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Entenda o

Mercado Financeiro
e se proteja da
MAIOR CRISE
de todos os tempos!

Sancler Leal

2019
Entenda o Mercado Financeiro e se proteja
da maior crise de todos os tempos

Copyright© 2019 - Todos os direitos reservados e cedidos


a CashbackMarket Cursos e Treinamentos

Capa, diagramação e gráficos:


Lucas Landim

Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Leal, Sancler
Entenda o Mercado Financeiro e se proteja da maior
crise de todos os tempos. - Campina Grande:2016
p.65: il.
1. Mercado Financeiro. 2. Finanças. 3. Mercado de Ações.
4. Economia. I. Título. II. Autor.
CDD: 330
CDU: 336
Dedicatória

Dizer que “este livro é de autoria de Sancler


Leal” seria um exagero, sem a importante contribui-
ção de muitas outras pessoas, ele não existiria.

Quero Agradecer a todo o grupo do Mundo


Trader bem como ao da Direitoria, pelo apoio pelas
conversas e pelo censo crítico em tantos assuntos, em
especial aos amigos Lucas Landim e Ihering Barreto
pela grande contribuição e amizade, sem eles tenho
certeza que não conseguiria executar esse trabalho,
pelas grandes conversas e ideias que surgem a cada
momento e são calorosamente debatidas as vezes se
tornando projetos como esse.

Aos meus pais, Maria Aparecida e Ermi Leal


que me fizeram a pessoa que sou, desde cedo aflo-
rando em mim uma fagulha crítica, que me faria
questionar sobre tudo e ter imensas descobertas em
minha vida.

Aos meus Sogros e amigos que sempre me


auxiliaram, ajudaram, opinaram e me ouviram nos
momentos que mais precisei.

Finalmente, sou imensamente grato por ter


tido a sorte de casar com Vanessa Leal, pois ela con-
segue sempre transformar meus dias mais sombrios
em dias ensolarados e ainda aguentar minha natu-
reza meio neurótica e minha propensão a me con-
sumir em projetos como este, é ótimo ter apoio mais
profundo e permanente. A definição essencial do
sucesso na vida vem do fato da pessoa com a qual se
compartilha esta jornada realmente lhe amar e res-
peitar cada vez mais a medida que os anos passam,
deste modo, espero ser tão bem sucedido como ela
sempre é.
Prefácio

Esse livro foi desenvolvido com o intuíto de


alertar a população de um modo geral para toda
a farra dos Bancos Centrais, No modo como estes
estão com agindo e suas politicas de impressão de
dinheiro impulsionando os mercados de forma arti-
ficial por meio de juros baixos e em alguns lugares
negativos, e isto está sendo feito em todo o planeta
com resultados previsíveis e caóticos. fazendo com
que os menos preparados percam boa parte de suas
economias em virtude da inflação vindoura, uma
vez que como temos um planeta finito não é plau-
sível pretendermos um crescimento exponencial
perpetuo, de forma que temos que ficar atentos aos
próximos 20 anos pois eles irão mudar radicalmente
nosso estilo de vida e provavelmente nossa econo-
mia e o modo como encaramos a nossa realidade.
É muito importante diferenciar fatos, opiniões
e crenças. Eu tentarei ser o mais claro possível quan-
do estiver apresentando fatos, dando minha opinião
ou falando sobre uma crença pessoal.

Uma das crenças que eu tenho é que os pró-


ximos 20 anos serão completamente diferentes dos
últimos. Qual a importância disso? Isso é importan-
te porque tendemos a basear nossa visão de futuro
em nossa experiência mais recente. É por isso que
Análise Técnica funciona em mercados financeiros
e eu a uso diariamente. O passado recente é nossa
expectativa para o que vai acontecer a seguir, isso é
intrínseco do ser humano. Repetir atos e ter padrões
é uma boa estratégia na parte maior do tempo, inclu-
sive, eu trabalho com mercado financeiro utilizando
Análise Técnica desde novembro de 2008, isso pode
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ser uma responsabilidade gigantesca nos principais


pontos de mudança.

Eu acredito que as mudanças que ocorrerão


nos próximos 20 anos já começaram, essas mudan-
ças estão acontecendo de forma tão rápida que é
possível que elas sobrecarreguem nossa capacidade
de resposta, principalmente a capacidade de adap-
tação das nossas principais instituições sociais e de
apoio. Por exemplo, a crise financeira de 2008 che-
gou ao ponto de derrubar todo o sistema bancário
global e não foi apenas uma “marolinha”, como foi
sugerido por um ex-presidente do Brasil. Porém eu
vislumbro riscos ainda maiores daqui para frente,
não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, prin-
cipalmente nos EUA, o motor do mundo. Contudo
vale salientar que não nos falta nenhuma tecnologia,
tampouco entendimento necessário para construir
um futuro melhor, nós já temos tudo o que precisa-
mos, falta-nos apenas a vontade política de fazer as
coisas certas, o que é realmente um reflexo do fato
de que nós, como um povo, ainda não levantamos
nossas vozes em um grito comum para uma mudan-
ça real e forte, ao contrário, estamos mais divididos
e o extremo está mais forte do que nunca. Claro que

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eu posso estar errado e futuramente, de acordo com


os acontecimentos, posso mudar meu entendimento.

Por que eu acho que nossos próximos 20 anos


serão totalmente diferentes? Temos um massivo
problema com a economia e todos nossos empregos,
esperanças e sonhos dependem de uma economia
em pleno funcionamento, com uma economia pu-
jante podemos prontamente atender a todos os de-
sejos e desafios que possam surgir. Sem isso, tudo é
mais difícil e nossa resiliência some.

Na economia há quatro áreas principais de


preocupação: dinheiro exponencial, o primeiro co-
lapso de uma farra global de crédito, o envelheci-
mento da população (vemos isso com a reforma da
previdência no Brasil) e a incapacidade de formar
poupança da nossa população. Outro problema é
a energia, temos que observar o que a “máxima de
petróleo barato” significa para nosso sistema eco-
nômico, uma vez que vivemos na “era do petróleo”
e dependemos inteiramente dele para tudo. É mui-
to importante entender o quanto a economia global
é excessivamente dependente de suprimentos de
energia abundantes e baratos. Por fim, temos ou-

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tro grande problema que é o meio ambiente, ele irá


começar a exercer ônus econômicos significativos
devido a diminuição dos recursos bem como por
sua degradação. Já podemos ver, inclusive, como o
mundo está entrando em conflito com o Brasil em
virtude da Amazônia.

A escassez de recursos reduz o que podemos


tirar da natureza para abastecer nossos estilos de
vida, os limiares do colapso ambiental colocam li-
mites cada vez maiores nos fluxos de resíduos que
podemos depositar nele, inclusive, existem estudos
que ligam a flatulência das vacas e o aquecimento
global em virtude do metano produzido por elas.
Em virtude de tudo isso, vejo que o nosso sistema
econômico está fora de sintonia com a realidade e
sofrerá severa instabilidade e possivelmente en-
trará em colapso. Posso até afirmar que esse nível
de problemas, em particular, nunca foi enfrentado
antes na história humana, se você acha isso ater-
rorizante ou excitante (em virtude de vencer um
desafio), isso vai variar de acordo com sua visão
da vida. Podemos vislumbrar isso como um cená-
rio apocalíptico ou como uma chamada a ação para
tornar o mundo um lugar melhor para a nossa ge-

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ração e para nossos filhos e netos, cabe a nós, en-


quanto sociedade, essa escolha.

Um dos conceitos mestres é que nada é mais


importante que o crescimento exponencial, enten-
dê-lo aumentará muito nossas chances de criar um
futuro melhor.
Gráfico 1 - Estimativa de Crescimento Populacional
Exponencial

Fonte: OpenOregon

O que fazemos aqui é mapear uma quantida-


de de algo sobre o tempo, o único requisito para o
gráfico ficar assim é que a coisa que está sendo me-
dida cresce uma determinada porcentagem sobre
cada medida de tempo, embora a taxa percentual de

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crescimento possa permanecer constante e possivel-


mente bastante baixa, os valores reais não, eles se
acumulam mais e mais rápido.
Grafico 2 - População Mundial

Fonte: PopulationPyramid

Nesse gráfico acima, você está visualizando


um crescimento menor que 1% ao ano da população
mundial, por quê está crescendo apenas a 1% ao ano?
Precisamos analisar vários anos para detectar seu
massivo crescimento.
Gráfico 3 - Projeção Populacional da ONU para 2050

Fonte: ONU

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A partir desse ponto as pessoas que gostam de


matemática já podem estar começando a ficar des-
confortáveis, porque podem sentir que não estou
apresentando essa informação corretamente, por-
que os matemáticos foram treinados para definir
crescimento exponencial em termos de taxa de mu-
dança. No entanto nesse texto vamos nos concentrar
na QUANTIDADE de mudanças, os dois modelos
são válidos, mas o segundo é uma maneira mais fá-
cil de expressar e também de atender a maioria das
pessoas intuitivamente. Ao contrário da taxa de al-
teração, a quantidade de alteração NÃO é constante;
cresce cada vez mais com cada unidade de tempo e
é por isso que ela é mais importante do que a taxa
para nós apreciarmos.

