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Observação do Editor: Este Documento Avançado Cape Town 2010 foi escrito
pela Equipe de Recursos Multiplex As Escrituras em Missões como um panorama
do tópico a ser discutido na sessão Multiplex sobre “As Escrituras em Missões”.
Comentários sobre este documento através da Conversa Global Lausanne serão
enviados para os autores e outras pessoas, para ajudar a dar forma à
apresentação final que eles farão no Congresso.
RESUMO
Pedro e Ângela estão ocupados com suas vidas de classe média. A vizinha
do lado é Lucy, uma budista da Ásia Oriental, e a pessoa com quem ela mora
está envolvida com a Nova Era. Mma Echu não tem as Escrituras na sua
língua, e o chefe da sua vila construiu um altar para o deus dele. Amim está
interessada em Jesus, mas é analfabeta, enquanto Hussein é surdo. O que
estas pessoas têm em comum? Elas sofrem de um mal que aflige bilhões de
pessoas espalhadas por todas as nações do mundo, a pobreza bíblica. Mas
nenhuma delas tem consciência disso.
Quais são os sinais da pobreza bíblica? Ela está presente onde pessoas são
impedidas por barreiras de ter acesso às Escrituras numa língua que elas
entendam bem e sejam envolvidas de forma a terem suas vidas
transformadas. Esta pobreza passa por níveis econômicos, status sociais,
identidade religiosa, grupos étnicos e idiomas. A pobreza bíblica afeta
religiões atingidas por perseguição. Ela afeta analfabetos, surdos e cegos.
Outros ainda, como os Befang de Camarões, simplesmente não têm as
Escrituras em seu idioma, e uma variedade de profissionais nas cidades de
Xangai a Munique, até Bogotá, não têm confiança em nenhuma verdade, a
não ser na sua própria experiência. Barreiras para que não se envolvam de
maneira significativa com as Escrituras aparecem em todos os lugares em
contextos urbanos, em regiões dominadas por outras religiões importantes e
no Ocidente pós-moderno. Mas depois que identificamos estas barreiras,
será que também podemos trabalhar para construir pontes que nos
capacitarão a transpô-las?
Pedro e Ângela estão ocupados com trabalho, família, responsabilidades com a
igreja e entretenimento. Eles usam grande parte de seu tempo assistindo
comentaristas políticos na televisão e ouvindo programas cristãos no rádio. Eles
têm pelo menos dez Bíblias em casa, mas, durante várias semanas, os únicos
versículos que ouvem são aqueles que leem durante o culto de domingo de
manhã. Até o pastor deles passa mais tempo pregando sobre seus próprios
pensamentos do que passeando pelas Escrituras. As Escrituras, que costumavam
ocupar o centro de suas vidas, passaram a ser periféricas. Como resultado, muitos
valores e atitudes de Pedro e Ângela sobre questões da sociedade são
determinados por outras pessoas, e não pelo envolvimento deles com as
Escrituras.
Lucy e Julie são as vizinhas de Pedro e Ângela. A família de Lucy emigrou da Ásia
Oriental. Ela é budista e divide a casa com Julie, que é interessada em
espiritualidade e bastante convicta a respeito de materiais e eventos sobre a Nova
Era, mas também se interessa por elementos místicos no budismo e hinduísmo.
Julie também acredita que Jesus ressuscitou dos mortos. Ela acha que foi “legal” o
que Ele fez.
Mma Echu se tornou seguidora de Jesus há poucos anos. As Escrituras não foram
traduzidas para a sua língua. Quando ela vai à igreja, o pastor prega somente no
idioma oficial e predominante da nação, que ela não domina tão bem, e quando
ela sai do culto aos domingos, está sempre com sede de algo mais. Por isso vai à
igreja apenas de vez em quando. Enquanto isso, na sua vila, o Chefe Ekone
construiu um altar para o deus dela ao lado da sua casa, pedindo ao deus que
proteja sua família e os abençõe. Ele ouviu sobre Jesus, mas para ele Jesus fala
apenas na língua dominante. Ele não fala a língua dele. Jesus é um estrangeiro e,
portanto, Ele não tem como conversar sobre ideias e crenças com o Chefe Ekone
e o seu povo.
