que se presentan en la vida cotidiana
de dichos proyectos en relación con las formas y sistemas de conocimiento propios, las redes
en que se insertan, la relación con el estado y con los distintos proyectos extractivos o de
desarrollo (Regalsky, 2003), así como las subjetividades y afectos de todos los involucrados.

"A presença indígena nos territórios, da aldeia à universidade” (e vice-versa):


juventudes indígenas universitárias em movimento(s) nos Encontros de
Estudantes Indígenas

Ricardo Sant' Ana Felix dos Santos

Propõe-se considerar o território da universidade como um espaço que vem sendo


reconfigurado a partir de sua ocupação por sujeitos que tradicionalmente a ele não
pertenciam, importando frisar que esta presença se realiza de formas substancialmente
distintas, dependendo do contexto espaço-temporal que se tome como referência.
Certamente, torna-se necessário problematizar o "como" deste fenômeno, avaliando suas
implicações e os diferentes obstáculos materiais e simbólicos, direcionando, assim, o olhar
para os desafios e consequências que se colocam a partir da presença neste território,
também em disputa. Interessa, portanto, refletir sobre a formação de acadêmicos indígenas
em seu conjunto que impactam direta e indiretamente o espaço da vida universitária e as
práticas de produção de conhecimento. Parte-se da perspectiva de uma educação conectada
com os processos contemporâneos de territorialização e que reivindique agenciar novas
formas de organização política e de mobilização estudantil indígena. Importa destacar
também como vivenciam o universo acadêmico – este novo território habitado –,
atravessando suas margens e fronteiras, e como esta vivência, por sua vez, também repercute
em diferentes planos de subjetivação que interpelam estes sujeitos, se interconectam e se
rearticulam. Considerando suas práticas, trata-se de observar como mobilizam acoplamentos
necessários, reelaborando modos de ser e agir, de apropriação e de engajamento político
neste ambiente enquanto sujeitos históricos, de conhecimentos e de direitos de uma
cidadania em contínuo movimento. Compreendendo tais fenômenos como processos em
permanente construção, tais indagações são acessadas e restituídas através de uma análise
etnográfica que evoca a centralidade dos Encontros de Estudantes Indígenas (Nacionais –
ENEIs – e Regionais – EREIs) como lugares privilegiados para se repensar o fortalecimento
político neste processo, a afirmação da cidadania indígena, valorização histórica, reinvenção
identitária e, portanto, catalizadora de potências socioculturais. Pensá-los também como
espaços moduladores de acionamento de sociabilidades, de aprendizado histórico-político –
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a partir da transmissão intergeracional de uma memória plena de saberes significativos –, de


circulação de trabalhos acadêmicos por eles produzidos, de discussão de temas caros às
pautas do movimento e, inclusive, renovação das abordagens para a sua agenda de
mobilização como um todo, apresenta-se útil para a análise dos contextos que envolvem a
participação e a articulação de parte da juventude indígena dentro e fora do meio acadêmico,
bem como dentro e fora das aldeias.

A importância do abril indígena UFBA como espaço de afirmação cultural,


protagonismo estudantil e trocas de saberes

Vanessa Carvalho Santos

Carla Eveline Cruz Fonseca

Estevita Queiroz da Silva

Marciane Nunes Cardoso

O PET- Programa de Educação Tutorial é desenvolvido por grupos de estudantes, com tutoria
de um docente, organizados a partir de formações em nível de graduação nas Instituições de
Ensino Superior do País orientados pelo princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa
e extensão e da educação tutorial. Tem como objetivo o processo de formação integral, ao
envolver os estudantes que dele participam em atividades acadêmicas coletivas e
interdisciplinares, pautadas por padrões de qualidade e excelência que propiciem aos
participantes uma compreensão abrangente e aprofundada de sua área de estudos. O Pet
Comunidades Indígenas UFBA, criado em 2010, é uma conquista das constantes lutas dos
estudantes indígenas da UFBA, que sempre reivindicaram um espaço de afirmação,
visibilidade para as questões indígenas, dentro e fora da universidade. O grupo é formado
exclusivamente por estudantes indígenas oriundos de comunidades indígenas, de diferentes
regiões do Nordeste, é um grupo interdisciplinar, pois seus discentes são de diversas áreas da
graduação, temos discentes na área da Fisioterapia, Direito, Psicologia, Geografia,
Secretariado Executivo, Economia, Gênero/Diversidade e Bacharelados Interdisciplinares.
Dentre as diversas atividades desenvolvidas pelo grupo Pet no planejamento anual, o Abril
Indígena se destaca a cada edição, o objetivo principal do evento é proporcionar a interação
entre a Universidade Federal da Bahia e a sociedade como um todo, possibilitando a troca de
saberes, a descolonização do pensamento, diálogos e experiências entre os estudantes e
convidados. Já que a temática indígena é pouco difundida, principalmente dentro da
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universidade e nas suas diferentes áreas do saber, notou-se a necessidade de debater e dar
visibilidade a diversidade, sair da teoria e conhecer de fato a realidade dos povos indígenas.
O evento proporciona a presença de diversas representações das comunidades indígenas,
como anciãos, caciques, pajés e lideranças do movimento indígena nacional. A troca de
experiências assim como os relatos das vivências dessas lideranças é de extrema importância
para o enriquecimento e a construção do debate, além da formação política dos estudantes
indígenas. Em todas as fases, processualmente, são realizadas rodas de conversa e oficinas
preparatórias com a participação de toda a equipe PET, além dos nossos parceiros, o Núcleo
de Estudantes Indígenas da UFBA- NEI, Pró-Reitoria de Extensão e Pró-Reitoria de Ações
Afirmativas e Assistência Estudantil da UFBA e professores colaboradores, onde de forma
coletiva elaboramos o projeto, escolha da temática a serem abordadas, palestrantes,
convidados, arte gráfica e divulgação, todo processo da realização do evento, com objetivo do
aprendizado e conhecimentos adquiridos coletivamente e individualmente, compartilhamos
as responsabilidades de cada atividade, por área de interesse. Cada petiano/a e colaboradores
acompanham a realização das atividades, como por exemplo: reservar auditórios, translado
dos palestrantes, verificar meios de divulgação, listas de presença, mediando mesas,
garantindo assim a participação total efetiva dos discentes, este processo avaliativo também
acontece com os parceiros, após a realização do evento, onde procuramos avaliar as possíveis
melhorias para cada edição do evento. A programação do evento sempre é pensada nos
diferentes eixos, para assim melhor atender os diferentes interesses dos públicos, são
realizados minicursos e oficinas, rodas de conversas, exposições de artes, intervenções
artísticas e culturais, jogos indígenas, filmes e documentários, atos políticos, saraus e
concursos de poesias, com a programação cheia de novidades a cada ano o evento vem
ganhando espaço, e os estudantes indígenas protagonistas e realizadores do evento, podem
mostrar e debater as temáticas indígenas que não são discutidas através das grades
curriculares de seus cursos e ocupando os diferentes campos da universidade, principalmente
nos cursos ainda conservadores como o de Direito e Medicina. Com a grande difusão do
evento, o Pet indígena juntamente com o NEI-UFBA, vem conquistando espaços antes
inexistentes, uma conquista através do Pet Indígena, o Abril Indígena hoje na UFBA faz parte
do calendário anual das atividades regulares da universidade, um espaço importantíssimo
para usarmos como instrumento de luta e difusão da nossa cultura, além de uma forma de
melhor participação da comunidade acadêmica conhecer e participar. O Abril Indígena, assim
como o Pet constitui como um espaço significativo de acolhimento, formação e afirmação
cultural, principalmente no que diz respeito ao protagonismo dos estudantes indígenas, que
trabalham e realizam atividades de forma coletiva e colaborativa. Através das experiências
vivenciadas pelos estudantes indígenas em realização e participação de diversos eventos, o
grupo Pet participou da realização do V Encontro Nacional de estudantes Indígenas em 2017
na Bahia, um dos principais eventos a nível nacional sobre a discussão do Ensino superior.
Sendo assim pode-se concluir que o Abril Indígena é um espaço político de reivindicações,
formação sociocultural, que proporciona a troca de saberes entre a comunidade indígena e a

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comunidade acadêmica, somos multiplicadores e temos o papel importante de sermos os


protagonistas das nossas próprias lutas, temos a responsabilidade social e política de
contribuir para a formação da sociedade não indígena, através dos nossos saberes e
conhecimentos tradicionais

Estudantes indígenas no ensino superior: um processo em construção na


Universidade Federal da Bahia

Ariadila Santos de Queiroz Silva

Este trabalho apresenta um panorama da inserção de indígenas no ensino superior brasileiro,


que foi impulsionado pela adoção de políticas de ações afirmativas para ingresso e
permanência de estudantes antes excluídos desse nível de ensino. Tem por objetivo conhecer
como tem se desenvolvido o acesso de indígenas as universidades públicas brasileiras e de
forma particular, como este processo tem acontecido na Universidade Federal da Bahia. Este
artigo faz parte do projeto de pesquisa em andamento no Programa de Pós-Graduação em
Estudos Interdisciplinares sobre a Universidade da Universidade Federal da Bahia, que
investiga os percursos acadêmicos e profissionais dos indígenas graduados na UFBA. Para
compreender o contexto da investigação, mostrou-se necessário entender a relação dos
indígenas com o ensino superior ao longo do tempo e como tem se construído o acesso deste
seguimento ao ensino superior, de forma particular na UFBA. Desde o início da colonização
europeia nas américas a mais de 500 anos, houve uma diminuição expressiva do contingente
populacional dos povos indígenas nas américas, estima-se uma população de 47 milhões de
pessoas quando da chegada de Cristóvão Colombo à América, em 1492 na hoje chamada
américa habitavam os países hoje denominados latino-americanos (CEPAL, 2015). Os
indígenas no Brasil somam hoje uma população de cerca de 817.963 mil pessoas, que
representam uma diversidade de 305 etnias diferentes, e falantes de cerca de 274 línguas
diferentes (IBGE, 2012). Os povos indígenas sofreram um processo de educação escolar desde
o princípio da colonização que não respeitava seus conhecimentos e cultura, e que foi parte
de um projeto de dominação que os deixaram a margem da sociedade (HENRIQUES et al
2007). Sendo assim os indígenas não foram incluídos no projeto universitário brasileiro. A
universidade tem sua origem na Europa medieval e chega a América Latina juntamente com
a colonização. Ainda no século XVI foram instaladas as primeiras universidades nos territórios
colonizados pelos espanhóis, essas novas universidades eram encarregadas de formar os
sujeitos de direito naquela sociedade, os europeus e seus filhos nascidos na América. (SANTOS
e ALMEIDA FILHO, 2012). Assim sendo, os indígenas não foram incluídos nessas universidades
em seus primeiros séculos de existência, nem tão pouco seus conhecimentos valorizados por
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elas. No Brasil, o ensino superior não foi organizado em universidades durante a colonização,
sendo criada as primeiras instituições a terem o título de universidade somente no século XX.
Mas apesar da coroa portuguesa não ter instalado universidades em sua maior colônia,
acontecia nos seminários religiosos um ensino semelhante ao que ocorria no restante da
América Latina. Dessa forma é possível entender que o ensino superior brasileiro é também
bastante antigo. (CUNHA, 2007). A entrada de jovens indígenas no ensino superior brasileiro
é um fenômeno recente que foi possível pelo reconhecimento dos direitos indígenas em nível
internacional, bem como mudanças na legislação nacional. No Brasil, a Constituição Federal
de 1988 é um marco na relação dos indígenas com o Estado brasileiro, assegurando aos povos
indígenas o direito às terras que tradicionalmente ocupam, o respeito às diferenças culturais
e linguísticas e o direito à participação dos povos na elaboração das ações governamentais
que tenham impacto em suas vidas de alguma forma (AMARAL, 2010). Esta nova relação
possibilitou a construção de um outro cenário de educação escolar indígena, com legislação
educacional desenvolvida a partir então. A demanda dos povos indígenas por ensino superior
foi incialmente impulsionada pela necessidade de formação de professores indígenas para
ensinar e gerir as escolas em seus territórios. Para habilitar professores à docência no ensino
médio e séries finais do ensino fundamental, era necessário que estes tivessem formação em
nível superior, assim os primeiros cursos para formação de professores indígenas em nível de
licenciatura foram implantados no início dos anos 2000 (LIMA e BARROSO-HOFFMANN, 2004).
A adoção de políticas de ação afirmativa para acesso às universidades públicas, que
começaram a se desenhar no horizonte do ensino superior brasileiro no início do século XXI,
é de suma importância para a inserção de estudantes indígenas no ensino superior, ao se
definir formas de ingresso diferenciado nas universidades públicas. As políticas de ação
afirmativa podem ser entendidas como “medidas especiais e temporárias que, buscando
remediar um passado discriminatório, objetivam acelerar o processo de igualdade, com o
alcance da igualdade substantiva por parte de grupos socialmente vulneráveis, como as
minorias étnicas e raciais, dentre outros grupos” (PIOVESAN, 2007, p 40). A experiência
pioneira de acesso de estudantes indígenas a universidades públicas em cursos regulares foi
no Estado do Paraná que, através da Lei Estadual no 13.134/2001, instituiu o Vestibular
Específico Interinstitucional dos Povos Indígenas do Paraná (AMARAL, 2010). Nos anos
seguintes, ações afirmativas que comtemplam o acesso diferenciado para indígenas se
disseminaram pelo país de forma heterogênea, através de iniciativas locais, como Leis
Estaduais e deliberações de conselhos universitários. As iniciativas mais recorrentes para o
ingresso de indígenas são as vagas especiais ou suplementares, que se diferem das cotas por
exceder o número de vagas gerais, não afetando a concorrência dos demais candidatos,
enquanto as cotas se caracterizam pela definição de um número determinado de vagas para
um grupo social específico no cômputo das vagas gerais disputadas nos processos seletivos
(PAULA, 2013). Essas iniciativas contribuíram para ampliar o acesso a estudantes oriundos de
comunidades indígenas, trazendo uma presença inédita deste grupo à maioria das
universidades brasileiras. Pesquisa realizada pelo Centro Indígena de Estudos e Pesquisas

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(CINEP), entre 2006 a 2008, estimava haver cerca de 5 mil estudantes indígenas no ensino
superior no Brasil, em licenciaturas interculturais e cursos regulares (CINEP, 2010). Este já se
mostrava como um número razoável na época, dada exclusão desse segmento no nível
superior. Em muitas universidades federais as ações afirmativas só foram alcançadas com a
aprovação da Lei 12.711, de 29 de agosto de 2012, que torna obrigatório a reserva de no
mínimo 50% das vagas nas instituições de ensino federais, em cada curso e turno, para
estudantes oriundos de escolas públicas, obedecendo também recorte censitário para
estudantes pretos, pardos e indígenas autodeclarados (BRASIL, 2012). A aprovação da Lei das
Cotas, como ficou conhecida, é um marco importante na luta pela democratização do acesso
à universidade pública e para promoção da igualdade de oportunidades a todos os brasileiros.
A Universidade Federal da Bahia – UFBA, começou a discutir a implantação de um programa
de ações afirmativas no início dos anos 2000, a partir de demanda do movimento estudantil e
setores da sociedade baiana. A discussão ganhou força na universidade que teve sua proposta
aprovada Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE) em 2004 e aplicada já
no processo seletivo de 2005 (QUEIROZ e SANTOS, 2012). O Programa de Ações Afirmativas
da UFBA (PAA) foi construído a partir de demanda do movimento estudantil da Universidade
e então com abrangência de recorte social e racial, a fim de atingir uma maior diversidade na
Universidade. Do total de vagas dos cursos de graduação, 43% devem ser reservadas para
egressos de escola pública, sendo que 85% deste percentual destinadas a candidatos que se
declaram negros. Também foi reservada 2% das vagas para índios descendentes que não
precisam comprovar vínculo com a comunidade, e 2 vagas suplementares para índio aldeado
e quilombolas que necessitam comprovar vínculo com as comunidades de pertencimento.
(UFBA, 2004). Com relação às vagas destinadas a estudantes indígenas, há na UFBA duas
formas de ingresso: através das vagas reservadas a índios descendentes e ou pelas vagas
suplementares destinadas a índios aldeados. Isso se deve aos questionamentos feitos pela
União Nacional dos Índios Descendentes (UNID), que em documento apresentado ao GT em
agosto de 2003, defendeu a inclusão da categoria índios descendentes, diante das suas
especificidades e diferenças com relação à categoria índio aldeado, esta entidade foi
convidada a participar da formulação da proposta e não há registro de organizações indígenas
ou indigenistas que participaram desse debate (QUEIROZ e SANTOS, 2012). Segundo Souza
(2011), ao definir as categorias índios descendentes e índios aldeados, a universidade
demostra o desconhecimento do contexto da mobilização indígena e sua organização política.
O ingresso de estudantes indígenas através das vagas a eles reservadas acontece desde o
primeiro processo seletivo em que foi aplicada a política de ação afirmativa da UFBA. De
acordo com os dados cedidos pela Superintendência de Administração Acadêmica (SUPAC),
até o semestre 2018.1 estavam matriculados na Universidade 132 estudantes indígenas
selecionados na categoria ‘índio aldeado’. Estes estudantes são pertencentes às etnias
indígenas da Bahia e de outros estados do nordeste brasileiro. De acordo com informações do
Núcleo de Estudantes Indígenas da UFBA (NEI)2 , os estudantes indígenas atualmente
matriculados na UFBA são das etnias Pataxó, Pataxó Hãhãhãe, Tupinambá, Tuxá, Tumbalalá e

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Payayá da Bahia, Pankará e Pankararu de Pernambuco, Tingui-Botó de Alagoas. De 2005 a


2018.1, foi selecionado um total de 233 estudantes na categoria índio aldeado, sendo 57
concluintes. Quanto aos estudantes selecionados na categoria índios descendentes, foram
619 inscritos e 435 concluintes. Durante os primeiros anos de vigência do Programa de Ações
Afirmativas da UFBA, de 2005 a 2012, foram selecionados 81 estudantes índios aldeados. Ao
avaliar o impacto das cotas na UFBA neste período, Queiroz e Santos, (2013) demonstram que
o percentual de estudantes cotistas índios aldeados inscritos neste período de tempo, variou
entre 0,1% a 0,3% dos inscritos no vestibular; já os índios descendentes variaram entre 0,8 a
1,4%, nesse mesmo período. Se comparado ao quantitativo de estudantes que ingressaram
na Universidade nesse período, e mesmo com outras minorias étnico-raciais beneficiadas por
seu programa de ação afirmativa, este quantitativo pode parecer muito reduzido, porém ele
representa um grupo de indivíduos que não teriam acesso a Instituição, nem visibilidade sem
a adoção de ações afirmativas. (SOUZA, 2016). A partir de 2013 cresceu o número de
estudantes indígenas aldeados inscritos e selecionados pelas ações afirmativas da
universidade, atingindo o número de 152 matriculados entre os semestres 2013.1 a 2018.1,
representando quase o dobro de matrículas dos primeiros oito anos de ação afirmativa na
UFBA. Este crescimento expressivo pode ser explicado pela adoção de medidas que facilitaram
o acesso e deu mais possibilidades de permanência a estes estudantes. Entre essas medidas,
merece destaque a adoção da nota do Enem em lugar do vestibular e a criação do Programa
Bolsa Permanência, que afetaram positivamente o ingresso de estudantes indígenas.
Atualmente, a UFBA tem 93 estudantes inscritos no Programa Bolsa Permanência, segundo
dados da Pró-reitora de Assistência Estudantil e Ações Afirmativas (PROAE). Esta tem sido uma
ação de extrema importância para que os estudantes indígenas e quilombolas consigam
concluir os cursos de graduação tendo suas necessidades materiais asseguradas. No primeiro
semestre de 2018, o Ministério da Educação anunciou a redução no Programa Bolsa
Permanência, como a concessão de apenas 400 bolsas, deixando de fora cerca de 4 mil
estudantes indígenas e quilombolas matriculados em universidades e institutos federais.
Diante desse cenário preocupante, estudantes indígenas e quilombolas de todo Brasil se
mobilizaram para negociar com o governo a manutenção do Programa. Entre maio e junho
deste ano realizaram-se manifestações e reuniões em Brasília, em um movimento que ficou
conhecido como ‘Permanência Já’. Os estudantes indígenas e quilombolas da UFBA tiveram
um papel importante nesse processo, e contaram com o apoio da Instituição para participar
da mobilização. Como resultado, o MEC assumiu o compromisso de atender todos os inscritos
em 2018. O movimento dos estudantes indígenas e quilombolas também pauta a aprovação
de lei que garanta a assistência a permanência diferenciada desses seguimentos. Desde os
primeiros ingressantes indígenas na UFBA em 2005, estes estudantes procuram estabelecer
com a Universidade um diálogo para que suas demandas sejam atendidas de forma mais
coerente e que possibilite a conclusão dos cursos de maneira satisfatória, tornando o
programa de ações afirmativas da UFBA mais qualificado. Com o ingresso de um número
maior de estudantes, esse movimento estudantil foi ganhando força, e hoje o NEI é a principal

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rganização interna dos estudantes indígenas da UFBA, que atua no acompanhamento do


ingresso e permanência dos estudantes indígenas aldeados. O NEI também se articula com
outros movimentos estudantis da própria UFBA e também com outros grupos de estudantes
indígenas do Brasil (SOUZA, 2016). Uma das conquistas da mobilização dos estudantes
indígenas da UFBA em busca de políticas de permanência e valorização dos saberes indígenas
na universidade é a criação do PET- Comunidades Indígenas da UFBA3. O PET indígena foi
implantado por iniciativa dos estudantes que se articularam para encontrar um professor para
exercer a tutoria do projeto construindo coletivamente. Atualmente o PET está em seu
terceiro plano de trabalho, e tem como uma de suas principais atividades a promoção anual
do “Abril Indígena na UFBA”, onde debate temas relacionadas aos povos indígenas, sempre
trazendo lideranças e mestres indígenas para dialogar com a comunidade acadêmica. (COSTA,
2015). A experiência de inclusão de estudantes indígenas na UFBA, tem demostrado a
importância do diálogo entre as instituições e os povos indígenas, ao desenvolver ações que
os afetam de alguma forma, em específico na educação, para que possa haver a compreensão
da realidade desses sujeitos, para que a política seja mais efetiva. Ao longo dos anos de
vigência das ações afirmativas na UFBA, os estudantes indígenas têm construído uma relação
intensa com a Universidade, ‘demarcando-a’ também como um espaço de luta indígena em
defesa de seus direitos.

Nhembo’é mboraí: ensinamentos cosmo-sônicos Guarani na interdisciplina


Encontro de Saberes/Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Vherá Poty Benites da Silva

Ana Lucia Liberato Tettamanzyr

Rumi Regina Kubo

Marília Raquel Albornoz Stein

A atuação de Vherá Poty na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) como
intelectual Guarani vem ocorrendo há mais de 10 anos, através de cursos de extensão da
cultura e língua Guarani Mbyá, projetos de pesquisa colaborativos em educação, antropologia
e etnomusicologia, produção de materiais audiovisuais e exposições fotográficas, cursos de
formação de professores, palestras, etc. Esta comunicação traz o relato das atividades da
interdisciplina Encontro de Saberes, que propõe a docência compartilhada entre professores
das universidades e Mestres dos Saberes Tradicionais e Populares pertencentes às matrizes
indígenas e negras e na qual, em 2017, a temática Guarani-Mbyá foi relatada e trabalhada por
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Vherá Poty. Proposta originalmente na Universidade de Brasília em 2010 na esteira dos


debates em torno da inclusão da população afrodescendente e indígena na educação superior
e do desenvolvimento de políticas públicas para as culturas populares (INCTI, 2015), a
disciplina marca o enfrentamento do racismo estrutural na constituição histórica da
universidade brasileira, através das experiências interepistêmicas que não separam teoria e
metodologia, reflexão e intervenção. Na UFRGS é oferecida semestralmente desde 2016/2 e
já envolveu mais de 300 alunos, docentes de várias unidades e cerca de 20 Mestres e Mestras
em exercícios interdisciplinares de observação e análise, trabalhos de campo, registros,
práticas, improvisações, intervenções e pesquisa teórica, através dos quais ressignifica a
proposição de Boaventura de Sousa Santos (2002) de que as experiências sociais produzem
conhecimento. As atividades foram desenvolvidas no módulo sobre Plantas e Espírito e em
sua abordagem visaram provocar uma reflexão profunda nos estudantes e professores sobre
emoções, memórias, parentesco, identidade, saúde e música, na perspectiva de uma cosmo-
sônica Mbyá (Stein; Silva, 2014). Assim como nos demais Mestres, remetem aos saberes afro-
pindorâmicos definidos pelo intelectual quilombola Antônio Bispo dos Santos (2015) a partir
da territorialidade.

Estudiantes indígenas en una Universidad Nacional Argentina. Análisis de la


permanencia desde las voces de diversos actores

Mirian Graciela Soto

Adriana Elizabeth Luján

Laura Liliana Rosso

La Universidad Nacional del Nordeste (UNNE) posee sedes en las provincias de Chaco y
Corrientes ubicadas al nordeste argentino, responde al tipo instituciones de educación
superior (IES) convencionales, definidas por Mato como “aquellas [...] que no han sido
explícitamente creadas y diseñadas para responder a las necesidades, demandas y propuestas
de comunidades y pueblos indígenas o afro-descendientes” (Mato, 2014). Desde el año 2011,
la UNNE implementa el Programa Pueblos Indígenas (PPI). Se trata de una política institucional
destinada a apoyar la inclusión de indígenas a carreras de grado, mediante becas y tutorías.
En este trabajo, focalizaremos en el estudio de las experiencias de los estudiantes indígenas
(EI) indagando en los sentidos que los mismos atribuyen a su profesionalización; identificar los
factores (individuales, grupales, institucionales) que se ponen en juego para su permanencia;
al tiempo que buscamos conocer las expectativas que sostienen sobre la relación entre la
universidad y sus comunidades. En el marco del PPI se realizan encuentros donde estudiantes,

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tutores y referentes de los Pueblos, intercambian experiencias sobre su transitar en la


universidad. En estos espacios los EI han realizado propuestas para que esta institución sea un
ámbito de participación e intercambio con las comunidades. Siguiendo esta línea de análisis
nos preguntamos sobre las condiciones institucionales que favorecen o no para que tales
propuestas se concreten. La universidad resulta un ámbito de relaciones interétnicas; ámbito
en el que se expresan visiones acerca de los EI sostenidas por diversos actores institucionales
- profesores, gestores universitarios y tutores- que se originan en una concepción elitista de
las IES (Núñez, 2017), y otras son sostenidas por proyectos de inclusión de grupos
históricamente excluidos de las universidades, entre los que se encuentran los indígenas. En
este trabajo nos preguntamos por las visiones que sobre los mismos, sostienen los actores
mencionados y que concepciones sobre su historia y cultura están presentes. Expondremos
resultados parciales de una investigación cualitativa en curso, en la que se hace uso de las
herramientas provistas por la etnografía educativa, lo que nos permitirá reconstruir los
procesos y relaciones en la trama cotidiana y real (Carli, 2012). Nos centraremos en los relatos
de los actores a través de entrevistas semi- estructuradas y observaciones participantes y no
participantes.

A “luta pelo diploma e o diploma para a luta”: questões em torno da luta para
o ingresso e a permanência de estudantes indígenas na universidade

Ana Cláudia Gomes de Souza

O termo luta para os povos indígenas do nordeste brasileiro parece quase constitutivo do seu
processo de construção identitária. Afinal, são séculos de luta, no decorrer dos quais nada lhes
foi fácil. O ingresso e a permanência na universidade também serão marcados pela luta.
Ressalta-se nos estudantes indígenas, o ativismo que tem caracterizado os militantes e
intelectuais indígenas. Assim, a luta é para o ingresso, mas também como o estudante deverá
adaptar-se aos códigos do ensino superior, aprender a utilizar suas instituições e a assimilar
suas rotinas. Dentre elas, a questão da escrita e do domínio da norma culta, requisitos da
produção acadêmica universitária, que ainda representam uma barreira para os estudantes.
O preconceito para esses estudantes também representará um entrave para a sua
permanência na universidade. Ao aludir ao par diversidade e universidade, precisamos
também acionar outro ponto de vista, igualmente relevante, que será o do valor que a
inserção dos estudantes indígenas agregará à universidade. As universidades brasileiras vem
se constituindo, gradativamente, em um espaço intercultural, que precisamos exercitar,
sistematicamente, uma apreciação etnográfica sobre seus processos de formação e de
encontro com a alteridade.

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Una apuesta por culturas escolares antirracistas en la educación superior


intercultural: jóvenes universitarios ñöñho frente al racismo

Alejandro Mira Tapia

Fundamentado en una investigación etnográfica, este trabajo busca aportar pautas para
pensar en las posibles funciones antirracistas que están ejerciendo en el campo de las políticas
de identidad ciertas lógicas culturales y pedagógicas de la educación superior intercultural en
México. Se analiza el vínculo multidimensional que mantiene un grupo de jovenes otomíes o
ñöñho frente el racismo, en relación a las dinámicas interétnicas regionales, al papel regional
de la escuela, y sobre las relaciones excluyentes en las que participan las juventudes indígenas
del estado mexicano de Querétaro. Se concluye que partir de tres acciones culturales y
pedagógicas instituidas en una universidad indigena en la que se profesionalizan estos jovenes
-ejercicios de revitalización, recuperación y rescate de la cultura; prácticas sociales de
reconocimiento de otras diversidades; acciones de activismo cultural desde el teatro
comunitario- este sector de la juventud ñöñho construye nuevas posiciones subjetivas que les
permiten reposicionarse en relación a la discriminación étnica y racial.

Relato de experiencia: Programa Jovem aprendiz indigena em contexto


urbano na Associação paulista para o desenvolvimento da medicina - SPDM
nos anos de 2012 à 2018

Awaé Trumai Waurá

Leandro da Cruz Silva

Jibran Yopopem Patte

Marcos Schaper dos Santos Junior

Sonia Maria Lofredo

Josicléa Maria dos Santos

Kuanakiki Ahuwera Karajá

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O Programa Jovem Aprendiz faz parte das ações de políticas públicas regulamentada pelo
Governo, com apoio do Ministério do Trabalho. O contrato de trabalho pode durar até dois
anos e, durante esse período, o jovem é capacitado nas instituições CIEE ou SENAC e executa
trabalho de 6hs na SPDM. Combinando formação teórica e prática. Participam do programa
jovens indígenas, desde que, estejam vivendo em contexto urbano, com idade entre 16 e 22
anos, que estejam cursando, tenham concluído o ensino médio ou cursando ensino técnico.
Os jovens Aprendizes Indígenas, no decorrer do contrato, passam por avaliações semestrais
de seu desempenho tanto na empresa como na instituição capacitadora. A seleção é feita com
o encaminhamento do curriculum para o Setor Acompanhamento e Aproximação de
Profissionais e Comunidades indígenas da SPDM – SAA, sendo aplicada a entrevista e prova.
Realizamos contratos com jovens indígenas de várias etnias, Xavante, Pankararé, Pankararu,
Guarani, Wassu Cocal, Kaigang, Kaimbé e Bororo. O programa Jovem Aprendiz Indígena na
SPDM tem como objetivos: Estimular o desenvolvimento de suas competências, habilidades e
potencialidades para efetivação ou encaminhamento para o mundo corporativo e
universidades; fortalecer o controle social por meio da conquista da atuação dos jovens
indígenas nos conselhos; Fortalecer a identidade e aumentar o número de jovens contratados
a cada ano. O programa existe na SPDM desde o ano de 2012, no entanto só entre 2015 e
2016 iniciamos os contratos com quatro jovens indígenas, sendo um Xavante, um Guarani, um
Pankararé e um Wassu Cocal. Entre 2017 e 2018 foram contratados mais 34 jovens perfazendo
um total de 38 jovens. Desses jovens 31 concluíram o curso, sendo que dois foram demitidos,
três desistiram, e dois foram efetivados. Em 2017 dois jovens foram inseridos na Universidade,
em 2018 foram mais dois sendo que em 2018, onze jovens se inscreveram nos vestibulares.
Um deles tem participado de vários movimentos e tem se despontado como liderança
indígena. Os jovens indígenas vivendo em contexto urbano tiveram a oportunidade de ser
incluídos no primeiro emprego desenvolvendo competências para o trabalho, enquanto
contribuímos com a formação dos futuros profissionais indígenas que poderão atuar junto às
comunidades indígenas defendendo os seus direitos adquiridos.

Programa Internacional de Becas para Indígenas: Cambios y Resignificados


sobre el ser indígena

Perla Xixitla Becerro

En el 2001 llegó a México como parte de un proyecto internacional un programa de becas


dirigido a la población indígena para beneficiar a estudiantes con educación superior
interesados en cursar estudios de posgrado. El programa, cuyo nombre oficial fue “Programa
Internacional de Becas para Indígenas”, asignó un número determinado de becas para realizar
estudios de maestría y/o doctorado según fuera el caso en diferentes universidades del
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mundo. Durante el tiempo en que el programa estuvo vigente en México, del 2001 al 2011,
asignó un total de 226 becas, 190 para maestría y 36 becas para doctorado. Este artículo
registra la experiencia que tuvieron algunos jóvenes becarios al estudiar fuera del país y la
forma en cómo configuraron o reconfiguraron su forma de identificarse como indígenas. Ello
sumado a los propios criterios de identificación (lingüísticos, de territorio) que el programa
solicitaba para otorgarles las becas. En esta propuesta se podrán identificar algunos procesos
internos de las y los jóvenes como cambios de conciencia, resistencias, resignificados y
afirmaciones sobre la manera de asumirse como indígenas. Se podrá ver también la relación
de estos procesos internos con diferentes factores como la dinámica familiar, la experiencia
laboral y el contexto del país destino. El trabajo se enfoca en tres momentos importantes: la
postulación al programa, la estancia en el país destino (dado que cursaron sus estudios de
posgrado en el extranjero) y el regreso a México. En estos tres lapsos las y los becarios tuvieron
distintas vivencias que cambiaron la forma en que hoy se identifican como indígenas. Ello,
además, atribuyendo un nuevo significado para sus planes a futuro, tanto a nivel profesional
como personal. En este sentido vale la pena plantear la pregunta: ¿Cómo se miran a sí mismos
estas y estos jóvenes una vez que cursaron sus estudios de posgrados y se abren nuevas
oportunidades y perspectivas, según las propias palabras de una joven? De acuerdo a la
investigación que se llevó a cabo y de la cual se desprende esta propuesta, se observa cómo
las y los jóvenes reflexionan sobre una nueva manera de identificarse y de ubicarse
socialmente, analizando nuevas formas de relacionarse con su propia historia de vida, con su
lugar de origen, con lo que se espera colectivamente por ser indígena y/o con sus propios
intereses, entre otras reflexiones. Esta propuesta está basada en la investigación que realicé
para mis estudios de maestría en México. Se trata de una investigación con metodología
cualitativa, en donde realicé ocho entrevistas semiestructuradas a jóvenes beneficiados del
programa, pertenecientes a diferentes grupos étnicos: otomí, maya, triqui y chinanteco. Así
mismo entrevisté al personal responsable del programa.

ST 25 | Las alternativas de la resistencia indígena: la lucha está en lo cotidiano


Giovanna María Aldana Barahona (Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales, México); Ámbar
Varela Matute (Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales, México); Alfredo Sánchez Carballo
(Universidad Autónoma de Juárez, México).

Esta propuesta tiene como objetivo mostrar que las resistencias de los pueblos se elaboran, se
construyen y se viven desde diferentes frentes y niveles, los cuales incluyen las creaciones culturales,
la recuperación o recreación de las identidades, el uso y defensa de la lengua originaria, entre otras.
Estas últimas resistencias merecen nuestra atención ya que son el sustento de la identidad de los
pueblos indígenas y un eje vital para su pervivencia. En ese marco, el presente simposio se propone
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como un espacio interdisciplinario e intercultural de diálogo en el que se muestren las evidencias de


resistencia de los pueblos indígenas en el Abya Yala desde su cotidianidad, ya sea a través de la
elaboración de sus artes y artesanías, el uso de la medicina ancestral, elaboración y uso de vestimenta
propia, su lengua y la creatividad relacionada con ésta, entre otras; expresiones dedicadas a construir
y perpetuar el deseo de pervivencia frente a influencias externas de homogenización. Asimismo, el
simposio pretende integrar el uso y aplicación de herramientas audiovisuales (fotografía, audio y
video) para mostrar los hallazgos de las resistencias de lo cotidiano. De esta manera, el simposio
aportará a la desconstrucción del pensamiento colonial, no solo desde propuestas teóricas, sino
evidenciando las prácticas, voces, elementos y objetos por medio de los cuales los pueblos indígenas
generan discursos contrahegemónicos para la construcción de alternativas interpretativas de vida, a
través de sus actuaciones y manifestaciones cotidianas.

Resistencia comunitaria desde la cotidianidad: Casos de los zapotecos en la


Sierra Juárez de Oaxaca

Norihisa Arai

En el contexto actual de la crisis civilizatoria en la que se encuentra la humanidad, la


construcción de alternativas al sistema moderno-capitalista se ha convertido en una
necesidad primordial para su propia supervivencia. En el proceso de la búsqueda de estas
formas alternativas, es de vital importancia revisar las experiencias que no obedecen al marco
de dicho sistema, en las cuales la teoría del don se posiciona en su lógica central. Esta teoría
sistematizada por Marcel Mauss (1924) y ampliamente discutida en diversas disciplinas
posteriormente, se comprende como una interacción recíproca que obedece a las tres
obligaciones de dar-recibir-devolver y que permite circular los bienes o los servicios
diferenciándose claramente de la circulación mercantil mediada por el intercambio
equivalente. Pese a que se considera que el avance de la modernidad ha significado la pérdida
de la lógica comunitaria basada en el don/reciprocidad, sus praxis siguen persistiendo en las
prácticas cotidianas en todas las latitudes, siendo ellas núcleos dinamizadores de
interacciones humanas (Godbout, 1996). Así pues, el mayor reto para pensar las alternativas
a la economía mercantil/capitalista está en la reconstrucción de la ética del don y la ampliación
del alcance de este concepto en esta época contemporánea, rompiendo así el paradigma

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establecido de homo- economicus basado en la visión utilitarista (Caillé, 1996). En este


sentido, es necesario volver a mirar la cotidianidad como un espacio de resistencia, puesto
que la vida cotidiana es donde se enfrentan las dos lógicas anteriormente mencionadas. Tras
estas afirmaciones, se resalta la importancia regional de América Latina por su construcción
de las experiencias alternas al capitalismo, sobre todo en las prácticas de los pueblos indígenas
donde se observan los esfuerzos de construcción de la dimensión del don/reciprocidad. Así
pues, en la ponencia presentaré algunas reflexiones adquiridas a partir de una serie de trabajo
de campo realizado en el Sector Zoogocho, en Villa Alta de Sierra Juárez de Oaxaca, México.
Es una zona zapoteca xhon donde cuenta con una visible presencia de los elementos de la
denominada Comunalidad, en la cual se destacan los cinco ejes como: tequio (trabajo
colectivo), gozona (trabajo recíproco), asamblea, fiesta comunal y cargos comunitarios entre
otros elementos existentes (Díaz, 2007; Martínez, 2013; Rendón, 2003). Tejiendo las
informaciones adquiridas con la teoría del don y utilizando oportunamente los medios como
fotografías y videos, la ponencia tendrá el fin de exponer los relatos y las visiones que
sostienen las prácticas del don de estos pueblos, las cuales siguen siendo las fuentes de su
propia identidad.

O manakô dos Madiha: troca e resistência cultural

Aline Alcarde Balestra

O povo indígena de autodenominação “Madiha” é também conhecido pelo etnônimo


“Kulina” e habita uma extensa região que abrange as bacias dos rios Purus e Juruá, ambos
afluentes do rio Amazonas, sendo localizados no Peru e nos estados brasileiros do Acre e
Amazonas. Em meu doutorado em Antropologia Social (2013-2018), desenvolvi pesquisa
etnográfica com os Madiha que habitam a Terra Indígena Alto Rio Purus, a partir da qual
analisei valores e práticas adotados por esse povo indígena no que se refere à troca. Na região
em que vivem, os Madiha são vistos a partir de imagens preconceituosas que os colocam no
lugar de “ladrões”, “sem paradeiro”, “sujos”, e desorganizados em um sentido alimentar
(“passam fome”). Entretanto, tais imagens fazem parte de um mal-entendido interétnico,
sobretudo no que toca a distintos modos de troca adotados por diferentes povos que habitam
a mesma microrregião – os não índios, os Madiha e os índios Kaxinawá. Nesta comunicação,
apresentarei princípios e modos pelos quais os Madiha desenvolvem a atividade da troca,
chamada por eles de “manakô”. Para isso, serão apresentadas, textual e imageticamente,
situações cotidianas e rituais em que a troca é colocada em evidência. O manakô, no mundo
madiha, assume um lugar crucial como uma importante prática e elemento fundamental de
reflexão simbólica. Os Madiha apresentam uma clara preferência pela troca direta, atribuem
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importância à exposição dos termos do que está sendo intercambiado e vinculam a noção de
posse à de uso. A inadequação da atividade da troca é frequentemente acionada por esse
povo indígena como uma das grandes causalidades da doença, que se instala no corpo de
alguém em forma de dori (feitiço). De forma geral, as redes e valores operados por meio do
manakô dos Madiha podem ser considerados um fator fundamental na resistência cotidiana
que demonstram frente às investidas regionais, históricas e atuais, contra seu modo de vida –
para além do uso contínuo que fazem de sua língua materna, bem como da realização
recorrente de importantes rituais. Nesse sentido, a comunicação proposta fará a exposição de
parte da riqueza cultural dos Madiha a partir de suas formas de praticar e compreender a
troca.

Vivir Resistiendo: El Uso de la Lengua, la Medicina y la Vestimenta Propia


como Muestra de Resistencia

Giovanna Maria Aldana Barahona

Mantener el uso de las prácticas propias de los pueblos indígenas en la actualidad se ejerce
como una resistencia cotidiana. Dicha resistencia se ejerce frente a los históricos esfuerzos de
dominación que han buscado someter a los pueblos colonizados del Abya Yala por medio de
políticas, de normas o de estrategias comerciales homogeneizadoras. Seguir manteniendo la
tradición oral para transmitir los conocimientos ancestrales, aunque disminuyan día con día
sus hablantes, no se brinde en la escuela o haya ciertas prohibiciones sociales; vestir bordados
o textiles que no se dejan enmarcar en las modas occidentales que se consideran estética y
socialmente aceptables; y seguir consumiendo la medicina ancestral en vez de adaptarse al
sistema mundialmente vanagloriado de las pastillas y medicamentos, son diversas
expresiones de la lucha por la pervivencia y prevalencia de lo propio. Reconocer estos
procesos y averiguar sus alcances y/o procesos de cambio nos permite, de un lado, aportar
para su valoración, sustento y respeto en la actualidad; y de otro lado, es una contribución
para que preserven y fortalezcan hacia el futuro enriqueciendo la vida con su diversidad.

Política linguística Tapirapé: conflitos e resistência

Themis Nunes da Rocha Bruno

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Em Tapi’itãwa, aldeia central dos Tapirapé, povo Tupi-guarani localizado no noroeste de Mato
Grosso tem sido realizadas reuniões, promovidas pelos professores Josimar Xawapare’y
Tapirapé e Gilson Ipaxi’awyga Tapirapé (Tenywaawi) que conjuntamente com outros
professores, busca-se discutir política linguística para o povo Tapirapé. Com estes seminários,
o que se objetiva é evitar a entrada de palavras desnecessárias da língua portuguesa e dessa
forma manter uma relação bilíngue intercultural entre as duas línguas (Tapirapé x Português),
ou seja, uma relação em que as línguas estejam como afirma Grosjean apud Pimentel da Silva
(2008) “em uso regular de alternâncias de duas ou mais línguas”. Os Tapirapé entendem que
este tipo de trabalho impedirá que mais itens lexicais do português sejam usados pelos
Tapirapé, e assim, evitarão que o português vá empurrando a língua Tapirapé rumo ao
desaparecimento. Esta política linguística, não só reforça o uso da língua indígena na aldeia,
como também tudo que está relacionado a ela, como a cultura, rituais, festas, etc. Nesse
sentido, esta comunicação almeja mostrar como a adoção de uma política linguística resultam
em atitudes linguísticas de um povo que luta pela manutenção e sobrevivência de sua língua
e cultura, impedindo assim que a língua Tapirapé seja deslocada pela língua portuguesa e
entre em processo de extinção. Assim como, as dezenas de etnias existentes em nosso país,
os Tapirapé procuram fazer com que a relação entre a língua Tapirapé e a língua Portuguesa
em suas comunidades possa ser uma relação de diálogo e não de sobreposição do português
a língua indígena. Há um esforço conjunto para que se mantenha viva a língua e a cultura,
mesmo tendo o português presente em vários momentos de sua vida cotidiana. Há uma
preocupação com a presença cada vez maior da língua portuguesa na aldeia, através da
televisão, das músicas não indígenas, da proximidade com a cidade etc., levando ao uso de
empréstimos linguísticos do português e, em casos mais graves, à substituição de palavras
referentes a elementos culturais. O povo Tapirapé é um exemplo, mesmo vivendo entre o
conflito e a resistência, de como as línguas indígenas buscam estratégias de sobrevivência, de
como resistem em seu falar, e se mantêm vivas com suas culturas, cosmologias e
epistemologias, mesmo estando em pleno contato com a língua e cultura do colonizador.

Las Miradas a la Resistencia: Aplicación y Uso de Herramientas Audiovisuales


en la Investigación de las Resistencias Indígenas

Alfredo Sánchez Carballo

¿Se puede hablar de resistencia cotidiana? ¿Cómo observar la resistencia? ¿De qué forma se
capta la esencia de la resistencia en los pueblos indígenas? En este eje temático caben todas
aquellas propuestas investigativas que estén interesadas en obtener o hayan obtenido
hallazgos audiovisuales de la resistencia cotidiana de los pueblos originarios en lo que hoy
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conocemos como América Latina. La antropología y la sociología, históricamente, comparten


varios intereses, entre ellos se encuentran las herramientas audiovisuales aplicadas para
registrar y analizar las interacciones de la vida social. En ese sentido, desde un interés de la
sociología y la antropología audiovisual, pretendemos provocar una discusión constructiva
acerca de la tendencia metodológica que va más allá de los textos escritos, pasando a
aprovechar las ventajas de herramientas como la cámara fotográfica, la grabadora de audio,
la video grabadora y la combinación de las tres formas de registro.

La configuración del discurso contra-hegemónico en el cine documental


boliviano: Experiencias y clivajes en la construcción de la representación de lo
indígena

Diego Augusto Salgado Bautista

Esta ponencia analiza tres entrevistas a profundidad con documentalistas bolivianos de tres
generaciones sobre las experiencias y clivajes discursivos que detonaron su producción de cine
documental contra-hegemónico referido al mundo indígena. Los documentalistas describen
su trayectoria y sus experiencias de producción. A partir de este discurso se reflexiona sobre
los referentes y procesos que sustentan su narrativa cinematográfica. Esto permite indagar en
las configuraciones sociales que hicieron posible la producción cinematográfica referida al
indígena como clivaje identitario. El análisis del discurso permite describir el tipo de objetos
discursivos y sus relaciones implicadas en la construcción de la representación de lo indígena
en tres generaciones que denomino, 1. Del fin de las dictaduras, 2. la del neoliberalismo y la
del nuevo siglo. Pensar el cine como discurso permite analizarlo como acto de lenguaje y en
consecuencia reconocer sus relaciones con otras prácticas discursivas e instituciones. El
concepto discurso forma parte del repertorio de categorías con las que actualmente se analiza
el cine. En consecuencia pensar el cine como discurso permite problematizarlo en tres niveles:
a) como acto de lenguaje, describiendo y analizando sus códigos, b) problematizar su proceso
de agenciamiento, poniendo interés en su contexto, y c) analizando la instancia enunciadora.
El análisis que se presenta centra su enfoque en el proceso de agenciamiento del cine
documental contra hegemónico para testimoniar sus vecindades, yuxtaposiciones y
asociaciones con otras prácticas y discursos en un contexto que pasó del autoritarismo al auge
de espacios de expresión contra-hegemónica.

Cinema Vemeuxá, O nosso jeito de fazer cinema

Gilmar Galache
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A ASCURI (Associação Cultural de Realizadores Indígenas), é um coletivo de jovens indígenas


Guarani, Kaiowá e Terena, formado em 2008 durante um curso de Cinema oferecido pela
Escola de Cine y Arte de La Paz (ECA - Bolívia) no deserto de Pacajes/BO com intuito de
construir um cinema que pudesse incluir as mais diversas facetas da sociedade
latinoamericana. De lá pra cá a ASCURI seguiu em parceria com a ECA, desenvolvendo cursos
e formações em audiovisual no Brasil e na Bolívia voltadas para indígenas e não-indígenas,
contando sempre com a experiência do Cineasta Quéchua Ivan Molina, fundador da ECA, que
traz um modo peculiar de fazer cinema, não somente com o olhar indígena por trás da câmera,
mas com nossa cosmologia presente em todos os processos, valorizando as narrativas antigas
e semeando-as através das novas-mídias. . O presente trabalho tem como objetivo discutir
alguns dos caminhos tomados pelo cinema indígena nacional (produzido tanto por indígenas
quanto por não-indígenas), em paralelo às produções, preocupações e anseios da ASCURI.
Textiles mayas tzeltales como testimonio de resistencia y lucha, e
instrumento intermediario entre las comunidades tzeltales y otros mundos:
creando un diseño hacia, para, entre y con la comunidade

Zita Carolina González Guzmán

Raquel Gomes Noronha

Martina Ahlert

El textil de las comunidades tzeltales de Chiapas es una forma de contacto; un artefacto entre
el mercado, comunidad, memoria, pasado, actores, religión, rituales, genero, etc. Medio
donde estos discursos se desarrollan y dispositivo donde están constituidos relaciones de
poder. El textil está en constante cambio, busca su paso por el mundo para seguir existiendo
bajo sus propios términos, contextos, organización y sistema. Pide ser escuchado, recordado
y respetado, pero al mismo tiempo busca la correspondencia con otros mundos. Los textiles
tienen una conexión con las prácticas cotidianas, espacios y tiempos de las comunidades que
remiten a su cosmovisión, memoria histórica y resistencia, siendo obras dinámicas y
continuas; huella de su cultura. Nuestro objetivo es conocer las interacciones del textil tzeltal
con sus comunidades, los papeles que desempeña fuera de ella y en contacto con los
diseñadores para el desarrollo de un diseño antropológico, entendiendo las relaciones del
textil desde hace 500 años para comprender su papel y entender nuestro papel como
diseñadores en el encuentro con una comunidad, procurando una profundización hacia
nuevas formas de hacer un diseño zapatista autónomo con diseñadores y no diseñadores,
humanos y no humanos enfocados en conocimientos y acciones tradicionales sin caer en
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patrones hegemónicos. Por esto los siguientes presupuestos teóricos nos ayudaran a conocer
el rol del diseñador que nos corresponde dentro de la comunidad. Como la historia de la región
de los altos de Chiapas y los usos y significados del textil dentro y fuera de las comunidades
por Claudia Gil (2015); las formas de venta e interacción del textil como afirmación de su
proceso autónomo con textos de Cecilia Campello (2017; el contra- mestizaje operando desde
hace 500 años como proceso de producción de las diferencias dentro de las comunidades por
Jose Gomes (2017); la lucha por el reconocimiento/ producción de la existencia de las
artesanas y los pueblos tzeltales como parte de la historia de la constitución real de entes
sociales, por Mauro Barbosa (2018); el análisis de como la violencia y lucha del EZLN fue
productiva según Roberto Filho (2017). Con esta resistencia analizamos los márgenes del
estado de los pueblos autónomos y como esto constituye a las formas de existir de la artesanía
desde los textos de Veena Das y Deborah Poole (2008). Así como ver las márgenes como
“espacios creativos” (VILLWOCK, 2016) para hacer a las comunidades visibles ante el estado
por medio de la artesanía. Hablamos también de la autonomía, autopoiéis, comunalidad y
diseño autónomo con textos de Arturo Escobar (2016), diseño antropológico con Tim Ingold
(2016), finalizando con el papel de un diseñador antropológico con prácticas en la comunidad
de Yochib, Chiapas.

Da beleza do mundo invisível Huni Kuin ao Mahku – Movimento dos Artistas


Huni Kuin: “colocando no sentido” e “materializando” as relações entre
mundos

Paloma de Melo Henrique

Nidiane Saldanha Perdomo

Iuri Estigarribia da Silva

Este trabalho busca apresentar a beleza presente no universo Huni Kuin expressa na cultura,
por meio dos artefatos, das pinturas corporais e dos objetos presentes no cotidiano, como
uma estética espiritual da vida coletiva em ação. Nesse sentido, faremos apontamentos acerca
da ideia de arte ocidental e sua discrepância com as artes Huni Kuin, na medida em que, não
sendo representativas do real, traço fundamental da arte ocidental, buscam tornar visíveis os
mundos invisíveis (LAGROU, 2009) ou tornar material o mundo imaterial (IBÃ, 2015). A
situação de agência, presente nas artes indígenas nos seus contextos de produção dentro do
seu espaço étnico, ganha outra forma e propósitos ao entrar em relação com os mundos não
indígenas, como o das artes contemporâneas. O Mahku - Movimento dos Artistas Huni Kuin
surge num contexto em que o contato com o não indígena é inevitável e as trocas

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interculturais se tornam possibilidade de ação para a sobrevivência desses povos que sempre
estiveram e ainda estão ameaçados pelas práticas políticas e econômicas do Estado e da
sociedade. Por fim, apresentamos o conceito de multimodalidade e de ecologia da escrita
(SOUZA, 2001) como importantes para a compreensão das artes indígenas a que temos acesso
publicizado, e formas de “por no sentido”, conforme os termos de Ibã Huni Kuin, precursor do
Mahku, esses universos tornados acessíveis pelo canto, pelo desenho e pela escrita, pelos
xamãs artistas. Além disso, salientamos a importância do audiovisual como suporte para a
disseminação das questões indígenas no mundo contemporâneo (NUNES, 2016; QUEIROZ,
2008).

Ficción documental, una propuesta para llevar a la pantalla relatos con la voz
preponderante de sus protagonistas reales: Experiencia de producción
cinematográfica con el pueblo originario wayuu

Ana Camila Jaramillo e Erlin Van-Grieken

¿Es posible que la producción cinematográfica no sea un proceso comercial, sino el escenario
de dialogo intercultural, pertinente y útil para la investigación social, que permite construir en
forma colectiva productos que hablen de la realidad social, con la coautoría de quienes la
viven? Esta ponencia da cuenta de un proceso de investigación, formación y producción
audiovisual, realizado con el pueblo originario wayuu; ubicado al norte de la península
colombo-venezolana: 1) Investigación desde la perspectiva de la sociología audiovisual, en
cuanto la búsqueda de la comprensión del lenguaje cinematográfico del cine de ficción como
herramienta de trabajo para la investigación social y la indagación sociológica sobre la
importancia de los sueños como elemento central de la cultura wayuu que guía y regula la
vida cotidiana; 2) Formación, por la aplicación de la propuesta de la Ficción Documental, una
metodología de realización que propone la producción audiovisual como un encuentro de
miradas entre el equipo técnico y las comunidades, con un proceso previo de formación
audiovisual para hablar el mismo lenguaje; y 3) Realización, porque el producto final es el
cortometraje “Sueños de Outsu”. (https://vimeo.com/272356223). En concordancia con la
idea de coautoría, que propone la metodología de la Ficción Documental, la ponencia, busca
contar esta experiencia intercultural, desde las perspectivas de la directora arijuna (no
indígena) del cortometraje y del director asistente wayuu.

Medicina tradicional indígena como forma de resistência do povo Karapotó


Terra Nova do Estado de Alagoas
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Geoclebson da Silva Pereira

Jeovanna Thamires Beserra da Silva

Vânia Rocha Fialho de paiva e Souza

INTRODUÇÃO: A medicina tradicional segue uma lógica própria em cada povo se somando a
crenças, mitos e diferentes percepções sobre o processo de adoecimento, constituindo uma
compreensão do processo de saúde-doença, que emerge da medicina tradicional indígena
com um papel resolutivo (FERREIRA, 2013). A Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos
indígenas no Brasil prevê a garantia formal da incorporação da medicina tradicional nas
práticas oficiais de saúde oferecidas por meio da SESAI, muito embora essa incorporação não
tenha acontecido ou acontece de forma superficial, consequentemente tem fragilizado a
prática da medicina tradicional. (LIMA, 2016). Especificamente sobre a comunidade indígena
Karapotó Terra Nova, localizada no município de São Sebastião no estado de Alagoas, é
possível afirmar que a medicina tradicional, dentro do posto de saúde indígena que atende a
aldeia, tem sido questionada por parte da equipe de saúde. OBJETIVO: Este trabalho tem o
objetivo de compreender de que forma a valorização medicina tradicional indígena contribui
na resistência de um povo. METODOLOGIA: A ideia de se pensar sobre o tema relacionado a
esta comunidade se deu tanto pela aproximação com a liderança e os membros desta
comunidade, quanto pela observação da necessidade da medicina tradicional estar presente
dentro do serviço oficial de saúde que atende este povo, sendo percebida através de
conversas com o cacique da aldeia e de outros índios da comunidade. RESULTADOS E
DISCUSSÃO: A Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas constitui um grande
avanço para melhoria do acesso das comunidades aos serviços de saúde, embora este avanço
significativo na saúde indígena, ainda apresente uma lacuna na prestação desse serviço, e a
medicina tradicional está incluída nesta lacuna. A medicina tradicional do povo Karapotó vem
de uma herança antiga dos ancestrais que preservaram as práticas tradicionais de cura,
mesmo com todo o advento da colonização na região. Essas práticas tradicionais de cura, com
a oficialização de um serviço de saúde para atender a comunidade indígena, de certa forma,
se perderam em parte ou foram colocadas em desuso nos serviços de saúde. Para a
comunidade, a prática tradicional de cura desempenha um papel imprescindível pois ela se
constitui como um dos pilares que sustentam a comunidade e funciona como pressuposto de
autoafirmação enquanto povo Karapotó Terra Nova, diante da sociedade envolvente não
indígena. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Destaca-se a importância da elaboração de projetos que
visem a valorização da medicina tradicional no âmbito da SESAI, bem como fortalecer e
encorajar iniciativas da comunidade a fim de preservar a medicina tradicional indígena,
entendendo o papel que esta desempenha na identidade deste povo.

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Minhas crenças, minha religião

Anderson Rodrigo Kluge

Sou Anderson Rodrigo Gule, pertenço ao povo Indígena Laklanõ/Xokleng, da Terra Indígena
Laklãnõ, localizada no vale norte de Santa Catarina. Busco no estudo, a partir do relato de
velhos Xokleng, discorrer sobre a religião Xokleng, religião essa que no presente não é mais
praticada (mas que se mantém viva na memória dos velhos) por conta de proibições de igrejas
católicas e evangélicas que ao longo do contato com o povo indígena se deram nos mais
diferentes graus e no presente ainda persistem mesmo estando no interior da Terra Indígena,
entender a religiosidade Xogleng como sendo coisa do ‘diabo’. Nesse sentido, busco nesse
trabalho, tendo como base, saber mais sobre a religiosidade Xokleng, discorrer sobre as
diferentes formas de tentativas de apagamento da cultura indígena, especificamente da Terra
Indígena Laklanõ, única Terra Indígena dessa Etnia no Brasil atual. E, entender quais
estratégias o Povo Xokleng tem utilizado contra o apagamento histórico de sua cultura.

A Medicina Tradicional Krahô da Aldeia Takaywrá: a cura do corpo e da alma


feminina e o Pensamento Pós-Colonial

Marília Ribeiro de Sousa Põkwýj Krahô

Giancarlo Marinho Costa

Thelma Mendes Pontes

Gabriel Vargas Zanatta

A utilização de produtos naturais com propriedades terapêuticas é tão antiga quanto


ahumanidade e, por um longo tempo, produtos de origens mineral, vegetal e animal foram as
principais fontes de medicamentos utilizadas por diversos povos. Essa prática é componente
importante da chamada medicina tradicional. A recente valorização da medicina tradicional
se deve, em parte, ao reconhecimento da sabedoria indígena, à incorporação de algumas
plantas e seus extratos em formulações tradicionais no mercado farmacêutico convencional,
à necessidade do cuidado e da saúde serem acessíveis a todos e à defesa da narrativa de que
produtos naturais seriam mais seguros do que os medicamentos produzidos pela indústria

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farmacêutica convencional. O trabalho tem por finalidade falar sobre a medicina tradicional
Krahô daaldeia Takaywrá, localizada no município de Lagoa da Confusão-TO. Busca
compreender a saúde da mulher, e suas práticasque vem sendo ensinadas de geração a
geração: sobre a importância das raízes, ervas, e alguns animais utilizados na cura de doenças
tanto no corpo quanto na alma.Também tenta apontar respostas de como na Aldeia
Takaywrá, a mulher indígena vemsolucionando males em sua comunidadee como essa prática
contribui para o fortalecimento, manutenção e atualização dos saberes indígenas.
Éimportante vivenciar a cultura local, e tratar seu povo do modo tradicional, apesar da
inevitável interferência da indústria dos medicamentos convencionais. Os métodos
tradicionaisnão perderam sua importância, e muitas vezes têm apresentado mais eficácia se
comparados aos itinerários terapêuticos convencionais. A importância do uso de plantas
medicinais pelo povo Krahô da Aldeia Takaywrá não se resume apenas à cura do corpo, mas
também, fazem com que o povo se conecte com o mundo espiritual, buscando assim a cura
da alma. A floresta é vista como uma “farmácia de Deus” e se tem registros de resultados
positivos na ginecologia, a fazer exemplo. Desse modo, a pesquisa ora em questão colabora
no questionamento, refutação e desconstrução da ideia de uma estrutura de poder
hegemônico que impõe a noção do saber popular indígena, muitas vezes desprivilegiada por
grande parcela da sociedade e apresenta caminhos, de negação das prerrogativas do poder
hegemônico historicamente imposto na Abya Yala.

História, Memória e Colonialidade: O audiovisual Guarani como forma de


resistência na contemporaneidade

Stéfani Dias Leite

A linguagem audiovisual vem sendo utilizada por diferentes comunidades indígenas no Brasil
nas últimas décadas com objetivos que fluem de acordo com as necessidades regionais,
políticas e culturais de cada etnia e em especial, a partir da intencionalidade de seus
produtores. Não obstante, a produção audiovisual indígena, longe de ser agrupada enquanto
um bloco homogêneo, apresenta-se enquanto uma ferramenta em potencial para a
“atualização da memória ancestral”, como reiterado por Daniel Munduruku (2018), e como
parte da memória coletiva nacional se devidamente visibilizada, estudada e oportunizada
dentro de uma narrativa hegemônica que, tendenciosamente perpetua a colonialidade do
saber em nossas estruturas. Dessa forma, essa comunicação buscará, por meio da análise do
filme Mokoi Tekoá Petei Jeguatá - Duas Aldeias, Uma Caminhada (2008), produzido pelos
indígenas Ariel Ortega, Jorge Ramos Morinico, Germano Beñites, evidenciar essa produção
enquanto uma ferramenta de denúncia à colonialidade vigente, enquanto um ato simbólico
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de resistência dos Guaranis dessa região, e para além disso, estabelecer algumas relações
entre a narrativa histórica apresentada no filme sobre a região de São Miguel das Missões -
RS e a memória Mbyá-Guarani que interpela essa narrativa com sua própria versão,
compondo assim um espaço onde o pensamento liminar, proposto por Walter Mignolo
(2003), ganha espaço por meio da produção audiovisual, e assume na História uma
responsabilidade com a sociedade no geral.

La artesanía indígena como estrategia de resistência

Ámbar Varela Matute

La artesanía de los pueblos indígenas es, sin duda, una manifestación de su cultura, de su
historia, de su identidad y, por supuesto, también de sus vivencias. Es la expresión material y
viva tanto de la dicha y las tradiciones como del sufrimiento de estos pueblos. Cada objeto
elaborado por las manos artesanas de los indígenas es producto no sólo del esfuerzo y cariño
de su trabajo cotidiano, sino también representa la materialización de su lucha cotidiana por
sobrevivir e, incluso, por construir un mundo mejor. Al reflejar su manera de entender el
mundo las artesanías pueden constituirse como una estrategia de resistencia de los pueblos
indígenas los cuales proponen nuevas maneras de ser y hacer en un mundo globalizado y
capitalista. Las formas de organización, el uso por los materiales y el cuidado de la naturaleza,
entre otros, son valores que están detrás de la producción de un objeto artesanal y que se
comunican en la estética de los objetos artesanales, los cuales lo dotan de un valor simbólico
permite concebirlos como parte de una innovadora estrategia de resistencia artística. El
recuperar estos significados detrás de un objeto artesanal es fundamental para un mejor
acercamiento de las luchas y estrategias que emprenden los pueblos indígenas
latinoamericanos a través de su arte. El discutir sobre de esta línea es, por tanto, a lo que se
dirige también el simposio propuesto.

Argumentación, discurso, y consenso en las asambleas indígenas, alternativas


de resistencia: el caso del Norte del Cauca colombiano

Ronald Yonny González Medina

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A partir de la constitución pólitica de Colombia en 1991, se dejó constancia de un país


pluralista, teniendo en cuenta que es multicultural y pluriétnico, compuesto particularmente
por pueblos mestizos, afrodescendientes (además negros y raizales) e indígenas. Estos últimos
con el aval del convenio 169 de la OIT en 1989, que dio una mayor participación de los pueblos
originarios a través de las políticas públicas. Este hecho fomentó una mayor inclusión de los
pueblos indígenas en sus resguardos o propiedad colectiva-autónoma, y el accionar de sus
cabildos o formas de gobierno propio, en donde las decisiones son tomadas de manera
consensuada en las asambleas, organo rector para tomar decisiones, en otras palabras, la
asamblea es la comunidad en general, son todos. La investigación pretende explorar como a
través de la argumentación, y el discurso, se logra el consenso que termina siendo una forma
de resistencia para trascender con el Derecho Propio. La unidad de análisis es como la
argumentación y el discurso consensuado en las asambleas indígenas en Colombia,
particularmente en el occidente, en el Norte del Cauca, los pueblos indígenas han logrado
posicionar algunos de sus usos y costumbres a través de estas herramientas de resistencia,
que ha permitido una mayor inclusión de las comunidades. La estrategia metodologíca está
enfocada como investigación cualitativa, exploratoria, la validez se fundamenta en los
documentos propios (escasos ya que son comunidades de tradición oral), la entrevista a
actores sociales, y la participación reiterada del investigador en actividades propias de la
comunidad para “comprender” su modus vivendi. Por ejemplo la participación en las
asambleas que reflejan el sentir de la comunidad, con expresiones propias para tomar
decisiones consensuadas, en donde se tejen argumentos técnicos, vivenciales, curiosidades, y
hasta participaciones naturales, que serían los hilos coloridos que conforman un discurso, en
donde no pueden faltar ese quehacer social, que termina dando vida al espiral, una de las
expresiones más fuertes propias de su pensamiento, es una forma de ver el universo en su
conjunto, es la conexión de todos los elementos, es la manera de resistir, persistir para existir.
El trabajo presentado hace parte de una investigación en el Doctorado en Administración de
la Universidad del Valle, desarrollada por el autor.

Sistema de nomeação do Povo Xokleng

Vilma Patté

No estudo buscaremos trazer as pesquisas realizadas para conclusão do curso da licenciatura


do sul da mata atlântica-UFSC.Temos como intuito primeiro apresentar como Xokleng da Terra
Indigena Laklãnõ localizado no alto vale do Itajaí localizados nos municípios de José Boiteux,
Vitor Meireles, Doutor Pedrinho e Itaiópolis. É de muita preocupação o processo que está
acontecendo em nossas matas, nas terras indígenas. O desmatamento aconteceu muito
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rápido e não há ações preventivas por parte dos órgãos governamentais para solução esse
grave problema. Encontrar uma solução, iniciativa onde não apenas a comunidade indígena
mas a sociedade de modo geral comece a compreender que estamos nos encontrando em
uma situação emergencial, é fundamental importância. Para nós indígenas, já é difícil
encontrar muitas das árvores nativas que serviam como chás, alimentos para nossas crianças,
plantas com significados importantes para meu povo e hoje já não fazem mais uso delas
porque não são mais encontradas e outras estão longe para busca-las ou nem sabemos se
ainda existem ou se forma exterminadas, o que para manutenção das formas próprias do viver
do xokleng elas são fundamentais. O Povo Xokleng, pensando numa forma de não deixar a
floresta morrer, em atos ritualísticos, vem dando o nome de arvores em vias de extinção a
seus filhos, acredita-se que dessa forma, ela nunca morrerá. O intuito do estudo é pensar e
discutir alternativas de reflorestamento, para o combate do desmatamento não só nas terras
indígenas mas junto a sociedade, tendo as práticas indígenas de reflorestar como guia.

Movilidad territorial en Temuco-Chile: Un acercamiento desde las prácticas y


significados de las hortaliceras mapuche

Magdalena Hewstone Ramírez

Lucas Glasinovic Heskia

El trabajo investigativo tiene como eje central describir e interpretar las prácticas y
significados asociados a la movilidad de las hortaliceras mapuche que comercializan sus
productos silvoagropecuarios en el núcleo urbano de Temuco. Se trata de una práctica
cotidiana e histórica que trasciende su componente económico, la cual ha ido cambiando sus
formas, y no se ha mantenido exenta de conflictos con autoridades de la ciudad. La Región de
la Araucanía se caracteriza por concentrar las principales actividades agropecuarias del país, y
la ciudad de Temuco es un espacio fundamental en la cadena de distribución y venta de estos
productos. Uno de los actores que se desempeña en esta actividad agrícola es la hortalicera
mapuche, que diariamente ocupa espacios específicos dentro la ciudad para la
comercialización de los productos que trae desde el campo. Es clave considerar que Temuco
cumple el rol de ciudad intermedia para la región, lo que genera que en esta exista una
interacción económica, social y cultural (Bellet, 2004). Por lo tanto, campo y ciudad dialogan
y se penetran cotidianamente en Temuco y las hortaliceras se transforman en protagonistas
de este proceso llamado rurbanización (Galpin,1918; Gurvitch, 1969; Cimadevilla, 2005;
2014). Es la movilidad territorial cotidiana, identificada como commuting, la que hace posible
el encuentro de estos espacios por medio de estas mujeres (Timár, 1980). Se trata de un
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estudio de carácter cualitativo, que utilizó una aproximación etnográfica, y que por medio de
la observación participante y la entrevista en profundidad logró conocer las prácticas de las
hortaliceras en Temuco y los significados que ellas atribuyen a esta actividad. Por lo tanto, se
busca contribuir a los actuales esfuerzos que buscan visibilizar y dar voz a las prácticas
cotidianas de los pueblos indígenas. Prácticas que se vuelven contrahegemónicas en sus
contextos y que deben comprenderse desde su complejidad y sus implicancias para quienes
las protagonizan, así como también para el contexto en que se llevan a cabo. Además,
teniendo en cuenta los conflictos actuales en torno a esta situación, se contribuye en la
comprensión del imaginario de las hortaliceras en torno a la venta de productos, dotando de
sentido esta práctica. Lo anterior permite visualizar el problema desde más y distintas
perspectivas, logrando complejizarlo.

Resistências indígenas nos sertões do Araguaia-Tocantins (século XIX)

Laécio Rocha de Sena

Na segunda metade do século XIX, o antigo norte do Goiás (atual estado do Tocantins)
representava ao governo provincial uma fronteira marcada pelas constantes “correrias” dos
vários povos indígenas que ali habitavam. Vistos enquanto selvagens e, portanto, perigosos,
esses grupos eram tidos enquanto empecilho aos planos da província goiana de fomentar a
navegação à vapor dos dois principais rios daquela região (Araguaia e Tocantins), visando
acessar o litoral paraense e, com isso, contribuir para o soerguimento econômico do Goiás. O
sucesso dessa empreitada dependia sobretudo do povoamento das margens desses rios,
razão pela qual os diferentes presidentes da província do Goiás não hesitaram incentivar a
migração de colonos e criadores de gado para aqueles “sertões”. Da mesma forma, usou-se
da catequese dos capuchinhos (espécie de funcionários religiosos do Império brasileiro) e da
construção de presídios militares às margens daqueles rios. Decerto, urge um questionamento
acerca da postura dos grupos indígenas que habitavam aquele território frente a todo esse
processo. Portanto, o presente texto tem como objetivo analisar as diferentes formas de
resistência apresentadas pelos povos indígenas do vale do Araguaia-Tocantins frente ao
avanço da fronteira por sobre os seus territórios na segunda metade do século XIX, em busca,
sobretudo, de terras e pastos para a criação de gado. A análise das relações estabelecidas no
cotidiano das missões e/ou presídios militares nos revela um cenário onde, longe de uma
postura passiva e inerte, os povos indígenas daquele território criaram diferentes formas de
resistência às investidas dos criadores de gado, missionários e autoridades estatais. As fontes
aqui analisadas compõem um vasto corpo documental produzido pelos i) missionários
capuchinhos que trabalharam em missões no antigo norte goiano (como por exemplo,
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relatórios e cartas); ii) pelas autoridades do governo da província do Goiás (Ofícios, decretos
e relatórios), iii) relatos de viajantes que, ao longo do século XIX, percorrem o vale do
Araguaia-Tocantins, visitando aldeamentos e alguns presídios e, por fim, iv) os jornais da
época, que com frequência traziam ao conhecimento os ataques indígenas a povoações,
missões, etc.

Iniciação Feminina Tentehar: O Ritual do Uhá

Diego Borges da Silva

Maria José Ribeiro de Sá

O objeto deste trabalho foi conhecer saberes, histórias, memórias e mitos presentes em
rituais tradicionais da cultura tentehar, como o ritual do uhá, etapa do processo de iniciação
feminina tentehar. Resulta de uma pesquisa qualitativa do tipo etnográfica realizada entre os
Tentehar da Aldeia Juçaral que habitam a Terra Indígena Arariboia. Os resultados obtidos por
meio das entrevistas individuais e coletivas, observação participante, pesquisa documental e
fotoetnografia mostraram que o ritual do uhá já foi uma etapa autônoma e graças a
diminuição significativa de uma espécie de caranguejo de água doce por impactos ambientais
hoje é simbolizado em outra etapa da iniciação feminina tentehar. Sendo no ritual da menina
moça, um dos principais protagonistas da simbologia metamórfica que o ritual carrega, sua
prática ainda que simbolicamente se mostra como forma de resistência do povo indígena
tentehar em não permitir que suas práticas e saberes ancestrais, seu patrimônio imaterial,
desapareçam.

A problemática dos par metros de qualidade dos projetos sociais de


habitação, o Morar Indígena e as técnicas construtivas: estudo de caso Pataxó
Hã-hã-hãe e Xakriabá

Eduarda Monti Silva

Gabriela Resende Coelho

Jhade Iane Cunha Vimieiro

540
Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

É notório que os indígenas sofrem com os processos de desrespeito às suas práticas culturais
desde a invasão europeia, que trouxe o discurso de supremacia. Com esse evento, diversos
aspectos foram retirados agressivamente por meio de uma aculturação desempenhada por
diversos atores: a própria coroa portuguesa, jesuítas, bandeirantes, latifundiários, etc. Mesmo
com a separação temporal, esse panorama é reproduzido atenuadamente por meio da rigidez
e da valoração que são incorporados pelos parâmetros de qualidade de habitação, os quais
são implementados nas comunidades por programas sociais que desconsideram a cultura
construtiva e atuam sem a utilização de processos de fato participativos - que poderiam
realmente criar uma conjugação de conhecimentos. Por meio desse cenário, surge esse
estudo com o intuito de compreender como os diversos discursos unem-se para formar os
projetos que são inseridos ao cotidiano tradicional. Elencando, dessa forma, as alterações,
tanto positivas quanto negativas de cada proposta, e explorando, por fim, a suposta
inadequação de diversos atributos que geram as conformações das construções. Para
potencializar essa compreensão, realizou-se inicialmente uma cartografia dos materiais e
técnicas construtivas tradicionais utilizados pelas etnias Xakriabá e Pataxó hã-hã-hãe; e
posteriormente um mapeamento de dois projetos: o da FUNASA (implantado nas aldeias
Xakriabá no Norte de Minas, como a Aldeia Caatinguinha) e o da TETO (introduzido na
Retomada Indígena de São Joaquim de Bicas, a Aldeia Naô Xohã). Nestes últimos projetos,
realizaram-se análises das ações dos atores como de seus discursos no que se refere aos
parâmetros de qualidade - tendo em vista a esfera participativa, os materiais utilizados e a
forma arquitetônica gerada. Por fim, foi válido observar como são dadas as transgressões
realizadas pela etnias, que ocorrem por meio da reconstrução de partes antigas das moradias
tradicionais que são desmanchadas para as implantações das disponibilizadas pelos
programas; ou por meio da subutilização - ou utilização diferenciada - das estruturas inseridas
no território. Nesse contexto, pôde-se averiguar também a forma em que se dá a perpetuação
da cultura construtiva nos casos que contaram com a inserção da postura invasiva,
característica propiciada pelo teor dos discursos que os programas habitacionais acabam
adotando.

Quando as línguas se fazem território nas aulas de língua e cultura dos


Guarani Mbyá

Ana Lúcia Liberato Tettamanzy

Luciene Rivoire

Bárbara Schmitt Numer

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Para o filósofo argentino Rodolfo Kusch (2007), as línguas indígenas tendem a manifestar
acontecimentos mais do que coisas, ou seja, o registro da realidade é produzido a partir do
afeto, mais do que a partir da percepção. Nas aulas de língua e cultura ministradas em cursos
de extensão universitária na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (RS/Brasil) em 2017 e
2018 pelo professor Verá Tupã, da etnia Guarani Mbyá, saberes linguísticos foram ligados a
eventos trazidos em narrativas e experiências pessoais de modo a configurar o “saber de
coração” de que trata Kusch. Recente publicação do mito fundador Guarani, Yvyrupa, a terra
uma só (2017), por Timóteo Verá Tupã Popyguá, reforça a urgência de recuperar a vida sem
fronteiras e de marcar essa luta para os não indígenas, possíveis leitores da obra. Assim, a
recorrência na obra da palavra-radical “yvy”, (terra), que dá origem a vários outros vocábulos,
constitui evidência do valor cosmológico e político na relação profunda que esse povo
mantém com o seu território. Ambos os exemplos, das aulas e do livro, apontam para o que
Arturo Escobar (2016) nomeia como “ontologia relacional”, ou seja, para as intensas
interrelações dos seres deste mundo com os de cima (espíritos) e os de baixo, que só podem
ser experimentadas a partir de um lugar. No caso de populações subalternizadas que têm tido
seus territórios ameaçados por projetos que tornam a natureza objeto e fonte de lucro, são
afetadas tanto suas condições de existir e de transformar-se junto aos demais seres e
elementos, como os contos, cânticos, poesia e, no limite, as línguas em que expressam sua
cosmovisão (WEIR, 2018). Nesse sentido, os Guarani Mbyá vêm (re)afirmando em suas
práticas sociais e espirituais modelos de relação com a palavra e com a terra distintos dos
ocidentais.

ST 26 | Leyendo la “tierra adentro”: archivos coloniales, categorías de


clasificación y estrategias etnohistóricas para las zonas de frontera

Carina Paula Lucaioli (Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas – CONICET,


Argentina); Jeffrey Erbig (University of California, Santa Cruz, Estados Unidos).

En los últimos años, un emergente corpus de estudios sobre archivos coloniales ha demostrado cómo
las fuentes escritas y los acervos que las mantienen silencian los pasados indígenas. Aunque se ha
avanzado en la teorización de los centros administrativos coloniales y su relación con los archivos, los
espacios de frontera presentan condiciones particulares que convocan la atención de antropólogos e
historiadores. Sus fuentes son menos formulaicas, más fragmentadas, se encuentran dispersas en
múltiples acervos y fueron escritas casi en su totalidad por colonizadores. Por sobre todo, estos
documentos se caracterizan por haber sido producidos desde enclaves coloniales que se situaban en

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

los márgenes del espacio indígena, un espacio de difícil acceso para los agentes coloniales. Este
simposio pretende identificar diferentes estrategias metodológicas para reconocer y responder a las
limitaciones materiales, geográficas y epistemológicas que se encuentran en los archivos coloniales en
cuanto a las zonas de frontera, con el fin de visibilizar actores y espacios indígenas y analizar los
discursos hegemónicos. Indagamos acerca de cómo y en qué condiciones fueron escritos los papeles
en las fronteras y bajo qué criterios se guardaron y categorizaron en los archivos coloniales. Además,
procuramos reflexionar sobre las categorías de análisis y las estrategias de contra-archivización
implementadas en nuestras investigaciones etnohistóricas, entre ellas, la disponibilidad de fuentes de
consulta on line, la digitalización de documentos y la compilación de fuentes y sus circuitos de
circulación entre investigadores. A través una comparación de estudios de diversos lugares de
frontera, buscamos identificar estrategias en común y desnaturalizar los paradigmas que se han
desarrollado en un lugar u otro.

A fronteira produzindo narrativas: Deslocamentos indígenas e missões


jesuítas e carmelitas no Alto e Médio Amazonas (1686-1755)

Fernanda Aires Bombardi

Desde a separação das coroas ibéricas, ocorrida em 1640, Portugal e Espanha passaram a
disputar os domínios do Alto e Médio Amazonas. Um dos principais instrumentos de expansão
da colonização foi o estabelecimento de missões religiosas nas áreas fronteiriças. De um lado,
jesuítas espanhóis passaram a atuar diretamente na região desde 1686. De outro,
expedicionários e religiosos carmelitas, enviados pela coroa portuguesa, buscaram inibir a
expansão castelhana e garantir o domínio sobre esse território desde início do século XVIII.
Justamente por ser uma região de fronteira, encontramos vários relatos sobre os conflitos
entre espanhóis e portugueses e sobre a atuação das populações indígenas diante das
diferentes políticas expansionistas. Com base na investigação da documentação presente em
arquivos paraenses, portugueses e espanhóis, a presente comunicação busca refletir sobre as
experiências de deslocamento territorial dos grupos indígenas realizados em decorrência dos
conflitos entre as duas coroas.

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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Diário do demarcador: uma introdução - A segunda subdivisão de limites


espanhola e a narrativa sobre os grupos nativos 1783 – 1801

David da Silva Carvalho

O presente trabalho tem por finalidade analisar, interpretar e explicar o discurso de José Maria
Cabrer em seu diário intitulado: "Diário da la Segunda Subdivision de Limites Española entre
los Domínios de España y Portugal en la America Meridional Por El segundo comisario y
geografo de ella, D.n Joseph Maria Cabrer Ayudante del Real Cuerpo de Yngenieros Principiada
en 29 de Diciembre de 1783 y finalisada en 26 de Octubre de1801" no que tange a uma análise
mais detida sobre os grupos nativos encontrados no caminho. Para tanto devemos reconhecer
os limites materiais, já que as fontes são por si só selecionáveis, tanto por quem as elabora
tempo ou mesmo a escolha do que guardar ou não, a geografia, e a validade que se encontram
nos arquivos, como o diário de Cabrer, nas zonas de fronteira, com a finalidade de evidenciar
a agência indígena no meio social outrora, contrapondo uma forma historiográfica que os
ignora ou pouco valoriza, colocando-os entre dualidades eurocêntricas costumeiras, pouco
sustentáveis em suas totalidades ante uma análise crítica das fontes e outros meios de
investigação etnohistorica. Tal forma historiográfica tem silenciado os indígenas, dado o
monopólio da fala, devendo antropólogos e historiadores prestar mais atenção aos detalhes
destas fontes escritas e não escritas na elaboração de seus trabalhos. A fronteira é um ponto
importante para a discussão do passado indígena. Uma fronteira plural, onde podemos
localizar estratégias de reconhecimento das ações indígenas como seres humanos
psicologicamente ativos, que em dado momento fizeram escolhas boas ou ruins a depender
do seu espaço relacional e de movimentação com o outro, constituindo amplas formas de
correlação. A visão dos indígenas na narrativa de José Maria Cabrer (1783 1801) pode ser
interpretada como uma análise do pensamento de um viajante sobre grupos nativos da
América do Sul, por meio de sua escrita, abrindo possibilidades analíticas para o estudo das
populações indígenas, em sua abrangência e pluralidade, na demarcação de limites no sul da
América. A demarcação em si teve uma duração de mais ou menos 20 (vinte) anos e pode ser
lida como uma tentativa de ratificação de acordos entre coroas, neste caso, a portuguesa e a
espanhola, que operavam o tratado de Santo Ildefonso (1777) à época desta demarcação. Este
diário se constitui como importante fonte para entendermos mais das dinâmicas relacionais,
autonomia indígena e propor um maior entendimento dos papéis indígenas em meio aos
trabalhos localizados na expedição demarcatória espanhola, do que o simples "fatalismo"
apresador ou o extermínio de várias sociedades índias.

Mapas históricos e imaginarios etnogeográficos en el Río de la Plata

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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Jeffrey A. Erbig Jr.

A lo largo de las últimas tres décadas, estudios etnohistóricos y de fronteras han usado mapas
históricos para visibilizar las territorialidades de sociedades indígenas en las Américas. Algunos
de estas investigaciones han identificado asentamientos o topónimos indígenas en mapas
coloniales o deconstruido sus representaciones espaciales y representaciones de indígenas.
Otros trabajos han analizado mapas creados por autores indígenas o las actividades de
participantes indígenas en expediciones para mapear diferentes partes del hemisferio. Esta
ponencia contribuye a esas discusiones con una exploración de las representaciones
cartográficas de sociedades indígenas no sometidas al control colonial. Estas sociedades
aparecieron en mapas coloniales como etnónimos textuales superimpuestos al espacio y
desvinculados de la tierra. A través de un análisis de aproximadamente 175 mapas históricas
del sudeste de América del Sur (Uruguay, el nordeste de Argentina y el extremo sur de Brasil)
desde el siglo XVI hasta el siglo XIX, esta ponencia muestra cómo cada mapa utilizó una de
trece formas de adscribir y ubicar etnónimos en la región. A su vez, estos mapas han
influenciado las formas en que administradores coloniales e historiadores pos-coloniales han
imaginado las territorialidades de sociedades indígenas en la región. Este proceso de clasificar
la documentación cartográfica y compararla con las territorialidades evidentes en fuentes
textuales arroja luz sobre la relación entre la producción del conocimiento cartográfico y
etnográfico en América Latina.

Reconstruyendo linajes en el largo plazo: El caso del linaje del Cacique Negro
en Nord Patagonia, 1779-1859

Geraldine Davies Lenoble

En las últimas décadas, la historiografía profundizado nuestro entendimiento sobre las


construcciones políticas de los indígenas de la región. El interés historiográfico ha girado de la
comprensión de las etnicidades hacia el estudio de los linajes, liderazgos y alianzas como
elementos centrales para comprender la política indígena (Vezub, de Jong, Ratto, entre otros).
Estos estudios se encuentran con similares desafíos a los apuntados por Lidia Nacuzzi al
estudiar identidades étnicas “impuestas” por autoridades españoles en los archivos
coloniales. La información proporcionada por las autoridades estatales estaba mediada no
sólo por sus propias mentalidades y objetivos, sino también por los informantes indígenas más
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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cercanos. En general, estos eran caciques o intermediarios más vulnerables al poder colonial,
y los comandantes solían destacarlos como líderes principales de la región
independientemente del reconocimiento que tuvieran en tierra indígena. Por esta razón,
solemos tener más trabajos sobre los grupos fronterizos, más sometidos al poder colonial, que
sobre los más autónomos de tierra adentro. Teniendo en cuenta estas limitaciones, creemos
que el estudio del parentesco y de la construcción discursiva del poder de los linajes puede
ayudarnos a sortear algunos de estos desafíos. No apuntamos a rastrear el parentesco
biológico de los caciques, sino de comprender la construcción discursiva de vínculos de
parentesco biológicos y ficticios que justificaban el poder y la territorialidad de ciertos líderes
y seguidores a los largo del tiempo. La correspondencia indígena del siglo XIX permite
identificar el relato oral de algunos de los linajes más poderosos. En esta ponencia, nos
centraremos en el caso del linaje del Cacique Negro y sus descendientes en Nord Patagonia
entre 1779 y 1859, y utilizaremos múltiples fuentes (estatales y parroquiales desde el periodo
colonial, y la correspondencia indígena del siglo XIX). Aparentemente, el Cacique Negro había
vendido parte de sus tierras a los españoles, territorio en el cual se fundó Carmen de
Patagones en 1779. En las próximas décadas, este cacique y sus descendientes reaparecen en
las fuentes del pueblo hasta vincularse con el linaje del Cacique Yanquitrúz, quien dominó
Nord Patagonia junto a su primo Saygüeque hasta su muerte en 1859. En la correspondencia,
el Cacique Yanquitrúz y los pobladores del pueblo aluden al parentesco con el Cacique Negro
para renovar los pactos de amistad. Así, este caso resulta clave para explorar tanto la
descendencia de un linaje como la construcción discursiva del parentesco como forma de
poder. Propongo entonces explorar en detalle los aciertos y limitaciones encontradas en el
uso de diversas fuentes extendidas en el tiempo para comprender las dinámicas políticas de
los grupos indígenas autónomos de la región.

Palabras, símbolos y descripciones sobre los grupos indígenas insumisos del


Chaco Austral durante el siglo XVIII

Carina P. Lucaioli

Historiadores y antropólogos recurrimos a los documentos escritos durante la colonia y


conservados en los archivos para conocer la historia de los grupos indígenas del siglo XVIII y
sus formas de interacción con los funcionarios de la corona. Sin embargo, en las últimas
décadas hemos observado que estos discursos y papeles reúnen datos interesantes sobre los
autores particulares que los produjeron y sus contextos de producción, así como sobre las
ideas y representaciones socioculturales que predominaron en diferentes coyunturas

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históricas a lo largo del tiempo y el espacio. De esta manera, ajustamos nuestro foco de
análisis a diversos intereses de estudio: las acciones sociales y los acontecimientos históricos,
el andamiaje simbólico de los imaginarios culturales o las particularidades de los discursos
escritos de los relatos conservados en los archivos. En este trabajo proponemos situarnos en
el entrecruzamiento de estas tres variables para tratar de comprender los procesos de
retroalimentación entre lo que ocurre, lo que se piensa y lo que se escribe, entendiendo que
cada pieza de archivo fue producto de una época pero también el resultado de un acto
intencional, voluntario y políticamente marcado por parte de su autor o autores. Para realizar
este ejercicio tomaremos diversos tipos de documentos escritos durante el siglo XVIII que
atienden a las relaciones interétnicas entre los funcionarios coloniales y los grupos indígenas
insumisos en las fronteras del Chaco austral. Nuestro objetivo consiste en analizar el
vocabulario utilizado por los autores de estos relatos –principalmente funcionarios del estado
colonial y misioneros religiosos– en sus diversos espacios de actuación – el cabildo de una
ciudad fronteriza, la cabecera de una gobernación, un colegio jesuita o una reducción tierra
adentro– para identificar en las fórmulas compartidas o particulares utilizadas los principales
referentes simbólicos sobre los grupos indígenas y el territorio chaqueño e indagar en el
carácter performativo de esos discursos en el plano de las acciones sociales. Asimismo,
esperamos reconocer ciertas tendencias discursivas asociadas tanto a las sucesivas
coyunturas históricas del siglo XVIII como a los distintos proyectos de colonización
implementados por la corona española, como fue la violencia armada de las expediciones
punitivas, la diplomacia entablada en torno a los acuerdos de paz o la conversión religiosa y
civilizatoria en los contextos de reducción.

Reflexiones sobre el vocabulario étnico-politico de las fuentes del período


colonial

Lidia Rosa Nacuzzi

Proponemos analizar el vocabulario utilizado por los funcionarios coloniales para referirse a
diversos agrupamientos sociales que respondían a los caciques de la región pampeana. Las
palabras como “parcialidad”, “gente”, “toldería”, “confederación”, aluden a diversos
conjuntos de personas e indican cómo percibían los hispanocriollos a los diversos conjuntos
étnicos con los que interactuaban, atribuyéndoles además una determinada pertenencia
étnica. A su vez, esas percepciones han impregnado también nuestras propias
interpretaciones de los procesos sociales y políticos del pasado indígena, puesto que la
Etnografía formuló unos tipos de enunciados en los que esas palabras de las fuentes fueron
cargadas con un extraordinario valor diagnóstico. Las investigaciones en Antropología

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histórica han mostrado, por un lado, que las personas manifestaban una adscripción étnica
sumamente cambiante, mestiza o mixta y, por el otro, que los líderes y caciques indígenas
podían dirigir alternativamente partidas identificadas con distintos rótulos étnicos. En esta
línea, donde los rótulos mantienen sólo un valor referencial, es imprescindible realizar una
revisión crítica acerca del significado descriptivo del vocabulario que se utilizó para hacer
referencia a la conformación de los grupos y subgrupos étnicos.

A colônia de Sacramento e as classificações das populações originárias: as


possibilidades de uma história indígena a partir das crônicas coloniais

Eduardo Santos Neumann

A Colônia do Sacramento, fundada pelos portugueses em 1680, foi o principal pivô das
animosidades registradas no rio da Prata e tem sua história caracterizada por uma sucessão
de cercos e assaltos espanhóis em colaboração com milícias indígenas. Nas crônicas
elaboradas pelas autoridades colônias, tanto militares como eclesiásticas, constam algumas
informações a respeito dos relacionamentos e estranhamentos mútuos entre os
colonizadores e as populações originárias nessa região. Nesta comunicação pretendo destacar
a atuação indígenas e como eles vivenciaram as novas situações geradas a partir da condição
de fronteira da Colônia do Sacramento. A consulta as crônicas de época será efetuada a partir
do entendimento de que os indígenas conheciam as rivalidades existentes entre as coroas
ibéricas na região, disputas nas quais se refletiam as classificações coloniais, sendo que tais
definições eram uma das condições para estabelecer quem eram os índios amigos ou inimigos.
Para uma aproximação a esta realidade será analisado o texto: “Representação Estudiosa e
útil”, relato minucioso elaborada por Sebastião da Veyga Cabral, governador da referida
Colônia do Sacramento, em 1705 (Biblioteca Nacional de Lisboa/Códice 6975, n.1). A conduta
manifesta pelas distintas parcialidades que habitavam o território demandava um esforço das
autoridades coloniais para estabelecer um sistema de classificação, e definir as estratégias
para lidar com as distintas populações nativas. Partimos do pressuposto de que o mundo
indígena não foi um receptor passivo de políticas e iniciativas que emanavam da sociedade
colonial, muito pelo contrário, foi capaz de elaborar respostas e gerar ações e atitudes
próprias. A questão central é saber quando a nomeação a tais grupos passou a ser operada
como uma categoria ampliada e, em que medida tais classificações e seus dispositivos de
poder operaram na definição das alianças na região.

El lugar del espacio chaqueño en la imaginación cartográfica de la colonia


temprana
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Maria Laura Pensa

La ya clásica “invención de América” en términos de Edmundo O’Gorman (1961) supuso el


entendimiento de esta región como un continente equiparable a la Europa conocida, y luego
de algunas décadas de intensos debates, le designó un lugar tanto en la cartografía oficial
como en el imaginario moral e histórico de sus contemporáneos. Los mapas producidos por
distintos agentes coloniales sobre el continente americano constituyen un corpus
fundamental para el conocimiento etnohistórico y han sido analizados desde perspectivas
históricas, antropológicas y lingüísticas. Como parte del proceso de conquista y colonización
de la región conocida como “El Chaco”, distintos administradores coloniales, militares y
misioneros jesuitas produjeron registros derivados de la observación y descripción de los
paisajes locales. Especialmente hasta mediados del siglo XVIII, sus textos solían ser
acompañados por representaciones visuales del espacio que contribuyeron a forjar una
representación específica del espacio chaqueño. En este caso, analizaré la manera en que
algunos agentes representan “El Chaco” mediante el discurso cartográfico durante la colonia
temprana. Intentaré reconstruir el tipo de discursos acerca de la región y sus habitantes
nativos que estas imágenes posibilitan y fomentan. Me interesa especialmente identificar cuál
es el lugar que se inventa para el Chaco y de qué manera es incorporado en la imaginación
histórica y moral de sus contemporáneos. Espero señalar siempre que sea posible las
diferentes voces que se encuentran en diálogo en el mapa, de las cuales los autores son sólo
una parte.

Diáspora y migraciones de grupos indígenas de Brasil Central (1700 a 1900


AD)

Rodrigo Martins dos Santos

El poster presenta los resultados finales de nuestra investigación de maestría, que ubicó
pueblos indígenas que habitaron la Meseta Central de Brazil (desde el año de 1700 AD), y por
lo tanto una parte de la sabana, antes de la invasión luso-brasileña hasta el año de 1900 AD.
La metodología se basa en la antropogeografía de Ratzel, con el apoyo de la etnohistoria y
asesoramiento de la cartografía. Fue utilizado como base el mapa etno-historico de Curt

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Nimuendaju que presenta un "vacío" etnográfico en esta zona. Es aclarado un problema que
es la insuficiencia de información cartográfica sobre quien eran y dónde estaban los pueblos
indígenas del Brasil Central, sobre todo en un polígono que abarca el noroeste y oeste del
Estado de Minas Gerais, en todo el Estado de Goiás, extremo noreste de Mato Grosso y
sudoeste de Pará, gran parte del Estado de Tocantins, la región sur de Maranhão y Piauí, y
Bahía occidental. Fue utilizado varios productos cartográficos como el mapa etnolingüístico
del Čestmír Loukotka y mapas históricos disponibles en archivos públicos en Brasil y Portugal.
También es realizado un mapeo inédito de la ubicación de los grupos étnicos enumerados en
el histórico de la base de datos IBGE ciudades. Ademas, es recopilado desde esta fuente las
fechas de colonización y fundación de pueblos y ciudades, para ilustrar el progreso Luso-
Brasileño en el territorio indígena, así como el despliegue de los asentamientos por parte del
Estado. Las conclusiones son que hubó por lo menos 200 grupos étnicos en la meseta central
del Brasil y las zonas adyacentes, añadindo 88 a los 112 que figuran en el mapa de Nimuendaju.
Por medio de mapas es ilustrado la dinámica de ocupación indígena, con las migraciones, las
diásporas y las desapariciones de decenas de estos grupos étnicos. La contribución de este
trabajo consiste en fortalecer la territorialidad indígena en la historia del país, especialmente
en el centro de Brasil. Los resultados pueden ilustrar libros de texto y el contenido pedagógico
de la historia y de la geografía, de acuerdo con la Ley 11.645/08 del país. También pueden
colaborar en los estudios sobre el origen étnica de las zonas rurales de Brasil. En general, hay
al menos dos comunidades indígenas emergentes, los Aricobé y los Xakriabá, es posible que
tienga restos de otras comunidades, especialmente los Akroá, Cayapó y Guegue. La
continuacion de esta investigación será presentada el la ponencia: "Territórios, fronteras y
migraciones socioambientales en el este sudamericano: subsidio cartográfico a la geografía
de los refugios bioculturales" en el Seminario Tematico 03 "Andanzas territoriales indígenas
en América Latina: trayectorias y recomposiciones contemporáneas" del III CIPAL 2019.

Fuertes y parajes en la frontera oriental de Córdoba: Una primera


aproximación a la identificación de estos enclaves durante la época colonial

Daniela Sosnowski

Hace ya varias décadas, antropólogos e historiadores dedicados a la historia indígena han


comenzado a cuestionar diversas denominaciones –como los etnónimos y los to- pónimos–,
reflexionando acerca de los procesos de construcción de dichas categorías y del carácter
histórico de sus significados y sentidos. En esta línea, marcada por una constante “sospecha”
sobre los términos que utilizamos para nuestras investigaciones, en esta ponencia indagamos

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acerca de ciertos lugares nombrados por los hispanocrio- llos como fuertes y parajes, que
fueron situados en la frontera oriental de Córdoba du- rante el período colonial, como el
Fuerte del Tío o el Fuerte o paraje de Masangano, en- tre otros. En este sentido, nos
proponemos identificar diversos nombres para esos es- pacios y reconocer sus funciones a
partir de las relaciones interétnicas –violentas y pa- cíficas– entre los grupos indígenas
insumisos al poder colonial y la sociedad hispano- criolla.

Los mapuche-huilliches en las cartas annuas jesuitas de la frontera meridional


de Chile: estrategias de cristianización, adaptación misionera y
representaciones discursivas (siglo XVII)

Jaime Valenzuela

El propósito de la exposición es contribuir al debate en torno a la experiencia de la Compañía


de Jesús frente al proceso de dominación colonial y de cristianización que el imperio español
intentaba desplegar sobre Chile meridional, cuyos indígenas mapuches y huilliches
mantuvieron una secular resistencia militar y autonomía política. A partir del trabajo
desarrollado en los últimos años en la transcripción y edición de las cartas annuas chilenas del
siglo XVII (informes enviados con cierta regularidad desde las sedes provinciales al superior de
la Compañía en Roma), proponemos un acercamiento a los contextos de producción de esta
documentación –las misiones asentadas en los fuertes militares de la frontera de guerra, en
torno al río Biobío–. Luego, un análisis de las perspectivas que otorga este acervo discursivo,
en relación con las estrategias de conversión, las paradojas de los mecanismos de adaptación
misionera –considerando que la acción pastoral se intentaba desplegar entre indígenas no
controlados por la administración colonial– y las representaciones que se van construyendo
en estos documentos, a medida que avanza el siglo XVII, sobre las distintas categorías,
calificaciones y cualidades que los misioneros otorgan a los grupos que buscan convertir; en
este último enfoque se buscará conjugar los contrastes ambiguos que las “cartas” van
definiendo para las “reducciones de amigos” –vinculadas con los fuertes fronterizos– y
aquellos indios “enemigos” de “tierra adentro”. En definitiva, queremos aproximarnos a esa
tensión discursiva que viven los jesuitas al encontrarse/enfrentarse con esos indígenas que
están incluidos bajo la categoría de “objetos de misión”. Es decir, cómo los mapuche-huilliches
van siendo 2 vistos en las cartas y documentos de la orden, circulando entre un actor
“cristianizable” y un “bárbaro irreductible”; circulación que no siempre es lineal en su sentido
cronológico, sino más bien emerge a lo largo del siglo en abierta consonancia con el
desgastante y recurrente generación de expectativas misionales y las consecuentes
decepciones que inundan la documentación del período.
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De la deconstrucción a los estudios subalternos y más allá: Para entender la


frontera en los siglos dieciocho y diecinueve argentino y uruguayo

Gustavo Verdesio

Uruguay y Argentina son países con un pasado común hasta el año 1828. Su separación
forzada, tanto administrativa como política, dio lugar a dos formaciones sociales que
inspiraron diferentes narrativas de la nación. En particular, la relación entre los pueblos
indígenas y el joven Estado-nación que competía con ellos por el control del territorio ha sido
representada de manera diferente. Las fuentes son escasas (y, en el caso de Uruguay, no muy
estudiadas) y producidas por representantes de las colonias de settlers que estaban tratando
de consolidarse como Estados independientes. En este trabajo, voy a reflexionar sobre las
estrategias de lectura propuestas por dos corpus académicos: el producido por la tradición
iniciada por investigadoras como Martha Bechis y Lidia Nacuzzi sobre Argentina, y el
producido por yo mismo sobre Uruguay. La mayor diferencia entre ambos proyectos de
investigación es que mi trabajo se concentra en el periodo colonial, en tanto que el de Bechis
y Nacuzzi se centra en los siglos dieciocho y diecinueve. El objetivo de este trabajo es doble:
por una parte, explorar el potencial de las estrategias de lectura propuestas por mí en el
pasado (la deconstrucción y los estudios subalternos) a la luz de la reemergencia de las
identidades étnicas en Uruguay y, por otra, echar una breve mirada a las formas en las que los
investigadores uruguayos y argentinos han representado la relación entre los pueblos
indígenas y el Estado: en Argentina (como en los Estados Unidos), una de las nociones claves
para entender esa relación es “frontera,” en tanto que en los estudios producidos en Uruguay,
ese concepto dista mucho de ser central para la comprensión de esa relación.

Los traslados y padrones indígenas en la segunda mitad del siglo XVII en la


jurisdicción de Buenos Aires

Sabrina Lorena Vollweiler

En este trabajo me propongo analizar dos padrones con información de algunas parcialidades
indígenas que habían sido trasladados desde sus tolderías de la región pampeana hacia
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parajes cercanos a la ciudad de Buenos Aires en 1677. La comparación del padrón realizado a
fines de ese año en la ribera del río de la Plata, aledaño a la ciudad, pocos días luego del
traslado, con otro confeccionado a principios de 1678 en el mismo lugar nos permitirá
observar diferentes registros acerca de las edades, sexos, parentescos y pertenencias étnicas
de los grupos que se encontraban en la jurisdicción de Buenos Aires para ese entonces.
También se observa la interacción entre los distintos agentes que actuaban en nombre de la
corona española con las parcialidades indígenas y los movimientos entre la tierra adentro, las
ciudades y las encomiendas, entre otros aspectos. Asimismo, estos dos registros nos permiten
conocer los traslados efectuados desde y hacia diversos territorios a cargo de personajes de
la elite española -como gobernadores, eclesiásticos, encomenderos y expedicionarios- y los
criterios que ellos siguieron para dividir a las personas apresadas. Por este motivo, la
información de los padrones se complementa con otros documentos producidos por las
autoridades de la Colonia –residentes en Buenos Aires y en España– a partir de la cual, además
de la localización, tamaño y conformación de las encomiendas existentes en ese entonces,
podemos entender los intereses de la agencia colonial y descubrir las estrategias que
implementaron para dominar a las parcialidades indígenas. Las fuentes documentales
consultadas forman parte del acervo del Archivo General de Indias en Sevilla, España.

Los ranqueles a la luz de los vaivenes de sus archivos históricos en la


República Argentina

Graciana Pérez Zavala

La propuesta se inscribe en las investigaciones sobre las poblaciones indígenas del actual
territorio de la República Argentina, en particular, en el devenir de los ranqueles. Hasta 1880
éstos habitaron en forma soberana la pampa central, conocida por entonces como Mamuel
Mapu. Luego de las expediciones punitivas llevadas a cabo por el Estado argentino (1878-
1879), estos indígenas, junto a otras agrupaciones de la región, fueron despojados de sus
territorios y perdieron su autonomía política. Sin embargo, los vínculos socio-parantales entre
varios contingentes aprisionaros y militarizados perduraron, posibilitando en el largo plazo la
permanencia de esta identificación étnica. Los acontecimientos de este proceso quedaron
plasmados en documentación escrita producida en el marco de las relaciones interétnicas
ocurridas entre fines del siglo XVIII y fines del siglo XIX y hoy dispersa en diversos reservorios
documentales nacionales, provinciales y locales. Pero también en la memoria colectiva de los
descendientes contemporáneos de los ranqueles sometidos. En la ponencia se problematiza,

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entonces, los contextos de producción, reproducción y desmantelamiento de los archivos


históricos ranqueles.

Archivo indígena y memoria legal en los Andes coloniales

Alcira Dueñas

En contravía de lo que se ha asumido comúnmente en la historiografía andina, la elaboración


de archivos oficiales en el tiempo colonial no resultó de la pluma de los escribanos españoles
exclusivamente. Los indígenas letrados de los Andes peruanos, particularmente en el ámbito
de los pueblos de indios de la jurisdicción de la Audiencia de Lima, hicieron suyo el Ars Notarie
usándolo, entre otros fines, para la defensa de la autonomía étnica y el empoderamiento de
nuevas expresiones de comunidad e identidad. Este universo de representación notarial
(testamentos, escrituras, contratos, poderes, etc.,) trajo consigo la legitimación de
instituciones legales ibéricas en el nuevo mundo y reconfiguró la justicia, la memoria étnica, y
las nociones de espacio y su uso en los Andes. En esta ponencia, propongo una reflexión sobre
la elaboración de archivos coloniales por parte de los escribanos indígenas o escribanos
quipucamayoc. Sugiero que el espacio ‘segregado’ de los pueblos de indios o antiguas
reducciones Toledanas devino espacio fronterizo con respecto a los centros de decisión legal
como la capital virreinal y las capitales de las reales audiencias. Simultáneamente, el archivo
indígena producto de la actividad notarial generada en los cabildos de indios, (gobierno
indígena de las reducciones), estuvo ampliamente referida a un nuevo ordenamiento colonial
de la justicia en el mundo indígena que consagró la escritura alfabética castellana, las nociones
de propiedad (comunal y privada), y las nociones de herencia en los Andes. Los textos
notariales de los escribanos indígenas contribuyeron, sin embargo, a crear un nuevo tipo de
memoria étnica articulada al reclamo de sus derechos en las cortes de justicia y para retener
su relación con la tierra. Mi ponencia amplía la noción de frontera en un ámbito colonial más
allá de lo geográfico. Es un espacio étnico-legal en la órbita de las audiencias, mas sin embargo
es una frontera donde el poder español fue disputado palmo a palmo por los indios letrados
en las cortes de justicia locales, regionales y transatlánticas.

ST 27 | Liderazgos indígenas en zonas de frontera latino-americanas, siglos XVI-


XX

José Marcos Medina Bustos (El Colegio de Sonora, México); Anna Guiteras Mombiola
(Universitat de Barcelona, España).
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Se trata de recuperar para el conocimiento histórico los liderazgos indígenas que se desarrollaron en
espacios caracterizados como fronteras en Latinoamérica; es decir, zonas en las que se dio el contacto
entre pueblos con culturas diferentes sin que ninguno pudiera imponerse claramente sobre los otros;
algunas de estas fronteras culturales se convirtieron en fronteras políticas entre estados nacionales,
cuyos territorios y sociedades fueron incorporados paulatinamente al devenir nacional. El simposio
busca reflexionar sobre los liderazgos indígenas en estas zonas, pues consideramos que tuvieron
características diferentes a los de las áreas centrales, para lo cual proponemos los siguientes ejes
temáticos: 1) Individuos indígenas que sobresalieron, asumiendo diversos roles: como aliados y
conductores del proceso de adaptación individual y grupal al nuevo orden colonial y nacional; como
dirigentes de rebeliones o en actos de resistencia. 2) El tipo de relaciones que tuvieron estos líderes
con los propios indígenas o sus aliados no indígenas, así como los mecanismos a través de los cuales
lograban obtener autoridad: ¿por ciertos atributos estimados por sus congéneres, el reconocimiento
de su utilidad por los no indígenas, o ambos aspectos? 3) Su papel como intermediarios y las
comunicaciones escritas que tuvieron con autoridades coloniales y republicanas o con los indígenas.
4) Los cargos que ocupaban, su naturaleza y la competencia entre los mismos indígenas por ocuparlos.

La pluma azul en la ventana: La trayectoria política del cacique Lorenzo


Calpisqui y la “araucanización” de Las Pampas (segunda mitad del siglo XVIII)

María Eugenia Alemano

La historiografía de las últimas décadas ha avanzado en comprender a las fronteras entre los
dominios hispano-coloniales y las sociedades nativas no sometidas como un mundo complejo
de interrelaciones que no pueden reducirse al enfrentamiento violento sino que variaron en
virtud de los contextos y las fisuras y contradicciones internas de ambos conjuntos sociales
(Guy y Sheridan 1998; Boccara 2005; Weber 2007). En el caso rioplatense, una larga tradición
interpretativa suscribió una idea de la frontera como una línea militarizada que oponía la
“civilización” al “desierto”, reduciendo su historización a una sucesión de períodos de guerra
y paz entre “indios” y “blancos”. La renovación historiográfica emprendida en los años ’80
permitió reconceptualizar a la frontera como un espacio social heterogéneo y poroso,
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mientras que el aporte de antropólogos y etnohistoriadores ha permitido desentrañar el


universo de actividades económicas y la complejización socio-política de los grupos indígenas
arauco-pampeanos (Palermo 1988, 1989; Bechis 1989; Mandrini 2001). Sobre esta base, los
aportes recientes han llamado a rediscutir y complejizar viejas y nuevas cuestiones tales como
la naturaleza de los “tratados de paz”, las causas profundas de los malones, la denominada
“araucanización” de las pampas, la conflictividad interna del mundo indígena y los dilemas de
la autoridad colonial frente a la frontera (Ortelli 1996; Villar y Jiménez 2003; Roulet 2004;
Nacuzzi 2006; Alemano y Carlón 2009; Carlón 2014). La presente ponencia busca reconstruir
la trayectoria política del cacique auca Lorenzo Calpisqui (Kallfü-pilqui), un líder prominente
de la región pampeano- patagónica en la segunda mitad del siglo XVIII. Mientras que en la
primera mitad del siglo podían sentirse forasteros en las pampas, a partir de 1770 los aucas
consolidaron una hegemonía territorial que vio en Calpisqui su máximo exponente.
Sostenemos que este cacique y su parcialidad obtuvieron tal posición mediante la derrota de
los antiguos ocupantes tehuelche del territorio, la superación del faccionalismo interno a
partir de una red de alianzas-político parentales que se extendía hasta la Cordillera andina,
una estrategia de “golpear y negociar” en la frontera (con el gran malón de 1780 sobre la
frontera de Buenos Aires y el tratado suscripto en 1790 como sus puntos más altos) y una
sólida base económica que incluía la posesión de cientos de cautivos cristianos y un inmenso
stock ganadero que sustentaba el vínculo comercial con la sociedad colonial. De esta manera,
la ponencia pretende aportar no sólo al debate sobre la araucanización de las pampas sino
también a una historia de la política en los intersticios de las tolderías.

Entre la negociación y la rebelión: los liderazgos de indígenas Ópatas en la


frontera noroeste de México (1820-1840)

José Marcos Medina Bustos

La crisis política que experimentó la monarquía española desde 1808 afectó profundamente
el orden político de todo el imperio, incluyendo sus confines. En la provincia de Sonora,
ubicada en el noroeste novohispano, las autoridades españolas lograron ganar como aliados
a los indígenas ópatas para enfrentar a los indígenas nómadas que vivían de incursionar en las
misiones y presidios más cercanos a sus territorios que permanecían independientes. Sin
embargo, la guerra civil que estalló en el centro novohispano cambió el servicio militar que
aquellos brindaban, pues fueron enviado a lugares lejanos a pelear contra otros españoles
durante varios años. A la par, las políticas liberales que promovían la individualización de las
tierras comunales, favorecieron los intentos de las elites locales por apoderarse de tierras de
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sus pueblos. De tal manera que cuando regresaron los soldados ópatas, una vez que se obtuvo
la independencia, se encontraron con sus tierras usurpadas, lo cual rompió el “pacto colonial”
que había funcionado durante varios siglos, iniciándose un ciclo de inconformidad que en
varias ocasiones estalló en rebeliones. En esta ponencia se aborda la emergencia de nuevos
liderazgos indígenas entre los ópatas, como Francisco Medrano, Juan Güirizo y Dolores
Gutiérrez, quienes en las décadas de 1820 y 1830, desempeñaron un papel destacado en las
relaciones establecidas con las autoridades locales y nacionales, en el marco de la
conformación del estado nacional republicano federal y centralista. El estudio de estos
personajes permitirá observar el repertorio de acciones que utilizaron los indígenas en su
lucha por la defensa de sus tierras y gobierno particular, las cuales incluyeron la negociación,
el pacto con facciones de las elites enfrentadas entre sí y la rebelión abierta.

Gobernadores indios en Nueva Vizcaya: ¿Autoridades coloniales e


intermediarios entre gentiles?

Chantal Cramaussel

La ponencia se basa en varias biografías de indios nacidos en el Bolsón de Mapimí a finales del
siglo XVII, y nombrados gobernadores de su respectiva “nación” por los españoles en la
centuria siguiente. Algunos permanecieron asentados en haciendas o reducciones misionales
por mucho tiempo, otros volvieron repetidas veces a habitar territorios fuera de control, unos
más huyeron definitivamente del yugo colonial. Se trata de presentar la gran diversidad de
destinos de esos personajes que muchas veces se enfrentaron con los indios de guerra,
combatiendo al lado de los españoles como lo exigía su cargo. Pero también los hubo que
ejercían un verdadero liderazgo entre los demás indios en la violenta contienda fratricida que
significó la conquista hispana para los nativos del norte novohispano.

La importancia del accionar de los caciques pehuenches en las negociaciones


interétnicas en la frontera de Mendoza, desde fines del siglo XVIII hasta
principios del siglo XIX
Luciana Fernández

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En la frontera de Mendoza, a principios del siglo XVIII, se conformaron asociaciones inter-


étnicas laxas para controlar áreas estratégicas o para realizar correrías en los territorios
ocupados por los hispano-criollos (Durán, 1991-1992). A fines de ese siglo, los pehuenches
lograron controlar los pasos cordilleranos, los campos de invernada ubicados al oriente de la
cordillera y el tráfico comercial con Chile, además del intercambio con Fuertes y diversos
poblados (Varela y Manara, 2003). Ante esa situación, otras parcialidades - tales como los
Huilliches, Llanistas, Aucas y Ranquelches- comenzaron a disputarles el control (Durán, 1991-
1992). Si bien los conflictos entre parcialidades se circunscribieron netamente a los territorios
indígenas, ello repercutió en un nivel de desorden e inestabilidad en las regiones fronterizas,
debido a que contingentes indígenas se arrojaron sobre las estancias de la zona, por ejemplo
las del Valle de Uco y de Jaurúa. Por ello, aproximadamente desde la segunda mitad de siglo
XVIII, los pehuenches atravesaron una etapa de creciente conflictividad con los hispano-
criollos de ambos lados de la cordillera, en el marco de movimientos migratorios desde el
Occidente de los Andes hacia el Oriente (Villar y Jiménez, 2003, p. 17). Para terminar con las
invasiones indígenas a los asentamientos fronterizos, durante el Reformismo Borbónico se
implementó una política de pacificación y compromiso político para con los indígenas de la
Araucanía, Patagonia y Pampa, haciendo uso de la fuerza, las alianzas y los acuerdos (León
Solís, 1982). En relación con este proceso, en el presente trabajo se propone analizar la figura
de ciertos caciques pehuenches, su rol y estrategias implementadas en las negociaciones con
los hispano-criollos para poner en evidencia la importancia que tuvo para ambas sociedades
la concreción de dichos acuerdos –y las condiciones de ello-. Asimismo, se reparará en la
actuación de los caciques como intermediarios en las negociaciones con otras parcialidades,
así como informantes de lo acontecido Tierra Adentro, con el fin de reconstruir el propósito
de su accionar en el marco de un contexto de conflictividad inter e intra-étnica.

Lideres indígenas en el pago de Luján: estrategias comunicativas, comercio y


diplomacia en la Frontera Sur Bonaerense (fines de siglo XVIII y principios de
siglo XIX)

Eugenia Néspolo e Yésica García

Los avances en los estudios sobre la frontera sur de América del sur, han coincidido en
evidenciar la importancia de los contactos y relaciones sociales construidas entre
parcialidades indígenas y autoridades fronterizas. Para el caso del pago de Luján, las relaciones
entre ambas sociedades en el periodo tardocolonial, podemos definirlas a partir del marco
interpretativo Resistencia y Complementariedad, entendiendo por “resistencia” al conflicto
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generado por la no aceptación de la dominación de una sociedad sobre la otra y por la


competencia de los recursos que ambas necesitaban. Asimismo, la resistencia no sólo se
manifiesta en un enfrentamiento bélico, sino también en el sosiego y la tranquilidad de las
relaciones fronterizas, porque las sociedades en contacto rediseñaron estrategias para
oponerse y/o dominar a la otra. Por otra parte “complementariedad” se define a partir de las
estrechas relaciones de intercambio y/o comercio, amistad y protección que posibilitaron el
desarrollo de cierta gobernabilidad en cada sociedad concurrente en el encuentro. (Néspolo,
2012) En este entramado relacional, los caciques, tanto aquellos con los que se habían
celebrado tratados de paz como los que no habían pactado pero frecuentaban los fuertes y
fortines de la frontera, han sido un eslabón clave en la transmisión de valiosa información
sobre tierra adentro. Sin embargo, esa información brindada no siempre resultó ser fiel a los
hechos, por tanto su utilización respondía a múltiples estrategias desplegadas por los
indígenas. Considerando los vínculos establecidos, nos proponemos, por un lado, profundizar
sobre el carácter informativo de la frontera bonaerense hacia fines del siglo XVIII y la primera
década del XIX, puntualizando en la participación de los principales caciques de la zona en la
elaboración y transmisión de información. En segundo término, nos interesa analizar su rol de
intermediarios en el contacto con los cristianos, ya sea por cuestiones diplomáticas,
económicas y sociales, entre otras, tanto de caciques pampas y ranqueles, como de aquellos
provenientes del Reyno de Chile, cuya presencia se evidencia en el periodo abordado.

Colaboracionismo v/s resistencia a través del exterminio de los Kolüpi, 1850 –


1873

Cristian Perucci Gonzalez

El lonko (cacique) Lorenzo Kolüpi fue la máxima expresión del colaboracionismo mapuche
ante a la presión política y territorial chilena durante el siglo XIX. Su trayectoria estuvo
acompasada por el apoyo recibido desde la esfera republicana en lo militar, lo económico y lo
simbólico, de alguna forma modelando el estilo autoritario con que ejerció su autoridad. Su
caso nos proporciona la posibilidad de cuestionarnos en torno a la gran política mapuche de
su época en dos aspectos: por un lado, nos preguntamos cuáles fueron sus bases de poder y
de qué forma se construyeron. Aquello implica adentrarse en el estudio de la sociedad
mapuche en su perfil interno, y del influjo, condicionamiento o determinación proveniente de
las relaciones con el Estado y la sociedad chilena. En segundo lugar, creemos que las
circunstancias de su muerte y el destino de sus descendientes revelan tensiones y oposiciones
que superan lo personal. El ajusticiamiento de sus rivales mapuche combinado con el
ajusticiamiento de sus viejos aliados -la justicia (militarizada) chilena- decretaron el fin de esta

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familia por el peso de lo que Vicuña Mackenna llama “la ley antigua de las fronteras”. Nuestro
propósito es, a través de la experiencia de los Kolüpi, abordar la problemática del
colaboracionismo v/s la resistencia como subsistemas que se combinan y atraviesan las
posturas colectivas e individuales de la política mapuche. Intentamos así dejar atrás las
percepciones binarias de acción ante la invasión y entender cómo la segmentación mapuche
se articuló en su propio desmedro.

Los liderazgos indígenas pueblos en Nuevo México durante el periodo


mexicano, 1821-1846

Martín González de la Vara

Desde la conquista de Nuevo México a fines del siglo XVI, la Corona Española debió hacer
alianzas con las comunidades indígenas sedentarias –los llamados “indios pueblos”- con el fin
de consolidar una provincia rodeada de indios insumisos –llamados “bárbaros”- y acechada
por otros poderes imperiales europeos. Tras la violenta rebelión de 1680-1696, las
autoridades hispanas rehicieron su pacto con los indios pueblos, ilegalizaron las prácticas e
instituciones que más daño causaban a los indígenas –encomienda y esclavitud, por ejemplo-
y establecieron relaciones con las comunidades indígenas a través de sus líderes. Como bien
señala Oakah L. Jones en su libro seminal Pueblo Warriors and Spanish Conquest (1966) buena
parte de la estabilidad de Nuevo México a lo largo del siglo XVIII se debió a la consolidación
de esta alianza entre “gobernadorcillos” pueblos y autoridades provinciales pese a las
amenazas crecientes de los conflictos con los bárbaros y las incursiones de franceses e ingleses
en las grandes llanuras norteamericanas. Durante esa centuria, la población de indios pueblos
disminuyó con respecto a la población hispana de la provincia al pasar de un 80% hacia 1720
a sólo un 30% en 1800, pero su importancia en la defensa no disminuyó. Las compañías
milicianas indígenas eran fundamentales en la protección de los nuevomexicanos ante
amenazas internas y externas. A principios del siglo XIX la legislación liberal española
teóricamente abolió las diferencias legales entre las distintas “calidades”. Aún tras la
independencia de México, las gubernaturas indígenas continuaron desempeñándose según el
viejo régimen, formado de facto una entidad política separada del resto de los
nuevomexicanos. Los pueblos, por ejemplo, no gozaban de una representación política
ciudadana, aunque seguían obligados a aportar hombres y pertrechos para la defensa de
Nuevo México y su organización miliciana permaneció sin cambio alguno. En este trabajo, se
intentará ver el papel de los liderazgos indígenas o gobernadorcillos en la creación de una
nueva sociedad nuevomexicana más abierta una economía de mercado e inmersa en nuevas
realidades políticas. A través de material de archivo se intentará esbozar el papel jugado por

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estos líderes pueblos en la nueva realidad política local y dentro las necesidades defensivas
de Nuevo México hasta su amexón a los Estados Unidos en 1846.

La diplomacia en “tierra adentro”: la gestión de los cacicazgos indígenas en


Pampas y Norpatagonia, 1850-1870

Ingrid de Jong

La atención puesta al papel de la diplomacia fronteriza durante las últimas décadas de


existencia de la Frontera Sur en Pampas y Patagonia ha permitido profundizar en la
comprensión de las acciones políticas de diferentes cacicazgos y parcialidades indígenas en
relación al Estado argentino. Resta aún profundizar en la reconstrucción de la dimensión de la
diplomacia en “tierra adentro”, complementaria a la primera, que involucra la gestión de las
alianzas, conflictos e intercambios, así como la construcción de indentidades políticas y
territoriales entre los mismos sectores indígenas de Pampa y Norpatagonia. Se trata entonces
de reconstruir el espacio asumido por las dinámicas de la política indígena en la “tierra
adentro” sin descuidar su interjuego con los posicionamientos políticos de diferentes
parcialidades resultantes de sus relaciones con la sociedad estatal. Partiendo de este planteo
como objetivo general, nos proponemos específicamente analizar las prácticas e instituciones
involucradas en la gestión de la diplomacia entre los cacicazgos pampeano- patagónicos
durante este período, a partir de fuentes documentales vinculadas con la trayectoria del
cacique Calfucurá, uno de los liderazgos indígenas más prolongados e influyentes en este
contexto.

Guerra, ritual y política en la Sierra del Nayar (México): Reflexiones en torno


a la figura del líder militar cora desde la larga duración (1722-1880)

Regina Lira Larios

La emergencia de liderazgos en la historia política cora o náyeri ha sido destacada en la


documentación e historiografía sobre estos pueblos de la Sierra del Nayar, en el occidente de
México. Desde el papel del gobernante, jefe o tonati cora que organizó la resistencia de los
pueblos coras hasta su conquista en 1722, o la de “caciques” como Manuel Doye que estuvo
a la cabeza de dos grandes levantamientos, en 1758 y en 1767 en alianza con autoridades
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españolas y de jefes de diversos pueblos serranos en contra de los jesuitas que recibieron a
su cargo los pueblos conquistados. Más conocida aún fue la participación de los pueblos coras
en el movimiento de los Pueblos Unidos del Nayarit que entre 1855 y 1873 mantuvo una
autonomía de facto en una porción del occidente de México, a través de su comandante
Dionisio Gerónimo y en alianza con líderes mestizos campesinos y de la élite que apoyaba el
movimiento conservador durante las guerras de Reforma. Con base en estos casos diversos,
en esta ponencia nos proponemos reflexionar sobre la figura del líder militar cora desde la
larga duración a través de tres dispositivos: la organización política, la tradición guerrera y la
práctica ritual. Esto nos permitirá avanzar algunas hipótesis que ponen en evidencia dos
aspectos en apariencia contradictorios: primero, la emergencia de liderazgos que detonan una
verticalización de las estructuras de poder, y, segundo la naturaleza coyuntural de estos
liderazgos que pueden entenderse como posiciones vinculadas a la estructura de poder nativa
que la somete a procesos de deliberación que legitiman su autoridad y vigilan que el ejercicio
de su poder no culmine en un poder separado. Con ello pondremos a prueba la interpretación
de la organización política cora como un estado segmentario avanzada recientemente por la
historiografía colonial (Güereca 2017), para reflexionar sobre este vaivén entre la dispersión
y la concentración de poder como un mecanismo propio de la política en términos coras desde
la antropología y la historia política de los pueblos amerindios.

Mediadores e lideranças indígenas nas Minas Gerais Oitocentistas

Izabel Missagia de Mattos

Em uma interessante análise sobre os agentes mediadores entre os mundos indígenas e os


dos militares e colonizadores dos sertões do Rio Doce durante a primeira metade do século
XIX, a historiadora J. Bieber (2014) acompanhou a trajetória bem documentada de expoentes
como soldados indígenas, intérpretes (“línguas”) e pioneiros na região. A presente proposta
se assenta no desafio apresentado pela autora, a saber, compreender como “esses vários
intermediários ganharam autoridade ou legitimidade entre as populações indígenas (BIEBER:
2014: 232)”. 1 Esta comunicação visa a analisar a visibilidade conferida a tais agentes na
documentação Oitocentista - que, não raro, frequentaram Vila Rica, a sede da Capitania, e a
Corte para pleitearem interesses e direitos enquanto povos impactados pela política militar
joanina, ordenada por meio da Carta Régia de 13 de maio de 1808 – de modo a inseri-los no
contexto do ambiente político que precedeu e sucedeu a declaração de independência em
1822, em que questões sobre sua cidadania foram largamente discutidas no legislativo. No
caso da revolta dos índios do Itambacuri, em 1893, ainda que seus sentidos coetâneos, de
parte dos indígenas não possa ser, de fato, reconstituído por meio da documentação

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administrativa – como observa J. Bieber (2014) na epígrafe acima – propomos, nesta


comunicação, iluminar seus sentidos indígenas por meio de um diálogo com a etnologia
contemporânea, cujos esforços recentes se referem a contextos que dizem respeito às
organizações sócio-simbólicas e políticas ameríndias.

Liderazgo indígena y orden liberal en los Llanos de Mojos (Amazonía


boliviana, 18421870s )
Anna Guiteras Mombiola

En 1842 las poblaciones indígenas de los llanos de Mojos, en la Amazonía boliviana, quedaron
bajo la jurisdicción del departamento del Beni, cuya creación respondió al interés del poder
central por propiciar el control, colonización y, en definitiva, incorporación al quehacer
republicano de ese espacio de frontera. Parte de esta población pertenecía a filiaciones
étnicas no sometidas, dispersas al interior de los bosques y que rehusaban contactar con la
sociedad boliviana. La otra parte la constituían distintos grupos etnolingüísticos que a lo largo
del siglo XVIII habían sido reducidos a la civilidad cristiana por la Compañía de Jesús, entre los
cuales se encontraban los mojeños que vivían en la que se convertiría en la capital
departamental. Las normativas sancionadas en 1842 para reglamentar la nueva
administración política, económica y social del departamento del Beni dieron un nuevo marco
de relaciones entre los indígenas y los colonos y autoridades blanco-mestizas de la capital. A
través de la figura Frutos Nosa, uno de los líderes mojeños más importantes de los dos
primeros tercios del siglo XIX, y a su vez, aún muy desconocido, esta ponencia se propone
abordar las prácticas y acciones que éste llevó a cabo para, por un lado, insertarse en los
nuevos entramados de poder y, por otro lado, mantener el rol central jugado por la élite nativa
hasta la fecha en el devenir político, económico y sociocultural de ese espacio de frontera
durante el proceso de construcción de Bolivia como Estado-nación.

Las cartas también son las armas: usos del vocabulario político
iberoamericano por caciques ranqueles y salineros. Argentina, 1852-1885

Gabriel Passetti

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ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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En tiempos de luchas por la consolidación del Estado Nacional en Argentina, caciques


mantuvieron tensas relaciones con distintos grupos criollos. Desde la caída de Rosas a las
llamadas “Campañas del Desierto”, fue intensa la circulación de personas, productos, ideas y
cartas entre las tolderías de Pampa y Patagonia y las comandancias militares, los gabinetes de
gobiernos y los misioneros. Atentos interlocutores políticos, los caciques utilizaron un amplio
vocabulario político de origen Iberoamericano. En las últimas décadas, las cartas indígenas se
han convertido en fuentes documentales estudiadas por destacados antropólogos e
historiadores. Nuestro objetivo es examinar, siguiendo las propuestas de J. G. A. Pocock, como
los caciques ranqueles y de Salinas Grandes se apropiaron de discursos, como utilizaron
idiomas de otro origen, como utilizaron el lenguaje de los criollos para revertir los significados
de poder y sus efectos, apropiándose y utilizándolos como instrumentos de fuerza política. El
análisis estará centrado en la lectura de las cartas indígenas, entendidas como vestigios
seleccionados, en los cuales se utilizó una técnica no nativa (la escrita) y otro idioma (el
castellano) con el objetivo de invertir la fuerza de esta propia arma política. El intento de la
investigación está en identificar los efectos del acto de escribir políticamente, relacionándolos
con las circunstancias del momento y el comportamiento de otros agentes que utilizaban ese
mismo lenguaje – militares, civiles y religiosos. Conceptos típicos del vocabulario político
beroamericano, lejanos a las culturas nativas, pasaron a permear las cartas, siendo empleados
consciente y activamente como instrumento de lucha política, negociaciones y resistencias
frente a los violentos discursos y prácticas del Estado. Conceptos como “Gobierno”,
“República”, “Nación”, “Argentina”, “América” y tantos otros, expresaron grados diversos de
comprensión y adhesión, dando cuenta del interés indígena por recurrir a los términos criollos
para garantizar sus propios intereses. Las cartas son vestigios de intereses y negociaciones. El
foco de esta ponencia está en la identificación de usos, apropiaciones y recurrencias de este
vocabulario y conceptos de origen Iberoamericano con el objetivo de identificar flujos de
saberes en la lucha por la manutención de autonomías o por la inserción negociada en las
soberanías “nacionales”.

Almir Narayamonga Suruí: uma liderança indígena reconhecida


internacionalmente
Zeus Moreno Romero

O objetivo este artigo é demostrar o rol de liderança do chefe indígena Paiter Surui, Almir
Narayamonga Surui, como aliado e condutor do processo de adaptação individual e grupal na
nova ordem nacional e internacional em que os Paiter Suruí foram inseridos a partir do
contato oficial em 1969. Enfatiza-se o tipo de relações que esta liderança estabeleceu com
setores ambientalistas, ONGs e empresas de economia verde, frente a um modelo de
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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capitalismo predatório próprio de zonas de fronteira em que se deu o contato entre povos de
culturas diferentes, como os indígenas e não indígenas. O papel de Almir Surui como
intermediário entre as duas culturas diferentes se orientou numa política de alianças, que
atualmente é reconhecida internacionalmente, em forma de prêmios, pelo seu trabalho em
favor da preservação ambiental da Terra Indígena. Quanto à metodologia do artigo, foram
utilizadas fontes primarias e secundarias para traçar aspetos biográficos que confirmam o
papel protagonista de Almir Suruí como liderança condutora que conseguiu visibilidade e
suporte nacional e internacional mediante sua política de alianças e parcerias no processo de
adaptação da cultura indígena Paiter Suruí na sociedade nacional brasileira e a economia
capitalista globalizada.

Índios no Rio: diplomacia como estratégia política de lideranças indígenas

Ana Paula da Silva

José Ribamar Bessa Freire

As estratégias de lutas e a emergência de lideranças indígenas no cenário colonial e pós-


colonial têm chamado à atenção de pesquisadores em países diversos do continente
americano. Os debates e casos analisados por diferentes estudiosos nos permitem refletir
sobre a atuação dos povos indígenas diante de variadas situações, conforme temos visto nos
estudos de Lienhard (1992), Ratto (2005), De Jong (2008), Medina Bustos (2009), Wilde (2009),
Benites (2014), Ragas (2014), Silva e Freire (2016), entre outros. Segundo Guillermo Wilde
(2009: 20), atuando como mediadores políticos e culturais os índios se apropriaram de
variados códigos culturais, linguísticos e jurídicos, utilizados “para escapar dos controles da
administração e da justiça”, igualmente para exigir e garantir seus direitos diante de contextos
cada vez mais adversos. Entre as estratégias de luta para enfrentar as relações de poder em
que foram (e continuam) inseridos, destaca-se o uso da diplomacia como forma de obter
autoridade, prestígios, benefícios, mas também negociar, resistir e defender suas autonomias
e territórios. Por outro lado, a atuação diplomática de lideranças demonstra a não passividade
dos povos indígenas nos processos de conquista e pós-coloniais como destacou Torres
Cisneros (2013: 200) “Detrás de la diplomacia indígena hay una clara conciencia y un vivo
recuerdo de negociaciones de larga duración (plasmada de distintas maneras: tratados,
acuerdos, concesiones, títulos virreinales, etcétera) con los representantes de los poderes
coloniales o con los gobiernos poscoloniales que los sustituyeron”. Com base na
documentação histórica, particularmente o acervo do Arquivo Nacional/RJ, propomos discutir
a atuação política de lideranças indígenas, que estiveram no Rio de Janeiro (centro político-
econômico, território da diplomacia na época) durante o século XIX, com interesses diversos,
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sobretudo para denunciar abusos e violações, reivindicando a escuta de seus problemas e


garantir seus direitos fundamentais.

Liderazgo indígena en una región autónoma en guerra: Los líderes cruzoob y


sus estrategias frente a ingleses y yucatecos

Hilda del Carmen Landrove Torres

En 1847 en la península de Yucatán, México, un grupo de rebeldes comenzaron una revuelta


contra el régimen yucateco, con el objetivo de revertir las condiciones de cuasi esclavitud en
las que vivían. Tres años más tarde, el movimiento rebelde dio un giro mesiánico con la
aparición de una Cruz Parlante que, a través de cartas y discursos orales expresados durante
la acción ritual, guio muchas de las acciones bélicas durante los siguientes 50 años. Alrededor
de ella nació un nuevo pueblo, identificado a la vez por su espíritu belicista y autonómico y
por la devoción a la Cruz, los cruzoob (los de la cruz) o macehualoob. En la creación de una
realidad cosmológica y social, los cruzoob tomaron elementos de su propia tradición e
incorporaron otros, generando una síntesis creativa que les permitió afrontar el desafío de
crear una región autónoma y sostenerla en un contexto de guerra. Un elemento fundamental
de esta síntesis creativa lo constituyó sin duda la posición de la Cruz Parlante como autoridad
no humana y su ineludible presencia como interlocutor privilegiado frente a los actores de la
guerra: cruzoob, yucatecos e ingleses fundamentalmente. Este universo autónomo de
dimensión cosmológica creado por los cruzoob, se sostuvo también debido a las estrechas
relaciones que sostenían con comerciantes ingleses de la para entonces no definida frontera
México-British Honduras (más tarde Belice). Estos les vendían armamento y pólvora a cambio
del permiso para cortar caoba en su territorio. En una región alejada tanto del dominio de
Yucatán como del centro de México, una parte importante de la acción de los líderes era su
capacidad de negociar con los ingleses para obtener pertrechos de guerra. La negociación
implicaba una amplia gama de técnicas que podían incluir desde el establecimiento de
contratos hasta irrupciones armadas en pueblos bajo dominio inglés como forma de presión,
y contrastaban con el tipo de relación establecida con el gobierno yucateco. A partir de 1853,
los cruzoob se separaron en dos grupos; los “bravos” (que se negaron sistemáticamente a
establecer cualquier acuerdo de paz con el gobierno yucateco) y los “pacíficos” (que firmaron
la paz con Yucatán y vivían como estados independientes) La ponencia pretende identificar las
técnicas y los dispositivos de los cruzoob en sus relaciones con los comerciantes y las
autoridades del territorio de British Honduras en la acción de varios de sus líderes; en
particular Marcos Canul (de los “pacíficos”), Venancio Pec y Bonifacio Novelo (de los “bravos”).

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A partir de dicha identificación, la ponencia reflexionará sobre varios ejes que pueden permitir
comprender el liderazgo cruzoob durante el período bélico, considerando su complejidad. Se
trata de tomar en cuenta, por una parte, las estrategias relacionales diferenciadas con ingleses
de British Honduras y con yucatecos, y la distinción entre “bravos” y “pacíficos”. Por otra,
entender dichas estrategias en el contexto de las tensiones enfrentadas por cada líder
cruzoob: la acumulación-limitación del poder, la disposición-negación a aceptar acuerdos de
paz, y el tipo de relación que establecían con la autoridad no-humana de la Cruz Parlante.
Analizar las estrategias cruzoob puede además contribuir a un mayor entendimiento sobre la
construcción de la autoridad de los líderes y sus concepciones del poder y el accionar político.
Para realizar el análisis, me remitiré a datos y reflexiones contenidos en obras sobre la Guerra
de Castas como las de Reed (1964) y Dumond (2005) y a documentos de archivo de la Colonial
Office de British Honduras (actual Belice), resguardados en los National Archives de Londres.

Jefe Ojos Colorados. Formas de convivencia en los asentamientos de paz en el


noroeste de la Nueva Vizcaya 1790-1830

Clementina Campos Reyes

Hace más de 2 décadas William Griffen anotó que los apaches nunca comprendieron del todo
que los asentamientos mexicanos eran parte de una organización mayor que involucraba una
formación política que supeditaba el gobierno local estratificado en varios niveles hasta llegar
a ser nacional. Los apaches a su vez se organizaban en rancherías familiares políticamente
autónomas, por lo cual los acuerdos de paz no involucraban a la mayoría de los apaches, y
jamás tuvieron alcances mayores a los de las parcialidades. En el marco del complejo sistema
colonial existieron casos de jefes apaches que acordaban la paz por medio de negociaciones
directas con los capitanes de presidios y con las autoridades civiles durante el periodo
independiente. El caso del jefe o “cabecilla” Ojos Colorados muestra la movilidad que
sostuvieron las parcialidades apaches insertas en el sistema de asentamientos de paz. Al seguir
el rastro de este jefe y su parcialidad se hace evidente la situación apuntada por Griffen. Ojos
Colorados vivió durante largo tiempo al amparo del sistema presidial adscrito a la 2a Compañía
Volente de Namiquipa, lo cual no impidió que participara en la organización de una rebelión
en 1791. Es conocida la presencia de los asentamientos de paz en las diferentes colonias
militares, sin embargo, son poco claras las formas de convivencia entre estos grupos y los
pobladores de diferentes calidades integrados al sistema colonial, que se manifiestan por
ejemplo en la transferencia de conocimientos para tratar las enfermedades. En este sentido

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los informes de párrocos pueden ser de gran ayuda para precisar ciertas particularidades en
cuanto a las formas de convivencia.

ST 28 | Memória, História e o Ensino de História Indígena: pluralização de


perspectivas e enunciação de outras narrativas a partir do protagonismo e
autoria indígena
Cristiane de Assis Portela (Universidade de Brasília – UnB, Brasil); Susane Rodrigues de Oliveira
(Universidade de Brasília – UnB, Brasil).

Esse ST pretende reunir pesquisadores indígenas e não-indígenas que produzam reflexões sobre o
ensino da história indígena. Prioriza-se perspectivas críticas ao eurocentrismo, racismo e sexismo
presente nas narrativas hegemônicas. Esperamos discutir as dimensões epistêmicas e metodológicas
relacionadas à história indígena difundida e ensinada em escolas, universidades e outros espaços
educativos que promovem saberes e difundem imaginários históricos acerca dos indígenas (museus,
arquivos, narrativas audiovisuais, internet/redes sociais, literatura, artes etc.). Tendo como eixo
central de discussão a história indígena e seus aspectos formativos, serão bem-vindas pesquisas que
versem sobre a Lei 11.645/08 brasileira e legislação correlata em outros países da América Latina, bem
como relatos de experiências em escolas indígenas e cursos de formação intercultural em diferentes
países. Também propostas que tratem de projetos que valorizem a memória e história oral na
perspectiva de história pública, a análise e o reconhecimento de epistemologias indígenas, a educação
para as relações étnico-raciais numa perspectiva interseccional, a produção e uso de materiais de
autoria indígena, o conhecimento histórico produzido sobre e por povos indígenas e formas de
indigenização dos espaços educativos. As correlações entre memória, história e ensino de história
indígena buscam sinalizar narrativas históricas contrahegemônicas, destacando proposições, desafios
e enunciações junto às memórias coletivas e trajetórias dos povos ameríndios.

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Narrativas em disputa: apagamentos, tensões e resistência em torno da Base


Nacional Comum Curricular de História

Fabiana Rodrigues de Almeida

No início do século XX, Oswald Andrade dizia no emblemático Manifesto Antropofágico que
“antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade”. Somados
aos genocídios e à destituição do direito à terra, os povos originários tiveram sua narrativa
histórica sumariamente silenciada. Passamos a produzir, nos séculos seguintes, um tipo de
“comunidade imaginada”, tomando emprestado o conceito do historiador Beneditc
Anderson, cujo marco inicial da História do Brasil se vinculava ao contexto de ocupação
europeia. E dessa maneira, assumimos como identidade nacional a língua, o tempo, a
memória e a história dos colonizadores. Somente em 2008, com a sansão da lei 11.645, que
tornou obrigatória a discussão da história e cultura afro-brasileira e indígenas na educação
básica, fruto da conquista dos movimentos indígenas e indigenistas que ampliaram a lei
10.639/03, algumas modificações ocorreram no tratamento da temática indígena, muito
embora tenha assumido um lugar tímido nas matrizes curriculares. Hoje, nos deparamos com
um novo e enorme desafio educacional na defesa e na sustentação dessa lei diante de um
cenário de construção de uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A primeira versão da
BNCC para a área de História, que veio a público em 2015, assumiu enquanto centralidade as
questões socialmente vivas e relevantes, tais como o respeito à diversidade e a pluralidade de
ideias, bem como a valorização de princípios democráticos que envolvem a inclusão de
diferentes vozes na História. Tomados como princípios metodológicos na abordagem da
escrita da História, essa versão então rompia com o tempo histórico europeu quadripartite,
evidenciado por Jean Chesneaux. Diante da inovação curricular, as fronteiras existentes entre
o campo da História e do Ensino de História ficaram claras. Respaldados pela Associação
Nacional de História (ANPUH), muitos pesquisadores do campo de referência colocaram-se
contra a base, considerando sua construção arbitrária ao privilegiar uma análise do presente,
visto que “mataria a temporalidade”, assim como uma proposta “brasilcêntrica” apagaria dos
livros didáticos páginas consagradas da História ocidental. Na “guerra de narrativas”, uma
nova e definitiva versão para a área de História foi produzida por outra equipe de especialistas,
reforçando os cânones da narrativa tradicional. Nessa disputa de paradigmas em torno da
BNCC de História, nos cabe problematizar nesse trabalho “qual o lugar que a temática indígena
ocupará nas próximas décadas?” e, consequentemente, “que tipo de formação histórica a
BNCC reservará as novas gerações?”.

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A (re)denção da historiografia e a prática escolar: trocas entre saberes,


mobilizações e direitos étnicos

Tatiane Lima de Almeida

Alexandre Gomes Teixeira Vieira

Mikaela Moreno Vasconcelos Araújo

A educação intercultural enquanto via de ação política é urgente no sentido de mudança da


prática de ensino da história indígena tende a re-descobrir, tirar da invisibilidade, realocar na
história as várias etnias e maneiras de ser índio no Brasil, e o apagamento desses povos no
nordeste brasileiro. Esse clamor iniciaria por uma revisão, onde o resgatar desses povos
esquecidos da história venha redimir a própria historiografia do papel que teve em
negligencia-los. Este trabalho se propôs a realizar uma etnografia do ensino da temática
indígena nas escolas do município de Capoeiras/PE, a partir da percepção de docentes e
discentes. Para partir daí, intervir através da Pesquisa Ação em atividades no viés intercultural,
com isso realocar os índios no que diz respeito ao ensino da história. Pela importância do
estudo sobre os povos originários, a presente pesquisa visa contribuir com o diálogo entre
antropologia e educação, para que de fato possamos pensar o ensino como ferramenta de
mobilização no que diz respeito aos direitos étnicos. E que a sala de aula seja um ambiente
mediador de valorização e reconhecimento dos direitos das etnias existentes, principalmente
em contexto local e sua importância na formação cultural da sociedade. Com isso, pensar a
educação como mediadora de atores e mudanças sociais, um espaço onde o reconhecimento
e as mobilizações das comunidades tradicionais possam ganhar força e reconhecimento. O
diálogo respaldada na reflexão da Lei 11.645/2008, tendo em vista que a história indígena
tratada no âmbito escolar ainda está carregada de preconceitos e estereótipos, tal justificativa
se faz necessária, tamanha a carência de esclarecimentos diante do não reconhecimento do
índio enquanto sujeito de direitos e do tempo presente.

Os pilares de uma memória silenciada: ruídos e histórias indígenas em


Campos dos Goytacazes – RJ

Thamires Pessanha Angelo

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Esse trabalho foi desenvolvido a fim de compreender qual a relevância da história e memória
das etnias indígenas que um dia habitaram a antiga capitania de São Tomé, atual cidade de
Campos dos Goytacazes - RJ. Para elaboração dessa pesquisa utilizou-se como fontes iniciais
arquivos literários que continham relatos de viajantes que passaram por esse território
durante o período do século XV ao XX. Levando-se em consideração o que foi analisado e as
histórias desses povos tradicionais que foram elucidadas a partir da leitura dessas obras, o
presente trabalho optou por aplicar 58 questionários em turmas de primeiro, segundo e
terceiro ano do Ensino Médio de uma escola estadual do município de Campos dos Goytacazes
em maio de 2017 com intuito de perceber qual a ideia que os alunos possuem do índio e
principalmente descobrir se existe alguma relação do saber com a história e memória desta
cidade. Deste modo a justificativa desse estudo manifesta-se por buscar entender como o
conceito de memória pode está diretamente relacionado na construção identitária de um
povo, além de refletir acerca do papel da instituição escolar na manutenção dessa identidade.
O trabalho também discute sobre a importância da Lei 11.645/08 no processo educacional
como instrumento de “difusão” e visibilidade da história e cultura do povo indígena,
destacando a relevância do conceito de memória para a discussão da temática indígena no
Brasil contemporâneo. Ademais, vale lembrar que no Brasil, segundo dados do Censo
Demográfico realizado pelo IBGE em 2010, a população indígena atual era de 896,9 mil
advindos de 305 etnias distintas. No entanto, a população “não indígena” correspondia a
99,56% da população brasileira. Segundo os últimos dados do relatório do Conselho
Indigenista Missionário (CIMI) também podemos perceber que essa falta de informação frente
às comunidades indígenas e essa diferença entre a população “indígena” e “não-indígena”,
por vezes, tem colocado os povos indígenas em uma situação de vulnerabilidade em vários
âmbitos da sociedade brasileira visto que devido a falta de informação continuamos
reproduzindo a figura do indígena a partir de uma visão eurocêntrica e estereotipada em
relação aos seus hábitos e costumes culturais. Em síntese, diante das questões explicitadas
até aqui, essa pesquisa evidenciou como a história dos índios Goytacazes parece uma história
que esteve somente no passado onde com ele ficou todas as oportunidades de lançar olhares
para essas questões no futuro.

O ensino de história memória e tradição na escola indígena: uma forma de


afirmação da identidade étnica

Silvia Ayabe e Victor Ferri Mauro

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A educação escolar indígena no Brasil foi inicialmente conduzida por missionários jesuítas,
ainda no período colonial. Imposta e com o desígnio de catequizar os povos originários essas
práticas escolares buscavam preparar mão-de-obra para trabalho escravo. No decurso do
século XIX a finalidade já era outra, agora se tentava a civilização desses “bárbaros” com o
intuito de apropriar-se de suas terras e conseguir súditos para o Império. Em 1910 a criação
do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), colocou sob responsabilidade do Estado a
escolarização desses povos e mantinha uma política indigenista que visava assimilar as
populações indígenas à sociedade nacional. Organização que se manteve com a substituição
do SPI pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI), criada em 1967. Ainda que muito
prejudicados por todos esses prejuízos ocasionados pelo processo histórico, diversas
sociedades indígenas brasileiras aprenderam a conviver com essas mudanças. Com a
aprovação da Constituição de 1988, direitos importantes foram conquistados, sendo
primordial destacar o direito à diferença, que colocou fim à política assimilacionista do Estado,
assegurando aos povos indígenas o respeito pelas suas tradições e o direito a uma educação
singular e diferenciada. Nesse contexto, observa-se hoje uma demanda de preservação da
identidade étnica nas aldeias tendo a escola papel fundamental nessa luta. Por meio do ensino
de história muitos povos aspiram recuperar memória, tradições, saberes ancestrais e línguas
maternas tendo muitas vezes como professores os próprios intelectuais indígenas. Na cidade
de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, a escola municipal Sullivan Silvestre, localizada na
Aldeia Urbana Marçal de Souza, realiza anualmente a Feira Indígena Cultural, com o propósito
de revitalizar elementos da tradição. O evento, que conta com apresentações artísticas e
comidas típicas da etnia Terena, completa este ano a sua 21a edição, expressando a
resistência da comunidade indígena local.

Índios de Papel – Percurso Histórico da Construção Discursiva: Colonizadora


sobre os Indígenas

Marcos Rodrigues Barreto

Rosâgela Daiana dos Santos

Este trabalho tem como objetivo apresentar a construção histórica do pensamento


colonizador sobre os povos indígenas, utilizando como objeto de investigação os discursos
apresentados nas principais obras literárias luso- brasileiras, das quais apontam as estratégias
de consolidação do pensamento hegemônico por meio da inculcação ideológica da ação
catequética, opressão, proibição da língua, espoliação, desmoralização da cultura ancestral
indígena, negação da identidade e a reprodução destes conceitos sob a bandeira progressista
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que atua na sociedade não-indígena. A proposta é percorrer o processo histórico do discurso


de cristalização do pensamento sobre as culturas indígenas e homogeneização étnica,
convidando à reflexão sobre o poder simbólico que emana do discurso, partindo do
pressuposto que o discurso atua como ferramenta de construção da ordem hegemônica,
impedindo a presença da diversidade étnica e cultural indígena. Nesta direção, analisarem
aqui os registros diversos, dentre eles os literários e pictóricos, que servem como pistas para
identificar e remontar a história da presença indígena nos primeiros contatos com os
portugueses, na constituição da colônia em seu aspecto urbanístico, as relações conflitantes,
o imaginário do colonizador, o discurso civilizador que foi propagado em detrimento da
cultura indígena e reproduzido até o presente momento. Desta forma percorrermos os
discursos que confirmam a presença indígena no âmbito urbano, contudo tornaram a sua
identidade “original” opaca para perspectiva do não-indígena, porém o mesmo não pode ser
dito na perspectiva do nativo. O indígena em contato contínuo com espaço urbano, falante da
língua portuguesa e dominando as vicissitudes da dinâmica social da colônia, já não era visto
como indígena “primitivo e bruto”, tornando-se caboclo. O caboclo nada mais é que uma
identidade que nasce da tipificação, da negação, da diferença de indivíduos pertencentes (às
vezes) do mesmo grupo étnico, mas inseridos em contextos sociais distintos. Sendo assim, a
partir dos discursos institucionais foi edificado no imaginário da sociedade não-indígena que
no âmbito urbano não há espaço para o indígena, ainda que o mesmo esteja presente neste
espaço, a identidade é negada por normatividade social não-indígena. O “índio de papel”
descrito ao longo da literatura brasileira remete de forma análoga a “morte da narrativa”
descrita por Walter Benjamin, onde o documento instituído que arriscou delinear a realidade,
com pobrezas de histórias surpreendentes, aspirando uma verificação imediata com tom de
veracidade, não consegue dar conta da multiplicidade e pluraridade do ser indígena. O
indígena é como a narrativa oral: é flutuante, fixamente mutável, impossível de ser descrito
em sua totalidade, exceto por ele mesmo.

Fortalecendo epistemologias nativas a partir de vozes ressoadas pelas


narrativas históricas indígenas na universidade

Célia Nunes Correa (Célia Xakriabá)

Nesta comunicação destaco a importância de reconhecer as epistemologias nativas que são


anunciadas por diferentes corpos-territórios à luz das contribuições de estudantes indígenas
na universidade. Busco analisar como as produções de intelectuais indígenas brasileiros têm
se constituído como narrativas de insurgência e como elas circulam de forma ainda restrita no

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espaço acadêmico mais amplo. Interessa-me dialogar com as experiências vivenciadas em


minha trajetória como acadêmica e militante indígena, estabelecendo interlocução com vozes
dos coletivos de estudantes indígenas. Busco problematizar as questões que nos desafiam na
universidade a partir do momento em que produzimos nossas pesquisas. Pelo menos três
camadas de desafios se apresentam para os acadêmicos indígenas. O estranhamento do
próprio corpo ao habitar um território que não é o seu lugar de pertença é um primeiro desafio
à produção intelectual indígena, em especial entre mulheres indígenas. Uma segunda camada
diz respeito a lidar com os rigores e limitações epistemológicas dos códigos acadêmicos sem
que o nosso conhecimento tradicional e coletivo seja “desbotado”. Por fim, o maior dos
desafios parece ser o de provocarmos uma transformação que acolha outras narrativas e
metodologias de forma que nossas epistemologias nativas sejam reconhecidas como uma
forma de contar as nossas próprias histórias, pluralizando as narrativas construídas sobre a
história indígena ensinada no Brasil.

Indígena: diversidade cultural voltada para a prática pedagógica

Keyliane Maria Sousa Costa

Esta comunicação busca identificar aspectos ligados à Educação Escolar Indígena, com
destaque a uma educação especifica e diferenciada, no qual saberes tradicionais valorizados
pelos indígenas sejam objetos de estudo em escolas indígenas e valorizada pelas sociedades
em geral. O objetivo central desta pesquisa consiste em relacionar aspectos educacionais e
culturais das comunidades indígenas. Nesse estudo ressaltaremos direito à educação e o que
a legislação brasileira tem feito para garantir um ensino de qualidade as mesmas. Apesar de
ainda precisarmos avançar nesse aspecto, temos alcançados ganhos no que tange a criação
de leis que garantam esse direito universal. A metodologia empregada para a realização deste
estudo consistiu na pesquisa bibliográfica acerca dessa temática, utilizando a lei n° 10.172 e
as diretrizes curriculares nacionais para educação escolar indígena, as quais trazem uma serie
de orientações quanto ao trabalho a ser desenvolvido em sala de com a diversidade cultural,
Destaca-se a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996, no Artigo 78, na qual
também proporciona aos índios, suas comunidade e povos, a recuperação de suas memórias
históricas, a reafirmação de suas identidades étnicas. Hoje percebe-se que no brasil, os povos
indígenas têm o conhecimento sobre, seus valores simbólicos e tradições, na qual tem-se
processos de constituição de saberes e transmissão cultural para as gerações futuras. Sendo
assim, o assunto abordado é de grande relevância, e faz-se necessário conhecer e valorizar as
várias matrizes culturais presentes no país. Além disso, a presente pesquisa pode apontar

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caminhos para um trabalho escolar eficaz no que se refere ao ensino das culturas indígenas.
A educação escolar indígenas está sendo tema de muitos trabalhos e pesquisas e ainda
continua sendo um espaço pouco estudado. São raros os artigos encontrados sobre o assunto,
o que nos causa espanto e, ao mesmo tempo, desencadeia um grande fascínio, pois é um
tema rico enigmático. A escola torna-se espaço histórico de obrigação de valores e
entendimento para a inclusão de identidades espera-se que esse estudo acrescente a elas e
ajude a sociedade a subir mais um degrau na luta pela valorização cultural indígena.

A cultura indígena nos livros didáticos de Sociologia

Luiz Severino Da Costa Filho

Esta comunicação é um recorte da nossa dissertação de Mestrado Profissional de Sociologia,


que tem como investigação a visibilidade dada à cultura indígena nos livros didáticos de
Sociologia aprovados pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) nas edições 2012, 2015
e 2018. Entendemos que é fundamental a atuação da escola de Ensino Básico no
reconhecimento e valorização da diversidade cultural e étnica da sociedade brasileira,
considerando sua função na formação de cidadãos que precisam se reconhecer nessa
diversidade e que também precisam aprender a respeitar a diversidade na qual estão
inseridos. Por sua vez, é relevante o papel do livro didático no processo de ensino e de
aprendizagem no âmbito escolar. Assim, é preciso que os livros de Sociologia tratem a questão
da diversidade étnica e cultural, evitando questões estereotipadas que foram perpetuadas ao
longo dos anos no nosso país. Nesse sentido os debates que são promovidos na escola, a partir
de textos dos livros didáticos, precisam estar pautados na superação de equívocos, que
destacamos em nossa discussão, como a ideia de um grupo indígena homogêneo e a
divulgação do desaparecimento e da aculturação dos povos indígenas ao longo dos anos no
Brasil.

Oralidades, Memorias e Narrativas Mebengôkre: histórias de um povo “sem


escrita”

Dilma Costa Ferreira

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O presente trabalho propõe dialogar acerca das oralidades indígenas, sobretudo em


narrativas míticas do povo Mẽbêngôkre, as quais apresentam aspectos históricos e culturais.
Consideramos história, não a dita oficial, mas a história transmitida na oralidade desse povo
a quem foi negado o direito de delegar sobre a própria história. As histórias sobre os indígenas
que foram abordadas em materiais didáticos e em diversos veículos de informações, serviram
de base para construção de uma concepção do “índio” em nossas memórias que não condiz
com a realidade. Quanto aos aspectos culturais, as narrativas mitológicas dos Mẽbêngôkre,
são fontes de conhecimento, explicação da origem de diversos elementos da “cultura” e
remontam a história ancestral. Mergulhar na pesquisa sobre narrativas indígenas é se colocar
diante de narrativas que apresentam aspectos míticos, históricos e sociais, significando e re-
significando a voz dos ancestrais na contemporaneidade. Visto isso, reiteramos sobre a
necessidade de se considerar a oralidade como uma forma de expressão cultural, mas
também como fonte histórica e elemento essencial para a manutenção de rituais e
cerimônias, tendo em vista que estes foram apreendidos dos ancestrais míticos. Este trabalho
propõe uma discussão, baseado em fontes bibliográficas, mas o interesse maior foi buscar
esses elementos na oralidade desse povo, através da coleta de dados em campo, com
colaboradores da aldeia Krimejny, localizada no município de São Félix do Xingu/PA. Essa
pesquisa possibilitou o reconhecimento da oralidade como fonte de conhecimento que
permeiam gerações de indígenas Mẽbêngôkre, nos conduzindo o olhar às histórias de um
povo "sem escrita". Para tanto, se funda em análise comparativa dos dados obtidos em campo
e fontes bibliográficas de autores como Carvalho (2018); Lea (2012); Mano (2010); Neves
(2009), Melatti (1993) e Sahlins (1997).

Educação e Diversidade: História e Cultura do Povo Sateré-Mawé

Mirela Silva Ferreira

A pretensão deste futuro artigo é apresentar o Projeto de Extensão intitulado, “Educação e


Diversidade das Sociedades Indígenas: História e Cultura do Povo Sateré-Mawé” que está
sendo desenvolvido no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia - IFBA,
Campus Salvador e que objetiva no âmbito da Lei 11.645/2008, possibilitar o estudo e
valorização da cultura indígena, refletindo por intermédio da diversidade étnico-racial e com
ênfase na história e cultura do Povo Sateré-Mawé. São realizadas oficinas pedagógicas,
utilizando como metodologia, a cartografia social, cartografia tradicional, mostra de
documentários, palestras com pesquisadores, rodas de conversa e troca de experiências, no
espaço escolar do Instituto Federal da Bahia, voltadas para o Ensino Médio e o Ensino
Superior, envolvendo o total de mais de 200 pessoas (sendo estes, estudantes, colaboradores
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e professores), no intuito de compreender as lutas sociais, a economia e o processo migratório


de uma comunidade para outra, situada ou não numa mesma área indígena por motivos,
como por exemplo, o acompanhamento de familiares, à procura de trabalho, passando pela
educação dos filhos, a constituição de família, os conflitos na comunidade, assim como, o
reconhecimento da cultura Sateré-Mawé no contexto urbano manauense, através de suas
práticas e organização social e política relacionada ao território tradicional indígena e a nova
situação territorial em que este grupo social vive. Desta forma, concluo que, através da Lei No
11.645/2008, que estabelece o estudo da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena no
ensino, as ações deste projeto de extensão, têm como finalidade a valorização da temática
indígena em sala de aula, que possibilitará na construção do diálogo intercultural, de
reconhecimento das diferenças étnicas em ambiente educacional, dos processos educativos
para desconstrução/superação de estereótipos, preconceitos, discriminações, a partir do
respeito às diferenças culturais, dos seus conhecimentos e de suas práticas, em especial, a do
Povo Sateré-Mawé, promovendo o rompimento da visão etnocêntrica, eurocêntrica e sexista
em relação a imagem do indígena.

Narrativas do povo: o conhecimento tradicional registrado sob a autoria


indígena coletiva

Aline da Silva Franca

A autoria indígena é um fenômeno consolidado no Brasil. Escritores de diversos povos


indígenas, de todas as regiões do Brasil, têm demonstrado que o poder da palavra escrita (seja
através da literatura, de conteúdos didáticos ou informativos) serve muito bem aos povos
cujas raízes culturais estão tradicionalmente fincadas na oralidade. Das diferentes
experiências de autoria possíveis, a escrita indígena inaugurou uma forma característica de
atribuir a propriedade intelectual aos seus conteúdos: a autoria do povo. Neste formato, não
há um indivíduo ou entidade ao qual a criação do conteúdo seja atribuída. O povo, como um
todo, é reconhecido como detentor da propriedade intelectual sobre o conteúdo produzido.
A comunidade se torna igualmente responsável pelo conhecimento tradicional registrado,
considerando- se que este conteúdo é baseado em um saber ancestral e que não se encerra
em uma pessoa ou outra. De forma geral, tratam-se de obras que representam o
conhecimento de um povo, desenvolvido e refinado pela experiência cotidiana, que não
poderia pertencer a indivíduos determinados e sim à comunidade. O objetivo desta
comunicação é refletir sobre a autoria indígena coletiva realizada no Brasil, considerando sua
contribuição para a preservação dos conhecimentos tradicionais. Neste cenário, a relevância
deste estudo justifica-se ao considerar a consolidação da autoria indígena em suas múltiplas

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modalidades, sendo necessário compreender o contexto de desenvolvimento e a composição


da propriedade intelectual designada nas publicações. As obras (enquanto criações artísticas
do espírito), que anteriormente estavam presentes nos cantos, narrativas, pinturas e
artesanato, passam a fazer parte também do texto escrito, sendo este uma ferramenta a mais
na manutenção das tradições e identidades. A relação dos autores indígenas com a escrita,
seja em sua língua materna, seja no idioma português, representa um significativo benefício
para a sociedade em geral pelo caráter auto-representativo e a possibilidade do
estabelecimento de um discurso contra hegemônico.

Escrevendo relatos sobre a história de resistência de um povo: o massacre de


70 índios Tapuias Paiacus do Apodi

Maria Mônica de Freitas

Gilton Sampaio de Souza

A matriz histórica e cultural indígena no Brasil inteiro, por isso também no Estado do Rio
Grande do Norte, onde se inclui o litoral e o sertão desta unidade da federação, é muito forte.
Relatos sobre fatos, conflitos, invasões, massacres e genocídios são muito incisivos na
memória histórica de ascendentes em todo o país em todas as regiões. No Estado do Rio
Grande do Norte, mais especificamente na então região do Médio e alto Oeste, tudo isso faz
parte da memória imaterial de pessoas que se autoafirmam pertencentes a ascendência do
povo Tapuia Paiacu. E um dos fatos ocorrentes no século XIX, mais precisamente no dia 03 de
novembro de 1825 torna- se tema de uma proposta de intervenção realizada mediante
intervenção do Mestrado Profissional em Letras do PROFLETRAS DA Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte – Campus Maria Elisa de Albuquerque Maia (CAMEAM), localizado na
cidade de Pau dos Ferros, situada também na mesma região que na época colonial e imperial
era conhecida como Ribeira do Apodi (RN). O objetivo deste trabalho é apresentar o relatório
da intervenção que foi trabalhada numa turma de 9o ano do Ensino Fundamental, abordando
a temática referente ao massacre de 70 índios Tapuia Paiacu, ocrrido na serra de Portalegre
(RN), no ano de 1825. O projeto de intervenção se situa na área de ensino de Produção de
Texto em Língua Portuguesa e contempla dispostivos da Lei 11.645 (2008) que acrescentou a
obrigatoriedade do ensino da cultura e história indígena à lei 10.639 (2003) do qual dispõe o
art. 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) no 9.394/96, reformulado a partir do
Caput com redação dada pela Lei no 12.796, de abril de 2013. Contemplou-se ainda, a
proposta de Paulo Freire (1987; 1999; 2002) sobre Tema Gerador para a escolha do tema,
articulação dos círculos de cultura em sua abordagem e diálogos com os alunos, da teoria dos
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gêneros do texto/ discurso, com base em Bakhtin (2003) e dos módulos didáticos de Bronckart
(1999). Após os círculos de cultura, pelos quais dialogamos com os alunos sobre a história dos
Tapuia Paiacu e dos massacres sofridos por essa etnia indígena, do silêncio histórico após
1825, quando ocorreu o massacre das dezenas de índios na serra de Portalegre, eles foram
orientados a escrever o relato do referido fato. Configurando-se assim, uma projeto de ensino
de produção textual com abordagem de fatos que estão na memória de ascendentes
indígenas que ainda vivem na região do médio e alto Oeste e que tentam reelaborar sua
história e cultura por meio de uma entidade associativa denominada Centro Histórico Cultural
Tapuia Paiacu da Lagoa de Apodi (CHCTPLA), fundada por uma ascendente Paiacu, de nome
Lúcia Maria Tavaris e conhecida como Lúcia Paiacu.

Jepuruvô Arandú “utilizando sabedoria”: uma experiência com educadores e


gestores em torno da temática indígena nas escolas do Rio Grande do Norte

Jussara Galhardo Aguirres Guerra

Maria Gorete Nunes Pereira

No Rio Grande do Norte, a partir do ano de 2000 surgiram estudos acadêmicos em busca de
respostas em torno da problemática indígena no estado. Tais pesquisas passaram a favorecer
o surgimento de um novo cenário político e ideológico, que se configurou mais efetivamente
a partir do ano de 2005, com a realização da I Audiência Pública organizada e realizada pelos
esforços conjuntos do Grupo Paraupaba3 de Estudos da Questão Indígena no Rio Grande do
Norte, da FUNAI de João Pessoa-PB, das lideranças indígenas Potiguara da Paraíba, dos
representantes indígenas das comunidades no estado, além de parceiros institucionais,
colaboradores e membros da sociedade civil. A partir do ano de 2013 a Associação
Comunitária do Amarelão - João Câmara, no Rio Grande do Norte junto a colaboradores
enviaram ao MEC a iniciativa “Jeporuvô Arandú”, recebendo aprovação do Prêmio Culturas
Indígenas - edição Raoni Metuktire. A partir de então, esse projeto foi colocado em prática
por uma equipe de representantes indígenas sob a coordenação de Tayse Campos4, além de
educadores e antropólogos com vistas a apresentação de seminários sobre a temática
indígena na escola de acordo a Lei 11.645/2008. Esses encontros aconteceram em municípios
onde há grupos indígenas no Estado, a exemplo de Açu, Canguaretama, Goianinha, João
Câmara, Baía Formosa e Macaíba. O referido trabalho teve como escopo redimensionar a
temática indígena em sala de aula e nos currículos escolares dentro de uma perspectiva
intercultural, de respeito e de pensamento crítico, tendo alcance para além do conhecimento

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e dos discursos autorizados de uma historiografia de negação e de ocultamento dos indígenas


no estado.

Descolonização dos currículos: Lei 11.645/2008 na construção do


reconhecimento pluriétnico

Joselaine Dias de Lima Silva e Eliseu Possato

Nas últimas décadas têm surgido no Brasil inúmeras leis e decretos cujo objetivo é corrigir
injustiças, eliminar discriminações e promover a inclusão social e a cidadania para todos no
sistema educacional brasileiro. Esses dispositivos legais nascem mediante a mobilização e
ações de diversos segmentos da sociedade organizada. Nesse sentido, a Lei 11.645/2008 vem
como resposta aos anseios e exigências das centenas de etnias indígenas existentes em todo
o país, que também querem ter suas histórias e tradições representadas e incluídas nas
propostas curriculares de ensino. O estudo desse artigo procura, partindo de uma reflexão da
teoria decolonial analisar tal Lei e as dificuldades e limitações de uma efetiva aplicação da
mesma. Ocorre uma investigação de como acontece o processo de inclusão da temática
indígena no campo do ensino, destacando a necessidade da descolonização de um
pensamento único e universal, adentrando nos currículos a inclusão da visão histórico cultural
a partir dos indígenas. A discussão do tema será pautada na Lei 11.645 e em autores
contemporâneos indígenas e não indígenas que dialoguem com o tema e com uma proposta
curricular que supere a hegemonia eurocêntrica dos espaços escolares reconhecendo e
respeitando as diferentes manifestações, sejam elas indígenas ou não. Assim, nesta pesquisa
analisa-se o cenário sociocultural, político e econômico considerando que em pleno século
XXI, ainda vivenciamos a discriminação racial, social e cultural, onde os povos indígenas são
considerados inferiores, são subalternizados e excluídos. A questão da descolonização tem
sido objeto de muitos estudos nos últimos anos, surgindo à necessidade de aprofundamentos
do tema. A aquisição desse caráter epistemológico é resultado dos novos questionamentos
originados no seio das sociedades latinas, sobre o pensar do indígena na construção da
história. Portanto, a importância da análise consiste em incluir o estudo da cultura indígena
nos currículos, bem como deixar claro que muito além de apenas respeitá-las é indispensável
conviver e interagir com essa diversidade. As discussões sobre a decolonialidade dentro do
pensar a partir das ideias e concepções histórico-cultural dos indígenas auxilia na ação voltada
para a luta dos direito e afirmação da identidade étnica, no qual poderão demonstrar que são
sujeitos ativos da história, uma vez que, o discurso hegemônico por séculos não deu ouvidos
às vozes subalternas. Serão analisados também os aspectos étnico-racial, as interações, as

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convergências e os processos de exclusão e inclusão na perspectiva sócio educacional do


Indígena nas escolas públicas e privadas. Assim, a partir da realização de diversas leituras em
livros e documentos bibliográficos será apresentada também sobre a necessidade de inserir
no ensino-aprendizagem diversos aspectos da história e da cultura indígena que juntamente
com a cultura negra caracterizam a formação da população brasileira, incluindo as suas
contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes ao país.

Narrativas xavante sobre o contato

Sílvia Clímaco Mattos

Esse trabalho tem por objetivo apresentar algumas narrativas históricas de velhos narradores
xavante, entrevistados em 2017 e 2018, nas Terras Indígenas Parabubure e São Marcos,
Estado do Mato Grosso, sobre o contato com os não-índios, ocorrido entre as décadas de 1940
e 1950. A reflexão sobre a gênese do homem branco propiciada pelas situações de contato
aparece em diferentes histórias e mitologias indígenas, e se difere da gênese dos povos
indígenas, inclusive daqueles considerados “estrangeiros” ou inimigos. Autores como
Carneiro da Cunha (1992, p. 18) afirmam, que, mais do que a ideia da simples alteridade, a
gênese do homem “branco” introduz o tema da desigualdade de poder e da tecnologia,
gerando inúmeras narrativas explicativas e especulativas entre os povos indígenas, inclusive
entre o povo Xavante. Nos relatos obtidos através de entrevistas realizadas junto a dez
indígenas das Terras Indígenas Parabubure e São Marcos, em conformidade com os métodos
e técnicas de história oral, os narradores contam sobre os primeiros tempos do
contato interétnico, intercalando narrativas de fatos e acontecimentos históricos,
vivenciados quando eram ainda jovens ou crianças, com impressões culturais sobre os
chamados homens brancos, que perpassam desde os seus comportamentos até suas
características físico-corporais. Nos relatos, são frequentes as manifestações de raiva e
indignação acerca das condutas dos não índios, eventualmente adjetivados de maneira
pejorativa pelos narradores, conforme podemos observar na seguinte fala de Daniel
Tsi’õmõwẽ Wari: “Quando penso no homem branco, fico com raiva porque eles não têm
educação e são impiedosos, já matavam nossos ancestrais por causa da terra, para ficarem
vazias essas terras para eles”. Nas narrativas, certos bens materiais também funcionam como
referências simbólicas de afirmação da alteridade dos não índios, tal como ocorre com as
armas de fogo, capazes de amplificar a capacidade bélica e destrutiva de seus portadores e
que explicariam a desigualdade de poder verificada entre eles e os Xavante. Também são
frequentes os relatos sobre as doenças trazidas pelos não índios e logo transformadas em
epidemias que dizimaram parte da população xavante nas duas primeiras décadas do contato
interétnico. Os relatos sobre as doenças, associados às narrativas dos massacres surpresa
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contra as aldeias ocorridos no período do pré-contato contribuem para forjar a construção de


uma alteridade maléfica do homem branco, difundida entre os indígenas. Ao longo do
trabalho, as diferentes percepções dos narradores sobre distintos aspectos do contato
interétnico serão apresentados e contextualizados historicamente de modo a compor aquilo
que denominamos de “narrativas do contato”.

A ‘nova’ história indígena em sala de aula: reflexões e narrativas a partir da


práxis

Maria Geralda de Almeida Moreira

A ‘nova’ história indígena apresenta, em suas narrativas, não um ‘novo’ sujeito, mas uma nova
perspectiva de análise que tem alavancado a produção do conhecimento sobre esses povos.
Ao mesmo tempo, uma nova vertente tem se afirmado: a história produzida pelos indígenas.
Todavia, tais abordagens e conhecimentos produzidos não têm ultrapassado as fronteiras da
universidade, dos núcleos e grupos de estudos e pesquisas para impactar efetivamente a
formação de professores e a prática em sala de aula, visto que os espaços educacionais, em
sua maioria, continuam ignorando tais mudanças. Assim, o silêncio e as abordagens negativas
são suas características mais marcantes e extremamente prejudiciais à interculturalidade no
território educacional, pois as abordagens negativas reforçam os estereótipos, já que
pressupõem o índio como indivíduo de uma cultura estável. Desta feita, ao ignorarem as
transformações das culturas indígenas, negam lhes historicidade e, consequentemente, as
suas estratégias para resistirem ao violento processo de expansão do capital sobre seus
territórios tradicionais e para sustentarem sua identidade étnica. Portanto, descolonizar os
conhecimentos constitui-se em condição necessária para que possamos, efetivamente,
incorporar a ‘nova’ história indígena no espaço educacional e fazê-lo, não somente por meio
das narrativas produzidas por não indígenas, mas pelos indígenas. E aqui não se trata apenas
da Educação Básica, mas da Educação Superior, pois o processo de formação de professores
não pode se eximir, uma vez que não é possível ensinar aquilo que não se sabe! Desta forma,
cabe aos formadores, aos cursos de graduação, oferecer a formação para que futuros
professores tenham consciência dos processos históricos vivenciados pelos povos indígenas
e, assim, consigam compreendê-los como sujeitos históricos, com culturas e saberes distintos
e não inferiores. Partindo desta concepção e visando a ultrapassar os muros da universidade
e até mesmo dos grupos de estudos e pesquisas, em 2014 propusemos o Subprojeto do PIBID
com o tema: Educação para a Diversidade: da formação de professores à sala de aula e, em
2018, o projeto de Extensão: Cidadania, Diversidade e Cultura da Paz. Para tanto, as ações
desenvolvidas tiveram como objetivo proporcionar aos graduandos o estudo da temática
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indígena, conhecer escritores e obras sobre o tema e propor metodologias para a socialização
do estudado em escolas de Educação Básica. Analisar essas experiências constitui-se em nosso
objetivo nessa comunicação, bem como compreender como as ações desenvolvidas
contribuíram para a formação dos participantes – egressos do Curso de História - e para a
inserção em sala de aula da temática indígena conforme estipula a lei 11.645/2008.

A História Indígena no museu: olhares para a educação patrimonial no Museu


Antropológico de Ituiutaba (MUSAI)

Tássita de Assis Moreira

O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre as possibilidades de estudo sobre a
história dos povos indígenas, a partir das práticas pedagógicas e museológicas presentes no
Museu Antropológico de Ituiutaba (Minas Gerais, Brasil). Considerando a influência da
historiografia clássica brasileira dos séculos XIX e XX na construção de concepções sobre os
povos originários deste território, observa-se a necessidade de desenvolver mecanismos que
viabilizem a valorização das culturas indígenas e do papel do indígena como sujeito histórico,
a fim de minimizar impactos de estereótipos negativos e preconceitos, baseados no
pensamento colonial e na visão eurocêntrica. Para isso, este trabalho recorre ao levantamento
bibliográfico de estudos sobre a população indígena da região do Triângulo Mineiro, nas áreas
de História, Antropologia, Arqueologia e Museologia. Partindo também da pesquisa de campo
realizada no museu, fundamentando-se na Educação Patrimonial como pressuposto teórico-
metodológico, é preciso compreender o desenvolvimento e o potencial das pesquisas
referentes ao acervo e as atividades do Museu Antropológico de Ituiutaba. Uma vez que o
levantamento de fontes realizado apresenta materiais que podem ampliar as pesquisas sobre
a região, notam-se possibilidades para pensar em alternativas cabíveis para a construção de
saberes emancipatórios a respeito da história dos povos indígenas brasileiros.

"Índios do Brasil": Uma reflexão decolonial

Henry Albert Yukio Nakashima

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A lei 11.645, que incluiu no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática
“História e Cultura Indígena”, assim como todas as leis relacionadas ao tema, como os artigos
231 da Constituição Federal, são iniciativas do Estado para garantir os direitos dos povos
originários. Entretanto, a despeito desse reconhecimento, a estrutura social brasileira está
inegavelmente alicerçada em moldes nitidamente positivistas, racionalistas e
desenvolvimentistas, portanto, colonialista. Do outro lado estão os povos originários que
possuem vasta gama de entendimentos do mundo, modos de viver, culturas e pensamentos.
Estão postas as contradições. Não por acaso, durante todo o século XX – e ainda hoje -,
pesquisadores, políticos e a sociedade civil debateram sobre sua integração ou não sem
chegar a uma resposta definitiva. Mais recentemente, remetendo À lei que abre esse texto,
professores do país se viram diante do imenso desafio que é abordar os povos originários sem
seguir pela sedutora seara do preconceito e da discriminação, quando é o caso. Há por volta
de 305 etnias, que falam 274 idiomas, todas aglutinadas em conceito (“índios”, por exemplo)
e ideias historicamente carregados de ideologias. A primeira adversidade a ser superada é a
desconstrução que cada um deve realizar para encerrar o ciclo que tão inadvertidamente se
propaga. Descontruir a si mesmo para ter condições mínimas de trabalhar com alteridade.
Assim, o objetivo desse artigo é buscar uma alternativa ao pensamento hegemônico vigente
acerca dessas populações. A partir de autores decoloniais, pretende-se refletir sobre como a
colonialidade do poder, do ser e do saber se estruturam no pensamento brasileiro,
consequentemente, no modo de ser, saber e pensar em relação aos povos originários, criando
todas as contradições e dificuldades.

As práticas sociais dos povos indígenas no livro didático de Matemática

Maria Jose Almeida do Nascimento

Este trabalho ressalta a importância de apresentar contextos significativos para a


aprendizagem da Matemática no Ensino Básico, retratando a diversidade étnica e social do
Brasil. Trata-se de um recorte de discussões que temos levantado a partir de pesquisa sobre
os tipos de contextos nos livros didáticos de Matemática do Ensino Médio. É pertinente
ressaltarmos que o processo de aprendizagem da Matemática tem se mostrado um desafio
que tem levado educadores a procurar alternativas que favoreçam a aprendizagem dos
conceitos matemáticos pelos estudantes. Nessa perspectiva a contextualização da
Matemática tem ocupado um papel relevante. Nesse sentido buscamos refletir os tipos de
contextos considerando o público de estudantes que estão envolvidos no processo de
aprendizagem da Matemática no Ensino Básico. Entre os contextos desenvolvidos nos livros
didáticos, destacamos os contextos das práticas sociais e levantamos algumas questões. Esses
tipos de contextos, em sua maioria, não expõem situações que contemplem a diversidade

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étnica da sociedade brasileira. Não se observa alusão às práticas sociais dos povos indígenas,
expondo uma situação de indiferença a essas sociedades.

Decolonizando o ensino de história indígena em uma oficina pedagógica para


estudantes do Ensino Médio

Rodolfo Santos Nunes

Esta comunicação apresenta os resultados de uma experiência de pesquisa por meio da


aplicação de uma oficina pedagógica decolonial para estudantes do nível médio em uma
escola do DF, com o objetivo de “desconstruir” representações históricas, estereotipadas e
racistas sobre povos indígenas. A partir da leitura, interpretação e debate de uma fonte
histórica do período colonial e de dois materiais audiovisuais produzidos por indígenas, os
estudantes produziram narrativas em sala de aula que possibilitaram a análise de suas
representações e aprendizagens em torno da história indígena. A oficina buscou estimular o
desenvolvimento do pensamento histórico dos estudantes sobre o protagonismo indígena nos
tempos coloniais, por meio de análises e reflexões sobre a relação passado-presente, de forma
crítica e autônoma.

Oficina dossiê indígena: deslocando pontos de vista eurocêntricos

Kátia Luzia Soares Oliveira

Esta comunicação descreve a trajetória metodológica da “Oficina Dossiê Indígena”. Trata-se


de proposta didático-pedagógico de efetivação da Lei 11.645/08. Com o objetivo de deslocar
pontos de vista eurocêntricos entre estudantes do segundo ano do Ensino Médio de uma
escola pública da cidade de Barreiras, no Oeste da Bahia, desenvolvi, de forma experimental,
a sequência didática “Oficina Dossiê Indígena”. Essa é composta por três etapas que envolvem
atividades de diagnóstico, intervenção e reelaboração textual. Na primeira etapa os/as
alunos/as produziram narrativas sobre povos indígenas, tendo como ponto de partida as
seguintes questões:1.O que significa ser indío? 2. O que aconteceu às populações indígenas
com a chegada dos colonizadores? 3.Como descreveria uma sociedade indígena? 4. Qual a
importância do estudo da História Indígena? Foi possível perceber nas narrativas discentes
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uma concepção genérica sobre as populações indígenas, remetendo a presença desses povos
a um passado distante. Também sobressaiu nas narrativas a ideia de uma identidade indígena
única e inalterada. Após a identificação desses e outros estereótipos, desenvolvi como
segunda etapa um oficina de leitura de textos voltados para problematização de tais
estereótipos com objetivo de permitir aos/as alunos/as a reconstituição de suas narrativas
sob um olhar crítico e multirreferenciado. Por fim, na terceira as narrativas produzidas na fase
de diagnóstico foram reelaboradas pelos grupos e expostas oralmente. Foi possível apreender
que os alunos apresentaram na reescrita de suas narrativas um olhar menos superficial sobre
a História Indígena. Em detrimento do exotismo e das diferenças com o “homem civilizado”
sinalizaram para a complexidade e a diversidade cultural dos povos indígenas.

Histórias indígenas, histórias do possível acerca do sexo/gênero

Susane Rodrigues de Oliveira

Esta comunicação discute a importância de “histórias do possível” acerca das identidades e


relações de sexo/gênero nas sociedades indígenas latino-americanas. A partir de fontes
históricas e textos historiográficos, buscamos conferir visibilidade a outras formas de pensar
e conceber o corpo, o sexo/gênero, as identidades, a sexualidade e as relações humanas em
sociedades indígenas de tempos pré-coloniais e coloniais. Tendo como premissa básica a
inexistência de uma “natureza” que comandaria inexoravelmente os relacionamentos entre
homens e mulheres, tais histórias expõe a diversidade das identidades e relações humanas no
tempo/espaço, desfazendo estereótipos e premissas de sexo/gênero binárias, hierárquicas,
eurocêntricas, colonialistas, sexistas e racistas. Com base em estudos feministas decoloniais e
pós-coloniais acerca do colonialismo e a introdução de concepções de gênero binárias
hierárquicas nas sociedades ameríndias, discutimos ainda as relações entre colonialidade do
gênero, epistemologia da história, ensino de história e outras possibilidades de existência para
as mulheres indígenas na história.

La construcción de la diferencia a partir de las creencias entre los pueblos


mixtecos de Oaxaca

Nicolás Olivos Santoyo

La región de la Mixteca Alta de Oaxaca se caracteriza por ser el espacio físico donde se
emplazan más de 200 localidades, entre agencias y municipios, habitadas por hombres y
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mujeres que se identifican con la cultura mixteca y la etnicidad nú saavi. Se trata de una región
que aparentemente muestra una homogeneidad cultural que se configura a partir de que los
sujetos que se reconocen en dicha cultura comparten una serie de rasgos étnicos en común.
Sin embargo, desde la propia variación lingüística del tun saavi, las diferencias de los trajes
tradicionales, los paisajes y lugares sagrados, hasta las historias orales y los mitos de fundación
de los pueblos como actos de fragmentación y escisión, la autoconsciencia regional de que
entre pueblos y sujetos mixtecos se es más diverso que homogéneo es algo que se reafirma
cuando se habla con las gentes provenientes de dichas localidades. Un elemento que se
emplea para marcar la diferencia lo encontrarnos también en el campo de las creencias y las
prácticas rituales y médicas tradicionales, en particular me refiero a la forma en que cada
pueblo y localidad expresan su noción de nahual. Cada comunidad afirma que su creencia en
nahuales les pertenece y los hace diferentes de los pueblos adyacentes. Incluso el propio
análisis de las narrativas y los símbolos con los que las personas cuentan sus testimonios de la
existencia de la creencia y las prácticas rituales vinculadas a ésta, resalta la particularidad en
que se expresa esta visión del mundo en cada uno de los pueblos mixtecos. La intención en
este trabajo es mostrar desde la etnografía comparada cómo se construyen estas diferentes
versiones en algunas de las localidades mixtecas en que he trabajado. Se trata de afirma que
si bien estamos ante un particular tipo de creencia que se comparte incluso con muchos
pueblos de origen mesoamericano, el ejercicio de construcción de la distinción entre los
pueblos de la región, nos permite reconocer todo una forma rizomática de expresión de una
visión del mundo compartida pero ejercida desde la diferencia. Así, contrario a los supuestos
que fundaban las concepciones de la etnicidad y la comunidad en la literatura clásica de las
ciencias sociales, sostenemos aquí que la creencia y las visiones del mundo no necesariamente
tiene que ser homogéneas ni compartidas en su totalidad, sino que estas también pueden
funcionar como un dispositivo desde el cual se construye y se afirma la propia diversidad y
alteridad al interior de una región étnica.

Pachamama Editora- O protagonismo da Mulher indígena na História: O


registro dos Povos Originários por meio da publicação de livros bilíngues

Aline Rochedo Pachamama- Churiah Puri

Protagonizada por Mulheres Originárias e alinhada com o ideário de democratização da leitura


e da escrita, a Pachamama Editora publica obras que contemplem as Culturas dos Povos
Originários em livros bilíngues, registrando os saberes, a história ancestral e a do tempo
presente. Com o diferencial de publicação de livros bilíngues e com a equipe formada por
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mulheres, acreditamos que a palavra escrita é diálogo, afeto, espaço de memória e um


movimento que se propaga. Apresentamos nas narrativas dos livros, além do idioma,
especificidades como histórias orais de mulheres originárias, costumes, medicina,
espiritualidades, danças, músicas dentre outros elementos culturais. As publicações
evidenciam a presença dos Originários na sociedade e a valorização de seus autores.
Defendemos o Idioma como Patrimônio Imaterial dos Povos Originários, que representa uma
produção simbólica carregada de diferentes valores e capaz de expressar as experiências
sociais, costumes e a existência das etnias. A importância de conservar o que consideramos
parte de um patrimônio está no fato deste se constituir como registro da cultura, da expressão
artística, da forma de pensar e sentir das comunidades Originárias, que vem sendo aniquiladas
ao longo de nossa História. Ressaltamos ainda que, desde 2008, com a implantação da lei
11645, o ensino de Culturas e Literaturas Africanas, Afro-brasileiras e Indígenas tornou-se
obrigatório nas redes públicas e privadas de todo território nacional. Ainda é precária e
lacunar a sistematização de tais saberes na Educação Básica brasileira. Assim, a publicação dos
livros de autoria dos Originários constitui importante referência tanto para indígenas quanto
para não indígenas. Em tempos em que os territórios dos Povos Originários estão muito mais
ameaçados, a palavra é uma forte aliada às nossas lutas. Trata-se de um território imaterial
de possibilidade de divulgação de nossas urgências e de nossa cultura. Boacê macaporôh,
metlon, guê. A palavra é afeto, força e vida. (www.pachamamaeditora.com).

Protagonismo e autoria indígena em materiais didáticos: a história na


perspectiva indígena

Ana Roberta Uglo Patté

Marcos Vesolosquzki

Kassiane Schwingel

Esta comunicação traz o relato de uma experiência de elaboração de material didático, a partir
do protagonismo de 4 jovens universitários e universitárias indígenas de povos diferentes:
Kaingang, Mbya Guarani, Apurinã e Laklano/Xokleng. A construção, possibilitada e
acompanhada pelo Conselho de Missão entre Povos Indígenas (COMIN), baseou-se no relato
das tradições e narrativas orais dos povos envolvidos para posterior escrita. Essa experiência
ocorreu durante todo o ano de 2018, sendo que em 2019 o material está sendo distriuído.
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Como a temática proposta para o material era o preconceito com povos indígenas, os jovens
e as jovens buscaram mostrar nas histórias contadas pelos velhos e velhas a origem dos
preconceitos. Mas também, preocuparam em apontar aspectos da narrativa histórica
eurocêntrica que ignora a presença indígena ou a apresenta conforme sua interpretação, sem
levar em conta os modos de ser e viver dos povos indígenas. Ao refletir sobre o processo de
construção deste material, acredita-se que o protagonismo indígena na decisão dos enfoques
que precisavam ser dados foi fundamental, pois o material consegue apontar demandas atuais
dos povos indígenas, que possuem origem em uma história de colonialismo e massacre.
Também esta construção foi um exercício importante para os universitários e universitárias
indígenas em relação à linguagem escrita, especialmente por o material ter como público
crianças não indígenas, a partir de 10 anos. Com o material concluído, o mesmo é distribuído
em escolas de diversas regiões do país, para que os professores de diferentes áreas do
conhecimento possam primeiramente retrabalhar seus próprios preconceitos e depois usar o
material como ferramenta em sala de aula. Assim, a perspectiva indígena em relação à história
do Brasil e como a sociedade brasileira silenciou, ignorou e invisibilizou a presença e saberes
indígenas estará registrada e disponibilizada para educadores e educadoras que se
comprometem com um trabalho junto sobre povos indígenas no Brasil.

O Ensino de História Indígena na Educação Básica a partir da obra “metade


cara, metade máscara” de Eliane Potiguara

Cristiane de Assis Portela

Nesta comunicação analiso as potencialidades de uso da obra literária Metade cara, metade
máscara da escritora indígena Eliane Potiguara no ensino de História na educação básica.
Apostando em pedagogias fundamentadas na autonomia, na resistência e na transgressão,
proponho uma metodologia de trabalho que desenvolva as noções de narrativas
autobiográficas e história ficcionada como caminho insurgente para a história indígena
ensinada. Teoricamente, problematizo as concepções da escrita como lugar de opressão e ao
mesmo tempo espaço potencial de transgressão, conforme proposto em bell hooks e Glória
Anzaldúa. Metodologicamente, a concepção de escrevivência de Conceição Evaristo nos
indica caminhos para compreensão dos procedimentos narrativos de autorrepresentação
enunciados por Potiguara, problematizando junto aos estudantes os conceitos históricos, as
concepções de temporalidade e os estereótipos construídos hegemonicamente no ensino de
história indígena. A análise problematiza o lugar da memória, da história, das escritas de si, do
corpo indígena e seus deslocamentos por fronteiras físicas e simbólicas, a reverberação das
vozes de mulheres indígenas, bem como as instâncias legitimadoras daquilo que pode ser
reconhecido como material didático. Sinalizo a urgência de se ampliar na escola o diálogo com
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outras expressões autorais indígenas brasileiras, em especial com as narrativas literárias de


base oral ou escrita, os textos acadêmicos, o cinema/audiovisual e outras artes.

"Essa história mentirosa não é nosso passado": O rap indígena como insumo
no ensino de história e cultura indígena
Diogo de Lima Saraiva

No Brasil, o ensino de história e cultura indígena não é somente uma obrigação legal, instituída
pela lei 11.645 de março de 2008, mas também um imperativo moral na busca de remediar
séculos de representações preconceituosas e violentas que garantiram um ambiente
epistêmico que justificasse a dominação e enocídio/epistemicídio indígena. No entanto,
existem uma série de dificuldades para garantir que o ensino de história e cultura indígena
não reproduza as antigas representações, tão enraizadas nas mentes da população não-
indígena brasileira. Para os professores não-indígenas, é crucial a valorização do protagonismo
e de vozes indígenas para garantir que as representações dos mesmos na escola não repitam
os mesmos equívocos que tratam as culturas indígenas como homogêneas, atrasadas,
congeladas e fadadas ao desaparecimento. Nesse sentido, a arte indígena se torna um
importante veículo de conhecimentos, representações e expressões indígenas que podem ser
utilizadas em sala de aula para construir discursos que escapem dos preconceitos e equívocos
vigentes em direção a um discurso em que as nações indígenas sejam tratadas com respeito
ao seu valor, sua heterogeneidade e suas histórias. Nesse artigo, o intuito é tratar das
potencialidades de uso em sala de aula de um gênero específico dentro da arte e da música
indígena, o rap. Nos últimos anos, uma série de artistas indígenas de hip-hop indígena tem
surgido no Brasil (Oz Guarani, Bro MCs, Kunumi MC, Wera MC, entre outr@s), e suas músicas
podem ser utilizadas em sala de aula para trazer as palavras de jovens vozes indígenas em
uma linguagem musical bastante acessível à maior parte dos estudantes. As letras dos rappers
das aldeias do Jaraguá, dentro da capital paulista, são especialmente interessantes para serem
utilizadas em aulas de história, por questionarem diretamente a forma como a história dos
povos indígenas é contada pelos brasileiros não-indígenas, como no trecho citado no título do
artigo. Os ganchos trazidos por músicas como “O índio é forte” e “Contra a PEC 215”, do grupo
Oz Guarani, “Retomada de Terra” do Wera MC e “Pemomba Eme” em colaboração de ambos,
podem ser utilizados para puxar reflexões sobre os persistentes equívocos que afligem as
representações dos indígenas no Brasil.No artigo também será relatada a experiência
subjetiva de ter presenciado as reações e participado nas discussões suscitadas pelo clipe
“Contra a PEC 215” em aulas ligadas ao “Projeto Mbopyau: ensinando histórias do possível”,
projeto de extensão da UnB coordenado pela professora Susane Rodrigues de Oliveira.

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Literatura, memória e autoria indígena

Carina Oliveira Silva

Sabido que o estudo das contribuições das matrizes indígenas é obrigatório (LDB 11.645/08),
o objetivo do presente trabalho é identificar a presença de obras literárias indígenas nos
acervos do Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE, desenvolvido pelo Ministério da
Educação de 1997 a 2015 com objetivo de promoção o acesso à cultura e o incentivo à leitura
aos alunos por meio da distribuição de acervos de obras de literatura. Além de revisão
bibliográfica sobre literatura (Candido 2011); literatura indígena (Thiél 2012; Graúna 2013 e
Munduruku 2017) e pesquisa documental na legislação brasileira, identificamos nas listas do
PNBE os títulos de literatura indígena e autores. Também discutiremos diferenciações dos
termos utilizados para caracterizar autores e temáticas indígenas, são estes: indianista,
indigenista e indígena. Nos últimos 20 anos tem havido um movimento de autores indígenas
que demarcam seus lugares de fala sobre as suas próprias culturas frente à cultura
hegemônica. Alguns autores indígenas têm suas obras publicadas em diferentes editoras
comerciais e se sobressaem pela qualidade, o que justifica a presença delas no PNBE. A
literatura indígena passa a ser um instrumento de atualização da memória ancestral. As
narrativas escritas asseguram a memória e amarram o passado ao presente. Retoma a história
oficial do Brasil (visão eurocêntrica) e a estereótipos construídos pelos colonizadores, para
desconstruí-los. A literatura (indígena) enquanto trans(formadora) de consciências tem um
papel indispensável e deve ser ofertada pelo governo e distribuídas às escolas públicas
brasileiras.

Diálogos entre a educação e saberes indígenas: processos pedagógicos


étnicos da cultura Sateré-Mawé na perspectiva da relação intercultural

Cristiane de Almeida Vieira da Silva

Diogo Santa Rosa Santos

Mirela Silva Ferreira

Thelma Lima da Cunha Ramos

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O enfoque desta comunicação será a relação entre a educação e os saberes indígenas da


cultura Sateré-Mawé nos processos pedagógicos do espaço escolar não indígena numa
perspectiva da interculturalidade e do respeito às diferenças, como estratégia de romper com
a cultura hegemônica na escola. Tem como objetivo analisar o diálogo entre a educação e a
diversidade dos saberes indígenas, a partir da história e cultura do Povo Sateré-Mawé por
meio dos processos pedagógicos para um contexto cultural não indígena, de uma aldeia
Sateré-Mawé em Manaus para o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia,
Campus Salvador. A metodologia utilizada é a abordagem qualitativa, numa perspectiva da
pesquisa participante em que são desenvolvidas atividades educativas, sobre os aspectos
culturais específicos da cultura Sateré-Mawé baseadas na educação intercultural para
estudantes não indígenas do IFBA, Campus Salvador. Uso da pesquisa bibliográfica com a
finalidade de consultar as obras escritas por vários autores e em outras fontes indispensáveis
à elaboração da pesquisa. A reflexão tem a preocupação de problematizar os estudos
relacionados às culturas dos Povos Indígenas no espaço escolar, contrapondo a imagem
generalizada do indígena articulada nos processos pedagógicos. Assim, propõe o estudo a
partir da história e cultura do Povo Sateré-Mawé que são os inventores da cultura do guaraná
isto é, foram eles que transformaram uma trepadeira silvestre em arbusto cultivado. Estão
aproximadamente há 344 anos em contato interétnico em suas relações com a sociedade
ocidental (TEIXEIRA, 2005). Desta forma, consideramos os saberes indígenas para construção
dos processos pedagógicos no espaço escolar não- indígena baseado nos princípios da
educação intercultural.

O Ensino de Arte no Ensino Fundamental e a Lei 11.645/08: Narrativas


indígenas

Keyde Taisa da Silva

Poliene Soares dos Santos Bicalho

O ensino da cultura e arte indígenas na escola é um processo importante e traduz a


necessidade do reconhecimento quanto à presença e a participação destes povos na formação
da identidade brasileira. Porém, ainda não é uma constante nos currículos praticados pelas
instituições de ensino, especialmente da rede pública, por uma série de fatores. A importância
de tal prática é tamanha que foi preciso prever, em lei, a obrigatoriedade da abordagem da
temática nos currículos escolares, através da Lei 11.645/08, que é promulgada com a
finalidade de acrescentar a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura indígena nas
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escolas de nível fundamental e médio, públicas e particulares, do país. Esta lei, que
complementa a LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação, uma vez que esta evidencia
lacunas que prejudicaram o ensino das relações interétnicas na escola, busca o
reconhecimento da história indígena e do seu papel merecido nos currículos escolares,
ratificando outra lei que já emendava a LDB, no sentido de garantir a abordagem da temática
negra na sala de aula – LEI 10.638/08. A existência de instrumentos legais que orientam as
instituições educacionais quanto às suas obrigações não garante a universalidade da execução
de tais orientações. Neste sentido, Rosani Clair da Cruz Reis argumenta que “a existência de
leis e políticas de ação afirmativa não basta para desenvolver atitudes e hábitos que garantam
a construção do respeito às diferenças. Aqueles só serão alcançados se houver predisposição
social para provocar mudanças” (REIS, 2009, p. 60). Porém, as próprias lideranças
educacionais indígenas reconhecem a educação como um instrumento de suavização de
imagens negativas, e que pode ser potencializada através do posicionamento crítico que os
próprios indígenas vêm tomando. Deste modo, a produção de material autoral por indígenas
é uma ferramenta que pode ser utilizada no ambiente escolar para evitar a reprodução de
preconceitos e estereótipos. Para Circe Bittencourt (2004), ouvir as histórias relatadas pelos
indígenas, buscar o conhecimento na fonte e não apenas reproduzir estereótipos é
importante e permite conhecer versões apagadas de uma história que não possui apenas uma
face. Nesse sentido, a presente pesquisa objetiva analisar obras de autores indígenas que
podem facilmente serem inseridas no cotidiano da sala de aula, tanto para o uso com os
estudantes como para a reflexão com professores e equipes, tais como os livros O Banquete
dos Deuses, de Daniel Munduruku, Metade Cara, Metade Máscara, de Eliane Potiguara, entre
outros, afim de contar uma versão da história diferente daquela propagada ao longo dos
séculos e, muitas vezes, presente nos livros didáticos utilizados indiscriminadamente pelos
professores.

Literatura e história indígena nas aulas de língua portuguesa: realidades,


possibilidades e implicações pedagógicas

Edson Santos da Silva Júnior

Considerando as demandas de uma educação em língua materna em consonância às


diferentes instâncias comunicativas e práticas de interação social, este trabalho busca
tematizar uma discussão incipiente que contribua para o balizamento dos estudos literários e
históricos relacionados à ancestralidade indígena como subsidiários do desenvolvimento de
habilidades linguísticas e competências discursivas, bem como de saberes interculturais
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atinentes, sobretudo, a aspectos identitários dos próprios discentes envolvidos no processo


ensino-aprendizagem. O status quo do trabalho pedagógico interdisciplinar empreendido na
educação básica formal no Brasil, que atenda ao caput da Lei 11.645, de 10 março de 2008, o
qual preconiza a abordagem da História e cultura afro-indígena, com ênfase na contribuição
desses povos à formação da sociedade brasileira, a serem exploradas em especial nas aula de
Arte, Literatura e História, está refletido na literatura acadêmica especializada como um
processo de transição e adaptação em termos de currículo e didatização de conteúdos
(COSTA, 2011) e que, invariavelmente, esbarra em obstáculos de natureza diversa. Logo, o
caráter que perpassa essa prática pedagógica eminentemente intercultural, caracteriza-se
ainda como um desafio, sobretudo em decorrência da execução de políticas editoriais de livros
didáticos de português não-específicas aliadas à escassez de profissionais Licenciados em
Letras com formação/capacitação que contemple de maneira holística essas idiossincrasias
pedagógicas. Acerca das possibilidades de trabalho nessa seara, devem-se aliar aos estudos
sobre teoria, estética e recepção literária no que tange às questões de autoria e
representatividade de povos indígenas no cenário artístico na contemporaneidade, através de
recursos didáticos acessíveis, o resgate e construção de memórias com base nos conceitos
operacionais de etnocídio, etnogênese, genocídio e identidade indígena (GOMES, 2012), via
Historiografia, Etnohistória (PAIVA, 2012), Arqueologia e outras ciências auxiliares (FUNARI,
PIÑON, 2013). Por fim, o trato da Literatura e da História como ação política no processo
educativo passa pela (des)(re)construção, inclusive da identidade dos professores e
professoras de Português, que se deparam com novos paradigmas educacionais no/do século
XXI, os quais transcendem abordagens estritamente formalistas/estruturalistas em língua, em
detrimento de propostas pragmáticas, sociais e funcionalistas. Nesse sentido, o ensinar e
aprender as letras vernáculas deve estar vinculado à ideia de vozear grupos sociais
historicamente silenciados com vistas à reflexão social e ao fomento da formação cidadã e
desenvolvimento da percepção histórica da realidade que cerca os discentes. Esse quadro,
associado a contexto pedagógico favorável, permitirá o exercício da empatia, alteridade,
estímulo à sensibilidade e senso de coletividade, tão caro ao cenário educacional atualmente.
Desfazer estigmas que povoam o imaginário coletivo acerca das identidades indígenas é,
decerto, outra das grandes contribuições que pode gerar um ensino de língua que não
dissociado de pautas antropológicas, visto que do contrário, perderia completamente sua
essência.

A Lei n. 11.645/2008: a formação de professores como um convite para


acessar nossa ancestralidade indígena

Fátima Rosane Silveira Souza

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A Lei n. 11.645/2008, ao incluir o estudo da história e da cultura dos povos indígenas no


currículo da educação básica, representou importante conquista para movimento de
reconhecimento dos povos indígenas; para o não-indígena, foi uma dádiva cujo valor precisa
ser reconhecido. A efetiva inclusão da temática no currículo escolar é um passo importante
para a desconstrução mais incisiva do arquivo de imagens coloniais que seguimos acessando
em relação aos povos indígenas (SOUZA LIMA, 2015). A efetividade da lei pressupõe uma
etapa importante: a formação de professores. O objetivo da comunicação é problematizar a
formação de professores como construção de representações sociais e culturais positivas em
relação aos indígenas e como encontro entre mundos, encontro que gera forte ansiedade
cultural para o não-indígena (LÓPEZ-PEDRAZA, 1997). Esta foi uma atividade de extensão
como doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação - Mestrado e Doutorado, da
Universidade de Santa Cruz do Sul, RS. Inspirada na cosmologia dos povos guarani, a formação
enfatizou a reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma
identidade pessoal, na forma de convite para acessar nossa ancestralidade e viver um
encontro com uma parte de nós, ressignificando sentidos. Uma oportunidade para “uma
‘tomada de consciência’, despertar de um mero viver e um recuperar a si próprio da alienação
nas coisas e colocar a consciência em vigília” (DUSSEL, 1997, p. 35). A ancestralidade parece
pertencer ao passado, mas se encontra pulsando em nossa alma; precisa ser compreendida,
reconhecida e assumida. É preciso desnudar a sedução que a modernidade exerce sobre nós,
para poder ver outras coisas, olhar para a vida anterior a nós (KUSCH, 2010) e reconhecer
nosso espelho índio (GAMBINI, 2000). Negar o indígena é negar nossa ancestralidade;
evidencia uma perversidade que se reproduz em diferentes espaços. E a educação possui um
papel muito importante nesse processo, ao permitir operar outras percepções a partir do
encontro com o indígena, como um encontro com uma parte de nós mesmos. Oportunidade
para tirar nossa alma ancestral da dimensão de sombra e trazê-la para a luz da consciência,
em diálogo com a Psicologia Analítica. A atividade de formação ocorreu na escola, e consistiu
na realização de cinco encontros com um grupo de nove professoras. Com o uso de vídeos, do
círculo da cultura (BRANDÃO, 1981), imagens, música e de trabalho com argila, novos sentidos
passaram a ser produzidos e muitas imagens foram ressignificadas e contribuíram para uma
melhor compreensão em relação aos povos indígenas.

Ensino de História e História Indígena: a ausência do diálogo entre a escola


indígena e a escola não indígena

Luciana Helena de Oliveira Viceli

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Rosângela Célia Faustino

O ensino de História no Brasil, historicamente, foi realizado a partir de uma concepção


eurocêntrica, na qual poucos agentes sociais foram considerados protagonistas, sendo a
população indígena um dos grupos excluídos. Durante séculos os povos indígenas foram
retratados na historiografia colonialista tradicional como seres inferiores, passivos e
derrotados com a chegada dos europeus. Crianças e jovens em situação de aprendizagem
escolar foram submetidos a esta abordagem predominante nos currículos e livros didáticos
que chegam às escolas norteando o saber histórico escolar por este paradigma. Embora a
concepção de história eurocêntrica tenha sido contraposta pela chamada “Nova História
Indígena” (CUNHA, 1992; MONTEIRO, 1994), permanece, ainda, um ensino de História onde
as histórias dos povos indígenas não são retratadas com o devido aprofundamento, e, desta
forma, pouco são conhecidas suas lutas, resistências, protagonismos, suas ciências, as
dinâmicas culturais e as diferentes organizações sociais, antigas e atuais, destes povos. A
presente comunicação apresenta uma reflexão sobre como se tem processado o ensino de
história e o ensino de história indígena na atualidade, discutindo possibilidades de diálogos
entre a escola indígena intercultural e a escola não indígena; pontuando as possíveis
contribuições que essa abordagem pode proporcionar para se construir um debate crítico, e
desvincular o saber histórico escolar das narrativas hegemônicas, que dominam o cenário do
ensino de História. Destaca-se a importância do diálogo entre os conhecimentos
étnicos indígenas e os conhecimentos científicos escolares e, para tanto, enfatizamos
a importância da memória e da oralidade dos povos indígenas na construção de uma versão
realista da história do Brasil. A escola indígena é cenário propício para esse trabalho e que tem
sido sinônimo de luta e resistência aos constantes ataques que os povos indígenas vêm
sofrendo, consequentemente, espaço para pesquisa e aprendizado, tanto para os estudantes
indígenas quanto para não indígenas, que podem ser beneficiados por meio do diálogo entre
essas escolas. O trabalho foi elaborado a partir de experiências práticas realizadas em
escola indígena e escola não-indígena e pesquisa bibliográfica com coleta e análise de dados,
sendo as principais referências: Abud (2005); Bittencourt (2005); Caimi (2016); Cunha
(1992/2012); Faustino (2001/2006/2015); Hobsbawm (1998); Monteiro (1994); Nadai (1993);
Saviani (1991); Schmidt (2012); Tassinari, Gobbi (2009); Wittmann (2012).

Ação pedagógica sob a luz da Lei nº 11.645/2008 nas Escolas Públicas do


Amazonas nos anos de 2010 a 2015

Alva Rosa Lana Vieira

596
Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Michelle Carneiro Serrão Valéria

Augusta Cerqueira de Medeiros Weigel

Este trabalho visa relatar a ação realizada referente a Lei no. 11.645/2008 que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a
obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro- Brasileira e Indígena" (BRASIL, 2008, p.
1). Trata-se da ação iniciada no ano de 2010 na Secretaria de Estado da Educação e Qualidade
do Ensino do Amazonas através da Gerência de Educação Escolar Indígena cujo objetivo do
trabalho foi oportunizar o conhecimento da história e cultura dos povos indígenas e
sua contribuição na formação da sociedade amazonense. O trabalho partiu
do desconhecimento dos alunos da rede pública sobre a história dos 65 povos indígenas do
Amazonas que segundo os dados do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) apontaram que a região norte abriga o maior território e parcela de
indígenas brasileiros (45%) e o estado do Amazonas possui a maior população indígena do
país, contabilizando 168 mil indígenas e 29 línguas faladas. A partir da regulamentação, abriu-
se a possibilidade de trabalhar na rede pública de ensino a ação pedagógica sob a luz da Lei
no 11.645/2008 nas escolas públicas do Amazonas. A ação teve como metodologia de trabalho
iniciar no mês de abril atividades alusivas ao “Mês dos Povos Indígenas”, com
abertura veiculada por meio do Centro de Mídias, transmitida para todas as escolas
públicas do estado do Amazonas, com programação organizada para ocorrer no decorrer
do mês de abril em todas as escolas públicas estaduais com tema escolhido. O tema poderia
ser trabalhado através de palestras, redações, concursos, danças, pinturas, exposição de
trabalhos, fotografias, vinculação de vídeos culturais e outros, finalizando com a
representação das escolas de cada distrito e municípios para o encerramento do mês de abril.
Em tais atividades trabalharia-se o princípio da lei. Como resultado, buscou-se ressignificar a
representação social que os alunos tem construído acerca dos indígenas, trabalhando com
estes novos olhares sobre os povos indígenas a partir de temas relacionados às questões da
identidade e das diferenças, minimizando preconceitos, estereótipos ou qualquer outra forma
de discriminação, reconhecendo a contemporaneidade dos povos indígenas no Amazonas,
desconstruindo a visão de indígena genérico e da época colonial.

Narrativas e interculturalidade na Educação Básica: diálogos com a América


produnda no espaço escolar
Laura Nelly Mansur Serres

597
Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Trata-se de um projeto de investigação em andamento no âmbito da Educação, Culturas e


Humanidades desenvolvido em uma escola da Rede Pública Federal Brasileira. O estudo
fundamenta-se nos documentos que orientam o Ensino Básico no Brasil, em cumprimento à
lei Nº 11.645/2008, que torna obrigatório o ensino de história e cultura indígenas nas escolas
do pais. Com base em Kusch (2009), examinam-se as intervenções docentes que podem
resultar na construção de um pensamento totalizador por parte do aluno, fornecendo-lhe
elementos para compreender a América, num sentido profundo. A partir disso, com apoio nas
ideias de Bonin & Bergamaschi (2010), indagam-se ações pedagógicas, dentro e fora da sala
de aula, que possam contribuir para estabelecer uma ponte que permita o diálogo
intercultural, auxiliando o aluno no estudo da temática indígena, problematizando
estereótipos e preconceitos. Para isso, estudam-se os elementos das narrativas que falam dos
povos originários, reveladores da cosmogonia da nossa América, se tornando um meio para
estabelecer o diálogo intercultural na perspectiva de uma Educação Descolonial. Ainda, com
base em Cadogam (1992) e Alvarez Leite (2010), questiona-se quais elementos das narrativas
que nos falam da América e dos Povos Originários podem revelar aos alunos a cosmogonia da
nossa América, como um meio para proporcionar aprendizagens interculturais. Desse modo,
buscam-se modos de combater certas ações de embranquecimento que acontecem já
naturalizadas, na escola nos nossos dias de hoje, reconhecendo a necessidade de contribuir
desde o papel de professor/a para conseguir mudanças nas estruturas educativas no espaço
escolar em que estamos atuando como docentes. As ações estão dirigidas a decolonizar
práticas enraizadas que nos atam a um presente pós-colonial pelo qual transitamos no nosso
cotidiano social. Mignolo (2014) ajuda a pensar nisso afirmando que “Para comprender el
pensar descolonial es imperativo dejar de lado la idea de que hay solo una lógica del mundo,
aquella de la modernidad, y que no hay otra manera de pensar que pensar modernamente, lo
que supone de entrada universales abstractos opuestos”. Desse modo, é possível vislumbrar
que uma outra pedagogia é possível, como nos diz Walsch (2016) “não no sentido da educação
formal, ou seja, como uma professora que transmite o comunicam conhecimentos, mas como
uma facilitadora, como alguém que se esforça em provocar, construir, gerar e avançar com
outros questionamentos críticos, compreensões, conhecimentos e atuações, maneiras de
pensar e de fazer”.

Calendário Maya na Guatemala contemporânea: entre unidade e diversidade

Thiago José Bezerra Cavalcanti

598
Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Este ensaio é fruto de reflexões sobre o complexo campo dos calendários mayas, no que se
refere às diversidades epistemológicas, de contas, de práticas rituais e de projetos políticos
entre os mayas. No caso da identidade maya contemporânea, e de sua afirmação na sociedade
guatemalteca, os calendários (e especialmente o Cholq'ij, ciclo ritual de 260 dias, e o Ab', ciclo
civil-agrário de 365 dias) jogam papel fundamental: afirmar mayanidades também é afirmar
temporalidades distintas, maneiras diferentes de lidar com tempo e espaço, e de contar os
dias, o direito a (man)ter um calendário próprio. Se as múltiplas possibilidades, diferentes
abordagens de inúmeros ajq'ijab' (especialistas mayas dos calendários) estão, de um lado,
dadas, de outro, algumas versões e interpretações acabam sendo mais recorrentes ou mesmo
hegemônicas (por vezes, com fomento estatal). Apresentarei também alguns aspectos
especializados da discussão sobre calendários mayas, que são objetos passíveis de disputa,
tais como: associações espaciais e cromáticas, horário em que começa um novo dia, data de
ano novo, grupo de marcadores de ano, relação pessoal com seu dia no calendário ritual, etc.

ST 29 | Memórias Indígenas: silêncios, esquecimentos, impunidade e


reivindicação de direitos e acesso à justiça
Ricardo Verdum (Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Brasil); Ana
Margarita Ramos (Universidad Nacional de Rio Negro, Argentina).

Nos últimos trinta anos a memória se tornou um dos principais temas de interesse nas ciências sociais
latino-americanas. Também num importante instrumento na promoção de direitos e na conquista do
acesso à justiça dos setores da população em situação de exclusão política e discriminação social e
econômica, explorados e humilhados, e reprimidos por grupos sociais que constituíram e controlam
aparatos de poder estatal e paraestatal. Ela participa da construção e da definição de identidades
individuais e coletivas; é um campo de disputas onde o recordar, o falar e o silenciar estão sujeitos às
micropolíticas da vida cotidiana e aos limites estabelecidos de maneira sutil ou enérgica pelos poderes
constituídos em diferentes escalas e espaços – recordações impostas e domesticadas. O simpósio
pretende reunir trabalhos onde se discuta, de uma perspectiva etnográfica e histórica, as dinâmicas
de construção da memória de sujeitos individuais e coletivos indígenas, submetidos e em resistência à
repressão, ao despojo territorial e de outros meios de vida, e/ou em contextos de conflito armado. Um
espaço especial será dado às questões metodológicas e éticas do trabalho com memória em contextos
de violência explicita (c/mortes) ou de violência sutil e naturalizada (gênero, étnico-racial, classe).

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Nossa expectativa é que o simpósio gere instrumentos em apoio ao desenvolvimento teórico,


epistemológico, metodológico e político de promotores indígenas e não-indígenas de justiça e direito.

As resistências e os protagonismos dos povos indígenas nas ditaduras do


Brasil, Chile e Argentina (1967-1979)

Rodrigo Lins Barbosa

Este trabalho relaciona-se com o tema AS RESISTÊNCIAS E OS PROTAGONISMOS DOS POVOS


INDÍGENAS NAS DITADURAS DO BRASIL, CHILE E ARGENTINA (1967-1979). Objetiva um
modelo de pesquisa aprofundando e ampliando o estudo dos povos indígenas no Brasil dentro
do contexto da América Latina. Estudo iniciado na dissertação O Estado e a Questão Indígena:
crimes e corrupção no SPI e na FUNAI (1964-1969), observando-se práticas de genocídio, pré
e pós-golpe de 1964 com a utilização do discurso do “progresso nacional” em prol de uma
política desenvolvimentista e de expansionismo, provocando sistemáticas violações aos povos
originários, tanto pelo Estado quanto por particulares, grandes empresas do agronegócio,
extrativistas e construtoras. Ainda, verifica-se o silenciamento da história desses povos, pela
sua omissão ou descaso, restando, no Brasil, escasso conhecimento dos acontecimentos pelas
linhas jornalísticas e de brasilianistas sem que se perceba seus protagonismos e resistências,
sendo a dissertação uma tentativa de superar esse apagamento com uma narrativa histórica.
Nessa, verifica-se como a institucionalização da questão indígena resultou em mais violência
pela ação de vários funcionários e diretores militares do Serviço de Proteção aos Índios (SPI)
e, posteriormente da FUNAI, envolvidos em crimes, inoculação de doenças, alimentos
contaminados, cárcere, torturas, massacres, genocídios para facilitar a exploração de suas
terras. História repetida nas ditaduras do Chile (1973-1990) e da Argentina (1976-1983).
Nesses países, nesse período, a repressão contra os povos indígenas Mapuche resultou na
proibição de suas organizações, desaparecimento de suas lideranças e militâncias que foram
presas e torturadas em centros de detenção clandestinos ou cadeias, muitos foram mortos.
Na continuidade proposta presentemente, espera-se criar uma metodologia, na linha
decolonial para cruzar os acontecimentos, a partir das fontes documentais, bibliográficas e
orais dos povos originários nos três países e estabelecer um paradigma teórico unindo seus
passados num traço comum da história latino-americana.

600
Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Memorias y derechos al territorio: aproximaciones etnográficas al proceso de


"devolución" de La Casona (Córdoba, Argentina)

José María Bompadre

El "pueblo de indios" o Comunidad de La Toma (Córdoba, Argentina) fue desarticulado


territorialmente por razones de "utilidad pública", a finales del siglo XIX. Desde hace poco más
de una década, los "descendientes" de aquellos comuneros iniciaron un proceso de
comunalizacion y reapropiacion de lugares emblemáticos que pertenecieron a sus abuelos.
Actualmente mantienen una demanda a las autoridades provinciales por la "devolucion" de
una propiedad (La Casona) que fue expropiada durante la ultima dictadura militar. El presente
trabajo tiene como objetivo identificar la genealogia de las memorias individuales y colectivas
que convergen en los reclamos de "devolución" de La Casona, su incidencia en la configuracion
siempre renovada como comunidad y las dificultades de acceso a la justicia a la hora de
reclamar como "comunidad indígena".

Anudamientos significativos en la recreación colectiva de la memoria qom

Lorena Cardin

En el marco de la lucha por la restitución de su territorio, los qom de la comunidad Potae


Napocna Navogoh comenzaron a recrear colectiva y abiertamente su memoria subterránea
como versión alternativa a la memoria oficial y dominante (Pollak 2006). En un trabajo
anterior (Cardin 2017) he analizado la importancia de las coyunturas contemporáneas al acto
de recordar que habilitaron su emergencia así como las tácticas de resistencia qom de larga
data que aguardaban dichos contextos. En esta ponencia me centraré en ciertos
anudamientos de trayectorias (Massey 2005) que fueron incidiendo, a lo largo del tiempo, en
la producción de la memoria social qom y en sus discursos y prácticas de identidad.

Consolidando la Justicia Transicional: voces, silencios y verdades de las


mujeres indígenas en Colombia (2005-2016)

Mónica N. Acosta García

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

En las últimas décadas en las sociedades postconflictos, además de reconocerse la


importancia de los tribunales, fueron establecidas las Comisiones de Verdad (CV). Un
instrumento “primordial” y complementario para fomentar la reconciliación, el perdón y la
restauración de la dignidad de las víctimas. Colombia no escapa de dicha lógica. El Gobierno y
las FARC acordaron establecer la CV. Además de contemplar una participación amplia de las
víctimas individuales y colectivas, da un carácter particular a la victimización sufrida por las
mujeres, y a las formas diferenciadas en las que el conflicto ha afectado a los pueblos
indígenas. Sin embargo, en este escenario es escasa la inclusión de las demandas de las
mujeres indígenas. Más allá de la regulación normativa no han existido mayores intentos para
asegurar su efectiva participación, el enfoque étnico ha estado en la restitución de tierras y
en la reparación colectiva, y el enfoque de género en visibilizar la violencia sexual. De esta
manera, el objetivo es analizar cuáles son los retos y limitaciones de las Mujeres Indígenas en
el marco de la implementación de la Justicia Transicional (JT). El punto de partida es que la
perspectiva de género en las CV contribuye a recoger el continuum de violencias y los roles de
hombres y mujeres antes, durante y después del conflicto. Así, serán visibles las violencias a
las que se han enfrentado las mujeres indígenas, que además de ser de carácter sexual,
también son espirituales, económicas y territoriales. Además, para asegurar sus derechos, la
CV deberá centrarse no sólo en violaciones individuales, recientes y públicas, sino también en
las afectaciones pasadas, colectivas e privadas. Con relación a la metodología, estos
resultados se nutren de mi tesis doctoral y del programa de educación popular “Escuela
Intercultural de Diplomacia Indígena” del que hago parte en la Universidad del Rosario
(Bogotá) y en el cual tomamos la perspectiva de la “reflexión-acción participativa”, y la
incorporación de “nuevas metodologías de aprendizaje intercultural”. Entre las técnicas están,
la cartografía del cuerpo, procesos de reconstrucción de memoria a través de la pintura,
dibujos y cantos y otras técnicas para recolectar información como el análisis documental, los
talleres interculturales, las entrevistas semi-directivas y observaciones etnográficas.
Conforme a una investigación realizada en 2013, no es posible analizar la JT para “todos” los
pueblos indígenas como un único universo social, por lo que el artículo presenta algunas
situaciones que atraviesan las mujeres indígenas, sin el ánimo de establecer un paradigma
general de sus violencias, pues cada región tiene su impacto, sus causas y actores del conflicto
armado predominantes.

“Paridos por la tierra”: territorialización de la memoria del pueblo indígena


Nasa en Caloto (Cauca, Colombia)

Sandra Carolina Portela Garcia

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

El seis de junio de 1994 a las 3:47 pm, un sismo de 6.4 grados en la escala de Richter sacudió
el suroccidente colombiano, generando una avalancha que bajó por el río paez afectando
gravemente al pueblo indígena nasa de Tierradentro (Cauca): 1.100 muertes, 45.000 personas
afectadas y 1.600 familias desplazadas son parte del saldo de “la tragedia”, como ha sido
llamada por este pueblo. “La tragedia” confrontó a los nasa con la repetición de su mito de
origen: una serpiente negra que baja por el río lo consume todo. Las contracciónes de la tierra
los “paren” y los expulsan, generando que deban buscar un nuevo territorio donde
recomenzar. Un grupo nasa en particular se desplaza al municipio de Caloto (Cauca), en donde
reconstruye la localidad de “Toez” replicando el nombre de su lugar de origen, enfrentando
una diversidad de obstáculos como dificultades con el estado para acceso a derechos
fundamentales, y violencia paramilitar, entre otros. Sin embargo el territorio no se lleva
solamente a través de le evocación nominal del territorio tradicional; el territorio se desplaza
junto con ellos, pues los nasa (gente) son kiwe (territorio), y a donde ellos van, el territorio, la
memoria y la historia van también. Comprendiendo que para los nasa el tiempo es
policronotópico y que la historia para este pueblo no puede ser contada sin referirse al
territorio, realizando un ejercicio continuo de “territorialización de la memoria” (Gómez,
2000), la presente propuesta de comunicación busca indagar a través de la experiencia
etnográfica con la comunidad ¿Cómo rememoran los nasa de Toez (Caloto) “la tragedia” y el
proceso de reasentamiento en el “nuevo” Toez a 25 años de la avalancha? ¿cómo se ha
constituido su territorialización de la memoria frente a este evento?, ¿cómo han reapropiado
y resignificado el “nuevo” territorio, dándole continuidad a su vida e identidad?, ¿cómo es
posible desde la etnografía aproximarnos a un entramado complejo y sensible como el
experimentado por los nasa en relación a la avalancha y posterior reasentamiento?

Memoria y resistência

Silvia Soriano Hernández

La activa participación de las mujeres indígenas en las luchas de sus colectivos, se enmarca en
una doble militancia que obedece a un despertar dentro de la insurgencia étnica, que implica
un largo proceso de maduración para abrir espacios antes vedados para ellas. Muchas de las
ideas que ellas expresan sobre su participación política son orales, a través de entrevistas, de
testimonios, de documentales, entre otros, el objetivo de la ponencia es valorar la importancia
del testimonio construido en femenino, en la cimentación de la memoria de colectivos. El
papel de los liderazgos indígenas (primero de hombres y posteriormente de mujeres) se
convierte en esencial para comprender ese tránsito del indígena como representación
imaginada, al indígena auto-representado producto de largos siglos de maduración y
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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

comprensión de una realidad que no le resulta confortable y transita por varios caminos para
proponer propuestas propias.

Restituídos de voz: histórias e memórias indígenas do aviamento no rio Negro

Márcio Meira

A relação entre o sistema de aviamento, o terror e a violência marcaram a vida de indígenas


do rio Negro na chamada “era da borracha”. No ano de 1914, os atos violentos do comerciante
Diogo Gonçalves constituem um exemplo, - de muitos que ocorreram no período gomífero e
permanecerão no esquecimento -, que pôde ser resgatado. Restou lembrado graças às
denúncias anotadas em ofício ao senhor João de Araújo Amora, Inspetor do SPILTN, sediado
em Manaus, encaminhados pelo senhor Abílio Camillo Fernandes, Juiz Adjunto do 3º Distrito
do Termo de São Gabriel e Delegado do Serviço de Proteção aos Índios e Localização dos
Trabalhadores Nacionais – SPILTN do rio Marauiá. Este caso de violência contra mulheres
indígenas ocorrido no rio Negro nos tempos da “Belle Époque” da borracha, marcado pela
dominação e brutalidade dos patrões sobre seus fregueses, está inscrito no sistema de
aviamento, que remonta, como condição colonial de longa duração, aos séculos XVII e XVIII.
Nesta comunicação apresento a rememoração desses acontecimentos com um ato de justiça
histórica, mesmo que seja apenas a ponta luminosa de um iceberg de ocorrências
semelhantes, obscuras e imersas pelo esquecimento na história da Amazônia.

O pêndulo Guarani: território, memória e história no Tekoha Apyka’i

Bruno Martins Morais

Entre as modulações do conceito de tekoha, polarizaram os que entendem como a projeção


de uma categoria nativa de organização do espaço e da vida das comunidades guarani; e, do
outro, os que acusam uma a-historicidade desse entendimento, que não contemplaria a
dimensão reivindicatória da demarcação dos territórios indígenas diante do Estado Nacional.
Nesta apresentação, repiso os termos desse debate para requalificar os tekoha como
“territórios-memória” a partir da caracterização de um acampamento de retomada Kaiowá e
Guarani no Mato Grosso do Sul – o tekoha Apyka’i, chefiado por Dona Damiana. Diante de
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

uma etnografia desse acampamento, o conceito de “territórios-memória” aparece com a


potência de superar essa aparente dicotomia, e avançar na tradução dessas contradições em
que se inscreve a vida de um povo. Guardo a esperança de que se possa, ao final, haver
experimentado em parte o fino exercício de crítica histórica que permite os Kaiowá e Guarani
modular as concepções de sua territorialidade entre diferentes registros, em uma absoluta
indiferença ao constrangimento da teoria antropológica.

O caminho da terra: os Pataxó do sul da Bahia e o Fogo de 51

Daniella Mudesto Rosa São Thiago

A comunicação, fruto do artigo O CAMINHO DA TERRA: OS PATAXÓ DO SUL DA BAHIA E O


“FOGO DE 1951”, tem por objetivo fazer uma reflexão sobre a presença indígena na história
Brasil, a partir dos Pataxó do litoral sul baiano e a questão da terra. Fruto de uma pesquisa de
campo ao longo de dois anos, investiga a história contada pela oralidade e pelos relatos
oficiais. O ponto principal é a compreensão do episódio conhecido como “fogo de 1951”,
importante evento na memória da luta contemporânea desta coletividade. Em 1951 houve
um grande ataque contra os indígenas, em que muitos tiveram que deixar suas terras, fugindo
para cidades vizinhas, espalhando-se até Minas Gerais, onde até hoje resiste um grupo que
luta para manter vivas as suas tradições. O trabalho segue a questão da terra como eixo
narrativo, sendo o tema organizado em três partes: 1) a terra como ponto de partida; 2) os
Pataxó do sul da Bahia e o “fogo de 1951”; e 3) os Pataxó, a terra e os desafios
contemporâneos.

"Nem cabelo liso você tem": uma análise sobre os estereótipos em relação ao
povo Tupinambá da Aldeia Serra do Padeiro

Jéssica Silva de Quadros

Esta comunicação focaliza a produção e circulação de discursos estereotipados a respeito dos


Tupinambás da Serra do Padeiro, povo indígena que vive na Terra Indígena (TI) Tupinambá de
Olivença, no sul da Bahia. Recorrendo à memória do grupo, por meio de depoimentos de
moradores da aldeia, argumento que a discriminação contra os indígenas se relaciona
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diretamente à luta pela terra, já que a negação da identidade étnica dos Tupinambás visa
barrar a demarcação da TI Tupinambá de Olivença e impedir a efetivação dos direitos
constitucionais dos indígenas. Questionando as construções do senso comum acerca dos
indígenas e a difusão de estereótipos pela grande imprensa, apresento informações sobre a
história e a memória dos Tupinambás da Serra do Padeiro, o modo como nos organizamos e
a forma como estamos lutando para pôr fim à discriminação, considerando em especial o
papel da organização produtiva desenvolvida na aldeia e da educação.

Las alianzas políticas en contextos de violência

Ana Margarita Ramos

Informes oficiales, noticias en los medios de comunicación y expedientes elaboran relaciones


de alianza ‐ entre los militantes mapuche y “otros”‐ como sospechosas, amenazantes o
conspirativas para justificar la intervención de las fuerzas del estado, la represión y la
aplicación de la ley antiterrorista. Ahora bien, desde el trabajo de restauración de memorias
que el movimiento mapuche viene llevando a cabo desde hace varias décadas, las alianzas
políticas refieren a prácticas, sentidos de mundo y marcos de interpretación sobre los
compromisos vinculantes que nos invitan a repensar los escenarios políticos en los que se
negocia la resolución de los conflictos. Este trabajo aborda los contextos de violencia estatal
desde un enfoque etnográfico centrado en los procesos de memoria emprendidos por
comunidades mapuche en conflicto –en Patagonia Argentina‐‐, con el fin de responder las
siguientes preguntas ¿Cuáles son los deslindes epistémicos, ontológicos e ideológicos que
entran en conflicto al momento de definir las “alianzas políticas”?

O não silêncio de Paiaré: Memória e luta pelo território

Ribamar Ribeiro Junior

Pretendo abordar a potência da memória a partir da luta dos Akrãtikatêjê, também


conhecidos como “Gavião da Montanha”, sob a liderança de Hõpryre Rõnôre Jõpikti, o Paiaré.
Foram mais de trinta anos de luta entre batalhas jurídicas e de conflitos com a Eletronorte
para ter direito ao antigo território expropriado para construção da hidrelétrica de Tucuruí
(PA). Este trabalho problematiza a partir das falas das lideranças Akrãtikatêjê, a necessidade
de conhecer o direito e de se apropriar dos elementos jurídicos para as suas reivindicações,
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assim como, remete ao desemprenho das ações empreendidas por este grupo numa longa
trajetória. A memória do lugar foi um dos aspectos que possibilitou a permanente luta em
defesa do território articulada à interação e vivências de um passado e de uma geração que
trás a partir do deslocamento e expulsão de suas terras, uma permanente luta para afirmação
da identidade Akrãtikatêjê. Paiaré se apropriou muito bem dos dispositivos da fala para
expressar suas reivindicações e mediar conflitos, organizando seu povo e demonstrando que
a resistência se faz também com os aparatos jurídicos, principalmente quando se têm uma
escuta. Se para ele “as leis são uma invenção”, foi neste argumento que ganhou muita
expressividade no meio dos juristas e o fez se fortalecer diante das instâncias da justiça em
defesa de seu povo e contra as instituições estatais por um longo período de sua história. O
seu lugar de fala situase numa região cujo contexto de contato está ligado aos processos de
ocupação do território sob forte violência dos grupos organizados e com apoio do Estado. Foi
nesta conjuntura que Paiaré soube distinguir aquilo que se tinha de favorável para organizar
o seu discurso e as ações que se operacionalizaram no espaço publico em defesa do seu
território.

Memórias Charrúas en Uruguay: reflexiones sobre reemergencia indígena


desde una investigación colaborativa

Mariela Eva Rodríguez

En esta presentación abordaremos interrogantes y argumentos en torno a la memoria


colectiva que los miembros del pueblo charrúa comenzaron a plantear hace más de veinticinco
años en Uruguay, en una época en la que se autoadscribían como descendientes. En el marco
de los debates en torno al colonialismo de colonos —que sustentan la ideología de
blanqueamiento y de la excepcionalidad de los países del Plata— repasaremos las trayectorias
que los llevaron a consolidarse como sujetos políticos en términos de aboriginalidad (o
indigeneidad). Posicionados como charrúas (y en algunos casos también como
descendientes), diversos colectivos cuestionan los dispositivos que niegan su existencia —a
través de la premisa de que “en Uruguay no hay indios” — y demandan la ratificación del
Convenio 169 de la OIT. Analizaremos asimismo cómo las continuidades y las interrupciones
en la transmisión intergeneracional impactaron en los procesos de reemergencia indígena —
a los que consideramos en relación con los debates sobre etnogénesis— y nos detendremos
particularmente en las acciones contra los olvidos y los silencios que emprenden
colectivamente, entre las cuales se encuentran diversos proyectos llevados a cabo en el marco
de la etnografía colaborativa.

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Casa do Índio: uma história dos saberes e práticas sobre a doença mental
entre indígenas na Ditadura Empresarial-militar

André Luís de Oliveira de Sant'Anna

O objetivo da presente comunicação é analisar a história da criação da Casa do Índio na Ilha


do Governador, no estado do Rio de Janeiro. A Casa do Índio se constitui como parte da
história da Ilha do Governador, que teve como primeiros habitantes da região os índios
temiminós, e se constituiu como espaço de assistência aos indígenas identificados com doença
mental, bem como portadores de deficiência, tornando-se um modelo para cerca de 40 casas
do índio criadas no território brasileiro no período da ditadura empresarial-militar. A presente
pesquisa, portanto, se insere no campo de investigação da História da Psicologia, estando
identificada com os estudos de história e memória dos povos indígenas, sobretudo uma
memória ignorada, mantida nos porões da história da constituição dos saberes e práticas
sobre o sofrimento psíquico dos povos originários no Brasil. A Casa do Índio na Ilha do
Governador tem seu início em um imóvel alugado, em 22 de novembro de 1968, que foi
posteriormente adquirido pela FUNAI, tendo em sua coordenação desde seu inicio até o
presente momento a ex-sertanista Eunice Cariry. Na década de 1980 a visita do Ministro do
Interior a Casa do Índio deu início a mobilização que resultou na construção da nova sede,
com apoio do então Governador Leonel Brizola, viabilizado através da intermediação do
Deputado Mario Juruna. Contando com apoio de empresários da região da Ilha do Governador
e com o trabalho dos internos foi construída a nova sede da Casa, com capacidade para 50
internos, segundo relatos de Eunice Cariry. Casa do Índio: Desdobramentos No prefácio do
livro Pharã Karxtirore Darashé, que narra a trajetória de Eunice Cariry a frente da Casa do
Índio, Alvaro Tukano coordenador nacional da União das Nações Indígenas, declara que esteve
junto com internos e funcionários da Casa do Índio em uma comemoração de Natal e “todos
os funcionários deixaram suas casas e vieram cantar, dançar e comer junto, com os doentes
mentais, isto é, cena rara na minha experiência” (Porto, 1995, p. 5), confirmando o relato de
Eunice Cariry, que a Casa do Índio foi organizada para receber preferencialmente indígenas
com doença mental, portadores de deficiência e em trânsito buscando tratamentos diversos.
Cabe analisar o funcionamento da Casa do Índio no Rio de Janeiro como um espaço que desde
o período da Ditadura empresarial-militar abrigou indígenas classificados com doença mental,
sem que a história da psicologia e psiquiatria tenha considerado este espaço como um lugar
onde os saberes psi estiveram em trânsito não a partir dos espaços acadêmicos, mas no chão
onde transitaram centenas de indígenas que vivenciaram de modo singular a exclusão e o

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asilamento. Sendo, portanto, fundamental levantar como os saberes psi foram e são
articulados nesse espaço.

A casa de reza (Opy) como ‘’Lugar de Memória’’ dos povos indígenas guaranis

Matheus Santos da Silva

A presente proposta de pesquisa tem como objetivo articular o conceito de ‘’Lugar de


Memória’, do historiador francês Pierre Nora, com a Casa de Reza (Opy) dos povos indígenas
guaranis. De acordo com Nora (1993), são ‘’Lugares de Memória’’ os espaços onde a memória
se concretiza e se ritualiza, tornando o passado como algo próximo - diferente da história que
o reconstrói. Os arquivos, bibliotecas, museus, monumentos, e outros, via de regra são
legitimados como sendo os lugares de memória pois, esse conceito é, majoritariamente,
associado à espaços edificados, cuja os elementos que remetem ao passado-memória é
perceptível. A partir da experiência de campo junto às aldeias indígenas guaranis Tekoa
Paranapuã (São Vicente), Tekoa Aguapeu (Mongaguá), Tekoa Pyau (Jaraguá) e a Tekoa
Tenondé Porã (Barragem), a pesquisa traz como premissa a hipótese que a Opy dos povos
indígenas corresponde aos pressupostos dos ‘’Lugares de Memórias’’, apesar de não adequar-
se com a perspectiva que comumente é tida para refere-se ao conceito. Assim, como
metodologia foi adotada a pesquisa de campo etnográfica durante o período de 08 meses nas
aldeias referidas. Além disso, para o desenvolvimento da pesquisa, utilizou-se de elementos
orais de relatos dos indígenas sobre a importância da casa de reza para o espaço da aldeia, e
iconográficos, que foram aliados ao levantamento bibliográfico de contribuições de teóricos
como Darcy Ribeiro (2017) e Roger Chartier (1988) para discussão de representações. Haja
vista que há uma relação consistente entre a casa de reza e a organização educacional,
histórica e cultural nas aldeias indígenas, as considerações do trabalho apontam para a casa
de reza como um lugar de memória tendo em vista que ritualiza a memória coletiva dos
guaranis. Sendo, também, um espaço com aura simbólica que estabelece ligação do passado
com o presente. Além disso, é funcional porque reaviva modos culturais tradicionais e dessa
forma fortalece a identidade.

Imagen y memoria: acompañamiento al proceso de restitución de tierras de


la comunidad de Santa Rosa (Riohacha)

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Carlos Eduardo Villalba Gómez

Esteban Vivas

La comunidad wayuu de Santa Rosa (zona rural de Riohacha, Guajira) ha padecido problemas
de despojo de su territorio en los últimos años, lo que ha involucrado intentos de desalojo de
propiciados por grupos particulares, empresas de tratamiento de aguas, instituciones
regionales y actores ilegales. Esto ha generado fracturas en el tejido social y a que se ponga
en riesgo no solo su permanencia, sino sus relaciones territoriales y la cosmovisión. La
comunidad ha llevado a cabo un proceso social de defensa de su territorio que se materializa
es un fallo por parte de la Corte Suprema de Justicia (31 de agosto de 2017), sin embargo, los
hostigamientos y las amenazas continúan. El pueblo wayuu manifiesta su derecho a
desarrollar un modelo de vida propio, tal como se estipula en el Plan Especial de Salvaguarda
del Sistema Normativo Wayuu, lo que implica que se respeten las concepciones territoriales
que soportan sus formas de vida, que se conciben como una manifestación de la tierra. En el
marco de esta problemática se ha llevado a cabo un acompañamiento desde un proceso de
reconstrucción de memoria a través de la imagen. Así, el objetivo de este texto es reflexionar
sobre los alcances de herramientas como la fotografía, la ilustración y la imagen audiovisual
para impulsar procesos sobre la memoria colectiva, y a través de esto, apoyar el proceso de
restitución de tierras. Como resultados, se considera que en la situación territorial no solo es
vulnerada la comunidad por cuestiones económico-sociales, sino que puede ser transgredida
en cuanto el pueblo es subexpuesto, es decir, que ha sido vulnerado en su derecho a producir
imágenes de sí mismo, en su derecho a poner imágenes y palabras, por lo tanto, a la
inexistencia política.

ST 30 | Memorias y Políticas Indias/Indígenas

Guillermina Espósito (Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas – CONICET y


Universidad Nacional de Córdoba, Argentina); Natalia de Marinis (Centro de Investigaciones y Estudios
Superiores en Antropología Social – CIESAS, Sede Golfo, México).

“Luchamos con el futuro atrás y el pasado adelante”. Este concepto, escuchado de boca de un abuelo
indio de Jujuy, Argentina, articula vívidamente la propuesta de este simposio, orientado a abrir un
espacio de reflexión, discusión y análisis sobre memorias y su vinculación con políticas
indias/indígenas. Desde los estudios de memoria, se plantea que son los marcos del presente los que
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establecen cómo y cuándo interviene el pasado en el presente, y qué elementos de ese pasado son
escogidos para construir futuro. En diversos contextos e insertos en variadas dinámicas territoriales y
políticas, grupos indios y/o indígenas se posicionan de modo variado frente a procesos de avance
capitalista de acumulación por desposesión, así como frente a múltiples violencias, viendo peligrar sus
territorios, amenazados sus modos de vida y en muchos casos hasta su propia existencia como grupo.
En estos contextos del presente, vemos aparecer recuerdos que actualizan experiencias del pasado y
las ponen al servicio de la cohesión del grupo en tanto “memoria colectiva” (cf. Halbwachs). Además,
la memoria como reflexión crítica no sólo de eventos del pasado sino de los marcos a partir de los
cuales se le dá sentido a esos eventos, desencadena cuestionamientos, reflexiones y vinculaciones
creativas, pudiendo dar lugar a algo distinto a lo que se nombra como memoria colectiva (Pernasetti
2009). En este sentido, abrimos el interrogante sobre si los actos de memoria pueden incluso
cuestionar la memoria colectiva, si se entiende a esta última como la cadena de reflexiones
orientadoras para la vida del presente, compartido por un grupo, a partir del pasado considerado como
enseñanza, organizado en un todo coherente, es decir, aquellos recuerdos legitimados, posibles o
deseables y del repertorio de olvidos forzados que cada grupo se esfuerza en sostener. Este simposio
busca articular diálogos en perspectiva comparada acerca de las y los sujetos indígenas construyendo
memorias y llevando adelante prácticas políticas en distintos contextos de Abya Yala, en contextos
atravesados por las violencias y los despojos. Propiciamos el envío de ponencias que se interroguen
sobre la relación entre memoria y política, desde casos empíricos en los que estén implicadas alguna/s
de las siguientes preguntas: ¿Qué prácticas devienen en acciones de memoria con fuerza política?;
¿Qué alternativas políticas y/o cosmopolíticas indígenas habilitan los actos de memoria?; ¿Qué
“ocasiones” (cf de Certeau) movilizan actos de memoria?; ¿Cómo aparecen experiencias de terror
estatal en memorias indígenas?; ¿Cómo se recrean y construyen memorias frente a proyectos
extractivistas y de despojo territorial y corporal?; ¿Qué relaciones se pueden establecer entre
memorias y resistencias indígenas?; ¿Cómo se gestan en estos procesos de memorias y olvidos, nuevas
subjetividades políticas, y qué lugar tienen las memorias de mujeres?; ¿Cómo intervienen las
memorias en la producción, circulación y recepción de teorías, personas y modelos de acción política
entre experiencias indias/indígenas del continente?

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Casar ao modo dos não índios: ritual, crítica e memória entre os Madiha do
Alto Purus

Aline Alcarde Balestra

Em meu doutorado em Antropologia Social pela Universidade de Brasília (2013-2018),


desenvolvi pesquisa etnográfica com o povo indígena autodenominado “Madiha” que habita
a Terra Indígena Alto Rio Purus, a partir da qual analisei valores e práticas adotados por esse
povo no que se refere à troca (cf. Balestra, 2018). Os Madiha são também conhecidos pelo
etnônimo “Kulina” e habitam uma extensa região que abrange as bacias dos rios Purus e Juruá,
ambos afluentes do rio Amazonas, sendo localizados no Peru e nos estados brasileiros do Acre
e Amazonas. Em campo, na aldeia Maronawa, fui surpreendida com uma festa coletiva de
casamento, por meio da qual os Madiha imitavam comportamentos dos não índios, que eles
chamam de Karia. Nessa ocasião os Madiha “trocavam” de posição com os Karia, imitando
seus comportamentos. Esses tipos de festividades, em que os Madiha replicam jocosamente
o comportamento ou a forma de proceder dos não índios (Karia) são realizados, ao menos,
desde a década de 1950 (cf. Chiara; Schultz, 1955, p. 191-2). Na festa de casamento que
presenciei em 2016, um xamã da aldeia vestiu-se de “padre Paolino” e, segundo os Madiha,
ele era o padre Paolino, que havia acabado de chegar da cidade. Tal personagem trata-se de
um falecido pároco que realizava viagens frequentes de desobriga às aldeias madiha do Alto
Purus e que teve papel fundamental na fundação da aldeia Maronawa, na década de 1970.
Assim, por meio de tal ritual, os Madiha traziam para cena um personagem histórico associado
aos não índios, mas de forma fortemente pejorativa. Durante toda a festa, era comum o riso
e da diversão. As relações passadas e contemporâneas desenvolvidas entre os Madiha e os
Karia foram e são marcadas pela violência e pela incompreensão por parte dos últimos quanto
ao modo de vida desse povo indígena. Assim, na comunicação proposta, realizarei uma
reflexão sobre a forma pela qual as memórias associadas a um passado de relação com os
brancos, personificada na figura do padre, são recuperadas e transformadas política e
ritualmente a partir dessa festividade de casamentos coletivos da aldeia Maronawa. Por meio
da festa, os Madiha podem tanto imitar os brancos como criticar seu modo de vida, tomando
o riso e a brincadeira como instrumento político.

La Historia y la memoria omaguaqueñas, como campos de lucha política

Gabriela Barrios Cáceres


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En este trabajo nos proponemos problematizar y reflexionar en torno a las apropiaciones,


interpretaciones, representaciones y usos de la historia local y de la memoria, como así
también sobre las disputas por el pasado, que lleva adelante un autoreferenciado intelectual
indígena omaguaca de las tierras altas jujeñas, editor y director de la revista “Viltipoco 10000
Opinión y Contrainformación Omaguaca”. Analizamos esta publicación (2006-2016) con el
objetivo de examinar los relatos y la producción de narrativas históricas, de memorias y
archivo (en el sentido no ortodoxo), desde un posicionamiento reivindicativo indígena, en el
marco de reclamos más amplios respecto al avance capitalista de desposesión, no solo
territorial sino también epistémico, ontológico e histórico. Nos proponemos comprender si la
recuperación de la memoria en Humahuaca, pretende fungir como motor de un proceso
descolonizador de lo que llaman “la historiografía occidental”, vislumbrándose en una disputa
por la legitimidad y el poder de enunciación respecto a la escritura y divulgación de la historia
local; disputa que haría mella en el pasado y la memoria porque su interpretación aporta a
proyectos descolonizadores más amplios. En la intelectualidad indígena confluyen actividades
de escritura, investigación y divulgación, con el activismo y la organización política, como
asimismo la promoción de la memoria colectiva encarna en este escenario de disputas, una
agencia y resistencia política, no solo por el reconocimiento sino por la supervivencia étnica.

“Yvy Nhamou’u” :A Memória Biocultural inserida na relação Cosmoecológica


de Mulheres Mbyá Guarani com o barro - uma reflexão acerca do acesso a
bens comuns e o Bem Viver Comunitário

Carolina Silveira Costa

Ivanilde da Silva

Araci da Silva e Rumi Kubo

O feitio cerâmico é algo simples e complexo, que depende tanto da memória, do sentipensar
(Escobar, 2016) e do corpo de quem coleta e trabalha o barro quanto das condições do rio e
da terra.De nada adianta tentar fazer cerâmica com um “barro ruim”, ela irá rachar ou
quebrar. Primeiro é preciso conhecer o nhae’u, ou barro, como os mbyá guarani do Sul do
Brasil o traduzem para os juruá (não indígenas). Uma das parcialidades étnicas no Brasil do
Tronco Linguístico Tupi-Guarani, os Mbyá Guarani estão presentes nos Estados do Rio Grande
do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, assim como nos
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países Paraguay e Argentina. Apesar das dificuldades devido a pouca terra e pouco acesso à
mata, até hoje, dão continuidade à transmissão do seu modo de vida, através de suas extensas
redes de parentesco (Pradella, 2009). Durante séculos, os mbyá guarani faziam e fazem suas
plantações próximo aos rios e vivem em comunidade, fabricando seus petynguas (cachimbos
cerâmicos ou de madeira) para comunicação com os deuses e manutenção de seus ciclos - de
tempos velhos e novos, da plantação e colheita, da chegada de novas vidas e da morte dos
entes queridos. Conhecer o nhae’u não significa somente entrar nos corpos d'água e sentir
onde que a terra que há no fundo, está com menos resíduos, há também a ciência prévia
acerca do tipo de barro, o poder e intenção colocado no manuseio, entre tantos outros
detalhes importantes. Quando não há uma diversidade de solo e corpos d’água nas aldeias,
esta atividade, realizada por mulheres da etnia, requer além da sabedoria ancestral, uma
caminhada territorial entre aldeias, cercas, estradas que cortam suas comunidades e
propriedades privadas, onde a mulher guarani é e faz uma constante re-existência biocultural.
Como uma semente onde há o saber e todo seu cosmos, a mulher mbyá entende que a junção
dos elementos água, terra, ar e fogo, farão tudo germinar na cerâmica. Este trabalho reflete
um ciclo entre o nhae’u e os mbyá guarani de 3 aldeias no Rio Grande do Sul: Estiva, em
Viamão, Flor do Campo, em Barra do Ribeiro e Para Roke, em Rio Grande e objetiva refletir
acerca da memória biocultural (Toledo, 2015) inserida nesta relação assim como sobre o
acesso a bens comuns e como isto está ligado ao bem viver comunitário mbyá guarani, o teko
porã. Apesar de toda realidade brasileira, onde as políticas públicas e a legislação, mesmo com
avanço significativo no reconhecimento da pluralidade territorial, seguem preceitos
colonizadores, é inegável a re-existência das mulheres mbyá guarani através e em conjunto
com o feitio cerâmico.Não se trata de quantas mulheres estão fazendo isso, se trata das
condições que existem para as Yvas, Paras e Kerexus, que tem essa pré-disposição ao moldar,
encontram para dar seguimento a essa cosmopráxis. O que é feito a partir do Nhae’u -
especialmente os petynguas - conflui e influi em toda vida que há por onde fazem sua jeguatá
(sua caminhada), ou seja, a natureza e a cultura tomam uma proporção simbiótica e complexa
em que não há sentido a separação e sim uma constante rede de confluências entre os seres
humanos e não humanos, alimentada pela memória biocultural e re-existência destas
mulheres.

“Ellos se han hecho dueños…”: Memoria, política y territorialidades en los


valles orientales de Jujuy (Argentina)

Federico Fernández

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Esta investigación tiene como punto de partida el análisis de una serie de tres entrevistas
abiertas contemporáneas, realizadas con la primera mujer perteneciente a pueblos originarios
que llegó a ser comisionada oficial del poblado de San Francisco (Departamento Valle Grande-
Provincia de JujuyArgentina). En el relato desarrollado por la entrevistada, se entrecruzan sus
posiciones políticas en torno a quienes son y de donde vienen los grandes propietarios de
tierras, las múltiples significancias del territorio para las tradiciones familiares locales basadas
en la trashumancia de ganado, y las implicancias prácticas de su condición de mujer en un
entorno evidentemente ruraly políticamente conservador. Todo este cúmulo de información
co-construída mediante la entrevista etnográfica, ha sido paralelamente interpretado a la luz
del ordenamiento reticular de una matriz de datos conformada por los registros de compra-
venta de tierras por parte de pobladores vallistos en 1887, sumado a datos referidos a la
extensión y ubicación de estas tierras dentro del actual departamento Valle Grande. Los
resultados obtenidos tras la aplicación de este abordaje metodológico mixto (cualitativo-
cuantitativo), dan cuenta de algunas tramas de sentidos en donde se solidifican historias y
trayectorias personales expresadas bajo determinadascondicionesestructuralesde larga
duración histórica en la región.

Prácticas de memoria de los “indios etnografiados”: huellas de los


dispositivos etnográficos en los procesos de subjetivación indígena
contemporâneos

Anne Gustavsson e Axel Lazzari

En esta ponencia exploramos las diferentes formas en que los sujetos indígenas – sean líderes
políticos o del común- se vinculan con el lenguaje, las categorías y las descripciones forjadas
históricamente por la antropología, más específicamente la etnografía sobre “sus culturas”,
“sus etnías” y “sus razas”. A esto se suman las maneras que son recordados, leídos e
interpretados desde la memoria indígena algunos “protagonistas” de la disciplina. A través de
la discusión y análisis de diferentes casos de apropiación, cuestionamiento y rechazo por parte
de personas auto-identificadas como ranqueles y pilagá, interrogamos el papel configurador
del dispositivo antropológico en los procesos de subjetivación indígena contemporáneos y en
la actualización de sus memorias colectivas. Interesa discutir y reflexionar sobre actos y
situaciones específicas, especialmente cuando son parte de prácticas políticas más amplias,
en los cuales se produce una reflexión crítica sobre ideas y prácticas de la antropología del
pasado. Esta ponencia se plantea así identificar las huellas de la antropología y la etnografía
en las prácticas de memoria indígena y valorar su papel en los procesos de subjetivación en
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marcha. Incidentalmente, sugiere ampliar el radio de historización de la disciplina


antropológica abarcando el análisis de las apropiaciones y cuestionamientos de sus otrora
“objetos etnográficos”.

¿Por qué necesitamos contar nuestras memorias desde los “bordes”?

Ivana Carina Jofre Luna

En un contexto de reconocimiento público de las comunidades warpes y diaguitas en San Juan,


en el oeste cordillerano de la República Argentina, en los últimos veinte años ha habido un
crecimiento exponencial de las organizaciones indígenas comunitarias. Este panorama de
crecimiento de las comunidades indígenas organizadas en la provincia devino también en una
multiplicación de la militancia indígena, caracterizada ahora por una pluralidad de posturas
políticas que han empezado a mostrar con mayor claridad la diversidad de liderazgos locales
indígenas. A diferencia de lo que ocurría hace unos veinte años atrás, cuando el proceso
organizativo indígena tenía una relativa homogeneidad de liderazgos femeninos de mujeres
mayores y ancianas. Actualmente la presencia de los adultos jóvenes en este nuevo escenario
político indígena es importante, como también lo son las adhesiones a proyectos políticos,
religiosos, e institucionales que atraviesan la formación de estos liderazgos que, con el tiempo,
se han convertido también en temas de interés para las investigaciones académicas. Sus
producciones de memorias suelen ser tomadas como elementos constatativos de las
adscripciones identitarias warpes y diaguitas, alimentando las visiones esencialistas y
escencializantes del “indio” situado culturalmente en el abismo de sus memorias históricas.
En esta ponencia quisiera discutir las producciones académicas recientes de las “memorias
indígenas” warpes y diaguitas en San Juan. Advierto que ellas están influenciado fuertemente
en una despolitización de los liderazgos indígenas y sus reclamos comunitarios. Esto último
sucede a través de algunos mecanismos identificables, como la “culturalización” warpe y
diaguita, y la consiguiente “des-ontologización” de los conflictos que involucran demandas
indígenas en un contexto de neoxtractivismo exportador caracterizado por procesos de
violencia y despojo de los cuerpos y los territorios. Las indagaciones de este trabajo, surgen
desde mi militancia warpe y desde una investigación centrada en el estudio de las ontologías
de lo real y conocimientos fronterizos (cf. Gloria Anzaldúa). Estos últimos son esos conectores
que encadenan diferentes experiencias vividas en fronteras (geo-políticas y corpo-políticas,
sexualesraciales, nacionales, lingüísticas, económicas) nacidas de las heridas coloniales
infligidas en historia larga de violencias, explotaciones y despojos. Pensar “las producciones
de memorias indígenas” desde y en las fronteras remite entonces a un lenguaje teórico
mestizo subversivo porque se produce -y es posible- solo en los bordes o márgenes donde el
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sentido desborda, trans-figurando, desestabilizando las certezas y garantías de la modernidad


universal y sus presupuestos y categorías totalizantes. Es desde allí, desde las epistemologías
de frontera, desde donde propongo retomar el sentido político de nuestras memorias, las
cuales surgen de la toma de conciencia de que habitamos los bordes epistémicos y
ontológicos.

El “ingeniero” y la “huichola”. La puesta en actos de la memoria en un ritual


wixárika (México)

Regina Lira Larios

En una secuencia de acciones durante un ritual wixárika (o huichol, en Jalisco, México), un


peregrino vestido de pantalones de mezclilla, camisa y lentes oscuros, llega al patio ritual
montado en un “caballo” representado por una mujer, con actitud altanera extiende una serie
de papeles, entre los cuáles el “mapa” de la comunidad, y señala los distintos puntos que
delimitan el territorio de la comunidad. Conocido como “el Ingeniero”, los demás actores
rituales lo atienden, y hasta la ofrecen bailar con una mujer “huichola”, invitada de entre las
espectadoras y representada por una mujer mestiza. Todos los presentes se ríen a carcajadas.
Esta secuencia forma parte del sub-ciclo ritual de la peregrinación al desierto de Wirikuta, en
el que se ponen en actos una serie de estrategias rituales de desafío de la autoridad y formas
de transgresión de la identidad entre las cuáles la inversión de roles. Estas han sido un
constante desafío intelectual, que he empezado a investigar desde una perspectiva histórica
que me condujo al hallazgo de una variación de la secuencia del Ingeniero en una etnografía
de 1938. Este hallazgo ha puesto en evidencia una sorprendente estabilidad de las expresiones
rituales en el tiempo y del tipo de memoria creada y transmitida colectivamente, que es el
objeto de esta ponencia y exploraré con base en preguntas de la antropología del ritual y de
la memoria. Lo haré poniendo a prueba un método de análisis que sigue dos cursos:
sistematizar los datos encontrados en las fuentes etnográficas y sus variaciones en tiempo y
espacio; y, reconstruir con fuentes de archivo el contexto de la llegada de los primeros
“ingenieros” o “agrimensores” enviados por el gobierno estatal para medir y deslindar los
terrenos de las comunidades huicholas a finales del siglo XIX que condujo a la venta de sus
terrenos (nunca desocupados en la práctica). Tomaré como punto de partida los aspectos más
paradójicos de esta secuencia de acciones, identifico tres hasta ahora: el modo en que
modifica los referentes identitarios de los actores; el modo en incide en la creación de un
tiempo complejo, que no es la mera rememoración de un hecho pasado, sino su actualización
en el presente; y el que la memoria dolorosa de violencia y despojo transmitida detone risas

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y carcajadas. Estas hipótesis se insertan en una investigación más amplia que indaga en las
recurrencias de los “contradictorio” en el ritual tanto como un modo de transmisión distintivo,
como un modo de hacer política que crea las condiciones para reflexionar sobre las relaciones
con la sociedad mestiza y el Estado, y nos acerca a los análisis sociales indígenas para enfrentar
los retos latentes que amenazan sus territorios políticos y rituales.

Organizaciones indígenas urbanas, redimencionalización territorial y


memorias
Carolina Andrea Maidana

En Argentina son múltiples y diversas las organizaciones indígenas urbanas. Sin embargo,
poseen un denominador común: todas son emergentes de la historia de los pueblos que las
conforman; historia signada por el destierro, el etnocidio y el despojo, pero también por la
lucha, la resistencia y la organización. Este trabajo refiere a la reconstrucción identitaria y la
redimensionalización territorial que involucran dichas organizaciones, a las identificaciones
colectivas que exceden los espacios en los cuales se encuentran y a sus centenarios reclamos.
El análisis se centra en las memorias, los imaginarios y los relatos míticos que -con un fuerte
contenido crítico sobre las relaciones de dominación y destierro- cimientan las demandas de
tierra/territorio de una comunidad indígena de la periferia de la ciudad de La Plata - Buenos
Aires. Ello permite señalar la fuerza de la memoria social en la conformación de lugares, en las
formas de pensar el mundo y de responder de forma colectiva-comunitaria a los procesos de
avance capitalista.

De ruinas y servidumbre: las memorias de las haciendas de Zongolica,


Veracruz
Natalia de Marinis

Esta ponencia tiene como punto de partida una investigación colaborativa con mujeres
indígenas organizadas para la atención y acompañamiento de mujeres víctimas de violencia
en la Sierra de Zongolica. La documentación de las memorias sobre las haciendas surgió por
una necesidad de historizar y contextualizar los entramados e intersecciones de categorías
excluyentes que atraviesan los cuerpos de mujeres y hombres indígenas y que definen la
violencia y exclusión que viven en los ámbitos locales y de la sociedad mayor. A partir de
registros etnográficos y entrevistas a una diversidad de actores, analiza la ambigüedad en la
que se tejen los recuerdos indígenas sobre las haciendas y la manera en que las mismas

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emergen y se silencian en el contexto actual de violencia criminal y despojo territorial.


Argumenta que el mundo de las haciendas se vuelve emblema de jerarquizaciones políticas y
racializadas, así como de las relaciones interétnicas complejas que generan que la continuidad
de la violencia y los despojos sobre determinados cuerpos y territorios se silencien y acepten.

El tiempo de la restitución. Honor, humor, horror en torno a los restos


indígenas restituidos en Patagonia

Carlos Masotta

La restitución de restos óseos provenientes de colecciones museográficas a diferentes


comunidades constituye un proceso singular del movimiento indígena en la Argentina de las
últimas cuatro décadas. Desde que fueron reguladas por una Ley Nacional en 2010, las
restituciones se han acelerado articulando políticas de Estado, museos y reclamos indígenas.
En este sentido, no se trata de una simple y consensuada relocalización de restos sino del
efecto de una revisión de la gestión del pasado indígena y nacional en clave de memoria
colectiva. Del cautiverio a la colección y de esta última al mausoleo, los restos óseos son objeto
de un tránsito que, observado en sus múltiples dimensiones, pone de manifiesto a la
restitución como constructora de una temporalidad compleja, ambigua y abierta a nuevos
conflictos más que como un punto de llegada. En el presente trabajo se desarrolla este
problema a partir de la observación de diferentes casos en Patagonia hasta 2018. Para ello se
atenderá especialmente a la documentación y a los discursos provenientes del periplo de los
restos. Es en sus desplazamientos y escenificaciones donde parecen recobrar nueva vida como
metáfora de un trauma social renovado en su evocación.

Memórias kaingang para pensar a escola indígena atual

Juliana Schneider Medeiros

A escola indígena específica e diferenciada vem sendo construída pelos povos indígenas do
Brasil desde 1988, quando a Constituição Federal reconheceu aos indígenas o uso de suas
línguas e processos próprios de aprendizagem na escola. Muitos avanços ocorreram desde
então. Merece destaque a conquista de referenciais legais relativos à educação escolar
indígena, determinando que a escola deve ser comunitária, bilíngue/multilíngue, intercultural,

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territorializada, específica e diferenciada. No chão da escola importantes mudanças também


ocorreram, como a presença de professores indígenas, a construção de projetos políticos-
pedagógicos e currículos escolares próprios. No entanto, a realidade mostra que as escolas
seguem reproduzindo práticas da escola ocidental, que são colonizadoras e não promovem
epistemologias e metodologias indígenas de modo que ocorra um diálogo intercultural entre
ambos os modos de conhecimento. Essas práticas têm suas raízes em experiências escolares
anteriores à escola específica e diferenciada. No caso do povo Kaingang, foco deste trabalho,
o processo de escolarização teve início com o Serviço de Proteção aos Índios (SPI), no começo
do século XX. Esta apresentação propõe discutir a importância de acessar as memórias
individuais e coletivas sobre essas primeiras experiências escolares para pensar a escola
indígena atual, identificando nela as influências da escola do SPI e procurando entender como
romper com tais práticas para construir uma escola que seja de fato Kaingang.

Colonizacion, políticas de eliminación y blanqueamiento en la Fütawillimapu


(Chile, siglos XIX y XX)

Héctor Nahuelpan

Esta ponencia analizará el proceso de colonización de la Fütawillimapu o “grandes tierras del


sur” que abarcan las actuales regiones de Los Ríos y Los Lagos en el sur de Chile. En específico
se problematizará cómo los despojos territoriales, experiencias de trabajo compulsivo,
escolarización y evangelización traumática de distintas generaciones mapuche-williche,
develan que la colonización de la Fütawillimapu (siglos XIX y XX) estuvo marcada por lógicas y
politicas de eliminación que fueron fundamentales en la gestación de una formación socio-
racial donde el “mito alemán del progreso”, transformó en im-pensable y “blanqueó” la
historia de la violencia colonial contemporánea en estos territorios. Nuestro argumento
principal es que estos procesos son propios de una estructura de “colonialismo de colonos”
(settler colonialism) y de sociedades que se conforman a partir de la suplantación, cuyo
estudio tiene al menos tres implicancias teórico-políticas. Primero: reinterpretar la historia de
la colonizacion del Wallmapu, mostrando los puntos de convergencia y divergencia con lo
sucedido en otros territorios de uno y otro lado de la cordillera (Puelmapu/Argentina,
Gulumapu/Chile). Segundo: situar estos procesos en el marco de la historia global del
colonialismo, conectando la historia mapuche con la experiencia de otros pueblos
colonizados. Tercero, reflexionar en torno a ¿qué entendemos por descolonización bajo una
estructura de colonialismo de colonos?

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Organización política y memorias indígenas a la luz de la reconfiguración


estatal: Qullamarka y desarrollo

Marina Weinberg

En las últimas décadas se configuró un nuevo escenario político latinoamericano marcado por
la crisis del consenso neoliberal. Desde el año 2003, en Argentina se inició un proceso de
recuperación de espacios estatales, poniendo en marcha un sinfín de programas sociales y
abriendo la arena política a sectores excluidos durante los noventa. La inclusión legal, el
reconocimiento cultural y el empoderamiento alcanzados por los pueblos indígenas de la
mano del financiamiento internacional durante los noventa, preparó a muchos de sus
representantes para integrar la estructura estatal de aquel momento. Así como se puede
elogiar la incorporación de representantes indígenas a dicha estructura, en muchos casos bajo
la figura de “idóneos”, agentes del desarrollo, también es plausible explorar ciertos niveles de
cooptación de los cuales aún se desconocen las consecuencias a nivel organizacional
comunitario. La figura del “indio permitido” sugerida por Hale para el contexto neoliberal que
“habilitó” demandas mientras cerraba ciertos debates, nos permite pensar en nuevas
tensiones. La presente ponencia explora estos complejos procesos en el departamento de
Iruya, Salta (Argentina), a través de la recuperación de prácticas y memorias colectivas,
cristalizadas en la organización indígena Qullamarka y algunas oficinas estatales que
incorporaron representantes indígenas a sus estructuras.

ST 31 | Memórias, biografias e autobiografias indígenas: reflexões

Mariana da Costa Aguiar Petroni (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afrobrasileira


– UNILA, Brasil); Edmundo Peggion (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Brasil);
Amanda Danaga (Universidade Federal de São Carlos, Brasil).

Apresentar, debater e enfrentar as dificuldades conceituais para abordar o que, inicialmente, podemos
considerar “o eu como discurso na etnologia e na historiografia indigenista” é o objetivo desta
proposta. Tal área, se tem manifestação, ainda não encontra um lugar de destaque na literatura
antropológica, como aponta Oscar Calavia Sáez. Memórias, biografias, autobiografias, narrativas
biográficas, histórias de vidas, trajetórias, depoimentos, testemunhos, sujeitos, indivíduos, atores, a
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amplitude conceitual à procura de uma categoria é extensa. As disciplinas em torno da problemática


também não são poucas, por isso a abertura para incorporar contribuições de outras áreas, como dos
estudos literários, da geografia, da sociologia, da ciência política e demais áreas afins. Sobretudo, a
preocupação desta proposta, então, é etnográfica, ao trazer esferas, instâncias, arenas da vida social,
para lembrar Marilyn Strathern, experiências sociais em que as pessoas estejam, senão refletindo,
revelando, inclusive para si mesmas, suas práticas sociais, e ainda aquelas menos imediatas ou
evidentes. Preocupam-nos, especialmente, as diversas modalidades de esquecimento, de
silenciamento das experiências sociais dos povos ameríndios no que tange à relação com o Estado,
bem como as experiências de organização, de mobilização das sociedades indígenas frente a este.

Contato, memória e histórias de vida: as narrativas autobiográficas de três


intérpretes indígenas

Luana Machado de Almeida

Em junho de 2014, um pequeno grupo de índios isolados decidiu “sair da mata” e estabelecer
relações diretas com índios Ashaninka na aldeia Simpatia, localizada no alto rio Envira, estado
do Acre. A Funai foi acionada para mediar a situação e prestar atendimento aos índios recém-
chegados e uma das providências adotadas foi convidar indígenas que falassem uma língua
semelhante para atuarem como tradutores linguísticos. Contudo, no decorrer dessa
participação, os intérpretes acabaram operando também como mediadores, ajudando a
esclarecer equívocos culturais e linguísticos, solucionar conflitos e estabelecer vínculos de
confiança. Ao longo de três anos e meio, dezessete indígenas atuaram como intérpretes nesse
processo, sendo este grupo composto por doze homens e três mulheres do povo Jaminawa, e
um homem e uma mulher do povo Shanenawa. Alguns viajaram oito ou nove vezes, outros
apenas uma ou duas. Sendo este o campo etnográfico de minha pesquisa de doutorado,
entrevistei e conversei com muitos dos atores envolvidos nesse contexto. Nesse percurso,
algumas pessoas tiveram um papel de destaque, seja pela atuação que tiveram como
intérpretes, seja pelo vínculo estabelecido entre nós e que me levou a conhecer melhor
algumas de suas trajetórias de vida. Com frequência as conversas sobre o trabalho que
desempenhavam acabaram conduzindo para uma narrativa autobiográfica, recheada de
eventos e deslocamentos em suas histórias de vida ou de seus antepassados próximos. Nessa
comunicação, pretendo explorar como a história de vida de três intérpretes indígenas emerge
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a partir dessa experiência de trabalho e analisar de que modo essas questões se entrelaçam,
influenciam ou são influenciadas pelo papel de mediação por eles desempenhado. Apesar da
atividade de tradução ocupar lugar central, o papel desempenhado por esses intermediários
culturais é muito mais complexo e envolveu habilidades e conhecimentos extra-linguísticos,
como a capacidade de apreender os aspectos culturalmente relevantes para ambos os lados
envolvidos na relação e conseguir elaborar metáforas capazes de transpor os anseios e as
perspectivas de cada grupo. Nesse sentido, o foco na história de vida das pessoas que
assumiram esse papel de intermediário emerge como um meio para entender essa atuação
se considerarmos que por meio das experiências de vida, dos vínculos familiares e outros
aspectos da trajetória se evidencia como as pessoas adquiriram suas habilidades diplomáticas
e tradutivas para transitar e estabelecer a conexão “entre mundos distintos”.