Acredita-se que a capacidade total de sustenta-


ção da terra para os seres humanos esteja, segundo a
ONU, em torno de 3 a 5 bilhões.

Um conceito que eu quero que você se atenha


em funções exponenciais se relaciona com o concei-
to de “acelerar” - aumentar a velocidade de forma
gradativa. Você pode pensar no recurso principal
do crescimento exponencial como o MONTANTE,

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que é adicionado crescendo em relação a cada uni-


dade adicional de tempo ou pode pensar nele como
o tempo encolhendo entre cada unidade adicional
de valor adicionado.

Para mostrar o que é crescimento exponencial


de forma simples, imagine que começássemos a po-
voação da terra com 1 milhão de pessoas e definísse-
mos a taxa de crescimento para um minúsculo 1% ao
ano, descobriríamos que levaria 694 anos para alcan-
çarmos 1 BILHÃO de pessoas, mas estaríamos com
2 BILHÕES depois de passados mais 100 anos, en-
quanto o terceiro bilhão seria alcançado em apenas 41
anos, após isso o quarto bilhão seria atingido em 29
anos, depois levaríamos 22 anos para chegarmos aos
5 bilhões, mais 18 anos para termos 6 bilhões e final-
mente em 15 anos alcançaríamos 7 bilhões de pesso-
as, ou seja, cada bilhão adicional de pessoas levou um
tempo cada vez menor para ser atingido. Dessa for-
ma, podemos visualizar o conceito de “aceleração”.

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Gráfico 4 - Consumo de petróleo global.

Fonte: Board of Governors of the Federal Reserve System (US)

Este gráfico trata do consumo global de petró-


leo, o recurso mais importante de todos que vem
crescendo a uma taxa muito mais rápida, em torno
de 2,5% ao ano. Podemos visualizar o porquê de vi-
vermos na era do petróleo, porém este é uma como-
dity finita e de alto relevância para nós.
Gráfico 5 - Oferta de moeda dos EUA

Fonte: Board of Governors of the Federal Reserve System (US)

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Aqui está a oferta de moeda dos EUA, o dólar,


a moeda do mundo, que vem se acumulando a taxas
incríveis que variam entre 6% a 17% ao ano.
Grafico 6 - Extinção de espécies

Fonte: Science Advances 19 Jun 2015: Vol. 1, no. 5, e1400253

Grafico 7- Desmatamento de áreas protegidas da


Amazônia

Fonte: Inpe/Prodes, 2016

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Aqui você pode visualizar o gráfico de uso


mundial da água, extinção de espécies, a pesca preda-
tória e o desmatamento florestal, o qual o Brasil atual-
mente não quer mais divulgar os dados. Todos esses
recursos finitos assim como muitos outros recursos
críticos estão se aproximando dos seus limites.

Parece que o ritmo de mudança está acelera-


do, bem, é realmente o que está acontecendo, todo
crescimento exponencial é assim. Vivemos numa
época em que nós, os seres humanos, finalmente te-
remos que confrontar o fato de que o nosso sistema
monetário exponencial e o consumo de recursos en-
contrarão limites físicos. Por trás de tudo isso está o
número de pessoas sobre a superfície do planeta que
continua a crescer exponencialmente.

Todos os gráficos apresentados até agora são


compostos e dirigidos por forças combinadas, para
resolver um precisamos entender como ele se rela-
ciona com os outros, assim como muitos outros que
não foram postos aqui, todos eles se cruzam e se so-
brepõem. Se algo crescer ao longo do tempo, como
população, demanda por petróleo, oferta de dinhei-
ro etc., na verdade, qualquer coisa que aumenta de

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tamanho e você grava com o tempo terá um gráfico


exponencial. Dessa forma, você começa a entender
como isso vai afetar nosso sistema monetário, nossa
economia e nosso modo de vida.

Existe uma frase de Arthur Schopenhauer que


eu gosto muito, ela diz o seguinte: “toda verdade
passa por três estágios. Primeiro é ridicularizada.
Em segundo lugar, é violentamente oposta. Em ter-
ceiro lugar, aceita-se como evidente”. Em algum
momento dos próximos 20 anos estará cristalino
de uma forma que não será mais possível negar, no
momento, caso alguém ouse levantar a tese de que
crescimento econômico pode não ser bom para nós,
seres humanos, será ridicularizado, estará de pos-
se de um conceito “selvagem”. A ideia que temos
e que é quase um senso comum é que o crescimen-
to é bom, queremos uma economia em crescimento
porque isto significa que estamos nos tornando mais
prósperos. O crescimento econômico oferece opor-
tunidades e todos nós somos ávidos por oportuni-
dades, a conveniência do crescimento econômico é
virtualmente inquestionável hoje em dia, trata-se de
algo que todos falam sobre sempre quererem mais,
seja investidores, políticos ou empresários, é quase

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uma unanimidade que crescimento é igual a prospe-


ridade, porém existe um ledo nisso.

Crescimento é, na verdade, uma consequên-


cia do excedente. Se pensarmos nisso, por exemplo,
você só irá aumentar seu peso se estiver ingerindo
mais calorias do que as que são queimadas pelo
seu corpo, se você gastar mais calorias do que con-
sumir irá perder peso. Por isso tem-se a ideia que
crescimento é realmente dependente do excedente,
da mesma forma a prosperidade também depen-
de do excedente. Vamos a outro exemplo, imagine
que você tem uma família com 3 integrantes e que a
renda anual é de 100 mil reais, em 31 de dezembro
há 0 reais extras para gastar com sua família, então
você é surpreendido com um aumento de 10%, que é
equivalente a 10 mil reais e você pode se dar ao luxo
de ter mais um filho OU pode desfrutar da prospe-
ridade adicional gastando um pouco mais em cada
pessoa, mas você não pode fazer as duas coisas, há
apenas dinheiro excedente suficiente para fazer uma
coisa, você tem que escolher, será CRESCIMENTO
ou PROSPERIDADE ADICIONAL. Essa escolha
entre crescimento e prosperidade que é verdadei-
ra para uma família de três pessoas é igualmente

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verdadeira para uma cidade, um estado, um país e


para todos do planeta. Por meio desse exemplo po-
demos extrair um conceito muito simples e muito
profundo; o crescimento NÃO é equivalente a pros-
peridade. Nos últimos 100 anos fomos induzidos a
ligar os dois conceitos, porque sempre havia energia
excedente suficiente para termos tanto crescimento
quanto prosperidade, ou seja, não precisávamos fa-
zer escolhas difíceis entre os dois.

O economista Malcolm Slesser, do instituto de


uso de recursos de Edimburgo, na Escócia, calculou
que mais da metade da energia mundial agora é usa-
da simplesmente para crescer. Dessa forma, devemos
ter um grande cuidado quando nos questionarmos
sobre o que deve acontecer quando 100% do nosso
excedente de dinheiro ou energia estiver sendo usan-
do simplesmente para crescer, pois o resultado disso
será prosperidade estagnada e quando não houver
excedente suficiente para financiar o crescimento so-
zinho, vamos nos deparar com crescimento negativo
e prosperidade negativa. Porém todos os mercados
de títulos e ações do mundo desenvolvido são preci-
ficados com uma suposição explícita que haverá um
crescimento futuro e continuo da economia, lucros

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corporativos, oferta de moeda, dívida e todo o res-


to, esta é a base do estudo da economia. Mas se esse
crescimento nunca chegar, esses mercados valerão
muito menos que suas avaliações atuais e esse é um
risco GIGANTESCO e IMENSURÁVEL para portifó-
lios individuais, pensões, doações e até mesmo para
a estabilidade da sociedade como um todo. Entretan-
to em termos simples se não alocarmos adequada-
mente nossos recursos excedentes, cada vez meno-
res, para a prosperidade e ao invés disso, entrarmos
no padrão confortável e familiar de crescimento, nos
arriscaremos a um futuro de menos prosperidade,
este é o maior desafio de nossos tempos.

Antes de entendermos todas essas implicações


de forma prática, devemos primeiro compreender
essa coisa comum chamada dinheiro. O dinheiro é
algo com o qual vivemos tão intimamente no dia a
dia que ele provavelmente escapou de nossa aten-
ção e é por isso que devemos entendê-lo, trata-se de
uma criação humana essencial. Se todo o dinheiro
desaparecesse uma nova forma de dinheiro surgiria
espontaneamente em seu lugar. Em meio a essa nova
revolução digital já podemos fazer uso das moedas
virtuais, como por exemplo, o bitcoin, que serve da

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mesma forma para as pessoas acumularem, arma-


zenarem e depois gastarem. Sem dinheiro as com-
plexas especializações de trabalho que temos hoje
não existiriam, porque a troca é incomoda e cons-
trangedora. O mais importante é que o conceito de
cada tipo de sistema monetário tem suas vantagens
e desvantagens, cada um reforçará seus próprios re-
sultados peculiares, promovendo alguns comporta-
mentos enquanto pune os outros.

