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Capitulo IV – Catimbó / Jurema IV

No panteão juremista existem vários Mestres e mestras, cada qual responsável por uma
atividade relacionada aos diversos campos da existência humana (cura de doenças,
trabalho, amor...). Há ainda aqueles responsáveis por fazer trabalhos contra os inimigos.
Nas mesas e rodas as representações das entidades relacionadas nesta categoria são as
mais elaboradas, geralmente possuindo o “estado completo” e a jurema plantada; em
especial a do Mestre da casa, aquele que incorpora o juremeiro, faz consultas e inicia os
afilhados nos segredos do culto. Por tudo isso este Mestre é carinhosamente chamado
de “meu padrinho”. Aliás esta característica de independência dos Mestres é que os
tornam muito eficazes e temidos. São entidades que trabalham com magia direita e
esquerda e não estão contidos por critérios ligados a Orixás. Não que os Mestres sejam
desprovidos de justiça e bom senso, ou mesmo superiores a outras entidades e Orixás,
mas o seu trabalho não depende de hierarquias complexas de serem atendidas.
Os Mestres são guias, orixás sem culto, acostando espontaneamente ou invocados para
servir. Cada um possui fisionomia própria, gestos, vozes, manias e predileções. Sâo
muito ligados a sua última vida e às coisas terrenas por isso fazem questão de algumas
peças de indumentária, mas, não tem a teatralidade exagerada das entidades de
umbanda. A fisionomia é uma forma muito característica de se reconhecer um Mestre.
Com um pouco de experiência pode-se reconhecer um Mestre pelos ademanes,
trejeitos, posição das mãos, da boca e forma de andar, cada Mestre tem sua linha, um
canto ou cantiga, de melodia simples. Há Mestres que não tem linha, como Mestre
Antonio Tirano e Malunginho, ambos ferozes. Essa linha era cantada como uma
invocação ao Mestre. Sem canto não ha encanto. Todo feitiço é feito musicalmente.
Alinha é o anuncio e o pregão característico do Mestre.
Cada Mestre está associado a uma cidade espiritual e a uma determinada planta de
ciência (angico, vajucá, junça, quebra-pedra, palmeira, arruda, lírio, angélica, imburana
de cheiro e a própria jurema, entre outros vegetais), existindo ainda alguns relacionados
à fauna nordestina. Para os Mestres relacionados a uma planta que não a jurema, são
estas plantas que têm seus troncos plantados nas mesas dos discípulos.
Por exemplo, a cidade do Mestre angico deve ser plantada em um tronco da arvore do
mesmo nome; as cidades das mestras geralmente são plantadas em troncos de
imburana de cheiro. No caso dos Mestres que têm relação com vegetais, são daquelas
espécies que tiram a força e a ciência para trabalhar. Os que têm relação com animais,
acredita-se que eles possam encantar-se em animais das espécies referidas, aparecendo
em sonhos, visagens e, muitas vezes, assim metamorfoseados quando incorporados em
seus discípulos.
Como oferendas, os Mestres recebem a cachaça, o fumo - seja nos charutos ou
cachimbos , alimentos próprios de cada um e a jurema, bebida feita com o sumo
vermelho retirado da casca e da raiz da jurema e que pode receber outras ervas e
componentes (cachaça, melado, canela, gengibre e outras à gosto). Nos terreiros que
sofreram maior influência dos cultos africanos, é comum o Mestre receber sacrifícios de
galos vermelhos, bodes e muitas vezes de novilhos, mas isto é uma deturpação do culto
da jurema que por suas origens indígenas (caboclos) e católicas não tem a tradição ou
necessidade de sacrifícios em suas liturgias.
Não que isto seja errado ou negativo, mas apenas que não faz parte de suas bases sendo
mais um fenômeno de Umbandização.
