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Correa, N. F.

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A colonização portuguesa oficial do Rio Apesar de ser numericamente muito


Grande do Sul, no extremo sul brasileiro, inicia-se nas expressiva entre iniciados, frequentadores e
primeiras décadas do século XVIII. Anteriormente, a simpa zantes, a comunidade das religiões afro-rio-
região era habitada por índios. Os colonos g ra n d e n s e s co m p õ e u m a e s p é c i e d e re d e
portugueses trazem, já, consigo, escravos negros. Na subterrânea na sociedade gaúcha. Os assim
segunda década dos 1800 começa a imigração alemã, chamados brancos da sociedade envolvente sabem
e nos anos finais deles a italiana. perfeitamente da existência dessas religiões, porque
Quanto aos pratos picos da culinária muitos ali vão buscar a intercessão das divindades
regional, deve-se aos índios a invenção do pico dos para resolverem problemas de toda a sorte. Destes, a
picos: o churrasco, carne assada nas brasas, além da maioria só tem acesso às salas onde os chefes
farinha de mandioca, que sempre acompanha o consultam os búzios (jogo divinatório) e aos pejis,
primeiro, e igualmente uma bebida, o chimarrão, um onde ficam os implementos rituais, com sua
chá feito com as folhas de um arbusto, a erva-mate. penumbra, os cheiros dos alimentos sagrados
Os portugueses contribuíram com a maioria dos depositados no chão, a profusão de alguidares,
pratos, destacando-se o feijão e o arroz. Os alemães quar nhas de barro, as cor nas que ocultam certos
encarregaram-se de popularizar a batata, enquanto objetos a olhos curiosos. Mas outros só conhecem de
os italianos trouxeram a polenta. Cada uma delas mais concreto os abundantes e temidos despachos
são, respec vamente, alimentos emblemá cos (oferendas alimentares) colocados em ruas, praças,
destas duas populações. Essa relação se expressa, por praias, cemitérios gaúchos. Para uns e outros,
exemplo, nas xingações padronizadas de que são entretanto, este é um mundo pra camente
ví mas: “alemão batata, come queijo com barata” e hermé co, cheio de mistérios, mas percebido,
“gringo polenteiro”. sobretudo, como perigoso. É perigoso, como diz
Mary Douglas (1976), porque reconhecido como
Herança negra fonte de poder. Tudo isso produz, sem dúvida, um
grande medo branco do fei ço negro.
A culinária rio-grandense de origem africana O obje vo do trabalho é examinar alguns
tem uma caracterís ca especial: uma parte dela é aspectos da presença do alimento nessa religião e do
muito popularizada e foi adotada também pelos que papel que desempenha na relação humanos-
não descendem de africanos. Esta parece ser mais de humanos e entre estes e as en dades sobrenaturais.
origem banto, justamente os primeiros e mais Vários dos dados aqui u lizados foram veiculados em
numerosos escravos que chegaram, a par r do século outro local (CORRÊA, 1992; 2006) e dizem respeito a
XVIII. Outro segmento desta úl ma culinária é de pesquisas efetuadas em diversos templos de
natureza exclusivamente ritual, sagrada, sendo batuque, de 1969 até 1989.
u lizada no batuque, religião de origem africana
(sudanesa), caracterís ca do Rio Grande do Sul, e Humanos e en dades sobrenaturais
semelhante ao candomblé da Bahia ou ao xangô do
Recife. Seus afiliados, em sua maciça maioria, são O primeiro templo de batuque mais
negros urbanos, pobres, moradores das periferias das organizado e estruturado possivelmente foi fundado,
cidades. nos inícios do século XIX, na cidade de Rio Grande.
Tais alimentos assumem importância crucial, Mais tarde, apareceram outras formas rituais, como a
nesse contexto religioso, porque os deuses afro- umbanda, na década de 1930, e a linha cruzada nas
brasileiros, como tantos outros de tantas religiões, décadas de 1940 e 1950. Esta úl ma forma reúne no
“comem”. Basta pensar na religião judaica, em que se mesmo templo as en dades das duas outras. Sem
ofereciam produtos agrícolas e animais a Javé. Ou, no esta s cas mais precisas, es ma-se que podem
catolicismo, em que Cristo, o “cordeiro de Deus”, é exis r hoje entre 30 a 40 mil casas de culto dessas
oferecido ao Deus-Pai e tem o sangue e a carne três modalidades. Há uma gradação de cor neste
ingeridos simbolicamente pelos fiéis. Ao contrário da universo: a umbanda congrega mais brancos, a linha
culinária de origem banto, o conhecimento do cruzada, miscigenados e o batuque, negros, o
preparo e caracterís cas dessas comidas rituais é segmento mais pobre da população.
man do no espaço intramuros dos templos de As divindades cultuadas no batuque,
batuque. Talvez, tanto por serem sagradas como pelo chamadas de orixás, têm caracterís cas muito
considerável fechamento que o culto mantém face à humanas, cada uma possuindo suas preferências e
sociedade envolvente. Tais fatores permitem que elas idiossincrasias. Em seu conjunto formam uma
assumam uma conotação étnica, tal qual Peter Fry sociedade em que há famílias, amor, ódio, intrigas,
(1982) se refere quanto à feijoada. lutas, amizade etc. Da instância sobrenatural, fazem