Sabemos que o dinheiro deve possuir três ca-


racterísticas. A primeira é que deve ser uma reserva
de valor, o ouro e a prata preenchiam perfeitamen-
te esse papel porque eram raros, consumiam muita
energia humana e não corroíam e nem enferrujavam.
Por outro lado, o real brasileiro, bem como o dólar
americano praticamente perdem valor ao longo do
tempo, uma característica que pune poupadores e
impõe a necessidade de especular ou investir. Uma
segunda característica é que o dinheiro precisa ser
aceito como um meio de troca, o que significa que
ele é amplamente aceito dentro de uma população
como um intermediário e dentro de todas as transa-
ções econômicas. E a última característica e não me-
nos importante é que o dinheiro precisa ser uma uni-

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dade de conta, o que significa que o dinheiro deve


ser divisível e cada unidade deve ser equivalente. A
unidade de conta no Brasil é o real e cada um é idên-
tico a qualquer outro. Esmeraldas tem muito valor,
mas não são bons em ser “dinheiro” porque não são
perfeitamente equivalentes entre si e dividi-las faz
com que elas percam valor, ou seja, elas falham em
ser uma unidade de conta. Nós podemos definir o
dinheiro em algo bem simples, ele é a proporção do
trabalho humano.

Com raríssimas exceções, praticamente qual-


quer coisa em que possamos pensar que seja ca-
paz de gastar dinheiro envolverá trabalho humano
para fazê-lo, devemos entender como uma propor-
ção, pois o trabalho humano em questão pode ter
acontecido no passado ou pode não ter acontecido
ainda. O conceito de o dinheiro ser uma proporção
do trabalho humano é importante, especialmente
quando formos tratar sobre dívida. O real brasilei-
ro, como todas as moedas modernas, é um exemplo
de um tipo de dinheiro chamado moeda fiduciária,
ou seja, essa moeda só tem valor porque o governo
que a decreta estabelece um valor, assim como o dó-
lar americano, a moeda do MUNDO. Ela pode ser

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considerada como moeda do mundo porque você é


OBRIGADO a utilizá-lo para efetuar qualquer tipo
de negócios entre os países, ou seja, se um cidadão
brasileiro quer comprar um produto francês e um
francês quiser comprar um produto brasileiro, eles
têm que trocar a moeda por dólar e depois converter
para a moeda local.

O dólar já foi apoiado por um peso conhecido


de prata ou de ouro, ou seja, podia ser convertido
nesse material, mas isso aconteceu apenas até 1930,
agora os dólares são de responsabilidade da Reserva
Federal, conhecido como (FED). Uma entidade pri-
vada encarregada de administrar a oferta monetária
dos EUA e autorizada pelo Ato da Reserva Federal
de 1913. Para desempenhar tal função, ao segurar
uma nota de dólar moderno você notará que não
existe na nota nada que indique algum direito ao
seu portador, pois eles não são mais apoiados ou
lastreados em nada tangível, pelo contrário, o valor
do dólar vem da seguinte linguagem da nota “This
note is legal tender for all debts, public and private”, ou
seja, é ilegal se recursar a aceitar dólares nos EUA
para pagamento e que eles são a única forma aceitá-
vel de pagamento de impostos.

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É crucialmente importante que a oferta mone-


tária de uma nação seja cuidadosamente gerencia-
da, pois se não for, a unidade monetária pode ser
destruída pela inflação como aconteceu no Brasil na
década de 80. Para demostrar o que acontece com
a destruição hiperinflacionária de uma moeda, vou
utilizar um exemplo recente que aconteceu na Iu-
goslávia entre os anos de 1988 e 1995. Antes de 1990
o dinar iugoslavo tinha um valor mensurável: você
poderia realmente comprar algo com um determi-
nado valor, no entanto, ao longo dá década de 80
o governo iugoslavo geriu um persistente déficit
orçamentário e imprimiu dinheiro para compen-
sar o déficit. No início dos anos 90 o governo havia
esgotado todas as suas reservas em moeda forte e
eles saquearam as contas privadas dos cidadãos a
fim de manter as coisas em movimento, notas su-
cessivamente maiores tiveram que ser impressas,
finalmente culminando com a impressionante nota
de 500 BILHÕES de dinares. No seu auge a inflação
na Iugoslávia estava correndo a mais de 37% ao dia,
isso significa que os preços dobravam a cada 48 ho-
ras. Para ilustrar o que aconteceu imagine que em
1 de janeiro de 2019 você tivesse um centavo e pu-

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desse comprar algo com ele, com uma inflação de


37% ao dia até 3 de abril de 2019 você precisaria de
uma nota de 1 bilhão de reais para comprar o mes-
mo item, ao contrário se você tivesse 1 bilhão de re-
ais em 1 de janeiro guardados num cofre, em 3 de
abril teria sobrado um centavo de poder de compra.
Claramente, se você tivesse tentando economizar di-
nheiro durante este período de tempo teria perdido
tudo, então podemos afirmar com segurança que os
regimes monetários inflacionários impõem uma pe-
nalidade aos poupadores.

O lado oposto disso é que os regimes monetá-


rios inflacionários promovem gastos e exigem que o
dinheiro seja investido ou especulado, a fim de, pelo
menos ter a chance de acompanhar a inflação. É cla-
ro que investir e especular envolve risco, de modo
que podemos ampliar essa afirmação para incluir a
alegação de que os sistemas monetários inflacioná-
rios exigem que os cidadãos que vivem dentro de-
les submetam suas economias a riscos, ainda mais
importante, já que a história mostra como é comum
que as moedas sejam mal administradas, como é o
caso da Venezuela, Argentina e até o Brasil na déca-
da de 80. Precisamos manter um olho cuidadoso nos

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administradores do nosso dinheiro para ter certeza


que eles não estão sendo irresponsáveis, criando
muito dinheiro do NADA sem que exista um cor-
respondente em trabalho, para que assim não des-
truam nossas economias, cultura, instituições e até
o nosso sistema político pelo processo de inflação.

Devemos dominar e entender o processo pelo


qual o dinheiro é criado, uma das frases que me fez
refletir sobre isso foi a de Mayer Amschel Rothschild:
“Deixe-me emitir e controlar o dinheiro de uma na-
ção e eu não me importo com quem faz as leis”.

O dinheiro é criado pelos bancos na forma de


reserva fracionária, o famoso compulsório, no Brasil
gira em torno de 21% e nos EUA é de 10%. Para uma
melhor compreensão de como funciona este siste-
ma, tratei um exemplo: suponha que você more nos
EUA e esteja em uma cidade que felizmente abriu
um novo banco e que ninguém fez nenhum deposito
ainda, 1000 dólares são depositados no banco e ago-
ra essa pessoa (você) tem um ativo de 1000 dólares
(sua conta bancária) e o banco tem um passivo de
1000 dólares (a mesma conta bancária), então existe
uma regra que permite aos bancos emprestar uma

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proporção, uma fração do dinheiro que eles tem em


depósito para os outros. Em teoria, os bancos podem
emprestar até 90% do que as pessoas depositam para
eles nos EUA e em torno de 79% no Brasil, embora
como veremos mais adiante a proporção real muitas
vezes excede até os 100%. Independentemente dos
valores reais os bancos retêm ou reservam apenas
uma fração de seus depósitos, ele é chamado de re-
servas fracionárias.

Os bancos não ganham dinheiro apenas man-


tendo-o, eles lucram emprestando a taxa mais alta do
que pagam aos seus clientes, como qualquer banco
nos EUA pode emprestar até 90%, o banco do nosso
exemplo consegue localizar um único indivíduo que
quer pegar emprestado 900 dólares, então o banco
empresta a ele os 900 dólares, esse cidadão gasta
esse dinheiro dando-o a outra pessoa, talvez no seu
mercado, que por sua vez deposita no banco, com
esse novo depósito o banco tem 900 dólares para tra-
balhar e por isso fica ocupado procurando alguém
que queria pegar emprestado 90% desse montante,
ou seja, 810 dólares, e assim é feito um outro emprés-
timo que é gasto e depositado mais uma vez no ban-
co, novamente ele fica com 90% para emprestar, ou

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seja, 729 dólares e isso continua até que finalmente


descobrimos que o deposito original de 1000 dólares
cresceu para um total de 10.000. Com isso, podemos
analisar que o Banco criou do nada 9.000 dólares em
dinheiro. Nesse caso, temos 1000 dólares em reserva
pelo banco, 10 mil dólares no total em várias contas
bancárias e 9 mil dólares em novas dívidas, ou seja,
para cada novo dólar criado, todos os 9 mil dólares
tem como lastro do montante a dívida ou o contra-
to de dívida. Dessa forma, você consegue entender
porque as corridas aos bancos causam falências e
existem até leis penais para que não se fale da saúde
financeira dos bancos, pois se todos que tivessem di-
nheiro no banco tentassem retirar de uma só vez não
seria possível, o banco só teria apenas 1000 dólares
em reserva.

