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UNIVERSIDADE SÃO TOMÁS DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE CIÊNCIAS EMPRESARIAIS

Curso: Gestão Financeira e Bancária Disciplina: Finanças Internacionais

AS DECISÕES FINANCEIRAS EM CONTEXTO INTERNACIONAL

1. Visão geral da gestão financeira internacional e a multinacional


A globalização dos negócios é uma realidade, hoje em dia as fronteiras nacionais não
constituem uma barreira principal para o desenvolvimento e o crescimento empresarial.
Vários organismos internacionais e multilaterais foram e estão a ser criados com vista a
facilitação nas transacções além fronteira. A organização mundial de comércio (OMC) é
a mais importante organização que lida com assunto comerciais, para a nossa região a
Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) é o organismo máximo.
Neste capítulo debruçaremos sobre a globalização dos negócios do ponto de vista
financeiro internacional com ênfase especial na empresa multinacional.

A empresa multinacional (EMN) é definida como uma


empresa que tem subsidiárias, filiais e afiliadas Conceptualização
A empresa multinacional
operando em países estrangeiros. Isso inclui empresas
(EMN) é uma empresa que
em áreas tradicionais como indústria de transformação,
tem subsidiárias, filiais e
mineração, petrolífera e agrícola. Abrange ainda
empresas em actividades de serviço como consultoria, afiliadas operando em
países estrangeiros.
contabilidade, construção, entretenimento, bancário,
telecomunicações, hotelaria e jurídico.
As EMNs estão sediadas em todo o mundo. Muitas delas são propriedades de uma
mistura de accionistas nacionais ou estrangeiros. A propriedade de algumas dessas
empresas é tão dispersa internacionalmente que elas são conhecidas como
companhias transnacionais. As empresas transnacionais são geralmente administradas

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com uma perspectiva global em vez de uma perspectiva de um único país.

Embora esta unidade enfatize as EMNs, as empresas puramente nacionais também


tem, frequentemente, actividades internacionais significativas. Estas incluem a
importação e exportação de produtos, componentes e serviços. As empresas nacionais
também podem licenciar empresas estrangeiras para conduzir seus negócios no
exterior. Elas já enfrentam a competição estrangeira nos seus mercados internos, e
também estão indirectamente expostas aos riscos internacionais em suas relações com
clientes e fornecedores. Portanto, os administradores de empresas nacionais precisam
compreender o risco financeiro internacional, especialmente aquele relacionado a taxas
cambiais, e os riscos de crédito relacionados a pagamentos comerciais.

A gestão financeira internacional exige uma compreensão de riscos únicos que não
são, normalmente, uma ameaça a operações nacionais. Esses riscos únicos estão
relacionados aos riscos de câmbio e riscos políticos. As EMNs, em particular, também
enfrentam riscos que podem ser classificados como extensões da teoria financeira
tradicional. Por exemplo, o tratamento usual ao custo de capital, as fontes de recursos
próprios e de terceiros, ao orçamento de capital, à administração de capital de giro à
tributação e análise de crédito necessita ser modificado para acomodar as
complexidades externas. Alem disso, vários instrumentos usados na administração
financeira doméstica foram modificados para usar na administração financeira
internacional. Exemplo disso são opções e futuros em moeda estrangeira, swaps de
moedas e de taxas de juros e cartas de crédito.

No restante deste capítulo, identificamos os riscos mais importantes enfrentados pelas


EMNs. A ênfase e dada ao câmbio e aos riscos políticos, que são exclusivos de
operações multinacionais. Em seguida, apresentamos uma os objectivos da EMNs, as
razões da internacionalização das empresas, o conceito da taxa de câmbio e as
estratégias empresariais no contexto internacional.