Um mundo em movimento: trajetórias sociais de lideranças Tupi Kagwahiva


(entre uma “liderança de qualidade”, uma “liderança em formação” e uma
“liderança reconhecida”)

Jordeanes do Nascimento Araújo

A História dos Povos Tupi Kagwahiva mistura-se aos processos de ocupação da Amazônia,
notoriamente àqueles ligados ao sistema de Seringal e à construção da BR-230, nos anos 1970.
A Transamazônica como política estatal modificou a organização social, cultural, política,
econômica e estrutural das aldeias. De fato, a edificação daquela estrada invadiu
abruptamente o território indígena Tenharin e Jiahui, obrigando-os à ocupação da margem da
estrada numa tentativa de garantir a defesa territorial e cultural, isto é, um esforço de luta
por seus direitos. Este trabalho busca refletir sobre a construção da liderança Tupi Kagwahiva
no contexto do sul do Amazonas, evidenciando a trajetória social das lideranças em contextos
situacionais e suas relações sociais com as agências estatais. Busca compreender como as
lideranças são formadas dentro e fora do contexto da aldeia e como esta formação coaduna-
se na trajetória social de cada liderança politica indígena.

Como nasce uma guerreira: trajetória de vida de Luana Kumaruara

Luana da Silva Cardoso

Luana Lazzeri Arantes


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Vamos narrar a trajetória de vida de Luana Kumaruara, liderança indígena do baixo rio
Tapajós, na região Oeste do Pará, na perspectiva de refletir sobre os processos de mediação
social e construção da autoridade dessa jovem mulher. A atuação política de Luana Kumaruara
no movimento indígena teve início em 2012 após seu ingresso, por meio de Processo Seletivo
Especial Indígena, no curso de antropologia, na Universidade Federal do Oeste do Pará. O
primeiro grande desafio político para Luana foi sua indicação e eleição, em 2014, para o cargo
de Secretária do Conselho Indígena Tapajós Arapiuns – CITA, entidade representativa de
quase 07 mil indígenas dos 13 povos que habitam, aproximadamente, 70 aldeias na região do
Baixo Tapajós, que inclui os municípios de Aveiro, Belterra e Santarém. Desde então, Luana
Kumaruara constrói autoridade e ocupa espaços enquanto liderança, dialogando com
distintos atores sociais: representantes da Universidade, do Ministério Público Federal, da
Prefeitura, do Governo do Estado, do Governo Federal, de Organizações Não-
Governamentais, de diversos movimentos sociais e dos próprios povos indígenas. A partir da
trajetória de Luana Kumaruara refletiremos como o processo de constituição de uma jovem
mulher indígena enquanto liderança produz contradições, conflitos sociais e pessoais e
relações de poder nos universos sociais em que ela transita. O texto será apresentado em
primeira pessoa do singular visto que uma das autoras, Luana da Silva Cardoso, é Luana
Kumaruara.

Liderança e política: a trajetória de Pedro Mendes Ticuna

Hugo Ciavatta

Apresentar parte de uma pesquisa etnográfica, de caráter biográfico, sobre uma liderança
indígena Ticuna focalizada na relação com algumas dimensões do Estado brasileiro, este é o
principal objetivo desta proposta. Descrever, então, a trajetória de Pedro Mendes Gabriel,
liderança Ticuna, conhecido na bibliografia etnológica (OLIVEIRA, 2015), e sua atuação
política, inclusive, com passagem por uma instituição estatal, a FUNAI (Fundação Nacional do
Índio). Pedro é proveniente aldeia de Ourique, Terra Indígena de Eware I, no município de
Tabatinga (AM), no Alto Solimões. Foi uma das lideranças integrantes da Federação das
Organizações e dos Caciques e Comunidades Indígenas do Alto Solimões (FOCCIAS),
associação que existe desde os anos 1990. Ele foi testemunha de um “evento crítico” (DAS,
1995), depois de ter sido convidado pelo capitão da aldeia Ticuna de São Leopoldo para uma
visita, em Benjamin Constant, em 1988. Ao se aproximar da aldeia, ainda nas águas do rio,
Pedro foi abordado pela Polícia Federal (PF) e descobriu que catorze Ticuna tinham sido
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mortos. Cerca de vinte empregados de um “patrão” naquela área atacaram indígenas que
seguiam em procissão, numa celebração religiosa. Aquela noite ficou conhecida como
Massacre do Capacete (OLIVEIRA, 2015: 234-235). O evento recuperou nos Ticuna o
imaginário frente à figura do patrão. Para Curt Nimuendajú (1952), porém, os Tukuna não
apresentavam organização política formal, ou mesmo estritamente uma chefia, uma figura
destacada, com uma relação vertical em relação ao grupo (NIMUENDAJÚ, 1952: 64-65). A
mobilização de várias lideranças Ticuna em torno do território e da educação, durante
décadas, possibilitou ao povo Ticuna, diante do massacre, projetar uma visibilidade política
no cenário nacional e internacional: os Ticuna elegeram uma comitiva formada pelos líderes
Constantino Ramos Lopes, Nino Fernandes, Pedro Inácio Pinheiro e Pedro Mendes Gabriel,
cujo objetivo era pressionar o governo brasileiro para atuar de maneira mais efetiva na região
do Alto Solimões (ALMEIDA, 2013). Dedico-me, assim, a abordagens teóricas na etnologia e
na história indígena, buscando a construção de um arranjo conceitual, o biográfico, que me
permita descrever os processos de transformação (VIVEIROS DE CASTRO, 2012), as relações
sociais que se estabelecem entre esses universos sociais, indígenas e não indígena, na medida
em que uma liderança indígena, como Pedro Mendes, faz-se principalmente em relação ao
mundo branco.

Notas sobre “rexistencia”: memórias e esquecimentos de um cacique tupi


guarani

Amanda Cristina Danaga

O nome para os Tupi Guarani sempre se mostrou como uma importante questão a ser
tematizada, não apenas por negar uma nomenclatura “oficial” que lhes foi atribuída, como
acontece em inúmeros outros grupos ameríndios, mas também por assumirem, nessa escolha
da autodeterminação, um nome que aponta para uma mistura, jamais compreendida como
fusão ou homogeneização de qualquer ordem. Ao acompanhar a trajetória do cacique tupi
guarani Antonio da Silva Awá, da aldeia Renascer (Ywyty Guaçu) em Ubatuba /SP, notei um
angustiante incômodo quanto a problemática acima apontada. Enunciou por diversas vezes:
“O índio já nasce morto!”, propondo uma reflexão dos limites (se é que existem) entre
memória e esquecimento. Como se fosse possível nascer e morrer ao mesmo tempo. Como
“rexistem” os Tupi Guarani na imensidão das relações assimétricas dos mundos em perpétuo
desequilíbrio? Proponho problematizar essas questões a partir de um outro olhar, sinalizando
para a concomitância analítica e reflexiva dos sujeitos e coletivos, como mútua e
reciprocamente imbricados.

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Fragmentos de "Antropologia": memórias de um "fazedor-de-antropologia"


Ayoreo

Leif Grunewald

Essa intervenção tenciona abordar, através da recordação da história de um senhor Ayoreo


(um povo falante de uma língua da família Zamuco que habita a região do Chaco Central) -,
uma imagem de um encontro e seus pressupostos entre determinados conteúdos
provenientes do campo disciplinar da antropologia com determinados modos de codificação
mobilizados pelas pessoas desse povo na forma de uma “antropologia”. Servindo-se de
alguma caracterização etnográfica, esse trabalho buscará evidenciar uma certa proposição de
que toda descrição etnográfica é igualmente (e simetricamente) uma descrição da
antropologia que a produz. À vista disso, o que hipotetiza-se nessa intervenção é que pode-se
encontrar na história do homem que queria transformar-se num fazedor-de-antropologia a
aparição de uma figura discursiva desconhecida” (Karsenti 2013, p.27), cuja irrupção é
mensurável apenas por meio daquilo de ‘Ayoreo’ que transborda para o interior daquilo que
nomeia-se costumeiramente de antropologia. Em outras palavras, trata-se aqui de observar
como conhecimentos acumulados sobre algumas dimensões fundamentais da ‘economia
sociocósmica’ de um povo – tais como a preensão relacional, a subjetivação perspectivista e
a metamorfose mitopoética (cf. Viveiros de Castro et al. (2003)) -, podem nos levar a uma
crítica etnograficamente motivada de determinadas noções que servem de esteio para o
campo disciplinar da antropologia” e que aparentam ser tributárias de uma concepção
formalista dessa disciplina.

Galdino Vive!

Rafael Xucuru Kariri (Carlos Rafael da Silva)

Como biografar as pessoas sem obras? Como falar de alguém que só deixou o corpo, o rastro
e a memória? O que dizer das práticas políticas orais dos sem teto, dos quilombolas, dos sem-
terra, dos ribeirinhos e das mulheres camponesas? Como pensar os exercícios estéticos das
mulheres rendeiras e dos artesãos? E as lideranças indígenas que não deixaram uma obra
escrita sobre o seu pensamento, sobre suas vidas? Nas aldeias brasileiras as lições do corpo
ecoam nos cantos e rituais dos povos que lutam pelo respeito à diferença, nos lamentos pela
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guerra fundiária ainda presente no cotidiano dessas populações, nas manifestações e


atividades dos índios em movimento. Nessas práticas é que encontraremos os testemunhos
de lideranças que empenharam suas vidas na luta contra a opressão sofrida por seus povos,
como o Caboclo Marcelino, Chicão Xucuru, Maçal Tupaý, Maninha Xucuru-Kariri e Galdino
Pataxó Hã Hã Hãe. Dentre essas referências, a figura de Galdino se destaca como um símbolo
da luta indígena pelo direito básico de existir, não por sua trágica morte, mas sim pelos
agenciamentos epistemológicos e políticos que, a partir dela, reverberaram. Assassinado em
1997 por cinco jovens de classe média que lhe atearam fogo, Galdino está nos discursos e
práticas dos Pataxó, dos Guarani e Kaiowá, dos Tupinambá, dos parentes na Raposa Serra do
Sol e de tantos outros que ansiaram por justiça. Práticas que hoje ocorrem em todo o país,
aludindo ao nome de Galdino como um símbolo de resistência dos oprimidos. Líderes que
nunca o conheceram, mas sabem de sua história, porque ela está entrelaçada às centenas de
histórias dos povos indígenas das Américas que o rememoram nas suas lutas políticas. Por
isso, para falar de Galdino, quero creditar as histórias que ouvi, como indígena, pertencente
ao povo Xucuru-Kariri; ser o ouvinte, o escutadeiro das pessoas que, direta ou indiretamente,
me confidenciaram os ensinamentos de alguém que se faz presente pela memória, ratificando
o modo como as epistemologias dos povos do sul são movimentadas nos saberes do corpo,
tanto individual quanto coletivo. Assim, não apostarei em uma narrativa sistemática da vida
do Galdino, aos moldes de uma leitura biográfica, pretendo sim catar os pedaços soltos nas
nossas práticas políticas, na nossa história diária, nos nossos modos de produzir textualidades,
para apresentá-lo como híbrido de discursos, situações e elementos histórico/culturais
advindos de horizontes absolutamente diversos, porém reescritos nos saberes coletivos do
movimento político dos povos indígenas pela retomada das suas terras e de si.

El diario del historiador indígena Domingo de San Antón Muñón Chimalpáin:


testimonio autobiográfico de una vida transcurrida en la Ciudad de México,
1577-1615

Gabriel Kenrick Kruell

Esta comunicación oral propone revisar el concepto de “autobiografía” en el contexto de la


Nueva España de finales del siglo XVI y principio del XVII, presentando un análisis del Diario
del historiador indígena Domingo de San Antón Muñón Chimalpáin, originario del pueblo de
Amaquemecan Chalco al sureste de la Ciudad de México. El interés del Diario, texto escrito
originalmente en lengua náhuatl, consiste precisamente en que representa un documento
único en el contexto de la historiografía indígena novohispana de los siglos XVI y XVII, debido
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a su carácter “autobiográfico”. Sin embargo, aunque este documento recoge ciertas noticias
de la vida de su autor, como el ingreso de Chimalpáin a la edad de 14 años (en 1593) al servicio
de la capilla de San Antón Abad en el barrio de Xoloco de la Ciudad de México, su formato
general a manera de “anales” (en náhuatl xiuhtlapohualli, es decir “cuenta de años”, genero
historiográfico de muy larga tradición prehispánica), no permite identificarlo plenamente
como una “autobiografía” stricto sensu. En efecto, el uso del “yo” autoral e individual
(expresado en náhuatl por medio del pronombre nehuatl) no era algo habitual en las
tradiciones históricas orales y pictográficas de los antiguos pueblos nahuas, en las cuales
prevalecía una autoría anónima y colectiva (indicada a través del pronombre de la primera
persona plural nehuantin, “nosotros”). En realidad, la marca de individualidad autoral tuvo
que ser introducida paulatinamente a lo largo del siglo XVI por influencia de la historiografía
europea y nunca logró cuajar en un verdadero género “autobiográfico” indígena.
Concretamente, en los 288 folios que componen el manuscrito del Diario encontramos
únicamente 6 veces la voz nehuatl (yo), utilizada por Chimalpáin para autonombrarse, y, por
el contrario, hallamos 38 entradas para los años que abarcan el período que va de 1577 a
1615, lo que nos habla de la prevalencia del género de los “anales” en detrimento de la
“autobiografía”. Tampoco el período escogido para narrar los acontecimientos más relevantes
ocurridos en la Ciudad de México (1577-1615) corresponde perfectamente a la vida de
Chimalpáin, quien nació en 1579 y cuya muerte debió acaecer varios años después de 1631,
fecha en la que se encontraba redactando los Memoriales de Colhuacan, última obra de su
vastísima producción historiográfica. En fin, hay que mencionar que para reconstruir los
momentos salientes de la vida de Chimalpáin no es suficiente la lectura de su Diario, sino que
es necesario recorrer su vasto corpus documental, que comprende hasta 20 diferentes obras
históricas que conforman cientos de páginas manuscritas, en las cuales encontramos
esparcidas aquí y allá las noticias acerca de su vida transcurrida en la Ciudad de México.

Da Zona Sul da Capital (SP), a palavra guarani e suas transformações

Paulo Victor Lisbôa

A presente comunicação visa uma interpretação das transformações da palavra guarani, a


partir das obras do escritor de literatura e cantor de rap Kunumi MC. Filho do escritor guarani
Olívio Jekupé e da narradora guarani Maria Kerexu, Werá (Kunumi MC) reside na aldeia
Krukutu, localizada no Distrito de Parelheiros, Município de São Paulo (SP). O autor e
compositor possui dois livros publicados, os quais denomina “literatura nativa”, e dois álbuns
de rap, um deles com circulação internacional. Sua produção literária e musical possui
composição bilíngue (guarani mbya-português) e uma dupla recepção, centrada nos públicos
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guarani e não-indígena. A incidência dessa produção literária e musical sobre as práticas


discursivas guarani e o modo como participa de relações com o estrangeiro serão objeto de
investigação.

Narrativas de luta por terras e direito: construindo memória e história com


povos indígenas

Jurema Machado

Desde 1999, tenho ajudado a produzir registros- gravações, imagens e cadernos de campo-
sobre os mais variados temas da trajetória do povo Pataxó Hãhãhãi, que vive na Terra Indígena
Caramuru-Paraguassu, no sul da Bahia. Esse material foi produzido em situações distintas:
trabalho de campo para monografia de bacharelado e mestrado; participação em ações
políticas do movimento indígena; trabalhos em oficinas de atividades de extensão.
Recentemente, no trabalho de campo para o doutorado, iniciamos- eu e um grupo de
indígenas- um processo que chamamos de “construção da história de luta dos Pataxó
Hãhãhãi”, onde, conjuntamente, construímos biografias de líderes, relatos de retomadas de
terra, trajetórias da dispersão, quando o território estava invadido, e as engrenagens que
possibilitaram o contato entre as famílias indígenas durante o período. Para tanto, fazíamos
leituras conjuntas do material referido acima, de documentos dos secs. XIX e XX, cartas
trocadas entre parentes durante os anos de dispersão, cartas abertas produzidas em
momentos específicos da luta, documentos direcionados às autoridades ao longo de quase
um século de luta. O objetivo desta comunicação será descrever o processo, e os desafios, de
construção e registro das memórias e histórias, valendo-se tanto de análise a partir da
antropologia histórica, como os trabalhos de Jean e John Comaroff, como da inspiração
proporcionada pela literatura através, notadamente, da obra “Becos da Memória”, de
Conceição Evaristo.

Eliane Potiguara: a voz da mulher indígena na literatura

Mirthis Elizabeth Costa do Nascimento

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O principal intuito da comunicação é realizar uma reflexão analítica a cerca do livro “Metade
cara, metade máscara”, escrito pela autora indígena Eliane Potiguara. Partindo deste ponto,
daremos enfoque nas principais questões que ela destaca no decorrer de sua narrativa
poética. Sendo estas: identidade, território, ancestralidade, feminino, resistência contra
hegemônica, representação e literatura indígena. O livro é uma autohistória. Por meio de seus
poemas e reflexões sobre os assuntos citados acima, Eliane Potiguara fala sobre luta e
autonomia expondo suas percepções e relação com os temas. Trata-se de um retrato de como
ela enxerga o mundo e se relaciona com o mesmo. São questões atuais que estão em
evidencia e que de acordo com esta intelectual são importantes para os indígenas na
contemporaneidade. Além do livro, outros textos da autora e de pensadores indígenas que
fazem parte da chamada “literatura dos ressurgidos” serão tomados como fontes históricas.
A metodologia empregada se ocupa do estudo destas fontes e na análise de textos que versem
sobre a história da literatura indígena no Brasil e sobre a vida e obra de Eliane Potiguara.

As memórias e os tempos: o retorno aos dados, a etnografia e sua dimensão


política

Edmundo Antonio Peggion

Já considerei, em outra ocasião, que a existência possível é a do esquecimento e que a


memória decorre exclusivamente deste fato, e não o contrário. Tal impressão me veio de uma
volta aos dados de campo e de uma tentativa de organizar os registros de duas décadas para
retorno aos Tenharim do rio Marmelos, povo indígena que vive no sul do estado do Amazonas.
Recentemente estive na região para apresentar minha intenção de pesquisa e abrir a
possibilidade de uma escrita coletiva sobre um velho líder da comunidade. No entanto, a
movimentação das novas gerações está implicada em uma ação política na qual é importante
apresentar-se à mesa de negociações e na qual a diplomacia dá o tom. Neste caso, revisitar o
passado implica em um duplo vínculo, estabelecendo a importância desse passado para a
regularização fundiária, por exemplo, mas ao mesmo tempo colocando algumas
preocupações com o que deve ser lembrado. Assim, em um primeiro momento, o dado é o
esquecimento e o construído é, efetivamente, como organizamos aquilo que do
esquecimento resulta. Em um segundo momento, no entanto, este resultado a que chamamos
memória (tida como dada) precisa construir o seu próprio esquecimento. A reflexão será
desenvolvida tendo como base minha experiência de pesquisa no sul do estado do Amazonas.

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

A história que ele me contou. O caminho aberto por seu Calixto Francelino

Carolina Perini

Conheci Seu Calixto no início de 2010 e foi com muito bom grado que ele assentiu em me
contar, por diversas vezes, a sua história. Desde então suas narrativas me incentivaram a
refletir sobre as dinâmicas territoriais e familiares entre os Terena, povo indígena de língua
Aruak, habitante do pantanal sul-mato-grossense, a partir de uma biografia, e das relações
que ela me possibilitou perceber e construir. A vida de Seu Calixto, especialmente seu trilhar
como xuve (tronco), me auxiliou a entrever a complexa dinâmica de expansão e retenção
presente nos movimentos que marcam essa configuração social; assim como, a observar que
o ethos expansivo que conforma a liderança política contrasta-se e complementa-se com o
imperativo de estar junto e viver na aldeia. Em novembro de 2017, Seu Calixto, depois de
muito lutar em uma cama de hospital, nos deixou. Para mim, e talvez para outros que o
cercavam, ficou a sensação de que falta um esteio, um ponto de apoio e referência neste
mundo. Assim, gostaria de aproveitar a oportunidade para pensar sobre a história que ele me
contou, e mais especificamente sobre o que fazemos com as histórias que nos contam e o que
essas histórias podem fazer. Pois, como aprendi, sua história não acabou, ela apenas “deixou”
de ser sua, como uma semente deixa a velha flor. Foi-se um tronco, mas fica muita luta e a
vida que ela traz consigo. Esse trabalho é dedicado, então, a refletir sobre as múltiplas
possibilidades de vida, luta e partilha, nas comvivências, nas feituras diárias que uma história,
uma vida, contem (mas não retém) em si.

É possível falar em biografias indígenas?

Mariana C. A Petroni

Com a intenção de investigar com maior densidade os desdobramentos enunciados em


pesquisas anteriores, este texto procura, a partir da análise do filme Serras da Desordem
(2006) de Andrea Tonacci, explorar se em alguma medida é possível falar em biografias
indígenas. O documentário mostra a versão do diretor para a história ocorrida no Brasil, que
conta o massacre dos índios Guajá pelos brancos que cobiçavam suas terras, em 1978. Nesse
momento, os guajá se dispersaram pela mata e Carapirú vagou sozinho do Maranhão até a
Bahia, onde retomou contato com outras pessoas. Levado para Brasília pelo sertanista Sydney
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Possuelo, em uma semana Carapirú se tornau manchete por todo o país e centro de uma
polêmica entre antropólogos e lingusitas em relação a sua identidade. Na tentativa de
identificar sua origem ele reencontra um filho, com quem retorna ao Maranhão. É o próprio
Carapirú que protagoniza a história de sua vida. Nesse sentido, AndreaTonacci procura
colocar-se nesse ponto de interseção entre duas culturas, passando de uma a outra, sendo
ambas irredutíveis. Assim, esse texto busca pensar e discutir o texto etnográfico e suas
implicações para o trabalho antropológico no sentido proposto pela socióloga aymara Silvia
Rivera Cusicanqui (2010), no qual o conhecimento do outro deve ser lido por meio de
deslocamentos permanentes, o que significa compreender o projeto de modernidade
indígena, e com isso questionar e problematizar suas implicações para a escrita etnográfica.
Dessa maneira, esse trabalho procura problematizar narrativas como a dirigida por Andrea
Tonacci no sentido de pensar, a partir das propostas de Suely Kofes (2015) e de Marco Antônio
Gonçalves (2012), a relação entre biografia e etnografia, o estatuto da narrativa biográfica na
antropologia e as grafias da vida social. Por uma lado, está a ideia apresentada por Kofes
(2015) de que o ato de biografar é um ato de etnografar, e por outro, está a proposta de
Gonçalves (2012) de pensar, por meio do conceito de “etnobiografia”, a potência de
individuação dos idivíduos enquanto manifestação criativa. Ambos os autores vão além do uso
instrumental das histórias de vida e apresentam questões teóricas e metodológicas relevantes
para se pensar a grafia de uma vida. É a partir desse campo de questionamentos que
procurarei observar a construção da trajetória de Carapirú por Andrea Tonacci, com o objetivo
de refletir sobre o ato de biografar, o ato de etnografar e sobre a escrita antropológica.

Transbordando silenciamentos: autoetnografias e (re)memória em "Heart


Berries: a memoir" (2018), de Terese Marie Mailhot e "Metade cara, metade
máscara" (2004), de Eliane Potiguara

Fernanda Vieira de Sant'Anna

Consequências das práticas da colonialidade, silenciamentos e rupturas históricas vêm sendo


preenchidos e transbordados pelas escritas e corpos e vozes indígenas milenares. Seja pela
oralidade e/ou pela palavra escrita – que não nega a potência da oralidade, mas funciona
como um canibalizar as ferramentas do colonizador como mecanismo de (r)existência e
(re)criação de vivências e mundos possíveis – , escritoras indígenas como Janet Campbell Hale,
Terese Marie Mailhot, Larissa Behrendt, Eliane Potiguara e Marcia Wayna Kambeba, entre
outras vozes potentes, fazem da palavra um desafio a um mundo forjado para que os povos
originários sejam estrangeiros em seus próprios territórios, fantasmas de um passado
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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inventado e/ou obstáculos para o famigerado “progresso” da civilização ocidental.


Subjetividades que se recusam a performar o papel de objetos e personagens em enredos ou
matérias de crítica social, e se colocam como agentes na produção e reescrita das suas
histórias e suas literaturas. Longe de uma escrita guetoizante, as literaturas indígenas vêm
atuando como mecanismos de reafirmação de identidades em toda a sua (r)existência,
(re)memória e relevância. É importante ressaltar que as literaturas dos povos originários não
prestam contas à colonialidade, mas se colocam como potente ferramenta decolonial, em um
movimento de produção de novas epistemes que celebrem fazeres e saberes outros que não
os cientificistas eurocentrados. A exemplo dos Wapichana, a palavra é carregada de poder.
Ela molda e cria e recria. As literaturas dos resistentes agem como autoetnografia na
re(des)construção das identidades indígenas, onde a construção da alteridade não serve de
espelho para o olhar hegemônico. Decolonizar os entendimentos de texto e fazer literário são
movimentos necessários na construção de mundos possíveis, onde os povos nativos não
sejam mais os “outros” no espelho da colonialidade. Assim, como resistência, reescrita e
rememória, as literaturas originárias escritas por mulheres, inscrevem de volta histórias
apagadas, em uma autoetnografia que faz um “movimento umbilical de afirmação de
alteridade e de busca por direitos e garantias próprios e necessários aos povos indígenas”
(DORRICO, 2017, p. 115). Pelo viés dos Estudos culturais e Decoloniais e com uma abordagem
comparatista, e com um aporte teórico que inclui, mas não se restringe a, Maracle (1996), Hall
(2006), Erll (2011) e Graúna (2013), este trabalho se propõe a desdobrar novas cartografias de
pertencimento e não-pertencimento, hibridismo e outramento nas obras autoetnográficas de
três autoras de diferentes nações e culturas: Heart Berries: a memoir (2018), de Terese Marie
Mailhot; e Metade cara, metade máscara (2004), de Eliane Potiguara.

Chaguanca, chorota, mataca: sangre y mundos entreverados en una historia


de vida

Sonia Elizabeth Sarra

La historia de vida de Elena –mujer de ascendencia indígena y una de mis anfitrionas durante
mi trabajo de campo– transcurre en el multiétnico escenario de las tierras bajas de Jujuy
(Noroeste Argentino), foco del auge azucarero, donde es notoria la predominancia de
guaraníes que, tras un largo período de silenciamiento y ocultamiento, actualmente deciden
visibilizarse y organizarse en comunidades con representación ante el Estado. Si bien mi
investigación se focaliza en los modos relativos y dinámicos de ser guaraní en Jujuy, en esta
instancia prestaré atención a la identidad difusa de Elena quien auto-adscribe, por momentos

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simultanea y arbitrariamente, a distintos grupos o subgrupos étnicos (guaraní, chaguanco,


tembeta, chorote, mataco). ¿La amalgama –o mejor dicho, yuxtaposición étnica– supone un
desconocimiento de la propia historia y un achatamiento de la diferencia, o, antes que eso,
revela la inadecuación de categorías identitarias fijas? Sin ser constante ni enteramente
chaguanca, Elena lo es cuando le tira la sangre. Su historia familiar –que no es excepcional–
entrevera sangre de distintos orígenes, pero también mundos en los que el componente
guaraní o chaguanco es uno más entre otros.

(Auto)biografia, analogias e parentesco entre os Baniwa

João Jackson Bezerra Vianna

Como compor com e a partir das narrativas (auto)biográficas indígenas uma descrição
etnográfica? Esta é a questão que pretendo enfrentar nesta comunicação ao abordar as
narrativas que Júlio Cardoso, 83 anos, homem baniwa do clã Awadzoro (língua aruak,
Noroeste Amazônico), contou-me sobre sua própria vida entre as décadas de 1950 e 1970,
quando viveu com patrões não indígenas no Brasil, Venezuela e Colômbia. Júlio foi o meu
principal anfitrião durante o trabalho de campo para tese doutoral em antropologia social. A
gravação de algumas de suas histórias tinha a princípio como horizonte a minha pesquisa, mas
transformou-se por em uma compilação para um livro, ainda não publicado, que Júlio gostaria
de deixar para os seus netos. Minha intenção é concomitantemente contar as histórias de vida
de Júlio e extrair delas consequências etnográficas para a descrição do parentesco baniwa. Em
um duplo movimento, a autobiografia de Júlio ilumina aspectos do parentesco envolvido nas
relações baniwa com os seus patrões na segunda metade do século XX, do mesmo modo como
estes entendimentos nos ajudam a compreender as sutilezas de algumas das passagens que
Júlio faz questão registrar sobre sua própria biografia. Por fim, espero demonstrar a
pertinência de procurar compreender a biografia de Júlio (bem como de outras pessoas) e o
parentesco baniwa (ou de qualquer outro domínio etnográfico) mutuamente. Assim,
perscrutando biografias, defenderei que é possível realizar uma etnografia que considere
personagens, lideranças, chefes, pajés, tricksters, heróis míticos e, enfim, personificações da
história e do mito.

Relatos de la vida de un referente y artesano indígena de la comunidad


Dalaxaic' Na' Ac', La Plata. Reflexiones en torno a las historias de vida

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Nadia Voscoboinik

Aragon Laura Aragon

Hugo Cardozo

En esta ponencia -producto del trabajo conjunto con un referente qom y actual cacique de la
Comunidad Dalaxaic ́ Na ́Ac ́ de la ciudad de La Plata, Argentina- nos proponemos reflexionar
acerca de la importancia de la historia de vida como técnica que permite trabajar y construir
un tipo de relación social diferente entre investigadores y sujetos que forman parte del objeto
de investigación. La presentación de distintos fragmentos de la historia de vida del
mencionado cacique, relativos a su trayectoria como artesano qom, nos permite analizar y
comprender las actuales demandas y luchas del pueblo al cual pertenece, al referir a históricas
experiencias de resistencia y organización colectivo-comunitaria. Al mismo tiempo,
fundándonos en estas reconstrucciones problematizamos el hecho de considerar al “otro”
como “referente”, valorando su autobiografía en tanto sintetiza, a nivel individual, las
transformaciones, las luchas y las demandas del colectivo del cual forma parte. Finalmente
hacemos hincapié en la relevancia política de estas reconstrucciones, en las que al apelar a la
memoria, en relación con el presente y proyectándose al futuro, el pasado se experimenta
vívidamente en el presente.

ST 32 | Memórias, narrativas e saberes tradicionais: experiências,


territorialidades e visibilidades de Povos e Comunidades Tradicionais

Carmo Thum (Universidade Federal do Rio Grande – FURG, Brasil); Kátia Cristina Favilla (Rede Cerrado,
Brasil); Denizia Kawany Cruz (Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste – APOINNE,
Brasil).

Espaço para a publicização de produções que tenham por foco a narrativa dos processos de luta
política diferentes segmentos de Povos e Comunidades Tradicionais. Narrativas dos diversos
segmentos de povos e comunidades tradicionais. Formas de registro do modo de viver, produzir e
partilhar e educar. Processos educativos formadores dos sujeitos. Ações sistematizadas de produção
de conhecimento sobre as práticas articuladas de cultura, educação popular e educação integral.

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Processos de investigação-ação em territórios de Povos e Comunidades Tradicionais. Estratégias


implementadas de auto-reconhecimento e autodemarcação territorial. Educação, interculturalidade,
saberes originários e tradicionais, autodeterminação intelectual. Luta territorial, cultural, política,
social e econômica que envolvem a identidade e os processos educativos. Os mais velhos, os saberes
e fazeres ancestrais peculiares. Territórios do Educativo: espaços de reinvenção. Análise das culturas
locais, associada à memória, aos modos de vida, à estesia. Memórias e Narrativas autobiográficas.
Cultura, Estética e Formação. Redes de saberes, memórias, ancestralidades, incompletudes e
territorialidades. Modos de compreender saberes e estéticas. Textualidades imagéticas narradoras.
Epistemologias de um novo modo de compreender o conhecimento a partir das narrativas e dos
processos de produção da Memória/História e suas interseccionalidades. Perspectivas emancipatórias
da luta política.

Memória e História: Pedagogia de resgate das canoas

Maria das Dores do Rosário Almeida

Com a intenção de investigar com maior densidade os desdobramentos enunciados em


pesquisas anteriores, este texto procura, a partir da análise do filme Serras da Desordem
(2006) de Andrea Tonacci, explorar se em alguma medida é possível falar em biografias
indígenas. O documentário mostra a versão do diretor para a história ocorrida no Brasil, que
conta o massacre dos índios Guajá pelos brancos que cobiçavam suas terras, em 1978. Nesse
momento, os guajá se dispersaram pela mata e Carapirú vagou sozinho do Maranhão até a
Bahia, onde retomou contato com outras pessoas. Levado para Brasília pelo sertanista Sydney
Possuelo, em uma semana Carapirú se tornau manchete por todo o país e centro de uma
polêmica entre antropólogos e lingusitas em relação a sua identidade. Na tentativa de
identificar sua origem ele reencontra um filho, com quem retorna ao Maranhão. É o próprio
Carapirú que protagoniza a história de sua vida. Nesse sentido, AndreaTonacci procura
colocar-se nesse ponto de interseção entre duas culturas, passando de uma a outra, sendo

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ambas irredutíveis. Assim, esse texto busca pensar e discutir o texto etnográfico e suas
implicações para o trabalho antropológico no sentido proposto pela socióloga aymara Silvia
Rivera Cusicanqui (2010), no qual o conhecimento do outro deve ser lido por meio de
deslocamentos permanentes, o que significa compreender o projeto de modernidade
indígena, e com isso questionar e problematizar suas implicações para a escrita etnográfica.
Dessa maneira, esse trabalho procura problematizar narrativas como a dirigida por Andrea
Tonacci no sentido de pensar, a partir das propostas de Suely Kofes (2015) e de Marco Antônio
Gonçalves (2012), a relação entre biografia e etnografia, o estatuto da narrativa biográfica na
antropologia e as grafias da vida social. Por uma lado, está a ideia apresentada por Kofes
(2015) de que o ato de biografar é um ato de etnografar, e por outro, está a proposta de
Gonçalves (2012) de pensar, por meio do conceito de “etnobiografia”, a potência de
individuação dos idivíduos enquanto manifestação criativa. Ambos os autores vão além do uso
instrumental das histórias de vida e apresentam questões teóricas e metodológicas relevantes
para se pensar a grafia de uma vida. É a partir desse campo de questionamentos que
procurarei observar a construção da trajetória de Carapirú por Andrea Tonacci, com o objetivo
de refletir sobre o ato de biografar, o ato de etnografar e sobre a escrita antropológica.

Qual a participação dos Povos e Comunidades Tradicionais nas indicações de


áreas prioritárias para a conservação da Mata Atlântica

Jorge Inocêncio Alves Junior e Carmo Thum

Os territórios de Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil são espaços de conservação da


sociobiodiversidade. Os diferentes segmentos de Comunidades e Povos Tradicionais (PCTs), a
partir de seus modos de uso do espaço foram/são os sujeitos da conservação. Muitas das
nascentes dos pequenos e grandes rios estão nos territórios de PCTs. Muitas das matas e
florestas com alta biodiversidade estão nos territórios de PCTs. Muitas das áreas cujo subsolo
apresenta minérios e aquíferos estão em territórios de PCTs. Os territórios são nossos espaços
de vida e de reprodução da cultura. Conserva-se pelo uso. Conserva-se pelas tradições.
Conserva-se pelos ritos. Conserva-se pelo sagrado. Conserva-se pela concepção de que a terra,
os animais, as plantas, a água e as gentes que ali habitam necessitam ter condições de
reprodução/manutenção, pois as futuras gerações necessitam ter o direito de usufruir dos
bens naturais e culturais. Quando se faz o cruzamento do Mapa das áreas Prioritárias para a
Conservação com os territórios dos Povos e Comunidades Tradicionais, visualiza-se que muitas
das áreas demarcadas nos mapas, como prioritárias para a conservação, são também
territórios de Povos e Comunidades Tradicionais. Portanto, os diferentes segmentos
estabeleceram ao longo das gerações, estratégias de conservação que são potentes no
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processo de manutenção da diversidade, natural e social. Na concepção de vários segmentos


de Povos e Comunidades Tradicionais, o humano também é parte da natureza. Para garantir
a continuidade da cultura, a reprodução do modo de vida, as condições sociobiodiversas
necessitam serem garantidas, inclusive, o direito a vida humana nesses espaços. O processo
estabelecido no Brasil, de atualização dos Mapas de áreas prioritárias, que se encerra no ano
de 2018, não incluiu em sua metodologia, estratégias específicas que atendesse a dinâmica
desses grupos. A participação dos Pcts nesse processo, nos poucos casos que existiram, se
deram em processos secundários e notadamente somente ao final da coleta de dados.
Considerando as diretrizes presentes na OIT 169 e na Convenção da Biodiversidade (CDB), de
que aos grupos especiais se faz necessário estratégias adequadas e modeladas ao modo de
vida dos sujeitos da cultura, evidencia-se um equívoco metodológico exercitado pelo Estado,
sobre as populações que ocupam e fazem uso das áreas prioritárias para a conservação. O
decreto 6040/2007 define a condição de Povos e Comunidades Tradicionais e indica os
segmentos que no Brasil, são reconhecidos como os sujeitos de direitos previstos na CDB e na
OIT 169, a saber povos originários e comunidades locais, que na atualidade tem 28 segmentos,
no Brasil. Portanto, o processo metodológico proposto para essa estratégia de produção de
dados que orientarão políticas de desenvolvimento participação não foi adequado por não
prever a participação ativa dos sujeitos. O modo operacional da participação incluiu a
participação da Sociedade Civil de forma muito genérica, incluindo nisso também as
organizações do setor do agronegócio, mas não fez previsão de que, com os segmentos de
Povos e Comunidades Tradicionais, as discussões sobre os diferentes usos dos espaços, sobre
os custos, sobre as espécies de aves, peixes, plantas e todas as demais que compõe a coleta,
deveriam ser mapeadas junto com os segmentos e respeitando seus modos de organização.
Nos diferentes biomas, as características dos grupos apresenta especificidades, seja no Bioma
Pampa, seja no Bioma Mata Atlântica, seja em qualquer bioma, as relações climáticas, o
relevo, os tipos de plantas, de aves, de animais... tudo isso implica, indissociadamente ao
modo de vida dos Povos e Comunidades tradicionais, que ao viverem uma relação de uso e
conservação, modelam formas de vida que não são dissociadas entre natureza e cultura. Há
tempos está estabelecido nos Acordos Internacionais o direito de consulta e de participação.
Mas consultar não nos basta, desejamos exercitar a nossa condição de sujeitos de direitos.
Participar das definições das estratégias de conservação e das decisões de impacto sobre
nossos territórios. Portanto, quando as políticas públicas buscam criar banco de dados para
definir investimentos prioritários sobre esses espaços, a população que o conservou e desse
espaço faz seu território precisa ser sujeito ativo e em iguais condições de participação. No
específico das questões relativas a CBD, o Art. 8 “j” da CDB (Decreto 2519/98), da meta 18 de
Aichi, do art. 6.1 “a” da Convenção 169 da OIT (Decreto 5051/2004), assim como do art. 9.2
“c” sobre direitos dos agricultores do Tratado da FAO (TIRFAA - Decreto 6476/08), Decreto no
4.339/2002 (Política Nacional da Biodiversidade) apresentam caminhos a serem seguidos
pelos Estado Brasileiro. No específico de Unidades de Conservação, Art. 42 do SNUC conforme
a CF e Convenção 169 da OIT, entre outras coisas, tem posicionamento que indica a

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necessidade de respeito ás comunidades locais, inclusive para permitir a conciliação da


presença das populações tradicionais em UCs de todas as categorias. Se a 'Sociobiodiversidade
é o resultado da inter-relação entre diversidade biológica e diversidade de sistemas
socioculturais (MDA, 2009), sendo fruto de práticas culturais e das influências recíprocas entre
ambiente e cultura (ALBAGLI, 1998). Desta inter-relação se originaram produtos e serviços
associados ao conhecimento e manejo de espécies por povos indígenas, povos e comunidades
tradicionais e agricultores familiares (MDA, 2009)', perguntamos: Como podemos pensar a
vida cultural dissociada da natureza? Como podemos compreender as políticas de
conservação dissociadas dos modos de vida? Como compreender a presença das
comunidades e dos povos tradicionais nos espaços de áreas prioritárias? como garantir a
continuidade dos modos de vida diversos?

Processo de formação do Povo “Galibi do Oiapoque”: impactos migratórios

Kássia Angela Lod Moraes Galiby

Marcilene dos Santos Forte

Rosilene Cruz de Araujo

A presente comunicação é resultado do trabalho de conclusão de curso e teve como objetivo


entender o processo migratório do povo Galibi do Oiapoque e as razões que ocasionaram esta
migração, os impactos que a migração causou no modo de vida deste povo, a demarcação da
Terra Indígena Galibi, as relações construídas com os povos indígenas Karipuna, Galibi-
Marworno e Palikur e traçar algumas perspectivas quanto ao futuro dos Galibi do Oiapoque
que vem passando por grandes mudanças culturais, pois este povo teve uma redução
populacional muito significante dentro da aldeia fundada por eles. A pesquisa é baseada na
memória daqueles que viveram a migração e nas informações buscadas em outras fontes que
nos ajudam a construir este artigo para que possa servir como fonte de informações e riquezas
de conhecimentos para o Povo Galibi do Oiapoque. Nas considerações sobre a emergência
deste estudo estão as pesquisadoras indígenas sendo a primeira, Kassia Angela Lod Moraes
Galiby, indígena da Enia Galibi Kali’na, estudante do Curso de Licenciatura Intercultural
Indígena da Universidade Federal do Amapá Campus Binacional de Oiapoque, formação na
área de Ciências Humanas, atualmente trabalhando no Museu Kuahí ,desde de 2015
exercendo a função de monitora, filha de Maria Cristina Lod e Sebastião Bueno de Moraes,
fazendo parte da terceira geração do grupo de indígena foco desta pesquisa, hoje conhecido
como Galibi do Oiapoque. Este grupo foi instalado na Terra Indígena Galibi em 1950 após uma
migração vinda da Guiana Francesa; a segunda pesquisadora, Marcilene dos Santos Forte,
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indígena da Etnia Karipuna residente na Aldeia Ariramba, Terra Indígena Galibi, estudante do
Curso de Licenciatura Intercultural Indígena da Universidade Federal do Amapá Campus
Binacional de Oiapoque, área de Ciências Humanas e a terceira pesquisadora, Rosilene Cruz
de Araujo, indígena da Etnia Tuxá, professora do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena
da Universidade Federal do Amapá Campus Binacional de Oiapoque e Doutoranda em
Antropologia pela Universidade de Brasília - UNB.

Povos e comunidades tradicionais, territorialidade, memória, biodiversidade:


aproximações aos conceitos

Caroline Teixeira Azambuja

Laressa Oliveira da Silva

Carmo Thum

Buscamos por meio de levantamento bibliográfico identificar autores de referência nos temas
de territorialidade e biodiversidade vinculados a povos e comunidades tradicionais. A partir
da leitura e fichamento de três textos específicos, produzimos resenha interpretativa dos
mesmos, como forma de sistematização de dados e síntese conceitual. No texto de Toledo
(2001) analisamos a temática da biodiversidade associada ao modo de vida dos Povos e
Comunidades Tradicionais e suas relações indissociáveis com a cultura. Nesse estudo
compreendemos as relações intrínsecas entre o território e as práticas constitutivas dos
modos de vida. No estudo de Paul E. Little (2004), buscamos compreender o conceito de
territorialidade associado ao uso do espaço de vida dos diferentes segmentos. Os modos de
uso do território e suas relações simbólicas com a memória e as práticas. Compreendemos
que há uma diversidade de noções associadas a idéia de território e diferentes também são
os modos de referenciar a idéia de territorialidade por parte dos segmentos, dado as
especificidades que os constituem. No texto de Juliana Santilli (2002) buscamos compreender
os conflitos colocados no cenário atual, sobre o conhecimento dos Povos e Comunidades
Tradicionais especialmente os que dizem respeito à relação entre os saberes associados e a
biodiversidade. Compreendemos a vulnerabilidade presente e a disputa entre o mundo do
capital e a experiência do bem viver. Na atualidade o não reconhecimento dos povos
tradicionais como detentores de um conhecimento associado não aponta garantias
suficientes para que os detentores de saberes tradicionais sejam sujeitos de direitos.

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Navegar é preciso: visibilizando os saberes e fazeres ancestrais dos mestres


da carpintaria naval amazônica

Roberta Sá Leitão Barboza

Marcelo Oliveira

Josinaldo Reis do Nascimento

Joerbt Franco

Embora o exercício da carpintaria naval seja reconhecido legalmente como atividade


pesqueira, constatamos uma ampla invisibilidade dos profissionais envolvidos no ofício em
termos de reconhecimento e valorização de seus saberes e implementação de políticas
públicas específicas. A atividade de carpintaria naval envolve grande quantidade de
trabalhadores, como carpinteiros, calafates, pintores e ajudantes. O saber-fazer incutido na
construção, reparo e manutenção das embarcações pesqueiras representa estimada
importância especialmente nas localidades com grande dependência da pesca, como a região
amazônica. A pesca é uma das atividades extrativistas mais tradicionais e importantes da
Amazônia e garante renda e subsistência para considerável parte da população, além de
render importantes divisas para o país, todavia, são poucos os estudos relacionados às
embarcações envolvidas na atividade pesqueira. Nesse sentido, o presente estudo objetiva
valorizar os saberes locais envolvidos na carpintaria naval através da utilização de
metodologias participativas e investigação-ação nos municípios de Augusto Correa e Bragança
(Pará, Brasil) nos anos 2014 e 2015. Realizamos um levantamento das nomenclaturas e
critérios de classificação local das embarcações, além de compreender as relações sociais de
produção e aprendizagem do oficio de carpintaria naval. Também organizamos oficinas de
fotografia com visitas aos estaleiros e posteriormente exposições fotográficas dos carpinteiros
mestres dos saberes e atividades da carpintaria naval; e oficinas de confecção de miniaturas
de embarcações ministradas pelos carpinteiros. Identificamos e mapeamos 18 estaleiros na
área de estudo e nove (9) tipos de embarcações locais. Cada uma das embarcações apresenta
forma e estrutura peculiar, sendo algumas oriundas de outros Estados, e inclusive construção
de embarcações com características mistas de diferentes Estados, demonstrando processos
de reinvenção da tradição. Por outro lado, a frota de pesca do litoral norte é classificada por
órgãos ambientais e de pesquisa em categorias de difícil compreensão e reconhecimento
pelos pescadores e carpinteiros. Estima-se que em 2014 foram construídas cerca de 163
embarcações e consertadas 326 nos estaleiros da região. Os carpinteiros entrevistados não
possuem curso de formação técnica para exercício da profissão, nem possuem qualificação
técnica profissional em construção naval, e essa atividade vem sendo repassada de pai para
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filho ou para um parente mais próximo, sendo que atualmente poucos jovens tem se
interessado pela atividade. De modo geral, percebemos uma certa invisibilidade da atividade
e dos saberes ancestrais dos mestres carpinteiros na região estudada. Temos realizado um
esforço para promover o reconhecimento destes, por meio das oficinas e pretendemos ainda
realizar um registro audiovisual dos carpinteiros e confecção de cartilhas que relacionem os
saberes incutidos na carpintaria naval a conteúdos escolares para uso em sala de aula.

Emergência étnica indígena, territorialização, memória e identidade do grupo


indígena tabajara e tapuio da Aldeia Nazaré

Ilana Magalhães Barroso

Esta proposição é produto final de minha dissertação de mestrado, defendida em fevereiro de


2016, que tem como objetivo refletir sobre o processo de Emergência Étnica vivenciado pelos
indígenas Tabajara e Tapuio da aldeia Nazaré, localizada no município de Lagoa de São
Francisco, estado do Piauí. O relato etnográfico é decorrente do trabalho de campo e do uso
de procedimentos tais como: observação, entrevistas, registro audiovisual e participação em
eventos e reuniões de interesse dos indígenas. Essa descrição e análise tem a pretensão de
evidenciar o protagonismo dos sujeitos que compõem essa coletividade, a forma de
organização social e estratégias políticas que estão sendo construídas em vista da afirmação
e reconhecimento da identidade indígena. Para entender o processo de mobilização
identitária em curso, descrevemos a composição da comunidade, dados historiográficos e a
memória social do grupo. Abordamos as relações que se estabelecem entre os próprios
indígenas e com os agentes externos tais como pesquisadores, representantes de secretarias
e órgãos do poder público. Mostraremos a relação que se estabelece entre a agência dos
sujeitos e o contexto das interações efetivadas e como tudo isso integra a construção de
etnicidade indígena.

O município como legislador de políticas educacionais bilíngües:


aproximações entre os povos tradicionais baniwa, tukano e pomerano

Moysés Aparecido Berndt

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No Brasil eram faladas cerca de 1.500 línguas à época da conquista do território pelos
colonizadores portugueses. No Sec. XVI jesuítas criaram a Língua Geral, nheengatu, que, no
Sec. XVIII, foi proibida da Colônia pelo Marques de Pombal sob a justificativa que todos os
súditos do príncipe português deveriam falar a mesma língua que o monarca. A partir de
então, foi sendo sistematicamente reforçada a idéia de língua única nacional, hoje inscrita no
artigo 13o da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. A língua única é
desmistificada na própria CF, que reconhece a cultura e línguas dos povos indígenas (artigos
210o e 231o ). A evolução recente dos direitos humanos, na esfera da Unesco, incorporou
direitos culturais materiais e imateriais, inclusive direitos linguísticos, cujas Convenções para
a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, e sobre a Proteção e Promoção da Diversidade
das Expressões Culturais foram ratificadas pelo Estado brasileiro (Decretos Legislativos no
22/2006 e no 485/2006, respectivamente). Embora prevista na CF, a educação indígena levou
longos anos para ser implantada, pois depende de regulamentação por órgãos federais.

Educação, Memória e Direitos Linguísticos de PCTs: territorialidades das


línguas maternas

Myrna Gowert Madia Berwaldt

Carmo Thum

A fala é um patrimônio dos povos. Em Contextos dos Povos e Comunidades Tradicionais,


exercício da língua materna se dá no cotidiano. Contudo, a lógica da língua única nacional nega
a vida pública e o uso das línguas. Segmentos de povos e comunidades tradicionais que
possuem e exercitam suas línguas maternas questionam a padronização e a homogeinização
cultural produzidas pelas normatizações negadoras dos direitos linguísticos. O exemplo dos
povos indígenas animam a luta por garantia dos direitos linguísticos dos demais segmentos:
Povo Cigano, Povo Pomerano, Povo de Terreiro, entre outros, buscam a co-oficialização nos
espaços em que exercitam suas territorialidades. Contudo, as políticas públicas de língua
materna tendem a serem processos declaratórios formais de direitos linguísticos. A
implementação de processos de alfabetização na língua materna é uma realidade que não
ganha corporeidade suficiente nas práticas gestoras da educação. A base dos direitos
linguísticos tem amparo na Constituição de 1988 (artigos 210, 215 e 216), nas Convenções
Internacionais, nas premissas da Declaração Universal dos Direitos Linguísticos (Barcelona,
1996) e nos decretos (3.551/2000 regulamentam o processo de Registro de Bens Culturais de
Natureza Imaterial). Memória e educação e territorialidade se implicam mutuamente nos
processos de luta por direitos linguísticos de língua materna.
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Expedições fluviais pela bacia do Juruena como estratégia de planejamento


territorial e formação política

Andreia Fanzeres

Tarcísio da Silva Santos Júnior

Ricardo da Costa Carvalho

Adriele Andrade Précoma

A sub-bacia do rio Juruena cobre 191 mil km2 e tem 21% de sua extensão formados por áreas
protegidas. As terras indígenas da sub-bacia salvaguardam 5 milhões de hectares e têm com
população indígena estimada de 4.937 pessoas de 10 etnias. Análises do Programa de Direitos
Indígenas (PDI) da Operação Amazônia Nativa (OPAN) mostram que em 2019 a bacia do
Juruena tem 143 empreendimentos hidrelétricos inventariados, estando 62% em fase de
planejamento, 31% em operação e 6% em construção. Pautando-se nesse contexto, no
interesse dos indígenas por melhor se apropriar dos seus direitos e dos impactos sistêmicos
dessa cadeia de empreendimentos, uma das estratégias na parceria com o PDI-OPAN tem sido
apoiar expedições flúvio-terrestres com os indígenas pelos principais afluentes do rio Juruena,
permitindo realizar atuações preventivas como formação técnica, sistematização de dados,
sensibilização comunitária, ampliação de acesso à informação e espaços de decisão sobre
planejamento territorial. Entre 2014 e 2018 foram realizadas 04 expedições (rios Papagaio,
Buriti, Arinos, Peixes e Juruena), totalizando aproximadamente 820 km percorridos ao longo
dos territórios indígenas das etnias Nambiquara, Parecis, Myky, Manoky, Enawenê Nawê,
Rikbaktsa, Apiaká, Munduruku e Kayabi, com previsão de serem diretamente afetadas por 37
empreendimentos hidrelétricos. As expedições têm proporcionado aos indígenas registrar,
sob sua ótica, mudanças na paisagem decorrentes do uso e ocupação do entorno de seus
territórios, e dimensionar os impactos dos empreendimentos sobre seus territorios
tradicionais. Nesse sentido, as expedições também lhes proporcionam elaborar modelos
independentes de conhecimento e monitoramento desses impactos, uma vez que os estudos
apresentados pelos empreendimentos subestimam os prementes danos socioambientais,
somado ao fato de que os órgãos governamentais competentes para fiscalizar tais
empreendimentos muitas vezes não alcançam cumprir esse papel satisfatoriamente e não
envolvem os povos conhecedores da região nesse monitoramento. A valorização do
protagonismo indígena nas expedições acontece ao proporcionar o deslocamento de
diferentes gerações de homens e mulheres pelo território, ao favorecer o uso de práticas e
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técnicas produtivas tradicionais com a viabilização do acesso a recursos das terras indígenas,
ao expandir o olhar indigenista por sobre o território e a perspectiva nativa para além dos
espaços das aldeias. Como estratégia de formação política, as expedições possibilitam verificar
in loco o contexto do cenário territorial e registrar narrativas sobre ele, favorecendo a
problematização e reflexão política, econômica, fundiária, jurídica e ambiental.

Produção dos saberes na fronteira entre territorialidade, corpo e natureza


entre os Tenetehar-Tembé

Ana Victória Santos da Costa

Uerley Iran Peixoto da Silva

Thaynã do Socorro Santiago Galvão dos Reis

Vanderlúcia da Silva Ponte

Este trabalho pretende compreender as relações entre práticas e saberes dos Tenetehar-
Tembé, sobre saúde e doença e os processos de territorialidade. Por meio do uso das plantas
medicinais, óleos e gorduras de bicho, entre outros recursos florestais, a parteira e o pajé das
aldeias e demais agentes e conhecedores da cultura criam e recriam processos de resistência
na defesa de suas identidades e garantia do território. Mediante conflitos territoriais com
agentes externos, os Tembé, povo Tupi, que vive ao longo dos rios Guamá e Gurupi, nordeste
do Pará-Brasil, sofrem constantes ameaças de perda da Terra Indígena do Alto Rio Guamá
(TIARG) seja por invasões permanentes, seja por meio de políticas públicas de cunho
assimilacionista, como a criação do Subsistema de Saúde Indígena do SUS, que desconsidera
os saberes e práticas tradicionais. Por meio do método etnográfico, com entrevistas e
observação direta em campo foi possível compreender que os cuidados na gestação, parto e
pós-parto e a dinamização dos rituais, importantes demarcadores no processo de
fortalecimento identitário, constituem-se em estratégias de (r)existência (PORTO
GONÇALVES, 2001) para os Tenetehar-Tembé continuarem existindo como povo e
reafirmando sua singularidade. Através da dinamização dos saberes e das práticas de cuidado
as mulheres Tembé acionam um saber ancestral, dão significado simbólico ao corpo e
agenciam a relação com a natureza, sem ignorar outros conhecimentos advindos do
Subsistema de Saúde Indígena, integrando-os a sua ampla rede de cuidados. São, portanto, os
sentidos produzidos na linguagem, em rituais e saberes sobre o corpo - nas manifestações
sobre saúde e doença - que possibilitam, em grande medida, processos de agenciamentos
com os não humanos, sejam animais ou plantas. São esses seres, que intermediados pelos
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saberes dos pajés e da parteira, que operam a cosmopolítica do cuidado (DIAS-SCOPEL, 2014)
delimitando as fronteiras entre corpos e territorialidades, que constroem, assim, os sentidos
e significados na relação natureza e cultura.

Práticas de resistência no audiovisual Xavante: memórias e narrativas

Gilson Moraes da Costa

Para os povos indígenas, a apropriação dos meios de comunicação, sobretudo os da produção


audiovisual, emerge como mecanismo chave para a preservação da memória coletiva e
autodeterminação. Na luta por reconhecimento e pela defesa dos direitos indígenas,
lideranças de diferentes etnias agem, estrategicamente, no sentido de tornar o audiovisual
um dispositivo central da afirmação cultural dos povos indígenas, propiciando a emergência
de um cinema decolonial que apresenta suas singularidades no “campo” [domínio da imagem]
e no “ante-campo” [domínio das estratégias de produção]. Nesta comunicação, temos o
interesse de apresentar uma interpretação sobre o percurso, o fortalecimento e a
consolidação da produção audiovisual por realizadores e coletivos indígenas no contexto do
Brasil contemporâneo, defendendo seu atravessamento militante que crava linhas de fuga e
subverte a ordem estética e política do cinema moderno. Interessa-nos ainda, em um segundo
momento, apresentar o relato de uma experiência de produção audiovisual realizada em
parceria com o Povo Xavante, no cerrado Mato- grossense. Para produzir uma cartografia
sobre o cinema indígena enquanto dispositivo político na afirmação da identidade étnica do
povo Xavante, e consequentemente, como instrumento de luta dos povos indígenas, farei
foco na produção fílmica de realizadores da etnia Xavante, em especial os trabalhos dirigidos
e/ou corroborados pelos cineastas Divino Tserewahú e Caimi Waiassé. Identifico nestas
produções um cinema que transborda a constituição mesma da imagem, cuja representação
simbólica e política está além dos limites do quadro fílmico. Concordando com Tuner (1993)
as narrativas fílmicas protagonizadas por realizadores indígenas indicam que os mesmos estão
interessados no aperfeiçoamento de um novo meio de representação e o usam como meio
para afetar e transformar sua cultura e a concepção que têm de si mesmo. Considerando o
estudo preliminar das narrativas audiovisuais agrupadas para esta pesquisa, é possível
ponderar que o olhar construído com a câmera pelos cineastas Xavante assume singularidade
e produz uma estética própria que escapa à normalização do regime de verdade documental
moderno, proporcionando “um horizonte de apresentações diversas do índio com base em
seus próprios pontos de vista, sem que deles sejam cobrados aspectos essenciais de suas
tradições, pois agora o índio vem se apresentando à história de uma perspectiva

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existencialista em oposição ao lugar essencialista e naturalista até então imposto a ele”


(NUNES et alii, 2014, 198).

Kariri xoco: Contos Indígenas

Denizia Cruz

O “Brincando com os Contos Indígenas Kariris Xocós” reúne, crianças, jovens, adultos,
professores, músicos, terceira idade, e instituições educacionais de diversos lugares que
desenvolve atividades de áreas de conhecimento de educação para o interesse e hábitos
permanentes de leitura de contos indígenas, que principia no lar, aperfeiçoa – se
sistematicamente nas escolas públicas, particulares e continua pela vida afora. Assim, busca
apresentar as histórias do cotidiano do povo Kariri Xocó que fica localizado na cidade de Porto
Real do Colégio – AL, descrevendo nesses contos as atividades desenvolvidas, as metodologias
aplicadas, as instruções recebidas pelo grupo, a aceitação de cada instituição e dos amantes
da leitura, principalmente mudanças na concepção pessoal, profissional e os benefícios que
as histórias orais e escritas proporcionam para as crianças, jovens e adultos. Visa estimular o
gosto pela leitura, os modos de vida de cada povo, a tradição oral e sua conexão espiritual
com a mãe terra.

Xavantes e Kuikuros na mediação artística do olhar estrangeiro

Silvia Maria do Espírito Santo

Martin Grossmann

A presente comunicação apresenta os processos de pesquisa e mediação artística e


procuramos caracterizar nossa experiência de mediação cultural junto a projeto de Bård
Breivik, artista norueguês convidado para expor na 21a Bienal Internacional de São Paulo, em
1991. A mediação cultural foi direcionada para a construção da sua obra de arte e o mediador,
um agente de uma ação cultural, atuou nas seguintes fases: 1) levantamento de fontes
históricas da Expedição Roncador Xingu e lideranças indígenas, 2) produção de textos e
imagens fotográficas e 3) seleção da informação empírica, obtida através da pesquisa de
campo. A mediação fez o levantamento dos materiais vegetais e animais utilizados pelos
índios Xavantes e Kuikuros, organizou um roteiro de viagem, viabilizou contatos com as
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lideranças sociais e administrativas dos parques indígenas no Centro Oeste (Mato Grosso e
Goiás). Os processos mediadores também respaldaram o projeto com uma indicação
bibliográfica, conceitos da antropologia e da história brasileira, procurando qualificar
teoricamente a pesquisa realizada em campo.

Relato de uma vivência em um acampamento indígena no nordeste paraense:


Os Tembé do Alto Rio Guamá

Mairon de Sousa Furtado

Israellen Cristina Souza Ataíde

Edileuza Amoras Pilletti

O projeto do qual sou integrante, intitulado “Floresta Viva Tembé: práticas e vivências
interculturais em Agroecologia” me proporcionou a vivência em um acampamento na floresta,
realizado entre os dias 06 a 09 de novembro de 2018 pelos índios Tembé tenetehara, da Terra
Indígena do Alto Rio Guamá. Foi uma experiência bastante peculiar, onde pude compreender
o contexto comunitário dos Tembé, onde dentre outras coisas se mostraram bastante
receptivos. Havia homens, mulheres, pais de famílias, jovens e crianças. Tão grandiosa foi a
minha satisfação em poder participar desse momento impar da cultura indígena, que foram
poucos os momentos em que atuava como pesquisador. Fugindo um pouco a esta função,
com a colaboração dos Tembé muito facilmente a equipe do projeto foi integrado ao universo
do acampamento, onde nos foi concedido espaço para participarmos dos momentos
dialógicos e de construção de conhecimento. Nesta ocasião, e somado aos outros momentos
que tivemos com os indígenas, pude perceber o quanto eles são cuidadosos com os visitantes.
O fato é que os Tembé são sempre receptivos com grupos de pessoas que buscam interagir
de forma harmônica. Tamanha foi a preocupação e o querer da parte deles que nos
sentíssemos a vontade que logo fomos comunicados das etapas a serem seguidas dentro do
acampamento. Pela forma como estavam e por quem estavam sendo realizadas as atividades,
ficou claro que os homens ficaram encarregados das atividades de caça, coleta e a pesca e já
as mulheres estavam incumbidas de preparar as refeições, onde nós participantes, fomos
incluídos nessa divisão, fato que me permitiu observar o quão os índios Tembé procuram
interagir com grupos diversos. É nesse contexto que pude verificar que os Tembé procuram
delegar tarefas para os respectivos gêneros, como o fazem no cotidiano. Além do fator
organizacional, no qual participei ativamente durante minha estadia no acampamento, lancei
mão de atividades como o preparo dos alimentos, atividades de pesca e coleta. Porém, não

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foi possível participar da caça, visto que, segundo os indígenas, com pessoas além dos
caçadores, seria um fator limitante, o que iria interferir negativamente no êxito da caça. No
que se refere aos alimentos, destaco o preparo do suco do açaí, em que participavam,
predominantemente, mulheres, com idades bastante variáveis. O interessante notar que as
mulheres mais jovens já demonstravam domínio sobre esta atividade, o que demonstra que
a transmissão de saberes tradicionais está muito presente na realidade Tembé. No caso da
pesca, observei algumas peculiaridades no modo como os Tembé realizavam, isto é, não
usavam caniço nem tarrafa, instrumentos muito utilizados por eles nessa atividade. O
contexto não era condizente e segundo relatou uma indígena, geralmente, nessas situações
eles utilizam o “Cunambí”, planta que é coletada na floresta. Sua funcionalidade é intoxicar os
peixes, e pelo que constatei, sua eficiência é indiscutível, visto que muitos peixes foram
capturados. Ainda segundo ela, eles utilizaram as folhas da planta, a qual foi macerada e
lavada na cabeceira do igarapé, onde liberou uma substância que provocava o desmaio nos
peixes que estavam em conato com esta substância, e o resultado foi uma pescaria farta que
serviu de alimento para os que estavam no acampamento. Grande parte das informações
relatadas sobre essa pescaria foi obtida a partir de dialogo com a indígena Maria Martinha dos
Anjos Soáres, enquanto observávamos esta pescaria. Destaco agora, algumas situações
enquanto estive presente em uma das coletas do fruto do açaí na floresta. A distância do
acampamento onde estávamos até o local em que os indígenas faziam a coleta, era de 300 a
500 m. Na oportunidade, foram os indígenas adultos, os mais novos e nós, os pesquisadores.
Pelos registros memoriais que pude fazer, foi possível perceber que as lideranças sempre
buscavam relembrar a importância do acampamento como forma de transmissão do
conhecimento, principalmente, àqueles atrelados ao saber conviver na mata, em que inclui
preparação do acampamento, estratégias de defesa, o saber caçar, pescar e coletar recursos
da floresta. Pude perceber também, a forma como os índios mais experientes ensinavam os
mais novos a coletar recursos naturais, que na ocasião, era o açaí. No que se refere a este
fruto, ensinavam a confecção da peconha (instrumento circular feito de saco plástico ou cipó
de plantas) utilizados para subir palmeira do açaí. Por outro lado, pude observar que, quem
apanhava o açaí, eram os mais novos, que tinham idade entre 9 e 18 anos. Já os mais
experientes estavam apenas repassando as instruções. Enquanto observavam, aproveitei a
oportunidade para iniciar um dialogo, onde procurei indagar sobre o acampamento, e fiz a
seguinte pergunta ao indígena Bewãri, pajé e professor de língua indígena que reside na aldeia
Sede: “no acampamento, o comportamento do grupo é uma simulação ou vocês procuram
agir como fazem no cotidiano?”. A partir de sua resposta compreendi que tentavam agir como
fazem no cotidiano. A naturalidade tinha como fim instigar os mais novos a perceberem como
era a vida Tembé antes da vinda do homem branco para suas terras. Era uma tentativa deles
de fazer os jovens compreenderem como era o modo de vida Tembé de antigamente, a vida
em comunidade, o fazer coletivo e assim buscarem resgatar este modo de vida que,
paulatinamente, está sendo substituído pelo modo de vida ocidental. Nas palavras indígena,
o objetivo do acampamento era “Permitir que, por meio dos nossos jovens, nossa cultura seja

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preservada”. A oportunidade que tive para participar dessa vivencia intercultural contribuiu
para uma maior reflexão acerca do significado da luta indígena pela manutenção de suas
terras, em que vai muito além do que um simples espaço de reprodução física. As práticas
coletivas vivenciadas durante o acampamento na TIARG me permitiram entender como é
simples, e ao mesmo tempo complexo, o processo de transmissão/construção do
conhecimento no contexto das populações tradicionais, visto que está carregado de questões
históricas, culturais e cosmológicas.

Narrativas Indígenas Guarani no Brasil – vozes que permanecem

Daniela Gebelucha

O estudo aborda narrativas indígenas guarani no Brasil que trazem temas como o modo de
viver e os saberes milenares transmitidos de geração para geração. Nelas destaca-se a
importância do território que atravessa desde os relatos de memórias e as histórias de contato
até os mitos de origem. O objetivo principal consiste em refletir sobre como essas narrativas
de base oral estão sendo atualizadas na contemporaneidade com a diversificação de suportes
(escrita literária, transcrição em trabalhos acadêmicos, criações audiovisuais e poético-
musicais) que, no entanto, preserva a coesão dos propósitos de resistência linguístico-cultural
e reivindicação de direitos. O estudo fundamenta-se em bases de campos do saber como
letras, história, ciências sociais e artes (Cf. MELIÀ, 1984; CLASTRES, 1990; BRAND E
CALDERONI, 2012; PEREIRA, 2012; GRAÚNA, 2013). Nossos resultados prévios indicam que as
coletividades Guarani no Brasil vêm transformando os formatos e recursos estéticos da
transmissão oral de histórias e mitos como continuidade da luta pelos territórios originários e
pela valorização dos etnosaberes e das cosmovisões.

O problema da demarcação das Terras Indígenas no Acre: os conceitos dos


limites e os limites dos conceitos

Elenira Oliveira Gomes

Rosemary Marinho da Silva

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A comunicação aborda um problema de descrição conceitual para uma política de legitimação


dos termos e dos limites territoriais e etnográficos das terras indíge- nas no Estado do Acre.
As comunidades nativas indígenas acreanas têm se esfor- çado para proteger os seus
territórios tradicionais. Embora, as autoridades e as ci- ências ligadas ao assunto mostrem
alguma preocupação em encontrar uma solução para o problema mas se destaca a fragilidade
conceitual. Outro ponto é o fato de que a cartografia indígena está sendo usada para auxiliar
nas demarcações dos territórios. Neste cenário, a formação de agentes agroflorestais
indígenas (AAI), através de ações educacionais facilita a descrição, o debate e a apropriação
de conceitos, como, terras delimitadas, declaradas, homologadas, regularizadas, e in-
terditadas, e os limites de cada território sirvam para solidificar as identidades de cada povo.
Assim, esse trabalho aponta a identificação e a delimitação destes con- ceitos. Através de
etnomapas e de conceitos territorial e ambiental, a delimitação dos termos pode fazer com
que cada grupo nativo saiba reconhecer seu espaço e sua identidade no Estado do Acre.

Ancestralidade indígena: silenciamentos e desvelamentos

Luana Barth Gomes

Cledes Antonio Casagrande

Este trabalho reflete sobre a interação da sociedade envolvente com a presença indígena na
cidade, além de pensar sobre a forma como os professores e a escola estão lidando com o
ensino da temática indígena. Como todos os outros povos, como todas as outras sociedades,
os indígenas modificaram seu modo de viver, adaptando-se e criando novas realidades, já que
também residem em meio aos não indígenas e em grandes centros urbanos. O que ocorre é
que os educadores das escolas não indígenas não estão preparados para ensinar a respeito
dessa mudança na organização das sociedades ameríndias e continuam as apresentando da
forma como viviam no passado. Algumas questões mobilizaram a investigação: que imagem
de índio está sendo transmitida aos alunos? Que formação está sendo fornecida aos
professores em relação à temática indígena? De que forma a lei 11.645 (BRASIL, 2008) está
sendo aplicada nas escolas? O objetivo central do artigo é observar como está se dando o
ensino da temática indígena nos anos iniciais de escolarização e que subsídios estão sendo
fornecidos aos professores para abordarem o tema. A metodologia utilizada foi a qualitativa,
com elementos da análise de documental de materiais que abordam a temática indígena e o
uso do Diário de Campo para resgate de falas importantes de lideranças e intelectuais que
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abordam o assunto. Para a análise desse tema, foram utilizadas as obras de alguns autores
que situam-se na fronteira entre a educação e antropologia, como: Iara Tatiana Bonin, Norma
Abreu Telles, Eduardo Viveiros de Castro, Clifford Geertz, Nestor Garcia Canclini, entre outros.
Nota-se que há a necessidade de maior investimento na busca, no planejamento e na
implementação de atividades para além das datas comemorativas, para que o ensino vá além
de meras referências e para que não se perpetuem as representações estereotipadas. Em
relação ao que se ensina aos nossos alunos, quanto ao passado dos povos indígenas nestes
mais de cinco séculos de presença europeia, é importante ressaltar como se constituíram
essas histórias, como se produziram essas memórias, para que essa visão do indígena
construída pelos colonizadores e perpetuada até hoje seja superada e substituída por uma
concepção mais condizente com a história e a cultura de cada povo ameríndio.

Educação Krahô: transmissão de saberes tradicionais


Renato Yahé Krahô

Francisco Ediges Albuquerque

Leni Barbosa Feitosa

Esta comunicação objetiva compreender como acontece a transmissão de saberes tradicionais


na educação Krahô, à luz de um estudo etnográfico. Segundo os mais velhos, a educação
tradicional era mais rígida, sendo os jovens obrigados a passar por todos os rituais educativos,
por meio dos quais recebiam a educação tradicionalmente da cultura, vivenciada e praticada
no cotidiano da aldeia. Em contextos contemporâneos, a educação tradicional Krahô não vem
acontecendo como antigamente, nas festas tradicionais educativas, como Kêtuwajê, Pẽp
Cahhàc, Cahtỳhti, contudo, ainda são preservados muitos aspectos da cultura e uso da língua
materna, por meio da prática de rituais organizadas pelos partidos Wacmẽjê e Catàmjê.

A etnomatemática do povo Rikbaktsa: espaço-tempo-vivências

Elani dos Anjos Lobato

Mônica Taffarel

Adailton Alves da Silva

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Dentro de um estilo próprio de produzir conhecimentos tradicionais, resultantes do ser-saber-


fazer autóctone, o povo Rikbaktsa, habitante da bacia do Juruena, no noroeste de Mato
Grosso, Brasil, desenvolveu ao longo dos tempos, em seus espaços de vivências, a sua
matemática original para dar conta de problemas cotidianos. Tais saberes, fruto do ser/fazer,
estruturam o cerne da cultura do povo, caracterizando seu modo intrínseco de viver, de
produzir, de educar e de difundir os conhecimentos às gerações futuras, permeando os
processos socioeducativos, formadores dos sujeitos Rikbaktsa. O objetivo desta comunicação
é identificar e compreender, sob a perspectiva da etnomatemática, saberes originários e
fazeres tradicionais desse Povo, a partir dos seus espaços socioeducativos, celebrados nas
aldeias Beira Rio, Segurança e Segunda Cachoeira localizadas na Terra Indígena Erikbaktsa, no
município de Brasnorte. A pesquisa de caráter etnográfico, ancorada nos pensamentos de
D’Ambrosio (2016; 2015; 1997), Vergani (2007) e Freire (2016; 1992; 1967), foi estruturada
em três domínios de forma globalizante: antropologia, educação e matemática que
coadunaram para um ensino transdisciplinar e transcultural. A observação pautou-se em
situações diversas em que os envolvidos: anciãos, pais, filhos e comunidade estavam em
atividades diárias, desenvolvendo práticas culturais/tradicionais, em seus espaços
socioeducativos (ambiente natural/social). Os registros foram feitos em caderno de campo,
sob autorização, concedida pelo termo de consentimento livre esclarecido – TCLE, sendo
permitido o uso de: fotos, áudios, e narrativas em forma de depoimentos. A investigação
trouxe como resultado a identificação dos saberes originários e tradicionais do povo
Rikbaktsa, obtidos pelos dados produzidos a partir da interação
pesquisadores/pesquisados/ambiente natural/social. A produção foi apresentada por meio
de quadros, de depoimentos e de outras ilustrações, visando a compreensão do texto. Estes
foram analisados sob perspectiva etnológica e estão a serviço dos processos de ensino e
aprendizagem nas escolas das aldeias mencionadas. Verificou-se portanto, que o povo tem
seu modo próprio de produzir conhecimentos advindos da solução para problemas de cunho
individual e/ou coletivo. Esses saberes originários são resultantes da busca às respostas para
produzir fazeres que atendessem às necessidades de moradia, de deslocamento, de
alimentação, de produção de artes, entre outros. A Etnomatemática Rikbaktsa compreendida
como parte intrínseca dessa articulação ser/saber/fazer gerada a partir dos conhecimentos
tradicionais e o modo próprio de produzir conhecimentos autóctones.

Anna Pantoni Eseru: as formas de compreensão e preservação dos sítios


arqueológicos em comunidades indígenas: um estudo de caso sobre a
Comunidade Camararém I e II, Terra Indígena Raposa Serra do Sol, Roraima –
Brasil

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Elder Silva Marques

A presente comunicação, proveniente da dissertação, Anna Pantoni Eseru, tem como objetivo
identificar e discutir as formas de compreensão e preservação que os indígenas Macuxi
possuem sobre os locais identificados como sítios arqueológicos na área de abrangência das
comunidades indígenas Camararém I e II, localizadas na Terra Indígena Raposa Serra do Sol,
no Estado de Roraima, extremo norte do Brasil. Assim como, a partir de uma abordagem mais
ampla da definição de sítio arqueológico, contextualizar a história da etnia Macuxi, passando
pelo registro das informações orais e pelo mapeamento dos locais dotados de significados
estruturantes para uma percepção da cosmologia Macuxi como vestígios arqueológicos,
buscando problematizar questões por vezes transversais, tais como as noções de lugar,
patrimônio, preservação, memória, identidade e pertencimento. Dessa forma, a presente
proposta contribuirá com a discussão sobre os contrapontos entre o conhecimento
arqueológico científico ocidental e os conhecimentos tradicionais indígenas junto as políticas
públicas para a preservação do patrimônio arqueológico.

Movimento das Catadoras de Mangaba

Alicia Santana Salvador Morais

O movimento das Catadoras de Mangaba do Estado de Sergipe teve a realização do I Encontro,


em novembro de 2007, que contou com aproximadamente 100 participantes. Foi a partir
desde encontro que as mulheres se auto reconheceram enquanto Catadoras de Mangaba,
honrando sua cultura e tradição. O Encontro estimulou a constituição de uma Comissão de
Defesa das Catadoras e dos Remanescentes de Mangabeiras de Sergipe e, a partir dessa
iniciativa, a criação do Movimento das Catadoras de Mangaba (MCM) de Sergipe, em 17 de
dezembro de 2007. Esta iniciativa contou com o apoio dos pesquisadores da Embrapa/SE e de
uma liderança das quebradeiras de coco babaçu do Maranhão, em 2008, foram realizadas
"capacitações solidárias", cujo propósito inicial era a troca de experiências entre as catadoras
para garantir a conservação das plantas. Mas diante dos problemas enfrentados pelas
catadoras quanto à intensificação dos constrangimentos, transformaram-se também em
momentos de levantamento dos problemas e possíveis soluções. Os conflitos entre as
catadoras e seus adversários trata-se de uma luta recente, devido a valorização da fruta
(mangaba) atravez a organização das mulheres mangabeiira. Até pouco tempo atrás, não
existia uma ação das catadoras. Ainda em 2006, constatou-se que esses conflitos não
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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ultrapassavam os níveis iniciais de escalação por se tratar, pelo lado das catadoras, de grupos
sociais pouco organizados. Somos atores, muitas vezes, excluídos da posse da terra e das
políticas públicas que não nos reconhecem como catadoras de mangaba. Nestas situações de
exclusão, as catadoras reagiram com transgressões clandestinas, mas explicitaram sentir
muito medo de agressões físicas e verbais, além de punições. Muitos destes conflitos ocorrem
em áreas consideradas até recentemente como áreas de livre acesso que agora foram
cercadas, agravando assim a situação social e econômica das catadoras. No entanto, a
situação mudou nos últimos anos. Por um lado, pela valorização das frutas e,
consequentemente, a importância das catadoras para o fornecimento das mesmas e, por
outro, pela atenção dada a este segmento social nos últimos anos pelos pesquisadores,
especialmente, em Sergipe, o que preparou uma arena privilegiada para aumentar a
visibilidade das extrativistas. Provocadas pelos diversos tipos de conflito, as catadoras de
mangaba começaram a reagir e tornaram-se, pela primeira vez, atores visíveis nesse processo,
passando da reação escondida (transgressões clandestinas) à iniciação de uma resistência
organizada através do MCM (em Sergipe). O interesse na situação das catadoras e o apoio de
pesquisadores científicos na organização de um primeiro encontro das catadoras de Sergipe
tiveram um papel decisivo na criação do movimento. A mobilização e o financiamento da
participação no encontro foi de responsabilidade dos pesquisadores, compartilhada, em
alguns casos bem discutidos, com representantes de outros órgãos públicos ou de
administração municipal. Foi feito um levantamento prévio dos lugares de concentração de
catadoras de mangaba focalizando a predominância do extrativismo. A mobilização
imediatamente antes do encontro foi realizada pelos próprios pesquisadores que já tinham
um contato anterior com as catadoras e que tentaram garantir a participação de uma amostra
dirigida de mulheres extrativistas para evitar a dominação das mesmas por outros grupos com
interesses alheias. No caso do encontro e da organização das catadoras, tratou-se claramente
de uma intervenção externa sendo os temas discutidos, durante o encontro, parcialmente,
sugeridos pelos pesquisadores. Porém, não se pode subestimar o efeito que teve a visibilidade
das catadoras de mangaba com aproximadamente 100 "representantes" convidadas para se
reunir por dois dias, ouvindo os depoimentos da categoria e discutindo os seus problemas e
propostas em grupos de trabalho de cerca de vinte catadoras. “Nós nunca fomos ouvidas, nós
queremos ser ouvidas”, assim uma catadora externalizou seu sentimento de isolamento e
abandono anterior por parte do poder público. Hoje no estado de Sergipe temos cerca de
5.000 mil famílias envolvidas neste processo de reconhecimento e valorização da cultura da
mangaba. Com 04 unidades produtivas, divididas em quatro Municípios diferentes no estado
Sergipano, nestes espaços produzimos vários derivados da mangaba e compartilhamos nossas
ações e ideias para um futuro melhor.

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Programa de Extensão e Pesquisa Morar Indígena: Conflitos e Aproximações


entre a Concepção Idealizada e a Vivência Cotidiana na Produção do Espaço
Indígena em Minas Gerais

Programa de Pesquisa e Extensão Morar Indígena

O presente trabalho tem como objetivo apresentar o Programa de Pesquisa e Extensão Morar
Indígena implementado na Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais em
2014, discutindo, para isso, a produção desenvolvida no ano de 2018. Esse Programa busca a
promoção, na área de arquitetura e urbanismo, da melhoria da qualidade de vida dos povos
indígenas de Minas Gerais, articulando indissociavelmente os campos de ação da universidade
pública: pesquisa, ensino e extensão. Para tal, divide-se em quatro eixos de projetos: (I)
assessoria técnica, (II) artesanias, (III) cartografias e (IV) narrativas indígenas que, integrados,
permitem traçar uma leitura espacial, arquitetônica, habitacional, cultural e política dos
povos, a qual possibilita frentes de ação extensionistas fundamentadas no compartilhamento
de saberes. No ano de 2018, as atividades e produção do grupo seguiram por dois eixos
principais. O primeiro refere-se às discussões quanto ao conflito existente entre a concepção
idealizada dos programas habitacionais implantados nas comunidades indígenas frente à
cultura construtiva tradicional desses povos, através de uma pesquisa financiada pelo CNPq.
Até o momento, a análise focou-se na etnia Xakriabá, realizando cartografias territoriais, dos
materiais e das técnicas construtivas, sendo fundamental a contribuição dos trabalhos de
conclusão de curso de dois indígenas Xakriabás, Alípio Ferreira e Edmar Bizerra, do FIEI (Curso
de Formação Intercultural de Educadores Indígenas da UFMG), orientados por professores
vinculados ao Morar Indígena. O segundo eixo, por sua vez, abordou a questão dos indígenas
em contexto urbano, acompanhando a dinâmica na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Nessa vertente, a partir da emergência da temática, houve a aproximação com a retomada
territorial indígena Naô Xohã, localizada em São Joaquim de Bicas (RMBH), da etnia Pataxó hã-
hã-hãe, realizada por meio da cartografia espacial, das observações e participações na
comunidade, buscando, quando requerido, práticas que propiciam um maior domínio
territorial fomentado pelo maior conhecimento técnico da espacialidade.

Formas tradicionais autônomas de organização: os Kukama habitando a


Amazônia Peruana

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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Daniel Fernandes Moreira

Marco Ramírez Colombier

O território Kukama, entre os rios Marañón e Ucayali da Amazônia peruana, é constantemente


pressionado e ameaçado por diversas atividades de gestão e disputa de seus recursos, que
modificam seu modo de vida, prejudicam sua saúde e causam danos a sua alimentação. Entre
estas ameaças contamos com a presença das empresas de turismo em torno da reserva
Nacional Pacaya Samiria, a extração de petróleo e seu transporte pelo Oleoduto Norperuano
e o projeto de infraestrutura fluvial Hidrovia Amazônica. Nesse contexto, estão sempre em
jogo as relações entre a população local e o Estado e a expansão dessas atividades afetam a
dinâmica social desse grupo, causando impactos e transformações irreparáveis. Apesar desse
fatores, o povo kukama implementa formas próprias de governança que lhes permitem
exercer seu direito à autodeterminação e decidir sobre o uso de suas terras. Nesse sentido, a
partir de uma abordagem etnográfica apresentaremos o ponto de vista dos Kukama,
referenciando suas memorias individuais e coletivas em torno da ocupação do território, que
informam e tecem noções de territorialidade, ademais de sua função nas negociações com o
Estado, a partir de suas estratégias etnoambientais utilizadas para a defesa de seu território.
Demostraremos os principais focos investigativos em torno das formas de gestão que os
kukama aplicam seus recursos. Estas estratégias estão vigentes e ainda garantem a autonomia
desse povo indígena, mas necessitam de uma intenção de preservação no que se refere a
participação dos atores públicos e privados.

A cultura indígena Bora e Uitoto em The North-West Amazon, de Thomas


Whiffen: algumas ponderações

Hélio Rodrigues da Rocha

The North-West Amazons: notes of some months spent among cannibal tribes [O noroeste
amazônico: notas de alguns meses que passei entre tribos canibais] é o título do relato sobre
os Uitoto e os Bora, indígenas do noroeste amazônico, especificamente, no interflúvio dos rios
Içá (Putumayo) e Japurá (Caquetá). Composto de vinte capítulos, algumas fotografias e alguns
apêndices descritivos desses povos originários dessa região fronteiriça do Brasil, Colômbia e
Peru, o relato é uma etnografia produzida pelo britânico Thomas William Whiffen (1878 –
1922) e publicado pela Editora Constable and Company, em Londres, no ano de 1915, seis

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anos após a viagem desse explorador e aprendiz de antropologia à região. Isso posto, esta
comunicação tem o objetivo de demonstrar como o referido viajante londrino traduziu alguns
aspectos da cultura material e imaterial dos Bora e dos Uitoto. Para tanto, a partir do conceito
de tradução cultural (CLIFFORD, 2016) e de cultura amazônica (PAES LOUREIRO, 2015)
demonstro alguns exemplos da prática tradutória de Whiffen em comparação com a minha
(re)tradução de seu relato de uma perspectiva decolonial e discuto essas ‘formas de vida
relativas e históricas’ (SAHLINS) etnografadas por Whiffen em seu relato de cunho
eurocêntrico, mas imbuídas de autorreflexão do viajante e de sua cultura-chave.

Natchiga i Ũ’tchigüne: A história da Comunidade Tikuna Filadélfia e a


conquista da educação indígena nas narrativas dos anciões da comunidade

Elissadrina Felix Rodrigues

Uerica Estevao Gomes

Anabel Florez Carvalho

Gilse Elisa Rodrigues

Abordamos no presente estudo a realidade do povo Tikuna da Comunidade indígena de


Filadélfia, município de Benjamin Constant/AM, particularmente o processo de criação da
comunidade e a luta por uma educação diferenciada. Este processo será apresentado a partir
das narrativas dos anciões da comunidade que vivenciaram esta luta desde o princípio, pois
na cultura Tikuna os anciões são os detentores dos saberes ancestrais, e constituem o elo de
equilíbrio entre o mundo e a comunidade e desempenham a função de conselheiros
(NEGREIROS, 2018). A história da comunidade Filadélfia tem sua origem na década de 1970.
O primeiro morador a habitar a comunidade foi o senhor Ademar Fernandes, um dos anciões
da comunidade nos dias de hoje. Em seu relato ele nos informou que antes de fundarem a
comunidade a região era um território indígena e era chamado de Santo Antônio. Logo após
a chegada do senhor Ademar Fernandes chegou o senhor Suares Bastos que se tornou o
primeiro cacique da comunidade Filadélfia. Os relatos de moradores da comunidade referem
a chegada de um padre católico à época, cuja influência sobre os primeiros moradores parece
ter sido bastante intensa. Os Tikuna prezavam muito ao tal padre pelas ações em favor dos
mesmos. Ele distribuía roupas e alimentos para os Tikuna que eram carentes, terçados que
são os instrumentos de trabalho, em troca pedia a devoção dos indígenas ao catolicismo. O
padre fazia várias viagens de visitas às outras comunidades e assim intensificou a atuação
católica na região. No início da década de 80, com a chegada de missionários da Igreja Batista,
a influência do catolicismo perde força e a Comunidade passa a se denominar Filadélfia.
Tomando como fundamento teórico os estudos sobre oralidade, narrativa e memória
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(BENJAMIN, 1984; BOSI, 1994) nos centramos em relatos dos anciões para percorrer esse
processo histórico, destacando as relações entre religiosidade, conhecimento tradicional
Tikuna e processos educacionais que foram produzidos e institucionalizados desde então.
Nesta análise levaremos em consideração a atuação das lideranças Tikuna na sua luta para
implementação de uma educação diferenciada dentro da comunidade. Trazer a história da
comunidade a partir das narrativas e memórias de seus anciões é uma forma de valorizar a
oralidade que caracteriza o conhecimento tradicional indígena, conhecimento este, que
permeia todo o processo educativo destas populações. A memória e a oralidade constituem,
assim, a forma de expressão e reconstrução da história do povo Tikuna e a possibilidade de
restabelecer e legitimar os elementos basilares de sua cultura. Em nosso estudo buscamos as
articulações entre os saberes tradicionais, a força política das narrativas dos anciões e sua
inserção no sistema educacional formal da comunidade.

A igreja velha: aspectos do mito literário

José Marcos Gomes Rodrigues

Cristina de Lima Bernardo

Jandesson Antero da Silva Santos

Pedro Augusto Soares Guerra

O presente trabalho tem como objetivo analisar um mito pertecente ao Povo Potiguara da
Paraiba usando como ferramentas de analise teorias do mito literario. O Povo Potiguara esta
situado no litoral norte da Paraíba nos municípios de Baía da Traição, Marcação e Rio Tinto, a
população Potiguara esta distribuído em 32 aldeias ocupando 33.757 hectares de terras
demarcadas. Os Potiguaras, como outros povos da antiguidade, sentiram a necessidade de
buscar explicações para acontecimentos do cotidiano como eventos naturais, astronômicos e
até eventos sobrenaturais. Durante o processo de desenvolvimento da cultura potiguara se
criaram diversos mitos, ritos, histórias e costumes para exemplificar e repassar o legado
histórico adiante, uma das formas mais utilizadas foi através do mito. Os mitos são histórias
orais que narram historias de tempos triunfantes em que o mundo vivia um estado de
misticismo e em universo marcado pelo o sagrado. Outras características que marcam os
mitos são as marcas de discussão sobre questões complexas da vida tais como a ética humana
ou composição textual que seguem uma estrutura simples, linearidade cronológica,
linguagem concisa e com marcas da oralidade como frases curtas e repetições, com a sua
narração em terceira pessoa com um discurso monológico, ou seja, aquilo que esta sendo dito
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é uma verdade absoluta, e nos mitos a voz coletiva ressoa como a identidade de determinada
sociedade. A abordagem presente nesse trabalho é de cunho qualitativo já que o mesmo se
atrela pressupostos já estabelecidos por essa abordagem, tais como: a preocupação de
aspectos da realidade que não pode ser quantificados. A metodologia deste projeto está
fundamentada em uma abordagem bibliográfica, ela é desenvolvida com base em material já
elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. O mito a ser analisado é
A Igreja velha, mito que narra a historia de um local aos aredores da Aldeia jacaré de São
domingos que é de extrema admiração e respeito do povo potiguara, principalmente os
anciões. Este local foi denominado de igreja velha, que na verdade não é uma construção
religiosa, o local é dentro da mata aos aredores da aldeia, os anciões afirmam que o acesso ao
local é de extrema dificuldade. O mito será analisado através de teoricos como
Campbell(1990), Baseio (2012), Calasans (1988), Rocha (1996), entre outros. Com isso o
trabalho identificou diversas caracteristicas do mito literário presente na A Igreja Velha, tais
como as funções do mito que Campbell (1990) ressalta, além disso, a importancia do
espaço/territorio como reafirmação da identidade coletiva do povo Potiguara.

Etnoturismo e Práticas Educativas na Aldeia Pé do Monte: construção de


fazeres e saberes Pataxós

Vanessa Iurchiag Rozisca

Itamar dos Anjos Silva

Jéssica Silva Pereira

Este artigo busca refletir sobre as práticas educativas/culturais desenvolvidas pelos Pataxós
da Aldeia Pé do Monte através do etnoturismo. Procura-se uma interpretação que possibilite
a implementação de uma pedagogia multicultural, ao analisar as propostas educativas
apresentadas pelos Pataxós, visando à compreensão da afirmação de suas identidades étnico-
culturais ao fomentar o turismo na aldeia. Nesse sentido, compreendem-se os fazeres e os
saberes construídos nas atividades turísticas da aldeia como uma epistemologia que tem
como interfaces: relações étnico-raciais, interculturalidades e processos de ensino-
aprendizagem. Epistemologia, nesse caso, entendida a partir de uma concepção mais flexível
de teoria de construção do conhecimento, envolvendo nesse processo, os saberes construídos
e produzidos historicamente pelo homem. Gortari (1956, citado por PORTO, 2016, p. 197)
defende que a produção do conhecimento não pode ser operada de forma dicotômica, mas
por uma dimensão antropológica como produto da vida social do homem, uma vez que toda

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dimensão do conhecimento está em processo e em atualização.Sendo assim, a


implementação e análise de práticas educativas construídas junto ao coletivo Pataxó será
realizada por meio da investigação-ação a fim de promover releituras desses processos de
ensino- aprendizagem junto aos nativos.Dentre os trinta aldeamentos Pataxós da Bahia, a
Aldeia Pé do Monte, demarcada e homologada como terra indígena em 29 de novembro de
1961, conforme Lei Federal, Decreto no 242/1961, localizada a 50 quilômetros de Porto
Seguro, constituinte do Parque Nacional do Monte Pascoal, tem se colocado como área de
visitação, por ser considerada área de preservação e de conservação dentro da Mata Atlântica
– Unidade de Conservação protegida por Lei Federal11.428/2006 e espaço de práticas
culturais indígenas.Na aldeia Pé do Monte vigora projetos ligados ao reflorestamento,
especificamente a preservação da Mata Atlântica e de etnoturismo. Sendo assim, o
etnoturismo tem sido utilizado como umas das ações afirmativas étnico-culturais,
especificamente na desconstrução da imagem negativa com que se tem dos indígenas,
contribuindo, assim, para que turistas e estudantes reconheçam no protagonismo dos Pataxós
formas singulares de construção de fazeres e de saberes.

A construção do arco e flecha Potiguara: o conhecimento técnico integrado


ao manejo da natureza e corporeidade dos artesãos e arqueiros

Sonia Maria Neves Bittencourt de Sá

Maristela Andrade de Oliveira

A comunicação se insere no campo de estudos da técnica, do manejo e da performance


mediante a análise dos processos de construção do arco e da flecha Potiguara e o
conhecimento e manejo da natureza. Nesta perspectiva, a presente pesquisa se estruturou a
partir de uma indagação central: Como os arcos e flechas Potiguara atravessaram os tempos
e continuam as suas práticas nos dias atuais? A reflexão antropológica subjacente ao estudo
é a relação entre continuidades e mudanças, tradição e ressignificação. Neste sentido, o
objetivo geral delineado foi compreender como os arcos são construídos, e como ocorre a
interação entre os arcos e os artesãos; as performances dos arqueiros; o manejo dos
elementos de natureza que o compõem e seus símbolos e seu uso na realidade cultural
Potiguara atual. A comunicação se baseou na pesquisa da dissertação de mestrado de Sônia
Bittencourt (2018) no campo de antropologia social da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB) tendo como lócus do estudo de campo os artesãos e arqueiros de cinco aldeias das
Terras Indígenas Potiguara. A metodologia utilizada consistiu em uma aproximação
etnográfica tendo como procedimentos o levantamento bibliográfico e histórico dos
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guerreiros potiguara Palitot, (2011), Costa (2012), Gonçalves, (2007); o mapeamento


bibliográfico sobre o estado da arte no campo dos estudos da técnica, do manejo e da
performance e a pesquisa de campo entre 2016 e 2017 envolvendo diversas técnicas de
observações, descrições e diálogos colhidos entre os artesãos e praticantes do arco e flecha e
sua relação com as teorias antropológicas no campo da técnica, do manejo e conhecimento
da natureza e das performances práticas dentro do contexto de eventos sociais como os Jogos
Indígenas Potiguaras ocorridos nas aldeias de Tramataia em 2016 e na Aldeia Monte-mor em
2017, com a participação das mulheres. A comunicação faz uma abordagem geral sobre a
questão do arco e flechas; em seguida uma análise da relação teórica e prática da poética
concreta da construção dos arcos com ênfase no conhecimento local sobre as madeiras (Melo
e Camargo 2016), Sant’Anna Neto (2008) e por fim a relação entre técnica e performance
Schechner (2016) tendo como eixo da reflexão Mauss (2003), Leroi-Gouhram (1965), Ingold
(2016) e os estudos da antropologia visual de Comolli (2009), De France (2000), Mendonça e
Pessis (2000). A aproximação etnográfica junto aos Potiguaras potencializou a produção de
um vídeo e um acervo fotográfico que permitiu o registro etnográfico sobre a forma de
construção e manuseio dos arcos. O estudo sinalizou para a ressignificação contemporânea
do arco e flecha enquanto um processo de esportização e se propõe a apontar aspectos para
uma compreensão da relação entre técnica, cultura e natureza tendo como fundo uma
perspectiva histórica.

Fundos de Pasto: Identidade e Pertencimento

Josivan da Silva Santos

Zadiel dos Santos Silva

Pode-se definir as comunidades de Fundo de Pasto como grupos tradicionais existentes no


estado da Bahia desde o período das sesmarias, especialmente com o declínio do regime de
governo e a insustentabilidade dos engenhos de cana de açúcar onde as grandes fazendas
foram abandonadas e/ou devolvidas à coroa portuguesa. É neste contexto de vacância de
proprietário físico que os vaqueiros e demais populações, que trabalhavam para os
fazendeiros, passam a se apossar das terras, ditas devolutas, e ali constituíram seus modos de
vidas saberes e fazeres reinventando-se para conviver com os desafios do semiárido (TORRES,
2013). Para o presidente da Central das Associações e Comunidades Tradicionais de Fundo de
Pasto, Carlos Eduardo Cardoso Lima 3 , as terras das comunidades “não é comercio, é uma
sustentabilidade, porque uma comunidade sem-terra ela não tem identidade, e um dos
principais pontos das comunidades tradicionais de fundo de pasto é questão do
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território”.Para tanto, a concepção sobre Fundo de Pasto não deve se limitar à relação com o
meio físico, como a forma de produção e de lidar com a terra, há expressões imateriais que
fazem parte da dinâmica da tradicionalidade que desempenham o mesmo peso na formação
da identidade, que são as manifestações culturais. Os festejos típicos, mantido principalmente
pelos mais velhos, como é o caso do reisado e das rodas de São Gonçalo, são momentos
marcados pela descontração alinhada com o misticismo da religiosidade. A identidade deste
povo também se fortalece a partir de sua organização. Internamente as comunidades se
organizam por meio de associações locais, que mediante necessidades de união para
fortalecimento das lutas criaram as Centrais ou União de Associações, a nível regional. Na
unidade federativa fundou-se a Articulação Estadual de Fundo e Fecho de Pasto, conforme
afirma Carlos Eduardo: “[...] As associações fundaram uma entidade que representassem
essas comunidades, que foi a Central de fundo de pasto em 1994, daí em 2002 nasceu a
Articulação Estadual de Fundo e Fecho de Pasto onde se juntou todas as comunidades do
estado da Bahia pra fazer a defesa a nível de Estado em conjunto, porque o mesmo problema
porque os mesmo problemas que aconteciam aqui nas regiões do semiárido aconteciam nas
regiões do Oeste da Bahia que era essa questão da grilagem, daí foi se fortalecendo.” Em nível
nacional as comunidades de fundos de pasto tem se articulado com outros segmentos
tradicionais objetivando o fortalecimento da luta, somando-se em uma articulação conjunta
como estratégia de ampliação dos horizontes por meio da formação do CNPCT - Conselho
Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais.

História e memória do patrônimo “Cabelo Bom”: Tenetehara-negros

Maristane de Sousa Rosa Sauimbo

Esse trabalho propõe um olhar sobre a base conceitual “cafuza” do século XVII, termo
registrado em assentos de casamento na província do Grão Pará-Maranhão, hibridação
cultural negro-indígena de africanos e povos indígenas. Em 1755 com a criação do Ministério
Pombalino que abrangeu São Luís e Belém, sul do Maranhão e Piauí, regiões Norte e Nordeste,
aos indígenas juntaram-se grande número de africanos pela penetração do Atlântico
Equatorial, cuja importação de africanos da Guiné, Mina, Congo-Angola engendrou entre
nativos tupi saberes e fazeres, topônimos e etnônimos. O estudo contextualiza o patrônimo
“Cabelo Bom”, nome de família do médio Parnaíba guardiã de tradição oral coletiva e
individual bantu e tupi, contos, lendas, materialidade e imaterialidade, cuja memória e
história se integra ao “Massacre de Alto Alegre”, a maior insurreição feita por indígenas no
ano de 1901, ocorrido na cidade de Barra do Corda, Estado do Maranhão, Brasil. Manoel
Pereira Rosa, o “Cabelo Bom”, indígena, casou-se com Maria Nascimento, negra –
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respectivamente, Oiô e Aiá. Ele de cabelo liso, recebeu o patrônimo “Cabelo Bom” herdado
pelos filhos, tenetehara-negros: Antonio “Cabelo Bom”, Raimundo “Cabelo Bom” e Dedé
“Cabelo Bom”. O cabelo liso “sem dá uma volta” foi classificado pela sociedade para negociar
estratégia de reversibilidade da representação negativa e como elemento de civilidade do
índio, também requisitado pela família como elemento para cidadania e representação
positiva da “peja” do ser negro, visto como pano de fundo para análise do estigma racial que
latejou conflitos e ambiguidades. No presente estudo se insere narrativas de netos e bisnetos
sobre a presença capuchinha na também chamada “Revolta de Alto Alegre” até chegada do
missionário Frei Alberto Beretta na cidade de Grajaú, Maranhão. Dialoga-se com rito de
nascimento tenetehara e rito iniciático kijila (ki-lombo) entre os jagas, em Angola, pelos
depoimentos pastorais de desobriga do médico missionário Beretta e crônicas do capuchinho
Antonio de Oliveira Cadornega. O trabalho argumenta que a presença ameríndia e negra,
mocambos e quilombos, denotaram “imbricação de processos técnicos e vitais para ação
ritual, figurações e mitologias” (PITROU, 2016). Aponta-se o patrônimo “Cabelo Bom”,
tenetehara-negros, responsáveis pela sobrevivência da memória e a difusão do protagonismo
histórico indígena, memória jamais conduzida ao esquecimento.

Eu, tu, nós Timbira: saberes e fazeres da Amazônia Oriental

Maristane de Sousa Rosa Sauimbo

Gabriela Almeida Ferreira

Hellen Alice Bandeira Alves dos Santos

Wanderson Sousa Costa

Este trabalho é parte integrante do projeto PIBIC e PIBEXT 2018/2019, Casa D’África:
Africanidades, Culturas Indígenas e Populares, Universidade Estadual da Região Tocantina do
Maranhão – UEMASUL. Estudamos as contribuições dos aspectos culturais e sociais dos Povos
Timbira, no cotidiano da Amazônia Oriental. Analisamos o mito fundador timbira dos
buritizais, inseridos como elemento de forças duais água, terra, sol, lua, parte integrante da
identidade Sul-Maranhense guardiã da tradição na cultura popular. Contextualizamos o mito,
entendido como representações de verdades profundas do imaginário social de acordo com
as origens e cultura de um determinado povo para formar as diversas mitologias. Para o povo
kokrit, “companheiros da água”, é visto como rito de iniciação, realizado na estação da seca e
marca a transição para o período das chuvas. Entre os Jê os elementos água e terra são
vislumbrados pela palmácea do buriti localizada entre os mundos visível e invisível. A água
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marca o amadurecimento físico e psicológico dos iniciados para o ingresso na sociedade. As


fibras retiradas da palmeira, talos do caule são comumente usadas artesanalmente e é
elemento identitário dos costumes do cerrado maranhense. Neste sentido, registramos no
cotidiano rural e urbano os saberes e fazeres ancestrais indígenas sobre o buritizal que fornece
matéria-prima para preparo de alimentos, bebidas, objetos utilitários, artesanato, a fibra e
sua viabilidade térmica, dentre outros. Dessa forma nosso estudo destaca a relevância da
educação patrimonial como forma de “alfabetização cultural” dos indivíduos para
entenderem o mundo que os rodeia, para acesso à compreensão do universo social e cultural,
da trajetória histórico-temporal que estão inseridos. E, ressaltamos os costumes, cantigas,
gestos, a reprodução cultural à “forma Timbira”, para preservação ambiental, equilíbrio dos
ecossistemas, a manutenção da fauna e da flora como garantia de vida em plenitude na
Amazônia Oriental.

Lutas territoriais indígenas: reelaborações culturais e identitárias

Arlete Maria Pinheiro Schubert

Erineu Foerste

O estudo focaliza os períodos de Lutas Territoriais Indígenas Tupinikim que compreendem a


década de setenta aos dias atuais, portanto, trata-se de períodos que correspondem a
ditadura militar e a reconstituição democrática no Brasil; O tema de estudo precede a
promulgação dos direitos indígenas na Constituição Brasileira de 1988, assim como a
instituição da educação escolar indígena diferenciada, intercultural e bilíngue no Brasil. A
questão desta proposta está entretecida a pergunta pelos processos educativos da luta
territorial indígena: Como a luta pela terra reelabora a memória e a identidade indígena. A
metodologia se constitui prática etnográfica e historiográfica, simultaneamente, trabalha com
a leitura indiciária e entrecruzada das fontes (orais e escritas) e questiona sobre as relações
de forças inerentes aos períodos. As imersões e pesquisas já realizadas em campo sugerem
que o percurso indígena Tupinikim na educação e na reelaboração identitária ocorrem
entrelaçados a práxis das lutas territoriais. Uma primeira análise da interseção da Educação e
do movimento de lutas territoriais indica que a práxis indígena questiona conceitos,
metodologias, didáticas, currículos, materiais pedagógicos e a formação de professores à
medida que os indígenas elegem suas práticas e seus saberes como fundamentos e
ferramentas para a educação. Luta territorial se torna uma categoria analisadora do processo
de atribuição de sentidos às práticas educativas pautadas por relações que emergem a partir
desses contextos conflitivos refletindo uma sociabilidade que se estabelece entre humanos e
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não humanos. Essa percepção reposiciona a nossa reflexão a partir da noção de


interculturalidade indígena que observamos acontecer entre diferentes categorias de vida
(humana e não humana). Historicamente as disputas territoriais indígenas constituem- se um
conjunto de ações e envolvem uma complexa rede de sujeitos e projetos. Exige, portanto, que
sejam apreendidas em sua unidade e complexidade histórica, como “contato e apropriação”
dos seus espaços de vida pelos projetos desenvolvimentistas. Portanto, requer o
estranhamento, para “arrancá-las, por uma explosão, do continuum do curso da história”
(BENJAMIN, 2006, p. 517) para tratá-las como possível cerne de uma história indígena,
mormente quando as lutas “explodem” na realidade dos povos indígenas para confrontar o
que é celebrado como progresso pelo desenvolvimentismo. As lutas territoriais do povo
Tupinikim tornam-se acontecimentos que interromperam momentaneamente esse
continuum histórico, embora não configurem ainda momentos plenamente “destrutivos ou
críticos” (Idem, p. 517) eles polemizam a empatia com o continuum na história convencional.
A celebração atribui importância aos elementos que já fazem parte da influência que a história
exerceu, entretanto, como refletiu Benjamin (2006, p.516) “escapam a ela os pontos nos quais
a tradição se interrompe, e com isso escapam as asperezas e as saliências que oferecem um
apoio àqueles que querem ir mais além”. Nessas saliências e asperezas trabalhamos.

Para não deixar de existir! Processos educativos nas lutas territoriais


indígenas

Arlete Maria Pinheiro Schubert

Erineu Foerste

Jocelino Silveira Quiezza

A questão que percorre a reflexão encontra-se entrelaçada à pergunta pelos processos das
lutas territoriais Tupinikim relacionados as educações em seus contextos. A questão adquire
centralidade pela influência que representa no âmbito da vida dos indígenas no Espírito
Santo/Brasil. O estudo mostra-se articulada com o debate da categoria indígena e os
processos de mobilização dos espaços-tempos indígenas para reelaboração cultural. São
contextos que afetam diretamente as comunidades implicadas nos conflitos e nos danos
advindos das dinâmicas desenvolvimentistas. [2] . Propomos uma investigação sustentada
simultaneamente pela pluralidade das fontes e pelo método de leitura indiciária (GINSBURG,
2007) e o entrecruzamento das fontes selecionada a partir da metodologia da história
documental e oral. As imersões em campo proporcionaram refletir sobre as noções

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conceituais e a riqueza de processos que ocorrem a partir de contextos conflitivos. A pesquisas


nesses contextos são importantes para reunir elementos que aprofundem as noções com as
quais trabalhamos em contexto indígena e de comunidades tradicionais. As reelaborações
contemporâneas Tupinikim no âmbito da Educação e da História ocorrerem entrelaçadas as
práxis das lutas territoriais, conforme destacou Schubert (2018). Uma primeira análise da
intersecção da Educação e dos movimentos de lutas territoriais indica que a práxis indígena
apresenta-se potente para questionar metodologias, didáticas, currículos, materiais
pedagógicos e a formação de professores. Observamos que a medida que tomam consciência
de sua história secularmente silenciada os professores Tupinikim começam a envolver-se em
um processo de reflexão intencional e coletiva que culminam em práticas educacionais
escolares que partem dos saberes indígenas para fundamentar a cultura do seu povo. Com
isso, iniciam um rico processo para chegar a uma “educação própria”. As reflexões
reconstituem as lutas territoriais como dinâmicas que provocam a retomada das dificuldades
com as quais eles são confrontados e trazem à tona a memória de quem foram e o que querem
ser. São contextos potentes para reconfigurar processos que consideramos um novo patamar
de consciência que trabalha entre a dimensão racional e visceral e se manifesta, a nosso ver,
como “consciência crítica corporal/territorial”. Como não concebem a consciência sem o
corpo, nele marcam, por meio de pinturas, aquilo que parece-lhes revelar quem são ou
desejam ser. Tratam-se, assim, de dinâmicas imprescindíveis ao processo de reelaboração
cultural e a tomada de consciência da realidade que os afronta e aflige, e perseguem a sua
existência.

Identidade étnica e conflitos vivenciado pelos Gamelas no sudoeste piauiense

Cristhyan Kaline Soares da Silva

Ilana Magalhães Barroso

Milena dos Reis Rabelo

O recorte desse trabalho faz parte do projeto Emergência Étnica Indígena no Estado do Piauí,
coordenado pela professora Carmem Lúcia Silva Lima, docente do departamento de Ciências
Sociais da Universidade Federal do Piauí-UFPI. As atividades desenvolvidas visam
compreender a emergência étnica indígena no Estado do Piauí; ou seja, estudar o processo de
afirmação da identidade indígena dos grupos Cariri, Tabajara, Tapuio e Gamelas. Localizados,
respectivamente nos municípios de Queimada Nova, Lagoa de São Francisco, Piripiri e Bom
Jesus, eles evidenciam uma mudança na composição da sociedade piauiense, que até bem
pouco era vista como desprovida da existência de povos indígenas. Para essa apresentação
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oral o nosso foco é apresentar a realidade vivenciada pelos Gamelas, assim este trabalho tem
como objetivo mapear o processo de territorialização, os conflitos decorrentes da instalação
do agronegócio e de empreendimentos “desenvolvimentistas” instalados em grande escala.
A pesquisa ainda em desenvolvimento, está sendo realizada na comunidade Pirajá, localizada
na cidade de Currais e na comunidade Sete Lagoas, localizado na cidade de Santa Filomena,
respectivamente no sudoeste do Estado do Piauí. No deslocamento entre o município de
Santa Filomena e Currais, perímetro onde foi efetivado pela Transcerrado 4, existem cerca de
vinte fazendas e um cenário de devastação e desmatamento ocasionado pela agricultura
empresarial. O povo Gamela, localizados nesses dois municípios estão passando por um
processo de emergência étnica em meio a esse cenário reivindicam sua identidade indígena.
A área estudada é uma região de serras, que tradicionalmente é terra de uso comum, utilizada
para caça, coleta de mel e frutos nativos, pastos de animais e morada dos encantados e foi
totalmente invadida pelas fazendas de soja, milho e mileto. Em decorrência dessa atividade
realizada pelos fazendeiros, os que moram por lá vivem encurralados nos baixões, que
atualmente estão sendo igualmente disputados devido aos recursos hídricos que abriga. A
prática de violência realizada pelos fazendeiros compreende na proibição de deslocamento,
restrição de acesso a determinados locais da região, porte de armas, ameaças de morte,
contaminação dos recursos hídricos com agrotóxicos, derrubada de casas e queima de
roçados. Segundo relatos já coletados, estes evidenciam que a pretensão desses sujeitos é
expulsar as populações tradicionais, para dominar totalmente o cerrado. De tal modo, a
desapropriação territorial e a grilagem de terra acontecem em grande escala, contando com
a conivência de agências estatais da região.

A Lenda do Monte Pascoal: Cinema e Memória do Povo Pataxó da Bahia

Itamar dos Anjos Silva

Jéssica Silva

Vanessa Rozisca

Com a produção do curta metragem A lenda do Monte Pascoal em 2012, sob direção da
Avenida Filmes do Movimento Cultural Arte-Manha de Caravelas, em intercâmbio com
sujeitos das comunidades Pataxós do extremo sul da Bahia, especificamente das aldeias Pé do
Monte e Aldeia Nova, situadas no Parque Monte Pascoal, buscamos possibilitar aos esses
aldeados experiências do universo do Cinema, este como uma linguagem política, cultural e
artística. Nessa perspectiva realizamos oficinas de expressão oral e corporal, de interpretação
teatral, de impostação de voz, na versão Português e Patxohã (língua dos Pataxós), de
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fotografia e aulas sobre grafismos e pinturas corporais e seus significados, estas ministradas
pelos próprios Pataxós. Apesar da reprodução de técnicas cinematográficas nestas oficinas, a
produção do curta- metragem se deu de forma singular, pois nas experimentações estéticas,
dramatúrgicas, comunicacionais e artísticas, propusemos construção de enredo a partir de
depoimentos dos próprios indígenas, com adaptação de roteiro, liberdade de expressão e pela
improvisação de técnicas. A lenda do Monte Pascoal como produção intercultural, mais que
uma história de amor, trata-se de um release de memórias que remontam miticamente a
origem do Monte Pascoal, explicado de forma poética, por meio da história de amor do casal
Pataxó, Zabelê e Ythamawy. Na narrativa Ythamawy, ao defender o seu território da invasão
de grileiros, tem sua vida ceifada e a sua esposa Zabelê, inconformada com a sua morte, pede
ao deus Tupã que o traga de volta. Entretanto, o seu pedido é atendido em benefício de todos,
pois pela transmutação do corpo de Ythamawy em um monte sagrado, as terras tornam-se
férteis com suas abundantes árvores frutíferas, animais, rios. E Zabelê para viver eternamente
junto ao amado se lança da parte mais alta do Monte Pascoal, transmutando-se na ave Zabelê,
símbolo de resistência do povo Pataxó, em alusão à matriarca Luciana Pataxó (in memória),
conhecida como Zabelê Pataxó. O estudo e a produção de Cinema com os Pataxós nos
remeteram a uma compreensão de Cinema como uma composição estética, de diálogos
culturais entre história e ficção, pela transfiguração cênica de suas lutas, diásporas,
sofrimentos e resistências étnico-culturais em prol da permanência em seus territórios, frente
aos embates políticos, historicamente presentes em suas vidas. Antônio Zirion (2016), citando
Solanas e Getino (1969), compreende o cinema dos povos originários como o Terceiro cinema,
um cinema revolucionário, militante, ativista, que não se contenta somente em retratar o
mundo, mas que se compromete com sua transformação, assim também foram nossos
objetivos a cultura cinematográfica no contexto Pataxó, (re)memorizar de forma poética e
suas políticas e resistências.

Certificação das Comunidades de Fundos de Pasto do Estado da Bahia

Jaziel dos Santos Silva

As comunidades de fundo de Pasto são certificadas pelo estado da Bahia, no ano de 2014. O
modo de vida livre e orientado pelas relações estabelecidas no território de uso comum de
nada vale, perante o Estado, se não realizar os procedimentos de certificação, junto aos órgãos
responsáveis, e a regularização do território passa-se a ser condicionada à obtenção do
certificado. Compete ao Estado da Bahia, por intermédio da Secretaria de Promoção da
Igualdade Racial - SEPROMI, declarar a existência da Comunidade de Fundos de Pastos ou
Fechos de Pastos, mediante certificação de reconhecimento expedida após regular processo
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administrativo, dela cientificando a Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos


Povos e Comunidades Tradicionais (Bahia, 2013, grifo meu). Esta população passou a ser
reconhecido com maior ênfase pelo o Estado da Bahia, no sentido legal, mas foi obrigada a
enquadrar seus modos de vidas, saberes e fazeres tradicionais às normatizações impostas. O
autorreconhecer, um ato político, fica condicionado à emissão de um documento pelo Chefe
do Poder Executivo, cujas comunidades precisam obedecer todos os trâmites burocráticos das
portarias e decretos publicados. Apesar do arcabouço legal em torno da regulamentação da
identidade das comunidades, como condição para permanência nos territórios coletivos, não
se avançou na regularização fundiária destas terras tradicionalmente ocupadas, pois a última
emissão de títulos aconteceu há mais de uma década. Até o ano de 2007, último ano da
entrega de documento de regularização fundiária dos territórios, apenas 107 comunidades
receberam o título de propriedade emitido pelo Estado da Bahia (DANTAS, 2015). O
procedimento de certificação era realizado, em sua totalidade, através da SEPROMI
obedecendo ao disposto na lei 12.910/2013 e na portaria 007/2014, da Secretaria. No
entanto, no ano de 2017 houve alteração no fluxo de emissão do certificado através da
publicação do decreto 17.471 de março de 2017 e da portaria 0010 de julho de 2017, que
atribui a competência ao Chefe do Poder Executivo, de declarar a existência das Comunidades
de Fundos e Fechos de Pasto. As primeiras comunidades que tiveram suas identidades
reconhecidas pelo estado da Bahia foi no ano de 2014, um total de 139. Até julho de 2018 já
tinham sido certificadas um quantitativo de 394 comunidades, distribuídas em 37 municípios
baianos e ainda existiam mais 129 processos abertos esperando a conclusão dos
procedimentos de certificação (SEPROMI, 2018).

Território como lugar educativo: alternativa de educar para a vida e


possibilidade de resistência ativa

Lucilene Julia da Silva

Maria Bertely Busquets

O objetivo desta comunicação é analisar a noção de Território como lugar que educa para a
vida, mostrando experiências em andamento no Brasil e no México por meio das evidências a
partir de experiências contemporâneas empreendidas como alternativas na formação de
professores indígenas e consequentemente de seus alunos. Essas experiências são marcadas
pelo esforço de resssignificar os valores atribuídos ao lugar de enunciação e práticas
educativas que constroem e reconstroem a concepção de possibilidades Território que educa
para uma nova forma de re-existir. Dessa maneira, o artigo pretende mostrar a emergência
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de avançar nos estudos sobre território indígena onde emergem as práticas de convivência e
de conhecimentos próprios. Nesse sentido, trata-se de um esforço de mostrar por meio das
experiências, em curso nos dois países, acerca desse lugar que também carrega lugares de
memórias, oralidades e subsistências ativas, ao qual o entendimento está circunscrito e
vinculado às circunstâncias da vida existencial física e espiritual como espaço de lugar sagrado
em interlocução permanente para o processo de aprendizado. Concebemos o Território como
uma dimensão indissociável de integração entre sociedade e natureza. Um lugar central para
a produção que circunscreve a ação dos ciclos, tempos e recursos naturais do Território como
estratégia para educar, em consonância com uma relação intrínseca possível para a
construção de uma educação própria em cada tecido social. Em um movimento de que quebra
paradigmas, e provoca a inauguração uma nova escola de pensamento. Nesse sentido, educar
para a vida por meio do Território propõem evidenciar multidimensões como a social, cultural,
política, educativa, colaborativa, participativa com as famílias, membros da comunidade,
professores, estudantes e não indígenas, que sobressaem iniciativas como a mobilização de
comunidades para a apropriação dos atores sociais desses lugares, dos conhecimentos que
podemos observar relações que sobressaem das experiências e interaprendizagens. As
experiências buscam sustentação na abordagem do enfoque do Método Indutivo Intercultural
cunha por Gasché (2008a, 2008b), em associação com os estudos de Bertely (2012), Meneses
& Sousa-Santos (2010), Mignolo (2010), Maldonado- Torres (2007), Tassinari (2001) e Walsh
(2009). O enquadramento metodológico será uma combinação de enfoques como a
abordagem qualitativa configurada por Bogdan & Biklen (2010); a pesquisa de associação
descritiva e exploratória com base nos estudos de Minayo(1993), e outras combinações.
Assim, analisar os saberes que emergem nessa formação e as dimensões que entremeiam
episódios da vida cotidiana com outras influências que ocorrem nesse processo.

Nhemongarai: Batismo Mbya Guarani

Darci da Silva Karai Nhe'ery

Apresento aqui a minha pesquisa sobre o Nhemongarai: o Batismo Guarani. Trata-se de uma
cerimônia de celebração específica da nossa cultura guarani, pois sempre acontece no período
de ‘Ara Pyau’ (ano novo), seguindo a nossa tradição. O Nhemongarai é muito importante na
nossa cultura porque é através dele que os Xeramoi (anciões) dão os nomes para as crianças.
No dia de Nhemongarai todas as comunidades, com suas famílias participam das cerimônias
na Opy’i (casa de reza), para escutar Ayvu Porã (palavras sagradas) dos xeramoi kuery e xejaryi
kuery (anciões e anciãs). Durante o batismo, aquele que receberá o nome deve participar
ativamente de toda a cerimônia. Com esse tema, desenvolvi um projeto interdisciplinar para
a realização do meu estágio docência, enquanto acadêmico da Licenciatura Intercultural

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Indígena do Sul da Mata Atlântica, da Universidade Federal de Santa Catarina. Ao ensinar para
as crianças, inclusive dentro do espaço escolar, a importância do Nhemongarai, busco
fortalecer o costume tradicional guarani da aldeia Pirai, em Araquari- SC. Além disso, essa é
uma forma de transmitir o valor cultural dessa cerimônia para as crianças, para que possam
mantê-la viva.

A violência simbólica: disputas pela última jurema

Luiz Francisco da Silva Junior

A presente comunicação relata o resultado de uma pesquisa de mestrado, a qual buscou


entender as relações de identidade religiosa em Alhandra, na Paraíba. A cidade ficou
conhecida durante muitas décadas pela identidade de cidade jurema, herança de um passado
indígena. Contudo, percebeu-se que a partir das décadas de 1980 e 1990 houve uma grande
rejeição dos alhandrenses por aceitar esta identidade ligada a herança dos povos indígenas
que viveram na região. Buscaram então, afirmar que Alhandra era uma cidade cristã, católicos
e evangélicos se esforçaram para desautorizar este passado, vinculando a algo negativo,
inclusive derrubando as famosas árvores da jurema que eram cultuadas na cidade. Por outro
lado, iniciou um movimento de defesa da jurema, por parte dos juremeiros, a cidade então
viveu este conflito de identidade, de um lado os que desejavam o fim da jurema e por outro
os que defendiam a herança dos índios e dos mestres juremeiros. A pesquisa foi baseada
principalmente por meio da história oral, as memorias dos alhandrenses, ligados a diversas
identidades religiosas, relataram estes conflitos, os quais foram tramados na escrita deste
artigo.

Cantos, rituais e território: Uma abordagem sobre os Ràmkôkamẽkra/Canela


e os Timbira

Ligia Raquel Rodrigues Soares

As memórias e narrativas sobre os saberes tradicionais, assim como os próprios saberes


indígenas, têm sido uma bandeira de luta para muitos povos indígenas no Brasil e no mundo.
Nesta comunicação pretendo tratar de como os saberes músico-rituais expressam
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experiências necessárias para o conhecimento dos territórios indígenas, aqui abordando o


caso dos Ràmkôkamẽkra/Canela, um dos povos Timbira que vivem no cerrado do Maranhão
e Tocantins. Essas narrativas experienciais estão imbrincadas em diferentes repertórios
musicais e rituais que tratam especialmente de seres e sujeitos circunscritos ao ambiente do
cerrado. São cantos e rituais que retratam grandes sagas de guerreiros ou de xamãs e suas
experiências com animais e plantas (sujeitos agentivos na perspectiva indígena). Tais seres
subjetivos são colocados em contato com os jovens em rituais de iniciação e formação, no
intuito de construir e formar novos sujeitos, capazes de se tornarem sujeitos fortes, sábios e
protagonistas de suas histórias, a partir dessa interação com tais subjetividades. Essa
construção de corpos e sujeitos passa pelo aprendizado dos cantos, pela prática dos
resguardos alimentares e corporais, pela relação desses jovens com o cerrado e com a
memória do seu povo. Esta memória advém dos cantos, das narrativas rituais e dos saberes
adquiridos no pjê cuneã (universo) nesse processo de interlocução.

A reportagem multimídia “‘Não é todo mundo que sabe chorar’ – O fim do


luto dos Apinayé no ritual do Parkapê”: usos do jornalismo digital para a
democratização da comunicação

Isabel Maria Lima Sousa

A comunicação apresenta o processo de produção de uma grande reportagem multimídia


sobre um ritual de encerramento de luto realizado pelo povo indígena Apinayé, que
movimenta a estrutura cultural, espiritual, cosmológica e social dos Apinayé como um todo.
A reportagem “‘Não é todo mundo que sabe chorar’ – O fim do luto dos Apinayé no ritual do
Parkapê” é parte de um trabalho de conclusão de curso e teve o objetivo de registrar,
documentar e divulgar a Festa da Tora Grande, a partir da construção de uma reportagem
multimídia, disponível no endereço eletrônico www.naoetodomundoquesabechorar.com. As
pautas abordadas pela mídia tradicional quando se trata de povos indígenas brasileiros se
resumem, na maioria das vezes, a denúncias de violências sofridas, conflitos agrários, violação
de direitos e muitos outros problemas vividos por estas populações, relegando a cultura e
dinâmica social a temas de interesse secundário. Com a apropriação da internet pelas
produções jornalísticas, a linguagem para o jornalismo digital tem sido aperfeiçoada e
atualmente é marcada pelo uso integrado de recursos para construir uma narrativa
aprofundada, pois não há limite físico de espaço e tempo, hipermidiática, associando as
diversas linguagens jornalísticas, plataformas e ferramentas. Este cenário oferece alternativas
para a produção jornalística, principalmente em produções conjuntas com comunidades e
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populações tradicionalmente marginalizadas pela mídia. A presente comunicação traz o


levantamento teórico que baseia o trabalho e detalha as etapas da produção da reportagem.

Monumento Natural dos Pontões Capixabas: o impositivo preservacionista e


a resistência pomerana

Helmar Spamer

No ano de 2002 foi criado o Parque Nacional dos Pontões Capixabas, uma área de preservação
ambiental localizada nos municípios de Pancas e Águia Branca, estado do Espírito Santo, com
o objetivo de preservar os ecossistemas ali existentes, realização de pesquisas científicas e o
desenvolvimento de atividades de educação ambiental e de turismo ecológico, conforme
previsto no Sistema Nacional das Unidades de Conservação (SNUC). Segundo o SNUC, uma
área de preservação ambiental na categoria de Parque Nacional não permite a presença
humana, de modo que sua criação implicaria na desapropriação das famílias pomeranas locais
– agricultores familiares que habitam a região desde a década de 1920 (RETZ, 2005). Esse
estudo se insere no contexto de conflito socioambiental e se dispõe a discutir, a partir do caso
de Pancas, as incongruências no processo de criação da referida Unidade de Conservação em
detrimento da comunidade local, tendo como foco as estratégias de resistência acionadas
pela comunidade pomerana em defesa de seus direitos e território, e suas relações de mútuo
reforço com processos de afirmação identitária, pertencimento e organização social. O estudo
parte do pressuposto de que as práticas de preservação ambiental no Brasil ainda se mostram
fortemente influenciadas pela perspectiva preservacionista e, em uma acepção mais ampla,
pelo binarismo moderno cultura/natureza, isto é, pelo “mito moderno da natureza intocada”
(DIEGUES, 2008). A persistência de representações romantizadas da natureza, assim como o
não reconhecimento do papel decisivo que os povos tradicionais desempenham na
conservação da biodiversidade, demonstram a força operante da racionalidade binária que
orienta a criação e a gestão de áreas protegidas. Erroneamente vistos como entraves à
“verdadeira preservação”, esses povos são tratadas com suspeição e seus modos de vida
tradicionais, seus saberes e suas práticas são sistematicamente negados e inviabilizados. No
contexto do Parque Nacional dos Pontões Capixabas, os conflitos vieram à tona no ano de
2003, quando a comunidade tomou conhecimento da criação da Unidade de Conservação e
que uma área de preservação ambiental na categoria de Parque Nacional não permite
habitação humana e atividades de produção em seu interior, o que implicaria em
desapropriação das terras. A partir de então, iniciou-se um processo de disputas, organização
social e luta pelo território. Apesar de o poder público (municipal e estadual) ter se

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posicionado a favor da comunidade, isso não ocorreu de imediato. Nesse período, o


Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) ganhou representatividade na região,
juntamente com os sindicatos rurais, devido sua atuação contra a arbitrariedade do Governo
Federal em criar uma área de preservação ambiental sem a consulta prévia da comunidade
local como prevê o próprio SNUC. Instituições religiosas, principalmente as Igrejas Luterana e
Católica, se pronunciaram em apoio à comunidade local por meio de cartas abertas e com o
posicionamento público de seus líderes. Além disso, houve mobilização comunitária com
realização de reuniões em que organizaram-se tanto manifestos escritos quanto protestos
com paralisação de rodovias. Como tem sido observado em outros contextos de Povos
Tradicionais (ALMEIDA, 2009), igualmente marcados por conflitos de sobreposição territorial,
a luta por direitos e em defesa do território em Pancas gerou um processo de afirmação
identitária e pertencimento da comunidade local. A familiarização da comunidade pomerana
com a discussão sobre Povos e Comunidades Tradicionais, a nível nacional, e a compreensão
de que essa categoria representaria um importante mecanismo de luta por direitos
territoriais, levou as lideranças pomeranas da região a reivindicarem o reconhecimento e a
inclusão da Povo Pomerano no âmbito dessa categoria. Em 2005, um dos primeiros resultados
dessa mobilização foi a criação de uma instituição para representá-los junto ao Governo
Federal e que conquistou uma vaga na Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável
dos Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT): Associação dos Moradores, Amigos e
Proprietários dos Pontões de Pancas e Águia Branca, posteriormente, no ano de 2009,
registrada como Associação Pomerana de Pancas (APOP). Por essa via a comunidade definiu
sua posição: reivindicava a anulação do decreto que criara o Parque Nacional dos Pontões
Capixabas sem a sua participação, configurando, portanto, na violação de um direito garantido
no SNUC e, assim, defendia o seu território e o direito de permanência nas terras enquanto
povo tradicional. Para tanto, acionava como argumento central o importante papel que seus
modos de vida e os sistemas locais de produção de baixo impacto ambiental desempenham
na conservação da Mata Atlântica. Em outra direção, a comunidade questionava o tratamento
desigual que recebia do Estado brasileiro: a área de preservação demarcada atingia
diretamente a agricultura familiar, deixando de lado grandes propriedades (fazendas
produtoras de café) e importantes áreas já exploradas pela extração de rochas – mineração
de mármore e granito. Pressionado, no ano de 2006 o governo federal criou um grupo de
trabalho para discutir e solucionar o conflito. Dessa vez, houve participação da comunidade
local que teve a oportunidade de expor suas reivindicações. Mesmo a comunidade
vislumbrando a anulação do decreto que criara o Parque ou até mesmo a criação de uma
Unidade de Conservação na categoria de Uso Sustentável, mais adequada aos modos de vida
e saberes tradicionais, findou-se por prevalecer a proposta do governo de Monumento
Natural. Dessa forma, mudou-se a categoria da unidade de Parque Nacional para Monumento
Natural, que, embora permita a permanência da comunidade local, prevê regras rígidas, com
projeção de importantes impactos sobre os modos de vida locais. Ademais, a criação do
Monumento Natural no ano de 2008, apesar de garantir a presença de propriedades

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particulares em seu interior, não encerrou os conflitos, ao contrário, fez emergir outras
tensões: a comunidade não teve concordância com a metodologia adotada pelo então chefe
da unidade para a criação do conselho consultivo, pois, várias instituições e organizações
sociais locais, que tinham participado do processo de luta pela permanência no território, não
foram convidadas a tomar parte do processo. Além disso, a comunidade não concorda com a
criação de um Conselho Gestor de caráter consultivo como determina a Normativa n° 11 do
ICMBIO que disciplina as diretrizes, normas e procedimentos para a formação e
funcionamento de Conselhos Consultivos em Unidades de Conservação federais (ICMBIO,
2010), mas, sim, reivindicava a constituição de um conselho em formato debilberativo, o que
não ocorreu. Diante desses impasses, atualmente o processo de criação do conselho
consultivo e a elaboração do plano de manejo da unidade estão estagnados. É possível que a
conquista da permanência no território tenha gerado um refluxo no intenso processo de
mobilização inicial, quando a perda do território era iminente. De outra feita, deve- se
também considerar que talvez a comunidade não compreenda que o “limbo institucional” a
coloca, novamente, em posição de fragilidade, pois, encontra-se numa situação de
instabilidade e insegurança jurídica, considerando que a Unidade de Conservação ainda não
foi totalmente regulamentada.

Histórias contadas pelos Anciões da Terra Indígena Laklanõ

Josiane de lima Tschucambanmg

O estudo aborda sobre as histórias contadas por anciões pertencentes ao povo


xokleng\laklanõ da Terra Indígena laklanõ, localizada no alto vale do Itajaí município de José
Boiteux em Santa Catarina. Buscaremos, registrar as histórias contadas pelos anciões da Terra
Indígena em questão. O Povo Xokleng/Laklãnõ é remanescente de um grande massacre, que
resultou na quase dizimação até o que é entendido como “pacificação”, no ano de 1914.
Buscaremos apresentar as memórias dos velhos acerca desse período histórico e também,
buscaremos proporcionar uma analise critica sobre os escritos desse período a respeito da
“pacificação”. Nosso estudo, entretanto, se fixa em trazer as narrativas das memórias dos
velhos Xokleng numa tentativa de afirmar a memória através da oralidade junto ao povo
indígena, uma vez que nos preocupa os contextos variados de ensino e aprendizagem da
história do povo Xokleng, não contado pelo velho mas por pesquisadores, ou seja, na maioria
das vezes pelo livro.

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Proyecto educativo cominitario y perspectiva educativa de procesos


autónamos territoriales del publo Wounaan de Colombia

Alejandro Vargas Galeano José

Orlando, Moya Ortiz

En Colombia la etnoeducación se ha proyectado como una política pública que debe atender
las necesidades educativas de los pueblos indígenas y las comunidades para lo cual se ha
establecido una serie componentes y ha definido una estructura básica centrada en la
educaciónn endogena, intercultural y comunitaria, a partir de las características culturales del
país y las necesidades educativas de los pueblos y comunidades. En este marco se ha definido
la elaboración de los Proyectos Educativos Comunitarios PEC los cuales constituyen el
componente educativo del proyecto de vida de los pueblos indígenas, puesto al servicio de la
totalidad del horizonte organizativo de la comunidad en la que tiene lugar. Constituye los
lineamientos generales que orientan los procesos pedagógicos y educativos en aras de
garantizar y mantener no solo su riqueza cultural, sino que también se articula con procesos
organizativos y políticos de los pueblos. La elaboración de los PEC3 tiene lugar y sentido en la
base de las luchas indígenas tejidas en la defensa de sus derechos, territoriales, culturales y
humanos. En esa medida, contienen un importante énfasis político que se traza de la mano
de los planes y proyectos de vida comunitarios. Para garantizar su pervivencia como pueblo
en sus territorios ancestrales, los indígenas Wounaan que habitan el Departamento del Chocó
y el Valle del Cauca han elaborado un PEC denominado Thai Khier –camino a la sabiduría- que
busca garantizar la pervivencia de este pueblo en una estrecha relación de la educación propia
en el territorio con una perspectiva intercultural. Uno de los principios o fundamentos del PEC
del pueblo Wounaan que orienta las acciones pedagógicas y organizativas de las comunidades
en su tierra y territorio, concebida la tierra como madre o maach ãd, fuente que la cultura, eje
de los asentamientos poblacionales y de la vida económica, social, política y espiritual del
pueblo Wounaan. La cosmovisión indígena Wounaan, supone el deber y el derecho de
cuidarla, defenderla, protegerla, conocerla, trabajarla, establecer diálogo con ella, es especial,
porque mucha de la vida que allí tiene lugar, es un regalo de los seres que habitan en el Ã
Ãrmian Durr o el mundo de abajo. Bajo la mirada crítica frente a la sociedad mayoritaria y
desde una perspectiva educativa propia se busca desarrollar el Proyecto Educativo
Comunitario del Pueblo Wounaan de Colombia.

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A luta dos povos indígenas na proteção dos conhecimentos tradicionais: uma


experiência do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGEN

Renata Carolina Corrêa Vieira

Os povos indígenas desenvolveram modos de vida particulares que envolvem um grande


conhecimento sobre os ciclos naturais, os ciclos biológicos e dos recursos naturais, tecnologias
patrimoniais, simbologias, mitos e até uma linguagem específica, que traduzem um outro tipo
de relação entre o homem e a natureza (DIEGUES, 1996). Estes saberes estão em constante
ameaça pelo regime hegemônico de propriedade intelectual e apropriação pelo capitalismo.
No Brasil, a Lei 13.125, de 2015, passou a regular o acesso ao patrimônio genético e aos
conhecimentos tradicionais, criando o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGen),
que passou a ser responsável por coordenar a elaboração e a implementação de normas e
políticas para a gestão do acesso ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional. É,
nesse contexto, que a atuação dos representantes dos povos indígenas no CGen ganha
singular importância. Ao abrir esse espaço institucional para a luta e resistência desses povos,
as contradições de interesses são exteriorizadas neste processo do qual resulta a construção
e efetivação de seus direitos de proteção e acesso aos conhecimentos tradicionais. O objetivo
geral da pesquisa é descrever e analisar a interação entre os representantes do CGen (Estado,
empresas privadas, academia, povos indígenas, comunidades tradicionais e agricultores
familiares) na construção e efetivação dos direitos de proteção e acesso aos conhecimentos
tradicionais. A metodologia escolhida foi o estudo etnográfico, por meio do qual se propõe
uma descrição e análise dos encontros e documentos gerados pelo CGen, considerando que
este também é um espaço de produção do Direito, uma vez que durante as reuniões discutem-
se a interpretação da lei e formulam resoluções normativas, que constroem e efetivam os
direitos que estão sendo disputados na proteção e acesso aos conhecimentos tradicionais.
Autores como Aníbal Quijano, Enrique Dussel e Edgard Lander, que correlacionam
capitalismo, raça, gênero e modernidade para pensar a estruturas atuais de poder (LANDER,
2005) servirão de referencial teórico para a tradução epistêmica da realidade vivenciada na
pesquisa de campo, bem como O Direito Achado na Rua será a teoria utilizada para pensar a
construção do direito desde uma perspectiva emancipatória, que emerge da luta dos povos
indígenas. O presente trabalho visa apresentar resultados parciais da pesquisa, onde já se
constatou que além da disparidade quantitativa entre os representantes do Estado e demais
entidades da sociedade civil, elementos que vão desde vestuário, uso ostensivo de
tecnologias, a linguagem utilizada nas reuniões dificultam a compreensão dos representantes
desses povos e revelam o modelo colonialista e hegemônico adotado pelo Estado.

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Narrativas, mitos, ritos e História mais do povo Akwe-Xerente

Tiago Srekmorate Xerente

Este trabalho se propõe a apresentar uma pesquisa sobre a comunidade do Povo denominado
Akwẽ-Xerente, localizada a margem direita do rio Tocantins, no município de Tocantínia. O
interesse deste trabalho desenvolveu-se a partir da necessidade de recuperar registros de
memórias, histórias, narrativas, lendas e mitos da origem do Povo Akwẽ. A intencionalidade é
realizar transcrições da literatura oral desse Povo indígena transmitida pelos anciões que
procuram preservar a sua história que teve o seu processo étnico cultural alterado, devido a
perdas de registros de aspectos históricos e míticos por influência da chegada dos
colonizadores portugueses no Brasil, no século XVI. A importância dessa pesquisa reside no
fato de que muitos jovens indígenas não estão dando a importância devida para essas
narrativas orais que são memórias ainda vivas de uma cultura em risco de extinção. Essa
pesquisa vem justamente para não deixar que as memórias do Povo indígena Akwẽ se percam
no tempo e sejam preservadas. Para tanto, recorreremos a entrevistas, a pesquisa
bibliográfica, a partir de teóricos que discutam a memória, a história oral, os mitos, entre
outros.

ST 33 | Morfología y sintaxis de lenguas indígenas en contexto etnolingüístico:


nuevas epistemologías en la investigación y construcción del conocimiento

María Alejandra Regúnaga (Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas – CONICET y


Universidad Nacional de La Pampa, Argentina); Dioney Moreira Gomes (Universidad de Brasilia – UnB,
Brasil); Zarina Estrada Fernández (Universidad de Sonora, México).

Las lenguas, expresión más completa y acabada de la cultura, no solo son instrumentos de
comunicación, sino que fundamentan la configuración y la expresión de la identidad personal
y grupal de los seres humanos. Se entiende por cultura el conjunto de características
distintivas de un grupo social, un complejo entramado de rasgos materiales, espirituales,
emocionales e intelectuales, así como sus prácticas, productos, categorías, conocimientos y
expresiones, entre las que destaca la lengua. La cultura confiere sentido de grupo a cada
individuo y provee el marco cognoscitivo por el cual las personas interpretan, organizan y dan
un sentido a la heterogeneidad del mundo; a la vez, la cultura brinda los lineamientos sobre
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los cuales se construye la identidad. Con esta base, proponemos un simposio sobre lenguas
indígenas desde una perspectiva etnolingüística, incluyendo los usos lingüísticos vinculados
con la identidad étnica tanto como la variación lingüística en relación con la cultura. Buscamos
generar un espacio de análisis, reflexión y debate sobre las motivaciones que existen en la
gramática de cada lengua, en el marco epistemológico de una etnomorfosintaxis (Enfield
2004, Wierzbicka 1988) en un contexto etnopragmático (Goddard 2006). De este modo,
proponemos enmarcar las características formales de los sistemas lingüísticos en un contexto
funcional, con énfasis en las motivaciones semántico-pragmáticas, que considere los
significados culturales plasmados en tales estructuras.

Metáforas e cultura em Akuntsú

Carolina Coelho Aragon

Esta comunicação apresenta uma análise linguística das metáforas na língua Akuntsú (Família
Tuparí, Tronco Tupí). Os Akuntsú estão hoje reduzidos a três mulheres que vivem na Terra
indígena Rio Omerê, no Estado de Rondônia. Estão localizadas nessa região desde o período
do seu contato com a Fundação Nacional do Índio em 1995; são monolíngues e ainda mantêm
consolidadas suas formas de organização social e suas atividades coletivas com alto grau de
autonomia em relação ao Estado e à sociedade brasileira. Neste estudo, visamos descrever as
formações lexicais da realidade sociocultural dos Akuntsú, exemplificando, especialmente, as
metáforas estruturais caracterizadas pelos processos criativos de neologismos, as ontológicas,
norteadas por processos bastante dinâmicos, e as metáforas encontradas nos processos de
composição da língua Akuntsú. Os padrões morfológicos são responsáveis pela formação
dessas construções lexicais, já que sinalizam seus significados, empregos e funções. Assim,
fundamentamos este estudo, principalmente, nos trabalhos de Aragon (2014), Basilio (2006),
Lakoff (1987) e Lakoff & Johnson (2002). Observamos que os conceitos linguísticos são
mediados por padrões, processos culturais e cognitivos embasados em contextos
sociohistóricos vividos pela sociedade indígena. Resultados mostram que expressões
metafóricas evidenciam a natureza dos conceitos que permeiam a cultura dos Akuntsú.

Etnoterminologia: registro linguístico-cultural de saberes especializados a


partir do sistema de cura e cuidados Mundurukú

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Nathalia Martins Peres Costa

Dioney Moreira Gomes

A Etnoterminologia é a disciplina linguística que estuda as Unidades Terminológicas presentes


nos discursos de especialistas indígenas, quilombolas ou de povos autóctones que preservam
conhecimentos ecológicos tradicionais. Essa disciplina tem por princípio teórico-metodológico
conferir a essas unidades terminológicas (ou etnotermos) a devida análise e tratamento
terminográfico, partindo de uma perspectiva Ecolinguística, interdisciplinar e decolonial. Os
dados são coletados ou gerados in loco e analisados com colaboração de falantes nativos, com
isso, a Etnoterminologia objetiva a valorização, manutenção, reconhecimento e consequente
preservação dos saberes ecológicos tradicionais e dos especialistas que os possuem. A
Etnoterminologia surge para viabilizar o estudo, registro e interdisciplinariedade entre a
enfermagem e o sistema de curas e cuidados tradicional do povo Mundurukú, demanda
relacionada a um contexto de Ensino Médio Integrado ao Profissionalizante em técnico de
enfermagem (Projeto Ibaorebu), em que o conhecimento ocidental possuía, a priori, espaço
privilegiado de reconhecimento enquanto “forma de saber”, uma vez que os professores e
materiais não eram indígenas nem, tampouco, em língua indígena. Os resultados do trabalho
foram além do Ensino Médio, pois, ao iniciar a proposta notamos que não haviam suportes
teórico-metodológicos para o tratamento de saberes especializados em línguas minoritárias,
especialmente as indígenas. Hoje há uma epistemologia, uma metodologia e uma análise
estruturada da terminologia do sistema de cura e cuidados Mundurukú, que efetiva a
proposta da Etnoterminologia. Neste trabalho nosso objetivo é demonstrar a
Etnoterminologia a fim de torná-la disponível como forma de proceder ao registro linguístico-
cultural de um saber especializado para outras pesquisas, uma vez que a Etnoterminologia
constitui uma inovação epistemológica e metodológica na investigação e na construção do
conhecimento.

Tempo no Saynáwa (Pano): graus de distanciamento no passado

Cláudio André Cavalcanti Couto

Este é um trabalho descritivo sobre a expressão gramatical do tempo na língua Saynáwa


(família Pano, Brasil/Acre; Couto 2010, 2015), com enfoque nos contextos de uso dos
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morfemas que marcam graus de distanciamento no passado. A pesquisa partiu de dados


próprios, coletados por cerca de 9 meses de pesquisa de campo, e se fundou em uma
perspectiva funcionalista e tipológica (Comrie 1985, Bybee et al 1994, Shopen 2007). O tempo
(Comrie 1985) é expresso na língua Saynáwa através de uma categoria gramatical específica,
e que se comporta como os demais morfemas flexionais do verbo. A categoria gramatical
tempo marca tempo absoluto e distingue a ocorrência das situações em passado vs. não-
passado, estabelecendo-se 4 graus de distanciamento no passado. O não-passado não
apresenta marca morfológica, enquanto que cada grau de distanciamento no passado é
marcado pelos sufixos: -xu passado recente (há poucos instantes), -a pas. hodierno (hoje), -
xina pas. pré- hodierno (há um/poucos dias), -ni pas. remoto (há vários dias). Sobre os
contextos de uso dos morfemas de tempo passado, destaca-se: a) não é exato o ponto de
separação entre os graus de distanciamento, os falantes variam entre si quanto aos limites
entre o pas. recente e o hodierno, e entre o pas. pré-hodierno e o remoto; b) o falante pode
adotar critérios subjetivos ao empregar os morfemas que delimitam os graus de
distanciamento, aproximando ou distanciando a situação em relação ao momento da
enunciação, independentemente da distância temporal objetiva; c) em narrativas, os sufixos
de tempo passado não ocorrem obrigatoriamente em todos os verbos principais, inferindo-se
que os verbos não marcados estão no mesmo grau de distanciamento do verbo, com a marca
temporal, mais próximo na sequência do texto; d) também em narrativas, pode ser
empregado o “presente histórico” (“tempo narrativo”; Bybee et al 1994), quando situações
passadas são narradas como se ocorressem no presente. A pesquisa sobre contextos
funcionais no Saynáwa mostra- se desafiadora diante do nível de obsolescência da língua, que
conta com apenas 7 falantes/lembradores. Além disso, não sabemos as motivações culturais
que levariam seus falantes, por exemplo, a adotarem maior exatidão na distinção entre o pas.
hodierno e o pré-hodierno, em comparação aos demais graus de distanciamento no passado.
Apesar disso, nossa análise destaca-se por descrever um paradigma temporal pouco comum
nas línguas naturais (Comrie 1985), pois apresenta distinções de distanciamento temporal, e
destaca-se por identificar que essas distinções estão sujeitas a variações entre os falantes e a
motivações pragmáticas. A pesquisa avança também por observar a marcação dos morfemas
de tempo em narrativas.

Verbos emocionales en el zapoteco de San Pablo Güilá

Ausencia López Cruz

Una de las formas de expresar las emociones en el zapoteco de san Pablo Güilá (ZSPG)2 es por
medio de verbos emocionales. La estructura de los verbos que codifican emociones
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generalmente estás compuestos por un verbo + el morfema là›z ‘corazón’. En el presentes


trabajo hablaré primero qué tipos de emociones son los que se expresan por la estructura
verbal de verbo + là›z, luego estudiaré qué verbos pueden aparecer en esta estructura y
posteriormente analizaré la relación semántica y sintáctica que hay entre el morfema là›z con
el verbo. (1) Ejemplos de algunos verbos emocionales del zapoteco ràklà›zbí ‘él
quiere/desea/ansia’ (compuesto por el verbo hacerse +là›z) rbà›là›zbí ‘él se emociona/siente
satisfecho/se maravillarse’ (compuesto por estar contento + là›z) rtxǐtxlà›zbi ‘molestarse’
(enojarse +là›z) En el ZSPG no solo está esta forma de conceptualizar las emociones (verbos
más là›z) sino que también hay emociones que se expresan por un sustantivo, por un verbo
pleno, por un adjetivo más la forma estativa del verbo yù’ ‘haber’, y por medio de
interjecciones. A continuación doy algunos ejemplos de estas formas. 2. gàlnlás ‘tristeza’ 3.
rbà›bí ‘él está feliz/contento/emocionado’ gàlnxhítx ‘ira, enojo’ rtxǐtxbí ‘él está enojado’
gàlxhí›by ‘miedo’ rtxǐbypí ‘él tiene miedo’ 4. Níxh nǒbí ‘él se siente/está bien’ (sabroso él
existe) Nxhǎb nǒbí ‘él se siente/está mal’ (feo/horrendo él existe) (5) ây yôoo ‘expresa
dolor/sentimiento’ ây nánù ‘Expresa sentimiento, dolor’ Dentro del campo de las emociones
en el ZSPG, hipotéticamente puedo decir que las expresiones emotivas expresadas por
nominales o verbos propiamente dicho codifican emociones muy generales como estar
contento, enojarse, tener miedo etc. Los que lleva el morfema là›z son emociones específicas
que aún no tengo claro qué clase de emociones son, al parecer tiene que ver con el estado de
animo del individuo. Lo que es claro es que semánticamente là›z codifica un tipo de emociones
y formalmente tiene una estructura especifica.

Identidad y arte verbal en el discurso autobiográfico de dos mujeres


indígenas

Zarina Estrada Fernández

Esta presentación aborda el discurso autobiográfico de dos mujeres procedentes de


diferentes pueblos originarios del noroeste de México. El discurso autobiográfico representa
un espacio desde el cual cada una de las protagonistas ofrece un testimonio sobre lo ellas
consideran que las posiciona como parte de su identidad en el momento de la narración. Así,
mientras una de ellas plasma un testimonio de valoración del mundo yaqui y de su
identificación con el mismo, la otra, ofrece un escenario de vida en el que la lengua rarámuri
representa un rasgo de identidad y de identificación de los suyos. El trabajo analiza diversos
marcadores discursivos mediante los cuales se consigue evidenciar lo característico del
llamado arte verbal. Las habilidades retóricas de las narradoras dependen en gran parte de la

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edad de cada una de ellas, no por ello, dejan de ser relevantes por observar la intersección
que se da entre el dominio de las propiedades morfosintácticas de sus lenguas y las
intenciones comunicativas que las impulsan.

Por uma etnoterminologia da saúde na língua terena

Rogério Vicente Ferreira

O objetivo principal deste trabalho é a realização de um estudo etnoterminológico que


envolve a saúde tradicional indígena, aquelas utilizadas pelos pajés terena, com ênfase na
dicionarização dos etnotermos. É preciso destacar que segundo Costa e Gomes (2013)
apontam em seu artigo que os estudos da etnoterminologia é recente. O estudo
etnoterminologia para Lara é o resultado da cultura e a terminologia, visto que alguns termos
técnicos estão diretamente relacionados a questões culturais de um povo, como apresentou
em seu estudo de terminologia na língua quéchua (LARA, 1999, p. 52). A contra parte disso
Costa e Gomes (2013, p. 55) apontam que essa visão de Lara para a etnoterminologia pode
levar para uma interpretação preconceituosa, pois poderiam deduzir, erroneamente, uma
valoração menor das terminologias não ocidentais. É diante destas afirmações que o trabalho
caminha, buscando uma inserção dos estudos etnoterminológicos de línguas indígenas a uma
construção mais ampla dos estudos de terminológia. A fundamentação teórica da
terminologia (CABRÉ, 1995; SAGER, 1998; BARBOSA, 2006; entre outros) e os princípios da
lexicografia (REY, 1970; ZGUSTA, 1971; HAENSCH, 1982; entre outros) Este tipo de pesquisa
linguística contribui não só para os estudos terminológicos em geral como também para a
educação dos terena, principalmente aos não falantes, que é a maioria atualmente. A língua
terena faz parte da família linguística Arawak, ela é falada por pessoas que se reconhecem,
hoje, como terena. Contudo, o seu uso e frequência é desigual nas várias aldeias e terras
indígenas. Por exemplo, em Dois Irmãos do Buriti e Nioaque são pouquíssimas pessoas que a
utilizam. Em outras como Cachoerinha em Miranda, a língua é falada por quase toda a
comunidade.

Argumentos e adjuntos em línguas indígenas brasileiras: primeiros passos

Dioney Moreira Gomes

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Os estudos sobre línguas indígenas brasileiras têm-se revelado de grande interesse para os
avanços da ciência linguística em âmbito mundial. Rodrigues (2000) e vários estudiosos das
línguas amazônicas ressaltam a sua diversidade linguística, destacando a
desproporcionalidade entre o número de línguas e o número de troncos e famílias. Grinevald
& Seifart (2004), por exemplo, destacam alguns desafios tipológicos: o estudo da ordem de
palavras, da ergatividade, dos sistemas de classificação nominal, etc. O estudo sistemático da
distinção entre argumentos e adjuntos em línguas indígenas brasileiras proposto por nós visa
proporcionar maiores avanços aos estudos científicos das línguas e da linguagem humana,
especialmente as pesquisas de natureza tipológica. O exame dessa problemática tem sido
feito por meio de critérios variados. Nossa pesquisa pretende evidenciar quais critérios os
pesquisadores dessas línguas têm levado em conta quanto à distinção argumento/adjunto.
Esta pesquisa também dará base para outras que busquem comparar conceitos aplicáveis a
todas as línguas, uma vez que ela pretende identificar esses conceitos nas pesquisas já
realizadas. Em alguma medida, a pesquisa também contribuirá para a preservação das línguas
indígenas brasileiras, ao colocá-las em primeiro plano nos estudos tipológicos de natureza
geral. Que línguas são essas? Onde são faladas? Qual seu grau de vitalidade? Que pesquisas
ainda precisam ser feitas para fins de sua documentação e preservação?

Introducción a la variante culta del idioma zoque

Laureano Reyes Gómez

Llamo “variante culta” a un tipo de lenguaje altamente especializado que es usado en eventos
que exigen el concurso de la exquisitez del lenguaje hablado, el cual recurre al uso de
metáforas, de palabras que no son del dominio común, y juegos del lenguaje que le dan un
giro reverencial. Para ello, se acude a personas “caracterizadas” o “principales” (rezadores,
curanderos, casamenteros1 , oradores, comadronas, etc.), que hagan gala del discurso,
buscando, a través del lenguaje florido, profundizar un conocimiento, convencer, sensibilizar
o persuadir al auditorio respecto al tema en cuestión (tales como actos fúnebres, litigios,
pedimento de mano, rezos especializados, información sobre cuestiones que requieren un
conocimiento profundo o puntual en campos del conocimiento tales como de la medicina,
acerca de las deidades, etc.). Es decir, se requiere tener una formación culta y habilidad en el
manejo del lenguaje para dar rienda suelta a la palabra, o como dicen los zoques,
tsamera ́mdire ́ sirijtyajpabö tanda ́nijs xajaköjsi, la traducción más cercana al castellano dice:
utilizar el recurso de “palabras que vuelen sobre alas de mariposa”.

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Construções de posse nominal alienável e inalienável na língua mehinaku


(Arawak)

Angel H. Corbera Mori

Para Dixon e Aikhenvadl (1991), todas as línguas arawak dividem o léxico nominal em nomes
alienáveis e inalienáveis. A distinção entre esses dois tipos de posse é dada pelo traço
[+possessão] para os nomes inalienáveis e [-possessão] para os alienáveis. Nos inalienáveis
encontram-se nomes relacionados a termos que obrigatoriamente ocorrem vinculados a um
possuidor, tais como termos de partes do corpo, termos de parentesco e alguns outros itens
que mantém uma relação íntima com o possuidor. Contrariamente, os alienáveis não precisam
ser especificados para um possuidor no léxico da língua. Essa diferenciação nas línguas arawak
mostra que os nomes alienáveis, ao serem possuídos, são marcados morfologicamente,
enquanto os inalienáveis são marcados quando não ocorrem numa relação com um possuidor.
Com base nessas observações, esta comunicação visa descrever a estrutura de posse nominal
na língua e cultura mehinaku. A língua mehinaku é falada por uma população aproximada de
281 pessoas (IBGE 2010), e que etnicamente se autodenominam imiehünaku. O povo
mehinaku divide-se atualmente em 4 aldeias: Uyaipiyuku, Utawana, Aturuá e Kaupüna, além
do Posto Indígena de Vigilância (PIV). Tanto as 4 aldeias como o PIV encontram-se às margens
do rio Kurisevu, na parte sul do Parque Nacional do Xingu, no estado de Mato Grosso. O povo
mehinaku autoidentifica a sua língua como Imiehünaku iayaka ‘a nossa língua mehinaku’, que,
junto com o wauja e o yawalapiti, integra a família linguística arawak, subgrupo xinguano
(Aikhenvald 2001) ou arawak central, na classificação de Payne (1991). A análise dos dados a
ser apresentada, nessa comunicação, é o resultado de pesquisas e coleta de dados primários
junto aos falantes mehinaku. A análise segue os fundamentos básicos da Linguística
Antropológica funcionalista. Em termos gerais, na língua mehinaku os nomes de posse
inalienável incluem os termos de partes do corpo, termos de parentesco, e alguns referentes
relacionados intimamente ao um possuidor, tais como ‘caminho’, ‘piolho’, ‘casa’, ‘arco’,
‘corda’, ‘mingau’, ‘bracelete’, ‘canção’, entre outros. Esse tipo de nomes formam uma classe
fechada e são marcados morfologicamente, enquanto os nomes subcategorizados como
alienáveis constituem uma classe aberta e não são marcados morfologicamente.
Adicionalmente, encontramos nomes que não se inserem nessa categoria da
(in)alienabilidade, são nomes que, por razões culturais, não ocorrem em construções de
possessão nominal, tais como kamü ‘sol’, kexü ‘lua’, enutxitxa ‘trovão’, kalũtü ‘estrela’. Nessa
classe incluem-se, também, os nomes próprios de pessoas, denominações de etnias, entre
outros.

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Sufixo {-p} em Wayoro: Infinitivas vs. Nominalização lexical

Antônia Fernanda de Souza Nogueira

Em Wayoro (subfamília Tupari, Tupi), tanto construções nominalizadas (instrumentais e de


lugar) quanto construções infinitivas são realizadas por meio do sufixo -p. O mor- fema
nominalizador (NMLZ), -p∼-m (dependendo da nasalidade da raiz verbal) forma, quando
afixado a verbo intransitivo, nomes que indicam lugar, como ngõyã ‘sentar’ e ngõyã-m
‘esteira’; e, quando afixado a verbo transitivo, nomes que indicam um ins- trumento, como
taara ‘ralar’ e taara-p ‘ralador’. Esse processo resulta claramente em um sintagma nominal.
Há, contudo, um segundo tipo de construção com -p∼-m que aparece como complemento de
verbo e que apresentam semântica eventiva e pro- priedades morfossintáticas semelhantes
as de orações. Nossa pesquisa perseguiu a seguinte questão: este último tipo de construção
seria melhor analisado como no- minalização ou como oração subordinada? Galucio (2011)[1]
captura a diferença de comportamento de construções com o nominalizador -ap na língua
Mekens (também da subfamília Tupari), propondo a distinção entre nominalização lexical
(locativa e ins- trumental) e nominalização de evento. Identificamos as seguintes propriedades
que permitem diferenciar uma nominalização lexical de uma oração (infinitiva): (i) opciona-
lidade da expressão do argumento do verbo intransitivo nas nominalizações, ao passo que o
argumento do verbo intransitivo é obrigatório nas infinitivas (tal como previsto nas orações
independentes da língua); (ii) possibilidade de ocorrência de morfema de aspecto no verbo
das orações infinitivas; (iii) possibilidade de ocorrência de mor- fema causativo/transitivizador
(de uso exclusivo a verbos intransitivos na língua). Por fim, observamos que tanto em
nominalizações lexicais (cf. os dados 1 e 2, a seguir) quanto em orações completivas, pode
ocorrer o prefixo de 3a pessoa correferencial te- , o qual é uma anáfora indexada a um sujeito
(cf. morfema cognato em Karitiana [2], em Mekens [3], em Tupari [4] e Akuntsu [5]). Contudo,
quando usado com uma oração completiva, te- apresenta restrições relacionadas ao verbo da
oração matriz (compare 1 e 2 com 3)1. Por exemplo, um verbo como ndia ‘querer’ requer
correferencialidade com o sujeito da matriz, como se pode notar em (3a), tal como previsto
na literatura sobre infinitivas de controle. (1) dj=au-w-a 3=curar-vzr-v.t y-indiakwa 3-comida
au-w-a curar-vzr-v.t dj-uwape 3-bebida au-w-a curar-vzr-v.t [dj-ato-a-p] 3-banhar.se-v.t-nmlz
au-w-a curar-vzr-v.t ‘(Ele [o marido]) está rezando/curando isso, curando a comida para
ela/dela, curando a bebida dela, curando o banho dela.’ (WYR-20100326-mulher-estrela-12)
(2) [te-ato-a-p] 3c-banhar.se-v.t-nmlz au-w-a curar-vzr-vt ‘(Elei) está rezando/curando banho
delei /para elei .’ (Elic.) (3) a. Djeopõri D. [*dj/te-ato-a-p] 3/3c-banhar.se-v.t-inf ndia-kwa-t
querer-iter-nfut ‘Djeopõr ĩ quer tomar banho.’ b. Djeopõri D. [*te/dj=ato-a-p]
3c/3=banhar.se-v.t-inf top-a-t ver-v.t-nfut ‘Djeopõrii viu ele∗i/j tomando banho.’ (Elic-2017)

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Termos de Classe em Jê Setentrional: Apinaje e Canela

Christiane Cunha de Oliveira

Flávia Castro Alves

Em línguas do ramo Setentrional da família Jê, a categorização dos nomes é expressa através
de características morfossintáticas relativamente simples, que contrastam com a
complexidade categorial e morfossintática comum entre as línguas amazônicas. A divisão
principal na categoria dos nomes em línguas da família Jê é aquela que distingue referentes
inalienáveis (entendidos como partes inseparáveis de um todo) de referentes alienáveis
(entendidos como autônomos dentro do universo linguístico e conceitual dos falantes). As
repercussões sintáticas dessa categorização maior, no entanto, são bastante diversas
daquelas de línguas como Munduruku e Tukano, onde ricos sistemas de informação semântica
sobre os referentes são codificados na morfossintaxe do sintagma nominal (Derbyshire; Payne
1990; Gomes, 2009; Chacon, 2007). Na língua Apinaje, por exemplo, as maneiras disponíveis
para se expressarem subcategorias nominais incluem a presença obrigatória versus a ausência
obrigatória de prefixos de pessoa indicativos de posse, o que resulta na necessidade de uma
construção sintática específica para a expressão de posse nesta última – ih-katorxà ‘minha
mãe’/inh-õ rop ‘meu cachorro’. A expressão de número no sintagma nominal se dá através de
clíticos (mẽ ‘PL’, wa ‘DU’) quando o referente é expresso em forma de pronome (seja ele livre
ou preso) ou nome – mẽ prĩre ‘as crianças’, mas também pode ser expressa pela seleção de
formas alternativas da raiz verbal de alguns verbos de movimento e posição – na [pa] kato ‘eu
saí’/ na [pa mẽ] apoj ‘nós saímos’. A natureza material do referente e/ou a forma que o
referente tem podem requerer, ainda, o uso de termos de classe em Apinaje – re ‘DIM’, prĩn
‘pequi’/prĩn=re ‘oiti’; põ=re ‘capim rasteiro’/põ=ti ‘capim alto’/põ=hy ‘milho’. Na língua
Canela, os termos de classe são nomes que ocorrem na periferia direita do sintagma nominal.
Não se comportam tão produtivamente como um sistema de classificação, que se estende a
vários campos lexicais. Semanticamente, expressam ou limites classificatórios (+humano/-
humano, forte/fraco) ou a forma dos objetos concretos comuns a uma classe de nomes
(grande/pequeno, forma de semente, de grão, de pele, doce, orifício etc) – hy ‘semente’,
põ=hy ‘milho’, aroj=hy ‘arroz’; kà ‘pele’, kupẽ kà ‘tecido’, pĩ kà ‘casca de pau’. Sintaticamente,
são núcleos dos nomes compostos, funcionando como classificadores do léxico. A combinação
de um nome com um termo de classe (sincronicamente também um nome) representa um
tipo de formação de nomes compostos na língua. O objetivo desta pesquisa é realizar uma
abordagem comparativa das características do sintagma nominal em Apinaje e Canela,
buscando descrever a partir dessas duas línguas um panorama inicial dos sistemas de termos
de classe nas línguas Jê.

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Prohibitions and commands in Kandozi-Chapra, a Peruvian Amazonian


language

Simon Overall

This paper describes the potential and prohibitive constructions of Kandozi-Chapra, a scarcely-
described isolate spoken in the northwest Peruvian Amazon. Kandozi-Chapra has a formally-
marked imperative mood, which includes canonical imperative (in the sense of Aikhenvald
2017), with second person subject (1), and hortative with 1pl subject. A special imperative
form marks transitive verbs with second person subject and first person singular object,
marked with the suffix -nta (2). While prohibitive is functionally the negative counterpart of
imperative (i.e. “don’t X!”), it is marked distinctly in Kandozi-Chapra (a frequent strategy in
van der Auwera & Lejeune’s 2013 study). The prohibitive forms seem to have arisen from
potential mood via implicature: “you might X” > “don’t X!”, so the apprehensive domain
(Lichtenberk 1995, Vuillermet 2018) appears to be the link between the two functions. But
there are complexities arising from interaction with person of subject and object, and non-
combinatorial semantics of sequences of morphemes. Potential mood forms use special
markers -intʃ (2sg) and -ints (2pl) with second person participants, replacing the usual subject
markers -iʃ (2sg) and -is (2pl). These special markers combine with potential mood to form the
prohibitive (3), but combined with incompletive aspect the same forms encode first person
singular subject acting on second person object (4). A prohibitive form with second person
subject and first person singular object, meanwhile, does not use the special second person
markers, nor does it use the -nta suffix of example (2) – instead, the usual second person
markers appear (5). The innovated prohibitive paradigm, functionally the negation of
imperative, has developed from a potential construction that persists alongside the
prohibitive function. Where they overlap, the two functions are distinguished by the overall
construction of the verbal word in which they appear, and this results in non-combinatorial
semantics as the prohibitive forms are conventionalised. So the data provide an important
case study in relating the apprehensive domain to other functions, and in the diachrony of
defective paradigms (cf. Mithun 2010), and raise questions such as: What motivates the
development of potential into prohibitive? Why should prohibitive not simply involve
negation of imperative? And why should the combination of first and second person subject
and object trigger such morphologically distinct treatment? Examples (1) pʃtu-ŋki enter-IMP
‘come in!’ (2) iista-nta help-1SG.OBJ ‘help me!’ (3) kaman-intʃ-pa tell-2SG-POT ‘don’t tell him!’
(4) kaman-tʃ-intʃ-pa tell-INCOMPL-2SG-POT ‘I’ll tell you’ (5) munta-ɾ-iʃ-pa annoy-CURR-2SG-
POT ‘don’t hassle me’ References Aikhenvald, Alexandra Y. 2017. Imperatives and commands:
a cross-linguistic view. In A. Y. Aikhenvald and R. M. W. Dixon (eds.), Commands: A Cross-
Linguistic Typology, 1– 45. Oxford: Oxford University Press. Lichtenberk, Frantisek. 1995.
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Apprehensional epistemics. In Joan Bybee & Suzanne Fleischman (eds.), Modality in grammar
and discourse, 293–327. Amsterdam: John Benjamins. Mithun, Marianne. 2010. The Search
for Regularity in Irregularity: Defectiveness and its Implications for our Knowledge of Words.
In Matthew Baerman, Greville G. Corbett and Dunstan Brown (Eds.) Defective Paradigms:
Missing forms and what they tell us [Proceedings of the British Academy 163]. 125–149.
Oxford: OUP. van der Auwera, Johan, and Lejeune, Ludo (with Valentin Goussev). 2013. The
Prohibitive. In Dryer, Matthew S. & Haspelmath, Martin (eds.) The World Atlas of Language
Structures Online. (http://wals.info/chapter/71) Vuillermet, Marine. 2018. Grammatical fear
morphemes in Ese Ejja: Making the case for a morphosemantic apprehensional domain.
Studies in Language 42(1): 256–293.

Nociones de afección y diminutivo en lenguas indígenas de América del Sur

Matthias Pache

Esta charla propone discutir un fenómeno fonosemántico bastante común en diferentes


lenguas de América del Sur: tanto sibilantes como sonidos nasales parecen vincularse con
nociones de afección y pequeñez. En cuanto al valor fonosemántico de sibilantes, compárense
las formas proto-chibchas * m bus- ‘mujer joven’ y *m bun di ‘mujer adulta’ (Pache 2018), o
las formas mapudungun kuʃe ‘mujer vieja, conotación cariñosa)’ y kuðe ‘mujer vieja, sentido
despectivo’ (Zúñiga 2007: 62). De Reuse (1986) discute también el valor fonosemántico de
sibilantes en el quechua (o quichua) de Santiago del Estero (Argentina). En cuanto al valor
fonosemántico de nasales, compárense las formas pumé (yaruro) ãɾĩ ‘gusano’ y aɾi ‘caimán’
(cf. Dyck & Dyck 2015), y, en aguaruna (lengua jívara) nampiʧ ‘gusano’ y dapi ‘serpiente’ (cf.
Wipio Deicat 2015). Estos paralelos parecen independientes de cualquier relación genealógica
entre las lenguas que los presentan. Queda abierta la pregunta si se trata de un fenómeno
areal o más general. Otra pregunta relevante surge a partir de una observación hecha por
Regúnaga (2012: 204): si hay una relación entre diminutivo/apreciativo y género en las
lenguas de América del Sur, lo más común es que se dé con el femenino. En este contexto, es
interesante observar, en pumé, las formas ɔdɛ ‘él’, e inɛ̃ ‘ella’ (Dyck & Dyck 2015); la última,
femenina, igualmente contiene nasales.

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La dimensión etnolingüística de los conceptos teológicos/religiosos


contenidos en las traducciones al chiquitano y al yagán del Credo

Severin Parzinger

María Alejandra Regúnaga

Christian Tauchner SVD

La implementación de la doctrina cristiana a través de las lenguas propias de cada pueblo ha


llevado a entender al cristianismo como una “cultura de traducción” (Sanneh 2005). En el
marco del proceso de cristianización de las comunidades indígenas de América, el análisis de
las traducciones de los textos religiosos a las lenguas vernáculas da cuenta de las prácticas
discursivas significativas dentro de cada cultura, en términos de valores, creencias, categorías
sociales, etc. Particularmente, la traducción de determinados conceptos teológicos/religiosos
como ‘Dios’, ‘Espíritu Santo’, ‘cielo’, ‘infierno’, resulta en unidades léxicas que suelen articular
la cognición, las percepciones y las construcciones ideológicas codificadas en la lengua por
cada sociedad y cada cultura. A partir de estos presupuestos, proponemos un análisis
contrastivo de las traducciones del Credo a la lengua chiquitana (realizadas durante los siglos
XVII y XVIII por los misioneros jesuitas, en el contexto de las reducciones de Chiquitos en el
sureste amazónico del entonces virreinato del Perú, actualmente en el este de Bolivia) y al
yagán (situadas en el entorno de las misiones anglicanas que funcionaron durante la segunda
mitad del siglo XIX en el extremo sur de la Patagonia y las Islas Malvinas). Se escoge el Credo
por ser un texto central del sistema religioso que exige las más alta precisión en la formulación
y fidelidad a la tradición de la iglesia. La comparación de los recursos lingüístico-culturales
utilizados en la traducción de esos conceptos (préstamos, neologismos, resemantización o
extensiones metafóricas) permite vislumbrar parte de los conocimientos y la visión de mundo
de los hablantes de cada una de las lenguas, así como la conformación y sistematización del
campo léxico en que se organizan tales unidades en chiquitano y en yagán y los mecanismos
morfológicos, semánticos y pragmáticos que intervienen en su formación.

Metáforas em Apyãwa (Tapirapé) e o desvelamento de valores socioculturais

Eunice Dias de Paula

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Este trabalho aborda construções metafóricas presentes na língua e na sociedade Apyãwa


(Tapirapé), povo indígena que habita na região nordeste do Mato Grosso em duas terras
indígenas: Terra Indígena Urubu Branco e Área Indígena Tapirapé-Karajá. A língua tapirapé é
classificada no subgrupo IV da família Tupi-Guarani, Tronco Tupi (RODRIGUES, 1986;
RODRIGUES e CABRAL, 2002). Segundo Lakoff e Johnson (2002), as metáforas presentes em
nossa vida cotidiana organizam nossos sistemas conceituais e isso ocorre também nas línguas
e culturas das sociedades indígenas. A abordagem proporcionada pela Etnossintaxe (ENFIELD,
2002; WIERZBICKA. 1997; BRAGGIO, 2011) mostra que processos metafóricos são muito
presentes na sociedade Apyãwa e, através deles, podemos desvelar valores socioculturais
articulados à cosmovisão própria deste povo que organizam seu modo de ser e de estar no
mundo.

Gramaticalizaciones del verbo ‘decir’ en wampis

Jaime Peña

El presente trabajo examina la gramaticalización de diversas construcciones asociadas con el


verbo tu 'decir' en wampis, una lengua jívara hablada en Perú, y sugiere que estas provienen
de la alta frecuencia de uso de estas construcciones debido a patrones culturales específicos
de los wampis. Las construcciones reportativas son una de las estructuras más características
del discurso en lenguas jívaras (cf. Larson 1978). En wampis, muchas construcciones que sirven
para expresar un amplio rango de funciones han sido gramaticalizadas a partir de usos
reportativos. En este trabajo, se argumenta que prácticas específicas de interacción asociadas
con ciertas particularidades culturales observables todavía hoy en día en la comunicación
diaria entre los wampis, especialmente una ética comunicativa para evitar atribuir estados
internos a otras personas, han ido de la mano con la alta frecuencia de uso de construcciones
reportativas en el discurso. Como consecuencia de ello, estructuras reportativas con el verbo
'decir' se han gramaticalizado en diferentes construcciones que en wampis actual sirven para
la expresión de diferentes dominios conceptuales y tipos discursivos en la lengua, tales como
frustración, propósito, deseo, narración y evidenciales, entre otros. Por otro lado, wampis
posee subsistemas dedicados a la especulación y la inferencia (Peña 2015). Una práctica
común es, justamente, especular o inferir en presencia de otra persona a la cual se le atribuye
la acción especulada o inferida. Justamente, la interacción de entre estos subsistemas y
aquellos gramaticalizados a partir de construcciones reportativas sugieren una fina
distribución de funciones basada en prácticas socio-pragmáticas para evitar conflictos. El
análisis se basa en un corpus obtenido en largos periodos de trabajo de campo que involucra
diferentes tipos de textos tanto en monólogos como en conversaciones. Los diferentes
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patrones analizados y algunas de las observaciones presentes en este trabajo ofrecen


sugerencias relevantes que pueden ayudar a entender diversos patrones gramaticales que
emergen a partir de prácticas interaccionales en las que existe cierta tendencia hacia una
comunicación respetuosa, como parece ser el caso del wampis.

A estrutura oracional de predicados nominais em Apyãwa

Walkiria Neiva Praça

Sintaticamente em Apyãwa, língua pertencente à família Tupi-Guarani (cf. Rodrigues & Cabral
(2002)), não há como distinguir nomes de verbos e os paradigmas de pessoa são irrelevantes
para distinguir tais categorias. Com relação aos predicados, há duas categorias de predicados
não verbais, a saber. a) Os predicados adverbiais e b) os predicados nominais. As orações com
núcleos de predicados nominais são de dois tipos: a) as existenciais e b) as equativas/inclusivas
- e apresentam comportamento gramatical distinto. Os nomes são inerentemente predicados
e instituem predicados existenciais, sem que haja cópula ou morfologia que indique mudança
de classe gramatical. Ao instituírem núcleos de predicados existenciais, os nomes exercem as
mesmas posições sintáticas que os verbos e compartilham com estes várias propriedades
morfossintáticas. Por outro lado, tanto os nomes quanto os verbos podem funcionar como
argumento. Para isso, ambos recebem o morfema referenciante {-a}. Por sua vez, as orações
equativas/inclusivas se diferenciam das orações existenciais por terem como núcleo do
predicado um nome marcado com o sufixo {-a}. A morfologia do núcleo lexical do predicado
dessas orações não se diferencia da de sintagmas nominais em função argumental. Sua
estrutura oracional é formada por dois sintagmas nominais justapostos, em que o primeiro
desempenha a função de sujeito e o segundo a de predicado. Os predicados dessas orações
são negados pelo sufixo {e’ym} ‘negação de constituinte’, enquanto que a negação dos
predicados existenciais e verbais é realizada por meio do morfema descontínuo {nã=...-
i}‘negação de predicado’. Apesar de se diferenciar das orações existenciais, as orações
equativas/inclusivas não deixam de apresentar características gramaticais similares às das
orações existenciais. Verifica-se a ocorrência de partículas que assinalam tempo/aspecto, bem
como a de expressões adverbiais que indicam tempo. Pretendo, neste trabalho, examinar o
funcionamento desses dois tipos de orações, cujo núcleo de predicado é um nome. O nome
núcleo do predicado existencial é lexicalmente um nome divalente. Entretanto, o seu
predicado como constituinte do nível mais alto da oração, é sempre monovalente. Por sua
vez, o nome núcleo do predicado das equativas/inclusivas mantém a valência nominal,
possivelmente pela marcação do morfema {-a}. Ainda há que se pesquisar o porquê da
utilização desse morfema nestes predicados. Sua função parece ir além da de atribuir
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referência a temas predicativos. Apesar de, sintaticamente, não se distinguir nomes de verbos
em Tapirapé, e de a função argumental ser derivada, não foi verificada a ocorrência de verbos
com núcleo de predicado equativo/inclusivo, ou seja, marcados pelo sufixo {-a}.

Toponimia yagán

Maria Alejandra Regunaga

La toponimia, que se ocupa del estudio de los nombres que denominan lugares, forma parte
de la onomástica, especialidad de la lexicografía en torno de los nombres propios. Distintos
investigadores han resaltado el carácter interdisciplinar de la toponimia, en la que confluyen
la geografía humana, la arqueología, la historia, la etnografía, la sociología y la lingüística. El
objeto de este trabajo es realizar un primer análisis del conjunto de topónimos recogidos por
Martin Gusinde SVD y registrados en una carta topográfica (55o-56oS; 67o-72oW). Este mapa,
identificado primero en yagán (yámana- ūsin ‘territorio yámana’) y luego en alemán (Die
Heimat der Yamana‚‘El país de los yámana’), fue producto de la investigación de Gusinde
durante sus cuatro viajes a la región de los yaganes (1918-1924) y recoge más de 300 nombres
geográficos en lengua originaria. Tal riqueza léxica da cuenta del avanzado conocimiento
topográfico de este pueblo y de su desarrollado sentido de la orientación en todo el
archipiélago fueguino, lingüísticamente codificado, entre otros recursos, a través de un
conjunto de prefijos direccionales. El marco teórico-metodológico para este estudio
contempla el análisis morfológico de las unidades léxicas sobre la base de sus motivaciones y
una interpretación lexicológica ligada a la cultura, sin olvidar que este conjunto léxico es
resultado de procesos de documentación lingüística de vital importancia en el caso de lenguas
amenazadas o en vías de desaparición.

Contribuciones a partir de la documentación de una lengua de la Amazonía


Colombiana: Un estudio de caso del pisamira

Iveth Rodríguez

El objetivo de esta comunicación es presentar algunos de los resultados obtenidos en el


proceso de documentación y descripción del pisamira; una lengua Tukano Oriental poco
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descrita y en grave riesgo de extinción, hablada en el Vaupés Colombiano. Los datos


presentados constituyen contribuciones originales de aspectos socioculturales y lingüísticos
derivados del trabajo de campo que he venido desarrollando con este pueblo desde el 2011.
Por un lado, abordaré el contexto sociocultural en el que se encuentran inmersos los pisamira,
presentando las diversas situaciones de amenaza que actualmente enfrentan y evaluando el
grado de vitalidad de la legua a través de los nueve criterios propuestos en UNESCO Language
Vitality Assessment (2003). Por otro lado, me enfocaré en los principales resultados que
describen el perfil tipológico de la lengua obtenidos de mi actual investigación con el pisamira.
El área lingüística del Vaupés es bien conocida por su diversidad lingüística, en la cual coexisten
distintas lenguas de cuatro familias genéticamente no relacionadas (c.f., Sorensen 1967,
Jackson 1983, Aikhenvald 2002, Stenzel 2005). En las últimas décadas los pueblos indígenas
de este territorio geográfico en Colombia, en particular los pisamira, se han enfrentado a una
devastadora reducción en su número de individuos, así como a un cambio acelerado en su
estructura social y cultural ha generado la pérdida irreversible de sus conocimientos
ancestrales y al mismo tiempo la desaparición de muchas de sus prácticas lingüísticas y
culturales. Los factores que han llevado al actual estado de riesgo de la legua serán
comentados en esta presentación. Tipológicamente, al igual que otras lenguas Tukano, la
lengua pisamira es altamente polisintética, aglutinante y completamente sufijante (Dixon &
Aikhenvald 1999). Particularmente, el pisamira se caracteriza por tener al menos dos clases
mayores de palabras: nombres y verbos. Con respecto a su morfología verbal, esta lengua
exhibe un sistema inusualmente grande y complejo de distinciones evidenciales; en las que se
han identificado al menos cuatro sufijos diferentes para expresar información de primera
mano, informada, inferida y asumida. Con respecto a su morfología nominal, esta lengua
presenta dos clases principales de nombres: animados e inanimados. En este evento serán
presentados estos y otros rasgos tipológicos de la lengua. Finalmente, destacaré la
importancia del trabajo de documentación y descripción lingüística a partir de mis reflexiones
sobre las enormes contribuciones que esta tarea aporta al conocimiento cultural, ecológico y
social de las poblaciones humanas.

Sintagmas posposicionais em Kamaiurá: argumentos ou adjuntos?

Arthur Britta Scandelari

Dioney Moreira Gomes

O objetivo principal desta pesquisa, a qual extrapola o estudo do Kamaiurá, é identificar o


tratamento sintático dado a sintagmas adposicionais em pesquisas sobre línguas indígenas da
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família tupi-guarani e responder à pergunta: Qual relação sintática estabelecem os sintagmas


adposicionais com o restante da oração — argumento ou adjunto? O tema está alinhado com
um projeto maior, que visa a identificar como tem sido feita a distinção entre argumentos e
adjuntos em pesquisas sobre línguas indígenas brasileiras (cf. Gomes, 2018). Os objetivos
adicionais são: 1. identificar quais critérios são usados nas pesquisas feitas; 2. verificar se há
uso de adposições distintas para expressar lugar, meta e fonte, enquadrando-se no padrão
mais comum detectado na tipologia de Pantcheva (2010); 3. verificar a existência de
adposições multifuncionais com escopo sintático e pragmático; 4. identificar que tipo de
complementos as adposições podem tomar (nomes, pronomes livres ou clíticos, morfemas
pessoais presos, advérbios, orações); 5. verificar se as adposições guardam algum isomorfismo
com verbos e nomes; 6. verificar a possibilidade de aplicar, à distinção argumento-adjunto,
uma classificação em termos prototípicos, alinhada com as análises de Creissels (2014),
Witzlack-Makarevich & Bickel (2013) e Haspelmath (2003, 2014). A pesquisa teve início com o
Kamaiurá, língua tupi-guarani do Alto Xingu, a partir da obra de Seki (2000). De acordo com a
maioria dos critérios usados pela autora, como a posição periférica, a ausência de marcas
gramaticais, a classificação morfológica, a coordenação via parataxe e as relações sintáticas,
os sintagmas posposicionais seriam adjuntos. Somente em uma situação poderiam ser
argumento e, em outra, predicado. Conforme previsto na tipologia de Pantcheva (2010), há
posposições distintas para expressar lugar. Com relação ao papel semântico de fonte, os
falantes do Kamaiurá usam uma posposição específica, similar à usada em Munduruku: «wi»
(de) (cf. Gomes, 2006). Além disso, as posposições têm, como complemento, nomes com o
sufixo {-a} ‘caso nuclear’ (nas palavras da autora); flexionam-se com prefixos relacionais e
clíticos; e, como os advérbios, podem condicionar a forma verbal para o chamado modo
circunstancial. Ademais, verificamos correlações formais entre posposições, nomes possuíveis
e verbos descritivos. Constata-se, assim, isomorfismo entre posposições, nomes e verbos,
seguindo a noção de identidade funcional exposta em Payne (1997). O isomorfismo mostra-
se relevante na compreensão dessas categorias em línguas indígenas amazônicas (cf. Gomes,
2016; Queixalós & Gomes, 2016), levando-nos a indagar qual semelhança funcional entre
posposições, nomes e verbos estaria acarretando um tratamento formal próximo ou igual
entre essas categorias.

Objetos en Tikuna

María Emilia Montes

Nelly Moreno

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Una lengua amazónica de alineamiento predominantemente nominativo-acusativo (Soares-


Facó, 2000; Montes, 2004a y 2004b) es un tema que merece especial atención. La lengua
emplea diferentes recursos morfológicos y sintácticos (aún poco claros) para la expresión de
los argumentos nucleares y oblicuos. Esta codificación se hace mediante un sistema mixto de
marcación táctica (1a), de marcación en el núcleo a través de la concordancia del verbo con
su objeto en algunos casos como en (1b) y de marcación en el dependiente (casos en las FNs)
como aparece en (2). La concordancia con el sujeto que exhibe el verbo es obligatoria. Ciertos
objetos (y no otros), bajo ciertas condiciones (¿definidos? ¿postverbales y tópicos?) están
codificados a través de referencia cruzada en la cabeza (i.e. el verbo) con la marca de ‘objeto
interno’1 {-na-}, incompatible con la marcación casual en las FNs: (1a) ch m -rü t ch -pa (orden
b sico) 1.BP-TÓP yuca 1-sembrar ‘(Yo) siembro yuca’ (1b) ch -na-pai ya t (orden dislocado) 1-
OINT-sembrar M.NPAS yuca ‘La siembro, la yuca’. Datos básicos sobre el sistema casual se
establecen en los trabajos de Anderson, 1966; Soares-Facó, 1990 y Skilton, 2016. Cuando los
dos participantes son animados, la marca casual se hace indispensable: (2) Gloria ernando- -
ku Gloria Fernando-ACUS 3.FEM-disparar ‘(Gloria) disparó a ernando.’ Debe aún establecerse
si el tikuna hace una distinción entre objetos directos y objetos indirectos o entre objetos
primarios y secundarios (Dryer, 1986). En (3) la FN del objeto (un paciente, inanimado) tiene
marca cero y el recipiente tiene la marca de dativo {-na}. En (4) las dos Ns de ‘comprar’
requieren marcación casual, aunque es el argumento pacientivo el que recibe marca de dativo
como en (4a) y (4b) y el recipiente marca de acusativo como en (4b): (3) Peduru rü nüna naʼne
naʼa peduru rü nü- -na naʼne na- ʼa Pedro TOP 3.MASC DAT flecha 3.MASC dar edro dio una
flecha para él (otra persona) (oares- acó, , p. 28) (4a) ta 5 xa2 cü2 ca 5 cu3 ta2 xe3 ? ta 5 xa2
cü2 - 5 cu3 - ta2 xe3 ? qué DAT 2SG comprar ¿Qué compraste? cha3 pa3 tu5 ca 5 cha3 pa3 tu5
- 5 zapatos DAT Zapatos (Anderson, 1962, p. 141) (4b) ¿te5 xe1 a 5 u 1 nax23ca 5 cu3 ta2 xe3
? ¿te5 xe1 a 5 - u 1 nax23 -ca 5 cu3 - ta2 xe3? para.quién ACUS 3 DAT 2GS comprar ¿Para
quién los compraste? Pau3 ru5 a 5 u 1 Pau3 ru5 a 5 - u 1 Pablo ACUS Para Pablo (Anderson,
1962, p. 141) (Nota: las glosas y traducciones son adaptadas por nosotras; se conserva la grafía
de los autores. Anderson representa 5 tonos con superíndices). En esta línea, se analizar n las
condiciones que hacen posible o no la alternancia de los casos de acusativo {u y dativo {na ka
para la marcación de las FNs objeto en cláusulas semánticamente ditransitivas. También se
analiza lo que ocurre con el morfema de concordancia (‘objeto interno’) en estos casos. En la
interpretación de estos hechos se tienen en cuenta factores semánticos (tipos de verbos, tipos
de ‘objetos’, grados de afectación del objeto), así como factores pragm ticos relativos a la
topicalidad del objeto. Estas consideraciones se harán a partir del examen de un corpus de
datos de relatos y encuestas (Montes; Cogua, 2015), datos recopilados en el Trapecio
Amazónico colombiano (i.e. Puerto Nariño, Amacayacu, Tipisca, kilómetro 6) sistematizados y
glosados en el programa Flex del SIL.

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ST 34 | Mulheres, crianças e História: o ‘feminino’ e o ‘infantil’ na sociedade


americana, séculos XVI-XIX

Karina Melo (Associação Nacional de História – ANPUH, Brasil); Carlos D. Paz (Universidad Nacional del
Centro de la Provincia de Buenos Aires, Argentina).

Um dos maiores desafios que se apresentam ao binômio investigação/educação é o problema da


transferência não só dos resultados da investigação, mas também dos pressupostos dos quais parte o
pesquisador dado que, em alguns casos, possuem uma distância intrínseca e por demais significativa
com os pressupostos ontológicos próprios do sujeito que se analisa. Pressupostos de investigação que,
ademais, são resultado de processos sociais possíveis de serem historicizados. Reflexão que bem pode
aplicar-se às abordagens que se realizam sobre mulheres e crianças, mais ainda com sujeitos que são
parte de alguma das distintas nações indígenas americanas. O objetivo deste simpósio é, além de
colocar em discussão resultados de investigação, refletir sobre os nós de conhecimento alcançados,
como é necessário ponderar e repensar distanciamentos ontológicos, entre o pesquisador e o sujeito
de investigação, que ancilosam a possibilidade de resgatar a diversidade de experiências e os sentidos
que as categorias ocluem. Mulheres e crianças são categorias próprias do Ocidente moderno que
tentam explicar o que se sucede além de suas fronteiras. Porém, pouco se reflete sobre como estas
duas proporções da sociedade concebem a si mesmas, e desde este posicionamento político, como se
articulam com outras parcelas da sociedade. Conforme sobredito, este Simpósio busca artigos originais
de investigação que forneçam descrições, explicações e análises sobre o rol de mulheres e crianças nas
sociedades americanas que coloquem tais sujeitos históricos como centro de suas análises. Entre os
tópicos possíveis de serem abordados, sugerimos: 1) Papéis e atividades econômicas desenvolvidas
por mulheres e crianças em contextos coloniais ou republicanos recentes; 2) Formas de representação
da infância e do mundo feminino; 3) Protagonismos em cenas políticas; 4) Atuações como mediadores
culturais e agentes na reprodução social de sua comunidade; 5) Formas conceituais e analíticas de
pensar a infância e o feminino, apontando para uma superação epistemológica das imagens
consolidadas pela retórica de seu tempo.
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Corporalidades racializadas desde el discurso visual de la otredad: memorias


no escritas de las subalternas en la obra plástica de Víctor P. de Landaluze

Olga María Rodríguez Bolufé

Greyser Coto Sardina

La segunda mitad del siglo XIX en América Latina y el Caribe constituye una de las etapas más
complejas y definitorias para la gestación de repertorios visuales sobre la mujer racializada,
devenida arquetipo híbrido, contaminado en muchos casos, por el lugar de enunciación de la
otredad. Las representaciones de la mujer negra, parda y mulata, en la obra del pintor
costumbrista Víctor Patricio de Landaluze, muestran el reforzamiento de la expansión colonial
sobre la vida cotidiana o doméstica de la sociedad esclavista cubana. Las figuras femeninas
que configuran el repertorio visual del artista y militar español, son sujetos racializados y
sexuados, desde los cuales ambas categorías -raza y sexo- estaban fundamentadas en un
orden estructuralmente naturalizado. De acuerdo con Huberman y Benjamin, la obra de arte
en última instancia expone su propia temporalidad y distancias del tiempo histórico. De ahí la
importancia de articular el contexto de creación de estas imágenes, con conceptos
fundamentales como: sexualidad, raza, género y clase, que adquieren una dimensión analítica
significativa para la teoría y crítica de género en autoras contemporáneas como Teresa de
Lauretis, Diana Fuss y Mara Viveros. Los cuerpos femeninos representados en la obra gráfica
y pictórica de Landaluze se configuraron como cuerpos negros o mulatos, esclavos y
sometidos, cuerpos fuertes, sensuales, desterritorializados, destinados al trabajo y la
complacencia. No obstante representar aquellas imágenes que encarnaban la otredad y lo
abyecto, hizo aparecer en el marco del “gran arte” a la negra, aunque en formas singulares,
racistas y esencialistas. A la vez, el artista aportó información para el estudio de las
costumbres, prácticas religiosas, formas de vida, de una “identidad negra” que se fue
distinguiendo de la “identidad blanca” desde esos años. Son imágenes que en sus devenires
temporales se cargan de múltiples significados, evidenciando la permanencia de sesgos de
género que en la actualidad aún no se superan: la negación de un pasado africano, la
imposibilidad de poseer un cuerpo e identidad propios en tanto el negro era, entre otras cosas,
una propiedad; o la necesaria imitación de conductas de los blancos y ricos. Estos archivos
visuales permiten analizar desde el presente, aquella sociedad esclavista cubana, a la vez que
rehabilitan el espacio del arte como forma discursiva esencial para abordar las
interconexiones entre la historia social y cultural, la producción artística y los estudios de
género, revelando la memoria no escrita de las subalternas.
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Mabilde e as mulheres indígenas: raça e gênero na construção da diferença


sexual na primeira metade do século XIX

Isadora Diehl

Este trabalho tem como objetivo analisar os escritos de Alphonse Mabilde, denominados
Apontamentos sobre os indígenas selvagens da nação Coroados dos matos da Província do
Rio Grande do Sul, confeccionados entre 1848 e 1850, buscando relacionar esta obra com a
produção do discurso sobre a diferença sexual e de gênero no século XIX. Analisa-se aqui como
este autor, através dos seus escritos sobre as mulheres indígenas, notadamente sobre a
gravidez, o parto, a menstruação (e sua supressão), a sexualidade e o trabalho, expõem
elementos desenvolvidos a partir do século XVIII, da mulher como ser social pautado pela
natureza, reduzido ao corpo, em contraste com a racionalidade masculina. Leva-se em conta
o proposto por várias autoras, que este processo consolida-se na segunda metade do século
XIX nos discursos médicos e notadamente voltado pra as mulheres “burguesas”. Porém,
acredito que a construção da diferença sexual passa pela confecção de outras diferenças,
como a de raça, explicitada aqui pela mulher indígena entendida como uma dupla antítese:
dos homens e das mulheres brancas. Portanto, o trabalho trata menos da concepção de
gênero ou do feminino das próprias mulheres indígena do que o papel a elas destinado na
construção da diferença sexual “ocidental”.

Notas sobre mulheres indígenas na sociedade colonial do Rio de Janeiro

Suelen Siqueira Julio

A comunicação apresenta resultados parciais de pesquisa de doutorado iniciada


recentemente. Esta aborda a inserção das mulheres indígenas na sociedade colonial do Rio de
Janeiro, desde os primeiros contatos entre os povos indígenas e os diversos agentes
envolvidos com a colonização, no século XVI, até o início do século XIX. O longo recorte
temporal possibilitará uma investigação sobre o modo pelo qual tais mulheres viveram os
primeiros contatos, os impactos desencadeados pelo estabelecimento dos europeus nesse
território, bem como as transformações ocorridas na capitania ao longo do tempo. Esse amplo
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recorte tem o objetivo de levantar o máximo de informações disponíveis nas fontes, a fim de
responder à seguinte questão: qual a especificidade do grupo ao qual nos referimos como
mulheres indígenas? Quais características marcaram a experiência histórica dessas mulheres
na América portuguesa em geral e, especificamente, no Rio de Janeiro? A presente
comunicação terá como foco as informações que vêm sendo obtidas nesta pesquisa através
de assentos paroquiais: registros de batismo, casamento, habilitações matrimoniais e óbito.

Mobilidades sócio-espaciais de mulheres e crianças indígenas na fronteira


platina de inícios do Oitocentos

Karina Melo

Quando a índia Maria Rosa saiu de Santa Maria em direção a Porto Alegre, praticando um
aspecto fundamental de sua cultura – a mobilidade espacial – e exercendo a liberdade da qual
gozavam os não-escravizados, ela o fez porque seu marido e seu filho se encontravam
privados das suas. Em 1813, Valentim estava recluso numa cela para prisioneiros de guerra
em Porto Alegre, enquanto seu filho, Francisco, se encontrava sob os cuidados do comandante
da Companhia de Santa Maria, que o tratava “como seu escravo valendo-se do seu emprego
como comandante”, segundo a queixa de Maria Rosa. O militar a castigava fisicamente todas
as vezes que ela lhe pedia para ter Francisco de volta. Movimentações verticais num jogo
complexo de hierarquias sociais deslocaram Maria Rosa para baixo, colocando-a, e a seus
parentes, numa posição próxima a de outros escravos e libertos. Isso não quer dizer que as
condições de escravos fossem iguais àquelas que envolviam o trabalho dos índios, mas, por
vezes, eles viveram experiências sociais semelhantes no que diz respeito à privação de
liberdade. Outro aspecto importante desses jogos de poder, é que a participação de homens
em serviços militares provocou também o deslocamento de famílias indígenas, incluindo
obviamente, mulheres e crianças, como nos mostra o caso de Maria Rosa. O objetivo desta
proposta é abordar aspectos da atuação de mulheres e crianças indígenas através de situações
que envolveram condições de liberdade e a movimentação de suas posições sociais.

Guardar la castidad: mandatos jesuíticos sobre los cuerpos femeninos. El caso


de las reducciones del Chaco

María Beatriz Vitar Mukdsi


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A través de este trabajo se planteará la política jesuítica en relación con las mujeres indígenas
en el contexto reduccional del Chaco en el siglo XVIII, poniendo el foco en los fundamentos
ideológicos que sustentaron el discurso y la acción misionera en aras del control de los cuerpos
femeninos. En este marco, se analizarán las conductas exigidas a la población femenina en sus
diversos tramos etarios, conforme a los preceptos cristianos y al régimen patriarcal instaurado
en la vida misionera. En esta línea, interesa, asimismo, esclarecer cómo los ideales de pureza
y castidad, la obediencia a los maridos y la obligada sedentarización afectaron a las mujeres
en los planos de la sexualidad, relaciones de género y vida reproductiva así como en su función
recolectora, de vital importancia tanto para la subsistencia comunitaria como para diversas
prácticas tradicionales relacionadas con la vida social y ritual.

Mulheres e crianças indígenas na Região Platina: séc. XVIII

Laura Oeste

A proposta da pesquisa é abordar a mulher e a criança indígena na região platina a partir do


material produzido pela administração hispano americana durante o séc. XVIII. O período
caracterizou-se por profundas transformações sociais e econômicas que influenciaram a
dinâmica da coroa espanhola com as populações indígenas locais. Por ser uma área de intensa
relação com o seu entorno, a colonização desse espaço fronteiriço foi marcada por relações
entre diferentes modos de interação de núcleos hispânicos e a sociedade circundante. Em
geral, as análises sobre a mulher indígena na historiografia ainda carregam alguns
estereótipos e poucas pesquisas se dedicaram a região do Prata, principalmente, ao
Setecentos. Nas fontes as mulheres e crianças indígenas aparecem juntas de forma recorrente
e, em muitos momentos, compartilham do mesmo destino. Nas contendas elas representam,
quase sempre, a maioria capturada. Era comum o uso de seus trabalhos como mão de obra
nas reduções e nas casas das população locais. Os comportamentos e concepções em relação
a essas mulheres e crianças eram múltiplos, desde os trazidos pelos colonos europeus,
carregados por elas mesmas oriundos de seus grupos, como também decorrentes dos
processos de mestiçagens. Sendo que os poderes coloniais percebiam mulheres e crianças de
ambos os sexos como sujeitos da mesma categoria, femininos. O conjunto de fontes é diverso
e inclui atas e correspondências do Cabildo, ordens, informes e cartas entre os poderes
coloniais, entre outros. Para a análise da documentação será utilizada a metodologia etno-
histórica que, com suas contribuições interdisciplinares, proporciona outras formas de
interpretações, conceitos e leituras das fontes.
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Mulheres indígenas: uma construção histórica de resistência, superação de


preconceitos, rupturas com o espaço opressor, conquistas de espaços público
e social

Adriane da Silva Oliveira

Propõe-se através desta comunicação reflexões a partir da observação e acompanhamento a


várias mulheres indígenas: como foi se dando o desenvolvimento de sua liderança no campo
político e social, bem como seus movimentos em relação a luta por seus direitos que
oportuniza a superação da discriminação e tantas outras situações que causam invisibilidade
destas. Com a tentativa de perceber se esse movimento ocorre de forma igual ou equiparada
com as mulheres indígenas que vivem dentro da aldeia e as que estão fora desta. Ainda, a
análise se dará por meio de uma abordagem direta as mulheres indígenas que exerçam uma
liderança expressiva nos povos: Pankararé de Osasco – SP, Guarani – do Pico do Jaraguá – SP
e MS, e Terena – MS garantindo o respeito, a liberdade, possibilitando a troca de saberes. Que
esta aproximação oportunize entender com mais profundidade as dores, lutas e conquistas
destas mulheres indígenas e possibilite outras reflexões, que chegue a presente e futuras
gerações. Salienta-se também que é perspectiva do artigo mais do que promover
conhecimento, conscientização e como se deu o empoderamento destas mulheres, é
entender o processo histórico de luta e resistência destas diante de todo preconceito e
discriminação que foram sendo superados e rupturas de estruturas e paradigmas,
conquistaram espaços. Através destas superações e rupturas, chegaram a função de
vereadora, deputada ou estar à frente de outro cargo público. Se para mulheres não indígenas
isso já significa um grande um passo e um avanço imensurável, pensar nas mulheres indígenas
assumindo estes, significa algo possível sim, mas inimagináveis há pouco tempo atrás na
história do Brasil. Em outras palavras sair da invisibilidade, superar preconceitos e
discriminação mostrar sua forma de ser mulher indígena de acordo com suas próprias
perspectiva e cosmovisão. Ainda tem muito o que se fazer, mas existe uma grande esperança
diante do muito que foi conquistado olhando o que se conseguiu até aqui, apesar de toda
construção histórica de negação e exclusão.

El protagonismo de las mujeres nativas guaraníes en la sociedade

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Angélica Otazú

El presente trabajo plantea la participación de las mujeres nativas en el desarrollo de la


economía, la religiosidad y la política de sus comunidades. Se basa en la investigación y la
experiencia de trabajos realizados entre las kaiowa guaraní de Mato Grosso y las Paraguay.
Los símbolos religiosos, generalmente, son inculcados por la mujeres, transmitiendo de forma
oral a las nuevas generaciones. La espiritualidad es la base de la cultura guaraní, y como tal
tiene relevancia en los distintos niveles de la vida social, por consiguiente, sirve para preservar
la identidad y el sistema tradicional de la política y la economía de la reciprocidad (jopói). La
filosofía de vida y la práctica espiritual incluye a mujeres y varones. De ahí la trascendencia de
la participación de las mujeres, de esta forma se afirma que no hay culto sin la presencia de
las mismas.

Lecturas histórico-antropológicas sobre las miradas jesuíticas en torno de la


niñez indígena. Chaco, siglo XVIII

Carlos D. Paz

Los niños fueron parte esencial y vital, no sólo en y para la vida comunal, sino que además
cumplen una función sociológica clara en el relato construido por los sacerdotes jesuitas que
misionalizaron en el espacio chaqueño durante el siglo XVIII. Un espacio para el cuál contamos
con etnografías culturales redactadas ya en el exilio, devenidas luego en fuentes modulares,
retomadas asidua y sistemáticamente por la historiografía dado que las mismas poseen una
amplia información sobre distintos momentos que atravesaron las reducciones en aquellas
latitudes. A pesar de la riqueza argumental que poseen aquellos documentos para explicar el
derrotero histórico de las comunidades nativas –condición alcanzada en buena medida por las
directivas que guiaron la escritura jesuítica- los niños no ocupan un lugar de relevancia en los
resultados de las investigaciones históricas desde las cuáles poder afirmar que conocemos el
pasado del Chaco; aspecto que dificulta, por extensión, pensar la niñez indígena en los mundos
coloniales americanos. Los niños en aquella documentación fueron presentados de diversos
modos y haciendo alusión tanto a los progresos que experimentaron las reducciones así como
siendo partícipes de algunas acciones que desafiaron la autoridad del sacerdote y, en tercer
lugar, como actores involuntarios que permiten explicar acciones liminares de la sociabilidad
de los adultos. El objetivo de esta presentación, en función de lo expuesto de modo sumario,
es brindar claves para realizar lecturas sobre el ámbito de la infancia en el mundo colonial y
restituir a la niñez nativa la vivacidad que la escritura jesuítica disimula y, en tercer lugar,
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generar explicaciones sobre la funcionalidad performativa que la misma detenta en el discurso


escrito por los ignacianos sobre algunos de aquellos momentos desde dónde la comunidad
construye parte de su memoria. Un proceso en dónde los niños poseían una cuota significativa
de participación.

Pautas de crianzas en la etnia Wayuu - Guarija Colombiana

Zaine Arredondo Quintero

La presente ponencia explora las pautas de crianzas en la infancia en la etnia Wayuu ubicada
en el primer departamento de la Guajira Colombiana, entendiendo que la etnia es una
posibilidad de oralidad de mitos memoria histórica y colectiva, donde el fogón es el camino y
los sueños son una puerta a la cosmovisión Wayuu. El afecto en la infancia, para la etnia
Wayuu, se entendería entonces, como la vida misma, y no está ligada a mimos o caricias
especificadas, sino a la realidad que se le muestra a ese nuevo ser desde la sangre materna
hasta su entorno mismo. Entendiendo el mundo y el afecto como el camino para enfrentar el
desafío que la vida misma trae consigo, aclarando que en el chinchorro ( Sui-
Tatunkiruinsuluunu>ulaa) “dormir al niño” se escucha el balbuceo de la madre, desde el
momento de la lactancia en esa comunicación eterna entre madre e hijo, se siente el placer
ya que por medio de ese acto se evidencia el amor a la concepción a la palabra de la abuela
desde el cuidado del niño en sus diferentes etapas de la vida, valorando este concepto de
crianza como una oportunidad de minimizar el mundo desde sus usos y costumbres. Así bien
la mujer es la dadora de vida, desde el sentido mítico Walekeruu (Araña) o Wolunka (Mujer
de la vagina dentada) se evidencia a ésta, como la transmisora de la herencia étnica desde
diferentes escenarios. En este sentido se compartirá la experiencia de acompañar a niños y
niñas wayuu pertenecientes a la Ranchería Itaka en la Guajira Colombiana, entre las edades
de 0 mes a los 12 años Tepichi>i- Infancia. La metodología empleada en esta experiencia IAP,
acción Participación en la cual el segmento poblacional, se compromete desde las posturas
críticas y colectivas para la combinación de los saberes Otros. Este ejercicio se proponen las
pautas de crianza en la etnia Wayuu, como el asunto cultural desde la línea materna para
vincular la parentela y su rol en el concepto de infancia, el cual es para ellos la oportunidad de
trasmitir valores, desde la línea materna permitiendo que el núcleo familiar mismo. Es común
que desde las pautas de crianza se afiance, los procesos de socialización donde se priorizan e
interiorizan los principios normativos y socioculturales del grupo étnico antes mencionado.

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Mixed marriages in the captaincy of the Rio Negro: indigenous women,


soldiers, settlers, and cunhamenas in the second half of 18th century

Manoel Domingos Farias Rendeiro Neto

The Brazilian historiography of the nineteenth and early twentieth century portrayed
indigenous woman as “natural” assistants in the colonization process. Therefore, indigenous
women’s experiences were relegated to a single role: the sexual consort of the settler.
However, historians have been examining these narratives and finding there are several gaps
and oversimplification of their representation of the native experiences. Many of these new
approaches evidenced contrasts and inconsistencies related to the previous narratives about
indigenous women, which still remains in the common sense and intellectual opinion. The
present paper analyzes indigenous woman’s agency in face of the modifications in the statute
of mixed marriages and the institution of marriage itself in the mid- eighteenth-century
Portuguese captaincy of Rio Negro, in the Amazon. These changes occurred in the context of
application of the Law of Liberty of Indians (1755) and of the Directory of Indians (1757) in the
State of Grão-Pará and Maranhão. I argue that the choices and behaviors of the Native
American women could “dictate” the rhythm of the process of colonization in the Captaincy
of Rio Negro, without forgetting their role in the social life in their respective ethnic
communities.

“Selvagens” e “inconstantes”: a representação das crianças Kayapó no


discurso dos missionários dominicanos do Araguaia (1896-1920)

Laécio Rocha de Sena

Desde a sua chegada no vale do Araguaia, no antigo norte do Goiás, no início da década de
1880, os missionários da Ordem Dominicana almejavam fundar uma missão junto aos grupos
indígenas daquela região a fim de, através da catequese, “civiliza-los”. Decerto, apesar da
missão ter se instalado no lado paraense, a chegada desses missionários se insere dentro de
uma conjuntura que remonta ao início do século XIX, ocasião em que as autoridades
provinciais goianas buscavam ocupar e colonizar o vale dos rios Araguaia e Tocantins, onde os
grupos indígenas representavam um obstáculo aos avanços da fronteira, em especial a frente
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pastoril. Dentre os grupos mais numerosos e arredios estavam os Kayapó, autodenominados


Mebêngôkre. Em 1896, frei Gil Vilanova e Ângelo Dargagnaratz conseguem, graças ao auxílio
de moradores da recém-criada povoação de Barreira de Santana, no extremo sul do Pará,
manter contato com um grupo de Kayapó que habitavam as matas dos rios Arraias e Pau
D’arco. Em conversa com os líderes das aldeias contatadas, os missionários os convenceu a
ceder algumas crianças para a catequese que foi montada às margens do rio Araguaia. Frei Gil
e seu companheiro, em sintonia com a compreensão da época, acreditavam que a catequese
infantil seria mais proveitosa e eficiente, pois entendia que as crianças indígenas ainda não
haviam adquirido completamente os hábitos “selvagens” de seu povo, o que facilitaria a
aprendizagem da religião cristã. A experiência da catequese, porém, mostrou que a tarefa não
seria tão simples tal qual havia pensado os missionários, pois as crianças Kayapó agiam e se
posicionavam frente ao discurso e à prática dos missionários dominicanos. Nesse sentido, o
presente texto tem como objetivo analisar a representação das crianças Kayapó no discurso
dos missionários dominicanos de 1896 a década de 1920, refletindo acerca do modo como se
dava a produção do “outro” no discurso dominicano, demonstrando como esse processo está
intimamente relacionada com a visão de mundo desses religiosos e o seu objetivo: a
catequese indígena. Em virtude de seus posicionamentos frente à catequese, estes eram
vistos enquanto inconstantes, selvagens e indolentes. O conceito de representação é
entendido aqui na perspectiva de R. Chartier, para quem a construção de representações do
mundo social está intimamente ligada a interesses sociais. As fontes analisadas compõem-se
de cartas, relatórios e relatos de viagens (alguns publicados), biografias e memórias
produzidas pelos missionários.

Onde estão e como são as crianças e as infância delineadas pela Arqueologia


brasileira?

Adriana Fraga da Silva

Infâncias, crianças e culturas infantis desde a História e a Antropologia, por exemplo,


encontram consolidado campo de investigação, com variadas formulações teóricas e
metodológicas. Na Arqueologia, por sua vez, a produção interacional tem mostrado,
igualmente, um campo consolidado. Todavia, para o caso brasileiro podemos apontar que
infâncias e crianças compõe temas que tangenciam alguns trabalhos, impulsionados pelo
encontro de elementos muitos específicos da cultura material que identificam e pré-definem
uma presença infantil. Há também, apesar de ainda não serem tão numerosos, mas que
delineiam um campo em crescimento, abordagens arqueológicas que trazem importantes

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contribuições para o debate sobre infância como uma categoria social culturalmente posta e,
portanto, historicamente definida. Tais trabalhos tem proporcionado à Arqueologia brasileira
uma importante reflexão teórica e conceitual, bem como o exercício de construções
metodológicas para a abordagem desta categoria social. E, neste sentido, Lillehammer (2010)
1 apresenta três dos principais enfoques aos quais a Arqueologia da infância, em geral, tem
se dedicado: compreensão de como as crianças experimentam seus mundos; compreensão
de como se dão as relações entre os mundos infantis e adultos; compreensão de como
determinados grupos adultos consideram os mundos infantis. Linhas que, de uma forma ou
outra, identificamos em algumas abordagens da Arqueologia brasileira. Neste trabalho
apresentarei um exercício que visa compreender como as infâncias e as crianças são
abordadas e interpretadas nos estudos arqueológicos brasileiros, em especial naqueles
identificados no que definimos como Arqueologia do Capitalismo, que envolve contextos que
iniciaram com a colonização europeia (século XVI) até os dias atuais. Apontarei, nos marcos
do projeto de pesquisa intitulado “Infâncias, crianças e culturas infantis na Arqueologia
Brasileira”, de quais concepções de infância e criança, bases conceituais, empíricas e
metodológicas tais estudos partem para delinear suas formulações.

Mulheres, crianças e História Indígena: o “feminino” e o “infantil” na


sociedade Guaikuru em El Paraguay Católico, de José Sánchez Labrador,
século XVIII

Giovani José da Silva

A comunicação objetiva apresentar resultados parciais de pesquisa de estágio pós- doutoral


em História (UFF, 2016-2017, sob a supervisão de Maria Regina Celestino de Almeida) obtidos
a partir da leitura histórico-antropológica de El Paraguay católico, obra do jesuíta espanhol
José Sánchez Labrador (1717-1798), elaborada na segunda metade do século XVIII a respeito
de sociedades indígenas que viviam em terras do atual Chaco paraguaio. Percebendo como
crianças e mulheres são apresentadas/ representadas ao longo das descrições etnográficas
realizadas pelo missionário religioso, constroem-se aportes teórico-metodológicos
descoloniais de como tratar as informações registradas e reunidas em documentos do período
colonial. Inspirando- se na Antropologia Histórica e no perspectivismo ameríndio é possível se
pensar em análises nas quais a história é ordenada culturalmente e de diversos modos, uma
vez que múltiplos sentidos e significados são validados, reavaliados e transformados quando
postos em prática pelos grupos humanos. A análise de El Paraguay católico, contudo, não se
“descolou” da presença jesuítica nas Américas e tampouco perdeu de vista os usos e as
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intenções dos padres ao elaborarem seus escritos, em certa modalidade que pode ser
denominada como “escrita política”. Assim, as narrativas produzidas pelos missionários, ainda
que permeadas por relatos sobre a exuberância da natureza e as longas viagens rumo ao
desconhecido, a serviço de Deus e do Cristianismo, permitem entrever os contatos com
distintos universos étnicos e culturais, considerados “exóticos” e “pagãos”. Nesse contexto,
mulheres e crianças foram observadas e sobre elas elaborados discursos/ narrativas e
atribuídos sentidos/ significados que marcam as formas como tais categorias (o “infantil” e o
“feminino”) foram pensadas pelo Outro. Partindo de pensamentos elaborados na
contemporaneidade pelos Guaikuru atuais (os Kadiwéu, moradores da Reserva Indígena
Kadiwéu, no Pantanal de Mato Grosso do Sul, Brasil), é possível se estabelecer contrapontos
interessantes e válidos para se pensar as agências e os protagonismos daqueles que por muito
tempo foram obliterados nas etnografias, nos relatos e registros de viajantes e outros. Além
disso, é importante destacar que o projeto missionário jesuíta esteve em contínuo processo
de construção e foi se adaptando às realidades locais e às populações indígenas com as quais
os religiosos lidavam. A pesquisa se insere, portanto, em uma linha de reflexão importante e
necessária para o entendimento espaço-temporal de presenças indígenas em fronteiras sul-
americanas coloniais e de como partes de suas gentes foram construídas/ elaboradas
discursivamente.

Narrativas e territorialidades das infâncias Guarani e Kaiowa na Reserva


Indígena de Dourados – MS

Gislaine Monfort

Emily de Souza

Vera Ade

O trabalho tem como proposta apresentar uma reflexão sobre as múltiplas narrativas e
concepções das infâncias Kaiowa e Guarani em um recorte geográfico a partir da Reserva
Indígena de Dourados no estado do Mato Grosso do Sul, em uma articulação contínua entre
o pensamento geográfico em diálogo com os saberes e participação das crianças Kaiowa e
Guarani no processo de produção dos territórios e territorialidades nas condições espaciais
em que estão inseridas. Nessa perspectiva buscamos compreender também como o espaço e
o tempo permeiam as existências desses sujeitos nas diferentes geografias vivenciadas pelos
Guarani e Kaiowa e as transformações das vivências nas/das infâncias no movimento de
desterritorialização de seus territórios étnicos ancestrais e consequente reterritorialização

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precária em reservas indígenas criadas e impostas pelo Estado brasileiro durante os anos de
1915 e 1928, por meio do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) atual Fundação Nacional do
Índio (FUNAI). Utilizamos como base metodológica a história oral a partir de relatos e
depoimentos de uma ñandesy, um ñanderu e das crianças Kaiowa e Guarani sobre concepções
e territorialidades das infâncias. Acreditamos que o pensamento geográfico pode contribuir
com uma perspectiva de compreensão dos processos socioterritoriais sob um viés
multidimensional articulado simultaneamente à cosmovisão dos Kaiowa e Guarani. Esse
movimento de encontros e diálogos, uma dinâmica do ouvir, aprender e prosear, apresentou
uma oportunidade de tecer expressões de diferentes mundos e tempos concebidos pelas
histórias e geografias infantis nas existências multiétnicas da Reserva Indígena de Dourados,
sendo uma representação do dinamismo de produção da vida coletiva e das resistências em
uma conjuntura política de avanço e fortalecimento de declarações anti-indígenas, do
reacionarismo, militarismo, ultraliberalismo e teologismo na estrutura de poder atual.

A leitura de literatura indígena para a infância e a mediação estética em


acadêmicos(as) de Pedagogia

Ivanir Maciel e Eliane Santana Dias Debus

Este projeto de doutorado vem sendo desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em


Educação, da Universidade Federal de Santa Catarina, na linha de pesquisa “Sujeitos,
Processos Educativos e Docência”, insere-se nas discussões que envolvem a formação inicial
de acadêmicos(as) de Pedagogia, transversalizado pela reflexão da constituição leitora na
formação inicial de professores e a leitura de literatura indígena para a infância. Pretende-se
analisar como se dá a mediação estética com as obras de literatura infantil produzidas por
autores indígenas brasileiros junto aos acadêmicos(as) de Pedagogia. Sabe-se que as obras de
literatura infantil indígena são marcadas pelo movimento indígena ao assumirem sua
participação democrática, enquanto protagonistas que problematizam a situação histórica e
social dos indígenas no país. Tais obras literárias apontam relações com as singularidades
étnico-culturais, saberes ancestrais e a produção de sentidos. Desta forma, entendemos que
a leitura de literatura não é um fim em si mesma, mas poderá contribuir com a práxis
pedagógica, compreendendo-a como uma objetivação artística e, como tal, sujeitos podem,
com a mediação de livros literários, estabelecer relações estéticas com o lido e, deste modo,
com o vivido, além da interlocução com as ações/reflexões realizadas sobre a formação inicial
de professores. Propõe-se como procedimentos metodológicos o cotejamento entre a análise
de obras de literatura para a infância de autoria indígena, encontros no grupo de estudos em

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literatura infantil e entrevistas semiestruturadas com os participantes. Partimos, então, da


hipótese de que a formação inicial de professores é insuficiente para se aproximar das
especificidades da prática docente com a leitura de livros infantis indígenas e, assim
apresenta-se como uma contribuição incipiente para a ação que constitui leitores no período
que compreende a formação inicial de estudantes de Pedagogia. Tendo em vista a
necessidade de discussão sobre a mediação estética em literatura indígena nos encontros de
formação continuada em um grupo de estudos para estudantes em formação inicial, há a
profícua possibilidade de contribuir com as discussões sobre a constituição leitora destes,
evidenciando-se assim, a pertinência deste projeto de pesquisa em nível de Doutorado. As
interfaces entre a mediação estética em livros de literatura indígena para a infância em grupo
de estudos e a formação inicial para a docência, poderão contribuir para o escopo do estudo.

Análisis de procesos educativos en infantes de comunidades indígenas


Indígenas Wayuu en el Departamento de la Guajira (Colombia)

Natalia Vanessa Barros Ortiz

En este trabajo se hace una aproximación a los procesos educativos implantados a temprana
edad en las comunidades indígenas wayuu como grupo étnico representativo de la península
de La Guajira. Se examinaron de manera profunda los hábitos tradicionales en el aprendizaje
y enseñanza en menores de la cultura wayuu y en contraparte a prácticas empleadas por
integrantes de las comunidades en ámbito urbano. Por tal razón, se dividió el territorio
indígena en 2 zonas de estudio (Alta y Baja Guajira). Posteriormente se describió a la
migración, centros multihogares y medios de comunicación como principales factores
influyentes a procesos de aculturación en la población de infantes wayuu en la región.
Inicialmente la migración generada por elementos socioeconómicos que derivan en la
aparición circunstancias externas tales como el conflicto armado o propagación de iniciativas
en proyectos mineros, ganaderos y agrícolas sobre el territorio, provocan impactos sobre la
cultura de los indígenas wayuu y generan una transculturización de las tradiciones,
costumbres, creencias y modos de vida. Además, en la educación tradicional la enseñanza del
wayunaiki, pastoreo, siembra, caza y baile impartida en las primeras etapas de vida repercuten
a la supervivencia del núcleo familiar. Sin embargo, para comunidades con mayor contacto a
centros urbanos tienen la necesidad de capacitarse en el aprendizaje del español y las
matemáticas para establecer un rol comercializador que permita obtener el sustento
económico familiar a partir de negociaciones de artículos artesanales o alimentos. Por otra
parte, instituciones públicas catalogadas como centros multihogares, prescolares o escuelas

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presentes en La Guajira ejercen la labor de guardería y enseñanza de los menores en sus


primeras etapas escolares, lo cual facilita las labores domésticas por parte de los padres. Sin
embargo, en ocasiones estas labores ejercidas son desempeñadas por personal foráneo a la
etnia y por ende, repercute en la debida transmisión del conocimiento ancestral. Además, los
diferentes canales de comunicación, radio y televisión evidencian un notable fenómeno de
aculturación al transmitir contenidos ajenos al contexto indígena y susceptible al deterioro de
la estructura social al tratase de una población con principal vocación basada en la oralidad,
lo que repercute en la desarticulación de los integrantes de diferentes generaciones.
Finalmente, se concluye que en el sector de la Alta Guajira se conserva la mayor integridad en
la cultura de la etnia wayuu, mientras que la zona de la Baja Guajira al estar en cercanía es
vulnerable a procesos de mestizaje e interacción demográfica continúa con otras civilizaciones
lo que evidencia mayores presiones sociales que deben afrontar los menores en esta área
geográfica.

ST 35 | Mulheres indígenas e suas co-existências: inscrições etnográficas da


relação entre gênero e terra

Nicole Soares-Pinto (Universidade do Espírito Santo – UFES, Brasil); Sandra Benites (Museu Nacional,
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Brasil); Ana Maria Ramo y Affonso (Universidade Federal
de Santa Catarina – UFSC, Brasil).

Como as mulheres indígenas territorializam o mundo? Como o fazem os homens? De que modos estes
territórios servem de solo, substrato, esfera, céu, ambiente, etc., uns para os outros? Que mundos
habitam os corpos indígenas, femininos e masculinos, e por quais formas os corpos indígenas habitam
os mundos? Será possível rastrearmos na linguagem os sinais destas co-existências? Essas são as
perguntas que nos interessam aqui: a ambiguidade inerente a toda forma de ser, entre habitar e ser
habitado, e seu encontro com formas ou forças femininas e masculinas, em suas diferenças. Mulheres
pajés, mulheres-espíritos, rezadoras, guardadoras de segredos, pescadoras, parteiras, contadoras de
histórias, agricultoras, cantoras, dançarinas, intelectuais, narradoras, lideres políticas, cientistas, mães,
avós, netas, filhas, cunhadas, con-cunhadas: o que de feminino brota na terra e pela terra? Como a
criatividade feminina indígena cria espaços, lugares, propondo deslocamentos aos trânsitos
masculinos? Como o feminino efetua e atualiza a relação entre humanos e não-humanos e de que
forma propõe espaços de co-existência e resistência aos modos não-indígenas de aniquilação de
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mundos? Interessam-nos etnografias que proponham essas e outras questões e cujas contribuições e
intervenções possam se valer de vários formatos: sejam biografias ou auto-biografias, artigos
individuais que se beneficiem de plataformas escritas, áudio-visuais, fotográficas, poéticas, plásticas
ou musicais, e em co-autorias entre pesquisadorxs e interlocutorxs de pesquisa, na antropologia ou
além dela.

Do corpo ao território: mulheres na Terra Indígena Rio Guaporé e a luta pela


garantia de direitos e atendimento de suas demandas

Hellen Virginia da Silva Alves

Maria das Graças Silva Nascimento e Silva

Esta comunicação retrata a luta das indígenas da Terra Indígena Rio Guaporé (TIRG) pelo
reconhecimento de suas demandas e pela garantia de seus direitos. A TIRG está localizada no
município de Guajará Mirim, Rondônia, sendo região de fronteira com a Bolívia. Atualmente
é habitada por aproximadamente quinze (15) povos indígenas, com língua e culturas
diferentes, dentre os quais destacam-se os povos Kanoê, Makurap, Wajuru, Kujubim,
Djeoromitxí, Tupari, Aruak, Wari, dentre outros. Apesar de suas diferenças as mulheres desta
terra perceberam a necessidade de organização política em busca de maior
representatividade dentro e fora das aldeias, pois a tradição das lideranças masculinas
(caciques) não assegura o reconhecimento das demandas e a luta pelos direitos das mulheres.
Empregou-se no estudo o método fenomenológico e como instrumentos de coletas de dados
a observação participante, questionários semi-estruturados, realização de rodas de conversa
e entrevistas, elaboração de mapas mentais e registros fotográficos coletados nos anos de
2016 e 2018. Foi possível concluir que apesar das características culturais distintas das
moradoras da TIRG as mesmas sentem-se unidas pela busca de reconhecimento e garantia de
seus direitos e pelo atendimento de suas demandas. As preocupações dessas mulheres estão
centradas em viver com dignidade e segurança, preservando o modo de vida e cultura do seu
povo. O desejo de acesso à educação e permanência

As ervas medicinais e o saber da mulher Kaingang

Gelcimar Amantino

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A minha comunicação sobre As ervas medicinais e o Saber da mulher Kaingang abordará os


conhecimentos das mulheres deste povo de acordo com a memória que elas carregam. As
mulheres indígenas Kaingang têm carregado os saberes deste povo e continuam fomentando
e incentivando o uso dos remédios tradicionais, de acordo com o que eu tenho identificado
nas nossas terras.

Fotografia indígena contemporânea - Mulheres Maxakali e a tecnicização da


memória em Aldeia Verde, MG

Naiara Chaves Azevedo

Historicamente, fotógrafos se debruçaram sobre sociedades indígenas com o intuito de


registrar “o outro” ora sob o viés de revelar o exótico, ora sob a perspectiva de criar imagens
em prol de uma “causa indígena” – apropriada, em muitos aspectos, por não-indígenas para
fazer valer os direitos de Estado das comunidades tradicionais brasileiras. No que tange ao
momento atual de criações imagéticas, povos índios assumem cada vez mais o protagonismo
de suas narrativas e inventam novas estéticas possíveis na medida em que constroem pontes
de diálogo entre tecnologia branca (isto é, não-indígena) e suas cosmogonias próprias. No
campo dos estudos da fotografia indígena contemporânea brasileira, este trabalho pretende
conhecer e analisar as fotografias realizadas por mulheres Maxakali no âmbito do projeto
"Koxuk xop: Imagem" – de iniciativa da Universidade Federal de Minas Gerais em conjunto
com a comunidade de Aldeia Verde, localizada no norte do Estado – que deu origem à
publicação de um livro de mesmo nome pela Beco do Azougue Editorial (2009). As imagens,
de autoria de mulheres Maxakali, registram os rituais e o cotidiano da aldeia sob o ponto de
vista feminino. Desdobrando a pergunta que se formulou nos anos 1970 acerca de uma
ontologia fotográfica feminina (se existiria um “olhar” feminino que é diferente do “olhar”
masculino), a pesquisa tenciona i) avaliar este novo lugar conquistado pela mulher indígena
como criadora de imagens que narram a cultura de seu povo, e os possíveis desdobramentos
no cotidiano da comunidade em face a este protagonismo; ii) discorrer sobre o corpo feminino
como filtro no processo audiovisual de tecnicização da memória indígena; e iii) repensar o
lugar historicamente habitado por mulheres e a fotografia: o limiar entre o público e o privado.
Como último interesse, pensar as relações inter-étnicas na esfera do audiovisual não pela
perspectiva da representação mas da comunicação entre mundos, produtoras de uma
estética-relacional indígena baseada na conexão, no reconhecimento, na descolonização, na
expansão e na invenção/inovação indígena. Tudo isto em estreito diálogo com a perspectiva
de que o self, na contemporaneidade, estaria sendo re-invadido por espíritos que são as novas

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tecnologias (NELSON, V.). Neste sentido, as imagens fotográficas das mulheres Maxakali
contribuiriam para a teoria de re-encantamento do mundo a partir da hipertecnologização
(NELSON, V.), e o fazem através de registros dos rituais sagrados de sua própria cosmologia.

Dor, luta e resistência: mulheres indígenas, no contexto de território

Baniwa Braulina Aurora

O Trabalho discute, questões relacionadas a “corporalidade de mulheres indígenas”, no


contexto de território. Parte-se de hipótese de que a noção de violência com as mulheres
indígenas é invisibilizada. O corpo feminino indígena passa por transformações, desde
primeiros contatos interétnicos, que dialoga com a perda de direitos territoriais e espaço de
cuidados. O território é tema recorrente na atualidade, que na maioria das vezes, mostra
apenas a importância de se ter a terra demarcada, sendo que para realidade de mulheres
indígenas, o contato com o território e está no seu território, vai além de se ter seu próprio
espaço, é algo que debate com a formação geracionais, formação esses que necessitam de
espaços próprios para serem repassadas pelas anciãs, seja no que se refere a alimentação e
saúde. O objetivo aqui é trazer para o debate, a dor sentida pelas mulheres indígenas, sem o
seu território, sentida pelas diversidades de mulheres no Brasil, a luta e resistência é o mesmo,
após o contato, mas conhecimento feminino continua viva, é, de ciência de mulheres que
vamos falar.

Fatores sensoriais e nuances de gênero incutidos no processo de


territorialização Katukina (Território Rio Biá, Amazonas, Brasil)

Myrian Sá Leitão Barboza

Baseado nos questionamentos iniciais expostos pelas proponentes do simpósio, relacionados


com a maneira como mulheres e homens indígenas territorializam o mundo, proponho
discutir as nuances de gênero presentes no processo de territorialização entre os Katukina do
Rio Biá (Amazonas, Brasil). Ofereço um debate sobre os fatores sensoriais incutidos na
territorialização Katukina, sobretudo os elementos olfativos que abarcam a dinâmica de
gênero de uso do território. Utilizo o conceito de território baseado em Laura Zanotti e,
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Deleuze e Guattari porque estes considerarem as interações, encontros, afetos e poder nas
relações entre espaço físico e social. Os Katukina do rio Biá, falantes da língua Katukina,
habitam uma região remota composta por sete aldeias, as quais possuem distintas histórias
de ocupação, composição de grupos, configuração de casas e mobilidade. Realizei pesquisa
de campo etnográfica em quatro destas aldeias, em 2016 e 2017, aplicando metodologias
participativas e colaborativas. No presente estudo eu defendo o pressuposto que gênero e
território são mutualmente constituídos e socialmente construídos. Destarte, meu argumento
baseiase na premissa que a construção do território Katukina incorpora fortemente as
nuances de gênero e elementos sensoriais olfativos de territorialização que refletem na
regulação de acesso e uso do território. As atividades Katukina femininas diárias e seus
movimentos temporários anuais contribuem significativamente no processo de
territorialização, genericamente atribuído aos homens. Durante ocasiões especiais as
mulheres Katukina “conduzem” as expedições familiares, e muitas vezes aldeias inteiras, para
importantes e históricos territórios remotos com objetivo de obter recursos naturais especiais
designados para suas atividades. Os homens Katukina também colaboram na territorialização
de outros espaços através de viagens rápidas para aquisição de proteína animal a ser
consumida nos rituais. Aliado a movimentos anuais, determinadas condições naturais
femininas (menstruação e parto) e atividades familiares que exalam forte odor (pescarias com
timbó) representam fatores cruciais de territorialização. Estes aspectos constituem fatores
limitantes de acesso e uso temporal de determinados microterritórios. Durante estas ocasiões
não apenas o trânsito feminino é restringido, como também a mobilidade do esposo e recém-
nascido. Tais restrições estão relacionadas com o temor e respeito Katukina aos seres
intangíveis, figuras masculinas “donos” de microterritórios que possuem sofisticada
capacidade olfativa e almejam relacionar-se com as mulheres Katukina. Assim, os Katukina
estão continuamente atuando no processo de territorialização, sejam áreas próximas e/ou
longínquas, através de interações que envolvem diferentes gêneros, gerações e seres.

Mulheres Tembé-Tenetehara: entre Saias, Memórias, Subjetividades e


Fotografias

Ana Shirley Penaforte Cardoso

Denise Machado Cardoso

Objetiva-se neste estudo compreender a produção de subjetividades de mulheres da


sociedade indígena Tembé-Tenehara, envolvidas nas práticas culturais e nas movências
históricas desta sociedade que a singulariza em meio a 305 sociedades indígenas que vivem
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atualmente no Brasil (IBGE, 2012). Com base em pesquisa etnográfica, que toma a fotografia
como um dos principais instrumentos de abordagem, análise e interação junto a mulheres,
intencionamos a partir desta articulação teórico-metodológica da Antropologia Visual tecer
diálogos entre enunciados verbais e visuais, junto a essas mulheres. A Sociedade Indígena
TembéTenehara tem como autodenominação o Tenehara, que significa “O povo verdadeiro”,
mas ficaram conhecidos no Estado do Pará como os Tembé. Esse povo possui mais de
trezentos anos de contato e vivem na Terra Indígena do Alto Rio Guamá (TIARG), localizada
entre os rios Guamá e o rio Gurupi. Como a maioria das sociedades indígenas brasileiras, eles
também passaram por muitos processos diaspóricos e pelos diferentes períodos de mudanças
na economia e na política do Brasil, como a Ditatura Militar, porém, não sem a contrapartida
das constantes ações de resistência pela garantia de seus direitos como indígenas. É relevante
ressaltar que as mulheres Tenehera viveram intensamente estas experiências de lutas e,
muitas vezes, precisaram e ainda precisam negociar internamente, sua participação nas
decisões políticas de suas aldeias e na organização das leis no interior de suas comunidades.
Neste sentido, acreditamos que esta pesquisa pode contribuir para as reflexões das relações
sociais de gênero com mulheres indígenas, porque elas possuem uma história, uma trajetória
de vida, que se materializa em protagonismo. Para este estudo etnográfico enfatizamos a
realização de observação direta, oficinas audiovisuais, conversas informais, vivências e
entrevistas. Como aporte teórico, as pesquisas que propiciam a compreensão das relações em
diferentes sociedades se referem aos estudos que pensaram as complexidades do fazer
etnográfico e aqueles que consideram a fotografia como recurso de pesquisa em campo,
como interação e como compartilhamento. Ressaltamos o diálogo com os estudos para
pensar feminismos no continente americano e aqueles referentes ao processo de reflexão
sobre a colonialidade do poder e saber em regiões colonizadas. Compreendemos que
conhecer a história Tenehara, a partir da interpretação oral e visual das próprias mulheres
Tenehara, é adentrar nos processos de silenciamento a que estiveram expostas por centenas
de anos e aqueles que se apresentam nos dias atuais.

Mulheres-argila: gênero, conhecimentos e artefatos entre povos Tukano do


Alto Rio Negro

Juliana Lins Góes de Carvalho

Melissa Santana de Oliveira

Oscarina da Silva Caldas

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Os povos Tukano do alto Rio Negro possuem modos específicos de habitar lugares, tornando-
os próprios para se viver bem neste mundo. A fundação de novos sítios e comunidades
envolve a escolha de locais adequados para pesca, caça e coleta e a abertura e a plantação de
roças, além da construção de casas (wiseri), processos que exigem o domínio de uma série de
conhecimentos (nirõ kahse, masise, merise) e a realização de trabalhos masculinos e
femininos. As casas devem ser povoadas por certos artefatos (wiseri kahse), próprios para os
trabalhos femininos e masculinos, e que serão elaborados criativamente por homens e
mulheres. A produção de cerâmica preta através da técnica de pintura em negativo (Ribeiro,
B. 1995), é apenas uma das especialidades femininas, que embora tenha sido quase
totalmente abandonada (koase) por muito tempo, estando literalmente 'nas mãos' de poucas
especialistas, tem sido retomada desde o final dos anos 90, através de uma série de iniciativas
femininas de valorização cultural que visibilizam políticas e conhecimentos de mulheres em
um contexto em que predominam iniciativas masculinas. Neste texto, escrito a 3 mãos- por
uma antropóloga, uma bióloga e uma especialista e pesquisadora Desana, que possuem em
comum a participação em experiências de pesquisas e projetos desenvolvidos através de
parcerias de associações indígenas do rio Tiquié com o Programa Rio Negro do Instituto
Socioambiental, pretendemos tratar de questões que articulam gênero, conhecimentos e
artefatos. A partir da trajetória da especialista (merigo) Desana com a criação de peças de
cerâmica, abordaremos aspectos como: diferenças entre versões masculinas e femininas da
história de origem da cerâmica, constituição de corpos femininos aptos a fabricarem cerâmica,
formas de transmissão e circulação de conhecimentos e objetos (especialmente pedras de
polimento) de trabalho relativos a produção da cerâmica (mãe-filha, sogra-nora), diálogos das
mulheres com a avó da argila, abstinências na fase de produção, xamanismo masculino de
descontaminação para o uso das peças, continuidades, descontinuidades e inovações com a
inserção da cerâmica em redes de produção e circulação mais amplas.

A presença da violência no cotidiano das mulheres Kaingangs na atualidade

Silvana Moreira Claudino

Solange de Santos Silva

Este resumo tem por objetivo apresentar o Projeto de Pesquisa para o trabalho de conclusão
do curso em Serviço Social na UFRGS. Pretende pesquisar como a violência contra as mulheres
indígenas se manifesta nas aldeias kaingangs no Estado do Rio Grande do Sul, a fim de refletir
sobre o tema e contribuir para dar visibilidade às estratégias de enfrentamento e resistências.
Tem como objetivos específicos, revisar a concepção sobre a violência contra a mulher;
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identificar como se apresenta a violência contra mulheres nas comunidades kaingangs, a fins
de dar visibilidade sobre esse tema; investigar o que fazem mulheres quando vivenciam ou
presenciam situação de violência para refletir sobre alternativas de proteção às mulheres;
reconhecer como as políticas de enfrentamento à violência contra a mulher podem contribuir
para a proteção da mulher indígena. A metodologia da investigação norteia-se e inclui as
concepções teóricas do método dialético crítico. A pesquisa é do tipo exploratória de campo
que procede para uma dimensão prática de investigação do objeto. Também se utiliza de
revisão bibliográfica sobre o tema e o tipo de abordagem é qualitativa. O universo são
mulheres indígenas de diferentes aldeias kaingangs do Rio Grande do Sul e a amostra do tipo
não probabilista intencional, selecionadas mulheres da aldeia Fag Nhin da Lomba do Pinheiro
e mulheres indígenas estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sendo a coleta
de dados por meio de grupo focal e a análise de conteúdo. A pesquisa tem relevância social
pois visa problematizar a violência com as próprias mulheres indígenas e motivar a reflexões
sobre as formas de enfrentamento no cotidiano. Tem relevância política, no que se refere a
ampliação dos direitos da mulher e fortalecimento para o protagonismo nas lutas sociais
indígenas; também relevância acadêmica pois são restritos os dados existentes sobre a
violência contra as mulheres indígenas. Ainda vale considerar como contribuição para a
formação profissional e para o trabalho na área do Serviço Social. Portanto, reafirma- se a
importância da pesquisa no sentido de contribuir com o debate sobre o tema no âmbito
acadêmico e na realidade indígena Kaingang. A coleta de dados será realizado no primeiro
semestre de 2019, seus resultados parciais serão socializados no evento.

Relações de Gênero no Contexto da Educação Escolar Indígena da


Comunidade Indígena Guarani na Escola Indígena Itaty

Luciana Nagel Simon Cogo

O presente trabalho resulta da preocupação em compreender a constituição das relações de


gênero na Comunidade Indígena Guarani do entorno da Escola Indígena Itaty. O trabalho se
justifica pela necessidade de investigar a participação feminina na comunidade indígena, o
universo simbólico feminino na Comunidade Indígena Guarani, a relação das mulheres
indígenas no processo educacional ancestral e escolar, as relações das mulheres indígenas
com os/as sábios/sábias. Bem como em verificar o processo de ascensão social das mulheres
indígenas na comunidade indígena. O objetivo do trabalho consiste em investigar o processo
de construção das relações de gênero indígena no cotidiano da Educação Escolar Indígena da
Comunidade Guarani da Escola Indígena de Ensino Fundamental Itaty. A pesquisa realizada
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teve como base metodológica a utilização de múltiplas fontes, como análise a análise
documental das diretrizes curriculares, do projeto político pedagógico da escola e a realização
de entrevistas com lideranças indígenas, sábias e sábios indígenas, mães de alunas e alunos,
mulheres da comunidade e professoras indígenas, em busca da verificação da configuração
das relações de gênero na múltipla convivência na comunidade indígena.

As mulheres Apyãwa e seus Outros

Ana Coutinho

A partir da realização de trabalho de campo entre os Apyãwa (Tapirapé), povo Tupi-Guarani


que habita a serra do Urubu Branco, no nordeste do estado do Mato Grosso, Brasil, trataremos
das relações que as mulheres estabelecem com os axyga – forma geral de nomeação dos
espíritos. O povo Apyãwa (Tapirapé) foi etnografado no final dos anos de 1930 por Charles
Wagley, que se dedicou ao estudo do Xamanismo Tapirapé. Herbert Baldus, por sua vez,
realizou trabalho sobre vários aspectos da “vida social” tapirapé, com ênfase na chamada
cultura material. Em ambos os trabalhos, há poucas menções, contudo, às qualidades
xamânicas das mulheres e aos seus importantes papéis nos rituais (festas). Na apresentação
do presente artigo, nos propomos a tecer aproximações entre a atuação das mulheres em um
dos rituais de maior centralidade para o coletivo apyãwa – o ritual (festa) do inimigo – e os
seus conhecimentos curativos. Algumas operações aproximam os dois momentos e nos
possibilitam incrementar ao conhecido nexo tupi-guarani da Guerra e do Xamanismo novos
dados acerca das especificidades do polo dito “feminino”. Buscaremos nos aprofundar,
portanto, nos modos e graus de intensidade em que as relações entre as mulheres e os
diferentes axyga são vivenciadas. Persiste nessas relações uma permanente ambiguidade
entre cuidado, adoção e destruição, cujas formas mais evidentes se mostram tanto no
xamanismo praticado pelas mulheres (koxymaxe), quanto na estreita vinculação delas com o
espírito do inimigo (tawã) que vem visitar a aldeia na festa. Com efeito, esses aspectos
compõem um quadro de análise que tem como referência uma abordagem alargada de
humanidade, que inclui outras alteridades não-humanas. Ao tratarmos do xamanismo das
mulheres (koxymaxe) e da relação delas com o espírito do inimigo, propomos um
embaralhamento produtivo entre as esferas da dita “domesticidade” e da “alteridade”.

Relações de gênero na etnologia indígena no Nordeste Brasileiro

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Maiara Damasceno da Silva Santana

Taíse de Jesus Chates

Dentro do que ficou conhecido como etnologia indígena das Terras Baixas da América do Sul,
dois campos de estudos ficaram sob certa marginalidade em relação à produção acadêmica:
a literatura sobre povos indígenas que vivem no Nordeste brasileiro e o tema de gênero. Neste
balanço bibliográfico, buscamos apresentar elementos e análises referentes às pesquisas que
tratam das relações de gênero na área etnográfica que compreende o Nordeste do Brasil,
fornecendo uma base empírica e teórica que subsidie o surgimento de problemáticas em
torno do tema e, consequentemente, novos projetos de pesquisas. Mesmo dispondo de um
número pouco expressivo de estudos que incluem a temática de gênero entre povos
indígenas, é possível afirmar que a etnologia amazônica, nesse sentido, trouxe avanços
consideráveis para a etnologia brasileira, revelando não apenas a importante presença
feminina nos “dados”, por vezes, marginalizada ou relegada à esfera “doméstica”, mas
também um alargamento do próprio discurso e prática etnográficas. No entanto, não se pode
dizer o mesmo quanto às pesquisas desenvolvidas no Nordeste, ainda alvo de um conjunto de
estigmas. Diante disso, algumas questões emergem nesse cenário: o que tem sido produzido
na etnologia realizada no Nordeste nos últimos vinte anos tem contribuído para pensar as
relações de gênero? É possível desencadear interlocuções entre os estudos de gênero que
foram/são realizados na etnologia amazônica e na etnologia no Nordeste? Em que medida as
lacunas existentes em torno das relações de gênero nas produções etnográficas junto aos
povos indígenas no Nordeste brasileiro refletem limitações das concepções e práticas
acadêmicas? Ou estariam tais lacunas relacionadas a diferentes formas de organização das
categorias pelos(as) próprios(as) nativos(as)? Quais rendimentos são (ou não) possíveis a
partir dessas interlocuções? Buscando refletir sobre essas e outras questões ligadas à
problemática que foi tecida, realizamos um levantamento bibliográfico sobre a etnologia
indígena produzida no Nordeste, cujo recorte empírico perpassa também as relações de
gênero, de modo a esboçar um panorama geral dessas produções e contribuir para as
limitações etnográficas presentes através da existência dessas lacunas.

Participación y emancipación como modus vivendi en la Asociación Pionera


de Mujeres Mapuche Williche Malgnmapu (1980-1999)

Michel Duquesnoy

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Desde la década de los años sesenta en la Norpatagonia chilena existieron varias agrupaciones
de mujeres reunidas en los conocidos Centros de Madres cuyas actividades se centraban en
capacitaciones diversas y manualidades. Existe muy poca información oficial al respecto. En la
Décima Región (este momento juntaba las actuales Regiones de los Lagos y de los Ríos), tres
territorios contaban con agrupaciones a carácter propiamente femenino y étnico: Chiloé,
Valdivia y Osorno. La provincia de Osorno demostraba una vitalidad importante ya que 40
grupos diferentes se encontraban en la zona. No obstante, en el territorio de Misión San Juan,
un grupo de aproximadamente 150 mujeres empezó a distinguirse por su preocupación
netamente étnica, dando un “toque” femenil a sus numerosas actividades (capacitación,
talleres, difusión cultural, etc.). La participación fue su eje constitutivo y operativo distintivo.
La dictadura pinochetista impuso un silencio relativo a los 14 grupos ya existentes aunque sin
reconocimiento jurídico. Es a partir de 1985 que un núcleo fuerte, liderado por doña Viviana
Lemuy, inició una visibilidad cada vez más importante para finalmente crear en 1993, con la
promulgación de la Ley Indígena, la Asociación legalmente reconocida Malgnmapu – Mujeres
de la tierra. Asociación con antecedentes a la fecha indicada que evolucionará hasta ser la
matriz de las numerosas agrupaciones que se crearon siguiendo su ejemplo y que hoy se han
vuelto en nuestros días elementos imprescindibles en la reivindicación mapuche williche de
toda la Región.

Mulheres Indígenas: diálogo sobre o papel político das mulheres indígenas do


Rio Negro – Amazonas/Brasil

Francineia Bitencourt Fontes

Somos guerreiras somos mulheres e, acima de tudo, capazes de construir sonhos. Pois somos
filhas da terra lutamos, choramos mas, acima de tudo, vencemos. Somos fortes e capazes.
Mulheres indígenas somos pequenas diante das coisas que acontecem nas grande cidades e
no mundo. A civilização ou melhor o progresso veio há muito tempo. Só agora nós sentimos a
necessidade de ter nosso espaço e o trabalho valorizado com os produtos da floresta, sem ela
nossa vida não tem sentido. Se destruirmos jamais ela voltará a ser o que era antes, pois as
feridas se cicatrizam mas deixam as marcas. Mulheres ensinemos aos que vem depois de nós
qual é o melhor trabalho e mais digno que existe no mundo. Não sabemos, mas sabemos que
da terra brota tudo o que nós queremos como sustento e o nosso alimento também assim
como: o ouro, a prata, o petróleo, o ferro, a água, o sal, as plantas e os animais. Nascem da
terra tem produtos caros e outros de pouco valor. Vamos cuidar da nossa floresta, pois ela é
e o melhor planeta que existe para nós. Por ser assim, nascer da terra, os povos indígenas se

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relaciona com a terra como “mãe”. E a mãe cuida dos filhos desde concepção, desde
nascimento, cuida do crescimento, cuida na vida adulta, cuida durante a velhice quando isso
acontece e cuida novamente quando se chega ao final da vida, ao voltar novamente para
dentro da terra. Amigas mulheres indígenas do Rio Negro, o tema Papel Político das Mulheres
Indígenas do Rio Negro é aprofundar nossas próprias histórias étnicas, histórias da educação
de cada povo e descobrir nossas raízes culturais que fundamentam a vida feminina indígena.
Dentro das culturas as quais as mulheres pertencem, entre muitas etnias, as mulheres são
educadas e formadas para ser o elo de ligação, entre os membros própria etnia e os do marido
(outra etnia). Ao tratarmos da política das mulheres indígenas do Rio Negro não devemos
esquecer que sua presença é importante nas histórias da educação de cada povo indígena.
Também quando se trata das mulheres organizadas em associações a partir da fundação da
Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, é importante lembrar que o caminho
trilhado na educação escolar foi muito importante, pois através da língua portuguesa se pode
estabelecer articulações políticas masculinas e femininas entre diferentes povos indígenas.
Trilhando pelos caminhos da educação escolar é que as mulheres mais se destacaram na vida
social indígena, na atualidade superando o número dos homens no campo da educação
escolar. Por isso, é grande a sua expressividade e visibilidade na educação de novos cidadãos
indígenas brasileiros. Aí elas são mães, tias, avós, educadoras, professoras, coordenadoras e
gestoras no campo da educação escolar. A figura feminina indígena é marcante também no
processo de resistência e flexibilização das políticas indígenas. O seu compromisso com
Movimento Indígena é muito importante, embora no primeiro momento ela não estivesse
bem visível, mas é ela que dá sustentabilidade ao compromisso do marido. E, por que não
dizer: ela é mais corajosa do que os homens em muitos momentos históricos. O seu senso
apurado de feminilidade (do seu ser mulher) ajuda a antecipar certas situações da vida, das
organizações sociais. Outro espaço onde a mulher assume seu compromisso importante é o
campo do trabalho, desde os trabalhos caseiros até os compromissos mais amplos. Quando
olhamos para a figura feminina conseguimos ver tudo é possível fazer. A mulher indígena vai
na roça, trabalha, volta carregando maniwa, rala... faz beiju, esquenta quinhapira, faz mingau,
manicoera, lava roupa, busca lenha, etc. São centenas de atividades que ela realiza sem
mesmo pedir recompensa. Uma das metas que pouco a pouco vai se concretizando nas
histórias das mulheres é seu aparecimento no campo da política partidária e eu acredito que
elas conseguirão ocupar seus espaços e espaços dos homens também. Não é por acaso, é
porque elas hoje estudam, lutam, se organizam. A mulher na compreensão étnica. Ao
falar da política da mulher indígena da nossa região do Rio Negro nós temos entendê-la, a
partir de nossas regiões, nossas terras, com os pés no chão em nossas terras, dentro de uma
grande Casa Ritual. Ela é importante na Casa Ritual. Ela é também Mestra de Cerimoniais, de
bebida fermentada, da alimentação, das pinturas corporais, pinturas faciais, dos cantos, dos
gritos cerimoniais, são pares de danças, são elas que acham graça, cuidam dos mestres de
danças, dão ritmos certos para as danças ficarem bonitas. Par nós indígenas e para as
mulheres indígenas a Casa Ritual, tem sido espaço de estudos, escolhas e decisões políticas.

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Na entrada da Porta do Sol Nascente os nossos avós reuniam-se diariamente, sentavam-se em


seus banquinhos, símbolos do banco da vida, passavam a cuia ou saquinho de ipadu e cigarro
um para outro em meio a discursos de passagem e de recebimento. A repetição desse ritual
atualizava atos criadores das divindades e da humanidade. Por isso, nossos avós
aperfeiçoavam suas capacidades de memorização, narração de histórias de vida, superação
das dificuldades e conquistas. Enquanto os homens conversam as mulheres também se
sentavam no outro extremo ou na outra porta, conversando temas femininos, contando suas
histórias de músicas, de trabalhos, dos seus segredos femininos. No fim do ritual os homens
realizavam discursos desejando bom descanso e desejando novo encontro no dia seguinte.
Depois cada um, deitado na sua rede continuava meditando sobre as realidades da vida. Pelo
poder da mente esses nossos avós visitavam outras terras, outros espaços para dialogar com
os seres divinos, seres da vida, das doenças, das curas etc. Nas festas aconteciam rituais
solenes relacionados aos ciclos da vida humana e da natureza, seguindo calendários
específicos. Os rituais cotidianos e festivos envolvem a pessoa de corpo e coração (alma) numa
esfera especial e superior. Algumas vezes em que eu participei nos rituais tive experiência
extraordinária e indescritível. Ali eu ouvi discursos enunciados pelos madzeros
(conhecedores/sábios/pajés), anunciando as danças e realizando discursos de passagens de
cuia de ipadu e cigarro. Eu vi homens tocando cariço, com diversas melodias e ritmos,
dançando acompanhados por mulheres. Fui envolvido e senti a defumação de proteção de
doenças. Vi meus parentes ornamentados com plumas sagradas que passam de uma geração
para outra. Admiro as pinturas faciais e corporais com seus simbolismos. Durante as danças vi
homens suados, dançando, comandando ritmos com instrumentos e pés envoltos por
chocalhos, cantando as músicas com línguas míticas, incompreensíveis, misteriosas e vitais.
As cantorias masculinas e femininas cantam a vida como ela é. Entre uma parada uma boa
gargalhada. Ouvem-se as vozes inconfundíveis das tonalidades dos discursos dos velhos, dos
mestres de danças, das gargalhadas de nossas mães, irmãs, cunhadas, etc. Os sons se
ampliam. Após a festa as falas, músicas, vozes, sons incorporam-se dentro de nós e ficamos
curtindo a sonoridade interna por um e até mais dias. A participação nos rituais nos leva em
contato com seres muito antigos, seres divinos, mitológicos e avós sábios. A Casa Ritual
proporciona nossa própria transformação, gera a vida. Vejamos a cumeeira, espinho dorsal da
grande Cobra, os caibros suas costelas. No seu ventre estamos nós. Materialmente ela é nossa
contribuição para a civilização universal. Uma Casa tão simples com um grande significado. O
material trabalhado palha, madeira e chão de barro batido. O tempo pode acabar com a palha
e madeira, mas ninguém acabará com a forma de construir. Os povos possuidores de Casas
Rituais olham para elas há séculos, observam a sua beleza. Por que falo desta Casa? Trato dela
porque é o espaço sagrado que dá sentido às vidas dos povos indígenas. Não esqueçamos que
nós estamos situados nesta região no Noroeste Amazônico, fronteira do Brasil com Colômbia
e Venezuela, região rica de povos e culturas, onde há séculos construímos relacionamentos
interétnicos e interculturais, região rica de biodiversidade. Não é por acaso que muitas
pessoas olham para cá, cobiçam nossas terras, criam ciúmes por nossas culturas e muitas

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vezes querem apropriar-se de nós e de nossos saberes. É daqui que nós estamos pensando
sobre nós mesmos, é daqui que temos que pensar na política da mulher indígena, elas
possuem origens diferentes, são herdeiras de filosofias próprias de nossos povos. Quando se
fala das mulheres indígenas dentro do Movimento Indígena necessariamente temos que
entender a mulher dentro da dinâmica de criar espaço político, ideológico, espaço de troca de
saberes, de fortalecimento das identidades e diferenças, é espaço de negociação de
interesses, de prioridades para atingir metas estabelecidas por muitos povos. Hoje temos que
pensar projetos específicos para nossos povos (nossas etnias) e pensar para todos os povos
(todas as etnias). Quem somos nós, homens e mulheres do Rio Negro? Nós e o mundo global,
mundo envolvente não-indígena precisa entender que nós formamos uma riqueza dessa
região: diversidade de povos, culturas, línguas, práticas culturais, saberes, conhecimentos.
Existem muitos povos indígenas nesta região. Cada povo tem suas histórias, seus modos de
organizar e viver a vida. Cada povo interage com outros povos. Por isso, entre nós em nossas
práticas culturais temos muitas semelhanças. Porém, cada povo mantém sua diferença, sua
identidade. Tratando das línguas faladas podemos afirmar que uma pessoa que mora nessa
região pelo menos fala duas línguas. Tem pessoas que falam muitas línguas. Mesmo quando
não consegue falar a língua de outro povo compreende bem. Entre muitas línguas faladas, a
língua de interação entre nós é a língua portuguesa. Dentro dessa leitura a figura feminina
contribui muito, pois ela saindo do seu povo de origem e indo casar com o homem de outro
povo, leva sua língua e ensina para outros povos. Vejam que é importante a figura feminina
da política linguística da nossa região do Rio Negro. Os pesquisadores nos ajudam a
compreender melhor sobre os povos que moram nesta região. Eles afirmam que os habitantes
destas terras pertencem a quatro famílias linguísitcas: Tukano, Aruak, Maku e Yanomami. A
família linguística do Tukano oriental é composta pelos povos: Tukano, Desana, Kubeu,
Wanana, Tuyuka, Piratapuia, Mirititapuia, Arapaso, Karapanã, Bará, Siriano, Makuna, Tatuyo,
Barasana (Panenoá), Taiwuano (Eduria). Algumas décadas atrás se concentravam na região
dos distritos de Pari-Cachoeira, Taracuá e Iauareté. Por isso, essa região foi denominada de
Triângulo Tukano. Atualmente esses povos estão espalhados nos municípios de Manaus,
Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro, São Gabriel da Cachoeira. Estão presentes também no
lado colombiano. Hoje os membros destes povos estabelecem suas moradias onde se sentem
bem e onde podem construir suas moradias. A família linguística ARUAK é composta pelos
povos: Baniwa, Kuripaco, Baré, Werekena e Tariana. Esses povos se espalham pela região do
Rio Içana, Aiari, Cuiari, Xié etc. Os Tariano habitam a região do rio Uaupés, entre Ipanoré e
Periquito. Mas como outros povos estes também se espalham desde os municípios de
Manaus, Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira. Também se
encontram na Colômbia e Venezuela. Os povos Hupda, Yuhupde, Dow, Nadöb, Kakwa e Nukak
pertencem à família linguística MAKU. Habitam a região do Rio Tiquié (igarapé Castanha,
Cunuri e Ira), Rio Uaupés e Rio Papuri; nos Rios Apaporis e Traíra; proximidade da cidade de
São Gabriel da Cachoeira, foz do Rio Curicuriari e Rio Marié; no Rio Uneiuxi e no Paraná Boa-
Boá (médio Japurá); Rio Téa e na Colômbia no Departamento do Vaupés e Guaviare. O povo

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Yanomami pertence à família linguística YANOMAMI. Habita na região das bacias do Rio
Padauiri, Rio Marauiá, Rio Inambu, Rio Cauburis A mulher na educação indígena Para nós
indígenas desta região existem dois parâmetros que orientam quando estudamos os assuntos
relacionados à educação escolar: 1) as práticas pedagógicas indígenas; 2) as práticas
pedagógicas ocidentais. Atualmente não dá para fazer uma separação radical; podemos, sim,
continuamente estar negociando os saberes que poderão ajudar na construção de uma vida
melhor para nós. Diante de inúmeras necessidades que formos criando dentro de nós e dentro
de nossas comunidades para nós indígenas atuais somente os saberes indígenas não
respondem mais aos nossos anseios de vida diferente. Também somente os saberes
ocidentais não trazem respostas positivas para dar qualidade para nossas vidas. De duas
instituições tão ricas nós devemos aprender a encontrar recursos que nos ajudem a construir
uma vida melhor para os dias de hoje. Como eu afirmei na introdução a mulher é que cuida
melhor a pessoa humana, desde o momento da concepção até a vida adulta. Também são elas
que transmitem conhecimentos quando são crianças, pois ela possui linguagens próprias e
adequadas, possui modos certos de transmitir conhecimentos para cada fase da vida de seus
filhos. As avós, tias... ajudam na educação. O papai com o tempo que irá ensinar aos seus filhos
e filhas sobre os diversos saberes próprios de sua etnia. A mulher na educação escolar
(indígena): aluna, educadora, professora, gestora. A presença feminina nas sociedades
indígenas é muito importante, como eu já acenei na introdução. Nós que somos indígenas
vamos entender muito daquilo que eu estou me referindo. Ela cuida da vida, cuida da casa,
cuida do ambiente fora de casa, cuida da comunidade com outras mulheres. Elas são solidárias
nos trabalhos de roças, quando são convidadas todas participam, são solidárias quando
alguém passa necessidade. Eu vejo em minhas andanças que em muitos momentos difíceis a
última palavra é feminina. Nas últimas décadas na nossa região têm nascido mais meninas do
que meninos. Isso mostra também que elas vão conquistar mais espaços nas escolas, para
diferentes cargos e serviços exigidos no campo da educação escolar. Aqui nesse espaço elas
precisam se organizar seus modos de cuidar da vida, de ensinar, de superar as dificuldades...
Eu vejo que elas muito pouco escrevem sobre suas práticas educativas. Se elas não escrevem
o que falamos vai dissolvendo, evaporando e não sobra mais nada. Mas se estiverem bem
organizadas terão muitas forças e cuidarão muito melhor da qualidade de ensino, dos espaços
educativos e das vidas dos seus colegas professores e dos seus alunos e alunas. Diante deste
resumo com tema Mulheres Indígenas: Diálogo sobre o Papel Político das Mulheres Indígenas
do Rio Negro – Amazonas, nos ressalta sobre a importância participação das mulheres dentro
do diálogo com a conjuntura política na qual participamos. Este Artigo é de suma importância,
por que mostra como foi a trajetória de luta e conquista aqui na região do Rio negro, no
Município de São Gabriel da Cachoeira, e como está sendo a participação das mulheres
rionegrinas ao longo dos anos de luta para se ter um espaço de discussão das mulheres.
Através deste diálogo sobre a linha do tempo da participação feminina em vários momentos,
nos levou a perceber a coletividade que existe e que sempre existiu. Ao longo das falas da
escrito apontam as conquistas e os desafios enfrentados por elas. A tensão provocado pelo

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enfrentamento possibilitou acionar o coletivo, ou seja, agentes sociais indígenas que são as
nossas organizações ,com intuito de somar forças para defender os nossos direitos.

Mulheres Indígenas – resiliência e participação política

Taís Sonetti González

A narrativa da modernidade não se limita apenas à complexidade e heterogeneidade do


mundo e aos modos de conhecer o mundo, historicamente, esta reprimiu e silenciou outras
narrativas rivais, remetendo-as a uma posição subalterna, dentro do quadro de relações de
poder desiguais e por, muitas vezes, violentas. No que se refere ao feminismo decolonial, as
problemáticas enfrentadas pelo feminismo eurocêntrico e pelo feminismo do Sul são
diferentes, as mulheres indígenas, por exemplo, são invisíveis em um mundo dominado por
homens brancos e feministas brancas, mais ainda, a colonialidade do gênero é algo sob a qual
se sustenta a colonialidade do poder, essa que se constituíu de forma a sustentar a
organização social estatal. No âmbito dos povos indígenas é necessário se atentar à discussão
de reconhecimento da temática indígena e às das mulheres indígenas, que se dá pelo
reconhecimento de serem indígenas e por serem mulher. Já as políticas públicas para a
população indígena, é de se considerar a invisíabilidade, especialmente das mulheres
indígenas. Ao mesmo tempo, a discriminação e a violência contra a mulher indígena traz o
desafio de um debate amplo que englobe os direitos humanos e suas violações a partir de
uma perspectiva multicultural que reconheça e respeite o direito de autonomia dos povos
indígenas e a necessidade de políticas públicas diferenciadas. É nesse contexto que as
mulheres indígenas vêem arquitetando processos de resistência por meio de suas lutas
socioambientais, bem como, elas vêem buscando/reafirmando espaços políticos, dentro e
fora de suas comunidades, entretanto, no que veem resultando esse movimento de
resistência e emancipatório?

Faces de uma luta: movimento de mulheres indígenas no Brasil

Maria Judite da Silva Ballerio Guajajara

Paula Sâmara da Silva Santos Guajajara

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Falar a partir de mulheres indígenas é uma premissa importante que deve ser confrontada
pelo movimento indígena, pois ainda persiste uma forte concepção colonizadora sobre o ser
mulher indígena e, para além de refutar esse olhar, é preciso que se parta de outros pontos
de compreensão, principalmente os delas. Representa também um desafio ao movimento
indígena e ao Estado brasileiro considerando suas especificidades enquanto mulheres e
indígenas como um processo político e cultural complexo de autonomia. A mulher indígena e
sua história não foram pensadas a partir de suas próprias concepções, nem mesmo os povos
indígena puderam por muito serem protagonistas de suas histórias, mas sim superincluídas
em histórias “alheias”. Foram historicamente definidas por olhares colonialistas, construídas
como o outro do outro. O outro enquanto indígena e outro enquanto mulher. Ocupam um
lugar moroso e fatigante na sociedade por representarem uma coletividade antinômica da
branca, da masculina e até da feminina universal, pois mulheres são mulheres quando são
brancas. De maneira correlacionada também aos homens indígenas, pois apesar de indígenas
são homens, mesmo ainda estando abaixo de mulheres brancas na pirâmide social (RIBEIRO,
2017). O Estado brasileiro ainda insiste na visão homogênea de sociedade e isso inclui a
universalização dos 305 povos indígenas brasileiros, de modo que, as indígenas ficam
subjacentes à perspectiva ecumênica de mulheres e/ou de povos indígenas, não sendo assim,
beneficiárias de políticas importantes e, estando mais apartadas ainda, de serem aquelas que
pensam suas próprias políticas. Destarte, mesmo com o novo contexto apresentado a partir
Constituição Federal de 1988, de reconhecimento da diversidade dos povos indígenas e do
direito de permanecerem enquanto tal, as mulheres indígenas, continuam a apresentar-se em
situação de marginalidade constitucional quando observadas sob o ângulo de efetivação da
identidade constitucional indígena por meio de políticas que contemplem suas
especificidades. Assim, a situação de vulnerabilidade das mulheres indígenas se deve também
ao próprio Estado que ignora a amplitude de consequências de suas ações sobre os diversos
seguimentos dentro das sociedades indígenas. Ora, se o Estado não consegue nomear essas
mulheres como realidade, sequer serão pensadas melhorias para uma realidade que se segue
invisível. Um Estado que viola os direitos dos povos indígenas, tendo em vista está se
constituindo “através de seus governantes, em principal promotor e mantenedor das
violências contra os povos indígenas” (CIMI, 2017, p. 9) viola mulheres, homens, crianças,
idosos, etc. A insistência em se falar de mulheres e/ou de povos indígenas como categorias
universais, deixa implícito as diversidades presentes, fazendo com que somente parte desses
grupos sejam vistos. Sua superinclusão exclui suas singularidades inerentes, representando
critério impeditivo de formulação de políticas específicas e efetivação constitucional de
direitos fundamentais. Deste modo, no que tange aos discursos de aplicação normativa dos
preceitos constitucionais, direitos à diferença, associados ao tema, polêmica é atuação do
Estado, tendo em vista sua ausência. Apesar de ter-se cada vez mais sociedades diferenciadas
e complexas em suas peculiares assumindo-se constitucionalmente como tal, respeitando-se
normativamente as visões plurais de mundo que influenciaram diretamente a concepção e
formação do paradigma do Estado de Direito de caráter pluralista, no campo de efetivação as

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

diversidades parecem continuar impregnado de concepções de homogeneidade e integração.


São mulheres para as quais a diversidade não tomada caracteriza-se em restrições que se
traduzem “manutenção da subalternização das mulheres indígenas, pois é uma prática
universalizadora que retira delas a condição de sujeitas coletivas capazes de dizer a sua
realidade e o direito para si próprias” (FONSECA, p. 187, 2013) e que quando confrontadas
com a realidade que envolve a relevância constitucional de debater sobre a inviabilização das
identidades culturais das mulheres indígenas perante o Estado brasileiro. A Carta Magna
redimensionou as perspectivas indígenas, em âmbito jurídico, ao contrapor os ideais pautados
na construção ideológica eurocêntrica de sociedade homogênica que, na verdade, estimulava
a inferioridade dos povos e culturas indígenas. Assim, a ideia é que a igualdade constitucional
deva responder a todas as identidades plurais dentro de sua ordem institucionalizada. Assim
que, pensar mulheres indígenas é justamente romper com a cisão criada numa sociedade
desigual, logo é pensar novos marcos civilizatórios para construir um novo modelo de
sociedade, colocando além de outros, as mulheres indígenas na condição de sujeitos e seres
ativos dotados de um histórico de resistências. É preciso evidenciar o plano de fundo da luta
das mulheres indígenas no Brasil, pois a gama de limitações e exclusões da agenda política
que perdurou por muito tempo, sempre partiu de perspectivas simplificadas e igualdade e
visões universalizantes de cidadania. Temos uma história formal colonial onde se tenta se
apagar os povos indígenas do Brasil, sua diversidade e as atuações das mulheres indígenas,
ainda desconhecida e espantosa para a maioria não indígena, que vem sendo enfrentado pelas
mulheres que passam a ocupar a linha de frente na luta pela defesa dos povos indígenas. Essa
invisibilidade das mulheres indígenas e de suas lutas e histórias é parte da distorcida história
pensada, construída e enraizada pelo pensamento colonizador. E nos processos de usurpação
das terras e das garantias indígenas as mulheres tendem a ser vistas somente como objetos
de reprodução de violência, sem voz: “Foi uma coisa muito horrível para as mulheres
indígenas... Houve muito estupro, até de índias grávidas e de mulheres em resguardo. Os
policiais usaram elas. Judiaram delas. As nossas mulher foram muito humilhadas. [...] Nós,
mulheres, somos muito sofridas. Ainda hoje passa muito essa coisa de estupro. Foi lá que
começou essa violência que ainda existe contra nós, mulher indígena. Quando a polícia chega
nas nossas áreas é com muita agressão, agressão contra as mulheres e contra as crianças
também. Agressão verbal e física. […] O massacre de Barra Velha foi tão grande que as pessoas
que moravam fora achavam que tinham matado todos os índios (TAVARES, 2015, p. 14).” São
violações históricas que perduram na realidade cotidiana das indígenas brasileiras e exigem
constantes e dinâmicas perspectivas de luta. E colocar em pauta as atuações das mulheres
indígenas de forma a explicitar sua luta, não traz cisões ou separações, mas sim, unifica e
fortalece o movimento indígena. Ao se nomear as opressões de raça e gênero “entende-se a
necessidade de não hierarquizar opressões, de não criar, primazia de uma opressão em
relação às outras (RIBEIRO, 2017. p. 14).” Apesar de ter-se cada vez mais sociedades
diferenciadas e complexas em suas peculiares assumindo-se constitucionalmente como tal,
respeitando-se normativamente as visões plurais de mundo que influenciaram diretamente a

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

concepção e formação do paradigma do Estado de Direito de caráter pluralista, no campo de


efetivação as diversidades parecem continuar impregnado de concepções de
homogeneidade. E no contexto indígena essa homogeneidade parece se intensificar tendo em
vista que, é indispensável, nesse âmbito, a utilização de uma complexidade de elementos,
sejam científicos, históricos, antropológicos, sociais e/ou biológicos na interpretação dos
direitos fundamentais constitucionais dos povos indígenas, de forma a efetivar sua devida e
concreta aplicação. Portanto, é necessário que se entenda que as mulheres indígenas têm um
histórico de luta, resistência e reexistência, que produzem discursos contra hegemônicos e
vivem um processo de conscientização e empoderamento de seus direitos. A evolução do
constitucionalismo, nessa perspectiva de reconhecimento multicultural e não universal,
evidencia a necessidade de se avançar para efetivação da normatividade já positivada
respeitando-se a alteridade e materializando o reconhecimento as minorias de forma a
legitimar o caráter plural das sociedades.

