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Educação & Sociedade Services on Demand

On-line version ISSN 1678-4626


Journal
Educ. Soc. vol. 19 n. 62 Campinas Apr. 1998
SciELO Analytics
https://doi.org/10.1590/S0101-73301998000100002
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Trajetórias sociais e formas identitárias: alguns
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esclarecimentos conceituais e metodológicos*
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Claude Dubar**
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RESUMO: A análise das trajetórias sociais defronta-se com a questão da
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articulação de dois aspectos do processo biográfico. A "trajetória objetiva" é
definida como seqüência das posições sociais ocupadas durante a vida, Related links
medida por categorias estatísticas e condensada numa tendência geral
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(ascendente, descendente, estável etc.); em contraste, a "trajetória
subjetiva" é expressa em diversos relatos biográficos, por meio de More
categorias inerentes remetendo a "mundos sociais" e condensável em
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formas identitárias heterogêneas. Confrontar ambas as análises toma toda
sua importância ao se tentar apreender identidades sociais como processos
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ao mesmo tempo biográficos e institucionais. Será o conceito de
configuração, defendido por Elias, de algum auxílio para combinarmos
processos biográficos típicos, oriundos de relatos subjetivos, com percursos
objetivados por meio de categorias estatísticas?

Palavras-chave: Trajetórias sociais, biografia, mobilidade, narrativas de vida

Este texto almeja distinguir e, a seguir, pôr em paralelo os dois modos de se considerar qualquer trajetória
individual: objetivamente, como uma "seqüência de posições" num ou mais campos da prática social, e
subjetivamente, como uma "história pessoal" cujo relato atualiza visões de si e do mundo. Não raro, ambos os
pontos de vista interferem nos usos múltiplos da noção de identidade. Esclarecer os diversos sentidos deste
termo será, aqui, diretamente relacionado à explicitação dos métodos de análise subjacentes aos usos empíricos
da noção de identidade. Isso resulta em duas maneiras muito diferentes de se analisar trajetórias individuais, em
função do que se entende por este termo.

O ponto de vista aqui apresentado defende que igual importância seja dada às categorias institucionais,
determinando "posições objetivas" (escolares, profissionais...), e às categorias de linguagem utilizadas por
indivíduos em situação de entrevista de pesquisa. Para o sociólogo, tomar a sério falas sobre si mesmo vindo de
um sujeito incitado "a se narrar" e entrando num diálogo particular, verdadeiro "exercício espiritual" (Bourdieu
1993), com um pesquisador capacitado para escutar, talvez constitua uma condição sine qua non para um uso
sociológico da noção de identidade.

Apresentação do problema: As duas faces dos processos identitários


O artigo de Jean-Claude Kaufman (1994), mencionando em várias oportunidades meu livro sobre La Socialisation
(1991), permite-me retomar uma questão central em qualquer análise sociológica de trajetórias individuais.
Quero falar da distinção entre dois universos de sentido vinculados à palavra "identidade" nas ciências sociais. O
primeiro que Kaufman nos propõe chamar de processo identitário individual é, geralmente, apreendido a partir de
produções de linguagem do tipo "biográfico" e diz respeito às diversas maneiras pelas quais indivíduos tentam
dar conta de suas trajetórias (familiares, escolares, profissionais...) por meio de uma "história", no intuito, por
exemplo, de justificar sua "posição" em dado momento e, às vezes, antecipar seus possíveis futuros. Na medida
em que o que está mesmo em jogo aqui é a (re)construção subjetiva de uma definição de si, eu mesmo
propusera chamar este processo, condensado em poucas fórmulas, de "identidade biográfica" ou, ainda, de
"identidade para si". O segundo diz respeito ao que Kaufman chama de quadros sociais da identificação, ou,
ainda, quadros de socialização e envolve as categorias utilizadas para identificar um indivíduo num dado espaço
social (o que eu mesmo chamei de "identidade estrutural" ou "identidade para outrem"), as categorias do
discurso do indivíduo definindo-se do ponto de vista de outrem (quer este outrem seja "significativo" e
personalizado, quer seja "generalizado" e institucional) inclusive. Na linha de G-H Mead (1993), Kaufman propõe
que voltemos ao termo de "papel" para designar este aspecto da identidade.

