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Capitulo IV – Catimbó / Jurema III

Não se encontra no Catimbó, nas suas práticas e liturgias os elementos das nações
africanas de forma que classificar o Catimbós como uma seita afro-brasileira é um erro.
Mestres não se subordinam a Orixá e fora o aspecto de que certamente ele é, também,
praticado por Negros não existe outra relação direta com a religião africana. Para
aqueles que consideram o Catimbó afro-brasileiro eu apenas pergunto: Onde estão os
elementos Afro-brasileiro?
De fato a mitologia e teogonia do Candomblé é rica e complexa, a do Catimbó é pobre
e incipiente, seja porque a antiga mitologia indígena perdeu-se na desintegração das
tribos primitivas, na passagem da cultura local para a cultura dos brancos, que estavam
dispostos a aceitar os ritos, porém não os dogmas pagãos, na sua fidelidade ao
catolicismo - seja porque o Catimbó foi, mais, concebido como magia do que como
religião propriamente dita, devido sobretudo aos elementos perigosos e temíveis e às
perseguições primeiro da igreja e depois da polícia.
Além dos dogmas da religião católica o Catimbó incorpora componentes europeus como
o uso do caldeirão e rituais de magia muito próximos das praticas Wiccas. Tanto dos
europeus como dos brasileiros o uso de ervas e raízes é básico e fundamental nos rituais.
Cada Mestre se especializa em determinada erva ou raiz.
Não existe Catimbó sem santo católico, sem terço, sem agua benta, sem reza, sem
fumaça de cachimbo e sem bebida, que pode nem sempre ser a Jurema (como eu disse
Catimbó não é o Santo Daime). Em continuidade no tempo, foi da fusão destes novos
cultos de Caboclos Encantados com os primeiros aportes isolados da religiosidade dos
negros Bantus, quase sempre escravos fugitivos que encontraram guarida e proteção na
Pajelança e no culto dos Encantados, que esboçou-se o Culto do Catimbó, mas no qual,
agora, as cerimônias perdiam o sentido de função social da coletividade para
transformarem-se em cultos individuais de satisfação de necessidades pessoais quer de
índios, negros ou mestiços, ainda que de natureza espiritual, curativa ou de ligação com
os antepassados de todas as etnias.
Usando uma mitologia e ritualismo bem empobrecidos, os "altares" do Catimbó
representam a perda de valores iniciáticos dos indígenas brasileiros, que passam a ser
substituídos pela miscigenação religiosa e apresentam, lado a lado, estampas e estátuas
de santos católicos, charutos, aguardente, pequenos arcos e flechas, flautas e chocalhos
indígenas, além de ervas e animais secos, objetos que são portadores dos poderes da
força mística indígena "Mana", da "Benção" Católica e da "Mandinga" Banto, pois que o
"Ase" Sudanês ainda não havia aportado no Brasil. Mas, embora tenham abandonado o
pó de tabaco insuflado diretamente nas narinas para obtenção do transe místico, ainda
existia a lembrança de seu uso ancestral como "erva sagrada", através dos "charutos" e
da "Princesa": nos altares do Catimbó estava a "Princesa", uma cuia de cobre ou
vasilhame raso de barro, a qual sempre repousava sobre um "rolo de fumo", o qual era
cercado por um pano branco que nunca tinha sido e nem nunca seria usado para outra
finalidade, como a atestar sua pureza e santidade.
O conjunto denominado por "Princesa" constituía-se na ligação com o passado indígena,
pois era nela que era moída e infusa a raiz da árvore "Jurema", uma bebida levemente
alucinógena que então induzia a descida dos "espíritos" invocados para provocar o
transe mediúnico, ainda chamado de "Estado de Santidade". Os negros bantos-
congoleses aceitaram esta nova concepção religiosa, sobretudo, em termos de "culto
aos mortos", pois os Pajés e os Catimbozeiros, através dos Maracás e das Cunhãs, dos
Encantados, do Petun e da Jurema, quiçá agora também da "Diamba" introduzida pelos
africanos, comunicavam-se com o "Além", ou seja, o lugar místico e/ou mítico em que
os brancos, os índios, os negros e os mestiços de todos, igualmente situavam a existência
de seus antepassados. Desta adaptação do negro fugitivo ao novo meio ambiente, até
por ser a única opção, nasceram, de acordo com a maior ou menor negritude de seus
participantes, as variações de cultos miscigenados indígenas-cristãos-africanos, tais
como o "Toré", o "Tambor de Minas", o "Babassuê" e o "Batuque".