Mulheres Kaingang: seus caminhos, políticas e redes na Terra Indígena


Serrinha

Joziléia Daniza Jagso Inácio e Jacodsen Schild

A partir da etnografia realizada na Terra Indígena Serrinha, este trabalho discute como tema
central as mulheres kaingang Odila Kysã, Andila Nivygsãnh, Ângela Norfa e as redes por elas
formadas. A aldeia sofreu, até meados de 1960, o esbulho total de seu território e a expulsão
dos nossos antepassados kaingang que ali viviam. Nesse contexto, estudo a atuação dessas
mulheres, considerando suas trajetórias, os seus caminhos e de suas famílias, bem como as
alianças entre as mulheres, as redes de parentesco e a preocupação com a nominação
kaingang dos filhos e netos, com sua influência na vida da pessoa. Por fim destaco a articulação
política dessas mulheres em torno do Ponto de Cultura Kanhgág Jãre, que é um espaço público
onde exercem papéis de liderança.

Entre poesía y praxis feminista: agenciamiento y literatura de mujeres


mapuche williche de la Provincia de Osorno, Región de los Lagos, Chile

James Park Key e Michel Duquesnoy

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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En la Norpatagonia chilena, en recientes años, las mujeres mapuche williche han adquirido un
posicionamiento sociopolítico y cultural innegable que demuestra su dinámica de
empoderamiento. Esto se inscribe en ciertas propuestas de los feminismos “no blancos”. Pese
a cierta duda (hasta rechazo) de lo que piensan ser “el” feminismo, muchas afirman “ser
empoderadas”, recurriendo a jerarquías genéricas ancestrales: complementariedad,
cosmovisión y relatos míticos sustentan el buen vivir (küme mogen) de la pareja y del ser
mapuche. Lejos de afirmarse “anti-hombres”, defienden los valores comunitarios y reivindican
su “ser en el mundo”, sea mapuche o no mapuche (winka). La historia de las asociaciones
femeniles chilenas es llamativa. Las mujeres mapuche williche ostentan una creciente
participación en las organizaciones indígenas desde la generación de la Ley Indígena (1993),
así como un rol fuera de la economía tradicional del hogar, tales los emprendimientos
(financiados por el Estado), cooperativas, gestiones individuales y colectivas, etc. La bella y
llamativa producción poética de las poetas mapuche de estos territorios no es ajena a este
amplio movimiento femenil y se ha ido estableciendo, tanto en el ámbito literario, como
también el político, como un referente ascendente en las dinámicas de reivindicación de lo
ancestral en un complejo contexto global.

Linha de embaúba, água de batata, panela de barro: práticas xamânicas das


mulheres tikmũ’ũn_maxakali

Claudia Magnani

Ana Maria Rabelo Gomes

Sueli Maxakali

Maíza Maxakali

Os Tikmũ’ũn, comumente conhecidos como Maxakali, vivem, atualmente, em uma das


menores terras indígenas do país, a qual, nos últimos dois séculos, foi completamente
devastada e empobrecida em sua biodiversidade pelo avanço do “progresso”. Todavia, as
estratégias adaptativas implementadas diante das mudanças ambientais recentes explicitam
os modos como esse povo reativa as relações entretidas historicamente com o seu mundo.
Em contraste com o território recortado, cartografado e esvaziado de subjetividades, típico
dos nossos mapas geográficos (TUGNY, 2011) o território que os Tikmũ’ũn habitam, continua
se reproduzindo e ressignificando a partir de encontros e experiências intersubjetivas e extra-
humanas. Homens e mulheres, de forma diferente – não oposta, mas complementar –
vivenciam o território de hoje por meio de encontros, relações e alianças com os múltiplos
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seres não-humanos que também o habitam; os povosespíritos yãmĩyxop. É exatamente nessa


trama de relações enredadas com o território e suas outras subjetividades – que se dão num
plano relacional e afetivo – que homens e mulheres tikmũ’ũn produzem seu mundo sócio-
cosmológico atuando diversas e graduais formas de xamanismo. Dado esse contexto,
pretende-se vislumbrar, em particular, a complexidade da agência das mulheres, ressaltando
algumas práticas femininas que reatualizam importantes vínculos com a terra e o território: a
tecelagem de linha de embaúba, a produção de panelas de barro e a preparação de alimentos.
Comumente compreendidas como atividades ordinárias da vida cotidiana e privadas de seus
mais amplos sentidos cosmológicos, estas são, ao contrário, práticas mediante as quais as
mulheres intervêm na socialidade do grupo, interagem com as agências não-humanas e
realizam procedimentos de ordem xamânica. São essas mulheresxamãs tikmũ’ũn – mulheres-
fortes, mulheres-artesãs, mulheres-cantoras e conhecedoras das histórias ancestrais – que,
de formas diferentes e complementares aos homens, através da manipulação de substâncias
femininas (fibra, argila, batata), cuidam das relações entre parentes e seres-yãmĩyxop, curam
corpos, mediam conflitos, garantem alianças, cuidam dos vínculos com o território, amansam
espíritos ferozes ou, ao contrário, provocam rupturas e colocam em risco o equilíbrio de todo
o seu mundo.

A política feminina Jarawara: reflexões iniciais

Fabiana Maizza

A apresentação buscará conexões entre minha etnografia com as mulheres jarawara e aquilo
que vem sendo chamado de “política feminista da Terra” (Stengers, Tola, Haraway, Puig de la
Bellacasa, De la Cadena). Procurarei pensar as formas como uma certa agência feminina
xamânica e uma agência levável entre minhas interlocutoras, nos faz pensar com os conceitos
de cosmopolítica (Stengers) e Reclaim (Starhawk e alli). Se, como afirma Stengers, é urgente
e necessário o alargamento de nosso circulo político; enquanto as bruxas neo-pagãs
californianas nos ensinam que “não estamos sozinhas”, então, procurarei uma reflexão sobre
a possibilidades colocadas tanto pelas práticas diárias de ida ao roçado das mulheres jarawara,
na criação de seus/suas filhos/as-planta, como sobre os efeitos do mariná (a festa de
“iniciação feminina”) em corpos e agências femininas leváveis, onde a comunicação com não-
humanos é tanto um perigo como uma forma de aquisição de conhecimento. A ideia é pensar
como as mulheres jarawara apresentam possibilidades para uma noção de “política” que
dialoga com as reflexões de Stengers e Starhawk, ao mesmo tempo que nos abrem caminhos
para redesignar aquilo que vem sendo chamado de domínio “doméstico” na etnologia
indígena.
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Narrativas e concepções cosmologicas indígenas: a ótica das mulheres

Alessandra Severino da Silva Manchinery

Soleane de Souza Brasil Manchineri

Adnilson de Almeida Silva

A partir das narrativas indígenas, dado ênfase na cosmologia das mulheres indígenas,
pretendemos compreender os papéis na sociedade do povo Manchineri, observando os
fatores de silenciamento, abandono e confronto que estão presentes em narrativas contadas
por homens, que são perpetuadas até os dias atuais. Pretendemos abordar questões acerca
do direito e bem esta da mulher indígena dentro e fora da Terra Indígena, pensando no
empoderamento de mulheres através dos saberes tradicionais e de sua arte herdadas há
séculos. Através de mitos podemos dialogar com demais saberes para possíveis construções
de novos saberes entre povos indígenas e não indígenas, preenchendo lacunas na história até
então desconhecidas.

Warmipangui: corpo em disputa, controle e dominação

Enoc Merino Santi

O que se pretende com esta comunicação é refletir sobre o processo de ressignificação de ver
e pensar o corpo dos sujeitos indígenas como um objeto alienado/contaminado pela cultura
externa, ignorando de essa forma a reivindicação para que a sexualidade seja libertada das
prisões conceituais impostas pela medicina e a psicanálise; na América, a sociedade externa
dominante impôs normas de relações binárias discutindo e justificando-se em concepções de
"religiosidade" e "civilização" que foram trazidas e impostas por indivíduos externos ao espaço
onde essas construções sociais ocorrem; onde a demonstração de amor e afeto entre os
sujeitos "warmipanguiguna" tem outro modo de se relacionar afetivamente e com o grupo.
Por isso, é importante trazer à cena a categoria de corpo, desejo, prazer, goze e amor, desde
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a perspectiva dos indígenas, pois no presente ainda existem sujeitos não indígenas e indígenas
que têm uma falsa perspectiva que dentro da sociedade indígena não há pessoas a quem a
academia ocidental aprisionou em uma categoria o que denominou "homossexuais",
quebrando e desestabilizando com essa imposição epistemológica uma relação particular que
ocorre dentro de alguns grupos indígenas, uma relação social que se pode dizer ter existido
dentro do grupo em seu espaço territorial, natural e espiritual. Palavras-chave: Warmipangui,
corpo, controle, goze, desejo, amor, dominação.

Gênero e cuidado ao parto: uma reflexão transdisciplinar a partir do


conhecimento de parteiras indígenas

Danielle Ichikura Oliveira

O objetivo deste trabalho é nos aproximar a uma compreensão das práticas e conhecimentos
ao redor do cuidado ao parto em contextos indígenas (especificamente no Alto Rio Negro) em
termos de gênero, tomando como ponto de partida um referencial teórico que discute as
“relações de gênero na assistência ao parto”. Trata-se de um esforço transdisciplinar entre a
saúde pública, a obstetrícia, a antropologia e os estudos de gênero. Nele, colocamos em
articulação os relatos e explicações de parteiras rionegrinas com uma bibliografia biomédica
crítica e de matriz feminista sobre “humanização do parto”, e sobre a presença de homens no
trabalho de parto e suas interferências. Por meio de um diálogo maior com a antropologia
indígena e de gênero, buscamos analisar as formas como os processos de cuidado do parto
são geridos e regulados por mulheres e como, nesse processo, elas atualizam e colocam em
jogo princípios socialmente compartilhados de gênero. Esse trabalho faz parte de um esforço
colaborativo entre o Departamento de Mulheres Indígenas da Federação das Organizações
Indígenas do Rio Negro (DMIRN/FOIRN), o Instituto Socioambiental (ISA) e a Faculdade de
Saúde Pública da USP, para a compreensão de conhecimentos e práticas de cuidado de
mulheres indígenas perante formas sistemáticas de violência. Nesse marco foi realizado um
levantamento de informações por parte de uma pesquisadora indígena atuante no DMIRN e
por uma pesquisadora não indígena doutoranda da Faculdade de Saúde Pública da USP. No
período de 15 a 18 de novembro de 2018 foram entrevistadas parteiras indígenas nas aldeias:
Waruã; Acubuco; São Francisco; Tabocal dos Pereiras; Abi; Itaporanga; Juruti e Duraka.
Partindo das narrativas das parteiras sobre o cuidado durante a gestação e trabalho de parto
um elemento primeiro que nos chamou atenção foi a regulação feminina sobre a presença ou
ausência de homens no momento do parto. Nos relatos observou-se que a presença de
determinados homens, como pajés, maridos ou até mesmo parentes próximos se dá em

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momentos específicos do trabalho de parto e a partir de solicitação da parteira: para rezas em


situações de dificuldade no processo de nascimento e amparo físico para acomodar melhor a
posição de parir de cócoras, por exemplo. Nesses momentos o homem é conduzido à sua
atividade de modo que não seja possível observar frontalmente o processo e não haja
interferências. Baseado nessas narrativas dadas pelo encontro das pesquisadoras com as
parteiras buscamos entender como acontece a regulação das presenças, dos espaços e das
participações, em termos de gênero, no momento dos nascimentos, no contexto de novas
vindas.

“La placenta va en la tierra y el ombligo va en el árbol”. Partería indígena y


territorio, en los nuevos escenarios del nacer en México

Lina Rosa Berrio Palomo

La ponencia aborda un análisis de los vínculos entre la partería tradicional indígena y el modo
en que se experimenta el territorio. A partir de relatos elaborados mediante entrevistas,
trabajo etnográfico y diálogos con parteras de Guerrero y Oaxaca, se construye una reflexión
sobre la manera en que para ellas se vincula el cuerpo femenino y el territorio. Qué rituales,
metáforas y procesos construyen esta relación? De qué manera es representado el cuerpo
femenino y el espacio que corresponde al territorio comunitario? Existen violencias comunes
que los atraviesan? Las nuevas formas de nacer en instituciones hospitalarias ¿cambian el
vínculo simbólico con la tierra? Cómo se construye el arraigo al territorio cuando no es posible
desplegar la ritualidad vinculada al nacimiento? ¿Los procesos de expropiación territorial y
megaproyectos experimentados en algunas regiones indígenas, modifican la manera de
pensar los cuerpos femeninos y la tierra? Estas son algunas de las preguntas que guían la
presentación, a partir del diálogo con un grupo de parteras indígenas, aprendices de parteras
y líderes comunitarias de la Costa Chica de Guerrero y el istmo de Tehuantepec en Oaxaca con
quienes he colaborado varios años como antropóloga y acompañante. Ellas actualmente
desarrollan un proceso de formación de partera a partera, donde las maestras mayores,
enseñan a una mujer joven que quiere aprender el oficio de partera. De manera reiterada las
parteras señalan el cierre cada vez mayor de espacios para realizar su labor, frente a un
proceso de acelerada institucionalización del parto e incremento en las cesáreas en los
servicios públicos de salud a los cuales deben acudir al momento del parto, y existen diversos
trabajos antropológicos que así lo hemos documentado como parte de las violencias
institucionales contra los pueblos indígenas. De qué manera estas nuevas formas de nacer
transforman no sólo las prácticas concretas de atención desarrolladas por las parteras, por las
mujeres y sus familias durante el nacimiento, sino también la manera en que construye y
simboliza el propio cuerpo femenino. Si históricamente se ha planteado la función de estos

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rituales en la preservación de la vida y la salud futura; de qué manera se modifican,


reemplazan o desaparecen ante los nuevos escenarios del nacer? Reflexionar colectivamente
con ellas sobre estos temas mediante entrevistas individuales, dibujos y miradas colectivas
producidas en espacios de talleres, es la materia prima para esta ponencia sobre los nuevos
modos de nacer y habitar el espacio, en territorios indígenas hoy.

O destalar das taquaras: mulheres indígenas Kaingang e o artesanato na


comunidade Passo Liso de Chopinzinho/Paraná

Eliana Piaia

Josiane Carine Wedig

A partir da perspectiva do bem viver, analisamos a participação de mulheres indígenas


Kaingang, da comunidade de Passo Liso, em Chopinzinho – Paraná, na organização de sua
comunidade e enquanto geradoras de renda, através do artesanato. Por meio de observação
participante e realização de entrevistas, buscamos compreender a territorialização a partir
destas mulheres que possuem seu lócus existencial como fundamento para preparar, semear,
cultivar, colher, produzir e reproduzir seus fazeres e saberes culturais. Suas vivências e
convivências em torno do artesanato estão ligadas à relações com a natureza, com humanos
e não-humanos e com o modo de existir e coexistir, comunitariamente. O artesanato por elas
produzido é fonte de renda: a venda acontece nas rodovias, que perpassam as terras
indígenas, ou nas cidades da região, onde vendem ou trocam por alimentos e roupas. Os
artesanatos, atualmente produzidos, são: filtro dos sonhos, cestos, peneiras, chapéus,
chocalhos, vasos e tapeçaria, sendo a taquara a principal matéria-prima. Ocorre, também, a
venda do pinhão, alimento colhido das araucárias. Através do artesanato, os territórios são
percorridos pelo destalar da taquara: na coleta, no corte, no pintar e no confeccionar, que
requerem um ritual, e técnicas transmitidas ancestralmente, que permitem o entendimento
de suas experiências e da sua cosmologia. Além disso, as reflexões feitas a partir do artesanato
possibilitam observar o histórico de colonização e violências, a continuidade de injustiças
cometidas para com os povos indígenas, que vivem e fazem parte destes territórios,
implicando na limitação do reconhecimento do artesanato e de seus modos de vida. O que se
evidencia é a resistência destas artesãs, num saber-fazer que habita suas ancestralidades, seus
saberes transmitidos entre gerações, onde estabelecem relações entre elas, com seus pares,
com sua comunidade e com outras pessoas que passam pelas rodovias que percorrem suas
comunidades. No território kaingang, elas dispõem de seu corpo, que resiste às violências da
colonização e da colonialidade do poder, do ser e do saber.
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O corpo tem dono? Resistência e cosmopolítica do corpo da mulher


Tenetehar Tembé

Vanderlúcia da Silva Ponte

A proposta do estudo consiste em analisar e compreender os saberes das mulheres


Tenetehar-Tembé sobre a natureza, sejam os relacionados a fabricação dos corpos (VIVEIROS
DE CASTRO, SEEGER, DAMATTA, 1979), sejam os saberes que produzem a doença e promovem
a saúde. Quer se entender aqui, a forma como esses saberes são dinamizados e como se
relacionam com a ideia de territorialidade. A metodologia adotada teve como base o método
etnográfico, por meio de trabalho de campo e da observação direta e as narrativas orais dos
sujeitos. A pesquisa etnográfica constituiu-se por meio do exercício do olhar (ver) e do escutar
(ouvir) e do escrever (interpretar o Outro), tal qual como proposto por Cardoso de Oliveira
(1996), o que impôs a pesquisadora um deslocamento de sua própria cultura para se situar no
interior do fenômeno por ela observado através da sua participação efetiva nas formas de
sociabilidade por meio das quais a realidade investigada foi-lhe apresentada. É sabido, por
meio de pesquisas e estudos na cultura Tenetehar-Tembé, povo Tupi, que vive na Terra
Indígena do Alto Rio Guamá, no nordeste do Pará-Brasil, que o adoecer e o restabelecimento
da saúde implica uma relação estreita com a espiritualidade e a natureza, a qual age sobre o
corpo do indivíduo determinando seu bem estar e/ou adoecimento, uma relação que é
carregada de sentido simbólico e marcada pelo equilíbrio e desequilíbrio entre as ações dos
espíritos e o comportamento dos indivíduos em toda a aldeia. O estudo parte da hipótese de
que o “Ser mulher” nessa cultura tem uma importância vital para a reprodução e organização
social e política do grupo, pois sendo a mulher carregada de poderes e perigos, que
ultrapassam seu corpo e seu pensamento, ela pode interditar ações, renomear sentidos na
esfera política e intercambiar relações entre humanos e não humanos, pois sendo seu corpo
marcado pela diferença, tendo o sangue um elemento de atração e repulsa dos espíritos
(BELAUNDE,2006) é nesse corpo, que se constituem as marcas de sua alteridade e do outro.
É, portanto, de acordo com Viveiros de Castro (1979), no corpo que a alteridade indígena se
constitui, formando um campo de interação intersubjetivo, em que humanos e não humanos,
produzem subjetividades, diferenciações e negociações.

A emergência de cacicas Guarani Mbya de Santa Catarina: relações entre


mulheres, filhos e terras
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Francine Pereira Rebelo

Esta comunicação busca compreender a emergência no século XXI de lideranças políticas


femininas entre entre os/as Guarani Mbya, as chamadas cacicas. A pesquisa é parte da
dissertação de mestrado da autora defendida em 2015 e foi feita através do acompanhamento
de duas cacicas, Arminda Ribeiro (Para Poty) e Eunice Antunes (Kerexu Yxapyry), residentes
respectivamente nas aldeias da Conquista (Jatay’ty), localizada em Balneário Barra do Sul, e
do Morro dos Cavalos (Itaty), localizada em Palhoça, ambos municípios do litoral de Santa
Catarina. O trabalho analisa as implicações da atuação destas mulheres no cotidiano das
comunidades nas quais estão inseridas, atentando sobretudo às lutas pela regulamentação de
terras indígenas em Santa Catarina. Através do processo de fundação da aldeia por Arminda
Ribeiro e da eleição de Eunice Antunes, tentei traçar um perfil das cacicas e elucidar o
protagonismo das mulheres na deflagração dos deslocamentos, ocupação das terras, vivência
do nhanderekó (modo de ser tradicional) Guarani, cuidado com os filhos e continuidade do
seu grupo étnico.

O protagonismo social das mulheres Tikunas do Alto Solimões e a igualdade


de direitos

Edilanê Mendes dos Santos

A consciência coletiva das mulheres conhecido como empoderamento feminino está em voga
na mídia, apesar de não ser propriamente algo novo suas lutas pela equidade de gênero,
sendo muitas vezes na história retratado como um movimento tímido sem receber a devida
atenção da sociedade da época. Essa luta pela igualdade de direitos também passa pelas
sociedades indígenas, e neste trabalho, no processo “emancipatório” das mulheres Tikunas
do Alto Solimões do município de Benjamin Constant - AM. Atualmente as Associações de
Mulheres Artesãs MEMATÜ e AMIPC ambas da comunidade Bom Caminho e AMIT da
Comunidade de Filadélfia têm sido um marco quanto a participação econômica das mesmas
na comunidade e em seus lares, e devido esta independência, vem mudado as interações dos
sujeitos sociais. Antes, as mulheres estavam atreladas somente ao âmbito do trabalho
doméstico, pautada na lógica da divisão sexual do trabalho. Atualmente estas mulheres tem
exercido um protagonismo, tanto que as presidentes destas associações têm alcançado

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destaque na sociedade local, além de mães, provedoras e empreendedoras, elas são


multiplicadoras do novo papel social feminino, auxiliando e orientando as associadas e as
jovens mulheres da comunidade a terem auto estima e independência financeira, porém, sem
deixar de valorizar o conceito de família presente na tradição da etnia Tikuna. Esta pesquisa
de natureza qualitativa e cunho narrativo, teve seus dados empíricos coletados de forma
etnográfica, traz as vozes e memórias destas representantes, passando pela fundação das
associações, seus primeiros contatos com a busca pela igualdade de direitos até as frentes de
lutas que as mesmas tem estado. O resultado é uma narrativa que mostra a força que estas
mulheres possuem desde sua passagem pelo ritual da ‘Moça Nova’ até os novos desafios que
estas tem enfrentado na sociedade atual, sem voltar as costas para as tradições, ou seja, o
retrato da mulher Tikuna contemporânea.

Sumak e sindzhi warmis: política, liderança e território entre os Sarayaku


Runa

Marina Ghirotto Santos

Esta comunicação aborda imbricações entre política, gênero e território entre os Sarayaku
Runa, povo kichwa da Amazônia equatoriana. “A política”, uma “prática cotidiana”, é
traduzida como “Jatun Kwintanakuy”, “conhecimento” ou “algo como um grande e/ou
importante conversatório” – feitos pelos líderes/lideresas e assistentes. Alguns etnólogos
chamaram atenção à importância de assemelhar-se e de conhecer outras culturas nas formas
de vida Runa; Mezzenzana (2015), por exemplo, vê no que ela chama de formas – um conjunto
de movimentos compartilhados através da imitação por humanos e não humanos – um dos
focos das práticas de conhecimento Runa, particularmente importante para a fabricação de
pessoas "adequadas" ou propriamente Runas. No entanto, haveria uma diferença nos regimes
de conhecimento baseada na conceitualização a priori de homens e mulheres como tipos
distintos de seres, sendo justamente as mulheres as principais responsáveis pela reprodução
destas formas. O problema é que “ser conhecedor” em Sarayaku tem a ver, também, com um
desempenho satisfatório nos conversatórios hacia adentro ou hacia afuera de Sarayaku.
Observo que isto implica, de forma análoga à observação de Mezzenzana, a reprodução de
falas e movimentos específicos considerados belos (sumak) e/ou fortes (sinzhi) característicos
de uma pessoa conhecedora e capaz de ser líder/lideresa. A emergência de lideresas (líderes
mulheres) aparece, além de conectada à uma concepção de pessoa Runa (àquela
conhecedora), aos conflitos entre Sarayaku, o Estado equatoriano e empresas petroleiras,
bem como às propostas políticas que este povo elaborou para o mundo dos brancos. A
iniciativa mais recente (descrita como política) tem sido pelo reconhecimento de seu território
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como Kawsak Sacha/Selva Vivente – um mundo vivo, habitado por seres femininos,
masculinos e andróginos para além de nós, humanos vivos –, encabeçada pela atual
presidenta Miriam Cisneros. Foco-me, portanto, nas formas de “fazer aparecer” a política e o
território por lideresas formais (i.e.: presidenta(s) do Conselho de Governo Tayjasaruta, pois
há outras modalidades de lideranças, como as apamamas – avós), mas mantendo em vista a
relação fundamental com seu contraponto – os líderes homens. Sugiro que o gênero é um
idioma fundamental através do qual o mundo dos Sarayaku Runa é continuamente feito e
expresso, incluindo a política e o território. Neste sentido, discuto as seguintes questões: O
que é ser mulher? O que é ser lideresa? O que é um território e qual sua relação com as
mulheres? Como as mulheres efetuam a relação entre seres viventes? Que política fazem as
mulheres – ou, como territorializam o mundo e a política? De que forma produzem espaços
particulares de co-existência aos modos não-indígenas de fazer mundos?

A luta das mulheres indígenas por seus direitos, contra a invisibilidade e a


violência do Estado

Glicéria Jesus da Silva

Nesta comunicação, pretendo discutir como o Estado brasileiro trata as mulheres indígenas,
partindo da minha posição, como mulher tupinambá da Serra do Padeiro, professora e
estudante universitária, atuante na luta desde que meu povo começou a se organizar para
recuperar nossas terras. Buscarei considerar essa questão historicamente, recuperando
relatos transmitidos entre povos como os Tupinambá, os Pataxó Hã hã hãi e os Kiriri sobre as
indígenas que eram retiradas das aldeias e enviadas para servir em casa de família e sobre as
indígenas que foram parar em prostíbulos. Indicarei como os não índios agiam para
desmanchar as famílias indígenas, com o intuito de que nossos parentes perdessem suas
origens, e chamarei a atenção para a constante perseguição às mulheres indígenas. Em
seguida, me debruçarei sobre o presente, considerando a criminalização de lideranças como
forma de perseguição das mulheres indígenas pelo Estado. Como exemplo, discutirei meu
caso: minha prisão, em 2010, junto com meu filho recém-nascido, em função da minha
participação na luta. Finalmente, discutirei a luta travada hoje pelas mulheres indígenas para
se tornarem visíveis e para garantirem os direitos de seus povos, chamando a atenção para o
aumento das candidaturas de mulheres indígenas nas últimas eleições, destacando-se a
atuação de Sônia Guajajara, candidata a vice-presidente, e de Joênia Wapichana, eleita
deputada federal.

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Poder feminino Kaingang nas relações sociopolíticas e nas lutas pela terra: um
estudo de caso envolvendo as Terras Indígenas Jamã Tÿ Tãnh/Estrela e Topë
Pën/Porto Alegre, Brasil, Rio Grande do Sul

Juciane Beatriz Sehn da Silva

Luís Fernando da Silva Laroque

No contexto indígena brasileiro, os Kaingang pertencem à matriz cultural Macro-Jê. São povos
falantes da língua Jê, do ramo meridional, e constituem o terceiro maior grupo indígena do
Brasil, totalizando cerca de trinta e oito mil pessoas, distribuídas nos atuais estados de São
Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Delimitando como recorte espacial duas
comunidades indígenas localizadas em contextos urbanos no Rio Grande do Sul: Terra
Indígena Jamã Tÿ Tãnh, município de Estrela, situada junto à Bacia Hidrográfica do Taquari-
Antas e a Terra Indígena Topë Pën, município de Porto Alegre, localizada em territórios da
Bacia Hidrográfica do Lago Guaíba, o presente estudo tem por objetivo analisar a atuação de
mulheres Kaingang em situações de reivindicação de terras, formação de alianças
sociopolíticas e na economia familiar, com vistas a aprofundar o conhecimento sobre os
papeis assumidos por elas no contexto intra e interaldeã dos coletivos Kaingang. A
metodologia consiste em um estudo qualitativo e descritivo. Dentre os procedimentos
metodológicos utilizados, destaca-se a revisão bibliográfica, bem como o levantamento e
análise de fontes documentais que se encontram junto ao Ministério Público Federal de
Lajeado e Porto Alegre. Realizou-se também pesquisa de campo nas Terras Indígenas, e
observações participantes com a elaboração de diários de campo, registros fotográficos e
entrevistas com base na metodologia da História Oral. Dentre os resultados parciais obtidos,
os quais foram analisados com base em teóricos da cultura como Kusch (1976) e Sahlins
(1997), de território e territorialidade, como Echeverri (2004), Gallois (2004) e Little (2002) e
da filosofia do poder, dentre os quais aponta-se Fernandes (2004), observa-se a energia do
poder feminino Kaingang influenciando e atuando em importantes decisões que afetam a
toda coletividade, sobretudo no que diz respeito às questões ligadas à terra, à
sustentabilidade e às relações socioculturais intra e interaldeã. Especificamente, em relação a
Terra Indígena Jamã Tÿ Tãnh, durante largo período de tempo, o poder político esteve
centrado na figura feminina. Foi a partir da sensibilidade e sabedoria, sobretudo de três
mulheres Kaingang, que houve a formação de aliança e o surgimento de uma unidade política
territorial pan-aldeã, de sete comunidades indígenas situadas em contextos urbanos, frente
ao empreendimento de duplicação de uma rodovia federal, a fim de garantirem terra para
todo o coletivo. Tratando-se da Terra Indígena Topë Pën, a participação de mulheres no plano
sociopolítico ocorre na articulação de processos de retomada de terra, no trabalho como
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parteiras e na sustentabilidade do grupo pelo viés da produção e comercialização da arte de


lianas e de outros produtos.

Mulheres-Onça; Homens-Anta: gênero e canibalismo entre povos do


Complexo do Marico

Nicole Soares-Pinto

As narrativas mitológicas dos povos Makurap, Arikapô, Djeoromitxi, Wajuru e Tupari revelam
uma íntima relação entre ‘substâncias’ corporais e elementos cosmológicos e cosmográficos.
É possível, com efeito, traçar importantes relações analógicas entre a diferença
mulher/homem e a diferença humano/ não humano, bem como suas zonas de
indiscernibilidade no que concerne aos espaços-tempo que ocupam. Articulo ao exame dos
mitos descrições etnográficas– incluindo festas, resguardos, sonhos e as relações entre
mulheres cognatas e afins – cujo vetor da ação é esconjurar a posição de presa dos homens
em face do caráter predador das mulheres. A comunicação sugere que o canibalismo
feminino, i.e., a identificação das mulheres com as onças, é a condição (virtual) para a
diferença (atual) que separa os homens dos não-humanos e os homens entre si. Insinuam-se,
assim, importantes inversões da relação entre interior e exterior do socius no que concerne à
inscrição de gênero.

Mulheres Guarani: guardiãs dos segredos de cura

Gennis Ara'Í Martins Timoteo

Este texto é um breve resumo da pesquisa que estou realizando para o meu trabalho de
conclusão de curso de Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica, na
Universidade Federal de Santa Catarina. O tema da minha pesquisa é “As práticas de saúde da
mulher guarani da aldeia de Biguaçu- SC”. O objetivo do trabalho é mostrar como a mulher
guarani lida com as questões da saúde em seu contexto. Quando tratamos de questões
relacionadas à saúde da mulher guarani, não incluímos apenas a saúde do corpo físico, mas
relacionamos também com a saúde mental, espiritual, psicológica e entre outras. Entendemos
que a nossa saúde é vinculada à mãe terra, à natureza e ao meio ambiente em que vivemos.
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Assim, nossas práticas culturais são fundamentais para a manutenção da boa saúde, que se
relaciona com o modo de ser guarani. Esse modo de ser e viver é regido por um misticismo
que envolve o ser feminino de um modo mágico, onde a mulher possui o dom da cura. Ela tem
o poder de curar a si mesma e também aqueles que necessitam, pois detém todo o
conhecimento para lidar com as plantas medicinais, além de fazer curas através de rituais e
cerimonias especificas para mulheres guarani. É importante falar da saúde tradicional porque
faz parte de um conhecimento ancestral adquirido ao longo do tempo, que foi repassado
através de gerações para que pudéssemos guardar e fazer bom uso no presente. Portanto,
sentimos que temos o dever de repassar nossas sabedorias para nossos filhos, garantindo
assim que esse conhecimento seja preservado para as futuras gerações. Esse tema é
relevante, pois a sabedoria da mulher guarani sustenta as práticas culturais do povo
relacionadas ao cuidado do corpo, da mente e do espírito. Ela é considerada a grande guardiã
de vários conhecimentos e segredos jamais revelados ao Juruá (homem branco). Por mais que
exista um grande preconceito em relação às mulheres guarani, aos poucos elas estão
conquistando seus espaços dentro e fora da aldeia. Reivindicam seus direitos como mulher e
mostram para a sociedade o quanto possuem poder dentro e fora das comunidades, afinal
são também elas as grandes responsáveis pela economia e pelo desenvolvimento das aldeias.
Enfim, a mulher guarani vive de acordo com sua cultura, respeitando seus próprios rituais, que
a ensina desde cedo a se comportar dentro da sociedade e a desempenhar seu papel como
menina e mulher. Guardiãs de sabedoria mulheres guarani vêm quebrando a barreira do
machismo, e como grandes lideranças conquistando cada vez mais espaços.

Perspectivas em conexão e protagonismo das agências femininas

Jéssica Zaramella

Haja vista as singularidades pertinentes aos universos femininos, este estudo tem como
objetivo demonstrar os protagonismos existentes no cotidiano da agricultura Kawaiwete que
derivam das múltiplas agências femininas. Considerando que este é um “lugar” em que as
agricultoras, plantas de cultivo e Kupeirup (mulher-espírito) coexistem e estabelecem relações
de co-dependência e cooperação, a roça está para além de uma atividade de subsistência, mas
é o substrato para construção de corpos e afecções. Estamos diante da noção de seres
femininos que habitam e são habitados uns pelos outros, afetando-se reciprocamente
segundo suas intencionalidades próprias e agências. Deve-se ressaltar que as plantas
cultivadas estão em contiguidade com os corpos das mulheres e com o corpo de Kupeirup, de
modo que a relação entre elas se estabeleça, necessariamente, com base na ação de todas as
envolvidas. Isto é, as plantas devem consentir serem cultivadas, bem como as agriculturas
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devem conhecer as ações performáticas que permitam a simbiose entre as plantas e os


membros de seus corpos e, também, proceder conforme os ensinamentos de Kupeirup, a fim
de que esta última abençoe a continuidade das atividades. Destaca-se, portanto, que a
permanência da agricultura deste povo depende da agência destes três seres e das suas
perspectivas em conexão. As narrativas das mulheres sobre de suas práticas agrícolas
apontam para uma criatividade feminina que concebe um lugar de afecções à sua própria
maneira, efetuando e atualizando a relação entre humanos e não-humanos a partir de suas
elaborações singulares. Significa dizer, então, que a roça é um espaço do fazer-se e ser
feminino, no qual as mulheres constroem um ambiente (re)existência. Ora, ao propor e
experienciar um modo outro de se relacionar com estes seres outros, as mulheres Kawaiwete
apresentam uma força de resistência à “barbárie que vem” e aos anúncios do “fim do mundo”
em sua existência e co-existência.

Deslocamentos e sobrevidas em Wiñaypacha

Evelyn Martina Schuler Zea

Filmado num cenário longínquo, a mais de cinco mil metros de altura, no nevado andino
Allincapac, o filme peruano Wiñaypacha (Catacora, 2018) - que trabalha com um casal de
anciões indígenas de língua Aymara - constitui um acontecimento poético audiovisual tanto
por seu excepcional alcance cinematográfico quanto por sua potência política que transforma
as paisagens confinadas nas coordenadas onde se debatem e decidem modos de coexistência
no e com o mundo. Minha comunicação busca abordar alguns dos vastos sentidos
condensados em Wiñaypacha, traduzido como eternidade, reconfigurando essa dimensão
espaço-temporal-epocal a partir dos transes da anciã Phaxsi e do ancião Willka, atores de tal
mundo. Um dos motivos que se persegue através de sua história é o que pode ser chamado
de efeito espectral do filme, que projeta seus protagonistas como sobre-viventes e a vida
como sobre-vida - além de transformar seus espectadores em espectros - como modos
diferenciados de deslocamento a respeito dos silêncios, dos abismos e das cinzas do território.

ST 36 | Nuevas epistemologías interculturales. Desafios para la educación y la


comunicación

Mariano Baez Landa (Centro de Investigaciones y Estudios Superiores en Antropología Social – CIESAS,
México); Alexandre Herbetta (Universidad Federal de Goiás – UFG, Brasil).
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El término interculturalidad se usa a menudo como adjetivo que califica mágicamente cualquier
planteamiento y acción que dice reconocer y atender la diversidad cultural, utilizando un discurso
políticamente correcto de defensa a ultranza de las tradiciones, costumbres y conocimientos
ancestrales de los llamados pueblos originarios (muchas veces lesionando los derechos de terceras
personas) como un imperativo ético-político frente a las amenazas del capitalismo neoliberal. Así, se
habla incluso de la interculturalidad como un nuevo estadio de desarrollo humano, como proyecto
cultural alternativo que presupone un plano horizontal de comunicación, intercambio y cooperación
del conocimiento. Evidentemente esta interculturalidad idílica no corresponde a la experiencia del
mundo vivo, el cual se encuentra atravesado por las categorías de etnia, raza, clase, género y
sexualidad, y donde se condensan las relaciones sociales basadas en la fricción, el conflicto, la negación
del otro, el racismo, la desigualdad económica, la homofobia, el sexismo, la violencia y el miedo a la
diferencia. La interculturalidad constituye un espacio interfásico que relaciona a varias culturas y éste
está atravesado por las múltiples determinaciones de la vida social que no se circunscribe a los
llamados pueblos originarios. La interculturalidad realmente existente, se compone de aproximaciones
emprendidas desde varias ópticas culturalmente diferenciadas, para construir puentes entre
poblaciones e individuos de culturas distintas. Parte de un concepto dinámico y diacrónico de la cultura
que se desarrolla en escenarios de relaciones sociales asimétricas y enmarcadas por estructuras de
poder. Es ante todo una interfase comunicativa que aspira a crear competencias suficientes que hagan
posible un verdadero diálogo entre culturas. Por ello el llamado diálogo de saberes solo puede
establecerse entre las culturas realmente existentes, que producen nuevos componentes y que se
apropian de otros, que se transforman y adaptan permanentemente para no desaparecer o ser
asimiladas. La educación intercultural solo puede ser viable si supera la crisis de la escuela y la
universidad del mundo contemporáneo, si asume su participación en la integración de nuevos
proyectos sociales donde se promueva el reconocimiento, respeto y convivencia no sólo de los
llamados pueblos originarios sino de toda la diversidad humana. El simposio propuesto pretende reunir
a un conjunto de actores participantes de proyectos educativos y de comunicación surgidos en
contextos interétnicos e interculturales que comuniquen sus experiencias y reflexionen

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colectivamente sobre posibilidades reales de construir nuevas epistemologías que sustenten


programas educativos y comunicacionales descolonizadores.

Biblioteca Oral Krahô: um espaço para a interculturalidade

Veronica Aldé

Em um contexto onde a “segurança cultural” deve ser estrategicamente pensada, professores


e anciãos Krahô vem se mobilizando para garantir que partes significativas de suas memórias
e expressões culturais possam permanecer em outros suportes, como a escrita e os registros
audiovisuais. Nesse sentido anciões e professores-pesquisadores Krahô propõe a construção
de Bibliotecas Orais que possam dar subsídios para uma educação indígena diferenciada assim
como para melhorar a comunicação intercultural com os não indígenas. Em 2011 os Krahô
foram convidado à participar do projetopiloto: Trabalho da Memória Através dos Cantos, de
registro e documentação musical do Museu do Índio do Rio de Janeiro. A iniciativa
governamental pioneira na atenção aos cantos indígenas, pretendeu aliar-se aos esforços
internos das etnias envolvidas, na preservação de suas memórias ancestrais, ferrenhamente
sustentadas pelos mestres indígenas, criando não apenas conjuntos de dados documentados
sobre o patrimônio musical desses povos, mas reflexões teóricas e práticas sobre a diversidade
de frentes de ações a serem empreendidas em torno deste tema que considerem a
diversidade sociocultural dos povos indígenas, suas especificidades, e, sobretudo, seu
protagonismo, demandando do Estado políticas e ações continuadas e de trato dinâmico e
delicado frente a esses saberes longevos, mas também moventes. A circulação e acesso à
conceitos, conteúdos e estéticas dos povos indígenas intermediada por materiais
(áudiovisuais, sonoros ou impressos) produzidos por equipes interculturais a partir de
matrizes epistêmicas próprias pode representar a abertura de novos espaços interculturais
Cantos filosóficos e a possibilidade de uma pluriversidade

Julio Kamer Apinajé

O presente texto busca apontar questões centrais para uma reorganização da universidade
brasileira, com o intuito de que a instituição se torne efetivamente democrática e se relacione
simetricamente com as diversas epistemologias presentes no país. Deste modo, comenta-se
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sobre a violência epistêmica presente na imposição e na reprodução de uma matriz de


conhecimentos eurocentrada, o que acontece normalmente nas academias brasileiras. Por
fim, propõe-se a elaboração de uma pluriversidade, composta por princípios contra-
hegemônicos, ecológicos e interculturais como meio de se fortalecer a autonomia do país.

Articulaciones entre tequio académico, aprendizaje basado en problemas en


el contexto de los procesos de formación de docentes indígenas

Antonio Carrilllo Avelar

En el marco de un proyecto curricular institucional, propuesto como un proceso de vinculación


entre las la Universidad Federal de Goiás de Brasil y la Universidad Nacional Autónoma de
México, como propuesta de revitalización e innovación académica con estudiantes indígenas
de posgrado de la UNAM, presentamos algunas reflexiones, a través de un proceso de
documentación narrativa de experiencias del tequio académico(forma de apoyo cultural entre
los pueblos originarios) y el Aprendizaje Basado en Problemas como una forma de producción
de conocimiento en el Posgrado. Nuestra finalidad es comprender a través de relatos de
experiencia de estudiantes indígenas, las teorías que subyacen sobre la producción de
conocimiento de un proyecto de vinculación institucional, como práctica de
internacionalización binacional. Iniciamos con los desafíos y posibilidades para cambios en la
práctica educativa al interior de un equipo de estudiantes indígenas que posibilitar el diálogo
de los saberes y cosmovisiones de los pueblos indígenas en cuanto a las demandas
contemporáneas de vida intercultural. Así mismo se contextualiza la formación docente en
Oaxaca México en contextos de interculturalidad, destacando las creencias, compromisos
sociales y culturales, reflexiones y valoraciones que los docentes expresaron sobre la
experiencia académica en que participaron y finalmente se esbozan algunas derivaciones
prácticas sobre esta propuesta formativa y de innovación.

Antropología audiovisual y ficción etnográfica

Mariano Báez Landa

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La antropología tiene en la etnografía su principal instrumento para el estudio de las culturas.


La práctica etnográfica trabajó originalmente con imágenes producidas por los sentidos del
investigador. Rápidamente nuestra disciplina incorporó tecnologías audiovisuales para escalar
su capacidad de registro etnográfico como una verdadera extensión y expansión de sus
sentidos. Así antropólogos, etnógrafos, viajeros, documentalistas comenzamos a utilizar el
grabador de sonidos junto con las primeras cámaras de cine y fotografía ya desde finales del
siglo XIX. La construcción y desarrollo de esta interfase tecnológica en la práctica de la
antropología constituye la ampliación y fortalecimiento de su capacidad para representar la
diversidad humana. Las maneras de representar y construir la diversidad humana responden
a racionalidades también diversas y muchas veces en tensión. El trabajo científico, académico
y artístico no escapa a las influencias de la teoría, la ideología, la posición política, los intereses
y los valores del sujeto científico o artístico. Se precisa ensayar metodologías que permitan
producir interconocimientos, es decir, lograr experiencias disciplinares y prácticas sociales
colaborativas que logren trazar mapas de conocimientos interculturales e interepistémicos.
La ponencia busca proponer la realización de ficciones etnográficas, con el apoyo de recursos
audiovisuales, como derecho y alternativa de grupos y sectores discriminados social y
políticamente para revalorar y revitalizar su tradición cultural.

Educação Indígena Akwẽ: entraves e perspectivas discutidas durante as aulas


no Comitê

Suety Líbia Alves Borges

Esta comunicação traz, para a discussão, parte dos resultados alcançados em um trabalho que
desenvolvi junto aos acadêmicos e acadêmicas Akwẽ Xerente, organizados por Comitê, no
Curso de Educação Intercultural do Núcleo Takinahakỹ de Formação Superior Indígena, da
Universidade Federal de Goiás, durante dois anos. Em consonância com os princípios e pilares
do curso, discutimos, durante esse tempo, o que vem a ser, para o povo Akwẽ Xerente, uma
educação intercultural e transdisciplinar. Nesse processo, foram vários os entraves, desde a
crise identitária de quem transita pelos dois mundos – indígena e não indígena –, passando
propriamente pela concepção Akwẽ de educação, chegando ao ponto alto do trabalho que
será apresentado nesse espaço: educação Akwẽ Xerente em uma perspectiva de Visão de
Águia, concebida como uma Teia de Aranha.

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Perspectivas Kaingang em diálogo com as Fóg: da produção do zine “Kamé e


Kainru: Cosmologia Kaingang" na Encontro de Saberes

Camila Torres Brum

Marília Raquel Abornoz Stein

Rumi Regina Kubo

Giulia Assunção Sichelero

Iracema Rã-Nga Nascimento

Esse relato trata de um trabalho coletivo desenvolvido no segundo semestre de 2017 com
base na cosmologia Kaingang, tematizada pelos Mestres Kaingang Iracema Rã-Nga e João
Padilha no módulo Plantas e Espírito, na disciplina Encontro de Saberes da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Proposta pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros,
Indígenas e Africanos (NEAB) como atividade de ensino transdisciplinar, a Encontro de Saberes
foi criada em 2016 no Departamento de Música do Instituto de Artes, inspirada no projeto de
ensino idealizado pelo etnomusicólogo e diretor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia
de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa (INCTI), José Jorge de Carvalho, e oferecido pela
primeira vez em 2010 na UnB. A proposta reúne mestres indígenas e afrodescendentes que
ministram aulas regulares no ensino superior, visando retomar conhecimentos e
metodologias antes válidos na sociedade e que foram reduzidos com base na Revolução
Científica europeia. A intenção é que o universo de saberes na universidade se expanda a
partir do diálogo interepistêmico entre os conhecimentos eurocêntricos e os saberes
tradicionais e pela presença física dos mestres, a se valorizar seu “saber direto” (CARVALHO,
2016) na plenitude do que estão sentindo, pensando, falando, performatizando e dialogando
com os estudantes. O objetivo desta comunicação é analisar, a partir de um trabalho
desenvolvido na disciplina, alguns dos fundamentos epistêmicos e metodológicos da Encontro
de Saberes. O trabalho se traduziu em um zine construído colaborativamente entre
estudantes, mestres e sua família, que teve como objetivo criar um material, com base em
linguagem dinâmica, ilustrativa e acessível, que contivesse informações sobre a história, o
pensamento e os modos de existência do povo Kaingang, para distribuição a baixo custo.
Segundo a cosmologia Kaingang, os seres, objetos e fenômenos naturais se dividem em duas
categorias, relacionadas aos gêmeos ancestrais Kamé e Kainru. O casal Iracema e João Padilha
representa a própria dualidade, que caminha e se harmoniza em conjunto. A vivência de
aproximação com os mestres faz brotar desde amorosidade e atenção até militância e
resistência, qualidades passadas pelos mestres através do contato direto, da escuta e do olhar.

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O resultado é uma experiência que segue reverberando no vínculo criado pelos estudantes
com os mestres e em quem entra em contato com o zine produzido e com a cosmologia
Kaingang.

Desafíos para el fortalecimiento educativo de la lengua y la cultura cabécar:


algunas propuestas y reflexiones

Guillermo González Campos

En los últimos años, diversos estudios han señalado la poca pertinencia de los procesos
educativos que tienen lugar en los territorios indígenas cabécares, especialmente aquellos
que se llevan a cabo dentro del territorio de Chirripó. Dada esta situación, este texto sugiere
y discute, desde una perspectiva lingüística, algunas propuestas de cambio cuya
implementación podría para transformar los procesos educativos de forma positiva y lograr
que la enseñanza de la lengua y la cultura cabécar en dicho territorio sea mucho más efectiva
y pertinente de lo que es actualmente. En particular, se aborda la necesidad de cambiar el
modelo actual de enseñanza tanto del cabécar como del español en la enseñanza primaria de
los territorios indígenas cabécares, el establecimiento de un contenido curricular
estandarizado en las asignaturas que tiene que ver con la lengua y la cultura de este pueblo
indígena, la importancia que conlleva para lograr estos procesos la normalización de la
ortografía y el sistema de escritura de este idioma y, finamente, la mejora sustancial de la
presencia del cabécar en el ámbito foráneo por medio de iniciativas (cursos, publicaciones,
ferias, etc.) que fomenten el posicionamiento de la lengua y la cultura cabécar entre la
población no indígena de Costa Rica.

Escuela Intercultural Charrúa Itinerante (ESICHAI): estrategias de formación y


capacitación interna del pueblo charrúa en Uruguay

Ana Maria Magalhaes de Carvalho

En el marco de los procesos de reemergencia indígena en Uruguay, los colectivos organizados


en el ámbito del Consejo de la Nación Charrúa (CONACHA) desarrollan estrategias internas
con el objetivo de reconstruir el pueblo charrúa frente a las políticas de exterminio e
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invisibilización conducidas por el Estado, contrarrestar los discursos sobre la extinción de los
indígenas —sancionados por la ciencia— y luchar por el reconocimiento de sus derechos
colectivos. En este proceso se apropian, deconstruyen y reinterpretan dispositivos de
invisibilización y de reproducción ideológica del Estado —entre los que se encuentran las
narrativas hegemónicas, los enunciados científicos y la educación oficial— para emprender
acciones en concordancia con sus posicionamientos y objetivos políticos y transformar su
realidad social. Si bien antes de la creación del CONACHA, en el 2005, realizaban encuentros
y talleres internos para fortalecer y reorganizar el pueblo charrúa, en los últimos años, con el
aumento de visibilidad de sus demandas en el espacio público, también sintieron la necesidad
de desarrollar estrategias para la formación de líderes que tengan pleno conocimiento de su
historia y de los derechos de los pueblos indígenas. En el 2017 crearon la Escuela Intercultural
Charrúa Itinerante (ESICHAI), con el objetivo de empoderar a las personas que se reconocen
como charrúas y como “descendientes” a través de la recuperación de la memoria colectiva y
la formación de activistas. Esta iniciativa no solo conjuga sus objetivos y sistematiza acciones
anteriores en un proyecto educativo interno, sino que también propone una nueva pedagogía.
La ESICHAI cuestiona la educación hegemónica que los invisibiliza y posibilita la emergencia
de una especie de “contraescuela”. Por un lado, a partir de las memorias orales y de una
lectura crítica de crónicas y textos académicos, los sujetos construyen colectivamente una
historia alternativa sobre los indígenas en Uruguay; por el otro, el aspecto intercultural de la
propuesta establece un diálogo entre el sistema de conocimiento occidental y el sistema
ancestral, basado en las memorias orales que aportan las distintas personas que se
autoadscriben como charrúas y como “descendientes”. Para esta ponencia me planteo
presentar los objetivos de la ESICHAI, en tanto propuesta educacional creada desde y para los
propios indígenas a partir de una perspectiva intercultural, decolonial y contrahegemónica,
las actividades que realizan, los resultados de las primera evaluaciones y los desafíos que
enfrentan. Esta propuesta se enmarca en el ámbito de la investigación etnográfica que vengo
realizando con el pueblo charrúa en Uruguay, desde 2015, siguiendo los lineamientos de la
antropología colaborativa.

Ensino superior brasileiro e povos indígenas: Os desafios da Universidade da


Integração Latino-Americana (UNILA)

Romina Celona

Clovis Antonio Brighenti

O presente trabalho pretende dar conta do mapeamento realizado a respeito da população


autodeclarada como indígena na Universidade da Integração Latino Americana (UNILA) no ano
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2018. O objetivo principal foi o relevamento da realidade acadêmica indígena, com vistas a
brindar dados para o primeiro edital de ingresso diferenciado para o ano 2019. Atualmente, a
instituição contempla estudantes de mais de dez povos indígenas e oito países de América
Latina e Caribe. Existem nela, multiplicidade de sociedades indígenas que contam com formas
de organização social e política diversificada, situação que propiciaria um espaço de
intercambio de conhecimentos ameríndios contemporâneos. Para o estudo, se realizaram
entrevistas, questionários e uma revisão bibliografia sobre temáticas de educação e políticas
de ações afirmativas. Com tudo, a observação participante e os encontros de
acompanhamento com os acadêmicos atuaram como base desta pesquisa. A promessa
moderna sobre as garantias do acesso igualitário a educação, tem se visto seriamente
comprometida com o aprofundamento das desigualdades no continente. Resulta necessário
indagar nas causas que dificultam o acesso as instituições de ensino, visando colaborar na
elaboração de estratégias em pôs da construção de um sistema educacional cimentado em
equidade e justiça social. Os povos indígenas americanos, são grupos vastos e diversos que
apresentam características particulares que os diferenciam, o que impede análises e
interpretações homogeneizadoras das suas culturas. Assim "lo índio" atuaria como uma
categoria supra- étnica e relacional entre indivíduos e grupos tendo ao Estado nacional, como
agente fundamental na configuração das identidades. Após a invasão da América, vidas e
conhecimentos de estas populações foram inferiorizados pelo processo de conquista,
causando perdas irreparáveis. Porém estes grupos permanecem em ativa resistência ao ethos
civilizador europeu. A educação têm atuado historicamente tanto como espaço disciplinar de
corpos e mentes, quanto como um recinto homogeneizador de saberes em pós de cânones
educativos classistas. Nas ex-colônias europeias anexam- se a estas características, práticas e
conteúdos de ensino permeados por paradigmas etnocentricos. Foi só nas últimas décadas,
que o Brasil sancionou leis estimulando o ingresso de minorias políticas no nível superior,
criando-se editais específicos para estas populações. Nos casos dos estudantes consultados
na UNILA, foram uma constante -além da problemática econômica- os relatos sobre as
dificuldades com alguns códigos e consensos com o campo acadêmico. Os povos indígenas,
demandam cada vez mais escuta e diálogos participativos nas políticas públicas de ensino que
os afetam, para construir assim uma Universidade Federal mais plural e respeitosa com povos
que a conformam.

Reflexiones acerca de las narrativas orales y visuales en los procesos de salud


y enfermedad del pueblo Iny de las aldeas Buridina y Bdè-Brè de la ciudad de
Aruanã (GO - Brasil)

Jacqueline Isabel Ledesma Correa

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Entre los años 2012 y 2014 realicé un proyecto de investigación durante mi proceso de pos-
graduación en Antropología Social en la Faculdade de Ciencias Sociais, de la Universidade
Federal de Goiás (FCS-UFG- BR). La etnografía procuró conocer e interpretar las estrategias de
resolución de los procesos de salud y enfermedad del pueblo Iny- Karajá que vive en sus Terras
Indígenas (T.I.) homologadas ubicadas en el Municipio de Aruanã del Estado de Goiás, en la
región Centro Oeste de Brasil. El estudio se focalizo en la experiencia de relacionamiento del
pueblo Iny con los recursos que ofrecen las políticas públicas de salud indígena reglamentadas
y ejecutadas por medio del Sistema de Atenção em Saúde Indígena (SASI). Teniendo en cuenta
en relación a este eje las concepciones de salud y enfermedad expresadas por los
interlocutores de la comunidad Iny de Aruanã mediante narrativas orales y visuales. Iny es la
forma lingüística en que se presentan muchos integrantes del pueblo originario del Río
Araguaia, significa: “nosotros, gente verdadera”. Karajá es un etnônimo tupi-guaraní cuya
traducción es: “macaco grande”. En distintos momentos de la pesquisa al conversar con las
familias en las aldeas o con los trabajadores en salud, utilizan una nominación u otra. El recorte
empírico convoco como interlocutores etnográficos a familias InyKarajá y los agentes de salud
que trabajan en el SASI, indígenas y no indígenas. Los escenarios de trabajo de campo
comprendieron: las Aldeas Buridina y Bdè-Brè; el puesto de Salud Indígena, el Hospital
Municipal y el Centro de Salud ubicados en la ciudad de Aruanã; además de la Casa de Saúde
do Indio (CASAI) situada en la ciudad de Goiânia. Participé como observadora de aulas de
lengua Iny en la Escola Maurehi (Aldea Buridina) tuve varias conversaciones con la
coordinadora de la Escuela y profesoras, fui invitada por dos maestras de artesanato Iny a
participar en aulas de confección de objetos en cerámica y trenzado en palha1 que ellas
dirigen. Según André Toral el relacionamiento del pueblo Iny con el mundo Tori (término con
el cual los Iny denominan a los no indígenas) está pautado históricamente por procesos de
colonización violenta, dominación física y cultural. Es un pueblo que ha luchado y resistido,
reivindicando su tierra, tradiciones culturales y autonomía. La región Centro Oeste de Brasil y
el valle del río Araguaia, territorios de origen y asentamiento ancestral del pueblo Karajá, han
sido históricamente preciados y objeto convocante de las estrategias políticaseconómicas -
expansivas del Estado Nación Brasileño (Toral, A. 1992). La Constitución de 1988 reconoció el
derecho de los pueblos indígenas a sus tierras, políticas sociales adecuadas a sus
especificidades culturales, auto representación jurídico-política y preservación de su identidad
cultural (GARNELO et al., 2012). Desde agosto del año 1999, la responsabilidad por la
ejecución de acciones en salud indígena que se hallaba bajo la órbita administrativa de la
Fundação Nacional do Índio (FUNAI) pasó a ser competencia de la Fundação Nacional de Saúde
(FUNASA) (ibíd.). En ese mismo año se formula la política nacional de Salud Indígena,
reglamentada y formalizada con la promulgación de la Ley Arouca, Núm. 9836/1999, que
procura contribuir a las exigencias en salud propias de la realidad indígena (BARROS, 2011).
Esta ley crea el SASI, formaliza la creación de los Distritos Sanitários Especiáis Indigenas (DSEI)
instituye la representación indígena en los Conselhos Estaduais de Saúde (CES) y Conselhos
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Municipal de Saúde (CMS) (ibíd.). La forma de organización del modelo de atención en salud
indígena, estaría sustentado en proyectos con inspiración del Sistema Único de Saúde (SUS) y
participación de la FUNAI, ONGS, Universidades y organizaciones indigenistas (VERANI, 1999).
La Constitução Federal de 1988, fue la primer Carta Magna que otorga un capítulo específico
acerca de la protección de los derechos indígenas, reconociendo la capacidad de organización
de los Povos Indigenas para defender sus derechos e intereses, asignando al Ministerio Público
el deber de garantirlos (TORRES et.al.2008). En el año 1990 es la primera vez que la Salud
Indígena es discutida en el ámbito del Sistema de Salud Pública brasileño, anteriormente “era
pautada por políticas indigenistas tutelares” (FUNASA, 2009). Al momento del trabajo
etnográfico los líderes Iny de las aldeas de Aruanã, consideran que los proyectos de salud,
educación y otros para los indígenas, siempre tienen tutores y los nombran: FUNAI, Ministério
da Educação (MEC), FUNASA, Municipios. “Tudos nos tutelam”. Las perspectivas y fórmulas
que habitan los decretos que sustentan el principio de atención diferencial, consignadas en
“contemplar la especificidad cultural” se traducirían como: respetar y articular los sistemas
tradicionales de salud indígena, sus concepciones y cosmologías relativas a la salud y
enfermedad y organización social (dentro de la estructura organizacional biomédica). Al decir
de un interlocutor Iny: “conciliar los dos lados”. Los pobladores Iny-Karajá con los que se
construyó esta pesquisa, diseñaron la salud y la enfermedad y en ciertas circunstancias
cotidianas solicitaron ser fotografiados. Las narrativas visuales y orales conforman mensajes
estéticos y políticos en las que expresan sus experiencias en los itinerarios interculturales en
salud y educación. El acto narrativo habilita y liga espacios de encuentro: el de las vivencias
íntimas de los individuos inscriptas en contextos históricos, sociales y culturales específicos
(CARVALHO, 2003). Y el de la posibilidad de 4 representación y re-significación como forma de
creación de conocimiento, cimentado en lo re-vivido, matrices dialógicas y críticas
confrontaciones. A partir de las mismas y de los relatos de los trabajadores de la salud de los
distintos servicios etnografiados se pretende en esta ponencia generar algunas líneas de
reflexión, de acuerdo a ciertos aspectos observados en las formas de relacionamiento y
comunicación en el campo de la salud indígena que considero se encuentra íntimamente
amarrado al campo de la educación intercultural. Ámbitos que a su vez son transversalizados
por las densas construcciones y concepciones sobre Derechos Humanos que adolecen por
veces de un intenso bies generalizador y de una praxis distante de la realidad subjetiva de las
comunidades indígenas; aspectos que son interpelados por los Iny y por trabajadores tori. Tal
como afirma Ercivaldo Damskẽkwa Xerente en sus reflexiones acerca de estos presupuestos
articulándolos con las ideas de Erhard Denninger: “Entretanto, na pratica as ações de
efetivação desses direitos ainda são muito fragmentadas. E uma luta árdua para os
conquistados serem reconhecidos e seus direitos garantidos como povos específicos. Ainda se
trata de uma legislação “abstrata” em relação a realidade vivenciada pelos povos indígenas
brasileiros que vivem hoje nos vários estados do território nacional”. (Damskẽkwa Xerente,
pág. 388, 2017). La concepción y representaciones de los Derechos Humanos son resultado de
los imponderables de la convivencia humana, producto por lo tanto de múltiples aprendizajes

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y sufrimiento social, cultural. El sufrimiento es un proceso complejo inherente a la vida


humana posible de ser interpretado desde una mirada antropológica, como una experiencia
política contextuada que configura un proceso social corporificado en sujetos históricos
(VICTORA, 2011). Como afirma Kleinman: “o sofrimento social resulta do que o poder político,
econômico e institucional produz nas pessoas e, reciprocamente, de como essas formas de
poder, elas próprias, influenciam as respostas aos problemas sociais” (VICTORA, 2011, p.3
apud, KLEINMAN et al., 1997) La protección de los derechos humanos se va construyendo a lo
largo de la historia, el catálogo de derechos se amplia y alimenta de las diversas situaciones
por las que atraviesan y se ven afectadas personas, grupos y comunidades. Dentro de esas
posibles circunstancias nos encontramos con los procesos de discriminación, estigmatización
y etnocentrismo. Existen individuos, grupos y colectivos que históricamente han sido y son
objeto de tales procesos, para los mismos se han redactado derechos y protecciones más
específicas. Se identifican por veces como grupos vulnerables, siendo más indicado expresar
que son grupos: subalternizados y vulnerabilizados. Algunos de estos grupos en situación
especial, serían: las mujeres, los niños, niñas y adolescentes, los pueblos indígenas, los grupos
afro descendientes, los adultos mayores, personas con algún tipo de discapacidad, personas
afectadas por sufrimiento mental, personas refugiadas, desplazadas y migrantes; personas
con diversas preferencias y/o identificación sexual y de género (LGTBI), personas privadas de
libertad. Importa destacar que en las políticas públicas interculturales y sus dinamismos
cotidianos, la generación, la condición de salud y enfermedad y el género se articulan de
distintas maneras con otros rasgos de identidad social y marcadores “de diferencia” en un
mismo sujeto social. Como por ejemplo: la orientación sexual e identidad de género, la
desigualdad y exclusión social, el conflicto con la ley, el origen étnico-racial. Estos aspectos y
contextos definen de diverso modo el alcance, acceso y los límites a las lógicas y entramados
de aceptación, inclusión y/o mayor exclusión-distancia social (Braz, Mello, 2011). Además de
incorporar una visión crítica de las perspectivas de Derechos Humanos en los itinerarios
terapéuticos del pueblo Iny, se pretende problematizar y exponer los diversos
“multiculturalismos” que permean y se hacen presentes en el desarrollo de la atención en
salud indígena del Distrito de Saude Araguaia. Stuart Hall sostiene que el multiculturalismo no
implica una doctrina conclusa y contextos situacionales de articulación y prácticas con un claro
cierre. Aunque en el cotidiano de los servicios de salud indígena explorados, se identifica una
suerte de multiculturalismo conservador con el apremio de asimilar la diferencia indígena a
las formas burocráticas “do homem branco” y a la tradición biomédica hegemónica (HALL,
2010). El contacto con la diferencia moviliza una mezcla de sentimientos y elementos
racionales e intelectuales que se ponen en juego ante las dificultades producidas en la
interrelación de jeitos de fazer y ser, pertenecientes a mundos que se exponen y marcan
reiteradamente en las narrativas como bien distantes y/o distintos. Según Tzvetan Todorov
(2012) la actitud de tomar los valores propios como universales no sería solo una característica
europea, sino de cualquier población; para el pensador búlgaro: “tenemos dificultades para
vernos a nosotros mismos a través de los ojos del otro como distintas instancias de una misma

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humanidad y percatarnos que somos un lugar de reencuentro de todo lo que nos ha


influenciado” (TODOROV, Entrevista PUCP, 2012). En paralelo a estas líneas de análisis se
encuentran las posibilidades de construcción y constitución de concepciones de
interculturalidad, en sus diversos grados y matices: más tradicional, funcional al sistema,
sostenida en presupuestos de superficial tolerancia y cohesión social ambigua, con un
marcado sentido e intención de control y estabilidad social ideal burócrata (Walsh 2009).
Durante la pesquisa efectuada resultó significativa la intensidad con que La Cultura es evocada
como un obstáculo- esencia a ser esclarecido y superado. Se resaltó la existencia de obstáculos
culturales que impedirían la realización optima de las acciones en salud indígena con soporte
financiero del Estado y sus representantes que explicarían, las negligencias, los conflictos y
contradicciones confinando y reificando La Cultura como sustancia inmanente (FASSIN, 2002).
La historicidad y desenvolvimiento paradójico de las políticas y economías de vida a las que
están sujetos o de las que han sido objeto los pueblos indígenas, los trayectos de memoria
muchas veces no se tienen en cuenta (FASSIN 2002, VICTORA, 2011). Tal como ocurre a veces
en las políticas interculturales educativas, en el campo de problemas de la salud indígena en
este contexto etnográfico particular, no se consiguió entrever la importancia de los procesos
que se desenvuelven en territorios que intentan articular las diferencias culturales, como
espacios “entre medio”. Interesantes en la hora de elaborar estrategias de representación
cultural e identitaria; teniendo en cuenta por ejemplo que en sus dibujos los Iny recurren al
poder de sus tradiciones, como capital simbólico eficaz tal vez a ser re inscripto en las políticas
de representación en salud y enfermedad indígena. (BHABHA, 1996). Es necesario tomar la
interculturalidad como significante y concepto posible de ser interpelado y evaluado en la
praxis cotidiana por los sujetos que protagonizan y participan de las diversas economías y
políticas de vida en las que son “beneficiarios”. Por otra parte resultaría interesante tomar en
cuenta los vínculos interculturales en salud indígena desde una perspectiva crítica, como
propuestas, actitudes y procesos que están siendo, generan conflicto, manifestando
claramente asimetrías, violencias simbólicas y concretas. Que en su contrapunto producen a
su vez: un quantum de conocimiento crítico y creativo, un plus de poder epistemológico
provocante que por veces queda oculto, es negado o no se le permite emerger con toda la
fuerza que posee, aspectos que a su vez se intentarán analizar en esta ponencia. La misma
será acompañada de una selección de dibujos y fotografías en el formato/soporte que se
considere adecuado.

Reflexiones y retos de lectoescritura en contextos plurilingües de Chiapas

María Teresita Pérez Cruz

Gloria Patricia Lodesma Ríos

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Trabajar proyectos educativos en contextos plurilingües de Chiapas y acercarnos a procesos


de aprendizajes de niños de educación primaria, nos ha permitido darnos cuenta de tres
prioridades: 1) el enfoque filosófico con que se llega al campo de acción, 2) la metodología de
investigación pertinente y 3) las necesidades de formación de quienes nos involucramos en el
proceso educativo. Todo ello con la intención de comprender el proceso de lectoescritura,
entendiendo que cada contexto demanda sus propias particularidades y coincidencias
universales, es decir diversas epistemologías que expresa el lenguaje. En este sentido nos
queda claro la relevancia pedagógica de aplicar el enfoque de Práctica Socionatural de
Lenguaje como base de la literacidad y la metodología de investigación participativa para la
toma de acuerdos. Si bien es cierto con ello hemos insistido en plantear la necesidad de
articular los contenidos culturales del contexto de los niños a la escuela, como acto
comunicativo estratégico de aprendizaje de la vida, lo cierto es que también nos ha permitido
ver necesidades no sólo de los niños sino de quienes nos involucramos en proyectos desde la
comunidad, demandándonos más elementos en nuestra formación. El objetivo de enseñar a
leer y escribir a los niños partiendo de su lengua materna y segunda lengua, es ideal en el
proceso de formación escolar y un discurso comúnmente escuchado en el subsistema de
educación indígena en México. Sin embargo es un desafío ser contribuyente en las condiciones
de cada espacio escolar en Chiapas, debido a las múltiples situaciones políticas y económicas
posible a encontrar que condiciona el desarrollo de planteamientos pedagógicos no
establecidos dentro del programa escolar oficial. Frente a ello se desborda un sin número de
reflexiones sobre las experiencias de proyectos de lectoescritura con niños de la cultura maya,
hablantes de tseltal y tsotsil que se socializan en esta ponencia.

Relato de experiências com o Projeto “Palavra Pulsante: tecendo


aprendizagens por meio da Literatura Indígena"

Marcilea de Freitas

A comunicação oral proposta traz o relato de experiência com o projeto de pesquisa-


intervenção em andamento: “Palavra Pulsante: tecendo aprendizagens por meio da Literatura
Indígena”, apresentado ao Programa de Pós-graduação em Ensino e Relações Étnico-raciais
(PPGER) da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). O projeto parte primeiramente do
interesse em demonstrar a pulsação da palavra literária indígena. Por outro lado, se propõe à
tessitura de aprendizagens nas práticas comuns do dia-a-dia – nas “artes do fazer” como diz
Certeau (1998), entendendo o cotidiano escolar como espaço político e necessariamente
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intercultural de diálogo com o outro. Dessa forma, pesquisar, trazer para a sala de aula e
dialogar com as produções literárias indígenas pode ser uma possibilidade de adquirir e
produzir conhecimentos que colaborem na desnaturalização dos estereótipos e preconceitos,
gerando espaços de audibilidade e visibilidade desses povos. É a possibilidade de criar um
canal para que o reconhecimento e protagonismo indígena em suas memórias, histórias e
saberes historicamente construídos, e que foram apagados intencionalmente pela cultura
colonizadora prevalecente até os dias atuais. Além disso, a pesquisa representa a
possibilidade de trazer a reflexão e o debate a respeito da etnicidade e da interculturalidade
na sociedade brasileira e na sua formação. A discussão teórica dos diversos temas que
envolvem o projeto se fundamentam no pensamento de autores indígenas como Graça
Graúna, Daniel Munduruku, Edson Kayapó, Ailton Krenak e Eliane Potiguara, entre outros.
Além desses, teremos como base os estudos decoloniais de Catherine Walsh, Enrique Dussel,
Walter Mignolo e outros autores que discutem a interculturalidade. É pois nessa perspectiva
que situa-se esse projeto de pesquisa-intervenção - nas mil maneiras de caça não autorizada
(Certeau, 1998), reinventando através da produção literária indígena o cotidiano das aulas de
língua portuguesa e produção textual de turmas de primeiro e segundo ano de uma escola de
Ensino Médio no Extremo-sul da Bahia. Busca-se assim, o “apagamento das fronteiras”
(Graúna, 2013) que têm mantido à distância da escola os textos de autoria indígena.

Um breve panorama da “pop-culture” indígena

Vítor Castelões Gama

“Pop-culture” é hoje um dos campos culturais de maior alcance e rentabilidade. Então, não é
surpresa a constatação que, cada vez mais, diversos grupos indígenas estejam se apropriando
das técnicas da cultura popular e criado obras que questionam e direcionam as maneiras como
estes grupos são representados nos quadrinhos, jogos, séries televisivas e na literatura de
massa. O objetivo dessa comunicação é fazer um levantamento de algumas dessas obras
contemporâneas, com uma breve exposição narrativa das mesmas. Ademais, serão focados
dois movimentos atuais da ficção científica: o “futurismo indígena” proposta pela
pesquisadora Grace Dillon e o “neoindígenismo” praticado principalmente no Peru, Bolívia e
Equador.

Aproximações interculturais mediadas pela produção audiovisual na


universidade: um relato de experiência
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Marcelo Roberto Gobatto

Juliana Barros de Oliveira

Gulherme Mello

O trabalho apresenta uma reflexão sobre os movimentos de aproximação e a convivência


entre docentes e estudantes não indígenas do Curso de Artes Visuais e o Coletivo de
Estudantes Indígenas da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) no estado do Rio Grande
do Sul, Brasil. Mediada pela produção visual e audiovisual, a aproximação entre esses atores
vêm constituindo espaços de trocas, aprendizagens e afetividades que transbordam os
espaços convencionais de ensino-aprendizagem de estudantes indígenas e não indígenas no
ambiente acadêmico. Nesse sentido, o trabalho relata encontros e experiências que se
desenvolveram desde 2017, tanto a partir de demandas dos próprios estudantes indígenas -
registro audiovisual do evento “Raízes e Resistência Indígena” organizado pelo Coletivo e a
produção do vídeo de divulgação do processo seletivo específico para ingresso de estudantes
indígenas -, quanto a partir de proposições do Curso de Artes Visuais - em especial uma oficina
de fotografia realizada por formandos do curso com mulheres do Coletivo indígena. A análise
demonstra que a abertura desses espaços de trocas contribui para a qualificação da política
de ações afirmativas na academia na medida em que possibilita aprendizagens interculturais
baseadas no respeito, na busca de empatia e de compreensão mútua entre diferentes modos
de ser e viver e também diferentes modos de ocupar a universidade. Destaca-se a
potencialidade das produções visuais e audiovisuais enquanto meios de forjar novas
visibilidades para o segmento indígena dentro e fora da universidade, em especial para as
mulheres do Coletivo indígena na FURG no que refere à possibilidade de produzir a imagem
de si e do outro, bem como de poder narrar sua própria história sem mediações. Por fim, a
reflexão dialoga com a noção de interculturalidade crítica na obra de Catherine Walsh (Walsh,
2013) e com as análises de Bergamaschi (2014) sobre os intelectuais indígenas e a
interculturalidade na educação. Ainda, o trabalho tem aporte na noção de colonialidade na
obra de Aníbal Quijano (2010).

Educação intercultural, protagonismo e autonomia política: a experiência do


Povo Munduruku no Projeto Ibaorebu

Izabel Gobbi

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André Raimundo Ferreira Ramos

Ademir Kabá Munduruku

Claudeth Saw Munduruku

O presente trabalho tem como finalidade apresentar reflexões suscitadas pelo Projeto
Ibaorebu de Formação Integral do Povo Munduruku (Pará – PA/Brasil), uma experiência de
formação diferenciada em Magistério Intercultural, Técnicos em Enfermagem e em
Agroecologia, que se constituiu como um espaço privilegiado de exercício da
interculturalidade, da autonomia e do protagonismo Munduruku. A metodologia do Ibaorebu,
centrada na pesquisa e na transdisciplinaridade, privilegiou a valorização de conhecimentos
voltados a uma formação que dialoga com os significados de “ser homem” e de “ser mulher”
Munduruku, ultrapassando os limites da escolarização e mantendo a coerência com o eixo
estruturante do Projeto, qual seja: Cultura e Direitos do Povo Munduruku. Desse modo, as
comunidades, suas lideranças e sábios, se envolveram em cada fase do processo, o que
repercutiu em ações baseadas na territorialidade e na afirmação da identidade étnica,
inclusive contribuindo para o enfrentamento de grandes questões políticas vivenciadas por
eles nos últimos anos, sobretudo nas relações com o Estado brasileiro. A situação paradoxal
entre o discurso legal, que reconhece as especificidades culturais indígenas e o direito aos
processos educativos próprios, e as tensões presentes nas tentativas de efetivação da
educação diferenciada e intercultural para os povos indígenas, no Brasil, desafia a retomada
dos debates, com vistas ao empoderamento dos povos em suas experiências de educação,
realizando reflexões sobre as iniciativas de autonomia articuladas aos processos educativos
que contribuem para transformar a educação básica, amparada em princípios de
interculturalidade crítica, descolonização e novas epistemologias possíveis.

Para além da colonialidade do poder e do saber presentes na geopolítica do


conhecimento: antropologia e povos indígenas

Paula Sâmara da Silva Santos Guajajara

No presente resumo pretendo apresentar uma reflexão acerca da relação que se estabelece
entre povos indígenas e antropólogos enquanto figuras de pesquisador e pesquisados,
ressaltando suas respectivas colocações em ambos os polos tendo como campo de análise
tanto a universidade sob seu carater (ANGELA DAVIS) quanto nas comunidades indígenas hora
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vistas como campo. Enquanto mulher indígena, a reflexão que proponho neste trabalho esta
diretamente relacionada com minha trajetória pessoal tanto na perspectiva acadêmica
quanto na interface de minha origem enquanto Guajajara isto se dá, principalmente, devido
a imagem criada e moldada acerca dos povos indígenas e o modo como seus contextos são
listados pela historiografia oficial, tendo em vista a imparcialidade desta posto que foi
conduzida de forma unilateral por não indígenas. A composição demográfica das
universidades do Brasil têm mudado consideravelmente desde a implementação da política
de cotas, o que, diretamente, impacta tanto na produção de conhecimento quanto na
formação de profissionais indígenas, de modo que as pesquisas e suas produções se
aproximam cada vez mais dos universos daqueles. Dessa nova perspectiva, a presença
indígena nas universidades tem-se situado em um momento único de visibilidade permitindo
um processo no qual o conhecimento passa a intervir e transformar as imagens romantizadas
sobre povos indígenas, de modo que, a contribuição teórica e politica cada vez mais
constantes passam a deslocar o eurocentrismo tantos de nossas referências bibliográficas
quanto de pesquisadores. De modo que cabe a nos acadêmicos indígenas reconstruir as bases
históricas e culturais da politica indigenista no Brasil. Ao tentar quebrar um pouco dessa
barreira epistêmica presente de pesquisas e pesquisados e maneira de como esses estudos e
alteridades são realizadas e uma vez que tem-se o próprio pesquisado analisando o trabalho
de seu pesquisador. Partindo do pressuposto de (MALINOWISKI) onde o nativo é antropólogo
de si mesmo. No Brasil, historicamente, boa parcela das pesquisas produzidas em âmbito
indígena foi majoritariamente realizada por pesquisadores brancos, onde constantemente
temos o desafio de lutar pela compreensão e sentido do Outro, sendo assim a antropologia
fez parte do processo de colonização que foi condição para o surgimento de pesquisador e
objeto de pesquisa, lógico que apesar dessa aproximação gerou-se muitas formas de
manifestação dos mesmos. É nesse cenário que o acadêmico indígena, em específico os
antropólogos indígenas surgem transformando o que antes se resumia em objeto de estudo
para passar a traduzir as realidades opostas. No entanto, não tem-se mais esse pensamento
de passado distante relacionado aos indígenas, estamos cada vez mais presentes e inclusive
na antropologia onde não se era esperado. Portanto vivemos um processo de ruptura na era
moderna e de inversão de vetores etnográficos, onde as revoluções sociais de minorias
implicam diretamente nas searas acadêmicas e profissionais e vice-versa, pois é justamente
na academia que se formam os processos de pesquisa e as relações.

Atualizando, juntando e esticando a universidade: considerações sobre a


possibilidade de uma pluriversidade

Alexandre Herbetta

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

A presente comunicação apresenta considerações iniciais acerca da consolidação de uma nova


base epistêmica, acessada para se pensar a educação escolar indígena e a universidade. Tal
situação tem relação com a emergência de um novo repertório conceitual, constituído na
dinâmica de um diálogo intercultural crítico. A situação é apresentada no contexto do Núcleo
Takinahaky de Formação Superior Indígena da Universidade Federal de Goiás. Um dentre
vários cursos de licenciatura intercultural criados para a formação de professores indígenas.
Isto no âmbito do movimento indígena organizado especialmente na década de 1980, de
legislação elaborada posteriormente e da efetivação de políticas públicas sobre o tema,
especialmente na década de 2000. Neste sentido, a experiência em tela, específica a este
espaço, busca apontar reflexões mais gerais e interessantes acerca de modelos de educação
escolar, trazendo reflexões sobre a interculturalidade, assim como propõe uma reflexão sobre
estratégias políticas decoloniais por meio da educação escolar e da universidade.

Políticas educativas, interculturalidad y alteridades (no) incluidas desde una


mirada decolonial

Lisandro David Hormaeche

La tensiones que se producen en la construcción de las identidades tiene, directa o


indirectamente, un impacto en el contexto escolar. En tal sentido, todo cambio en la política
educativa implica una fuerte tensión entre los grupos y contextos que perciben este cambio
como una esperanza o una amenaza a lo que cotidianamente está dado como seguro. En
general los cambios están pensados desde ámbitos de poder que posicionan la voz de
determinados grupos sobre otros. En líneas generales, este trabajo tiene cómo hipótesis que
los discursos y las leyes educativas conciben, implícita o explícitamente, las representaciones
sociales acerca de las alteridades construidas desde la colonialidad del saber y del poder en
las coyunturas de cambio normativos. En el caso de la Argentina y en particular a la provincia
de La Pampa a principios del siglo XXI, esta situación tensiona los procesos de implementación
de las políticas educativas. El abordaje del estudio de las representaciones sociales se proyecta
desde un enfoque interdisciplinario, aunque anclado en la historia de la educación con un
posicionamiento desde el pensamiento decolonial (Walsh 2004; 2007). Esto contribuirá
procesos de construcción de conocimiento y reflexiones profundas para modificar situaciones
cristalizadas en relación a la educación intercultural, en particular, en la provincia de La Pampa
considerando los ‘saberes otros’ que han sido históricamente relegados. Para ello, nos

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

posicionamos desde una historia de la construcción de sentido a partir de tensiones existentes


entre un sistema de pensamiento y las formas grupales o individuales de apropiación de dicho
pensamiento (Chartier, 1992). Las problemáticas socioculturales se estudian a partir de un
tramado de relaciones sociales significativas, en la transmisión de representaciones sociales y
en las interacciones cognitivas con el objeto social. Particularmente analizaremos desde
donde se construyeron las leyes, qué niveles de participación se establecieron en el ámbito
jurisdiccional para incorporar a las mesas de debate a los pueblos originarios y cuáles fueron
las acciones (y contradicciones) que el propio Estado desarrolló para visualizar y concretar la
(no) inclusión de las alteridades indígenas y los saberes otros en el propio sistema educativo
formal.

Redes Afro-Indígenas: uma análise das trajetórias acadêmicas através de um


olhar intercultural

Letícia Jôkàhkwyj Krahô

Marta Quintiliano

Vanessa Fonte Oliveira

O objetivo do trabalho é analisar três trajetórias acadêmicas de mestrandas do Programa de


Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Goiás (UFG). Sendo assim,
o trabalho busca refletir sobre os desafios, as dificuldades, as relações de exclusão,
permanência e marginalização de suas trajetórias na universidade, bem como a consolidação
de redes de afeto como forma de luta e resistência. A partir dessas premissas, a pesquisa se
contemplou através da descrição e análise, de três trajetórias acadêmicas (indígena,
quilombola e negra). O trabalho apresenta conceitos tais como, redes de afro-
indígenoafetivas, interculturalidade, intraculturalidade que trazem teóricas (os) para uma
melhor fundamentação e apropriação dos termos teóricos.

Pahte Mẽ Amjĩ Ton Xà Itajê Cunẽa, Nẽ Rỳ Ipinkrên Nare, Kôt Cu Pahtyj Mẽ To


Ihtỳj, Mẽ Pah Cunẽa Jakry Xà Caxuw: subsídios à prática pedagógica musical e
decolonial a partir de experiências escolares Krahô

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Ovídio Konry Krahô

Gregorio Huhte

A ideia deste texto é a de apresentar práticas pedagógicas musicais pensadas e executadas


por professores e professoras indígenas, especialmente do comitê Krahô, do Núcleo
Takinahaky de Formação Superior Indígena da Universidade Federal de Goiás. Estas
experiências escolares se realizam, em sua maioria, em escolas indígenas da Terra Indígena
Kraholândia. Nelas, pode-se identificar concepções interessantes sobre cultura, música,
educação e política, além de consolidarem novas práticas pedagógicas, mais adequadas a uma
escola indígena.Neste contexto, comecei a perceber o poder do não indígena em fazer tudo
que querem. Em dominar. Fazendo e impondo a educação escolar para o indígena. Na época
em que isso se fazia, observávamos dificuldades no desenvolvimento do estudante indígena.
Mesmo assim, de certa forma a escola funcionava, pois não havia outra escola possível. A
maioria dos indígenas demonstrava a enorme capacidade de se aprofundar nas letras, nos
sinais e símbolos e nos sons. Atualmente, outra escola é possível. A importância da música na
escola é muito grande. Ela atua para desenvolver a coordenação motora, fazer conhecer a
realidade própria, dominar a fala direcionada e ainda ensina o esquema de origem do modo
de viver. A música é fundamental para a formação do sujeito e está conectada a todos os
domínios da vida, como por exemplo aos animais, às plantas, ao pátio, ao calendário, à
organização social, às festas, aos instrumentos, ao tempo e ao território, como se poderá
perceber ao longo do livro. As crianças mehĩ aprendem observando as coisas em movimento,
em qualquer lugar, assim aprendem nos símbolos, sinais, canções, cânticos, no som.
Observando de longe o ritmo. A música para as crianças é a saúde. Ela educa, produz felicidade
e agrupa todas as espécies, produzindo o hábito de crescimento para a vida. No contexto mehĩ
a música é vivência, trabalho, festa, fartura e união. Constitui também vantagem no modo de
viver, na própria sociedade indígena, saber numerar e separar as coisas.A educação musical é
algo suficiente para o cotidiano indígena e também conduz ao ambiente que modifica o 16
pensamento, mostrando que a cultura é a resistência do modo de viver no mundo
contemporâneo. Hoje, os indígenas podem aprender a música mehἷ na escola. Além de
aprender a ler, escrever, dialogar em português e defender a comunidade local, e também
comercializar, negociar, viajar e dominar a tecnologia avançada.

O professor indígena como mediador cultural: entre o conhecimento


tradicional e o conhecimento técnico-científico

Raissah da Silva Laborda


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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

O objetivo deste pôster é refletir sobre o caráter social do professor indígena como mediador
cultural na trajetória educacional de jovens indígenas. O estudo realiza uma pesquisa
bibliográfica sobre as diversas formas de mediação cultural indígena docente, utilizando como
caso de estudo o Programa de Formação de Mediadores Culturais em Mudanças Climáticas e
Gestão Territorial realizado pela Forest Trends. Na atual conjuntura constitui uma
preocupação de diversas instituições e dos movimentos indígenas preparar os jovens para que
possam participar ativamente na gestão de seus territórios. Em relação ao papel de mediação
cultural o presente estudo mostra como o professor indígena é compreendido como peça
essencial para a criação de uma melhor educação exercendo a harmonização do diálogo entre
os saberes tradicionais e os saberes técnicos-científicos para transmitir e difundir
conhecimentos vitais às comunidades indígenas. O estudo aprofunda indagações para o
melhor entendimento à comunidade sobre a construção educacional dos jovens indígenas,
desenvolvendo elementos que acrescentam na construção do professor indígena como
mediador cultural.

(Re) construindo memórias em relações interculturais: uma ação educativa


no quilombo-indígena Tiririca dos Crioulos

Nivaldo Aureliano Léo Neto

Larissa Isidoro Miziara

Alecksandra Ana dos Santos Sá

Localizada no município de Carnaubeira da Penha, Estado de Pernambuco (região Nordeste


do Brasil), a Tiririca dos Crioulos se autorreconhece como um “quilomboindígena”. As
narrativas da comunidade afloram diversos processos de violências vivenciados (p.ex.,
epistêmica, racial e de gênero) que nos demonstram as formas de silenciamento conduzidas
para a invisibilização das diferenças. As identidades apresentadas por pessoas e comunidades
são relacionais, situacionais e historicamente construídas. O “re-conhecimento do outro”
deve se fundamentar no ato de escuta das alteridades, ao contrário da inclusão das mesmas
na totalidade de um sistema-mundo normativamente padronizado (DUSSEL, 1975). Por esse
caminho podemos problematizar o lugar de autoridade concedido às pesquisas que falam
“sobre um outro” ao invés de falar “com um outro”. A ação “Do buraco ao mundo: segredos,
rituais e patrimônio de um quilomboindígena” surge em 2014, permanecendo com atividades
contínuas até o ano de 2017, sendo viabilizada através de editais de incentivo à cultura e de

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3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

premiações nacionais. Proporcionando o inventário participativo das referências culturais


locais, a referida ação buscou fornecer os meios pelos quais as pesquisas pudessem ser
realizadas pelas próprias moradoras e moradores da Tiririca dos Crioulos em parceria com
pessoas externas à comunidade. Os frutos desse trabalho culminaram em obras didáticas
elaboradas em sistemas de co-autorias e disponibilizadas gratuitamente em um site,
www.culturadigital.br/tiriricadoscrioulos, além de uma exposição itinerante realizada no ano
de 2017. Constatamos que ao longo dos anos e do aprofundamento da pesquisa conduzida
pela próprias moradoras e moradores em seu território, a reflexão entorno das referências
culturais influenciou na relação com a memória que é (re)elaborada, atuando nos campos
discursivos das identidades e nas dinâmicas de trajetórias específicas de luta. Ao se entrelaçar
o pedagógico e o decolonial, assumindo que as lutas sociais também são cenários
pedagógicos, conseguimos ampliar o entendimento das pedagogias (e atos educativos) a
partir das práticas, estratégias e metodologias que se constroem tanto na resistência e
oposição, como na insurgência, afirmação e re-existência (WALSH, 2003). Emergem daí
“saberes da experiência” (BONDIA, 2002) que nos conduzem às “sabedorias resistentes” de
uma comunidade. A presente comunicação almeja compartilhar algumas experiências,
metodologias, desafios, aprendizados e dilemas da ação “Do Buraco ao Mundo” enquanto
processo educativo intercultural e antirracista, considerando outras epistemologias e
linguagens para o registro das memórias que compõem os diferentes processos civilizatórios
da sociedade brasileira.

Interculturalidade(s) na educação escolar indígena no sul do Brasil: reflexões


a partir do estar sendo de Professores Guarani

Dannilo Cesar Silva Melo

Nas legislações e normativas que orientam a organização da educação escolar indígena no


Brasil, a interculturalidade aparece como um de seus princípios fundamentais, embora o
termo possa apresentar diversas concepções. Nesses documentos, a compreensão de
intercultural é remetida ora ao reconhecimento da existência de diferentes matrizes culturais
ora à evidência da relação complexa entre povos plurais e distintos, ambas as noções
destituídas de um caráter de criticidade. Certamente, a atribuição da noção de
interculturalidade à educação escolar indígena no Brasil é um ganho, porém, essa
interculturalidade pode receber múltiplas interpretações, de acordo com as pessoas
envolvidas nos processos educativos, com os contextos socioculturais e com a comunicação
estabelecida entre os agentes da educação. Considerando a existência de diversas concepções

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3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

teóricas, políticas e acadêmicas sobre interculturalidade na América Latina, é possível refletir


sobre a existência não de uma única noção de interculturalidade na educação escolar indígena
nos contexto da região sul, mas de uma polissemia de interculturalidade(s). Além disso,
poucos são os estudos que identificam quais as compreensões de interculturalidades dos
diversos agentes envolvidos nessa área de atuação. Assim, esta investigação inicial se propõe
a refletir sobre quais concepções de interculturalidades os professores indígenas, em especial,
os professores Guarani no estado do Rio Grande do Sul, produzem em suas escolas e em suas
comunidades. Que diálogos e práticas são estabelecidos, de maneira efetiva? Para isso, adota-
se uma postura ética de estar junto com os professores Guarani em seus espaços de atuação
profissional, político e comunitário, percebendo a existência de um estar sendo professor
Guarani, com base na proposição teórica de Rodolfo Kusch. Junto a isto, busca-se uma
tentativa de diálogo intercultural crítico, na perspectiva de Raúl Fornet-Bettancourt, que
escape à interculturalidade idealizada nos documentos e proponha processos educativos
interculturais concretos e descolonizadores.

Trayectorias de los procesos de decolonización de los pueblos indígenas. El


caso de los zapotecos de Oaxaca, México

Manuel Ríos Morales

Desde una visión zapoteca busco recuperar por un lado las aportaciones propias de los
pueblos indígenas en la configuración de un pensamiento que nos ha permitido configurar
“otras” formas de conocer la realidad ancladas a procesos sociales complejos y a luchas
ideológicas propias del poder colonial de las sociedades contemporáneas. Aquí, junto con las
aportaciones de los intelectuales comprometidos se busca construir y deconstruir espacios de
reflexión encaminadas a entender las propuestas academicistas y políticas públicas que
buscan justificar y reproducir las formas de vida propias de las sociedades hegemónicos
contemporáneas. Mi participación pretende exponer la viabilidad de este reto sustentado a
partir en una cosmovisión donde lo sagrado, las historias de larga duración, la visión
humanizada y el principio de unidad y concatenación constituyen los pilares de ese
pensamiento. Por otro lado, se trata de debatir a quienes consideran una imposibilidad
reconstruir nuestro pensamiento desde una epistemología o un paradigma propio.
Decolonizar y resignificar los conocimientos y saberes desterritorializados de los pueblos
indígenas y subalternos, reconstruir las historias de larga duración truncados por las diversas
formas de dominación-colonización y al mismo tiempo, deconstruir la visión hegemónica de
la epistemología occidental que supone-impone formas diversas de violencia epistémica que

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ISBN: 978-65-5080-015-4
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en el entramado de la vida social configura procesos identitarios y representaciones propias


de la modernidad/colonial del poder, del ser y del saber ampliamente expuestas en distintos
momentos por intelectuales como Aníbal Quijano, Baoventura de Soussa, Catherine Walsh,
Darcy Ribeiro, Edward Said, Fausto Reynaga, Frantz Fanon, Hernán Neira, Joseph Llovera, León
Olivé, Miguel León Portilla, Santiago Castro Gómez, Silvia Rivera Cusincanqui, Gayatri Spivak y
Vine Deloria, entre otros. El escrito plantea un eje rector de análisis: El proceso de
reconfiguración étnica, social, cultural del pensamiento se haya anclado a una historia de larga
duración, a una cosmovisión donde existe unidad entre tiempo-espacio-vivencia y la
reconstrucción es una tarea pendiente, urgente y necesaria de los pueblos indígenas para
resignificar otras formas posibles de ver, de sentir y vivir la vida y el mundo.

Blog UFSCar de Muitas Línguas

Edmar Neves da Silva

Fernanda dos Santos Castelano Rodrigues

Graças as suas Políticas de Ações Afirmativas voltadas para os povos indígenas do Brasil, que
prevê uma vaga anual para indígenas em todos os seus cursos de graduação, a Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar) se tornou um grande pólo de diversidade cultural e linguística
no panorama das universidades brasileiras. Para traçar um diagnostico dessa diversidade
linguística e cultural, foi realizada em 2016 uma Iniciação Científica, bolsa CAPES/AC, vigência
2016-2017, que levantou as informações sobre as línguas indígenas faladas pelos estudantes
da Instituição e cujos objetivos gerais eram analisar as relações que os estudantes indígenas
estabeleceram ao longo de sua educação escolar com a língua portuguesa, constituir um
instrumento de diagnóstico da diversidade linguística dentro da UFSCar e divulgar essas
informações da maneira mais qualitativa possível para todas as instancias da universidade e
da comunidade externa, a fim de possibilitar ações de políticas de permanência estudantil, a
serem planejadas e implementadas por diversas instâncias universitárias. Como forma de dar
continuidade aos trabalhos iniciados na IC e cumprir com parte de seus objetivos, no Trabalho
de Conclusão de Curso (TCC), que está em desenvolvimento, criamos uma página em diversas
redes sociais – Facebook, Twitter e Instagram – e um blog para divulgar informações linguística
e culturais dos povos indígenas que estão regularmente matriculados nos cursos de graduação
da UFSCar, publicando semanalmente vídeos, textos curtos nas redes sociais e a aglutinando
todas as informações no blog. Para sua consolidação, esse projeto conta com o auxílio dos e
das estudantes indígenas, que se predisporão a gravar vídeos e contribuir na escrita dos textos
a respeito de seus povos, como co-autores, assim como das instâncias da universidade, como
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o Centro de Culturas Indígenas, a Secretaria Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e


Equidade (SAADE) e da Coordenadoria de Ações Afirmativas e outras Políticas de Equidade
(CAAPE), que contribuíram com o acesso às informações relativas aos estudantes indígenas
da Universidade. Esse TCC tem como metodologia a participação ativa de instâncias da
universidade e dos estudantes indígenas no processo de seu desenvolvimento, agindo como
parceiros do projeto. Nossos objetivos são: dar visibilidade para a diversidade linguística e
cultural presentes na universidade, buscando subsidiar ações políticas voltadas para os
estudantes indígenas da UFSCar; aproveitar as possibilidades que as mídias digitais fornecem
para divulgar informações sobre as línguas indígenas na Universidade.

Práticas interculturais de formação e atenção integral à saúde indígena:


conhecimentos indígenas e acadêmicos em diálogo no Ambulatório de Saúde
Indígena do Hospital Universitário de Brasília

Maria Helena Ortolan

Ao assumir, na década de 90 do século passado, uma nova estrutura estatal (neoliberal), o


Estado brasileiro passou convocar a sociedade civil a participar, com maior frequência, na
elaboração de políticas públicas, no planejamento e na execução de ações de setores
específicos estatais. No campo das ações indigenistas, passou-se a ter maior participação de
indígenas, o que foi considerado pelo movimento indígena uma conquista, embora agora
repensado por não ter correspondido totalmente às expectativas. A interculturalidade faz
parte da constituição desta participação indígena na implementação de ações de políticas
públicas, considerando a necessidade de estabelecer comunidades de comunicação para se
efetivar os diálogos entre agentes públicos e indígenas. É preciso compreender que para
garantir uma participação mais qualificada dos indígenas não basta promover mais
capacitações em conhecimentos sobre a estrutura do Estado, com objetivo de habilitá-los em
planejamento e gestão de políticas públicas. A questão é muito mais complexa, pela
necessidade de implementar mudanças estruturais mais profundas na sociedade brasileira e
no Estado nacional, que viabilizem a internalização do potencial da interculturalidade como
valor cultural e político. Enquanto existir nas relações interétnicas um poder político
prevalecendo sobre o outro na determinação de regras de interação, persistirão dificuldades
de participação indígena no setores de políticas públicas do Estado brasileiro. Minha proposta
neste Simpósio é apresentar experiências e reflexões, formuladas durante meus estudos pós-
doutoral no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências da
Saúde/Universidade de Brasília, sobre a iniciativa do Ambulatório de Saúde Indígena do
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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Hospital Universitário de Brasília (ASI-HUB) de constituição de redes interculturais de saúde,


na perspectiva de articular especificidades culturais, modelos de atenção e fatores
epidemiológicos. O ASI-HUB foi criado em 2013 por um esforço conjunto de estudantes
indígenas, docentes, pesquisadores e funcionários do Departamento de Saúde Coletiva da
Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília. O processo de sua criação traz
instigantes elementos para reflexão sobre a promoção de atividades de ensino-pesquisa e
extensão em Saúde Indígena, enquanto realização da proposta de políticas públicas de
construir novas práticas interculturais de formação e atenção à saúde por meio de diálogos
de saberes e de gestão compartilhada. Pretendo aqui refletir sobre alguns dos limites culturais
e políticos que são impostos à efetivação da "interculturalidade" no campo fronteiriço
epistemológico constituído pela articulação de práticas de saúde dos agentes indígenas e não
indígenas.

Interculturalidade em Sala De Aula? Algumas reflexões a partir da experiência


do Curso de Licenciatura Indígena da UFAC (Acre, Brasil)

Mariana Ciavatta Pantoja

O trabalho aqui proposto é uma reflexão a partir da minha experiência como docente no Curso
de Licenciatura Indígena (CLI) da Universidade Federal do Acre (Cruzeiro do Sul, Acre, Brasil).
Pretendo, a partir da descrição do desenrolar de algumas disciplinas ministradas e da
exposição de trabalhos realizados pelos discentes (professores indígenas), discutir que prática
intercultural foi possível nestas ocasiões. Nesta reflexão, a interculturalidade em sala de aula
estará sendo pensada como um espaço desigual de encontro de perspectivas e pessoas
diferentes entre si: os alunos esperando que a professora possa muni-los com os
conhecimentos científicos que não possuem e que sentem ser necessários para sua vida como
indígenas (e professores) no Brasil contemporâneo; a professora, por outro lado, esperando
que os alunos possam compartilhar seus saberes culturalmente diferenciados e potencializar
os conceitos e teorias por ela apresentados. Se os termos “desigual” e “diferentes” evocam
distância (social, cultural, étnica), a proposta pedagógica do CLI é de interação entre as partes,
as culturas, as epistemologias. Deve ser considerada, portanto, uma certa e inevitável tensão,
e sua produtividade. Mas também sua possível reconfiguração a partir de outros parâmetros
de diferenciação e aproximação tais como, por exemplo: a professora talvez não corresponda
ao estereótipo do “branco” devido a sua trajetória de vida e profissão, e os alunos também,
por sua vez, fugiriam à imagem convencional dos índios ao transitar no mundo dos brancos
com relativa desenvoltura (morando em cidades, por exemplo, manuseando smartphones e

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redes sociais, além da filiação à religiões evangélicas). Tendo como referência essa complexa
situação de interação entre docentes e discentes indígenas do CLI, este trabalho pretende
lidar mais concretamente com as seguintes questões: que apropriações fizeram os alunos dos
conteúdos propostos nas disciplinas ministradas? Que apropriações fiz eu, a professora, a
partir do retorno dos alunos? E, afinal, como nos afetamos mutuamente?

“Antes que as nossas bibliotecas morram”: Por que e para que os professores
indígenas de Rondônia pesquisam suas próprias histórias?

Luciana Castro de Paula

Sabemos que aos índios – sujeitos subalternizados, desumanizados pela violência do contato
– não foi permitido narrar suas próprias histórias em primeira pessoa. E que hoje eles quebram
esse paradigma, contam suas histórias de várias formas. No caso de estarem dentro da
universidade, uma das formas encontradas foi através dos trabalhos de pesquisa, que o curso
Licenciatura em Educação Básica Intercultural na Universidade Federal de Rondônia - campus
de Ji-Paraná, solicita durante o processo formativo. Esses trabalhos devem ser entendidos,
portanto, como um modo de os indígenas contarem suas histórias, que acaba estando
atravessada pelas ferramentas, metodologias, teorias e linguagens exigidos pelo fazer
acadêmico ordinário. Os textos produzidos são evidentemente textos indígenas, preservando
características da oralidade, como uma descrição minuciosa de mitos, acontecimentos,
história. Essas pesquisas também estão imbuídas da “árdua tarefa” da “recuperação da
memória cultural indígena”. Este ponto é impactante, pois essa carga de demanda pelo
registro de seus saberes vem muito em função de cobranças da própria comunidade, dos mais
velhos: “para que nossos saberes não acabem”. Com isso não se pretende defender uma ideia
de cultura estática e imutável, pois sabemos que ela está em constante transformação e não
parece estar em vias de desaparecer, como afirma Sahlins há pelo menos mais de vinte anos
(1997, 2008). No entanto, os conceitos antropológicos de cultura, identidade entre outros,
foram sendo também apropriados pelos índios e outras populações tradicionais, sendo muitas
vezes utilizados como forma de sobrevivência e resistência. Portanto, seus trabalhos de
pesquisa estão carregados de descrição da “cultura” (Carneiro da Cunha, 2009) e sedentos de
demanda por registro e documentação dessa “cultura” antes que “ela acabe de vez, ou antes
que as nossas bibliotecas morram” – biblioteca é como vários pesquisadores referem-se aos
sabedores, seus anciãos, considerados os 2 guardiões dos conhecimentos do povo. Os
trabalhos de conclusão de curso, em suma, são textos riquíssimos sobre assuntos que
interessam aos povos indígenas e também a nós, não indígenas, e que nos apresentam muitas

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

possibilidades de reflexão. Neste ponto, e como uma forma de recorte, interessa a este artigo
iniciar uma reflexão preliminar sobre como professores pesquisadores de distintos povos
buscam responder as demandas de suas comunidades. Mais especificamente sobre a
recorrência das ideias de “perda cultural”, de “resgate cultural”, ou ainda de “registrar para
não perder” que aparecem como principais objetivos de seus trabalhos de conclusão de curso.
Ou seja, por que e para que os professores indígenas de Rondônia pesquisam suas próprias
histórias?

Outras antropologias possíveis: reflexão a partir da experiência com


estudantes indígenas na pós-graduação em antropologia na UFG

Mônica Thereza Soares Pechincha

Há apenas sete anos, programas de pós-graduação em antropologia em universidades


federais brasileiras vêm, progressivamente, estabelecendo a destinação de cotas para a
entrada de discentes indígenas. O Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da
Universidade Federal de Goiás iniciou em 2015 a oferta de vagas específicas para pretos,
pardos e indígenas e, atualmente, conta com 08 estudantes indígenas matriculados e 06
aprovados na última seleção para ingresso em 2019. A entrada de indígenas nas pós-
graduações em antropologia sugere e estimula a consideração das ontoepistemologias
indígenas não apenas como matéria de estudo, mas especialmente na maneira de se fazer
antropologia ou de diferentes possibilidades de se fazer antropologias. Nesta comunicação
reflito sobre a abertura disciplinar para a inteculturalidade a partir desta experiência recente,
pontuando iniciativas e possibilidades suscitadas pela presença indígena, assim como por sua
produção intelectual na pós-graduação.

A presença e raízes indígenas no Brasil: experiências interculturais com novas


metodologias de ensino

Bruno Campelo Pereira

Patrícia Regina Vannetti Veiga

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Durante três meses do ano de 2018 foi realizado o curso "Yané Resewara: O Brasil é
Indígena!", tratando-se de uma formação, por meio do ensino intercultural, para professores
da rede pública de Campinas, nele se trabalhou a presença indígena e sua história no Brasil,
por meio das narrativas dos próprios indígenas. O fio condutor de sua reflexão está no que foi
seu principal meio de ação: o encontro, o diálogo, a interculturalidade, por meio do encontro
de educadores baniwa e convidados indígenas de outros povos e de educadores não-
indígenas com os desafios do ensino da história e presença indígena no Brasil. Como levar
essas discussões e conteúdos às escolas? Como trabalhar com elas nas salas de aula? Nossas
motivações atenderam as reivindicações de professores da rede pública de Campinas por mais
cursos de formação para atuarem com a temática indígena na escola, pelo contexto da lei
11.645/2008, que torna obrigatório o ensino da “História e Cultura Afro Brasileira e Indígena”
nos currículos nacionais. Sendo assim, o curso apostou na busca pela desconstrução do
chamado “senso comum” sobre as questões indígenas e da imagem estereotipada do “índio”,
ainda reproduzidas nos espaços escolares, nos livros didáticos e nas mídias hegemônicas. O
que gera preconceitos e legitima ações que negam os direitos das populações indígenas. Este
pôster trata, portanto, desta experiência de formação intercultural e interdisciplinar realizada
através dos encontros semanais entre os participantes, em que foram criados subsídios e
instrumentos pedagógicos para a realização de projetos e trabalhos dedicados ao diálogo
intercultural entre os conhecimentos e as ciências ocidentais e indígenas. Na experiência do
curso pudemos refletir sobre uma metodologia que buscava trazer os modos de vida indígena
para os diferentes contextos de aprendizagem, unindo-os aos conteúdos sobre história, arte
e cultura indígenas previstos nos currículos escolares. Por meio de ações que despertaram nos
educadores (as) relações entre a cultura e hábitos brasileiros com as raízes indígenas,
presentes na língua, ancestralidade, lugares, etc. Assim, a partir do conhecimento sobre as
diferentes realidades indígenas, os cursistas puderam reconhecer em suas próprias histórias
e práticas a presença indígena, este se mostrou um caminho importante e eficaz para o
respeito e a desconstrução dos preconceitos em relação a esses povos originários.

"Um índio de verdade na minha classe?" O indígena em contexto escolar


branco e urbano

Luciana Miranda Gomes de Queiroz

Historicamente, os povos nativos têm sido sistematicamente pressionados para serem


integrados à sociedade envolvente. E estes, ao adotarem elementos da cultura não-indígena,
têm sua identidade descredibilizada pelas instituições disseminadoras de conhecimento. Além

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disso, é de praxe que a mentalidade colonizatória ainda se faz presente na atualidade e em


diversas estâncias, inclusive na educação. Com isso, o presente trabalho coloca em pauta a
relação escolaindígena, tendo por objetivo investigar como a instituição escolar urbana e
branca lida com os estudantes indígenas presentes nela, tendo em foco a experiência do
estágio obrigatório com os Guajajaras da TI Santuário dos Pajés. Para isso, foi realizada uma
pesquisa explicativa-exploratória ao qual fora traçado como se estruturam os direitos dos
povos originários à educação, revisando o processo histórico desde legislações à memória do
movimento indígena. Examinou-se também quanto a inclusão de estudantes indígenas em
instituições urbanas nãoindígenas, realizando um balanço geral de experiências interculturais
pelo Brasil. Destas foram percebidas duas categorias: as bem sucedidas, que propiciam o
protagonismo indígena e as que apresentavam falhas expressivas, sem a construção conjunta
com povos indígenas. Por fim, analisou-se como se dão as ações da comunidade escolar para
contemplar as especificidades dos estudantes indígenas tendo a experiência do estágio
obrigatório requisitado para a conclusão do curso de Pedagogia como referência, esboçando
o perfil do sujeito indígena no DF e as particularidades da TI Santuário dos Pajés, já que os
fatores agrários interferem bruscamente no bem-estar e na identidade dos diversos grupos
étnicos. Numa perspectiva geral, alunos de raízes indígenas comumente se deparam com o
preconceito, racismo e discriminação generalizados, profissionais sem formação adequada,
que os culpabilizam por não se adequarem às metodologias de ensino, material didático
inadequado, distanciamento entre a escola e grupo étnico. Na escola observada, por exemplo,
o uso da língua materna e as pinturas corporais eram rotineiramente vetados. Com isso, a
formação de profissionais, bem como as principais estruturas das escolas comuns, de caráter
tradicional aos moldes colonizatórios, precisam ser repensadas de forma célere. É inadiável
que estas deem visibilidade aos sujeitos em classe, se aproximem da temática indigenista e se
voltem a uma educação intercultural e contra-colonizadora (SANTOS, 2015) e percebam a
educação do indígena como de corpo inteiro: físico mental e espiritual (MUNDURUKU, 2010).

Acompañamiento situado y dialogo intercultural desde el saber propio y el


saber universal: construcción colectiva en território

Ingrid Paola Calderón Ramos

Las prácticas de aula de los docentes etnoeducadores, se originan por la necesidad de brindar
cobertura y formación a niños y niñas de las comunidades indígenas apartadas del territorio
urbano central. Las comunidades desde la autonomía, dada por el decreto 2500, buscaron
bridar oportunidades de educación y acceso al proceso formativo de los niños y niñas, para

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ello, se pensó en la creación de los centros etnoeducativos, donde educadores indígenas


atienden población indígena y alijuna (no indígena), según necesidad contextual, además, se
organizan en aulas multigrado (un maestro, asignado a varios grupos de grados) para cubrir la
necesidad educativa de la región. El presente escrito, busca presentar las estrategias
diseñadas, luego de realizar observación a prácticas de aula, encuentro con grupos focales y
entrevistas semiestructuradas, pensando en lograr una acompañamiento situado genuino a
docentes indígenas que por su poca o nula formación académica, didáctica y disciplinar, no
generan articulación entre el saber propio y el saber universal, para ello se presentará un
estudio de caso, donde se proyectó acompañamiento personalizado, a docentes de dos
instituciones educativas rurales indígenas, en el municipio de Riohacha en La Guajira, se
presentarán los hallazgos obtenidos, respecto a la construcción de saber e identidad, desde la
propuesta de comunidades de aprendizaje, acompañamiento situado y dialogo intercultural.

Novas epistemologias interculturais: Desafios para a educação e para a


comunicação
Lucia Helena V. Rangel

Há algum tempo o interesse pelos jovens indígenas suscita programas oficiais (encontros,
oficinas, congressos) e diversas instituições empenham-se em promover a participação de
jovens nos encontros indígenas, nas articulações políticas, nas feiras e festivais esportivos e
culturais. Mas, e os jovens, o que pensam, o que querem, quais são suas expectativas, seus
desejos e por quais causas estão dispostos a lutar, são perguntas que são feitas apenas em
enquetes acadêmicas. O contexto da reflexão proposta é a inserção da juventude indígena no
cenário político dos movimentos indígenas e da vida em cidades. O ambiente urbano tem sido
espaço de conquistas de direitos e ampliação da consciência sobre o lugar do indígena na
sociedade brasileira, além de romper as barreiras do acanhamento e do silêncio imposto ao
longo da história colonial. Espaços urbanos, historicamente, sempre foram lócus de
invisibilidade para a população indígena na realidade brasileira. No entanto, uma série de
transformações no cenário político tem sido o fator mais favorável ao rompimento da
invisibilidade dos povos indígenas, em âmbito nacional. A presença indígena transforma as
cidades em local de afirmação de direitos indígenas, seja porque as sedes das associações
passam a possuir endereço urbano, seja porque as manifestações coletivas realizam-se nas
capitais, incluindo a capital federal, ou nos centros urbanos regionais. Por outro lado, os
antigos e mais recentes moradores indígenas das cidades, antes escondidos e invisíveis,
passam a participar dessas ações políticas e criam suas próprias articulações. Constroem uma
pauta urbana para os direitos indígenas, cujas principais reivindicações são: moradia,
educação, saúde, trabalho e geração de renda. Em contexto urbano vão, aos poucos,

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mostrando autoconfiança para sair do seu bairro e galgar posições nos movimentos políticos,
nas universidades e nos empregos onde possam auto declarar-se indígenas. São os jovens que
possuem mais facilidade para aprender ler e escrever, tornando-se assim o braço direito dos
líderes mais velhos na luta política e no domínio dos interstícios da burocracia estatal.
Passaram a ocupar os cargos nas associações e se apropriaram das gestões que os desafiaram:
gestão de recursos financeiros, ambientais, educacionais, de saúde, de estatutos, enfim tudo
o que implica a participação política e a conquista de direitos. A pauta de reivindicações é
grande, mas o destaque de algumas delas permitem analisar o contexto atual e os desafios
participativos. A demanda por educação, especialmente por ensino superior, tem sido a
principal no contexto urbano; ao mesmo tempo que a construção da escola indígena continua
a demandar esforços de formação de professores e elaboração de um ponto de vista
autônomo e descolonizado. A reivindicação principal pela demarcação de terras, comum a
todos os povos, em maior ou menor grau de envolvimento, requerem a participação ativa dos
jovens, em diversas situações. A produção cultural dos jovens abrange as artes cênicas,
plásticas, artesanais, literárias, visuais e musicais. Há expressões musicais características, tais
como o rap, além de festivais de cinema, produções áudio visuais e forte conexão com o
mundo virtual.

Construcción de ciudadanía en los murales zapatistas

Gloria Patricia Ledesma Ríos

Nancy Zarate Castillo

María teresita Pérez Cruz

Elsa Velasco Espinosa

Al cumplir un cuarto de siglo el Ejercito Zapatista de Liberación Nacional, -EZLNemprendieron


acciones para lograr la autonomía y la construcción de una ciudadanía étnica libertadora de
las políticas públicas del Gobierno Mexicano, refuerzan la ideología a través de los murales
encontrados en el territorio dominado por los rebeldes. Los murales analizados son
representativos de la lucha donde se observa cada movimiento, ruptura, lucha de los rebeldes
donde plasman el tipo de relación que desean al interior y exterior de las comunidades
zapatistas. El Ejercito Nacional de Liberación Zapatista de concentra en la construcción de su
autonomía y del buen gobierno; transformó su eje rector a lo político, social, económico,
naciendo así los "caracoles" en 2003, para articular con la junta de Buen Gobierno y los
comités de base las estrategias a implementar en sus comunidades. El centro político
denominado "caracoles" cobra vida día tras día por las actividades que ejercen sus habitantes,
se identifica como el sitio de reflexión de los zapatistas y la interacción con sus simpatizantes
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para conocer, intercambiar o aprehender de la lucha por la autonomía indígena. Con sus
acciones e ideología buscan que la modernidad, globalización y el tratado de libre comercio
no los reduzca a vivir en un lugar pequeño, en una reserva, en un espacio geográfico limitado,
luchan por preservar usos, costumbres, tradiciones, sin menoscabo de lo aprehendido e
internalizado con la conquista y su relación con los otros, con el estandarte de que posible que
todos los mundos quepan en uno solo, como afirma el lema principal de la lucha zapatista. Es
menester de los sujetos buscar la convivencia pacífica, de encontrar la libertad, paz,
comprender la multiculturalidad, la interculturalidad y aceptar las diferencias ideológicas,
políticas y sociales. Los "caracoles" no solo son un centro político, social, económico, va más
allá de cumplir con los satisfactores de sus integrantes, es un espacio público donde convergen
diversas nacionalidades, razas, posición ideológico-política, profesionistas. Aquí se
encuentran expresiones verbales, icónicas y escritas. Los caracoles son el centro de
representación del ideal de cohabitación, los sujetos que recorren el lugar no solo se
encuentran con una cultura sino también con un lugar donde la naturaleza expide acordes
musicales por el vaivén de los árboles, los sonidos de los animales, la belleza natural,
exuberancia, abundancia poco visto en otros espacios por la erosión, explotación de los
recursos naturales contaminación. En los espacios zapatistas se respira tranquilidad, armonía
tanto en el exterior como en el interior de los sujetos. Adentrarse en el corazón de las
comunidades zapatistas es encontrar una gran riqueza por la convivencia entre los sujetos, la
armónica naturaleza, las construcciones donde se establecen los comedores, tiendas,
viviendas, escuelas o centros de instrucción, espacios destinados a las reuniones de los
comités pero también sobre las paredes se observan coloridos murales que reflejan rostros,
figuras, siluetas, paisajes, familia, mujeres, hombres, niños. Las paredes cobran vida al
observar los murales porque en ellos se plasma " identidades culturales, o bien a través de
una lectura sincrética entre la propia producción vernácula y las producciones estéticas
eurocéntricas" (Calderón F. 1991:146). Los originarios eligieron el mural como forma de
protesta y al mismo tiempo como forma de construcción de la ciudadanía para denunciar las
políticas neoliberales y una forma de expresión para demostrar la vida colectiva y el imaginario
de cómo desean construir una nación y la ciudadanía. La pintura muestra apoyo o rechazo a
temas de actualidad y se ilustra como construyen la educación autónoma y la vida en
comunidad, su relación con la alteridad y con los pares. Los murales encontrados en el espacio
denominado "Caracoles" centro político de las bases del EZLN, responde al objetivo de su
nacimiento porque es un movimiento de protesta donde se plasman valores estéticos,
históricos, culturales, busca re significar el aspecto socio histórico y ahonda Calderón F.(1991)
en su texto Memoria de un olvido, que estas expresiones escudriñan para reinterpretar los
procesos históricos, para marcar las identidades diferentes para comprender la relación con
las estructuras políticas de poder y su marcado simbolismo. Concluye Calderón F. "El
muralismo fue y es un movimiento que en su producción pretende integrar lo nacional,
cultural y lo universal, cuyo propio acto potencia su capacidad de resignación crítica
permanente" (1991:149). Los murales incorporan al mundo actual, hombres y mujeres de

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todas las edades con o sin pasamontañas están pintados acompañados con leyendas alusivas
a las diversas actividades tanto de los mestizos como de los originarios, buscan temas que los
compenetre, que los identifique sin olvidar el tema central, los caracoles, centro de reflexión,
organización y pensamiento para lograr la vivencia y convivencia en la construcción de un
mundo sin fronteras no de nación sino de sujetos que rompan con paradigmas establecidos y
se encuentren, coexistan e intercambien saberes. La polisemia de los mensajes iconográficos
y escritos permite apreciar el rumbo del movimiento zapatista donde destacan los símbolos
del lenguaje, del caracol, los ojos vigilantes que escudriñan, que están al acecho para detectar
al enemigo pero sobretodo unos ojos que denotan diversas expresiones. El pasamontañas solo
deja al descubierto la mirada, trasluce sentimientos diversos, pero también sin expresiones.
La rica iconografía de los murales combinada con los colores admite apreciar los significados,
las representaciones, pensamientos donde el deseo de re-construir su pasado, explorar su
presente y sentar las bases del futuro. Los colores detectados en las imágenes encontramos
contrastes, sobresale el colorido, en otras, la sobriedad del blanco y negro para identificar a
través de la vestimenta la etnia a la que pertenecen. El mundo, los colores, los sujetos,
símbolos, caracoles, naturaleza, montaña, mazorca del maíz, signo del lenguaje, animales,
danzantes, manos de diferentes colores representando las razas, personajes históricos
rurales, signos musicales, dioses prehispánicos, dioses occidentales, armas, libros, familias
revolucionarias, rurales, campesinas la bandera mexicana arboles, ríos, pájaros son las
imágenes recurrentes encontradas en los murales. Observar lo que comunican los zapatistas
a partir de la iconografía, delinea la estrategia de tener un corpus teórico-metodológico, van
de la mano, la imagen como acto de comunicación y el método análisis de contenido que como
afirma Bardin (1996) el alcance, no es solo descriptivo, se toma conciencia de que su función
y/o o meta, es la inferencia, lo cual se tomará en cuenta, para conocer lo manifiesto y lo
latente en los murales Bardin nos permite profundizar en el método, porque nos dice que: “el
análisis de contenido de los mensajes que debería ser aplicable -con mayor o menor facilidad,
desde luego a toda forma de comunicación, cualquiera que sea la naturaleza del soporte
(desde el tam-tam hasta la imagen), con -el código lingüístico” (1996: 22). Y las pesquisas sobre
las imágenes ofrecerán los elementos adecuados para la deducción de los mensajes. Las
imágenes plasmadas por diversos artistas desde originarios hasta mestizos en el territorio
zapatista quedaran para la posteridad, para la historia, como legado del movimiento social
registradas en Chiapas en el siglo XXI como fuente de inspiración para el cambio. García
Canclini señala “Los murales sirven, más que para orientarse en la historia o en el espacio
contemporáneo, para reforzar experiencias colectivas y esquemas de comprensión adquiridos
en la escuela, en los libros y en los medios de comunicación” (2004, p.10) Los murales son
atemporales, ilustran, pero sobretodo marcan las luchas, conquistas, formas de vida de un
pueblo, comunidad, nación. Los murales son atractivos al sentido de la vista por su colorido,
el espacio que ocupan, paredes de concreto o de madera, permite prestar atención con
detenimiento y percibir detalle a detalle los cuadros iconográficos donde se observan las
subjetividades de los grupos simpatizantes y de los originarios. El resultado de los estudios de

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diez murales zapatistas, representativos de la lucha trazada durante 25 años tiene como
respuesta centrar su lucha en la educación autónoma, donde demuestren la ruptura del
paradigma tradicional donde delinean su propia estrategia en los programas educativos como
un medio de transmitir una participación social activa y desde esa perspectiva construir la
ciudadanía zapatista. En las pinturas se plasman a los hombres, mujeres, niños, ancianos,
originarios y no originarios donde confluyen para intercambiar saberes tanto dentro como
fuera de los espacios de los zapatistas donde aceptan a quienes abonan a su lucha para
continuar construyendo autónoma y ciudadanía. Los zapatistas a través de sus diversas
acciones construye ciudadanía a partir de que Merino Fernández señala: "No puede haber
ciudadanía sino existen cauces y posibilidades reales de participación. Dentro de este
contexto, la conceptualización de la ciudadanía ha vertido ríos de tinta, lo que hace difícil
llegar a un concepto único de la misma. Existen sin embargo puntos comunes en esta
diversidad conceptual. J. Ibáñez-Martín (1972) distingue dos corrientes principales de
convergencia. Corrientes que agrupo en los dos bloques siguientes: La ciudadanía como un
conjunto de derechos y deberes. La ciudadanía como forma articulada de construir y
desarrollar la humana condición social, comprometida y responsable en la construcción y
gestión de una sociedad solidaria, dinámica y, en última instancia, equitativa." (p. 2) Por lo
tanto, todas las acciones plasmadas en las pinturas permite observar que están construyendo
una ciudadanía activa, étnica, si, pero sin menoscabo de comprender, integrar y coadyuvar a
las tareas de reconstrucción al interior como al exterior de su territorio. La inclusión de todos
y todas permite observar que desean construir una unidad al interior y exterior de las
comunidades zapatistas, sin embargo, encontramos ciertas inconsistencias con los usos y
costumbres al otorgar un papel predominante a la mujer, cuando había estado relegada a las
tareas de casa y, hoy, son las principales actoras sociales, por lo tanto consideramos que
construyen una CIUDADANÍA donde la condición en la que el sujeto ejerce derechos y
obligaciones para participar activamente en la política de un territorio específico para la
construcción colectiva de una vida democrática.

Comunicação e povos indígenas: apontamentos e propostas para a


comunidade Kariri-xocó (AL)

Andressa Kelly Alves da Silva

Contrapondo-se à imagem superficial e as impressões carregadas de simbolismos folclóricos


por vezes aplicadas sobre os indígenas, é possível notar a presença cada vez mais marcante
desse grupo na internet, reforçando sua identidade e produzindo suas próprias narrativas e

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discursos. Nos estudos produzidos na área de comunicação indígena nota-se a criação de um


novo conceito, o de ciber-informações nativas, apontado pela pesquisadora Joana Tavares
(2013). Para a autora, o uso das tecnologias por parte dos indígenas está relacionado,
primordialmente, ao desejo de mudança, resolução de problemas e conquistas de direito. O
fenômeno conceituado como ciber-informações nativas por Joana Tavares aparece
anteriormente como ciberativismo indígena nas produções da pesquisadora Eliete Silva
Pereira (2012), responsável pela realização de um dos primeiros mapeamentos de sites, blogs
e páginas de relacionamentos indígenas no país. Para ilustrar a experiência brasileira, são
apresentados alguns dados de inclusão digital indígena e selecionados alguns espaços
desenvolvidos por indivíduos e coletividades indígenas enquanto estudo de caso, como o
portal www.indiosonline.net, reconhecido como uma referência em comunicação digital de
indígenas. Partindo desses conceitos, analisamos, mais especificamente, a presença digital da
comunidade Kariri-Xocó, localizada no município de Porto Real do Colégio, Alagoas. A área
indígena possui 699 hectares de terras demarcadas e uma população de 1.949 pessoas,
divididas em, aproximadamente, 400 famílias, que têm como principal fonte de renda o
artesanato. O intuito da pesquisa é entender de que forma as plataformas de autoria indígena
na internet colaboram para os processos de desenvolvimento social, preservação de heranças
culturais e para a luta pela consolidação de direitos. A partir disso, é apresentada uma
proposta comunicacional voltada para a divulgação e comercialização do artesanato
produzido na comunidade Kariri-Xocóprincipal fonte de renda local- destacando a utilização
das redes sociais como recurso estratégico de vendas. Entre os resultados, entendemos que
o uso das tecnologias digitais potencializa as experiências e a realidade da população indígena,
funcionando como um canal que oferece visibilidade às causas e lutas sociais que já existem
no meio off-line.

A integração de saberes e a formação de professores pesquisadores no curso


de Licenciatura Intercultural Indígena da Universidade Federal do Amapá

Elissandra Barros da Silva

Carina Santos de Almeida

Os Cursos de Licenciatura Intercultural Indígena no Brasil oportunizam o acesso ao Ensino


Superior e a construção de uma Educação Escolar Indígena autônoma e que atenda aos
anseios contemporâneos das comunidades. No século XX os povos indígenas foram inseridos
na “escola” de forma compulsória, através de uma educação autoritária, pautada nos
pressupostos da “civilização”, “integração” e “nacionalização” do Estado brasileiro. Hoje, essa
educação escolar não existe mais porque os povos conquistaram o direito de construir sua
própria escola. Desde que as Licenciaturas Indígenas começaram a ser discutidas e
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implementadas houve uma mudança na concepção da Educação Escolar Indígena e no papel


do professor indígena. A realidade dos povos originários no Brasil exige que este professor
atue também como pesquisador e liderança em suas comunidades. Equacionar dentro das
Licenciaturas Indígenas os múltiplos anseios das comunidades, instrumentalizando os
acadêmicos para que possam promover o diálogo entre saberes, com o domínio de
conhecimentos teóricos e metodológicos, além das ferramentas e tecnologias que fomentem
o desenvolvimento de projetos societários e a autonomia intelectual, tem sido o desafio,
cabendo a cada Licenciatura Indígena encontrar os caminhos condizentes com as complexas
realidades indígenas locais. Nessa perspectiva, o Curso de Licenciatura Intercultural Indígena
da Universidade Federal do Amapá (CLII/UNIFAP) tem procurado desenvolver atividades de
ensino, pesquisa e extensão que possibilitem a formação de professores pesquisadores e
atores políticos atuantes. Esta experiência é aqui discutida a partir dos resultados obtidos com
uma série de atividades integradas, originadas no CLII e desenvolvidos em oficinas, cursos,
palestras, projetos, pesquisas e seminários direcionadas as comunidades indígenas do Amapá
e norte do Pará nos últimos anos.

Território como lugar educativo: alternativa de educar para a vida e


possibilidade de resistência ativa

Lucilene Julia Da Silva

Maria Bertely Busquets

O objetivo desta comunicação é analisar a noção de Território como lugar que educa para a
vida, mostrando experiências em andamento no Brasil e no México por meio das evidências a
partir de experiências contemporâneas empreendidas como alternativas na formação de
professores indígenas e consequentemente de seus alunos. Essas experiências são marcadas
pelo esforço de resssignificar os valores atribuídos ao lugar de enunciação e práticas
educativas que constroem e reconstroem a concepção de possibilidades Território que educa
para uma nova forma de re-existir. Dessa maneira, o artigo pretende mostrar a emergência
de avançar nos estudos sobre território indígena onde emergem as práticas de convivência e
de conhecimentos próprios. Nesse sentido, trata-se de um esforço de mostrar por meio das
experiências, em curso nos dois países, acerca desse lugar que também carrega lugares de
memórias, oralidades e subsistências ativas, ao qual o entendimento está circunscrito e
vinculado às circunstâncias da vida existencial física e espiritual como espaço de lugar sagrado
em interlocução permanente para o processo de aprendizado. Concebemos o Território como
uma dimensão indissociável de integração entre sociedade e natureza. Um lugar central para
a produção que circunscreve a ação dos ciclos, tempos e recursos naturais do Território como
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estratégia para educar, em consonância com uma relação intrínseca possível para a
construção de uma educação própria em cada tecido social. Em um movimento de que quebra
paradigmas, e provoca a inauguração uma nova escola de pensamento. Nesse sentido, educar
para a vida por meio do Território propõem evidenciar multidimensões como a social, cultural,
política, educativa, colaborativa, participativa com as famílias, membros da comunidade,
professores, estudantes e não indígenas, que sobressaem iniciativas como a mobilização de
comunidades para a apropriação dos atores sociais desses lugares, dos conhecimentos que
podemos observar relações que sobressaem das experiências e interaprendizagens. As
experiências buscam sustentação na abordagem do enfoque do Método Indutivo Intercultural
cunha por Gasché (2008ª, 2008b), em associação com os estudos de Bertely (2012), Meneses
& Sousa-Santos (2010), Mignolo (2010), MaldonadoTorres (2007), Tassinari (2001) e Walsh
(2009). O enquadramento metodológico será uma combinação de enfoques como a
abordagem qualitativa configurada por Bogdan & Biklen (2010); a pesquisa de associação
descritiva e exploratória com base nos estudos de Minayo(1993), e outras combinações.
Assim, analisar os saberes que emergem nessa formação e as dimensões que entremeiam
episódios da vida cotidiana com outras influências que ocorrem nesse processo.

As Línguas Indígenas na Composição de Práticas Pedagógicas Decoloniais

Maria do Socorro Pimentel da Silva

Nesta comunicação discuto o papel das línguas indígenas na composição de práticas


pedagógicas decoloniais em contextos de educação intercultural. Para tratar do tema,
apresento duas questões, uma de modalidade afirmativa, e outra, interrogativa, colocadas
por professores indígenas durante a construção de Projeto PolíticoPedagógico: (1) Sem minha
língua perco a conexão com a ancestralidade; e (2) O que ensinar na minha língua depois da
alfabetização? A primeira fala remete para uma compreensão de língua conectada com o
mundo da espiritualidade, que reside nas palavras, enunciados, musicalidade, natureza, tanto
no seu aspecto de produção sonora como na sua composição epistêmica, estética e ecológica.
Já a segunda questão reflete a crueldade do apagamento de saberes forjado por uma
educação de fundamentos colonialista ou de bases políticas contextualizadas na colonialidade
do saber e poder. Infelizmente não é só a educação que trata mal as línguas indígenas, mas os
métodos linguísticos ocidentais que as estudam, também.

Contexto físico e sociocultural de uma aldeia indígena “Tembé” na Amazônia


Brasileira
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Izaura Maria Vieira Cayres Vallinoto

Andreci Marcela Araujo de Oliveira

Miriam Dantas de Almeida

O estudo do desenvolvimento humano se faz necessário nos diversos contextos socioculturais,


a partir disso é possível identificar as variáveis que influenciam no ciclo da vida. O espaço de
pesquisa foi a aldeia indígena Tenetehar-Tembé, localizada na Terra Indígena do Alto Rio
Guamá (TIARG), estado do Pará, na Amazônia brasileira. Realizou-se uma pesquisa qualitativa
com utilização dos instrumentos de observação participante e diário de campo que
permitiram a descrição do contexto físico e social dessa comunidade, tendo a participação do
cacique, das lideranças e dos professores indígenas da Aldeia Sede. Objetivou-se relatar a
estrutura física e sociocultural da Aldeia Sede, onde residem os Tenetehar-Tembé, à luz da
Teoria do Nicho Desenvolvimental, com enfoque ao subsistema denominado de Contexto
Físico e Social. Os dados coletados foram sistematizados em eixos temáticos para melhor
compreensão e análise, a saber: a aldeia como lugar de todos os indígenas; espaço social da
aldeia sede; ambientes sagrados da aldeia; e o tempo na aldeia. Tais categorias revelam o
conceito que os indígenas têm sobre ambiente físico e social, do lugar onde eles habitam e o
respeito que possuem dos lugares sagrados em determinados horários, práticas estas que
abrangem desde crianças de tenra idade até as pessoas idosas da aldeia, o que exerce
influência direta no curso desenvolvimental. Portanto, o contexto a partir das configurações
físicas e sociais da vida cotidiana apresenta um papel significante no desenvolvimento, bem
como os tipos de interações que podem ocorrer, onde esse ambiente influencia e é
influenciado pelo indivíduo que está no centro do Nicho (Super & Harkness, 1992; Harkness e
Super, 1996). Esse desenvolvimento influencia as práticas de cuidado infantil e as etnoteorias
parentais, as quais se imbricam e relacionam com as crenças e valores vastamente
compartilhados por uma cultura maior, a exemplo da cultura dos Tenetehar-Tembé, os pares,
a mídia, enfim, o contexto social em que estão inseridos.

Educação Escolar Xerente: uma reflexão sobre a relação entre a organização


social e os processos próprios de aprendizagem do povo Xerente

Ercivalso Damsokekwa Xerente

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

A educação escolar indígena vem avançando interessantemente no Tocantins nos últimos


anos. Neste cenário surgem novas demandas e elementos que devem ser pensados e
analisados em seus contextos particulares. Simultaneamente, com a tese que será produzida,
abre-se a importante possibilidade de avanço epistemológico e político no tema em questão,
já que o trabalho aqui proposto é de autoria do primeiro doutor Xerente da história. Apesar
do contato intenso e da interferência da sociedade nacional, também observado através da
escola, os Akwẽ mantêm seus costumes, crenças, hábitos, e as tradições milenares como a
língua materna, as pescarias e as caçadas. Os rituais cerimoniais também são realizados no
chamado Dasĩpsê, uma grande festa cultural que é realizada geralmente em tempo seco (no
verão) e acontece com uma grande aglomeração de aldeias em períodos festivos. Nessas
festas acontecem batizados de nomes próprios conforme seus respectivos clãs masculinos e
femininos. Para receberem tais nomes, jovens passam por um processo cerimonial para a
confirmação dos nomes recebidos. Este processo é baseado em normas convencionais da
cultura Akwẽ. Se há várias meninas para receberem os nomes a festa pode durar vários dias,
até o término da nomeação. Todos os nomes são dados com cantorias realizadas em roda
pelos homens pela manhã, finais de tardes e início das noites. Conforme os nomes a serem
doados, as mulheres também participam, ou seja, as tias (Ĩsõhidba) das que recebem os
nomes. Geralmente são duas meninas em cada nomeação em períodos diurnos, a noite
somente uma menina é nomeada e sempre os mais velhos (wawẽ) ficam presentes auxiliando
os mais jovens (wapte) com as cantorias. Os nomes femininos também estão interligados às
quatro associações/clãs “Dakrsu ou Dakrsu” que são divididos em “Krara, Anãrowa, Krêrêkmõ
e Akemhã” e possuem uma função importante, tanto na nomeação feminina, quanto na
corrida de Tora grande (Kuĩwdê Nĩtro). Os Anãrowa “Ĩptokrda” batizam à noite, uma só pessoa
de cada vez, sem ensaio. De dia, o ritual acontece com cantoria e dança. Os “Ĩkrsuirã” por sua
vez batizam com ensaio, com cantoria e dança em período diurno. Os ‘Ĩkrsuirã” batizam as
filhas dos ‘Ĩptokrda”, ou seja, vice-versa. Atualmente, ao mesmo tempo que participam dos
rituais, as crianças akwẽ frequentam a escola de suas comunidades. Nestas escolas têm
contato com práticas pedagógicas, conhecimentos e dinâmicas muitas vezes distintas dos
modos próprios de ensino e aprendizagem akwê e da organização social tradicional. Isto faz
com que as escolas muitas vezes atuem de maneira contrária aos preceitos de valorização da
identidade assim como da formação da pessoa akwê. A escola nesse sentido pode ir de
encontro ao artigo 210 da Constituição federal de 1988, que afirma a importância do uso, pela
escola, dos modos próprios de aprendizagem de cada povo. Este trabalho busca contribuir,
portanto, com a elaboração de políticas públicas para a educação escolar indígena no estado
do Tocantins. Para isso produzirá uma reflexão densa sobre o processo de escolarização entre
os Xerente e, sobretudo, refletirá sobre as relações possíveis (e sobre as impossibilidades)
entre a organização social tradicional e as práticas pedagógicas escolares.

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Tierras desiertas y usurpadas: La nominación y percepción del espacio


ganadero en un conflicto de propiedad entre indios y terratenientes, valle del
río Cauca, gobernación de Popayán, siglo XVIII

Héctor Cuevas Arenas

Este trabalho indaga por el manejo del espacio en una sociedad agrícola, a través del estudio
de caso hecho a un pleito judicial por tierras de los indios de Yanaconas, contra un
terrateniente de la ciudad de Cali. Por medio de los contextos contenciosos se reconstruyen
aquí, representaciones, usos y expectativas en la apropiación del espacio en la segunda mitad
del siglo XVIII en la región montañosa del valle del río Cauca. A través de un análisis discursivo
de las referencias al espacio litigado, se llega a la conclusión de la importancia de lo cultural
en la estructuración de lo ambiental y su intersección con las dimensiones sociales,
económicas y políticas de los colectivos.

Exclusivo, absoluto y perpetuo: la concepción decimonónica del dominio y su


impacto en el acceso y explotación de recursos en las comunidades indígenas
de Córdoba, Argentina, siglos XIX-XX

Pamela Alejandra Cacciavillani

El periodo de transición jurídica que representan las últimas décadas del siglo XIX y comienzos
del XX en Latinoamérica, demanda una sensibilidad que permita visualizar aquellos espacios
dónde el sistema jurídico se transforma. Las investigaciones locales relativas al proceso de
desestructuración de las comunidades indígenas señalan la segunda mitad del siglo XIX como
el momento a partir del cual “la instauración y vigencia de marcos jurídicos distintos a los
imperantes en la colonia provocaron una serie de pérdidas de los derechos indígenas” (Teruel
& Fandos, 2009, p. 251). Para el caso argentino, se ha señalado que en el Código Civil “no
existía la figura del indígena como característica determinante de efectos jurídicos, sino que
el principio prevaleciente era el de la igualdad ante la ley” (Alvárez, 2009, p.93). A pesar de la
escasa visibilidad del indígena en la Constitución y el Código Civil, en Córdoba las fuentes
revelan, la influencia de estos instrumentos jurídicos en la vida de algunas comunidades

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indígenas. No obstante el rol del Código Civil, será a través de disposiciones administrativas,
que la posesión y la propiedad de las tierras comunales, serán redefinidas para consagrar un
dominio absoluto, perpetuo y exclusivo. Para comprender los conflictos emergentes con las
formas comunales de propiedad indígena, propias de los tiempos coloniales, analizaremos:
legislación nacional y provincial, expedientes judiciales y reclamos administrativos de las
comunidades.

Derechos de propiedad ancestral indígena sobre las aguas: Una mirada desde
el derecho consuetudinario de los pueblos andinos del norte de Chile

Karenn Alejandra Díaz Campos

A cultura indígena com suas características sociais próprias se opõe ao modelo capitalista por
não visar o lucro. Dessa forma, se torna uma cultura contra hegemônica e com o passar dos
anos sofreu graves consequências por sua resistência. No Brasil, os índios foram mistificados
como incapazes de organizar o seu território e de produzir, discurso preconceituoso que foi
usado para tomar suas terras. Os direitos dos indígenas brasileiros foram conquistados ao
longo do tempo. As terras dos índios foram protegidas por meios de alvarás como o de 1º de
abril de 1680 que declara que a posse da terra pelo índio não poderia ser afetada pelas
sesmarias. Porém a maior parte dos índios não falavam a língua dos portugueses e não sabiam
ler ou escrever, dessa forma não obtinham conhecimento dos seus direitos, o que era
aproveitado pelos colonizadores. A maior oposição das tribos indígenas são os agricultores.
Essa tensão se elevou durante a expansão agrícola, quando a fronteira agropecuária começou
a avançar nas terras ocupadas pelos indígenas, gerando conflitos. Enquanto a terra é
meramente uma forma de produção para os agricultores, ela tem uma representação maior
para os indígenas, além de forma de sustento, ela é sagrada para eles. Nas palavras do cacique
Seattle o “homem branco não compreende nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra
é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto
necessita. ” (CULTURA BRASIL) Em 1967 foi criada a FUNAI, Fundação Nacional do Índio, ela
era a responsável pela identificação, delimitação, demarcação, regularização fundiária e
registro das terras indígenas no Brasil. Com a mudança presidencial que ocorreu em 2019 isso
mudou, Jair Messias Bolsonaro, novo presidente eleito, em seu primeiro dia de mandato fez
várias alterações nos ministérios e em suas funções. Dentre as mudanças destacam-se a
delimitação e demarcação de terras indígenas que passam a ser controlada pelo ministério da
agricultura, o que pode ser caracterizado como conflito de interesses, demonstrando que os
indígenas após séculos ainda não possuem seus direitos assegurados em relação a sua sagrada

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terra. Diante disso, o trabalho tem o objetivo de demonstrar a longa luta pela terra entre os
agricultores e os indígenas, assim como o significado dela para cada um e como a medida
provisória do novo governo irá afetar os indígenas. Para se chegar a esse resultado foi feita
uma análise bibliográfica do conteúdo já produzido sobre o assunto e também sobre os
impactos e perspectivas gerados pela mudança feita pelo novo governo brasileiro.

Continua luta pela terra entre indígenas e agricultores e o conflito de


interesses gerado pela Medida Provisória n° 870 de 1 de janeiro de 2019

Karen Regina Silva Costa

Jahdy Andrade de Brito

A cultura indígena com suas características sociais próprias se opõe ao modelo capitalista por
não visar o lucro. Dessa forma, se torna uma cultura contra hegemônica e com o passar dos
anos sofreu graves consequências por sua resistência. No Brasil, os índios foram mistificados
como incapazes de organizar o seu território e de produzir, discurso preconceituoso que foi
usado para tomar suas terras. Os direitos dos indígenas brasileiros foram conquistados ao
longo do tempo. As terras dos índios foram protegidas por meios de alvarás como o de 1º de
abril de 1680 que declara que a posse da terra pelo índio não poderia ser afetada pelas
sesmarias. Porém a maior parte dos índios não falavam a língua dos portugueses e não sabiam
ler ou escrever, dessa forma não obtinham conhecimento dos seus direitos, o que era
aproveitado pelos colonizadores. A maior oposição das tribos indígenas são os agricultores.
Essa tensão se elevou durante a expansão agrícola, quando a fronteira agropecuária começou
a avançar nas terras ocupadas pelos indígenas, gerando conflitos. Enquanto a terra é
meramente uma forma de produção para os agricultores, ela tem uma representação maior
para os indígenas, além de forma de sustento, ela é sagrada para eles. Nas palavras do cacique
Seattle o “homem branco não compreende nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra
é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto
necessita. ” (CULTURA BRASIL) Em 1967 foi criada a FUNAI, Fundação Nacional do Índio, ela
era a responsável pela identificação, delimitação, demarcação, regularização fundiária e
registro das terras indígenas no Brasil. Com a mudança presidencial que ocorreu em 2019 isso
mudou, Jair Messias Bolsonaro, novo presidente eleito, em seu primeiro dia de mandato fez
várias alterações nos ministérios e em suas funções. Dentre as mudanças destacam-se a
delimitação e demarcação de terras indígenas que passam a ser controlada pelo ministério da
agricultura, o que pode ser caracterizado como conflito de interesses, demonstrando que os
indígenas após séculos ainda não possuem seus direitos assegurados em relação a sua sagrada
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terra. Diante disso, o trabalho tem o objetivo de demonstrar a longa luta pela terra entre os
agricultores e os indígenas, assim como o significado dela para cada um e como a medida
provisória do novo governo irá afetar os indígenas. Para se chegar a esse resultado foi feita
uma análise bibliográfica do conteúdo já produzido sobre o assunto e também sobre os
impactos e perspectivas gerados pela mudança feita pelo novo governo brasileiro.

Conflicto por derechos de propiedad de montes en el distrito de Maravatío,


1870-1910

Paola Sánchez Esquivel

Michoacán fue una de las entidades en las que, desde épocas tempranas comenzó con la
desvinculación de la propiedad comunal a partir de la ley de 1828, no obstante, este proceso
no culminó sino hasta finales del mismo siglo XIX. Fue en 1851 cuando se reactivó la división
de las propiedades que los pueblos aún conservaban comunalmente. Como parte de este
proceso se suscitaron diversos conflictos entre los integrantes de los pueblos y de estos con
hacendados por el acceso a los recursos. Es por ello que a partir del análisis del conflicto por
límites entre los pueblos de Tupátaro y San Miguel el Alto con la Hacienda de Pomoca se
estudiará las formas de acceso a los recursos naturales a finales del siglo XIX. El análisis de este
proceso nos ayudará a conocer los cambios y o continuidades en el acceso, manejo y control
de los montes de frente a las disposiciones legales en torno a la propiedad de la tierra. Este
pasaje en la historia de los pueblos se desarrolla a partir de las quejas por parte de dueños de
la hacienda de Pomoca ante las supuestas invasiones de los pueblos en los montes que
consideran de su propiedad; y de los argumentos que por su parte emiten los de Tupátaro y
San Miguel el Alto para defender su derecho al acceso de los mismos recursos.

Desamortización e individualizacíon de la tierra en la región Lacustre de


Cuitzeo, Michoacán: el caso de las comunidades campesinas de Santa Ana
Maya e San Buenaventura Huacao

Alfredo López Ferreira

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Durante el siglo XIX en Michoacán los intentos formales de desamortizar e individualizar las
tierras pertenecientes a las comunidades campesinas se debieron más a la legislación estatal
que a la federal. En los años 1827 y 1851 el congreso local expidió leyes con el propósito de
desaparecer el carácter corporativo de las propiedades campesinas y el objetivo de crear
pequeños propietarios, en contraste la ley federal de 1856 abrió la posibilidad de que los
bienes agrarios corporados pasaran a los arrendatarios de éstas o se vendieran al mejor
postor. En un primer momento y de manera paralela a las iniciativas institucionales, desde
finales del siglo XVIII y hasta el último tercio del XIX, en la ribera norte de la Laguna de Cuitzeo,
en la región del Bajío, lugar donde se asentaban las comunidades campesinas de Santa Ana
Maya y San Buenaventura Huacao, una compleja gama de actores como arrendatarios,
comerciantes, prestamistas, rancheros, hacendados y la orden religiosa de los agustinos,
participaran de manera activa y agresiva para que, a pesar de la inestabilidad política y social
y de la relativa cohesión, no exenta de fuertes tensiones al interior de ambas comunidades,
fueran arrebatando y adquiriendo importantes porciones de sus bienes rústicos y urbanos.
Posteriormente, a partir de 1869 el gobierno del estado reimpulsó con energía la división e
individualización de las tierras de los pueblos. Una de las estrategias usadas para que las
medidas legales emitidas favorables a la desaparición de la propiedad corporativa civil en
Michoacán consiguieran este objetivo, fue exigiendo el pago de los impuestos a partir de
excesivas reevaluaciones sobre las propiedades rústicas de las comunidades campesinas y
además negándoles cualquier representatividad jurídica. Estas maniobras fueron unas de las
principales causales externas que propiciaron la aceleración de la pérdida y división de las
tierras, contribuyendo a la desintegración de las comunidades campesinas de Santa Ana Maya
y San Buenaventura Huacao.

La citación judicial como instrumento jurídico en la reivindicación de bienes


de uso común. Un estudio de caso (Aldea de São Pedro de Cabo Frio, 1838-
1851)

Camilla de Freitas Macedo

Durante el primer siglo de la independización política brasileña, los conflictos ya habituales


entre indígenas y colonos por la tierra adquirieron nuevos matices en el plano jurídico, que
derivaban del progresivo intento legislativo de fomentar la absolutización de la propiedad
privada. En este contexto de cambio, analizamos en este trabajo los recursos jurídicos
utilizados por los indígenas de São Pedro de Cabo Frio para mantener la posesión sobre las
tierras que habían obtenido en sesmaria colectiva durante el periodo colonial. Este conflicto
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llegó a segunda instancia en el Tribunal de la Relación de Rio de Janeiro, y fue incluso sometido
al Tribunal Supremo Imperial por alegación de injusticia notoria. La argumentación jurídica
contenida a lo largo del proceso judicial muestra bien ese periodo de transición también en el
plano de los fundamentos del derecho. Así, las referencias al Directorio de los Indios aprobado
por el marqués de Pombal a mediados del siglo XVIII y revocado a finales del mismo siglo se
combinan con referencias al espíritu de la legislación imperial, al derecho consuetudinario, así
como con el derecho constitucionalmente reconocido a la propiedad, todo ello con el objetivo
de construir un relato consolidado en el tiempo desde diferentes vertientes. En el caso de la
Aldea de São Pedro, será determinante precisamente el carácter colectivo del titular de la
tierra, pues este elemento sirvió para modificar la configuración de la citación judicial.
Considerando que las citaciones de sujetos indeterminados deberían ser hechas mediante
citación por Edictos, la colectividad sirvió finalmente como un fuerte argumento procesal
contra la invasión particular de las tierras de la Aldea. Las fuentes utilizadas en este estudio
fueron el proceso judicial relativo a la demarcación de las tierras de la Aldea de São Pedro de
Cabo Frio (1838-1851), así como la legislación alegada por los agentes, leída bajo la luz de la
doctrina contemporánea al proceso.

De la mercantilización hídrica a la inseguridad alimentaria: un problema de


salud pública en los pueblos y comunidades indígenas de México

Dionisio Ernesto Lagunes González

Paulina Elisa Lagunes Navarro

Una de las prioridades de los países es garantizar la seguridad alimentaria de sus sociedades,
con la finalidad de prevenir el hambre y la desnutrición, y así cumplir con los Objetivos del
Desarrollo Sustentable (ODS). Sin embargo, uno de los factores que afecta a la seguridad
alimentaria es la inseguridad hídrica, sea por la escasez o contaminación de dicho recurso.
Aunado al hecho de que en México se ha ido concesionado el vital líquido a empresas
embotelladoras de bebidas azucaradas. Situación que vulnera el derecho al acceso al agua,
principalmente, para los pueblos indígenas. Todo lo anterior, ha ocasionado que los pueblos
indígenas tiendan a consumir bebidas azucaradas en exceso al ser un sustituto del agua, lo
cual se traduce en cambios en su alimentación y cultura y, propensos a ciertas enfermedades
como la obesidad y diabetes. Un ejemplo de esto, es el estado de Chiapas quien es un gran
consumidor de bebidas azucaradas como la Coca Cola. Y es aquí, en donde reside la
incongruencia del Estado mexicano. Por un lado, México se posicionó en el 2º lugar con alto
índice de obesidad (y, por consiguiente, en diabetes) a nivel mundial. Posteriormente, en el
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2014, México implementó programas y medidas fiscales como el impuesto a bebidas


azucaradas y comida rápida, para combatir la obesidad y la diabetes. Sin embargo, tal
impuesto ha estado en controversia sobre su funcionalidad para reducir la obesidad en el país
ya que ha habido un incremento en el índice de la obesidad y la diabetes entre los años 2012
y 2016, en donde el 90% de los casos de diabetes mellitus se relaciona con el sobrepeso y
obesidad, según la Federación Mexicana en Diabetes, A.C. Así mismo, existe una barrera en la
comunicación entre los pueblos indígenas y el etiquetado en los productos alimenticios como
lo son las bebidas azucaradas, ya que no están en su lengua y, en consecuencia, se es
vulnerado el derecho de los consumidores de ser informados sobre lo que consumen. Dicho
lo anterior, hace preguntarnos ¿bajo qué perspectiva entiende el Estado mexicano la
seguridad alimentaria? y, ¿cómo pretende cumplir con los ODS?

Tierras de común repartimiento y formación de ranchos en el sistema de


riego de Cuautitlán, Estado de México, 1856-1911

Porfirio Neri Guarneros

Gloria Camacho Pichardo

En México, el 25 de junio de 1856 se expidió la ley sobre desamortización de fincas rústicas y


urbanas. Esta ley decretó que las corporaciones civiles debían privatizar sus bienes comunales,
además prohibieron a los pueblos y ayuntamientos poseer bienes raíces. En el Estado de
México, el proceso privatizador tuvo diferentes matices; en algunos lugares los pueblos
rechazaron la desamortización, como en Acambay y Sultepec; pero en otros no se
manifestaron inconformidades, como sucedió en Teotihuacán (Mendoza, 2016) y algunas
municipalidades del valle de Cuautitlán. En la municipalidad de Cuautitlán la desamortización
de las tierras de común repartimiento inició un mes después de haberse emitido la ley del 25
de junio de 1856 (Neri, 2017). Por ejemplo, entre los meses de agosto y noviembre de 1856
varios vecinos de los pueblos pertenecientes a la municipalidad solicitaron la adjudicación de
sus tierras de común repartimiento: las tierras en cuestión presentaban una característica
importante, se encontraban dentro del sistema de riego formado a partir de la Pila Real de
Atlamica. El proceso de adjudicación de tierras de común repartimiento realizado en el valle
de Cuautitlán potencializó el mercado de tierras existente en la región, y al mismo tiempo
originó la formación de ranchos. Amparados en la certeza jurídica que les daba la ley del 25
de junio de 1856, varios comerciantes nacionales y extranjeros empezaron a comprar las
tierras de común repartimiento ubicadas en el sistema de riego, para instalarse en ellas y
trabajarlas. En este contexto el texto muestra el proceso desamortizador de las tierras de

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común repartimiento y la formación de ranchos en el sistema de riego de Cuautitlán, entre


1856 y 1911. Se analiza cómo la existencia de tierras fértiles, unido al acceso al recurso hídrico,
propició una rápida desamortización de este tipo de tierras en los 2 pueblos de la
municipalidad de Cuautitlán; principalmente, en los pueblos de Santa Bárbara, San Mateo, San
Lorenzo, San Sebastián y Santa María. De la misma manera, se examina la formación del
Rancho del Peral en el pueblo de Santa Bárbara, a partir de la compra de tierras
desamortizadas que realizó José Pico Cerro.

Vida cotidiana y redefinición de derechos de propiedad en terrenos de


resguardo. Pasto (Colombia), 1890-1921

Fernanda Muñoz

El propósito de esta ponencia es detallar cómo, en una zona del suroccidente colombiano,
Pasto, se fueron redefiniendo los derechos de propiedad en torno a los resguardos (tierras
comunales) de las parcialidades indígenas en un contexto modernizador donde la política
gubernamental añoraba desmantelar el régimen de propiedad comunal. Esta zona llama la
atención porque durante el siglo XIX y hasta las primeras décadas del siglo XX, como en otros
lugares del suroccidente colombiano, los resguardo no se dividieron, a pesar de la política
nacional que buscaba implementar el modelo de propiedad privada. La presentación se centra
en un periodo durante el cual imperó un gobierno centralizado que se instauró con la
Constitución de 1886. Inicio en 1890 debido a que en dicho año se expidió una ley que decretó
la división de los terrenos de resguardos a nivel nacional aplazándola al término de cincuenta
años desde la expedición de la disposición.1 El camino de la política privatizadora continuó
siendo sinuoso hasta que en 1921 se ordenó la división de los terrenos de resguardos en el
conjunto nacional.2 El objetivo específico de la ponencia es analizar la redefinición de los
derechos de propiedad en torno a los terrenos de resguardo que se poseían y usufructuaban
por familias o individualmente (lo que en México se conoce como tierras de común
repartimiento) antes de que se pusiera en marcha el proceso de división y reparto que se
concretaría en las décadas del 30 y 40. Propongo abordar el proceso previo al
desmantelamiento del régimen comunal para tener un marco de antecedentes complejo que
permita comprender el lugar de la ley, las prácticas de propiedad y las relaciones sociales en
dicho proceso, sin dar por sentado que la 1 ROLDÁN ORTEGA y GÓMEZ VARGAS, Fuero
indígena colombiano, pp. 57-64 2 ROLDÁN ORTEGA y GÓMEZ VARGAS, Fuero indígena
colombiano, (p. 74) redefinición de derechos de propiedad concernía exclusivamente a la ley.
Considero que la redefinición de los derechos de propiedad respecto a los terrenos de

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resguardo no se puede entender sin tejer un contrapunto entre el marco legal y la vida
cotidiana de las comunidades que atañe a las relaciones entre autoridades del pequeño
Cabildo indígena (órgano encargado de administrar los terrenos de resguardo) y demás
miembros de la comunidad, la relación entre indígenas y personas externas a la comunidad,
las normas internas para acceder a la posesión y goce de tierras (tales como casarse entre
indígenas, prestar servicios al gobierno civil y eclesiástico), al igual que las disputas entre
indígenas de una misma familia (generalmente por herencia) o con otros indígenas o vecinos
y hacendados, y el papel de las autoridades civiles (a nivel distrital y municipal) en los
conflictos por resguardos.

Estado, Justiça e o Direito indígena sobre suas terras: o caso da TI São Marcos
– RR

Tácio José Natal Raposo

Luiz Gustavo Raposo SIlva

O conflito na TI São Marcos (Decreto, 312 de 29.10.91) com a manobra política e a criação da
cidade de Pacaraima (L.96 de 17.10.95) começa a se tornar mais complexo no período da
ditadura militar e expansão capitalista na Amazônia principalmente a partir da década de
1970, com divisão territorial da força de trabalho com grandes projetos estatais de indústrias,
agropecuária e de mineral para região. Na mesma da década, começam as iniciativas mais
significativas para regularização jurídica e administrativas de TIs na região. A evolução do
contexto leva anos mais tarde com promulgação da CF 1988, no processo de
redemocratização do país, e com ela a demarcação e homologação da TI São Marcos inserindo
esse espaço no norte de Roraima a um ordenamento de direitos dos indígenas sobre suas
terras de ocupação tradicional. O mesmo contexto constitucional dá aos estados brasileiros a
autonomia de criarem novos municípios brecha que possibilita de forma irregular a criação da
cidade de Pacaraima é a tentativa de inauguração da propriedade privada sobre a TI São
Marcos. A análise sobre os aspectos jurídicos dessa contradição se dá partir da CF1988 e seus
antecedentes, e compõe parte da pesquisa de doutorado em andamento junto ao Instituído
de Geografia da Unicamp. A análise parte da crítica de realidade procurando analisar os fatos
e suas relações com a totalidade da produção social buscando superar a forma aparente, na
busca pela essência dos fatos conforme o método do materialismo histórico preconiza.
Embora assegurada constitucionalmente as TIs vem sofrendo ataques constantemente, esses
ataques decorrentes de retrocessos políticos e jurídicos marcados pelas mudanças recentes
na configuração política e jurídica do país e por consequência das leis, incluindo a adoção do
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critério do Marco Temporal definido na homologação da TI Raposa Serra do Sol e pela PEC
215/200 que afeta o direito dos indígenas as suas terras, por representar um ataque aos
direitos já garantidos e a negação de sua continuidade e/ou a conquista de novos direitos. O
movimento que tenciona os direitos dos indígenas e expansão das práticas capitalista que por
meio de arranjos institucionais no Estado leva para região a pretensão da inauguração da
propriedade privada da terra e a lógica de dominação do interesse e direito particular-privado
sobre o direito coletivo que marca a cultura indígena que são os detentores constitucionais
da posse da terra. A análise dos aspectos jurídicos desse processo pretende evidenciar a
ampliação do processo de espoliação de indígenas de suas terras originarias, com a promessa
de “inauguração” da propriedade privada no loteamento e fracionamento do espaço.

Expansão Capitalista e contradição da cidade de Pacaraima sobre a TI São


Marcos

Tácio José Natal Raposo

A destruição das sociedades indígenas e o estabelecimento da sociedade capitalista ocidental


se inicia com a ampliação do capitalismo mercantil e suas distintas formas de expansão nas
Américas, que decorre e se alimenta de ataques aos direitos e modos de vidas e até mesmo
eliminação de formas societárias distintas de seu padrão de desenvolvimento. Com objetivo
de analisar a expansão capitalista e seu caráter urbanizador na Amazônia Setentrional, o
presente é parte de uma pesquisa de doutoramento em curso pelo Programa de Pós
graduação do Instituto de Geografia da Universidade Estadual de Campinas IG – Unicamp com
foco analítico na contradição da implantação ilegal na TI São Marcos (Decreto, 312 de
29.10.91) a cidade de Pacaraima (L.96 de 17.10.95), sede do município como mesmo nome na
fronteira Brasil-Venezuela no norte do Estado de Roraima. Na elaboração do debate sobre o
processo de expansão capitalista, as populações indígenas são sempre esquecidas, pretende-
se por meio da análise crítica materialista e histórica evidenciar os efeitos desse processo para
TI São Marcos e com isso propor um debate sobre a modernização, que inclua as populações
indígenas, na caracterização do capitalismo contemporâneo a partir de uma concepção de
país da periferia considerado a produção e reprodução do capital internacional. Considera-se,
que o processo de modernização e de pretensão de ingresso ao sistema internacional de
produção se deu por meio de uma industrialização a partir dos “de cima”, em um processo
complexo, que não procurava resolver os problemas da sociedade, ao contrário, sua marca
forte permanece até os dias atuais, para avançar a economia é necessário a repressão,
opressão e exclusão de parte da população. O desenvolvimento e expansão capitalista no

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3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Brasil, desde sempre, subsumi culturas, oprime e exclui sujeitos concretos, elimina vidas,
compromete hegemonias e elimina sociedade em nome do totalitarismo democrático
capitalista. Essa expansão aprofunda, os conflitos, as desordens e as contradições, das
camadas mais vulneráveis da sociedade que, embora sejam afetadas pelo o movimento de
expansão, não são consideradas nos debates pois suas vozes compõem, as vozes dos “de
baixo”. Assim para entender como se desenvolve o processo de expansão capitalista na
Amazônia e especificamente sobre a TI São Marcos e suas repercussões em relação a questão
indígena, toma-se como ponto de partida as reflexões possibilitadas a partir da Teoria
Marxista da Dependência, especificamente as ideias da relação de dependência analisado por
Ruy Mauro Marini; a captura da terra analisada por Octavio Ianni e a especificidade dessa
forma de capitalismo desenvolvido analisado também por Francisco de Oliveira no processo
de expansão capitalista e conformação da Amazônia.

Direito à terra e capacidade civil: uma análise combinada da Legislação


Indigenista Brasileira

Carolina Augusta De Mendonça Rodrigues

A Constituição de 1988 avançou significativamente ao reconhecer aos índios os direitos


originários sobre as terras que ocupam, destinando-as à sua posse permanente e garantindo
o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nela existentes. Além disso, o
texto constitucional superou o paradigma integracionista e admitiu o direito à alteridade
como um de seus princípios conformadores. Apesar desse reconhecimento do direito à
ocupação indígena, que esteve presente de forma contínua na legislação pátria, a
administração dessas áreas por muitos momentos ficou a cargo do Estado, limitando a
autonomia indígena em seus territórios. Neste sentido, a atribuição de capacidade civil aos
índios sempre esteve entremeada com a questão do apossamento territorial, embora fossem
tratadas muitas vezes por legislações diversas. Se, por um lado, a tutela se prestou a assegurar
a integridade das terras indígenas, por outro lado, operou com um mecanismo de controle
para que essas áreas sempre estivessem em poder do Estado. A tutela, então, cumpre o papel
de mediação para que os indígenas tenham acesso aos direitos de cidadania de forma
compatível com sua condição inferiorizada em relação aos demais sujeitos. Esse instrumento
se manifestou de forma sutil ou explícita sob diversas roupagens na legislação: controle dos
atos da vida civil, imposição da educação universalizante, administração e destinação dos bens
e das terras por agentes públicos, demarcação administrativa dos territórios, cláusula de
inalienabilidade das terras indígenas e até mesmo a reserva da propriedade das terras à União.

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Embora tenha assumido diversos contornos ao longo da prática indigenista, a tutela teve um
papel fundamental de legitimar a intervenção do poder público nas terras indígenas, muitas
vezes extrapolando a função de mera assistência prevista no Código Civil. Assim, ao passo em
que o indigenato se consolidava na legislação, a tutela se aprofundou como um mecanismo
de controle estatal sobre esses territórios, num processo ambivalente dominado sempre pela
lógica de prevalência dos “interesses nacionais”. Como lembra Rita Segato (2013), a história
da colonização no Brasil é a história da apropriação da terra. E a tutela é parte disso. A
presente pesquisa tem como objetivo analisar a evolução da legislação indigenista no que diz
respeito às garantias territoriais, em paralelo às normas relativas á capacidade civil do
indígena, bem como discutir de que forma a tutela ainda se encontra inserida no discurso do
Estado, operando efetivamente no processo de desapossamento territorial, embora tenha
sido afastada da legislação no advento da Carta Constitucional de 1988.

La hacienda de Santa María Jamapa: consolidación y ocaso de una propiedad


agraria en un pueblo de Veracruz (México, 1856-1918)

Sergio Rosas Salas

En México, la historiografía reciente ha insistido en la importancia de enlazar los procesos


agrarios de la Reforma liberal y la revolución mexicana, en un largo periodo que va de la
década de 1850 al menos hasta 1940, para comprender mejor la manera en que las sociedades
locales (re)definieron la propiedad, distribución, explotación y disfrute de los recursos
naturales durante la implantación del liberalismo en el país. Como se sabe, el marco
cronológico está marcado por dos grandes leyes: la ley Lerdo emitida el 25 de junio de 1856 y
la ley que inició el reparto agrario, emitida por el régimen constitucionalista el 6 de enero de
1915. A pesar de los avances en este sentido, aún es necesario pofundizar en la tarea de
comprender la forma en que la propiedad agraria se transformó a lo largo de los siglos XIX y
XX, en el entendido de que los diversos espacios y escenarios naturales, así como las diferentes
lógicas sociales, dieron forma a diversos procesos sociales y regionales a lo largo y ancho del
país. A partir de estos elementos, esta ponencia tiene como objetivo analizar a partir de la
perspectiva regional la historia de la hacienda de Santa María de Jamapa, en el pueblo y
municipio del mismo nombre, para comprender mejor la forma en que se consolidó,
transformó y desmembró la hacienda en México entre la reforma liberal y la revolución
mexicana. El trabajo argumenta que la interacción entre el propietario, los rancheros y los
medieros dieron forma a una relación triangular que expresó localmente un amplio malestar
por el acaparamiento de tierras, que sólo se resolverá a través del reparto agrario. En ese

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sentido, el trabajo abona a partir de un estudio de caso al estudio de la definición de la


propiedad de tierras y aguas en un pueblo y un municipio del estado de Veracruz. La fuente
principal son el archivo privado de la hacienda (conservado en la ciudad de Puebla) y los
expedientes de reparto agrario conservados en el Archivo General del Estado de Veracruz, en
Xalapa.

El régimen de comunidad, la tierra y la libertad de los indios en el Río de la


Plata a principios del siglo XIX.

Gabriel Darío Taruselli

Durante la primera década del siglo XIX, buena parte del espacio rioplatense se organizaba
aún bajo un régimen particular de acceso a la tierra y a los recursos indispensables, conocido
como sistema de comunidad. El mismo había sido organizado durante la experiencia jesuítica
entre los guaraníes y había sobrevivido a su expulsión en 1767. Fue a partir de 1799 cuando
el gobierno, encabezado por el virrey Gabriel de Avilés impulsó una serie de reformas que
buscaban abolir dicho sistema remplazándolo gradualmente por otro de “libertad de los
naturales”. Las medidas, aplicadas en forma parcial tuvieron la aprobación real en 1803
cuando Avilés ya había dejado su cargo. El nuevo Virrey, Rafael de Sobremonte, fue quien tuvo
la responsabilidad de aplicarlas. Para ello, dictó en forma de Instrucción provisional las
medidas a seguir y promovió un expediente ante la Real Audiencia de Buenos Aires, el cual se
tramitó hasta 1809. Este conjunto de reformas, que modificó el régimen de propiedad de la
tierra y múltiples aspectos de la vida de dichas comunidades, ha sido considerado por los
historiadores como una muestra efectiva de la nueva coyuntura intelectual y política que
renovaba por entonces las relaciones coloniales. Sin embargo el análisis de la documentación
nos muestra los límites de tales medidas, los intereses de actores locales y la constante
referencia a las normas vigentes y las prácticas acostumbradas en relación al gobierno y los
bienes reconocidos a los pueblos de indios. Por lo tanto, este artículo se propone dos
objetivos. En primer lugar analizar el uso y los significados que adquieren términos como
libertad, propiedad individual o patria potestad, invocados por las autoridades y demás
actores involucrados y afectados por las reformas. En segundo lugar, dar cuenta de las
diferentes experiencias que convivían en el Río de la Plata en torno a la posesión y
administración de la tierra asignada a los indios. Para ello, partiremos del análisis del
expediente tramitado en la Real Audiencia de Buenos Aires entre 1804 y 1809. Dicho
expediente reunió las disposiciones reales, consultas, memoriales, peticiones de autoridades
religiosas, funcionarios civiles de Buenos Aires, del nuevo gobierno de Misiones y de los

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propios pueblos de indios, así como de particulares afectados por las medidas. Proponemos
además, ampliar el análisis a otras fuentes éditas e inéditas relacionadas con la administración
y gobierno de otros pueblos de indios reconocidos por la Corona en el ámbito rioplatense.
Dichos documentos se preservan en el Archivo General de la Nación, Argentina y otros
archivos locales.

A violação dos direitos territoriais dos povos indígenas do Brasil a partir do


novo marco regulatório da mineração

Lorena Lima Moura Varão

São promessas de criação de empregos e dinamização da economia e ‘crescimento’. Em


contraste ao discurso, que legitima a instalação de grandes empreendimentos, povos
indígenas denunciam a insustentabilidade da atividade minerária com suas práticas históricas
de ocupação e de uso do território. No que diz respeito à questão indígena, o foco recai sobre
o uso dos direitos territoriais e a resistência étnica contra o uso externo dos recursos naturais
(SOUZA FILHO, 2010). Nesse contexto, a invasão das terras indígenas para a exploração ilegal
dos recursos naturais é uma realidade que atinge o Brasil. Em relação à mineração formal
nessas terras, o artigo 231, §3º, da CF/88, determina que “a pesquisa e a lavra das riquezas
minerais em terras indígenas só podem ser efetivadas com autorização do Congresso
Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos
resultados da lavra, na forma da lei”. No entanto, embora seja um debate antigo no Congresso
Nacional, a matéria não foi regulamentada. Ademais, os conflitos entre a mineração e os
povos tradicionais são agudizados pelo modo como é estruturado o licenciamento ambiental,
em que as empresas e o Estado retêm o poder de definir os significados das categorias
envolvidas nos licenciamentos e execuções das obras sem que sejam previstas fases
adequadas para a participação dos povos indígenas (ZHOURI, 2008). Enrique Leff (2006)
ressalta que as novas lutas pelo desenvolvimento sustentável se associam com as lutas pela
democracia, quer dizer, por uma decisão consensual a partir das próprias bases das
organizações populares, garantindo a participação direta na gestão de seus recursos
produtivos. A história da mineração no Brasil demonstra que a prioridade, em nome do
interesse público, dada pelos governos às atividades minerais em relação a outros usos
econômicos e culturais dos territórios, longe de ser construída através de processos
democráticos, tende a provocar a perda das bases de reprodução socioeconômica dos grupos
locais dado o caráter de controle e reorganização do espaço que a dinâmica mineral impõe
aos territórios. Portanto, o objetivo geral da pesquisa é analisar se existe possibilidade de

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regulamentar a mineração sem violar os direitos humanos dos povos indígenas.


Especificamente, objetivam-se caracterizar a atividade mineradora dentro do contexto
neoextrativista implementado no Brasil, apontar a oposição existente entre a regulamentação
da mineração a partir dos direitos coletivos e analisar como o direito vem legitimando as
violações cometidas pelas empresas mineradoras em desrespeito aos direitos territoriais dos
povos indígenas.

ST 37 | Nuevas miradas sobre los derechos de propiedad: acceso, uso y


apropiación de recursos naturales en torno a los pueblos y municipios, siglos
XIX-XX

Porfirio Neri Guarneros (Facultad de Humanidades – UAEMex, México); Gloria Camacho


Pichardo (CICSyH-UAEMex, México).
A principios del siglo XIX los pueblos indígenas aún poseían y administraban, como personas
jurídicas, un patrimonio territorial que estaba constituido por un fundo legal, tierras de
repartimiento y bienes comunales: aguas y montes; pero esta forma de disfrutar de los
recursos se transformó a lo largo del siglo XIX y principios del XX con la expedición de leyes
encaminadas a desaparecer la propiedad comunal de la tierra, el agua y los montes. Las
consecuencias se vieron reflejadas en conflictos por el uso de los recursos naturales, no sólo
entre los actores civiles, sino también entre éstos y las instituciones de gobierno. El simposio
tiene como propósito analizar desde diversas ópticas y diferentes regiones las
transformaciones de los derechos de propiedad en torno a los recursos naturales (tierra, agua
y mente) de los pueblos indios y municipios durante el siglo XIX y XX. El objetivo es discutir los
derechos de propiedad no solo a partir de los cambios en la legislación, sino también, a partir
de las relaciones sociales y las distintas formas de acceder a la tierra, el agua y el monte; y en
general a través de nuevos y propositivos abordajes en relación a las transformaciones sobre
la propiedad que experimentaron los pueblos y municipios, por ejemplo: la coexistencia de
diversas formas de propiedad en un mismo momento y la transformación del paisaje.

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Tierras desiertas y usurpadas. La nominación y percepción del espacio


ganadero en un conflicto de propiedad entre indios y terratenientes, valle del
río Cauca, gobernación de Popayán, siglo XVIII

Héctor Cuevas Arenas


Este texto indaga por el manejo del espacio en una sociedad agrícola, a través del estudio de
caso hecho a un pleito judicial por tierras de los indios de Yanaconas, contra un terrateniente
de la ciudad de Cali. Por medio de los contextos contenciosos se reconstruyen aquí,
representaciones, usos y expectativas en la apropiación del espacio en la segunda mitad del
siglo XVIII en la región montañosa del valle del río Cauca. A través de un análisis discursivo de
las referencias al espacio litigado, se llega a la conclusión de la importancia de lo cultural en la
estructuración de lo ambiental y su intersección con las dimensiones sociales, económicas y
políticas de los colectivos

El régimen de comunidad, la tierra y la libertad de los indios en el Río de la


Plata a principios del siglo XIX
Gabriel Darío Taruselli

Durante la primera década del siglo XIX, buena parte del espacio rioplatense se organizaba aún
bajo un régimen particular de acceso a la tierra y a los recursos indispensables, conocido como
sistema de comunidad. El mismo había sido organizado durante la experiencia jesuítica entre
los guaraníes y había sobrevivido a su expulsión en 1767. Fue a partir de 1799 cuando el
gobierno, encabezado por el virrey Gabriel de Avilés impulsó una serie de reformas que
buscaban abolir dicho sistema remplazándolo gradualmente por otro de “libertad de los
naturales”. Las medidas, aplicadas en forma parcial tuvieron la aprobación real en 1803
cuando Avilés ya había dejado su cargo. El nuevo Virrey, Rafael de Sobremonte, fue quien tuvo
la responsabilidad de aplicarlas. Para ello, dictó en forma de Instrucción provisional las
medidas a seguir y promovió un expediente ante la Real Audiencia de Buenos Aires, el cual se
tramitó hasta 1809. Este conjunto de reformas, que modificó el régimen de propiedad de la
tierra y múltiples aspectos de la vida de dichas comunidades, ha sido considerado por los
historiadores como una muestra efectiva de la nueva coyuntura intelectual y política que
renovaba por entonces las relaciones coloniales. Sin embargo el análisis de la documentación
nos muestra los límites de tales medidas, los intereses de actores locales y la constante
referencia a las normas vigentes y las prácticas acostumbradas en relación al gobierno y los
bienes reconocidos a los pueblos de indios. Por lo tanto, este artículo se propone dos
objetivos. En primer lugar analizar el uso y los significados que adquieren términos como
libertad, propiedad individual o patria potestad, invocados por las autoridades y demás
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actores involucrados y afectados por las reformas. En segundo lugar, dar cuenta de las
diferentes experiencias que convivían en el Río de la Plata en torno a la posesión y
administración de la tierra asignada a los indios. Para ello, partiremos del análisis del
expediente tramitado en la Real Audiencia de Buenos Aires entre 1804 y 1809. Dicho
expediente reunió las disposiciones reales, consultas, memoriales, peticiones de autoridades
religiosas, funcionarios civiles de Buenos Aires, del nuevo gobierno de Misiones y de los
propios pueblos de indios, así como de particulares afectados por las medidas. Proponemos
además, ampliar el análisis a otras fuentes éditas e inéditas relacionadas con la administración
y gobierno de otros pueblos de indios reconocidos por la Corona en el ámbito rioplatense.
Dichos documentos se preservan en el Archivo General de la Nación, Argentina y otros
archivos locales.

La citación judicial como instrumento jurídico en la reivindicación de bienes


de uso común. Un estudio de caso (Aldea de São Pedro de Cabo Frio, 1838-
1851).
Camilla de Freitas Macedo
Durante el primer siglo de la independización política brasileña, los conflictos ya habituales
entre indígenas y colonos por la tierra adquirieron nuevos matices en el plano jurídico, que
derivaban del progresivo intento legislativo de fomentar la absolutización de la propiedad
privada. En este contexto de cambio, analizamos en este trabajo los recursos jurídicos
utilizados por los indígenas de São Pedro de Cabo Frio para mantener la posesión sobre las
tierras que habían obtenido en sesmaria colectiva durante el periodo colonial. Este conflicto
llegó a segunda instancia en el Tribunal de la Relación de Rio de Janeiro, y fue incluso sometido
al Tribunal Supremo Imperial por alegación de injusticia notoria. La argumentación jurídica
contenida a lo largo del proceso judicial muestra bien ese periodo de transición también en el
plano de los fundamentos del derecho. Así, las referencias al Directorio de los Indios aprobado
por el marqués de Pombal a mediados del siglo XVIII y revocado a finales del mismo siglo se
combinan con referencias al espíritu de la legislación imperial, al derecho consuetudinario, así
como con el derecho constitucionalmente reconocido a la propiedad, todo ello con el objetivo
de construir un relato consolidado en el tiempo desde diferentes vertientes. En el caso de la
Aldea de São Pedro, será determinante precisamente el carácter colectivo del titular de la
tierra, pues este elemento sirvió para modificar la configuración de la citación judicial.
Considerando que las citaciones de sujetos indeterminados deberían ser hechas mediante
citación por Edictos, la colectividad sirvió finalmente como un fuerte argumento procesal
contra la invasión particular de las tierras de la Aldea. Las fuentes utilizadas en este estudio
fueron el proceso judicial relativo a la demarcación de las tierras de la Aldea de São Pedro de
Cabo Frio (1838-1851), así como la legislación alegada por los agentes, leída bajo la luz de la
doctrina contemporánea al proceso
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La hacienda de Santa María Jamapa: consolidación y ocaso de una


propiedad agraria en un pueblo de Veracruz (México, 1856-1918)

Sergio Rosas Salas


En México, la historiografía reciente ha insistido en la importancia de enlazar los procesos
agrarios de la Reforma liberal y la revolución mexicana, en un largo periodo que va de la
década de 1850 al menos hasta 1940, para comprender mejor la manera en que las sociedades
locales (re)definieron la propiedad, distribución, explotación y disfrute de los recursos
naturales durante la implantación del liberalismo en el país. Como se sabe, el marco
cronológico está marcado por dos grandes leyes: la ley Lerdo emitida el 25 de junio de 1856 y
la ley que inició el reparto agrario, emitida por el régimen constitucionalista el 6 de enero de
1915. A pesar de los avances en este sentido, aún es necesario pofundizar en la tarea de
comprender la forma en que la propiedad agraria se transformó a lo largo de los siglos XIX y
XX, en el entendido de que los diversos espacios y escenarios naturales, así como las
diferentes lógicas sociales, dieron forma a diversos procesos sociales y regionales a lo largo y
ancho del país. A partir de estos elementos, esta ponencia tiene como objetivo analizar a
partir de la perspectiva regional la historia de la hacienda de Santa María de Jamapa, en el
pueblo y municipio del mismo nombre, para comprender mejor la forma en que se consolidó,
transformó y desmembró la hacienda en México entre la reforma liberal y la revolución
mexicana. El trabajo argumenta que la interacción entre el propietario, los rancheros y los
medieros dieron forma a una relación triangular que expresó localmente un amplio
malestar por el acaparamiento de tierras, que sólo se resolverá a través del reparto agrario. En
ese sentido, el trabajo abona a partir de un estudio de caso al estudio de la definición de la
propiedad de tierras y aguas en un pueblo y un municipio del estado de Veracruz. La fuente
principal son el archivo privado de la hacienda (conservado en la ciudad de Puebla) y los
expedientes de reparto agrario conservados en el Archivo General del Estado de Veracruz, en
Xalapa.

Exclusivo, absoluto y perpetuo: la concepción decimonónica del dominio y su


impacto en el acceso y explotación de recursos en las comunidades indígenas
de Córdoba, Argentina, siglos XIX-XX

Dra. Pamela Alejandra Cacciavillani.

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El periodo de transición jurídica que representan las últimas décadas del siglo XIX y comienzos
del XX en Latinoamérica, demanda una sensibilidad que permita visualizar aquellos espacios
dónde el sistema jurídico se transforma. Las investigaciones locales relativas al proceso de
desestructuración de las comunidades indígenas señalan la segunda mitad del siglo XIX como
el momento a partir del cual “la instauración y vigencia de marcos jurídicos distintos a los
imperantes en la colonia provocaron una serie de pérdidas de los derechos indígenas” (Teruel
& Fandos, 2009, p. 251). Para el caso argentino, se ha señalado que en el Código Civil “no
existía la figura del indígena como característica determinante de efectos jurídicos, sino que
el principio prevaleciente era el de la igualdad ante la ley” (Alvárez, 2009, p.93). A pesar de la
escasa visibilidad del indígena en la Constitución y el Código Civil, en Córdoba las fuentes
revelan, la influencia de estos instrumentos jurídicos en la vida de algunas comunidades
indígenas. No obstante el rol del Código Civil, será a través de disposiciones administrativas,
que la posesión y la propiedad de las tierras comunales, serán redefinidas para consagrar un
dominio absoluto, perpetuo y exclusivo. Para comprender los conflictos emergentes con las
formas comunales de propiedad indígena, propias de los tiempos coloniales, analizaremos:
legislación nacional y provincial, expedientes judiciales y reclamos administrativos de las
comunidades.

Conflicto por derechos de propiedad de montes en el distrito de Maravatío,


1870-1910
Paola Sánchez Esquivel
Michoacán fue una de las entidades en las que, desde épocas tempranas comenzó con la
desvinculación de la propiedad comunal a partir de la ley de 1828, no obstante, este proceso
no culminó sino hasta finales del mismo siglo XIX. Fue en 1851 cuando se reactivó la división
de las propiedades que los pueblos aún conservaban comunalmente. Como parte de este
proceso se suscitaron diversos conflictos entre los integrantes de los pueblos y de estos con
hacendados por el acceso a los recursos. Es por ello que a partir del análisis del conflicto por
límites entre los pueblos de Tupátaro y San Miguel el Alto con la Hacienda de Pomoca se
estudiará las formas de acceso a los recursos naturales a finales del siglo XIX. El análisis de este
proceso nos ayudará a conocer los cambios y o continuidades en el acceso, manejo y control
de los montes de frente a las disposiciones legales en torno a la propiedad de la tierra. Este
pasaje en la historia de los pueblos se desarrolla a partir de las quejas por parte de dueños de
la hacienda de Pomoca ante las supuestas invasiones de los pueblos en los montes que
consideran de su propiedad; y de los argumentos que por su parte emiten los de Tupátaro y
San Miguel el Alto para defender su derecho al acceso de los mismos recursos.

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Vida cotidiana y redefinición de derechos de propiedad en terrenos


de resguardo. Pasto (Colombia), 1890-1921
Fernanda Muñoz
El propósito de esta ponencia es detallar cómo, en una zona del suroccidente colombiano,
Pasto, se fueron redefiniendo los derechos de propiedad en torno a los resguardos (tierras
comunales) de las parcialidades indígenas en un contexto modernizador donde la política
gubernamental añoraba desmantelar el régimen de propiedad comunal. Esta zona llama la
atención porque durante el siglo XIX y hasta las primeras décadas del siglo XX, como en otros
lugares del suroccidente colombiano, los resguardo no se dividieron, a pesar de la política
nacional que buscaba implementar el modelo de propiedad privada. La presentación se centra
en un periodo durante el cual imperó un gobierno centralizado que se instauró con la
Constitución de 1886. Inicio en 1890 debido a que en dicho año se expidió una ley que decretó
la división de los terrenos de resguardos a nivel nacional aplazándola al término de cincuenta
años desde la expedición de la disposición.1 El camino de la política privatizadora continuó
siendo sinuoso hasta que en 1921 se ordenó la división de los terrenos de resguardos en
el conjunto nacional. El objetivo específico de la ponencia es analizar la redefinición de
los derechos de propiedad en torno a los terrenos de resguardo que se poseían
y usufructuaban por familias o individualmente (lo que en México se conoce como tierras de
común repartimiento) antes de que se pusiera en marcha el proceso de división y reparto que
se concretaría en las décadas del 30 y 40. Propongo abordar el proceso previo al
desmantelamiento del régimen comunal para tener un marco de antecedentes complejo que
permita comprender el lugar de la ley, las prácticas de propiedad y las relaciones sociales en
dicho proceso, sin dar por sentado que la redefinición de derechos de propiedad concernía
exclusivamente a la ley. Considero que la redefinición de los derechos de propiedad respecto
a los terrenos de resguardo no se puede entender sin tejer un contrapunto entre el
marco legal y la vida cotidiana de las comunidades que atañe a las relaciones
entre autoridades del pequeño Cabildo indígena (órgano encargado de administrar
los terrenos de resguardo) y demás miembros de la comunidad, la relación entre indígenas y
personas externas a la comunidad, las normas internas para acceder a la posesión y goce de
tierras (tales como casarse entre indígenas, prestar servicios al gobierno civil y eclesiástico), al
igual que las disputas entre indígenas de una misma familia (generalmente por herencia) o
con otros indígenas o vecinos y hacendados, y el papel de las autoridades civiles (a nivel
distrital y municipal) en los conflictos por resguardos.

DESAMORTIZACIÓN E INDIVIDUALIZACIÓN DE LA TIERRA EN LA REGIÓN


LACUSTRE DE CUITZEO, MICHOACÁN. El caso de las comunidades campesinas
de Santa Ana Maya y San Buenaventura Huacao
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Alfredo López Ferreira

Durante el siglo XIX en Michoacán los intentos formales de desamortizar e individualizar las
tierras pertenecientes a las comunidades campesinas se debieron más a la legislación estatal
que a la federal. En los años 1827 y 1851 el congreso local expidió leyes con el propósito de
desaparecer el carácter corporativo de las propiedades campesinas y el objetivo de crear
pequeños propietarios, en contraste la ley federal de 1856 abrió la posibilidad de que los
bienes agrarios corporados pasaran a los arrendatarios de éstas o se vendieran al mejor
postor. En un primer momento y de manera paralela a las iniciativas institucionales,
desde finales del siglo XVIII y hasta el último tercio del XIX, en la ribera norte de la Laguna de
Cuitzeo, en la región del Bajío, lugar donde se asentaban las comunidades campesinas de
Santa Ana Maya y San Buenaventura Huacao, una compleja gama de actores como
arrendatarios, comerciantes, prestamistas, rancheros, hacendados y la orden religiosa de los
agustinos, participaran de manera activa y agresiva para que, a pesar de la inestabilidad
política y social y de la relativa cohesión, no exenta de fuertes tensiones al interior de ambas
comunidades, fueran arrebatando y adquiriendo importantes porciones de sus bienes rústicos
y urbanos. Posteriormente, a partir de 1869 el gobierno del estado reimpulsó con energía
la división e individualización de las tierras de los pueblos. Una de las estrategias usadas para
que las medidas legales emitidas favorables a la desaparición de la propiedad corporativa civil
en Michoacán consiguieran este objetivo, fue exigiendo el pago de los impuestos a partir de
excesivas reevaluaciones sobre las propiedades rústicas de las comunidades campesinas y
además negándoles cualquier representatividad jurídica. Estas maniobras fueron unas de las
principales causales externas que propiciaron la aceleración de la pérdida y división de las
tierras, contribuyendo a la desintegración de las comunidades campesinas de Santa Ana Maya
y San Buenaventura Huacao.

Tierras de común repartimiento y formación de ranchos en el sistema de


riego de Cuautitlán, Estado de México, 1856-1911
Porfirio Neri Guarneros

Gloria Camacho Pichardo

En México, el 25 de junio de 1856 se expidió la ley sobre desamortización de fincas rústicas y


urbanas. Esta ley decretó que las corporaciones civiles debían privatizar sus bienes comunales,
además prohibieron a los pueblos y ayuntamientos poseer bienes raíces. En el Estado de
México, el proceso privatizador tuvo diferentes matices; en algunos lugares los pueblos
rechazaron la desamortización, como en Acambay y Sultepec; pero en otros no se
manifestaron inconformidades, como sucedió en Teotihuacán (Mendoza, 2016) y algunas
municipalidades del valle de Cuautitlán. En la municipalidad de Cuautitlán la desamortización
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de las tierras de común repartimiento inició un mes después de haberse emitido la ley del 25
de junio de 1856 (Neri, 2017). Por ejemplo, entre los meses de agosto y noviembre de 1856
varios vecinos de los pueblos pertenecientes a la municipalidad solicitaron la adjudicación de
sus tierras de común repartimiento: las tierras en cuestión presentaban una característica
importante, se encontraban dentro del sistema de riego formado a partir de la Pila Real de
Atlamica. El proceso de adjudicación de tierras de común repartimiento realizado en el valle
de Cuautitlán potencializó el mercado de tierras existente en la región, y al mismo tiempo
originó la formación de ranchos. Amparados en la certeza jurídica que les daba la ley del 25
de junio de 1856, varios comerciantes nacionales y extranjeros empezaron a comprar las
tierras de común repartimiento ubicadas en el sistema de riego, para instalarse en ellas y
trabajarlas. En este contexto el texto muestra el proceso desamortizador de las tierras
de común repartimiento y la formación de ranchos en el sistema de riego de Cuautitlán, entre
1856 y 1911. Se analiza cómo la existencia de tierras fértiles, unido al acceso al recurso hídrico,
propició una rápida desamortización de este tipo de tierras en los pueblos de la municipalidad
de Cuautitlán; principalmente, en los pueblos de Santa Bárbara, San Mateo, San Lorenzo, San
Sebastián y Santa María. De la misma manera, se examina la formación del Rancho del Peral
en el pueblo de Santa Bárbara, a partir de la compra de tierras desamortizadas que realizó
José Pico Cerro.

Direito à terra e capacidade civil: uma análise combinada da legislação


indigenista brasileira

Carolina Augusta de Mendonça Rodrigues

A Constituição de 1988 avançou significativamente ao reconhecer aos índios os direitos


originários sobre as terras que ocupam, destinando-as à sua posse permanente e garantindo
o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nela existentes. Além disso, o
texto constitucional superou o paradigma integracionista e admitiu o direito à alteridade
como um de seus princípios conformadores. Apesar desse reconhecimento do direito à
ocupação indígena, que esteve presente de forma contínua na legislação pátria, a
administração dessas áreas por muitos momentos ficou a cargo do Estado, limitando a
autonomia indígena em seus territórios. Neste sentido, a atribuição de capacidade civil aos
índios sempre esteve entremeada com a questão do apossamento territorial, embora fossem
tratadas muitas vezes por legislações diversas. Se, por um lado, a tutela se prestou a assegurar
a integridade das terras indígenas, por outro lado, operou com um mecanismo de controle
para que essas áreas sempre estivessem em poder do Estado. A tutela, então, cumpre o papel
de mediação para que os indígenas tenham acesso aos direitos de cidadania de
forma compatível com sua condição inferiorizada em relação aos demais sujeitos.
Esse instrumento se manifestou de forma sutil ou explícita sob diversas roupagens
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na legislação: controle dos atos da vida civil, imposição da educação


universalizante, administração e destinação dos bens e das terras por agentes públicos,
demarcação administrativa dos territórios, cláusula de inalienabilidade das terras indígenas e
até mesmo a reserva da propriedade das terras à União. Embora tenha assumido diversos
contornos ao longo da prática indigenista, a tutela teve um papel fundamental de legitimar a
intervenção do poder público nas terras indígenas, muitas vezes extrapolando a função de
mera assistência prevista no Código Civil. Assim, ao passo em que o indigenato se consolidava
na legislação, a tutela se aprofundou como um mecanismo de controle estatal sobre esses
territórios, num processo ambivalente dominado sempre pela lógica de prevalência
dos “interesses nacionais”. Como lembra Rita Segato (2013), a história da colonização no
Brasil é a história da apropriação da terra. E a tutela é parte disso. A presente pesquisa tem
como objetivo analisar a evolução da legislação indigenista no que diz respeito às garantias
territoriais, em paralelo às normas relativas á capacidade civil do indígena, bem como discutir
de que forma a tutela ainda se encontra inserida no discurso do Estado, operando
efetivamente no processo de desapossamento territorial, embora tenha sido afastada da
legislação no advento da Carta Constitucional de 1988.

Estado, Justiça e o Direito indígena sobre suas terras: o caso da TI São Marcos
– RR
Tacio José Natal Raposo
Luiz Gustavo Raposo
O conflito na TI São Marcos (Decreto, 312 de 29.10.91) com a manobra política e a criação da
cidade de Pacaraima (L.96 de 17.10.95) começa a se tornar mais complexo no período da
ditadura militar e expansão capitalista na Amazônia principalmente a partir da década de
1970, com divisão territorial da força de trabalho com grandes projetos estatais de indústrias,
agropecuária e de mineral para região. Na mesma da década, começam as iniciativas mais
significativas para regularização jurídica e administrativas de TIs na região. A evolução
do contexto leva anos mais tarde com promulgação da CF 1988, no processo
de redemocratização do país, e com ela a demarcação e homologação da TI São Marcos
inserindo esse espaço no norte de Roraima a um ordenamento de direitos dos indígenas sobre
suas terras de ocupação tradicional. O mesmo contexto constitucional dá aos estados
brasileiros a autonomia de criarem novos municípios brecha que possibilita de forma irregular
a criação da cidade de Pacaraima é a tentativa de inauguração da propriedade privada sobre
a TI São Marcos. A análise sobre os aspectos jurídicos dessa contradição se dá partir da CF1988
e seus antecedentes, e compõe parte da pesquisa de doutorado em andamento junto ao
Instituído de Geografia da Unicamp. A análise parte da crítica de realidade procurando
analisar os fatos e suas relações com a totalidade da produção social buscando superar a
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forma aparente, na busca pela essência dos fatos conforme o método do materialismo
histórico preconiza. Embora assegurada constitucionalmente as TIs vem sofrendo ataques
constantemente, esses ataques decorrentes de retrocessos políticos e jurídicos marcados
pelas mudanças recentes na configuração política e jurídica do país e por consequência das
leis, incluindo a adoção do critério do Marco Temporal definido na homologação da TI Raposa
Serra do Sol e pela PEC 215/200 que afeta o direito dos indígenas as suas terras, por
representar um ataque aos direitos já garantidos e a negação de sua continuidade e/ou a
conquista de novos direitos. O movimento que tenciona os direitos dos indígenas e expansão
das práticas capitalista que por meio de arranjos institucionais no Estado leva para região
a pretensão da inauguração da propriedade privada da terra e a lógica de dominação do
interesse e direito particular-privado sobre o direito coletivo que marca a cultura indígena que
são os detentores constitucionais da posse da terra. A análise dos aspectos jurídicos desse
processo pretende evidenciar a ampliação do processo de espoliação de indígenas de suas
terras originarias, com a promessa de “inauguração” da propriedade privada no loteamento
e fracionamento do espaço.

A violação dos direitos territoriais dos povos indígenas do brasil a partir do


novo marco regulatório da mineração
Lorena Lima Moura Varão
São promessas de criação de empregos e dinamização da economia e ‘crescimento’. Em contraste ao
discurso, que legitima a instalação de grandes empreendimentos, povos indígenas denunciam a
insustentabilidade da atividade minerária com suas práticas históricas de ocupação e de uso do
território. No que diz respeito à questão indígena, o foco recai sobre o uso dos direitos territoriais e a
resistência étnica contra o uso externo dos recursos naturais (SOUZA FILHO, 2010). Nesse contexto, a
invasão das terras indígenas para a exploração ilegal dos recursos naturais é uma realidade que atinge
o Brasil. Em relação à mineração formal nessas terras, o artigo 231, §3o, da CF/88, determina que “a
pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivadas com autorização
do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos
resultados da lavra, na forma da lei”. No entanto, embora seja um debate antigo no Congresso
Nacional, a matéria não foi regulamentada. Ademais, os conflitos entre a mineração e os povos
tradicionais são agudizados pelo modo como é estruturado o licenciamento ambiental, em que as
empresas e o Estado retêm o poder de definir os significados das categorias envolvidas
nos licenciamentos e execuções das obras sem que sejam previstas fases adequadas para a
participação dos povos indígenas (ZHOURI, 2008). Enrique Leff (2006) ressalta que as novas lutas pelo
desenvolvimento sustentável se associam com as lutas pela democracia, quer dizer, por uma
decisão consensual a partir das próprias bases das organizações populares, garantindo a participação
direta na gestão de seus recursos produtivos. A história da mineração no Brasil demonstra que a
prioridade, em nome do interesse público, dada pelos governos às atividades minerais em relação a
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outros usos econômicos e culturais dos territórios, longe de ser construída através de processos
democráticos, tende a provocar a perda das bases de reprodução socioeconômica dos grupos locais
dado o caráter de controle e reorganização do espaço que a dinâmica mineral impõe aos
territórios. Portanto, o objetivo geral da pesquisa é analisar se existe possibilidade de regulamentar a
mineração sem violar os direitos humanos dos povos indígenas. Especificamente, objetivam-se
caracterizar a atividade mineradora dentro do contexto neoextrativista implementado no Brasil,
apontar a oposição existente entre a regulamentação da mineração a partir dos direitos coletivos e
analisar como o direito vem legitimando as violações cometidas pelas empresas mineradoras em
desrespeito aos direitos territoriais dos povos indígenas.

Derechos de propiedad ancestral indígena sobre las aguas. Una mirada desde
el derecho consuetudinario de los pueblos andinos del norte de Chile.
Karenn Alejandra Díaz Campos

El presente documento tiene el propósito de ser una investigación que aporte al estudio de
mi disciplina sobre la delimitación de la relación que, el Estado de Chile ha mantenido con los
pueblos originarios andinos, sobre el uso compartido del agua, desde una perspectiva jurídica
y social. Así las cosas, considero importante establecer que, a nuestro juicio, no se han
implementado verdaderas políticas públicas que, apunten a responder a las necesidades de
reconocimiento de la posesión ancestral de las aguas de los pueblos indígenas. Dicha postura
se sostiene en los siguientes puntos: 1) la Constitución Política de la República de Chile no
contiene un verdadero reconocimiento de su carácter intercultural, a pesar de reconocer a
nivel de Ley nueve pueblos indígenas nacionales. 2) En América Latina, las "culturas de aguas"
forman parte del uso y manejo racional del agua y en Chile no se tiene una verdadera
claridad conceptual sobre el alcance de estos usos consuetudinarios 3) El uso
consuetudinario del agua por los pueblos indígenas del desierto de Atacama ha sido
reconocido como un ejercicio de derecho propio de pueblos indígenas en Chile, tanto a nivel
académico como judicial. De esta manera, debemos entender que esta investigación busca
realizar una defensa de la "cultura del agua" de los pueblos indígenas, dentro de un país que
se denomina como social de derecho. En tal sentido se postula que, en Chile coexisten varios
sistemas jurídicos, el impuesto por el Estado nacional y el propio indígena, lo que, en este
último caso, debería implicar el derecho de los mismos indígenas a auto determinar su uso del
agua y ello debe ser reconocido por las políticas públicas de cuidado del agua en Chile. La tesis
fundamental de este trabajo busca argumentar que, una aplicación cabal del Convenio No169
de la OIT en Chile demanda una nueva perspectiva en el tratamiento de nuestros pueblos
originarios, siendo esta fundamentalmente intercultural. Lo anterior supone instalar un
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modelo jurídico intercultural, que permita asegurar el cumplimiento de los deberes


internacionales del Estado de Chile, así como que se configure un bloque jurídico de
protección a nuestros pueblos indígenas. A fin de dilucidar el estado del arte, esta
investigación se centrará en el estudio de la declaración como área de restricción para nuevas
aguas subterráneas el sector hidrogeológico de aprovechamiento denominado Pampa del
Tamarugal, y cómo esta decisión tomada por la Dirección General de Aguas de Chile, en
efecto, imposibilita a los usuarios ancestrales de aguas subterráneas nuevos procesos de
constitución o reconocimiento del derecho de propiedad de los pueblos indígenas, los que
tienen un título anterior a la constitución del Estado.

De la mercantilización hídrica a la inseguridad alimentaria: un problema de


salud pública en los pueblos y comunidades indígenas de México.
Dionisio Ernesto Lagunes González
Paulina Elisa Lagunes Navarro.
Una de las prioridades de los países es garantizar la seguridad alimentaria de sus sociedades,
con la finalidad de prevenir el hambre y la desnutrición, y así cumplir con los Objetivos del
Desarrollo Sustentable (ODS). Sin embargo, uno de los factores que afecta a la seguridad
alimentaria es la inseguridad hídrica, sea por la escasez o contaminación de dicho recurso.
Aunado al hecho de que en México se ha ido concesionado el vital líquido a
empresas embotelladoras de bebidas azucaradas. Situación que vulnera el derecho al acceso
al agua, principalmente, para los pueblos indígenas. Todo lo anterior, ha ocasionado que los
pueblos indígenas tiendan a consumir bebidas azucaradas en exceso al ser un sustituto del
agua, lo cual se traduce en cambios en su alimentación y cultura y, propensos a ciertas
enfermedades como la obesidad y diabetes. Un ejemplo de esto, es el estado de Chiapas quien
es un gran consumidor de bebidas azucaradas como la Coca Cola. Y es aquí, en donde reside
la incongruencia del Estado mexicano. Por un lado, México se posicionó en el 2o lugar con alto
índice de obesidad (y, por consiguiente, en diabetes) a nivel mundial. Posteriormente, en el
2014, México implementó programas y medidas fiscales como el impuesto a bebidas
azucaradas y comida rápida, para combatir la obesidad y la diabetes. Sin embargo, tal
impuesto ha estado en controversia sobre su funcionalidad para reducir la obesidad en el país
ya que ha habido un incremento en el índice de la obesidad y la diabetes entre los años 2012
y 2016, en donde el 90% de los casos de diabetes mellitus se relaciona con el sobrepeso y
obesidad, según la Federación Mexicana en Diabetes, A.C. Así mismo, existe una barrera en la
comunicación entre los pueblos indígenas y el etiquetado en los productos alimenticios como
lo son las bebidas azucaradas, ya que no están en su lengua y, en consecuencia, se es
vulnerado el derecho de los consumidores de ser informados sobre lo que consumen. Dicho
lo anterior, hace preguntarnos ¿bajo qué perspectiva entiende el Estado mexicano la
seguridad alimentaria? y, ¿cómo pretende cumplir con los ODS?
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Continua luta pela terra entre indígenas e agricultores e o conflito de


interesses gerado pela Medida Provisória n° 870 de 1 de janeiro de 2019
Karen Regina Silva Costa

Jahdy Andrade de Brito

A cultura indígena com suas características sociais próprias se opõe ao modelo capitalista por
não visar o lucro. Dessa forma, se torna uma cultura contra hegemônica e com o passar dos
anos sofreu graves consequências por sua resistência. No Brasil, os índios foram mistificados
como incapazes de organizar o seu território e de produzir, discurso preconceituoso que foi
usado para tomar suas terras. Os direitos dos indígenas brasileiros foram conquistados ao
longo do tempo. As terras dos índios foram protegidas por meios de alvarás como o de 1o de
abril de 1680 que declara que a posse da terra pelo índio não poderia ser afetada
pelas sesmarias. Porém a maior parte dos índios não falavam a língua dos portugueses e não
sabiam ler ou escrever, dessa forma não obtinham conhecimento dos seus direitos, o que era
aproveitado pelos colonizadores. A maior oposição das tribos indígenas são os agricultores.
Essa tensão se elevou durante a expansão agrícola, quando a fronteira agropecuária começou
a avançar nas terras ocupadas pelos indígenas, gerando conflitos. Enquanto a terra
é meramente uma forma de produção para os agricultores, ela tem uma representação maior
para os indígenas, além de forma de sustento, ela é sagrada para eles. Nas palavras do cacique
Seattle o “homem branco não compreende nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra
é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto
necessita. ” (CULTURA BRASIL) Em 1967 foi criada a FUNAI, Fundação Nacional do Índio, ela
era a responsável pela identificação, delimitação, demarcação, regularização fundiária e
registro das terras indígenas no Brasil. Com a mudança presidencial que ocorreu em 2019
isso mudou, Jair Messias Bolsonaro, novo presidente eleito, em seu primeiro dia de mandato
fez várias alterações nos ministérios e em suas funções. Dentre as mudanças destacam-se a
delimitação e demarcação de terras indígenas que passam a ser controlada pelo ministério da
agricultura, o que pode ser caracterizado como conflito de interesses, demonstrando que os
indígenas após séculos ainda não possuem seus direitos assegurados em relação a sua sagrada
terra. Diante disso, o trabalho tem o objetivo de demonstrar a longa luta pela terra entre os
agricultores e os indígenas, assim como o significado dela para cada um e como a medida
provisória do novo governo irá afetar os indígenas. Para se chegar a esse resultado foi feita
uma análise bibliográfica do conteúdo já produzido sobre o assunto e também sobre os
impactos e perspectivas gerados pela mudança feita pelo novo governo brasileiro.

ST 38 | O futuro das línguas indígenas brasileiras

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Ana Suelly Arruda Câmara Cabral (Universidade de Brasília – UnB, Brasil); Rosileide Barbosa de
Carvalho Kaiowá (Universidade de Brasília – UnB, Brasil); Iran Kav Sona Gavião (Universidade de
Brasília – UnB, Brasil).

O ano de 2019 foi declarado pela UNESCO “O ano das línguas indígenas”. No site lançado por essa
instituição, lê-se “Grande parte das línguas faladas por povos indígenas continuarão a desaparecer em
um ritmo alarmante. Sem medidas apropriadas para abordar esse problema, a contínua perda de
línguas e de suas histórias, tradições e memórias reduzirão consideravelmente a riqueza da
diversidade linguística no mundo”. O Brasil, pais com o maior número de línguas indígenas e de maior
diversidade linguística das Américas apresenta um quadro angustiante de línguas ameaçadas, muitas
das quais em estágio final do processo de extinção. O povo Akuntsú, vítima de genocídio ocorrido na
década de 1990, foi reduzido a 4 pessoas que não têm a quem transmitir a língua de seus ancestrais.
A língua Kanoê sobrevive na fala dos últimos três falantes fluentes, a língua Sabanê corre sério risco
de extinção, assim como as línguas Júma, Karipúna e Piripkúra. Rodrigues (1993) fez uma projeção de
1.200 línguas faladas na época da chegada dos europeus, mas atualmente há apenas 190 línguas,
aproximadamente, parte das quais são apenas lembradas pelos últimos guardiões do que foram
línguas plenamente faladas por seus respectivos povos. Segundo a UNESCO, há 45 línguas criticamente
ameaçadas no Brasil, 10 na Bolívia, 14 no Perú, 12 na C olômbia, 2 no Equador, 8 na Venezuela, 2 no
Paraguai, 2 na Argentina, 2 em Costa Rica, 3 em Honduras, 32 no Canadá e 71 nos Estados Unidos. Este
simpósio elege como tema o futuro das línguas indígenas das Américas, no qual serão privilegiados
trabalhos que discutam políticas e planejamentos linguísticos, estratégias de revitalização de línguas
em curso pelas comunidades indígenas, a necessidade de documentação e formação de leitores em
línguas indígenas, a formação de linguistas indígenas e seu papel no fortalecimento do uso de suas
respectivas línguas, como frear o deslocamento das línguas indígenas face a influência do Português
e/ou do Espanhol, como os órgãos governamentais de educação e cultura podem contribuir para um
futuro promissor das línguas nativas das Américas. Espera-se que este simpósio seja enriquecido com
a participação significativa de professores, pesquisadores e lideranças indígenas representantes dos
povos falantes de línguas indígenas das Américas e interessados no futuro dessas línguas, vivas.

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Classificadores no ensino da língua Baníwa

Valkiria Apolinário

Ana Suelly Arruda Câmara Cabral

A classificação dos referentes dos nomes em Baníwa é um dos seus traços mais significativos,
pois revela o modo como os Baníwa vêem os elementos que compõem o mundo. Formas,
funções texturas, posições entre muitos outros traços culturalmente salientes são marcados
nos nomes e seus modificadores por meio de sufixos. Alguns nomes apresentam fluidez ao se
combinarem com mais de um classificador a depender do contexto pragmático (BANÍWA,
2009). O número de classificadores de línguas ocmo o Baníwa e seu parente mais próximo, o
Kuripako, assim como a impossibilidade de traçar a etmologia de alguns classificadores são
argumentos para se postular uma antiguidade para o sistema classificatório nominal dessas
duas línguas. Classificadores em Baníwa foram descritos por Baltar (1995), Henri Ramirez
(2001), Airkenvald (2007) e Melgueito (2009). O presente estudo considera os trabalhos
precedentes e contribui com novos dados sobre o uso de classificadores na fala coloquial e
nos discursos formais (ritualísticos, por exemplo). Por ser o sistema de classificador uma prova
fundamental de que a língua Baníwa se organiza a partir da cultura milenar de seus falantes,
o seu conhecimento deve ser fortalecido junto às novas gerações, pois sofre grandes impactos
causados pelo contato cada vez mais intenso com o Português. Com base nesses fatos, o
presente estudo discute a importância de criação de estratégias linguísticas e pedagógicas
para o ensino e fortalecimento do uso do rico sistema de classificadores da língua Baníwa em
suas escolas.

O bilinguismo no contexto histórico e atual na comunidade Kaingang: o papel


do colégio rural estadual indígena Rio das Cobras na luta para fortalecer a
língua indígena no ambiente escolar

Viviane Kellen Vygte Barão

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O presente trabalho visa tratar sobre o histórico do bilinguismo indígena no Paraná,


principalmente no que tange a língua Kaingang, assim de acordo com D’ Angelis discorre-se
sobre as iniciativas do Serviço de Proteção ao Índio, passando pela FUNAI e por fim para o
Ministério da Educação. Como funcionaram e ainda funcionam os programas feitos pelo
governo, e a importância para o fortalecimento da língua materna, além da forma de
preparação para os educadores que irão lecionar nessas escolas e suas particularidades. No
entanto, o foco dessa pesquisa é evidenciar a questão do bilinguismo na escola indígena
Kaingang da Terra Indígena Rio das Cobras, localizada no município de Nova Laranjeiras, no
Estado do Paraná, onde residem indígenas das etnias Kaingang e Guarani, maior presença
Kaingang. No decorrer do trabalho, apresentamos questões que se iniciam no processo
histórico do contato indígena com a sociedade ocidental, até chegar aos dias atuais com o
papel do Colégio Rural Estadual Indígena Rio das Cobras, e a partir disso buscamos
contextualizar as dificuldades no letramento e na aquisição na língua portuguesa
apresentadas pelos alunos indígenas na atualidade, os quais são mais fluentes em sua primeira
língua a materna. Aprofundaremos o conhecimento sobre o Bilinguismo, pois é importante
para identificar e fortalecer a identidade linguística dos indígenas Kaingang, na tentativa de
revitalizar a língua nos espaços escolares indígenas onde a língua portuguesa avança sobre a
língua materna. Também é importante entender porque o interculturalismo é válido apenas
para os indígenas e não para a sociedade não indígena envolvente? Assim, difundir a luta por
uma educação bilíngue e diferenciada, buscando estimular a atenção do Estado para a
educação escolar indígena, frágil e limitada, urgente quanto necessária. Em consequência, a
educação formal direcionada aos povos indígenas por muito tempo desconsiderou suas
peculiaridades, pautando-se, assim, em um paradigma homogeneizador. Essa forma de
proceder persistiu até os anos 1980, quando o Brasil passou a experimentar modificações em
sua estrutura interna. Vale acrescentar que as ações pedagógicas mostraram-se fundamentais
no diálogo entre lideranças indígenas e a sociedade majoritária, culminando com a
promulgação da Constituição de 1988, a partir da qual práticas educacionais seguiram novos
rumos. De acordo com os primeiros dados colhidos em entrevistas e coleta de dados nas
legislações, pudemos chegar à conclusão de que, para que se promova o desenvolvimento de
uma boa educação nas duas línguas faladas pelo indígena Kaingang, de maneira que o aluno
consiga uma boa aprendizagem, torna-se necessário que haja um educador bilíngue com
metodologias de ensino específicas para o ensino bilíngue na escola indígena.

Reflexões sobre o estudo de línguas indígenas no curso de educação


intercultural da UFG

Mônica Veloso Borges

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Nesta fala apresentarei algumas reflexões sobre o trabalho que venho realizando, como
professora, no Curso de Educação Intercultural de Formação Superior de Professores
Indígenas, da Universidade Federal de Goiás, cujo objetivo é a formação em nível superior de
professores/as indígenas. As reflexões que farei referem-se ao estudo das línguas indígenas
nele representadas, dos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Maranhão, pertencentes
aos seguintes Troncos e Famílias: 1) Tronco Tupi: a) Família Tupi-Guarani: Tapirapé, Guajajara,
Guarani e Kamaiurá; b) Família Juruna: Juruna; 2) Tronco Macro-Jê: a) Família Jê: Apinajé,
Krahô, Canela, Krikati, Timbira, Gavião, Xavante, Xerente, Xakriabá e Mentuktire; b) Família
Karajá: Karajá, Javaé e Karajá-Xambioá; c) Família Bororo: Bororo; 3) Família Karibe: Kuikuro e
Kalapalo; e 4) Família Aruák: Waurá, Mehinako e Yawalapi; além da língua portuguesa falada
pelo povo Tapuia. Serão abordadas atividades de documentação, análise e descrição de
aspectos fonéticos, fonológicos e morfossintáticos dessas línguas, além de aspectos lexicais,
considerando sua relação com a visão de mundo do cada um desses povos; as diferentes
formas lexicais empregadas em espaços e relações sociais diversas, constatando e valorizando
suas especificidades; e metodologias de documentação lexical e de organização de dicionários
para as línguas indígenas. Serão apresentados alguns resultados das discussões e dos
trabalhos feitos pelos/as alunos/as sobre diversos temas abordados, como: (1) Léxico, seu
contínuo processo de expansão e sua documentação; (2) Palavras antigas, em desuso, e
palavras novas/criadas; (3) Empréstimos do português e formação de novas palavras nas
línguas indígenas; (4) Palavras distintas entre idades/gerações e sexos; (5) Palavras distintas
conforme as aldeias e regiões; e (6) Linguagem especializada e linguagem do cotidiano.

Retomada Linguística Kiriri: Etnicidade e Cosmopolíticas em um povo


indígena no Nordeste

Gabriel Novais Cardoso

O presente trabalho visa apontar algumas reflexões críticas relacionadas a um projeto de


revitalização ou “retomada” de línguas indígenas dentro da área etnográfica do Nordeste,
elaboradas a partir do desenvolvimento de uma pesquisa de conclusão de curso sobre
antropologia política e etnicidade num povo indígena do sertão baiano, que se desenrolou em
conjunto com os primeiros movimentos para um projeto de revitalização linguística entre o
povo em questão. O objetivo geral deste trabalho é aproximar uma compreensão das
“ideologias da linguagem” (SCHIEFFELIN et al., 1998) entre o povo Kiriri, focando na análise de

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sua situação política. Em outras palavras, aproximar-me de uma compreensão sobre papel e
a importância da “língua dos antigos” na definição da identidade desse povo em suas relações
inter e intra-étnicas. Indo mais além, entender as implicações das conceitualizações “êmicas”
sobre língua, linguagem e suas funções, num projeto que se propõe de assessoria e
revitalização/retomada linguísticas. A pesquisa e o projeto se desenvolvem a partir do
segundo semestre de 2016 com o povo Kiriri, de território localizado entre os municípios de
Banzaê, Ribeira do Pombal e Quijingue, nordeste baiano, no médio Itapicuru, com um
território de 12.320 hectares. Esse grupo indígena, como muitos outros da região dos sertões
nordestino, resistem há cerca de 350 anos de contato com a sociedade colonial, sendo a
primeira área etnológica – após os litorais – de mais duradouro contato sistemático entre
populações indígenas e não-indígenas. O que aqui se propõe é compreender como se
articulam as representações sociais Kiriri sobre sua língua indígena - “dos antigos” - seu papel
na vida ritual e política do povo (intra e interetnicamente) e sua atual situação política,
marcada pelo “seccionalismo”: a divisão intra-étnica do grupo em secções politicamente
autônomas e que afirmam especificidades identitárias no seu modo de ser indígena ainda que
se identifiquem como participantes de uma totalidade maior: “o povo Kiriri”. Secções essas
que, inclusive, disputam, em alguns casos, uma maior legitimidade enquanto Kiriri a partir dos
mesmos diacríticos que utilizam para afirmar a unidade e especificidade do povo frente a
sociedade nacional – entre estes diacríticos, a língua indígena.

El papel del rap en la visibilización y uso de las lenguas indígenas: el caso del
toba/qom en el Gran Buenos Aires

Victoria Beiras del Carril

En Argentina, según los datos del INDEC, sólo un 35% de las personas que se reconocen como
pertenecientes a un pueblo indígena hablan o entienden la lengua vernácula. En nuestro país,
uno de los factores que promueve la vitalidad lingüística es el asentamiento en comunidades
rurales y la infrecuente migración a grandes urbes. De esta manera, los índices de vitalidad de
una lengua, no siempre están determinados por la cantidad de personas que se identifican
con una etnia en particular, sino por el uso real o efectivo de la lengua en situaciones
comunicativas (Messineo y Cúneo 2015). A lo largo de toda América latina, los y las jóvenes
de distintos pueblos indígenas están generando discursos y prácticas en torno y a través del
rap, un género asociado con la modernidad y lo “cool” (Cru 2015). En Argentina, en uno de los
barrios urbanos toba/qom más importantes de Buenos Aires, existe un grupo de “rap
originario” de jóvenes qom que, a través de sus ritmos y letras bilingües reivindica, construye

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y (re)define una particular identidad juvenil y étnica. Ellos no son hablantes fluidos de la lengua
toba, y mediante estas operaciones desafían la noción de lengua “pura” como diacrítico de
una identidad aborigen y contribuyen a generar nuevas concepciones sobre el vínculo
lengua/identidad étnica y sobre la competencia en lengua indígena. En esta ponencia
interrogo las potencialidades de revitalización/difusión/visibilización “de abajo hacia arriba”
(Cru 2015) de la lengua indígena a través de estas prácticas comunicativas, ya que se observa
una intención explícita por parte de sus autores de que esto ocurra y jóvenes de otras familias
se están acercando a ellos para aprender de estas estrategias. Ellos generan nuevos usos de
la lengua que no solo no son impulsados por las políticas lingüísticas actuales sino que son
ignorados y poco valorados. Son los mismos actores los que ponen en funcionamiento estos
mecanismos. Asimismo, a partir de estas reflexiones, me propongo realizar una
problematización del concepto de “revitalización linguistica”, en base a pensar qué significa
para los hablantes, de qué formas es posible “que no se pierdan” las lenguas, por qué es
importante que no se pierdan, para quién y de qué manera: si como diacrítico identitario,
como “patrimonio cultural” o como forma de comunicación. Finalmente, me pregunto por el
rol que ocupa el investigador en este proceso.

Educação Superior indígena e as línguas

Rosileide Barbosa de Carvalho

O que se espera da educação superior indígena com vistas ao futuro das línguas? Esta é uma
das questões que pretendemos focalizar na presente comunicação. Apresentaremos reflexões
sobre o papel do ensino superior indígena na formação de agentes educacionais voltados para
o fortalecimento das línguas e culturas de suas respectivas comunidades. Uma das questões
centrais é "em que esses cursos estão contribuindo para a criação de estratégias para a
documentação, transmissão e fortalecimento do uso das línguas indígenas nas comunidades
falantes dessas línguas.

Língua Wakalitesu/Nambikwara como língua de herança: reflexões sobre o


contexto e contribuições para o fortalecimento do ensino/aprendizagem na
escola

Alex Feitosa Oliveira


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Áurea Cavalcante Santana

Temos como objetivo neste trabalho, apresentar algumas reflexões sobre a temática das
Línguas de Herança em comunidades indígenas e a proposição de ações para subsidiar e
fomentar a relação dialógica entre a língua, os novos conhecimentos sobre ela e a inserção na
escola. Especificamente, tratamos da nossa experiência junto à aldeia Três Jacus, localizada
no município de Sapezal-MT. Observamos, entre outras questões, que muitos jovens possuem
o português como língua materna, algo comum em outras comunidades que também
vivenciam o processo de deslocamento linguístico. A comunidade em questão se constitui
como um cenário multiétnico desde o seu surgimento e, atualmente, busca políticas de
reconhecimento e valorização em torno de seus aspectos culturais e linguísticos. Com base
nessa necessidade pontual, os nossos procedimentos metodológicos compreendem,
inicialmente, em trazer considerações sobre a realidade das suas línguas conviventes, a partir
de Oliveira (2018) e, em seguida, como embasamento teórico alguns apontamentos sobre o
conceito de Línguas de Herança (FLORES, 2013; LIMAFERNANDES, 2016). Ao final,
apresentamos o modo como esta intepretação, as reflexões e a formação linguística dada aos
professores da aldeia Três Jacus têm contribuído para o fortalecimento do
ensino/aprendizagem formal da língua Wakalitesu/Nambikwara na escola.

Línguas Indígenas de Rondônia ameaçadas de extinção

Iran Kav Sona Gavião

Esta comunicação trata de línguas ameaçadas no Estado de Rondônia. Serão discutidos


problemas que têm levado essas línguas ao enfraquecimento de seu uso e mesmo à sua
morte. Serão apresentadas reflexões sobre a formação de professores indígenas em
diferentes níveis de ensino e sobre as dificuldades que essa formação enfrenta para
possibilitar aos sujeitos indígenas uma prática voltada para o fortalecimento do uso e para a
preservação de suas respectivas línguas indígenas.

Para uma dialetologia Baniwa Koripako do Rio Içana

Artur Garcia Gonçalves


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Este trabalho teve como objetivo investigar a variação dialetal da língua conhecida como
Baniwa-Koripako, falada no Rio Içana no município de São Gabriel da Cachoeira, Alto Rio
Negro. Procuramos ainda determinar se a variação encontrada se relaciona mais com a região
e comunidade de onde vem o falante, ou se remete a aspectos da organização social Baniwa-
Koripako. Para tanto, fizemos uma pesquisa etnográfica de modo a entender a organização
social e territorial Baniwa. A etnografia serviu de base para nossa pesquisa dialetológica,
realizada a partir de questionários com 24 falantes de diferentes grupos sociais e comunidades
do rio Içana, onde investigamos aspectos de variação fonética, lexical e dialetologia
perceptual. A análise dos dados se deu sob uma perspectiva qualitativa e quantitativa. A
qualitativa privilegiou as palavras que tinham maior grau de variação entre os diferentes
falantes, e nos serviu de base para perceber as principais isoglossas do rio Içana. A análise
quantitativa procurou representar numa única dimensão todos os falantes e variantes em um
modelo que representa o grau de similaridade entre os diferentes falares. Concluímos que o
Baniwa-Koripako apresenta um padrão de divisão dialetal que se explica mais pela dimensão
diatópica do que diastrática, ainda que encontramos algumas evidências para aspectos de
organização social na determinação de variantes, como fratria e territórios tradicionais.
Buscamos uma explicação para esse fenômeno a partir de algumas questões históricas e
sociolinguísticas que moldaram a sociedade do rio Içana nas últimas décadas.

Línguas indígenas ameaçadas na terra indígena Rio Branco

Edineia Aparecida Isidoro

Raul Pat’Awre Tuparí

Isaias Tuparí

No Estado de Rondônia há pelo menos 38 povos indígenas que falam mais de 26 línguas
diferentes. Muitos desses povos perderam suas Terras tradicionais, muitos, também, não
falam mais suas línguas étnicas, ou estão em processo de perda linguística e cultural
importante. Este trabalho tem por objetivo apresentar um painel da diversidade
sociolinguística do Estado de Rondônia e de forma mais específica da Terra Indígena Rio
Branco, município de Alta Floresta. Pretendemos analisar o que pode ser os principais fatores,
que nos dias atuais, contribuem para o fortalecimento ou para o enfraquecimento linguístico
e cultural dos povos que convivem na Terra Indígena. Esses povos de diferentes etnias,
sofreram perdas culturais e humanas irreparáveis devido ao contato desastroso com a
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sociedade nacional. As ameaças continuam a permear suas vidas cotidiana e precisam ser
reconhecidas e entendidas para que os povos possam construir estratégias de resistência a
elas. Para realizar esta discussão pautaremos em estudos realizados por pesquisadores
indígenas Tuparí como por exemplo o de Raul Pat’Awre Tuparí (2015) e o de Isaías Tuparí
(2015), trabalhos de pesquisadores não indígenas sobre os Tuparí como os dos pesquisadores
Kaspar (1953), Fonseca (2008), Isidoro; Amorim e Borges (2016), além de nossas próprias
investigações sobre o tema, em pesquisa de campo na Terra Indígena Rio Branco

Projeto de revitalização da Língua e da Cultura Krahô-Kanela da Aldeia


Lankraré

Wagner Krahô Kanela

Francisco Edwiges

Solange Aparecida do Nascimento

O projeto tem por objetivo revitalizar a língua e a Cultura Krahô-Kanela, resgatando os mitos,
as cantigas tradicionais, as pinturas corporais, dando continuidade às ações do “Projeto de
Apoio Pedagógico à Educação Indígena Krahô”, tendo em vista a realização de cursos de
aperfeiçoamento que habilite os professores indígenas Krahô e Krahô-Kanela a atuarem nas
escolas de suas aldeias como professores de língua materna no Ensino Fundamental e Médio,
dentro de uma proposta de educação escolar indígena bilíngue e intercultural, que venha
atender aos anseios e interesses desse povo, que é o resgate do Mito de Tyrkrẽ, suas
narrativas e a manutenção da língua e da cultura indígenas nas aldeias em que vivem. A
metodologia se apresenta como intercultural, bilíngüe agregando aspectos da pesquisa ação
numa concepção qualitativa e será executada na escola da Aldeia Manoel Alves e na aldeia
Lankraré. O projeto abrange as ações relacionadas à oferta de oficinas em língua materna,
através da participação efetiva dos dois com ênfase na aquisição da língua materna, como a
primeira a ser adquirida pelas crianças. A aquisição da Língua Indígena em contexto de
imersão oportunizará ao aluno, além do conhecimento da língua, a vivência da cultura de seu
povo nas escolas de suas aldeias. A ideia do projeto visa contribuir com a revitalização da
língua e da cultura Krahô-Kanela, bem como as dificuldades que eles enfrentam em relação às
práticas pedagógicas de Alfabetização em Língua Materna, à escrita ortográfica indígena, a
elaboração do material didático pelos próprios professores Krahô-Kanela, levando em
consideração os aspectos históricos, socioculturais e linguísticos desse povo. Assim sendo,
esperamos que ao final, os resultados possam ser utilizados também como sistematização das

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ações pedagógicas dos professores indígenas Krahô-Kanela, contribuindo para que a educação
escolar indígena seja algo incorporado às práticas sociais dos indígenas em suas iterações
intragrupo e intergrupo, promovendo a interculturalidade, razão de ser das escolas nos
domínios sociais indígenas. O projeto tem como meta/objetivo contribuir para a revitalização
do povo indígena da Aldeia Lankraré, pertencente ao povo Krahô-Kanela, através de ações
que: irão capacitar os professores indígenas e lideranças, para o fortalecimento da sua
identidade étnica e cultural. Este projeto está direcionado para capacitação dos professores
indígenas Krahô-Kanela, mas de certa forma, possibilitando o envolvimento de todos a
comunidade e liderança indígena Krahô-Kanela, com objetivo principal de contribuir para a
construção de uma proposta ortográfica desse povo, tomando por base a escrita de seus
parentes mais próximos (Krahô), para ser utilizada pelas crianças da escola da aldeia,
possibilitando aos demais indígenas da aldeia os conhecimentos de leitura e escrita em língua
materna, o projeto visa promover o intercâmbio cultural entre os povos Krahô do Tocantins
com os Krahô-Kanela do maranhão. Propõe a inclusão de conteúdo didáticos, incorporando
no currículo escolar da escola Krahô-Kanela, noções de bilinguismo e transculturalidade.

Jogo pedagógico como promoção da língua indígena para crianças não


indígenas, através da arte-educação

Andreverson P. Marinho

Marian S. Barros

Thalita Mota da Silva

Claudia Carnevskis

A presença da cultura indígena na identidade brasileira, embora permeada no cotidiano é


pouco destacada conscientemente nos espaços escolares. A partir dessa reflexão, questionou-
se uma forma de evidenciar as influências indígenas no vocabulário brasileiro e a reafirmando
como uma língua materna relativa a origem e história do povo brasileiro. Tendo como objeto
de pesquisa a cultura indígena, iniciamos durante a disciplina de Oficinas pedagógicas do
Curso de licenciatura em Artes Visuais - UFAM, uma discussão que resultou na elaboração de
um projeto de jogo pedagógico, com o objetivo de atender a proposta da disciplina, que
posteriormente transformou-se neste artigo. Deste a equipe elaborou um material didático
para crianças não indígenas, possibilitando de forma lúdica aprender os significados e origens
de palavras indígenas de diferentes etnias presentes no cotidiano brasileiro. Sendo assim
criamos o jogo pedagógico multidisciplinar Dòròtò (que na língua Karajá significa língua) que
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se apresenta na forma de tabuleiro e cartas com ilustrações de palavras indígenas, seus


significados e curiosidades. A fundamentação teórica desse material baseia-se na Proposta
Triangular de Ana Mae Barbosa (1998), estudo semiótico de Lucia Santaella (2007) e a
utilização do estilo Cartoon para a construção da imagem como símbolos de Ivam C. Silva
(2008). O jogo acontece com um mediador, que administra as jogadas e possui cartas-
resposta, cartas de dicas e curiosidades. Além das citadas, existem as cartas: pronomes,
substantivos (de origem indígena) e verbos conjugados no pretérito perfeito. Cada
participante escolhe uma carta de cada categoria e posiciona no local indicado, as cartas são
ilustrações das palavras que formarão uma frase de sentido cômico. O primeiro desafio é
interpretar as imagens e descobrir a frase. O segundo desafio é dizer o significado da palavra
de origem indígena, o vencedor será o participante que acertar mais significados. Entre os
resultados obtidos durante a aplicação do piloto na prática de campo destacaram-se a
eficiência do Jogo como difusor de conhecimento, proporcionando uma aprendizagem
prazerosa, lúdica, interativa e ampliando o olhar sobre as influências das línguas indígenas no
Brasil. Percebeu-se também que os princípios artísticos cores, forma, estilo e textura das
ilustrações potencializaram o processo imaginativo de interpretação e significação
contribuindo para o alcance do objetivos propostos. Salientamos que são possíveis outros
desdobramentos a partir do jogo.

A tecnologia como recurso na preservação da diversidade linguística indígena

Dener Guedes Mendonça

Joselice Ferreira Lima

Suzana Alves Escobar

Claudio Alexandre Gusmão

Gustavo Teixeira

Esta pesquisa busca discutir a tecnologia como recurso na preservação da diversidade


linguística indígena. Após analise de pontos importantes sobre os povos indígenas, é feita uma
contextualização do assunto tendo por base os índios xakriabá. Por fim é levantada a proposta
de um Sistema para Catalogar Palavras Indígenas – SISCAPI. O intuito é mostrar que um
vocabulário indígena on-line pode contribuir para as iniciativas de preservação e transmissão
das línguas e culturas desses povos.

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A aldeia na escola: políticas de fortalecimento da língua Asurini do Xingu

Rodrigo Mesquita

Adriane Melo de Castro Menezes

O povo indígena Asurini, autodenominado Awaeté, vive atualmente em quatro aldeias


localizadas na margem direita do rio Xingu, a aproximadamente cinco horas de embarcação
partindo de Altamira, Pará. A língua Asurini, filiada ao tronco Tupi, subconjunto V da família
linguística Tupi-guarani na classificação de Rodrigues (1985), é falada pela maior parte da
população de 220 pessoas, que também domina o português, sendo portanto,
majoritariamente bilíngues. A atual situação sociolinguística dos Asurini-Awaeté,
caracterizada pela crescente aceleração do contato com os não indígenas e com outros povos
indígenas da região do médio Xingu em razão da implantação da UHE Belo Monte, também é
marcada pela reconfiguração do comportamento linguístico do povo indígena. Neste trabalho,
o foco principal está nas políticas linguísticas vislumbradas - e em parte planificadas - pelo
povo Asurini com o intuito de frear o avanço do português, cada vez mais presente nas aldeias,
inclusive deslocando funções sociais historicamente desempenhadas pela língua ancestral. Tal
situação tem preocupado professores e lideranças Asurini que, através da cooperação entre
escolas e as comunidades, buscam estratégias para fortalecer a língua nativa. O trabalho de
campo, realizado em cinco etapas entre maio de 2017 e maio de 2018, contou com entrevistas
e participação em reuniões realizadas nas aldeias Kwatinemu e Ita’aka envolvendo
professores, lideranças e as comunidades em geral. As percepções dos professores e outros
profissionais ligados à educação escolar Asurini em relação ao desempenho escolar dos
alunos, especialmente no que diz respeito ao domínio das línguas nas modalidades oral e
escrita, foram cruzadas com os dados sociolinguísticos previamente levantados (MESQUITA;
MENEZES, 2019 – no prelo) para que as estratégias de vitalização da língua nativa pudessem
ser balizadas no melhor entendimento da situação sociolinguística atual. Tal situação aponta,
inclusive, que o português já é a primeira língua de muitas crianças Asurini, o que raramente
ocorria antes da última década. Entre as estratégias traçadas, os Asurini-Awaeté buscam
proteger sua língua no ponto que talvez seja o mais central no atual contexto: a passagem da
língua para as próximas gerações.

Arte verbal e a pragmática do discurso cantado na sociedade Krahô (Jê)

Maxwell Gomes Miranda e Eduardo Monteiro


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Entre os estudos linguísticos e antropológicos, poucas vezes tem sido dada a devida relevância
às diversas manifestações artísticas de sociedades indígenas mediadas pela linguagem verbal
que contemple as características estilísticas desses gêneros discursivos e, consequentemente,
os efeitos pragmáticos desencadeados nos interlocutores para os quais se dirigem em
contextos socioculturais bem definidos. Entre os krahô, povo indígena falante de língua jê e
situado no Tocantins, além do vasto repertório de músicas cantadas em ritos específicos,
existe uma modalidade de discurso cantado (hokjer) que é parte fundamental na construção
e articulação de relações sociais, por meio das quais a vida política e cultural é performada
por certas pessoas em situações diversas na comunidade e com diferentes propósitos. O
objetivo desta comunicação é analisar, do ponto de vista linguístico e antropológico, uma
variedade do discurso cantado que é executado para a convocação de reunião dos homens no
pátio da aldeia, a fim de deliberar sobre as atividades coletivas a ser realizadas ao longo do
dia. A análise será concentrada na função social atribuída ao “chamamento” pelos krahô, bem
como os efeitos pragmáticos que operam sobre os indivíduos envolvidos. Ao contrário de
outros discursos cantados, como aqueles entoados em rituais, em que a função do chamador
(hokjer catê) “é cativar o ânimo das pessoas” (Borges, 2014: 289), a variedade usada na
convocação de reuniões caracteriza-se por apresentar traços distintivos em oposição a outros
tipos discursivos. O ato de “chamar” revela atitudes voltadas à negociação entre os
participantes de grupos sociais/metades opostas e, por conseguinte, a adesão às questões
discutidas nas reuniões, bem como inclui questões éticas relativas à vida coletiva. Diante da
importância que discursos como esse tem para construção da socialidade krahô,
pretendemos, com essa comunicação, destacar os distintos modos pelos quais a arte verbal
se manifesta, passo fundamental para a compreensão da organização e funcionamento da
língua krahô em diferentes instâncias sociais e contextos de uso.

Análise do contexto linguístico dos Kiriri

Vanessa Coelho Moraes

Os Kiriri são uma das etnias indígenas do nordeste, que vivem no norte da Bahia, no município
de Banzaê, em um território com 12.320 hectares que tem 14 aldeias e aproximadamente 4
mil índios. Na década de 70, eles começaram um processo de retomada territorial e para
efetivar isso, começaram a buscar uma série de práticas que fizessem a sociedade regional, o
estado e outras etnias legitimarem eles enquanto índios, pois só assim poderiam ter o direito
de obter um território indígena. Assim, passaram realizar uma série de atividades indígenas
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que ressaltassem seus marcadores diacríticos, se conectando com seus antepassados e se


reorganizando politicamente para reaver suas terras. Em 1995, eles conquistam seu território,
mas apesar disso, ainda hoje são acusados de não serem índios tanto pela sociedade
envolvente quanto por outras etnias. Um dos argumentos para isso é o fato de não terem
falantes de uma língua indígena. Isso afeta a construção da sua identidade tanto
externamente quanto internamente, pois são comuns discursos entre eles de que falta algo
em sua identidade e esse algo é a “língua dos antigos”. Para conhecer mais sobre esse assunto
os Kiriri recorrem a uma metodologia e epistemologia própria que perpassa variadas esferas
dessa comunidade. Eles aprendem sobre isso através da tradição oral com os mais velhos.
Também, a partir do Toré, ritual indígena que realizam com a principal finalidade de entrar
em contato com suas entidades sagradas. Ao longo da realização dessa prática algumas
mulheres incorporam e em um dado momento falam na “língua dos antigos”, a partir daí eles
aprendem algumas palavras e tiram dúvidas. Além disso, buscam uma arte de gramatica e um
catecismo que foi feito no século XVII pelo padre jesuíta Vicencio Mamiani, a partir dessas
obras eles traduzem algumas palavras e incorporam ao seu léxico. Essas três formas de
entender seu próprio idioma aparece em suas escolas na disciplina língua indígena sendo
expressa de uma maneira singular por cada professor. Dessa forma é visível como a relevância
do estudo dessa língua perpassa amplos contextos dessa comunidade envolvendo modos de
pesquisa próprio dos Kiriri embasado em sua ontologia e epistemologia bem característicos.
Assim, pretendo realizar uma apresentação sobre como essa etnia está tentando revitalizar
sua língua através de práticas e saberes tradicionais, entendendo a revitalização linguística
como um processo que visa ampliar o número de falantes de uma determinada língua em uma
comunidade.

Kanhgág vĩ mré ẽg jykre pẽ jagfe “Ninho de lingua e cultura Kaingang”—


Implementação de métodos de imersão para a transmissão intergeracional
das línguas em perigo de desaparecimento

Márcia Nascimento

Nessa comunicação apresentamos o projeto Kanhgág vĩ mré ẽg jykre pẽ jagfe “Ninho de lingua
e cultura Kaingang” (cf. Nascimento et al., 2017) desenvolvido na Terra Indígena Nonoais/RS.
Trata-se de um projeto inspirado no modelo de educação infantil do povo Māori da Nova
Zelândia, conhecido como Kohanga Reo Mãori “ninho de língua Mãori” que visa a transmissão
intergeracional da língua indígena através de métodos de imersão total. Pretende-se discutir
questões fundamentais para o processo de revitalização das línguas indígenas brasileiras a
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partir dos modelos de revitalização reconhecidamente bem sucedidos ao redor do mundo,


como é o caso do Kohanga Reo Mãori. Para tanto, abordaremos três pontos principais que
caracterizam o contexto no qual estão inseridas as línguas indígenas no Brasil, a saber, o
bilinguismo/multilinguismo assimétrico como fator letal para as línguas minoritárias (cf. Raso
et al., 2011), a urgente necessidade de rediscutir o modelo de educação bilingue no contexto
da educação escolar indígena, que tem se mostrado ineficaz para a revitalização das línguas
indígenas (cf. D’Angelis, 2012) e, a urgente necessidade de se elaborar currículos desde a
Educação infantil que envolvam a implementação de métodos de imersão total para alavancar
a revitalização dessas línguas em perigo de desaparecimento. A troca de experiência entre o
povo Kaingang e o povo Māori desde 2016 e o estudo aprofundado do modelo de educação
Kohanga Reo, tem nos evidenciado a necessidade fundamental de repensar a educação
escolar indígena no Brasil, principalmente as práticas de ensino de línguas ora em
desenvolvimento entre os povos indígenas, para que as escolas, de fato, se tornem
instrumentos de revitalização dessas línguas. Segundo a Unesco, existem fatores
fundamentais responsáveis pela vitalidade das línguas, áreas que precisam, realmente, serem
trabalhados pelas iniciativas que visam a revitalização das línguas. Dentre esse fatores a
transmissão intergeracional é considerado fator essencial para a manutenção e sobrevivência
dessa línguas. Nesse sentido, a implementação do Ninho de lingua Kaingang como projeto
piloto no Brasil que trata da transmissão intergeracional de lingua indígena, tem o objetivo de
trazer para a pauta da educação escolar indígena essa questão fundamental que ainda não
ganhou a importância necessária dentro dos projetos que buscam a revitalização dessas
línguas. Palavras-chave: Ninho de língua Māori, transmissão intergeracional, ensino de línguas
indígenas, língua Kaingang.

A resistência dos falantes da língua Trumai diante da supremacia das outras


línguas

Juliana Borges de Oliveira

A comunicação faz parte de uma pesquisa de mestrado que está sendo realizada com a língua
Trumai, considerada isolada devido à falta de parentescos linguísticos com outras línguas. O
ambiente de estudo é dentro da Terra Indígena Capoto Jarina, local onde mora parte deste
povo. Na aldeia denominada Wani Wani, próximo ao Parque Indígena Xingu no Norte de Mato
Grosso. A situação desta língua é particularmente delicada, no que diz respeito a sua
capacidade de continuar viva. Primeiro pelo fato de ter poucos falantes e também por ter uma
quantidade restrita de material escrito para apoiar os estudos. O local da pesquisa, onde

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moram 64 pessoas, oferece um ambiente com falantes de várias línguas xinguanas, além do
trumai, e a língua portuguesa tem uma frequência incomum se comparada as outras aldeias,
tanto no Xingu, quanto em outros territórios indígenas nas mediações. Os objetivos são:
buscar verificar que comunidade linguística está se desenvolvendo na aldeia, diante de tantas
línguas sendo faladas ao mesmo tempo, possibilitar uma ampliação no material didático
oferecido na escola, e verificar como a língua Trumai vem se resistindo ao longo dos anos,
apesar de tão poucos falantes. O eixo teórico dos estudos linguísticos escolhidos é a
sociolinguística variacionista, através dos estudos de contatos linguísticos com William Labov,
e outros linguistas que trabalham com o plurilinguismo, também nos apoiaremos nos estudos
de Raquel Girardello que escreveu a gramática da língua Trumai e desenvolveu vários estudos
com este povo. Os sujeitos da pesquisa são os moradores da comunidade, sendo estudantes
da escola e também os mais velhos moradores, falantes ou não do idioma.

Língua Balatiponé: A alma de um povo

Luciano Ariabo Quezo

A língua é um patrimônio imaterial de valor imensurável, ela representa uma marca identitária
para qualquer sociedade, por trás de cada fenômeno como este, que está presente em várias
culturas, estão guardados gamas de conhecimentos, um universo inteiro de informações, uma
peculiar forma de inferir o mundo. Erukwá Balatiponé, o idioma do povo Balatiponé, mais
conhecido como Umutina. De acordo com a classificação linguística, o idioma balatiponé
compõe a família linguística Jê tendo muita proximidade ao idioma Boróro (TELES, 1995). Na
classificação linguística, o nome dado a esta família que engloba as duas línguas é Bororo
(RODRIGUES, 1986). É especialmente nesse idioma que eu foco o meu olhar neste exercício.
Ao trabalhar o idioma desencadeia-se também um exercício, exercício este que me traz uma
profunda reflexão sobre identidade, a identidade de uma sociedade. O território Balatiponé
tem uma dimensão de 28.120 mil hectares, já homologada e demarcada pelo Estado, porém,
atualmente não vivem dentro desse território somente os Balatiponé, houve uma mescla
entre nove povos, são eles: Pareci, Bororo, Nambikuara, Bakairí, Kayabí, Terena, Manoki e
Xiquitano. Essa ideia é justamente parte de um projeto político do órgão Serviço de Proteção
ao Índio (SPI), atual Fundação Nacional do Índio (FUNAI), que passou a ter um contato mais
efetivo com o povo em 1911, quando essa população estava em risco de desaparecimento, e
seu território atual suscetível a invasão. Anterior a essa época os Balatiponé eram os Senhores
da Terra, pois dominavam uma grande dimensão territorial que ao longo do tempo foi se
estreitando por conta de conflitos com extrativistas de uma planta rasteira, com propriedades
medicinais, popularmente chamada poaia. É nesse momento que muitas práticas que eram
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típicas do povo Balatiponé vão se diminuindo, perdendo cada vez mais seu vigor, inclusive o
idioma, pois o número de falantes declinou-se drasticamente. Os falantes que restaram,
tinham que se comunicar em português, já que os indígenas que passaram a residir no
território de origem Balatiponé praticavam os seus respectivos idiomas, por conta disso, um
não compreendia ao outro. Já que não havia outro meio, e pelo fato da língua portuguesa já
estar em processo de instalação e já ser predominante e de uso privilegiado no que diz
respeito à instituição SPI, através de seus servidores que passaram a gerir o território, esta foi
se fortalecendo, ainda mais com a instalação de uma escola no local, na década de 40 por
parte do SPI. Nessa mesma época havia um grupo Balatiponé, “Os 23 indígenas
independentes” mencionados por Harald Schultz (1953) e pelos nossos mais velhos, eles se
confinaram no interior da floresta para não deixarem as suas sabedorias desaparecerem no
vento que soprava cada vez mais forte, foi naquele espaço que muito conhecimento se
manteve ativo. Julá Paré e Joaquim Kupudonepá são remanescentes desses 23 guerreiros e
guerreiras. E foi com eles também que desde pequeno tive contato, Joaquim Kupudonepá vive
e está na casa dos oitenta anos indo para os 90, Julá Paré faleceu em 2014. Há muito
escreveram história sobre nós e não nos deram condições ou oportunidade de pegarmos na
caneta para respondermos a altura e também escrevermos sobre eles nos mesmos códigos.
No entanto, a natureza guiada por Deus reage e retira das entranhas da mata guerreiros que
fazem com que esse direito seja adquirido. Confesso aqui que essa produção é fruto dessa
luta empreendida por esses valentes guerreiros e nessa oportunidade também aproveito para
falar de nossos heróis, os heróis de meu povo que é gigante pela própria natureza. Pakalarepô,
Jukuepá, Kupodonepá, Bakalana Ariabo, Matarepatá, Amajunepá, Wakixinepá, Xoripá,
Boroponepá, Kazakarú, Bakonepá, Apodonepá, Antônio Apodonepá, Joaquim Kupodonepá,
Julá Paré e tantos outros heróis de meu povo. Este Trabalho é, antes de tudo, também uma
manifestação política. A minha presença como indígena em uma das universidades públicas
federais deste país é consequência de uma luta histórica promovida por segmentos sociais
mais invisibilizados e excluídos no Brasil, entre eles estamos nós, os povos originários. Diante
disso, reconheço que este trabalho parte também de uma resistência e articulação social, a
de meu povo, que sempre demonstrou durante séculos sua força, a qual, na atualidade,
reverbera num dos espaços mais privilegiados que existe em nosso país, a universidade.
Objetivos: O trabalho em questão procura evidenciar a luta do povo referido aqui bem como
os desafios percalços no tange a língua e a importância de se afirmar na universidade
enquanto indígena, filho de um determinado povo. Metodologia: Algumas das bagagens que
absorvi enquanto filho do povo Balatiponé expus no trabalho em questão, também utilizei
como base referencial, além de mobilização bibliográfica, os mais velhos, pois também foi com
essa base que produzi os trabalhos anteriores. Resultados: A língua balatiponé demarcou uma
identidade, construiu uma história e constituiu conhecimento, mesmo com a união de
indivíduos de origens étnicas diferentes convivendo num mesmo espaço geográfico, por mais
que a língua portuguesa tenha se estabelecido como uma língua oficial, até mesmo como uma
língua hegemônica, não podemos acreditar que esse espaço de predominâcia Balatiponé foi

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substituído tão facilmente assim. A força de uma língua não pode ser subestimada: já que
muitas práticas irão refletir na língua, a língua também irá refletir nas práticas e valores de um
povo. Quando se instalou a escola na aldeia Umutina em 2003, que passou a dar continuidade
aos estudos formais até o ensino médio, pois antes era somente até o ensino fundamental 1,
na nova escola também se elegeu como parte da grade curricular a disciplina de língua
materna. Esta língua materna é justamente a língua Balatiponé, se isso foi possível é pelo fato
do uso da língua ainda estar presente no povo, mas esta mesma língua apareceu na lista de
línguas extintas no Atlas das línguas do mundo da UNESCO, publicado em 2010. Neste sentido,
venho demonstrar, com outra perspectiva, a vitalidade da língua a ponto do povo considerá-
la como uma disciplina na escola, justamente pelo seu valor, e saliento que, há duas décadas
a autoestima de meu povo referente às práticas culturais e principalmente ao aspecto
linguístico tem aumentado. Conclusões: A participação dos jovens desde a década de 1990 foi
emblemática para a revalorização dos valores locais daquela terra. A língua, presente nos
adornos típicos que são utilizados nas danças tradicionais, a língua está no canto, nas pinturas
corporais (grafismos), na literatura do povo, nos nomes de famílias, nas catalogações de
peixes, aves e mamíferos, nas danças ritmadas e se tornando cada vez mais forte, vejo a língua
na história. De todo esse conjunto, forma a identidade de um povo. Em suma, se nos aspectos
que formam esse conjunto está presente a língua, essa determinada língua vem a ser a alma
do povo Balatiponé que lutou e continua lutando para existir como Balatiponé.

A pesquisa em línguas indígenas no Brasil: um estado da arte

Lilian Abram dos Santos

Esta comunicação relata os primeiros resultados da pesquisa “O estado do conhecimento das


pesquisas em línguas indígenas brasileiras”. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, do tipo
“estado da arte”, cujo objetivo geral é inventariar as pesquisas com línguas indígenas
desenvolvidas no Brasil, a partir da década de 1980, publicadas em períodos científicos
vinculados a Programas de PósGraduação de Letras e Linguística em universidades brasileiras.
Como atestam Altman (1998), Franchetto (2000) e Rodrigues (2009), as línguas indígenas
ocuparam um papel relevante na constituição dos programas de pós-graduação, bem como
no próprio enraizamento da Linguística, como uma área científica no país. Seki (1999)
reconheceu, inclusive, a linguística indígena como um campo de estudos promissor dentro da
Linguística brasileira. Ainda de acordo com Seki (1999), alguns modelos ou perspectivas
teóricas foram predominantes na linguística indígena. Nas décadas de 1960 e 1970
predominou o estruturalismo de orientação norte americana; a partir de 1970, abordagens
formalistas, como o gerativismo, competiram de perto com o estruturalismo. Já a partir dos
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anos 1990, pesquisas tipológicas e de orientação funcionalista começaram a ocorrer. Os


objetivos específicos da pesquisa serão investigar: as línguas pesquisadas; as dimensões
linguísticas descritas e analisadas; os referenciais teóricos e as metodologias predominantes
e as instituições envolvidas. Analiticamente, foi necessário operar com um recorte temporal
para delimitar o período de seleção dos dados. A década de 1980, como período inicial, foi
escolhida porque ocorreu “um avanço considerável na formação de linguistas brasileiros que
passaram a se dedicar ao estudo de nossas línguas [...] o que se evidencia pelo número de
teses e dissertações defendidas e pelo significativo aumento de publicações.” (SEKI, 1999,
p.266). Ao final da pesquisa, espera ter-se construído um panorama que ofereça aos
interessados nas línguas indígenas brasileiras imagens que permitam a compreensão de
alguns caminhos pelos quais tem sido feita a pesquisa nessas línguas, considerando, como
pano de fundo teórico para o entendimento final dos dados levantados, as relações entre
pesquisa, ciência e sociedade. Entende-se que pesquisas do tipo “estado da arte” têm como
propósito menor a apresentação de um resultado acabado, traduzido em números e gráficos.
Ao contrário, inventariar uma área de conhecimento, dentro de uma determinada série
histórica, pode ampliar nossa percepção para os diálogos e as inter-relações que a
universidade pública estabelece, ainda que não explicitamente, com a sociedade através dos
temas e percursos de suas pesquisas.

A inauguração do curso de Línguas Indígenas na Universidade de Brasília:


relatos da vivência e perspectivas futuras

Gabriela Almeida Fritz

Lorena Melirra da Silva

A epistemologia ocidental hegemônica tem como uma de suas bases a colonialidade do saber,
definida por Catherine Walsh como a determinação de que o eurocentrismo é a única
perspectiva epistêmica válida e possível. Com isso, “a existência e a viabilidade de outras
racionalidades epistêmicas e de outros conhecimentos que não sejam os dos homens brancos
europeus ou europeizados” (WALSH, 2008, pp. 137 e 138, tradução nossa) são descartadas.
Nesse contexto, as culturas e línguas dos povos indígenas fazem parte das epistemologias
marginalizadas e excluídas da academia, segundo os processos ainda correntes de
epistemicídio. Como afirma Sueli Carneiro (2005, p. 96): O epistemicídio se constituiu e se
constitui num dos instrumentos mais eficazes e duradouros da dominação étnica/racial, pela
negação que empreende da legitimidade das formas de conhecimento, do conhecimento
produzido pelos grupos dominados e, consequentemente, de seus membros enquanto
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sujeitos de conhecimento. Assim, o objetivo deste artigo é registrar a experiência de


professores e alunos da primeira turma de línguas indígenas da Universidade de Brasília,
ministrada por docentes nativos e ofertada em parceria com o projeto UnB Idiomas. Essa
disciplina, além de proporcionar um conhecimento novo para a comunidade, inaugura
também uma possibilidade de trabalhar didáticas e perspectivas que visibilizam o sujeito
indígena enquanto protagonista dos saberes de sua comunidade. Também, o curso contribui
para dar visibilidade ao movimento político dos povos indígenas pela demarcação das terras,
valorização e respeito às línguas, sistemas jurídicos e culturas das comunidades, enfim, pela
reestruturação e proteção das teias comunitárias como um todo. A pesquisa foi construída a
partir do diário de bordo e de registros coletados ao longo do semestre, visando mapear o
seguimento dos conteúdos e as percepções de alunos e professores, contribuir com a
continuidade do curso e, por consequência, proporcionar maior visibilidade às epistemologias
e saberes indígenas no meio acadêmico, em conformidade com perspectivas decoloniais.

A língua materna indígena como direito de personalidade

Ângela Irene Farias de Araújo Utzig

Marcia Andrea Bühring

Cinco séculos após o início da colonização europeia na América Latina, os povos indígenas
perante o Direito têm enfrentado grandes dificuldades com a perfectibilização e efetividade
desses direitos. De tais processos colonizadores sobre a Pindorama resultaram na dizimação
de etnias inteiras e com elas as Línguas Maternas desses povos, até hoje “nomatizados” pelo
acumulado desprezo que as legislações sustentam, faze-los amargar a certeza de grande
perda de seus territórios, de sua história, e de suas Línguas Maternas. O ano de 2019 foi eleito
pela ONU como o Ano Internacional das Línguas Indígenas. A intenção da ONU é excelente
quando desperta para a urgência da necessidade de conscientização de preservar e promover
as Línguas Maternas Indígenas no Mundo de falantes de cerca de 6 a 7 mil Línguas Indígenas,
e que cerca de 97% da população mundial fala somente 4% dessas Línguas e somente 3% das
pessoas do mundo falam 96%, de todas as Línguas existentes, sendo que no Brasil, das 274
línguas Maternas Indígenas faladas, o censo de 2010 mostrou que apenas cerca de 17,5% da
população indígena não fala a Língua Portuguesa, o que, de um lado, ainda confirma o
altíssimo grau de submissão à força do colonizador e, de outro, também demonstra que a
extinção de Línguas Maternas prejudica a riqueza da diversidade linguística no Brasil em todo
o mundo. Isso corrobora, massivamente, a ideia de que o Brasil seja visto como um país
monolíngue e como se uma Língua se sobrepusesse às outras, como se houvesse um
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escalonamento entre Línguas, o que não é verdade, pois não há Língua mais importante que
outra. O Decreto Federal n. 7.387, de 09 de dezembro de 2010, institui o Inventário Nacional
da Diversidade Linguística (INDL), e, quando a Língua é incluída no INDL (registro a cargo do
então Ministério da Cultura), recebe o título de “Referência Cultural Brasileira”. Foi pegando
esse vínculo, respaldadas no Guia de Pesquisa e Documentação “Patrimônio Cultural e
Diversidade Linguística” (que associa esse título ao conceito de patrimônio imaterial no qual
se encontram circunscritos certos bens, dentre os quais as práticas culturais que sustentam
valores singulares representativos do modo de ser e de estar no mundo desses falantes), que
fazem da Língua Materna uma referência cultural e a dignifica como signo de identidade e de
pertencimento e, nessa perspectiva, como um dos direitos de personalidade. Tomando esse
viés, o presente artigo tem como objetivo principal discutir a Língua Materna Indígena como
direito de personalidade perante a legislação pátria. Sob uma abordagem descritiva,
amparada em pesquisa bibliográfica, norteada pelo método dedutivo, a cabo do qual se
pretende fortalecer a hipótese de que a Língua Materna Indígena integra, sim, os direitos de
personalidade.

Cooficialização das línguas Macuxi e Wapichana no munícipio Bonfim após a


lei 211/2014: diagnostico sociolinguístico nas escolas municipais da sede

Jima Peres Pereira

O estudo pretende observar e contribuir nos processos de regulamentação e implementação


da Lei 211/2014 que cooficializou as línguas Macuxi e Wapichana no município Bonfim. Para
tanto realizou um diagnóstico com os alunos das escolas municipais para avaliar se estão
assumindo ou não sua identidade indígena e reconhecendo o valor de sua língua. A pesquisa
também realizou um levantamento de estratégias de valorização cultural e linguística
trabalhadas a nível mundial, sobretudo as desenvolvidas com populações indígenas e que
tenham conseguido contribuir para o multilinguismo. A primeira parte do trabalho de campo
incluiu um diagnóstico sociolinguístico realizado entre os Macuxi e Wapichana com os alunos
de 6ª a 9 ª do ensino fundamental nas duas escolas da rede municipal na sede do Bonfim.
Averiguamos nessas escolas se os alunos estavam ou não assumindo suas identidades
indígenas e reconhecendo o valor de suas línguas.

Tapi Yawalapti

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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Kamaguihe Yawalapiti

Esta comunicação trata de uma língua indígena brasileira seriamente ameaçada de extinção,
a língua Yawapti, falada no Alto Xingu, Estado do Mato Grosso. Serão discutidos os esforços
de professores e sábios Yawalapti para não deixarem a sua língua nativa morrer. Esta língua
não é mais transmitida para as novas gerações sendo falada apenas por sete pessoas que
ainda a usam para comunicar-se entre si. O autor desta comunicação é um dos poucos
professores que tem-se empenhado em documentar e analisar linguisticamente o Yawalpti,
com a esperança de contribuir para que a retomada da aprendizagem dessa língua Aruák que,
embora muito próxima da demais línguas Aruák Xinguanas, possui características próprias,
inclusive uma característica fonológica considerada rara nas línguas do mundo. Exporemos,
assim, a documentação linguística em progresso e as estratégias que estão endo usadas para
impedir a morte definitiva da língua Yawalapiti.

Estado de las lenguas indígenas en Colombia: un análisis de la lengua propia


para 21 pueblos indígenas

Eudo Fidel Cuarán Hernández

El siguiente documento corresponde al análisis sociodemográfico de la población indígena de


Colombia en perspectiva comparada sobre la situación de la lengua propia para 21 pueblos
indígenas en Colombia. Los datos aquí suministrados obedecen a procesamientos y cálculos
propios realizados por la Oficina de Población de la Organización Nacional Indígena de
Colombia (ONIC), tomando como fuente principal los censos de población y vivienda de 1993
y el Censo General 2005, realizados por el Departamento Administrativo Nacional de
Estadística (DANE), y a partir de la Encuesta Piloto Experimental sobre Economía y Sociedad
Nasa aplicada entre 2014 y 2015 en los municipios de Toribío, Jambaló del Departamento del
Cauca. La población indígena registrada en 2005 fue de 1.392.623 personas representando el
3,43% de los colombianos, de los cuales 78,6% habitan en la zona rural y el 21,4% en la zona
urbana. Del total de la población indígena en Colombia registrada en el año 2005, 796.916
habitan en resguardos correspondiendo al 57,2 % de la población indígena. En el censo de
1993 se registraron 81 pueblos indígenas, incluido el grupo Otavaleño procedente del
Ecuador. En el 2005 se registran 93 pueblos indígenas incluyendo los Otavaleños y además se
incluyen indígenas procedentes de otros países latinoamericanos como Ecuador, Perú,
Venezuela, México, Brasil, Bolivia, Guatemala, y se identifican indígenas sin información, los
cuales constituyen el 3,7% del total de la población indígena. Sin embargo desde la
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Organización Nacional Indígena de Colombia registra actualmente la existencia de 103


pueblos indígenas existentes. Colombia tiene una gran variedad de lenguas y familias
lingüísticas, según Landaburu (2005) se encuentran más de 65 lenguas amerindias2 y se suman
además dos lenguas criollas habladas en el Caribe por poblaciones negro - africanas. Los
locutores de lenguas indígenas están sobre 607.226 hablantes, y los locutores de lenguas
criollas no pasan de 35 mil. El castellano es por lo tanto el vehículo dominante excepto en
algunas zonas indígenas muy apartadas (p.4). Para 1993 el porcentaje de la población indígena
hablante de la lengua propia lo constituía el 54,7% del total de indígenas de 5 años o más.
Para el año 2005, la población indígena nacional que habla su lengua propia registro el 43,6%,
este dato evidencia como los hablantes de la lengua propia desciende cerca de 11 puntos
porcentuales. Si hacemos una comparación entre 21 pueblos indígenas que son los más
numerosos del país, entre ellos: Arhuacos, Awa Kuaiker, Coconuco, Cañamomo, Coyaimas
Natagaimas, Emberas, Embera Katios, Embera Chami, Ingas, Kamëntsa, Kankaumo, Koguis,
Misak, Muisca, Nasa, Pastos, Senú, Sikuani, Tikunas, Wayuú y Yanacona, encontramos los
siguientes resultados según datos del censo 2005. Observamos que los pueblos indígenas que
tiene su lengua propia fuerte y revitalizada están los Arhuacos con el 73,8%, Koguis 84,4% y el
pueblo Wayuú con el 85,2 % de sus pobladores que hablan su lengua, si contrastamos estos
datos con los de alfabetismo vemos que estos tres grupos son los que tienen los más bajos
índices de alfabetismo, lo que nos puede llevar a preguntarnos, ¿Qué tanto influye la
educación en la pérdida de la lengua en los pueblos indígenas? No quiere decir entonces que
a los pueblos indígenas hay que restringirlos de educación escolarizada para que mantengan
su lengua, sino más bien que se debe tener un modelo educativo pertinente, el cual debe
evaluar el fortalecimiento de la lengua materna. Finalmente observamos unos pueblos
indígenas donde el indicador de la población que habla su lengua es muy bajo, caso de los
pueblos Coyaima Natagaima, Pasto, Senú, Muisca, Yanaconas, Kankuamo, Cañamomo y
Coconuco. Sin duda los anteriores pueblos son los que históricamente más sufrieron los
procesos de colonización, la evangelización y castellanización, tanto los pueblos como sus
lengua en algún momento se consideraron casi al borde de la extinción. Estos pueblos han
iniciado procesos de reivindicación de la identidad, la autoidentificación como pueblos
indígenas en las últimas décadas, acompañados a su vez, de procesos de revitalización de la
lengua indígena. También es posible que en el Censo General 2005 se haya incurrido en un
error sistemático de declaración de la información, puesto que en los pueblos en cuestión
pudo haber personas que asumieron el español como la lengua de su pueblo. Si se hace una
comparación por departamento con la población indígena que habla su lengua propia para
1993 y 2005, encontramos que en su mayoría la proporción de hablantes bajó
considerablemente. En los departamentos de La Guajira, Guainía y Chocó el indicador se
mantiene o la caída es muy leve con respecto a 1993. Para el año 2005 se reporta un
incremento, factor que puede estar relacionado con los procesos de reivindicación de la
identidad como pueblos indígenas y a su vez de la lengua propia, entre los casos tenemos los
departamentos de Nariño, Huila, Tolima, Córdoba, Sucre, Atlántico, Bogotá, Bolívar,

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Cundinamarca y Quindío. Si analizamos al pueblo indígena Nasa ubicado principalmente en el


departamento del Cauca, caracterizado por su proceso de lucha reivindicativa de los derechos
y además un pueblo que ha sufrido graves afectaciones a su pervivencia con el conflicto
armado que se vive en Colombia, los hablantes de la lengua materna son del 41,9 %. Sin
embargo si analizamos dos municipios específicos como es el caso del Municipio de Toribio y
el Municipio de Jambalo, municipios con alta población indígena, la situación es aún más
preocupante, donde se evidencia que los locutores de la lengua propia tienden a descender.
Para el caso de Toribío los datos evidencian que del total de la población indígena solamente
hablan la lengua el 23,6% de los mayores de 5 años, el 55,9% de la población no habla, ni
entiende la lengua y el 20,6% entiende la lengua, pero no la habla. De los tres resguardos que
esxisten en este municipio, Tacueyó es el que menos practica la lengua con solo un 16,3% de
Nasa yuwe hablantes y un 66,2% que no habla ni entiende. Toribío es el res resguardo donde
más se habla la lengua con un 34,2% de la población y un 22,2% que la entiende pero no la
habla. En el resguardo de San Francisco encontramos una situación intermedia con un 21,1%
de Nasa yuwe hablantes y el 23,1% que entiende la lengua, pero no la habla. En términos
generales, es evidente que la práctica de la lengua propia es mucho menor a la práctica del
español por lo que es probable que el alfabetismo también ha traído una disminución de Nasa
Yuwe hablantes, no obstante lo anterior, los porcentajes de personas que entienden la lengua
pero no la hablan sugieren que existe un grupo de población potencialmente hablantes para
tener en cuenta en los programas de recuperación de la lengua. Los datos develan que del
total poblacional del resguardo de Jambaló, el 33,2% de las personas mayores de 1 año si
hablan la lengua, mientras que el 66,8% no. Por otro lado, del total de personas que No hablan
la lengua propia, los que entienden la lengua, pero no la hablan representan un 39,7% y los
que no la entienden un 55,5%. Ahora bien, a nivel de las tres zonas se encuentra que en la
zona media y la zona alta los que hablan la lengua oscilan entre un 41,0% y un 51,8%
respectivamente, mientras que en la zona baja a avanzado un proceso la pérdida de la lengua
puestoque las personas que la hablan solamente representan un 6,9%. Cabe resaltar que en
todas las zonas existe un importante porcentaje de personas que si bien no hablan la lengua
propia, si la entienden. Concluimos finalmente que hay pueblos indígenas que tienen sus
lenguas fortalecidas en los 21 pueblos analizados; están los Arhuacos con el 73,8% de
población hablante, seguido de los Koguis con 84,4% y el pueblo Wayuú con el 85,2 %. Ello
contrasta con ser los tres grupos con los índices más bajos de alfabetismo. Se evidencia
además que en los resguardos indígenas la población hablante de la lengua propia es más alto
que el indicador nacional, como era de esperar. Esto quiere decir que hay que continuar en el
fortalecimiento del modelo educativo propio, que debe estar de acuerdo con las culturas, la
comunidad, filosofía propia, los saberes ancestrales y tradicionales, articulados con los
avances de la ciencia y la tecnología.

Língua Makuxi: alguns padrões de informalidade linguística


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José Ângelo Almeida Ferreira

Carolina Gênesis Aquino

Antônio Devair Fiorotti

Níveis de formalidade existem em todas línguas, seja em línguas de poder, como o inglês, seja
em línguas indígenas, como a Macuxi. Essa comunicação se propõe a identificar e analisar
alguns usos informais da língua Macuxi, em seus contextos de uso. O trabalho já identificou
algumas gírias e outras palavras de uso mais comum. Justifica-se tal trabalho a necessidade
de se conhecer melhor as línguas existentes no Brasil, diferente do senso comum que, muitas
vezes, julga ser o Brasil um país monolíngue, de falantes de língua portuguesa. Só de línguas
indígenas, ainda hoje, apesar do ataque que essas línguas têm sofrido nesses 500 anos de
contato, existem em torno de 170, faladas por diferentes povos. O processo de coleta será
por meio de entrevista, realizado in loco.

Verificação da presença do léxico indígena nas canções do grupo raízes


caboclas para uma proposta de aplicação pedagógica em escolas de ensino
básico

Karen Francis Maia

Renato Antônio Brandão Medeiros Pinto

Esse trabalho é parte integrante de uma pesquisa de iniciação científica que se ocupa de
averiguar processos socioculturais referentes ao grupo regional amazonense Raízes Caboclas.
Fizemos um levantamento teórico fundamentado em pesquisas nas redes sociais, sites e
abordagem presencial com três dos membros ativos que colaboraram com sua história
oralmente. Nosso foco nesse estudo é identificar o léxico indígena na obra poética do referido
grupo, como esse aparece e o que determina sua presença no conjunto geral, além de verificar
como esse conteúdo pode ser aplicado pedagogicamente no ensino básico. BRASIL, PERU E
COLÔMBIA: UMA AMAZÔNIA DESCENDO O RIO Das águas do Rio Solimões vieram os músicos
do Grupo Raízes Caboclas, ideia pedagógica erguida na década de 1980, e difundida até os
dias de hoje nas canções perpetuadas no cancioneiro popular de nossa região. Nascido em
Benjamin Constant, fronteira tríplice do Alto Solimões, o grupo cria a partir de uma ideia
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regionalista e experiências vivenciadas por um dos integrantes no sul do Brasil, uma ação
pedagógica em 1982, o que seria mais tarde um dos grupos musicais mais famosos de nossa
terra. Sempre valorizando os termos e curiosidades do complexo amazônico. Dentre estes,
comentamos aqui a presença do léxico indígena nas letras da obra discográfica de nosso
objeto analisado. A identificação dos léxicos na obra do grupo Raízes Caboclas foi feita através
de pesquisas na internet, em plataformas digitais que continham o material fonográfico e
outros registros das atividades profissionais do grupo. Desde 1988, com o álbum “Amazonas”,
até 2007 com o trabalho denominado “Rimando as águas", além de entrevistas com
integrantes do grupo. Sendo as canções do grupo ensinadas e discutidas nas escolas da capital
e interior, o conteúdo organizado no trabalho pode ser usado como ferramenta pedagógica
para a integração do caráter interdisciplinar da música, já que o conteúdo musicalizador se
mantém na memória afetiva de muitos, quando quem conhece a região, diz se identificar com
o sonoro andino/beiradão/urbano que aprendemos a ouvir durante esses anos.

ST 39 | O lado perverso do Patrimônio Cultural

Yussef Daibert Salomão de Campos (Universidade Federal de Goiás – UFG, Brasil); Jorge Kulemeyer
(Universidad Nacional de Jujuy, Argentina).

Tema amplamente debatido é esse. Pelas suas diversas perspectivas disciplinares e de gestão, é figura
presente quando se trata de debater e gerenciar aspectos culturais, seus aportes identitários e seu
apelo à memória coletiva. Contudo, há no patrimônio um lado perverso, que frequentemente se
expressa em campos de disputa associados a diversos tipos de tensões. Seja de maneira expressa ou
tácita – seja do ponto de vista lexical ou psicanalítico – a perversidade do patrimônio está presente
quando sua gestão ou invenção abarcam a memória do desaparecido, sendo capaz de matar a própria
identidade, ao invés de dar a ela suporte, propondo uma realidade que muitos interpretam como
quase imaginada. Pois esse patrimônio só se mostra funcional quando traz à tona as virtudes do
passado, ou quando o escolta, protegendo-o de seu lado sombrio de vícios, ausente nas narrativas
historiográficas oficiais, relegado a um esquecimento intencional. Seja pelo fato de aspectos
arquitetônicos de uma edificação sobrepujarem (e até ocultarem) os históricos, arqueológicos e
antropológicos; seja pela negação a uma reivindicação social que busca afirmar uma identidade
marginal; o lado perverso do patrimônio deve ser apresentado para esclarecer o debate sobre o

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passado, mostrando que esse não é a panaceia para um futuro promissor, desejável. Mais que mediar
um passado de segunda mão, o patrimônio deve ser capaz de apropriar-se de todas suas nuances para
não se tornar uma mera cenografia da busca por um passado mais virtuoso que um presente de
recalques e insatisfações com as identidades e memórias construídas por políticas públicas
nacionalistas. Assim, essa proposta traz discussões que abordaram a perversidade do patrimônio
(alguns mais ostensivamente, outros sutilmente – o que não deixa de ser perverso) e suas facetas: a
ilusão da participação; o tráfico ilícito de bens culturais; a gentrificação; lutas, impasses, disputas e
conflitos pelo patrimônio; má gestão e ilegalidades praticadas em nome da equidade; hegemonia e
exclusão social; imposições sobre visões sobre o passado; presenças e ausências; lembranças e
esquecimentos; seleção de bens e identidade social; sanitarização e patrimônio; onipresença do
patrimônio, obnubilando sua ambivalência. Talvez a própria existência de conceitos ambivalentes a ele
atrelados indique ao menos a perversidade que possui sua essência.