Amin ouviu sobre Jesus uma vez e quer aprender mais sobre Ele, mas nunca
encontrou um seguidor de Jesus na sua cidade, onde é proprietário de uma
pequena loja. Por isso, ele não tem ninguém com quem falar de Jesus. Ele ouviu
sobre um livro que dizem falar de Jesus, mas como não sabe ler, para ele não
adiantaria nada. Ele tem um rádio e um DVD/CD player. Do outro lado da cidade
está Hussein que é surdo e, por isso, vive num mundo completamente diferente do
mundo dos que podem falar. Ele tem fortes laços com algumas pessoas surdas da
cidade, mas todos temem os que falam porque já foram discriminados muitas
vezes. Por tudo isso, ninguém lhes fala sobre Deus. Para eles Deus não é nem
um estrangeiro. Deus não existe.
Pedro, Ângela, Lucy, Julie, Mma Echu, Chefe Ekone, Amin e Hussein…Todos
estão na mesma condição. Todos sofrem de “pobreza bíblica”, que é global
e acontece em contextos ou cenários que bloqueiam ou impossibilitam o acesso
às Escrituras em uma língua compreensível, acesso este que envolva as pessoas
de tal forma que elas tenham suas vidas transformadas. Surpreendentemente,
indivíduos cristãos e igrejas podem impedir esta transformação provocada pelas
Escrituras, assim como, aqueles envolvidos em missões e agências missonárias
podem fazer o mesmo. A questão é universal. Sua origem está no coração e na
separação do ser humano de Deus.
Como seriam nossas vidas transformadas? Jesus disse que transformados
amaríamos ao Senhor nosso Deus de todo coração, toda alma, mente e forças, e
que amaríamos nosso próximo como a nós mesmos (Mateus 22:34-40, Marcos
12:28-31). Nosso comportamento seria agradável a Deus e levaria nossos
próximos a ficarem encantados (I Coríntios 13:4-7; Gálatas 5:22-23; Efésios 4:1-6,
25-32; Filipenses 2:1-11; Colossenses 3:12-17).
Timóteo foi bem feliz quando era jovem. Sua comunidade tinha acesso às
Escrituras num formato e idioma que eles podiam usar e entender. Elas estavam
na forma escrita, provavelmente em grego. Poderia ser a Septuagenta, a tradução
da Bíblia do hebraico para o grego, nosso “Velho Testamento”. Além disso, ou
alguém da família lia para ele, uma vez que ele era criança, ou alguém na grande
comunidade judaica lia publicamente, e todos ouviam. Paulo menciona que a avó
de Timóteo, Loide, e sua mãe, Eunice, tinham “fé sincera” e que Timóteo tinha
esta mesma fé (2 Timóteo 1:5). Paulo também menciona que “desde a infância”
Timóteo “conhecia as Sagradas Escrituras” (2 Timóteo 3:15). Estas três pessoas
tinham fé em Jesus Cristo e também eram envolvidas com as Escrituras. Isso as
levou a viver “em sinceridade de fé”, numa sociedade e cultura que nem sempre
eram amigáveis e receptivas à fé delas. Elas estavam sendo transformadas como
seguidoras de Cristo num contexto difícil.
Em casos em que pessoas como Mma Echu e o Chief Ekone não têm nenhuma
porção das Escrituras na sua língua, a pobreza bíblica deles é mais clara. Eles
não têm os recursos que Pedro e Ângela têm. Pessoas como Amin, que jamais
aprenderam a ler ou que não podem ler, serão sempre biblicamente
empobrecidas, se tudo o que eles tiverem for a Palavra na forma escrita. E
Hussein está totalmente alienado, até que alguém desenvolva uma maneira de
comunicar as Escrituras para ele.
Assim, vamos voltar às nossas três questões acima e perguntar o que algumas
destas importantes barreiras e pontes podem ser em cada um destes casos.
1. Por que as Escrituras não transformam vidas onde elas estão
disponíveis?
Por que, quando as Escrituras estão plenamente acessíveis, a maioria das
pessoas não se envolve com elas de maneira significativa?
Barreiras
As barreiras incluem:
Pontes
A Grande Ponte que transpõe tudo e é soberana sobre tudo é o Espírito de Deus.
O Espírito é Aquele que muda a condição do coração de cada pessoa. Ele liberta
do domínio do pecado para a liberdade de servir a Deus (Romanos 8:1-11). O
Espírito não é limitado nem restringido por nenhum ambiente, mas transpõe
qualquer barreira. Mesmo assim, o Espírito nos permite participar do
estabelecimento de pontes para ajudar outras pessoas. Somos desafiados a
considerar como essas barreiras podem ser transpostas.
1. Por que mais de um bilhão de pessoas não têm as Escrituras em sua
língua?