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parte ainda os eguns (almas dos mortos), dos como entendido que o deus, ao ser feita a iniciação de um
extremamente perigosos, pois podem causar muitos fiel, passa a “cuidar” deste – mais especificamente de
problemas aos humanos, inclusive a morte. sua cabeça, onde “mora”.
Os orixás principais são 12: Bará, o homem Existem vários graus de iniciação, e cada um
que “manda” nas ruas e encruzilhadas; Ogum, deles, progressivamente, corresponde ao sacri cio
ferreiro, guerreiro e padroeiro dos artesãos; Oiá ou de animais com maior volume de sangue: começa
Iansã, mulher guerreira e sensual, e, “dona” dos raios; com o “oribibó”, geralmente feito para crianças, em
Xangô, guerreiro que comanda o trovão; Odé, o que é sacrificada uma pomba, passa pelo “bori”
caçador; O m, mulher de Odé; Obá, mulher ( g a l i n h a) e s e g u e at é g ra u s m a i o re s , co m
guerreira; Ossãnhe, o “orixá médico”, dono das folhas; quadrúpedes que vão de bodes, porcos, carneiros a
Xapanã, um velho fei ceiro que comanda as doenças; touros. Mas há o sacri cio, também, de peixes de
Oxum, deusa da beleza e da riqueza, dona das águas couro num estágio da festa, o “dilogum”. A iniciação
doces; Iemanjá, da água salgada; Oxalá, o mais velho final é chamada de “aprontamento” e firma o pacto
de todos. Cada um deles, entretanto, divide-se em com a divindade. Assinale-se que ele implica, entre
vários outros da mesma categoria, com diversos outros aspectos, na proibição de a pessoa comer
nomes e idades. Eles possuem também cores e certos alimentos, rituais ou não, relacionados a
símbolos próprios. determinados orixás, o que é chamado de “quizila”.
Cada templo possui uma chefia, o pai-de-
santo (ou mãe-de-santo), que iniciam adeptos e têm a Iniciação, possessão e poder
autoridade suprema em sua casa, sendo também o
proprietário(a) legal dela. O conjunto de templos A cerimônia de iniciação consiste,
compõe uma comunidade na medida em que seus primeiramente, em entronizar o deus em uma pedra
(“ocutá”) ou objeto especial, que compõe sua
dirigentes e filiados comungam de uma visão de
representação material. Em seguida, o animal tem sua
mundo comum, que chamo de “batuqueira”, sendo
caró da cortada e o sangue ver do simultaneamente
que todos os principais chefes se conhecem e se
no ocutá e na cabeça do iniciado, o que simboliza a
visitam.
ligação e alimentação de ambos, e ali permanecerá
por três dias. Diz-se então que o orixá “está
A comida ritual
comendo”. Nessas ocasiões, no instante exato em
que o sangue toca a cabeça do iniciando, o orixá
Como referi, deuses e eguns “comem”, sendo
deste pode “baixar” (ocorre a possessão). Então,
o alimento o principal bem simbólico que os humanos demonstrando a sua fome, não é raro que o possuído
lhes oferecem. Ele atua como fator mediador por tome o corpo do animal sacrificado nas mãos e beba o
excelência das relações entre o mundo dos homens e sangue diretamente de seu pescoço. O ato é visto,
o sobrenatural. A culinária batuqueira conta com também, como prova de verdadeira possessão, pois é
ingredientes como sal, açúcar, pimenta, vinagre, mel, entendido que é algo muito nojento e apenas uma
óleos comes veis, água, hortaliças, frutas, ervas e divindade poderia fazê-lo. Depois de chegar “no
folhas diversas e mesmo cachaça, oferecida à alma mundo”, possuindo seus filhos humanos, o orixá não
dos mortos e aos vivos nas cerimonias fúnebres. Para comerá mais nada, alimento sagrado ou profano.
os seres sobrenaturais, porém, o alimento de maior Várias outras provas de possessão incluem
valor é o sangue dos animais sacrificados nos rituais. substâncias a serem ingeridas pelo possuído: tomar
A iniciação corresponde a um pacto um copo de vinagre com sal e pimenta (vomitório
estabelecido entre o indivíduo e os orixás. O que os eficaz, caso não haja a presença do orixá); comer doze
humanos esperam deles, antes de tudo, é proteção. mechas de algodão incandescentes embebidas em
Para proteger seus consagrados, no entanto, as dendê; beber o mesmo dendê fervendo. Certos
divindades precisam estar fortes, e para tanto se chefes são acusados de obrigar os possuídos a
torna necessário mantê-las sempre bem alimentadas. ingerirem excrementos humanos para saber se não é
Este é justamente o principal dever dos iniciados. Por uma simples burla.
isso as comidas rituais do batuque chamam-se Deve ser compreendido, quanto a tais provas,
“comidas de obrigação” (ou seja, o fiel se obriga a que a possessão é a meta maior do ritual do batuque,
oferecê-las. Não alimentar seu orixá, ou seja, não
pois traz os deuses para junto dos humanos, sua
cumprir o pacto, é não apenas perder a sua proteção,
presença significando, para estes, a mais pura
como ficar exposto a riscos diversos, incluindo-se
cas gos por parte dele. Em casos extremos de expressão de poder. Isto, exatamente, é que o fiel
desleixo com o santo, o resultado pode ser a morte. É busca na religião, sen r que está protegido contra os

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males da existência. A alimentação e o poder das divindades


Cabe dizer que há uma grande diferença entre
as religiões cristãs e as de possessão, como são Cada orixá somente aceita o sangue de
determinados animais – aves, caprinos, ovinos,
chamadas pela Academia: uma coisa é cultuar um
suínos, bovinos, peixes – considerando-se o sexo,
deus distante e invisível e outra, uma divindade idade, cor e algumas outras caracterís cas sicas
visível, concreta, que conversa diretamente com seus destes. Tanto orixás como mortos recebem também
seguidores, consola, adverte e os “limpa” o corpo de algumas partes especiais do animal, como as patas, a
males espirituais e sicos através de um ritual cabeça, certos órgãos internos e tes culos. Alguns
chamado de “assagéu”. Consiste em passar as mãos dos alimentos dos mortos são específicos, mas outros
de cima a baixo do indivíduo e assoprando, como se são muitos semelhantes aos dos deuses, exceção
feita a certos ingredientes especiais. Há pratos rituais
rasse poeira, esfregando-as uma na outra sobre
oferecidos apenas às divindades, outros apenas aos
seus próprios ombros. O gesto significa que ele, orixá, eguns e outros, enfim, que podem ser compar lhados
re ra e coloca nas costas estes males porque, com entre deuses e homens ou mortos e homens.
seu poder, é imune a eles. A possessão verdadeira, Aqui é interessante abrir um parêntese.
segundo os parâmetros rituais do batuque, é algo de Anteriormente fiz referência à umbanda e à linha-
fundamental importância nessa religião. Considere- cruzada. A primeira modalidade é chamada de
umbanda branca, cultua “caboclos” e “pretos-velhos”,
se que em sua maioria são negros e, por falta de
além de certa categoria de orixás do candomblé
oportunidades, que o racismo da sociedade
baiano. Os dois primeiros são espíritos de índios e
envolvente lhes nega, pobres. São o segmento mais africanos velhos que voltam ao mundo para pra car a
frágil e desamparado da população brasileira. Mas caridade, com isto visando se elevar na hierarquia
não esqueçamos que a ocorrência da possessão, nos geral do mundo dos espíritos – uma influência do
iniciados, é também viabilizada pelo alimento espiri smo de Allan Kardec. A alimentação que
oferecido ao seu orixá. re ce b e m , n u m s e n d o a m p l o d o te r m o , é
basicamente mel, frutas e cachaça. A linha-cruzada
A volta do possuído ao estado normal passa
cultua estes, os orixás do batuque e mais os exus e
por um momento especial, o do “axerê”, intermediário pombagiras. Exus também recebem sangue, mas via
entre a possessão propriamente dita e a condição de regra em quan dade bem menor do que os orixás.
humana, caracterizado por um comportamento Há, aqui, uma relação entre alimentação das
infan l. Eles costumam sair catando insetos, como en dades sobrenaturais e seu respec vo poder:
baratas, ou certas lesmas chamadas de “ebis” e, com receber sangue significa dispor de maior poder do
grandes manifestações de regozijo e disputas entre que as que não o comem. Por isto, as en dades da
umbanda branca são consideradas de menos eficácia
seus pares, ingerem-nos vivos na frente dos
ritual do que todas as demais, justamente por sua
humanos, muitos dos quais não suportam a cena e alimentação. Exus também recebem sangue, mas
vomitam. Tal como nos outros casos, isso também é ocupam uma posição inferior aos orixás na hierarquia
considerado uma prova da possessão, embora não do panteão afro-brasileiro.
oficial e obrigatória.
Então, tudo aquilo que é consumido pelos A culinária ba queira e o contexto regional rio-
grandense
deuses nos testes oficiais ou não da possessão e no
estado de axerê, não deixa de ser alimento, tanto que Os fundadores do batuque e seus
é ingerido por eles. Mas são como que descendentes não encontraram, obviamente, tudo o
“an alimentos”, para os humanos, por serem vistos que exis a na África para sua prá ca ritual e então
como prejudiciais, nojentos, comidos crus e, ainda aproveitaram os ingredientes aqui disponíveis,
mais, vivos, como no caso de lesmas e baratas. Assim, seguidamente combinando-os de forma diversa à da
a comida ocupa uma posição-chave também como sociedade envolvente, o que resultou na elaboração
de uma cozinha ritual própria.
elemento diferencial entre categorias de seres do
Como mencionei acima, Ogum apropriou-se
mundo natural e do sobrenatural, no contexto do do churrasco (e com farinha de mandioca, tal como é
batuque, caracterizando-as e acentuando as servido na mesa rio-grandense) sendo que a erva-
fronteiras simbólicas entre eles. mate é oferecida aos eguns em forma de “mieró”, um

