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03/07/2022 15:19 OBOD - Ordem dos Bardos, Ovates e Druidas

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A SABEDORIA DO MUNDO ANIMAL
O Que é o Druidismo?
Uma Antiga Tradição Celta
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Os nossos Professores Animais

Os nossos antepassados reverenciavam cada aspecto do mundo natural e consideravam cada parte deste
mundo capaz de ser um aliado, um guia
e um professor. O Druida de hoje é capaz de obter inspiração,
direcção e assistência de cada reino do mundo natural, mas nos tempos antigos talvez isso fosse mais simples
e menos incomum – havia menos “coisas” entre nós e o mundo da Natureza e a mundovisão predominante
considerava

que cada parte dela estava imbuída de vida espiritual e significado. Os animais, em particular, eram
reverenciados pelas suas qualidades e eram vistos como sagrados à Deusa ou aos deuses.

Diz-se que um certo número de tribos ou clãs descenderam de animais, tais como o “povo dos gatos” na
Escócia e as “tribos do lobo”, assim como os “cabeças de cão”, na Irlanda. Também se diz que algumas famílias
tinham antepassados animais. A foca, por exemplo, era o antepassado original de pelo menos seis famílias na
Escócia e na Irlanda. A maior parte das tribos tinha os seus animais totémicos,
claramente demonstrados nos
seus nomes, como os Caerini e os Lugi em Sutherland (“Povo das Ovelhas” e “Povo dos Corvos”), os Epidii de
Kintyre (“Povo dos Cavalos”), os Tochrad (“Povo dos Javalis”), os Taurisci (“Povo dos Touros”) e os Brannovices
(“Povo dos Corvos”).

As famílias também tinham animais totémicos, visíveis nos seus nomes, nos seus brasões ou nas suas
tradições familiares. Todos conhecemos sobrenomes ingleses que são claramente nomes de animais, tal como
Fox (“Raposa”), e a maior parte de nós conhece o animal que está relacionado com os nomes de origem
clássica, tal
como Philip,
oriundo do grego e que significa “amante de cavalos”. Porém, muitos nomes em gaélico vêm
directamente do reino animal e tentámos mencionar tantos quanto possível no Capítulo Dois d'O Oráculo
Animal dos Druidas. Aprender que nomes como “Filho de Raposa” ou “Pequeno Lobo” eram comuns na tradição
nativa britânica faz-nos sentir mais próximos dos nossos irmãos e irmãs da tradição nativa americana.

Os nossos antepassados adoravam e respeitavam os animais de tal


forma que escolhiam ser enterrados com
eles, para os ter como guias e companheiros no Outro Mundo. Usavam os seus ossos e os seus dentes como
amuletos. Usavam as suas peles para se vestirem e fazerem os seus leitos, para fazerem os seus escudos,
tambores e gaitas-de-foles. Aceitavam as suas peles, os chifres, os cascos e a carne como dádivas e faziam
uso de todas as partes dos animais – até mesmo os excrementos eram por vezes utilizados para efeitos de
cura. Quando caçavam, pediam permissão à Deusa, antes de se aventurarem a tirar a vida de qualquer
criatura. A caça em si era considerada sagrada e tinha uma série de tabus para proteger tanto o
caçador como
a caça.

O elo existente entre os nossos antepassados e os animais era tão extraordinariamente rico que estes se
relacionavam não só com os animais selvagens, mas também com os guardiães, guias neste mundo e no
próximo, curandeiros, amigos e professores. Não é de espantar que eles os considerassem sagrados e
companheiros dos deuses. Apenas nós, uma humanidade recente e bidimensional, é que vemos os animais
como sendo meramente criaturas “menores”, de inteligência inferior e de pouco valor, para além do facto de
servirem de alimento.

Enraizado no Tempo

A reverência pelos animais e a consciência de que eles são professores e


guias é tão antiga como a própria
humanidade. As grutas de Drachenloch,
na Suíça, exibem altares com cerca de 70.000 anos dedicados ao
Urso. Nas grutas de Lascaux, em França, as extraordinárias pinturas de animais
e a estátua cerimonial do
corpo de um urso têm mais de 19.000 anos. Os
animais eram claramente o centro de uma prática religiosa

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desde os
primórdios do tempo. Na Grã-Bretanha, num povoado mesolítico em
Yorkshire, encontraram-se
hastes de veado com cerca de 10.000 anos que
foram adaptadas para ser ritualisticamente usadas na cabeça.