Viola de cocho e viola Guató: referências culturais, memórias e


esquecimentos

João Paulo Pereira do Amaral

A presente proposta surge de uma pesquisa em andamento, que explora o conceito de


referências culturais, central na atual concepção sobre os patrimônios culturais no Brasil, a
partir de uma perspectiva decolonial e tendo como caso de referência a viola guató, do povo
indígena Guató, no Mato Grosso do Sul. O artigo 216 da atual constituição define o patrimônio
cultural como os bens materiais e imateriais “portadores de referência à identidade, à ação, à
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira” (Brasil, 1988). Segundo o
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan, 2000), as referências culturais
são objetos ou manifestações culturais às quais se atribui importância diferenciada na vida
social e que, por isso, constituem marcos de identidade e memória. Mais que aos objetos em
si, portanto, as referências dizem respeito aos sentidos e valores referenciais atribuídos a bens
e práticas culturais por quem os vivencie. Tal perspectiva pode possibilitar a valorização de
marcos de identidade de culturas historicamente subalternizadas, além de abrir a política
sobre os patrimônios culturais a uma nova relação epistemológica e de poder, incluindo

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suas/seus detentoras/es na implementação e gestão de políticas públicas e na construção de


conhecimento sobre suas práticas e saberes. Não obstante, considerando-se os estudos de
Rubino (1991), Motta (2000 e 2017), Chuva (2009), Menezes (2012) e Marins (2016), pode-se
dizer que as referências culturais não têm sido alcançadas nas políticas públicas para os
patrimônios culturais. Sugiro que isso se dá porque o campo do patrimônio cultural, de modo
geral, permanece atrelado a um sistema de classificação marcado pela colonialidade. Assim,
não obstante todo o potencial decolonial, a política federal para os patrimônios culturais
baseada na noção de referência cultural encontra limites na própria colonialidade em suas
múltiplas dimensões. (Amaral, 2015). Proponho refletir sobre estas questões a partir do caso
da viola de cocho, instrumento que teve seu modo de fazer reconhecido como patrimônio
cultural do Brasil em 2004. Segundo o Dossiê de Registro (Iphan, 2009), as primeiras notícias
da viola foram entre o povo indígena Guató, informação corroborada por Martinelli (2012)
que, por sua vez, afirma que o instrumento sempre esteve ligado a eles, guardando
continuidades significativas ao longo do tempo. Porém, a pesquisa do IPHAN não desenvolve
a abordagem sobre a viola entre os Guató e tampouco as ações de salvaguarda
implementadas ao longo do tempo os têm alcançado. A viola, porém, permanece marcante
entre os Guató, apresentando sonoridade e execução peculiares, se comparada à viola de
cocho (Amaral, 2015).

Rituais, palavras e cultura indígena dentro da produção musical do Boi


Caprichoso: verificações de impacto e tendências em um recorte de 1996 a
2006

Renato Antonio Brandão Medeiros Pinto

A presente comunicação se ocupa de verificar por meio de levantamento bibliográfico,


audições, leitura em periódicos físicos e digitais e outras referências, a presença de
manifestação indígena sendo com rituais, palavras e cultura nas festividades criadas pelo Boi
Caprichosos dentro dos festivais folclóricos em Parintins durante o período de 1996 a 2006,
onde que, nestes dez anos, analisamos os impactos no sentido da adequação, interligação,
aproximação e condição do índio no coletivo social de Manaus e demais regiões em que a
brincadeira de Boi Bumba acontece. O processo de composição do referido texto passa,
inicialmente, pela audição de todas as músicas disponíveis no site da agremiação Boi
Caprichoso com base no critério da qualidade do áudio obtido. Em 1996, o mesmo Boi já
lançava seu primeiro álbum fonográfico em mídia digital, ofertando qualidade de
transparência do léxico afirmativo da presença do índio no contexto de sue elenco na
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apresentação de arena. Para este, são dedicadas horas de audição distribuídas em tempo vago
diante da quantidade de canções(toadas) a serem ouvidas. Dessa feita, são destacados em
tabela rituais, palavras e culturas registradas nas toadas de Boi dentro dos 10 anos de
manifestação com divulgação das músicas em mídia de CD. Além disso, verificamos em
periódicos locais, notícias que relatassem possíveis impactos sobre o uso inadequado ou não
dos costumes indígenas nas toadas de rituais e exaltação da figura do norte. Como aporte
teórico, respalda nossa investigação, e assim temos como destacar a “Cultura” na perspectiva
de Sidney W. Mintz(1982), o “folclore” conforme o dicionário folclórico de Carvalho
Neto(1977), a “brincadeira de Boi” no site oficial do Boi Bumba Caprichoso(2018),
Almeida(2013) com “os costumes indígenas na contemporaneidade”, entre outros. Partindo
dessa busca, foram traçadas as reflexões sobre as relativas mudanças na produção musical no
que se refere a interpretação e pronuncia correta do léxico dentro da arena do festival
conforme os conceitos previamente adquiridos. Para o jornalista Josué Claudio de Souza,
Manaus é, “ao mesmo tempo, uma ambiciosa cidade e às vezes não sabe quem é” (Duarte,
2016), em outras palavras, a capital do Amazonas já viveu, dentre tantas coisas e ciclos, uma
necessidade latente de autoafirmação. Com o advento do Festival Folclórico de Parintins, o
coletivo cultural prometia, no final dos anos de 1980, uma afirmação cultural por meio,
sobretudo, da músicalidade propagada. No “Alto do Bumba meu Boi”, idealizado em Portugal
e trazido ao Brasil. Se conta, após o assassinato do garrote preferido da estância pelas mãos
de Pai Francisco, capataz da fazenda e marido da grávida e desejosa Catirina, esta com
vontade de comer a língua do boi, pede ao marido que a busque e o fato se sucede. Bem,
adiantada a história, a ressureição do touro só é possível por conta da presença do Pajé, e
quando este efetua o feitiço e reanima o animal, a festa se instala e tudo volta como antes. A
presença do curandeiro indígena acima citado dentro do Alto, impulsiona a atuação do índio
no interior da festa de Boi Bumba, ao invés de “Bumba meu boi” ocorrido no Maranhão e
Pará, no Amazonas há essa modificação do termo e com isso, determinações particulares
acontecem, como uma valorização maior das crenças e lendas ameríndias da Amazônia. Desse
modo, o índio com seus mitos e verdades se torna figura além de importante, fixa e
preponderante no complexo de apresentações do Boi de arena, ocorrendo todos os anos no
último final de semana do mês de junho. às vezes, passando aos primeiros dois dias do mês
de julho. Nossa problemática parte das observações do comportamento amazonense em
relação a sua aceitação perante descendência indígena. A menos de trinta anos, a
denominação caboclo ou “caboco”, não era bem vista, sinônimo de ignorância e segregação
social. (Duarte, 2016) Na medida do que se percebeu à época, a temática indígena colabora
ou não para a modificação dessa aceitação? Hoje, o ser caboco esta no sanduiche matinal feito
com banana pacovã, queijo coalho e tucumã dentro de um pão francês, está nas estampas de
camisas com dizeres próprios da região e o índio, defendido pela beleza de suas cunhãs,
adornando as cabeças da sociedade com cocares e brincos de penas nas mais diferentes cores,
nitidamente orgulhosas de quem são. Por fim, com mais de 20 rituais identificados, a presença
indígena que parte da cultura folclórica apresentada na arena de Parintins, já inseriu mais de

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400 verbetes de diferentes línguas nativas, inúmeras discursões sobre o tema, apresentou
etnias até então desconhecidas e oportunizou de maneira positiva o reconhecimento de uma
sociedade urbana como membro da miscigenação dessa parte específica do território
brasileiro. Sendo assim, o artigo conclui sobre os impactos da presença dos rituais e palavras
no consciente coletivo do estado, acima de tudo, nas tendências de entrada como conteúdos
em escolas locais e uma maior reflexão sobre a figura do índio na formação de quem somos.
Palavras como tacacá, curumim, tororó, Itacoatiara, Maués, Nhamundá, tipiti, entre outras,
passaram a ter mais sentido após a explosão cultural defendida na arena da Ilha
Tupinambarana. Com base nessa conclusão, anunciamos outras frentes de pesquisa como:
apreciação da verdadeira musicalidade indígena, artefatos sagrados e moda local, além de
outros.

Constituinte, patrimônio cultural e cultura indígena – Ailton Krenak: “Norma


jurídica não é poesia”

Yussef Daibert Salomão de Campos

A formação de uma Assembleia Nacional Constituinte (ANC), após mais de duas décadas de
regime autoritário, é certamente um marco na história recente do Brasil. Entender os
meandros políticos desse momento, bem como compreender as reivindicações populares por
uma carta política democrática é essencial para estabelecer um debate sobre o patrimônio
cultural como espaço de conflitos. Perscrutar o passado através da História Oral é tentar, aos
olhos do presente, identificar fatos e agentes atuantes em momentos marcantes como esse.
Através de Ailton Krenak, de sua memória e de algumas de várias de suas intervenções na
ANC, farei um exercício de diálogo com o passado, pela mediação desse que foi uma voz ativa
nesse processo. Ailton Krenak é um homem que enxerga além de seu tempo. Nos anos de
1987 e 1988 fixou-se como importante participante nos debates constituintes, representando,
de forma incisiva e evidente, a causa indígena. Representou a União das Nações Indígenas
(UNI), participou de assembleias e plenárias, como, por exemplo, as da Subcomissão da
Educação, Cultura e Esportes. Em defesa dos indígenas, protagonizou um dos momentos
políticos mais marcantes daquela década: pintou seu rosto de jenipapo, num gesto Rin´tá,
armado de luto e de guerra, ao discordar das modificações feitas nas reivindicações
apresentadas nas subcomissões e comissões que antecederam a Comissão de Sistematização.
Esse trabalho apresentará como esse líder contribuiu na edificação do texto constitucional
sobre direitos indígenas, sobretudo, sobre patrimônio cultural.

A perversão na Constituição Federal


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Yussef Daibert Salomão de Campos

Essa proposta trata do patrimônio cultural como matéria inserida no corpo constitucional da
Carta Federal de 1988. O objetivo de identificar os atores envolvidos, as discussões, diretas e
transversais, que se apropriaram do tema durante o processo Constituinte mais recente da
história do país e do estado, foi atingido. Assim como o de entender os meandros que levaram
à redação final do que hoje conhecemos como artigo 216, o mais importante da Constituição
da República no que tange à conceituação do patrimônio e a designação das formas de
preservação e proteção. Identificou-se que alguns conflitos tangenciaram a discussão, mas
quando o tema foi diretamente debatido, a tendência foi a de conciliação como resultado das
tratativas entre as partes envolvidas. A Constituição, como ambiência política, foi perscrutada,
no que se refere ao patrimônio, que revelou que a demanda por reconhecimento de culturas,
identidades e memórias foi considerada pelos constituintes, todavia a sua perspectiva
econômica acerca da propriedade da terra, por parte de grupos indígenas e de negros,
marginalizados nas políticas públicas de até então, foi encarada como assunto de menor
relevo, em uma nítida contenção de conflitos, por um lado, e atendimento a anseios de forças
políticas incisivas, de outro..

Cultura e fé em disputa: o caso da Folia de Reis de Paracatu de Baixo após o


rompimento da barragem de Fundão, em Mariana

Bianca Pataro Dutra

A Folia de Reis de Paracatu de Baixo, comunidade atingida pelo rompimento da barragem de


Fundão, em 2015, ocorre continuamente há, pelo menos, 80 anos. Mesmo com o
deslocamento populacional decorrente do desastre, a forma de expressão permanece sendo
reproduzida, adaptando-se e encontrando novos sentidos no cenário atual. No ano de 2016,
o IEPHA/MG efetivou o registro das Folias de Reis como patrimônio imaterial. Neste contexto,
a Folia de Paracatu de Baixo foi legitimada institucionalmente como símbolo da identidade
cultural não somente da localidade atingida, mas do estado de Minas. Contudo, a percepção
dessa comunidade sobre o caráter patrimonial da forma de expressão deu-se a partir do
rompimento, em que os elementos culturais passaram a ser acionados como representantes
da memória e história local, na busca pelo senso de comunidade e na manutenção dos
vínculos com a área de origem. O que se observa é que a estrutura organizacional e ritualística
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da forma de expressão, amparada no cumprimento de uma promessa levada à cabo pelos


folieiros, tem sido disputada entre os integrantes da comunidade e os executantes da forma
de expressão. Tem-se que, para os atores que representam os discursos culturais e
patrimoniais em Paracatu de Baixo, a Folia de Reis deve manter-se atrelada ao distrito
atingido, com a realização de seus rituais nesta área e mantendo a dinâmica tradicional de
ocorrência. Por outro lado, os executantes, acionando a fé como motivação primordial da
existência da forma de expressão, buscam adaptá-la, deslocando seus rituais para outras
localidades e afastando-se da área original de Paracatu de Baixo. Assim, esta comunicação
analisa como o cenário do desastre de Mariana fez emergir símbolos patrimoniais, tomando
a Folia de Reis como referência, que são utilizados no processo de demarcação identitária das
comunidades, em disputa com os sentidos atribuídos aos bens por seus próprios executantes.

Imagineria religiosa en la Puna — Patrimonio religioso popular: los retablos


puneños

Carlos Alberto Garcés

Entre los objetos relativos al culto mestizo de los santos cristianos entre las comunidades de
la Puna de Jujuy se encuentran los retablos portátiles, cajones religiosos o urnas de santos
como se nombran localmente. La idea del presente artículo es, por un lado, poner en evidencia
el valor patrimonial de esos artefactos de la imaginería religiosa popular, generando los
repertorios y/o catálogos adecuados para su identificación y resguardo y por otro el estudio
de la iconografía en su compleja matriz mestiza que resignifica cultos ancestrales en el marco
de la iconografía típica del cristianismo difundido en tiempos de la colonia. Propongo trabajar
sobre la colección de urnas religiosas pertenecientes a la comunidad Kolla del pueblo de
Rinconada –provincia de Jujuy, Argentina- depositadas en la iglesia local y que abarcan un
periodo cronológico que va del siglo XIX hasta la segunda mitad del siglo XX y que se siguen
siendo utilizados en los rituales religiosos locales. El origen de estas prácticas se remonta a los
tiempos de la evangelización colonial de los siglos XVI a XVIII y en principio se vincularían con
las llamadas “capillas de Santero” habiendo alcanzado gran difusión en toda el área andina de
Perú, Bolivia y Noroeste de Argentina. Entre la colección estudiada se pueden encontrar
imágenes provenientes de factura industrial junto con las de producción artesanal. Es
probable que el impacto de la modernidad y la no mercantilización de estos artefactos haya
provocado la desaparición de los artesanos que las producían, lo que no ha menguado su valor
referencial como objetos vinculados al culto de los santos y de uso comunitario, es decir que
el uso ritual de las urnas no es privado o individual sino colectivo y anónimo. Si bien no es

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posible establecer un parámetro común en la construcción de las urnas y su iconografía, por


ser absolutamente diversas, si es de notar que predominan las imágenes asociadas con los
factores de reproducción de la vida, como las de los santos considerados protectores del
ganado –San Juan Bautista y San Antonio de Padua, en particular- a quienes se representa
acompañados de llamas, vacas y ovejas.

Cambios en el concepto de patrimonio de la mano de las actuales


modalidades de los procesos de patrimonialización

Jorge Kulemeyer

Los procesos de patrimonialización implican la creación de un vínculo de los bienes


gestionados con la sociedad que adquiere entidad gracias a su presencia pública, no sólo
mediante la presentación y ulteriores desarrollos propios del ejercicio de las actividades de la
práctica de la gestión y otras actividades que resultan consecuencia de la misma (como, por
ejemplo, réplicas artesanales, producción de textos, audiovisuales, etc.) sino también en el
discurso alusivo a estos temas, que se genera en el seno de la sociedad. La gestión del
patrimonio ha dejado de limitarse al tratamiento de los bienes destacados que fueron
producidos por generaciones pasadas en algún momento de la historia y que, de alguna
manera, han podido conservarse hasta nuestros días. Actualmente se suman las producciones
y situaciones contemporáneas, siendo parte central de la gestión patrimonial la transmisión
de conocimientos sobre los hechos asociados al patrimonio en cuestión y sus respectivos
contextos. Los procesos conscientes de patrimonialización son aquellos que consisten en la
búsqueda deliberada para que un bien, o conjuntos de bienes, sean gestionados de manera
tal que puedan ser considerados como patrimonio de la sociedad. Si efectivamente las
actividades de patrimonialización implican un proceso de sacralización (Prats, 2005) que, de
una manera u otra una sociedad selecciona para su activación patrimonial, ello implica que se
propone una diferenciación de los bienes gestionados en relación al resto (la “puesta en valor”
según la expresión habitual en arquitectura).

La gestión del patrimonio y los cambios del orden socio-político dominante

Jorge Kulemeyer

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Las modalidades e iniciativas en que se plantea e instrumenta la gestión del patrimonio, en


casi todos los casos, reflejan con claridad meridiana la situación y el pensamiento de los
sectores de poder dominantes en la coyuntura temporal respectiva. Las tendencias y cambios
en las concepciones ideológicas y acciones dominantes en la sociedad tienen influencia en
todas las formas de producción de todo tipo incluyendo, claro está, en la gestión del
patrimonio por lo que la acción y reacción por parte de los especialistas se debe actualizar
permanentemente. El desafío ético, el compromiso social y la mirada trascendente de las
convicciones de los gestores del patrimonio son determinantes para el destino de los bienes
patrimoniales, integridad, conocimiento, comunicación e interpretación por parte de la
población en general. Si “el talón de Aquiles” del patrimonio en una sociedad en la que prima
la jactancia del individualismo es su pertenencia al conjunto de los habitantes de un país
(como, por ejemplo, lo señala la constitución brasileña de 1988), en los actuales tiempos
políticos y económicos en los que dominan conceptos opuestos la problemática que enfrenta
la gestión del patrimonio es de enorme magnitud y de responsabilidad impensada hace solo
un par de décadas atrás. Esta presentación se propone considerar, desde la perspectiva de la
gestión patrimonial, la compleja y desafiante coyuntura del presente que es tendencia en la
mayoría de los países sudamericanos y que coloca en dificultades extremas a las propuestas
guiadas por el paradigma del bien común y de la defensa de los bienes e intereses colectivos.
Se parte de la premisa de que la gestión patrimonial, realizada con respeto y basada en
conocimientos genuinos en permanente actualización, resulta una oportunidad de muchos
aspectos que hacen a la mejora de la calidad de vida, especialmente la de la comunidad local
por lo que mantener y acrecentar el interés general por este tipo de desarrollos resulta un
objetivo loable y deseable.

Fabricando la autenticidad: Patrimonio y reglamentación en la peregrinación


a Qoyllurit´i

Vicente Torres Lezama

El santuario del Qoyllurit´i, del que trata este ensayo, se encuentra a ocho kilómetros y medio
del poblado de Mahuayani que pertenece al distrito de Ocongate, en la provincia de
Quispicanchi, Cuzco. El santuario está ubicado a 4600 msnm y recibe miles de peregrinos
durante el año. Desde el 2001 hasta la actualidad he participado en la peregrinación, y soy
danzante wayri ch´unchu de la nación Paucartambo, desde ahí presento mis argumentos
sobre el tema; además, he dialogado y realizado entrevistas a danzantes y demás peregrinos
desde el 2012 hasta el 2017. El objetivo de esta ponencia es mostrar cómo se defiende y

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promueve la cultura y la identidad desde la zona de expertos: Ministerio de Cultura, la iglesia


católica y la academia; en contraste con el interés de innovación que asumen los peregrinos.
Por lo común, se cree que los indígenas (en este caso peregrinos de distintas procedencias)
son los que se resisten al cambio, pero aquí ocurre lo contrario, los indígenas están pendientes
de las novedades y de tomarlas de manera selectiva. A la inversa, desde el Ministerio de
Cultura, la iglesia católica y la academia se promueve la conservación de la autenticidad de las
practicas festivas. Es decir, quienes se resisten a que los peregrinos cambien sus prácticas
como su música, danza, instrumentos musicales, mujeres danzando de pablos, mujeres
llevando apuyayas (demandas), entre otros, son los expertos.

O acidente com o Césio-137 em Goiânia e os entraves memoriais

Larissa Mendanha Cabral

Este trabalho é sobre o acidente com o césio 137 que ocorreu em Goiânia em 1987. Ocorrido
pelo abandono de uma cápsula contendo césio-137, de aparelho de radioterapia em um
prédio abandonado, antes hospital, onde pessoas tiveram contato com essa cápsula e ao
manuseá-la, fez causar todo esse transtorno para as vítimas e também os moradores da
cidade e estado. Pretende-se, explicar como ocorreu o acidente bem como o processo de
descontaminação do material radioativo e da descontaminação simbólica. Envolto no
contexto de modernização da cidade de Goiânia, o acidente reverte a imagem de cidade
moderna, e todo o discurso concentrado nessa ideia.

Sebastião Rosa da Paz: Memória e a Questão Agrária no Brasil

Kamilla de Oliveira e Silva

Neste trabalho, faremos uma análise sobre a relação entre os usos da memória de Sebastião
Rosa da Paz e as dioceses de Uruaçu e Cidade de Goiás. “Tião da Paz”, como era conhecido,
teve ativa participação nas lutas pela terra e no sindicalismo goiano. Influenciado pela
Teologia da Libertação e envolvido na defesa de camponeses contra a prática de grilagem de
terras e fundou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Uruaçu. Em um período em que os
latifundiários não hesitavam em recorrer da força direta para atingir seus interesses e em que
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os despejos de camponeses resultavam em violentos conflitos, acabou sendo assassinado por


sair em defesa de um lavrador num processo de grilagem por latifundiários e políticos.
Considerando a questão agrária no Brasil na década de 70 e 80, bem como a postura de cada
uma destas dioceses, lidaremos com a questão social e principalmente com os usos da
memória e o esquecimento promovidos com relação a este.

A disputa entre Okinawa e Japão através do karatê-patrimônio

Gustavo Oliveira Brito dos Santos

O patrimônio pode ser entendido como um elemento escolhido ou eleito por ou para
representar um aspecto cultural de um grupo social. Ele não é natural, e quase nunca isento
de conflitos em seu interior inerentes ás questões de identidade. O que chamamos karatê-
patrimônio de Okinawa é o karatê quando considerado elemento da identidade okinawana,
como força motriz e expressão dessa identidade, reivindicado por entidades okinawanas
como um bem cultural da comunidade e que se distingue das demais formas de karatê através
dos seus aspectos técnicos, estéticos, históricos e filosóficos. Um elemento que ajuda a
compreender a cultura okinawana como uma cultura específica, de identidade própria e não
uma extensão da cultura nacional japonesa. É um karatê diferente do chamado karatê
esportivo por não ter as competições como finalidade última da sua prática e diferente do
karatê japonês por não precisar estar necessariamente atrelado a ideias marciais japonesas
ligados à figura do samurai, por aspectos técnicos e estéticos que o distinguem daquele e por
ser a mais antiga forma de karatê a articular características existentes em várias outras. Em
outras palavras o karatê de Okinawa, que deu origem a todos os outros, tem em si esse
aspecto cronológico muitas vezes relacionado ao termo “tradicional”. Entidades que
gerenciam o karatê de Okinawa como o Okinawa Dentou Karate Do Shinkokai (Associação
para o Fomento do Karatê Tradicional de Okinawa) usam o termo karatê tradicional de
Okinawa para diferenciá-lo de outras formas de karatê. Optamos por usar o termo karatê-
patrimônio para caracterizar o karatê dentro da demanda pela afirmação da cultura
okinawana, principalmente frente ao Japão, e para caracterizar o tipo de karatê considerado
detentor dos valores culturais e costumes de Okinawa que poderíamos chamar “tradicionais”
enquanto valores e costumes que persistem desde antes da modernização local. Esse termo
também nos parece cabível pois delimita nossa abordagem na questão Okinawa/Japão
através do karatê, abordagem essa que se faz dentro dos aspectos patrimoniais. As discussões
e questões relativas ao patrimônio formam o norte da nossa abordagem.

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Manifestações culturais e religiosas dos indígenas das etnias Waiwai e Zoè –


Estudo de caso nas aldeias Mapuera e Bech

Suzilane Nascimento Siqueira

Taciara Soares Castro

Esta produção é o resumo de uma pesquisa sobre as manifestações culturais e religiosas dos
indígenas da etnia WAI WAI e ZOÉ, da aldeia Mapuera e aldeia BEC, respectivamente. Este
trabalhado parte do pressuposto de que o tema abordado possui escassez de material e
informações, objetivando conhecer a identidade cultural e religiosa destas etnias supracitadas
para produzir materiais sobre o tema em questão e para facilitar o acesso a essas informações.
Adota-se para a realização deste trabalho dois tipos de pesquisa: a bibliográfica e o estudo de
caso onde, o nosso objeto de estudo será as manifestações culturais e religiosas dos indígenas
das aldeias Mapuera e BEC. Os resultados serão mensurados de forma densa e minuciosa após
a realização da pesquisa e coleta de dados em um texto que, posteriormente, tabulados os
dados, servirão para comparar as diferenças entre as etnias e o quanto o homem branco
contribuiu para a endoculturação dos povos indígenas

O lado perverso dos museus: o tráfico ilícito de bens culturais brasileiros

Mário Pragmácio Telles

O tráfico ilícito de bens culturais é uma preocupação constante nas políticas culturais
brasileiras, tanto no que se refere à evasão de obras de artes, de artefatos arqueológicos e
paleontológicos, quanto no que tange à aquisição e constituição de acervos museológicos a
partir dessa prática. O presente trabalho pretende fazer um panorama dessa política voltada
aos bens móveis, analisando os principais instrumentos jurídicos nacionais e internacionais
criados para coibir a saída de bens culturais do Brasil, assim como investigar o papel dos
museus no cumprimento dessa agenda. Além disso, o trabalho busca problematizar, a partir
de casos concretos, questões contemporâneas e centrais para esse debate, tais como a
desterritorialização de bens culturais, a descolonização dos museus, a repatriação de bens
culturais e os problemas decorrentes da ausência de representação nas instituições
museológicas brasileiras.
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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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La doble moral del discurso patrimonial en la Constitución Colombiana. El


caso de las comunidades indígenas del Caribe colombiano

Fabio Silva Vallejo

El caribe colombiano alberga 11 comunidades indígenas a lo largo de su territorio, sin embargo


la situación del conflicto paramilitar, la influencia de las iglesias cristianas y el desarrollismo
despiadado le niegan los derechos que a lo largo de 43 artículos que posee la constitución
colombiana sobre derechos culturales reconocen su autonomía. El patrimonio se ha
convertido en los pueblos indígenas y afros y campesinos en un sistema excluyente que deja
por fuera las reinvenciones culturales de las comunidades antes el azote de más de 15 años
de paramilitarismo. Este fenómeno unido al del auge de las nuevas formas de evangelización
generadas por las iglesias cristianas tienen en peligro las tradiciones de las comunidades
indígenas, afros y campesinas del Caribe colombiano.

A Catedral de Barcelona e o reconhecimento do lugar na dinâmica entre o


local e o global

Lorena da Silva Vargas

Os princípios patrimoniais vinculados aos âmbitos local e global não raramente configuram-
se em extremidades opostas, pouco dialogáveis. A memória de um lugar, nesse contexto,
vagueia entre a proteção local, especificamente por meio da patrimonialização e da
conscientização histórica e entre a globalização, junto ao distanciamento da memória em prol
do consumismo cultural. A garantia do patrimônio, entretanto, voltada ao material, não
implica necessariamente em transferências ou permanências emocionais, memorialísticas ou
mesmo históricas. Nesta comunicação, buscaremos analisar a Catedral de Barcelona pós-
patrimonialização em seus âmbitos local e global, bem como sua inserção na rota turística da
cidade e as consequências memorialísticas e logísticas internas derivadas dos holofotes
externos.

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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Música Propia Misak, sonidos acoplados y ritmos igualitarios un acercamiento


cosmosónico

Oscar Giovanni Martinez Peña

Los estudios en etnomusicología desde la década de los ochenta del siglo pasado se han
preguntado cómo algunos colectivos humanos en un marco intersubjetivo escuchan y
entienden sus universos sonoros. En esta discusión emergen espacios de reflexión que
complejizan los sentidos atribuidos a lo sonoro musical y constituyen alternativas a una única
mirada basada en las valoraciones occidentales sobre la música. Así, las acustemologías, las
musico-lógicas y las cosmosónicas son posibilidades elaboradas por la experiencia
interdisciplinar de la antropología y la (etno) musicología con base en la etnografía de
investigadores que junto con sus “pares nativos” en la Melanesia y en los grupos amerindios
en las tierras bajas de Suramérica, que proponen perspectivas novedosas para comprender
las expresiones sonoro-musicales en la actualidad. Quiero aportar a la discusión a partir de mi
experiencia junto con músicos pertenecientes al Pueblo Ancestral Misak, en el sudoeste de
Colombia, quienes interpretan música propia. La música propia ocupa un lugar de importancia
en la agenda política misak, que remiten a la presencia de alteridades extrahumanas
performadas en eventos públicos y ritualizados como resultante del trenzado tímbrico de las
flautas y los tambores misak, Lus y Palo. La música propia puede ser entendida como una
cosmosónica que permite comprender las sonoridades donde confluyen alteridades que
organizan los universos cosmológicos e inciden con su agencia en la formación de los sujetos.
La pluralidad de sentidos que se construye alrededor de la cosmosónica misak, se revelaron
en dos categorías sonoro-performáticas: el “sonido acoplado” y el “ritmo igualitario”. Estas
dos ideas son formas de comprender la música propia, sin ser definiciones concluidas o
características totalizantes. Así, esta discusión gira alrededor de la pregunta ¿Qué es lo que
los músicos misak llaman como “música propia” para nosotros los no misak? Esta cuestión es
resultante de la insistente aclaración de los mismos músicos: “la música propia no es una
chirimia” frente a los procesos de patrimonialización que se adelantan en el departamento
del Cauca sobre esta última.

Patrimônio, materialidade, espiritualidade e a arte de construir panelas de


barro das mulheres Macuxi entre o norte do Brasil e a Guiana

Roseli Bernardo SIlva dos Santos


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Everton José Gomes dos Santos

Walmir da Silva Pereira

No contexto internacional de reconhecimento e valorização do patrimônio cultural dos povos


e coletividades indígenas sul-americanos nossa comunicação reflete sobre conhecimentos e
técnicas tradicionais das mulheres Macuxi, indígenas de filiação linguística Karíb, originarias
da Terra Indígena (TI) Raposa Serra do Sol, pertencentes à região Guianense em espaço
territorial partilhado entre o norte do Brasil e a Guiana. Adotamos como escopo analítico a
descrição de elementos materiais e imateriais registrados em pesquisas de campo junto às
mulheres mestras na arte ancestral de construir panelas de barro. Presentemente as panelas
de barro, ao mesmo tempo que agregam valor mercantil e a perspectiva de comercialização
deste bem indígena, inclusive com edição de festival dedicado a sua negociação articulado à
prática do turismo étnico no interior da TI Raposa Serra do Sol, conservam sua dimensão
potencial de patrimônio cultural representativo do povo Macuxi.

A Cultura material dos povos Karib: uma etnografia das artes cerâmicas no
Baixo Amazonas

Vinícius Barriga dos Santos

No contexto das escavações arqueológicas na área do Forte Santo Antônio de Gurupá,


pequeno município do Pará, realizada por pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi
em 2012, constatou-se a ocupação indígena milenar do local a partir de vestígios encontrados
nas “terras pretas de índio”, destacando-se instrumentos feitos de pedra polida e lascada,
ossos de animais e, máxime, fragmentos de cerâmicas, produzidas com diferentes tipos de
argilas, formas e decorações apontam para um estilo cerâmico específico, o Koriabo de
tradição Inciso-Ponteado, explicitando a riqueza artística da produção nativa das cerâmicas
em Gurupá no período Pré-colonial, ademais, a disseminação regional do supracitado estilo
corresponde a expansão de povos indígenas do tronco Karib, conforme as conclusões da
arqueologia amazônica. Destarte, o presente artigo almeja apresentar, a partir de descrições
etnográficas, o estilo cerâmico Koriabo tal qual produzido pelos povos Karib, os dados
etnográficos coletados pautam-se nos achados arqueológicos documentados pela exposição
“Gurupá na Encruzilhada da História”, promovida pelo IPHAN em 2018. Após a minuciosa
descrição das formas cerâmicas Koriabo, objetivando captar a essencialidade material e

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simbólica de tal fluxo estilístico contamos com uma analise bibliográfica de estudos
antropológicos e etnoarqueológicos, desdobrando-se em uma bricolagem entre os dados
empíricos captados e teoria antropológica visando extrair breves conclusões. As cerâmicas
Koriabo, de uma perspectiva analítica, constituem objetos heurísticos que explicitam as
tradições, costumes, crenças, sobretudo, o universo simbólico dos povos que a produzem,
estando além do mero utilitarismo, as incisões e ponteados, com pequenos botões e filetes,
formando imagens de animais ou plantas constituem símbolos com significações cosmológicas
para os Karib. Constatando-se ligações entre cultura material e identidade, o estilo Koriabo
desafia a dicotomia material/imaterial na medida em que o comportamento simbólico Karib
influencia os padrões da produção artística da cerâmica, isto é, a própria cultura material em
sua dialética com o simbólico.

"Por trás da máscara nós sempre dançamos": etnicidade e territorialidade em


São Paulo de Olivença (AM)

Kirna Karoleni Vitor Gomes

A Dança do Cordão do Africano foi trazida por negros em processo de imigração para o Alto
Solimões, onde ancoraram no porto principal da aldeia Kambeba, a que deu origem ao
município de São Paulo de Olivença, território pluriétnico no qual vivem os grupos Kokama,
Caixana, Ticuna e Kambeba. Na sede do município, a presença de moradores indígenas
reafirma a pluricidade étnica da região. A Dança do Cordão do Africano é uma dança
cadenciada de acordo com os ritmos dos tambores, de movimentos simples que fazem um
formato de cordão humano. Na hora da entrada, reverenciam os membros que tocam na
banda. Cantam canções feitas por eles mesmos. Confeccionam suas próprias vestimentas,
entre elas as máscaras que são feitas de tecido preto que realçam os lábios grossos e
avermelhados, fazendo referência às características físicas dos negros que trouxeram a dança
para São Paulo de Olivença. Eu sempre estive inserida dentro da dança, seja assistindo aqueles
que dançam, escutando as batidas dos tambores ou ajudando alguns amigos na construção
da carapuça da máscara. Tudo acontecia sem o objetivo acadêmico que busco hoje. Como
diria Oliveira (2000, p .19) sobre o olhar a primeira impressão no campo: Talvez a primeira
experiência do pesquisador de campo - ou no campo - esteja na domesticação teórica de seu
olhar. Isso porque, a partir do momento em que nos sentimos preparados para a investigação
empírica, o objeto sobre o qual dirigimos o nosso olhar, já foi previamente alterado pelo
próprio modo de visualizá-lo. Devo ressaltar dois momentos meus com o Dança do Cordão do
Africano. O primeiro, aos sete anos, com um olhar cheio de curiosidade e sem influencias

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teóricas para orientar minha compreensão. Outro momento foi aos dezenove anos, na
faculdade, especificamente na disciplina de Antropologia Cultural, onde comecei a obter
conhecimentos sobre como as culturas se diferenciam umas das outras. Minha proposta de
pesquisa nasceu de interesse em compreender as relações das identidades étnicas que
aparecem na dança. Busco mostras quem são as pessoas que sempre dançaram por trás da
máscara da Dança do Cordão do Africano, assim como descrever o território indígena aonde
a manifestação se insere, próximo a tríplice fronteira (Brasil, Colômbia e Peru). É importante
destacar que este trabalho consiste em uma etnografia que envolve identidades étnicas de
pessoas que entendem que como membros da Dança do Cordão do Africano conseguem ter
suas identidades ocultas do público participante. Isto me querer refletir mais sobre o segredo
de identidade que são promovidos pelas máscaras usadas em rituais indígenas. Tive que ter
muito cuidado em estabelecer minha relação de pesquisadora com os participantes da Dança
do Cordão do Africano para respeitar esta dimensão do segredo. A pesquisa foi autorizada
negociando por meio de diálogos de via de mão dupla o entendimento entre o pesquisador e
os "informantes". Minha intenção é seguir a proposta de Roberto Cardoso de Oliveira,
apresentada na sua obra O Trabalho do Antropólogo (2000), de promover a produção de
conhecimento antropológico a partir de três ações metodológicas Olhar, Ouvir e Escrever.
Refletindo sobre a relação “pesquisador/informante”, Roberto Cardoso de Oliveira afirma
que, ao transformar o informante em “interlocutor”, o diálogo se torna possível, dando lugar
a uma nova modalidade de relacionamento em que “os horizontes semânticos em confronto
abrem-se um ao outro, transformando o confronto em um verdadeiro encontro etnográfico”.
Para isso, tem sido fundamental conversar sobre minha pesquisa com algumas famílias
indígenas e não-indígenas, que estão por trás das máscaras da Dança do Cordão do Africano,
para que conhecessem meu projeto de pesquisa e quais seriam minhas intenções com este
trabalho. Meu interesse por este tema inserese no contexto histórico amazônico de como São
Paulo de Olivença constitui um território em disputa, sendo a Dança do Cordão do Africano
uma representação cultural das relações interétnicas inseridas neste contexto. Grupos
indígenas e não indígenas convivem e se relacionam através da Dança do Cordão do Africano,
ocultados atrás das máscaras de representação negra. O pluralismo étnico de São Paulo de
Olivença é tecido na trama da Dança e os dançantes se afirmam como agentes políticos e
sociais que alteram a cultura historicamente na ação (Sahlins:1987, p.07). Meu interesse
antropológico passa a ser entender que identidades os dançantes afirmam por trás da Dança
do Cordão do Africano, como elas se relacionam historicamente na construção do território
pluriétnico no município de São Paulo de Olivença. Estou propondo manter diálogos com
indígenas de quatro comunidades Kokama (Nova Jordânia, São Joaquim, Betânia e Santa
Maria da Colônia), cujos moradores saem durante o mês de junho para a sede do município
de São Paulo de Olivença para dançarem a Dança do Cordão do Africano, assim como fazem
os moradores do bairro Santa Terezinha. Os moradores deste bairro identificam-se como
Kambeba e também a famílias Kaixana, como a do seu Onofre Penaforth, que no período que
o Cordão do Africano sai para dançar pelas ruas da cidade, também se deslocam para dançar

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em outros bairros. Pretendo também dialogar com os moradores da comunidade Santa Rita
do Well, território indigna onde vivem Ticuna, Kokama e algumas famílias peruanas que por
alguns anos, durante os festejos juninos, apresentavam a Dança do Cordão do Africano. Para
ampliar minha reflexão, espero poder conversar com lideranças indígenas que interpretam a
dança como inimiga. No campo desta pesquisa, as categorias analíticas que envolvem
etnicidade e identidade serão postas em discussão relacionadas ao processo de
territorialização. Uso a proposta analítica de João Pacheco de Oliveira (2016) que compreende
por processo de territorialização, justamente, o movimento pelo qual um objeto político-
administrativo – nas colônias francesas seria a “etnia”, na América espanhola, as
“reducciones” e “resguardos”, no Brasil, as “comunidades indígenas” – vem a se transformar
em uma coletividade organizada, formulando uma identidade própria, instituindo
mecanismos de tomada de decisão e de representação e reestruturando as suas formas
culturais - inclusive as que o relacionam com o meio ambiente e com o universo religioso
(Oliveira, 2016, P. 205). Escolhi etnografar a Dança do Cordão Africano, a partir de sua
manifestação cultural pluriétnica, como fazendo parte do processo de territorialização em que
os povos indígenas articulados se afirmam como pertencentes, por direito, a São Paulo de
Olivença. Apesar de reconhecer toda a potencialidade analítica da área antropológica da
Performance, minha escolha metodológica para etnografar a Dança do Cordão do Africano foi
outra por ter a preocupação em compreender a constituição étnica plural do território no Alto
Solimões. Para isto, identifiquei-me mais na proposta analítica de João Pacheco de Oliveira
sobre processo territorial e afirmação étnica (1988). Queria compreender como os povos
indígena Ticuna, Omagua/Kambeba, Kokama e Kayxana estabelecem suas relações sociais
num território pluriétnico, que além de grupos indígenas conta também com a presença de
peruanos e de algumas famílias descendentes de portugueses. Relações interétnicas também
marcadas por atuações específica de instituições religiosas e do Estado brasileiro na região do
Alto Solimões. Ao estudar Antropologia, passei a refletir mais enquanto moradora da região
sobre o conflito vivenciado pelos povos indígenas do Alto Solimões, refletindo mais sobre
“autoridade etnográfica (Clifford, 2000) que eu teria como pesquisadora junto a estes grupos
étnico. Nesta pesquisa surgiram algumas lacunas as serem respondidas que me
impulsionaram a buscar resolvê-las com o projeto de Mestrado, sobretudo no que diz respeito
a compreensão da pluricidade étnica e a territorialização em São Paulo de Olivença, por meio
de uma dança que negocia identidades étnicas usando máscaras que revelam a identidade
coletiva de ser paulivenses recorrendo a caricaturas de traços físicos de negros. Quero
entender esta complexidade, a partir do que diz Márquez: "el fortalecimento de la identidade
indígena frente a otras identidades y el reconocimiento de sus territórios". (2010, p.116).

Análise iconológica da Placa da Cruz de Palenque, Chiapas


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Raul Marcelo Varela Moitinho

O objetivo deste estudo é a análise iconológica da Placa da Cruz de Palenque, região de


Chiapas no México, a partir do método iconológico de Erwin Panofsky. A cena central da Placa
é um ritual em honra ao deus GI, no qual temos K’inich Kan B’ahlam no dia da sua ascensão
como governante de Palenque, e está acompanhado por seu pai, o icônico ajaw K’inich
Janahb’ Pakal, que transmite a carga de autoridade ao novo governante, outorgando a
sucessão. Este espaço corresponde ao significado do Templo da Cruz, como a imagem
arquitetônica no mundo superior e “casa” do deus correspondente. A cena é dominada por
um elemento cruciforme, que se tornou o nome da placa e no edifício onde ela se encontrava.
Para uma análise da totalidade da obra, este estudo parte, primeiro, de uma descrição
préiconográfica, buscando o entendimento básico da obra ou uma percepção natural. A partir
disto, farei uma análise iconográfica, a um nível mais profundo da obra, interpretando sua
mensagem e significado, que representa a mensagem intrínseca da Placa da Cruz. Finalmente,
procederei a uma análise iconológica, isto é, uma leitura para além dos dados da própria obra,
mas considerando também a estética das comunidades dos antigos mayas.

Filosofia da Arte Indígena: uma análise crítica do Festival Folclórico de


Parintins/AM sob a ótica da Indústria Cultural

Alexsandro Melo Medeiros

Parintins é uma cidade do Estado do Amazonas conhecida nacional e internacionalmente por


causa do Festival Folclórico de Parintins. O crescimento do Festival Folclórico foi significativo
ao longo de 100 anos e hoje se consolida cada vez mais como uma festa de massas no que
Rodrigues (2006) chama de produto cultural, com o aumento do turismo, do setor hoteleiro e
do comércio da cidade, com a inserção de grandes multinacionais patrocinadoras da festa,
ampla divulgação e cobertura da mídia. Hoje o evento possui dimensões gigantescas “[...]
creditando visibilidade à cidade de Parintins, e mais do que isso, atraindo investimentos e
recursos para a continuidade do festival, além de fomentar a economia local” (MONTEIRO, et
al., 2018, p. 8). É sob a perspectiva de um produto cultural de massas que se pretende analisar
essa festa grandiosa: uma manifestação cultural que tem hoje aspectos da cultura de massa,
que transforma o espetáculo em produto mercadológico. Essas mudanças ocorrem de

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diversas maneiras como: na composição das toadas e na utilização de equipamentos


eletrônicos (MONTEIRO, et al., 2018); nas relações do mundo do trabalho (SILVA, 2015;
CATALÃO; NOGUEIRA, 2013); no surgimento de um turismo de massa (PIRES, 2014). Todavia,
diante da impossibilidade de analisar em detalhes cada uma destas transformações
ocasionadas pelo crescimento do Festival enquanto produção mercadológica, vamos
concentrar nossa análise na ideia de um produto cultural como reflexo da indústria cultural.
Em outras palavras, como a ideia de uma indústria cultural, tal como pensada pelos teóricos
Adorno e Horkheimer, se aplica perfeitamente ao Festival de Parintins nos moldes em que ele
se realiza hoje, através da relação que se estabelece entre o mercado e o Festival,
transformando a festa em um produto mercadológico. Horkheimer e Adorno (1985)
elaboraram o conceito de indústria cultural identificando a exploração comercial e a
vulgarização da cultura por parte de empresas e instituições interessadas na produção em
massa de bens culturais para fins mercadológicos: “a proposta do sistema é de que a
humanidade inteira se torne cliente ou empregado da indústria” (LOSSO, 2005, p. 163).
Conclui-se esta análise, que adota como metodologia a pesquisa bibliográfica, com um
discurso crítico sobre a crescente e aparentemente inevitável mercantilização do domínio da
cultura, onde se localiza o Festival Folclórico de Parintins, onde empresas nacionais e
multinacionais fabricam produtos cuja finalidade é o seu valor de mercado, que possa ser
consumido e transformado em capital. A cultura é objetificada, feita em série,
industrialmente, para as massas. A indústria cultural se apropria de elementos da cultura e,
através de um processo de sedução e convencimento, vende ao público como mercadoria.

Reflexões sobre uma transformação "anti-neolítica" da cerâmica: o caso da


cacimba entre os Awá-Guajá, tupi-guarani no Maranhão

Renata Otto Diniz

Nesta apresentação, desejo investigar a transformação awá-gaujá referente à produção de


cerâmica, a partir da comparação com sociedades também tupiguarani falantes. Parto da
sugestão de um recente artigo de Noeli, Brochado e Corrêa (2108), no qual se afirma que "os
tupi são ceramistas desde o prototupi." Sabemos que coisa semelhante se diz sobre o domínio
da agricultura entre povos tupi, a ponto de os mais fortes indícios de que os Awá-Guajá atuais
sejam ex-agricultores referirem-se à presença de termos cognatos do léxico tupi para plantas
cultivadas. Isto como, como argumentou Balée (1994), serve para atestar que tais termos não
foram apropriados de fora, mas que sempre estiveram com eles e que, portanto, a agricultura
deveria ter sido um domínio próprio awá-guajá. Escrevi (Diniz, 2018) sobre uma

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transformação "anti-neolítica" no trato com as plantas entre os Awá-Guajá. Aqui a intenção é


seguir investigando tal transformação no domínio da cerâmica. Averiguaremos termos usados
para designar objetos côncavos de várias naturezas e funções. Nossa hipótese é de que tais
termos são frenquentemente originários do léxico tupi e próprios para as vasilhas cerâmicas
ou de barro. Especialmente atentaremos para averiguar se eles englobam a designação das
cacimbas (buracos cavados no chão para filtrar e armazenar água). Sendo assim, as cacimbas
podem ser um tipo (invertido) de cerâmica no modo awá-guajá. Caso possamos confirmar
esta hipótese, devemos demonstrar, para a cerâmica, que há uma também uma
transformação "anti-neolítica" do seu uso (e de sua concepção) produzida na sociedade awá-
guajá. E isto pode ser crucial para enriquecer nossa descrição sobre a forma como se concebe
e habita o território e constitui-se a terra/cosmos para esta sociedade.

Os Naturalistas e os Naturais: Os índios da Barra do Rio Negro e o contato


com os viajantes Louis e Elisabeth Agassiz

Bruno Miranda Braga

Esta comunicação discorre sobre o contato do casal de viajantes Louis e Elisabeth Agassiz –
naturalistas que passaram pela então região da Barra do Rio Negro e, se imbuíram nas práticas
culturais dos índios que estavam em tal região. Trabalhamos a luz da História Cultural
evidenciando o hibridismo cultural que se deu a partir deste contato; apresentamos como
estes viajantes conviviam com os índios e, como estes também se relacionavam com os
estrangeiros. Destacamos o uso da fonte imagética, por meio da coleção fotográfica de Louis
Agassiz, e como este, envolvido no preconceituoso oitocentos classificava e vislumbrava os
índios. Vemos como na Barra do Rio Negro tentara se despir de tudo que lembrara outrora,
em que era Fortaleza de São José. O viajante estabelece uma comparação com cunho
evolutivo e classificatório que destaca a paisagem da Barra em detrimento das demais
localidades por onde Marcoy explorou. Neste momento e em todo o século XIX, a ideia de
evolução esteve em voga baseando características humanas, sociais e culturais a uma teoria
das ciências naturais e biológica, denominada Darwinismo ou Teoria da Evolução que no meio
das ciências humanas e sociais, ganhou uma vertente denominada Darwinismo Social e com
o avanço da Escola Positivista tivera repercussão e aceitação no meio acadêmico. Pela fala do
viajante, percebemos um tom que enfatiza essa visão em que vê nos costumes tipicamente
indígenas latentes em outras localidades no Vale Amazônico como um reino de barbárie e a
Barra que apesar de sua topografia e geografia difíceis já se encontra num “estágio de
superioridade” se comparada ao restante do Amazonas. Outros viajantes, já apostavam que

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Manaus logo seria um importante centro comercial e cultural também. Louis e Elisabeth
Agassiz, um casal de naturalistas que viajavam a serviço dos Estados Unidos, em 1866, assim
apontaram um futuro para Manaus. Louis Agassiz chefiou a expedição cientifica norte-
americana que visitou o Brasil no período 1865-1866. Dessa expedição, composta de umas
quinze pessoas e financiada por Nathaniel Thayer, participou também, Elisabeth Cary Agassiz,
que registrou, dia a dia, o ocorrido com todos. Os elementos para a confecção de seu registro
eram fornecidos diariamente, pelo naturalista. Esse diário, com pequenas modificações, é que
foi publicado, mais tarde, por Louis e Elisabeth Cary.

Construindo um passado pré-colonial através da cerâmica marajoara

Claudinete do Socorro Sales

As investigações acerca da cerâmica nas sociedades indígenas marajoara derivou inúmeras


pesquisas e trabalhos no campo da antropologia, nos últimos anos, que vem contribuindo
significativamente no entendimento do universo cultural desses povos, revelando como
acontece o processos artesanais de maneira integrada. Esse processo possibilita desfrutar do
meio ecológico e social, estabelecendo diálogos e trocas de saberes com informantes,
participar das atividades do grupo e, desta forma, poder apreender os aspectos simbólicos e
cosmológicos da cultura. RESULTADOS E DISCUSSÕES: Uma das qualidades essencial da
cerâmica marajoara é a familiaridade, em um mesmo objeto, de representações naturalistas
e geometrizastes, estas últimas chamadas usualmente de grafismos. Na realidade as
representações gráficas, não são simplesmente traços arbitrários, mas representação de
animais míticos pertencente àquela sociedade, como: caudas, cabeças, patas, cascos de
tartaruga, couro de cobras, os quais se pode associar com as representações metonímicas que
Müller (1990) identificou entre os Asurini. A maioria dessa representações se assemelham aos
utilizados em sociedades nativas, além disso, alguns deles correspondem aos padrões e
formas que se formam na retina do olho quando o indivíduo está em transe. Lévi-Strauss
(1997) chamou a atenção para o fato de que os animais que povoam a mitologia, não são
aqueles “bons para comer”, mas os que são “bons para pensar”. Nesse sentido, diríamos que
os animais representados na iconografia marajoara são exatamente os relacionados à história
cultural do grupo, cuja representação os ajuda a fazer memória e vivenciar novamente aquela
experiência das histórias. CONCLUSÕES: É importante investigar como se dar o processo da
cerâmica nas sociedades indígenas e percebemos que, apesar da dificuldade em interpretar
os traços expressos nas vasilhas e outros utensílios, que este campo simbólico de estudo da
arte é muito profícuo para o aprofundamento do conhecimento cultural sobre as cerâmicas
mais complexas da pré-história recente das Américas.
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ST 40 | O patrimônio biocultural e a conservação in situ da biodiversidade e da


agrobiodiversidade nos territórios indígenas brasileiros

Terezinha Aparecida Borges Dias (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Brasil); Maria
Auxiliadora Cordeiro da Silva (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira –
COIAB, Brasil); Milton Marques do Nascimento (Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional – SESAN, Ministério do Desenvolvimento Social – MDS, Brasil).

A riquíssima diversidade cultural dos povos indígenas no Brasil e a grande biodiversidade e


agrobiodiversidade mantidas em seus territórios tem sido responsável a milênios pela segurança
alimentar destes povos. Agricultores indígenas foram selecionando, adaptando e desenvolvendo uma
série de espécies e variedades agrícolas que permitiram adequações de suas agri-culturas a diferentes
características de solos e climas e assim geraram/geram agrobiodiversidade. O conjunto de saberes,
práticas, diversidade de espécies e variedades localmente desenvolvidas nos sistemas agrícolas, vem
a centenas de anos sofrendo processo de mudanças e descaracterizações. Estas mudanças não
atingiram os povos indígenas da mesma forma. Apesar de muitas variedades agrícolas terem sido
perdidas localmente, muitos povos ainda mantêm em seus territórios, conservados in situ, uma ampla
agrobiodiversidade importantíssima também no contexto das mudanças climáticas. Com uma
preocupação focada no impacto da perda do patrimônio biocultural, pretende-se reunir experiências
e fomentar intercâmbios com relação a importância dos territórios para a conservação in situ da
biodiversidade e agrobiodiversidade. Além disso, evidenciar políticas nacionais relacionadas, bem
como novas estratégias dos povos indígenas para buscar sementes escassas e desaparecidas dos
territórios como as feiras de troca de sementes tradicionais e a procura nos bancos de germoplasma
institucionais de variedades perdidas de seus roçados.

Saberes Tradicionais, Uso e Conservação da Biodiversidade pelo Povo Mbya


Guarani.
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Kátia Mara Batista

Vanilde Citadini-Zanette

Apresentam-se os resultados da pesquisa teórica “Saberes Tradicionais do povo Mbya Guarani


como Cultura de referência: Contribuição teórica à Sociobiodiversidade e à Sustentabilidade
Ambiental” – Curso de Doutorado - PPGCA/UNESC/Criciúma/SC (2013-2017). Com base na
historiografia colonial, essa população indígena está presente em Santa Catarina há quase um
milênio. Estudos arqueológicos revelam que o Guarani histórico era cultivador de milho,
havendo uma hipótese da existência de duas rotas migratórias ligadas à tradição Tupi
(cultivadores de mandioca) e à tradição Guarani (cultivadores de milho), que se encontraram
na costa Atlântica, num tempo anterior à chegada dos colonizadores europeus. Segundo a
literatura, a relação desse povo com seu ambiente e suas contribuições à sustentabilidade
ambiental são frutos do convívio com o meio natural em um processo dinâmico de estratégias
de uso e de conservação da biodiversidade. Por meio da pesquisa bibliográfica e documental,
pode-se demonstrar que, apesar das dificuldades de acesso e de manejo nos ambientes que
atualmente ocupam, os Mbya Guarani desempenham importante papel no incremento da
biodiversidade local, caracterizando-se por apresentar acentuada diversidade inter e intra-
específicas, a qual pode ser encontrada na composição de seus ambientes de cultivo, bem
como na conservação ambiental.

Manejo e Conservação de Quelônios no Xingu

Maria Clara Novais Bernardes

Ada Bessa

Silvino Moreno Simões Neto

Francisco Sanae Antunes Moreira

Nyelson Sales Pinto

Os quelônios da espécie Podocnemis unifilis, as conhecidas tracajás, são de grande


importância para cultura e segurança alimentar do povo Mebengokré-Kayapó, no entanto, os
numerosos predadores naturais e o consumo dos ovos e da carne, inclusive ilegalmente por
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não indígenas, causa um grande impacto na reprodução da espécie e na preservação da


mesma na região. O projeto “Manejo e Conservação de Quelônios no Xingu” realizado pela
Fundação Nacional do Índio e a Prefeitura Municipal de São Félix do Xingu, por meio da
Secretaria de Meio Ambiente (SEMMAS), junto às comunidades Mebengokré da Terra
Indígena Kayapó visou garantir a sustentabilidade no uso tradicional do animal pelos
indígenas, assim como o aumento populacional dos tracajás, por meio do manejo da espécie.
Desse modo, o trabalho foi dividido em diversas etapas, desde o diálogo e apresentação da
proposta às aldeias às margens do rio Xingu e a sensibilização ambiental junto aos indígenas,
até a construção do tabuleiro dos tracajás, a coleta dos ovos, o monitoramento do berçário
pós-eclosão dos ovos e a soltura dos filhotes nos mesmos locais de coleta. Assim, foram
coletados 2200 ovos (número menor que o esperado), todavia, desse total grande parte dos
ovos eclodiram, igual a 67% a taxa de aproveitamento (bem maior que a taxa observada na
natureza suscetível aos predadores e outras adversidades), sendo que os 1493 ovos eclodidos
foram devolvidos ao rio Xingu a fim de promover o repovoamento da região com a espécie.
Portanto, face à redução da quantidade de quelônios no rio Xingu, dentro da T.I. Kayapó,
devido à ação antrópica predatória, bem como devido aos predadores naturais; e
considerando a relevância cultural e alimentar das tracajás para os povos indígenas; as ações
em prol da conservação da espécie Podocnemis unifilis, como o manejo realizado dentro das
atividades desenvolvidas em parceria entre as comunidades, a Funai e a SEMMAS, são
fundamentais para garantia da preservação dos tracajás e dos costumes tradicionais
Mebengokré.

Projeto RENIVA como instrumento para conservação de recursos genéticos de


mandioca.

Gustavo Azevedo Campos

Alexandre Aires de Freitas

Pedro Paulo Gomes da Silva Xerente

A muda ou semente de qualidade constitui-se no principal insumo agrícola para a sustentação


de uma produção, quando se visa alcançar níveis ótimos de produtividade e longevidade da
cultura. O projeto RENIVA trata-se da “Rede de multiplicação e transferência de manivas-
semente de mandioca com qualidade genética e fitossanitária” (RENIVA, 2018). Uma das
tecnologias utilizadas no RENIVA é a “Técnica de multiplicação rápida de manivas” (ALVES,
2019; VELOSO et. al., 2017). Esta tecnologia foi transferida para a comunidade dos brigadistas

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indígenas Xerentes em Tocantínia – TO (FREITAS; CAMPOS, 2016). Esta consiste de aumentar


a taxa de multiplicação da mandioca. Enquanto tradicionalmente se consegue fazer em média
de 10 manivas-semente de uma planta de mandioca, uma proporção de 1:10, a técnica
apresentada aumenta essa taxa em média para 1:150. Esta superação possibilita por exemplo
resgatar poucas plantas de mandioca ameaçadas de desaparecer e replica-las de forma barata
para retornarem como maniva-semente e voltarem a serem cultivas em escala pelas
comunidades. Esta e outras técnicas do RENIVA auxiliam a superar a falta de ramas e manivas
semente de qualidade para o plantio, um problema grave e recorrente para todos que
cultivam mandioca. No caso das comunidades indígenas é uma técnica que possibilita resgatar
genótipos de mandioca tradicionais e/ou de alto potencial produtivo, multiplica-los na própria
comunidade e reintroduzir na unidade produtiva e/ou outras comunidades da mesma nação
ou de nações irmãs. Deste modo haverá muitas plantações com populações daquele genótipo,
reduzindo a possibilidade de se perdê-lo nos cultivos subsequentes sujeitos a intempéries e
fatores adversos a comunidade. A conservação dos recursos genéticos de mandioca é um dos
resultados implícitos quando de adota os princípios do projeto RENIVA.

O trabalho dos Agentes Ambientais Indígenas do Oiapoque na conservação


da agrobiodiversidade: pesquisa sobre variedades dos cultivos nas TIs Uaçá,
Galibi, e Juminã (Amapá/Brasil)

Rosenilda Santos Martins, Adailson Ioiô Labonte, Caviano Benjamin Forte, Deimison dos Santos,
Dieldo Charles dos Santos, Ederlan Severino Pastana, Edivaldo Labonte, Edmilson Iaparrá Labontê,
Egson Monteiro Clarindo, Elbson Henrique Leonel, Eliano dos Santos Iaparrá, Evandinho Narciso,
Garcia Narciso, Geô Ioiô, Gidolfo Ioiô Iaparrá, Gilmar Nunes André, Hildson dos Santos Iaparrá,
Ildegar dos Santos Hipolito, Jarbas Malaquias Pastana, Jessinaldo Labonte Ioio, Judson dos Santos
Batista, Lázaro Getúlio dos Santos, Lelivaldo Iaparra dos Santos, Manoel Severino dos Santos,
Marinelson dos Santos, Mayke de Oliveira dos Santos, Mercias Silva Narciso, Nerio Forte Karipuna,
Pedro dos Santos, Rafael Monteiro Hortencio, Rivaldo dos Santos Forte, Ronaldo Narciso Anicá,
Roniele Forte dos Santos, Ronivaldo Severino, Sedrick Anicá dos Santos, Sidelvan Monteiro dos
Santos, Sielton Forte, Valderino Forte, Vanderson Narciso Iaparrá, Zanilda Narciso Lourenço

Este trabalho vai ser apresentado pela turma de agentes ambientais indígenas do Oiapoque,
cuja formação iniciou em 2016 e se encerra neste ano de 2019. O que será apresentado aqui
é parte dos resultados dos nossos trabalhos finais do curso. Nós somos quatro povos
diferentes, Karipuna, Palikur, Galibi Marworno e Galibi Kali’nã, vivemos na região do Baixo Rio
Oiapoque, no estado do Amapá, Brasil. Somos grandes produtores de farinha de mandioca e
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cultivamos diferentes espécies nas nossas roças, que são importantes para nossa alimentação,
para as nossas tradições e para nossa saúde. Os animais também fazem parte desse sistema,
as abelhas e os pássaros nos ajudam a espalhar as sementes, e as roças também aproximam
outros animais, como capivara, catitu, porco do mato, jabuti e outros. Plantamos em três tipos
de lugares: na roça, no maricage e no terreno ou sítio. Em cada um deles, plantamos espécies
diferentes, dependendo do tipo de ambiente que a planta gosta mais. A casca da mandioca
usamos para muitas coisas, desde adubação até ração para certos animais. Desde o tempo
passado, mantemos as trocas de variedades de espécies, principalmente da mandioca, entre
as famílias e entre os povos, através do nosso sistema do maiuhi (mutirão), onde nos juntamos
os parentes para plantar uma roça, tomamos nossa bebida caxixi, contamos histórias, fazemos
nossos artefatos. Além das trocas dentro da Terra Indígena, trocamos variedades de mandioca
com nossos parentes que moram no outro lado da fronteira, na Guiana Francesa, quando eles
ou nós perdemos alguma qualidade. Neste trabalho, nós apresentaremos o resultado da
pesquisa coletiva feita pelos agentes ambientais em suas aldeias, nas três Terras Indígenas
Uaçá, Galibi e Juminã, através de questionários sobre as variedades de espécies cultivadas
(mandioca, cará, cana, macaxeira, abacaxi, pimenta e outros), detalhando sua origem,
descrição das qualidades, distribuição por aldeia. Também vamos apresentar nosso papel
como agentes ambientais indígenas visando manter essa diversidade da nossa terra,
pensando que as próximas gerações aprendam a cultivar igualmente os mais velhos faziam.

Entre cercas e venenos: um estudo sobre a violação do direito humano à água


nos territórios Guarani e Kaiowá.

Aline Guedes da Costa

Camila Batista Marins Carneiro

Iorrana Lisboa Camboim

Milton Marques do Nascimento

A Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional têm apoiado com recursos


financeiros e humanos a garantia do acesso de povos indígenas ações de inclusão produtiva e
SAN. O artigo pretende analisar o processo de implementação do “Programa Cisternas” nas
Terras Indígenas do Povo Indígena Guarani/Kaiowá. Este Programa visa promover o acesso à
água para o consumo humano/ animal e para produção de alimentos, por meio da
implementação de tecnologias sociais, destinado às famílias rurais de baixa renda atingidas
pela seca ou falta regular de água, focalizado nas famílias de agricultores familiares do
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Semiárido Brasileiro. A falta ou o acesso precário à água de qualidade é uma situação ainda
presente no país, principalmente entre povos e comunidades tradicionais e povos indígenas,
como é o caso do povo Guarani/Kaiowá. Assim, em 2017/2018, foi publicado o 1º edital para
atendimento exclusivo desse Povo, fato que apontou para os desafios de construir uma ação
diferenciada para povos indígenas e de implementar tecnologias sociais em uma nova área de
atuação do Programa, o Centro-Oeste. Os Kaiowá/Guarani estão distribuídos em 30 terras
indígenas espalhadas ao sul de Mato Grosso do Sul e mais de 30 acampamentos – alguns em
beira de estrada, outros dentro de fazendas. São ao todo 43,4 mil pessoas “Guarani/Kaiowa”
em MS, o maior grupo indígena fora da Amazônia (IBGE). Relatórios (CONSEA, 2017; FIAN,
2016) publicados recentemente alertaram para a violação do direito humano à água para essa
população em razão do uso indiscriminado de agrotóxicos, pela falta de água para produção
e pela violência denunciada pelas comunidades quando são impedidas por fazendeiros e seus
funcionários de chegarem até os rios e fontes de água. Os Guarani/Kaiowá têm acesso à água
limitado pelas cercas e arames das fazendas, como demostra o depoimento da cacique
Damiana (Cimi, 2016) que diz que a água suja e apodrecida deixa as crianças doentes, com
diarreia e coceiras, e que é comum os indígenas serem alvo de ações truculentas ao
atravessarem as fazendas para chegarem até as cabeceiras dos córregos. Considerando o
direito fundamental à água potável, o qual possui caráter universal e essencial, devendo ser
estendido a todos independentemente de onde estejam e da regularidade fundiária das áreas
que ocupem, buscar-se-á compreender o papel da Política Pública de SAN na garantia desse
direito para os Guarani/Kaiowá. Entende-se que a inclusão dessas famílias em ações que
fortaleçam suas capacidades sociais e produtivas pode se configurar como o início de um
processo de consolidação de estratégias de sustentabilidade econômica e socioambiental que
resultem na garantia não só de direitos sociais, como de seu patrimônio biocultural e sua
agrobiodiversidade.

Análise de petrechos de pesca em comunidades indígenas e coloniais de


pescadores do rio Araguaia, Tocantins, Brasil.

Carolyne Ribeiro Gomes Dias

Adriano Prysthon da Silva

Umas das atividades econômicas exercidas no rio Araguaia é a pesca, realizada tanto para fins
comerciais, como para consumo das comunidades as margens do rio, exercendo assim um
papel importante na sua segurança alimentar. As interações com o rio são parte importante
da cultura dessas comunidades tradicionais, bem como os costumes de cada uma delas
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influenciam o modo de interação com o rio. Neste sentido, esse trabalho buscou esclarecer
algumas diferenças tecnológicas em petrechos de pesca, entre comunidades indígenas e
colônias de pescadores do rio Araguaia, estado do Tocantins. Os dados utilizados nesse
trabalho foram coletados por meio de um Diagnóstico Rural Participativo (DRP) ao longo do
ano de 2016, por uma equipe multidisciplinar formada por pesquisadores da Embrapa e
colaboradores de instituições parceiras em quinze comunidades pesqueiras de municípios
tocantinenses banhados pelo rio, sendo onze colônias de pescadores e quatro aldeias
indígenas. Aplicou-se matrizes direcionadas em conjunto com os pescadores, com o intuito de
ter uma caracterização condizente com a realidade dessas populações. Para análise dos
petrechos as comunidades citaram, por ordem de importância, as mais utilizadas, assim como
o tempo histórico de uso de cada uma. Nos municípios de Lagoa da Confusão e Formoso do
Araguaia, na ilha do bananal, foram visitadas as aldeias Javaé, Boto velho e Canoanã e as
aldeias Karajá, Fontoura e Macauba. Quanto a frequência de uso e importância dos petrechos
citados foi visto que a rede de emalhe, o caniço e o arpão/zagaia apresentam relevância
similar para ambos os tipos de comunidade, as linhas de mão são mais significativas para as
comunidades indígenas, por ser um petrecho de captura individual e mais presente na pesca
de subsistência. A tarrafa, o espinhel e o molinete são mais relevantes nas colônias de
pescadores. O arco e flecha tem quase o dobro da importância nas aldeias do que nas colônias,
a burduna só foi presente em uma aldeia, mas com baixa relevância. Esses petrechos, bem
como os arpões e zagaias são confeccionados na própria aldeia com materiais de origem
vegetal e animal extraídos localmente. O que torna a pesca indígena peculiar e historicamente
autônoma no que tange o respeito à manutenção e exploração dos recursos naturais sendo
esses na biota terrestre e aquática. De tal modo, ao se tratar de petrechos de pesca em
comunidades indígenas, considerar o conhecimento tradicional para entender a dinâmica
entre índio e ambiente é importante para o estreitamento e a catalisação de políticas públicas
mais ajustadas a este público.

Feiras de Sementes Tradicionais em Territórios Indígenas Brasileiros

Terezinha Dias

Fernando Schiavini

Milton Nascimento

Camila Carneiro

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No Brasil, parte da população campesina é indígena, cerca de 305 povos que vivem em 12,5%
do território. Praticam, de forma geral, uma agricultura tradicional baseada em
conhecimentos ancestrais. Entretanto, em muitas terras indígenas a intensificação do contato
interétnico está causando uma acelerada mudança alimentar com reflexos na saúde, na
perdas da agrobiodiversidade e do conhecimento tradicional associado. O povo Krahô realizou
no ano de 1997, a primeira feira de sementes tradicionais do Brasil e continuou a realiza-las,
sendo que no ano 2017 realizaram sua X Feira. As Feiras Krahô motivaram diferentes povos
que passaram a realizar em seus territórios estes encontro para troca de sementes e
conhecimentos. Entre eles: povo Xerente (2007, 2008, 2009); Pareci (2010, 2011, 2012);
Kayapo (2013), Povos Indígenas de Roraima (2012, 2013, 2014), Xacriaba (2013). Durante
estas feiras os agricultores puderam trocar e reaver sementes que estavam escassas e
desaparecidas de seus territórios. A troca de sementes entre indígenas, bem como a busca de
sementes por estes povos em bancos de sementes de instituiões públicas tem reafirmado a
preocupação destes povos com a conservação da sementes tradicionais e com o
fortalecimento da segurança alimentar e assim influenciado e fortalecendo políticas como a
de agroecologia e produção orgânica (PNAPO), entre outras.

Resgate de variedades agrícolas tradicionais, promoção da


agrobiodiversidade e segurança alimentar: a experiência com povo Krahô
(Tocantins, Brasil) e seus impactos

Terezinha Dias

Fernando Schiavini

Getúlio Orlando Pinto Krahô

Nadi Santos

No Brasil as feiras de sementes em terras indígenas e ações de resgate de variedades agrícolas


tradicionais, dos bancos de sementes governamentais, iniciaram na década de 90, por ação
do povo Krahô apoiados por órgãos governamentais. Informações relacionadas foram
sistematizadas a partir de revisão bibliográfica e vivência participativa dos autores. O povo
Krahô é Timbira e do tronco linguístico macro jê, cerca de 3000 pessoas, que vivem em 30
aldeias em um território de 302.000ha (bioma Cerrado) no nordeste do Estado do Tocantins.
Na década de 90, lideranças indígenas constaram perdas de variedades agrícolas tradicionais,
importantes culturalmente em seus sistemas de jejum, em especial variedades de milho,

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chamados por eles de Pôhypey. Apoiados pela Fundação Nacional do Indio – Funai, buscaram
o Banco Genético (Colbase) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa onde
resgataram 4 variedades (Põhypey jakare, Põhypey tuc re, Põhypey tohrom ré, Põhypey
coxàti) que haviam sido coletadas em terras Xavante na década de 70. Os diálogos permitiram
a assinatura de um Convênio de Cooperação entre Embrapa e Funai (ano 1998) e de acordo
entre Embrapa e Associação União das Aldeias Krahô – Kapey, a estruturação do projeto
“Etnobiologia, conservação de recursos genéticos e segurança alimentar do povo indígena
Krahô” (2000) e em 2004 do primeiro processo de anuência prêvia brasileiro entre Embrapa e
povo Krahô. Diversas ações conjuntas foram realizadas de promoção da conservação in situ \
on farm (conservação pela própria comunidade), bem como uma maior aproximação dos
sistemas de conservação in situ\ on farm e ex situ. Em 1997 os Krahô realizaram a primeira
feira de sementes, reunido agricultores guardiões da agrobiodiversidade, e a partir de então
passaram a realiza-la periodicamente, convidando outros povos indígenas. Já realizaram 10
feiras de sementes, algumas com a participação de mais de 2000 pessoas e 20 etnias. A partir
de 2007, outros povos indígenas passaram a realizar feiras de troca de sementes em seus
territórios como os povos Pareci\MT (aldeia Paraíso), Kayapó\ PA, povos indígenas de
Roraima, entre outros, contando também com apoio de outros órgãos como SESAI\MDS. Além
da troca de sementes, nas feiras acontecem intercâmbios culturais (danças, cantos, rituais) e
debates sobre a importância dos territórios bioculturais e da agrobiodiversidade localmente
conservada para a segurança alimentar. O movimento de feiras de sementes, de valorização
dos guardiões da agrobiodiversidade e de busca de variedades nos bancos governamentais,
iniciado pelo povo Krahô, influenciou também políticas públicas brasileiras como a de
agroecologia e produção orgânica (PNAPO).

A agrobiodiversidade na Amazônia, heranças múltiplas e dinâmicas de


circulação: um estado da arte

Laure Emperaire

A diversidade das plantas cultivadas deve ser apreendida numa perspectiva dinâmica ao longo
da história agrícola da Amazônia. O objetivo dessa apresentação é refletir sobre as escalas
sociais, territorias e temporais mobilizadas na existência da agrobiodiversidade indígena a
partir de uma revisão da literatura. Como se organiza essa diversidade? Procuraremos dar
maior visibilidade a essa organização espacial e temporal a partir de uma revisão da literatura.
Tal abordagem metodológica permitirá aprofundar os conceitos de resiliência, e de
resistência, dos sistemas agrícolas indígenas, ou tradicionais, frente a políticas de

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modernização que muitas vezes não reconhecem as capacidades de inovação e


experimentação dessas agriculturas.

A comercialização e origem dos produtos agrícolas das comunidades


indígenas e ribeirinhas no Alto Solimões - Amazonas.

Marcos Ely Nascimento Fermin

Marcieia Couteiro Lopes

Antônia Ivanilce Castro Dácio

Agno Nonato Serrão Acioli

O presente estudo teve como objetivo coletar e sistematizar os dados dos produtos agrícolas
comercializados pelos feirantes da agricultura familiar nas diversas comunidades ribeirinhas e
indígenas da região do Alto Solimões, município de Benjamin Constant no Amazonas. Este
trabalho foi desenvolvido no âmbito de pesquisas em formas de entrevistas direcionadas aos
feirantes que comercializam seus produtos nas repartições da feira coberta de Benjamin
Constant. Utilizou-se um formulário em forma de perguntas aos atravessadores, onde o
mesmo continha o nome do produto, o valor de compra e venda, de quem compravam esses
produtos, onde compravam e principalmente sua origem. O sistema de comercialização se
estabelece a partir de contato com as cidades localizadas próximas as áreas de várzeas do Rio
Solimões. Os indígenas e ribeirinhos realizam suas plantações nas próprias comunidades,
comercializando os produtos resultantes, nas áreas urbanas, sabendo eles as épocas que suas
terras produzem com qualidade. Os produtores levam seus produtos para o mercado urbano
e assim, fazem sua comercialização, visando a renda monetária e o autoconsumo familiar. Os
principais atores sociais que participam desse processo de comercialização, são denominados
de “atravessadores ou marreteiros”, e encontram-se em diferentes locais da região, mas
principalmente nas beiras dos rios

Casa do Kukurro – fonte de energia para a roça e geradora de diversidade de


mandioca – Manihot esculenta

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Fabio de Oliveira Freitas

Como pode a mandioca, que é reproduzida vegetativamente, ter uma diversidade tāo grande?
Na aldeia Ulupuwene, da etnia Waurá, no Parque Indígena do Xingu, uma família mantem
uma tradição cultural que ajuda a explicar essa diversidade encontrada na mandioca. A “casa
do Kukurro”, ou casa do espírito da lagarta, consiste na construção de dois montes opostos
na roça, nos quais o agricultor planta, em um arranjo estrutural especifico, todas as variedades
de mandioca que possui, como parte de um ritual, que inclui rezas e cantos. Esse ritual
acarreta, em termos evolutivos, uma maior chance de recombinação dos diferentes tipos de
mandioca, uma vez que estão todas próximas. Mas o grande diferencial é o conhecimento
profundo dessa espécie, por parte do agricultor, o qual reconhece as plantas de mandioca
originadas por semente e, uma vez que elas nascem em sua roça, ele as transfere para próximo
a casa do Kukurro, cuida e avalia essa nova planta. E, uma vez que suas características sejam
interessantes, ele batiza esse novo tipo e incorpora em sua coleção. Ou seja, permite a geração
e incorporação de novos tipos genotípicos em sua coleção. E num ambiente onde há espécies
silvestre do gênero, onde essa recombinação pode ser geneticamente mais ampla. O trabalho
exemplifica como é importante preservar a diversidade cultural de populações tradicionais,
dentre outras razões, por guardarem formas de manejo singulares e pouco documentadas,
mesmo em temas amplamente estudados, como é o caso da mandioca.

Feira de Sementes “Troca de sementes, troca de saberes, Sogahy epariht” -


Terra indígena Sete de Setembro – Rondônia

Jose das Dores Sá Rocha

Maria Lucia Cereda Gomide

Roseline Mezacasa

A Feira “Troca de sementes, troca de saberes, Sogahy epariht” foi a primeira experiência de
troca de sementes entre os povos indígenas de Rondônia. A feira ocorreu na Terra indígena
Sete de Setembro, na aldeia Gapgir do povo Paiter-Suruí, em 2016. A rica sociodiversidade no
estado de Rondônia esteve presente, da qual participaram alem dos próprios Paiter-Surui, os
seguintes povos indígenas: Makurap, Djereomitxi, Tupari, Kanoe, Aruá (T.I. Rio Branco); Arara
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Karo, e Gaviao Ikoleng (T.I. igarapé Lourdes); os Wajuru de Porto Rolim do Guaporé, e Karitiana
( T. I. Karitiana). A importância deste evento, esta justamente no intercambio das culturas,
como explicitado no titulo da feira “troca de sementes, troca de saberes”, proporcionando
assim, tanto a conservação da agrobiodiversidade como a valorização cultural. Durante a feira,
muita historia sobre a origem das sementes, das roças e dos alimentos foram contadas pelos
anciões; da mesma forma o saber-fazer das praticas dos roçados, e as suas reflexões sobre a
influencia não –indígena na alimentação foram discutidas e registradas. Uma grande
diversidade de sementes como de Milho (branco, amarelo, vermelho, roxo), Cará, mandioca,
amendoim, algodão, taioba, batata doce, abobora, entre outras sementes/tubérculos/mudas
foram trocados. Resgatados estes cultivares por aqueles que já haviam perdido parte de suas
sementes desde o contato com a sociedade envolvente. Neste sentido a troca de sementes e
saberes contribuiu para a manutenção da segurança alimentar dos povos indígenas
rondonienses. As histórias indígenas narradas ensinam aos não indígenas que o que compõe
a “natureza” não se distância da experiência cotidiana da vida desses povos. Assim, a
sociabilidade indígena é formada por interconexões, em que os animais podem ocupar
espaços de mediadores entre humanos e não humanos, as plantas podem fazer conexões.
Músicas, objetos mágicos, os sonhos [...] possuem agências e compõem o envolver-se na
floresta, o manejar da floresta. Conclui-se que as Terras indígenas contribuem de forma
significativa para conservação da biodiversidae, da agro-biodiversidade, da segurança
alimentar, assim como das culturas indígenas.

“Reinventando-se na tradição”: vivências agroecológicas em diálogos


interculturais com o povo Tenetehar-Tembé como garantia de proteção do
território e do patrimônio biocultural.

Jakson da Silva Gonçalves


Ana Victória dos Santos Costa
José Sarmento Tembé
Roberta Sá Leitão Barbosa

Este estudo é resultado do projeto “Floresta viva Tenetehar-Tembé: práticas e vivências


interculturais em agroecologia” que surgiu a partir das necessidades do Povo Tembé em
salvaguardar seu patrimônio florestal e seus saberes imateriais em decorrência de constante
ameaças de perda do território. Localizada na mesorregião do nordeste paraense, a Terra
Indígena do Alto Rio Guamá integra o mosaico Gurupi e vive constantemente invadida por
madeireiros, fazendeiros, citadinos e por pressões advindas dos avanços da convivências com
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os municípios próximos às aldeias, ameaçando sobremaneira a sustentabilidade da floresta e


seus ecossistemas, mas também o modo de vida tradicional desse povo, seja por meio do
desmatamento, seja pelo uso de agrotóxicos e pastagem. Ainda nesse contexto, as lideranças
indígenas tem apontado a importância dos jovens ingressarem em cursos relacionados a
gestão e ao manejo ambiental. Nesse sentido, conscientes da importância dos recursos
naturais e, portanto, da gestão ambiental territorial, uma vez que concebem a relação
interdependente entre identidade e território, as lideranças Tembé têm adotado diversas
estratégias de proteção territorial e, consequentemente, garantindo a reprodução de seus
modos de vida. Dessa forma, este trabalho, demandado por lideranças indígenas à
universidade, teve como objetivo principal a realização de vivencias interculturais no sentido
de fornecer subsídios para a estruturação de um curso em agroecologia indígena para o povo
Tembé, que potencialize seus saberes tradicionais e incentive formação relacionada a gestão
sustentável do Território. Para tal, foi possível desenvolver uma metodologia ação, através do
diagnóstico participativo (SOUZA et al., 2009) com trocas de experiências em campo sobre os
conhecimentos em agroecologia entre os alunos dos cursos de Engenharia de Pesca, Ciências
Biológicas, Ciências Naturais e História da UFPA, de Gestão Ambiental e Agroecologia do IFPA
e os alunos de ensino médio das aldeias Tembé. Essa metodologia estimulou o convívio
intercultural entre os diferentes alunos nas aldeias e nas universidades. Com essa experiência
intercultural percebeu-se o agenciamento das lideranças, dos jovens e dos professores
indígenas e não indígenas na dinamização dos saberes tradicionais em agroecologia. São os
saberes tradicionais, como práticas coletivas permeadas pela ancestralidade, que constituem
o maior patrimônio dos Tembé para salvaguardar a permanência e sustentabilidade desse
território. É a experiência do curso em agroecologia, apoiada pelas Universidades parceiras,
em andamento, assim como as experiências de ameaça de perda do território que tem
possibilitado aos Tembé novas práticas de manejo e redinamização de seus conhecimentos e
saberes tradicionais.

PPBIndio. Desafios e Potenciais da formação de pesquisadores indígenas em


biodiversidade como estratégia de fortalecimento do patrimônio biocultural.

Vincenzo Maria Lauriola

Os povos indígenas são detentores de conhecimentos/saberes sobre a biodiversidade.


Inextricavelmente entrelaçados em suas práticas culturais, tais saberes são fundamento do
patrimônio biocultural, constituído pela (re)produção de tais práticas em territórios altamente
biodiversos. Apesar de terem relevância e valor(es) formalmente reconhecidos em
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documentos político-normativos nacionais e internacionais, a valorização prática destes


saberes, em formas que contribuam concretamente para a melhoria da qualidade de vida dos
povos detentores. Uma das formas suscetíveis de contribuir neste sentido, a do diálogo entre
saberes tradicionais e saber científico-acadêmico oficial, enfrenta dificuldades e está muito
aquém do desejável, especialmente tendo em vista o imenso potencial subaproveitado que
os territórios indígenas representam em países como o Brasil, ao mesmo tempo em que os
mesmos territórios sofrem preções e ameaças crescentes por vetores e políticas de
desenvolvimento de cunho extrativista e predatório, trazendo altos riscos de extinção de
biodiversidade e saberes constitutivos dos patrimônios bioculturais. Uma estratégia para
estimular o diálogo intercultural entre saberes sobre a biodiversidade poderia ser a promoção
da participação indígena em projetos e programas de pesquisa sobre a biodiversidade, a
exemplo do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio), coordenado pela Coordenação
Geral de Biomas do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações
(CGBI/MCTIC). Ao mesmo tempo a pesquisa científico-acadêmica em biodiversidade poderia
alvejar os territórios indígenas, contribuindo para preencher relevantes lacunas de
conhecimento básicos sobre a biodiversidade dos biomas brasileiros, assim como gerar
oportunidades de etnodesenvolvimento a partir do uso sustentável da biodiversidade pelos
próprios povos indígenas. Já há indicadores do surgimento e crescimento do interesse por
povos indígenas em incentivar o ingresso da pesquisa em biodiversidade em seus territórios,
como mostram exemplos de interação do PPBio Amazônia ocidental com comunidades
baniwa e kayapó. Biólogos e pesquisadores indígenas em biodiversidade poderiam
desempenhar um papel fundamental em promover o conhecimento científico e o diálogo
deste com os saberes tradicionais a partir da realidade, dos potenciais e das demandas dos
povos nestes territórios. Nesta perspectiva, dados do MEC mostram a presença crescente de
acadêmicos indígenas no ensino superior, o que representa uma oportunidade positiva. Por
outro lado, os cursos de graduação em ciências biológicas e afins, que qualificam para pós-
graduação orientada à pesquisa em biodiversidade, não parecem ser entre os alvos
prioritários. Outros dados, como o não preenchimento de vagas de cotas ofertadas nos
mestrados vinculados ao PPBio, apontam para o sub-aproveitamento de um potencial de
formação de pesquisadores indígenas em biodiversidade. Por outro lado, analisados
regionalmente, os números apontam para a oportunidade de se construir, a começar da
Amazônia, uma experiência piloto de formação de pesquisadores indígenas em
biodiversidade, oportunidade a ser construída em parceria com a COIAB. Ao compartilhar este
quadro informativo, espera-se poder abrir um debate e receber contribuições para
aprimoramento e avanço das ideias.

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Os Territórios Indígenas como espaços para promoção da biodiversidade no


Brasil

Ariane Taísa de Lima

Laís de Carvalho Pechula

Nelson Russo de Moraes

Os povos indígenas apresentam extrema importância quanto à manutenção da biodiversidade


do território nacional em função da relação equilibrada que mantêm junto a seus territórios.
Entretanto, enfrentam muitos problemas de ordem prática que estejam alinhadas às suas
necessidades e particularidades (LUCIANO, 2006; COMANDULLI, 2016; MORAES et al., 2016).
Deste modo, esta pesquisa tem por objetivo demonstrar como as políticas territoriais e
ambientais indígenas contribuem para a preservação da biodiversidade do Brasil. Para tanto,
será realizada uma pesquisa qualitativa, cujos objetivos serão exploratórios a partir do
levantamento bibliográfico e documental sobre os conceitos de terra indígenas, território,
territorialidade e meio ambiente (CONDURU; PEREIRA, 2010). Visa-se por meio deste artigo,
contribuir para as discussões no âmbito das políticas indigenistas que promovam a proteção
dos territórios indígenas no Brasil.

Sementes crioulas e o povo Geripankó: uma territorialidade de vida no Sertão


de Alagoas

Lucas Gama Lima

O presente texto se destina a analisar a experiência da preservação das sementes crioulas do


povo indígena Geripankó, lançando mão da categoria territorialidade como elemento chave
para o entendimento do fenômeno. Os Geripankó derivam do povo Pankararu, situado em
Tacaratu, Pernambuco. No final do século XIX, sob pressão dos criadores de gado naquela
localidade, foram impelidos a se deslocar, alcançando o Sertão de Alagoas (Vieira, 2010).
Desde então, habitam a referida região, contando com uma população de 1628 aldeados
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(Funai, 2018). Ainda não possuem o território demarcado, cujo processo se “arrasta” há anos
na burocracia do Estado. Em decorrência da ausência de território demarcado, vivem em
pequenos pedaços de terra – muitos não ultrapassam, sequer, hum hectare – e praticam a
agricultura de sequeiro (agricultura dependente do regime de chuvas). As dificuldades de
reprodução das famílias em espaços diminutos e sem oferta permanente de água
potencializam as migrações sazonais de indígenas, em direção a outras regiões do estado ou
do país, para a venda da força-de-trabalho (Lima; Silva; Feitoza, 2018). Com o passar das
décadas, os indígenas perderam parte expressiva de suas sementes nativas, além de terem
reduzido sua diversidade de gêneros plantados. A erosão genética que se abateu sobre os
Geripankó – e que acomete outras comunidades do Sertão de Alagoas – é fundamentalmente
derivada de dois processos: a não resolução da estrutura fundiária, que impõe parcas glebas
de terra para cultivo num ambiente semiárido e; a disseminação de sementes híbridas,
provenientes da Revolução Verde, que alcançaram os povos indígenas por diferentes
maneiras, em especial, por meio dos programas do governo estadual (Lima; Santos, 2018).
Não obstante as adversidades mencionadas, o povo indígena Geripankó esforça-se para a
preservação de sua base genética. Há poucos anos inaugurou um Banco Comunitário de
Sementes (BCS’s), primeiro e único entre as seis etnias indígenas do Sertão de Alagoas, que
tem servido como instrumento de resgate e troca das sementes crioulas, além de lócus para
o fortalecimento das práticas culturais. Através do BCS’s parte da comunidade se reúne
mensalmente, convertendo um simples encontro em uma verdadeira celebração de
resistência. O funcionamento do BCS’s corresponde a uma territorialidade de vida, a qual se
contrapõe a territorialidade do capital. Trata-se de relações que não se destinam à reprodução
ampliada do capital, pois as sementes crioulas não são usadas como mercadorias pelos
indígenas, senão como organismos vivos, fundamentais para sua soberania alimentar, e signos
culturais do povo Geripankó.

Considerações sobre soberania alimentar e políticas públicas de apoio às


roças xavante: uma abordagem crítica e histórica

Eduardo Santos Gonçalves Monteiro

Maíra Taquiguthi Ribeiro

O povo Xavante, autodenominado A’uwẽ Uptabi, constitui-se de cerca de 20.000 pessoas,


distribuídas em 9 terras indígenas descontínuas situadas no cerrado do leste do estado de
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Mato Grosso, Brasil. Sua alimentação tradicional é baseada principalmente na caça e coleta,
complementada por roças de toco. A partir da década de 1950, os A’uwẽ Uptabi
experimentaram uma alteração forçada e radical na sua forma de viver com a intensificação
do contato, a restrição de seu território e um consequente processo de sedentarização. Tal
reconfiguração geopolítica provocou, por um lado, a diminuição das frequentes expedições,
curtas ou longas, nas quais a caça e a coleta tinham papéis centrais na dieta, e, por outro, uma
maior importância relativa da produção nas roças de toco. Alimentos adquiridos nas cidades
têm gradualmente ganhado espaço no prato das famílias xavante, o que se relaciona
diretamente às principais doenças que este povo enfrenta atualmente, como diabetes,
desnutrição e obesidade. A Coordenação Regional Xavante da Fundação Nacional do Índio,
sediada em Barra do Garças/MT, atua anualmente no apoio à produção nas roças de toco por
meio da aquisição e distribuição de ferramentas agrícolas manuais e sementes de variedades
comerciais de alimentos, como milho, feijão, arroz e abóbora. Esta é a atividade finalística de
maior peso orçamentário relativo da Coordenação Regional, e provoca, anualmente, grandes
expectativas e, por vezes, pressão política das comunidades indígenas em relação ao
atendimento de suas demandas. Nesta comunicação, pretendemos apresentar alguns
aspectos acerca da efetiva execução da referida política, ressaltando suas principais
dificuldades práticas e os obstáculos que impedem uma gestão da política de apoio às roças
xavante de caráter mais participativo e a autonomia das famílias. Refletindo sobre a execução
desta política pública, é possível notar, por um lado, certas potencialidades da capilaridade
desse tipo de atividade, que envolve uma ação direta para com todas as aldeias e famílias
atendidas; por outro, torna-se evidente a perda alarmante de variedades tradicionais e a
fragilização da soberania do povo xavante sobre suas sementes. Tendo em vista este quadro
atual, buscaremos, por fim, resgatar brevemente certos aspectos do processo histórico de
desenvolvimento das políticas públicas voltadas para o apoio à produção agrícola do povo
Xavante, com enfoque na atuação da Funai, apontando continuidades evidentes deste
processo, mas também esboçar possibilidades de rupturas em relação ao histórico vivido na
relação entre os Xavante e a Funai.

Incêndios naturais na terra indígena Apiaká - Kayabi no município de Juara –


MT

Evanilson Crixi Morimã

Aito Morimâ

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Neste trabalho destacamos os incêndios naturais, que na comunidade mayrob, povo Apiaká,
na abertura da aldeia não acontecia muito incêndio no entorno da aldeia. As pessoas da
comunidade tinham o maior cuidado com a preparação da roça para fazer a queimada. Tinha
que fazer em volta do roçado um grande aceiro para não deixar o fogo passar para mata.
Também era explicada a importância da natureza viva e verde, essa socialização da conversa
entre os parentes ocorria entre comunidade. Com o passar dos anos foram ocorrendo
mudanças, a população da comunidade foi se alimentando e o cuidado com a queimada das
roças foram perdendo a tradição de fazer aceiro e com isso a floresta foi sofrendo com a
queimada. As pessoas tocavam fogo na roça e já não tinham mais controle. Então o fogo se
alastrava queimando a mata e, a cada ano, que o fogo passava, a terra perdia a fertilidade, ou
seja, não produzia, e o local que era composto de floresta se transformou em grande cerrado
e capoeira de sapé, tornando um local de risco para incêndio. Pessoas da comunidade que por
ali passavam fumando cigarro ou até mesmo só pra ver o fogo pegar, colocava fogo no sapé e
então o fogo se alastrava incontrolável pela capoeira. Com dificuldade de plantação, caça,
seca e incêndio crescente descontrolado, a comunidade se preocupou sobre os impacto
causado pelo fogo. A comunidade se reuniu para tomar as devidas providências relacionada
ao fogo. Após muita conversa as pessoas da comunidade tiveram consciência de quem estava
prejudicando. Hoje houve diminuição de focos de incêndio, temos muito mais uma
preocupação antes de fazer uma queimada. Todos que fazem roça na mata se preocupa em
fazer um aceiro seguro no entorno, para que o fogo não ultrapasse para mata, assim não
colocando um risco a vida dos animais e também da preservação da natureza, mantendo o
controle da queimada na construção da roça. A preservação da mata para o nosso povo Apiaka
é muito importante porque a maioria das pessoas da comunidade tira o sustento da família
dos recursos naturais que ela nos oferece. Caso os incêndio continuem ocorrendo podemos
ter uma grande devastação, perder algumas espécies de animais e de plantas medicinais,
fazendo com que as espécie de animais se distanciem cada vez mais do nosso território, o que
dificulta a pesca e caça, o uso das plantas medicinais e frutos que servem de alimentos para o
sustento das famílias indígenas.

A Resiliência do sistema agrícola tradicional Kaingang frente ao avanço do


agronegócio: o caso da Terra Indígena Nonoai – RS

Diana Nascimenton

Ludivine Eloy

Henyo Barreto Filho

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O presente estudo foi realizado com o intuito de entender de que forma o sistema agrícola
Kaingang tem resistido frente ao avanço do agronegócio não só no entorno, mas também
dentro das próprias Terras Indígenas, e principalmente como esses modelos de produção
agrícola entram em conflito, coexistem ou se integram dentro do território e dos sistemas
produtivos familiares. A área de estudo foi a Terra indígena Nonoai que situa- se a noroeste
do estado do Rio Grande do Sul. De forma a compreender a situação agrícola atual do povo
Kaingang, as formas de resistência e as estratégias de sobrevivência desse povo no que se
refere as formas de cultivos tradicionais e a incorporação de novas tecnologias, procurou-se
destacar a relação entre o processo de colonização da região sul do país com a transformação
do mundo, do território e do viver Kaingang. Assim, foram considerados alguns pontos
importantes da trajetória do povo em questão, como exemplos, a política de ocupação das
terras “virgens” do Sul, que resultou em perdas da autonomia, da qualidade de vida, perdas
e/ou redução do território, além das perdas culturais e do bem viver Kaingang. Cruzando
informações de materiais bibliográficos com informações colhidas em entrevistas
semiestruturadas realizadas com 18 famílias da Terra indígena em questão, se criou uma linha
do tempo para compreender a relação entre a dinâmica territorial e o atual sistema agrícola
Kaingang. Através de “percursos comentados” acompanhando agricultores indígenas em seus
locais de cultivo (lavouras de soja, roças de toco, etc), procurou-se entender, como as famílias
têm conseguido manter seus cultivos tradicionais e conservar espécies importantes da
agrobiodiversidade, além de criar formas "alternativas" de cultivo. Pode-se concluir que
atualmente a economia da T.I Nonoai gira em torno principalmente, das monoculturas de
grãos (soja e milho), da agricultura de subsistência (roças de toco, cultivos de quintal, cultivos
de arado), artesanato, e trabalhos assalariados. A implantação desses novos tipos de cultivo,
hoje, além da 2 subsistência, tem como intuito a geração de renda que se deve as
transformações do modo de vida impostas, a necessidade e ao interesse na melhoria da
qualidade vida. Mesmo havendo perdas da agrobiodiversidade, as famílias têm conseguido
manter características importantes do sistema produtivo tradicional, como exemplo a roça de
toco (ãpỹ), que possibilita a manutenção dos conhecimentos tradicionais associados à
agrobiodiversidade.

Agrobiodiversidade e Segurança Alimentar na comunidade Indígena


Napoleão
Giovani de Oliveira

O cultivo e o manejo das sementes nativas são praticas milenar dos povos indígenas. Nas
comunidades indígenas de Roraima as sementes nativas perdem o valor no cultivo e a entrada
das sementes geneticamente modificadas ganham espaço por meio dos programas do
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governo que introduz para os agricultores indígenas. Assim a diversidade aos poucos corre o
risco de desaparecer, pelo desestímulo do uso das sementes nativas. Diante dessa realidade
o presente trabalho procura desenvolver o diagnóstico da agrobiodiversidade e segurança
alimentar na comunidade indígena Napoleão, localizada na TI Raposa Serra do Sol, município
de Normandia, Roraima. Foram realizadas 22 entrevistas na comunidade Napoleão que
resultou de um total de 120 variedades de plantas tradicionais, respectivamente, sendo que
a espécie com maior número de variedades foi a maniva (macaxeira e mandioca). É realizado
trabalhos com a agricultura de subsistência e hortaliças em geral. O objetivo geral é realizar
uma descrição do sistema de roça e um levantamento do diagnóstico da agrobiodiversidade
e segurança alimentar. O resultado apresentado sobre trocas de sementes são essenciais para
que não haja perda das sementes nativas do cultivo nas roças na comunidade e região,
valorizar a alimentação local principalmente para a agrobiodiversidade tendo acima de tudo
a segurança alimentar.

O cerrado como fonte de sustentabilidade na comunidade indígena Guarani e


Kaiowá da Aldeia Limão Verde, município de Amambai – MS

Sônia Pavão e Laura Jane Gisloti

O bioma cerrado tem passado por um processo de brutal degradação, sofrendo com diversas
agressões que vão desde a contaminação por agrotóxicos até o desmatamento total de seus
ecossistemas. No sudoeste do Mato Grosso do Sul, indígenas das etnias Guarani e Kaiowá
travam uma batalha contra o Estado e os latifundiários, à fim de garantirem a sobrevivência
física e cultural de seu povo, a qual está intimamente atrelada com a conservação do cerrado,
bioma predominante nesta terra indígena. Este trabalho é fruto de uma investigação
preliminar que teve como objetivo refletir e conscientizar a respeito da importância da
conservação do cerrado como garantia de alimentação saudável e soberania alimentar para a
comunidade. Para isso foi realizada uma parceria entre a escola indígena da Aldeia Limão
Verde, do município de Amambai e a comunidade local, com o objetivo de refletir e
conscientizar sobre a importância da conservação das riquezas naturais para garantia do bem-
estar físico, social e cultural da comunidade em questão. Além da comunidade escolar,
buscou-se e envolvimento de rezadoras, enfermeiros e psicólogos que contribuíram com as
reflexões acerca da conservação ambiental. Como metodologia recorremos à entrevistas
livres e visitas guiadas, onde foram percorridas trilhas previamente identificadas como sendo
locais onde a degradação ambiental é bastante visível. De acordo com a rezadora Adelaide
Lopes, o cerrado e as florestas vem sofrendo com o desmatamento desde a chegada dos

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colonizadores, no entanto, o remanescente desse bioma na Aldeia Limão Verde tem se


regenerado no decorrer dos anos e vem oferecendo sustento para a comunidade através da
oferta de alimentos saudáveis, como as frutas nativas, as plantas medicinais e as árvores para
construção de casas. Já os professores constataram que projetos como este, que visam a
reflexão e conscientização ambiental são positivos pedagogicamente, pois envolvem de
maneira significativa as/os estudantes que passam a se interessar pela escola e assim contribui
para a diminuição da evasão escolar. O estudo contou com a participação de professores
cursistas dos “Saberes Indígenas na Escola” que colaboraram no desenvolvimento da proposta
através da oferta de palestras e oficinas voltadas para a valorização das riquezas naturais do
entorno. Pudemos concluir com a realização deste trabalho que avançamos bastante a
respeito da conscientização e reflexão sobre a importância da conservação ambiental para a
resistência desta comunidade, porém é preciso garantir políticas públicas efetivas e
específicas para as escolas indígenas, como por exemplo a elaboração de matérias didáticos
que abordem o tema. Concluímos que a tentativa de diálogos interdisciplinares entre a escola
e a comunidade escolar são de grande importância na garantia da autonomia e respeito às
populações indígenas e a seus territórios.

Desafio de projetos de arquitetura etno diferenciados e com busca de


eficiência energética frente à perda da biodiversidade

Renato Sanchez

Demonstrar, discutir, e buscar caminhos junto aos Povos indígenas, Arquitetos e


pesquisadores e representantes do Público do evento das possibilidades de que se pode usar
do Imaginário junto as Fontes das Matrizes Arquitetônicas das Aldeias, Uso dos Espaços e
Construções Tradicionais com suas Formas e materiais utilizados localmente, para elaboração
de Projeto Arquitetônico Diferenciado para Construir Edificações diversas" para suas Aldeias.
Trazendo uma fusão entre o "Tradicional e o moderno", para que os Povos Indígenas possam
conhecer, compreender, opinar e fazerem sua colocações, entendimentos, acerca daquele
Projeto Arquitetônico, qual poderá atrair mais outros benefícios, respeitabilidade a admiração
e uma esperança para as crianças e demais usuários indígenas ou não.

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Sistemas Agroflorestais na Terra Indígena Andirá-Marau - Povo Sateré Mawé:


Puxirum, segurança alimentar e nutricional e resgate de sementes
tradicionais – Maués, Amazonas.

Josimar Alencar dos Santos, Sigliane Michiles Guimarães, Miriam de Alencar Pereira, Clenildo Gastão
de Almeida, Eduardo Silva de Albuquerque, Rafael Michiles Bota, Dielson Alves de Oliveira, Edinaldo
Pereira Michiles, Idelson Cabral de Oliveira, Eric Marotta Brosler, José Guedes Fernandes Neto, Paulo
Adelino de Medeiros, Danilo de Oliveira Machado, Anndson Brelaz de Oliveira, Melissa Michelotti
Veras, Sérgio Luiz de Sousa Fonseca e Inácio Cristino da Silva

O trabalho ocorre no município de Maués (AM) na região do baixo Marau, pertencente a Terra
Indígena (TI) Andirá-Marau, TI com área de 788.528 hectares e 13.350 habitantes (CGTSM,
2014). O IFAM - campus Maués desenvolve o Curso Técnico Integrado em Agroecologia
Sateré-Mawé nessa região e o presente trabalho é um projeto de extensão do IFAM, “Puxirum
dos jovens Sateré Mawé”, em parceria com o projeto AGM do IDESAM e o projeto do Slow
Food e FIDA, com o objetivo de fortalecer a segurança e soberania alimentar e nutricional do
povo Sateré-Mawé e estimular as trocas de conhecimento de manejo agroflorestal na TI.
Tradicionalmente, este povo obtinha grande parte do alimento com extrativismo, porém com
o aumento populacional e maior pressão sobre os recursos naturais, esta prática apresenta
limites para garantir uma alimentação nutricionalmente equilibrada. Conforme observado por
Jakovac et al. (2015), o tempo de pousio das florestas secundárias diminui com o aumento
populacional. Somado a isso, a prática agrícola tradicional, de corte e queima da mata ou
capoeira para plantio dos roçados, aprofunda a degradação do solo devido ao impacto do fogo
e o baixo tempo de pousio. Nesse contexto, o uso de práticas agroecológicas de produção,
aliando a diversidade de espécies, regeneração do solo e manejo da matéria orgânica, é
fundamental para recuperar a produtividade dos roçados do povo Sateré-Mawé, de acordo
com Altieri (1998), pode ampliar as capacidades e recursos locais e aumentar a produtividade
enquanto conserva as bases dos recursos. Os Sistemas Agroflorestais Biodiversos (Corrêa Neto
et al., 2016 e Miccolis et al., 2016) vêm sendo estrategicamente implantados pelos jovens
agregados aos demais, através de puxiruns, uma forma de organização conhecida das
populações tradicionais, onde busca-se estimular o trabalho coletivo, a troca de
conhecimentos, sementes e mudas, compreendendo ainda a retomada de processos
estruturantes da reciprocidade (Sabourin, 2009), a geração e adaptação de tecnologias, a
aprendizagem coletiva e a recriação de cenários locais carregados de significados. Até o
momento, três áreas foram implantadas em um total de 5.850 m² com 38 espécies. Dentre
estas, destacamos algumas variedades locais de macaxeira, abacaxi, melancia, maxixe, cará,
tajá, feijão, milho e o guaraná, que é a planta mais importante na etnia. O planejamento das
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áreas pela formação de grupos de trocas de saberes estimulando a reflexão sobre a


observação dos aspectos naturais da floresta em suas diferentes estruturas e dinâmicas,
levando ao planejamento e implantação das áreas, baseados nos materiais disponíveis e
conhecimentos gerados para intervir sem o uso do fogo, estimulando estratégias de manejo
da matéria orgânica para o plantio e manejo das espécies.

Roças Krahô: Diálogos Agroecológicos com Agricultores Indígenas da Aldeia


Pedra Branca- Tocantins (Brasil)
Nadi Rabelo dos Santos

Terezinha Dias

Habitantes no nordeste do estado do Tocantins, o Povo Indígena Krahô, pertencente ao


Tronco Linguístico Macro Jê, Família Jê, Lingua Timbira(pib.socioambiental.org), vieram da
porção Central da “Capitania do Maranhão”, em meados de 1810, Azanha, (1994). Povo de
natureza semi nômade, que pressionados por conflitos de terra, foram migrando em direção
ao médio Tocantins, e com a intensificação dos conflitos, vieram a habitar em Terra
demarcada no nordeste do estado (Dias et al, 2015). A interação do vasto conhecimento sobre
os agro ecossistemas adaptados as condições do bioma Cerrado, com a vida social e cultural
desse povo, é responsável pela gama de conhecimentos tradicionais que eles detêm. Tais
conhecimentos são a base de sustentação da soberania e segurança alimentar desse povo. A
Aldeia Krahô é circular e o seu formato dispõe de um caminho em volta das casas que se
chama Krînkape, considerado um espaço feminino, onde também ocorrem as corridas de tora
e a circulação das pessoas. Os caminhos radiais que partem do Krîncape e levam ao Pátio(Ká),
chamam-se Prîncarã. No Pátio(Ká), ocorrem as reuniões, os encontros no inicio e final do dia
e rituais festivos (Guerra, 2008). Os quintais abrangem toda a área em volta das casas e as
roças ocupam locais mais distantes em terras mais apropriadas. Atuando como apoio a
pesquisa na Embrapa, tive os primeiros contatos com o Povo Indígena Krahô, e oportunidade
de conhecer a aldeias por ocasião da sétima edição da Feira de Troca de Sementes
Tradicionais, no ano de 2007. Em algumas ocasiões me perguntava: o que estou fazendo aqui?
e uma voz interior dizia: "tem um sentido”. E aos poucos os pedaços de cultura que conhecia,
foram inteirando-se e pude compreender melhor o Universo circular da Aldeia. Graduada em
Agroecologia pelo Instituto Federal de Brasília, Campus Planaltina, tive a oportunidade de
escrever o meu trabalho final sobre as roças Krahôs, onde pretendi encontrar interações entre
as práticas de roça com a sociedade e cultura, bem como as logicas agroecológicas de plantio.
Pude perceber que a roça, está presente em acontecimentos que estruturam a sociedade
Krahô, como nas festas do milho e da batata que simbolizam a troca de partidos (Wakmejê e

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Katamejê) inverno e verão, que governam a Aldeia. Também muitas festas e rituais
contemplam os produtos da roça, como a mandioca, utilizada no alimento tradicional, o
Paparuto ( alimento feito a base de farinha de mandioca entremeado com carne e revestido
com folhas de bananeira, feito no moquém de pedras). Esse alimento está presente em
praticamente todos os rituais festivos. (Santos, 2017). Além das revisões bibliográficas, foram
feitas duas viagens a campo para a Aldeia Pedra Branca. A primeira no mês de abril e a segunda
em novembro de 2014, ambas com permanência em campo por oito dias. Na primeira viagem
foram identificados os agricultores e as roças a serem visitadas e feitos diálogos baseado em
tópicos orientadores, deixando o agricultor a vontade para aprofundar no tópico que mais lhe
despertasse interesse. Na segunda viagem os mesmos agricultores foram visitados e foram
feitas visitas a três roças. A família destes agricultores de forma participativa fizeram desenhos
relacionados a forma de fazerem as roças. O povo Krahô, apesar do contato inter étnico,
mantém sua identidade e práticas agrícolas tradicionais. Os levantamentos e diálogos a campo
evidenciaram que essas práticas não acontecem dissociadas de aspectos da vida social,
cultural/ritual daquele povo, bem como da alimentação tradicional, dos cantos, das pinturas,
dos esportes, dos mitos, entre outros que reforçam o sistema agrícola tradicional. Há nessa
circularidade e complementariedade uma sustentação capaz de inovar e resistir, trazendo os
conhecimentos tradicionais ao avançar dos tempos. Todos estes fatores asseguram
sustentabilidade frente as mudanças climáticas e a perda de espécies e variedades mais
adequadas aos nossos biomas. Este tipo de agricultura agrobiodiversa propicia fortes relações
de afinidades e antagonismos entre as plantas, animais e microorganismos. O diálogo com a
Agricultora Maria Krahô nos aponta muitos desses conhecimentos e interações. Ela planta
mandioca, batata, banana, inhame, arroz, fava e andu na sua roça. Inicialmente ela planta o
andu, depois planta o arroz em assim que o arroz atinge um metro e meio ela planta a
mandioca, em uma relação de dois pés de arroz para um de mandioca. Assim que colhe o
arroz, derruba sua palhada e a mandioca desenvolve. Na palha do arroz misturada com terra,
ela faz um amontoado e planta a batata. O sucesso dos roçados passa também por um
conjunto de outras percepções locais como o canto e os jejuns alimentares compondo uma
extensa malha de práticas e conhecimentos que mantém um equilíbrio dinâmico entre os
agricultores e seus roçados.

A Proteção do Conhecimento Tradicional no Contexto da Globalização do


Direito
Joaquim Shiraishi Neto

Para atender os interesses econômicos de um “poder global difuso”, os países ricos em


biodiversidade passaram a reformar suas leis de proteção da natureza, já que ela é tida como
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“vantagem comparativa” em relação aos demais (países). O direito cumpre um papel


estratégico nesse cenário, ao construir uma unidade global dos dispositivos,
“homogeneizando” estruturas, leis e procedimentos e legitimando essa nova ordem. No
Brasil, as leis de proteção da natureza têm sido reformadas, decompondo o seu conteúdo
jurídico. Este artigo objetiva analisar a Lei 13.123/2015, que se encontra inserida na lógica
denominada de “globalização do direito”, isto é, de “globalização do direito americano”. A
pretexto da necessidade de reformar a Medida Provisória 2.186/2001, aquela Lei modificou a
proteção, o acesso e a repartição dos benefícios derivados do conhecimento tradicional. A
metodologia se baseou no levantamento e análise de dados de fontes secundárias, como
documentos e tratados, especificamente a Convenção sobre a Diversidade Biológica, o
Protocolo de Nagoya (vê se tá certo) e o Projeto da referida Lei, apresentado em regime de
urgência. Os resultados da pesquisa apontam que a Lei 13.123/2015 fere as normas e o
conteúdo de desenvolvimento sustentável expressos no texto constitucional de 1988.

Segurança alimentar indígena no Brasil e o Conselho Nacional de Segurança


Alimentar e Nutricional – Consea

Maria Auxiliadora Silva

Um dos grandes desafios relacionados ao etnodesenvolvimento dos povos indígenas é a


manutenção de todo seu arcabouço biocultural envolvendo em especial suas práticas e
saberes tradicionais. Infelizmente diversos grupos indígenas tem adotado hábitos alimentares
diferentes dos seus antepassados. As mudanças alimentares, em algumas comunidades tem
causado desinteresse pela prática da agricultura tradicional, doenças e apativa que aliado a
falta de apoio governamental e ampliação de políticas assistencialistas, desconectadas da
realidade local tem produzido um cenário de desnutrição e alta mortalidade infantil. No Brasil
existe um Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional onde as questões de
segurança alimentar e nutricional dos povos indígenas são discutidas em uma comissão
permanente (CP6). Desde 2003 vem sendo indicado pelas lideranças indígenas, que na CP6
tem participado, que é preciso que o governo brasileiro apoie os povos indígenas quanto ao
fortalecimento de seus sistemas agrícolas tradicionais, envolvendo seus saberes, práticas e
suas sementes tradicionais. Uma série de recomendações foram elaboradas pela CP6 quanto
ao resgate das sementes tradicionais indígenas dos bancos de sementes governamentais e em
plenário tem sido relembrado que quando se perde estas sementes se perde conhecimento e
cultura pois muitas destas sementes são relacionadas a ritos, mitos, alimentação, entre
outros.

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Sistema tradicional de agricultura Guarani e Políticas Públicas na região sul do


Brasil
Mariana de Andrade Soares

Os Guarani são horticultores milenares, guardiões das “sementes verdadeiras” deixadas por
suas divindades, através de estratégias de manutenção e reprodução de seus cultivares
tradicionais. As situações históricas resultaram na perda gradativa de seus territórios
tradicionais, no seu confinamento e no isolamento frente à expansão do agronegócio na
região sul do Brasil. O presente trabalho tem como objetivo analisar as estratégias dos
coletivos Guarani no Rio Grande do Sul para manutenção do seu sistema tradicional de
agricultura e como as políticas públicas incidem sobre esse processo. Tal reflexão
antropológica se baseia na experiência vivenciada na instituição oficial de assistência técnica
e extensão rural no Rio Grande do Sul, como coordenadora de projetos e programas
governamentais para povos indígenas, entre os anos 2002 até os dias atuais, e durante a
pesquisa de doutoramento realizada junto aos coletivos Guarani. O potencial etnográfico
pretende elencar alguns subsídios para a formulação de políticas públicas, capazes de
contribuírem para a manutenção da agrobiodiversidade, garantindo o protagonismo e a
autonomia dos povos indígenas.

Desafios e riscos para a sustentabilidade do modelo tradicional de produção


dos índios frente dominância do modelo da política institucional do
agronegócio.
Solange Alves

Trabalhar com a temática indígena se apresenta como um desafio, devido a diversidade


cultural destes povos e a velocidade em que, nas últimas décadas, vem ocorrendo as
mudanças sociais e culturais em de seus territórios. Ao analisar o cenário sem considerar
questões da diversidade, entre tantas outras necessárias ao maior entendimento, corre-se o
sério risco de um nivelamento raso, desqualificado e sem aporte de estudos balizadores. A
difusão das políticas públicas, ofertadas aos indígenas está mais voltada a um atendimento
emergencial com um olhar simplista, sem considerar pilares primordiais de questões socio
cultural, ambiental, saberes milenares, miniticismo, crença e outras. Com adaptação de novos
valores e símbolos culturais adquiridos ao longo dos anos, os saberes milenares foram
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tomando outra roupagem, e ressignificação das culturas. Com entrada de bens e produtos do
mundo externo, criou-se demandas e necessidades até então secundarias na sobrevivência
das comunidades. Um dos casos mais emblemáticos atualmente, diz respeito ao Povo Pareci,
quem vem buscando adotar lavoura mecanizada em seu território. Essa pratica é segura?
Coloca em risco a seguridade do Povo? E possível com o modelo do agronegócio aplicar o que
determina OIT 169? A proposta deste artigo é buscar dialogar com essas diferentes “verdades”
com base em fundamentos teóricos para um estudo sobre diversas perspectivas de como a
política indigenista vem dialogando com o novo modelo e práticas do agronegócio, e se novas
práticas, põem em risco a segurança alimentar dos Povos Indígenas. O trabalho propõe
comparar um conjunto de saberes e apresentar um diálogo com esses diferentes formatos. O
fato de se ter uma Constituição Federal que traz dispositivos protecionista para os Povos
Indígenas, reforça ainda mais a necessidade de se estabelecer um diálogo permanente sobre
as mudanças comportamentais dos indígenas, e os diversos novo modelo de produção. A
Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas – PNGAT, é bem clara
quanto ao propósito de assegurar a integridade dos indígenas, a reprodução física e cultural
das atuais e futuras gerações dos povos indígenas, respeitando sua autonomia sociocultural.
A finalidade da discussão é trazer luz a matéria. O tema requer aprofundamento, para não
correr o risco de, por um lado, não ser capaz de se assegurar a garantia devida a segurança
alimentar e integridade física dos Povos; por outro, adotar um rigoroso e excessivo discurso
que possa vir a inviabilizar a realização de novos modelos de empreendimentos ou atividades
sustentáveis nas Terras Indígenas.

Resgate do conhecimento tradicional sobre as práticas com uso do fogo das


populações indígenas brasileiras

Lara Steil, Livia Carvalho Moura, Maristella Aparecida Corrêa, Sandro do Carmo Benevides, Marcelo
Trindade Santana, Pedro Paulo Xerente, Paula Mochel Matos Pereira Lima e Aline Freire de Miranda
Cavalcante

O fogo é um elemento natural utilizado como uma das ferramentas de manejo mais antigas e
importantes na história evolutiva do homem. As práticas com o uso do fogo até hoje são
evidentes nas tradições de povos indígenas de diferentes etnias do mundo. Durante muito
tempo o Brasil adotou uma política de gestão do fogo zero, desconsiderando o papel ecológico
que ele representa em alguns ecossistemas e os conhecimentos tradicionais que apontavam
para um caminho diverso. Nos últimos anos o país vem passando por um processo de
mudança de paradigma na temática, onde o fogo passa a ser visto como um instrumento de

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manejo. A partir de 2013 teve início o Programa Piloto de Manejo Integrado do Fogo (MIF),
cujo objetivo principal é reduzir incêndios e emissões de GEE, bem como proteger
ecossistemas sensíveis ao fogo, além de resgatar os conhecimentos tradicionais de manejo de
paisagens utilizando o fogo. Uma das principais estratégias utilizadas para implementar a
abordagem do MIF é aumentar o diálogo entre gestores, pesquisadores e populações locais
e/ou tradicionais. Assim, ao entender melhor as práticas tradicionais, é possível incorporar e
adaptar este conhecimento no aprimoramento do manejo do fogo em áreas de risco. O
objetivo deste trabalho é identificar a maneira como o fogo é usado tradicionalmente por
povos indígenas no Brasil, por meio de entrevistas com líderes e anciões em 19 terras
indígenas, distribuídas entre os estados do Amazonhas, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso
do Sul, Minas Gerais, Roraima e Tocantins, onde a abordagem do MIF está sendo
implementada A partir das entrevistas foram identificadas as seguintes finalidades de queima:
frutificação de plantas do Cerrado; caça; roça; limpeza de áreas para facilitar o
acesso/mobilidade nas aldeias e seus arredores; redução de material combustível; proteção
de pessoas, locais sagrados, locais de interesse socioeconômico (para confecção de
artesanato, coleta de frutas, etc) e bens materiais; proteção de animais peçonhentos; extração
de mel e outros recursos naturais; comunicação; combate a pragas e pestes; celebrações e
rituais; e retaliação e provocação. A época, extensão e frequência de cada queima são
determinadas de acordo com a finalidade do manejo e tradições socioculturais de cada povo.
De modo geral as queimas são realizadas durante a estação seca, e com uma frequência entre
um e três anos a mesma área é queimada, com exceção das queimas de roça. O entendimento
das diferentes práticas, épocas e frequências de queima dos povos indígenas vem
contribuindo no planejamento, monitoramento e na avaliação de atividades de manejo do
fogo.

Raiz planta e cultura: a terra, o grão e o povo Paresi, MT, Brasil

Márcia Regina Antunes Maciel

Lin Chau Ming

O povo indígena Halíti-Paresi como se autodenominam, habitam o Centro-Oeste do Brasil, e


são aproximadamente 2000 pessoas que moram em cerda de 70 aldeias distribuídas em 10
Terras Indígenas. Tradicionalmente a base da sua alimentação é a mandioca, milho, feijão
fava, as carnes de caça e frutas. Estão inseridos em uma área ecotonal de Cerrado e Floresta
Amazônica podendo ser apontada como uma área frágil do ponto vista socioambiental. Ao
longo do tempo, nessa região foram instaladas monoculturas de grãos e pecuária,
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ocasionando mudanças na estrutura socioeconômica, na paisagem que circunda as terras


indígenas e, até mesmo, dentro das áreas que esse povo habita. Segundo a literatura, há
indicativos na diminuição das roças na maioria das aldeias Paresi e consequentemente das
espécies alimentares (mandiocas, caras, batatadoce, e milho indígena). Acredita-se que a
vulnerabilidade da sociedade Paresí causada pela perda da base de subsistência, foi um fator
crucial para que tivessem dificuldades em resistir às investidas do agronegócio. Estudos
apontam que a pressão exercida sobre eles teve no passado dois objetivos principais: a
construção de estradas atravessando as TIs, visando diminuir os custos do frete dos grãos e,
posteriormente, o acesso à própria TI para o seu plantio. Pressionados por influentes
sojicultores da região (e recentemente pelo governo atual), os Paresí aceitaram, em 1984, que
uma estrada cortasse duas de suas TIs, e, anos depois, compactuaram com os sistemas de
“parceria” para o cultivo de grãos em suas terras. Atualmente esse povo busca meios para que
possam desenvolver “eles mesmos” essa agricultura convencional de grãos, que dê certo
modo supriu as novas demandas como aquisição de alimentos, vestuários, veículos,
eletrodomésticos, medicamentos, entre outras. Assim, as condições acordadas no passado, e,
agora na contemporaneidade, revelam os anseios e necessidades distintas dos grupos locais
do povo Paresi que assumem posicionamentos diferenciados frente ao agronegócio, ou seja,
há os que querem fazer parte da monocultura de grãos que traz seu pacote tecnológico, como
o uso de agrotóxicos, sementes transgênicas, expansão de área, etc., e os que prefeririam
cultivar alimentos dentro da agricultura tradicional e uso de técnicas da agricultura
agroecológica, como por exemplo, a implantação de SAFs, uso de biofertilizantes, sementes
tradicionais, entre outros. Esse último grupo acredita ser a agricultura agroecológica e a
agricultura tradicional Paresí, as melhores opções para satisfazer suas demandas por
alimentos e geração de renda sustentável. O apoio e incentivo às iniciativas que promovam a
conservação da agrobiodiversidade como o resgate e permanência dos roçados indígenas,
aliados a alternativas sustentáveis para a geração de renda, contribuirão na soberania
alimentar e na melhoria da qualidade de vida dos povos indígenas.

ST 41 | Olhares indígenas/historia indígena: diálogos latino-americanos

María Isabel Martínez Ramírez (Instituto de Investigaciones Históricas – IIH, Universidad


Nacional de México – UNAM, México); Spensy Pimentel (Universidade Federal do Sul da Bahia,
Brasil).

El objetivo de este simposio es dar continuidad a una serie de encuentros que académicos y
pensadores latinoamericanos hemos compartido desde el 2012. Uno de los objetivos comunes ha
consistido en construir espacios de discusión en torno a los problemas metodológicos y teóricos sobre
la política nativa, las nociones alternas de “lo humano”, etc. La meta de este simposio es dar
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continuidad a estas reflexiones compartidas tomando como eje la co-producción de conocimiento con
los pueblos y las personas con las que dialogamos durante el trabajo de campo; así como con aquellos
colegas nativos interesados en nutrir esta discusión. Los tópicos elegidos para esta mesa son los
olhares y las miradas nativas de los siglos XX y XXI sobre el registro y la producción de una historia
propiamente nativa.

Guahu, jerosy puku, kotyhu: as canções como chave para pensar e ensinar a
história entre os Kaiowa
João Izaque e Spensy Pimentel

As pesquisas recentes já deram destaque a diversos gêneros de canções e rituais entre os


Kaiowa de Mato Grosso do Sul. O ensino da história nas escolas indígenas, contudo, ainda
segue muitas vezes desvinculado desse universo, como mostra a experiência do autor
principal deste trabalho na formação de professores indígenas. Neste trabalho, a partir da
experiência de diálogo com rezadores kaiowa que pensam a importância de gravar e conservar
a memória das canções no âmbito de um projeto de pesquisa e documentação do Museu do
Índio, discutimos como os diversos gêneros da música kaiowa podem trazer-nos chaves para
pensar as transformações ambientais, sociais, políticas e espirituais em um território indígena.
Demonstraremos como essa ênfase dos xamãs na importância de estudar as canções e
aprender a rezar com eles tem objetivos políticos claros, considerando-se o panorama atual
vivido pelos Kaiowa e Guarani, em guerra pela recuperação de suas terras. Tais reflexões
também nos darão a oportunidade de avançar na discussão sobre os repertórios guardados
por xamãs indígenas não só como vinculados a um universo “religioso” ou “cosmológico”, mas
também cosmopolítico ou ecopolítico.

Un tiempo ubicuo, aproximaciones sobre alteridad e historia para los


Tupinambá de Olivença

Amiel Ernenek Mejía Lara

Uno de los grandes desafíos para la historia como disciplina, en particular aquella que
reflexionar sobre las experiencias vividas en otros tiempos, es el de interpretar acertadamente
los datos provenientes de momentos pasados. Esta es la base de la discusión entre quienes
afirman que hay una objetividad absoluta posible (aun cuando no sea alcanzada) y quienes
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entienden el pasado como un proceso de (re)interpretación permanente desde el presente


que proyecta hacia atrás, consecuencia de la experiencia progresiva del tiempo del mundo
euro-americano. Este debate define gran parte de la historia como disciplina, pendulando
entre eses dos grandes caminos. Sin embargo, no es apenas un debate académico y marca de
manera importante diversos procesos políticos indígenas en las tramas donde la historia
(como disciplina, como dato y como relato) se vuelve el objetivador de derechos – en el
presente – para trazar, bajo los supuestos de linealidad y progresividad, la actualidad y
coetaneidad de los pueblos indígenas. Estas cuestiones no son nada nuevas y una parte de la
historia dedicada a pensar las otras historias afirma que las experiencias en y sobre el tiempo
no son únicas, llevando a situar esas experiencias otras como una capa más dentro de la
temporalidad del tiempo lineal eurocéntrico, así como a (re)interpretar la propia noción de
progresividad como la única manera del vivir y entender el pasado en su relación con el
presente. Pero la mayor contundencia de estas críticas proviene de movimientos,
representantes y/o intelectuales indígenas que han marcado el fallo metodológico de la
historia como disciplina, afirmando que no solo se devén incluir a los indígenas en las historias
canónicas y oficiales o reinterpretar el pasado dándoles más peso en los grandes momentos,
sino también repensar las propias categorías de historia, tiempo, memoria, etc cuando estas
los involucran. Los Tupinambá de Olivença han venido haciendo una critica a esa temporalidad
lineal y progresiva desde una teoría/práctica que motiva en parte la consolidación de su
movimiento indígena, afirmando en sus relatos que la defensa del territorio es
indivisiblemente la defensa de un espacio de subsistencia y el resguardo de los lugares a donde
se accede a los no vivos (humanos y no humanos) que se fijaron en el espacio por haber vivido
ahí en un tiempo. El territorio es, entre otras tantas cosas, un tiempo/espacio que guarda las
experiencias (vidas) vividas que conecta el pasado (tiempos previos a los humanos y tiempos
presentes vividos por antepasados lejanos y parientes muertos) y el presente – un tiempo
ubicuo –, tejiendo la trama de relaciones que los objetiva como indígenas, con las cuales
experimentan, en incorporaciones y experiencias sensibles, alteridades que simultáneamente
son de tiempos otros y de otras formas de vivir. Los lugares son así tiempos ubicuos, como la
selva que aún conservan, un ecosistema que no es apenas el espacio donde, en el presente,
se puede mantener una vida igual a la de los indios antiguos (bravos), como es también el
lugar donde hoy continúan viviendo esos indígenas bravos en su condición de entidades no
humanas, a quienes se les puede consultar y las cuales continúan a actuar de forma coetánea
incitando, por ejemplo, a una lucha contra el desmonte. Esa experiencia del tiempo para los
Tupinambá es incompatible con cualquier teoría o experiencia progresiva del tiempo en la cual
las conexiones entre indios pasados y presentes – la cual los vuelven sujetos de derechos –
tiene que suceder de forma sucesiva y lineal. Esta formas disimiles sobre el tiempo y con ello,
de lo que engloba la categoría “historia”, tiene como consecuencia, por un lado, el
cuestionamiento a su “verdadera” pertenecía indígena – e indisociablemente a sus derechos
– y, por el otro, a una solución de esta incompatibilidad mediante la aplicación de las teorías
de las identidades y las invenciones de las tradicionales. Estas cuestiones resumidas que abren

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un dilema para la historia por movimientos, representantes e intelectuales indígenas, llevarían


no apenas a una transformación de los cánones historiográficos si no a otra epistemología del
tiempo, llevando consecuencias que serán exploradas a lo largo de esta presentación.

Transformaciones y estrategias socioambientales frente de las nuevas vías de


comunicación entre los rarámuri de México
Alejandro Fujigaki Lares

El objetivo de esta ponencia es presentar los principales problemas socioecológicos así como
las estrategias que los rarámuri han desarrollado frente a las transformaciones estructurales
que está provocando la nueva carretera estatal inaugruada en el 2015 que conecta al poblado
de Norogachi con la capital del estado de Chihuahua, México. Realizaré un contraste entre los
registros etnográficos que he realizado desde el 2002 en esta localidad y los de mi última visita
en el 2019. Cómo es que los rarámuri están afrontando los desafíos cosmopolíticos que
conllevan esta carretera es el tema a desarrollar.

A esquerda mexicana e os ameríndios: excessos ontológicos na concepção de


política entre o lópez-obradorismo e o zapatismo maiense. A disputa pública
a partir dos projetos governamentais.

Lucas da Costa Maciel

No dia 1 de janeiro de 2019, a ponto de concluir o comunicado de comemoração dos 25 anos


da luta pública do movimento zapatista, o Subcomandante Moisés declarou que os zapatistas
não permitirão que o recém empossado governo de López Obrador, do partido de esquerda
MORENA, dê andamento aos projetos que eles chamaram “de destruição”, tais como o Trem
Maia. Este consistiria numa rede viária que atravessaria cinco estados do sudeste mexicano e
promoveria desenvolvimento regional fundamentado sobretudo no turismo (o trem
transportaria cerca de quatro milhões ao ano só de estrangeiros, afirma o governo). Segundo
o comunicado dos zapatistas, Obrador estaria atuando de forma enganosa, pretendendo
conceder espaço político aos ameríndios, mas assediando-os com seus projetos
desenvolvimentistas. Valendo-se de princípios da Convenção 169 da OIT e dos incumprimento
dos Acordos de San Andrés, os zapatistas se colocam como oposição às iniciativas da Quarta
Transformação por julgá-las mais do mesmo, inscrevendo-a ao histórico processo colonial que
marca a relação entre Estado e comunidades indigenas. A partir da comunicação lida por
Moisés, desatou-se, na esfera pública mexicana, um debate acirrado e acusatório entre os
apoiadores do governo, que aqui chamamos de lopezobradorismo, e os defensores da
autonomia zapatista. Gravíssimas, as acusações dos apoiadores do governo inclui chamar os
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zapatistas de neoliberais e priistas, entre outras coisas. Nesta comunicação nos interessa
mapear as noções de política contidas nas críticas e nas análises de pensadores de esquerda
à querela entre governo e zapatismo. Nossa intenção é mapear, partindo de artigos públicos
em mídia digital, os princípios que norteiam os critérios de análise e julgamento desses
intelectuais. Ao fazê-lo, veremos como tais análises continuam a pressupor a política do
Estado e a teleologia da história (em especial a noção marxista da transformação) como
marcos para pensar e ponderar a ação política e discursiva do zapatismo. Como contraponto,
mostraremos como o fenômeno zapatismo escapa a essas concepções. Pensá-lo implicaria,
então, forçar-nos para além da nossa criatividade política de esquerda.

A importância das redes para a articulação de metodologias e de


conhecimento científico acerca da questão indígena: a experiência
da RedeCT (Rede Internacional de Pesquisadores sobre Povos
Originários e Comunidades Tradicionais)

Nelson Russo de Moraes


Laís de Carvalho Pechula
Cristiane Teixeira Bazilio Marchetti
Valquiria Cristina Martins
Natália de Lima Gasque

A evolução das relações sociais ou sociabilidade (TÖNNIES, 1957) da sociedade humana


chegou ao seu ápice contemporâneo onde a informação é um elemento imaterial e dinâmico
com valor supervalorizado (CASTELLS, 2003). Este trabalho, parte dos estudos do Grupo de
Pesquisa GEDGS/UNESP (Grupo de Estudos em Democracia e Gestão Social) que apontam a
importância da rede para os trabalhos de produção de conhecimento, desde a articulação de
um grupo de pesquisa até as densas redes multicêntricas e interinstitucionais para a tratativa
de temas de alto nível de complexidade. No bojo desta comunicação científica toma-se a
pesquisa e a extensão universitária junto aos povos indígenas e comunidades tradicionais
como seara onde as contradições e os interesses políticos muitas vezes são contrários à
produção do conhecimento à serviço da vida e da verdade (RIBEIRO, 1977; MORAES, 2016;
VIEIRA, 2014). Assim, ao tratar sobre o assunto apresenta-se como caso a RedeCT (Rede
Internacional de Pesquisadores sobree Povos Originários e Comunidades Tradicionais), uma
rede de pesquisadores e estudantes que atuam em mais de duas dezenas de instituições de
ensino, pesquisa e governo no Brasil e ainda integrantes de países latino- americanos,
africanos e europeus (REDECT). Trata-se de uma comunicação tecida após pesquisa
exploratória em fontes bibliográficas e documentais (MARTINS; THEÓPHILO, 2009).

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Sobre o mito da Terra sem Mal na versão Avá-Guarani


Renan Pinna

O mito da Terra sem Mal tem estado presente de forma extensa nas pesquisas sobre os
Guarani, chegando a ser alvo de críticas pelo modo reificado como passou a ser abordado,
atentando para o fato de que o tema do profetismo deveria ser um tema tocado
primeiramente pelos indígenas antes do que os pesquisadores. No oeste do Paraná, o
processo de recuperação territorial assentado nas retomadas de terras, foi iniciado em 2004
e intensificado em 2012 e contam com 20 áreas na posse de indígenas. Com as retomadas de
terras, as redes, os parentes, as memórias que antes estavam desmembradas começaram a
ser tecidas novamente elevando histórias sobre o território guarani. Nessas histórias, o mito
da Terra sem Mal foi trazido para explicar as atuais mazelas que os guarani enfrentam em suas
aldeias, justificadas pelo fechamento do portal celeste onde espíritos se encaminhavam após
a morte. O caminho da Terra sem Mal estaria nessa região onde a natureza era magnifica com
a presença das Cataratas do Iguaçu e as Cataratas das Sete Quedas, essa última vindo a ser
alagada na criação do Lago de Itaipu com a construção da hidrelétrica da Itaipu Binacional,
causando um dilúvio mitológico de proporções sobrenaturais. O foco dessa análise é a
narrativa dos avá-guarani sobre a Terra sem Mal e como o mito se transforma e se assemelha
as produções em torno do tema do profetismo guarani desde uma perspectiva local.

La co-producción de conocimiento en documentos históricos del siglo XX

María Isabel Martínez Ramírez

Co-producir conocimiento o producir conocimiento (información, metodologías, teorías,


epistemologías) es una herramienta antropológica para simetrizar el diálogo con aquellas
personas que participan activamente en la creación de nuestros saberes académicos. Durante
los últimos años, utilicé dicha herramienta para construir conocimiento con las mujeres
tejedoras comcaac de Sonora, México; así como para discutir el papel de enunciación de las
mujeres rarámuri de Chihuahua, México, sobre su propia historia. En este marco, el objetivo
de esta ponencia es presentar algunas reflexiones sobre la operatividad de la co-creación en
el estudio de fuentes históricas del siglo XX. La meta es experimentar herramientas que
posibiliten leer las relaciones entre los pueblos indígenas y los agentes gubernamentales
documentadas en dichas fuentes. La finalidad es aportar metodológicamente a la
construcción de una historia propiamente indígena utilizando diversas fuentes, entre ellas, las
gubernamentales.

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Um ensaio sobre as relações de contato entre os índios Gavião da Terra


Indígena Mãe Maria
Rayane Gomes da Silva

Partindo das etnografias sobre os índios Gavião, no Sudeste do Pará, este ensaio tem por
finalidade apresentar pequenos apontamentos a respeito da composição da sociedade Gavião
através da sua relação com o mundo abrangente, na tentativa de verificar os contrastes
existentes desde a situação de contato até a cadeia de relações que se seguiram a partir disso.
O objetivo é levantar questões sobre as características do seu engajamento com o mundo do
branco e assinalar como isso pode permear as relações de identidade e alteridade entre esses
povos.

La co-producción de conocimiento para los desafíos de la relación con el


estado mexicano. Dos casos entre los macehuales de Quintana Roo, México

Hilda del Carmen Landrove Torres

En 1936, los habitantes del territorio del centro de Quintana Roo, México, herederos de los
protagonistas de la Guerra Social que ocupó la segunda mitad del siglo XIX y autodenominados
macehuales, presentaron ante las autoridades gubernamentales una solicitud para el
otorgamiento de tierras ejidales. La presentación de dicho documento fue el resultado de un
proceso de co-creación entre un grupo de personas de la comunidad y un grupo de fuereños,
entre ellos un antropólogo. El conocimiento que se produjo sirvió para elegir las estrategias
comunicativas efectivas para la aprobación de la solicitud. El proceso que condujo al
documento final de petición puede reconstruirse a partir de indicios y fuentes históricas y a
partir de las estrategias que se explicitan en el documento mismo, permitiendo acceder a las
voces de sus creadores. Los límites del ejido, los derechos de sus miembros y la relación con
el Estado siguen siendo desde entonces un área de debates y aprendizajes que involucra con
frecuencia a investigadores que llegan a la zona. En mi caso, desde la primera inmersión en la
zona, fui requerida para contribuir a la investigación y reconstrucción del proceso del ejido
desde la petición original hasta el presente. Tal conocimiento es necesario para un proyecto
de extensión de límites en el que se encuentran empeñados actualmente. Más que una
preferencia metodológica, mi experiencia de campo se configuró como una forma de co-
creación, donde la simetría fue establecida a partir de la insinuación de un principio de
reciprocidad. Considero que es posible entender ambos casos en el contexto de las formas de
relación de los pueblos indígenas con fuereños particulares que pueden potencialmente
constituirse en aliados, considerando la existencia de un saber nativo que se ha ido
configurando en la experiencia histórica de relaciones con la alteridad, y que se han ido
transformando en el tiempo y de acuerdo a las circunstancias y los desafíos nacidos de la
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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

relación con el Estado y otros actores sociales. El objetivo de esta ponencia es reflexionar
sobre posibles formas de co-creación que implican producción de conocimiento para
propósitos específicos de las comunidades, en las que el antropólogo asume el rol de
colaborador en la búsqueda de respuestas a desafíos particulares. Así mismo, explorará en los
casos presentados, las formas propias de configurar las relaciones con fuereños para producir
simetría de acuerdo a un saber nativo instrumentado sobre la experiencia histórica de las
relaciones con la alteridad.

ST 42 | Pluralismo bioético, decolonialidade e povos indígenas: pensando o


Bem Viver e suas complexidades

Marianna Assunção Figueiredo Holanda (Universidade de Brasília – UnB, Brasil); Lívia Dias
Pinto Vitenti (Universidade de Brasília – UnB, Brasil); Danilo de Assis Clímaco (Universidad
Nacional Mayor de San Marcos, Peru).

Os conceitos de Bem Viver e pluralismo bioético somam-se ao interesse em compreender como os


povos concebem e praticam diferentes formas de felicidade, de vida digna e de bem-estar, atraindo
hoje nossa atenção. Principalmente, a partir da concepção andina do “Bem Viver”, tradução das
expressões quechua “Sumak Kawsay” e aymara “Suma Qamaña”, o presente GT propõe o desafio de
refletir sobre bem viver em diferentes contextos, desde uma perspectiva inter-histórica, intercultural
e interdisciplinar. Considerando que o Bem Viver é um motor que estimula as pessoas a obedecerem
seus próprios projetos regionais e históricos, assim como aos interesses de suas comunidades,
propomos a promoção de debates sobre este tema, o que inclui pesquisas sobre concepções
relacionadas ao corpo e à mente – inclusive de forma não dualista – e às noções de humanidade que
vão muito além dos limites do corpo biológico; etnografias e pesquisas sobre acesso à direitos, à
formas próprias de resolução de conflitos – como uma rede de relações e significados que pautam o
Bem Viver. Nosso objetivo é reunir trabalhos que se dediquem aos estudos das relações sociais
voltados à complexidade, multiplicidade e variedade de saberes e práticas associados aos conceitos de
bem viver. O presente GT busca promover um diálogo interdisciplinar, a partir da participação de
profissionais e estudantes de diferentes áreas do conhecimento, assim como visa reunir trabalhos
concluídos ou em andamento sobre os temas propostos.

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3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Pluralismo bioético e colonialidade


César Baldi
O debate sobre povos indígenas e pluralismo ainda está marcado por uma noção acrítica tanto
de pluralismo quando de mundo jurídico. Os conceitos de bem viver e pluralismo bioético
buscam tensionar alguns destes limites. No plano da discussão da colonialidade do poder, se,
por um lado, ainda existem poucos estudos sobre outros pluralismos- ciganos, de povos
tradicionais, quilombolas- por outro, a própria discussão do pluralismo não incorporou a
discussão da colonialidade em seu interior, verificando as tensões de raça e gênero nele
envolvidos. Este debate ainda precisa ser travado, para verificar, como diz Ochy Curiel, "o que
significa renunciar de uma categoria"?

Bem Viver e Educação Indígena: experiências com o povo Kaingáng no Sul do


Brasil

Carlos Frederico Branco

A presente comunicação tem como objetivo relatar as minhas experiências entre os indígenas
Kaingáng que habitam o sul do Brasil, sobretudo aquelas que envolvam o Bem Viver e a
Educação Indígena. Elas fazem parte da minha atual pesquisa no Programa de Pós-Graduação
em Desenvolvimento Regional da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, campus Pato
Branco, intitulada, Bem Viveres: projetos políticos alternativos para o desenvolvimento dos
saberes indígenas. O Bem Viver dos coletivos Kaingáng é baseado no modo de vida Jukre, que
é a continuidade sócio histórica das experiências Kaingáng, transmitidas para os mais novos
através dos kófa/velhos. Em novembro de 2018 ocorreu na Terra Indígena Toldo Imbu, no
município de Abelardo Luz, Santa Catarina, o VI Grande Encontro Kaingáng, da Ação Saberes
Indígenas na Escola. A Ação dos Saberes Indígenas na Escola em Santa Catarina tem como
objetivo trazer para a escola os saberes dos kófas. No encontro os professores Kaingáng que
participam do projeto, relataram as experiências entre os anciões e anciãs com as crianças e
os jovens em atividades mediadas pela educação escolar indígena, envolvendo as práticas
tradicionais de saúde, alimentação, moradia, territorialidade e narrativas. Os anciões e anciãs
participaram do encontro ativamente, narrando histórias de resistências e a reocupação dos
territórios Kaingáng, O encontro possibilitou-me a compreensão da importância dos kófa na
sociedade Kaingáng e como ela dialoga sócio e historicamente na educação indígena.

Corpos e natureza no contexto no Ritual da Menina-Moça Tenetehar-Tembé

Maria Madalena dos Santos do Carmo

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Benedito Emílio da Silva Ribeiro


Vanderlúcia da Silva Ponte

A pesquisa analisa aspectos do Ritual – ou Festa – da Menina-Moça (o Wira’ú-haw), entre os


Tenetehar-Tembé, povo de tronco Tupi que habita a Terra Indígena Alto Rio Guamá (TIARG),
Pará – Brasil. Pretende-se compreender os processos de fabricação e transformação dos
corpos, nas concepções de Eduardo Viveiros de Castro (2018), dos sujeitos participantes desta
festa, sobretudo das jovens Tembé, estabelecendo as conexões entre corpo, território e
natureza. A metodologia utilizada baseou-se nos recursos da história oral e da etnografia, esta
pautada na observação direta em campo conforme os ensinamentos de Roberto Cardoso de
Oliveira (2000), no intuito de entender os elementos culturais e sociocosmológicos do povo
Tenetehar-Tembé durante o ritual e realizar uma análise interpretativa de suas teias de
significados (GEERTZ, 2015). Observa-se que este ritual celebra a passagem da infância para a
vida adulta e demarca o momento em que homens e mulheres são preparados para
desempenhar suas respectivas funções sociais, guiados pelos mais velhos. Apesar da presença
masculina, este rito de passagem Tembé possui um caráter eminentemente feminino
(COELHO, 2014) em virtude da centralidade atribuída as mulheres por conta de seus corpos
em processos de transmutação entre humanos e não humanos. É o aparecimento da primeira
menarca que define o processo ritual, já que o sangue tem o poder de atrair os espíritos –
karuwaras, entre os Tembé –, fazendo da mulher um sujeito poderoso ao longo do ritual, e de
toda sua vida. O cíclico fluxo de sangue, através da mestruação, e o contexto
gestação/parto/pós-parto tornam a mulher susceptível à agência destes seres espirituais, uma
vez que seu corpo encontra-se “aberto”. A pintura corporal com jenipapo protege a “menina-
moça” de doenças e da ação de espíritos errantes, mas também estabelece certa coesão e
harmonia com as karuwaras que vem dançar e brincar com Tembé (PONTE, 2014). Percebe-
se, também, ao longo do ritual um processo de introjeção das forças cosmo-territoriais no
corpo do rapaz e, especialmente, da menina-moça, os quais margeiam a própria
territorialidade Tenetehar-Tembé. Diante do exposto, apreende-se que a Festa da Menina-
Moça representa um marcador central na vida Tembé, promovendo integração e equilíbrio
entre as dimensões humana e não humana, e que a mulher Tenetehar possui papel
fundamental na dinamização da cultura deste povo. Além disso, também representa um
momento de ação política relacionada à afirmação da cultura e indianidade Tenetehar-Tembé,
os quais reforçam, desta feita, a necessidade de manutenção dos direitos sobre seu território
étnico – a TIARG.

Direitos Indígenas no Brasil: educação intercultural e temas contextuais na


realização da justiça e do bem viver

Luciana de Oliveira Dias


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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Este manuscrito é resultado de uma necessidade, e de um desejo, em textualizar a experiência


das aulas de Direitos Indígenas e Direitos sobre Conhecimentos Tradicionais que foram
oferecidas aos estudantes do curso de licenciatura em Educação Intercultural, da
Universidade Federal de Goiás durante os anos de 2016, 2017 e 2018. O objetivo desta escrita
foi consolidar um material, com pretensões didáticas, que sirva de apoio àquelas pessoas que
pretendam compreender, explicar e promover ações engajadas acerca de como se consolidam
e se realizam - ou são violados - os direitos indígenas no Brasil. O intuito foi discutir, aprender
e ensinar de uma perspectiva intercultural, sobre os direitos dos povos indígenas, inclusive
seus direitos aos próprios conhecimentos, sobre seus sistemas jurídicos próprios, bem como
sobre suas relações com os direitos institucionalizados pelo Estado e previstos nos regimes
internacionais. Foram alcançados avanços reflexivos e analíticos sobre os direitos indígenas
perante as leis e constituições nacionais, acerca dos direitos sobre os próprios conhecimentos
associados à biodiversidade, e também sobre a efetivação de direitos como fruto de uma
resistência que envolve engajados e coletivos atores indígenas que lutam por autonomia,
emancipação e protagonismo.

Etnociências, intercâmbios culturais e trocas de saberes em prol do bem viver


no Vale do Rio Doce/MG
Reinaldo Duque-Brasil

Este resumo socializa a experiência de organização das Rodas de Terapias Tradicionais e


Saberes da Terra, que são eventos de extensão e troca de saberes organizados pelo Núcleo de
Agroecologia da UFJF/Campus Governador Valadares, em parceria com a Associação de
Terapeutas das Culturas Tradicionais, Majú Escola de Terapias Holísticas, Grupo de
Consciência Negra, Centro Agroecológico Tamanduá e Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Gov. Valadares. Foram realizados 4 eventos em diferentes municípios do Vale do Rio Doce:
Tarumirim e Gov. Valadares em 2016, e Santana do Paraíso e Coronel Fabriciano em 2017. As
entidades parceiras, junto às comunidades anfitriãs, organizaram os encontros na forma de
intercâmbios, com rodas de conversa, vivências e oficinas, buscando a inclusão e participação
dos mestres/as populares e grupos folclóricos locais.Os temas das oficinas foram definidos de
acordo com os interesses das comunidades anfitriãs e as especialidades dos/as mestres/as
locais, incluindo: terapia corporal;geoterapia; benzeções; plantas medicinais e alimentícias;
sementes crioulas; terapia dos sonhos; cantigas de roda, cirandas, danças circulares; contação
de histórias e mitos;temascal; e outras terapias, além de apresentações culturais, folias e
batuques. Nos encontros, a alimentação também é feita com a participação da comunidade,
valorizando sua agrobiodiversidade e tradições culinárias locais.As Rodas são frutos do
trabalho coletivo e contribuem para a troca de saberes entre a universidade e as comunidades
tradicionais, despertando novas estratégias para formação de educadores populares,
terapeutas tradicionais e demais multiplicadores da filosofia do Bem Viver. Além disso,

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

reforçam a necessidade da construção participativa de políticas públicas junto às


comunidades tradicionais que ainda não foram incluídas com seus conhecimentos e práticas
ancestrais nos sistemas de saúde e educação públicas.

O bem viver ameríndio como alternativa sustentável às narrativas


hegemônicas de desenvolvimento na América Latina

Adriano Fabri E Dimas Floriani

A crise socioambiental que assola o globo com as mudanças climáticas, poluição das águas,
dos solos, do ar, perda da biodiversidade e no preconceito e exclusão de minorias políticas
avança na América Latina. Através de estratégias de corte neoliberal os governos acabam
incentivando a predação das florestas ainda preservadas e a exploração de territórios
indígenas e de comunidades tradicionais para a expansão do agronegócio, da mineração, de
madeireiras ilegais e de grandes obras de infraestrutura. Esse avanço predatório é baseado
em narrativas hegemônicas de desenvolvimento que prescrevem a modernização,
industrialização, urbanização, ampliação do mercado consumidor e aumento do PIB como
formas dos países latino-americanos acenderem ao tão sonhado progresso e
desenvolvimento. Nesse cenário o bem viver ameríndio aparece como uma alternativa
sustentável para o desenvolvimento na América Latina e também como uma opção conceitual
e política às narrativas hegemônicas do desenvolvimento ocidental. Baseado na cosmovisão,
no conhecimento ecológico e nos sistemas de práticas indígenas o bem viver é uma filosofia,
um conceito, um estilo de vida dos povos originários, voltado para uma vida em harmonia
entre todas as pessoas da comunidade, seus ecossistemas e sua cultura. No diálogo de
saberes, entre esses conhecimentos milenares e a ciência e tecnologia moderna, surgem
iniciativas promissoras em se tratando de sustentabilidade local e planetária. No entanto, os
povos originários que vivem o bem viver milenarmente em seu cotidiano, satisfazendo suas
necessidades de vida ao mesmo tempo que respeitam a natureza e preservam a
biodiversidade, sofrem pressões e ameaças da expansão desenfreada do modelo de
desenvolvimento predatório que colocam em risco seus territórios e maneiras de viver. Este
trabalho analisa aspectos conceituais, filosóficos e políticos do bem viver ameríndio, além de
sua capacidade em lançar um olhar crítico as narrativas de desenvolvimento hegemônicas ao
mesmo tempo que propõe alternativas ao desenvolvimento insustentável baseadas em
experiências híbridas que envolvem o conhecimento tradicional e o uso da ciência e tecnologia
moderna voltadas para uma vida mais sustentável e socio-bio-diversa.

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ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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El ‘Wët Wët Fxi’nzenxi’ (Buen Vivir) Nasa, hacia una comunicación armónica
entre los seres humanos y la ‘Uma Kiwe’ (Madre Tierra)

Wilson Martínez Guaca


Dianny Guerrero Montilla

El artículo que se plantea para el simposio tiene tres grandes ejes articuladores: Una mirada
general al concepto del Buen Vivir, la vivencia del Buen Vivir para el pueblo Nasa de Colombia
que lo denomina como ‘Wët wët Fxi’nzenxi’ y la forma como esta vivencia del Buen Vivir Nasa
se plasma en sus prácticas comunicacionales (ancestrales y mediadas por la tecnología). La
mirada general al concepto del Buen Vivir se detiene en posturas como las de pluriverso y
cosmocomunidad para llegar luego al abordaje desde la cultura política que tiene en las
Constituciones Políticas de Ecuador y Bolivia a sus máximas expresiones y en varios estudios
que lo plantean como la salida a las visiones de desarrollo, progreso y sistema mundo
capitalista, además como una opción política diferente al capitalismo y al socialismo.
Posteriormente el recorrido ausculta el Buen Vivir desde la visión de la llamada ‘civilización
occidental’ para detenerse a continuación en las concepciones indígenas de Ecuador con el
pueblo Kichwa y los pueblos amazónicos, de Bolivia con los Aymara y los Quechua y de
Paraguay con el pueblo Guaraní. Este recorrido conceptual sobre el Buen Vivir se detiene
también en los trabajos que lo abordan desde la comunicación para finalmente profundizar el
concepto desde la cosmovisión del pueblo Nasa de Colombia. Una vez hecha la profundización
del Buen Vivir (Wët Wët Fxi’nzenxi’) en el pueblo Nasa, se hace un acercamiento a su vivencia
desde una perspectiva comunicacional, para lo cual se conocen y analizan las formas
comunicacionales ancestrales y las prácticas comunicacionales actuales, mediadas por la
tecnología, que realiza el Tejido de Comunicaciones Wejxi ka’senxi (Sonido del viento) del
Cabildo Nasa de Corinto, norte del Cauca, Colombia.

La Comunicación desde el Wët wët Finzenxi (Buen Vivir) del pueblo Nasa del
norte del Cauca. Caso Tejido de Comunicaciones Wejxi Ka’senxi (Sonido del
Viento) del Cabildo de Corinto

Wilson Martínez Guaca


Dianny Guerrero Montilla
El artículo que se plantea para el simposio tiene dos grandes ejes articuladores: Una mirada
general al concepto del Buen Vivir y la aplicación del Buen Vivir, que para el pueblo Nasa se
designa como el Wët wët Finzenxi, en el caso de la estrategia comunicacional del Cabildo Nasa
de Corinto denominada Tejido de comunicaciones Wejxi ka’senxi. La mirada general al

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concepto del Buen Vivir se detiene en posturas como las del pluriverso y la cosmocomunidad,
para llegar luego al abordaje desde la cultura política que tiene en las Constituciones Políticas
de Ecuador y Bolivia a sus máximas expresiones y en varios estudios que lo plantean como la
salida a las visiones de desarrollo, progreso y sistema mundo capitalista, además como una
opción política diferente al capitalismo y al socialismo. Luego el recorrido ausculta el Buen
Vivir desde la visión de la civilización occidental para detenerse posteriormente en las
concepciones indígenas de Ecuador con el pueblo Kishwa y los pueblos amazónicos, de Bolivia
con los Aymara y los Quechua, de Paraguay con el pueblo Guaraní y de Colombia con el pueblo
Nasa. Finalmente el recorrido sobre el Buen Vivir se detiene en los trabajos que lo abordan
desde la comunicación. En lo relacionado con el Wët wët Finzenxi (Buen Vivir), del pueblo
Nasa del norte del Cauca y la propuesta comunicacional del Tejido de Comunicaciones Wejxi
ka’senxi (Sonido del viento) del Cabildo de Corinto, se profundiza en las formas de
comunicación ancestral del pueblo Nasa para detenerse luego en las prácticas
comunicacionales que desarrolla el Tejido desde la emisora ‘Nación Nasa’ y desde la
producción audiovisual que se socializa por intermedio virtual.

Saúde à margem do capital: questões para a compreensão do suicídio entre


povos indígenas no Brasil

Carmen Hannud
Gabriel Henrique Macedo Araujo
Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira

O suicídio entre povos indígenas no Brasil ocupa lugar de destaque na preocupação de


diversas lideranças (PYELITO KUE, 2012; CRPSP, 2013), indigenistas (CIMI, 2015) e intelectuais
(KROEMER, 1994; DOS SANTOS, 2015; DAL POZ, 2000; DE SOUZA e DOS SANTOS, 2009).
Contudo, conforme pontua PECHINCHA (2015), muitas vezes, o olhar para esse fenômeno faz-
se descolado da trama social que permeia a relação entre a sociedade indígena e não indígena.
Dessa forma, o presente artigo propõe debruçar-se sobre a literatura disponível a respeito do
suicídio, lançando mão também de reportagens e matérias sobre a conjuntura e sobre o
fenômeno, partindo do pressuposto central de que este encontra-se indissociável do processo
contraditório (MARX, 1846/1988) de violências e esbulhos a que foram e são submetidas as
populações indígenas, apesar da garantia de seus direitos em pactos internacionais.
Atualmente, foi publicada a MP 870/2019, que transfere o poder de identificar, delimitar e
demarcar as terras indígenas da Fundação Nacional do Índio – FUNAI - para o Ministério da
Agricultura, fortalecendo o latifúndio e o poderio econômico em detrimento dos povos,
tornando os debates em torno da saúde e do Bem Viver indígena mais que atuais e urgentes.
Assim, considerando o movimento estrutura-história das culturas (SAHLINS, 1979), este
estudo aborda o suicídio como um problema de saúde coletiva indissociável da história de
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genocídio, de modo que há uma transformação epistêmica ocasionada a partir da penetração


nos territórios (PAREDES e GUZMÀN, 2015) e que precisa ser considerada pela política pública
nos contextos de prevenção ao suicídio e de promoção de saúde nas comunidades indígenas.

Produzindo-se corpos para se viver com saúde, alegria e conhecimento

Danielli Jatobá França

A partir da escuta sobre o que dizem os povos indígenas da região do Vale do Juruá, no estado
do Acre (Brasil), a respeito de seus projetos históricos, proponho uma discussão sobre saberes
e práticas relacionadas a noção de bem-viver expressa nos encontros de suas organizações
representativas e no discurso das lideranças cerimonais. Os enunciados relacionados a vida
que se quer e ao bem-viver, centram-se, no atual momento histórico, na possibilidade de se
viver conforme os próprios costumes. O momento é o de “celebrar a cultura”, em uma fase
que sucede uma longa luta pela liberdade do trabalho coercitivo imposto pela economia
extrativa da borracha na virada do século XX e que se atualizou por meio dos patrões que
dominavam o território e se impunham aos povos até os anos 70-80. A retórica comum é que,
superada essa fase, hoje pode-se “viver a cultura”. Como? Por meio da gestão autônoma dos
territórios, pela criação de instâncias de organização locais e regionais próprias e,
especialmente para o que pretende esse simpósio, por meio dos desenhos (grafismo) e do
xamanismo. Estes são práticas comunicativas entre o corpo físico/individual, o corpo
comunitário e a pertença a um povo e sua ancestralidade. A permeabilidade do corpo às
influências e diálogos com outro seres está relacionada a produção de um saber que orienta
a tomada de decisão e as ações em direção a uma vida adequada compreendida como aquela
que traz saúde, alegria e conhecimento.

Lições do pluralismo bioético: esboço de um diálogo entre a saúde mental e


construções indígenas do bem viver

Pedro de Lemos MacDowell

O conceito de bem viver tem inspirado e orientado uma série de iniciativas e experiências no
âmbito da reforma psiquiátrica e das políticas de saúde mental junto a povos indígenas no
Brasil. A identificação de questões como o suicídio e os problemas decorrentes do uso de
álcool e outras drogas, no âmbito do Estado, como do campo das políticas de saúde mental
tem levado a uma aproximação cada vez maior entre este campo e diversos grupos e povos.
A ineficácia das abordagens convencionais dos profissionais de saúde mental para os
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contextos indígenas exige uma confrontação dos princípios éticos, teóricos e metodológicos
que orientam suas práticas com outras formas e modelos de bem estar, de felicidade e de vida
digna. Uma escuta das demandas e necessidades de cada grupo indígena se impõe como
condição para o início do trabalho. Nesse contexto, as construções particulares do bem viver
de cada povo trazem norte para o diálogo intercultural com a saúde mental, apresentando-se
como marco para as ações compartilhadas nos contextos de crise. Um aprofundamento da
compreensão sobre as construções locais do bem viver é fundamental para que os agentes
públicos de saúde possam compartilhar com a comunidade o cuidado de forma mais
adequada. Este texto é uma tentativa de elaboração antropológica do trabalho que vem sendo
desenvolvido no âmbito da saúde mental em contextos indígenas, de forma intersetorial, a
partir de experiências na Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas do
Ministério da Saúde e no Distrito Sanitário Especial Indígena Guamá- Tocantins, no estado do
Pará, com diversos povos indígenas, num diálogo intercultural entre o campo da saúde mental
e as múltiplas construções locais do bem viver.

Valorizando o “nhandereko”: o despertar guaraní

Irineu Ortega Mariano

Nesse trabalho apresento a importância do “nhandereko”, que é o modo como


tradicionalmente os Guarani despertam pela manhã. No modo de ser Mbya, a maneira como
se desperta faz parte da nossa identidade e por isso deve ser valorizada. O despertar se
relaciona ao acordar, ao agradecer e ao cumprimentar: isso dá energia para seguir com as
tarefas do dia. Constatei que a entrada cada vez mais forte de equipamentos tecnológicos,
como o celular, interferiu na prática ritualística relacionada ao começar o dia. Aos poucos,
crianças e jovens estão acordando cada vez mais tarde, sem tempo para agradecer e
cumprimentar da maneira como ancestralmente fazemos. Por isso, escolhi o tema do
“Despertar Mbya Guarani” para executar no projeto do meu estágio docência, realizado para
atender a exigência da Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica, da
Universidade Federal de Santa Catarina.

“Saúde Mental” “Indígena”: do que estamos falando e a partir de onde?


Diálogos possíveis

Marianna Queiroz Batista

O tema “saúde mental indígena” evoca uma grande complexidade a ser discutida. A utilização
de termos como “saúde mental” e “indígena”, bem como o uso de critérios e pressupostos do
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saber biomédico vem sendo empregados de maneira pouco crítica nas produções acadêmicas
brasileiras na última década (Batista & Zanello, 2016). Diante desse quadro, esta comunicação
oral tem como objetivo repensar esses termos e problematizar algumas categorias e critérios
importados da lógica psiquiátrica, no sentido de evidenciar aspectos históricos e
epistemológicos críticos, bem como demonstrar a necessidade de contextualizá-los
culturalmente. A partir disso, ressalta-se a importância de propor novos diálogos com áreas
do conhecimento que não só desconstruam referências biomédicas hegemônicas importadas
pelo saber psiquiátrico, como também, priorizem e valorizem a complexidade dos saberes e
vivências específicas/locais/regionais dos povos indígenas.

A concertação pelo acesso a direitos dos povos indígenas em Colombia e o


modelo legal da harmonia

Ruth Zamira Herrera Rincon

A discussão que eu proponho tem a ver, de um lado, com os processos de concertação entre
os povos indígenas em Colômbia e o Estado colombiano desde a perspectiva do “modelo legal
da harmonia”, estudado por Laura Nader (1990). A concertação (pratica regulada,
normalizada e controlada pelo Estado) tem se convertido não só em instrumento na procura
do acesso a direitos para os povos indígenas colombianos mas também em parte
complementaria nas técnicas de pacificação sobre os ditos povos. O anterior resulta muito
significativo na medida em que, de um lado, os povos em Colômbia vivem a cada vez maior
intervenção do direito estatal sobre a vida deles mas, também, o deslocamento forçado, no
contexto do conflito armado interno. Colômbia é considerado hoje o segundo pais com maior
número de deslocados internos: 8.000.000 segundo ACNUR (2018). Sendo que os indígenas
representem só um 2% da população nacional, é muito preocupante que os indígenas estejam
junto com os afrodescendentes e os camponeses, entre os mais afeitados pelo problema do
deslocamento forçado no país. Além disso, há justamente dez anos (2009) a Corte
Constitucional estabeleceu que esses povos estavam perto da extinção e, então, emitiu umas
medidas pela sua “proteção”. Medidas, algumas já presentes nas normas e na Constituição,
outras excepcionais e, em tudo caso, ainda não cumpridas. Muito pelo contrário, elas caíram
das mãos do judiciário novamente para as mesmas instituições anteriormente responsáveis
da desproteção, esta última manifesta no deslocamento forçado e, então, sometidas a
soluções mediante novos processos de concertação sem que as causas do deslocamento
sejam resolvidas. Então, resulta preocupante a forma em que o acesso a direitos como
promessa do Estado Social de Direito, seja reduzido pelas trilhas governamentais a través da
concertação, por sua vez, instrumento pelo qual os povos indígenas são subordinados desde
o âmbito legal, mas no fundo, pacificados pelos percursos da violência institucional. Descrever
e explicar a forma em que, aos meus olhos, o anterior acontece e como influi nele o modelo

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da harmonia no contexto da relações assimétricas entre o Estado colombiano e os povos


indígena, é o objetivo desse artigo.

Tratanakuy: una forma de control social quechua, Peru

Oswaldo Torres Rodríguez e René Apaico

Los Quechuas son pueblos indígenas de Perú, quienes han generado múltiples formas de
control social, Entre estas formas se encuentra el tratanakuy que se práctica en la víspera de
la fiesta de San Juan Bautista en el distrito del mismo nombre, cuya población son emigrantes
de las Comunidades Campesinas (Comunidades Indígenas) con destino a las ciudad de
Ayacucho-Perú. El problema de nuestra investigación fue investigar si el tratanakuy era una
forma de control social. El tratanakuy son insultos que se realizan entre dos personas en
público cada 23 de junio de cada año, los cual cuales necesariamente son insultos en el idioma
quechua que hemos recopilado en el mismo idioma y luego se tradujo al español,cuyo análisis
nos permitió establecer categorías que nos permitieron encontrar los mensajes de cada
insulto que se refieren a una serie de distintos asuntos como la honestidad, la mesura, el
cuerpo humano y otros aspectos importantes de la vida social. Despues de realizar la
interpretación llegamos a la conclusión de que constituye una forma de control social.

Elementos do bem viver indígena na Convenção 169 da Organização


Internacional do Trabalho

Bruna Monique Machado Simões


Bruno Souza Barbosa

A comunicação teve como objetivo discorrer sobre os elementos do Bem Viver Indígena,
tendo como marco internacional a Convenção no169 sobre Povos Indígenas e tribais em
Países Independentes (1989) da Organização Internacional do Trabalho (OIT). O Bem Viver
condiz com uma complexidade de práticas sociais, voltadas a constante produção e
reprodução de uma sociedade de indivíduos democrática e igualitária através de suas próprias
tradições históricas e sua subjetividade, de forma alternativa ao modelo assimilacionista de
sociedade, imposta pelas relações de poderes por parte das elites com a farsa de uma
democracia dominadora onde a vida social jamais foi igualitária. Dessa forma, foi feita uma
abordagem crítica do colonialismo do poder, que possui uma perspectiva social dominadora,
patrimonialista e baseada em relações de poderes no Estado, nas relações e no imaginário
humano. Sendo assim, desmistificando o elemento de subjugação do modo existencial dos
povos originários pelo eurocêntrico.

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O “Bem Viver” como estratégia de afirmação identitária e defesa do território


do povo Tenetehar-Tembé do Guamá

Reginaldo Alessandro Brito Sousa

O presente estudo consiste em compreender como os Tembés, povo Tupi de denominação


tribal “Tenetehar”, que vive na Terra Indígena Alto Rio Guamá, no nordeste do Pará-Brasil,
conseguem manter sua identidade como povo tribal, vivendo em um território cercado por
cidades circunvizinhas que lhes impõem pressões pelo modo de viver dito “moderno”. Para
tanto utilizou-se o método etnográfico, por meio do trabalho de campo e a observação
participante, como instrumentos de investigação e coleta de dados. Wagley e Galvão (1961)
afirmaram em seus estudos que o povo Tenetehar não resistiria ao processo de aculturação e
deixaria a condição de “povo tribal” para tornar-se “caboclos”, porém diferentemente do que
esses dois autores anunciaram, ainda hoje o povo Tembé permanece vivo com muitos de seus
elementos culturais preservados, reafirmando sua identidade imersa em um contexto
cosmológico particular que tem como centralidade a vida em harmonia com a natureza e o
respeito aos sobrenaturais. Nesse sentido o modo de vida Tembé associa-se ao que Acosta
(2016) classifica como “Bem Viver”, processo proveniente da matriz comunitária de povos que
vivem em harmonia com a Natureza, numa vida que produz em pequena escala, de forma
sustentável e equilibrada, visando garantir uma vida digna para todos e a própria
sobrevivência da espécie humana e do planeta. Partimos do pressuposto que os Tembés têm
ciência de que sua condição “tribal” só é possível porque os elementos de sua vida estão
interligados a natureza e que o território é o lugar que torna possível a sua reprodução. Para
os Tembés, a proteção do território implica numa relação especial dos habitantes com o lugar,
mostrando que aqueles que o habitam compartilham uma mesma cultura, hábitos de vida e
ideias de luta indígena para o “bem viver”. O território Tembé, segundo Ponte (2014), “é
territorialidade, é territorialização, dimensão de uma relação com a terra, com os lugares de
vida, marcada por conflitos”. Por isso, mesmo que os Tembés tenham fascínio pela vida e pelo
consumo de mercadorias das cidades que cercam seu território, não conseguem se imaginar
vivendo fora de suas aldeias, longe de suas origens e cultura. É de suas terras que advém o
suprimento de suas necessidades vitais e a possibilidade de sobrevivência como povo tribal.
Portanto, a convivência harmoniosa com a natureza e com a comunidade, o respeito a cultura
ancestral, o resgate dos saberes e o respeito aos sobrenaturais praticados pelos Tembés os
aproximam do conceito de “Bem Viver” e os distanciam da visão hegemônica ocidental da
sociedade de consumo (ACOSTA, 2016), sendo estas, estratégias de afirmação identitária e de
defesa do território.

O bem viver como alternativa ao desenvolvimento

Lorena Lima Moura Varão


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Ao longo da história, os povos da América Latina foram impedidos de criar sua própria
concepção de ‘desenvolvimento’. O desrespeito a diversidade cultural concretizou-se com a
inferiorização de sociedades que não se enquadravam no padrão de poder
“colonial/moderno, capitalista e eurocentrado” (MARTÍNEZ, 2003; FRANCO, 2013; QUIJANO,
2005, p.126). Apesar de o termo ‘desenvolvimento’ ser plurissignificativo, a constantemente
foi visto como ‘crescimento econômico’ (RIBEIRO, 1992; FRANCO, 2013). Contudo, sabe-se
que esta definição privilegia determinadas culturas e explicita “diferentes interesses de
poder” (QUIJANO, 2000, p. 38). Tal concepção, “representou o descuido com outros
elementos estranhos aos ganhos monetários, e fundamentou-se em uma racionalidade que
excluiu a natureza e enalteceu a primazia econômica” (BRUZACA, 2014, p. 19). Assim, o
“discurso desenvolvimentista” cria a dicotomia entre desenvolvido e subdesenvolvido, no
qual o primeiro domina o segundo (QUIJANO, 2000; FRANCO, 2013). Nesse contexto,
preocupações com o meio ambiente e o bem-estar são vistas “como empecilhos para as
atividades econômicas lograrem ganhos e riquezas monetárias” (BRUZACA, 2014, p. 20; LEFF,
2006, p. 134). O resultado é a negação do lugar de produção da racionalidade e subjugação
de culturas tradicionais (QUIJANO, 2014, p. 766; LEFF, 2016, p. 234). Em resposta a esse
cenário, nascida no seio dos povos andinos, surge a proposta do Bem Viver (GUDYNAS, 2011),
que se baseia na produtividade da natureza, nas autonomias culturais e na democracia
participativa (LEFF,2012, p.31). Para Acosta (2016, p. 23-24), “o Bem Viver é, essencialmente,
um processo proveniente da matriz comunitária de povos que vivem em harmonia com a
Natureza”. O Bem Viver manifesta-se, também, na tentativa de retomada do controle dos
territórios tradicionais invadidos e saqueados no processo de colonização (GUDYNAS, 2011).
Esse processo manteve suas características colonizadoras vivas, como é percebido nos
inúmeros conflitos em torno dos territórios indígenas na América Latina. Portanto, o objetivo
desta pesquisa é discutir possibilidades de construção de um modelo de desenvolvimento
para o Brasil, como o Bem Viver dos povos andinos. Para isso, utilizaremos referenciais
teóricos decoloniais para sistematizar suas contribuições e estabelecer um diálogo com a
realidade brasileira.

Nagô do Watu: Educação intercultural e inclusão de saberes tradicionais na


universidade pública
Reinaldo Duque-Brasil
Djukunã Krenak
Mayô Pataxó

Este trabalho apresenta experiências de extensão em educação intercultural do NAGÔ


(Núcleo de Agroecologia da UFJF/Campus Governador Valadares) no vale do Rio Doce
(denominado Watuna língua Krenak), visando inspirar a descolonização do pensamento

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acadêmico por meio do diálogo interepistêmico e da inclusão de saberes tradicionais na


universidade. Nossa metodologia se baseia na concepção de ensino-aprendizagem
participativa e simétrica, caracterizada pela interculturalidade e pelo diálogo interepistêmico.
Entre 2016 e 2017, foram realizadas oito ações de extensão, incluindo quatro eventos de
intercâmbio intitulados Rodas de Terapias Tradicionais e Saberes da Terra, em Tarumirim,
Gov. Valadares, Santana do Paraíso e Coronel Fabriciano; uma Jornada Intercultural Indígena,
com palestras e rodas de conversa com indígenas e indigenistas; duas excursões para a aldeia
GeruTukunã Pataxó; e um curso de História e cultura do povo Borum do Watu, ministrado por
mestres/as Krenak. Mais de 400 pessoas participaram das atividades, incluindo estudantes de
graduação e pós-graduação da UFJF e outras universidades, além de professores da rede
pública federal, estadual e municipal, agricultores/as familiares, extensionistas, indigenistas,
terapeutas e educadores populares. Também vale lembrar a organização da Caravana
Territorial da Bacia do Rio Doce, que mobilizou mais de mil pessoas visando ao diagnóstico
participativo da bacia após o crime da Samarco/Vale/BHP que matou Watu. Uma década após
a Lei 11.645/2008, que estabeleceu diretrizes para inclusão obrigatória de História e Cultura
Afro-Brasileira e Indígena no currículo oficial da rede pública de ensino, ainda há uma grande
lacuna na educação intercultural no Brasil. Ações de extensão podem contribuir para atendera
esta demanda de modo pontual, mas ainda são insuficientes para garantir a inclusão formal
dos conhecimentos tradicionais e de mestres/as indígenas, quilombolas e camponeses nas
universidades.

KiemErerré: um refúgio para o povo Krenak após a morte do Rio Doce

Reinaldo Duque-Brasil
Shirley Djukunã Krenak

Este resumo socializa a experiência de organização das Rodas de Terapias Tradicionais e


Saberes da Terra, que são eventos de extensão e troca de saberes organizados pelo Núcleo de
Agroecologia da UFJF/Campus Governador Valadares, em parceria com a Associação de
Terapeutas das Culturas Tradicionais, Majú Escola de Terapias Holísticas, Grupo de
Consciência Negra, Centro Agroecológico Tamanduá e Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Gov. Valadares. Foram realizados 4 eventos em diferentes municípios do Vale do Rio Doce:
Tarumirim e Gov. Valadares em 2016, e Santana do Paraíso e Coronel Fabriciano em 2017. As
entidades parceiras, junto às comunidades anfitriãs, organizaram os encontros na forma de
intercâmbios, com rodas de conversa, vivências e oficinas, buscando a inclusão e participação
dos mestres/as populares e grupos folclóricos locais.Os temas das oficinas foram definidos de
acordo com os interesses das comunidades anfitriãs e as especialidades dos/as mestres/as
locais, incluindo: terapia corporal;geoterapia; benzeções; plantas medicinais e alimentícias;
sementes crioulas; terapia dos sonhos; cantigas de roda, cirandas, danças circulares; contação
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de histórias e mitos;temascal; e outras terapias, além de apresentações culturais, folias e


batuques. Nos encontros, a alimentação também é feita com a participação da comunidade,
valorizando sua agrobiodiversidade e tradições culinárias locais.As Rodas são frutos do
trabalho coletivo e contribuem para a troca de saberes entre a universidade e as comunidades
tradicionais, despertando novas estratégias para formação de educadores populares,
terapeutas tradicionais e demais multiplicadores da filosofia do Bem Viver. Além disso,
reforçam a necessidade da construção participativa de políticas públicas junto às
comunidades tradicionais que ainda não foram incluídas com seus conhecimentos e práticas
ancestrais nos sistemas de saúde e educação públicas.

ST 43 | Por uma história cotidiana dos nativos sulamericanos: transformações,


resistências, negociações e resignificações/Por una historia cotidiana de los
nativos sudamericanos: transformaciones, resistencias, negociaciones y
resignificaciones
Vlademir José Luft (Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, Brasil); Lía Guillermina
Oliveto (Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnivas – CONICET y Universidad
de Buenos Aires – UBA, Argentina).

Buscando fortalecer e estabelecer a cooperação entre pesquisadores sobre a(s) história(s) e


realidade(s) nativa(s), propomos, como atividade de diálogo acadêmico e científico, no formato de um
Simpósio Temático, relacionado ao eixo temático História e Memória, tratar do cotidiano nativo
sulamericanos (o índio), ou seja, sua organização social, cultural, política e econômica em sua
diversidade continental. Esta é uma proposta ampla que convoca todos aqueles que concentram suas
pesquisas sobre o cotidiano dos nativos americanos e as formas com que foram modificadas e
ressignificadas, desde o século XVI, quando da conquista e colonização. Desta forma, em termos de
temporalidade, estão inclusos aqui desde os mais antigos registros materiais até os registros do século
XVIII, da América do Sul. Portanto, convocamos a todos para debater e dialogar, a partir de uma
perspectiva crítica que considere as diversas maneiras em que os nativos americanos foram
construtores ativos de sua própria história, mesmo antes da invasão europeia, rearticulado de forma
dramática, quando da conquista. Além disso, convidamos a construir uma reflexão coletiva, teórica e
metodológica, baseada nos estudos de caso propostos, sobre a matriz colonial estabelecida pela
colonização portuguesa e espanhola e as possibilidades atuais de interpretar sua história.

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¿El mercado en la toldería? Producción y consumo de mercancías en el


mundo indígena arauco-pampeano temprano (siglo XVIII)

María Eugenia Alemano

En las últimas décadas, los estudios antropológicos y etnohistóricos han desechado una
noción de la frontera como línea divisoria entre “indios” y “blancos”, coincidente con el
remanido discurso de civilización y barbarie, para abrazar su definición como un espacio
socialmente construido, perspectiva que permite observar los múltiples vínculos interétnicos
así como la redefinición de las mutuas identidades en dinámicos procesos de etnogénesis.
Asimismo, hoy contamos con una nueva visión acerca del mundo indígena arauco-pampeano
de los siglos XVIII y XIX develando, entre otros aspectos, la participación mercantil y la
innovación agropecuaria suscitada entre las poblaciones indígenas independientes de la
región pampeano- patagónica (Palermo 1988; Mandrini 2001; Alioto y Jiménez 2010; Alioto
2011). Sin embargo, se ha avanzado menos en el análisis de la organización y las relaciones
sociales que sostenían los procesos de producción, distribución y consumo de mercancías al
interior de las tolderías, si bien algunos estudios han puesto de relieve el lugar fundamental
que tuvo la redistribución de mercancías obtenidas a través del comercio, la diplomacia o la
guerra en la construcción política de los caciques a lo largo de los siglos XVIII y XIX (Villar y
Jiménez 2000; De Jong 2015). Esta ponencia se propone observar los cambios en las relaciones
sociales asociados a la participación mercantil de la sociedad indígena arauco-pampeana
temprana (siglo XVIII). Los estudios que tratan este problema para el caso norteamericano han
ponderado sus efectos en términos de desestructuración y dependencia (Wolf 1987), aunque
también han vislumbrado la emergencia de economías duales, la apropiación y resignificación
de las mercancías puestas a disposición por la presencia europea y su relación con procesos
de etnogénesis más vastos (Helms 1969; Perdue 2005; Stern 2017; Hämmäläinen 2009). En el
caso arauco-pampeano, sostenemos que, más que generar dependencia económica y
desestructuración social, el efecto más notable del consumo indígena de mercancías fue la
reorganización de su economía mediante la adaptación del sistema de parentesco. Los
pueblos arauco-pampeanos forjaron una economía dual que distinguía entre un sector
mercantil y otro de subsistencia e instauraron una nueva división sexual del trabajo,
incluyendo la integración de cautivos y cautivas a los procesos de producción y reproducción
material de la vida. La observación de las relaciones sociales de producción al interior de las
tolderías nos permite avanzar en el conocimiento sobre el mundo indígena arauco-pampeano
independiente así como aportar al estudio de la cultura material y la organización económica
de las sociedades tribales de norte y sud América a partir de su incorporación a los mercados
mundiales en formación.

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As religiosidades andinas a partir do 'tercer catecismo y exposición de la


doctrina cristiana (1585)' - a questão da tradução cultural

Mércia Dalyanne Lopes de Araújo

O presente trabalho tem por atenção central compreender os mecanismos de doutrinação e


evangelização cristãos impostos pela colonização espanhola, no Vice-Reino do Peru (1542-
1824), na região de Lima, no século XVI. O objetivo da pesquisa é debater como o Tercer
catecismo y exposición de la doctrina cristiana (1585) pode ser considerado um dos primeiros
documentos de cunho doutrinário espanhol da América Espanhola, direcionadas às
religiosidades andinas enquanto documento catequético. Em síntese, por meio do
levantamento de análise de conceitos e trechos contidos nas falas do documento que são
entendidas como longas frases, sermões, normas católicas e evangelizações linguísticas, se
quer discutir com o Tercer catecismo y exposición de la doctrina cristiana (1585), como foram
apresentadas as concepções e construções em torno da ideia de ‘Deus ou Deuses’ não-cristãos
– pela negação ou ressignificação enquanto critério de ambivalência, a partir da ideia da
tradução cultural. Demonstra-se interesse também em entender a partir do documento,
outros termos que digam respeito as religiosidades, isto é, as cosmogonias das culturas
andinas pré-colombianas a fim de evidenciar as práticas e as experiências coletivas destas
comunidades indígenas no século XVI.

A relação do poder colonial com os nativos na narrativa de Anthony Knivet

Renato Pereira Brandão

A obra The admirable adventures and strange fortunes of master Antonie Knivet, wich went
with Master Thomas Candish in his second voyage to the south sea. 1591 foi publicada na
Inglaterra, pouco após concluída, em 1625. Contudo, apesar de tratar primordialmente das
aventuras vividas por seu autor em sua estadia no Brasil no período de 1591 a 1599, só veio a
ser publicada no Brasil em 1878, na Revista do IHGB. Despertando a atenção de estudiosos no
século XX, foi merecedora de uma segunda publicação em 1947, vindo a ser mais
recentemente republicada, em 2007. Apesar de Métraux, em 1927, ter contestado a
veracidade de informações contidas na obra sobre migrações tupi-guarani, sua narrativa tem
sido considerada como fonte de informação confiável sobre as sociedades nativas descritas,
assim como sobre a relação estabelecida por essas com poder colonial, personificado na
família Correa de Sá, na Capitania do Rio de Janeiro no final do século XVI. Tendo por
referência registros etnohistóricos e arqueológicos, temos a proposta de aprofundar a crítica
sobre procedência da narrativa de Knivet, situando seu discurso no âmbito da disputa de
interesses colonialistas diversos. Nosso olhar crítico tem como premissa a consideração de

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que a diversidade étnica nativa resultou em processos igualmente diferenciados de relações


interetnicas com a nascente sociedade colonial.

O minucioso e imprescindível trabalho da antropologia para a formação de


uma historiografia nativa

Samuel Martins Lage

Este trabalho tem como objetivo apresentar um “novo olhar” sobre a historiografia indígena
e discutir sobre os trabalhos apresentados pelos viajantes no século XVII e XVIII. Analisando o
olhar do viajante sobre o nativo e as suas sociedades, a cosmovisão destes homens, a
finalidade dos seus trabalhos, o que norteava as suas concepções e entendimentos sobre a
realidade em sua volta, sobre, a compreensão para com o nativo de antes e depois do
surgimento da antropologia como um todo, o que inclui a etnologia e a etnografia. A diferença
do olhar do viajante e do etnólogo em suas distintas missões, a relevância das cartas como
processo formador do pensamento do etnólogo, a “contribuição” do pensamento filosófico
sobre a concepção acerca do nativo antes do renascimento e humanismo e a contribuição da
antropologia para inserção do nativo como sujeito histórico, sua especificidade enquanto
indivíduo, a necessidade da interdisciplinaridade entre a arqueologia, história, sociologia,
filosofia e a antropologia para a compreensão das sociedades nativas nos diversificados
períodos de sua história, discutindo também a deturpação do material escrito pelos viajantes
para empreendimentos de fins políticos e econômicos e o uso da filosofia como “ferramenta
das elites” para a articulação do seu projeto de poder e colonização dos povos ameríndios do
continente americano, os diferentes usos do conceito de alteridade em diferentes períodos
da história, as incongruências e as ambiguidades referentes ao nativo, seus costumes e
práticas no relato dos viajantes. Jean de Léry e a sua contribuição para a reavaliação
introspectiva do pensamento e práticas do europeu acerca do nativo. Os viajantes e suas
atuações e colaborações para a criação da antropologia.

Fontes nativas na bacia do Rio Uruguay, e seu papel na construção de uma


arqueologia social Sulamericana

Vlademir José Luft

Fruto de projeto de pesquisa que tem por objeto a História Nativa, e por objetivo analisar e
identificar o nativo a partir de crônicas, relatos, descrições e observações, produtos de viagens
daqueles que passaram, ou percorreram, o território hispânico na América, especialmente o
sulamericano, entre os séculos XVI e XVII, este trabalho tem por objetivo analisar tais fontes,
no contexto do rio Uruguay, (re)conhecendo sua identidade, identificando sua denominação,
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entendendo suas representações e interpretando os diferentes aspectos de seu cotidiano, não


apenas a partir daquilo que o relator viu, ouviu e viveu, mas da realidade entendida, sentida
e representada.

Prisioneros de su propio oficio. Los caciques del lago Titicaca en la cárcel


pública de la ciudad de La Paz (Virreinato del Perú, siglos XVI-XVII)

Ariel J. Morrone

A partir de la reorganización del sistema de dominación colonial desplegada durante el


gobierno del virrey don Francisco de Toledo en el Perú (1569-1581), los caciques principales
de los pueblos de reducción del sur andino enfrentaron un conjunto de readecuaciones de sus
pautas de organización socioproductiva, su territorialidad y sus criterios de legitimación
política. El tributo en proceso de progresiva monetización, el reclutamiento mitayo y el inicio
del proceso de mercantilización de las economías nativas impactaron de lleno en las
capacidades de intermediación que estas autoridades desarrollaron para mantener su
posición privilegiada mientras vehiculizaban la extracción de los excedentes. Si bien algunos
caciques surandinos pudieron recongifurar sus estrategias, muchos otros quedaron
entrampados en una encrucijada que implicaba el desgranamiento de su autoridad y la
incapacidad de garantizar la reproducción social de sus colectivos de base (ayllu). En esta
ponencia reconstruimos los derroteros de un elenco de caciques “de menor valía” de los
corregimientos adyacentes al lago Titicaca entre fines del siglo XVI y mediados del siglo XVII.
En no pocas oportunidades, estos caciques pasaron largas y recurrentes estadías en la cárcel
pública de la ciudad de Nuestra Señora de La Paz, desde donde despachaban fatigosas
peticiones para retornar a sus pueblos y reactivar así los engranajes colectivos. Entre el pueblo
y la cárcel, las vidas de estos caciques permiten vislumbrar las contradicciones del duro oficio
de la intermediación.

“Del contento que los indios tienen del buen tratamiento que agora se les
hace por los españoles” sobre los discursos acerca de malos tratos, abusos y
tiranías a fin del siglo XVI en Charcas

Lía Guillermina Oliveto

La villa de San Bernardo de la frontera de Tarija se fundó en 1574. A partir de entonces se


consolidó el proceso de ocupación española de esta porción del sur andino. La ciudad de
levantó en un espacio con una dinámica poblacional previa compleja caracterizada por la
diversidad y articulada a partir de la estructuración incaica de la zona. La historia pretérita del
área dejó su impronta en la nueva población que se distinguió por una presencia peninsular
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creciente, desde fines del siglo XVI, que se apropió de gran parte de los territorios. En ese
nuevo contexto, encontramos a la población nativa inscripta en diferentes realidades sobre
las cuales interesa rastrear su cotidianidad a través de los documentos producidos en Tarija.
Para comenzar, los tomatas quienes fueron los únicos pobladores reconocidos por los agentes
coloniales como originarios de los valles orientales de Tarija y en razón de ello, poseedores de
tierras legalmente reconocidas aunque no exentas de disputas. Por otro lado, la gran mayoría
de la población nativa que formaba parte de la mano de obra de las haciendas y
emprendimientos productivos, adscriptos bajo diferentes categorías fiscales y sin posesión de
las tierras que ocupaban. Miembros de estos subconjuntos transitaron también la villa
entablando vínculos entre sí y con españoles y otros grupos subalternos. Proponemos
interpretar esos vínculos interétnicos cotidianos a partir de las fuentes documentales en la
búsqueda de su caracterización.

Luta, resistência e sexualidades indígenas na aldeia Assuriní do Trocará no


Pará

Bárbara de Nazaré Pantoja Ribeiro

Este trabalho busca através de percepções críticas de escritores e pesquisadores da


antropologia, dialogar com meu campo de análise, ratificando o quanto grupos tradicionais,
são atuantes, e suas práticas, hábitos e costumes culturais, constituem os conjuntos de
símbolos que regem os espaços sociais que atuam. Neste sentido, não devemos evidencia-los
de acordo com nossa percepção cultural, fazendo juízo de valor ou de forma estereotipada,
mas mostrando que interagem e são ativos em inúmeros setores. Como ocorre entre os
Assuriní da reserva Trocará no município de Tucuruí/PA, uma etnia que assim como grande
parte dos indígenas brasileiros, vem ao longo do processo de contato tendo relações diretas
com os não indígenas, passando a adquirir por meio do intercâmbio cultural objetos, hábitos
e bens que advém do espaço urbano, fato que em muitos casos podem ser motivos para
tentativas sucessivas de negação por parte dos não indígenas de sua identidade étnica, mas
os Assuriní além de usarem tais interações para afirmar sua pertença étnica, passam também
a partir daí reivindicar direitos em esferas distintas. Assim também, continuam mesmo diante
do preconceito, mantendo suas tradições e vivenciando livremente sua sexualidade fato que
possibilita aos casais homoafetivos existentes na aldeia, inserção nos diferentes espaços que
conduzem a vida em comunidade.

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Entrelazando mundos a través del lawen: memorias fragmentadas y


subjetividades mapuche

Mariel Kaia Santisteban

En este artículo describo los modos en que los trabajos de memoria han propiciado la creación
de textos emotivos y cotidianos –constitutivos de las subjetividades mapuche— en torno a la
idea y praxis del lawen (medicina ancestral mapuche). Para lograr esto, trabajaré aquí con las
personas indígenas que se juntaron en distintos anudamientos por la “defensa del lawen”,
encuentros que se produjeron con densidad como parte de un proyecto autónomo y
autogestivo dentro del movimiento mapuche. Al relatar estos encuentros, que se dieron en la
región de San Carlos de Bariloche (Argentina), no podría decir que se trabajó con una sola
comunidad específica, sino con los relatos y sentidos que de estos eventos surgieron,
involucrando a la participación de personas auto convocadas de diferentes y heterogéneas
comunidades, en algunos casos solo mapuche, en otros casos mapuche - tehuelche. Por lo
tanto, he prestado una especial atención a los procesos de conformación de trayectorias de
vida, subjetividades y sujetos colectivos. En breve, para pensar y conectar los diferentes
materiales etnográficos que componen este artículo, parto tratando de entender procesos de
reconstrucción muy profundos de las memorias del pueblo mapuche, debido a que los
conocimientos relacionado con el lawen son parte de una memoria que ha sido fragmentada.
Recuperar este conocimiento es un proceso muy complejo debido a la clandestinización de
sus prácticas durante largas décadas. Sin embargo, a partir de las experiencias cotidianas con
el lawen y de estos encuentros político, se ha podido ir reconstruyendo esas memorias
comunes y el modo en que el lawen –como conocimiento compartido-- ha permanecido de
forma cotidiana en el tiempo y distribuido espacialmente según cada territorio mapuche.

“El despertar danzando” e o resistir bailando: o Taki Unquy e a Santidade de


Jaguaripe, emergência e protagonismo indígena em contextos coloniais

Jamille Macedo Oliveira Santos

A dança das tesouras e os ritos da Santidade de Jaguaripe trazem à tona a questão dos
elementos culturais e simbólicos como forma de reivindicação política. Nesse sentido, a
resistência se reveste de uma pluralidade de significados e incorpora elementos que
possibilitam a sua existência, propagação, permanecia e reelaboração. Além da resistência
armada a resistência simbólica traz a tona a ação política indígena que se reelabora
constantemente para a preservação das suas tradições e para a construção de um espaço que
lhes seja próprio. Assim, lançamos olhar sobre essas formas de resistência buscando inserir os
povos indígenas como sujeitos da História. A presente comunicação se dedica a análise de

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resistências simbólicas em espaços distintos, mas que carregam em si semelhanças


contextuais, tendo como foco principal dois movimentos de resistência sociocultural a
Santidade de Jaguaripe, no Brasil colonial e o Taki Unquy, no Peru colonial, no qual se encontra
a origem da dança das tesouras que permanece como manifestação cultural na
contemporaneidade.

Cotidiano e resistência: Gueguês, Timbiras e Acoroás entre os rios Itapecuru e


Parnaíba na segunda metade do século XVIII

Esmeralda Lima da Silva

O Estado do Maranhão, referente ao último decênio do século XVII período alusivo à expansão
da frente litorânea pela costa e interior do Maranhão. Os rios Itapecuru, Mearim e Munim,
tornaram-se verdadeiras estradas de águas, atraindo e penetrando a exploração de um vasto
território desconhecido da Coroa Portuguesa, movimento esse incentivado pelo forte
interesse da empresa expansionista em promover o povoamento nos altos sertões. Desta
maneira, a reflexão sobre povoamento luso-brasileiro se revelou essencial para esta pesquisa.
A capitania do Maranhão foi palco de muitas guerras entre luso-brasileiros e índios na segunda
metade do século XVIII. Esse trabalho objetiva tratar desses conflitos que aconteceram
durante a expansão portuguesa nessa região. A pesquisa procura analisar o espaço geográfico
entendido como o sertão da capitania maranhense, bem como, a maneira pela qual os índios
foram sujeitos essenciais para a construção das fronteiras do Maranhão Colonial. E,
sobretudo, as relações que os grupos indígenas mantinham entre eles e com os colonizadores.
Através da documentação que listamos do acervo do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU),
referente a capitania do Maranhão, deparamo-nos com diferentes registros que revelam
claramente a luta de grupos indígenas ao longo do período seiscentista pela defesa das suas
terras, indicando elementos que possibilitam entender as diferentes agências que essas
populações tiveram que criar, ressignificando as suas práticas políticas e culturais. Os espaços
naturais do sertão maranhense onde se localizavam as nações Gueguê, Timbiras e Acoroás
foram palcos das ambições de conquistadores chamados de curraleiros. Paulatinamente, o
gado trazido de longínquas pastagens foi empurrado cada vez mais para o interior, invadindo
aldeias indígenas, e os conquistadores foram anexando mais territórios aos seus domínios.
Sobre essa questão, em 1793, por exemplo, temos o governador do Maranhão, Antônio de
Albuquerque Coelho Carvalho e o ouvidor geral Manuel Nunes Colares, escreve ao rei D. Pedro
II, acerca na necessidade de expedições ao sertão para a redução e civilização dos índios, em
resposta aos ataques hostis e roubos realizados pelos esses sujeitos os quais continuamente
estão invadindo aquelas fazendas e sertões, furtando, matando o gado vacum e cavalar, e os
moradores das ditas fazendas, e escravos dela, em forma que tendo-se devassado de várias
mortes. Os mesmos propõem que seja levantado guerra aos gentios que se encontravam no
rio Parnaíba e Itapecuru. O grupo indígena impedira o avanço da pecuária e o acesso
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português a outras regiões interioranas, devastaram as fazendas e currais na luta pelo domínio
de suas terras.

ST 44 | Povos indígenas da Amazônia Caribenha

Rudi Henri van Els (Universidade de Brasília – UnB, Brasil; Anton de Kom Universidade de
Suriname, Suriname); Reginaldo Gomes de Oliveira (Universidade Federal de Roraima – UFRR,
Brasil); Janaina Deane de Abreu Sa Diniz (Universidade de Brasília – UnB, Brasil).

A Amazônia Caribenha é uma região composta por todo o território da Ilha das antigas Guianas que
compreende o litoral Atlântico Norte entre o delta do rio Orinoco (Venezuela) e do rio Amazonas, pela
margem esquerda do rio Amazonas e do rio Negro, pelo Canal de Cassiquiare (Brasil/Venezuela) e a
margem direita do rio Orinoco. Essa região pode ser considerada uma ilha, bem como todas as outras
ilhas Caribenhas, pelo fato de estarem conectadas culturalmente entre América do Sul e o mar Caribe
pelos caminhos das águas: o Oceano Atlântico no Norte e pelos Rios Amazonas e Orinoco no Sul e no
Oeste. Diversos povos indígenas do tronco linguístico Arawak e Karíb, entre outras famílias indígenas
habitam essa singular região da Amazônia. A proposta do simpósio é reunir pesquisadores, estudantes
indígenas e ativistas para discutir o passado, presente e futuro dos povos indígenas da Amazônia
Caribenha. São povos da Amazônia que habitam distintos territórios nacionais, com separações por
meio das fronteiras políticas e pelas barreiras linguísticas. A ocupação colonial da região impôs
fronteiras políticas e linguísticas (Espanhol, Frances, Português, Inglês e Holandês) na posse dos
territórios dos vários povos indígenas e no controle de suas próprias línguas. Neste sentido, o objetivo
do simpósio é criar um fórum para trocas de ideias e produção de conhecimento sobre/ou junto com
os povos indígenas da região, além de estimular a criação de redes cientificas regionais de cooperação.

Memórias do Makeviyene: guerra, genocídio e (r)existência indígena na


invasão da Amazônia guianense, da perspectiva do povo Palikur/Arukwayene
do rio Urukauá

Ramiro Esdras Carneiro Batist


Luiz Yermollay Oliveira dos Santos
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Daniel da Silva Miranda


Nerry Ioiô dos Santos

A Guerra do Contestado entre franceses e luso-brasileiros pelo território do atual estado do


Amapá/Brasil, escamoteia um conjunto de conflitos pela ocupação europeia da cognominada
Goyana portuguesa que é evidenciada pela memória indígena de longo alcance, sobretudo no
que respeita a atuação de agentes mercantis holandeses que pouco aparecem na literatura
da região. A partir da historicidade narrada de Caribes e Aruaques que sobreviveram a
distintos ciclos de esbulho dos territórios costeiros entre São José de Macapá, na foz do
Amazonas; e o rio Maroni, nas proximidades de Caiena, é possível inferir que a invasão de um
número indefinido de ilhas caribenhas forçou o deslocamento de grupos Caribe a partir da
costa venezuelana, colocando-os em rota de colisão com os grupos Aruaque que dominavam
da costa do rio Oiapoque (Vicente Pinzõn) até o Amazonas. Aparentemente, o deslocamento
de grandes contingentes humanos de matriz Caribe interrompeu e ressignificou uma antiga
rede de comércio e escambo entre os Galibi-Kalinã e os Palikur-Arukwayene, inaugurando um
período de guerras de extermínio capitaneados por agentes batavos ao lado dos Caribe Kalinã,
e por milícias francesas aliadas aos contingentes Aruaque Palikur. O escrutínio das Memórias
dessa Guerra recolhidos na pesquisa com o objetivo de desvelar os códigos da belicosidade
ameríndia que se traduzem na “inimizade com regras”, tem se consolidado no decorrer dos
trabalhos de tradução e transcrição, como metanarrativas da invasão colonial que detalham
a participação de agentes mercantis ingleses, franceses e neerlandeses no decurso de
trezentos anos de invasão, ao tempo em que demonstram movimentos de resistência,
acomodação e extinção de distintas etnias e clãs indígenas, ao tempo em que consolidam a
instalação das bases coloniais europeias em toda a costa caribenho-guianense.

Fifty years of primary health care among the Indigenous peoples in the
hinterland of Suriname: successes and challenges

Marthelise Eersel

The Amazonian Indigenous people living in the southern and south-western hinterlands of
Suriname have come into contact with western health care approximately fifty years ago. We
used secondary data from annual reports to assess the impact of Medical Mission’s fifty-year
old primary health care program on the health status of these people. Over this fifty year
period, the incidence of respiratory tract infections and gastroenteritis had declined by about
75% and 53%, respectively, while malaria incidence declined to elimination levels. Crude death
rates also dropped by about 70% while birth rates declined by about 50%. The population size
doubled and increased particularly in the age group of 59 years and older. The infant mortality

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rate declined by 50% approaching the national average of Suriname. This significant decline
of the infectious disease burden and in death rates indicates that Medical Mission’s program
achieved its goal of impacting the health and survival of the Indigenous people by providing
free, accessible and permanent medical services. Building upon this successful experience
Medical Mission will be instrumental as well in addressing the slowly but steadily increasing
life style related non communicable diseases.

A produção cerâmica entre os povos de línguas Karib na Amazônia Caribenha

Meliam Viganó Gaspar

Povos falantes de línguas Arawak, Karib, Tupi e outras famílias linguísticas há muito interagem
entre si na região das Guianas e Amazônia Caribenha, ultrapassando em suas redes de
relações as barreiras linguísticas e fronteiras políticas (p. ex. Gallois 2005; Hofman,
Duijvenbode 2011). A partir do ponto de vista da arqueologia, é possível refletir como essas
relações têm sido materializadas e como foram construídas ao longo do tempo. Para
contribuir com estas reflexões, apresento os resultados de minha pesquisa sobre as possíveis
relações entre identidades de povos falantes de uma dessas famílias linguísticas, o Karib, e sua
materialização na produção de vasilhas cerâmicas, material muito estudado
arqueologicamente. Conjuntos cerâmicos arqueológicos foram muitas vezes relacionados à
famílias linguísticas específicas, como a cerâmica da Tradição Inciso-Ponteado aos povos de
línguas Karib (Lathrap 1970; Neves 2008). No entanto, pouco sabemos sobre como
identidades etno-linguísticas podem ser materializadas na produção cerâmica no caso dos
povos indígenas na Amazônia e, mais especificamente, na Amazônia Caribenha. Uma
contribuição para este debate é o estudo de vasilhas cerâmicas etnográficas em coleções
museológicas, complementado por informações de dados históricos, etnográficos e
linguísticos. Nesta comunicação, apresento os resultados deste estudo, procurando entender
os distintos estilos cerâmicos de diferentes povos de línguas Karib, assim como a associação
entre esses estilos em uma possível tradição de produção cerâmica relacionada à família
linguística Karib. A partir de níveis de visibilidade de técnicas no produto final e o contexto
social de cada etapa de produção (Gosselain 2000; Roux 2016), discuto sobre as relações entre
língua, povos e materialidade expressas na cerâmica neste caso específico. Entender como
essas relações se dão atualmente e no passado recente é fundamental para aprofundar o
entendimento da relação entre povos indígenas na Amazônia e sua cultura material,
discutindo como esses povos se relacionaram e expressaram estas relações também por meio
de objetos.

Makunaimã - O Mito Através do Tempo

Deborah Goldemberg
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A Semana de Arte Moderna de 1922 lançou as bases do movimento artístico que veio a ser
chamado de Modernismo, cuja característica principal foi a tentativa de criar uma arte
genuinamente brasileira, ao invés de mimetizar os movimentos artísticos europeus. Assim,
seu grande exponente Mário de Andrade mergulhou no Brasil “profundo”, bebendo de
mitologias indígenas e de matriz africana para criar. O romance Macunaíma, segundo
estudiosos, encapsula a identidade nacional de um país que, até então, tinha dificuldade (ou
relutância e resistência) em se ver como um, diante das tantas correntes migratórias
(voluntárias e não) que vieram se mesclar aos povos nativos do território. Esse
“encapsulamento” fascina, mas como todo espelho é difícil se ver e, também, muitos não se
vêem no herói sem caráter. Dentre esses que não se vêem, alguns porque nem tiveram acesso
à obra de Mário de Andrade, estão os povos indígenas que tem o mito de Makunaimã como
eixo da sua cosmologia, a maior parte residentes da TI Raposa Serra do Sol, mas também na
chamada Amazônia Caribenha. Em 2018, nas comemorações do aniversário da publicação de
Macunaíma, houve em São Pedro um evento realizado pela POIESIS, sob curadoria de Deborah
Goldemberg, que trouxe à tona a influência indígena sobre o romance de Mário de Andrade,
contando pela primeira vez com a participação de indígenas das etnias Taurepang, Wapichana
e Macuxi, vindos de Roraima - os povos de Makunaimã. Inclusive, este presente o neto do
narrador original do mito para o alemão Theodor Koch-Grunberg, Sr. Avelino Taurepang, da
Aldeia Bananal, TI Raposa Serra do Sol. Foi a primeira vez que ele próprio teve acesso ao
romance de Mário de Andrade e ao filme de Joaquim Pedro de Andrade. A obra literária
dramatúrgica– Makunaimã, O Mito Através do Tempo, ficciona o evento ocorrido em São
Pedro, baseado em falas dos participantes e fragmentos de palestras, assim como na mitologia
coletada pelo etnógrafo Theodor Koch-Grunberg (Década de 20) e material inédito, como
áudios de gravações feitas com indígenas Taurepang na Década de 90 (cedidos pelas
antropólogos Geraldo Andrello e Paulo Santilli) e as próprias narrativas mitológicas que os
indígenas apresentarem em São Pedro. Esse projeto conta com a participação e apoio de
todos os envolvidos, foi premiada pelo Ministério da Cultura no final de 2018 e será publicada
pela Editora Elefante em 2019. Os direitos autorais irão para os indígenas. A obra revisita os
pontos centrais que o Modernismo trouxe para a sociedade nacional, particularmente no que
diz respeito a identidade brasileira, mitologia & literatura e reparação aos povos originários.
Excepcionalmente, traz para esse debate vozes que jamais não foram ouvidas (aliás, nem
sabiam que estava em curso esse debate, ainda que fossem objeto dele) para falar de como
se sentem sobre sua mitologia ter servido de base para o Brasil se pensar como tal, a partir da
criação de artistas paulistas.

From Landscape management in the Pre-Columbia Guyana Shield to


Landscape management by the Wayana people today in Suriname (lessons
learned from our ancestores)

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Jupta Itoewaki e Andre Verhoogt

The Guiana Shield, is like the whole of the Amazon, a mosaic of varied landscapes, we have
Savannas (dry and flooded), Tropical rainforest, Inselbergs (Bornhardt) and Mesa (table-top
mountains in Guiana Highlands). A landscape, long been considered unsuitable for agriculture
by the Europeans. Our Ancestors lived in the Guiana Shield for more than 10.000 years, and
they were not only hunters and gatherers as many people believed, until recently.
Archeological research over the last 40 years, and more recent studies, demonstrates that our
ancestors did farm and transformed their landscape in suitable agricultural fields, sometimes
even with a lot of labor. In the Guianas we find Raised fields (mounds), Drained fields and
Agricultural beds. They have all been created by our ancestors starting at least 4000 years ago.
Our ancestors were not only skills farmers but also experienced water engineers. By doing so,
our ancestors created a new landscape, a landscape where they also created new biodiversity,
a new ecological system, which we can still see today. But how did they do it, and even more,
what can we learn from them. Through historical narrative, focal group meetings, and
literature we learn about historical land use management and current land use by Wayana in
their territory. They did not only changed the landscape but also introduced a variety of plants
and animals on places where they normally didn’t exists. Can we use their knowledge to
sustainable manage our Wayana territory? Treats as gold mining, pollution of water ways and
lack of regulations and inadequate policy of national government lead Wayana peoples, based
on their experiences and lessons learned, to new strategies for land use management.
Wisdom and Indigenous knowledge together with innovative technologies must preserve our
forest and our land.

Estratégias para preservar e defender nossa terra: o caso dos Povos Kaliña e
Lokono em Suriname

Josee Marie

Os povos indígenas de Suriname não tem o reconhecimento legal dos seus direitos sobre suas
terras. Vivemos numa era de incertezas. Quais possibilidades os povos indígenas em Suriname
identificam para passar para frente nossa terra onde moramos e usamos de modo tradicional
em favor de gerações passadas e futuras? Com uma abordagem baseado nos direitos
humanos e baseado em estudos de caso, entrevistas, grupos focais e diálogo com aldeões,
presentamos como leis nacionais, politicas e padrões e obrigações de direitos humanos
internacionais, impactam no processo de preservar e proteger a nossa terra. Construindo
sobre a experiência dos povos indígenas, providenciamos introspecções em estratégias
aplicadas para preservar nossa terra para gerações futuras. Identidade e metodologias

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indígenas são chaves neste processo. A estratégia empregada foi a abordagem internacional
de direitos humanas, que começou em uma petição em 2007 e resultou em 2016 no
julgamento do caso do povo Kaliña e Lokono versus Suriname pela Corte Interamericana de
Direitos humanos. A corte adotou uma serie de mandatos para remediar violações
considerando reconhecimento e garantia da personalidade legal e direitos territoriais, com
um prazo final de janeiro 2010. Como resultado, somente recentemente, povos indígenas e
tribais e o governo de Suriname desenvolveram um trajeto para essas obrigações. Estes
circunstâncias tornam desafiador a preservação e defesa do nosso território ancestral.

Educação Indígena nas Guianas: uma análise comparativa do direito dos


povos indígenas de ser educados nas sua própria língua

Ellen-Rose Kambel

A declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas, reconhece o direito destes de
estabelecer seu próprio sistema educacional providenciando ensino na sua própria língua e
também que os governos devem providenciar acesso a educação na sua própria cultura e
língua. Este comunicação examine as obrigações internacionais relativo a este direito nas três
Guianas: Guiana Francesa, Suriname e Guyana. Tanto politicas governamentais quanto
iniciativas lideradas pelos indígenas são analisados com seus obstáculos e oportunidades.
Povos indígenas na Guiana Frances, Suriname e Guyana tem desafios similares em contextos
políticos diferentes. Em adição a sua limitada influencia política e sua localização geográfica
distante dos centros, há desafios adicionais, incluindo o recrutamento de professores
competentes em pedagogias bilíngues. O maior obstáculo, entretanto parece ser a ideologia
dominante que o ensino deve ser fornecido na língua oficial, isto é, Frances, Holandês ou
Inglês. Desde os anos 1990, surgem politicas de educação multilíngue na Guiana Francesa, e
uma proposta de Lei de Línguas em Suriname (2006) pode providenciar possibilidades para
inclusão de línguas indígenas no currículo escolar, enquanto um programa bilíngue foi
recentemente iniciado em Guyana. Entretanto, Experiências em Suriname com iniciativas
comunitárias mostram que certas condições devem ser atendidos para uma integração
estrutural de línguas e culturas indígenas no sistema educacional.

Dijaawa Wotunnöi: La Historia Ancestral de Dijaawa

Kuyujani Saúl López e Hadit Montero

“Dijaawa Wotunnöi” es un mito ancestral y propiedad intelectual del pueblo indígena


Yekwana que fue recopilado y escrito por Kuyujani Saúl López, en Santa María de Erebato,
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Alto Caura, estado Bolívar, Venezuela. Participaron en la recopilación del mito, los siguientes
ancianos Yekwana: Federico López, Francisco Martínez, Ramón Rodríguez, y Cayetano Pérez.
El corto animado es una producción de Estudio Creativo Creaser con el apoyo de la
Organización Indígena de la Cuenca del Caura Kuyujani y el Humboldt Forum. Sinopsis: Un
hombre Yekwana es sorprendido por un espíritu enviado por las fuerzas del mal, el cual lo
llevará a enfrentar una serie de obstáculos que pondrán a prueba su inteligencia y su valentía.
A partir de este encuentro, su vida cambiara para siempre pues entrará en contacto con las
fuerzas de la naturaleza, haciendo posible el mestizaje con los murciélagos.

Diálogos de saberes interculturais Brasil - Suriname: uma narrativa da


experiência intercultural

Eliane Boroponepa Monzilar

O presente trabalho trata de relato de experiências de intercâmbio cultural de estágio de


doutoramento na Anton de Kom Universidade do Suriname, parte do projeto Diálogos de
saberes interculturais Brasil-Suriname da Universidade de Brasília. O objetivo é descrever
parte das experiências, vivências de aprendizagem e desafios, ressaltando as atividades
realizadas, as vivências pessoais, contatos na universidade e atividades de campo
desenvolvido durante o período da realização do intercâmbio nas comunidades tradicionais
em Suriname. O presente informe baseia-se, assim, em fontes bibliográficas, nos relatos dos
indígenas Surinameses e principalmente da própria autora, doutorando indígena em
antropologia cultural, que tem na observação participante a sua maior fonte de dados. O
intercâmbio proporcionou a troca de experiências e convivências, partilha de saberes e uma
grande diversidade linguística entre os grupos étnicos: Kalinya (Carib), Lokono (Arowak)
Wayana e Trio. As experiências vivenciadas nas comunidades indígenas foi uma oportunidade
de conhecer os hábitos e a peculiaridade de diferentes povos, criando novas perspectivas de
rede de relações entre os indígenas, auxiliando na superação de dificuldades e enfrentamento
de desafios. As experiências de intercâmbio cultural permitiram uma aproximação de novas
realidades práticas, saberes culturais e linguísticos contribui para o incentivo e intensificação
da valorização e fortalecimento cultural entre os povos indígenas.

Produtos indígenas do Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro,


Amazonas/Brasil: dos circuitos invisíveis de comercialização à valorização a
partir de inovações locais

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Ilma Fernandes Neri


Janaína Deane de Abreu Sá Diniz
Laure Emperaire

O Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro (SAT-RN), entendido como um conjunto de


saberes e expressões diferenciados que tratam do manejo do espaço e das plantas cultivadas,
da cultura material associada e das formas de se alimentar das populações indígenas da região
do Rio Negro, foi registrado como patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional (IPHAN) em 2010, em reconhecimento à rica agrobiodiversidade
desenvolvida ao longo dos anos por essas comunidades. Apesar de manterem uma abundante
e diversificada produção em suas roças e quintais, que atendem ao autoconsumo das famílias
e de suas redes de parentesco e vizinhança, as populações indígenas da região encontram
dificuldades para inserir seus produtos em circuitos mais formais de comercialização. O
presente trabalho descreve, em um primeiro momento, algumas iniciativas inovadoras de
salvaguarda e valorização da agrobiodiversidade na região do Rio Negro, como o “Conselho
da Roça”, a Feira “Direto da Roça” no município de São Gabriel da Cachoeira e o Projeto
“Pimenta Baniwa” no Alto Rio Negro. Em um segundo momento, são discutidas outras
experiências de valorização de produtos locais no município de Santa Isabel do Rio Negro para
promover a agrobiodiversidade das roças indígenas, sendo eles a Feira e o Mercado
municipais, a Feira do Bairro São José Operário e o Projeto Cadeia Produtiva do Rio Negro,
com ações voltadas principalmente para o desenvolvimento de novos produtos a partir da
desidratação de espécies vegetais da região, como açaí (Euterpe oleracea), cubiu (Solanum
sessiliflorum), tucumã (Astrocaryum aculeatum), entre outros, além de diversos derivados de
mandioca (Manihot esculenta). Dentre as dificuldades para inserção desses produtos em
circuitos formais de comercialização, podemos citar a falta de apoio técnico e administrativo
à produção e comercialização pelas instituições públicas locais, priorizando soluções externas
e não valorizando os conhecimentos tradicionais. No presente evento, espera-se situar essas
experiências em torno do SAT-RN nos contextos das comunidades indígenas da Amazônia
Caribenha e Latino-americana, possibilitando intercâmbio e cooperação entre organizações
indígenas, instituições de apoio e comunidade acadêmica para reflexão sobre os desafios à
proposição e continuidade de tais iniciativas de conservação e valorização dos recursos
naturais e dos saberes locais, de forma inovadora e integrada às tecnologias atuais.

Amazônia Caribenha

Reginaldo Gomes de Oliveira

O conceito Amazônia Caribenha, como um contexto regional internacional em formato de


ilha, no Norte da América do Sul, surgiu durante os debates e estudos dos pesquisadores da
Universidade Federal de Roraima, que tinham como base teórica a literatura histórica e a
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cartografia neerlandesa. Eram informações históricas e cartográficas que deram visibilidades


aos relatos dos viajantes europeus do final do século XV ao século XVII, com narrativas
socioculturais, revelando aspectos do encontro com os povos indígenas na ilha da Guiana.
Historicamente, o termo Guiana foi emprestado da língua dos povos indígenas Arawak e
significa “terra de muitas águas” ou “terra de muitos rios”. Nesta perspectiva histórica, ao dar
visibilidade a ilha da Guiana no século XXI, com apoio teórico-metodológico dos estudos pós-
coloniais, os pesquisadores homenagearam os povos indígenas Karíb, que ainda são maioria
nesta singular região da Amazônia, em diálogo cultural com os povos das ilhas Caribenhas. Os
estudos históricos, etno-históricos e antropológicos, têm mostrado nas últimas décadas os
diferentes caminhos históricos e os processos culturais que exerceram o controle geopolítico
dos povos indígenas Karíb: Pemon, Ingarikó, Patamona, Akawaio, Warau, Makuxi, Wai Wai,
Kalina, no contexto territorial Circum Roraima, com deslocamentos entre os países que
ocupam a referida Amazônia Caribenha: Brasil, Venezuela, Guyana, Suriname e Departamento
Ultramar da França.

Os Povos Indígenas do tronco linguístico Karíb e Arawak na Amazônia


Caribenha: deslocamento indígena no passado e hoje

Reginaldo Gomes de Oliveira

O presente trabalho tem como foco uma abordagem e discussão sobre o encontro dos povos
indígenas do tronco linguístico Karíb e Arawak com os europeus no passado colonial, como
também no tempo presente do século XXI com as sociedades nacionais. Hoje, são povos
indígenas e sociedades nacionais que integram o contexto regional amazônico das Guianas,
ou Amazônia Caribenha. Estes povos, que ainda preservam seus processos culturais e
históricos, desenvolvem variadas acepções em diálogo mítico com as lendas e rituais da região
Circum Roraima, fortalecendo os contatos e deslocamentos regionais amazônicos, ampliando
e diversificando os processos de línguas e culturas indígenas.

Índios do Baixo Rio Branco: Extintos, Assimilados ou Miscigenados?

Abraão Jacinto Pereira

O título desse trabalho traz em si seu tema e a missão de: reencontrar e reelaborar, na esteira
de diversos autores desde a colonização até os dias atuais, uma abordagem histórico-social
sobre a ocupação dos não-índios nas terras do Baixo Rio Branco as consequência que
trouxeram para os povos que ali habitavam. Bem como descrever como aconteceu o
desaparecimento de povos e culturas que ali viviam, buscando sintetizar neste trabalho a
longa e árdua jornada de sobrevivência dos povos Maku e Aruaque (Baré) e o processo de

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assimilação dos povos Pauxiana, Arawa, Atorai e Parauana. Não faremos como uma descrição
histórica, mas sim como uma provocação a respeito dessas populações que segundo autores
Acunã e D’Almada ocupavam toda a região do baixo rio branco.

Histórias e cosmologia indígena Macuxi no contexto da Amazônia Caribenha


na Tríplice Fronteira – Brasil, Guyana e Venezuela

Enoque Raposo

O objetivo deste trabalho é analisar o processo da valorização e preservação da cultura


milenar dos povos indígenas que habitam o território da tríplice fronteira: Brasil, Venezuela e
Guyana. Em grande parte, são povos do tronco linguístico Karíb, que possuem no processo
cultural os mitos e lendas da região Circum Roraima. Neste contexto amazônico caribenho, o
nosso estudo se debruçou para a terra indígena Raposa Serra do Sol, no território do povo
Macuxi, em Roraima. O referido estudo abriu possibilidades para uma análise acerca das
perspectivas históricas e cosmológicas, destacando à dimensão ontológica ameríndia na
relação topofílica dos nativos Macuxi com este singular espaço amazônico, assim como seus
planos de manejos das terras indígenas.

A materialidade das redes: cultura material e saberes técnicos sob uma


perspectiva arqueológica e etnográfica

Igor Morais Mariano Rodrigues


Camila Pereira Jácome
Marcony Lopes Alves
Élber Lima Glória

Apesar das diferenças culturais, linguísticas e históricas dos povos ameríndios que vivem no
Escudo das Guianas, uma série de características comuns fundamenta o recorte analítico de
uma área etnográfica (Roth 1924; Rivière, 2001; Gallois 2005; Whitehead, 2009) que abriga a
existência de grandes redes de troca de objetos e de circulação de pessoas e saberes (Barbosa,
2005; Colson, 1973, 1985). Os documentos e crônicas coloniais mostram que essas redes eram
frequentes desde o início da invasão europeia e que provavelmente datam de períodos pré-
colombianos (Dreyfus, 1993; Arvelo-Jimenez; Biord, 1994; Whitehead, 1988). Considerando
que através dos materiais podemos estudar desde o passado pré-colonial até o presente
etnográfico, pretendemos abordar essas redes numa perspectiva diacrônica através da
observação e comparação da materialização de saberes técnicos aplicados a diferentes
produções artefatuais. Nossa apresentação engloba três categorias de materiais: pedras,
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cerâmica e cestaria. A principal área de estudo é a bacia do rio Trombetas, com seus afluentes
Cachorro e Mapuera. Em termos teóricos, a perspectiva dos estudos sobre tecnologia permite
pensar a transmissão de conhecimento em relação ao trabalho das diferentes matérias primas
e na existência de repertórios comuns, bem como aspectos particulares, entre áreas distintas
– e não apenas troca de objetos acabados (Letchman,1977; Lemonnier, 1992; Reedy, Reedy,
1994). Buscamos mostrar como em diferentes escalas é possível pensar em redes pré-
coloniais de circulação de objetos, pessoas e saberes. Em escala local, por exemplo, no baixo-
médio curso do rio Mapuera, um conjunto de elementos permite pensar em
compartilhamentos que ligam diferentes sítios. Em escala regional e pan-regional,
combinando as Guianas, baixo Amazonas, estuário e mar do Caribe, os contextos
arqueológicos que datam de até mil anos, compartilham conjuntos de artefatos específicos,
como vasilhas e estatuetas cerâmicas e artefatos líticos, com pendentes (muiraquitãs) e
estatuetas zoomorfas. A cestaria, categoria de difícil preservação em contextos arqueológicos,
mas que, por ser tradicional, ainda está presente em várias esferas da vivência dos povos das
Guianas, é uma produção extremamente rica para comparações entre saberes técnicos locais
e regionais. Podemos observar a existência de compartilhamentos no que diz respeito às
técnicas, objetos e seus usos, ao mesmo tempo em que determinados repertórios são
executados de maneiras próprias. Portanto, ao articular vestígios arqueológicos e objetos
etnográficos, em diferentes escalas de análise, pretende-se contribuir para o simpósio
oferecendo exemplos sobre particularidades, compartilhamentos, identidades e fronteiras
culturais das materialidades indígenas na Amazônia caribenha.

Diálogos de saberes interculturais Brasil-Suriname: registros de encontros


com povos e comunidades indígenas caribenhas no Suriname

Regina Coelly F. Saraiva


Eliane Boroponepa Monzilar
Maria Lúcia Gudinho
Hélio Rodrigues dos Santos
Louriene Castro e Adriel Silva Soares

Esta comunicação tem como objetivo apresentar e dialogar sobre a experiência de estudantes
brasileiros indígenas e quilombolas de graduação e pós- graduação do projeto Diálogos de
Saberes Interculturais Brasil – Suriname. O Projeto consiste em mobilidade acadêmica
internacional entre a Universidade de Brasília (UnB), Brasil, e a Anton de Kom Universidade
de Suriname (ADEKUvS), no Suriname, com a intenção de propor ações de aproximação
acadêmica entre as duas instituições em ações de ensino, pesquisa e extensão nas áreas
temáticas de valorização e estudo das especificidades socioculturais e linguísticas de povos

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indígenas e quilombolas; difusão de conhecimento da história e cultura indígena e afro-


brasileira, num contexto de cooperação internacional Sul-Sul e de cooperação internacional
solidária. Os estudantes têm tido a oportunidade de troca de saberes com povos e
comunidades indígenas surinamesas como os Powaka, Galibi, Bigiston e Pierre Kondre
Kwalasamutu, Redi Doti, Apoera, Nickerie river (Post Utrecht e Cupido) e Cassipora. A riqueza
dessa experiência intercultural tem se realizado desde 2016, quando teve início o projeto, e
os estudantes puderam compartilhar com povos indígenas do Suriname saberes tradicionais,
culturais, linguísticos, alimentares, experiências escolares e outros saberes. A experiência
proporcionada pelo projeto não parte simplesmente do pressuposto da “troca cultural”, mas
da formação de saberes construída de modo intercultural e coletivo. O projeto tem sido uma
oportunidade para os estudantes indígenas e quilombolas de se (re)conhecerem com os povos
indígenas surinameses, numa demonstração de que a riqueza cultural indígena no Brasil tem
muitos diálogos com as comunidades indígenas do Suriname. A comunicação será
apresentada pelos estudantes participantes do projeto para que suas falas possam ter
interlocução, num diálogo fértil, com outras experiências com os povos indígenas da
Amazônia Caribenha.

ST 45 | Povos indígenas isolados, livres ou autônomos: direito à existência e


à auto-determinação

Adriana Maria Huber Azevedo (Conselho Indigenista Missionário – CIMI, Brasil); Sarela Paz
Patiño (Universidad Mayor de San Simón, Cochabamba, Bolivia).

Na Amazônia há informações da existência de cerca de 150 povos indígenas que deliberadamente


evitam contatos permanentes com as sociedades envolventes, denominados de “isolados”, “em
isolamento voluntário” ou “livres”. A expansão sobre seus territórios de diferentes frentes econômicas
e grandes projetos de infraestrutura vem acompanhada por uma violência sistemática, de genocídio,
deslocamentos forçados e fragmentação dos territórios destes povos. A inexistência de mecanismos
de cooperação entre Estados, o uso de critérios e marcos legais distintos em cada país para o
reconhecimento de suas territorialidades (muitas vezes transfronteiriças), assim como a ação
deliberada por parte de diversos entes governamentais visando a concessão e usurpação de territórios
indígenas aumentam a sua vulnerabilidade e a falta de garantia de seus direitos. Isto apesar da
existência de dispositivos legais favoráveis a estes povos no âmbito internacional (ONU, OEA, OIT,

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CIDH). Qual é o futuro dos povos isolados? Que planos, políticas, instrumentos ou legislação dos
estados na região estão ajudando ou podem ajudar a que enfrentemos a situação de violência a que
se encontram expostos? Que mudanças estão se produzindo nos Estados para que o etnocídio esteja
sendo praticado sem nenhum reparo moral e ético na política? Estas são algumas das perguntas que
o Simpósio busca aprofundar e analisar para estabelecer parâmetros que deveriam ser de
compromisso para os Estados e a sociedade civil da região.

O que significa ser “recém-contatados”? A política governamental para os


povos indígenas de “recente contato” e seus dilemas conceituais

Adriana Maria Huber Azevedo


Christian Ferreira Crevels

O início da história das discussões realizadas no âmbito interno da FUNAI sobre a necessidade
de construir uma política específica de proteção para os povos indígenas isolados remonta ao
1o Encontro de Sertanistas, ocorrido em 1987, que resultou na instituição do Sistema de
Proteção ao Índio Isolado. Ali se consensuaram diretrizes como o reconhecimento da ameaça
de extinção, a urgência de mapeamento das referências e a necessidade de proteger os
indígenas isolados sem contatá-los. A política de proteção aos povos indígenas isolados, desde
suas primeiras formulações, prevê que o mesmo setor da FUNAI responsável pelo
monitoramento e a proteção dos povos indígenas isolados também se encarregue de atender
os povos hoje referidos pelo governo como “recém-contatados”. Dentro da estrutura
narrativa dos documentos administrativos/ programáticos em questão, estes povos “recém-
contatados” (seja enquanto parte de um único sintagma nominal designando os destinatários
da ação governamental de modo conjunto; seja enquanto tópico textual separado) aparecem
quase sempre depois dos povos “propriamente isolados”, de um modo que leva a
subentender que eles são, de certa forma, concebidos como povos semelhantes aos povos
isolados (uma subcategoria/ extensão destes), ou então como aquilo que os isolados se
tornaram/ tornarão diante de um eventual fracasso da política de proteção sem contato. Ao
longo da última década, entretanto, a FUNAI promoveu e participou de diversas reuniões no
intuito de construir um marco conceitual consistente para orientar seu trabalho de promoção
dos direitos dos vinte e três povos atualmente chamados por ela de “recém-contatados”.
Marco conceitual esse que deveria então superar o evolucionismo implícito de uma
terminologia que classifica coletivos em função unicamente da antiguidade/ intensidade da
sua relação com a sociedade luso- brasileira. Não obstante, a manutenção da terminologia
temporal, e a adoção de um critério epistemológico/ comportamental identificando ausências
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(o “reduzido domínio dos códigos” e a “reduzida incorporação dos usos da sociedade


envolvente”) como denominadores comuns, para poder definir destinatários e estratégias de
implementação de políticas possuem diversas implicações problemáticas. O presente artigo
visa refletir sobre os dilemas conceituais inerentes à política estatal para os povos “recém-
contatados” a partir de uma etnografia do discurso político e das narrativas/ análises
suruwaha, deni e juma sobre seus “contatos” históricos com “outros”.

La importancia del enfoque basado en el respeto a los derechos


fundamentales y de la dimensión ético-politica al abordar la situación de los
pueblos indígenas en aislamiento

Beatriz Huertas Castillo

La Amazonía peruana alberga una diversidad de pueblos o segmentos de pueblos indígenas


denominados “en aislamiento” por limitar sus interacciones con personas ajenas a sus propios
grupos. Presentan altos niveles de autonomía y a la vez condiciones de vulnerabilidad en los
aspectos inmunológico, sociocultural, territorial y político. La sensibilidad de su situación ha
significado el desarrollo de un enfoque, una propuesta y una práctica, construidos desde los
años noventa por líderes y lideresas indígenas, especialistas, representantes de
organizaciones no gubernamentales y las Naciones Unidas, con el objetivo de promover la
protección de su integridad física, sociocultural y territorial. Entre los pilares de este enfoque
se encuentra, de un lado, el respeto a su forma de vida y decisión de limitar sus interacciones
con el entorno, y, de otro, la necesidad de generar las condiciones apropiadas para que, si se
produjera un incremento de interacciones por voluntad propia de estos pueblos, estas no
desencadenen los negativos impactos que suelen tener sobre su salud, forma de vida,
territorios y continuidad sociocultural. En contraposición, en los últimos cinco años,
antropólogos de universidades nacionales y extranjeras han venido cuestionando el enfoque
de protección y garantía de derechos, habiéndolo reducido únicamente a lo que han
denominado la postura del “no contacto” o “leave them alone” y atribuyéndole una
inclinación hacia lo que señalan como la “fetichización” de estos pueblos. A la vez, han
promovido iniciativas como la del llamado “contacto controlado”, lo cual significa que serían
los gobiernos, antropólogos u otros agentes externos los que tendrían la potestad de llevar
adelante el establecimiento de relaciones directas y sostenidas con estos pueblos, por encima
de su propia decisión y sin tomar en cuenta los negativos efectos que este tipo de acciones ha
tenido sobre ellos. La tergiversación que ha sufrido el enfoque de protección y garantía de
derechos de los pueblos en aislamiento, de la mano con la difusión de la propuesta del
contacto controlado o de planteamientos similares, podría abonar en la flexibilización de los
principios y estándares de protección existentes para estos pueblos, favoreciendo la
aplicación de metodologías directas de recopilación de información antropológica, en la que

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los pueblos en aislamiento serían los objetos de estudio, y la implementación de acciones,


gubernamentales o privadas, dirigidas a promover su integración forzada a la sociedad
envolvente, exponiéndolos a las conocidas consecuencias de estas sobre su integridad física,
sociocultural y sus derechos, y liberando sus territorios a favor de la promoción de proyectos
de inversión en ellos.

Construcción del discurso visual tecnológico de “etnias no alcanzadas” por


parte de la misión evangélica Nuevas Tribus: un estudio web a inicios del siglo
XXI

Juan Fabbri

La “New Tribes Mission” o en español “Misión Nuevas Tribus” (MNT) es un grupo de


misioneros y misioneras de creencias cristianas protestantes que se dedican al contacto y la
evangelización de naciones indígenas en situación de aislamiento voluntario. Bajo su lema
“alcanzando a los no alcanzados” trabajan en América Latina, África y el Pacífico Asiático.
Algunos países donde llevan su mensaje son Bolivia, Brasil, Costa de Marfil, Guinea, Papúa
Nueva Guinea, Paraguay, Tanzania, entre varios otros. Los misioneros y las misioneras
provienen, principalmente, de EEUU, Reino Unido, Noruega, Alemania, Italia y Canadá. En su
práctica se manifiestan relaciones geopolíticas de poder entre los misioneros provenientes de
países del Norte y lo “no alcanzados” habitantes de países del Sur. La MNT en el año 2015 se
destaca por la utilización de internet como parte de su agenda religiosa. Mantienen cuentas
virtuales en Facebook, YouTube, Twitter, Pinterst, Vimeo y GodTube. Su sitio web oficial
difunde diariamente información sobre sus actividades. Este portal puede ser visitado en más
de nueves idiomas entre los que se encuentran: inglés, español o italiano. En estos portales
virtuales difunden una gran cantidad de videos y fotografías tanto del oficio misionero como
de los naciones indígenas que evangelizan. La presente investigación se concentró en estudiar
como la MNT construye un discurso visual tecnológico de “etnias no alcanzadas” a través de
la producción de videos, fotografías y sitios web en el ciberespacio. La tesis presenta un interés
por las políticas de representación y la reactualización de discursos de exotismo y buen salvaje
en la producción de imágenes sobre los “no alcanzados”. En el marco de la antropología como
crítica cultural, la investigación presenta cruces entre la antropología visual, la antropología
virtual y la historia de la disciplina antropológica.

A contribuição das organizações indígenas para defesa dos direitos dos povos
indígenas isolados

Angela Amanakwa Kaxuyana

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No Brasil, o Estado – por meio da Funai - contabiliza 114 registros da presença de povos
indígenas isolados, sendo 28 confirmados. Atualmente, os povos isolados estão expostos a
ameaças crescentes, tais como o avanço do desmatamento, da exploração mineral,
madeireira e dos empreendimentos estatais de infraestrutura sobre seus territórios na
Amazônia que, associadas à fragilização das políticas públicas, constituem cenário
preocupante para a sobrevivência desses povos. Essa realidade requer uma maior
participação indígena na definição e implementação da política pública direcionada aos povos
isolados. Há casos de povos indígenas que já exercem um papel importante na proteção de
seus territórios e dos espaços ocupados pelos isolados, como no Maranhão e no Vale do Javari
(AM). No entanto, o empoderamento político dos povos indígenas para o tema “isolados” é
uma realidade relativamente recente no Brasil. Desde 1987, quando iniciou a construção da
atual política pública de respeito à autonomia dos povos isolados, a contribuição das
organizações indígenas é promovida pelo Estado de forma bastante incipiente. Nesse sentido,
os avanços das fronteiras econômicas sobre os territórios dos povos isolados e o
sucateamento das políticas indigenistas, provocam fortes debates atuais nos espaços
indígenas de discussão, sobretudo sobre quais os papéis e estratégias as organizações
indígenas devem adotar para a salvaguarda dos direitos (e territórios) dos povos indígenas
isolados.

Povos indígenas isolados, a busca extrema da autonomía

Lino João de Oliveira Neves

No contexto colonial que historicamente marca as relações dos Estados nacionais com os
povos indígenas na América Latina, os mais vulneráveis são, inegavelmente, os chamados
povos isolados. Ignorados, negados em sua existência, os povos isolados estão submetidos a
constantes agressões por frentes de expansão da sociedade nacional interessados na explosão
de recursos naturais existentes em seus territórios como por empreendimentos públicos de
desenvolvimento nacional ou regional. Ao contrário do que supõe o senso comum
preconceituoso e desinformado, os “isolados” não viveram sempre em partes remotas da
floresta inacessível sem contato com o mundo do branco. Os “Povos Indígenas em Aislamento
Voluntario” (PIAV), como hoje têm sido chamados, são grupos étnicos que por razões diversas
se retiram para o interior das florestas que lhes garantiam, e lhes garantem ainda hoje, um
certo espaço de possibilidade de existência social longe as interferências promovidas pelo
mundo ocidental. Os PIAV são, assim, o exemplo mais forte, mais gritante, de povos que após
experimentarem a violência da subordinação imposta pela superioridade epistemológica do
pensamento colonizador do mundo ocidental moderno buscam no resguardo da distância
social, no isolamento das florestas, a possibilidade de manutenção de sistemas sociais,
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culturais, políticos e epistemológicos próprios, sistemas que desde sempre lhes vem
garantindo a autonomia, ainda que em contato esquivo com outros povos.

Analisis de los estándares de protección efectiva de los derechos humanos de


los pueblos indígenas en situación de aislamiento y en situación de contacto
inicial en el Perú

Héctor Francisco Rodríguez Pajares

Los pueblos indígenas en situación de aislamiento y contacto inicial (PIACI) representan, a


todos los niveles, los grupos humanos más vulnerables que habitan dentro del territorio del
Estado Peruano. Perú es uno de los siete países en América Latina con presencia de pueblos
indígenas en situación de aislamiento y contacto inicial. En la Amazonía peruana habitan, por
lo menos, veinte grupos étnicos reconocidos, pertenecientes a dos familias lingüísticas,
Arawak y Pano, que se encuentran en situación de aislamiento y/o contacto inicial. Casi todos
estos grupos se localizan en zonas remotas de la región amazónica del país y se encuentran
distribuidos entre las regiones de Junín, Huánuco, Loreto, Cusco, Ucayali y Madre de Dios. Los
pueblos indígenas en situación de aislamiento son aquellos que no han desarrollado
relaciones sociales sostenidas con los demás integrantes de la sociedad nacional o que,
habiéndolo hecho, han optado por descontinuarlas. De otro lado, los pueblos indígenas en
situación de contacto inicial son aquellos que si bien anteriormente fueron pueblos en
aislamiento, estos han comenzado un proceso de interrelación con los demás integrantes de
la sociedad nacional. La situación de estas poblaciones es de una extrema vulnerabilidad ya
que por sus características y condiciones de existencia no han desarrollado mecanismos de
protección inmunológica y biológica ante enfermedades epidémicas comunes que pueden ser
portadas y transmitidas por cualquier persona que esté fuera de su entorno. De acuerdo a
fuentes oficiales, estos pueblos enfrentan diversos tipos de amenazas contra su integridad
física, su continuidad histórica y cultural, la demografía de su población y su propiedad
territorial, cualquiera de las cuales podría desencadenar la desaparición de sus miembros. En
los últimos años el Estado peruano ha adoptado e implementado algunas medidas de
protección a favor de estos grupos. En el año 2006, se aprobó la Ley N° 28736 o “Ley para la
protección de pueblos indígenas u originarios en situación de aislamiento y en situación de
contacto inicial”. Esta norma reconoce la existencia de poblaciones indígenas en situación de
aislamiento y contacto inicial en la región amazónica del Perú y establece un régimen de
protección territorial con la creación y reconocimiento de Reservas Indígenas a su favor. De
esa manera, mediante la ley para la protección de pueblos indígenas en situación de
aislamiento y en contacto inicial se constituyen Reservas Indígenas como hábitats intangibles
para estos grupos. Según el reglamento de esta disposición legal, el Decreto Supremo N°008-
2007- MIMDES, se otorga competencias al Ministerio de Cultura, a través del Viceministerio

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de Interculturalidad4 como ente rector de la política nacional de protección para los pueblos.
Este sector ha reconocido e identificado a un número importante de pueblos en aislamiento
y en contacto inicial y ha establecido áreas conocidas como Reservas Indígenas para su
protección. Además, a través de numerosos informes, dicho ministerio ha señalado que los
territorios de estos pueblos –enormes extensiones de bosques tropicales remotos de la
Amazonía y las zonas transfronterizas- sufren amenazas permanentes que pueden poner en
peligro su vida. A pesar de los avances en la política nacional de protección de los PIACI y de
la implementación de sus instrumentos técnicos; de la creación de Reservas Indígenas como
áreas de protección exclusiva para la existencia de los PIACI; y de la adopción de medidas
prevención ante el avistamiento, hallazgo y encuentro con estas poblaciones, existen una serie
de amenazas sobre estos pueblos que continúan poniendo en riesgo la vida de sus miembros
y la continuidad histórica y cultural de sus pueblos. En primer término, el propio Reglamento
de la Ley N°28 736 o Ley para protección de los PIACI en el Perú, establece disposiciones que
podrían vulnerar los derechos de estos pueblos. Por el ejemplo el inciso c) del artículo 5°
permite el aprovechamiento de recursos naturales y su explotación al interior de las reservas
para pueblos en aislamiento si se declara a través de una norma como de necesidad pública.
En estos casos la promoción, aprobación y ejecución de grandes proyectos de inversión
privada o pública para la ejecución de actividades extractivas que generen desarrollo
económico por parte del Estado ha significado un riesgo grave para estas poblaciones
vulnerables. Uno de aquéllos casos significativos es el de la ampliación de actividades de
exploración y explotación de gas en el Lote 88, cuyos impactos sociales y ambientales han
afectado y causado enfermedades y muerte entre poblaciones indígenas Nanti en contacto
inicial que habitan dentro de la Reserva Territorial Kugapakori, Nahua, Nanti reconocida por
el propio Estado. En otros casos, es la adopción de medidas legales como la promulgación de
la Ley No 30723 por parte del Congreso de la República que declara de “prioridad e interés
público la construcción de carreteras en zona de frontera y el mantenimiento de trochas
carrozables en el departamento de Ucayali” lo que pone en riesgo inminente de contacto
forzado y muerte a seis pueblos indígenas en aislamiento y contacto inicial identificados
(Mashco Piro, Mastanahua, Murunahua, Isconahua, Chitonahua, Amahuaca) que habitan las
Reservas Indígenas reconocidas y categorizadas legalmente Mashco Piro e Isconahua que en
conjunto abarcan 1.5 millones de hectáreas, además del Parque Nacional Alto Purús. Este tipo
de medidas promueve la construcción de carreteras y facilita el desarrollo de actividades como
la deforestación y el trasiego de productos ilícitos, lo cual propicia la movilización de personas
ajenas a las Reservas que pueden generar contactos con los PIACI y pueden transmitirles
enfermedades o desencadenar acciones violentas contra ellos. Asimismo, existen problemas
de gestión territorial debido a la falta de recursos y personal capacitado para desarrollar las
labores de monitoreo, supervisión y control a través de metodologías que no impliquen el
contacto forzado. Estos desafíos están siendo trabajados pero su demora también ocasiona
que las organizaciones indígenas hayan demandado una implementación más oportuna y
efectiva ante tantas amenazas que se ciernen sobre los territorios de estos pueblos. Estos

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problemas y otros que no han sido mencionados obedecen a múltiples factores. En algunos
de ellos es la voluntad política de instituciones públicas (Congreso de la República, Ministerio
de Energía y Minas, etc) de adoptar medidas y acciones lo que puede afectar los derechos de
los pueblos indígenas en situación de aislamiento y contacto inicial. En otros, la falta de
institucionalidad o la carencia de recursos dificultan la implementación y ejecución de
políticas, acciones y medidas concretas que permiten proteger a estos grupos. Más allá de
estas observaciones, consideramos que la Ley N° 28736 o “Ley para la protección de pueblos
indígenas u originarios en situación de aislamiento y en situación de contacto inicial” y otras
normas y directivas relacionadas a la protección de los pueblos indígenas en aislamiento y en
contacto inicial deberían adoptar algunos criterios y principios del derecho internacional de
los derechos humanos a su marco legal para garantizar los derechos de estos pueblos. A través
de la evaluación de los estándares internacionales y de la valoración de la situación de los
pueblos indígenas en aislamiento en el Perú comprenderemos si en nuestro país se están
aplicando estos criterios y principios en relación al respeto a la autodeterminación el principio
de no contacto que resguarde la vida, la salud y la cultura de estas poblaciones vulnerables.

Proyectos extractivos y territorialidad de los pueblos indígenas en


aislamiento voluntario en la Amazonia

Sarela Paz Patiño

Los pueblos indígenas en aislamiento voluntario de la Amazonia están viviendo en las dos
últimas décadas situaciones críticas relativas a la fragmentación y achicamiento de su
territorio por parte de los Estados. Éstos, comprometidos cada vez más con los proyectos
extractivos de minería, petroleo, madera y construcción de carreteras, se han dado la tarea
de ocupar y despojar territorios que son considerados por los pueblos en aislamiento
voluntario como territorios de refugio. Nada impide el avance que se viene produciendo desde
que hemos iniciado el siglo, peor aún, ni la legislación favorable a los derechos de los pueblos
indígenas en el contexto de NNUU está sirviendo como dispositivo que frene o limite el avance
de las actividades extractivas. En los últimos 10 años se ha detectado una zona en particular
de la Amazonía donde se observa que los pueblos en aislamiento voluntario se están
concentrando. La región del río Purus y los sectores aledaños que comprometen la Amazonia
de Brasil, Perú, Bolivia y el Ecuador, muestran los dilemas de pueblos indígenas que no quieren
vivir en contacto con lo que le llamamos "civilización" y Estados que sin ningún reparo
establecen políticas concesionarias de usurpación de territorios indígenas.

A condição de isolamento de povos indígenas no Brasil: direitos, resistências


e ameaças

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Amanda Pereira Serafim


Valkiria Pereira Serafim

A presença de povos indígenas isolados no Brasil, caracterizada pela ausência total ou parcial
de contato permanente com a sociedade, é uma demonstração da possibilidade do exercício
da liberdade, da autonomia e do direito de ser e existir desses povos. Dessa forma, este
trabalho objetiva: investigar a existência de povos isolados no território nacional, mais
especificamente no estado de Rondônia; analisar a legislação em vigor e a política indigenista
desenvolvida pelos órgãos competentes; verificar a vulnerabilidade que tais povos encontram
frente às ameaças do crescimento econômico, como a expansão do agronegócio, e o caso do
“índio solitário” em Rondônia, último sobrevivente da Tribo Indígena Tanaru, como um
símbolo de resistência. Para tanto, a pesquisa utilizou-se do método hipotético- dedutivo, que
parte da verificação de um problema e da elaboração de hipóteses, a partir das quais, deduz-
se as consequências e as contrapõem à realidade por meio da observação e experimentação,
pela pesquisa bibliográfica, mediante a leitura e análise da legislação vigente, pesquisas
científicas e tratados e convenções internacionais sobre o tema. Foi possível verificar que o
Estado, principalmente após a promulgação da Constituição Federal de 1988, implementou
uma política indigenista com o intuito de proteger os direitos desses povos. Sabe-se que os
objetivos dessa política são contrários aos interesses do agronegócio, uma vez que visa a
demarcação de terras, a manutenção de unidades de conservação e a interdição de áreas de
exploração ilegal. Assim, analisou-se o recente Decreto no 9.667, de 2 de janeiro de 2019, que
transfere a competência de identificar e demarcar terras indígenas da Fundação Nacional do
Índio (FUNAI) ao Ministério da Agricultura. O trabalho desenvolvido pela FUNAI mostra-se
necessário para os povos indígenas, em especial, os isolados, o que pôde ser verificado pelas
ações de proteção entorno do “índio solitário” em Rondônia, uma vez que este permanece
protegido há mais de 20 anos no estado. Também se verificou que em consequência das ações
de fazendeiros, grande parte da tribo Tanaru foi extinta, constatando que uma das principais
ameaças a esses povos se materializa na expansão do agronegócio. Para mais, foi possível
perceber que é necessário maior empenho por parte do Estado em intensificar ações de
fiscalização e proteção, apoiando os órgãos indigenistas em suas atividades para que haja
maior eficácia no trabalho de reconhecimento da autonomia dos povos isolados. Assim,
considerando o choque de interesses entre a política indigenista e a expansão do agronegócio,
constatou-se que o repasse de competência realizado por meio do decreto configura uma
possível fonte legitimadora das ameaças que os povos isolados vivenciam.

Os povos indígenas isolados e a luta global pela sua sobrevivencia

Sarah Shenker
Fiona Watson

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Existem mais de cem povos indígenas isolados ao redor do mundo. Elas não têm contato
pacífico com ninguém da sociedade dominante. É a escolha deles. Os indígenas isolados não
são relíquias primitivas de um passado remoto. Eles vivem aqui e agora. Eles são nossos
contemporâneos e parte vital da diversidade humana. Sabemos muito pouco sobre eles, mas
sabemos que eles têm um vasto conhecimento botânico e zoológico e uma compreensão
única sobre viver de forma sustentável. São os melhores guardiões dos lugares mais
biodiversos da Terra. Existem evidências irrefutáveis que territórios indígenas são as melhores
barreiras ao desmatamento. Os indígenas isolados são os povos mais vulneráveis do planeta.
Populações inteiras estão sendo dizimadas pela violência genocida de estranhos que roubam
suas terras e recursos, e por doenças como a gripe e o sarampo, às quais não têm resistência.
Todos os povos indígenas isolados enfrentam uma catástrofe, a não ser que suas terras sejam
protegidas. Da floresta amazonica ao Chaco no Paraguai, às Ilhas Andamão no Oceano Índico
e às florestas da Papua Ocidental, o panorama mudou muito para os indígenas isolados nos
últimos 50 anos. Tem tido melhorias impressionantes, por exemplo: - No Brasil, indigenistas
mudaram a política para proteger as terras dos povos indígenas isolados e permiti-lhes viver
como escolherem, em vez de forçar o contato e a “integração” na sociedade dominante.
Outros países copiaram este modelo do Brasil. - Aumentou muito a atenção que os indígenas
isolados recebem na mídia internacional. - Agora é mais difícil do que nunca negar a sua
existência, como alguns politicos e outros tentam fazer para facilitar o roubo de suas terras. -
Após pressão de indígenas contatados e seus aliados no Brasil e ao redor do mundo, teve
muitos sucessos para a proteção das terras dos indígenas isolados. - Leis e declarações
nacionais e internacionais agora garantem aos povos indígenas isolados os seus direitos
territoriais. - Indígenas contatados estão coordenando iniciativas para proteger a terra de seus
vizinhos isolados. Mas ao mesmo tempo, segue aumentando a pressão nas suas terras que,
em muitos casos, são os únicos lugares onde ainda existem recursos naturais valiosos que
outros querem explorar. O novo contexto político do Brasil exacerba ainda mais este contexto.
A história e experiencia mostram que a pressão pública internacional é a melhor forma de
garantir mudanças positivas para os povos indígenas isolados. A Survival é a única organização
lutando globalmente para parar o genocídio deles. Junto com indígenas contatados e seus
aliados, estamos fazendo tudo o que podemos para mudar a opinião pública internacional e
pressionar governos e empresas a proteger as terras dos indígenas isolados para que possam
sobreviver e prosperar da forma que eles escolherem.

Os Juma do Itaparanã os sobreviventes do massacre de 1964

Pedro Da Silva Souza


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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

A presente comunicação tem por objetivo trazer a público as informações reunidas pelo
Conselho Indigenista Missionário que apontam para a existência de um outro grupo de
indígenas do povo Juma sobreviventes ao massacre de 1964, sem ser aquele grupo conhecido
de dez pessoas que após escaparem de ser assassinados se mudaram para região do rio Içuã,
e foram contatados pelo Summer Institute of Linguistics a partir de 1965. Segundo relatos de
ribeirinhos e castanheiros do Rio Jacaré e os depoimentos dos próprios matadores, um
pequeno grupo teria conseguido fugir da emboscada ocorrida na maloca comunitária situada
no igarapé do Onça rio Itaparanã, e estariam vivendo atualmente nas cabeceiras dos igarapés
do Onça Braba e do Igarapé do Vedo; ambos afluentes do rio Jacaré, tributário direito médio
rio Purus. Nossos trabalhos de campo realizados em março de 2018 atestam a existência de
índios isolados nas cabeceiras do Rio Jacaré. No início do mês de fevereiro de 1964, o
comerciante Orlando da Silva França preparou uma expedição, composta de trabalhadores
rurais, com a finalidade de produzir 1sorva no igarapé Onça, afluente do rio Itaparanã. No mês
de março começaram a aparecer boatos na cidade de Tapauá de que os fregueses de Orlando
França, haviam entrado em confronto com os Juma, resultando em grande mortandade dos
indígenas. Mas, ninguém afirmava nada. Tudo o que se falava era na base do “ouvi” dizer sem
saber ao certo a fonte.

A contribuição da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas


na construção do reconhecimento da autonomia dos Povos Isolados e de
Recente Contato

Angélica Maia Vieira

Diante da atual conjuntura política que se instalou no país, marcada pela violência sistemática
e ameaças diretas aos direitos dos povos indígenas, tem-se observado o crescente discurso
sobre a necessidade de atrair, pacificar e emancipar aqueles que ainda se encontram em “total
isolamento”. Com o suposto objetivo de integrá-los à sociedade envolvente, cenário este que
contribuí para o genocídio dessas populações, o Estado adota estratégias que visam tutelar
seus territórios, negando- lhes o direito de exercerem sua autonomia e autodeterminação
enquanto povos livres que existem e resistem a nossa sociedade a partir de mecanismos
próprios que sustentam sua existência. Neste sentido, levando em consideração os direitos
indígenas constitucionalmente garantidos tanto pela legislação brasileira quanto pela
internacional, a presente comunicação busca refletir sobre a Política Nacional de Atenção à
Saúde dos Povos Indígenas como dispositivo legal capaz de contribuir para o fortalecimento e
reconhecimento da autonomia desses povos a partir dos princípios, diretrizes e estratégias
para a atenção à saúde dos PIIRC recomendados pela Portaria Conjunta 4.094, de 20 de
dezembro de 2018, que também orientam a construção dos Planos de Contingência e ações
de saúde para prevenir e controlar os agravos que podem acometer essas populações em

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

razão da vulnerabilidade imunológica que apresentam. Como foco de análise, tomarei por
base as ações de saúde desenvolvidas na região do Médio Rio Purus para o povo isolado Hi-
Merimã e o povo de recente contato Suruwaha.

Defensa del Territorio Matses - Peru

Rogelio Bina Cane

El territorio Matses está situado en la frontera con Brasil, limitado por el Rio Yaquerana. Antes
cuando existían mis ancestros Matses ellos movilizaban en todas partes, cruzando los ríos
Yaquerana, Chobayacu, Gálvez y al lado Brasil. Así se enfrentaban con los mestizos y no
dejaban entrar de dichas zonas. Por eso nosotros hijos de defensores del pueblo Matses
estamos perjudicados por la empresa maderera, y aun estamos organizando para defender
zona de mi pueblo Puerto Alegre. Hace varios años una empresa maderera entró en la zona e
hizo un acuerdo con una comunidad, y después con otra, terminando con acuerdos con 15
comunidades. La experiencia ha sido muy negativa: perdida de madera, fuga de animales.
Nuestra comunidad está tomando las medidas para evitar que los madereros entran en
nuestro espacio bajo el pretexto de estar trabajando en comunidades aledañas. Hemos
formado un grupo, un Comité, de cuatro personas que está trabajando con el GPS para
mapear nuestro territorio con exactitud. Queremos registrar todo lo que tenemos: ríos,
cochas, arboles. Nuestra organización está haciendo MANEJO INTEGRAL COMUNITARIO DEL
TERRITORIO DE PUERTO ALEGRE, para realizar las actividades siguientes: 1. Abrir trochas en
los limites 2. Formar comité de vigilancia de conservación. 3. Registrar los árboles 4. Registro
de las cochas y manejo de pisigranjas. 5. Plantaciones forestales 6. Maloca ancestral para
aprendizaje de arte, plantas medicinales, historia, cantos Matses, y otros. Tenemos la
Asociación se llama AJUMA - Asociación de Juventud Matses. Al poco tiempo de fundar la
Asociación tuvimos que tomar nuestra iniciativa para investigar un invasión en el territorio por
extraños. Ahora estamos queriendo contactarnos con aliados para estudiar formas de un
desarrollo responsable y sostenible de nuestros bosques. No queremos la presencia de
madereros.

A efetividade da política de invisibilização dos povos indígenas isolados

Guenter Francisco Loebens

A Funai (Fundação Nacional do Índio) reconhece a existência de apenas 28 povos ou


segmentos de povos indígenas isolados no Brasil de um total de 114 registros que constam na
listagem do órgão indigenista como referências e notícias. Esta relação, no entanto, não é
tornada pública fazendo parte da política governamental de proteção, sob o argumento de
que sua localização geográfica aproximada poderia expor estes povos à violência dos
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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

invasores de seus territórios ou mesmo à ação de igrejas fundamentalistas. Verifica-se na


Amazônia um crescente aumento da invasão dos territórios desses povos, inclusive em áreas
indígenas demarcadas, onde estão criadas todas as condições para ocorrência de massacres,
como vem sendo noticiado, bem como obras de infraestrutura já construídas ou em estudo,
sem considerar sua presença. São muitos os exemplos em que a violência contra os povos
indígenas isolados está relacionada diretamente à ação ou omissão do poder público. É
imprescindível fazer o debate sobre a efetividade dessa politica de invisibilização da existência
desses povos e os limites que ela acarreta para o controle social, considerando que o Estado,
que tem a atribuição de sua proteção, também é um ente que tem interesses nos seus
territórios.

ST 46 | Povos tradicionais e indígenas: globalização, histórias e culturas


alimentares

Marlene Castro Ossami de Moura (Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC Goiás,
Brasil); Ellen Fensterseifer Woortmann (Universidade de Brasília – UnB, Brasil); Esther Katz
(Institut de Recherche pour le Développement – IRD, França).

A globalização é um fenômeno que se impõe sobre as diversidades de práticas culturais por meio do
processo de mudanças técnico-econômicas e com o aceleramento do desenvolvimento agroindustrial.
Com sua penetração em todos os “cantos e recantos do mundo”, vem revolucionando os modos de
produção e abalando as condições sociais, particularmente das sociedades com menor poder político,
econômico e tecnológico. As sociedades tradicionais, especialmente as indígenas, não foram poupadas
desse processo. Grande parte dos conhecimentos e tecnologias tradicionais desapareceu frente às
imposições de novos valores e novas necessidades da sociedade globalizada. Quando povos indígenas
abandonam ou têm o acesso às suas próprias culturas e tradições limitadas, o mundo perde grande
parte de seu patrimônio histórico-cultural. Este simpósio está estruturado em duas partes: na primeira,
busca analisar as dimensões teóricas da alimentação; na segunda, busca partilhar experiências e
reflexões sobre a alimentação indígena, tais como: hábitos alimentares tradicionais, meio ambiente e
disponibilidade de recursos para o consumo e práticas alimentares, segurança e soberania
alimentares, indústria alimentar e a introdução de alimentos industrializados, mudanças nos padrões
alimentares, perda da autonomia alimentar com a degradação ambiental das Terras Indígenas (TIs),
formas de organização econômica e de resistência desses povos frente à expansão do processo de

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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globalização e suas alternativas de sobrevivência, uma vez que as tradições alimentares tornam-se um
lugar de resistência cultural.

Cantos do Pohy Jõ Crow - ritual do plantio do milho Krahô: fertilidade, saúde


e sustentabilidade

Verônica Aldé

Pohy jõ Crow, ritual relacionado ao plantio do milho do povo Krahô, marca o inicio do tempo
da chuva no Cerrado, durante esta celebração a metade sazonal Wacmejê (do tempo da seca)
passa o “governo” para a metade Catamjê (do tempo das chuvas) que durante os próximos
meses conduzirá os movimentos sócio-políticos e culturais internos da aldeia. Segundo a
cosmologia Krahô, o Cotoj (maracá) tem respiração, assim como a Terra, e é responsabilidade
dos cantores e da comunidade manter esse movimento forte através das festas/rituais,
regulando e sustentando a saúde de todos os seres humanos e não-humanos. Através do
repertório de cantos do ritual Pohy jõ Crow é possível vislumbrar a complexa rede de
conhecimentos ontológicos existentes perpetuados através da tradição oral, e como fazem
frente de resistência à expansão do processo de globalização, assegurando roças férteis e
abundantes, a manutenção dos resguardos e do equilíbrio ambiental.

Práticas de representação social da Pimenta Baniwa na rede social Instagram

Andreza Silva de Andrade

Fruto do trabalho artesanal das mulheres Baniwa, a Pimenta Baniwa é um ingrediente


indígena que vem da Terra Indígena Alto Rio Negro (AM) e que nos últimos anos, vem
conquistando espaço na alta gastronomia brasileira em virtude da influencia de chefs famosos
que ajudaram na sua promoção. A Pimenta Baniwa é uma jiquitaia, ou seja, uma mistura de
pimentas desidratadas e moídas com sal, processadas artesanalmente, cuja a aparência
lembra a uma farofa (ISA et al., 2016). Comercializado desde 2013, o produto entrou no
mercado gastronômico por meio da parceira entre a Organização Indígena da Bacia do Içana
(Oibi1), o Instituto Socioambiental (ISA2), e o Instituto Atá3, fundado por Alex Atala, famoso
chef de cozinha em São Paulo. Associada à imagem do chef celebridade, a Pimenta Baniwa se
tornou conhecida e midiatizada dentro de um nicho de mercado “gourmetizado” formado por
foodies (apreciadores da gastronomia) e chefs de cozinha. Ainda que essa midiatização em
torno da Pimenta Baniwa contribua para sua promoção, até que ponto a identidade do
produto se mantém como indígena? Até que ponto o intermédio do chef celebridade
influencia a construção dos discursos de representação na mídia e como isso mobiliza o
consumo? Sendo as redes sociais um dos grandes fenômenos da comunicação utilizadas para
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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

demonstrar práticas sociais nas sociedadescontemporâneas, o consumo e práticas


alimentares encontram nesses espaços, um ambiente propício para demonstração do que se
consome. Dessa forma, como a Pimenta Baniwa é representada nesses espaços pelos seus
consumidores? Será que há referências à cultura indígena nessas representações? No intuito
de respondermos essas questões, elencamos o Instagram como objeto de estudo por este ser
considerado a vitrine para a gastronomia no mundo (FARINACCIO, 2017), além de ser espaço
de demonstração de estilos de vida e gostos. Analisamos as hashtags “#pimentabaniwa”,
utilizadas em postagens realizadas por consumidores da Pimenta Baniwa. A metodologia
deste trabalho combina elementos etnográficos da observação participante de Clifford Geertz
(1989) em ambiente virtual, bem como as categorização da análise de conteúdo de Laurence
Bardin (2016). A discussão se ancora conceitualmente nos estudos de representação social de
Stuart Hall (2016), dos Estudos Culturais Britânicos.

Um mergulho na culinária do povo indígena Potiguara da Paraíba: a mandioca


como fonte de alimentação principal

Cristina de Lima Bernardo


Ivson Antonio Sousa e Silva
Jefferson Luís Leoncio Ventura
Raidson Rodrigues da silva

A culinária traz consigo o objetivo de passar costumes, tradições de um país, região. Sabendo
que no Brasil existe uma diversidade muito rica de culinária a mesma é perceptível com o povo
indígena. É através da culinária que existe a valorização cultural e pode-se reconhecer através
dela a qual povo pertence. Mediante isso é possível identificar as técnicas usadas na hora dos
preparos, toda história e contexto em geral que ela representa. Identificar os utensílios
usados, de que são feitos como são elaborados. Este trabalho tem como objetivo principal
valorizar culinária indígena das aldeias Alto do Tambá e São Francisco, Baia da Traição/PB,
refletindo sobre a história desta etnia para a valorização local. Assim percebe-se que os índios
continuam com suas práticas culturais e valorização passando de pai pra filhos. É possível
identificar também que mesmo com os avanços tecnológicos os trabalhos ainda são bem
manuais o que faz perceber que a conservação desta cultura. As práticas dessas culinárias
geralmente são para o consumo próprio porem não se descarta a possibilidade de vendas dos
produtos preparados por esses indígenas. Essas duas aldeias são bastante frequentadas por
seus aspectos culturais, culinárias, artesanais e histórias.

A presença do dendê no território indígena Potiguara da Paraíba

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Cristina de Lima Bernardo


Ivson Antonio Sousa e Silva
José Marcos Gomes Rodrigues

O dendê é fruto de uma palmeira chamada dendezeiro (Elaels guineesis, Jacq.), cuja origem é
africana e mediantes estudos foi introduzido no Brasil através dos escravos africanos. Esta
palmeira é encontrada em grande quantidade ao litoral norte da Paraíba mais precisamente
nos municípios de Baia da traição, Marcação e Rio Tinto onde reside o povo indígena potiguara
da Paraiba. Esses indígenas fazem o uso desse fruto tanto para fins alimentícios quanto
medicinais e como isca para a captura de caças. Sabendo da rica diversidade culinária
existente no Brasil e diferentes formas de manejo, em seu preparo é importante enfatizar e
registrar como esses indígenas fazem o uso do fruto dessa palmeira e em quais alimentos são
usados e de que forma. Este trabalho tem como objetivo identificar o como os indígenas da
aldeia Alto do Tambá pertencente ao município de Baia da Traição fazem o uso desse fruto,
ressaltando a valorização cultural e conservação. Assim é possível perceber que as técnicas
usadas por esses indígenas são sempre manuais mantendo contato direto com a natureza,
respeitando o limite de tempo necessário para ter um dendê maduro obtendo como resultado
um fruto e derivados de ótima qualidade. Grande parte dos subprodutos feitos a partir desse
fruto são para o próprio consumo não descartando-se a possibilidade de venda, sendo uma
forma de geração de renda a essas famílias, a divulgação desta cultura repassada pelos avós
e pais, destacando que em maiorias das vezes que as crianças indígenas aprendem levando
na brincadeira imitando os que estão desenvolvendo essas atividades.

Culturas alimentares e agriculturas amazônicas na obra de Protásio Frikel


(1940 - 1963)

Mario César Cadorin Junior


Luiz Antonio Cabello Norder

O antropólogo Protásio Frikel publicou, dos anos 1940 até 1963, um total de 39 trabalhos
relacionados à agricultura indígena brasileira (Becher, 1975). Houve ênfase na alimentação,
agricultura e outras formas de subsistência desde o início de sua atuação como missionário e
depois como pesquisador, e selecionamos os trabalhos nestas temáticas, realizados com os
povos Tiriyó, Mundurukú, Kahyana, e Mebengôkré (Kayapó-Xikrin). A obra de Frikel, apesar
de muito aprofundada, não apresenta divulgação ampla na atualidade, muitas publicações
são de difícil acesso. Os Mundurukú, e todos outros povos estudados se situavam no atual
estado do Pará. Costumavam fazer grandes roçados diversificados, beneficiavam tucupi,
tapioca e farinha, que comercializavam com os navegantes do rio Tapajós; também caçavam,
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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

pescavam e coletavam frutas. Os Kahyana, preparavam beiju, tapioca e tucupi, mas também
bebidas densas de tubérculos e frutas, com caldo de cana e água, além de caxiri, uma bebida
alcoólica local. Bacaba, miriti, açaí, abiu silvestre e cajuaçu, junto com antas, porcos, macacos,
cotias, peixes, além de jabutis, também compunham suas atividades de caça e coleta. As
práticas de migrações intra- territorial de ambos povos pareciam semelhantes. Já os
Mebengôkré valorizavam mais os tracajás, o pariri e as castanhas do que a roça, mas esta,
ainda que fosse composta, basicamente, por batata-doce e milho também era de importância
primordial para a segurança alimentar no período de escassez de recursos florestais. A
reduzida agrobiodiversidade estava em ampliação naquela época; compensavam a pressão
dos exploradores não-indígenas sobre as florestas ao ampliar o roçado. A caça, pesca e coleta
era muito semelhante para todos; e a coivara e o puxirum eram duas constantes, de
manifestações diversas em cada sociedade (Frikel, 1959; 1966; 1969). Existem características
comuns entre os povos, mesmo com a diversidade nas relações, sejam técnicas, agrícolas, ou
agrárias e sociais. Os tubérculos configuravam a maior parte da agrobiodiversidade,
juntamente com o milho. As culturas mais plantadas à época eram mandioca, macaxeira, cará,
batata-doce, milho, melancia, banana, mamão, pimenta, cubiu, feijão, abacaxi, arroz, feijões,
jerimum, amendoim e cana-de-açúcar, além da fruticultura em capoeiras. Os registros
corroboram com as atuais pesquisas em ecologia histórica, que atestam a grande participação
indígena na criação do que conhecemos hoje como Amazônia, e também em práticas
agroflorestais (Frikel, 1959; 1966; 1969; 1978). A obra de Protásio Frikel é muito importante
para a memória dos povos com quem esteve e apresenta grande importância na atualidade
para as atividades de revalorização cultural e de extensão rural/universitária junto aos povos
indígenas.

Os distintos sentidos do conceito de cultura e suas implicações na produção


recente sobre a alimentação, o comer e processos de reconhecimento
patrimonial

Janine Helfst Leicht Collaço

Este trabalho busca entender a complexa relação entre cultura e alimentação, e em particular,
pensar o que ocorreu ao comer nas décadas do fenômeno da globalização com intensas
mudanças alimentares e recentes processos de reconhecimento patrimonial alimentar.
Inicialmente foi feito um levantamento dos usos do termo cultura associado à alimentação e
como emerge articulado ao contexto de três cidades brasileiras: São Paulo, Brasília e Goiânia
para pensar as diferentes formas de valorização e reconhecimento de saberes tradicionais que
vem perdendo espaço com muita rapidez no mundo contemporâneo, ao mesmo tempo em
que as mídias e redes sociais abrem um novo campo de interação cujo alcance ainda precisa
ser melhor compreendido.

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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“Comida da rua”: a territorialidade e o consumo alimentar do Povo Xikrin do


Cateté, da aldeia Dju-djekô

Richelly de Nazaré Lima da Costa


Sayuri Fujishima
Luis Mauro Santos Silva

Os debates que contemplam temáticas indígenas chamam ao diálogo a interdisciplinaridade,


integrando pesquisa e pesquisador a uma nova perspectiva de conhecimento. Nesse sentindo,
alguns campos de discussão são focais para articular a diversidade da proposta de pesquisa.
O campo da (in) segurança alimentar e nutricional debatido sobre os povos indígenas reúne
discussões sobre questões territoriais, estes sendo expressiva fonte de informações nessa
tratativa. Para além das limitações geográficas, o território garante a perpetuação dos povos
indígenas, interagindo cultura, economia, política, saúde, entre outros. A realidade dos povos
indígenas no Brasil está disposta fortemente sobre os interesses do grande capital em seus
territórios e a significância financeira de sua biodiversidade, além da subtração identitária,
sob o discurso da desqualificação do sujeito. Sabe-se do perfil dinâmico que a cultura se
propõe e se tratando de povos indígenas não é o contrario. A relação com a sociedade
envolvente produz e reproduz elementos que são incorporados a sua cultura, sem
necessariamente ressignifica-la. Sabe-se que o alimento exerce função social e está além da
função de nutrição biológica. O Povo Xikrin do Cateté, da aldeia Dju-djekô, é um exemplo
notório desta discussão, seu território está disposto sobre a circunvizinhança de projetos de
mineração, que atuam em seus territórios étnicos. O povo em questão apesar de receber
recursos indenizatórios, como mitigação da atividade, vivencia questões decorrentes da
movimentação da atividade mineradora, como o comprometimento da sociobiodiversidade
da terra indígena. Os indígenas defendem que rio Cateté, principal rio da terra indígena, está
poluído comprometendo a soberania alimentar. Para enfrentar essa questão, o consumo de
alimentos industrializados se faz necessária, tornando-se uma alternativa para a segurança
alimentar. A mandioca não pode mais ser amolecida com água do rio e a farinha tem que ser
comprada na “rua”, assim como os peixes e as demais proteínas e os pratos tradicionais
precisam receber novos ingredientes. Como resultante deste cenário o aparecimento de
doenças está cada vez mais acometendo a qualidade de vida desses sujeitos. Este artigo é uma
produção de mestrado acadêmico e objetiva debater a soberania alimentar do povo Xikrin do
Cateté, da aldeia Dju-djekô, discutindo as dimensões “cultural”, “territorial” e “epistemologia
da qualificação em saúde” numa perspectiva de compreensão do exercício da soberania
alimentar desta população, no tocante ao “bem viver” desses povos originários.

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Produção de frutos do Cerrado utilizando o manejo tradicional do fogo

Rodrigo de Moraes Falleiro


Pedro Paulo Xerente
Marcelo Siqueira de Oliveira
Yugo Marcelo Miyakawa
Luciano Carregosa dos Santos
Lucindo Nezokemaece
Emilton Paixão Caxias

As árvores frutíferas nativas do Cerrado brasileiro são uma importe fonte de alimentos e de
renda para as comunidades indígenas. Os “pomares nativos” sempre foram manejados por
meio de queimadas, tanto para a proteção contra os incêndios florestais como para estimular
maior produtividade. Atualmente, esse manejo e o conhecimento tradicional a ele associado
vêm sendo cada vez menos empregados. O resultado tem sido o aumento dos incêndios na
estação seca e a redução drástica na produção de frutos. Recentemente, esse conhecimento
tradicional começou a ser resgatado pelos técnicos do Ibama/Prevfogo e utilizado nas
estratégias de proteção das Terras Indígenas. Os brigadistas indígenas foram orientados a
monitorar e registrar os efeitos nas árvores frutíferas mais importantes para as comunidades.
Os resultados foram sistematizados e utilizados para avaliar a eficiência do manejo tradicional
do fogo. As áreas manejadas entre fevereiro e junho (queimadas prescritas) foram
comparadas numericamente com áreas atingidas por incêndios florestais (julho a dezembro)
e com áreas submetidas à exclusão do fogo (+ 5 anos). Os parâmetros avaliados foram o
estádio fenológico e a produtividade de frutos por planta, nos 3 anos seguintes à passagem
do fogo. Os resultados são apresentados na Tabela 1. O manejo tradicional aumentou a
proporção de árvores frutíferas em estádio reprodutivo e com alta produtividade de frutos,
em relação à exclusão do fogo e aos incêndios florestais. As únicas exceções foram a
mangabeira e o pequizeiro, que apresentaram menos indivíduos reproduzindo, porém, maior
produtividade. Os resultados demonstram que o manejo tradicional do cerrado com fogo é
eficiente para aumentar a produtividade de frutos importantes para as comunidades
indígenas do Cerrado brasileiro.

