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@descobrindoahistoriapreta por Akilah Rawiya

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Unidade 1
O que é espiritualidade?
A Espiritualidade Africana é um dos conceitos mais mal compreendidos dentro
da comunidade preta que busca acordar e desenvolver uma consciência racial.
Peça a três pessoas para defini-la e você terá três respostas diferentes.
Espiritualidade é o estado de sua alma, emoções, crenças, mentalidade e
conexão com o infinito. Estes fatores compõem sua anatomia espiritual chamada
de seu 'corpo de luz'. Assim como seu corpo físico, seu “corpo de luz” pode
crescer mais forte ou mais fraco com base em suas ações.
Qual é a diferença entre Religião e Espiritualidade?
Se você quer entrar em um debate na comunidade preta consciente, levante a
diferença entre religião e espiritualidade! Religião e espiritualidade são de fato
duas coisas diferentes - apesar do que alguns lhe dirão! A religião é um sistema
projetado para o desenvolvimento espiritual. Alguns sistemas são melhores do
que outros para alcançar este objetivo.
Hoje, algumas religiões se tornaram tão corruptas que não fazem nada para o
desenvolvimento espiritual. Em vez disso, estas religiões se tornaram sistemas
de doutrinação que criam divisões entre "crentes" e "não-crentes".
Em vez de se envolverem com os dogmas ensinados pelo cristianismo, o
islamismo, o judaísmo, retornam às suas raízes africanas.
Se estudarmos as tradições Iorubá, Kemética e Vodun por exemplo, adquirimos
um novo conhecimento - juntamente com outras práticas ancestrais espirituais
como meditação, jejum e alimentação – podem nos colocar no caminho para a
iluminação espiritual.
Sistemas espirituais populares no continente africano:

Shetani
Akan religion
Badimo
Baluba
Dahomean
Egungun
Elegua
Eshu
Hausa
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Ifá, Vodun Santeria, e Yorubá
Igbe religion
Legio Maria
Lozi
Malagasy
Mbuti
Odinani
Opele
Orungan
Orunmila
San
Shango
Ciência Kemética
Zulu

Espiritualidade e ciência
Ao longo de milhões de anos, os africanos se tornam conscientes do padrão
entre todos os seres vivos que existiam. Este padrão cósmico, terreno e orgânico
(planta/animal/humano) levou a um estudo do que hoje chamamos de ciência e
espiritualidade. A ciência (todo conhecimento), dividida em áreas disciplinares,
é o que ensinamos na escola de hoje; e a espiritualidade criou formas de vida no
mundo. O "Padrão no Tabernáculo", era a natureza cíclica do universo cósmico.
A ciência é a espiritualidade que podia ser vista, e a espiritualidade era a
ciência que não podia ser vista. Os africanos em Kemet (Egito) acabariam por
desenvolver e organizar o processo da vida, eles chamaram a Ciência Sagrada.
Os sacerdotes e sacerdotisas expressaram estes símbolos científicos sagrados
de suas ideias em paredes, pedras e papiros.

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Unidade 2
A separação branca entre espiritualidade e razão

Utamaroho: Pensamento culturalmente estruturado


Utamawazo: A força vital de uma cultura.
Cultura: Conjunto de hábitos, crenças e conhecimentos de um povo que cultiva,
de algum modo, um padrão de vida.