O modo de pensar e tornar operacional esta distinção entre "identidade pessoal" (o que sou/gostaria de ser) e
"identificação social" (como sou definido/o que dizem que sou) dá margem a múltiplos desdobramentos e permite
caracterizar, de modo bastante grosseiro, não apenas as grandes teorias da socialização na literatura das ciências
sociais (Dubar 1991) como também as concepções correntes, subjacentes aos discursos comuns, que, às vezes,
constituem uma espécie de vulgarização das primeiras. Duas orientações se opõem: uma, chamada por alguns de
"psicologizante", mas que prefiro chamar de essencialista, fundada no postulado da realidade de um self (ou de
um ego, ou de um eu...) como realidade "substancialista", permanente e autônoma construindo sua unidade
(Abramowski 1987 etc.); e a outra, inversa, às vezes chamada de "sociologista", embora eu prefira chamá-la de
relativista, que reduz o self e, portanto, a identidade biográfica a uma "ilusão", ocultando a pluralidade dos
papéis sociais e sua dependência para com a posição ocupada em cada campo social em particular, e no sistema
das classes sociais em geral (Bourdieu 1986).

Não é simplesmente, nem talvez primeiramente, o estatuto da individualidade que está em jogo nesta
polarização entre dois modos de se abordar a questão da identidade. É também, e talvez acima de tudo, a
concepção do "social" e a relação estabelecida entre categorização e identificação. Para os que consideram a
identidade como vinculada a uma "essência individual" - quer se trate de caráter, personalidade ou qualquer
outro traço permanente -, a identificação psíquica precede e orienta a categorização social: o self, constituído de
maneira precoce no jogo das identificações da primeira infância, condiciona e norteia uma biografia vivenciada ou
interpretada como destino ("torna-ti o que és"). O "social" emerge, então, como uma espécie de superestrutura,
um exterior ou um ambiente do sujeito, quer este seja o do inconsciente ou o das condutas socializadas (o pólo
"passivo" do ego ou o pólo "ativo" do eu, na terminologia meadiana). Para os que consideram a identidade
biográfica como uma "ilusão", as categorizações sociais determinam identificações coletivas que constituem uma
matriz de disposições (o habitus em Bourdieu), condicionando o acesso a posições sociais e o cumprimento de
papéis sociais. As categorias sociais, interiorizadas no decorrer do ciclo de vida (níveis escolares, categorias
profissionais, posições culturais...), constituem o material a partir do qual os indivíduos inventam para si
identidades singulares, para unificar suas existências e tentar fazer valer sua pretensão em um ou outro campo
da prática social. Mas então é a trajetória social "objetiva", categorizada pelas instituições, que determina as
identificações subjetivas e, conseqüentemente, "a pessoa não existe de fato fora de seus quadros sociais" (Elias
1991a).

Diante de ambas as posturas, inconciliáveis quanto à questão da identidade, a história das ciências sociais
oferece várias tentativas conceituais, buscando ultrapassar a oposição entre o essencialismo de uma identidade
pessoal preestabelecida e o relativismo das categorizações sociais diversas, estruturando identidades biográficas
ilusórias. Só abordarei aqui as que tentaram tal ultrapassagem a partir da vertente sociológica, isto é, tomando a
sério os processos de categorização social na construção das identidades individuais. De fato, considerar a
identidade de alguém como um processo e não como uma espécie de estado inicial (e a fortiori como um destino)
não implica ipso facto que a subjetividade das elaborações biográficas (por exemplo, em entrevistas de
pesquisas) deva ser considerada como ilusória nem mesmo "secundária" em face das determinações sociais
objetivas. Inversamente, tomar muito a sério os modos subjetivos pelo quais indivíduos se narram não significa,
necessariamente, menosprezar o lugar das categorizações "objetivas" nas construções identitárias pessoais.
Entre o ponto de vista "essencialista" das entidades como "unidades psíquicas coerentes e permanentes" (Mary
Douglas 1990) e o ponto de vista "relativista" das "fórmulas mutáveis destinadas a se engendrar através dos
acontecimentos" (Gofman 1968), um ponto de vista relacional a respeito dos processos identitários pode ser
encontrado em tradições de pesquisas tão diferentes quanto a abordagem genética de Piaget, a fenomenologia
de Schütz, a escola de Chicago ou a etnometodologia. Este ponto de vista será, também, encontrado em certas
tentativas mais recentes de desenvolver abordagens longitudinais de diversos tipos de populações, que procuram
integrar as relações entre a subjetividade dos "relatos de vida" e a imposição das categorizações institucionais.