Usar peles de animais, cabeças e penas era uma forma de identificação


com os mesmos, de ser esses animais
por algum tempo, de partilhar dos
seus poderes e de receber a inspiração divina. Na Grã-Bretanha, os nativos
ainda faziam isto no séc. VII d.C. – sendo que Santo Agostinho condenou
este “hábito extremamente obsceno
de se vestirem como veados”. Na
Irlanda, o Bardo usava o tugen – uma capa de penas feita com “peles de
pássaros, brancas e multicoloridas... da cintura para baixo e com pescoços
de patos bravos e cristas da cintura
até ao pescoço”.

Para além de se vestirem como animais, os nossos antepassados sacrificavam-nos e enterravam-nos


ritualisticamente. Qualquer relutância que se
possa ter inicialmente face a este comportamento deve ser
temperada com
a consciência de que hoje em dia milhões de animais criados industrialmente
são sacrificados
diariamente sem qualquer acompanhamento ou
contexto espiritual – ao passo que os sacrifícios e rituais dos
nossos
antepassados envolviam um pequeno número de criaturas e uma
consciência profunda da dádiva que o
animal estava a conceder ao ser
sacrificado. Parece que os animais eram enterrados cerimonialmente como
uma acção de graças nos silos de cereais subterrâneos quando estes
deixavam de ser úteis e eram selados. É
possível que se tenham feito
rituais semelhantes com os animais que acompanhavam os mortos ou que
eram
enterrados em altares ou santuários.

A importância dos animais na vida religiosa dos nossos antepassados


também pode ser vista no facto de
quatro dos oito festivais druídicos
do ano, conhecidos como Festivais de Fogo, estarem particularmente
ligados
à vida campestre da pastorícia e e da agricultura, e sabe-se que
têm sido celebrados durante pelo menos os
últimos 7.000 anos. O Imbolc, no dia 1 de Fevereiro, é o tempo do nascimento dos cordeiros,
dos vitelos e das
primeiras sementeiras. O Beltane, no dia 1 de Maio,
assinala o início do Verão, quando os rebanhos são
levados para as
pastagens altas. O Lughnasadh, no dia 1 de Agosto, marca o início das
colheitas e o
Samhuinn, no dia 1 de Novembro, assinala o princípio do
Inverno, quando os animais são trazidos até aos
vales e se fazem as
matanças para a carne que deve ser conservada.

Xamanismo e Animais de Poder

Trabalhar com animais de poder é uma característica central do


Xamanismo e podemos encontrar inúmeros
elementos xamânicos intricados
na filosofia e na prática do Druidismo.

Michael Harner, uma autoridade mundial em Xamanismo, fala do


caminho xamânico como algo que se poderia
definir como um método
para abrir uma porta e entrar numa realidade diferente. Uma parte
significativa da
cerimónia e da meditação Druídicas tem como objectivo
viajar até outras realidades, bem como a palavra
“Druida” se relaciona
com palavras que significam “carvalho” e “porta” – sendo que o
símbolo da porta ou
portal é central nos ensinamentos Druídicos.

Joseph Campbell, o grande mitógrafo, mostrou-nos que existe um conjunto


de características que distingue a
arte de um xamã. Estas incluem: a dança
ritual, a posse de uma vara ou bordão, a dança extática, o uso de
uma vestimenta
animal, a identificação com um pássaro, veado ou touro, tornar-se
senhor dos animais de
caça e das iniciações e o controlo de um animal mágico
ou “familiar”. Na literatura druídica, existem vestígios
de possíveis danças
rituais nas antigas danças folclóricas e existem numerosas referências às varas
e bordões
druídicos e a estados alterados de consciência ou de êxtase. Todas as
restantes características mencionadas
por Campbell relacionam-se com animais
e todas estão presentes na tradição druídica. Já abordámos o uso de
trajes
animais, tais como o veado ou o pássaro. Os druidas eram muitas vezes identificados
com animais:
eram apelidados de víboras ou leitões, dizia-se que
tinham o “conhecimento do grou, do corvo ou do pássaro”
ou recebiam nomes
como Mathgen, que significa Nascido-de-Urso. Os veados e os touros são
particularmente
importantes no Druidismo – o veado é um mensageiro do
Outro Mundo, montado pelo sábio Merlin, e o touro é
sagrado ao deus
Taranis, o beneficente deus do céu, do trovão, do relâmpago e do carvalho. O
touro tem uma
presença proeminente na música sagrada do Druidismo – eram ritualisticamente usados chocalhos de bronze
com forma de testículos de touro,
assim como cornos de bronze, que foram encontrados um pouco por toda a
Grã-Bretanha e Irlanda, que muitas vezes se assemelham a cornos de touro.
Estes últimos, quando tocados
com o método de respiração circular usado
pelos tocadores de didgeridoo, soam como o bramir dos touros.
Encontramos a imagem do “senhor dos animais de caça” na iconografia
e na literatura celtas. Podem ser vistas
imagens de Cernunnos ou do
Senhor da Caça tanto na Grã-Bretanha como em França e a imagem
avassaladora do senhor de todos os animais aparece no Mabinogion galês.
Por fim, o controlo de um animal
mágico ou familiar relaciona-se habitualmente com um atributo da bruxa no folclore britânico, sendo a lebre, a