Segundo estimativas, existem, aproximadamente, 6.900 línguas faladas hoje no
mundo (1). A maioria é falada por pequenas populações. Podemos chamá-las de
línguas “minoritárias”. Em termos mais específicos, em torno de 6% da população
do mundo ou aproximadamente 400 milhões de pessoas falam 94% das línguas
do mundo. É evidente que essas são as menores línguas do mundo. Elas incluem
pessoas como Mma Echu e Chief Ekone.
2. Por que somente as maiores línguas são as que têm traduções das
Escrituras? Será que é aceitável que mais de um bilhão de pessoas não tenha a
Bíblia completa em sua língua? Se nós, das igrejas globais, cremos na
importância de cada um ter as Escrituras na sua própria língua, não é de se
esperar que os líderes das igrejas e de missões se reúnam para encontrar
maneiras de erradicar esta pobreza bíblica? Os recursos humanos e financeiros já
existem nas igrejas globais. Portanto, o que impede que isso aconteça? E como
podemos superar esta superconfiança das igrejas e missões nas agências bíblicas
para encararem estes desafios sozinhas? Isso vai exigir um esforço da igreja
global também.
Barreiras
A realidade e a diversidade das línguas formam várias barreiras. Elas são
destacadas abaixo.
Entretanto, mais de um bilhão de pessoas não têm toda a Bíblia disponível em seu
idioma. Estes são “dialetos”. Eles são diferentes de línguas distintas. Dessas
línguas, provavelmente, mais de 2.000 (3) precisam de tradução da Bílbia, mas ela
ainda não está sendo traduzida. A Bílbia está sendo traduzida para quase. Outras
1.510 (4) línguas têm menos de 1000 falantes. Algumas delas estão quase
extintas, e outras são pouco pesquisadas para se saber o número de seus
falantes ou quais são suas necessidades para ter acesso às Escrituras.
Pontes
Multiplicidade de línguas
Em relação à multiplicidade de línguas, uma ponte é descobrir quem, no seu
contexto, não tem as Escrituras em sua própria língua. Muitos de nós vivemos
onde há mais de uma língua falada. Como líder, você sabe quais as línguas
faladas na sua cidade ou na sua região? Se você não sabe como obter esta
informação, pode pedir ajuda. Depois que você e outros líderes cristãos
identificarem as necessidades na sua cidade para que as Escrituras se tornem
disponíveis, podem desenvolver um plano para suprir estas necessidades. Vários
parceiros, tanto igrejas como agências bíblicas, poderiam ajudá-los a desenvolver
este plano.
Você e seus amigos podem ajudar a organizar e participar de um programa para
desenvolver oralmente algumas histórias bíblicas na língua minoritária na sua
área.
Pontes
Para ajudar aqueles incapacitados de usar as Escrituras impressas, uma ponte é
fornecer as Escrituras na mídia e no formato apropriado para os usuários da
língua na sua localidade. Esta ponte usaria toda as tecnologias disponíveis como
rádio, áudio (CDs, mp3), vídeo, internet, telefones celulares e metodologias
usadas no desenvolvimento das histórias bíblicas no formato oral.
Para detalhes mais específicos e perspectivas sobre barreiras e pontes, por favor,
consulte os três outros documentos sobre os tópicos:
Considere também o livro Translating the Bible into Action – How the Bible can be
relevant in all languages and cultures (Tradução Livre: Traduzindo a Bíblia em
Ação – Como a Bíblia pode ser relevante em todas as línguas e culturas), por
Harriet Hill e Margaret Hill, Piquant Editions, 2008.
Como você responderia às seguintes perguntas?
1 Qual é a sua opinião sobre essas três questões principais?
Por que mais de um bilhão de pessoas não têm as Escrituras em sua língua
em formato adequado?
Por que as Escrituras disponíveis estão somente na forma escrita?
São estas as questões mais importantes que devemos levantar à luz da seriedade
da pobreza bíblica? Você acrescentaria alguma outra questão? Tiraria ou mudaria
alguma outra? Por que?
3 Onde você vive, quais são as barreiras enfrentadas para ter acesso ou se
envolver com as Escrituras?
Dr. John Bendor-Samuel, Reino Unido, antigo Wycliffe International and Forum of
Bible Agencies International
Dr. Rev. Lloyd Estrada, Filipinas, Wycliffe Bible Translators Asia (Tradutores da
Bíblia – Wycliffe, Ásia);
Saju George John, Índia, New Life Computer Institute (Instituto de Computação
Nova Vida);
Dr. Rev. Erní Walter Seibert, Brasil, Brazil Bible Society (Sociedade Bíblica do
Brasil);