Estado, modernidad y alimentación. Cambios en los patrones alimentarios en


una localidad de origen indígena

Yuribia Velázquez Galindo

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Este trabajo es uno de los resultados preliminares de un proyecto de investigación más amplio
iniciado en agosto del 2017 en poblaciones de origen totonaco del centro del estado de
Veracruz, México. Apoyada en información etnográfica recopilada directamente en campo,
en esta ponencia busco exponer los cambios que han ocurrido, durante los últimos 20 años,
en el patrón alimentario de una población de origen totonaco que ha estado sujeta a la política
alimentaria gubernamental de transferencia condicionada de recursos. A lo largo de la
exposición busco demostrar que a pesar de la descalificación y negación a los modelos
alimentarios locales –vinculados a los ciclos estacionales y a la producción local- por parte de
la cultura hegemónica que tiende a dotar de valor nutricional superior a los alimentos
industrializados y vitaminados sobre los alimentos frescos de temporada, existen estrategias
particulares, altamente efectivas, para transmitir a las generaciones más jóvenes los saberes
alimentarios locales que son considerados de gran valor por las generaciones de mayor edad.

De la mercantilización hídrica a la inseguridad alimentaria: un problema de


salud pública en los pueblos indígenas de México

Dionisio Ernesto Lagunes González


Paulina Elisa Lagunes Navarro

Una de las prioridades de los países es garantizar la seguridad alimentaria de sus sociedades,
con la finalidad de prevenir el hambre y la desnutrición, y así cumplir con los Objetivos del
Desarrollo Sustentable (ODS). Sin embargo, uno de los factores que afecta a la seguridad
alimentaria es la inseguridad hídrica, sea por la escasez o contaminación de dicho recurso.
Aunado al hecho de que en México se ha ido concesionado el vital líquido a empresas
embotelladoras de bebidas azucaradas. Situación que vulnera el derecho al acceso al agua,
principalmente, para los pueblos indígenas. Todo lo anterior, ha ocasionado que los pueblos
indígenas tiendan a consumir bebidas azucaradas en exceso al ser un sustituto del agua, lo
cual se traduce en cambios en su alimentación y cultura y, propensos a ciertas enfermedades
como la obesidad y diabetes. Un ejemplo de esto, es el estado de Chiapas quien es un gran
consumidor de bebidas azucaradas como la Coca Cola. Y es aquí, en donde reside la
incongruencia del Estado mexicano. Por un lado, México se posicionó en el 2o lugar con alto
índice de obesidad (y, por consiguiente, en diabetes) a nivel mundial. Posteriormente, en el
2014, México implementó programas y medidas fiscales como el impuesto a bebidas
azucaradas y comida rápida, para combatir la obesidad y la diabetes. Sin embargo, tal
impuesto ha estado en controversia sobre su funcionalidad para reducir la obesidad en el país
ya que ha habido un incremento en el índice de la obesidad y la diabetes entre los años 2012
y 2016, en donde el 90% de los casos de diabetes mellitus se relaciona con el sobrepeso y

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obesidad, según la Federación Mexicana en Diabetes, A.C. Así mismo, existe una barrera en la
comunicación entre los pueblos indígenas y el etiquetado en los productos alimenticios como
lo son las bebidas azucaradas, ya que no están en su lengua y, en consecuencia, se es
vulnerado el derecho de los consumidores de ser informados sobre lo que consumen. Dicho
lo anterior, hace preguntarnos ¿bajo qué perspectiva entiende el Estado mexicano la
seguridad alimentaria? y, ¿cómo pretende cumplir con los ODS?

Alimentação e globalização no Rio Negro (Amazonas)

Esther Katz

Os povos indígenas do médio Rio Negro entraram na globalização pelo menos no fim do século
XIX com o comércio dos produtos florestais. Já naquela época chegavam produtos de fora que
eles trocavam com os patrões do extrativismo, e já mudaram alguns dos seus hábitos
alimentares. A globalização os impactou de novo a partir do declínio do extrativismo nos anos
1990, quando uma parte importante da população das comunidades mudou para as cidades,
e mais ainda com o apoio do Estado a partir dos anos 2000. Veremos como os hábitos
alimentares mudaram com as diferentes transformações sociais e econômicas da região, e
entre quais politicas contraditórias essas populações se encontram atualmente.

A representatividade do mocororó para os povos indígenas do estado do


Ceará - considerações sobre uma bebida

Anna Erika Ferreira Lima


Carolinne Melo dos Santos
Mateus de Castro Ferreira
Ana Cristina da Silva Morais

O Ceará possui mais de 14 mil índios, formando 14 povos divididos em 58 comunidades por
mais de 18 municípios, onde 24 áreas indígenas seguem com processos demarcatórios
pendentes. Esses povos lutam pelo reconhecimento de sua identidade, a manutenção do
pouco que sobrou do patrimônio cultural e, sobretudo a demarcação de terras historicamente
a eles pertencentes (FARIAS, 2017). Dentre as formas de resistência estabelecidas às
investidas do capital sobre seus territórios contam a educação diferenciada; as danças como
o toré e o torém como expressão da sua cultura imaterial; além das comidas e bebidas
tradicionais, a exemplo do mocororó, que recompostas são consumidas em festejos, festas de
colheita e demais comemorações das diversas etnias do Ceará. É sobre a importância e
representação do mocororó para as diversas etnias do Ceará que se fundamenta a pesquisa.

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Assim, toma-se como questão de partida: - Qual o papel do mocororó no fortalecimento da


cultura indígena cearense? Nesse contexto, tem- se como objetivo, realizar uma análise sobre
importância do mocororó para estas comunidades indígenas considerando a representação
que essa bebida possui para os grupos sociais que a produzem e consomem. Ressalta-se que
dentre as festas ligadas à comida e à bebida indígena, identificamos a Festa do Batiputá
realizada entre os Jenipapo- Kanindé e os Tremembé de Itapipoca; a Festa do Milho, dos
Kanindé de Aratuba e a Festa do Mocororó, realizada na Comunidade da Sabiaguaba. É
importante destacar que primeiros habitantes do Brasil, utilizando-se do que a natureza lhes
proporcionava, se alimentavam de mandioca, macaxeira ou aipim, milho, carne de caças,
peixes, raízes, frutas, palmito, castanhas, “cocos” de palmeiras e algumas folhas. Esse
costume, conforme Lody (2010) está expresso em elaborações à base de frutos como o cajú,
à exemplo do nosso objeto de estudo. O autor, indica que, como ocorre com as comidas
típicas, as bebidas regionais do Brasil são influenciadas pelo clima, a vegetação e os costumes
locais; e classifica esses produtos por situações. “Existem as bebidas de cotidiano
(refrigerantes, refrescos e licores), as de festa (quentões, batidas), que envolvem rituais
culturais, e as de partilha”, explica; No caso do Ceará a bebida em pauta está ligada ao
consumo em rituais e festividades, sendo esta elaborada a partir da fermentação do sumo do
cajú. Para o desenvolvimento da pesquisa foram efetivados levantamentos de registros de
jornais, artigos científicos, transcrições de entrevistas e rodas de conversa, os quais
fundamentaram o processo metodológico da pesquisa apresentada. Ressalta-se que o
mocororó é um importante elemento sociocultural identitário das comunidades; como no
caso dos jenipapo kanindé que fazem a festa no início de novembro; a comunidade da
Sabiaguaba que realiza duas festas “a festa do mocororó" e o "encontro do mocororó", ambas
no segundo semestre do ano. O Mocororó, geralmente, é servido em festejos, como se pode
constatar. Essa mistura é colocada em garrafas destampadas, por algum tempo, a fim de
fermentar e dar o efeito alcoólico.

Preservação milenar de sementes tradicionais: saber e resistência


do povo indígena Guarani
Eluando Tonatto Mariano
Solange Todero Von Onçay

Nossa nação é constituída de uma grande variedade de grupos étnicos, constituindo uma
riqueza impar. A sociedade indígena representa 2% da população de todo o país, sendo que
seu legado, é uma grande fonte de resistência e sabedoria. Provenientes de uma ampla
diversidade, povo Guarani foram ao longo do tempo, uma forma própria de praticar a
preservação das sementes, o armazenamento, a secagem, o cultivo, em especial dos grãos
alimentícios, que são a base de sua alimentação. Antes mesmo da chegada das primeiras

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colonização, em especial junto a um povo que dominava uma grande faixa da floresta tropical
e subtropical da bacia do Rio Prata, os guaranis tinham suas organizações sociais, formas
econômicas e culturais, autárquicas e sustentáveis, sendo estas capazes de manter a
estabilidade, mesmo na escassez de alimentos. Saberes como, a escolha do solo, o dia para
iniciar as atividades, os sinais de florescimento de algumas espécies florestais, são passados
de geração através da linguagem oral. Nesse contexto, chama atenção, sobretudo como o
povo guarani preserva as sementes tradicionais. Aproximar saberes populares dos acadêmicos
passa ser fundamental. Destaca-se que na vivência destes povos, mesmo inseridos próximos
às práticas da agricultura química, qual são influenciados pelo uso da mesma, ainda
conseguem manter muitos de seus princípios e práticas tradicionais. O estudo vem sendo
realizado na comunidade Indígena Toldo Guarani, situa-se no município de Benjamin
Constante do Sul/RS, onde vivem atualmente 14 famílias, num total de 60 pessoas que possui
como objetivo principal estudar a forma de armazenamento das sementes tradicionais
desenvolvido pelo povo guarani a décadas pelo meto de fumaciar as sementes ate seu plantio.
Essas famílias cultivam suas tradições, costumes que são passados de geração. Um aspecto de
forte envolvimento cultural é a casa de reza, conhecida como (opy). Todo o início de plantio,
antes da preparações das áreas e feito a reza, para os espíritos, pois cada área há um espírito
se o espírito autorizar pode ser preparada área" (Depoimento E). Já em relação as sementes,
as mesmas precisam ser preservadas na casa de reza, afumentadas durante todo o ano sendo
assim ficam em contato com essa fumaça evitando ataque de insetos que degradam os grãos.
Deste modo a semente estará protegida ate o seu (Depoimento M). Este estudo é muito
importante, seja pelo necessidade de registro destes conhecimentos, que foram sendo
desenvolvidos ao longo dos séculos, seja pela compreensão de fundamentos que permitem
perceber o papel do estudo científico a serviço da autonomia de um povo, podendo devolver
a ele, conhecimentos que reafirmem e ressignifiquem suas vivências e culturas.

Direito humanos à alimentação e nutrição adequada do povo indígena Arara


da TI Arara da Volta Grande atingidos pela hidrelétrica de Belo Monte:
conflitos e processos de re-existência

Roberta Amanajás Monteiro

A comunicação debate a implementação da hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu na


Amazônia brasileira e seus impactou no direito humano à alimentação e à nutrição do povo
Arara da Volta Grande, a partir da teoria decolonial. A UHE de Belo Monte opera nos
contornos da matriz colonial de poder na Amazônia, como um projeto de desenvolvimento
articulado no contexto da expansão civilizatória, à qual é submetida a Amazônia brasileira na
segunda metade do século XX, sob governos da Ditadura Civil-Militar, e executado no começo
do século XXI, durante um período democrático. Entre os povos indígenas impactados pela

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hidrelétrica está o povo Arara da TI Arara da Volta Grande, que vive no beiradão do rio Xingu,
a jusante do barramento principal. Com a construção, iniciou-se um processo perverso de
introdução de bens de consumo, que violam o direito à identidade cultural e ao uso do
território de acordo com suas formas tradicionais, gerando violação ao direito humano à
alimentação e nutrição adequadas, em todas as suas dimensões. Nesse contexto, duas
tensões estão em disputa: a do capital, que nega as formas tradicionais de vida, território e
alimentação, e a do povo Arara, que re-existe com suas formas de vida, alimentação e uso do
território tradicional.

A influência da globalização nos hábitos alimentares dos Tapuios do Carretão

Marlene Castro Ossami de Moura

Os impactos advindos do processo de globalização, por meio do surgimento da indústria


alimentar, vêm atingindo em grande proporção os padrões alimentares das comunidades
indígenas e tradicionais, com a introdução do consumo excessivo de produtos processados.
Este trabalho tem como objetivo analisar os hábitos alimentares da comunidade Tapuia que
habita a Terra Indígena Carretão, no estado de Goiás (Brasil), a partir dos impactos resultantes
da indústria alimentar que vem causando a dependência dessa comunidade da economia
urbana, uma vez que a produção não supre todas as necessidades básicas. A introdução desses
produtos industrializados vem transformando não somente os hábitos alimentares
tradicionais da comunidade como também vem interferindo no padrão de saúde,
possibilitando um alto percentual de sobrepeso e obesidade.

Patrimônio Alimentar Xerente: permanências, resistências e transformações

Luana de Sousa Oliveira

A etnia Xerente pertencente ao tronco linguístico Jê Central, habita nas terras indígenas
Xerente e Funil no município de Tocantínia no Estado do Tocantins. Estes indígenas são
conhecidos como o povo das metades, pela sua organização social em duas metades de
elementos da natureza: Wahirê/sdakrã e Doí/siptató. Tradicionalmente, alimentação deste
povo indígena originava-se do que caçavam, pescavam e do que colhiam. Com o passar dos
anos, o contato com os não-indígenas, políticas públicas que não respeitam as especificidades
dos indígenas e os impactos causados pela construção da Hidrelétrica Luiz Eduardo Magalhães
são alguns dos fatores que trouxeram mudanças para a cultura alimentar dos Xerente. Entre
estas mudanças está a diminuição das atividades de caça e pesca e a ingestão de alimentos
industrializados. O objetivo desta pesquisa de abordagem qualitativa é inventariar o

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patrimônio alimentar Xerente a partir do Inventário de Referências Gastronômicas Culturais


de Muller (2012), a escolha deste instrumento para coletar os dados dar-se pelo fato do
mesmo prever o processo de ensino-aprendizagem, questões relacionados ao consumo no
passado e no presente, histórias e produções associadas ao alimento/comida o que possibilita
identificar e analisar as permanências e transformações no patrimônio alimentar deste povo.
O corpus desta pesquisa é constituído de lideranças indígenas, caciques e anciões das aldeias
Salto e Traíra. Ressalta-se que esta pesquisa é parte da tese de doutorado (em andamento)
que tem por tema central o Patrimônio alimentar na perspectiva do paradigma participativo
na etnia indígena Xerente. Os resultados preliminares mostram que algumas comidas não são
mais feitas e que outras continuam sendo preparadas, a exemplo, da comida do casamento
“dacukã”, porém com algumas mudanças, antes era feito com a carne de caça (o mais comum
era a carne de paca), atualmente substituída pelo frango assado. Evidenciam-se então perdas,
mas também adaptações e transformações no patrimônio alimentar Xerente que podem ser
vistas como resistências as pressões externas que este povo sofre desde seu contato com os
não-indígenas.

La perspectiva de las madres y abuelas qom sobre el consumo alimentario, la


alimentación y el cuerpo saludable de preescolares de Namqom, Formosa,
Argentina

Sofia Olmedo, Silvina Berra


Claudia Valeggia

La ingesta dietética y los hábitos alimentarios en las comunidades indígenas están en franco
proceso de transición ya que se ha pasado de consumir alimentos regionales obtenidos y
preparados dentro de la comunidad a alimentos procesados con aditivos, típicos de una dieta
occidental industrializada (Molano-Tobar & Molano-Tobar, 2017). Los factores que
contribuyen a la composición de la dieta son múltiples y su interacción es compleja. El género,
por ejemplo, puede ser un elemento clave en la dinámica alimentaria, pero ha sido
escasamente incorporado como una categoría de análisis en las investigaciones de nutrición
y alimentación (Gil-romo et al., 2007). Los roles de género están relacionados con las formas
de actuar de acuerdo con la apropiación de la identidad, ya sea masculina o femenina (Presno
Labrador & Castañeda Abascal, 2003). Entender las desigualdades alimentarias entre sexos en
una población implica construir y analizar el rol del género desde la infancia temprana.
Teniendo en cuenta el contexto sociocultural dentro del cual se desarrolla el proceso
alimentario de niños y niñas, el objetivo de este trabajo es describir el consumo alimentario
junto con sus significaciones de alimentación y cuerpo saludable en preescolares de la etnia
Qom desde una perspectiva que incorpore el rol del género. El lugar de estudio es el barrio
Namqom, una comunidad mayoritariamente Qom ubicada a 11 km de la ciudad de Formosa.
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Los Qom representan uno de los tres grupos étnicos principales originarios de la región del
Chaco de América del Sur (UNICEF, 2011). Este estudio responde a un diseño de tipo
transversal y de métodos mixtos que se realizó con niños y niñas Qom de 2 a 5 años entre
enero y diciembre de 2016. Los datos sobre los alimentos consumidos por los participantes de
edad preescolar fueron recolectados utilizando tres recordatorios de 24 horas realizados a
madres y abuelas en sus hogares. Para determinar el dominio cultural de la alimentación y del
cuerpo saludable de preescolares utilizamos una técnica de listado libre con la palabra
“alimentación” y “cuerpo sano”. En el análisis se tuvo en cuenta los roles de género que
describen las actitudes que adoptan las persona en función de su identidad, y permite la
configuración de diferentes roles: a) rol reproductivo, asumido y naturalizado por las mujeres;
incluye las actividades para garantizar el bienestar, crianza y supervivencia de todos los
miembros de la familia; b) rol productivo: actividades que producen ingresos personales y para
el hogar; considerado el rol principal del hombre. c) Rol de gestión comunitaria: actividades
que aportan el desarrollo o a la organización política de la comunidad (Presno Labrador &
Castañeda Abascal, 2003) La muestra estuvo conformada por 160 preescolares, homogénea
en proporción de niños (51%) y niñas (49%). El 28% de los niños y el 22% de las niñas tuvieron
exceso de peso. Se observó diferencia por sexo en la talla/edad, donde el 22% de los niños
tuvo baja talla respecto al 9% de las niñas. En un contexto de vulnerabilidad socioeconómica,
se evidencia que los alimentos más frecuentemente consumidos por los preescolares qom son
los procesados de alto contenido calórico y graso. Entre ellos encontramos la leche, las
galletitas dulces, guisos, pan, torta frita, sopa, jugos y bebidas carbonatadas. Además, se
observó que la leche se reemplaza por “aloja” (agua con azúcar) o “sustancia” (agua, almidón
de maíz y azúcar) y se prepara “moloq” (carne, verduras y harina de trigo), un alimento
tradicional de Namqom. Las tácticas de obtención de alimentos formales que se llevan a cabo
en Namqom son: comprar en el supermercado en la ciudad y comprar en el kiosco del barrio;
en cambio, las informales incluyen ir al basurero municipal, pedir comida casa por casa en el
centro de la ciudad y la comensalidad extendida. De las entrevistas surge que hay una
diferencia en el consenso cultural respecto a la función de la alimentación según el sexo del
niño o niña; para las madres de niñas la alimentación es “para crecer” y para las madres de los
niños es para “que tengan fuerza”. Estas desigualdades en la significación de la alimentación
revelan la construcción del rol productivo con énfasis en el género masculino, basándose en
la creencia de que los hombres son la fuerza de trabajo que da sustento a la familia. Estudio
evidencia que se considera al trabajo de los hombres como productivo, por ende, se tiende a
alimentar en primera instancia a los hombres para que sigan proveyendo el sustento (Presno
Labrador & Castañeda Abascal, 2003). Respecto a la percepción de cuerpo infantil sano, para
las mujeres qom, es aquel que permite jugar, comer y se caracteriza por tener exceso de peso.
La alimentación contribuye al moldeado y la forma del cuerpo, en este trabajo los relatos de
las madres dan cuenta que un cuerpo sano de un preescolar es el “gordito”, y el alimento que
más consumen los preescolares es el arroz y los alimentos que consumen con mayor
frecuencia son los de alta densidad calórica. Estos resultados coinciden con un estudio previo

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realizado en Namqom, donde la sopa de arroz, el pan y la torta frita fueron los primeros
alimentos sucedáneos de la leche materna (Olmedo & Valeggia, 2014) Es importante destacar
que independientemente de las diferencias en la alimentación y los significados de la
alimentación de los preescolares, se interpretan los datos por sexo en función de los roles de
género etnográficamente observados en la comunidad, acercándose a las razones de esas
diferencias: el hombre debe tener un rol productivo por lo que la asociación con la fortaleza
del cuerpo toma sentido, por consiguiente se supone el rol reproductivo de la niña qom, por
su naturalización casi exclusivamente a la mujer.

Culinária e Espiritualidade Xokleng frente aos impactos de construções


hidrelétricas no interior da Terra Indígena

Voia Klyl

O estudo aborda sobre os impactos socioambientais e culturais causados pela construção da


barragem norte localizado na terra indígena La Klãnõ no municio de José Boiteux, no estado
de Santa Catarina é, parte também do projeto de conclusão do curso de Licenciatura
Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica, junto a Universidade Federal de Santa
Catarina. Focaremos no desaparecimento de algumas espécies de peixes depois da construção
da barragem, que segundo os velhos era fundamental para culinária Xokleng e principalmente
para espiritualidade.

Relações entre território, língua e cultura alimentar: o caso dos Apyãwa-MT

Eunice Dias de Paula

O Censo de 2010 apontou um significativo aumento da população indígena no Brasil.


Entretanto, mesmo considerando este indicador positivo, as línguas indígenas continuam em
situação de risco (BRAGGIO, 2002). As relações assimétricas entre a nossa sociedade e as
sociedades indígenas contribuem para manter este cenário. As condições de vida dos povos
originários foram alteradas substancialmente e a sustentabilidade alimentar é um dos
aspectos que mais sofrem alterações, o que acarreta apagamentos de campos lexicais
relevantes. Neste trabalho apresentamos o caso dos Apyãwa, também conhecidos como
Tapirapé, povo reconhecido como agricultor (BALDUS, 1970), cujo território foi invadido e
intensamente depredado, o que tem provocado mudanças nos hábitos alimentares, com
repercussões no léxico da língua. Os dados apontam para um perceptível processo de
alterações nos campos semânticos relacionados à cultura alimentar deste povo indígena,
mostrando, de forma inequívoca, as relações entre a língua, a cultura e o território.

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A relação do PNAE com o autoconsumo em Terras Indígenas

Douglas Souza Pereira

Objetivo: Discutir as oportunidades e desafios para a regionalização da alimentação escolar


em terras indígenas do Médio Purus, no estado do Amazonas, à luz da Nota Técnica no
01/2017/ADAF/SFA-AM/MPA-AM, de 15 de setembro de 2017 e da Informação Técnica no
45/2017/COPROS/CGETNO/DPDS-FUNAI, de 15 de dezembro de 2017. Métodos: Trata-se de
uma análise qualitativa das oportunidades e desafios identificados a partir das trocas de
conhecimentos com agricultores familiares indígenas em oficinas participativas e das cartas
de recomendação assinadas pelos participantes das oficinas promovidas pela FUNAI e
parceiros estratégicos, na região do Médio Purus no estado do Amazonas, em 2018.
Resultados: Os resultados que veem sendo obtidos na implementação da Nota Técnica no
01/2017/ADAF/SFA-AM/MPA-AM para a inserção da produção indígena nas escolas das terras
indígenas perpassam pelas oportunidades de construção participativa na formulação do
conhecimento sobre o PNAE; de fomento à auto-organização social e produtiva indígena.
Considerando, ainda, os desafios de uma assistência técnica e extensão rural pública que
respeite a organização social, costumes, línguas, crenças e tradições indígenas e de uma
atuação em rede entre gestores públicos federais, estaduais e municipais com os indígenas e
suas organizações na construção dos projetos de venda da agricultura familiar e nas chamadas
públicas das secretarias de educação. Consideração Final: Em face das principais
oportunidades e desafios identificados nas duas oficinas de alimentação escolar indígena no
Médio Purus, considera-se que para a implementação da Nota Técnica no 01/2017 os
produtores indígenas devem se organizar de modo a respeitar o seu calendário agrícola e de
entrega de seus alimentos tradicionais nas escolas indígenas, de acordo com seus usos e
costumes, e que os órgãos públicos federais, estaduais e municipais parceiros respeitem o
modo de vida indígena por meio da construção participativa de uma rede de diálogo e
implementação da Nota Técnica.

Considerações sobre a alimentação escolar Javaé na aldeia Canoanã –TO

Tamiris Maia Gonçalves Pereira

Ao longo do tempo, as políticas, doutrinas, pensamentos filosóficos e religiosos implantados


na América, desde o período colonial, impuseram sistemas de ordenação e classificação do
mundo, separando-o em coisas e ideias, corpo e mente, natureza e cultura. Como
consequência, subalternizações e desvalorizações de muitas outras formas de pensamento
aconteceram, durante séculos em todo o globo. Saberes e modos de vida de diversas
populações foram tratados como incivilizados, seus conhecimentos como mitos, lendas e
superstições. Nos livros de História e mesmo na literatura brasileira, a imagem dos povos
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indígenas foi assim tratada, negando-os contemporaneidade e colonizando sua existência e


conhecimentos. No presente trabalho, partimos destas questões para apresentar e levantar
premissas sobre a alimentação e o consumo alimentar entre o povo indígena Inỹ Javaé, da Ilha
do Bananal. A frase “As crianças pedem o que querem comer!”, foi chave para o início das
buscas pela compreensão da construção das dimensões do comer e do consumo alimentar
observadas a partir da Escola Indígena Tainá, na Aldeia Canoanã. Observou-se que a
alimentação tradicional cedeu lugar para as práticas alimentares que vêm de fora, os
industrializados, presentes na maioria das mesas Javaé e na escola da aldeia. Entretanto,
observou-se que os saberes e fazeres irromperam como ferramentas de decolonialidade,
permitindo unificar, e muitas vezes sobrelevar, as formas de consumo tradicional com
industrializados e construir novas práticas alimentares Javaé.

Sistema alimentar Huni Kuin do Baixo Rio Jordão/AC, Brasil: mudanças nos
padrões e perspectivas na valorização do hábito tradicional indígena

Málika Simis Pilnik

Para o povo indígena Huni Kuin, o alimento constitui-se em elemento central da cultura. Via
de consequência, o respectivo sistema alimentar integra um dos fundamentos do tecido social
correspondente. Este, por seu turno, encara recente transformação em virtude de
modificações no hábito alimentar tradicional. Igualmente, mudanças verificadas nas
dinâmicas próprias do povo – principalmente em virtude do contato com a sociedade
envolvente – refletem em suas práticas alimentares. Através de narrativas dos habitantes da
Terra Indígena Kaxinawá do Baixo Rio Jordão, situada no município do Jordão, estado do Acre,
buscou-se construir, de maneira participativa, a trajetória da cultura alimentar da população
nativa dessa região. Mediante atividades de campo, utilizou-se como metodologia a
observação participante. Também foram realizadas entrevistas semiestruturadas e trilhas-
guiadas (na floresta e nos “roçados”) com informantes de diversas faixas etárias, a fim de
reconhecer os recursos alimentícios silvestres e cultivados, além de registrar as atividades
pertencentes ao universo da alimentação. Neste ponto, evidenciaram-se transformações
históricas que ocorreram sobretudo a partir do século XX. Primeiro, referente ao
estabelecimento do regime de seringais na Amazônia ocidental brasileira; depois, com a
crescente introdução de alimentos industrializados – provenientes da sociedade moderna
ocidental –, especialmente por conta do inchaço urbano acelerado no município adjacente.
Devido às mudanças nos padrões alimentares, constata-se a erosão do corpus e da praxis da
floresta. Práticas ora assíduas são atualmente subutilizadas ou presentes apenas na memória
dos anciãos, o que ameaça a agrobiodiversidade e, consequentemente, a autonomia
alimentar. A partir da investigação pode-se constatar a redução nas seguintes atividades:
extração de óleos vegetais; preparo de cogumelos silvestres; cozimento de brotos e palmitos
vegetais; cultivo de certas variedades de raízes tuberosas; entre outras. Não obstante, a
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experiência da merenda escolar regionalizada traduz-se em forma de organização


socioeconômica e de resistência cultural frente à expansão do processo de globalização,
notadamente da indústria alimentícia. Verifica-se que a intenção dos indígenas é valorizar a
tradição Huni Kuin e evitar a ingestão de alimentos industrializados, ao menos nas refeições
escolares. Assim, observa-se a importância do regime de saberes e fazeres para a soberania e
segurança alimentar deste povo, bem como para o patrimônio histórico- cultural da
Amazônia. Neste contexto, semeiam-se inovações e experimentações em uma perspectiva
autêntica e criativa de encarar os processos contemporâneos diversos, com a esperança de
fortalecer e salvaguardar a identidade do povo Huni Kuin.

Alimentação Indígena e Merenda Escolar: Uma realidade no Município de


Humaitá-AM

Kellyane Lisboa Ramos


Alcioni da Silva Monteiro
Eulina Maria Leite Nogueira

Esta pesquisa buscou analisar através do órgão de educação (SEMED) e testemunho indígena
como acontece o fornecimento da merenda escolar para as escolas indígenas em Humaitá-
Am. Além de verificar se a merenda escolar fornecida possibilita alimentos nutritivos que
possam contribuir para uma alimentação saudável, baseada em alimentos naturais; averiguar
se existem nas aldeias indígenas práticas de agricultura familiar. E por último refletir sobre
importância de resgatar hábitos alimentares tradicionais através da Educação Escolar
Indígena. Esta pesquisa foi pautada numa abordagem qualitativa, os dados foram obtidos
através de entrevista semiestruturada realizada com duas pessoas, sendo o primeiro com o
secretário de educação indígena, e a segunda com uma professora da etnia Parintintin. Com
essa pesquisa foi possível identificar através da entrevista com o secretário que nas aldeias
indígenas situadas próxima ao município de Humaitá não existe práticas de agricultura
familiar, que possam fornecer alimentos naturais para compor a merenda dos alunos.
Destacando ainda a realidade da escola indígena Parintintin que segundo relato de uma
professora diz que a merenda fornecida é insuficiente, causando fragmentação no ensino. E
por último, é enfatizado que geralmente não ocorrem palestras que os informem acerca de
como fazer para ter uma alimentação adequada, saudável e diferenciada.

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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Las prácticas alimenticias ancestrales: un aspecto esencial para la pervivencia


de la niñez indígena Wayúu, Colombia

Jennifer Marcela López Ríos


Sergio Cristancho Marulanda
Carmen Estefanía Frías

La desnutrición infantil como problema de inseguridad alimentaria y de salud pública es un


fenómeno complejo, que está situado no solamente en un contexto natural y biológico de la
enfermedad, sino que es un proceso que involucra dimensiones históricas, sociales, políticas,
económicas y culturales, que implican una comprensión desde abordajes más integrales. Este
proyecto tuvo como propósito comprender las perspectivas y estrategias comunitarias
relacionadas con la desnutrición en niños de 0-7 años en las comunidades Wayúu, Taiguaicat,
Pañarrer y Limunaka del Resguardo Manaure, La Guajira. Una de las categorías que emergió
fue todo lo relacionado con la cultura alimentaria que tejen las comunidades, entendida ésta
como “un producto de decisiones a lo largo de su historia, que suponen clima, medio ambiente
y capacidad de trabajo para aprovechar o no, los recursos disponibles para el grupo asentado
en determinado sitio” (1), acompañado de significado y procesos sociales vinculados a la
alimentación, más allá de los enfoques exclusivamente dietéticos y nutricionales (2). Como
resultados relacionados a esta categoría se encontró que la alimentación es considerada por
el pueblo Wayuu, como fuente de energía fundamental para el desarrollo, la protección, el
crecimiento y la transición natural de una etapa a otra de los niños, además, visto como el
principal garante de la pervivencia de la niñez en el territorio, y con ello, su conservación de
linaje y de tradiciones de generación en generación. Dentro de la tipología de alimentos que
manifestaron las tres comunidades Wayuu participantes del estudio se encontraron los
alimentos tradicionales definidos como aquellos provenientes de su propio territorio,
reconocidos como buenos o sanos en tanto dan fuerza, energía y vitalidad, disminuyen las
posibilidades de envejecer tan pronto porque “no cambian el estado de las personas”,
contribuyen a la permanencia de los Wayúu y les posibilita tener acceso a la alimentación, sin
necesidad de salir a comprar o desplazarse a otros territorios para adquirirlos. Por su parte, el
segundo grupo de alimentos identificado por los participantes son los occidentales definidos
por la comunidad, como aquellos que no son propios de su territorio, porque les pertenecen
a los arijunas (personas no indígenas). Éstos, son nocivos porque envejecen a las personas, les
altera su estado físico, no les da fuerza a los niños y no permite que ellos estén sanos, ya que
contienen sustancias naturales o artificiales para conservarlos e impedir su deterioro en el
tiempo. Una de las conclusiones que permitió el estudio es que algunos miembros de la
comunidad consideran que ante la imposibilidad de acceder a sus alimentos tradicionales (por
causas como el cambio climático, la pérdida de las tradiciones y prácticas alimenticias,
inseguridad alimentaria del territorio, entre otros), los alimentos occidentales son ricos, pero
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son costosos para las comunidades indígenas, porque para que éstos nutran adecuadamente
a los niños y generen el efecto que se espera, se deben consumir varias veces al día, lo que les
implicaría tener un trabajo estable y bien remunerado, situación, que como se ha evidenciado
no se presenta en el lugar.

Saúde Primaria dos Indígenas do Santuário dos Pajés - DF, promoção do


hábito alimentar tradicional

Alana Lopes Rodrigues


Denise Osório

Introdução: Este estudo traz a experiência do estágio supervisionado 1 da Saúde Coletiva com
o foco na saúde primária dos povos indígenas que vivem no Santuário dos Pajés- DF, foram
realizadas semanalmente reuniões com estagiários, orientadores, profissionais da Secretaria
de Saúde e indígenas no Ambulatório de Saúde Indígena (ASI) localizado no Hospital
Universitário de Brasília (HUB), na Unidade Básica de Saúde 3 (UBS 3) da Asa Norte e visitas
no Santuário dos Pajés. A partir das reuniões foram levantados problemas enfrentados pela
UBS 3 ao ofertar seus serviços à população indígena do DF, com isso, cada estagiário escolheu
um problema que mais o agrada para trabalhar, logo a temática hábito alimentar da
comunidade foi o escolhido. Objetivo: Analisar os hábitos alimentares do passado e dos dias
atuais da comunidade indígena localizada no Santuário dos Pajés, especificamente do povo
Guajajára, para apoiar a construção de uma proposta de alimentação saudável pertinente a
cultura da comunidade, junto a UBS 3. Metodologia: Trata-se de um estudo qualitativo
desenvolvido por uma intervenção em saúde utilizando-se a técnica de grupo focal para a
coleta dos dados usando o instrumento roteiro semiestruturado. Resultados e Discussão: Não
foi possível notar uma diferença significativa quando se trata da alimentação tradicional do
passado para os dias de hoje. No entanto, quando se trata da introdução dos alimentos
ocidentais no hábito alimentar dos Guajajaras, observa-se uma grande diferença da
transformação do costume alimentar pois aparece alimentos processados e industrializados.
Houve um caso desviante que consegue perceber o quanto a alimentação ocidental pode
influenciar o costume alimentar do grupo. Também houve um caso desviante que prefere
comer verduras que ele mesmo planta, pois sabe a procedência e sabe que é orgânica.
Relatam que gostam da comida do mercado devido já vim quase pronta. Mesmo morando
dentro da cidade ainda possuem o costume de caçar, comentam que às vezes as mulheres
também saem para caçar. A comida preferida do grupo é o peixe e a mandioca. Por fim, o
estudo mostra que é necessário envolver mais diálogo entre a comunidade indígena e a UBS
3, a fim de, auxilie aos habitantes da comunidade para sistematizar / avaliar seus hábitos
alimentares respeitando aos seus costumes e concepções culturais, pensando nas melhores
formas de alimentação saudável nesse contexto.
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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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Conhecimento Ecológico Tradicional na Terra Indígena Apiakás do Pontal e


Isolados: uma estratégia de uso e ocupação conservacionista no Pontal do
Mato Grosso

Tarcísio da Silva Santos Júnior

A TI Apiakás do Pontal e Isolados (982.324 ha) localiza-se na confluência dos rios Juruena e
Teles Pires (formadores do rio Tapajós), e é majoritariamente habitada pelo Povo Apiaká. Este
trabalho discorre sobre o uso de recursos naturais pelos Apiaká, a partir de dados obtidos
entre 2008 e 2009, em oficinas com homens e mulheres adultos das aldeias Mayrowy e Pontal,
observação participante nas aldeias, e incursões a campo por terra e água. O uso de recursos
está estruturado nos conhecimentos/práticas tradicionais (roça, coleta, caça e pesca), que
respondem por grande parte do sustento alimentar dos indígenas. No entanto, há compra de
itens (sal, café, óleo, roupas, etc) com recursos de atividades remuneradas e benefícios sociais.
As roças são “de toco com pousio”, e nelas plantam-se 4 etnoespécies de
mandioca/macaxeira, 5 de cará, 2 de batata, 2 de milho, 2 de jerimum, 10 de banana e outras
frutas. A caça é feita com arma-de-fogo, utilizando as técnicas rastreando e espera; as
etnoespécies comumente abatidas são mamíferos (porcão, cateto, tatus, cutia, paca,
macacos) e aves (mutuns, cujubins, araras, patos). A pesca é feita utilizando-se caniço, linhada,
arpão e zagaia; as etnoespécies de peixes comumente abatidas são 6 tipos de paboca, 4 de
aracú, 4 de piranha, 2 de tucunaré, 2 de matrinchã, e peixes de couro (surubim, barbado e
pintado). As coletas incluem 64 etnoespécies vegetais para uso na alimentação, 61 para
construção de casas e utensílios (domésticos, caça e pesca) e 88 para fins medicinais. Dentre
as atividades mencionadas, somente a roça demanda “desmate de áreas”, que em 2008 e
2009 somavam 20 hectares para atender aproximadamente 150 pessoas. As demais práticas
são pautadas no Conhecimento Ecológico Tradicional dos Apiaká e viabilizadas pelos serviços
ambientais (provisão e suporte) de ambientes naturais, que são historicamente mantidos em
bom estado de conservação pelas estratégias tradicionais de uso, ocupação e vigilância do
espaço pelos indígenas.

Um olhar antropológico sobre a cerimônia ritual no contexto de


transformação alimentar Xerente

Rosana Schmidt

Este trabalho examina o Dakrãiwakbâze, ritual tradicional de pagamento pelos serviços


fúnebres realizados entre o povo Xerente, no estado do Tocantins. Enquanto construção
cultural e simbólica, a cerimônia ritual evidencia o contexto de transformação nas relações e
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práticas rituais, e o gado surge como alimento/símbolo estruturante da sociabilidade,


entendida aqui como o bem viver entre parentes.

A importância da pimenta para segurança alimentar, nutricional e saúde do


povo Baniwa

Franklin Paulo Eduardo da Silva

O presente resumo visa apresentar resultados preliminares de estudo sobre a importância,


sentido e significado da pimenta para alimentação, prevenção e tratamento de doenças,
rituais de iniciação e afastamento de espíritos das florestas para os Baniwa. Pretende também
discutir questões que preocupam os baniwa mais velhos, como a desvalorização dos
conhecimentos e saberes acumulados sobre a pimenta, ausência de incentivo para resgate de
variedades de usos da pimenta na culinária, assim como as importâncias de iniciativas
existentes para agregar valores culturais, ambientais e econômicos à pimenta na região. O
estudo monstra que a maioria dos jovens tem pouco conhecimento sobre o uso medicinal da
pimenta, uso na prevenção e no tratamento das doenças e da importância no ritual de
iniciação. Entre os adultos também há quem não conhecem que a pimenta é usada para
prevenção e tratamento das doenças. Quanto ao uso da pimenta na culinária baniwa, a
maioria confirma reconhecer que a pimenta é o principal alimento e que dá sabor ao paladar.
Nesse sentido, a preocupação se amplia aos estudantes e lideranças baniwa, assim como
estudiosos das questões indígenas, principalmente, no campo de segurança alimentar. A
maioria teme que estes conhecimentos e saberes podem ser esquecidos com o tempo e junto
perder espaço e importância na alimentação. Estas são as questões que pretendo levar a este
evento para discutir, debater e trocar experiencias, conhecimentos e saberes sobre a pimenta.
Atitude que pode levar conhecimento razoável da importância, significado e sentido da
pimenta para os baniwa, assim como para contribuição com a segurança alimentar.

Práticas alimentares e perfil sociodemográfico de famílias indígenas


periurbanas usuárias do programa bolsa família no Alto Rio Negro

Hamyla Elizabeth da Silva Trindade


Ana Lúcia de Moura Pontes

O estudo fez uma análise sobre o Programa Bolsa Família e sua relação com as práticas
alimentares da população indígena, objetivando compreender e descrever as práticas
alimentares das famílias da etnia Baniwa vinculadas ao Programa Bolsa Família (PBF) na região
periurbana de São Gabriel da Cachoeira; o uso do recurso do programa de transferência
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monetária de renda (PBF) disponibilizados pelo Programa Bolsa Família; e a relação entre o
recurso do Programa Bolsa Família e segurança alimentar e nutricional, buscando apreender
sobre as influências das políticas públicas sobre a alimentação dos indígenas. A pesquisa foi
um estudo descritivo, do tipo qualitativo, com observação participante. Os resultados obtidos
mostram que todas as famílias utilizam o recurso do Programa Bolsa Família para a compra de
alimentos e outros itens básicos, porém é necessário que o recurso seja somado com a venda
dos produtos da roça (agricultura familiar) ou de outros serviços para a garantia da
alimentação. As práticas alimentares coletivas entre os indígenas por si só não contribuem
para a retirada das famílias da insegurança alimentar e nutricional devido à ausência de
alimentos em quantidade e qualidade suficientes para toda a população da comunidade. Os
indígenas da comunidade encontram-se em uma constante insegurança alimentar e
nutricional, seja pela falta contínua de alimentos, falta de recursos e mesmo pela falta da
qualidade dos alimentos que são ingeridos diariamente.

Alimento e artefato: o beiju de mandioca brava dos Wayana, povo indígena


do norte do estado do Pará

Lucia Hussak van Velthem

Para os Wayana, o beiju (ulu) é um alimento cuja importância nas refeições permanece
significativa. Comportando duas modalidades, representa uma das mais complexas
manufaturas femininas, ao lado da cerâmica e da fiação do algodão. Apesar de ser um
alimento, insere-se no quadro que define – de muitas formas – um artefato, a começar pela
matéria prima de confecção, o ulu “mandioca brava”. Outros aspectos que relacionam o beiju
ao sistema de objetos decorrem dos processos técnicos de transformação, do aprendizado de
confecção, da valorização estética, das importantes relações sociais que intermedia.
Considerando esse hábito alimentar tradicional dos Wayana, o objetivo da comunicação é
aborda-lo a partir das relações estabelecidas pelas mulheres wayana com os tubérculos
cultivados, os quais após serem colhidos e mediados por uma série de objetos resultam na
produção do beiju, o qual é por seus atributos físicos, simbólicos e sobretudo alimentares,
significativo para o modo de vida deste povo indígena.

Agriculturação yanomami, alimentos e a criação do mundo

Júlia Selau Verdum

Esse trabalho resulta de uma inquietação em relação à afirmação de que os Yanomami não
tinham agricultura ou que ela tinha pouca relevância alimentar. Neste artigo buscarei
esclarecer o porquê dessa afirmação e seus pressupostos, bem como coloca-la em questão,

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pois me parece que ela tem origem em uma visão específica do que seja agricultura, focada
nos roçados e orientada pelo modelo convencional associado à ideia de agricultura como uma
etapa superior de evolução do manejo da floresta, dos recursos e de produção de alimentos.
Proponho que concentrar a atenção no roçado como locus e motor de transformação e
produção alimentar e da paisagem pode levar a bloquear a percepção de uma maneira mais
complexa e diversificada de ação sobre a floresta, onde o roçado é apenas um dos elementos
constitutivos do que estou chamando de "sistema de agriculturação". Não se trata, aqui, de
refutar teses de autores e teorias, mas de preservar os dados relevantes ao desenvolvimento
da argumentação que proponho e para apontar possíveis novos fatos e caminhos para
investigações mais profundos e integrais sobre a relação dos Yanomami com a floresta
tropical, e sobre a insuficiência do modelo doméstico vs. natural para compreende-la.
Desenvolverei a argumentação em quatro partes. Na primeira, revisarei antecedentes e
discussões relacionadas com a problemática que definimos. Na segunda, questiono as
perspectivas que identificam e classificam os Yanomami como um povo típico de “caçadores-
coletores” predadores. Na terceira, incorporo à discussão o relato “biográfico” de Helena
Valero (1984), que proporciona pistas sobre a ação antrópicocultural dxs yanomami na
paisagem, os processos de cultivo e domesticação de espécies vegetais, e sobre como isso
tudo se articula constituindo o “sistema de agriculturação” yanomami. Por fim, resgato
observações e reflexões geradas na experiência etnográfica junto aos yanomami da aldeia de
Watoriki (2013), quando, ao caminhar pelas trilhas acompanhando as mulheres na coleta de
frutas, observando sua habilidade em identificar frutos e sua prática de espalhar sementes ao
longo do caminho, me dei conta de que o roçado não é o único local de produção alimentar.
Se agricultura tem o sentido de transformação do espaço e manejo com a finalidade de
produção, proponho “agriculturação” buscando um sentido de ação mais ampla e dinâmica
de cuidado, produção, criação e transformação yanomami da paisagem. Um processo que
envolve várias escalas ecológicas, temporais e socioculturais; atravessa domínios da vida
material, social, política e econômica; repousam sobre ecossistemas e espécies de plantas e
animais, e sobre conceitos, saberes e normas sociais; e que tem funções tanto produtivas
como simbólicas.

Crises alimentares e fome entre grupo tradicionais e indígenas: concepções e


mudanças

Ellen Woortmann

A alimentação entre grupos tradicionais e indígenas, via de regra, ocupava um papel


secundário nas análises teóricas e etnografias. Com frequência limitava-se a algumas páginas
na parte final do trabalho e se preocupava em descrever a produção e o consumo
encontrados. Análise de trajetórias e memórias alimentares, assim como de crises e quadros
de escassez e de fome são raras e bastante recentes. A preocupação de entender, por
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exemplo, os períodos e quadros de escassez de alimentos ou mesmo fome, decorrentes de


impactos de crises ambientais, de guerras, deslocamentos compulsórios, é fundamental. Face
à essa crise reveladora, o espectro do que é socialmente comível em tempos considerados
“normais” sofre um turning point. Inviabilizadas as práticas recorrentes de assegurar a
reprodução alimentar e, por conseguinte, a reprodução social do grupo, outras práticas são
re/incorporadas, estas alicerçadas no domínio cognitivo do meio ambiente, isto é, naquilo que
etno-cognitivamente é considerado comestível. Ademais, a análise dessas crises expõe
dimensões subjacentes e mais recentes, como a criação de laços de subordinação, de
dependência alimentar dos grupos face às elites econômicas, instituições governamentais e
religiosas e outras.

Sabores da maloca ao restaurante, à feira e ao parque: culturas


alimentares indígenas em contextos urbanos da tríplice fronteira
Brasil/Colômbia/ Peru

Claudia Leonor López Garcés

ST 47 | Programas de pós-graduação interculturais e indígenas.


Potencialidades, desafios e estratégias

Juliana Merçon (Universidad Veracruzana, México); Ana Tereza Reis da Silva (Universidade de
Brasília – UnB, Brasil).

Há mais de dez anos o ensino superior em diferentes países latino-americanos começou a incluir
processos de formação com orientação intercultural e indígena. As licenciaturas indígenas no Brasil e
os diferentes cursos de graduação oferecidos por universidades indígenas e interculturais no México,
Colômbia, Bolívia e Equador oferecem exemplos de esforços realizados para reestruturar projetos
político-pedagógicos a partir de uma plataforma intercultural crítica, decolonial ou epistêmicamente
plural. Apesar da necessidade de prolongar estes processos formativos para fortalecer debates
protagonizados por intelectuales indígenas e constituir quadros docentes com membros de
populações tradicionais em universidades, as experiências de pós-graduação intercultural ou indígena
são menos numerosas. As potencialidades e desafios referentes ao início e continuidade destes
programas de pós-graduação são múltiplos e complexos. O presente simpósio tem como objetivo

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contribuir a este campo em constante construção, através do intercâmbio de experiências, do debate


crítico sobre estes procesos e da potencial criação de redes de colaboração entre programas de pós-
graduação com enfoque intercultural ou indígena na América Latina.

Desafios na construção de um Programa de Pós-Graduação em Educação


Intercultural na UNIFESSPA

Maria Cristina Macedo Alencar

A Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará(UNIFESSPA) atua num contexto pluriétnico e


plurilinguístico em meio a territórios camponeses, quilombolas e de nove povos indígenas:
Aikewara, Mebengokré, Xicrin do Cateté, Gavião Akrãtikatêjê, Parkatêjê e Kyikatêjê, Amanayé,
Asuriní do Trocará, Atikum, Guarani- Mbya e Tenetehara-Guajajara. Isso impõe à instituição
promover processos formativos nos quais se considere que os futuros egressos dos cursos de
formação de professores atuarão em comunidades bi/plurilíngues e com processos históricos
e culturais muito distintos (ALENCAR, 2018). Tal formação tem o desafio de atender a
professores-pesquisadores indígenas, quilombolas, camponeses e professores que atuam em
escolas urbanas com alunos oriundos dessas comunidades na construção de currículos
interculturais e bilíngues a partir dos quais se supere o colonialismo epistêmico tanto na
Academia quanto na educação básica. Nessa comunicação reflito sobre o desafio da
UNIFESSPA em materializar tais processos formativos atendendo a reivindicações históricas
dos povos indígenas e camponeses do sudeste do Pará. Assumo que nas propostas de
Educação Intercultural, sejam nas Licenciaturas ou nas Pós-Graduações, os processos
formativos devem considerar que a construção da educação intercultural não pode continuar
a ser vista como uma prerrogativa somente das comunidades indígenas. Também os grupos
que discriminam precisam se educar para o convívio com os grupos diferentes de si e para
relações mais justas. Há a necessidade de dialogar com as epistemologias dos outros povos,
conhecer as outras territorialidades que constituem nossos locais de atuação docente a fim
de que os profissionais que acessam nossos programas de formação atuem com vistas à
construção de uma interculturalidade crítica (QUIJANO, 2005; WALSH, 2010).

Perspectivas de la formación docente indígena de posgrado en la Escuela


Normal Bilingüe e Intercultural de Oaxaca, México

Benjamín Maldonado Alvarado

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La Escuela Normal Bilingüe e Intercultural de Oaxaca (ENBIO) es una institución del gobierno
mexicano en la que se forma a jóvenes indígenas para ser profesores de educación básica en
escuelas públicas. Fue creada en el año 2000 por presión de la Sección 22 del Sindicato
Nacional de Trabajadores de la Educación, que es una sección radical de izquierda que agrupa
en Oaxaca a más de 90 mil trabajadores de la educación, de los que casi 20 mil son de
educación indígena. La ENBIO cuenta ya con un Centro de Posgrado, con apoyo de la UNAM.
En esta ponencia se expondrán y analizarán los avances y perspectivas de impacto al interior
(con estudiantes y docentes de la ENBIO) y al exterior (con docentes de otros niveles
educativos en Oaxaca) que tienen estos estudios de posgrado en el fortalecimiento del
modelo de educación contrahegemónica que impulsa la Sección 22 en las escuelas de Oaxaca
y con el que ha frenado y enfrenta a la reforma educativa y al modelo educativo nacional del
Estado mexicano.

Práxis decolonais na universidade: a experiência do Mestrado Profissional em


Sustentabilidade junto a Povos e Terras Tradicionais da Universidade de
Brasília

Olga Brigitte Oliva de Araújo

O presente trabalho trata de um estudo acerca da experiência do Mestrado Profissional em


Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais (MESPT), vinculado ao Programa de
Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília. O MESPT é um curso que tem como
objetivo a formação de profissionais oriundos dos Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs)
para a realização de pesquisa/intervenção, a partir do diálogo de saberes (acadêmicos e
tradicionais). O objetivo desta pesquisa foi analisar as especificidades da proposta Político-
Pedagógica do curso, as percepções dos estudantes sobre a experiência no curso e as possíveis
contribuições desta experiência para a decolonialidade da universidade. Adotou-se método
da roda de conversa para nortear a práxis no campo da pesquisa, observação-participante e o
diário de bordo para a construção das informações. A partir da pesquisa realizada, foi possível
identificar que o MESPT é um curso inovador do ponto de vista político e metodológico,
destacando-se o compromisso social e político do curso em produzir conhecimentos que
contribuam para solucionar os problemas socioambientais e para a promoção dos direitos
dosPovos e Comunidades Tradicionais. Em termos metodológicos, o MESPT adota a
perspectiva da interculturalidade, do dialogo de saberes (acadêmicos/tradicionais) e da
interdisciplinariedade. Outra especificidade do curso é ter turmas compostas por uma
pluralidade de Povos e Comunidades Tradicionais que vem para a universidade com o
compromisso de produzir conhecimentos que contribuíam para fortalecimento da tradição e
dos movimentos de resistência e re-existência das suas comunidades.Tendo em vista o
vanguardismo do MESTP na promoção do diálogo intercultural na pós-graduação, considero

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importante outras pesquisas sobre o curso a fim de conhecer os desafios e as potencialidades


do diálogo intercultural na academia.

As filhas negras da mãe Amazônia em um fazer científico

Celenita Gualberto Pereira Bernieri


Maria das Dores do Rosário Almeida

O objetivo desta comunicação é apresentar a visão das mulheres negras amazônicas sobre o
mestrado MESPT. Somos Celenita Laurinda Gualberto P. Bernieri e Maria das Dores do Rosário
Almeida, mulheres negras, amazônidas, ativistas há alguns anos no Movimento de Mulheres
Negras e Quilombolas. Somos filhas de Luiza do Rosário Almeida e Maria Anita Gualberto
Pereira, mulheres roceira da Vila do Carmo do Macacoari, localizada no município de Itaubal
e da professora na Comunidade de Lajeado em Dianópolis no Tocantins, no extremo-norte da
Amazônia. Diferentes trajetórias de saberes se cruzam de modo que nossas mães tiveram uma
educação formal que fez parte de sua vida depois de casada ou mesmo na adolescência,
enquanto estudamos desde o pré-escolar, desencadeando em caminhos bem distintos. Assim,
como muitas meninas amazônicas que deixam seus territórios em busca da escola, para cursar
o nível superior tivemos que sair das nossas terras, nosso chão, do estado do Amapá e do
Tocantins, esta saga repetimos para obter o título de mestre no Mestrado em
Sustentabilidade Junto a Povos e Terras Tradicionais – MESPT. Possamos dizer que o nosso
grande desafio no MESPT foi de dialogar com autores muito distantes das nossas realidades
de vida e das nossas pesquisas. Para superar, além de debruçar-me em leituras, nossas
estratégias foram de olhar para o MESPT como uma grande cabaça mágica, que cabe tanto o
rigor acadêmico, as ficções, as diversidades e o conhecimento tradicional. O produto final, a
dissertação, é um parto bem sucedido, mas arte de partejar não se encerra com o nascimento,
sim no partilhar o produto com nossas comunidades. Além disso, o MESPT nos possibilitou
sermos ativistas pesquisadoras da Amazônia.

Formação de juízas e juízes sobre direitos dos povos indígenas: reflexões


sobre uma experiência de diálogo intercultural

Andréa Brasil Teixeira Martins

Neste trabalho apresentamos os resultados da experiência vivenciada na pós-graduação


intercultural e indígena no Mestrado em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios
Tradicionais – MESPT/CDS/UnB. Na condição de mestranda do Programa, os intercâmbios de
saberes construídos a partir da vivência junto aos povos tradicionais e indígenas me

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permitiram acumular um arcabouço teórico/prático e trazer esses elementos para construir


um projeto político- pedagógico sobre Direitos dos Povos Indígenas para o Judiciário. A
condição de mulher não indígena, dentro de um contexto intercultural e multidisciplinar,
proporcionou-me, a partir das experiências das e dos colegas das comunidades tradicionais,
trazer elementos que foram incorporados ao projeto político-pedagógico da Escola Nacional
de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados – ENFAM, com o objetivo de aperfeiçoar e
desenvolver competencias relacionadas aos Direitos dos Povos Indígenas, tendo em vista a
necessidade de assegurar que todos os operadores do Sistema de Justiça estejam capacitados
a atuar na temática de direitos humanos, levando em conta a normativa internacional e a
regional. O curso “O Poder Judiciário e os Direitos dos Povos Indígenas” permitiu que juízas e
juízes de todas as regiões do País pudessem vivenciar esta prática realizando os cursos de
formação dentro das comunidades indígenas, em uma troca de saberes e experiências
interculturais.

O Projeto Encontro de Saberes: avanços e desafios rumo à descolonização da


universidade

Raoni Machado Moraes Jardim

A exposição oral pretende apresentar a parte da minha pesquisa de doutorado,


especificamente a sua etapa de campo, a qual se refere à observação-participante no projeto
Encontro de Saberes nas Universidades Brasileiras, coordenado pelo professor José Jorge de
Carvalho. Este projeto, sediado na Universidade de Brasília e presente em 9 universidades
federais do Brasil e em uma universidade colombiana, faz parte do programa Institutos
Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT/CNPq). A inclusão de mestres e mestras detentores
de conhecimentos tradicionais dentro da docência universitária, ministrando módulos de uma
disciplina reconhecida pela instituição, é um dos grandes desafios assumidos pelo projeto, que
se anuncia como um “[...] proyecto teórico y político pluriepistêmico que busca descolonizar
las universidades latino-americanas y del Caribe”. Entre os mestres e mestras dos saberes
tradicionais, estão xamãs, artesãos, arquitetos tradicionais, músicos populares, especialistas
em plantas de poder, especialistas em métodos indígenas de reflorestamento, artistas, entre
outros, convidados a ministrar cursos regulares na universidade em parceria com professores
de distintas áreas do conhecimento – saúde, meio ambiente, arquitetura, música, teatro,
entre outras. Previamente ao curso, acontece um momento de intercâmbio entre os
acadêmicos e os sabedores tradicionais no qual os últimos acompanham aos primeiros em
suas aulas e familiarizam-se com as dinâmicas pedagógicas universitárias, havendo, neste
espaço, as trocas direcionadas à preparação das aulas que ocorrerão dentro do projeto. Se as
cotas raciais estavam calcadas no princípio de reparação histórica, pelas inúmeras violências
e exclusão física dos sujeitos negros e indígenas, o Encontro de Saberes poderia ser
compreendido como um mecanismo das chamadas cotas epistêmicas, completando a
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ISBN: 978-65-5080-015-4
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descolonização iniciada com a implementação da política de cotas. A luta simultânea pela


inclusão dos saberes ancestrais e da população de onde provêm esses saberes, ampliaria
imensamente a potência do desafio colocado ao paradigma colonial da universidade. As
ementas e os projetos de pesquisa são construídos conjuntamente, entre acadêmicos e os
mestres, de forma a encontrar caminhos de interface entre os saberes. Apesar de mudanças
positivas terem sido logradas através do mecanismo de notório saber, as estruturas
institucionais universitárias são um desafio constante. A exposição oral aqui proposta
pretende expor desafios próprios desse encontro epistêmico, especialmente com relação aos
seguintes fatores: a hierarquização entre conhecimentos; tempo e espaço; a remuneração dos
mestres e mestras.

¿Investigación para qué y para quiénes? Algunas reflexiones metodológicas


sobre mi proceso formativo en la Maestría en Educación para la
Interculturalidad y la Sustentabilidad (MEIS)

Jesús Alberto Flores Martínez

De acuerdo con los datos estadísticos, en México sólo el 1% de la matrícula universitaria es


indígena, este es un hecho alarmante y nos habla de la deuda histórica que tiene el Estado
con los jóvenes indígenas para garantizar su derecho de acceso a la educación superior, y no
sólo eso, sino también de brindar un tipo de educación que sea social y culturalmente
pertinente. En mi familia, y después de varias generaciones, he sido el único que ha tenido
acceso a la educación superior y el único en hacer un posgrado, y este hecho, el de haber sido
“educado” en un aula, ha marcado mi vida por completo. No obstante, en este proceso he
reflexionado mucho sobre mi condición como “indígena escolarizado” y sobre el papel de la
educación como elemento transformador de la realidad. El haber pasado por la escuela me ha
permitido tener un conocimiento cada vez más amplio y complejo de la realidad que me
interesa trabajar, también me ha permitido cuestionar el papel de la academia y la
investigación ante las desigualdades y las injusticias sociales. Tener acceso a la educación
superior en este país es un privilegio, por lo tanto, ésta debe servir para mejorar las
condiciones de vida de los más desfavorecidos y no sólo para academizar las asimetrías y
documentar las crisis actuales. Si la educación no sirve para resarcir la desigualdad social, debe
ser replanteada. Si bien la escuela representa con frecuencia un espacio de exclusión y
racismo, también ha sido este un espacio de ruptura en donde se ha cuestionado el
funcionamiento de la misma, para dar lugar a otras propuestas más incluyentes e innovadoras
basadas en los principios de la interculturalidad y la sustentabilidad. En este sentido, la
transformación de la escuela depende de los actores que estén involucrados en este proceso
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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(estudiantes, maestros, comunidad) y de su propuesta de proyecto, es decir, hacia donde


desean orientar sus esfuerzos. En este trabajo me he propuesto presentar algunas reflexiones
sobre tres temas: en primer lugar, sobre mi proceso personal de escolarización como indígena;
en segundo término, sobre el papel de la academia y la investigación ante las problemáticas
de los grupos menos favorecidos y, finalmente, sobre el proyecto de intervención-
acompañamiento que llevé a cabo como estudiante de la MEIS, haciendo énfasis en la
metodología de corte horizontal implementada para el trabajo colaborativo y la búsqueda del
diálogo de saberes.

Potencialidades, desafíos y estrategias de la Maestría Profesionalizante en


Educación para la Interculturalidad y la Sustentabilidad (MEIS) de la
Universidad Veracruzana, México

Juliana Merçon

La Maestría en Educación para la Interculturalidad y la Sustentabilidad (MEIS) surgió en 2014


después de los aprendizajes adquiridos de la Maestría en Educación Intercultural (MEI), ambas
promovidas por la Universidad Veracruzana, en México. En su quinto año de actividades, la
MEIS se constituye como un programa innovador, que ha incidido positiva y significativamente
en procesos interculturales y socioambientales en diferentes regiones de México. Entre las
fortalezas que le permiten al programa orientarse hacia la transformación del sistema
educativo están la diversidad de posturas político-epistémicas vinculadas a saberes
tradicionales y transdisciplinarios, la investigación acción y una gran cohesión solidaria entre
estudiantes y profesores. Estas y otras potencialidades encuentran, sin embargo, retos
importantes como múltiples constricciones institucionales, tensiones entre grupos que
rivalizan con la visión de la maestría y la sobrecarga docente. En esta ponencia, además de
profundizar en estas potencialidades y desafíos, compartiré algunas de las oportunidades y
estrategias que han permitido que esta apuesta se consolide gradualmente en el escenario
académico mexicano.

Diálogos multiétnicos entre mulheres: desde as Bahias (do Recôncavo,


Território Velho Chico e Serra do Padeiro) para a Universidade de Brasília

Elionice Sacramento
Elizamar Uakodi Silva
Valéria Pôrto

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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Ana Tereza Reis da Silva


Cristiane de Assis Portela
Mônica Nogueira

Esta comunicação tem como objetivo apontar vivências compartilhadas de três mulheres afro-
indígenas estudantes do Mestrado em Sustentabilidade Junto a Povos e Territórios
Tradicionais na Universidade de Brasília: uma é pescadora e quilombola no Recôncavo Baiano,
a outra é quilombola do Território do Velho Chico no Sudoeste da Bahia, e a terceira é uma
indígena Xacriabá que vive e atua em Território Tupinambá no Sul da Bahia. Como aspecto
comum, estas mulheres fazem a defesa dos seus territórios, de seus modos de vida e da
tradição e têm visto na academia a possibilidade de articular seus conhecimentos tradicionais
com conhecimentos considerados científicos, a fim de favorecer a luta e a resistência. Desde
o início do curso, em julho de 2017, uma irmandade se constitui em meio ao processo de
adoecimento de uma das estudantes, proporcionando interações que logo culminariam em
alianças estratégicas para o fortalecimento mútuo. Durante alguns dias do ano o MESPT passa
a ser nosso quilombo/aldeia/costeiro de pesca, um espaço que formalmente se organiza com
a liderança de outras mulheres aliadas a povos e comunidades tradicionais e sem origem
comunitária, mas na prática é orientado por ancestralidade e guiado por encantados. Desde
setembro de 2018 temos nos dedicado ao intercâmbio de visitas entre nossos territórios, fora
do ambiente acadêmico, com o objetivo de fortalecer esta irmandade em tempos de
adversidade, potencializar a luta e a resistência, cuidando da espiritualidade. Salvador foi o
ponto de partida e o abrigo inicial, a partir do reconhecimento de territórios pesqueiros e
quilombolas construídos pelos estudantes da Escola das Águas. Seguindo pela Baía de Todos
os Santos, passamos por ilhas do Recôncavo até o Sul da Bahia. Em um segundo percurso nos
deslocamos de Itabuna até o Quilombo Pau D’arco e Parateca/ Malhada, no Velho Chico.
Nessa experiência de vivência diária de resistência quiseram os orixás e encantados da Bahia,
que numa ação de fé se juntassem às estudantes, professoras do MESPT. Juntas, levadas por
águas e ventos, as mulheres do MESPT participaram de atividades diversificadas no campo
espiritual, da incidência politica e da produção relacionada ao sustento. Essa forma de
vivenciar experiências de resistência territorial, não só fortalece as questões do próprio
território, mas, sobretudo cada uma enquanto mulher pescadora, indígena, quilombola,
intelectual da academia, que nós somos.

Perspectiva Decolonial: diálogos dos saberes e interculturalidade como


alternativa para pensar a universidade

Paula Fernandes de Assis Crivello Neves

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Este texto pretende discutir as possibilidades epistemicamentes plurais e interculturais na


Universidade, pensando na horizontalidade do saber e não na verticalidade que inibe a
emancipação do sujeito. Partindo da pesquisa de doutorado em andamento, essa discussão
sustenta-se na análise apurada de conceitos utilizados pela perspectiva decolonial com foco
no questionamento, na desconstrução e na teorização em um exercício de crítica - autocrítica
capaz de desfazer muitos “mitos” educacionais que envolve o sistema de ensino e a sua
condição de funcionamento atual. Nesse cenário, considera-se a educação em sentido amplo,
uma vez que algumas práticas educacionais são vinculadas aos conhecimentos da comunidade
local/povos indígenas, de modo imediato, e não somente ao que é aprendido nos bancos
universitários passíveis de demandas específicas com forte vinculação com o atendimento da
lógica do capital. Até o momento, os estudos apontam que os objetivos (re)velados da
educação nas Universidades são aqueles que porventura auxiliam mais à adequação em
conformidade com a colônia, por meio do conhecimento científico, do que se preocupa,
verdadeiramente, com a emancipação dos sujeitos por intermédio dos saberes. Sinaliza-se
também que uma possibilidade de autoria do conhecimento seria pensar a Universidade por
meio do diálogo dos saberes na perspectiva decolonial e intercultural, basta saber se eles já
acontecem ou pensar estratégias para sua efetivação.

Narrativas auto(biográficas) de pesquisadoras indígenas na Universidade de


Brasília: expectativas, aprendizados e enunciações

Cristiane de Assis Portela

A pesquisa analisa duas narrativas autobiográficas produzidas por mulheres indígenas


pertencentes aos povos Xakriabá de Minas Gerais e Ashaninka do Acre. Estas pesquisadoras
fazem parte, respectivamente, da terceira e da quarta turma do Mestrado em
Sustentabilidade junto a Povos e Terras Tradicionais (MESPT), curso de pós-graduação
intercultural da Universidade de Brasília, Brasil. Para fins de análise estabeleço interlocuções
com algumas perspectivas críticas epistemicamente plurais: a) o paradigma da travessia de
Jean-Godefroy Bidima; b) o potencial político da escrita em bell hooks e Gloria Anzaldúa e c)
a relação entre as narrativas históricas, a oralidade e a escrita em Hampatê Bá e Antônio Bispo.
Três perguntas orientam as reflexões. O que temos aprendido com as pesquisadoras indígenas
na UnB? Quais são as narrativas que “esperamos” ouvir de mulheres indígenas? Quais são as
enunciações discursivas apresentadas em seus textos autobiográficos e que elas sugerem
como insurgências acadêmicas? Os textos foram produzidos como atividade de uma disciplina
ofertada no MESPT e que está alinhada com as noções de escrevivência em Conceição Evaristo
e ferida histórica em Dipesh Chakrabarty. A análise traz interessantes chaves para o
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reconhecimento do pluralismo epistêmico que mulheres de comunidades tradicionais


conferem à universidade ao adentrarem este espaço como intelectuais pesquisadoras de seus
próprios saberes.

Decolonialidade, interculturalidade e justiça cognitiva: a experiência do


Mestrado em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais
(MESPT/UnB)

Ana Tereza Reis da Silva

As políticas de inclusão no ensino superior e a emergência de programas de pós- graduação


voltados para a formação de sujeitos provenientes de Povos e Comunidades Tradicionais
(PCT`S), ganharam força no Brasil, nos últimos 10 anos, promovendo um processo inédito de
justiça cognitiva e de combate ao racismo epistêmico. Apesar de suas contradições e das
resistências que enfrentam, tais experiências têm tornado o ambiente acadêmico menos
refratário às experimentações pedagógicas, teóricas e metodológicas pluriepistêmicas e,
portanto, mais propício ao diálogo e à colaboração simétrica entre os conhecimentos
científicos e os saberes tradicionais. Nesta comunicação, analisarei os avanços e os desafios
do Mestrado em Sustentabilidade Junto a Povos e Territórios Tradicionais (MESPT/UnB), uma
experiência pioneira voltada para a promoção da sustentabilidade de povos indígenas,
quilombolas e comunidades tradicionais e para a potencialização do protagonismo intelectual
de suas lideranças. Estimulando pesquisas colaborativas, engajadas e ancestralmente
orientadas, o programa é hoje uma referência na experimentação de metodologias
alternativas e formatos inovadores para a produção, o registro e a socialização do
conhecimento. Orientado por uma perspectiva epistêmica plural, que se manifesta também
na composição de turmas multiétnicas, o programa tem colaborado para a visibilização e
valorização dos modos de existir, das tecnologias e dos saberes de sujeitos historicamente
subalternizados, visando assegurar seus projetos de autogestão para a sustentabilidade, sua
soberania alimentar, seus direitos territoriais, culturais e ambientais. Enquanto projeto
político-epistêmico, o programa também constitui um espaço de questionamento e
enfrentamento das assimetrias de poder/saber, isto é, das estruturas monoculturais, racistas
e sexistas das universidades. Em que pesem os desafios que se impõe a sua manutenção e
continuidade, o MESPT promove um importante giro epistêmico por meio de uma pedagogia
decolonial.

Experiencia de profesionalización en la Maestría en Educación para la


Interculturalidad y la Sustentabilidad

Erica Fuentes Roque


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La Maestría en Educación para la Interculturalidad y la Sustentabilidad pertenece al Instituto


de Investigaciones en Educación (IIE) de la Universidad Veracruzana y tiene un carácter
profesionalizante que articula las prácticas educativas desde la interculturalidad y la
sustentabilidad. El programa de la MEIS (2014) tiene como objetivo la formación de
profesionales responsables, sensibles y creativos para contribuir mediante prácticas
innovadoras en la mejora de los procesos educativos, la calidad de vida, el ejercicio de
derechos individuales y colectivos y la construcción de sociedades sustentables y
participativas. En la MEIS participan actores profesionistas de distintas disciplinas, etnias y
campos laborales, lo que permiten diversificar las reflexiones, los saberes y los aprendizajes
desde los diferentes contextos en los que participamos para incidir en problemáticas
relacionadas con las desigualdades, el uso de los recursos naturales, los procesos de educación
formal y no formal, la conservación y uso de las lenguas originarias, entre otros fenómenos
culturales, sociales y políticos. Como estudiante y ahora egresada de la MEIS puedo decir que
el posgrado ha sido un espacio de construcción de aprendizajes entre el desarrollo de los
cursos del propio programa educativo, mi participación como actora en la educación y mi
interacción constante con la cotidianidad en la que me desarrollo profesionalmente en la
Universidad Veracruzana Intercultural (UVI) sede Las Selvas, que se ubica en el sur de
Veracruz, en México. El proyecto de profesionalización que desarrollé durante la MEIS se titula
“Prácticas de acompañamiento con enfoque intercultural en la Educación Superior
Intercultural. Universidad Veracruzana Intercultural, sede Las Selvas”, se trata de un
documento de construcción conjunta y constante con actores estudiantes, docentes y colegas
UVI y MEIS mediante la etnografía reflexiva y la autoetnografía de mi propia prácticaeducativa
que a su vez, es también una práctica colectiva de docentes y estudiantes de la UVI sede Las
Selvas. Los resultados han sido insumo necesario para mejorar las prácticas de
acompañamiento y la formación integral del estudiantado de la Licenciatura en Gestión
Intercultural para el Desarrollo de la UVI sede Las Selvas y tienen como alcance incidir en la
pertinencia cultural del acompañamiento en la educación superior en la Universidad
Veracruzana y en otras Universidades Interculturales. En ese sentido, la ponencia en
construcción enfatiza mi experiencia en el proceso de profesionalización y refiere al estudio
etnográfico desde la experiencia cotidiana en el que es necesario reconocer que existe una
subjetividad propia y una intersubjetividad que se genera en la interacción con el colectivo de
actores de la sistematización de la propia práctica educativa, de manera que las acciones, los
pensamientos, comportamientos, decisiones y actividades tienen significados y valores que
han sido construidos desde los conocimientos y experiencias que comparten. Estas
subjetividades van implícitas en el objeto estudiado y lo que a su alrededor converge, lo que
hace más complejo el análisis, la interpretación, la reflexión y la comprensión de los aportes
de las prácticas de acompañamiento. El método etnográfico se refiere a la “descripción y
análisis de las actividades cotidianas para entender los universos, las lógicas de la acción social
del otro y de nosotros” (Guerrero, 2002:20), es decir que contempla las opiniones, palabras,
emociones, sentimientos, valores, experiencias y conocimientos previos involucrados de las

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personas que participan. La etnografía sigue siendo básicamente una metodología


interpretativa- descriptiva, fundamentada en la observación, la entrevista, la estancia
prolongada del investigador y la recolección de documentos, cuya misión primordial es dar
cuenta del conocimiento local a través de la reconstrucción interpretativa de las relaciones
sociales, los saberes, y la cultura de determinado agrupamiento humano, institución o
proceso social (A. U. Levinson, Sandoval-Flores y Bertely- Busquets, 2007:825). El uso de la
etnografía reflexiva en la MEIS permite el desarrollo de “visión emic y etic - interna y externa
- de la realidad social como un quehacer reflexivo que desde dentro recupera el discurso del
actor social estudiado, a la vez que desde fuera lo contrasta con su respectiva praxis
habitualizada” (Dietz y Mateos, 2011:214), por lo que de mi parte hay una mirada emic en el
entendido que soy sujeto-objeto de la sistematización, es decir soy protagonista porque
realizo todas las prácticas de acompañamiento que refiero, formo parte de la MEIS que aporta
al fortalecimiento de mis competencias como actora de la educación y reflexiono sobre la
experiencia diaria, esto quiere decir que también hay una actividad de autocrítica de la
reflexión. El resultado es una incipiente, pero muy fructífera interteorización entre la mirada
académica-acompañante y la mirada activista igualmente autorreflexiva. Así entendido, este
tipo de investigación dialéctivo-reflexivo acerca de la realidad social es, a la vez, su crítica, con
lo cual la misma relación etnográfica se convierte en praxis política (Dietz y Mateos, 2011:360).
En este proceso hay una mirada etic cada vez que escribo sobre mi propia práctica educativa
(prácticas de acompañamiento) desde la observación no participante y las teorías con un lente
de investigadora que no puede separarse del todo la subjetividad pero que intenta hacerlo
para poder mirar desde otra perspectiva la realidad. Es decir, tengo un conocimiento que es
de origen interno al compartir conocimiento y experiencias comunes y al mismo tiempo
externo al grupo que acompaño por los diferentes procesos de formación de vida personal y
profesional, con matices de la influencia de una mirada occidental que me ha formado por
muchos años, por lo que sucede en mí, un proceso contrahegemonía. En ese sentido de
acuerdo con García (2006) hay una transformación dialéctica que se entiende porque al ser
observador y parte de lo observado se construye el conocimiento mediante interacciones
entre espacio, tiempo, procesos y un conocimiento que es propio y al mismo tiempo colectivo.
El método de la etnografía reflexiva se complementa con un carácter metodológico de
autoetnografía que “se halla liada a su impronta etnográfica, esto es, a su carácter cultural,
como descripción del otro que forma parte de un entramado social y cultural determinado,
diferente a nosotros mismos, pero al mismo tiempo, igual en su humana condición” (Muñoz,
2014:238). La autoetnografía se da porque en el proceso de sistematización soy actora
protagonista-acompañante-investigadora que participa en la MEIS y en el acompañamiento.
El hecho de que la MEIS sea de tipo profesionalizante causa que la sistematización tenga un
carácter de autoetnografía que en lo personal dificultó la redacción de la sistematización de
mi práctica educativa, pero facilitó la comprensión de mi propio proceso de acompañamiento
como una práctica educativa, intercultural y sustentable.

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Inter-cultural Universities in Latin America: Lessons for India

V. Santhakumar

It is important for all countries to learn lessons from the models of inter-cultural education
that are pursued in Latin America. In this paper, I am looking at the challenges that university
system faces in countries like India in order to address the needs of inclusive development,
and the lessons that can be drawn from the inter-cultural universities (and programs in higher
education.) Universities in the developed and developing world (including India) have
responded to the imperatives of social inclusion by following different strategies of affirmative
action - that is by admitting a set of students from socially marginalized groups. There were
no attempts to make higher education appropriate to the context and needs of these groups.
This approach towards the inclusion of marginalized groups is found to be inadequate for a
number of reasons: Majority of children from such groups do not complete school education
in a manner that is required for the standard model of higher education and hence cannot
enter and excel in universities; Even if they succeed in this regard, it will enable them to be
only at the margins of the educated society; Education does not enable them to reflect on
their culture and social context in an appropriate manner; and so on. Hence there is need to
pursue alternative models. India can look at the inter-cultural universities of Latin America as
one possible model. For example, this model may give lessons to India on how to provide an
appropriate (higher) education for its tribal communities which constitutes nearly 10 percent
of the population. However India has other types of marginalized groups too – like the lower
castes (which constitute nearly 15 percent of the population) but the challenges in providing
them an appropriate higher education could be somewhat different. This is so since these
groups were on the one hand, part of the mainstream society for millenniums but on the other
hand were suppressed and forced to occupy its lower tiers. Instead of a cultural `distance’, the
`suppressive integration’ is the major issue here. It is also known that inter-cultural universities
and education programs face different kinds of challenges in Latin America too. India too may
face similar and possibly aggravated challenges, when it attempts to try out alternative models
of higher education. The paper discusses some of these issues in the context of a specific
attempt to build a `different’ university in India.

É preciso tornar as universidades um espaço de reorganização popular para a


resistência

John Cleber Sarmento Santiago

Diante da atual conjuntura política, onde os direitos dos povos e comunidades tradicionais
estão sendo ameaçados, a resistência se faz urgente e necessária em todos os espaços,
inclusive nas universidades. Disputar e ocupar esses espaços é estratégico tanto para a
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construção de alianças com coletivos e pesquisadoras/es que atuam em favor dos direitos dos
povos e comunidade tradicionais, quanto para a produção de conhecimentos que não só
denunciem as violações de direitos, mas também sejam capazes de incidir positivamente nas
realidades locais, fortalecendo a autonomia e a organização das comunidades, valorizando
seus modos de vida e visibilizando suas formas próprias de produzir sustentabilidade (material
e imaterial). Nossos corpos ocupam, marcam e demarcam nosso espaço no meio acadêmico.
Pois, assim como em nossos territórios reconhecemos a academia como um espaço de debate
político e de articulação da luta coletiva que deve ser disputado. Reconhecendo isto, ingressei
ao Mestrado Profissional em Sustentabilidade junto a Povos e Terras Tradicionais – MESPT,
com o comprometimento de realizar uma pesquisa engajada para denunciar e visibilizar a
história, as memórias, as lutas e formas de resistir do meu povo do território quilombola de
Jambuaçu. O mestrado tem como pressuposto a valorização e o reconhecimento dos nossos
espaços socioculturais repletos de saberes, ancestralidade, espiritualidade, cosmologias,
produções artísticas, tecnológicas e com modos de existência específicos. Além disso,
posiciona-se politicamente e eticamente em prol da superação das situações de opressão que
atingem os povos e territórios tradicionais. Viver o MESPT foi manter a esperança de que outro
mundo sim é possível. Foi experimentar a insurgência de várias vozes e sujeitos antes
invisibilizados. Essa experiência me levou a vivenciar os primeiros passos de uma pós-
graduação que desconstrói o modelo obsoleto de educação para reconstruir e ressignificar a
partir das narrativas dos sujeitos subalternizados e de uma educação que liberta, dialogando
com autores e teóricos das áreas. Esse processo alimentou-nos o desejo de nos engajar ainda
mais em nossas lutas pela garantia e permanência de direitos. Nossa turma foi composta de
diversos povos e comunidades da Amazônia, do Cerrado e da Mata Atlântica: Indígenas,
quilombolas, extrativistas, assentados em área de reforma Agrária, Gerazeiros, quebradeiras
de coco e retirantes. Cada um trouxe para sala de aula as particularidades do seu
povo/comunidade para partilhar em nossos debates, vivenciando assim o processo
intercultural na prática para (re) construir epistemologias e ampliar os conceitos. Essa
experiência prática de interculturalidade acresceu muito na minha formação humana e
profissional. Pudemos ampliar o conceito que tínhamos de sustentabilidade e a tomar cuidado
com a aplicação do mesmo. Pois, ainda que as comunidades tradicionais se autoarfimem como
sustentáveis o sistema capitalista que se baseia na produção, no preço, na valorização
financeira, no acumulo do capital e na lógica economicista a pequeno prazo também se
apropria deste conceito para apresentar-se como sustentável e encobrir sua ação predadora
no meio ambiente. Discutíamos em sala de aula que para nós, povos e comunidades
tradicionais, o conceito de sustentabilidade vai para além da ação do homem na natureza.
Precisamos discutir a sustentabilidade também a partir de nossas histórias, culturas,
identidades, valores, costumes e tudo o que nos identifique enquanto “tradicional”, pois
todos esses fatores interferem para um bom relacionamento com o meio ambiente. Frente a
esse discurso, compreendi o ressignificado de desenvolvimento proposto pela companheira
de turma Célia Xacriabá, que utiliza o termo reenvolvimento. Ela diz que o nosso

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“desenvolvimento” depende do nosso reenvolvimento com a terra, com a ancestralidade,


com a história, com a memória e com as lutas de nossos povos. É a partir deste contexto de
discussão e construção de novas epistemologias que me aprofundei ainda mais nesse
processo de reenvolvimento. Me reenvolvi ainda mais com a minha história, com a minha
ancestralidade e principalmente com a luta pela garantia e permanência do meu território,
reconhecendo que o futuro das próximas gerações dependem do reenvolvimento da minha
geração com todos os elementos já comentados. Sendo assim, a partir da experiência do
MESPT propus aos jovens de minha geração um mergulhar nesse reenvolvimento também.
Diante de todas as ameaças apresentadas pela atual conjuntura, fui para meu quilombo e levei
algumas reflexões travadas em sala de aula. Isso contribuiu para organizar nossa juventude e
reconhecer que resistir é r-existir a partir daquilo que pré existe, isto é, a partir da memória
da luta coletiva e da ancestralidade que constitui a nossa identidade. Essa experiência nos
levou a refletir sobre como a Identidade constitui um elemento essencial por meio e em razão
do qual a comunidade se mobiliza e defende seus direitos. Ela é um elemento que agrega,
unifica e mobiliza para a organização. O MESPT ajudou a fomentar ainda mais a necessidade
de se reorganizar em prol da garantia dos nossos direitos, dialogando os saberes tradicionais
com os saberes acadêmicos. Contribuiu ainda para o empodaremento de ferramentas
jurídicas para somar às nossas lutas.

ST 48 | Pueblos indígenas en contextos urbanos. Organización etnopolítica,


políticas públicas y gobiernos locales en torno a la participación estatal

Claudio Espinoza Araya (Universidad Academia de Humanismo Cristiano; Centro de Estudios


Interculturales e Indígenas – CIIR, Chile); Juan Manuel Engelman (Consejo Nacional de
Investigaciones Científicas y Técnicas – CONICET, Instituto de Ciencias Antropológicas,
Facultad de Filosofía y Letras, Universidad de Buenos Aires y Universidad Nacional de Luján,
Buenos Aires, Argentina).

La migración de población indígena hacia contextos urbanos y periurbanos durante la mitad del siglo
XX ha provocado que al menos un tercio de las poblaciones indígenas habiten hoy en día en los
contextos citadinos, de diversos países de la región latinoamericana. El presente simposio del Tercer
Congreso Internacional Pueblos Indígenas de América Latina (CIPIAL), al tiempo que reflexiona acerca
del lugar que poseen las poblaciones indígenas en la ciudad, tiene por objetivo analizar aquellos
procesos de organización etnopolítica mediante los cuales surgen luchas por el território urbano, la
identidad y el reconocimiento de derechos. La visibilización de la población indígena, su organización
y la definición de um conjunto articulado de demandas de clase y etnia, marcan la consolidación de

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nuevos sujetos políticos a la hora de analizar la disputa por los recursos estatales y de ges tión
intercultural. Esto último, define otro de los ejes. Se trata de discutir acerca de las limitaciones y
posibilidades que en la actualidad poseen las instancias de participación etnopolítica de las nuevas
dirigencias indígenas urbanas en los gobiernos locales – municipales-, provinciales y nacionales tanto
en Chile como en Argentina. Finalmente, en este simposio profundizaremos acerca de un escenario
donde se combina la redefinición del rol del Estado, su descentralización y el impacto de políticas
multiculturalitas con las interacciones de los pueblos indígenas y diversos sectores sociales.

Interacción de Pueblos Originarios con gobiernos locales en la


implementación de políticas públicas interculturales

Ana Bensi
Andrés Honeri
Marcela Isabel Valdata

En Rosario, provincia de Santa Fe, República Argentina, la población originaria cobra visibilidad
a partir de la década del 80 con la presencia masiva de grupos qom y mocovi provenientes de
las provincias de Chaco y Formosa. En los comienzos de la interacción con el Estado local,
fueron los ancianos quienes preservando su organización tradicional de cacicazgo, iniciaron la
gestión junto al municipio sobre planes de vivienda y acceso a la salud y educación,
concretándose a partir de la década del 90 en la consolidación del primer barrio para la
comunidad. Hoy la 2o y 3o generación de líderes se enmarcan en “luchas de reivindicación de
derechos” ampliando los alcances de las primeras reivindicaciones, distanciándose
significativamente de la organización y representatividad de sus ancestros. A través de los
años y como resultado de este proceso de diálogo entre Estado- Comunidad en el año 2013
por Ordenanza del Concejo Municipal de Rosario No 9119 se crea la Dirección de Pueblos
Originarios, conformada por un Consejo de Coordinación de Políticas Públicas Indígenas (en
adelante CCPPI) integrado por referentes comunitarios. En el año 2017 se establece la sede
de la Dirección conformada por personal municipal originario pertenecientes a las
comunidades qom, kolla, mapuche y mocoví y una minoría no originaria. La Dirección presenta
una modalidad de trabajo de corte horizontal o en redes, donde las propuestas se planifican
en forma coordinada con el CCPPI revistiendo dos modalidades: 1- las acciones a desarrollarse
son propuestas desde la Dirección (u otras áreas estatales) y se consulta al CCPPI para su
implementación 2- el CCPPI presenta proyectos que se discuten en comisiones temáticas en
reuniones semanales o en las Plenarias mensuales. En este artículo nos proponemos analizar
la relación estado-comunidad presentando dos políticas públicas interculturales
implementadas por el gobierno local. La primera que surge de una demanda concreta del
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CCPPI referida a la pérdida de hablantes de lenguas originarias que se concretizó en el dictado


de cursos de los idiomas qom, mocoví, quechua y mapuche en un hecho inédito para la ciudad.
Mientras que la segunda refiere a la inclusión de las comunidades originarias en un programa
dependiente del Gobierno de la Provincia de Santa Fe, denominado Santa Fe Responde, donde
el ciudadano puede tomar contacto con el estado provincial y sus diferentes organismos para
realizar consultas pudiéndolo hacer en lengua materna qom o mocoví. Con ambas
experiencias reflexionaremos sobre conceptos como participación, representatividad así
como también sobre políticas públicas inclusivas desde una perspectiva intercultural.

Los indígenas en la ciudad y la participación política. Los aportes a los


movimientos sociales y gremiales de la región de La Plata

Diego Fernando Bermeo

Las migraciones indígenas y sus aportes a los movimientos sociales, están marcados por la
migración de utopías indígenas, diversas miradas de la realidad desde diversas cosmovisiones
y dentro de ellas las heterogeneidad de propuestas que se encuentran, así los territorios
urbanos son territorios en disputas dentro de las mismas culturas e identidades migradas. En
estos contextos los procesos de etnización de los movimientos sociales son diversos y suelen
tener muchas rupturas y continuidades en sus prácticas y proyectos políticos. Así pues vemos
como en los barrios de de la ciudad de La Plata, los movimientos sociales, desarrollan
experiencias de participación con poblaciones migrantes de países limítrofes que se
identifican como parte de un pueblo indígena, pero por lo general, no son tomadas sus
reivindicaciones locales o sectoriales. Por otro lado, estas “utopías indígenas”, no se cristalizan
en un proyecto político que dispute la hegemonía de los movimientos sociales, esto lleva al
reclamo permanente de estos indígenas migrados de países limítrofes, de ser folclorizados no
solo de parte del estado, sino, de los “argentinos” organizados en movimientos sociales y
gremiales. Buscamos en esta ponencia dar cuenta de las experiencias políticas de estos grupos
en el ámbito urbano, a partir de las representaciones formadas en los dirigentes indígenas con
estas experiencias. Tomaremos representaciones de dirigentes indígenas migrados con más
de 7 años de radicados en la Argentina, provenientes del Estado Plurinacional de Bolivia,
centralmente a líderes que hayan participado en sindicatos y movimientos sociales que luchan
por los derechos indígenas en la Argentina. Este trabajo, está enmarcada en el proyecto de
Investigación y Extensión universitaria denominada “Utopías Indígenas Migradas” en el marco
del Laboratorio de Investigación Movimientos Sociales y condiciones de Vida de la FTS-UNLP.

“O mundo está ficando cada dia menor e os acontecimentos cada dia mais
importantes”: Estado e sociedade na promoção dos direitos dos povos
indígenas em Minas Gerais
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Maria Carolina Arruda Branco


Helena de Oliveira Vitório
Julia do Carmo Carbono
Antonio Carlos Ribeiro

Os povos indígenas como sabemos, habitam as terras que hoje reconhecemos ser Brasil, muito
antes deste país se consolidar enquanto tal (CARNEIRO DA CUNHA, 2009). No Brasil, a pauta
dos povos indígenas começou a ser mais recorrente a partir do século XX, com o que
costumasse chamar de “indianismo brasileiro”; mas começa a se consolidar a partir dos anos
1970 (KRENAK, 2015). Desde então as mobilizações indígenas têm sido cada vez mais
recorrentes, fruto da organização destes povos na busca pela garantia dos seus direitos.
Diante deste cenário, as relações socioestatais tornam-se essenciais na promoção de política
pública e visibilidade da luta por direitos. Algumas organizações de caráter nacional que
possuem uma centralidade neste processo contribuem para os diversos modos de
organização política indígena. Elas compõem, juntamente com as agências estatais, a rede de
política pública para os povos indígenas estendendo os horizontes em locais onde o Estado
não chega, fazendo a defesa dos interesses indígenas, denúncias de situações que afetam a
vida destes povos, bem como a veiculação e promoção de conhecimento indígena. Tratamos
neste trabalho dos povos indígenas do estado de Minas Gerais (MG), um recorte que abrange
cerca de 12 etnias e 57 organizações indígenas que atuam localmente. Aborda-se a relação
entre Estado e sociedade na promoção dos direitos dos povos indígenas, buscando evidenciar
sobretudo a forma comque as organizações se organizam em rede para se mobilizarem em
prol da garantia destes direitos. Optamos por investigar a solução do seguinte enigma
sociológico: quais fatores fazem emergir uma rede interorganizacional atuante na proteção
dos povos indígenas?

Comunidades folk, discursos indígenas y etnicidades contemporáneas en la


frontera. El caso de las radios andinas en la ciudad de Arica, Extremo Norte de
Chile

Cristhian Cerna
Shirley Samit-Oroz

Analizando el problema del pluralismo informativo regional y local, se caracterizan acá las
estrategias mediáticas folk en la ciudad de Arica, entendidas como las acciones tácticas que
elaboran campos específicos de comunicación desde la (re)producción de la diferenciación
sociocultural fronteriza, que formulan su alteridad desde matrices asociadas a los pueblos del
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“interior de Arica” y/o de la (trans)frontera andina. En tanto alteridades subalternadas y en


latentes procesos de etnicidad, correspondiente a la época de la etno- gubernamentalidad y
de ciudadanías culturales globalizadas, en este criterio se instalan clasificaciones y conflictos
de cambio/continuidad. De esta forma, desde una perspectiva de etnografía comunicativa,
como resultados, se caracterizan los espacios radiales indígenas y sus agentes productores,
así como su audiencia en la ciudad de Arica, abordando las estrategias, discursos indígenas y
etnicidades subsecuentes.

A inexistência da representatividade indígena no campus da política brasileira

Patricia Aparecida Czelusniak

Introdução e objetivos: Essa pesquisa aborda a dificuldade da integração indígena e a


problemática de sua representação no campus da política brasileira. A falta de
representatividade indígena no campus político é assustadora, pois não há desde 1982 com o
índio Xavante Mario Juruna. Nesse sentido não existe, no Congresso Nacional, o
reconhecimento do índio como agente político, o que gera preocupação acerca da
permanência dos direitos e costumes indígenas, pois no Congresso há PL's, PEC's, e PLP's
indígenas e anti-indígenas em tramitação: ditadas, aprovadas e rejeitadas por não-indígenas.
Sendo assim, através do conceito de campus de Pierre Bordieu, do conceito histórico-social
do indígena no Brasil presente nas obras de Darcy Ribeiro, e da análise das literaturas
brasileiras como Iracema de José de Alencar e Casa-grande e Senzala de Gilberto Freyre,
investigar-se-á o porquê de não haver representação indígena no cenário contemporâneo da
política brasileira, para poder compreender os entraves que dificultam esse protagonismo.
Métodos: A construção de argumentos sobre a política estarão amparados na obra O poder
simbólico de Pierre Bourdieu, no conceito de campus. Após, recorrerar-se-á à representação
do indígena na literatura brasileira pelas obras Iracema de José de Alencar e Casa-grande e
Senzala de Gilberto Freyre. Em seguida, haverá a localização do indígena na história e na
atualidade com as obras O povo brasileiro e Os índios e a civilização, de Darcy Ribeiro. Por fim,
haverá a demonstração do déficit da representatividade indígena no cenário político brasileiro
através de dados em sites oficiais como INESC, IBGE, e TSE, além de artigos e sites que
fomentem a temática, e haverá a demonstração da importância desse protagonismo para a
representação e manutenção da etnia indígena brasileira. Resultados: O presente trabalho
encontra-se em andamento por tratar-se de uma pesquisa submetida à Iniciação Científica,
com finalização prevista para julho de 2019. Logo, ainda não há resultados consisos.
Conclusões: No campus político, os agentes mobilizam o maior número de pessoas dotadas
da mesma visão do mundo social, através da luta para conquistar a adesão dos cidadãos
(voto), onde é elaborado e imposto uma representação do mundo social ideal, e é feito através
do porta voz dotado de pleno poder de falar e de agir em nome e sobre o grupo, qual torna-
se substituto do mesmo. Sendo assim, é indispens a representação da etnia indígena por uma
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pessoa indígena. Em 2018 a deputada indígena Joênia Wapichana foi eleita, o que é um grande
avanço, mas ainda representa um percentual quase inexistente comparado às outras raças.

Alianzas políticas y vaivenes partidarios en torno a los espacios de


participación etnopolítica de población indígena en la Región Metropolitana
de Buenos Aires, Argentina

Juan Manuel Engelman

Desde el año 2007 en adelante, cuatro espacios de participación etnopolítica surgieron en


distintos gobiernos locales de la Región Metropolitana de Buenos Aires. Dicha conquista,
estuvo caracterizada por diversas alianzas políticas en torno a una dirigencia etnica urbana
formada en espacios de participación de política partidaria local y barrial principalemnte
desde la década de 1990. El objetivo de la presente propuesta es analizar la apertura de
coordinaciones, secretarías y consejos consultivos indígenas en la estructura y organigrama
municipal, así como abordar el impacto que la burocracia estatal ejerce sobre las tomas de
decisión, negociación y gestión de demandas etnicas y territoriales en dicha región.

La práctica extensionista y las políticas públicas en contextos interculturales


urbanos

María de Lourdes Guggia


Sofía Fernández
Marcela Valdata

La presente comunicación se propone reflexionar sobre la práctica extensionista universitaria


y su incidencia en la gestión de políticas públicas en contextos interculturales urbanos. La
profusa línea de extensión en la Universidad Nacional de Rosario (UNR) ha permitido
desarrollar con continuidad temporal ejes de trabajo basados en diagnósticos socioculturales.
El trabajo que ponemos a consideración, se desprende de la experiencia extensionista que en
área salud viene desarrollando el Centro de Estudios Aplicados a Problemáticas
Socioculturales (en adelante, CEAPROS) dependiente de la UNR con la comunidad qom
radicada en la ciudad de Rosario, Provincia de Santa Fe, República Argentina relacionada con
los efectores de salud pública. A través de la participación en la fase antropológica de un
estudio marco para la detección de enfermedades musculoesqueléticas y reumáticas
conducido por el Grupo Latinoamericano de Estudio de Enfermedades Reumáticas en Pueblos
Originarios (GLADERPO) con población qom, se visibilizaron aspectos que sirvieron como ejes
para la práctica extensionista de CEAPROS. Atento a ello, desde el año 2015, el equipo de
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trabajo de CEAPROS condujo tres proyectos de extensión vinculados a población qom,


abordando diferentes franjas etarias y en barrios con características sociodemográficas
hetorogéneas vinculadas a instituciones gubernamentales locales. Los dos primeros realizados
en la zona oeste de la ciudad de Rosario con adultos qom de ambos sexos, pacientes de los
centros de salud públicos con atención primaria (CAPS). El abordaje estuvo relacionado con la
promoción de la salud en enfermedades musculoesqueléticas (año 2015), caso presentado en
CIPIAL II y con la misma población se realizó asesoría y acompañamiento en los trámites de
discapacidad (años 2016-2017). El tercero (en fase inicial) en la zona norte de la ciudad con
una institución escolar primaria de gestión estatal, orientado a la prevención de las parasitosis
intestinales y sobretodo a indagar en las representaciones que sostiene la población qom
sobre esta problemática. Dichos proyectos estuvieron a cargo de equipos conformados por
miembros docentes, graduados y estudiantes de las carreras de bioquímica, medicina,
psicología y antropología mayormente, a partir de una metodología de carácter cualitativo,
con diseño de campo, en el marco de la que se implementaron diversas estrategias tales como
talleres, grupos focales, entrevistas y charlas informativas. La reflexión sobre las mencionadas
experiencias pone en valor abordajes éticos disciplinares, saberes culturales ancestrales y
prácticas de construcción intercultural y al mismo tiempo pone en tensión la planificación
estándar de políticas públicas en salud con una sesgada mirada intercultural.

Indígenas Kaingang em contextos urbanos no território da Bacia Hidrográfica


Taquari-Antas, Rio Grande do Sul/Brasil

Luís Fernando da Silva Laroque

Os Kaingang tratam-se de populações indígenas pertencentes ao Grupo Linguístico Jê e


tradicionalmente ocupantes de territórios no Brasil Meridional em áreas dos atuais estados
de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No Rio Grande do Sul, durante o
processo histórico do século XIX, sobreviveram ao impacto colonizatório. Durante o século XX,
com a Diretoria de Terras e Colonização e posteriormente com o SPILTN e SPI, tem-se a
fundação dos Toldos Indígenas e logo depois dos Postos Indígenas, cujo intuito foi de
transformar os Kaingang em trabalhadores integrados a sociedade nacional, situação que se
estendeu até a década de 1960 com o surgimento da FUNAI, mas com a Constituição Brasileira
de 1988 o movimento indígena Kaingang se fortaleceu e intensificou-se. Na atualidade, os
Kaingang totalizam uma população calculada em mais de 38 mil indígenas e ocupam por volta
de duas dezenas de áreas (IBGE, 2012). No Rio Grande do Sul, muitas famílias indígenas se
encontram em situação de acampamento em contextos urbanos e em beira de rodovias,
seguindo movimentos e trajetórias que tradicionalmente realizavam pelo território. O fio
condutor a ser problematizado consiste em analisar a presença e atuação Kaingang em

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territórios da Bacia Hidrográfica Taquari-Antas. No século XIX ilustra a questão o conflitos


Kaingang como os Fazendeiros que passaram a se instalar no território e de meados século XX
em diante intensificou-se o retorno Kaingang para áreas da Bacia Hidrográfica do Taquari
Antas e a instalação de aldeias em contextos urbanos como é o caso da Emã Jamã Tÿ Tãnh,
município de Estrela, Emã Foxá, município de Lajeado, e Emã Pó Mág, município de Tabaí, em
uma região denominada de Vale do Taquari. O trabalho considerando a categoria território
com uma construção cultural objetiva estudar as ocupações e movimentações Kaingang em
áreas da Bacia Hidrográfica Taquari-Antas. A hipótese levantada consiste no fato de que os
processos de territorialização Kaingang em áreas da Bacia Hidrográfica do Taquari- Antas está
permeado por uma ancestralidade indígenas que é transmitida por meio da memória e pelas
narrativas de cada geração. A metodologia caracteriza-se por uma abordagem etno-histórica
de cunho qualitativo e de natureza descritiva e participativa. Os procedimentos
metodológicos constitui-se do levantamento de informações em Arquivo Históricos, incursões
etnográficas e elaboração de diários de campo, entrevistas e registros fotográficos nas aldeias
indígenas que são realizadas por projetos de pesquisa da Universidade do Vale do Taquari –
UNIVATES. Estas informações são analisadas por meio de aportes teóricos de autores como
Seeguer e Castro (1979), Sahlins (1997), Little (1994), Tommasino (2000 e 2001) e Cavalcante
(2011).

Problemas sociais indígenas em contextos urbanos e a questão da


constituição de territórios em Campo Grande - MS

Getúlio Raimundo de Lima

Pesquisas indicam, desde 1920, no município de Campo Grande, capital do estado de Mato
Grosso do Sul, diferentes populações indígenas, oriundas de diversas regiões do Estado,
passaram ou se estabeleceram neste espaço geográfico. Este trabalho objetiva analisar os
problemas da realização dos direitos indígenas no espaço urbano, abordando questões
sociais, território e ressignificações identitárias perante a sociedade e a cultura urbana
hegemônica, nas comunidades- assentamentos da Vila Romana; Vila Bordon; Três Vila Santa
Mônica e a comunidade Estrela da Manhã no Noroeste, que lutam pelo reconhecimento de
sua cidadania como indígenas no espaço da cidade, a busca do efetivo amparo da Convenção
no 169 da OIT e outros dispositivos legais. A base teórica alicerça- se em autores como Espina
Barrio (2018); Barcellos (2018); Martins (2018), Urquiza (2013); Laraia (2006). O projeto de
pesquisa foi desenvolvido por meio de levantamento bibliográfico, mas constitui-se com base
no trabalho de campo, situação em que constatamos as reivindicações destes povos, que
lutam pelo reconhecimento de sua cidadania como indígenas no espaço da cidade e para
saírem da “invisibilidade”.

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Identidade política indígena na Amazônia: democracia e participação


etnopolítica

Andreici Marcela Araujo de Oliveira


Miriam Dantas de Almeida
Izaura Maria Vieira Cayres Vallinoto
Denise Machado Cardoso

A ideia da integração firmou-se na política indigenista brasileira até recentemente,


persistindo, em sua essência, desde o período Colonial até o final dos anos 80, quando um
novo marco se constrói com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que inaugurou
a possibilidade de novas relações entre o Estado, a Sociedade Civil e os Povos Indígenas, ao
superar – no texto da lei – a perspectiva integracionista, reconhecendo a pluralidade cultural.
Em outros termos, o direito à diferença fica assegurado e garantido, e as especificidades
étnico-culturais valorizadas, cabendo à União protegê-las. É diante desse cenário que o
movimento indígena ganham cada vez mais espaço, seja com a participação das lideranças-
que se tornam intermediárias entre o Estado e a aldeia-, seja por meio da construção de
espaços de interetnicidades, como nas universidades, por exemplo. Em todo caso, as
lideranças indígenas são importantes atores no processo de transformação do movimento
indígena, atrelado à questão educacional, identitária e política. Com o objetivo analisar a
participação política de algumas lideranças indígenas na Amazônia, a luz das teorias da
democracia, esse trabalho aponta formas de atuação política e de representação indígena
frente às instituições da esfera de poder por parte desses grupos. Novos atores políticos e
novas formas de participação surgem dentro desse contexto, que dialogam com a identidade
étnica e política- onde a identidade contém a dimensão individual e a coletiva, pode ser
assumida por membros de grupos minoritários ou pode ser aquela de grupos majoritários,
refletindo uma identidade contrastiva-, assim como sua reconfiguração diante das
transformações sociopolítica e cultural dos Povos Indígenas.

Só a participação não basta: fatores explicativos para a (não) mudança da


política de reconhecimento territorial indígena no Brasil e no Canadá

Leonardo Barros Soares

Brasil e Canadá são democracias federais com grande extensão territorial e população
indígena minoritária espalhada por seus territórios, que desenvolveram políticas distintas
para o reconhecimento territorial destas populações. O presente trabalho, fruto de nossa tese
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de doutoramento, compara a participação de povos indígenas em processos de revisão da


política de reconhecimento territorial no Brasil e no Canadá. No primeiro caso, abordamos a
1a Conferência Nacional de Política Indigenista, ocorrida em 2016. No segundo, analisamos a
Força Tarefa do governo canadense para propor mudanças para a política de assinaturas de
tratados territoriais daquele país em 1985. Ao passo em que a primeira destas instituições
participativas não obteve nenhum resultado concreto no sentido das modificações propostas
pelos povos indígenas, o segundo processo estudado obteve maior êxito. Entender as razões
desta variação no sucesso da capacidade de mudança da referida política a partir de
instituições participativas similares se configurou como nosso foco de pesquisa. Arrolamos
como possíveis fatores explicativos, para além dos fatores institucionais, aspectos
relacionados ao arranjo federativo de cada país, a agenda dos governos e a agência coletiva
dos povos indígenas. Baseando-se em grande volume de arquivos e em 12 entrevistas
coletadas nos dois países, concluímos que, no caso canadense, a interação virtuosa entre o
desenho institucional, os incentivos providos pela recém mudança constitucional, o papel
cooperativo das províncias e a ausência de oposição burocrática ou política organizadas
promoveu o ambiente propício para a mudança observada. No caso brasileiro, por outro lado,
a desmobilização interna da Conferência por parte do próprio governo, sua ausência de
centralidade política e a forte interferência política de setores econômicos organizados no
congresso sobre a política indigenista sem a mediação do chefe do executivo arquitetaram um
cenário institucional em que as mudanças almejadas pelos povos indígenas se tornaram
inviáveis. Em ambos os casos, a variável “agência coletiva indígena” não parece ter tido papel
relevante nos resultados observados.

Efectos sociales, territoriales y económicos de comunidades mapuches de la


región de Buenos Aires, Argentina

Sofía Varisco

La creciente presencia, organización y visibilización indígena de los últimos treinta años son
parte de un proceso más amplio que se viene dando en América Latina, en consonancia con
el avance en materia de derechos humanos e indígenas. Es desde este resurgimiento, que
contrarresta la idea arraigada de que los pueblos indígenas residen únicamente en áreas
rurales. Mediante el análisis de los procesos de sometimiento, ocultamiento, desarraigo de
los territorios, desmembramiento de las unidades familiares que provocaron en muchos casos
migraciones forzadas y reasentamientos en distintas zonas, buscaremos mostrar la presencia
de comunidades indígenas en la Provincia de Buenos Aires. Para ello, nos apoyaremos en la
relación entre antropología e historia y abordaremos el trabajo que involucran a la Comunidad
Mapuche urbana de Carhué “Calfu Lafken”, ubicada en la Provincia de Buenos Aires,

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compuesta por alrededor de 25 integrantes que se auto reconocen indígenas y que se


encuentran en un proceso constitutivo, relevando la población y realizando los trámites para
la personería jurídica.

Gobiernos locales con alcaldes indígenas. Espacios para la irrupción de la


interculturalidad y las demandas de los pueblos indígenas en Chile

Natalia Caniguan Velarde

La irrupción de los alcaldes mapuche en los gobiernos locales en Chile, ha sido un proceso que
se ha gestado desde el retorno a la democracia en los años 90 y que paulatinamente ha ido
adquiriendo mayor representatividad y relevancia dentro del contexto nacional y en los
territorios administrados por estas autoridades. El posicionamiento dentro de estos espacios
de poder, sin duda ha generado cambios a escala local, donde por una parte se potencian y
revitalizan procesos identitarios dentro de la población local (Caniguan, 2007) y a la vez, se
valida una forma de movimiento indígena desde la institucionalidad (Pairican, 2014),
constituyéndose en una nueva configuración etnopolítica de acceso al poder. (Espinoza, 2017)
Esta irrupción significará a su vez la necesidad de construir gobiernos locales interculturales,
por cuanto los espacios en que se sitúan los municipios responden a necesidades de población
en este caso chilena, mapuche y colonos extranjeros, que deben convivir interculturalmente
y a los cuales los gobiernos locales deben responder a sus necesidades y demandas. Y es a este
nuevo desafío al que se deben enfrentar los alcaldes mapuche, bajo la necesidad de construir
una gestión local intercultural, pero a la vez responder a las demandas - y saberse parte del
movimiento indígena, que en ciertos momentos puede tensionar la convivencia local y los
reales alcances de los municipios encabezados por líderes indígenas. Conocer sobre este
proceso de interculturalización de los territorios y la gestión local que se está generando
dentro de la asociación con alcaldes mapuche existente en Chile - asociación compuesta por
territorios rurales y urbanos, con porcentajes diversos de población indígena en sus espacios,
con diversas trayectorias políticas de los alcaldes – y ver como se articula con las demandas
de un movimiento mapuche que esta asociación ha hecho suyas como lo son la necesidad de
reconocimiento constitucional plurinacional, será lo que se presentará en esta ponencia, de
manera de dar cuenta de los alcances que puede tener un gobierno local y a la vez las
tensiones a las que se somete en esta intención de generar un nuevo espacio etnopolítico.

Liderazgos indígenas, representación y legitimidad en la Región


Metropolitana de Buenos Aires, Argentina

María Laura Weiss


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El propósito de este trabajo es historizar y analizar las dinámicas de reconfiguración de la


dirigencia indígena desde el interjuego entre lógicas de institucionalización, vida política y
práctica política indígena. Nos preguntamos por el impacto de esta dinámica, que se acrecentó
con la creación y puesta en funcionamiento de instancias de codecisión como el Consejo de
Participación Indígena (CPI), el Consejo Indígena de la Provincia de Buenos Aires (CIBA) y de
espacios logrados en los gobiernos locales/municipales desde comienzos de los años 2000.
Cuestionamos las contradicciones entre la letra formal y la efectiva puesta en acción de esa
codecisión. Asimismo, analizamos los conflictos en torno a la circulación,
elitización/burocratización y representatividad de la dirigencia indígena y la superposición de
liderazgos en el nivel comunitario. Este trabajo es parte de los avances de mi investigación de
doctorado y el trabajo etnográfico ha sido realizado desde el año 2013 en diversos municipios
de la Región Metropolitana de Buenos Aires y con múltiples actores sociales no indígenas e
indígenas, integrando organizaciones etnopolíticas, funcionarios y dirigentes políticos y etno-
políticos inscriptos en el entramado de la vida política local del Conurbano Bonaerense.

ST 49 | Pueblos indígenas y afrodecendientes en America Latina: políticas


publicas, extractivismo, criminalización y conflictividad en la coyuntura actual

Stephen Grant Baines (Universidade de Brasília – UnB, Brasil); Sebastián Valverde (Universidad
de Buenos Aires, Argentina); Luis Campos (Universidad Academia de Humanismo Cristiano,
Chile).

El simposio objetiva analizar la expansión de las actividades económicas basadas en la explotación de


los diversos recursos naturales, así como la construcción de diversas obras de infraestructura y las
reconversiones socio-productivas en los territorios de los pueblos indígenas y afrodecendientes (hasta
hace poco tiempo considerados “marginales”), y los cambios – en especial los últimos años. Esto ha
contribuido a procesos de etnogénesis o una reactualización de la etnicidad – frecuentemente en
contextos migratorios en los ámbitos urbanos. Otro eje se basa en el nuevo escenario en los diversos
países (Brasil, Argentina, Paraguay, etc.), con el giro hacia políticas neoliberales que implican un
contraste con los anteriores gobiernos. Profundizaremos en el escenario novedoso que se instaura a
partir de estos cambios, con la consiguiente redefinición en el rol del Estado y en las interacciones de
estos pueblos con diversos sectores sociales. Un tercer eje es la labor articulada y mancomunada que
vienen desarrollando los pueblos indígenas con vastos sectores sociales, que implican experiencias
innovadoras en la propia práctica de “transferencia”, o “antropología colaborativa”. Se prevé la

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participación de profesionales, pero también de dirigentes y/o intelectuales indígenas, cuya


participación resultará fundamental en vistas de poder efectuar un debate intercultural.

Reconocimiento del derecho propio de los pueblos indígenas en los sistemas


de justicia de Brasil y Colombia: experiencias cruzadas

Adrian Esteban Narvaez Moncayo


Thaynara Andressa Frota Araripe
Raquel Coelho de Freitas

La década de los 90 ́s fue escenario de grandes reformas constitucionales y en países como


Colombia, se establecieron garantías para el ejercicio de los derechos de los pueblos
indígenas, evocando a su vez, principios constitucionales como el reconocimiento de una
Jurisdicción Especial Indígena, fortaleciendo el pluralismo jurídico del Estado. Brasil, por su
parte, en su en enmienda constitucional del 88, reconoce, la presencia pueblos indígenas y, a
partir de allí, ratifica convenios como el 169 de la OIT. No obstante, en estos avances de
reconocimiento de derechos de los pueblos indígenas, en el caso de Brasil, no se consolida
una Jurisdicción, en la que las autoridades indígenas pueden administrar justicia, a través de
sus usos, costumbres y tradiciones, a pesar de lo dispuesto en la convención sobre la materia.
En contraste al reconocimiento de los derechos de los pueblos indígenas en las reformas y
enmiendas constitucionales de Colombia y Brasil, se puede evidenciar a través de la historia,
que los pueblos indígenas, siempre han administrado justicia, y que esta, ha sido ejercida
desde de sus usos, costumbres y tradiciones y a través de sus leyes de origen, fuero y derecho
propio. Situación que ha suscitado conflictos de competencias en las que la responsabilidad
de los administradores de justicia estatales, no ha correspondido a los estándares de las
instancias del derecho internacional, exigidos para el efectivo reconocimiento del derecho
propio de los pueblos indígenas. En ese contexto, se puede observar, como dos Estados
latinoamericanos han enfrentado el desafío de incluir en sus sistemas de justicia el derecho
propio de los pueblos indígenas y que estos a su vez, presentan dos propuestas diferentes de
hacerlo. Sin embargo, en la realidad, el reconocimiento en la institucionalidad de un sistema
de justicia especializado o no, no ha garantizado necesariamente, en estos dos Estados, la
existencia de una justicia apropiada y pertinente, que este conforme a los marcos de
interpretación propios de los pueblos indígenas y que permita la aplicabilidad de diversos
ordenes normativos en marco del pluralismo jurídico, para hacer un trabajo coordinado entre
autoridades indígenas y el sistema judicial convencional, quedando limitado y disminuido el
derecho indígena propio, a una visión occidental del derecho. En conclusión, desde una
perspectiva comparada es importante establecer recomendaciones que posibiliten el
entendimiento de prácticas normativas propias coexistiendo de forma completaría, a partir
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del reconocimiento de lo propio y lo apropiado de los pueblos indígenas, enmarcando


alternativas y posibilidades desde experiencias cruzadas, para que los Estados avancen en la
construcción de políticas con pertinencia cultural.

Delimitações dos mecanismos de participação social nas políticas públicas


para os povos indígenas do Tocantins e os impasses políticos, interculturais e
interétnicos na efetivação do COMPIT- Conselho de Políticas Públicas para os
Povos Indígenas do Tocantins

Adriana Tigre Lacerda Nilo

A partir dos resultados obtidos por uma pesquisa realizada entre 2016 e 2017, no âmbito do
pós-doutorado em telejornalismo público (UFT/UFJF), sobre a cobertura das temáticas
indígenas pela TVE-TO nas, mediante a constatação do descumprimento do princípio
fundamental da Comunicação Pública; quanto ao dever de reconhecer e valorizar a
diversidade étnica-cultural (considerando- se ser o Tocantins um estado brasileiro que possui
6 territórios indígenas e integra a Amazônia Legal) e ainda da falta de instituição, por parte da
fundação gestora da referida emissora de televisão pública, dos mecanismos legais com fins
de propiciar o exercício da cidadania, por meio de conselhos consultivos e deliberativos,
propõe-se nesta análise ampliar a abordagem das instâncias e modos de participação social
dos agentes políticos envolvidos nas discussões e definições da agenda pública das questões
indígenas. Para contextualizar regionalmente o cenário político-econômico, no qual se
estabelecem as relações sociais e os embates das forças políticas com interesses antagônicos,
será considerado o perfil agropecuário do estado, bem como, a nível nacional, a atual
conjuntura brasileira, de afronta aos direitos sociais individuais e coletivos, assegurados na
Constituição Federal de 1988. Diante desse contexto, debate-se a variação dos mecanismos
institucionais adotados pelo poder executivo estadual quanto às formas de participação de
indígenas e indigenistas nas políticas públicas voltadas aos povos indígenas no Tocantins. Em
determinadas áreas sociais, os indígenas e entidades indigenistas têm direito ao assento nos
conselhos da gestão pública voltada a todo o estado, como acontece, por exemplo, nas pastas
de Meio Ambiente e Saúde. Já na área da Educação existe um conselho específico para a
política pública educacional indígena. Analisa-se, neste panorama, o modo pelo qual surgiu,
em novembro de 2016, a proposta da Diretoria dos Direitos Humanos, da Secretaria da
Cidadania e da Justiça para criação do Conselho de Políticas Públicas para os Povos Indígenas
do Tocantins, o COMPIT, ora apresentado como a instância responsável pelo planejamento e
gestão de todas as áreas. Nos poucos encontros realizados para articulação do mesmo, as
interferências da diversidade cultural inerentes às distintas formas de organização social, não
só entre representantes da sociedade envolvente (Governo e instituições de ensino) e
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indígenas (Associações indígenas e ONG ́s indigenistas); mas entre os próprios indígenas.


Decorridos dois anos, critérios qualitativos e quantitativos para definição dos membros com
direitos à participação ainda se constituem em um forte entrave para composição do COMPIT.
Há de se considerar a auto definição indígena que apresenta uma nova configuração de 102
povos distintos no Tocantins, que indicam os seus próprios representantes, visto que um povo
não tem na sua cultura a tradição de representar outro povo; além da participação inexorável
dos representantes das administrações municipais, onde exista território indígena, dos
gestores estaduais e demais designados como representantes da sociedade civil. Desde modo,
em termos da gestão administrativa, um dos entraves está sendo o extenso número de 43
integrantes efetivos e, ainda, os respectivos suplentes. Após reuniões para discutir a sua
minuta, não houve alteração da proposta inicial, na qual o conselho de caráter deliberativo
prevê a participação social mediante os seguintes critérios de representação: 15 vagas para as
lideranças dos povos indígenas, 7 para ONG ́s, entidades de Direitos Humanos e entidades de
base dos povos indígenas, 11 para representantes de todas as secretarias e demais entidades
do governo do estado e 10 para os gestores municipais. Porém, até o final de 2018,
considerando-se a instabilidade da gestão política do Estado do TO, que teve neste ínterim
desde cassação do mandato do Governador anterior, Marcelo Miranda, até a eleição
provisória, com a vitória do candidato eleito em mandato provisório, que recentemente se
efetivou, Mauro Carlesse, paira, entre outras ações, a efetivação (ou não) do decreto que
instituirá o COMPIT oficialmente.

Interfaces religiosas e culturais no enfrentamento a violência na População


Indígena Potiguara da Paraíba

Carla Jaciara Jaruzo dos Santos


Lusival Antônio Barcellos

A proposta deste trabalho é de submeter os casos de violência que atingem a população


indígena Potiguara na Paraíba, sendo para todos os tipos e causas, que vai desde a violência
psicológica, física, intolerância religiosa e o estigma apenas pelo fato de ser indígena e seguir
a cultura de seu povo, de suas memórias e de suas origens. A metodologia da pesquisa será
realizada através da etnografia e a partir dos dados estatísticos retirados do Sistema de
Informação de Agravos de Notificação – SINAN NET, onde estes dados nos mostrarão através
de notificações compulsórias que alimentam este sistema, um subsídio consistente para
darmos andamento a observar de forma fidedigna o que eles nos mostram. Tendo em vista
que esses números são subnotificados envolvendo diversos fatores e culturas locais impostas.

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La Ley 26160 de relevamiento territorial indígena y sus sucesivas prórrogas en


Argentina: Discusiones parlamentarias y contextos políticos

Carolina Crespo

En el año 2006 se sanciona la Ley N° 26160 que declara por el término de cuatro años la
emergencia en materia de posesión y propiedad de las tierras que tradicionalmente ocupan
las comunidades indígenas de Argentina, establece la realización de un relevamiento técnico,
jurídico y catastral de esas tierras actualmente ocupadas y dispone la suspensión de desalojos
durante el período temporal de duración de la misma. Aun cuando esta ley no resolvía el
problema de la regulación del dominio territorial indígena, surgía como respuesta a este
reclamo. Con el correr de los años, la falta de conclusión de dicho relevamiento devino en
sucesivas prorrogaciones de la ley. En el año 2009 se la prorroga bajo la Ley 26554; en el 2013
bajo la Ley 26894 y en el 2017 bajo la Ley 27400. En este trabajo analizo las discusiones
gestadas en el ámbito parlamentario en torno a esta ley y sus sucesivas prórrogas en cada uno
de estos años, con el objeto de examinar cómo se expresaron y configuraron en estos
discursos continuidades y cambios contextuales de corto y largo plazo en materia de política
indígena en Argentina.

“O Santuário Sagrado dos Pajés Não Se Move!” - Insurgência étnica e


Identidades territoriais indígenas e o Estado brasileiro: conflitos interétnicos
e territoriais no contexto de expansão de empreendimentos urbanos no
Plano Piloto de Brasília

Comunidade Indígena do Santuário Sagrado dos Pajés - Pajé Santxiê Tapuya

A presente comunicação pretende abordar o problema do reconhecimento de territórios


indígenas de ocupação tradicional em área urbana no contexto de expansão de
empreendimentos urbanos e imobiliários e os conflitos gerados a partir da análise dos
discursos e estratégias da comunidade indígena do Santuário Sagrado dos Pajés
territorializada no espaço urbano do Plano Piloto de Brasília – ícone da arquitetura modernista
de Lúcio Coata e Oscar Niemayer, assim como analisar os discursos e políticas do Estado
brasileiro frente a reivindicação de reconhecimento de direitos territoriais indígenas em
contexto urbano levado a cabo por uma amplo movimento etnopolítico liderado pela
comunidade indígena do Santuário dos Pajés que abarcou outros setores sociais da sociedade
brasiliense.

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A retomada da PEC 215 pela MP 870/2019 e as possíveis ameaças aos direitos


territoriais indígenas

Camila Gouvêa de Araújo


Débora Silva Massulo
Diéssica Sabrina Bezerra Serique

A comunicação analisará possíveis impactos jurídicos provenientes da alteração da


competência para demarcação de terras indígenas, em virtude da publicação da Medida
Provisória 870/2019, que, em seu art. 21, retira da Fundação Nacional do Índio, ligada ao
Ministério da Justiça, a competência de identificar, delimitar, demarcar e registrar as terras
tradicionalmente ocupadas pelos índios, e a atribui ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento - MAPA, criado pelo Governo Jair Bolsonaro (2019). Esse novo ministério tem
o objetivo de gerir, estimular e fomentar a agropecuária e o agronegócio brasileiros e está sob
a direção da agrônoma e agropecuarista Tereza Cristina Corrêa, representante da Frente
Parlamentar da Agropecuária, “maior grupo suprapartidário em defesa do agronegócio do
Congresso Nacional” (MAPA, 2019). Este grupo se articulou intensamente, durante a
Constituinte de 1987, para garantia dos interesses do grupo, especialmente do direito de
propriedade privada na Constituição de 1988. Neste contexto, ressalta-se a Proposta de
Emenda Constitucional n. 215/2000, proposta por Almir Sá, presidente da Federação de
Agricultura de Roraima, que notadamente revela o interesse do agronegócio: impedir as
demarcações de terras indígenas, dispostas na Constituição de 1988 como atos declaratórios
e obrigatórios do Poder Executivo. A PEC pontua a inclusão dentre as competências exclusivas
do Congresso Nacional a aprovação de demarcação de terras indígenas e a ratificação das
demarcações já homologadas, determinando também critérios e procedimentos para o ato
administrativo, entre outras propostas contidas no relatório final da análise da comissão
especial (CONGRESSO NACIONAL, 2000; MACEDO, 2018). Essa mudança de competência para
demarcação das terras indígenas atinge diretamente os direitos fundamentais do índios, visto
que os interesses do lobby do agronegócio no Congresso Nacional ficam evidentes. A hipótese
que se busca desvelar neste trabalho é que a MP 870/2019 apenas ratifica e concretiza, de
maneira menos burocrática, os interesses da PEC 215/2000. Diante disso, é defensável outra
hipótese: a MP 870 viola preceitos vigentes no ordenamento jurídico pátrio, especialmente os
direitos indígenas e os princípios da administração pública esculpidos na Constituição Federal.

O processo de “realocação” e “reassentamento” dos indígenas deslocados


pela usina hidrelétrica Belo Monte: reflexões a partir de narrativas dos Xipaya
e Kuruaya em Altamira/PA

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Estella Libardi de Souza

Nos anos 1990, os povos Xipaya e Kuruaya, vivendo na cidade de Altamira, estado do Pará,
iniciaram um processo de afirmação das suas identidades étnicas e mobilização por
reconhecimento e direitos. Embora a presença dos povos Xipaya e Kuruaya remeta às origens
da cidade, o crescimento e o processo de urbanização de Altamira resultou na perda gradativa
dos territórios indígenas (Patrício, 2000). Dispersos em diversos bairros, tidos como
“misturados” à população não indígena, os Xipaya e os Kuruaya vivendo na área urbana da
cidade eram considerados, tão somente, “remanescentes” dos povos do passado, quando não
simplesmente “falsos índios”. No entanto, apesar da aparente “mistura” e “dispersão”, os
povos Xipaya e Kuruaya não desapareceram; agrupados em bairros ou associações, eles
engendraram estratégias para (re)construírem suas identidades étnicas na cidade, criando
marcas de identidade que os distinguem entre si e dos não- indígenas (Parente, 2016). Com o
início do processo de implantação da Usina Hidrelétrica (UHE) Belo Monte, no rio Xingu, que
resultaria no deslocamento compulsório de milhares de famílias da área urbana de Altamira –
entre elas, centenas de famílias indígenas, sobretudo Xipaya e Kuruaya – os povos Xipaya e
Kuruaya, organizados em associações, mobilizam-se pelo reconhecimento das especificidades
dos seus modos de vida e participação no processo de realocação e reassentamento das
famílias indígenas atingidas. A proposta discute o processo de realocação e reassentamento
das famílias indígenas deslocadas compulsoriamente da área destinada aos reservatórios da
usina, enfocando as mobilizações dos povos indígenas na cidade e as possibilidades de
influenciar ou afetar as políticas governamentais e as ações para a implantação da usina.
Utiliza-se pesquisa de campo desenvolvida entre 2015 e 2017, com realização de entrevistas
com lideranças indígenas, acompanhamento direto de ações e pesquisa documental,
privilegiando as narrativas de pessoas Xipaya e Kuruaya. Os povos indígenas lograram o
reconhecimento da presença indígena entre a população urbana atingida, com a realização
de estudos de impacto e elaboração de programas de “mitigação” específicos para a
população indígena. Contudo, tal reconhecimento não implicou na consideração dos modos
de vida dos povos indígenas no processo de “realocação” e “reassentamento”, e as
“negociações” em torno do deslocamento compulsório resultaram em violências e violações,
apesar da retórica da “participação”. Embora a UHE Belo Monte esteja praticamente quase
concluída, os conflitos persistem, e a “realocação” e o “reassentamento” das famílias
indígenas (e não indígenas) estão ainda em disputa.

Turismo indígena y reivindicación política en Chile

Francisca de la Maza Cabrera

La ponencia aborda el contexto chileno de construcción de las acciones estatales y privadas


que han contribuido a posicionar el turismo como una estrategia de desarrollo indígena. Se
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realiza un análisis crítico sobre la apropiación del turismo como una forma de control
territorial y reivindicación política indígena en un contexto de intensificación de “crisis política
indígena” producto del asesinato de un joven mapuche de parte de la policía a fines del 2018.
El desarrollo del turismo indígena, en particular turismo mapuche, aparentemente, es
considerado por diversos agentes como una acción positiva frente a las demandas y
reivindicaciones indígenas, posicionándose al margen del llamado conflicto indígena o
mapuche. En este nuevo escenario, el turismo mapuche es problematizado por las familias y
organizaciones mapuche que participan con iniciativas turísticas, ya no sólo como una forma
de desarrollo sino también como una estrategia identitaria y política indígena, que critica el
modelo económico neoliberal a pesar de estar inserto por medio del turismo, yendo más allá
en la búsqueda de formas de autonomía y autogestión.

El ethos desarrollista y los procesos de colonización en Bolivia: la resistencia


indígena del TIPNIS

Gaya Makaran

Con la ponencia pretendemos demostrar la continuidad de los procesos de colonización que


en la última década están siendo impulsados por los gobiernos “progresistas” o
autodenominados “de izquierda”, los que en nombre del bienestar social y la soberanía
nacional han emprendido proyectos de “desarrollo” y “modernización” capitalista, aunque lo
que se ha evidenciado haya sido más bien una reprimarización de modelos económicos con
base extractivista, en contra principalmente de comunidades rurales y pueblos indígenas que
desde los años 80 han resistido el embate neoliberal y han ido recuperando y resguardando
sus territorios y sus modos de vida. Esta nueva empresa colonizadora se presenta hoy, sin
embargo, más ambiciosa que las de antaño, puesto que esta vez pretende expandirse más allá
de sus lugares tradicionales, que en el contexto latinoamericano corresponden en gran
medida con enclaves extractivistas, e imponerse de manera irreversible y definitiva,
imposibilitando la disputa por el espacio-tiempo, al subsumir todo el territorio y todas las
formas de vida a la lógica del capital y a su espacio-tiempo único. Esta ambición totalizadora
del capitalismo actual que trasciende la dimensión meramente económica y permea todos los
aspectos de la vida humana, desde la organización política, reproducción cultural, relación con
la naturaleza, etc., encuentra todavía resistencias, cuyos protagonistas se “empeñan” a
defender sus modos particulares de vida más allá, aunque difícilmente fuera, del binomio
Estado- capital, apostando por la comunidad como base de una posible autonomía
social/societal. En particular, la ponencia tiene como objetivo mostrar y analizar los procesos
de colonización multidimensional contra los pueblos indígenas amazónicos efectuados
durante los gobiernos del Movimiento al Socialismo de Evo Morales en el marco del ethos
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desarrollista modernizador que se vincula con alta conflictividad y violencia contra las
comunidades. Será el caso TIPNIS (Territorio Indígena y Parque Nacional Isiboro Secure), sobre
todo los acontecimientos recientes (2017-2018) que atraerá nuestra atención como uno de
los casos más emblemáticos de resistencia indígena y ante las políticas desarrollistas del
gobierno del MAS. Nos basaremos en el trabajo de campo y aprovecharemos entrevistas y
denuncias hechas por los dirigentes indígenas en resistencia, como también los discursos y
declaraciones desde las esferas gubernamentales para ilustrar el ethos desarrollista y
colonizador del gobierno boliviano.

Claves para identificar la patrimonialización neoxtractivista

Ivana Carina Jofre Luna

En los últimos treinta años el lenguaje de la cultura ha colonizado todos los espacios la
gubernamentalidad estatal y global (cf. Michel-Rolph Trouillot, Eduardo Restrepo, Víctor
Vich), esto devino progresivamente, entre otras cosas, en la santificación del patrimonio y las
lógicas patrimoniales en todos los ámbitos académicos, científicos, y administrativos estatales
y privados, colonizando también progresivamente los lenguajes de muchos movimientos
sociales, tales como las organizaciones indígenas, asambleas y colectivos socioambientales,
entre otros y otras. Esto sucede porque desde comienzos del siglo XXI comenzaron a
desarrollarse -a mayor escala- cambios drásticos en las formas de reorganización de la política
patrimonial a nivel global, y particular en Sudamérica, Latinoamérica y el Caribe. Sobre todo
ocurrió una profundización del multiculturalismo neoliberal como principio organizador de los
discursos y prácticas patrimoniales y turísticas, pero esta vez, en un contexto neo- extractivista
de desarrollo que liga la producción y expansión de patrimonios con los planes de re-
ordenamiento territorial de la región. Esto sucede a pedido bancas de préstamo internacional
tales como Banco de Desarrollo Interamericano (BID), el cual propone, por ejemplo, el
proyecto de la IIRSA para asegurar el desarrollo de la región a partir de la creación de
infraestructura necesaria en la captación de capitales transnacionales de inversión
interesados en explotar “recursos”, y la inserción de los mercados locales –ahora- en los
mercados asiáticos. En el caso de Argentina, la instalación progresiva de las lógicas neo-
extractivistas de neo-colonización repercutió en tres escenarios relacionados y aún poco
explorados en las investigaciones: 1) la proliferación de patrimonios mundiales en nuestros
territorios bajo el auspicio de UNESCO y bajo convenios internacionales); 2) la reproducción
exacerbada de figuras patrimoniales (parques nacionales, áreas protegidas, etc.) a nivel
nacional, provincial y municipal para la supuesta protección y conservación de las
“diversidades naturales y culturales”; 3) y los concomitantes arreglos institucionales e
interinstitucionales (en universidades, organismos estatales, privados, etc.) que promocionan
los patrimonios a nivel regional y local como prácticas de nueva ciudadanía, y en el marco del
apoyo o adhesión a políticas económicas de integración regional. A esta conjunción de nuevos
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escenarios le denomino “patrimonialización neo-extractivista”, definida entonces como una


de las nuevas formas que adquieren las prácticas de violencia y despojo del siglo XXI en
Sudamérica. En esta oportunidad ofrezco algunas claves para identificar cómo funcionan estos
escenarios en el caso de Argentina, tomando algunos casos recientes de “patrimonialización
neoextractivista” en los cuales me ha tocado actuar de diferentes maneras y en colaboración
con pueblos y comunidades indígenas, comunidades rurales, y asambleas socioambientales.

A ferrovia paraense: um estudo de caso sobre às violações de direitos das


populações tradicionais na Amazônia paraense

Johny Fernandes Giffoni

Pergunta: Como a Ferrovia Paraense poderá violar direitos das populações tradicionais?
Objetivo: Estabelecer à partir dos direitos violados, os impactos que a Ferrovia Paraense trará
para as comunidades tradicionais. Justificativa: Pretende-se a partir do Estudo de Impacto
Ambiental e do Estudo de Viabilidade Econômico Social, estabelecer os impactos atuais e
futuros, bem como as violações de direitos das populações tradicionais que serão impactadas
pela Ferrovia Paraense, bem como o Estado lida com os direitos fundamentais dessas
populações, estabelecendo através das possíveis “violações desses direitos” a forma de
tratamento. Objetivos específicos: 1- Verificar quais são as violações de direitos às populações
tradicionais ocorridas no empreendimento; 2- Analisar a partir do Estudo de Impacto
Ambiental, como o Brasileiro se comporta diante de possíveis violações de direitos das
populações tradicionais; 3- Buscar entender qual o modelo de desenvolvimento adotado para
a Amazônia; 4- A partir dos direitos violados, quais são as formas de resitência A FERROVIA
PARAENSE: O Estado do Pará, através da Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Econômico, Mineração e Energia (SEDEME), vem realizando desde o ano de 2014 ESTUDOS DE
VIABILIDADE ECONÔMICA, TÉCNICA E AMBIENTAL (EVTEA) e Estudos Técnicos de Traçado da
Ferrovia Paraense – FEPASA, objetivando a construção da Ferrovia Paraense. Em 26 de
dezembro do ano de 2016, à Secretaria Estadual de Desenvolvimento, Mineração e Energia,
protocolou pedido de licenciamento ambiental do empreendimento denominado Ferrovia
Paraense. Trata-se de empreendimento cruzará 23 Municípios sendo eles, 1) ABAETETUBA,
2)ABEL FIGUEIREDO, 3)ACARÁ, 4)BARCARENA, 5)BOM JESUS DO TOCANTINS, 6)DOM ELISEU,
7)ELDORADO DOS CARAJÁS, 8)IPIXUNA DO PARÁ, 9)MARABÁ, 10)NOVA IPIXUNA,
11)PARAGOMINAS, 12)PAU D’ARCO, 13)PIÇARRA, 14)REDENÇÃO, 15)RIO MARIA, 16)RONDON
DO PARÁ, 17)SANTANA DO ARAGUAIA, 18)SANTA MARIA DAS BARREIRAS, 19)SAPUCAIA,
20)TAILÂNDIA, 21)TOME-AÇÚ, 22)XINGUARA e 23)MOJU, passando por áreas urbanas e
rurais. A construção da Ferrovia Paraense S/A, o maior projeto de logística do Governo do
Pará e um dos mais amplos do Brasil, perfazendo o tamanho de 1.319 km, . O Estado do Pará
vem licenciando diversos empreendimentos desenvolvimentistas e, muitas vezes, estes
atingem comunidades que residem próximas às obras, desconsiderando a organização social
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dessas pessoas e afetando o meio ambiente. Organizações sociais como a Federação de


Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase); a Cáritas Brasileira; a Conferência
Nacional Dos Bispos Do Brasil (CNBB) – Regional Norte II; a Associação Quilombola de
Jambuaçu; e as Associações de Comunidades Quilombolas de Barcarena; bem como o
Conselho Indigenista Missionário, no ano de 2017 constituíram uma “Frente em Defesa do
Território e Contra a Ferrovia Paraense” buscando acompanhar o processo de implementação
da ferrovia. A ferrovia passará próximo a comunidades tradicionais como quilombolas,
indígenas e extrativistas. Além disso, a ferrovia fará ligação com o porto da Vila do Conde,
onde já ocorreram vários acidentes como o naufrágio das embarcações em outubro de 2015.
O traçado da Ferrovia afetará as seguintes Florestas Públicas, assim discriminadas: Glebas
Arrecadas Federais Estrela Azul e Tracoá; Glebas ArrecadadasFederais Carrapatinho, Putirita
e Tuirio; Glebas Arrecadadas Estaduais Ariranha, Ampulheta, Polígno dos Castanhais, Braço
Forte (B), Piquiá II, Romualdo e Tailândia I; Glebas Arrecadadas Federais Água Azul, Araguaia,
Estrela Azul, Extrema, Geladinho, Itinga, Mãe Maria, Pau d’Arco, Rondon, Rumualdo, Sororó,
Suprema, Taquiteua e Verdes Matas. Quanto à projetos de Assentamento do Incra, o processo
de licenciamento detectou que os seguintes Projetos de Assentamento do INCRA SR-27:
Projetos de Assentamento Baguá e Belo Mirar – Município de Eldorado dos Carajás; Projetos
de Assentamento Casarão, Fortaleza I e II, João Vaz, e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro –
Município de Nova Ipixuna; Projetos de Assentamento Piquiá e Sabino São Pedro – Município
de Marabá; Projetos de Assentamento São Geraldo – Município de Bom Jesus do Tocantins.
No traçado da Ferrovia foram identificadas 780 empreendimentos rurais com Cadastro
Ambiental Rural. Em laudo apresentada pelos técnicos da Secretaria Estadual de Meio
Ambiente, foram constados que cerca de 600 “curso de água” serão impactados, afetando o
modo de vida de mais de 500 comunidades tradicionais, localizadas ao longo do eixo central
do empreendimento. Foram localizados no eixo do empreendimento cerca de 127 sítios
arqueológicos catalogados pelo IPHAN, nas áreas de influência do empreendimento.
Devemos ressaltar que nove comunidades quilombolas (1-São Sebastião, 2- Santa Maria do
Traquateua, 3-Santa Luzia do Tracateua, 4-Bom Jesus do Centro Ouro, 5-Nossa Senhora das
Graças e 6-São Bernadino, 7-Santa Luzia do Bom Prazer, 8-Novo Palmares, 9-Santana Axé do
Baixo, 10-Comunidade Sítio Bosque, 11-São Manoel, Santa Maria do Mirindeua, 12-Nossa
Senhora da Conceição, 13-Jacunday e 14-Ramal Piratuba) serão diretamente afetadas pelo
empreendimento, além de cinco territórios indígenas (1- TI Xicrin do Caeté, 2- TI Suruí do Pará,
3- TI Mãe Maria, 4- TI Sarauá e 5- Turé Mariquita I e II) que serão, segundo os estudos
indiretamente afetados, pois não estão dentro do eixo de afetação direta, que segundo o
estudo de impacto, considera como sendo 10 km de cada lado do eixo central do traçado do
empreendimento. A presente Ferrovia, precisa ser modal de transporte dos projetos
minerários localizados no Sul do Pará, bem como dos empreendimentos do agronegócio, das
cidades de Paragominas, Rondon do Pará e Marabá, com o principal polo de escoamento dos
minérios, grãos, biocombustível que é a cidade de Barcarena. A Ferrovia pretende transportar
por ano, segundo informações da própria Secretaria de Desenvolvimento: a) Empresa Vale:

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60 milhões de toneladas ano de diversos minérios; b) Norks Hydro: 5 milhões de toneladas


ano de Bauxita; c) Mineração Irajá: 20 milhões de tonelada de Minério de Ferro; d) Alloys Pará:
170 mil toneladas de Alumínio; e) Araguaia Niquel Mineração LTDA: 54 mil toneladas ano de
Níquel, e 130 mil de Carvão. Desta forma, pretendemos no presente artigo discutir o respeito
por parte do Estado do Pará do direito de Consulta Prévia, Livre e Informada das Comunidades
Quilombolas, Indígenas e demais comunidades tradicionais, bem como o Estado do Pará,
através do seu dever legal de realizar o licenciamento ambiental, ao invés de garantir direitos
das populações originárias e tradicionais, viola direitos previstos na Constituição e na
Convenção 169 da OIT. METODOLOGIA: Será realizado um estudo bibliográfico dos
documentos protocolados para o licenciamento ambiental, bem como pareceres emitidos
pelo poder público Estadual, à respeito da legalidade e legitimidade do empreendimento.
Estudo de artigos e outras bibliografias sobre o processo de consulta, bem como leitura e
análise dos protocolos de consulta das comunidades tradicionais que serão afetadas pela
Ferrovia Paraense. CONCLUSÃO: O presente trabalho tentará demonstrar os impactos do
empreendimento denominado Ferrovia Paraense, para as populações originárias, e para os
povos tradicionais que estão ao longo dos 1.319 km de ferrovia, bem como as estratégias
utilizadas pelo Governo do Estado do Pará, e as forças políticas e empresariais na tentativa de
legitimarem as violações ao direito à consulta prévia das comunidades tradicionais.

Turismo como indigenismo empresarial. Las presiones de tour-operadores y


la manipulación de lo indígena en Chile

Luis Campos

En esta ponencia caracterizo la relación que han establecido empresas operadoras de turismo
con comunidades y familias indígenas, proceso en el cual han pasado a controlar desde la
acción comercial que vincula a las comunidades con los clientes, la forma específica en que se
ejecuta la acción turística, el control de redes de turismo indígena y la propuesta y ejecución
de políticas públicas en Turismo. Se discute aquí el aporte que este tipo de relación tiene para
los pueblos indígenas y el impacto que tiene la intervención de estas grandes empresas en la
manipulación de las condiciones de vida de los pueblos indígenas, orientadas a la satisfacción
de intereses comerciales disfrazados a partir del trabajo de ONGs, cooperativas y consultoras
que se presentan como organizaciones que estarían ayudando al ejercicio del turismo cultural
como pueblos indígenas.

Neoextrativismo e “zonas de sacrifício”: Exploração mineral de silvinita nas


Terras Indígenas Mura/AM

Márcia Leila de Castro Pereira


999
Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Em contato com os brancos desde o século XVIII os Mura seguramente sofreram


transformações importantes em sua organização social e política. Podemos inferir sobre a
mudança de um padrão de assentamento tradicionalmente disperso pelos grandes lagos e
pelas margens das calhas dos rios de maior monta como Madeira, Amazonas, Purus e
Solimões, para a interiorização dos espaços dos seus afluentes, rios menores, igarapés e lagos
recônditos. Os Mura podem ser encontrados em diversas regiões do estado do Amazonas.
Consequência de sua ampla e tradicional circulação territorial, as terras que ocupam
estendem-se por uma vasta região em diferentes Municípios. A maior concentração de terras
Mura pode ser notada no município de Autazes e na região do rio Madeira, formada pelos
municípios de Borba e Manicoré. Os lagos, rios e igarapés do Delta dos Autazes e o rio
Madeira, podem ser apontados como de evidente ocupação Mura e historicamente essas
localizações foram mantidas. É nessa região que a empresa Potássio do Brasil, que desde 2007
atua na região de Autazes e Nova Olinda do Norte, tem desconsiderado os povos indígenas ao
longo do processo de incursão na área, pretendendo investir na construção de um Complexo
Industrial para a extração e tratamento do potássio, com a finalidade de produzir fertilizantes
numa região onde vivem milhares de indígenas e ribeirinhos. Importante dizer que desde 2009
estão sendo feitas pesquisas de campo na região em tela, sem consulta prévia, autorizadas
pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), para a identificação das jazidas
dentro da Terra Indígena Jauary. Em 2013, a Coordenação Geral de Licenciamento Ambiental
(CGLIC) da FUNAI notificou a Potássio do Brasil para que suspendesse imediatamente as
atividades incidentes sobre a Terra Indígena Jauary e solicitou o cancelamento da licença
prévia ao Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam). Recentemente, a empresa
Potássio do Brasil LTDA, teve o licenciamento ambiental para exploração de silvinita, no
município de Autazes (AM), suspenso. Tal suspensão, após a audiência, aconteceu como
consequência de uma ação civil pública impetrada pelo Ministério Público Federal, tendo em
vista que pelo menos 40 Terras indígenas de Autazes sofrerão impactos ambientais e sociais
direta e indiretamente e, ainda, pela não realização de consulta prévia, livre e informada,
segundo determina a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Com
este estudo pretende-se empreender um mapeamento dos impactos deste empreendimento,
a partir de estudos e material existente de campo, inserindo este caso no contexto dos
debates acerca da insustentabilidade dos projetos de mineração na Amazônia brasileira.

Identidad étnica como estrategia política: la lucha de las mujeres


afromexicanas de la Costa Chica de Oaxaca, México

María José Lucero Díaz

El Estado mexicano ha tenido escaso interés por emprender acciones para atender las
demandas sociales y políticas de la población afromexicana. Ante esta situación, en los últimos
veinte años se han multiplicado las voces que exigen acciones mas certeras en torno a las
1000
Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

garantías de los derechos colectivos y el reconocimiento constitucional a los pueblos


afromexicanos. Asimismo, las comunidades afromexicanas y sus memorias siguen ocupando
un lugar subalterno en la sociedad. Especialmente, son las mujeres quienes han
experimentado la opresión y la violencia en mayor grado. De modo que son diversas las
agrupaciones de mujeres afromexicanas que se han conformado para demandar la
discriminación múltiple y la desigualdad de genero que viven en relación con los hombres, por
lo que exigen que se generen políticas publicas con perspectiva de género que atiendan sus
necesidades y derechos como mujeres racializadas, sexualizadas, empobrecidas,
marginalizadas y violentadas. Esta investigación es producto de un trabajo de campo
antropológico que utiliza la metodología colaborativa. Tiene por objetivo analizar las
construcciones identitarias de una agrupación civil de mujeres afromexicanas de la Costa
Chica de Oaxaca –la Colectiva Ña’a Tunda– como estrategia de negociación con el Estado
mexicano para que se reconozcan sus derechos colectivos. El principal resultado es el análisis
de la situación desigual de las mujeres afromexicanas, observando cómo sus identidades
espolean la movilización de sus reivindicaciones actuales. El principal aporte remite a la
interseccionalidad y la metodología colaborativa como un enfoque fructífero para los estudios
de género y para las propias organizaciones civiles de mujeres, ya que puede generar
conocimientos académicos nuevos y mayor visibilización a las demandas políticas que las
mujeres afromexicanas están exigiendo en el actual contexto mexicano y latinoamericano.

“Nunca más un México sin nosotros”: El Congreso Nacional Indígena frente al


patrón de acumulación de capital en México

Nayeli Moctezuma Pérez

La actual fase de desarrollo del capitalismo a escala planetaria, llamada mundialización, surge
en el contexto de una crisis general del capitalismo y genera una nueva división internacional
del trabajo en la que se traen a la actualidad antiguas formas de dependencia que se creían
desaparecidas. Así, se generó un patrón de reproducción de capital fundado en la
reconversión económica para la exportación, cuyos ejes fundamentales son la
superexplotación del trabajo y la acumulación por desposesión. Este nuevo Patrón Exportador
de Especialización Productiva (PEEP) ha implicado una gran transferencia de valor y de
recursos naturales: petróleo, agua, minerales, productos agrícolas, entre otros, a los países
imperialistas, profundizando la dependencia de nuestros países a través de la violencia, el
saqueo y la depredación. Con este PEEP quedan en la mira del capital los territorios aún no
incorporados a su lógica. Por tanto, aquel proceso de acumulación originaria que significó para
los pueblos indígenas, desaparición física y cultural, además de dominación y explotación,
sigue siendo una amenaza latente. El capital avanza continuamente en el territorio y frente a
esa embestida vemos levantarse a las organizaciones indígenas. ¿Qué implicaciones tiene este
patrón de reproducción de capital para los pueblos indígenas en México? Los megaproyectos
1001
Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
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impulsados por el capital local y trasnacional: minas, carreteras, planes inmobiliarios, energía
eólica, presas, complejos industriales, se efectúan con el despojo de tierras y territorios
indígenas. Por ejemplo en el caso de la minería, se tienen alrededor de 5000 concesiones en
territorios indígenas. Según datos oficiales, del territorio nacional, 56 millones de hectáreas
están cubiertas por bosques y selvas, de esa cantidad, 80% es propiedad comunal o ejidal. En
el caso de la tierra de cultivo, la población indígena es propietaria del 44%. Por tanto, hay una
confrontación directa entre las necesidades de reproducción del capital y la estructura de vida
de los pueblos indígenas cuya existencia material, cultural y espiritual depende
profundamente del territorio en el que viven. Frente a lo anterior, a lo largo y ancho del país
el proceso de resistencia de los pueblos se ha intensificado, diversas organizaciones indígenas
defienden sus territorios a partir de su sistema de vida comunitario y de la construcción de
autonomías, además tejen una red en el Congreso Nacional Indígena. Si bien el CNI no es la
única organización en el país, sí representa el principal espacio de confluencia de los pueblos
indígenas. Durante 20 años ha luchado por los derechos de los pueblos indígenas presentes
en los Acuerdos de San Andrés y, de la mano de otros sectores sociales, construye una
propuesta nacional de resistencia frente a la “Hidra capitalista”.

Empreendimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e


impactos nas Terras Indígenas em Rondônia

Rafael Ademir Oliveira de Andrade


Artur de Souza Moret

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) tem como objetivo modernizar a


infraestrutura e providenciar a construção dos “caminhos do desenvolvimento” (BRASIL,
2009) para o país. A partir desta informação inicial se torna fundamental o debate acerca dos
caminhos necessários e quais os modelos de desenvolvimento a serem trilhados pelo país,
especialmente no que tange ao espaço das sociedades tradicionais nesta “nova sociedade”
construída pelos empreendimentos do programa. Este artigo objetiva relacionar as obras do
PAC que impactam em terras indígenas no estado de Rondônia, estabelecendo um recorte
fundamental para a pesquisa. Este trabalho, de natureza descritiva quanto aos seus objetivos,
intenciona relacionar as características do fenômeno, sendo as implementações dos
empreendimentos do PAC em terras indígenas o foco central deste texto. Quanto aos
procedimentos, a pesquisa utilizará de uma revisão de literatura aberta, com intenção de
verificar as diferentes narrativas sobre os processos de construção ou planejamento desses
empreendimentos, assim como a medição territorial- ambiental-humana de impactos
causados por esses empreendimentos. Nossa problemática central gira em torno do Programa
de Aceleração do Crescimento que planeja em torno de 369 obras, sendo que até 2014, 43
obras que perpassam de alguma forma por terras indígenas, causando impactos de naturezas
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diversas (VERDUM, 2007) e deste número total, 10 foram previstas para os povos com terras
em Rondônia, algumas já construídas, como as usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau.
Já neste recorte temporal é possível perceber que boa parte das obras a serem desenvolvidas
impactou de alguma forma sobre as terras indígenas. Se considerarmos as populações que
ocupam tradicionalmente espaços não urbanos, este número aumentará consideravelmente
sendo o modelo de colonização recente da Amazônia. Como no caso da BR 421 e da Ferrovia
de Integração Centro Oeste há um posicionamento claro das elites locais para que os
empreendimentos ocorram, à revelia do que pudessem causar de dano as comunidades. O
Estado, agindo para o uso dos empreendimentos enquanto possibilidade de governabilidade,
ou seja, de arrecadar mais recursos, promover uma circulação rápida de recursos no mercado,
diminuir os índices de desemprego e movimentar diversos setores da economia local, mesmo
que os impactos sejam em longo prazo, para esses agentes os benefícios de curto e médio
prazo são melhores. Com relação aos agentes privados, há a possibilidade de enfraquecer
ainda mais as relações protetivas dos povos indígenas: o inchaço demográfico, o discurso do
desenvolvimento, a abertura de novas entradas, o aparente caos social causado pelos
empreendimentos, a intensificação da visão do indígena enquanto inimigo do progresso,
possibilitam a esses agentes intervir de forma ainda mais efetiva nas terras indígenas.

Indígenas e fronteiras internacionais: a negação da nacionalidade, etnicidade


e territorialidade

Stephen Grant Baines

O trabalho examina a ambigüidade do Estado em reconhecer a nacionalidade, etnicidade e


territorialidade de povos indígenas que vivem em fronteiras nacionais, a partir de diversas
situações na América Latina. Os povos indígenas que tiveram seus territórios tradicionais
divididos pela demarcação das fronteiras entre os Estados nacionais são frequentemente
acusados de serem estrangeiros. São situações em que etnicidade e nacionalidade se
convergem em torno da territorialidade. Cardoso de Oliveira ressalta que “é exatamente esse
espaço ocupado pela nacionalidade que tende a se internacionalizar, graças ao processo de
transnacionalização que nele tem lugar. O foco privilegiado de investigação será [...] o sistema
inter e transnacional, visto em termos das nacionalidades em conjunção” (2005, p. 15). A
demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, Brasil, enfrentou forte
oposição por parte de políticos e militares que defendiam e defendem a fragmentação dessa
Terra Indígena (TI) para a exploração de recursos minerais e hídricos e pelo agronegócio de
soja, arroz, e outros produtos na forma de grandes projetos desenvolvimentistas, usando o
argumento falso de que a demarcação de Tis põe em risco a soberania nacional. A recente
migração de indígenas Warao do delta do rio Orinoco, Venezuela, para o Brasil, criou uma
situação nova em Roraima de indígenas sujeitos às normas internacionais da Convenção 169
(OIT) e, ao mesmo tempo, considerados estrangeiros pelo Estado (SANTOS; HORTOLAN;
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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SILVA, 2018). Em dezembro de 2016, 450 Warao estavam sendo deportados pelo governo de
Roraima, quando o Ministério Público Federal interveio para impedir. Em 2017, um líder
indígena Mapuche, que tem nacionalidade argentina, foi preso na Argentina, e extraditado
pela Corte Supremo de Justiça para o Chile, processado pelo incêndio de uma propriedade
rural no contexto de uma luta contra a instalação de uma hidrelétrica naquele país. Essas
situações revelam a ambigüidade dos discursos dos Estados nacionais ao lidar com povos
indígenas transfronteiriços e realçam perspectivas indígenas transnacionais que revelam as
contradições e ambiguidades dos discursos nacionais.

Saberes indígenas: vivência e convivencia

Teodora Souza

A comunicação retrata a experiência de um projeto em andamento para formação continuada


de professores indígenas das etnias Kaiowá, Terena e Guarani, Ação Saberes Indígenas na
Escola (SIE), em desenvolvimento nas escolas indígenas com o apoio da Universidade Federal
da Grande Dourados (UFGD), do Ministério da Educação (MEC) e das prefeituras municipais.
As reflexões resultam da análise das relações históricas entre a Educação Escolar Indígena, a
Educação Indígena e a formação de professores indígenas na região de Dourados, Mato
Grosso do Sul. O objetivo da ação é a formação continuada de professores indígenas em
letramento, numeramento e produção de material didático. A fundamentação teórica e
metodológica, construída pela instituição formadora em diálogo com os professores indígenas
ao longo dos três anos, foi orientada de acordo com os princípios freirianos e a técnica do
ensino com pesquisa para orientar o planejamento dos professores e formadores da ação.
Entre os resultados destaca- se a contribuição da Ação Saberes Indígenas na continuidade de
uma política de formação continuada para os professores indígenas nas aldeias da Reserva
Indígena de Dourados e Panambizinho e a necessidade de regularidade nestas políticas
públicas além de efetivação nas ações de governo e práticas pedagógicas.

Curso Normal Médio Intercultural Ára Verá: formação de professores Kaiowá


e Guarani

Veronice Lovato Rossato

O Curso Normal Médio Intercultural Ára Verá (espaço-tempo iluminado) trata-se de uma ação
cujo objetivo geral é formar professores indígenas Kaiowá e Guarani em nível médio, com
habilitação para a educação nas comunidades indígenas, educação nos anos iniciais do ensino
fundamental I e educação infantil. Foi aprovado e autorizado a funcionar por meio da
Deliberação/CEE/MS n.o 6284 de 20 de julho de 2001, com o nome de Curso Normal em Nível

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Médio – Formação de Professores Guarani Kaiowá – Ára Verá. Este curso emergiu de
reivindicação histórica do Movimento dos Professores Kaiowá e Guarani, das comunidades
desta etnia e de outras instituições envolvidas com a educação escolar no contexto indígena
(UFMS, UCDB e Diocese de Dourados), que ressaltavam a necessidade de um curso específico
de formação inicial de professores indígenas Kaiowá e Guarani. Esta solicitação foi assumida
pelo governo estadual de Mato Grosso do Sul, em 1999, para responder aos ditames
constitucionais no sentido de construir, participativamente, a política educacional para
proteção e promoção de diversidade étnica, proporcionando a valorização da história e o
fortalecimento da identidade dos povos indígenas, fortalecendo suas culturas.

Lof Kintupuray del departamento Los Lagos de la provincia de Neuquén:


trayectorias mapuche, revalorización identitaria y valorización territorial

Sebastián Valverde e Alejandro Balazote

En el presente trabajo, daremos cuenta del proceso de revalorización de la identidad y de la


adscripción indígena mapuche de los miembros de la comunidad Quintupuray, (Lof
Kintupuray), asentado en la margen norte del Lago Correntoso, en el Departamento “Los
Lagos” de la Provincia de Neuquén, en la zona cordillerana de Norpatagonia Argentina. El
análisis que efectuaremos, abordará tres ejes fundamentales. En primer lugar, el recorrido de
la comunidad y sus integrantes, lo que ha llevado a la demanda del reconocimiento como “Lof
Kintupuray” en la última década, atendiendo a la revalorización de la identidad y de la
memoria de sus diversos integrantes, y a la vuelta al “territorio” originario, contrastando con
la histórica asignación (y auto-asignación) como “pobladores”. En segundo lugar,
atenderemos a las transformaciones territoriales, y la revalorización territorial e inmobiliaria
de la zona, en particular la zona cercana al territorio comunitario, con las consiguientes
transformaciones en el conjunto de estas dinámicas. Por último, haremos referencia al trabajo
de articulación con diferentes instituciones, no solo del Lof Kintupuray sino también de la
organización supracomunitaria, la Confederación Mapuche Neuquina, que posibilitan
visibilizar estas experiencias. Esto incluye el trabajo colaborativo con nuestro equipo
universitario, trabajando en la sistematización de estas trayectorias.

TS 50 | Saberes Indígenas, transdisciplinaridade e Educação Escolar

Neimar Machado de Sousa (Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD, Brasil);


Teodora de Souza (Secretaria Municipal de Educação – SEMED, Grande Dourados, Mato
Grosso do Sul, Brasil).

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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A proposta desse Simpósio Temático é transdisciplinar, pois parte do pressuposto que as sociedades
estão cruzadas por oposições de classe, étnicas e de gênero, além de considerar que o diálogo com
outros saberes, como a antropologia e a educação, é um caminho para o desenvolvimento da
educação. Seu objetivo é articular pesquisadores indígenas e indigenistas em torno das práticas
pedagógicas inovadoras que envolvem a aproximação entre os saberes indígenas e a educação escolar
indígena. As reflexões terão como foco a análise das relações históricas entre a Educação Escolar
Indígena, a Educação Indígena e a formação de professores indígenas Brasil e América Latina. A
fundamentação teórica e metodológica será construída em diálogo com os professores indígenas de
acordo com os princípios freirianos e a técnica do ensino com pesquisa para orientar o planejamento
dos professores em educação escolar indígena. Como resultado do simpósio, são esperadas
contribuições na continuidade de uma política de formação continuada para os professores indígenas
e a necessidade de regularidade nestas políticas públicas além de efetivação nas ações de governo e
práticas pedagógicas.

Saberes e fazeres: a alimentação como fonte de revitalização da saúde e


cultura na escola indígena Tupinambá

Nádia Batista da Silva (Akawã Tupinambá)


Crithiane Ferreguett

Qualidade de vida e saúde são dois conceitos relacionados entre si. Em uma concepção
moderna, saúde é o resultado de um processo de produção social que expressa a qualidade
de vida de uma população. A saúde é considerada produto social, isto é, resultado das relações
entre os processos biológicos, ecológicos, culturais e econômico-sociais que acontecem em
determinada sociedade e que geram as condições de vida das populações. A saúde, nessa
concepção mais ampla, mais do que ausência de doença, é um estado adequado de bem-estar
físico, mental, social e ambiental que permite aos indivíduos identificar e realizar suas
aspirações e satisfazer suas necessidades. Assim, a construção da saúde é um processo por
meio do qual a população se capacita e busca meios que favorecem seu bem-estar e o da
comunidade, ou que a colocam em risco, tornando-a vulnerável ao adoecimento,
prejudicando sua qualidade de vida. Nesse caso, as pessoas são consideradas sujeitos do
processo e potencialmente capazes de vir a controlar os fatores determinantes de sua saúde.
Existe a necessidade de um olhar mais amplo sobre a importância da educação para o
consumo responsável e o fomento à educação da população para as escolhas alimentares e
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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para a produção de refeições mais saudáveis, preservando, inclusive, as formas tradicionais e


regionais de preparo e realização de refeições. O objetivo central desse artigo, é discutir uma
compreensão sobre a alimentação tradicional oferecida nas Escolas Indígenas Tupinambá de
Olivença, relacionando alimentos e saúde à forma cultural dos Povos Indígenas. Como
objetivos específicos, elencamos: relacionar cultura e alimentação; descrever ações e
costumes alimentares tradicionais do Povo Tupinambá dentro e fora do ambiente escolar;
registrar a tradição culinária desse povo, incluindo algumas receitas, com valores que
relacionam costumes, saberes e fazeres dentro da tradição oral, e a sua relação com o
sagrado, o ambiente em que vivem os indígenas. Descrevemos, registramos e sugerimos ações
que facilitam essa conexão da cultura alimentar com os costumes tradicionais dos povos
indígenas. Nesse diálogo, refletimos sobre: garantia da produção do alimento para consumo;
alimento e autossustentabilidade com a qualidade da saúde em todos os aspectos;
preservação da biossocial diversidade, entendida como a memória e a sua identidade, capaz
de representar os bens culturais, materiais e imateriais. Dentre o referencial teórico,
destacamos o Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas (1998) e Novo Guia
Alimentar da População Brasileira (2014).

A Singularidade e a Subjetividade da Formação dos Professores Indígenas no


Brasil

Vanessa Alves Batista

A comunicação apresenta o resultado de uma pesquisa realizada com professores indígenas,


que teve por objetivo entender o processo de formação dos professores indígenas no Brasil,
tangenciando as políticas públicas entendendo- as como a legislação que trata a respeito da
importância do professor ser indígena de sua comunidade para que possam [re]construir os
valores da cultura indígena e a reflexão sobre a sua identidade com o reconhecimento dos
direitos fundamentais de cada etnia enquanto grupo diferenciado. A pesquisa foi realizada a
partir da metodologia qualitativa (SAMPIERI; COLLADO; LÚCIO, 2013) tendo com técnica a
entrevista narrativa, uma vez que por meio de uma pergunta chave provocamos a narrativa
dos participantes. A resposta narrativa se torna um meio de comunicação com o objetivo de
compartilhar as experiências subjetivas vividas pelo entrevistado em seu processo formativo.
Para a análise e discussão dos dados, foram utilizados os pressupostos da abordagem
qualitativa proposta por González Rey (2005, p.5-8), que conceitua como aquela que “defende
o caráter construtivo interpretativo do conhecimento, o que de fato implica compreender o
conhecimento como produção e não como apropriação linear de uma realidade que se nos
apresenta”. O resultado da pesquisa ajuda a esclarecer aspectos bons e ruins acerca da
formação de professores indígenas no Brasil explicitando as contradições entre políticas
públicas e legislações com o contexto da realidade vivida pelos professores indígenas.

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Aplicabilidade da Lei 11.645 de 2008 nos livros didáticos de geografía

Jahdy Andrade de Brito


Karen Regina Silva Costa
Hellen Cristine da Silva Costa

A cultura brasileira é composta por diversos grupos étnicos devido a sua forma de colonização
e formação. Diante de uma precariedade no ensino referente a pluralidade dos grupos
presentes no território, a legislação obriga tardiamente o ensino nas escolas sobre a cultura
Afro-brasileira e indígena. Primeiramente com a Lei 10.639 de 2003, que garante a
obrigatoriedade do ensino Afro-brasileiro, e posteriormente com a Lei 11.645 de 2008, que
estende a obrigatoriedade ao ensino da cultura indígena, elas alteram a Lei 9.394 de 1996 que
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. A questão indígena é pouco tratada e
estudada nas universidades e consequentemente nas escolas. A geografia que estuda o
espaço terrestre e suas relações, deve tratar do espaço e delimitação das terras que
pertencem ou que pertenceram aos indígenas, assim como a contribuição para formação
cultural do povo brasileiro, referente a geografia cultural, que estuda as transformações no
espaço geridas pelo homem em função das suas manifestações culturais. O livro didático é um
instrumento de auxílio para os professores e um material de apoio para os alunos. Para que
seja um instrumento de acordo com o conteúdo necessário para cada ano do ensino foi criado
o PNLD – Programa Nacional do Livro e do Material Didático. O Programa “é destinado a
avaliar e a disponibilizar obras didáticas, pedagógicas e literárias, entre outros materiais de
apoio à prática educativa, de forma sistemática, regular e gratuita, às escolas públicas de
educação básica”. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO) O objetivo do trabalho é analisar a
aplicabilidade da Lei 11.645 por meio dos livros didáticos de geografia que foram aprovados
pelo PNLD após a promulgação da lei, ou seja, após 2008. O livro utilizado na análise será o
denominado “Geografias do mundo. Brasil” que é utilizado no 7° ano do ensino básico, de
autoria do Diamantino Alves Correia Pereira e do Marcos Bernardino de Carvalho. Para uma
análise mais objetiva, cada tema pesquisado será avaliado na forma como o conteúdo é
apresentado e desenvolvido, juntamente com os recursos utilizados para a ilustração. Dessa
forma poderemos mensurar a aplicabilidade da Lei 11.645 que obriga o ensino da história e
cultura indígena nos livros didáticos de Geografia.

Elaboração de materiais didáticos em Educação Indígena

Geni Roque Candado

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A comunicação é um relato de experiência e análise do processo de produção de materiais


didáticos específicos para as escolas indígenas no território etnoeducacional do cone sul no
âmbito da Ação Saberes Indígenas na Escola. A experiência foi iniciada em 2013 e segue até o
presente. Ao longo deste período, construiu-se uma metodologia para produção destes
materiais caracterizada pelo aspecto comunitário, pelo bilinguismo, consulta aos mestres
tradicionais, participação dos educadores indígenas e distribuição destes materiais para uso
nas escolas indígenas. Entre os resultados alcançados, há 20 livros em diversos estágio de
produção e variados tipos de mídia, incluindo animação, vídeo, cantos, livros e sites.

A formação continuada para o ensino de língua portuguesa como língua


adicional para professores indígenas no Amazonas

Rauciele da Silva Cazuza


Ana Paula Diniz

A Resolução no 01/2015, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação


de Professores Indígenas em cursos de Educação Superior e de Ensino Médio, garante a
formação continuada dos professores indígenas em serviço, de acordo com os princípios e
objetivos estabelecidos, através de "atividades formativas, cursos e programas específicos de
atualização, extensão, aperfeiçoamento, especialização, mestrado e doutorado" (BRASIL,
2015, p. 2) e devem atender às especificidades e aos princípios da Educação Escolar Indígena,
onde todas as atividades formativas utilizem desses princípios e das práticas de pesquisa e
métodos de aprendizagem próprios do povo em específico. Nessa perspectiva, este trabalho
visa apresentar as experiências e reflexões resultantes do projeto de formação continuada do
Centro de Formação Profissional Pe. José Anchieta – CEPAN da Secretaria de Estado da
Educação e Qualidade do Ensino - SEDUC, voltado especificamente para escolas indígenas do
estado do Amazonas, intitulado “O Ensino de Língua Portuguesa e Conhecimentos
Tradicionais para as Séries Iniciais”, desenvolvido nos municípios de Atalaia do Norte (etnias:
Matis, Marubo, Mayoruna, Kanamari e Kulina – Vale do Javari) e São Gabriel da Cachoeira
(etnias Tukano, Dessano, Tariano, Tuyucas, Bará, Baré, Hulp’d, Yuhpedh, Piratapua, Baniwa,
Arapasso e Mirititapuia) no período de agosto a novembro de 2018. A formação, desenvolvida
em forma de oficinas, procurou ressaltar um trabalho, a partir das oficinas, sugestões para o
uso da Língua Portuguesa nas escolas indígenas enquanto língua adicional, buscando
aperfeiçoar as práticas de ensino de leitura, interpretação de textos e produção textual, bem
como o desenvolvimento da oralidade em uma perspectiva interdisciplinar.

A educação escolar na cultura do povo é um processo que fortalece ou


fragiliza a identidade étnica dos Wari’?
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ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Agna Maria de Souza Coelho


Adnilson de Almeida Silva

A prática de utilização de plantas medicinais na Amazônia é uma característica marcante da


região do Eixo-Forte no município de Santarém-PA. Nesse sentido, este resumo visa analisar
a prática da relação cultural e a cidadania dos educandos indígenas e não indígenas na
comunidade escolar através da autonomia do conhecimento, favorecendo a aplicação deste
teórico-prático apreendido em sala de aula transformado em espaço não formal de ensino,
viabilizado pela implantação de agricultura de plantas medicinais e aprendizagem sobre a
utilização destas (horta medicinal). Logo, para tal fez-se necessário envolver a comunidade
escolar no sentido de aplicar conhecimento cultural através da elaboração de um espaço
favorável ao cultivo de plantas medicinais configurando o projeto “A Cultura que Cura!”,
vinculado ao espaço escolar da Escola de Ensino Fundamental em Tempo Integral do Campo
Irmã Dorothy Mae Stang, com a participação dos discentes de 6o ao 9o ano interagindo com
a sua comunidade de origem (mediados por conhecimentos culturais de sua geração de pais
e avós, por exemplo). Foi realizada uma pesquisa descritiva de cunho quanti-qualitativa de
acordo com o passo a passo da implantação e utilização desta no decorrer das aulas práticas,
apresentando as espécies utilizadas e curas associadas, além dos modos de preparo e partes
das plantas utilizadas. Como resultado foi obtido o conhecimento sobre as plantas medicinais
de maior utilidade, também o resgate à valorização da cultura local quanto aos saberes e
práticas de cura com a utilização delas, além da valorização do conhecimento tradicional
aplicado a realidade do educando tornando a aprendizagem de fato significativa e direcionada
a uma realidade no interior da Amazônia com bases interdisciplinares de relações entre
conteúdos didáticos e metodologias utilizadas na construção do processo de ensino e
aprendizagem. Assim, práticas como estas favorecem a revitalização de saberes usuais muitas
vezes esquecidos pela escola formal no sentido de valorizar o conhecimento indígena
originário da localização da escola do campo e ainda fortalecer os vínculos educacionais da
escola com a família muitas vezes esquecidos no processo de ensino e aprendizagem.

Plantas Medicinais na Escola: A cultura que cura! Atividades indígenas


enraizadas nos saberes aplicados sobre a utilização de ervas amazônicas
como prática docente de fortalecimento cultural

Ana Cely de Sousa Coelho


Enilda Santos de Sousa

A prática de utilização de plantas medicinais na Amazônia é uma característica marcante da


região do Eixo-Forte no município de Santarém-PA. Nesse sentido, este resumo visa analisar
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3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

a prática da relação cultural e a cidadania dos educandos indígenas e não indígenas na


comunidade escolar através da autonomia do conhecimento, favorecendo a aplicação deste
teórico-prático apreendido em sala de aula transformado em espaço não formal de ensino,
viabilizado pela implantação de agricultura de plantas medicinais e aprendizagem sobre a
utilização destas (horta medicinal). Logo, para tal fez-se necessário envolver a comunidade
escolar no sentido de aplicar conhecimento cultural através da elaboração de um espaço
favorável ao cultivo de plantas medicinais configurando o projeto “A Cultura que Cura!”,
vinculado ao espaço escolar da Escola de Ensino Fundamental em Tempo Integral do Campo
Irmã Dorothy Mae Stang, com a participação dos discentes de 6o ao 9o ano interagindo com
a sua comunidade de origem (mediados por conhecimentos culturais de sua geração de pais
e avós, por exemplo). Foi realizada uma pesquisa descritiva de cunho quanti-qualitativa de
acordo com o passo a passo da implantação e utilização desta no decorrer das aulas práticas,
apresentando as espécies utilizadas e curas associadas, além dos modos de preparo e partes
das plantas utilizadas. Como resultado foi obtido o conhecimento sobre as plantas medicinais
de maior utilidade, também o resgate à valorização da cultura local quanto aos saberes e
práticas de cura com a utilização delas, além da valorização do conhecimento tradicional
aplicado a realidade do educando tornando a aprendizagem de fato significativa e direcionada
a uma realidade no interior da Amazônia com bases interdisciplinares de relações entre
conteúdos didáticos e metodologias utilizadas na construção do processo de ensino e
aprendizagem. Assim, práticas como estas favorecem a revitalização de saberes usuais muitas
vezes esquecidos pela escola formal no sentido de valorizar o conhecimento indígena
originário da localização da escola do campo e ainda fortalecer os vínculos educacionais da
escola com a família muitas vezes esquecidos no processo de ensino e aprendizagem.

A pintura corporal – Grafismo como ferramenta de respeito escolar na


educação diferenciada entre a autoafirmação indígena e o preconceito
minimizado

Ana Cely de Sousa Coelho


Enilda Santos de Sousa

A prática docente oferece inúmeras experiências e percepções diante ao cenário do respeito


à cultura indígena em espaços formais de ensino. Com base na Educação diferenciada as
práticas de cultuação indígena na escola parecem atrair instintivamente os alunos ditos “não
indígenas” ou “não reconhecidos indígenas”, logo há caracterização do respeito mutuo entre
os indígenas e não indígenas na escola. Diante essa afirmativa, o objetivo é apresentar a
pintura corporal indígena, mediada pelos grafismos como forma de atração e encanto cultural
em função da significação de força e identidade de um povo, como item de respeito e

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minimização do preconceito. O método utilizado foi o observacional, através do contato visual


e diálogo informal, via relato de experiência, o local de pesquisa foi a Escola de Ensino
Fundamental em Tempo Integral do Campo Irmã Dorothy Mae Stang, desenvolvida com
discentes e docentes desta. No decorrer das atividades executadas na escola sempre há a
ocorrência de identificação dos povos através das pinturas corporais com a inserção de
grafismos diversos, os quais são realizados mediante autorização dos pais, o que
surpreendentemente favorece uma alteridade indígena e uma reafirmação de identidade e
ainda a minimização do preconceito, pois sempre há uma resposta positiva no sentido do
favorecimento à pintura, pois acreditam ser bonita, traz características de pertencimento ao
grupo e respeito com os colegas indígenas. Assim, A pintura corporal (grafismo) tem uma
importância para os povos indígenas, cada etnia tem seu grafismo específicos que
representam seu povo e seu clã, é usada entre os indígenas de várias maneiras usam para
festa, lutas, rituais e em seus teçumes, cada um tem seu significado, o grafismo do povo Borari
é do jabuti que significa resistência, cada etnia traz nos grafismo como se fosse uma roupa, e
tem uma força inexplicável para eles nessa pintura. Os indígenas também vêem nessa arte de
pintar sua identificação na sociedade, que por sua vez discrimina deixando em situações de
vulnerabilidades, a interação no espaço escolar vem com o intuito de conscientizar o respeito
por esses povos, é através da educação diferenciada que em roda de conversar, debates,
pesquisa de suas raízes, é que levam o aluno a compreender a igualdade indígena.

A experiência da UFMT e Unemat na produção de materiais de didáticos:


Projeto Ação Saberes Indígenas na Escola

Luiz Felipe Sousa Curvo


Alceu Zoia

Um dos grandes desafios da educação intercultural relacionada aos povos indígenas do Brasil
é a produção de materiais didáticos e paradidáticos que possam ser utilizados nos processos
educacionais inseridos na realidade de diversos povos e a formação de coleções nas
bibliotecas escolares nas comunidades indígenas. Desta forma, a produção de materiais
didáticos é um dos pilares do Projeto Ação: Saberes Indígenas na Escola, criado pela
Portaria/MEC nº 1.061 de 30 de outubro de 2013 e regulamentado pela Portaria/SECADI nº
98 de 06 de dezembro de 2013. Trata-se de iniciativa da Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI, extinta em 2019), ligada ao Ministério da
Educação, que emerge dos anseios de estruturação da escola indígena e formação de
professores e pesquisadores indígenas. Sendo o Estado de Mato Grosso possuidor de grande
variedade étnica e linguística, com mais de 40 povos falando 34 línguas distintas, o objetivo
deste trabalho é fundamentar o processo de produção de 5 livros idealizados pelo pesquisador
Alceu Zoia e publicados no ano de 2018. São eles: Mebêngõkre Kabêm: língua do povo do
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buraco da água; Minidicionário Terena MT; Cartilha Kawaiwete; Dicionário ilustrado Apiaká e
Saberes Munduruku na escola: frutas silvestres. O processo de elaboração destas publicações
foi feita com diversos autores indígenas e não-indígenas, em colaboração entre a Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT) e o Polo Sinop/Juara da Universidade do Estado de Mato
Grosso (Unemat) e resultou na impressão 1000 exemplares, 200 para cada um dos títulos que
foram posteriormente distribuídos nas escolas indígenas. A pesquisa possui caráter explicativo
e utiliza a pesquisa bibliográfica e documental nos procedimentos técnicos.

Projeto Magistério Indígena Tamî'kan: reflexões sobre formação de


professores e o currículo da Escola Indígena no estado de Roraima

Marilene Alves Fernandes


Roseli Bernardo Silva dos Santos
José Lopes Soares
Alessandra Peternella

O presente trabalho é fruto de reflexões produzidas no mestrado em Educação da


Universidade Estadual de Roraima – UERR, utilizando nossas experiências como formadores
de professores indígenas participante do Projeto Magistério Indígena Tamî’kan realizado no
Centro de Formação do Estado de Roraima – CEFORR. Tem como objetivo refletir os desafios
enfrentados por professores indígenas no que se refere ao currículo da escola indígena e da
necessidade de produzir materiais na Língua Materna utilizando a própria realidade das
comunidades indígenas para a construção do conhecimento cientifico e de como o projeto
Magistério Indígena Tamî’kan, ou as práticas culturais, circulam na escola indígena. Seguindo
nessa direção discutiremos as concepções da formação de professores indígenas como uma
possibilidade importante de formação inicial, podendo proporcionar um ensino que valorize
a cultura, a interculturalidade, o ensino da língua materna, propiciando experiências voltadas
para a garantia da aprendizagem utilizando- se dos conhecimentos ancestrais dos povos
indígenas interligados com o currículo universal que é trabalhado nas escolas indígenas. Nesse
sentido os resultados desta pesquisa desvelam que, apesar das contradições que o Programa
apresenta como uma política pública no conjunto das políticas educacionais em curso, a
experiência formativa tem se apresentado como uma possibilidade importante de formação
inicial de professores indígenas no Estado de Roraima.

Conhecimentos indígenas: seus desafios nos dias atuais na educação escolar

Bruno Ferreira

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O presente trabalho aponta alguns desafios dos conhecimentos indigenas e a valorização das
práticas educativas nas escolas e, de forma mais ampla, nas universidades. Busca evidenciar
as dificuldades do reconhecimento dos valores culturais presente nos conhecimentos
indigenas em relação a velhas práticas branqueadora e civilizadora das instituições escolares
ainda presente nos dias atuais. Penso que o presente trabalho ajude a vislumbrar caminhos
para superar ou, pelo menos, colocar em questionamento conhecimentos já cristalizado nas
escolas e, igualmente, ajude a compreender porque os conhecimentos indígenas são
(in)visíveis e (in)compreendidos. A negação da existência de outras culturas e, dessa forma, os
conhecimentos indígenas é colocada numa categoria subalterna e inferior da chamada
sociedade civilizadas brancas. É urgente, valorizar e considerar os conhecimentos indígenas,
sobretudo suas histórias, culturas e línguas, bem como as práticas educativas. Os
questionamentos e as reflexões que apresento neste trabalho fazem parte da pesquisa de
doutorado que realizo e que tem como foco principal compreender os significados da escola
para o povo kaingang, escutando e dialogando com professor(as), estudantes e as pessoas
mais velhas das comunidades kaingang, de forma metodológica assentada na profundeza da
oralidade kaingang.

Espaços educativos e processos próprios de ensino e aprendizagem – O caso


dos povos Timbira

Odair Giraldin

Nesta comunicação apresentarei uma reflexão sobre algumas de nossas atividades no


Programa Saberes indígenas na Escola, na rede UFG-UFT-UFMA, atuando junto aos povos
Timbira do Tocantins e Maranhão. A rede Timbira funciona com apoio da Universidade Federal
do Tocantins (UFT) e Universidade Federal do Maranhão (UFMA), sobretudo do campus de
Imperatriz. Em 2015 e 2016 realizamos as atividades das oficinas em rede da seguinte
maneira: Orientadores de estudo, pesquisadores indígenas, formadores, conteudistas de cada
povo Timbira deslocava-se para participar das oficinas nas aldeias dos outros povos. Assim,
Kraho, Krikati, Gavião e Canela, se deslocavam para as oficinas Apinaje e assim
sucessivamente. Percebendo a centralidade da musicas na forma de ser desses povos,
incluímos entre os pesquisadores e conteudistas vários cantores. Zá Cabelo (Apinaje), Olavo
Tepjõpjr (Krahô), Ahprac (Krahô), Francisquinho Tephot (Ràmkômamẽkra/Canela). Durante as
oficinas, sempre se colocava como é importante aprender os cantos, devido a sua ligação com
o universo cósmico e com as relações sociais, sobretudo pelo amnj kĩn (festas). Espaços de
aprendizagem vazios \ escola cheia. “O pátio está vazio e a escola está cheia”. Esta é uma
afirmativa feita por um exímio cantor Krahô (Tepjõpjr) durante as oficinas. Ele argumentava
que com o processo crescente de escolarização, as atividades ligadas ao pátio estavam ficando

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vazias porque as crianças vão para a escola todo dia e não participam mais das atividades
tradicionais. Neste sentido, vale lembrar que os Timbira identificam cinco espaços educativos
tradicionais para a formação da pessoa. 1) Espaço da casa – local de conhecimentos sobre
formas respeitosas de relacionamento entre parentes; 2) Espaço do pátio – local de
conhecimentos e aprendizagem das relações sociais (e da centralidade do respeito), expressas
nos diversos pares de metades e grupos cerimoniais; 3) Espaço da casa de Wyhty – espaços
de reunião coletivos nos quais podem ser discutidos problemas da aldeia ou então reuniões
para ouvir narrativas históricas ou apenas para ouvir cantos; 4) Espaço da mata – nas caçadas
coletivas e individuais; 5) Espaço da roça. Nas reflexões realizadas nas oficinas, procurou-se
discutir qual o papel que caberia à escola neste contexto: estaria ela sendo um sexto espaço
educativo ou ela estaria sendo majoritária, implodindo ou espaços educativos tradicionais? E,
afinal, como a ação Saberes Indígenas na Escola poderia contribuir para fazer com que o “pátio
não fique vazio”?

Processos e produtos nas experiências da ação Saberes Indígenas na Escola na


UFMG
Ana Maria R. Gomes
Shirley Aparecida de Miranda

A ação Saberes Indígenas na Escola desenvolvida no Núcleo da UFMG com 5 povos indígenas
- Yanomami, Yekuana, Xakriaba, Maxakali e Pataxó - gerou mais de 30 produtos que foram
desenvolvidos através de contextos e histórias muito diversificadas. Para tentar produzir uma
reflexão que se dirigisse ao conjunto, foi preciso adotar um enquadramento que assume essa
produção como resultante de processos sociais, cuja historicidade e contextualização são
fundamentais para enquadrar o sentido de cada processo/produto. Assim cada produto só
pode ser entendido à luz do processo que o gerou, e no contexto de histórias e ações da
comunidade que o produziu. Serão analisados três produtos: o livro de narrativas produzido
em Yanomama; o livro sobre os Tehey produzidos por D. Liça Pataxó; e a edição revisada e
ampliada do livro "O tempo passa, a história fica" pelos Xakriabá; os vídeos produzidos pelos
Yekuana; e a exposição e livro sobre a Imbaúba produzido pelos Maxakali. A apresentação
desses processos/produtos será atravessada por considerações sobre as diferentes
abordagens teóricas que entram em campo e dialogam em cada um dos contextos, assim
como o reenquadramento dessas abordagens à luz dos processos situados que deram origem
aos produtos.

Projeto “Yané nheenga yané rapuitá”: revitalização linguística do Nheengatú


no Baixo Tapajós
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Ana Rita da Costa Gomes


Elinalda Gama da Silva
Enilda Santos de Sousa
Francinelma de Almeida
Mirian Francielle Castro de Sousa
Maria Cleodete Santos
Sâmela Ramos da Silva

O presente trabalho apresenta uma iniciativa de revitalização linguística da língua Nheengatú


na região do Baixo Tapajós. Desde 1998, esta região, onde o rio Tapajós deságua no Amazonas,
é o contexto de grande mobilização étnica recente, contando atualmente com 13 povos
indígenas, distribuídos por 67 aldeias e 18 territórios situados em diferentes etapas do
processo de reconhecimento, segundo o Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns (CITA). O
movimento indígena local, contrariando todos os discursos oficiais que declaravam extintos
as continuidades étnicas na região, tem lutado fortemente para ter suas identidades
plenamente reconhecidas e suas terras demarcadas, além do acesso à educação e saúde
diferenciada. O projeto “Yané nheenga yané rapuitá” é uma iniciativa organizada por um
coletivo de mulheres indígenas e não-indígenas e que pretende contribuir com o processo de
recuperação de memórias, tradições e itens culturais, como a língua, para o fortalecimento
político, cultural e identitário. A identificação do Nheengatú como língua ancestral se iniciou
com os primeiros passos do movimento indígena na região. No ano de 1999 foram realizadas
as primeiras oficinas de Nheengatú pelo Grupo de Consciência Indígena (GCI), que se seguiram
também no ano 2000 por meio do intercâmbio com falantes do nheengatu do alto rio Negro.
Em 2014, surgiu o Curso de Nheengatu, com 360 horas, ofertado pelo GCI e aUniversidade
Federal do Oeste do Pará (UFOPA), e se consolidou como um espaço de formação de
professores indígenas de Nheengatu que têm atuado nas escolas das aldeias na região. As
escolas indígenas têm sido um espaço fundamental para a revitalização cultural e linguística,
no qual as disciplinas de Notório Saber e Língua Indígena tem veiculado conhecimentos
tradicionais indígenas, e atuado na recuperação e valorização das culturas indígenas locais.
Nosso projeto tem sido constituído de oficinas de Nheengatú ministradas nas aldeias, o que
tem nos possibilitado um intercâmbio com diversas comunidades. Nessas oficinas temos
discutido a história-social da língua, a importância do Nheengatú como língua ancestral e
tratado de alguns aspectos básicos de comunicação na língua. Durante as oficinas também
temos documentado palavras e expressões do Nheengatú que são parte do cotidiano dessas
comunidades indígenas, relatos dos mais velhos que lembram que a “língua geral” (LGA) ou
Nheengatú ainda era falada por seus avós até as primeiras décadas do Século XX. Assim, temos
compreendido que o resgate dessa língua indígena em nossa região é um ato político que
envolve outros saberes indígenas, tais como a espiritualidade, as medicinas tradicionais, as
tecnologias próprias dentre outros.

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Etnomatemática: da compreensão de sabedorias antigas à emergência de


novas sabedorias

Aline da Silva Lima

A organização curricular para a formação de professores indígenas, na perspectiva


interdisciplinar estabelece ligações de complementaridade, convergência, interconexões e
passagens entre os conhecimentos. Nela o currículo deve contemplar conteúdos e estratégias
de aprendizagem que formem para a vida em sociedade, a atividade produtiva e experiências
subjetivas, visando à interligação entre os saberes, criando possibilidades de olhar por
diferentes perspectivas uma mesma questão pedagógica. Um processo de formação
fundamentado na cultura e forma de pensamento indígena que possa estar orientado para a
melhoria das condições de vida, através da apropriação crítica de bens culturais e recursos
tecnológicos advindos de outras sociedades. Propiciando práticas pedagógicas que gerem
reflexões e ações sobre o papel da escola na defesa da cultura, do território e dos direitos,
bem como na valorização da Interculturalidade; desenvolver práticas pedagógicas que
propiciem a autonomia intelectual e profissional dos professores indígenas na elaboração,
gestão e avaliação de projetos de ensino, pesquisa e extensão; possibilitando atividades
acadêmicas que formem para a condução plena do processo educacional em suas escolas,
através do exercício da docência; subsidiando a elaboração de propostas curriculares,
materiais didáticos, sistemas de avaliação e calendários escolares adequados às necessidades
e interesses de cada povo indígena proponente. Os povos indígenas produzem
etnoconhecimentos necessários à formação das novas gerações. Entre esses
etnoconhecimentos está a Etnomatemática. Pautada em saber como a escola ensina essa
etnomatemática através das metodologias de ensino de matemática. A Etnomatemática
valoriza diferenças e reconhece que todas as formas de produção de conhecimento humano
são válidas e estão fortemente ligadas à cultura de cada povo. As bases fundamentais da
Etnomatemática são diferentes das bases da matemáticatradicional, enquanto o ensino da
matemática tradicional procura universalizar conceitos e conteúdos, generalizando-os, a
Etnomatemática procura regionalizá-los, contextualizando-os, fazendo com que estes se
tornem específicos a cada cultura. Neste sentido, a Etnomatemática, mostra-se muito
importante, pois busca neutralizar a superioridade da matemática acadêmica, e “faz vir à tona
as outras matemáticas”, fruto de uma produção cultural, que na maioria das vezes é silenciada
no meio escolar. Daí o interesse em promover uma discussão acerca do processo de formação
de professores de Matemática no contexto intercultural indígena, partindo da compreensão
de saberes tradicionais vivenciados dentro e fora das escolas indígenas no Estado do Pará, à
emergência de novos saberes, considerando o contexto na qual estão inseridos, reunindo
elementos plurais básicos da identidade indígena do educando.

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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Da compreensão de sabedorias antigas à emergência de novas


sabedorias

Aline da Silva Lima

A organização curricular para a formação de professores indígenas, na perspectiva


interdisciplinar estabelece ligações de complementaridade, convergência, interconexões e
passagens entre os conhecimentos. Nela o currículo deve contemplar conteúdos e estratégias
de aprendizagem que formem para a vida em sociedade, a atividade produtiva e experiências
subjetivas, visando à interligação entre os saberes, criando possibilidades de olhar por
diferentes perspectivas uma mesma questão pedagógica. Um processo de formação
fundamentado na cultura e forma de pensamento indígena que possa estar orientado para a
melhoria das condições de vida, através da apropriação crítica de bens culturais e recursos
tecnológicos advindos de outras sociedades. Propiciando práticas pedagógicas que gerem
reflexões e ações sobre o papel da escola na defesa da cultura, do território e dos direitos,
bem como na valorização da Interculturalidade; desenvolver práticas pedagógicas que
propiciem a autonomia intelectual e profissional dos professores indígenas na elaboração,
gestão e avaliação de projetos de ensino, pesquisa e extensão; possibilitando atividades
acadêmicas que formem para a condução plena do processo educacional em suas escolas,
através do exercício da docência; subsidiando a elaboração de propostas curriculares,
materiais didáticos, sistemas de avaliação e calendários escolares adequados às necessidades
e interesses de cada povo indígena proponente. Os povos indígenas produzem
etnoconhecimentos necessários à formação das novas gerações. Entre esses
etnoconhecimentos está a Etnomatemática. Pautada em saber como a escola ensina essa
etnomatemática através das metodologias de ensino de matemática. A Etnomatemática
valoriza estas diferenças e reconhece que todas as formas de produção de conhecimento
humano são válidas e estão fortemente ligadas à cultura de cada povo. As bases fundamentais
da Etnomatemática são diferentes das bases da matemática tradicional, enquanto o ensino
da matemática tradicional procura universalizar conceitos e conteúdos, generalizando-os, a
Etnomatemática procura regionalizá-los, contextualizando-os, fazendo com que estes se
tornem específicos a cada cultura. Neste sentido, a Etnomatemática, como anteriormente
conceituada, mostra-se muito importante, pois busca neutralizar a superioridade da
matemática acadêmica, e “faz vir à tona as outras matemáticas”, fruto de uma produção
cultural, que na maioria das vezes é silenciada no meio escolar. Daí o interesse em promover
uma discussão acerca do processo de formação de professores de Matemática no contexto
intercultural indígena, partindo da compreensão de saberes tradicionais vivenciados dentro e
fora das escolas indígenas no Estado do Pará, à emergência de novos saberes, considerando
o contexto na qual estão inseridos, reunindo elementos plurais básicos da identidade indígena
do educando.
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Formação continuada indígena no Amazonas: espaços de reivenção e


resistência

Giovanna Freire de Oliveira Lima

Introdução: O histórico da Educação Escolar Indígena, é resultado de uma luta construída no


coletivo. A descrição e análise do processo que perpassa e configura a resistência da Educação
Escolar Indígena no Amazonas, conta com o apoio e a participação dos indígenas no
Movimento Social Indígena do Estado sendo representado pelo Fórum de Educação Escolar
Indígena – FOREEIA. Nessa árdua caminhada de lutas e resistências, o Fórum “é uma rede e
tem como objetivo agregar e articular profissionais indígenas da educação e saúde, lideranças
indígenas e indigenistas em ações e mobilizações estratégicas para o bem viver coletivo dos
povos indígenas, a partir das temáticas da educação”. (FOREEIA, 2014). Outro aspecto
relevante a ser ressaltado é a coletividade, a união e a organização do Movimento em prol de
uma educação escolar indígena com a cara e a voz dos indígenas que configuram a identidade
da região amazônica. A construção dessa articulação é ancorada em um pilar formativo social
e crítico que através de ações sistematizadas almejam a liberdade, a resistência e estratégias
que se auto conectam, reconhecendo e fortalecendo sua identidade e seus processos
educativos. É evidente que a construção histórica a qual a educação indígena passa até se
concretizar uma educação escolar indígena, sofre sérios colapsos de indiferença e equidade
social. Sendo assim, tais discussões sobre Educação Escolar Indígena foram tomando forma
desde a década de 1990, onde foi se percebendo a riqueza e participação de diversas etnias
na luta por uma educação que atendesse suas necessidades devido suas especificidades. A
evidencia de uma nova educação acompanhada de um processo formativo contínuo
diferenciado aos povos indígenas é clara nas vozes dos indígenas em suas diversas
territorialidades e identidades as quais partilham resistências e lutas com a interculturalidade
que compõem o mundo educacional indígena no município de Manaus. Para conhecermos
que espaços são esses, que escola indígena é essa e quais reinvenções estão sendo
apresentadas, o artigo está organizado da seguinte maneira: 1- Breve histórico da Educação
Escolar Indígena 2- Escola Indígena 3- Processo Formativo Indígena: temáticas inovadoras e
diferenciadas no município de Manaus. Os elementos que formam um verdadeiro
acasalamento de informações e ideias, são embasadas em uma perspectiva que envolve
temáticas inovadoras ou até mesmo resignificadas por uma outra educação somatizando
assim a amplitude da Educação Escolar Indígena, da escola indígena e a importância do
processo formativo contínuo para professores indígenas. 1. Breve histórico da Educação
Escolar Indígena: O histórico da Educação Escolar Indígena, é resultado de uma luta construída
no coletivo a qual não se limita ao processo secular de escolarização que os povos indígenas
vêm enfrentando e resistindo ao longo do tempo por um processo que trate a equidade social.
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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É evidente que a construção histórica a qual a educação indígena passa até tomar forma de
uma educação escolar indígena, sofre sérios colapsos de indiferença e equidade social. Sendo
assim, tais discussões sobre Educação Escolar Indígena foram tomando forma a partir da
Constituição Federal de 1988. A partir de então, na década de 1990 foi se percebendo a
riqueza referente a diversidade de saberes oriundos das diversas etnias e participação de
diversas etnias na luta por uma educação que atendesse suas necessidades devido suas
especificidades minimizando o empecilho da exclusão social. A educação indígena é viva e
exemplar, e isso quer dizer que o indígena aprende pela participação na vida, pela inserção no
cotidiano, observando o exemplo de outros e agindo (fazendo junto). O fundamento da
educação indígena é a tradição e a memória coletiva, que é constantemente atualizada nas
palavras dos mais velhos. (PORANTIN, p. 1, 2015) Nesse processo, a educação escolar indígena
ocorre de maneira livre e coletiva onde todos são responsáveis uns pelos outros, respeitando
também uma hierarquização familiar e sendo repassado através da oralidade. A busca por
uma Educação Escolar Indígena surge para que a equidade social e seus direitos sejam
exercidos e respeitados independente da etnia resgatando sua identidade, afirmando o que
Gonçalves e Melo, definem “como um instrumento de redução da desigualdade, de firmação
de direitos e conquistas e de promoção do diálogo intercultural entre diferentes agentes
sociais. (2009) . Ainda segundo os autores, As lideranças indígenas distinguem a educação
indígena da educação escolar: a educação indígena é responsável pela aquisição das tradições,
costumes e saberes específicos da tribo, da etnia a qual o indivíduo pertence; já a educação
escolar complementa os conhecimentos tradicionais e garante o acesso aos códigos escolares
não-indígenas. Além disso, a formação da consciência da cidadania, a capacidade de
reformulação de estratégias de resistência, a promoção de suas culturas e a apropriação das
estruturas da sociedade não- indígena e a aquisição de novos conhecimentos úteis para a
melhoria da condição de vida dos índios fazem parte das pautas relativas à educação escolar
indígena (GONÇALVES & MELLO, 2009). Tendo como características marcantes no
processo da educação escolar indígena os elementos: comunitária, intercultural, bilíngue,
especifica e diferenciada buscando assim um alinhamento e valorização entre povos, seus
saberes, suas culturas e sua identidade. 2. Escola Indígena: Para ser inserido no mundo e no
meio social, o indígena se depara com o desafio de uma escola que amplie a integração entre
socialização e conhecimento, da mesma maneira que o indígena organiza em seu meio, em
sua comunidade, em espaços formais ou não formais sendo compatível com sua maneira de
viver e suas especificidades. A escola é mais um espaço de aprendizagem, pois esse processo
é comum e realizado através do contato no cotidiano. A escola para os índios é uma escola
diferenciada de toda organização da sociedade ocidental, abrangendo uma organização do
trabalho pedagógico e um currículo especifico que envolva temáticas que trabalhem em
parceria com os saberes e as tradições nas comunidades. No município de Manaus, as quatro
escolas indígenas estão localizadas na área ribeirinha do município, mais precisamente na área
do Rio Negro, onde atende crianças do 1 ao 5 ano em turmas multisseriadas. Sendo
subdividido o currículo em dois tempos, um é tratado o currículo formal seguindo a proposta

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curricular da Secretaria Municipal de Ensino e em outro tempo é ensinado a língua materna


com a presença da professora indígena. Na área urbana, não temos escolas indígenas, mas as
crianças são atendidas no contraturno nos 17 Centro Municipal de Educação Escolar Indígena-
CMEEI, onde a língua materna é ensinada de forma lúdica sem seguir uma proposta da
Secretaria. Conforme descrito nas Diretrizes Pedagógicas da Educação Escolar Indígena do
Município de Manaus: “Visto que os professores indígenas que atuam na Secretaria Municipal
de Educação formam campos de saberes diferenciado, pois são professores que atuam na
escola indígena e professores que atuam nos centros culturais. Ambos possuem atribuições
complexas, pois o professor da escola indígena trabalha com os objetos do conhecimento
pautado na diretriz curricular. Por outro lado, o professor do espaço cultural tem a
responsabilidade de revitalizar e vitalizar a língua materna e os objetos da cultura como
conhecimento necessário para manutenção dos saberes tradicionais de designação étnica.
(p.70, 2017) Sendo assim, respeitada a questão elementar da identidade e o encontro de
diversas etnias tanto nas escolas indígenas quanto nos CMEEI deve alargar caminhos que
promovam um processo pedagógico que respeite e valorize, “os critérios de identidade, que
procedem dos saberes tradicionais, vinculados à memória coletiva dos povos da Amazônia, à
relação com a biodiversidade, com suas formas peculiares de uso e manejo dos recursos
naturais, devem integrar no processo de ensino e aprendizagem dos Centros Municipais de
Educação Escolar Indígena e das Escolas Indígenas”. (Diretrizes Pedagógicas da Educação
Escolar Indígena do Município de Manaus, p.67, 2017). A ressignificação dos conteúdos e a
organização pedagógica trabalhados nas escolas indígenas é um rio constituído de identidades
e processos complexos, onde nos faz refletir que a escola indígena “é um espaço de gente,
por isso deve estar aberta a ampliação e ressignificação de práticas que favoreçam demais
espaços pedagógicos com a participação de todos definindo questões de interesses da
comunidade escolar, sedo questões que norteiam o processo pedagógico. (LIMA, p.34, 2018)
Nessa perspectiva, “ a educação escolar, efetivada nos CMEEIs, corresponde à parte
diversificada do currículo comum a que as escolas indígenas concretizam. Dessa forma, os
conteúdos trabalhados nos centros correspondem, especificamente, aos aspectos da
cosmovisão de cada povo explicitado em suas formas de saber, viver, pensar e vivenciar suas
culturas, pois a ênfase se processa por meio da aprendizagem da língua indígena”. (Diretrizes
Pedagógicas da Educação Escolar Indígena do Município de Manaus, p.67, 2017). 3. Processo
Formativo Indígena: temáticas inovadoras e diferenciadas no município de Manaus. Nesse
processo existe um acasalamento de anseios e necessidades entre a escola, os espaços
culturais e a formação continuada resultando na reflexão entre cotidiano e prática
pedagógica, buscando a qualificação dos professores indígenas em seu fazer diário garantindo
a efetividade formativa em conjunto com experiências exitosas vivenciadas ao longo dos
encontros formativos. Romper com o distanciamento e o silenciamento de sua prática, a
formação continuada indígena se consolida ao conhecer o sujeito indígena partícipe do
processo formativo contínuo, saber de onde vem e para onde vai, partindo de estratégias
preliminares, as quais são pensadas e elaboradas para agir a partir da situação problema

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observada e vivenciada no contexto escolar, visando um trabalho coletivo, colaborativo e


participativo, a formação continuada busca incentivar a reflexão e a prática acerca das
expectativas desse professor, considerando sua realidade. “Partindo desse pressuposto, o
professor indígena deve reconhecer que sua atuação docente fortalece e valoriza a
interdisciplinaridade e a interculturalidade. Assim, de acordo com a efetivação das políticas
públicas como resultado das inúmeras reivindicações dos povos indígenas por uma educação
escolar diferenciada, a formação continuada deve seguir na direção de efetivação desse
resultado, oferecendo uma formação que tenha os pressupostos dos sujeitos de direitos, o
sujeito indígena”. (Diretrizes Pedagógicas da Educação Escolar Indígena do Município de
Manaus, p.71, 2017) Diante da diversidade de riquezas e etnias presentes no município de
Manaus, a Secretaria Municipal de Educação realiza um processo formativo contínuo a partir
de um diálogo inicial com os professores das escolas e dos Espaços Culturais, para que as
informações solidifiquem as necessidades apresentadas com a construção de um projeto
formativo específico com abordagem diferenciada tanto para escolas como para os Espaços
Culturais. O projeto formativo é dividido em 4 encontros, com temáticas, calendário e polo de
formação pré definidos com a Gerencia de Educação Escolar - GEI. A análise e registro das
informações são sistematizadas pela coordenação de formação continuada que atende os
professores indígenas do município de Manaus resultando em instrumento de registro para
futuras avaliações. Pensando a partir do resultado de um diagnóstico realizado no último
encontro e tem como objeto a coleta de dados e informações referente ao interesse de
temáticas a serem trabalhadas para o ano seguinte, o Projeto formativo da Educação Escolar
Indígena produzido e executado pela equipe de formadores da Divisão de Desenvolvimento
Profissional do Magistério – DDPM, teve como objetivo geral “articular os saberes
interculturais, possibilitando uma relação entre educação formal e educação indígena por
meio de projetos de aprendizagem”, (p. 2, 2018) O projeto é estruturado em eixos que
abordam a organização dos encontros e seus polos de execução, as temáticas abordadas em
cada encontro, o calendário, a formação do formador e a organização do processo com
metodologias e avaliações. A experiência formativa exitosa abordada em 2018, teve como
tema principal a “ INTERCULTURALIDADE: Uma conectividade possível entre Educação Formal
e Educação Indígena nas Escolas e nos Espaços Culturais por meio de Projetos de
Aprendizagem”. (PROJETO FORMATIVO, p.1, 2018). Foram abordadas as temáticas que
envolviam o processo de avaliação, a etnomusicologia, alfabetizando com arte e metodologias
diferenciadas. “Baseada em uma formação que visa valorizar a interculturalidade, o projeto
formativo busca durante as etapas do processo, consolidar a importância da
interculturalidade nas discussões para que seus anseios e objetivos sejam alcançados na
perspectiva de troca de saberes” (PROJETO FORMATIVO, p. 5,2018) Realizar uma prática
docente com qualidade é resultado do direito de participar do processo de formação
continuada oferecido pela Secretaria Municipal de Educação é assegurado na Constituição
Federativa do Brasil de 1988, especificamente, no Capítulo III, Artigo 210 que assegura aos
índios a formação básica comum e o respeito aos seus valores culturais e artísticos, assim

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como na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), de 1996, fica assegurado, às
comunidades indígenas, o direito â educação escolar, cujo objetivo é fortalecer as práticas
culturais e a língua materna. A formação continuada nos faz revisitar a importância das
diversas formas de educar entre os povos indígenas partindo de suas demandas de educação
nos discursos dos sujeitos que compõem nossa diversidade amazônica, traçando um perfil de
relações, de manifestações e de práticas coletivas construídas a partir de um repertório
híbrido identitário e cultural onde as dinâmicas se recriam no decorrer do tempo. Nesse
sentido, o Decreto 6.861/2009, Art. 5º, determina que o apoio para ampliação da oferta da
educação indígena compreende também a formação inicial e continuada dos professores
indígenas e de outros profissionais da educação. Nessa perspectiva, essa formação deverá
corresponder à “constituição de competências referenciadas em conhecimentos, valores,
habilidades e atitudes apropriadas para a educação indígena” (DECRETO, 6861/2009, Art.9º,
I). A Resolução nº 1, de 7 de janeiro de 2015, institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para
a Formação de Professores Indígenas citando em seu Capítulo II, Art. 5º, diz que “a formação
continuada de professores indígenas dar-se-á por meio de atividades formativas, cursos e
programas específicos de atualização, extensão, aperfeiçoamento, especialização, mestrado
e doutorado”. Assim também, no Art. 6º, diz que “os sistemas de ensino devem garantir aos
professores indígenas a formação inicial em serviço e, quando for o caso, a formação inicial e
continuada concomitante com a sua escolarização” (RESOLUÇÃO Nº 1, 2015). A garantia desse
direito direciona o professor a buscar outras estratégias que reconheçam o processo próprio
de ensino e aprendizagem com o uso da língua materna e seus costumes a partir de sua
realidade, atendendo as necessidades da comunidade onde vive. 4. CONSIDERAÇÕES: A
evidência de uma nova educação acompanhada de um processo formativo contínuo
diferenciado aos povos indígenas é clara nas vozes dos indígenas em suas diversas
territorialidades e identidades as quais partilham resistências e lutas com a interculturalidade
que compõem o mundo educacional indígena no município de Manaus. A escola é mais um
espaço de aprendizagem, pois esse processo é comum e realizado através do contato no
cotidiano. A escola para os índios é uma escola diferenciada de toda organização da sociedade
ocidental, abrangendo uma organização do trabalho pedagógico e um currículo especifico que
envolva temáticas que trabalhem em parceria com os saberes e as tradições nas comunidades.
Todavia, a formação continuada indígena rompe com o distanciamento e o silenciamento da
prática do professor indígena, a qual se consolida ao conhecer o sujeito indígena partícipe do
processo formativo contínuo, saber de onde vem e para onde vai, partindo de estratégias
preliminares pensadas e elaboradas para agir a partir da situação problema observada e
vivenciada no contexto escolar, visando um trabalho coletivo, colaborativo e participativo
incentivando a reflexão e a prática acerca das expectativas desse professor, considerando e
respeitando sua realidade.

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Na direção da práxis pedagógica progressista para implementação da


11.645/08: currículo, territorialidade e povos indígenas

Ariany Cavalcante Lobo

Se as temáticas relacionadas às questões étnico-raciais historicamente têm sido um dilema


para historiadores, sociólogos e antropólogos imagina para os professores/as do ensino
básico. Como incluir esta temática no currículo da Educação Básica? A Lei 11.645/08 oferece
a complexidade devida com a obrigatoriedade dos estudos sobre a África, os africanos, os
afro-descentes e os povos indígenas. O tema é extenso e requer a compreensão de aspectos
histórico-culturais, conceitos e uma proposta de educação critico-social dos conteúdos,
portanto, progressista e emancipadora. Dentre os temas que englobam a lei 11645/08 uma
das questões que tem sido invisibilizada desde o Brasil Colônia, mas que merece total atenção
da educação brasileira, são os direitos dos povos indígenas. Esse trabalho irá abordar o papel
da escola na discussão sobre questões étnico-raciais e a superação da ideologia hegemônica
que discrimina, matou e mata milhares de culturas e milhões de indígenas em 519 anos de
genocídio.

Projeto: I Olimpíadas de Redação Estudantil nos Polos Rurais Indígenas e Não


Indígenas de Educação do município de Benjamin Constant/AM

Luiz Robson Luzeiro


Sebastião Melo Campos
Maria Auxiliadora dos Santos Coelho
Josenildo Santos de Souza

Em 2012, foi criado o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), para garantir
que as crianças estejam alfabetizadas ao concluir o 3o ano do ensino fundamental. Contudo,
dados do MEC (2015) apontavam que as crianças brasileiras apresentam dificuldades em ler,
escrever e fazer contas na etapa final do ensino fundamental. Visando contribuir com o Pacto
e reverter os dados estatísticos referente à leitura e escrita, um grupo de professores da rede
municipal, com o apoio de professores do Instituto de Natureza e Cultura da Universidade
Federal do Amazonas, desenvolveram o projeto 1a Olimpíada de Redação Estudantil da zona
ribeirinha do município de Benjamim Constant-AM, na tríplice fronteira do Brasil, Peru e
Colômbia. Foi desenvolvido na Escola Municipal Santa Tereza, localizada no Pólo Novo
Oriente, onde ocorreu a culminância de socialização e premiação dos melhores trabalhos
produzidos por alunos da rede municipal de escolas rurais ribeirinhas com a participação dos
docentes, coordenadores e comunitários das escolas dos diversos Polos participantes. A I
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Olimpíada de redação teve como objetivo geral: Valorizar a leitura e a escrita como fonte de
produção do saber, espaço de socialização e exercício cidadania. Como objetivos específicos:
i) Reconhecer e analisar criticamente os usos da língua como veículo de valores e preconceitos
de classe, credo, gênero ou etnia; ii) Compreender a leitura como fonte de informação, via de
acesso aos mundos criados pela literatura e possibilidades de fruição estética, sendo capazes
de recorrer os materiais escritos em função de diferentes objetivos. iii) refletir tema
transversal norteador da redação “Diga não as Drogas”, um tema que se articulou as diversas
áreas do conhecimento. Metodologicamente foi desenvolvido na abordagem qualitativa,
como uma pesquisa ação, na perspectiva de intervir na problemática escolar de leitura e
escrita, sob a orientação de Coordenadores do projeto com o apoio dos professores das
escolas, distribuído em etapas ao longo do período letivo de 2016. Como resultado este
projeto permitiu a participação de 07 polos rurais atingindo 9 escolas ribeirinhas, 38
professores e 650 alunos, sendo 241 alunos indígenas e 409 alunos não indígenas do 6o ao 9o
ano do ensino fundamental, que proporcionou um mecanismo inovador de ensino e
aprendizagem. Além disso, destaca-se o grande desafio especialmente para os alunos das
escolas indígenas tendo em vista as diferenças socioculturais quanto ao uso da língua materna
em escolas não bilíngues que influencia sobre maneira nos índices de avaliação da educação
brasileira. O projeto contribuiu nesse sentido para o aprimoramento no desenvolvimento
cultural de populações que fazem parte de um índice que aponta a deficiência no processo de
alfabetização da leitura e escrita no ensino fundamental.

“Flechar os estigmas”: a educação pública no combate às desigualdades entre


índios e não-índios em Barra do Corda (MA)

Josué Felipe Silva Maia

O cerne desta pesquisa é identificar e analisar as ações de escolas públicas no sentido do


combate à restrição de reconhecimento social, acesso a bens e serviços e outros tipos de
distinção entre não-índios e indígenas que transitam por ou se deslocam de maneira fixa a
centros urbanos. Para tanto, elegemos por recorte a trajetória de engajamento do Instituto
Federal do Maranhão (Campus Barra do Corda), bem como suas articulações
interinstitucionais no sentido da inclusão. Partindo do método etnográfico, pretendemos
investigar quais os significados que, em situação interétnica, são construídos em torno de
atributos fenotípicos e biográficos (entre outros), enredando assimetrias sociais arraigadas no
processo histórico-formativo da região, como também fazermos um levantamento sócio-
histórico acerca de como a supracitada instituição interpretou tal fenômeno e buscou dirimi-
lo. A partir daí, acreditamos ser possível compreender como tal distinção se expressa na
formação e difusão dos estereótipos negativos de indígenas, e como e em que grau a escola
pode empreender políticas publicas no combate a isso. Trata-se, portanto, de uma pesquisa
que busca uma interseção entre a sociologia, a educação, a antropologia e o estudo de
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políticas públicas, buscando elementos históricos e sincrônicos para ampliar a compreensão


dos fenômenos pertinentes à questão.

Educação escolar indígena: sonho didático pedagógico ou pesadelo político


institucional?

Kleber Gesteira e Matos

Até a década de 1980 a escola foi utilizada para integrar os indígenas à sociedade nacional.
Estes povos, recorrendo a diversas formas de resistência, tentaram “domesticar” a escola. A
busca de um modelo de formação adequado para cada sociedade indígena contou, em alguns
casos, com a assessoria de organizações não governamentais. Essas experiências foram
tomadas como referência para a política de educação escolar indígena implementada pelo
Estado brasileiro na década seguinte. A mudança nos princípios e formas de execução da
política é consequência da Constituição Federal de 1988, que reconheceu aos índios o direito
à diferença, cabendo “ao Estado proteger as manifestações das culturas indígenas e assegurar
o uso de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem”. Em 1991, um decreto
atribuiu ao MEC a coordenação das políticas de educação escolar indígena em todos os níveis
e modalidades de ensino. E ficou estabelecido que as ações seriam desenvolvidas pelas
secretarias estaduais de educação, em possível cooperação com os municípios. Em
decorrência desse decreto, o MEC e as secretarias estaduais de educação passaram a realizar
o trabalho que até aquela data era obrigação da FUNAI. Até então, as escolas que funcionavam
em terras indígenas localizavam-se apenas nas sedes dos postos da FUNAI. Na maioria dos
casos não mantinham registro da vida escolar dos alunos, não propiciavam a progressão de
estudos, não estavam registradas em nenhuma rede de ensino. Eram poucos os professores
indígenas e não haviam materiais didáticos adequados à realidade destes povos, inclusive em
relação à suas línguas. Dado este contexto histórico, me proponho a realizar a análise das
políticas públicas voltadas para educação escolar indígena a partir dos anos 90, por meio de
levantamento e análise de documentos do Governo Federal, de Organizações indígenas e de
ONGs. Assim como a sistematização e análise de dados do censo escolar do INEP/MEC dos
anos 1990, 1995, 2002, 2010, 2016, 2018. Além destes dados, irei me basear nos resultados
de minha experiência profissional nesse campo, pois tive a oportunidade de trabalhar como
professor formador de professores indígenas em projetos conduzidos por ONGs (de 1990 a
2012); atuar como coordenador do projeto de implantação de escolas indígenas da Secretaria
Estadual de Educação de Minas Gerais (de 1996 a 2000); além de coordenador da Educação
Escolar Indígena do MEC (de 2003 a 2008). Ao longo de quase 30 anos acumulei um acervo
significativo de documentos, publicações e depoimentos sobre este complexo campo das
políticas educacionais. Pretendo socializar os conhecimentos acumulados nesta trajetória. E

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espero que esta iniciativa contribua para a avaliação das ações do Estado brasileiro neste
campo.

Tayũmak Tikmũ’ũn Yĩy ax (O uso de dinheiro na cultura Maxakali)

Lucio Flávio Coelho Maxakali


Vanessa Sena Tomaz
Paula Cristina Pereira Silva

Ũg mũn noxo panap mãxakani. Tu 2014 ĩhã ãte nõ kõmẽxa tappet mĩy nũte UFMG tu. Tu mĩy
ha mõg tu 2015 ĩhã ãte yũmũg xohi Tappet mãtemãg yõg. Tu tayũmak kup hã xõmã paxax yõg
xi otep; taxi; xix xit ax tu hu yũ mũghuk hi xẽẽ nãg. Xi ãte yũmũg. kõponano hã hãm xomã ax
mĩy yũmũg xi xenona. Tu 2016 ĩhã ãte nõ pexkiya tu yĩkopit tix Mũũn xohi. Tu yũmũg ãte ũpip
hãhitaphã kãtin xi tayũmak ponok. Yĩ tix mũũn hãm hu xok kohot paxok pẽyõg mĩnkup xi nõy
xop. Yĩ mõg hu xexta pet yĩ pago tix mũũn pu yĩta hãm xop pop kãtĩn tu. Tu 2017 ĩhã ãte kaxop
pu yũmũgãhã tayũmak hã xi tonopexot xop yũmũgãhã mãtemãg hã xi tayũmak mĩy. Tu 2018
ihã nõg tehe ũg hãm ax pu tu mai tam nãg tunõg tehe há kux ĩhã ãte. Nõ mãnka heniãm
kõmõnĩnat pu nũy mũg ũg hãm ax pupe nã nũy yã mai xax tu mũg ha xohi tu penãhã tu yã mai
kaxĩy apkumuk a. ihã ãte penãhã nũy pãhãm kumuk ha nõg tehet nũy ta xohi pu mũg nõhã
nũte UFMG tu. Eu sou Lucio Maxakali. Meu trabalho é uma linha do tempo do meu percurso
no Curso de Formação Intercultural para Educadores Indígenas- FIEI, representada pelo
caminho que os Yãmĩyxop fazem na floresta até chegar na aldeia carregando o mimãnãn. Eu
pesquisei sobre o uso do dinheiro pelo meu povo Maxakali. Em 2014, eu comecei a estudar
na UFMG no curso de Formação Intercultural para Educadores Indígenas - FIEI, habilitação da
Matemática. Em 2015, comecei a aprender muita coisa de Matemática que eu não entendia
antes. Por exemplo, porque eu recebo a Bolsa Permanência, eu tenho que somar tudo o que
eu vou gastar (passagem, taxi, hotel, almoço) para eu ficar despreocupado. Eu também
aprendi a mexer no computador, no celular e em outras coisas. Em 2016, eu também aprendi
muita coisa sobre o dinheiro. Eu pesquisei e entrevistei muitas pessoas na minha aldeia e
descobri que antigamente tinha uma Cantina que usava um dinheiro também. Mas esse
dinheiro só podia ser usado dentro da aldeia. Era um dinheiro Maxakali. As pessoas
trabalhavam plantando mandioca, milho, feijão, cana e outros. Na sexta-feira elas recebiam
esse dinheiro e iam fazer compra na Cantina. Em 2017, eu fiz oficina na escola para as crianças
aprender a usar dinheiro, mas dei para elas o dinheirinho de mentira para comprar brasinhas
(geladinhos). Eu também fiz oficinas na aldeia para os professores ensinando matemática.
Nessas oficinas, eles lembraram como era o dinheiro Maxakali e me ajudaram a fazer as notas
que usava na Cantina. Em 2018, eu apresentei o trabalho na minha comunidade para ver se
tinha algumas coisas erradas para eu consertar e para ter o trabalho final que eu apresentei
na UFMG, antes da formatura.

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Formação de professores indígenas: reflexões para o ensino intercultural

Alcioni da Silva Monteiro


Suely Aparecida do Nascimentos
Kellyane Lisboa Ramos
Renato Abreu de Lima

O referente artigo sobre “Formação de Professores Indígenas: reflexões para o ensino” faz
parte da minha dissertação de mestrado em Ensino de Ciências e Humanidades, onde se
pretende nortear subsídios científicos e ponderações referenciadas em aportes teóricos, para
expor com isso, as contextualizações reflexivas acerca de alguns pressupostos educacionais e
formativos para o ensino. Além disso, buscamos contribuir de forma teórica e crítica no
processo de construção da cidadania em consonância com a edificação da oferta de uma
educação escolar de qualidade por meio da qualificação profissional para os povos indígenas,
e para que esta, seja realmente efetiva e eficaz. Respeitando sua autonomia, suas
particularidades e diferenças, bem como, a garantia da efetivação e implementação de
legislações constituintes que busquem a satisfação das necessidades básicas de
aprendizagem, mas também, e principalmente, o desenvolvimento pleno do índio atuante
como cidadão da sociedade brasileira.

Um olhar para a Escola Estadual Indígena Maurehi: considerações desde a


etnomatemática

Hélio Simplicio Rodrigues Monteiro


Daniel Gabriel Borges
Meyre Candido Bento da Silva

Este trabalho tem como objetivo discutir a etnomatemática como possibilidade para o ensino
e aprendizagem da matemática em comunidades indígenas. Para tanto, considera-se em
primeiro lugar, nossas experiências como pesquisador e alunos do curso de Licenciatura em
Educação do Campo da Universidade Federal de Goiás, Regional Goiás, que tem como
fundamento possibilitar aos educandos a capacidade de intervir de forma global no processo
de formação dos alunos, respeitando, valorizando a cultura, modo de vida e a concepção
desses sujeitos do campo. Busca garantir por meio dos conteúdos, o desenvolvimento
humano dos discentes. As discursões sobre etnomatemática foram possibilitadas por meio da
disciplina Aspectos Histórico-culturais da Matemática e da Educação Matemática. Em segundo
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lugar, consideramos que o Projeto Político Pedagógico da escola indígena Maurehi, idealizado
pelo povo Karajá da região de Aruanã, mantida pelo estado, tem como principio manter viva
a identidade, costumes, cultura e modo de vida deste povo, junto as novas gerações.

Arquitetura Guarani Tambeopé e ideias matemáticas: experiências numa


mostra cultural

Ana Paula Azevedo Moura


Claudia Alessandra Costa de Araujo Lorenzoni
Mauro Luiz Carvalho
Essa comunicação traz vivências e reflexões dos autores acerca de uma mostra cultural
promovida na Escola Municipal Pluridocente Indígena Aldeia Três Palmeiras (EMPI Três
Palmeiras), na Terra Indígena Caieiras Velha II, em Aracruz, Estado do Espírito Santo - Brasil. A
mostra apresenta a abordagem da temática Arquitetura, dos Guarani Tambeopé, que vivem
na região. Um desafio constante da educação escolar indígena é o de conciliar a necessidade
de atender às determinações legais quanto ao currículo nacional de Matemática e, ao mesmo
tempo, promover reconhecimento, valorização e aprofundamento de ideias matemáticas
presentes nas suas tradições. “Essa Matemática, com bases culturais totalmente distintas [a
do dominante], deve ser apreendida pelo indígena. Um bloqueio cultural é evidente. O desafio
do professor indígena é transformar esse bloqueio numa ponte” (D’AMBROSIO, 1998, p.12).
Nesse ínterim, o diálogo entre nós pesquisadores e autores deste artigo – educadoras
matemáticas não-indígenas e educador guarani, linguista e diretor da EMPI Três Palmeiras –
é no viés de contribuição à construção dessa ponte de saberes por meio da troca de
experiências e realização, em conjunto, de atividades que relacionem ideias de geometria
euclidiana com as construções arquitetônicas do próprio povo. O respeito à cultura, a
interculturalidade, as relações interpessoais e a importância de não se impor ao outro, de
maneira que o diálogo sempre prevaleça e as manifestações matemáticas sejam estimuladas,
foram pontos para os quais demos focos, pois, como salienta Paulo Freire, “Não é
compreender só a cultura de lá, nem só a cultura de que eu faço parte, mas é sobretudo
compreender a relação entre essas duas culturas.” (2004, p.75). Com isso, lançamos nossos
olhares sobre as construções arquitetônicas dos Guarani Tambeopé no sentido de
compreender e refletir sobre seus modos, maneiras, técnicas de explicar, de conhecer e lidar
com essas construções, realizando um diálogo desses saberes/fazeres com a matemática
escolar. A metodologia, iniciada em 2017, constituiu-se de momentos propostos junto à
equipe de professores indígenas da escola, dos quais destacamos um encontro de formação
continuada na escola, uma sessão de fotografias de construções arquitetônicas nas aldeias, a
confecção de uma maquete com materiais próprios de uma moradia guarani, a organização e
a realização da mostra cultural para toda a comunidade escolar, em agosto de 2018. Esses
momentos proporcionaram encontros interculturais da escola com a realidade indígena, rica
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em saberes, materiais e imateriais, que embasaram a elaboração de atividades para uso em


aulas de matemática.

EEI: construindo uma proposta curricular diferenciada na E.M.I. Alfredo Lima

Maria Gorete Nunes Pereira

No Rio Grande do Norte, até pouco mais de uma década atrás, havia um pertinaz
desconhecimento por parte do poder público no que diz respeito à presença de populações
indígenas no Estado do Rio Grande do Norte, em sua contemporaneidade. No entanto, dado
a engajamentos políticos de antropólogos e indígenas, esses grupos familiares etnicamente
autoidentificados vieram a público requerer o respeito por sua identidade étnica e direitos
peculiares. Tal processo de “emergência étnica” teve como ponto de partida dos atores
interessados a idealização e organização da I Audiência Pública voltada para a questão
indígena no estado (ano de 2005), que chamou a atenção do poder publico, universidades,
instituições municipais, estaduais e federais, bem como da sociedade em geral para o
conhecimento dessa questão e de posturas a serem assumidas a partir desse fato. Paralela a
essa luta, surge a necessidade da implementação da EEI nas escolas localizadas nas
comunidades indígenas do estado, com vistas a fortalecer a consciência dos alunos no tocante
a direitos garantidos na legislação vigente (CF, 1988), mediante a recuperação da história e
cultura de grupos familiares que apesar de presentes no estado, estavam em sua maioria
etnicamente invisíveis. Diante desse cenário, foi elaborada uma proposta curricular
diferenciada para atender a Escola Indígena Alfredo Lima, localizada no município de
Goianinha RN com vistas a ofertar uma educação de qualidade, multicultural, bilíngue e
comunitária, oferecida em tempo integral (LDB, 1996; RCNEEI, 1999; DCN, 2013),
possibilitando a articulação de um diálogo entre os conteúdos programáticos pautados na
BNCC com os saberes tradicionais da Aldeia Catu dos Eleotérios.]

Desafio docente e as práticas inclusivas: o atendimento educacional


especializado (AEE) nas escolas indígenas de Roraima

Catarina Janira Padilha


Leila Soares de Souza Perussolo

A concretização de uma educação democrática se estabelece através das oportunidades de


aprendizagem, estimulando as potencialidades dos alunos, respeitando suas diferenças
individuais, logo, todo sujeito aprendente independente de sua condição social e de grupo
étnico, que esteja em processo de evolução intelectual, emocional, cultural e social merece

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ter acesso a práticas educacionais que atendam as suas necessidades, possibilitando melhor
desenvolvimento das habilidades. A relação entre o Currículo Intercultural nas práticas
metodológicas no Atendimento Educacional Especializado, desenvolvido pelos docentes nas
Salas de Recursos Multifuncionais (SRM) implementados nos últimos anos em Escolas
Estaduais Indígenas, fomenta a reflexão em como esse processo se materializa nas práticas
inclusivas do aluno indígena com deficiência. Partindo desses pressupostos, são analisados os
elementos da prática pedagógica, suas implicações na promoção do Currículo nas ações
metodológicas em SRM implantadas nas Escolas Estaduais Indígenas, localizada na Terra
Indígena do Canauani – Região da Serra da Lua, município do Cantá e Comunidade Boca da
Mata da Terra Indígena São Marcos, município de Pacaraima. A problematização fomenta o
debate sobre a atuação docente na integração das práticas inclusivas na formação escolar do
discente indígena com Necessidades Educacionais Especiais. Tem como base os pressupostos
da Pedagogia Histórica – Crítica e Teoria Histórico – Cultural, como fundamento no processo
de desenvolvimento da inclusão integrado aos Estudos Culturais e sua relação no currículo
intercultural, como aporte teórico em: Bergamaschi (2012), Brasil (2007); RCNEI (2002)
Candau & Koff (2006); Carmo (1994); Díaz-Aguado (2000), Duarte (2007); Geertz (2001); Hall
(2015); Larraia (2017); Mantoan & Baptista (2007); Paladino & Czany (2012); Saviane (2008);
Silva & Bruno (2016); Silva (2017); Silva & Hal (2014); Vygotsky (1996/1998). Os resultados
preliminares apontam os desafios voltados para: Não compreensão da função do AEE na SRM;
Resistência dos pais e/ou responsáveis sobre a importância dos discentes participarem das
atividades escolares; Adaptação e integração de ações metodológicas e registro da
aprendizagem no processo de intervenção didática; Ausência no acompanhamento e
orientação da coordenação pedagógica, de técnicos e especialistas dos departamentos
responsáveis pelas ações didáticas. Essas informações foram obtidas através das primeiras
observações in loco em duas escolas que participam da pesquisa de tese em desenvolvimento.
Considera-se que o tema promove o debate e a reflexão sobre a prática pedagógica inclusiva
através do currículo intercultural, aplicado nas escolas indígenas. Os registros ocorreram entre
Agosto a novembro de 2018.

Matemática Xokleng/Laklãnõ

Abraão Kovi Patté

Me chamo Abraão Kovi Patte, sou indígena Xokleng/LaKlãNõ. Moro na Terra Indígena
Xokleng/LaKlãNõ Aldeia Palmeirinha no município de Jose Boiteux Santa Catarina. A terra
indígena onde moro está a cerca de 260 km capital do estado Florianópolis e 100 km de
Blumenau. A Terra Indígena Xokleng/LaKlãNõ Localizada entre quatro municípios catarinenses
José Boiteux, Doutor Pedrinho, Vitor Meireles e Itainópolis. 70% da área da Terra Indígena
Xokleng/LaKlãNõ está dentro dos limites dos municípios de José Boiteux. O estudo é parte do
projeto de conclusão de curso da Licenciatura Indígena Intercultural do Sul da Mata Atlântica,
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junto a Universidade Federal de Santa Catarina. Na pesquisa buscamos saber mais sobre os
contextos onde eram usados tradicionalmente a matemática xokleng, principalmente com as
crianças. A escolha desse tema é pelo fato de que não tem nada escrito sobre como era e
como é a matemática do Xokleng/LaKlãNõ. Como faziam suas contas, seja do tempo ou na
vida cotidiana. Buscaremos também apresentar algumas propostas ao que se refere a criação
de material didático sobre o ensino da matemática Xokleng nos anos iniciais do ensino
fundamental.

Jogos e brincadeiras e resgatar a língua Xokleng

Atila Patté

A pesquisa aborda, a partir das memorias dos velhos pertencentes ao povo da Etnia Indígena
Xokleng/Laklanõ da Terra Indígena Laklãnõ, localizada no alto vale do Itajaí entre os
municípios de Doutor Pedrinho, José Boiteux, Vitor Meireles e Itaiópolis, estado de Santa
Catarina, relatos sobre jogos e brincadeiras no tempo deles. Também, trás um levantamento
sobre os jogos e brincadeiras praticados pelas crianças da Terra Indígena hoje. Buscaremos
entender a partir dos relatos dos velhos as diferentes formas de ensino da cultura e da língua
indígena Xokleng através dos jogos e brincadeiras. O estudo se justifica e se faz necessário,
pois, a língua Xokleng vem sendo cada vez mais deixada de lado e, as escolas da Terra Indígena
não visualizam estratégias de revitalização, nesse sentido, a partir dos relatos dos velhos,
buscaremos nas brincadeiras e jogos, alternativas pedagógicas para revitalização da língua,
onde seja possível despertar o interesse do aluno.

Saberes Indígenas na literatura amazônica: perspectiva intercultural e


interdisciplinar

Délcia Pereira Pombo


Eliete de Jesus Bararuá Solano

Este trabalho resulta de relato de práticas pedagógicas interculturais realizadas na disciplina


Literatura no Brasil e na Amazônia, com acadêmicos indígenas do Curso de Licenciatura
Intercultural Indígena da Universidade do Estado do Pará (UEPA), na Aldeia Caruci, município
de Santarém-Pa. Seu objetivo é demonstrar como os acadêmicos indígenas articulam seus
saberes indígenas, ou seja, os ensinamentos do seu povo (histórias, memórias, hábitos e
costumes repassados pela tradição oral) com as propostas da literatura brasileira de
expressão amazônica, com vistas a produzir materiais pedagógicos interculturais e
interdisciplinares para a educação escolar indígena. Como referencial teórico principal tem-se

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as notas de aulas da Literatura brasileira de expressão amazônica de Nunes (1998); o que


vigora na lei 11.645/08 a respeito da Literatura Indígena, segundo Silva (2016); acerca da
Literatura indígena no Brasil contemporâneo de Graúna (2012); um mergulho nas Imagens
poéticas das águas amazônicas de Fares (2013); as contribuições de Cabral, Eiró e Carvalho
(2014) na abordagem com os Mitos indígenas amazônicos; e, para um debate teórico e
metodológico, os escritos de Rodrigues (2013). A esses referenciais se somaram reflexões
sobre as produções textuais dos acadêmicos/professores indígenas, elaboradas a partir da
escrita de seus saberes indigenas tradicionais, com o intuito tanto de demarcar o traço
indígena no contexto histórico e literário brasileiro, quanto de propor novas estratégias
interculturais e indisciplinares, imersas no cotidiano e na identidade de suas comunidades,
com vistas à valorização e ao fortalecimento de seus conhecimentos tradicionais em seus
projetos políticos e pedagógicos de educação escolar indígena.

Cidadania e povos indígenas: um relato de experiência de ensino universitário


na Aldeia Mapuera

Petronio Lauro Teixeira Potiguar Júnior

As experiências docentes, seja em que grupo social for, é um momento em que os professores
verdadeiramente comprometidos e militantes da causa educacional, devem procurar
eternizar, não como um instrumento de romantismo, mas sim como uma forma de revelar um
momento que não é estático, mas um ser e estar no mundo localizado no tempo e no espaço
para servir como uma das referências para futuros projetos perspectivas e, principalmente,
referência para demarcar o processo de resistência. Baseado nessas premissas é que, após
dois anos de ocorrido e levado pela realidade que se apresenta de forma indeterminada para
os povos indígenas na atualidade do país, resolvi socializar a experiência educacional por mim
vivenciada no âmbito do curso de Licenciatura Intercultural Indígena, na Universidade do
Estado do Para - UEPA, no âmbito do Programa de Formação de Professores da Educação
Básica –PARFOR com indígenas da aldeia Mapuera, noroeste do Pará. A metodologia para a
materialização deste texto, se baseou na vivencia cotidiana e, fundamentalmente, no
processo dialogal, desde a concepção a aplicabilidade nas intervenções dos alunos-indígenas
do “Intercultural” realizadas nas aldeias Mapuera, Ponkuru e Tamiuru, entre docentes do
ensino médio e fundamental. A aldeia Mapuera faz parte do conjunto das terras indígenas
Nhamundá-Mapuera juntamente com as aldeias Nhamunda, Tamiurú, Pomkurú, Inaja,
Santidade e Bateria. Fica localizada na Amazônia setentrional, próxima à fronteira entre o
Estado do Pará e do Amazonas, às margens do rio Mapuera, afluente/ formador do Rio
Trombetas, o qual possui diversas cachoeiras contendo fortes corredeiras, dificultando, por
muitas vezes, o acesso à aldeia, principalmente no período de vazante.Na Mapuera, habitam
aproximadamente, 1055 índios dentre os quais encontra-se diversas etnias que fazem parte
do complexo cultural Tarumã-Parukoto são eles: Wai Wai, Katuena, Hixkaryana, Mawayana,
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Xowyana, Tikyana, Xereu, Tunayana, Kamarayana, Yaipîyana, Parîkwoto, Pianokoto, Tirió,


Aramayana, Okomoyana, Caruma Wapixana entre outros. Mas os mesmos se autodenominam
“Wai-Wai” depois de terem sido evangelizados pela Missão Evangélica da Amazônia – MEVA.
(CARDOZO e VALE JUNIOR:2012; QUEIROZ, 2008; S/D;2012). Os indígenas que habitam no
Território Indígena-TI Trombetas- Mapuera falam um dialeto da língua Karib. A língua Wai Wai,
que pertence à família linguística Karib, constitui a língua principal utilizado pelos habitantes
dessa aldeia. Até o início dos anos 2000, haviam outras línguas faladas nas aldeias, cada uma
por parentelas de outros povos indígenas que se intercasaram com os Wai Wai ou que
migraram em massa para conviver com os estes durante a fase de sua centralização em
grandes aldeias entre 1950 e 80 (CARDOZO e VALE JUNIOR:2012. ZEA, S.E, 2006). Para ter
acesso a Mapuera, é necessário sai de Belém, capital do Pará, em uma viagem de 50 minutos,
até Santarém. De Santarém, você acessa via hidroviária que tem aproximadamente 4 horas
de viagem até a cidade de Oriximiná e desta localidade, mais 16 horas até Cachoeira Porteira.
Estando em Cachoeira Porteira, você aluga ou “pega carona” em uma canoa que, dependendo
do ritmo do rio, leva aproximadamente 36 horas de viagem até a Mapuera. Após a localização
onde foi realizada a disciplina “Prática”, vamos a intenção pretendida. O objetivo aqui, é
fazermos relatos das experiências sem uma preocupação profunda com debates teóricos,
apesar de isso ser necessário, mas que fora feito de forma ainda limitada, pela exiguidade do
tempo, ficando para outro momento seu aprofundamento. Objetivamos aqui, trazer uma
vivencia não unilateral, mas dialogal, a partir de debates e reflexões que considerei de
extrema importância nesse contexto, como as realizadas na disciplina denominada “Práticas”,
que tinha como foco construir, elaborar e vivenciar experiências de ensino a partir do
protagonismo indígena, numa alusão de que a experiência não é somente do professor mas
dos alunos-indígenas de forma compartilhada e que precisa ser difundida e garantida nas
políticas públicas de educação Mas entendemos que a opção por revelar mais a experiência
com comentários dos debates, construções de projetos e intervenção nas escolas das
referidas aldeias junto aos professores- alunos-indígenas desse curso, foi a opção
metodológica que oferecia mais assertiva, para que pudéssemos expor a forma e o conteúdo
do que resultou na e da disciplina “Praticas” sustentado pelo eixo temático “Povos Indígenas
e Cidadania”. É bom destacar que a forma como se deram as intervenções seguiu diretrizes
contidas nas orientações da disciplina “Praticas” focado na maneira de como os professores-
alunos-indígenas entenderam a melhor forma os conteúdo para sua socialização, bem como,
os materiais didáticos que iriam ser usados nesse momento, levando em conta o bilinguismo
desses indígenas nessa aldeias. No geral, as estratégias adotadas, foram exposições orais
sobre o que significava cidadania e de que maneira a temática apresentada por eles se inseria
no debate sobre cultura. Exposição de imagens em datashow, desenhos elaborados pelos
próprios professores-alunos indígenas; filmes de curta duração; exposição da cultura material
local como arco, flechas, cuias etc. Estas foram ferramentas usadas para articular as falas com
o que estava sendo mostrado semperde de vista o foco dado sobre cidadania e cultura,
buscando aproximação para um exercício dialogal do autor deste texto com os indígenas

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nesse momento. Em seguida, ocorriam atividades entre os alunos que assistiam as aulas no
contexto ensino médio e fundamental, seja em forma de desenho ou dialogal entre professor
e alunos. Após a feitura das atividades, esses últimos apresentavam ou expunham desenhos,
caricaturas, pinturas corporais, de forma oral, ou seja, a materialização para demonstrar se a
forma de aprendizagem ou de absorção do conteúdo fora exitosa. Em seguida ocorria
avaliação das atividades, sendo esse momento imprescindível para ser percebido como os
alunos absorviam o processo de ensino-aprendizado. Em minhas observações foi impossível
não convocar Geertz (1997) chamando atenção que para ter a percepção e a interpretação
dos fatos do modo como eles ocorrem e captar, de forma bem detalhada o “ponto de vista do
nativo” em nosso vocabulário. Para isso, foi necessário uma observação bem atenta para
poder perceber os sentidos das coisas, como bem coloca Roberto Cardoso de Oliveira em seu
“O trabalho do antropólogo, o olhar o ouvir e o escrever. Mas ao falarmos de “povos indígenas
e cidadania”, percebemos que esse tipo de reflexão é, de pronto, amplo demais, necessitando
de um foco ou melhor, um olhar direcionado, para entendermos que horizonte queremos
revelar nesse relato de experiência que é chamar a atenção para a continuidade de propostas
como essa , com foco nas realidades onde elas ocorrem e , principalmente, garantir resultados
efetivos quando da materialização desse tipo de proposição educacional, ou seja, hoje na
aldeia Mapuera , 90% dos professores do ensino fundamental nas escolas indígenas no
entorno dessa, são exclusivamente indígenas, numa prova cabal de que extinguir políticas
públicas dessa natureza e tão somente desconsiderar o que de fato e cidadania e desrespeitar
aportes jurídicos e legais nacional e internacionalmente que precisam ser retomados e
debatidos com urgência.

Curso Normal Médio Intercultural Ára Verá: formação de professores Kaiowá


e Guarani

Veronice Lovato Rossato

O Curso Normal Médio Intercultural Ára Verá (espaço-tempo iluminado) trata-se de uma ação
cujo objetivo geral é formar professores indígenas Kaiowá e Guarani em nível médio, com
habilitação para a educação nas comunidades indígenas, educação nos anos iniciais do ensino
fundamental I e educação infantil. Foi aprovado e autorizado a funcionar por meio da
Deliberação/CEE/MS n.o 6284 de 20 de julho de 2001, com o nome de Curso Normal em Nível
Médio – Formação de Professores Guarani Kaiowá – Ára Verá. Este curso emergiu de
reivindicação histórica do Movimento dos Professores Kaiowá e Guarani, das comunidades
desta etnia e de outras instituições envolvidas com a educação escolar no contexto indígena
(UFMS, UCDB e Diocese de Dourados), que ressaltavam a necessidade de um curso específico
de formação inicial de professores indígenas Kaiowá e Guarani. Esta solicitação foi assumida
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pelo governo estadual de Mato Grosso do Sul, em 1999, para responder aos ditames
constitucionais no sentido de construir, participativamente, a política educacional para
proteção e promoção de diversidade étnica, proporcionando a valorização da história e o
fortalecimento da identidade dos povos indígenas, fortalecendo suas culturas.

Diálogo entre saberes: conhecimento científico e saberes tradicionais

Bianca Almeida Andrade dos Santos


Davis Gruber Sansolo

A educação escolar diferenciada é constituída por comunidades tradicionais e suas


especificidades culturais. Neste cenário, os povos indígenas brasileiros conservam seus
direitos à educação escolar e à manifestação cultural. Os Guarani atribuem significados
simbólicos a elementos da natureza a partir do território vivenciado (Tekoha). Hoje, algumas
comunidades indígenas vivem em sobreposição a áreas de preservação, como ocorre com a
aldeia Guarani Tekoá Paranapuã. Esta, se localiza no Parque Estadual Xixová-Japuí (PEXJ) no
município de São Vicente, litoral do estado de São Paulo. A aldeia se situa no bioma Mata
Atlântica, em área protegida pela legislação ambiental dentro de diversas categorias de
Unidades de Conservação (UCs), como um Parque Estadual. A reflexão proposta neste
trabalho aborda os saberes tradicionais destes povos, vinculados ao conceito de Tekoha,
exposto no ambiente escolar. Hoje, este conceito se sobrepõe ao de território de proteção,
trazido pelo conhecimento científico. Neste contexto, trazemos em discussão o conceito de
Tekoha, sentido de território, que está vinculado com a cosmologia guarani, e que este
conceito se insere dentro de um outro conceito que é o território de proteção da natureza,
um Parque Estadual. Esta pesquisa é fundamentada no Estágio supervisionado: “A escola
como objeto de pesquisa”, do curso de Ciências Biológicas - Licenciatura (UNESP-IB/CLP), que
apresenta resultados parciais sobre a problemática encontrada no contexto educacional
indígena. A comunidade indígena Paranapuã, com o passar do tempo produziram e
requintaram suas identidades culturais, a partir da necessidade e aprendizagem, produzindo
assim uma ligação com o território vivido, onde foi gerado o sentimento de pertencimento.
Os indígenas, atribuem sentidos cosmológicos a elementos da natureza, que pode ser
dialogada com o conceito de proteção da natureza. Mas que hoje, está em conflito devido ao
contexto territorial da aldeia e a problemática de diálogo, ou possíveis diálogos entre
conhecimento científico e conhecimento tradicional. Portanto, entendermos onde existem
encontros e dissociações de compreensão do que é a natureza para uma cultura, e do que é a
natureza para a ciência, apresenta-se como importante viés analítico para interpretarmos o
contexto educacional diferenciado do guarani, a partir da relação e saberes estabelecidos com
o território/Tekoha. Pode-se observar na aldeia Paranapuã, a sobreposição destes dois
conhecimentos, que hoje não se dialogam. Fato que estes dois saberes apresentam suas
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especificidades, e que a hegemonia do saber cientifico reflete as relações desiguais entre


grupos, como no presente trabalho, entre uma comunidade indígena e um Parque Estadual.
O que não devemos é ignorar ambos os conhecimentos, mas possibilitar discussões,
compreensão dos diversos saberes, e propor alternativas que não valide apenas um
conhecimento, ou tentar ajustar ao conhecimento científico. Podemos analisar e
contextualizar esta temática ao conceito de “ecologia dos saberes” que o autor Boaventura
de Sousa Santos (2007) propõe, ao discutir que não existe um conhecimento total e absoluto
entre um conhecimento e o científico, mas a construção de um relacionamento, democrático,
que possibilite oportunidades, diálogo e troca entre os diferentes conhecimentos.

Educação Escolar Indígena: uma reflexão sobre o currículo da Escola Adolfo


Ramiro Levi

Mávera Teixeira dos Santos


Maxim Repetto

O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma reflexão sobre o a educação escolar
indígena em Roraima especificamente sobre o currículo da Escola Estadual Indígena Adolfo
Ramiro Levi. Partindo da interculturalidade como um campo de discussão abordaremos a
partir do MII (Método Indutivo Intercultural) que busca refletir sobre os fatos observáveis na
vida cotidiana das pessoas, assim, é realizada pesquisa colaborativa das atividades humanas
como fatos particulares no próprio contexto. É uma proposta intercultural que busca superar
as dificuldades do trabalho escolar nas comunidades indígenas e centra-se em três eixos de
reflexão: primeiro, a crítica à interculturalidade convencional, harmônica, despolitizada,
idealizada e romântica, pois parte do reconhecimento do conflito histórico, materializado nas
contradições e dilemas da escola, da comunidade, mas também do que vive o próprio
professor indígena. Desconsidera assim a perspectiva idealizada do diálogo, pois não existe
verdadeiro diálogo sem condições materiais, o segundo, propõe uma perspectiva sintática do
conceito de cultura, o que deve ser compreendido como uma visão integrada do ser humano
com o mundo, onde a cultura é o resultado da ação do ser humano, e ainda considerando a
relação com a natureza. Reconhece-se assim a indissociabilidade entre sociedade e natureza,
a qual evidencia-se nas atividades humanas conjugadas nas pesquisas colaborativas, na
identificação das atividades sociais e no fazer das atividades. A terceira busca articular,
contrastar a pratica pedagógica entre os conhecimentos indígenas e acumulados
historicamente pela humanidade. Neste sentido a proposta educativa nesta perspectiva
permite interrogar os modelos curriculares que folclorizam a cultura e a reduzem a expressões
isoladas e fragmentadas, para isso analisaremos o currículo da escola contrastando com o de
outras escolas indígenas, bem como a visão de interculturalidade e os que utilizam o MII,
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apresentando assim o resultado da pratica- pedagógica dos professores que fazem da


proposta.

Os saberes indígenas Waiwai: desafios entre as águas e a densa Floresta


Amazônica

Raimunda Maria Rodrigues Santos


Jonildo Viana dos Santos
Roseli Bernardo Silva dos Santos
Adnelson Jati Batista

A comunicação tem como objetivo refletir sobre os saberes ancestrais da etnia Waiwai a partir
das narrativas orais considerando sua dimensão geográfica e linguística. O povo está
localizado nas terras indígenas que abrangem parte dos Estados do Amazonas, Pará e
Roraima, constituídos pelas terras de Nhaundá-Mapuera (PA), Trombetas/Mapuera
(AM/RR/PA), Wai-Wai (RR), Apesar do processo de evangelização cristã que datam mais de
meio século, o povo WaiWai fala língua originária e preserva muitos costumes que lhes são
próprios. Nessa reflexão surgiu a partir dos processos de formação continuada para
professores indígenas no Instituto Insikiran pela Universidade Federal de Roraima - UFRR em
conjunto com a ação Saberes Indígenas na Escola junto ao Instituto Federal de Roraima - IFRR.
Neste contexto observamos que os professores indígenas enfrentam grandes desafios no
sentido de agregar conhecimentos ocidentais do mundo dos brancos como processo de
resistência e enfrentamento das políticas de Estado, uma vez que são guardiões das florestas
e das águas, pois também dependem do ambiente no sentido da coleta de castanhas, da caça
e da pesca o que reforça a preservação da fauna e flora. Os professores assumem posições de
barqueiros, agricultores numa lógica de sistema de manejo e suas respectivas comunidades.
Assumem lideranças e organizam as formações a partir da dinâmica de coletividade
comunitária. Nossa metodologia se firma por uma dimensão etnodialógica, tendo em vista os
pontos de interação que estabelecemos com os professores e demais membros comunitários.
No percurso foi possível compreender que a vida cotidiana está constituída pelo conjunto de
signos que repassados através da língua reafirmam a identidade da nação, entre estas suas
concepções de mundo e suas formas de elaborar suas práticas de sobrevivência. Assim
consideramos que os saberes tradicionais dos senhores das águas e da floresta intercruzam
as relações teóricas e práticas da fronteira ocidental do mundo dos brancos, o que permite
refletir para além do conhecimento sistematizado da ciência moderna.

O modelo de educação guarani e o funcionamento das unidades escolares

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Cintia dos Santos Pereira da Silva


Ivana Pereira Ivo

Este trabalho tem como objetivo discutir a educação escolar indígena, especificamente o
funcionamento de unidades escolares em aldeias Guarani-Mbyá, considerando-se alguns
aspectos linguísticos e culturais envolvidos no processo. Na unidade escolar analisada, o
ensino é monolíngue (português) e reproduz o sistema de funcionamento escolar nacional,
acompanhando as escolas municipais e estaduais da região. Embora os professores sejam
indígenas, lecionam em português e utilizam os materiais didáticos pensados para as escolas
brasileiras, sistema conflitante, em vários aspectos, com a concepção e forma de transmissão
de conhecimento tradicional do povo Guarani. A educação Guarani relaciona os diversos
aspectos da sua cultura à vida social do grupo, de forma multidimensional, e isso se dá por
meio do seu Tekó (o modo Guarani de ser, viver e agir no mundo). Utilizamos, em nossa
análise, um estudo desenvolvido na aldeia Guarani-Mbyá Rio Silveira, (litoral norte de São
Paulo), com alguns professores indígenas e karais (líderes espirituais), o qual resultou na
elaboração de um material de apoio didático bilíngue (Guarani-Português), que primou pela
participação dos indígenas, desde a sua concepção até a implementação do material na
escola. Partindo desse cenário, propomos um modelo analítico pautado nas perspectivas da
organização social, cosmovisão, etno-história e território para a análise das unidades escolares
nas aldeias Guarani.

Escola Estadual Indígena Mbya Arandú: novas alternativas para a Educação


Escolar Indígena em busca de autonomia étnica e comunitária

Mayara Vieira da Silva

Para os indígenas o conhecimento é amplo não se resume a meras disciplinas e se faz de modo
natural na vida cotidiana com total valor a oralidade. Em contraponto a isso a escola indígena
ainda esta dentro dos moldes hegemônicos de educação lidando com o conhecimento de
forma fragmentada e burocratizada o que distância o processo de ensino aprendizagem das
reais necessidades dos indígenas, havendo assim uma contradição em meio à demanda por
uma educação diferenciada voltada para a realidade local e para fortalecimento comunitário.
Esse trabalho trás uma reflexão sobre quais seriam as novas alternativas educacionais para a
Educação Guarani, no sentido de re-significar as práticas pedagógicas criando uma educação
que resgate e valorize aquilo que lhes foi tirado e rompa com aquilo que lhes foi imposto.
Nesse sentido podemos chamar de nova educação o que temos feito com o conhecimento
indígena, buscando utilizá-lo de modo a valorar o potencial desse povo para melhorar suas
condições de existência (vida). A partir desta perspectiva este trabalho consiste em relatar as
experiências desenvolvidas na Escola Estadual Indígena Mbya Arandú – Ensino Fundamental,
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localizada na Terra Indígena Araça-i onde vivem cerca de 30 famílias em situação de


vulnerabilidade social. Foi em meio a este contexto que visamos resgatar a autonomia
Guarani, com foco no fortalecimento comunitário, econômico e educacional traçando um
diálogo indissociável entre educação escolar indígena e educação indígena no processo de
construção coletiva do projeto político – pedagógico, onde a comunidade pode se avaliar
enquanto coletivo e relatar o que seria necessário que a escola ensinasse. A partir de
metodologias ativas os indígenas realizaram atividades envolvendo elementos culturais que
os próprios sentiram necessidade de resgatar como artesanato, pão caseiro, cultivo de
alimentos tradicionais entre outros. Desse modo a busca por uma nova educação reafirma
que a escola dentro da comunidade deve ser ferramenta para fortalecimento e transformação
social atrelando os conhecimentos tradicionais e os valores locais como sua maior força para
a resolução de problemas, construindo assim uma comunidade de aprendizagem onde todos
são protagonistas do processo educativo, que vai muito além dos muros da escola.

Características e desafios do ensino de geografia na Educação Escolar


Indígena: reflexões a partir dos municípios de Amambaí, Dourados e Caarapó
(MS)

Solange Rodrigues da Silva

A presente comunicação é parte da análise realizada no interior da tese de doutorado


desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da
Grande Dourados (UFGD) e possui como objetivo central analisar a Geografia trabalhada nas
escolas indígenas dos municípios Dourados, Amambai e Caarapó em Mato Grosso do Sul e
identificar nas práticas dos professores de Geografia atuantes nessas escolas potencialidades
para a efetivação da educação intercultural. Para tal, estabelecemos como objetivo central
identificar e analisar as práticas dos professores de Geografia atuantes nas escolas das
reservas indígenas dos municípios de Dourados (MS), Caarapó (MS) e Amambaí (MS) na
tentativa de apontar nas derivas minoritárias dessas práticas, potencialidades para a
efetivação da educação intercultural. Para atingirmos esse objetivo, realizamos análise
bibliográfica sobre os principais referenciais que subsidiam esta pesquisa, assim como, nos
debruçamos sobre os principais referenciais curriculares relativos à educação escolar indígena
no Brasil e em Mato Grosso do Sul; realizamos contatos, visitas, e entrevistas semi-
estruturadas com coordenadores pedagógicos, professores de Geografia e professores
indígenas que participaram e/ou participam do processo de construção da Educação Escolar
Indígena em cada município pesquisado; elaboramos mapeamento das escolas das reservas
indígenas dos três municípios propostos para esta pesquisa e analisamos os projetos
pedagógicos das escolas indígenas estudadas, no intuito de compreender como a
interculturalidade se faz presente no cotidiano destas escolas, identificando assim, a

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intencionalidade dos diálogos interculturais presentes em todos os ambientes pesquisados.


Diante da análise realizada à prática destes professores, foi possível constatar que a essência
da Geografia (localização) permite diálogos com as diferentes geografias existentes nas
reservas indígenas pesquisadas, bem como comprovar que a aproximação aos saberes e
conhecimentos tradicionais dos Guarani e Kaiowá, potencializa não somente a compreensão
das relações cosmológicas destas etnias, mas, também, permite o entendimento da luta diária
destes povos, seja os que resistem em situação de reserva, nas periferias da cidade, nos
acampamentos de retomada, ou em parte dos seus territórios tradicionais demarcados. A
partir de imagens, linguagens e geografias outras, agenciadas por meio do teatro e/ou
desenhos, textos e maquetes produzidas pelos alunos, identificamos o questionamento as
relações assimétricas marcadas pela colonialidade do ser, do poder e do saber, que criaram
novas territorialidades aos Guarani e Kaiowá, redefinindo novas geografias, novas fronteiras
e, consequentemente, novas geografias para estas comunidades.

Língua Nheengatú – Uma língua adormecida sendo despertada na educação


diferenciada através do diálogo entre os saberes tradicionais na Educação
Escolar Indígena

Enilda Santos de Sousa


Ana Cely de Sousa Coelho

Podemos afirmar que a língua Nheengatú é viva e ainda falada entre os mais velhos, não
morreu só está adormecida, da mesma forma seus saberes tradicionais que trazem consigo, o
tratamento com ervas medicinas que curam, ainda é um meio de tratamento entre os povos
indígenas, que não abrem mão de suas puçangas (remédios) que retiram da própria natureza
para tratarem suas enfermidade. Nesse sentido, o objetivo é relatar experiências de
aplicabilidade da língua em espaços formais de ensino através da inserção de uma educação
diferenciada como prática escolar indígena. Foi realizada através de pesquisa qualitativa,
mediada por relato de experiência via entrevista informal em espaço escolar. O diálogo
constante e o entendimento ocorre via Nhengatú em cumprimentos diários como: “Puranga
ara; Puranga pituna e Puranga karuka”, que significa ” Bom dia, Boa tarde e Boa noite”
fortalecendo a idéia de que é na educação diferenciada que podemos passar aos educando
esses ensinamentos que os quais já tem uma convivência em sua família, e aprendemos com
eles o que os mesmos aprendem com seus pais, é uma troca de conhecimentos entre alunos
e professores, que tem a oportunidade de conhecer seus costumes da alimentação ao ritual
desses povos e ainda a implementação constante da língua Nhengatú nos diálogos
desenvolvidos e nas rotinas de processo de ensino aprendizagem através de atividades

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práticas de contação de histórias por exemplo, lendas amazônicas, ou ainda nos desenhos que
demonstram a relação destes com a natureza enraizada nos povos indígenas. Experiências que
só com a educação diferenciada podem ser valorizadas e utilizadas como ferramenta de
revitalização de língua adormecida culturalmente, porém de uso contínuo entre as conversas
de sala de aula. Assim, a educação diferenciada com a inserção da Educação Indígena Escolar
funciona como um divisor de águas no sentido do fortalecimento cultural de um povo,
viabilizada e formalizada como processos de ensino e aprendizagem em espaço escolar e
território indígena. Diante essa situação, faz-se necessária e urgente a implementação de
enaltecer o bilíngue no ensino, pois tem caráter emergente de manutenção de raízes culturais
que devem ser perpetuada entre as gerações indígenas como fortalecimento da alteridade
esquecida.

Movimentos de apropriação e articulação política de professores indígenas na


Ação Saberes Indígenas na Escola – Núcleo RS

Fernanda Brabo Sousa

Esta comunicação é fruto de uma pesquisa de doutorado em Educação, realizada entre os


anos de 2013 e 2017, e resultado da vivência da autora na formação continuada de
professores indígenas Ação Saberes Indígenas na Escola – ASIE, núcleo do estado do Rio
Grande do Sul, Brasil, desenvolvida pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS,
na qual atuou como professora formadora, do ano de 2014 a 2017 (e segue atuando como
supervisora, nos anos de 2018 e 2019). Ao longo de quatro edições de realização, a Ação
Saberes Indígenas na Escola no RS já envolveu mais de 300 professores indígenas, entre as
funções de orientadores, formadores, pesquisadores e cursistas (ou alfabetizadores),
abrangendo a totalidade de professores Guarani no estado e a grande maioria dos professores
Kaingang, atingindo todas as escolas em terras indígenas do RS. As experiências relatadas,
registradas pela autora em diário de campo e pela equipe coordenadora em gravações
audiovisuais, contam os modos como a ASIE foi sendo apropriada, reinterpretada e
ressignificada pelos próprios professores indígenas agentes da ação. Ao mesmo tempo, narra
como, a partir dos encontros presenciais de formação oportunizados pela ação, esses espaços
de formação pedagógica foram sendo transformados em territórios de articulação e
reorganização política destes professores e lideranças intelectuais de suas comunidades. Essa
apropriação se deu a partir de vários movimentos, como por meio de estudos da legislação da
educação escolar indígena e textos adjacentes ao tema, por memórias de lutas de professores
e lideranças, pelo resgate de experiências anteriores de formação e pela possibilidade de estar
fisicamente juntos, compartilhando seus projetos e sonhos de escola, de educação, de
comunidade e de futuro. Ressalta-se que, embora tais movimentos não ocorram do mesmo

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modo entre os professores Kaingang e os Guarani, em ambos os grupos de professores é


possível afirmar que a formação continuada, além de pedagógica e profissional, tem assumido
também um caráter de formação política e identitária.

Tempo Guarani

Ismael de Souza

Neste trabalho, apresento os resultados de uma experiência pedagógica realizada durante o


meu estágio docência - requisito para a formação na Licenciatura Intercultural Indígena do Sul
da Mata Atlântica, da Universidade Federal de Santa Catarina. Para o estágio desenvolvi um
projeto interdisciplinar com o tema “Tempo Guarani”, que se tratava de aspectos da
contagem do tempo e do que significava, através do olhar guarani, a compreensão da
passagem do tempo. A prática, que buscou valorizar a cultura guarani, foi realizada na escola
Indígena WHERA TUÃ POTY DJA, no município de Biguaçu - SC, com alunos de 6o e 7o ano do
ensino fundamental. A pesquisa foi produzida a partir de memórias de anciões guarani, que
através de conversas puderam transmitir aos alunos conhecimentos ancestrais. Assim,
ensinaram sobre formas de contar o tempo, épocas, horas e também informaram sobre as
maneiras que os guarani encontraram para se situar no tempo e no espaço. Com base no
conhecimento obtido através das conversas com anciões e líderes espirituais, pude
desenvolver varias atividades, formas de se ensinar a cultura em sala de aula. Assim, a partir
do tema “Tempo Guarani”, pude ampliar a temática abrangendo não apenas a cultura
indígena, mas também outras disciplinas e mostrando aos alunos como é relação com o tempo
de diversas outras culturas. Entre as atividades práticas, a construção de um relógio do solar
guarani na escola entusiasmou os alunos. Foi também uma forma de valorizar elementos
culturais que estavam caindo no esquecimento, fazendo com que os mais jovens valorizem o
conhecimento dos seus antepassados, para que não se perca, e assim valorizem a própria
cultura e a própria existência. OBJETIVO: Desenvolver atividades para o aluno ter uma noção
sobre o desenvolvimento cronológico referente ao tempo, datas, meses, estações, anos e
horas. Ter uma reflexão da sociedade sobre como ela entende o que é o tempo, na perspectiva
cultural do povo guarani, mas também em outras culturas, estudar e pesquisar sobre como
pensavam sobre a contagem do tempo e as formas que foram encontradas para medir o
tempo. RESUTADOS: Com este trabalho obtive pontos muito positivo na vida dos alunos que
com esta interação dos anciões falando da cultura guarani e mostrando as praticas ao jovens,
perceberam a riqueza da nossa própria cultura, assim as a principal e mais importante
atividade foi a construção um relógio do sol guarani na própria escola, onde os alunos
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aplicarão as pratica, conhecimentos ancestrais que os anciões passaram sobre o tempo


guarani.

Nomes de aves em guarani. Aves sagradas para os Guarani Mbya no litoral de


Santa Catarina

Juçara de Souza

Apresento o trabalho realizado na escola indígena de ensino fundamental Itaty, na TI Morro


dos Cavalos, município de Palhoça – SC. Para a realização do estágio docência, exigido na
Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica, da Universidade Federal de Santa
Catarina, desenvolvi um projeto interdisciplinar, para os alunos do 7o e 8o anos do ensino
fundamental, cujo tema foi “Aves sagradas para os guarani mbya”. Durante o estágio procurei
mostrar para os alunos que todos os seres têm uma história: uma razão de estar ali. Mesmo
que alguém ache insignificante, o olhar para cada ser, ou seja, tudo que foi feito pelo criador,
deve ser respeitado, assim como todas as coisas feitas por nhanderu tupã (deus criador). As
diferenças estão no fato de que em cada lugar as pessoas têm seus mitos que relacionam com
suas crenças, com as suas histórias e com suas realidades. As diferenças também estão no
modo de contar as narrativas do saber e do conhecimento, falando de um universo que fica
paralelo com o mundo dos espíritos e com a realidade, complementando o epistemológico de
cada geração. As crianças convivem com essa realidade no seu dia a dia. A partir do meu
projeto estimulei-as a procurar saber os nomes, os mitos e as narrativas sobre cada pássaro
sagrado. Assim, emergiram contos e narrativas sobre cada pássaro, seu habitat, seu grupo,
sua origem, sua atribuição para os indígenas, seus mitos relacionados ao seu canto e como
relacionam com seu dia a dia. E a partir do trabalho desenvolvido, os alunos puderam
reconhecer e valorizar seu ambiente como sagrado. Puderam entender como esses elementos
do cotidiano são também importantes para a construção do conhecimento na escola e fora
dela, pois a educação indígena vai muito além da escola.

Saberes indígenas: vivência e convivencia

Teodora Souza

A comunicação retrata a experiência de um projeto em andamento para formação continuada


de professores indígenas das etnias Kaiowá, Terena e Guarani, Ação Saberes Indígenas na
Escola (SIE), em desenvolvimento nas escolas indígenas com o apoio da Universidade Federal
da Grande Dourados (UFGD), do Ministério da Educação (MEC) e das prefeituras municipais.

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As reflexões resultam da análise das relações históricas entre a Educação Escolar Indígena, a
Educação Indígena e a formação de professores indígenas na região de Dourados, Mato
Grosso do Sul. O objetivo da ação é a formação continuada de professores indígenas em
letramento, numeramento e produção de material didático. A fundamentação teórica e
metodológica, construída pela instituição formadora em diálogo com os professores indígenas
ao longo dos três anos, foi orientada de acordo com os princípios freirianos e a técnica do
ensino com pesquisa para orientar o planejamento dos professores e formadores da ação.
Entre os resultados destaca- se a contribuição da Ação Saberes Indígenas na continuidade de
uma política de formação continuada para os professores indígenas nas aldeias da Reserva
Indígena de Dourados e Panambizinho e a necessidade de regularidade nestas políticas
públicas além de efetivação nas ações de governo e práticas pedagógicas.

A pesquisa compartilhada, experiências interculturais e o fortalecimento da


escola indígena: alguns caminhos possíveis

Patrícia Regina Vannetti Veiga

Esta apresentação tem como objetivo refletir sobre os passos e processos de um trabalho de
pesquisa compartilhada que tem sido realizado junto com professores baniwa da região do
Alto rio Negro desde 2011. A aldeia de Assunção, localizada no rio Içana, é sede de uma missão
salesiana e a educação escolar era realizada pelas irmãs missionárias. Há 10 anos gestores e
professores indígenas vem construindo a escola indígena, que tem como base metodológica
o ensino, via pesquisa, das histórias ancestrais, culturas e conhecimentos baniwa, em uma
proposta de educação intercultural. Uma das questões que se apresentaram nesse caminho
foi a respeito do que fazer com os conteúdos resultantes destas pesquisas, eles seriam apenas
ensinados na escola ou voltariam a ser praticados, já que se trata dos saberes e práticas
ancestrais? A educação escolar incentiva um movimento chamado de “resgate cultural”, em
que muitos atores da comunidade escolar preocupam-se se isso não seria “voltar para trás”.
Porém a conclusão é que no contexto atual é importante saber e praticar o que é baniwa e
também o que é do branco, os saberes ocidentais. Para isso, faz-se necessário uma conciliação
entre os saberes dos antigos e o modo de vida atual; o papel da escola na aldeia antes e hoje,
reformulando este espaço formal de educação escolar, em que muitas vezes os
conhecimentos baniwa não encontram espaços para o seu ensino e aprendizagem. Mesmo
que os baniwa venham realizando alguns rituais na escola, em novos contextos como o dia
das mães, formatura, etc, os formatos institucionais ainda apresentam barreiras
epistemológicas e práticas para o conhecimento baniwa. Essas fronteiras vão se dissolvendo
aos poucos, umas das estratégias, realizada no âmbito da pesquisa compartilhada, foi a escrita
de um livro com algumas narrativas orais, em que os professores autores escreveram e os
alunos desenharam trazendo a oralidade para a escrita e assim potencializando a
comunicação desses conhecimentos. Nesse sentido, pensamos juntos sobre formas de
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penetração dos conhecimentos e pedagogias indígenas em espaços que são estruturados


conforme lógicas ocidentais de transmissão de conhecimento, como é a escola, a escrita
alfabética ou mesmo o pensamento científico ocidental. Desta maneira, pretendo refletir
sobre a importância de pesquisas acadêmicas transdisciplinares que estejam em diálogo com
as práticas e as realidades indígenas e visem também uma atuação do (a) pesquisador (a) na
formação de professores, já que estes muitas vezes são os seus principais interlocutores
atualmente.

Educacao Escolar Indigena: um olhar para a redução das desigualdades


educacionais

Eduardo Barbosa Vergolino


Lincoln Tavares dos Santos
A educação escolar indígena pode e deve ser utilizada como um espaço para a redução das
desigualdades educacionais. Por muitos anos a educação formal nas escolas indígenas foi
esquecida e lutou contra a falta de recursos e pesquisa para seu melhoramento. Hoje, as
escolas indígenas são um campo de atuação fundamental nas diversas lutas que dizem
respeito aos povos indígenas e a busca de conquistas. O que busco apresentar e a
possibilidade de um novo olhar sobre as escolas indígenas como forma da redução das
desigualdades através de pesquisa e capacitação docente, além da criação de programas
específicos para o corpo discente dessas escolas.

Desafios na construção de uma escola específica para o povo Mēbêngôkre

Adriana da Gama Vidal


Camila Boldrin Beltrame
João Lucas Moraes Passos
Maria Cristina Troncarelli

O Projeto de Formação Complementar de Professores Mẽbêngôkre, iniciado em 2013 e


promovido pela Associação Floresta Protegida, tem como objetivo reunir os professores
mẽbêngôkre de diversas aldeias no sul do Pará para refletir sobre a educação escolar de seu
povo. O projeto se desenvolve em duas etapas: cursos que reúnem os educadores
mẽbêngôkre e acompanhamentos pedagógicos a esses educadores nas escolas de suas
aldeias. Durante os cursos, são abordados temas significativos para os Mẽbêngôkre, como
aqueles relacionados à saúde, ao seu território e à sua história. Valorizando a

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transdisciplinariedade, esses temas são trabalhados por meio de metodologias que envolvem
a pesquisa com especialistas mẽbêngôkre e a elaboração de textos, desenhos e jogos
pedagógicos. A partir dessa produção, são organizados, para as diferentes áreas de
conhecimento, materiais didáticos nas línguas materna e portuguesa, que visam fortalecer o
trabalho dos professores mẽbêngôkre e o aprendizado dos alunos. Já foi produzido um livro
de alfabetização na língua mẽbêngôkre e outros livros – de ensino de língua portuguesa, saúde
e matemática – estão em processo de elaboração. Este trabalho busca apresentar as
experiências nas etapas do projeto e refletir sobre o papel dos professores mẽbêngôkre na
sua própria educação escolar. Apesar das conquistas nas leis da educação escolar indígena, as
secretarias municipais de educação priorizam a contratação de professores não-indígenas e
relegam os Mẽbêngôkre ao papel de tradutores e monitores. Ademais, o currículo e o
calendário são os mesmos das escolas não-indígenas. Um dos resultados esperados desse
projeto é estimular o protagonismo dos professores mẽbêngôkre nas escolas de suas aldeias.

Descolonizar a educação através da interculturalidade: reflexões a partir da


ação “Saberes Indígenas na Escola"

Antonio Hilário Aguilera Urquiza

A partir da experiência com professores indígenas na educação superior em Mato Grosso do


Sul, especialmente, nos últimos anos, com a formação continuada, através da Ação SABERES
INDÍGENAS NA ESCOLA, assim como também de uma aproximação ao pensamento pós-
colonial, o presente texto objetiva contribuir para o debate no que se refere à
problematização do poder, da racionalidade eurocêntrica nos efeitos de verdade e validade
do saber ocidental, analisando se esta interfere na educação indígena, na perspectiva de se
construir propostas de formação intercultural de professores indígenas, como também, na
construção de uma pedagogia no sentido de pedagogizar a diferença. Analisamos sob a ótica
da interculturalidade, a política de formação continuada dos professores indígenas, entendida
aqui como uma educação diferenciada direcionada a esses professores, como parte de um
projeto estatal de formação para a autonomia e a cidadania. A perspectiva pós-colonial
permite-nos reforçar a importância de análises que conjuguem os aspectos da dominação e
da resistência. Abordamos a perspectiva crítica da interculturalidade na educação indígena
que considera as identidades culturais de cada povo como possibilidade de deslocamento
epistêmico em sua formação. O trabalho tem como fio condutor o conceito da
interculturalidade, e destaca autores que dão sustentação teórica a este caminho
investigativo: Walsh (2009), Fleuri (2003), Mato (2009), Bhabha (2003) entre outros. Adotou-
se como procedimento técnico-metodológico para este caminho investigativo a revisão
bibliográfica, assim como a possibilidade de privilegiar entrevistas com professores indígenas,

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trazendo algumas inquietações desses sujeitos formados pelo programa de educação


intercultural e a Ação Saberes Indígenas na Escola. Este estudo procura demonstrar o aspecto
complexo e ambivalente da construção de uma educação intercultural em MS, indicando
como as relações de poder, saber, ser são indicativos da produtividade no campo educacional.
Apontamos a interculturalidade como possibilidade de relações menos assimétricas na
educação, como uma possibilidade de descolonização epistêmica em busca de uma forma de
ser, viver e saber outra, o que indica uma flexibilização epistêmica, possibilitando estratégias
políticas pedagógicas outras. Assim propomos uma formação intercultural em todos espaços
tempos como possibilidade de se respeitar as diferenças e alteridade.