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Unidade 3

A Criação
Ocorre o nascimento desse ser humano na África. Ele olha ao redor e não falta
alimento, o clima é agradável e tudo que ele necessita a natureza lhe oferece.
Neste momento nós temos o início da filosofia, pois sem ter outras
preocupações, ele começa a fazer perguntas que pedem por respostas, que ele
mesmo terá que formular:
Quem sou eu? Quem me criou? Como e por quê fui criado?
Para responder a essas questões ele começa observar ao seu redor. E faz uma
descoberta essencial que é a existência da ENERGIA. Tudo é energia e há
energia em tudo!
No vento que bate em seu rosto, na luz solar que bate no solo, nos movimentos
que ele executa, na interação entre os animais, no nascer de uma
planta...percebe que há uma troca de energia entre os corpos e que isso nunca
tem fim.
Ele passa a compreender que essa energia é responsável por todas as coisas,
e que nela está a origem da vida. E é aqui que começamos a falar de
ancestralidade. Essa energia é o primeiro ancestral. Pois o que esse homem e
essa mulher, (há dezenas de milhares de anos), conseguem enxergar, é que
essa energia os trouxe à vida, e também a outros seres viventes.
Conclui que essa energia é composta por características femininas e
masculinas, já que um casal é capaz de gerar vida. E surge outra questão:
Quem deu vida a essa energia que dá a vida?
E aqui é a deixa para falarmos de NUN, A ÁGUA ELEMENTAR.
Estes seres humanos primitivos (não no sentido pejorativo, mas no sentido de
primeiros), vão perceber que a vida nasce da água.
Na água está o início da vida, e nela há vida a nível microscópico. As sementes
da vida estão em um líquido que é o sêmen do homem, a criança cresce dentro
do líquido amniótico materno, aves nascem do líquido que preenche o ovo.
Assim, o africano chegou à conclusão que havia líquido no começo de tudo!
E deu nomes diferentes a essa água elementar, de acordo com os diferentes
povos e regiões, são eles:
Nun em Kemet (antigo Egito)
Nommo entre o povo Dogon do Mali

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Uthlanga entre os Zulu
Tano entre os Akan de Gana/Costa do Marfim
Ninguém criou a água elementar. Ela sempre esteve ali. E agregava dentro de
si o potencial da vida, as sementes da vida, só que de maneira desorganizada e
dormente. Esse potencial é o que hoje os físicos chamam de partículas.
Uma dessas tomou consciência de si e se tornou a partícula que gerou a criação,
o nome dela é Atum. Ela/Ele é simbolizado (a) por um ovo que recebeu diversos
nomes entre os povos africanos, são eles:
Suhet em Kemet (Antigo Egito).
Aki Ngoss entre os Fang da África Central.
Botcchio’ndé entre os Fulani.
Atum adquire conhecimento, e em seu coração traça o plano da criação. Assim
que este plano está concluído, ele/ela decide sair de dentro daquela água
elementar (Nun).
A saída dessa partícula criativa (Atum) de dentro da água elementar (Nun) é o
que viria a gerar o mundo.
Esse movimento de saída possuía uma forma. O povo original estudou o céu
(astronomia), observou os fenômenos ao seu redor e percebeu que a forma
geométrica da espiral era onipresente!
Pensem nos quatro elementos essenciais à vida: água, terra, fogo/luz e ar.
Todos eles quando expressam seu poder máximo se movem em espiral!
Pensem nas ondas do mar, nos furacões..., mas há muito mais!
Possui formato de espiral:
O campo magnético do sol, a posição do feto na barriga da mãe, as impressões
digitais, a organização da galáxia, e até o DNA, que encontramos em seres
humanos, plantas, animais e minerais.
Desse modo, o Africano percebeu que o símbolo da espiral marca a criação, que
é a forma máxima de expressão energética e a impressão que o criador deixa
na criação.
A partícula criativa (Atum) deixou a água elementar (Nun) formando uma espiral.
Atum a partícula consciente, tendo concebido um plano de criação em seu
coração, deixou Nun, formando uma espiral através da energia que ela fez brotar
de si. Essa energia é responsável por criar e transformar a matéria.
Ela é chamada de Ra.
Ra é a energia criadora.

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E ela tem o objetivo de organizar. Todas aquelas partículas que estavam
desorganizadas na água elementar (Nun), agora serão organizadas por Ra, e
isso é o que possibilita a criação da matéria.
Estamos falando da nossa criação (seres humanos), e de tudo o que nos rodeia!
Estrelas, minerais, plantas, animais...
Ou seja, nós somos resultado da organização de partículas, e a energia que
possui esse poder é chamada de Ra.
Para nós africanos, o universo só pode funcionar em equilíbrio.
Feminino e masculino. Ordem e desordem. Matéria e antimatéria.
O que vem a seguir é muito importante, então prestem atenção:
Quando Ra (a energia criadora), organiza as partículas para produzir matéria,
também produz a antimatéria.
A matéria é fértil, contínua e da origem a criação.
A antimatéria é estéril e anula a criação, ou seja, ela se opõe a matéria.
A matéria é ordem. A antimatéria é desordem.
Houve uma batalha entre matéria e antimatéria.
Esse combate criou uma enorme explosão chamada de tepes seb em Kemet
(Antigo Egito), e que mais tarde os brancos (ocidentais), chamariam de big bang.
Ao fim, o que dominou foi a matéria.
.

