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Filosofia
Prof. Daniel Gomes
D. O pensamento de Sartre: "A realidade humana não tem desculpas: somos responsáveis
pelo mundo, porque o elegemos. O homem é o único legislador de sua vida, e a única lei de sua
existência diz apenas: ‘escolhe-te a si mesmo’. Ou então, ‘fazer e, ao fazer, fazer-se’. A cada
momento o homem deve escolher o seu Ser, lançando-se continuamente a seus possíveis e
constituindo pouco a pouco a sua essência, através dessas escolhas, contando, para agir, somente
com a voz de sua consciência"
F. A vida de Sartre: Jean-Paul Sartre nasceu em Paris, em 21 de junho de 1905. Criado pela
mãe e pelo avô, estudou na Escola Normal Superior, onde conheceu a escritora Simone de Beauvoir,
em 1924, com quem estabeleceu uma relação afetiva até sua morte. De 1931 a 1945 lecionou
filosofia em várias escolas secundárias. Recrutado em 1939 para a II Guerra Mundial, acabou
prisioneiro dos alemães entre 1940 e 1941. Depois de libertado, voltou a lecionar e se integrou à
Resistência Francesa, de oposição ao nazismo, fundando o movimento Socialismo e Liberdade.
Após a guerra, aproximou-se dos comunistas. Em 1945 cria com outros intelectuais a
revista Les Temps Modernes, que exerceu grande influência sobre a intelectualidade francesa. Foi o
primeiro diretor do hoje tradicional jornal esquerdista Libération. Em 1956 rompeu com o modelo
socialista russo após a intervenção das tropas soviéticas na Hungria. Na década de 1950 abraçou
o comunismo maoísta – dizendo ser o marxismo “a filosofia inevitável de nosso tempo” – e
posicionou-se publicamente em defesa da libertação da Argélia, da Revolução Cultural da China e
dos movimentos estudantis de 1968. Morreu em Paris, em 1980.
Para Sartre, o homem é um tipo diferente de ser, pois pode pensar sobre sua própria
consciência e sobre o mundo ao seu redor, ou seja, é um ser para si, e não apenas um ser em si.
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Para o homem que se define por sua autoconsciência, existir e refletir são a mesma coisa. A
consciência humana não tem uma essência definida, não tem um criador que tenha dado uma
finalidade a priori para sua vida: “o homem é um ser pelo qual o nada vem ao mundo”. É a
nadificação da existência, digamos.
O que resta ao homem? Sua liberdade, consequência básica dessa constatação. A única
opção é criar. É durante a própria existência que o homem define, a cada momento, o que ele é. Em
outras palavras, o homem constrói os significados de sua vida, seus objetivos, metas, valores, sua
visão de mundo, seu sentido. O homem é o único responsável por seus atos e escolhas, criador de
sua existência autentica. Vivemos presos numa teia de significados que nós mesmos criamos diante
de um mundo que, sozinho, nada significa. Não há nenhuma ética pronta, anterior a nós mesmos
para nos guiar. Não há tábuas de apoio ou pretextos. Por isso, no homem, "a existência precede a
essência".
Sartre tinha plena consciência de como essa filosofia é extremamente angustiante: ao invés
de aceitarmos valores prontos dados pelo Estado, pela Igreja ou por uma tradição qualquer, somos
completamente responsáveis por nossos atos, por nossas escolhas, valores e sentidos. Ao invés de
consumir éticas enlatadas, temos que produzir a nossa própria. Viver é uma escolha: são as escolhas
de cada homem que definirão a sua essência. E mais: essas escolhas podem afetar, de forma
irreversível, o próprio mundo. A angústia, portanto, vem da própria consciência da liberdade e da
responsabilidade em usá-la de forma adequada: “O homem está condenado a ser livre”.
O melhor para sermos felizes, então, não seria assumir um sentido para vida pronto, como
uma religião qualquer ou a busca pelo dinheiro? Não. A filosofia de Sartre defende a liberdade e a
autenticidade de cada ser humano como essenciais, não obstante a angústia que tal liberdade pode
nos trazer. Sartre chama de má-fé a atitude daqueles que, renunciando a própria liberdade,
assumem um papel pronto na sociedade; aqueles que não são sujeitos, mas objetos de suas próprias
vidas.
2. MICHEL FOUCAULT
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e não razão. A linguagem da psiquiatria, que é um monólogo da razão sobre a loucura, só pôde
estabelecer-se a partir de tal silêncio"
Panóptico.
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Foucault mostrou que a atuação do médico sobre o louco só foi possível devido à mudança
filosófica do século XVII. Em outras palavras, a atuação do médico sobre o louco depende menos
de seu conhecimento sobre medicina do que de sua cultura.
Foucault também reflete sobre o sistema penal e a filosofia do poder, que aparecem
amalgamados em Vigiar e punir: história da violência nas prisões. O objetivo do livro era pensar toda
a "tecnologia do poder", que teria surgido no século XVIII. Para Foucault, o domínio no qual se
exerce o poder não é a lei, mas sim a norma, que produz condutas, gestos e o próprio indivíduo
moderno.
Para regular a vida dos indivíduos existe o “poder disciplinar”, empregado em hospitais,
escolas, fábricas e prisões. Para explicar essa nova forma de disciplina e vigilância, Foucault cita o
clássico exemplo do "Panóptico" (literalmente, "vê-se tudo") para prisões. Trata-se de uma
estrutura em forma circular, com uma plataforma de observação erguida no meio. Isso possibilitava
que um observador central espionasse as celas situadas abaixo, ao redor do prédio. Cada prisioneiro
nessas celas estava, então, ciente de que suas atividades eram vigiadas o tempo todo. As celas
possuem uma janela para o exterior, por onde entra a luz, e uma para o interior, de frente para a
torre central, de forma que o vigilante da torre central pode ver os prisioneiros, mas não o contrário.
O efeito do Panóptico é criar a aparente onipresença do inspetor na mente dos ocupantes, "induzir
no detento um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funcionamento
automático do poder. Fazer com que a vigilância seja permanente em seus efeitos, mesmo se é
descontínua em sua ação. O sucesso do poder disciplinar se deve sem dúvida ao uso de instrumentos
simples: o olhar hierárquico, a sanção normalizadora e sua combinação com o exame".
O poder, portanto, é visível, pois o detento sempre verá a torre central, e inverificável, pois
o detento nunca saberá se está de fato sendo vigiado. Sua essência, assim, repousa na centralidade
da situação do inspetor, combinada com as mais eficazes ferramentas para ver sem ser visto. É por
meio dessa técnica que a sociedade regula seus membros. Segundo Foucault, o Panóptico não
apenas aumenta o poder das autoridades, como também induz os indivíduos a internalizarem
aqueles que os vigiam, garantindo o funcionamento automático do poder. “Nossa sociedade não é
de espetáculos, mas de vigilância. Não estamos nem nas arquibancadas nem no palco, mas na
máquina panóptica, investidos por seus efeitos de poder que nós mesmos renovamos, pois somos
suas engrenagens".