O curso de Licenciatura Intercultural Indígena da UFPE e os desafios da


interepistemicidade

Saulo Ferreira Feitosa


Sandro Guimarães de Salles

O curso de Licenciatura em Educação Intercultural Indígena da Universidade Federal de


Pernambuco (UFPE), ofertado pelo Campus Acadêmico do Agreste, formou sua segunda
turma no ano de 2018. A proposta do curso foi construída com o movimento indígena, tendo
a participação da Comissão de Professores Indígenas de Pernambuco (Copipe) e da Articulação
dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoime). Essa construção
com o público interessado assegurou um processo seletivo que possibilita o acesso de todos
os povos habitantes no estado de Pernambuco, que constituem a segunda maior população
indígena do país, estando dividida entre 12 povos. Embora a perspectiva da interculturalidade
seja inerente à própria identidade do curso, há uma complexidade epistemológica imbricada
nas práticas interculturais que, se não for devidamente considerada, pode resultar numa
prática pedagógica reprodutora da colonialidade do saber (QUIJANO, 2005), embora se
autoproclame intercultural. Esta comunicação trata da experiência vivenciada por professores
desse curso, que, conscientes da referida complexidade, procuraram estabelecer pontes de
interepistemicidade entre o conhecimento acadêmico produzido no Ocidente e os saberes
dos povos originários, de modo especial o repertório de saberes dos estudantes participantes
das duas turmas. O projeto pedagógico do curso contempla a pedagogia da alternância,
assegurando o tempo comunidade e o tempo universidade. Por parte do corpo docente,
houve sempre o cuidado para garantir a todos os povos igual oportunidade para socializar
seus saberes, tanto no tempo comunidade quanto no tempo universidade. Dentre as várias
formas de partilhar esses saberes, o ritual do Toré, respeitadas as singularidades de cada povo,
foi a mais frequente. Para a comunidade acadêmica não indígena, a ritualização da
espiritualidade no espaço acadêmico causou um estranhamento inicial, mas desencadeou um

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processo de aprendizagem mutuo, uma vez que para os indígenas também se tornou
necessário o enfrentamento do preconceito e a construção de estratégias para ocupação
doespaço. Essa realidade exigiu uma maior atenção em relação à necessidade de se garantir
a realização de diálogos interepistêmicos, seja entre os próprios indígenas, seja entre esses e
a comunidade acadêmica em geral. Esses diálogos também foram possibilitados a partir da
relação estabelecida com outras populações tradicionais, em encontros extracampus, com
povos ciganos e povos de terreiro. As reflexões aqui apresentadas estão fundamentadas no
pensamento decolonial, considerando, entre outros, os conceitos de colonialidade do saber
(QUIJANO, 2005) interculturalidade crítica (WALSH, 2009) e desobediência epistêmica
(MIGNOLO, 2010).

Saberes oblíquos: conhecimentos femininos em ação na educação indígena

Celeste Ciccarone

O grupo de professores e pesquisadores indigenas Tupinikim e Guarani no Espirito Santo é


composto em maioria por mulheres. Esta peculiaridade, historicidade e as inflexões de genero
que se desencadeiam não tem se constituido ainda como objeto de analise da educacao
indigena local. O protagonismo feminino molda e modula em sua pluralidade a producao de
sujeitos e de saberes, as praticas pedagogicas e as relaçoes politicas na formação de
professores. Estes conhecimentos em ação capturam e potencializam sentidos outros que
tangenciam e atravessam as possibilidades de aproximação com a educacao escolar indigena.

ST 50 | Saberes Indígenas, transdisciplinaridade e Educação Escolar


Neimar Machado de Sousa (Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD, Brasil); Teodora de
Souza (Secretaria Municipal de Educação – SEMED, Grande Dourados, Mato Grosso do Sul, Brasil).

A proposta desse Simpósio Temático é transdisciplinar, pois parte do pressuposto que as


sociedades estão cruzadas por oposições de classe, étnicas e de gênero, além de considerar
que o diálogo com outros saberes, como a antropologia e a educação, é um caminho para o
desenvolvimento da educação. Seu objetivo é articular pesquisadores indígenas e indigenistas
em torno das práticas pedagógicas inovadoras que envolvem a aproximação entre os saberes
indígenas e a educação escolar indígena. As reflexões terão como foco a análise das relações
históricas entre a Educação Escolar Indígena, a Educação Indígena e a formação de professores
indígenas Brasil e América Latina. A fundamentação teórica e metodológica será construída
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em diálogo com os professores indígenas de acordo com os princípios freirianos e a técnica


do ensino com pesquisa para orientar o planejamento dos professores em educação escolar
indígena. Como resultado do simpósio, são esperadas contribuições na continuidade de uma
política de formação continuada para os professores indígenas e a necessidade de
regularidade nestas políticas públicas além de efetivação nas ações de governo e práticas
pedagógicas.

A pintura corporal – Grafismo como ferramenta de respeito escolar


na educação diferenciada entre a autoafirmação indígena e o
preconceito minimizado
Ana Cely de Sousa Coelho
Enilda Santos de Sousa
A prática docente oferece inúmeras experiências e percepções diante ao cenário do respeito
à cultura indígena em espaços formais de ensino. Com base na Educação diferenciada as
práticas de cultuação indígena na escola parecem atrair instintivamente os alunos ditos “não
indígenas” ou “não reconhecidos indígenas”, logo há caracterização do respeito mutuo entre
os indígenas e não indígenas na escola. Diante essa afirmativa, o objetivo é apresentar a
pintura corporal indígena, mediada pelos grafismos como forma de atração e encanto cultural
em função da significação de força e identidade de um povo, como item de respeito e
minimização do preconceito. O método utilizado foi o observacional, através do contato visual
e diálogo informal, via relato de experiência, o local de pesquisa foi a Escola de Ensino
Fundamental em Tempo Integral do Campo Irmã Dorothy Mae Stang, desenvolvida com
discentes e docentes desta. No decorrer das atividades executadas na escola sempre há a
ocorrência de identificação dos povos através das pinturas corporais com a inserção de
grafismos diversos, os quais são realizados mediante autorização dos pais, o que
surpreendentemente favorece uma alteridade indígena e uma reafirmação de identidade e
ainda a minimização do preconceito, pois sempre há uma resposta positiva no sentido do
favorecimento à pintura, pois acreditam ser bonita, traz características de pertencimento ao
grupo e respeito com os colegas indígenas. Assim, A pintura corporal (grafismo) tem uma
importância para os povos indígenas, cada etnia tem seu grafismo específicos que
representam seu povo e seu clã, é usada entre os indígenas de várias maneiras usam para
festa, lutas, rituais e em seus teçumes, cada um tem seu significado, o grafismo do povo Borari
é do jabuti que significa resistência, cada etnia traz nos grafismo como se fosse uma roupa, e
tem uma força inexplicável para eles nessa pintura. Os indígenas também vêem nessa arte de
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pintar sua identificação na sociedade, que por sua vez discrimina deixando em situações de
vulnerabilidades, a interação no espaço escolar vem com o intuito de conscientizar o respeito
por esses povos, é através da educação diferenciada que em roda de conversar, debates,
pesquisa de suas raízes, é que levam o aluno a compreender a igualdade indígena.

“Flechar os estigmas”: a educação pública no combate às desigualdades entre


índios e não-índios em Barra do Corda (MA)
Josué Felipe Silva Maia
O cerne desta pesquisa é identificar e analisar as ações de escolas públicas no sentido do
combate à restrição de reconhecimento social, acesso a bens e serviços e outros tipos de
distinção entre não-índios e indígenas que transitam por ou se deslocam de maneira fixa a
centros urbanos. Para tanto, elegemos por recorte a trajetória de engajamento do Instituto
Federal do Maranhão (Campus Barra do Corda), bem como suas articulações
interinstitucionais no sentido da inclusão. Partindo do método etnográfico, pretendemos
investigar quais os significados que, em situação interétnica, são construídos em torno de
atributos fenotípicos e biográficos (entre outros), enredando assimetrias sociais arraigadas no
processo histórico-formativo da região, como também fazermos um levantamento sócio-
histórico acerca de como a supracitada instituição interpretou tal fenômeno e buscou dirimi-
lo. A partir daí, acreditamos ser possível compreender como tal distinção se expressa na
formação e difusão dos estereótipos negativos de indígenas, e como e em que grau a escola
pode empreender políticas publicas no combate a isso. Trata-se, portanto, de uma pesquisa
que busca uma interseção entre a sociologia, a educação, a antropologia e o estudo de
políticas públicas, buscando elementos históricos e sincrônicos para ampliar a compreensão
dos fenômenos pertinentes à questão.

Aplicabilidade da Lei 11.645 de 2008 nos livros didáticos de geografia


Jahdy Andrade de Brito
Karen Regina Silva Costa
Hellen Cristine da Silva Costa

A cultura brasileira é composta por diversos grupos étnicos devido a sua forma de colonização
e formação. Diante de uma precariedade no ensino referente a pluralidade dos grupos
presentes no território, a legislação obriga tardiamente o ensino nas escolas sobre a cultura
Afro-brasileira e indígena. Primeiramente com a Lei 10.639 de 2003, que garante a
obrigatoriedade do ensino Afro-brasileiro, e posteriormente com a Lei 11.645 de 2008, que
estende a obrigatoriedade ao ensino da cultura indígena, elas alteram a Lei 9.394 de 1996 que
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estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. A questão indígena é pouco tratada e


estudada nas universidades e consequentemente nas escolas. A geografia que estuda o
espaço terrestre e suas relações, deve tratar do espaço e delimitação das terras que
pertencem ou que pertenceram aos indígenas, assim como a contribuição para formação
cultural do povo brasileiro, referente a geografia cultural, que estuda as transformações
no espaço geridas pelo homem em função das suas manifestações culturais. O livro didático é
um instrumento de auxílio para os professores e um material de apoio para os alunos. Para
que seja um instrumento de acordo com o conteúdo necessário para cada ano do ensino foi
criado o PNLD – Programa Nacional do Livro e do Material Didático. O Programa “é destinado
a avaliar e a disponibilizar obras didáticas, pedagógicas e literárias, entre outros materiais de
apoio à prática educativa, de forma sistemática, regular e gratuita, às escolas públicas de
educação básica”. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO) O objetivo do trabalho é analisar a
aplicabilidade da Lei 11.645 por meio dos livros didáticos de geografia que foram aprovados
pelo PNLD após a promulgação da lei, ou seja, após 2008. O livro utilizado na análise será o
denominado “Geografias do mundo. Brasil” que é utilizado no 7° ano do ensino básico, de
autoria do Diamantino Alves Correia Pereira e do Marcos Bernardino de Carvalho. Para uma
análise mais objetiva, cada tema pesquisado será avaliado na forma como o conteúdo é
apresentado e desenvolvido, juntamente com os recursos utilizados para a ilustração. Dessa
forma poderemos mensurar a aplicabilidade da Lei 11.645 que obriga o ensino da história e
cultura indígena nos livros didáticos de Geografia.

Projeto: I Olimpíada de redação estudantil nos polos rurais indigenas e não


indigenas de educação do município de Benjamim Constant/AM
Luiz Robson Luzeiro
Sebastião Melo Campos
Maria Auxiliadora dos Santos Coelho
Josenildo Santos de Souza

Em 2012, foi criado o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), para garantir que as
crianças estejam alfabetizadas ao concluir o 3o ano do ensino fundamental. Contudo, dados do MEC
(2015) apontavam que as crianças brasileiras apresentam dificuldades em ler, escrever e fazer contas
na etapa final do ensino fundamental. Visando contribuir com o Pacto e reverter os dados estatísticos
referente à leitura e escrita, um grupo de professores da rede municipal, com o apoio de professores
do Instituto de Natureza e Cultura da Universidade Federal do Amazonas, desenvolveram o projeto 1a
Olimpíada de Redação Estudantil da zona ribeirinha do município de Benjamim Constant-AM,
na tríplice fronteira do Brasil, Peru e Colômbia. Foi desenvolvido na Escola Municipal Santa Tereza,
localizada no Pólo Novo Oriente, onde ocorreu a culminância de socialização e premiação dos
melhores trabalhos produzidos por alunos da rede municipal de escolas rurais ribeirinhas com a
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participação dos docentes, coordenadores e comunitários das escolas dos diversos Polos participantes.
A I Olimpíada de redação teve como objetivo geral: Valorizar a leitura e a escrita como fonte de
produção do saber, espaço de socialização e exercício cidadania. Como objetivos específicos: i)
Reconhecer e analisar criticamente os usos da língua como veículo de valores e preconceitos de classe,
credo, gênero ou etnia; ii) Compreender a leitura como fonte de informação, via de acesso aos
mundos criados pela literatura e possibilidades de fruição estética, sendo capazes de recorrer os
materiais escritos em função de diferentes objetivos. iii) refletir tema transversal norteador da redação
“Diga não as Drogas”, um tema que se articulou as diversas áreas do conhecimento.
Metodologicamente foi desenvolvido na abordagem qualitativa, como uma pesquisa ação, na
perspectiva de intervir na problemática escolar de leitura e escrita, sob a orientação de Coordenadores
do projeto com o apoio dos professores das escolas, distribuído em etapas ao longo do período letivo
de 2016. Como resultado este projeto permitiu a participação de 07 polos rurais atingindo 9 escolas
ribeirinhas, 38 professores e 650 alunos, sendo 241 alunos indígenas e 409 alunos não indígenas do 6o
ao 9o ano do ensino fundamental, que proporcionou um mecanismo inovador de ensino
e aprendizagem. Além disso, destaca-se o grande desafio especialmente para os alunos das escolas
indígenas tendo em vista as diferenças socioculturais quanto ao uso da língua materna em escolas não
bilíngues que influencia sobre maneira nos índices de avaliação da educação brasileira. O projeto
contribuiu nesse sentido para o aprimoramento no desenvolvimento cultural de populações
que fazem parte de um índice que aponta a deficiência no processo de alfabetização da leitura e escrita
no ensino fundamental.

Arquitetura Guarani Tambeopé e ideias matemáticas: experiências numa


mostra cultural.
Ana Paula Azevedo Moura
Claudia Alessandra Costa de Araujo
Mauro Luiz Carvalho

Esta comunicação traz vivências e reflexões dos autores acerca de uma mostra cultural
promovida na Escola Municipal Pluridocente Indígena Aldeia Três Palmeiras (EMPI Três
Palmeiras), na Terra Indígena Caieiras Velha II, em Aracruz, Estado do Espírito Santo - Brasil. A
mostra apresenta a abordagem da temática Arquitetura, dos Guarani Tambeopé, que vivem
na região. Um desafio constante da educação escolar indígena é o de conciliar a necessidade
de atender às determinações legais quanto ao currículo nacional de Matemática e, ao mesmo
tempo, promover reconhecimento, valorização e aprofundamento de ideias matemáticas
presentes nas suas tradições. “Essa Matemática, com bases culturais totalmente distintas [a
do dominante], deve ser apreendida pelo indígena. Um bloqueio cultural é evidente. O desafio
do professor indígena é transformar esse bloqueio numa ponte” (D’AMBROSIO, 1998, p.12).
Nesse ínterim, o diálogo entre nós pesquisadores e autores deste artigo – educadoras

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matemáticas não-indígenas e educador guarani, linguista e diretor da EMPI Três Palmeiras –


é no viés de contribuição à construção dessa ponte de saberes por meio da troca de
experiências e realização, em conjunto, de atividades que relacionem ideias de geometria
euclidiana com as construções arquitetônicas do próprio povo. O respeito à cultura, a
interculturalidade, as relações interpessoais e a importância de não se impor ao outro, de
maneira que o diálogo sempre prevaleça e as manifestações matemáticas sejam
estimuladas, foram pontos para os quais demos focos, pois, como salienta Paulo Freire, “Não
é compreender só a cultura de lá, nem só a cultura de que eu faço parte, mas é sobretudo
compreender a relação entre essas duas culturas.” (2004, p.75). Com isso, lançamos nossos
olhares sobre as construções arquitetônicas dos Guarani Tambeopé no sentido de
compreender e refletir sobre seus modos, maneiras, técnicas de explicar, de conhecer e lidar
com essas construções, realizando um diálogo desses saberes/fazeres com a matemática
escolar. A metodologia, iniciada em 2017, constituiu-se de momentos propostos junto à
equipe de professores indígenas da escola, dos quais destacamos um encontro de formação
continuada na escola, uma sessão de fotografias de construções arquitetônicas nas aldeias,
a confecção de uma maquete com materiais próprios de uma moradia guarani, a organização
e a realização da mostra cultural para toda a comunidade escolar, em agosto de 2018. Esses
momentos proporcionaram encontros interculturais da escola com a realidade indígena, rica
em saberes, materiais e imateriais, que embasaram a elaboração de atividades para uso em
aulas de matemática.

Saberes Indígenas na literatura amazônica: perspectiva intercultural e


interdisciplinar
Délcia Pereira Pombo
Eliete de Jesus Bararuá Solano

Este trabalho resulta de relato de práticas pedagógicas interculturais realizadas na disciplina Literatura
no Brasil e na Amazônia, com acadêmicos indígenas do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena da
Universidade do Estado do Pará (UEPA), na Aldeia Caruci, município de Santarém-Pa. Seu objetivo é
demonstrar como os acadêmicos indígenas articulam seus saberes indígenas, ou seja, os
ensinamentos do seu povo (histórias, memórias, hábitos e costumes repassados pela tradição
oral) com as propostas da literatura brasileira de expressão amazônica, com vistas a produzir materiais
pedagógicos interculturais e interdisciplinares para a educação escolar indígena. Como referencial
teórico principal tem-se as notas de aulas da Literatura brasileira de expressão amazônica de Nunes
(1998); o que vigora na lei 11.645/08 a respeito da Literatura Indígena, segundo Silva (2016); acerca
da Literatura indígena no Brasil contemporâneo de Graúna (2012); um mergulho nas Imagens poéticas
das águas amazônicas de Fares (2013); as contribuições de Cabral, Eiró e Carvalho (2014) na
abordagem com os Mitos indígenas amazônicos; e, para um debate teórico e metodológico, os escritos
de Rodrigues (2013). A esses referenciais se somaram reflexões sobre as produções textuais
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dos acadêmicos/professores indígenas, elaboradas a partir da escrita de seus saberes indigenas


tradicionais, com o intuito tanto de demarcar o traço indígena no contexto histórico e literário
brasileiro, quanto de propor novas estratégias interculturais e indisciplinares, imersas no cotidiano e
na identidade de suas comunidades, com vistas à valorização e ao fortalecimento de seus
conhecimentos tradicionais em seus projetos políticos e pedagógicos de educação escolar indígena.

Os saberes indígenas Waiwai: desafios entre as águas e a densa floresta


amazônica
Raimunda Maria Rodrigues Santos
Jonildo Viana dos Santos
Roseli Bernardo Silva dos Santos
Adnelson Jati Batista

A comunicação tem como objetivo refletir sobre os saberes ancestrais da etnia Waiwai a
partir das narrativas orais considerando sua dimensão geográfica e linguística. O povo
está localizado nas terras indígenas que abrangem parte dos Estados do Amazonas, Pará
e Roraima, constituídos pelas terras de Nhaundá-Mapuera (PA),
Trombetas/Mapuera (AM/RR/PA), Wai-Wai (RR), Apesar do processo de evangelização cristã
que datam mais de meio século, o povo WaiWai fala língua originária e preserva muitos
costumes que lhes são próprios. Nessa reflexão surgiu a partir dos processos de formação
continuada para professores indígenas no Instituto Insikiran pela Universidade Federal de
Roraima - UFRR em conjunto com a ação Saberes Indígenas na Escola junto ao Instituto
Federal de Roraima - IFRR. Neste contexto observamos que os professores indígenas
enfrentam grandes desafios no sentido de agregar conhecimentos ocidentais do mundo dos
brancos como processo de resistência e enfrentamento das políticas de Estado, uma vez que
são guardiões das florestas e das águas, pois também dependem do ambiente no sentido
da coleta de castanhas, da caça e da pesca o que reforça a preservação da fauna e flora.
Os professores assumem posições de barqueiros, agricultores numa lógica de sistema
de manejo e suas respectivas comunidades. Assumem lideranças e organizam as formações a
partir da dinâmica de coletividade comunitária. Nossa metodologia se firma por
uma dimensão etnodialógica, tendo em vista os pontos de interação que estabelecemos
com os professores e demais membros comunitários. No percurso foi possível
compreender que a vida cotidiana está constituída pelo conjunto de signos que repassados
através da língua reafirmam a identidade da nação, entre estas suas concepções de mundo e
suas formas de elaborar suas práticas de sobrevivência. Assim consideramos que os
saberes tradicionais dos senhores das águas e da floresta intercruzam as relações teóricas

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e práticas da fronteira ocidental do mundo dos brancos, o que permite refletir para além
do conhecimento sistematizado da ciência moderna.

Conhecimentos indígenas: seus desafios nos dias atuais na educação escolar

Bruno Ferreira
O presente trabalho aponta alguns desafios dos conhecimentos indigenas e a valorização das práticas
educativas nas escolas e, de forma mais ampla, nas universidades. Busca evidenciar as dificuldades do
reconhecimento dos valores culturais presente nos conhecimentos indigenas em relação a velhas
práticas branqueadora e civilizadora das instituições escolares ainda presente nos dias atuais. Penso
que o presente trabalho ajude a vislumbrar caminhos para superar ou, pelo menos, colocar em
questionamento conhecimentos já cristalizado nas escolas e, igualmente, ajude a compreender
porque os conhecimentos indígenas são (in)visíveis e (in)compreendidos. A negação da existência de
outras culturas e, dessa forma, os conhecimentos indígenas é colocada numa categoria subalterna e
inferior da chamada sociedade civilizadas brancas. É urgente, valorizar e considerar os conhecimentos
indígenas, sobretudo suas histórias, culturas e línguas, bem como as práticas educativas. Os
questionamentos e as reflexões que apresento neste trabalho fazem parte da pesquisa de doutorado
que realizo e que tem como foco principal compreender os significados da escola para o povo
kaingang, escutando e dialogando com professor(as), estudantes e as pessoas mais velhas
das comunidades kaingang, de forma metodológica assentada na profundeza da oralidade kaingang.

Da compreensão de sabedorias antigas a emergência de novas sabedorias


Aline da Silva Lima

A organização curricular para a formação de professores indígenas, na perspectiva


interdisciplinar estabelece ligações de complementaridade, convergência, interconexões e
passagens entre os conhecimentos. Nela o currículo deve contemplar conteúdos e estratégias
de aprendizagem que formem para a vida em sociedade, a atividade produtiva e experiências
subjetivas, visando à interligação entre os saberes, criando possibilidades de olhar por
diferentes perspectivas uma mesma questão pedagógica. Um processo de formação
fundamentado na cultura e forma de pensamento indígena que possa estar orientado para a
melhoria das condições de vida, através da apropriação crítica de bens culturais e
recursos tecnológicos advindos de outras sociedades. Propiciando práticas pedagógicas
que gerem reflexões e ações sobre o papel da escola na defesa da cultura, do território e dos
direitos, bem como na valorização da Interculturalidade; desenvolver práticas pedagógicas
que propiciem a autonomia intelectual e profissional dos professores indígenas na
elaboração, gestão e avaliação de projetos de ensino, pesquisa e extensão; possibilitando
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atividades acadêmicas que formem para a condução plena do processo educacional em suas
escolas, através do exercício da docência; subsidiando a elaboração de propostas curriculares,
materiais didáticos, sistemas de avaliação e calendários escolares adequados às necessidades
e interesses de cada povo indígena proponente. Os povos indígenas produzem
etnoconhecimentos necessários à formação das novas gerações. Entre esses
etnoconhecimentos está a Etnomatemática. Pautada em saber como a escola ensina essa
etnomatemática através das metodologias de ensino de matemática. A Etnomatemática
valoriza estas diferenças e reconhece que todas as formas de produção de conhecimento
humano são válidas e estão fortemente ligadas à cultura de cada povo. As bases fundamentais
da Etnomatemática são diferentes das bases da matemática tradicional, enquanto o ensino
da matemática tradicional procura universalizar conceitos e conteúdos, generalizando-os, a
Etnomatemática procura regionalizá-los, contextualizando-os, fazendo com que estes se
tornem específicos a cada cultura. Neste sentido, a Etnomatemática, como anteriormente
conceituada, mostra-se muito importante, pois busca neutralizar a superioridade da
matemática acadêmica, e “faz vir à tona as outras matemáticas”, fruto de uma produção
cultural, que na maioria das vezes é silenciada no meio escolar. Daí o interesse em promover
uma discussão acerca do processo de formação de professores de Matemática no contexto
intercultural indígena, partindo da compreensão de saberes tradicionais vivenciados dentro e
fora das escolas indígenas no Estado do Pará, à emergência de novos saberes, considerando
o contexto na qual estão inseridos, reunindo elementos plurais básicos da identidade indígena
do educando.

Saberes indígenas: vivência e convivência

Teodor Souza

A comunicação retrata a experiência de um projeto em andamento para formação continuada de


rofessores indígenas das etnias Kaiowá, Terena e Guarani, Ação Saberes Indígenas na Escola (SIE), em
desenvolvimento nas escolas indígenas com o apoio da Universidade Federal da Grande Dourados
(UFGD), do Ministério da Educação (MEC) e das prefeituras municipais. As reflexões resultam da
análise das relações históricas entre a Educação Escolar Indígena, a Educação Indígena e a formação
de professores indígenas na região de Dourados, Mato Grosso do Sul. O objetivo da ação é a formação
continuada de professores indígenas em letramento, numeramento e produção de material didático.
A fundamentação teórica e metodológica, construída pela instituição formadora em diálogo com os
professores indígenas ao longo dos três anos, foi orientada de acordo com os princípios freirianos e a
técnica do ensino com pesquisa para orientar o planejamento dos professores e formadores da ação.
Entre os resultados destaca- se a contribuição da Ação Saberes Indígenas na continuidade de uma
política de formação continuada para os professores indígenas nas aldeias da Reserva Indígena de
Dourados e Panambizinho e a necessidade de regularidade nestas políticas públicas além de efetivação
nas ações de governo e práticas pedagógicas.

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Plantas Medicinais na Escola: A cultura que cura! Atividades indígenas


enraizadas nos saberes aplicados sobre a utilização de ervas amazônicas
como prática docente de fortalecimento cultural
Ana Cely de Sousa Coelho
Enilda Santos de Sousa

A prática de utilização de plantas medicinais na Amazônia é uma característica marcante da


região do Eixo-Forte no município de Santarém-PA. Nesse sentido, este resumo visa analisar
a prática da relação cultural e a cidadania dos educandos indígenas e não indígenas na
comunidade escolar através da autonomia do conhecimento, favorecendo a aplicação deste
teórico-prático apreendido em sala de aula transformado em espaço não formal de ensino,
viabilizado pela implantação de agricultura de plantas medicinais e aprendizagem sobre a
utilização destas (horta medicinal). Logo, para tal fez-se necessário envolver a comunidade
escolar no sentido de aplicar conhecimento cultural através da elaboração de um
espaço favorável ao cultivo de plantas medicinais configurando o projeto “A Cultura
que Cura!”, vinculado ao espaço escolar da Escola de Ensino Fundamental em Tempo Integral
do Campo Irmã Dorothy Mae Stang, com a participação dos discentes de 6° ao 9° ano
interagindo com a sua comunidade de origem (mediados por conhecimentos culturais de sua
geração de pais e avós, por exemplo). Foi realizada uma pesquisa descritiva de cunho quanti-
qualitativa de acordo com o passo a passo da implantação e utilização desta no decorrer das
aulas práticas, apresentando as espécies utilizadas e curas associadas, além dos modos de
preparo e partes das plantas utilizadas. Como resultado foi obtido o conhecimento sobre as
plantas medicinais de maior utilidade, também o resgate à valorização da cultura local quanto
aos saberes e práticas de cura com a utilização delas, além da valorização do conhecimento
tradicional aplicado a realidade do educando tornando a aprendizagem de fato significativa e
direcionada a uma realidade no interior da Amazônia com bases interdisciplinares de relações
entre conteúdos didáticos e metodologias utilizadas na construção do processo de ensino e
aprendizagem. 12 Docentes da Escola Municipal de Ensino Fundamental em Tempo Integral
do Campo Irmã Dorothy Mae Stang. Assim, práticas como estas favorecem a revitalização de
saberes usuais muitas vezes esquecidos pela escola formal no sentido de valorizar o
conhecimento indígena originário da localização da escola do campo e ainda fortalecer os
vínculos educacionais da escola com a família muitas vezes esquecidos no processo de ensino
e aprendizagem.

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Saberes e fazeres: a alimentação como fonte da revitalização da saúde


e cultura na escola indígena tupinambá

Nádia Batista da Silva (Akawã Tupinambá)


Qualidade de vida e saúde são dois conceitos relacionados entre si. Em uma concepção
moderna, saúde é o resultado de um processo de produção social que expressa a qualidade
de vida de uma população. A saúde é considerada produto social, isto é, resultado das relações
entre os processos biológicos, ecológicos, culturais e econômico-sociais que acontecem em
determinada sociedade e que geram as condições de vida das populações. A saúde, nessa
concepção mais ampla, mais do que ausência de doença, é um estado adequado de bem-estar
físico, mental, social e ambiental que permite aos indivíduos identificar e realizar suas
aspirações e satisfazer suas necessidades. Assim, a construção da saúde é um processo por
meio do qual a população se capacita e busca meios que favorecem seu bem-estar e o
da comunidade, ou que a colocam em risco, tornando-a vulnerável ao adoecimento,
prejudicando sua qualidade de vida. Nesse caso, as pessoas são consideradas sujeitos do
processo e potencialmente capazes de vir a controlar os fatores determinantes de sua saúde.
Existe a necessidade de um olhar mais amplo sobre a importância da educação para o
consumo responsável e o fomento à educação da população para as escolhas alimentares e
para a produção de refeições mais saudáveis, preservando, inclusive, as formas tradicionais
e regionais de preparo e realização de refeições. O objetivo central desse artigo, é discutir
uma compreensão sobre a alimentação tradicional oferecida nas Escolas Indígenas
Tupinambá de Olivença, relacionando alimentos e saúde à forma cultural dos Povos Indígenas.
Como objetivos específicos, elencamos: relacionar cultura e alimentação; descrever ações
e costumes alimentares tradicionais do Povo Tupinambá dentro e fora do ambiente
escolar; registrar a tradição culinária desse povo, incluindo algumas receitas, com valores
que relacionam costumes, saberes e fazeres dentro da tradição oral, e a sua relação com
o sagrado, o ambiente em que vivem os indígenas. Descrevemos, registramos e
sugerimos ações que facilitam essa conexão da cultura alimentar com os costumes
tradicionais dos povos indígenas. Nesse diálogo, refletimos sobre: garantia da produção do
alimento para consumo; alimento e autossustentabilidade com a qualidade da saúde em
todos os aspectos; preservação da biossocial diversidade, entendida como a memória e a sua
identidade, capaz de representar os bens culturais, materiais e imateriais. Dentre o referencial
teórico, destacamos o Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas (1998) e Novo
Guia Alimentar da População Brasileira (2014).

Matematica Xokleng/Laklãnõ
Abraão Kovi Patte

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Me chamo Abraão Kovi Patte, sou indígena Xokleng/LaKlãNõ. Moro na Terra Indígena
Xokleng/LaKlãNõ Aldeia Palmeirinha no município de Jose Boiteux Santa Catarina. A terra
indígena onde moro está a cerca de 260 km capital do estado Florianópolis e 100 km de
Blumenau. A Terra Indígena Xokleng/LaKlãNõ Localizada entre quatro municípios catarinenses
José Boiteux, Doutor Pedrinho, Vitor Meireles e Itainópolis. 70% da área da Terra Indígena
Xokleng/LaKlãNõ está dentro dos limites dos municípios de José Boiteux. O estudo é parte do
projeto de conclusão de curso da Licenciatura Indígena Intercultural do Sul da Mata Atlântica,
junto a Universidade Federal de Santa Catarina. Na pesquisa buscamos saber mais sobre os
contextos onde eram usados tradicionalmente a matemática xokleng, principalmente com as
crianças. A escolha desse tema é pelo fato de que não tem nada escrito sobre como era e
como é a matemática do Xokleng/LaKlãNõ. Como faziam suas contas, seja do tempo ou na
vida cotidiana. Buscaremos também apresentar algumas propostas ao que se refere a criação
de material didático sobre o ensino da matemática Xokleng nos anos iniciais do ensino
fundamental.

Tayũmak Tikmũ’ũn Yĩy ax (O uso de dinheiro na Cultura Maxakali)

Lucio Flavio Coelho Maxakali


Vanessa Sena Tomaz
Paula Cristina Pereira Silva

Ũg mũn noxo panap mãxakani. Tu 2014 ĩhã ãte nõ kõmẽxa tappet mĩy nũte UFMG tu. Tu mĩy
ha mõg tu 2015 ĩhã ãte yũmũg xohi Tappet mãtemãg yõg. Tu tayũmak kup hã xõmã paxax yõg
xi otep; taxi; xix xit ax tu hu yũ mũghuk hi xẽẽ nãg. Xi ãte yũmũg. kõponano hã hãm xomã ax
mĩy yũmũg xi xenona. Tu 2016 ĩhã ãte nõ pexkiya tu yĩkopit tix Mũũn xohi. Tu yũmũg ãte ũpip
hãhitaphã kãtin xi tayũmak ponok. Yĩ tix mũũn hãm hu xok kohot paxok pẽyõg mĩnkup xi nõy
xop. Yĩ mõg hu xexta pet yĩ pago tix mũũn pu yĩta hãm xop pop kãtĩn tu. Tu 2017 ĩhã ãte kaxop
pu yũmũgãhã tayũmak hã xi tonopexot xop yũmũgãhã mãtemãg hã xi tayũmak mĩy. Tu 2018
ihã nõg tehe ũg hãm ax pu tu mai tam nãg tunõg tehe há kux ĩhã ãte. Nõ mãnka heniãm
kõmõnĩnat pu nũy mũg ũg hãm ax pupe nã nũy yã mai xax tu mũg ha xohi tu penãhã tu yã mai
kaxĩy apkumuk a. ihã ãte penãhã nũy pãhãm kumuk ha nõg tehet nũy ta xohi pu mũg nõhã
nũte UFMG tu. Eu sou Lucio Maxakali. Meu trabalho é uma linha do tempo do meu percurso
no Curso de Formação Intercultural para Educadores Indígenas- FIEI, representada pelo
caminho que os Yãmĩyxop fazem na floresta até chegar na aldeia carregando o mimãnãn.
Eu pesquisei sobre o uso do dinheiro pelo meu povo Maxakali. Em 2014, eu comecei a estudar
na UFMG no curso de Formação Intercultural para Educadores Indígenas - FIEI, habilitação da
Matemática. Em 2015, comecei a aprender muita coisa de Matemática que eu não entendia
antes. Por exemplo, porque eu recebo a Bolsa Permanência, eu tenho que somar tudo o que
eu vou gastar (passagem, taxi, hotel, almoço) para eu ficar despreocupado. Eu também
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aprendi a mexer no computador, no celular e em outras coisas. Em 2016, eu também aprendi


muita coisa sobre o dinheiro. Eu pesquisei e entrevistei muitas pessoas na minha aldeia e
descobri que antigamente tinha uma Cantina que usava um dinheiro também. Mas esse
dinheiro só podia ser usado dentro da aldeia. Era um dinheiro Maxakali. As pessoas
trabalhavam plantando mandioca, milho, feijão, cana e outros. Na sexta-feira elas recebiam
esse dinheiro e iam fazer compra na Cantina. Em 2017, eu fiz oficina na escola para as crianças
aprender a usar dinheiro, mas dei para elas o dinheirinho de mentira para comprar brasinhas
(geladinhos). Eu também fiz oficinas na aldeia para os professores ensinando matemática.
Nessas oficinas, eles lembraram como era o dinheiro Maxakali e me ajudaram a fazer as notas
que usava na Cantina. Em 2018, eu apresentei o trabalho na minha comunidade para ver se
tinha algumas coisas erradas para eu consertar e para ter o trabalho final que eu apresentei
na UFMG, antes da formatura.

Um olhar para a Escola Estadual Indígena Maurehi: considerações desde a


etnomatemática
Hélio Simplicio Rodrigues-Monteiro
Daniel Gabriel Borges
Meyre Candido Bento da Silva

Este trabalho tem como objetivo discutir a etnomatemática como possibilidade para o ensino
e aprendizagem da matemática em comunidades indígenas. Para tanto, considera-se em
primeiro lugar, nossas experiências como pesquisador e alunos do curso de Licenciatura em
Educação do Campo da Universidade Federal de Goiás, Regional Goiás, que tem como
fundamento possibilitar aos educandos a capacidade de intervir de forma global no processo
de formação dos alunos, respeitando, valorizando a cultura, modo de vida e a concepção
desses sujeitos do campo. Busca garantir por meio dos conteúdos, o desenvolvimento
humano dos discentes. As discursões sobre etnomatemática foram possibilitadas por meio da
disciplina Aspectos Histórico-culturais da Matemática e da Educação Matemática. Em segundo
lugar, consideramos que o Projeto Político Pedagógico da escola indígena Maurehi, idealizado
pelo povo Karajá da região de Aruanã, mantida pelo estado, tem como principio manter viva
a identidade, costumes, cultura e modo de vida deste povo, junto as novas gerações. Palavras
chave: Etnomatemática; Educação Matemática; Educação do Campo; Povo Karajá.

Características e desafios do ensino de geografia na educação escolar


indígena: reflexões a partir dos municípios de Amambai, Dourados e Caarapó
(MS)
Solange Rodrigues da Silva
1061
Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

A presente comunicação é parte da análise realizada no interior da tese de


doutorado desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e possui como objetivo central analisar
a Geografia trabalhada nas escolas indígenas dos municípios Dourados, Amambai e Caarapó
em Mato Grosso do Sul e identificar nas práticas dos professores de Geografia atuantes nessas
escolas potencialidades para a efetivação da educação intercultural. Para tal, estabelecemos
como objetivo central identificar e analisar as práticas dos professores de Geografia atuantes
nas escolas das reservas indígenas dos municípios de Dourados (MS), Caarapó (MS) e
Amambaí (MS) na tentativa de apontar nas derivas minoritárias dessas práticas,
potencialidades para a efetivação da educação intercultural. Para atingirmos esse objetivo,
realizamos análise bibliográfica sobre os principais referenciais que subsidiam esta pesquisa,
assim como, nos debruçamos sobre os principais referenciais curriculares relativos à educação
escolar indígena no Brasil e em Mato Grosso do Sul; realizamos contatos, visitas, e entrevistas
semi-estruturadas com coordenadores pedagógicos, professores de Geografia e professores
indígenas que participaram e/ou participam do processo de construção da Educação Escolar
Indígena em cada município pesquisado; elaboramos mapeamento das escolas das reservas
indígenas dos três municípios propostos para esta pesquisa e analisamos os projetos
pedagógicos das escolas indígenas estudadas, no intuito de compreender como a
interculturalidade se faz presente no cotidiano destas escolas, identificando assim, a
intencionalidade dos diálogos interculturais presentes em todos os ambientes pesquisados.
Diante da análise realizada à prática destes professores, foi possível constatar que a
essência da Geografia (localização) permite diálogos com as diferentes geografias
existentes nas reservas indígenas pesquisadas, bem como comprovar que a aproximação
aos saberes e conhecimentos tradicionais dos Guarani e Kaiowá, potencializa não somente a
compreensão das relações cosmológicas destas etnias, mas, também, permite o
entendimento da luta diária destes povos, seja os que resistem em situação de reserva, nas
periferias da cidade, nos acampamentos de retomada, ou em parte dos seus territórios
tradicionais demarcados. A partir de imagens, linguagens e geografias outras, agenciadas por
meio do teatro e/ou desenhos, textos e maquetes produzidas pelos alunos, identificamos o
questionamento as relações assimétricas marcadas pela colonialidade do ser, do poder e do
saber, que criaram novas territorialidades aos Guarani e Kaiowá, redefinindo novas
geografias, novas fronteiras e, consequentemente, novas geografias para estas comunidades.

Projeto “Yané nheenga yané rapuitá”: revitalização linguística do Nheengatú


no Baixo Tapajós
Ana Rita da Costa Gomes
Elinalda Gama da Silva
Enilda Santos de Sousa
Francinelma de Almeida

1062
Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Mirian Francielle Castro de Sousa


Maria Cleodete Santos
Sâmela Ramos da Silva

O presente trabalho apresenta uma iniciativa de revitalização linguística da língua Nheengatú


na região do Baixo Tapajós. Desde 1998, esta região, onde o rio Tapajós deságua no Amazonas,
é o contexto de grande mobilização étnica recente, contando atualmente com 13 povos
indígenas, distribuídos por 67 aldeias e 18 territórios situados em diferentes etapas do
processo de reconhecimento, segundo o Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns (CITA).
O movimento indígena local, contrariando todos os discursos oficiais que declaravam extintos
as continuidades étnicas na região, tem lutado fortemente para ter suas identidades
plenamente reconhecidas e suas terras demarcadas, além do acesso à educação e saúde
diferenciada. O projeto “Yané nheenga yané rapuitá” é uma iniciativa organizada por um
coletivo de mulheres indígenas e não-indígenas e que pretende contribuir com o processo
de recuperação de memórias, tradições e itens culturais, como a língua, para o fortalecimento
político, cultural e identitário. A identificação do Nheengatú como língua ancestral se iniciou
com os primeiros passos do movimento indígena na região. No ano de 1999 foram realizadas
as primeiras oficinas de Nheengatú pelo Grupo de Consciência Indígena (GCI), que se seguiram
também no ano 2000 por meio do intercâmbio com falantes do nheengatu do alto rio Negro.
Em 2014, surgiu o Curso de Nheengatu, com 360 horas, ofertado pelo GCI e a Universidade
Federal do Oeste do Pará (UFOPA), e se consolidou como um espaço de formação de
professores indígenas de Nheengatu que têm atuado nas escolas das aldeias na região. As
escolas indígenas têm sido um espaço fundamental para a revitalização cultural e linguística,
no qual as disciplinas de Notório Saber e Língua Indígena tem veiculado conhecimentos
tradicionais indígenas, e atuado na recuperação e valorização das culturas indígenas locais.
Nosso projeto tem sido constituído de oficinas de Nheengatú ministradas nas aldeias, o que
tem nos possibilitado um intercâmbio com diversas comunidades. Nessas oficinas temos
discutido a história-social da língua, a importância do Nheengatú como língua ancestral e
tratado de alguns aspectos básicos de comunicação na língua. Durante as oficinas também
temos documentado palavras e expressões do Nheengatú que são parte do cotidiano dessas
comunidades indígenas, relatos dos mais velhos que lembram que a “língua geral” (LGA) ou
Nheengatú ainda era falada por seus avós até as primeiras décadas do Século XX. Assim, temos
compreendido que o resgate dessa língua indígena em nossa região é um ato político que
envolve outros saberes indígenas, tais como a espiritualidade, as medicinas tradicionais,
as tecnologias próprias dentre outros.

Jogos e brincadeiras e resgatar a língua Xokleng.


Átila Patté

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

A pesquisa aborda, a partir das memorias dos velhos pertencentes ao povo da Etnia Indígena
Xokleng/Laklanõ da Terra Indígena Laklãnõ, localizada no alto vale do Itajaí entre os
municípios de Doutor Pedrinho, José Boiteux, Vitor Meireles e Itaiópolis, estado de Santa
Catarina, relatos sobre jogos e brincadeiras no tempo deles. Também, trás um levantamento
sobre os jogos e brincadeiras praticados pelas crianças da Terra Indígena hoje. Buscaremos
entender a partir dos relatos dos velhos as diferentes formas de ensino da cultura e da língua
indígena Xokleng através dos jogos e brincadeiras. O estudo se justifica e se faz necessário,
pois, a língua Xokleng vem sendo cada vez mais deixada de lado e, as escolas da Terra Indígena
não visualizam estratégias de revitalização, nesse sentido, a partir dos relatos dos velhos,
buscaremos nas brincadeiras e jogos, alternativas pedagógicas para revitalização da língua,
onde seja possível despertar o interesse do aluno.

Língua Nheengatú – Uma língua adormecida sendo despertada na educação


diferenciada através do diálogo entre os saberes tradicionais na Educação
Escolar Indígena
Enilda Santos de Sousa
Ana Cely de Sousa Coelho

Podemos afirmar que a língua Nheengatú é viva e ainda falada entre os mais velhos, não
morreu só está adormecida, da mesma forma seus saberes tradicionais que trazem consigo, o
tratamento com ervas medicinas que curam, ainda é um meio de tratamento entre os povos
indígenas, que não abrem mão de suas puçangas (remédios) que retiram da própria natureza
para tratarem suas enfermidade. Nesse sentido, o objetivo é relatar experiências de
aplicabilidade da língua em espaços formais de ensino através da inserção de uma educação
diferenciada como prática escolar indígena. Foi realizada através de pesquisa qualitativa,
mediada por relato de experiência via entrevista informal em espaço escolar. O diálogo
constante e o entendimento ocorre via Nhengatú em cumprimentos diários como: “Puranga
ara; Puranga pituna e Puranga karuka”, que significa ” Bom dia, Boa tarde e Boa noite”
fortalecendo a idéia de que é na educação diferenciada que podemos passar aos educando
esses ensinamentos que os quais já tem uma convivência em sua família, e aprendemos com
eles o que os mesmos aprendem com seus pais, é uma troca de conhecimentos entre alunos
e professores, que tem a oportunidade de conhecer seus costumes da alimentação ao ritual
desses povos e ainda a implementação constante da língua Nhengatú nos diálogos
desenvolvidos e nas rotinas de processo de ensino aprendizagem através de atividades
práticas de contação de histórias por exemplo, lendas amazônicas, ou ainda nos desenhos que
demonstram a relação destes com a natureza enraizada nos povos indígenas. Experiências que
só com a educação diferenciada podem ser valorizadas e utilizadas como ferramenta de
revitalização de língua adormecida culturalmente, porém de uso contínuo entre as conversas

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

de sala de aula. Assim, a educação diferenciada com a inserção da Educação Indígena Escolar
funciona como um divisor de águas no sentido do fortalecimento cultural de um povo,
viabilizada e formalizada como processos de ensino e aprendizagem em espaço escolar e
território indígena. Diante essa situação, faz-se necessária e urgente a implementação de
enaltecer o bilíngue no ensino, pois tem caráter emergente de manutenção de raízes culturais
que devem ser perpetuada entre as gerações indígenas como fortalecimento da alteridade
esquecida.

Elaboração de materiais didáticos em educação indígena


Geni Roque Candado

A comunicação é um relato de experiência e análise do processo de produção de materiais didáticos


específicos para as escolas indígenas no território etnoeducacional do cone sul no âmbito da Ação
Saberes Indígenas na Escola. A experiência foi iniciada em 2013 e segue até o presente. Ao longo deste
período, construiu-se uma metodologia para produção destes materiais caracterizada pelo aspecto
comunitário, pelo bilinguismo, consulta aos mestres tradicionais, participação dos educadores
indígenas e distribuição destes materiais para uso nas escolas indígenas. Entre os resultados
alcançados, há 20 livros em diversos estágio de produção e variados tipos de mídia, incluindo
animação, vídeo, cantos, livros e sites.

EEI1: construindo uma proposta curricular diferenciada na E. M. I. Alfredo


Lima
Maria Gorete Nunes Pereira

No Rio Grande do Norte, até pouco mais de uma década atrás, havia um pertinaz
desconhecimento por parte do poder público no que diz respeito à presença de populações
indígenas no Estado do Rio Grande do Norte, em sua contemporaneidade. No entanto, dado
a engajamentos políticos de antropólogos e indígenas, esses grupos familiares etnicamente
autoidentificados vieram a público requerer o respeito por sua identidade étnica e direitos
peculiares. Tal processo de “emergência étnica” teve como ponto de partida dos atores
interessados a idealização e organização da I Audiência Pública voltada para a questão
indígena no estado (ano de 2005), que chamou a atenção do poder publico,
universidades, instituições municipais, estaduais e federais, bem como da sociedade em geral
para o conhecimento dessa questão e de posturas a serem assumidas a partir desse
fato. Paralela a essa luta, surge a necessidade da implementação da EEI nas escolas localizadas
nas comunidades indígenas do estado, com vistas a fortalecer a consciência dos alunos no
tocante a direitos garantidos na legislação vigente (CF, 1988), mediante a recuperação da

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história e cultura de grupos familiares que apesar de presentes no estado, estavam em sua
maioria etnicamente invisíveis. Diante desse cenário, foi elaborada uma proposta curricular
diferenciada para atender a Escola Indígena Alfredo Lima, localizada no município de
Goianinha RN com vistas a ofertar uma educação de qualidade, multicultural, bilíngue
e comunitária, oferecida em tempo integral (LDB, 1996; RCNEEI, 1999; DCN,
2013), possibilitando a articulação de um diálogo entre os conteúdos programáticos pautados
na BNCC com os saberes tradicionais da Aldeia Catu dos Eleotérios.

Educação escolar indígena: uma reflexão sobre o currículo da Escola Adolfo


Ramiro Levi
Mávera Teixeira dos Santos
Maxim Repetto

O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma reflexão sobre o a educação
escolar indígena em Roraima especificamente sobre o currículo da Escola Estadual Indígena
Adolfo Ramiro Levi. Partindo da interculturalidade como um campo de discussão
abordaremos a partir do MII (Método Indutivo Intercultural) que busca refletir sobre os fatos
observáveis na vida cotidiana das pessoas, assim, é realizada pesquisa colaborativa das
atividades humanas como fatos particulares no próprio contexto. É uma proposta
intercultural que busca superar as dificuldades do trabalho escolar nas comunidades
indígenas e centra-se em três eixos de reflexão: primeiro, a crítica à interculturalidade
convencional, harmônica, despolitizada, idealizada e romântica, pois parte do
reconhecimento do conflito histórico, materializado nas contradições e dilemas da escola, da
comunidade, mas também do que vive o próprio professor indígena. Desconsidera assim a
perspectiva idealizada do diálogo, pois não existe verdadeiro diálogo sem condições materiais,
o segundo, propõe uma perspectiva sintática do conceito de cultura, o que deve ser
compreendido como uma visão integrada do ser humano com o mundo, onde a cultura é o
resultado da ação do ser humano, e ainda considerando a relação com a natureza. Reconhece-
se assim a indissociabilidade entre sociedade e natureza, a qual evidencia-se nas atividades
humanas conjugadas nas pesquisas colaborativas, na identificação das atividades sociais e no
fazer das atividades. A terceira busca articular, contrastar a pratica pedagógica entre os
conhecimentos indígenas e acumulados historicamente pela humanidade. Neste sentido a
proposta educativa nesta perspectiva permite interrogar os modelos curriculares que
folclorizam a cultura e a reduzem a expressões isoladas e fragmentadas, para isso
analisaremos o currículo da escola contrastando com o de outras escolas indígenas, bem como
a visão de interculturalidade e os que utilizam o MII, apresentando assim o resultado da
pratica- pedagógica dos professores que fazem da proposta.

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ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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O modelo de Educação Guarani e o funcionamento das unidades escolares


Cintia dos Santos Pereira da Silva
Ivana Pereira Ivo
Este trabalho tem como objetivo discutir a educação escolar indígena, especificamente o
funcionamento de unidades escolares em aldeias Guarani-Mbyá, considerando-se alguns
aspectos linguísticos e culturais envolvidos no processo. Na unidade escolar analisada, o
ensino é monolíngue (português) e reproduz o sistema de funcionamento escolar nacional,
acompanhando as escolas municipais e estaduais da região. Embora os professores sejam
indígenas, lecionam em português e utilizam os materiais didáticos pensados para as escolas
brasileiras, sistema conflitante, em vários aspectos, com a concepção e forma de
transmissão de conhecimento tradicional do povo Guarani. A educação Guarani relaciona
os diversos aspectos da sua cultura à vida social do grupo, de forma multidimensional, e isso
se dá por meio do seu Tekó (o modo Guarani de ser, viver e agir no mundo). Utilizamos, em
nossa análise, um estudo desenvolvido na aldeia Guarani-Mbyá Rio Silveira, (litoral norte de
São Paulo), com alguns professores indígenas e karais (líderes espirituais), o qual resultou na
elaboração de um material de apoio didático bilíngue (Guarani-Português), que primou pela
participação dos indígenas, desde a sua concepção até a implementação do material na
escola. Partindo desse cenário, propomos um modelo analítico pautado nas perspectivas da
organização social, cosmovisão, etno-história e território para a análise das unidades
escolares nas aldeias Guarani.

Desafios na construção de uma educação específica para o povo Mẽbêngôkre


Adriana da Gama Vidal
Camila Boldrin Beltrame
João Lucas Moraes Passos
Maria Cristina Troncarelli

O Projeto de Formação Complementar de Professores Mẽbêngôkre, iniciado em 2013 e


promovido pela Associação Floresta Protegida, tem como objetivo reunir os professores
mẽbêngôkre de diversas aldeias no sul do Pará para refletir sobre a educação escolar de seu
povo. O projeto se desenvolve em duas etapas: cursos que reúnem os educadores
mẽbêngôkre e acompanhamentos pedagógicos a esses educadores nas escolas de suas
aldeias. Durante os cursos, são abordados temas significativos para os Mẽbêngôkre, como
aqueles relacionados à saúde, ao seu território e à sua história. Valorizando a
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transdisciplinariedade, esses temas são trabalhados por meio de metodologias que envolvem
a pesquisa com especialistas mẽbêngôkre e a elaboração de textos, desenhos e jogos
pedagógicos. A partir dessa produção, são organizados, para as diferentes áreas de
conhecimento, materiais didáticos nas línguas materna e portuguesa, que visam fortalecer
o trabalho dos professores mẽbêngôkre e o aprendizado dos alunos. Já foi produzido um livro
de alfabetização na língua mẽbêngôkre e outros livros – de ensino de língua portuguesa, saúde
e matemática – estão em processo de elaboração. Este trabalho busca apresentar as
experiências nas etapas do projeto e refletir sobre o papel dos professores mẽbêngôkre na
sua própria educação escolar. Apesar das conquistas nas leis da educação escolar indígena, as
secretarias municipais de educação priorizam a contratação de professores não-indígenas
e relegam os Mẽbêngôkre ao papel de tradutores e monitores. Ademais, o currículo e o
calendário são os mesmos das escolas não-indígenas. Um dos resultados esperados desse
projeto é estimular o protagonismo dos professores mẽbêngôkre nas escolas de suas aldeias.

ESCOLA ESTADUAL INDÍGENA MBYA ARANDÚ: Novas alternativas para


a educação escolar indígena em busca de autonomia étnica e comunitária

Mayara Vieira da Silva

Para os indígenas o conhecimento é amplo não se resume a meras disciplinas e se faz de modo
natural na vida cotidiana com total valor a oralidade. Em contraponto a isso a escola indígena
ainda esta dentro dos moldes hegemônicos de educação lidando com o conhecimento de
forma fragmentada e burocratizada o que distância o processo de ensino aprendizagem das
reais necessidades dos indígenas, havendo assim uma contradição em meio à demanda por
uma educação diferenciada voltada para a realidade local e para fortalecimento comunitário.
Esse trabalho trás uma reflexão sobre quais seriam as novas alternativas educacionais para a
Educação Guarani, no sentido de re-significar as práticas pedagógicas criando uma educação
que resgate e valorize aquilo que lhes foi tirado e rompa com aquilo que lhes foi imposto.
Nesse sentido podemos chamar de nova educação o que temos feito com o conhecimento
indígena, buscando utilizá-lo de modo a valorar o potencial desse povo para melhorar suas
condições de existência (vida). A partir desta perspectiva este trabalho consiste em relatar as
experiências desenvolvidas na Escola Estadual Indígena Mbya Arandú – Ensino Fundamental,
localizada na Terra Indígena Araça-i onde vivem cerca de 30 famílias em situação
de vulnerabilidade social. Foi em meio a este contexto que visamos resgatar a autonomia
Guarani, com foco no fortalecimento comunitário, econômico e educacional traçando um
diálogo indissociável entre educação escolar indígena e educação indígena no processo de
construção coletiva do projeto político – pedagógico, onde a comunidade pode se avaliar
enquanto coletivo e relatar o que seria necessário que a escola ensinasse. A partir de
metodologias ativas os indígenas realizaram atividades envolvendo elementos culturais que
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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os próprios sentiram necessidade de resgatar como artesanato, pão caseiro, cultivo


de alimentos tradicionais entre outros. Desse modo a busca por uma nova educação reafirma
que a escola dentro da comunidade deve ser ferramenta para fortalecimento e transformação
social atrelando os conhecimentos tradicionais e os valores locais como sua maior força para
a resolução de problemas, construindo assim uma comunidade de aprendizagem onde todos
são protagonistas do processo educativo, que vai muito além dos muros da escola.

Espaços educativos e processos próprios de ensino e aprendizagem – O caso


dos povos Timbira
Odair Giraldin
Nesta comunicação apresentarei uma reflexão sobre algumas de nossas atividades
no Programa Saberes indígenas na Escola, na rede UFG-UFT-UFMA, atuando junto aos povos
Timbira do Tocantins e Maranhão. A rede Timbira funciona com apoio da Universidade
Federal do Tocantins (UFT) e Universidade Federal do Maranhão (UFMA), sobretudo do
campus de Imperatriz. Em 2015 e 2016 realizamos as atividades das oficinas em rede da
seguinte maneira: Orientadores de estudo, pesquisadores indígenas, formadores,
conteudistas de cada povo Timbira deslocava-se para participar das oficinas nas aldeias dos
outros povos. Assim, Kraho, Krikati, Gavião e Canela, se deslocavam para as oficinas Apinaje e
assim sucessivamente. Percebendo a centralidade da musicas na forma de ser desses povos,
incluímos entre os pesquisadores e conteudistas vários cantores. Zá Cabelo (Apinaje), Olavo
Tepjõpjr (Krahô), Ahprac (Krahô), Francisquinho Tephot (Ràmkômamẽkra/Canela). Durante as
oficinas, sempre se colocava como é importante aprender os cantos, devido a sua ligação com
o universo cósmico e com as relações sociais, sobretudo pelo amnj kĩn (festas). Espaços de
aprendizagem vazios \ escola cheia. “O pátio está vazio e a escola está cheia”. Esta é uma
afirmativa feita por um exímio cantor Krahô (Tepjõpjr) durante as oficinas. Ele argumentava
que com o processo crescente de escolarização, as atividades ligadas ao pátio estavam ficando
vazias porque as crianças vão para a escola todo dia e não participam mais das atividades
tradicionais. Neste sentido, vale lembrar que os Timbira identificam cinco espaços
educativos tradicionais para a formação da pessoa. 1) Espaço da casa – local de
conhecimentos sobre formas respeitosas de relacionamento entre parentes; 2) Espaço do
pátio – local de conhecimentos e aprendizagem das relações sociais (e da centralidade do
respeito), expressas nos diversos pares de metades e grupos cerimoniais; 3) Espaço da casa
de Wyhty – espaços de reunião coletivos nos quais podem ser discutidos problemas da
aldeia ou então reuniões para ouvir narrativas históricas ou apenas para ouvir cantos; 4)
Espaço da mata – nas caçadas coletivas e individuais; 5) Espaço da roça. Nas reflexões
realizadas nas oficinas, procurou-se discutir qual o papel que caberia à escola neste contexto:
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estaria ela sendo um sexto espaço educativo ou ela estaria sendo majoritária, implodindo
ou espaços educativos tradicionais? E, afinal, como a ação Saberes Indígenas na
Escola poderia contribuir para fazer com que o “pátio não fique vazio”?

A pesquisa compartilhada, experiências interculturais e o fortalecimento da


escola indígena: alguns caminhos possíveis.
Patrícia Regina Vannetti Veiga
Esta apresentação tem como objetivo refletir sobre os passos e processos de um trabalho de
pesquisa compartilhada que tem sido realizado junto com professores baniwa da região do
Alto rio Negro desde 2011. A aldeia de Assunção, localizada no rio Içana, é sede de uma missão
salesiana e a educação escolar era realizada pelas irmãs missionárias. Há 10 anos gestores e
professores indígenas vem construindo a escola indígena, que tem como base metodológica
o ensino, via pesquisa, das histórias ancestrais, culturas e conhecimentos baniwa, em uma
proposta de educação intercultural. Uma das questões que se apresentaram nesse caminho
foi a respeito do que fazer com os conteúdos resultantes destas pesquisas, eles seriam apenas
ensinados na escola ou voltariam a ser praticados, já que se trata dos saberes e práticas
ancestrais? A educação escolar incentiva um movimento chamado de “resgate cultural”, em
que muitos atores da comunidade escolar preocupam-se se isso não seria “voltar para trás”.
Porém a conclusão é que no contexto atual é importante saber e praticar o que é baniwa e
também o que é do branco, os saberes ocidentais. Para isso, faz-se necessário uma conciliação
entre os saberes dos antigos e o modo de vida atual; o papel da escola na aldeia antes e hoje,
reformulando este espaço formal de educação escolar, em que muitas vezes os
conhecimentos baniwa não encontram espaços para o seu ensino e aprendizagem. Mesmo
que os baniwa venham realizando alguns rituais na escola, em novos contextos como o dia
das mães, formatura, etc, os formatos institucionais ainda apresentam barreiras
epistemológicas e práticas para o conhecimento baniwa. Essas fronteiras vão se dissolvendo
aos poucos, umas das estratégias, realizada no âmbito da pesquisa compartilhada, foi a escrita
de um livro com algumas narrativas orais, em que os professores autores escreveram e os
alunos desenharam trazendo a oralidade para a escrita e assim potencializando a
comunicação desses conhecimentos. Nesse sentido, pensamos juntos sobre formas de
penetração dos conhecimentos e pedagogias indígenas em espaços que são estruturados
conforme lógicas ocidentais de transmissão de conhecimento, como é a escola, a escrita
alfabética ou mesmo o pensamento científico ocidental. Desta maneira, pretendo refletir
sobre a importância de pesquisas acadêmicas transdisciplinares que estejam em diálogo com
as práticas e as realidades indígenas e visem também uma atuação do (a) pesquisador (a) na

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formação de professores, já que estes muitas vezes são os seus principais interlocutores
atualmente.

Educação Escolar Indígena: um olhar para a redução das desigualdades


educacionais
Eduardo Barbosa Vergolino
Lincoln Tavares dos Santos
A educação escolar indígena pode e deve ser utilizada como um espaço para a redução das
desigualdades educacionais. Por muitos anos a educação formal nas escolas indígenas foi
esquecida e lutou contra a falta de recursos e pesquisa para seu melhoramento. Hoje, as
escolas indígenas são um campo de atuação fundamental nas diversas lutas que dizem
respeito aos povos indígenas e a busca de conquistas. O que busco apresentar e a
possibilidade de um novo olhar sobre as escolas indígenas como forma da redução das
desigualdades através de pesquisa e capacitação docente, além da criação de programas
específicos para o corpo discente dessas escolas.

Educação escolar indígena: sonho didático pedagógico ou pesadelo


político institucional?
Kleber Gesteira e Matos
Até a década de 1980 a escola foi utilizada para integrar os indígenas à sociedade nacional.
Estes povos, recorrendo a diversas formas de resistência, tentaram “domesticar” a escola. A
busca de um modelo de formação adequado para cada sociedade indígena contou, em alguns
casos, com a assessoria de organizações não governamentais. Essas experiências foram
tomadas como referência para a política de educação escolar indígena implementada pelo
Estado brasileiro na década seguinte. A mudança nos princípios e formas de execução da
política é consequência da Constituição Federal de 1988, que reconheceu aos índios o direito
à diferença, cabendo “ao Estado proteger as manifestações das culturas indígenas e assegurar
o uso de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem”. Em 1991, um decreto
atribuiu ao MEC a coordenação das políticas de educação escolar indígena em todos os níveis
e modalidades de ensino. E ficou estabelecido que as ações seriam desenvolvidas pelas
secretarias estaduais de educação, em possível cooperação com os municípios. Em
decorrência desse decreto, o MEC e as secretarias estaduais de educação passaram a realizar
o trabalho que até aquela data era obrigação da FUNAI. Até então, as escolas que
funcionavam em terras indígenas localizavam-se apenas nas sedes dos postos da FUNAI. Na
maioria dos casos não mantinham registro da vida escolar dos alunos, não propiciavam
a progressão de estudos, não estavam registradas em nenhuma rede de ensino. Eram poucos

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ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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os professores indígenas e não haviam materiais didáticos adequados à realidade destes


povos, inclusive em relação à suas línguas. Dado este contexto histórico, me proponho a
realizar a análise das políticas públicas voltadas para educação escolar indígena a partir dos
anos 90, por meio de levantamento e análise de documentos do Governo Federal, de
Organizações indígenas e de ONGs. Assim como a sistematização e análise de dados do
censo escolar do INEP/MEC dos anos 1990, 1995, 2002, 2010, 2016, 2018. Além destes dados,
irei me basear nos resultados de minha experiência profissional nesse campo, pois tive a
oportunidade de trabalhar como professor formador de professores indígenas em projetos
conduzidos por ONGs (de 1990 a 2012); atuar como coordenador do projeto de implantação
de escolas indígenas da Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais (de 1996 a 2000);
além de coordenador da Educação Escolar Indígena do MEC (de 2003 a 2008). Ao longo de
quase 30 anos acumulei um acervo significativo de documentos, publicações e depoimentos
sobre este complexo campo das políticas educacionais. Pretendo socializar os conhecimentos
acumulados nesta trajetória. E espero que esta iniciativa contribua para a avaliação das ações
do Estado brasileiro neste campo.

A Singularidade e a Subjetividade da Formação dos Professores Indígenas no


Brasil
Vanessa Alves Batista

A comunicação apresenta o resultado de uma pesquisa realizada com professores indígenas,


que teve por objetivo entender o processo de formação dos professores indígenas no Brasil,
tangenciando as políticas públicas entendendo-as como a legislação que trata a respeito da
importância do professor ser indígena de sua comunidade para que possam [re]construir os
valores da cultura indígena e a reflexão sobre a sua identidade com o reconhecimento dos
direitos fundamentais de cada etnia enquanto grupo diferenciado. A pesquisa foi realizada a
partir da metodologia qualitativa (SAMPIERI; COLLADO; LÚCIO, 2013) tendo com técnica a
entrevista narrativa, uma vez que por meio de uma pergunta chave provocamos a narrativa
dos participantes. A resposta narrativa se torna um meio de comunicação com o objetivo de
compartilhar as experiências subjetivas vividas pelo entrevistado em seu processo
formativo. Para a análise e discussão dos dados, foram utilizados os pressupostos
da abordagem qualitativa proposta por González Rey (2005, p.5-8), que conceitua como
aquela que “defende o caráter construtivo interpretativo do conhecimento, o que de fato
implica compreender o conhecimento como produção e não como apropriação linear de uma
realidade que se nos apresenta”. O resultado da pesquisa ajuda a esclarecer aspectos bons e
ruins acerca da formação de professores indígenas no Brasil explicitando as contradições
entre políticas públicas e legislações com o contexto da realidade vivida pelos
professores indígenas.

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FORMAÇÃO DE PROFESSORES INDÍGENAS: reflexões para o


ensino intercultural
Alcioni da Silva Monteiro
Profa. Dra. Suely Aparecida do Nascimentos
Kellyane Lisboa Ramos

A referente comunicação sobre “Formação de Professores Indígenas: reflexões para o ensino”


faz parte da minha dissertação de mestrado em Ensino de Ciências e Humanidades, onde se
pretende nortear subsídios científicos e ponderações referenciadas em aportes teóricos, para
expor com isso, as contextualizações reflexivas acerca de alguns pressupostos educacionais e
formativos para o ensino. Além disso, buscamos contribuir de forma teórica e crítica no
processo de construção da cidadania em consonância com a edificação da oferta de uma
educação escolar de qualidade por meio da qualificação profissional para os povos indígenas,
e para que esta, seja realmente efetiva e eficaz. Respeitando sua autonomia, suas
particularidades e diferenças, bem como, a garantia da efetivação e implementação de
legislações constituintes que busquem a satisfação das necessidades básicas de
aprendizagem, mas também, e principalmente, o desenvolvimento pleno do índio atuante
como cidadão da sociedade brasileira.

Curso Normal Médio Intercultural Ára Verá: formação de professores Kaiowá


e Guarani
Veronice Lovato Rossato
O Curso Normal Médio Intercultural Ára Verá (espaço-tempo iluminado) trata-se de uma ação cujo
objetivo geral é formar professores indígenas Kaiowá e Guarani em nível médio, com habilitação para
a educação nas comunidades indígenas, educação nos anos iniciais do ensino fundamental I e
educação infantil. Foi aprovado e autorizado a funcionar por meio da Deliberação/CEE/MS n.o 6284
de 20 de julho de 2001, com o nome de Curso Normal em Nível Médio – Formação de Professores
Guarani Kaiowá – Ára Verá. Este curso emergiu de reivindicação histórica do Movimento dos
Professores Kaiowá e Guarani, das comunidades desta etnia e de outras instituições envolvidas com a
educação escolar no contexto indígena (UFMS, UCDB e Diocese de Dourados), que ressaltavam a
necessidade de um curso específico de formação inicial de professores indígenas Kaiowá e Guarani.
Esta solicitação foi assumida pelo governo estadual de Mato Grosso do Sul, em 1999, para responder
aos ditames constitucionais no sentido de construir, participativamente, a política educacional para
proteção e promoção de diversidade étnica, proporcionando a valorização da história e o
fortalecimento da identidade dos povos indígenas, fortalecendo suas culturas.

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PROJETO MAGISTÉRIO INDÍGENA TAMÎ’KAN: Reflexões Sobre Formação de


Professores e o Currículo da Escola Indígena no Estado de Roraima

Marilene Alves Fernandes


Roseli Bernardo Silva dos Santos
José Lopes Soares
Alessandra Peternella

O presente trabalho é fruto de reflexões produzidas no mestrado em Educação da


Universidade Estadual de Roraima – UERR, utilizando nossas experiências como formadores
de professores indígenas participante do Projeto Magistério Indígena Tamî’kan realizado no
Centro de Formação do Estado de Roraima – CEFORR. Tem como objetivo refletir os
desafios enfrentados por professores indígenas no que se refere ao currículo da
escola indígena e da necessidade de produzir materiais na Língua Materna utilizando a própria
realidade das comunidades indígenas para a construção do conhecimento cientifico e de
como o projeto Magistério Indígena Tamî’kan, ou as práticas culturais, circulam na escola
indígena. Seguindo nessa direção discutiremos as concepções da formação de professores
indígenas como uma possibilidade importante de formação inicial, podendo proporcionar um
ensino que valorize a cultura, a interculturalidade, o ensino da língua materna, propiciando
experiências voltadas para a garantia da aprendizagem utilizando-se dos conhecimentos
ancestrais dos povos indígenas interligados com o currículo universal que é trabalhado nas
escolas indígenas. Nesse sentido os resultados desta pesquisa desvelam que, apesar das
contradições que o Programa apresenta como uma política pública no conjunto das
políticas educacionais em curso, a experiência formativa tem se apresentado como
uma possibilidade importante de formação inicial de professores indígenas no Estado de
Roraima.

A formação continuada para o ensino de língua portuguesa como língua


adicional para professores indígenas no Amazonas
Rauciele da Silva Cazuza
Ana Paula Diniz

A Resolução no 01/2015, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação


de Professores Indígenas em cursos de Educação Superior e de Ensino Médio, garante a
formação continuada dos professores indígenas em serviço, de acordo com os princípios e
objetivos estabelecidos, através de "atividades formativas, cursos e programas específicos de
atualização, extensão, aperfeiçoamento, especialização, mestrado e doutorado" (BRASIL,

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2015, p. 2) e devem atender às especificidades e aos princípios da Educação Escolar


Indígena, onde todas as atividades formativas utilizem desses princípios e das práticas
de pesquisa e métodos de aprendizagem próprios do povo em específico. Nessa perspectiva,
este trabalho visa apresentar as experiências e reflexões resultantes do projeto de formação
continuada do Centro de Formação Profissional Pe. José Anchieta – CEPAN da Secretaria de
Estado da Educação e Qualidade do Ensino -SEDUC, voltado especificamente para escolas
indígenas do estado do Amazonas, intitulado “O Ensino de Língua Portuguesa e
Conhecimentos Tradicionais para as Séries Iniciais”, desenvolvido nos municípios de Atalaia
do Norte (etnias: Matis, Marubo, Mayoruna, Kanamari e Kulina – Vale do Javari) e São Gabriel
da Cachoeira (etnias Tukano, Dessano, Tariano, Tuyucas, Bará, Baré, Hulp’d,
Yuhpedh, Piratapua, Baniwa, Arapasso e Mirititapuia) no período de agosto a novembro
de 2018. A formação, desenvolvida em forma de oficinas, procurou ressaltar um trabalho, a
partir das oficinas, sugestões para o uso da Língua Portuguesa nas escolas indígenas enquanto
língua adicional, buscando aperfeiçoar as práticas de ensino de leitura, interpretação de
textos e produção textual, bem como o desenvolvimento da oralidade em uma perspectiva
interdisciplinar.

Desafio docente e as práticas inclusivas: o atendimento educacional


especializado (aee) nas escolas indígenas de Roraima
Catarina Janira Padilha
Leila Soares de Souza Perussolo

A concretização de uma educação democrática se estabelece através das oportunidades de


aprendizagem, estimulando as potencialidades dos alunos, respeitando suas diferenças
individuais, logo, todo sujeito aprendente independente de sua condição social e de grupo
étnico, que esteja em processo de evolução intelectual, emocional, cultural e social merece
ter acesso a práticas educacionais que atendam as suas necessidades, possibilitando melhor
desenvolvimento das habilidades. A relação entre o Currículo Intercultural nas práticas
metodológicas no Atendimento Educacional Especializado, desenvolvido pelos docentes nas
Salas de Recursos Multifuncionais (SRM) implementados nos últimos anos em
Escolas Estaduais Indígenas, fomenta a reflexão em como esse processo se materializa
nas práticas inclusivas do aluno indígena com deficiência. Partindo desses pressupostos, são
analisados os elementos da prática pedagógica, suas implicações na promoção do Currículo
nas ações metodológicas em SRM implantadas nas Escolas Estaduais Indígenas, localizada na
Terra Indígena do Canauani – Região da Serra da Lua, município do Cantá e Comunidade Boca
da Mata da Terra Indígena São Marcos, município de Pacaraima. A problematização fomenta
o debate sobre a atuação docente na integração das práticas inclusivas na formação escolar

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do discente indígena com Necessidades Educacionais Especiais. Tem como base os


pressupostos da Pedagogia Histórica – Crítica e Teoria Histórico – Cultural, como fundamento
no processo de desenvolvimento da inclusão integrado aos Estudos Culturais e sua relação no
currículo intercultural, como aporte teórico em: Bergamaschi (2012), Brasil (2007); RCNEI
(2002) Candau & Koff (2006); Carmo (1994); Díaz-Aguado (2000), Duarte (2007); Geertz
(2001); Hall (2015); Larraia (2017); Mantoan & Baptista (2007); Paladino & Czany (2012);
Saviane (2008); Silva & Bruno (2016); Silva (2017); Silva & Hal (2014); Vygotsky
(1996/1998). Os resultados preliminares apontam os desafios voltados para:
Não compreensão da função do AEE na SRM; Resistência dos pais e/ou responsáveis sobre a
importância dos discentes participarem das atividades escolares; Adaptação e integração de
ações metodológicas e registro da aprendizagem no processo de intervenção didática;
Ausência no acompanhamento e orientação da coordenação pedagógica, de técnicos e
especialistas dos departamentos responsáveis pelas ações didáticas. Essas informações foram
obtidas através das primeiras observações in loco em duas escolas que participam da pesquisa
de tese em desenvolvimento. Considera-se que o tema promove o debate e a reflexão sobre
a prática pedagógica inclusiva através do currículo intercultural, aplicado nas escolas
indígenas. Os registros ocorreram entre Agosto a novembro de 2018.

O curso de licenciatura intercultural indígena da ufpe e os desafios da


interepistemicidade
Prof. Saulo Ferreira Feitosa
Prof. Sandro Guimarães de Salles

O curso de Licenciatura em Educação Intercultural Indígena da Universidade Federal de


Pernambuco (UFPE), ofertado pelo Campus Acadêmico do Agreste, formou sua segunda
turma no ano de 2018. A proposta do curso foi construída com o movimento indígena, tendo
a participação da Comissão de Professores Indígenas de Pernambuco (Copipe) e da
Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoime). Essa
construção com o público interessado assegurou um processo seletivo que possibilita o acesso
de todos os povos habitantes no estado de Pernambuco, que constituem a segunda maior
população indígena do país, estando dividida entre 12 povos. Embora a perspectiva
da interculturalidade seja inerente à própria identidade do curso, há uma
complexidade epistemológica imbricada nas práticas interculturais que, se não for
devidamente considerada, pode resultar numa prática pedagógica reprodutora da
colonialidade do saber (QUIJANO, 2005), embora se autoproclame intercultural. Esta
comunicação trata da experiência vivenciada por professores desse curso, que, conscientes
da referida complexidade, procuraram estabelecer pontes de interepistemicidade entre o
conhecimento acadêmico produzido no Ocidente e os saberes dos povos originários, de modo

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especial o repertório de saberes dos estudantes participantes das duas turmas. O projeto
pedagógico do curso contempla a pedagogia da alternância, assegurando o tempo
comunidade e o tempo universidade. Por parte do corpo docente, houve sempre o cuidado
para garantir a todos os povos igual oportunidade para socializar seus saberes, tanto no
tempo comunidade quanto no tempo universidade. Dentre as várias formas de partilhar esses
saberes, o ritual do Toré, respeitadas as singularidades de cada povo, foi a mais frequente.
Para a comunidade acadêmica não indígena, a ritualização da espiritualidade no
espaço acadêmico causou um estranhamento inicial, mas desencadeou um processo
de aprendizagem mutuo, uma vez que para os indígenas também se tornou necessário o
enfrentamento do preconceito e a construção de estratégias para ocupação do espaço. Essa
realidade exigiu uma maior atenção em relação à necessidade de se garantir a realização de
diálogos interepistêmicos, seja entre os próprios indígenas, seja entre esses e a comunidade
acadêmica em geral. Esses diálogos também foram possibilitados a partir da relação
estabelecida com outras populações tradicionais, em encontros extracampus, com povos
ciganos e povos de terreiro. As reflexões aqui apresentadas estão fundamentadas no
pensamento decolonial, considerando, entre outros, os conceitos de colonialidade do saber
(QUIJANO, 2005) interculturalidade crítica (WALSH, 2009) e desobediência
epistêmica (MIGNOLO, 2010).

Cidadania e povos indígenas: um relato de experiencia de ensino universitário


na Aldeia Mapuera
Petronio Lauro Teixeira Potiguar Junior
As experiências docentes, seja em que grupo social for, é um momento em que os professores
verdadeiramente comprometidos e militantes da causa educacional, devem procurar
eternizar, não como um instrumento de romantismo, mas sim como uma forma de revelar um
momento que não é estático, mas um ser e estar no mundo localizado no tempo e no espaço
para servir como uma das referências para futuros projetos perspectivas e, principalmente,
referência para demarcar o processo de resistência. Baseado nessas premissas é que, após
dois anos de ocorrido e levado pela realidade que se apresenta de forma indeterminada para
os povos indígenas na atualidade do país, resolvi socializar a experiência educacional por mim
vivenciada no âmbito do curso de Licenciatura Intercultural Indígena2, na Universidade do
Estado do Para - UEPA, no âmbito do Programa de Formação de Professores da Educação
Básica –PARFOR com indígenas da aldeia Mapuera, noroeste do Pará. A metodologia para a
materialização deste texto, se baseou na vivencia cotidiana e, fundamentalmente, no
processo dialogal, desde a concepção a aplicabilidade nas intervenções dos alunos-indígenas
do “Intercultural” realizadas nas aldeias Mapuera, Ponkuru e Tamiuru, entre docentes do
ensino médio e fundamental. A aldeia Mapuera faz parte do conjunto das terras indígenas
Nhamundá-Mapuera juntamente com as aldeias Nhamunda, Tamiurú, Pomkurú, Inaja,
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Santidade e Bateria. Fica localizada na Amazônia setentrional, próxima à fronteira entre o


Estado do Pará e do Amazonas, às margens do rio Mapuera, afluente/ formador do Rio
Trombetas, o qual possui diversas cachoeiras contendo fortes corredeiras, dificultando, por
muitas vezes, o acesso à aldeia, principalmente no período de vazante.Na Mapuera, habitam
aproximadamente, 1055 índios dentre os quais encontra-se diversas etnias que fazem parte
do complexo cultural Tarumã-Parukoto são eles: Wai Wai, Katuena, Hixkaryana, Mawayana,
Xowyana, Tikyana, Xereu, Tunayana, Kamarayana, Yaipîyana, Parîkwoto, Pianokoto, Tirió,
Aramayana, Okomoyana, Caruma Wapixana entre outros. Mas os mesmos se autodenominam
“Wai-Wai” depois de terem sido evangelizados pela Missão Evangélica da Amazônia – MEVA.
(CARDOZO e VALE JUNIOR:2012; QUEIROZ, 2008; S/D;2012). Os indígenas que habitam no
Território Indígena-TI Trombetas- Mapuera falam um dialeto da língua Karib. A língua Wai Wai,
que pertence à família linguística Karib, constitui a língua principal utilizado pelos habitantes
dessa aldeia. Até o início dos anos 2000, haviam outras línguas faladas nas aldeias, cada uma
por parentelas de outros povos indígenas que se intercasaram com os Wai Wai ou que
migraram em massa para conviver com os estes durante a fase de sua centralização em
grandes aldeias entre 1950 e 80 (CARDOZO e VALE JUNIOR:2012. ZEA, S.E, 2006). Para ter
acesso a Mapuera, é necessário sai de Belém, capital do Pará, em uma viagem de 50 minutos,
até Santarém. De Santarém, você acessa via hidroviária que tem aproximadamente 4 horas
de viagem até a cidade de Oriximiná e desta localidade, mais 16 horas até Cachoeira Porteira.
Estando em Cachoeira Porteira, você aluga ou “pega carona” em uma canoa que, dependendo
do ritmo do rio, leva aproximadamente 36 horas de viagem até a Mapuera. Após a localização
onde foi realizada a disciplina “Prática4”, vamos a intenção pretendida. O objetivo aqui, é
fazermos relatos das experiências sem uma preocupação profunda com debates teóricos,
apesar de isso ser necessário, mas que fora feito de forma ainda limitada, pela exiguidade do
tempo, ficando para outro momento seu aprofundamento. Objetivamos aqui, trazer uma
vivencia não unilateral, mas dialogal, a partir de debates e reflexões que considerei de
extrema importância nesse contexto, como as realizadas na disciplina denominada “Práticas”,
que tinha como foco construir, elaborar e vivenciar experiências de ensino a partir do
protagonismo indígena, numa alusão de que a experiência não é somente do professor mas
dos alunos-indígenas de forma compartilhada e que precisa ser difundida e garantida nas
políticas públicas de educação. Mas entendemos que a opção por revelar mais a experiência
com comentários dos debates, construções de projetos e intervenção nas escolas das
referidas aldeias junto aos professores- alunos-indígenas desse curso, foi a opção
metodológica que oferecia mais assertiva, para que pudéssemos expor a forma e o conteúdo
do que resultou na e da disciplina “Praticas” sustentado pelo eixo temático “Povos Indígenas
e Cidadania”. É bom destacar que a forma como se deram as intervenções seguiu diretrizes
contidas nas orientações da disciplina “Praticas” focado na maneira de como os professores-
alunos-indígenas entenderam a melhor forma os conteúdo para sua socialização, bem como,
os materiais didáticos que iriam ser usados nesse momento, levando em conta o bilinguismo
desses indígenas nessa aldeias6. No geral, as estratégias adotadas, foram exposições orais

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sobre o que significava cidadania e de que maneira a temática apresentada por eles se inseria
no debate sobre cultura. Exposição de imagens em datashow, desenhos elaborados pelos
próprios professores-alunos indígenas; filmes de curta duração; exposição da cultura material
local como arco, flechas, cuias etc. Estas foram ferramentas usadas para articular as falas com
o que estava sendo mostrado sem 3 Caso haja disponibilidade e recurso, de Santarém até
aldeia Mapuera, pode-se conseguir uma carona de Bi-Motor das instituições que prestam
serviço público no local (Secretaria Municipal de Educação – SEMED e Distrito Sanitária
especial Indiegans- DSEI) , com um custo de aproximadamente uma hora e meia de viagem.
Essas caronas são raridades por essas bandas, 4 O objetivo dessa disciplina é relacionar teoria
e prática através de projetos de intervenção que e elaborado pelos próprio alunos, em uma
carga horaria de 100 horas aulas, se diferenciando, desse modo, da disciplina estagio
supervisionado, que é uma pratica orientada e desenvolvida ao longo de seis meses de cursos
de forma intermitente. 55 Quando me referir aos alunos do PARFOR Intercultural Indígena,
usarei sempre essa denominação, para diferencia- los no momento da citação durante o texto
de alunos indígenas do ensino fundamental e médio e pela própria condição que eles se
encontram nesse momento, isto é, de alunos do ensino superior, mas de professores da rede
municipal de ensino nas aldeias Mapuera, Mapuera Bateria, Placas, Ponkuru e Tamiuru. 6 Em
várias situações, interpretes foram necessários, para mediar os debates tanto no momento da
construção dos projetos de intervenções como na hora de aplica-los perde de vista o foco
dado sobre cidadania e cultura, buscando aproximação para um exercício dialogal do autor
deste texto com os indígenas nesse momento. Em seguida, ocorriam atividades entre os
alunos que assistiam as aulas no contexto ensino médio e fundamental, seja em forma de
desenho ou dialogal entre professor e alunos. Após a feitura das atividades, esses últimos
apresentavam ou expunham desenhos, caricaturas, pinturas corporais, de forma oral, ou seja,
a materialização para demonstrar se a forma de aprendizagem ou de absorção do conteúdo
fora exitosa. Em seguida ocorria avaliação das atividades, sendo esse momento imprescindível
para ser percebido como os alunos absorviam o processo de ensino-aprendizado. Em minhas
observações foi impossível não convocar Geertz (1997) chamando atenção que para ter a
percepção e a interpretação dos fatos do modo como eles ocorrem e captar, de forma bem
detalhada o “ponto de vista do nativo” em nosso vocabulário. Para isso, foi necessário uma
observação bem atenta para poder perceber os sentidos das coisas, como bem coloca Roberto
Cardoso de Oliveira em seu “O trabalho do antropólogo, o olhar o ouvir e o escrever. Mas ao
falarmos de “povos indígenas e cidadania”, percebemos que esse tipo de reflexão é, de
pronto, amplo demais, necessitando de um foco ou melhor, um olhar direcionado, para
entendermos que horizonte queremos revelar nesse relato de experiência que é chamar a
atenção para a continuidade de propostas como essa , com foco nas realidades onde elas
ocorrem e , principalmente, garantir resultados efetivos quando da materialização desse tipo
de proposição educacional, ou seja, hoje na aldeia Mapuera , 90% dos professores do ensino
fundamental nas escolas indígenas no entorno dessa, são exclusivamente indígenas, numa
prova cabal de que extinguir políticas públicas dessa natureza e tão somente desconsiderar o

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que de fato e cidadania e desrespeitar aportes jurídicos e legais nacional e internacionalmente


que precisam ser retomados e debatidos com urgência.

Processos e produtos nas experiências da ação Saberes Indígenas na Escola na


UFMG
Ana Maria R. Gomes
Shirley Aparecida de Miranda

A ação Saberes Indígenas na Escola desenvolvida no Núcleo da UFMG com 5 povos indígenas
- Yanomami, Yekuana, Xakriaba, Maxakali e Pataxó - gerou mais de 30 produtos que foram
desenvolvidos através de contextos e histórias muito diversificadas. Para tentar produzir uma
reflexão que se dirigisse ao conjunto, foi preciso adotar um enquadramento que assume essa
produção como resultante de processos sociais, cuja historicidade e contextualização são
fundamentais para enquadrar o sentido de cada processo/produto. Assim cada produto só
pode ser entendido à luz do processo que o gerou, e no contexto de histórias e ações da
comunidade que o produziu. Serão analisados três produtos: o livro de narrativas produzido
em Yanomama; o livro sobre os Tehey produzidos por D. Liça Pataxó; e a edição revisada e
ampliada do livro "O tempo passa, a história fica" pelos Xakriabá; os vídeos produzidos pelos
Yekuana; e a exposição e livro sobre a Imbaúba produzido pelos Maxakali. A apresentação
desses processos/produtos será atravessada por considerações sobre as diferentes
abordagens teóricas que entram em campo e dialogam em cada um dos contextos, assim
como o reenquadramento dessas abordagens à luz dos processos situados que deram origem
aos produtos.

Movimentos de apropriação e articulação política de professores indígenas


na Ação Saberes Indígenas na Escola – Núcleo RS

Fernanda Brabo Sousa

Esta comunicação decorre de um artigo que é fruto de uma pesquisa de doutorado em


Educação, realizada entre os anos de 2013 e 2017, e resultado da vivência da autora na
formação continuada de professores indígenas Ação Saberes Indígenas na Escola – ASIE,
núcleo do estado do Rio Grande do Sul, Brasil, desenvolvida pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul – UFRGS, na qual atuou como professora formadora, do ano de 2014 a 2017
(e segue atuando como supervisora, nos anos de 2018 e 2019). Ao longo de quatro edições de
realização, a Ação Saberes Indígenas na Escola no RS já envolveu mais de 300 professores
indígenas, entre as funções de orientadores, formadores, pesquisadores e cursistas (ou
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alfabetizadores), abrangendo a totalidade de professores Guarani no estado e a grande


maioria dos professores Kaingang, atingindo todas as escolas em terras indígenas do RS. As
experiências relatadas, registradas pela autora em diário de campo e pela equipe
coordenadora em gravações audiovisuais, contam os modos como a ASIE foi sendo
apropriada, reinterpretada e ressignificada pelos próprios professores indígenas agentes
da ação. Ao mesmo tempo, narra como, a partir dos encontros presenciais de
formação oportunizados pela ação, esses espaços de formação pedagógica foram
sendo transformados em territórios de articulação e reorganização política destes professores
e lideranças intelectuais de suas comunidades. Essa apropriação se deu a partir de vários
movimentos, como por meio de estudos da legislação da educação escolar indígena e textos
adjacentes ao tema, por memórias de lutas de professores e lideranças, pelo resgate de
experiências anteriores de formação e pela possibilidade de estar fisicamente juntos,
compartilhando seus projetos e sonhos de escola, de educação, de comunidade e de futuro.
Ressalta-se que, embora tais movimentos não ocorram do mesmo modo entre os
professores Kaingang e os Guarani, em ambos os grupos de professores é possível afirmar
que a formação continuada, além de pedagógica e profissional, tem assumido também um
caráter de formação política e identitária.

Descolonizar a educação através da interculturalidade: reflexões a partir da


Ação “Saberes Indígenas na Escola”
Antonio H. Aguilera Urquiza
A partir da experiência com professores indígenas na educação superior em Mato Grosso do
Sul, especialmente, nos últimos anos, com a formação continuada, através da Ação SABERES
INDÍGENAS NA ESCOLA, assim como também de uma aproximação ao pensamento pós-
colonial, o presente texto objetiva contribuir para o debate no que se refere à
problematização do poder, da racionalidade eurocêntrica nos efeitos de verdade e validade
do saber ocidental, analisando se esta interfere na educação indígena, na perspectiva de se
construir propostas de formação intercultural de professores indígenas, como também, na
construção de uma pedagogia no sentido de pedagogizar a diferença. Analisamos sob a ótica
da interculturalidade, a política de formação continuada dos professores indígenas, entendida
aqui como uma educação diferenciada direcionada a esses professores, como parte de um
projeto estatal de formação para a autonomia e a cidadania. A perspectiva pós-colonial
permite-nos reforçar a importância de análises que conjuguem os aspectos da dominação e
da resistência. Abordamos a perspectiva crítica da interculturalidade na educação indígena
que considera as identidades culturais de cada povo como possibilidade de deslocamento
epistêmico em sua formação. O trabalho tem como fio condutor o conceito da
interculturalidade, e destaca autores que dão sustentação teórica a este caminho
investigativo: Walsh (2009), Fleuri (2003), Mato (2009), Bhabha (2003) entre outros. Adotou-
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se como procedimento técnico-metodológico para este caminho investigativo a revisão


bibliográfica, assim como a possibilidade de privilegiar entrevistas com professores indígenas,
trazendo algumas inquietações desses sujeitos formados pelo programa de educação
intercultural e a Ação Saberes Indígenas na Escola. Este estudo procura demonstrar o aspecto
complexo e ambivalente da construção de uma educação intercultural em MS, indicando
como as relações de poder, saber, ser são indicativos da produtividade no campo educacional.
Apontamos a interculturalidade como possibilidade de relações menos assimétricas na
educação, como uma possibilidade de descolonização epistêmica em busca de uma forma de
ser, viver e saber outra, o que indica uma flexibilização epistêmica, possibilitando estratégias
políticas pedagógicas outras. Assim propomos uma formação intercultural em todos espaços
tempos como possibilidade de se respeitar as diferenças e alteridade.

ST 51 | Sociedad, ambiente y sostenibilidad

Oliverio Llanos Pajares (Universidad Nacional Mayor de San Marcos, Lima, Perú); Zoila Ochoa
Garay (Asociación Interétnica de Desarrollo de la Selva Peruana – AIDESEP); Fanel Victoria
Guevara Guillen (Colegio Profesional de Antropologos de Lima, Perú).

En el Perú, hay grandes problemas que se afrontan en el camino al desarrollo que se entiende como
crecimiento desmesurado de la acumulación de riqueza de unos pocos en contra de la pobreza, la
exclusión y el despojo de otros. Ese crecimiento inequitativo afecta el ambiente y a los sectores sociales
más vulnerables, porque el país ve crecer “sus rentas” en base a la explotación de sus recursos
naturales incluso a costa del deterioro del ambiente, ocurre con la actividad minera, petrolera,
maderera en la selva y la sierra del país y con la gran agricultura de exportación en la costa que generan
la apropiación de territorios y despojo del agua; las poblaciones de la sierra y la amazonia, ven
deterioradas sus posibilidades de vida, que son afectadas con el FEN, sequías y friajes por el cambio
climático y por la contaminación del agua; generándose conflictos en todo el país, no hay atención a
sus necesidades básicas y el canon y otros pagos no las atienden terminado en corrupción y abandono.
El Simposio abordará estos problemas buscando analizar las causas de los conflictos y la violencia
social; ver los efectos del deterioro ambiental y los impactos en los sectores sociales vulnerables, los
alegatos de las comunidades campesinas y nativas; y las medidas gubernamentales que abordan esta

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situación y como desde la academia podemos aportar en el abordaje de estos temas en la perspectiva
de un Desarrollo Humano sostenible o del Buen Vivir.

Mosarambihára, Semeadores do Bem Viver

Associação Cultural de Realizadores Indígenas - ASCURI

Em 2015 a ASCURI (Associação Cultural de Realizadores Indígenas) foi convidada pela FUNAI
para coordenar o GATI – Gestão Ambiental e Territorial em Terras Indígenas nas áreas de
referência Guarani e Kaiowá de Mato Grosso do Sul, que desde 2008 apresentavam resultados
insatisfatórios para a instituição. Faltando apenas dois anos para o fim do programa, a ASCURI
entra como parceira e propõe usar parte de suas experiência adquirida com as formações e
produções de cinema indígena no Brasil e na Bolívia, ao passo que mapeia jovens dispostos a
contribuir com essa nova fase do projeto, utilizando as oficinas de cinema como ferramenta
de aproximação dos mais novos com os mais velhos. Depois desse processo foi feito um
levantamento de como seria executado nas áreas de referencia, pontos como recuperação de
nascentes, conservação e manutenção de matas, plantio de quintais e fortalecimento das
manifestações religiosas tradicionais, e como esses saberes tradicionais dos mais antigos
estavam sendo desprezados pela própria comunidade, interferindo diretamente no processo
como um todo. O presente trabalho tem como objetivo mostrar como os saberes ancestrais
quando compartilhados e colocados em prática podem propor caminhos para a busca do bem
viver Guarani Kaoiwá.

Educação ambiental e práticas pedagógicas no 4º ano do ensino fundamental


em Escola Municipal Kokama em Benjamin Constant-AM

Sebastião Melo Campos


Francisco Olimpio de Souza
Ana Maria de Mello Campos
Brainer Rian de Souza Arevalo

Este trabalho apresenta um relato de experiência de uma palestra acerca da Educação


Ambiental em uma escola pública do município de Benjamin Constant-Amazonas. O ambiente
escolar como instrumento para a transformação dos sujeitos da educação, sem ignorar sua
realidade envolve práticas pedagógicas que aumentam a responsabilidade na construção da
cidadania, que é fortalecida na escola. Nesta perspectiva, a Escola Municipal Professora Sófia
Barbosa procura possibilitar a busca da maior interação entre professores, alunos e a
comunidade levando em consideração a diversidade na qual está inserida. A escola foi ponto
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de partida para que a educação viesse ser difundida naquele lugar, suprindo uma necessidade
enorme daquelas pessoas, outrora, carentes do mínimo, mas o essencial para completar suas
vidas. A escola está localizada no Bairro de Bom Jardim do município de Benjamim Constant-
AM, na tríplice fronteira do Brasil, Peru e Colômbia e recebem alunos da etnia kokama e ticuna
comunidades que sofrem os problemas ambientais como resíduos sólidos e infra-estrutura.
Nas séries escolares iniciais fundamentam-se conceitos e percepções na criança, por isso, a
forma de construção do ensino-aprendizagem deve ser utilizada levando emconsideração o
ambiente na qual a mesma está inserida. Objetivou-se realizar práticas pedagógicas
ambientais no 4o Ano da Escola Municipal Sofia Barbosa, visto que no município de Benjamin
Constant há várias problemáticas que poderiam ser abordadas, sendo a principal o descarte
de resíduos sólidos, pois há deficiência na coleta realizada e ausência de aterro sanitário.
Assim, foi utilizado o estudo de caso com aplicação de pesquisa-ação como metodologia
auxiliar, a fim de consolidar um processo educacional construtivo, onde as crianças possam
perceber o meio ambiente em que vivem, sentirem-se parte dele e participarem de ações que
levem à melhoria do mesmo. Os resultados mostram que as crianças compreenderam a
proposta da palestra e aplicação de jogos pedagógicos nas ações ambientais e assimilaram
seu conteúdo, respondendo positivamente, mostrando que é possível estabelecer um contato
maior dos alunos com o meio que os cercam, através de práticas educativas ambientais.

Linderos y territorialidad en las comunidades campesinas de Huaros y Pirca,


Valle Alto de Chillon y Chancay

Victoria Marcelina Aranguren Canales

La Comunidades Campesinas de la cuenca alta del rio Chillón estuvieron conformados por
ayllus denominados aynas, huishcos, huaros, cushpas límite con la cordillera de la Viuda por
el lado Este y por lado Norte con la Comunidad de Pirca, perteneciente a la margen izquierda
del valle alto de Chancay. Estas dos comunidades mantienen una pugna por una franja
territorial de áreas de pastizal y la laguna de Jacrash. Esta pugna se remonta a tiempos muy
antiguos que se han ido postergando sin solución alguna. Lo resaltante de este conflicto no es
el tamaño territorial, sino la ancestralidad que viene acompañada de luchas basada en
costumbres ancestrales, en este sentido, nuestro estudio abordara este problema desde el
concepto de territorialidad que está enmarcada dentro de una concepción de territorio, que
incluye la apropiación y su uso como una entidad política que comprende una jurisdicción que
no admite su partición. Es decir, contiene un sentido de intervención y control y una forma
espacial del poder. Pero a partir de la conquista española se introdujo nuevos modelos basado
en la propiedad privada que afecto la propiedad comunal basada en un modelo grupal y
ancestral denominado ayllus que ha significado racionalidad andina, indispensable para
mantener la vida colectiva basada en la reciprocidad e intercambio. El largo proceso de
readaptación de las comunidades a la nueva administración hispana desde las reducciones
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toledanas de 1570, se estableció un modelo paralelo al sistema andino de los curacazgos, que
fueron los cabildos o ayuntamientos que ejercieron el control del riego, de los cultivos, del
ganado, del agua, del culto religioso y de los linderos que trajo consigo grandes conflictos por
territorios con recursos. Nuestra investigación recurrirá a los documentos del Archivo General
de la Nación para complementar los trabajos etnográficos, arqueológicos e históricos.

Dinámica ambiental y las fases del ciclo de vida del hogar indígena: el caso de
la amazonía ecuatoriana

Rosa Victoria Salinas Castro


Alisson Flávio Barbieri

INTRODUCCIÓN: Este documento analiza el ciclo de vida de los hogares indígenas en la


Amazonía ecuatoriana y sus relaciones con el medio ambiente. Si bien el crecimiento de la
población y la pobreza pueden afectar el uso de la tierra, así como nuevos patrones de uso y
deforestación (Geist y Lambin, 2001). Pero estos cambios también están impulsados por otros
factores sociales, económicos, políticos y de infraestructura (Hecht, 1985). Estos factores
exógenos pueden ser los principales determinantes de los cambios que no pueden ser
controlados por las propias poblaciones indígenas. METODOLOGIA Y DATOS: Este estudio es
longitudinal, con datos de 2 encuestas, en 2001 y 2012, en la Amazonía del Ecuador en 5
etnias: Kichwa, Shuar, Waorani, Cofán y Secoya. El hogar indígena se estudia en función de la
etapa en el que se encuentran, se han creado 8 categorías de análisis, en función de los
miembros del hogar. Estas categorías se excluyen mutuamente y siguen las etapas de un ciclo
de vida familiar. CONCLUSIONES: Factores exógenos probablemente estimularon una mayor
deforestación, para la siembra de cultivos para la venta; entre ellos la expansión de carreteras
y la luz eléctrica, extracción de petróleo, y el aumento de contactos con los colonos, mercados,
etc. Hogar tipo 7 muestra los cambios más significativos, porque todos los miembros son
económicamente activos, por lo que los factores exógenos pueden tener un mayor impacto
en estimular a los hogares a producir más cultivos para obtener dinero y comprar cosas para
mejorar su estilo de vida. El hogar tipo uno (recién formado) muestra un cambio
particularmente dinámico en comparación con los otros tipos, con el mayor incremento en la
producción de cacao, lo que ha llevado a un cambio radical en los niveles de vida de muchos
hogares indígenas para el año 2012.

Água para beber: uma análise socioambiental da água para consumo humano
em Vilas indígenas do Alto Solimões – Amazonas

Fernanda Cabral Cidade


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Uma das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável acordadas entre os países que
participaram da Conferência das Nações Unidas sobre o desenvolvimento Sustentável (Rio
+20) é garantir a disponibilidade e manejo sustentável de água segura para todos. Nesse
contexto, a complexidade amazônica abrange uma grande quantidade de recursos hídricos ao
mesmo tempo em que uma parte significativa de sua população ainda tem dificuldades de
acesso à água segura para o consumo. Este artigo buscou identificar e compreender o impacto
socioambiental ocasionado pelas atuais formas de acesso e abastecimento de água
encontradas em Vilas indígenas da microrregião do Alto Solimões no Estado do Amazonas,
Brasil. Belém do Solimões, Campo Alegre e Betânia são as Vilas estudadas e se localizam nos
municípios Tabatinga, São Paulo de Olivença e Santo Antônio do Iça, respectivamente. A
precariedade nas formas de acesso e distribuição de água nestas Vilas causam impactos
visíveis e invisíveis, principalmente nas questões socioambientais, tais como potabilidade e
contaminação de águas de superfície e subterrâneas. Visando compreender tais impactos,
este trabalho descreve as formas de acesso à água nos diferentes períodos do regime
hidrológico da região, tendo realizado análises tanto da potabilidade da água usada para o
consumo pelos moradores das Vilas quanto de dados de doenças de veiculação hídrica nas
Vilas. Ao fim, o artigo aponta as formas de armazenamento nas residências e as infraestruturas
construídas para o abastecimento de água como os principais impactos socioambientais nas
Vilas estudadas.

Percepción sobre el cambio climático por parte de la comunidad indigena del


resguardo del Gran Cumbal, Nariño, Colombia

Luz Elena García


Edith Amanda Tipaz

El cambio climático trae afectaciones a la vida humana en todas sus dimensiones, tales como,
ambiental, política, social, cultural, espiritual, etc. Cuestión presentada en el Quinto Informe
Panel de Expertos del Cambio Climático (IPCC por sus siglas en inglés). El cambio climático se
considera un problema trascendental por su manifestación en los procesos o ciclos naturales.
Según el último informe de IPCC de no actuar o mitigar sobre el cambio climático, el
incremento de la temperatura estará entre 3.7 a 4.8 oC para el año 2100, e
independientemente de las acciones mitigantes se proyecta una temperatura no menor a 1.5
oC (Alianza Clima y Desarrollo, y Overseas Development Institute, 2014). Fuera de esta del
incremento de temperatura, dado a nivel mundial, se tienen los impactos analizados en la
región de Latinoamérica: “(...) aumentarán el riesgo de inundaciones y deslizamientos de
tierra en las zonas urbanas debido a las precipitaciones extremas, la disminución en la
disponibilidad del agua en las zonas semiáridas y las regiones que dependen del derretimiento
de los glaciares, la disminución de la producción y la calidad de los alimentos, y la propagación
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de enfermedades transmitidas por vectores.” (Alianza Clima y Desarrollo, y Overseas


Development Institute, 2014, p.9) La importancia del problema del cambio climático ha sido y
es de gran trascendencia por lo que las Naciones Unidas creó La Convención Marco de las
Naciones Unidas sobre el Cambio Climático (CMNUCC) (1992), que en el artículo 1 lo define:
el “cambio de clima atribuido directa o indirectamente a la actividad humana que altera la
composición de la atmosfera global y que se suma a la variabilidad natural del clima observada
durante periodos de tiempo comparables.” (p. 6). Frente a esta situación el Estado colombiano
tiene el compromiso del cumplimiento de la regulación que busca la implementación de
acciones para mitigar los efectos adversos. Se tienen lineamientos basados en la ratificación
de la Ley 164 de 1995 y el Protocolo de Kioto mediante la Ley 629 de 2000. En consecuencia,
se debe generar capacidad de resiliencia en la diversidad de comunidades existentes, entre
estas las más vulnerables como las étnicas. Colombia tiene la responsabilidad de la
preservación de los pueblos indígenas, esto se encuentra establecido en el Convenio No 169
de la OIT, el cual fue ratificado en la Carta Magna de Colombia de 1991, a través de la Ley 99
de 1993. Este trabajo se realizó con el fin de visibilizar las precepciones y estrategias usadas
por las comunidades indígenas, en especial la del resguardo del Gran Cumbal. Cooperando así
con las investigaciones de tipo cualitativas, ya que el cambio climático tiene amplias
investigaciones desde la perspectiva técnica, económica y política, pero poca relevancia se le
ha dado al aspecto social. Sin embargo, en los últimos años ya se tienen estudios de caso se
pueblos indígenas, en los que se analizan las percepciones y estrategias consideradas en estos
territorios para enfrentar este fenómeno. Mencionamos casos de estudio con los que se tiene
alineación en la investigación: Echeverri (2009) investigó el caso de estudio de los grupos
indígenas del Amazonas, entre algunos aspectos a mencionar tratados por parte del autor se
tienen: los cambios manifestados por los indígenas en los “calendarios ecológicos”, pues el
conocimiento ancestral se basaba en la coyuntura de la producción de especies vegetales y
animales, directamente relacionada con las épocas climatológicas, tiempos determinados de
meses o épocas de verano e invierno. Conocimiento que se ha visto afectado por los cambios
del clima, pues los meses ya no coinciden con los cambios de temperatura esperados,
generando afectación sobre la vida ecológica. En palabras propias: “Llueve cuando no debe
llover, hace calor cuando no debe hacer calor» afirma un hombre indígena de Araracuara” (p.
21). Asimismo, García, Tenorio y Muñoz, (2011), investigaron el caso de estudio de la
comunidad indígena, Nasa del Cauca en Colombia, relacionado con sus vivencias, prácticas,
costumbres, correlacionadas con el conocimiento climatológico, con lo cual definieron sus
calendarios propios, en un sentido más práctico son sus saberes de los tiempos y el clima, por
ejemplo, qué meses se destinan a realizar actividades específicas de agricultura para producir
buenas cosechas como su sustento alimenticio. Situación que se les ha tornado como un
problema, pues los tiempos de verano e invierno de las últimas décadas son difíciles de
predecir por lo que han tenido pérdidas en la agricultura. En el mismo sentido, Puenayan
(2011), investigó el caso de estudio en el resguardo de Panan, municipio de Cumbal, Nariño
(Colombia). Se conoció la percepción del clima de la comunidad como una base para construir

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herramientas integradas de conceptualización y estrategias que se usarán para mitigar los


efectos del cambio climático. Se tienen explicaciones desde el mismo sistema de creencias, la
vida espiritual profunda y su saber ancestral. La afectación de mayor magnitud para los
indígenas se trata de la disminución del líquido vital, que es el recurso como fuente de
sustento para su soberanía alimentaria y sus ritos energéticos. Además, los cambios
climatológicos han afectado el manejo de sus calendarios solares y lunares, y los ha llevado a
sufrir eventos extremos, como: el invierno extremo, veranos de periodos extensos, heladas,
granizadas, deshielos de los volcanes cercanos. Situación que ha afectado sus vivencias por no
tener la capacidad predecible de estos cambios. Este tipo de investigaciones son importantes
porque nutren la investigación del tema, con los aportes que divergen de los aportes de los
científicos, pues estos no pueden percibir cambios en el entorno de la naturaleza como lo hace
quienes tienen una relación de convivencia. Los grupos indígenas se han esforzado por dar
explicaciones de las causas que originan el problema, desde su sistema de creencias y
conocimiento, pero son conscientes de atribuir la principal responsabilidad al “hombre
blanco”. Por otro lado, buscan estrategias para enfrentar las afectaciones generadas en los
procesos ecológicos, soberanía alimentaria y su salud, lo hacen desde su capacidad de
resiliencia heredada de sus ancestros (Echeveri, 2009; García, Tenorio y Muñoz, 2011;
Puenayan, 2011). La metodología que se usó para recolectar la información fue mediante
diálogos, entrevistas y cartografía social realizadas a personas clave del Resguardo Indígena
del Gran Cumbal, los resultados encontrados mostraron que para esta comunidad, el cambio
climático los ha afectado mucho en sus actividades económicas como es el caso de la
agricultura, pues generalmente ellos se dejaban llevar por sus predicciones como es el cálculo
de las Kabañuelas para pronosticar el tiempo atmosférico los primeros 24 días del año, que
representaban los meses del año, de acuerdo a esto se realizaba la respectiva siembra de sus
principales productos. Sin embargo, este pronóstico se dejó a un lado, porque actualmente se
ve afectado por la variabilidad climática con veranos e intensas lluvias que no sólo afectan las
actividades económicas, si no, también la salud de la comunidad indígena. Por otro lado,
especies vegetales como el frailejón denominadas el pulmón de los páramos, en el territorio
indígena del gran Cumbal, están tendiendo a desaparecer ante las lluvias acidas y no sólo esta
especie vegetal, si no otras usadas en la medicina tradicional están desapareciendo a causa
del fenómeno del cambio climático. Asimismo, la comunidad indígena percibe que se está
destruyendo muchos ecosistemas, entre ellos sitios sagrados en dónde se realizaban cierto
tipo de rituales para comunicarse y armonizarse con la Pacha mama o madre tierra mediante
oraciones para que ella los proteja, los ayude y los fortalezca para vivir en ella. En cuanto a
usos y costumbres, la comunidad del Resguardo Indígena del Gran Cumbal tenía sus propias
formas de vestir como el uso del gorro, pantalón y ruana a partir de lana de oveja como
materia principal para tejer estas prendas. Sin embargo, debido a que el cambio climático ha
causado tiempos de verano muy extendidos y la temperatura se ha elevado ya no es posible
usar estos tipos de prendas porque “los días son muy calurosos” como lo menciona una de las
personas entrevistadas. Otros resultados encontrados de la percepción de la comunidad

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indígena del Resguardo del gran Cumbal es en cuanto a otra actividad económica que
realizaba anteriormente denominada la payacua o intercambio de productos, esta actividad
ya no se realiza porque se han realizado cambios o alteraciones en la agricultura, haciendo
que muchos productos que se cultivaban en clima cálido ahora también se cultive en clima
frio, consecuencia del cambio climático. Estos son algunos de los casos que podemos
mencionar en los que el cambio climático ha afectado a la comunidad indígena del Resguardo
del gran Cumbal percibiendo de una forma que ha cambiado totalmente sus usos y
costumbres como ellos lo denominan y en los que el gobierno y demás organizaciones deben
influir para tratar de parar este fenómeno que poco a poco está destruyendo el planeta.

Las industrias extractivas y los daños ambientales y sociales en el Perú

Fánel Victoria Guevara Guillen

En el Perú se vive el boom de las industrias extractivas, desde hace más de 30 años se ha
centrado la acumulación de rentas a partir de estas actividades y el crecimiento del país en su
PBI se da en base a la explotación de las minas, hidrocarburos, madera y agua que como bien
común tiene la amenaza de privatizarse y solo servir a los grandes intereses en desmedro de
las poblaciones menos favorecidas. Los ámbitos de estas industrias están ubicados en zonas
de la sierra rural andina donde las comunidades campesinas y pequeña agricultura subsisten
garantizando la canasta familiar nacional y la seguridad alimentaria; y en la selva amazónica
donde viven los pueblos indígenas diversos que practican su cultura que permite garantizar la
sobrevivencia del ecosistema amazónico y las aguas que recorren por sus ríos. Este ámbito
tiene el avance acelerado de las industrias extractivas que a pesar de contar con herramientas
de control ambiental obvian en muchos casos estas normas y se generan conflictos que han
llegado a niveles violentos en contra de estas comunidades, situaciones que no tienen
alternativas visibles y su situación se hace insostenible por la falta de atención del Estado a
sus necesidades básicas y su vida ciudadana. La ponencia aborda precisamente estos aspectos
que no solo dañan el ambiente sino la vida social de estas poblaciones, buscando alternativas
desde la propuesta de ellos mismos y de la sociedad civil.

Conflictos territoriales, agua y violencia social

Lucía Alicia Jiménez Hermoza


Ibett Yulina Rosas Díaz

Las huellas de la historia de los pueblos sin escritura como lo es de los pueblos indígenas
latinoamericanos, están marcados por hechos de violencia social, y el motivo ha sido entre
otros, por la usurpación de sus territorios en la escena contemporánea se suman la violación
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a sus derechos de vida, a la demanda del “buen vivir”. Sus comunidades son depredadas como
sus bosques y contaminadas sus aguas. Las respuestas a las demandas de sus derechos
negados, han sido la violencia social, a pesar que la legislación internacional (OIT- Acuerdo No.
169), Convenios Internacionales, y por supuesto la legislación peruana, caso que nos ocupa.
El burocratismo, la corrupción y la desidia de funcionarios públicos, generan e incentivan los
levantamientos de los pueblos nativos, no se aplican las leyes y menos la Carta Magna. No es
entonces porque faltan herramientas legales que los protejan. La globalización
contemporánea que acuña el neoliberalismo, ha permitido en materia de política, la
permisibilidad de la impunidad en contra de los pueblos indígenas. Casos como el “Flor de la
Frontera” en la región Cajamarca donde se produce la matanza de 16 mestizos andinos por el
pueblo aguarunas y el denominado “Baguazo” en la región Amazonas con los awajún y
wampís, a estos casos se suman los alzamientos de los pueblos quechuas y aymaras en
defensa de sus territorios y el agua, en las dos últimas décadas del presente siglo como en la
provincia de Espinar (Cusco) y “Tía María” región Arequipa. La antropología social y cultural
como la antropología jurídica en análisis interdisciplinario con el Derecho enmarcado en la
legislación ambiental, permite dar respuestas con el objetivo de eliminar la violencia social y
un acuerdo de armonía entre el Estado Nacional y los pueblos indígenas.

El modelo GOTA como herramienta para mejorar la Gestión Integrada de los


Recursos Hídricos

Víctor Jordi Alarcón Jibaja

El presente trabajo de investigación permitió desarrollar una metodología, denominada


modelo GOTA (Gestión y Ordenamiento Territorial del Agua), para determinar las zonas de
mayor vulnerabilidad a la inseguridad hídrica en una cuenca hidrográfica, con un ejemplo de
desarrollo y aplicación en la cuenca del Río Piura. El trabajo consta de 4 etapas, que son: la
recopilación y acondicionamiento de información, el diseño y aplicación del modelo, la
calibración y validación en campo, y el análisis de los resultados finales. La información
utilizada se obtuvo de dos principales fuentes, el diagnostico final de la cuenca Chira-Piura del
Programa Modernización (PMGRH) de la ANA; y la ZEE de la dirección regional de recursos
naturales del gobierno regional de Piura. Para el diseño del modelo se utilizó el Índice de
Pobreza Hídrica (IPH), que fue modificado y adaptado, a las condiciones y características de
las cuencas hidrográficas del Perú. El modelo consta de 30 indicadores divididos en 6 Sub
modelos de análisis, que son: recurso, acceso, capacidad, uso, ambiente y calidad; y el mapa
final integrado. La calibración y validación en campo se realizó para el distrito piloto de Buenos
Aires, donde se realizó un taller participativo con las autoridades distritales y comuneras, para
concientizarlas sobre los problemas entorno al recurso hídrico. Finalmente, se hizo un análisis
general sobre la situación a nivel de cuenca hidrográfica, y muy detallado a nivel local del
distrito de Buenos Aires. A nivel de cuenca, se determinó la zona con mayor vulnerabilidad
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ubicada en la parte central del Alto Piura, y zonas del Bajo Piura, en la provincia de Sechura.
El distrito con mayor vulnerabilidad corresponde a Rinconada Llicuar y el de menor grado de
vulnerabilidad, al de Piura. A nivel local, en el distrito de Buenos Aires, se obtuvo un
diagnostico detallado de cada indicador y una matriz FODA. El modelo GOTA sirve como una
herramienta base para ayudar a una gestión integrada y participativa del recurso hídrico, a
través de la difusión, capacitación y concientización de la situación actual a los usuarios y
autoridades pertinentes.

O tempo na comunidade indígena: o calendário e as práticas de manejo da


terra

Victoria Duarte Lacerda

A região amazônica abrange cerca de 50% do território brasileiro e abriga a maior


biodiversidade do planeta. Mais de 170 etnias indígenas vivem nesse bioma. No entanto, essa
região enfrenta muitas ameaças relacionadas ao agronegócio e grandes empreendimentos
econômicos. Para os povos tradicionais, como os indígenas, a noção de território é além de
espaço geográfico, é a identidade, o lugar de trabalho, residência e ritual. Nessa perspectiva,
é necessário identificar as relações existentes entre os grupos sociais, através do saber local,
e o meio ambiente, a fim de planear estratégias de manejo e gestão dos recursos. Estratégias
tais como o fortalecimento do manejo florestal comunitário e familiar e do manejo dos
recursos florestais não madeireiros. A fim de identificar as práticas de manejo do território,
bem como sua associação aos ciclos naturais, o estudo foi conduzido na comunidade indígena
Nova Esperança, dentro da Terra Indígena São Marcos, RR. Participaram do levantamento
moradores da comunidade, com representantes das três etnias que habitam a TI. Foi
construido um calendário socionatural a partir das informações fornecidas relacionadas às
praticas de manejo como agricultura, caça, pesca e coleta de recursos florestais;
etnoconhecimento e vulnerabilidades socioambientais. O calendário é uma técnica que
permite verificar ciclos e padrões regulares das atividades de uma comunidade ao longo do
ano, ou outros períodos que possam ser estabelecidos. O uso desta técnica se justifica pois as
comunidades tradicionais possuem uma relação intrínseca com o meio ambiente, nesse
sentido a cultura estaria diretamente associada aos ciclos naturais. As necessidades de
adaptação ao meio fazem que a cultura seja algo inseparável da sociedade e que, ao mesmo
tempo, o conceito de cultura pode ser substituído pelo de “socionatureza”, uma vez que a
cultura responde diretamente pelo campo que envolve as atividades da sociedade e sua
interação com a natureza.

A importância dos povos indígenas na preservação da bio-sociodiversidade

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Mauro Leonel
Beatriz Reimberg dos Santos Vieira
José Ulisses Bezerra de França
Marcela Schiavon Inocencio de Sousa

São conhecidas as possibilidades de aproveitamento dos conhecimentos indígenas e de outras


culturas tradicionais, no que tange a medicamentos, cosméticos, novos materiais, alimentos,
sementes e conservantes como produtos de mercado. Há décadas a prática do mercado vem
sendo a de apropriar-se desses bens culturais, registrá-los após adaptações e devolvê-los
como mercadorias protegidas por patentes, inclusive aos países onde tais conhecimentos
foram desenvolvidos. Frente à escala crescente da degradação social e ambiental, como na
Amazônia, surgiu um novo otimismo, o de que resultados financeiros de tais produtos
pudessem reverter às populações, modificando-se a legislação internacional e associando-se
cooperativas de produtores com a biotecnologia e as transnacionais. O mercado, o principal
adversário da preservação da bio e da sociodiversidade, seria assim convidado - empresas e
consumidores - a tornar-se aliado da manutenção da floresta em pé e da diferença cultural,
por exemplo, mediante certificados de origem. No entanto, são numerosos os entraves para
que essas populações possam abrir brechas no mercado, ou nos sistemas internacionais de
registro de patentes, frente à lógica da concentração de capital e tecnologia. Lógica essa que
se faz dominante no posicionamento do atual governo federal brasileiro, ao apresentar
abertamente o incentivo à morte social da cultura indígena através da livre exploração de
terras demarcadas, pelo agronegócio e tornando essa possibilidade cada vez mais distante.
Considerando as já conflituosas relações territoriais existentes, a parceria/autonomia que se
propõe atualmente pelo governo vai à contramão da possibilidade de se reverter os benefícios
econômicos às populações indígenas.

Impacto socioambiental y cultural en los andes centrales: el problema del


agua

Carlos Farfan Lobaton

Los andes centrales que configuran tanto la zona de la vertiente occidental, como las cuencas
interandinas y selva, presentan deterioros en su geomorfología, flora y fauna y afecta
directamente a las poblaciones actuales asentadas en estas zonas. Sin embargo, hay un área
de la memoria asociada a estos pueblos y está referido al paisaje arqueológico ancestral que
configura el cosmos o espacio simbólico de estos pueblos donde se plasma la esencia misma
del hombre como ser social que desde tiempos inmemoriales existe una apropiación humana
de la naturaleza. Este hecho lo consagra como el actor principal de la materialidad
arqueológica cuyos asentamientos fueron trasladadas a otros lugares por las reducciones
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toledanas en 1570. Bajo esta premisa, el crecimiento poblacional y el desarrollo de los pueblos
vienen utilizando los recursos de manera irracional transformando el paisaje con impactos
negativos. Uno de los recursos más importantes es el agua y está siendo impactado por las
sequias cíclicas debido a cambios climáticos y la contaminación del agua desde sus nacientes,
es decir, los lagos y ríos por acción del hombre actual. De este modo, las poblaciones han
entrado en un proceso de abandonar el campo, sumado a ello, el olvido de parte de las
autoridades gubernamentales por atender las demandas y mayor control de los impactos en
obras de desarrollo.

Propuesta de un sistema de semillas y saberes como herramienta de


diagnóstico de la agricultura chinampera en Xochimilco, Ciudad de México

Nury Galindo Marquina

El trabajo que aquí se presenta forma parte de un proyecto colectivo para apoyar la
reactivación de la agricultura campesina en la chinampería de Xochimilco, Ciudad de México.
Este trabajo busca identificar los elementos que favorecen o dificultan la viabilidad de un
sistema de semillas y saberes locales. Para lograr tal objetivo, se realizó un análisis de distintas
definiciones de un sistema de semillas, las cuales se basan en orientaciones filosóficas y éticas
distintas a los planteamientos de la agroecología, la cual busca la producción sustentable,
equitativa y socialmente justa de los cultivos campesinos, además del enfoque en favor de la
agricultura y la producción de semillas como un proceso coevolutivo. Por tanto, se elaboró
una herramienta de diagnóstico basada en una propuesta propia de un sistema de semillas y
saberes, la cual se construyó a partir de los enfoques de la agroecología (Méndez, Bacon y
Cohen, 2013), los bienes comunes (Ostrom, 2015; Calle, 2016) y las necesidades como se
definen en la teoría de desarrollo a escala humana (Max-Neef, 1993). Un sistema de semillas
y saberes se define como un conjunto de recursos, conocimientos, normas y relaciones que
permiten a un grupo social manejar y mejorar sus semillas de manera sustentable, decidir las
formas de consumo e intercambio de sus productos, y la manera de lograr la continuidad del
territorio y los saberes que las hacen posibles (Galindo, 2017). En este trabajo se realizaron
entrevistas y observación participante con dieciséis habitantes de Xochimilco. A partir de sus
testimonios y la herramienta de diagnóstico, se identificó a la proliferación de redes
clientelares y su imposición del modelo de agricultura industrial, a partir de los años ochenta,
como los principales factores que ponen en riesgo la viabilidad de la agricultura chinampera,
en el contexto del crecimiento urbano descontrolado y la ausencia de la participación
campesina en la gestión del agua en el Valle de México. El diagnóstico realizado ubica dos
momentos históricos diferenciados de la chinampería, así como las respuestas de las familias
campesinas ante las transformaciones que han minado la posibilidad de continuar
satisfaciendo sus necesidades por medio de la agricultura. Se propone fortalecer la confianza
con campesinos portadores de semillas y saberes, para formalizar un grupo de investigación-
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acción participativa, así como fomentar la conciencia sobre las potencialidades propias, para
crear alternativas al clientelismo. También se recomienda renovar los modos de intercambio
y consumo de los productos agrícolas, y las formas de trasmitir y recrear la tradición oral y los
saberes campesinos.

Doenças relacionadas ao acúmulo de resíduos sólidos na Aldeia Limão Verde


no Município de Aquidauana – MS

Elisangela Castedo Maria do Nascimento


Alberto de Oliveira Dias
Maria Helena da Silva Andrade

Atualmente, as embalagens descartáveis fazem parte da vida prática da sociedade do


consumo, mas isso causa o acúmulo de resíduos sólidos (lixo), que tem sido uma grande
preocupação inclusive nas aldeias indígenas. A Aldeia Limão Verde está localizada a 18
quilômetros do Município de Aquidauana/MS, onde residem aproximadamente 340 famílias
Terena que são consumidores de alimentos industrializados adquiridos nas cidades vizinhas.
Esse novo hábito tem causado acúmulo de resíduos sólidos na aldeia, que está atraindo
vetores causadores de doenças. Em função desse agravante nos propomos compreender a
relação existente entre resíduos sólidos e as doenças que atingem nossa comunidade assim
como: 1- Destacar a importância da limpeza do quintal 2- Pesquisar as doenças relacionadas
aos resíduos sólidos 3- Propor à comunidade a coleta de resíduos sólidos recicláveis junto aos
alunos, professores e colaboradores. A pesquisa foi desenvolvida com a comunidade da
aldeia, o grupo da cruz vermelha e alunos da Escola Estadual Indígena de Ensino Médio Pascoal
Leite Dias e teve caráter qualitativo, pois o propósito dessa pesquisa foi compreender a
relação existente entre resíduos sólidos e as doenças que atingem nossa comunidade. O
trabalho foi desenvolvido nas seguintes etapas: 1- Reunião com a comunidade para identificar
a quantidade de materiais descartados como resíduos sólidos no cotidiano, e as formas
corretas de descarte ou reaproveitamento destes resíduos. Identificação de doenças
relacionadas com o acúmulo de resíduos sólidos e por falta de coleta na comunidade indígena,
relatado pelos moradores da Aldeia Limão Verde, 2- Reunião com o grupo da Cruz Vermelha
para identificar as doenças que afetam a comunidade em função do descarte indevido dos
resíduos sólidos (lixo) e palestra aos alunos da Escola Estadual Indígena de Ensino Médio
Pascoal Leite Dias; 3- Busca de parceria com os estudantes da na divulgação dos efeitos do
descarte indevido de resíduos sólidos (lixo) e as doenças disseminadas por ele (lixo); 4-
Reunião com as mães da comunidade no Posto de Saúde, com apoio dos profissionais da
saúde com o objetivo de alertá-las de tais riscos à saúde de suas famílias; 5- Culminância do
Projeto na escola, com a distribuição de kits de prevenção contra a picada dos mosquitos,
junto com a apresentação de oficinas de reaproveitamento de resíduos sólidos (lixo) e formas
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corretas de descartes dos mesmos. O referido trabalho possibilitou identificar e divulgar as


doenças relacionadas ao acúmulo de resíduos sólidos. Os resíduos sólidos atraem os insetos
causadores de doenças como moscas, baratas, escorpiões e mosquitos assim como os ratos,
bactérias e vírus. As doenças estudadas e identificadas foram: tétano, cólera, dengue, hepatite
A, febre tifoide, diarreia, leptospirose, leishmaniose, dengue, zika e chikungunya.

Indicadores Naturales sobre las variaciones climáticas que utilizan los Pueblos
Indígenas de la Amazonía Peruana en cuatro Comunidades Nativas de Ucayali
y Madre de Dios

Oliverio Llanos Pajares

Se presentan los resultados de la investigación en las Comunidades Nativas de la Amazonía


peruana: Callería (Shipibo conibo), Mariscal Cáceres (Cacataibo) en Ucayali; Bélgica (Yine) y
Sonene ((Ese ́eja)) en Madre de Dios, sobre percepciones de efectos del cambio climático e
identificación de los indicadores naturales utilizados para predecir los cambios del clima, con
enfoque de género. Los comuneros no conocen el concepto “cambio climático”, pero sí
identifican variaciones en el clima y reconocen que el periodo estacional de lluvias, calor y frio
ha cambiado y ya no se corresponden con los meses estacionales de siempre. Perciben que
los cambios se manifiestan en mayor intensidad de calor o frío, lluvias más fuertes y
prolongadas, que afectan su salud, la reproducción de animales, el florecimiento de plantas y
la creciente de los ríos. Los hombres no encuentran para cazar y pescar; las mujeres tienen
problemas con el agua y la leña. Su relación con la naturaleza está marcada por afectividad y
misticismo, que define sus saberes tradicionales del comportamiento de flora, fauna, suelo,
agua, atmósfera, cuyas manifestaciones se respetan y se reconocen como predictores del
clima. Diferentes animales de tierra, agua y aire les anuncian con sus cantos, rugidos y ruidos,
cuando hará calor, lloverá o habrá friaje. Este conocimiento está en relación directa al ámbito
en que desempeñan sus roles de género: hombres, en el bosque y en el río; mujeres, en la
casa, la huerta y la comunidad.

A importância da Mata Ciliar para a conservação da nascente do Córrego do


Lima da Aldeia Lalima, Município de Miranda-MS

Avanildo Figueredo Patrocinio

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Elisangela Castelo Maria do Nascimento


Maria Helena da Silva Andrade

O córrego do Lima está localizado na Aldeia Lalima, que antes era utilizado pelos moradores
para se banhar e, pelas mulheres, para lavar roupas. As pessoas da comunidade pescavam
peixes como Hoplias malabaricus (traíra), Geophagus brasiliensis (carás) etc, mas hoje não é
mais possível fazer isso, pois com o passar dos anos o seu volume de água diminuiu, impedindo
tais atividades de serem realizadas. A nascente era suficiente para manter seu curso com água,
com o passar do tempo veio a sofrer impactos negativos como: desmatamento da mata ciliar
que dava a vida ao córrego e a diminuição da presença de alguns animais. Dessa forma, nos
propomos a compreender a importância da flora local que compõe a mata ciliar do Córrego
do lima da Aldeia Lalima – MIRANDA – MS para a conservação do mesmo, assim como 1-
Compreender a importância do córrego para a vida das espécies de animais da região; 2-
Discutir as ações que levaram à diminuição de água do córrego; 3- Identificar as principais
espécies nativas da região. A pesquisa foi desenvolvida em etapas com alunos do segundo ano
do Ensino Médio da Escola Estadual Indígena Prof. Atanásio Alves e teve caráter qualitativo,
pois o propósito dessa pesquisa foi compreender a relação existente entre as plantas e a
quantidade de água que circula no Córrego do Lima. 1 a etapa: Levantamentos Bibliográficos
sobre conceitos relacionados à ecologia da conservação; 2 a etapa: Pesquisa de campo, a fim
de realizar reconhecimento das espécies nativas da região: na pesquisa de campo foram feitas
observações de fatos e fenômenos que ocorrem dentro de seus nichos, cenários e ambientes
naturais de vivência; 3 a etapa: o material coletado foi levado para a sala de aula e através de
pesquisa em livros e internet, determinamos o nome popular das espécies de plantas e
classificação científica em nível de grupo taxonômico, visto que os alunos não possuem, no
ensino médio nível de aprofundamento suficiente para determinar toda a classificação. Após
a pesquisa consideramos que, o que influenciou diretamente na diminuição do volume de
água do córrego foi a devastação na microbacia hidrográfica da Aldeia Lalima. E as principais
plantas nativas encontradas foram os Bacuris, Angicos, Umbaúbas, Figueira de porte
pequenos etc. Atualmente, o que predomina em maior parte são as taboas e sabemos que
não são plantas nativas. Esperamos que as crianças tomem consciência disso e repassem essas
importantes informações para seus familiares sensibilizando-os a também focar na
conservação do córrego.

Sustentabilidade Indígena: reflexões de lideranças Kaingang da Terra Indígena


Inhacorá/Brasil—RS

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Adilson Policena
Alice do Carmo Jahan
Antônio Joreci Flores
Elaine Marisa Andriolli
Gabriela Manfio Pohia
Larissa Caroline Bernardi

O estudo tem como objetivo refletir acerca de práticas sustentáveis em território indígena
Kaingang, Terra Indígena (TI) Inhacorá, a qual pertence ao município de São Valério do Sul. A
TI, representa mais de 60% (Sessenta por cento) do território municipal, com cerca de 1.300
índios. Culturalmente, os Kaingang têm uma forte relação e conexão com a terra, o meio
ambiente que os envolvem. Na terra que os indígenas vivem, praticam o cultivo de plantas e
alimentos, protegem seus mananciais e florestas do pouco que restou no processo de
demarcação territorial. Defendem a auto-sustentabilidade em tempos tão difíceis. A pesquisa
está relacionada diretamente com a questão da sustentabilidade indígena. Nesse sentido, o
presente trabalho tem como objetivo fazer uma reflexão na perspectiva da liderança
Kaingang, na figura do Cacique, na perspectiva de práticas sustentáveis em sua aldeia. Trata-
se de um estudo qualitativo de cunho reflexivo, com dados obtidos da vivência do
protagonista Kaingang, liderança da aldeia, também da articulação de saberes e
conhecimentos adquirido como estudante universitário. As reflexões acerca da temática
sustentabilidade dos povos indígenas é uma questão emergente no país. Requer uma
articulação com políticas condizentes com a realidade as questões dos indígenas, cidadãos
brasileiros e agentes de seu processo cultural. Com práticas sustentáveis e condições nas TI,
pode ser um caminho para que os indígenas saiam na linha marginal e excludente que se
encontram. Nesse sentido, destaca-se a importância dos indígenas que possuem
oportunidades de frequentar uma Universidade, venham aliar os conhecimentos e
aprendizados culturais ao retornarem a sua TI. Os conhecimentos adquiridos devem ser
empregados em prol do seu povo, para a sua comunidade, levando questões de relevância
para mudanças que garanta a cidadania indígena, que sejam articuladores e defendam seus
territórios e a importância da realização de um desenvolvimento com sustentabilidade.

Wui'in Süpüla A'in (Agua para el Alma-Corazón): Perspectiva y estrategia


comunitaria para el equilibrio y la paz del territorio de 3 comunidades
indígenas Wayuu del resguardo Manaure, La Guajira

Jennifer Marcela López Ríos

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NOTA: se espera presentar resultados previos de esta primera etapa de recolección de


información, por lo cual al momento del envío de este resumen no se cuentan con resultados,
pero que se tendrán para el Congreso Introducción: La desnutrición infantil como problema
de inseguridad alimentaria y de salud pública es un fenómeno complejo, que aflige
principalmente a las poblaciones más vulneradas, entre ellas, las comunidades indígenas y que
requiere alternativas de solución integrales, una de ellas es el acceso a agua potable. Objetivo:
Analizar las perspectivas comunitarias relacionadas con la importancia del agua en el rescate
de las prácticas ancestrales y en la generación de la paz en el territorio indígena Wayuu de las
comunidades Taiguaicat, Pañarrer y Limunaka del Resguardo Manaure, La Guajira, con el fin
de fundamentar la implementación de una tecnología a bajo costo apropiada y sostenible para
el tratamiento y potabilización del agua. Metodología: desde una investigación participativa
basada en la comunidad, se ejecutarán dos fases que posibiliten el desarrollo de una
investigación aplicada. Una primera fase investigativa denominada
hermenéutica/comprensiva en la que se llevarán a cabo círculos o diálogo de saberes y
fotovoz. Una segunda fase de intervención denominada de acción/acompañamiento, en la
que se llevarán a cabo actividades de diseño, construcción y ejecución de una tecnología a
bajo costo y con la comunidad. Resultados esperados: se espera identificar y describir las
perspectivas, visiones y significados que tienen las comunidades alrededor del agua, como
aspecto fundamental para el rescate de sus prácticas ancestrales y la generación de paz en su
territorio. Así mismo, se espera que lo anterior posibilite la creación e implementación de una
tecnología a bajo costo, apropiada y sostenible para el tratamiento y la potabilización de la
fuente hídrica que suple a las tres comunidades indígenas, participantes del estudio.

Organização política e produtiva dos Tupinambá da Serra do Padeiro

Rutian do Rosário Santos

Neste estudo, realizado na aldeia Tupinambá da Serra do Padeiro nos municípios de


Buerarema e Una, trata-se de uma análise da composição renda e dos sistemas de produção
das famílias indígenas, baseado no método de “Análise Diagnóstico de Sistemas Agrários”,
comparando as rendas agrícola com rendas não- agrícolas e da organização política dos
Tupinambá da Serra do Padeiro.

Resíduos sólidos: consequências, desafios e soluções na terra indígena


tenharin

Angélisson Tenharin
Sasha Catarine da Rocha Soares

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A presente comunicação tem como objetivo analisar a chegada dos produtos industrializados
nas aldeias, as consequências da chegada dos produtos e seus impactos no ambiente e na
qualidade de vida dos indígenas. Constatou–se que os indígenas estavam descartando os
resíduos sólidos de forma inadequada, conforme a orientação dos agentes indígenas de
saneamento – AISAN. Conclui – se que é necessário que a Secretaria Especial de Saúde
Indígena (SESAI), Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (SEINFRA), Distrito
Sanitário Especial Indígena (DSEI) e o Conselho Distrital de Saúde Indígena (CONDISI)
responsável por fiscalizar, debater e apresentar políticas para o fortalecimento e melhorias na
saúde indígena em suas regiões.

Pressões socioambientais na Ilha do Bananal/TO, Brasil, terra dos “habitantes


do fundo das águas”

Maria do Carmo Pereira dos Santos Tito

A comunicação apresenta os resultados preliminares de uma pesquisa em andamento no


curso de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente, da
Universidade Federal do Tocantins. Trata de um estudo junto ao povo indígena Javaé,
habitantes da maior ilha fluvial do mundo: a Ilha do Bananal, formada pelos rios Araguaia e
Javaé, caracterizada pela a exuberante biodiversidade de exemplares da fauna, da flora e
povos tradicionais que compõem esta faixa de transição cerrado/floresta amazônica. O povo
Javaé concentram suas aldeias à margem direita do rio que leva o mesmo nome da etnia e se
autodenominam como “habitantes do fundo das águas”. São falantes de uma variação dialetal
da língua Karajá, pertencente ao tronco linguístico Macro-Jê. Embora os primeiros contatos
com os não-indígenas remontem ao século XVI, este povo permaneceu relativamente isolado
até o início do século XX, quando as pastagens naturais da ilha chamaram a atenção dos
criadores de gado, que paulatinamente começou a introduzir grandes rebanhos no seu
interior mediante o arrendamento de terras na reserva indígena. Cabe ressaltar que na
atualidade este povo tem demonstrado uma surpreendente capacidade para lidar com as
adversidades que o contato com a sociedade não-indígena lhes impuseram, buscando manter
aspectos fundamentais de sua cultura, dialogando com o que se apresenta como novo sem
desconfigurar totalmente suas essências. É na interface desse espaço de rica biodiversidade,
habitada por povos indígenas premidos pelo avanço da pecuária, mas que buscam preservar
a sua cultura, que esta pesquisa se insere. Busca-se compreender como o povo indígena Javaé
se relaciona e mantem seus saberes diante dos impactos socioambientais vigente. Discute-se
quais seriam os referenciais culturais dos Javaé diante das pressões socioambientais que os
afetam? Cabe ressaltar que do lado tocantinense da ilha existem grandes projetos de lavouras
irrigadas. Mais ainda, que há uma forte pressão econômica para que seja criada uma rodovia
perpassando a ilha, interligando Tocantins ao Mato Grosso e permitindo o escoamento de
grãos através da ferrovia norte-sul. A preocupação com esta temática foi sendo construída a
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partir de viagens de campo empreendidas ao longo dos últimos anos, onde foi possível fazer
observações iniciais sobre a forma peculiar de como este povo tradicional concebe o ambiente
à sua volta. É um pouco dessas experiências, das reflexões teóricas e dos debates que temos
travado em torno das questões que envolvem a pressão socioambiental na ilha do Bananal,
em particular frente a povo indígena Javaé, que pretendemos trazer de contribuição para este
Grupo de Trabalho.

Saberes y haceres en contextos de cambios ambientales globales en


comunidades altoandinas Peruanas

Maria Nilda Varas Castrillo

Esta ponencia forma parte de los resultados de un estudio que realizamos en la comunidad de
Cullhuay, en cuyo territorio se encuentran el glaciar de La Viuda, que viene retrocediendo
aceleradamente por los procesos de calentamiento global. Nos interesó, conocer los saberes
y haceres que construyen los comuneros a lo largo del tiempo que les permiten tener una vida
productiva y espiritual muy rica, en un contexto de gran variabilidad climática. Para ello
utilizamos el método cualitativo, la etnografía durante 2011 a 2016. En este trabajo
describimos las construcciones culturales que ellos tienen sobre el espacio, el clima y el tiempo
atmosférico en esta comunidad que ocupa la cuenca alta del rio Chillón, donde aún recurren
al recojo de señas biofísicas y astronómicas para predecir el comportamiento del tiempo en la
próxima temporada agropecuaria, así como realizan rituales a sus huacas, para que vengan
las lluvias, etc., y perciben la pérdida progresiva del hielo del glaciar. Haceres y saberes que se
confrontan no solo a los cambios climáticos globales sino también a las dinámicas
sociopolíticas y económicas que la sociedad peruana vive en los últimos decenios.

Agroecología, buen vivir y soberanía alimentar en los Andes peruanos:


Saberes tradicionales en la cadena productiva de la papa nativa

Berchman Alfonso Ponce Vargas


Doris Aleida Villamizar Sayago

La presente investigación parte de una visión que vincula los saberes tradicionales andinos,
teorizados recientemente en la categoría “buen vivir”, con la conquista de soberanía
alimentaria en las comunidades andinas mediante el uso y reproducción de lo que
denominamos “practicas agroecológicas milenarias” en los Andes peruanos. Tomando en
cuenta las características y potencialidades de las comunidades campesinas del sur andino en
el Perú, proponemos un análisis de la relación entre saberes ancestrales y soberanía
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alimentaria tomando como referencia empírica la cadena productiva de la papa nativa. En la


región Apurímac 1 70% de la producción de papa está destinada a la comercialización,
restando sólo 30% para el autoconsumo. Este dato contrasta con la información brindada por
la Línea de Base Nutricional del Perú (2014), según la cual 80% de los hogares de Apurímac
presentan algún grado de inseguridad alimentaria (Creed-Kanashiro, Astete Robillard, Abad
Arrue, Marin, & Bartolini, 2014) . La pregunta es: si 80% de las familias rurales de
Apurímac presentan inseguridad alimentaria ¿Por qué 70% de su producción es destinada al
mercado y apenas 30% para el consumo? Analizaremos la relación entre las diferentes formas
de cultivo de papas y la importancia que los saberes tradicionales desempeñan para la
reproducción de prácticas sustentables en la cadena productiva de la papa para garantizar la
soberanía alimentaria de la comunidad. La estrategia metodológica consiste en un análisis de
redes sociales 2 para construir la rede de colaboración en el cultivo de papa nativa. La red de
colaboración incluye a todos los integrantes de la comunidad y responde a la pregunta: ¿Con
quién usted coopera en la producción de papas nativas? Analizaremos la estructura de la red
así como la posición que algunos comuneros ocupan en ella. La información será recolectada
mediante cuestionarios realizados durante los meses de trabajo de campo. Los cuestionarios
recopilarán la información necesaria para construir las redes formuladas en la presente
investigación, datos que serán procesados en el programa informático UCINet (BORGATTI,
EVERETT e JOHNSON, 2013) .

Direito à cidade e Bem Viver: uma revisão conceitual crítica a partir da


perspectiva epistemológica indígena

Ellen Ribeiro Veloso

Introdução: O presente estudo propõe o exercício de reconstrução do conceito de direito à


cidade a partir da América Latina e adotando como termo substancialmente equivalente o
paradigma do Bem Viver, próprio dos saberes e epistemologias dos povos tradicionais da
região. Para tanto, a proposta reclama a releitura da concepção de direito à cidade forjada no
bojo do pensamento eurocêntrico e disseminada globalmente nas últimas décadas – por
razões colonizantes ou não –, ainda que assimilada de formas distintas, destacando o modelo
do Bem Viver para pensar a apropriação do espaço urbano – e do território, como um todo –
segundo os modos de ser e de viver dos povos indígenas e comunidades tradicionais. Como
ponto de partida, serão destacadas as convergências e distanciamentos entre as concepções
do “direito à cidade”, expressão cunhada por Lefebvre na obra Le Droit a la Ville, e do “Bem
Viver”, proposta surgida recentemente na América Latina em contraposição à irracionalidade
do capitalismo. Por derradeiro e sob a pretensão de uma contribuição decolonial, aponta-se
o paradigma do Bem Viver como mais adequado para pensar a reivindicação à cidade no
contexto do Sul Global, levadas em consideração as características e especificidades históricas
que marcam a região cuja ocupação original remonta a comunidades autóctones. 3.
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Enquadramento teórico O “direito à cidade” é expressão cunhada na obra seminal de Henri


Lefebvre, publicada em 1968, Le Droit à la Ville. A tônica da expressão inaugural revela-se
como um chamamento à apropriação do espaço urbano e à preponderância de seu valor de
uso (a cidade, a vida urbana, o tempo urbano) sobre seu valor de troca (os espaços comprados
e vendidos, o consumo dos produtos, dos bens, dos lugares e dos signos). Exalta-se a cidade
como obra, lócus destinado à Festa e aos encontros. A preocupação com o urbano e seu valor
ressai em um contexto de consolidação do capitalismo industrial, de aprofundamento das
relações de produção calcadas na exploração, de subtração da capacidade criadora.
Urbanização e industrialização são, portanto, os processos a ensejar as reflexões em torno do
direito à cidade. Lefebvre é enfático na caracterização deste direito, associando-o não à cidade
arcaica, mas à vida urbana, à centralidade renovada, aos locais de encontro e de trocas, aos
ritmos de vida e uso do tempo que permitem a fruição desses espaços. De apreensão e
disseminação recente (a considerar que Le Droit à la Ville só foi traduzido para o inglês no final
dos anos 1990), o conceito de direito à cidade merece ser revisitado em suas origens para uma
melhor compreensão e questionamento do alcance que seu conteúdo encerra. É de se
destacar na obra lefebvriana, por exemplo, a referência à autogestão como forma de
participação real e ativa (idem, p. 104) e à aldeia como forma social admirável, obra por
excelência da práxis e da civilização (idem, p. 81). Importante ter em mente, contudo, que o
urbano a que Lefebvre se refere circunscreve às sociedades e civilizações ditas “ocidentais”
que partem da cidade arcaica (grega ou romana), a qual geralmente resulta da reunião de
várias aldeias ou tribos estabelecidas em um território, cuja composição incluía escravos e
estrangeiros subtraídos da propriedade comunal. Por outro lado, há uma clivagem deliberada
e reforçada entre cidade e campo, urbano e rural – ainda que a relação urbanidade-ruralidade
persista ao longo do tempo – e que chama a atenção para a exaltação da forma de organização
social característica da primeira em detrimento da segunda. Percebe-se um esforço em
delinear um direito voltado à classe operária, ao proletariado, e relegar ao esquecimento tudo
quanto se afigure bucólico. Daí afirmar que: O direito à cidade não pode ser concebido como
um simples direito de visita ou de retorno às cidades tradicionais. Só pode ser formulado como
direito à vida urbana, transformada, renovada. Pouco importa que o tecido urbano encerre
em si o campo e aquilo que sobrevive da vida camponesa conquanto que “o urbano”, lugar de
encontro, prioridade do valor de uso, inscrição no espaço de um tempo promovido à posição
de supremo bem entre os bens, encontre sua base morfológica, sua realização prático-
sensível. O que pressupõe uma teoria integral da cidade e da sociedade urbana que utilize os
recursos da ciência e da arte (LEFEBVRE, 2001, p. 117-8). É em torno deste ponto que a crítica
e proposição deste trabalho se constrói. O direito à cidade atualmente em voga, reclamado
tanto por movimentos sociais quanto por governos, trazido à discussão com grande ênfase na
academia, nos organismos internacionais, nas organizações privadas, apesar das distintas
interpretações recebidas, carrega o traço inicial da ideia de cidade comum à realidade e à
experiência histórica europeia – às quais está conforme –, mas pouco agrega das regiões
outras nas quais se discute e reivindica o conceito. E precisamente porque o construto “direito

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à cidade” impregna-se de carga revolucionária, é que se faz necessária uma episteme, um


paradigma adequado ao conceito que irrompa com saberes colonizantes, automaticamente
transferidos ao Sul global, sem qualquer consideração às particularidades das vivências e dos
povos da região. Nesse sentido, Maria Lorena Zárate (2011) observa que os valores e
propostas contidos pelo direito à cidade guardam consonância em vários pontos com as
cosmovisões milenares do Bem Viver (ou buen vivir/vivir bien), também em ascendência nas
últimas décadas. E ressalta que “el buen vivir y el derecho a la ciudad destacan el rol
fundamental del Estado (en sus distintos níveles) en la redistribución y en la construcción de
comunidades más justas y equitativas (garantías normativas, capacidad institucional, recursos
públicos), a la vez que enfatizan la relevancia y el derecho a fortalecer procesos
autogestionarios y de construcción de poder popular”. Direito à cidade, assim, engloba mais
que o urbano propriamente dito – demanda um olhar mais integral e completo ao território e
aos lugares em que vivemos. Enquanto Lefebvre (2001) assevera que “a reivindicação da
natureza, o desejo de aproveitar dela são desvios do direito à cidade” e que “a necessidade e
o 'direito' à natureza [o] contrariam” (p. 117), o paradigma do Bem Viver reclama o direito à
natureza como condição básica. E dialogando com as categorias analíticas propostas pelo
autor francês, pode-se afirmar que “na economia do Bem Viver, o valor de uso está acima do
valor de troca, invertendo a lógica capitalista que justifica a acumulação” (FEITOSA, 2015, p.
12). O paradigma do Bem Viver é uma das contribuições éticas dos povos ameríndios para a
humanidade. No Equador é denominado Sumak Kwasay, em língua Quéchua, e na Bolívia
Suma Qamaña, em língua Aymara. Consiste em uma perspectiva que irrompe como uma
racionalidade libertadora e embasada na reciprocidade e solidariedade entre as pessoas e
com a natureza, distinta da racionalidade instrumental dominante, desafiando, portanto, a
lógica capitalista em sua etapa atual de intensificação do desemprego estrutural, consolidação
da financeirização do capital, ampliação de seu domínio e das bases de acumulação por meio
dos desalojamentos, crescente exploração irracional dos recursos naturais etc. (Pimentel,
2014). Para Fernando Haunacuni Mamani (2010), indígena aymara boliviano, o conceito de
viver bem é concebido por todos os povos originários em sua cosmovisão, através de
expressões distintas, mas compartilhando aspectos comuns. Em síntese, Bem Viver ou Viver
Bem é compreendido como “la vida en plenitud. Saber vivir en armonía y equilíbrio; en
armonía con los ciclos de la Madre Tierra, del cosmos, de la vida y de la historia, y en equilíbrio
con toda forma de existencia en permanente respeto” (MAMANI, 2010, p. 49). Bem viver
implica saber viver e conviver, perceber-se integrado com os demais e com a natureza,
compreender que não se causa dano a uma espécie sem que isso afete o conjunto. David
Harvey (2014), avançando nos estudos sobre o direito à cidade, pontua a necessidade de uma
crítica sistêmica, apresenta uma visão mais holística de sua abrangência – mais próxima,
portanto, da perspectiva apontada pelo Bem Viver – e constata que a proteção neoliberal aos
direitos da propriedade privada e seus valores torna-se uma forma hegemônica de política.
Para o autor, (...) a questão do tipo de cidade que queremos não pode ser separada da questão
do tipo de pessoas que queremos ser, que tipos de relações sociais buscamos, que relações

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com a natureza nos satisfazem mais, que estilo de vida desejamos levar, quais são nossos
valores estéticos. O direito à cidade é, portanto, muito mais do que um direito de acesso
individual ou grupal aos recursos que a cidade incorpora: é um direito de mudar e reinventar
a cidade mais de acordo com nossos mais profundos desejos (p. 28). Exemplo da subsunção
do direito à cidade ao paradigma do Bem Viver é a Constituição da República do Equador
(2008), que elenca o direito à cidade entre os direitos que integram o rol dos direitos do bem
viver, expresso nos seguintes termos: Art. 31- Las personas tienen derecho al disfrute pleno
de la ciudad y de sus espacios públicos, bajo los principios de sustentabilidad, justicia social,
respeto a las diferentes culturas urbanas y equilíbrio entre lo urbano y lo rural. El ejercicio del
derecho a la ciudad se basa en la gestión democrática de ésta, en la función social y ambiental
de la propiedad y de la ciudad, y en el ejercicio pleno de la ciudadanía. A assimilação do
postulado do Bem Viver, sua transposição à coexistência nos espaços urbanos, aos dispositivos
legais que conferem legitimidade à sua busca e consecução podem prenunciar a “nova
civilização transmoderna”, “transcapitalista, para além do liberalismo e do socialismo real”
vislumbrada por Enrique Dussel em suas 20 Teses de política (DUSSEL, 2007). Nelas, Dussel
enfatiza como o ser humano é originalmente comunitário e que este querer-viver em
comunidade traduz a “vontade-de-vida” partilhado pela humanidade. Para o autor, [a]
“vontade-de-viver” é a essência positiva, o conteúdo como força, como potência que pode
mover, arrastar, impulsionar. Em seu fundamento, a vontade nos empurra a evitar a morte, a
adiá-la, a permanecer na vida humana. Para isso, o vivente deve deter ou inventar meios de
sobrevivência para satisfazer suas necessidades. (DUSSEL, 2007, p. 26). Apresentados esses
apontamentos, faz-se imperativo o seguinte questionamento: há um direito à cidade passível
de ser reclamado, refletido, teorizado que não perpasse a pauta crucial do acesso e uso de
recursos naturais como a água, bem natural imprescindível à vida humana e,
consequentemente, à vida urbana? Há um direito à cidade que resista à ausência de
convivência harmoniosa com a Natureza? Por sua vez, desenvolvo este raciocínio partindo da
negativa às questões postas. Se o Lefebvre de Le Droit a la Ville aposta na clivagem entre
cidade e campo, sobrelevando o elemento urbano em disjunção da natureza e do rural, o de
Espaço e Política se mostra mais engajado em problematizar a relação entre produção e
distribuição e, ainda que indiretamente, repensar a dissociação outrora reforçada, destacando
o surgimento de novas penúrias decorrentes da perda da natureza dos “elementos”: (...) os
bens anteriormente abundantes tornam-se raros. Desigualmente, é claro. A água, por
exemplo. Em muitos lugares, é preciso racioná-la; as reservas subterrâneas se esgotam, o
lençol freático abaixa; ou, mais ainda, as águas, mesmo aparentemente protegidas, são
poluídas. Em algumas regiões é preciso produzir água tratando a água do mar. Nos nossos
países, a água rapidamente se transforma num produto industrial (águas minerais, águas de
mesa), pois as águas fornecidas pelos meios habituais deixaram de ser propícias ao consumo.
(LEFEBVRE, 2008, p. 122). Na América Latina, torna-se cada vez mais frequente a ocorrência
de conflitos socioambientais, destacadamente em decorrência da atual inflexão extrativista ,
com notória mobilização e engajamento da população local na defesa dos recursos

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ambientais, da biodiversidade e do meio ambiente. Trata- se de lutas assentadas numa


linguagem comum de valoração da territorialidade, resultante do encontro entre matriz
indígena-comunitário e discurso ambientalista, enquadradas no que se denomina “giro
ecoterritorial” (SVAMPA, 2012) ou “giro biocêntrico” (GUDYNAS, 2014). De modo geral, a
conflitividade social na região é crescente em intensidade e extensão, abrangendo desde os
movimentos socioambientais e indígenas aos urbanos e sindicais (VILLEGAS, 2014). No Brasil,
a maior parte dos conflitos relacionados a injustiça ambiental diz respeito à monocultura,
mineração, represas e hidrelétricas, e, consequentemente, registra-se um incremento nos
conflitos relacionados com a água (VILLEGAS, 2014). Mais que uma demanda local, o direito
ao acesso e uso da água pela população perpassa todos os espaços habitados, do rural ao
urbano. Nesse sentido, a articulação entre o bem viver e as cidades passa necessariamente
pela reivindicação do controle dos recursos naturais, a destacar os recursos hídricos, o que
implica em romper com estruturas neoliberais consolidadas no bojo da geopolítica da
economia-mundo capitalista. Um exemplo desta ruptura e da consagração do Bem viver como
paradigma alternativo ao modelo estatal vigente é o evento político conhecido como Guerra
da Água, ocorrido na Bolívia, no ano 2000. O conflito relacionado aos recursos hídricos
eclodido em Cochabamba, considerado um ícone mundial do discurso anti-globalização,
provocou uma mobilização popular articulada entre setores urbanos e rurais em oposição às
políticas da empresa transnacional Bechtel, que constituiu o consórcio “Aguas del Tunari”.
Foram vários dias de duros enfrentamentos que pararam toda a cidade e resultaram na
estatização do referido consórcio multinacional. Consoante relata Ibanez (2013), “se
considera a esta victoria como la primera derrota de las políticas neoliberales y la visibilizacion
de la crisis de esse modelo estatal” (p. 244). Dezessete anos depois, uma nova “guerra da
água” eclode com algum destaque midiático, agora no Brasil, no município de Correntina-
Bahia. Brasil e Bolívia, cabe destacar, são países cuja matriz econômica adotada tem apostado
no incremento da vocação histórica ao mercado de commodities minerais e agrícolas,
despontando entre os países latino-americanos quanto ao aumento geral da participação de
produtos primários nas exportações (LOSEKANN, 2016). Em 11 de novembro de 2017, mais de
10 mil habitantes foram às ruas da cidade do extremo oeste baiano contra a privatização das
águas do Rio Arrojado, em acelerado esvaziamento pela exploração do agronegócio. Dias
antes um grupo de agricultores familiares ocupara a fazenda Igarashi, pertencente ao Grupo
Igarashi, que obteve autorização para captação de água para 32 pivôs de irrigação, que seria
retirada diretamente do referido rio. Ressalte-se que os conflitos pela água na região não são
atuais: desde a década de 1970 as violações e expansão desenfreada do agronegócio tem sido
denunciadas. Em 2000, inclusive, a população local se mobilizou para desativar um canal que
desviaria as águas do Rio Arrojado e em 2015 um ato com milhares de moradores tentou
impedir as outorgas de captação conferidas ao Grupo Igarashi. Em um cenário de constante e
crescente crise hídrica no Brasil – em março de 2017 o país já contabilizava 872 cidades com
reconhecimento federal de situação de emergência causada por um longo período de
estiagem5 –, em que 72% da água consumida é usada na irrigação agrícola, 11% é destinado

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ao consumo animal e apenas 10% serve ao abastecimento humano (destes, 9% é consumido


nas cidades), segundo dados da Agência Nacional de Águas (CERQUEIRA, 2015), uma mudança
de paradigma que efetivamente se oponha a irracionalidade capitalista e que (re)aproxime a
população urbana à natureza, que lhe é vital, tanto é necessária quanto urgente. Afinal, como
compreender o crescimento exponencial de episódios reiterados de falta d’água em
municípios cujo país detém a maior rede hidrográfica do planeta, com mais de 8.500.000
quilômetros quadrados? Como falar em direito à cidade sem perpassar a discussão sobre a
manutenção das condições basilares de existência nos centros urbanos ou em qualquer
comunidade humana? Como enfrentar o risco iminente da total escassez de água potável sem
voltar às suas causas, das quais se destaca, no caso brasileiro, o acelerado processo de
desmatamento de biomas como o Cerrado, a eliminação da cobertura vegetal do solo e seu
envenenamento fomentado pela aposta em um modelo de ‘desenvolvimento’ econômico
baseado na expansão das commodities agrícolas?

Manejo Forestal de Bosques Comunales: Estrategia para la Mitigación y


Adaptación al Cambio Climático en Comunidades Nativas Amazónicas del
Perú

Yolanda Ramírez Villacorta

La Amazonia peruana sufre una deforestación aproximada de 200 a 300 mil hectáreas por año,
generando degradación de bosques, erosión genética, pobreza y liberación de carbono,
contribuyendo a la crisis climática. Las poblaciones indígenas dependen del bosque para
satisfacer la mayoría de sus necesidades de subsistencia material y espiritual. Con la
destrucción de los bosques la mujer es la más afectada porque aumenta su tiempo de trabajo,
disminuye sus ingresos, descuida su salud y queda sola cuando el esposo migra a la ciudad a
buscar trabajo. Desde el 2000, la ONG-AIDER, aplica, bajo principios de interculturalidad y
equidad de género, la propuesta de Manejo Forestal Sostenible para un manejo eficiente de
los recursos de los bosques comunales: maderables, no maderables, suelos y cuerpos de agua,
obteniendo beneficios económicos, mejorando condiciones de vida, mitigando el cambio
climático y, con la tecnología del manejo forestal, adaptarse a los efectos del CC que impactan
los pueblos. En 18 años de labor las comunidades nativas de Ucayali, con participación de
hombres y mujeres, en igualdad de oportunidades, aprovechan sosteniblemente sus recursos,
con planes de manejo, articulados a cadenas productivas y de valor, con rentabilidad
económica, articulando conservación ambiental y desarrollo sostenible. Destacamos que
Comunidades Nativas Shipibo Conibo, con manejo de sus bosques tienen certificación forestal
y un proyecto REDD+, siendo las primeras y únicas en el Perú

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ST 52 | Estudios relativos a pueblos indígenas en América Latina: condiciones


de producción, circulación y características

Soraia Sales Dornelles (Universidade Federal do Maranhão – UFMA, Brasil); Claudia Salomon-
Tarquini (Universidad Nacional de La Pampa, Consejo Nacional de Investigaciones Científicas
y Técnicas – CONICET, Argentina); Maria Regina Celestino de Almeida (Universidade Federal
Fluminense – UFF, Brasil).

Los estudios académicos relativos a pueblos indígenas en América Latina han crecido de manera
constante durante las últimas décadas. A la par, existen diversos abordajes sobre las formas en que se
ha venido produciendo este conocimiento, aunque en varias ocasiones estos estudios guardan pocas
conexiones entre sí. En este simposio temático nos proponemos aportar a la discusión entre
especialistas de distintas disciplinas y orientaciones acerca de las características, condiciones de
producción y circulación en estos estudios académicos, y avanzar hacia comparaciones intra e inter-
regionales. Se espera recibir comunicaciones acerca de temas tales como la presencia y ausencia de
estudios indígenas en las historiografías y antropologías nacionales, la evolución de la etnohistoria y
sus distintos significados en diferentes regiones, el crecimiento de estudios indígenas en disciplinas
como derecho, salud, sociología, demografía, educación, entre otras, las características metodológicas
de estos abordajes, sus condiciones de producción y circulación, las relaciones entre los estudios
académicos y las agendas de las comunidades indígenas, entre otros aspectos.

História Indígena no Brasil: os desafios das conexões historiográficas

Maria Regina Celestino de Almeida

Embora nas últimas décadas os estudos históricos sobre os índios no Brasil tenham se
ampliado consideravelmente, ainda são poucos os historiadores especializados em outros
temas que incluem os índios em suas análises. Alguns capítulos sobre os índios já vêm sendo
incluídos em coletâneas abrangentes que tratam de diferentes temas da história do Brasil, a
exemplo do que já acontece na historiografia sobre América espanhola, há algumas décadas.
Isso aponta para lentas mudanças no sentido de valorizar a presença indígena em nossa
Historiografia, porém a idéia de separação entre uma história indígena e outras histórias ainda
se mantém e constitui, a meu ver, um desafio para os historiadores. Afinal, se os avanços
historiográficos nas diversas áreas da história têm contribuído para repensarmos as histórias
dos índios, estas últimas vão, cada vez mais, produzindo conhecimentos que possibilitam
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repensar vários outros temas. Esta comunicação visa a discutir essas questões, enfocando
especialmente os avanços e os desafios dos diálogos e conexões entre os campos da história
indígena, da história da escravidão africana e do pós-abolição que, como afirmou John
Monteiro, equivocadamente constituíram-se como áreas de estudos separados. Além de
compartilharem os mesmos referenciais teórico-metodológicos e conceituais, as pesquisas
mais recentes sobre índios e negros no Brasil e na América, tanto no campo da História quanto
da Antropologia, têm demonstrado as intensas interações entre eles, o que aponta para a
importância do estreitamento do diálogo entre os especialistas e de uma maior articulação
entre suas histórias.

Saberes indígenas Chiquitano: reflexões e interlocuções para aplicabilidade


da Lei 11.645/08 no curso de História e PIBID UNEMAT

Marli Auxiliadora de Almeida


Francelina Chué Poquiviqui
Maria Lucélia Massavi

Estudos sobre os povos indígenas na América Latina que priorizem as condições de produção,
circulação e características históricas e étnico- culturais são cada vez mais necessários num
atual contexto político brasileiro de diminuição de direitos indígenas, tais como, o direito à
educação das/nas relações étnico-raciais. Nessa perspectiva, esta comunicação objetiva trazer
à cena, a história e as relações étnico-raciais, culturais e educacionais dos povos indígenas
Chiquitano do estado de Mato Grosso (MT) por meio de narrativas de descendentes desse
grupo étnico, graduandos do curso de Licenciatura em História e pesquisa de participantes do
Programa de Iniciação à Docência - PIBID de História da UNEMAT, que investigam a
interlocução do currículo do curso de História com os saberes dos povos Chiquitano, presentes
na formação da América Portuguesa, deste a colonização da parte central da América do Sul,
onde hoje, localiza-se a cidade de Cáceres/MT (Brasil), em interface com a aplicabilidade da
Lei 11.645/08. A partir do objetivo proposto, os procedimentos teórico-metodológicos da
História Indígena e da História e Memória/oralidade, aproximam as discussões do campo da
História, Antropologia e Educação, em conexão com Legislações, Diretrizes e Orientações
Curriculares (Nacional e Estadual) e o Projeto Pedagógico de Curso de Licenciatura em História
(PPC) que visa a Formação de Professores de História para atuar na Educação Básica. Espera-
se como resultado desta pesquisa, em andamento, o surgimento de reflexões sobre a história
de protagonismo e interação dos indígenas Chiquitano na composição do atual estado de
Mato Grosso, resultante da configuração colonial de disputa fronteiriça entre as coroas
portuguesa e espanhola, formando ao longo do Oitocentos parte do estado luso-brasileiro,
com características pluriétnicas. Além de produções didático-históricas dos saberes desse

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grupo étnico que demonstrem práticas culturais, políticas e educativas de pertencimento no


currículo acadêmico e nas atividades pedagógicas do PIBID de História na educação básica.

Motirõ: pesquisa do tipo “Estado da Arte” sobre comunicação indígena no


Brasil

Cleymenne Cerqueira Barbosa

Essa comunicação traz um levantamento, realizado por meio de pesquisa do tipo Estado da
Arte, sobre a produção acadêmica a respeito da “Comunicação indígena no Brasil”,
desenvolvida no âmbito de programas de Pós-Graduação em Comunicação oferecidos por
faculdades e universidades brasileiras. A metodologia utilizada foi a revisão sistemática de
dissertações e teses cujos temas centrais relacionassem os povos indígenas e a comunicação
na perspectiva do direito à comunicação. Entre 1.317 produções catalogadas nos bancos de
dados da Capes, Ibict, Scielo, Google Acadêmico e Repositório da UnB, foram encontradas 32
pesquisas que abordam os processos de comunicação de protagonismo indígena dentro do
contexto de produção midiática de comunidades indígenas no país. Para a pesquisa, interessa
mapear os trabalhos que tratem da produção de informação e conteúdos midiáticos pelos
povos indígenas. No entanto, não se pode deixar de lado o fato de que grande parte das
produções encontradas tratem, de maneira geral, da interface comunicação e povos indígenas
sob a perspectiva da representação destes na mídia ou da recepção que as comunidades
fazem dos produtos midiáticos.

Coleções indígenas em museus universitários e pesquisa – da representação


para a autorrepresentação e os processos colaborativos

Marília Xavier Cury

Os museus universitários se caracterizam pela sua estrutura. Não fogem do modelo de


curadoria inerente ao museu, mas o contexto acadêmico traz outros elementos que os
definem e apontam para sua dupla missão, universitária e preservacionista. A musealização,
assim, tem em si outros elementos para sua constituição. As coleções indígenas em museus
universitários trazem consigo o estigma do seu momento de formação, os paradigmas dos
campos antropológicos e museais vigentes à época da musealização. Nos anos recentes vimos
a cuidar da descolonização da antropologia e da museologia e os museus universitários tem
esse novo papel a cumprir, descolonizar-se. O revisitar de coleções, e aqui particularizo as
compostas por objetos indígenas, é uma das estratégias descolonizadoras, novos paradigmas
sobre coleções que representam outros tempos, mas para tanto a participação indígena direta
se torna essencial, pois não se trata de outro estudo, mas o trazer para a atualidade e a
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construção de novos sentidos às coleções deve contar com os indígenas, não como
informantes, mas como sujeitos ativos, seja na requalificação das coleções de objetos de seus
antepassados, seja na curadoria de exposições, substituindo o sujeito nominal “eles” por
“nós” e as representações pelas autorrepresentações. Os processos colaborativos sustentam
iniciativas que permitem a participação constitutiva dos indígenas no museu, como sustentam
a elaboração de exposições museológicas. Tantos as coleções requalificadas pelos indígenas
quanto a mudança de perspectiva da representação nos museus é que queremos discutir. Há
algumas questões em pauta: a colaboração como estratégia de trabalho; a formação da
colaboração; a negociação entre os profissionais da instituição e os indígenas; o equilíbrio de
forças e de poder que se dá no museu universitário; os novos papeis a serem desempenhados
pelas pesquisas antropológica e museológica; a curadoria compartilhada; a representação
como problemática chave nos museus universitários na era da descolonização.

Um novo lugar para os povos indígenas na historiografia do século XIX


brasileira

Soraia Sales Dornelles

A segunda geração de historiadores e antropólogos identificados com as preocupações


teórico-metodológicas da Nova História Indígena produziu, em conjunto, elementos capazes
de recolocar o papel das populações indígenas na experiência imperial do Brasil. A
reformulação de problemas foi marcante como estratégia destes pesquisadores que mostram
ser inquestionável a relevância central de tais atores na construção de políticas imperiais
relativas à terra, trabalho, colonização, atuação militar e, sobretudo, construção identitária e
cultural. Esta comunicação propõe tratar desse movimento de produção de conhecimento
sobre os indígenas nos Oitocentos em contraponto com outras modificações da historiografia
brasileira sobre o período, sobretudo as da história social da escravidão, bem como de outras
experiências históricas e historiográficas latino-americanas. De modo geral, a exclusão
histórica experimentada até recentemente e a precária incorporação dos resultados das novas
pesquisas em narrativas mais gerais sobre o passado tem como legado não só a exclusão do
passados indígena, mas dão força a discursos e distorções no presente.

Uso de álcool entre povos indígenas brasileiros: uma revisão da literatura

Amanda Christina S. Figueiredo


Fernanda de Sousa Reis
Isabela Ferreira Valadares
Sumekwa Rodrigues Xerente

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O consumo de álcool entre as populações indígenas no Brasil é um tema que ganhou, nos
últimos anos, grande visibilidade e, desse modo, o objetivo do presente trabalho é mapear os
estudos acerca do alcoolismo entre povos indígenas no território brasileiro. Para isso, foi
realizada uma revisão da literatura acerca dos estudos sobre uso de álcool entre esses povos
no período entre 2006 a 2018 nas bases de dados Scielo, no portal de Periódicos Eletrônicos
de Psicologia (PePSIC) e na Biblioteca Virtual em Saúde - Psicologia Brasil (BVS-Psi Brasil).
Foram utilizadas as palavras-chaves “indígenas” and “álcool” para filtrar as publicações. Após
a leitura dos títulos e resumos, foram encontrados 09 artigos que se incluíam nos critérios
propostos. Tanto os autores quanto as instituições de afiliação estão são diversos, no entanto
dois autores aparecem com dois artigos cada: Silvana Carneiro Maciel e Maximilliano Loiola
Ponte de Souza, a Universidade Federal da Paraíba e o Instituto Leônidas e Maria Deane da
Fundação Osvaldo Cruz. Todos os artigos incluídos se caracterizam como pesquisas
exploratórias e foram agrupados em 4 categorias temáticas: 1) acidente, violência e
alcoolismo; 2) uso do álcool, suas representações sociais e seus aspectos psicológicos; 3)
instrumentos de avaliação do uso de álcool entre povos indígenas; 4) modos de beber e
processos de alcoolização entre povos indígenas. As produções literárias encontradas
concentram etnias localizadas, majoritariamente na região Norte e Nordeste, todavia, grande
parte dos trabalhos não especificam etnias. Por fim, destaca-se a escassez de pesquisas que
produzem novos conhecimentos acerca do alcoolismo entre os povos indígenas, considerando
as especificidades das culturas das diversas etnias existentes no país, sinalizando assim a
necessidade de serem desenvolvidos mais estudos, principalmente no que tange a relação
entre o alcoolismo e a saúde dos povos indígenas.

Suicídio entre indígenas brasileiros: revisão narrativa

Alex de Andrade Moura


Amanda Cecília Correia Silva
Jéssica Milena Lopes Pereira
Ticiano Pedro Marcolan

O suicídio indígena, apesar de ser pouco estudado, ocorre em algumas etnias mais
frequentemente que entre não-indígenas e é importante que seja alvo de pesquisas,
principalmente por envolver outros contextos culturais e diferentes concepções sobre a
morte. Este trabalho teve como objetivo geral realizar uma revisão integrativa acerca do
suicídio entre os povos indígenas do Brasil. Foram selecionados 09 artigos indexados nas bases
de dados Scielo, BVS-Psi e Lilacs, levantados a partir das palavras-chave: ‘indígena’ and
‘suicídio’, sem limite temporal. Dos 09 artigos, 05 são de autores afiliados ao Instituto Leônidas
e Maria Deane da Fundação Osvaldo Cruz, tendo como autores mais frequentes Maximilliano
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Loiola Ponte de Souza e Jesem Yamall Orellana. Os grupos indígenas estudados estavam
localizados nos Estados do Amazonas, Roraima e Mato Grosso do Sul, sendo que neste último
encontram-se os maiores índices de suicídio entre indígenas. Os artigos caracterizam-se por
serem exploratórios e descritivos, de caráter antropológico, evidenciando os desafios no que
tange à compreensão e, consequentemente, à prevenção do suicídio entre os povos
indígenas. Há um campo novo e urgente a ser explorado, uma vez que os povos indígenas
estão distribuídos pelo território brasileiro, enfrentando uma luta pela sobrevivência com
problemas que indicam sofrimento mental.

Misioneros-sacerdotes y disposición científica: Su aporte en la producción y


circulación de conocimiento sobre los pueblos indígenas en Chile (1900-1930)

Héctor Mora Nawrath

Desde un punto de vista institucional-religioso, hacia inicios del siglo XX el trabajo misional
tuvo como propósito fundamental la evangelización indígena, la cual formó parte de una serie
de dispositivos civilizatorios dispuestos en la época. En esta dirección, resultaba clave el
aprendizaje de la lengua en su función comunicativa, así como el diseño y despliegue de un
programa educativo orientado a la población indígena, ello en el marco de una política
nacional de integración promovida desde el Estado de Chile. Más allá de la adopción de ciertas
prescripciones de orientación misiológica y religiosas, el “estar allí” se constituyó en condición
de posibilidad para que algunos misioneros y sacerdotes desbordaran o trascendieran la mera
función evangelizadora que ofrecía el conocimiento de la lengua y el vínculo directo para
penetrar en la vida y costumbre de estas poblaciones. Varios de ellos (perteneciente a las
ordenes capuchina bávara, salesiana, mercedaria, entre otras) se posicionan en el campo de
la producción y circulación de conocimientos sobre los pueblos indígenas, contribuyendo a la
emergencia de investigaciones (etnología, folklore, lingüística, etnografía) que aportaron en
el proceso de institucionalización las ciencias del hombre en el país. Esta ponencia busca
contextualizar dicho aportes, profundizando en el contenido de los conocimientos generados
así como sobre los lazos de colaboración o redes en las cuales se inscribió y articuló dicho
saber.

Estratégias empregadas por profissionais da saúde no enfrentamento do


abuso de álcool e outras drogas nas aldeias do Conesul do Estado de
Rondônia e Norte do Mato Grosso

Graziely Fernanda Augusta Nogueira


Leila Graciele da Silva

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A Organização Mundial da Saúde (2000) correlaciona o elevado índice de dependência


química à carência de tratamentos psicossociais realmente eficazes. Uma vez que, os
profissionais da área da saúde, principalmente da saúde mental, devem ser hábeis em
identificar quadros patológicos de abuso de substâncias, bem como propor medidas de
intervenção e encaminhamento para tratamentos específicos. O grande impasse é, se na
prática, isto ocorre. Esta indagação impulsionou a realização deste estudo, que objetivou
investigar as estratégias empregadas por profissionais da saúde indígena para identificação e
enfrentamento do abuso de álcool e outras drogas nas aldeias de Vilhena (RO), Aripuanã (MT),
Cacoal (RO) e Juína (MT). O método utilizado foi qualitativo, através de entrevistas
semiestruturadas, adaptadas a partir do modelo proposto por Paulino (2014), com roteiro pré-
definido, gravadas e transcritas para análise dos dados. Foram realizadas 41 entrevistas. Como
resultados, identificou que 34% dos participantes eram do sexo feminino; o tempo médio de
serviço na instituição foi de 06 anos. 22% dos profissionais participam de cursos e capacitação
para atuar na prevenção do uso de álcool e outras drogas nas aldeias e 15% alegaram que
fazem os cursos mensamente e semestralmente, 2% anualmente e 7% nunca fizeram
capacitações. 25 profissionais recusaram participar da pesquisa. Conforme evidenciamos nas
falas dos profissionais, 4% de ações educativas, 82% de intervenções psicológicas, 4% faz o
encaminhamento para serviço especializado, 4% problemas decorrente do uso de álcool e
outras drogas, 4% se sente aptos para fala sobre a temática, 2% não tem segurança para fazer
intervenção sobre a temática. Diante dos resultados observa-se a urgência de capacitações
específicas sobre a temática “álcool e outras drogas” com os profissionais da saúde indígena,
no intuito de subsidiar intervenções eficazes, bem como diagnóstico e tratamentos eficientes,
colaborando com a literatura citada no decorrer desta pesquisa.

Estado, identidade nacional e ideário político de esquerda no discurso


indigenista de Darcy Ribeiro

Natiele Rosa de Oliveira

Esta comunicação se propõe a discutir alguns aspectos acerca das perspectivas de abordagem
e das condições de produção e circulação dos estudos de antropologia indigenista de Darcy
Ribeiro, entre as décadas de 1960 e 1990, período no qual o autor transitou por diferentes
campos de saber – como a antropologia, a história, a literatura ficcional – e de atuação,
ocupando cargos como o de professor universitário no Brasil e no exterior, o de Ministro do
governo João Goulart, o de vice-governador do Rio de Janeiro, o de assessor do Governo de
Salvador Allende, no Chile, dentre outros. A vasta obra produzida por Ribeiro nestes anos
inclui a série Estudos de Antropologia da Civilização, composta pelos livros O processo
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civilizatório (1968), As Américas e a civilização (1969), Os índios e a civilização (1970), O Dilema


da América Latina, (1971), Os brasileiros – teoria do Brasil (1978) e O povo brasileiro – a
formação e o sentido do Brasil (1995). Parte-se da premissa de que, nesta série de obras
antropológicas e em outras produzidas neste contexto, é possível identificar como Darcy
Ribeiro mobiliza e articula suas múltiplas experiências políticas e intelectuais o que resulta,
dentre outros aspectos, na construção de certo discurso indigenista combinado a um discurso
de síntese histórica e construção identitária do Brasil e do “povo brasileiro”, no qual a figura
do indígena aparece como grande ícone da cultura nacional e como elemento importante de
formulação de um ideário político-revolucionário. Neste sentido, acredita-se que ao mesmo
tempo em que se insere ativamente e com grande influência no debate sobre a questão
indígena brasileira, num período de acirramento das tensões em torno desta causa, com as
políticas desenvolvimentistas empreendidas pela ditadura civil-militar, o autor atua também
na consolidação de um indigenismo orientado pelo nacionalismo de Estado e por um
imaginário político de esquerda.

Implicaciones del movimiento indígena neozapatista en la agenda de la


ciencia política en México: entre la continuidad disciplinaria y la ruptura
epistemológica

Jonathan Alejandro Correa Ortiz

En México, a partir de la última década del Siglo XX, la irrupción de los movimientos indígenas
en el espacio político, momento paradigmáticamente representado con el levantamiento del
Ejército Zapatista de Liberación Nacional (EZLN), ha incentivado en las ciencias sociales el
surgimiento de un “nuevo” conjunto de estudios e investigaciones, los cuales han conformado
una nueva literatura sobre los movimientos indígenas. De acuerdo con el destacado
antropólogo mexicano Arturo Warman (1991:16), el ambiente “renovado” en el estudio de
los pueblos indígenas, así como las novedosas perspectivas analíticas de investigación,
parecían haber superado el “debate indigenista” polarizado por concepciones entre
indigenismo o hispanismo; extinción o incorporación; integración o autonomía, el cual había
predominado durante la primera mitad del siglo XX. Sin embargo, Warman también ha
reconocido que dichas investigaciones se han multiplicado y descentralizado, a la vez que se
han fragmentado y reducido. La emergencia de los diferentes movimientos indígenas suscitó
la incorporación de disciplinas sociales que hasta ese momento y debido a su raigambre
teórica -e incluso ideológica-, habían mostrado escaso interés sobre los pueblos indígenas,
como es el caso del derecho, la economía y, en particular, la ciencia política. Así, con el
propósito de realizar un balance de las temáticas y líneas de investigación en la agenda de las
ciencias sociales, la presente ponencia presenta un análisis de la producción en torno al ELZN
dentro de la ciencia política en México, a través de tres revistas académicas de mayor prestigio

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en el país: Foro Internacional (COLMEX), Política y Gobierno (CIDE), Revista Mexicana de


Sociología (UNAM). La hipótesis que sustentó la investigación es que la ciencia política en
México se encontró con serias limitaciones de carácter ideológico, teórico y conceptual para
comprender y explicar los movimientos indígenas y, es específico, el EZLN. Incluso, debido a
estas carencias, las posiciones explícitas a favor o en contra del movimiento son evidentes en
la producción de la literatura. Bajo este enfoque, la ponencia presenta las principales líneas
de investigación, temáticas e interés en torno al EZLN desde la ciencia política. Esto es, qué
temas se ahondaron; cuáles quedaron desarrollados superficialmente; cuáles continúan sin
desarrollarse profundamente; cuál es la perspectiva teórica predominante; cuál es el enfoque
metodológico más empleado. Esta taxonomía teórica permitirá, en un sentido, conocer los
principales campos temáticos de la ciencia política en México sobre los movimientos indígenas
y, en particular, el EZLN.

Desarrollo y pueblos indígenas: una revisión sobre actores religiosos e


intervenciones locales en dos provincias del norte argentino

Cecilia Quevedo e Emilia Villagra

La ponencia analiza el vínculo entre los proyectos de desarrollo y pueblos indígenas en las
provincias de Chaco y Salta, ambas ubicadas al norte de Argentina. Desde las últimas décadas
se han incrementado los estudios y líneas de investigación que indagan y reconstruyen lógicas
de intervención, horizontes ideológicos y significantes políticos de las experiencias de
“promoción aborigen”. Los planteos sociológicos, antropológicos e historiográficos describen
las tradiciones eclécticas que consolidaron el trabajo de actores religiosos, enfatizando
interrogantes diversos sobre el anclaje local de la convergencia entre multiculturalismo y
globalización. Es en este marco que planteamos un recorrido por los corpus teóricos existentes
sobre la cuestión indígena y las maneras en que se ha interpretado su articulación con sectores
medios y la Iglesia Católica. El trabajo elabora una revisión sobre el campo de discusión
académica y de los abordajes empíricos dominantes sobre discursos y prácticas indigenistas
que “liberaron”, “dignificaron”, “promovieron” e “integraron” a las alteridades. Como recorte
temporal nos enmarcamos en la década sesenta y setenta hasta los años noventa, periodo en
el cual se gestaron prácticas y agencias singulares a partir de la retirada del Estado de
bienestar. Nos referimos a la Iglesia Católica y su eventual articulación con instancias estatales
que buscaron intervenir la pobreza estructural desde proyectos de desarrollo rural o
comunitario. Como objetivo de la revisión analítica, se postulan tipologías de actores e
intervenciones locales, conjeturando algunas hipótesis sobre la construcción conceptual de
trayectorias políticas y luchas identitarias dentro de las hegemonías de dos provincias
periféricas del norte argentino. La ponencia condensa dos líneas de investigación que exploran
las actuales interrelaciones entre Estados provinciales y pueblos indígenas desde coordenadas
estructurales e históricas a nivel nacional.
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A ausência eloquente: ciência política brasileira, povos indígenas e o debate


acadêmico canadense contemporáneo

Leonardo Barros Soares

A análise empírica da Plataforma Sucupira e dos periódicos de grande circulação do campo da


ciência política brasileira nos últimos vinte anos revela um grande desinteresse desse campo
disciplinar em empreender pesquisas relacionadas às questões indígenas no Brasil. Por outro
lado, o campo da Indigenous politics já se apresenta como um tema caro aos cientistas
políticos canadenses, com importantes trabalhos publicados sobre negociações territoriais
com povos indígenas, a escolha do desenho da política indigenista daquele país e, ainda, um
instigante debate sobre federalismo aborígene, dentre outros. Este trabalho apresenta, a
partir de uma ampla revisão bibliométrica e bibliográfica, simultaneamente, os dados relativos
ao caso brasileiro e um resumo do debate acadêmico sobre ciência política e povos indígenas
no Canadá, almejando apresentar para a audiência brasileira alguns dos tópicos de destaque
naquele contexto. Na sequência, apresentamos alguns trabalhos críticos da política
indigenista e dos estudos sobre esse tema daquele país. Concluímos este artigo com um apelo
à comunidade de cientistas políticos, estudantes e acadêmicos já estabelecidos, para o
estabelecimento de uma agenda de pesquisa sobre este importante segmento social
brasileiro.

Los pueblos indígenas en las historiografías nacionales: un abordaje


comparativo
Claudia Salomón Tarquini

Los estudios sociales de la ciencia han reconocido durante mucho tiempo que varios factores,
como las condiciones materiales, las configuraciones sociales y las historias de disciplinas y
campos en diferentes países y regiones, son factores cruciales para el desarrollo de
configuraciones particulares de estudios científicos. En esta ponencia se aborda de manera
comparativa la forma en que en distintos países la historiografía ha tratado lo relativo a los
pueblos indígenas. Los aspectos a considerar abarcan desde los relatos fundantes de la nación,
pasando por los lugares asignados a los indígenas en los textos del siglo XX y las nuevas
perspectivas a partir de fines del siglo XX e inicios del XXI. Se trabajará con fuentes primarias
y síntesis bibliográficas, para considerar de qué manera se han dado estos desarrollos en
países como Argentina, Brasil, Chile, Perú, México, Canadá, EE.UU. y Colombia. Esta ponencia
forma parte de un proyecto mayor que se propone una identificación de las similitudes y
diferencias existentes entre las diversas líneas y temas de investigación predominantes (ya
que no agendas) en estudios de índole historiográfica, antropológica y etnohistórica sobre
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pueblos indígenas dentro del continente americano. El proyecto tiene por propósito
establecer -en términos comparativos- qué factores y en qué medida inciden en su selección,
formulación y circulación.

ST 53 | Territorialidade uma questão de saúde e bem-estar


Maria de Lourdes Beldi de Alcântara (Universidade de São Paulo – USP, Brasil); Alejandro
Parellada (International Work Group for Indigenous Affiars – IWGIA, Estados Unidos).

Este simpósio tem como principal objetivo fazer uma análise interdisciplinar e intercultural sobre a
questão do bem-estar dos/as jovens e crianças indígenas dentro do território em que vivem. As
políticas públicas em relação a saúde indígena e o meio ambiente em que vivem os povos indígenas
precisam estar intrinsecamente relacionados para que a haja uma visão holística de como estes jovens
e crianças precisam ser olhados e tratados. Com a permanente ameaça de perda seus territórios pelos
mais diversos setores agrícolas, mineradores e madeireiros estes povos se defrontam com uma
questão mais grave: o desequilíbrio de seu meio ambiente afetado tanto pelos produtos tóxicos
quanto por doenças causados pelos desastres ecológicos. Qual a percepção destes jovens em relação
ao meio em que vivem? O que eles/as alegam como sendo prejudicial `a visão de bem-estar? Como
eles/as narram as novas doenças que aparecem e quais são as trajetórias da cura? Como negociam os
processos terapêuticos? Já que toda e qualquer cultura possue classificações próprias de saúde e
doenças. Este simpósio tem como objetivo abrir o debate sobre estas questões cruciais com o objetivo
de propor políticas públicas que partam do encontro intercultural fruto da polissemia e polissemia das
narrativas/vivencias apresentadas.

Encontros de jovens Ticuna para promoção do Bem-VIver, fortalecimento do


protagonismo indígena e prevenção do suicídio

Fernando Pessoa de Albuquerque

Lívia Dias Pinto Vitenti

Entre 2016 e 2018, foram realizados 3 encontros de jovens Ticuna para promoção do Bem-
Viver, fortalecimento do protagonismo indígena e prevenção do suicídio, com o objetivo de
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construir espaço de expressão, diálogo, troca de saberes e empoderamento identitário de


jovens indígenas da região do alto Solimões, discutindo-se temas relacionados à saúde,
condições sociais, culturais e econômicas, projetos de vida e relação com a sociedade
envolvente. Foram realizados três encontros da Rede de Jovens Indígenas Comunicadores do
Alto Rio Solimões em aldeias dessa região, com apoio da SESAI, onde profissionais de saúde
mental do DSEI colaboraram na realização de atividades de diálogo entre os jovens das
diferentes etnias, utilizando-se de dinâmicas participativas e problematizadoras sobre: Quem
é o jovem Ticuna? O que ele ou ela gosta? Quais são os seus sonhos? Criaram-se através de
desenhos personagens sobre os temas perguntados. Seis subgrupos elaboraram a narrativa
de um personagem para representar o jovem Ticuna, em três deles foi desenhado um rosto
dividido, com características indígenas, pinturas, e não-indígenas, óculos por exemplo. Esses
desenhos foram acompanhados de relatos como "Os mais velhos dizem que não somos mais
índios por não seguirmos os costumes e na cidade temos vergonha de dizer que somos"; "É
como se estivéssemos vivendo entre dois mundos, num Limbo". Observando-se um profundo
conflito identitário. Identifica-se que a transição para a vida adulta do jovem Ticuna tem sido
marcada por conflitos sobre sua inserção nos mundos indígena e não-indigena, apresentando
questões relativas a sentir-se pertencente a ambos os territórios. Compreende-se que esse
conflito identitário e a ausência de politicas afirmativas da juventude indígena podem estar
vulnerabilizando esses jovens ao suicídio, visto que os Ticuna apresentam uma taxa de óbitos
de 41,7 por 100 mil por esse agravo (2016). Analisando-se os dados do ministério da saúde,
encontrou-se que 44,5% dos óbitos por suicídio entre indígenas ocorrem entre 10 e 19 anos,
período marcado pela transição da infância para a vida adulta na maioria das etnias.
Mostrando-se a necessidade de maiores investimentos em políticas de promoção do bem-
viver de jovens indígenas, que incluam educação, inserção social e cultura, entendida aqui na
perspectiva desse jovem, que atualiza as práticas e hábitos da etnia.

Agronegócio e a saúde dos povos indígenas na Reserva de Dourados

Maria de Lourdes Beldi de Alcantara

Como agente de saúde indígena da Reserva de Dourados venho apresentar as minhas


vivências com a população desta reserva. Principalmente no que diz respeito as frequentes
doenças que aparecem depois das pulverizações dos agrotóxicos, que ocorre de forma
sistemática, nas plantações de soja do entorno da Reserva de Dourados. A reserva de
Dourados esta rodeada de plantações de soja e as pulverizações de agrotóxicos acontece sem
alguma vigilância sanitária. Com o avanço das plantações de soja, no entorno da Reserva
Indígena de Dourados, as doenças respiratórias se agravam, além dos efeitos secundários que
os agrotóxicos causam. E as principais vitimas são crianças e jovens indígenas. Sendo a Reserva
de Dourados a mais populosa dos pais e sofrendo de todas as mazelas de abandono das
politicas públicas, como a população indígena pode dialogar com agronegócio? Como
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reivindicar juntamente com a saúde indígena um estudo mais aprofundado sobre as doenças
que são fruto destas práticas? Estas questões têm como principal foco trazer a discussão
propostas de políticas públicas que possuam uma visão consistente do problema levantado.

Saberes de curas: os conhecimentos indígenas nas narrativas de folclore

Diádiney Helena de Almeida

Ao longo do século XX, muitos conhecimentos em torno de doenças, dos males, de suas curas,
das formas de preparar os remédios e aplicá-los foram narrados por profissionais de diversas
formações que ficaram conhecidos pela vinculação aos estudos de folclore. Uma ampla
produção bibliográfica e jornalística circulou apresentando crenças, costumes e práticas de
curas que associavam as heranças culturais indígenas a um passado remoto, caracterizado por
superstições, prestes a ser superado e que foi denominado como parte do que se
convencionou chamar de “medicina popular”. Considera-se essas narrativas enquanto um
conjunto de fragmentos de um repertório de conhecimentos orais e práticas de curas que, ao
longo do processo de medicalização da sociedade, foram paulatinamente sendo
descontextualizados e, consequentemente, invisibilizados. É necessário enfatizar que esses
fragmentos possuem um filtro a ser vencido analiticamente, pois trata-se da distinção entre a
concepção científica dominante que perpassa pelos estudos de folclore. A perspectiva
predominante nessa escrita apresenta uma dicotomia que precisa ser superada por meio da
compreensão dos saberes em torno da cura seguindo as premissas da ecologia dos saberes
postulado por Boaventura de Sousa Santos ao afirmar que é necessário superar a ideia de que
as práticas constituem uma alternativa ao conhecimento científico. Valorizar as experiências
que podem ser encontradas de modo indiciário nos estudos de folclore representa o registro
de uma diversidade de crenças em torno do confronto com o sofrimento que, mesmo em
constante transformação, apresenta uma ampliação da compreensão de mundo. Não se trata
de excluir a ciência médica, mas antes apontar para os conflitos e as possibilidades de diálogos
que se estabeleceram e ainda se estabelecem entre diferentes modos de curar, de encarar o
corpo, de compreender o sofrimento, de perceber o restabelecimento e ainda preparar os
seus remédios. Nesse sentido, é preciso compreender como a população brasileira até os dias
atuais articulam saberes indígenas nas suas relações diárias, os quais incluem crenças, rituais,
remédios, palavras e gestos que foram protegidos pela prática e pela memória e em diálogo
com saberes médicos que não os descaracterizavam, mas que eram admitidos a partir de suas
experiências e seus recursos.

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As interfaces entre terra indígena Rio Branco em Rondônia e projeto de


infraestrutura de transporte da BR-429/RO diante do avanço da frente de
expansão e pioneira e processo de compensação ambiental

Diego Rodrigues Bonifácio

Luís Fernando da Silva Laroque

Os empreendimentos que impactam Terras Indígenas, tais como os projetos de infraestrutura


de transportes requerem compensações ambientais, possuindo como órgão interventor a
FUNAI. Conforme Souza (2017), as compensações se dão em função dos impactos provocados.
Dessa forma, são realizados estudos para levantamento dos impactos, posteriormente são
implementadas ações que buscam mitigar e compensar a terra indígena afetada. Segundo
dados da FUNAI (2019), a Terra Indígena Rio Branco, localizada no estado de Rondônia, e
distribuída nos municípios de Alta Floresta d’Oeste, São Francisco do Guaporé e São Miguel
do Guaporé, foi demarcada e homologada com uma área de 236.137,00 ha, sendo habitada
pelos povos Tupari, Makurap, Aruá, Kanoé, Kampé, Arikapú, Sakirabiak, Djeoromiti (Jaboti),
Wayuru e Dyaroy. Para Tupari (2004), antes de ocorrer os processos de demarcação, os
indígenas da Terra Indígena Rio Branco compartilhavam sua área com seringueiros.
Atualmente, o povo Tupari se destaca em quantidade na Terra Indígena Rio Branco e a
compartilha com outras etnias, que são a minoria. Devido às frentes de expansões e os
contatos com os não índios, os jovens já não empregam sua língua materna, apenas alguns
indígenas mais velhos ainda preservam a comunicação tradicional. Um fato marcante que
modificou a relação territorial da comunidade da Terra Indígena Rio Branco teve início com a
aprovação do empreendimento da rodovia BR-429/RO. Conforme DNIT (2014), a rodovia está
situada na porção Oeste do estado de Rondônia, ligando as cidades de Ji-Paraná e Costas
Marques, totalizando uma extensão de 303,4 km, tem como delimitadores o Parque Nacional
de Pacaás Novos, Terra Indígena Rio Branco, Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau e a Reserva
Biológica do Guaporé. O trabalho objetiva analisar o processo de compensação ambiental
sobre as interfaces entre Terra Indígena Rio Branco em Rondônia e o projeto de infraestrutura
de transporte da BR-429/RO diante do avanço da frente de expansão e pioneira, buscando
relacioná-lo às atualizações culturais indígenas e as relações socioambientais das
compensações ambientais de obras de engenharia em terras indígenas. Trata-se de uma
pesquisa qualitativa, de caráter exploratório e natureza descritiva. Dentre os procedimentos
metodológicos, destaca-se a revisão bibliográfica sobre os povos da Terra Indígena Rio Branco
e compensações ambientais. A implantação da BR- 429/RO indica uma frente pioneira
influenciada pelas modificações na fronteira econômica, em prol dos interesses capitalistas
de integração e desenvolvimento. Percebe-se também que as infraestruturas de transportes

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que invadem o território indígena são comuns, fazendo com que as frentes de expansão e
pioneiras sejam marcadas pelas modificações no espaço e na cultura indígena.

A dimensão social e institucional da vulnerabilidade na saúde e o processo de


ocupação e desintrusão da Terra Indígena Marãiwatsédé

Viviane Francischini

Marina Atanaka

O conceito de vulnerabilidade possibilita a superação das dificuldades e dos problemas no


âmbito do processo saúde-doença, facilitando a compreensão da vida e de seus
determinantes. Sua dimensão social transcende os espaços individuais para os aspectos
materiais, culturais, políticos, morais, que dizem respeito à vida em sociedade assinalando que
doença e saúde traduzem-se por vulnerabilidades ou potencialidades. Caracterizar a
vulnerabilidade social do Povo Xavante de Marãiwatsédé segundo o processo de
ocupação/desintrusão na Terra Indígena Marãiwatsédé objetivou o estudo de caso com coleta
de dados documentais, entrevistas semiestruturadas e resultado de análise para resíduo de
agrotóxico na água realizado no polo base Marãiwatsédé na aldeia e terra indígena do mesmo
nome, região Leste do estado de Mato Grosso, Amazônia Legal. A vulnerabilidade social
destacou-se pela descaracterização do território original propiciada pela destruição dos
recursos naturais, consequência da ocupação da terra indígena pelo empreendimento
agropecuário Suiá-Missú na década de 1960, e, posteriormente, pela invasão do referido
território por posseiros, grileiros e fazendeiros, expondo os Xavante a uma instabilidade
agrária, social e sanitária impactando sua qualidade de vida. Problemas de abastecimento e
manutenção do sistema de distribuição de água (falta de combustível para a bomba, torneiras
e encanamento danificados) têm obrigado os moradores a utilizar a água do córrego principal
da aldeia, com baixa qualidade na água associada à sua provável contaminação por
agrotóxicos utilizados nos pastos e plantações de soja das fazendas localizadas no entorno da
terra indígena e onde está localizada a maioria de suas nascentes. A ausência de tecnologia
sanitária adaptada ao contexto cultural, com possibilidade de minimizar a ação dos dejetos
humanos depositados no solo e levados para as águas do córrego é mais um fator de
vulnerabilidade social. Os agrotóxicos pulverizados nas plantações e pastos do entorno da
aldeia são fatores impactantes sobre a saúde, onde as crianças são atingidas. Os diversos
fluxos d’água em contato com as áreas produtoras de culturas como soja, milho e cana,
ultrapassam os limites das fazendas adentrando na área indígena, banhando-a e alimentando
a população, a flora e a fauna. Exames realizados no Instituto de Química da UFMT indicam
que em um ponto localizado na lagoa de uma futura aldeia, foi detectada a Permetrina no

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valor de 0.19 μg/l. A vulnerabilidade social baseada na degradação ambiental compromete


aspectos fundamentais para a manutenção da vida.

Óbitos por neoplasias na população indígena em Santa Catarina, Brasil

Francielli Girardi

Paula Brustolin Xavier

Maiton Bernardelli

As neoplasias têm se tornado um importante problema de saúde pública. As transformações


vivenciadas pelas comunidades indígenas, envolvendo os fatores ambientais e alimentares,
especialmente ligados ao uso de agrotóxicos na produção agrícola, impactam diretamente nas
condições de saúde destes povos. O objetivo da pesquisa é descrever a incidência de
mortalidade por neoplasias, conforme CID-10, ao longo da série histórica de 2006 a 2017, na
população indígena de Santa Catarina SC/Brasil. O estudo temporal, com análise de dados
secundários disponíveis nas bases do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do
Ministério da Saúde. Foi utilizado método de estratificação por raça, identificada como
"indígena", de "ambos os sexos", e a mortalidade definida como "neoplasia", conforme CID10.
Os dados foram analisados de forma descritiva utilizando software Microsoft EXCEL. Em
relação ao total dos óbitos no período na população indígena, as neoplasias corresponderam
a 10,56 % do total de casos de óbito na população indígena, caracterizando-se como a terceira
causa de óbito. Observou-se maior incidência no sexo masculino 52,08%. A faixa etária de
maior ocorrência foi em indígenas maiores de 60 anos para ambos os sexos, (41,67%), seguido
do grupo etário entre 50 a 64 anos com 37,5%. As maiores taxas de incidência de mortalidade
foram observadas nas categorias das neoplasias malignas de traqueia, brônquios e pulmões
(31,25%), seguido das neoplasias malignas do esôfago, 14,58%. As menores taxas (2,08%)
apresentaram-se para neoplasias malignas do fígado e vias biliares intra-hepático, maligna do
pâncreas, maligna da próstata. Observamos que as maiores taxas de ocorrência de neoplasia
na população indígena acometem as vias aéreas e respiratórias dessa população, podendo
estar associados ao uso abusivo de agrotóxico na produção agrícola. Compreender a
ocorrência de mortalidade por neoplasias na população indígena possibilita reconhecer
indicadores imprescindíveis para atenção em saúde a essa população, diante de suas

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especificidades ambientais e socioculturais, favorecendo estratégias de ações de promoção e


prevenção de agravos em saúde.

A territorialidade Pipipã vulnerabilizada na transposição do Rio São Francisco


e sua relação com a saúde, em Pernambuco

Glaciene Mary da Silva Goncalves

Ações governamentais de implantação de grandes projetos de desenvolvimento nos


territórios indígenas, cujo caráter é vinculado à perspectiva do suposto progresso econômico
e social, vêm afetando as perspectivas de futuro dos povos indígenas na América Latina e no
Brasil. O estudo analisou os processos de vulnerabilização e as implicações na territorialidade
Pipipã decorrentes da implantação da transposição do rio São Francisco e suas relações com
a saúde, em Pernambuco. A pesquisa foi realizada na perspectiva da determinação social da
saúde e propõe o movimento dialético, no intuito de promover os diálogos necessários para
a devida compreensão da complexidade das questões de saúde. Os procedimentos
metodológicos se pautaram na técnica qualitativa de coleta e análise de dados. As estratégias
de pesquisa utilizadas, no estudo, foram análises de documentos, entrevistas, observação
participante e realização de oficinas. A pesquisa evidenciou que os Pipipã não acreditavam
que seriam atingidos diretamente, violentamente, pela megaobra. Não participaram do
planejamento do projeto da transposição do São Francisco e não foram devidamente
informados. O corte da terra para a construção do Eixo Leste foi considerado pelos Pipipã um
“estupro” da terra sagrada, que vai deixar sequelas para sempre. As famílias foram separadas.
As relações ambientais, o Toré e os rituais do Aricuri e da Jurema foram afetados. A
vulnerabilização foi material e simbólica. A presença da megaobra, no território, foi percebida
pelos Pipipã como produtora de doença e não de saúde. O Projeto Básico Ambiental 12
indígena, foi planejado pelo Ministério da Integração Nacional, para beneficiar a etnia, mas
isto não ocorreu. O acesso à água foi negado. Injustiças ambientais foram praticadas. A
territorialidade Pipipã foi vulnerabilizada. A reparação dos danos ambientais não foi
implementada. Encontrando-se, portanto, a etnia ameaçada em seus processos de
reprodução sociopolítica e cultural no contexto do convívio com o semiárido.
MOÃ KAAGUY REGUA-TEKOA MBIGUAÇU-O: Saber Tradicional Guarani das
Plantas medicinais
Daniel Kuaray Timoteo Martins

Este trabalho é um projeto de pesquisa etnográfica em construção para o curso da


Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica-UFSC, onde busco entender o
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processo de cura através das plantas medicinais tradicionais guarani da comunidade indígena
de Mbiguaçu-SC. Por ser indígena e morador dessa comunidade, me baseei na própria
cosmologia que traz na mitologia de criação de mundo algumas plantas essenciais para a vida
guarani. Em alguns momentos participei de rituais importantes na comunidade, onde houve
a utilização das ervas sagradas. Além disso, realizei estágio docência, no segundo semestre de
2018, com um projeto interdisciplinar, cujo tema foi “Ervas Medicinais Tradicionais Guarani”.
Na ocasião, trabalhei com os alunos da Escola de Educação Básica Indígena Whera Tupã Poty
Dja, localizada na região de Florianópolis no Estado de Santa Catarina. O meu objetivo e
propósito é demonstrar a importância das plantas medicinais para a educação corporal
guarani. Essa investigação, também antropológica, percorre o MOÃ KAAGUY REGUA, o saber
tradicional Guarani das plantas medicinais. Por ter sempre vivido com uma remedieira a dona
Maria Takua, o uso das plantas medicinais era uma forma comum para prevenção e
tratamento de algumas doenças. A sabedoria ancestral da utilização dessas ervas medicinais
era transmitida através da orientação, da observação e da preparação remédios. Todo esse
conhecimento era repassado através da oralidade e guardado na memória. Com a
preocupação de manter vivo esse conhecimento busco fazer uma pesquisa etnográfica a partir
da minha própria vivencia: como indígena e também pesquisador. Por isso registro os nomes
de algumas plantas que estão na comunidade indígena Mbiguaçu e observo algumas práticas
de prevenção e saúde do corpo e do espirito. Assim, escrevo relatos a partir da memória e da
vivência na própria Terra Indígena, sendo essa a minha principal metodologia. O título MOÃ
KAAGUY REGUA-TEKOA MBIGUAÇU pretende dar destaque ao conhecimento tradicional das
plantas sagradas, que são essenciais para o fortalecimento do corpo e do espírito. Nós guarani
sempre utilizamos frequentemente esses saberes em relação ao uso das ervas medicinais.
Também dou destaque ao termo tekoa, que é a forma de viver bem, e coloco o nome da minha
comunidade. Essa pesquisa reforça a relação social indígena com o Território tradicional e
aborda a educação corporal guarani e as formas de saúde e prevenção. Os resultados dessa
pesquisa será registrar as plantas medicinais do território guarani, valorizando a cosmovisão
tradicional e as falas dos anciões, fazendo a relação com as praticas de cura de suade e doença.

O que nos trazem os comedores de terra? Problemas de saúde Yanomami

Enira Roberth Maia de Castro Lima

Com o presente trabalho, pretende-se examinar como as relações entre sociedades indígenas
florestais e a sociedade envolvente têm sido representadas em relatos indígenas. Observa-se,
sobretudo, como essas relações têm modificado práticas tradicionais yanomami, além de, em
alguns casos, contribuírem para a sedentarização desse povo, classificado como seminômade
na etnografia clássica, e para a proliferação de doenças responsáveis pela diminuição do
número de seus integrantes. Para tanto, observar-se-ão registros escritos da cosmogonia
pertencente à etnia citada, publicados inicialmente em 2010 para fins didáticos nas
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comunidades do Ajuricaba, Komixipiwei e Cachoeira do Aracá e posteriormente, em 2017,


como coleção de contos, divididos em quatro livros, disponíveis para comercialização. Nesse
artigo, volta-se a atenção para dois contos intitulados “Proliferação do fogo” e “Comedores
de terra” compreendidos aqui como ferramenta de denúncia da triste realidade que o povo
Yanomami vive em relação a questões de saúde. Assim, para auxiliar na discussão, serão
utilizados posicionamentos de Davi Kopenawa, Bruce Albert e Alcida Rita Ramos, entre outros
autores que tratam da questão indígena e especificamente dos Yanomami.

Processo de saneamento básico na Aldeia Nova Munduruku-Juara-MT

Marcelo Manhuari Munduruku

Jones Adenilson Manhuari Crixi

Este trabalho tem como objetivo trazer ao público interessado uma visibilidade de uma linha
do tempo para contextualização da realidade da aldeia Nova Munduruku na Terra Indígena
APIAKÁ/KAYABI, no Município de Juara Mato Grosso, no que diz respeito ao saneamento
básico e a necessidade urgente de tratamento d ́água para mais de 100 pessoas entres
crianças e adultos. Toda a comunidade da aldeia Nova Munduruku consome água captada por
um sistema de abastecimento ultrapassado direto do Rio dos Peixes, e que vem causando uma
série de patologias, uma vez que a nascente deste Rio fica fora da referida Terra Indígena.
Abordamos ainda o avanço da monocultura da soja (Agronegócio) e poluição de seu principal
tributário Rio Jaú, esclarecendo a situação do Rio dos Peixes, que banha as principais aldeias
da área Indígena das quais são: Mayrob -Povo Apiaká, Tatuí- Povo Kayabi, e Nova Munduruku-
Povo Munduruku, em sua trajetória, os trabalho que vem sendo realizado pela equipe
multidisciplinar da SESAI, e professores da ESCOLA ESTADUAL INDÍGENA KRIXI BAROMPÔ ,
parcerias e ainda as ameaças que rodeiam estes povos, com a proposta do Governo na
construção de Usina Hidrelétrica, na principal cachoeira conhecida como salto Kayabi, um dos
locais sagrados para a polução nativa deste lugar, que não atingiria somente a qualidade da
água que já é bastante inadequada para o consumo, mas também atingiria de forma
irreversível todo o ecossistema e biodiversidade dos biomas existente em todo território.

Doenças relacionadas ao acúmulo de resíduos sólidos na Aldeia Limão Verde


no Município de Aquidauana – MS
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Elisangela Castedo Maria do Nascimento

Alberto de Oliveira Dias

Maria Helena da Silva Andrade

Atualmente, as embalagens descartáveis fazem parte da vida prática da sociedade do


consumo, mas isso causa o acúmulo de resíduos sólidos (lixo), que tem sido uma grande
preocupação inclusive nas aldeias indígenas. A Aldeia Limão Verde está localizada a 18
quilômetros do Município de Aquidauana/MS, onde residem aproximadamente 340 famílias
Terena que são consumidores de alimentos industrializados adquiridos nas cidades vizinhas.
Esse novo hábito tem causado acúmulo de resíduos sólidos na aldeia, que está atraindo
vetores causadores de doenças. Em função desse agravante nos propomos compreender a
relação existente entre resíduos sólidos e as doenças que atingem nossa comunidade assim
como: 1- Destacar a importância da limpeza do quintal 2- Pesquisar as doenças relacionadas
aos resíduos sólidos 3- Propor à comunidade a coleta de resíduos sólidos recicláveis junto aos
alunos, professores e colaboradores. A pesquisa foi desenvolvida com a comunidade da
aldeia, o grupo da cruz vermelha e alunos da Escola Estadual Indígena de Ensino Médio Pascoal
Leite Dias e teve caráter qualitativo, pois o propósito dessa pesquisa foi compreender a
relação existente entre resíduos sólidos e as doenças que atingem nossa comunidade. O
trabalho foi desenvolvido nas seguintes etapas: 1- Reunião com a comunidade para identificar
a quantidade de materiais descartados como resíduos sólidos no cotidiano, e as formas
corretas de descarte ou reaproveitamento destes resíduos. Identificação de doenças
relacionadas com o acúmulo de resíduos sólidos e por falta de coleta na comunidade indígena,
relatado pelos moradores da Aldeia Limão Verde, 2- Reunião com o grupo da Cruz Vermelha
para identificar as doenças que afetam a comunidade em função do descarte indevido dos
resíduos sólidos (lixo) e palestra aos alunos da Escola Estadual Indígena de Ensino Médio
Pascoal Leite Dias; 3- Busca de parceria com os estudantes da na divulgação dos efeitos do
descarte indevido de resíduos sólidos (lixo) e as doenças disseminadas por ele (lixo); 4-
Reunião com as mães da comunidade no Posto de Saúde, com apoio dos profissionais da
saúde com o objetivo de alertá-las de tais riscos à saúde de suas famílias; 5- Culminância do
Projeto na escola, com a distribuição de kits de prevenção contra a picada dos mosquitos,
junto com a apresentação de oficinas de reaproveitamento de resíduos sólidos (lixo) e formas
corretas de descartes dos mesmos. O referido trabalho possibilitou identificar e divulgar as
doenças relacionadas ao acúmulo de resíduos sólidos. Os resíduos sólidos atraem os insetos
causadores de doenças como moscas, baratas, escorpiões e mosquitos assim como os ratos,
bactérias e vírus. As doenças estudadas e identificadas foram: tétano, cólera, dengue, hepatite
A, febre tifoide, diarreia, leptospirose, leishmaniose, dengue, zika e chikungunya.

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Atenção básica diferenciada à saúde dos indígenas Pataxó: interculturalidade


e práticas do cuidado

Leo Pedrana

Leny Alves Bomfim Trad

Mônica de Oliveira Nunes de Torrenté

A atenção à saúde das populações indígenas nos termos de reconhecimento e valorização do


saber indígena em saúde através da articulação entre práticas de cuidado é uma questão
introduzida desde a declaração de Alma Ata (1978) e gradualmente incorporada nos sistemas
e políticas públicas de saúde das nações. No sistema sanitário nacional brasileiro (SUS), a
definição de atenção “diferenciada” que estrutura a Política de Atenção as Populações
Indígenas (PNASPI, 2002) é consensualmente considerada ambígua e contraditória e até
etnocêntrica (Pedrana L et Al., 2018). Na ausência de estudos sobre a operacionalização
diferenciada da atenção básica as populações indígenas da Bahia, se propõe uma
esquematização dos resultados de uma etnografia realizada pela tese de doutoramento em
Saúde Publica no Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, focada na
interculturalidade das práticas cotidianas de cuidado em dois territórios Pataxó do sul da
Bahia, Brasil, através de uma abordagem fundamentada na “interculturalidade critica” (Walsh
C., 2005) e “ecologia dos saberes” (Boaventura Santos Sousa, 2007). O artigo resume as
interações entre o sistema de conhecimento Pataxó em saúde e o sistema da medicina do
branco que coexistem e convivem não obstante a crescente hegemonia de práticas
biomédicas e farmacológicas e a prevalência da visão formal da atenção diferenciada, dois
fatores que limitam a possibilidades de articulação entre saberes em saúde. Todavia a análise
da implementação dos modelos de atenção, das práticas efetivas e da relação de cuidado dos
profissionais das equipes demostram mediações que produzem adaptações e transformações
em sentido intercultural escassamente reconhecidas. Além disso, algumas experiências
pioneiras entre especialistas indígenas da saúde, os serviços de atenção básica e outros
sujeitos da saúde publica e coletiva exemplificam os esforços para um cuidado
interculturalmente construído e compartilhado a nível local. As evidencias produzidas indicam
a possibilidade da valorização dos recursos endógenos aos sistemas de saúde localmente
coexistentes para reforçar a interculturalidade da atenção à saúde aos indígenas através do o
resgate do saber Pataxó em saúde e da sua articulação com o sistema público diferenciado.
Todavia, para que as ambiguidades do conceito polissêmico de atenção diferenciada PNASPI
virem ambivalências na pratica cotidiana dos serviços da atenção básica à saúde indígena é
preciso superar os limites da sua definição (formulação e operacionalização) a partir de uma
revisão e reflexão crítica, interculturalmente construída.
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Antropologia da saúde: um caminho para o debate da saúde indígena na


Aldeia Mapuera, Amazônia, Noroeste do Pará

Petronio Lauro Teixeira Potiguar Junior

Tenho percebido variadas abordagens no campo da saúde/doença/cura, levando o conceito


de cultura como âncora para tais reflexões quando o foco são populações ditas tradicionais,
como as indígenas, conforme tem nos demonstrado Langdon (1994); Alves e Rabelo (1998);
Verani (1999); Athias (2002); Rabelo (2002); Campos (2002); Garnelo e Sampaio (2003);
Oliveira (2009); Langdon e Wilk (2010); e Ponte e Aquino (2014). Essa preocupação tem
inquietado pesquisadores como os da área da saúde - mais enfermeiros – da antropologia, da
sociologia, dentre outras, por acreditarem que a saúde indígena, de forma interdisciplinar,
tem recebido pouca atenção devido a diversas questões como: criação de um hiato entre
Ciências Exatas e Ciências Humanas em realizar pesquisas multi, trans e interdisciplinar; a
carga burocrática/documental para realizar pesquisa entre indígenas; afastamento de grupos
de pesquisas que se debatem nos corredores acadêmicos, “protegendo” seu “campo
cientifico’, retomando a velha discussão do século XVIII, onde “cada macaco deve estar no seu
galho”, sem articulação e transversalização de suas abordagens no trato da
saúde/doença/cura indígena como nos anunciam Verani (1994); Minayo (1998); Langdon
(2001); Buchillet (2007); Teixeira e Silva (2013) quando falam da necessidade de uma visão
holística dessa problemática onde se situa, ao meu ver, Antropologia da Saúde e que me
incentivou realizar estudos em uma aldeia na amazonia, a Aldeia Mapuera, a dois dias de
viagem da cidade de Oriximiná, no noroeste do Pará. A preocupação em pesquisar as práticas
de saúde/doença/cura entre o homem indígena na aldeia Mapuera dentro perspectiva
antropológica, foi proporcionado por vários motivos. A princípio, isso se deu, nos momentos
de auxilio de alunos na Universidade do Estado do Pará- UEPA/Santarém sobre temas de
Trabalho de Conclusão de Curso-TCC, envolvendo a saúde indígena, desde 2011. Estes foram
feitos na Aldeia Mapuera, em 2013 e 2014, oportunizando ouvir relatos referente às
influências externas no comportamento desses indígenas, que provocaram mudanças nas
práticas de saúde/doença/cura nesse grupo. Revelaram também, a partir das falas dos
indígenas, a carência de reflexões acerca das práticas passadas e presentes no que diz respeito
a essa temática, me levando a fazer leituras sobre esse grupo indígena ao longo desses anos.
Estas experiências foram amadurecidas em 2015 e 2016, através de conversas com
professores e profissionais da saúde, durante minha estada na região. Mas, a decisão para a
concepção desses estudos e reflexões teóricas, se deu quando os indígenas e as lideranças
manifestaram interesse no desenvolvimento de pesquisas dessa natureza por entenderem
serem necessárias para incentivar a não perda dessas práticas entre as crianças e adolescente
nas aldeias e contemplá-las nas políticas públicas de saúde e educação. Isso se tornou
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fundamental para a construção do objetivo central de uma tese de doutorado, que está em
construção, que foi estudar o que mudou ou se mantém sobre as práticas de
saúde/doença/cura na região a partir das falas indígenas nesta aldeia. Assim este texto tratará
um dos foco dessa tese, ou seja, mostrar como se dá a relação Saúde Indígena e Antropologia
da Saúde para sustentar as leituras, investigação, compreensão, interpretação e análises ao
longo do desenvolvimento dessa proposta de tese por acreditar que a Antropologia da Saúde,
sob viés interpretativo, é o caminho mais acertado para o desenvolvimento desse estudo, já
que buscará travar diálogos sobre a cosmologia/ontologia desses agentes sociais na Amazônia
a partir do sentido de saúde/doença/cura presente e passado com intuito de revelar o que
mudou ou não sobre e essa questão entre agentes sociais nessa região. Por fim e a cabo, este
resumo busca trazer esclarecimentos inicias da intenção de se estudar a saúde indígena e
revelar os caminhos que pretende trilhar para sua análise sob a ótica da Antropologia da Saúde
e que, para isso, traz uma trajetória dessa disciplina no Brasil, em especial na Amazônia. A
metodologia se pautou em leituras teóricas sobre a temática, mesmo que introdutório, na
disciplina “Antropologia da Saúde” do Programa de Pós Graduação em Sociologia e
Antropologia- PPGSA da Universidade Federal do Pará, orientada pelos professores Dr.
Heraldo Maués e Dr. Samuel Sá, que fôra fundamental para apoiar na imersão do campo de
pesquisa, a aldeia Mapuera, Oriximiná, noroeste do Pará.

A percepção dos portadores de HIV nas populações indígenas

Indianara Ramires

Este trabalho tem como principal objetivo fazer uma análise interdisciplinar e intercultural
sobre a percepção e a trajetória da cura dos pacientes indígenas que contraíram o HIV. Como
eles/as elaboram esta doença? Quais são as narrativas que produzem em relação ao
diagnóstico e as trajetórias que percorrem na busca da cura? Como concebem a cura? Para
analisar essas trajetórias apresentaremos relatos de pacientes indígenas sobre as suas
vivências e das/os agentes de saúde que os tratam, com a proposta de traçar caminhos mais
eficazes de adesão ao tratamento. Muito embora a população indígena tenha
constitucionalmente o direito a saúde diferenciada nota-se que não há um protocolo que
contemple a interculturalidade. Como atuar diante da hegemonia da biomedicina? Como
construir um protocolo que contemple e seja respeitado e não tolerada a diversidade cultural?

Disminuir las diferencias en salud intercultural: una llamada a la acción

Ruth Elizabeth Maldonado Rengel


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Estefanía Bautista Valarezo

María Elena Espinosa González

Viviana Dávalos Batallas

El estudio se realizó con los indígenas de la etnia Saraguro quienes habitan en el sur de
Ecuador entre las provincias de Loja y Zamora Chinchipe. Los Saraguros luchan por una auto
subsistencia social y de producción que les diferencia de las otras etnias del país. En la cultura
de estos pueblos la salud es un factor muy importante y se contempla en las dimensiones
personal, social y cósmica, a diferencia del modelo médico convencional cuyos conceptos
sobre enfermedad y sobre la transmisión de patologías se basan en la interacción con factores
y agentes biológicos, químicos y físicos. Estas y otras divergencias con la medicina occidental
exigen buscar un diálogo intercultural desde el grado, con la finalidad de romper barreras que
permitan el desarrollo de competencias interculturales. Dichos puentes buscan favorecer el
reconocimiento de los saberes ancestrales y de la cosmovisión, lo que permitirá incorporar el
concepto de salud de los pueblos indígenas en el currículo universitario. Sin embargo, se ha
constatado que el conocimiento solo no es suficiente. Los estudiantes de medicina precisan
desplegar habilidades de comunicación y empatía con las percepciones del mundo en cada
cultura, para no juzgar al otro por el hecho de ser diferente. Ante esta realidad el proyecto ha
establecido estrategias a través de talleres en donde se abordan diversos temas teórico
prácticos referentes a la salud intercultural. El proyecto piloto se está ejecutando en la
Universidad Técnica Particular de Loja (UTPL), con la colaboración de la corporación VLIRUOS
y la Universidad de Cuenca. En el diseño del currículo han participado activamente los
sanadores, las parteras y los docentes de medicina. El objetivo general es desarrollar la
sensibilidad y el respeto hacia la diversidad cultural a través del diálogo y del reconocimiento
de la medicina ancestral para incorporar estos conocimientos al currículo de grado de los
estudiantes de medicina. La metodología utilizada fue de tipo cualitativo. Se realizaron grupos
focales y entrevistas a los sanadores y parteras de la población de Saraguro y a los habitantes
de las áreas rurales del sur de Ecuador. Se abordaron temas acerca del manejo de emergencias
obstétricas y de fiebre en niños. Los datos fueron codificados y analizados a través del
software N Vivo. Los resultados fueron divulgados y analizados entre los investigadores y el
grupo de sanadores y parteras, quienes en conjunto diseñaron estrategias de atención. Estas
se plasmaron en diagramas de flujo, los cuales se reprodujeron a través de talleres para
capacitar a todos los sanadores y parteras de las zonas mencionadas. A los estudiantes de de
3o, 6o, 9o, 11o y 12o semestres de medicina de la UTPL se les aplicó la escala de empatía
etnocultural y de manera simultánea se desarrollaron talleres teórico prácticos referentes a
la salud intercultural. Posteriormente se organizaron talleres de capacitación en atención de
parto por parte de los investigadores y de las parteras para los estudiantes de 9o, 11o y 12o
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semestres. Es imperativo un cambio de paradigma cultural entre la medicina occidental y la


medicina ancestral a través del intercambio de conocimientos de interculturalidad en salud.
Esto permitirá superar los prejuicios y desarrollar la sensibilidad hacia la diversidad cultural,
lo cual repercutirá en la calidad de atención a las comunidades indígenas. El presente proyecto
pretende además, disminuir la mortalidad materno infantil de la zona. Dicha transformación
ha iniciado a partir de innovaciones al modelo educativo, las cuales se han insertado de
manera transversal en el currículo con la finalidad de mejorar las relaciones interpersonales y
laborales y fortalecer el trabajo en equipo con fundamento en el respeto y reconocimiento
mutuos.
Anaa Eirükü: perspectivas y estrategias comunitarias alrededor de la
desnutrición infantil en tres comunidades indígenas Wayuu, 2015-2016

Jennifer Marcela López Ríos

Sergio Cristancho Marulanda

Carmen Estefanía Frias

Introducción: Las profundas desigualdades e injusticias sociales a las que se ve abocado el


mundo actual revelan el mal momento que enfrenta la humanidad, un periodo permeado por
un sistema neoliberal, donde el hambre se ha puesto al servicio del mismo. En ese sentido, la
desnutrición infantil es un problema que afecta a las poblaciones más vulneradas, entre ellas
las comunidades indígenas. Son varios los estudios que la han abordado desde la visión
biomédica, pero son pocos desde la cosmovisión comunitaria. Objetivo: analizar las
perspectivas y estrategias comunitarias relacionadas con la desnutrición en niños de 0-7 años
en las comunidades Wayúu, Taiguaicat, Pañarrer y Limunaka, Resguardo Manaure, La Guajira.
Metodología: se realizó una investigación participativa basada en la comunidad, se
desarrollaron 21 entrevistas semiestructuradas, 3 foros comunitarios y 12 fotovoz.
Resultados: desde la perspectiva de las comunidades, la pervivencia de la niñez Wayúu está
siendo amenazada por enfermedades como la desnutrición infantil, fenómeno ocasionado
principalmente por el poco acceso y disponibilidad a los alimentos, por la presencia de
prácticas occidentales en el territorio, la pérdida de las prácticas ancestrales y otros factores
externos presentes en el territorio. Como estrategias de solución se proponen alternativas a
nivel familiar, comunitario y social. Conclusión: la desnutrición infantil es la enfermedad del
hambre que produce alteraciones físicas y actitudinales en el niño, vista como un suceso que
afecta al binomio madre-hijo y que se encuentra influenciada por una serie de condiciones
económicas, sociales, políticas, ambientales, culturales y del sistema de salud injustas y
evitables.

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Território, resguardo e parto: os saberes do povo Sakyrabiar

Rozilene Magipo dos Santos Sakyrabiar

Gicele Sucupira

Este trabalho tem como objetivo apresentar e registrar um pouco dos saberes e práticas
tradicionais do povo indígena Sakyrabiar da Terra Indígena, em diálogo com o que acontece
atualmente com o povo que vive dentro e fora dela. A Terra está localizada no município de
Alto Alegre dos Parecis/RO, entre os rios Xupingual, São João, e Mequéns e Igarapé Espanhol,
tem uma extensão de 107.553 há, homologada, e registrada desde de 1996 com uma
população de 250 pessoas, sendo que apenas 90 residem no território. A língua pertence ao
troco Tupi, da família Tupari. O povo sofreu um grande impacto na década de 1930 e início de
1940 por conta do fluxo intenso da borracha. Isso modificou as práticas de resguardo e parto.
Atualmente, quando a mulher finaliza o 8 é levada para cidade. Antes do contato, os partos
eram feitos dentro da própria comunidade indígena com auxílio de parteiras ou do próprio
marido. Em casos de risco tanto para a mãe quanto para o filho o pajé era chamado, pois esse
sabia todos os procedimentos para trazer uma criança ao mundo, esse trabalho era de
extrema e importância e era bem visto por todos da aldeia. Para que a mulher tivesse um
parto bom ela não podia sentar na porta nem deitar de bruços ou seja de barriga para baixo,
ela também não deveria dormir muito senão a criança demorava para nascer. Durante a
gravidez a mãe trabalhava normalmente na roça e em casa. Já após o sétimo mês havia outros
cuidados como banho morno e/ou com plantas medicinais e massagens para ver se a crianças
estava em posição boa para nascer. Se não estivesse, era preciso ter uma atenção melhor. Isso
tudo era feito com uma parteira que em muitos casos tinha que ficar por um determinado
tempo até que a criança nascesse, devido a lonjura que tinha entre comunidade. A parteira
também se encarregava de preparar a comida do resguardo da mulher que era diferente dos
demais membro da casa. Havia um cuidado com alimentação, que precisava ser servida para
a parturiente, pois qualquer comida poderia fazer mal tanto para a mãe quanto para o recém-
nascido. Por isso, antes do parto já havia o preparo de alimento para o resguardo, que tinha
que ser especifico para a ocasião de 03 meses. Os alimentos e plantas medicinais, significativos
para o resguardo não são accessíveis no próprio território e fora dele. O parto na cidade, nesse
sentido, implica em diferentes lugares, saberes e práticas corporais e pode ocasionar o não
cumprimento do resguardo, que acarreta em implicações importantes na produção do corpo
e da pessoa para Belaunde (2016).

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Simulação reversa: simulando o atendimento no Sistema Tradicional Indígena


de Saúde

Luana da Silva

Mauro Silveira de Castro

Durante o curso “Farmacêuticos na Atenção Básica/Atenção Primária em saúde: trabalhando


em rede na Saúde Indígena” foi proposta uma oficina para os alunos farmacêuticos
denominada de Simulação Reversa”. A oficina teve como fundamentação teórica fazer com
que os profissionais farmacêuticos tivessem uma experiência de atendimento segundo o
Sistema Tradicional Indígena de Saúde. A situação apresentada para os alunos foi a seguinte:
eles viviam no país chamado Brasil e eram a população originária. Em 1500 os Kaingang ou os
Guarani invadiram seu país e agora o Sistema de Saúde oficial era o Indígena. Realizou-se 4
simulações em 4 diferentes grupos de profissionais farmacêuticos, decorrentes da população
de 96 alunos do encontro. Em cada grupo, foi escolhido um profissional farmacêutico para ser
paciente e lhe foi apresentado um quadro clínico para sua representação – quadro de gripe.
Alunos indígenas da área da saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, bolsistas do
curso, por etnia, prepararam-se para representar um atendimento segundo sua cultura. Um
aluno representou o papel de Agente de Saúde e que falava a língua originária do Brasil e a
dos invasores indígenas – Kaingang ou Guarani. O médico e seus auxiliares não falavam
português. O “Agente de Saúde” traduziu as queixas do aluno-farmacêutico para o Pajé. Esse
interpretou uma pajelança, questionando a pessoa e o agente de saúde traduzindo para o
português. Os “pacientes” que simulavam tiveram que se submeter ao tratamento seguindo
as orientações de tratamento do pajé. Após a simulação ocorreu uma discussão com os
farmacêuticos de como os mesmos sentiram-se e como foi “ser índio colonizado”. O objetivo
do presente trabalho é ver a opinião dos alunos indígenas da UFRGS que participaram do curso
como bolsistas e realizaram a simulação reversa. Abaixo encontra-se a resposta de alguns
deles.

A Vivência de um Jovem Xavante no Tempo dos Brancos

Maria Clara de Campos Silva

Juliana Dal Ponte Tiverón

José Francisco Miguel Henriques Bairrão

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O povo Xavante desenvolveu diversas estratégias de relacionamento com os não- índios a fim
de favorecer sua sobrevivência. Dentre elas, observa-se o envio de crianças a Ribeirão Preto,
cuja missão consiste no aprendizado da língua e cultura do branco. Durante essa estadia, ficam
sob responsabilidade de famílias não-índias que zelam pelas crianças e fornecer-lhes a
educação formal do branco. Na presente exposição, será enfocada uma dessas famílias, que
recebeu duas gerações de meninos Xavante. Um deles, hoje com 16 anos, experienciou
intenso sofrimento psíquico durante sua permanência no ambiente citadino, chegando a
automutilar-se e a apresentar indícios de considerar suicídio, questões interpretadas pelo
universo branco como resultado de um grave quadro depressivo. O estudo em questão visa
apresentar o modo pelo qual o jovem lidou e lida com sua doença, quais motivos a
desencadearam ou a agravaram, que questões estão envolvidas no quadro e que
consequências esse engendra. Para tanto, elegeu-se a realização de entrevistas com ele e
membros de sua família branca, no intuito de compreender a inserção e especificidade
simbólica do entrevistado, num quadro de encontros e desencontros interculturais. Busca-se,
dessarte, traçar a trajetória do jovem em relação a seu quadro, que se inicia na vivência do
cotidiano urbano, sendo nesse contexto tratado via medicamentos e atendimento
psicológico; e desemboca em seu retorno definitivo à aldeia, que acarretou uma melhora em
seu estado. É sabido que os jovens Xavante dedicam-se à fabricação de um corpo guerreiro e
caçador, ou seja, um corpo adulto através de rituais que, em grande parte, exige elevadas
condições físicas, resistência e tônus muscular. Destaca-se que essa passagem da fase infantil
para a adulta parece ter sido ressemantizada pelo jovem do caso no ambiente urbano, mais
especificamente no contexto educacional. O jovem almejava obter melhores desempenhos e
notas em suas avaliações escolares e, por isso, se cobrava em demasia. Ou seja, em vez de um
corpo fortificado, fabricava o seu fortalecimento intelectual. Contudo, há indícios de que tal
ressignificação se atrela ao desenvolvimento de seu adoecimento. A procura pelo findar de
sua vida e o ato de cortar sua pele (que, ainda que pela dor, o coloca em contato com seu
sangue, elemento que na concepção Xavante representa a substância do ser), são justificados
por estar vivendo em uma sociedade que não respeita o tempo, por sempre o acelerar ou
tentar controlá-lo. Ao retornar para seu território ancestral, ele retoma o contato mais direto
com as marcas identificatórias Xavante e, felizmente, tem conseguido sonhar com o realizar
de algumas das suas experiências entre os brancos no corpo de sua comunidade (FAPESP).

A territorialização das informações de saúde dos povos indígenas

Kate Tomé de Sousa

Fernanda Borges Serpa

Camila Barbosa

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Renato Apolinário Francisco

O Ministério da Saúde, por meio da Secretaria Especial da Saúde Indígena (SESAI) é


responsável por coordenar a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígena desde
2010 (BRASIL, 2002). De forma descentralizada, hierarquizada e regionalizada no âmbito do
Subsistema de Atenção à Saúde Indígena do Sistema Único de Saúde (SASISUS), - criado em
1999 por meio da Lei Arouca (BRASIL, 1999) – atende aproximadamente 700 mil indígenas que
vivem em cerca de 5 mil aldeias como público alvo. A territorialização das atividades de
atenção à saúde indígena caracteriza-se pela descentralização em Distritos Sanitários
Especiais de Saúde Indígena (DSEI). Esses podem ser entendidos como territórios etno-
culturais dinâmicos que possuem coordenação autônoma dos serviços de saúde, alinhada às
diretrizes do SUS. Cada DSEI se organiza em polos base (PB), território composto de um
conjunto de aldeias e conta com equipes multidisciplinares. Atualmente existem 34 DSEI,
organizados em 366 PB. A abordagem geográfica em saúde, além de colaborar para o
monitoramento, prevenção e controle das doenças, também contribui ao desenvolvimento
de estratégias para a gestão dos serviços de saúde. Esse processo mostra-se um rico
instrumento na prática dos programas de saúde, deve ser pensado e concebido em caráter
multidisciplinar e envolver os diversos atores em distintas funções e graus de hierarquia.
(Bezerra, 2015) Este trabalho tem como objetivo discutir a territorialização da estruturação
dos serviços de atenção à saúde indígena, bem como das condições de saneamento e
respectivas concepções do território: PB e DSEI. Além disso, busca descrever os sistemas de
informações utilizadas pela SESAI, suas potenciais integrações e espacializações das
informações. A abordagem metodológica foi qualitativa por levantamento bibliográfico e
documental institucional sobre sistema de informação utilizadas pela SESAI. Esta metodologia
também foi utilizada para a concepção territorial, baseado nas condições fisiográficas, étnicas,
políticas e espaciais por meio de ferramentas de geoprocessamento na delimitação dos DSEI
e PB.

Resíduos sólidos: conseqüências, desafios e soluções na Terra Indígena


Tenharin

Angélisson Tenharin

Sasha Catarine da Rocha Soares

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

A presente comunicação tem como objetivo analisar a chegada dos produtos industrializados
nas aldeias, as consequências da chegada dos produtos e seus impactos no ambiente e na
qualidade de vida dos indígenas. Constatou–se que os indígenas estavam descartando os
resíduos sólidos de forma inadequada, conforme a orientação dos agentes indígenas de
saneamento – AISAN. Conclui – se que é necessário que a Secretaria Especial de Saúde
Indígena (SESAI), Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (SEINFRA), Distrito
Sanitário Especial Indígena (DSEI) e o Conselho Distrital de Saúde Indígena (CONDISI)
responsável por fiscalizar, debater e apresentar políticas para o fortalecimento e melhorias na
saúde indígena em suas regiões.

ST 54 | Territorialidades, derechos de propiedad y recursos naturales en


América Latina colonial y republicana, siglos XVI-XXI
Olivia Paloma Topete Pozas (Universidad Nacional Autónoma de México, México); Marta
Martín Gabaldón (Centro de Investigaciones en Estudios Superiores en Antropología Social –
CIESAS-CDMX, México).

La forma en cómo los grupos indígenas han controlado los recursos naturales –aguas, tierras
y bosques– se relaciona íntimamente con la manera plural en que despliegan su territorialidad
sobre espacios donde se solapan distintos derechos de propiedad. Esto ha conducido, tanto
en el pasado como en el presente, a que surjan distintas negociaciones, conflictos y
resistencias sobre cómo pensar el territorio y sobre el acceso y uso de los recursos naturales.
Esta temática es central para analizar la configuración histórica de Latinoamérica desde la
experiencia colonial, pasando por la conformación de las repúblicas soberanas, hasta las
dinámicas neoliberales actuales. El objetivo del simposio es generar intercambio de
conocimientos con perspectiva histórica y antropológica en torno a los problemas pasados y
presentes derivados de la configuración y apropiación del territorio por parte de los pueblos
indígenas y de los grupos que interactúan con ellos, abarcando una temporalidad amplia
(siglos XVI-XXI). Esta propuesta intenta contribuir al intercambio – temático, disciplinar y
geográfico– en la convergencia de los ejes temáticos del CIPIAL: a) Historia y memoria; e)
Tierras y territorialidades indígenas; g) Sociedad, medio ambiente y sustentabilidad. Se
establecerá un diálogo reflexivo en torno a las territorialidades y los derechos de propiedad
en relación con los recursos naturales incorporando estudios de diversas latitudes y
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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considerando sus divergencias y convergencias, así como los desafíos y los retos para esta
línea de investigación.

O desafio de pensar o território delimitado sob a perspectiva de acesso e uso


dos recursos naturais na Terra Indígena Kaxinawá
Tarik Argentim

Málika Simis Pilnik

A história do povo indígena Huni Kuin (Kaxinawá) remonta a um passado seminômade na


bacia do alto rio Juruá, sudoeste da Amazônia ocidental brasileira. Não obstante, durante o
século XX foram expropriados de seus territórios tradicionais em virtude dos ciclos
econômicos da borracha. Posteriormente, estiveram assentados à terra em regime de
cativeiro nos seringais, com a premissa de trabalhar exclusivamente para os patrões
seringalistas. Nessa época foram proibidos de praticar a cultura, falar a língua nativa e
implementar sua territorialidade. Após anos de conflitos e resistências, a população Huni Kuin
situada ao longo do rio Jordão – no estado do Acre, fronteira com a República do Peru – logrou
a demarcação de terras. Porém, tendo em vista a configuração territorial regularizada,
percebe-se que o Estado não levou em consideração a perspectiva de crescimento
demográfico, comum em sociedades sedentarizadas. Além disso, a agricultura de corte-e-
queima, praticada desde tempos imemoriais, depende de regime itinerante para ser bem-
sucedida. A partir dessa realidade, o objetivo da pesquisa foi diagnosticar como os Huni Kuin
da Terra Indígena Kaxinawá do Baixo Rio Jordão/AC adaptam-se a esse novo modo de
apropriação do território. Levou-se em conta o manejo dos recursos naturais e os desafios de
lidar com a problemática do território delimitado. Para tanto, foram utilizadas metodologias
consagradas nas etnociências, a saber, observação participante, trilhas-guiadas e realização
de entrevistas semiestruturadas (com informantes anciões e jovens a fim de compreender as
transformações históricas). Nota-se que permanecem vigentes diversas práticas tradicionais,
porém com embates em torno do manejo. Dentre elas, pode-se citar: a diminuição no período
de pousio das áreas abertas para o “roçado”; o desmatamento da mata ciliar para plantio de
“bananais”; a sobre exploração da fauna silvestre; o extrativismo inadequado; as tensões
entre áreas destinadas à pecuária e ao sistema agrícola tradicional; etc. Essas mudanças na
abordagem dos bens comunais – sobretudo em virtude da influência das relações com a
sociedade envolvente – ocasionam significativo impacto socioambiental e etnoecológico, em
virtude da conversão da vegetação nativa em pastagens, da diminuição da biodiversidade, da
erosão dos solos e do assoreamento dos cursos d’água. Ainda assim, evidencia-se um
movimento interno de monitoramento do uso dos recursos naturais. Neste contexto insere-
se o Plano de Gestão Territorial e Ambiental das Três Terras Indígenas Kaxinawá do Jordão/AC,
o qual expressa formas outras de interagir e regular os espaços. Destarte, no intuito de
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ISBN: 978-65-5080-015-4
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garantir o bem-viver do povo Huni Kuin, torna-se fundamental aprofundar o debate sobre a
relação entre territorialidade e sustentabilidade.

Territorios, contaminación y remediación ambiental: percepciones indígenas


de la actividad petrolera en el ex Lote 1AB, región de Loreto, Amazonía
peruana

Hortensia Caballero Arias

Meredith Castro Ríos

Rodolfo Rojas

Por más de 45 años, los pueblos indígenas Quechua, Achuar y Kichwa de la región de Loreto
han sido afectados por la explotación de hidrocarburos. Sus territorios, recursos hídricos y
modos de vida se han visto perturbados por la actividad de las empresas petroleras y sus
impactos colaterales: construcción de carreteras, presencia de agentes externos, derrames y
otras formas de contaminación ambiental. Ante los continuos conflictos socioambientales que
amenazan sus tierras y derechos originarios, las federaciones indígenas se movilizaron hasta
lograr la firma del Acta de Lima (2015) con instituciones del Estado peruano. En este acuerdo,
las federaciones solicitaban, entre otras, la elaboración de un Estudio Técnico Independiente
(ETI), que presentara lineamientos de remediación ambiental de las áreas afectadas por la
actividad petrolera en el ex Lote 1AB. A través del Ministerio de Energía y Minas, se solicitó al
Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo (PNUD) la coordinación de dicho estudio.
En el marco del ETI, el componente socio-antropológico fue central para determinar la visión
que tienen las comunidades nativas sobre el impacto de la contaminación petrolera en sus
territorios y modos de vida, y el alcance que debe tener la propuesta de remediación
ambiental en la recuperación de sus hábitats. El propósito de esta ponencia es presentar los
resultados de las encuestas de percepción y entrevistas semi-estructuradas realizadas durante
el ETI a la población indígena y no indígena que habitan las comunidades de las cuencas del
Pastaza, Corrientes y Tigre en el área del ex Lote 1AB. A partir de un análisis fenomenológico,
se propone examinar la significación que tiene para las poblaciones indígenas la experiencia
vivida ante la explotación petrolera en sus espacios de convivencia. Se analizan no solo los
aspectos cognitivos y sensoriales de los testimonios indígenas sino también los afectivos con
respecto a sus representaciones en cuanto a: ambiente, comunidad, salud, contaminación,
actividades productivas y remediación ambiental. Se busca analizar y contrastar las nociones
de territorio, contaminación y remediación ambiental en relación con los criterios de
espacialidad, temporalidad y significación desde un punto de vista relacional y siguiendo el
análisis de percepción propuesto por G. Simmel. Asimismo, se destaca las divergencia que
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existen con respecto a las visiones normativas que implementa el Estado. Al final, se postula
que los indígenas en relación con la remediación poseen una visión holística de su entorno
que difiere de los conceptos técnicos que maneja el Estado, lo cual podría dificultar el alcance
de consensos sobre lo que se entiende por remediación entre las partes involucradas.

Etnografía de un pueblo mazateca

Víctor Manuel Avila Avila

Gerardo Hernandez Cendejas

Los mazatecos son un grupo étnico que ha recibido poca atención por la historia y la geografía.
Proponemos un estudio geohistórico sobre el territorio y la territorialidad de Huatla de
Jiménez en la Sierra mazateca, en el estado de Oaxaca. Se proponen los resultados de una
cartografía participativa a partir de una primera experiencia de trabajo en la que participaron
estudiantes de la licenciatura de Geohistoria de la ENES, Morelia y habitantes del municipio
de Huatla de Jiménez, con los cual se planteó una construcción y reconstrucción histórica del
territorio. Con eso se busca hacer una historia de larga duración de un pueblo indígena, desde
su origen colonial hasta la actualidad. De esa manera se podrán apreciar los cambios en el
territorio, así como las elites que han controlado dicho espacio. Esto va de la mano con el
acceso a los recursos naturales y la explotación que ha hecho de ellos, que a su vez se enlaza
con la tenencia de la tierra. Si bien hoy en su mayoría la tierra es propiedad privada, se
mantienen prácticas ancestrales, que implican el reconocimiento de otro tipo de propiedad,
aunque estas no sean en el sentido formal sino informal.

Historia y cultura de Matambú, Territorio Indígena Chorotega. Costa Rica,


América Central
Carlos Gerardo Cruz Chaves

En el marco del proyecto Tierra encantada: aportes al reconocimiento y sabiduría de los


pueblos originarios de Costa Rica. En enero de 2018 se dio inicio a una serie de consultas en
tres pueblos indígenas para la aceptación del proyecto y empezar su implementación en el
2019. El pueblo de Matambú, que se autodenomina Chorotega, mostró especial interés en su
historia y problemática sobre la identidad cultural ante el desconocimiento generalizado de
su origen ancestral y de la trayectoria de los herederos de esa cultura milenaria. Al noroeste
de Costa Rica se ubica la Cuenca del Golfo de Nicoya, cuyas características naturales y
culturales han sido modificadas en el proceso de adaptación de los movimientos humanos que
tienen lugar desde la antigüedad en esta bioregión del país. En este caso queremos resaltar el
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proceso de poblamiento, con la presencia en el siglo XXI de una minoría étnica cuyos ancestros
de origen mesoamericano arribaron a partir del año 800 de la ec., producto de la Gran
Migración desde el México antiguo hacia el sur de América Central. El objetivo del trabajo es
explicar las condiciones y premisas del desarrollo de determinados fenómenos y de su
sucesión en el tiempo en la conformación del Territorio Indígena Chorotega, Matambú.
Asimismo, con la metodología participativa de la Historia local se pretende investigar los
elementos tangibles e intangibles del legado cultural Chorotega, lo cual demanda integrar la
sistematización y el análisis de fuentes documentales, bibliográficas y orales. El Territorio
Indígena Chorotega, Matambú, creado por el poder ejecutivo el 2 de junio de 1980 (artículo 3
del Decreto Ejecutivo N° 11564) de una extensión de 1 600 hectáreas y su núcleo urbano,
habitado por 1 200 personas, se ubica en la Península de Nicoya, Costa Rica. El Territorio se
ha constituido en el distrito N° 5 del cantón de Hojancha, Guanacaste. El estudio de Matambú
se justifica por la importancia que tiene para las identidades culturales costarricenses la
historia de la cultura de la Península de Nicoya. En la comunidad de Matambú sus habitantes
se plantean la conservación del patrimonio cultural y natural (biocultural) como un medio para
la organización social y la producción para la sobrevivencia. El sistema biocultural es entendido
como un proceso de apropiación integral teórico y práctico, implementado por indígenas en
un contexto de resistencia cultural. La organización y fortalecimiento de grupos excluídos
socialmente son mecanismos eficazes para el desarrollo del espacio rural de base local. Para
romper con la herencia colonial cultural, producto de los ciclos extractivos y expoliadores
instaurados hace 527 años, que ha caracterizado la historia de América Latina, es imperativo
reconstruir la historia de la comunidad de Matambú siendo lo sustantivo el estudio de su
sistema biocultural, el conocimiento de las técnicas de producción y consumo, las fuentes
escritas y orales, su recopilación e interpretación. Ese ejercicio supone fortalecer el
conocimiento histórico-cultural lo que a su vez se convierte en un insumo importante en los
espacios rurales para consolidar el liderazgo organizacional, la capacidad de incidencia, de
construcción y planificación de su futuro con propuestas endógenas que generen el Buen Vivir,
concepto que los hermanos mayores proponen ante el ambiguo “Desarrollo Sostenible”.

Territorialidade negociada: o Tekohá Guarani e as reduções jesuíticas na


Província do Tape, século XVII

Tuani de Cristo

Luís Fernando da Silva Laroque

Os Guarani ocupam os territórios do atual estado do Rio Grande do Sul há mais de 2000 anos,
estabelecidos em áreas com características geoecológicas e cosmológicas que possibilitem a
vivência conforme suas lógicas culturais (ROGGE, 2004). No século XVII a Companhia de Jesus

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adentrou os referidos territórios com o intuito de fundar reduções jesuíticas e inserir os


indígenas na lógica colonial europeia, situação que acarretou conflitos, mas também
negociações (BECKER, 1992). O objetivo do trabalho consiste em analisar duas situações de
negociações territoriais entre os Guarani e os jesuítas em áreas da Província do Tape no século
XVII. A metodologia recorre a uma análise qualitativa e descritiva, fundamentada em autores
que estudam a territorialidade e a cultura, como Seeger e Castro (1979), Haesbaert (2007) e
Sahlins (2004; 2011). Os dados utilizados foram adquiridos em revisões bibliográficas e análise
documental das Cartas Ânuas de 1633-1634 e 1635-1636. A territorialidade indígena é
constituída de elementos mais abrangentes do que a lógica de território da sociedade não
índia, questão que se tornou evidente desde os primeiros contatos com os europeus. A
escolha dos Guarani por um espaço para fundar o Tekohá seguia aspectos da memória,
relações cosmológicas, como a presença de espíritos e dos recursos naturais que possibilitasse
o manejo e a reprodução da lógica cultural do grupo. No ano de 1633 a redução de Santa
Teresa foi fundada em territórios da parcialidade liderada pelo Cacique Quarae. Todavia, após
o primeiro ano de fundação de Santa Teresa, o padre Ximenez solicita a Quarae que
juntamente com seu grupo se transfira para outro território, localizado nas nascentes do Rio
Jacuí. O padre alegou a parcialidade Guarani que o novo território era mais acessível, cercado
de rios e recursos naturais, mas este argumento inicialmente não convenceu os indígenas,
sendo preciso negociações entre as distintas lógicas territoriais. O segundo caso ocorreu em
territórios próximos ao Rio Taquari, no ano de 1635, ocasião em que Ximenez adentrou estes
territórios com o intuito de estabelecer contato com os Guarani que viviam naquela área.
Neste ínterim, a parcialidade liderada pelo Cacique Naee demonstrou interesse em negociar
com a Companhia de Jesus e fundar uma redução no território, entretanto padre Ximenez
destacou que o lugar não apresentava características interessantes para o estabelecimento
de uma redução, convidando Naee e seu grupo para se transferirem a outro local, proposta
que de imediato foi negada pela liderança. Constata-se que os dois casos apresentados
demonstram situações de negociações entre os Guarani e os jesuítas, evidenciando o
protagonismo indígena nas relações coloniais onde sua lógica territorial também foi
operacionalizada.

Entre las traviesas de las fronteras: trabajo indígena y los indigenismos


boliviano y brasileño en el río Guaporé

Eliaquim Timóteo da Cunha

Este trabajo trata sobre la mano de obra indígena en el desmonte de la Estrada de Hierro
Madeira - EFMM, ocurrido en las décadas de 1950 y 1960. Dicha ferrocarril fue construida, en
acuerdos entre Brasil, Bolivia y los USA, entre el final del siglo XIX y principios del siglo XX para
atender las demandas de la explotación del látex. El trabajo indígena era mediado por el
Servicio de Protección a los Indios - SPI y la Dirección de la Ferrocarril. Otro tema abordado en
1141
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ese estudio es la disputa entre el indigenismo boliviano y el brasileño referente al movimiento


de indígenas Moré presentes en los puestos indígenas administrados por el SPI. Este material
proporciona discutir sobre temas como violencia y transformaciones de las fronteras
económicas, políticas y étnicas en el contexto de la formación de la Amazonía Brasileña con la
expansión capitalista en el siglo XX. El trabajo apunta los elementos en el período de cambios,
cuando la frontera económica fue desplazada del río Guaporé con explotación del látex y de
los territorios indígenas, que forman esa región, hacia los márgenes de la BR 364 con los
proyectos de incentivo a la colonización.

Construindo o PGTA Potiguara: visões e cosmovisões indígenas

Humberto Bismark Silva Dantas

Alicia Ferreira Gonçalves

Ivys Medeiros da Costa

Maristela de Oliveira Andrade

O Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) é uma ferramenta de implementação da


Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental (PNGATI, 2012) e tem como principais
objetivos a gestão dos territórios indígenas em sintonia com os objetivos do desenvolvimento
sustentável e a valorização do patrimônio material e imaterial indígena. Em resposta ao Termo
de Compromisso e Ajustamento de Conduta (TAC) nº 36/2017 lançado no dia 6 dezembro de
2017 pelo Ministério Público Federal, veio à tona questões acerca dos usos sustentável dos
territórios indígenas e junto a isso a necessidade de construção de um PGTA. Os Potiguaras
habitam tradicionalmente seu território ancestral de aproximadamente 50.000.00 hectares
entre terras demarcadas e homologadas e terras ainda em reivindicação, no Litoral Norte do
Estado da Paraíba (MOONEN, 2008). De acordo com o Etnomapeamento dos Potiguara da
Paraíba (CARDOSO, 2012, p. 15) esses povos têm uma “permanência, [que] contudo se deu às
custas de resistência às investidas de diversos invasores”, invasões que, nos últimos dois
séculos, giraram em torno da produção de carvão e cana-de-açúcar (CARDOSO, 2012). Numa
tentativa de subsidiar a formulação do PGTA das 33 aldeias Potiguara foram organizadas
Oficinas de sensibilização e manejo sustentável dos recursos naturais nas aldeias, (Costa,
2019). Estas oficinas começaram a ser planejadas no segundo semestre de 2018, a partir da
demanda do TAC no36/2017, entre dezembro/2018 e janeiro/2019 foram realizadas quatro
oficinas nas aldeias Alto do Tambá, Jacaré de São Domingo, Três Rios e Benfica, há ainda uma
outra oficina agendada na aldeia Lagoa do Mato, em 22 de janeiro de 2019 e também um
planejamento para realização das outras oficinas durante 2019. Este projeto vem sendo
desenvolvido junto ao Conselho de Caciques das Aldeias Potiguara, com a participação de
pesquisadores, docentes e discentes do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Cultura

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Sociedade e Ambiente e em parceiras com os servidores da UFPB que atuam no campo do


ativismo ambiental e no âmbito do projeto CapesPrint 751134 P 150.165.209.113 da UFPB. A
metodologia deste trabalho adota uma perspectiva etnográfica, ou seja, explicita as visões
Potiguara mediante a realização de entrevistas semi-estruturadas, aplicação de questionários
com perguntas fechadas e abertas, observação direta em oficinas de mapeamento
participativo com elaboração de mapas (cartografia social) pelos indígenas e realização de
trilhas guiadas nas aldeias Potiguaras. Tendo como objetivos trazer uma análise das principais
propostas da PNGATI, junto a uma avaliação dos primeiros meses do processo de construção
do PGTA potiguara, buscando identificar os desafios e as perspectivas do referido PGTA, do
ponto de vista dos Potiguaras.

Encomienda, territorio indio y recursos naturales en el sur de la Mixteca Alta


Central en el siglo XVI

Marta Martín Gabaldón

A comienzos del siglo XVI, los esfuerzos de los conquistadores se vieron recompensados con
indios otorgados en encomienda y otras prebendas concedidas según el uso de la guerra
tardomedieval. El análisis detallado del devenir de la asignación y funcionamiento de estas
encomiendas nos revela cómo operó el despliegue de los intereses personales de los
españoles sobre un territorio indígena rico en recursos naturales, que fue afectado por
reconfiguraciones territoriales, intercambios transoceánicos de productos y nuevas
tecnologías de explotación de los recursos naturales, más los traslapes culturales derivados
de ello. Adicionalmente, pese a que los encomenderos ejercieron su jurisdicción sobre los
indios no bajo criterios estrictamente territoriales, su presencia fue pretexto para inicial o
alimentar conflictos previamente existentes entre señoríos y pueblos a partir de las
necesidades de adaptación a la nueva territorialidad impuesta por los españoles. Esta
ponencia pone la mirada sobre el sur de la Mixteca Alta central (actual estado de Oaxaca,
México) para dilucidar cómo interfirió la institución de la encomienda en la organización
territorial de los señoríos y en su aprovechamiento de unos recursos naturales abundantes y
codiciados a la luz de los pleitos sostenidos entre los encomenderos Martín Vázquez y
Francisco Maldonado entre 1531 y 1451, además de otras diligencias que enfrentaron a
pueblos por asuntos de posesión de tierras.

A territorialidade Pipipã vulnerabilizada por megaobra: implicações na saúde

Glaciene Mary da Silva Gonçalves

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Ações governamentais de implantação de grandes empreendimentos nos territórios


indígenas, cujo caráter é colonial e vinculado à perspectiva do suposto progresso econômico
e social, vêm afetando as perspectivas de futuro dos povos indígenas na América Latina e no
Brasil. No intuito de refletir sobre os processos oriundos dessas ações o estudo analisou os
processos de vulnerabilização e as implicações na territorialidade Pipipã decorrentes da
implantação da transposição do rio São Francisco e sua relação com a saúde, em Pernambuco.
A pesquisa foi realizada na perspectiva da determinação social da saúde e propõe o
movimento dialético, no intuito de promover os diálogos necessários para a devida
compreensão da complexidade das questões de saúde. Os procedimentos metodológicos se
pautaram na técnica qualitativa de coleta e análise de dados. As estratégias utilizadas foram
análises de documentos, entrevistas, observação participante e oficinas. A pesquisa
evidenciou que os Pipipã foram atingidos diretamente, violentamente, pela megaobra. Não
participaram do planejamento do projeto da transposição do São Francisco. O corte da terra
para a construção do Eixo Leste foi considerado pelos Pipipã um “estupro” da terra sagrada,
que vai deixar sequelas para sempre. As famílias foram separadas. As relações ambientais, o
Toré e os rituais do Aricuri e da Jurema foram afetados. A vulnerabilização foi material e
simbólica. A presença da megaobra, no território, foi percebida pelos Pipipã como produtora
de doença e não de saúde. O Projeto Básico Ambiental 12 indígena, foi planejado pelo
Ministério da Integração Nacional, para beneficiar a etnia, mas isto não ocorreu. O acesso à
água foi negado. Injustiças ambientais foram praticadas. A territorialidade Pipipã foi
vulnerabilizada. A reparação dos danos ambientais não foi implementada. Encontrando-se,
portanto, a etnia ameaçada em seus processos de reprodução sociopolítica e cultural no
contexto do convívio com o semiárido.

Los sionas del Ecuador y la relación con su saiye bai airo (territorio): uma
exploración sobre sus ensamblajes múltiples

María Fernanda Solórzano Granada

A partir del trabajo de campo realizado durante un año en las comunidades indígenas sionas,
ubicadas en la provincia de Sucumbíos de la Amazonía ecuatoriana; el presente escrito
evidencia las (re) significaciones sobre su territorio. Desde las historias de vida y prácticas
actuales de los actores sionas, analizo el proceso colonizador en la región norte amazónica.
Estudio la presencia del Instituto Lingüístico de Verano (ILV) en los años cincuenta, las Leyes
de Colonización que propiciaron la apertura de industrias extractivas desde los años setenta,
la creación de sus comunidades actuales, y la actual negociación con la petrolera china Andes
Petroleum para la concesión de parte de su territorio. Recupero la categoría de ensamblajes
múltiples (Gerard Verschoor y Camilo Torres, 2016) como la diversidad de prácticas y
realidades donde los actores deben enfrentar dilemas de uso de recursos comunes, o su
integración al acceso de dinero y la resignificación de la cosmovisión local. Estas realidades se
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entrelazan y chocan, se yuxtaponen e incorporan de manera explícita o no. Uno de los


ensamblajes analizados es entre airo (selva) y comunidad. En el airo se reproducen las
prácticas de caza, pesca y ceremonias, donde se exteriorizan los vínculos entre los humanos y
no humanos a través de la comunicación con los bai (espíritus), potenciados por
agenciamientos de sus plantas sagradas (yagé/ayahuasca). Mientras que la comunidad, es el
espacio para la materialización de sus necesidades como la siembra de productos alimenticios,
educación y servicios básicos. Los sionas viven su airo (selva) desde vínculos con los no
humanos, mientras habitan su comunidad desde las interrelaciones con colonos, funcionarios
públicos, empleados petroleros. Tanto la comunidad como el airo (selva), representan su siaye
bai airo (territorio ancestral en el idioma baicoca), el cual implica la materialidad, la memoria,
y los sentidos de reconocimiento de un espacio vivo donde convergen varios actores. En un
territorio constreñido por la expansión de industrias extractivas, me pregunto sobre la toma
de decisiones comunales y familiares, puesto que estas resoluciones forman sus mundos de
vida, e involucran la interiorización y, con frecuencia, reformulación de sus racionalidades en
relación con presiones externas.

Conflictos por el agua en el Valle de México: la lucha mazahua por un bien


común
Miguel Hernández Hernández

La Ciudad de México se ha constituido como una de las mayores megalópolis en América


Latina. Diversos gobiernos de este continente han priorizado soluciones técnicas para
transportar agua hacia los principales centros urbanos. México no es la excepción, y este
proceso ha despojado del vital recurso a comunidades indígenas con el fin de garantizar la
demanda de agua en la capital del país. Los efectos sociales y ambientales se manifiestan tanto
en el acceso diferenciado al recurso, como en la degradación ambiental de regiones que
reciben diariamente aguas residuales que no han sido saneadas adecuadamente. Este modelo
urbanocéntrico de gestión de recursos hídricos ha generado en los últimos años un proceso
de resistencia regional. Comunidades mazahuas han evidenciado los impactos
socioambientales del Sistema Cutzamala que abastece de agua a la Ciudad de México. En esta
ponencia se pretende analizar: a) la capacidad de agencia de las comunidades mazahuas; b)
los recursos políticos y legales que han utilizado estos pueblos para defender su territorio; c)
las interrelaciones del movimiento con diversos actores sociales y d) entender la percepción
que éstos tienen en torno al agua, uno de los recursos estratégicos más importantes en
diversas regiones del mundo.

Conflicto mapuche en Chile, estrategias de mejora para la disminución de las


tensiones en la zona de la Araucanía
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Rocío Cruz Lathrop

En la zona de la Araucanía en Chile, la cual para efectos de la presente investigación será


comprendida entre el río Biobío y el rio Toltén, es posible evidenciar la manifestación de una
disputa ancestral entre el estado chileno y pueblo mapuche por el dominio de los territorios.
Lo cual, se puede entender como el fruto de una historia de conflictos que datan de los anales
de la república chilena, donde tras el proceso de pacificación de la Araucanía el pueblo
mapuche quedó sólo con el 5 % de las tierras que originalmente tenían, según explica José
Bengoa. Múltiples actores se encuentran involucrados en él, cabe mencionar como principal
a las comunidades mapuche, quienes además han diversificado su postura frente a la
problemática, colonos chilenos y extranjeros, empresas forestales y del rubro energético
emplazadas en estos territorios, pobladores no pertenecientes a comunidades indígena, y
junto con ello, y contribuyendo a aumentar la tensión en el escenario, la presencia de las
fuerzas especiales de carabineros de Chile. Al observar de forma general cuales son las
principales demandas que manifiesta hoy el pueblo mapuche en la zona de la Araucanía, se
puede identificar en base a declaraciones efectuadas por líderes del activismo indigenista,
tales como, Héctor Llaitul, que son la búsqueda de la restitución de los territorios ancestrales
pertenecientes a sus comunidades y el reconocimiento de la autonomía y libre determinación,
respaldados principalmente por el marco normativo del convenio 169 de la OIT al cual hoy
Chile se encuentra adscrito. Por lo que al dar una mirada general al conflicto se puede ver que
posee un sin número de aristas y actores involucrados, lo que ha dificultado para los últimos
gobiernos de Chile la posibilidad de transformar el conflicto, para así desmilitarizar la zona y
conseguir la paz entre los actores. Con la presente investigación se busca plantear estrategias
de mejora que contribuyan al diseño de una propuesta de transformación positiva del
conflicto mapuche en la zona de la Araucanía a través del análisis de las gestiones realizadas
entre los años 2015 y 2018 por el estado chileno para lograr la disminución de la violencia en
la zona. Para ello se describirá el proceso del conflicto del pueblo mapuche en la Araucanía
vivido en dicho periodo identificando los hitos transformadores de este, también se señalará
a los actores del conflicto y su trayectoria en él durante el periodo de estudio. Lo anterior,
enfocándose en el análisis de dos casos, correspondientes a las comunidades Ignacio Huilipán
y a la comunidad de Temucuicui.

O processo de desmantelamento da demarcação de terras indígenas no Brasil


(2014-2019)

Fernanda Santa Roza Ayala Martins

Marcelo Artur Rauber

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No documento final produzido em 2018 no Acampamento Terra Livre, em Brasília, o


movimento indígena já havia denunciado a existência de um “desmonte deliberado” da
política indigenista e uma completa paralisação das demarcações das terras indígenas (APIB,
2018). Ainda durante a campanha, o presidente eleito Jair Messias Bolsonaro havia divulgado
que paralisaria as demarcações de terras indígenas. Compreendendo essas questões como
parte de um processo de desmantelamento das demarcações, o objetivo desse trabalho é
analisar a política fundiária indígena na perspectiva de policy dismantling (JORDAN et al.,
2012), na qual se busca analisar a diminuição da intensidade e densidade e as estratégias
utilizadas. Para isso, foram observados dados orçamentários e medidas do Executivo Federal
com impactos na estrutura da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e nos procedimentos de
demarcação no período de 2014 a 2019. Na série histórica de homologações de terras
indígenas, foi possível observar que em 2014 não ocorreu nenhuma nova homologação; em
2015, foram homologadas sete terras indígenas e, em 2016, foram três, demonstrando uma
estratégia de desmantelamento por defeito ainda no governo de Dilma Rousseff. No governo
do presidente Michel Temer, os processos de demarcação de terras indígenas sofreram
alterações e restrições, principalmente em 2017 (ano sem novas homologações), por meio de
uma série de medidas, como a Portaria no 80 do Ministério da Justiça, a aprovação do Parecer
no 001/2017/AGU, que proíbe a ampliação de terras indígenas e estabelece o chamado
“marco temporal”. Além disso, foi publicado Decreto no 9.010/2017, que remanejou e
extinguiu cargos, além de afetar 51 cargos nas Coordenações Técnicas Regionais e,
especialmente, a Coordenação Geral de Licenciamento Ambiental, que avalia
empreendimentos com impactos socioambientais sobre as terras indígenas. Ao analisarmos
os valores autorizados e pagos especificamente da Ação orçamentária 20UF, dedicada às
demarcações, é possível concluir que a execução desta ação vem caindo desde 2015, com
ênfase no ano de 2017. A MP 839/2018, para abatimento no preço do diesel, também realizou
corte no orçamento na ação 20UF. A MP 870/2019, primeira medida do governo de Jair
Bolsonaro, transferiu a FUNAI do Ministério da Justiça para o Ministério da Mulher, da Família
e dos Direitos Humanos, e retirou a atribuição das demarcações da FUNAI, sendo esta
transferida para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, retirando, assim,
capacidade administrativa dos procedimentos demarcatórios. Portanto, no governo de Michel
Temer recorreu-se à estratégia de desmantelamento ativo dos procedimentos de demarcação
e os anúncios até então realizados pelo novo governo indicam o prosseguimento do
desmantelamento ativo.

“Civilizar para dominar”: Os índios do Rio Jequitinhonha e o Regulamento das


Missões de 1845

Renata Ferreira de Oliveira

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A presente comunicação objetiva-se a analisar a implementação do Regulamento acerca das


missões de catequese e civilização dos índios, no Rio Jequitinhonha na segunda metade do
século XIX. A primeira legislação indigenista geral do Império, o Decreto Imperial n. 426 de 24
de julho de 1845, estabeleceu uma estrutura geral para os aldeamentos do território
brasileiro. O documento foi o resultado das diferentes propostas sobre a integração dos índios
à sociedade nacional. Foi, ainda, o norteador de toda a administração da política indigenista
das Províncias Imperiais. A caracterização e interpretação dos movimentos indígenas no curso
do Rio Jequitinhonha, é analisada a partir da composição espacial formada pelos
deslocamentos dos índios, tanto nas travessias das fronteiras administrativas quanto em
movimento contrário. A partir de então, constituiremos a região denominada Jequitinhonha
caracterizando-a por meio de constantes reconfigurações societárias, mas também impressas
em um contexto semântico de consolidação do Estado Brasileiro. Para explorar algumas faces
da história do Jequitinhonha, a documentação analisada, sobretudo a produzida pelas
Diretorias Gerais dos Índios, localizadas nas províncias da Bahia e de Minas Gerais, contribui
para percebermos a dinâmica das relações travadas por diversos agentes nesse território. O
exercício de localizar os índios no processo histórico marcado por constantes movimentos e
reconfigurações territoriais a partir da implantação do Regulamento das Missões de 1845,
evidencia estratégias capazes de configurar formas distintas de ocupação territorial e
demonstra o caráter das relações travadas entre índios e não índios e as suas ações frente ao
contato. Todavia, partimos do pressuposto de que é necessário dimensionar que, nas áreas
de fronteiras e conquistas, o acesso à mão de obra indígena se deu em quase sua totalidade,
principalmente pela falta de recursos para a compra de africanos. Por isso, a reorganização
dos aldeamentos dos índios da região Jequitinhonha, pode ser compreendida como processos
e tentativas de “civilizá-los” mediante o uso de sua mão de obra. Essa questão precisa ser
mensurada a partir do problema relacionado com o fim do tráfico de africanos.

Los usos del agua durante la reforma agraria en México: una perspectiva
desde el sur (1917-1940)

Olivia Topete Pozas

En México, a inicios del siglo XX coexistirían dos procesos relativos al acceso de agua: por un
lado, la nación asumía la propiedad originaria de los recursos hídricos y, por el otro, dotaba y
restituía tierras, aguas y bosques por medio del reparto agrario. Estas dos formas de acceder
al agua tuvieron repercusiones importantes y de hecho transformaron el carácter legal en los
usos, control y gestión de los recursos hídricos. Además, ambos procesos no estuvieron
exentos de conflicto dado que los arreglos previos que se tenían sobre el agua serían
trastocados y, en algunos casos, rebasados por la nueva dinámica hidráulica. La

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implementación de la política centralizadora por parte del Estado mexicano en torno al


manejo de los recursos hídricos generó una diversidad de reacciones, prácticas, conflictos y
negociaciones entre los diferentes actores sociales que hacían uso del agua. Desde esta
perspectiva, se abordarán algunos de los cambios y las continuidades respecto a los derechos
de propiedad de este recurso en particular en el estado de Oaxaca, México.

Derecho, jurisdicción y propiedad en el Valle de Etla durante el siglo XVI al


XXI: consensos y disensos

Óscar Rodríguez Rodríguez

Durante el mes de marzo de 2013 en la prensa Oaxaqueña circularon varias notas periodísticas
que recogían el malestar de la población de San Pablo Huitzo, Distrito de Etla, Oaxaca ante lo
que ellos identificaban como la “incapacidad” del Agente de Bienes Comunales del municipio
para defender su territorio, en un conflicto por límites de tierra que sostenían con Santiago
Tenango, pueblo ubicado al norte de esa demarcación 1. Lejos de ser un hecho aislado, éste es
solo una muestra de un fenómeno de larga duración en torno a disputas agrarias suscitadas
en la provincia de Antequera (hoy Oaxaca, México) desde los albores del siglo XVI hasta el
presente2. Según datos provenientes de la Junta de Conciliación Agraria dependencia del
gobierno del estado de Oaxaca, a la fecha existen al menos 364 conflictos agrarios de los
cuales según ese organismo 29 son de alto riesgo, 107 de mediano y 228 de bajo. La ponencia
que someto a su consideración dará cuenta de la conflictiva situación que se ha vivido en las
inmediaciones del territorio “Huitzeño”, con sus pueblos vecinos: Santiago Suchilquitongo,
Magdalena Apasco, Santiago Tenango, Santa María Tenexpa, San Felipe Telixtlahuaca y San
Juan del Estado4 por el usufructo de la tierra y sus recursos naturales durante el periodo siglo
XVI al XXI, cabe señalar que en esas problemáticas los caciques tuvieron una participación
activa durante la colonia. En conjunto se tradujeron en demandas judiciales para la defensa
del territorio: en la sustanciación de los casos en la época novohispana y republicana,
advertiremos la aprehensión del territorio real y simbólico por los actantes, el uso de la
legislación en materia agraria y las consecuencias que los procedimientos legales dejaron en
la población. Para el abordaje del tema existe un rico acervo etnohistórico tanto documental
como visual (mapas y lienzos).