Zé Pilintra, Um mistério na umbanda, esse guia que é muito conhecido na
Umbanda,Candomblé e outras, sua primeira aparição foi no Catimbó, onde se fazia
muito feitiço, com muitas cargas negativas, se usava muito vodum, aqueles bonecos
que simbolizavam pessoas, onde se colocava alfinetes nela como se tivesse
maltratando-a .Os guias que se manifestavam nessa religião eram chamados de mestres,
Mestre Zé Pilintra ,por exemplo.
Na Umbanda ele se manifesta tanto na direita(guias como preto velho, baianos, etc..) e
esquerda(exus). Na direita ele vem na linha de baianos e pretos velhos ,fuma cigarro de
palha, bebe batida de coco, pinga coquinhos ou simplesmente cachaça, sempre com sua
tradicional vestimenta. Calça Branca, sapato branco(ou branco e vermelho),seu terno
branco, sua gravata vermelha, seu chapéu branco com uma fita vermelha ou chapéu de
palha e finalmente sua bengala. Gosta muito de ser agradado com presentes, festas, ter
sua roupa completa, é muito vaidoso, os Zé Pilintra ,tem duas características marcante:
Uma é de ser muito brincalhão ,gosta muito de dançar, principalmente chachado, gosta
muito da presença de mulheres, gosta de elogia-las ,etc...
Outra é ficar mais sério , parado num canto assim como sua imagem, gosta de observar
o movimento ao seu redor mas sem perder suas características.
Agora quando ele vira para o lado esquerdo, a situação muda um pouco ,em alguns
terreiros ele pede uma outra roupa, um terno preto, calças e sapatos também pretos
,gravata vermelha e uma cartola,fuma charutos ,bebe marafo, conhaque e uísque ,até
muda um pouco sua voz. Em alguns terreiros ele usa até uma capa preta. E outra
característica dele é continuar com a mesma roupa da direita, com um sapato de cor
diferente, fuma cigarros ou cigarilhas, bebe batidas e pinga de coquinho,e sempre muito
brincalhão, extrovertido.Trabalha muito com bonecos, agulhas, cocos, pemba, ervas,
frutas, frango, velas, etc..
Seu ponto de força é na porta do cemitério, pois ele trabalha muito com as almas, assim
como é de característica na linha dos pretos velhos e exus. Sua imagem fica sempre na
porta de entrada no terreiro, pois ele é quem toma conta das portas ,das entradas ,etc...
É muito conhecido por sua irreverência, suas guias pode ser de vários tipos, desde
coquinhos com olho de cabra até vermelho e preto, vermelho e branco ou preto e
branco. Além dos caboclos e dos Mestres, vêm na jurema, mas com menos freqüência
os pretos-velhos e pretas-velhas. Espíritos de velhos escravos africanos, peritos em
benzeduras e nos conselhos que dão a seus “netinhos” dos terreiros. Temos aqui, talvez,
uma influência da umbanda sobre o custo juremista. Contudo a influência dos cultos
africanos é mais bem expressa na incorporação dos exus e pombagiras ao panteão. Na
jurema eles aparecem como servos dos Mestres ou como Mestres menos esclarecidos
e mais propícios aos trabalhos para o mal.
Juntam-se a este panteão os santos da Igreja Católica, que são cumprimentados pelos
Mestres e caboclos e aos quais encontramos referências nas cantigas e nas orações
utilizadas nos fazeres mágicos ensinados pelos espíritos. Também encontramos em
algumas juremas os Orixás do Xangô. Em algumas casas se abrem as giras de jurema
cantando para os deuses de origem africana, depois de saudar Exu. Entretanto as
cantigas são geralmente em português como na umbanda.
È muito comum que os Mestres indiquem serviços a serem feitos com o povo de bunda
grande”, além de saberem quais os seus próprios orixás de cabeça. Junte-se ainda o
Deus supremo, que é sempre saudado pelos Mestres e caboclos: “Quem pode mais do
que Deus?”.
