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ARCHETIPUS COMPENDIUM

DESMISTIFICANDO ARQUÉTIPOS

JOSÉ COUTINHO
1
MUNDO VEGETAL
ÁRVORE
“A árvore mostra-nos como, a partir de uma mera e minúscula semente, o self se pode manifestar na
existência, centrado e contido, à volta do qual ocorrem incessantes processos de metabolismo, multiplicação,
apodrecimento e auto-renovação.” [1]
Árvores representam a vida natural em si. A alquimia fez da árvore o seu símbolo central, pois ela
representa a vitalidade interna e o desenvolvimento, que hoje conhecemos como reações químicas. Uma ávore
possui uma infinidade de reações ocorrendo internamente, gerando produtos indispensáveis para a vida. Ela
sabe como encontrar alimento, até mesmo entre folhas e materiais biológicos apodrecidos em sua base. [2]
Ela é parte central da mitoligia Nórdica, a Yggdrasil. A Árvore da Vida, que representa a base de todo o
universo. [3] [4]
Abaixo, temos uma pintura do túmulo do faraó Thutmosis III (ca. 1479-1426 a. C.), onde a deusa Ísis
é representada na forma de uma árvore e está amamentando o faraó no além, reforçando a associação da árvore
à eternidade e aos mistérios do renascimento no ventre da mãe ancestral. [1]

BANANA
Vastamente cultivada no mundo inteiro, tendo suas origens na Ásia, a banana já foi “candidata” para
fruta da árvore do conhecimento do bem e do mal, perdendo para a maçã. O simbolismo mais antigo associado
à banana é ao símbolo fálico, dando a ela seu significado de fertilidade. Em várias culturas no leste da África,
uma banana é dada à noiva recém-casada, para se desejar um casamento fértil e cheio de filhos. [5] No ano
novo chinês, ao ser colocada no altar, ela representa um pedido de educação e trabalho bem feito.
Hoje em dia, a banana é a fruta mais consumida do mundo. Sua agricultura possiblitou a sobrevivência
de muitas culturas. Ela possui a versatilidade de ser saudável e prática, podendo ser levada em qualquer lugar
e descascada rapidamente para o consumo. Ela começou apenas como uma planta ornamental, com sementes
enormes, como mostrado na figura abaixo. Depois de séculos de melhoramento e seleção genética, temos esta
fruta que, não importa para qual país você vá, sempre vai pronunciar “banana”.

2
MUNDO ANIMAL
COELHO
“Num bordado chinês do século XVIII, um coelho branco habita a lua junto a uma árvore da vida e,
banhado pela luz da lua cheia, tritura o elixir da imortalidade com um pilão dourado”. [1]

O coelho é visto como um agente da renovação eterna. Ele aparece na tradição japonesa de preparar
os bolinhos de arroz moído chamados mochi para celebrar o ano novo. Diz a lenda que na lua existe um coelho
que está o tempo todo preparando mochi (similar à mitologia chinesa).
De forma bem básica, o coelho sempre foi associado à lua. Seja por fertilidade, sexualidade, ou pelo
fato de que, assim como a lua é alvo da escuridão (coelhos são presas), eles sempre conseguem vingar, e sua
espécie está sempre se perpetuando.
Coelhos na grécia antiga eram o símbolo de Afrodite, e na época, dar um coelho branco de presente
era uma declaração de amor.

ELEFANTE
Sobre o elefante: “o banhista solitário adorava o Ganges à sua maneira, não como um suplicante
humano, mas como uma criatura nascida da água. Num momento, passeava no rio sagrado, salpicando e
aspergindo-se com um deleite inocente, noutro, deitava-se subitamente e deixava a corrente passar por cima
dele, sentado como uma pedra, polido e esculpido pela corrente”. [6]

E assim é o elefante, ele é considerado uma verdadeira força da natureza. Até mesmo os grandes felinos
das savanas temem sua presença. Mas ao mesmo tempo, ele é sereno e lida de forma firme contra qualquer
adversidade. Gaja Lakshimi, a admirável Mãe Terra, é representada com dois dentes de elefante. Ganesha, o
removedor de obstáculos tem sua cabeça de elefante. [1]
3
FORMIGA
Assim como o Rei Salomão disse, “olhai para a formiga, seu preguiçoso, e aprendei com os seus
modos, ganhando sabedoria”. E é esta a grande virtude que elas nos passam: trabalho.
Elas são um dos seres mais abundantes na face da Terra, podeno-se até dizer que são quase
onipresentes. São exemplo de trabalho e organização, juntamente com a pequenez e a humildade. [7]
Vale lembrar que forgueiros se extendem por centenas de metros abaixo da terra. Por isso também são
associadas ao submundo. Hindus vêem formigueiros como portas de entrada para de baixo da terra. Formigas
também eram associadas aos índios Navajo como uma versão deles do submundo, pois assimilavam os seus
guerreiros mortos em batalha. [8] Elas eram amplamente representadas em seus adereços para simbolizar o
heroísmo.