Los Impactos de la Usina Hidroeléctrica de Belo Monte en las tierras indígenas


de la región del Xingú

Matheus Alberto Rondon e Silva

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Con el aumento poblacional y el grande avanzo tecnológico la economía brasileña fue


instigada a generar energía utilizando el gran potencial hídrico que el vasto territorio brasileño
alberga, así, la región Norte de Brasil empezó a ser explorada. La Usina Hidroeléctrica de Belo
Monte, está situada en el municipio de Altamira en el estado de Pará, los estudios para la
implementación de la usina empezaron en 1980 con el nombre Kararâo y actualmente es la
mayor Usina 100% brasileña y la tercera mayor usina del mundo. El objetivo de este estudio
es demonstrar los prejuicios causados por la Usina de Belo Monte y los impactos que la
población indígena Juruna sufre ante la intervención que ocurre en el rio Xingú, como la
inundación de regiones históricas del pueblo Juruna en la Volta Grande del Xingú. Por
intermedio de búsquedas bibliográficas a diversas obras, con la participación y relatos del gran
pueblo Juruna. En su libro Juarez Pezzuti (2018) relata que el Pueblo Juruna (Yudjá), se
estableció en la región desplazándose por las islas, donde fijaban sus aldeas. En 1930 con la
llegada de no indígenas en la región donde vivían, los mismos fueron obligados a dejar su
territorio, una parte del grupo decidió migrar y se establecieron en el Parque Indígena del
Xingú, otra parte se mantuvo en el territorio y lucho por sus tierras. Los Jurunas que siguieron
en la Volta Grande son los principales afectados por los impactos generados con la
construcción de la Usina, dicha construcción cambió el ritmo de vida de muchos Jurunas, una
parte de sus territorios están amenazados de inundación con la operación de la Usina, la
historia de este pueblo luchador que ha enfrentado inúmeras dificultades en establecerse en
su territorio sigue amenazada. Según Fearnside (2011) los pueblos indígenas de la cuenca del
Xingú suman 28 etnias que totalizan cerca de 20mil indios distribuidos en cerca de 40% de la
cuenca, en la región de influencia de la usina dos Tribus Indígenas van a ser directamente
impactadas: la Tribu de los indios Jurunas y el área de los Arara de la Volta Grande. La Usina
de Belo Monte impacta la población indígena del Xingú, afectando principalmente su sitio
histórico en la región de la Volta Grande, el ritmo de vida de los indígenas ha cambiado desde
la implementación de la Usina, causados por las turbulencias en el Rio Xingú, con el aumento
de la fuerza del agua en la región con las aperturas de las turbinas de la Usina, durante la
construcción varios desvíos en el rio Xingú, hicieron que el agua se tornará inapropiado para
el consumo, así como resultó en la diminución de pescados en las cercanías de la Aldea Juruna,
por otro lado, la inundación produjo el aumento de insectos y por consecuencia el aumento
de enfermedades tropicales como la malaria.

Manutenção e preservação das nascentes da Serra Arapuá localizada no


Município de Carnaubeira da Penha-PE
Igor Mateus Gonçalves

David Andrade de Sá

Solange Aparecida do Nascimento


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O estudo está focado no Bioma Caatinga, Sertão Pernambuco, mais especificamente, a Serra
do Arapuá, área habitada pelo povo indígena Pankará, no município de Carnaubeira da Penha,
que até 1991 pertencia ao Município de Floresta e através da Lei Estadual 10.626, passou a
ser município autônomo. Carnaubeira da Penha faz parte da Mesorregião São Francisco e da
Microrregião Itaparica, no Estado de Pernambuco, limitando-se com a Bahia. (MASCARENHAS,
2005). Este projeto tem como objetivo promover a manutenção e preservação das nascentes
da Serra Arapuá, obtendo a melhoria na qualidade e quantidade de água melhorando o bem
estar e a sustentabilidade do povo Pankará. A água é um recurso hídrico indispensável nas
atividades humana e essencial para a sobrevivência dos seres vivos, tendo em vista poluição
e a degradação das nascentes o projeto manutenção e preservação das nascentes busca a
implantação de matas ciliares nos “olho d ́agua” para preservar e manter o controle da
soberania e sobrevivência das nascentes mantendo então a qualidade e quantidade d ́agua.
Observa-se que as nascentes da serra arapuá encontra-se em maus tratos, poluídas,
contaminadas e muitas já secaram e até sua grota principal está secando em tempos de seca
o que não deveria ocorrer se estivesse um cuidado específico uma proteção e preservação de
suas matas ciliares sem nenhum cuidado a tendência é a extinção das nascentes, como é em
uma região do nordeste no semiárido pernambucano onde o povo sofre muito com a falta de
água, deveria ter uma proteção e conservação desse oásis no sertão nordestino. A mata ciliar,
também conhecida como mata de galeria, mata de várzea ou florestas ripárias, segundo o
Código Florestal, deve-se manter intocada, e caso esteja degradada, deve-se prever a imediata
recuperação (ATTANASIO et al, 2006). A construção de cercas, fechando a área da nascente,
num raio de 50 metros a partir do olho d’água, evita o pisoteio, a compactação do solo e a
destruição das mudas por animais existentes na área, como o gado, porcos, galinhas e outros.
A manutenção do aceiro, com no mínimo 10m de largura em volta da cerca, evita ainda que o
fogo, em caso de incêndio, atinja a área de nascente (CARVALHO, 2004), o que poderia
prejudicar o processo de regeneração. De acordo com a Rede de Monitoramento de Direitos
Indígenas em Pernambuco (RENDIPE), a Serra Arapuá possui inúmeras fontes de água, o que
caracteriza a serra um “oásis no sertão”, segundo especifica os índios, são cerca de 19 grotas,
15 lagoas e barragens e 82 nascentes permanentes de água. E foi com base principalmente na
degradação dessas 82 nascentes que veio a ideia e necessidade de um cuidado mais
abrangente e especÍfico desses recursos hídricos.
A participação e o conhecimento tradicional dos povos indígenas nas políticas
públicas dos incêndios florestais: O programa de brigadas indígenas do
Prevfogo/Ibama

Ananda Santa Rosa

Gabriel Constantino Zacharias

Fabrício Ferreira Amorim

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Rodrigo de Moraes Falleiro

Nas últimas décadas, as terras indígenas foram acometidas por inúmeros focos de incêndio
que culminaram na degradação ambiental, na erosão do solo e na queima de roças, aldeias e
casas. Desde 1989, o Ibama, por meio do Prevfogo, atua nas terras de forma pontual com o
deslocamento de recursos e brigadistas, quando diagnosticadas as ocorrências de grandes
incêndios florestais, a partir do monitoramento com dados satelitais. A partir de 2013, com o
estabelecimento do programa de brigadas, a ação passou a ser permanente, por meio da
contratação e capacitação de indígenas como brigadistas para exercício como combatentes e
educadores ambientais, em seus respectivos territórios. Em 2014, o conhecimento tradicional
dos povos indígenas foi incorporado ao programa para a realização de queimadas prescritas,
seguindo os costumes e tradições dos povos, acrescentando a função de agente de manejo.
O escopo do trabalho é apresentar o programa de brigadas indígenas, entre os anos de 2013
a 2018, a partir da revisão de documentos e análise do número de registros de operações,
contratações, capacitações, área queimada e atividades exercidas. Pretende-se apresentar
com o trabalho a relevância desta política para o empoderamento dos indígenas sobre a
conservação de seus territórios, especialmente com o reconhecimento da tradição ao uso do
fogo e com a conservação da biodiversidade.

Território é Cultura: Uma breve analise da importância do Território indígena


para os Tembé do Gurupi

Haieny Nazaré Reis Santos

O Povo Témbé do Gurupi ocupa a parte sul da Terra indígena Alto Rio Guamá, localizada no
município de Paragominas Belém – Pará. Este povo pelas lutas travadas ao longo do tempo
valoriza a terra indígena habitada de forma intensa, pois possuem um olhar sobre o seu
território muito além do que a cultura do não indígena pode entender. Os usos de seus
espaços ajudam estes a multiplicar e manter sua cultura viva, eles fazem parte de sua terra e
atribuem a ela um significado especial. Baniwa discute acerca desta visão nos dizendo que:
“Terra e Território para os índios não significa apenas o espaço físico e geográfico, mas é toda
simbologia cosmologia que carrega como espaço primordial do mundo humano e do mundo
dos deuses que povoam a natureza” (2007, p. 6). A partir disto o presente trabalho pretende
relatar uma pesquisa realizada entre os Tembé do Gurupi focada na aldeia Cajueiro –
Paragominas – Pará, que tem como objetivo entender e apresentar os múltiplos olhares e
significados do Território para este povo, procurando ainda perceber a cosmologia, simbologia
e importância dos espaços que compõem este território para a manutenção da vida da
comunidade, apresentando também o passado de luta pela garantia da posse desses espaços,
assim como alguns conflitos e impactos ambientais causados por não indígenas que atingem
atualmente a Terra indígena Alto Rio Guamá.
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Desarrollo para quién? Transbananal, una amenaza constante entre siglos

Sofia Santos Scartezini

Este trabalho pretende construir uma linha do tempo das controvérsias e os atuais retrocessos
em torno da construção e pavimentação da rodovia Transbananal. Uma rodovia que atravessa
terras e parques indígenas e também áreas de proteção ambiental, sendo a maior ilha fluvial
do mundo. Atualmente o projeto foi rebatizado de TO-500, em que objetiva atravessar o
estado da Bahia, passando por Tocantins e chegando a oeste do Mato Grosso brasileiro. A
justificativa da construção da obra é a criação de um corredor de exportação para a redução
dos custos de transporte para o escoamento da produção agrícola. O projeto atravessa as
Terras Indígenas do Parque do Araguaia e Inywébohona, e possui inúmeras consequências
sobre as populações que vivem nos locais, como a alienação de seus modos de vida, a
exposição a riscos de invasão territorial, destruição ambiental entre outros desdobramentos
que afetam diretamente os modos de vida das populações indígenas da região.

Imaginar y consolidar la nación, cuando los reinos españoles en América se


volvieron naciones: El caso de Colombia entre los años 1810-1850

Juan David Echeverry Tamayo

Durante la coyuntura vivida en el proceso de emancipación latinoamericana se generó un


conflicto identitario que bebía de la ambigüedad discursiva del proceso que se estaba
desarrollando, en gran parte debido a la naturaleza contingente e imprevista de un cambio
que implicaba reestructurar las fuentes y relaciones de poder en unas sociedades
caracterizadas por la inmovilidad. Sin embargo, aunque se introdujeron una serie de discursos
innovadores que aspiraban a desintegrar el sistema de valores, instituciones y roles
precedentes, dichos discursos constituían una amenaza significativa para unos grupos que
dependían de dinámicas provenientes del anterior régimen para mantener su estatus, modo
de vida, autoridad y privilegios. Ahora bien, esta constante lucha por el poder no debe
definirse como un reemplazo del antiguo régimen, sino como una dinámica de continuidad-
ruptura donde se produjo una disrupción en la simbología y estructura del poder,
característica que impide a su vez entender este proceso como un fenómeno nacional. Así,
con este trabajo se busca en primera instancia examinar de qué manera una coyuntura crítica
como el proceso independentista desarticuló el orden jerárquico en la América española,
llevando a la construcción de un yo colectivo diferenciado en Colombia. Con este fin se
explicará el proceso de territorialización del antiguo virreinato de la Nueva Granada, por
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medio de la negación del pasado español y su vínculo directo con los demás reinos de la
América hispánica ahora suprimidos del yo colectivo. Para finalizar, se analizará cómo el
discurso autojustificante de la nación sirvió para limitar el alcance de la revolución cultural
que significó la llegada del Estado moderno a Latinoamérica. La metodología que se usará se
centra en un modelo dinámico de path dependence, basado en la articulación de la
retroalimentación positiva y las secuencias reactivas, con el objetivo de analizar coyunturas
críticas a través de narraciones analíticas. Para desarrollar esta idea se efectuarán una serie
de comparaciones que permitan generar hipótesis que consideren los comportamientos
ocurridos fuera del área de equilibrio que representaba el sistema monárquico a fin de revelar
las razones y razonamientos por los cuales los actores construyeron una versión de la nación
y no otra. En consonancia, se prestará especial atención a aquello que los actores creían que
pasaría si tomaban una decisión determinada y como esto influía en el abandono de opciones
alternativas aun cuando esto significase sacrificar o aumentar la relación costo-beneficio de
sus elecciones a la hora de configurar la naturaleza de la comunidad política.

ST 55 | Território Guarani: conflitos e resistências


Manuel Munhoz Caleiro (Centro Universitário Autônomo do Brasil – UniBrasil, Brasil); Clovis
Antônio Brighenti (Universidade Federal da Integração Latino-Americana – UNILA, Brasil);
Marcelo Bogado Pompa (Instituto de Ciencias Sociales – ICSO, Paraguai).

O presente simpósio busca enfrentar academicamente os conflitos envolvendo as terras e o


território Guarani, bem como seus mecanismos de resistência na perspectiva histórica e
contemporânea em processos de lutas no campo político, jurídico e educacional.
Priorizaremos trabalhos que incorporem elementos das teorias da decolonialidade e da
jusdiversidade. Ao longo do processo histórico, resistindo à colonização, o Povo Guarani
adotou diferentes táticas e estratégias aos avanços das sociedades coloniais e nacionais.
Tendo figurado como protagonista em diferentes contextos e conflitos, como a aliança
Guaranítico-jesuíta e a consequente guerra travada pelos impérios ibéricos, a Guerra da
Tríplice Aliança, a criação do reservatório de Itaipu etc., este povo viu seu território ser
transformado em mercadoria. Na contemporaneidade, os Guarani têm construído diferentes
mecanismos de enfrentamento às adversidades, como a ressignificação de sua cosmologia e
reorganização sociocultural para assumir uma nova postura diante das adversidades, além da
reinterpretação e ressignificação das relações com a terra e o território. Nos contínuos

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processos de construção e transformação de suas concepções territoriais surge um novo


elemento, a retomada de terras enquanto instrumento de resistência. Durante suas
mobilidades territoriais, encontram por seus caminhos o substrato da modernidade
capitalista, com a divisão do espaço em áreas de produção, devastadas pelo agronegócio, e
áreas de proteção ambiental.

“Inimigos do Progresso”: A questão territorial Guarani no litoral catarinense

Mariana Madruga Bianchini

Este trabalho foi elaborado a partir do projeto de pesquisa “Inimigos do Progresso: populações
tradicionais e projetos de desenvolvimento na América do Sul”, realizado na Universidade do
Estado de Santa Catarina (UDESC), durante o primeiro semestre de 2016. O foco da pesquisa
foi a questão territorial que envolve a população Guarani Mbyá que vive no litoral de SC, em
especial na área de Morro dos Cavalos (Palhoça), cujo processo de reconhecimento tem sido
marcado por conflitos. Foram realizadas entrevistas com lideranças Guarani e mediadores que
atuam junto a este grupo, bem como foi efetuada observação participante em visitas à aldeia
Itaty (Morro dos Cavalos) e em eventos nos quais os indígenas Guarani estiveram presentes,
seguido de registros em diários de campo. Percebeu-se que, nos últimos anos foi acentuado
o discurso, anterior a Constituição de 1988, pautado pela noção de que os indígenas seriam
um atraso para o progresso e para o desenvolvimento. Por outro lado, constatou-se que a
reivindicação dos Guarani e dos demais povos indígenas de SC referente à terra correspondem
a menos de 1% do território do estado catarinense, contradizendo a acusação hegemônica de
que os direitos dos povos indígenas – e dos Guarani, em especial - seriam impeditivos ao
processo de desenvolvimento do país. O poder do sistema de reproduzir esse discurso foi
acentuado com políticas indigenistas que visaram incorporar as populações indígenas a
“sociedade brasileira”, como foi o Serviço de Proteção ao Índio, criado em 1910, a fim de gerar
a transformação do índio em trabalhador nacional, ignorando a identidade indígena.
Atualmente o que ocorre, são os interesses econômicos agindo por meio de políticos que
permitem criação de leis em benefício desses setores. Esta pesquisa busca apurar os atuais
conflitos que envolvem a população Guarani Mbyá, presente no litoral catarinense, e agentes
que representam o desenvolvimento urbano e o crescimento econômico.

De la selva como frontera a la vida en la selva como ideal a seguir

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Marcelo Bogado

En la presente ponencia se muestra una evolución histórica de la relación de los Guaraní del
Paraguay Oriental con respecto a la selva por un lado y con respecto a la sociedad envolvente
por el otro. Se parte de la frontera simbólica y territorial a un mismo tiempo que se dio a partir
de los tiempos coloniales entre los Guaraní reducidos en las misiones y aquellos que vivían en
la selva. En las crónicas jesuitas se percibe a los Guaraní monteses como rebeldes al orden
colonial y a la misionalización, siendo asociados con lo salvaje y diabólico. En tiempos del
Paraguay independiente hasta fines del siglo XIX los Guaraní monteses eran temidos por los
yerbateros, quienes veían a la selva como un ámbito peligroso. En estos tiempos los Guaraní
buscaban bienes de consumo del mundo blanco pero se mantenían en las selvas, evitando el
contacto con la sociedad envolvente. El siglo XX representó para los Guaraní monteses la
perdida de las selvas, con el avance del frente colonizador nacional. Si bien esta perdida de
territorio y de posibilidades de subsistencia a la manera tradicional implicó cambios a nivel de
los estilos de vida de los Guaraní, particularmente por la perdida de acceso a los bienes de la
selva, se dio un proceso de identificación identitario en el cual los Guaraní (particularmente
los Mbya) se forjaron a sí mismos la imagen de pueblo de la selva, diferentes a los no indígenas
o jurua.

No rastro dos Vogados: a longa caminhada rumo a Terra Sem Males

Paulo Humberto Porto Borges

Este trabalho em como objetivo analisar os deslocamentos e a mobilidade espacial de um


determinado grupo familiar Guarani do oeste do Paraná, liderado pelo jovem xamõi Claudio
Vogado. Os deslocamentos e migrações Guarani sempre foram uma característica deste povo
e, ao seu modo, Claudio Vogado e sua parentela remontam a uma antiga lógica que vem se
reinventando diariamente, sem, entretanto, romper com seu núcleo fundante: a chamada
busca da Terra Sem Males. Segundo o estudioso paraguaio, Bartomeu Meliá, uma das
principais características do povo Guarani diz respeito a sua mobilidade, “a migração, como
história e como projeto, constitui um traço característico Guarani”, ainda que, ao contrário de
Claudio Vogado, muitos grupos jamais realizem uma migração efetiva. Porém, este traço
sempre permanecerá como uma marca indelével no imaginário de todas estas comunidades,
em suas histórias, memórias e como referência de homem e de povo. Ainda que em sua
origem as primeiras migrações Guarani remontam ao fundamento da simples expansão
territorial e a busca da Terra Sem Mal, diversos documentos demonstram que novos
elementos foram introduzidos durante o período colonial como a fuga de violência físicas,
epidemias, escravidão e maus tratos. A história do povo Guarani no Cone Sul é a história da
diáspora: inicialmente o confronto e fuga dos espanhóis, na sequencia imediata a resistência
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

e o enfrentamento as reduções jesuíticas, para novamente fugir das entradas e bandeiras


paulistas que assolaram toda região de Guaíra e escravizaram centenas de milhares de
indígenas Guarani. A este período de violência inaudita se seguiu um lapso de tempo mais
longo e de menos correrias, e os séculos XVII e XVIII foram de relativa calmaria nos quais
inúmeras hordas de Guarani alcançaram certa estabilidade no refúgio das florestas
paraguaias. Entretanto, nos séculos XIX e XX novamente foram atingidos pelos movimentos
conflituosos das sociedade não-índia. A Guerra do Paraguai (1864-1870) significou uma
hecatombe para estes povos das florestas, que tiverem seus últimos nichos devastados pelos
movimentos dos exércitos paraguaios e brasileiros. Arrastados para uma guerra que não
conheciam estes Guarani novamente voltaram a migrar. Para estas comunidades que até
então haviam logrado manter-se relativamente a salvo da sociedade não- índia – refugiadas
nos recônditos das florestas e regiões pouco habitadas – a Guerra do Paraguai terminou por
desempenhar um triste papel civilizatório ao atravessar, ocupar e destruir o último espaço
tradicional de diversos grupos Guarani. Abrindo caminho para a total desintrusão destas terras
em favor do grande capital pois, após a guerra, vastas regiões de florestas e ervais até então
de posse dos indígenas passam para as mãos de companhias privadas, que, utilizam a mão-
de-obra Guarani em um regime de quase servidão. Espalhadas pelo oeste do Paraná, estas
comunidades ainda foram alcançadas pelas empresas colonizadoras em meados do século XX
e por projetos governamentais como a Itaipu na década de oitenta do século passado. A partir
destes pressupostos históricos iremos analisar o deslocamento do pequeno grupo familiar de
Claudio Vogado que teve sua origem na área indígena de Tekoha Añetete no município de
Diamante do Oeste e que hoje ocupa a terra retomada de Mokoi Joegua em Santa Helena.

Site "Oguata Reguã: por onde andamos"

Paulo Humberto Porto Borges

Este trabalho tem como objetivo apresentar a comunidade a experiência do site “Oguata
Regua” a partir do Observatório Social de Direitos Humanos da Universidade Estadual do
Oeste do Paraná. Este site que irá comemorar um ano tem sido um importante espaço de
contra discurso em relação as terras ocupadas pelos Guarani no oeste do Paraná, como se diz
em sua introdução: “Entendemos que uma das principais dificuldades para compreender a
atual situação territorial Guarani do Oeste do Paraná é o acesso a boas e confiáveis fontes. Já
se disse que na guerra a primeira vítima é a informação. E neste caso, existe uma guerra por
terra no Oeste do Paraná. Uma guerra travada entre as comunidades Guarani e amplos
setores econômicos que buscam a todo custo confinar os Guarani em pequenas áreas
afirmando que “aqui nunca houve índio”. O Observatório Social das Terras Indígenas do Oeste
do Paraná vinculado ao Projeto de Extensão OBSERVATÓRIO DE DIREITOS HUMANOS,
CIDADANIA E MOVIMENTOS SOCIAIS DA UNIOESTE tem como objetivo disponibilizar
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informações confiáveis e científicas para que o grande público – além de pesquisadores,


acadêmicos e lideranças indígenas – possa ter acesso a dados fidedignos e reais acerca da
situação destas comunidades”. O site “Oguata Regua” apresenta como conteúdo o Mapa
Digital Guarani organizado pelo CTI além de abrigar em seu acervo virtual diversos artigos,
vídeos, fotografias e reportagens jornalísticas a respeito das ocupações e migrações Guarani
do oeste do Paraná em uma tentativa de furar o bloqueio da grande mídia e dar visibilidade a
perspectiva dos direitos indígenas aquele território.

Territórios indígenas no sul do Brasil: muita terra pra pouco índio?

Efendy Emiliano Maldonado Bravo

Isabela Cristina Lunelli

João Mitia Antunha Barbosa

Novos direcionamentos vêm sendo atribuídos à política agrária, indigenista e ambiental na


estrutura estatal brasileira. O acompanhamento do aumento de desmatamento, da
intensificação das monoculturas transgênicas e do uso de agrotóxicos, além da paralização
das demarcações de terras indígenas e fiscalização de atividades ilegais (madeireiros e
mineradores) em áreas de proteção permanente – como terras indígenas e unidades de
conservação) – são temas atuais no Brasil. Entre os seis principais biomas brasileiros
(amazônia, cerrado, mata atlântica, caatinga, pampa e pantanal), desde a Eco-92, a Amazônia
é tema recorrente quando se aborda a redução de desmatamento e a demarcação de terras
indígenas. Com efeito, a proteção do bioma amazônico permitiu que grande parte da
demanda fundiária indígena, sobretudo na região norte, fosse traduzida em processos
administrativos de identificação e delimitação custeados por acordos internacionais bilaterais.
Estima-se que 98% das terras indígenas (TI’s), com o processo de demarcação regularizado,
estejam na Amazônia Legal (IPAM, 2015). Geograficamente em uma condição oposta, a região
sul permaneceu em segundo plano nas demarcações de TI’s, assim como o interesse
internacional na proteção do bioma da mata atlântica e do pampa. O diagnóstico da situação
fundiária e das ameaças às terras indígenas nos estados de Paraná, Santa Catarina e Rio
Grande do Sul descreve uma realidade contrastante. Incluindo os Guarani, povo indígena
presente em todos os estados mencionados, a região sul concentra aproximadamente 9% de
toda a população indígena nacional (IBGE, 2010). No entanto, os territórios indígenas
demarcados e regularizados, incluindo as reservas indígenas, representam 0,02% de toda a
superfície territorial brasileira (FUNAI, 2019). Em um espaço subordinado tradicionalmente
aos poderes político-econômicos do agronegócio, como ficará esse passivo fundiário face a
esse novo cenário político? Com o anúncio da transferência das coordenações responsáveis
pela identificação e delimitação de TIs e componente indígena do licenciamento ambiental da
FUNAI para o Ministério da Agricultura, o que se esperar nessa região tão vulnerável? É sob
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estas circunstâncias que se propõe a apresentação desta pesquisa. A partir de uma análise
conjuntural da estrutura indigenista-agrária brasileira atual, objetiva-se descrever a situação
fundiária na região sul referente à regularização dos processos de demarcação de terras
indígenas. Tratam-se do levantamento de dados que, ao final, rompem com a falácia de que
há “muita terra para pouco índio”.

As fronteiras meridionais e a transfiguração do território Guarani: o estigma


de estrangeiros como negação de direitos fundiários

Clovis Antonio Brighenti

Com a presente comunicação nos propomos a analisar historicamente o estigma atribuído aos
Guarani que vivem em território brasileiro como estrangeiros. Pelos dados coletados até o
momento, observamos que o emprego dessa categoria é acionado em momentos de
afirmação de direitos, como ocorreu recentemente com relação aos direitos trabalhistas e
hoje com o processo de conquista das terras. Constatamos que há uma campanha aberta e
declarada contra a demarcação das terras Guarani cujo narrativa argumentativa alude a um
possível não “pertencimento” ao Brasil, mas os conflitos territoriais por si só não explicam
esse olhar estranho para os Guarani. No Brasil existem diversos outros povos que seguem em
processo de conquista de terras e nem por isso lhes é contestado o pertencimento ao
território hoje brasileiro. Nas pesquisas de campo que realizamos na região oeste do Paraná,
sobre a presença Guarani, na segunda metade do século XX, constatamos que naquele
período não existiam indígenas, apenas alguns poucos “paraguaios”. Essas mesmas
afirmações encontramos em documentos históricos produzidos por particulares e/ou por
órgãos públicos, inclusive em documentos produzidos pela própria Fundação Nacional do
Índio (Funai), órgão que deveria prezar pela defesa dessa coletividade, a referência aos
Guarani é como se fossem indígenas estrangeiros. Recentemente, na região de Guaíra (PR),
uma Ação Judicial impetrada pela Federação de Agricultura e Pecuária do Estado do Paraná
pede ao Juiz Federal que determine à Funai o controle da “entrada de Guarani paraguaios na
aduana”, localizada na cabeceira da ponte Airton Sena, que liga o estado do Paraná ao estado
do Mato Grosso do Sul e ao Paraguai. O oeste do Paraná não é o único local em que
manifestações dessa natureza ocorrem. No Mato Grosso do Sul não foram poucas as
manifestações insinuando que os Guarani/Kaiowa seriam estrangeiros, associadas as
manifestações de que nas ações contemporâneas movidas pelos Guarani para reaver a posse
das terras há presença de indígenas paraguaios. Distante da região de fronteira, mas perto do
discurso preconceituoso, os Guarani Mbya no litoral atlântico também sentem a violência de
serem taxados de estrangeiros. A origem desse tema está relacionada as disputas geopolíticas
coloniais das potências ibéricas e posteriormente na redefinição dos limites territoriais dos

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Estados Nacionais na bacia do Prata. Compreender as dimensões históricas no contexto da


geopolítica regional é fundamental para entender os discursos, da mesma forma que conhecer
a dinâmica da territorialidade Guarani é fundamental para entender a mobilidade Guarani e
seu conceito de território, ocupação e uso do solo.

Os Guarani e o Direito ao Centro da Terra

Manuel Munhoz Caleiro

Carlos Fredericos Marés de Souza Filho

Bartomeu Meliá

Ao tempo da invenção da América o povo Guarani dominava amplos territórios na Bacia do


Prata. Sua organização em complexas redes de núcleos autônomos facilitou as incursões
coloniais, cujas alianças e guerras circunstanciais possibilitaram aos conquistadores a criação
de povoados e entrepostos, que serviam para a retirada do que a natureza do continente tinha
a oferecer. Enquanto realizavam debates de consciência, portugueses e espanhóis se
organizaram, cada um a seu modo, e avançaram sobre a natureza latino-americana e sobre os
povos que nela vivam. Quando a colonização dos corpos não se mostrou suficiente, a cruz
missioneiro-jesuíta veio em socorro para colonizar o espírito. Sob sua proteção, a colonização
se mostrou menos brutal e foi ressignificada pelos Guarani. Assim foi possível construir
territórios de autonomia, em que os modos de produção comunitários contrastavam com a
lógica exploratória predominante. Com esta perigosa ameaça às mentalidades que as
metrópoles buscavam impor, destruição pela guerra promovida pelos impérios ibéricos
destroem a aliança Guaranítico-jesuíta. Uma nova experiência autonômica e comunitária
fundamentou o processo revolucionário no estado nacional latino-americano que mais aceita
sua herança Guarani, o Paraguai, que experimentou uma rara condição social de bem-estar
socioeconômico na América. Enquanto a potência inglesa emergida da revolução industrial
não disparou um tiro sequer, em nome de seus interesses atuaram criminosamente Argentina,
Brasil e Uruguai. Destruído o Paraguai, suas terras foram incorporadas ao modo de produção
capitalista internacional e a exploração se expandiu para os espaços ainda não colonizados.
Assim foi destruída a fronteira Guarani, cujo último grande refúgio coincidia com a região na
qual este povo nasceu, o centro da terra. Inicialmente através da exploração da madeira e
erva mate, pelo trabalho Guarani escravizado, a Bacia do Prata assistiu sua natureza ser
substituída por espécies exóticas. Na monocultura dos grãos o capital se reproduz no centro
da terra Guarani. Aos que fugiram da colonização, nas partes mais inacessíveis das margens
do Rio Paraná, estava reservado o mítico dilúvio pela submersão pelas águas de Itaipu. Diante
do apocalipse, uma das formas de reação de identidades Guarani contemporâneas consiste
na recente ressignificação de seus ethos, reorganizando caracteres culturais para assumir uma
nova postura diante das adversidades. Nos contínuos processos de construção e
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transformação de suas concepções territoriais surge um novo elemento, a retomada de terras


enquanto instrumento de resistência. Em meio às suas caminhadas pelos territórios, espaços
naturais são mantidos pelas sociedades nacionais como intocados. Sua lógica obedece à
divisão ocidental entre natureza e cultura, ao ponto de que a dicotomia entre terras
produtivas e parques constitui uma representação e substrato da modernidade capitalista. A
intocabilidade destes espaços não se justifica diante do povo que enxerga nas florestas os seus
mundos, cuja constituição dos territórios não obedecem a lógicas modernas. Desta maneira,
a contradição entre o Parque Nacional do Iguaçu e a territorialidade Guarani no centro da
terra resta como falsa, embora contemporaneamente o conflito socioambiental se apresente.
Como lacunas dentro do direito moderno capitalista, os direitos coletivos dos povos são
suficientemente reconhecidos para fundamentar juridicamente a superação deste conflito.

Os Guarani da Tríplice Fronteira, Brasil, Paraguai e Argentina: seus direitos às


terras, à mobilidade espacial por entre as fronteiras e à cidadania

Maria Lucia Brant de Carvalho

Os Guarani desde tempos imemoriais ocupam terras do litoral e interior do sul/sudeste do


Brasil, passando por Misiones/Argentina, por todo oeste do Paraguai e pelo sul da Bolivia,
terras que integram o território tradicional da etnia. No passado havia o caminho
transcontinental, Peabiru, que partia do litoral atlántico no Brasil e se estendia até o litoral
pacífico no Peru. Nele estavam interligadas inúmeras aldeias, que se comunicavam através de
ramais principais/ secundários de circulação. Fronteiras foram criadas sobre o territorio
tradicional Guarani pelos impérios coloniais, portugués e espanhol, e, posteriormente pelos
Estados Nacionais, Brasil, Argentina, Paraguai e Bolívia. Nele os Guarani possuem o direito de
permanecer, pois ali já se encontravam antes da ocupação ibérica. Possuem o direito à
mobilidade espacial por entre as terras onde se localizam suas aldeias, terras que vieram a
constituir países diferentes. Quanto a cidadania, apesar de haver direitos diferenciados entre
indígenas/outros cidadãos em cada país, internacionalmente possuem o direito de ter a
cidadania apenas do país em que nasceram; a identidade Guarani é supranacional, pois é
anterior a criação das identidades existentes nos varios Estados e deveria ter legalmente tal
estatuto. Os direitos mencionados encontram respaldo no arcabouço legal internacional,
Convenção Internacional de Genebra 169 (Povos Indígenas e Tribais) OIT/1989 e Declaração
das Nações Unidas (Direitos dos Povos Indígenas) ONU/2007. Assim como na Constituição
Federal do Brasil-1988, na Constitucion de la Republica de Paraguay-1992 e na Constitucion
de la Nacion Argentina-1994, sendo estas, signatárias daquelas. Os direitos previstos deveriam
amparar os direitos coletivos dos povos indígenas. Porém, vêm sendo desrespeitados, em
especial na região fronteiriça do Brasil com o Paraguai. Os Guarani vem sendo sujeitos a
contextos violentos, vivendo como refugiados, sem direitos territoriais. A hipótese gira em
torno de processo de limpeza étnica de longa data, sendo efetivado por meio de esbulho e
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liberação das terras de direito dos Guarani no oeste do Paraná para terceiros, sendo varridos
do Brasil em direção ao Paraguai. No Paraguai estão concentradas grande parte de familias
Guarani que habitavam terras no Brasil. Quando tentam retornar para terras antes ocupadas
no Brasil, são alvo de xenofobia. A comunicação objetiva recuperar a questão atinente aos
direitos sobre as terras, a mobilidade espacial e a cidadania dos povos Guarani, na Tríplice
Fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina.

As transformações ambientais e territoriais nos espaços de ocupação


tradicional dos Kaiowá e Guarani no Mato Grosso do Sul

Rosa Sebastiana Colman

Levi Marques Pereira

Os Kaiowá e Guarani no Mato Grosso do Sul, a partir da terceira década do século XX, sofreram
um processo intenso de perdas territoriais. Entre 1915 e 1928 o Serviço de Proteção aos Índios
– SPI demarcou oito pequenas reservas e desenvolveu uma política de recolhimento das
comunidades nestes pequenos espaços. A partir da década de 1960 aprofunda-se a
deterioração ambiental nos territórios expropriados, como resultado da expansão das frentes
extrativistas e agropastoris. O trabalho pretende discutir as transformações ambientais e
territoriais nos espaços de ocupação tradicional dos Kaiowá e Guarani no Mato Grosso do Sul
e como esses indígenas agiram e agem para fazer frente a tais processos. Destaque é dado ao
modo como os Kaiowá e Guarani desenvolvem estratégias e manejam noções e conceitos
próprios de território e de fronteira, já que seus territórios de ocupação tradicional foram
cindidos por fronteiras de Estados nacionais. A mobilidade transfronteiriça parece permitir
escapar a situações de maior incidência de processos de desmatamento e expropriação
territorial nos distintos países. Outra forma de mobilidade que surgi a partir da década de
1980 é a urbanização de muitas famílias kaiowá e guarani no Mato Grosso do Sul. Aqui
exploraremos como o processo de urbanização se vincula ao desaparecimento dos refúgios
de fundo de fazenda; à ocupação intensiva e altamente tecnificada das terras pelo
agronegócio, dispensando a mão de obra indígena; à superpopulação e intensificação dos
conflitos nas reservas.

Retomada Ponta do Arado: uma luta por terra e vida

Michele Barcelos Corrêa

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Este trabalho pretende discorrer sobre a íntima relação entre o Povo Guarani Mbya e a terra,
a partir do Mito Terra Sem Males e ilustrada pela Retomada do Território Ponta do Arado, às
margens do Rio Guaíba, em Porto Alegre-RS. Para tanto foi realizada uma pesquisa
bibliográfica, bem como investigação em fontes jornalísticas e de comunicação de órgãos e
instituições com atuação indigenista. Quando da chegada dos espanhóis e portugueses na
América, por volta de 1500, os Guarani já formavam um conjunto de povos com a mesma
origem, falavam um mesmo idioma, haviam desenvolvido um modo de ser que mantinha viva
a memória de antigas tradições e se projetavam para o futuro. Do território tradicional,
historicamente ocupado pelos Guarani, que se estende por parte da Argentina, Paraguai,
Bolívia e Brasil, os Guarani Mbya ocupam hoje apenas pequenas ilhas. Seu território, o solo
que se pisa, é um tekoha, o lugar físico, o espaço geográfico onde os Guarani Mbya são o que
são, onde se movem e onde existem. O mito da Terra Sem males (Yvy marã ey) é um elemento
genuinamente guaranítico, uma constante na vida dos Guarani Mbya, seguem sua trajetória
histórica de resistência e luta, acampados entre as cercas das fazendas e as estradas; andam
nas proximidades das grandes cidades, percorrendo caminhos entre um acampamento e
outro, entre uma terra demarcada e as tantas por eles reivindicadas, confeccionando
artesanatos e comercializando-os, plantando pequenas roças e criando pequenos animais. A
terra para o Guarani Mbya é um espaço de passagem, um espaço de vivência cultural em vista
de sua mobilidade religiosa. É mais que um espaço de residência e cultivo, é especialmente o
espaço da produção mítica, o lugar da vivência cultural e religiosa. Neste contexto ocorre a
retomada da área Ponta do Arado, nas primeiras horas da manhã do dia 15/06/2018, quando
quatro lideranças Guarani Mbya adentraram a área, juntamente com suas famílias, tal área
por eles reconhecida como sendo sua, seu lar, reconhecendo-o como sendo seu lugar de
existir. É uma luta por terra e vida, representa a busca da Terra Sem Males que garantam de
seu penderecó/modo de ser Guarani Mbya. É a luta por espaço onde suas crianças possam ser
educadas de acordo com as tradições culturais e religiosas de seu povo, possam ter contato
com sua ancestralidade sem a influência do juruá (homem branco). É uma luta por sustento,
por dignidade, pela manutenção da natureza, das matas, tão caras aos Guarani Mbya. É uma
luta justa em busca de direitos que são negados desde a chegada dos europeus ao continente.

Retomadas Mbya-Guarani e criação de novas estratégias de luta no sul do


Brasil

Joâo Maurício Assumpção Farias


Orivaldo Nunes Jr
João Mítia Antunha Barbosa Brasil

Os povos indígenas vêm enfrentando uma guerra de extermínio e genocídio desde as


primeiras invasões de portugueses e espanhóis em seus territórios. É uma guerra por destituir
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os povos originários de seus territórios e de suas condições de vida e existência. Agora, ao


considerarmos este período histórico contemporâneo, é possível se perceber que as forças
anti-indígenas contrárias ao cumprimento da Constituição Federal de 1988, quanto aos
direitos territoriais indígenas, apresentam-se ainda mais fortalecidas. São forças ligadas: ao
agronegócio, políticos da bancada BBB (bala, boi e bíblia), setores da grande mídia nacional,
operadores do direito e do judiciário que articulam-se e movem- se no sentido de avançar
práticas genocidas contra os mais de 305 povos indígenas. Já são mais de 518 anos de contato
com os colonizadores e uma das parcialidades do grande povo Tupi, os Mbya-Guarani,
residentes a milênios nas áreas onde foram sendo formados o Brasil, o Paraguai, a Argentina,
o Uruguai e a Bolívia experimentam, no sul do Brasil, uma alteração em suas estratégias de
luta e resistência. Tal mudança apresenta- se como uma inovação em suas práticas políticas,
pois vários grupos familiares passaram a não aguardar mais nas margens de estradas, em seus
acampamentos, que o Estado brasileiro realize os estudos e as demarcações de suas terras
tradicionais. Entre os anos de 2017 e 2018 aconteceram três Retomadas de áreas de mata
nativa, sendo duas no litoral norte do Rio Grande do Sul (Maquiné e Terra de Areia) e uma em
Porto Alegre. Nestes espaços, propícios para a formação de suas tekoás, as famílias Mbya tem
apresentado os espaços retomados como sendo parte de seu território ancestral. Nestas áreas
há presença de grande variedade de seres de sua cosmologia, além delas possibilitarem que
seu modus de vida, seu tekó ou nhanderekó, se efetue e se atualize, também servem para
sinalizar seu pertencimento a este território, como também, tal território pertencer a sua
existência de indígena Mbya-Guarani. Assim, mesmo sem se colocarem em enfrentamentos
diretos com fazendeiros ou com agentes do Estado, as famílias Mbya no sul do Brasil, tem
experimentando realizar uma importante mudança estratégica de luta e de resistência por
garantir seu território e sua existência. Necessidade cada vez mais premente nos dias atuais.

Terra Indígena Sambaqui, faixa de infraestrutura e instrumentos de gestão


territorial
Liz Meira Góes
Thomas Parrili

A retomada do território Guarani M’Bya da Terra Indígena (TI) Sambaqui, em Pontal do


Paraná, ocorreu em 1999 e foi Identificada pela FUNAI em 2015. O município, localizado no
litoral do Paraná, faz parte do bioma da Mata Atlântica e foi território de populações
agricultoras e ceramistas associados aos grupos indígenas atuais. O município de Pontal do
Paraná possui características econômicas que o configuram como praiano-turístico, que pode
ser alterado com o cenário de quatro empreendimentos portuários em processo de
licenciamento ambiental – Terminal de Contêineres, Estaleiro Odebrecht, Terminais
Marítimos Melport e Construções Submarinas da SubSea7. A construção de uma nova rodovia
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

que interconecte a região dos empreendimentos a PR407, proposta na Faixa de Infraestrutura


(FI), é chave para efetivação de uma zona especial portuária e a TI Sambaqui tem influencia
no processo de licenciamento da FI. O objetivo do trabalho foi analisar como foi considerada
o território da TI Sambaqui nos instrumentos de planificação ambiental e ordenamento
territorial representados pelos documentos do Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE),
Plano Diretor Municipal e Estudo da Componente Indígena (ECI) da FI. Como resultado
verificamos que o ZEE do litoral, não considerou a TI e sua área foi localizada na Zona de
Expansão para Unidades de Conservação de Proteção Integral. O Plano Diretor do Município
de Pontal do Paraná de 2017 apresentou a TI com área distinta da identificada. O ECI da FI
apontou dificuldade de suas oficinas em explicar os empreendimentos para a comunidade da
TI Sambaqui. A partir dos resultados, refletimos sobre a invisibilidade da TI nos mecanismos
de gestão e ordenamento analisados, desconsiderando sua importância, o que pode
potencializar os impactos negativos dos empreendimentos portuários e logístico sobre a TI.

Território Etnoeducacional Cone Sul: lutas e resistências pela autonomia


territorial frente a Questão Agrária em MS

Elâine da Silva Ladeia

Os Guarani e Kaiowá do Estado de Mato Grosso do Sul tem demonstrado uma constante
preocupação com a preservação dos seus territórios- tekohá – e de seus conhecimentos
tradicionais, especificamente em relação ao ensinamento/transmissão para as gerações mais
jovens de suas aldeias. Entretanto, devido a diversas influências sofridas em suas formas de
expressão sob esses conhecimentos, dentre elas: a questão agrária em Mato Grosso do Sul e
a demarcação de terras indígenas; o que a muito tempo, vem dificultando essas relações.
Nesse sentido, a implantação dos territórios etnoeducacionais indígenas visa promover o
fortalecimento e valorização dos saberes tradicionais, contudo, a autonomia para efetivar a
educação escolar indígena diferenciada, intercultural e bilíngue, tem sido uma demanda das
comunidades indígenas desde a homologação dos direitos dos povos indígenas com a
Constituição Federal de 1988, entretanto, ainda são inúmeras as dificuldades para a
implantação de matrizes curriculares específicas para que as mesmas tenham a autonomia
tão desejada. A relevância do território, na ótica indígena, não se restringe aos recursos
naturais, mas o território constitui um “recurso sociocultural” (RAMOS, 1986), com
“dimensões sociopolítico-cosmológicas” (SEEGER; VIVEIROS DE CASTRO, 1979), e é, por isso,
o espaço privilegiado de produção, tradução e ressignificação dos conhecimentos/saberes de
cada povo. A territorialidade também está associada ao lugar de vivência cotidiana de uma
sociedade. Dessa forma, podemos observar diferentes espaços como territórios – entretanto
essa não é uma definição, um conceito geográfico de território e sim de um lugar que figura
como território no decorrer das atividades de uma sociedade ou de um indivíduo, como, por
exemplo, os espaços escolares, a sala de aula, a secretaria escolar, a sala da diretoria, a
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cozinha. Esses espaços são delimitados, exibem contenções físicas e limitam as atividades
dentro do mesmo, e a medida que se deixa esse espaço se utiliza um outro como território. O
Estado de MS encontra-se em área especialmente favorável ao agronegócio, e a questão
agrária quanto as lutas são intensas e permanentes, uma vez que esse estado está a serviço
dos grandes grupos hegemônicos desse setor, torna- se difícil estabelecer um diálogo mais
amplo entre os povos do campo, indígenas e quilombolas para a melhoria das políticas
públicas para a educação no campo, educação escolar indígena, bem como chegar a uma
possível solução no impasse da demarcação de terras indígenas e da reforma agrária. O tema
em questão visa apresentar algumas informações e discussões frente as demandas nas aldeias
do território etnoeducacional Cone Sul em Mato Grosso do Sul, bem como, quanto as
questões inerentes aos povos guarani e kaiowá do cone sul de MS, frente as questões sociais,
econômicas e políticas, e a influência da questão agrária no processo de promoção da
autonomia do Etnoterritório cone sul /MS.

Fronteiras culturais e Linguísticas: sobre o rap guarani

Pedro Mandagará

A literatura indígena anda no que Daniel Munduruku chamou de "tênue fio" entre escrita e
oralidade. Desde o fim dos anos 1970 há publicações escritas de autoria indígena, num
movimento que tem crescido muito nos últimos anos. Por outro lado, as práticas orais
tradicionais resistem onde possível e se reinventam cotidianamente. Com a expansão do
acesso à tecnologia pelos indígenas, novas formas de oralidade surgem, como a atuação de
Youtubers indígenas. O rap indígena se insere nessa nova forma de oralidade. As duas bandas
e o MC a serem tratados nesse trabalho - Brôs MCs, Oz Guarani e Kunumi MC -, todos do povo
guarani, utilizam tanto o português quanto o guarani em suas letras. Sua prática bilíngue os
aproxima de experiências poéticas contemporâneas, como a de Douglas Diegues e seu
portunhol salvaje. Este trabalho busca compreender a poética do rap guarani a partir do
conceito de fronteira, entendida como espaço de conflito e compreensão instável entre
culturas.

Cosmopolítica Mbyá Guarani: o Nhanderekó elaborado como forma de luta


no contexto de autodemarcação da Terra Indígena Tekoá Mirim

Fábio do Espírito Santo Martins

Pretende-se neste trabalho dar visibilidade às motivações sociocosmológicas que qualificam


a dinâmica de deslocamento e ocupação espacial realizadas por um grupo Mbyá Guarani à
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Terra Indígena Tekoá Mirim. Além de problematizar também, e de maneira complementar, os


processos etnohistóricos que corroboram para a autenticidade desta autodemarcação
territorial. Pois, que os Guarani não só se encontram em permanente relação com a sociedade
envolvente, como também, concretizam a sua agência sobre elas, o que os torna atentos aos
processos de mudanças que os afetam diretamente. E neste sentido, pretende ainda,
evidenciar a luta dos Mbyá pela autodemarcação territorial e pelo direito de permanecer em
sua terra, já que múltiplas instâncias do Estado passaram a considerá-los “invasores”,
pretendendo deste modo, inviabilizar política e institucionalmente, a manutenção indígena
em sua própria territorialidade.

"Tradições do povo Guarani enraizadas nos costumes e hábitos do caipira


paulista. Um estudo de caso sobre a Aldeia Tekoa Ytu, Pico do Jaraguá, cidade
de São Paulo e Grupo de Dança de São Gonçalo, Piracaia, SP"

Maria Mirtes Mesquita


Maria Chistina de Souza Lima Rizzi

Este trabalho é parte da pesquisa em andamento desenvolvida como aluna de doutorado, na


Linha de pesquisa Fundamentos, Ensino e Aprendizagem da Arte, no Programa de Pós-
Graduação em Artes Visuais da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo,
cujo foco principal é voltar o olhar e a observação para a transmissão dos saberes da herança
cultural apreendida da etnia Guarani Mbya, num processo constante de miscigenação e
influências ao meio social em que vivem, em suas práticas familiares em comunidades rurais
ou periféricas de cidades do estado de São Paulo. De como se procede a transmissão de suas
tradições míticas e suas práticas ritualísticas no exercício de suas crenças e na educação das
crianças. De como a tradição dos saberes se perpetua pelos séculos por meio da oralidade, de
onde devemos a formação do nosso dialeto regionalista ou caipira, música caipira e suas
danças e visualidades. O resultado e a influência desta mistura chamamos de cultura popular,
regional, ou caipira brasileira, onde cada região conserva características próprias. Para este 3º
Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina, faço um recorte no assunto
pesquisado, visando uma aproximação entre as tradições orais e ritualísticas do povo Guarani
Mbya e sua influência nas danças caipiras ainda existentes no interior do estado de São Paulo.
A aldeia referência para a pesquisa e apresentação, é a comunidade Guarani Mbya na cidade
de São Paulo, Aldeia TekoaYtu, localizada no Pico do Jaraguá, bairro periférico da cidade de
São Paulo. Neste bairro, localizam-se 2 aldeias Guarani, a Tekoa Ytu e a Tekoa Pyau, separadas
apenas por uma avenida, que conduz ao Pico do Jaraguá. O objeto deste estudo é a primeira
aldeia. Suas práticas de ensino e transmissão de saberes às crianças da aldeia realizadas na
Casa de Reza, onde desenvolvem seus rituais e práticas religiosas através da música, canto e

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dança. De outro lado, a Dança de São Gonçalo, tradição de grupos familiares rurais ou
periféricos das cidades, advindos das danças ritualísticas indígenas e misturadas às festas de
tradição católica. Foram nomeadas pelos primeiros estudiosos e sertanistas com o nome
indígena de Caateretê. Usam o sapateado e palmas como percussão, o canto religioso
acompanhado da viola caipira. O grupo foco deste estudo é da cidade de Piracaia, SP, situada
a 110 quilômetros da capital paulista. Dois momentos de prática de Fé em comunidades
diferentes, porém com rituais semelhantes onde se utiliza o canto, o ritmo, a música, o violão,
a viola caipira e rabeca para acompanhamento das vozes.

Desterritorialização do povo Ava-Guarani no Oeste do Paraná a partir da ação


do Estado brasileiro

Osmarina de Oliveira

O presente tema quer trazer ao debate os elementos que demonstram as ações da Fundação
Nacional do Índio (Funai) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no
processo de expropriação fundiária e violação dos direitos Guarani na região Oeste do estado
do Paraná na década de 1970. Teremos como lócus de análise o Tekoha Guarani localizado no
atual município de Foz do Iguaçu (PR). A referida Terra Indígena é conhecida também como
Gleba Guarani, Colônia Guarani ou Três Lagoas. O referido Tekoha foi regularizado pelo
“Distrito de Terras do Paraná e Santa Catarina do Incra” na década de 1950, medido pelo Setor
de Topografia do Projeto Fundiário do Paraná, somando um total de 517,971 hectares, era o
único Tekoha regularizado para o povo Ava-Guarani no Oeste estado do Paraná que temos
notícias. Na década de 1970, devido a invasão da terra Guarani o Incra pressionou a Funai para
providenciar a retirada os Guarani desse local, a fim de regularizar a posse dos invasores e
reassentar famílias camponesas que foram retiradas do Parque Nacional do Iguaçu. O órgão
indigenista ao invés de promover a defesa dos Ava-Guarani, forneceu documentos (certidão
negativa) liberando a área para o Incra. Com isso os Guarani foram expulsos de seu Tekoha e
ficaram perambulando pela região fronteiriça sem lugar para sobreviver. Vários Ava- Guarani
que atualmente moram nos Tekoha na região oeste paranaense viveram por algum tempo
neste local, inclusive o último líder político (cacique) tem na memória as formas utilizadas para
pressionar a saída deles desse local. A desterritorialização desse tekoha foi denunciada por
várias pessoas da sociedade e autoridades, através de diferentes documentos encaminhados
ao órgão indigenista oficial. O acervo documental evidencia o modus operandi do Estado
brasileiro através de seus órgãos indigenista e fundiário em toda região e em particular com
relação ao povo Guarani. A concepção de terra e território dos Guarani e o contexto da
militarização da questão indígenas nos governos ditatoriais foram elementos importantes
utilizados para negação dos direitos. Os documentos que acessamos para nossa pesquisa
foram levantados pela Comissão Estadual da Verdade (PR). É a partir da memória Guarani e
dos referidos documentos que buscaremos compreender como se deu esse processo de
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desterritorialização e qual a proposta da Comissão Estadual da Verdade para promover o


ressarcimento aos indígenas das violações que eles sofreram neste período.

Crianças guarani privadas da convivência comunitária: desidentificação étnica


e disputa territorial

Rute Mikaele Pacheco da Silva

O povo Guarani habitante da região do Mato Grosso do Sul vem enfrentando a crescente
prática da retirada irregular de suas crianças do convívio familiar e comunitário, seja pelo seu
confinamento prolongado em abrigos, seja pela promoção da adoção descriteriosa por
famílias não indígenas, configurando-se um complexo quadro que coloca o Estado brasileiro
como agente de ações contrastantes perante seu próprio ordenamento jurídico vigente,
revelando a forte presença e continuidade de políticas coloniais de apagamento identitário e
dos vários aspectos do que se entende por Colonialidade (do poder, do ser e do saber). Em
que pese as disposições protetivas da Lei no 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente), a Funai vem se deparando com uma série de casos em que a atuação estatal
ocorre na contramão desta legislação, na medida em que utiliza o próprio modo de vida ou
mesmo a situação de precariedade e marginalização enfrentada pelas famílias Guarani como
argumento para retirada das crianças do seio familiar e comunitário, numa atuação carregada
de racismo institucional. Observa-se que a rede de proteção à criança e ao adolescente, por
meio do Poder Judiciário e dos Conselhos Tutelares, instrumentaliza o princípio do melhor
interesse do menor para negar o direito à convivência familiar e comunitária, num contexto
em que o Estado adentra aos territórios indígenas não para tratar os diversos problemas
enfrentados por sua população, mas para agravá-los, removendo arbitrariamente suas
crianças e, portanto, ameaçando o seu próprio futuro coletivo. Muitas vezes, as crianças
indígenas são retiradas de suas famílias sem aviso prévio, motivação, tempo para despedidas
e diálogo com a própria criança em sua língua e, em seguida, são colocadas em abrigos, por
longos períodos, tendo que se adaptar a um modo de vida e a um idioma diferentes,
dificultando o retorno à sua comunidade (REUTERS, 2018). Este “equívoco” na atuação estatal
frequentemente embasa um segundo “equívoco”, o de conferir preferência à adoção por
família não indígena, após o prolongado período de institucionalização da criança, desvelando
a permanência do ideal assimilacionista, levando a um processo de desidentificação étnica
que resulta na morte do indígena dentro da criança, de modo que, em longo prazo, esta ação
estatal ameaça a própria existência da diversidade étnica e cultural do país. Tais práticas não
estão dissociadas da intensa disputa territorial da região. Ao se retirar dos territórios indígenas
suas crianças e adolescentes, institucionalizando-os por longos períodos ou colocando-os em
famílias substitutas não indígenas, tem-se uma parcela da comunidade indígena que, uma vez
não mais se reconhecendo como tal, não mais se agregará à luta territorial. Portanto, a política
de desidentificação étnica das crianças Guarani encontra-se intrinsicamente ligada às disputas
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territoriais. Assim, não parece ser por acaso que a maior parte dos casos de retirada irregular
de crianças indígenas do seio familiar e comunitário encontra-se no Cone Sul do Mato Grosso
do Sul (MS) (FUNAI, 2015), região de intenso conflito territorial entre os povos indígenas e os
grandes proprietários de terra. Conforme o último censo indígena realizado em 2010, o estado
do MS conta com cerca de 70 mil indígenas, representando aproximadamente 3% da
população do estado e 9% da população indígena do país (IBGE, 2012). Boa parte desta
população vive confinada em pequenos pedaços de terra, aguardando a conclusão dos
processos de reconhecimento estatal dos direitos originários sobre seus territórios. Em julho
de 2018, o Corregedor-Geral do Ministério Público do Mato Grosso do Sul oficiou à Fundação
Nacional do Índio (Funai), informando que, em visita correcional, realizada em 18 de junho
deste ano, constatou a presença de setenta crianças indígenas abrigadas em unidades
municipais, em razão de ordens judiciais decorrentes de encaminhamentos do Conselho
Tutelar, havendo casos de crianças nesta situação há mais de oito anos (FUNAI, 2018). A Funai,
por meio de levantamento feito em 2015, informa que, das 79 crianças acolhidas em abrigos,
na cidade de Dourados, segundo maior município do MS, cuja população indígena
corresponde a cerca de 20%, 50 são indígenas, ou seja, 63% das crianças abrigadas são
oriundas dos 20% da população geral do município (CAVALLI, 2018). Esses números revelam
uma ação institucional racialmente orientada. Neste cenário, o estado do Mato Grosso do Sul,
“com 92% do seu território como propriedade privada, dos quais 83% são latifúndios, faceia
políticas de etnocídio” (CAVALLI, 2018). O Mato Grosso do Sul é o estado brasileiro que conta
com a segunda maior população indígena do Brasil, os Guarani e Kaiowá, os quais são
historicamente submetidos a práticas de violência e opressão resultantes de uma política de
Estado realizada em nome de uma desmesurada ganância, tendo em vista que, conforme
cálculos preliminares, se todas as terras indígenas por eles demandadas no Mato Grosso do
Sul fossem demarcadas, elas representariam apenas 2% de toda a área do estado (REMPEL;
LLEBGOTT, 2015, p. 26). Esses povos vivenciam, em regra, uma realidade extremamente
precária, “sem acesso à água, saneamento básico, moradia digna, garantia das condições de
subsistência e acesso a outros direitos humanos fundamentais” (REMPEL; LLEBGOTT, 2015, p.
26), situação que vem servindo de argumento para a retirada de suas crianças. Assim, esse
estudo tem como tema a prática estatal de retirada de crianças indígenas do convívio familiar
e comunitário, orientada como uma política de extermínio cultural, tendo em vista que
desconsidera as especificidades étnicas e sociais dos povos, desvelando-se como uma política
potencialmente destinada a intervir na disputa territorial pelo reconhecimento dos territórios
originários.

A recuperação territorial dos Avá-Guarani no Oeste do Paraná

Renan Pinna

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Essa comunicação pretende analisar a recuperação territorial dos Avá-Guarani assentada nas
retomadas de terras que teve seu inicio em 2004 e foi intensificado em 2012 vindo a se
estabelecer 20 áreas na posse de indígenas. As retomadas de terras se constituem como uma
forma de ação política para a recuperação territorial de áreas que estavam em posse de não-
indígenas. Para compreender as retomadas de terras, é necessário conhecer o contexto das
expropriações de terras ao qual os indígenas foram vitimados, para isso, a noção de sarambi
serve como um meio de situar nas narrativas guarani os processos desses contextos
colonizatórios. Um segundo foco dessa análise é a volta dos parentes que se constituem como
a mobilização de indígenas expropriados que vivendo em fazendas, municípios, aldeias de
outras etnias, reservas, aderem as retomadas de terras. Contudo, os dados etnográficos
dispostos nessa comunicação foram obtidos de 2014 a 2018 e tem o interesse de contribuir
para a compreensão das retomadas de terras enquanto um movimento de retorno acionado
por redes de relações e lugares, envolvendo entidades não-humanas, e constituindo as
retomadas de terras como uma ação cosmopolítica de reabitar lugares tradicionais.

Análise ao relatório de viagem feito pelo antropólogo Célio Horst a pedido da


Funai em 1981

Rosângela Daiana dos Santos

Este trabalho surge a partir das ações exercidas com o projeto de extensão: Memória indígena
e reparações pedagógicas na região de Fronteira (BR-PY-AR), onde se promove um dialogo
com lideranças indígenas das comunidades indígenas Avá-Guarani, buscando registrar a
memória indígena em torno das ações do Estado brasileiro como violador de direitos desse
povo na segunda metade do século XX, quando esta população perdeu suas terras em três
processos distintos: colonização do oeste do Paraná; criação do Parque Nacional do Iguaçu; e
construção da Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional - ITAIPU. Em relação à construção da Usina
Hidrelétrica de Itaipu (1971- 1984), muito problemas foram gerados às famílias que habitam
nos locais que seriam alagados pela barragem de represamento. Dentre grande parte das
terras, aquelas que pertenciam às comunidades indígenas também foram afetadas. Dessa
forma, as indenizações deveriam ser pagas as famílias, mas quando se tratava dos indígenas,
cabia a Fundação Nacional do Índio - FUNAI fazer as negociações com a Itaipu. Com isso,
foram elaborados alguns relatórios que explicam como viviam essas populações, para analisar
se realmente eram indígenas. Dentre eles, está o documento que proponho analisar neste
trabalho, trata-se de um relatório encomendado pela Funai para verificar a população que
habitava na região onde seria construída a Itaipu. Neste relatório feito pelo antropólogo Célio
Horst onde ele fala sobre as comunidades indígenas do Oeste Paranaense e complementa um
pouco com a história regional, ele analisa a indianidade de cada família guarani, para
comprovar a identidade étnica dos mesmos, citando uma lista com os nomes daqueles que
eram considerados não indígenas, os remanescentes indígenas que não se auto identificavam
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indígenas e os que eram considerados indígenas. Trazendo também informações do translado


de famílias Guarani para a Terra indígena do Rio das Cobras, e demonstrando o problema que
seria colocar indígenas de etnias diferentes em um mesmo espaço. O objetivo desta pesquisa
é analisar um documento que foi muito importante para a historia destas comunidades
indígenas que ainda hoje resistem na Região Oeste do Paraná. Trazendo também, elementos
de outros documentos que relatam esses episódios. Dessa forma, destacamos a importância
que este projeto de extensão tem para a comunidade indígena de toda a região, reclamando
os direitos que foram violados, alem de trabalhar a memória de acontecimentos que
marcaram esses episódios de violências e esbulho de terras.

Litigância estratégica, descolonialidade e direitos indígenas: cadeia produtiva


do agronegócio em terras Kaiowá e Guarani no Mato Grosso do Sul e
possibilidades para resolução dos conflitos fundiários

Alex Sandro da Silveira Filho

Fernanda Frizzo Bragato

Jocelyn Getgen Kestenbaum

Pedro Bigolin Neto

A pesquisa em tela encontra-se vinculada ao projeto de pesquisa “Implementando direitos,


qualificando a formação jurídica: a efetivação dos direitos territoriais indígenas no Brasil por
meio da interface entre pesquisa aplicada e promoção de direitos humanos”, aprovado na
Chamada Universal MCTIC/CNPq 2018, coordenado pela Profa. Dra. Fernanda Frizzo Bragato.
A região da Grande Dourados, no Mato Grosso do Sul, é conhecida nacionalmente pelos
violentos conflitos envolvendo as populações indígenas Kaiowá e Guarani e o agronegócio,
vitimando lideranças e deixando milhares de indígenas longe do seu tekohá, fenômeno que
se agravou após o reconhecimento da chamada “tese do marco temporal” pelo Supremo
Tribunal Federal no julgamento da Petição 3.388/RR (caso Raposa Serra do Sol). Nesse
diapasão, o objetivo desse trabalho é apresentar, a partir das cadeias produtivas do
agronegócio dentro das terras Kaiowá e Guarani no Mato Grosso do Sul, sejam elas
regularizadas ou reivindicadas, como a lógica da colonialidade opera para negar os direitos
dos povos indígenas e como as possibilidades de litigância estratégica em direitos humanos
podem ser ferramentas úteis para efetivar o acesso à terra para essas comunidades. Para
tanto, será analisado o conceito de colonialidade, sobretudo na dimensão do poder, e sua
relação com a questão indígena, como se dão as cadeias produtivas do agronegócio,
especialmente as da soja e da cana-de-açúcar, dentro das terras Kaiowá e Guarani, e o
conceito de litigância estratégica, bem como os mecanismos que podem ser utilizados para
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denunciar a produção agrícola em terras indígenas e viabilizar a retomada dessas terras pelas
comunidades. As técnicas de pesquisa a serem utilizadas no presente estudo serão: a) revisão
bibliográfica, em livros e artigos concernentes ao chamado “pensamento descolonial”, e em
materiais que tragam antecedentes históricos da ocupação das terras dos Kaiowá e Guarani
para fins agropastoris, bem como em obras que tratem de litigância estratégica e suas
possibilidades; b) pesquisa de campo qualitativa, em que serão realizadas entrevistas com
lideranças Kaiowá e Guarani, com representantes de organizações de defesa dos direitos
indígenas, e com Procuradores da República da região de Dourados/MS; e c) pesquisa
documental, em dados físicos e virtuais que concedam maiores informações sobre as cadeias
produtivas do agronegócio em terras indígenas. Os resultados parciais do presente estudo
apontam para uma relação direta entre a lógica da colonialidade e a apropriação das terras
indígenas pelo agronegócio, sendo o desenvolvimento das cadeias produtivas a expressão
máxima de tal relação, demonstrando os interesses econômicos que estão por trás dos
discursos de desumanização dos povos indígenas.

Resistir e re-existir: o desafio dos Avá-guarani dos Tekoha Añetete e Itamarã


no oeste do Paraná

Carla Soavinski

Sinclair Pozza Casemiro

Nesta comunicação, o qual parte de um trabalho etnográfico, buscamos tecer uma reflexão
acerca das formas pelas quais os Avá-Guarani, moradores dos Tekoha Añetete e Tekoha
Itamarã (Diamante do Oeste – PR), re-existem e de ressignificam suas relações político-sociais,
suas relações com a terra. A história desse povo é marcada por sucessivos etnocídios e
genocídios, que atingiram seu ápice quando, em 1982, as águas do reservatório da recém-
construída Usina Hidrelétrica de Itaipu tomaram, quase por completo, as terras de seu Tekoha
Guasu Oco'y-Jakutinga, localizado na região do rio Paraná, seu avô Pará Mirim. O que se seguiu
à realização desse megaprojeto, concebido durante o período da ditadura militar sob o
imperativo do desenvolvimento, foi a remoção violenta das famílias Avá-Guarani de suas
terras, levada a cabo pela Itaipu Binacional e avalizada pelo Estado. Esse foi o tempo do
sarambi: o tempo do esparramo e do desespero. Parte desses indígenas se dispersou em
direção a regiões próximas e também ao Paraguai e à Argentina, e outra parte permaneceu
na pequena faixa de terra que restou de seu antigo Tekoha Guasu (atual R.I. Ocoí),
pressionados entre o lago da Itaipu e grandes propriedades rurais. Mas contra aqueles que
lhes veem como entraves ao progresso e por isso pretendem eliminá-los, os Avá-Guarani de
Oco’y-Jakutinga resistiram e re-existem: há quase três décadas pleiteiam indenização por suas
terras submersas no reservatório da U.H.E. Itaipu. Conquistaram por força de ações de
retomada, duas porções de terra: o Tekoha Añetete (1998) e o Tekoha Itamarã (2007). Viveiros
de Castro (2016) sugere que há três formas de re-existir diante da espúria entrada branca na
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existência do mundo indígena: por meio da autodemarcação; da autodeclaração e da


autonomia como autogoverno, condições essas potencialmente dadas (mas não
ordinariamente cumpridas por iniciativa de quem o deveria - o Estado) no texto constitucional
de 1988. Ambas essas R.I. localizam-se em espaços que eram antes fazendas devastadas pelo
agronegócio e, agora, são paulatinamente feitas terra guarani. Ademais, os indígenas
continuam a caminhar entre os tekoha adjacentes - inclusive aqueles que compõe
acampamentos de retomada -, tanto em função de seus vínculos de parentesco como dos
processos de demarcação de suas terras. Nosso interesse é perceber, pensando a partir de
elementos das teorias de decolonialidade e da jusdiversidade, os mecanismos de re-existência
que os Avá-Guarani de Ãnetete e Itamarã empreendem no campo político diante desses
conflitos de terra, inseridos numa modernidade capitalista que os impele à divisão de espaço
em áreas de produção e de proteção ambiental.

A reestruturação produtiva no processo de organização dos territórios


Guarani e Kaiowá na região da Grande Dourados, Mato Grosso do Sul

Judite Stronzake
Laura jane Gisloti

O trabalho tem por finalidade analisar os impactos e as conseqüências da reestruturação


produtiva do sistema de agronegócio nos territórios ocupados ou reivindicados por
populações indígenas Guarani e Kaiowá como sendo de ocupação tradicional de suas
comunidades, na região da Grande Dourados, Mato Grosso do Sul no século XX e XXI.Para
entender a reestruturação produtiva neste período, realizamos um breve recorrido da história
das cadeias produtivas em MS no período posterior a Guerra da Triple Aliança (1864-1970),
momento em que com força os indígenas da região sofreram uma mudança de organização
dos seus territórios.A partir desta guerra, sucessivas frentes de expansão econômica, em
processos de efeitos cumulativos, produziram a expropriação das terras indígenas e a
incorporação deles enquanto mão de obra para os diversos empreendimentos econômicos
(BRAND, 1997; CAVALCANTE, 2013; CRESPE, 2015; PEREIRA, 2016). Buscamos compreender
como as novas configurações do modelo agroexportador impactam as terras e comunidades
indígenas no sul do Mato Grosso do Sul. Dispõe-se de pesquisas que trazem dados sobre o
modelo de produção agrícola e a sua qualificação e reorientação produtiva para atender as
demandas do mercado internacional, porém, a relevância de nosso trabalho será analisar a
reestruturação produtiva em relação aos impactos sobre os povos indígenas guarani e kaiowá
que disputam a terra com o agronegócio. Atenção foi dada ao Estado brasileiro e suas decisões
políticas em relação aos tensionamentos e disputas entre comunidades indígenas guarani e
kaiowá e o agronegócio, portanto, vamos adentrar sobre a materialização do conceito de
agronegócio na região da Grande Dourados e em terras indígenas. A discussão desse processo

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ganha maior relevância, no sentido que poderá auxiliar a compreensão das iniciativas dos
representantes políticos do agronegócio que buscam, atualmente, construir a legalidade ao
arrendamento das terras indígenas, incorporando-as ao modo de produzir tecnificado, e
relegando aos indígenas guarani e kaiowá a busca por um modo de vida que não lhe pertence,
que são os trabalhos precarizados e tercerizados na cidade de Dourados e nos seus arredores.

Cartografia social: um olhar sobre a terra e território na Aldeia Araçaí

Fernando dos Santos Vargas

O projeto de trabalho foi elaborado a partir das experiências vividas por mim como educador
na Escola Estadual Indígena M`bya Arandú, na Aldeia Indígena Guarani M`bya Tekohá Araçaí,
localizada no Município de Piraquara-PR, às margens da represa de abastecimento de água,
Cayguava ou Piraquara 1, inserida na APA (Área de Proteção Ambiental) do entorno do Parque
Nacional do Marumbi. Trabalhando há cerca de sete anos neste local, pude dialogar e ser
convidado pelos moradores da aldeia a ouvir algumas demandas e auxiliar na busca de
metodologias favoráveis a seu atendimento. Partindo do pressuposto de que as terras e
territórios de comunidades indígenas em todo o Brasil, foram sempre ameaçados desde a
invasão promovida pelos europeus. O trabalho tem como objetivo geral identificar quais
obstáculos a comunidade indígena Guarani, tem enfrentado no tocante aos seus direitos à
terra e território, e também a serviços como saúde e educação. Para tanto, estamos auxiliando
na produção da cartografia social de modo que, a partir da compreensão das problemáticas
cartografadas a comunidade crie estratégias voltadas à superação desses obstáculos. O
objetivo específico é auxiliar no reconhecimento do território, desde a perspectiva indígena
tendo como base a relação da comunidade com a Terra. A produção da cartografia social com
metodologia participativa, vem ao encontro da demanda da comunidade Guarani pelo
autorreconhecimento da terra e território em que vivem. O conhecimento da área em que
vivem será cartografado a fim de atender às necessidades de reconhecimento da terra
indígena, demonstrando os modos de estar e ser no mundo (geografia) do referido grupo. Até
o momento foram realizados cinco encontros, nos quais os trabalhos de elaboração da
cartografia já passaram as fases iniciais, mas ainda se encontra em processo de construção de
mapas elaborados pelos adultos e por crianças da comunidade. O respeito ao tempo e
cosmogonia dos indígenas é fundamental para atingir os objetivos explicitados. Os próximos
encontros com a comunidade já foram agendados, portanto, a expectativa é de que possam
ser concluídas cartografias já iniciadas bem como a elaboração de novas cartografias
participativas, com as mulheres, se os mesmos entenderem necessário.

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Presença Guarani no Litoral do Paraná: território em movimento

Caroline Willrich

A comunicação apresenta uma análise descritiva da presença do povo Guarani Mbya no


espaço geográfico do Litoral do Paraná. A região faz parte do chamado Território Guarani, e
coincide com a região de Mata Atlântica mais preservada do mundo. Como fundamentação
teórica, foram trabalhados os conceitos de território com base em Santos (2012), Raffestin
(1993), Haesbert (2007) e Ladeira (2008). Também foi analisado o conceito de mobilidade,
bem como a forma contínua com que as comunidades Mbya vêm adaptando essa mobilidade
às dificuldades impostas pela sociedade nacional. Através de uma contextualização dos
projetos de desenvolvimento regional, que vão desde infraestruturas portuárias até unidades
de conservação; além da coleta de dados realizada junto a órgãos oficiais como Fundação
Nacional do Indio – FUNAI, Secretaria Especial de Saúde Indígena - SESAI e Ministério Público
do Estado do Paraná, pretende- se registrar a presença Mbya na região, ainda pouco
reconhecida. Atualmente existem seis Terras Indígenas, mas apenas uma delas teve seu
processo de demarcação totalmente concluído. Mesmo com os direitos sobre os territórios
tradicionais garantidos pela Constituição de 1988, as áreas destinadas pelo governo federal
para serem demarcadas são também áreas de grande interesse para expansão da atividade
portuária, que exerce fortes impactos nas comunidades indígenas, inclusive sobre os
processos de regularização fundiária. As aldeias são vistas como entraves ao desenvolvimento
e, contraditoriamente, existem conflitos com o Instituto Chico Mendes de Conservação e
Biodiversidade – ICMBIO devido à permanência de indígenas em unidades de conservação.
Diante das adversidades apontadas, novas formas de resistência vão sendo construídas,
interna e externamente, fortemente marcadas pela espiritualidade Guarani Mbya.

Conflitos socioambientais em Unidades de Conservação: Tekoa Kuaray Haxa

Gisele Jabur

Esta pesquisa questiona a perspectiva de que a preservação dos recursos naturais só é possível
se a natureza se mantiver inabitada. Parte-se deste pressuposto para analisar a motivação da
criação dos Parques Nacionais ao redor do mundo. Neste trabalho, o cerne da discussão diz
respeito ao uso e apropriação da terra por populações humanas em áreas declaradas
Unidades de Conservação (UCs). O objetivo geral desta pesquisa é analisar o conflito
socioambiental entre usos e direitos territoriais dos povos indígenas e a conservação da
natureza via áreas protegidas, à luz do caso da sobreposição entre a Reserva Biológica (REBIO)
Bom Jesus e o território Mbya Guarani da Tekoa Kuaray Haxa, no litoral do estado do Paraná.
A pesquisa adota a perspectiva da pesquisa qualitativa, na medida em que foram coletados
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dados através de conversas informais com os sujeitos do conflito. Foi realizada revisão
bibliográfica sobre direitos originários, bem como acerca da temática do conflito
socioambiental decorrente das diferentes racionalidades e suas formas de uso e apropriação
da terra, e a relação com a conservação da natureza via áreas protegidas. Considerando a
indissociabilidade entre cultura e natureza presente na cosmovisão dos povos indígenas, os
direitos territoriais destes povos e a controvérsia do Estado brasileiro ao instituir situações de
sobreposição de espaços territoriais especialmente protegidos, este estudo questiona como
o modelo de desenvolvimento capitalista predatório expropria os povos de suas terras, tendo
como pano de fundo o conflito socioambiental decorrente da sobreposição entre a REBIO Bom
Jesus e o território indígena Kuaray Haxa.

ST 57 | Territorios indígenas, derechos humanos y agricultura: desafíos para la


construcción de marcos jurídicos y políticas públicas bioculturalmente
pertinentes
Francisco Xavier Martínez Esponda (Centro Mexicano de Derecho Ambiental, México);
Mariana Benítez Keinrad (Instituto de Ecología en la Universidad Nacional Autónoma de
México, México); Gisselle García Maning (Centro Mexicano de Derecho Ambiental A.C.,
México).

Los pueblos indígenas de toda América, han tenido a lo largo del tiempo una coevolución
(biológica, cultural y espiritual) con los ecosistemas que han habitado históricamente; lo
anterior es particularmente visible en las prácticas agrícolas, donde la relación hombre-tierra
(que generó y genera buena parte de la agrodiversidad del mundo) tiene un vínculo muy
estrecho y trascendente. El dominio de la cultura moderna-occidental ha profundizado la
discriminación hacia las prácticas e instituciones tradicionales y el desconocimiento de las
características constitutivas biofísicas y culturales de las naciones de toda la región, lo cual ha
consolidado a la marginación como relación estructurante. Ante este contexto, cabe analizar
a fondo diversas experiencias y perspectivas epistemológicas latinoamericanas, muchas de
ellas vinculadas a luchas indígenas por la defensa de su territorio y control cultural de sus
recursos naturales tradicionalmente manejados. Dos temas que pueden otorgar mucha luz a
este análisis son: los derechos humanos (por su relación con el Estado) y la agricultura (por su
relación con la Tierra). Desde la lógica de los derechos humanos en Latinoamérica, se
identifican como primera necesidad: (i) poner en marcha un marco jurídico y políticas públicas,
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en particular en materia agrícola, que permitan el florecimiento de los diversos pueblos y


etnias que habitan los territorios nacionales y (ii) hacer contrapeso al poder de la cultura
dominante.

Reconocimiento y fomento de las prácticas e instituciones tradicionales como


elemento indispensable para la defensa del territorio

Silvia Morales Colmenero

La diversidad biocultural de los pueblos y comunidades indígenas, campesinas y equiparables


se ha construido históricamente a través de prácticas y maneras particulares en que los
pueblos se organizan y manejan su entorno natural, construyendo así territorialidades e
identidades culturales específicas. Estas prácticas (instituciones tradicionales) abarcan desde
el manejo y gestión de recursos y biodiversidad, los sistemas agroalimentarios, la organización
política, hasta las lenguas, la espiritualidad, las fiestas y manifestaciones artísticas.
Lamentablemente, son discriminadas por la legislación y la política pública de la cultura
dominante, por lo cual es necesario defender el derecho de los pueblos de manejar y
conservar sus territorios y bioculturalidades desde el reconocimiento de dichas prácticas y el
fomento del pluralismo jurídico y epistémico. En México, hemos realizado una serie de
diálogos con diferentes pueblos indígenas y campesinos para: i y ii) visibilizar las instituciones
tradicionales que posibilitan la conservación y manejo de los territorios, así como sus
obstáculos y amenazas; y iii) co-construir estrategias orientadas a la construcción de marcos
jurídicos y políticas públicas bioculturalmente pertinentes. Nuestro interés es abrir un espacio
para ampliar y enriquecer estos diálogos, compartir experiencias y perspectivas
epistemológico-jurídicas latinoamericanas para la protección y fomento de las prácticas-
instituciones tradicionales.

Territorios indigenas en areas protegidas: caso Ecuador

Manuel Ivan Morales Feijoo

El Ecuador es un país megabiodiverso y para proteger la biodiversidad, estableció el Sistema


Nacional de Áreas Protegidas (SNAP); sin embargo la declaratoria de áreas protegidas (AP) ha
sido realizada desde un enfoque estatal como una estrategia de conservación in situ sin
consideraciones de la presencia de gente en su interior (posesionarios y propietarios
individuales y colectivos), generándose conflictos socio ambientales que afectan la gestión y
gobernanza de dichos espacios, y hace que en muchos casos esas declaratorias produzcan un
efecto contrario al deseado, esto es, un desconocimiento de las disposiciones legales e
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inaplicabilidad real de las normas. Los conflictos relacionados con la tenencia de la tierra en
áreas protegidas, han constituido por décadas el punto de inflexión entre los pueblos y
nacionalidades indígenas con el Estado, debido a que la legislación ecuatoriana prohibía el
acceso a la tierra dentro de AP. Sin embargo desde el 2018, el Ecuador ha adoptado un
novedoso marco legal que permite el reconocimiento de derechos a la tierra y al territorio de
las comunidades, con una serie de consideraciones legales, por lo que se está trabajando en
una experiencia piloto para desarrollar medidas cultural y ambientalmente pertinentes para
esta clase de procesos.

Pertinencia biocultural de la legislación y la política pública para el campo

Gisselle Maning García

Históricamente, las políticas neoliberales han agudizado problemas en detrimento del campo
y todo lo que va aparejado a éste. El desmantelamiento y privatización de los servicios
estatales agrícolas, el fracaso de las reformas agrarias mal diseñadas, la ausencia de
mecanismos internos de regulación de los precios agrícolas, la promoción del acaparamiento
de la tierra para proyectos extractivistas, las consecuencias ecológicas de la Revolución Verde
y la apertura internacional de los mercados, significó en muchos países acabar con la mayoría
de las condiciones favorables que quedaban para la agricultura campesina/indígena. El efecto
de esto ha sido la migración interna y externa de la población rural, la desintegración de las
comunidades y la paulatina erosión biológica y cultural. La política agropecuaria neoliberal en
las últimas 3 décadas se ha traducido en procesos de importación de grandes cantidades de
granos básicos a cambio de la emigración de indígenas y campesinos de sus comunidades.
Este problema nos lleva a cuestionar la idoneidad de los actuales marcos jurídicos para el
campo y sus políticas públicas, pues el andamiaje jurídico ha demostrado ser incapaz de
conservar y fomentar la riqueza biológica-cultural en la región latinoamericana, por no ser
diseñado según los valores y las diversas lógicas de las formas tradicionales de los pueblos y
comunidades indígenas."

El tratado sobre empresas y derechos humanos: retos y oportunidades para


la protección de los territorios y recursos naturales de los pueblos indígenas

Daniel Iglesias Márquez

Beatriz Felipe Pérez

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La evolución del sistema-mundo capitalista ha generado estructuras y dinámicas que generan


efectos adversos en la supervivencia de las culturas y formas de vida indígenas. La
implementación de políticas neoliberales en América Latina y el Caribe ha contribuido al
aumento exponencial de las actividades extractivas en territorios históricamente ocupados
por los pueblos indígenas, al mismo tiempo que han debilitado las estructuras democráticas
del Estado de Derecho y han afectado la capacidad de los Estados de garantizar el disfrute
pleno de los derechos individuales y colectivos. Un ejemplo sintomático de este modelo de
desarrollo basado en la explotación de los recursos naturales se refleja en la proliferación de
monocultivos de soya, caña de azúcar, o palma africana, que cubren amplios territorios, con
altos impactos ambientales. Estos proyectos suelen afectar no solo al territorio y los recursos
naturales de los pueblos indígenas, sino que ponen en riesgo su soberanía alimentaria,
contribuyendo a generar condiciones de exclusión, pobreza y marginación. A lo largo de la
región se documentan diversos casos en los que las actividades de las empresas
transnacionales afectan gravemente los derechos colectivos, afectando distintos ámbitos,
como el ambiental, territorial, espiritual, salud y vida misma de los pueblos indígenas.
Asimismo, se suman vulneraciones de derechos humanos adicionales, vinculadas al proceso
de defensa de derechos, como la persecución, criminalización y preocupantes situaciones de
violencia. La comunidad internacional ha sometido a un escrutinio más riguroso el impacto
negativo de las empresas sobre el disfrute de los derechos humanos y el medio ambiente. En
el seno de las Naciones Unidas, el Consejo de Derechos Humanos estableció en 2014 un Grupo
de Trabajo Intergubernamental para la elaboración de un tratado en el tema sobre empresas
y derechos humanos que tiene como finalidad subsanar las deficiencias existentes en la
normativa y en la gobernanza de las actividades trasnacionales de las empresas en relación al
respeto de los derechos humanos. El objetivo de la presente investigación es analizar en qué
medida este instrumento internacional podría contribuir a la articulación de un marco jurídico
y políticas públicas destinadas a garantizar los derechos colectivos de los pueblos indígenas
frente a las actividades empresariales. Por tanto, se presentan, en primer lugar, algunas
reflexiones preliminares sobre la responsabilidad de las empresas de respetar los derechos de
los pueblos indígenas. Posteriormente, se examina en qué medida el futuro instrumento
podría integrar la cosmovisión de los pueblos indígenas y crea un contrapeso al modelo
económico hegemónico. Seguidamente, se analiza las oportunidades del tratado para las
luchas indígenas contras las empresas por la defensa de su territorio y control cultural de sus
recursos. Finalmente, se concluye que el futuro tratado sobre empresas y derechos humanos
es un instrumento clave que podría contribuir a prevenir y remediar abusos cometidos por las
empresas en los territorios de los pueblos indígenas.

Sistemas tradicionales de producción en el espejo de los derechos humanos y


las políticas públicas

Xavier Esponda Martínez


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3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

En Mesoamérica, los pueblos indígenas haciendo uso de los agroecosistemas tradicionales,


han domesticado y continúan generando alrededor del 15 % de las plantas cultivadas en el
mundo, por lo cual estos espacios son importantes focos de conservación de riqueza
biocultural. Un ejemplo es la llamada “milpa” en México, que es el agroecosistema más
importante bioculturalmente hablando en el país y principal pilar para la alimentación de las
familias campesinas e indígenas, además de ser un espacio dónde se genera la rica
gastronomía mexicana en armonía con la cosmovisión de los pueblos originarios del país. Sin
embargo hoy día no existe en México un marco jurídico ni una política pública que protejan el
fomento de la milpa y los derechos humanos involucrados en su conservación (como el
derecho a la identidad cultural, a la alimentación, al medio ambiente sano, a la salud, al
trabajo, etc). Así, en razón de la importancia de la milpa como un elemento indispensable para
las formas ser y estar indígenas y campesinas, se requiere por parte del Estado mexicano crear
un marco jurídico y de política pública encaminados a la satisfacción tanto de los derechos
humanos como de la conservación y uso in situ de la agrodiversidad nativa de México.

Experiências de guarda de sementes e práticas agrícolas com comunidades


tradicionais e agricultores familiares no Semiárido do Ceará

Januaria Mello e Mariana Proença

O armazenamento de sementes no Semiárido brasileiro é uma prática tradicional, onde


muitas famílias estocam seus grãos em garrafas em suas próprias casas. Essa prática é
estratégica nessa região, onde a ausência de chuvas no verão compromete a produção
agrícola, e estocar água, sementes e forragem se tornam essencial. Historicamente estes
agricultores estiveram submetidos aos "patrões", trocando serviços por terra e sementes.
Além disso, os atrasos na distribuição de sementes pelos programas do Estado são
recorrentes, e preocupantes, considerando a situação de vulnerabilidade que vivem estas
famílias. Estocar é uma estratégia de garantir a semente para o plantio quando chegar o
período da chuva (janeiro a maio). O processo de estoque comunitário teve início na década
de 70, com o apoio dos Centros Eclesiais de Base (CEBs), que observaram e fortaleceram a
prática do estoque na região. A luta dos movimentos sociais pelo reconhecimento das Casas
de Sementes, espaços coletivos de armazenamento, foi retomado na década de 90 pela ação
da Articulação do Semiárido, uma rede que congrega mais 3 mil organizações da sociedade
civil, que defende e põe em prática o projeto político de convivência com o semiárido. Em sua
maioria, estas casas se articulam em redes regionais e estaduais integrando uma grande rede
muitas vezes interestadual. A partir da experiência de participação em uma disciplina de
"estágio" realizada no âmbito das atividades obrigatórias do curso do Mestrado Profissional
do Programa de Pós-Graduação em Prática em Desenvolvimento Sustentável

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3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

(PPGPDS/UFRRJ), uma antropóloga e uma bióloga, realizaram pesquisas com comunidades


rurais no Ceará, durante o segundo semestre de 2018. A "consultoria" contou com o apoio e
financiamento do FIDA/ONU (Fundo Internacional de Desenvolvimento para a Agricultura),
vinculada ao Programa MDP (Master’s Development Practice), coordenado pela Universidade
de Columbia. As pesquisadoras visitaram comunidades previamente selecionadas pela equipe
do Projeto Paulo Freire, de apoio e incentivo à agricultura familiar, coordenado pela Secretaria
de Agricultura do Governo do Estado do Ceará. A pesquisa da mestranda da área de humanas
focou na inserção de quatro comunidades tradicionais (indígena, quilombola e pescadores de
açudes) no Projeto Paulo Freire, partindo do pressuposto de que as comunidades tradicionais
(minorias étnicas, grupos sociais que utilizam recursos naturais com manejo e conhecimentos
específicos) estão ainda mais marginalizadas e vulneráveis. A pesquisadora da área ambiental
avaliou as práticas de troca e manutenção de sementes, participação nas redes e casas de
semente em seis comunidades. Apesar de terem visitado comunidades distintas, as
pesquisadoras perceberam questões comuns entre estas: tipos de sementes e práticas
agrícolas no contexto socioambiental do semiárido, região historicamente caracterizada por
níveis de pobreza extrema, baixos índices de IDH (índice de desenvolvimento humano) e
ausência e/ou ineficiência de políticas públicas, em especial de acesso à água. Assim, o
objetivo desta apresentação é relatar e refletir sobre a experiência de estágio de cada uma
das pesquisadoras, comparando pontos e elementos em comum entre algumas destas
comunidades no tocante às suas formas de gerir seus conhecimentos agroculturais, suas
relações de trabalho com a terra, formas de produção agrícola, sistematizando algumas
reflexões e dados coletados separadamente, mas com uma perspectiva interdisciplinar.

Reformulação do Programa Nacional de Alimentação Escolar: entre o


colonialismo de corpos, alimentos e modos produtivos e a efetivação do
direito de produzir e consumir seu próprio alimento

Nikolas Raphael Gil Alcon Mendes

A presente comunicação tem por objetivo analisar o processo de reformulação do arranjo


institucional (Gomide & Pires, 2014) do Programa Nacional de Alimentação Escolar, que
deveria garantir alimentação saudável e compatível com os hábitos culturais e alimentares
locais, incluindo aqui os próprios aos povos indígenas no Brasil, mas que por diversos motivos
não ocorrem na maior parte das escolas indígenas do país. Válido destacar que tal Programa
possui normativas condizentes com diversos pressupostos caros aos movimentos sociais que
se agregam à pauta da segurança alimentar e nutricional, balizada em larga medida por
diretrizes próprias ao campo dos direitos humanos e seus desdobramentos. Essa base
normativa é um importante instrumento para forçar o governo brasileiro a garantir
alimentação escolar de qualidade a toda a rede pública de educação básica, o que é feito em
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sua maioria com relativo sucesso (Peixinho, 2011). Porém, se à primeira vista há um
atendimento satisfatório, quando se recorta o público do Programa etnicamente e
territorialmente (trabalhou-se aqui com as escolas indígenas no estado do Amazonas), nota-
se a superposição de processos de exclusão persistentes, tais como descritos por Arretche
(2015) em relação às tentativas de universalização das políticas sociais desde o processo de
redemocratização da década de 1980. A partir da minha inserção profissional, como
indigenista da Fundação Nacional do Índio e mestrando no Programa de Mestrado Profissional
em Governança e Desenvolvimento da Escola Nacional de Administração Pública, venho
acompanhando o grupo de trabalho que foi instituído pelo Ministério Público Federal no
Amazonas, a fim de averiguar as reivindicações apresentadas por diversas comunidades
indígenas do estado sobre os problemas com a alimentação escolar. Tal grupo de trabalho é
composto por membros de instituições públicas responsáveis pela implementação do
Programa, que abarca desde as responsáveis pela educação básica até as de assistência
técnica rural, vigilância sanitária e agropecuária, além de membros da sociedade civil
organizada, tanto indígenas quanto indigenistas. O grupo de trabalho tem avançado em alguns
pontos na tentativa de efetivar alimentação escolar de qualidade e em quantidade suficiente,
em conformidade com os hábitos culturais e alimentares indígenas – com ênfase na produção
local e no reconhecimento dos sistemas de manejo de paisagem e técnicas de conservação e
preparo de alimentos –, porém, vários outros pontos de entrave continuam a existir,
atualizando os processos de exclusão que atingem os povos indígenas na sua relação com o
estado brasileiro e que mormente operam a partir do dispositivo de poder tutelar (Lima,
1995).

Instituciones y potencias instituyentes. Reflexiones en torno a la relación


entre los estados nacionales y las autonomías indígenas

Juliana Merçon

Esta ponencia propone explorar algunas de las principales tensiones entre el derecho de
autodeterminación de los pueblos y la monoculturalidad del Estado- nación. Presentaremos
brevemente tres ciclos del constitucionalismo pluralista que cuestionan la relación tutelar
neocolonial de los estados republicanos latinoamericanos con los pueblos indígenas: el
constitucionalismo multicultural, el constitucionalismo pluricultural, y el constitucionalismo
plurinacional. Desde un enfoque pluralista y biocultural, reflexionaremos sobre el rol tanto de
las instituciones tradicionales como de las nuevas potencias instituyentes en la transformación
del Estado-nación en tiempos de fuertes amenazas a los territorios y gobiernos indígenas.

ST 58 | Trajetórias de acadêmicos indígenas: impactos presentes e perspectivas


de futuro
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Florêncio Almeida Vaz Filho (Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA, Brasil); Gersem José dos
Santos Luciano (Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Brasil); Felipe Sotto Maior Cruz
(Universidade de Brasília – UnB, Brasil).

O acesso à Universidade trouxe novas perspectivas para os povos indígenas com relação à cidadania e
aos direitos indígenas. Milhares de estudantes ascenderam aos diferentes cursos universitários como
uma estratégia para a melhoria de vida dos seus coletivos e a construção e fortalecimento da
autonomia indígena. Apesar dos obstáculos à sua permanência na academia, já podemos constatar
percursos de sucesso e com impactos positivos entre as suas comunidades de origem. Além da
assessoria política às organizações indígenas, temos dissertações e teses sobre história e as culturas
indígenas, documentários em vídeo, inventários dos patrimônios culturais etc. Mas perguntamos: de
maneira geral, a produção dos acadêmicos indígenas aponta de fato para a construção de discursos e
práticas contra-hegemônicos? Neste simpósio pretendemos discutir os efeitos das trajetórias destes
indígenas sobre os seus coletivos de origem, buscando responder às seguintes questões: [1] até que
ponto o acesso à universidade tem auxiliado na construção e consolidação de uma autonomia e
protagonismo indígenas?; [2] Quais os novos olhares e perspectivas trazidos por estes intelectuais
indígenas?; [3] Que repercussões têm produzido nos seus coletivos a ascensão de indígenas ao ensino
superior em níveis de graduação e pós-graduação?; [4] Quais as perspectivas encontradas pelos
egressos referentes à atuação profissional, circulação de sua produção intelectual e possibilidades de
projeção no cenário acadêmico?

O impacto do curso de licenciatura intercultural indígena nas escolas da Terra


Indígena Uaçá: reconhecimento e qualificação de professores indígenas

Rosilene Cruz de Araujo

Evilania Bento da Cunha

O presente trabalho é resultado de nossa experiência como docentes do Curso de Licenciatura


Intercultural Indígena da Universidade Federal do Amapá. O curso é resultado da luta do
movimento indígena do Amapá, que provocou a universidade a ofertar um curso especifico
para formação de professores indígenas, atendendo a população indígena desde o ano de
2007. Durante a participação como banca avaliadora do Processo Seletivo Indígena-PSI em

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2014 e 2017 pudemos observar que um dos impactos nas escolas das comunidades da Terra
Indígena Uaçá é a inserção de professores indígenas com formação universitária especifica.
Com base na observação do PSI percebemos um aumento significativo ano a ano, na procura
por esse curso e elencamos alguns indicadores: o formato de oferta modular que proporciona
o indígena continuar na sua comunidade e vir à Universidade para as etapas presenciais; esse
formato também permite permanecer pouco tempo na cidade o que se torna viável tendo em
vista o alto custo da permanência na cidade de Oiapoque; o curso específico para indígena
favorece ainda uma convivência acadêmica com menos preconceito uma vez que os não
indígenas alimentam um estereótipo que os indígenas em Oiapoque são privilegiados gerando
ora exploração porque o preço dos serviços tem um valor elevado para indígenas, ora
situações de discriminação. Nesse contexto, analisaremos dois impactos, o primeiro a inserção
na Universidade e o segundo a inserção no campo profissional da docência. Para o segundo
impacto traremos as falas dos jovens candidatos ao curso de Licenciatura Intercultural
Indígena quando afirmavam que os professores indígenas que se graduaram na Licenciatura
Intercultural Indígena na UNIFAP da cidade de Oiapoque têm uma atuação diferenciada como
professor. Por outro lado, as condições de trabalho docente não permite um planejamento
pedagógico a longo prazo, uma vez que o Estado do Amapá não convoca concurso público
para professores indígenas, mantém uma política de rotatividade de contratos e argumenta
que os professores indígenas egressos do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena não
podem participar de concurso público para atuar no ensino fundamental anos finais e ensino
médio devido a lei da carreira do professor no Estado do Amapá (genérica) exigir que estes
professores tenham formação acadêmica em licenciatura disciplinar (História, Matemática,
Química...). Não reconhecendo o formato da Licenciatura Intercultural organizada por área do
conhecimento. Outro grande desafio que merece destaque é a inserção na Pós-Graduação. O
artigo pontuará questões levantadas por ocasião das entrevistas do PSI no ano de 2017
percorrendo os caminhos dos dilemas, desafios, movimentos e lutas dos povos indígenas do
Amapá em especial da região do Oiapoque pelo reconhecimento e qualificação do profissional
indígena na educação escolar.

El repensar de los Derechos Humanos Universales desde el Nuevo


Constitucionalismo Latino-Americano y el pensamiento andino en el Perú

Cliver Ccahuanihancco Arque

La Declaración Universal de los Derechos Humanos, sin duda fue históricamente un colosal
avance para el respeto y garantía de los derechos del género humano; sin embargo tal
declaración excluyo sociedades no encuadradas bajo criterios tácitos de diversidad, raza,
género y clase, poniéndose así en evidencia, un mínimo para ser incluido como sujeto de
derecho dentro del excluyente amparo universalista, arraigado por el clásico modelo jurídico,
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monista, positivista y doctrinario. El presente trabajo pretende explicar tres enfoques para
entender los Derechos Humanos; comenzando con su concepción universalista occidental
habitual; seguido de su concepción inclusiva imaginaria desde el nuevo constitucionalismo
latinoamericano y terminando con su concepción crítica desde el pensamiento andino del
Perú. Todo ello con el fin de poner de manifiesto la maquinaria intelectual que crea categorías
y perfecciona cada vez más la colonización que fragmenta y absorbe instituciones bajo
maquilladas perspectivas inclusivas de Derechos Humanos Universales y Nuevo
Constitucionalismo Latinoamericano; la metodología a utilizar será la revisión bibliográfica
bajo el método hermenéutico, sistemático e interseccional desde los avances de las realidades
jurídicas Latino Americanas.

As políticas de ações afirmativas para o ingresso e permanência de indígenas


na Universidade Federal do Oeste Do Pará - UFOPA

Carlos de Matos Bandeira Junior

Maike Joel Vieira

Esta comunicação analisa a política afirmativa de acesso e permanência de grupos indígenas


na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). Trata-se de uma pesquisa qualitativa de
cunho bibliográfico, documental e baseada em entrevistas com estudantes indígenas e
representantes dos departamentos responsáveis pela condução, planejamento e execução de
políticas de ações afirmativas da universidade. Identificou-se que a Ufopa promove
consistente política de ingresso a populações étnicas por meio dos Processos Seletivos
Especiais Indígenas e Quilombolas (PSE). Atualmente são 488 discentes indígenas e 250
quilombolas. Verificou-se que o grande desafio da instituição é o desenvolvimento de políticas
de permanência e promoção do sucesso acadêmico voltadas a esses grupos, em decorrência
da existência de aspectos importantes atrelados ao ambiente acadêmico, como barreiras
culturais e metodológicas de ensino, dificuldades com a língua oral e escrita, burocracia
institucional e o preconceito estrutural da sociedade brasileira para com os povos indígenas.

A experiência na roça de branco: mulher indígena na universidade

Braulina Aurora Baniwa

O universo de experiência no espaço de formação, fora de uma comunidade indígena é muito


impactante na vida de uma mulher indígena, os cursos, que poderíamos chamar de roças,
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requer atenção diferente do que é limpar e cuidar de uma roça que estamos acostumados
lidar. Ser mulher indígenas e ter espaço na academia, ainda deixa muito a desejar, quando
olharmos para parâmetros direitos de acesso a auxílios e outras políticas existentes,
universidades públicas brasileiras, não sabem lidar com os indígenas, imagina com as
mulheres, nosso universo de ser diferente é pouco respeitado e valorizado. As mulheres na
atualidade estão em diferentes espaços de fala e poder, as mulheres indígenas estão cada vez
mais presentes no campo da academia, o que traz outro sentido no campo social, dos povos
indígenas, mas ainda assim, somos apenas mulheres profissionais. Nesse trabalho, tentarei
mostrar a experiência pessoal, de uma jornada, ser mulher na roça de Brancos, na dicotomia
de viver no território e do não pertencimento nas duas roças.

A importância do trabalho acadêmico dos intelectuais indígenas: uma


reflexão a partir da pesquisa com os clãs Palikur

Ailton Batista

Tadeu Lopes Machado

O povo indígena Palikur vive na fronteira do Brasil com a Guiana Francesa. No lado brasileiro
vivem cerca de 1400 pessoas, já no território francês o número de Palikur circula em torno de
1600 indivíduos. É um povo falante da língua parikwaki, do tronco arwake. Dividem o território
em que vivem no Brasil com mais três povos indígenas, que juntos exercem influência sob três
Terras Indígenas legalmente demarcadas e homologadas, localizadas no município de
Oiapoque-AP. Uma característica do povo Palikur é sua organização em clãs. Antigamente
conta-se que eram mais de 29 clãs rigidamente divididos, cada grupo clânico tinha sua própria
aldeia e constituíam suas famílias a partir da endogamia. Com a aproximação desse povo com
o cristianismo o casamento endogâmico passou a ser considerado pecado e portanto.
Atualmente esse povo indígena vive em 13 aldeias distribuídas ao longo do rio Urucauá e na
BR 156, mas as aldeias não são mais divididas segundo o critério do pertencimento clânico,
pois adotaram o modelo exogâmico para suas uniões matrimoniais. Nos dias atuais contam-
se apenas 6 clãs entre os Palikur do Brasil. O presente trabalho é fruto dos desdobramentos
da pesquisa de TCC do primeiro autor, que tratou de identificar os clãs Palikur que existiram e
que ainda existem e a importância dessa forma de organização social para esse povo, além de
colaborar no fortalecimento da cultura através da documentação e divulgação da história
Palikur. Compreende-se que o trabalho acadêmico é uma ferramenta de fundamental
importância para os povos indígenas, pois a partir da formação intelectual dos indígenas pode-
se construir outras perspectivas de entendimento do passado, do presente e do futuro dos
indígenas do Brasil. Na região de Oiapoque os indígenas contam com formação em nível
superior na Licenciatura Intercultural Indígenas, ofertada pela Universidade Federal do Amapá
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desde 2007. Nesse curso entendemos que a aproximação com a academia, embora seja um
processo tumultuado, é algo muito importante, pois os indígenas passam a ocupar um espaço
que historicamente lhes foi negado. A pesquisa acadêmica, a ciência, o saber, estão sendo
conquistados a duras penas pelos indígenas através de seu movimento político. Considerando
o poder que o saber exerce na sociedade a partir de suas formas de discurso, entendemos que
é necessário e urgente garantir que os próprios indígenas falem por si mesmos, para contrapor
ideias distorcidas produzidas pela ciência hegemônica que historicamente ousou-se
considerar como verdade sobre os povos originários. Dessa forma, o trabalho sobre os clãs
Palikur, assim como outros trabalhos que estão sendo desenvolvidos na região indígenas de
Oiapoque, são instrumentos que garantem a fala dos próprios indígenas no espaço de atuação
político e acadêmico que ainda não é considerado hegemonicamente seu.

Conexões de saberes: PET Indígena Ações em Saúde - UFSCAR: experiência e


troca de saberes ao longo de 8 anos do Programa de Educação Tutorial

Adriele Braga

Dayane Teixeira Almeida

Larissa Eduarda Freire

Yuri Antônio de Oliveira Sá

O grupo Conexões de Saberes: Pet Indígena Ações em Saúde foi criado em dezembro de 2010
na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) com objetivo de construir caminhos de diálogo
entre a academia e os saberes dos estudantes indígenas e seus povos. O principal foco é a
valorização das práticas tradicionais da saúde indígena e a inserção indígena na universidade.
O grupo é interdisciplinar e formado exclusivamente por alunos indígenas que vêm de várias
regiões do Brasil, conferindo uma rica diversidade de contextos e realidades. O vestibular
indígena na UFSCar foi implementado em 2008 junto ao Programa de Ações Afirmativas em
meados de 2007. Recém-chegados em 2008 de suas comunidades e vivenciando um choque
entre diferentes culturas, depararam-se com uma nova realidade e grandes desafios nesses
caminhos da graduação como, por exemplo, a adaptação ao modelo pedagógico de ensino
nas universidades. Assim, vendo as dificuldades e obstáculos, foi criado o grupo PET, como
estratégia para que esse grupo de aprendizagem tutorial, através da vivência, por meio das
reflexões e discussões, estimular o estudante com espírito crítico a colaborar e desenvolver
sua autonomia. Além de propiciar um ambiente de aprimoramento na formação desses alunos
de maneira a capacitá-los para trabalharem em suas regiões de origem nas áreas da saúde e
educação. A saúde indígena ainda é um tema negligenciado nos projetos pedagógicos dos
cursos da área da saúde e o grupo procura preencher essa lacuna trazendo o tema para o
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debate. É importante levar o conhecimento para as comunidades de origem onde existe


carência no atendimento para as populações indígenas. Nosso objetivo é construir
coletivamente processos democráticos e participativos que visem a melhoria e qualidade,
eficiência e efetividade na gestão e organização do trabalho em saúde e educação, pensando
em estratégias de intervenções nas comunidades indígenas, procurando respeitar os valores
e as necessidades individuais e coletivas dos povos indígenas. Nos 8 anos de implantação e da
existência do grupo Pet, os trabalhos em destaque são fazer ações em saúde, o trabalho em
equipe, fazer as intervenções em ações educativas, promoção em saúde nas escolas no
município de São Carlos e nas comunidades indígenas de origem dos membros, realização de
workshop sobre saúde indígena para a comunidade acadêmica, a promoção de palestras com
intelectuais indígenas. A partir dessa experiência, o grupo elenca os principais desafios e
limites relacionados à inserção da presença e do conhecimento indígena dentro da
universidade.

Acadêmicos indígenas: desafios da interculturalidade e da decolonização da


universidade

Ana Karina Brocco

Elison Antonio Paim

A luta dos movimentos sociais e a emergência de produções acadêmicas sobre as


desigualdades raciais, o mito da democracia racial e a subalternização da diferença étnico-
racial têm contribuído para a criação de novos discursos, reivindicações, políticas públicas
afirmativas e legislações educacionais voltadas à inclusão e a processos educativos
interculturais. A partir desse contexto emergente, problematizamos em nossa tese em
andamento no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), sobre a inclusão dos povos indígenas no ensino superior brasileiro, tendo
como objetivo analisar as memórias, experiências e trajetórias de estudantes kaingang no
ensino superior na Região Oeste de Santa Catarina, que estudam na Universidade Federal da
Fronteira Sul (UFFS), através da produção de fontes orais por meio de entrevistas com os
estudantes e à luz do pensamento decolonial. A epistemologia decolonial busca pensar e
analisar a história a partir de seu lugar, de seus sujeitos, valorizando seus conhecimentos,
pensando com e a partir de corpos e lugares étnico-raciais/sexuais subalternizados na
contraposição ao pensamento único eurocêntrico. Os estudos sobre a temática, têm
sinalizado, de uma forma geral, que apesar do crescente interesse dos indígenas pela
formação superior e dos avanços nas políticas e programas educacionais voltados a esses
povos, eles ainda enfrentam dificuldades e desafios para o ingresso, a permanência e a
conclusão do curso, pois, além da necessidade da manutenção material desses estudantes,
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há, sobretudo, a necessidade de reconhecimento e valorização de suas diferenças e de


práticas interculturais nas universidades. Compreendemos que a efetivação das cotas
afirmativas, dependem, dentre outros elementos, de um processo de rompimento com a
colonialidade, e por um processo contínuo de decolonialidade, onde o diálogo e a postura
receptiva aos conhecimentos originários podem ser um passo para a construção de uma
universidade que permita o diálogo de saberes entre diferentes formas de produzir
conhecimento. Como a universidade pode ser um espaço de desconstrução de subalternidade
e afirmação das identidades indígenas, se não reconhece o ser e os saberes desses povos?
Apesar da grande dificuldade da universidade em operar mudanças epistemológicas que
valorizem as identidades, as histórias, os saberes e as culturas indígenas, pois é marcadamente
ocidental e colonial, a presença e a resistência dos estudantes indígenas no ensino superior
revelam seu protagonismo e sua contribuição para a configuração de um campo
epistemológico definido na interculturalidade, e assim para um processo de reconstrução da
universidade com base em dimensões éticas, políticas e epistêmicas mais profundas.

Os desafios para os indígenas no caminho da formação em Serviço Social

Maria Helena Cariaga

Silvia Regina da Silva Costa

Este trabalho trata do percurso realizado pelos estudantes indígenas Xerente, matriculados
no curso de serviço social do campus de Miracema na Universidade Federal do Tocantins. Uma
primeira aproximação realizada em abril de 2018 para sistematizar as trajetórias e contribuir
com a formação profissional e o protagonismo desses. Também de reconhecer e legitimar as
fontes para a pesquisa de suas falas, e assim reafirmarmos que os direitos e também de
fazerem a história. Nesse sentido, durante o desenvolvimento deste estudo o nosso trabalho
será de coleta das informações por meio da escuta dos estudantes conforme a atividades
desenvolvidas. Ao se reconhecer como sujeito produtor e reprodutor de significados, o
indivíduo está participando da história, está fazendo o relato de sua própria participação sobre
a sua própria vida e a história pessoal e social. A partir da Constituição Federal de 1988 a
legislação brasileira atual assegura aos povos indígenas uma formação profissional atendendo
as demandas específicas de seus universos socioculturais. O Ministério da Educação no
intento de atender a legislação e a demanda de formação dos povos indígenas aprovou, em
1991, a Portaria Interministerial MJ/MEC No. 559, criando a Coordenação Nacional de
Educação Indígena e, em 1993, aprovou a criação do documento “Diretrizes para a Política
Nacional de Educação Indígena”. No estado do Tocantins, as etnias, Karajá, Javaé e Xambioá
(povo Iny), os Apinayé (povo Pani) e os Krahô (povo Meri) os Xerente (povo Akwẽ), são povos
que tem uma população crescente e em busca de aprimoramento educacional. O povo Akwẽ-
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Xerente, cuja população é demograficamente maior que as demais etnias do estado do


Tocantins, ao longo do tempo tem resistido às investidas da sociedade capitalista, na invasão
de suas terras, preservação e manutenção de suas tradições culturais, tais como: a língua
Akwẽ do grupo línguístico Macro-Jê. Diante da história do povo Xerente percebe-se que esses
indígenas lutam pela garantia de suas terras, demonstrando em vários momentos a sua força,
sua resistência no acreditam ser o melhor para seu povo. Fazem-se necessárias pesquisas com
relação aos desafios enfrentados por esses estudantes no curso de Serviço social pois
observamos uma inserção singular numa região que contempla inúmeras etnias e aldeias,
destacamos que em nosso cotidiano de ação e ainda são mínimas as pesquisas que se
debruçam sobre tal temática desde que foi instituída a cota pela UFT como direto ao ensino
superior desses povos a temática. Assim, mais que justificar esta pesquisa se torna necessária,
pois conforme as diretrizes para a educação indígena no Brasil esta deve contribuir com o
resgate e preservação das culturas.

Presença indígena no ensino superior: caminhos e desejos no Sul do Brasil

Leonardo Garcia Carneiro

Esta pesquisa esboça, a partir de experiências etnográficas em universidades do sul do Brasil,


reflexões amplas sobre o fenômeno (crescente) Presença Indígena no Ensino Superior (PIES)
brasileiro, processo que passa a tomar forma e força em todo o país, principalmente, nos
últimos quinze anos. O fenômeno é pensado a partir de uma perspectiva que envolve uma
múltipla gama de agências, forças, interesses e possibilidades observadas e refletidas a partir
da ótica da antropologia simétrica (LATOUR, 2013) aliado às ideias sobre “indigenização da
modernidade” (SAHLINS, 1997). Diante destes olhares, as PIES são percebidas como parte de
um conjunto de forças des-re- territorializadoras atreladas às movimentações “sociais” em
que diferentes atores (humanos e não humanos) mobilizam/são mobilizados em novas redes
de “alianças sociopolíticas” e caminhos existenciais. A ocupação do ambiente (e redes) ligado
ao “mundo acadêmico” pelos “índios” se apresenta como contra força às “alternativas
infernais” (PIGNARRE e STENGERS, 2005) em que estas forças se mobilizam e são mobilizados
em torno de alternativas para a transformação de um mundo que transponha o dualismo
infernal entre “integração assimilacionistas” e a “conservação isolacionistas” imposto a
existência indígena no Brasil contemporâneo.

Docência Indígena: trajetórias, impactos e perspectivas. O que trazem as


narrativas?
Maricelma Almeida Chaves

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Esta comunicação tem por objetivo analisar as narrativas de professores indígenas egressos
de duas turmas da área de Ciências da Linguagem do Curso de Educação Básica Intercultural
da Unir de Ji-Paraná. A investigação parte de uma abordagem discursiva, no intuito de
identificar características dos discursos presentes nas narrativas permitindo assim uma análise
mais profunda que revela implicitamente como se deu suas trajetórias de formação docente,
quais os impactos causados e quais são suas perspectivas para o futuro. Este trabalho tem
como proposta metodológica a pesquisa bibliográfica e documental. A investigação
bibliográfica possibilita a fundamentação teórica com a qual são realizados os procedimentos
das análises das narrativas; a documental, por sua vez, possibilita a coleta de dados para
análise de arquivos do Departamento de Educação Intercultural, da UNIR, campus de Ji-
Paraná. Diversos autores fundamentam o conceito de narrativa aqui apresentado. Para fim de
análise, toma por base o modelo sociolinguístico de Labov (1972-1982). Considera-se que a
trajetória de vida é o processo de formação do indivíduo, logo, conhecer as construções
ideológicas presentes nas falas de cada sujeito propicia a compreensão das diferentes formas
como cada pessoa experiência o mundo.

Ser visto, ouvido e reconhecido: obstáculos para a autodeterminação


intelectual indígena

Felipe Sotto Maior Cruz

A última década representou um momento importante para a entrada de indígenas em


Universidades nas quatro regiões do Brasil. A conquista de políticas afirmativas voltadas não
somente para o ingresso como também para a permanência desses estudantes proporcionou
um crescente avanço para a consolidação da presença indígena no Ensino Superior. Enquanto
sujeitos que foram sistematicamente marginalizados na história brasileira, a recente presença
de corpos indígenas nos ambientes acadêmicos tem suscitado inúmeras reflexões sobre o
modus operandi das dinâmicas de produção e validação de conhecimentos nas universidades.
Por um lado, temos como um dos principais desafios enfrentados pelos estudantes indígenas
a persistência de construções históricas acerca do intelecto e racionalidade indígena,
responsáveis por inúmeras tentativas de inferiorizar as nossas capacidades intelectuais. Por
outro, temos as próprias concepções de uma pretensa objetividade e neutralidade dos
conhecimentos científicos que esbarram nas aspirações de um conhecimento que venha a ser
produzido a partir de um vínculo essencial entre o acadêmico indígena em sua individualidade
e sua comunidade de origem. Nessa apresentação tentarei dar conta de algumas dessas
questões buscando apontar alternativas e caminhos para o estabelecimento de relações
horizontais entre indígenas e não-indígenas no mundo acadêmico, sobretudo, no que
concerne aos regimes de produção e validação de conhecimentos.

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Desafios e possibilidades de indígenas na universidade a partir da experiência


em monitoria

Raimara Pereira Lourenço Duarte

Maria de Fátima Pereira de Carvalho

Miriam Carvalho Lopes

Glaucia Mitsuko Ataka da Rocha

O presente trabalho tem como objetivo relatar os desafios enfrentados pelos universitários
que participam do Programa Institucional de Monitoria Indígena (PIMI) o qual tem como
objetivo facilitar a inclusão dos alunos indígenas nas atividades de ensino, pesquisa e
extensão, contribuindo para a sua permanência e sucesso acadêmico. Esta experiência em
Monitoria Indígena abrangeu o período de um ano, no atendimento de, aproximadamente,
35 alunos de diferentes etnias e cursos. As principais dificuldades apresentadas pelos alunos
indígenas foram, por um lado, relativas ao domínio da língua portuguesa, uma vez que muitos
deles foram alfabetizados nas aldeias, na língua nativa, e ao domínio das ferramentas da
informática para a realização dos trabalhos acadêmico. Por outro lado, referem dificuldades
nos relacionamentos interpessoais, isolamento, muitas vezes decorrente de preconceito e de
visão estigmatizada. Tendo em vista as demandas urgentes, vindas dos alunos indígenas, as
atividades pelas monitoras foram voltadas para auxiliar no processo de permanência destes
na Universidade, principalmente em atividades como aulas de português, informática e
elaboração de trabalhos acadêmicos, tais como artigos, seminários, resenhas e Trabalhos de
Conclusão de Curso. Ademais, é necessário superar a questão dos estigmas e preconceitos nas
instituições que geram exclusão, entendendo que são construídos historicamente e
perpassam as práticas nas instituições de ensino e geram problemas na aprendizagem. Para
tanto, buscou-se um olhar cuidadoso sobre esses problemas, resultado de reflexão acerca das
práticas inclusivas e do desenvolvimento da sensibilidade quanto às demandas advindas por
parte dos alunos. As discussões entre monitores e orientadores levou-nos a considerar e
explorar as habilidades dos indígenas de maneira a potencializar suas capacidades, ainda
insuficientes. Entende- se que há a necessidade de práticas mais abrangentes que possibilitem
o desenvolvimento de autonomia e independência na academia e a integração à comunidade
acadêmica.

A relação do aluno indígena com a língua portuguesa e com as propostas de


inclusão oferecidas pela UFJ em 2018
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Ayanna Duran e Rodrigo Mesquita

No cenário da educação superior, a partir das propostas de inclusão oferecidas pela


Universidade Federal de Jataí, propomos uma análise sobre as trajetórias dos alunos indígenas
desde o ingresso na universidade, monitoradas especialmente a partir da relação destes
estudantes (entre os quais a primeira autora deste trabalho se inclui) com a língua portuguesa.
Trata-se, ainda, de avaliar as propostas do programa UFG-INCLUI, no sentido de refletir sobre
seus desdobramentos na tarefa de amenizar os impactos causados na adaptação dos
graduandos indígenas. Ao monitorar os impactos relativos às questões de natureza linguística,
foi possível constatar outros de natureza psicológica, financeira, de acesso aos recursos
tecnológicos, métodos de ensino/aprendizagem e avaliação, e ainda nas consequências da
relação muitas vezes conflituosas com os profissionais da educação superior. Para melhor
compreensão das trajetórias dos estudantes, foi necessário um breve estudo sócio-histórico
e cultural para refletir sobre o ensino a que cada discente esteve exposto desde o ensino
fundamental até o acesso ao curso superior. A pesquisa foi realizada com auxílio de
questionários e entrevistas, através dos quais fortes relatos foram registrados. Os resultados
destacam a necessidade de ampla mobilização, não restrita somente aos docentes, mas que
implica na adoção de políticas institucionais que busquem e estimulem a valorização das
diversidades culturais, a quebra de estereótipos e a abertura para novas epistemologias e
metodologias de ensino no espaço acadêmico. Entre as estratégias de enfretamento das
dificuldades por parte dos discentes, destaca-se a formação de um coletivo indígena na UFJ e
seu fortalecimento através de embates constantes. Após as análises e leituras interpretativas
dos resultados, respaldadas por referências relacionadas à cultura, língua e sociedades
indígenas, emergiram algumas questões pertinentes para a continuidade dos debates e
reflexões: as faces e as consequências da inclusão do aluno em relação às dificuldades com a
língua portuguesa; as estratégias para o enfrentamento e superação nas lutas através de
coletivos e políticas afirmativas na universidade; situações que geram depressão e isolamento
do estudante indígena; formas de abordagem dos diferentes saberes no contexto da sala de
aula. Pretende-se, com o presente trabalho, uma contribuição para a construção de uma
assistência, via programa de inclusão existente na UFJ, que seja realmente integral e que
respeite e considere a diversidade linguística, cultural e epistemológica dos processos de
ensino/aprendizagem dos povos indígenas que chegam a esta universidade.

Contribuições para afirmação dos direitos dos estudantes indígenas na


educação superior: uma experiência de extensão e pesquisa

Rosa Maria Castilhos Fernandes

Rejane Nunes de Carvalho

Rafael Filter Santos da Silva


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Aline Domingos

O presente resumo socializa os resultados de uma pesquisa documental de natureza


qualitativa e que teve como objetivo analisar o significado atribuído pelos estudantes e
servidores da UFRGS durante uma ação de extensão, sobre o que é ser índio, para contribuir
com a defesa dos direitos indigenistas e sua afirmação no território acadêmico. O principal
documento de análise foi o Relatório da atividade de extensão sistematizado no documento
da ação denominada: “Diálogos: o que é ser índio” (março de 2016 a maio de 2017). Os
resultados demonstram que os modos de ser e viver desses coletivos estão relacionados: a
natureza, a sua vinculação aos chamados povos originários, e por que não dizer, tradicionais,
ao pertencimento as culturas indígenas, e neste caso Kaingang (já que representa a etnia das
estudantes pesquisadoras), as suas resistências e lutas cotidianas, a discriminação e ao
sofrimento vivido, e ao reconhecimento ou não como sendo sujeitos de direitos. Embora
existam iniciativas protagonizadas por diferentes sujeitos que defendem os direitos e a
afirmação indígena na educação superior, muito temos que avançar, pois a pesquisa aponta
as contradições construídas social e historicamente com relação a esses povos, que vão desde
o preconceito ao reconhecimento, do estranhamento à naturalização, entre outros aspectos
analisados.

Darlene dos Santos Cavalcante: reflexão dialogada sobre uma trajetória de


emancipação através de “categorias geradoras”

Guilherme Gitahy de Figueiredo

Darlene dos Santos Cavalcante

O debate pós-colonial tem mostrado que o racismo e o machismo são facetas do colonialismo
(Balestrin, 2013). Ao menos desde o início da conquista da América, as mulheres deste
continente já sofriam duplamente a violência colonial enquanto indígenas e como mulheres
(Todorov, 1982). Atualmente, essas formas de violência continuam combinadas, o que tem
levado feministas negras a apresentar como inseparáveis os combates ao racismo e ao
machismo (Adichie, 2015; Ribeiro, 2017). Segundo Adichie (2015), somente a livre
participação das mulheres nas instituições permite que possam contribuir com a cultura. O
presente artigo é um relato e uma reflexão dialogada sobre a trajetória de Darlene dos Santos
Cavalcante, que é mulher, indígena Mayoruna, pedagoga e estudante de pós- graduação em
uma instituição privada de Tefé, Amazonas. O diálogo deste texto começou em 2015 entre o
professor orientador e a então estudante e orientanda, através das atividades da iniciação
científica, extensão universitária e produção do trabalho de conclusão de curso (TCC), e teve
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continuidade após a formatura. Tanto em sua trajetória, quanto nos relatos e reflexões que
faz, o método de Darlene tem sido a emancipação. É possível separar pesquisa, extensão,
militância e vida, quando se luta por liberdade? Para o professor, a principal referência
metodológica na produção do texto é a etnografia dialógica de Fabian (1983, 2001), que busca
a coetaneidade no diálogo entre os sujeitos da pesquisa, e que as análises sejam produzidas
através da práxis dialógica que a coetaneidade permite. A construção deste texto também
permitiu a elaborção do conceito de “categorias de análise geradoras”, a partir da obra de
Paulo Freire (1970). Este autor defendia o uso de “temas geradores” nos cursos de pós-
alfabetização, ou seja, temas que trouxessem elementos da compreensão de mundo,
criatividade, valores e esperanças dos educandos. Conseguia, assim, que os estudantes se
inserissem pouco a pouco como sujeitos do processo educativo. Por analogia, as “categorias
geradoras” são aquelas que permitem a inserção dos sujeitos da pesquisa no processo de
análise científica, mesmo quando há barreiras ou desinteresses que afastam esses sujeitos do
tipo de elaboração teórica que o pesquisador mais experiente tende a fazer. Trata-se de
buscar, nos seus discursos e narrativas, as categorias e associações que são mais significativas
para eles, e permitir que estas participem na estruturação dos problemas e das análises
teóricas. Afinal, todo discurso já contém problemas e análises, a construção de categorias e a
produção de associações.

Saber é poder: construção de autoridade e atuação política de acadêmicas


indígenas no baixo rio Tapajós

Auricélia dos Anjos Fonseca

Luana Lazzeri Arantes

A Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) desde que foi criada, por meio da Lei no
12.085 de 5 de novembro de 2009, executa Processo Seletivo Especial Indígena – PSEI. O PSEI
oferece de 01 (uma) a 03 (três) vagas em todos os cursos de graduação regulares e prevê a
realização de 02 (duas) etapas – prova escrita e entrevista. Através dessa política de cotas, a
Ufopa é uma das instituições no país com maior número de estudantes indígenas. Atualmente,
de acordo com a Pró- Reitoria de Gestão Estudantil, são quase 500 alunos/as indígenas, sendo
a maioria oriunda da região do baixo rio Tapajós. Na referida região, de acordo com dados do
Conselho Indígena Tapajós Arapiuns – CITA, vivem quase 07 mil indígenas, de 13 povos que
habitam, aproximadamente, 70 aldeias localizadas nos municípios de Aveiro, Belterra e
Santarém. O CITA, fundado em 2000, desde a implementação do PSEI, tem sua coordenação
composta por uma maioria de estudantes da Ufopa. Esse processo culminou na formação de
várias lideranças jovens que cursam ensino superior. Essas lideranças vivem desafios no
exercício continuo de mediação entre universos sociais. Elas cumprem o papel de dialogar e
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negociar categorias de linguagem que operam a vida social em espaços distintos, no caso,
territórios tradicionais indígenas e território universitário e urbano. A partir da trajetória de
Auricélia Arapium, estudante de Direito da Ufopa, vice-coordenadora do CITA, mãe de 04
filhos e uma das autoras do texto, propomos refletir sobre os modos que o acesso à
universidade e as condições de permanência tem auxiliado ou não na construção e
consolidação de uma autonomia e protagonismo indígenas na região do baixo rio Tapajós.

Descolonização do pensamento: um caminho possível de reflexividade


indígena, construção de outras Antropologias

Francineia Bitencourt Fontes

Nós Medzeniakonai, diferente de outros povos indígenas do Brasil, somos um dos povos que
está caminhando na iniciação na formação de profissionais, pois as políticas públicas quase
não chegam as nossas comunidades. Nos 25 anos da nossa organização social enquanto povo
Baniwa, temos alcançados, programas de formação significativas, de forma hoje termos,
professores falantes na nossa língua dentro das salas de aula, ensinando nossas crianças. Mas
quando olhamos para outras formações, estamos começando a nos interessar, temos
professores e vários técnicos formados, mas ainda muito a desejar se queremos serviços de
qualidade na área de educação, saúde e sustentabilidade na nossa região. Numa rápida busca
por parentes nas universidades, a surpresa foi grande, pois há 10 anos, não tínhamos esses
dados. Vejam na no mapa abaixo. E para nossa alegria temos jovens de várias comunidades
do rio Içana e Rio Ayari, em formação, perguntei suas comunidades origens e seus clãs. Poucos
tiveram disponibilidade para rápida resposta, a ideia do contato é fazer rede de profissionais
Baniwa em formação. A presença indígena nas universidades é um assunto que rende muitas
discussões e estudos. Suscita “esperanças” em várias áreas de conhecimentos. Avesso dessa
política, a tradição intelectual indígena, de ver, de pensar, de organizar, de enxergar o mundo,
de relacionar, perceber as mudanças de tempo e sociais, estão ancorados numa outra
epistemologia que não é aquela que aprendemos nas escolas e nas universidades
convencionais. Da mesma forma como a Ciência, os sistemas de conhecimentos indígenas são
tão complexos, e tem como fio condutores a cosmologia e a cosmopolítica, que são
transmitidos de maneira organizados como teorias de conhecimento, no espaço e no tempo
específico, às crianças e jovens indígenas direta e indiretamente pelos seus pais, mães, avos.
Apesar dessa carga de conhecimentos aprendidos no seio de sua sociedade, nós estudantes
indígenas no universo da universidade, maiorias das vezes somos tratados como sujeitos de
“tábula rasa”, que estão sempre no pólo de aprendizes, carentes de conceitos e sem
epistemologia própria. O ponto de partida é: existe a possiblidade de “transgressão” de alunos
indígenas para construção de pensamento “nativo”, mesmo estando na estrutura de
universidade? E, será possível aprender a filosofia indígena, utilizando os métodos científicos
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como instrumentos de sistematização dos conhecimentos indígenas? Para começar, nós


indígenas temos que estar ciente de que a escola e a universidade não são espaços próprios
de produção de pensamento e práticas indígenas. Sendo assim, não formará operadores do
pensamento indígena como os (pajés), que são especialidades vitais para as sociedades
indígenas, que possui o papel de produzir, acumular, transmitir e disseminar conhecimentos
e formar novos especialistas, como é o caso do Rio Negro. Por outro lado, a universidade pode
oportunizar a pensar o pensamento indígena, na medida em que os mecanismos e métodos
científicos podem servir como instrumentos para compreender as cosmologias e produzir os
conceitos propriamente “nativos” possibilitando um diálogo simétrico entre os modelos de
conhecimentos. Mas, para isso acontecer é necessário, nós (indígenas), ter bastante clareza e
consciência de que o simples ingresso na universidade, não assegura colocar nossa
epistemologia, nossas ideias em pauta na sala de aula e nos Programas de Pós-Graduação.
Existe interesse muito grande de especialistas indígenas (pajés) traduzirem os conhecimentos
através de escrita, com esforço enorme de traduzir as cosmologias ou ontologias. A Coleção
de narradores do Rio Negro e a Queda do Céu, são exemplos de obras que expõe o sistema
de conhecimento indígena via escrita. O desejo dos autores parece ser destacar o pensamento
e sua complexidade, isto é, as bases filosóficos e ontológicos dos conhecimentos indígenas. O
fio condutor é considerar que o cosmo é habitado por humanos, onde estão conectados num
sistema de relação de interdependência. Cada categoria de humanos, tem seu tipo específico
de conhecimento, de perceber o mundo, de intervir entre si, e atuar indistintamente. As
relações entre os humanos e os humanos de diferentes domínios do cosmo se fundamenta no
intercâmbio recíproco de vitalidade. Um dos ingredientes dessa relação é o conflito. Se o
intercâmbio for violado, pode provocar vingança por uma das partes, causando mortes. Para
isso, os especialistas (pajés) aparecem como os principais intermediadores de comunicação
entre diferentes humanos de diferentes espaços e domínios/ambientes do cosmo. A
construção de uma relação cosmopolítica é uma necessidade imprescindível do ponto de vista
desses autores. Na mesma linha de interesse, muitos estudantes indígenas pesquisadores, já
desenvolveram estudos sobre suas cosmologias, tomando seus pais, ou membros do seu
grupo social como informantes. Mas percebe-se que a produção de dissertações ou teses,
muitos deles estão balizadas pelos conceitos de sociedade, cultura, religião, identidade,
magia, sistema de parentescos, que são noções compartilhadas com a academia, a exemplo
de pesquisadores não nativos. Reinventando os métodos científicos, é possível calcar das
análises mitologias aos conceitos e categorias indígenas produzindo pensamento com
linguagem capaz de abrir um diálogo simétrico com a ciência. Assim a Universidade pode
oportuniza pensar o pensamento. Mas, para universidade, isso implica repensar o modelo e
suas estruturas, isto é, não somente pensar no sentido de “facilitar” a entrada de indígenas,
mas de criar mecanismos que estimule melhor “explorar” o pensamento indígena. Tal esforço
significa formar jovens estudantes indígenas capazes de refletir seus pensamentos, sobretudo
os programas de Pós-graduação. Os especialistas indígenas são eternos pensadores, sentados
individualmente ou coletiva, analisam as alterações sociais, conflitos, intrigas, discussões

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desintegrações dos grupos, saídas das famílias do lugar, mudanças nos sistemas de
casamentos. Analisam as influências externas como músicas, educação, empregos, influência
de bebida alcoólicas e seus efeitos. Desintegração de sistema de tratamentos pessoais e
nominais. Apontam o desinteresse dos jovens indígenas em aprender seus próprios
conhecimentos. Analisam as mudanças de tempo, do desiquilíbrio de bioindicadores, do
excesso de chuva, da cheia, excesso da seca, escassez de peixes e da caça. Excesso de raios e
trovoadas, dos surtos de doenças, das picadas de cobras, dos acidentes fatais. Preocupados,
entram em ação colocando em operação os seus conhecimentos de benzimentos para mitigar
os problemas. Enfim, hoje as universidades estão dispostas a discutir e nos ouvir mais, e assim
pensar coletivamente o que nós queremos. O resultado da interação entre pesquisadores e
pesquisados, num exercício de reflexividade mostrou que a natureza dos conhecimentos,
pertencem aos domínios distintos. Isto significa que para traduzir os conhecimentos indígenas
é necessário buscar outros termos, e descolonizar o pensamento para melhor mergulhar nos
nossos conhecimentos, distanciando dos conceitos euro-ameríndios. Enfim, temos que
assumir que nós, estudantes indígenas, o que estamos fazendo dentro das universidades não
é mesmo para nos formar especialistas ao nosso modelo tradicional. O que estamos fazendo
é outra coisa, mas não podemos cair nas armadilhas de traduzir nossos conhecimentos de
forma simplórios e ao reducionismo cientifico. Creio que traduzir as palavras, seja diferente
de traduzir o pensamento.

Experiência dos discentes indígenas na/da Universidade Federal do Sul e


Sudeste do Pará: importância e reflexo do protagonismo indígena no âmbito
acadêmico

Iracilene Pereira Brinco Guajajara

Pretende-se com este trabalho compartilhar os desafios enfrentados pelos discentes


indígenas na/da UNIFESSPA, no que se refere a promoção de sua autonomia e protagonismo.
Ao ingressar nos cursos da UNIFESSPA, os discentes indígenas se deparavam com uma série
de desafios e dificuldades, seja referente ao deslocamento, pouco recurso financeiro, etc.,
que se somava a necessidade de permanecer em um ambiente acadêmico com um
funcionamento, lógica e dinâmica alheia à realidade vivida na aldeia. Outro desafio que se
revelava ao acadêmico indígena, era a tarefa de direcionar a universidade e toda comunidade
acadêmica a buscar maneiras de conhecer, compreender e respeitar as culturas, os costumes,
etc., e o tempo de aprendizado dos discentes indígenas. Tudo isso com o intuito de fazer com
que a UNIFESSPA se permitisse buscar novos parâmetros que atendesse aos interesses e
expectativas dos discentes indígenas. Nessa perspectiva houve articulação para criar uma
Associação dos discentes indígenas e quilombolas da UNIFESSPA, com a finalidade de
proporcionar voz e maior representatividade aos acadêmicos indígenas e quilombolas. E para

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contribuir com as ações de garantia da permanência dos discentes indígenas nos cursos da
UNIFESSPA, no ano de 2018, alguns discentes indígenas sentiram a necessidade de fazer parte,
como bolsistas, do Programa de Apoio ao Discente Indígena (PAIND), o qual no ano de 2017
era denominado Monitoria Indígena. Desse modo, buscava-se proporcionar maior efetividade
ao programa por meio da participação do discente indígena, o qual possuía total
conhecimento sobre suas dificuldades e limitações, podendo propor sugestões de melhorias
bem como teria facilidade em auxiliar os demais discentes indígenas a compreenderem os
conteúdos estudados em sala de aula e também saberia relacionar estes conhecimentos a
realidade de suas comunidades. Esta experiência mostrou que os discentes indígenas são
todos capazes de permanecer no Ensino Superior e obter um bom desempenho nos cursos.
Sendo as dificuldades na compreensão dos conteúdos das disciplinas, em linhas gerais,
relacionada ao fato de que tais conteúdos não fazerem sentido para os discentes indígenas,
porque são alheios a sua realidade. A preocupação em garantir o protagonismo e autonomia
do discente indígena na universidade, se fundamenta no fato de que o discente indígena
possui uma causa especifica. Desse modo, tem como desafio impedir que os conhecimentos
acadêmicos ocidentais e a forma de organização da sociedade em geral se sobreponha a sua
cultura, sua forma de se organizar, de educar e de transmitir conhecimento; Entretanto, é
necessário que na universidade haja o respeito à forma com os discentes indígenas se
organizam, aprendem, educam e falam.

Yjxapita Pyejipapip: o povo Karitiana e o ensino superior

Cledson Pitana Karitiana

Gicele Sucupira

O povo Karitiana é falante da língua Tupi-Arikém e está situado no estado de Rondônia. São
05 aldeias, situadas há mais de 100 quilômetros da cidade de Porto Velho. Atualmente, são
aproximadamente 25 estudantes Karitiana distribuídas(os) nas Universidade Federal de
Rondônia (UNIR), na Universidade de Rondônia (UNIRON), Faculdades Integradas Aparício
Carvalho (FIMCA), Faculdade São Lucas (FSL), nos cursos de Educação Intercultural,
Agronomia, Arqueologia, Biologia, Educação Física, Pedagogia, Publicidade e Propaganda e
Serviço Social. Destes, 10 são mulheres e 15 são homens. Apesar de 2005 marcar o ingresso
do primeiro Karitiana no ensino superior (CASTRO, 2018), apenas 10 anos, Inácio Karitiana,
professor, foi o primeiro a se graduar. Inácio cursou Educação Intercultural pela Universidade
Federal de Rondônia. Depois dele, mais 5 Karitiana se graduaram e, em 2019, há mais 13
graduandas(os) no mesmo curso, que é destinado especificamente para indígenas com a
finalidade de formar professores e conta com uma prova e bolsas diferenciadas. Neste e em
outros cursos, desafios para ingresso e a permanência no ensino superior do povo são
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inúmeros e por vezes similares. Aquelas(es) que não desejam o curso Intercultural, por
exemplo, sequer conseguem fazer a prova do ENEM, pelo fato da prova ser aplicada na cidade
e a redação precisar ser em português. O ENEM é a única avaliação que possibilita o ingresso
na Universidade Federal. A dificuldade com a língua é frequente, além de ter de semanter na
cidade, ficar longe da família, a falta de equipamentos de informática e espaço específico para
estudo. As instituições de ensino superior públicas e privadas não dispõem de moradias
estudantis, portanto, a maioria dos estudantes, quando não tem a possibilidade de ficar na
casa de algum parente ou alugar um apartamento, precisa residir na Casa de Apoio ao Índio,
situada na antiga sede da Funai. A Casa não oferece boas condições sanitárias, segurança e
tampouco estrutura para abrigar os estudantes há anos (CASTRO, 2018). Soma-se à
dificuldade de residir na cidade, o fato da educação acadêmica destoar da educação
tradicional (KARITIANA, 2015a; KARITIANA, 2015b, KARITIANA, 2017). Com base na conversa
com estudantes Kariatiana registrada e analisada, argumentamos que a presença de
estudantes Karitiana no ensino superior também contribui para o aprendizado dos
professores não indígenas e da própria instituição, que precisa repensar suas rotinas
burocráticas, seus modos de ensino e avaliação, ou seja, tudo que até então era tido como
dado e certo.

Da alfabetização ao ensino superior: narrativas de um Mebengokre Kayapó

Bep Punu Kayapó

Leni Barbosa Feitosa

Esta comunicação objetiva tecer o processo de escolarização de Bep Punu Kayapó, o primeiro
Mẽbêngôkre a cursar o ensino superior numa universidade federal do estado do Pará. Em suas
reminiscências relata as dificuldades vivenciadas para estudar na escola dos brancos,
destacando principalmente a aprendizagem da fala e escrita em português. Da alfabetização
ao ensino superior muitos obstáculos tiveram e ainda estão sendo superados, como o
preconceito dos brancos com os povos indígenas no ambiente formativo, discrepância do
ensino e aprendizagem da escola indígena e escola da cidade e os desafios econômicos para
estudar no mundo dos brancos. Contudo, o apoio diário de professores, colegas e familiares
tem motivado a continuar andarilhando na vida universitária para ser um bom profissional
tanto na aldeia, quanto na sociedade do branco, e assim, ajudar a lutar para melhoria da
educação escolar indígena nas comunidades Mẽbêngôkre.

Indígenas nas universidades brasileiras: revisão da literatura como


norteadora de ações futuras

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Adriana Luzima da Silva Leite

Jonas Gomes da Silva

Sara Santos Dias Costa

Matheus Barreira

O presente trabalho consiste em uma revisão sistemática da literatura publicada nas


plataformas SciELO, PePSIC e BVS- Psi acerca da Política de Ações Afirmativas para Povos
Indígenas. O objetivo geral dessa revisão foi identificar e discutir acerca dos estudos
produzidos sobre esta temática. A busca foi realizada a partir dos descritores “indigenous”
and “university” e “indígena” and “universidade”, sem limite temporal. Foram encontrados
quatro artigos referentes a estudantes indígenas em universidades brasileiras, publicados
entre os anos 2014 e 2018. A maioria dos estudos foram realizados na região Sul e Sudeste,
com destaque para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, todavia não apareceram
autores com maior frequência. Em relação às políticas de acesso ao Ensino Superior ficou
evidente que, embora sejam reinvindicações das comunidades indígenas, há pouca
participação destas na formulação e acompanhamento dessas políticas. Outro aspecto citado
é que apenas garantir o acesso ao Ensino Superior, através das ações afirmativas, se torna
ineficiente caso não forem garantidos meios de manutenção dos estudantes indígenas na
universidade, por meio de bolsas estudantis, auxílios e monitorias, por exemplo. Assim, os
resultados evidenciaram as dificuldades enfrentadas pelos indígenas com a língua portuguesa
em cursos no ensino superiores, considerando os elementos sócio-histórico de diferentes
culturas; como também a falta de preparo da universidade, corpo docente e técnicos, para
recepção de estudantes oriundos de comunidades indígenas. Há também a dificuldade de
adaptação ao contexto urbano, que impacta na vivência dos acadêmicos e, assim, em sua
permanência na graduação. Existe ainda a questão da singularidade desses acadêmicos, que
se diferencia daqueles que a universidade geralmente acolhe, e da diversidade em relação ao
seu pertencimento e sua etnia. Logo, somente a oferta das políticas de acesso e permanência
não garantem a manutenção dos estudantes indígenas no ensino superior, caso não exista
uma visão contextualizada da diversidade existente entre esses povos. A partir da revisão
realizada, foi possível perceber a pouca quantidade de estudos, como a não
especificação/delimitação de etnia e região dos indígenas participantes das pesquisas,
evidenciando a necessidade de aprofundar as discussões sobre a temática.

Levantamento das produções artísticas baseadas em mitos e lendas indígenas


amazonenses

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Lorena Monteiro Neres de Lima

Kamily Quirino Paulino

A presente comunicaçao busca trazer um levantamento das produções artísticas baseadas em


lendas indígenas regionais presentes no estado do Amazonas. Visto que as populares são
repercutidas através da linguagem por uma narrativa advinda em um determinado espaço
geográfico específico. A pesquisa em foco traz um mapeamento de tais produções ocorridas
na cidade de Manaus nos últimos anos com base em documentos escritos, artigos publicados
e pesquisa de campo por meio da entrevista com o autor da obra musical, que registrem tal
acontecimento. Com enfoque principal na produção artística elaborada pelo maestro,
arranjador, violonista e compositor amazonense Adelson Santos. A origem do mundo aos
olhos da tribo Dessana, em que se levanta uma questão que ultrapassa os limites artísticos e
se expande a uma realidade de fé encontrada pela crença indígena. A capital da Amazônia
embora rica em seus costumes e cultura, carece ainda de produções que exaltem a sua
história, no que se pode perceber a falta de valorização dos costumes locais deixados pelos
antepassados indígenas.

Graduados indígenas na UNIFESSPA: afirmações étnicas em Trabalho de


Conclusão de Curso

Flávia Marinho Lisbôa

Desde o ano de 2009 que os indígenas da mesorregião Sudeste do Pará contam com ações
afirmativas para adentrarem a universidade existente na região. A Universidade Federal do
Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), criada em 2013 por desmembramento da Universidade
Federal do Pará (UFPA), disponibiliza aos candidatos indígenas um Processo Seletivo Especial
para adentrarem duas vagas em cada um dos cursos que são reservadas especificamente para
alunos indígenas. A implantação da Bolsa Permanência para esses alunos, a partir de 2013,
estabelece um marco para que eles concluam seus cursos de graduação e o objetivo desse
trabalho é então levantar as temáticas defendidas nos Trabalhos de Conclusão de Curso dos
já graduados na Unifesspa a fim de refletir sobre a premissa imperante de que esses alunos
adentram a universidade com fins de se instrumentalizarem na luta por sobrevivência em seus
territórios. Essa investigação faz parte de pesquisa de doutorado em andamento sobre
graduandos indígenas na Unifesspa e o trabalho tem coadunado com os apontamentos de
outros estudos de que, apesar de todas as dificuldades de acesso e permanência no ensino
superior (problemática comum em todo o Brasil), a insistência desses alunos em graduar-se
numa universidade deve ser entendida como um ato de resistência, fundamental para
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fortalecer suas formas de existências. Ou seja, acessar e permanecer na universidade não é


apenas um ganho educacional individual, mas garante principalmente o fortalecimento de
outros direitos humanos para o coletivo indígena, imprescindíveis para proteger os passos já
dados na trajetória de luta, além de fortalecer a conquista de novos.

(Des)Caminhos etnopolíticos da formação acadêmica indígena

Gersem José dos Santos Luciano

Uma das conquistas mais importantes dos povos indígenas nos últimos 30 anos é a formação
escolar e universitária. Na atualidade, um terço (280 mil) da população indígena brasileira está
matriculada na educação básica e 4% (50 mil) matriculados no ensino superior. Tais conquistas
contribuíram significativamente com o processo crescente de autoafirmação identitária e
sociocultural abrindo possibilidades otimistas de futuro desses povos, cultural e etnicamente
diferenciados. Outras conquistas foram possíveis a partir da escola e da universidade. Mas é
possível também perceber algumas lacunas e fragilidades em alguns aspectos que se esperava
dos novos sujeitos escolarizados, principalmente no campo da formação de lideranças e
pesquisadores absorvidos pelos projetos etno-políticos dos povos indígenas. Na apresentação
tratarei de problematizar aspectos considerados desafiadores do papel formador e
empoderador da escola e da academia, que por um lado precisam ser potencializados e outros
que precisam ser superados e conquistados.

A trajetória de uma acadêmico Kokama na luta por uma escola indígena de


qualidade na comunidade Guanabara II em Benjamin Constant - AM

Mario Peres Mapiama

Edilanê Mendes Dos Santos

Esta comunicação apresenta algumas reflexões quanto ao papel transformador do ensino


superior na autonomia da Comunidade Indígena Kokama Guanabara II, localizada no
município de Benjamin Constant – AM. A pesquisa de natureza qualitativa e cunho descritivo
está baseada na perspectiva de um acadêmico do curso de Licenciatura Formação de
Professores Indígenas – Turma Alto Solimões, da Universidade Federal do Amazonas. O
objetivo deste trabalho foi descrever o quanto os conhecimentos que estão sendo adquiridos
durante a formação a nível superior do pesquisador-participante têm auxiliado o mesmo a
contribuir de forma determinante em algumas situações na comunidade, pois o mesmo foi
eleito secretário, tendo auxiliado o cacique nas reivindicações em busca de melhorias para os

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moradores. Dos resultados alcançados, dois possuem especial relevância devido seu
significado (1) reconhecimento da comunidade como Terra Indígena (TI), que uniu os
comunitários quanto a discussão e ressignificação da escola desejada pelos mesmos, uma
escola que oferte uma educação escolar específica agora feita por indígenas para indígenas e
que englobe os profissionais que estão sendo formados nas universidades a atuarem na
comunidade,(2) a partir disso, está iniciando a discussão do Projeto Político Pedagógico (PPP)
que atenda as especificidades da comunidade como determina o Art. 231 da Constituição
Federal de 1988, passando a não aceitar as imposições feitas pelas Secretarias de Educação
tanto municipal quanto a estadual, quanto ao processo de ensino e aprendizagem. Desta
forma, este artigo trará na pauta de discussão estas exigências quanto ao cumprimento da
legislação vigente desde o momento que a comunidade se descobriu como TI e a busca por
uma escola com uma identidade própria.

Narrativas mitológicas, pesquisa antropológica e a escolarização da cultura na


região do Alto Rio Negro
Oseias Marinho

Renato Athias

Esta apresentação visa problematizar aspectos da pesquisa antropológica promovidas pelos


programas de pós-graduação de universidades federais, e realizada por estudantes indígenas,
nas interfaces do campo disciplinar da etnologia, nos diversos contextos geopolíticos dos
Povos Indígenas da bacia hidrográfica do Rio Uaupés. As narrativas mitológicas fazem parte
de um conjunto muito significativo de interpretações cosmológicas sobre as presenças
indígenas nos diversos contextos sociais, políticos e de ecossistemas próprios, formando
diferentes epistemologias, que estão presentes na atualidade nas diversas tradições orais dos
povos da região do alto Rio Negro. Nestes últimos anos o número significativo de estudantes
indígenas desta região tem povoado os PPGAS de diversas universidades, cujos projetos de
pesquisas concentram- se nas narrativas mitológicas, e na etnologia dos povos desta região,
com apoio de orientações teóricas distintas dando assim visibilidades às diversas
interpretações geopolíticas dos povos indígenas. Este trabalho investigativo tem sempre a
justificativa de subsidiar as escolas indígenas da região. Está apresentação visa discutir os
impactos destas investigações e a escolarização da cultura presentes nas práticas pedagógicas
das escolas indígenas na rede de ensino do município de São Gabriel da Cachoeira.

Desafios e obstáculos enfrentados por acadêmicos indígenas ao ingressar no


ensino superior

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Samela Lorena Vilacio Marteninghi

Durante muito tempo os povos indígenas vêm conquistando espaços que outrora pereciam
impossíveis, sendo a universidade um deles e caracterizando-se num mundo de diferenças e
desafios que só nos damos conta ao adentrá-lo. A universidade tem o papel de nos ajudar a
conhecer a sociedade não indígena, conviver com a pluralidade de culturas diferentes das
nossas, e entender o quanto a nossa cultura é valiosa e deve ser preservada. No entanto é de
conhecimento de todos que a educação escolar indígena não prepara de forma suficiente o
aluno para ingressar em uma universidade, muitas vezes saímos do Ensino Médio sem termos
conhecimento básico de matemática e português, outras vezes o que nos derruba é a língua
portuguesa que não é a materna, dificultando nosso desempenho e abrindo as portas para o
preconceito. A única chance de competir é pelo sistema de cotas para estudantes indígenas.
São muitos os desafios, muitos os obstáculos. Um deles o nível de conhecimento dos outros
alunos em relação ao acadêmico indígena, que estudou a vida toda em escola pública e muitas
vezes, sente-se inferiorizado quando reprova nas disciplinas e acaba sendo taxado como
incapaz. Recebe comentários não construtivos do tipo “Essa aí vai ser a primeira a desistir”.
Uma consequência disso é a desperiodização, que leva estudantes indígenas a atrasar o
término do curso, tendo que dividir-se entre os três turnos para cumprir as disciplinas de seu
período e de outros na tentativa de concluir a graduação. Outro obstáculo é a condição para
permanência na universidade, considerando as questões de moradia, transporte, e até
alimentação. Há alunos indígenas que vêm do interior do estado e até mesmo direto das
aldeias para estudar nos centros urbanos e precisam pagar aluguel, passagem de ônibus,
alimentação, xerox, dentre outras coisas. Outro desafio é a autoafirmação, pois o preconceito
ainda é muito grande. Mesmo nas universidades, o estereótipo criado é levantado em vários
diálogos, para muitos o indígena é imutável, não possui capacidade de aprender e nem utilizar
roupas, celulares, ter carteira de habilitação, fazer um ensino superior, gerando comentários
como “ Mas que índia mais fajuta”. Salientamos a necessidade de criação de espaços próprios
na universidade que ajudaria na autoafirmação dos estudantes indígenas, e a garantir o apoio
e acompanhamento por parte dos discentes com a criação de programas de assistência
estudantil, cursos de língua portuguesa como língua adicional, como o que foi criado em 2018
e está em andamento na Universidade do Estado do Amazonas, na Escola Normal Superior
que visa a integração de alunos indígenas com dificuldades de comunicação e escrita. A UEA,
até o momento, tenta abraçar estes estudantes garantindo, vagas especificas para estudantes
indígenas, bolsas de auxilio acadêmico, vale transporte, casa do estudante, vale aluguel. Tudo
isso para tentar minimizar a evasão de alunos indígenas, contudo é preciso avançar no sentido
de fortalecer uma politica de permanência destes estudantes e garantir o direito à educação.

O que vem depois da universidade? Trajetórias profissionais e circulação de


saberes entre os acadêmicos Guarani
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Clarissa Rocha de Melo

Essa comunicação tem como objetivo analisar as trajetórias profissionais dos egressos do
curso de Licenciatura Intercultural Indígena do sul da Mata Atlântica, sediado na Universidade
Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, com ênfase nos processos de circulação de
saberes entre acadêmicos Guarani. A partir de uma pesquisa pós-doutoral, buscou-se
observar as atuações profissionais dos acadêmicos indígenas egressos do referido curso – com
primeira turma formada em abril de 2015 – com o intuito de analisar as experiências desses
acadêmicos na apropriação dos conhecimentos que residem na alteridade – seja ela
relacionada ao ensino superior (nas experiências de pós- graduação); à educação escolar
(Ação Saberes Indígenas na Escola-ASIE); ou no xamanismo. Assim, nesse artigo, tem-se o
intuito de evidenciar suas escolhas e possibilidades após a graduação, visto que muitos deles
já ingressaram em Programas de Pós-Graduação; muitos atuam como orientadores indígenas
na ASIE e vários atuam de modo a fortalecer os rituais e conhecimentos xamânicos. Este texto
tem como ponto de partida a pesquisa desenvolvida anteriormente para elaboração de minha
tese de doutorado, que teve como foco a presença indígena no Ensino Superior a partir da
experiência dos acadêmicos Guarani. Na referida tese percebeu-se a importância atribuídos
ao Ensino Superior, assim como ao Xamanismo – e toda sua complexidade constitutiva –,
ambos são lócus de interesse desses acadêmicos indígenas – principalmente entre os
acadêmicos Guarani. Realizam um esforço vislumbrando a possibilidade de buscar
conhecimentos locais e extra locais, que constituem o xamanismo, a educação escolar e
ensino superior. Nesse sentido, a casa de rezas guarani - opy, a escola indígena e a
universidade, são locais centrais de aprendizagem e aquisição de saberes, e esses acadêmicos
realizam um movimento de circularidade entre esses espaços, estabelecendo um diálogo
entre conhecimentos e modos de conhecer. Visto que o campo de pesquisa de doutorado
centrou-se em um curso piloto de Licenciatura Intercultural Indígena, em minha pesquisa pós-
doutoral, acompanho os desdobramentos do referido curso e da formação acadêmica entre
os três grupos indígenas egressos beneficiados pela graduação específica, todavia, tendo
como foco os estudantes Guarani, sistematizando dados e articulando discussões. Assim, a
partir de experiências concretas vivenciadas pelos sujeitos alvo das políticas voltadas ao
ensino superior indígena, nesse artigo, tem-se o intuito de refletir sobre essa circularidade
pelos espaços que permitem o diálogo entre distintas formas e modos de conhecer.

Todos falam de mim, ninguém me representa

Ziel dos Santos Mendes

Nascido em minha comunidade Karapotó, Terra Nova (AL) e atualmente residindo em


contexto urbano, na cidade de Recife (PE), onde curso Licenciatura em Artes Visuais na UFPE,
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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me deparo com a hegemonia de narrativas eurocêntricas que invisibilizam as culturas e


identidades dos povos indígenas; percebo, então, o quanto esses discursos etnocêntricos
ainda são presentes na contemporaneidade, pois as instituições e espaços legitimadores e
difusores de conhecimento permanecem firmados em alicerces de caráter colonialista. Sob
essa perspectiva, apresento neste artigo uma narrativa construída a partir de inquietações e
reflexões sobre minhas vivências dentro da academia e em outras instituições em que visitei
e trabalhei, focando em minhas performances onde problematizava a representatividade
indígena nesses espaços e visibilizava nossa sabedoria ancestral ainda muito ignorada pelo
conhecimento acadêmico. A partir de uma autoetnografia, me apresento como ser indígena
nordestino e explano uma série de aspectos que me afetaram desde então, como o racismo e
o preconceito presente na sociedade brasileira, sintoma de uma incompreensão da
diversidade étnica-cultural dos povos indígenas no Brasil, sobretudo dos povos indígenas no
Nordeste. Acreditando que a construção do conhecimento se dá de forma mútua, a produção
de narrativas sobre nossas cosmologias e cosmovisões a partir de nós, indígenas, não apenas
como protagonistas, mas como autores, possibilita a quebra desse olhar eurocêntrico que
ainda impregna as narrativas do outro sobre nós, construindo um caminho a uma sociedade
pautada numa alteridade que respeita a diversidade étnico-cultural e que restabelece direitos
equitativos a todos seus cidadãos.

Os desafios de ser indígena e mulher na Universidade de Brasília

Suliete Gervásio Monteiro


Jheniffer Benedito de Oliveira Pêgo

Através das políticas de ações afirmativas houve, nos últimos anos, um aumento do número
de estudantes indígenas em todas as universidades do país. E houve também o aumento de
mulheres indígenas em busca de formação e qualificação pessoal e profissional. O objetivo
deste trabalho é discutir a situação específica das mulheres indígenas na universidade de
Brasília (UnB). Antes, porém, de tratar dos desafios e dificuldades enfrentadas pelas mulheres
indígenas estudantes na UnB, de suas conquistas, lutas e vitórias, apresentaremos um breve
histórico da participação das mulheres indígenas na Associação dos Estudantes Indígenas. A
universidade é um lugar de conhecimentos distintos, nos oferece muitas possibilidades. No
entanto, como pretendemos discutir nesse artigo, ao mesmo tempo que a universidade se
apresenta como um lugar de crescimento e de liberdade, é também um lugar de opressão
para as mulheres indígenas. Existe pouca literatura sobre essa questão, pois a presença de
indígenas e de mulheres indígenas é uma nova realidade no Brasil. A literatura especifica que
existe não aborda de modo aprofundado os percursos atípicos percorridos pelas mulheres
indígenas na UnB, considerando as desigualdades relativas a identidade indígena ao estatuto
socioeconômico e ao gênero. Daí a necessidade de estudar a situação das mulheres indígenas
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na UnB, considerando a discriminação sistêmica por nós sofridas e vivenciadas em uma


perspectiva interseccional das mulheres indígenas.

Estudantes indígenas: demandas políticas e epistemólogicas

Eliane Boroponepá Monzilar

Hellen Cristina de Souza

Maria Luiza Guimarães Fragoso

Esta proposição de trabalho esta relacionada a emergência do movimento de estudantes


indígenas no Brasil. Toma como referencia as associações de estudantes indígenas que
protagonizam a discussão sobre o Ensino Superior em diferentes regiões do país desde a
implantação do projeto de extensão REDE, Rede Brasileira de Instituições de Ensino Superior
com Programas e Projetos para Povos Indígenas no Brasil. Projeto proposto em 2003 pela
Universidade de Brasília, UnB e Universidade do Estado de Mato Grosso, Unemat. Tem o
objetivo de pensar a constituição do movimento de estudantes indígenas e as demandas pelo
acesso ao Superior como uma estratégia de contato recente produto multideterminado pelas
apropriações atuais das orientações mitológicas (Reciprocidade) e pelo fortalecimento da luta
pela educação escolar e com o discurso que a sustenta – a sobrevivência melhor no futuro.
Considera que as lutas dos estudantes indígenas evidenciam e articulam duas demandas: a
autonomia política e a autonomia epistemológica.

De los yökajto tradicionales a la red digital: Estrategias descoloniales en el


encuentro transcultural de los pueblos originarios de la Cuenca del Orinoco

Fabiana Anciutti Orreda

Los encuentros transculturales en las culturas originarias trazan rutas de acciones


descoloniales junto a los pueblos de la Cuenca del Río Orinoco, reunidos en la Universidad
Indígena de Venezuela - UIV, Caño Tauca, Venezuela. Estas rutas han sido elaboradas por
jóvenes, ancianos y líderes de los pueblos E'ñepa, Huottöja, Jivi, Kuiva, Pemon, Pumé, Sanema,
Shiriana, Warao, Ye'kwana y Yukpa, entre 2007 y 2011. Los testimonios de los representantes
de los pueblos reunidos en la UIV revelan que viven con sus libertades cercenadas y mantienen
las reivindicaciones de sus ancestros: las garantías de los derechos a los territorios
tradicionales, su biodiversidad y espacios sagrados de saberes en conexión con la naturaleza.
Yökajto, palabra E'ñepa, evidencia el ejercicio del tejer como un rasgo de identidad común
entre las culturas originarias. De la tradición ancestral hacia la red digital discutimos premisas
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de la ancestralidad siempre viva en la memoria oral y las nuevas adopciones de las tecnologías
digitales. Las inferencias propuestas están relacionadas a: (a) los efectos que los recursos
digitales de comunicación ocasionan en las tradiciones orales de producción y transmisión de
saberes de los pueblos; (b) la elaboración de la memoria escrita de los saberes tradicionales
orales, producida por los mismos indígenas; (c) el tiempo concreto del encuentro
“transcultural” mediadas por la digitalidad en la comunicación planetaria. La sabiduría
tradicional se mantiene viva en el pensamiento ancestral, representada por el “tejer
cotidiano” de las culturas indígenas en la red digital, es expresada en el tejido polifónico por
el Pemon Kawanaru: “la idea es abrirnos al mundo entero y usar las tecnologías, pero viendo
con nuestros propios ojos, no con los ojos de los demás”.
Indigenas na universidade e futuro dos povos indigenas

Adilson Policena

Este trabalho, que está em andamento, relata a importância do ingresso de estudantes


indígenas nas universidades e quais contribuições trazem para a academia, bem como o que
levam para suas terras, pensando o futuro do povo indígena. Na Universidade Federal de
Santa Maria/RS, enquanto campo de pesquisa, temos trabalhado em parcerias entre a gestão
universitária, professores, estudantes e lideranças indígenas do Rio Grande do Sul,
fomentando a permanência e o sucesso na conclusão dos cursos pelos discentes. No ano de
2017 formalizamos a criação da Licenciatura Indígena Kaingang, curso na modalidade à
distância, que realizou seu primeiro vestibular em dezembro de 2018.

Intelectuales indígenas abrazan a la Antropología. ¿Ésta seguirá igual?

Alcida Rita Ramos

Com o ingresso crescente de índios nos cursos de pós-graduação em antropologia, está-se


gestando uma ala de intelectuais indígenas que, portadores de seus próprios saberes, têm
grande potencial de desafiar as certezas da disciplina e influir no traçado de seus rumos.
Espera-se que a adesão indígena ao campo antropológico contribua para expor suas ilusões,
falácias, cegueiras e contradições e tirá-lo de seu atual estado letárgico, provocando uma
guinada para uma “antropologia ecumênica”, capaz de acolher e se beneficiar de saberes que
atualmente são mera matéria prima para teorias nem sempre pertinentes.

Trajetórias de acadêmicos indígenas: impactos presentes e perspectivas de


futuro

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Inês Caroline Reichert

O trabalho discute a Autoria Acadêmica Indígena no Brasil Contemporâneo a partir da qual


indígenas têm se tornado Doutores, interrogando-me sobre os sentidos que essa autoria
assume contemporaneamente. Situando o fenômeno social estudado nos contornos das
Sociedades Complexas Urbano-industriais, que abrange fluxos intensos de trocas culturais em
diversas esferas éticas, parti do pressuposto de que a Autoria Acadêmica Indígena conforma
uma paisagem, pelas teias de significados que vai tramando. Nesse sentido, como uma
etnógrafa-arqueóloga, busquei delimitar o campo estudado, seguindo os passos efetuados
por meus interlocutores em suas trajetórias sociais. Ademais, debrucei-me sobre as obras
acabadas dos processos acadêmicos, as teses produzidas, tomando como objeto de análise as
narrativas que fazem os Doutores Indígenas sobre suas trajetórias sociais e seus processos
acadêmicos. Entendendo tais narrativas como reflexões sobre as experiências de vida em que
estão implicados processos identitários que entrelaçam os narradores aos seus grupos étnicos
de pertença, em ritmos de tempo que perduram, utilizei-me do conceito de narrativa
etnobiográfica para a leitura interpretativa. Emergiram, desses exercícios, características
fortemente coletivas de suas trajetórias sociais, evidenciadas também em suas narrativas, que
sublinham que a Autoria Acadêmica Indígena tem se colocado como uma estratégia para os
povos indígenas que, através da apropriação da escrita como conhecimento por parte de
Novas Lideranças, buscam acionar mecanismos e ferramentas para manejo dos códigos
culturais do mundo branco, conquistando o acesso a espaços importantes para o atingimento
de suas demandas societárias. Nesse movimento em que indígenas se tornam pesquisadores,
a Autoria Acadêmica Indígena tem se apresentado como um projeto coletivo que, aportando
à Ciência Moderna as epistemologias ameríndias, promove deslocamentos nos modos de se
pensar a autoria pautada no indivíduo e que caracteriza o pensamento ocidental, com
potência para desocidentalizar a Universidade e a Ciência Moderna.

Acompanhamento pedagógico e multidisciplinar: itinerário acadêmico de


estudantes indígenas e quilombolas que participam do PBP-MEC-2013-2018

Andressa Carvalho Santos

No início do primeiro semestre 2016.1 foi realizado um levantamento do desempenho


acadêmico dos/das estudantes indígenas e quilombolas que estão vinculados/das ao
Programa Bolsa Permanência. Esse levantamento revelou os dados sobre aprovação,
reprovação, coeficiente de rendimento e trancamentos. A partir dos dados coletados a
Coordenação de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil realizou uma convocação dos/das
estudantes que obtiveram mais de 50% de reprovação ou trancamentos nas disciplinas em
que se matricularam nos dois últimos semestres, 2014.2 e 2015.1. O acompanhamento

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pedagógico é uma etapa necessária no âmbito dos Programas e projetos desenvolvidos pela
Pró Reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil. Sendo assim, a Coordenação de
Ações Afirmativas, estabeleceu um projeto de acompanhamento multidisciplinar em seus
programas, com o objetivo de contribuir para a Permanência qualificada dos estudantes
atendidos. O atendimento multidisciplinar será realizado envolvendo as áreas, pedagógica,
saúde pública e serviço social. Dentre outros programas inseridos no contexto das ações
afirmativas nas Universidades, em 2013 o Ministério da Educação lançou o Programa Bolsa
Permanência (PBP), através da Portaria nº 389, de 09 de maio de 2013 com gestão
compartilhada com as Instituições Federais de Educação Superior. O programa tem como
objetivo contribuir para a permanência dos estudantes em condição de vulnerabilidade
socioeconômica em cursos de graduação na modalidade presencial. A presente comunicação
tem a finalidade de apresentar os resultados parciais de uma investigação que vem sendo
desenvolvida no âmbito da Pró Reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil da UFBA
com estudantes indígena aldeados e quilombolas que participam do Programa Bolsa
Permanência MEC, no período de 2013 a 2018. A pesquisa tem como objetivo avaliar as
implicações do Programa Bolsa Permanência no itinerário acadêmico destes estudantes, bem
como desenvolver estratégias de acompanhamento acadêmico social dos envolvidos. O
estudo tem como abordagem teórico metodológica as investigações de base qualitativa sobre
itinerário acadêmico desenvolvidos pelo Observatório da Vida estudantil UFBA. Participaram
da investigação, 53 estudantes indígenas e 83 estudantes quilombolas em na primeira etapa
das entrevistas em 2016, no entanto com ao processo seletivo de entrada de novos
estudantes esse número cresce a cada semestre. Os resultados preliminares, além de
descreverem o perfil destes estudantes, apontam para a importância do Programa para a
permanência na Universidade, sugerem a necessidade do aprimoramento do
acompanhamento pedagógico deste grupo por parte da coordenação do Programa, e ainda,
o desenvolvimento de indicadores de desempenho acadêmico que ampliem a própria noção
de desempenho, para além da análise pontual do coeficiente de rendimento acadêmico,
incorporando na análise, as mais variadas experiências que compõe da trajetória acadêmica
do estudante. Neste sentido, a apresentação destes resultados parciais é a finalidade desta
comunicação.

Tudo é linguagem: tudo se faz de linguagem

Debora Barros dos Santos

Flávia Aparecida Squinca

Valdenízia Bento Peixoto

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Durante o Estágio Supervisionado em Serviço Social, realizado na Clínica Geral do Hospital


Universitário de Brasília/Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares - HUB/EBSERH, durante
o ano de 2018, foi implementado o projeto de intervenção denominado de “Tudo é
linguagem: tudo se faz de linguagem”, tendo em vista a finalidade de abordar a importância
da comunicação e do uso correto da linguagem, nos processos dialógico-interventivos com os
usuários indígenas atendidos na instituição. Nesse contexto, o Serviço Social torna-se parte
fundamental no processo de informação-conscientização das terminologias com pressupostos
sociopolíticos de reconhecimento dos povos indígenas como sujeitos de direitos que exercem
sua cidadania, sedimentada nos valores éticos centrais de autonomia e liberdade. Para tanto,
foi desenvolvido um questionário intitulado Saúde Indígena, Direitos e Serviço Social, que foi
aplicado entre os profissionais da Clínica Geral do HUB/EBSERH, com o objetivo de sensibilizar
e disseminar, entre os profissionais da Clínica, o conhecimento sobre a diversidade étnica e
cultural, bem como as especificidades dos povos indígenas atendidos na instituição. A
intervenção realizada espera resultados a longo prazo. Espera-se observa-los de forma
gradual, ao longo do tempo, nas mudanças de atitude, comunicação e linguagem dos
profissionais, não só da Clínica Geral, mas de toda a instituição.

Currículo intercultural na formação superior indígena da UFPE (Centro


Acadêmico do Agreste, Caruaru)

Alexandre Evangelista da Silva

Pesquisamos a Licenciatura Intercultural Indígena da Universidade Federal de Pernambuco,


Campus do Agreste (Caruaru) por incluir a formação superior das etnias emergentes no Estado
de Pernambuco, no momento vicejante de relativa atenção e participação nas agendas
populares do então governo federal, agora ameaçadas pelo alvorecer do viés político
autoritário que ora fragiliza ou nega os direitos indígenas. Temos o objetivo de entender como
as propostas curriculares foram aplicadas pelos docentes nos programas de estudos, métodos
pedagógicos, estratégias institucionais de inserção e permanência acadêmica na construção
da autonomia dos(as) licenciandos(as) destinados ao magistério em suas comunidades.
Justificamos este trabalho pelo direito ao ensino superior dos povos indígenas ser uma
garantia constitucional e, em consequência, prioritariamente, serem focalizadas demandas
específicas de conhecimento, cultura e organização social. Teremos âncoras teóricas
fundamentadas em Catherine Walsh (2013) embasam as pedagogias decoloniais, trabalhadas
por Vera Candau (2013) na educação intercultural crítica proposta de autonomia aos povos
insurgentes estabelecerem o próprio caminho transformador e libertário; Salazar & Catherine
Walsh (2017) acentuam a relação de afirmação cultural pela resistência da ancestralidade nos
projetos pedagógicos; João Pacheco de Oliveira Filho (1999) discute uma etnologia para os
“índios misturados” do nordeste com a sociogênese colonial, singularidade de tempo e
espaço, relativização do território social pela memória e pertencimento, reaprendizado,
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incorporações ou recriação cultural. Nossa abordagem viabiliza a produção de dados


qualitativos interpretados pela análise de conteúdo de Bardin (1977) em pesquisa
bibliográfica e documentária em relevância aos programas de ensino e relatórios.

Estudos com estudantes indígenas egressos: principais discussões em torno


do tema

Ariadila Santos de Queiroz Silva

O advento das políticas de ações afirmativas tem levado a um crescente número de indígenas
que chegam ao ensino superior e concluem seus cursos em nível de graduação e pós-
graduação. O retorno desses indivíduos as comunidades agora como profissionais e sua
emergência em assumir postos de trabalho mais qualificados e gerir as políticas públicas que
chegam aos seus territórios, tem gerado novas demandas que os jovens indígenas têm que
enfrentar juntamente com suas comunidades. Este trabalho tem por objetivo fazer um
panorama da produção de conhecimento sobre indígenas que concluíram cursos de
graduação, fazendo parte de pesquisa de mestrado em desenvolvimento no âmbito do
Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares Sobre a Universidade na
Universidade Federal da Bahia – UFBA, cujo projeto em desenvolvimento tem como tema de
interesse as trajetórias acadêmicas e profissionais dos estudantes indígenas egressos daquela
universidade. A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica, buscando fazer um estado da
arte sobre a pesquisa com indígenas egressos do ensino superior. Foi realizada busca no banco
de teses e dissertações da Capes e Periódicos CAPES. Utilizando o descritor: egressos
indígenas. Ao encontrar poucos resultados foi utilizado o descritor em espanhol, egresados
indigenas, a fim de ampliar os resultados, uma vez que outros países da américa latina tem
um histórico de ações educativas para indígenas anteriores as desenvolvidas no Brasil. As
buscas realizadas no período de maio a dezembro de 2017, indicaram cinco artigos, sendo três
de países latino-americanos, e uma dissertação. Foram excluídos artigos que se referiam a
egressos de universidades interculturais, por considerar esse uma realidade muito distante da
pesquisa em andamento. Apesar de ser um recorte ainda pouco utilizado, os artigos
encontrados apontam para algumas problemáticas em torno do tema. A maioria dos artigos
abordam iniciativas de educação intercultural ou bilíngue preocupados com a formação
específicas de estudantes indígenas principalmente na área de educação (CABRERA, 2013;
COLIN, 2017). Outros em menor quantidade trazem a problemática a partir da inserção de
indígenas nos cursos regulares ofertados pelas universidades através de programas de ações
afirmativas (GUZMÁN, 2011; SOUZA; FREITAS, 2011; AMARAL et al., 2014). Assim sendo, é
possível afirmar a importância dessas iniciativas, seja de ações afirmativas ou cursos
específicos, para que os estudantes indígenas ingressem em cursos de nível superior e
consigam concluir estes cursos, levando em conta os desafios que estes enfrentam e muitas
vezes os levam a evadir. Há uma relação de expectativas entre estudantes e comunidades,
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quanto a contribuição que os jovens profissionais podem dar no desenvolvimento de seus


povos e que estes não venham a depender de terceiros para garantir seus direitos e coordenar
os seus projetos. Os estudantes também têm o desejo contribuir e em certa medida nutrem
um sentimento de dívida por ocupar postos de trabalhos na área de políticas públicas nas
terras indígenas. (COLIN, 2017). Mas nem sempre essa relação é harmoniosa, tendo em alguns
casos apresentados desconfianças da parte das comunidades sobre os egressos, acreditando
que estes tenham perdido seus valores étnicos, não podendo mais compreendê-los. Alguns
autores trazem destaque também para a questões específicas das mulheres, que em alguns
casos sofrem resistência por ter seguido trajetórias diferentes das culturalmente predefinidas.
(GUZMÁN, 2011). Merece destaque também para alguns casos apresentados nos trabalhos
encontrados, em que os egressos não conseguem colocação profissional por diversos fatores.
Um dos fatores é a desvalorização da formação intercultural em alguns lugares, por julgarem
uma capacitação inadequada (AMADO, 2016), o preconceito de empregadores em não
considerar indígenas capazes de desenvolver funções laborais em suas empresas (CABRERA,
2013). As relações internas é também fator que dificulta em alguns casos o egresso em ocupar
postos de trabalho ligados a questões indígenas por divergências locais e formas de
organização tradicional. (AMARAL, et. al., 2013;) Quanto a atuação profissional desses
indivíduos, os artigos apontam potenciais. Como pontos positivos a atuação de assessoria do
movimento indígena, principalmente na área do Direito e também na elaboração de projetos
(AMADO, 2016). Ocupando cargos nas comunidades e na gestão de políticas públicas antes
ocupados por não indígenas. A partir dos pontos apresentados a cima é possível identificar as
principais problemáticas abordadas em pesquisas sobre os estudantes indígenas egressos. Há
necessidade cada vez maior de refletir sobre esse período, pois há uma tendência de
crescimento no número de indígenas egressos de cursos universitários e estes trazem novas
demandas e posicionamentos para o movimento indígena. É importante avançar na
formulação de políticas de ensino superior para indígenas que não distancie os estudantes de
suas comunidades, sendo necessário cada dia mais o diálogo das universidades com os povos
indígenas. Os estudantes também precisam buscar não se influenciar pelas teorias
apresentadas a eles nos cursos universitários, sempre tendo em vista a realidade de seus
povos a fim de causar um impacto positivo para os povos indígenas no Brasil.

“Índios misturados” na Educação Superior em Pernambuco - Brasil: quem


são? Onde estão? O que fazem? O que pensam sobre o futuro?

Maria da Penha da Silva

O presente trabalho resulta de uma pesquisa em andamento no Doutorado do Programa de


Pós-Graduação em Antropologia Social da UFPE. Onde buscamos compreender os significados
da Educação Superior para os estudantes indígenas em Pernambuco, a agência e as ações
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coletivas pela garantia desse direito. Pernambuco é uma unidade federativa localizada na
Região Nordeste do Brasil. Destacou-se no Censo demográfico realizado pelo IBGE em 2010,
por contabilizar 60.995 indígenas, assim, constituindo a maior população indígena no
Nordeste, e a terceira maior no Brasil. No que se refere ao ingresso dos indígenas na Educação
Superior, conforme o Censo realizado em 2017 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira - Inep, no Brasil havia 56.750 indígenas matriculados nos cursos
de graduação em instituições públicas e privadas; só na Região Nordeste encontrava-se
21.673; dentre esses, 5.889 em Pernambuco. Na categoria de público estudantil indígenas
também o estado ocupava o primeiro lugar na Região e o terceiro no país. Isso significando a
presença de muitos “índios misturados” nos diversos cursos oferecidos nos Institutos Federais
e demais Instituições de Ensino Superior no interior do estado e na capital. Usamos o termo
“índios misturados”, primeiro, como categoria teórica cunhada pelo antropólogo João
Pacheco de Oliveira para definir a identidade indígena no Nordeste, e segundo, como
categoria nativa usada pelos próprios estudantes indígenas para expressarem o sentimento
de invisibilidade nos ambientes acadêmicos onde estudam. No presente texto pretendemos
discorrer sobre a trajetória de um grupo de estudantes indígenas que embora estejam
vinculados a instituições de Ensino Superior distintas, vêm se articulando coletivamente no
âmbito local e regional para traçar estratégias de enfrentamentos ao racismo institucional e
garantir as políticas públicas de permanência na Educação Superior.

Identidades, vozes e presenças indígenas na Universidade de Brasília sob a


ótica da Análise do Discurso Crítica

Nubia Batista da Silva

Apresento parte da minha dissertação de mestrado, defendida em dezembro de 2017 sob o


título: “Identidades, vozes e presenças indígenas na Universidade de Brasília sob a ótica da
Análise de Discurso Crítica”, no qual, trago nos meus relatos a falas de meus parentes, sobre
suas, nossas “PRESENÇAS e VOZES” tendo como análise das práticas sociais e discursivas em
foco, os “DISCURSOS e as IDENTIDADES INDÍGENAS”, procurando perceber nas IDENTIDADES
a questão da cosmovisão”. Na minha pesquisa procurei construir um caminho que me
permitiu seguir um percurso de ir desvelando a identidade indígena silenciada na UnB. Para
isso, procurei elencar como objetivo geral analisar como as identidades, as vozes e as
presenças dos estudantes indígenas na UnB são construídas, reconstruídas e/ou
descontruídas a partir dos estudos da ADC. Trata-se de pesquisa qualitativa, de cunho
etnográfico crítico discursivo (diário de campo, observações participantes de vivências,
eventos e reuniões na Maloca-UnB e entrevistas semi-estruturadas com alunos indígenas e
com a coordenadora do Maloca). Para a geração dos dados e construção do corpus, lancei
mão dos pressupostos da Etnografia Crítica, com base na ideia de que a pesquisa é SOBRE
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sujeitos, PARA os sujeitos e, sobretudo, COM sujeitos (THOMAS, 1993). Nesta abordagem, os
pesquisadores críticos usam sua pesquisa para trabalhar a favor de objetivos emancipatórios
e também para resistir, negar discursos repressores que levam os sujeitos para uma
dominação social e hegemônica. Para a análise dos dados etnográficos, utilizei o arcabouço
metodológico da Análise de Discurso de acordo com Chouliaraki e Fairclough (1999) e
Fairclough (2003).

(Re)Fazendo Antropologia: a contribuição dos estudantes indígenas para a


construção de novos horizontes na etnologia em Oiapoque

Ana Manoela Primo dos Santos Soares

Tadeu Lopes Machado

A presente comunicação constitui-se de um trabalho colaborativo entre uma acadêmica


indígena, membro do povo Karipuna do Amapá, mestranda em antropologia pelo programa
de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) da Universidade Federal do Pará
(UFPA) e um pesquisador antropólogo, que atua como docente na Licenciatura Intercultural
Indígena do Campus de Oiapoque da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). O objetivo do
trabalho é analisar e compreender como os resultados das pesquisas acadêmicas realizadas
pelos estudantes indígenas dos povos que habitam a região de Oiapoque impactam o seu
cotidiano e o que significa para estes povos o conhecimento produzido pelos intelectuais
autóctones. Pretendemos chamar atenção para compreender os impactos da academia sobre
a vida dos estudantes indígenas e consequentemente sobre o povo do qual são originários,
ressaltando-se aspectos tais como facilidades; dificuldades; perspectivas futuras; construção
de discursos e de práticas; conservação da memória material e imaterial. Com especial
atenção iremos voltar a análise para os saberes construídos que se aproximam da
antropologia, uma vez que somos estudantes e pesquisadores dessa área de conhecimento, e
assim também queremos entender a profunda contribuição que os estudantes indígenas
estão dando para a (re)construção da etnologia indígena na região de Oiapoque-AP. Outro
ponto que merece destaque é o caráter político que os trabalhos desses novos pesquisadores
têm sobre a região e seus povos. Também chamamos atenção que a primeira autora desse
trabalho é indígena e o segundo autor é não-indígena, que são orientados pela mesma
antropóloga e ambos iniciantes na pesquisa antropológica sobre a citada região. No entanto,
considerando que uma pertence a um grupo étnico e o outro não, entendemos que os dois
olhares são distintos, o da indígena que experimenta o fazer antropológico e que mantém
contato com outros indígenas e não indígenas que também realizam pesquisas em tal área do
conhecimento e o do pesquisador não indígena que tem outras perspectivas de relação com
os povos indígenas da região. Portanto, é importante perceber, a partir dessas duas
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perspectivas em colaboração, o entendimento que ambos têm sobre os trabalhos que estão
sendo produzidos por/com esses povos indígenas. Entretanto, a presente comunicação se
concentrará especialmente sobre os povos Karipuna (povo de origem da autora) e Palikur
(povo com o qual o segundo autor realiza suas pesquisas atuais). Portanto, os outros dois
povos (Galibi Marworno e Galibi Kalinã), que também compõem a região indígena de
Oiapoque, não serão contemplados na análise dessa comunicação.

Concepção do aluno acadêmico/comunidade

Saruahi Surui

Venho através desse resumo apresentar-me: Meu nome é Saruahi Surui, sou pertencente da
aldeia Yetá, da etnia Surui Aikewara. Minha aldeia está localizada no município de São Geraldo
do Araguaia, à 60km da referida cidade no sudeste do Pará. A universidade no início me
assustou no ponto de vista de regras, pois não estava acostumado a viver essa realidade, mas
no momento que adentrei na universidade pude ter outra concepção do mundo acadêmico.
A universidade está dando-me a autonomia de repassar a realidade de minha comunidade.
Mas, ainda falta mais autonomia para que não só a minha comunidade, mas todas as
comunidades indígenas venham ter essa autonomia e espaço, reconhecimento e o respeito,
pois somos povos originários desse país. Também no meu ponto de vista, depois que eu
adentrei na universidade meu olhar, minha concepção não é a mesma, pois minha concepção
de olhar o mundo em minha volta é mais ampla e com mais perguntas e respostas, talvez com
mais perguntas. Na minha aldeia sou o segundo a cursar o ensino superior, tenho um irmão
que já terminou a graduação e agora meu irmão mais novo, voltou a estudar e está pensando
em terminar o médio e entrar na universidade. A minha comunidade está me vendo com o
olhar positivo no ponto de vista de apoio. Portanto, espero que esse curso-me proporcione
uma capacitação para poder me ajudar em sala de aula e, também poder ajudar a minha
comunidade nos desafios que vem enfrentando.

Relato de uma perspectiva de um universitário Suruí

Clelton de Oliveira Suruir

Eu sou Clelton de Oliveira Suruir do Povo AIKEWARA Suruí do Estado do Pará, moro na
comunidade indígena da aldeia Itahy Suruí no município de São Geraldo do Araguaia – PA.
Estou cursando hoje, licenciatura em educação do campo pela Universidade Federal do Sul e

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Sudeste do Pará (UNIFESSPA), a partir deste acesso na universidade, isto tem me ajudado na
minha autonomia e irá me capacitar no futuro e no meu desempenho como cidadão indígena,
e isto ajuda no incentivo dos jovens da minha comunidade. Espero ainda que esta formação
venha me ajudar no meu desempenho profissional e que no futuro eu possa cursar o mestrado
e até atuar como educador na universidade.

A Teologia da Libertação e a Antropologia como armas na reorganização


indígena na Amazônia

Florêncio Almeida Vaz Filho

O autor faz um relato autoetnográfico de sua trajetória como intelectual indígena, mostrando
a decisiva influência que tiveram nas suas escolhas acadêmicas e políticas as mobilizações por
direitos no fim da Ditadura (1964-1984) no Brasil e a Teologia da Libertação, corrente de
pensamento que teve grande influência em setores da Igreja Católica na América Latina entre
os anos 1970 e 1990. Destaca ainda como a formação nas Ciências Sociais, e particularmente
na Antropologia, o levou aos estudos sobre a história, a cultura e a identidade indígena dos
povos na região Oeste do Estado do Pará, Amazônia Brasileira. As suas pesquisas naquela
região e a sua atuação na criação do Grupo Consciência Indígena (GCI) e a militância no
Conselho Indígena dos rios Tapajós e Arapiuns (CITA) estão interligadas umbilicalmente. Um
dos resultados desse trabalho foi que, em uma região onde se acreditava que os indígenas
haviam desaparecido no século XIX, houve a emergência étnica e política de 70 aldeias e 12
povos indígenas, hoje mobilizados pela demarcação de seus territórios e pela implantação da
saúde e da educação indígena, entre outros direitos.

Watyama Waku: tucandeira agradece

Rucian da Silva Vilácio


Vanessa do Nascimento Damasceno
Joelma Monteiro de Carvalho
Rejane Gomes Ferreira

A comunicação dialoga uma proposta de trabalho resultado do projeto de extensão


denominado “Construção de Saberes para a organização do trabalho em ritual indígena”,
desenvolvido por acadêmicos do curso de Engenharia de Produção da Universidade do Estado
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do Amazonas. O projeto nasceu do acesso e da participação dos comunitários indígenas à


universidade, por ocasião de diálogos e encontros de estudantes indígenas envolvidos no
projeto. O objetivo é de construir estratégias participativas para a organização do trabalho em
um ritual indígena, aplicando ferramentas utilizadas na engenharia de produção de forma a
desenvolver e organizar o turismo étnico na AldeiaSahu-Apé, que na língua Sateré-Mawé
significa “casa do tatu”. A aldeia está localizada na Estrada AM-070 (Manaus / Manacapuru),
no Km 37, área metropolitana de Manaus. Os Sateré-Mawé descendem do clã patrilinear. No
entanto, na formação social da Aldeia Sahu-Apé em que a líder é uma mulher, é considerado
um caso atípico. O público participante foi de 30 (trinta) famílias residentes no espaço
delimitado por este projeto. Sahu-Apé foi selecionada por concentrar um número de famílias
representativo, e também, pelo grande envolvimento que possui com eventos culturais,
organizados pela Secretaria de Cultura do Estado do Amazonas, por ocasião de eventos
turísticos em Manaus. Trata- se de um estudo observacional, descritivo, como estratégia da
etnografia e da pesquisa-ação que segundo Thiollent (2002, p. 75), é “com a orientação
metodológica da pesquisa-ação, os pesquisadores em educação estariam em condição de
produzir informações e conhecimentos de uso mais efetivo, inclusive ao nível pedagógico”.
Para Chiavenato (1997) o clima organizacional é definido como um conjunto de sentimentos
predominantes numa determinada empresa e, envolve a satisfação dos profissionais nos
aspectos afetivos/emocionais”. Para Geertz (2008, p. 4), a etnografia orienta o pesquisador
na seleção de informantes, no estabelecimento das relações com a comunidade. Quanto às
estratégias, a mesma se consistiu de mapeamento dos espaços, construção do diário das
atividades de campo, oficinas e rodas de conversas. Como resultado, o processo de construção
servirá de suporte para a estrutura de gestão nos processos de realização do ritual para o
turismo étnico, agregando renda e sustentabilidade aos comunitários.

As loas e o “academiquês” Xakriabá como elementos constitutivos do


discurso político de uma liderança indígena

Célia Nunes Corrêa Xakriabá


Amanda Jardim da Silva Rezende

Nesta comunicação oral pretendemos tecer algumas considerações sobre o discurso político
da acadêmica e liderança indígena Célia Xakriabá. Tal discurso incorpora um gênero específico
do português falado regionalmente entre os xakriabá, as Loas, e apropria-se de teorias
acadêmicas não indígenas para produzir epistemes e ferramentas de luta. O discurso de Célia
tem atravessado espaços distintos – comunidade acadêmica, comunidade indígena regional,
movimento indígena nacional e internacional - e ganhado amplo reconhecimento ao circular
por tais. O discurso político de Célia Xakriabá é fortemente marcado pela utilização de versos
rimados (Loas). Neta de Zé do Rolo, um reconhecido jogador de Loas entre os Xakribá,
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aprendeu com ele a arte do versar. Durante a graduação na licenciatura Fiei (UFMG) e
mestrado MESPT (UnB) se despontou como liderança indígena, valendo-se de uma série de
instrumentos como a escrita, o discurso e teorias acadêmicas em sua formação como figura
política. Mas isto não esgota a questão. Entre os questionamentos que devem ser melhor
explorados e debatidos, elencamos: como devem ser compreendidos os usos que Célia faz de
um elemento tido como tradicional no exercício de sua performance política no movimento
indígena contemporâneo e no meio acadêmico? Em quais aspectos a poética militante de
Célia representa linhas de ruptura, transformação e inovação com o estilo discursivo xakriabá
ao transcriá-lo? Em quais aspectos essa poética militante é legitimada ou deslegitimada no
meio acadêmico ao fugir das convenções pré estabelecidas por esse?

A educação intercultural na escola Wakõmekwa: perspectivas e desafios

Edimar Srênõkrã Calixto Xerente

Este relato de experiência compreende um estudo sobre os desafios e as perspectivas da


educação intercultural na escola Wakõmekwa, aldeia Riozinho Kakumhu, povo Akwê. Nossa
proposta é apresentar um panorama da Educação Intercultural no Brasil e um esboço da
Educação Indígena, em especial, a do estado do Tocantins. É nosso desejo que futuramente o
resultado deste trabalho possa auxiliar essa escola indígena em seu fortalecimento cultural e
identitário, como também promover ações na comunidade a fim de que o Povo Xerente
continue a lutar pela valorização, preservação e garantia de seus direitos à educação na aldeia.

Princípios e valores Rotinohshonni para a liderança indígena no pensamento


de Taiaiake Alfred

Ana Catarina Zema

Keyla Pataxó

Taiaiake Alfred é indígena Mohawk da comunidade de Kahnawake, autor, educador e ativista.


Ele cresceu em meio às lutas políticas do povo Mohawk. Seu pensamento e seus escritos estão
bem ancorados em uma riqueza de experiências não só acadêmicas, mas como membro do
Conselho Mohawk de Kahnawake, como assessor da Comissão Real para os Povos Indígenas
do Canadá e como fundador e diretor do Programa de Estudos sobre Governança Indígena na
Universidade de Victoria, onde leciona. Com um doutorado em Ciências Políticas, Alfred ficou
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conhecido sobretudo graças a suas críticas às políticas de reconciliação do Canadá e à sua


visão original sobre os caminhos para a descolonização e para a autodeterminação dos povos
indígenas da Turtle Island. Em 1999, publicava seu segundo livro, Peace, Power and
Righteousness: an Indigenous Manifesto, como uma chamada para a ação direcionada aos
povos indígenas, mas também como uma mensagem para os não indígenas. Com um
conhecimento profundo das tradições de seu povo, Alfred propõe, nesse manifesto, pensar
um conceito de descolonização com relação aos dilemas que enfrentam as lideranças
indígenas diante das escolhas políticas que devem fazer em suas interações com o “poder
branco”. Ele reconhece a necessidade de se libertar das opressões do colonialismo e
argumenta que, para uma autodeterminação autêntica, é preciso preservar as nações
indígenas, restaurar o orgulho de suas tradições, alcançar a autosuficiência econômica,
desenvolver a independência da mente e demonstrar coragem em defesa das terras e dos
direitos. Nesse processo, o fator mais importante é a noção de liderança. O objetivo desse
trabalho é analisar as ideias de Taiaiake Alfred sobre como os princípios e valores
Rotinohshonni são fundamentais para a formação de uma liderança indígena efetiva.
Destacamos suas críticas ousadas e contundentes aos líderes indígenas cuja visão política
espelha as piores tendências da sociedade dominante e que agem como verdadeiras “armas
da máquina colonial”, além de seu repúdio ao “intelectualismo indígena” que tem prevalecido
nos meios universitários e políticos.

ST 59 | 20 anos da Lei Sergio Arouca: avanços, dificuldades e desafios para os


povos indígenas do Brasil
Aline Alves Ferreira (Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Brasil); Thatiana Regina Fávaro
(Universidade Federal de Alagoas, Brasil).

Em 2019, completam-se 20 anos da “Lei Arouca” (Lei nº. 9.836, de 23 de setembro de 1999),
marco regulatório da atenção à vida e saúde das populações indígenas do Brasil. Antes,
diversos órgãos tiveram a atribuição de cuidar da saúde dos indígenas, iniciado oficialmente
no início do século passado pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI). A Lei Arouca regulamenta
as diretrizes aprovadas na II Conferência Nacional de Saúde Indígena, realizada em 1986 e
estabelece que a política de saúde indígena passaria a ser responsabilidade exclusiva do
Ministério da Saúde. Assim, incorporada no capítulo V da Lei nº 8.080 (19 de setembro de
1990), que estabeleceu o Sistema Único de Saúde (SUS), a responsabilidade formal e de toda
a estrutura de atendimento à saúde indígena, incluindo as unidades de saúde, os funcionários,
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as funções de confiança e os recursos orçamentários, passou a ser da Fundação Nacional de


Saúde (Funasa), órgão executivo do Ministério da Saúde. Visando um debate atual sobre os
caminhos, desafios e dificuldades enfrentadas ao longo desses 20 anos, o simpósio traz
discussões sobre o perfil de saúde atual dos indígenas no Brasil através das perspectivas dos
Censos Demográficos e dos sistemas de informação em saúde que têm contemplado (ou não)
os indígenas. Pretende também discutir acerca do perfil epidemiológico de doenças,
alimentação e nutrição entre indígenas do Brasil.

Atenção diferenciada e planejamento reprodutivo em área indígena: dilemas


da prática, elementos envolvidos e caminhos possíveis

Bruna Teixeira Ávila e Sandra Valongueiro Alves

A atenção diferenciada é princípio norteador da saúde indígena para o cuidado não


colonizador, seguindo os preceitos da Lei Arouca e fruto de mobilização desses povos. Porém,
na prática pode assumir diferentes formas e evidenciar tensões diversas, como no caso do
planejamento reprodutivo. Essa foi uma questão identificada durante a supervisão do Projeto
Mais Médicos para o Brasil (PMMB] a partir dos desafios experimentados pelos profissionais
de saúde vinculados ao Distrito Sanitário Especial (DSEI) Indígena Yanomami e Ye’kuana.
Compreender como abordagem do planejamento reprodutivo acontece nas equipes com o
PMMB atuando no Território Yanomami, identificando quais elementos a influenciam e quais
caminhos para a atenção diferenciada. Considerando a inserção da pesquisadora principal em
uma realidade não única, mas específica, foi realizado Estudo de Caso Etnográfico, utilizando
dados objetivos, registros do acompanhamento do trabalho das equipes e entrevistas semi-
estruturadas com seis profissionais (dois médicos, dois enfermeiros e dois técnicos de
enfermagem) não indígenas selecionados pelas funções de relação mais próxima com os
pacientes e pela diversificação de seus perfis. A partir da Análise Interpretativa de Geertz,
foram identificados seis eixos, sendo cada um agregado a categorias e realizada descrição
densa em articulação com o referencial teórico. Aqui será apresentado o eixo ‘A abordagem’
pelo seu caráter central na compreensão desse processo. No eixo ‘A abordagem’, foram
identificadas três categorias: compreensão sobre a abordagem, diálogo intercultural e esferas
de negociação. Predomina uma abordagem operacional, com transposição fixa de ações
programáticas da Estratégia de Saúde da Família não indígena, limitando-se à oferta de
medicamentos, realização de relatório e realização de palestras. É frequente também um
diálogo hierárquico com dificuldade de empatia não diretamente relacionada ao tempo de
experiência do profissional, mas principalmente à invisibilidade intencional da história e do
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presente dos povos indígenas. Há problemas de comunicação além da língua e um cuidado


com foco na cultura ou na pessoa exclusivamente. Além disso, a moralidade define a
interferência nas decisões dos indígenas. Esses são elementos que dificultam e distorcem a
atenção diferenciada. Porém, estão presentes também esforços dos profissionais para
compreender uma realidade diferente com valorização das desigualdades e possibilidades de
negociação mediando o individual e o coletivo que se aproximam do método clínico centrado
na pessoa. Isso principalmente quando há conhecimento da história desses povos, interesse
pelo trabalho nesses territórios e pela defesa dos direitos dessas pessoas.

Casa da cultura da saúde, encontros e escutas: Das políticas públicas para


espaços físicos em saúde e cultura às demandas da etnia Pataxó hã-hã-hãe da
aldeia Naô Xohã

Adriana Fernandes Carajá

Artur Borges Lisboa

Eduarda Monti Silva

Este trabalho propõe uma abordagem acerca da inadequação das espacialidades


arquitetônicas de saúde indígena que são direcionadas pelas políticas governamentais de
espaços físicos. Nesse contexto, é proposto como possível direcionamento um método de
ação que possa agenciar arquiteturas segundo demandas da Aldeia Naô Xohã da etnia Pataxó
hã-hã-hãe, localizada na região Metropolitana de Belo Horizonte. Espaço que busca associar
aspectos inerentes da cultura construtiva e das saúdes - ocidental e alopática com a tradicional
e oral - por meio de diálogos e escutas com integrantes da etnia. Este ensaio foi construído a
partir da notoriedade da problemática da saúde indígena no Brasil via política pública, a qual
não atende às demandas dos usuários que possuem formas específicas no trato medicinal,
das quais práticas culturais engendram tratamentos em saúde. Na realidade, mesmo que o
órgão responsável por criar essa dinâmica seja a Secretaria de Saúde Indígena, há a
desconsideração das singularidades étnicas e culturais de cada povo, tanto na dimensão dos
tratos dado as etnicidades relacionadas à saúde quanto nas características formais e
arquitetônicas impostas às construções. O programa arquitetônico idealizado pelos autores
deste artigo referenciado anteriormente abarca espaços que acoplam não apenas a dimensão
imaterial das cosmogonias, como também às materialidades, como o plantio e cuidado de
determinadas ervas e os conhecimentos sobre seus usos, a forma arquitetônica e os processos
construtivos que cada etnia apresenta de modo singular. A abordagem pensada é endógena
e participativa, envolvendo a sociedade da Aldeia Naô Xohã e seus aspectos intrínsecos. Por
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fim, as articulações espaciais são propostas com a pretensão de integrar, em certo grau, as
práticas culturais e medicinais indígenas aos moldes de saúde ocidental, permitindo que os
indígenas tenham tratamento e prevenção na sua própria cultura, como também quando
necessário e desejado possa haver um espaço direcionado para o atendimento pela medicina
alopática e ocidental.

Análise do Programa Mais Médicos Para o Brasil na saúde indígena

Fabiana Sherine Ganem dos Santos

Maria Angélica Breda Fontão

Gizeli de Lima

Barbara Cristina Marinho Souza

Yago Ranniere Teixeira Santana

Janini Selva Ginani

O Distrito Sanitário Especial Indígena é a unidade gestora descentralizada do Subsistema de


Atenção à Saúde Indígena. Trata-se de um modelo de organização de serviços orientado para
um espaço etnocultural dinâmico, geográfico, populacional e administrativo bem delimitado,
que contempla um conjunto de atividades técnicas, visando atenção à saúde desta população.
O Programa Mais Médicos foi criado em 2013 por meio da Lei 12.8711, como estratégia para
a melhoria do atendimento de saúde aos usuários do Sistema Único de Saúde e ampliação da
cobertura de profissionais médicos na atenção básica em áreas vulneráveis. A busca por
indicadores que reflitam os aspectos do território é um desafio para todos os sistemas de
saúde. As diversas formas de representação das iniquidades em saúde perpassam pelos
aspectos socioeconômicos, demográficos, geográficos/territoriais e até mesmo culturais, que
por muitas vezes não estão objetivamente explícitos nos sistemas de informação em saúde. O
objetivo da pesquisa é analisar um conjunto de indicadores epidemiológicos que reflitam a
situação de saúde da população indígena a partir da ampliação da oferta de assistência médica
nos territórios indígenas desde a implantação do PMM em 2013, no âmbito do SASISUS. A
metodologia foi a avaliação do PMM se seu por meio da análise descritiva de indicadores de
saúde selecionados, contemplando como indicadores de estrutura, de processo e de
resultado. São indicadores de morbidade e de mortalidade, além dos já monitorados pela
Atenção Básica como cobertura de pré-natal, e internação por causas sensíveis da atenção
básica, que medem a resolutividade e o acesso da população aos serviços de saúde. Os
indicadores foram elaborados e calculados a partir dos dados disponíveis no Sistema de
Informação da Saúde Indígena, utilizando os módulos de óbito, morbidade e informações
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demográficas. Com o Programa, em cinco anos houve um incremento no número de médicos


atuando nos Distritos, e foi especialmente expressivo naqueles localizados no interior do país,
em especial na região da Amazônia Legal. Os principais achados desta pesquisa se referem ao
acesso da população ao profissional médico, a qualificação das informações inseridas nos
sistemas, incluindo as investigações de óbito e a redução de internações pediátricas de
indígenas. O Projeto Mais Médicos para o Brasil representou um importante avanço no
provimento de profissionais na saúde indígena, na ampliação do acesso ao atendimento
médico nas comunidades indígenas e na qualificação das informações de saúde.

Atenção especializada de saúde bucal ao povo indígena de recente contato


Suruwaha

Gabriel Cortes

Zaira Zambelli Taveira

Roberta Aguiar Cerri Reis

Angélica Maia Vieira

Diego Picanço Reis

O Programa SESAI em Ação é um conjunto de projetos e ações geridos e executados de forma


integrada entre os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) e o nível central com apoio
interinstitucional e da sociedade civil em benefício da saúde da população indígena. Seu
objetivo é apoiar a oferta de ações complementares à atenção básica e de atenção
especializada em áreas de difícil acesso geográfico ou à rede de serviços do Sistema Único de
Saúde (SUS). A população Suruwaha é de 155 indígenas e são considerados Povo Indígena de
Recente Contato (PIRC). Habitam a região da bacia do Rio Purus, em região de difícil acessos,
distante de Lábrea - AM, em cerca de 3 a 5 dias de viagem de barco ou 50 min de helicóptero.
A relação dos Suruwaha com a dentição perpassa os hábitos alimentares e também o uso em
atividades produtivas (como caça, pesca, confecção de artesanatos). Assim, a dentição possui
uma função social para além da biológica. Considerando a vulnerabilidade dos PIRC, a SESAI
recomenda “a elaboração e implantação de planos de ação específicos, de acordo com a
situação epidemiológica e aspectos culturais, além da qualificação profissional para atuação
neste contexto” (SESAI, 2017). O Projeto Suruwaha de Saúde Bucal foi realizado pela SESAI,
por meio do Distrito Sanitário Especial Indígena Médio Rio Purus, em parceria com a Fundação
Nacional do Índio, o Ministério da Defesa e dentistas voluntários da organização não
governamental Doutores Sem Fronteiras (DSF). O Projeto foi constituído três Etapas: I
atividades preparatórias de infraestrutura e triagem e preparo de pacientes para recebimento
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do atendimento; II realização dos tratamentos odontológicos especializados de próteses


dentárias e endodônticos; III proservação, monitoramento e avaliação. Houve estruturação
da base etnoambiental da FUNAI e da unidade básica de saúde indígena Suruwaha para
recebimento da equipe, dos pacientes. Utilizou-se 5 consultórios odontológicos portáteis,
bem como, realizado a instalação de um laboratório de próteses. A execução da II Etapa foi
realizada em novembro de 2018 e envolveu cerca de 50 pessoas, sendo 7 dentistas
especialistas os quais atenderam 47 indígenas. Foram realizadas 78 próteses dentárias e 34
tratamentos endodônticos, além de outros procedimentos básicos. Ainda foram, distribuídos
kits de material de higiene e realizadas atividades de educação em saúde, incluindo escovação
dental supervisionada. Elaborou-se um plano de proservação, monitoramento e avaliação que
está em execução ao longo de 2019. O projeto apresentou-se como importante estratégia
para a redução das inequidades em saúde ao povo Suruwaha, em busca da integralidade da
atenção aos povos indígenas, conforme dos princípios do SUS e da Política Nacional de
Atenção à Saúde dos Povos Indígenas.

Obesidade e fatores relacionados na população ndígena Kaxixó, Minas Gerais,


Brasil
Otávio Júnior da Costa
Livia de Souza Pancrácio de Errico
Eunice Francisca Martins

A obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal. A obesidade


representa um problema nutricional no mundo todo, sendo considerada uma epidemia, tanto
em países desenvolvidos enquanto naqueles em desenvolvimento. O excesso de peso no
indivíduo desencadeia alguns problemas de saúde, destacando a hipertensão, doenças
cardiovasculares e diabetes tipo 2. Em relação aos agravos apresentados pelo acumulo
excessivo de tecido adiposo, destaca-se os povos indígenas brasileiros que, atualmente, vivem
um processo de transição epidemiológica e nutricional, o que os predispõem a problemas de
saúde, especialmente, as doenças crônicas não transmissíveis. Objetivo: Avaliar a prevalência
da obesidade na comunidade indígena Kaxixó e seus fatores relacionados. Métodos: Estudo
de base populacional, do tipo quantitativo, transversal, descritivo. Participaram do estudo 53
indígenas da etnia Kaxixó, com idade igual ou superior a dezoito anos, moradores das aldeias
Capão do Zezinho – Martinho Campos, MG e Fundinho – Pompéu, MG. A coleta de dados foi
realizada por meio de medidas antropométricas (peso, estatura e circunferência da cintura) e
um questionário que abordou as condições socioeconômicas, auto percepçãode saúde,
atividades físicas realizadas na última semana e os hábitos alimentares. Resultados: Os
participantes do estudo tinham idade entre 18 a 59 anos, sendo 27 mulheres e 26 homens.
Para ambos os sexos, identificou valores alterados para sobrepeso e obesidade. Entre as
mulheres, 85% estavam com obesidade e 70% dos homens apresentavam sobrepeso. O
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sobrepeso e obesidade estiveram relacionadas entre as mulheres com idade ≥ 30 anos. A


variável escolaridade igual ou superior a 5 anos e estado marital casado/ou em união
apresentaram relação com o aumento do peso em ambos os sexos. A circunferência da cintura
apresentou medidas alteradas entre os dois sexos, sendo que 72,7% dos homens
apresentavam alteração de nível 1 (94 a 101,9 cm), e 90,4% das mulheres alterações de nível
2 (≥88 cm). Conclusão: Assim como observado em outras populações indígenas, os achados
dessa pesquisa sugerem que os Kaxixó estão atravessando um processo de transição
nutricional. Com isso, visa-se com esse estudo, pensar em elaborações de projetos de políticas
públicas em saúde e segurança alimentar indígena, subsidiando a ampliação das discussões
sobre os quadros agravantes em saúde que os indígenas brasileiros vêm passando na
contemporaneidade.

Acesso à saúde, alimentação e nutrição nos últimos 20 anos: percursos dos


indígenas no Brasil
Thatiana Fávaro e Aline Ferreira

A promulgação da constituição cidadã em 1988 é indiscutivelmente o marco mais importante


para o reconhecimento dos povos indígenas como cidadãos brasileiros. No que tange a saúde,
a Lei no 9.836/99, conhecida como Lei Arouca, representa o marco regulatório da atenção à
saúde indígena no país. Desde então vários foram os avanços, desafios e retrocessos que
caracterizaram o acesso à digno a uma atenção à saúde de qualidade e resolutiva. A
responsabilidade sobre a gestão das ações de saúde, que desde 1999 esteve a cargo da
Fundação Nacional de Saúde, autarquia do Ministério da Saúde, em 2010 passa para a
Secretaria Especial de Saúde Indígena, reinvindicação constante nas últimas conferências
nacionais de saúde indígena. O retrato sanitário e epidemiológico dos povos indígenas ainda
os coloca em uma realidade comparável à, de uma maneira geral, situação dos não indígenas
nas décadas de 1970 e 1980, a exemplo os indicadores de doenças como tuberculose,
insuficiência respiratória aguda, desnutrição, e inúmeros outros agravos sensíveis a atenção
básica. Estudos têm apontado para um complexo cenário de transição em saúde, alimentação
e nutrição, com uma polarização e sobreposição de doenças. Assim, o objetivo principal desta
comunicação é discutir sobre o acesso à saúde dos povos indígenas do Brasil, apresentando
as principais políticas públicas, avanços e retrocessos que tiveram na área da saúde,
alimentação e nutrição nas duas últimas décadas.

A Qualificação do profissional multidisciplinar para atuação na saúde


indígena no Distrito Sanitário Especial Indígena do Alto Rio Negro/AM

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Maria Rosineide Gama Feitosa

A saúde indígena foi implantada em 1999 através do subsistema de Atenção à Saúde Indígena
no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) por meio de um plano jurídico e político cujas
linhas obedeciam à proposta da II Conferência Nacional de Saúde da População Indígena
(CNSPI), ficando a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) com a responsabilidade de execução
das ações preventivas e curativas desta população. Neste mesmo ano iniciou a implantação
dos 34 Distritos Sanitário Especial Indígena (DSEI) em todo território nacional. Entre eles o
DSEI do Alto Rio Negro (ARN) que hoje abrange três Municípios: São Gabriel da Cachoeira,
Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos, com uma população aproximada de 36.813 indígenas
pertencentes há 22 etnias diferentes, povoados em 673 comunidades, distribuídos numa área
de 295.433 Km2 de extensão, com 25 pólos bases para atendimentos e uma Casa de Apoio a
Saúde Indígena (CASAI). Durante a implantação dos DSEIs, não se levou em conta as
diversidades culturais e características individuais de cada povo, como também suas
medicinas tradicionais, simplesmente a implantaram a medicina ocidental para práticas
curativas. Alguns autores como Menéndez (2003), e Silveira (2004), observam que a grande
diversidade sociocultural dos pacientes indígenas e o despreparo dos profissionais e serviços
de saúde em lidar com essas diferenças são um desafio para o atendimento diferenciado, no
qual, entende-se por atendimento diferenciado o modelo de assistência em que as ações de
saúde devem ser adaptadas às peculiaridades socioculturais, epidemiológicas e demográficas
das diversas etnias indígenas. A atenção diferenciada não significa simplesmente a
incorporação das práticas tradicionais desses povos, mas da articulação das práticas de auto
cuidado com os serviços de saúde e profissionais, valorizando os aspectos culturais envolvidos
na determinação do processo saúde doença dessa população, visando diminuir os conflitos
entre o saber biomédico e o tradicional indígena. Diante do exposto, neste simpósio pretendo
apresentar através do levantamento bibliográfico as publicações em artigos, teses,
dissertação e livros que mencionam sobre a saúde indígena, formação, qualificação e a
atuação de profissionais no subsistema de saúde indígena, buscando responder às seguintes
questões: 1) Entender como ocorre à formação e preparação dos profissionais que atuam na
saúde Indígena; 2) Analisar as diferentes experiências formativas implementadas pelas
instituições para a qualificação dos profissionais para a atuação nas comunidades indígenas;
3) Constatar a partir do ponto de vista dos profissionais como sua graduação contribuiu ou
não para o trabalho no contexto do subsistema da saúde indígena; 4) Identificar que
experiências os profissionais obtiveram nos processos de formação recebidos pelos DSEIs para
atuarem no subsistema e por fim, averiguar através da opinião dos profissionais e gestores
como deveria ser a preparação dos profissionais para atuarem na saúde indígena.

Supervisão acadêmica no Projeto Mais Médicos Para o Brasil em áreas


indígenas de Roraima: relações entre médicos e grupo especial de supervisão

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Fernanda Pereira de Paula Freitas


Bruna Teixeira Ávila
Luiz Otávio de Araújo Bastos
Willian Fernandes Luna

O Grupo Especial de Supervisão (GES), fruto de articulação entre o Ministério da Educação e


da Defesa, realiza supervisão acadêmica dos médicos do Projeto Mais Médicos para o Brasil
em áreas de difícil acesso, fortalecendo o cuidado longitudinal de populações indígenas. O
GES Roraima (RR), composto por um tutor e sete supervisores - alguns com experiência em
área indígena; outros médicos de família e comunidade; e uma com experiência neste
território; produz registros regulares das atividades pedagógicas desenvolvidas (tanto em área
indígena, como na sede do DSEI e à distância). Após dois anos, identificou-se a necessidade
de sistematizar esse material e refletir sobre as relações construídas no contexto da saúde
indígena. O objetivo desta pesquisa foi discutir aspectos da experiência de atuação do GES RR
nas áreas indígenas de difícil acesso, com foco nas relações entre supervisores e médicos,
identificando potencialidades, dificuldades e destacando estratégias utilizadas para superá-
las. Trata-se de uma pesquisa qualitativa que utilizou como materiais os documentos
produzidos pelo grupo nas atividades rotineiras do GES Roraima nos anos de 2015 e 2016,
tendo sido realizada análise temática de conteúdo. Na análise, identificou-se que o caráter
hierárquico contido na formação médica, a diversidade de atores envolvidos na supervisão e
características específicas da atuação em território indígena influenciam essa relação recente
apontando três categorias-chave. Há como potencialidades a possibilidade de intermediação
de conflitos e de problematizações in loco com construção de novos saberes em contextos
interculturais a partir do vínculo entre atores com diferentes experiências, valorizando
inclusive o diálogo com as lideranças e a comunidade. Aparecem como desafios do processo
desinteresse e desmotivação dos profissionais; adversidades estruturais do contexto da saúde
indígena; e dificuldades com a língua e com a comunicação durante a supervisão longitudinal,
de acesso à área e no diálogo intercultural e na forma de abordagem. E surgem construções a
partir da supervisão, já que o acolhimento e as abordagens criativas dos supervisores
estimulados ao estudo sobre especificidades da saúde das populações indígenas possibilitam
a qualificação da supervisão e do cuidado, motivando os profissionais ao trabalho e estudo.
Conclui-se que a relação entre médicos atuantes em áreas indígenas em RR e os supervisores
do GES apresenta-se como inovadora num espaço de cuidado em saúde onde a aproximação
entre academia e serviço é difícil, complexa e com limites estruturais, culturais e de formação.
A inventividade e o planejamento tornam-se essenciais para que cumpra sua variedade de
papéis e favoreça a qualificação do cuidado ofertado aos povos indígenas.

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

As práticas de atenção à saúde das mulheres indígenas no período Gravídico-


Puerperal na terra indígena Aldeia Kondá: refletindo os modelos de atenção à
saúde

Francielli Girardi

Laura Cecilia Lópes

Esse estudo analisa as práticas de atenção á saúde, mulheres indígenas no período gravídico-
puerperal na Terra Indígena Aldeia Kondá/SC, considerando os modelos de atenção à saúde e
como as Políticas Públicas como Política de Atenção às Populações Indígenas PNSAI (2002), e
a estratégia Rede Cegonha (ERC), deixam lacunas sobre a assistência diferenciada às gestantes
indígenas, sem traçar diretrizes específicas para a condução das práticas assistenciais
diferenciadas, desconsiderando a pluralidade e a interculturalidade na atenção à saúde. Os
sistemas de cuidado nas comunidades indígenas são diferenciados e singulares, o cuidado
interlig o ambiente, rede social e seres espirituais, nas práticas do cuidado. Esses diversos
sistemas de cuidado foi, denominado por Menendez (2003), como modelos de atenção à
saúde. Os modelos são diversas formas de cuidar dos indivíduos e de seu coletivo, articulando
a pluralidade e interculturalidade, na atenção à saúde. A partir desta conjuntura este estudo
objetiva analisar as práticas de atenção à saúde das mulheres indígenas no período gravídico-
puerperal na Terra Indígena Aldeia Kondá/SC, considerando os modelos de atenção à saúde,
na perspectiva da pluralidade médica, proposta por Menéndez. Neste sentindo buscou-se
identificar os modelos de atenção à saúde, e as práticas de atenção à saúde, articulam-se ou
tencionam-se com a atenção diferenciada, presentes nas politicas públicas para a saúde
indígena. Trata-se de uma pesquisa qualitativa etnográfica. As técnicas utilizadas para a
produção de dados foram: observação participante com registro no diário de campo,
entrevistas individuais e grupais abertas, realizada com mulheres indígenas no período
gravídico-puerperal, mulheres da comunidade e parteira, utilizando-se de um roteiro-guia. O
estudo compreendeu o período de junho a dezembro de 2018. Esse estudo é um recorte
prévio de uma pesquisa que esta em andamento, do programa de Doutorado em Saúde
coletiva da UNISINOS. A perspectiva de análise deste artigo segue a luz antropológica de
Menéndez, baseado no conceito de Modelos de Atenção e as práticas de cuidado em saúde.
Os modelos de atenção à saúde destacados durante a assistência no período-gravídico-
puerperal foram: Modelo Biomédico, a Medicina Tradicional Indígena e Práticas de
Autoatenção em Saúde. Discutiram-se os modelos de atenção à saúde, presentes no cenário
da assistência das mulheres indígenas no período gravídico-puerperal na T.I Kondá. Nesta
perspectiva percebeu-se que as práticas assistenciais da PNSAI (2002), estão tencionam para
a hegemonia do modelo biomédico. Pois as práticas assistenciais são verticalizadas,
protocolares e desconhecem a diversidade das práticas de atenção à saúde indígena,
praticadas pelas mulheres indígenas. Diante dos outros modelos de atenção à saúde,

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3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

percebeu-se incipiente articulação do saberes e atores do cuidado entre a medicina


tradicional indígena e a prática de autoatenção. Diante desses cenários considero importante,
ampliar os estudos sobre essa temática e encontrando estratégicas dialógicas com os diversos
cenários e atores do cuidado, buscando articular as diversas formas de atenção em saúde,
presentes na comunidade indígena Kondá.

Óbitos do cluster neoplasias na população indígena em Santa Catarina, Brasil

Francielli Girardi

Paula Brustolin Xavier

Maitob Bernardelli

As neoplasias têm se tornado um importante problema de saúde pública em ascensão. As


transformações vivenciadas na atualidade pelas comunidades indígenas, envolvendo os
fatores ambientais, alimentares, impactam diretamente nas suas condições de saúde das
comunidades. Descrever a incidência de óbitos identificada no cluster Neoplasias conforme
CID-10, ao longo da série histórica de 2006 a 2017 na população indígena de Santa Catarina.
Este foi um estudo temporal com análise de dados secundários disponíveis nas bases do
Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. Baseou-se nos
óbitos ocorridos entre os anos de 2007 a 2016 no estado de Santa Catarina SC/Brasil, daqueles
cujo a raça foi identificada como indígena, de ambos os sexos, e a mortalidade definida como
neoplasia, conforme CID- 10. Os dados foram analisados de forma descritiva através de
planilhas do Microsoft EXCEL. Em relação ao total dos óbitos no período na população
indígena, as neoplasias corresponderam a 10,56 %, caracterizando-se como a terceira causa
de óbito. Mais prevalente no sexo masculino 52,08%. A faixa etária de maior ocorrência em
maiores de 60 anos em ambos os sexos, (41,67%). Seguido do grupo etário entre 50 a 64 anos
com 37,5%. As maiores taxas de letalidade da doença, ocorre nas neoplasias malignas de
traqueia, brônquios e pulmões, (31,25%), seguido das neoplasias malignas do esôfago,
14,58%. As menores taxa de letalidade, 2,08%, estão associadas as neoplasias malignas do
fígado e vias biliares intra-hepático, maligna do pâncreas, maligna da próstata. Compreender
a ocorrência dos indicadores de mortalidade por neoplasias na população indígena resultam
em reconhecer indicativos, imprescindíveis para essa população, diante de suas
especificidades socioculturais. Buscando desenvolvendo estratégias de ações em saúde,
promoção em saúde, com mudanças no estilo de vida, podendo assim influenciar em uma
melhor qualidade de vida.

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Grupo Especial de Supervisão em Roraima: Vivências do Projeto Mais


Médicos

Luciano Bezerra Gomes

Mariângela Nazário

Henrique Schlossmacher Passos

Augusto Cezar Chiavon

O Projeto Mais Médicos para o Brasil é uma das estratégias brasileiras para diminuir a escassez
de médicos e sua má distribuição no sistema único de saúde, somado a outras políticas criadas
para os desafios da atenção primária à saúde. Junto ao provimento emergencial para regiões
prioritárias criou-se a supervisão acadêmica com foco na formação em serviço, sob
responsabilidade de instituições de ensino. Com a interiorização dos profissionais, barreiras
para acesso via transporte comercial tornaram um desafio o deslocamento dos supervisores
até algumas áreas de atuação dos médicos, principalmente na Amazônia Legal. Esse desafio
culminou numa articulação entre os Ministérios da Educação e Defesa para chegarem às áreas
remotas. Assim, em dezembro de 2014, um grupo de supervisores realizou, pela primeira vez,
visitas aos médicos do que trabalhavam em áreas de difícil acesso. A estratégia,
posteriormente nomeada como grupo especial de supervisão (GES), gradativamente adentrou
vários estados e passou a contar com um grupo permanente de supervisores e tutores. O GES,
desde então, vem realizando atividades de supervisão nas seguintes modalidades: in loco,
individualmente com cada médico supervisionado no seu pólo base de trabalho;
locorregionais coletivas onde abordamos temas relevantes para a prática de uma atenção à
saúde diferenciada; e supervisões longitudinais realizadas à distância. Atualmente, com o fim
do convênio com Cuba e a consequente saída da grande maioria dos médicos que trabalhavam
nestas regiões e o não preenchimento por médicos nos editais seguintes ocasionou um vazio
assistencial na assistência sanitária dos Distritos Sanitários Indígenas Ye’kana – Yanomami e
Leste. Até o presente momento, a ausência de médicos nesses espaços impõe grandes
dificuldades às equipes de saúde e aos povos indígenas. Persistir e seguir na observação da
chegada de novos médicos com um perfil de atuação diferente do que existia anteriormente
no contexto do Programa Mais Médicos configura um reinicio do trabalho do GES. O objetivo
foi sistematizar alguns aspectos da experiência de atuação do GES no estado de Roraima.
Especificamente os aspectos relevantes a partir das mudanças ocorridas com a saída de
grande maioria do contingente de médicos que trabalhavam nessas áreas de difícil acesso,
avaliando as mudanças de acesso e na qualidade do modelo assistencial a essas populações.
Avaliar o novo perfil de médicas e médicos selecionados através do programa e a possibilidade
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de inseri-los dentro desse processo de supervisão. Trata-se de um estudo de caso com


metodologia qualitativa, com análise de conteúdo temática a partir do levantamento e
sistematização dos registros já produzidos pelos atores no processo de trabalho nos anos de
2015 a 2019. Houve surgimento de quatro categorias-chave: características, potencialidades,
desafios do processo e novas construções. Seja pelo processo artesanal, seja pelo respeito ao
contexto de vida das comunidades, os diversos registros sugerem que tanto médicos do
projeto, como seus supervisores, tem sido capazes de superar as adversidades. Nesse sentido,
o papel da supervisão do GES parece caminhar enquanto suporte para o desenvolvimento de
noções mais amplas de cuidado individual e coletivo nestes cenários peculiares, respeitando
as diferenças culturais. Neste contexto, além dos desafios logísticos devido ao isolamento
geográfico, o GES enfrenta outras dificuldades, como a construção compartilhada com
gestores, articulação entre municípios e áreas indígenas, diálogo efetivo entre saberes
tradicionais das diferentes populações. A vivência destas relações tão singulares tem sido
possível devido à forma de construção criativa e crítica destes espaços e os novos perfis
profissionais que estão aparecendo para o provimento emergencial.

Diálogos e processos de pactuação: ampliação do Ambulatório de Saúde


Indigena para os territórios indígenas no DF

Maria da Graça Luderitz Hoefel

Jacinta de Fátima Senna da Silva

Denise Osório Severo

Edgar Merchan-Hamann

Ximena Pamela Bermudez

Este ensaio busca descrever os diálogos, experiências e processos de pactuação para a


ampliação da atuação do Ambulatório de Saúde Indígena (ASI), do Hospital Universitário de
Brasília (HUB), da Universidade de Brasília (UnB) nos terrtórios indígenas situados no DF. O
Ambulatório de Saúde Indígena foi inaugurado em 2013, no Hospital Universitário de Brasília.
Esta construção foi desencadeada a partir da demanda do Movimento Estudantil Indígena e
articulada ao Projeto Vidas Paralela Indígena (PVPI), projeto de extensão instituíndo em 2010,
devido a preocupação com a situação da política de atenção à saúde prestada aos povos
indígenas no âmbito do SUS (HOEFEL ET AL, 2012). Para tanto, buscou-se parcerias com a
Secretaria de Atenção à Saúde Indígena do Ministério da Saúde (SESAI/MS), o Hospital
Universitário de Brasília (HUB) e a Casa de Atenção à Saúde do Índio (CASAI). O Ambulatório
de Saúde Indígena tem por finalidade executar o acolhimento e qualificar o cuidar à saúde dos

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povos indígenas, por meio da construção de um processo de Atenção Integral à Saúde. O


Ambulatório atende e acompanha os indígenas encaminhados para o HUB pela CASAI, seus
acompanhantes e os estudantes indígenas da Universidade de Brasília. Os docentes,
preceptores (profissionais de saúde e afins de instituições parceiras), estudantes da área da
saúde e áreas afins, em destaque os estudantes indígenas e profissionais de saúde da UnB,
realizam o acolhimento e o processo de Atenção Integral à Saúde dos pacientes indígenas. O
HUB recebe pacientes da CASAI que referencia usuários indígenas dos diversos polos
localizados em Distritos Especiais de Saúde Indígena (DSEIs), de vários estados brasileiros
(HOEFEL et al., 2015). Desde o nascedouro do ASI existia a demanda para ofertar o cuidado
em saúde intercultural aos indígenas dos territórios do DF, sobretudo, a Comunidade do
Santuário dos Pajés situada no Setor Noroeste de Brasília e dos Encantados em Sobradinho,
DF. Nos anos de 2017 e 2018 intesificaram-se a reivindicação dos Movimentos Indigena e
Estudantil Indigena do DF para a atenção à saúde dos moradores desses territórios. Após
várias rodas ampliadas de diálogos com a participação direta dos Movimentos, da
Coordenação do ASI, da Superitendente do HUB/Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares
(Ebserh) e de representante da Secretária de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) foi pactuado
o fluxo de atenção à saúde no ASI dos indígenas dos territórios mencionados. Nesses diálogos
eram discutidas as questões intrainstitucionais, interinstitucionais e a participação dos
movimentos no processo de cuidar. Sendo estabelecido o seguinte fluxo, o encaminhamento
do usuário indígena para agendamento de consulta ou outros procedimentos ao ASI é
realizado pela liderança indigena local previamente designada, cujo encaminhamento é por
escrito em formulário próprio criado pelo movimento. O ASI desenvolve atividades de escuta
qualificada, extensão articuladas à pesquisa, em diálogo com as equipes interdisciplinares no
âmbito do HUB, CASAI e SES-DF ancoradas na interculturalidade. Registra-se que nos anos de
2017 e 2018 foram atendidas ...... usuários indígenas dos territóros do DF. Assim, evidencia-
se a participação ativa dos movimentos indígenas e estudantis indígenas da Universidade de
Brasília no DF na conquista da ampliação do ASI para as comunidades dos territórios Santuário
dos Pajés e Encantados no processo de cuidar na perspectiva da saúde intercultural. Durante
esse processo, foi planejado um espaço de práticas de pajelança e outras atividades
complementares na área externa do HUB com o objetivo de contribuir para a restituição à
saúde. Essas práticas buscam a integralidade do processode cuidar mediante o
reconhecimento do sentido espiritual da saúde numa perspectiva holística e intercultural. As
características desse espaço terapêutico singular já tinham sido discutidas e pactuadas com a
participação significativa de estudantes de sete etnias, profissionais de saúde da CASAI,
docentes e preceptores. Ressalta-se que a instalação do espaço foi pactuada com atual gestão
do HUB/Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Desse modo, o ambulatório
contribui à construção de práticas interculturais de formação, de cuidar em saúde e de
produção de conhecimentos científicos, pautadas na educação popular, no diálogo de saberes
e na gestão participativa e compartilhada conduzidas na perspectiva da interculturalidade.

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Constituição e caracterização da temática da Saúde Indígena no campo da


Saúde Coletiva no Brasil

Juliana Fernandes Kabad

Ana Lúcia Pontes

Simone Monteiro

Este trabalho analisa a constituição da área de estudos sobre saúde dos povos indígenas no
Brasil, enquanto um subcampo da Saúde Coletiva. Como metodologia realizou-se revisão da
literatura em cinco bases de artigos científicos; identificação e análise das linhas, grupos de
pesquisa e líderes de grupos que trabalham com o tema; análise dos currículos lattes de
atores- chave no surgimento e constituição da temática. Observou-se um aumento substancial
na publicação de artigos científicos desde a década de 1990 com maior expansão após os anos
2000. Os temas de pesquisa predominantes possuem correspondência com as demandas dos
serviços públicos de saúde indígena, tais como: Atenção Diferenciada e Articulação de
Sistemas Médicos; Agentes Indígenas de Saúde; Participação Social; Transição epidemiológica;
Transição nutricional; Mortalidade infantil; Doenças crônico-degenerativas; e Doenças
infecto-parasitárias, entre outras. Identificou-se que os grupos e linhas que estudam saúde
dos povos indígenas no Brasil são heterogêneos e em grande parte integram as áreas de Saúde
Coletiva e da Antropologia. Diferente da tendência de distribuição regional dos grupos de
pesquisa no país, a temática da saúde indígena é quantitativamente maior em grupos de
instituições localizadas na macrorregião Norte do país, ainda que a região Sudeste concentre
os grupos que produzem maior impacto para produção e constituição do tema. Os
pesquisadores estudados representam diferentes vertentes epistemológicas e práticas
políticas desta área de estudos. Conclui- se que as pesquisas colaboram para a ampliação e
aperfeiçoamento das políticas públicas em saúde dos povos indígenas, ao mesmo tempo, as
políticas públicas na área fomentam estudos sobre esta temática, bem como, contribuem para
o fortalecimento do campo da Saúde Coletiva no Brasil.

Controle Social na Saúde Indígena: a Atuação do Condisi no Distrito Sanitário


Especial Indígena (DSEI) Araguaia

Bissohana Karajá

Edivander Hurtado Couto

Pâmela Gabriela Ramos

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Polyana Rafaela Ramos

A constituição da República Federativa do Brasil de 1988 consolida em seu texto o direito e


deveres ao qual o cidadão está sujeito na sociedade em que habita. O controle social é mais
um meio de efetivo exercício da cidadania, onde os cidadãos, representando a soberania
populacional, interagem com a administração pública para resolução de problemas,
prevenção da corrupção e proposições de novas ideias que beneficiam o bem-estar do povo
brasileiro. No âmbito da saúde, a Constituição garantiu o direito à participação da sociedade
e tem papel relevante no atual cenário da saúde indígena no Brasil, que se apresenta como
um subsistema da rede de atenção à saúde, e assim como difundido nas políticas de saúde
pública, também garantiu a participação dos povos indígenas nos órgãos colegiados de
formulação, acompanhamento e avaliação das políticas públicas referentes ao tema. A
presente pesquisa teve como objetivo analisar a atuação do Conselho Distrital de Saúde
Indígena (Condisi) na formulação, acompanhamento e avaliação das políticas públicas de
saúde no âmbito do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Araguaia, localizado no
município de são Félix do Araguaia, nordeste do Estado de Mato Grosso. Trata-se de um
estudo de caso, de natureza qualitativa, descritiva, cujo instrumento para coleta de dados foi
a aplicação de um questionário semiestruturado ao presidente do Condisi vinculado ao Dsei
Araguaia e o tratamento dos dados foram feitos através da análise de conteúdo. Os resultados
apontam que apesar de sentir dificuldades no exercício do controle social (como ausência de
um local de trabalho específico, materiais, disponibilização de meios de transporte para que
possam realizar as reuniões e fiscalizações, entre outros), o Condisi consegue atuar junto ao
Dsei, realizando reuniões, fiscalizando as ações dos profissionais envolvidos na prestação dos
serviços, buscando melhorias na área da saúde indígena. Após a conclusão da pesquisa,
percebe- se que o controle social é acessível a todos, considerando seu âmbito de atuação e
demonstra a atuação dos povos indígenas no exercício da cidadania.

Educação permanente na saúde indígena: os desafios para a adequação do


atendimento nos serviços do Sistema Único de Saúde em Porto Alegre

Julia Landgraf

Nayara Emy Imazu

Rosa Maris Rosado

O objetivo desta comunicação é pensar a realização de atividades de educação permanente


com a temática da saúde indígena no Sistema Único de Saúde, bem como as possibilidades de
consolidação destes direitos, através de um relato de experiência. Como método, as
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atividades de Educação Permanente foram realizadas pela Área Técnica de Saúde dos Povos
Indígenas da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, e ocorreram em serviços de saúde
referência para indígenas de seus territórios. Foram incluídas cinco Unidades de Saúde, um
hospital de urgência e emergência e um Centro de Especialidades Odontológicas. Os principais
resultados deste artigo demonstram que os trabalhadores da área da saúde que participaram
das atividades demonstraram disparidade nos conhecimentos anteriores a respeito dos povos
indígenas da região e das especificidades da saúde indígena, sendo por isso necessário
apresentar um panorama geral dos indígenas no Brasil antes de adentrar questões específicas
da saúde. O fato da Educação Permanente ocorrer em uma capital traz à tona dificuldades dos
profissionais da saúde em entender a sobreposição da cidade com territórios indígenas, e a
falta de “demonstrações de indianidade” físicos é utilizada em prol de um argumento de
“assimilação” ou socialização do indígena pelo não-indígena, utilizado para que sejam
mantidas práticas biomédicas indistintas e impassíveis de flexibilização. Aspectos burocráticos
e organizativos dos serviços também são colocados como dificultadores para uma atenção
diferenciada, ainda que a equidade seja um princípio constitutivo do mesmo sistema. A
presença de indígenas nas capacitações permitiu que profissionais da saúde estivessem em
diálogo direto com os públicos que seriam atendidos, abrindo um espaço para sanar dúvidas
e construção conjunta. Nesses casos, preconceitos frequentemente trazidos nas
apresentações estiveram mais velados. Como considerações finais, percebe-se que atenção
diferenciada é vista por muitos trabalhadores da saúde como um privilégio, o que dificulta na
consolidação deste direito. É necessário que desigualdades étnicorraciais e diferenças
culturais sejam compreendidas pelos profissionais, permitindo assim a efetivação da
universalidade e equidade previstas no SUS, bem como o fortalecimento da PNASPI. As
atividades de Educação Permanente alcançam a superfície de uma luta por direitos que é mais
profunda e requer maior tempo e esforço de profissionais da saúde e da gestão para sua
construção.

Acolhimento Humanizado ao Indígena Portador de Neoplasia na Casa de


Apoio à Saúde Indígena de Pernambuco

Alex Montanhas de Lima

Acolher o Indígena de forma integral respeitando sua cultura, crença e seus rituais, buscando
proporcionar uma melhor qualidade na recuperação da saúde. Com esse trabalho objetiva-se
descrever as ações desenvolvidas pela equipe multidisciplinar de saúde indígena, respeitando
a cultura de cada povo. O presente estudo trata-se de um relato de experiência através de
uma observação In Loco do processo de trabalho, das atividades e da construção das ações
desenvolvidas junto com os pacientes. Foram pesquisados dados através de artigos
disponíveis no Google Acadêmico, Livros e Periódicos disponibilizados pelo Ministério da
Saúde. As ações desenvolvidas tais como: Rodas de Conversas, Exposições de Experiências
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Exitosas, Atividades Físicas, Oficinas de Artesanato, Pintura e Decoração, foram aceitas por
todos os pacientes e acompanhantes indígenas presentes na Casa de Apoio à Saúde Indígena
de Pernambuco (CASAI-PE), assim como o envolvimento de todos os profissionais desde a
articulação até a execução das ações. Segundo a Politica Nacional de Humanização o seu eixo
principal é o acolhimento, dessa forma, busca-se através desse trabalho atender melhor o
indígena portador de neoplasia, tanto o portador quanto a sua família, respeitar sua cultura,
sua crença e seus rituais, de forma que as demais unidades básicas de saúde possam ter acesso
e acolher cada vez melhor seu usuário e ajudar no processo de recuperação.

Limolaygo Toype na Prática da Intermedicalidade com os Indígenas Xukuru do


Ororubá - PE: Relato de Experiência

Jaqueline Cordeiro Lopes

Paula Layse da Silva

Valquíria Farias Bezerra Barbosa

A efetivação da saúde indígena no Brasil apresenta desafios significativos. Dentre eles,


fortalecer o processo da intermedicalidade, tida como um espaço que agrega os sistemas de
saberes biomédicos e tradicionais de cura (FERREIRA, 2013). Então, ao considerar os povos
tradicionais um grupo étnico com sua própria concepção de saúde e doença valorizar sua
cultura, crenças e tradições se torna indispensável (OLIVEIRA; ROSA, 2013). Tal peculiaridade
se acentua ao considerar a saúde mental dessa população (BATISTA, 2010). Desse modo,
ignorar o hibridismo desses sistemas em contexto interétnico, pode garantir insucesso nas
ações propostas pelas equipes de saúde indígena. A presente comunicação objetivou relatar
as experiências vivenciadas por discentes e docentes do curso de Bacharelado em
Enfermagem do IFPE Campus Pesqueira com relação a ao Projeto de Extensão realizado no
biênio 2017/2018. Para realização das atividades propostas ocorreu a integração com a equipe
multiprofissional de saúde indígena, através de visitas domiciliares, projetos terapêuticos
singulares, ações educacionais em saúde, oficinas de troca de saberes, grupos
psicoterapêuticos e biblioterapia com os indivíduos residentes no território Xukuru e estão
sob uso de psicotrópicos. O presente atuou na implementação de ações afirmativas com
ênfase nas práticas tradicionais indígenas de cura como estratégia de desmedicalização dos
sofrimentos psíquicos dos indígenas acompanhados pelo Polo Base Xukuru de Ororubá
localizado em Pesqueira - PE, de modo favorecer a prática da intermedicalidade. Assim, as
atividades desenvolvidas evidenciam a disposição para o auto cuidado por parte dos nativos
Xukuru do Ororubá. Os usuários em sua totalidade apresentam significativo empoderamento
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acerca das práticas tradicionais de cura, bem como, as realizam seu cotidiano, este fato é
habitual nas comunidades nativas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2013). A parceria
estabelecida com a equipe de saúde indígena mostra a sensibilidade da mesma, esse achado
corrobora com estudo de Gomes e Esperidão (2017). Todavia desafios para efetivação da
intermedicalidade ainda são encontrados. Tal processo é recomendado e norteado pela
Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas em suas diretrizes para efetivação
de uma saúde de qualidade para os povos nativos (BRASIL, 2002). Neste sentido, observa-se
os impactos positivos do projeto frente ao empoderamento tradicional, bem como suas
contribuições para o fortalecimento no processo da intermedicalidade no contexto da saúde
indígena da etnia Xukuru do Ororubá de Pernambuco.

Demografia indígena: contexto no Brasil, tendências e implicações para a


saúde

Gerson Marinho

Como reconhecido, os diversos segmentos populacionais estão expostos a diferentes modos


de adoecer e morrer, sendo atingidos com maior magnitude aqueles cujas condições
socioeconômicas são menos favoráveis. Para que tais impactos possam ser mensurados são
necessários dados representativos de todos os segmentos populacionais. No Brasil, a
disponibilidade de dados representativos para os indígenas vem aumentando, dentre outros
aspectos, motivada por reivindicações de movimentos sociais indígenas. Apesar disso, análises
demográficas ainda são insuficientes e não contemplam as mais de duas centenas de etnias
indígenas que representam menos de 0,5% da população brasileira. Um dos principais
desafios é a ausência de registros sistematizados ao longo do tempo, o que vem sendo
superado desde a inclusão da categoria “indígena” na pergunta sobre cor ou raça no
recenseamento populacional ocorrido em 1991, até a identificação de línguas e etnias
indígenas no último levantamento, realizado em 2010. Desde então, dados censitários se
tornaram fonte para a caracterização da população indígena residente no país. Apesar do
crescente interesse e aprofundamento das investigações censitárias nas últimas três décadas,
as medidas de austeridade impulsionadas pelo atual cenário político e econômico do Brasil
podem ameaçar a continuidade das investigações censitárias sobre segmentos populacionais
minoritários no próximo censo brasileiro.

Mortalidade entre os povos indígenas: análises com base nos sistemas de


informações oficiais

Gerson Luiz Marinho

1240
Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Nahari de Faria Marcos Terena

Os indicadores sobre mortalidade apresentam magnitude mais elevada entre os indígenas,


em especial a morte de crianças. Durante os últimos anos são perceptíveis mudanças
significativas na atenção à saúde indígena, como humanização e capacitação de agentes. A
sistematização de dados demográficos e epidemiológicos realizada por fontes
governamentais apresenta diversas características quanto à padronização de informações e
seu fluxo de organização. Este estudo apresenta avaliação e considerações sobre a
mortalidade em cinco etnias com os maiores contingentes populacionais a partir de três
fontes de dados oficiais. Foram descritos óbitos ocorridos entre os Guarani Kaiowá, Tikuna,
Terena, Kaingang e Yanomami registrados pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade
(SIM/MS), Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena (SIASI/SESAI) e o Banco
Multidimensional de Estatísticas (BME/IBGE). Todos os óbitos ocorreram no ano de 2010,
quando ocorreu o mais recente Censo Demográfico e no SIM foram considerados aqueles
classificados como cor ou raça “indígena” nos mesmos municípios indicados pelo SIASI. No
BME, a cor ou raça/etnia do responsável pelo domicílio foi atribuída ao falecido. Os
denominadores foram extraídos da população residente captada pelo Censo 2010. Em 2010
foram registrados 827 óbitos no censo, 884 no SIASI e 878 no SIM. A maior frequência de
mortes ocorreu entre os Guarani Kaiowá (29,2% SIASI e 34,9% Censo). De acordo com o SIM,
os óbitos ocorreram em 68 municípios (17 no Norte, 30 no Sul e 21 no Centro Oeste). O
município de São Gabriel da Cachoeira apresentou 85 óbitos no SIASI e 214 no SIM. As maiores
diferenças nas taxas brutas foram observadas para os Yanomami e Terena. Municípios
específicos apresentaram diferenças ainda mais expressivas entre as etnias, sendo aqueles da
região Sul, mais equivalentes. O grau de facilidade e rapidez na obtenção dos dados, o trato,
formatação do arquivo, permissão para acesso e compreensão das informações, ainda
ocorrem de maneira precária e prejudicial, acentuada quando o público de interesse é
predominantemente rural, sem acesso à internet ou instrução sobre a Lei de Acesso à
Informação. Dentre as fontes oficiais, apenas a SESAI não disponibiliza online os microdados.
Com exceção dos Yanomami, o Censo contabilizou maior número de óbitos para todas as
etnias. Informações acerca de estatísticas vitais podem se apresentar de modo bastante
distinto a depender da fonte oficial utilizada, ainda que estas sejam geridas por órgãos
governamentais.

Municipalização da atenção à saúde indígena: um debate urgente

Herika de Arruda Mauricio


Maria de Lourdes Ribeiro
Rafael da Silveira Moreira
Thatiana Regina Fávaro
1241
Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Em pouco mais de 100 anos, a organização da atenção à saúde indígena no Brasil esteve sob
a gestão de 4 diferentes instituições governamentais. Em 1910, o Serviço de Proteção ao Índio
– SPI assumiu a sua responsabilidade. Abordada de forma incipiente ao longo dos 57 anos de
atuação do órgão, a saúde indígena foi repassada em 1967 para a Fundação Nacional do Índio
– FUNAI (BRITO; LIMA, 2013). Com atuação esporádica nas comunidades indígenas, agravada
pela crise financeira do Estado brasileiro na década de 70, sua responsabilidade foi transferida
em 1991 para a Fundação Nacional de Saúde – FUNASA com a atribuição de implementar um
novo modelo de atenção à saúde indígena baseado na estratégia de Distritos Sanitários
Especiais Indígenas a partir da Lei Arouca (Lei n° 9.836/99) (BRASIL, 2002). Depois de anos de
críticas por parte dos povos indígenas aos serviços prestados pela FUNASA, foi criada a
Secretaria Especial de Saúde Indígena - SESAI em 2010, e o Ministério da Saúde passou a
gerenciar diretamente a atenção à saúde dos 225 povos indígenas que vivem no País (BRASIL,
2010; FERREIRA; PORTILLO; NASCIMENTO, 2013). A execução do modelo de atenção primária
à saúde se dá por meio de convênios da SESAI com entidades não-governamentais (GARNELO,
2012). Uma questão que permeia a gestão da saúde indígena em diferentes instituições é o
debate em torno da municipalização dos seus serviços. Respaldada pelo princípio da
descentralização constituinte do Sistema Único de Saúde - SUS, que preconiza o repasse da
execução das ações de saúde para as municipalidades (BRASIL, 1990), esta questão ganhou
força em 2016 quando foi publicada, e logo em seguida revogada, a Portaria n° 1.907/16 que
retirava a competência da SESAI na gestão da saúde indígena (BRASIL, 2016). Apesar da
intensa argumentação ocorrida no período, a gestão presidencial iniciada no ano de 2019
sinaliza retomar a questão, fazendo deste um debate urgente. A execução da assistência à
saúde para os indígenas pelo governo federal é uma conquista histórica do movimento de
apoio à causa indígena. O preconceito e a hostilidade contra os indígenas costumam se
expressar de forma mais aguda nos territórios municipais, onde tensões e disputas entre
índios e não índios eclodem de forma aberta e cotidiana. No caso da saúde, uma forma de
salvaguardar os direitos indígenas é manter a prestação das ações de saúde no âmbito do
próprio Ministério da Saúde (GARNELO, 2012). Diante desse cenário, propõe-se realizar uma
análise crítica com base em elementos históricos/bibliográficos disponíveis sobre a luta por
políticas de proteção aos direitos indígenas, de modo a compreender como a atenção
diferenciada à saúde, que envolve o respeito às identidades e singularidades das minorias
étnicas, está inserida nesse processo.

Os dados da implementação do Incentivo para Atenção Especializada aos


Povos Indígenas

Élida Maria Rodrigues de Moraes


Irizan Silva
Alexandra Galvão de Oliveira Japiassu
1242
Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Zaira Zambelli Taveira


Roberta Aguiar Cerri Reis

O Incentivo para a Atenção Especializada aos Povos Indígenas (IAE-PI) convoca a Rede SUS, no
âmbito da Média e Alta Complexidade (MAC), a aprimorar e qualificar as práticas de cuidado
aos povos indígenas em consonância com as diretrizes da Política Nacional de Atenção à Saúde
dos Povos Indígenas (PNASPI), propiciando uma atenção diferenciada para os 305 povos
indígenas do Brasil. A Portaria nº 2.663/2017 redefiniu os critérios para o repasse do IAE-PI.
Planos de Ações e Metas (PMA) deveriam ser elaborados conjuntamente pelo
estabelecimento de saúde e pelos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI), os principais
objetivos do PMA para atender as especificidades culturais, epidemiológicas e operacionais
articuladas aos saberes tradicionais indígenas contemplam: intérpretes, dieta especial;
ambiência; cuidadores tradicionais; protocolos clínicos; acesso diferenciado aos indígenas de
recente contato; plano de cuidado; instâncias de avaliação; educação permanente; atenção
em territórios indígenas; ambulatórios especializados, projetos de pesquisa, extensão e
telessaúde em saúde indígena. No primeiro semestre de 2018, foram realizadas seis oficinas
regionais para qualificação dos apoiadores dos DSEI, representantes dos Conselhos Distritais
de Saúde Indígena (CONDSI) e técnicos da Casa de Saúde Indígena (CASAI) para atuarem na
articulação com os estabelecimentos para habilitação ao IAE-PI. Nos meses de agosto e
setembro de 2018 foram realizadas visitas técnicas para o monitoramento dos PMA com o
objetivo de elaborar um plano de acompanhamento avaliativo para o cumprimento dos
objetivos. Foram envolvidas as secretarias municipais de saúde, polos bases, DSEI, lideranças
indígenas, controle social, Fundação Nacional do Índio, direção e equipe dos estabelecimentos
de saúde e representantes das regionais de saúde. Após análise técnica os PMA são aprovados
com ou sem ressalvas ou restituídos aos DSEI por inadequação aos critérios da referida
Portaria. Em 2018, 19 DSEI enviaram 89 PMA. Desses, 55 foram aprovados e 34 devolvidos
para readequação. Os principais desafios dos estabelecimentos de saúde para habilitação são
o atendimento aos critérios de: cadastramento no CNES do serviço 152-005 (Atenção
Especializada à Saúde Indígena); alimentação dos bancos de dados do Sistema de Informação
Ambulatorial (SIA) e Sistema de Informação Hospitalar (SIH) com o recorte raça/ cor indígena.

Saúde e adoecimento: a perspectiva Guarani Kaiowá

Joao Vitor Rodrigues Leite de Paiva

Islândia de Sousa Carvalho

1243
Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Com a instituição da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (PNASPI) em
2002, surgiu a necessidade da existência de um modelo complementar e diferenciado de
organização dos serviços de saúde que pudesse assegurar aos indígenas o exercício de seus
direitos, sendo criada uma rede de serviços nas terras indígenas, com a finalidade de suprir as
deficiências de cobertura, acesso e aceitabilidade do SUS pelos indígenas (BRASIL, 2009).
Apesar do reconhecimento institucional sobre as questões relacionadas à saúde indígena –
Constituição Federal de 1988, Lei 8.080/90 e Lei Arouca/99 - as intervenções em saúde
ofertadas no SUS e no SasiSUS a essa população ainda se baseiam em uma lógica orientada
por concepções de saúde e doença relacionadas a uma racionalidade em saúde biomédica,
com fortes características europeias, hierarquizadas e autoritárias, que desqualificam e
subalternam saberes e práticas locais (LACERDA, 2013). Ao tentar definir e tratar a saúde de
forma científica, esse modelo limita-se a olhar, na maioria das vezes, apenas o corpo biológico
e acaba por não considerar conhecimentos tidos como não sistematizados (CZERESNIA;
MACIEl; OVIEDO, 2013), menosprezando a pluralidade de experiências e visões de mundo
próprias de sociedades étnica e culturalmente diversas, como as indígenas, que a partir de
suas vivências trazem diferentes compreensões sobre os processos de adoecimento,
percepções de saúde e técnicas de cura, bem como a importância das relações sociais e com
o meio para manutenção do estado de saúde. Dessa forma entendendo a multiplicidade
étnica existente no Brasil, o trabalho em desenvolvimento, visa compreender os significados
de saúde e adoecimento trazidos pelos Guarani e Kaiowá localizados no município de
Amambai – MS, e a partir de suas falas, possibilitar (re)pensar políticas e ações em saúde mais
integradas e singulares que considerem as suas cosmovisões, respeitem seus direitos e
fortaleçam suas tradições como uma das formas de resistência diante do atual cenário político
e social. Este é um trabalho qualitativo e para a coleta dos dados, além das entrevistas semi-
estruturadas, será utilizado um diário de campo como parte do acervo de dados a serem
utilizados nas análises e como orientação pelo exame retrospectivo dos registros,
contribuindo para o melhor direcionamento das questões a serem abordadas em campo
(NOGUEIRA, 1977). A análise dos dados será baseada na Análise de Conteúdo de Bardin
realizada em três etapas: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos
resultados, inferência e interpretação (BARDIN, 2011).

Desafios no acesso à saúde do povo Guajajara em Brasília/DF na visão da


Unidade Básica de Saúde: uma experiência de estágio

Veridiana Silva Ramalho

Denise Osório

1244
Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

O presente trabalho trata dos resultados encontrados a partir da atividade pedagógica


realizada durante o Estágio Supervisionado em Saúde Coletiva em uma Terra Indígena no
Distrito Federal e sua Unidade Básica de Saúde (UBS) de referência. As normativas Lei Arouca
e Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas são grandes conquistas para os
indígenas, contudo só se aplica para indígenas que moram nas aldeias - indígenas aldeados.
Os que estão em território não demarcado são atendidos como qualquer outro usuário
Sistema Único de Saúde (SUS) na Atenção Básica. Mesmo com a oferta de serviços e ações
pelo SUS, alguns indígenas possuem dificuldade de acesso o que mantém a condição de
vulnerabilidade da população. Em uma conversa com a Comunidade Indígena essa questão foi
apresentada. Essa comunidade está situada a aproximadamente cinco km de distância da UBS
responsável. O povo de maior número era a Guajajara, então a ação foi pensada e discutida
com eles durante o estágio. Por outro lado, na UBS de referência a equipe da Estratégia de
Saúde da Família responsável pela área dos indígenas e por mais dez áreas, sendo estimado
5.500 pessoas, é composta por um Agente Comunitário de Saúde (ACS) de 40 horas. Se fosse
seguir o que a Política Nacional de Atenção Básica preconiza, deveriam ter oito ACS para essa
área de abrangência. Durante uma das nossas conversas com as indígenas Guajajaras, elas
apresentaram a situação de que a equipe da UBS não estava indo até a Comunidade e que
assim elas não tinham acesso à ações e serviços de saúde, pois a UBS é longe para elas irem a
pé, já que poucos possuem meio de transporte. Diante disso, foi buscada a visão da UBS para
essa dificuldade do acesso. Ao conversar com duas pessoas chaves da UBS algumas questões
foram apresentadas. A dificuldade de ir até lá sem carro da Secretaria de Saúde, a demanda
da área de abrangência para o tamanho da Equipe de ESF, a questão do paternalismo. Fora
isso, há questões envolvendo a oferta de serviços de saúde na UBS e no Território. O
preconceito de alguns servidores da UBS, o baixo comprometimento dos indígenas com as
consultas marcadas, a ausência de um local específico para a realização de exames e a falha
de comunicação. A questão da distância não tem muito a ser feito, mas as outras questões
podem ser trabalhadas como sensibilização dos funcionários da UBS e educação em saúde
para os indígenas.

Reconhecido as PICS na saúde indígena como alternativa ao SASISUS

Edinaldo dos Santos Rodrigues

Wilke Torres de Melo

Rafael Gonçalves de Santana e Silva

Maria das Mercês Oliveira

Keren-Hapuque Costa Xavier Lins

1245
Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

A Politica Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas PNASPI como sistema
complementar ao SUS vai completar 20 anos em agosto de 2019, tal política é e uma conquista
da luta dos povos indígenas por direitos fundamentais negados ao longo de séculos. E as
práticas tradicionais indígenas saber milenar é valioso instrumento na promoção de vida e
resistência dos povos tradicionais. No ano de 2018, em parceria com o Distrito Sanitário
Especial Indígena Pernambuco, realizamos oficina em cinco etnias, buscando acolher junto às
lideranças, detentores dos saberes e agentes indígenas de saúde as estratégias populares
desenvolvidas nos territórios. E junto com todos eles montar projetos para implementação
dessas ações nos programas de saúde desenvolvidos nas aldeias em parceria com os demais
profissionais. Como resultado elaboramos projetos nas cinco etnias que estão em
desenvolvimento e para citar alguns: Criação de hortas medicinais, uso de chás medicinais,
vivencias culturais, projetos de recuperação de espaços sagrados para rituais e inciativas
comunitário de esportes e lazer.

Tutela e Saúde: A forma e o discurso da ação médico-sanitária entre povos


indígenas no Brasil entre os anos de 1967 e 1988

Maria Gorete Gonçalves Selau

Esta comunicação analisa a política de atenção à saúde das populações indígenas no Brasil. O
período analisado está compreendido entre o ano de 1967 (ano de criação da Fundação
Nacional do Índio - FUNAI) e o ano de 1988. Compreende portanto o período que antecede às
transformações havidas na política, na gestão e nas práticas de atenção à vida e saúde das
populações indígenas do Brasil com a publicação da Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990.
Neste período, veremos que a assistência à saúde indígena é prestada pelo então órgão oficial
de “assistência ao índio”, a FUNAI, diretamente ou por meio de instituições governamentais
ou não governamentais a ela conveniadas. O texto está divido em quatro partes
complementares. Por considerar que a política indigenista mais geral tem repercussões sobre
a conceptualização da saúde da população, assim como sobre a atuação médico-sanitária em
áreas indígenas, nas duas primeiras partes realizo uma breve análise das duas diretrizes
básicas da política indigenista governamental no período, a saber, a perspectiva de integração
das populações indígenas na sociedade nacional e a prerrogativa de tutela da FUNAI sobre
elas, acrescido de dados e reflexões sobre a atuação do aparelho indigenista no contexto da
política desenvolvimentista implementada pelo Governo Federal. Na terceira e quarta partes
trato especificamente da política indigenista em relação à saúde das populações indígenas,
por meio da análise de documentos e relatórios disponíveis nos arquivos da Divisão de Saúde
e no Centro de Documentação da FUNAI em Brasília. A pesquisa documental foi realizada
entre os anos de 1990 e 1992, exato quando foi introduzida a ideia dos Distritos Sanitários
Especiais Indígenas (DSEI), aplicada de forma pioneira e inovadora para organizar e dar sentido
a ação médica e sanitária na Terra Indígena Yanomami. Estávamos as vésperas da II
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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Conferência Nacional de Saúde para os Povos Indígenas (1993), que confirma o modelo dos
DSEI como base operacional das ações no terreno. Entre as conclusões alcançadas na
investigação está a de que o modelo DSEI avança na configuração de um sistema de atenção
mais efetivo, transparente e participativo. Por outro lado, compreendemos que os problemas
de saúde não serão resolvidos com, simplesmente, a ampliação da rede de atenção médica.
Sem uma política de terras que leve em consideração as particularidades e as necessidades
das comunidades indígenas, acrescida do respeito as suas formas de organização social e
deliberação, a atuação médica corre o risco de atuar restrita ao âmbito da medicina curativa
e paliativa e, assim entendemos, como uma forma mais de controle e acomodação social.

O Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena em sua nova versão

Fernanda Borges Serpa

Zaira Zambeli Taveira

Kate Tomé de Sousa

Ana Beatriz de Miranda Vasconcelos e Almeida

O Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena foi lançado em 2000, um ano após a
Lei Arouca, - que criou o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SASISUS) - gerido, então,
pela Fundação Nacional de Saúde. Seu objetivo é municiar a gestão do Subsistema, em seus
níveis locais e nacional, de informações gerenciais para a avaliação das ações de atenção à
saúde dos povos indígenas, a partir de dados epidemiológicos e assistenciais. Sob a gestão da
Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), em 2013, foi lançada a última versão do SIASI
(4.0). Ela mantém a vinculação das informações ao indivíduo - principal característica do
Sistema -, e apresenta evoluções de modo a garantir a ampliação de registros dos serviços de
saúde ofertados pelas Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena, acompanhando o
indígena desde sua gestação ao seu falecimento. Essas inovações alteraram diretamente a
forma de captação dos dados e também seu registro, exigindo dos profissionais uma
perspectiva ampliada sobre o indivíduo e as coletividades. O SIASI apresenta duas
plataformas: uma offline, disponível nos pontos de digitação para inclusão das informações
básicas de atendimentos, chamada de SIASI Local (linguagem Java Swing e banco de dados
Postgres); e uma versão online, destinada à inclusão de informações de vigilância imediata e
geração de relatórios gerenciais, chamada SIASI Web (linguagem Java Script e banco de dados
Oracle). Conta-se atualmente com 7 módulos gerais de informações compartilhados entre
todos os indivíduos no Sistema: (1) dados pessoais, incluindo ausências (temporárias ou
permanentes) e migrações (mudança de uma comunidade para outra); (2) morbidades; (3)
Sinais e Sintomas; (4) Saúde Bucal; (5) Vigilância Alimentar e Nutricional, (6) Imunização, (7)
1247
Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Óbitos. Para o sexo feminino, acima de 8 anos de idade, há 4 módulos específicos: (8)
Gestação; (9) PCCU; (10) Aborto; e (11) Puerpério. Outros 7 módulos permitem inserção de
atividades coletivas: (12) Atendimentos de atenção básica; (13) Orientação/palestras; (14)
Distribuição de preservativos; (15) Visita domiciliar; (16) Atendimentos individuais e coletivos
de saúde bucal; (17) Monitoramento de doenças diarreicas agudas (SIASI Web); e (18)
Influenza SIASI Web. O presente trabalho espera descrever qualitativamente acerca das
características dos módulos do SIASI, apontando suas principais potencialidades, forças e
fraquezas, enfocando aspectos de funcionalidade e sua eficiência, fornecendo elementos para
construção de avaliações sobre o Sistema e direcionar ações de fomento à notificação de
eventos.

Análise dos registros das internações dos estabelecimentos de saúde que


recebiam Incentivos de Atenção Especializada aos Povos Indígenas - IAE-PI

Irizan Silva

A Secretaria Especial de Saúde Indígena - SESAI do Ministério da Saúde é responsável por


promover a saúde no âmbito da Atenção Primária dos povos indígenas em terras e territórios
indígenas. Os Estados, Municípios, outras instituições governamentais e não-governamentais
deverão atuar com a média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar e na
complementarmente no custeio e execução das ações. Realizamos o levantamento dos
estabelecimentos de saúde que registraram nos sistemas de informações do Sistema Único
de Saúde (SUS) o campo “raça/cor e etnia”, nas internações hospitalares, em todos os
estabelecimentos no Brasil, incluindo os que recebem Incentivos para Atenção Especializada
aos Povos Indígenas – IAE-PI. Realizamos o levantamento de dados em 02 etapas: (1)
Tabulação das informações de internações e consultas em todos os estabelecimentos de
saúde do Brasil que registraram o campo raça/cor e etnia, nos sistemas de informação do SUS,
disponíveis no DATASUS; (2) Análise dos registros de internações, identificando os
estabelecimentos que mais atenderam pacientes indígenas no Brasil, no período de 06 meses,
principalmente os estabelecimentos que recebiam IAE-PI. Realizamos pesquisa bibliográfica
sobre o tema financiamento do SUS em livros, artigos e manuais de diretrizes nacionais da
Secretaria de Atenção à Saúde (SAS), do Ministério da Saúde. No Brasil, a população indígena
representa 0,4% da população, fala 274 línguas, é composta por 305 etnias e vive em 80,5%
dos municípios brasileiros (IBGE, 2010). A incidência de internação no período de janeiro a
maio de 2017 a indígenas é recorrente em 503 estabelecimentos de saúde. Destes, 25
estabelecimentos se destacam por concentram maior incidência de internações a pacientes
indígenas, ou seja, um número significativo de estabelecimentos que atualmente recebem
IAE-PI, não faria jus ao incentivo devido à falta de registro nos sistemas de faturamento que
comprovem o atendimento a pacientes indígenas. Com base no estudo dos registros de
atendimentos a pacientes indígenas no Brasil, ficou constatado que os estabelecimentos que
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recebem IAE-PI realizam poucos registros de atendimentos a pacientes indígenas, enquanto


outros estabelecimentos que não recebem o incentivo, realizaram uma periodicidade de
registro de atendimentos, tal estudo apontou a necessidade da redistribuição do incentivo,
tendo como base o registro de atendimento como critério inicial.

Saúde da mulher?: o atendimento à saúde indígena em Porto Velho

Gicele Sucupira

Andrea Carvalho de Castro

Rosa Maria Moraes

Julenilza Karitiana

Este texto trata de uma pesquisa que tem a pretensão de reunir diferentes dados sobre o
atendimento à saúde das mulheres indígenas em Porto Velho a partir do acesso a informações
de diferentes ordens, na tentativa de apreensão dos seus diferentes pontos de vista ao
confronto com os fatos observados pelas pesquisadoras, de modo a estabelecer conexões e
comparações das situações etnografadas (MARCUS, 1995). Cabe salientar que a formação de
uma equipe diversa de indígenas e não indígenas, antropólogas e profissionais e estudantes
da saúde é uma escolha metodológica que visa aglutinar e pôr em diálogo diferentes olhares,
tão importantes para as pesquisas sobre saúde indígenas. A equipe da pesquisa é formada por
7 pesquisadoras indígenas e 2 não indígenas. A equipe de estudantes indígenas é formada por
7 estudantes de 4 etnias distintas (Karitiana, Kaxarari, Guarasugwe e Puruborá). As
pesquisadoras são estudantes dos cursos de enfermagem, fisioterapia, biologia, pedagogia,
educação intercultural e ciências sociais. São inúmeros os impasses manifestados nas
entrevistas e conversas com diferentes mulheres indígenas: a alimentação não diferenciada e
em desacordo com as enfermidades, a falta de diálogo e informação prestada, o preconceito,
a dificuldade em lidar com indígenas que vivem na cidade e principalmente, o fato das ações
relacionadas à reprodução se restringirem à uma mulher. Ou seja, a SESAI tem replicado
diversos programas federais no atendimento à saúde dos povos indígenas como Saúde da
Mulher, no qual a reprodução, o pré-natal e a contracepção são associadas apenas às
mulheres. Isso significa restringir apenas a estas a capacidade reprodutora e, por conseguinte,
insistir numa concepção ocidental sobre o corpo, reprodução e fertilidade que tem como
conclusão e pressuposto que há uma diferença entre homens e mulheres e esta parte de seus
corpos, como atentou Fabiana Maizza (2017). A saúde das mulheres pode ser afetada pela
ação de inúmeros seres e principalmente, por seus parceiros homens, tal como como as
mulheres podem afetar a saúde deste. Portanto, é importante salientar que se por um lado é
preciso ter o cuidado de não justapor fertilidade e reprodução e tampouco reduzir estas ao
1249
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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

domínio das mulheres, ainda é necessário atentar para o fato basilar de que o próprio corpo
das mulheres e dos homens muitas vezes não podem ser tidos como instâncias separadas das
relações que os produzem.

Panorama atual dos sistemas de informação e perfil de saúde e doença dos


povos indígenas no Brasil

Felipe Tavares

A informação sobre a saúde dos povos indígenas no Brasil sempre apresentou grandes
desafios, tanto na produção quanto no seu acesso e divulgação. Apesar de a epidemiologia
ter aperfeiçoado de forma significativa seu arsenal metodológico, principalmente acerca da
compreensão e entendimento do processo saúde-doença e dos fatores que interagem no seu
desenvolvimento, muitos obstáculos ainda precisam ser ultrapassados, especialmente o que
tange os sistemas de informação nacionais. Apesar da existência do Sistema de Informação da
Atenção a Saúde Indígena (SIASI), este ainda apresenta fragilidades, tais como falta de acesso
público aos dados, subnotificação de informações sobre morbimortalidade, entre outros.
Faltam dados oficiais de qualidade para delinear o perfil epidemiológico da saúde indígena do
país. Pesquisas científicas, muitas vezes realizadas de modo pontuais, tem sido as principais
fontes de informação acerca do processo de saúde e doença nos indígenas no Brasil. Assim, a
comunicação visa debater os avanços e desafios nos sistemas de informação e pesquisas
científicas nos últimos 20 anos e os impactos destas na geração de dados de qualidade do
perfil de saúde e doença de indígenas no Brasil.

ST 60 | Gênero, narrativas do viver e estratégias de subversão


Elaine Moreira (Universidade Federal de Roraima – UFRR e Universidade de Brasília – UnB, Brasil);
Sílvia Maria Ferreira Guimarães (Universidade de Brasília – UnB, Brasil).

Este simpósio pretende discutir a potência e criatividade na vida das mulheres indígenas quando essas
apresentam múltiplas formas de viver e estratégias de subversão a imposições colonizadoras de seus
corpos, mundos, territórios, pensamentos e ações. A proposta é compartilhar experiências diversas
sobre as maneiras de viver das mulheres indígenas e se fazer enquanto mulheres indígenas na contra
colonização.

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O corpo ameríndio como um problema para o Estado: micropeças de uma


etnografia kaiowá sobre os circuitos das políticas em saúde no Mato Grosso
do Sul

Diógenes Egídio Cariaga

No Mato do Grosso do Sul, as famílias kaiowá e guarani vivem, em sua maioria, em pequenas
porções terra reservadas pela política territorial republicana do SPI, instituída no início do
século XX. Tal processo intensificou as relações dos coletivos e lideranças kaiowá e guarani
com os poderes, saberes e tecnologias dos brancos (karai reko kuera) o que provocou intensas
transformações na vida social e política. Entre os mais expressivos está na produção, cuidado
e gestão dos corpos. Nesta apresentação pretendo enfocar situações e contextos nos quais a
diferença dos corpos kaiowá e guarani, em particular das mulheres, se torna um problema nas
relações com as políticas de Estado voltado para atenção à “saúde indígena”, realizada pelos
aparelhos e serviços de saúde localizados nas aldeias e foras delas. A adesão ou a recusa aos
procedimentos e atendimentos biomédicos por parte das famílias e lideranças kaiowá e
guarani de apontar para os regimes ameríndios de criatividade, estratégias e alianças
cosmopolíticas em contextos indígenas onde a presença dos saberes, poderes e tecnologias
dos brancos atravessam gerações.

Agencia, compromiso social y decolonialidad en escritoras étnicas de Chiapas

Sulma Pérez Jiménez

María Esther Pérez Pechá

La indagación se aborda desde una perspectiva multidisciplinaria que nos permite explicar las
desigualdades sociales, las relaciones de poder que determinan inclusiones o exclusiones. El
propósito de la investigación es describir la agencia que construyen las escritoras étnicas,
como labor literaria y extraliteraria, su orientación comprometida y decolonial en tres autoras
chiapanecas cuya característica principal es la lengua: zoque, tsotsil y tseltal. La agencia que
construyen las escritoras étnicas, es especial, por la propia complejidad del sujeto que la
ejerce, se expresa, por supuesto, hacia muchas direcciones; tanto objetivas como subjetivas.
Se considera que por medio de la literatura las escritoras van contribuyendo a dibujar un
nuevo rostro de la mujer étnica, también van recuperando una identidad cultural, por medio
de las artes, fundamentalmente es en el ejercicio de la creación literaria que están
comenzando a hablar por sí mismas. Por ello se pretende visibilizar las estructuras de poder
que van determinando el tipo de agencia que ellas crean. En este sentido, nos planteamos una
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serie de preguntas a partir de ésta: ¿Cómo construye la mujer étnica agencia a través de la
literatura en lenguas originarias? A esto se suman otras preguntas secundarias que
complementan la indagación, ¿Qué tipo de agencia realizan las escritoras en lenguas étnicas?
y ¿Cómo concierne la agencia que ellas producen en tanto su relación con su comunidad y las
resistencias decoloniales a nivel global? Se trabaja con tres escritoras provenientes de
diversas localidades y hablantes de diferentes lenguas, se seleccionaron tres idiomas, por
estar dentro de las lenguas étnicas más habladas en Chiapas. Metodología De acuerdo a la
definición de nuestro objeto de estudio y a la pequeña parte de la realidad que deseamos
investigar se ha optado por el enfoque cualitativo, a través de éste permitirá indagar la agencia
que producen las escritoras étnicas, así como comprender las experiencias de vida, las
prácticas y las subjetividades de las personas que le dan sentido a la realidad que se desea
estudiar. Para la indagación se establecieron dos modalidades que se irán alternando en el
proceso de construcción; la primera ruta es describir y establecer el contexto y marco teórico
de nuestro objeto de estudio, y la segunda es investigación de campo y procesar toda la
información recabada de las entrevistas para su posterior reflexión. Para la construcción del
objeto de estudio se necesitará como fuentes de información: la revisión y selección
documental, así como las entrevistas directas a los sujetos de estudio y la construcción de los
relatos de vida, para la consecutiva integración, análisis y reflexión de los datos obtenidos y la
realidad observada.