Você também pode notar que esse mecanismo


de criação de novos recursos a partir de novos depó-
sitos funciona muito bem, desde que todos paguem
seus empréstimos no vencimento. Caso as coisas
fiquem complicadas, ou seja, se a inadimplência
da dívida exceder a taxa de empréstimo da reser-
va fracionaria será um desastre completo, podemos
concluir que o dinheiro emprestado é criado lastre-

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

ado na dívida, porém quando os empréstimos são


pagos o dinheiro “desaparece”. No exemplo citado
acima a cidade onde banco foi instalado tem 10 mil
dólares flutuando no comércio, se todos pagassem
de volta seus empréstimos a cidade teria apenas os
1000 dólares originais. Algumas perguntas que se
cria a partir disso é como pagar o empréstimo e os
juros, de onde vem o dinheiro dos juros, se todos
os empréstimos forem pagos sem juros poderemos
realmente desfazer toda a cadeia de transações, po-
rém quando consideramos os juros não há dinhei-
ro suficiente para pagar todos os empréstimos, esse
é o grande furo nessa história, portanto ao desco-
brir de onde vem esse dinheiro para o pagamento
do empréstimo também esclarecemos o mistério de
onde os 1000 dólares originais vieram. Para apreciar
as implicações dos nossos níveis massivos de dívi-
da, você tem que entender como a dívida surgiu, a
razão mais importante está relacionada a todos es-
ses gráficos exponenciais que vimos anteriormente,
porém temos que buscar a fonte original de todo o
dinheiro, de onde veio os 1000 dólares originais do
nosso exemplo, devemos entender o FED, o lugar de
onde o dinheiro do MUNDO surge.

30
ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

Suponha que o Congresso precise de mais di-


nheiro do que tem, como o congresso não tem real-
mente nenhum dinheiro, o pedido de gastos adicio-
nais é repassado para o Departamento do Tesouro,
contudo o tesouro não tem todo esse dinheiro, as-
sim, para levantar o dinheiro o Departamento do
Tesouro imprimirá uma pilha de títulos do Tesouro,
que é o meio pelo qual o Governo dos EUA toma
dinheiro emprestado, o mesmo modus operandi que
acontece no Brasil, quando você compra o Tesouro
Selic é isso que você está adquirindo, porém estou
dando foco ao FED por ser o dinheiro do MUNDO e
por ter implicações globais. O título sempre tem um
valor nominal que é a quantia pela qual será ven-
dida e tem uma taxa de juros declarada que pagará
ao portador, então se você comprasse um título com
$ 100 de valor nominal e pagasse uma taxa de ju-
ros de 5%, pagaria $100 por esse título e em um ano
receberia $ 105 de volta. Os títulos do tesouro são
vendidos em leilões regulares e é seguro dizer que a
maioria desses títulos é comprada por grandes ban-
cos e por nações soberanas como China e o Japão,
o dinheiro que é usado para comprar esses títulos
é enviado para os cofres do Departamento do Te-

31
ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

souro, onde pode ser desembolsado para o conjunto


usual de programas do governo. Porém o PRÓPRIO
FED compra título do tesouro de um banco, criando
dinheiro do NADA, isso é chamado de “Quantitative
Easing” o Famoso QE, quando o FED adquire um tí-
tulo de um banco ou de outra instituição financeira,
ele simplesmente transfere dinheiro suficiente para
cobrir o custo do título para o banco e depois toma
posse do título, é simples assim, o título é trocado
por dinheiro.

O FED tem o dinheiro, o banco tem o título,


ou seja, o FED cria dinheiro do NADA quando com-
pra esse título. Esse dinheiro recém-criado pelo FED
sempre é trocado por um instrumento de dívida,
seja um título do tesouro, um título hipotecário ou
(MBS) ou até mesmo dívidas corporativas em raras
ocasiões (isso está sendo feito de forma agressiva
pelo BCE - Banco Central Europeu).

Enquanto precisamos trabalhar para ganhar


dinheiro nos colocado em risco em operações finan-
ceiras para ter rentabilidade, o FED simplesmente
imprime o quanto quiser e quando quiser e depois
empresta para o governo com juros. Dado ao fato

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

de que mais de 3.800 moedas de papel (e algumas


metálicas) ficaram sem valor devido à má adminis-
tração, faz total sentido ficar de olho se o Federal
Reserve está agindo com responsabilidade com essa
unidade monetária, afinal de contas é o dinheiro do
MUNDO, até o Brasil possui 300 bilhões em reser-
vas, pois como esse é um poder extraordinário deve-
mos prestar muita atenção para verificar se eles não
estão exagerando e imprimindo demais, portanto
podemos concluir que existe dois tipos de dinheiro.
O primeiro é o crédito bancário que é o dinheiro em-
prestado, o crédito bancário é um tipo de dinheiro
que vem com uma quantia igual e compensadora da
dívida associada a ele, dívida sobre a qual os juros
devem ser pagos. O segundo é o dinheiro impresso
do nada pelo FED e pelos Bancos Centrais, então po-
demos afirmar que todo dólar, todo real e todo euro
são garantidos por dívidas. No nível bancário por
empréstimos a pessoas e no nível de bancos centrais
empréstimos a governos, o dinheiro é garantido por
dívidas, dívida que paga juros. A partir desse con-
ceito chave podemos formular uma declaração ver-
dadeiramente profunda, que é: no mínimo a cada
ano deve ser emprestado dinheiro novo suficiente

33
ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

para cobrir o pagamento de juros de todas as dívi-


das pendentes. Se invertermos ligeiramente, pode-
mos dizer que a cada ano toda a dívida pendente
deve ser composta pelo menos pela taxa de juros
dela. Como nosso sistema monetário baseado em
dívida está crescendo em alguma porcentagem ao
longo do tempo, ele é um sistema exponencial por
seu próprio design.

É de fácil visualização que o montante de dí-


vida no sistema sempre excederá a quantia de di-
nheiro. Compreendendo seu design você estará bem
equipado para entender que o alcance potencial dos
resultados futuros para a nossa economia são ilimi-
tados, mas limitado pelas regras do próprio sistema
que é projetado para aumentar em alguma porcen-
tagem, neste caso a taxa de juros sobre toda a dívida
pendente ao longo do tempo, ou seja, nosso sistema
monetário é projetado para expandir exponencial-
mente. Essa é uma característica dele e acreditar que
isso é uma coisa boa ou ruim não vai mudar o fato
de que é simplesmente assim, que o nosso sistema
monetário é projetado. Tudo isso nos leva a crer que
a expansão perpétua é uma exigência dos bancos
modernos, não uma exigência legal, mas uma exi-

34
ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

gência sistêmica como seu corpo requer oxigênio


para funcionar. Na verdade, podemos fazer uma re-
gra: para evitar o colapso a cada ano, novos créditos
(empréstimos) devem ser feitos, pelo menos, igual
ao montante de todos os pagamentos de juros pen-
dentes naquele ano. Sem uma expansão contínua da
oferta monetária, as dívidas passadas não poderiam
ser atendidas e as inadimplências repercutiriam e
possivelmente arruinariam todo o sistema. A ina-
dimplência é o grande PERÍGO de nosso sistema
monetário, um sistema baseado em dívida, por isso
todas as forças institucionais e políticas de nossa so-
ciedade estão voltadas para evitar esse resultado, as-
sim o sistema bancário DEVE expandir-se continua-
mente, não necessariamente porque é a coisa certa
ou errada, sim porque simplesmente foi assim que
foi projetado, é uma característica do sistema assim
como o uso da gasolina ou álcool é uma característi-
ca de um motor de um carro.

Não existe viabilidade de um sistema que pre-


cisa expandir exponencialmente para sempre, prin-
cipalmente as custas dos recursos de um planeta
finito, cedo ou tarde nossos modelos monetários e
econômicos colidirão com as realidades físicas, eu

35
ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

acredito que já começou e isso algumas vezes pode


me parece assustador.

Antes de passarmos para os eventos atuais é vi-


tal que saibamos como a sociedade chegou até aqui,
então vamos fazer um rápido resumo da história
monetária dos EUA, pois no passado essa nação já
mudou radicalmente as regras em virtude de emer-
gências, o sistema monetário que vivemos hoje é bem
mais jovem do que você imagina. Após o grande pâ-
nico financeiro de 1907, quando o Banqueiro Privado
JP Morgan entrou em cena como um credor de ban-
cos, tendendo por uma solução do governo que foi
finalmente tomada em 1913, com um cartel bancário
chamado Reserva Federal, o famoso FED que pare-
cia algo governamental, mas na realidade não era, o
estoque do FED era para ser detido pelos bancos pri-
vados membros. Um dos principais argumentos para
criar o FED foi para ter um banco central capaz de
intervir e prevenir perdas de pânico, porém ao invés
de ser o último recurso o FED ajudou a fornecer o ne-
cessário combustível para uma bolha especulativa de
ações que estourou em 1929, com um efeito devas-
tador e gigantescas consequências, os efeitos foram
numerosas falências bancárias, a oferta de dinheiro

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

encolheu quase um terço em apenas três anos e em


1933 os EUA efetivamente declarou falência. Um dos
traders que mais lucrou com o caos da época e que eu
realmente sou um fã foi Jesse Livermore.