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caldo de ervas, todos contribuição indígena. A batata hoje, de grande porte, dúzias e dúzias de pratos.
inglesa, popularizada pela colônia alemã, é uma das Casas, como a da mãe-de-santo San nha do Ogum,
comidas preferidas do Bará, enquanto que Oxum em Porto Alegre, possuem duas cozinhas, uma para “a
gosta da italiana polenta frita. Quanto à contribuição religião” (como denominam o batuque) e outra para o
portuguesa, os mesmos eguns gostam de arroz dia a dia.
cozido com galinha. Ao Bará e ao Ossanha, é A responsabilidade, na confecção das
oferecida também linguiça. comidas de obrigação, é muito grande, razão pela
Certos templos acrescentam feijões pretos qual cada casa de religião tem uma cozinheira
crus ao opeté – um bolinho de batata cozida Polenta especializada, geralmente mais velha. Vivaldo Costa
frita – apreciado por alguns orixás. Outros pratos Lima (1977), referindo-se ao candomblé baiano,
aparecem, também, como o sarrabulho (guisado de assinala, entre outras importantes observações, que
vísceras), como oferecidos a todos os orixás, cabendo a cozinheira, lá denominada de “iabassê”, tem de ser
aqui alguns comentários. velha o suficiente para não mais menstruar. Tanto na
Primeiro, é que se observa que o universo da religião baiana como na gaúcha, uma mulher
cozinha ritual batuqueira é uma espécie de amostra menstruada de forma alguma pode preparar
da culinária de cada uma das chamadas etnias alimentos rituais.
formadoras principais da população gaúcha, tal como Outras caracterís cas das chefes da cozinha
uma radiografia desta. Isto, de um lado, ajuda a ritual são ser muito atentas, responsáveis e com
assinalar o caráter regional do batuque diante de boa memória. A importância de tais fatores é porque
outras religiões congêneres, como o candomblé; e de os alimentos de cada orixá devem, obrigatoriamente,
outro, denuncia a considerável integração de seus ser confeccionados com os ingredientes, medidas e
devotos (e consequentemente, da religião que animais certos, do contrário poderão sobrevir
pra cam) ao ambiente sociocultural rio-grandense. problemas. Nas solenidades rituais de templos
Segundo: os deuses Ogum, Bará (sob o nome da maiores, o número de animais sacrificados, entre
Elegbara ou Legba), Oxum ou os eguns (mortos) são quadrúpedes e aves, pode chegar a centenas. Como
conhecidos e cultuados em pra camente todos os foi dito, o orixá exige animais de certas cores e
locais de influência jêje-nagô: África, Américas, mas o caracterís cas. Fica fácil saber qual animal deve ser
único lugar no mundo, exatamente, onde essas preparado para tal orixá enquanto está com a pele ou
en dades comem tais alimentos é no Rio Grande do penas, mas sem estas as coisas ficam di ceis. A
Sul. cozinheira, então, tem de ter muito cuidado no
sen do de não trocá-los, normalmente valendo-se de
Categorias alimentares e iden tárias pequenos pedaços de papel escritos com o nome do
orixá a que o animal é oferecido, que são grudados
O filiado ao batuque classifica os alimentos em sua carcaça. Como veremos, dar um animal ou
em duas categorias: as comidas de obrigação e as alimento trocados para um santo pode ser entendido
comidas brasileiras. Brasileiras são todas as que não por este como grande desaforo, provocando-lhe
se preparam com fins rituais, mesmo que possam ser muita raiva contra o ofertante do animal, a cozinheira
usadas ritualmente, como é o caso do churrasco, ou relapsa e também o dono do templo.
u lizadas como oferenda às almas dos mortos. Conquanto seja uma religião de pobres, o
Essa idéia de brasileiro e não-brasileiro ritual do batuque tem alto custo de manutenção,
aparece em outras expressões, remetendo para as justamente pela necessidade de sacrificar muitos
questões iden tárias do grupo: as pessoas dizem animais e confeccionar dezenas de pratos rituais. Nas
pertencer à religião “africana”; o termo “festa” cidades gaúchas, há um mercado de animais
significa, automa camente, cerimônia litúrgica, des nados especialmente à religião, sendo comum
enquanto que uma fes vidade qualquer, “civil”, é estabelecimentos colocarem placas como “vendem-
chamada de “festa brasileira”. Tudo isso parece indicar se bichos para a religião”. Os comerciantes do ramo,
que, consciente ou inconscientemente, se que conhecem bem tais detalhes, cobram alto preço
autorrepresentam como não-brasileiros ou por esses animais, acima do valor normal do quilo. Um
estrangeiros, talvez reflexo do status de exclusão da sacerdote, assim, tem de fazer muita economia ao
cidadania que o negro con nua tendo até hoje no longo do ano para poder promover as solenidades
Brasil. rituais de seu templo.
A necessidade de confeccionar um grande Os filiados a uma casa de culto também
volume de comidas determina que seja reservado um contribuem para as solenidades, mas sua parte quase
bom espaço para as instalações da cozinha. E ali sempre é menor. É muito comum que os chefes ou
encontraremos panelões, fogões a lenha e ou a gás, outros iniciados, solidariamente, ajudem os mais