É uma posição constante dos sociólogos de Chicago, esta de considerar os documentos pessoais e, mais
particularmente, os materiais biográficos, como dados sociológicos importantes e suscetíveis de interferir nos
processos sociais mais estruturantes. A noção de identidade elaborada por Everett Hughes, Howard Becker ou
Anselm Strauss almeja, cada qual a seu modo, articular quadros sociais de identificação (e, essencialmente, as
filières profissionais, estruturando os espaços de trabalho ou as categorizações dos grupos desviantes) com
itinerários individuais, apreendidos de maneira compreensiva. Ela atribui um lugar privilegiado às interações
sempre suscetíveis de infletir, e até mesmo de "converter" as identidades anteriores. Ela concede um valor
importante aos processos de negociação, de transação (Strauss 1992) e de compromisso entre as "definições de
situação" (Thomas e Znaniecki 1919) resultando das interações presentes e dos esquemas culturais (valores e
atitudes) oriundos da socialização passada. Mesmo se essa tradição não legou a seus sucessores uma "teoria"
unificada da identidade, ela produziu pesquisas muito sugestivas e formalizou eixos de um procedimento indutivo
relativamente operatório (Glaser e Strauss 1967).

Mais recentemente, o fato de levar em conta trajetórias, itinerários e percursos individuais traduziu-se, na
França, por uma abundância de trabalhos empíricos promissores que, embora não unificados teoricamente,
privilegiam as abordagens longitudinais e se recusam a favorecer uma das duas posições acima definidas
(Coutrot e Dubar 1992). Esses trabalhos, na sua grande maioria, almejam reconstruir indutivamente classes de
percursos, principalmente no mercado de trabalho, para aproximá-las das categorias consideradas como mais ou
menos "objetivas" (classes de idades, níveis escolares, categorias profissionais, setores de atividade, tipo de
empresas). Às vezes, eles tentam também interpretar relatos biográficos de maneira mais compreensiva,
recorrendo a categorias mais "subjetivas". Não raro, eles buscam relacionar políticas institucionais com práticas
de emprego, de formação, de mobilidade. Algumas destas pesquisas procuram contrapor "classes de trajetórias
biográficas", delimitadas por meio de calendários de atividade, com "tipos de relatos biográficos", reconstruídos a
partir de dados de entrevistas (Demazière e Dubar 1996). Elas recorrem também à noção de identidade, embora
de forma específica, articulando a análise das categorizações mais ou menos oficiais ou mais informais com a das
trajetórias interpretadas subjetivamente (Demazière 1992; Pottier 1992). Essas pesquisas procuram relacionar
"trajetórias subjetivas" com "mundos vividos", organizados em torno de categorias específicas e oriundos da
análise de relatos biográficos, e propõem a noção de "formas identitárias" (Dubar 1991, 1992; Demazière 1992;
Demazière e Dubar 1996). A seqüência deste texto será dedicada a precisar o sentido desses conceitos e a
traduzi-los em orientações metodológicas.

Trajetórias "objetivas" e "classes de trajetórias típicas"


A primeira grande dificuldade para as abordagens longitudinais consiste em reagrupar a multiplicidade de
itinerários, demarcados a partir de posições sucessivas, numa variável sintética abrangendo todos os estados
possíveis, num pequeno número de "classes de trajetórias" reunindo os itinerários considerados semelhantes.
Isto se consegue de maneira indutiva, por meio de uma análise de variância minimizando a dispersão dentro de
cada classe e maximizando a variância interclasses, isto é, a distância vetorial entre as classes. Com isso,
procura-se obter o menor número possível de classes, reunindo um número máximo de itinerários. A dificuldade
principal consiste em caracterizar as classes assim obtidas e em conferir-lhes um sentido que não seja puramente
nominalista. Desse modo, a categoria de "estabilização" aplicada a todos os itinerários de inserção de jovens que,
durante os três (Pottier 1992) ou sete (Demazière e Dubar 1996) primeiros anos após o fim de seus estudos,
possuem um CDII constando apenas um ou dois empregadores não implica que todos os jovens contemplados se
considerem "estabilizados" ou queiram permanecer "estabilizados" no seu emprego (nem mesmo que recorram a
este termo para "se narrar"). O mesmo acontece com a categoria de exclusão, freqüentemente utilizada para
definir o percurso de jovens não inseridos que nunca conseguiram um CDI (Demazière e Dubar 1994) ou de
desempregados "contumazes" "desmotivados" que acham não mais poder encontrar um emprego (Demazière
1992, 1996): ela se baseia raramente numa explicitação dos sentidos veiculados pelos usos sociais e políticos
que, na maioria das vezes, remetem mais a um estado do que a um processo (Dubar 1996; Paugham 1996).
Diante da falta de análise qualitativa rigorosa, a adequação da categorização do pesquisador com a da pessoa em
questão resulta, muitas vezes, problemática e o risco é grande, para o sociólogo, de considerar categorias
administrativas ou termos do debate social como conceitos descritivos, e de, portanto, confundir "nominação"
com "etiquetagem".