No processo de "evangelhização" imposto aos indígenas brasileiros pelos Jesuítas, a
figura do Messias Civilizador Yurupari, não foi transformada em decalque do Cristo, mas
sim aproximada ao "Diabo" dos católicos, embora os Jesuítas tenham adotado
pessoalmente a sua erva sagrada "Petun" – o Tabaco – , o qual era usado para provocar
transe mediúnico nos Xamãs indígenas (os Payés), transformando o uso dessa "erva
sagrada" em um vício profano que, ao longo do tempo, tornou-se uma praga social
universal. Do mesmo modo, os colonos brancos assimilaram as soluções indígenas que,
na prática, provavam ser eficientes nesta nova terra : trocaram o trigo pela mandioca, o
leito pela rede, o vinho pelo cauim; aprenderam a fumar e começaram a gostar dos
frutos e das filhas desta terra, iniciando a primeira miscigenação racial deste país,
gerando filhos mestiços que foram muito apreciados como elos de ligação das alianças
com as tribos indígenas que os colonos precisavam estabelecer para sobreviver aos
ataques das tribos de nações indígenas inimigas.
Começava aí o sincretismo cultural, racial e social que marcaria todo o período do
descobrimento, conquista e colonização do Brasil e que, talvez, o diferencie de todos os
outros povos irmãos da América Latina. Já o sincretismo religioso ficou por conta dos
descendentes dos indígenas espoliados à medida que viam naufragar a cultura de seus
ancestrais e nada lhes era dado em troca para substituí-la. Assim, sempre que
afrouxados o laço e a peia da "evangelização" católica forçada, a espiritualidade indígena
reaflou e perdurou por um largo período de tempo, quiçá até nossa era, embora desde
então já se apresentasse sincretizada com motivos cristãos, por necessidade de
sobrevivência e ascensão social. Sobre este afloramento "impertinente" de uma
religiosidade indígena que os catequistas católicos pensaram haver suplantado, assim
se expressou Roger Bastide : –"Se excluir a região do Maranhão, onde o (negro)
Daomeano dominou, todo o Norte do Brasil, da Amazônia às fronteiras de Pernambuco
será domínio do índio. Foi ele que marcou, com profunda influência, a religião popular:
"Pajelança" no Pará e Amazônia; "Encantamento" no Piauí; "Catimbó" nas demais
regiões."– Podemos acrescentar que o mesmo se deu, inicialmente, por toda a parte,
como por exemplo no Estado de São Paulo, onde brancos, indígenas e seus mestiços
tiveram estreita convivência e miscigenação, ao ponto da língua Tupi aí predominar
sobre a Portuguesa, até os meados do século XVIII.
Da confusa mixagem de conceitos religiosos expressos no Tuyabaé-Cuaá, no Catolicismo
da Contra-Reforma, na "Santidade" e na Pagelança, mal compreendidos todos de parte
à parte, originou-se o "Encantamento", o culto dos "Caboclos Encantados",
considerados por seus fiéis como espíritos de mestiços indígenas-brancos mais ou
menos cristianizados e que faziam externamente as vezes dos "Santos" católicos, mas
que ainda cumpriam uma função social para a coletividade mestiça indígena, adotando
a divisão tribal em clãs - os "Filhos do Sol" e os "Filhos da Lua" - e que embora ainda
usasse a fumaça da erva sagrada "Petun" ou Tabaco para induzir o transe mediúnico, o
fazia através de Cangüeras ou grandes "charutos" de tabaco enroçados à mão, todas
estas prática religiosas sendo acompanhadas por "pontos" ou "cânticos", melodias
indígenas deturpadas e expressadas em língua portuguesa estropiada.
Da fusão destes novos cultos de Caboclos Encantados com os primeiros aportes isolados
da religiosidade dos negros Bantos, quase sempre escravos fugitivos que encontraram
guarida na Pajelança e no culto dos Encantados, foi que esboçou-se o segundo
sincretismo religioso brasileiro - o Culto do Catimbó.

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