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e o gato citados como os familiares mais comuns. Existem muitas ligações
históricas entre o Druidismo e a
Bruxaria.

O Outro Mundo Celta

Um ponto central na mundivisão druídica é a crença de que o mundo


material em que vivemos corresponde
apenas a um nível ou plano de
existência. Por detrás e para além deste mundo fica o Outro Mundo, o
mundo
dos poderes e das potências, dos espíritos e das forças que nos
podem guiar e ajudar, se simplesmente
conseguirmos reconhecer a sua
existência e aceitar a sua realidade.

Os animais, em particular, são reverenciados pela sua capacidade de


estabelecer uma ponte entre estes dois
mundos. Eles podem trazer-nos
mensagens do Outro Mundo e agir como nossos guias nesse reino,
quando nos
despojamos dos nossos corpos na morte. Porque eles têm
simultaneamente uma forma espiritual e uma forma
física, podem ser os
nossos guardiães e protectores, mesmo quando não estão fisicamente
presentes. Embora
cada animal tenha o seu próprio caminho para o
Outro Mundo, um estudo dos animais aqui descritos neste
Oráculo irá
demonstrar que eles formam determinados grupos que se adequam
particularmente a certas
funções: alguns são mais adequados como
guardiães e protectores, outros como curandeiros, guias,
professores,
transmutadores de forma ou familiares. Pode encontrar um guia relativo
a estas diferentes
categorias na página 163 d'O Oráculo Animal dos Druidas. É interessante reparar que a
grande maioria destes
animais são considerados sagrados à Deusa.

Animais Interiores, Animais de Poder, Guias Totémicos

Trabalhar com o Oráculo Animal pode colocar-nos em contacto com quatro


tipos diferentes de animais.
Primeiramente, pode despertar-nos para a
beleza do animal no mundo físico, levando-nos a descobrir mais
acerca da
sua vida e dos seus hábitos. Em segundo lugar, pode pôr-nos em contacto
com os nossos “animais
interiores”. De alguma forma, os animais agem
como símbolos ideais ou imagens dos nossos medos e ânsias
mais
profundas ou de partes da nossa psique que foram negadas, reprimidas ou
simplesmente negligenciadas.
Ao acolher e nutrir os animais que entram na
nossa consciência através do Oráculo, em sonhos, meditações ou
divagações,
enriquecemos o nosso mundo interior e descobrimos um caminho de
crescimento pessoal que está
em perfeita sintonia com o mundo natural.

Em terceiro lugar, existem animais de poder. A tradição druídica, tal


como outras vias indígenas, acredita que
os animais também existem
sob forma espiritual no Outro Mundo e que, por vezes, esses animais
podem
visitar-nos – para nos dar energia ou cura, inspiração ou conselhos.
Porque cada um deles tem um poder
específico, dom ou
“remédio”, eles são geralmente chamados de “animais de poder”.

O quarto tipo de animais é conhecido como “totem”. Se optarmos


por trabalhar com animais de poder,
podemos acabar por desenvolver
uma relação especial com um deles ou mais. Iremos sentir muitas
vezes a
sua presença na nossa consciência – guiando-nos,
ensinando-nos e ajudando-nos. Podemos então dizer que
estes animais
de poder se tornaram os nossos “totens” ou “familiares”.

Excerto do livro "O Oráculo Animal dos Druidas" da autoria de Philip & Stephanie Carr-Gomm, ilustração de Bill Worthington (©  Zéfiro,
2010. Todos os direitos reservados).

ARTIGOS

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