A segunda dificuldade, mais temível, é a de ordenar e interpretar as diversas classes de trajetórias em termos de
mobilidade social. Para que um itinerário de emprego ou um itinerário matrimonial (ou residencial) possa ser
sociologicamente interpretável, é geralmente preciso que os estados usados para avaliá-lo sejam hierarquizados
de modo a podermos distinguir "trajetórias ascendentes", "descendentes" e "estagnantes". Trata-se, dessa vez,
de um procedimento dedutivo consistindo em confrontar as classes empíricas obtidas pela tipologia estatística
com trajetórias teóricas resultando de um modelo a priori.

Pode-se utilizar, por exemplo, um modelo simplificado derivado da hipótese - formulada, entre outros, por
Bourdieu (1974) - segundo a qual é a inclinação da trajetória social que determina o sistema de disposições
(habitus) que estrutura as práticas sociais. Podemos aplicá-lo à mobilidade tanto intergeracional
(avós/pais/entrevistados) quanto intrageracional: basta definir pontos de referências temporais precisos (por
exemplo: fim dos estudos/ingresso na vida ativa/posição quando da entrevista) e medir a posição social do
indivíduo numa mesma escala (exemplo: classes superiores[S]/Médias[M]/Populares[ P]) nestes três momentos.

Chamaremos de trajetória objetiva a seqüência de posições sociais ocupadas por um indivíduo ou sua linhagem.
Selecionando três pontos no tempo, por exemplo, e medindo a posição por meio de uma variante tricotômica,
obtemos 27 trajetórias teóricas que podem ser agrupadas da seguinte maneira:

- As trajetórias de rigidez social (n=3) de tipo SSS/MMM/PPP

- As trajetórias de ascensão social (n=7) de tipo MSS/MMS/PMS

- As trajetórias de descida social (n=7) de tipo SMM/SSM/MMP

- As trajetórias de contramobilidade social (n=10) que podemos distinguir em:


· contramobilidade em V (n=5) de tipo SMS/MPM/SPS/SPM

· contramobilidade em 2 (n=5) de tipo MSM/PMP/PSP/MSP

A confrontação deste "modelo", dedutivo e combinatório, com as classes obtidas indutivamente por agrupamento
estatístico permite-nos chegar a "classes de trajetórias típicas" que possuem, ao mesmo tempo, um significado
teórico e uma representatividade empírica. Não raro, de fato, essas "classes teóricas" não seriam representadas
numa amostra de trajetórias empiricamente reconstruídas (por meio de um questionário biográfico ou de um
calendário de atividade). Também é possível testar vários modelos para determinar o que melhor se adapta às
classes obtidas indutivamente.

Trata-se de uma análise "objetivista" das trajetórias na medida em que não se leva em conta o sentido subjetivo
que os indivíduos atribuem ao próprio percurso. Trata-se, também, de uma análise necessariamente redutora,
uma vez que a posição, num dado momento, é medida numa escala apenas. É a relação entre as posições
sucessivas que importa no modelo e não cada posição isolada.

Notemos ainda, para concluir essa primeira abordagem, que, em Bourdieu, cada grande tipo de trajetória é, às
vezes, associado a um "habitus de classe" levando em conta ao mesmo tempo a inclinação e o "nível" (de
chegada) da trajetória social. Obviamente, um operário filho e neto de operário não tem o mesmo habitus que
um alto executivo, filho e neto de empresário. Podemos, contudo, avançar a hipótese de que a "ancoragem" de
cada um em sua classe induz certas disposições homólogas. O modelo, em Bourdieu, é essencialmente
hipotético-dedutivo, e os traços interpretados em termos de habitus são associados tanto a trajetórias quanto a
posições. No entanto, os habitus de classe, expressos principalmente em termos de "qualidades", são
empiricamente relacionados antes com posições do que com trajetórias estatisticamente medidas, o que torna
seu modelo ambíguo (Dubar 1991, cap. 3).

Trajetórias "subjetivas", lógicas de mobilidade e "formas identitárias"


Em contraste com a primeira abordagem que privilegiava os quadros sociais da identificação, esta se apoia antes
nos processos identitários individuais, no sentido em que seu ponto de partida está no relato do próprio
"percurso" por um indivíduo, numa entrevista de pesquisa. A hipótese principal norteando a análise é a de que a
colocação deste percurso em palavras, numa situação de entrevista considerada como um diálogo focando o
sujeito, permite a construção linguística de uma ordem categorial (Sacks 1992) que organiza o discurso
biográfico e lhe confere um significado social. Encontrar, por meio de uma análise semântica rigorosa, baseada,
por exemplo, na análise estrutural das narrações (Barthes 1967), a estrutura das categorias às quais o relato
recorre em seus diferentes níveis (função, ação, narração) e que permeiam o diálogo com o pesquisador
(relances, retomada, jeito de falar), permite alcançar, de modo ideal-típico, a lógica (ao mesmo tempo cognitiva e
afetiva, pessoal e social) reconstruída pelo sujeito para dar conta dos acontecimentos considerados significativos
nesse percurso, assim transformado em enredo (Ricœur 1984) pela entrevista biográfica. É o que se tentou fazer
a partir de um corpus de relatos de inserção (Demazière e Dubar 1996).