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1.1 Risco Empresarial no contexto internacional
1.1.1 Risco cambial Observação reflexiva
Os riscos de câmbio podem aumentar o custo de Diferencie o risco político
capital e reduzir as proporções óptimas de divida do cambial.
para as EMNs. Investidores de portfolio
internacionais exigem um prémios de risco de câmbio quando avaliam acções e títulos
emitidos pelas EMNs, especialmente se essas empresas estiverem investindo
pessoalmente em países de moeda volátil.
As EMNs localizadas em tais países também podem enfrentar um prémio de risco de
câmbio quando tentam lançar acções e títulos no exterior. As análises de orçamento de
capital de projectos no exterior, geralmente, exigem uma taxa crítica mais alta, devido
ao efeito do risco de câmbio em fluxos de caixa projectados e a eventuais repatriações
de lucros e capitais. A administração de capital de giro e mais complexa para as EMNs
pelo impacto dos riscos de câmbio na movimentação de fundos entre países e na
administração de caixa, de contas a receber e de estuques. A avaliação do
desempenho das subsidiárias estrangeiras e mais difícil devido a necessidade de levar
em conta os ganhos e as perdas de câmbio bem como de designar responsabilidades
para os resultados.

1.1.2 Risco político

As análises financeiras actuais incluem um prémio de risco político quando as


actividades no exterior estão sendo avaliadas. Normalmente os bancos e investidores
exigem uma taxa de retorno mais alta nos empréstimos e títulos emitidos por empresas
ou governos no exterior quando estes estão sediados em países relativamente
instáveis ou em mercados emergentes. Os riscos políticos podem-se dividir em
microrrisco e macrorrisco.

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Macrorriscos
Os macrorriscos políticos afectam a todas as empresas estrangeiras e incluem a
expropriação e o conflito étnico.

A expropriação é definida como a apreensão oficial, pelo governo, da propriedade


privada. Os proprietários das empresas são compensados pelo valor justo de mercado
em moeda convertível. Contudo, o valor a compensar depende da opinião dum
avaliador e geralmente, os pagamentos, são retardados.

O conflito étnico é um segundo tipo de


Contexto da realidade
macrorrisco político. Para além de lutas
Moçambique na década 80
étnicas outras lutas como raciais, religiosas,
tinha um elevado risco
tribais ou civis constituem um risco para as
político devido a guerra civil.
EMNs.

Microrrisco

O microrrisco é a segunda maior forma de risco político contemporâneo e afecta a


determinadas empresas ou sector. A maioria dos riscos políticos contemporâneos
surge de um conflito de objectivos, mas a corrupção frequentemente ligada ao
nepotismo - também contribui para o risco de administrar uma empresa estrangeira. A
Transparency International (TI) publica mensalmente informativos sobre corrupção nas
transacções internacionais. Esse tipo de índice é frequentemente usado pelas
empresas para determinar um prémio de risco político necessário para as actividades
mencionadas anteriormente.

O tipo mais importante de microrrisco surge de um conflito entre objectivos de boa fé


de governos e empresas privadas. Historicamente, os conflitos entre os objectivos das
EMNs e os de seus países anfitriões tem origem em temas como o impacto da
empresa no desenvolvimento económico, violação percebida da soberania nacional,

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controle estrangeiro de indústrias-chave, partilha ou não de propriedade e controle com
interesses locais, impacto na balança de pagamentos do país anfitrião, influência no
valor de câmbio da sua moeda, controlo sobre os mercados de exportação, uso de
trabalhadores e executivos nacionais em oposição a estrangeiros e exploração de
recursos naturais.

1.2 Objectivos financeiros operacionais das EMNs


As EMNs perseguem, quase, os mesmos objectivos empresariais tal como uma
empresa qualquer. O objectivo central é a maximização da riqueza dos accionistas.
Se uma EMN esta tentando maximizar as riquezas dos accionistas ou as da
companhia, ela deve ser guiada por objectivos operacionais adequados aos vários
níveis da empresa. Por exemplo, mesmo que o objectivo da empresa seja maximizar o
valor para o accionista, a maneira através da qual os investidores avaliam a empresa
não é sempre clara para a alta administração. Muitos executivos acreditam que o
mercado de acções se move de maneiras misteriosas e nem sempre e consistente em
suas conclusões. Portanto, a maioria das empresas espera receber uma resposta
favorável do investidor para alcançar aqueles objectivos operacionais que podem ser
controlados através do desempenho da empresa.