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pobres a darem de comer a seus santos, dividindo estamos em presença de pratos étnicos, digamos,
sangue de seus animais com os orixás deles. No dia da que devem ser ingeridos de forma também étnica,
festa, todos – visitas, seja quem for – comem sem sem talheres, e por certo po de pessoas. Consumir,
pagar um tostão, sendo que casas de porte maior assim, determinado alimento, e de certa forma
podem reunir quatrocentas pessoas em uma única especial, corresponde também a uma expressão
cerimônia. Um detalhe importante, quanto à linha simbólica que iden fica categorias sociais, não
cruzada e à umbanda branca, referidas, é que os
apenas quanto ao interior do templo (prontos/não-
alimentos oferecidos a caboclos, pretos-velhos e
prontos), mas também com relação à sociedade
exus são de custo muito baixo. Tal fator vem também
inclusiva: batuqueiro/não-batuqueiro.
favorecendo o grande crescimento da primeira e a
diminuição das casas do denominado “batuque puro”,
ou seja, o que cultua apenas orixás. Como se não Arte culinária e religião
bastasse, cada um leva para casa um pacote – o
mercado – onde há pequenas porções das principais A arte é uma das expressões humanas mais
comidas preparadas. Comer dessas comidas é an gas, comuns e importantes nas culturas. As
sacralizar-se. Levar o mercado consigo permite pessoas estabelecem pactos com en dades
estender tais bene cios aos familiares que ficaram sobrenaturais, oferecendo homenagens em troca de
em casa e, de certa forma, estender o poder do axé proteção. Entre os pos de homenagens aos orixás,
para vários pontos da cidade. no caso do batuque, estão as danças, cân cos e
A lógica que comanda a ação de doar, aqui, é toques dos tambores, a decoração do templo e a arte
oposta à ocidental capitalista: nesta, tem pres gio culinária, elementos que atraem os deuses para vir ao
quem acumula bens. Na visão batuqueira é o mundo dos humanos – a possessão. Sobre a culinária,
contrário: tem pres gio quem distribui, porque se o
as en dades sobrenaturais também a degustam,
faz é porque pode. Por trás dessa lógica, há uma razão
embora simbolicamente. Não se trata, simplesmente,
mís ca: o êxito de um templo e de seu dirigente é
atribuído ao seu orixá protetor. Ter condições de dar de fazer a comida, mas sim, esmerar-se ao máximo
uma grande festa com muita comida, então, é algo para que cada prato tenha o melhor sabor e
percebido pelos seguidores do batuque como apresentação possíveis, seja os oferecido aos
demonstração cabal de poder por parte do orixá humanos e aos orixás ou somente a estes – eis os
deste e, simultaneamente, da excelência e eficácia principais fatores da arte culinária batuqueira.
ritual do dono da casa, que tem habilidade para Uma das oferendas culinárias que chamam
u lizar tal poder para sa sfazer a clientela, que lhe atenção, pelo tamanho e decoração, são os bolos. É
paga bem. E esse pres gio, é claro, projeta-se interessante que há pessoas que não apenas vivem
também para os freqüentadores do templo. Pois, de fazer tais quitutes, com sabem muito bem o po de
pergunta-se: qual iniciado não se orgulhará em decoração que deve ser feita para tal ou qual orixá, o
pertencer a um templo desses? É válido supor, então, que deve obedecer a seus símbolos e cores.
que esse jogo que tem por base a confecção e Por exemplo, um bolo oferecido ao Ogum,
distribuição suntuosa de comidas, nas festas públicas
padroeiro do templo da sacerdo sa San nha do
do batuque, está inscrito nos vetores de pres gio e
Ogum, em Porto Alegre, em certa ocasião, nha a
poder, humano e espiritual, que marcam as relações
sociais no culto. cobertura em cor verde e os detalhes da decoração
O momento principal de consumir os em vermelho, além de duas espadas e cobras - cores e
alimentos, nessas festas, é uma cerimônia cole va e símbolos deste orixá. Também havia cestas
pública chamada “mesa-dos-prontos” (iniciados em cuidadosamente decoradas, com balas e bombons
grau maior). Uma grande toalha é colocada no chão e que são jogados pelo orixá do sacerdote, para o
sobre ela depositam-se pratos com todos os pos de p ú b l i co p re s e n t e , e m ce r t o m o m e n t o d a s
comidas rituais confeccionadas. Os prontos, solenidades. As alças e corpo das cestas eram
ajoelhados à sua volta, devem comer um pouco de recobertas com fitas coloridas e pequenos búzios e
cada uma delas. Pessoas não iniciadas ficam apenas seu conteúdo embrulhado com invólucros com as
assis ndo. Comem com a mão. cores das en dades às quais foram oferecidas: num
Uma rápida incursão por uma antropologia do cesto, vermelho e branco (Xangô), sendo os bombons
alimento vai nos levar a pensar, quanto a um prato vermelhos e amarelos (Xangô e Oxum,
específico, sobre quem o faz, como faz, com quê, para respec vamente). Num segundo, decorado como o
quem, como e quando é consumido. No caso, outro, as cores eram o verde e o vermelho, tal como

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os bombons (Ogum), enquanto que num terceiro, o imagem deste no espelho: reversa. A diferença se
roxo dominava em tudo (Xapanã). traduz pela existência de uma infinidade de detalhes
em que as oposições simbólicas entre ambos são
As danças e a culinária ritual d i a m e t r a i s e b e m e x p l i c i t a d a s . En t re t a i s
procedimentos não alimentares de separação estão o
Encerrada a mesa, começam, ao som de ato de dançar com sapatos, a roda de dançantes
cân cos e tambores, as danças rituais. A coreografia andar para a frente e para trás, o som dos tambores
expressa as caracterís cas mís cas atribuídas aos soar chocho, pois suas cordas de amarração são
orixás, e duas dessas danças fazem referência à afrouxadas e estes instrumentos permanecerem em
culinária. Uma delas é a da Oxum Docô, uma velha, pé, sobre um dos couros, nestas datas. Em função do
cujos gestos sugerem alguém que, tendo uma vasilha perigo representado pelo egum (que é, ademais,
num braço, faz como se nele misturasse massa de muito exigente), detalhes mínimos são obsessiva e
farinha com a outra mão: “É a Oxum, mexendo o fubá rigorosamente seguidos. O falecido sacerdote e
dela”. Outra, de Obá, imita uma pessoa que, em pé, tamboreiro Ademar do Ogum me relatou caso em que
es vesse batendo um pilão, algumas pessoas os integrantes de um templo resolveram “despachar”
dizendo que está “fazendo as fei çarias dela”. (mandar embora), junto com os demais restos, os
Um aspecto importante dessas danças é que alimentos não cozidos – arroz, feijão etc. – que
coloca diante dos olhos humanos, através de nham sido comprados para a ocasião, mas não
drama zação, o universo espiritual batuqueiro. Essa preparados. Disse achar aquilo “uma loucura”, pois
visualização constante, a cada festa, permite que tais nha certeza de que o morto iria logo se manifestar,
representações cole vas sejam, também irritadíssimo (e, portanto, ainda mais perigoso),
constantemente, reforçadas em âmbito individual e exigindo fogão, bo jão de gás, panelas, fósforos, para
grupal. Os humanos, assim, têm elementos para poder preparar os gêneros alimen cios enviados
imaginar como são os orixás e o que fazem. Em outras indevidamente crus. E não foi por menos, contou, o
palavras, contribuem para a persistência da tradição, egum não sossegou enquanto não lhe despacharam
elemento em torno do qual, em úl ma análise, o estas coisas. Tal detalhamento funciona como balizas
grupo se perpetua e reproduz. E nesse contexto, mais que mapeiam os territórios não apenas quanto ao
uma vez, observa-se a presença do alimento. mundo dos orixás e ao dos mortos, mas também
quanto ao destes e ao dos homens. E o alimento
A comida no culto aos mortos aparece, aí, novamente, como um importante fator no
estabelecimento de tais diferenças.
As cerimônias de culto aos mortos, chamadas Assim como nas cerimônias para os orixás,
“aressum” ou “missa-de-eguns”, também implicam sacrificam-se vários animais para os eguns. O sangue
num grande consumo ritual de comida. Os espíritos é ver do em um buraco feito sob uma casinha – o
são especialmente chamados para o fes m, que balé – nos fundos do templo de batuque. A carne dos
compar lham com os humanos, apenas. Essa animais também é cozida, e com ela, além de outros
par cipação, entretanto, não é total, como entre ingredientes, são confeccionados alimentos próprios
pessoas e orixás, pois, embora seja o mesmo alimento para a ocasião. Muitos desses pratos são quase
que ambos comem, os respec vos recipientes são idên cos aos dos deuses, não fora a troca de certos
rigorosamente separados. Isto se deve ao extremo elementos. Diferentemente das festas de orixás, as
perigo representado pelo egum que, sen ndo-se carcaças das ví mas são cortadas longitudinalmente,
solitário, tenta levar consigo tantos quantos possa de sendo a metade direita reservada para os humanos e
seus an gos companheiros de religião. E ele detém a esquerda para os mortos.
poder para tanto, especialmente nessas ocasiões em É preparado “tudo o que a boca come”, o que
que valem oficialmente as suas regras. Par lhar inclui as mais variadas comidas “brasileiras”,
efe vamente com o morto uma mesma porção de especialmente aquelas de que o morto mais gostava.
alimento seria apagar a fronteira morto/vivo, Os pratos rituais – indispensáveis, pois marcam o
assumindo a condição de seu igual, o suficiente para caráter específico das cerimônias – são o “fervido” e o
ser “levado”. É importante, então, conservar bem viva arroz com galinha, feitos apenas nesses momentos e
a separação entre as duas categorias, mas, por evitados em outros, pois considerados “comidas de
questão tá ca, para não irritar mais o egum, manter egum”. Comê-los em ocasiões não-rituais é expor-se
uma aparência estratégica de comunhão. ao perigo do egum, pois não há o controle ritual sobre
A “missa”, graças a tais procedimentos, é um estes, como ocorre no aressum. Batuqueiros mais
an -ritual em relação ao dos deuses, como que uma ortodoxos recusam-se taxa vamente, fora das