Chamaremos de trajetória subjetiva esse enredo posto em palavras pela entrevista biográfica e formalizado pelo
esquema lógico, reconstruído pelo pesquisador por meio da análise semântica. Trata-se da disposição particular,
num discurso, das categorias estruturantes do relato, segundo as regras de disjunção e conjunção que suprem a
produção de sentido. Trata-se, também, de uma forma de resumo da argumentação, extraído da análise do relato
e da descoberta de um ou mais enredos, e dos motivos pelos quais o sujeito está numa situação em que ele
mesmo está se definindo, a partir de acontecimentos passados, aberto para um determinado campo de possíveis,
mais ou menos desejáveis e mais ou menos acessíveis. Lembraremos que um dos princípios de base da análise
estrutural dos relatos é o de que se pode encontrar a conseqüência por trás do encadeamento e a argumentação
narrativa por trás da série de seqüências e da intervenção dos agentes. Trata-se, por fim, da organização pessoal
de categorias e procedimentos interpretativos (Cicourel 1992), que manifestam a interiorização de um ou mais
"universos de crença" dizendo respeito à estrutura social em geral e aos mais diversos campos da prática social
(familiar, escolar, profissional, relacional) em particular. Lembraremos que, para os sociólogos cognitivistas, a fala
envolve dispositivos de categorização e procedimentos interpretativos que remetem a universos lógicos que
estruturam as identidades narrativas.

Na medida em que a expressão dessa trajetória subjetiva é duplamente limitada, pelas categorias lexicais
disponíveis e pelas regras sintáticas às quais se recorre por um lado e, por outro lado, pelo contexto da entrevista
e pelas perguntas do pesquisador, pode-se avançar a hipótese de que o corpus das entrevistas reunidas e dos
esquemas (schème) construídos a partir delas nos permite delimitar, de maneira indutiva, tipos de
argumentação, disposições típicas, configurações significativas de categorias que chamaremos de formas
identitárias. O termo "identidade" é aqui empregado no sentido particular de articulação de um tipo de espaço
significativo de investimento de si com uma forma de temporalidade considerada como estruturante em seu ciclo
de vida (Dubar 1991). Este sentido é muito próximo do de "espaço-tempo geracional", associado à idéia de busca
(Erickson 1972) e pode ser considerado como a síntese do ponto de vista "estratégico/cultural" desenvolvido, por
exemplo, em L'identité au travail de Sainsaulieu (1985) com o ponto de vista "genético/estrutural" teorizado, por
exemplo, em Le sens pratique de Bourdieu (1980). As formas identitárias são tipos-ideais construídos pelo
pesquisador para dar conta da configuração e da distribuição dos esquemas de discurso delimitados pela análise
precedente. Elas constituem recategorizações a partir das ordens categoriais circunscritas pela análise indutiva
dos relatos, comparados uns com os outros antes de serem reagrupados por "agregação em torno de unidades-
núcleos" (Grémy e Le Noan 1977).

Nas pesquisas centradas sobre os assalariados de grandes empresas privadas em fase de modernização intensa e
os jovens sem diploma em fase de inserção (Dubar 1992), assim como nas pesquisas acerca das relações dos
desempregados "contumazes" com os funcionários da AnpeII (Demazière 1992), quatro formas identitárias foram
indutivamente delimitadas a partir de um corpus de esquemas de entrevistas de pesquisa:

- as identidades de empresa, que dizem respeito aos relatos combinando mobilização e trabalho, desejos de
promoção interna ("subir") e fé na cooperação (prioridade dada aos saberes de organização);

- as identidades de rede caracterizam relatos mistos de individualismo, antecipações de mobilidade externa


("social"), e fé nas virtudes da autonomia e do diploma (prioridade dada aos saberes teóricos, gerais);

- as identidades de categorias, subjacentes aos relatos valorizando a especialização, projetando-se nas filières de
"profissões" julgadas desvalorizadas ("bloqueadas"), e marcadas por conflitos (prioridade dada aos saberes
técnicos);

- as identidades fora do trabalho emergem de relatos e do trabalho instrumental, da valorização da estabilidade


questionada ("ameaça de exclusão") e de afirmações de dependências dolorosas (prioridades dadas aos saberes
práticos).