As divindades e o mito da criação


Os personagens ou divindades da criação, podem ser vistos como princípios
espirituais que uma pessoa que se considera um aspirante espiritual deve seguir.
Se estes princípios forem seguidos, permitirão que o praticante desenvolva
certas qualidades espirituais, e isso levará a um esclarecimento espiritual.
Eles podem ser vistos como uma escada para subir até o topo da criação (onde
encontraríamos nosso eu divino), partindo do plano terrestre onde nos
encontramos.
Para entendermos suas relações e a mensagem espiritual, é necessário
conhecer o mito da ressureição de Ausar.

O Mito de Ausar, Auset e Heru


No princípio não havia criação, não havia céu, terra, pessoas, planetas ou sol.
Havia apenas um oceano primitivo.
Ausar, Auset e Heru são as três deidades mais importantes em Kemet (antigo
Egito) e vieram originalmente de Kush.
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(Kush era um antigo reino ao sul de Kemet (antigo Egito) no que atualmente é
chamado Sudão/Os outros nomes comuns (gregos), dados a eles são
respectivamente: Osíris, Ísis e Hórus/ E deidade seria um conjunto de forças que
se materializa em uma divindade.)
O que vem a seguir é tanto mitologia quanto história:
Um historiador grego antigo chamado Diodoro Sículo, afirma que Ausar era
originalmente um líder da comunidade de Kush. Considerado o pai fundador de
Kemet (antigo Egito), responsável por unificar as duas terras e criar o primeiro
estado-nação da história da humanidade. A ele se credita a introdução da escrita
(que os Kemetyus chamavam de Medu Neter), da agricultura e da teologia.
Então, munido de conhecimentos que tinham o poder de civilizar a humanidade,
Ausar parte em uma jornada para outras partes do Vale do Nilo e do mundo. Se
casa com uma belíssima núbia chamada Auset que se torna sua co-regente.
(Importante ressaltar que ela não era sua subalterna, mas sim regia em pé de
igualdade, demonstrando a posição das mulheres em Kemet (antigo Egito).
Quando Ausar decide viajar para outras partes da África para compartilhar seus
saberes com outros irmãos, deixa sua esposa Auset governando a nação. Ele
estava sendo muito bem sucedido em sua empreitada, e admirado por todos, o
que despertou a inveja de seu irmão Seth, que começa a tramar um modo de
derrubar o próprio irmão.
Seth decide ir atrás de Ausar e o assassina enquanto o mesmo estava dormindo.
Após isso ele desmembra seu corpo em 14 partes e espalha por Kemet.
Ao saber do assassinato e desmembramento do marido, Auset sai em busca dos
pedaços do corpo dele. Ela encontra 13 das 14 partes, limpa e unge com óleos.
Arranja de uma maneira que literalmente remembra seu falecido esposo, enrola
seu corpo inteiro com ataduras e cria a primeira múmia da história registrada da
humanidade.
Auset sepulta o corpo de seu marido, se lamentando porque havia perdido o
homem que amava e a oportunidade de ter filhos com o amor de sua vida. Eles
não haviam consumado o matrimônio. Ela era virgem.
De acordo com a história, descrita em vários papiros encontrados em Kemet, o
espírito de Ausar veio e engravidou sua mulher Auset. Assim, 9 meses depois a
virgem Auset deu vida a Heru.
Ela é a mãe virgem original. Foi a primeira "concepção imaculada"
registrada em qualquer sistema espiritual.
Heru nasceu com um propósito específico na vida, batalhar com seu tio Seth,
restaurar o reino e reclamar o trono de seu pai.
E em dado momento ele triunfou. Assim que conquista vitória Heru se transforma
em um falcão, voa pelo céu para se encontrar com seu pai Ausar e contar que
havia vencido. Seu pai então o abençoa e ele retorna para reclamar o trono e é
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coroado rei de Kemet. Nesse momento Ausar é ressuscitado dos mortos e
assume seu lugar no trono do julgamento.
De acordo com o historiador grego Plutarco, Ausar é associado com a lua. Ela
possui seus ciclos, desaparece ao fim do mês lunar e renasce após três dias. E
essa é a ressureição de Ausar depois de estar morto por três dias.
Segundo o Dr. Kimani Nehusi, nossos ancestrais sabiam que há um pouco de
bondade no pior de nós, e um pouco de maldade no melhor de nós e
representaram isso dessa forma.
Uma história importante para o povo preto e que demonstra nitidamente as
origens do cristianismo. Além de promover a justiça, a ordem e o equilíbrio
daquilo que desejamos, sobre o ciúmes, a inveja e o ódio.