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ocasiões prescritas, a comer risoto de galinha, prato fazem a iniciação ingressam, automa camente no
de origem italiana muito popular no Rio Grande do que chama de família de santo, adquirindo um
Sul, pois mistura arroz e a carne dessa ave, tal como a parentesco ritual: mãe, pai, filho, irmão, sobrinho etc,
comida dos mortos. “de santo”. Muitas vezes, um templo de culto é an go,
Os alimentos da mesa de eguns, colocados tem meio século ou mais de fundação e as pessoas
diretamente no pavimento do salão das cerimônias, que aí se iniciaram permanecem, seguidamente, boa
são acompanhados por pratos e talheres, para que o parte de suas vidas nele. Sempre digo que estes
morto possa comer. Embora, como disse, se usem templos são locais de sociabilidade, proteção sica e
apenas as mãos nas refeições cerimoniais do espiritual, forjamento de iden dades, aprendizagem
batuque, aqui há comidas brasileiras – e aí a razão dos ritual. A ligação afe va entre filhos de santo e seu
talheres. chefe, que muitas vezes dura várias décadas, é muito
As comidas dos vivos são idên cas às grande. O sacerdote é alguém que normalmente
oferecidas aos mortos, mas colocadas em outros conhece seu filho de santo a fundo, seus
recipientes e em locais mais elevados, no quarto de sen mentos, problemas mais ín mos, caráter, sendo,
santo, onde os implementos rituais são guardados, a da mesma forma, um confidente para o qual são ditos
separação espacial simbolizando as diferenças. segredos que nem os familiares consanguíneos da
Se em vez do ritual anual de eguns for um pessoa sabem. Também, pelo longo tempo de
enterro, um prato de arroz com galinha ou fervido é convivência há ligações de amizade profundas do
colocado sob o caixão, que permanece no centro do indivíduo com muitos de seus irmãos de santo.
salão de cerimônias no templo. Na visão do culto, Quando se pensa, antropologicamente na
comer, mesmo por distração, qualquer porção dos questão do egum, as a tudes que lhe são atribuídas,
alimentos des nados ao egum, como referi antes, é como a teimosia em con nuar convivendo com o os
expor-se a uma morte certa. Contam-se vários casos seus an gos companheiros de templo e sacerdote, a
de gente que morreu subitamente por ter come do solidão que sente, tudo isto poderia ser explicado
tais infrações, como o da menina que, por ter comido pelo enorme impacto que sofreria com a ruptura
“só uma pipoquinha do egum, não viu clarear o dia”. causada por sua morte. E esta é aplacada por uma
Na missa são servidas bebidas alcoólicas, falsa volta ao an go ninho (pois é expulso, no fim da
rigorosamente proibidas em rituais para os orixás. O cerimônia) em que a comida é o atra vo principal.
clímax da cerimônia é o “café”, um café com leite Finalizando o parêntese: terminada essa
acompanhado por sanduíches, bolinhos, goiabada, parte do ritual, é feita uma limpeza espiritual nas
pão, biscoitos, o que se quiser. No centro da mesa, pessoas e na casa mortuária, o que consiste em
oferecidos ao morto, são colocados pequenos pratos esfregá-las com aves vivas e um pacote contendo
com porções dos mesmos alimentos des nados às milho torrado (do Bará) entre outros materiais. Aqui
pessoas. Estas ficam ao redor. Cada par cipante, temos, novamente, a presença de certos alimentos
ombros ou braços tocando nos vizinhos, fica de pé em que, por pertencerem a orixás, têm o poder de
frente à xícara que lhe é des nada, podendo comer eliminar o contágio do morto. Em seguida, tudo o que
com calma, até fartar-se. Mas não pode deixar restos, não foi consumido é colocado em sacos e levado para
pois o egum imediatamente irá comê-los, isto, no a água corrente.
dizer da religião, correspondendo automa camente à É possível se fazer, ainda, outras observações.
morte do dono dos restos. O oficiante espera que Uma delas é que a comida tanto é fator chave para
cada um termine e, a um sinal seu, todos dão um atrair o morto como para afastá-lo, remetendo-o à
pequeno pulo, afastando-se subitamente da mesa. O comunidade de seus pares. Mas sendo-lhe oferecida
ato faz parte de uma série de procedimentos anualmente – isto é, trazendo-os novamente de volta
simbólicos correlatos, no aressum, que obje vam –, permite que par cipem da sociedade dos vivos.
fazer o morto entender que não pertence mais a este Sendo chave da rejeição e da atração, ela, em úl ma
mundo e que deve se juntar a seus iguais. Aí está, por análise, também exorciza a morte-ex nção, pois
exemplo, o significado de todos ficarem apertados à mostra que há uma comunidade depois dela, a
volta da mesa, e do pulo: impedir, primeiramente, que sociedade dos mortos.
o egum se junte aos que estão nela (porque não há
espaço); e depois, deixam-no sozinho. Negam-lhe, As comidas sagradas
assim, o direito e a alegria de compar lhar, com seus
an gos companheiros, das refeições litúrgicas Os principais pratos rituais do batuque são:
comunais. Acaçá – Oferecido a Oxalá. Coloca-se milho de
Faça-se um parêntese. O antropólogo baiano canjica branca de molho. Ao amolecer, é ralado em
Vivaldo da Costa Lima considera que as pessoas que uma pedra até transformar-se em pasta. A massa é