Trata-se, portanto, de pesquisas e de entrevistas que, por razões de princípios (Dubar 1991) mas igualmente por
oportunidades ligadas aos mandos institucionais de pesquisa, privilegiam os campos do trabalho, do emprego e
da formação. Essas formas identitárias são, portanto, rigorosamente, formas de identidades profissionais (no
sentido francês do termo), centradas nas relações entre o mundo da formação e o mundo do trabalho ou do
emprego. Trata-se, também, de identidades sociais, exatamente na medida em que, num dado sistema social, a
posição social, a riqueza, o status e/ou prestígio dependem do nível de formação, da situação de emprego e das
posições no mundo do trabalho. Em outras sociedades, essas dimensões são secundárias diante, por exemplo,
dos traços "culturais" definindo identidades étnicas utilizadas "para categorizar a si mesmo e aos outros" (Barth
1989) e permitindo abordagens similares. Nas sociedades contemporâneas, a trilogia formação/emprego/trabalho
parece ser a mais estruturante dos "espaços-tempos" individuais e, portanto, da maneira segundo a qual as
pessoas - especialmente os homens - "narram sua vida" e categorizam suas situações sucessivas quando assim
solicitadas para fins de pesquisa. Pesquisas recentes mostram que as mulheres misturam com muito mais
freqüência o universo doméstico a este universo profissional (Battagliola et alii, 1992; Nicole-Drancourt 1990). As
identidades típicas precedentes, amplamente contextualizadas (os anos 80, na França, nas grandes empresas
privadas), organizam-se sempre em torno de categorias lexicais que constituem uma espécie de denominações
inerentes ("ameaçados", "bloqueados", "competentes") muito afastadas das antigas categorias oficiais
("operários", "executivos", "maîtrise"). Mesmo se os indivíduos a elas recorrem em situação de entrevista de
pesquisa sociológica, isso não quer dizer que também as usem durante suas sessões de psicanálise: o processo
biográfico individual envolve também (e essencialmente, dirão alguns) ligações afetivas e sexuais, identificações
familiares, mobilizações psíquicas e libidinais múltiplas. O uso sociológico do termo "identidade" pressupõe que a
identidade "social" remete a categorias que atualizam um "estatuto principal" (Hughes 1958) e, portanto, a
categorizações que o exprimam: na França, as CSPIII/PCSIV constituem, a priori, um quadro estruturante da
categorização social, embora não sejam as únicas.

Trajetórias objetivas e trajetórias subjetivas: O quantitativo e o qualitativo em face das


identidades
Esta última parte será essencialmente programática, uma vez que poucas pesquisas conseguiram relacionar, de
modo convincente, os dois procedimentos acima sem instrumentalizar um à lógica do outro. Existem tentativas
de se relacionar análises de "percursos típicos" (Dubar et alii, 1987; Nicole-Drancourt 1990; Demazière 1992),
mas a articulação das duas análises continua problemática: quer a análise estatística prévia sirva somente para
selecionar uma pequena amostra de casos, cuja análise constitui a seguir o essencial dos resultados (lógica da
restituição), quer as entrevistas sirvam apenas para exemplificar tipos obtidos pela análise estatística puramente
nominalista (lógica da ilustração). Estabelecer relações entre esquemas discursivos de relatos biográficos e
processos estruturais de determinação social continua sendo um exercício essencialmente virtual.

Esta insuficiência empírica não impede que certos escritos teóricos postulem uma correspondência íntima, e até
uma estrita dependência causal, entre as "formas de discurso" vinculadas a sistemas de opiniões, de atitudes ou
de disposições e as "trajetórias objetivas" mais típicas. Ora, trata-se de hipóteses simplificadoras que devem ser
submetidas a observações empíricas suscetíveis, quando não para "validá-las", pelo menos para torná-las críveis.
Para que tal credibilidade tenha fundamentos, é preciso que os dados quantitativos, permitindo a determinação
das "trajetórias objetivas", e os dados qualitativos, gerindo a produção de relatos típicos de percursos biográficos,
isso é, de "trajetórias subjetivas", sejam ao mesmo tempo comparáveis e produzidos de modo autônomo. Para
serem comparáveis, é preciso que as "classes de trajetórias objetivas" sejam interpretáveis de modo
compreensível e que os "discursos típicos" incidam mesmo sobre a compreensão do sentido da biografia social
dos sujeitos (esta noção remete ao ponto de vista sociológico sobre uma biografia singular, mas também à
interpretação biográfica de uma "trajetória social objetiva"). Para que a confrontação surta efeitos, é preciso
também que os agrupamentos de "relatos" ou de seus esquemas não recorram às categorias oriundas da análise
estatística: caso contrário, só encontraremos na análise do "qualitativo" o que nela colocamos a partir do
"quantitativo" (é a postura "ilustrativa" tão comum na utilização das entrevistas em sociologia). É preciso
também que os dados de entrevistas sejam analisados e condensados em, salientando "ordens categoriais" que
possam ser confrontadas com as classes de nomenclaturas estatísticas e não simplesmente retranscritas e
entregues, tal qual, à perspicácia do leitor (esta é a postura "restitutiva" quase tão freqüente quanto a
precedente).

