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IMPRESCRITÍVEIS.

O Código Criminal do Império, de 1830, dispunha em seu artigo 65 que as


1
penas impostas aos condenados não prescreviam em tempo algum.
Atualmente, a regra é a aplicação da prescrição a todas as modalidades de
infrações penais, inclusive aos crimes hediondos.

Ocorre que, temos hoje na legislação constitucional, os incisos XLII e XLIV 2 ,


que expressam os crimes imprescritíveis, ou seja, os que independente do
lapso temporal, não incidirão a hipótese do art. 107, IV, do Código Penal.
Vejamos:

XLII - a prática do racismo constitui crime


inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei;

XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a


ação de grupos armados, civis ou militares, contra a
ordem constitucional e o Estado Democrático;

A lei 7.716/893 cumpre a regulamentação exigida pela legislação constitucional


referente ao inciso XLII, onde estabelece as normas de punição de
regulamentação às práticas do racismo e outras formas de preconceito,
protegendo igualdade entre os povos/igualdade racial.

Importante destacar a “Lei Afonso Arinos” 4, que foi dado esse nome em
homenagem ao deputado federal Afonso Arinos de Melo Franco, pois foi de
sua autoria a primeira lei brasileira a dispor sobre os atos resultantes de
preconceito de raça e cor.

Noutro norte, temos a Lei 7.170/83 - Lei de Segurança Nacional, que


regulamenta o disposto inciso XLIV da Constituição Federal.
1
Masson, Cleber. Direito Penal Esquematizado – parte geral – vol.1 / Cleber Masson.- 8ª ed.
rev., e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO 2014.

2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm
3
Lei 7.716/89 - Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.
4
Lei 1.390/51 - Inclui entre as contravenções penais a prática de atos resultantes de
preconceitos de raça ou de cor.
Vejamos o que diz Heráclito Mossin e Júlio Mossin 5 acerca da opção do
legislador em estabelecer as regras de imprescritibilidade:

“a razão que levou o legislador constituinte a prever


a imprescritibilidade nas hipóteses apontadas reside
no alto interesse que tem o Estado na repressão
dessas práticas delitivas, independente do espaço
temporal que for necessário para efetivá-la”. (2015,
p. 47)”.

Nesse sentido, considerando que somente a constituição federal trouxe as


hipóteses de crimes imprescritíveis, entende-se que a legislação
infraconstitucional pátria não pode vir a criar outras hipóteses de
imprescritibilidade penal. Isso posto, conclui-se que foi afirmado implicitamente
pela constituição que todas as infrações penais prescrevem.

Nos ensinamentos de Gustavo Junqueira6:

Também diz que é proibido o legislador


infraconstitucional criar novos casos de
imprescritibilidade, pois a Constituição estabeleceu
o rol dos crimes, ao enumerar este rol entre os
direitos e garantias individuais, acabou por deixar
implícito que os demais casos são prescritíveis, bem
como que este rol trata-se de cláusula pétrea, ou
seja, não pode ser alterado por emenda.

Levando em consideração que os crimes imprescritíveis somente são aqueles


expressos na CF/88, O Superior Tribunal de Justiça editou a súmula 415 a fim
de regular as normas de prescrição previstas no Código de Processo Penal,
em seu art. 366, que prevê a suspensão do prazo quando o acusado não é
encontrado para ser citado. Vejamos:

5
MOSSIN, Heráclito Antônio; MOSSIN, Júlio Cesar O. G. Prescrição em matéria
criminal. 2. ed. Leme: J. H. Mizuno, 2015. 292 p.
6
JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz. Elementos do Direito Penal. São Paulo: Siciliano, p.137
Art. 366 do CPP - Se o acusado, citado por edital,
não comparecer, nem constituir advogado, ficarão
suspensos o processo e o curso do prazo
prescricional, podendo o juiz determinar a produção
antecipada das provas consideradas urgentes e, se
for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do
disposto no art. 312.

Súmula 415 - O período de suspensão do prazo


prescricional é regulado pelo máximo da pena
cominada. (Súmula 415, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 09/12/2009, DJe 16/12/2009)

A título exemplificativo, vamos supor que certa pessoa está sendo denunciada
pelo crime previsto no art. 147 do Código Penal, no âmbito da Lei 11.343/06.
Ao expedir o mandado de citação, verifica-se que o réu não foi encontrado,
nem ao menos há alguma informação sobre seu paradeiro. Dessa forma, é
aplicado o disposto no art. 366 do Código de Processo Penal, onde o processo
vem a ser suspenso. Considerando que o delito tem pena máxima inferior a um
ano e que o prazo prescricional se fluirá com três anos, o processo não poderá
ficar suspenso por mais de três anos. Uma vez alcançado tal lapso, volta-se a
fluir o prazo prescricional, em observância ao que dispõe a súmula 415 do STJ.

Nesse diapasão, conclui-se que em regra, a prescrição, seja da pretensão


punitiva ou da pretensão executória, atingirá todos os crimes. Todavia, nos
termos da Constituição Federal de 1988, não se aplica a prescrição em
qualquer de suas formas aos crimes de racismo e aos referentes a ação de
grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático7.

7
JESUS, Damásio E. de. Direito Penal: parte geral. 22ª ed. São Paulo: Saraiva. 1999, v.1, p.724.

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