Entretanto, o Catimbó já prenunciava a futura "Umbanda", apresentando-se dividido
em "Sete Reinos Espirituais" : "Vajucá", "Tigre", "Canindé", "Urubá", "Juremal", "Josafá"
e "Fundo do Mar", e, note-se bem: seus principais Espíritos-Chefes são indigenas
brasileiros : "Itapuã", "Xaramundy", "Muçurana", "Iracema", "Turuatã", as "Moças
d'água" ou "Yaras" e somente muito mais tarde, aparecem alguns "espíritos" isolados
de "catimbozeiros" de descendência africana: pai Joaquim, etc.
A mesa não é apenas um local de trabalho mas o altar onde estaram os objetos liturgicos
e os assentamentos dos mestres. Não existe um padrão e a sua organização e limpeza
será tanto quanto for a do responsável pela casa. Ela tanto pode ser um local limpo com
toalha branca e poucos e bem colocados apetrechos de representação como também
um local saturado dos fundamentos da Jurema.
É nas mesa que estarão representados os mestres, as cidades e os estados, através dos
principes e princesas. Em locais rurais onde existe terreno e espaço os mestres terão o
seu assentamento em arvores ou arbustos, geralmente de ervas que tenham ligação
com o seu fundamento.
Nesta caso o Catimbó em sua essência se assemelha com o Candomblé onde, na áfrica
os Orixás são assentados nas arvores, que são chamadas de Atim do Orixá. No Catimbó
é o mesmo, assim como também, na falta de espaço e mata, o assentamento dos
mestres é resolvido da mesma forma.
Nos centros urbanos, principalmente, em função da falta de espaço nos locais de culto,
troncos da planta são assentados em recipientes de barro e simbolizam as cidades dos
principais Mestres das casas. Esses troncos, juntamente com as princesas e príncipes,
com imagens de santos católicos e de espíritos afro-americanos, maracás e cachimbos
constituirão as mesas de jurema. Chama-se mesa o altar ao qual são consultados os
espíritos e onde são oferecidas as obrigações.
O cachimbo é o instrumentos mágico ritual por excelência do Catimbó. É tão importante
quanto o caldeirão e o Athame na bruxaria, o Adjá no Candomblé e a tuia na Umbanda.
A magia do catimbó vai pelo ar, na fumaça. O Catimbó é uma pratica “enfumaçada”.
Tudo se resolve na fumaça e o Cachimbo e seu fuma, a marca, são os instrumentos que
representam isso.
O cachimbo é elaborado usando materia prima natural. É feito a partir de troncos ou
galhos de arvores sendo principalmente da Jurema Preta, mas cada mestre pode pedir
um cachimbo de sua arvore-raiz ou arvore-fundamento. O cachimbo é entalhado na
madeira sendo na sua forma final tosco, mas, ao mesmo tempo bonito. Não cabe no
Catimbó mestres usando os cachimbos comerciais como acontece ne Umbanda com os
pretos-velhos. Cachimbo de mestre é feito e não comprado!
A elaboração de um cachimbo não é uma atividade corriqueira sendo que é comum
cachimbos que foram feitos por pessoas iniciantes ou sem o poder mágico adquirido
para isso se racharem com os primeiros usos. Como todo instrumento sacro fazer um
cachimbo requer concentração, reza, o uso de algumas ervas ou mesmo, dependendo o
tipo de cachimbo enterrá-lo durante algum tempo junto a raiz de alguma árvore, arbusto
ou planta que tenha significado com o uso a que se destina ou o mestre que o utilizará.
Cada discípulo do Catimbó poderá ter 2 cachimbos, que serão usados por todos os seus
mestres, mas, eventualmente mestres diferentes poderão vir a ter cachimbos diferentes
com um mesmo discípulo. Os dois cachimbos são um para o uso de fumaça às direitas e
o outro às esquerdas.