GALINHA
Prodígios da fertilidade, a galinha e o galo acopanham a humanidade há mais de 4000 anos. Conhecida
por ciscar a terra incessantemente em busca de alimento para si e para sua prole, além de sempre tomarem
conta dos ovos debaixo de seu corpo. Esta imagem foi a que Jesus adotou para descrever a seus fiéis o seu
amor por eles (Mateus, 23-37).
Como muitos ja deve ter ouvido falar, as galinhas são consideradas em boa parte da África à
espiritualidade. Por isso elas são usadas em cerimônias ritualístics, na forma de sacrifício, para se estabelecer
contato com o mundo espiritual. [1]
Na cultura judaica, existe um ritual chamado Kapparot, praticado na véspera do Yon Kipur (dia do
perdão), no qual se agita uma galinha em cima da cabeça das pessoas. Após o ritual, a galinha é sacrificada e
transformada em uma refeição, e doada para a caridade como refeição pré Yon Kipur. Este sacrifício serve
como um pedido de perdão, além de possibilitar a caridade. Diz-se que todos os seus pegados são passados
para a galinha, e com isso você é perdoado. Este ritual também pode ser ealizado com dinheiro no lugar da
galinha, sendo o mesmo também entregue para a caridade. Por isso ela pode ser associada a transmutação e
prosperidade.

4
MUNDO HUMANO
CIGARRO
Altamente prejudicial para a saúde, o cigarro teve suas origens com os povos indígenas das Américas,
que cultivavam o tabaco para usar em cerimônias espirituais e para curar doenças.
O simbolismo moderno do cigarro (e também a explicação porquê ainda existem tantos fumantes) pode
ser visto no modo como as crianças o vêem. Em um estudo [6], foram entrevistadas crianças sobre o uso de
cigarro e os resultados vem da forma como vêem seus pais e o status que eles possuem na sociedade (tanto
que crianças de pais fumantes de classe mais baixa não tiveram tendência a querer fumar).
E de fato, quando o cigarro apareceu na Europa, era um item de classe, onde só ricos podiam ter. E
mesmo hoje, fumar um cigarro significa, literalmente, “queimar dinheiro”. Por isso, incosncientemente,
associa-se à riqueza e status, glamour e poder. E, apesar de causar inpotência, devido a seu formato, ele
também é, de forma Freudiana, assiciado ao orgão genital masculino, remetendo a sexualidade e sensualidade.

CAVEIRA
Talvez o mais incompreendido de todos os símbolos da história humana. Este é um símbolo que foi
utilizado de inúmeras formas, mas que todas tem os seus pontos em comum: transformação e imortalidade.
Após a morte, os ossos são tudo o que restam do ser humano. É aquilo que sobrou dele e ficará
eternizado. Esta é a primeira visão que o homem primitivo teve deste arquétipo. E a carta número 13 do tarot
fala exatamente sobre isso. Sobre o poder de decisão e de transformação, e toda a capacidade do ser humano
de se manter para sempre no controle. [7]
A câmara das reflexões dos Maçons é um exemplo aonde a caveira aparece com os dois ossos cruzados,
representando que para fazer parte da Ordem, deve-se abandonar o antigo e se transformar completamente
(em outras palavras, “morrer”) para se tornar um ser mais elevado. [1]

Durante a conquista das Américas, com o surgimento dos piratas, eles começaram a hastear a chamada
Jolly Roger, a bandeira negra com uma caveira e dois ossos cruzados. A ela, é dado o significado de que
aqueles que a hasteiam não estão sob controle de nenhum reinado e eram. Desta forma, ela acabou sendo
associada a uma conotação negativa, pois a liberdade era algo perigoso e ameaçava a soberania dos reinados.
5
REFERÊNCIAS
[1] The Archive for Research in Archetypal Symbolism - ARAS, O Livro dos Símbolos: Reflexões Sobre as Imagens
Arquetípicas, Köln: TASCHEN, 2012.

[2] C. Tudge, The Tree: A Natural History of What Trees are, How they Live, and Why they Matter, New York, 2006.

[3] H. R. E. Davidson, Gods and Myths of Northern Europe, London, 1990.

[4] A. Orchard, Dictionary of Norse Myth and Legend, London, 1998.

[5] D. C. Watts, Dictionary of Plant Lore, New York: Elsevier, 2007.

[6] S. Alter, Elephas Maximus: A Portrait of the Indian Elephant, Orlando, 2004.

[7] H. Zimmer, Myths and Symbols in Indian Art and Civilization, New York, 1946.

[8] G. A. Reichard, Navaho Religion: A Study of Symbolism, New York, 1963.

[9] J. Rugkåsa, O. Kennedy, M. Barton, P. S. Abaunza, M. P. Treacy and B. Knox, "Smoking and symbolism: children,
communication and cigarettes," Health Education Research, vol. 16, no. 2, p. 131, 2001.

[10] A. Jodorowsky and M. Costa, O Caminho do Tarot, São Paulo: Chave, 2016.

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