Você está na página 1de 4

ORIGEM

A Jurema Sagrada é uma religião de matriz indígena do Nordeste do Brasil. Surgiu no processo
da colonização e inicialmente era conhecida como Catimbó. Prática essa já existente em nossas
terras antes da chegada dos colonizadores portugueses e dos escravizados africanos no século
XVI, pois os indígenas aqui já estavam.
Essa religiosidade indígena se mistura com o catolicismo popular e também com elementos da
cultura negra, trazida dos índios aquilombados, mas também traz elementos europeus, com a
chegada das bruxas, feiticeiros e velhos alquimistas, que foram expulsos da Europa e jogados no
Brasil, e vieram também judeus primitivos que praticavam a Cabala.
A religiosidade da Jurema tem como tronco central uma árvore sagrada: a Jurema Preta, cujo
nome científico: (mimosa hostiles ou mimosa tenuiflora). Esta árvore, que ao mesmo tempo é
elemento essencial para o preparo da bebida sagrada de feitos transcendentais psicoativos de
mesmo nome, também é elemento mitológico que compõe o centro do mundo encantado das
Cidades da Jurema (que seriam sete cidades, e doze reinos encantadas/espirituais).
Presente em todos os estados do Nordeste, o culto da Jurema, também denominado Catimbó,
Macumba' e Toré, faz parte de um complexo cultural que inclui, principalmente, os Estados de
Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraiba, Alagoas e Sergipe, onde é conhecido mais
popularmente, através destas denominações e, Bahia, onde é encontrado o uso da Jurema no
Candomblé de Caboclo. Pode-se então, constatar que o culto Jurema, caracterizado pela
incorporação de entidades de Mestre e Caboclos e pelo uso ritual da bebida e do fumo,
configura-se como uma prática ritual predominantemente nordestina.
Considerada por aqueles que a utilizam como portadora de um efeito mágico –curativo, o culto
da Jurema distingue-se pelos seguintes aspectos: O transe mediúnico configurado pela presença
de entidades espirituais; ingestão de bebidas e limpeza pelo fumo. Quanto às entidades, é
necessário salientar que podem ser antepassados míticos, ou ainda, espíritos de pessoas que
desenvolveram grande mediunidade sendo, então, reconhecidas como Mestres e Caboclos, para
o caso dos espíritos de índios.

Os estudos realizados até os dias de hoje, concordam no aspecto de que as raízes do culto têm
uma origem indígena, sofrendo, entretanto, ao longo do processo de colonização, influências
europeias e africanas.
No encontro entre estas culturas, teriam sido reformulados os conhecimentos ancestrais, onde
elementos culturais são recolhidos ou conservados, não apenas a nivel material, como também
ideológico, permeado de significação simbólica.
Considerando estes aspectos, o panteão mágico religioso da Jurema compõe-se, de forma
hierárquica, por Reis e Rainhas, Príncipes e Princesas, Mestres e Mestras, Caboclos e Caboclas.
Estas entidades habitam o juremá ou Cidade da Jurema, terra dos " encantados" e espíritos ali
radicados em diversos reinos, sendo os mais conhecidos o de Vajucá, Tigre, Canindé, Urubá,
Juremal, Josafá e o Reino do Fundo do mar.
A cidade da Jurema é representada de forma material, num espaço sagrado, como um quartinho,
onde ficam os símbolos representativos das entidades. Encontram-se, então, os cálices e vasilhas
de louça branca ou transparente, representando os príncipes e princesas.
Aos mestres e mestras correspondem quartinha, alguidar, onde são postos os objetos que os
simbolizam, os quais seriam: pedras, colher de pau, semetes, pilão e etc; o fumo, a aguardente e
os cachimbos.
Aos Caboclos e Caboclas são associados o caldo de cana, vinho preparado com ervas e etc, e o
matiricó, que é um cachimbo fabricado com a raiz da Jurema, como também os outros
fabricados de outras raízes, como angico, coco e etc.
Os juremeiros depositam oferendas no espaço dedicado as entidades da Jurema. E oferecido às
entidades o sacrifico de pombos ou pintos e, às vezes, bichos de quatro pés. Na Jurema
tradicional, o sacrifico não é permitido, sendo oferecidos, apenas, frutas, mel, sucos, vinho,
inhame e carmã (papa feita da mandioca).
O cachimbo e o maracá são os elementos considerados as armas de um juremeiro, as quais são
as mais visíveis materialmente da presença indígena nesta religião. Com forma e metodologia
própria, os juremeiros e juremeiras se utilizam destes elementos de poder e “ciência” para
manipular magicamente o seu mundo. A fumaça é teologicamente uma das forças mais
importantes desta tradição. Ela é a responsável pelo contato com o mundo espiritual e por ser a
forma de poder mais eficaz da tradição, utilizada para todos os fins e desejos.