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enrolada em folhas de bananeiras e cozida no vapor. alimento esteja presente, porém, as a vidades são
Só os orixás comem. apenas interrompidas, tendo con nuidade, dias
Acarajé – É um bolinho de feijão “miúdo” frito em depois, a par r do ponto em que parou. O amalá, por
azeite-de-dendê. Para Oxum, é necessário descascar pertencer ao comandante.
o feijão, bastando, para que solte a casca, deixá-lo de Os Bêjis (gêmeos) recebem amalá idên co,
molho por algum tempo. Para Iansã é preparado com mas com caruru, outro vegetal.
casca. Ralam-se os grãos em uma pedra. Podem ser Aorô – Massa de acarajé sem casca que se leva ao
oferecidos tanto aos humanos quanto aos orixás. Um forno em forma de bolinhos. Depois de assados são
aspecto interessante é que as pessoas ocultam-se moídos, a eles se adicionando dendê, sal e, por cima,
dos olhares alheios quando batem o acarajé, pois folhas de couve picadas. Há pessoas que o oferecem
acredita-se que a massa pode “desandar” se outros a Oxum, enquanto outras dizem que é para eguns.
“botarem os olhos em cima”. Atã – Há dois pos de atã. O primeiro se oferece
Alelé (ou olelé) – É a mesma massa do acarajé posta a apenas para os orixás, sendo água com algumas gotas
cozinhar no vapor e enrolada em folhas de bananeira. de limão em garrafinhas decoradas com franjas de
É oferecido a Oxum, sendo que os humanos não o papel colorido. Atualmente já se observam
comem. refrigerantes industriais de limão. O outro po de atã
Amalá – O amalá é um delicioso pirão de farinha de é uma salada de frutas, todas que se quiser, com
mandioca sobre o qual é colocado um ensopado de xarope de framboesa, água e açúcar, servida em
carne bovina picada com folhas de mostarda e todos grandes potes ou panelas, no final das festas rituais,
os temperos que se quiser. Pode ser feito com para todas as pessoas que comparecerem.
camarão ou galinha, subs tuindo-se a mostarda por Pertencente a Ogum, essa bebida centra uma
quiabo, dependendo do orixá a que se oferece. Caso das mais importantes drama zações do panteão do
se coloque repolho, torna-se prato de egum. grupo religioso. A drama zação se baseia numa
Tradicionalmente, por um cas go que recebeu de história espiritual que envolve vários orixás. Contam,
Oxalá, o pai de todos os orixás, Xangô Aganju, o no batuque, que Xangô era comprome do com Iansã,
moço, recebe o amalá numa gamela. Nas bordas do deusa muito sensual. Ele era também servo de Oxalá,
prato, colocam-se seis bananas semidescascadas o Velho, pai de todos os orixás, e como tal
com as pontas molhadas em azeite-de-dendê. Pode encarregado de transportar este orixá nas costas,
ser homenageada, ao mesmo tempo, Iansã, uma das cargo muito honroso. Certo dia, todos os orixás
mulheres de Xangô, acrescentando-se maçãs, que dirigiam-se a uma festa. Ao passar num pon lhão,
pertencem “pra” ela. Xangô vê ao longe Iansã, belíssima e, como se não
O amalá pode ser tanto oferecido para os bastasse, com um prato de amalá nas mãos – a
deuses como para os humanos. É prato obrigatório comida preferida do orixá. Perturbado, ele desanda a
em qualquer solenidade ritual por duas razões. Em correr, deixando o Oxalá cair no barro. Os outros
primeiro lugar, porque Xangô é o “dono do barulho”, orixás vêm em grupo, conversando e não ouvem os
dos instrumentos musicais sagrados, que só gemidos do velho. Mas o Ogum, que vinha mais atrás,
funcionarão adequadamente se o seu dono es ver recolhe o Oxalá e coloca-o às costas. O pai de todos
sa sfeito, alimentado. Em segundo lugar, é porque está furioso! Como primeira medida elege
Xangô Aganju, orixá portador de uma espada e uma imediatamente o Ogum como seu servo e, ainda mais,
balança, no Rio Grande do Sul e associado a São ra Iansã de Xangô e entrega-a para o primeiro.
Miguel, é do como “comandante dos mortos”. Tal Finalmente condena Xangô a comer em uma gamela
função possivelmente se deve ao fato de um dos – uma humilhação, visto que todos os demais orixás
maiores cemitérios de Porto Alegre ter o tulo de comem em pratos de barro.
“São Miguel e Almas”. Se es ver em curso, por Ogum, guerreiro e ferreiro, leva Iansã para sua
exemplo, qualquer solenidade, pequena ou grande, casa, no mato, onde tem sua ferraria. Mas Xangô, que
para os orixás, não houver amalá no chão e morrer mora numa pedreira próxima, de forma alguma se
alguém da família de santo do templo, mesmo que em conforma com a situação. Então, do alto da pedreira
outro local, a festa é “quebrada”, suspensa, porque o ele canta, chamando Iansã e dizendo-lhe que
espírito do morto, na crença batuqueira, com certeza embebede Ogum para fugir com ele, Xangô, o que ela
virá para a festa. Por isto, tudo o que foi feito não vale faz. Mas a fuga é descoberta, os fujões são
e precisa ser refeito adiante. A presença deste perseguidos e há lutas, pois todos os três são
alimento, porém, garante que o morto não se guerreiros.
intrometa na festa e então esta será apenas O embebedamento de Ogum por Iansã é
interrompida, podendo recomeçar mais tarde a par r drama zado nos finais das festas por ocasião da
do ponto em que parou e recomeçada. Caso o dança do atã, quando garrafinhas decoradas em

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verde e vermelho (Ogum) e branco e vermelho (Iansã), nome de “farinha-de-cachorro”.