A EMN, por ser uma colecção de muitas


unidades de negócios operando em um Observação reflexiva

grande número de ambientes Aliste e descreva o que consiste

económicos, deve determinar para ela os três objectivos financeiros

mesma o equilíbrio adequado entre três operacionais das EMNs.

objectivos financeiros operacionais comuns:

1) Maximização da renda consolidada depois dos impostos;

2) Minimização da carga tributária global efectiva da empresa; e

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3) Posicionamento correcto da receita da empresa, dos fluxos de caixa e dos fundos
disponíveis.

Muitas vezes, esses objectivos são frequentemente inconsistentes, pois a busca de um


deles pode trazer um resultado menos desejável em relação a outro. A administração
deve tomar decisões sobre as vantagens e desvantagens (tradeoff) dos objectivos
futuros (razão pela qual empregam-se pessoas como administradores, e não
computadores).

O objectivo operacional principal da EMN é maximizar os lucros consolidados, depois


dos impostos. Lucros consolidados são os lucros de todas as unidades individuais da
empresa, originados em muitas moedas diferentes mas expressos na moeda da
companhia-mae. Cada uma das subsidiárias estrangeiras de uma EMN possui seu
próprio conjunto de demonstrações financeiras tradicionais: (1) uma demonstração de
resultados resumindo as receitas e os custos ocorridos ao longo do ano; (2) um
balanço patrimonial, resumindo os activos empregados na geração das receitas da
unidade e o financiamento de tais activos; (3) uma demonstração dos fluxos de caixa,
resumindo as actividades individuais da empresa que utiliza e gera esses fluxos de
caixa durante o ano. Esses demonstrativos financeiros são expressos na moeda local
da unidade para fins tributários e legais, mas devem ser consolidadas com os
demonstrativos da companhia-mae para apresentação aos accionistas.

1.3. Por Que as Empresas Procuram Negócios Internacionais


Três teorias comumente aceites para explicar por que as empresas se tornam
motivadas a expandir seus negócios internacionalmente são (1) a teoria da vantagem
comparativa, (2) teoria dos mercados imperfeitos e (3) teoria do ciclo do produto.

1-3a Teoria da Vantagem Comparativa


Os negócios multinacionais geralmente aumentaram com o tempo. Parte desse
crescimento se deve a maior percepção das empresas de que a especialização dos

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países pode aumentar a produção eficiência. Alguns países, como Japão e Estados
Unidos, têm uma vantagem tecnológica enquanto outros, como China e Malásia, têm
uma vantagem no custo de trabalho. Como essas vantagens não podem ser facilmente
transportadas, os países tendem a usar suas vantagens de se especializar na
produção de bens que podem ser produzidos com relativa eficiência. Isso explica
porque países como Japão e Estados Unidos são grandes produtores de componentes
de computador, enquanto países como Jamaica e México são grandes produtores de
produtos agrícolas e artesanais. Corporações multinacionais como Oracle, Intel e IBM
cresceram substancialmente em países estrangeiros por causa de sua vantagem
tecnológica. Um país que se especializa em alguns produtos pode não produzir outros
produtos, portanto, o comércio entre países é essencial. Este é o argumento
apresentado pela teoria clássica da comparação vantagem. As vantagens
comparativas permitem que as empresas penetrem em mercados estrangeiros.
Muitas das Ilhas Virgens, por exemplo, são especializadas em turismo e dependem
totalmente do comércio internacional para a maioria dos produtos. Embora essas ilhas
possam produzir alguns bens, são mais eficientes para especializá-los em turismo. Ou
seja, as ilhas ficam em melhor situação com algumas receitas obtidas do turismo à
importação de produtos do que tentar produzir todos os produtos de que precisam.