Unidade 4
O simbolismo místico da história de Ausar, Auset e Heru
Ausar representa a alma que foi encarnada na Terra na forma humana. Assim,
Ausar representa a realidade mais interna de todos os seres humanos. A alma
se apaixona pela vida e pela existência humana física. Quando a alma esquece
sua verdadeira natureza, ela se torna dominada pela natureza inferior, o ego,
como simbolizado por Seth.
Portanto, o irmão de Ausar, Seth simboliza o egoísmo e todas as qualidades
negativas que um ser humano pode desenvolver quando desconhece a sua
essência superior. A história relata simbolicamente como as emoções negativas
desenfreadas e os desejos de um ser humano (o ego), essencialmente, cortam
em pedaços a alma e tentam impedir qualquer chance de reencarnar para buscar
redenção e esclarecimento.
Seth também representa a traição do mundo, que parece ser uma promessa de
prazer, mas na realidade é uma armadilha que escraviza a alma para as
inúmeras formas de miséria da existência humana. Seth representa as
distrações e a pressão da vida para satisfazer os prazeres dos sentidos. Assim,
Heru representa a aspiração espiritual, o desejo de estudar e praticar os
ensinamentos e a força espiritual interior que é necessária para sublimar o ego
e para ter sucesso na luta da vida.
Auset é a sabedoria que permite a uma pessoa reunir a compreensão de sua
realidade superior, o espírito. Ela é também o conhecimento de como chamar ao
Divino para descobrir a sua essência espiritual. Ela, juntamente com o espírito
interior, simbolizado pelo espírito de Ausar, é também o poder dentro do coração
que dá a uma pessoa estímulo e força para enfrentar as adversidades do mundo
e depois clamar ao Divino a fim de alcançar a iluminação. Assim, quando surge
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o desejo de aprender a espiritualidade, é o espírito de Ausar que está incitando
o aspirante a seguir em frente. Então esse movimento em direção à
espiritualidade é alimentado pela deusa como uma mãe que traz nova vida e a
nutre para a saúde e o crescimento, protegendo-a dos elementos e de todas as
influências negativas até que ela seja forte o suficiente para se manter por si
mesma.
O simbolismo místico dentro da explosão
A matéria fértil, é Ausar. Aquele que saiu levando a ordem, a tecnologia e a
civilização para seus irmãos de outras partes da África e do planeta.
Já a antimatéria estéril seria Seth. O irmão invejoso que assassinou Ausar, o
esquartejou em 14 partes e espalhou por Kemet. Ele representa a desordem.
A disputa entre matéria e antimatéria que causou a explosão tepes seb (big
bang), também é representada pela batalha entre Ausar e Seth no princípio.
Ambos filhos de Ra.
Graças a Ma’at (filha de Ra) que a matéria triunfou e a criação pode surgir.