Ambos os Cachimbos para poderem adquirir sua finalidade ritual, se transformando
assim em um objeto sacro do Catimbó deverão ser consagrados. Este é um ritual simples
onde o Mestre principal da casa deve consagrar os cachimbos para o seu uso pelo
discípulo no Catimbó, diferenciando assim este cachimbo de um outro comum.
O cachimbo de esquerda por requerer um ritual mais elaborado do que o de direita,
bem como um discípulo só poderá ter e usar um cachimbo de esquerda quando tiver
maturidade e evolução do seu poder mágico para poder trabalhar com este nível. Um
cachimbo de esquerda só é usado em ocasiões especiais e normalmente é feito com
secções de galhos ou pequenos troncos de jurema preta, que conservam a casca original
e os espinhos, se possível assim obtê-lo.
Como dissemos os cachimbos são especializados. Assim para os trabalhos normal se usa
o cachimbo da direita e para as mesas abertas às esquerdas ou quando se trabalha na
esquerda, seja mandando ou se defendendo o cachimbo de esquerda é o usado.
Existe ainda um cachimbo especial, chamado estrela, que possui 1 caldeira e 7 canudos.
É um cachimbo de esquerda e muito forte. Somente discípulos antigos e evoluídos em
sua força mágica podem tê-lo.
Os cachimbos são individuais e contém o Axé de cada discípulo e mestre. Não se
empresta cachimbo para outros. O Fumo do cachimbo pode ser o elemento de
defumação do ambiente dispensando assim o uso de defumadores, da mesma forma o
fumo é um elemento muito importante no Catimbó, possivelmente um dos seus maiores
segredos. Os mestres e discípulos terão suas “marcas” que são os fumos especialmente
preparados para o uso do mestre ou da finalidade a que se destina. Assim o fumo de um
mestre, sua marca, é individual e contém além do tabaco, um conjunto de ervas
especialmente selecionadas e preparadas para o seu uso. Não é de bom tom
encontrarmos mestres que fumam para seus trabalhos somente o tabaco comum sem
qualquer tipo de preparo.
Poderá ser dito que o mestre que transforma aquele fumo comum em especial e que
ele pode trabalhar sem as ervas, mas, isto é um absurdo. Considerar isso é jogar todo o
resto fora de forma que também não é necessário as ervas para a cura e tudo o mais, o
elemento vegetal, contém o segredo do Catimbó e não pode ser substituído.
O mestre-discípulo deverá preparar para seu uso, pelo menos 2 tipos de fumos para
serem usados com seus 2 cachimbos. Fumos de direita que contém ervas “frias” e de
bons fluidos e os fumos de esquerda preparados para combater ou gerar demandas.
Não é raro que se tenham mais tipos de fumos para outras finalidades específicas. Assim
podem ser feitos fumos de limpeza astral, fumos para facilitar a invocação de mestres e
encantados, fumos para trabalho de amor, etc..
Como disse o fumo é especialmente preparado pelos mestres e discípulos. Além do
tabaco serão adcionadas folhas secas, cascas e semente de acordo com o uso que quer
para o fumo. com o tempo o discípulo aprende ou é intuído a entender que combinações
deve fazer nos seus fumos criando suas marcas. O processo de preparação do fumo pode
levar vários dias de acordo com a complexidade da formula e em função da dificuldade
de achar e tratar os diversos elementos.
Alguns elementos podem levar dias sendo secos ao sol ou triturados antes de juntá-los
ao tabaco. por exemplo, um fumo de esquerda pode ser preparados com os seguintes
elementos: Comigo-ninguém-pode (muito pouco) - secar e triturar. Raiz de aroeira -
triturar em pedaços pequenos (lascas). Pião roxo - secar e triturar. Guiné piu-piu - secar
e triturar Cravo - triturar até virar pó. Pimenta do reino - triturar até virar pó.
Um fumo de direita, bem “doce” para encontos de amor:- Retirar a casca de uvas
vermelhas, somente a parte mais externa e vermelha, jogar a polpa fora. Colocar a casca
retirada para secar no sol. - Retirar a casca de laranja lima e também secar ao sol.- Retirar
a casca, bem fina, só a parte vermelha de maças vermelhas e colocar ao sol para secar.-
Obter flores secas de camomila.- Alfazema.- Canela em pau quebrada muito miuda.-
Triturar sementes de aniz estrelado.- Pétalas secas de rosa mosqueta.

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