1-3b Teoria dos Mercados Imperfeitos


Se os mercados de cada país estivessem fechados para todos os outros países, então
não haveria o negócio. No outro extremo, se os mercados fossem perfeitos e, portanto,
os fatores de produção (como o trabalho) eram facilmente transferíveis, então o
trabalho e outros recursos fluiriam onde quer que eles estivessem em demanda. Essa
mobilidade irrestrita de fatores criaria igualdade em ambos os custos e retornos e,
portanto, removeria a vantagem de custo comparativa, que é a justificativa para o
comércio e investimento internacional. No entanto, o mundo real sofre de condições de
mercado imperfeitas em que os fatores de produção são um tanto imóveis. Lá são
custos e, muitas vezes, restrições relacionadas à transferência de mão-de-obra e
outros recursos usados para a produção. Também pode haver restrições à

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transferência de fundos e outros recursos entre países. Porque os mercados para os
vários recursos usados na produção são "imperfeitos", as multinacionais, como a Gap e
a Nike, muitas vezes capitalizam os recursos específicos de um país estrangeiro.
Mercados imperfeitos fornecem um incentivo para as empresas buscarem
oportunidades estrangeiras.

1-3c Teoria do Ciclo do Produto


Uma das explicações mais populares de por que as empresas evoluem para as
multinacionais é o produto teoria do ciclo. De acordo com essa teoria, as empresas se
estabelecem no mercado doméstico como um resultado de alguma vantagem
percebida sobre os concorrentes existentes, como uma necessidade do mercado para
pelo menos mais um fornecedor do produto. Porque informações sobre mercados e
competição está mais facilmente disponível em casa, uma empresa tende a se
estabelecer primeiro em seu país natal. A demanda estrangeira pelo produto da
empresa será inicialmente acomodada por exportações. Com o passar do tempo, a
empresa pode sentir que a única maneira de manter sua vantagem sobre a
concorrência em países estrangeiros é produzir o produto em mercados estrangeiros,
assim reduzindo seus custos de transporte. A competição nesses mercados
estrangeiros pode aumentar à medida que outros produtores se familiarizam com o
produto da empresa. A empresa pode desenvolver estratégias para prolongar a
demanda externa por seu produto. Uma abordagem frequentemente usada é
diferenciar o produto para que os concorrentes não possam duplicá-lo exatamente.

1.4 Motivos estratégicos de Internacionalização das empresas


São os motivos estratégicos que levam a decisão de investir no exterior. Em termos
resumidos, as empresas buscam o seguinte:

1. Mercados;
2. Matéria – prima;

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3. Eficiência de produção;
4. Conhecimento; e
5. Segurança política.

Os exploradores de mercado produzem em mercados estrangeiros para satisfazer a


demanda local ou para exportar para outros mercados Observação reflexiva que
não sejam os próprios. As empresas americanas de Porque é que as
automóveis fabricam na Europa para o consumo local empresas e
são exemplos da motivação de exploração de internacionalizam-se?
mercado.
Os exploradores de matéria-prima extraem matéria-prima onde quer que ela possa ser
encontrada para exporta-la ou para, posteriormente, processa-la e vende-la no país
anfitrião. As empresas que se encaixam nesta categoria são as indústrias petrolíferas,
de mineração, agrícola e florestal.
Os exploradores de eficiência de produção produzem em países em que um ou mais
factores de produção são subestimados em relação a sua produtividade. A produção
intensiva em mão-de-obra de componentes electrónicos em Taiwan, Malásia e México
ilustram essa motivação.
Os exploradores de conhecimento operam em Contexto da realidade
países estrangeiros para ter acesso a expertise As empresas alemãs, holandesas
técnica e administrativa. e japonesas adquiriram empresas
electrónicas localizadas nos EUA
visando a sua tecnologia ou
conhecimento.

Os exploradores de segurança política adquirem ou estabelecem novas operações em


países em que a expropriação ou a interferência sobre a livre iniciativa é pouco
provável.
Esses cinco tipos de considerações estratégicas não são mutuamente excludentes.