Unidade 5
Ankh, Ma’at, Kheper, e números sagrados
O símbolo supremo de todo esse pensamento africano é a cruz Ankh, ou a cruz
da vida.
A cabeça representa Ra, a energia em espiral. Os braços horizontais são Seth,
a antimatéria estéril e o princípio do mal. A linha vertical é Ausar/Heru, que
representa matéria fértil e o princípio do bem.
Ausar/Heru é mais longo que Seth, pois dominaram a batalha da criação.
Podemos fazer uma analogia com os seres humanos que se animam por forças
opostas (bem e mal), porém precisam sempre fazer com que o bem triunfe em
seu coração.
Falando sobre Ma’at podemos abordar enquanto conceito, Neteru (divindade) e
filosofia.
Pensando naquela espiral (forma geométrica da criação) energética, Ma’at seria
a linha reta maior, o longo braço que permitiu que a matéria vencesse a
antimatéria. Seria o princípio da ordem, que afasta o caos e mantém a harmonia
cósmica.
Pensando em Neteru, Ma’at seria a filha de Ra, que simbolicamente é
representada por uma mulher com uma pena em sua cabeça. Ela é quem
assegura o equilíbrio do cosmo.

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(A pena de Ma’at é extremamente importante para os africanos e encontrada
dentro da cultura de diversos povos. Em Kemet (Antigo Egito) acreditava-se que
no julgamento dos mortos (perante o tribunal de Ausar), Ma’at pesava a alma de
todos com a pena da verdade. Se o coração fosse mais leve do que a pena, o
morto passaria ao paraíso. Se fosse mais pesado, o morto teria seu coração
devorado e desapareceria para sempre.)
Então olhando através da perspectiva do mito, Ausar experimentou a morte e
depois a ressureição graças a Ma’at, pois obedecia aos comandos dela. Através
de seu filho Heru, que derrotou Seth, a matéria dominou a antimatéria, e a
criação aconteceu.
Heru, a criança que nasceu para salvar a criação, representa a continuidade da
matéria e a eternidade da criação, que só continua se os comandos de Ma’at
foram obedecidos.
Todos os bebês que nascem representam essa criação que é contínua, pois são
um agrupamento de partículas (matéria), sob a ação de Ra. Essa matéria deve
ser constantemente transformada e precisa evoluir através de um certo princípio
(Kheper).
Kheper é a lei da transformação e da evolução da matéria.
Números
Em todos os ritos de iniciação tradicionais pela África, o número 9 é sagrado,
porque simboliza Heru, a Criação vitoriosa de Ra e Kheper, a transformação
contínua da matéria criada por Ra. 9 é o número eterno. Independentemente do
número pelo qual você multiplica 9, você sempre acaba com o número eterno 9
através de combinações. Este é o único número que dá este resultado:
9 x 2 = 18, que dá 1 + 8 = 9
9 x 3 = 27 => 2+7 = 9
9 x 7 = 63 => 6 + 3 = 9
9 x 14 = 126 => 1 + 2 + 6 = 9
9 x 1043 = 9387 => 9 + 3 + 8 + 7 = 27 => 2 + 7 = 9
Estudando os espirais presentes à sua volta, o povo de Kemet por meio de
cálculos matemáticos, percebe que há um número perfeito de proporções da
matéria, este número é 1,6. Este é o que os ocidentais chamam hoje de
proporção áurea, o número que representa a lei do Universo. E a partir desse
número de ouro que os Keméticos desenharam sua espiral e construíram
monumento.