juntamente com pequenas espadas, são re radas do Feijão miúdo com canjica – É servido para Obá,
quarto de santo para a encenação. Garrafas são sendo que as pessoas não comem.
entregues a possuídos por Iansã, e as espadas para os Frutas em geral – Vários orixás recebem frutas. De
oguns. Ao som dos cân cos e tambores, então, as maneira geral, as frutas pertencem a Oxum, pois “é a
iansãs, com a tudes disfarçadas, vão levando as dona da quitanda”. As laranjas e as frutas amarelas a
garrafas à boca dos parceiros, mas elas bebem ela pertencem, especialmente. Xangô é o dono das
também. Enquanto isso, eles esgrimem com as bananas; Iansã, da maçã e da pitanga; Obá, do
espadas. A cerimônia termina com a simulação de abacaxi.
uma bebedeira cole va entre os orixás que dançam. Guisado de lingüiça ou carne de tartaruga – Faz-se
Axoxó – Milho amarelo comum cozido na água com um ensopado e serve-se com farofa. Podem comer
sal. Sobre o milho, colocam-se rodelas de coco. Há orixás e humanos. Caso se queira, pode ser servido
pessoas que dizem pertencer a Oxalá, outras a Obá e dentro do casco da própria tartaruga. É comida de
outras, enfim, a Xapanã. É comido por orixás e Ossanhe.
também por pessoas. Milho torrado – Torra-se o milho, adiciona dendê e
Batata doce frita – É oferecida em rodelas, para Iansã, um pouco de sal. Acompanham sete batatas-inglesas
podendo ser saboreada também pelos humanos. sapecadas e igual número de balas de mel. É para Bará
Canjica – Milho cozido em água. Para Iemanjá, deve Lodê, da rua, e exclusivo do orixá.
ser canjica branca refogada na banha e com sal, Milho com feijão miúdo quase torrados – Xapanã.
cebola e tempero verde. Se for para Oxum, passa pelo Não é oferecido às pessoas.
mesmo processo e leva ainda dendê. Para Oxalá, Minhã-minhã – Farinha de mandioca com dendê.
deve ser branca e sem sal. A canjica servida para as Pertence a Ogum; e só orixá come. O nome deste
pessoas é branca, com açúcar e coco. alimento, possivelmente, vem de inhame, um
Churrasco – Tal como se prepara no Rio Grande do tubérculo trazido pelos africanos ou traficantes, para
Sul: carne (de preferência costela) assada na brasa. alimentar os escravizados. Pesquisando na região do
Acompanha farinha de mandioca crua ou cozida Osório, no litoral norte do Rio Grande do Sul, onde
(farofa). É comida de Ogum. muitos escravos trabalhavam nas lavouras de cana,
Cocada branca – Para Iemanjá e Oxalá. encontrei estas plantas, sendo informado que “os
Ecó – Há vários pos de ecó e para várias en dades, an gos” o comiam cozidos em água, na brasa ou em
nenhum deles oferecido às pessoas. Muitas vezes, o forma de farinha.
que é chamado ecó é um conjunto de pratos com Sendo Molocum ou omolocum – Feijão miúdo cozido
ingredientes diversos. O mais comum é o ecó do Bará, e depois temperado com dendê, sal, cebola. Vai
um alguidar com água salgada sobre o qual se tempero verde em cima. Serve-se para Oxum, e é
colocam três ou sete pingos de azeite-de-dendê, prato exclusivo dos orixás.
acompanhado de outro com milho comum torrado, e Nhálas ou nhélas – Comidas exclusivas dos orixás e
três ou sete batatas sapecadas, dendê e três ou sete dos eguns. Fritam-se as asas e pernas das aves
balas de mel. Há pessoas que o fazem, para o mesmo sacrificadas. Acompanha uma bolinha de pirão de
Bará, com pirão de acaçá (referido anteriormente) ou farinha de mandioca. Em caso de orixá do sexo
farinha de mandioca temperada com sal e salsa. masculino incluem-se, crus, os tes culos dos animais
Segundo o pai-de-santo Ayrton do Xangô, outros aba dos. Nas nhálas de egum colocam-se apenas os
orixás recebem ecó – Xapanã: água com carvão, sete membros esquerdos das aves.
pimentas-da-costa e dendê; Iemanjá, água com oito Odum – Torra-se farinha de milho no forno. Se é
pipocas; Oxalá: água, mel e acaçá desmanchado; oferenda para Oxum, vai açúcar, dendê e sal, mas, se é
Oxum: água com mel e oito pipocas; Iansã: água com para Oxalá, não leva dendê. É prato des nado apenas
cinza; Xangô: banana desmanchada em água, farinha aos orixás.
de mandioca e dendê. Tive ocasião de observar ecós Opeté, apeté ou peté – Pasta de batata-inglesa
para eguns com sangue de aves, farinha de milho e cozida à qual se dá a forma que se deseja, de acordo
mandioca, azeite de mesa, pó de café e erva-mate. com o orixá. As pessoas não comem. Observei em
Farofa com ovo e lingüiça – É para o Bará. Vi ser forma redonda ou piriforme para Bará Jelu (de dentro
servido, no templo da babaloa Laudelina do Bará, de casa) e também piriforme para Bará Lodê, da rua. O
para as pessoas presentes. de Ossanhe tem a forma de cabaça, tartaruga ou do
Farinha de Xapanã – Farinha de mandioca pilada com órgão humano do qual se pede cura. Algumas pessoas
amendoim torrado e açúcar. Comem os orixás e as dizem que Iansã come opeté de batata doce. Opeté
pessoas. Esta é uma comida que, no passado, as de Xangô tem formato de pera, leva feijões pretos
escravas vendiam nas ruas de Porto Alegre com o crus fincados nas laterais.