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2 O ambiente monetário internacional
2.1 Taxa de câmbio e o mercado internacional
Taxa de câmbio de moeda estrangeira, ou
Conceptualização
simplesmente taxa de câmbio, é o preço da moeda
Taxa de câmbio de moeda
de um país em unidades de outra moeda ou
estrangeira, ou simplesmente
produto (geralmente ouro ou prata). A taxa na qual
taxa de câmbio, é o preço da
a moeda e fixada ou indexada e frequentemente
moeda de um país em
referida como valor ao par. Se o governo não
unidades de outra moeda ou
interfere de nenhuma forma na avaliação da sua
produto.
moeda, a moeda e classificada como Flutuante ou
Flexível.

A crescente volatilidade das taxas de câmbio é um dos maiores desenvolvimentos


económicos dos últimos 20 anos. Sob o actual sistema de taxas de câmbio
parcialmente fixas e flutuantes, os ganhos de empresas multinacionais, de bancos e de
investidores individuais estão sujeitos a flutuações reais e nominais como um resultado
das mudanças nas taxas de câmbio relativas.

As políticas de prevenção e reacção as flutuações das taxas de câmbio estão evo-


luindo a medida que cresce a compreensão sobre o funcionamento do sistema
monetário internacional, que se tornam claras a contabilidade e as regras de impostos
para ganhos e perdas no câmbio exterior e que o efeito económica as taxas de câmbio
sobre fluxos futuros de caixa e valores de mercado se tornam reconhecidos.

Embora taxas de câmbio voláteis possam aumentar o risco, elas também criam
oportunidades de lucro para as empresas e os investidores, se houver uma
compreensão adequada da administração do risco de câmbio. Para administrar o risco
de câmbio, entretanto, é preciso compreender como funciona o sistema monetário
internacional. O sistema monetário internacional pode ser definido como a estrutura
dentro da qual as taxas de câmbio são determinadas, os negócios internacionais e os

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fluxos de capital são acomodados e onde se fazem os ajustes nos balanços de pa-
gamento.
A escolha de um regime monetário reflecte
prioridades nacionais em relação a todas as Observação reflexiva

facetas da macroeconomia, incluindo inflação, O que está por de trás na

desemprego, níveis de taxa de juro, balança escolha de um regime de

comercial e crescimento económico. A escolha taxa de câmbio? en-


tre taxas flexíveis e fixas pode mudar assim como as prioridades mudam. Ora vejamos
o que está por de trás a escolha dos regimes da taxa de câmbio:

 As taxas de câmbio fixas são inerentemente antinflacionárias, exigindo que o país


siga políticas fiscais e monetárias restritivas. Essa restrição, contudo, pode ser um
encargo para um país que deseja seguir políticas que aliviem sucessivos
problemas económicos internos, como alto desemprego ou lento crescimento
económico.

 Regimes de taxa de câmbio fixa necessitam que os bancos centrais mantenham


grandes quantidades de reservas internacionais (moedas fortes e ouro) para
serem utilizadas na defesa de suas taxas fixas. Como o mercado de moedas
internacionais tem crescido rapidamente em tamanho e em volume, essa
necessidade se tornou um encargo significativo para muitas nações.

 As taxas fixas, uma vez determinadas, podem ser mantidas em níveis


inconsistentes com os fundamentos económicos. Como a estrutura da economia
do país muda, e como as relações comerciais e o saldo da balança comercial se
desenvolvem, e a taxa de câmbio em si que deve mudar. Taxas de câmbio
flexíveis permitem que essa mudança aconteça gradual e eficientemente, mas
taxas de câmbio fixas devem ser mudadas administrativamente geralmente, muito
tarde, com muita publicidade, e com grande custo para a saúde económica do
país.

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2.2 Determinantes da taxa de câmbio
A taxa de câmbio é uma variável económica
Observação reflexiva
endógena que influencia significativamente as
Quais são os
actividades das EMNs, investidores
determinantes das taxas
internacionais, importadores e exportadores e
de câmbio?
funcionários de governos. Ela tem a característica de
não previsibilidade, o que torna numa variável muito sensível quando está a se tomar
uma decisão financeira no contexto internacional.
Infelizmente, não existe uma teoria geral sobre a determinação da taxa de câmbio, mas
podemos alistar alguns elementos potenciais que podem determinam a taxa de câmbio:

1. Condições de paridade (reserva monetária oficial, regime cambial, taxa de


inflação relativa - paridade do pode de compra);
2. Infra-estrutura inclui: Força do sistema bancário, Força dos mercados de capitais,
Perspectiva de crescimento e lucratividade;
3. Especulação de moedas, títulos, arbitragem de juros a descoberto, de bens
imobiliário, etc
4. Investimentos internacionais (Investimento directo estrangeiro, investimento de
portfólio, etc);
5. Risco político (Controlo de capitais, mercado paralelo dm moedas, diferencial
(spread) de taxas de câmbio, etc).