Naquela época o recém-eleito presidente Roo-


sevelt decidiu contrariar a oferta monetária de uma
maneira mais drástica, ele ordenou o confisco de todo
ouro de propriedade privada e imediatamente des-
valorizou o dólar americano, até nesse momento na
história dos EUA ainda existia o padrão OURO, isso
significava que cada dólar de papel em circulação
foi lastreado por uma quantidade especifica de ouro
em que os dólares poderiam ser convertidos. Antes
da apreensão do ouro uma onça de ouro custava 21
dólares e depois 35, logo depois as obrigações con-
tratuais dos Governo Americano, como títulos pagá-
veis em ouro, foram anuladas com a aprovação do
Supremo Tribunal, isso apenas nos mostra como o
governo estava em um período de emergência e nes-
ses tempos ele pode e vai mudar regras e até mesmo
quebrar a sua própria, bem como aconteceu no Bra-
sil na década de 90 com o confisco das poupanças
pelo presidente Collor. Todo o ouro acabou nos co-
fres do FED ou FMI, um total de 11 bilhões de dóla-

37
ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

res foram trocados por 261 milhões de onças de ouro


no país, em outras palavras, o controle completo do
ouro da mais prospera nação do mundo foi trocada
por dinheiro criado do nada, depois de apenas 20
anos da criação do FED. Desta forma, o FED passou
a deter todo o OURO dos EUA, todas essas onças
de ouro ainda permanecem nos livros do FED como
um ativo, então tecnicamente ele realmente perten-
ce aos acionistas, conforme eu falei anteriormente o
FED é um banco PRIVADO.

Para acabar com a turbulência e para fornecer


uma base para a recuperação global, uma conferên-
cia foi realizada em Bretton Woods, New Hampshire
em 1944 com todas as principais potências aliadas,
com o objetivo de estabelecer um sistema monetário
mundial, reconhecendo que os EUA representavam
quase a metade do PIB mundial. O dólar america-
no foi feito como reserva global e todas as moedas
tinham taxas fixas de troca para o dólar, que por
sua vez era resgatável por ouro, com 35 dólares por
onça. Este sistema de Bretton Woods foi assegurado
em um período de prosperidade e rápida recupera-
ção econômica, mas houve uma falha no seu design,
nada no Bretton Woods impedia que o EUA através

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

do FED ampliasse a oferta de dólares no mercado da


forma que achasse mais conveniente ou necessária.
Desta forma, com a continua expansão não haveria
mais ouro para lastrear o dólar, ou seja, não seria
possível converter todos os dólares em ouro. En-
quanto isso a Guerra do Vietnã prosseguia fazendo
com que os déficits dos EUA fossem recorrentes e
estes (EUA) inundassem o mundo com seus dólares.
Os Franceses, por meio do seu Presidente Charles
de Gaulle, exclamaram sua desconfiança e receio de
que os EUA seriam incapazes de honrar sua obriga-
ção de Bretton Woods - manter o sistema financeiro
sempre estável.

Com o excesso de dólares para convertê-los em


ouro e com toda essa pressão, o Presidente dos EUA,
Richard Nixon declarou por força maior em 15 de
agosto de 1971 o fim do lastro de dólares em ouro.
Chegamos à conclusão que todos os Governos tomam
medidas extremas dependendo da situação, seja uma
crise ou uma guerra. Permitiram-se imprimir o que
eles precisavam de dinheiro ao invés de impor im-
postos, uma medida que seria impopular e politica-
mente desgastante. Tal ato afetou o mundo inteiro,
porque o fim do lastro em ouro destruiu a fundação

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

do Bretton Woods, pois sem o lastro em ouro não ha-


via limite físico para o quanto de papel poderia ser
impresso, como pode-se perceber até agora todos os
dólares são garantidos por dividas, vamos visualizar
como caminhou a dívida americana após isso.
Gráfico 8 - Divida do Governo Federal dos EUA, 1970 - 2019

Fonte: Devian Investor

Note o que acontece com a dívida após o ato


de Nixon, que acabou com qualquer tipo de con-
tenção física que poderia existir, perceba também
o quão rapidamente os níveis de dívida subiram.
Nos últimos anos nós vemos a mais alta acumu-
lação de dívida da história da humanidade, corte
de impostos na mesma época em que o FED está
imprimido dinheiro do nada para cobrir o déficit
orçamentário do governo.

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

Grafico 9 - Oferta monetária nos EUA

Fonte: Board of Governors of the Federal Reserve System (US)

Demorou aproximadamente 300 anos até 1973


para ser gerado 1 trilhão de dólares em dinheiro dis-
ponível, atualmente se cria mais de 1 trilhão e meio
de dólares por ano, se continuar nesse ritmo de ex-
pansão temo que aconteça uma hiperinflação e a
destruição do dólar. Vale ressaltar que o modelo de
sistema flutuante de moedas (sem lastro) foi criado
em 1971 e tem apenas 48 anos. O dólar continua sen-
do uma reserva popular de moeda por uma questão
de conveniência, mas nada exige ou garante que ela
irá manter este “papel”, ou seja, será uma reserva
segura. É por esse mesmo motivo que vemos uma
expansão tão grande de moedas virtuais, onde não
existe essa CENTRALIZAÇÃO.

41
ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

Existe um nome utilizado para toda essa “far-


ra” de impressão chamado de “QE” ou Quantitative
Easing e o mais preocupante é que isso está sendo
feito no mundo inteiro, EUROPA, BRASIL, JAPÃO
entre outros, isso é muito importante porque quan-
do você cria um monte de dinheiro, cria-se também
um problema social, porque o dinheiro é realmente
um contrato social. Todos nós concordamos que ele
tem valor, mas por outro lado não é lastreado em
mais nada, é um acordo mútuo, é CONFIANÇA,
desta forma deveríamos ver a impressão monetária
mais como uma experiência social do que como uma
prática monetária sofisticada, porque quando uma
nação entra em colapso a sociedade como um todo
também é impactada, o comércio é fortemente inter-
rompido, as prateleiras são limpas, as carreiras são
arruinadas e o futuro é bastante reduzido.

E o mais preocupante é que não imprimimos


muito dinheiro físico, quando eu falo em dinheiro
sendo impresso imagine apenas números sendo co-
locados numa conta, a forma que o FED cria dinhei-
ro é simplesmente criando uma entrada contábil
que diz que o dinheiro existe, ele cria esse dinheiro
quando compra títulos do tesouro ou títulos lastre-

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

ados em hipotecas, que é o que significa “MBS”, en-


tão se fossemos dar uma olhada no balanço do FED,
deveríamos vê-lo crescendo aos trancos e barrancos
nos últimos anos. O FED tem injetado dinheiro no
sistema financeiro, mas a maior parte desse dinheiro
não foi disponibilizada na forma de novos emprés-
timos para a população, em vez disso, foi estaciona-
do à toa no FED com um ganho de 0,25% de juros,
uma vez que estamos com excesso de reservas, o
que não está estacionado no FED, está lá fora sendo
usado em ações, títulos, imóveis, tudo em virtude
das grandes instituições que podem comprar imen-
sas quantidades dessas três classes de ativos usando
dinheiro que o FED imprimiu do nada.
Grafico 10 - Relação S&P ou Dow Jones e a Impressao do FED

Fonte: Zeal Research

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

É uma previsão segura a ser feita que o Mercado


de ações caia e caia MUITO se o FED parar de impri-
mir dinheiro, o mercado de ações agora está ligado e
esse estímulo é totalmente essencial. Uma preocupa-
ção enorme e pouco compreendida é que esse dinhei-
ro recém impresso, uma vez criado, será muito difícil
de ser recuperado se necessário, o famoso “QE” fun-
ciona muito bem quando o dinheiro está saindo pela
porta da frente do FED, mas não vai funcionar muito
bem em sentido inverso. Na verdade, isso pode ser
impossível sem derrubar todos os mercados de ações
e títulos, criando assim todo tipo de dificuldades para
o FED culminando numa crise global.

Quando o FED está comprando uma enorme


porção de algo, digamos títulos do tesouro, o pre-
ço dessa classe de ativos é elevado no mercado pela
demanda artificialmente criada pelo FED, como
ele pré-anuncia suas compras de ativos, as pessoas
que compram esses ativos têm uma enorme vanta-
gem, quando o FED anuncia que planeja comprar
um monte de títulos do tesouro, os bancos saem e
os compram primeiro, isso é chamado de “front run-
ning”. Em seguida os bancos voltam e vendem esses
mesmos títulos do tesouro ao FED a um preço mais

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

alto do que compraram, o que lhes permitem obter


grandes lucros. Todos ficam felizes, o governo dos
EUA desfruta de uma liquidez sensacional para sua
dívida, além de obter juros ultra baixos como parte
do acordo, os bancos ganham muito dinheiro sem
risco e o FED empurra muito dinheiro recém impres-
so no sistema reduzindo ainda mais as taxas de juros
e impulsionando o mercado de títulos, o mercado
de ações e os preços das casas. Isso é ótimo se você
for uma das instituições que vai receber o dinhei-
ro, nesse cenário, todo mundo adora o FED, pois ele
possibilita todos esses resultados populares, porém
se o FED decidir que é hora de parar de inundar o
mundo com dinheiro, e ao invés disso, tentar redu-
zir a sua oferta, ou seja, será o inverso por definição,
os bancos estarão comprando títulos do tesouro que
estão caindo de preço e não subindo. O FED exigi-
rá dinheiro dos bancos, e em contrapartida, estará
dando a eles títulos com os quais estará inundan-
do o mercado, quando se tem muita oferta só existe
uma direção a seguir - para baixo, ao mesmo tempo
o governo dos EUA ainda estará vendendo novos
títulos no mercado, só que agora o FED não estará
lá para comprá-los, então esses títulos emitidos pelo

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

Governo irão competir com os vendidos pelo FED,


competindo por um suprimento cada vez menor de
dinheiro. Dessa forma, matematicamente os juros
terão que aumentar e a medida que os juros sobem,
os mercados de títulos sofrerão perdas, assim como
os preços de casas e ações, ou seja, caos total.