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Unidade 6
Para nós africanos Deus é energia
Ra, a energia criativa científica venerada pelos Keméticos é, portanto, Deus.
Deus é aquela Energia a quem o Africano recorre por meio de um ancestral
falecido. Deus é uma partícula escondida que se tornou Energia. Deus é como
uma partícula consciente que se tornou Energia. Deus é a Energia Consciente.
Deus nunca se revelou aos Africanos. Ela/Ele permanece escondida, invisível. É
esta Energia que dá vida e anima tudo o que o povo preto deifica, daí vem o
termo animismo que os ocidentais usam para designar a Religião Africana.
Como este termo se tornou derrogatório, preferimos Vitalismo, que reflete melhor
a força vital.
O Africano descobriu Deus e foi convencido de sua existência através do
aprendizado das ciências. Foi Deus quem deu aos humanos a inteligência
necessária para descobrir Sua Grandiosidade. Ra inscreveu na natureza todos
os elementos necessários para que voltemos a ele/ela.
Ra é, portanto, única (a energia inicial e fundamental) e múltipla (a energia
distribuída em cada elemento da criação).
Através da matemática, astronomia, física (…), o povo original respondeu sua
questão primordial. Ele sabe que está na Terra para preservar e dar continuidade
à vida (Ankh), respeitando Ma’at como Ra mandou. Ma’at é sua filosofia.
Enquanto os europeus e semitas estão na Terra para acumular riqueza material,
nós Africanos estamos na Terra para perpetuar a vida.
Nome de Deus em alguns lugares da África:
Bambara & Dogon, do Mali; Jukun, da Nigéria: Amma/ Ama
Líbia antiga: Amun
Sudão antigo: Amani
baNyarwanda, de Ruanda, e baRundi, do Burundi: Imana
Egito antigo: Imana/ Amon/ Amen
Akan, de Gana e Costa do Marfim: Nyamien/ Nyame
Douala & Basa, de Camarões; Barotse & Lozi, da Zâmbia: Nyambe
Konjo, de Congo-Uganda: Nyamahanga
Fang, do Gabão: Nzame
kiKongo, de Congo-Angola: Nzambi
Baya, da República Central Africana: Zambi
Sangama, da Etiópia: Zabi
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Herero, da Namíbia: Njambi
Pare, da Tanzânia: Kyumbi

Unidade 7
O nascimento das tais religiões reveladas
Quando os brancos se mudaram dos campos gelados da Europa e Ásia e
entraram em contato com os Pretos do Oriente Próximo (Pretos de Canaã), na
Arábia (Pretos de Sabá), e no Egito, eles descobrem a existência de Deus, já
que os Africanos foram os primeiros a teorizar e praticá-la. Mas os brancos têm
acesso limitado a segredos científicos e veem apenas os mitos que os Africanos
mostram. Com um desejo de criar sua religião sem entender os fundamentos de
Deus, ele usará o mito da revelação para justificar a existência de Deus.
Sem nenhum argumento para explicar direito o que escreveu — aqui, a maioria
copiado — em seu livro, o branco pede a seus seguidores para que acreditem,
tenham fé e entendam. Vindo de um berço onde a mulher é vista como inferior e
a natureza como algo hostil, ele remove a parte feminina de Deus e tira Deus
das criações dele/dela. Foi assim que as chamadas religiões de fé, onde se é
preciso acreditar, nasceram: Judaísmo, Cristianismo e Islã.

Unidade 8
Conclusão
Percebemos que o conceito de Deus para os Pretos é científico e perfeitamente
racional. É baseado nas ciências exatas e em especulação filosófica. A
espiritualidade nascida há milhares de anos na Terra Sagrada (os Grandes
Lagos e o sul africano), e que foi trazida a seu pico no Egito, é comum ao
continente inteiro. Nós sinceramente acreditamos que a concepção Africana de
Deus é a melhor, pois ela é baseada em uma questão científica, que procura
estritamente a verdade e é aberta a questionamentos.
Se rejeitamos essa “religião” hoje, é porque não a conhecemos porque os
colonizadores europeus e árabes a caluniaram e enterraram com o propósito de
explorar a África. Podemos apenas nos sentires incrivelmente honrados de
termos nascido africanos e de termos o sangue de nossos grandes ancestrais
fluindo em nossas veias.
Mas, para além da questão espiritual, vemos outros benefícios para a África. A
espiritualidade Africana dá base para uma educação completamente revisada,
um sistema social repaginado, um sistema econômico redesenhado, um melhor

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status para as mulheres, uma refundação de nossos Estados, uma arquitetura
redesenhada, a fundação de conservatórios de música, escolas de filosofia etc.
Devemos agradecer de coração a nossos ancestrais por terem nos deixado uma
herança dessas e temos o dever de tentar orgulhá-los.

Referência Bibliográfica:
Spirituality before Religions (Professor Kaba Kamene)
African Religion Vol. 1 (Dr. Muata Ashby)
Yurugu: An Afrikan-Centered Critique of European Cultural Thought and
Behavior (Marimba Ani)
Powerful Ways to Develop Your African Spirituality (Asad Mali)

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