3. Estratégia empresarial no contexto internacional


As empresas dispõem de várias estratégias alternativas quando pensam em
internacionalizarem. O investimento directo estrangeiro (IDE) constitui uma da mais
importante estratégia que as empresas têm na sua disposição. A seguir debruçaremos
sobre essas estratégias que levam as empresas ao alcance de vantagens competitivas.

3.1 Investimento directo estrangeiro versus vantagem competitiva

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Este capítulo analisa a decisão sobre quando e como empreender um investimento
estrangeiro directo (IDE). Também são descritas as estratégias de administração do
risco político que começam antes do IDE e terminam com estratégias operacionais
depois que o IDE acontece.
Na decisão sobre investir no exterior, a administração deve primeiro determinar se a
EMN tem alguma vantagem competitiva Observação reflexiva
sustentável que a capacita para competir Quais são as desvantagens
eficientemente em seu mercado doméstico. A potências de operar no
vantagem competitiva deve ser específica da exterior?
empresa, transferível e suficientemente forte
para compensar as desvantagens potências de operar no exterior (riscos cambiais,
políticos e custos de agência aumentados).

Partindo de observações de empresas que


Observação reflexiva
investiram com sucesso no exterior, conclui-se que
Refira-se das vantagens
algumas das vantagens competitivas usufruídas
competitivas que as EMNs
pelas EMNs são: (1) economias de escala e
podem usufruir quando
escopo provenientes de seu grande porte; (2)
internacionalizam-se.
conhecimento administrativo de marketing; (3)
tecnologia superior baseada em uma forte ênfase em pesquisas; (4) força financeira;
(5) produtos diferenciados; e, as vezes, (6) competitividade de seus mercados
domésticos.

Onde Investir?
A decisão sobre onde investir e influenciada por factores comportamentais e
económicos, bem como pelo estágio de desenvolvimento histórico da empresa. A
decisão sobre onde investir no exterior pela primeira vez não e a mesma que onde
reinvestir no exterior. Uma empresa aprende com o seu primeiro investimento no
exterior, e isso influencia os investimentos subsequentes.

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Na prática, observa-se que as empresas, desenvolve uma vantagem competitiva em
seu mercado doméstico e, mais cedo ou mais tarde, descobre que pode se tornar mais
lucrativa através de exportações para mercados estrangeiros. Em algum momento ela
sofre um estímulo do meio externo que a leva a considerar a produção no exterior.
Apontam-se os seguintes estímulos que levam como que as empresas
internacionalizem os seus negócios:

1) Uma proposta externa, desde que ela venha


de uma fonte que não possa ser facilmente Observação reflexiva
ignorada. As fontes mais frequentes de tais Quais são os estímulos que
propostas são governos estrangeiros, levam como que as
distribuidores de produtos da empresa e seus empresas internacionalizem
clientes ou membros poderosos do conselho os seus negócios?
director da empresa;

2) O medo de perder um mercado;


3) O efeito "trem da alegria": actividades de sucesso no exterior de uma empresa
concorrente na mesma linha de negócio ou a crença geral de que o investimento
em uma certa área e "um dever"; e
4) Forte concorrência externa no mercado doméstico.

