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Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN


Psicologia Jurídica
Dezembro de 2020

ADVOGADOS E SEPARAÇÃO CONJUGAL: ESTÃO PREPARADOS PARA LIDAR


COM OS CONFLITOS?

Bruna Silva Freitas¹


Graduanda do Curso de Direito
E-mail: silvafreitas@alu.uern.br
Maria Beatriz de Alcântara Fonseca ²
Graduanda do Curso de Direito
E-mail: beatrizalcantara@alu.uern.br
Maria Vitória Bezerra de Araújo³
Graduanda do Curso de Direito
E-mail: bezerraaraujo@alu.uern.br
Raimundo Nonato de Medeiros Silva
Júnior⁴
Graduando do Curso de Direito
E-mail: silvajunior@alu.uern.br
Regina Lúcia de Araújo Silva⁵
Graduanda do Curso de Direito
E-mail: reginasilva@alu.uern.br

INTRODUÇÃO

Do nascimento à morte, a vida de todo indivíduo envolve transformações, perdas e


ganhos. Consoante a isso, a ruptura conjugal, ao ser considerado um processo permeado por
ressentimentos, culpas e mágoas, caracteriza-se por ser um período conturbado e de mudanças
extremas na vida familiar. E justamente por se tratar de um momento emocionalmente difícil
e conflitivo para todos os envolvidos, é que se faz necessário, ter o auxílio de um advogado
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que seja competente na resolução das controvérsias para o deslinde do processo, mas que
também tenha a importante compreensão de que o Direito deve ser permeado por humanidade
e não apenas pelo uso da letra fria da lei, pois apenas dessa forma, se pode galgar a tão
almejada garantia constitucional da Dignidade da Pessoa Humana. A esse respeito, a
psicóloga Corinna Schabbel destaca que:
A separação de um casal, quando mal conduzida, pode desagregar toda a família e
extinguir relacionamentos futuros. A ajuda especializada de operadores jurídicos e
não jurídicos não é apenas bem-vinda, mas crucial para a retomada do ciclo de
crescimento das famílias.
O advogado que atua no processo de divórcio não cuida apenas de critérios objetivos,
mas também de questões subjetivas, pois cabe a ele o papel de aconselhar e orientar as partes
ou os mediandos. As habilidades exigidas para este procedimento não são adquiridas somente
no ambiente acadêmico, mas na prática pessoal e profissional. A comunicação, o
conhecimento sobre o comportamento humano e o rompimento com os seus pré-conceitos e
concepções, transformam o profissional do Direito mais apto e mais preparado para lidar com
os conflitos durante a separação conjugal.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O casamento tem como finalidade principal a união de dois indivíduos, cada um em


sua singularidade, dotados de expectativas e interesses que à primeira vista parecem
favoráveis e harmônicos entre si. Contudo, com o decorrer da união, por muitas vezes, estes
tais laços que os uniram anteriormente não se mostram mais da mesma forma, e o sentimento
de felicidade e concordância dá lugar à frustração de expectativas e a discordâncias internas.
É nesse momento que emergem os consequentes conflitos, e o divórcio.
Geralmente, como forma de buscar mediação, e uma solução satisfatória, as partes
envolvidas neste processo buscam o auxílio do advogado, profissional que, em tese, deveria
estar preparado para conseguir lidar com a grande atmosfera emocional que permeia tais
casos, já que desempenha a função de aconselhador, uma tarefa bastante complexa. No
entanto, na formação do advogado, tanto acadêmica, quanto pessoal, poucas vezes, há o
contato efetivo do indivíduo com áreas que o ajudem a desenvolver seu lado humano, que não
estejam voltado apenas à questões simplesmente burocráticas e legislativas, de conteúdos
massivos, mas que o levem a desenvolver uma ótica que também enxergue a questão
emocional que se encontra envolvida em relações conjugais, já que, por vezes, o jurista se
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desenvolve enclausurado no estereótipo intelectual que o título lhe confere, e se priva,


erroneamente, de debruçar-se em outras áreas. Por consequência dessa dinâmica, ocorre a
formação de advogados alheios ao trato emocional e ao comportamento humano, que não
conseguem elaborar uma comunicação efetiva e clara com seus clientes, e que acabam por
projetar em seus casos, suas demandas profissionais, com o objetivo de facilitar o entrave para
si, e pessoais, espelhando na relação envolvida no processo, suas frustrações e experiências
íntimas, se valendo de valores pessoais, saindo totalmente das dimensões do caso.
Fatores como estes revelam a imaturidade e o despreparo com que alguns profissionais
lidam com questões tão delicadas como os conflitos conjugais. Fazendo com que nos
questionemos até que ponto advogados com este perfil poderiam ser úteis, mesmo contando
com juntas multidisciplinares, com participações de psicólogos, por não conseguirem
diferenciar questões pessoais de profissionais, ou assimilarem um problema mesmo sem uma
experiência do sucedido. Questões como essas, são mais diretamente percebidas no Direito da
Família, por se tratar de uma área com vieses emocionais aflorados, e que necessitam de uma
demanda maior de humanidade e apoio psicológico na busca da mediação favorável para
ambos os lados envolvidos no conflito.
Neste sentido, é importante que o advogado desenvolva a consciência de que o seu
papel está intrinsecamente ligado ao papel do psicólogo, além de entender a importância do
seu desenvolvimento pessoal para a construção de um profissional mais humanizado, já que
lidam diretamente com pessoas e suas demandas.

CONCLUSÕES

Percebemos que a formação do advogado enquanto profissional, ainda se encontra


deficitária no âmbito do entendimento das questões emocionais e pessoais referente às partes
envolvidas nas demandas. É notório o desinteresse das instituições de ensino superior de
Direito, pelas disciplinas propedêuticas, fazendo assim, com que muitos discentes passem a
ignorá-las, considerá-las de segunda categoria. E assim, não manterão um contato digno com
seus clientes, que nunca passarão disso, são apenas números, que podem ser transformados
em ganho financeiro.
Inspiram-se muitas vezes, em grandes juristas que, movidos pelo desinteresse ou pela
soberba do título, não se debruçam sobre as áreas de desenvolvimento pessoal e humano,
como a psicologia. Esses profissionais e suas instituições deveriam perceber que, se não
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houver um entendimento multidisciplinar na formação do advogado, o Direito jamais será


permeado pela humanidade necessária para que se consiga a tão propagada garantia
constitucional que é a Dignidade da Pessoa Humana.
Enfim, é necessário conhecimento múltiplo do ser humano, é necessário
principalmente empatia, para lidar com questões como as de Separação Conjugal. O advogado
precisa entender, que muitas vezes, o que as pessoas depositam em suas mãos, não são
apenas, mais uma ação judicial, para essas pessoas, é sua própria vida que está em jogo.

Palavras-chave: Advogado. Separação. Conflitos. Desenvolvimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARPINELLI, C. S. A. .Advogados e Separação Conjugal: Estão preparados para lidar com


os conflitos?. In: III Congresso Ibero-Americano de Psicologia Jurídica, 2000, São Paulo.
Anais do III Congresso Ibero-Americano de Psicologia Jurídica. São Paulo - SP:
Universidade Machenzie, 1999. v. 1. p. 69-72.

SCHABBEL, Corinna. Relações familiares na separação conjugal: contribuições da


mediação. Psicol. teor. prat. [online]. 2005, vol.7, n.1, pp. 13-20. ISSN 1516-3687.

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