Podemos agora perceber melhor as dificuldades envolvidas nessa operação. De fato, a tentação de se associar os
quatro grandes tipos de "trajetórias objetivas" (cf. § 2) às quatro "formas identitárias" (cf. § 3) esbarra em
inúmeras objeções metodológicas dizendo respeito aos modos de produção desses conceitos tipológicos e sua
dependência para com contextos de pesquisa. Parece mesmo que as poucas tentativas organizadas para
relacionar a distribuição estatística de amostras de indivíduos, segundo sua "forma identitária dominante" (isso é,
na realidade, a forma à qual se pode vincular este discurso proferido em circunstâncias determinadas e, portanto,
contingentes) e sua "classe de trajetória" estatisticamente demarcada com a ajuda de indicadores considerados
"objetivos", não deixa transparecer fortes correlações (Dubar 1992; Demazière 1992). Mesmo se as "identidades
fora do trabalho", associadas às "ameaças de exclusão", parecem mais freqüentemente o destino de indivíduos
tendo trajetórias sociais descendentes ou de rigidez socioprofissional (mas, também, de operários idosos sem
diplomas), e as "identidades de rede", o fado de pessoas tendo trajetórias de "contramobilidade" (mas
igualmente dos jovens diplomados que se consideram profissionalmente desclassificados), não se pode concluir
haver uma determinação forte das trajetórias "objetivas" sobre as "formas identitárias" associadas a formas de
discurso biográfico expressando as "trajetórias subjetivas". Contudo, temos de ser muito cautelosos nesse ponto:
as pesquisas não nos permitem afirmar nada de modo convincente.

Um dos problemas mais árduos é o da dupla passagem da trajetória "objetiva", num campo determinado
(profissional, educativo, familiar), para a "trajetória social global" por um lado, e da forma identitária à qual se
pode vincular um relato especializado (profissional, educativo, familiar) para uma "forma identitária geral", que
diria respeito a todos os campos. Será possível, nas sociedades contemporâneas, reduzir o fato de um indivíduo
pertencer a um dado momento a uma posição única numa "escala social"? Será possível categorizar um discurso
por uma configuração única de apreciações sobre sua "biografia social"? A "sociologia da configuração", defendida
por Norbert Elias como definição específica da disciplina (1991b), implicando que se leve em conta tanto as
estruturas institucionais quanto a experiência vivida que os indivíduos têm dessas estruturas" (trad. 1991a) não
seria essencialmente um projeto teórico? Será que isso não supõe um distanciamento histórico, que implica a
reconstituição ex post da experiência subjetiva a partir de traços heterogêneos, escolhendo-se uma "biografia
exemplar" (1991c) à luz do que os trabalhos históricos têm reconstituído da época? Percebemos bem a
dificuldade existente quando tentamos conciliar a distância necessária para a construção de "trajetórias objetivas"
com a proximidade inerente da reconstituição de "trajetórias subjetivas". Não é de espantar que raramente se
recorra, de maneira rigorosa, a ambos os pontos de vistas numa mesma pesquisa.

Um último problema, particularmente delicado, é o de apreender a dinâmica das "formas identitárias" que
abrange ao mesmo tempo os processos de conversão de uma forma em outra e as transformações internas, no
tempo, de cada uma das formas, confrontando-as às mudanças institucionais. Só existe um caminho, ao meu ver,
capaz de nos levar lá: o "verdadeiro" longitudinal (distinto do retrospectivo), consistindo em "acompanhar"
populações, regularmente instigadas a "se narrarem", em instituições que possam ser monitoradas no decorrer
do tempo. Assim apresentada, a análise das trajetórias parece aproximar-se do trabalho dos historiadores e sua
confrontação necessária com várias temporalidades, com a ajuda de conceitos tipológicos (Passeron 1991) que
dizem respeito tanto a "figuras individuais" (o empresário protestante ou o perito de Weber, o burguês de
Sombart, o Affluent Worker de Goldthorpe et alii) quanto a tipos de funcionamentos e de categorias institucionais
(a burocracia weberiana, a grande empresa competitiva de Goldthorpe). A arte de tornar compreensíveis as
relações entre essas temporalidades é um recurso raro que os sociólogos não podem ignorar.