3.2 Alternativas para investimentos directos estrangeiros

A empresa após de decidir sobre a necessidade de internacionalizar-se, geralmente,


depara-se como vários modos alternativos de envolvimentos estrangeiros. As principais
escolhas são:

a) Entrar em uma joint venture com um ou mais sócios locais;


b) Fazer uma ou mais alianças estratégicas;
c) Licenciar uma empresa estrangeira e contrato de gestão; e

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d) Fazer exportação tradicional

a) Joint venture

Uma joint venture é um acordo comercial que se estabelece entre uma EMN e uma
sócia do país anfitrião que visa o desenvolvimento conjunto das actividades
empresariais. Ela é uma estratégia viável se, e somente se, a EMN encontrar o
parceiro certo. Algumas das vantagens óbvias de ter um parceiro local compatível são
as seguintes:
1) O sócio local compreende os hábitos, a cultura e as instituições do meio local.
Essa compreensão pode levar anos para ser adquirida pela EMN através de uma
subsidiária integral;
2) O sócio local pode oferecer administração competente, não apenas para a alta
gerência, mas também com relação a gerência de nível médio;
3) Se o país anfitrião exigir que a empresa estrangeira compartilhe a de 100%
estrangeira não é uma alternativa realista para uma joint venture.
4) Os contactos e a reputação dos sócios locais aumentam o acesso aos mercados
de capitais do país anfitrião;
5) o sócio estrangeiro pode possuir tecnologia apropriada ao ambiente local ou que
tenha possibilidade de ser utilizada mundialmente;
6) A imagem publica de uma empresa cuja propriedade e parcialmente local pode
melhorar as possibilidades de vendas se o propósito do investimento for atender o
mercado em questão.

Apesar dessa impressionante lista de vantagens, as joint ventures não são tão comuns
quanto as subsidiarias estrangeiras que são integralmente controladas por uma EMN,
porque as EMNs temem a interferência do sócio local em certas áreas de decisão
críticas. Na verdade, o que é óptimo do ponto de vista do empreendimento local pode
não o ser para a operação da multinacional em nível global.

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Os conflitos potências mais importantes são os seguintes:

1) risco político aumenta em vez de reduzir caso seja escolhido o sócio errado. O
sócio local deve ser bem conceituado e ético, ou a EMN assume o maior risco
como parte de uma joint venture.

2) Sócios locais e estrangeiros podem ter opiniões divergentes sobre a necessidade


de dividendos em dinheiro, ou sobre a conveniência de financiar o crescimento
com lucros retidos versus novos financiamentos.

3) A transparência financeira de resultados locais pode ser necessária com acções


negociadas local mente, ao passo que, se a empresa e totalmente controlada do
exterior, tal divulgação não e necessária. A transparência da aos concorrentes
que não fazem divulgação uma vantagem no estabelecimento de estratégia.

4) A avaliação das acções é difícil. Quanto o sócio local deve pagar por suas
acções? Embora o risco seja um componente do portfolio de cada investidor, suas
contribuições para o retorno e a variação do portfolio podem ser bastante
diferentes.

b) Alianças Estratégicas
As alianças estratégicas estão actualmente em
voga. A definição de aliança estratégica não e Observação reflexiva

clara, porque ela sugere significados diferentes a Diferencie a aliança

observadores diferentes. Em uma aliança estratégica duma joint

estratégica internacional, duas empresas podem venture. tro-


car uma parte da sua propriedade com a outra.
Uma aliança estratégica pode ser uma defesa contra o takeover se o propósito,
principal for que a empresa coloque algumas de suas acções em mãos estáveis e
confiáveis. Se é isso o que acontece, trata-se simplesmente de outra forma de

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investimento de portfolio.

Em uma aliança estratégica mais abrangente, além da troca de acções, os sócios


estabelecem uma joint venture separada para desenvolver e fabricar um produto ou
serviço.
Um terceiro nível de cooperação pode envolver contratos de marketing e serviços
conjuntos em que cada sócio representa o outro em certos mercados.