A razão não é difícil de entender, você não


pode imprimir a verdadeira prosperidade, a riqueza
real não vem do dinheiro impresso, a riqueza real só
vem de pessoas reais realizando ações que criam va-
lor real, dinheiro é apenas uma REIVINDICAÇÃO
da riqueza e do TRABALHO. Como todos os Bancos
Centrais do mundo estão fazendo isso, o potencial
para um período inflacionário global é muito real.

A maioria das pessoas pensam na inflação


como o aumento dos preços, como se as coisas fi-
cassem mais caras, mas na verdade é seu dinheiro
que está perdendo valor. Imagine que há um ano
uma maça e uma laranja custavam um real cada e
no próximo ano passarão a custar dez reais cada,
digamos que a oferta tenha se mantida igual, a úni-
ca coisa que realmente mudou nesse tempo foi que
o seu dinheiro perdeu o valor. Inflação não é causa-

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

da pelo aumento dos preços, o aumento dos preços


é um sintoma da inflação, como uma febre é o sin-
toma de uma gripe. A inflação é causada pela pre-
sença de muito dinheiro em relação as coisas que
queremos comprar.
Grafico 11 - Níveis de preço nos EUA

Fonte: US Bureau of Labor Statistics

Podemos visualizar que de 1665 até 1776 pra-


ticamente não existiu inflação nos EUA, ou seja,
durante um período de cento e onze anos se você
economizasse um dólar você teria um dólar, mas se
você analisar de 1900 até hoje a história é totalmen-
te diferente, ou seja, cada vez que um dólar ou um
real for impresso, o dólar ou o real que você possuir
perderá parte do valor. Morar em um mundo onde o
seu dinheiro perde o valor a cada ano, significa cada

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

vez mais ter que trabalhar apenas para permanecer


no lugar, isso significa que decisões de investimento
cada vez mais desconcertantes e arriscadas têm que
ser tomadas, na tentativa de aumentar as economias
com rapidez suficiente para superar a criação de di-
nheiro e dívidas, isso significa que duas rendas são
necessárias onde uma costumava ser suficiente, isso
ocasiona, por exemplo, em menos tempo para o for-
talecimento da família já que muitas vezes ambos os
pais trabalham. Um mundo de dinheiro em erosão é
um mundo complicado de se viver para a maioria,
pois deixa pouco espaço para erros.

Você pode se perguntar, como a inflação ainda


não saiu do controle se o FED está imprimindo mais
dinheiro do que nunca? Temos que lembrar que a
inflação se aplica a qualquer coisa que as pessoas
possam querer comprar, às vezes a inflação signi-
fica que as necessidades básicas da vida como pão,
leite, carne estão mais caras, às vezes a inflação sig-
nifica que nossas casas ficaram mais caras, às vezes
significa que coisas como ações e títulos estão su-
bindo de preço. Nos jornais o que vemos é que as
bolsas de valores do mundo estão em nível recorde,
de forma muito injusta, quando os governos impri-

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

mem como loucos, os mais próximos da impressão


se beneficiam mais, porque têm acesso a todo aque-
le dinheiro recém-criado primeiro, o nome disso é
SEIGNORAGE e é conhecido a muito tempo, ele é
um processo muito bem entendido. No mundo de
hoje os mais próximos da impressão de dinheiro já
são fabulosamente ricos e em certo ponto o dinhei-
ro adicional nas mãos dessas pessoas não estimula
compras adicionais em produtos básicos.

A disparidade de riqueza em todo o mundo e


principalmente nos EUA é tão grande quanto jamais
foi visto, em grande parte é um efeito colateral da
impressão do banco central. O dinheiro que as famí-
lias e instituições financeiras ultras ricas acumulam
cada vez mais rápido tem que ir para algum lugar e
assim acontece, primeiro em qualquer coisa que pos-
sa conter muito dinheiro, por isso que ele vai para os
mercados maiores e mais líquidos, como títulos do
tesouro dos EUA e os mercados de ações. É por isso
que nosso mercado (do Brasil) é tão dependente dos
estrangeiros, pois é utilizado como alternativa espe-
culativa, em seguida entra em coisas que as pessoas
ricas podem apreciar mais facilmente, como vinhos
finos, arte e casas espetaculares. Eventualmente, à

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

medida que os investimentos “virtuais” começam a


parecer frágeis devido às preocupações crescentes
de que há muitas alegações sobre a riqueza real, os
detentores da riqueza voltam suas atenções para coi-
sas reais, como terra, metais e casas. Esses produtos
começam a subir de preço à medida que passamos
para o terceiro estágio do processo inflacionário, na
minha visão estamos bem perto dessa fase, se não
nos seus primórdios. Podemos ver que o Banco Cen-
tral Europeu já está adotando taxas NEGATIVAS,
para se ter uma ideia a dívida do JAPÃO já ultrapas-
sa 1 quadrilhão de IENES.

Nosso sistema monetário baseado em dívida


tem uma falha fundamental, requer crescimento in-
finito para permanecer funcional e ele simplesmente
não é possível. Uma dívida financeira é uma obri-
gação contratual de pagar uma determinada quan-
tidade de dinheiro em algum momento no futuro.
O conceito de dívida é completamente caracterizado
dentro do sistema legal, então podemos dizer que
uma dívida é um contrato legal que fornece dinhei-
ro hoje em troca de pagamento no futuro com taxa
de juros acordada. As dívidas vêm de muitas for-
mas, empréstimos para aquisição de veículos, finan-

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

ciamento imobiliário que são considerados dívidas


seguras, pois o imóvel é a garantia; cartão de crédi-
to, porém esta é considerada insegura uma vez que
nada pode ser apreendido ou retomado em caso de
inadimplência. Para nós só existe duas maneiras de
extinguir uma dívida: pagar ou ficar inadimplente,
o famoso calote, mas se você tem uma impressora
como o governo existe uma terceira opção, imprimir
dinheiro para pagar a dívida. Esse método é uma
forma de tributação disfarçada, pois corrói o valor
do dinheiro existente e transfere esse valor para os
detentores da dívida. Podemos encarar isso como
uma forma de inadimplência, pois punem os pou-
padores e aqueles menos capazes de suportar o im-
pacto da inflação. As obrigações puras de dívidas do
governo dos EUA chegaram a 22 trilhões de dólares
e isso é apenas a dívida, quando adicionamos as ou-
tras responsabilidades do governo, principalmente
como seguridade social obtemos um número de 6 a
9 vezes maior que esse valor.

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

Gráfico 12 - Divida total dos EUA – Federais estaduais e


municipais / Renda Nacional

Fonte: Federal Reserve System

Cabe salientar que nem toda dívida é ruim, a


dívida que melhor pode ser descrita como “dívida
de investimento” oferece a oportunidade de se pa-
gar de volta. Um exemplo seria um empréstimo uni-
versitário oferecendo a oportunidade de ganhar um
salário maior no futuro, os banqueiros chamam isso
de “divida liquidante”, o que significa que os em-
préstimos aumentam as receitas futuras e tem meios
de se retribuir. Existe também os empréstimos para
consumo, que são aqueles utilizados para comprar
um bom carro, para viajar ou para comprar material
para guerra, são chamadas “dividas não autoliqui-
dáveis” porque não geram receita futura adicional.
Portanto, nem todas as dívidas são ruins, apenas o

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

excesso de empréstimos improdutivos é ruim. En-


tre 2000 e 2019 a dívida total do mercado de crédito
dos EUA quase triplicou e a maior parte disso tem
sido de “dívidas não autoliquidáveis”, então pode-
mos afirmar que a dívida na verdade nos dá o di-
nheiro para gastar hoje, podemos comprar um carro
melhor e aproveitar esse carro hoje, mas no futuro
os pagamentos de empréstimos representam dinhei-
ro que não teremos para gastar com outros itens ou
para poupar, então dizemos que a dívida representa
o consumo futuro usado hoje. Desde que a decisão
de se endividar seja exclusivamente minha e o reem-
bolso seja minha responsabilidade, tudo isso é legal,
no entanto uma vez que consideramos que nossos
atuais níveis de endividamento exigirão que os es-
forços e as rendas das gerações futuras os paguem
de volta, começaremos a nos direcionar para o as-
pecto moral dessa história, pois não é apropriado
que uma geração consuma além de suas possibili-
dades e espere que as gerações seguintes paguem o
preço por isso.