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Orufá – É um opeté especial para Oxum. Faz-se de uma inversão na ordem natural das coisas. A oferenda
batata inglesa e colocam-se duas miniaturas comum, para o “bem”, compõe-se de elementos que o
semelhantes ao lado, que são os Bêjis (gêmeos). Só orixá aprecia e é apresentada juntamente com certos
orixá degusta. símbolos – vasilhas, papéis coloridos etc. – que
Pão – Para Xapanã Velho, associado ao Cristo das servem para que este a iden fique como sua. Na
Chagas. fei çaria, ela é alterada propositalmente quanto à
Pipocas – Para Xapanã e Ogum. forma de preparo, aos ingredientes, à aparência,
Quindim – Oxum. buscando-se uma oposição o mais diametralmente
Sarrabulho – Guisado cozido e temperado de miúdos possível à outra. Dessa maneira, pode-se, por
dos animais sacrificados. Prepara-se para todos os exemplo, colocar sal em vez de açúcar ou mel, farta
orixás e os humanos. dose de pimentas para um orixá que as detesta, azeite
Fervido – Sopão engrossado com farinha de de cozinha em vez de dendê. Ou materiais perigosos,
mandioca e pedaços de carne e hortaliças. É comida como vidro moído ou cacos de vidro, e assim por
de eguns, servida também para os humanos por diante. O oficiante chama o orixá pelo nome e
ocasião das solenidades dedicadas aos primeiros. menciona que tal pessoa – a ví ma – foi quem enviou
Arroz com galinha – É igualmente comida de eguns e a oferenda, sendo que seu nome, para que não pairem
servida nas ocasiões referidas anteriormente. dúvidas, vai em um bilhe nho que acompanha o
despacho. A raiva do deus é extrema – pois diz a
Alimento e fei çaria crença que ele poderá até se “cortar”, como um
humano, com os cacos de vidro – e então ele vinga-se
Na vida do fiel, muitas vezes há a necessidade violentamente do suposto ofertante.
de curar-se de doenças, livrar-se de male cios e Um dos fei ços mais comuns é o opeté preto.
problemas causados ou não por outrem, remover Trata-se de um bolinho piramidal de batata inglesa
empecilhos que surgem em seu caminho. Mas a cozida oferecido ao Bará, tendo a cor natural do
defesa muitas vezes implica num contra-ataque. tubérculo. Para fazer o “mal” confecciona-se um
Outras vezes é necessário um ataque-surpresa ao bolinho idên co, levado à encruzilhada sobre um
adversário para neutralizar suas ações. Em qualquer papel vermelho, tal como se faz normalmente. Mas
desses casos estamos, já, nos limites pouco ní dos do desta vez o bolinho é rolado em pó de carvão para
campo que se costuma chamar de fei çaria. É nestas que fique preto. Uma vez encontrei um abacaxi (que
ocasiões que tanto os orixás como os eguns são pertence à deusa Obá) crivado de lâminas de gilete e
convocados a intervir, sendo que tais intervenções com o nome da ví ma em um buraco em seu interior.
são pagas com oferendas alimentares. Dependendo Tal como no caso do vidro, supõe-se que ela irá se
da maneira como tais alimentos são feitos e cortar ao tentar experimentar o abacaxi. Outro fei ço
oferecidos, tanto uma como outra en dade podem é feito com carne crua enrolada em um boneco
encarregar-se de tais tarefas. É nesses aspectos que “ba zado” com o nome da pessoa visada, sendo o
se percebe que, na sociedade batuqueira, conjunto colocado ao ar livre, no sol. A crença diz que
conhecimento ritual significa poder, e é por isto que à medida que a carne vai apodrecendo, o mesmo
certos segredos – e a fei çaria é o maior deles – são ocorrerá com a pessoa. Outro, ainda, é colocar sal no
cuidadosamente escondidos de possíveis “bori” de alguém, conjunto de objetos sagrados que
concorrentes no mercado religioso. representam a cabeça dos iniciados, o que pode
Os seguidores do batuque são unânimes em provocar-lhes a loucura, segundo o batuque.
dizer que os orixás jamais fazem mal aos humanos, Oferendas de comida também são feitas aos
mas o mais correto seria dizer que não o fazem eguns, para que saiam em perseguição de desafetos.
conscientemente, pois em úl ma análise par cipam
no mínimo indiretamente da fei çaria. Isso ocorre Alimento e saúde
porque, digamos, a personalidade atribuída aos
orixás é marcada por uma contradição: de um lado, Na visão de mundo do batuque, a doença
eles veem tudo, são extremamente justos em suas pode ser “do corpo” – e aí cabe encaminhamento a
ações, conhecem o futuro, dispõem de grande poder médico – ou “do espírito”, com causas variadas. Entre
etc. Mas por outro lado são suficientemente as principais temos a desproteção e/ou o cas go, por
ingênuos a ponto de se deixarem facilmente enganar parte do orixá, quando o seu iniciado não o alimenta
pelos homens. Ou então, porque compreendem a convenientemente; ou em casos de não-iniciado,
fundo a personalidade humana. manifestação de um possível orixá, que deseja que
A comida tem papel fundamental no fei ço, ele cumpra a iniciação. No primeiro caso, a solução é
funcionando com uma pedra de toque que determina o restabelecimento do pacto; e no segundo, o

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estabelecimento. Como foi visto, ambos implicam na batuqueira expressa uma espécie de radiografia da
oferta de alimentos. Mas a doença pode ser causada, sociedade rio-grandense, com suas várias influências
também, por alguém ser ví ma da inveja, do “olho- culturais. Uma terceira conclusão é que o alimento
grande” ou mesmo da fei çaria. Nesta úl ma não delimita apenas territórios geográficos- sicos,
hipótese o mo vo poderá ser um egum, que “se mas também do social e do imaginário: conhecer ou
encosta e como que chupa o sangue da pessoa, que não tal universo culinário específico significa
vai ficando fraca”. Para inveja, olho-grande ou pertencer ou não a certas categorias da sociedade
fei çarias menores, pequenos rituais bastam. rio-grandense (não-batuqueiro/batuqueiro). Mas, do
No templo do pai de santo Ayrton do Xangô, mesmo modo que espelha tais diferenças,
por exemplo, se houver necessidade desses serviços simultaneamente promove igualdades: iden dades
o consulente é encaminhado ao quarto de santo, batuqueiras se realizam também por consumir tais
onde ficam os objetos sagrados. Ali há uma fila de alimentos. Já no espaço intramuros dos templos,
pratos rituais como os citados antes, que o sacerdote dis ngue quem é vivo, morto ou divindade. Ou seja, o
vai passando de cima a baixo, ao longo do corpo do alimento é símbolo de categorias da sociedade
cliente – braços, pernas, girando à volta da cabeça. Se humana e sobrenatural. Uma quarta conclusão é que
for o caso de egum, é feita uma cerimônia chamada ele atua como uma espécie de chave-mestra
“troca”. Parte-se do princípio de que o egum, por ser reguladora, no quadro geral, das relações sociais e
“cego, burro e tapado”, pode ser enganado. O que ele trocas simbólicas entre indivíduos, grupos e
deseja, em úl ma instância, é o sangue da pessoa, instâncias do mundo do batuque – por sua vez
mas, como “não percebe bem as coisas”, é convencido inscrito na sociedade gaúcha: humanos/humanos
a trocar este pelo de uma galinha, tanto mais que a (sejam filiados ou clientes) e entre eles e as en dades
ave lhe será entregue no cemitério, onde “eles sobrenaturais. Isto é, o alimento está subjacente à
moram”. Em casos extremos, tem de se oferecer ao própria essência e existência do batuque, como um
egum um animal maior, que pode ser até mesmo um todo. De fato, nele se ocultam os mistérios da
touro. Mas sempre será indispensável a limpeza natureza humana e divina, o poder e o perigo, os
espiritual, o passar no doente os alimentos sagrados segredos do bem e do mal, da saúde e da doença, da
dos orixás, cujo poder afastará o egum e permi rá o vida e da morte.
restabelecimento da saúde de sua ví ma. Por tudo isso, só posso dar total razão à
saudosa Mãe Estér da Iemanjá quando me disse que
Conclusão “a cozinha é a base da religião”.

Assim, parece que uma simples vista de olhos Referências


na culinária ritual do batuque é suficiente para
permi r algumas conclusões. Uma delas é que o fato CORRÊA, N. F. O Batuque do Rio Grande do Sul: antropologia de uma
religião afro-rio-grandense. Porto Alegre: EDUFRGS, 1992; 2006.
de Ogum, Oxum, Bará e os eguns receberem DOUGLAS, M. Pureza e Perigo. São Paulo: Perspec va, 1976.
respec vamente churrasco, polenta, batatas e erva- FRY, P. Para Inglês Ver. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
LIMA, Vivaldo da Costa. A família de santo nos Candomblés Jeje-Nagôs
mate, já sugere que se trata de uma religião do da Bahia: um estudo de relações intergrupais. Dissertação (Mestrado em
Extremo Sul brasileiro. Outra, que a culinária Ciências Sociais), Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1977.

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