Ley Maria da Penha en lo contexto de los indígenas Warao

Jesus Desiderio Nunez Paredes


Bárbara Andressa de Souza Balieiro
Marcos Vinícius da Costa Lima
Maria do Socorro da Silva
Núlcia Odaleia Costa Azevado
Osmar Sifontes

Los indígenas Warao proceden de la región del Delta del Orinoco, principalmente de los
estados Delta Amacuro y Monagas, en Venezuela y desde 2014 han emprendido emigraciones
para Brasil. Con el agravamiento del cuadro político y económico en Venezuela, el flujo
aumentó. Los indígenas comenzaron a instalarse en ciudades del estado de Roraima, en
especial Boa Vista, pero luego se esparcieron en otros estados de la región Norte de Brasil,
como Amazonas y en 2017 llegaron a Pará, donde están presentes en las ciudades de Belém y
Santarém. Los niños, jóvenes y adultos del pueblo Warao fueron identificados en los
logradouros de las ciudades citadas en situación de gran vulnerabilidad social, sometiéndose
a la condición de "pedintes" de ayudas económicas y alimenticias lo que resultó en la acción
del Ministerio Público Federal (MPF) orientando y en el marco de las notificaciones del MPF,

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el Gobierno del Estado, a través de la Secretaría de Estado de Asistencia Social, Trabajo,


Empleo y Renta - SEASTER, proporcionó el arrendamiento de bienes y servicios. Un
contingente de indígenas en un refugio y comenzó a desarrollar algunas acciones en
asociación con otras instituciones de la esfera estatal, municipal, federal y organizaciones no
gubernamentales. Desde el punto de vista de la educación, la SEDUC por medio de la CEJA y
CEEIND crearon el Proyecto Saberes de la EJA Indígena Warao que busca proporcionar el
proceso de alfabetización y letramento, además de promover acciones de calificación
profesional con acciones pedagógicas orientadas por el principio de la interculturalidad,
basilar en la educación escolar indígena, respetando la diversidad cultural en el proceso de
enseñanza aprendizaje. Por que es inportante a ley maria da pena? Por que los indigena warao
entendem que esta ley proteje el derecho libre de todas las mujeres no a la violencia anivel
mundial. Los warao que viven en la ciuda de belen no brasil, nem todos conocen esta ley por
esto motivo questo projeto fue desenvolvido, para enseñar los respeto los valores mutuos a
nuestros sociedad warao. Los warao em aquella época de los ancestros vivian de forma
esclabisada, alli comandaban los casique de la comunida, los casique se divide em tres
autoridades que son: cobenajoro/gobernador, wisikari/alcalde, motu /arotu, amarrador y em
hoy em dia los warao son civilizada atravez de la educacion, vivendo con reglas especialmente
neste contexto atual como imigrantes tenemos que seguir y respetar la ley de outro paiz, del
brasil.

Estupro como violência genocida contra mulheres indígenas no Brasil

Brisa Libardi de Souza

A recente jurisprudência de tribunais internacionais quanto ao reconhecimento do estupro


como crime de guerra e da sua utilização como ferramenta para a prática do genocídio,
embora sejam importantes para ampliação da proteção aos direitos humanos das mulheres,
se mostram insuficientes para combater as “novas formas de guerra” (SEGATO, 2014)
praticadas sobre o corpo das mulheres, sobretudo, das “mulheres de cor” (LUGONES, 2008),
dentre elas as mulheres indígenas, que resistem ao longo processo histórico de dominação
colonial que se perpetua ainda hoje. Existem novos cenários de guerra, caracterizados pela
atuação de forças estatais ou paraestatais, as quais promovem crimes de guerra e cuja
violência incide contra pobres, excluídos e populações não brancas na América Latina, entre
as quais os povos indígenas são inseridos (SEGATO, 2014). Tal contexto de guerra é marcado
pela ideia de existência de suposta superioridade/inferioridade entre os povos, que se
perpetua desde a ocupação e colonização europeia nas Américas e cria novas relações sociais
de exploração e de poder contra aqueles que não se enquadram no modelo eurocêntrico de
ser humano (MALDONADO-TORRES, 2007; MARQUES, 2016; QUIJANO, 2007; SEGATO, 2013).
No Brasil, o estupro praticado contra mulheres indígenas nestes “cenários de guerra” – não
declarada, mas vivenciada diuturnamente pelos povos indígenas que resistem ao genocídio –
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segue invisibilizado, embora as mulheres indígenas estejam se organizando para denunciar e


combater a prática. A presente comunicação tem por objetivo discutir o estupro contra
mulheres indígenas no Brasil – em situações de conflitos por disputas territoriais, decorrentes
da implantação de grandes projetos, entre outras situações – a fim de verificar se o mesmo
pode ser caracterizado como ferramenta de genocídio contra povos indígenas. Analisa-se
documentos produzidos por mulheres indígenas para denunciar e combater a violência sexual,
por instituições estatais, organizações governamentais, entre outras; e/ou como produto de
conferências, reuniões, dentre outros. A investigação é complementada pela seleção e análise
da jurisprudência dos tribunais internacionais a respeito do estupro como arma de guerra e
como violência genocida.

Saberes tradicionais Ticuna: corpo, doenças e práticas de cura

José Fernandes Mendonça


Marília Lopes da Costa Facó Soares

Focalizamos aqui nossos resultados de investigação sobre as visões Ticuna do corpo humano,
das doenças e dos medicamentos, com inclusão do HIV/AIDS, da tuberculose e da malária.
Consideramos os dados/ materiais obtidos a partir de trabalho de campo realizado, durante o
ano de 2017, em duas comunidades indígenas Ticuna situadas em dois municípios diferentes
do estado do Amazonas: a comunidade de Vila Betânia, no município de Santo Antônio de
Içá/AM; e a comunidade de Nova Filadélfia, no município de Benjamin Constant. A perspectiva
considerada neste trabalho é a de um diálogo intercultural e interdisciplinar, que toma por
central a linguagem e se dá sob um viés comparativo. Como nosso trabalho toma a linguagem
como central, sua contribuição para pesquisas e aplicações na área de saúde podem ser
grandes, porque é por meio da linguagem que trazemos as visões Ticuna do corpo humano,
das doenças e dos medicamentos – a mesma linguagem que será preciso observar para que
haja sucesso em ações preventivas em saúde. Por ser a linguagem central em nossa
investigação, lidamos com várias entrevistas, tornando claro o ponto de vista Ticuna sobre o
corpo humano, as doenças e os medicamentos e, ainda, considerando as estratégias
linguísticas empregadas para falar (ou não falar) de determinadas doenças em Ticuna,
sobretudo aquelas que são transmissíveis. Ao mesmo tempo, lançamos mão de dados
secundários constantes do Censo Demográfico do IBGE referentes aos aspectos populacionais
e demográficos da cidade (Brasil, 2000 a 2015) e nos apoiamos, igualmente, em metodologias
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística que integram os aspectos de saúde pública.
As pesquisas por meio de estudos retrospectivos e prospectivos de dados de saúde pública
também são importantes para o nosso trabalho, situado em um quadro de diálogo
interdisciplinar. Assim, além da epidemiologia aplicada à saúde pública (sobretudo à saúde
indígena), levamos em conta métodos das ciências humanas, principalmente aqueles da
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Linguística e da Antropologia, com atenção às Línguas Indígenas. Nossos resultados incluem,


entre outros, um glossário que, estando em progresso, é uma ponte importante em termos
de um diálogo intercultural para ações em saúde e educação; e revelam que o corpo físico e
social é parte importante de uma busca de equilíbrio mais geral.

"Ikuâni" O Corpo da Ancestralidade

Regina Cláudia Morais de Souza

O trabalho cênico e teórico “Ikuãni” O Corpo da Ancestralidade, trata da decodificação da


movimentação cotidiana da mulher Huni kuin. A linguagem do corpo em movimento durante
seus afazeres e sua organização estética, coreográfica e ritualística, além do canto, ocupam
um lugar fundamental no desempenho do ritual das tradições indígenas da mulher ancestral,
é o objeto de pesquisa profunda neste trabalho. A mulher Huni kuin e o seu ritual de entrega
ao amanhecer, ao seu mundo ao seu povo e sua espiritualidade, toda a sua movimentação
contribui para explorar a ideia de contemporaneidade constituindo performances cênicas
esteticamente estruturadas incluindo além, do teatro, outras linguagens como música, a
dança, as artes plásticas. O estado do ser se funde ao estado do corpo, da mente, capaz de
ficar horas na mesma posição, com uma resistência física incrível. O trabalho se desenvolveu
a partir das observações e vivências realizadas nas aldeias com as mulheres, resultando na
criação de “Ikuãni” uma personagem que vive todas as tradições de seu povo e vivencia todas
as mudanças com a chegada dos invasores brancos, levando Ikuãni para outro mundo,
transformando – a e fazendo com que seu Yuxin “saltem dos olhos, “sem yuxin, todas as coisas
tornam-se pó, somente casca vazia. Você toca nelas e elas se dissolvem e então você vê nada
mais que cinzas, pó” (Antônio Pinheiro, Kaxinawa) Na pesquisa sobre a movimentação
cotidiana da mulher Huni Kuin, descobriu-se que quase tudo é dança, a ação e a expressão
corporal tomam a cena, o "meio torna-se a mensagem" mas é, ao mesmo tempo, o agente
transformador, tudo tem um significado, tem um sentido, fazer o fogo pela manhã, por
exemplo, é ritual e tem um “sagrado” ali, tem um Yuxibu, e é essa performance que é
mostrado em Ikuãni, em uma dança que repete e repete cotidianamente em um tempo que
não é esse que as mulheres comum costumam usar, não se corre, não se pensa no que vai
fazer com preocupação porém, se sente. Nesse trabalho o elemento humano é fundamental,
a sensibilidade dessa mulher é mostrada a flor da pele, uma pele cheia de kenes como uma
Yube “Jiboia” o desenho contém o mundo, cada kene na sua pele pode se abrir e mostrar a
porta para novas formas. Pesquisa realizada com o povo Huni Kuin situado as margens do rio
Jordão e rio Tarauacá do Estado do Acre.

A repolitização do movimento indígena no Brasil e as mulheres como sujeitos


coletivos de direito
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Maria Judite da Silva Ballério Guajajara

Pode-se tomar o movimento indígena do Brasil como exemplo de uma ideia de “repolitização
dos movimentos sociais” (SOUSA JÚNIOR, 2015) enquanto característica de mudança em suas
formas de organização e mobilização, da mudança dos sujeitos coletivos de direito e de suas
lutas e pautas de reivindicação. Assim, busca-se revelar neste resumo uma proposta de artigo
cujo objetivo principal é lançar uma análise reflexiva sobre a atuação das mulheres indígenas
do Brasil enquanto categoria dos supraditos grupos de sujeito. Os povos indígenas brasileiros,
tais quais suas reivindicações, nunca foram colocados simplesmente pela preocupação Estatal
de pautá-los, mas por largos e dolorosos processos de luta. O Brasil vive um retrocesso no
tocante ao reconhecimento, garantia e proteção dos direitos indigenistas, onde tem-se
relativizado a constituição. São violações de direitos e violências pouco divulgados na mídia
oficial, que fomentam a imprescindibilidade de resistência e enfrentamento desses povos. “A
mídia empresarial foi largamente usada na tentativa de desqualificar as demarcações das
terras indígenas no país. Com o ataque midiático, seus patrocinadores, as corporações
empresariais, de capital nacional e internacional, buscam legitimar e justificar
ideologicamente o ataque contra os direitos dos povos indígenas” (CIMI, 2018, p. 13).
Reflexos de uma realidade de insegurança jurídica, em que as mulheres indígenas se somam
enquanto detentoras de conhecimentos e práticas essenciais para facear os desafios postos
aos povos indígenas e igualmente dispõem de artifícios para demandar as suas garantias
coletivas e individuais. Se organizam para fazer frente aos impactos “promovidos pela ação do
Estado e das sociedades não indígenas” (SACCHI, 2003, p. 99), lutando pela sobrevivência de
suas comunidades ameaçadas por decisões políticas e jurídicas, principalmente. Apesar de
não ser recente a incidência do referido grupo nos processos políticos internos de suas
comunidades e povos, os debates acerca de suas organizações coletivas próprias, bem como
da discussão de demandas peculiares de seu gênero, são relativamente hodiernas. É nesse
contexto que se insere a progressiva atuação de mulheres indígenas dentro do movimento
indígena e na interlocução com o Estado em todas as suas esferas. O Brasil tem experienciado
um ciclo de avigoramento de lideranças e organizações de mulheres indígenas intervindo de
forma propositiva nos procedimentos de elaboração, acompanhamento e avaliação de
direitos e políticas públicas pertinentes aos povos indígenas. Concomitantemente tem sido
recorrente a construção espaços de proposições específicas dessa categoria no intuito de
pautar o fator relevante da adequação do sistema jurídico e político às suas especificidades
enquanto mulheres e indígenas. Trava-se a construção de um diálogo fundamental sob a
perspectiva de quê as culturas e as organizações indígenas são esferas políticas e pensar
mulheres indígenas, portanto, é pensar os diversos âmbitos indigenistas também sob uma
perspectiva de gênero. Tanto a mulher indígena quanto sua história não foram pensadas a
partir de suas próprias concepções, nem mesmo os povos indígenas puderam por muito serem
protagonistas de suas histórias, mas sim superincluídas em histórias “alheias”. Foram
historicamente definidas por olhares colonialistas, construídas como o outro do outro. O outro
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enquanto indígena e outro enquanto mulher. Ocupam um lugar moroso e fatigante na


sociedade por representarem uma coletividade antinômica da branca, da masculina e até da
feminina universal, pois mulheres são mulheres quando são brancas. De maneira
correlacionada também aos homens indígenas, pois apesar de indígenas são homens, mesmo
ainda estando abaixo de mulheres brancas na pirâmide social (RIBEIRO, 2017). São mulheres
para as quais a diversidade não tomada caracteriza-se em restrições que se traduzem
“manutenção da subalternização das mulheres indígenas, pois é uma prática universalizadora
que retira delas a condição de sujeitas coletivas capazes de dizer a sua realidade e o direito
para si próprias” (FONSECA, 2013, p. 187) e que quando confrontadas com a realidade que
envolve a relevância constitucional de debater sobre a inviabilização das identidades culturais
das mulheres indígenas perante o Estado brasileiro. Mulheres que por muito tiveram suas
histórias de resistência, sobrevivência, violência e luta invisibilizadas por um Estado ainda
arraigado sob os preceitos coloniais e que visa uma sociedade homogeneizada segundo os
padrões do eurocentrismo, agora assumem o protagonismo de sus histórias. Destaque-se que
sua incidência nos espaços políticos, de luta e resistência, bem como a reconfiguração das
estruturas de estratégias no contexto do atual movimento indígenas e nos espaços de poder
são formas de viabilizar suas reivindicações coletivas e individuais. Assim que, pensar
mulheres indígenas é justamente romper com a cisão criada numa sociedade desigual, logo é
pensar novos marcos civilizatórios para construir um novo modelo de sociedade, colocando
além de outros, as mulheres indígenas na condição de sujeitos e seres ativos dotados de um
histórico de resistências. É preciso evidenciar o plano de fundo da luta das mulheres indígenas
no Brasil, pois a gama de limitações e exclusões da agenda política que perdurou por muito
tempo, sempre partiu de perspectivas simplificadas e igualdade e visões universalizantes de
cidadania.

Memórias de Cândida Patté

Elaine Kosiclã Camlem Patté

No estudo visamos trazer as Memórias de Candida Patté. Candida Patté viveu de 1942 a 2017,
indígena pertence ao Povo da Etnia Xokleng/Laklãnõ da Terra Indígena Laklãnõ, localizado no
alto vale de Itajaí, município de José Boiteux-SC. Candida se dedicou a medicina tradicional
indígena, sendo parteira e também mulher guerreira pela luta da terra junto com seu povo.
Sendo neta de Candida, buscarei nesse estudo, registrar os ensinamentos a mim transmitidos
por ela, o estudo se faz necessário porque no presente as praticas da mulher parteira vem
sendo deixado em desuso junto ao povo indígena por conta das influencias da medicina não
indígena, o dito chamado conhecimento científico. Também buscamos trazer e registrar,

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tendo como ancora os ensinamentos de Candida no que se refere ao protagonismo da mulher


indígena Xokleng nos diferentes, no seio de sua família e como liderança indígena.

Revitalização da Medicina Tradicional Indígena pelo VII Encontro dos Kujàs: a


experiência com o protagonismo Kaingang

Rosa Maris Rosado

Nayara Imazu

Julia Landgraf

No cenário da saúde indígena pontos cruciais como o bem viver e cultura se entrelaçam e se
interdependem, sendo o direito de saúde uma atmosfera mais complexa para os povos
indígenas. Alguns dispositivos legais trazem a garantia de uma atenção à saúde diferenciada,
e o reconhecimento às práticas da Medicina Tradicional Indígena (MTI), entretanto ainda há
lacunas e entraves ocasionando emergência no processo entre MTI e as políticas públicas. O
presente trabalho traz a experiência do VII Encontro dos Kujàs como um exemplo de
revitalização e fortalecimento da MTI, objetivando a concretização do acesso aos seus
direitos. A pesquisa é um relato de experiência observacional e participante na Àrea Técnica
de Saúde dos Povos Indígenas, da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, no VII
Encontro dos Kujàs, uma ação organizada exclusivamente por indígenas Kaingang. Os
principais resultados mostram a importância que o evento traz na revitalização da identidade
cultural dos kaingang. É o momento em que os kaingang cantam, dançam, comem comidas da
culinária tradicional, fazem remédios do mato e exercitam práticas espirituais para curar seus
corpos e espíritos. A participação de várias aldeias e a presença dos protagonistas da MTI
Kaingang proporciona o reencontro entre parentes, e o desejo de compartilhar os
conhecimentos milenares das práticas tradicionais. É percebida também a preocupação
quanto aos jovens estudantes acerca da garantia de seus direitos, e criação de estratégias
coletivas para efetivação dos mesmos. Conclui-se que a articulação entre as medicinas e as
políticas públicas é um processo longo a ser construído, é necessário que a diversidade cultural
seja tanto compreendida, como respeitada por profissionais e gestores. Assim, facilita-se a
efetivação de políticas já existentes, e criação de outras que contemplem a interlocução dos
diferentes modos de cuidado.

As Cacicas Kaxarari da Amazônia Brasileira: tradição x empoderamento


feminino

Hellen Virginia da Silva Alves


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Larissa Zuim Matarésio

Edissandra Toscando de Souza

Maria das Graças Silva Nascimento e Silva

Esta comunicacão investiga a trajetória das cacicas da Terra Indígena Kaxarari, localizada na
fronteira dos estados do Amazonas e Rondônia, em área próxima aos municípios de Lábrea,
Porto Velho e Extrema. Através de pesquisa de campo realizada no mês de novembro de 2018,
onde foram coletados através de entrevistas, rodas de conversa e observação participante foi
possível constatar a existência de três cacicas que respondem respectivamente pela liderança
formal de três aldeias. Porém o processo de chegada dessas mulheres ao cacicado não se deu
através de eleições diretas (como ocorre em alguns povos) e sim através das tradições
familiares. As cacicas Kaxarari herdaram o cacicado de seus pais ou maridos, ou seja, de
lideranças masculinas com vínculo de parentesco. Constatou-se também que os critérios que
levaram à escolha de mulheres para a sucessão de homens em relação ao cacicado estão
relacionados ao interesse da manutenção da liderança de determinadas famílias e com a
impossibilidade de continuação da atuação política dos homens, seja por motivos
relacionados às doenças ou às atividades profissionais, bem como com a insuficiência ou
ausência de interesse e disposição de outros homens (geralmente filhos) em assumir o
cacicado. Sendo assim, a nomeação das mulheres foi a alternativa encontrada para assegurar
que a tradição da liderança da aldeia continuasse sob um mesmo núcleo familiar. Constatou-
se ainda que as cacicas Kaxarari pretendem repassar o cacicado para a filha ou filho com mais
disposição para liderança e dessa forma não há a expectativa de uma sucessão exclusivamente
feminina. E um primeiro olhar as cacicas Kaxarari parecem ser um exemplo de
representatividade política feminina e empoderamento, mas a pesquisa de campo foi
fundamental para o despertar de novos olhares e indagações: “As cacicas Kaxarari são de fato
a representatividade política das mulheres do povo? Seriam lideranças femininas
empoderadas? De que forma elas demarcam sua atuação? Caso houvessem homens dispostos
a herdar o cacicado, haveria a escolha de lideranças femininas? As cacicas teriam total
autonomia no processo de tomada de decisões ou sofreriam influência de seus antecessores?
As cacicas da Terra Indígena Kaxarari reconhecem e lutam pela defesa dos direitos e pelas
demandas femininas?”. Com o apoio dos homens, as cacicas Kaxarari participam de encontros
de formação e manifestações políticas dentro e fora de suas aldeias, onde a pressão social se
intensifica, exigindo coesão e representatividade, motivo pelo qual é fundamental que as
demais mulheres Kaxarari sintam-se representadas por suas lideranças e que estas sejam
capazes de lutar pela garantia dos direitos e atendimento das demandas das mulheres do
coletivo.

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Mulheres Jenipapo-Kanindé: uma abordagem sobre as relações de gênero no


contexto étnico

Regilene Alves Vieira

O povo indígena Jenipapo-Kanindé reside na aldeia Lagoa Encantada, no Município de Aquiraz,


região metropolitana de Fortaleza. É um dos 14 povos indígenas no estado do Ceará
reconhecidos pela FUNAI e ainda, estão entre os grupos pioneiros na reelaboração e
reivindicação da sua identidade étnica desde a década de 80. Importante destacar que este
povo, diferente dos demais na região, tem como liderança política uma mulher conhecida por
Cacique Pequena (Maria de Lourdes da Conceição Alves). Ela lidera a luta pela demarcação do
território, participa do movimento indígena e caracteriza-se por ser uma importante liderança
nas emergências étnicas no estado. Além dela, outras mulheres do grupo ocupam posições de
poder e estão organizadas por meio da Associação de Mulheres Indígenas Jenipapo-Kanindé
(AMJK) criada em 2002. Dito isso, o trabalho objetiva compreender a trajetória de vida de
Cacique Pequena e como sua trajetória está articulada as posições de poder por parte de
outras mulheres na aldeia, pretende-se com isso apontar caminhos para entender as relações
de gênero no contexto étnico do povo Jenipapo-Kanindé. Nesse sentido, a metodologia
utilizada é de cunho etnográfico, seguida do trabalho de campo e observação-participante em
que parto de uma perspectiva antropológica feminista e decolonial que me oferece chaves de
leitura para entender a realidade proposta.

A emergência de um feminismo indígena mexicano a partir da experiência


Zapatista

Gabriela André

Os movimentos feministas, ao redor do mundo, com toda sua diversidade de reflexões e


práticas se converteram em um dos paradigmas transformadores do pensamento e dos
comportamentos sociais e políticos. As lutas das mulheres mexicanas, por exemplo, foram
construídas ao longo do século XX e nasceram, sobretudo, das manifestações individuais e
coletivas do século XIX. No entanto, é notório que ao longo da trajetória feminista no país, a
mulher indígena, ainda que representasse parcela considerável da população, permaneceu
invisível em quase todo o processo. Nesse sentido, a presente investigação pretende refletir
sobre o papel da estratégia zapatista que resiste ao discurso dominante e se apresenta como
uma nova forma de visibilidade de uma parcela marginalizada da sociedade mexicana, quando
em 1994, ao mesmo tempo em que declara guerra ao estado Mexicano, o Exército Zapatista
de Libertação Nacional (EZLN), surge como um catalisador na criação de espaços de reflexão
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de mulheres indígenas. A hipótese sugerida para pesquisa surge da tentativa de aproximação


de diversas frentes de mulheres indígenas que lutavam em nível regional pelos seus direitos,
com a intenção de promover espaços de diálogo entre as mulheres zapatistas de Chiapas com
vistas ao fortalecimento de um movimento próprio que pudesse fazer frente ao governo
mexicano, à sociedade civil e à comunidade indígena. Nesse sentido, a produção de textos e
documentos reivindicatórios revelam o esforço de construção de uma pauta unificada pelas
mulheres indígenas mexicanas. Como metodologia adotada para pesquisa, foram analisados
os discursos e reinvindicações de ambos zapatistas e mulheres de Chiapas em relação ao
feminino. Assim como os discursos dascomandantes zapatistas, o conceito de
interseccionalidade, originalmente introduzido por Kimberlé Crenshaw (1989; 1991), destaca
as limitações do gênero como a única categoria que define a desigualdade manifestada na
sociedade. Segundo Kimberlé, a ideia de interseccionalidade refere- se à relação das múltiplas
dimensões das diferenças estabelecidas e das formas de opressão à identidade social da
pessoa. Ou seja, a categorização de mulheres baseadas apenas as relações de gêneros que
compartilham não se sustentam por si só (RILEY, 1988). Ao tratarmos das indígenas zapatistas
é evidente a insuficiência da categoria mulher ao representar algo comum as estas mulheres
(BUTLER, 1990). A tripla marginalização das mulheres zapatistas, sendo elas a gênero, etnia e
classe social, não se justifica apenas à opressão múltipla, mas também a essa fluidez das
categorias e seus limites.

Feminismos e mulheres indígenas na América Latina e Caribe

Mariana Wiecko Volkmer de Castilho

Ana Paula Sabino

A presente comunicação oral está ancorada no tema de pesquisa de doutorado em Ciências


Sociais, no Departamento de Estudos Latino Americanos, da Universidade de Brasília – UnB,
que trata de pensar a segurança e soberania alimentar na perspectiva de mulheres indígenas
no Brasil e no México. A comunicação oral debaterá os diversos feminismos comunitários
indígenas na América Latina e Caribe e como essa discussão tem sido apropriada pelas
mulheres indígenas no Brasil. Para elaboração do artigo serão tomadas como referência
pensadoras indígenas e não indígenas, dentre as quais Julieta Paredes (indígena da Bolívia);
Lorena Cabnal (indígena da Guatemala); Rita Segato; Francesca Gargallo. Além disso, serão
realizadas entrevistas com mulheres indígenas, no Brasil, estejam elas na Universidade, nas
aldeias e/ou nos movimentos indígenas. EsperaTse que o artigo e o debate oriundo da
comunicação oral tragam subsídios para aprofundar a elaboração da tese.

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Participação Política, Sociedades Tradicionais, Colonialidade e Gênero

Cláudia Maria Guimarães Lopes de Castro

As conferências de saúde indígenas são espaços de expressão da participação social, possuem


o objetivo de reunir os vários atores sociais envolvidos nas questões da saúde indígena
(indígenas, trabalhadores de saúde, governo e ONGs). Temos por objetivos: analisar as
propostas aprovadas nas Conferências Nacionais de Saúde Indígena Brasileira referente à
participação das mulheres indígenas no controle social e verificar se as propostas referentes
às demandas das mulheres indígenas problematiza a categoria gênero em sociedades
tradicionais a partir da noção Colonialidade do Poder/Ser. Como procedimento metodológico
foram analisados os relatórios finais das Conferências Nacionais do período de 1986 a 2015,
identificando e problematizando as propostas que trataram de gênero. A questão do poder é
central nessa discussão, pois as interações sociais são cravejadas de poder; esse poder não é
uno, ele encontra-se difuso nas relações sociais, portanto nas relações de gênero. Concluímos
que as conferências ainda são majoritariamente um espaço masculino, onde a presença de
mulheres, apesar de ter aumentado na ultima década, ainda é pequena, e grande parte de
suas reinvidicações enquanto especificidade da mulher indígena, ainda não foi muito menos
visibilizada como propostas aprovadas nas conferências.

Mulheres indígenas, territórios fluviais e mobilizações etnopolíticas: A


participação feminina na constituição do SINDPESCA/Tabatinga

Dime Alexandre Londono Gomes

Ildete Freitas Oliveira

Apresentamos e discutimos o papel etnopolítico desempenhado pelas mulheres indígenas no


Sindicato dos Pescadores e das Pescadoras Artesanais de Tabatinga/SINDPESCA, que
contribuem para as mobilizações que este grupo social necessita realizar. O cenário para o
estabelecimento dessa instituição que visa organizar as trabalhadoras e os trabalhadores da
pesca, é a mesorregião do Alto Solimões, no estado do Amazonas, na tríplice fronteira, Brasil,
Colômbia e Peru. Região brasileira de maior concentração de povos autóctones (FERRARINI,
2013). O rio Solimões e seus afluentes é o território (RAPOZO, 2015), por onde os povos das
águas (PORRO, 1995) e das florestas (ALMEIDA, 2007) buscam o seu sustento. E a partir desse
trabalho, sentem a necessidade de se organizarem para diante do estado, apresentar suas

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demandas sociais. Em um espaço historicamente dominado por homens, surgem as mulheres


e especialmente as indígenas, que ocupando postos de trabalho junto às suas famílias, se
tornarão sindicalizadas e consequentemente, ocuparão cargos de representação dentro da
diretoria do sindicato. A metodologia de pesquisa de cunho qualitativo (BARDIN, 1977),
pautou-se num trabalho inicialmente bibliográfico de imersão no tema, seguido de
observação participante e entrevistas semiestruturadas e consulta às fontes documentais,
oferecidas pelo SINDPESCA. Os resultados desse trabalho que encontra-se em curso, apontam
inicialmente para um protagonismo importante das mulheres indígenas para suas
comunidades, quanto para o sindicato. As mulheres Tikuna, etnia majoritária dessa região,
encontram-se consequentemente em maior número entre as mulheres sindicalizadas desse
estudo.

Saúde da mulher no ciclo gravídico puerperal: indígenas da etnia Waimiri-


Atroari

Fabiana de Paula Gomes

Francilene Xavier Ferreira

Vítor de Souza Pinto

Waimiri-Atroari, etnia, que ocupa as regiões Sul de Roraima e Norte do Amazonas, com uma
população aproximada de 2.099 indígenas, divididos em 51 aldeias, sobrevivem da agricultura
familiar, piscicultura, artesanato e caça; sua linguagem, o kinja iara, pertence à família
linguística karib é falado por todos os Waimiri-Atroari. A saúde da mulher indígena teve
influencia da cultura branca, criando medidas preventivas para diminuir a mortalidade
materno-infantil. Essa assistência iniciou-se com a instalação do Programa Walmiri-Atroari,
com acesso a consultas médicas, realização de exames rotineiros e imunização. Os objetivos
são identificar as características étnico-culturais relacionadas a saúde da mulher indígena da
etnia Waimiri-Atroari. A presente pesquisa trata-se de um estudo descritivo de revisão
bibliográfica e visita técnica ao Programa Waimiri-Atroari (PWI). A indígena, ainda na
adolescência, inicia a prática sexual eos cuidados domésticos. No período gestacional, ela
mantém suas atividades laborais exceto quando o estado gravídico apresenta riscos e o
homem passa a assumir a responsabilidade em suprir todas as necessidades da família.
Durante o pré-natal, algumas são encaminhadas para realizar seus exames entre eles,
avaliaçãoda estática fetal, exames de imagens, bioquímicos e sorológicos. O esposo, a parteira
e o líder da aldeia são os responsáveis pelo acompanhamento ao parto. As placentas são
enterradas em covas, abertas previamente. Em caso de distorcia algumas gravidas são

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encaminhadas a maternidade mais próxima. Após o parto a criança é entregue a mãe para ser
alimentada ao seio materno. No puerpério. Até trinta dias de vida criança tem algumas
restrições alimentares envolvendo também a mãe e o pai, pois acreditam que essa prática
ajuda a protegê-los. Ainda no puerpério, o marido permanece em resguardo por três dias. A
realização desse trabalho permitiu o conhecimento do modo de vida da etnia Waimiri-Atroari,
e suas práticas de saúde da mulher indígena enos ajuda, como futuros profissionais de saúde,
ao desenvolver uma visão contextualizada da sua cultura e hábitos, contribuindo assim para
uma assistência adequada as necessidades da população indígena.

Universalização de categorias: povos indígenas e mulheres indígenas no


estado brasileiro

Maria Judite da Silva Ballerio Guajajara

Paula Sâmara da Silva Santos Guajajara

O Estado brasileiro, a partir da promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil


de 1988 (CRFB/88), assumiu-se, constitucionalmente, como plural. Expressão disso foi o
reconhecimento da diversidade étnica e cultural que subsiste entre os povos que coexistem
no território brasileiro. Uma nova ordem Constitucional que rompeu com o paradigma
integracionista à medida que reconheceu e assegurou os direitos territoriais e culturais dos
povos indígenas, firmados com base no respeito das diversidades culturais, realocando o
papel do Estado de tutor para colaborador. Se reconstruiu então, forjando e reorientando, a
identidade constitucional pelo processo constituinte de 1988, produzindo e alterando a
identidade constitucional indígena que permeava o ordenamento jurídico brasileiro até então.
Houve uma ruptura não somente com as constituições anteriores, mas também os ideais
estatais que orientavam as políticas indigenistas. De modo que a ausência/tratamento
indevido do sujeito constitucional indígena nas Constituições anteriores, não conseguiu negar
seu caráter indispensável. O Estado Multicultural passa a reconhecer aos povos indígenas sua
organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, dispositivo densificador do também
constitucional princípio da igualdade, que permite uma abertura interpretativa que incorpora
as especificidades da minoria mulheres, dentro da minoria povos indígenas. Não obstante a
referida progressividade normativa, a legitimação constitucional dos direitos indígenas não
tem restado suficiente para superar lapso que tem se estendido entre o texto constitucional
e sua efetivação, tendo em vista a série de violações que comprometem diretamente a
dignidade humana desses povos, bem como a suplantação das especificidades das mulheres
indígenas em contextos gerais, sejam indígenas ou não. Os povos indígenas brasileiros, tais
quais suas reivindicações, nunca foram colocados simplesmente pela preocupação Estatal de
pautá-los, mas por largos e dolorosos processos de luta. O Brasil vive um retrocesso no tocante
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ao reconhecimento, garantia e proteção dos direitos indigenistas, onde tem-se relativizado a


constituição. São violações de direitos e violências pouco divulgados na mídia oficial, que
fomentam a imprescindibilidade de resistência e enfrentamento desses povos. “A mídia
empresarial foi largamente usada na tentativa de desqualificar as demarcações das terras
indígenas no país. Com o ataque midiático, seus patrocinadores, as corporações empresariais,
de capital nacional e internacional, buscam legitimar e justificar ideologicamente o ataque
contra os direitos dos povos indígenas” (CIMI, 2018, p. 13). Reflexos de uma realidade de
insegurança jurídica, em que as mulheres indígenas se somam enquanto detentoras de
conhecimentos e práticas essenciais para facear os desafios postos aos povos indígenas e
igualmente dispõem de artifícios para demandar as suas garantias coletivas e individuais. Se
organizam para fazer frente aos impactos “promovidos pela ação do Estado e das sociedades
não indígenas” (SACCHI, 2003, p. 99), lutando pela sobrevivência de suas comunidades
ameaçadas por decisões políticas e jurídicas, principalmente. De modo que, mesmo com esse
novo contexto apresentado a partir da Carta Magna, os povos indígenas, mas especifico as
mulheres indígenas, continuam a apresentar-se em situação de vulnerabilidade social e
marginalidade constitucional quando observadas sob o ângulo de efetivação da identidade
constitucional indígena por meio de políticas que contemplem as especificidades desses
povos.

Violência contra mulheres indígenas no estado da Paraíba: perspectivas e


enfrentamentos na notificação

Carla Jaciara Jaruzo dos Santos

Lusival Antônio Barcellos

Nesta comunicação, faz-se um olhar sobre a importância da notificação de Violência


Interpessoal /Autoprovocada para os casos de mulheres indígenas que sofrem violência no
estado da Paraíba. Um ponto importante a ser destacado é o fato de que muitos profissionais
desconhecem ou até mesmo tem receio em estar realizando a notificação pelo fato até
mesmo da própria cultura imposta pelos indígenas interefrem neste processo. Tendo em vista
que a violência está cada vez mais revelada nos lares, e mesmo que os números estejam
aumentando significativamente, ainda existe uma grande resistência da mulher indígena em
procurar um serviço de saúde como também o profissional de saúde em identificar casos
suspeitos / notificáveis de violência. A violência por intolerância religiosa e etnico-racial contra
indígenas é um ponto bastante preocupante e ainda pouco notificado, motivo este de grande
interesse em trabalhar estas questões, porém sendo esse um assunto que tem chamado
bastante atenção e que precisa ser mais dialogado. Os dados estatísticos do Banco do Sistema

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de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net, dos anos de 2011 a 2018, serão
utilizados como uma base para discussão deste trabalho.

Descolonizando as telas: o protagonismo das cineastas indígenas

Cristina Mielczarski dos Santos

Alice Soares

O presente trabalho propõe refletir sobre a autorrepresentação das mulheres indígenas pelas
mulheres cineastas, entre elas Olinda Muniz, Patrícia Ferreira e Graci Guarani. Serão discutidas
as formas de transmissão participativa nessas narrativas, uma vez que se assemelham às
práticas orais e coletivas desses grupos (GALLOIS; CARELLI, 1995). É de vital importância, neste
momento político, divulgar essas criações para um conhecimento maior sobre essas culturas
múltiplas que são invisibilizadas para a grande maioria dos brasileiros. Sabe-se que, na área
de artes literárias, desde os anos 1990 surgiram no mercado obras de autores indígenas, e a
partir da lei 11.645/2008, ocorreu, por parte do governo, incentivo para a publicação dessas
obras e um crescimento muito grande nesta área. No Brasil temos mais de 35 escritores
indígenas e em torno de 130 títulos no mercado. Outra arte que também está em crescimento
é a audiovisual que, pela maior proximidade com a oralidade, tem revelado o olhar indígena
sobre o mundo ocidental. Como afirmou Patrícia Ferreira: “A imagem é nossa flecha”.
Destacamos nesse cenário o projeto Vídeos nas Aldeias, criado em 1986, pelo antropólogo e
cineasta Vincent Carelli, com mais de 88 filmes em 40 aldeias, a partir dos quais houve um
“agenciamento coletivo de enunciação” (NUNES, 2016), inclusive por parte das mulheres
indígenas ao contarem suas experiências e perspectivas, que raramente são ouvidas ou
valorizadas. Nesse sentido, dialogaremos com as teóricas Rita Laura Segato, María Lugones,
Silvia Cusicanqui e Heloisa Buarque de Holanda, entre outras. Essas iniciativas por parte das
mulheres cineastas fortalecem suas alteridades assim como os patrimônios culturais e
territoriais desses povos.

Saúde Mental: O Bem Viver dos Povos Indígenas

Milena Nunes de Almeida


Nathália dos Santos Silva
Camila Cardoso Caixeta

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A saúde mental nos contextos indígenas do qual pretendo discorrer no presente ensaio, trata
inicialmente de uma questão de saúde pública considerando que é um imenso desafio dos
profissionais de saúde lidar com as demandas de saúde mental, no contexto indígena uma vez
que ultrapassam o saber puramente biológico aos quais os profissionais de saúde estão
acostumados por sua formação biomédica sendo necessário conhecimentos ligados à cultura
e a vida em comunidade e o lidar com situações adversas à sua prática habitual de cuidado
(GOMES, 2008). A Antropologia por abranger formas distintas de concepções de pessoas,
comunidades e práticas de auto atenção e cuidado característicos de cada população, é
sugerida neste ensaio como uma contribuição para o campo da saúde mental por meio de
estudos de formas outras de noção de pessoas, objetos e terapêuticas nativas que compõem
a noção do Bem Viver dos povos indígenas. O bem viver fruto de relações cíclicas, construídas
no cotidiano por afinidade, parentesco, casamentos, nomes, consanguinidade entre seres de
mundos e naturezas diversas é que produz saúde, admitindo os opostos num conjunto
cosmológico. Uma doença ou sofrimento mental envolve sempre uma duplicidade de
experiências, na medida em que na perspectiva do indivíduo enfermo a realidade se torna
distorcida muitas vezes sendo sua condição atribuída a um agente externo envolvido. Nos
casos de suicídio entre indígenas, este agente externo se manifesta geralmente na forma de
feitiçaria, sendo o xamã o único capaz de travar uma ação restituidora de equilíbrio. O xamã
ou pajé tem uma função essencial na medicina tradicional indígena devendo ser considerado
como primordial para a compreensão dos processos de saúde-doença dos povos indígenas
participando das ações de saúde indígena propostos pelas políticas públicas, relações estas
entre sistemas de cuidado tradicional e governamental ainda inexistente na saúde indígena
no Brasil. Entender a subjetividade dos povos indígenas a partir de leituras etnológicas numa
relação com o conceito ocidental de subjetividade seria uma tentativa de tradução entre o
universo indígena e o conceito ocidental de saúde, sendo o Bem Viver ou a possibilidade do
“Devir” o que melhor aproxima estes dois universos. A tradução Antropológica como
possibilidade de entendimento e negociação é o que nos permite repensar os nossos
pressupostos e apreender conhecimentos de outros mundos nos trazendo estratégias para
agenciar diferentes pontos de vista e possibilitar a convivência de ambos.

Suraras do Tapajós, defensoras no protagonismo indígena

Milena Raquel Batista Farias

Ao longo dos últimos 20 anos de luta, os espaços reservados às mulheres no movimento


indígena no Baixo Tapajós eram praticamente inexistentes. E foi nesse cenário que, em 2016,
surgiu o grupo Suraras do Tapajós um coletivo de mulheres que atua de forma autônoma e
caracterizado por ser um espaço inclusivo de formação intelectual/estratégico que visa a
preparação de mulheres indígenas para ocuparem cargos de voz, de liderança, e não apenas
de bastidores nos espaços em que estão presentes. Formado por aproximadamente 30
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mulheres pertencentes a diferentes etnias indígenas. O grupo Suraras do Tapajós atua


principalmente na cidade de Santarém. Com a estratégia de trabalhar na multiplicação de
defensoras femininas. Com dois anos de atuação mapeou as principais dificuldades e
violências enfrentadas pelas mulheres indígenas da região. As violências vividas e cometidas
por parceiros, pelo Estado e sociedade civil em geral. Trabalha em atividades de
enfrentamento ao racismo e combate as violências moral, psicológica, física e sexual, visando
o fortalecimento psicológico e financeiro. Nesse panorama é importante haver respeito à
cultura e hierarquia existente em alguns povos indígenas, sem perder o discernimento de
distinguir o que é tradição e cultura de violência e abuso.

A saúde indígena e o Programa Mais Médicos: trajetória e perspectivas a


partir do povo Akwẽ/Xerente

Rogério Ferreira Marquezan

Odair Giraldin

Esta comunicação descreve mudanças que emergiram com a implementação do Programa


Mais Médicos para o Brasil na saúde indígena no Tocantins, a partir da trajetória junto ao povo
Akwẽ/Xerente, e analisa as perspectivas diante das mudanças ocorridas após a saída dos
médicos cubanos do Programa. Recorreu-se aos relatos de profissionais e de indígenas
Xerente, coletados na área onde atuaram e nos novos espaços que surgiram pela dinâmica do
Programa. Fatores como permanência dos profissionais, formação adequada e
disponibilidade foram importantes para uma relação mais simétrica. Com a saída dos
profissionais cubanos do Programa acentuam-se os desafios da formação dos profissionais
brasileiros para atuar na saúde indígena e o risco de descontinuidade do cuidado.

Percentual de restaurações refeitas em 12 meses na área indígena do Distrito


Sanitário Especial Indígena de Vilhena

Renata Cristino da Silva Prestes

O DSEI Vilhena em 2018 trabalho com 8 equipes prestando assistência à população de 7.221
indígenas distribuídos em 04 polos base e 178 aldeias. A estratégia é a do PSF, ou seja, o
atendimento à família de forma integral. As equipes de saúde bucal visitam de uma a duas
vezes por ano cada aldeia e fazem o atendimento clínico individual e o trabalho de prevenção.
Em 2018 obtivemos com resultados 75% de 1° consulta odontológica programática e a
resolutividade de 92%, o que representa dizer que em cada 10 pessoas consultadas, 9

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concluem o seu tratamento básico na aldeia. Porém, muitos indígenas reclamaram que as
restaurações necessitavam de substituição em menos de 1 ano. Considerando estas
informações, a área técnica do DSEI Vilhena elaborou uma planilha para coleta das
informações referentes e chegou ao resultado que em média 19% necessitam de substituição
em menos de 1 ano. É sabido ainda que a maior durabilidade das restaurações, são as
realizadas em amálgama, em função especialmente pela condição de higiene oral dos
indígenas. Em 2019 o objetivo do DSEI é melhorar a qualidade da assistência prestada nas
aldeias e faremos outro levantamento para avaliar a qualidade, desta vez com o comparativo
entre as diversas restaurações.

Revisões bibliográficas sobre a alimentação dos povos indígenas e os reflexos


na saúde

Luana dos Santos Vieira

A alimentação tradicional dos povos indígenas tem passado por algumas mudanças e que
geram impactos na saúde. O objetivo deste trabalho é avaliar as pesquisas bibliográficas já
realizadas, sobre a alimentação, como ela vem mudando ao longo dos anos e qual o reflexo
na saúde. Foram publicados diversos artigos sobre vários povos indígenas e como o aumento
das doenças crônicas não transmissíveis são reflexos dos hábitos alimentares. Alguns artigos
mostram que cada dia mais os povos tem adquirido doenças crônicas como a diabetes,
hipertensão e obesidade, a introdução de alguns alimentos que antes não faziam parte da
alimentação tradicional indígena, como por exemplo o excesso de açúcar, sal, gorduras e
industrializados, refletem diretamente na saúde de maneira negativa.

Direito intelectual coletivo: a deficiência da legislação brasileira acerca da


proteção da comercialização de medicamentos das tradições indígenas

Livia Trentini

Os conhecimentos que os povos indígenas e populações nativas possuem acerca da utilização


medicamentosa da diversidade biológica nunca estiveram tão em voga. Com efeitos colaterais
menores que os de remédios produzidos em laboratório, a procura pelas plantas medicinais
como fonte de utilização e comércio tem aumentado em razão de sua eficácia e baixo custo.
A importância se expressa ao observar que um em cada quatro produtos vendidos nas
farmácias é fabricado a partir de ativos extraídos de plantas das florestas tropicais ou de
estruturas químicas advindas desses vegetais (MARQUES, 2000, p. 15). Nessa surpreendente
união entre duas forças historicamente dissemelhantes – Estado brasileiro e povos indígenas
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– ambos foram declarados como detentores de direitos sobre biodiversidade existente em


seus territórios. Os movimentos indígenas e segmentos da sociedade nacional que lutam em
favor dos direitos indígenas visualizam nesses novos projetos – que envolvem tecnologia e
ancestralidade para produção de novos fármacos – como uma real possibilidade de mudança
efetiva no modelo das relações entre os índios e a sociedade brasileira (CAPELA, 2005, p. 70-
71). A CF/88 estabelece um regime jurídico para as terras indígenas: são bens da União (art.
20, XI), mas de posse perene das comunidades indígenas que nelas residem, concernindo-lhes
ainda o usufruto privativo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes (art. 231,
§3o). Contudo, o conhecimento adquirido através dos séculos por tais comunidades não é
protegido pela legislação brasileira de maneira efetiva (PRONER, 2007). A definição de um
arcabouço legal destinado a regular o acesso ao bioma brasileiro se faz necessária. É a cultura
de povos, que, ao longo do tempo, se beneficia por meio dos recursos naturais, através de
técnicas e invenções primárias, aperfeiçoadas por gerações e gerações (FIORILO; DIAFÉRIA,
1999, p. 56). No dia 25 de julho de 2018 líderes indígenas huni kuin procuraram a sede do
Ministério Público do Estado do Acre (MPAC) com o objetivo de pedir proteção e respeito aos
seus saberes ancestrais, evidenciando a necessidade de uma efetiva proteção e uma lacuna
legislativa neste sentido (PERES, 2018). PROBLEMA DE PESQUISA: Como o Direito, através da
legislação, poderia contribuir para a proteção do conhecimento medicinal indígena? O
objeitov da pesquisa é encontrar uma solução viável, traçando um ponto de equilíbrio, que
busque oferecer à sociedade os benefícios dos saberes indígenas, sem desproteger a
biodiversidade, observando as necessidades desses povos na obtenção da vantagem
econômica. A pesquisa realizada foi qualitativa, bibliográfica, documental e exploratória,
considerando a escassez de trabalhos acadêmicos sobre a temática elegida e o pleito daquela
comunidade ser relativamente novo. Apesar de ser o Brasil subscritor do principal
instrumento legal para a proteção da nossa biodiversidade – a Convenção sobre a Diversidade
Biológica (CDB) – que fora ratificado pelo Congresso Nacional em maio de 1994, este ainda
carece de regulamentação (SANTILLI, 1997). Em 2010, o Brasil se qualificou como signatário
do Protocolo de Nagoya, contudo não ratificou o documento em razão do desinteresse do
agronegócio acerca da incorporação à temática do Acesso a Recursos Genéticos e Repartição
de Benefícios decorrentes da sua utilização (SANTILLI, 2014). A principal iniciativa nessa
direção é a do Projeto de Lei no 306/95, proposto pela senadora Marina Silva. Em que se pese
Fernando Nabais da Furriela, os povos indígenas acreditam que a compensação financeira não
suprime os interesses relacionados à integridade de suas terras e da própria biodiversidade
neles existente (FURRIELA, 2001). Fala-se, então, do DIREITO INTELECTUAL COLETIVO, que são
aqueles atinentes a um agrupamento de pessoas, logo não pertencentes a ninguém em
especial (MOTA, 2009). É uma categoria nova, que surge como ramificação da propriedade
intelectual. Sendo o Direito Intelectual Coletivo uma ramificação da propriedade intelectual,
a Constituição Federal brasileira de 1988 a consagra, nos incisos XXVII, XXVIII e XXIX do art. 5°,
entre o rol das garantias fundamentais do homem, no contexto da inviolabilidade da
propriedade, como cláusula imodificável (ASCENÇÃO, 1997, p. 98). Logo é de salutar

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importância a comunidade indígena seja parte no contrato de exploração dos recursos


genéticos situados em suas terras (BONALUME, 1999), sendo o objeto do contrato fruto de
um viés tangível ou intangível, meio esse pelo qual se fará pesar as condições estabelecidas
pela comunidade (DINIZ, 2018). Objetiva-se com o contrato fixar uma contrapartida imediata
(taxa de prospecção), a ser acordada entre valores monetários, bens e/ou vantagens de outra
natureza, sendo vetada qualquer benefício de ordem individual. Isto posto, uma análise
comparativa interessante seria a proteção cultural sobre a égide da legislação de Direito
Internacional, podendo citar os direitos equatoriano e colombiano que tem se desenvolvido
bastante acerca do tema de tratativa dos Direitos Intelectuais Coletivos em relação aos povos
ameríndios (SANTILLI, 1997). Caminho também encontrado no decorrer da pesquisa, fora o
estabelecido entre os Estados Unidos e a União Européia no ano de 2006 com o uso do nome
Champagne na França, onde fabricantes da bebida em outras regiões podem fabricar
espumantes, contudo elas deverão ter outro nome, que não Champagne (PERCHES, 2013).
Trazendo a problemática para esta pesquisa, uma forma de proteção aqui apresentada seria
a ação efetiva em cima da restrição ao uso do nome rapé indígena (uma das medicinas
invocadas pelo povo Huni Kuin ao Ministério Público do Acre), sob rigorosa fiscalização estatal,
pleiteando assim a sua titularidade em caráter coletivo. Contudo, nenhum avanço, nenhum
estudo se fará necessário sem uma efetiva consciência social e estatal acerca da importância
e das necessidades de sobrevivência e de dignidade dos seres humanos. Dessa forma, é
preciso criar condições para que a diversidade de recursos seja um aliado ao nosso
desenvolvimento, protegendo o meio ambiente, sem esquecer que o homem necessita de
certos recursos naturais para assegurar sua qualidade de vida (PINTO, 2004, p. 19). A lacuna
existente na legislação é imensa no que se trata da proteção do conhecimento popular, com
isso a exploração internacional é cada vez maior. Daí a necessidade urgente de normas de
resguardo ao conhecimento ancestral coletivo, fornecendo paridade ao conhecimento
científico e o conhecimento tradicional, afim de que essas duas forças juntas possam caminhar
para o desenvolvimento tecnológico, respeitando a cosmovisão indígena, suas próprias
formas de vida, sua pluralidade cultural, assegurando o usufruto sobre os recursos naturais
de suas terras e sua biodiversidade (FONSECA, 2004, p. 261).

ST 61 | Visões e etnovisões: cenários de uma possível resistência


Nurit Rachel Bensusan (Instituto Socioambiental – ISA, Brasil); Leticia Maria de Freitas Leite (Instituto
Socioambiental – ISA, Brasil).

Ver e ser visto. Esse parece ser um dos lemas do nosso tempo. Mas o que se vê? Como se vê? Quem é
você que vê? Com que olhos se vê e como se é visto? Esses parecem ser os dilemas do nosso tempo.
Dilemas para todos, mas talvez com dimensões distintas para povos indígenas que trazem outras
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3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

formas de ver o mundo, outra relação com a natureza, com o tempo e com a produção do
conhecimento. O ciberespaço é um lugar potente para a resistência. Surgem nele porta-vozes das
diferentes culturas que transitam em três lugares: aldeia, cidade e internet. As etnovisões encontrarão
no ciberativismo um lugar para conquistar corações e mentes?

Nēn Ga, uma retomada kanhgág


Paola Andrade Gibram

Jaciele Nyg Kuitá Fideles

Este trabalho tem como proposta apresentar estratégias, formas de atuação política e práticas
cotidianas agenciadas pelo movimento de juventude indígena kaingang denominado Nēn Ga,
cujos integrantes habitam na Terra Indígena Apucaraninha, no norte do Paraná. Pretendemos
aqui refletir e trazer para o debate como o ensino e a retomada de práticas kanhgág - como a
realização de festas e rituais tradicionais, a performance de cantos e danças, a prática de
pinturas corporais, a confecção de ornamentos, os jogos, brincadeiras e, principalmente, o
conhecimento e as práticas ligadas à espiritualidade kanhgág- têm produzido fortes
transformações nas gerações mais novas ligadas ao movimento. A noção de retomada será
central para pensar as práticas agenciadas por esse coletivo, pensando a relação de todas
essas dimensões com a territorialidade. Abordaremos a dimensão da resistência política
dentro e fora da aldeia, uma vez que trata-se o Nēn Ga também de um movimento de luta
que tem marcado presença em muitas mobilizações indígenas atuais, como, por exemplo, o
Acampamento Terra Livre. Ao relatar e trazer reflexões sobre a atuação de Nēn Ga na
contemporaneidade, este trabalho busca assim poder contribuir e dialogar com os
movimentos de transformação agenciados cotidianamente por outros coletivos indígenas. Em
nossa apresentação, traremos registros audiovisuais produzidos em parceria pelas autoras
deste trabalho (salientamos que uma delas é indígena, integrante do movimento Nēn Ga).
La resistencia indigena Nasa en el Norte del Cauca: lucha por la tierra y la
autonomía cultural

Jeraldyn Naranjo Henao

Jairo Alexander Castaño

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El pueblo indígena Nasa es mundialmente reconocido por llevar a cabo una lucha ontológica
(ESCOBAR, 2014, p. 52) en la defensa de otros modelos de economía, sociedad y vida. Estas
guerreras y guerreros milenarios -como es usual que se autodenominen los Nasa-, habitan
principalmente en las encumbradas y míticas montañas del departamento del Cauca, en los
andes suroccidentales colombianos. Se trata de centenas de comunidades rurales organizadas
bajo la autoridad tradicional de los cabildos en territorios de propiedad colectiva llamados
resguardos. En estos territorios la mayoría de familias obtiene sus medios de vida
principalmente –aunque no exclusivamente- de la producción agropecuaria en pequeñas
parcelas de tierra, utilizando para ello su fuerza de trabajo familiar. Con el paso de los años la
falta de tierras se ha vuelto el principal problema para la reproducción de las familias indígenas
de acuerdo con sus tradiciones y su cultura, en ese sentido, aparece con cada vez más fuerza
la lucha por la “liberación de la madre tierra” representada en tomas de tierras de los
empresarios cañeros en la zona plana del norte del Cauca. La liberación es un ritual cultural
Nasa que lleva el acto de recuperar la tierra más allá del factor productivo y lo pone en el
terreno de la ontología política, se trata de liberar la tierra en el sentido de la super-
explotación productiva, el abuso de agro tóxicos, el extractivismo minero, entre otras
prácticas predatorias. La liberación se realiza mediante la ocupación de predios para realizar
rituales de cura (dejar descansar la tierra) y de siembra de comida. Esta ontología y praxis
política produce efectos desequilibrantes entre los empresarios y terratenientes que no
pueden entender por qué muchas de las tierras “invadidas” por los indígenas son utilizadas
para sembrar cultivos de auto-consumo, criar pequeños animales y en muchos casos “dejarla
enmontar”, sin ponerla a producir intensivamente. Es la clásica visión productivista del
desarrollo económico que tilda de “irracional” una importante estrategia de conservación y
recuperación ambiental de los agricultores familiares indígenas como lo es la tradicional
práctica de dejar “enmontar” la tierra o dejarla en barbecho/descanso (según las categorías
oficiales del Dane). Tal es el caso de las elites terratenientes e industriales que en su sector
más oligárquico se niegan a negociar con el Estado las tierras en conflicto con los indígenas
“liberadores de Uma Kiwe”, y prefieren dejarlas improductivas porque a decir de ellos “no se
le vende ni un centímetro de tierra a los indios del cauca”. Un ejemplo de lo anterior es el caso
de la dueña de la hacienda “La Emperatriz” ubicada en el municipio de Caloto, o el del
empresario Ardila Lülle, el mayor industrial cañero en Colombia y dueño de la hacienda
Miraflores en el municipio de Corinto. Ambos tienen tierras en proceso de liberación por parte
de los indígenas Nasa que exigen del Estado la titulación de estos predios de ocupación
ancestral y como parte de acuerdos previos incumplidos (como el acuerdo de reparación por
la masacre del Nilo). Estas elites cuentan con el apoyo irrestricto de la mayor bancada en el
congreso nacional, se trata del ultraconservador partido Centro Democrático, dirigido “como
una secta” por un expresidente latifundista e investigado por paramilitarismo y vínculos con
el narcotráfico. Igualmente, en el terreno ideológico, cuentan con el trabajo de algunos
columnistas de opinión en Cali que representan claramente los intereses de la extrema
derecha racista Caucana (Ver: “Buenas Noticas para el Cauca”, Diario El Espectador, Columna

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de opinión del 8 de agosto de 2016 de Mario Fernando Prado). En este contexto de luchas de
clases por la tierra entre los indígenas y los empresarios/terratenientes, se vuelve necesario
entender que la resistencia de los Nasa se construye y se vive en diferentes frentes y niveles,
los cuales incluyen las creaciones culturales, la recuperacion o recreacion de las identidades,
el uso y defensa de la lengua originaria, la lucha por la tierra, entre otras. Estas últimas
resistencias merecen nuestra atención ya que son el sustento de la identidad de los pueblos
indígenas y un eje vital para su pervivencia. Teniendo en cuenta los elementos anteriores, en
esta propuesta buscamos mostrar las diferentes formas y niveles de la resistencia indígena
Nasa en Colombia, a través de la presentación de los resultados de la Encuesta Piloto
Experimental Nasa (EPEN) aplicada en los años 2014 en lso resguardos de Toribío, Jambaló y
Caldono y que reúne información pertinente para caracterizar la lucha por el reconocimiento
cultural Nasa y por la defensa de la tierra y el Territorio. Este acercamiento estadístico permite
dilucidar las características estructurales de las formas de resistencia cotidianas (SCOTT, 1982)
frente a influencias externas de homogenización.

A construção das políticas indigenistas: cosmologia, lideranças e corpos na


Assembleia Nacional Constituinte

Danielle Bastos Lopes

Como demonstra um texto de Manuela Carneiro da Cunha (2009), o ato sacrifício dos ritos
espirituais, preponderantemente os de família Tupi, não estão desassociados dos momentos
políticos do encontro entre “índios” e “não índios”. A prática dos missionários jesuítas,
combinaram práticas da liturgia com o ritual do xamanismo. Os sermões missionários
assumiam-se insuflados de palavras dos xamãs tupinambás. Introduzimos este abre aspas,
portanto, para demonstrar que a magia não é desconhecida da política brasileira, muito
menos sua relação com o xamanismo. Este artigo analisa as relações do sagrado e do invisível
das cosmovisões ameríndias na participação dos líderes indígenas na Assembleia Nacional
Constituinte (1987-1988) (BASTOS LOPES, 2014, 2017). O período marcou a participação de
caravanas indígenas indo em direção ao Congresso Nacional, a aprovação da demarcação dos
territórios e revogação do caráter de tutela (SOUZA LIMA, 2012). Estivemos, para tanto, nos
arquivos do Congresso e outros foros legislativos (BANIWA, 2012; BESSA FREIRE, 2012;
RAMOS, 2012). As fontes encontradas muitas vezes estiveram misturadas a outros segmentos;
foi preciso selecionar partes destinadas aos povos indígenas dentro das atas, relatórios, e
buscar nos relatos de um dos participantes, Álvaro Tukano, liderança do movimento indígena,
as memórias do período. Os ritos, invisibilidades (TURNER,1991) e encantamentos produzidos
durante a participação dos líderes, assim como os seus confrontos e efeitos (APPADURAI,
1996) constituem nosso objeto de estudo.

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Acampamento Terra Livre: lugar de memória e ação das lutas dos Povos
Indígenas no Brasil

Tereza Cristina Ribeiro

O presente trabalho procura historicizar a criação do Acampamento Terra Livre, agenda anual
de lutas e reivindicações do movimento indígena nacional que se constituiu a partir do ano de
2004, inicialmente tendo como eixo temático central as lutas pela homologação da Terra
Indígena Raposa Serra do Sol em Roraima, além de algumas demandas de regularização de
territórios indígenas no sul do Brasil. A possibilidade de constituição dessa atividade, que
neste ano (2004) foi coordenada exclusivamente por lideranças indígenas das diversas regiões
brasileiras, propiciou o estabelecimento de uma metodologia capaz de dar organicidade e
direção ao acontecimento histórico protagonizado pelos povos indígenas em movimento: a
ocupação da Câmara dos Deputados durante 9 horas, no dia 19 de abril de 2004. Esta ação
direta dos povos, juntamente com seus aliados, forjou uma abertura de diálogo com o
presidente Lula da Silva, que até então se recusara a receber em audiência as delegações
indígenas e as reivindicações históricas de seus direitos. Desde então, o Acampamento Terra
Livre (ATL) que já conta com uma história de 14 anos, reúne lideranças tradicionais e jovens,
um número cada vez maior de mulheres indígenas e dezenas de aliados na perspectiva de dar
continuidade às reivindicações de direitos e acesso à justica e políticas públicas necessárias à
sobrevivencia e a integridade física e cultural dos povos originários. A cada edição do ATL se
reencontram personagens de importância vital para a constituição da luta indígena, se
rememoram as histórias do início da criação das organizações indígenas no Brasil, se
percebem as divergências e conflitos internos ao movimento, se verificam as construções das
identidades individuais e coletivas diante da positividade e do protagonismo indígena e de seu
movimento social que se fortaleceu criando uma agenda indígena própria, que desde seu
nascedouro desafiou o poder central, realizando debates e discussões, estabelecendo as
negociações e os enfrentamentos, ocupando o território do poder político não-indígena e
manifestando sua discordância com os rumos da politica indigenista estatal. As memórias
indígenas, principalmente de suas lutas, passam pela recuperação de um protagonismo
pautado na etnogênese dos povos que estão em negociação e conflito com o estado desde
tempos imemoriais.

Novas Tecnologias: interculturalidade e saberes do povo Gavião Kyikatejê

João Paulo Martins Sarmento

Salomão Antônio Mufarrej Hage

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As populações indígenas no Brasil, ao acessarem as tecnologias desde o período da


colonização, modificam suas estruturas organizacionais, buscam novos conhecimentos e se
adéquam a sua utilização. A partir do manuseio das Novas Tecnologias de Informação e
Comunicação (NTI’s), as lideranças indígenas passam a ampliar seus conhecimentos e
conquistar direitos legais inscritos na Constituição Federal de 1988, na Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDB- Lei 9.349/96) e na Convenção 169 da Organização Internacional
do Trabalho (OIT). Nesta perspectiva, o presente trabalho tem como objetivo, discutir como o
uso das novas tecnologias contribuem para o fortalecimento da identidade cultural e Política
do povo Gavião Kyikatêjê. A utilização das novas tecnologias pelo povo Gavião Kyikatêjê vem
contribuindo para transformações significativas, afetando diretamente a estrutura
organizacional dos indígenas. Tendo como base teórica a teoria interpretativa de Geertz
(1926), as transformações ocorridas na forma de educar segundo Moran (2007) e as relações
sociais de acordo com a antropologia de Gomes (2013), pretendo discorrer acerca da
utilização das novas tecnologias e as várias relações interculturas através dos meios de
comunicação. Neste artigo, apresenta-se a trajetória dos Gaviões Kyikatêjê e destaca-se como
fazem uso da tecnologia no processo de formação sociopolítica de seu povo. Investigamos as
metodologias utilizadas com as novas tecnologias na aldeia e os caminhos traçados pelas
lideranças indígenas na construção social do sujeito “índio”, edificando assim, uma
comunidade que preza pela autovalorização e reconhecimento de valores culturais dos
Kyikatêjê.

Pajé Filmes: produção audiovisual indígena em Minas Gerais

Charles Bicalho

Relato sobre a experiência de dez anos na produção de filmes com foco na temáica indígena
no estado de Minas Gerais. A produtora Pajé Filmes, nascida em Belo Horizonte, em 2008,
realiza um trabalho de pesquisa e produção com representantes indígenas no estado,
sobretudo com o povo Maxakali, com uma população em torno de 1800 indivíduos, falantes
de sua língua ancestral e praticantes de seu modo tradicional de cultura com base em sua
mitologia, religião, rituais, organização social, etc. Após a produço de mais de uma dezena de
filmes documentários, dirigidos e produzidos pelos próprios representantes indígenas, em
2016, a Pajé Filmes realizou seu primeiro filme de animação - Konãgxeka: o Dilúvio Maxakali -
codirigido por Isael Maxakali, sob os auspícios do edital Filme em Minas. Atualmente, inicia a
produção de nova animação - Mãtãnãg, a Encantada - codirigido por Shawara Maxakali,
projeto aprovado no edital Rumos Itaú Cultural. A Pajé Filmes tem como propósito
potencializar a força artística da cultura tradicional indígena, se utilizando dos meios
modernos de comunicação, como forma de gerar visibilidade para uma expressão de minoria
no ambiente cultural, seja em nível local, nacional e internacional. As produções da Pajé Filmes
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primam pela coerência no processo de tradução dos elementos da cultura tradicional para os
meios tecnológicos atuais de matriz digital. Para tanto, se utiliza de noções como o etnodesign
e o design de produção ou direção de arte em audiovisual para nortear a transposição dos
elementos da expressão artística originalmente indígenas para a linguagem fílmica. Partindo
da formação educacional de membros da comunidade nas áreas de mídias e linguagens,
através da realização de oficinas e cursos em aldeia, a produção da Pajé Filmes tem
participado de festivais em âmbito internacional, angariando prêmios e projeção, e
consequentemente gerando dividendos políticos para uma população historicamente
marginalizada.

Comunicação indígena e guerra midiática

Warley Borges de Miranda Costa

O presente texto deriva de uma pesquisa realizada em 2012 na Bolívia, que teve o intuito de
compreender as relações da produção audiovisual indígena com a construção de um estado
Plurinacional. O processo de construção de um Estado Plurinacional surgira da força das
manifestações de movimentos indígenas que, através de suas exigências a realização de uma
Assembléia Constituinte, ocorrida de 2006 a 2009, possibilitou a Nova Constituição Política do
Estado (NCPE) aprovada em 2009. Embora com um foco sobre a produção audiovisual
indígena na Bolívia, os acontecimentos em campo – como o fato de que se levava adiante o
Ano Internacional da Comunicação Indígena- tornou possível ver mais amplamente a
produção audiovisual indígena no contexto latinoamericano. Ao situarmos o foco na produção
cinematográfica indígena boliviana, assim como a nível continental, percebe-se sua vinculação
especial aos movimentos indígenas e o seu posicionamento frente aos processos de
constituição da América Latina, do estado- nação e seus saberes. Temas como
desenvolvimento, modernidade e descolonização, associados ao alarde de uma crise
ecológica global, constituíram o cerne dos debates do nosso trabalho de campo; isto, para
problematizar uma malha destrutiva correspondente a uma configuração global traçada, e
que segue, com estruturas moldadas a partir de uma violência colonial. Assim, no atual
cenário, a construção da comunicação indígena reclama outra comunicação numa batalha
epistemológica e destaca os movimentos indígenas como atores políticos globais.

Ciberativismo: protagonismo e participação política de povos indígenas no


ciberespaço

Denise Machado Cardoso

Cristiane Modesto

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Irleusa Robertino

A constituição de 1988 se configurou como um dos maiores avanços no que se refere às leis
destinadas aos povos indígenas. Na prática ela asseguraria a estes povos a liberdade cultural
lhes dando condições para exercer sua etnicidade. Porém, na prática o que se observa são
uma série de decisões que põe em risco o direito desses povos, a começar pela demarcação
de terras. Quando a Constituição foi promulgada o estado brasileiro tinha um período de cinco
anos para demarcar as terras indígenas, no entanto, ainda hoje, o que se observa são muitos
povos indígenas lutando para terem seus territórios reconhecido pelo estado de brasileiro.
Além da omissão do governo no que concerne à demarcação de suas terras, os povos
indígenas disputam seu território com os poderes econômicos vigentes no Brasil, que se
apossam destes territórios para construir grandes empreendimentos. Nesse contexto, o
objetivo do presente estudo é analisar o Movimento Indígena e a interação dos povos
indígenas com as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), identificando como o uso
dessas ferramentas contribuem para a organização, comunicação e mobilização destas
sociedades. Cada vez mais organizados, os povos indígenas no Brasil passam a ser promotores
da sua própria história, outrora contada por antropólogos, pesquisadores e a mídia em geral,
utilizam-se das TIC para obter as condições necessárias para se manifestar, sem a interferência
dos novos “órgãos tutelares”. Várias organizações indígenas possuem plataformas digitais
(perfis em redes sociais, blogs, sites e afins) que se configuram como ferramentas de luta, para
auxiliar na aquisição de direitos. Tomando por base a etnografia em ambientes virtuais, ou
seja, aquela em que se utilizam comunicações mediadas por TIC como fonte de dados, foi feita
a análise de perfis pessoais de indígenas na mídia social Facebook para a coleta de
informações. Seguindo essa linha de atuação na web, estão o povo Munduruku e o povo
Apiaká, com suas histórias marcadas por massacres de sua população e por lutas pela
permanência de suas terras, vidas e tradições. Ambos enfrentam atualmente uma série de
desafios relacionados aos impactos advindos com a criação da Usina de Tapajós, que afetará
diretamente suas terras, estas por sua vez, não demarcadas. Além destes, investigamos o
ciberativismo do povo Tembé da Terra Indígena do Alto Rio Guamá, e como o uso das TIC
influencia em suas mobilizações, pois o Facebook, e outras plataformas digitais, tornaram-se
ferramentas em defesa de seus direitos. A apropriação da internet pelos grupos indígenas
surge, portanto, como uma resposta à falta de espaço que estes povos culturalmente
diferenciados têm nas mídias tradicionais.

Cartografando processos dígito-comunicacionais de Pataxós da Bahia

Helânia Thomazine Porto

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A realidade das comunidades Pataxós da Bahia é dinâmica e diversa e, com o avanço dos
processos de globalização e de midiatização, esta tem se complexificado em redes sociais
muldimensionais. Assim, problematizamos se as experiências em fluxos comunicativos,
mediadas pela tecnologia digital, têm (re)configurado suas organizações sociais, culturais,
políticas e comunicativas. Compreendemos que as experiências dos Pataxós em processos
midiáticos estão atravessadas por questões inerentes à configuração das identidades étnico-
culturais e da cidadania comunicacional. Assim, esta pesquisa se insere no campo da
Comunicação, na perspectiva de superação da interpretação do “índio genérico” e dos
impactos da mídia sobre uma cultura específica, uma vez que nenhuma tecnologia é
revolucionária ou conservadora por si, por isso necessário se faz entender as significações
atribuídas pelos Pataxós aos usos e apropriações que fazem das redes sociais digitais. As
aproximações à cultura midiática Pataxó requereram a adoção da epistemologia
transmetodológica, com confluência de teorias e de métodos, além dá realização de
diferentes movimentos de pesquisa: Pesquisa Teórica, Pesquisa de Contextualização, Pesquisa
Empírica, Pesquisa Metodológica e Pesquisa da Pesquisa, com construções de procedimentos
metodológicos específicos para cada movimento. (BONIN, 2011; MALDONADO, 2014; 2015).
Sendo assim, apresentamos uma reflexão acerca de movimentos da pesquisa empírica para
análises dos processos dígito-comunicacionais dos Pataxós, retratando os modos de sentir e
agir desses sujeitos, por meio de uma trajetória errante, atentando-se para a ressignificação
de saberes ancestres junto ao tecnológico. Ao entender esse movimento de pesquisa como
uma "cartografia errante", utilizamos os símbolos do “jogo” Kuber (CERQUEIRA, 2000),
possibilitando o relato e análise de diferentes fases da pesquisa exploratória, desde
observações participativas, interações em grupo de debates no Facebook, de visitas pelos
circuitos turísticos dos municípios de Santa Cruz Cabrália (BA) e Porto Seguro (BA), em que os
Pataxós atuam, de visitas, vivências em tres aldeias Pataxós, com realização de entrevistas e
de uma etnografia virtual junto a 22 Pataxós na Plataforma do Facebook. Dentre as análises,
sinalizamos que os Pataxós exercem uma certa cidadania comunicacional ao atuarem em
espaços de midiatização digital, realizando uma comunicação com potencial de se constituir
em pautas reivindicatórias e de proposições em diversos âmbitos (econômico, educacional,
ambiental, territorial, etc), além do espaço digital ser utilizado como esfera pública para a
reafirmação identitária, dos atuais Pataxós comunicantes, competentes e com habilidades
lecto-escrita no contexto digital.

Rádio Kyringuê - um direito dos indígenas à comunicação

Carmen Lúcia Melges Elias Gattás

A Rádio Kyringuê, é uma Web Rádio que divulga e valoriza a língua guarani e toda a sua cultura.
O uso da web rádio visa desenvolver o protagonismo de jovens, crianças, xamoi kueryem (os

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indígenas mais velhos) e toda a comunidade guarani mbyá, resgatando e fortalecendo a


comunicação entre as várias aldeias no Brasil.

“Não morrerá a flor da palavra”: pensamento e resistência maya no século


XXI

Sebastião Vargas

Um dos frutos da pesquisa pós-doutoral “Sembrando palabras del color de la tierra: historias
de vida, educación y medio ambiente entre pensadores mayas de Chiapas” realizada no
Centro de Investigaciones y Estudios Superiores en Antropología Social (CIESAS-Sureste), no
estado mexicano de Chiapas, esta comunicação procura mapear analiticamente a produção
de pensadores mayas no panorama geral da reflexão social latino-americana discutindo
criticamente as pesquisas e obras realizadas por escritores, artistas, lutadores sociais,
sacerdotes, historiadores, antropólogos, cientistas sociais e médicos tradicionais mayas no
século XXI. Em um primeiro momento, refletimos sobre os contextos e as amplas dimensões
da insurgência maya relacionadas ao levante zapatista de 1994. A seguir, analisamos algumas
obras recentemente produzidas por um conjunto de sentipensadores mayas de Chiapas,
refletindo sobre suas inovações conceituais/artísticas, seus principais referenciais teórico-
metodológicos, suas propostas epistemológicas e as temáticas abordadas (“a arma da
memória”; “a flor da palavra”; “o arco-íris do saber”; “a alegre rebeldia” e “as epistemologias
do coração”). Utilizando fartamente citações de textos desses intelectuais (especialmente o
do sociólogo tsental e livre pensador Juan López Intzín) esperamos contribuir para a difusão e
discussão sobre os usos e sentidos do chamado senti-pensamento maya que emerge da
“periferia da periferia” e que ainda é relativamente pouco conhecido no Brasil.

A invisibilização das formas não-ocidentais de Estado: povos indígenas e


comunidades tradicionais

Nayra Paye Pereira Kaxuyana

Danilo Ferreira Alexandre

Janayna Martins Guterres

Samay Gomes Rocha Lima Santos

Otto Leone Corrêa

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A diversidade e extensão fundiária brasileira apresenta de maneira radical o contraste entre


o que se pode teorizar Estado-Nação - e porventura o que se entende por controle político
soberano espacial - e o que se define território social, as comoslogias diversas e múltiplas que
perfazem o universo brasileiro. A partir dessa ambivalência entre Nação e território, o
presente trabalho tem por objetivo subsidiar uma crítica filosófico-política à teorização
moderna de Estado e às práticas incessantes de segmentação, estratificação e taxonomia de
povos e comunidades tradicionais, massificados e homogeneizados nesse mesmo termo.
Pretendemos dizer do não-lugar destinado à plurietnicidade, incompatível com um esquema
social universalizável moderno que pretende capturar a essência do Outro não branco, falar
do seu desejo - eliminando diferenças, subtraindo singularidades em torno de uma coesão
totalizante do pretenso sujeito universal - tornando o direito à existência condicionado à
capacidade de limitar e patrulhar estereótipos étnicos. A partir de auto-etnografia, passamos
ao questionamento último das consequências da aplicação desse ser às pessoas indígenas que
escrevem esse trabalho, apresentando horizontes de transformação e resistência própria às
lutas políticas, e mais que isso, de revelar o falar por si da plurietnicidade, do construir entre-
meios e heterogenias, ao contrário da razão homogeneizante.

A resistência no pensamento-ação de Ailton Krenak

Fernanda Elias Zaccarelli Salgueiro

Por meio de entrevistas realizadas nos últimos anos, e com apoio no filme Ailton Krenak: o
sonho da pedra (DIR. MARCO ALBERG, 2018), procuro aprender de que modo Ailton Krenak
concebe possibilidades de resistências aos “surtos coloniais” que se renovam até os dias de
hoje. Ao pensamento branco que, nas palavras de Davi Kopenawa Yanomami, não é senão
esquecimento, Ailton Krenak contrapõe o entendimento. Apesar do elevado grau destrutivo
do mundo da técnica e das certezas, proliferam do sábio Krenak ricas imagens de possíveis já
existentes – janelas, pára-quedas coloridas, sonhos, guerrilha cultural – que parecem
encontrar sua origem na abertura da cosmovisão associada à dilatação do tempo.

ST 62 | Experiências e reflexões sobre a situação atual da Educação Escolar


Indígena na América Latina

Maxim Paolo Repetto Carreno (Universidade Federal de Roraima – UFRR, Brasil); Edineia Aparecida
Isidoro (Universidade Federal de Rondônia – UNIR, Brasil).

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Desde a promulgação da Constituição Federal do Brasil, há 40 anos, abriram-se espaços para


concretização das lutas dos Povos Indígenas por uma Educação Escolar de acordo com suas
perspectivas de mundo e suas necessidades, multiplicando-se no país experiências de formação de
ensino junto aos povos indígenas. Da mesma forma, nos demais países das Américas abriram-se
diversos espaços de formação e de debate sobre a formação escolar das novas gerações de estudantes
indígenas. É importante que tais experiências sejam compartilhadas, debatidas e refletidas em um
momento de nossa história onde os direitos dos povos indígenas estão claramente ameaçados. Este
simpósio pretende reunir trabalhos sobre pesquisas e experiências que contribuam para o maior
conhecimento sobre a Educação Escolar Indígena no país e no continente. Trabalhos que versem sobre
educação escolar, metodologias inovadoras, a difícil tarefa de implementação de políticas públicas
para Educação Escolar Indígena, políticas de acesso e permanência de estudantes indígenas nas
Universidades, entre outros. A relevância de tais discussões passa pelo amadurecimento destas e da
premente necessidade de seguir sem retrocessos para a concretização dos direitos dos indígenas a
uma Educação de qualidade.

Formação continuada dos professores indígenas do polo do Centro de


Formação dos Profissionais da Educação – CEFAPRO de Confresa –MT

Rodrigo Lopes Alencar

Para levar a cabo as políticas públicas e fortalecer a formação continuada, a SEDUC/MT criou
o Centro de Formação dos Profissionais da Educação Basica de Mato Grosso -CEFAPRO que
funciona orientando, capacitando e intervindo nas ações de formação continuada junto às
escolas. Os professores que trabalham no Centro de Formação são responsáveis para
trabalharem com todas as modalidades educacionais, incluindo um profissional da área
Indígena. O papel dos formadores do Cefapro é de orientar a elaboração do Projeto Sala de
Educador, levando em consideração o diagnóstico das necessidades formativas apontadas, de
acompanhar, orientar e avaliar o desenvolvimento do projeto, bem como chancelar os
certificados da participação dos profissionais da educação da rede estadual. O Projeto
Formação -PEFE, como Política de Formação dos profissionais da educação de Mato Grosso,
aponta para um processo de formação que preconiza as discussões e a reflexão sobre as ações
educativas; seu principal objetivo é fortalecer a escola como espaço formativo, com o
comprometimento coletivo na busca da superação das fragilidades e consequente construção
das aprendizagens (SEDUC/MT, Parecer Orientativo no 01, 2018). Nesse sentido o PEFE sob
orientação com as espeficidades, intercultural e particularidades da Educação Escolar
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Indígena como formação continuada, a Escola Estadual Indígena Tapitawa elaborou seu
projeto de formação continuada para o ano letivo de 2018 com temáticas especificas das
dificuldades de ensino dos educadores e aprendizagem alunos, assim como a Escola Estadual
Indígena Hawalora não elaborou projeto mas definiu temáticas de estudos voltadas para
superação das dificuldades de ensino dos educadores e aprendizagem dos alunos. Foram
projetos foi orientada pelo Cefapro de Confresa-MT, e sob a coordenação dos coordenadores
das referidas Escolas. A dinâmica dos estudos foi baseada no orientativo pedagógico da
SEDUC-MT/2018, com grupos de estudos por área de conhecimento, disciplina ou grupo de
funcionários da Educação. O Cefapro participou orientando, e intervindo nas dificuldades dos
profissionais da Educação em relação a temáticas especificas. O projeto iniciou no mês de
maio e concluiu em outubro de 2018.

A trajetória escolar dos alunos indígenas que estudam na UFOPA frente à


legislação educacional

Isla Eliziario Alves

Janete Cristina Marcião Gomes

Camila Silva de Sousa

Clênya Ruth Alves Vasconcelos

A diversidade étnica brasileira é uma característica que marca o Brasil como um país
multicultural, legado pelo patrimônio cultural dos diversos grupos sociais formadores da
sociedade nacional. Entre esses grupos estão os indígenas que lutam para assegurar seus
direitos, e a legislação educacional é um exemplo dessa conquista. O Brasil tem atualmente
uma população de 896 mil indígenas, o que representa 0,47% da população nacional (IBGE,
2012a). De acordo com o Censo Escolar 2010, que traz dados da educação indígena, existem
246 mil índios no ensino básico, da educação infantil ao ensino médio, o que corresponde a
0,5% do total de matrículas nesse nível de ensino no país (INEP, 2011). Diante disso, tendo
como base a Constituição Federal do Brasil; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB e
Estatuto do Índio em consonância com demais legislações vigentes, no que se refere à
educação e proteção ao indígena em todas as esferas brasileiras, a população é a que
apresenta um índice maior de analfabetismo e menor permanência no sistema de ensino de
educação escolar básico. Nessa perspectiva que buscou-se investigar como se dá a trajetória
escolar dos alunos indígenas na educação básica, bem como suas dificuldades para adentrar
e manter- se nas instituições educacionais. Mediante isso, foram realizados em dois
municípios do estado paraense, Óbidos e Oriximiná entrevista com seis acadêmicos indígenas
de etnias mundurucu, wai-wai e hixkaryana da Universidade Federal do Oeste do Pará –
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UFOPA. Após a realização da pesquisa de campo percebe-se que mesmo a legislação lhes
garantindo subsídios legais de acesso e permanência no ensino básico, quando saem de sua
realidade local para outra, apresentam inúmeras dificuldades, e a que mais se destacou foi a
não compreensão da língua portuguesa, tanto na fala como na escrita. Segundo resultados
preliminares do Censo Demográfico realizado pelo IBGE em 2010, é de 817.963 indígenas, com
relação às 274 línguas faladas, o censo demonstrou que cerca de 17,5% da população indígena
não fala a língua portuguesa. É notório que os professores indígenas e os nãos indígenas
incentivam e preparam seus alunos a seguirem com seus estudos, assim como ensinam sobre
outras culturas. Desse modo, não somente precisa-se de uma educação com qualidade mais
também que haja uma consonância entre a língua portuguesa e a língua materna desses
alunos, bem como, incentivo no progresso da educação.

Direito à diferença no espaço escolar da educação indígena Warao

Bárbara Andresa de Souza Balieiro

Jesus Desiderio Nunez Paredes

Marcos Vinícius da Costa Lima

Maria do Socorro da Silva

Núlcia Odaleia Costa Azevedo

Omar Jose Rodriguez Sinfontes

Os indígenas Warao são provenientes da região do Delta do Orinoco, principalmente dos


estados Delta Amacuro e Monagas, na Venezuela e desde 2014 têm empreendido emigrações
para o Brasil. Com o agravamento do quadro político e econômico na Venezuela, o fluxo
aumentou. Os indígenas começaram se instalando em cidades do estado de Roraima, em
especial Boa Vista, mas depois se espalharam em outros estados da região Norte do Brasil,
como Amazonas e em 2017 chegaram ao Pará, onde estão presentes nas cidades de Belém e
Santarém. Crianças, jovens e adultos do povo Warao foram identificadas nos logradouros das
cidades supracitadas em situação de grande vulnerabilidade social, submetendo-se a condição
de “pedintes” de ajudas econômicas e alimentícias o que resultou na ação do Ministério
Público Federal (MPF) orientando e notificando diversas instituições públicas em apresentar
planos de trabalho de assistência aos indígenas venezuelanos refugiados no Pará. A partir das
notificações do MPF, o Governo do Estado, através da Secretaria de Estado de Assistência
Social, Trabalho, Emprego e Renda – SEASTER providenciou a locação de um contingente de
indígenas em um abrigo e começou a desenvolver algumas ações em parceria com outras
instituições da esfera estadual, municipal, federal e organizações não governamentais. Do
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ponto de vista da educação, a SEDUC por meio da CEJA e CEEIND criaram o Projeto Saberes
da EJA Indígena Warao que busca proporcionar o processo de alfabetização e letramento,
além de promover ações de qualificação profissional com ações pedagógicas norteadas pelo
princípio da interculturalidade, basilar na educação escolar indígena, respeitando a
diversidade cultural no processo de ensino aprendizagem. A escola deve trabalhar com os
valores, saberes tradicionais e práticas de cada grupo social e garantir o acesso a
conhecimentos e tecnologias da sociedade nacional, relevantes para o processo de interação
e participação cidadã na sociedade brasileira. Com isso, as atividades curriculares devem ser
significativas e contextualizadas às experiências dos educandos e de suas comunidades. Outro
princípio norteador é o da trandisciplinaridade que visa romper com as barreiras entre as
disciplinas e superar o compartimentalismo do pensar, na busca de uma aproximação do saber
indígena como elo entre todos os conhecimentos dos diversos campos vitais que asseguram
o bem viver. O currículo transdisciplinar deverá ser concebido como artefato social cultural,
eliminado, no processo de ensino – aprendizagem, a desarticulação que existe entre a vida da
comunidade; entre o fazer pedagógico e o político; e por último, entre os aspectos, macro e
micro sociais. O atendimento a diversidade indígena indica que o currículo precisaria ser
reformulado e desenvolvido de maneira flexível para dar conta da especificidade que
caracteriza o percurso educativo a ser trilhado por meios da pedagogia de projetos dos
saberes e os conhecimentos a serem abordados devam ser redefinidos constantemente para
que estejam coerentes com a realidade e articulados com as necessidades educativas e sociais
dos Warao. Considerando que o a comunidade escolar é composta por grupo de pessoas em
seus diferentes papeis sociais (profissional e cultural), no entanto essas diferenças muita das
vezes não são compreendidas e dada a devida importância no contexto da interculturalidade
crítica (walsh, 2010) no qual todos estão envolvidos. Portanto faz-se necessário trabalhar a
temática do Direito à diferença no espaço escolar da educação indígena warao partindo do
pressuposto de que é importante entendermos e estabelecermos em comum acordo regras e
normas que possam respeitar e valorizar a diversidade escolar e práticas específicas e
diferenciadas para uma convivência intra – inter – multi – transcultural (multilíngue).
Portanto, é fundamental planejarmos atividades específicas para refletir junto aos educandos
sobre o comportamento social, que respeite as diferenças socioculturais, destacando
exemplos de situações de conflitos para o estabelecimento de normas warao.

A educação escolar e a questão indígena: entraves e perspectivas

Débora Vogel da Silveira Dutra

A escola, ainda tradicional espaço da educação formal, não tem apresentado grandes avanços
no que se refere à questão indígena. Esta, em pleno século XXI, ainda é vista com ressalvas
dentro das discussões que abrangem currículos escolares, práticas educativas e experiências
de vivências com os educandos nos mais diferentes espaços. Os métodos, as formas e todo o
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contexto que envolve a abordagem da temática indígena é uma preocupação antiga no


sistema educacional brasileiro e que tem uma base estrutural na própria Constituição Federal
do Brasil, entre outras leis. Entretanto, apesar de todo esse amplo campo de debate
estruturado no século XX, e em especial na segunda metade do mesmo, o modelo vigente de
educação ainda persiste atrelado a elementos muitas vezes conservadores da sociedade que
refletem a própria história da colonização do país pelos europeus. Concepções e pré-conceitos
acerca das populações nativas e daquelas que ainda resistem ao avanço do capitalismo
branco, apresentam-se ainda nos mais diversos espaços por onde a população indígena
transita, fisicamente ou simbolicamente. Assim, mesmo nas escolas tradicionais de grandes
centros urbanos, onde dificilmente se encontraria um aluno de etnia indígena, o debate sobre
esse importante elemento formador do povo brasileiro, traz à tona uma série de falas
baseadas em senso comum, muitas vezes reprodutoras de uma mídia sensacionalista e
preconceituosa. Dessa forma, os cidadãos em formação, que são os alunos das escolas, em
sua grande maioria, não possuem um canal aberto de diálogo crítico e construtivo no que
tange à questão dos povos nativos no Brasil. Somente uma legislação, mesmo que federal,
não garante que a efetividade dos direitos indígenas, começando pelo respeito à sua própria
etnia, seja de fato uma realidade prática. Respeitar o outro, o diferente, exige uma mudança
de mentalidade que relaciona-se diretamente com a forma como se visualiza o próprio mundo
e as pessoas que o compõem, bem como os elementos externos, mas fundamentais, como a
própria natureza. Somente a compreensão do que o elemento meio ambiente significa para
as diferentes etnias indígenas, seria uma base significativa para estabelecer um diálogo direto
e de respeito mútuo entre àqueles que um dia foram os colonizadores e àqueles que foram
os colonizados.

Educação Escolar Indígena e o Ensino de Ciências: algumas reflexões a partir


dos pressupostos da perspectiva intercultural e da decolonialidade

Yasmin Lima de Jesus

Edinéia Tavares Lopes

A Educação Escolar Indígena desde a Constituição Federal brasileira de 1988, a partir das
demandas do movimento indígena e indigenista, vem transitando de um instrumento de
dominação a um espaço e instrumento de luta e resistência dos povos indígenas dessa nação,
a partir de sua apropriação por esses povos. Destarte, alguns dispositivos normativos
educacionais vêm sendo criados de modo a legitimar seus processos próprios de ensino e
aprendizagem, como também de produção de conhecimento. O direito ao uso de suas línguas
maternas e seus processos de ensino, assim, como, o direito a um calendário e organização
curricular especifica e diferenciada exige que o ensino nessas escolas parta das necessidades
locais de cada etnia sendo pensado e elaborado com e por eles. Assim, seu ensino deve ser
específico, diferenciado, bilingue/multilíngue, intercultural e comunitário. Nesse ínterim, o
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presente texto se propõe a tecer uma reflexão sobre o ensino de Ciências na modalidade
Educação Escolar Indígena brasileira por meio dos pressupostos da perspectiva intercultural e
da decolonialidade partindo de uma realidade indígena Bakairi. Essas reflexões são
estabelecidas a partir do contexto escolar e comunitário do povo Kurâ Bakairi,
particularmente da aldeia Aturua no município de Paranatinga, estado do Mato Grosso, Brasil.
A partir dos pressupostos da perspectiva intercultural crítica (WALSH, 2007, 2012, 2013;
CANDAU, 2010, 2013; FLEURI, 2003, 2012, 2014) pretende-se que esse ensino de Ciências
permita o diálogo entre os diferentes conhecimentos valorizando-os e respeitando-os
enquanto distintas lentes para ver, ler e agir o/no mundo, como também, questionar as
relações de poder vigentes. Fundamentamo-nos, ainda, nos pressupostos teóricos da
decolonialidade (QUIJANO, 2012; ESCOBAR, 2003; GROSFOGUEL, 2009) na busca por
promover a descolonização dos currículos de Ciências nas escolas indígenas e apontar outras
epistemologias, emergentes do Sul (SANTOS, 2006; SANTOS; MENESES, 2010). Nessa
perspectiva, exige-se que ocorram processos de descolonização de seus currículos, de modo
a romper com a lógica de pensamento ocidental a qual dominou, inferiorizou e deslegitimou
os universos explicativos dos pouco mais de 300 povos indígenas brasileiros e é nesse sentido
que emergem possibilidades e desafios.

Ensino de Física Intercultural na Educação Indígena Pataxó

Leonardo Diego Lins

Sandra Valéria Silva Lins

Maira Cavalcanti Coelho

Qual é o papel do Ensino da Física no contexto escolar indígena? Existe a possibilidade do


diálogo intercultural no ensino e elaboração de material didático de Física? Tais
questionamentos foram gerados no curso de Formação de professores indígenas da
Licenciatura Intercultural em Educação Escolar Indígena – LICEEI – UNEB. No Brasil, tanto o
ensino de física quanto a educação escolar indígena têm sido objeto de inúmeras pesquisas,
entretanto a sua Interculturalidade carece de maiores aprofundamentos investigativos. De
fato, os professores indígenas pataxós reivindicam a elaboração de novas propostas
curriculares aplicáveis às suas escolas para substituir o modelo geral do sistema educacional
vigente. As reivindicações oriundas de projetos educacionais “alternativos” em áreas
indígenas e da crescente mobilização dos profissionais envolvidos, sendo índios ou não-índios,
viabilizam uma luta na construção de materiais didáticos contextualizados com o cotidiano
indígena. Mediante tais questionamentos, nosso trabalho visou a uma análise crítica do
material didático para área de Física e a produção de material intercultural a partir de pesquisa

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colaborativa com os professores e estudantes indígenas no contexto da comunidade Pataxó


do Extremo Sul da Bahia.

A disciplina língua indígena entre os Kiriri

Vanessa Coelho Moraes

Os Kiriri são uma das etnias indígenas do nordeste, que vivem no norte da Bahia, no município
de Banzaê, em um território com 12.320 hectares que tem 14 aldeias e aproximadamente 4
mil índios. Na década de 70, eles começaram um processo de retomada territorial e para
efetivar isso, começaram a buscar uma série de práticas que fizessem a sociedade regional, o
estado e outras etnias legitimarem eles enquanto índios, pois só assim poderiam ter o direito
de obter um território indígena. Assim, passaram realizar uma série de atividades indígenas
que ressaltassem seus marcadores diacríticos, se conectando com seus antepassados e se
reorganizando politicamente para reaver suas terras. Em 1995, eles conquistam seu território,
mas apesar disso, ainda hoje são acusados de não serem índios tanto pela sociedade
envolvente quanto por outras etnias. Um dos argumentos para isso é o fato de não terem
falantes de uma língua indígena. Isso afeta a construção da sua identidade tanto
externamente quanto internamente, pois são comuns discursos entre eles de que falta algo
em sua identidade e esse algo é a “língua dos antigos”. Em função disso, em suas escolas
efetivam uma educação diferenciada, com uma série de elementos específicos da sua própria
cultura, inclusive com uma disciplina chamada língua indígena. Nessa matéria eles ensinam o
que sabem sobre o léxico do seu idioma, o qual é apreendido através da tradição oral com os
mais velhos. Além disso, eles praticam o Toré, ritual indígena que realizam com a principal
finalidade de entrar em contato com suas entidades sagradas. Ao longo da realização dessa
prática algumas mulheres incorporam e em um dado momento falam na “língua dos antigos”,
a partir daí eles aprendem algumas palavras e tiram dúvidas. Para compreender isso, eles
também buscam uma arte de gramatica e um catecismo que foi feito no século XVII pelo padre
jesuíta Vicencio Mamiani, a partir dessas obras eles traduzem algumas palavras e incorporam
ao seu léxico. Essas três formas de entender seu próprio idioma aparecem na disciplina língua
indígena sendo expressa de uma maneira singular por cada professor. A elaboração desse
saber vem de uma epistemologia própria Kiriri que relaciona o conhecimento oriundo da vida
em comunidade com o conhecimento que deve ser transmitido na escola. Assim, pretendo
nesse trabalho mostrar como os Kiriri estão relacionando a educação informal que vêm
principalmente dos mais velhos, das suas entidades sagradas e seus estudos particulares sobre
documentos históricos com o conhecimento formal que é expresso no colégio.

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Escola Estadual Indígena Mbya Arandú: Novas alternativas para a educação


escolar indígena em busca de autonomia étnica e comunitária

Mayara Vieira da Silva

Para os indígenas o conhecimento é amplo não se resume a meras disciplinas e se faz de modo
natural na vida cotidiana com total valor a oralidade. Em contraponto a isso a escola indígena
ainda esta dentro dos moldes hegemônicos de educação lidando com o conhecimento de
forma fragmentada e burocratizada o que distância o processo de ensino aprendizagem das
reais necessidades dos indígenas, havendo assim uma contradição em meio à demanda por
uma educação diferenciada voltada para a realidade local e para fortalecimento comunitário.
Esse trabalho trás uma reflexão sobre quais seriam as novas alternativas educacionais para a
Educação Guarani, no sentido de re-significar as práticas pedagógicas criando uma educação
que resgate e valorize aquilo que lhes foi tirado e rompa com aquilo que lhes foi imposto.
Nesse sentido podemos chamar de nova educação o que temos feito com o conhecimento
indígena, buscando utilizá-lo de modo a valorar o potencial desse povo para melhorar suas
condições de existência (vida). A partir desta perspectiva este trabalho consiste em relatar as
experiências desenvolvidas na Escola Estadual Indígena Mbya Arandú – Ensino Fundamental,
localizada na Terra Indígena Araça-i onde vivem cerca de 30 famílias em situação de
vulnerabilidade social. Foi em meio a este contexto que visamos resgatar a autonomia
Guarani, com foco no fortalecimento comunitário, econômico e educacional traçando um
diálogo indissociável entre educação escolar indígena e educação indígena no processo de
construção coletiva do projeto político – pedagógico, onde a comunidade pode se avaliar
enquanto coletivo e relatar o que seria necessário que a escola ensinasse. A partir de
metodologias ativas os indígenas realizaram atividades envolvendo elementos culturais que
os próprios sentiram necessidade de resgatar como artesanato, pão caseiro, cultivo de
alimentos tradicionais entre outros. Desse modo a busca por uma nova educação reafirma
que a escola dentro da comunidade deve ser ferramenta para fortalecimento e transformação
social atrelando os conhecimentos tradicionais e os valores locais como sua maior força para
a resolução de problemas, construindo assim uma comunidade de aprendizagem onde todos
são protagonistas do processo educativo, que vai muito além dos muros da escola.

Jornadas míticas do tornar-se professor: travessias de um processo de


formação de professores e professoras indígenas em São Gabriel da
Cachoeira
Eglê Betânia Portela Wanzeler

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Este trabalho refere-se a uma análise reflexiva acerca de uma experiência de formação de
professores indígenas, por meio da qual se procurou estabelecer uma prática de formação
inspirada nos operadores da complexidade e da transdisciplinaridade. Trata-se do processo
de construção de uma matriz de exploração epistemológica e metodológica implicada nesses
operadores. Metodologicamente, este trabalho foi desenvolvido por meio da pesquisa
etnográfica. A pesquisa buscou estabelecer diálogos pertinentes entre dois operadores
cognitivos: pensamento sensível e pensamento científico, inerentes ao contexto da formação.
O campo empírico da pesquisa foi a própria experiência de formação que se desenvolveu nas
disciplinas Estágio Supervisionado e Prática da Pesquisa Pedagógica. Além disso, o trabalho
procurou estabelecer vínculos entre o universo mítico e cosmológico dos sujeitos da pesquisa
e inseri-los na experiência como conteúdos de ensino e de aprendizagem. Enfim, trata-se de
uma pesquisa inspirada pela experiência do sentido e do vivido, a qual se procurou nutrir de
sensibilidades, imaginários, intuições, sabedorias, ética e estética.

Descolonizando saberes: Um despertar com a terra no estudo de outras


epistemologias

Aida Brandão Leal

Rafaela Werneck Arenari

O presente trabalho traz recortes de uma pesquisa com os povos indígenas do Espírito Santo,
Brasil, financiada pela CAPES, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Institucional, na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), que vem problematizando o
fazer pesquisa com os povos indígenas. Dessa maneira, vem-se analisando em primeiro lugar,
que ao longo da história do ocidente, a produção do conhecimento tem sido solidificada a
partir de uma fundação racionalista, que é princípio basilar para a consolidação do saber
científico. Esta ciência se edifica enquanto um modelo epistemológico hegemônico e
colonizador, à medida, que desconsidera outras formas de conhecimento, como a dos povos
indígenas, que são produzidos de modo local, numa epistemologia baseada na relação
intrínseca com a terra e com a ancestralidade. A ciência moderna, por sua vez, não apenas
desconsidera os saberes tradicionais, mas funciona como instrumento de colonização,
submetendo e violentando os saberes dos povos indígenas, como se fossem inferiores,
tratando como folclore crendices, de modo caricatural, produzindo dessa forma, invisibilidade
e inexistências da sabedoria dos povos. Apostar nas epistemologias indígenas, ou seja,
conhecimentos que se desenvolvem numa relação de pertencimento, coexistência e
interdependência com a terra e com a memória ancestral, significa em primeiro lugar
considerar a diversidade do mundo. Conhecimentos que não são pré-existentes, mas que
existem a partir da relação e da produção de diferenças. Por isso, o mundo é múltiplo, diverso,
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portanto, reconhecer a existência da pluralidade do mundo contribui para a afirmação de


outros horizontes, formas diversas de vida, um campo aberto de criação de possibilidades de
experiências e práticas sociais e políticas. Não se trata, porém, de questionar ou negar a
importância e o valor da intervenção científica, como por exemplo, os saberes biomédicos,
problematiza-se, portanto, as práticas de seu monopólio colonial que oculta e impede de
reconhecer a existência e a potência de outras formas de conhecimento, vida e outros modos
de intervenção no real. Pois, o colonialismo escreveu com sangue dinâmicas históricas de
dominações políticas e culturais que submeteu à sua visão etnocêntrica do conhecimento ao
mundo, impondo o modelo de mundo cristão ocidental e o capitalístico, como se fosse natural
e universal. Assim, esta pesquisa aponta para um despertar com a terra e com a memória
ancestral, como caminhos de pesquisa conectada com as epistemologias indígenas, como
âncoras de construção de pesquisas que sejam contra colonizadoras.

O eurocentrismo na formação universitária e obstáculos na garantia de


direitos sociais dos povos indígenas

Lara de Souza Tonin

A luta pela defesa e ampliação dos direitos sociais dos povos indígenas encontra seus
primeiros obstáculos na formação acadêmica das/os profissionais responsáveis por suas
formulações e implementações, empreendida em uma Universidade que marginaliza os
universos simbólicos e padrões de produção de conhecimento dos inúmeros povos não-
europeus. Por meio de pesquisas bibliográficas aos textos de Dussel (1995, 2005), Quijano
(1992, 2005) e Grosfoguel (2016), o presente trabalho visa discutir, brevemente e a princípio,
a construção da ideia de raça atribuída às diversas culturas presentes na América no período
da invasão europeia, para compreender o caminho da legitimação da forma de conhecer de
uma pequena região na Europa do século XVI, por meio da expropriação e/ou repressão de
diversos conhecimentos dos povos conquistados. Assim, busca-se compreender como a
construção do imaginário da modernidade, que coloca o europeu como o topo da cadeia
evolutiva e acusa de inferioridade epistêmica as demais maneiras de conhecer, influi na
formação acadêmica contemporânea e nos conhecimentos produzidos no espaço
universitário, cuja própria validação passa pelo crivo cartesiano. Aponta-se, de forma ampla,
os impactos disso na preparação das/os profissionais que atuarão na defesa e efetivação dos
direitos dos povos indígenas, em especial na formação das/os Assistentes Sociais,
responsáveis pela elaboração, implementação, execução e avaliação das políticas sociais.
Grosfoguel (2016) propõe o termo “exterioridade relativa” para se referir à tradição cultural
ou epistêmica de indígenas, negras/os, mulheres, muçulmanas/os e judias/judeus críticas/os
que, mesmo não se desprendendo totalmente da Modernidade eurocêntrica, continuam vivos
e representam seu grito de libertação. São conhecimentos heterogêneos, inseridos em um
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espaço-tempo específico, com suas condicionalidades históricas e sociais. Portanto, para que
os direitos sociais indígenas respondam de forma autêntica às necessidades desses povos, é
necessária uma reformulação da forma de produzir conhecimento nas Universidades,
ocupando esses espaços com vozes indígenas e seus diversos conhecimentos ancestrais e
dando espaço para formulações que ultrapassem os padrões normativos da tradição europeia.

Concepções dos acadêmicos indígenas do curso bacharelado em antropologia


quanto as dificuldades enfrentadas durante sua formação

Tiago da Silva Almeida


José dos Santos Guimarães Neto
Edilanê Mendes dos Santos

A política governamental de expansão das Instituições Federais de Ensino Superior tem


agregado uma maior diversidade cultural as universidades. Por meio de políticas públicas, uma
maior diversidade de povos indígenas e quilombolas tem frequentado os mais diversos cursos
superiores, além de ser uma forma de inserção no ensino ocidental, também se torna uma
estratégia para dialogar com a sociedade não indígena. No Alto Solimões esta afirmação vai
ao encontro da diversidade cultural vista no Instituto de Natureza e Cultura da Universidade
Federal do Amazonas, ao menos seis etnias indígenas podem ser encontradas no Campus.
Desta forma, levantar dados sobre o que pensam os indígenas acerca do curso escolhido pelos
mesmos é uma forma de aprofundar discussões e mitigar melhorias para que tenham êxito
durante sua formação. O objetivo deste trabalho foi de identificar as principais dificuldades
enfrentadas pelos acadêmicos indígenas durante a graduação no curso de Antropologia,
mostrando os principais motivos que os levaram a escolha do curso. Para isso foi realizada
uma pesquisa qualitativa de cunho descritivo, utilizando questionários abertos para esta
finalidade. Para tanto este questionário pretendeu mostrar aberturas para discursões e
propostas para melhorias no curso de Antropologia segundo as concepções dos acadêmicos
indígenas, e assim trazer motivações para que tenham um maior interesse pelo curso
escolhido. Os resultados mostraram que a maior dificuldade enfrentada está relacionada a
língua portuguesa, pois o curso requer muita leitura do estudante, o que acaba desmotivando
os mesmos. Entender a diversidade cultural e ajudar a comunidade pertencente são
motivações citada pelos acadêmicos para a escolha do curso, assim como a baixa procura.
Desta forma, ouvir os grupos indígenas que adentram ao curso pode servir de subsidio para
se pensar num curso que também atenda aos anseios dos mesmos, pois uma educação escolar
diferenciada no ensino básico já está assegurada pela legislação em vigor, logo formar
melhores profissionais indígenas dedicados na sua profissão seria um ganho social, desta
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forma, ficar atentos as suas reivindicações seria um caminho mais eficiente na busca de
melhores resultados com estes acadêmicos.

Etnopoliticas Educacionais na Universidade Federal do Maranhão: políticas


compensatórias para estudantes indígenas e afroindígenas

Verissa Einstein Soares do Amaral

A pesquisa foi iniciada na construção da monografia do curso de Ciências Sociais, tem como
tema o ingresso de estudantes indígenas através das cotas para indígenas na Universidade
Federal do Maranhão – UFMA. O problema de pesquisa levou em consideração as políticas
compensatórias de cotas, voltadas aos indígenas, que se propõem a viabilizar a participação
ativa e adequada nas práticas sociais dos cursos oferecidos pela Universidade Federal do
Maranhão. Busco entender como é o acesso por meio das políticas públicas de cotas
(MANDULÃO, 2003), a presença e a participação social dos indígenas e dos afroindígenas
(FLORES, 2017) na UFMA, tanto na graduação quanto nos programas de pós-graduação, em
nível de especialização, mestrado profissional, mestrado acadêmico e doutorado. A pesquisa
tem como objeto de estudo conhecer características das políticas de cotas instituídas, das
representações simbólicas (Bourdieu 1989), das representações etnopoliticas (LUCIANO,
2006) e dialogar com os demais autores que já trabalharam com essa temática como Carvalho
(1999), Castorino (2011), Coelho (2016) e outros, contextualizando com os povos indígenas
do Maranhão e suas relações com a UFMA e letramento formal na perspectiva das ontologias
e alteridades. A pesquisa tem como objetivo investigar as políticas indigenistas de cotas
voltadas para a educação no ensino superior na UFMA, identificar os princípios que norteiam
a formulação das políticas compensatórias para indígenas, caracterizar as estratégias de
construção e implementação das políticas compensatórias para indígenas na UFMA. Quanto
a metodologia, trabalhei com pesquisa bibliográfica, entrevistas, utilizando os conceitos de
multiculturalismo (KYMLICKA, 1996), justiça social, minorias nacionais e ações afirmativas e
outras categorias. A pesquisa está em andamento, tendo verificado tais resultados: o
constante problema da universidade em identificar quem é indígena e não indígenas, sendo a
autodeclaração critério insuficiente; a implementação de comissão de verificação e sua pouca
eficácia; dificuldade para encontrar ingressantes das cotas para indígenas, sendo a ausência
um dado importante para a pesquisa e a carência de políticas de permanência para estudantes
indígenas. Invisibilidade, tensionamentos das diferenças lógicas (quantitativos, construção de
identidade, costumes e hábitus); o não reconhecimento e valorização dos conhecimentos
tradicionais, e de suas manifestações culturais; são assegurados os aspectos formais, mais não
é pensado a permanência dos estudantes indígenas na UFMA, são alguns resultados parciais
que tenho obtido em minha pesquisa.

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Contradições, desencontros e desafios para a consolidação de ações


afirmativas e permanência de estudantes indígenas na educação superior

Gabriel Dias Vidal Azevedo

Mateus William Martins Gomes

Umberto Euzébio

A colonização dos povos originários acarretou em minorizações, tanto em termos de etnias


quanto de direitos. Assim, nossos indígenas ainda sofrem por consequências passadas ainda
não sanadas, como a falta de posse sobre suas terras, inclusão política e social, bem como
poucas ações de inserções à comunidade acadêmica. Assim, a representatividade e a
autonomia de seu povo, suas terras e suas práticas sociais são afetadas por não possuírem,
quantitativamente, representantes ocupando espaços de privilégios e de reputação em todos
os contextos sociais. Apesar de a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases
(LDB) de 1996 preverem, a oferta de educação básica indígena em suas respectivas línguas
maternas, mas não apresentam políticas de inserção em contexto universitário. Nesse
contexto, a fim de democratizar e de universalizar o acesso ao ensino superior, a Universidade
de Brasília (UnB) e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) firmaram, em 2004, um convênio
para o acesso de indígenas nos seus cursos superiores. Os acadêmicos indígenas enfrentaram
diferentes obstáculos no contexto universitário que vão desde a falta de assistência estudantil,
pagamentos de bolsas, respeito à cultura, dificuldades de aprendizado, problemas emocionais
por falta e distância de suas comunidades até a estigmatização. Nesse sentido, a metodologia
abordada como forma de intervenção da problemática consolidou-se em Oficinas e Leitura de
Produção de Textos. Foram práticas de textos orais e escritos com produção individual e em
grupo envolvendo temáticas como pertencimento, identidade, formação e profissionalização.
O objetivo desse trabalho, então, foi analisar os resultados do emprego dessa metodologia,
consolidada em 30 relatórios de trabalhos de iniciação científica por meio de leitura crítica,
vivências e diálogos com os autores. Essa análise está fundamentada em Bauman (2005),
Barbier (2007), Freire (2011) e Hall (2015) e com o objetivo de permitir a criticidade e a
produção sistemática de textos em diversos gêneros textuais no novo contexto, além da
construção da autonomia, reafirmação como indígena e organização política como grupo
indígena, no ambiente universitário. É uma pesquisa qualitativa para responder qual é o papel
da produção desses textos como forma de inserção, de promoção de autonomia, de
manifestação e organização política na universidade, nas práticas pedagógicas para a
formação de pensadores críticos e representativos em diferentes contextos sociais. Após a
análise, concluímos que processo de produção e de interpretação textual contribuiu para a
socialização do grupo, estruturação e organização política como forma de resistência e de

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exigência e imposição diante da UnB e da FUNAI e na participação de diferentes instâncias e


representações.

A inserção indígena no ensino superior: desafios e perspectivas

Débora Nascimento de Castro

Taciara Soares Castro

Maria Antônia Vidal Ferreira

O trabalho objetivou investigar o percurso acadêmico dos estudantes indígenas no ensino


superior da Universidade Federal do Oeste do Pará - UFOPA. Conjugado a esse foco de análise
discutiu-se os principais modelos de universidades na perspectiva eurocêntrica, bem como os
pressupostos de uma universidade popular na e para a Amazônia. Sob o fulcro da teoria
histórico-crítica o estudo buscou, através de estudos de caso, a voz empírica e acadêmica dos
principais atores desse roteiro, escrito pelas normativas institucionais, implementadas pelas
políticas públicas. Caminhando lado a lado ao processo de transformação da universidade
tradicional elitista para a universidade de massas estão algumas correntes de pensamento
que evocam a democratização, a autonomia e a qualidade, constituindo-se em movimentos
em prol da universidade popular. Entretanto, é preciso ter claro, que, ao mesmo tempo em
que se empenha a bandeira da democratização e se reivindica a autonomia universitária, um
grave obstáculo se impõe, que é conciliar a universidade de massas com a necessária
qualidade.

Desafios, resistência e perspectivas de acadêmicos Indígenas do Instituto de


Natureza e Cultura: um relato de experiências do I Diálogo Intercultural
Universitário na fronteira Brasil, Colômbia e Peru

Kaio Anderson Fernandes Gomes

Marinete Lourenço Mota

Uerica Estevão Gomes

Apresenta-se a proposta de um artigo sobre os desafios e perspectivas de acadêmicos


indígenas do Instituto de Natureza e Cultura (INC), Campus da Universidade Federal do
Amazonas na mesorregião do Alto Solimões na tríplice fronteira Brasil, Peru e Colômbia,
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discutidos e elencados no evento denominado I Dialogo Intercultural, promovido por


estudantes indígenas da referida Instituição de Ensino Superior. O evento contou com a
organização de acadêmicos vinculados a diferentes áreas de conhecimento do INC,
envolvendo 8 (oito) etnias que se encontram na região: Tikuna, Kokama, Witoto, Mayoruna,
Marubo, Kanamari, Kambéba e Kaixana. Como base teórico-metodológica contou-se com a
contribuição dos principais autores: Santos (1994; 1999; 2005), Ribeiro (1995), Oliveira (2007;
2000), Morin (2003), Pinto (2008), Silva (2013), Freitas (2005; 2000), Fraxe (2006; 2004), Leitão
(1999), Brasil (2002) e Freire (2002) na perspectiva da interculturalidade que abordam as
questões indígenas, principalmente voltadas pra a Educação Superior Indígena. Esse trabalho
configura-se como um ensaio de uma pesquisa ação que se desenhou e realizou-se durante o
evento. A pesquisa-ação pautou-se na abordagem qualitativa, utilizando-se da observação
participante, dialógica, interpessoal durante todo evento. Como principais resultados
destacam- se: a identificação da necessidade de mais políticas públicas por parte da
universidade para assegurar maior participação dos acadêmicos indígenas em trabalhos de
iniciação científica, como também a permanência dos mesmos na Universidade. Foram
firmadas parcerias entre a UFAM, FUNAI, SESAI, Prefeitura Municipal de Benjamin Constant -
AM, Secretaria Municipal de Educação - SEMED, Secretaria de Cultura, Associação das Artesãs
Indígenas da comunidade Filadélfia e Radio Rios, tendo em vista o apoio a fomentar novas
políticas publicas para assegurar com mais ênfase a permanência de acadêmicos indígenas na
educação superior. Houve uma participação significativa da sociedade civil organizada.
Intensificou-se a voz de lideranças indígenas sobre a importância da união entre as diferentes
etnias no tocante às implementações das políticas universitárias visando melhores condições
de acesso e permanência de alunos indígenas nas universidades localizadas no Alto Solimões.

Permanencia estudantil de indíngenas e negros na Universidade do Estado da


Bahia
Naiane Costa de Jesus Santos Lima

O intuito deste trabalho é pesquisar o quanto a política de ações afirmativas em relação à


população indígena e negra tem sido efetivamente profícua e demonstrado resultados
concretos em relação aos índices de melhoria referente aos ambientes acadêmico e
profissional. Entretanto o trabalho presente irá discutir sobre o programa de políticas públicas
que beneficiam negros e indígenas na sua entrada nas Universidades. Este sistema ou
programa já era debatido desde a década de 90, porém ele solidificou a partir do ano
2000.Sabemos que esta política é, e será muito debatida em espaços da academia em
reuniões de conselhos deliberativos, sendo que os mesmos querem eliminar o programa uma
vez, que argumentam sobre a qualidade dentro das universidades, pois perderá seu
desempenho intelectual e não serão capazes de produzir cientificamente como antes da
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inserção das ações afirmativas. As maiorias das universidades elitistas não querem aderir ao
projeto de políticas púbicas, pois dizem que não está havendo benefício algum, ela vai além
da meritocracia, cotas humilham os negros e indígenas, prejudica a excelência da universidade
e o ponto crucial do trabalho é demonstrar que esses pontos são meramente falsos, e que a
qualidade do ensino superior continua a mesma, e agora até melhor, pois aumentou-se a
pesquisa e extensão, apresentações de trabalhos em congressos nacionais e internacionais
apresentados por cotistas, tanto negros quanto indígenas. Por isso este trabalho vem para
iluminar e deixar transparente o quanto precisamos nos reportar a luta de raças e de classes.
Entretanto existe também apenas a propagação de uma assistência em muitos casos na
Universidade do Estado da Bahia, e temos a necessidade de discutir, dialogar para que tais
fatos precisem ser verificados, tanto na base de assistencialismo, quando a veridicidade do
uso das ações afirmativas, se realmente são indígenas, negros e quilombolas que realmente
estão pleiteando as vagas.

Indigenizando a Universidade: A apropriação e a produção de lugares


indígenas nas Universidades

Igor de Souza Martins

Gicele Sucupira Fernandes

A presença de estudantes indígenas dentro das universidades tem sido crescente. No entanto,
pelo fato de, muitas vezes, estarem dispersos em diferentes cursos na Universidade sequer se
conhecem, se encontro e se comunicam. Um lugar específico para visibilidade, sociabilidade,
encontros e interação entre as e os estudantes indígenas e não indígenas, para festas, oficinas
tem sido demandas recorrentes entre estes estudantes indígenas nas universidades
brasileiras fortemente vinculada à uma ação de permanência. (CARNEIRO, 2013, p. 46; KLEBA,
2018, p. 136; UNIR, 2016; UNIR-IFRO, 2018). Considerando essas situações, o texto apresenta
uma pesquisa ainda em andamento sobre o uso, a apropriação e a circulação indígena nas
universidades brasileiras realizado com estudantes indígenas e com gestores das
universidades. Levamos em consideração os lugares em que as e os estudantes transitam,
estudam, passam tempo, onde realizam encontros, reuniões, onde deixaram suas marcas e,
principalmente, quando há, os lugares específicos destinado a eles e elas, que nem sempre se
reduzem a prédios. A respeito destes abordaremos o processo de negociação, planejamento
e construção e, é claro, também seus usos. Para análise, dialogamos com produções que se
debruçaram sobre a arquitetura e engenharia indígena (OLIVEIRA, 2007; PRUDENTE, 2007;
CARRINHO, 2010; SANTOS, 2014; SILVA, 2014; CASTRO, 2017), lugar e universidade. É válido
lembrar que a arquitetura das universidades brasileiras de modo geral expressa uma
determinada cultura ocidental, muito distante da arquitetura indígena, nos seus prédios:
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materiais, formatos, cores. A Maloca da Universidade de Brasília, os prédios da Universidade


de Goiás, a Casa do Estudante e da Cultura Indígena e os grafismos na Universidade de
Roraima, na Universidade Federal de Minas Gerais, na Universidade Federal de São Carlos, o
Centro de Vivências conhecido como “oca”, que foi destruído na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, e a luta por um Centro Cultural Indígena e pela Casa do Estudante Indígena na
Universidade Federal de Rondônia e outras experiências. Por fim, argumentamos que a
‘indigeniazação da universidade’ (SAHLINS, 1997; CARNEIRO, 2013; FIORI, 2015) se manifesta
na apropriação de seus lugares físicos e simbólicos por indígenas. A presença indígena
materializada em lugares específicos, grafismos e outras marcas é uma forma de mostrar que
ali estudam e podem estudar indígenas, tirando-os da invisibilidade que muitas vezes os
acompanham, e, por conseguinte, expressar que a universidade também é um lugar para
indígenas, ou seja, produz outras maneiras de ver as e os indígenas não tão comuns ao
imaginário acadêmico e ocidentalizado.

“Ninguém rouba minha cultura”: educação superior indígena na Amazônia,


interculturalidade e desafios (contexto dos gaviões kyikatejê)

Naara Fernanda da Silva Mendes

O presente trabalho tece considerações a respeito da educação indígena, fomentado durante


a disciplina laboratório de pesquisa e extensão (LAPEX) em ciências sociais; no qual teve como
uns dos objetivos identificar os desafios políticos-sociais e educacionais dos estudantes
indígenas gaviões kyikatejê, na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. Os povos
gaviões kyikatejê atualmente vivem na reserva mãe Maria (município de bom Jesus do
Tocantins-PA), devido ao descolamento consequente da construção da Usina Hidrelétrica de
Tucuruí-PA; o que evidencia a espoliação de seus territórios, e o menos prezo por suas
culturas. Diante desses múltiplos obstáculos históricos, territoriais e socioambientais, o
desafio interculturalidade no ensino superior indígena, se configura umas das estratégias de
lutas pela autonomia, pelo reconhecimento e visibilidade; conquistada também através da
ocupação dos espaços políticos educacionais. O referido artigo objetiva discutir a importância,
e os desafios da interculturalidade na educação, pois, num país pluriétinico como nosso, a
mesma se tornou um dos instrumentos de rompimento das barreiras da discriminação racial
e social da qual os povos indígenas ainda são submetidos.

Formação de professores na perspectiva intercultural

Evanir Gomes dos Santos

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Considerando uma prática educacional que proponha a desestabilização da cultura escolar na


qual ainda prevalece o conceito eurocêntrico dominante, este estudo buscou investigar sobre
a formação de professores das instituições de ensino superior com intercâmbio à formação
de professores indígena específica e diferenciada na perspectiva intercultural. Para tanto,
tomou-se por base a legislação nacional referente à educação indígena a partir da
promulgação da Constituição Federal de 1988; o aporte teórico foi obtido com autores como
Aguilera Urquiza (2013/2017), Boas (2005), Geertz (2008), Candau (2010/2016), Sacristán e
Gómez (1998). O estudo se desenvolveu, portanto, por meio do método dedutivo, utilizando-
se a pesquisa bibliográfico-documental. Analisaram-se, a um só tempo, os Projetos Políticos
Pedagógicos dos Cursos de Licenciaturas Intercultural Indígena e Pedagogia, ambos da
Universidade Federal da Grande Dourados, localizada na cidade de Dourados, estado de Mato
grosso do Sul - Brasil. Constatou-se, dessa análise, que existe possibilidade do intercâmbio,
tendo em vista a oferta de formação de professores indígenas específica e a iniciativa,
notadamente nos componentes curriculares, em relação à formação de professores não
indígenas para essa demanda. A despeito dessa evidência, entretanto, nota-se que esses
universos culturais se mantêm isolados, sem comunicação, no cotidiano acadêmico. Assim,
espera-se que o resultado deste estudo propicie, desde a formação dos professores, reflexões
sobre a necessidade de diálogo entre tais culturas, o que incidirá na educação básica, etapa
em que o profissional possui o desafio de um cotidiano didático multicultural.

Indígenas no Ensino Superior em Pernambuco: tensões, desafios e diálogos


interculturais

José Tarisson Costa Da Silva

Maria da Penha da Silva

A história das universidades e do acesso ao Ensino Superior no Brasil, para atender a elite da
administração pública brasileira, provocou a invisibilidade dos indígenas e a negação da
existência de sociodiversidades no acesso ao universo da universidade. Atualmente, a partir
da Lei no 12.711 de 29 de Agosto de 2012, um movimento contrário faz com que indígenas
disputem e ocupem espaços de poder onde anteriormente só haviam, majoritariamente, não-
índios. Nessa perspectiva, o texto busca evidenciar a atuação política dos estudantes
indígenas universitários - seus posicionamentos e demandas acadêmicas - para compreender
os desafios diante de uma abertura da universidade à interculturalidade de novos atores e
sujeitos. Foram realizadas entrevistas, com questionário pré-estruturado, durante o Encontro
da Juventude Indígena de Pernambuco, ocorrido entre dos dias 25 e 27 de janeiro, no
território do povo Truká, em Cabrobó - PE. O público pesquisado foram acadêmicos indígenas
vinculados ao movimento da juventude organizada dos seus povos. O encontro da Comissão
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da Juventude Indígena de Pernambuco é um espaço para organização das bases nos povos
que habitam no estado. As organizações internas de juventude das etnias se encontram duas
vezes ao ano e pensam um evento amplo, aberto a todos, para fazer análise da situação
política, traçar estratégias e definir pautas de mobilizações. Muitos dos indígenas das bases
são universitários, o que ressalta a importância dos espaços universitários para juventude
indígena em Pernambuco. Esses agentes sociais se organizam em torno do protagonismo,
autonomia e autogestão das próprias vidas no contexto universitário. Enquanto coletividade,
superar a tutela é uma das iniciativas que eles afirmam e a aderência aos espaços acadêmicos
faz parte dessa proposta. Para refletir sobre essas temáticas foi usado, como referencial
teórico, os estudos de Luciano (2006), Nascimento (2018), Lima (2013) e Mato (2018), no
intuito de trazer um debate sobre o exercício da cidadania, autonomia dos sujeitos indígenas
e a educação intercultural.
Educação intercultural no Alto Rio Negro: Acesso à educação no Campus
IFAM – São Gabriel da Cachoeira/AM

Luclécia Cristina Morais da Silva

Roberta Enir F. N. Lima

Jefferson A. Vargas

Maria Isabel O. Silva

O Campus IFAM-São Gabriel da Cachoeira apresenta uma realidade que é ao mesmo tempo
multi e intercultural, pois congrega discentes de diferentes etnias, falantes de línguas próprias
e oriundos de cosmologias diversas. Esses alunos aprendem a conviver com diferentes
alteridades que se fundamentam em diferentes sistemas de relações e compreensões do
universo social. O desafio é tornar o ambiente escolar um local que agregue as diferentes
concepções de mundo e ao mesmo tempo possibilite um intercâmbio cultural através da
compreensão de que não existe um “saber local como um sistema monolítico e culturalmente
delimitado”, pois, o saber é uma construção híbrida (SANTOS, 1998). A instituição de ensino
está inserida na região do alto Rio Negro, maior afluente da margem esquerda do rio
Amazonas, fazendo fronteira com a Colômbia e Venezuela. É uma região de ampla variedade
cultural, pois, congrega 23 povos indígenas pertencentes a diferentes famílias linguísticas e,
que perfazem 95% da população da região, sendo o primeiro município no Brasil a cooficializar
as línguas indígenas Nheengatu, Tukano, Baniwa e Yanomami. Nesse sentido o presente
trabalho apresenta a atuação do Instituto Federal do Amazonas (IFAM) – Campus São Gabriel
da Cachoeira no cotidiano desses estudantes, a partir de uma apresentação geral dos cursos
técnicos nas modalidades: Integrados, Subsequente e Proeja. Bem como as regiões atendidas
pelo Campus, que abrangem as comunidades presentes em vários afluentes do Rio Negro:
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Waupés, Tiquié, Papuri, Içana, Xié, entre outros assim como a região de todo Território
Etnoeducacional Rio Negro (TEERN) que abrange, além do município de São Gabriel da
Cachoeira, também os municípios de Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro. A criação do TEERN
em 2009 é fruto da luta do movimento indígena reconhecendo e valorizando da diversidade
sociocultural e linguística, da autonomia e do protagonismo desses povos conforme
estabelecido na Constituição Federal. A atuação do Campus SGC, desde 1995 na região, vem
sendo pautada a partir da parceria e assessoria junto a diversas instituições locais, como a
FUNAI e a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) na implementação de
cursos voltados à realidade da região e no acesso justo através de políticas afirmativas que
preveem a reserva de vagas por calhas de rios. Bem como pela valorização das línguas
maternas das diferentes etnias durante a realização das provas do processo seletivo, na busca
por contribuir no fortalecimento e valorização da diversidade cultural da região.
Ensino superior indígena na universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará:
Acesso e permanência, avanços e desafios

Natália Lopes da Silva

A presente comunicação apresenta a experiência do ensino superior indígena na recém-criada


Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), no campus de Marabá. O objetivo
foi verificar o quantitativo de discentes indígenas atualmente matriculados e analisar o
percentual dos que permaneceram ou se formaram. A partir disso, este trabalho se propõe a
questionar a efetividade das políticas de acesso e permanência dos estudantes indígenas. E
através dessas políticas, refletir se houveram avanços na prática e quais são os desafios
necessários para consolidar o direito à educação superior. Portanto, foram utilizados dados
da Pró- Reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis (PROEX) da UNIFESSPA, entrevista com
discentes indígenas e por fim levantamento bibliográfico de trabalhos sobre o tema.

Los pueblos indígenas en Colombia, proyecciones educativas desde la


invasión española hasta los derechos constitucionales del siglo XX y las
políticas públicas contemporáneas

Fundación Canto Ancestral

Establecer concepciones sobre lo indígena en diferentes aspectos sea educativo, productivo,


religioso, artístico o jurídico, resulta complejo en la medida en que los últimos siglos de
nuestra historia han sido construidos con elementos propios y coloniales, de los cuales han
resultado una diversidad de formas, en las que se han preservado sistemas educativos
construidos desde cosmologías tan antiguas como el chamanismo, hasta sistemas sincréticos
y de adoctrinamiento como la escuela o la iglesia. Conceptos como etnoeducacion, educación
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propia, empoderamiento, enfoque diferencial, de derechos o intercultural, han resultado


como forcejeos constantes entre las formas del Estado y las que aún conservan los pueblos
indígenas en sus prácticas culturales y ancestrales. La etnoeducacion se ha edificado como un
escenario donde se ha ido combinando la estructura tradicional y colonial de la escuela con
elementos propios de la cultura como los idiomas, las prácticas y los maestros indígenas en
una sola figura estatal que es la escuela, por su parte la educación propia resiste como forma
itinerante de heredar y trasmitir los saberes propios de la agricultura, los calendarios solares
y lunares, el manejo de las plantas y la lectura y transitar del territorio, como forma de
aprender y practicar en función de la preservación de la vida. El presente análisis para
contribuir a encontrar caminos de dialogo entre la etnoeducacion y la educación propia en un
modelo económico arrasador y uniformador al que siguen siendo reducidos los pueblos
indígenas y las comunidades rurales en su conjunto. En la escuela no debe entrar toda la
cultura, no cabe. Así mismo, prácticas de educación tan milenarias como la partería, el tejido,
la música o el canto ceremonial, no pueden quedar a merced de los modelos educativos de
los gobiernos o los sistemas económicos privados.

O ensino da Matemática como fortalecimento da identidade do povo


indígena Xukuru do Ororubá-PE: um relato de experiência

Maria Marcela Lima de Moura

Andreza Rodrigues da Silva

Tiago Beserra Maciel

Considerada uma ferramenta capaz de articular seus conhecimentos na resolução de


problemas, a matemática é uma disciplina que necessita estar contextualizada. Apesar disso,
em diversas vezes o conhecimento matemático é imposto ao aluno sem levar em
consideração o seu contexto vivenciado. E abordar a matemática no ensino indígena requer
pensar em alternativas metodológicas com ênfase na cultura e o meio social em que vivem. A
realidade das escolas para a maioria dos estudantes aponta que “[...] os conceitos vistos na
escola são tão distantes das suas vivências, que, por isso, não se sentem motivados em
aprender os conteúdos ou, quando os aprendem, é apenas para tirar nota nas avalições.”
(DOMINGUES, 2003, p. 35). Nesse sentido, percebe-se que existe uma distância entre o
conhecimento e a realidade. Deste modo, a Etnomatemática enfatiza justamente essa
questão, propondo que seja aprendida a matemática da sua comunidade ou de sua etnia para
se alcançar uma aprendizagem significativa, na qual os conhecimentos vividos são utilizados
(DOMINGUES, 2003). Em vista disso, a educação escolar indígena do povo Xukuru do Ororubá
se dá de forma específica e diferenciada, onde o professor deve relacionar o conteúdo da Base

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Nacional Comum Curricular com a realidade do povo para que assim o estudante receba uma
formação cabal. Assim, Assis (2014, p. 26) afirma que “a etnomatemática representa um
caminho para uma educação renovada em que a Matemática pode propiciar questionamentos
sobre as situações reais vivenciadas pela sociedade”. Deste modo, se faz necessário este liame
entre a realidade do povo e os conteúdos globais, para que ao mesmo tempo em que o
estudante aprende algo novo possa refletir sobre a sua realidade. O presente relato de
experiência refere-se a uma intervenção realizada na turma do 6o ano A do Ensino
Fundamental da Escola Estadual Indígena Ororubá, localizada no Território Indígena Xukuru
do Ororubá no município de Pesqueira-PE. Na qual, o tema proposto foi potenciação e
radiciação, tendo por objetivo fazer o estudo das operações matemáticas ao mesmo tempo
em que se trabalhavam dados históricos do povo, visando fortalecer a sua história e
identidade. Como metodologia, pensou-se em atividades que os estudantes pudessem aplicar
procedimentos resolutivos das operações de potenciação e radiciação ao mesmo tempo em
que refletiam sobre a realidade e história do seu povo. Inicialmente foram relembrados os
procedimentos para solucionar uma potenciação e uma radiciação, posteriormente fora
distribuída uma atividade xerocada onde os estudantes fariam a leitura das questões e
responderiam através de potenciação e radiciação informações sobre a história do povo. A
aplicação da atividade foi dividida em duas etapas, com duas atividades distintas, a primeira
atividade propiciou aos estudantes um momento de reflexão sobre o passado do seu povo,
assim como o processo de lutas e conquistas. A segunda atividade propiciou um momento de
reflexão sobre o momento atual, onde o povo realiza um evento para discutir o seu projeto
de futuro. E ao mesmo tempo ambas trazem a abordagem matemática de modo a levar os
estudantes a perceberem a importância da mesma no cotidiano e que através dela se podem
ter registros de dados históricos. Ambas as atividades trazem consigo também o
fortalecimento da identidade do ser indígena, pois o estudante está reafirmando e
interpretando a sua própria história. Faz-se necessário mostrar ao estudante que ele está
inserido no mundo matemático e vice-versa, valorizando a sua participação enquanto pessoa
política e social ao mesmo tempo em que é um instrumento de ensino- aprendizagem. Através
da experiência foi possível observar que os estudantes tiveram uma maior interação, pois ao
perceberem que as atividades traziam informações que aconteceram dentro do seu povo,
ficaram curiosos para descobrirem quando tinha acontecido e logo utilizaram os saberes
matemáticos para encontrar as respostas, as atividades também possibilitaram que os
estudantes fizessem o uso de saberes adquiridos anteriormente. Deste modo, percebe-se que
utilizar a realidade dos estudantes para facilitar o processo de ensino-aprendizagem,
mostrando para eles que é possível aprender ao mesmo tempo em que se faz uma reflexão
sobre a sua realidade, é uma alternativa metodológica que valoriza processos significativos de
aprendizagem.

A pintura corporal do povo indígena Xukuru do Ororubá-pe como ferramenta-


objeto do processo de ensino-aprendizagem: um relato de experiência
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Maria Marcela Lima de Moura

Andreza Rodrigues da Silva

A geometria muitas vezes é deixada de lado por muitos professores de matemática por ser
considerada um ramo da matemática que não tem tanta relevância na vida escolar dos
estudantes, e ás vezes é vista de forma descontextualizada, sem dar ênfase a realidade em
que o estudante está inserido. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p. 55)
“Os conceitos geométricos constituem parte importante do currículo de Matemática no
ensino fundamental, porque, por meio deles, o aluno desenvolve um tipo especial de
pensamento que lhe permite compreender, descrever e representar, de forma organizada, o
mundo em que vive”. Assim sendo, fica explícito a importância de se trabalhar a geometria no
ensino fundamental e acima de tudo utilizar-se de ferramentas que estejam presentes no
cotidiano dos estudantes. O objetivo da pesquisa é relatar acerca de um plano de aula que
contempla o conteúdo curricular obrigatório e o específico, na efetivação de uma educação
escolar indígena específica e diferenciada. Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de
experiência de uma intervenção realizada na turma do 7o ano A do Ensino Fundamental da
Escola Estadual Indígena Ororubá, localizada no Território Indígena Xukuru do Ororubá no
município de Pesqueira-PE. Para sua realização utilizou-se recursos como imagens,
explanação, tinta tradicional, pinceis, etc. Em relação ao ensino de matemática, o Referencial
Curricular Nacional Para As Escolas Indígenas (RCNEI) destaca que “O saber matemático é
fundamental para a compreensão da realidade e está, neste sentido, intimamente articulado
às atividades cotidianas que cada sociedade desenvolve” (RCNEI, 2002, p. 161). Deste modo,
trabalhou-se o conteúdo de geometria, no entanto de forma a relacioná-la com os elementos
que estão presentes no cotidiano dos estudantes, como pintura corporal. A princípio foram
relembrados conceitos sobre os polígonos, definição e características, sempre fazendo relação
com elementos presentes no meio. Em seguida, os estudantes realizaram a pintura corporal
do Povo Xukuru do Ororubá-PE, em que a mesma possui em seu formato triângulos e
losangos. A partir disso, foi possível identificar junto com os alunos quais polígonos estavam
presentes nas pinturas e então discutir suas classificações quanto aos lados. Percebeu-se que
os estudantes tiveram um envolvimento efetivo na atividade e compreenderam os polígonos
não apenas como formas geométricas que possuem ângulos e lados, mas que seu uso é
constante no dia a dia, e que muitas vezes são utilizados de forma despercebida, bem como
também contribui para o fortalecimento da identidade dos estudantes.

A implicação do corpo nos processos de ensino e aprendizagem – Quais


contribuições os saberes e as práticas indígenas têm a oferecer a educação de
uma identidade decolonial?

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Izis Guimarães Mueller

Aline Accioly Sieiro

Os estudos histórico culturais, demonstram que, as práticas educativas são uma intervenção
intencional no modo como os sujeitos são inseridos na cultura de um povo, no modo como
internalizam os referenciais sociais que nortearão seu ser no mundo. Ao nascer somos um
organismo vivo, um aparelho em funcionamento e é no encontro deste organismo vivo com a
cultura que se dá o começo da constituição do psiquismo; ou seja, de uma experiência
particular sobre o que ocorre àquele organismo. As chamadas, interdições civilizatórias
incidem sobre os sujeitos, exigindo destes que criem seu jeito próprio de estar no mundo. Os
processos motores, os processos afetivos e os processos cognitivos que constituem os sujeitos
estão integrados, de tal modo, que as maneiras como o corpo está implicado nos possessos
de ensino e aprendizagem, impactam diretamente a incorporação e a produção de novos
saberes, bem como, os processos de subjetivação, ou seja, modos de enxergar a si mesmo e
de ser no mundo. Assim, no sentido de contribuir para uma decolonização da pedagogia
brasileira e do sentimento de identidade brasileira, questiono, “quais contribuições, os
saberes e as práticas indígenas têm a oferecer a educação nacional, no sentido de considerar
a corporeidade dos educandos nos processos de ensino e aprendizagem?”. Com este
questionamento intencionamos contribuir para a efetivação de práticas pedagógicas que
considerem os estudantes em sua totalidade, bem como contribuir com a decolonização da
pedagogia e do psiquismo brasileiro levando em consideração as contribuições das
populações originárias desta terra. Neste artigo, apresentamos o projeto desta pesquisa, os
primeiros delineamentos e direções que pretendemos tomar na efetivação desta
investigação.

IF Sertão PE: Saberes Indígenas Pankararu, Bacia São Francisco, Sertão de


Itaparica, Semiárido Pernambucano

Edivania Granja da Silva Oliveira

Maria do Socorro Tavares

A proposta deste texto é explicitar a nossa experiência com a implementação no Instituto


Federal do Sertão Pernambuco – IF Sertão PE Campus Floresta, do Programa Ação Saberes
Indígena na Escola, com o Povo Indígena Pankararu, Território Etnoeducacional Serra Negra
Berço Sagrado. A referida ação é promovida pela Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização, Diversidade e Inclusão – SECADI/MEC, sob a coordenação geral da Universidade

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Estadual do Estado da Bahia- UNEB, compondo uma rede de articulação dos saberes indígenas
com IFBA e o IFRN. E tem como objetivo promover formação continuada e construção de
materiais didáticos com foco no processo de aprendizagem, especialmente nas modalidades
Educação Infantil e Ensino Fundamental I, nas práticas de letramento e numeramento aliadas
aos conteúdos didáticos de vários campos disciplinares a fim de registrar e produzir materiais
para contribuir com a melhoria das práticas pedagógicas envolvendo os saberes culturais e
históricos no campo da educação escolar indígena do Povo Pankararu. Este grupo étnico
reafirma sua identidade étnica desde a primeira metade do século XX, mas somente na década
de 1980, conquistaram a demarcação definitiva de seu Território, fazendo parte de três
municípios pernambucanos, Tacaratu, Petrolândia e Jatobá, Bacia do São Francisco, com área
por volta de 8.000 hectares, tendo novas áreas reivindicadas. Os Pankararus são importantes
no processo de afirmação étnica e de circuitos de trocas culturais através do ritual do Toré
com diversos grupos indígenas do sertão são franciscanos. Em relação as suas práticas
educativas buscam privilegiar a autonomia, os valores e as formas de viver e pensar do Povo.
Portanto, as escolas Pankararu objetivam a (re)construção e afirmação da identidade, a
manutenção e da garantia do Território. Além do desenvolvimento local sustentável na
perspectiva de uma educação escolar indígena que privilegia os saberes e fazeres Pankararu,
prática cotidiana de educação diferenciada e específica. Na compreensão de que os saberes e
fazeres tradicionais deste Povo estão intrinsicamente relacionadas com o Território as práticas
socioculturais, produtivas e de manejo dos recursos naturais, de forma compartilhadas com
todo o grupo. Dessa forma, foi considerado no planejamento e na organização didática para
implantação do Programa Ação Saberes Indígenas na Escola, as experiências escolares e o
protagonismo das(os) professores(as) indígenas Pankararu, isto é, toda a proposta da referida
Ação foi discutida e respaldada pela Coordenação Geral e lideranças das Escolas Pankararu e
contou com a primeira edição em 2018, com a participação de cinquenta e seis (56) indígenas
que escolheram a temática “Narrativas do Povo Pankararu no Fortalecimento do Território
Indígena Pankararu”. Tal temática permeou todas as ações/oficinas didáticas, tais como
releituras da Carta de Pero Vaz de Caminha, as histórias e memórias dos indígenas Pankararu,
ênfase nas relações socioambientais através dos conhecimentos tradicionais, das vivências
com a Natureza, com a Mata, as Serras e os usos das Ervas Medicinais para a Cura do Povo,
com a elaboração de sequências didáticas e estratégias metodológicas. E, por fim, elencamos
que a experiência com a realização da primeira Edição do Programa Ação Saberes Indígena na
Escola com o Povo Pankararu foi de extrema relevância, afirmativa comprobatória através da
realização das atividades didáticas dos(as) professores(as) indígenas com o uso de fonte
documental com discentes das Séries Iniciais, de forma muito criativa e didática, pois o
material produzido para as crianças compreenderem e participarem das discussões foram
diversos, como histórias em quadrinhos coloridas pintadas em tecidos de algodão, montagem
de textos curtos, painéis confeccionados com sementes de diversas plantas nativas,
apresentação de elementos culturais, como o Maracá, o Praiá, Colares, Indumentárias,
Comidas, etc., além de uso de terra para compor palavras, cartões, colagens com uso de cola

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feita com a goma de mandioca cozida. Reafirmamos que as práticas escolares Pankararu são
envoltas nos elementos culturais e da Natureza através dos Saberes e Sabores que os
indígenas fazem Ambiente em que habitam, Semiárido nordestino, região da Bacia do São
Francisco, Sertão Pernambucano, no Território Sagrado Pankararu.

Reflexões acerca da Educação Escolar Indígena na Aldeia Pupunha em


Humaitá-AM

Kellyane Lisboa Ramos

Alcioni da Silva Monteiro

Eulina Maria Leite Nogueira

Esta pesquisa buscou analisar como é ofertado o ensino na Aldeia indígena Pupunha;
Identificar na prática pedagógica dos professores como abordam os conteúdos do livro
didático, tendo em vista as diferenças culturais; explicitar bases curriculares que norteiam a
educação neste contexto indígena; e por último refletir sobre a importância de um ensino
diferenciado e intercultural como forma de valorização da cultura indígena. O caminho
metodológico se deu através do Materialismo Histórico Dialético, o contexto da pesquisa foi
a Aldeia Pupunha-etnia Parintintin os dados foram obtidos através de entrevista
semiestruturada com 5 professores sendo (2) professores indígenas e (3) não indígenas, além
das entrevistas foi realizada observação direta na escola e na aldeia. Foi possível perceber
durante as observações que as escolas indígenas mantem confronto direto com as práticas de
ensino ocidental e que isso de alguma forma dificulta a efetivação da interculturalidade.
Tendo em vista ainda, que para a educação indígena ser diferenciada muitos outros âmbitos
influenciam para essa efetivação, como formação inicial e continuada de professores,
estrutura da escola, aspectos pedagógicos, administrativos, recursos financeiros e proposta
curricular que atenda as especificidades das escolas indígenas. Enfim, todos esses âmbitos
dificultam para que aconteça um ensino diferenciado e de qualidade.

Desafios da Formação Social Indígena na Amazônia

Maxim Repetto

No presente trabalho buscamos discutir os desafios que enfrentam os povos indígenas na


formação social das novas gerações frente aos avanços dos processos de escolarização e as
mudanças vividas nas comunidades e no contexto da sociedade. Novos projetos econômicos,
desafios na manutenção dos territórios, conflitos na manutenção e reinvenção da cultura
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afetam a diversos povos em sua relação com a sociedade nacional, o que coloca novos
desafios na formação das novas gerações.

(Des)colonizando a educação: uma análise etnográfica da educação escolar


indígena em Sidrolândia/MS

Ana Carolina Bezerra dos Santos

Jacira Helena do Valle Pereira Assis

Esta comunicação faz parte da pesquisa de mestrado em Antropologia Cultural (PPGAS/UFMS)


intitulado O papel do professor Terena e sua pedagogia indígena na formação socio-cultural
dos alunos aldeia urbana no município de Sidrolândia/MS, realizada através da pesquisa de
cunho etnográfico com os professores indígenas da escola da comunidade. Busca discutir o
processo de descolonização que a educação escolar indígena vem passando, mostrando assim
a importância de uma educação escolar indígena que atenda aos quatro eixos centrais:
específica, diferenciada, bilíngue e comunitária, pensando assim através do processo da
interculturalidade tentando romper com um sistema colonizador, homogenizante e
etnocêntrico que perdura até os dias atuais.

Narrativas e interculturalidade na educação básica: diálogos com a América


Produnda no espaço escolar

Laura Nelly Mansur Serres

Trata-se de um projeto de investigação em andamento no âmbito da Educação, Culturas e


Humanidades desenvolvida em uma escola da Rede Pública Federal Brasileira. O estudo
fundamenta-se nos documentos que orientam o Ensino Básico no Brasil, em cumprimento à
lei No 11.645/2008, que torna obrigatório o ensino de história e cultura indígenas nas escolas
do país. Com base em Kusch (2009), examinam-se as intervenções docentes que podem
resultar na construção de um pensamento totalizador por parte do aluno, fornecendo lhe
elementos para compreender a América, num sentido profundo. A partir disso, e apoiada nas
ideias de Bonin & Bergamaschi (2010), indagam- se quais ações pedagógicas, dentro e fora da
sala de aula, podem contribuir para estabelecer uma ponte que permita o diálogo
intercultural, auxiliando o aluno no estudo da temática indígena, problematizando
estereótipos e preconceitos. Para isso, estudam-se os elementos das narrativas que falam dos
povos originários, reveladores da cosmogonia da nossa América, se tornando um meio para
estabelecer o diálogo intercultural na perspectiva de uma Educação Descolonial. Ainda, com

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base em Cadogam (1992) e Alvarez Leite (2010), questiono quais elementos das narrativas
que nos falam da América e dos Povos Originários podem revelar aos alunos a cosmogonia da
nossa América, como um meio para proporcionar aprendizagens interculturais. Desse modo,
buscam-se modos de combater certas ações de embranquecimento que acontecem já
naturalizadas, na escola nos nossos dias de hoje, reconhecendo a necessidade de contribuir
desde o papel de professor/a para conseguir mudanças nas estruturas educativas no espaço
escolar em que estamos atuando como docentes. As ações estão dirigidas a decolonizar
práticas enraizadas que nos atam a um presente pós-colonial pelo qual transitamos no nosso
cotidiano social. Mignolo (2014) ajuda a pensar nisso afirmando que “Para comprender el
pensar descolonial es imperativo dejar de lado la idea de que hay solo una lógica del mundo,
aquella de la modernidad, y que no hay otra manera de pensar que pensar modernamente, lo
que supone de entrada universales abstractos opuestos. Desse modo, defendo que vislumbrar
uma outra pedagogia é possível, como nos diz Walsch (2016) “não no sentido da educação
formal, ou seja, como uma professora que transmite o comunicam conhecimentos, mas como
uma facilitadora, como alguém que se esforça em provocar, construir, gerar e avançar com
outros questionamentos críticos, compreensões, conhecimentos e atuações, maneiras de
pensar e de fazer”.

A instituição escolar nas comunidades Mebengokre do Pará: diglossia e


resistencia

Adriana da Gama Vidal

O trabalho ora apresentado parte de uma pesquisa etnográfica, ainda em curso, acerca das
relações sociolinguísticas do povo Mẽbêngôkre – autodenominação que significa os homens
do buraco/lugar d’água -, língua pertencente à família linguística Jê. Pela perspectiva da
Glotopolítica (MARCELLESI; GUESPIN, 1986), refletimos sobre o bilinguismo diglóssico
(FISHMAN, 1967) nos Mẽbêngôkre, com a língua da sociedade envolvente, o português,
presente no espaço escolar da aldeia A`úkre (TI Kayapó). Lagares (2018), define Glotopolítica
como toda e qualquer ação sobre a linguagem, nos mais diversos âmbitos e níveis, de forma
que toda decisão sobre a linguagem tem efeitos glotopolíticos. Segundo Câmara (1977), a
língua se apresenta como microcosmos da cultura. Tudo que esta possui se expressa através
daquela; mas, também a língua é um dado cultural. Desta forma, ela pode ser avaliada como
representação de toda a cultura de um povo. Meliá (1999) situa a ação pedagógica como uma
das estratégias próprias de vivência cultural para manter a sua alteridade. Nesse sentido, o
autor postula que a educação indígena fomenta que o modo de ser e a cultura sejam
transmitidas às novas gerações. Se, por um lado, a educação indígena pode ser ferramenta de
luta e resistência às investidas da sociedade envolvente, por outro, a escola não-indígena
dentro da comunidade indígena se configura como aparelho ideológico de glotofagia e de
assimilação cultural. Avançando nesta reflexão, nos perguntamos se o modelo escolar vigente
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nas aldeias atendidas pela Secretaria de Educação do Município do Norte (PA) implica
mudanças na relação do povo com a própria língua e os seus usos sociais simbólicos.
Discutimos as políticas de ensino de língua nas instituições escolares em questão,
considerando-as como um atentado à identidade cultural do povo. A partir desta abordagem,
através de pesquisa qualitativa, buscamos descrever os usos e funções da língua Mẽbêngôkre
de acordo com os domínios sociais, se a escola produz mudanças práticas linguísticas, e caso
sim, quais. Em acordo com Leite (2004) que enfatiza a responsabilidade política do
pesquisador e o estudo da língua em termos sociais, o trabalho apresentado será construído
a partir de reuniões com a comunidade, e respeitará integralmente as opiniões do povo.

A aprendizagem das crianças indígenas

Luana Robles Vieira

A comunicação oral a qual refere-se esse resumo é parte da pesquisa de mestrado defendida
em setembro de 2018, no campo da educação escolar indígena, que tratou de verificar se a
educação escolar praticada por um grupo da etnia Yanomami residente no médio Rio Negro/
AM superou o caráter colonialista da educação eferecida aos povos indígenas. Para isso
debrucei-me sobre as formas de educar indígenas, como a criança indígena aprende e como
são os processos de transmissão de saberes em comunidades indígenas. O artigo tratará de
um estado da arte sobre o tema da infância indígena. Com o aumento da oferta da educação
escolar infantil em comunidades indígenas, esse artigo pretende apresentar subsídios para
que pensemos políticas públicas de educação escolar indígena mais adequadas às formas de
viver indígenas.

Prácticas de Enseñanza y Procesos de Aprendizaje en el Sistema Educativo:


Interculturalidad, su tratamiento entre los/as estudiantes de las Carreras de
Formación Docente del Instituto N° 806

Sonia Liliana Ivanoff

Verónica Silvia Peralta

El trabajo planteará líneas de acción que serán llevadas a cabo durante el presente año: 2019,
en el Instituto Superior de Formación Docente en Arte N° 806. Para ello se realizarán
entrevistas a la comunidad educativa, la que dará cuenta de su origen étnico, si se reconocen

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pertenecer a un pueblo originario, etc., la finalidad educativa devendrá en constituir miradas


reflexivas sobre la identidad y sus identidades, en el marco de la diversidad cultural, con lo
cual nos proponemos dar respuestas concretas que contribuyan al diálogo intercultural en el
ámbito de la educación superior. A lo largo de los años como docentes en los diversos niveles
educativos observamos la diversidad cultural, pluriculturalidad y bilingüismo manifiesto, por
ello la importancia en comprender y reconocer la diversidad cultural para ofrecerles
herramientas que le permitan abordar la interculturalidad en las aulas. Porque creemos que
el avance en el reconocimiento de los derechos humanos a nivel internacional y a finales de
la última dictadura militar, permitieron que diversos reclamos se reinstalen en la agenda
pública, desde la Reforma Constitucional de 1994, mediante la incorporación de los tratados
internacionales de Derechos Humanos los que marcaron el camino que deben seguir las
políticas públicas relacionadas con los derechos de los pueblos en la reparación integral e
histórica, en un país pluricultural y plurilingüe. Es por ello que corresponde a las Instituciones
educativas y formadoras propiciar un cambio en el paradigma generando espacios de difusión
pluricultural, de actualización, formación y capacitación continua, para desnaturalizar
discursos que legitimaron prácticas violatorias de los Derechos, problematizando la discusión,
incorporando diferentes perspectivas de análisis en pos de generar en los/as estudiantes una
mayor conciencia y prácticas alternativas basadas en los Derechos Humanos, generando
nuevas metodologías, prácticas colaborativas y diálogos entre saberes a partir de la
intervención en los contextos actuales. Por lo que proveeremos herramientas que contribuyan
a la formación, el análisis y la comprensión sobre la interculturalidad, decolonizando miradas
y posturas homogeneizadoras que contribuyan a la profesionalización en el contexto del
trabajo docente; en el marco real de los sujetos que aprenden ya que tomaron la decisión de
cursar carreras de formación, lo que les permitirá luchar por sus derechos, el de sus
estudiantes y el de sus comunidades de pertenencia.

Intercâmbio étnico como superação dos preconceitos

Fernando Gomes da Silva

Esta comunicação tratará de um projeto de intercambio étnico, entre comunidade escolar não
indígena com aldeia indígena, realizado por meio de parceria entre sociedade civil organizada,
escolas públicas e duas etnias indígenas territorialidazada no esta do Tocantins. Uma iniciativa
que teve como ponto de partida, a formalização da Associação de Preservação Ambiental e
Valorização da Vida, em 1995, que desde então, teve no intercâmbio cultural sua atuação mais
marcante, consolidada com a lei 11.645/08. Em 2016, a maturidade na realização destas
vivências, fez com que a instituição fosse contemplada via edital pelo programa, Mais Cultura
na Escola, do Ministério da Cultura com Educação. As ações deste projeto foram organizadas
seguindo um tripé: antes, durante e depois da visita nas aldeias. Sequência que definiu um
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método, construído ao longo de inúmeros intercâmbios, trabalho de campo em aldeia,


pesquisas em educação escolar indígena e educação multicultural. De forma resumida, os
educando e docentes são preparadas para conhecer uma aldeia, numa vivência de dois a três
dias, passando pelas seguintes etapas: levantamento da percepção sobre os indígenas;
palestras sobre questão indígenas no Brasil e no Tocantins; participação de diferentes
atividades culturais na aldeia: pintura corporal indígena, danças, jogos e brincadeiras
indígenas, visita na roça de toco, pesquisa e entrevistas; elaboração de um minidicionário,
entre outras atividades. A construção de identidade sobre outros, foi e está sendo formulada
a partir do senso comum, muitos dos quais geram sentimento de repulsa por certas pessoas
ou cultura, transmitida de geração em geração, na maioria das vezes influenciada com
informações infundadas, de que o índio é isso ou aquilo, sempre inferior a cultura dominante.
(MACHADO, 2001, p. 35). Conhecer uma comunidade indígena de forma contextualizada e
acompanhada, passou a ser uma das melhores maneiras de superação do preconceito racial.
O respeito às diferenças se manifestavam, quando professores e alunos, passaram a ter a
oportunidade de perceber a beleza nas diferenças socioculturais. Podemos verificar isso
pedagogicamente por meio dos relatos, redações, rodas de conversa, dicionário de tradução
da língua materna para português, desenhos, fotografias e vídeos que registrou e descreveu
as experiências vivenciadas na aldeia. Percebemos que para muitos, essa experiência foi
única, e possibilitou desmistificar alguma “ideia equivocada” sobre os indígenas, produzida
inclusiva pela própria escola. O que nos faz pensar que o que tem que ser modificado não é a
cultura do aluno, mas a cultura da escola. Por isso é necessário realizar e ampliar trabalho nas
unidades de ensino que favoreçam o respeito às diferenças culturais indígena.

Mongetá e Gwatá: aprendendo a caminhar. Um estudo sobre a relação entre


os saberes tradicionais Guarani Nhãdewa e a educação escolar indígena
realizada na Escola Municipal Pluridocente Indígena Mboapy Pindó - Aracruz -
ES

Glaudertone Andrade de Barcéllos

Augusto Cândido Andrade de Barcéllos

Os índios Guarani Nhãdewa pertencem à família dos Tupi-Guarani, do tronco linguístico Tupi,
que congrega várias línguas indígenas sul-americanas. De acordo com Schaden, a
denominação Nhãdewa diz respeito ao subgrupo que juntamente com os Kaiowá e os Mbya,
compõe a grande nação Guarani na América do Sul. Esses três grupos se diferenciam por
características de ordem sociocultural (organização social, maneira de culto, narrativas
míticas, artesanato, arquitetura etc.) e por seus traços dialetais. Chamorro aponta que “a
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população mbya é estimada em 27.500 pessoas, sendo que no Paraguai habitam 15.000, no
Brasil 7.500 e na Argentina 5.000”. No Brasil, além de habitarem o litoral Sul e Sudeste e os
estados do Pará, do Tocantins e do Maranhão, esse grupo indígena também se encontra no
Mato Grosso do Sul, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Oeste do Paraná. No
restante da América do Sul, o povo Guarani se encontra em outros quatro países: Argentina,
Bolívia, Paraguai e Uruguai. Porém, os Nhãdewa, que têm seus deslocamentos calcados na
questão religiosa, não reconhecem as delimitações territoriais dos países, uma vez que, para
eles, a Terra é o grande espaço de sua morada. Assim, essas pessoas se deslocam, à luz de
orientações proféticas, em busca de um lugar para sua habitação. Trata-se das tekoas, “espaço
vital”, que constituem relevantes referências históricas e mitológicas, onde esse povo pode
encontrar condições de viver sua cultura. Dentro de sua concepção de mundo, as dimensões
socioambiental e simbólica desses espaços representam para esses Guarani uma questão
fundamental, pois são justamente esses locais que lhes permitem vivenciar sua organização
social, sua espiritualidade, sua identidade, sua concepção cosmológica, seus ritos de
passagem, sua estrutura e seu senso de grupo em seu maior pleito: a busca da Terra sem
Males (Ywy marã ëy).
Proyecto educativo comunitario y perspectiva educativa de procesos
autónomos territoriales del pueblo Wounaan de Colombia

José Alejandro Vargas

Orlando Moya Ortiz

En Colombia la etnoeducación se ha proyectado como una política pública que debe atender
las necesidades educativas de los pueblos indígenas y las comunidades para lo cual se ha
establecido una serie componentes y ha definido una estructura básica centrada en la
educaciónn endogena, intercultural y comunitaria, a partir de las características culturales del
país y las necesidades educativas de los pueblos y comunidades. En este marco se ha definido
la elaboración de los Proyectos Educativos Comunitarios PEC los cuales constituyen el
componente educativo del proyecto de vida de los pueblos indígenas, puesto al servicio de la
totalidad del horizonte organizativo de la comunidad en la que tiene lugar. Constituye los
lineamientos generales que orientan los procesos pedagógicos y educativos en aras de
garantizar y mantener no solo su riqueza cultural, sino que también se articula con procesos
organizativos y políticos de los pueblos. La elaboración de los PEC3 tiene lugar y sentido en la
base de las luchas indígenas tejidas en la defensa de sus derechos, territoriales, culturales y
humanos. En esa medida, contienen un importante énfasis político que se traza de la mano
de los planes y proyectos de vida comunitarios. Para garantizar su pervivencia como pueblo
en sus territorios ancestrales, los indígenas Wounaan que habitan el Departamento del Chocó
y el Valle del Cauca han elaborado un PEC denominado Thai Khier –camino a la sabiduría- que
busca garantizar la pervivencia de este pueblo en una estrecha relación de la educación propia
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en el territorio con una perspectiva intercultural. Uno de los principios os fundamentos del
PEC del pueblo Wounaan que orienta las acciones pedagógicas y organizativas de las
comunidades en su tierra y territorio, concebida la tierra como madre o maach ãd, fuente que
la cultura, eje de los asentamientos poblacionales y de la vida económica, social, política y
espiritual del pueblo Wounaan. La cosmovisión indígena Wounaan, supone el deber y el
derecho de cuidarla, defenderla, protegerla, conocerla, trabajarla, establecer diálogo con ella,
es especial, porque mucha de la vida que allí tiene lugar, es un regalo de los seres que habitan
en el à Ãrmian Durr o el mundo de abajo. Bajo la mirada crítica frente a la sociedad mayoritaria
y desde una perspectiva educativa propia se busca desarrollar el Proyecto Educativo
Comunitario del Pueblo Wounaan de Colombia.

A interculturalidade como instrumento da educação do século XXI: dilemas e


desafios

Alcioni da Silva Monteiro

Suely Aparecida do Nascimento

Kellyane Lisboa Ramos

Renato Abreu de Lima

O presente texto objetiva, unicamente provocar questões e reflexões referentes a


interculturalidade como processo de ressignificação da educação escolar, analisando as
interferências na educação indígena, bem como, abordar perspectivas para se construir
propostas à cerca da formação continuada para professores indígenas. Foi através da
observação do programa “Saberes Indígenas na Escola” desenvolvido em Lábrea
(Amazonas/Brasil), que verificamos a ótica da aproximação colonial x pós-colonial no processo
de caracterizar a diferença histórica em sentido breve de ambos os períodos, em consonância
com a ideia de promover uma educação, na qual, colabore na afirmação da diversidade
cultural e social. O trabalho tem como condutores do conceito da interculturalidade e
questões educacionais no que se refere a diferença e currículo, os autores Vera Maria Candau,
Efrén Orozco-López, Luiza Cortesão e Stephen R. Stoer, Jean-Claude Forquin, que darão
sustentação teórica a este caminho reflexivo que aqui se propõe. Apontamos a
interculturalidade como o norte possível para as relações do processo educacional e também,
como uma possibilidade de empoderar a identidade e valorizar a cultura indígena como forma
de vivências de igualdade a outras, obtendo suas particularidades na qual devemos flexibilizá-
las como estratégias políticas pedagógicas e outras.

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4
Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Povos tradicionais e indígenas - o multiculturalismo e suas controvérsias em


uma escola no município de Manaquiri/AM

Emison Oliveira da Silva

A escola está situada margem da BR-319 no km 177, e atende alunos das imediações da
rodovia, assim como ribeirinhos (Rio Tupana) que muitos desses alunos pertencem e são
descendentes da etnia Apurinã, e outros povos que chegam de varias localidades do país e
municípios do Amazonas, para reside ou em busca de trabalho por uma determinada
temporada, formando uma ambiguidade cultural. É na escola que se observa a questão de
junção, integração e convivência de culturas distintas. Grupos tradicionais tiveram a
introdução de outras culturas, e não consegue entender as referências da vida ceifada em
defesa de dignidade e humanidade, é as pessoas que ainda não entenderam essa exploração
silenciosa de forma direta aos povos tradicionais e indígenas, como uma mistura universal em
toda sua magnitude. O mesmo povo que nasceu nas aldeias e comunidades ribeirinhas, ainda
hoje sofre com os vestígios da crueldade que seu antepassado (entes) suportou, do holocausto
indígena que ainda está longe do seu fim, onde o índio não tem direito nem de ficar em paz
nas suas terras (o verdadeiro dono), o povo que apesar dos pesares não tira o sorriso do rosto
e acredita que o amanhã guarda algo melhor: onde isso é indicado no seu modo de sobreviver
por meio da agricultura, caça e pesca, a atividade predominante é agricultura cultivando a
banana, a farinha e o abacaxi que é o ponto máximo da produção rural desses povos que
habita essa imediação, e onde muitos deles estão aglomerados na sala de aula, havendo uma
partilha e socialização de ideias entre povos de diferentes culturas. É retrato desse país
grotesco forjado no encontro de culturas, onde os povos que são inferiorizados têm sim papel
na formação de experiências e da cidadania, e a matriz principal de tudo isso é o Índio. Para
Hall (2006) a vida contemporânea das culturas vem dominando determinados espaços na
modernidade e as identidades nativas tendem a se adicionar a diferentes fontes mais
particulares, de identificação cultural. A globalização se refere aqueles procedimentos,
atuantes e influentes numa escola multiculturalista, que cruzam fronteiras nacionais,
envolvendo-se e conectando organizações com combinações novas no espaço-tempo,
tornando comunidades em realidade de fato com experiência interconectada com o mundo.
O pior de tudo que não entendem a questão multicultural que está impregnada na convivência
escolar e seus desastres em processo de construção continuamente na atualidade local e
estão vivenciando em comum e mais atuais. A globalização insinua um movimento de
distanciamento da ideia sociológica exemplar da sociedade, com um sistema bem delimitado,
com novidades temporais e espaciais, particularidades que repercutem na expectativa da
compressão de distancias e de escalas temporais, permanecem entre os aspectos formidáveis
da globalização substituindo a vida social ao longo do tempo e espaço, com efeito sobre as
identidades culturais. Portanto lugares etnicamente fechados, puros, culturalmente

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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tradicionais e intocados demonstram rupturas da modernidade, um efeito pluralizador de


forma lenta e desigual.

Bolsa Permanência, apoio financeiro aos estudantes indígenas da UFRR

Valternúbia do Perpetuo Pereira Nolvaz

O Programa Bolsa Permanência foi instituído pelo governo federal em 2013, por meio do
Ministério da Educação (MEC) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Tem o objetivo de apoiar estudantes do ensino superior com vulnerabilidade socioeconômica,
entre estes, indígenas e quilombolas. A adesão ao PBP, na Universidade Federal de Roraima,
ocorre no mesmo ano da sua implementação pelo governo federal. A justificativa para a
adesão se pautou no fato de Roraima e, em particular a UFRR, contar com um grande número
de estudantes indígenas no ensino superior, um pré-requisito importante. Esse trabalho se
propõe compreender como os estudantes indígenas receberam as primeiras informações
sobre o PBP na UFRR. Por meio de entrevistas semiestruturadas, os estudantes se
posicionaram quanto às informações a cerca do apoio destinado aos indígenas no ensino
superior.
Acesso e interculturalidade na pós-graduação

Layla Jorge Teixeira Cesar

Os dados produzidos em esfera federal sobre o acesso de povos e comunidades tradicionais à


educação superior são escassos. Nesta apresentação, não se pretende realizar um
levantamento exaustivo, senão apontar os contornos deste campo e suas lacunas, destacando
a relevância dos programas de educação intercultural. No nível da graduação, o Censo da
Educação Superior do INEP realizado entre os anos de 2011 a 2016 aponta como tendência
um consistente aumento na matrícula de estudantes indígenas, que saltou de pouco mais de
9 mil para quase 50 mil estudantes, em 571 cursos. O maior volume se concentra no sistema
privado e na região Nordeste. O setor público avança de modo mais lento, assim como,
aparentemente, a oferta de cursos interculturais. Em busca nominal entre os programas
registrados na mesma base entre os 34 mil cursos de graduação registrados no país, foram
encontrados apenas 41 que se autointitulam interculturais, a maioria orientada para atender
a estudantes indígenas. Estes concentram apenas 4,2% do total de matrículas. No nível da pós-
graduação, uma busca nominal na plataforma Sucupira, indica a presença de, pelo menos, 13
programas de pós-graduação explicitamente orientados pela interculturalidade. À diferença
da graduação, temáticas relacionadas à questão negra/africana/quilombola aparecem com
maior destaque. Com relação à distribuição geográfica, observa-se a maior concentração de
programas nas regiões Nordeste e Norte.
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ST 63 | Poder, Política e Direitos Indígenas


Márcia Maria Gramkow (Universidade de Brasília – UnB, Brasil); Maria Helena Ortolan (Universidade
Federal do Amazonas – UFAM, Brasil); Antônio Fernandes de Jesus Vieira – Dinaman Tuxá, (Articulação
dos Povos Indígenas do Brasil – APIB e Universidade de Brasília – UnB, Brasil).

Este simpósio objetiva produzir reflexões e debates sobre relações de poder e direitos em práticas
jurídicas e políticas, nos diversos contextos de afirmação de Direitos Indígenas, em sociedades e
Estados nacionais e instâncias internacionais. O simpósio, com esta proposta, pretende reunir
trabalhos que abordem diversas problemáticas de situações contemporâneas dos povos indígenas,
sejam relacionadas aos Direitos Humanos, à criminalização indígena, ao acesso às políticas públicas e
aos processos de expansão desenvolvimentista frente às territorialidades indígenas. A organização da
discussão orienta-se por três eixos temáticos: a) Práticas Jurídicas e Direitos Indígenas; b) Projetos,
Políticas Públicas e Frentes de Expansão e c) Direitos, Territorialidade e Políticas.

Distintos contextos, realidades semelhantes: o acesso de povos indigenas as


politicas sociais

Cynthia Franceska Cardoso

O presente texto visa colaborar com o debate proposto ao apresentar o modo como se dá o
acesso de povos indígenas de diferentes regiões do Brasil às políticas sociais, especificamente,
as que geram renda como as da previdência social e da assistência social. O aprofundamento
do tema ocorreu durante o desenvolvimento das pesquisas de mestrado e doutorado, nas
quais foram analisadas as influências das políticas sociais no cotidiano de povos indígenas no
interior e litoral do Estado de São Paulo e na fronteira no Estado do Amazonas com a Colômbia
e Venezuela. A pesquisa de mestrado foi realizada em sete aldeias, guarani mbyá, situadas em
quatro municípios no Estado de São Paulo. À época da pesquisa constatou-se o acesso restrito
e não diferenciado dos Guarani às políticas sociais resultante do atendimento precário
oferecido pela Sesai; do modelo homogeneizante imposto à educação escolar indígena; da
ausência de consulta prévia as comunidades. Com o intuito de conhecer outro contexto
realizamos a pesquisa de doutorado em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. A região
habitada por mais de vinte e três povos reiterou os desafios atuais colocados aos povos
indígenas e às políticas sociais, as quais ainda não preveem os impactos e a equidade aos
povos indígenas. Para a realizacao de ambas as pesquisas foram utilizadas duas metodologias.
A primeira, a etnografia, exigiu uma longa permanência no local, a interação com os sujeitos
envolvidos na pesquisa e a observação contínua, cotidiana, bem como a transcrição minuciosa
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das informações coletadas. A segunda, a investigação-ação- participativa (IAP), propôs estudar


determinados grupos por meio de uma relação dialógica entre o pesquisador e a comunidade,
na qual ambos são sujeitos ativos na construção da investigação e do conhecimento. Enquanto
profissional do Serviço Social, no Departamento de Assistência e Promoção Social da
Prefeitura Municipal de Iguape, litoral sul do Estado de São Paulo, foi possível vislumbrar, na
prática profissional, como ocorre a busca dos indígenas por politicas sociais. Neste momento,
compete-nos contribuir com o debate proposto e partilhar experiências estrategicamente
com vistas a fortalecer, re-pensar, re-organizar, re-existir da rede de movimentos indígenas,
pesquisadores, apoiadores e profissionais para a garantia de direitos humanos. Isso porque se
antes de 2019, o acesso dos indígenas às políticas sociais já acenava relações paradoxais que
excluíam ao incluir, desacolhiam ao acolher, desassistiam ao assistir, desrespeitavam ao
promover, violavam a sua integridade física, psíquica e cultural, quando deveriam protegê-los
e fortalecê-los, no cenário atual, lentamente, o mesmo Estado que deveria protegê-los legisla
contra a sua existência.

Os signos do sagrado em ritual indígena em área urbana: um olhar do turista

Joelma Monteiro de Carvalho

Historicamente, o município de Manaus sempre foi habitado por povos indígenas. Além dos
nativos, muitos povos migram em busca de melhores condições de vida, dentre os migrantes,
destaca-se, os povos Ticuna, Mura, Cambebas, Waimiri Watroari, kokamas, Tukano, Tariano,
Desano, Baré e outros, que estão organizados em comunidades na área urbana de Manaus.
Dentre estes, famílias do povo Sateré- Mawé migrou da Terra indígena (TI), dos rios Andirá e
do Marau no Estado do Amazonas, fronteira com o estado do Pará, na década de 1970 / 1980.
Eles têm migrado para o município de Manaus em buscas de oportunidades, principalmente
de emprego, de educação e de educação. Em Manaus, desenvolvem suas práticas ritualísticas
em atividades turísticas, de forma a manter viva a tradição cultural. Assim, este artigo
descreve a relação dos signos verbal e não verbal em práticas ritualísticas indígena em área
urbana na cidade de Manaus. A convivência multiétnica e hibrida tem despertado interesse
por visitantes, em conhecer e vivenciar a tradição deste povo. Logo, o objetivo deste estudo
é compreender a relação do turista quanto aos elementos signicos na visitação aos Sateré no
município de Manaus. Nesse sentido, os elementos que marcam o ritual, e são atrativos para
o turista, são o modo de vida do indígena, a mitologia, os cantos, os rituais e os grafismos,
(NASCIMENTO, 2015; KALINA, 2013). Com base nisso, o estudo se deu durante pesquisa
observacional, por ocasião de apresentações a turistas no ritual de passagem, denominado de
ritual tucandeiras, tradição do povo Sateré-Mawé. Considerando um processo histórico dos
estudos sobre o turismo semiótico, baseou-se em (CULLER, 1981; URRY, 2001; PANOSO
NETTO, 2012 SANTAELLA, 2012; CARVALHO, 2015). Nesse sentido, os signos são considerados
poderosos meios de comunicação entre os seres, que podem ser expressos oralmente,
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cantados, e o não verbal expresso por meio dos grafismos, danças e outras representações,
os quais são carregados de significados. Quanto aos resultados, o estudo trouxe à discussão e
contribuições para o campo da semiótica do turismo e do turismo étnico, quanto aos desejos,
à experiência e a contemplação do turista em área urbana, bem como a compreensão dos
impactos e benefícios, quando não administrado com responsabilidade, podem causar ao
povo Sateré-Mawé. Logo, o estudo mostrará as representações sígnicas empregadas nas
práticas ritualísticas do povo Sateré-Mawé e as possibilidades de atração para o
desenvolvimento do turismo étnico. Bem como, poderá possibilitará a sustentabilidade dos
indígenas que vivem em área urbana no município de Manaus.

Indígenas em cidades amazônicas: os casos de Altamira, Manaus e São


Gabriel da Cachoeira

José Carlos Matos Pereira

O contexto da presença indígena em cidades envolve o remanejamento de 3 mil indígenas na


cidade de Altamira impactadas pela construção da hidrelétrica de Belo Monte, os casos de
pedofilia e o incêndio da sede da FOIRN em São Gabriel da Cachoeira e a ameaça permanente
de expulsão das áreas ocupadas na cidade de Manaus onde vivem 800 famílias de 20 etnias,
foram as situações identificadas nos trabalhos de campo realizados. Para esses casos, a
resistência tem sido o caminho escolhido pelas organizações indígenas étnicas, multiétnicas e
de gênero. A afirmação da identidade étnica, a ressignificação do uso do espaço, a produção
do artesanato, as práticas alimentares, arquitetônicas e ritualística, os usos da língua materna
expressam do ponto de vista empírico as formas de luta e resistência dos povos indígenas em
cidades amazônicas. Somando as três cidades, teremos 90 etnias identificadas, sendo que
poucas se repetem, mais precisamente, na cidade de Manaus, uma vez que muitos dos
indígenas da cidade de São Gabriel da Cachoeira migram naquela direção. A migração inter-
regional também foi identificada na cidade de Altamira e Manaus. Se computarmos os dados
do IBGE, ao invés da autoidentificação indígena para o caso de Manaus, o número sobe
significativamente para 138 etnias. Lembramos que o Censo Indígena de 2010 identificou
cerca de 300 etnias vivendo em cidades brasileiras. Este é o resultado de nossa pesquisa de
Pós-Doc no PPGAS/MN/UFRJ.

Indígenas na cidade: particularidades do Nordeste

Codjo Olivier Sossa


Elizângela Cardoso de Araújo Silva

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Este texto tem como objetivo apresentar características das condições de vida de indígenas
na área urbana no Brasil e as motivações dos deslocamentos indígenas para as cidades. A
metodologia está baseada em pesquisa documental e bibliográfica. Realiza-se por meio da
análise de documentários sobre “indígenas nas cidades” destacando dados da região
Nordeste e de Pernambuco sobre educação e renda. Tem como principal fonte, o Censo de
2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A presença indígena no contexto
urbano é um desafio para a sociedade brasileira, considerando as desigualdades que afetam
a sua presença nas cidades e o reconhecimento tardio das garantias do Estado brasileiro do
direito à diferença e ao respeito étnico dos povos originários. É possível identificar essa
realidade nos documentários: “Índios na cidade, vidas em travessia” (2014). São muitas as
razões que levam os indígenas se deslocarem para as cidades. No documentário “Índios na
cidade” (2013), produzido com depoimentos de indígenas de várias regiões do Brasil e
residentes na grande São Paulo, é possível identificar que muitos indígenas migram para a
cidade por necessidade de sobrevivência, de trabalho, de acesso a serviços básicos e melhores
condições de vida, como: educação, saúde, moradia. Nos dois vídeos analisados, sobressaem-
se as características específicas de trabalhos/empregos dessa inserção na vida urbana. As
desigualdades históricas que atingem indígenas: o não acesso à educação escolar, o não
acesso à qualificação profissional, não acesso ao ensino superior leva os indígenas a compor
os indicadores de menor renda e menor escolaridade, elementos esses que os localizam nas
piores condições de trabalho e emprego. Os relatos dos participantes dos dois documentários
analisados apresentam diferentes situações que marcam a vida indígena na cidade: a ausência
de qualificação profissional, a precária inserção da força de trabalho em diferentes setores da
economia onde desenvolvem atividades como: ajudantes, pedreiros, carpinteiros, auxiliares
de serviços gerais, domésticas, etc. Essa inserção é acompanhada de preconceitos que levam,
em alguns casos, ao isolamento e ao adoecimento mental. Destacam-se, nos enfrentamentos
da vida urbana, o desejo de viver a identidade ética, a cultura, os vínculos espirituais com mais
respeito, bem como, o direito ao acesso à educação escolar e profissional como meio de
construir habilidades e competências imprescindíveis para maior atuação política nos espaços
de decisão sobre as políticas indigenistas e melhores condições de vida na cidade. A questão
do respeito à língua, à cultura, às crenças e práticas espirituais dos indígenas ainda é um
grande problema enfrentados nas escolas de ensino regular na área urbana.

Juscolonialismo: a binaridade natureza/cultura como estratégia colonial


greco-romana

Orivaldo Nunes Junior

Douglas Ladik Antunes

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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De acordo com a tradição ocidental, foram os gregos os primeiros a associar ao direito uma
concepção dupla, em que uma parte decorre da opinião dos homens e dela dependente; e
outra decorre da própria natureza e é universal e independente da opinião dos homens.
Origem binária advém da época da Guerra do Peloponeso, onde Atenienses e Espartanos
digladiaram em busca da supremacia regional. As duas etnias entraram em conflito, sendo
vitoriosos os Espartanos que dominaram as cidades Jônias. Platão foi o responsável por
descrever críticas socráticas e formular uma teoria política em que as duas etnias pudessem
conviver, buscando salvar os Jônios do domínio Dório. Assim, o direito natural desempenharia
o papel de limitação à vontade popular que, irrestrita, seria perigosa. O Império Romano
organizou as formas jurídicas de colonização, pois não interessava instituir o Juscivile aos
colonizados, pois geraria desgastes, e aceitava Jusgentium, direito comum de cada povo. Esta
situação levou à construção do que chamamos de “Juscolonialismo”, ou Colonialismo Jurídico,
que perpassa pela Epistemologia Ocidental, seus Filósofos e descoberta pela Antropologia
como forma de possível diálogo com Epistemologias Nativas ou Indígenas. Porém, na origem
teórica encontramos, e queremos apresentar neste Congresso, a armadilha jurídica que
facilmente caímos quando tentamos atuar de forma decolonial.

Povos originários e etnogênese: uma análise da complementariedade dos


conceitos para justificação da demarcação das terras indígenas

Paulo Ricardo Sampaio de Sousa

Anderson Vinícius Nunes de Lima

Desde a chegada dos navegantes portugueses, liderados por Pedro Álvares Cabral a mando de
Dom Manoel I - rei de Portugal, às terras hoje chamadas de Brasil, e durante todo o processo
de construção do Estado Nação, a população originária - os povos indígenas, viram seus
direitos e espaços ameaçados. Ao passar dos séculos, com o poder e o direito que foi se
estabelecendo no Brasil, o Estado foi buscando controlar e integrar estes povos sem respeitar
sua identidade, cultura e diversidade. Seus direitos foram brutalmente desrespeitados: desde
o direito à vida, devido os genocídios praticados na ocupação do território brasileiro, até o
direito à identidade, pelo processo de aculturação. A perda da identidade cultural, com a
destruição sistêmica do modo de vida e de pensamento é denominada etnocídio, segundo o
antropólogo francês Pierre Clastres. Isto é, na em termos práticos, a "morte", a "destruição"
dos traços que caracterizam a identidade étnica dos povos. Como forma de resistência e
combate a este problema surge um movimento dos povos indígenas de (re)nascimento de
suas populações. A este processo dá-se o nome de etnogênese, como denominado pelo
professor e antropólogo João Pacheco de Oliveira. Ao nos debruçarmos sob o conceito de
etnogênese percebemos, à primeira análise, que se apresenta como uma problemática ao
associarmos com o conceito de populações originárias. Aparentemente este está ligado à ideia
de antiguidade, resistência à passagem do tempo, enquanto aquele está ligado ao
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nascimento, surgimento, novidade. Portanto, seriam contrários ou, pelo menos, não seriam
termos compatíveis. Dessa forma, a etnogênese, vista como resistência e sinal de
continuidade da existência dos povos indígenas, prejudicaria os direitos destes povos, pois
não estariam dentro dos requisitos exigidos pelo Estado para reconhecimento e posterior
aplicação de políticas públicas indigenistas. Pretende-se, assim, neste trabalho discutir os dois
termos, a saber, povos originários e etnogênese, e como ambos se relacionam, percebendo
que ao invés de se contradizerem, se completam e como se desenvolve a discussão no Direito.

A luta pela terra e pela vida. Formas de ocupação, violência e criminalização


de coletivos indígenas em dois contextos brasileiros

Elis Fernanda Corrado

Edimilson Rodrigues de Souza

No início dos anos 1980 os Guarani e Kaiowá, no sul do Mato Grosso do Sul iniciaram um
movimento de retomadas das suas terras tradicionais, denominas por eles de tekoha. O
retorno aos territórios dos quais foram expulsos no passado ao mesmo tempo que se
contrapõem ao modelo de reserva criado pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI), entre 1915
e 1928, tem a finalidade de reivindicar novas demarcações por parte do Estado brasileiro. Em
Pesqueira, agreste de Pernambuco, indígenas da etnia Xukuru do Ororubá também
protagonizaram lutas pela retomada de suas terras durante a década de 1990, àquela época
ocupadas por fazendeiros-posseiros. Seu território foi demarcado em 1995, mas só foi
completamente habitado pelos indígenas anos mais tarde, em razão de estratégias de
ocupação e resistência planejadas e organizadas pelas suas lideranças. Nos dois casos a terra
é um elemento central para entender os motivos que levam famílias inteiras, Guarani e
Kaiowá e Xukuru do Ororubá, a retornarem para seus territórios tradicionais. Essa mesma
terra era, e ainda é, objeto de disputa por parte de setores do agronegócio e imobiliário,
mesmo depois da demarcação pelos órgãos oficiais. Nestes contextos os “projetos de
desenvolvimento” protagonizados e/ou apoiados pelos órgãos do Estado assumem a
centralidade das relações antagônicas entre indígenas, grandes fazendeiros e setores da
inciativa privada, por desconsiderar o modo como estes coletivos indígenas organizam seus
modos de vida em relação direta com a terra e seus agentes “extra-humanos” (mortos,
encantados, espíritos). O que também produz o clima de violência generalizada, que conjuga
expropriação de terras tradicionalmente ocupadas, intimidação, ameaças, assassinatos por
encomenda, queima de moradias e espaços coletivos. Embora estes atores e grupos tenham
em comum o mesmo referente, a terra, não se utilizam de uma mesma linguagem para
expressar os seus sentidos e relações. Desse modo, não apenas terra, mas seus sentidos
também estão em disputas. Neste paper nos interessa analisar os elementos que marcam
estas áreas de conflito, especialmente as relações antagônicas entre os coletivos indígenas
com o agentes do Estado e elites locais, caracterizadas por violência física, expropriações de
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terra e falta de acesso às políticas públicas e direitos coletivos, uma vez que o poder público
é interpretado por estes povos como omisso e conivente com a violência recorrente nestas
regiões, seja na figura dos seus próprios agentes ou no apoio aos latifundiários e seu aparato
de violência particular. Sobretudo nos últimos dois anos, com a emergência de governos
ligados às bancadas ruralistas do Congresso Nacional Brasileiro.

Um genocídio de corpos vivos: o encarceramento como política neocolonial


de eliminação das identidades indígenas

Rodrigo Arthuso Arantes Faria

A questão indígena no Brasil sempre foi uma questão fundiária, indissociável dos propósitos
econômicos almejados pela política agrária adotada em cada época. Se em tempos passados
buscou-se a conversão de “índios bravos” em “índios mansos” com fins à expansão da
ocupação colonial sobre o território brasileiro, atualmente o tratamento estatal dado aos
indígenas busca a incorporação de suas terras à lógica de produção do capitalismo
agroindustrial. Para tanto é preciso, antes, desadjetivar a terra “indígena” e torná-la apenas
“terra”, o que, por sua vez, exige que se desconstitua a especificidade étnica do ser indígena
que a habita. Com o suporte teórico do binômio necropoder/necropolítica de Achilles
Mbembe, pode-se argumentar que o encarceramento, atualmente, cumpre tal finalidade
enquanto política neocolonial de eliminação das identidades indígenas. Com efeito, a
desindianização operada pelo sistema penal, por meio da institucionalização do indígena
como “pardo”, é parte integrante da máquina etnocida do Estado contemporâneo, eis que,
por mais que o indivíduo não decaia, para si, de sua identificação étnica, há uma espécie de
transfiguração ontológica de seu status jurídico, utilizada pelo Estado para se eximir de
reconhecer e aplicar os direitos e garantias reconhecidos pela ordem constitucional e
internacional aos indígenas. Uma revisão dos estudos acerca da relação de pertencimento,
para os indígenas, entre corpo e terra, e das políticas desenhadas pelo Estado para dissociá-
los, utilizando-se o pensamento decolonial como chave de interpretação, permite traçar um
panorama dos atuais conflitos fundiários existentes no Brasil relacionados à expansão agrícola
sobre terras indígenas.

A resistência Terena frente ao avanço do agronegócio sobre a Terra Indígena


Buriti, Mato Grosso do Sul

Marina de Barros Fonseca

O processo histórico de espoliação das terras indígenas no Brasil, que continua a ocorrer nos
dias atuais numa cooperação entre Estado e burguesia, fomentou um processo de resistência
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pela ação direta dos povos indígenas que culminou nas retomadas de terras. A presente
pesquisa é oriunda do trabalho de campo realizado na Terra Indígena Buriti em 2017 sobre as
retomadas de terra que ocorreram na região desde o ano de 2003, com foco na ação realizada
na Fazendo Buriti em 2013, que culminou na morte de Oziel Terena pela polícia federal. Os
conflitos agrários na região do Mato Grosso do Sul já fizeram diversas vítimas, seja por ataques
de seguranças das fazendas ou pela violência policial nas reintegrações de posse, mas junto
aos ataques veio a resistência indígena organizada, entidades como o Conselho do Povo
Terena e espaços como o Acampamento Terra Livre, ajudam a articular as retomadas de terra
com a base indígena nas aldeias. A pesquisa também perpassa pelas tentativas de
judicialização da luta indígena no poder legislativo e da participação dos Terenas na política
institucional, tento trazer assim uma visão das duas frentes de atuação deles, a por dentro e
a por fora do Estado, e as formas como elas se complementam no processo de resistência.

A invenção da fronteira: uma reflexão sobre a demarcação das terras


indígenas a partir do caso de Belo Monte

Cláudia Guedes

A usina de Belo Monte, esta enorme hidrelétrica instalada no meio da Amazônia legal, iniciou
suas operações no princípio de 2016. Sua construção afetou doze terras indígenas, de nove
grupos étnicos distintos. A regularização e a demarcação de todos os territórios envolvidos
foram parte de um largo programa de compensação e prevenção de impactos, iniciado em
2010. Todavia, relatórios técnicos atestaram que não somente os vários impactos previstos
não foram evitados, também as terras indígenas estavam em risco. A partir de uma
perspectiva colonizada, este artigo visa refletir sobre as consequências de um uso dominante
da terra com a criação de fronteiras para os indígenas através da demarcação. Os grupos
amazônicos normalmente manifestam uma relação de pertencimento às terras, não de posse.
Nessa diferente relação, a demarcação surge como último recurso para a salvaguarda mínima
de um modo de vida que a vida modernizada não consegue tolerar.

A extrema direita no poder: governo Bolsonaro e a questão indígena no Brasil

Rodrigo Mariano

Evanise Kei Claudino

Priscila de Aguiar

A histórica construção da sociedade brasileira sempre foi contada por um único viés, sob o
olhar único do etnocentrismo euro ocidental, assim, se negligencia toda a história de

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escravização, dizimação e genocídio dos povos indígenas do Brasil desde o “descobrimento”


até a atualidade. Nesse sentido é imprescindível analisarmos a resistência dos povos indígenas
ao coronelismo instaurado no Brasil desde a invasão até os dias atuais, agora, representada
pelo então presidente, Jair Messias Bolsonaro, de extrema direita, que evidencia sua visão
preconceituosa e racista sobre os povos indígenas, declarando guerra aos direitos dos povos
indígenas, garantidos constitucionalmente, bem como em legislações internacionais. Os
ataques aos povos indígenas, na “era Bolsonaro” são legitimados pelo discurso do atual
presidente e toda a bancada ruralista, e tiveram início logo após os resultados nas urnas, com
ataques ao povo Pankararu em Pernanbuco, e Guarani Kaiowá em Mato Grasso do Sul. Além
disso, sua primeira medida foi sancionar a Medida Provisória 870/2019, transferindo as
atribuições de identificação, delimitação e demarcação das Terras Indígenas ao Ministério da
Agricultura, atendendo os interesses do agronegócio. Os povos indígenas encontram-se
diante de uma nova era colonialista, que causa incertezas de um futuro de respeito a esses
povos.

Trajetória da proteção social dos povos indígenas, no Brasil, e os riscos do


extermínio progressivo

Beatriz Vasconcelos Matias

Vini Rabassa da Silva

Este trabalho visa apresentar a trajetória da proteção social para povos indígenas no Brasil,
que teve seu início somente em 1910 e passa por diferentes fases, até a primeira década dos
anos 2000. Evidencia-se, assim, desde as primeiras intervenções do Estado com políticas de
cunho assimilador para os indígenas, bem como os avanços e retrocessos a partir daí. Nesta
trajetória, destaca-se a importância da Constituição Federal de 1988 como uma conquista
importante que apontou para os direitos dos povos tradicionais e serviu para embasar as
políticas de proteção social. Esta trajetória serve para evidenciar a necessidade de superar a
implementação de programas e serviços sociais, que perversamente acabam por contribuir,
muitas vezes, para a assimilação ou extermínio progressivo destes povos.

O efeito social da demarcação da Reserva Indígena Krikati no município de


Montes Altos - MA na vida dos "desapropriados do Povoado Quiosque"
(2002-2010)

Josefa Pinheiro Pimentel

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

3 a 5 de julho de 2019, Brasília - DF, Brasil

Para Kátia Núbia Ferreira Corrêa (2014), o surgimento da Aldeia São José ou os primeiros
relatos sobre os Krikatis, era de uma aldeia Cutoi localizada no Rio Batalha e os mesmos se
retiraram de lá e foram para a serra Hutéxâmxã que fica nas proximidades da Serra do
Cocalinho, próximo ao povoado Quiosque. Seguindo novos passos, os índios foram para outra
aldeia situada na cabeceira do rio Pindaré, onde não ficaram definitivamente. Seguiram o
curso das águas do São Gregório onde estabeleceram a Aldeia Hõcrécaixô. Após alguns
ataques, segundo relatos de alguns indígenas, mencionados por Corrêa, que os índios saíram
à procura de novos espaços para se fixarem, chegaram então a Colônia denominada Santa
Tereza, (atual cidade de Imperatriz - Ma). As constantes mudanças também foram
responsáveis pela dispersão de muitos índios, ficando eles de acordo com Curt Nimuendaju
(1994) habitando três Aldeias distintas: Engenho Velho, Canto da Aldeia e Caldeirão. Mais
tarde os índios fizeram uma fusão aglomerando uma maioria de 80, no Canto da Aldeia. Depois
da dispersão da aldeia Taboquinha, os indígenas só permaneceram juntos na que hoje se
conhece como aldeia São José. Isso ocorreu devido ao trabalho da liderança religiosa da
Cidade de Montes Altos Frei Aristides, missionário italiano, segundo ele em seus relatos no
Livro TOMBO (1994), através de suas andanças pelo município de Montes Altos, pode
constatar que os índios viviam em condições que não lhes eram propícias, pois, era úmido,
fétido e rodeados de lixo. As doenças e os ataques foram motivos de constantes mudanças.
Com o mapeamento e constatação de inadequação de sobrevivência, o frei convenceu o
cacique a ir com ele em busca de um local mais adequado. Não se encontram muitos relatos
sobre a criação do Povoado Quiosque, para Ladeira, o mesmo surgiu simultaneamente à
construção da MA-280, estrada que liga os municípios de Montes Altos e Sítio Novo, no ano
de 1975 e foi afetada diretamente com a dispersão de seus moradores ocasionada pela
demarcação dos 146 mil hectares de terras para os Krikatis, Corrêa afirma que o povoado foi
construído onde antes era uma das fragmentações dos índios, antiga Aldeia Faveira. O
mecanismo responsável pela junção e extensão da aldeia, foi a educação ministrada com a
intervenção do Frei, que construiu uma pequena escola e ensinava os índios. No povoado
Quiosque é constituído por aproximadamente 100 família, na década de 70, 80 e 90, o
povoado já estava mais extenso, constituía-se de escola que atendia até o que no período era
considerado ensino de primeiro grau sendo ministrado até a 8a do ensino fundamental, igreja
de denominações diversificadas, pequenos comerciantes, farmácias, agência de linhas de
ônibus, usinas de pilar arroz, clubes de festas, bares, posto de saúde e muito mais. Ressalta-
se que esses espaços eram “divididos” com os índios, os mesmos estudavam, participavam de
campeonato de futebol, faziam compras e diversos outros tipos de serviço. Os primeiros
relatos de demarcação da R.I.K, surgiram por volta da década de 70, mais precisamente em
1977quando a FUNAI, delimitou para os indígenas uma área de 62.350ha, balanceada pela
pressão índios e fazendeiros. A Constituição Federal 88, em seu art. 231, dispões que “são
reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os
direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União
demarca-las”. Neste mesmo trabalho enfatizarei as leis que asseguram ou ao menos deveriam

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Trajetórias, narrativas e epistemologias plurais, desafios comuns

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assegurar que os “desapropriados” tivessem direitos a ser restabelecido em outro espaço


cedido pelo Governo, o que não ocorreu para todos os migrados da RIK.

O povo Gavião e os grandes projetos no Sudeste do Pará

Sheila Kaline Leal da Silva

Priscila Dias Pinto

O povo “gavião” nome dado por viajantes, também é atribuído a outros grupos Timbiras, para
diferencia-los, a localização geográfica foi fundamental, aos que viviam ao oeste da bacia do
Maranhão foi atribuída outra denominação, e aos que viviam na bacia do rio Tocantins de
acordo com sua localização foram se dividindo em três unidades, cujo sua autodenominação
está relacionada com a posição que ocupavam na bacia do rio Tocantins, estes denominados:
Parkatêjê, Kyikatêjê e Akrãtikatêjê. Falantes da língua Timbira Oriental pertencente ao troco
linguístico da família Jê. Hoje habitam na Reserva Indígena Mãe Maria, localizada no município
de Bom Jesus do Tocantins, composta de uma área de 62.488,4516 hectares de terra.
Atualmente, esses grupos vivem em um único território, fruto de uma medida governamental,
porém, foram formadas aldeias independestes, neste mesmo território. Na trajetória do povo
gavião, assim como de outros povos indígenas o contato inicial com os brancos, colocou em
risco sua existência, pois tanto as epidemias quanto as mudanças de território, acabaram por
diminuir seu contingente populacional. Assim, o objeto desse estudo constitui-se
especificadamente ao evidenciar a ocupação da Amazônia a partir dos grandes projetos, em
especifico aqueles que impactaram diretamente o povo gavião, como a construção da Usina
Hidrelétrica de Tucuruí, a extração de minérios entre outros. A pesquisa se deu utilizando a
abordagem qualiquantitativa evidenciando a dinâmica que o grande capital utiliza e os
conflitos gerados partir da lógica da exploração e do desenvolvimento.

Políticas Públicas habitacionais indígenas no estado de Minas Gerais: a


desconsideração com a singularidade Xacriabá

Giovanna de Araújo Magalhães

Natália de Oliveira Ravagnani

Diante do contexto negligente que engloba as políticas públicas habitacionais voltadas às


comunidades tradicionais indígenas, se faz necessário levantar a discussão sobre a
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adequabilidade daquelas, e possivelmente, auxiliar na melhoria das mesmas e na reflexão dos


agentes envolvidos, dentre eles, os arquitetos. Por meio de análises dos programas de
políticas públicas já implementadas ou em vias de implementação no Território Indígena
Xacriabá, no estado de Minas Gerais, Brasil, considerando não somente os critérios
arquitetônicos, mas também os critérios socioculturais (que engrandecem as particularidades
dessa população) busca-se evidenciar no presente artigo ponderações que reflitam algumas
das incoerências nas moradias fornecidas como produto final das Políticas Públicas.

El peritaje cultural como forma de acceso a la justicia de los pueblos indígenas


en Costa Rica. Reflexión crítica sobre la judicialización de conflictos
territoriales en el cantón de Buenos Aires

Marcos Guevara Berger

Desde el 2010, luego de dos años de haberse aprobado en Costa Rica la implementación de
las 100 Reglas de Brasilia sobre Acceso a la Justicia, los tribunales penales, agrarios y
constitucional ordenan peritajes antropológicos en causas que involucran a personas
indígenas. Si bien esto constituye un avance en términos de la realización de los derechos
humanos de los pueblos indígenas y parece congruente con el reconocimiento constitucional
de la multiculturalidad de la sociedad costarricense, disfraza la realidad de comunidades
indígenas que han sufrido y sufren aún el despojo territorial pues las leyes fundamentales que
reconocen sus derechos se desaplican. A la vez, los peritajes, que se supone aportan
elementos de consideración para que se cumplan tales derechos, se proponen
fundamentalmente en casos que enfrentan entre sí a indígenas, lo cual, a la vez que puede
debilitar los mecanismos propios de resolución de conflictos, no pone la suficiente atención
en el problema de usurpación o bien, cuando ocurre, tiene efectos casi nulos. Finalmente,
cabe cuestionar cómo la utilización del peritaje se engarza dentro del ordenamiento jurídico
formal bajo la figura del “error de derecho”, lo que pone en tela de duda que el sistema
jurídico tenga las características de pluralismo jurídico que algunos señalan. Estas reflexiones
se establecen desde una región específica del país, el cantón de Buenos Aires, en el sur, donde
se desarrolla un proyecto académico interdisciplinario sobre la conflictividad territorial por
parte de la Universidad de Costa Rica.

Os direitos humanos e o povo Xerente

Maria Helena Cariaga

Rosiane Fernandes José

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O presente trabalho visa trazer reflexões acerca da relação dos povos indígenas
(especificamente a etnia Xerente) e os Direitos Humanos, e de como tais direitos são
importantes para que estas prerrogativas sejam asseguradas a essa parcela da população
brasileira, que tanto são deixadas a margens das leis e das políticas públicas e sociais. Abordar
o tema Direitos Humanos nos leva a compreender algumas questões como, por exemplo, o
que significa esta expressão, quando surgiu, e o que proporciona, para tal assim é
apresentado: [...] Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pelas Nações
Unidas em 1948, cumpriu um papel extraordinário na história da humanidade. Codificou as
esperanças de todos os oprimidos, fornecendo linguagem autorizada à semântica de suas
reivindicações. Proporcionou base legislativa às lutas políticas pela liberdade e inspirou a
maioria das Constituições nacionais na positivação dos direitos da cidadania. (ALVES, 2018, p.
1). Os direitos humanos, portanto, são direitos fundamentais a todos os seres humanos, e
independe de nacionalidade, gênero, cor, religião, etnia ou qualquer outro enquadramento.
Eles estão sempre em construção, e normalmente são frutos de lutas e reivindicações.
Tamanha a importância e universalidade desses direitos, constantemente são mencionados
na garantia de leis. Assim é dever das Nações promover e proteger os direitos humanos seja
na individualidade ou na coletividade dos seres humanos, pois todos são possuidores desses
direitos, sem distinção, com isso todos têm direito à vida, a segurança, a educação. “São
chamados de direitos humanos aqueles direitos voltados à garantia da dignidade humana.
Esses direitos são universais, inalienáveis, interdependentes e indivisíveis” (YAMADA, 2018).
Deste modo, tendo em vista que não há distinção de seres humanos no que tange aos Direitos
Humanos, estes também se estendem aos povos indígenas, de quaisquer que seja a etnia,
cultura ou nacionalidade, e para este trabalho, voltar-se-á o olhar para a etnia Xerente. Assim
é necessário, portanto ter noção de como essa população se organiza atualmente, então: Os
Akwẽ-Xerente estão localizados a 70 km da capital do estado do Tocantins “Palmas”. Vivem a
leste do Rio Tocantins, e estão em duas Terras Indígenas: [...] Terra Indígena Xerente
denominada “Área Grande”, com superfície total de 167.542.1058 ha, que foi identificada
oficialmente pela Funai como área ocupada pelos Akwẽ-Xerente em 1972; e, a Terra Funil com
superfície de 15.703.7974 ha, identificada como oficialmente ocupada pelos indígenas em
1982 à margem direita do rio Tocantins, onde está localizada a cidade de Tocantínia (LIMA,
2016, p. 148). A partir da compreensão de como a etnia Xerente se organiza, é cabível
entender como está sendo a garantia de proteção a esses povos, suas culturas e seus modos
de vida, tendo em vista que os direitos voltados para a população indígena foi incorporadas
como proteção dos direitos humanos, sejam eles direitos territoriais, culturais e ambientais.
Com a aprovação da Constituição Federal brasileira de 88, os direitos sociais indígenas
aparecem como um importante marco, assim estes deverão abarcar as políticas de assistência
social e saúde, são elementos que contribuíram para a sobrevivência dos povos indígenas,
assim como a demarcação de terra. Um dos direitos recentemente violados dos indígenas
Xerente foi a construção da Usina Hidrelétrica na cidade de Lajeado- TO, a UHE foi ativada em
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2002 formado um lago que sua extensão ocupa uma área de aproximadamente 750 km,
alagando terras dos municípios de Lajeado, Miracema, Palmas, Porto Nacional, Brejinho de
Nazaré e Ipueiras. (LIMA, 2016, p. 153). Como um dos resultados da hidrelétrica, pode se
observar: Apesar da área indígena não ser diretamente afetada pelo reservatório da
barragem, a possibilidade de aumento dos conflitos tende a crescer em função do
deslocamento de massas de trabalhadores temporários para a região, levando a aproximação
de problemas como prostituição e alcoolismo. A relação entre os avanços tecnológicos e a
aproximação desses avanços aos povos indígenas sempre apresenta fatores negativos em
proporção inversa: quanto mais este se aproxima, mais prejudicada se torna a comunidade.
(Ibidem, 2016, p. 156). Pensando nos Direitos Humanos e a sua relação com os povos
indígenas Xerente, em 1993 a Organização das Nações Unidas no Ano Internacional dos Povos
Indígenas sugeriu a Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, nesta declaração
incluiria direitos culturais e étnicos coletivos, direito a terra e recursos naturais, a manutenção
de estruturas econômicas, direito a autonomia, dentre outros, em um dos parágrafos da
Declaração Universal estava impresso o: “§2 - Os povos indígenas têm o direito ao pleno e
efetivo desfrute de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais reconhecidos na
Carta das Nações Unidas e outros instrumentos internacionais de direitos humanos”. (BRASIL,
2018). O documento ainda traz questões voltadas para o direito a tradição, terras, cultura,
proteção, saúde, educação, religião e tantos outros. Neste sentido, apesar de que vários
direitos adentraram na sociedade indígena, como saúde, educação, acesso a informação, e
outros, a população indígena Xerente, ainda é constantemente violada nos seus direitos, na
medida em que estas prerrogativas são ineficientes e quando tantas outras são infringidas,
como o direito a cultura, as tradições e a questão da demarcação de terras. É necessário então
que haja um olhar voltado para os Direitos Humanos sobre a população indígena, é
imprescindível que estes amparem esses povos que todos os dias estão sendo violados,
exterminados.

Os espíritos falam: O etnocídio dos Guarani e Kaiowá à luz do Tribunal Penal


Internacional – o Brasil em julgamento

Cesar de Miranda e Lemos

No século XXI há a emergência de um novo paradigma jurídico, decorrente da dinâmica dos


processos de humanização do Direito Internacional e de internacionalização dos direitos
humanos, conectados com os processos de constitucionalização do Direito Internacional e de
internacionalização do Direito Constitucional. Como destacou Norberto Bobbio (1992), os
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direitos humanos não nasceram de uma vez, nem de uma vez por todas. Segundo Hannah
Arendt, os direitos humanos não são um dado, mas um construído, uma invenção humana,
em constante processo de construção e reconstrução. Assim, os direitos humanos e os “novos
direitos” assentados em seus princípios, refletem um construto axiológico, a partir de um
espaço simbólico de luta e ação social constitutivo de uma narrativa galgada no
reconhecimento da diversidade e da pluralidade societária na elaboração da experiência
humana. O crescente papel dos direitos humanos como vocabulário emancipatório foi
compreendido por Boaventura de Sousa Santos (2003) como uma manifestação das tensões
dialéticas da modernidade ocidental, podendo ser apropriados para uma política de
emancipação que leve em conta o reconhecimento da diversidade cultural e, ao mesmo
tempo, a afirmação comum da dignidade humana. A possibilidade de uma hermenêutica
diatópica, como sugere Boaventura (2003), subsidia abordagens que inferem valor
estruturante para o reconhecimento de direitos a partir de uma cosmologia da diversidade
societária. É nesta seara de contribuições que o estudo apresentado nesta proposta de
comunicação – “Os espíritos falam: O etnocídio/genocídio dos Guarani e Kaiowá à luz do
Tribunal Penal Internacional – o Brasil em julgamento”, enseja reunir os fundamentos do
Direito Internacional dos Direitos Humanos, numa perspectiva multicultural, com as
dimensões constitucionais da garantia da dignidade da pessoa humana, nas dimensões
doméstica e internacional, para inquerir as condições de tipificação dos crimes de etnocídio e
genocídio perpetrados agentes sociais pelo Estado Brasileiro em relação aos guarani e kaiowá,
a fim de sustentar o enquadramento do Brasil nos requisitos próprios a jurisdição do Tribunal
Penal Internacional/TPI. No caso em tela, a presente comunicação centra atenção nos
acontecimentos e nas situações vivenciadas pelos guarani e kaiowá no Mato Grosso do Sul,
como evidenciou Bruno Martins Morais (2017) em sua dissertação “Do corpo ao pó”, donde o
Estado Regional e a União se apresentam omissos/coniventes ou incapazes de garantir a
constitucionalidade dos direitos fundamentais dos índios, numa perspectiva multicultural,
como assevera a Carta de 1988. Neste sentido, “Os espíritos falam” traduz a preocupação
metodológica de incorporar nesta pesquisa a cosmovisão dessas violações segundo os guarani
e os kaiowá, que transformam o “luto em luta”, como observou Morais (2017).
Compreendidos, nesse ambiente de conflitos, não somente como vítimas, mas como sujeitos
de direito e protagonistas de narrativas de apropriação de direitos humanos, numa
perspectiva de reconhecimento multicultural desse novo paradigma jurídico. Na
dramaticidade em contexto, a violação dos direitos humanos de minorias etnicamente
identificadas sugere um caso concreto de etnocídio em confluência como a acepção de
genocídio previsto no ordenamento internacional, garantidor da dignidade da pessoa humana
em sua reverberação coletiva. A temporalidade da presente abordagem vincula-se a vigência
dos fundamentos constitucionais previstos na Carta de 1988 para a realização e a eficácia do
preceito da dignidade da pessoa humana, como averbou Soares (2010), e as consequências
de sua violação para os agentes públicos e privados, bem como as reverberações do Direito
Internacional dos Direitos Humanos no Brasil desde então. Eis, pois, o tema e sua delimitação,

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que subsidiam o problema dessa comunicação, qual seja – o alcance do Tribunal Penal
Internacional/TPI em relação ao Estado Brasileiro e agentes sociais no caso de
omissão/violação de direitos dos Guarani e Kaiowá em Mato Grosso do Sul. Como hipótese o
estabelecimento de uma processualidade capaz de tornar factível essa presunção, tal como
Piovesan (2018) desenvolveu para os casos analisados em um estudo comparativo dos
sistemas regionais europeu, interamericano e africano à luz dos Direitos Humanos e a Justiça
Internacional.

Marco temporal, o acesso à justiça e os direitos territoriais indígenas no Brasil

Débora Silva Massulo

Caroline Barbosa Contente Nogueira

O trabalho analisará a validade da tese do Marco Temporal de ocupação de terras indígenas


criada a partir do julgamento da Ação Popular pet. 3388, em 2009, no Supremo Tribunal
Federal, que versa sobre a validade do processo de demarcação da Terra Indígena Raposa
Serra do Sol, localizada no Estado de Roraima. Verifica- se que tal tese surge a partir de uma
interpretação inconstitucional dos direitos territoriais indígenas no Brasil, pois limita a
demarcação de terras apenas para aqueles povos que estivessem ocupando o território
reivindicado no dia 5 de outubro de 1988, a data da promulgação da Constituição Federal,
divergindo das disposições constitucionais sobre o tema, que não limitam os direitos
territoriais a nenhum critério temporal e negando a trajetória de espoliações sofrida por esses
povos que em muitos contextos foram obrigados a deixar suas terras por conta de políticas de
deslocamento forçado e violências no campo por conta de disputas com fazendeiros e setores
agrícolas. Tal trabalho tem sua importância para a construção de instrumentos jurídicos
capazes de subsidiar as demandas jurídicas dos processos judicializados que enfrentam a
aplicação de tal tese. A primeira parte examinará a natureza jurídica das terras indígenas bem
como conceituará a partir de aspectos da antropologia jurídica, de forma a colaborar com a
compreensão dessas categorias, para partir para a segunda parte, na qual se analisa o
julgamento do Caso Raposa Serra do Sol e como se deu a construção dos argumentos dos
Ministros que embutiram a tese do Marco Temporal ao julgamento final do caso. Na terceira
e última parte utilizou-se de um diálogo dos processos históricos de deslocamentos forçados,
especificamente dos Guarani e Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, e das teorias constitucionais
para invalidar a tese do Marco Temporal, visto que ela traz profunda insegurança para os
povos que ainda não tiveram suas terras demarcadas, contribuindo, assim, para o aumento
dos conflitos fundiários e disseminação da violência nas áreas rurais. O caso que aporta este
estudo é o da terra indígena Guyrároka, a qual agricultor do Mato Grosso do Sul pleiteou a
anulação da portaria 3.219 de 2009, emitida pelo Ministro da Justiça, que declarava a posse
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permanente da TI Guyrároka aos Guarani-Kaiowá que nela habitavam de forma tradicional.


Ressalta-se que este trabalho foi resultado de pesquisa para Trabalho de Conclusão de Curso.
Este artigo foi elaborado a partir de pesquisa qualitativa, com análise de documentos legais e
jurídicos, assim como referencial etnográfico e historiográfico, articulando tais métodos para
compreensão do papel do Direito na garantia dos direitos territoriais indígenas.

O descaso do Estado brasileiro frente à execução penal dos povos indígenas

Taiane Moreira Lucas

Bibiana Rossato Dias

Rodrigo Kuaray Mariano

Este trabalho apresenta as problemáticas inerentes ao ordenamento jurídico brasileiro


quando se trata de direito penal e execução criminal indígena. Para isso, apresenta- se a
previsão diferenciada do Estatuto do índio acerca do cumprimento da pena pelos povos
indígenas e a forma como é aplicada na prática do poder judiciário. Ainda, é abarcada a
inconsistência da exigência dos graus de integração para aplicação da lei penal, baseada na
concepção etnocentrista que até hoje busca submeter os povos indígenas a um sistema
padronizado que descaracteriza-os como seres humanos e como seres de direito caso não
estejam de acordo com a uniformidade social, evidenciando o descaso com o direito a
diferença e autodeterminação dos diferentes povos que ainda resistem no território
brasileiro. Além disso, é realizada uma análise acerca do caso Denilson, tido como o único caso
em que houve a efetiva aplicação do Estatuto do Índio no Brasil, a fim de expor a concepção
do pluralismo jurídico no país. Assim, o objetivo geral desta pesquisa é abordar as
problemáticas acerca da invisibilidade dos povos indígenas e o reconhecimento de suas
organizações próprias pelo campo jurídico, atentando para os meios de resolução de conflitos
internos de cada comunidade. Busca-se demonstrar que o judiciário brasileiro apresenta uma
dificuldade enorme em introduzir no campo jurídico a garantia material dos direitos dos povos
indígenas, presentes na Constituição Federal, em especial dentro da esfera criminal, em que
o Estado é norteado por uma lógica monista do poder de punir, desconsiderando os meios de
punição específicos das populações indígenas.

Análisis del homicidio-sociopolítico bajo la modalidad de linchamiento en


Tamulté de las Sabanas, Villahermosa, Tabasco

Maritel Yanes Pérez

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Este estudio busca profundizar en el análisis del homicidio en una comunidad indígena en
donde se presentó un caso de linchamiento. La investigación se focaliza en la localidad de
Tamulté de las Sabanas ubicada en la ciudad de Villahermosa, Tabasco uno de los lugares más
autóctonos del estado, ya que la gran mayoría de sus habitantes son de origen Maya-Chontal.
Para lograrlo, la estrategia global de investigación consistirá en manejar métodos mixtos
mediante la combinación de la metodología cuantitativa con la cualitativa. Primero, se
describirá la evolución y características del homicidio en Villahermosa, Tabasco entre 2005 y
2017 comparando las diferencias en el tiempo, por edades, y especialmente, entre
modalidades de victimización según si se trata de víctimas hombres o mujeres. Además se
pretende profundizar en el estudio del homicidio con la aplicación de observación participante
y la realización de entrevistas a la población de Tamulté de las Sabanas para ilustrar elementos
para la comprensión del homicidio sociopolítico, los costos sociales del mismo y conocer el
seguimiento y la acción de la justicia por parte del Estado.

O tratamento jurídico-penal de indígenas no Brasil

Tédney Moreira da Silva

Esta comunicação estuda o tratamento jurídico-penal dos povos indígenas no Brasil, partindo
da hipótese segundo a qual a criminalização de indígenas possibilita a concretização do ideal
integracionista ainda vigente na legislação indigenista ordinária, a partir do princípio de
igualdade, com aplicação no Direito Penal. O Estado civiliza os indígenas nivelando-os por
baixo, por meio da repressão do Direito Penal, único lugar em que são considerados capazes
e integrados, como outros sujeitos de direitos.

Cartas para ONU: a denúncia dos povos indígenas em Rondônia

Gicele Sucupira e Jandira Keppi

Este trabalho tem como objetivo analisar as cartas escritas para ONU por indígenas estudantes
do Curso de Educação Básica Intercultural nos anos de 2016 e 2018, durante a disciplina de
Direitos Indígenas. O curso é voltado para a formação de professores indígenas e atende
aproximadamente 240 estudantes de mais 30 etnias do noroeste do Mato Grosso, Sul do
Amazonas e Rondônia. Na disciplina ofertada para mais de 90 estudantes foram discutidos
vídeos e textos de indígenas bacharéis em direito, o Manual para defender os direitos dos
povos indígenas e tradicionais e outros autores que tratavam da Constituição Federal,
Convenção 169, Projetos de Leis, direitos territoriais, saúde e outros temas, a partir de suas
próprias demandas. Nas aulas que antecederam a produção das cartas foram lidos textos de
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James Anaya sobre 'Cenário internacional: Os Direitos Humanos dos Povos Indígenas' (2006),
e de 3 pequenos textos produzidos pelo Instituto Socioambiental (ISA). Um deste, tratava de
'Como encaminhar informações ao Relator Especial da ONU sobre direitos humanos e
liberdades fundamentais indígenas?' (MATHIAS; YAMADA, 2016), utilizado para orientação
das produções das Cartas. Redigidas por um ou mais estudantes da mesma aldeia ou etnia
durante as aulas, as cartas enfatizaram o esquecimento e a negligência do estado, o
preconceito, as distintas formas de violências, os assassinatos, as invasões, a grilagem e as
ameaças recorrentes. Questões ambientais também foram centrais como a poluição dos rios
por conta da criação de gado e do uso de agrotóxicos, a retirada de areia e cascalhos dos rios,
a retirada madeiras, queimadas, o roubo de peixes para comércio, a pesca ilegal durante
períodos de desova, a ameaça e a extinção de várias espécies de peixes e outros animais. Além
desses problemas, apontaram a exploração de comerciantes não indígenas locais, a oferta,
algumas gratuita insistente destes para o consumo de bebidas alcoólicas, a falta de estrutura
física e recursos humanos nos postos de saúde, quando há, e nas escolas, a falta de
saneamento e água potável. A produção das cartas tem sido um dos principais modos de
comunicação dos povos indígenas brasileiros com as instituições brasileiras e internacionais,
antes com apoio de antropólogos, missionários e não indígenas, hoje tem a possibilidade de
escrever suas próprias cartas e registrar as suas versões da história (COSTA, 2015). Recorrer
instrumentos jurídicos internacionais como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos
(daqui a diante, CIDH) tem sido um importante em batalhas em prol dos direitos humanos no
Brasil. (SANTOS, 2007). A visibilidade dessas Cartas neste texto é conduzida pela análise crítica
do panorama da violação dos direitos indígenas na Grande Rondônia (VANDER VELDEN, 2010),
é também acompanhada da esperança de não ler, no futuro, a repetição de seus conteúdos.

A defesa dos povos indígenas frente a projetos de desenvolvimento por meio


da responsabilização de instituições financeiras internacionais

Marcella Ribeiro d'Ávila Lins Torres

Grandes projetos hidroelétricos continuam sendo a causa de violações de direitos humanos


de povos indígenas em toda a América Latina, principalmente no Brasil. Esses projetos
geralmente são impulsados por interesses de elites econômicas, e se concretizam com o
respaldo institucional do Estado. Entretanto, projetos de grande porte são, em sua grande
maioria, patrocinados por instituições financeiras nacionais e internacionais que possuem
responsabilidade sobre as consequências da materialização dos mencionados projetos. No
presente artigo nos debruçamos sobre as responsabilidades das instituições financeiras em
relação às violações de direitos humanos advindas de projetos de desenvolvimento. Destarte,
em um primeiro momento identificaremos quais são as obrigações internacionais das
instituições financeiras em relação aos conflitos e perturbação social causados aos povos
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indígenas em razão da implementação de projetos hidroelétricos. A partir do reconhecimento


das mencionadas obrigações, aplicaremos esses padrões normativos ao caso de Belo Monte,
por esse ter sido financiado pelo BNDES e por ter comprovadas violações aos direitos humanos
dos povos indígenas atingidos. A partir do estudo de caso cruzaremos as obrigações das
instituições financeiras com o histórico da construção de Belo Monte, para, assim, estabelecer
quais seriam as melhores práticas em contextos de implementação de grandes hidrelétricas
em territórios indígenas. Finalmente, esperamos esboçar quais seriam caminhos efetivos e
válidos a serem explorados pela sociedade civil e povos indígenas junto às instituições
financeiras, a fim de se proteger e buscar responsabilização pelos danos ambientais, sociais e
culturais causados por grandes projetos de desenvolvimento.

Estado Plurinacional de Bolivia: dilemas del nacionalismo indígena

Ana Rocchietti

Alicia Lodeserto

Nacionalidades indígenas, pueblos proletarios, pueblos originarios o pueblos o naciones indias


en América Latina constituyen un problema antropológico – jurídico irresuelto. Este ensayo
analiza los principios fundadores, la estructura y las implicaciones del Estado Plurinacional de
Bolivia como un estadio de su secular complejidad. Si se parte de los acontecimientos del año
2009 (el principal fue la luz de la Constitución) se observa que el indianismo boliviano tomó
un nuevo curso pasando de las ideas, más o menos, consistentes y articuladas, a la acción
política presentada como alternativa y como horizonte deseable para poblaciones de fuerte
identidad cultural. Una mirada más profunda puede encontrar que el proceso no solamente
arraiga sino que desenvuelve el nacionalismo revolucionario, una constante de la historia
boliviana moderna.

Sujeito de Direito da perspectiva de estudantes indígenas na UFPR e seu


conceito jurídico-empírico na América Latina

Geovan José dos Santos

O propósito desse estudo e coletar e reunir dados e conhecimentos de alunos indígenas,


preferencialmente, os matriculados no curso de direito da UFPR, com objetivo de tentar fazer
esse diferencialmente entre o sujeito de direito e sujeito de direito indígena, velando em
conta seus conhecimentos tradicionais e empíricos. Trata-se, portanto, de estudar as relações

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jurídicas no seu dia-a-dia e apresentar as idéias trazidas e elaboradas pelos alunos. Pretende-
se, em continuidade ao presente panorama, sobretudo empírico, realizar uma revisão de
documentos na literatura jurídica com intenção de conceituar juridicamente o termo sujeito
de direito. A presente pesquisa tem como objetivo apresentar uma abordagem crítica sobre
o que é sujeito de direito e sujeito de direito indígena partindo de dois pressupostos
diferentes, na primeira analisar-se-á na perspectiva jurídica e formal e a segunda através de
uma construção coletivas dos próprios povos indígenas no que tange aos seus entendimentos
sobre o conceito de sujeito de direito.

ST 64 | História, Memória e Territorialidade: afirmação das vozes indígenas

Luciana Deluci (Centro de Formação e Atualização dos Professores do Mato Grosso – CEFAPRO/MT,
Brasil); Luciene Rosa (CEFAPRO/MT, Brasil); Erlon Costa, (Ação Educativa, Brasil).

O simpósio visa ampliar reflexões sobre a temática da história, memória e territorialidade dos povos
indígenas da América Latina, frente aos processos de territorialização e reterritorialização que lhes
asseguraram autonomia para instituir modos de vida próprios. A relação dos povos indígenas com o
território carrega a tradição onde reverberam suas práticas e cuja fronteira é o território da memória.
A territorialidade da memória transporta as experiências do passado para as movimentações do tempo
presente. Deste modo, buscamos reunir formas em que a memória social e coletiva é contada e
recontada, valorizando o fio da memória que conecta o passado ao presente. As construções de
memória se fazem a partir das experiências vivenciadas em um tempo e espaço definidos, assim,
consideramos que a memória é um aporte fundamental na afirmação da história de luta e resistência
dos povos indígenas por seus direitos, fazendo frente às representações da sociedade dominante que
ocultaram e excluíram suas narrativas.

A Lei N° 11.645/08 e a Inclusão da História dos Povos Indígenas

Samara Gomes de Oliveira

Raimundo Lima dos Santos

Este trabalho tem a pretensão de abordar a trajetória da lei N° 11.645/08, que contempla
todos os níveis de instrução escolar com o estudo da História dos povos indígenas, uma

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extensão da lei n° 10.639/03, buscando analisar as possíveis ações relativas à sua


aplicabilidade sob o prisma da história. Em tal perspectiva, como ponta de lança para entender
a narrativa impressa, realizou-se um estudo dos fatos que perpassam o contexto indígena,
tanto na parte do campo, quanto na parte da esfera educativa, especialmente no que
concerne ao resguardo constitucional da Carta Magna de 1988, e à LDB n° 9394/96. Para
Tanto, utilizou-se de textos online e impressos, como artigos e a Lei Maior; isso, a fim de ser
examinado o quadro panorâmico exposto referente à atuação das entidades públicas e
privadas, sendo assim, as escolas. Nesse pressuposto, foi vista uma dificuldade perceptível no
cumprimento dessas normativas; ao examinar diversos dos materiais destacados,
principalmente quando se trata do espaço de construção de saberes e difusão dos mesmos,
as salas de aulas nos colégios. Em universidades, já existe uma preocupação incomparável,
não de modo geral, mas da parte de determinados professores levando em consideração ao
nível nacional e sabendo que há variações significativas, entre os educadores das áreas
abarcadas pela lei, da História, de Letras e artes etc., estes alegam não possuir tempo, para
ministrar tantas aulas fora do plano anual de seu ofício. Por fim, cabe assinalar que essa
situação pode ser revertida, na medida em que haver mais professores voltados à inclusão
dessa nova ótica de ver o social, cada vez mais voltado há um ensino pluricultural e mais
inclusivo.

A formação de um movimento pan-indígena no Brasil no contexto da


ditadura militar (décadas de 1970 e 1980)

João Gabriel da Silva Ascenso

Toda a história do Brasil foi marcada por diferentes formas de diálogo, negociação e
resistência dos povos originários. Por diversas que tenham sido, estas formas de relação
tinham em comum o fato de não terem jamais articulado um movimento de pretensões
“nacionais”. Autores como Alcida Rita Ramos associam essa ausência de uma articulação
indígena de grandes proporções à política indigenista oficial que, desde o final do século XIX,
em nome de uma “civilização gradual das populações indígenas”, buscou manter os grupos
isolados, sem muitas informações relativas ao mundo circundante. Entretanto, os contatos
sempre foram frequentes, resultando em invasões e violência, esbulho territorial, genocídio e
etnocídio. A partir dos anos 1970, entretanto – em plena ditadura militar –, começou-se a se
articular um movimento pan-indígena no Brasil. Os setores da Igreja Católica envolvidos com
a Teologia da Libertação, especialmente o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), tiveram
uma grande importância nisso, organizando as primeiras “assembleias indígenas” a partir de
1974. O objetivo era fazer frente à ofensiva do regime militar contra os povos indígenas, já
que, em nome do “desenvolvimento”, da “integração”, da “soberania” e da “segurança
nacional”, diversas iniciativas foram tomadas com a intenção de rever os direitos conquistados
para se apropriar de suas terras e formar um contingente de trabalhadores nacionais
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“emancipados” de sua indianidade. De meados dos anos 1970 em diante, cada vez mais a
ingerência do CIMI se tornou secundária, e diversas iniciativas e organizações indígenas
surgiram com o intuito de dialogar com o Estado, denunciar as violações de direitos e garantir
a preservação da existência física, bem como das terras, da cultura e do patrimônio indígena
de maneira geral. A criação da UNI (União das Nações Indígenas) é elemento fundamental
deste processo. Momentos de destaque da luta indígena, a partir de então, foram a luta contra
o “Decreto da emancipação”, do ministro do interior Rangel Reis, em 1978, e contra os
chamados “critérios de indianidade”, já no início dos anos 1980. Com o apoio de boa parte da
sociedade civil e da imprensa, o movimento indígena de fato obteve significativas conquistas,
materializadas na Constituição de 1988. O presente estudo visa mapear a articulação desse
movimento pan-indígena no Brasil, desde 1974, quando se reúne a primeira “assembleia
indígena”, até 1988, data da promulgação da nossa Constituição. Visa ainda analisar de que
maneira elementos próprios à história das populações indígenas do Brasil e às cosmovisões
destas populações deram a este movimento contornos bastante particulares, dentro do
espectro dos movimentos sociais brasileiros entre as décadas de 1970 e 1980.

Relações diferenciadas: perspectivas indígenas e não indígenas acerca do


território

Maria Carolina Arruda Branco

Vicente Cretton Pereira

O presente trabalho trata por um lado da história de resistência dos povos indígenas no Brasil
e por outro das diferentes noções de pessoas indígenas e não-indígenas sobre o que vem a
ser terra e território. Partimos assim de um descompasso entre o que povos indígenas,
grandes latifundiários, empresários da área de mineração e hidreletricidade e os autores da
constituição de 1988 pensam sobre terra e território, e principalmente sobre o que seria o
significado mais próximo da realidade da noção de “terra tradicionalmente ocupada”, que
aparece na Constituição Federal (Art.231). Como trataremos de concepções diversas de terra
e território, o trabalho começa por mostrar como tais diferenças têm ocasionado, desde a
chegada dos colonizadores, conflitos de múltiplas intensidades entre atores indígenas e não-
indígenas. Para aprofundarmos a compreensão acerca das razões e consequências destes
conflitos focamos a investigação em três obras principais: A queda do céu: palavras de um
xamã yanomami (Kopenawa e Albert, 2015); Os Kaiowá em Mato Grosso do Sul: módulos
organizacionais e humanização do espaço habitado (Pereira, 2016) e Influências Mebêngokrê:
cosmopolítica indígena em tempo de Belo Monte (Urueta, 2014). Estas três obras são
ilustrativas de três modos da tensão causada pela relação diferenciada que indígenas e não-
indígenas têm com a terra (ou com o território), e servirão para ilustrar respectivamente a
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exploração de minério em TI’s, os conflitos fundiários e a instalação de grandes projetos


hidrelétricos nas proximidades de TI’s.

Os Awá no contexto de um novo processo de territorialização

Zeneide Pereira Cordeiro

Josanne Cristina Ribeiro Ferreira Façanha

O objetivo desta pesquisa é analisar o processo de contato dos Awá com os brasileiros entre
as décadas de 1950 a 1990. Os Awá são um povo indígena que habita uma região conhecida
como pré-amazônia maranhense, na fronteira entre os estados do Pará e Maranhão – Brasil,
em três terras indígenas, T.I. Caru, T.I. Alto Turiaçu e T.I. Awá. São supervisionados por quatro
postos indígenas o P.I. Guajá, P.I. Awá, P.I. Tiracambú e P.I. Juriti da Funai. É o povo de contato
mais recente no Maranhão e há informações oficiais de que existem cerca de seis grupos Awá
isolados. O território Awá foi ocupado por lavradores, fazendeiros e pela implantação de
projetos econômicos estatais e privados, desde o final do século XIX. Procura-se debater
acerca dos contatos iniciais dos Awá com as frentes de expansão que adentraram seu
território e as políticas desenvolvidas pela Funai para realizar a atração dos Awá e as ações
pós-contato. O contato dos Awá com brasileiros provocou inúmeras mudanças no modo de
vida desse povo e tem desencadeado novos processos de territorialização. Neste artigo
propõe-se uma reflexão sobre a relação entre índios e não-índios no Brasil e, em específico no
Maranhão, a partir do estudo da política de contato executada com os Awá, nas décadas de
1970 e 1980. A expressão “Awá”, de acordo com Gomes (1982, p. 20), é a forma como os
índios Guajá se “autodenominam”, significando homem/ gente/ pessoa. Garcia (2010, p. 09)
afirma que são chamados com frequência por órgãos governamentais e pela mídia como
“Awá-Guajá” ou “Guajá”, entretanto farei uso destas expressões apenas quando fizer menção
sobre documentos oficiais, antropológicos e/ou me referir a algum pesquisador que utiliza
este termo. Compreende-se que a política de contato do Estado brasileiro, posta em prática
com os Awá, tem aspectos relacionados com a colonização do Maranhão ocorrida no século
XVII com a chegada das frentes de expansão econômica no século XX. Esses elementos são
responsáveis pela inserção dos povos originários desta região em um “novo processo de
territorialização” (OLIVEIRA, 1989), que embora, sejam diversos, acarretam prejuízos
similares. No caso dos Awá, esse processo tem obrigado esse povo a mudar seu modo de vida
de caçador e coletor, para agricultores assentados, o que implica a construção de novas
territorializações que não expressam o modus vivendi Awá. Logo, os problemas ocasionados
são diversos, dentre os quais o decréscimo da população, a invasão e ocupação de seus
territórios, a introdução de novas formas de trabalho, epidemias etc. Em determinados
momentos da história dos Awá, um povo culturalmente nômade que vive nas matas altas dos
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Vales dos rios Pindaré, Turiaçu e Gurupi, alguns antropólogos e pesquisadores indigenistas
chegaram a especular que eles poderiam ser extintos em virtude da alta taxa de mortalidade
e da vulnerabilidade da vida em seus territórios, dadas as constantes ameaças de invasões.
Contudo, é importante ressaltar que, ao longo da história indigenista no Brasil, alguns
pesquisadores como Darcy Ribeiro (1995; 1970) e Florestan Fernandes (1949; 1952)
acreditavam na extinção dos povos indígenas, seja por violências físicas, doenças, ou pela
assimilação e integração a sociedade brasileira. O segundo autor procurou desmistificar certas
visões equivocadas sobre os “índios” em face da colonização, enfatizando a bravura dos tupis,
porém não se esquivou de afirmar que ao serem vencidos, estes povos eram aculturados,
submissos e escravizados, perdendo, assim, sua cultura autêntica, passando a fazer parte de
um novo sistema. Essas abordagens reforçam a concepção integracionista e assimilacionista
do período colonial, que, de diversas maneiras, perpetuam-se até hoje. Ao contrário do que
muitos pesquisadores e o próprio Estado brasileiro previam, os povos indígenas não
desapareceram, nem se integraram à sociedade nacional. Em contrapartida, reafirmam sua
identidade, criando realidades culturais e territoriais como tem ocorrido, por exemplo, com o
povo Awá. Diante da complexidade do tema abordado não é possível ter um consenso sobre
a relação entre “índios” e brasileiros, principalmente, no que se refere ao uso, divisão e
concepção de terra e território. Entretanto, como pode ser observado, historicamente a
relação entre “índios” e o Estado, primeiro o português e em seguida o brasileiro, sempre foi
uma relação de disputa por territórios que tinha como objetivo a construção do Estado-nação
brasileiro e em detrimento disso, a expropriação destes povos dos seus territórios.
Independentemente do período histórico seja, colônia, monarquia, república, ditadura ou
democracia, os “índios” sempre sofreram todos os tipos de violências, primeiramente, a
violência simbólica, através do etnocídio, e para os que resistiam, instaurou-se a “violência
física” oficial, executada pelo Estado, pela igreja e pela sociedade nacional. Todos estes tipos
de violências são executados ainda hoje, pois elas estão expressas na política de contato, que
embora oficialmente não seja mais executada, na prática ainda é. Como exposto, a partir da
promulgação da Constituição de 1988, foi reconhecido aos “índios” suas especificidades
culturais e linguísticas, porém, o Estado não os reconhece como nações autônomas. Este é o
principal problema que impede os povos exercerem o seu pleno direito sobre o território que
ocupam. Como consequência, uma terra indígena não demarcada favorece a entrada de
posseiros, grileiros, madeireiros e, principalmente, de latifundiários. Cabe lembrar, que
demarcação de terra não quer dizer território indígena protegido, haja vista que seus
territórios sempre se encontram em constantes invasões. Contraditoriamente, a demarcação
ainda é a maneira mais segura que os “índios” têm para garantia de seus territórios, a exemplo
do que tem ocorrido com o território dos Awá no Maranhão, que embora demarcado, esse
povo sempre está sob ameaça de violência ocasionada pela invasão de seu território. Essa
violência, impulsionou a execução da política de contato, a partir da década de 1970, como
descrito no contexto das frentes de expansão, que sob o pretexto de proteção aos Awá,
assentaram esse povo em aldeias e delimitaram seu território, favorecendo a implantação de

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empreendimentos econômicos na região e expropriação das áreas tradicionais de


deslocamento habitadas pelos Awá desde o início do século XIX. O desconhecimento dos
povos indígenas enquanto nações representa, sobretudo, o interesse do Estado de usurpar os
territórios indígenas para fins econômicos. Isto me leva a acreditar que isto se deve ao fato
das áreas territoriais mais férteis do Brasil se localizarem em áreas indígenas.

Entre memórias e história: o povo indígena Tiriyó na fronteira com o


Suriname (1959-1980)

Joanan Marques de Mendonça

Situados na região Oeste do estado do Pará, na fronteira com Suriname, os Tiriyó receberam
na década de 1960, a presença de religiosos e de militares que instituíram no território
indígena a criação de uma missão religiosa e um posto militar operado pela Força Aérea
Brasileira/FAB, com o escopo de inseri-los em comunhão nacional com outros brasileiros. O
interesse que motivou essa aproximação deu-se pela necessidade de ocupação do espaço de
fronteira por parte do governo brasileiro, utilizando-se dos missionários franciscanos para que
facilitassem o contato e reunissem os habitantes da região em torno da base militar,
incentivando-os com o emprego da sua mão de obra na construção da pista de pouso e de
toda estrutura pensada pelos religiosos para a Missão Paru de Oeste. A situação de missão
provocou inúmeras mudanças socioculturais na vida dos indígenas, impactando diretamente
no seu modo de vida, exigindo dos Tiriyó constante ressignificação cultural, principalmente
através do conhecimento jurídico. O contato com os não índios e a permissão para que eles
habitassem o mesmo território lhes garantiu, de certo modo, maior legitimidade sobre a terra,
exigindo do governo brasileiro o reconhecimento do seu território e a sua demarcação,
assegurado com o surgimento do Parque Indígena do Tumucumaque. A presença de militares
no território lhes possibilitou a integridade do Parque, afastando garimpeiros e grileiros.
Muitas vezes os militares foram acionados pelos indígenas para que expulsassem os invasores
do local.

Reflexões sobre os Kaingang e a Ditadura Militar no Rio Grande do Sul

Amanda Gabriela Rocha Oliveira

O seguinte trabalho é um resultado preliminar de uma pesquisa de mestrado sobre a atuação


da ditadura militar brasileira em relação aos povos indígenas do país através, especificamente,
do caso dos kaingang no estado do Rio Grande do Sul. A intenção é apresentar e promover o
debate sobre as fontes e as metodologias a serem utilizadas no trabalho, assim como sobre a
bibliografia já desenvolvida sobre o assunto, visando a consolidação de uma história indígena
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contemporânea, do tempo presente. Desse modo, reafirmando a presença e a importância de


tais povos para a compreensão da história do Brasil naquele período e hoje. Com o advento
do redescobrimento do Relatório Figueiredo, no contexto de levantamento de subsídios para
as investigações do Grupo de Trabalho sobre Violações de Direitos Humanos contra Povos
Indígenas da Comissão Nacional da Verdade, em 2012, os trabalhos sobre a relação da
ditadura militar com os povos indígenas têm proliferado diante das fontes disponíveis e outras
ainda sendo conhecidas. Além disso, a demanda e o interesse público em relação a essa
temática histórica têm se intensificado, como, por exemplo, no caso do pedido de
representação junto à Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão na 4a Região, realizado
por iniciativa de indígenas kaingang e com o apoio de outras entidades no dia 2 de dezembro
de 2018, referente aos danos sofridos pelos indígenas do Rio Grande do Sul durante a
ditadura.

A retomada como território de resistência indígena: uma reflexão a partir do


contexto daTerra Indígena Pataxó de Coroa Vermelha

Samara Carvalho Santos

O presente trabalho propõe uma reflexão a partir das problemáticas territoriais enfrentadas
pelo povo Pataxó da Terra Indígena de Coroa Vermelha, partindo de uma perspectiva histórica
para que se torne possível compreender o contexto atual, em que o referido povo segue se
adequando a novas formas de territorialização. Em paralelo ao histórico de luta, os Pataxó
sempre se mobilizaram em estratégicas formas de resistência, que se acentuou desde os
acontecimentos relativos ao “fogo de 51” - que é considerado como o principal motivo da
diáspora do referido povo de seu território tradicional - até os dias atuais diante das inúmeras
pressões e tentativas de espoliação dos seus territórios. É nesse cenário que este trabalho
pretende debruçar- se, com vistas a trazer a discussão acerca daquele que pode ser
considerado como um dos principais instrumentos de luta e resistência indígena,
denominados de processos e/ou fenômenos das retomadas de terras, que no caso dos Pataxó
de Coroa Vermelha se tornou uma realidade no seu contexto espacial, social e cultural.

Os significados da força de trabalho dos índios na capitalidade do Rio de


Janeiro Colonial no século XVIII: A expansão da cafeicultura no Vale do
Paraíba

Augusto Drummond Dias Neto

O objetivo deste trabalho é compreender o lugar da força de trabalho dos índios, na


capitalidade do Rio de Janeiro, no contexto da expansão da cafeicultura no Vale do Paraíba
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durante o século XVIII. As sociedades indígenas que viviam na territorialidade do Rio de


Janeiro devem ser consideradas como agentes sociais importantes para a compreensão mais
ampla do período colonial. Para isso, precisam ser entendidas como sujeitos dos processos
históricos nos quais estavam inseridas. É importante destacar que o papel dos índios na
capitania do Rio de Janeiro foi, no tocante ao universo laboral, uma força de trabalho que
exerceu diferentes atividades. Necessário dizer que a política da Coroa portuguesa com
relação aos indígenas oscilou entre o desejo de ter os índios como mão de obra e, ao mesmo
tempo, como aliados em aldeamentos, caracterizando-se por diversos mecanismos legais que
se sucediam e, muitas vezes, se complementavam. Isso se deu em meio a um cenário de
disputas em que estavam inseridos os índios, colonos, jesuítas, e missionários de outras
ordens religiosas. Em meados do século XVIII, duas possibilidades de escravização
prevaleceram na colônia: o resgate e a guerra justa. Neste enredo, em comum, a ideia do
combate à incivilidade dos índios não-aliados. A invisibilidade do indígena como força de
trabalho essencial para o desenvolvimento da colônia foi construída histórica e socialmente.
O processo de apagamento de suas identidades étnicas e culturais foi promovido, em grande
medida, pelas dimensões socioeconômicas e simbólicas da noção de capitalidade investida na
territorialidade do Rio de Janeiro desde o setecentos. Os esquecimentos historiográficos a
este respeito são parte desse construto histórico, tornando essa invisibilidade um problema
epistemológico. A etnohistória indígena é uma perspectiva metodológica importante para a
superação desse hiato historiográfico. Um elemento fundamental na captura da força de
trabalho dos índios na elaboração da identidade política do Rio de Janeiro é a noção de
capitalidade, conceituada por Argan, onde uma cidade passa a representar a unidade e a
síntese de uma nação. Esse passado constituiu uma tradição única da cidade, marcando o que
é próprio e o que a separa das outras regiões do país. A característica singular da cidade do
Rio de Janeiro é o fato dela ter se construído historicamente como o eixo da capitalidade do
país. No século XVIII, a centralidade do Rio de Janeiro no cenário brasileiro foi reforçada em
1763, ano da transferência da capital do Brasil de Salvador para o Rio, pela necessidade da
Coroa Portuguesa de garantir maior controle sobre a riqueza gerada com a produção do ouro
em Minas Gerais. A importância da cidade para a sustentação do império português parecia
ser consenso no setecentos, pela prosperidade que a capitania experimentava. A política de
povoamento e fundação de vilas se impôs e se aprofundou durante toda a segunda metade
do século XVIII, expandindo os significados dessa capitalidade. É possível verificar que durante
a expansão da cafeicultura foi estabelecida uma relação de dependência entre a mão de obra
escrava e o móvel produtivo, que foi beneficiada pela estrutura criada pelos engenhos de
açúcar. O aumento da produção cafeeira estava ligado ao crescimento da entrada de escravos.
Durante o período minerador, a Coroa portuguesa impedia a ocupação de diversas áreas de
Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo para evitar o contrabando do ouro. No entanto, essa
situação foi revertida com a expansão do café.

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Narrativas etnoecológicas do Povo Pataxó: uma análise bibliográfica e


documental

Flávio Henrique de Oliveira Santos

Karla Cunha Pádua

Os saberes e fazeres dos povos indígenas relacionados ao ambiente, os quais denominamos


saberes locais, encontram-se correlacionados ao significado cultural atribuído ao ambiente e
estabelecido por determinados grupos étnicos. A presente comunicação propõe discutir os
conhecimentos ecológicos tradicionais (CET) partindo de narrativas de povos indígenas da
Pataxó. Os dados apresentados advêm da pesquisa de mestrado em educação, em andamento
na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) e intitulada “Etnoecologia e seu potencial
educativo: Um estudo em narrativas Pataxó”. Tal pesquisa tem como objetivo compreender a
relação do povo Pataxó com os saberes etnoecológicos e suas reverberações educativas. Nos
territórios indígenas, a relação estabelecida com o ambiente percorre as crenças, organização
social, medicina tradicional assim como a identidade étnica do grupo. Daí a importância de
adotarmos uma perspectiva etnoecológica, que abarca estudos que buscam romper a
dicotomia entre homem e ambiente (meio biológico) e ressalta a interação estabelecida entre
a tríade Kosmos-corpus-praxis (crenças, conhecimento e práticas) que perpassa os saberes e
fazeres tradicionais. Nessa perspectiva, os conhecimentos etnoecológicos apresentam-se
como resultantes da relação histórica de cada grupo com o ambiente, cabendo aos
pesquisadores buscar compreender tais saberes e decifrar seus significados singulares. Como
parte do estudo exploratório da pesquisa, elegemos como parte do percurso metodológico a
revisão bibliográfica e documental de materiais impressos e audiovisuais, produzidos por e
com indígenas da etnia Pataxó, que hoje constituem um vasto acervo. Nossa proposta é
apresentar aqui os primeiros resultados desse estudo exploratório, cujos dados serão
elencados e divididos em categorias e unidades de significados, buscando identificar, mapear
e compreender nesses materiais a relação do grupo com o ambiente – humano e não humano
– e seus significados, com base na análise hermenêutica. Pretendemos com tal pesquisa
fomentar a etnoconservação, a valorização e o reconhecimento dos conhecimentos
etnoecológicos tradicionais do povo Pataxó, tendo em vista o fortalecimento dos povos e
comunidades tradicionais.

"O Patriota": registro das plantas medicinais indígenas de Minas Gerais

Carla Cristina Barbosa

A partir do jornal “O Patriota”, buscamos verificar o registro das plantas medicinais do Brasil,
quais foram descritas e seus usos. Essa verificação teve como objetivo reconhecer se um grupo
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de plantas faz parte de uma tradição antiga de uso. Assim, pesquisamos o jornal “O Patriota”-
considerado o primeiro periódico dedicado à difusão do conhecimento científico no Brasil.
Dedicamos às publicações dos números 3a (maio e junho) e 4a (julho e agosto), que tratam
das plantas medicinais indígenas de Minas Gerais e do mapa das plantas do Brasil com suas
virtudes. O objetivo da análise no jornal foi de verificar o registro das plantas, quais foram
descritas e seus usos. Partimos do pressuposto da tradição do uso das plantas com fins
medicinais para cura. Assim, realizamos o levantamento das plantas medicinais indígenas de
Minas Gerais feito pelo Doutor Luiz José de Godoy Torres. A publicação descreve 23 espécies
de plantas com nome vulgar e os usos. Na publicação do periódico no4 Julho e Agosto de 1814,
analisamos o artigo sobre Medicina- Matéria médica que apresenta o mapa das plantas do
Brasil com suas virtudes e lugares em que florescem. Sendo assim, realizamos estudo
comparativo entre as plantas mencionadas no jornal com o levantamento das plantas
medicinais presentes no mercado de Montes Claros no norte de Minas Gerais. Esse trabalho
permitiu verificar que muitas das plantas utilizadas hoje pela população foram descritas pelo
periódico e, a maioria delas, com os mesmos usos medicinais, o que confirma a nossa hipótese
sobre o conhecimento tradicional indígena de usos das plantas sendo utilizado pela população
no norte de Minas Gerais.

As resisências e os protagonismos dos povos indígenas nas ditaduras do


Brasil, Chile e Argentina (1967-1979)

Rodrigo Lins Barbosa

Este trabalho relaciona-se com o tema AS RESISTÊNCIAS E OS PROTAGONISMOS DOS POVOS


INDÍGENAS NAS DITADURAS DO BRASIL, CHILE E ARGENTINA (1967-1979). Objetiva um
modelo de pesquisa aprofundando e ampliando o estudo dos povos indígenas no Brasil dentro
do contexto da América Latina. Estudo iniciado na dissertação O Estado e a Questão Indígena:
crimes e corrupção no SPI e na FUNAI (1964-1969), observando-se práticas de genocídio, pré
e pós-golpe de 1964 com a utilização do discurso do “progresso nacional” em prol de uma
política desenvolvimentista e de expansionismo, provocando sistemáticas violações aos povos
originários, tanto pelo Estado quanto por particulares, grandes empresas do agronegócio,
extrativistas e construtoras. Ainda, verifica-se o silenciamento da história desses povos, pela
sua omissão ou descaso, restando, no Brasil, escasso conhecimento dos acontecimentos pelas
linhas jornalísticas e de brasilianistas sem que se perceba seus protagonismos e resistências,
sendo a dissertação uma tentativa de superar esse apagamento com uma narrativa histórica.
Nessa, verifica-se como a institucionalização da questão indígena resultou em mais violência
pela ação de vários funcionários e diretores militares do Serviço de Proteção aos Índios (SPI)
e, posteriormente da FUNAI, envolvidos em crimes, inoculação de doenças, alimentos
contaminados, cárcere, torturas, massacres, genocídios para facilitar a exploração de suas
terras. História repetida nas ditaduras do Chile (1973-1990) e da Argentina (1976-1983).
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Nesses países, nesse período, a repressão contra os povos indígenas Mapuche resultou na
proibição de suas organizações, desaparecimento de suas lideranças e militâncias que foram
presas e torturadas em centros de detenção clandestinos ou cadeias, muitos foram mortos.
Na continuidade proposta presentemente, espera-se criar uma metodologia, na linha
decolonial para cruzar os acontecimentos, a partir das fontes documentais, bibliográficas e
orais dos povos originários nos três países e estabelecer um paradigma teórico unindo seus
passados num traço comum da história latino-americana.

A temática indígena no Brasil dos anos 1990 e as problematizações sobre os


indígenas Xukuru no romance "A Lenda dos Cem” de Gilvan Lemos

Flávio Joselino Benites

Os indígenas no Brasil, cada vez mais vêm ocupando espaços nos cenários sociopolíticos
brasileiro. Os índios do Nordeste com várias mobilizações provocam questionamentos às
visões tradicionais que apregoam a inexistência, a extinção ou ainda o gradual
desaparecimento dos povos indígenas na Região. Nesse contexto, problematizaremos às
imagens e os discursos acerca dos índios no romance A lenda dos cem (1995), do escritor
pernambucano Gilvan Lemos, buscando diálogos entre a narrativa ficcional junto aos
resultados dos debates sobre os índios no Brasil, ocorridos na década de 90 do século XX. No
citado período a partir das abordagens da chamada “nova história indígena”, ocorreram novas
discussões historiográficas após a aprovação da Constituição de 1988, que reconheceu uma
série de direitos a dos povos indígenas. Nesses debates analisamos às visões sobre os índios
na Região Nordeste nos jornais impressos em Pernambuco à época e confrontamos com as
novas abordagens sobre os índios na História. Junto a isso discutiremos aspectos da obra Os
índios e a civilização do antropólogo Darcy Ribeiro, cuja ideias subsidiaram aspectos centrais
sobre a imagem do índio no citado romance. Realizaremos um cotejamento entre o momento
das discussões sobre os indígenas na época e a abordagem do romancista. Por fim, utilizamos
da Análise do Discurso (A.D.) de Michel Pêcheux, para pensarmos o lugar dos discursos que
possibilitaram ao romancista construir visões sobre um povo indígena em Pernambuco no
livro A lenda dos cem, para assim desconstruir imagens equivocadas e as repercussões
ideológicas no imaginário social sobre os povos indígenas no Brasil.

Artes e identidades indígenas em perspectiva: conhecer para reconhecer

Poliene Soares dos Santos Bicalho

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A premissa do reconhecimento é o conhecimento, não se pode admirar, e menos ainda


respeitar, algo que não conhece. O objetivo deste estudo é justamente este, conhecer as artes
indígenas do Cerrado, no sentido de mapear as principais e atuais manifestações,
relacionando-as às histórias do contato e às identidades das etnias abordadas. Como podemos
definir as artes indígenas? Quais as principais expressões destas artes no Cerrado na
atualidade? O reconhecimento destas artes é importante no processo de fortalecimento
étnico e identitário dos indígenas? Estas são algumas questões postas, para as quais se almeja
alcançar algumas respostas, ainda que não conclusivas. As artes indígenas expressam sentidos
e significados próprios, além de exercer um importante papel de agência (LAGROU, 2009), que
acabam por dizer muito sobre o povo que as criam e recriam cotidiana e coletivamente. Neste
sentido, evidenciam traços culturais e identitários peculiares a cada etnia, o que reforça a sua
identidade no presente, logo, “(...) a referência requer sempre a pluralidade, a saber, as “artes
indígenas” para a correta identificação dessas artes, pois expressam tantas formas quantos
são os povos que a produzem” (VELTHEM, 2010, p. 57-58). O Cerrado brasileiro abriga “uma
população indígena atual que situa entre 100.000 a 110.000 habitantes, distribuídos
principalmente em terras do Maranhão, Tocantins, Goiás, leste do Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul” (BARBOSA, 2014, p. 310), correspondente a cerca de 32 povos distintos. Destes,
alguns detêm elaborado conhecimento e distintas expressões artísticas, como a plumária, os
artefatos de cerâmica, a pintura corporal, os adereços, a tapeçaria, a música, a dança etc.
Como um dos objetivos específicos da pesquisa que originou este estudo, e um dos resultados
alcançados, foi feito o mapeamento das principais etnias e suas expressões artísticas no
Cerrado, observando a importância das mesmas para o fortalecimento étnico de seus
respectivos grupos, com a finalidade de tornar estes saberes conhecidos por uma parcela mais
ampla da sociedade brasileira e, consequentemente, evidenciar a sua beleza e relevância
cultural e histórica. Por fim, depreende-se, dialogando com Paul Ricoeur (2006), Axel Honneth
(2003) e Roberto Cardoso de Oliveira (2006), que, para que haja reconhecimento efetivo, em
situações de etnicidade, é preciso que haja admiração pelo que o outro é, pelo que ele produz,
pelo que ele pensa e representa. Neste sentido, compreende-se que é necessário conhecer
mais de perto, em situação de estima simétrica, os nossos indígenas e o que eles produzem
em matéria do que aqui estamos chamando de artes indígenas, pois, apenas assim poderemos
respeitá-los e admirá-los pelo que eles são e produzem enquanto povos etnicamente
diferenciados.

Namuy Palopa Luspa Wantrokaik “Nuestra musica guambiana”

Gregorio Alberto Yalanda Muelas

En este estudio, se realizó la transcripción y posterior análisis musicológico de las piezas


musicales tradicionales de la comunidad indígena MISAK en el municipio de Silvia
departamento del Cauca al suroccidente de Colombia, buscando recuperar repertorios,
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comprendiendo sistemáticamente la música MISAK entendiéndola como un medio para su


preservación, sin abandonar ni sustituir la tradición oral, consciente de lo que significa
construir el futuro sin perder nuestras raíces, y además, dando a conocer las piezas
tradicionales MISAK en el mundo musical académico regional y nacional, logrando así el
posicionamiento y difusión de estas expresiones, a través de las partituras con su respectivo
análisis musicológico, además de contribuir y enriquecer el compendio musical colombiano,
generando así sentidos de pertenencia e identidad en los miembros de mi comunidad.

Reafirmação do ser indígena: toantes, linhas e cantos na Residência Indígena


na Universidade Estadual de Feira de Santana

Andeson Cleomar dos Santos

A presente comunicação trata-se de uma pesquisa qualitativa, que buscou apresentar de que
forma os toantes (músicas) das etnias indígenas presentes na residência indígena da
Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS, contribui para o sustento e o fortalecimento
das suas culturas, bem como para o fortalecimento do sentimento de pertencimento do ser
indígena nordestino. Essa pesquisa teve como objetivos específicos, registar e analisar alguns
toantes (músicas) das até então 8 etnias presente na residência indígena da UEFS, assim
também como, descrever o processo de luta dos parentes indígenas dentro e fora da
instituição, dialogando com a Lei n 11.645/2008, bem como proporcionar por meio do
material final desta pesquisa, reflexões críticas ao leitor sobre os povos indígenas presente na
residência indígena da UEFS. Numa perspectiva metodológica, esse trabalho dialoga com duas
importantes subáreas da música, que é a etnomusicologia e a educação musical, onde
características da pesquisa de campo e ações pedagógicas voltadas para a sala de aula, foram
em certo grau utilizadas e discutidas na elaboração deste artigo, tendo o projeto “Coisa de
Índio” como um espaço para essas ações pedagógicas, e a realização da coleta dos materiais
junto aos parentes indígenas da UEFS, por meio de alguns encontros que tivemos na própria
residência indígena dentro do campus da instituição, no primeiro semestre de 2018. Ao final
desta investigação, conclui que as músicas são uma forma de reafirmação dos povos indígenas
apresentados nesse artigo, pois nas músicas trazemos nossas histórias, culturas, estilo de vida,
nosso lugar (fauna, flora etc), fortalecendo nossas culturas e o nosso espírito, pois é por meio
dela que entramos em contato com o divino, é por meio dela que nos comunicamos com o
sagrado e pedimos orientações. Compreendo que cada etnia possui suas particularidades e
especificidade que muda de povo para povo e devem ser respeitadas, e dentre essas
diversidades estão as músicas, fontes de conhecimentos ancestrais dos nossos povos.

Literatura indígena: oratura, memória e preservação

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Joel Vieira da Silva Filho

Cristian Souza de Sales

Costumes, crenças e rituais são modos e formas de preservação da memória de um povo, de


uma sociedade, de grupo. A memória, é entendida como elemento fundamental na formação
da identidade cultural individual e coletiva. Nesse sentido, tratando-se de uma produção
milenar, que existe antes mesmo dos colonizadores chegarem ao Brasil, a literatura indígena
pode ser uma considerada sobrevivente do processo civilizatório imposto, e se inscreve como
uma agente de preservação dos costumes e rituais ancestrais. Desse modo, neste trabalho,
objetivamos refletir como a literatura indígena, que inicialmente era produzida por meio da
oratura, colabora para que a memória de povos indígenas (costumes, crenças e rituais) seja
preservada, ao passo que apresenta a imagem do indígena no texto literário contemporâneo
em contraposição aos discursos hegemônicos. De tal modo, traremos fragmentos de
narrativas indígenas literárias para apresentar resquícios da memória coletiva e
ancestralidade indígena por meio do texto. A partir de então, destacaremos como a literatura
é fator de grande importância para preservação da memória e como propõe novos olhares
para a sociedade em relação a história oficial. O trabalho argumenta o papel da memória como
agente de preservação e reverberação da produção cultural indígena através da literatura.
Para tanto, recorremos aos seguintes referenciais teóricos: Halbwachs (1968), Pollak (1989),
Munduruku (2011), Graúna (2012), Corezomaé (2017) entre outros.

Etnogeografia Macuxi: a memória do lugar e o lugar da memória na produção


do espaço amazônico da Comunidade Indígena Raposa

Éder Rodrigues dos Santos

Enoque Raposo

Márcia Falcão

Este trabalho analisa os motivos da des-re-territorialização das famílias que habitam a região
da comunidade indígena da Raposa I, Terra Indígena Raposa Serra do Sol (TIRSS), no município
de Normandia, estado de Roraima, na fronteira amazônica do Brasil, Guyana e Venezuela, por
meio da memória social. As famílias da etnia Macuxi desta comunidade desceram das serras
localizadas nas fronteiras do Brasil com a Guyana por vários motivos em direção ao lavrado
(savana) no extremo norte brasileiro, na virada do século XX, constituindo a comunidade
indígena da Raposa I. A pesquisa, ainda em andamento, considera a memória social e a
perspectiva cultural, na dimensão da cosmologia Macuxi no uso do espaço, como lugar de
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interação entre os elementos naturais e culturais, como possível prática de resistência à


colonização exploratória e reafirmação ontológica. A abordagem adotada na pesquisa está
vinculada à revisão bibliográfica, à história oral e à observação participante, considerando a
realização de entrevistas com idosos e jovens da comunidade, gravadas em áudio e vídeo nas
habitações e lugares considerados importantes para eles. O deslocamento das serras para o
lavrado é um acontecimento gerado por fatores que são constantemente repetidos e
enfatizados nas narrativas dos índios. A pesquisa verificou, preliminarmente, as seguintes
causas dos deslocamentos ao longo da história recente dos Macuxi da Raposa, atenuadas a
partir do século XX: em primeiro lugar, a facilidade de encontrar o sal em uma serra
denominada ‘Atola’, que fica próxima da região de lavrado; a caça de animais, que tornavam-
se mais raros nas serras; a pesca no lagos; a coleta de frutas e; a implantação de uma escola
construída pela igreja católica em meados do século XX e, posteriormente; a construção da
escola pública vinculada ao estado. Estes são fatores possivelmente impulsionadores na
composição da nova morfologia da Comunidade da Raposa I. O trabalho registrou, por
enquanto, as narrativas de 18 indígenas, dentre jovens e idosos, homens e mulheres, por meio
da oralidade no processo de reconstrução das histórias nas habitações dos ameríndios, nas
serras e em locais considerados importantes no processo de identificação das regularidades,
assim como do espaço, tempo, fatos e personagens. O índio Macuxi da Raposa saiu das serras,
mas a memória da região sagrada e suas paisagens continuam vivas tanto individualmente,
quanto coletivamente. Viver em um mesmo planeta e dividi-lo com outros povos,
considerando a relação homem-espaço-natureza, passa pela compreensão de que estes povos
têm diferentes concepções do que é planeta. Não se trata de considerar uma epistemologia
melhor que a outra, mas sim, complementares, neste processo de construção e manutenção
da vida humana na terra e a relação ontológica com o universo, tendo como exercício o
processo de alteridade.

Entre memória, território e perseguição: A insistente luta pela terra dos


Kaingang em Votouro/Kandóia (RS)

Clémentine Maréchal

Nos anos 1920, o então fiscal dos índios do P.I Votouro, Osório Torres, retira os Kaingang do
seu território antigamente ocupado pelo ancestral cacique e kujá (xamã) Votouro, levando-os
para a atual T.I Votouro, uns quilômetros ao sul do seu território ancestral. No início dos anos
2000, sob a iniciativa da mulher Maria Kensho Kandóia, uma das antigas Kaingang moradoras
da região do Votouro, os Kaingang decidem retomar o território expropriado pelo antigo chefe
de Posto, cuja família segue ainda hoje instalada neste território, sendo dono de uma
plantação de soja de várias centenas de hectares. Então, os Kaingang começaram uma batalha
jurídica pela demarcação das suas terras, uma batalha que foi ressaltada pelos impasses
gerados pelos interesses econômicos de uma região dominada pelo agronegócio. Hoje,
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encerrados em dois hectares de terra, criminalizados e perseguidos por lutar, os Kaingang de


Votouro/Kandóia resistem e se enfrentam à devastação cada vez mais aguda do seu território
ancestral. Essa resistência passa por reafirmar, cotidianamente, seus vínculos com os seres da
floresta, vínculos baseados em um conhecimento profundo de cada um deles: sejam eles
venh-kagta (remédios), os pássaros e seus cantos ou os iangré (guias dos kujà). Cercados pelos
fazendeiros invasores, os Kaingang insistem em nos mostrar a importância do seu território
para a construção da sua socialidade. O banhado (gá fej), a araucária (fág) e o barro preto (ore
xá) são espaços onde se expressa a persistência da memória e da prática de um território
Kaingang que (re)existe e vive apesar de sofrer constantes tentativas de destruição por parte
dos agentes dos processos coloniais e do projeto civilizatório intimamente e historicamente
ligado à expansão capitalista. A situação histórica à qual eles pertencem e a força com a qual
eles a desbravam cotidianamente evidencia um profundo desejo de “retomar” nos seus
territórios expropriados, sua autonomia política, econômica e espiritual, que somente poderá
ser proporcionada se a relação com os seres da floresta se vê fortalecida. Este trabalho propõe
então apresentar a difícil luta dos Kaingang de Votouro/Kandóia por sua autonomia.
Ressaltaremos também os laços de solidariedade que os membros dessa comunidade vêm
tecendo com outras comunidades de Kaingang “acampadas” onde se reatualizam antigas
tácticas de luta nas quais aliam-se o respeito aos seus direitos conquistados e entranháveis
sentimentos de honor e justiça.

Relatos autobiográficos en contextos de desigualdad y diversidad


socioeducativa

Soledad Aliata

Este trabajo es parte de la tesis de doctorado en Ciencias Antropológicas (UBA) acerca de las
trayectorias socioeducativas de maestros/as toba/qom del Chaco (Argentina).
Históricamente, los grupos indígenas en Argentina y en la región latinoamericana en general,
han sido afectados por gravísimas situaciones de violencias (físicas, psicológicas,
institucionales, etc.). Estos procesos históricos han producido condiciones profundas de
desigualdad social, económica y educativa. Específicamente, la educación estatal destinada a
las poblaciones indígenas se ha propagado fuertemente desde los años 70 en Latinoamérica,
sentando antecedentes desde la década del 30 y 40. Esta propuesta abarca en la actualidad a
varios países de la región, reconociendo derechos lingüísticos y culturales diversos de los
pueblos indígenas. Sin embargo, hemos documentado que ciertas tensiones en relación con
la formación de los docentes indígenas, el rol en las aulas, etc., están relacionadas con la
construcción de sentidos estigmatizantes respecto a lo indígena en el ámbito educativo. De
este modo, el objetivo de la ponencia es compartir algunas reflexiones elaboradas a partir del
análisis de relatos autobiográficos de maestros/as indígenas del centro chaqueño, centradas
en los procesos identitarios en contextos de diversidad y desigualdad socioeducativa,
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entendiendo que los procesos socioeducativos abarcan tanto los espacios institucionalizados
(educación primaria, secundaria y terciaria) como sus experiencias personales (familiares,
barriales, religiosas, etc.). Creemos que se trata de trayectorias complejas y disímiles, cuyas
experiencias repercuten en la conformación identitaria de dichos sujetos.

Ere Muya: Historias da Cobra Grande

Renata de Andrade Ribeiro

Há 7 anos, no exercício de contadora de histórias, deparei-me com um ser mitológico e real


que está ligado à cosmologia de diversas comunidades indígenas brasileiras. O desejo
apontava para uma história, que, por sua vez, apontava um símbolo de vida e morte tão
reincidentemente que me pareceu ser necessário dar a conhecer a mais gente que tinha
esquecido ou que não pode saber aquilo que já fez tanto sentido aos que viveram nessa terra
antes de nós. Desse desejo, outro surgiu: compartilhar. E de que forma fazê-lo? O que buscar
como referência? Com quem? Onde? Quando? Foram as perguntas que me trouxeram até
aqui. A Cobra Grande é um ser real e simbólico que está ligado aos mitos de criação do mundo.
Ela permeia o imaginário popular de diversas culturas como a dos povos tupi, na tradição
nagô, no antigo Egito, nos mitos mapuche, na tradição kundalini, na cultura cristã, sateré-
mawê, maraguá, huni cuin, entre outras. Na psicologia analítica, o símbolo da cobra é uma das
manifestações simbólicas do inconsciente coletivo, expressa a transcendência do homem de
qualquer forma restritiva de vida, ao atingir um estágio mais amadurecido de sua evolução. É
uma mediadora entre dois modos de vida. A serpente também é retratada como um dos
símbolos do si mesmo. Nos mitos sagrados do povo sateré-mawê, Moi Wató Magkarú Sése é
a cobra grande mãe de todos os seres e a terra em que se pisa. Segundo a profecia da história,
sempre nos chamará para si. Para o povo Maraguá, ela é a entidade Çukuyuwéra, protetora
das cobras e todos os répteis. Na língua Maraguá, ere muyá é o convite a enrolar-se, seu
significado está conectado com o despertar e opõem-se ao seu estado dormente. Tal
movimento após longo período de estagnação configura-se como um ponto de mudança.
Estudos semiológicos do século XX atribuem, ao mito, um sistema singular, com duas ou mais
camadas de significação. Constrói-se a partir de um esquema linguístico que já existia antes
dele, uma espécie de meta-linguagem, uma segunda língua que fala da primeira. Somos seres
que criam signos e significados físicos e ideológicos para nos expressarmos sobre o contexto
em que vivemos enquanto adaptamos o mundo em que vivemos para habitá-lo ao invés de
nos adaptarmos para viver em um ambiente. Situar-se num lugar, organizá-lo e habitá-lo são
ações que pressupõem uma escolha existencial: a do universo que se deseja assumir. Da
mesma forma que fazemos com os espaços que habitamos cotidianamente ou
ritualísticamente, o espaço da performance também é intencionalmente construído
considerando estes princípios. Esse espaço torna-se o próprio límen, elo entre o sagrado e o

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profano. Nos estudos de performance e antropologia, encontramos a palavra performance


definida como ritualização de sons e gestos através do jogo. Acredita-se que uma segunda
realidade surge do ritual e esta realidade tem potencial transformador. Para alguns artistas
de performance contemporâneos, essa ação parte do corpo do artista. Nesse caso, um corpo
sem órgãos como propõe Deleuze e Guatarri (1947). A partir dessas reflexões, tendo como
base pesquisas bibliográficas, observação participante junto às comunidades Sateré-Mawê
(Manaus/Am) e Maraguá (Nova Olinda do Norte/Am) e experimentações práticas artísticas,
construiu-se a performance Ere Muyá: histórias da Cobra Grande. Ere Muyá pode ser
compreendida como uma performance, uma cena em processo ou simplesmente um
encontro que busca oferecer um espaço liminar para viver e lembrar histórias a partir da
personagem Cobra Grande e do contato entre os presentes. A estrutura desse encontro
dividiu-se em seis partes: convite, acolhimento; despertar; dentro da floresta está a Entidade
Çukuyuwera; a cobra mãe de todos os seres e a terra em que se pisa; morte, vida e
transformação. Na última parte do encontro “morte, vida e transformação”, as memórias
relatadas pelos convidados em sessões anteriores trazem as expressões: saudade, cura,
oferecer a presença, esquecimento, apego, o tempo como barreira transponível através da
memória, convite a confiar. Eliane Potiguara (2002), em Identidade e Voz Indígenas, nos fala
sobre a necessidade de despertarmos de um estado que obscurece nossa mente e espírito e
investir em um fluxo que faça pairar o inconsciente coletivo no consciente, que produz sentido
e energia vital. Ver e/ou viver o ponto de mudança, o limiar que conecta uma história a outra,
quando nos transportamos da dormência à ação são proposições que estão no cerne da
criação desta obra. Buscamos voltar os sentidos para os motivos pelos quais o ciclo vital de
um corpo fluido de energias, em constante transformação, por vezes, é interrompido. Quem
sabe, através da presença, neste ou em encontros futuros, possamos desfazer os nódulos que
nos atam a uma situação ou outra.

Currículo e cosmologia: educação e xamanismo nas escolas indígenas do Rio


de Janeiro

Danielle Bastos Lopes

A comunicação que apresentamos é parte de nossa pesquisa de doutorado. A etnografia,


entretanto, iniciou em 2005, quando ingressamos pela primeira vez em uma família mbyá,
grupo de língua guarani, do tronco Tupi, localizados no estado do Rio de Janeiro (BASTOS
LOPES, 2017). O artigo analisa a Educação Intercultural e Bilíngue (EIB) para as sociedades
ameríndias com ênfase nas particularidades da cosmologia e do xamanismo no campo da
Educação (APODACA; CORTÉS, 2016; LITAIFF, 1999). Argumenta-se que as relações
conflituosas da educação formal, assim como a evasão das escolas indígenas, como explico
posteriormente, apontam os desafios e falsos diálogos que uma linguagem desencantada
(CHAKRABARTRY, 1992, 2010) e típica de nós ocidentais, estabelece com os currículos
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indígenas (MELIÀ, 2010). Assim, o objetivo, antes centrado na investigação do funcionamento


da escola passou a ser o de entender como a escolarização e o cotidiano, propriamente,
relacionam-se com a cosmologia e o sagrado (DESCOLA, 2010). Trata-se de uma análise sobre
a escolarização e sua relação com os aspectos sagrados não visíveis, muitas vezes in- humanos
(BENITES, 2012) que circulam as cosmologias ameríndias. A partir da escrita dos autores
indígenas (BANIWA, 2011; BENITES, 2012; KOPENAWA; ALBERT, 2010), e “experimentação”
(VIVEIROS DE CASTRO, 2012) entre os guarani, analiso como a política escolar indígena, as
escritas e não escritas têm se organizado para legislar conceitos como interculturalidade,
bilinguismo, etnoconhecimento, que recebem novos sentidos entre os seres invisíveis do
xamanismo.

Calendário Maya na Guatemala contemporânea: entre unidade e diversidade

Thiago José Bezerra Cavalcanti

Este ensaio é fruto de reflexões sobre o complexo campo dos calendários mayas, no que se
refere às diversidades epistemológicas, de contas, de práticas rituais e de projetos políticos
entre os mayas. No caso da identidade maya contemporânea, e de sua afirmação na sociedade
guatemalteca, os calendários (e especialmente o Cholq'ij, ciclo ritual de 260 dias, e o Ab', ciclo
civil-agrário de 365 dias) jogam papel fundamental: afirmar mayanidades também é afirmar
temporalidades distintas, maneiras diferentes de lidar com tempo e espaço, e de contar os
dias, o direito a (man)ter um calendário próprio. Se as múltiplas possibilidades, diferentes
abordagens de inúmeros ajq'ijab' (especialistas mayas dos calendários) estão, de um lado,
dadas, de outro, algumas versões e interpretações acabam sendo mais recorrentes ou mesmo
hegemônicas (por vezes, com fomento estatal). Apresentarei também alguns aspectos
especializados da discussão sobre calendários mayas, que são objetos passíveis de disputa,
tais como: associações espaciais e cromáticas, horário em que começa um novo dia, data de
ano novo, grupo de marcadores de ano, relação pessoal com seu dia no calendário ritual, etc.

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Caderno de Resumos do 3 o Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL)
ISBN: 978-65-5080-015-4

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