Estamos acumulando dívidas que nós mesmos


não podemos pagar, muito desse dinheiro empres-
tado está sendo usado simplesmente para apoiar o

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

consumo e não para investimentos em infraestru-


tura, investimentos que poderiam beneficiar os fu-
turos contribuintes uma vez que entendemos que a
dívida é uma reivindicação sobre o trabalho huma-
no futuro. Nesse sentido, temos um dever fiduciário
com nossas futuras gerações. Já enfrentamos pro-
blemas no Brasil com esse aumento de dívida para
incentivar o consumo, nossos mercados de dívida
assumem que o futuro do (PIB) será muito maior do
que o atual, porém se isso não acontecer, as dívidas
devem ser extintas de alguma forma, os meios pelos
quais isso pode acontecer envolvem um processo
de inadimplência ou de inflação. A inadimplência
é fácil de explicar, as dívidas não são pagas e quem
emprestou não recebe seu dinheiro de volta. Já a in-
flação pode ser um pouco mais difícil de entender,
então imagine que você vende uma casa para alguém
por 150 mil reais, os termos exigem que você quite
sua dívida em 10 anos em um pagamento único de
230 mil reais, porém com o valor recebido você não
consegue mais adquirir nem o terreno da casa, em
ambos os casos seu poder de ganho foi destruído.

No Brasil nos enfrentamos uma dívida enorme


com a nossa previdência, bem como em quase todo

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

mundo moderno, pois existe uma transferência de


riqueza diretamente dos trabalhadores atuais para
os aposentados, porém nós lidamos com um desafio
demográfico gigantesco uma vez que a taxa de tra-
balhadores ativos não vai acompanhar uma propor-
ção saudável em relação aos que estão se aposentan-
do. Atualmente, diante de tamanho endividamento,
podemos dizer que lidamos com diversas “bolhas”
no mercado, a destruição da economia é algo certo
quando alguma dessas “bolhas” estoura. As “bo-
lhas” só costumavam acontecer uma vez a cada ge-
ração ou mais, porque levava um tempo considerá-
vel para as vítimas esquecerem a dor do dano, mas
isso mudou no novo milênio, menos de 10 anos após
o estouro das bolhas das empresas Ponto Com, vi-
mos o estouro da bolha imobiliária americana. Isso
é simplesmente surpreendente e completamente
sem precedentes, mas espantosamente, agora exis-
tem bolhas simultâneas de ações e títulos em toda
estrutura do mercado financeiro do mundo, esta-
mos no nosso terceiro período de bolha em menos
de 15 anos, essa nova era de propagação de bolhas
em série significa que agora estamos em um novo
território turbulento, com o qual temos pouca orien-

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

tação histórica a ser usada. Podemos ter a definição


que existe uma bolha quando a inflação dos preços
dos ativos sobe além do que a renda pode susten-
tar, uma bolha representa pessoas que abandonam a
razão e a prudência quando a ganância toma conta.
Podemos visualizar isso ao analisarmos a bolha das
tulipas que ocorreu por volta do século XVI na Ho-
landa, virou uma mania comprar tulipas e utilizar
isso como investimento e o preço apenas subia e su-
bia, porém como algo insustentável veio ao colapso.
O segundo exemplo de bolha vem do século XVII e
atende pelo nome South Sea Company, uma empre-
sa inglesa para quem foi concedido o monopólio do
comércio com a América do Sul sob um tratado com
a Espanha, então as pessoas começaram a especular
sobre seu valor futuro e novamente houve um co-
lapso. Até Sir Isaac Newton, um gênio que inventou
o cálculo e descreveu a gravitação universal, teve
um prejuízo de 20 mil libras como o estouro da bo-
lha, provando que a inteligência muitas vezes não é
páreo para o efeito de manada. É assim que as “bo-
lhas” são, as pessoas se despedem de seus sentidos,
usam todos os tipos de justificativas para justificar
suas posições, mas de repente a ilusão se mostra e

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o que parecia ser indiscutivelmente verdadeiro não


faz mais sentido algum.

Se pararmos para analisar de forma fria, vere-


mos que a dívida está subindo mais rápido do que
as rendas, essa dívida está precificada em todos seus
máximos históricos e nem todas são “boas”, existe
mais dívidas ‘lixo” circulando que nunca. Nova-
mente a história está se repetindo e todo os sinais
estão postos, estamos em um conjunto de bolhas gi-
gantescas nos mercados financeiros e eles são maio-
res e mais globais do que qualquer outro anterior.
Uma das razões pelas quais uma “bolha” é destru-
tiva vem do fato de muitos investimentos ruins se-
rem feitos ao longo do caminho, muitas casas são
construídas e muitos empréstimos ruins são feitos
para indivíduos e empresas com perspectivas ruins
para pagá-los. É muito dinheiro colocado em ações
altíssimas, o pior de tudo isso é que essas ações rou-
bam a oportunidade de projetos que realmente pre-
cisavam desse dinheiro. A Escola Austríaca, da qual
eu sou entusiasta, tem uma definição muito precisa
para situar o término de uma bolha de crédito, de
acordo com Ludwig Von Mises “não há como evitar
o colapso final de um boom provocado pela expan-

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

são do crédito. A alternativa é apenas se a crise deve


ocorrer mais cedo como resultado de um abandono
voluntário da expansão do crédito, ou mais tarde,
com uma catástrofe final e total do sistema monetá-
rio envolvido.” Está é uma visão que explica o por-
quê de eu firmemente acreditar em um potencial co-
lapso no mercado financeiro, como resultado disso
tudo que cresceu em consequência de um crédito fá-
cil entrará em colapso, eu estou especialmente des-
confiado de ações, títulos de baixo grau e imóveis
que estão com seu valor maior que o real.

Como você sabe, a inflação é uma questão de


política ativa. Nosso sistema bancário atual arris-
ca muito pouco e falha demais, com isso a maioria
das pessoas perceptivelmente perde o valor de suas
economias, o que as torna politicamente inquietas,
portanto manter a inflação em uma temperatura cor-
reta, nem muito quente nem muito fria é o nome do
jogo. O FED atualmente tem uma meta explicita de
inflação de 2%, isso significa que o FED acha que
seu dinheiro deve perder metade do valor a cada
36 anos, claro que isso só vai acontecer se realmen-
te for experimentado uma inflação de 2% ao ano. A
inflação tem dois componentes: o primeiro é a sim-

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ples pressão sobre os preços devido ao excesso de


dinheiro flutuando e o segundo componente está
nas expectativas das pessoas quanto a inflação fu-
tura. Se as pessoas acham que os preços irão subir
no futuro, elas tendem a gastar seu dinheiro agora
para conseguir comprar mais produtos e isso serve
para alimentar mais a inflação, quanto mais rápido
as pessoas gastam, mais rápido a inflação aumen-
ta, então a política inflacionária deve equalizar esses
dois componentes, o primeiro é regular a oferta de
dinheiro e o segundo é ancorar as expectativas das
pessoas, é assim no mundo todo. Para ancorar essas
expectativas se diz ao público em geral que a infla-
ção é menor ou até muito menor do que na verdade
é, isso é feito em vários braços dos Governos pelo
mundo. No Brasil, por exemplo, existe uma forma
peculiar de medir os desempregados - não se mede
quem não está PROCURANDO emprego. Nesse
sentido, para fins de estatísticas temos sempre uma
porcentagem diferente da realidade. Isso aconteceu
também nos EUA com Kennedy, que não gostava
dos números altos de desemprego, então desenvol-
ve-se outra classificação que removeu os chamados
“trabalhadores desencorajados” dos dados princi-

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pais, isso fez com que o número de desempregados


caísse, algo que qualquer político gosta de ver, mes-
mo que seja apenas maquiando os números.

No Brasil quando existia superávit da Seguri-


dade Social, os fundos excedentes eram transferidos
para o orçamento principal por meio da “DRU” -
Desvinculação das Receitas da União, no limite de
20%. Isso fazia com que esses gastos não fizessem
parte do déficit, fazendo ele parecer menor do que
ele deveria ser. O impacto cumulativo de todas essas
manipulações de dados recai sobre nossas medições
que não correspondem mais a realidade, na verda-
de, foram nos dito uma série de pequenas mentiras
que começaram a se somar a outras, essas mentiras
servem para distorcer nossas decisões e assim, com-
prometer nosso futuro econômico.