c) Licenciamento e contratos de gestão

Nos últimos anos, vários países tem exigido que as EMNs vendam seus serviços na
"forma desmembrada" em vez de apenas através de IDE.
O licenciamento é um método popular para que empresas domésticas obtenham lucros
dos mercados estrangeiros sem a necessidade de comprometer fundos consideráveis.
Uma vez que o produtor estrangeiro e geralmente uma empresa 100% nacional, o risco
político é minimizado.
A principal desvantagem dessa pratica é que as tarifas de concessão provavelmente
serão mais baixas do que os lucros do IDE, embora o retorno sobre o investimento
marginal possa ser mais alto.
Outras desvantagens incluem a possível perda do controlo de qualidade, o
estabelecimento de um concorrente potencial nos mercados de outros países. Outra
desvantagem ainda é o risco de que a tecnologia seja roubada. Finalmente, os custos
de agência provavelmente serão altos.

d) Exportações
As empresas domésticas geralmente Observação reflexiva

começam a envolver-se com outros Porque é que a estratégia de exportar é

países por meio de exportações tida como a menos arriscada que IDE, joint

tradicionais através de agentes e ventures, alianças estratégicas e

distribuidores de vendas domésticas e licenciamentos.

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estrangeiras. A medida que o negócio de exportação cresce, a próxima etapa pode ser
estabelecer escritórios nesses países e, mais tarde, subsidiárias ou filiais de vendas.

Existem várias vantagens em limitar as actividades de uma empresa a exportação, pois


evitam-se os riscos únicos enfrentados por IDE, joint ventures, alianças estratégicas e
licenciamentos.

3.3 Gestão do risco político


A pré-negociação de todas as áreas nas quais é possível haver conflitos oferece uma
base mais sólida para um futuro bem-sucedido para as duas partes do que negligenciar
a possibilidade de que objectivos divergentes possam confrontar-se com o passar do
tempo.
Um acordo de investimento determina os direitos e as responsabilidades da empresa
estrangeira e do governo anfitrião. A presença de EMNs frequentemente e solicitada
por governos anfitriões que aspiram ao desenvolvimento, assim como uma localização
estrangeira especial e procurada por uma EMN.
Um acordo de investimento deve esclarecer as políticas de financiamentos e assuntos
administrativos, incluindo o seguinte:
 A base na qual os fluxos de fundos, como dividendos, taxas administrativas,
tarifas de patente e pagamentos de empréstimos podem ser remetidos ao
exterior;
 A base para estabelecer preços de transferência;
 O direito de exportar para mercados de um terceiro país
 Obrigações de construir ou financiar projectos sociais e económicos de infra-
estrutura, como escolas, hospitais e pianos de aposentadoria;
 Métodos de tributação, incluindo a alíquota, o tipo de imposto e como a base da
alíquota e determinada;
 Acesso aos mercados de capitais do pais anfitrião, particularmente para
empréstimos a longo prazo;
 Controlos de preço, se houver, aplicáveis às vendas nos mercados do país

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anfitrião;
 Exigências para o suprimento local versus a importação de matérias-primas e
componentes;
 Permissão para o uso de pessoal técnico e administrativo expatriado, e permissão
para traze-los juntamente com seus bens pessoais para o país livre de encargos
exorbitantes ou impostos de importação;

As vezes, as EMNs podem transferir o risco político ao agente público do país anfitrião
através de um seguro de investimento e um programa de garantias. Muitos países de-
senvolvidos possuem esses programas para proteger investimentos feitos por seus
cidadãos em países em desenvolvimento. Tais seguros incluem: seguros contra a
expropriação da empresa pelo governo anfitrião, danos causados pela guerra,
insurreição, etc.

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Glossário

Empresa multinacional (EMN) - é uma empresa que tem subsidiárias, filiais e afiliadas
operando em países estrangeiros.

Expropriação é definida como a apreensão oficial, pelo governo, da propriedade


privada. Os proprietários das empresas são compensados pelo valor justo de mercado
em moeda convertível.

Microrrisco político - é uma forma de risco político que afecta a determinadas empresas
ou sector. A maioria dos riscos surge de um conflito de objectivos, mas a corrupção -
frequentemente ligada ao nepotismo.
Macrorrisco político – é o conjunto de risco político que afecta a todas as empresas
estrangeiras e incluem a expropriação e o conflito étnico.
Taxa de câmbio - é o preço da moeda de um país em unidades de outra moeda ou
produto.

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