CATIMBÓ

Até a contemporaneidade, existe uma certa dificuldade em definir a verdadeira origem do


catimbó, se seria pertencente ao politeísmo ou ao monoteísmo cristão. Muitos se acreditam que
possui um pouco de cada religião, o que o torna diferente e até mesmo mestiço.
O que se pode afirmar de sua origem, é que o Catimbó praticado o nordeste difere grademente
das outras religiões de matriz africana, como o candomblé, umbada e etc.
O Chefe do Catimbó é o Mestre, sendo o ritual que comumente pratica muito semelhante às
práticas espíritas comuns.
Entretanto, encontra-se nos catimbós a aparição de espiritos africanos, caboclos (índios), pretos-
velhos. Baixam espíritos de Mestre falecidos, como Mestre Carlos, Indio Pinavarassu e Anabar,
pretos-velhos como Pai Joaquim, etc.
Estas entidades acostam-se durante a Sessão de Catimbó, receitando e aconselhando,
consolando e tratando de todos os filhos fiéis. Os mestres de Catimbó, diferindo dos Babalori-
xás e lalorixás dos cultos africanos, têm, entretanto, a mesma bondade e cuidado com os seus
filhos. Suas práticas são mescladas de feitiçarias africanas e indígenas, rezas católicas e
invocações espíritas.
Os mestres de Catimbó usam defumar seus filhos com a fumaça dos cachimbos, a fim de livrá-
los dos maus fluidos que lhe causavam algum problema ou dificuldade, seja na saúde ou na
vida. Ao baixar das entidades invocadas, são entoadas as linhas – cantos particulares e
característicos de cada mestre – os quais descrevem sua vida.
O catimbó se caracteriza pela sua simplicidade nos ritos de trabalho, funciona como um
consultório abstrato que tem como objetivo ajudar aqueles que mais precisam de ajuda de algum
modo, e até mesmo os simpatizantes com o rito.
No Catimbó, os que acostam são catimbozeiros falecidos. Não há um só Mestre que não tenha
vivido na Terra. Nas Macumbas e Candomblés passa o sopro alucinante das potestades
africanas deuses nascidos misteriosamente, com poderes espantosos.
Tudo no Catimbó se faz com a Linha da Licença, onde se fala: "com o poder Jesus Cristo,
vamos trabalhar". Das centenas de orações recolhidas nos arquivos catimbozeiros, nenhuma
alude a um encantado e infalivelmente a Deus, Santíssima Trindade, Santos, às Almas. O
espírito é religioso, formalístico, disciplinado, respeitoso da hierarquia celestial.