Se você fosse solicitado para medir a inflação a


partir de uma análise da inflação que é relatada no
índice CPI (EUA) e IPCA (BRASIL), você provavel-
mente controlaria o custo de uma cesta de produtos
de um ano para o outro, subtraia os dois e mediria
a diferença, seu método seria, de fato, como a infla-
ção era oficialmente medida até o início dos anos 80,

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mas em 1996 o governo Cliton implementou as des-


cobertas da comissão Boskin. Agora os americanos
medem a inflação usando três esquisitices: Substi-
tuição, Ponderação e Hedônica. Não se mede mais
os custos de bens e serviços de um ano para o outro
por causa de algo chamado Substituição, graças à
comissão de Boskin supõe-se que quando o preço de
algo sobe, as pessoas mudam para algo mais barato.
Digamos, por exemplo, que o preço do salmão sobe
demais, ele é removido da cesta de produtos e subs-
tituído por linguado, mas APENAS se o linguado
for mais barato que o salmão no momento. O uso de
substituição impacta na nossa medida de inflação, já
que ela não mede mais o custo de vida, mas o custo
de SOBREVIVÊNCIA. Em seguida, qualquer coisa
que aumente muito rapidamente de preço está ago-
ra sujeita a chamada “ponderação geométrica”, na
qual os bens e serviços que estão subindo mais rapi-
damente de preço obtém uma ponderação menor na
cesta do CPI, com a suposição de que as pessoas usa-
rão menos dessas coisas, mas isso é uma bobagem,
quando se trata de coisas como custo de uma facul-
dade ou de saúde não dá para consumir menos só
porque está mais caro. O mais estranho de todos eles

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

chamam de “Hedônico”, a palavra vem do grego e


significa “pelo prazer”. Esse ajuste deveria acertar as
melhorias de qualidade, especialmente aquelas que
levam a um prazer ou utilidade do produto, mas ele
foi excessivamente usado. Esse mecanismo se baseia
na suposição de que os novos recursos são sempre
benéficos e são sinônimos de queda de preços, os he-
dônicos agora são usados para ajustar até 46% do
total do CPI. Já no Brasil desfrutamos nos últimos
4 anos de uma grande inflação e uma grande mu-
dança na cesta dos produtos do IPCA. Dessa forma,
podemos concluir que uma taxa de inflação mais
alta é consistente com mercados de trabalho fracos e
níveis crescentes de dívida. Ele se ajusta melhor aos
dados de crescimento monetário, tantas coisas difí-
ceis de explicar sob uma leitura de inflação baixa nos
EUA de repente fazem sentido, o custo social desse
autoengano é enorme, para começar, se a inflação
fosse calculada como costumava ser, os pagamentos
da seguridade social, cujos aumentos são baseados
no CPI, seria 70% mais altos do que são hoje.

Em teoria, o PIB é a soma total de todas as


transações de valor agregado dentro de um país em
qualquer ano. O PIB sobre o qual você lê é sempre

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

ajustado pela inflação e informado após a subtra-


ção dela, isso é chamado PIB real, enquanto o nú-
mero ajustado pré-inflação é chamado de PIB no-
minal. Isso é importante porque o PIB deve medir
a produção real e não o impacto da inflação, por
exemplo, se em um ano toda a economia consistia
em produzir um notebook e no outro teve a mes-
ma produção devemos registrar o crescimento de
0, pois a produção foi exatamente a mesma. Se ven-
dêssemos esse notebook por R$ 1000 no primeiro
ano e no próximo por R$ 1100, nós acidentalmente
registraríamos um crescimento de 10% do PIB se
não descontássemos a inflação, o que realmente é
importante aqui é medir o que produzimos. Agora
você pode entender porque uma leitura baixa da
inflação deixa os políticos felizes, porque o PIB é
expresso em termos REAIS, quanto menor for o va-
lor subtraído do número nominal do PIB, maior o
PIB é reportado. Esse crescimento é importante pois
é a base do sistema, contanto que nossos sistemas
de crédito, dinheiro e por extensão nossa economia
possam crescer exponencialmente para SEMPRE. É
um sistema perfeitamente sustentável, no entanto
se houver algum motivo, como limites físicos pla-

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netários que possam impedir esse crescimento sem


fim, teremos um grande problema.

Temos que entender que energia é a alma de


qualquer economia, 95% de tudo que se move em
todo o mundo se faz com base em combustíveis lí-
quidos derivados do petróleo, então devemos nos
preocupar para o dia que a demanda mundial su-
perará a oferta disponível. É nesse momento que os
mercados de petróleo vão mudar para sempre, pri-
meiro vamos ver grandes aumentos de preços, isso
é um fato. Você lembra da greve dos caminhoneiros
no Brasil? Tivemos muitos problemas nas cidades
PRINCIPALMENTE porque não tinha combustí-
vel disponível. A quantidade de petróleo necessária
para produzir e transportar alimentos nos chama a
atenção, atualmente usamos 70% do petróleo princi-
palmente no transporte, depois para fins industriais
e por último para gerar eletricidade, então se substi-
tuíssemos toda a eletricidade e calor gerado pelo pe-
tróleo por fontes renováveis estaríamos apenas nos
referindo a minúsculas fatias.

Nos processos industriais, o petróleo é a prin-


cipal matéria prima de insumos para inúmeras ne-

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cessidades da vida, como fertilizantes, plásticos, tin-


tas, fibras sintéticas e inúmeros processos químicos,
como isso podemos confirmar que vivemos na era
do petróleo. A maioria das outras fontes são, por ve-
zes, incapazes de atender a essas necessidades, bio-
combustíveis e o carvão poderiam potencialmente
preencher algumas dessas funções, mas certamente
não sem um maciço programa de reinvestimento. É
uma inevitabilidade matemática que nos atuais ní-
veis de consumo vamos nos deparar com um pico
de petróleo, somente a data que o pico chegará é
que está sendo discutida atualmente. Podemos le-
var em consideração que a quantidade de trabalho
que o petróleo realiza em serviço do cidadão médio
é equivalente a ter centenas de escravos, é esse tra-
balho que torna nossas vidas o que elas são, incrivel-
mente confortáveis para padrões históricos, a vida
de um cidadão médio da nossa sociedade ocidental
causaria inveja nos Reis em tempos passados. Há
um engano das pessoas em achar que podemos uti-
lizar a tecnologia como fonte de energia, ela pode
nos ajudar a explorar melhor nossas fontes de ener-
gia existentes, ajudando a consumir mais eficiente-
mente, extrair mais facilmente, mas a tecnologia não

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ENTENDA O MERCADO FINANCEIRO E SE PROTEJA DA MAIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS

pode criar energia para nós como disse Rudolf Clau-


sius na segunda lei da termodinâmica, introduzindo
o conceito de entropia.

População, dinheiro e a demanda por petróleo


estão exibindo um crescimento exponencial. Como
pensador não tenho dúvidas que devemos quase
todo o nosso progresso dos últimos 150 anos a nossa
descoberta e uso de petróleo, porém devemos nos
questionar o que devemos fazer quando a oferta do
ouro negro diminuir? Vivemos em um sistema que
NECESSITA de crescimento, é um sistema focado
em dívida. Na minha opinião, a instabilidade que
estamos experimentando agora se deve, ao menos
em parte, aos estágios iniciais desse processo.

O mundo está lidando com um baixo cresci-


mento e o processo de adaptação está se mostrando
confuso e difícil, tal situação só deve piorar quan-
do for confrontado com o declínio da produção de
petróleo. As injeções de capital por bancos centrais
não estão gerando os resultados esperados, vemos
isso na EUROPA. Aparentemente os bancos centrais
vão continuar jogando mais dinheiro em um siste-
ma, que em sua essência, está fora de sintonia com

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a realidade. Dado esses acontecimentos, é provável


que aconteça uma hiperinflação, o preço de qual-
quer coisa é em função de quanto dinheiro está em
circulação e em torno de quanto de produto ou bem
está disponível, porque literalmente todo regime de
moeda fiduciária que faliu foi pelas mesmas razões.
Então é possível concluir que a história vai se repetir
no futuro, que estará preenchido com mais dinhei-
ro em virtude dessa impressão cada vez maior dos
Bancos Centrais, porém para aqueles que podem ver
as mudanças chegando e se posicionarem para isso,
estou convencido que será possível desfrutar de
uma vida agradável e próspera. Acredito que todas
as questões que eu levantei aqui sejam executadas
ao longo de muitos anos e até décadas e é certo que
serão influenciadas pela nossa tecnologia.

A marca de um adulto maduro é de alguém


que pode administrar a complexidade e planejar com
antecedência, a mesma descrição se aplica a toda uma
sociedade. Nós devemos proteger nosso poder de
compra e uma boa reserva para isso pode ser ouro e
a prata, nós devemos nos proteger contra a possibili-
dade de uma crise monetária e FÍSICO. Ações e títu-
los podem ser afetados numa situação extrema como

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essa, porém se você tiver títulos que são indexados


pela inflação mais pagamento de juros pode sofrer
menos e de alguma forma tentar reduzir sua depen-
dência de energia fóssil. Pode, por exemplo, tentar
utilizar energia solar, por mais que boa parte da ener-
gia do Brasil seja oriunda de hidroelétricas. Ainda
existe um grande consumo de óleo nas termoelétricas
o que pode tornar a energia ainda mais cara, dessa
forma você pode notar que algumas mudanças de
comportamento podem reduzir drasticamente a sua
vulnerabilidade ao preço do petróleo e a dependên-
cia dele. Torço para que em algum ponto nesse de-
clínio consigamos ter transportes elétricos realmente
eficientes e alternativas viáveis para o petróleo.

Pessoas resilientes criam famílias resilientes que


criam cidades resilientes e países resilientes. Chego
ao fim com uma conclusão que os próximos 20 anos
serão completamente diferentes, mas podem ser mui-
to produtivos e agradáveis. Nossa missão é criar um
mundo próspero, que vale a pena ser herdado pelos
nossos descendentes, eu espero que você consiga
alocar seus recursos de forma acertada, termino com
uma frase de Mahatma Gandhi “Seja a mudança que
você quer ver no mundo”.

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