Se tomarmos a sério as exigências empíricas da sociologia e se nos recusarmos a dar preferência às categorias
"oficiais" e "instituídas" sobre as categorias "linguísticas" e "instituidoras", não há outro caminho para avançar na
elucidação da dinâmica social, a não ser correlacionando análises objetivantes dos "movimentos de mobilidade",
apreendidos em nível "macro", das estatísticas que permitem reconstruir "trajetórias objetivas" com análises
compreensivas das "formas de discursos biográficos", apreendidas em nível "micro", que são, ao mesmo tempo,
expressões pessoais de "mundos vividos", "espaços de referência" e "temporalidades subjetivas" que temos
chamado, por falta de termo melhor, de "formas identitárias" e que lembram a noção de "configuração" elaborada
por Norbert Elias. A ingênua crença sociológica na determinação mecânica das subjetividades pelas "condições
objetivas" será necessariamente substituída por laudos problemáticos de dependências parciais e de autonomias
irredutíveis, de mediações complexas e de coerências frágeis, de defasagens múltiplas e de indeterminações
tenazes. A pesquisa ganhará muito com isso.

À guisa de conclusão
A distinção inicial das duas faces dos processos identitários, para as quais Kaufman propunha um
aprofundamento conceitual, revelou-se fecunda para manter uma autonomia, mas também reivindicar uma
articulação entre dois procedimentos tão importantes quanto diferentes. Um permite esclarecer de que maneira
os "quadros sociais de identificação" - traduzidos em categorias estatísticas e em conceitos operatórios
permitindo analisar as "trajetórias objetivas" - condicionam os percursos individuais. O outro almeja compreender
os discursos biográficos como "processos identitários individuais", por meio dos quais as crenças e as práticas dos
membros de uma sociedade contribuem para inventar novas categorias, modificar as antigas e reconfigurar
permanentemente os próprios "quadros de socialização". Isto quer dizer que as "formas identitárias" não podem
ser consideradas como formas estáveis, que seriam preexistentes às dinâmicas sociais que as constróem. Elas
não passam de ferramentas de análise, de formas provisórias de inteligibilidade que o sociólogo constrói para
"dar conta da maneira segundo a qual os membros dão conta de suas práticas" (Garfinkel 1967).

Será o termo "identidade" realmente necessário para tanto? Não acarretaria ele o risco permanente de uma
deriva essencialista, associando-o a "tipos de personalidade", a "formas estáveis de percurso" atualizando uma
determinação inicial (seja ela de origem biológica, cultural ou mística)? Pode ser. De fato, seu interesse é de
ordem problemática e programática: era preciso salientar a questão das relações entre esses dois processos,
dizendo respeito a procedimentos de pesquisa diferentes como os processos biográficos individuais e as
dinâmicas institucionais coletivas ("históricas") que mantêm e fazem evoluir as categorias sociais ao delimitar as
formas de mobilidade. Essas relações parecem-me incontornáveis uma vez que os discursos biográficos recorrem,
necessariamente, a categorias lingüísticas vinculadas a categorizações sociais e que as dinâmicas institucionais
passam por indivíduos com biografias determinantes. Isso sem falar dos inúmeros obstáculos de método e de
terminologia que dificilmente serão superados. Seria isso suficiente para nos fazer desistir?

Social trajectories and identity forms: Some conceptual and methodological considerations

ABSTRACT: The analysis of social trajectories faces two aspects of the life process. The "objective trajectory" is
defined as the sequence of social positions taken during one's life, measured by statistical categories and
summarised in a general tendency (ascending, descending, stable etc.). By contrast, the "subjective trajectory" is
expressed by several biographical accounts, measured by native categories that point out to "social worlds",
summarised in heterogeneous identity forms. It is necessary to confront both analysis as we try to understand
the social identity as a process both biographical and institutional. Does the concept of "configuration", as
presented by Elias, enable us to combine typical biographical processes (subjective accounts) to objective
trajectories (statistical categories)?

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* Artigo Traduzido por Alain P. François


** Laboratoire Printemps (Professions/Institutions/Temporalités) Revues Sociétés Contemporaines, 1997.
Université de Versailes.
I. CDI: Contrato com duração indeterminada
II. Agence Nationale pour l'Emploi: órgão público que, sob a tutela do Ministère du Travail, é responsável pelo
controle do mercado de empregos.
III. CPS: Categoria Socio-profissional/antiga codificação do INEE: Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos
Econômicos
IV. PCS: Profissão e Categoria Social/ Nova classificação desde 1982

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