PAJELAÇA E TORÉ

O Toré vem de origem ameríndia, onde as pessoas buscam remédios para suas doenças,
procuram conselhos com os caboclos que baixam. O Mestre defuma, receita, aconselha.
Certamente, é o mesmo Catimbó dos arredores dos grandes centros nordestinos, onde os
destituídos de melhores condições financeiras procuram-no como oráculo, para ajuda-lo a
resolver as pedegas.
Quando asseguramos que o Toré é o mesmo Catimbó, Paje-lança, Babassuê ou a Encanteria do
Piauí, fazemo-lo porque neste imenso Brasil as denominações de uma cerimônia variam de
região para região. Em Alagoas, por exemplo, na foz do Rio São Francisco, em Piaçabuçu, o
Toré é o mesmo, mesmíssimo Catimbó, onde, além das funções medicinais fisioterapêuticas,
são encontrados os elementos fundamentais herdados pelos índios: a jurema e a defumação
curativa. Basta reportar aos estudos para que se veja a semelhança entre o Catimbó, Pajelança,
Ba-bassuê.
No Toré faz-se a procura do nome da moléstia e a adivinhação mágica. Além da defumação,
usam ervas e, dentre elas, se destaca a jurema, em cujos poderes mágicos os sertanejos
acreditam piamente. É, portanto, medicina mágica, onde o seu executor é o Mestre Presidente
do Toré.
No Toré de Piaçabuçu, os Caboclos para baixarem precisam ser chamados na "piana" por meio
de um canto (linho ou linha) e batidas de maracá. O Mestre dirigente do Toré não usa vestes
especiais, a não ser um cocar de penas, chamado por ele de capacete de índio.
Os Mestres e membros do Toré se reúnem às quartas-feiras e sábados, logo após o sol se pôr. É
uma reunião denominada chamada. Após a reunião em que várias pessoas tomam parte (15, ou
mais), há uma outra, que é o "trabalho da ciência", assistido apenas por cinco ou seis membros
mais importantes, ou melhor, mais adiantados no trabalho. A este serviço de mesa os não
iniciados são proibidos de participar, a não ser aos que tenham "sangue de índio. Há outra
reunião, as vezes anual, que é a do banquete dos maracás, da qual só os antigos membros podem
participar, reservada exclusivamente para os provados frequentadores (filho dos filhos de
aldeias). Tais práticas e outros traços culturais deixados pelos índios como, por exemplo, a
fitoterapia, podem ser constatados na região do baixo São Francisco.
Uma das características do atual Toré, que se relaciona bem de perto com as crenças indígenas,
é o processo da manifestação dos Caboclos, no terreiro. São chamados lá na aldeia onde
convivem (os vivos), caem em sonolência para poder comparecer onde foram chamados. No
Toré não são invocados espíritos brancos, isto é, espíritos de pessoas que morreram. No Toré
baixam só Caboclos e também alguns juremados. Juremado é o que está nos ares, quando ainda
vivo bebeu jurema ou ao morrer estava sob uma juremeira. O juremado é um espírito em
processo de caboclização (santificação), o que o torna não perigoso como o espírito branco. O
juremado pode frequentar aldeias e descer no Toré.
O dirigente do Toré é o Presidente. Há sempre um ajudan-te, um acólito. Ao Presidente compete
assistir a reunião, enquanto os outros ficam manifestados. O Presidente, o acólito e demais
membros do Toré, do sexo masculino, afirmam não manter contato sexual com mulheres nos
dias que antecedem as reuniões. Isto deve ser observado, para poder pegar o encanto. Também,
nesse dia, não se pode beber bebida alcoólica, e é preciso tomar banho feitos de ervas, para
limpar a matéria que será usada pelos ecatados.
Para ter início o trabalho, nome que dão à reunião, o Presidente aproxima-se da mesa, sobre a
vitrina (copo d'água), coloca sete pingos de vela, "que é o traço que representa do Cristo".
Outras vezes coloca pingos na vitrina para formar a coroa de São Jorge. No Toré há o pedido do
auxílio de Jesus e dos Santos, ao passo que no Candomblé não.
Trabalhando com sete aldeias: Laje Grande, Barro de Touá (que é o massapê), Jurema, Pedra
Branca, Urubá ou Urubatã, Amazona e lemanjá, o Presidente observa na vela que é para Ogum
de Ronda, e o semblante da vela é quem dá o sinal do que vem para enramar, se é contra ou a
favor. Isto é necessário que se faça, porque vez por outra aparece um espírito branco com o qual
precisam ter cuidado. Atira um pouco da água de uma quartinha, reza-se um Pai osso, uma Ave
Mariana, salve Rainha, em intenção dos bons trabalhos.

Você também pode gostar